ciência e pesquisa

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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2007 Ciência e Pesquisa Disciplina na modalidade a distância 2ª edição revista e atualizada

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Page 1: Ciência e pesquisa

Universidade do Sul de Santa Catarina

Palhoça

UnisulVirtual

2007

Ciência e PesquisaDisciplina na modalidade a distância

2ª edição revista e atualizada

Page 2: Ciência e pesquisa

CréditosUnisul - Universidade do Sul de Santa CatarinaUnisulVirtual - Educação Superior a Distância

Campus UnisulVirtualAvenida dos Lagos, 41 Cidade Universitária Pedra BrancaPalhoça – SC - 88137-100Fone/fax: (48) 3279-1242 e3279-1271E-mail: [email protected]: www.virtual.unisul.br

Reitor UnisulGerson Luiz Joner da Silveira

Vice-Reitor e Pró-Reitor AcadêmicoSebastião Salésio Heerdt

Chefe de Gabinete da ReitoriaFabian Martins de Castro

Pró-Reitor AdministrativoMarcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira

Campus SulDiretor: Valter Alves Schmitz NetoDiretora adjunta: Alexandra Orsoni

Campus NorteDiretor: Ailton Nazareno SoaresDiretora adjunta: Cibele Schuelter

Campus UnisulVirtualDiretor: João VianneyDiretora adjunta: Jucimara Roesler

Equipe UnisulVirtual

AdministraçãoRenato André LuzValmir Venício Inácio

Avaliação InstitucionalDênia Falcão de Bittencourt

BibliotecaSoraya Arruda Waltrick

Capacitação e Apoio Pedagógico à TutoriaAngelita Marçal Flores (Coordenadora)Caroline BatistaEnzo de Oliveira MoreiraPatrícia MeneghelVanessa Francine Corrêa

Coordenação dos CursosAdriano Sérgio da CunhaAloísio José RodriguesAna Luisa MülbertAna Paula Reusing PachecoCharles CesconettoDiva Marília FlemmingFabiano CerettaItamar Pedro BevilaquaJanete Elza FelisbinoJucimara RoeslerLauro José BallockLívia da Cruz (Auxiliar)Luiz Guilherme Buchmann FigueiredoLuiz Otávio Botelho LentoMarcelo CavalcantiMaria da Graça PoyerMaria de Fátima Martins (Auxiliar)Mauro Faccioni FilhoMichelle D. Durieux Lopes DestriMoacir FogaçaMoacir HeerdtNélio HerzmannOnei Tadeu DutraPatrícia AlbertonRaulino Jacó BrüningRodrigo Nunes LunardelliSimone Andréa de Castilho (Auxiliar)

Criação e Reconhecimento de CursosDiane Dal MagoVanderlei Brasil

Desenho EducacionalDesign InstrucionalDaniela Erani Monteiro Will (Coordenadora)Carmen Maria Cipriani PandiniCarolina Hoeller da Silva BoeingFlávia Lumi MatuzawaKarla Leonora Dahse NunesLeandro Kingeski PachecoLigia Maria Soufen TumoloMárcia LochViviane BastosViviani Poyer

AcessibilidadeVanessa de Andrade Manoel

Avaliação da AprendizagemMárcia Loch (Coordenadora)Cristina Klipp de OliveiraSilvana Denise Guimarães

Design Gráfi coCristiano Neri Gonçalves Ribeiro (Coordenador) Adriana Ferreira dos SantosAlex Sandro XavierEvandro Guedes MachadoFernando Roberto Dias ZimmermannHigor Ghisi LucianoPedro Paulo Alves TeixeiraRafael PessiVilson Martins Filho

Disciplinas a DistânciaTade-Ane de AmorimCátia Melissa Rodrigues

Gerência AcadêmicaPatrícia Alberton

Gerência de EnsinoAna Paula Reusing Pacheco

Logística de Encontros PresenciaisMárcia Luz de Oliveira (Coordenadora) Aracelli AraldiGraciele Marinês LindenmayrLetícia Cristina BarbosaKênia Alexandra Costa HermannPriscila Santos Alves

Formatura e EventosJackson Schuelter Wiggers

Logística de MateriaisJeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador)José Carlos TeixeiraEduardo Kraus

Monitoria e SuporteRafael da Cunha Lara (Coordenador)Adriana SilveiraAndréia DrewesCaroline MendonçaCristiano DalazenDyego RachadelEdison Rodrigo ValimFrancielle ArrudaGabriela Malinverni BarbieriJonatas Collaço de SouzaJosiane Conceição LealMaria Eugênia Ferreira CeleghinRachel Lopes C. PintoVinícius Maykot Serafi m

Produção Industrial e SuporteArthur Emmanuel F. Silveira (Coordenador)Francisco Asp

Relacionamento com o MercadoWalter Félix Cardoso Júnior

Secretaria de Ensino a DistânciaKarine Augusta Zanoni Albuquerque(Secretária de ensino)Ana Paula Pereira Andréa Luci MandiraCarla Cristina SbardellaDeise Marcelo AntunesDjeime Sammer Bortolotti Franciele da Silva BruchadoGrasiela MartinsJames Marcel Silva RibeiroJenniff er CamargoLamuniê SouzaLauana de Lima BezerraLiana Pamplona Marcelo José SoaresMarcos Alcides Medeiros JuniorMaria Isabel AragonOlavo LajúsPriscilla Geovana PaganiRosângela Mara SiegelSilvana Henrique SilvaVanilda Liordina HeerdtVilmar Isaurino Vidal

Secretária ExecutivaViviane Schalata Martins

TecnologiaOsmar de Oliveira Braz Júnior(Coordenador)Jeff erson Amorin OliveiraRicardo Alexandre Bianchini

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Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Ciência e Pesquisa.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma, abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distância.

Por falar em distância, isto não signifi ca que você estará sozinho. Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

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Vilson Leonel

Alexandre de Medeiros Motta

Palhoça

UnisulVirtual

2007

Design instrucional

Viviane Bastos

2ª edição revista e atualizada

Ciência e PesquisaLivro didático

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Edição – Livro Didático

Professores ConteudistasAlexandre de Medeiros Motta

Vilson Leonel

Design InstrucionalViviane Bastos

Projeto Gráfico e Capa

Equipe UnisulVirtual

DiagramaçãoPedro Teixeira

Revisão OrtográficaB2B

Copyright © UnisulVirtual 2007

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

001.42L61 Leonel, Vilson

Ciência e Pesquisa : livro didático / Vilson Leonel, Alexandre de Medeiros Motta ; design instrucional Viviane Bastos. 2ª. ed. rev. atual. – Palhoça : UnisulVirtual, 2007.

230 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7817-116-2

1. Ciência. 2. Pesquisa - Metodologia. I. Motta, Alexandre Medeiros. II. Bastos, Viviane. III. Título.

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Palavras dos professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 – Conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

UNIDADE 2 – Ciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

UNIDADE 3 – Método científi co . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

UNIDADE 4 – Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

UNIDADE 5 – Produção acadêmica: tipos de trabalhos científi cos . . . 151

UNIDADE 6 – Redação científi ca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191

Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211

Sobre os professores conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219

Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 221

Sumário

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Palavras dos professores

É imprescindível entender a educação universitária como um processo de mediação e facilitação da aprendizagem, lugar de excelência do saber, capaz de permitir ao aluno a compreensão dos fundamentos da ciência e o desenvolvimento de uma postura crítica diante da sociedade em que vive.

Assim, a disciplina Ciência e Pesquisa disponibiliza conteúdos essenciais para que você tenha condições de refl etir sobre as teorias que envolvem a ciência e a pesquisa. No entanto, é preciso lembrar que em disciplinas a distância o fator auto-aprendizagem é a condição fundamental para se desenvolver os estudos dos conteúdos apresentados.

A universidade, por excelência, é o lugar de produção de novos conhecimentos e novos saberes e a ciência e a pesquisa são instrumentos para que isso se concretize. Esta é uma das funções históricas do ensino universitário. Nesse sentido, entendemos que a disciplina Ciência e Pesquisa assume relevante papel, uma vez que os conteúdos dispostos nas unidades de estudo contribuirão para a consolidação dessa função da universidade.

Bom estudo!

Vilson Leonel e Alexandre de Medeiros Motta

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Plano de estudo

O plano de estudos visa orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Nele, você encontrará elementos que esclarecem o contexto da disciplina e sugerem formas de organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam. Assim, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação.

São elementos desse processo:

o livro didático;

o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA;

as atividades de avaliação (complementares, a distância e presenciais);

o Sistema Tutorial.

Ementa

Conhecimento. Ciência. Pesquisa e método científi co. Produção acadêmica. Redação científi ca.

Carga Horária

A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

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Objetivos

Geral:

Conhecer o método de produção científi ca e distingui-lo de outros métodos de conhecimento a partir dos fundamentos da teoria da ciência e de exemplos práticos de pesquisa.

Específi cos:

Conceituar e distinguir conhecimento.

Identifi car as principais características do conhecimento do senso comum, artístico, religioso, fi losófi co e científi co.

Defi nir ciência e identifi car as principais características do conhecimento científi co.

Conhecer a história da ciência e do método científi co e relacionar ciência e técnica.

Defi nir método e identifi car os principais métodos de abordagem e de procedimento.

Classifi car as pesquisas quanto a nível, a abordagem e ao procedimento utilizado para coleta de dados.

Identifi car os principais tipos de trabalhos realizados no meio acadêmico.

Identifi car os elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científi co e identifi car os principais tipos de citações textuais.

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Conteúdo programático

Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao fi nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade defi nem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 6

Unidade 1 – Conhecimento

Nela você estudará o conceito de conhecimento e as principais características do conhecimento do senso comum, religioso, artístico, fi losófi co e científi co.

Unidade 2 – Ciência

As principais características da ciência serão estudadas nessa unidade e você conhecerá a relação entre ciência e técnica, a história da ciência e identifi cará os principais métodos de pesquisa científi ca.

Unidade 3 – Método científi co

Nesta unidade você estudará a defi nição de método científi co, a relação entre método e técnica e os principais métodos de abordagem e procedimento.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 4 – Pesquisa

O conceito de pesquisa e a classifi cação das pesquisas quanto a nível, a abordagem e ao procedimento utilizado na coleta de dados serão os temas tratados nesta unidade.

Unidade 5 – Produção científi ca: tipos de trabalhos científi cos

Aqui você compreenderá a importância do projeto no contexto da pesquisa científi ca, identifi cará os elementos que compõem o roteiro de um projeto de pesquisa e os principais tipos de trabalhos realizados no meio acadêmico, dentre eles o resumo, a resenha crítica, o artigo científi co e a monografi a.

Unidade 6 – Redação científi ca

Nesta unidade você estudará os componentes que integram a estrutura lógica do relatório de pesquisa, os elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científi co, as regras para a apresentação gráfi ca de um trabalho acadêmico, as regras para ordenar referências e apresentação das citações no texto.

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Ciência e Pesquisa

Agenda de atividades/ Cronograma

Verifi que com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espaço da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura; da realização de análises e sínteses do conteúdo; e da interação com os seus colegas e tutor.

Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da d isciplina.

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

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UNIDADE 1

Conhecimento

Objetivos de aprendizagem

� Compreender o conceito de conhecimento.

� Distinguir as formas de conhecimento.

� Identifi car as principais características do conhecimento do senso comum, artístico, religioso, fi losófi co e científi co.

Seções de estudo

Seção 1 O conhecimento

Seção 2 O conhecimento popular ou do senso comum

Seção 3 O conhecimento religioso ou teológico

Seção 4 O conhecimento artístico

Seção 5 O conhecimento fi losófi co

Seção 6 O conhecimento científi co

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Para início de estudo

Nesta unidade você estudará o conceito de conhecimento, as formas direta e indireta de conhecer e os tipos de conhecimento: senso comum, teológico, artístico, fi losófi co e científi co. No decorrer do estudo você irá perceber que não há uma explicação única ou exclusiva para a compreensão dos problemas ou situações que você enfrenta no seu dia-a-dia. Assim, você está convidado a iniciar o estudo da disciplina de Ciência e Pesquisa, começando pela discussão sobre o conceito de conhecimento. Bom estudo!

SEÇÃO 1 - O conhecimento

A palavra conhecimento tem sua origem no latim cognitio e pressupõe, necessariamente, a existência de uma relação entre dois pólos: de um lado o sujeito e de outro o objeto.

Figura 1 – Relação sujeito-objeto

Na relação sujeito-objeto, o sujeito é aquele que possui capacidade cognitiva, isto é, capacidade de conhecer. O objeto é aquilo que se manifesta à consciência do sujeito, que é apreendido e transformado em conceito.

Isso equivale a dizer que o conhecimento é o ato, o processo pelo qual o sujeito se coloca no mundo e, com ele, estabelece uma ligação. Por outro lado, o mundo é o que torna possível o conhecimento ao se oferecer a um sujeito apto a conhecê-lo. (ARANHA; MARTINS, 1999, p.48).

Para Luckesi e outros (2003, p. 137-138), existem duas maneiras do sujeito se apropriar do conhecimento. A primeira consiste na apropriação direta da realidade sem a mediação de outra pessoa

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Ciência e Pesquisa

Unidade 1

ou de algum outro meio. Neste caso, o sujeito opera “com” e “sobre” a realidade. A segunda ocorre de forma indireta, na qual a compreensão se dá por intermédio de um conhecimento já produzido por outra pessoa ou através de símbolos orais, gráfi cos, mímicos, pictóricos, etc.

Você conhece quais são as formas de conhecimento? Acompanhe a seguir.

Tipos de conhecimento

O conhecimento pode ocorrer de diversas formas, isto signifi ca dizer que um único objeto pode ser entendido à luz de diversos ângulos e aspectos. Estamos nos referindo aos tipos de conhecimento: senso comum, fi losófi co, religioso, artístico e científi co.

Para facilitar a compreensão deste assunto, considere, como exemplo, o problema da justiça. Você já imaginou de quantas formas é possível compreender este fenômeno tão antigo na história da humanidade? Este problema pode ser “entendido” à luz do senso comum, da Religião, da Arte, da Filosofi a e da Ciência. Você já imaginou as soluções que os referidos tipos de conhecimento apresentariam para este problema?

Figura 2 – Tipos de conhecimento

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Universidade do Sul de Santa Catarina

— Na primeira seção desta unidade, você conheceu um pouco sobre conceito de conhecimento e os tipos de conhecimento. O assunto da próxima seção refere-se ao conhecimento popular ou como comumente se fala, senso comum.

SEÇÃO 2 - O conhecimento popular ou do senso comum

O conhecimento popular ou do senso comum é “[...] aquele que não surge do estudo sistemático da realidade a partir de um método específi co, mas provém do ‘viver-e-aprender’, da

experiência de vida” (RAUEN, 1999, p. 8). Por isso, por meio deste tipo de conhecimento, não conseguimos explicar

adequadamente um fenômeno, não se constituindo em uma teoria.

Consiste na ação pela ação, sem idéias comprovadas que não permitem o estudo ou a investigação sobre um determinado fenômeno. Então, o seu conteúdo se forma a partir da experiência que se vivencia no dia-a-

dia.

Todos nós sabemos muitas coisas que nos ajudam em nosso dia-a-dia e que funcionam bem na prática. Nas zonas rurais, muitas pessoas, mesmo sem nunca ter freqüentado uma escola, sabem a época certa de plantar e de colher. Esse conjunto de crenças e opiniões, essencialmente de caráter prático, uma vez que procura resolver problemas cotidianos, forma o que se costuma chamar de conhecimento comum ou senso comum. (GEWANDSZNAJDER, 1989, p. 186).

Köche (1997, p. 23-27) apresenta as seguintes características para o senso comum: “resolve problemas imediatos (vivencial); elaborado de forma espontânea e instintiva (ametódico); subjetivo (fragmentado) e inseguro; linguagem vaga e baixo poder de crítica; impossibilita a realização de experimentos controlados; as verdades apresentam certa durabilidade e estabilidade (crença); dogmático (crenças arbitrárias); não apresenta limites de validade”. Além das características mencionadas, é possível afi rmar também que, o conhecimento do senso comum é sensitivo. Em muitas situações, próprias desse tipo de

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Unidade 1

conhecimento, observamos o abandono da razão e um apego àquilo que é captado apenas pelos órgãos sensoriais: visão, audição, olfato, paladar e tato. Você, por exemplo, tem a sensação de que a Terra está parada e não em movimento? Você vê que o céu é azul? Pois bem, para entender que a Terra não está parada e que o azul do céu é apenas uma ilusão de ótica é necessário muito mais do que os órgãos sensoriais (visão, audição). Neste caso, precisamos do uso da razão.

O senso comum, portanto, representa um conhecimento sensitivo e aparente, porque se apega à aparência dos fatos e não à sua essência.

Para Laville e Dionne (apud RAUEN, 2002, p. 23), as fontes do conhecimento popular ou do senso comum são a intuição e a tradição. A intuição é a percepção imediata que dispensa o uso da razão, e a tradição ocorre quando, uma vez reconhecida a pertinência de um saber, organizam-se meios sociais de manutenção e de difusão desse conhecimento, tornando-se uma marca visível na formação da identidade cultural de uma comunidade.

Contudo, não se pode dizer de maneira alguma que o conhecimento do senso comum possa ser considerado como de qualidade inferior aos demais conhecimentos, pois em muitas ocasiões de nossas vidas ele funciona socialmente, como no caso do manuseio do chá caseiro ou das ervas medicinais, a partir do conhecimento adquirido por certas pessoas de seus pais ou avós, passando a se tornar uma sabedoria proveniente da cultura popular.

A idéia de sabedoria, em muitas culturas, está ligada à fi gura do ancião pelo fato de ele ter vivido muito tempo e ter acumulado muito conhecimento.

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SEÇÃO 3 - O conhecimento religioso ou teológico

Como você imagina que o problema da justiça pode ser tratado pelo conhecimento religioso? Mas para responder

a este questionamento é necessário que você conheça, primeiramente, alguns fundamentos desse tipo de conhecimento. Acompanhe a seguir.

O conhecimento religioso fundamenta-se na fé das pessoas, partindo do “[...] princípio de que as verdades nas quais

[se] acredita são infalíveis ou indiscutíveis, pois se tratam de revelações da divindade”, tendo a visão do mundo interpretada

como resultante da criação divina, sem questionamentos.(OLIVEIRA NETTO, 2005, p. 5).

Assim, “essas verdades são em geral tidas como defi nitivas, e não permitem revisão mediante a refl exão ou a experiência. Nesse sentido, podemos classifi car sob este título os conhecimentos ditos místicos ou espirituais”. (MÁTTAR NETO, 2002, p. 3).

Sua “matéria de estudo é Deus, como ser que existe independente e o qual detém não as potencialidades, mas a ação do perfeito”. Portanto, neste tipo de conhecimento há a necessidade da “[...] refl exão sobre a essência e a existência naquilo que elas têm como causa primeira e última de toda a vida”. (BARROS; LEHFELD, 1986, p. 52).

Para Chaui (2005, p. 138), “a percepção da realidade exterior como algo independente da ação humana nos conduz à crença em poderes superiores ao humano e à busca de meios para nos comunicar com eles. Nasce assim, a crença na(s) divindade(s)”.

E então? Você já pensou nas respostas para o nosso questionamento? Pois bem, partilhando uma indagação com a refl exão que você está fazendo nesse momento, podemos ainda perguntar: para o conhecimento religioso, a verdadeira justiça é produzida pelos homens ou pela divindade? A justiça, pensada nessa perspectiva, não seria a realização do projeto de Deus?

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Ciência e Pesquisa

Unidade 1

Refl ita sobre essa questão e descubra situações as quais você conhece ou que estejam presentes na sua comunidade e que expressem a forma do conhecimento religioso defi nir ou se posicionar frente à questão da justiça.

Utilize o espaço a seguir para registro.

— Você refl etiu sobre a situação anterior? Observe ao seu redor. Será importante para compreender melhor o assunto tratado nesta unidade. Continue seu estudo, passando a conhecer sobre o conhecimento artístico. Vamos lá?

SEÇÃO 4 - O conhecimento artístico

O conhecimento artístico é baseado na intuição, que produz emoções, tendo por objetivo maior manifestar o sentimento e não o pensamento. Sendo assim, para Oliveira Netto (2005, p. 5), “a preocupação do artista não é com o tema, mas com o modo de tratá-lo”, confi gurando-se necessariamente em uma interpretação marcada pela sensibilidade.

O conhecimento artístico baseia-se na interpretação subjetiva produzida pelo artista e pelo intérprete. Para Heerdt e Leonel (2006, p. 30):

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[...] a arte combina habilidade desenvolvida no trabalho (prática) com a imaginação (criação). Qualquer que seja sua forma de expressão, cada obra de arte é sempre perceptível com identidade própria, dando-lhe também componentes de manifestação dos sentimentos humanos, tais como: emoção, revolta, alegria, esperança.

Retome o problema apresentado no início desta seção: qual é a visão artística ou estética sobre a questão da justiça? Você acha que a poesia, a música, as obras de arte podem apresentar expressões de justiça ou de injustiça vividas pelo homem?

Refl ita sobre essa questão e descubra situações as quais você conhece ou que expressem a forma do conhecimento artístico defi nir ou se posicionar frente à questão da justiça. Compartilhe sua refl exão no espaço virtual de aprendizagem e acompanhe, também, as publicações dos seus colegas.

SEÇÃO 5 - O conhecimento fi losófi co

A palavra fi losofi a vem do grego e é formada pelas palavras philo que signifi ca amigo e sophia, sabedoria. Portanto, fi losofi a signifi ca, em sua etimologia, amigo da sabedoria.

A origem da Filosofi a, na história do pensamento humano, é do século VI a.C., o qual foi marcado por uma grande ruptura histórica: a passagem do mito para a razão. Nesse período houve uma grande modifi cação na forma de expressar a linguagem escrita, que passou do verso para a prosa. O verso representava o período anterior ao século VI a.C. e era a forma de transmitir o conhecimento

mítico, produzido, principalmente pelas experiências, narrativas e pelos relatos de Homero e Hesíodo.

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Unidade 1

Com a origem da Filosofi a, no chamado milagre grego, houve a passagem da consciência mítica para a consciência racional ou fi losófi ca e a linguagem escrita passou a representar a forma de manifestação da razão.

A origem da palavra razão está em duas fontes: ratio (latim) e logos (grego). Ambas apresentam o mesmo signifi cado: contar, calcular, juntar, separar.

[...] logos, ratio ou razão signifi cam pensar e falar ordenadamente, com medida e proporção, com clareza e de modo compreensível para outros. Assim, na origem, razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta e claramente, para pensar e dizer as coisas tais

como são. (CHAUÍ, 2002, p. 59, grifo nosso).

Esse tipo de conhecimento surgiu em nossa sociedade para superar ou se opor a quatro atitudes mentais: conhecimento ilusório (conhecimento das aparências das coisas); emoções (sentimentos e paixões cegas e desordenadas); crença religiosa (supremacia da crença em relação à inteligência humana); êxtase místico (rompimento do estado consciente). (CHAUÍ, 2002, p. 59-60).

Refl etir ou conceber o mundo à luz do conhecimento fi losófi co signifi ca, antes de tudo, usar o poder da razão para pensar e falar ordenadamente sobre as coisas. Assim, a refl exão fi losófi ca é radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. Radical porque vai às raízes do problema, rigorosa porque é sistemática, metódica e planejada, e de conjunto porque analisa o problema em todos os seus ângulos e aspectos. (ARANHA; MARTINS, 1999).

Do mesmo modo, é possível afi rmar que “o conhecimento fi losófi co constrói uma forma especulativa de ver o mundo. Especulação, de especulum que signifi ca espelho, é um saber elaborado, a partir do exercício do pensamento, sem o uso de qualquer objeto que não o próprio pensamento”. (RAUEN, 1999, p. 23).

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Por isso, um dos papéis mais signifi cativos desse tipo de conhecimento para o homem é o de desestabilizar o que está posto, no sentido de demonstrar que as coisas não estão prontas e acabadas, tornando o nosso pensamento falível e superável à medida que vamos conhecendo novos horizontes. O conhecimento fi losófi co não é verifi cável, daí não se pautar na experiência sensorial e por isso a utilização da razão é uma forma de bloquear a interferência dos sentimentos no ato de conhecer determinada coisa.

Sendo assim, a prática do conhecimento fi losófi co torna-se cada vez mais necessária em nosso cotidiano e meio acadêmico, pois nos estimula e motiva à refl exão mais crítica sobre a nossa vida, a sociedade e o mundo em que vivemos.

Retome o problema apontado no início desta seção e analise: como a Filosofi a aborda a questão da justiça? Não é difícil pressupor que se a Filosofi a faz uma refl exão radical, rigorosa e de conjunto sobre os problemas da realidade fará também a mesma refl exão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre o problema da justiça. O fi lósofo, ou qualquer pessoa que se propõe a pensar sobre o assunto, fará especulações racionais procurando apontar os seguintes questionamentos: a justiça é justa? A quem serve a justiça? Por que a justiça é mais severa para uns e mais branda para outros?

E você? Como pensa, fi losofi camente, o problema da justiça?

— Refl ita sobre esta questão. Será um bom exercício para que você compreenda melhor sobre o conhecimento fi losófi co. E agora, para encerrar esta unidade de estudo, conheça mais detalhes sobre o conhecimento científi co, tão enfatizado em nossa realidade acadêmica.

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Ciência e Pesquisa

Unidade 1

SEÇÃO 6 - O conhecimento científi co

Como você já estudou nas seções anteriores, cada tipo de conhecimento tem características próprias e um modo bem particular de compreender os fatos, os fenômenos, as situações ou as coisas.

Com o conhecimento científi co também não é diferente. Dos apresentados até o momento, o conhecimento científi co é considerado o mais recente.

A ciência, da forma como é entendida hoje, é uma invenção do mundo moderno. Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, Galileu, Newton, entre outros foram os grandes expoentes que, no fi nal da Idade Média e durante a Idade Moderna criaram as bases do conhecimento científi co.

Para Köche (1997, p. 17):

o conhecimento científi co surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para os problemas de ordem prática da vida diária, característica esta do conhecimento ordinário, mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas que é o conhecimento que advém dos sentidos ou da experiência sensível.

Observe que, “[...] o conhecimento científi co é real – no sentido que se prende aos fatos – e contingente – porque se pauta, além da racionalidade, pela experiência e pela verifi cabilidade [das coisas]”. (RAUEN, 2002, p. 22). Geralmente, ele se verifi ca na prática, pela demonstração ou pela experimentação, dependendo da área de estudo em que esteja inserido: seja nas áreas sociais e humanas ou nas “exatas” e biológicas, por exemplo.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

E então, você está lembrado do problema apresentado no início desta unidade de estudo para exemplifi car os tipos de conhecimento? Pois bem, com base nas informações apresentadas sobre o conhecimento científi co, como você analisa o problema da justiça? Quais são as bases conceituais, no âmbito do conhecimento científi co para fundamentar de forma metódica, racional e sistemática essa questão?

Se você ainda não formalizou uma idéia consistente ou convincente sobre a visão da justiça sob o prisma do conhecimento científi co, não se impaciente, pois no decorrer da próxima unidade serão apresentadas de forma detalhada outras características desse tipo de conhecimento, além de estabelecer uma relação entre ciência e tecnologia, de resgatar elementos históricos da ciência e de defi nir e classifi car o método científi co.

— Agora que você já estudou sobre o tema tratado, é chegado o momento da auto-avaliação. Você terá a oportunidade de desenvolver refl exões sobre os principais aspectos apresentados a respeito do conhecimento. Aproveite ao máximo esse momento. Ele será muito importante para que você possa se preparar para o estudo daUnidade 2. Sendo assim, é necessário que você desenvolva com autonomia as atividades.

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Ciência e Pesquisa

Unidade 1

Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades.

1) Quais são os dois modos dos quais o sujeito se utiliza para apropriar-se do conhecimento? Depois de responder a esta questão, destaque um exemplo do cotidiano para cada um dos modos apontados.

2) De acordo com as situações apresentadas a seguir, identifi que e escreva no espaço reservado o tipo de conhecimento correspondente (no caso, se é popular, artístico, religioso, científi co ou fi losófi co).

a) O uso sistemático da razão, como forma de superação da mera intuição e do argumento de autoridade, constitui o campo de atuação deste tipo de conhecimento. Por isso, a utilização da razão tenta bloquear a interferência dos sentimentos.

b) Este conhecimento surge do estudo sistemático da realidade, a partir de um método específi co, através de procedimentos tecnicamente planejados e testados.

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c) A experiência do sujeito – “eu vi” – ou o relato da experiência de outrem – “me disseram” – é condição sufi ciente para garanti-los como o critério de verdade, visto que as explicações deste tipo de conhecimento são sempre resultantes da experiência individual.

d) Este conhecimento se constitui em forma especulativa de ver o mundo, a partir do exercício do pensamento.

e) O conteúdo deste conhecimento se forma a partir da experiência que se vive no dia-a-dia, preocupando-se comumente com problemas mais imediatos e rotineiros.

f) A base deste conhecimento está situada na crença em seres divinos, que se revelam como os únicos capazes de conduzir o destino das pessoas comuns.

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Unidade 1

3) Por que, na sua opinião, em nossa sociedade não existe um único tipo de conhecimento, sendo necessário recorrermos comumente aos conhecimentos popular, científi co, fi losófi co, artístico ou religioso para resolvermos certos problemas que afl igem o nosso cotidiano?

4) Assinale correto ou incorreto de acordo com o sentido de cada afi rmativa relacionada a seguir:

a) O conhecimento para ser conhecimento precisa nos levar ao entendimento da realidade. Por isto, ele se classifi ca em vários tipos, desde o popular até o artístico.

( ) Correto ( ) Incorreto

b) O conhecimento é a tomada de consciência de um mundo vivido pelo homem. Assim, no conhecimento coexistem dois pólos: o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido.

( ) Correto ( ) Incorreto

c) Entre os tipos de conhecimento não existe um grau de hierarquia, pois todos eles são formas de se entender a realidade e, por isso, funcionam socialmente.

( ) Correto ( ) Incorreto

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Síntese

Nesta unidade você estudou o conhecimento. A palavra conhecimento vem do latim (cognitio) e resulta da relação entre o sujeito e o objeto. Como formas de apropriação do conhecimento podemos destacar a direta e a indireta. A forma direta ocorre quando o sujeito enfrenta a realidade e opera “com” e “sobre” a mesma. Na indireta o conhecimento é obtido por intermédio de símbolos gráfi cos, orais, mímicos, etc.

Você também estudou nessa unidade os tipos de conhecimento, que são: senso comum ou popular, religioso, artístico, fi losófi co e científi co.

O senso comum é aquele que provém do viver e aprender, da experiência de vida, sem apresentar uma preocupação com o estudo sistemático da realidade. O religioso ou teológico se funda na fé, acreditando que as verdades são infalíveis ou indiscutíveis, vinculadas às revelações divinas. O artístico preocupa-se em produzir emoções, através da manifestação dos sentimentos, marcadas pela sensibilidade do artista ou do intérprete. O fi losófi co utiliza o poder da razão para pensar e falar ordenadamente sobre as coisas, possibilitando uma refl exão rigorosa, radical e de conjunto sobre os problemas que a realidade apresenta. Este conhecimento constrói uma forma especulativa de ver o mundo. O conhecimento científi co, por sua vez, fornece explicações sistemáticas que podem ser testadas e criticadas através de provas empíricas, caracterizando-se como real e contingente.

Assim, como você acabou de observar, cada tipo de conhecimento apresenta uma forma bem peculiar de interpretar os fenômenos produzidos pela natureza ou pelo homem. O problema da justiça, que foi o exemplo utilizado no decorrer de toda a unidade, ou qualquer outro problema, pode ser concebido ou interpretado à luz dos diversos tipos de conhecimento.

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Unidade 1

Saiba mais

Para aprofundar os assuntos tratados nesta unidade, leia o texto a seguir, extraído do livro de José A. Cunha, intitulado Filosofi a: iniciação à investigação fi losófi ca (São Paulo: Atual, 1992). Trata-se, portanto, de um livro ao qual você poderá recorrer para complementar seu estudo.

A idéia de ciência como conhecimento críticoInteressa-nos, fi nalmente, considerar em que consiste esse conhecimento novo, criado a partir de atitudes críticas e problematizadoras, conforme é anunciado por Sócrates em sua alegoria da caverna. Esse conhecimento novo é operado pelo logos, e a apropriação da realidade por ele realizada se chama, de um lado, fi losofi a, quando examina as bases de todo o conhecimento, e, de outro lado, ciência, quando se aplica à investigação das causas efi cientes dos acontecimentos.

Ainda não é o momento de analisar com maior precisão a relação entre a fi losofi a e a ciência. Cabe, no entanto, acompanhar Sócrates, em outro diálogo de Platão, intitulado Teeteto, para ver como ele aplica a atitude crítica e problematizadora visando defi nir que conhecimento novo é este que procura. Sócrates, no trecho selecionado para leitura, parece concluir que esse conhecimento novo sobre o mundo, que constitui a ciência, consiste em interpretações conceituais, as quais os intérpretes têm boas razões para considerar como verdadeiras. O que não fi ca claro neste diálogo é em que condições uma interpretação pode ser considerada “verdadeira”. Mas a resposta desta questão somente será obtida com o nascimento dos métodos experimentais do século XVII.

Sócrates – Mas, voltando ao início da discussão, como é que poderíamos defi nir ciência? Não vamos desistir da investigação, presumo eu.

Teeteto – De modo nenhum, a não ser que tu mesmo desistas.

Sócrates – Diz-me então qual a melhor defi nição que poderíamos dar da ciência, para não entrarmos em contradição conosco mesmos.

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Teeteto – É exatamente a que procuramos dar, Sócrates. Da minha parte, não vejo outra.

Sócrates – Qual é ela?

Teeteto – Que opinião verdadeira é a ciência? A opinião verdadeira, parece, é infalível e que tudo o que dela resulta é belo e bom.

Sócrates – Não há como experimentar para ver, Teeteto, diz o chefe de fi la na passagem do rio. Aqui dá-se o mesmo: o que temos a fazer é avançar na investigação. Talvez venhamos a esbarrar nalguma coisa que nos revele o que procuramos. Se pararmos por aqui, é que não descobriremos nada.

Teeteto – Tens razão. Vamos em frente e examinemos!

Sócrates – O problema não exige um estudo prolongado, pois existe toda uma profi ssão que mostra bem que a opinião verdadeira não é a ciência.

Teeteto – Como é possível? Que profi ssão é essa?

Sócrates – A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores e advogados. Tais indivíduos, com a sua arte, produzem a convicção, não entusiasmo, mas sugerindo as opiniões que lhes aprazem. Ou julgas tu que há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concebido pela clepsidra, sejam capazes de ensinar devidamente a verdade acerca dum roubo ou de qualquer outro crime, a ouvintes que não foram testemunhas do fato?

Teeteto – Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.

Sócrates – Mas, para ti, persuadir alguém não será levá-lo a ter uma opinião?

Teeteto – Sem dúvida.

Sócrates – Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos de fatos que só uma testemunha ocular, e mais ninguém, pode saber, não é verdade que, ao julgarem esses fatos por ouvir dizer, depois de terem deles uma opinião verdadeira, pronunciam um juízo desprovido de ciência, embora tendo uma convicção justa, deram uma sentença correta?

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Unidade 1

Teeteto – Com certeza.

Sócrates – Mas, meu amigo, se a opinião verdadeira dos juízes e a ciência fossem a mesma coisa, nunca o melhor dos juízes teria uma opinião correta sem ciência. A verdade, porém, é que se trata de duas coisas diferentes.

Teeteto – Eu mesmo já ouvi alguém fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a opinião verdadeira acompanhada de razão (logos) é ciência, e que, desprovida de razão, a opinião está fora da ciência e que as coisas que não é possível explicar são incogniscíveis (é a extensão que empregava) e as que é possível explicar são cogniscíveis.

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UNIDADE 2

Ciência

Objetivos de aprendizagem

� Compreender o conceito de Ciência.

� Identifi car as características do conhecimento científi co.

� Relacionar Ciência e tecnologia.

� Compreender a evolução histórica da Ciência.

Seções de estudo

Seção 1 A defi nição de Ciência

Seção 2 Classifi cação das Ciências

Seção 3 A perspectiva histórica da Ciência

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Para início de estudo

Você estudou na unidade anterior que toda a realidade é complexa, pois para entendê-la é necessário recorrer a uma série de formas de conhecimento, desde o popular até o científi co.

Nesta unidade, você terá a oportunidade de aprofundar seus estudos sobre o conhecimento científi co, através de sua defi nição, características, perspectiva histórica e ligação com a tecnologia.

Aproveite bem o conteúdo desta unidade, pois será de grande utilidade para o entendimento da próxima unidade, na qual você acompanhará uma análise mais detida do método científi co, uma das características fundamentais do conhecimento científi co.

Está preparado? Bom estudo!

SEÇÃO 1 - A defi nição de Ciência

A Ciência está relacionada diretamente às necessidades humanas do nosso cotidiano, como alimentação, vestuário, saúde,

moradia, transporte entre outros. O conhecimento científi co está por trás do remédio que tomamos, da orientação médica que recebemos, da roupa que vestimos. A Ciência, na época em que vivemos, tornou-se um bem cultural. Por isso é muito difícil imaginarmos nossa vida sem a presença dela.

O signifi cado etimológico da palavra Ciência vem do latim (scientia) e signifi ca saber, conhecer, arte, habilidade. Apesar de a palavra Ciência remontar à Antiguidade é somente no século XVII que surge como um conhecimento racional, sistemático, experimental, exato e verifi cável.

Trujillo Ferrari (1973, p. 3) destaca cinco funções básicas das Ciências, que são: “a) aumento e melhoria do conhecimento; b) descoberta de novos fatos e fenômenos; c) aproveitamento espiritual; d) aproveitamento material do conhecimento; e) estabelecimento de certo tipo de controle sobre a natureza”.

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Unidade 2

Se não há unanimidade na defi nição de Ciência, por conta de fatores culturais, históricos, fi losófi cos ou ideológicos há, por outro lado, características que são unânimes em praticamente todas as tentativas de defi nição desse tipo de conhecimento.

Com base nisso é possível afi rmar que o conhecimento científi co é:

verifi cável;

factual;

objetivo;

racional;

preditivo;

comunicável;

descritivo-explicativo;

metódico;

paradigmas; e

intersubjetivo.

A partir das características apresentadas, você deve estar se perguntando: quais são, então, os signifi cados destas características? Acompanhe, a seguir, uma sucinta descrição de cada uma delas.

Verifi cável - corresponde à idéia de prova ou de constatação da experiência pela ação e demonstração de um fenômeno, com a preocupação básica de testar a consistência da validade deste fenômeno. O método adotado em uma pesquisa científi ca deve permitir a outro pesquisador atingir os mesmos resultados alcançados desde que adote os mesmos critérios e procedimentos.

Factual - diz respeito aos fatos que acontecem na realidade, que está à disposição da nossa observação numa dada realidade. O conhecimento científi co estuda fenômenos naturais e humanos que ocorrem ou acontecem na natureza ou vida humana.

Racional – relaciona-se com a construção de conceitos e juízos a partir do uso sistemático do raciocínio, ou melhor, o que se

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Verdade sintáticaVeja o que Köche (1997, p. 31) comenta sobre o assunto: “O conhecimento das diferentes teorias e leis se expressa formalizado em enunciados que, confrontados uns com os outros, devem apresentar elevado nível de consistência lógica entre suas afi rmações [...] A Ciência, no momento em que sistematiza as diferentes teorias, procura uni-las estabelecendo relações entre um e outro enunciado, entre uma e outra lei, entre uma e outra teoria, entre um e outro campo da Ciência, de forma tal que se possa, através dessa visão global, perceber as possíveis inconsistências e corrigi-las”.

Verdade semânticaKöche (1997, p. 31) afi rma que “o ideal da objetividade [...] pretende que as teorias científi cas, como modelos teóricos representativos da realidade, sejam construções conceituais que representem com fi delidade o mundo real [...].”

Verdade pragmáticaO ideal de intersubjetividade é a possibilidade dos enunciados científi cos serem “[...] submetidos a testes, em qualquer época e lugar e por qualquer sujeito [reconhecido pela comunidade científi ca]”. (KÖCHE, 1997, p. 33).

quer na verdade é “[...] atingir uma sistematização coerente do conhecimento presente em todas as suas leis e teorias” (KÖCHE, 1997, p. 31). As teorias científi cas não podem apresentar ambigüidade ou incoerência entre seus enunciados, por isso, a necessidade de um conhecimento racional e lógico. Köche (1997) chama isso de verdade sintática.

Objetivo – refere-se ao propósito de querer encontrar a verdade contida na realidade, dispensando as impressões imediatas que acobertam essa mesma realidade, permitindo inclusive a manipulação dos fatos e o desenvolvimento de uma linguagem específi ca inerente aos conceitos próprios de cada área do conhecimento científi co. Quando se fala em objetividade científi ca quer se dizer que os enunciados, conceitos ou teorias científi cas devem corresponder aos fatos. Objetividade, portanto, signifi ca a correspondência da teoria com os fatos. Köche (1997) chama isso de verdade semântica.

Intersubjetivo – de nada adianta uma teoria ser coerente na sua construção lógica (ideal de racionalidade ou verdade sintática); de nada adianta uma teoria apresentar correlação entre seus enunciados e conceitos e os fatos (ideal de objetividade ou verdade semântica) se esta teoria não for submetida à apreciação e/ou validação e/ou crítica da comunidade científi ca. Köche (1997) chama isso de verdade pragmática. Assim, “[...] um enunciado científi co é objetivo quando, alheio às crenças pessoais, puder ser apresentado à crítica, à discussão, e puder ser intersubjetivamente submetido a teste”. (POPPER, 1977 apud KÖCHE, 1997, p. 32).

Preditivo – esta característica remete ao entendimento de que, com o conhecimento científi co, é possível prever como os fenômenos podem ocorrer. Não se trata de uma questão de simples vidência ou premunição, mas de previsão baseada na repetição contínua dos fatos.

O sol nasce todos os dias. Após a primavera, vem o verão. Objetos soltos caem com aceleração constante, se for desprezada a resistência do ar. Gatos dão sempre à luz gatinhos [sic]. Como se pode ver, há uma ordem na natureza e [...] o cientista tenta descobrir e estudar estas regularidades, enunciando-as na forma de leis gerais e utilizando estas leis para explicar e prever novos fatos. (GEWANDSZNAYDER, 1989, p. 9, grifo nosso).

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Unidade 2

Comunicável - implica dizer que os resultados das investigações científi cas devem ser comunicados à sociedade em geral e não fi carem restritos ao meio acadêmico. Uma descoberta científi ca só é reconhecida pela comunidade científi ca se for publicada em uma revista de circulação internacional. Qualquer estudo ou pesquisa que você desenvolver só será considerado verdadeiramente um trabalho científi co se for publicado ou submetido à apreciação da comunidade acadêmica. Fazer uma pesquisa e guardar os resultados para si não é uma postura de quem deseja contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científi co, você não concorda?

Descritivo-explicativo - signifi ca dizer que o conhecimento científi co é expresso por meio de enunciados que explicam as condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos relacionados a um problema, pois somente por meio das leis e teorias é possível explicar os fenômenos.

As leis e teorias surgem da necessidade de se ter de encontrar explicações para os fenômenos da realidade. Esses fenômenos são conhecidos pelas suas manifestações, pelas suas aparências, assim como se percebe pela cor e pelo perfume quando um fruto está maduro. Pode-se descobrir nos fenômenos da mesma natureza a manifestação de alguns aspectos que são comuns e invariáveis. Por exemplo: sempre que um objeto é jogado para o alto, cai. O estudo dessas manifestações pode conduzir à descoberta da uniformidade ou regularidade do comportamento desse fenômeno conjeturando sobre a estrutura dos fatores que interferem ou produzem essa regularidade. (KÖCHE, 1997, p. 90).

A função da Física consiste em descrever e explicar os fenômenos físicos, da Sociologia em descrever e explicar os fenômenos sociais, da Psicologia em descrever e explicar os fenômenos psíquicos. Isso que ocorre com a Física, a Sociologia e a Psicologia também ocorre com as demais Ciências.

Metódico - signifi ca um conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, estabelecidas pelo pesquisador a fi m de investigar um determinado tema/questão/problema. Não há Ciência sem método. Entre o sujeito que conhece (cientista) e o objeto que é conhecido há um conjunto de procedimentos, regras, instrumentos, técnicas e processos que permitem a elucidação mais precisa do objeto de estudo.

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Retome a defi nição de conhecimento apresentada na unidade anterior. A defi nição se deu a partir de dois pólos: de um lado o sujeito e, de outro, o objeto. O método, enquanto exigência do conhecimento científi co coloca-se entre essa relação.

Figura 1 – Relação sujeito-objeto mediada pelo método

Movido por paradigmas - todo conhecimento científi co baseia-se em modelos ou representações formadas por pressupostos teórico-fi losófi cos. Um exemplo disso é a física aristotélica, física newtoniana, física quântica, psicologia comportamentalista, psicanálise, dogmática jurídica ou qualquer outro modelo fi losófi co-científi co. Afi rmar que a Ciência é movida por paradigmas signifi ca dizer que a Ciência é movida por modelos, marcada por concepções ou formas de interpretar o mundo, a vida e a sociedade.

Th omas Kuhn (2003, p. 13), em sua obra “A estrutura das revoluções científi cas”, assim se expressa sobre os paradigmas:

Considero ‘paradigmas’ as realizações científi cas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma Ciência.

Ciência e tecnologia

Um dos desafi os da Ciência tem sido marcado pela vontade de dominar a natureza, através do desenvolvimento tecnológico. Assim, “além de aumentar nosso conhecimento, a Ciência também pode ser utilizada como fonte de poder sobre a natureza”. (GEWANDSZNAJDER, 1989, p. 16).

Para Barros e Lehfeld (1986, p. 70), a Ciência é o meio mais adequado para o controle prático da natureza, transformando-a

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Unidade 2

em “[...] matriz de recursos técnicos e/ou tecnológicos, os quais utilizados com sabedoria contribuem para uma vida humana mais satisfatória enquanto efetivação instrumental do fazer e do agir”.

Do mesmo modo, Köche (1997, p. 43) afi rma que a Ciência pode “[...] satisfazer às necessidades humanas como instrumento para estabelecer um controle prático sobre a natureza”.

Como você pode observar, não há ruptura epistemológica entre a Ciência e a técnica, mas há um encadeamento. Sendo assim, “há técnica para o conhecer e há técnica para o agir”, de modo que esta (técnica) se utiliza “[...] das orientações fornecidas pela Ciência sobre a realidade, e transforma-as em programas e planos de execução”. (BARROS; LEHFELD, 1986, p. 71).

A técnica ou tecnologia (do grego téchne, que signifi ca arte ou habilidade) pode utilizar tanto o conhecimento comum quanto os conhecimentos obtidos na pesquisa básica ou na Ciência aplicada para criar novos artefatos ou produtos (aparelhos elétricos, computadores, medicamentos, corantes etc.), melhorar a produção, modifi car o ambiente ou amenizar as atividades humanas. (GEWANDSZNAJDER, 1989, p. 16).

Segundo Barros e Lehfeld (1986, p. 71), “genericamente, a técnica é o manejo do conceito; é o exercício da investigação e o da intervenção sobre o objeto, para atingir resultados práticos compatíveis com as exigências situacionais de mudanças”.

Nesse sentido, Köche (1997, p. 43) afi rma que:

a eletricidade, a telefonia, a informática, o rádio, a televisão, a aviação, as aplicações tecnológicas no campo da medicina, das engenharias e das viagens espaciais, o uso da genética na agricultura e na agropecuária e tantos outros relacionados à psicologia, e aos mais diferentes campos do conhecimento mostram a evolução crescente do uso do conhecimento científi co na vida diária do homem, a tal ponto que difi cilmente se desvincula a produção do conhecimento do seu benefício tecnológico e pragmático.

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Aos poucos, o conhecimento científi co toma conta das nossas decisões e ações cotidianas, confi gurando uma sociedade do conhecimento, na qual o poder se constitui pelo domínio do próprio conhecimento.

SEÇÃO 2 - Classifi cação das Ciências

A classifi cação das Ciências é outra tarefa um tanto difícil de estabelecer. Se você fi zer um estudo na literatura sobre o assunto, com certeza, você encontrará muitas formas de agrupar ou de separar as Ciências.

O que há de comum entre elas é que, em todas as classifi cações, os autores procuram levar em conta o critério do objeto de estudo, isto é, procuram agrupar as Ciências pelas semelhanças ou diferenças que há entre elas. Assim, as Ciências que estudam fenômenos produzidos pela ação humana fazem parte de um grupo enquanto as Ciências que estudam os fenômenos produzidos pela ação da natureza fazem parte de outro grupo.

Qual a classifi cação das Ciências?

Observe a classifi cação de Bunge apud Gewandsznayder (1989, p. 12):

Figura 2 – Classifi cação das Ciências

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Unidade 2

A Lógica e a Matemática são Ciências do pensamento, pois lidam com fenômenos ideais e abstratos. Enquanto a Matemática opera com números, a Lógica opera com idéias, mas ambas não possuem realidade física.

Você já imaginou a realidade física do zero ou a realidade física do pensamento? Toda idéia é uma abstração, o zero, ou qualquer outro número, é uma convenção humana, que através de um símbolo representa ausência de alguma coisa. As operações lógicas e matemáticas se dão exclusivamente no campo do pensamento.

A Lógica e a Matemática são importantes tanto para o homem comum que necessita pensar de forma ordenada e operar com números no seu dia-a-dia, como para a Ciência, principalmente no que diz respeito a sua aplicação como contribuinte ou instrumento para testar a validade de suas teorias.

Ambas são consideradas Ciências formais porque são instrumentais e lidam com operações que se encadeiam através dos números, idéias, funções, proposições etc. Alguns autores chegam a afi rmar que a lógica ou a matemática não seriam propriamente Ciência, mas método. Ambas não estão preocupadas com o conteúdo de suas operações, mas com a implicação dos elementos que compõem essas operações.

As Ciências factuais referem-se aos fatos ou fenômenos concretos que correspondem a alguma coisa real e podem ser observados ou testados. As Ciências naturais lidam com fenômenos produzidos pela ação da natureza (Química, Biologia, Física, Ecologia). As Ciências culturais, sociais ou humanas lidam com os fenômenos produzidos pela ação do homem nas relações sócio-culturais (Sociologia, Psicologia, Antropologia, História)

Além da classifi cação apresentada (Ciências formais e factuais), alguns autores acrescentam um outro agrupamento: o das Ciências aplicadas. Neste grupo encontram-se todas as Ciências

Pitágoras, na Antigüidade Clássica, dizia que a essência de todas as coisas é o número, que tudo pode ser representado numericamente. Os positivistas lógicos no século XX afi rmavam que um enunciado para ser verdadeiro deveria passar pelo crivo da lógica.

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que se propõem a criar artefatos ou tecnologias para a intervenção na vida humana ou na natureza: Medicina, Arquitetura, Engenharia, Ciências da Computação, entre outras.

SEÇÃO 3 - A perspectiva histórica da Ciência

Dos conhecimentos que você estudou na unidade anterior (conhecimento do senso comum, conhecimento religioso, conhecimento artístico e conhecimento fi losófi co), o científi co pode ser considerado o mais recente.

A Ciência, da forma como é entendida hoje, é uma invenção do mundo moderno decorrente da Revolução Científi ca do século XVII.

Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, Galileu, Newton, entre outros foram os grandes expoentes que, no fi nal da Idade Média e durante a Idade Moderna criaram as bases do conhecimento científi co. Todavia, a história da Ciência começa muito antes desse período, nos remetendo para a Grécia Antiga do século VI a.C.

Nesse sentido, para que você possa iniciar o estudo da história das Ciências com mais segurança e clareza é importante, primeiramente, determinar os principais períodos históricos pelos quais se desenvolveu o conhecimento científi co.

Visão Grega Visão Moderna Visão Contemporânea

Século VI a.C. até o fi nal da Idade Média. Século XVII ao Século XIX. Século XIX até os nossos dias.

— Conhecidos os períodos históricos pelos quais se desenvolveu o conhecimento científi co, acompanhe a seguir, a descrição de cada um.

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A visão grega de Ciência

Os gregos dos séculos VI a IV a.C. foram os primeiros a desenvolver um tipo de conhecimento racional desligado do mito. “O pensamento laico, não-religioso, logo se tornava rigoroso e conceitual fazendo nascer a fi losofi a no século VI a.C.” (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 93).

Uma das preocupações mais evidentes, nesse período, era a da busca do saber, a compreensão da natureza das coisas e do homem. Buscava-se uma nova forma de compreensão do universo em contraposição à visão mitológica.

Os fi lósofos “[...] pré-socráticos substituíram a concepção de mundo caótico concebido pela mitologia pela idéia de cosmos”. Agora o universo passava a ser a ordem ou o cosmos, se contrapondo à concepção mitológica de que os fenômenos aconteciam no mundo de forma caótica, como se fossem movidos por forças espirituais e sobrenaturais comandadas pelas forças dos deuses. (KÖCHE, 1997, p. 44).

Os primeiros fi lósofos buscavam o princípio explicativo de todas as coisas (a arché), cuja unidade resumiria a extrema multiplicidade da natureza. Os fenômenos estavam relacionados a causas e forças naturais que podiam ser conhecidas e previstas. “As respostas eram as mais variadas, mas a teoria que permaneceu por mais tempo foi a de Empédocles, para quem o mundo físico é constituído de quatro elementos: terra, água, ar e fogo”. (ARANHA; MARTINS, 1999, p. 93).

Assim, a noção de Ciência na Grécia voltava-se para a especulação racional e se desligava da técnica e das preocupações práticas, pois “numa sociedade escravista, que deixava tarefas, trabalhos e serviços aos escravos, a técnica era vista como uma forma menor de conhecimento”. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 255).

Segundo essa concepção, era preciso buscar a Ciência (episteme) que consistia “[...] no conhecimento racional das essências, das idéias imutáveis, objetivas e universais. As Ciências como a matemática, a geometria e a astronomia são passos necessários a serem percorridos pelo pensamento, até atingir as culminâncias da refl exão fi losófi ca”. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 94).

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Para Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, a Ciência (episteme) “[...] produz um conhecimento que pretende ser um fi el espelho da realidade, por estar sustentado no observável e pelo seu caráter de necessidade e universalidade”. A Physis era o princípio ativo, a fonte intrínseca natural do comportamento de cada coisa, determinada por sua matéria e forma. Portanto, a Ciência física era uma Ciência da natureza (KÖCHE, 1997, p. 47).

Nesse sentido, a concepção estática do mundo se mantém defi nida, na qual os gregos costumavam associar a perfeição ao repouso, caracterizada pela ausência de movimento.

Assim, na visão grega de Ciência, predominou esse modelo cosmológico aristotélico, posteriormente confi rmado por Ptolomeu (um helênico do século II d.C.), que defendia a idéia de um mundo “geocêntrico, fi nito, de forma esférica, limitado às estrelas visíveis e fechado, com princípios organizadores próprios, tal qual um organismo vivo, dotado de inteligência própria”. (KÖCHE, 1997, p. 48, grifo dos autores).

Figura 3 - Sistema Geocêntrico - órbitas dos planetas circulares. Fonte: Disponível em: <http://www.astronomia.com>.

Outra característica marcante dessa astronomia (de Aristóteles) foi a “hierarquização do cosmos, ou seja, o universo se achava dividido em dois mundos, sendo que um era considerado superior ao outro: o mundo sublunar, considerado inferior, correspondia à região da Terra [...] e o mundo supralunar, de natureza superior, correspondia aos ‘Céus”. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 94).

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A partir deste breve esboço, segundo Aranha e Arruda (1999, p. 95), podemos atribuir à Ciência grega, cinco características marcantes, que são:

a) a Ciência encontra-se ligada à filosofia;

b) a Ciência é qualitativa;

c) a Ciência não é experimental;

d) a Ciência é contemplativa;

e) a Ciência baseia-se em uma concepção estática do mundo.

O período medieval e a cristianização da concepção grega de Ciência

Continuando o estudo, chegamos ao mundo medieval (que se estende aproximadamente dos séculos V ao XV), no qual observamos que continua a vigorar a infl uência da herança greco-latina, no que se refere à manutenção da mesma concepção de Ciência. “Apesar das diferenças evidentes, é possível compreender essa continuidade, devido ao fato de o sistema de servidão também se caracterizar pelo desprezo à técnica e a qualquer atividade manual”. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 95).

Agora a Ciência “[...] se vincula aos interesses religiosos e se subordina aos critérios da revelação, pois, na Idade Média, a razão humana devia se submeter ao testemunho da fé” (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 95). O que valia eram as verdades reveladas pelos “velhos livros”, fossem eles a Bíblia, Aristóteles ou Ptolomeu. “Eles eram o próprio conhecimento, a própria Ciência”. (ALFONSO-GOLDFARB, 1994, p. 30).

Por isso, nessa fase histórica, não houve desenvolvimento das Ciências particulares, fazendo com que a lógica aristotélica passasse a ser amplamente utilizada para justifi car as verdades da fé.

Nesse sentido você pode perceber que o Teocentrismo, tendo na fi gura de Deus o centro de todas as atenções humanas, passou a ser a visão de mundo que marcou o imaginário da maioria das pessoas que viveram neste momento. Portanto, o período

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medieval se constituiu, sobretudo, na primazia da fé sobre a razão.

Figura 4 – Pinturas características da época Fonte: Disponível em: <http://www.historiadarte.com.br/idademedia.htm>

A visão moderna de Ciência

A visão moderna de Ciência surge no fi nal da Idade Média, perpassa o período renascentista e culmina no século XVII com a chamada Revolução Científi ca.

Nicolau Copérnico (1473-1543), que em oposição ao modelo geocêntrico de astronomia de Ptolomeu, no século XVI, propõe o modelo da teoria heliocêntrica. (ARANHA, ARRUDA, 1999, p. 96, grifo nosso).

Figura 5 - Sistema Solar Heliocêntrico Fonte: Disponível em: <http://www.astronomia.com>.

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No período renascentista inicia-se uma concepção de Ciência, em que as culturas fundamentadas no conhecimento racional das essências (da Antigüidade clássica) ou nas verdades reveladas pelos parâmetros bíblicos (do medieval) deveriam ser apagadas do imaginário e da mentalidade dos europeus ocidentais, de modo a valorizar-se apenas o uso de métodos experimentais rigorosos que, amparados no conhecimento matemático, eram capazes de proporcionar respostas consideradas cientifi camente verdadeiras.

Assim, em princípio, temos a concepção racionalista de Ciência, que se consolida até o fi nal do século XVII. Neste tipo de concepção, a Ciência é defi nida como um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo.

Paralelamente à concepção racionalista, temos a concepção empirista de Ciência, que se baseava no modelo de objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII, estendendo-se até o fi nal do século XIX. Nesta concepção, se defendia a posição de que não existiam idéias inatas, tendo na experiência o parâmetro de aprendizado.

Assim, aos poucos, os pensadores modernos, seja pela concepção racionalista ou empirista, passam a negar tacitamente o saber aristotélico incorporado à teologia católica, do período medieval europeu.

No campo da Física e da Astronomia, os estudos realizados por Galileu possibilitaram a Isaac Newton (1642-1727) elaborar a teoria da gravitação universal. A proposição física se tornava uma lei, obtida pela observação e generalização indutiva, transformando-se em “[...] proposições confi áveis e destituídas de dúvida ou de arbitrariedade, [como se fosse] um decalque fi el e objetivo da realidade”. (KÖCHE, 1997, p. 57).

A partir deste momento, estava instituída a Física Mecânica (de Newton) como paradigma para todas as Ciências, criado matematicamente, as humanas e sociais inclusive. Agora, a Ciência experimental newtoniana se transformava no modelo de conhecimento.

Veja, na página seguinte, uma breve apresentação dos representantes de cada uma das concepções de Ciência estudadas aqui.

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René Descartes (1596-1650) é considerado o pai do racionalismo, pois defendia a idéia de que a verdade dos conceitos e demonstrações matemáticos era inquestionável.

John Locke (1632-1704) é considerado um dos grandes responsáveis por esta concepção de Ciência. Dizia que a mente era uma página em branco a qual a experiência viria a preencher.

Galileu Galilei (1564-1642) foi, certamente, um dos grandes expoentes da Ciência moderna sendo o primeiro a formular o método quantitativo-experimental, o primeiro a formular o problema crítico do conhecimento.

Figura 6 - Pensadores modernos.

As Ciências Humanas e Sociais tiveram enorme difi culdade em estabelecer um estatuto próprio ou uma autonomia, pois como você percebeu todo o modelo de cientifi cidade, necessariamente, estava vinculado às Ciências Naturais. A Física era considerada a Ciência perfeita.

Assim, a Economia, a Sociologia, a Psicologia, dentre outras Ciências Sociais e Humanas, nos séculos XVIII e XIX, para atingirem o status de conhecimento científi co, inicialmente tiveram que adotar o modelo experimental proposto pela Física. A Sociologia chegou a ser chamada de Física Social e a Psicologia de Psicofísica.

A exaltação à Ciência e ao método experimental deu origem ao chamado cientifi cismo:

visão reducionista segundo a qual a Ciência seria o único conhecimento válido. Dessa forma, o método das Ciências da natureza – baseado na observação, experimentação e matematização – deveria ser estendido a todos os campos do conhecimento e a todas as atividades humanas. A Ciência virou praticamente um mito. (HEERDT; LEONEL, 2006, p. 42).

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— Até aqui você conheceu as visões grega e moderna de Ciência. Acompanhe agora, para fi nalizar esse tema, a visão contemporânea.

A visão contemporânea de Ciência

Este período é marcado pela crise do modelo de Ciência da Idade Moderna. Nesse sentido, “a principal contribuição para uma nova concepção de Ciência foi dada (pelo físico) Einstein, pois “as teorias da relatividade restrita e da relatividade geral foram importantes não apenas pelo conteúdo que apresentaram, mas pela forma como foram alcançadas”. (KÖCHE, 1997, p. 60).

A cientifi cidade passa a ser pensada nesse momento como uma idéia reguladora de alta abstração e não mais como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos. Agora a teoria não será mais aceita como defi nitivamente confi rmada.

Então, “a objetividade da Ciência resulta do julgamento feito pelos membros da comunidade científi ca que avaliam criticamente os procedimentos utilizados e as conclusões, divulgadas em revistas especializadas e congressos”. (ARANHA, MARTINS, 1999, p. 89).

Dessa maneira, a Ciência procura demonstrar que é capaz de fornecer respostas dignas de confi ança, desde que submetidas continuamente a um processo de revisão crítico, sistemático e fundamentado nas teorias vigentes. “A Ciência, em sua compreensão atual, deixa de lado a pretensão de taxar seus resultados de verdadeiros, mas, consciente de sua falibilidade, busca saber sempre mais” (KÖCHE, 1997, p. 79).

Trata-se agora de “[...] olhar a Ciência como produzida por seres humanos a partir de uma consCiência humana, de maneira que, em lugar de tomar a objetividade como um produto científi co auto-evidente, gostaria de examinar o aspecto subjetivo da objetividade”. (KELLER, 1994, p. 93).

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O conhecimento científi co pode ser defi nido como provisório e construído, até que outro venha asuperá-lo.

A visão contemporânea de Ciência é marcada pelas rupturas epistemológicas, não havendo um modelo exclusivo que caracterize o conhecimento científi co nessa época. Ruptura epistemológica signifi ca revisão crítica do conhecimento e tentativas de superar aquela visão estática, marcada pelas verdades dogmáticas e imutáveis, tão característico em toda a história do conhecimento científi co.

— Que bom, você chegou no fi nal de mais uma unidade de estudo. Agora você está preparado para refl etir sobre o que aprendeu no estudo desta unidade. Para isso, você responderá as questões apresentadas a seguir, especialmente preparadas para promover refl exões voltadas às preocupações mais comuns do nosso cotidiano.

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Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades:

1) Você estudou, nesta unidade, que entre os séculos XVIII e XIX, defendia--se a idéia de que a Ciência era o único meio de se chegar à verdade e à certeza das respostas. Hoje, no entanto, essa visão está sendo aos poucos superada.

Descreva, sucintamente, qual é a visão contemporânea de Ciência que se apresenta em nosso meio.

2) Analise as afi rmações sobre a classifi cação das Ciências e depois assinale a resposta certa:

I. A Biologia está situada no grupo das Ciências naturais;

II. A Ecologia está situada no grupo das Ciências humanas ou sociais;

III. As Ciências aplicadas são Ciências que conduzem à invenção de tecnologias para intervir na natureza, na vida humana e nas sociedades (Direito, Engenharia, Medicina, Arquitetura, Informática, etc.);

IV. Aritmética, Geometria, Álgebra, Trigonometria, Lógica, Física pura, Astronomia pura, etc., são exemplos de Ciências matemáticas ou lógico-matemáticas.

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a) ( ) Somente a afi rmação II está correta.

b) ( ) As afi rmações I, III e IV estão corretas.

c) ( ) Nenhuma afi rmação está correta.

d) ( ) Todas as afi rmações estão corretas.

3) A Ciência pode ser utilizada como fonte de poder sobre a natureza. Para isso as tecnologias vêm se transformando a cada dia que passa.

A partir do exposto, responda: qual a relação que existe entre a Ciência e a tecnologia?

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Síntese

Você estudou, nesta unidade, a defi nição de Ciência, a relação entre Ciência e Tecnologia, a classifi cação das Ciências e a perspectiva histórica da Ciência.

Você percebeu que não há uma única forma de defi nir Ciência. Esta difi culdade resulta de fatores culturais, históricos, fi losófi cos ou ideológicos. Entretanto, mesmo existindo essa difi culdade, é possível identifi car algumas características que são próprias do conhecimento científi co. Neste sentido podemos dizer que o conhecimento científi co é verifi cável, factual, objetivo, racional, preditivo, comunicável, descritivo-explicativo, metódico, movido por paradigmas, intersubjetivo, dentre outros.

Sobre a relação entre Ciência e Tecnologia você percebeu que a Ciência é o meio mais adequado para o controle prático da natureza. Alimentação, transporte, saúde, produção industrial dependem das inovações tecnológicas, que, por sua vez, dependem dos avanços na Ciência. Desta maneira torna-se difícil separar a Ciência da Técnica.

As Ciências se dividem em dois grupos: as formais e as factuais. As Ciências formais ocupam-se de elementos ideais e abstratos e estudam as implicações lógicas e matemáticas do pensamento. As Ciências factuais estudam fenômenos naturais (Física, Química, Biologia, Ecologia, etc.) e humanos e sociais (Sociologia, Economia, Antropologia, História, Psicologia, Direito, etc.). As Ciências se agrupam conforme a familiaridade com o objeto de estudo. Assim, as Ciências que estudam os fenômenos da natureza estão reunidas em um grupo e as que estudam os fenômenos sociais e humanos em outro grupo, apesar de ambas pertencerem ao grupo das Ciências factuais. Estudando a divisão da Ciência também podemos entender o conhecimento científi co como sendo o conhecimento das especialidades, das particularidades. Neste sentido, podemos dizer que todo cientista é um especialista em determinada área do conhecimento.

Você estudou também sobre as três grandes concepções históricas de Ciência: a visão grega, moderna e contemporânea.

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Na visão grega, você estudou que se desenvolveu um tipo de conhecimento racional desligado do mito. Nessa época, as concepções míticas do universo dão lugar às concepções baseadas na racionalidade, fazendo surgir a Filosofi a. Na visão grega de Ciência predominou o modelo cosmológico de universo chamado geocentrismo (a Terra como centro do universo). Na Idade Média, o modelo de Ciência grega vincula-se aos interesses religiosos e se subordina aos critérios da revelação. Este modelo perdurou até o fi nal da Idade Média quando foi questionado pelos principais protagonistas da Ciência moderna que propuseram o modelo heliocêntrico (sol como centro do universo) em substituição ao modelo geocêntrico.

Na Idade Moderna a concepção de Ciência de desvincula da visão grega por meio da chamada Revolução científi ca. Kepler, Copérnico, Bacon, Descartes, Galileu, Newton, entre outros foram os grandes expoentes que, no fi nal da Idade Média, e durante a Idade Moderna criaram as bases do conhecimento científi co. Duas concepções marcaram a Ciência no mundo moderno: a racionalista e a empirista. A concepção racionalista preconiza um conhecimento racional, dedutivo e demonstrativo e seu maior expoente é René Descartes (1596-1650). A concepção empirista defendia a posição de que não existem idéias inatas e a experiência é o parâmetro para todo aprendizado. O grande expoente da concepção empirista é John Locke (1632-1704) que dizia que a mente era uma página em branco a qual a experiência viria preencher.

O modelo de cientifi cidade estava vinculado às Ciências naturais e era baseado na matematização e na experimentação. A física era a Ciência perfeita e considerada modelo de cientifi cidade.

A visão contemporânea de Ciência é marcada pelas rupturas epistemológicas não havendo um modelo exclusivo que caracterize o conhecimento científi co. Como você estudou, ruptura epistemológica signifi ca revisão crítica do conhecimento. A concepção atual de Ciência é marcada pela idéia de que não há verdades eternas, pois as teorias são transitórias e podem ser renovadas ou até substituídas.

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Saiba mais

Para aprofundar o assunto tratado nesta unidade, leia o texto a seguir extraído do livro de Rubem Alves, intitulado Entre a Ciência e a sapiência: o dilema da educação (14. ed. São Paulo: Loyola, 2005).

O que é científi co?

“Era uma vez uma aldeia às margens de um rio, rio imenso cujo lado de lá não se via, as águas passavam sem parar, ora mansas, ora furiosas, rio que fascinava e dava medo, muitos haviam morrido em suas águas misteriosas, e por medo e fascínio os aldeões haviam construído altares à suas margens, neles o fogo estava sempre aceso, e ao redor deles se ouviam as canções e os poemas que artistas haviam composto sob o encantamento do rio sem fi m.

O rio era morada de muitos seres misteriosos. Alguns repentinamente saltavam de suas águas, para logo depois mergulhar e desaparecer. Outros, deles só se viam os dorsos que se mostravam na superfície das águas. E, havia as sombras que podiam ser vistas deslizando das profundezas, sem nunca subir à superfície. Contava-se, nas conversas à roda do fogo, que havia monstros, dragões, sereias e iaras naquelas águas, sendo que alguns suspeitavam mesmo que o rio fosse morada de deuses. E todos se perguntavam sobre os outros seres, nunca vistos, de número indefi nido, de formas impensadas, de movimentos desconhecidos, que morariam nas profundezas escuras do rio.

Mas tudo eram suposições. Os moradores da aldeia viam de longe e suspeitavam – mas nunca haviam conseguido capturar uma única criatura das que habitavam o rio: todas as suas magias, encantações, fi losofi as e religiões haviam sido inúteis: haviam produzido muitos livros mas não haviam conseguido capturar nenhuma das criaturas do rio.

Assim foi, por gerações sem conta. Até que um dos aldeões pensou um objeto jamais pensado. (O pensamento é uma coisa existindo na imaginação antes de ela se tornar real. A mente é útero. A imaginação a fecunda. Forma-se um feto:

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pensamento. Aí ele nasce...) Ele imaginou um objeto para pegar as criaturas do rio. Pensou e fez. Objeto estranho: uma porção de buracos amarrados por barbantes. Os buracos eram para deixar passar o que não se desejava pegar: a água. Os barbantes eram necessários para se pegar o que se deseja pegar: os peixes. Ele teceu uma rede.

Todos se riram quando ele caminhou na direção do rio com a rede que tecera. Riram-se dos buracos dela. Ele nem ligou. Armou a rede como pôde e foi dormir. No dia seguinte, ao puxar a rede, viu que nela se encontrava, presa, enroscada,uma criatura do rio: um peixe dourado.

Foi aquele alvoroço. Uns fi caram com raiva. Tinham estado tentando pegar as criaturas do rio com fórmulas sagradas, sem sucesso. Disseram que a rede era objeto de feitiçaria. Quando o homem lhes mostrou o peixe dourado que sua rede apanhara, eles fecharam os olhos e o ameaçaram com a fogueira.

Outros fi caram alegres e trataram de aprender a arte de fazer redes. Os tipos mais variados de redes foram inventados. Redondas, compridas, de malhas grandes, de malhas pequenas, umas para ser lançadas, outras para fi car à espera, outras para ser arrastadas. Cada rede pegava um tipo diferente de peixe.

Os pescadores-fabricantes de redes fi caram muito importantes. Porque os peixes que eles pescavam tinham poderes maravilhosos para diminuir o sofrimento e aumentar o prazer. Havia peixes que se prestavam para ser comidos, para curar doenças, para tirar a dor, para fazer voar, para fertilizar os campos e até mesmo para matar. Sua arte de pescar lhes deu grande poder e prestígio, e, eles passaram a ser muito respeitados e invejados.

Os pescadores-fabricantes de redes se organizaram numa confraria. Para pertencer à confraria, era necessário que o postulante soubesse tecer redes e que apresentasse, como prova de sua competência, um peixe pescado com as redes que ele mesmo tecera.

Mas uma coisa estranha aconteceu. De tanto tecer redes, pescar peixes e falar sobre redes e peixes, os membros da confraria acabaram por esquecer a linguagem que os habitantes da aldeia haviam falado sempre e ainda falavam. Puseram, em seu lugar, uma linguagem apropriada a suas redes e a seus peixes, que tinha de ser falada por todos os seus membros,

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sob pena de expulsão. A nova linguagem recebeu o nome de ictiolalês (do grego ichthys = “peixe” + “fala”). Mas, como bem disse Wittgenstein alguns séculos depois, “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. Meu mundo é aquilo sobre o que posso falar. A linguagem estabelece uma ontologia. Os membros da confraria, por força de seus hábitos de linguagem, passaram a pensar que só era real aquilo sobre que eles sabiam falar, isto é, aquilo que era pescado com redes e falado em ictiolalês. Qualquer coisa que não fosse peixe, que não fosse apanhado com suas redes, que não pudesse ser falado em ictiolalês, eles recusavam e diziam: “Não é real”.

Quando as pessoas lhes falavam de nuvens, eles diziam: “Com que rede esse peixe foi pescado?” A pessoa respondia: “Não foi pescado, não é peixe”. Eles punham logo fi m à conversa: “Não é real”. O mesmo acontecia se as pessoas lhes falavam de cores, cheiros, sentimentos, música, poesia, amor, felicidade. Essas coisas, não há redes de barbante que as peguem. A fala era rejeitada com o julgamento fi nal: “Se não foi pescado no rio com rede aprovada não é real”.

As redes usadas pelos membros da confraria eram boas? Muito boas.

Os peixes pescados pelos membros da confraria eram bons? Muito bons.

As redes usadas pelos membros da confraria se prestavam para pescar tudo o que existia no mundo? Não. Há muita coisa no mundo, muita coisa mesmo, que as redes dos membros da confraria não conseguem pegar. São criaturas mais leves, que exigem redes de outro tipo, mais sutis, mais delicadas. E, no entanto, são absolutamente reais. Só que não nadam no rio.

Meu colega aposentado, com todas as credenciais e titulações, mostrou para os colegas um sabiá que ele mesmo criara. Fez o sabiá cantar para eles, e eles disseram: “Não foi pego com as redes regulamentares; não é real; não sabemos o que é um sabiá; não sabemos o que é o canto de um sabiá...”

Sua pergunta está respondida, meu amigo: o que é científi co?

Resposta: é aquilo que caiu nas redes reconhecidas pela confraria dos cientistas. Cientistas são aqueles que pescam no grande rio...

Mas há também os céus e as matas que se enchem de cantos de sabiás... Lá as redes dos cientistas fi cam sempre vazias.

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Método científi co

Objetivos de aprendizagem

� Compreender o conceito de método científi co.

� Relacionar método e técnica.

� Diferenciar o método de abordagem do de procedimento.

� Descrever os principais tipos de métodos de abordagem e de procedimento.

� Identifi car os principais tipos de técnicas de pesquisa.

Seções de estudo

Seção 1 O que é método científi co?

Seção 2 Métodos de abordagem

Seção 3 Métodos de procedimento

Seção 4 Técnicas de pesquisa

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Para início de estudo

Você estudou que o conhecimento científi co apresenta muitas características e uma delas reporta-se ao fato de ser um conhecimento metódico. Estudou que não há condições de haver ciência sem a presença do método.

Nesta unidade, objetivando aprofundar o entendimento sobre a idéia de ciência, você estudará o conceito, a importância e os principais tipos de método científi co. Bom estudo!

SEÇÃO 1 - O que é método científi co?

A palavra método vem do grego methodos e é composta de metá (através de, por meio de) e de hodós (via, caminho). Para que você possa entender o signifi cado da palavra em seu sentido etimológico imagine a escalada de uma montanha que oferece

muitas difi culdades na subida. Antes de subir, certamente, será necessário estudar a montanha para ter a certeza do melhor caminho a ser seguido, providenciar as ferramentas necessárias e conhecer as regras e técnicas da escalada.

A palavra método foi utilizada neste sentido, querendo designar via, caminho, meio ou linha de raciocínio.

Para todas as atividades da vida humana é necessário escolher a melhor via, o melhor caminho, isto é, o melhor método. Na ciência também não é diferente. Se o pesquisador lança um problema de pesquisa, se deseja investigar um determinado fenômeno, precisa, antes de tudo, determinar o caminho a ser seguido para encontrar respostas para o seu problema. Assim, o método consiste no ponto de ligação entre a dúvida e o conhecimento.

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[...] A própria signifi cação da palavra ‘método’ indica que sua função é instrumental, ligando dois pólos, a saber, um pólo de origem ou ponto de partida (estado de ignorância), outro pólo de destinação ou ponto de chegada (estado de conhecimento) [...]. O método corresponde ao grande empreendimento de construção do saber científi co, da fase investigativa à fase expositiva [...]. O método se confunde com o processo por meio do qual se realiza a pesquisa científi ca. (BITTAR, 2003, p. 9-10).

Cardoso (1982, p. 57) afi rma que o método diz respeito aos meios de que dispõe a ciência para propor problemas verifi cáveis e para submeter à prova ou verifi cação as soluções que forem propostas a tais problemas. Assim, a primeira pergunta que deve ser feita para saber se um dado conhecimento é científi co é: como foi obtido? Ou, em outras palavras, como chegou-se a considerar que tal conhecimento é verdadeiro (no sentido das verdades parciais e falíveis da ciência)?

Você percebeu que o método é um aliado da ciência sendo, por isso, indispensável na produção do conhecimento científi co. Todo pesquisador que se propõe a fazer pesquisa coloca-se, por analogia, na posição do alpinista que se pergunta qual o melhor caminho para escalar a montanha. Neste caso o pesquisador se pergunta: qual o melhor método para investigar um determinado problema de pesquisa.

Não há método pronto, fi xo, defi nitivo que possa ser adquirido num balcão de supermercado. O estabelecimento do método da pesquisa depende de fatores relacionados à natureza do objeto de estudo, de aspectos relacionados à natureza da ciência em que o objeto se situa e, fundamentalmente, da criatividade do pesquisador. Neste sentido, entenda o método como sendo a expressão formal do pensamento, a linha de raciocínio que o pesquisador estabelece para abordar o seu problema de pesquisa.

Por mais que o método seja uma conseqüência da criatividade do pesquisador é possível encontrar na literatura da área de Metodologia (disciplina que estuda o método) alguns métodos já consagrados que expressam a forma do raciocínio se organizar.

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Esses métodos são classifi cados em dois tipos: de abordagem e de procedimento.

— Essa classifi cação será o assunto das próximas seções. Mas, primeiramente, você conhecerá mais detalhes sobre o método de abordagem. Vamos lá?

SEÇÃO 2 - Métodos de abordagem

Os métodos de abordagem estão vinculados ao plano geral do trabalho, ao raciocínio que se estabelece como fi o condutor na investigação do problema de pesquisa.

Cervo e Bervian (1983, p. 23) afi rmam que “é a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um fi m dado ou um resultado desejado”.

— Mas você sabe quais são os tipos desses métodos utilizados como base de raciocínio em pesquisas científi cas? Veja a seguir.

Os tipos de métodos de abordagem

Os tipos mais freqüentes de métodos utilizados como base de raciocínio nas investigações científi cas são: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e o fenomenológico.

Método dedutivo – parte de uma proposição universal ou geral para atingir uma conclusão específi ca ou particular. Observe os exemplos.

Todo homem é mortal.

Sócrates é homem.

Então Sócrates é mortal.

Nenhum mamífero é peixe.

A baleia é mamífera.

Então a baleia não é peixe.

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Nos exemplos citados, observe que a primeira premissa é geral ou universal: “todo homem é mortal” ou “nenhum mamífero é peixe”. A expressão “todo” refere-se a uma proposição universal afi rmativa e a expressão “nenhum” refere-se a uma proposição universal negativa. Em ambos os casos você observou que a primeira premissa (premissa é aquilo que vem antes) é universal (todos ou nenhum) e também observou que a conclusão é particular: “Sócrates é mortal” ou “a baleia não é peixe”.

Em uma pesquisa científi ca, muitas vezes o pesquisador estabelece seu raciocínio de forma com que as primeiras considerações acerca do problema sejam consideradas universais ou gerais para, em seguida, analisar o problema de forma específi ca ou particular.

Para Pasold (2000, p. 92), o método dedutivo pede a

[...] seleção prévia de uma formulação geral que será sustentada pela pesquisa e, por conseguinte, terá tal dinâmica exposta em seu relato de pesquisa [...]. A sua utilização sofre um claro condicionamento do direcionamento que o pesquisador vai conferir ao [...] tema que foi antecedentemente estabelecido, ou seja, ele tem uma prévia concepção formulativa sobre o objeto de sua investigação.

Método indutivo – parte de uma ou mais proposições particulares para atingir uma conclusão geral ou universal. Observe os exemplos:

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O cisne 1 é branco.

O cisne 2 é branco.

O cisne 3 é branco.

Ora, os cisnes 1, 2 e 3 são brancos.

Logo, todos os cisnes são brancos.

O ouro conduz eletricidade.

O cobre conduz eletricidade.

O ferro conduz eletricidade.

Ora, o ouro, o ferro e o cobre são metais.

Logo, todos os metais conduzem eletricidade.

Os exemplos apresentados indicam nas primeiras premissas dados ou fatos particulares (os cisnes 1, 2 e 3 são brancos, ou o ouro, o cobre e o ferro conduzem eletricidade) e se encaminham para conclusões universais (todos os cisnes são brancos ou todos os metais conduzem eletricidade).

No raciocínio dedutivo, se as duas primeiras premissas estiverem corretas, a conclusão necessariamente será correta, mas isto não ocorre com o raciocínio indutivo.

No método indutivo, diz-se que o todo é igual às partes que foram analisadas. Este procedimento pode marcar a falibilidade do conhecimento, pois nem sempre o todo é igual às partes. Há registros de cisnes pretos. Afi rmar que todos os cisnes são brancos, portanto, é um erro.

Na pesquisa científi ca, a aplicação do método indutivo se dá principalmente através do uso da estatística probabilística e, também, por intermédio da realização de estudos de caso. Neste sentido, é possível estudar um caso isoladamente dos demais, estudá-los comparativamente ou, ainda, realizar um estudo multicaso.

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Método hipotético-dedutivo – não se limita à generalização empírica das observações, vendo o mundo como existindo, independentemente da apreciação do observador. Por isso, considera-se um método lógico por excelência, que se relaciona à experimentação, motivo pelo qual é amplamente utilizado nas pesquisas das ciências naturais.

É um método que consiste em testar as hipóteses. A solução provisória apresentada ao problema da pesquisa deve ser submetida ao teste de falseamento, através da observação e da experimentação.

Enquanto o método dedutivo é conseqüência de uma implicação de idéias que são encadeadas pelo raciocínio, muitas vezes distante dos fatos, o método hipotético-dedutivo exige a verifi cabilidade objetiva dos fatos. Isto quer dizer que a dedução transforma-se em hipótese e precisa ser testada.

Você percebeu que no método dedutivo foi apresentado o seguinte exemplo: “nenhum mamífero é peixe; a baleia é mamífera; então a baleia não é peixe”. No método hipotético-dedutivo, só é possível aceitar que a baleia não é peixe se houver um procedimento que permita a sua verifi cabilidade, ou seja, é necessário provar, que a baleia não é peixe.

Método dialético – a dialética é uma abordagem que tem como objetivo a obtenção da verdade a partir da observação e superação das contradições dos argumentos, implicando no clássico raciocínio da tese, antítese e síntese. A negação é o seu motor.

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Nesta, como você pode observar, a contradição é o ponto central de todas as coisas, numa dada realidade, culminando na lógica do confl ito, do movimento e da mudança. Ter uma compreensão dialética do mundo signifi ca, portanto, entender esse mesmo mundo como essencialmente contraditório. Observe a fi gura a seguir.

Figura 1 - Metodologia da dialética de Hegel, conforme Heerdt e Leonel (2005, p. 47)

A tese representa a afi rmação, a antítese a negação e a síntese a negação da negação (negação da tese e negação da antítese).

Para você entender esse movimento imagine a organização da sociedade da época medieval e moderna. Na Idade Média, a sociedade era formada, basicamente, por duas classes sociais: a nobreza, composta pelo clero e senhores feudais e servos, composta pelos camponeses.

A luta entre estas duas classes fez surgir uma nova sociedade: a capitalista. No período moderno, a sociedade capitalista foi formada por duas classes: a burguesia e o proletariado. A luta entre as duas fez surgir uma nova sociedade: a sociedade socialista ou comunista. Assim é o movimento da História, e também é a forma de entender como as sociedades se transformam na concepção da dialética.

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Na pesquisa científi ca, o método dialético fi ca evidenciado quando se discute as contradições próprias do objeto de estudo. No trabalho escrito, por exemplo, estas contradições podem ser apresentadas em capítulos diferentes em que o primeiro caracterizaria a tese, o segundo a antítese e o terceiro a síntese.

Pasold (2000, p. 86) afi rma que o método dialético, no âmbito da pesquisa científi ca, signifi ca “estabelecer ou encontrar uma tese, contrapondo a ela uma antítese encontrada ou responsavelmente criada e, em seguida, buscar identifi car ou estabelecer uma síntese fundamentada quanto ao fenômeno investigado”.

Método fenomenológico - a fenomenologia toma como base a idéia de que é possível chegar à essência do objeto da pesquisa (do ser pesquisado) a partir da observação e do exame do fenômeno como algo que aparece à consciência.

Assim, esse método trata daqueles aspectos mais essenciais do fenômeno (redução fenomenológica), aspirando apreendê-los através da intuição (que se opõe ao conhecimento discursivo), sem esgotá-los. Por isso, o fenômeno serve para caracterizar processos que se podem observar sensivelmente (FERRARI, 1973, p. 47).

O método fenomenológico, no âmbito da pesquisa científi ca, pode ser evidenciado, principalmente, nas pesquisas de abordagem qualitativa do tipo pesquisa-ação e pesquisa participante.

— Nesta seção, você estudou sobre um tipo dos métodos que expressam a forma do raciocínio se organizar: os métodos de abordagem. Estude na próxima seção os métodos de procedimento.

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SEÇÃO 3 - Métodos de procedimento

Ao contrário dos métodos de abordagem, os métodos de procedimento estão vinculados muito mais à etapa de aplicação das técnicas em uma investigação ou, mais especifi camente, às fases de desenvolvimento de uma pesquisa. Caracterizam-se por apresentar um conjunto de procedimentos relacionados ao momento da coleta e registro dos dados.

Enquanto o método de abordagem está relacionado ao pensar, os métodos de procedimento estão ligados ao fazer.

— Mas você sabe quais são os tipos de métodos de procedimento mais comuns nas pesquisas científi cas? Veja a seguir.

Os tipos de métodos de procedimento

Para que você tenha uma visão mais concreta dos métodos de procedimento, acompanhe uma breve descrição dos principais tipos, selecionados para o estudo nesta disciplina: o comparativo, o estatístico, o etnográfi co, o histórico e o monográfi co.

Método comparativo – tem como preocupação básica a verifi cação de semelhança entre pessoas, padrões de comportamento ou fenômenos, para poder explicar as divergências constatadas nessa comparação.

Observe o resumo da pesquisa intitulada “Estudo comparativo sobre o desempenho perceptual e motor na idade escolar em crianças nascidas pré-termo e a termo”, publicada na revista Arquivos de Neuro-Psiquiatria.

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O objetivo do estudo foi comparar o desempenho perceptual-motor na idade escolar de crianças nascidas pré-termo e a termo. Participaram do estudo 2 grupos de crianças, com idades entre 5 e 7 anos. O grupo I foi constituído por 35 crianças, de famílias de baixa renda, nascidas até a 34ª semana de gestação e/ou peso abaixo de 1500g, sem sinais de seqüela neuromotora. O Grupo II foi constituído por 35 crianças nascidas a termo, com idade, sexo e nível sócio-econômico equivalentes às crianças do Grupo I. Foram aplicados os testes de Bender, acuidade motora, provas de equilíbrio e tônus postural. As crianças pré-termo obtiveram escores signifi cativamente inferiores na maioria dos testes. Tais resultados reafi rmam a importância do acompanhamento da criança pré-termo até a idade escolar e indicam a necessidade de se estimular o controle postural e a coordenação motora fi na, mesmo naquelas crianças que não apresentam seqüelas neurológicas evidentes. (MAGALHÃES et al, 2003).

Fica evidente, na leitura do resumo, que o objetivo principal da pesquisa é discutir o problema da prematuridade comparando o desempenho perceptual-motor de crianças em idade escolar.

Método estatístico – fundamenta-se na utilização da teoria estatística das probabilidades para a interpretação de dados analisados. Ou melhor, consiste “na redução de fenômenos sociais à representação quantitativa e aplicação de instrumentos estatísticos de análise”. (RAUEN, 2002, p. 45).

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Acompanhe o exemplo a seguir:

Objetivou-se delinear o perfi l socioeconômico, nutricional e de saúde de adolescentes recém-ingressos em uma universidade pública brasileira.

As variáveis comportamentais foram obtidas por meio de questionário, o percentual de gordura corporal (%GC) pelo somatório das dobras cutâneas e o estado nutricional pelo Índice de Massa Corporal.

A maioria dos adolescentes era do sexo feminino (57,3%), não residia com familiares (89,8%), consumia bebida alcoólica (73,5%), omitia alguma refeição principal (57,3%) e rejeitava um ou mais alimentos do grupo das hortaliças (79,5%). Cerca de 57,0% não realizavam atividade física e 7,0% fumavam. Em torno de 72,0% e 25,0%, respectivamente, consumiam hortaliça e fruta cinco ou mais vezes na semana. Os eutrófi cos predominavam, mas 58,7% destes apresentavam %GC elevado. Concluiu-se que considerável parcela dos indivíduos estudados residia sem os familiares e apresentava, além de inadequação da composição corporal e do comportamento alimentar, outros fatores de risco à saúde, como o consumo de álcool e a inatividade física. (VIEIRA et al, 2002).

Como você pode perceber no exemplo, o método estatístico foi utilizado para traçar o perfi l sociodemográfi co de estudantes, relacionando algumas atitudes comportamentais (alimentação inadequada, consumo de álcool, tabagismo, inatividade física) como fatores de risco à saúde.

Método monográfi co – consiste no estudo minucioso e contextualizado de determinados sujeitos, profi ssões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a fi nalidade de obter generalizações.

O resumo a seguir apresenta um estudo monográfi co que se caracteriza por ser um estudo exaustivo e profundo sobre a atuação do Juizado Especial Cível de São Carlos, no Rio de Janeiro. A pesquisa faz um levantamento da natureza dos processos, entrevista usuários, juízes, advogados, cartorários e observação das audiências.

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Este estudo tem como objetivo a análise da tensão entre duas pautas distintas de justiça contemporânea: a justiça formal (de decisão) e a justiça informal (de mediação). Para compreender as conseqüências do processo de ‘dupla institucionalização’ tanto para a imagem da justiça perante seus usuários quanto para os profi ssionais com ela envolvidos, elegeu-se como unidade de estudo o Juizado Especial de Pequenas Causas de São Carlos. O problema sociológico analisado na pesquisa busca compreender como os profi ssionais formados e socializados dentro de uma lógica formal (de decisão) podem atuar dentro de outra lógica informal (de mediação). Outras questões sob investigação são as conseqüências desses procedimentos para o acesso à justiça, para a imagem que os usuários desse Juizado informal fazem deste modelo e para o campo profi ssional em si, através das relações entre juízes, advogados e conciliadores, com o empenho destes últimos em constituir uma carreira institucional para o grupo. O estudo se baseia em diferentes tipos de dados e de técnicas utilizadas para sua coleta:

1) levantamento do número de processos deste Juizado, estabelecendo o perfi l ocupacional das partes, a natureza dos litígios, o resultado fi nal dos processos, o tempo de duração e a representação ou não de advogados;

2) entrevistas em profundidade realizadas com juízes, conciliadores, cartorários e alguns usuários selecionados; e, 3) observação das audiências tanto no Juizado informal quanto na justiça formal. (FAISTING, [200-]).

Método etnográfi co – refere-se ao confronto contínuo da teoria com a prática, exigindo que o pesquisador entre em contato direto e prolongado com o seu objeto de estudo. Por isso, neste método, é predominante a prática da observação participante

Heerdt e Leonel (2005, p. 54) afi rmam que o método etnográfi co estuda a forma de ser de um povo, uma etnia, etc., faz-se uma descrição e análise de sua língua, raça, religião, cultura.

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Figura 2 – Comunidade Macoje da Amazônia Fonte: Disponível em www.nlphotographer.com/amazonia_port.htm

A pesquisa representada no resumo a seguir apresenta um bom exemplo de estudo etnográfi co. Acompanhe.

Este estudo teve como objetivos compreender a percepção que mães de uma comunidade de baixa renda da cidade de São Paulo têm sobre o signifi cado do seu papel na estrutura familiar, em relação ao cuidado dos fi lhos e as estratégias utilizadas para desempenhar esse cuidado. A análise etnográfi ca nos possibilitou reconhecer 6 domínios culturais e resultados reveladores de que a mãe ocupa lugar central na família e é responsável pela educação, criação e socialização dos fi lhos. A adaptação do seu papel caracteriza-se pelo atendimento às necessidades de sobrevivência dos fi lhos, entretanto com o crescimento das crianças, demonstra insegurança frente a isso. (MARTIN; ANGELO, 1999).

Método histórico – consiste na investigação dos acontecimentos, processos e instituições do passado a fi m de verifi car sua infl uência na sociedade atual. Observe o seguinte exemplo:

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A fotografi a vem sendo amplamente utilizada na pesquisa em Psicologia, em diferentes áreas, para investigação das mais diversas questões. Contudo, este recurso ainda é pouco utilizado no Brasil. O objetivo deste trabalho é realizar, com base na literatura científi ca, um levantamento histórico-metodológico do uso da fotografi a na ciência psicológica. Foram identifi cadas quatro funções principais da fotografi a nos diferentes métodos adotados: registro, modelo, feedback e autofotografi a. Em cada uma destas funções, são apresentados diversos estudos realizados, destacando suas vantagens e desvantagens. Paralelamente, procurou-se levantar os temas abordados nas variadas áreas da Psicologia, através do recurso fotográfi co. Por fi m, enfatizou-se a descrição do método autofotográfi co, no qual são destacadas especifi cidades e possíveis contribuições obtidas pela sua utilização.(NEIVA-SILVA; KOLLER, 2002, grifo nosso).

Os métodos de procedimento não se excluem mutuamente. Isto signifi ca dizer que em uma pesquisa pode-se ter ou utilizar mais de um método ao mesmo tempo.

SEÇÃO 4 - Técnicas de pesquisa

Na defi nição de método, você percebeu a comparação que foi feita entre o pesquisador e o alpinista. Por analogia (raciocínio por comparação), enquanto o alpinista estuda as estratégias para escalar a montanha, o pesquisador estuda as estratégias para estudar o problema de pesquisa. Para estabelecer os caminhos da investigação o pesquisador precisar determinar as técnicas de pesquisa. E o que são técnicas? Qual a sua relação com o método?

Para Galliano (1986, p. 6), “método é um conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, a serem vencidas na investigação da verdade, no estudo de uma ciência ou para alcançar determinado fi m”.

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A técnica, diferentemente do método, tem uma preocupação instrumental, pois está diretamente relacionada à fase da recolha de dados e informações no processo de pesquisa. Galliano (1986, p. 6) afi rma que a “técnica é o modo de fazer de forma mais hábil, mais segura, mais perfeita algum tipo de atividade, arte ou ofício”.

Quais as técnicas de pesquisa existentes?

Das muitas técnicas de pesquisa existentes, foram selecionadas apenas as técnicas da entrevista e do questionário, por serem consideradas as mais freqüentemente utilizadas.

A entrevista consiste em uma forma de interação verbal não convencional, ou seja, é um diálogo estruturado em que o entrevistador deve registrar as informações para posterior análise.

Seu planejamento deve seguir os seguintes passos: organizar previamente as perguntas de acordo com os objetivos específi cos traçados no projeto de pesquisa; contato prévio com o entrevistado; planejamento operacional (agenda, local, ambiente adequado); quantifi cação do número de entrevistados (representatividade).

Além desses cuidados, é interessante lembrar, também, que o pesquisador deve ouvir mais do que falar, para não interromper continuamente o entrevistado em seu raciocínio, como também, incentivá-lo a falar abertamente, a fi m de que as informações sejam as mais completas possíveis.

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Quanto às perguntas, para serem efi cazes, sempre é bom lembrar que:

a) devem ser claras, diretas e concisas;

b) estar situadas contextualmente;

c) cada uma delas referir-se a apenas um único objeto ou fato;

d) além de ser elaborada de acordo com os objetivos específicos do projeto.

Conforme Silva e Menezes (2001), em relação aos tipos de entrevistas a que se pode recorrer, destacam-se:

a) entrevista padronizada ou estruturada - apresenta um roteiro previamente estabelecido, podendo ser um formulário, que deve ser aplicado da mesma forma a todos os informantes;

b) entrevista despadronizada ou não-estruturada - não exige rigidez de roteiro, pois trata-se de uma conversação informal, permitindo explorar mais amplamente alguns aspectos das informações proporcionadas pelo entrevistado, através de um processo de interação com o pesquisador.

— Você observou que a entrevista é uma das técnicas de pesquisa mais usadas para coleta de dados. A seguir, será apresentada outra técnica também muito utilizada: o questionário.

O questionário consiste em uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante. Deve ser objetivo, limitado em extensão e estar acompanhado de instruções, a fi m de esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar o preenchimento.

De modo mais específi co, conforme Rauen (2002, p. 127-128), um questionário é constituído por três partes: cabeçalho, questões de caracterização dos informantes [dados de identifi cação] e corpo das questões. “O cabeçalho é a parte que encima um

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questionário, indicando, em termos gerais, seu objetivo e o que se espera do informante”. Em seguida, “são apresentadas questões de caracterização dos informantes, [dados de identifi cação] tais como, sexo, idade (ou faixa etária), estado civil, entre outras”. E, por fi m, “no corpo de questões, o investigador se lança às perguntas relevantes da pesquisa”, relacionadas diretamente ao objeto da pesquisa.

Para Silva e Menezes (2001), as perguntas do questionário podem ser de três tipos:

a) abertas (qual é a sua opinião?);

b) fechadas (escolhas pré-definidas);

c) de múltiplas escolhas (fechadas com uma série de respostas possíveis, onde o respondente pode assinalar mais de uma resposta)

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Observe os exemplos a seguir:

Pergunta aberta:

Descreva sua percepção sobre os fatores “disciplina” e “auto-aprendizagem” nas disciplinas de educação a distância.

Pergunta fechada:

Como você avalia a sua aprendizagem nesta disciplina de Educação a distância?

( ) Ótima

( ) Boa

( ) Satisfatória

( ) Regular

( ) Insufi ciente

Pergunta de múltipla escolha:

Quais os motivos que fi zeram com que você viesse morar neste condomínio?

( ) Conforto

( ) Segurança

( ) Baixo preço

( ) Localização

( ) Privacidade

( ) Outro(s). Qual? _________________________

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Segundo Rauen (2002), as perguntas não devem sugerir ou induzir as respostas nem ser redigidas nas formas afi rmativas ou negativas, que levem à concordância, até pela lei do menor esforço. Por isso, a linguagem empregada deve ser a mais clara possível, com vocabulário adequado ao nível da escolaridade dos informantes, além de que cada pergunta deve enfocar apenas uma questão para ser analisada pelo informante.

Em relação ao conteúdo de uma pergunta, pode-se indagar o seguinte: os aspectos a que se referem as perguntas são realmente importantes e pertinentes aos objetivos traçados na pesquisa? Assim, quando se elaborar um questionário, devem ser observados fundamentalmente os objetivos específi cos que se pretende alcançar com a pesquisa, como também, o universo a ser investigado.

Quando da elaboração das perguntas de um questionário é indispensável levar em conta que o informante não poderá contar com explicações adicionais do pesquisador. Por este motivo, as perguntas devem ser muito claras e objetivas.

— Como você estudou no decorrer desta unidade, o método científi co é um conceito não muito fácil de ser defi nido, pois existem vários tipos aplicáveis em uma investigação. Tenha isto em mente ao realizar as atividades a seguir.

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Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades:

1) Que diferença essencial pode ser apontada entre o método de abordagem e o de procedimento?

2) Leia o resumo e classifi que o estudo quanto ao método de procedimento. Justifi que sua resposta com base nas informações estudadas no texto e nos elementos presentes no resumo da pesquisa.

Mortalidade infantil em município da região Centro-Oeste Paulista, Brasil, 1990 a 1992

Introdução: A mortalidade infantil em Presidente Prudente, SP (Brasil), foi estudada no período de 1990 a 1992, a partir de aplicação de métodos para obtenção de diagnóstico coletivo que orientassem a identifi cação e escolha de estratégias de controle de problemas locais. Material e Método: Foram utilizadas declarações de óbito colhidas no cartório, cujos dados originais foram corrigidos por meio de pesquisa nos prontuários dos pacientes atendidos nos serviços de saúde. Para estudar variáveis como idade materna e peso ao nascer foram utilizados os dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). A qualidade dos dados originais das declarações de óbitos foi inicialmente analisada pela quantidade de informações, sensibilidade, especifi cidade e valor de Kappa. Resultado: A sensibilidade global para a causa básica de óbito foi 78,84% e Kappa igual a 71,32 para o total de causas. Ocorreram 189 óbitos, sendo 66,15% no período neonatal (41,28% durante o primeiro dia de vida) e 33,85% no infantil tardio. O peso ao nascer de 58,28% dos óbitos foi menor que 2.500g. As causas básicas de óbito foram estudadas segundo a possibilidade de serem prevenidas (método desenvolvido por Erica Taucher) por grupos de causas reduzidas utilizadas no “International Collaborative Eff ort” (ICE), causas múltiplas e distribuição geográfi ca. Observou-se que nos óbitos ocorridos até 27 dias, 22,23% poderiam ser evitados por adequada atenção ao parto, 20,64% seriam redutíveis por diagnóstico e tratamento precoce, 13,75% por bom controle da gravidez e apenas 7,94% não evitáveis. Das mortes ocorridas no período

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infantil tardio, 12,17% foram classifi cadas como outras preveníveis e 4,23% foram consideradas não evitáveis. Segundo os grupos do ICE, 58,74% faleceram por imaturidade ou asfi xias; 19,58% por infecções e, 12,17%, por anomalias congênitas. Conclusão: Os resultados sugerem prioridade para assistência obstétrica no trabalho de parto e atenção pediátrica por baixo peso ao nascer, entre outras. A análise por causas múltiplas mostra que 76,05% dos óbitos têm as causas básicas relacionadas a causas perinatais e confi rma a relação entre as defi ciências de peso e as complicações respiratórias do recém-nascido. As complicações maternas também relacionaram-se com o baixo peso. Identifi caram-se grandes diferenças no coefi ciente de mortalidade infantil entre as áreas da zona urbana não somente restritas aos valores, como também ao tipo de doenças responsáveis pela ocorrência do óbito. Conclui-se haver vantagem no uso associado das quatro técnicas que são complementares, tanto para estudo, como para planejamento de ações dirigidas à prevenção da mortalidade infantil.

Referência:

GOMES, Jaime de O.; SANTO, Augusto H. Mortalidade infantil em município da região Centro-Oeste Paulista, Brasil, 1990 a 1992 . Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 31, n. 4, p. 330-341, ago. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489101997000400002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 9 nov. 2006.

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3) Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as sentenças a seguir:

a) ( ) Enquanto o método de abordagem está relacionado ao fazer, os métodos de procedimentos estão ligados ao pensar.

b) ( ) O estabelecimento do método da pesquisa depende de fatores relacionados à natureza do objeto de estudo, de aspectos relacionados à natureza da ciência em que o objeto se situa e, fundamentalmente, da criatividade do pesquisador.

c) ( ) Na pesquisa científi ca a aplicação do método indutivo se dá principalmente através do uso da estatística probabilística e também por intermédio da realização de estudos de caso.

d) ( ) O método dedutivo exige a verifi cabilidade objetiva dos fatos. Isto quer dizer que a dedução transforma-se em hipótese e precisa ser testada.

e) ( ) Na pesquisa científi ca, o método dialético fi ca evidenciado quando se discutem as contradições próprias do objeto de estudo.

f) ( ) O método comparativo tem como preocupação básica a verifi cação de semelhança entre pessoas, padrões de comportamento ou fenômenos, para poder explicar as divergências constatadas nessa comparação.

g) ( ) O método etnográfi co fundamenta-se na utilização da teoria estatística das probabilidades para a interpretação de dados analisados.

h) ( ) O método estatístico estuda a forma de ser de um povo, uma etnia, etc., faz-se uma descrição e análise de sua língua, raça, religião, cultura.

i) ( ) O método histórico consiste na investigação dos acontecimentos, processos e instituições do passado a fi m de verifi car sua infl uência na sociedade atual.

j) ( ) Os métodos de procedimento não se excluem mutuamente. Isto signifi ca dizer que em uma pesquisa podemos ter ou utilizar mais de um método ao mesmo tempo.

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Síntese

Você estudou, nesta unidade, a defi nição de método científi co, a relação entre método e técnica e os principais tipos de métodos de abordagem e de procedimento.

Método é um conjunto de etapas, ordenadamente dispostas, para atingir um determinado fi m. A etimologia da palavra remete para o signifi cado de via, caminho. Na pesquisa científi ca, essas etapas devem ser percorridas pelo pesquisador no processo de investigação de um determinado problema. A técnica é uma aliada do método e está relacionada ao “fazer”, à escolha dos procedimentos, instrumentos ou ferramentas mais adequadas para a aplicação ou o seguimento de cada etapa do método. Em cada momento da pesquisa o pesquisador pode lançar mão de diferentes técnicas.

O método científi co é classifi cado em dois tipos: de abordagem e de procedimento. Os métodos de abordagem preocupam-se com o fi o condutor do raciocínio que se estabelece na pesquisa e estão sempre vinculados a uma concepção teórico-metodológica ou a algum paradigma. Os principais métodos de abordagem estudados foram: o dedutivo, o indutivo, o hipotético-dedutivo, o dialético e o fenomenológico. Os métodos de procedimento preocupam-se com as ações instrumentais da pesquisa, com o “fazer” da pesquisa. Os principais métodos de procedimento estudados foram: o comparativo, o estatístico, o monográfi co, o etnográfi co e o histórico.

Dentro dos métodos de abordagem, o dedutivo é aquele que parte de um raciocínio geral e conclui uma proposição particular. O indutivo, ao contrário, parte de vários raciocínios particulares para concluir uma proposição geral ou universal. O hipotético-dedutivo é aquele que estabelece meios de refutação das hipóteses que são lançadas para resolver um determinado problema; essa tentativa de refutação ocorre por meio de testes empíricos (observação ou experimentação). O método dialético é aquele que busca estabelecer as contradições inerentes aos fenômenos estudados: essas contradições se dão por meio da tese e da antítese, geradoras de uma síntese, que por sua vez nega a tese

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e a antítese. Esse movimento é histórico e contínuo. O método fenomenológico, por fi m, procura estudar qualitativamente a essência que envolve as coisas (a essência do fenômeno pesquisado).

Dentro dos métodos de procedimento, o comparativo tem como preocupação essencial a verifi cação de semelhanças e diferenças entre duas ou mais pessoas, empresas, tratamentos, técnicas, etc. O estatístico é aquele que emprega os recursos da matemática (mais especifi camente a Estatística) para estudar os fenômenos humanos e naturais. O método monográfi co é aquele que analisa, de maneira ampla, profunda e exaustiva, um determinado tema-questão-problema. O etnográfi co analisa a forma de ser de um povo, de uma etnia, procurando a descrição da linguagem, cultura, religião, etc. Para fechar, o método histórico analisa os processos e instituições do passado a fi m de estudar sua infl uência na atualidade.

As técnicas de pesquisa que você estudou nessa unidade foram a entrevista e o questionário. A primeira consiste numa interação verbal entre o pesquisador e o pesquisado. Pode-se dizer, então, que na entrevista o respondente fala. Os principais tipos de entrevista são a entrevista padronizada ou estruturada e a entrevista despadronizada ou não estruturada. Na entrevista padronizada, o pesquisador segue um roteiro pré-estabelecido, e na entrevista despadronizada o pesquisador estabelece uma conversação informal com o entrevistado. No questionário, diferentemente da entrevista, o respondente escreve. Alguns cuidados são essenciais no momento de sua elaboração e aplicação. Dentre esses cuidados é necessário evitar questões de duplo sentido e verifi car se as questões atendem aos objetivos da pesquisa.

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Saiba mais

Para aprofundar um pouco mais sobre Método Científi co, leia os recortes selecionados extraídos de Köche (1997, p. 87-88).

“Os cientistas realizam descobertas de várias maneiras, conforme a matéria que estudam, os meios de que dispõem e seus traços pessoais. Método científi co é versão bem simplifi cada daquilo que acontece ou que pode acontecer no processo de realização de descobertas. Uma descrição do método científi co relaciona-se com a pesquisa original como a gramática se relaciona com a linguagem cotidiana ou com a poesia. Uma estrutura formal qualquer está por trás do que é feito, dito ou escrito, mas a pesquisa mais frutífera, tal como a comunicação mais efi caz ou a poesia tocante, é com freqüência, não- metódica; e, aparentemente, chega a violar tantas regras quantas observa”. (WEATHERALL, 1970, p. 3-4).

“Método científi co implica, portanto, em suceder alternativo de refl exão e experimento. O cientista elabora idéias ou hipóteses defi nidas, à luz do conhecimento disponível; concebe e realiza experimentos para verifi car essas hipóteses. O conhecimento se amplia e o ciclo prossegue, indefi nidamente, sem que nunca se alcance a certeza absoluta, mas sempre conseguindo generalidade maior e possibilitando crescente controle do ambiente”. (WEATHERALL, 1970, p. 5).

“As regras metodológicas são aqui vistas como convenções. [...] O jogo da ciência é um princípio interminável. Quem decide, um dia, que os enunciados científi cos não mais exigem prova, e podem ser vistos como defi nitivamente verifi cados, retira-se do jogo”. (POPPER, 1975, p. 55-56).

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“Pode-se dizer que a segurança da ciência depende de que haja homens mais preocupados pela correção de seus métodos que pelos resultados obtidos mediante seu uso, sejam quais forem estes”. (COHEN; NAGEL, 1971, p. 245).

“Como dar nascimento a essas idéias vitais e férteis que se multiplicam em milhares de formas e se difundem por toda a parte, fazendo a civilização avançar e construindo a dignidade do homem, é arte ainda não reduzida a regras, mas cujo segredo a história da ciência permite entrever”. (PEIRCE, 1972, p. 70).

“O método da ciência consiste na escolha dos problemas interessantes e na crítica de nossas permanentes tentativas experimentais e provisórias para solucioná-los”. (POPPER, 1978, p.26).

“Os métodos científi cos se desenvolvem à margem- por vezes em oposições- dos preceitos senso comum, dos ensinamentos tranqüilos da experiência vulgar. Todos os métodos científi cos atuantes são em forma de ponta. Não são resumo dos hábitos adquiridos na longa prática de uma ciência. Não se trata de uma sabedoria intelectual adquirida. O método é verdadeiramente uma astúcia de aquisição, um estratagema novo, útil na fronteira do saber. Em outras palavras, um método científi co é aquele que procura o perigo. Seguro de seu acerto, ele se aventura numa aquisição. A dúvida está na frente, e não atrás, como na vida cartesiana”. (BACHELARD, 1977, p. 122).

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“Um dos químicos contemporâneos que desenvolveu os métodos científi cos mais minuciosos e mais sistemáticos, Urbain, não hesitou em negar a perenidade dos melhores métodos. Para ele, não há método de pesquisa que não acabe por perder sua fecundidade inicial. Chega sempre uma hora em que não se tem mais interesse em procurar o novo sobre os traços do antigo, em que o espírito científi co não pode progredir senão criando novos métodos. Os próprios conceitos científi cos podem perder sua universalidade. [...] Os conceitos e os métodos, tudo é função do domínio da experiência; todo o pensamento científi co será sempre um discurso de circunstâncias, não descreverá uma constituição defi nitiva do espírito científi co”. (BACHELARD, 1968, p. 121).

“A ciência, vista sob esse ângulo, é um processo e não um produto. Em qualquer método que se adote, seja ele quantitativo, fenomenológico ou dialético, o pesquisador deverá ter em mente um critério fundamental: expor suas teorias à crítica severa. Se trabalhar na sua auto-justifi cação, deixará se ser ciência para se transformar em ideologia”. (BRUYNE, 1977, p. 103).

“O método experimental não pode transformar uma hipótese física em uma verdade incontestável, pois jamais se está seguro de haver esgotado todas as hipóteses imagináveis referentes a um grupo de fenômenos. O experimentum crucis é impossível. A verdade de uma teoria física não se decide num jogo de cara ou coroa”. (DUHEM, 1993, p. 289).

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UNIDADE 4

Pesquisa

Objetivos de aprendizagem

� Conceituar e classifi car variáveis.

� Conceituar pesquisa.

� Classifi car a pesquisa quanto ao nível ou aos objetivos, quanto à abordagem e quanto ao procedimento utilizado para coleta de dados.

Seções de estudo

Seção 1 Variáveis: o que são e como classifi cá-las

Seção 2 A pesquisa

Seção 3 Como classifi car as pesquisas quanto ao nível de profundidade ou objetivos do estudo?

Seção 4 Como classifi car as pesquisas quanto à abordagem?

Seção 5 Como classifi car as pesquisas quanto ao procedimento utilizado para a coleta de dados?

4

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Para início de estudo

Até o momento, você pôde acompanhar diferentes aspectos que caracterizam o método e o conhecimento científi co.

Já nesta unidade, você vai estudar a pesquisa propriamente dita. Porém, para que você possa compreender o conceito e os tipos pesquisa é necessário, primeiramente, conhecer e classifi car as variáveis.

Você estudará o conceito e a classifi cação dos tipos de pesquisa que podem ser classifi cadas quanto a nível - exploratória, descritiva e explicativa; quanto à abordagem - quantitativa e qualitativa; e quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados, classifi cado neste livro didático em bibliográfi co, documental, experimental, estudo de caso controle, levantamento, estudo de caso, estudo de campo, pesquisa-ação e pesquisa participante.

Lembre-se de, após a leitura das cinco seções que compõem esta unidade, não deixar de resolver as atividades de auto-avaliação sugeridas. Elas o ajudarão a estudar o conteúdo desta disciplina de maneira estruturada.

SEÇÃO 1 - Variáveis: o que são e como classifi cá-las

Você sabe de onde vem o termo variável? Talvez você já tenha estudado muito sobre isto nas aulas de matemática, não é mesmo? E é isso mesmo.

Variável é um termo que vem da matemática e signifi ca fator, aspecto ou propriedade passível de mensuração.

Veja como isto se aplica, por exemplo, na Física e nas Ciências Sociais.

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Na Física - os fatores temperatura, massa, velocidade, extensão, dilatação, força, etc. são variáveis, pois, sob certas circunstâncias, assumem determinado valor e podem ser mensuráveis.

Nas Ciências Sociais - classe social, raça, renda, escolaridade, etc., são exemplos de variáveis, pois, seguindo o mesmo raciocínio, também podem ser mensurados. Para Marconi e Lakatos (2003, p. 137) variável pode ser classifi cada como “[...] medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, que contém ou apresenta valores; aspecto, [...] ou fator, discernível em um objeto de estudo e passível de mensuração.”

Que tal verifi car isso mais de perto? Então, leia com atenção o resumo da pesquisa realizada por Santos e outros (2001) intitulada “Estudo do peso do recém-nascido, faixa etária da mäe e tipo de parto” e identifi que as variáveis que estão presentes no texto:

Este artigo tem por objetivo estudar o peso do recém-nascido, a faixa etária da mäe e o tipo de parto ocorrido em Maternidades de Rio Branco - Acre - Brasil, no período de 1994 a 1996. Como resultado 73,8 por cento nasceram de parto normal e 25,5 por cento por cesariana. Por outro lado 5,4 por cento dos partos foram por adolescentes na faixa etária de 10-14 anos. Com relação ao peso, 84,6 por cento estavam dentro do normal, 7,4 por cento abaixo e 6,6 por cento acima. Vale ressaltar o registro de peso, idade e sexo como sendo ignorados, o que demonstram falhas nos registros. Concluindo destacamos a importância da assistência no período pré-natal, proporcionando atenção ao binômio mäe-fi lho, além de maior empenho por parte da Direção das Maternidades e das Chefi as de Enfermagem na produção e análise dos dados. (Grifo nosso).

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Você deve ter percebido, com esta atividade, que as variáveis presentes neste estudo são: o peso do recém-nascido, faixa etária da mäe e tipo de parto. Estes fatores assumiram valores e variabilidades diferentes nos achados da pesquisa.

Como classifi car as variáveis?

As variáveis podem ser classifi cadas conforme a nomenclatura proposta por Tuckmam (1972, p. 36-51 apud KÖCHE, 1997, p. 113) em: independente, dependente, de controle, moderadora e interveniente.

A variável independente é aquela que é fator, propriedade ou aspecto que produz um efeito ou conseqüência e a dependente, ao contrário, é aquela que é conseqüência ou efeito de algo que foi estimulado.

O investigador quer saber se há relação signifi cativa entre a classe social do réu e a sentença que é proferida pelo juiz. Classe social seria a variável independente (causa) e sentença, a variável dependente (conseqüência). Vamos supor que um pesquisador na área de fi sioterapia queira investigar a efi cácia da crioterapia (tratamento com gelo) no tratamento de entorse de tornozelo. Crioterapia seria a variável independente (causa), e as respostas ao tratamento de entorse, a variável dependente (efeito).

A variável de controle é aquele fator, propriedade ou aspecto que o pesquisador neutraliza, propositalmente, para não interferir na relação entre a variável independente e dependente.

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Observe a citação a seguir.

Para saber se determinado tratamento (uma substância) tem efeito sobre o peso de ratos, um pesquisador fez um experimento. Primeiro, tomou um conjunto de ratos similares e os manteve em condições idênticas durante algum tempo. Depois, dividiu o conjunto de ratos em dois grupos. O primeiro recebeu a substância adicionada à ração, mas o segundo grupo, embora mantido nas mesmas condições, não recebeu a substância. Decorrido determinado período, o pesquisador pesou todos os ratos e comparou o peso do grupo que recebeu o tratamento com o peso do grupo que não recebeu o tratamento. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 49, grifo nosso).

A variável independente, neste exemplo, é o tratamento com a substância e a variável dependente é o peso dos ratos, pois a substância adicionada à ração pode alterar o peso. Ocorre que muitos fatores podem ser contribuintes para o aumento do peso dos ratos tais como idade, sexo, quantidade e qualidade da alimentação, condições do espaço físico e luminosidade no ambiente, dentre outros. No exemplo citado, o pesquisador manteve os dois grupos nas mesmas condições, neutralizando os possíveis fatores que poderiam interferir no peso dos ratos. Pode-se dizer, portanto, que as condições idênticas criadas pelo pesquisador entre os dois grupos, na realização do experimento, caracterizam as variáveis de controle.

A variável moderadora é aquele fator, aspecto ou propriedade que é causa, estímulo para que ocorra determinado efeito ou conseqüência, porém, situa-se num plano secundário.

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Entre estudantes da mesma idade e inteligência, o desempenho de habilidades está diretamente relacionado com o número de treinos práticos, particularmente entre os meninos, mas menos diretamente entres as meninas (KÖCHE, 1997, p. 13).

Neste exemplo, “treinos práticos” seria a variável independente, “desempenho de habilidades” a variável dependente, “idade” e “inteligência” variáveis de controle e “meninos” e “meninas” (sexo) a variável moderadora, pois poderá modifi car a relação entre a variável independente e dependente.

Leia com atenção o resumo da monografi a de especialização apresentada por Gurgel e Noronha (2004) intitulada “Avaliação da ação analgésica do clonixinato de lisina em comparação com o paracetamol e dipirona em cirurgia de dentes inclusos: estudo clínico duplo cego randomizado”.

A cirurgia de terceiros molares é um dos mais freqüentes procedimentos em odontologia e não raro provoca temor devido a possibilidade de dor no pós-operatório. Este trabalho testou três drogas, dipirona, paracetamol e clonixinato de lisina, no controle da dor pós-operatória de terceiro[s] molares inferiores inclusos. Sessenta e quatro pacientes de ambos os sexos, sendo 24 homens (37,50 por cento) e 40 mulheres (62,5 por cento), foram submetidos a remoção de terceiros molares inferiores utilizando-se o mesmo anestésico, lidocaína com felipressina (Novocol). Todos os casos foram operados pelos dois cirurgiões responsáveis pela pesquisa. A média de idade dos pacientes submetidos à cirurgia foi de 22,3 anos (DP± 2,5 anos). O ato cirúrgico deveria transcorrer em no máximo 60 minutos, sendo o tempo médio das mesmas de 33,9 minutos (DP± 9,8 minutos). Os pacientes selecionados submetidos a cirurgia utilizaram o medicamento fornecido pelo cirurgião responsável. (Grifos nossos).

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Não havia tipo de identifi cação do medicamento estes frascos. A avaliação de dor pós-operatório foi realizada através de questionários entregues aos pacientes que relataram em uma escala de intensidade de dor percebida. Estes questionários foram devolvidos no momento da remoção de sutura. Os dados foram analisados, dentro dos critérios relatados na literatura, usando o programa STATA. Os resultados obtidos não revelam diferenças estatísticas entre os grupos da dipirona, paracetamol e clonixinato de lisina no controle da dor pós-operatória de terceiros molares e também não há diferença estatística entre os grupos de homens e mulheres no relato da dor pós-operatório. Concluímos então que todos os medicamentos usados no trabalho são efetivos no controle da dor pós- operatória de cirurgias de inclusões de terceiros molares.

Observe que, neste exemplo apresentado, os tipos de analgésico (dipirona, paracetamol e clonixinato de lisina) representam as variáveis independentes, pois podem agir no controle da dor pós-operatória, que é a variável dependente.

A variável de controle aparece no momento em que o pesquisador estabelece as mesmas condições para os três grupos de pacientes que se submeteram à cirurgia de terceiros molares: mesmo anestésico, mesmo tempo de duração da cirurgia, mesma média de idade dos pacientes e mesmos cirurgiões.

A variável moderadora aparece no momento em que os resultados são distribuídos por sexo. Neste caso, a variável sexo poderia modifi car a relação entre a variável independente (analgésico) e a variável dependente (dor), mas não se constituiu na variável principal do estudo. A variável sexo, na condição de variável moderadora, colocou-se numa posição secundária, pois o pesquisador não queria realizar um estudo para saber quem é mais ou menos resistente à dor (se os homens ou mulheres), o objetivo principal era estudar o efeito dos analgésicos no controle da dor.

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Resumindo:

Variável independente (x): analgésicos (dipirona, paracetamol e clonixinato de lisina).

Variável dependente (y): controle da dor no pós--operatório.

Variável de controle (c): C1 = anestésico;

C2 = tempo de duração da cirurgia;

C3 = média de idade dos pacientes;

C4 = mesmos cirurgiões.

Variável moderadora (m): sexo.

A variável interveniente é aquele fator que, no plano teórico afeta a variável que está sendo observada, mas não pode ser medida.

“[...] crianças que foram bloqueadas na consecução de seus objetivos mostram-se mais agressivas do que as que não foram”. (TUCKMAN apud KÖCHE, 1997, p. 114).

A variável independente é “bloqueio”, a dependente é “agressividade” e a interveniente é a “frustração” “[...] o bloqueio conduz à frustração e esta à agressividade”. (KÖCHE, 1997, p. 114).

— Você pôde perceber com essa seção a importância das variáveis para a qualidade da pesquisa a ser realizada. Nas próximas seções, você estudará que o tipo de variável acaba defi nindo a própria pesquisa.

SEÇÃO 2 - A pesquisa

Pesquisa é um processo de investigação que se interessa em descobrir as relações existentes entre os aspectos que envolvem os fatos, fenômenos, situações ou coisas.

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Para Ander-Egg (apud MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 155) é um “procedimento refl exivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”. Conforme Rúdio (1999, p. 9),“é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento”.

Para que a pesquisa seja defi nida como científi ca, é necessário que se desenvolva de maneira organizada e sistemática, seguindo um planejamento previamente estabelecido pelo pesquisador. É no planejamento da pesquisa que se determina o caminho a ser percorrido na investigação do objeto de estudo.

Rudio (1999, p. 9) afi rma que “a pesquisa científi ca se distingue de qualquer outra modalidade de pesquisa pelo método, pelas técnicas, por estar voltada para a realidade empírica, e pela forma de comunicar o conhecimento obtido”.

Toda pesquisa nasce do desejo de encontrar resposta para uma questão, proporcionando a quem pesquisa a aquisição de um novo conhecimento, uma vez que o problema (da pesquisa) está articulado a conhecimentos anteriores, construídos por outros estudiosos.

A classifi cação dos tipos de pesquisa só é possível mediante o estabelecimento de um critério. Se for classifi cada de acordo com o nível de profundidade do estudo ou objetivos, teremos três grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa explicativa.

Levando em conta os procedimentos utilizados para coleta de dados, serão dois grandes grupos. No primeiro, as pesquisas que se valem de fontes de papel - pesquisa bibliográfi ca e documental- e, no segundo, fontes de dados fornecidos por pessoas - experimental, estudo de caso controle, levantamento e estudo de caso e estudo de campo. (GIL, 2002, p. 43).

Por fi m, se classifi carmos as pesquisas levando em conta a abordagem, teremos dois grupos: quantitativa e qualitativa.

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— Nesta seção você conheceu os tipos de pesquisa. Nas seguintes, você estudará como cada uma dessas classifi cações se confi gura. Siga em frente e bom estudo!

SEÇÃO 3 - Como classifi car as pesquisas quanto ao nível de profundidade ou objetivos do estudo?

Como você ja estudou na seção anterior, os tipos de pesquisa, segundo esse critério, podem ser classifi cados em:

� pesquisa exploratória;

� pesquisa descritiva; e,

� pesquisa explicativa.

A seguir, você conhecerá os detalhes de cada um desses tipos de pesquisa, seus objetivos e características principais.

Pesquisa exploratória

O principal objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo. Muitas vezes, o pesquisador não dispõe de conhecimento sufi ciente para formular adequadamente um problema ou elaborar de forma mais precisa uma hipótese. Nesse caso, é necessário “desencadear um processo de investigação que identifi que a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar” (KÖCHE, 1997, p. 126).

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Os problemas de pesquisa exploratória geralmente não apresentam relações entre variáveis. O pesquisador apenas constata e estuda a freqüência de uma variável. No exemplo, “qual o perfi l motor das crianças matriculadas na escola x?”, identifi ca-se apenas uma variável, no caso, “perfi l motor”. No campo da Geografi a, por exemplo, poderíamos fazer um levantamento do perfi l etário de uma determinada população. Neste caso, “idade” seria a variável em estudo.

O planejamento da pesquisa exploratória é bastante fl exível e pode assumir caráter de pesquisa bibliográfi ca, pesquisa documental, estudos de caso, levantamentos, etc.

As técnicas de pesquisa que podem ser utilizadas na pesquisa exploratória são: formulários, questionários, entrevistas, fi chas para registro de avaliações clínicas, leitura e documentação quando se tratar de pesquisa bibliográfi ca.

O resumo da pesquisa realizada por Leonel, Souza e Gonçalves (2006), apresentado no XVIII Encontro Nacional de Recreação e Lazer, em Curitiba, ilustra as principais características de uma pesquisa exploratória. Observe:

Atividades de esporte e lazer, no tempo livre, dos estudantes do ensino médio das escolas públicas do Município de Tubarão, SC

Objetivo: conhecer as atividades de esporte e lazer desenvolvidas, no tempo livre, pelos estudantes do Ensino Médio das escolas públicas do Município de Tubarão, SC. Método: Estudo seccional, com análise univariada, de uma amostra de 356 alunos de 7 escolas do Ensino Médio da Rede Pública. A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de um questionário auto-preenchível composto de questões sobre modalidades esportivas e atividades de lazer praticadas no tempo livre. Resultados: as atividades de lazer mais freqüentes entre os alunos do sexo masculino são: assistir TV (80%), praticar esporte (61,2%) e fi car na internet (51,6%). Entre os alunos do sexo feminino as atividades mais freqüentes são: assistir TV (87,0%), namorar (64,1%) e fi car na internet (50,7%). A modalidade esportiva mais praticada pelos alunos do sexo masculino é o futebol

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(81%) e pelos alunos do sexo feminino o vôlei (64,3%). Conclusão: os resultados encontrados indicam índices positivos para a prática de esporte entre os alunos do sexo masculino e despertam um estado de alerta para os alunos do sexo feminino. Quanto as atividades de lazer, os índices indicam valores signifi cativos para atividades consideradas passivas (internet e televisão) para ambos os sexos.

Se você observar atentamente o exemplo vai perceber que nesse estudo procurou-se conhecer a freqüência de apenas uma variável, no caso, as atividades de esporte e lazer no tempo livre.

Pesquisa descritiva

Esta pesquisa é aquela que analisa, observa, registra e correlaciona aspectos (variáveis) que envolvem fatos ou fenômenos, sem manipulá-los.

Os fenômenos humanos ou naturais são investigados sem a interferência do pesquisador que apenas “procura descobrir, com a [máxima] precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”. (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 55).

Leia com atenção a matéria que foi publicada na revista Época e que exemplifi ca uma pesquisa descritiva.

Um Crime, duas Sentenças

O pesquisador carioca Jorge Luiz de Carvalho Nascimento, 41 anos, debruçou-se sobre 364 processos judiciais envolvendo consumo e tráfi co de drogas no Rio de Janeiro, recolhidos em 15 varas criminais da cidade. Concluiu que a raça do acusado interfere na sentença aplicada pelos juízes. Entre os réus de pele branca, a maioria dos condenados foi enquadrada por uso de drogas, que prevê penas brandas. Negros e pardos entraram na categoria de trafi cantes. “Vou investigar agora se a justiça é racista ou se a classe social dos réus é que interfere nas penas”, avisa Nascimento. “A maioria dos brancos pagou advogado, enquanto ‘os de cor’ recorreram a defensores públicos”, explica o pesquisador, que é negro e trabalha como professor do Colégio Pedro

II [...]. (UM CRIME..., 1999).

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Você pode observar neste exemplo que as principais variáveis são: delito (consumo e tráfi co de drogas), raça, classe social, sentença e defensoria. As variáveis independentes são delito, raça, classe social, e a variável dependente é a sentença.

Se você considerar a maneira como as variáveis estão correlacionadas, é possível levantar as seguintes questões.

� Será que a raça e a classe social do acusado podem interferir no tipo de sentença proferida pelos juízes?

� Será que a defesa de advogados pagos ou a de defensores públicos, no mesmo tipo de crime, interfere na natureza da sentença?

Na pesquisa, o autor quis saber como essas variáveis estão relacionadas e procurou associá-las, estudando 364 processos (documentos) em 15 Varas.

A pesquisa descritiva pode aparecer sob diversos tipos: documental, estudos de campo, levantamentos, etc. desde que se estude a correlação de, no mínimo, duas variáveis.

Conheça algumas das características da pesquisa descritiva:

� espontaneidade – o pesquisador não interfere na realidade apenas observa as variáveis que, espontaneamente, estão vinculadas ao fenômeno;

� naturalidade – os fatos são estudados no seu habitat natural;

� amplo grau de generalização – as conclusões levam em conta o conjunto de variáveis que podem estar correlacionadas com o objeto da investigação.

As principais técnicas de coleta de dados geralmente utilizadas na pesquisa descritiva são: formulários, entrevistas, questionários, fi chas de registro para observação e coleta de dados em documentos.

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Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identifi cação da existência de relações entre variáveis, e permitem determinar a natureza dessa relação. Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Há, porém, pesquisas que, embora defi nidas como descritivas com base em seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias. (GIL, 2002, p. 42).

Pesquisa explicativa

A pesquisa explicativa tem como preocupação fundamental identifi car fatores que contribuem ou agem como causa para a ocorrência de determinados fenômenos. É o tipo de pesquisa que explica as razões ou os porquês das coisas.

Assim, “os cientistas não se limitam a descrever detalhadamente os fatos, tratam de encontrar as suas causas, suas relações internas e suas relações com outros fatos. Seu objetivo é oferecer respostas às indagações, aos porquês [...]”. (GALLIANO, 1986, p. 29).

A pesquisa explicativa pode aparecer sob a forma de pesquisa experimental e estudo de caso controle (GIL, 2002).

No estudo realizado por Silva e outros (1996) observa-se a realização de um estudo de caso controle no qual são estudados 115 casos (crianças que nasceram prematuras) e 118 controles (crianças que nasceram no tempo normal). Em ambos os grupos estudaram-se fatores associados à prematuridade. Os resultados apontam que cor não-branca, baixa estatura, tabagismo, ausência de companheiro e prematuridade prévia apresentam relação com a ocorrência do parto prematuro. Observe a seguir:

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Fatores de risco associados à prematuridade: análise multivariada

O presente trabalho teve por objetivo correlacionar partos pré-termo com partos a termo, conforme exposição materna a fatores de risco, permitindo que fosse calculada a probabilidade de cada fator na ocorrência do evento. Foi realizado estudo caso-controle, com 233 pacientes (115 no grupo de estudo, 118 no grupo controle) assistidas na Maternidade Escola (UFRJ) durante a ano de 1992. Foram estudados os fatores: idade, peso, altura, cor e condições de trabalho maternas, menção de companheiro, tabagismo e história prévia de abortamento e prematuridade. Após seleção inicial dos fatores, foi realizada análise multivariada baseada na regressão múltipla logística. Os seguintes fatores revelaram signifi cância estatística: cor (OR 2,32), altura (OR 4,02), tabagismo (OR 2,26), história de parto pré-termo (OR 9,69) e menção de companheiro (OR 2,40). Os resultados permitem concluir que os fatores: cor não branca, baixa estatura, tabagismo, ausência de companheiro e prematuridade prévia apresentam relação com a ocorrência do parto prematuro, quando os outros fatores são controlados.

Os estudos de caso controle são exemplos de pesquisas explicativas, pois procuram investigar fatores causais ou fatores contribuintes para a ocorrência de certos fenômenos, estabelecendo um controle rigoroso das variáveis, assim como ocorre nas pesquisas experimentais.

SEÇÃO 4 - Como classifi car as pesquisas quanto à abordagem?

Como você estudou nas seções anteriores, as pesquisas também podem ser classifi cadas quanto à abordagem. Sob esse aspecto, elas podem ser quantitativas ou qualitativas.

— Vamos conhecer cada uma delas? Acompanhe a seguir.

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Abordagem quantitativa

A abordagem quantitativa está mais preocupada com a generalização, relacionada com o aspecto da objetividade passível de ser mensurável, permitindo uma idéia de racionalidade, como sinônimo de quantifi cação. Em outras palavras, este tipo de abordagem se defi ne pela idéia de rigor, precisão e objetividade (BICUDO, 2004, p. 104).

Por isso, nesta abordagem, é necessário utilizar sempre o recurso das representações gráfi cas, principalmente, na forma de tabelas, quadros e gráfi cos, a partir da aplicação de instrumentos como questionários, por exemplo, que contenham questões fechadas, a fi m de facilitar a análise e interpretação dos dados.

As variáveis na pesquisa quantitativa são analisadas com base nos recursos da Estatística. Percentagem, moda, média, mediana, desvio-padrão, regressão logística, análise univariada, bivariada, multivariada, teste t de student, teste z, teste qui quadrado, são algumas das linguagens adotadas pelo pesquisador quantitativista.

Leia com atenção o resumo da pesquisa realizada por Oliveira e outros (2005) e procure identifi car elementos que caracterizam uma pesquisa quantitativa.

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Prevalência e fatores associados à constipação intestinal em mulheres na pós-menopausa

Racional: A constipação intestinal é mais freqüente na população feminina, apresentando aumento da prevalência com o passar dos anos. Existem poucos estudos que estimaram sua prevalência em mulheres na pós-menopausa. Objetivo: Investigar a prevalência e os fatores associados à constipação intestinal em mulheres na pós-menopausa. Pacientes e Métodos: Estudo de corte transversal com mulheres na pós-menopausa e idade superior a 45 anos. Foram incluídas 100 mulheres atendidas no Ambulatório de Menopausa da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, entre março de 2003 e janeiro de 2004. Avaliou-se a prevalência de constipação intestinal, segundo os critérios de Roma II. Foram estudadas as características sociodemográfi cas e clínicas. A seguir, realizou-se exame físico para avaliação de distopias genitais e do tônus do esfíncter anal. A análise estatística foi realizada por meio de média, desvio-padrão, mediana, freqüências relativas e absolutas e através da razão de prevalência com intervalo de confi ança de 95% e regressão logística múltipla. Resultados A média etária das participantes foi de 58,9 ± 5,9 anos, com média de idade à menopausa de 47,5 ± 5,4 anos. A prevalência de constipação intestinal foi de 37%, sendo o sintoma mais freqüente o esforço ao evacuar (91,9%), seguido da sensação de evacuação incompleta (83,8%), fezes endurecidas ou fragmentadas (81,1%), menos que três evacuações por semana (62,2%), sensação de obstrução à evacuação (62,2%) e manobras digitais para facilitar a evacuação (45,9%). A análise bivariada mostrou como fatores associados à constipação o tônus do esfíncter anal diminuído e o antecedente de cirurgia perianal. Após análise de regressão múltipla, o antecedente de cirurgia perianal associou-se signifi cativamente à constipação intestinal (razão de prevalência: 2,68; intervalo de confi ança 95%: 1,18-6,11). Conclusões: A prevalência de constipação intestinal em mulheres na pós-menopausa foi alta. O antecedente de cirurgia perianal associou-se signifi cativamente à constipação intestinal, mesmo quando se considerou a infl uência de outras variáveis. (Grifo dos autores).

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Se você destacou em sua leitura os termos média, desvio-padrão, mediana, freqüências relativas e absolutas, intervalo de confi ança e regressão logística múltipla, com certeza você já tem condições de identifi car uma pesquisa quantitativa.

— E a pesquisa qualitativa, quais são as suas características? Estude a seguir.

Abordagem qualitativa

A pesquisa qualitativa, conforme Minayo (1996, p. 21), “[...] trabalha com o universo de signifi cados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

O principal objetivo da pesquisa qualitativa é o de conhecer as percepções dos sujeitos pesquisados acerca da situação-problema, objeto da investigação.

A pesquisa qualitativa requer do pesquisador uma atenção muito maior às pessoas e às suas idéias, procurando fazer sentido de discursos e narrativas que estariam silenciosas, tendo como foco entender e interpretar dados e discursos, mesmo quando envolve grupos de participantes e fi cando claro que ela (a pesquisa qualitativa) depende da relação entre o observador e o observado. (D’AMBROSIO, 2004, p. 11).

Assim, neste tipo de abordagem, é importante levar em conta o aspecto da subjetividade, que está centrada no olhar do sujeito, exigindo deste certo distanciamento crítico, como uma forma de garantir confi abilidade nos resultados apresentados.

Leia com atenção o resumo da pesquisa realizada por Guerriero, Ayres e Hearst (2002) e identifi que os elementos que caracterizam uma pesquisa qualitativa.

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Masculinidade e vulnerabilidade ao HIV de homens heterossexuais, São Paulo, SP

Objetivo: Identifi car aspectos da masculinidade relacionados à vulnerabilidade dos homens à infecção pelo HIV. Métodos: Pesquisa qualitativa realizada com homens motoristas de ônibus e integrantes de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) em uma empresa de transportes coletivos na cidade de São Paulo, SP. Foram gravadas e transcritas dez entrevistas individuais e quatro ofi cinas de sexo seguro. Seu conteúdo foi disposto e discutido em blocos temáticos relacionados à sexualidade, à infi delidade, ao preservativo, às doenças sexualmente transmissíveis e à Aids. Resultados: São aspectos que tornam os homens mais vulneráveis: sentir-se forte, imune a doenças; ser impetuoso, correr riscos; ser incapaz de recusar uma mulher; considerar que o homem tem mais necessidade de sexo do que a mulher e de que esse desejo é incontrolável. A infi delidade masculina é considerada natural; a feminina é atribuída a defi ciências do parceiro. A decisão por usar ou não camisinha é feita pelo homem; a mulher só pode solicitá-la para evitar gravidez. A não-utilização da camisinha é atribuída a: estética, alto custo, medo de perder a ereção, perda de sensibilidade no homem e na mulher. Os entrevistados não se consideram vulneráveis ao HIV nem a doenças sexualmente transmissíveis (DST) e confundem suas formas de transmissão. Conclusões: A idéia de que ser homem é ser um bom provedor para a família e ter responsabilidade pode constituir um aspecto que favoreça a prevenção, já que pode levá-los a usar camisinha como contraceptivo e para não trazer doenças para casa. É importante conhecer e intervir sobre as concepções de masculinidade, não só porque elas podem contribuir para aumento da vulnerabilidade ao HIV, mas também porque podem apontar caminhos mais efetivos para a prevenção.

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Se você destacou em sua leitura que:

� houve utilização de entrevista gravada para captar a percepção dos motoristas de ônibus sobre os aspectos da sexualidade, da infidelidade, do uso de preservativo, de doenças sexualmente transmissíveis, da Aids;

� os pesquisadores interviram na realidade promovendo oficinas (encontros para discussão sobre os temas);

� os pesquisadores não tiveram a preocupação de pesquisar todos os motoristas de ônibus de São Paulo (preocupação com o universo populacional) e nem com uma amostra representativa desses motoristas, mas de pesquisar um grupo de poucos sujeitos relacionados com à problemática da masculinidade como fator de risco ao HIV;

com certeza, você já tem condições de identifi car uma pesquisa qualitativa.

Para fi nalizar esta seção, observe o quadro a seguir, que mostra um comparativo entre as principais características da pesquisa quantitativa e qualitativa.

Quadro 1 – Características das pesquisas quantitativa e qualitativa

Abordagem Quantitativa Abordagem Qualitativa

Analisa númerosAnálise dedutivaAnálise objetivaO pesquisador distancia-se do processoTesta hipótese e mensura variáveis

Analisa palavrasAnálise indutivaAnálise subjetivaO pesquisador envolve-se com o processoGera idéias e categorias para a pesquisa

Neste quadro, você pode comparar as principais características de uma e de outra pesquisa. Observe que enquanto a pesquisa quantitativa analisa números (moda, média, mediana, desvio-padrão, etc.), a pesquisa qualitativa analisa palavras (narrativas, discursos, percepções).

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Enquanto que na pesquisa quantitativa a análise é dedutiva, porque trabalha com totalidades, com um universo populacional ou com um subconjunto representativo da população (amostra), a pesquisa qualitativa analisa as percepções de poucos sujeitos envolvidos no processo sem a preocupação com a totalidade dos sujeitos envolvidos naquela situação ou realidade pesquisada.

Na pesquisa quantitativa o pesquisador mantém distância da realidade pesquisada, muitas vezes até capacitando pessoas para aplicar os instrumentos de pesquisa. Já na qualitativa, o pesquisador envolve-se diretamente com as situações vivenciadas pelos pesquisados.

E, ainda, na pesquisa quantitativa o pesquisador está preocupado em encontrar o melhor teste estatístico para validar sua hipótese, enquanto que, na pesquisa qualitativa, ele apresenta as questões de pesquisa, procura estabelecer estratégias, no âmbito da pesquisa exploratória, para poder sistematizar as idéias e, assim, construir suas categorias de análise.

As pesquisas quantitativas e qualitativas não são mutuamente excludentes. Muitos trabalhos podem ter as duas abordagens simultâneas confi gurando uma pesquisa qualiquantitativa ou quantiqualitativa.

Uma abordagem qualitativa ou quantitativa será necessária de acordo com a exigência do problema proposto na pesquisa, pois “quando se determina um problema, é em função dele que o pesquisador escolhe o procedimento mais adequado, seja quantitativo, qualitativo ou misto. Em suma, o problema dita o método e não o inverso”. (RAUEN, 2002, p. 191).

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SEÇÃO 5 - Como se classifi cam as pesquisas quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados?

Nesta seção você estudará que, dependendo do tipo de procedimento utilizado para a coleta de dados, a pesquisa pode ser classifi cada em:

� bibliográfica;

� documental;

� experimental;

� estudo de caso controle;

� levantamento;

� estudo de caso;

� estudo de campo; e,

� pesquisa-ação e pesquisa participante.

Mas, como cada uma dessas pesquisas se confi gura? Quais suas principais características? A seguir, você conhecerá as respostas para estas e outras dúvidas.

Pesquisa bibliográfi ca

É aquela que se desenvolve tentando explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos, etc.

A realização da pesquisa bibliográfi ca é fundamental para conhecer e analisar as principais contribuições teóricas sobre um determinado tema ou assunto.

Koche (1997, p. 122) afi rma que a pesquisa bibliográfi ca pode ser realizada com diferentes fi ns:

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a) para ampliar o grau de conhecimentos em uma determinada área, capacitando o investigador a compreender ou delimitar melhor um problema de pesquisa; b) para dominar o conhecimento disponível e utilizá-lo como base ou fundamentação na construção de um modelo teórico explicativo de um problema, isto é, como instrumento auxiliar para a construção e fundamentação de hipóteses; c) para descrever ou sistematizar o estado da arte, daquele momento, pertinente a um determinado tema ou problema.

A pesquisa bibliográfi ca pode ser desenvolvida em diferentes etapas. Gil (2002, p. 60) afi rma que “qualquer tentativa de apresentar um modelo para o desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfi ca deverá ser entendida como arbitrária. Tanto é que os modelos apresentados pelos diversos autores diferem signifi cativamente entre si”.

A seguir, você encontra um roteiro de pesquisa bibliográfi ca. Ele não deve ser entendido como um modelo rigoroso e infl exível, mas pode auxiliá-lo no momento de planejar sua pesquisa. Conheça, então, as etapas da pesquisa bibliográfi ca:

a) escolha do tema;

b) delimitação do tema e formulação do problema;

c) elaboração do plano de desenvolvimento da pesquisa;

d) identificação, localização das fontes e obtenção do material;

e) leitura do material;

f) tomada de apontamentos;

g) redação do trabalho.

Veja mais detalhes sobre os elementos que compõem cada uma dessas etapas.

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a) Escolha do tema - a escolha do tema, na realização de uma pesquisa bibliográfi ca deve, entre outros, considerar os seguintes fatores: interesse pelo assunto, existência de bibliografi a especializada e familiaridade com o assunto.

O interesse pelo assunto pode motivar a superação dos obstáculos que são inerentes ao processo de pesquisa. Sem interesse, corre-se o risco de, na primeira difi culdade ou percalço, a investigação ser abandonada. “[...] pesquisar a respeito de um assunto pelo qual se tenha pouco ou nenhum interesse pode tornar-se uma tarefa altamente frustrante”. (GIL, 2002, p. 60). É importante observar, dentre as diversas áreas de conhecimento, aquelas que despertam o interesse e a curiosidade para a pesquisa.

A existência de bibliografi a especializada pode ser constatada pela realização de um levantamento bibliográfi co preliminar, que pode auxiliar na identifi cação de documentos importantes a serem lidos e analisados no decorrer da pesquisa. Não se recomenda, para iniciantes em pesquisa, a realização de pesquisa bibliográfi ca sobre temas em que as publicações sejam muito escassas. Neste caso, é conveniente que se mude o tema.

Para Salomon (1994, p. 196), “a escolha do assunto exige freqüentemente orientação de caráter pessoal (análise das próprias possibilidades e limitações) [...]”. “O pesquisador deve propor temas que estejam ao alcance da sua capacidade ou de seu nível de conhecimento” (KÖCHE, 1997, p. 128). Aconselha-se, portanto, a escolha de um tema dentro da área a qual se domina, compatibilizando familiaridade com o assunto e existência de bibliografi a especializada.

b) Delimitação do tema e formulação do problema - depois da escolha do tema, o próximo passo é a delimitação e problematização.

Delimitar signifi ca indicar a abrangência do estudo, é estabelecer a extensão e compreensão do assunto. Na disciplina de Lógica aprende-se que “quanto maior a extensão de um conceito [extensão do tema ou assunto], menor a sua compreensão. E,

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inversamente, quanto menor a extensão, maior a compreensão do conceito”. (COTRIN, 1990, p. 28).

Temas amplos difi cultam a análise com profundidade e exaustão e podem fazer com que o pesquisador se perca ou se embarace no emaranhado das proposições relacionadas ao assunto. Na área do Direito, por exemplo, seria impossível realizar uma pesquisa bibliográfi ca sobre o tema geral “direito de família”, pois seriam muitos os aspectos relacionados a esse assunto que deveriam ser pesquisados. Por isso o tema deveria ser delimitado a uma dimensão viável e exeqüível. Poderíamos pesquisar apenas um dos aspectos relacionado a este tema: “a mediação na divisão de bens”, por exemplo.

Delimitado o tema, procede-se à problematização. Das diversas acepções sobre a palavra, a que mais se identifi ca com a atividade científi ca é aquela que afi rma que problema é uma “[...] questão não resolvida e que é objeto de discussão em qualquer domínio do conhecimento [...]”. (FERREIRA, 1986).

Não há consenso na literatura de metodologia científi ca e da pesquisa sobre a forma de como se deve apresentar a problematização de um tema de pesquisa. De qualquer forma, o tema problematizado indica a especifi cidade do objeto e marca, propriamente, o início da investigação.

Toda investigação começa com um problema. Uma lógica da investigação tem que tomar em consideração este fato. A ciência progride porque o homem de ciência, insatisfeito, lança-se a procura de novas verdades. Assim empenhado, o pesquisador primeiro suscita e propõe questões num determinado território do saber; depois elabora um projeto ou um plano de trabalho destinado a dar resposta a seu problema [...]. (LARROYO apud SALOMON, 1994, p. 197).

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A tarefa de formular um problema de pesquisa exige certo cuidado. Gil (2002, p. 26), aponta 5 regras para a sua adequada formulação. O problema deve ser:

� formulado como pergunta;

� claro e preciso;

� empírico;

� suscetível de solução; e

� delimitado a uma dimensão viável.

c) Elaboração do plano de desenvolvimento da pesquisa - elaborar o plano signifi ca apresentar a estrutura lógica das partes que compõem o assunto. São apresentados os desdobramentos temáticos vinculados entre si e naturalmente integrados ao tema central. O plano de desenvolvimento é apresentado na forma de divisões e subdivisões formando aquilo que se considera um sumário provisório da pesquisa.

A construção do plano supõe a capacidade de distinguir o fundamental do acessório, a idéia principal da secundária, o mais importante do menos importante, além de requerer a inteligência necessária para distribuir eqüitativamente as partes desproporcionais, de sorte que o todo resulte equilibrado e proporcionado, fazendo salientar o fundamental e o essencial. (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 97).

O exemplo a seguir foi adaptado de um trabalho elaborado pelos alunos da 1ª fase do Curso de Medicina da Unisul (SOUZA et al., 2004) que tem como título “O Programa Saúde da Família na visão dos membros da equipe e dos usuários de dois postos de saúde do Município de Araranguá, SC”. Observe como as partes estão harmoniosamente distribuídas e vinculadas ao tema central:

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1 SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO

1.1 Período de 1900 a 1960

1.2 Período de 1960 a 1988

1.3 De 1988 aos dias de hoje

2 SUS – SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

2.1 Implementação do SUS

2.2 Os objetivos do SUS

2.3 O SUS e as condições de saúde da população brasileira

3 O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

3.1 A criação do Programa

3.2 O funcionamento do Programa

3.2.1 Princípios básicos

3.2.2 Atribuições dos membros das equipes

3.2.3 A implantação do Programa

3.2.4 A percepção do programa na visão dos membros da equipe

3.2.5 A percepção do programa na visão dos usuários

O plano de assunto é provisório. No decorrer da pesquisa outros itens considerados importantes poderão ser acrescentados. Isto decorre naturalmente do amadurecimento intelectual que se tem sobre o tema. Assim como alguns itens são acrescentados outros poderão ser retirados. O plano de assunto só deixa de ser plano no momento em que se transforma em sumário do trabalho.

d) Identifi cação, localização das fontes e obtenção do material - com o plano de assunto em mãos, o próximo passo consiste em localizar as fontes que poderão fornecer respostas adequadas ao que se propõe pesquisar. Nunca é demais consultar uma pessoa especializada no assunto para sugerir referências que possam ser pesquisadas.

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Veja, a seguir, algumas fontes de pesquisa:

� livros;

� obras de referência: dicionários da língua portuguesa ou especializados, enciclopédias gerais ou especializadas;

� manuais;

� periódicos científicos: os que são disponíveis em fonte de papel, em CD-ROM e na internet;

� sites especializados;

� teses e dissertações;

� anais;

� periódicos de indexação e resumo.

As fontes de pesquisa podem ser localizadas em bibliotecas e em base de dados. Cada biblioteca possui um sistema de classifi cação e catalogação das obras. O sistema de Classifi cação Decimal Dewey, adotado pela maioria dessas bibliotecas, apresenta a seguinte classifi cação das obras:

� 000 Obras gerais;

� 100 Filosofia e Psicologia;

� 200 Religião;

� 300 Ciências Sociais;

� 400 Linguagem

� 500 Ciências Naturais e Matemática;

� 600 Tecnologia (Ciências Aplicadas);

� 700 Artes;

� 800 Literatura e Retórica;

� 900 Geografia e História.

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Se você procurar na Biblioteca Universitária da Unisul por um livro de Metodologia Científi ca, perceberá que os livros desta área, por serem classifi cadas como Obras Gerais, vão ter o número de chamada 001. Veja o exemplo:

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científi co. 20. ed. rev. ampl. São Paulo: Cortez, 1998. 272 p.

Número de Chamada: 001.42 S52

Os livros de Administração, por pertencerem à área de Tecnologia (Ciências Aplicadas) terão o número de chamada iniciando em 650. Veja o exemplo:

DRUCKER, Peter Ferdinand. 50 casos reais de administração. São Paulo: Pioneira, 1983. 245 p.

Número de Chamada: 658.00722 D85

As bases de dados armazenam informações em CD-ROM ou on-line, via internet, e as pesquisas podem ser feitas por assunto, palavras-chave ou pelo título do periódico. Algumas bases apenas oferecem referências bibliográfi cas ou resumos, não se diferenciando dos periódicos de indexação. Outras, no entanto, oferecem o texto completo pelo suporte eletrônico (GIL, 2002). As bibliotecas virtuais podem oferecer links para sites especializados e bases de dados.

Veja, por exemplo, como funciona a biblioteca virtual da Biblioteca Universitária da Unisul pelo seguinte endereço: http://www3.unisul.br/paginas/setores/bu/BUvirtual/index.html

A obtenção do material poderá ser feita por empréstimo nas bibliotecas, fotocópia, aquisição e impressão de textos baixados da internet. Os textos que não são encontrados nas bibliotecas locais

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e que não estão disponíveis gratuitamente on-line podem ser obtidos por meio dos programas COMUT on-line e BIREME/SCAD.

Os pedidos poderão ser feitos mediante preenchimento de formulário on-line disponíveis nos sites das bibliotecas universitárias. Na Unisul, o endereço é:

www.unisul.br/paginas/setores/bu/seoncomu.html

No fi nal desta unidade você encontrará uma relação de bases de dados e, respectivamente, os endereços para a pesquisa em meio eletrônico.

e) Leitura do material - obtido o material para a pesquisa, o próximo passo é a sua leitura que, para fi ns de realização da pesquisa bibliográfi ca, tem os seguintes objetivos: a) identifi car as informações e os dados constantes do material impresso; b) estabelecer relações entre as informações e os dados obtidos com o problema proposto; e c) analisar a consistência das informações e os dados apresentados pelos autores. (GIL 2002, p. 77).

f) Tomada de apontamentos - esta etapa da pesquisa bibliográfi ca supõe que se faça o registro das informações provenientes da leitura. Isto é necessário porque, infelizmente, pelas nossas limitações, não conseguimos armazenar na memória tudo aquilo que lemos. “Trata-se de tomar nota de todos os elementos que serão utilizados na elaboração do trabalho científi co. [...] Esses apontamentos servem de matéria prima para o trabalho e funcionam como um primeiro estágio de rascunho”. (SEVERINO, 2000, p. 80).

Os apontamentos podem ser feitos em fi chas de leitura ou diretamente no computador obedecendo à seguinte estrutura: a) cabeçalho; b) referência; e c) texto. No cabeçalho deve-se indicar o título, na referência indicam-se os elementos de identifi cação da obra e no texto, o registro das informações provenientes da leitura: esquematização de idéias, resumo, comentário, apreciação crítica, etc.

Na Unidade 5, você poderá aprofundar esse assunto lendo a seção sobre fi chamento.

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O detalhamento dos elementos pré, textuais e pós-textuais e a estrutura lógica do trabalho você encontrará na Unidade 6.

g) Redação do trabalho - a redação é a última etapa da pesquisa bibliográfi ca. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2002), deverão ser considerados os seguintes elementos: a) pré-textuais; b) textuais e c) pós-textuais.

Os elementos pré-textuais são apresentados antes da introdução e, no seu conjunto, ajudam na identifi cação e utilização do trabalho. Os elementos textuais compõem a estrutura do trabalho, formando três partes logicamente relacionadas: introdução, desenvolvimento e conclusão.Os elementos pós-textuais apresentam informações que complementam o trabalho.

Pesquisa documental

A pesquisa documental assemelha-se muito com a pesquisa bibliográfi ca. Ambas adotam o mesmo procedimento na coleta de dados. A diferença está, essencialmente, no tipo de fonte que cada uma utiliza. Enquanto a pesquisa documental utiliza fontes primárias, a bibliográfi ca utiliza fontes secundárias.

As etapas utilizadas para a realização de uma pesquisa documental seguem as mesmas da bibliográfi ca:

a) escolha do tema;

b) formulação do problema;

c) identificação, localização das fontes e obtenção do material;

d) tratamento dos dados coletados;

e) tomada de apontamentos;

f) redação do trabalho.

A pesquisa documental pode apresentar algumas vantagens e limitações. Gil (2002, p. 46) aponta as seguintes vantagens: a) os documentos consistem em fonte rica e estável de dados; b) baixo custo; e c) não exige contato com os sujeitos da pesquisa. As críticas mais freqüentes referem-se à subjetividade no conteúdo registrado e a não representatividade.

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Muitos documentos podem ser forjados para favorecer os interesses de alguns grupos sociais, como um meio de domínio sobre as opiniões das massas. Daí a necessidade do investigador utilizar o recurso da crítica interna e externa para avaliar a autenticidade e veracidade dos documentos.

A crítica externa se faz sobre os aspectos externos do documento, o seu signifi cado e valor histórico, a fi m de julgar sua autenticidade e proveniência, enquanto a crítica interna que aprecia o sentido e o valor do conteúdo, processa-se sobre o testemunho e o conteúdo, para julgar sua veracidade. É neste último tipo de crítica que se insere a hermenêutica (ou crítica de interpretação).

No entanto, as limitações apontadas não devem se constituir em razões para a não realização desse tipo de pesquisa, pois há uma riqueza documental a ser explorada, que está “adormecida” e, por isso, quase nunca é levada em consideração pelos pesquisadores, requerendo por parte destes uma criatividade especial. Afi nal, os documentos constituem fonte rica e estável de dados, além de subsistirem ao longo do tempo, tornando-se informações imprescindíveis nas pesquisas de natureza histórica, apesar das críticas aos aspectos da não-representatividade e da subjetividade destes.

Leia com atenção o resumo da pesquisa realizada por Petry e outros (2002) e identifi que elementos que caracterizam uma pesquisa qualitativa.

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As interfaces da adoção

No presente artigo, busca-se analisar as diferentes interfaces do processo de adoção. Esta é vista hoje como um dos recursos para proteger a criança privada da convivência familiar, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente, referindo que toda criança tem o direito de ser criada no seio de uma família. Os dados mencionados são resultados de uma pesquisa efetivada no ano 2001 pelo Programa da Infância e Juventude, parceria entre o Juizado Regional da Infância e Juventude/Comarca de Santa Cruz do Sul e a Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). O objetivo desse estudo foi conhecer o perfi l dos adotantes habilitados pelo Juizado da região. A investigação foi realizada a partir de laudos periciais dos últimos cinco anos, totalizando quarenta e cinco adoções nacionais.

Observe no resumo apresentado que a investigação foi realizada a partir de laudos periciais dos últimos cinco anos colhidos na Comarca de Santa Cruz do Sul (RS). Esses documentos podem ser considerados documentos de fontes primárias, típicos da pesquisa documental.

Pesquisa experimental

A pesquisa experimental, segundo Rudio (1999, p. 72), “[...] está interessada em verifi car a relação de causalidade que se estabelece entre as variáveis, isto é, em saber se a variável X (independente) determina a variável Y (dependente)”. Para isto, cria-se uma situação de controle rigoroso neutralizando todas as infl uências alheias que Y pode sofrer.

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Exemplo

O pesquisador quer investigar duas terapias no tratamento da dor das fi ssuras mamárias durante o período de amamentação em um grupo de mulheres. Primeiro, tomou um conjunto de mulheres em condições idênticas e logo em seguida dividiu-as em dois grupos. O primeiro recebeu o tratamento A e o segundo, embora mantido nas mesmas condições, recebeu o tratamento B. Decorrido determinado período, o pesquisador comparou o grupo que recebeu o tratamento A com o grupo que recebeu o tratamento B. Neste caso, a variável independente é a terapia (A e B), variável que está sendo manipulada; a variável dependente é a dor; e as possíveis variáveis de controle (similaridade entre os grupos) são: idade das pacientes, número de gestações, dor em ambos os lados, amamentação sem restrição, etc. A manipulação da variável independente poderiam ser caracterizada na forma como as terapias poderiam ser aplicadas.

Para que a pesquisa experimental possa ser desenvolvida, é necessário que se tenha, no mínimo, três elementos:

� manipulação de uma ou mais variáveis;

� controle de variáveis estranhas ao fenômeno observado;

� composição aleatória dos grupos experimental e controle.

Kerlinger (1980, p. 127) afi rma que “[...] as situações experimentais são fl exíveis no sentido de que muitos e variados aspectos da teoria podem ser testados [...]”. Nesse sentido é possível constatar muitas formas de realização da pesquisa experimental - são os casos dos estudos comparativos e dos delineamentos fatoriais, por exemplo.

No estudo comparativo, em tese, o grupo de controle dá lugar a um outro grupo experimental. Vieira e Hossne (2002, p. 59) afi rmam que “nos estudos comparativos, testam-se dois ou mais tratamentos”.

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No delineamento fatorial o pesquisador trabalha com mais de duas variáveis independentes para observar seus efeitos, de forma associada ou separadamente, sobre a variável dependente.

Os experimentos em que diferentes drogas aparecem em diferentes níveis são conhecidos [...] como experimento em esquema fatorial. Nesses experimentos, podem ser observados os efeitos de cada droga, separadamente, e o efeito combinado das duas drogas, por meio de análise estatística. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 58, grifo dos autores).

Conceitos básicos da pesquisa experimental

A operacionalidade da pesquisa experimental, especialmente nas ciências biomédicas, exige o domínio de alguns termos. Com base em Vieira e Hossne (2002), selecionamos alguns, a saber:

� Unidade experimental – “[...] é a menor unidade em que o tratamento é aplicado e cuja resposta não é afetada pelas demais unidades [...]” (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 51).

� Grupo experimental – é grupo que recebe o tratamento em teste.

� Grupo controle - é o grupo que não recebe o tratamento. Para se determinar o efeito do tratamento compara-se o resultado nos dois grupos (VIEIRA; HOSSNE, 2002).

� Controle positivo – “[...] é o grupo que recebe a terapia convencional. Quando não se pode submeter pacientes a placebo, o controle positivo serve como base de comparação para o grupo que recebe o tratamento em teste”. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 57).

� Controle negativo – é o grupo que recebe placebo.

� Experimento cego – é aquele em que o pesquisador não sabe em qual grupo o participante se encontra, se ao grupo experimental ou ao grupo controle. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 66).

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� Experimento duplamente cego – “[...] é aquele em que nem os participantes nem os pesquisadores sabem quais são os participantes que estão recebendo o tratamento em teste e quais os que estão recebendo o tratamento padrão ou o placebo”. (VIERA; HOSSNE, 2002, p. 67).

� Wash-out – suspensão temporária de medicação para a remoção dos efeitos residuais da droga em uso pelo paciente. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 62).

� Follow-up – período de acompanhamento ou período de seguimento do tratamento. Por exemplo, semanal, quinzenal, mensal. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 63).

Leia, com atenção, o resumo do artigo escrito por Ferreira, Espirandelli e Peloso (1992), intitulado Etodolac versus diclofenaco em traumatismos esportivos agudos e identifi que as três principais características da pesquisa experimental, citadas nesta seção, que são: manipulação de uma ou mais variáveis, controle de variáveis estranhas ao fenômeno observado e composição aleatória dos grupos experimental e controle.

Etodolac versus diclofenaco em traumatismos esportivos agudos

Objetivando comparar a efi cácia do etodolac, um novo antiinfl amatório não hormonal, com diclofenaco no alívio dos sinais e sintomas de pacientes com traumatismos esportivos agudos ocorridos há menos de 48 horas, realizou-se estudo duplo-cego, randomizado, de grupos paralelos. Um grupo (41 pacientes) recebeu etodolac 200 mg via oral a cada oito horas por sete dias e outro (41 pacientes) recebeu diclofenaco 50 mg via oral nas mesmas condições. As avaliações clínicas foram realizadas no pré-tratamento e nos 1º, 3º e 7º dias de tratamento, sendo avaliado os seguintes sinais e sintomas: dor em repouso; dor à movimentação ativa e passiva; dor à palpação; edema, rubor e calor local; prejuízo funcional. Os grupos eram homogêneos no pré-tratamento. A análise estatística mostrou melhora de todos os sinais e sintomas nos dois grupos de tratamento. O teste de igualdade de probabilidades evidenciou diferença signifi cante entre os

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grupos etodolac e diclofenaco, com maior alívio para o primeiro, com relação a dor à palpação e rubor local no 3º dia de tratamento e nos intervalos pré-3º dia e 1º - 3º dia (p < 0,05). Para os demais sintomas, não foi evidenciada nenhuma diferença signifi cante. A tolerabilidade foi considerada boa para ambas as drogas.

A manipulação de uma variável na pesquisa experimental ocorre quando o pesquisador, conforme o seu interesse ou o interesse da pesquisa, pode aumentar ou diminuir a intensidade de uma variável para observar a modifi cação que ela produzirá em outra(s). Sempre que se faz uma pesquisa experimental procura-se avaliar a medida que x (variável independente) afeta y (variável dependente). No exemplo citado, a variável manipulada foi o tipo de medicamento (Etodolac e diclofenaco), que representa a variável independente (x) e as variáveis observadas são: dor em repouso; dor à movimentação ativa e passiva; dor à palpação; edema, rubor e calor local; prejuízo funcional, que caracterizam a variável dependente (y). O pesquisador quis saber qual o efeito dos medicamentos nas variáveis já mencionadas.

O controle de variáveis estranhas, outra característica da pesquisa experimental, no exemplo citado, se deu pela homogeneidade entre os grupos que participaram do experimento. Esse controle é importante para que o pesquisador tenha a certeza de que as modifi cações existentes nas variáveis dependentes ocorreram por causa da manipulação da variável independente. Se o grupo fosse muito heterogêneo e o pesquisador não mantivesse o controle de fatores estranhos ao estudo, os resultados e conclusões estariam confundidos com esses fatores. Na prática, isto quer dizer que os pacientes de ambos os grupos são homogêneos na idade, na distribuição de gênero, no nível de acometimento da patologia e em outras variáveis que garantiram a semelhança entre os grupos.

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A terceira característica da pesquisa experimental apresentada e que você pode observar no resumo é a da randomização ou casualização. O que isto signifi ca? Que o pesquisador não pode escolher os participantes que comporão o grupo experimental ou controle conforme um critério pessoal. A casualização signifi ca que o indivíduo que faz parte da pesquisa tem a mesma chance de participar tanto de um como de outro grupo. Com certeza, no estudo realizado, procedeu-se a um sorteio para a composição do Grupo 1 (etodolac) e do Grupo 2 (diclofenaco).

Outra característica presente neste resumo é o fato do estudo ser duplo-cego. Nos estudos duplo-cego, nem o pesquisador e nem o participante da pesquisa sabem a que grupo pertencem. Neste caso, o paciente não sabia que tipo de medicamento estava tomando e o médico, quando fez a avaliação, não sabia a qual grupo o paciente pertencia. Os estudos duplo-cego são importantes, pois impedem que as expectativas do participante da pesquisa e do pesquisador, de alguma forma, interfi ram nos resultados.

Estudo de caso controle

Nos estudos de caso controle investigam-se os fatos após a sua ocorrência, sem manipulação da variável independente. Acompanhe o exemplo a seguir.

Imagine que duas cidades tenham sido colonizadas no mesmo período histórico e que tenham as mesmas características demográfi cas em termos de número de habitantes e origem etnográfi ca, a mesma tradição religiosa, que tenham o mesmo desenvolvimento econômico (formação agrícola), enfi m, as duas são semelhantes em muitos aspectos. Porém, em uma delas instala-se uma grande indústria. Neste caso, o pesquisador poderia se interessar em estudar as mudanças ocorridas decorrentes do processo de industrialização e comparar com a cidade que não recebeu a instalação da indústria.

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O (não) processo de industrialização seria a variável independente, as conseqüências geradas pela industrialização seriam a variável dependente e a semelhança entre as cidades (demografi a, número de habitantes, origem etnográfi ca, tradição religiosa, formação agrícola, etc.) seria as variáveis de controle.

Neste tipo de pesquisa o investigador não pode, conforme o seu desejo, manipular a variável independente, mas sim localizar grupos em que os indivíduos sejam bastante semelhantes entre si e verifi car as conseqüências naturais que o acréscimo de uma variável poderia produzir em um grupo e comparar com o outro que se manteve em condições normais.

Nas ciências biomédicas, Vieira e Hossne (2002, p. 112) apresentam a seguinte defi nição: “no estudo de caso controle, são observados dois grupos de pessoas, um com a doença – os casos – e outro sem a doença – os controles. Calcula-se, então, para cada grupo, a proporção de indivíduos expostos à possível causa da doença e comparam-se os resultados”.

Cruz realizou um estudo de caso controle, sintetizado da seguinte maneira por Vieira e Hossne (2002, p. 111):

Para verifi car se as doenças periodontais estão associadas ao hábito de fumar, procedeu-se um estudo de caso controle. Foram utilizados dados de um inquérito, epidemiológico feito pelo serviço de saúde da Polícia Militar de Minas Gerais, no período de junho a outubro de 1998. Dos militares avaliados nesse inquérito, foram amostrados 95 homens com doença periodontal. Esses militares foram, posteriormente, pareados com 95, sem a doença. Os pares eram do sexo masculino, de mesma faixa etária, e de mesma graduação. Com base nos dados coletados, foi possível concluir que o fumo é um fator de risco para as doenças periodontais.

Neste exemplo você pode observar que o pesquisador separou dois grupos: um caso, que tem a doença periodontal, e outro controle, que não tem a doença periodontal. Para fi car claro o seu entendimento, doenças periodontais são doenças do tecido em torno dos dentes. O pesquisador fez um estudo pareado de um caso para um controle e, nos dois grupos, calculou o número de fumantes a fi m de testar sua hipótese de que o fumo pode representar um fator de risco para as doenças periodontais.

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Para chegar a essa conclusão, com certeza, o número maior de fumantes foi encontrado no grupo caso (grupo que tem a doença).

Levantamento

As pesquisas do tipo levantamento procuram analisar, quantitativamente, características de determinada população. Nas Ciências Biomédicas essa modalidade de pesquisa também pode ser chamada de estudos de prevalência, estudo transversal ou estudo seccional. Na epidemiologia é comum encontrarmos a expressão inquérito epidemiológico ou estudo de levantamento de doenças.

Para Gil ( 2002, p. 50), as pesquisas do tipo levantamento:

[...] caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo signifi cativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados

pesquisados.

Os levantamentos podem abranger o universo dos indivíduos que compõem a população, no caso, um censo, ou apenas uma amostra, um subconjunto da população. Os censos geralmente são desenvolvidos por instituições governamentais em decorrência do grande investimento fi nanceiro necessário para a sua realização.

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Unidade 4

Por unidade-caso podemos entender uma pessoa, uma família, uma comunidade, uma empresa, um regime político, uma doença, etc.

Antes de obter a amostra, é necessário defi nir exatamente a população de onde essa amostra será retirada, ou seja, é preciso fazer a confi guração da população. Para a determinação do tamanho da amostra devem-se indicar critérios rigorosos que permitam que os resultados obtidos possam ser generalizados para o conjunto dos indivíduos que compõem a população.

As pesquisas por amostragem apresentam vantagens e limitações. Entre as vantagens estão o conhecimento direto da realidade, economia, rapidez e quantifi cação dos dados. Entre as limitações estão a possibilidade de não fi dedignidade nas respostas, de pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais e de limitada apreensão do processo de mudança (GIL, 2002).

Os estudos por levantamentos, por serem de natureza descritivo-quantitativa, pouco se aproximam de estudos explicativos, pelo contrário, podem estar muito mais próximos de estudos exploratórios e descritivos.

As principais técnicas de coleta de dados utilizadas nos estudos de levantamentos são o questionário, a entrevista e o formulário.

Estudo de caso

Estudo de caso pode ser defi nido com um estudo exaustivo, profundo e extenso de uma ou de poucas unidades, empiricamente verifi cáveis, de maneira que permita seu conhecimento amplo e detalhado.

Nas ciências, durante muito tempo, o estudo de caso foi encarado como procedimento pouco rigoroso, que serviria apenas para estudos de maneira exploratória. Hoje, porém, é encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos. (YIN, 2001 apud GIL, 2002, p. 54).

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Universidade do Sul de Santa Catarina

O estudo de caso, como modalidade de pesquisa, pode ser utilizado tanto nas Ciências Biomédicas como nas Ciências Sociais. Nas Ciências Biomédicas é utilizado para a investigação das peculiaridades que envolvem determinados casos clínicos, e nas Ciências Sociais para a investigação das particularidades que envolvem a formação de determinados fenômenos sociais.

Para a coleta de dados no estudo de caso geralmente utilizam-se as técnicas da pesquisa qualitativa, sendo a entrevista a principal delas.

Gil (2002) aponta as principais objeções ao estudo de caso dizendo que pode haver falta de rigor metodológico; difi culdade de generalização dos resultados em decorrência da análise de um único ou de poucos casos; podem demandar muito tempo para serem realizados, sendo seus resultados pouco consistentes.

Todavia, a experiência acumulada demonstra a realização de estudos de caso nas Ciências Sociais desenvolvidos em períodos curtos e com resultados confi rmados por outros estudos. Há situações em que somente o estudo de caso pode oferecer, qualitativamente, as condições para a investigação particular e exaustiva do objeto.

Leia com atenção o resumo da tese doutoral apresentada por Zolcsak (2002) à Universidade de São Paulo e identifi que as características do estudo de caso discutidas neste texto.

Difusão de conhecimentos sobre o meio ambiente na indústria

Para análise da difusão de conhecimentos sobre o meio ambiente na gestão ambiental da indústria esta tese toma em vista três modelos mentais de meio ambiente – o modelo acadêmico, o empresarial e o modelo do senso comum. Após conceituar estas representações mentais de meio ambiente e expor especifi cidades da proteção ambiental em empresas, apresenta um estudo de caso efetuado na empresa Unilever - Divisão Elida Gibbs, em Vinhedo, São Paulo. Analisa o diálogo entre os modelos empresarial e do senso comum face

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Unidade 4

ao conhecimento ecológico e discute que a educação ambiental, dos trabalhadores de uma empresa e de modo geral, deve se pautar em história natural e se desdobrar em uma educação para o planejamento ambiental visando incrementar a percepção judicativa e a capacidade de participação dos cidadãos na construção do espaço.

Você observou, neste resumo, que o estudo foi realizado em uma organização empresarial. A autora procurou estudar de forma ampla, exaustiva e profunda o problema da difusão de conhecimentos sobre o meio ambiente na indústria, tomando como unidade de estudo (unidade-caso) a Divisão Elida Gibbs da empresa Unilever, de Vinhedo, São Paulo.

O estudo de caso pode ser classifi cado, conforme Bogdan e Biklen (apud RAUEN, 2002, p. 212), nos seguintes tipos:

a) estudos de casos histórico-organizacionais - o investigador se interessa pela vida de uma instituição;

b) estudos de casos observacionais - é a observação participante, onde o objeto de análise são componentes organizacionais;

c) história de vida - consiste na aplicação de entrevistas semi-estruturadas com pessoa de relevo social;

d) estudo de caso comunitário - é realizada por equipe multidisciplinar de investigadores que setorizam a unidade em exame, ressaltando os pontos de culminância, sem perder a visão integral do foco de análise;

e) estudos de casos situacionais - relaciona-se a fenômenos específi cos que podem ocorrer numa situação social;

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Universidade do Sul de Santa Catarina

f) estudos de casos microetnográfi cos - focalizam os aspectos muito específi cos de uma realidade maior;

g) estudo comparativo de casos - são comparações entre dois ou mais enfoques específi cos. Em geral, esse tipo de pesquisa descreve, explica e compara os fenômenos;

h) multicasos - estudo de dois ou mais sujeitos, organizações, entre outros.

Estudo de Campo

O estudo de campo é uma modalidade de pesquisa na qual o pesquisador “acampa” no local da pesquisa, envolvendo-se diretamente com a realidade através da observação direta. É muito importante não confundir o estudo de campo com pesquisas de levantamento de dados realizadas em locais abertos ou públicos.

O estudo de campo exige, necessariamente, o envolvimento qualitativo do pesquisador no contexto da realidade pesquisada. Para Heerdt e Leonel (2005, p. 82):

é um tipo de pesquisa que procura o aprofundamento de uma realidade específi ca. É basicamente realizada por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade.

Esta pesquisa parte sempre da construção de um modelo de realidade, através da qual se determina a forma de observação, ou melhor, nela se defi ne o campo da pesquisa, as formas de acesso a esse campo e os participantes (ou sujeitos), para então ser possível determinar os meios de recolha e análise dos dados. (MÁTTAR NETO, 2002, p. 149).

É comum encontrar uma variedade de pesquisas de campo, de fi nalidade interventiva ou descritiva, utilizando-se, principalmente, das técnicas da entrevista ou da observação

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Unidade 4

direta, observação participante, pesquisa-ação, aplicação de questionários, testes, entre outros.

Segundo Gil (2002, p. 53), “no estudo de campo, o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo”.

Leia com atenção o resumo do artigo escrito por Borges e Japur (2005) sobre um estudo de campo realizado em grupos comunitários no contexto do Programa de Saúde da Família (PSF).

Promover e recuperar saúde: sentidos produzidos em grupos comunitários no contexto do Programa de Saúde da Família

A Saúde Pública no Brasil tem acompanhado grandes movimentos de mudança do modelo assistencial em saúde. Novas tendências apontam para a importância de ações construídas a partir de seu contexto, voltadas a comunidades específi cas. O presente estudo teve por objetivo descrever os sentidos de saúde/doença produzidos em grupos comunitários no contexto de um PSF. Foram audiogravados cinco grupos de sessão única, coordenados pela primeira autora. Os grupos foram transcritos e junto às notas de campo, constituíram a base de dados. A análise descreveu sentidos acerca das noções que vêm embasando as novas propostas em saúde, dando visibilidade à multiplicidade de sentidos, desnaturalizando discursos fi xos sobre saúde/doença. As considerações fi nais, baseadas na perspectiva do construcionismo social, apontam para a fertilidade de uma prática em saúde baseada nos processos de conversação e negociação constantes, entre todos os atores sociais envolvidos.

Você deve ter observado que neste estudo os pesquisadores envolveram-se diretamente com as pessoas da comunidade que participam do PSF. O resumo não deixa claro, mas podemos deduzir que os pesquisadores tiveram uma participação ativa na comunidade para construir, com os participantes do PSF, um discurso coletivo (construcionismo social) sobre a importância de uma prática em saúde baseada nos processos de conversação e negociação constantes nos quais todos os integrantes sejam envolvidos.

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Pesquisa-ação e Pesquisa participante

A pesquisa-ação e a pesquisa participante constituem as últimas modalidades de pesquisa que vamos estudar nesta unidade. Ambas são caracterizadas pela condição de horizontalidade no processo de conhecimento e ação e participação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados.

Segundo Th iollent (2003), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

A pesquisa participante é uma modalidade de pesquisa qualitativa voltada para a ação político-social de emancipação das comunidades carentes ou de parcos recursos, tendo como base o empenho de uma instituição governamental ou privada interessada nos resultados da investigação e, como tal, disposta a fi nanciá-la (GIL, 2002, p. 149). Neste sentido, o pesquisador tem que necessariamente propor meios para a alteração da realidade observada, e não apenas constatar o problema.

O planejamento da pesquisa-ação e da pesquisa participante difere signifi cativamente de outros tipos de pesquisa, não sendo possível estabelecer uma rigidez nas etapas que constituem seu desenvolvimento.

Leia com atenção o resumo do artigo publicado por Dias (1998) na Revista Cadernos de Saúde Pública, no qual se ilustra um exemplo de pesquisa-ação.

“Eu? Eu estou aí, compondo o mundo.” Uma experiência de controle de endemia, pesquisa e participação popular vivida em Cansanção, Minas Gerais, Brasil

Este artigo relata uma experiência de controle da doença de Chagas, vivida na década de 80 em um povoado rural do Vale do Jequitinhonha, MG, e reavaliada recentemente. Trata-se de um projeto de pesquisa-ação

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Unidade 4

participativa, com aplicação na área de educação popular em saúde. Teve como objetivo conhecer, do ponto de vista dos sujeitos, o signifi cado da doença de Chagas na vida de uma comunidade endêmica, procurando com eles alternativas de controle. Apesar da altíssima prevalência, a doença não chegava a ser prioridade sentida pela população, que vivia em situação de carências múltiplas e de luta pela sobrevivência. O controle da doença deu-se de forma integrada com outras necessidades. Levantam-se pistas para trabalhos de participação no controle de endemias, levando-se em conta a sabedoria popular, a visão integrada dos problemas e na mobilização em torno de interesses concretos. Destacam-se como necessários: a mudança nas relações entre o agente externo e a comunidade, a reciprocidade do envolvimento, a postura de ‘escuta’ e de solidariedade, o autodiagnóstico, a organização da população.

O resumo da pesquisa de Dias (1998) exemplifi ca de forma clara uma pesquisa-ação. No processo de pesquisa, o pesquisador propõe, a partir do conhecimento popular dos moradores, aliado ao seu conhecimento técnico-científi co, alternativas de controle da doença de chagas, sugerindo que a comunidade (coletividade) sinta-se responsável pelo enfrentamento e pela solução do problema.

Esta é a essência da pesquisa-ação ou da pesquisa participante, pois há interação constante entre o pesquisador e os sujeitos que estão envolvidos na realidade na qual a pesquisa se desenvolve.

Além disso, todos se envolvem na proposição de estratégias para solucionar os problemas presentes na comunidade. A expressão “Eu? Eu estou aí, compondo o mundo”, sugestivamente incluída no título do trabalho, sintetiza uma tomada de consciência por parte de um dos moradores no sentido de sentir-se parte integrante do mundo (da comunidade) e, com isso, sentir-se integrado aos problemas vivenciados pela comunidade.

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Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades.

1) Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira:

a) Variável independente

( ) Fator que se neutraliza ou se isola para não interferir no fenômeno observado.

b) Variável dependente

( ) Fator que age como causa, mas em um plano secundário.

c) Variável de controle

( ) Afeta a variável que está sendo observada, mas não pode ser medida.

d) Variável moderadora

( ) Efeito ou conseqüência de algo que foi estimulado.

e) Variável interveniente

( ) Aspecto que produz um efeito ou conseqüência.

2) Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) nas sentenças a seguir e justifi que sua opção caso a alternativa escolhida seja falsa.

a) ( ) Pesquisa é um processo de investigação que se interessa em descobrir as relações existentes entre os aspectos que envolvem os fatos, os fenômenos, as situações ou coisas.

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b) ( ) A classifi cação dos tipos de pesquisa só é possível mediante o estabelecimento de um critério. Se classifi carmos as pesquisas levando em conta os níveis ou objetivos, teremos três grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa experimental.

c) ( ) O principal objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior familiaridade com o objeto de estudo.

d) ( ) Pesquisa explicativa é aquela que analisa, observa, registra e correlaciona aspectos (variáveis) que envolvem fatos ou fenômenos, sem manipulá-los. Os fenômenos humanos ou naturais são investigados sem a interferência do pesquisador.

e) ( ) A pesquisa descritiva tem como preocupação fundamental identifi car fatores que contribuem ou agem como causa para a ocorrência de determinados fenômenos. É o tipo de pesquisa que explica as razões ou os porquês das coisas.

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f) ( ) Pesquisa bibliográfi ca é aquela que se desenvolve tentando explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos, etc.

g) ( ) Delimitar signifi ca indicar a abrangência do estudo, é estabelecer a extensão e compreensão do assunto. A delimitação da extensão do assunto deverá ser a mais ampla possível para permitir que se pesquisem todos os aspectos relacionados ao tema.

h) ( ) Elaborar o plano de assunto, no contexto da pesquisa bibliográfi ca, signifi ca apresentar a estrutura lógica das partes que compõem o assunto. São apresentados os desdobramentos temáticos vinculados entre si e naturalmente integrados ao tema central.

i) ( ) Para que a pesquisa experimental possa ser desenvolvida é necessário ter, no mínimo, dois elementos: manipulação de uma ou mais variáveis e controle de variáveis estranhas ao fenômeno observado. Composição aleatória dos grupos, experimental e controle, não caracteriza um requisito.

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j) ( ) No estudo comparativo, o pesquisador trabalha com mais de duas variáveis independentes para observar seus efeitos, de forma associada ou separadamente, sobre a variável dependente.

k) ( ) Nos estudos de caso controle, investigam-se os fatos após a sua ocorrência manipulando a variável independente.

l) ( ) As pesquisas do tipo levantamento procuram analisar, quantitativamente, características de determinada população. Neste tipo de pesquisa não é possível trabalhar com amostragem.

m) ( ) Estudo de caso pode ser defi nido com um estudo exaustivo, profundo e extenso de uma ou de poucas unidades, empiricamente verifi cáveis, de maneira que permita seu conhecimento amplo e detalhado.

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n) ( ) O estudo de campo é basicamente realizado por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade.

3) Leia atentamente o resumo da pesquisa efetuada por Hallal e outros (2006), adaptado para esta atividade de avaliação e depois responda:

Prevalência de sedentarismo e fatores associados em adolescentes de 10-12 anos de idade

Justifi cativa: A atividade física na adolescência acarreta vários benefícios à saúde, seja por uma infl uência direta sobre a morbidade na própria adolescência, seja por uma infl uência mediada pelo nível de atividade física na idade adulta Objetivo/método: Avaliou-se a prevalência de sedentarismo e fatores associados em 4.452 adolescentes de 10-12 anos de idade [por meio da aplicação de um questionário auto-preenchível]. Sedentarismo foi defi nido como < 300 minutos por semana de atividade física. [...] Resultados: A prevalência de sedentarismo foi de 58,2% (IC95%: 56,7-59,7). Na análise multivariável, o sedentarismo se associou positivamente ao sexo feminino, ao nível sócio-econômico, a ter mãe inativa e ao tempo diário assistindo à televisão. O sedentarismo se associou negativamente com o tempo diário de uso de vídeo-game. Adolescentes de nível econômico baixo apresentaram maior freqüência de deslocamento ativo para a escola. Conclusão: Estratégias efetivas de combate ao sedentarismo na adolescência são necessárias devido à sua alta prevalência e sua associação com inatividade física na idade adulta.

a) Quais são as variáveis presentes nos resultados da pesquisa? Classifi que-as.

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b) Classifi que a pesquisa quanto ao nível ou objetivos, à abordagem e ao procedimento utilizado na coleta de dados. Justifi que sua resposta com base no conceito do tipo de pesquisa e nas informações contidas no texto.

4) Identifi que no texto a seguir os três elementos que defi nem uma pesquisa experimental.

Para saber se determinado tratamento (uma substância) tem efeito sobre o peso de ratos, um pesquisador fez um experimento. Primeiro, tomou um conjunto de ratos similares e os manteve em condições idênticas durante algum tempo. Depois, dividiu o conjunto de ratos em dois grupos. O primeiro recebeu a substância adicionada à ração, mas o segundo grupo, embora mantido nas mesmas condições, não recebeu a substância. Decorrido determinado período, o pesquisador pesou todos os ratos e comparou o peso do grupo que recebeu o tratamento com o peso do grupo que não recebeu o tratamento. (VIEIRA; HOSSNE, 2002, p. 49, grifo nosso).

a) Manipulação de variáveis:

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b) Controle de variáveis:

c) Randomização (composição aleatória dos grupos experimental e controle):

Síntese

Nesta unidade você estudou o conceito e a classifi cação das variáveis e, também, a classifi cação dos tipos de pesquisa que leva em conta os objetivos gerais, a abordagem e os procedimentos utilizados para a coleta de dados.

Variáveis são aspectos ou fatores que podem ser mensurados. Elas são classifi cadas em cinco tipos: independente, dependente, de controle, moderadora e interveniente. A variável independente é aquele fator que age como causa; a variável dependente é o fator que é efeito ou conseqüência de algo que foi estimulado; a variável de controle é aquele fator que o pesquisador neutraliza ou

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isola para não agir como causa no fenômeno observado; a variável moderadora é aquele fator que age como causa, mas em um plano secundário; e a variável interveniente é aquele fator que age teoricamente como causa, mas não pode ser medido.

Você viu que quando classifi camos as pesquisas levando em conta os objetivos gerais, temos 3 grupos: exploratórias, descritivas e explicativas.

As pesquisas exploratórias visam a uma familiaridade maior com o tema ou assunto da pesquisa e podem ser elaboradas tendo em vista a busca de subsídios para a formulação mais precisa de problemas ou hipóteses.

As pesquisas descritivas têm por objetivo a descrição de características de determinada população ou fenômeno e trabalham com a relação entre variáveis sem manipulá-las.

As pesquisas explicativas estudam as relações causais entre os fenômenos na tentativa de estabelecer os porquês ou os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência das coisas.

Outra classifi cação de pesquisa que você estudou foi quanto à abordagem. As pesquisas, quanto à abordagem, podem ser quantitativas ou qualitativas. A quantitativa analisa os fenômenos com base nos princípios da matemática. Média, moda, mediana, desvio-padrão, regressão logística, análise univariada, bivariada, multivariada, teste z, teste t de student são alguns dos recursos utilizados para analisar os problemas e as hipóteses científi cas. As principais características da pesquisa quantitativa estudadas foram: análise de números, análise dedutiva, análise objetiva, o pesquisador distancia-se do processo e o teste de hipótese e mensuração de variáveis.

A pesquisa qualitativa, por outro lado, procura analisar as percepções presentes no olhar dos sujeitos pesquisados sobre o mundo que os rodeia. As principais características da pesquisa qualitativa estudadas foram: análise de palavras (narrativas), análise indutiva (sem preocupação com as totalidades), análise subjetiva, o pesquisador envolve-se com o processo e geração de categorias para analisar os fenômenos.

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Outra questão que você estudou nesta unidade foi a classifi cação das pesquisas levando em conta o procedimento utilizado para a coleta de dados. Quando classifi camos as pesquisas com base nesse critério podemos ter: pesquisa bibliográfi ca, pesquisa documental, pesquisa experimental, pesquisa estudo de caso controle, levantamento, estudo de caso, pesquisa-ação e pesquisa participante.

A pesquisa bibliográfi ca se desenvolve com base em fontes secundárias: livros, revistas, jornais, monografi as, teses, dissertações, relatórios de pesquisa, etc. A pesquisa documental utiliza fontes primárias: documentos ofi ciais, parlamentares, jurídicos, arquivos particulares, autobiografi as, etc.

A pesquisa experimental é defi nida, basicamente, pela presença de 3 elementos: manipulação de variáveis, controle de variáveis estranhas ao fator que está sendo investigado e randomização (composição aleatória dos indivíduos que integram o grupo experimental e o grupo controle).

O estudo de caso controle assemelha-se à pesquisa experimental. Enquanto a pesquisa experimental cria uma condição especial para estudar o fenômeno, o estudo de caso controle estuda o fenômeno em seu habitat natural, não constituindo grupos com base na composição aleatória dos indivíduos, pois eles já vivem naturalmente neles.

O levantamento é um exemplo clássico de pesquisa quantitativa. Nele as pessoas são interrogadas diretamente por meio de questionários, entrevistas ou formulários. Na maioria dos levantamentos, trabalha-se com amostras estatísticas (subconjunto da população) e as conclusões são projetadas para o universo dos indivíduos que compõem aquela população.

O estudo de caso estuda com profundidade, exaustão e com profundidade uma unidade-caso que pode ser um indivíduo, uma família, uma empresa, uma situação, etc.

Por fi m, o estudo de campo é um tipo de pesquisa que procura o aprofundamento de uma realidade específi ca. É basicamente realizada por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas.

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Unidade 4

A pesquisa-ação e a pesquisa participante caracterizam-se pela condição de interação que se estabelece entre o pesquisador e os sujeitos que estão envolvidos na realidade na qual a pesquisa se desenvolve. Tratam-se de dois tipos de pesquisa qualitativa, comumente desenvolvidas nas Ciências Sociais, nas quais o pesquisador tem que, necessariamente, propor meios para a alteração da realidade observada, e não apenas constatar o problema.

Saiba mais

Para conhecer um pouco mais sobre os assuntos dessa unidade, visite as bases internacionais mais conhecidas de acordo com a classifi cação de Gil (2002, p. 72-74):

� BIOSIS – Ciências Biológicas. Disponível em:www.biosis.org

� CAB Abstracts – Ciências Agrárias. Disponível em:www.cabi-publishing.org

� COMPENDEX – Engenharia e Tecnologia. Disponível em: www.engineeringvillage2.org

� FSTA – Ciência e Tecnologia dos Alimentos. Disponível em:www.cas.org/ONLINE/DBSS/fstass.html

� GEOREF – Geociências. Disponível em:www.agiweb.org/georef

� LILACS – Ciências da Saúde. Disponível em:www.bireme.br

� MEDLINE – Ciências da Saúde. Disponível em:www.bireme.br

� MLA – Lingüística e Literatura. Disponível em:www.mla.org

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Universidade do Sul de Santa Catarina

� PsycINFO – Psicologia. Disponível em: www.apa.org/psycinfo

� Proquest Direct – base interdisciplinar que cobre contabilidade, publicidade, negócios, finanças, saúde, investimentos, sociologia, tecnologia, e telecomunicações. Disponível em:www.il.proquest.com/proquest

� Sociological Abstracts – Sociologia e ciência política. Disponível em:www.csa.com/csa/factsheets/socioabs.shtml

� BDENF – Enfermagem. Disponível em:www.bireme.br

� BBO – Odontologia. Disponível em: www.bireme.br

� EDUBASE – Educação. Disponível em:www.bibli.fae.unicamp.br/edubase.htm

� AdSaúde – Administração de Serviços de Saúde. Disponível em: www.bireme.br/

� Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva. Disponível em:www.sibradid.eef.ufmg.br/bases.html

� IBICT – Ciência e Tecnologia. Disponível em:www.ibict.br

� LIS – Localizador de sites em saúde. Disponível em:www.bireme.br

� SciELO - Textos completos nas áreas de Ciências Sociais, Psicologia, Engenharia, Química, Materiais, Saúde, Biologia, Botânica, Veterinária e Microbiologia. Disponível em: www.scielo.br

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Unidade 4

Além das bases de dados também temos os sites de busca. Os mais conhecidos são:

� AltaVista – www.altavista.com;

� Cadê – www.cade.com.br;

� Achei – www.achei.com.br;

� Yahoo BR – www.yahoo.com.br;

� MNS BR – www.msn.com.br;

� Google – www.google.com.br.

Conheça os setores que compõem o acervo da biblioteca da Unisul conforme as informações disponíveis na home page da própria biblioteca (endereço eletrônico: <http://www3.unisul.br/paginas/setores/bu/index.html>):

Setor Acervo

Especial

Este acervo é composto por teses, dissertações e monografi as de pós-graduação, relatórios, anuários, anais, manuais técnicos, mapas, globo, materiais tridimensionais, cartazes, atlas geográfi cos, normas técnicas, bibliografi as, índices, resumos, catálogos de universidades e de produção científi ca, calendários de eventos, plantas, cartas geográfi cas.

Obras gerais

Este acervo abrange todas as áreas do conhecimento sendo ordenado por assunto de acordo com a Classifi cação Decimal Dewey - CDD que divide o conhecimento humano em 10 grandes classes.

Periódicos

Este acervo é composto por revistas, jornais, recortes de jornais, informativos, boletins, publicações seriadas, artigos de periódicos das publicações da Editora Unisul, folhetos, separatas, folders.

Referência

Este acervo é composto por dicionários, enciclopédias, almanaques, guias, glossários. Está organizado separadamente do acervo geral, localizado no setor de referência.

Multimeios Este acervo é composto por fi tas de vídeo, slides, CD-ROM, disquetes, fi tas cassete e DVD.

Visite a biblioteca da Unisul e solicite a um atendente uma visita orientada nesses setores.

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UNIDADE 5

Produção acadêmica: tipos de trabalhos científi cos

Objetivos de aprendizagem

� Distinguir os tipos de resumo e conhecer os principais procedimentos para resumir.

� Conceituar e identifi car a estrutura da resenha crítica.

� Identifi car os tipos e a estrutura da fi cha de leitura.

� Distinguir os tipos de paper.

� Conhecer a estrutura do projeto de pesquisa.

� Conhecer os tipos e a estrutura do artigo científi co.

� Conceituar relatório técnico-científi co e monografi a.

Seções de estudo

Seção 1 Resumo

Seção 2 Resenha crítica

Seção 3 Fichamento

Seção 4 Paper

Seção 5 Artigo científi co

Seção 6 Projeto de pesquisa

Seção 7 Relatório técnico-científi co

Seção 8 Monografi a

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Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo

Um trabalho acadêmico, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2005), consiste em um “documento que representa o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador”.

Nesta unidade você conhecerá os principais tipos de trabalhos acadêmicos solicitados no cotidiano da vida universitária, bem como conceitos, tipos e principais procedimentos para resumir, para fazer fi chamentos, papers, artigo científi co, projeto de pesquisa, relatório técnico-científi co e monografi a.

— Após o estudo dessa unidade, realize as atividades de auto-avaliação sugeridas no fi nal. Elas ajudarão você a estudar o conteúdo desta disciplina de maneira estruturada.

SEÇÃO 1 - Resumo

O resumo é a apresentação concisa das principais idéias de um texto. Resulta da capacidade analítica e compreensiva que o leitor adquire no momento em que faz sua leitura. Quanto mais se tem domínio e compreensão do texto, maior será a capacidade de síntese e de apresentação de forma breve.

Na apresentação do resumo, o aluno deve evitar a manifestação de opinião sobre o tema ou analisá-lo criticamente. O acréscimo da crítica no resumo caracteriza um outro tipo de trabalho, denominado resumo crítico ou resenha crítica.

No meio acadêmico, o desenvolvimento de um resumo é importante, por que permite “[...] em rápida leitura, recordar o essencial do que se estudou e [apresentar] a conclusão a que se chegou”. (GALLIANO, 1986, p. 89).

Este assunto você estudará na próxima seção desta unidade.

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Ciência e Pesquisa

Unidade 5

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003b), existem três tipos de resumos, que são:

Resumo crítico: resumo redigido por especialistas com análise crítica de um documento. Também chamado de resenha.

Resumo indicativo: indica apenas os pontos principais do documento, não apresentando dados qualitativos, quantitativos etc. De modo geral, não dispensa a consulta ao original.

Resumo informativo: informa ao leitor fi nalidades, metodologia, resultados e conclusões do documento, de tal forma que este possa, inclusive, dispensar a consulta ao original.

O resumo é útil para difundir as idéias contidas em obras de diversos tipos, como também, para favorecer ao leitor a possibilidade de escolha ou consulta do texto no original.

Quais procedimentos devem ser seguidos na elaboração de um resumo?

Para elaborar um resumo, você deve seguir os seguintes procedimentos.

a) Leitura integral para adquirir uma visão de conjunto da unidade (capítulo). Alguns alunos preferem não fazer a leitura integral do texto achando que vão perder tempo e partem logo para a elaboração do resumo, mas, ao contrário do que se pensa, a leitura integral do capítulo permitirá uma visão ampla da estrutura do texto, possibilitando diferenciar o que é essencial e o que é secundário.

b) Delimitação das unidades de leitura do texto. Delimitar signifi ca decompor as partes constitutivas do texto. Cada unidade de leitura possui um sentido completo e é composta por: idéia central ou diretriz, explicitação da idéia e conclusão. Você aprendeu em linguagem e produção textual que a função do parágrafo é apresentar uma idéia

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nova com uma totalidade de sentido, que devemos mudar de parágrafo quando mudamos a idéia no texto. Este procedimento fez com que por um período muito longo da história os autores escrevessem parágrafos longos.

Entretanto, hoje, os autores preferem escrever textos com parágrafos breves, curtos e, muitas vezes, um parágrafo não dá conta de apresentar o sentido completo da informação. Assim, é possível que encontremos textos onde os autores utilizam mais de um parágrafo para expor uma idéia. Por isso, é importante separar as unidades de leitura do texto, decompondo-o analiticamente, antes de iniciar o resumo.

c) Esquematização (na forma de tópicos) ou preparação das anotações da leitura. Consiste na estruturação gráfi ca e visual do texto com divisões e subdivisões. O esquema pode ser elaborado por meio de chaves, marcadores ou divisão numérica das idéias. A esquematização do texto servirá de base para a redação do resumo.

d) Redação do resumo com frases breves e objetivas. Observe as sugestões apresentadas por Marconi e Lakatos (2003, p. 69), para a redação da ordem em que aparecem as idéias no texto:

a) conseqüências (quando se empregam palavras tais como: em conseqüência, por conseguinte, portanto, por isso, em decorrência disso etc.);

b) justaposição ou adição (identifi cada com expressões de tipo: e, da mesma forma, da mesma maneira etc.);

c) oposição (com a utilização das palavras: porém, entretanto, por outra parte, sem embargo etc.);

d) incorporação de novas idéias;

e) complementação do raciocínio;

f) repetição ou reforço de idéias ou argumentos;

g) justaposição de proposições (por intermédio de um exemplo, comprovação etc.);

h) digressão (desenvolvimento de idéias até certo ponto

alheias ao tema central do trabalho).

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Acompanhe, a seguir, exemplos de resumo indicativo e informativo, elaborados com base nos procedimentos citados nesta seção. Observe que as palavras grifadas indicam que o resumo indicativo está dentro do resumo informativo:

Resumo indicativo:

LUCKESI, Cipriano Carlos et al. O leitor no ato de estudar a palavra escrita. In:______. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1985. cap. 3, p. 136-143.

Estudar signifi ca o ato de enfrentar a realidade. O enfrentamento da realidade pode ocorrer pelo contato direto ou indireto do sujeito que conhece com o objeto que é conhecido. As duas formas de estudar (direta ou indireta), podem ser classifi cadas como críticas ou a-críticas. O leitor poderá ser sujeito ou objeto, dependendo da postura que assume frente ao texto.

Resumo informativo:

LUCKESI, Cipriano Carlos et al. O leitor no ato de estudar a palavra escrita. In:______. Fazer universidade: uma proposta metodológica. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1985. cap. 3, p. 136-143.

Estudar signifi ca enfrentar a realidade para compreendê-la e elucidá-la. Este enfrentamento pode ocorrer, de um lado, pelo contato direto do sujeito com o objeto. Isso se dá quando o sujeito opera “com” e “sobre” a realidade. De outro lado, o enfrentamento pode ocorrer pelo contato indireto. Neste caso, o sujeito recebe o conhecimento por intermédio de outra pessoa ou por símbolos orais, mímicos, gráfi cos, etc. O ato de estudar diretamente crítico equivale à objetividade na elucidação. O ato de estudar indiretamente crítico equivale à descrição da realidade como ela é, sem magnetização pela comunicação em si. A atitude a-crítica corresponde à abdicação da capacidade de investigar, à alienação e à retenção mnemônica. O leitor que assume uma postura de objeto frente ao texto de leitura é verbalista, ou seja, a aprendizagem não se dá pela compreensão, mas pela reprodução intacta e mnemônica das informações. O leitor sujeito, por outro lado, compreende e não memoriza, avalia o que lê e tem uma atitude constante de questionamento.

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Os resumos que precedem trabalhos científi cos assumem características diferentes dos resumos de textos didáticos, são normatizados pela NBR 6028 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003) e devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do trabalho.

Quanto à extensão, os resumos científi cos, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003, p. 2) devem ter:

a) de 150 a 500 palavras para trabalhos acadêmicos (teses, dissertações e outros) e relatórios técnico-científicos;

b) de 100 a 250 palavras para artigos de periódicos;

c) de 50 a 100 palavras para indicações breves.

O resumo do artigo escrito por Guimarães e outros (2006), publicado pela Revista de Nutrição, indica, de forma clara a estrutura de um resumo que precede trabalhos científi cos.

Fatores associados ao sobrepeso em escolares

Objetivo: Identifi car variáveis associadas ao sobrepeso em escolares de Cuiabá, MT, Brasil. Métodos: Foi feito um estudo de caso-controle a partir de um inquérito antropométrico, aplicado em uma amostra aleatória de alunos da primeira série do ensino fundamental, com idades entre 6 e 11 anos. Foram incluídos, como casos, os 158 escolares que apresentaram sobrepeso (índice de massa muscular >P85) e, como controles, 316 crianças sorteadas entre as que apresentaram índice de massa muscular<P85. Informações socioeconômicas, do domicílio, da família e de atividade física dos escolares foram obtidas por meio de entrevistas. Foram tomadas medidas de peso e altura da criança e dos pais por antropometristas treinados. Os dados foram submetidos à análise de regressão logística múltipla hierarquizada. Resultados: O sobrepeso foi maior em escolares com renda familiar per capita >3 salários mínimos (OR= 3,75), que tinham mães de idade entre 25 e 29 anos (OR=1,74) e com nível mais alto de escolaridade (OR=1,91) e com história de apenas uma união conjugal (OR=2,53); também foi maior nos escolares, de sexo feminino (OR=2,15), que possuíam no máximo um irmão (OR=1,94), brincavam <10h por semana (OR=2,58), tinham mães e pais com índice de

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massa muscular >30 (OR= 7,27 e 2,65, respectivamente) e nasceram com peso >3500g (OR= 2,27). Conclusão: Os resultados apontam que variáveis de diferentes níveis hierárquicos se associam na confi guração de contextos favoráveis ao aumento do sobrepeso em escolares e fornecem subsídios para o desenvolvimento de intervenções que considerem os grupos mais vulneráveis à presença de sobrepeso.

SEÇÃO 2 - Resenha crítica

A resenha crítica é uma modalidade de trabalho científi co que consiste no desenvolvimento de uma síntese sobre uma obra, no sentido de expressar um juízo de valor acerca do assunto abordado. Corresponde à apreciação crítica de um texto com o objetivo de discussão das idéias nele contidas.

Segundo Oliveira Netto (2005, p. 73), a resenha pode ser defi nida como “a apresentação do conteúdo de uma obra, acompanhada de uma avaliação crítica ou indicativa”. Este resumo deve apresentar as idéias da obra, a avaliação das informações e a forma como foram expostas, bem como a justifi cativa da avaliação desenvolvida no resumo.

Para proceder a essa avaliação, é necessário recorrer ao posicionamento de outros autores da comunidade científi ca em relação às posturas defendidas pelo autor da obra criticada, estabelecendo uma espécie de comparação principalmente no que se refere ao enfoque, ao método de investigação e à forma de exposição das idéias.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003), por meio da NBR 6028, denomina a resenha de resumo crítico.

Normalmente, a resenha é desenvolvida por especialistas, pois exige, por parte do resenhista, conhecimento completo da obra, capacidade crítica e maturidade intelectual. Salvador (1979 apud MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 264) apresenta os seguintes requisitos básicos para a elaboração de uma resenha crítica:

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a) conhecimento completo da obra;

b) competência na matéria;

c) capacidade de juízo de valor;

d) independência de juízo;

e) correção e urbanidade;

f) fidelidade ao pensamento do autor.

A apresentação da estrutura da resenha crítica pode variar de autor para autor. Em geral, dois elementos são essenciais: o resumo e a crítica. Dos diversos modelos encontrados na literatura de metodologia científi ca adotamos aqui o roteiro descrito por Marconi e Lakatos (2003, p. 264) apresentado a seguir.

a) Obra – apresentação dos dados de identificação da referência bibliográfica.

b) Credenciais da autoria – nacionalidade, formação acadêmica, outras obras escritas pelo autor.

c) Conclusões da autoria – síntese das principais conclusões da obra apresentada no final de cada capítulo ou no final da obra.

d) Digesto – resumo das principais idéias dos capítulos ou da obra como um todo;

e) Metodologia da autoria – descrição do tipo de método e das técnicas utilizadas pelo autor da obra.

f) Crítica do resenhista – julgamento da obra do ponto de vista da coerência e consistência na argumentação, originalidade, emprego adequado de métodos e técnicas, contribuição para o desenvolvimento da ciência e estilo empregado. É importante salientar que a crítica deve ser bem fundamentada e o resenhista deve confrontar as idéias da obra com idéias de outras obras e autores.

g) Indicação do resenhista – indicação da obra para qual público (estudantes, especialistas) e para qual curso ou área do conhecimento é destinado.

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— Nessa seção você conheceu mais uma modalidade de trabalho científi co: resenha crítica que em outras palavras, é uma síntese na qual você expressa um juízo de valor. A próxima seção convida você a estudar sobre o fi chamento. Bom estudo!

SEÇÃO 3 - Fichamento

A leitura é uma atividade constante na vida acadêmica e se torna, no decorrer do curso, a base de sua formação. Você é sujeito ativo de sua aprendizagem e não pode esperar que tudo seja transmitido pelos professores. A iniciativa de aprender sempre deverá ser sua.

O estudante tem de se convencer de que sua aprendizagem é uma tarefa eminentemente pessoal; tem de se transformar num estudioso que encontra no ensino escolar não um ponto de chegada, mas um limiar a partir da qual constitui toda uma atividade de estudo e de pesquisa [...]. (SEVERINO, 2000, p. 35).

A leitura é um instrumento de aprendizagem que permite a você ter o conhecimento e a compreensão do mundo, por isso, você deve ser especialista nela.

Você pode perceber que estamos diante de uma cultura que se torna mais complexa a cada dia que passa e nem sempre consegue assimilar o conjunto das informações que nos rodeia. E, dependendo da leitura que estamos fazendo, seja pelo interesse ou pela necessidade, algumas anotações precisam ser feitas.

A maneira mais adequada para reter essas informações é o registro em algum suporte físico. Achar que a memória vai dar conta de armazenar tudo é um grande engano. Na memória, infelizmente, não podemos confi ar.

A fi cha de leitura pode se tornar um instrumento útil no momento da recuperação de uma informação e pode ser realizada com diferentes fi ns, como:

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a) instrumento de coleta de dados na realização de uma pesquisa bibliográfica;

b) trabalho acadêmico em disciplinas de graduação e pós-graduação;

c) preparação de textos na apresentação oral de trabalhos em sala de aula; e,

d) um instrumento auxiliar na leitura e registro das idéias de um texto.

Quando se fala em fi cha de leitura, automaticamente pensamos naquele papel de cartolina que é vendido em livrarias e que possui em média 10,5 x 15,5cm. Entretanto, com os recursos disponibilizados pela tecnologia, é possível fazer os registros diretamente no computador e depois imprimi-los em papel A4.

Para fazer a fi cha de leitura, primeiramente, é necessário delimitar a unidade de leitura do texto.

Unidade de leitura pode ser compreendida com sendo um setor do texto que possui um sentido completo, ou seja, um livro, um capítulo de um livro, um artigo científi co, uma matéria de jornal ou revista, ou qualquer outro texto que precise ser estudado.

Classifi cação das fi chas

De maneira geral, as fi chas podem ser classifi cadas em 2 tipos: bibliográfi ca e temática. A bibliográfi ca, como o próprio nome diz, ocupa-se de uma obra, e a temática, de um tema pesquisado em várias obras.

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Se o objetivo é fazer a leitura e os apontamentos da obra “A semente da vitória”, de Nuno Cobra, teríamos um fi chamento bibliográfi co. Mas se o objetivo é a leitura e a tomada de apontamentos sobre o tema “sono”, em várias obras, teríamos um fi chamento temático.

As atividades desenvolvidas na leitura também podem servir para classifi car os tipos de fi cha. No momento da leitura podemos resumir, transcrever fragmentos considerados importantes ou simplesmente comentar analiticamente o texto.

Dessas atividades podem resultar a fi cha-resumo, a fi cha de citação e a fi cha de comentário analítico. Acompanhe a seguir.

a) fi cha-resumo - resumir signifi ca apresentar de forma concisa as principais idéias de um texto. O resumo deve ser elaborado na fase da leitura analítica, no exato momento em que conseguimos assimilar e compreender as idéias do texto. Quanto maior a compreensão das idéias, tanto maior será nossa capacidade resumir. Veja os procedimentos para a elaboração do resumo na seção 1 desta unidade.

b) fi cha de citação - nesse tipo de fi cha copia-se, literalmente, na forma de transcrição textual (cópia fi el), fragmentos considerados relevantes para o estudo do texto. A parte a ser transcrita não deverá ser muito extensa, pois não faz sentido copiar por copiar. As fi chas desse tipo podem dar origem às citações no texto quando se está elaborando um trabalho acadêmico.

c) fi cha de comentário analítico – nessas fi chas podem ser registradas as nossas refl exões sobre o material que está sendo lido (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 233). As refl exões podem resultar em:

� afinidade - quando a análise manifesta nossa concordância e aceitação das idéias do texto;

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� antagonismo – quando manifestamos discordância e, neste caso, é importante fundamentar bem nossas idéias com argumentos lógicos e convincentes, pois simplesmente não podemos discordar por discordar; e

� conexões com outras idéias – neste caso, podemos comparar as idéias do autor com as idéias de outros autores e, assim, possuir uma visão mais ampla sobre o tema.

A estrutura da fi cha de leitura é constituída de três partes: cabeçalho, referência e texto. No cabeçalho deve aparecer o título ou assunto da fi cha; na referência, os elementos de identifi cação da obra pesquisada e no texto o conteúdo da fi cha (resumo, transcrição ou comentário). Veja o exemplo:

TÍTULO DA FICHA

Referência

Espaço livre para você inserir o texto (resumo, transcrição ou comentário analítico).

SEÇÃO 4 - Paper

O paper é um trabalho científi co que tem como objetivo principal analisar um tema/questão/problema por meio do

desenvolvimento de um ponto de vista de quem o escreve. O paper geralmente trata do particular ou da essência do problema.

Se o autor apenas compilou informações sem fazer avaliações ou interpretações sobre elas, trata-se simplesmente de um relato

e não de um paper. Assim, a composição de um paper decorre do estudo e do posicionamento de quem o escreve.

Veja como fazer referências na Unidade 6.

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Segundo Heerdt e Leonel (2005, p. 141), neste tipo de trabalho “[...] as refl exões devem ser mesmo do autor do paper” caracterizando-o principalmente pela originalidade.

Conforme Roth (apud MEDEIROS, 1996, p. 186), para a composição do paper é necessário seguir cinco passos: “1) escolher o assunto; 2) reunir informações; 3) avaliar o material; 4) organizar as idéias; e 5) redigir o paper”.

Quanto à estrutura do paper, assim se organiza: folha de rosto; sinopse, introdução (objetivo e delimitação do tema); desenvolvimento; conclusão e referências.

Position paper

Segundo Heerdt e Leonel (2005, p. 143), o position paper consiste no desenvolvimento da:

capacidade de refl exão e criatividade [do aluno] diante do que está escrito (livro, artigo, revista, jornal, etc.), diante do que é apresentado (palestra, congresso, seminário, curso, etc.) e também diante do que pode ser observado numa determinada realidade (empresa, projeto, entidade, viagem de estudos, etc.).

Sua composição decorre do posicionamento de quem o escreve, exigindo, também, revisão de literatura para conhecer e sistematizar o posicionamento de outros autores sobre o tema/questão/problema.

Para Heerdt e Leonel (2005, p. 144), a estrutura do position paper é assim organizada: capa; folha de rosto; sumário; introdução (objetivo, delimitação do tema, metodologia); revisão bibliográfi ca sobre o assunto (no mínimo dois outros autores); refl exão e posicionamento do autor sobre o assunto; conclusão; referências.

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Paper – comunicação científi ca

É a informação concisa que se apresenta em congressos, simpósios, reuniões, academias, sociedades científi cas, expostos em tempo reduzido. “Sua fi nalidade é fazer conhecida a descoberta e os resultados alcançados com a pesquisa, podendo por fi m fazer parte de anais [ou revistas]”. (HEERDT; LEONEL, 2005, p. 142).

A comunicação não necessita de abrangência de aspectos analíticos, compondo-se, basicamente da introdução, do desenvolvimento e da conclusão.

SEÇÃO 5 - Artigo científi co

Na vida acadêmica, são várias as atividades de pesquisa realizadas, tanto pelo corpo docente como pelo discente. Essas atividades resultam de trabalhos didáticos e científi cos elaborados freqüentemente nas disciplinas, nos cursos ou em grupos de pesquisa.

As atividades que se caracterizam como trabalhos didáticos resultam da interação cultural, permitem que o conhecimento seja reconstruído, na medida em que se tem acesso ao mundo culturalmente instituído.

Os trabalhos científi cos, por sua vez, resultam do esforço de criação e elaboração de novos saberes, possuem uma natureza mais complexa e permitem que o conhecimento se renove. Outra diferença signifi cativa entre os dois tipos de trabalho é o tratamento que se dá ao objeto de estudo no processo de sua assimilação, compreensão e construção.

Os trabalhos didáticos e científi cos, muitas vezes, pelo nível de excelência que apresentam, são merecedores de publicação. As instituições de ensino, de maneira geral, e os cursos que a elas pertencem, em particular, dispõem de revistas especializadas para a publicação desses trabalhos produzidos por alunos e professores na forma de artigo científi co.

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O artigo científi co pode ser entendido como um trabalho completo em si mesmo, mas possui dimensão reduzida. Köche (1997, p. 149) afi rma que “o artigo é a apresentação sintética, em forma de relatório escrito, dos resultados de investigações ou estudos realizados a respeito de uma questão”.

Salvador (1977, p. 24) apresenta cinco razões para escrever artigos científi cos. São elas:

a) Expor aspectos novos por nós descobertos, mediante o estudo e a pesquisa, a respeito de uma questão, ou de aspectos que julgamos terem sido tratados apenas superfi cialmente, ou soluções novas para questões conhecidas; b) expor de uma maneira nova uma questão já antiga; c) anunciar resultados de uma pesquisa, que será exposta futuramente em livro; d) desenvolver aspectos secundários de uma questão que não tiveram o devido tratamento em livro que foi editado ou que será editado; e) abordar assuntos controvertidos para os quais não houve tempo de preparar um livro.

O artigo é um meio de atualização de informações e, por isso, enquanto fonte de pesquisa, jamais pode ser ignorado por alunos e professores no processo de busca e aquisição de conhecimentos.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003), os artigos são classifi cados em dois tipos: original e revisão. O artigo original “parte de uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais [...] (relatos de experiência de pesquisa, estudo de caso etc.)”. O artigo de revisão “parte de uma publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas”.

O resumo do artigo escrito por Dalgalarrondo e outros (2004), publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria, exemplifi ca um artigo original. Acompanhe a seguir.

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Religião e uso de drogas por adolescentes

Introdução: Estudos internacionais e nacionais mostram que a religiosidade é um modulador importante no consumo de álcool e drogas entre estudantes adolescentes. Objetivos: verifi car se diferentes variáveis da religiosidade infl uenciam o uso freqüente e/ou pesado de álcool e drogas entre estudantes de 1º e 2º graus. Métodos: Estudo transversal com uma técnica de amostragem do tipo intencional. Foi utilizado um questionário anônimo de autopreenchimento. A amostra foi constituída por 2.287 estudantes de escolas públicas periféricas e centrais e escolas particulares da cidade de Campinas, SP, entrevistados no ano de 1998. As drogas estudadas foram: álcool, tabaco, solventes, medicamentos, maconha, cocaína e ecstasy. As variáveis independentes incluídas na análise de regressão logística foram: fi liação religiosa, freqüência de ida ao culto/missa por mês, considerar-se pessoa religiosa e educação religiosa na infância. Para identifi car como as variáveis de religiosidade infl uenciam o uso de álcool e drogas utilizaram-se análises bivariadas e a análise de regressão logística para resposta dicotômica. Resultados: O uso pesado de pelo menos uma droga foi maior entre os estudantes que tiveram educação na infância sem religião. O uso no mês de cocaína e de “medicamentos para dar barato” foi maior nos estudantes que não tinham religião. O uso no mês de ecstasy e de “medicamentos para dar barato” foi maior nos estudantes que não tiveram educação religiosa na infância. Conclusões: Várias dimensões da religiosidade relacionam-se com o uso de drogas por adolescentes, com possível efeito inibidor. Particularmente interessante foi que uma maior educação religiosa na infância mostrou-se marcadamente importante em tal possível inibição.

O resumo do artigo escrito por Pedroso e outros (2006) publicado pela Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, exemplifi ca um artigo de revisão. Leia o texto a seguir.

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Unidade 5

Expectativas de resultados frente ao uso de álcool, maconha e tabaco

Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão teórica acerca do construto expectativas de resultados frente ao uso de álcool, maconha e tabaco. As expectativas de resultados são determinadas a partir do que as pessoas acreditam acerca dos efeitos de determinada droga, sendo uma variável importante no tratamento de dependentes químicos. Foram realizadas buscas de artigos publicados nas bases de dados MEDLINE, PsycINFO, ProQuest, Ovid, LILACS e Cork, usando os descritores belief, expectancy, expectation, drugs, psychoactive e eff ect. Os resultados demonstraram que as expectativas de resultados frente ao uso dessas substâncias podem surgir de fontes como: exposição a estímulos condicionados, dependência física, crenças pessoais e culturais e fatores situacionais e ambientais. Conclui-se que ainda há necessidade de novas pesquisas quanto às expectativas relacionadas às diferentes substâncias psicoativas e faixas etárias para uma melhor compreensão deste construto. (Grifo nosso).

Para a publicação de um artigo científi co é necessário que se observem as recomendações estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003), que estruturam, de maneira geral, os seguintes elementos: pré-textuais, textuais, pós-textuais.

Os elementos pré-textuais apresentam, na página de abertura, as informações que identifi cam o artigo; os elementos textuais apresentam os resultados do estudo em três partes logicamente encadeadas: introdução, desenvolvimento e conclusão; e os elementos pós-textuais apresentam as informações que identifi cam o artigo, traduzidos para uma língua estrangeira, conforme indicação da própria revista, como também, as referências, apêndices e anexos.

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Conheça os itens que compõem cada um dos elementos da estrutura de um artigo.

Elementos pré-textuais - são os seguintes:

a) título - contém o termo ou expressão que indica o conteúdo do artigo;

b) autoria - nome do autor ou autores, acompanhado de um breve currículo em nota de rodapé;

c) resumo - apresenta objetivos, metodologia, resultados e conclusões alcançadas. Deve ser elaborado de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003);

d) palavras-chave - termos indicativos do conteúdo do artigo.

Elementos textuais - são constituídos das seguintes partes:

a) introdução - apresenta o tema-questão-problema, justifica-o, expõe os objetivos e descreve a metodologia que foi adotada na realização da pesquisa;

b) desenvolvimento - apresenta fundamentação teórica e os resultados do estudo;

c) conclusão - analisa criticamente os resultados do estudo e abre perspectivas para novas investigações.

Elementos pós-textuais - são os seguintes:

a) título e subtítulo (se houver) - escrito em língua estrangeira;

b) resumo - o mesmo resumo que aparece como elemento pré-textual, porém escrito em língua estrangeira;

c) palavras-chave - escritas em língua estrangeira;

d) notas explicativas - citadas para evitar notas de rodapé;

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e) referências - apresenta as obras que foram citadas no corpo do artigo conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2002);

f) glossário - definição, em ordem alfabética, de termos que assumem significado específico no artigo;

g) apêndice - texto escrito pelo autor, que complementa as idéias contidas no desenvolvimento;

h) anexo - texto não escrito pelo autor, que fundamenta, comprova ou ilustra aspectos contidos no desenvolvimento.

É importante salientar que nem todas as revistas científi cas seguem rigorosamente a ordem dos elementos apresentados nesta seção. Alguns itens podem variar de acordo com as necessidades e/ou exigência de cada conselho editorial.

Independentemente disto, é importante que professores e alunos sintam-se motivados para publicar os resultados de suas atividades científi cas ou didáticas.

SEÇÃO 6 - Projeto de pesquisa

Para Gil (2002, p. 19), projeto de pesquisa “[...] é o documento explicitador das ações a serem desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa”. Trata-se, portanto, do documento que nos permite planejar todas as ações inerentes à pesquisa.

Pesquisa não é pura coleta de dados, mas um conjunto de ações orientadas por metas e estratégias a serem atingidas na tentativa de buscar respostas para um determinado problema.

De modo geral, um projeto de pesquisa deve oferecer respostas às seguintes indagações:

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Pergunta Indicação

O que pesquisar? Determinação do objeto da pesquisa por meio da apresentação, principalmente, do tema, delimitação do tema e da problematização

Com que base teórica pesquisar? Referencial teórico e/ou marco teórico e/ou revisão de literatura

Por que pesquisar? Justifi cativa

Que ações serão desenvolvidas na pesquisa? Objetivos

Quem pesquisar? Sujeitos

Onde pesquisar? Unidade ou local de observação e/ou coleta de dados

Quando pesquisar? Cronograma

Como pesquisar? Determinação dos métodos e técnicas

Com quanto pesquisar? Orçamento

Modelos de roteiro

É comum encontrar na literatura de Metodologia Científi ca e da Pesquisa vários modelos de roteiro de projeto de pesquisa.

O modelo apresentado a seguir não deve ser entendido como único e absoluto, ao contrário, deve ser entendido apenas como um roteiro que nos permite entender quais são as etapas que se sucedem na elaboração de um projeto.

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1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

1.1 Tema

1.2 Delimitação do tema

1.3 Problematização

1.4 Justifi cativa

1.5 Objetivos

1.6 Defi nição dos conceitos operacionais

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

3.1 Tipo de pesquisa

3.2 População/amostra

3.3 Instrumentos utilizados para a coleta de dados

3.4 Procedimentos utilizados para a coleta de dados

3.5 Tratamento dos dados

4 CRONOGRAMA

5 ORÇAMENTO

REFERÊNCIAS

De acordo com o modelo exemplifi cado, acompanhe, a seguir, o signifi cado e as ações a serem desenvolvidas em cada uma dessas etapas do projeto de pesquisa.

Considerações sobre a delimitação do tema e formulação do problema

No primeiro capítulo, você deve apresentar as informações relacionadas ao objeto da pesquisa especifi cando o tema, a delimitação do tema, a problematização, a justifi cativa, os objetivos e os conceitos operacionais. Acompanhe a seguir.

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Tema

Para escolher o tema da pesquisa, você deve levar em conta alguns fatores: a) interesse pelo assunto; b) qualifi cação intelectual; c) existência de bibliografi a especializada; d) disponibilidade de um orientador que possa acompanhar a pesquisa; e) tempo disponível para a realização da coleta de dados; f) recursos fi nanceiros, quando for o caso; g) disponibilidade de material necessário para a coleta de dados.

A não observação de um ou mais fatores pode comprometer o curso da investigação e, em alguns casos, a pesquisa poderá sofrer solução de continuidade (ser interrompida).

A indicação do tema deve expressar, de modo geral, em dimensão abstrata, o assunto da pesquisa. Observe os exemplos em algumas áreas do conhecimento.

“Sigilo bancário”

“Ética na advocacia”

“Assédio moral”

“Avaliação da idade óssea”

“Traumatismo na dentição decídua”

“Gestão no esporte”

“Eutanásia”

“Criminalidade”

“Cidadania e movimentos sociais”

“Empreendedorismo”

“Empresa familiar”

Delimitação do tema

Delimitar é indicar a abrangência do estudo; é estabelecer os limites extensionais e conceituais do tema. Enquanto princípio de logicidade é importante salientar que quanto maior a extensão conceitual, menor a compreensão conceitual e, inversamente,

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quanto menor a extensão conceitual, maior a compreensão conceitual.

Em outras palavras, isto signifi ca dizer que quando você escolhe um tema muito abrangente, corre-se o risco de se ter pouco domínio ou profundidade. Por isso, deve delimitá-lo em uma dimensão viável, não muito abrangente, para poder alcançar maior compreensão e domínio sobre as propriedades do assunto.

O enunciado da delimitação do tema, em alguns casos, deve incluir os seguintes elementos: a) variáveis principais, b) a população a ser estudada, c) o local e o período da pesquisa. No exemplo, “Reclamações contra advogados na OAB-SC, no período de 2004 a 2006”, a variável a ser estudada seria “Reclamações contra advogados”, a população seriam os advogados da OAB-SC, o local seria a própria OAB-SC e o período seria de 2004 a 2006.

Observe outros exemplos de temas delimitados em algumas áreas do conhecimento.

Traumatismo dentário em crianças de 0 a 5 anos vacinadas em 2007 em Tubarão, SC (GONÇALVES; QUARESMA, 2006).

Avaliação da idade óssea em crianças infectadas pelo HIV atendidas no setor de Infectologia do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) de Florianópolis, SC. (ZEFFERINO; JUNKES, 2006).

O perfi l dos proprietários de empresas familiares da Região da Amurel.

Efeitos do tratamento fi sioterapêutico em lesões, durante o treinamento físico, que acometem militares de um Batalhão de Infantaria do Sul do Brasil (TEODORO, 2006).

A efetividade do direito a educação em escolas de educação infantil da Rede municipal de ensino do Município de Tubarão, SC. (PIRES, 2006).

Cabe salientar que se a pesquisa for puramente bibliográfi ca devem-se destacar apenas as variáveis principais. Acompanhe alguns exemplos:

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A responsabilidade civil dos pais pelo abandono moral dos fi lhos (NORY).

Progressão de regimes nos crimes hediondos (CAMPOS).

A legislação brasileira e a efetividade das sanções impostas aos transgressores do meio ambiente (SILVA).

Problematização

Delimitado o tema, o passo seguinte é a problematização. Para que fi que clara e precisa a extensão conceitual do assunto, é importante situá-lo em sua respectiva área de conhecimento, possibilitando, assim, que seja visualizada a especifi cidade do objeto no contexto de sua área temática.

Gil (2002, p. 57-58) aponta cinco “regras” para a adequada formulação do problema: a) o problema deve ser formulado como uma pergunta; b) o problema deve ser delimitado a uma dimensão viável; c) o problema deve ter clareza; d) o problema deve ser preciso; e) o problema deve apresentar referências empíricas.

As regras não são absolutamente rígidas e devem ser moldadas de acordo com a especifi cidade do problema. É importante, também, lembrar que cada orientador possui uma forma própria de problematizar as questões de pesquisa.

O texto da problematização deve ser encerrado com as perguntas de pesquisa. É importante salientar que todo o processo de pesquisa será desenvolvido para que se encontrem respostas às perguntas que são formuladas nesta seção do projeto. Tome cuidado para não apresentar perguntas que estejam fora do alcance do tema delimitado.

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Acompanhe o exemplo.

Qual a prevalência de traumatismo dentário em crianças de 0 a 5 anos vacinadas em 2007 em Tubarão, SC?

Qual o grau da extensão da lesão nos tecidos dentários?

Justifi cativa

A justifi cativa situa a importância do estudo e os porquês da realização da pesquisa. O texto da justifi cativa, em geral, deve apresentar os motivos que levaram à investigação do problema e endereçar a discussão à relevância teórica e prática, social e científi ca do assunto.

Objetivos

Os objetivos indicam as ações que serão desenvolvidas para a resolução do problema de pesquisa. O objetivo geral é apresentado na forma de um enunciado que reúne, ao mesmo tempo, todos os objetivos específi cos.

Os objetivos específi cos informam sobre as ações particulares que dizem respeito à análise teórica e aos meios técnicos da investigação do problema.

Os objetivos devem ser iniciados com o verbo no infi nitivo. Ex. defi nir, identifi car, selecionar, indicar, explicar, classifi car, aplicar, avaliar, demonstrar, analisar, comparar, diferenciar, criticar, combinar, repetir, sumarizar, sintetizar, discutir, organizar, relacionar, julgar, determinar, reconhecer, dentre outros.

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Os objetivos precisam ser relacionados com a parte teórica e prática da pesquisa. Na parte teórica, é importante explicitar claramente os objetivos de cada capítulo, permitindo ao pesquisador ter uma visão mais concreta do seu plano de estudo e, na parte prática, relacioná-los com o instrumento de coleta de dados (questionário, formulário, entrevista, dentre outros).

Hipótese(s)

Consiste em apresentar um ou mais enunciados sob forma de sentença declarativa e que resolve(em) provisoriamente o problema. A pesquisa tratará de buscar respostas que refutam ou corroboram as suposições que forem apresentadas.

Dessa maneira, sua elaboração está ligada diretamente ao problema da pesquisa, funcionando como uma espécie de “aposta” do pesquisador de que a resposta a que o desenvolvimento da pesquisa levará será a mesma ou estará muito perto da resposta enunciada na hipótese. Para isso, o seu conteúdo deve ter conceitos claros, ser de natureza específi ca e não se basear em valores morais. (SANTAELLA, 2001).

Defi nição dos conceitos operacionais

Este item consiste em apresentar o signifi cado que os termos do problema assumem na pesquisa. Através das defi nições, diz Köche (1997, p. 117), “é possível estabelecer os indicadores que podem ser utilizados para categorizar as variáveis”.

É importante salientar que não será possível estabelecer instrumentos e procedimentos para coleta de dados se os indicadores das variáveis não estiverem previamente defi nidos.

— Até aqui, você conheceu os itens que compõem a primeira parte do roteiro de pesquisa. Estude, a seguir, sobre o segundo elemento do roteiro: revisão bibliográfi ca.

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Revisão bibliográfi ca

A revisão bibliográfi ca apresenta uma breve discussão teórica do problema, na perspectiva de fundamentá-lo nas teorias existentes. As idéias apresentadas no texto de revisão devem ser organicamente ligadas aos objetivos, às hipóteses, à defi nição conceitual e operacional das variáveis e a outros elementos do projeto.

A fundamentação teórica apresentada deve, ainda, servir de base para a análise e a interpretação dos dados coletados na fase de elaboração do relatório fi nal. Os dados apresentados precisam, necessariamente, ser interpretados à luz das teorias existentes.

— Após defi nidos o tema, o problema da pesquisa e realizada a discussão teórica, o próximo passo é estruturar a pesquisa quanto aos instrumentos para a coleta de dados. Confi ra a seguir.

Delineamento da Pesquisa

O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1995, p. 70), “refere-se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla”, ou seja, neste momento, o investigador estabelece os meios técnicos da investigação, prevendo os instrumentos e os procedimentos utilizados para a coleta de dados.

A primeira atividade consiste na determinação e justifi cativa do tipo de pesquisa ou estudo. A determinação do tipo de estudo deve levar em conta três critérios de classifi cação: quanto ao nível (exploratória, descritiva ou explicativa), à abordagem (qualitativa, quantitativa) e ao procedimento utilizado na coleta de dados (bibliográfi co, documental, experimental, estudo de caso, estudo de caso controle, levantamento, estudo de campo, dentre outros).

População/amostra

Neste item, você indica se a pesquisa vai abranger o universo populacional ou se apenas uma amostra dos indivíduos pesquisados. No caso de se optar por uma ou por outra, é necessário informar os procedimentos e/ou critérios adotados para a sua execução.

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Neste item, você informa, também, as características gerais da população a ser investigada (cidade, município, bairro).

Instrumentos utilizados para coleta de dados

Este item consiste em indicar o tipo de instrumento utilizado para registro dos dados que serão coletados. No caso de questionários ou entrevistas, fi chas de avaliação ou de registro documental, você deve apresentar o modelo em anexo ou em apêndice. O anexo deve ser utilizado quando você adotar um instrumento de coleta de dados proveniente da literatura, e o apêndice, quando você elaborou o próprio instrumento.

Procedimentos utilizados na coleta de dados

Informam-se as operações e/ou atividades desenvolvidas, a forma de aplicação dos instrumentos de coleta de dados.

Tratamento dos dados

Indicam-se os recursos que serão utilizados para a análise dos dados.

— Os itens a seguir, compõem a parte fi nal do modelo de roteiro de pesquisa apresentado.

Cronograma

Neste item, você informa a previsão das atividades e, respectivamente, o período de execução.

Orçamento

Este é o item no qual você informa a previsão e o detalhamento de todos os recursos fi nanceiros necessários para a realização da pesquisa.

Referências

Aqui você informa a relação dos documentos utilizados para a fundamentação do problema de pesquisa (ver NBR 6023 vigente, encontrada em qualquer biblioteca da Unisul).

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SEÇÃO 7 - Relatório técnico-científi co

O relatório técnico-científi co é um documento que relata formalmente os resultados ou progressos obtidos em uma investigação. Descreve minuciosamente a situação de uma questão técnica ou científi ca.

Segundo Rauen (2002, p. 235), o relatório é defi nido como uma “[...] comunicação por escrito dos resultados de uma pesquisa, no qual se podem identifi car: os passos da pesquisa, a revisão bibliográfi ca, a análise/interpretação dos dados e as conclusões estabelecidas”.

Para Oliveira (2003, p. 101), o relatório constitui-se em uma “[...] descrição objetiva [e pormenorizada] de fatos, acontecimentos ou atividades, que incorpora uma análise metódica para a obtenção de conclusões que se constituam em parâmetros para a escolha de alternativas”.

Como você pode observar, o relatório é um tipo de trabalho que tem como fi nalidade descrever as etapas das investigações realizadas diretamente na realidade (“in loco”).

O relatório é capaz de apresentar, sistematicamente, informação sufi ciente para que se possam traçar conclusões e fazer recomendações à resolução de determinada situação-problema, caracterizando-se pela fi delidade, objetividade e exatidão de relato.

De acordo com Severino (2000, p. 174), o relatório técnico-científi co “[...] visa pura e simplesmente historiar seu desenvolvimento, muito mais no sentido de apresentar os caminhos percorridos, de descrever as atividades realizadas e de apreciar os resultados – parciais ou fi nais – obtidos”.

O relatório técnico-científi co geralmente é desenvolvido na fase dos estágios supervisionados em diversos cursos.

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SEÇÃO 8 - Monografi a

Você sabe de onde surgiu a palavra monografi a? Etimologicamente, essa palavra vem do prefi xo grego mono (de onde derivam palavras como monge, mosteiro, monossílabo, monolítico, etc.) e do prefi xo latino solus (solteiro, solitário, solitude), que signifi ca um só, e da palavra graphein, que signifi ca escrever. (BITTAR, 2003, p. 1).

Com base na etimologia da palavra, você pode perceber que monografi a resulta de um trabalho intelectual baseado em apenas um assunto.

Conforme Bebber e Martinello (1996, p. 71), a monografi a é “um estudo realizado com profundidade e seguindo métodos científi cos de pesquisa e de apresentação de um assunto em todos os seus detalhes, como contributo à ciência respectiva”.

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 235), a monografi a apresenta as seguintes características:

a) trabalho escrito, sistemático e completo;

b) tema específi co ou particular de uma ciência ou parte dela;

c) estudo pormenorizado e exaustivo, abordando vários aspectos e ângulos do caso;

d) tratamento extenso em profundidade, mas não em alcance (nesse caso, é limitado);

e) metodologia específi ca;

f) contribuição importante, original e pessoal para a ciência.

Este tipo de trabalho científi co abrange dois sentidos: o stritu, que se identifi ca com a tese e a dissertação dos cursos de doutorado e mestrado, respectivamente, e o latu, que se relaciona àquelas monografi as desenvolvidas nos cursos de graduação, principalmente nas licenciaturas.

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Ambos os sentidos não dispensam a rigorosa metodologia na pesquisa de um tema específi co, a partir de um só problema, qualifi cando-as como de natureza científi ca, pois, do contrário, não passarão de um simples estudo.

Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades.

1) Acesse o Scientifi c Electronic Library Online - SciELO (www.scielo.br), selecione o artigo escrito por Sigmar de Mello Rode e Bruno das Neves Cavalcante, publicado na revista Pesquisa Odontológica Brasileira, e faça um fi chamento do tipo comentário analítico das idéias presentes do texto. Orientações para pesquisa no SciELO:

primeiro passo - digite o endereço: www.scielo.br.

segundo passo - clique sobre a opção português.

terceiro passo - clique sobre a opção pesquisa de artigos.

quarto passo - clique sobre a opção formulário livre.

quinto passo - preencha o formulário de busca escrevendo as palavras “pesquisa” e “ética” (sem aspas e sem a letra “e” entre as palavras) e selecione o artigo escrito por Sigmar de Mello Rode e Bruno das Neves Cavalcante.

sexto passo - clique sobre a opção texto em português para fazer a leitura na íntegra do artigo e realizar a atividade.

TÍTULO DA FICHA (crie o título)

RODE, S. de M.; CAVALCANTI, B. das N. Ética em autoria de trabalhos científi cos. Pesquisa Odontologia Brasileira, São Paulo, v. 17, p. 65-66, maio 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151774912003000500010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 jun. 2004.

Comentário analítico sobre o texto

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2) Como colocar conteúdos em um trabalho sem incorrer no erro (e no crime) de plágio?

3) Assinale a alternativa incorreta e depois justifi que o erro identifi cado.

a) ( ) A resenha crítica é a apreciação de uma obra, tendo que apresentar o resenhista conhecimento completo da obra.

b) ( ) O Position paper consiste em um resumo, elaborado pelo leitor, a fi m de identifi car as principais idéias do texto.

c) ( ) O relatório técnico-científi co consiste no relato formal dos resultados de uma investigação ou a descrição minuciosa e criteriosa de uma determinada situação-problema vivenciada na fase do estágio supervisionado.

d) ( ) A monografi a é um estudo realizado com profundidade que segue métodos científi cos de pesquisa.

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e) ( ) Resumo é a condensação de um texto, que apresenta suas principais idéias de maneira abreviada, permitindo ao leitor decidir sobre a consulta ou não do texto original.

f) ( ) O artigo científi co é um trabalho completo em si mesmo, que resulta de uma pesquisa ou de uma revisão bibliográfi ca.

4) Leia o resumo do artigo escrito por Kerr-Correa e outros (1999) e responda:

a) Como se classifi ca o artigo quanto ao tipo? Justifi que sua resposta.

b) Quais são os elementos que compõem a estrutura do resumo? Numere-os na linha seguinte e identifi que-os no texto, a seguir, sobre o Uso de álcool e drogas por estudantes de medicina da Unesp, indicando a mesma numeração da linha.

(1) Objetivo, (2) , (3) , (4)

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Uso de álcool e drogas por estudantes de medicina da Unesp

(1) Objetivo: o objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência do uso de drogas por estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp, comparada com outras oito escolas médicas paulistas (uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias). A pesquisa foi realizada entre 1994 e 1995, com 5.227 estudantes do 1º ao 6º ano de graduação. Foi usado um questionário de auto-respostas, anônimo, incluindo o questionário da Organização Mundial da Saúde para levantamento de uso de drogas e álcool. Setenta e um por cento (3.725) dos alunos responderam ao mesmo, e destes, 421 eram de Botucatu. Não houve diferenças estatisticamente signifi cantes entre escolas e, nos 30 dias anteriores ao preenchimento do questionário, a prevalência do uso de drogas para os estudantes de Botucatu foi a seguinte, com a variação entre outras escolas mostrada entre parênteses: álcool 50% (42-50%); tabaco 7% (7-13%); solventes 8% (7-12%); maconha 6% (6-16%); benzodiazepínicos (BZD) 3% (2-9%); cocaína 0,5% (0,2-4%); anfetaminas 1 % (0-1%). Embora tenha se encontrado um uso crescente de todas as drogas do 1º ao 6º ano, e em especial os BZD, os estudantes não aprovam este uso. A análise de regressão logística indicou que o uso de álcool e drogas foi favorecido por: a) ser homem; b) perder aulas sem razão e referir ou ter muito tempo livre nos fi nais de semana; e c) ter uma atitude favorável em relação ao uso de álcool e drogas. Diferentemente de outras escolas, na Unesp não houve diferenças estatisticamente signifi cantes de gênero em relação ao uso de tranqüilizantes. No entanto, as mulheres iniciam uso mais precocemente e o fazem mais freqüentemente. Também as mulheres já faziam uso de maconha antes de entrar para a faculdade (30% mulheres X 10% homens), o contrário ocorrendo com solventes (50% homens X 2% mulheres), sendo essas diferenças estatisticamente signifi cantes. Embora a pesquisa tenha focalizado o uso (não abuso ou dependência), os resultados sugerem a necessidade de as universidades estabelecerem uma política clara de orientação sobre uso de drogas e álcool para os estudantes, incluindo mudanças curriculares e programas de prevenção.

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5) Leia o resumo da pesquisa de dissertação de mestrado realizada por Macedo (2003) e, em seguida, responda às questões:

O estudo do perfi l empreendedor em empresas familiares

O objetivo do presente trabalho é identifi car os fatores responsáveis pela sobrevivência de empresas familiares através da análise do perfi l de seus empreendedores. Para isso é feito um levantamento bibliográfi co à cerca de alguns aspectos que envolvem o tema empreendedorismo, subdividindo-se a dissertação em três temas principais: o empreendedorismo em empresas familiares; as características do empreendedor, como sendo as necessidades, conhecimentos, habilidades e valores; alguns dos principais determinantes do comportamento empreendedor como sendo a personalidade, percepção, atitude, aprendizagem e motivação. Em seguida, é realizada uma pesquisa de campo nas empresas familiares dos bairros da Trindade, Pantanal, Córrego Grande e Carvoeira, em Florianópolis, independentemente de ramo ou porte, com o objetivo de traçar um perfi l para os proprietários ou empreendedores dessas empresas. Na pesquisa é enfatizada a importância do estudo dos fatores comportamentais dos empreendedores em empresas familiares, face as mudanças ocorridas nas organizações em função do desenvolvimento tecnológico e as mudanças político econômicas ocorridas no ambiente empresarial atual. Os resultados obtidos foram os seguintes: os empreendedores possuem muitas das características da tendência impulso e determinação, o que já não aconteceu com a tendência riscos calculados/moderados, cuja média obtida fi cou abaixo da média do teste. E a maioria das tendências empreendedoras tem maior média nas empresas com até um ano de vida e dirigidas por três ou mais pessoas.

a) Qual o tema da pesquisa?

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b) Qual o problema subjacente ao assunto pesquisado, isto é, o que o autor quis saber ou pesquisar?

c) Cite o objetivo geral da pesquisa

d) Cite dois objetivos específi cos referentes à pesquisa.

� Objetivo específi co (1)

� Objetivo específi co (2)

e) Que justifi cativa você apresentaria para a realização dessa pesquisa?

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Unidade 5

f) Quais foram os instrumentos utilizados para a coleta de dados?

Síntese

Nesta unidade, você estudou os vários tipos de trabalhos científi cos que podem ser desenvolvidos na universidade: resumo, resenha crítica, fi chamento, paper, artigo científi co, relatório técnico-científi co e monografi a.

O resumo é a apresentação concisa das principais idéias de um texto. Resulta da capacidade analítica e compreensiva que o leitor adquire no momento em que faz sua leitura. Quanto mais se tem domínio e compreensão do texto, maior será a capacidade de síntese e de apresentação de forma breve. Existem, basicamente, dois tipos de resumos: o indicativo e o informativo.

A resenha crítica consiste no desenvolvimento de uma síntese sobre uma obra, no sentido de expressar um juízo de valor acerca do assunto abordado. Corresponde à apreciação crítica de um texto com o objetivo de discussão das idéias nele contidas. Para desenvolver essa avaliação, é necessário que o resenhista recorra ao posicionamento de outros autores da comunidade científi ca.

A fi cha de leitura é um instrumento adequado para reter as informações resultantes de uma leitura. É o registro em algum suporte físico. Achar que a memória vai dar conta de armazenar tudo é um grande engano. Na memória, infelizmente, não se pode confi ar. A fi cha pode ser realizada com diferentes fi ns: a) como instrumento de coleta de dados na realização de uma pesquisa bibliográfi ca; b) como trabalho acadêmico em disciplinas de graduação e pós-graduação; c) como preparação de textos na apresentação oral de trabalhos em sala de aula; e, d) como um instrumento auxiliar na leitura e registro das idéias de um texto.

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O paper tem como objetivo principal analisar um tema/questão/problema, por meio do desenvolvimento de um ponto de vista de quem o escreve. O paper, geralmente, trata do particular ou da essência do problema. Assim, a composição de um paper decorre do estudo e do posicionamento de quem o escreve.

O position paper é o posicionamento sobre um tema ou assunto acompanhado de uma breve revisão de literatura para conhecer, também, o posicionamento de outros autores. O paper, comunicação científi ca é a informação concisa que se apresenta em congressos, simpósios, reuniões, academias, sociedades científi cas, exposta em tempo reduzido.

O artigo científi co pode ser entendido como um trabalho completo em si mesmo, mas possui dimensão reduzida. Trata-se de um meio de atualização de informações e por isso, enquanto fonte de pesquisa, jamais pode ser ignorado por alunos e professores no processo de busca e aquisição de conhecimentos. Existem dois tipos de artigos: o original e o de revisão.

O relatório técnico-científi co é um documento que relata formalmente os resultados ou progressos obtidos em uma investigação. Descreve minuciosamente a situação de uma questão técnica ou científi ca. Trata-se de um tipo de trabalho que tem como fi nalidade descrever as etapas das investigações realizadas diretamente na realidade (in loco). É capaz de apresentar, sistematicamente, informação sufi ciente para que se possam traçar conclusões e fazer recomendações à resolução de determinada situação-problema, caracterizando-se pela fi delidade, objetividade e exatidão de relato.

A monografi a se defi ne como um trabalho intelectual concentrado sobre um único assunto, decorrente de um estudo que é realizado com profundidade e seguindo métodos científi cos de pesquisa. Este tipo de trabalho pode assumir dois sentidos: o stritu e o latu.

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Unidade 5

Saiba mais

Escrever um artigo vale a pena?

Conta-se que um colunista social, certa vez, ao ler um elogio de um famoso artista de televisão e querendo tirar uma casquinha, escreveu: ‘gostaria de dizer que é isso mesmo.’

Um atento crítico de outro jornal ao ver sua preciosidade, retrucou: ‘se você tem algo a acrescentar, então não é isso mesmo, mas se você acha que é isso mesmo, então você não tem nada a acrescentar’.

No volume 37, Número ½, da Brasília Médica, o editor da revista Dr. Maurício G. Pereira, escreveu o artigo ‘Vale a pena publicar artigo cientifi co?’, em que ele enumerou cinco razões pelas quais todos deveriam escrever:

1. ter algo a dizer para a comunidade acadêmicaou para o público;

2. melhorar o próprio currículo;

3. obter financiamento para pesquisas;

4. impressionar os outros;

5. força interior, que impele o articulista a escrever.

Quanto ao primeiro item, nada a discutir, pois se o médico, seja ele um pesquisador ou não, tiver algo a dizer, deverá dizê-lo, uma vez que os assuntos com conteúdo passam a interessar ao meio médico, mesmo que seja apenas uma única especialidade.

O segundo item é conseqüência do primeiro, porém, para se melhorar o currículo, não basta apenas escrever. É necessário, antes de mais nada, que o artigo apresentado tenha qualidade, seja profícuo.

Já a obtenção de fi nanciamento para pesquisas, mencionada no terceiro item, também deveria ser uma conseqüência da qualidade do trabalho. Isto, infelizmente, nem sempre se dá. Às vezes, mais vale ter boas amizades, amigos políticos ou livre trânsito nos corredores palacianos, o que não deixa de ser lamentável.

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A quarta razão aventada pelo Dr. Maurício também não deixa de ser conseqüência da primeira, sendo que é muito difícil, a priori, julgar que tipo de impressão pode causar a quem o lê. Essa impressão pode ser boa, mas também pode ser má ou de total indiferença. Acho essa razão presunçosa, em total desacordo com certos princípios inerentes à formação médica, como a humildade ou descrição [sic], por exemplo.

Finalmente, a quinta razão está relacionada a quem gosta e sente prazer em escrever. Aí, é inevitável. Se a pessoa tem facilidade para escrever, escreva. Mas por favor, escreva coisas proveitosas ou, se inúteis, que sejam pelo menos elegantes, espirituosas.

O Dr. Maurício ainda chega a sugerir uma sexta razão: ‘manter as revistas em circulação.’. Essa sim, é uma razão sem razão. Escrever, por escrever, com propósito único de manter a revista viva. Somos cerca de 8 mil médicos, em Brasília. Se apenas 1% dessa população resolver escrever um artigo todos os meses, serão 80 artigos a cada 30 dias. Caso isso viesse a acontecer, é possível que surgissem algumas boas surpresas, mas, em contrapartida, teríamos muita porcaria também.

Para fi nalizar, diria que se você tem algo a acrescentar, por favor escreva. Mas se você acha que é isso mesmo, então não escreva, porque nada tem a acrescentar.

Referência:

RETAMERA, José Navarrete. Escrever um artigo vale a pena? BrasíliaMédica, Brasília, DF, v. 37, n. 3, p. 123, 2000.

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UNIDADE 6

Redação científi ca

Objetivos de aprendizagem

� Defi nir redação científi ca.

� Conhecer a estrutura lógica que compõe a redação do trabalho acadêmico.

� Identifi car os elementos que enfatizam o estilo na redação científi ca.

Seções de estudo

Seção 1 Redação científi ca

Seção 2 Estrutura lógica do trabalho acadêmico

Seção 3 O estilo na redação de um texto científi co

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Para início de estudo

Nesta unidade, você estudará os principais fatores que devem ser observados na redação científi ca. Vai identifi car as principais diferenças entre os textos dissertativos e narrativos, a estrutura lógica do trabalho acadêmico e os elementos que enfatizam o estilo na redação científi ca.

É importante salientar, neste início de unidade, que a capacidade de redação escrita se aperfeiçoa com o exercício constante da prática da redação. Assim, os elementos apresentados nesta unidade são úteis a você desde que desenvolva um exercício contínuo de produção escrita do conhecimento.

- Preparado para a tarefa? Então, vamos lá e bom est udo!

SEÇÃO 1 – Redação científi ca

Você estudou, na unidade anterior, os principais tipos de trabalhos acadêmicos: resumo, resenha crítica, fi chamento, paper, artigo científi co, relatório técnico-científi co e monografi a. Todos esses trabalhos necessitam de alguns elementos vinculados à qualidade redacional que devem atender às exigências do professor, do avaliador ou até mesmo de outros leitores.

Em outros níveis de ensino, principalmente no fundamental e médio, era comum que os alunos tivessem apenas o “trabalho” ou a preocupação de localizar o texto escrito ou a fonte onde encontraria o assunto da pesquisa. A partir do momento em que o texto era localizado, dava-se como encerrada essa tarefa. Bastava apenas confeccionar a capa, incluindo o nome no espaço reservado à autoria e adequar às exigências de formatação solicitadas pelo professor ou curso.

Esse procedimento, infelizmente, apesar de ainda não estar totalmente extinto, não é adequado à postura que se exige no meio universitário. Os trabalhos acadêmicos devem ser planejados, escritos, construídos, elaborados por seus autores.

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Ciência e Pesquisa

Unidade 6

Transcrever em parte, ou na íntegra, informações ou idéias produzidas por outros autores, sem mencionar a fonte, no próprio texto, é plágio. E lembre-se, plágio é crime.

Por isso, com esta unidade, você conhecerá alguns elementos que envolvem a redação científi ca. Mas antes de você começar a estudar esses elementos é bom conscientizar-se de que ninguém nasceu escrevendo. O aprendizado da escrita depende de muitos fatores. Ler, talvez, seja o principal deles. Se você não é um bom leitor, com certeza não será um bom escritor.

Então, como fazer uma redação científi ca?

Na produção textual de um trabalho científi co é necessário, primeiramente, que o autor se coloque na condição de leitor, esforçando-se em pensar nas suas qualidades e expectativas, pois o objetivo maior dessa produção é fazer com que as suas idéias sejam compreensíveis, trocando informações e, ao mesmo tempo, desenvolvendo o processo de comunicação efetivo entre ambos.

A comunicação escrita está mais preocupada com o aspecto da racionalidade (do que propriamente com o da emotividade), pretendendo sempre se tornar mais objetiva e lógica possível em sua manifestação, no sentido de ser isenta por parte de quem se proponha a fazer críticas ao comunicado.

“Nem tudo que se escreve e está escrito comunica conhecimento, justamente porque não comunica realidade e não comunica mundo. Permanece ao nível das regras, dos sons, das palavras vazias” (LUCKESI, 2003, p. 165).

Você estudará, nas próximas seções, os elementos da redação científi ca diferenciando, primeiramente, a natureza dos textos narrativos e dissertativos. Os textos técnico-científi cos e mesmos os fi losófi cos apresentam estrutura dissertativa.

Observe as principais diferenças entre a estrutura narrativa e a estrutura dissertativa, segundo a refl exão de Cunha (1992, p. 11):

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Estrutura Narrativa Estrutura Dissertativa

Construído com utilização de imagens, ações, personagens, cenas, etc.

O texto é construído por meio de idéias que se encadeiam umas às outras.

A leitura implica em envolvimento emocional, identifi cação afetiva, afi nidade entre os valores do leitor e do texto.

Não há ações, nem personagens, nem tempo de ocorrência de fatos.

A mensagem estará completa desde que sejam projetados os sentimentos do leitor.

Há relações de coerência e conseqüência lógica, de contradição ou de afi rmação entre uma idéia e outra.

A estrutura dissertativa, muitas vezes, utiliza elementos que são próprios da estrutura narrativa, ou seja, para tornar seu raciocínio acessível à compreensão do leitor, os autores contam histórias, criam personagens ou apresentam exemplos ilustrativos em seus argumentos.

- Então, preparado para conhecer as estruturas de construção de uma redação científi ca? Este será o assunto das próximas seções.

SEÇÃO 2 - Estrutura lógica do trabalho acadêmico

A estrutura geral do trabalho acadêmico compreende três elementos: pré-textuais, textuais e pós-textuais. Nesta unidade você estudará somente os elementos textuais.

Você sabe quais são os elementos textuais?

Os elementos textuais correspondem à estrutura lógica do trabalho. Para Severino (2000, p. 82):

Todo trabalho científi co, seja ele uma tese, um texto didático, um artigo ou uma simples resenha deve constituir uma totalidade de inteligibilidade, estruturalmente orgânica, deve formar uma unidade com sentido intrínseco e autônomo [...].

A estrutura lógica do trabalho acadêmico compreende três partes organicamente relacionadas: introdução, desenvolvimento

Segue juntamente com este livro a publicação “Trabalhos Acadêmicos na Unisul”, que tem por objetivo orientá-lo sobre a forma de elaborar a apresentação gráfi ca de trabalhos acadêmicos. É uma publicação ricamente ilustrada dando ao leitor o passo-a-passo de como elaborar e apresentar citações, ilustrações, referências, bem como a estrutura de trabalhos acadêmicos.

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e conclusão. Esta estrutura reproduz as fases características do pensamento refl exivo: “do sincrético, pelo analítico, ao sintético”.

Assim:

a introdução representaria o momento da síncrese, pois apenas apresenta uma visão geral do trabalho;

o desenvolvimento representaria a análise, pois o seu conteúdo está analiticamente dividido em partes; e,

a conclusão representaria a síntese, pois articula de forma breve as principais idéias contidas em cada parte do desenvolvimento do trabalho.

Quais elementos a estrutura lógica de trabalho acadêmico deve apresentar?

Acompanhe, a seguir, o conceito e os requisitos presentes em cada parte dessa estrutura.

Introdução

O objetivo principal da introdução é apresentar o assunto de maneira clara e precisa e, também, a maneira como a pesquisa foi desenvolvida.

Os principais requisitos para a redação da introdução são:

a) defi nição do assunto – consiste em anunciar a idéia geral e precisa sobre o tema. Primeiramente, é contextualizada a área de conhecimento em que o tema se situa e, depois, é apresentada de maneira bem específi ca a questão ou as questões que o trabalho se propõe a responder. Trata-se da problematização da pesquisa.

b) objetivos – apresentam as ações que deverão ser desenvolvidas na pesquisa. O verbo no infi nitivo (analisar, demonstrar, identifi car, descrever, etc.) ajuda na redação do enunciado, apresentando de maneira mais clara o que deverá ser abordado no trabalho.

Síncrese signifi ca visão de totalidade sem diferenciação das partes que a compõe. Na síncrese, as partes que compõe o todo não estão nitidamente identifi cadas.

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É necessário tomar cuidado para não apresentar objetivos na introdução que não sejam “cumpridos” no desenvolvimento do trabalho.

c) justifi cativa – consiste em apresentar a relevância teórica, científi ca, prática e social da pesquisa. Deve-seesclarecer os motivos que levaram à escolha do tema e chamar a atenção do leitor para a atualidade do assunto. Uma justifi cativa bem feita desperta o interesse para a leitura do trabalho.

d) metodologia – informa sobre os procedimentos metodológicos da pesquisa, ou seja, os recursos que foram utilizados para a coleta de informações na tentativa de buscar respostas para o problema. Se a pesquisa for puramente bibliográfi ca convém informar, já de início, as principais fontes e os principais autores que foram utilizados para fundamentar o assunto. Dependendo da natureza da pesquisa, este item pode merecer um capítulo especial no desenvolvimento do trabalho.

e) plano de desenvolvimento do trabalho – fi naliza a introdução e deve conter os tópicos principais, as idéias--mestras que serão apresentadas no desenvolvimento. Se as divisões do trabalho forem muito extensas (capítulos grandes) é possível antecipar uma idéia geral para cada capítulo.

A introdução deve ser a última parte do trabalho a ser elaborada. A redação deverá ser iniciada pelo desenvolvimento do trabalho.

Desenvolvimento

O desenvolvimento é dividido em partes e é a fração mais extensa do trabalho, pois nele são apresentados os resultados de tudo aquilo que se pesquisou.

A decomposição do assunto em suas partes constitutivas é condição indispensável para a compreensão do mesmo. É bem mais fácil compreender o assunto quando este estiver dividido, pois sem divisão não se pode identifi car claramente o tema central, nem tampouco distinguir o que se quer atribuir ao todo ou somente a uma ou outra de suas partes. (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 97).

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O desenvolvimento corresponde ao corpo do trabalho. Salomom (apud SEVERINO, 2000) afi rma que esta é a fase de fundamentação lógica do trabalho e tem por objetivo explicar, discutir e demonstrar. Explicar é tornar evidente ou compreensível o que estava obscuro ou complexo; é descrever, classifi car, defi nir. Discutir é aproximar, comparativamente, questões antagônicas ou convergentes. Demonstrar é argumentar, provar, apresentar idéias que se sustentam em premissas admitidas como verdadeiras.

O desenvolvimento do trabalho começa a se materializar no momento em que o pesquisador estabelece os objetivos e o plano de assunto da pesquisa. Os objetivos específi cos devem servir de base para a composição dos capítulos. A elaboração do plano de assunto, por sua vez, permite que se visualize a estruturação do trabalho em suas divisões e subdivisões.

Enquanto o desenvolvimento representa a parte analítica do trabalho, a conclusão representa a parte sintética. Analisar é decompor em partes e sintetizar é recompor as partes que foram decompostas na análise.

Conclusão

A conclusão é a parte que fi naliza a construção lógica do trabalho e deve fazer um balanço geral dos principais resultados alcançados. Não é conveniente detalhar idéias que não tenham sido tratadas no desenvolvimento e nem se deve apresentar um mero resumo do trabalho. Entretanto, na parte inicial, podemos relembrar, de maneira breve, as principais idéias que foram expostas no decorrer dos capítulos.

A conclusão deve apresentar um posicionamento refl exivo na forma de interpretação crítica das principais idéias apresentadas no texto. Deve defi nir o ponto de vista do autor e trazer sua marca pessoal.

O trabalho também deve ser avaliado quanto ao seu alcance e limitações. Quanto ao alcance, é importante realçar ou valorizar os resultados, afi nal foram despendidos esforços para se chegar

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aonde se chegou. Quanto às limitações, é importante que se reconheçam as fraquezas ou qualquer difi culdade que tenha ameaçado a qualidade ou o caráter de cientifi cidade do trabalho.

Ao fi nal da conclusão você pode vislumbrar (apenas apontar sem desenvolver) outros temas, que mantenham relação com o tema foi pesquisado e que possam ser investigados em novas pesquisas.

SEÇÃO 3 - O estilo na redação de um texto científi co

Os elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científi co, em geral, são: objetividade, clareza e concisão, simplicidade, e coerência.

a) Objetividade - linguagem direta, sem considerações irrelevantes, com as idéias apresentadas sem ambigüidade e utilizando frases curtas e simples, com vocabulário adequado ao tema proposto na redação.

b) Clareza e concisão - expressar as idéias em poucas palavras, evitando a argumentação muito abstrata e a repetição desnecessária de detalhes que não sejam relevantes à fundamentação do tema abordado na redação.

c) Simplicidade - utilizar apenas as palavras necessárias para o entendimento do tema da redação, evitando o abuso do uso de jargões técnicos e de sinônimos pelo simples prazer da variedade de palavras.

d) Coerência - as idéias devem ser apresentadas segundo uma seqüência lógica e ordenada, permitindo ao leitor acompanhar o raciocínio do autor da redação do começo ao fi m.

Luckesi (2003, p. 164) ressalta que estas qualidades são “[...] puramente instrumentais, simples meios para que melhor se comunique a visão de mundo a que se chegou através do processo de conhecer”, não isentando, porém, da preocupação em buscar uma expressão mais clara possível neste tipo de comunicação, como também, não desvalorizar o conhecimento da própria língua.

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Segundo Rudio (1999, p. 32-33), “não existem regras padronizadas para alguém saber com certeza, quais os termos que devem ser selecionados para defi nição. Isto depende do discernimento do pesquisador”.

Além disso, durante o processo de redação, deve-se escolher adequadamente as palavras que farão parte do repertório teórico do texto. “Algumas palavras ‘caem’ melhor do que outras, dependendo da frase, da situação abordada, do problema discutido etc. Como suporte para essa atividade de escolha das palavras podem ser utilizados tantos os dicionários comuns como os especializados” (MÁTTAR NETO, 2002, p. 231).

A seguir, lembramos também outros aspectos importantes para bem escrever uma redação, tais como:

a) o sentido do texto deve ser preciso, evitando-se as “armadilhas” semânticas da ambigüidade, como também as repetições e detalhes supérfl uos na exposição dos resultados;

b) não misture as pessoas verbais, escolhendo apenas uma pessoa para compor o seu texto;

c) posicione-se, amparando-se nos autores consultados e destacados ao longo da redação produzida, pois o texto científi co é por excelência uma redação dissertativa, na qual seu ponto de vista deve estar salientado;

d) seja coerente do começo ao fi m do texto, não misturando planos de idéias e argumentos;

e) evite iniciar ou terminar a redação dos capítulos com citação (seja direta ou indireta), pois esta tem a função de endossar ou de ajudar na argumentação das idéias do autor da redação;

f) o parágrafo é uma parte importante do texto que tem por fi nalidade expressar as etapas de raciocínio do autor, permitindo ao leitor acompanhá-lo do começo ao fi m da produção textual. Por isto, a cada idéia nova ou de reforço abre-se parágrafo, do que se conclui que seu tamanho não pode ser muito longo, nem muito curto;

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g) a construção da redação deve reproduzir a estrutura lógica do próprio trabalho, que está constituída de uma introdução, de um corpo (e/ou desenvolvimento) e de uma conclusão.

- Agora que você conheceu a estrutura e os elementos que compõem um trabalho científi co, realize as atividades propostas a seguir.

Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades.

1) Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira em relação aos elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científi co.

a) Coerência ( )

Linguagem direta, sem considerações irrelevantes, com as idéias apresentadas sem ambigüidade e utilizando frases curtas e simples, com vocabulário adequado ao tema proposto na redação.

b) Simplicidade ( )

Expressar as idéias em poucas palavras, evitando a argumentação muito abstrata e a repetição desnecessária de detalhes que não sejam relevantes à fundamentação do tema abordado na redação.

c) Clareza e concisão

( )

Utilizar apenas as palavras necessárias para o entendimento do tema da redação, evitando o abuso do uso de jargões técnicos e de sinônimos pelo simples prazer da variedade de palavras.

d) Objetividade ( )

As idéias devem ser apresentadas segundo uma seqüência lógica e ordenada, permitindo ao leitor acompanhar o raciocínio do autor da redação do começo ao fi m.

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2) Leia os textos e classifi que-os quanto à estrutura (narrativa ou dissertativa) e justifi que sua resposta.

Texto A

Toda a gente tinha achado estranha a maneira como o Capitão Rodrigo Camborá entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava num alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal.

(Um certo capitão Rodrigo – Érico Veríssimo)

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Texto B

O ligamento cruzado anterior, faz parte da articulação do joelho, estando localizado na parte central da cápsula articular, fora da cavidade sinovial. Durante a fl exão o feixe ântero-medial tensiona-se e o feixe póstero-lateral relaxa sendo que esse processo é invertido durante a extensão. Com a ruptura do ligamento cruzado anterior o joelho perde a atuação referente a este ligamento. A alta incidência de lesões neste ligamento leva a uma evidência de instabilidade do joelho impõe uma solução terapêutica que seja bem sucedida, uma vez que esta lesão pode trazer conseqüências desagradáveis para as atividades da vida diária (ARAÚJO, 2003 apud ZINNI; PUSSI, [2004]).

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3) Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) e justifi que sua opção caso a alternativa escolhida seja falsa.

a) ( ) Os trabalhos acadêmicos devem ser planejados, escritos, construídos, elaborados por seus autores. É permitido transcrever em parte, ou na íntegra, informações ou idéias produzidas por outros autores, sem mencionar a fonte.

b) ( ) Na estrutura do texto narrativo há relações de coerência e conseqüência lógica, de contradição ou de afi rmação entre uma idéia e outra.

c) ( ) A estrutura lógica do trabalho acadêmico compreende três partes organicamente relacionadas: elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais.

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d) ( ) Os objetivos, na introdução do trabalho apresentam as ações que deverão ser desenvolvidas na pesquisa. O verbo no infi nitivo (analisar, demonstrar, identifi car, descrever, etc.) ajuda na redação do enunciado, apresentando de maneira mais clara o que deverá ser abordado no trabalho. É necessário tomar cuidado para não apresentar objetivos na introdução que não sejam “cumpridos” no desenvolvimento do trabalho.

f) ( ) Deve-se iniciar ou terminar a redação dos capítulos apresentando uma citação textual.

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Síntese

Nesta unidade você estudou os principais fatores que devem ser considerados na redação científi ca, quais sejam: as principais diferenças entre os textos dissertativos e narrativos, a estrutura lógica do trabalho acadêmico e os elementos que enfatizam o estilo na redação.

Na redação científi ca é necessário desenvolver idéias que sejam compreensíveis ao leitor, permitindo a este trocar informações com o autor. Para isto, é fundamental que o autor sempre se coloque na condição de leitor.

Os textos científi cos e fi losófi cos são escritos a partir da estrutura dissertativa e narrativa. Na estrutura narrativa, a leitura implica em envolvimento emocional, identifi cação afetiva, afi nidade entre os valores do leitor e do texto. Na estrutura dissertativa, há relações de coerência e conseqüência lógica, de construção ou de afi rmação entre uma idéia e outra. O texto é construído por meio de idéias que se encadeiam umas às outras.

A estrutura lógica do trabalho científi co é formada por três elementos: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução se apresenta, de forma clara e precisa, uma visão geral do trabalho, ressaltando a maneira como a pesquisa foi realizada. No desenvolvimento, procede-se à análise, pois o seu conteúdo está dividido em partes, tendo como objetivo último apresentar os resultados de tudo aquilo o que foi pesquisado. Na conclusão, desenvolve-se o balanço geral dos principais resultados alcançados, como também, apresenta-se a síntese, pois articula de forma breve as principais idéias que estão contidas nas partes do desenvolvimento do trabalho. É o momento de avaliação crítica dos resultados apresentados no desenvolvimento.

Quanto aos elementos que enfatizam o estilo na redação de um texto científi co, temos: objetividade (linguagem direta, sem considerações irrelevantes), clareza e concisão (expressar as idéias em poucas palavras, evitando a argumentação muito abstrata), simplicidade (utilizar apenas as palavras necessárias para o entendimento do tema da redação) e coerência (as idéias devem ser apresentadas segundo uma seqüência lógica e ordenada).

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Saiba mais

Leia, a seguir, um texto de José Auri Cunha (1992, p. 7-8).

O conceito de texto

A palavra texto signifi ca tecido. Por isso é que se fala em indústria têxtil para referir-se à indústria de tecidos. No caso, porém, de textos, no sentido dos objetos especiais que transmitem pensamentos e documentam tradições, a acepção de tecido dá-se em outro contexto. Texto, neste caso, signifi ca não composição de fi os, mas a composição de signifi cados por meio de entrelaçamento físico de sinais apropriados. Um conjunto de palavras formando uma frase escrita, por exemplo, constitui um texto, pois há composição de signifi cados, formando nomes, verbos, artigos, etc., e entrelaçamento de sinais, letras, traços fi sicamente construídos sobre o papel ou sobre a rocha, o mármore, enfi m, qualquer outro suporte de escrita ou de inscrições. Mas também consideraremos texto todo objeto portador de mensagem. Assim existem os textos orais, visuais, auditivos. Também os sinais em que se inscrevem essas mensagens podem ser os mais variados: os gestos do nosso corpo, as letras do alfabeto, as notas musicais, etc. A esse entrelaçamento de sinais físicos sobre um suporte apropriado chamaremos de suporte material de um texto. Esse suporte, como foi dito, pode consistir de traços sobre o papel, formas sobre o mármore ou o bronze ou outro material, sons e vozes, no caso dos textos orais, cores e fi guras, no caso dos textos pictóricos, e assim por diante.

Já a composição dos signifi cados é aquilo que a consciência pode capturar a partir dos sinais. A essa captura chamaremos interpretação. Interpretações só existem por causa dos intérpretes, de pessoas que as operam, isto é, que relacionam os sinais físicos com um certo código. Você certamente já tem experiência no

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uso de códigos. Quando joga, você pode ter inventado códigos para se comunicar com seu parceiro; ou quando opera um caixa eletrônico de um banco, você digita o seu código para o computador liberar as informações sobre a sua conta. Ou seja: código é uma senha combinada, uma regra para operar uma interpretação. Operar uma interpretação de um texto é a mesma coisa que decodifi car esse texto, isto é, utilizando códigos, capturar na consciência os signifi cados transmitidos através dos sinais convencionados.

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Para concluir o estudo

A Ciência e Pesquisa é uma disciplina institucional que tem como preocupação básica oferecer ao estudante, os meios necessários para desenvolver conhecimentos voltados ao processo de produção científi ca.

Trata-se de conhecimentos que permitem a interdisciplinaridade, pois a disciplina dispõe de unidades de estudo de interesse de várias áreas do conhecimento.

Este é o grande diferencial da disciplina que atende, principalmente, às novas exigências da educação superior, preocupada em estimular o aluno a pensar dialeticamente, uma vez que podemos observar, hoje, a multiplicação de informações decorrentes das mudanças impulsionadas pela mundialização da economia.

Os conteúdos apresentados no livro não pretenderam esgotar todas as informações referentes à disciplina, mas sem sombra de dúvida, permitiram o acesso, com consistência, às informações iniciais para quem tem a pretensão de iniciar-se no mundo da pesquisa.

Agradecemos sua companhia e mais uma vez enfatizamos o desejo de que este livro tenha contribuído no sentido de oferecer informações necessárias para fazer Ciência e Pesquisa.

Um grande abraço!

Prof. Vilson Leonel e Alexandre de Medeiros Motta

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Sobre os professores conteudistas

Vilson Leonel é graduado em Filosofi a pela Universidade do Sul de Santa Catarina. Organizador do livro Diretrizes para a elaboração e apresentação da monografi a no Curso de Direito. Coordenador do Núcleo de monografi a no Curso de Direito, Campus Tubarão e professor de Metodologia Científi ca, desde 1987, na Universidade do Sul de Santa Catarina. Atualmente, leciona as disciplinas de Metodologia da Pesquisa Jurídica, no Curso de Direito, Metodologia da Pesquisa em Fisioterapia e no Curso de Fisioterapia. É professor conteudista e tutor das disciplinas de Metodologia Científi ca e Metodologia da Pesquisa.

Alexandre de Medeiros Motta é graduado em Estudos Sociais e História pela extinta Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (FESSC); especialista em Metodologia do Ensino Superior também pela extinta FESSC; Mestre em Ciências da Linguagem pela UNISUL. Atuou como professor de História no ensino fundamental e médio nas redes de ensino pública e privada e, também, coordenou o ensino fundamental na Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Tubarão. Atualmente, é professor da Unisul, e leciona as seguintes disciplinas: Estágio Supervisionado em História III e orientação de monografi as no Curso de História; Metodologia da Pesquisa nos Cursos de Administração e Ciências Contábeis; Coordenador de Estágio II no Curso de Ciências Contábeis, Técnicas de Pesquisa em Comunicação no Curso de Comunicação Social, além de lecionar a disciplina Metodologia da Pesquisa em vários cursos de Pós-Graduação da Unisul.

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Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação

Unidade 1

1) As duas formas de se apropriar do conhecimento são as formas direta e indireta. Na forma direta, citamos como exemplo a situação de um estudante ou cientista utilizando o microscópio para estudar as células ou quando fi zemos uma viagem de estudo para verifi car in loco um determinado uma determinada situação. E, na forma indireta, quando estamos em sala de aula, abordando um tema, através da mediação do professor.

2)

a) Trata-se do conhecimento fi losófi co, que utiliza o pensamento racional para refl etir sobre os problemas do cotidiano.

b) Este é o conhecimento científi co, que se constitui em um estudo racional sobre um determinado objeto, desenvolvido de modo sistemático e planejado.

c) Esta afi rmativa se refere ao conhecimento popular, que se vincula à vivência das pessoas no dia-a-dia, sem comprovações de causa ou dos fatores que interferem nos problemas do dia-a-dia.

d) A afi rmativa proposta relaciona-se ao conhecimento fi losófi co que se pauta no desenvolvimento do exercício do pensamento, a fi m de desestabilizar o que está posto na realidade.

e) Mais uma vez, estamos diante do conhecimento popular que se relaciona diretamente aos problemas vividos no dia-a-dia, como resultante da vivência das pessoas.

f) Esta afi rmativa se refere ao conhecimento religioso que se ampara na fé das pessoas, de modo a se revelar como um conhecimento que transcende ao âmbito humano e se vincula às forças divinas.

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3) Porque cada problema apresenta peculiaridades que não se resolvem de uma única maneira, precisando, para isso, de modos diferentes para entendê-las. Ou seja, cada tipo de conhecimento tem o seu jeito de conhecer a realidade.

4)

a) É correto afi rmar que o conhecimento, para ser conhecimento, precisa nos levar ao entendimento da realidade. Por isso, ele se classifi ca em vários tipos, desde o popular até o artístico.

b) É correto afi rmar que o conhecimento é a tomada de consciência de um mundo vivido pelo homem. Assim, neste conhecimento coexistem dois pólos: o sujeito que conhece e o objeto que é conhecido.

c) É correto afi rmar que entre os tipos de conhecimento não existe um grau de hierarquia, pois todos eles são formas de entender a realidade e, por isso, funcionam socialmente.

Unidade 2

1) A visão contemporânea de ciência é marcada pelas rupturas epistemológicas, não havendo um modelo exclusivo que caracterize o conhecimento científi co nessa época. Ruptura epistemológica signifi ca revisão crítica do conhecimento e tentativas de superar aquela visão estática, marcada pelas verdades dogmáticas e imutáveis, tão característico em toda a história do conhecimento científi co.

2) A alternativa correta é “b”, ou seja, as afi rmações I, III e IV estão corretas, pois a ecologia está situada no grupo das ciências naturais e não nas ciências sociais ou humanas.

3) Para Barros e Lehfeld (1986, p. 70), a ciência é o meio mais adequado para o controle prático da natureza, transformando-a em “[...] matriz de recursos técnicos e/ou tecnológicos, os quais utilizados com sabedoria contribuem para uma vida humana mais satisfatória enquanto efetivação instrumental do fazer e do agir”.

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Ciência e Pesquisa

Unidade 3

1) A principal diferença entre o método de abordagem e o procedimento é que o método de abordagem tem uma preocupação maior com a linha de raciocínio, com o fi o condutor da pesquisa. O método de abordagem, geralmente, está vinculado a uma concepção teórico-metodológica. Já o método de procedimento tem uma preocupação maior com o “fazer” da pesquisa. Neste sentido, o pesquisador precisa estabelecer ações relacionadas à aplicação das técnicas de investigação.

2) Utilizou-se nesta pesquisa o método estatístico. Esta evidência se dá a partir dos resultados representados por meio de percentuais.

3) A seqüência correta é:

a) F

b) V

c) V

d) F

e) V

f) V

g) F

h) F

i) V

j) V

Unidade 4

1) A seqüência correta é a seguinte: c, d, e, b, a.

2) As alternativas A, C, F, H, M e N são verdadeiras. Veja o comentário das que estão incorretas.

b) Se classifi carmos as pesquisas levando em conta os objetivos, teremos três grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa explicativa.

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d) É a pesquisa descritiva que analisa, observa, registra e correlaciona aspectos (variáveis) que envolvem fatos ou fenômenos, sem manipulá-los. Na pesquisa descritiva, os fenômenos humanos ou naturais são investigados sem a interferência do pesquisador.

e) É a pesquisa explicativa que tem como preocupação fundamental identifi car fatores que contribuem ou agem como causa para a ocorrência de determinados fenômenos.

g) A delimitação da extensão do assunto deverá ser a mais específi ca e focada, possível para permitir que se pesquise com maior profundidade os aspectos relacionados ao tema.

i) Para que a pesquisa experimental possa ser desenvolvida é necessário ter, no mínimo, três elementos: manipulação de uma ou mais variáveis, controle de variáveis estranhas ao fenômeno observado e composição aleatória dos grupos experimental e controle.

j) No esquema fatorial, o pesquisador trabalha com mais de duas variáveis independentes para observar seus efeitos, de forma associada ou separadamente, sobre a variável dependente. O estudo comparativo compara dois tratamentos.

k) Nos estudos de caso controle investigam-se os fatos após a sua ocorrência sem a manipulação da variável independente. Nesse tipo de estudo, o investigador não modifi ca a realidade.

l) As pesquisas do tipo levantamento procuram analisar, quantitativamente, características de determinada população. A maioria das pesquisas do tipo levantamento ocorre por amostragens.

3)

a) As variáveis presentes são: sedentarismo, sexo, nível sócio-econômico, ter mãe inativa, tempo diário assistindo à televisão, tempo diário de uso de vídeo-game e deslocamento ativo para a escola.

Variável independente: sexo, nível sócioeconômico, ter mãe inativa, tempo diário assistindo à televisão, tempo diário de uso de vídeo-game e deslocamento ativo para a escola.

Variável dependente: sedentarismo

b) A pesquisa quanto ao nível é classifi cada como descritiva, pois associa a variável sedentarismo com um conjunto de outras variáveis denominadas no estudo de fatores associados (sexo, nível sócioeconômico, ter mãe inativa, tempo diário assistindo à televisão, tempo diário de uso de vídeo-game e deslocamento ativo para a escola). A pesquisa descritiva associa variáveis sem manipulá-las.

Quanto à abordagem, a pesquisa é classifi cada como quantitativa, pois os resultados são analisados em percentuais, mediante análise multivariada.

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Quanto ao procedimento utilizado na coleta de dados, a pesquisa é classifi cada: de estudo de levantamento. O estudo de levantamento procura analisar características de determinada população, no caso da pesquisa fora, estudados por meio de um questionário auto-preenchível, 4.452 adolescentes de 10-12 anos de idade.

4)

a) Manipulação de variáveis - a variável independente é o tratamento (substância adicionada à ração). A variável está sendo manipulada na medida em que um grupo recebe a substância e o outro não.

b) Controle de variáveis - o pesquisador tomou um conjunto de ratos similares e os manteve em condições idênticas durante algum tempo, isto quer dizer que, ele pegou ratos de mesma idade, mesma distribuição por sexo, mesma linhagem e colocou-os em ambientes com mesma temperatura, mesmo espaço físico, mesma iluminação, etc. A neutralização dessas variáveis é importante, pois permite ao pesquisador saber com mais precisão a infl uência do tratamento com a substância sobre o peso dos ratos. Essas variáveis são, portanto, isoladas para não interferir no fator que está sendo analisado, no caso o peso dos ratos.

c) Randomização (composição aleatória dos grupos experimental e controle) - o pesquisador dividiu o conjunto de ratos em dois grupos. O grupo que recebeu o tratamento é considerado o grupo experimental e o grupo que não recebeu o tratamento é considerado o grupo controle. A pesquisa experimental exige que a composição dos grupos seja por sorteio (randomizado).

Unidade 5

1) Observe a fi cha a seguir:

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Ética na produção de trabalhos científi cos

RODE, S. de M.; CAVALCANTI, B. das N.. Ética em autoria de trabalhos científi cos. Pesquisa Odontologia Brasileira, São Paulo, v. 17, p. 65-66, maio 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151774912003000500010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 jun. 2004.

O texto faz uma refl exão sobre a ética na publicação de trabalhos acadêmicos. Os autores apresentam 8 critérios que defi nem, segundo a norma de Wancouver, quem é o autor na publicação de um trabalho. Vamos nos ater ao primeiro deles que diz que autor é aquele que contribuiu substancialmente na concepção, no desenho, na coleta, interpretação e análise dos dados.

Os autores também refl etem sobre o plágio na elaboração de trabalhos científi cos e, como são da área de odontologia, citam o Código de Ética de Odontologia no art. 34, que diz que constitui infração ética [...]

II - apresentar como sua, no todo ou em parte, obra científi ca de outrem, ainda que não publicada;

Estes dois pontos no texto nos fazem refl etir sobre a postura que devemos ter na elaboração de trabalhos acadêmicos. É comum observarmos em trabalhos de grupo aqueles que se “matam” trabalhando, assumindo para si toda a responsabilidade do trabalho e aqueles que “não querem nada com nada”. O pior é que na capa consta o nome de todos. Será que isso é correto? Será que é justo? Todos devem ter a mesma nota? O que o professor deveria fazer nessa situação?

Muitas vezes também observamos que em trabalhos acadêmicos os alunos e omitem, de propósito, os elementos de identifi cação da obra pesquisada e assumem como suas as idéias que são transcritas. Isso é ético?

Será que essas atitudes viciosas não se reproduzirão em trabalhos maiores como monografi as e relatórios?

É para se pensar....

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Ciência e Pesquisa

2) É preciso ser honesto no momento em que se elabora um trabalho acadêmico. Não é correto copiar fragmentos ou trabalhos na íntegra de outros autores sem citar a fonte.

3) A alternativa incorreta é a “b”, pois o position paper é o posicionamento sobre um tema ou assunto acompanhado de uma breve revisão de literatura para conhecer, também, o posicionamento de outros autores.

4)

a) É um artigo original porque os resultados da pesquisa foram produzidos pelos próprios autores. A pesquisa foi realizada entre 1994 e 1995, com 5.227 estudantes do 1º ao 6º ano de graduação. Foi usado um questionário de auto-respostas, anônimo, incluindo o questionário da Organização Mundial da Saúde para levantamento de uso de drogas e álcool. Os resultados produzidos no artigo são inéditos e originalmente produzidos pelos seus autores.

b) (1) Objetivo, (2) Método, (3) Resultados e (4) Conclusão.

5)

a) Empreendedorismo

b) Qual o problema subjacente ao assunto pesquisado, isto é, o que o autor quis saber ou pesquisar?

Qual o perfi l dos proprietários de empresas familiares?

Os proprietários das empresas familiares estão acompanhando as modifi cações decorrentes do desenvolvimento tecnológicos e das mudanças políticas e econômicas?

c) Como objetivo geral da pesquisa, pode ser:

Identifi car os fatores responsáveis pela sobrevivência de empresas familiares por meio da análise do perfi l de seus empreendedores.

d) Como objetivos específi cos referentes à pesquisa, seguem duas alternativas:

Objetivo específi co (1) Identifi car os fatores responsáveis pela sobrevivência de empresas familiares

Objetivo específi co (2)Analisar o perfi l de seus empreendedores

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e) Na justifi cativa, você pode apresentar os seguintes argumentos: na pesquisa é enfatizada a importância do estudo dos fatores comportamentais dos empreendedores em empresas familiares, face às mudanças ocorridas nas organizações em função do desenvolvimento tecnológico e as mudanças políticas e econômicas ocorridas no ambiente empresarial atual.

f) A pesquisa foi realizada por meio da aplicação de questionários e entrevistas.

Unidade 6

1) A seqüência correta é a seguinte: d, c, b, a.

2) a) A estrutura do texto é narrativa porque foi construída com utilização de imagens, ações, personagens, cenas, etc.

b) A estrutura do texto é dissertativa porque há relações de coerência e conseqüência lógica entre uma idéia e outra.

3)

a) É falso porque transcrever sem mencionar a fonte é plágio e plágio é crime.

b) Falso, porque é na estrutura do texto dissertativo que há relações de coerência e conseqüência lógia, de contradição ou de afi rmação entre uma idéia e outra.

c) Verdadeiro.

d) Verdadeiro.

f) É falso, pois os textos devem ser, preferencialmente, iniciados e concluidos com idéias próprias.

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