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CIDADES INSUSTENTÁVEIS “Venecia desapareció Debajo de la gasolina, Moscú creció de tal manera Que murieron los abedules Desde el Kremlin a los Urales Y Chicago llegó tan alto que se desplomó de improviso como un cubilete de dados.” 1 INTRODUÇÃO Temos por hábito culpar o automóvel pelos problemas das cidades, tal como foi hábito no século XIX culpar o comboio, o sistema fabril ou outros derivados, desconhecendo que as causas originais são a aglomeração de pessoas em espaços restringidos provocando alta densidade, propondo a todos a mesma forma de viver e pensar, de habitar por igual. É de conhecimento actual que a alta densidade, assim como a baixa densidade de uma população num aglomerado urbano torna-se insustentável. Juntar-se nas cidades para tentar ter uma “vida melhor”, tranformou a aglomeração, por virtude da chegada massiva de pessoas, em núcleos urbanos contaminados e congestionados. A industrialização e afirmação do poder corporativo conquistado pelos grupos burgueses, bancários e corporativos no século XIX, agregou ainda mais gente e agravou a situação mediante novos residuos industriais. As condições de trabalho e a vida das pessoas nas sociedades industrializadas, plasmadas na Arte do Realismo, deram origem a problemas ambientais que se extenderam e agravaram até á urgencia extrema e á dimenção de impacto desconcertante dos dias actuais. O rápido crescimento das cidades do mundo em desenvolvimento coloca-as no centro do debate por alcançar melhores niveis de vida. O que é viver melhor? Que necessidades reais temos? Desde 1950 a população urbana tripilicou de pouco mais de 750 milhões a uns 3000 milhões. Estima-se que em 2030 aproximadamente 5000 milhões de habitantes viverão em cidades. Mundialmente, aproximadamente ¾ da população é urbana. Estima- se que as cidades estão aglomerando 55 milhões de habitantes por ano, mais de 1 milhão de novos residentes por semana resultantes da migração e do aumento natural da população. viverão em cidades. Enquanto as cidades vão crescendo, o seu impacto no meio ambiente aumenta exponencialmente. Que cidades serão projectadas para um futuro próximo? Vale a pena falar de crescimento sustentável? Pensar que a tecnologia apoiará e resolverá as condições de vida cada vez mais indignas e os abismais constrastes sociais que as cidades aumentam é, em minha opinião, incentivar o inevitável declinio das já insustentáveis cidades do presente. Na sequêcia da exposição internacional de Shangai 2010 que tem como lema “melhor cidade, melhor vida” podemos questionar-nos se a imagem da cidade tecnológica e futurista com um profundo crescimento vertiginoso, se espelha numa espacialidade urbana com impactos positivos e sustentável á vida das futuras gerações. Quando falo de cidades insustentáveis falo das cidades onde a população e os espaço disponível, assim como os recursos e infraestruturas não funcionam de forma autónoma e sobre uma cultura permanente. Ou seja, quando as cidades se tornam dependentes de vastos productos trazidos de largas distancias, onde a população tem que obrigatoriamente deslocar-se em veículos individuais ou estar submetida a largos 1 Fragmento del poema “Se llenó el mundo”de NERUDA, Pablo in “Fin de Mundo”, ed. Losada, 1967 Buenos Aires.

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CIDADES INSUSTENTÁVEIS

“Venecia desaparecióDebajo de la gasolina,

Moscú creció de tal maneraQue murieron los abedules

Desde el Kremlin a los UralesY Chicago llegó tan alto

que se desplomó de improvisocomo un cubilete de dados.”1

INTRODUÇÃO

Temos por hábito culpar o automóvel pelos problemas das cidades, tal como foi hábito no século XIX culpar o comboio, o sistema fabril ou outros derivados, desconhecendo que as causas originais são a aglomeração de pessoas em espaços restringidos provocando alta densidade, propondo a todos a mesma forma de viver e pensar, de habitar por igual. É de conhecimento actual que a alta densidade, assim como a baixa densidade de uma população num aglomerado urbano torna-se insustentável. Juntar-se nas cidades para tentar ter uma “vida melhor”, tranformou a aglomeração, por virtude da chegada massiva de pessoas, em núcleos urbanos contaminados e congestionados. A industrialização e afirmação do poder corporativo conquistado pelos grupos burgueses, bancários e corporativos no século XIX, agregou ainda mais gente e agravou a situação mediante novos residuos industriais. As condições de trabalho e a vida das pessoas nas sociedades industrializadas, plasmadas na Arte do Realismo, deram origem a problemas ambientais que se extenderam e agravaram até á urgencia extrema e á dimenção de impacto desconcertante dos dias actuais.

O rápido crescimento das cidades do mundo em desenvolvimento coloca-as no centro do debate por alcançar melhores niveis de vida. O que é viver melhor? Que necessidades reais temos?

Desde 1950 a população urbana tripilicou de pouco mais de 750 milhões a uns 3000 milhões. Estima-se que em 2030 aproximadamente 5000 milhões de habitantes viverão em cidades. Mundialmente, aproximadamente ¾ da população é urbana. Estima-se que as cidades estão aglomerando 55 milhões de habitantes por ano, mais de 1 milhão de novos residentes por semana resultantes da migração e do aumento natural da população. viverão em cidades. Enquanto as cidades vão crescendo, o seu impacto no meio ambiente aumenta exponencialmente. Que cidades serão projectadas para um futuro próximo? Vale a pena falar de crescimento sustentável? Pensar que a tecnologia apoiará e resolverá as condições de vida cada vez mais indignas e os abismais constrastes sociais que as cidades aumentam é, em minha opinião, incentivar o inevitável declinio das já insustentáveis cidades do presente. Na sequêcia da exposição internacional de Shangai 2010 que tem como lema “melhor cidade, melhor vida” podemos questionar-nos se a imagem da cidade tecnológica e futurista com um profundo crescimento vertiginoso, se espelha numa espacialidade urbana com impactos positivos e sustentável á vida das futuras gerações.

Quando falo de cidades insustentáveis falo das cidades onde a população e os espaço disponível, assim como os recursos e infraestruturas não funcionam de forma autónoma e sobre uma cultura permanente. Ou seja, quando as cidades se tornam dependentes de vastos productos trazidos de largas distancias, onde a população tem que obrigatoriamente deslocar-se em veículos individuais ou estar submetida a largos

1 Fragmento del poema “Se llenó el mundo”de NERUDA, Pablo in “Fin de Mundo”, ed. Losada, 1967 Buenos Aires.

periodos de viagem em transportes colectivos para ir trabalhar, etc. É dificil determinar ao certo um limite espacial e demográfico para uma cidade. Estima-se que cidades entre 500.000 habitantes e 1 milhão começam a tornar-se insustentáveis e a ser danosas para o meio ambiente pelos recursos que consomem.

FIG. 1 Buenos Aires, 2010

Os procesos e políticas económicas mundiais sempre influiram directa ou indirectamente na maneira de conceber a sociedade, na expectativa da qualidade de vida, nas necessidades de uma cultura e por conseguinte na criação de espaços que satisfaçam essas necessidades, ou seja, grande parte do cuotidiano individual e colectivo está intimamente associado a processos económicos.

Obviamente que existen várias maneiras de ver o fenómeno da globalização: desde a prespectiva do cidadão, do curioso, da cultura geral, do sistema empresarial e governamental e do próprio economista, etc. E, além disso, dentro de estes grupos, existem divergencias pessoais baseadas em interesses ou ideologias específicas. Desde a minha perpectiva de observador ignorante na disciplina da economia mundial e global, mas como cidadão atento e estudioso das morfologias urbanas, o que observo desde o meu ponto de vista são processos de globalização que tendem a involucrar a totalidade das forças económicas de diferenes países de modo a integrar a todos numa complexa teia dependente de um poder unico que a todos condiciona fruto de uma sociedade tecnocrata que controla e monopoliza recursos e pessoas.

A influencia da globalização no capitulo do urbanismo deu origem a tendencias imobiliárias de “desenvolvimento” para a creação de novas comunidades isoladas. A tendencia da globalização provocou uma forte separação entre núcleos sociais pelo medo e exclusão das clases menos favorecidas. O espaço social é concebio por padrões de comportamento quase paranóicos que levam a projectos de isolamento de grupos sociais “diferentes”.

A degradação ambiental que se faz sentir essencialmente em áreas de grande concentração populacional e de actividades é um fenómeno do qual a população em geral e sobretudo as entidades responsáveis pela administração do território, se têm vindo a aperceber nos últimos anos. Os piores pontos de crise ambiental vivem-se nas cidades e é nos centros urbanos, onde o desenvolvimento turístico e o desenvolvimento industrial têm tido uma maior amplitude, que a qualidade do meio ambiente se tem ressentido mais.

É hoje um facto geralmente assumido que, a par de objectivos de carácter económico e social, deverão existir também objectivos de natureza ambiental na defesa e promoção do nível desejado de qualidade de vida da sociedade. É evidente que o grau de degradação ambiental é variável consoante os locais e o tipo de desenvolvimento verificado. Será necessário, então, identificar quais os pontos sensíveis das condições

ambientais em meio urbano, de modo a que, através da sua monitorização, se possa assegurar a manutenção de um nível desejado de qualidade ambiental.

Parto da hipótese de que os actuais aglomerados urbanos não são sustentáveis, muito menos as megapolis latinoamericanas e as crescentes e actuais megapolis na China do século XXI. Também não saõ sustentáveis de nenghum ponto de vista os aglomerados periféricos que o desenvolvimento das cidades desencadeia. O futuro das cidades em crescimento dos paises indusrtializados é cada vez menos sustentável e tende a conflitos de ordem social, económica e cultural que agravam a sua saúde ambiental e as condições fisicas e mentais da população.

“A cultura de massas é imposta desde cima. É fabricada por técnicos ao serviço dos homens de negócios; o público está composto por consumidores passivos, cuja participação se limita à eleição entre comprar e não comprar”.2

FIG. 2 Metro em Barcelona, 2008 FIG. 3 Provincia de Buenos Aires, 2010

AMBIENTE URBANO

O ambiente urbano está hoje bastante difundido nos meios científicos, técnicos e políticos enquanto objecto de problematização, conceptualização e intervenção. Em 1990, no Livro Verde Sobre o Ambiente Urbano, organizavam-se os temas enquadráveis nesta noção em três pontos: poluição urbana: ar, água, ruído, solo, resíduos; ambiente construído: estradas, ruas, edifícios, espaços abertos, áreas recreativas; natureza: espaços verdes e habitates naturais na cidade.

Desde a Idade Média que a cidade constituiu a base do desenvolvimento social, cultural e económico na Europa. A história comum deu às cidades europeias características comuns que ainda hoje as orientam de forma idêntica: desde “as ruelas e áleas dos centros medievais” 3, até “à invasão do trânsito congestionado, auto-estradas urbanas e arquitectura uniforme e medíocre, tanto no centro como nas periferias”. Esta periferia de que falamos não tem limites definidos nem uma estrutura clara, rejeitando por vezes o conceito de cidade. É destas periferias que a cidade vive em relação á classe obreira que continua a ser a base do seu desenvolvimento.

O Ambiente Urbano sempre se deparou com dificuldades, tais como o ruído. Só no final do séc. XIX, por exemplo, as casas foram ligadas a redes de abastecimento e de esgotos; ou só na década de 50 é que a maior parte das cidades tomou medidas para reduzir a poluição atmosférica. Muitos problemas se mantêm mas são menos óbvios, ou outros ressaltaram com as medidas aplicadas no melhoramento da qualidade de vida, como são a poluição dos rios e oceanos decorrente do saneamento. Os efeitos de alguns poluentes; como a poluição atmosférica causada pela indústria ou pelo trânsito

2 MCDONALD, D; “A Theory of Mass Culture” in “Mass Culture – Popular Arts in America”, ed. The Free Press, Glencoe 196737 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano, comissão das comunidades europeias

automóvel, o ruído causado pelos aviões, etc.; são produzidos a longo prazo. A longo prazo são também os efeitos a nível psicológico algumas vezes esquecidos.

Outro conceito importa referir, tal como a Ecologia, que estuda as condições de existência dos seres vivos e as relações que estes estabelecem com o seu meio. Esta disciplina desenvolve os conceitos de biocenose, biótopo, ecossistema e biosfera. “À medida que se teve consciência da degradação das condições do meio ambiente percebeu-se que se deveria proceder à relação entre a economia, os recursos naturais e o ambiente.” 4

O Livro Verde sobre o Ambiente Urbano manteve-se uma referência ao longo da década de 90, onde o pensamento europeu relativamente ao ambiente urbano se desenvolveu em várias direcções. No livro invocado já se fazia apelo a um tratamento da questão que fosse além de uma abordagem sectorial, muitas outras contribuições posteriores foram destacando outras dimensões do tema, nomeadamente as que remetem para questões de ordem mais social. Maria do Rosário Partidário defende uma perspectiva (…) que envolva componentes físicas, sociais e económicas, e Vítor Matias Ferreira sugere a articulação entre ambiente físico e ambiente social na conceptualização do “ambiente urbano”, distinguindo-a do “ambiente do urbano” contribuindo ainda para pôr em causa um dos pressupostos genéricos presente em grande parte da literatura científica e técnica. A noção de “ambiente urbano está essencialmente associada à de ambiente em geral, de que se trata de uma especificação meramente espacial ou geográfica do conceito global de ambiente.»5

FIG. 4 Rio de Janeiro, 2006

Este negativismo face ao ambiente urbano está igualmente patente numa vasta literatura que não se limita apenas às ciências sociais. A concepção de cidade é sinónimo de local doentio, sujo, caótico, onde reina o individualismo, a competição e a falta de solidariedade; ao contrário da concepção de ambiente rural, que é visto como saudável, belo, calmo, solidário e organizado. Esta polarização é justificada pelo êxodo rural e agrícola. A razão aconselhava a procurar melhorar a vida na cidade enquanto que os laços afectivos ficavam amarrados ao campo.

Contudo, a qualidade do ambiente deve ser objecto de interesse em qualquer aglomerado social, quer seja urbano por suas características ou rural.

Pediu-se a inquiridos que citassem problemas de ambiente urbano, a grande maioria citou os que se referem às condições de utilização do espaço urbano, tais como:

46 Gomes, Rogério Manuel Loureiro; Ambiente Urbano; Pág. 12.58 FERREIRA, Victor Matias; Condição Social, Ambiente Urbano e Qualidade de Vida na Metrópole de Lisboa; Editora Observa. Pág. 18.

o trânsito, a falta de espaços verdes, a paisagem, o saneamento básico, espaços urbanos degradados, espaços públicos, ocupação de espaços pedonais, transportes, falta de infra-estruturas e património. Seguem-se os que citaram a poluição, o ruído e condições básicas de vida, como a exclusão e problemas de cidadania. Já em menor número, foram referidos problemas de sociabilidade e relacionamento social. Quando se pede que citem alguns dos problemas de qualidade de vida, a grande generalidade repete os já citados como problemas de ambiente urbano. Este facto significa que para estes inquiridos, os problemas de ambiente urbano e de qualidade de vida têm pontos em comum e também especificidades.

Após esta breve passagem pelo tema do ambiente urbano, derivemos na questão que me importa tratar, o conceito de sustentabilidade nas cidades.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Com a necessidade de controlar o crescimento e o desenvolvimento urbano, tendo em conta a manutenção do equilíbrio ambiental, um dos pontos fortes em discussão é o conceito de desenvolvimento sustentável através do qual, conhecendo os limiares de utilização do sistema, é possível conciliar as vertentes desenvolvimento e protecção do ambiente. Nesta perspectiva, torna-se prioritário desenvolver instrumentos de medição e técnicas de avaliação das relações de causa-efeito que se estabelecem entre as acções humanas e os consequentes problemas ambientais.

“A sustentabilidade do ambiente urbano implica reequacionar a própria ideia de cidade como lugar da vida comunitária por excelência, reforçando os factores de identidade e diversidade com apoio na herança cultural e patrimonial, numa perspectiva valorizadora dos factores de qualidade ambiental e social e da participação dos cidadãos”. 6 (…)

Em 1987, a Comissão Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento, definiu o conceito de desenvolvimento sustentável do seguinte modo: “O desenvolvimento sustentável responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas.”

Em 1989 na conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foi produzida a Agenda 21 que definiu que o desenvolvimento sustentável exige a redução dos recursos energéticos, assim como da produção de poluição e resíduos, a protecção dos ecossistemas frágeis, uma partilha mais acentuada no que concerne à sustentabilidade entre países e regiões. Chegou-se portanto a consenso, o que trouxe a delineação de um conjunto de planos ambientais, tais como: gestão e desenvolvimento do desempenho das autoridades locais, com integração dos objectivos do desenvolvimento sustentável nas políticas e actividades; educação e sensibilização; participação; constituição de parcerias; monitorização, avaliação e produção de relatórios acerca dos progressos obtidos. De seguida, a Comissão, constatando a preocupação crescente dos urbanistas com a qualidade do ambiente natural e físico, acrescentou: a necessidade de desenvolver objectivos claros e calendarizados; o reforço da função comercial das cidades; as questões da policia e da cooperação judicial; a política sanitária pública e a necessidade de reflectir acerca do papel do sector público na gestão urbana. Tais comunicações vieram a ter resposta dada pelo Grupo de Peritos que tornaram públicas várias sugestões.

Passados vinte anos é fácil entender a problemática da questão da sustentabilidade e da aplicação pratica que deriva de uma tomada de conscinecia de toda a população, profissionais, politicos, projectistas, usuarios, etc. Contudo, é importante reparar que a tendência da população no projecto, na investigação e no uso das cidades é contraria á ideia de uma redução dos recursos energéticos que está directamente vinculado á redução de infraestruturas, novas e megalomanas construções ou do uso cada vez mais

6 O livro Branco da Arquitectura e do Ambiente Urbano em Portugal, Associação dos Arquitectos Portugueses. Pág. 88.

excessivo do trasporte viário individual. Actualmente as cidades seguem o rumo de crescimento territorial e populacional acentuando o consumo cada vez maior de recursos energéticos, económicos, ambientais e sociais que levam á degradação das periferias e de amplas áreas residenciais, criando um fosso cada vez maior entre bairros de diferentes condições sociais, criando guetos marginais e desinteresse por zonas urbanas opostas ao centro económico (bancário e empresarial).

O Fórum Urbano Europeu, realizado em 1998, apreciou o quadro de acção para o Desenvolvimento Sustentável e integrou já as considerações do Grupo de Peritos, verificando-se algumas evoluções: “necessidade de horizontes temporais mais dilatados para a formulação e aplicação de políticas de sustentabilidade urbana (…); abordagem urbanística dos terrenos industriais abandonados como recurso fundamental (…); identificação de interrogações conceptuais em relação ao significado da sustentabilidade social, qualidade de vida, natureza da saúde urbana e um modelo completo de desenvolvimento sustentável que integre as dimensões social, económica, ambiental e cultural; identificação de potenciais contradições entre as redes transeuropeias e objectivos de sustentabilidade das cidades servidas por elas (…); defesa do conceito de Autoridade Urbana (…); abordagem do problema das grandes zonas metropolitanas (…); proposta de uma abordagem urbanística preventiva ao problema da segurança urbana.” 7

O desenvolvimento sustentável é um conceito que tem por base uma ponderação equilibrada dos factores económicos, ambientais e sociais e a colocação dos factores ambientais e económicos com o mesmo peso na balança. De tal forma, o desenvolvimento saudavel não pode ser atingido mediante uma estratégia de crescimento, por esta não ser sustentável. Com exemlo claro desta afirmação temos o caso do automóvel que implica o crescimento e alargamento de eixos viários que rompem o tecido urbano criando poluição sonora, visual e ambiental. A estratégia de seguir aumentando e alargando estes eixos urbanos como solução ao transito é contraproducente, dado que cada vez gera mais engarrafamentos e trânsito.

Vale a pena referir, datadas de 1986, as observações de Herman Daly: “É impossível à economia mundial crescer sem pobreza e degradação ambiental. Por outras palavras o crescimento sustentável é impossível.” 8 Vale a pena analizar esta frase e descobrir que está intimmente ligada a um pensamento de decrescimento ou crescimento antieconómico desenvolvido por Marilyn Waring. Esta corrente de pensamento político, económico e social defende a diminuição regular e controlada da produção económica e da demanda consumista propondo uma nova relação de equilibrio entre a Natureza e a produção humana. O objectivo é viver melhor com menos, opondo-se como forma de vida a um sistema económico e productivo segregador e de aniquilação de massas, que impõe um controle com base na apologia de uma vivencia unitaria e segundo os mesmos padrões. Isto possibilita que haja cada vez mais diferenças sociais com a riqueza concentrada numa minoria que toma o poder de explorar fontes e recursos energéticos, ambientais, económicos e sociais.

É como tal, importante desmestificars o que é crescimento e desenvolvimento. A maioria das cidades actuais não poderá continuar o seu crescimento demográfico e territorial, porque se tornarão cada vez mais insustentáveis. O desenvolvimento nem sempre está vinculado a um crescimento. Por exemplo, o desenvolvimento das actuais cidades com mais de 1 milhão de habitantes chegam ao seu limite de vida sustentável, e não poderão continuar com o seu crescimento.

Pensar que as cidades devem crescer para poderem competir a nivel económico e social no futuro próximo é uma falácia que leva a um erro craso do sistema social. Aproar ao crescimento é direcionar o rumo ao surgimento de megacidades apoiadas em redes viarias megalomanas que aniquilam a qualidade de vida baseada numa qualidade do meio ambiente.

Este tipo de pensamento que leva ao crescimento das cidades, está directamente vinculado á sociedade ocidental consumista e capitalista que necessita apoiar-se em sociedades em subdesenvolvimento com estrategias de exploração exacerbada, ao 7 Gomes, Rogério Manuel Loureiro; Ambiente Urbano; Pág. 468 GOMES, Rogério Manuel Loureiro; Ambiente Urbano; Pág. 62

mesmo tempo que gera uma depêndencia dessas sociedades subdesenvolvidas, das quais retira beneficios. Para continuar com os mesmos niveis de vida que aumentam cada vez mais a sua “pegada ecológica”, a sociedades desenvolvidas ou em desenvolvimento apoiam os seus hábitos no consumismo que alimenta a produção do sector corporativo, ansioso de concentrar a todos numa só cidade global para a todos controlar, incutindo os mesmos desejos e as mesmas necessidades. As empresas corporativas de grandes interesses económicos baseados na produção de productos de obsolescência permatura potenciam o consumo com desperdício de matéria para continuar a gerar mais matéria. O desenvolvimento económico de estas empresas está baseado numa produção com recursos humanos baratos e direcionado a sociadedes consumistas apoiadas no capital.

À parte das questões de ordem política que não são a minha área, poderemos enfocar estes problemas ao social, ao urbano, ao arquitectónico e, em geral, á morfologia e ao Projecto. É importante veriicar que, efectivamente, desta forma apoiados no mesmo paradigma de crescimento, o desenvolvimento sustentável é impossivel. Somente por culpa de um pensamento unilateral e déspota que pretende satisfazer uma minoria e tratar o mundo sem diferenças étnicas, raciais, sociais e culturais, se pode pensar que é impossível viver, habitar e projectar segundo outros padrões.

FIG. 5 Buenos Aires, 2009

DEGRADAÇÃO URBANA

Os problemas da cidade são muitas vezes ocultados pelos seus melhoramentos mais recentes e evidentes, na saúde dos habitantes, na construção de novas infra-estruturas, etc. Os efeitos negativos levam, por outro lado, mais tempo a tornarem-se visíveis, como são: o aumento da criminalidade, o aumento gradual do tráfego, ruído e poluição. Assim, raramente os efeitos produzem momentos de crise capazes de levar a intervenção do poder político, quase sempre o último a actur por ser, na maioria das vezes, conservador e burocrático. As necessidades básicas da população são primeiramente satisfeitas por intuição e imediatismo. A vivenda é um claro exemplo e, foi desde sempre uma prioridade para o ser humano.

“As causas da degradação urbana encontram-se muitas vezes na forma como organizamos o trabalho, a produção, a distribuição e o consumo, e em noções de planeamento rígidas e quantas vezes ultrapassadas.” 9. O Livro Verde sobre o Ambiente Urbano identifica seis causas de degradação urbana, que passam pelo funcionalismo, acusando que o planeamento urbano na década de 90 reflectia muitas vezes os

9 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano, comissão das comunidades europeias, pag. 40

princípios do funcionalismo exposto na “Carta de Atenas” e já presente no movimento denominado “Cidades-Jardim” (“a exactidão funcional destrói a flexibilidade da cidade e dos seus edifícios;…” 10); pela produção e organização do trabalho, como é o exemplo de algumas cidades que procuram atrair actividades que aumentem a qualidade de vida na cidade trazendo consigo o aumento das receitas turísticas, ou grandes empresas, actividades internacionais de serviços e investimentos industriais; pela distribuição e consumo, tendo consciência que a época do consumo de massas teve um profundo impacte na organização espacial das cidades; pelos hotéis, restaurantes e habitações privadas (os centros são habitados por estes serviços que pretendendo servir os habitantes, estão, cada vez mais simples extensões da cultura do escritório deixando de fora os habitantes locais e atraindo trânsito para o centro); pelo turismo, que apesar de salutar para os países acolhedores, pode-se tornar nocivo para o dinamismo dos centros históricos, “na medida em que a concentração demasiado forte de visitantes pode ter por consequência a deterioração do próprio território” 11; e pela comunicação e mobilidade, tendo como factor de maior importância a mobilidade pessoal. Tudo isto leva-nos a três orientações convergentes: “evitar a compartimentação rígida a favor das utilizações mistas do espaço urbano, favorecendo em particular o alojamento em áreas do centro da cidade; defender a herança arquitectónica contra a banalidade uniforme do estilo internacional, respeitando o antigo em lugar de o imitar; evitar a fuga aos problemas da cidade mediante o alargamento da periferia: resolver os seus problemas dentro dos limites actuais.” 12

Estas medidas têm como base um decrescimento ou estagnação sustentável que se opõe á economia liberal vigente na actualidade.

FIG. 6 Buenos Aires, 2010

10 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano, comissão das comunidades europeias, pag. 4211 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano, comissão das comunidades europeias, pag. 4412 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano, comissão das comunidades europeias, pag. 45

CIDADANIA E URBANIZAÇÃO

Com o objectivo de preparar uma base de discussão para um programa relacionado com os aspectos ambientais em aglomerados humanos, integrado na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (organizada em Estocolmo em 1972), teve lugar em New York, em 1970, um Simpósio sobre o Impacte da Urbanização no Ambiente Humano. Este foi sem dúvida o primeiro grande fórum de discussão sobre questões de ambiente urbano. O desenvolvimento e as alterações tecnológicas e a urbanização foram já nessa altura apontados como estando na origem de problemas condicionantes dos factores ambientais das áreas urbanas. Desde então diversos autores têm explorado estas questões e muitas são as abordagens sugeridas em relação à formulação dos factores.

Delineado no livro Ambiente Urbano, a cidade europeia assentou a sua criação num trinómio de expectativas: a liberdade, o lucro e a cultura. “É no equilíbrio dos três elementos referidos que assenta a urbanidade, assim como a oportunidade para o rasgo criativo e para a assunção do risco de evoluir que são o aproveitamento exigível das potencialidades consubstanciadas na concentração de tantas vontades e saberes, em permanente tensão e conflito.” 13 As últimas décadas de 90 vieram demonstrar que um quarto elemento aparece como decisivo na evolução da cidade, o Ambiente. É como tal, um equilíbrio permanente entre estes três elementos e o “novo”, que pode ou não fazer com que a cidade evolua ou retroceda sem contrapartidas nocivas ao seu desenvolvimento.

Nos últimos anos a consciência internacional vem dedicando também maior atenção aos temas da Cidade, em especial a partir da publicação pela Comissão das Comunidades Europeias, do “Livro Verde sobre o Ambiente Urbano”, que procura identificar os problemas com que se defrontam as aglomerações urbanas na Europa.

“Hoje, o desenvolvimento da consciência dos vários agentes da transformação das cidades e dos cidadãos sobre a qualidade de vida urbana em todo o território torna indispensável a formulação, pelos Governos e pelas Autarquias, de verdadeiras políticas de cidade, estratégias para a melhoria sustentável do ambiente urbano, atendendo às especificidades nacionais e regionais e à manifestação das expectativas da sociedade”. 14

AMBIENTE CONSTRUIDO

As megacidades surgiram como conceito nos anos 60, alcunhadas pelas Nações Unidas, para descrever as cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Em 1975 haviam somente 5 megacidades em todo o mundo. Actualmente existem 19, das quais 15 estão em paise em desenvolvimento. É inevitável que estas cidade sejam objecto de estudo porque nunca a humanidade esteve frente a tal imaginario ou cenario urbano e as condições degradantes a nivel de meio ambiente e sistemas de vida que advêem com destes crescimentos são notórias.

Nestas cidades, estima-se que 25% a 20% da população vive em construções precárias ou assentamentos ilegais, ou inclusive vive na ra por diversos factores de ordem social provocados pelo ambiente urbano. Dos 11 milhoes de habitantes o Rio de Janeiro, por exemplo, 4 milhões vive em assentamentos ilegais, associados a bairros pobres e com deficientes e precárias contruções. Independente dos dados, as cidades continuam atraindo mais e mais gente.

O grande problema da enorme concentração de pessoas numa cidade é o impacto despropocionado no território que deriva na destruição do meio ambiente. Em Londres, por exemplo, é necessário aproximadamente 70 vezes a superfície que ocupa a cidade para abastecer de alimentos e productos florestais os 9 milhoes de habitantes. O 13 Gomes, Rogério Manuel Loureiro; Ambiente Urbano; Pág. 7514 O livro Branco da Arquitectura e do Ambiente Urbano em Portugal, Associação dos Arquitectos Portugueses. Pág. 22.

aumento do comercio e da indústria deriva também do facto dos residentes da cidade serem excesivos consumidores “comprando” necessidades de zonas afastadas da cidade onde vivem. As cidades europeis consumem enormes productos de outras zonas do mundo que implicam gastos económicos e ambientais astronómicos para o seu tranporte. Á medida que importam bens de cosnumo exportam para os paises subdesenvolvidos os seus desperdícios e contaminantes, afectando o meio ambiente e condições de saude humana de lugares afastados.

Uma das aproximações ao estudo da produção do espaço urbano faz-se através do que se designou como ambiente construído, isto é, o conjunto dos seus edifícios (com diferentes funções) e espaços públicos. Tomemos o conceito de “ambiente construído” como sinónimo de ambiente físico. Apesar da importância deste ambiente físico, ele tem sido constantemente relegado para segundo plano no processo da investigação urbana. Assim, a teoria produzida até agora não consegue explicar as funções, propósitos e significados que o ambiente construído consubstancia e quais as suas implicações para a manutenção da economia, sociedade, política e cultura, em geral.

“Este «vazio» no que respeita à existência de uma teoria geral (de produção) do ambiente construído, tem vindo a ser colmatado através de dois tipos de aproximações.” 15 As primeiras inserem-se nos modelos de desenvolvimento urbano, que se desenvolvem de seguida, e procuram compreender a produção social do ambiente construído através da análise dos processos de produção – de forma global ou sectorial. Das segundas destaca-se o interesse da proposta de King que não se centra no estudo de um processo de produção, sectorial ou não, mas sim num tipo muito específico de edifício, (neste caso o bungalow), para, sobre ele, realizar um amplo estudo eclético e interdisciplinar. A originalidade do seu trabalho reside na tentativa de construção de uma metodologia capaz de explicar globalmente, a produção social de tipos de edifícios, através de estudos transnacionais, cuja escala de análise é o sistema internacional de produção.

Os modelos de provisão (provision models) são modelos que analisam o processo de produção não de uma forma geral, mas de uma forma sectorial, assumindo que cada sector do ambiente construído (habitação, escritórios, industria) tem uma estrutura própria, marcada por características de estabilidade e permanência. Só após a análise das diferentes estruturas de provisão é possível partir para a construção de um modelo global de desenvolvimento urbano. Modelos que permitem ter em conta essa interactividade e relacionamento inter-modalidades do desenvolvimento urbano, do ponto de vista sequencial, são os modelos de Barrett (que procura descrever, de forma geral o processo de desenvolvimento urbano )e de Gore e Nicholson, que se apresentam como modelos ciclícos.

O ambiente construido deve ser feito de preferência com materiais naturais e locais ou proximos da região, deve previligiar a auto-construção e com tecnicas de sistemas passivos, incorpoarando a tecnologia e sistemas activos como aditivos do desenho arquitectónico.

FIG. 7 Buenos Aires, 2010

15 King, 1984: p.429

PERMACULTURA

A Permacultura segundo Bill Mollison é um sistema de desenho para a criação de meios ambientais humanos sustentáveis. A palavra em si é aplicada á agricultura e também á cultura que se faça de forma permanente. Para um uso da Terra baseado numa cultura permanente, ou seja, que se auto-sustente e permaneça viva de gerações em gerações, é importante incorporar todos os dados com que uma cultura ou comunidade trabalha. Sendo assim o termo Permacultura abarca plantas, animais, construções e infraestructuras que mantenham o meio ambiente saudável e fértil. Para que cada um dos elementos possa ser útil e não danoso para os demais,a permacultura trata de projectar ambientes em base de estudos sobre as relações que se podem criar entre as diversas áreas e disciplinas de intervenção humana e como são aplicadas ao meio envolvente.

O desenho urbano deve partir da análise de recursos, trabalhando com as limitações do lugar, a nivel de forma do terreno e características ambientais, tais como o microclima, os solos e o nivel freático. Esta análise vai determinar o lugar de implantação de casas e a relação entre si a nivel de alturas e ângulos; vai determinar o desenho das vias de acesso e as medidas tecnicas e tecnológicas paa evitar que as anifestações da Natureza se tornem catástrofes naturais. A análise do lugar vai revelar a sua importancia no que respeita á utilização dos seus recursos. Utilizar a Terra como fonte do projecto é diminuir a “pegada ecológica” que podemos gerar. É importante reconhecer as limitações do terreno e com ele trabalhar para que essas aparentes limitações possam transformar-se em potencialidades. Os elementos naturais, tais como o vento, o sol, a agua e a terra, são determinates para um projecto urbano e arquitectónico dado que funcionam como condicionantes no momento de desenhar. A utilização destes elemetos como recurso vai originar que o elemento constructivo se torne mais integrado no meio ambiente, dialogando com ele por leves susurros e não gritando impondo a sua presença. Uma boa arquietctura e um bom urbanismo depende da sua capacidade de impactar o menos possivel no territorio, conseguindo, em alguns casos uma mimesis com o meio envolvente.

Os grandes trabalhos de modificação da topografia são geralmente desnecessários e têm nefastas consequencias para a saude do territorio e das construções nele implantadas. A topografia tem um efeito importante no microclima, nos padrões de drenajem de água, na profundidade no solo e sua qualidade.

Não quero entrar em estratégias de desenho para um urbanismo e arquitectura bioclimáticos, dado que o tema é mais específico, contudo, é importante compreender que para que o ambiente urbano seja saudável e as cidades se tornem sustentáveis, as medidadas futuras no planeamento de cidades devem incorporar um pensamento de desenho bioclimático para que uma cidade seja o conjunto de infraestruturas, construções, meios e recursos de uma cultura permanente.

Todas as medidas que sejam suporte de um desenho em consciencia com o lugar e o clima são potenciadoras de uma cultura permanente.

FIG. 8 Estação de Comboio “La Lucilla”, Buenos Aires 2010

CONCLUSÃO _ UMA NO-UTOPIA

Decidi dar un título a esta conclusão, na medida em que este texto antecipa uma ponência com o título “Uma No-Utopia”.

A Tecnologia gerou um aumento exponencial e fulminante da riqueza nos últimos dois séculos. Segundo o Banco Mundial, desde 1900 a riqueza media mundial aumentou 36 vezes mais, enquanto que a população mundial somente se quintuplicou. Um dado estranho de perceber se consideramos que a pobreza a nivel de poulação mundial aumentou nos últimos anos com dois terços da população a viverem com a média de 1 dolar por dia.

Os edifícios emblemáticos que constroiem “a imagem emblemática da cidade corporativa”16 baseiam-se em ações ou interesses individuais, mas devem mostrar-se como colectivos criando um consenso e servindo de referência. Para satisfazer estes objectivos é creado um cenário que utiliza um imaginário colectivo manipulado.” Retrato de isto mesmo é a cena do filme “Pan y Rosas”, quando os trabalhadores que limpam o edificio de empresas durante a noite não podem entrar durante o dia.

A cidade tornou-se obsolenta e todos os esforços cívicos, governamentais, tecnicos e formais da cidade para inverter o rumo inevitável da auto destruição parecem infurtuitos e em vão face aos interesses económicos e á constante migração de pessoas para os núcleos urbanos. Resta a esperança de poder estancar ou desacelarar o processo que leva aos caos e ao desmantelamento catastrófico da civilização e da urbe.

Os esforços não passam mais pela promoção da cidade e por politicas de restruturação da morfologia urbana, de urbanização dos asentamentos ilegais, etc. Todo são actividades líricas de promoção do declínio. A cidade tal como se vive hoje já não tem salvação e modificar-la implicaria esforços económicos e humanos que os governos jamais autorizarão.

Outro caminho, que pode inclusive não ser melhor mas que por agora é uma alternativa ao sistema descrito neste documento, é a promoção de pequenos centros urbanos ou a reabilitação de povos actualmente em declinio e cada vez mais desabitados que promovam relações comerciais entre eles num perimetro controlado para o sustento de infraestructuras, recursos e energias; ao mesmo tempo que se promove o decrescimento das megapolis e medidas para estancar as actuais cidades de aproximadamente 1 milhão de habitantes na base de uma prospectiva da cidade. Ao inverso de gerar mais e mais materia e energia, é importante recuperar e rehabilitar recursos já existentes, gerando novas formas de vida dependentes de outras necessidades que não sejam somente o consumo exacerbado em grandes superfícies comerciais.

Obviamente que o exemplo serve para deichar claro que fontes de vida e desenvolvimento em aglomerados de escalas menores sustentados pelo trabalho comunitario e colectivo, não passam pela continuidade dos mesmos códigos e paradigmas de vida dos paises desenvolvidos ou em desenvolvimento. Não basta continuar com políticas progressistas, são imporantes as políticas de revolução de fundo.

Para tal, as politicas não podem pasar pela promoção de autoestradas ou comboios de alta velocidade que aniquilam populações e paisagens, concentrando as infraestruturas em grandes centros, mas sim promover a recuperação de velhas estações de comboio e redes viárias integradas com acessos vários ás autoestradas. É importante a hierarquização de recursos e infraestructuras para a livre e adequada eleição dos usuários na promoção de pequenos asentamentos colectivos.

Pequenos e medios núcleos urbanos podem funcionar com um comercio localizado e com uma industria não poluente aplicada e integrada localmente, reduzindo o custo económico e energético dos transportes. As cidades tornam-se sustentaveis quando se sustentam a si mesmas ou com uma politica de intercambio e desenvolvimento compartida com outros núcleos urbanos próximos.

16 MUXI, Zaida; “La Arquitectura de la Ciudad Global”

REFERENTES:

ALEXANDER, Cristopher; La Estructura del Medio Ambiente; Tusquets, Barcelona 1971

BAPTISTA, Luís António Vicente; Cidade em Reinvenção: crescimento urbano e emergência das políticas Sociais da Habitação, Lisboa, século vinte; Lisboa, 1996

DUANY, Andrés; How do we save the Crescent City?, Metropolis, February 14, www.metropolismag.com

EDWUARDS, Brian; Guia Básica de la Sostenibilidad; Gustavo Gili; Barcelona 2008

GOMES, Rogério Manuel Loureiro; Ambiente Urbano; Urbe, 2000

LYNCH, Kevin; A Imagem da Cidade; edições 70; Lisboa, 1960

MUXÍ, Zaida; “La Arquitectura de la Ciudad Global”; Nobuko; Buenos Aires 2009

NERUDA, Pablo, Fin de Mundo, ed. Losada, 1967 Buenos Aires.

PENGUE, Walter; Economia Ecológicahttp://videos.publispain.com/video/220931/Econom--a-Ecol--gica-por-Walter-Pengue--TN-Ecolog--a-.html

ROGERS, Richard; Ciudades para un pequeño planeta; Gustavo Gili; Barcelona 2000

SALINGAROS, Nikos; Principles of Urban Structure; Techne Press, Amsterdam 2005www. Arqchile.cl/ciudad_compacta.htm

O livro Branco da Arquitectura e do Ambiente Urbano em Portugal, Associação dos Arquitectos Portugueses; Lisboa, 1996 Livro Verde sobre o Ambiente Urbano, Comissão das Comunidades Europeias; Luxemburgo, 1990

Marco Aresta arq. Mayo, 2010