cidadania e liberdade de educação na ala - academia de letras e artes
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Apresentação da Conferência "Cidadania e Liberdade de Educação" proferida por Fernando Adão da Fonseca na ALA - Academia de Letras e Artes em Junho de 2012.TRANSCRIPT
Cidadania e Liberdade de Educação
Fernando Adão da Fonseca
5 de Junho de 2012
ALA – Academia de Letras e Artes
2Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Prefácio
A revolução do 25 de Abril trouxe-nos liberdade em alguns campos, mas não na educação.
Colocando o foco na qualidade das instalações e esquecendo onde está verdadeiramente a qualidade do ensino, Portugal perde-se na falaciosa premissa de que o dinheiro que se gasta nas escolas as dota da qualidade que os cidadãos desejam e necessitam. Mas não é assim!
3Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Prefácio
A qualidade da educação nas escolas exige que todos os intervenientes no processo educativo sejam totalmente responsabilizados por ela.
Ora, ninguém pode ser responsabilizado pelo que faz se não tiver liberdade nas suas escolhas.
4Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Não se indemniza uma criança que não teve uma educação
adequada, pois perdeu-a para sempre.
Essa é a tragédia da educação sem qualidade.
A dimensão trágica
Quem é responsável
por esta tragédia?
5Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
I. Uma condição de CIDADANIA?
II. Uma condição de PORTUGAL?
Cidadania e Liberdade de Educação
"A forma como uma sociedade
trata as suas crianças é a
revelação mais intensa da sua
alma”
Nelson Mandela
6Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
I - Uma condição de CIDADANIALiberdade de aprender e de ensinar?
Educar é capacitar para o caminho de realização pessoal de cada um.
A busca do caminho de realização pessoal de cada um só tem sentido se for feita em liberdade, entendida esta como capacidade de optar perante a experiência da realidade que nunca cessamos de descobrir ao longo da vida.
Por isso, educar com qualidade é educar para a liberdade.
Mas educar para a liberdade exige educar em liberdade (de aprender e de ensinar).
7Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
I - Uma condição de CIDADANIAEducar em liberdade
Educar em liberdade (de aprender e de ensinar) para que possa ser facultado a cada criança e jovem *
a) uma proposta de sentido, b) uma vivência coerentec) e capacidade crítica.
Só assim será possível capacitar cada criança e jovem para a busca do seu caminho de realização pessoal.* Luigi Giussani, Educar é Um Risco, Diel, 1998 (tradução portuguesa de Il Rischio Educativo, 1995)
8Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
I - Uma condição de CIDADANIAa) Uma proposta de sentido
Uma educação só existe no quadro de uma cultura (de uma tradição), ou seja de uma proposta de sentido (que funciona como norte magnético).
Uma proposta de sentido tem a ver com valores. Mas os valores não existem desligados e isolados.
Existem muitas “propostas de sentido”, mas todas elas se caracterizam por ser feixes coerentes e equilibrados de valores.
Cada povo foi, ao longo de séculos, afinando e apurando a sua atitude orgânica face aos valores.
Os maiores monstros da história são pessoas bem-intencionadas, mas dirigidas por uma única finalidade.
9Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Um homem realiza-se no encontro com os outros. Cada um é educado na sua vida pessoal e no confronto com as vidas reais dos outros.
A educação faz-se dentro de uma experiência de vida (de uma vivência). Ela não é fundamentalmente teórica, mas prática.
A velha máxima «Diz-me e esquecerei. Mostra-me e lembrar-me-ei. Envolve-me e compreenderei» mostra bem como a educação implica uma envolvência numa proposta coerente de vida: os pais, os professores e ao amigos devem ser modelos coerentes dessa proposta.
I - Uma condição de CIDADANIAb) Uma vivência coerente
10Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
I - Uma condição de CIDADANIAc) Capacidade crítica (do grego "capaz de discernir“)
O resultado de uma educação, realizada a partir de uma proposta de sentido e expressando-se dentro de uma vivência coerente com essa proposta, tem de ser o de formar a capacidade pessoal de usar critérios de escolha, selecção e avaliação das realidade e das acções (usar a liberdade!).
A proposta de vida é feita a um ser racional, que tem de ser capaz de a julgar para realmente aderir a ela voluntariamente.
A simples absorção de regras, orientações e valores não constitui ainda educação, por muito detalhada e profunda que seja. Só quando questionamos essas ideias e as aceitamos ou recusamos é que se dá a verdadeira absorção educativa.
A crítica é, pois, um elemento indispensável para a educação. E só pode haver verdadeira crítica quando há liberdade.
11Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
I. Uma condição de CIDADANIA?
II. Uma condição de PORTUGAL?
Cidadania e Liberdade de Educação
12Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?O sistema de ensino estatal tendencialmente monopolista teve o mérito de assegurar:
O ensino (obrigatório) gratuito a todos os cidadãos;
A generalização da escolaridade obrigatória;
A definição dos currículos em função das necessidades do mercado de trabalho das sociedades industriais dos séculos 19 e 20.
13Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
… mas teve o demérito de:1. Misturar o papel de “garante” do acesso a um direito
com o papel de “fornecedor” desse acesso;
2. Misturar o papel de “juiz” da qualidade de ensino com a de “réu” dessa qualidade;
3. Desviar à atenção do Estado sobre as reais necessidades educativas das crianças e dos jovens para as necessidades das escolas (dos seus “factores de produção”);
4. Os Ministérios de Educação passarem a ser Ministérios das Escolas;
5. Centralizar e burocratizar a gestão das escolas, dos currículos e dos docentes, transformando as escolas em repartições públicas;
Continua
14Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
… mas teve o demérito de: (Continuação…)
6. Impedir a inovação. É que, sem liberdade de escolha, não há competição; sem competição, não há inovação; e, sem inovação, não há progresso.
7. Permitir que as escolas se tornem reféns de grupos que procuram veicular a sua ideologia e defendem, em primeira instância, os seus interesses particulares;
8. Incentivar o “controlo” político e burocrático do ensino
9. Facilitar as concepções totalitárias da educação, do tipo «A República educa os cidadãos»
Continua
15Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
10. “Privilegiar” as escolas estatais, designadamente através do apoio financeiro prioritário ou mesmo exclusivo aos alunos das “suas” escolas;
11.Desresponsabilizar progressivamente os pais da educação dos seus filhos.
II - Uma condição de PORTUGAL?
… mas teve o demérito de: (Continuação…)
Quem é responsável
por esta tragédia?
16Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
A caminho do futuro... A última década do século XX foi marcado por
importantes reformas em diversos países
O traço comum destas reformas é:• Fim do monopólio estatal na educação;
• Autonomia das escolas (não delegação de poderes!);
• Correspondente responsabilização (as consequências das decisões são suportadas pelas escolas!);
• Liberdade de escolha da escola pelos pais e pelos alunos;
• Financiamento às famílias e não às escolas.
17Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Abordagem do FLE:
Evitar o confronto ideológico reduzido à dicotomia entre ensino estatal (público) versus privado.
Não contestar qualquer tipo escola. Contestar, isso sim, a descriminação que o Estado faz entre escolas.
A questão é de liberdade, de igualdade e de qualidade do ensino para todos.
II - Uma condição de PORTUGAL?
A caminho do futuro...
18Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Propor um SERVIÇO PÚBLICO DE EDUCAÇÃO que garanta:
Os direitos fundamentais (para todos)
liberdade de aprender
liberdade de ensinar
A qualidade de educação
A sustentabilidade financeira dos encargos = compatibilidade com as restrições orçamentais do Estado.
II - Uma condição de PORTUGAL?
A caminho do futuro...
19Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
A caminho do futuro...
Escolaridade obrigatória
Rede Escolar
“Repartições públicas”
“Repartições quasi-públicas”
Escolas Estatais As escolas estatais em geral
Exemplos: O Instituto de Odivelas e o Colégio
Militar
Escolas Privadas
As actuais escolas privadas com contratos de
associação *As actuais escolas privadas em geral
Ponto de partida:
* Os contratos de associação têm uma natureza precária, não dando garantias de continuidade aos pais e, por isso, também aos seus professores e restante trabalhadores e aos promotores das escolas.
20Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
A caminho do futuro...
Escolaridade obrigatória
Rede Escolar
Serviço Público de Educação
Serviço Independente de
Educação
Escolas Estatais e Privadas
As escolas que aceitam os
requisitos do “Serviço Público de
Educação”
As escolas que não aceitam os
requisitos do “Serviço Público de
Educação”
Ponto de chegada:
21Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
A caminho do futuro...Eduardo Marçal Grilo e Guilherme Oliveira Martins, “Escola pública e serviço público de educação”, Semanário EXPRESSO (8 Março 2008):
“Não deve, porém, confundir-se escola pública e serviço público de educação, pois que este tanto pode ser prestado por instituições públicas como por instituições privadas, sejam estas jardins de infância, escolas básicas ou secundárias, universidades ou politécnicos.
Deste modo, o serviço público tem que ver com a prestação de educação e aprendizagem segundo uma lógica de interesse geral, mobilizando a iniciativa e a criatividade social.”
22Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação Garante a liberdade de aprender:
• Ensino gratuito (propinas pagas pelo Estado) e universal;
• Escolha da escola por parte do aluno ou da família;
• Garantia de vaga numa escola prestadora do SERVIÇO PÚBLICO DE EDUCAÇÃO;
• A escola não pode escolher os alunos; quando a procura é superior à oferta, terá de haver sorteio entre os candidatos; *
• Criação da figura do conselheiro local para a educação.* Estudos demonstram que só há segregação se a escolas puderem seleccionar os seus
alunos. Em qualquer caso, maior é a actual segregação introduzida pelo zonamento.
23Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Garante a liberdade de ensinar:• Qualquer iniciativa de escola pode aderir, devendo respeitar determinados requisitos: Projecto educativo integra o currículo
nuclear; Respeito pelos valores civilizacionais; Participa, solidariamente com as outras
escolas, na garantia do direito de educação a todos;
Não selecciona os alunos; Não cobra propinas para além do que lhe é
pago pelo Estado.
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação
24Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Garante a liberdade de ensinar:• O financiamento é feito às famílias e não
às escolas;• É concedido financiamento adicional para
necessidades específicas (necessidades especiais, background cultural dos alunos, localização geográfica, especificidade do projecto educativo)
• As escolas podem receber outras fontes de financiamento (mas excluindo propinas)
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação
25Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Garante a qualidade da educação:• Porque as escolas gozam de ampla
autonomia:Na escolha do projecto educativo, sendo
responsabilizada pelos respectivos resultados;
Na definição do calendário escolar e do horário;
Na adaptação dos currículos e da pedagogia às necessidades concretas de cada aluno;
Na selecção e contratação dos professores;
Na gestão administrativa e financeira.
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação
26Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Garante a qualidade da educação:• Através da regulação da concorrência
saudável entre as escolasAvaliação (do “valor acrescentado” em cada
aluno):
• Exames nacionais e avaliação externa;
• Apoio à realização e publicação de estudos comparados;
Apoio pedagógico e à gestão
Inspecção:
• Pedagógica;
• Administrativa e financeira.
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação
27Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Garante a sustentabilidade financeira dos encargos
• Medidas permanentes: as alterações terão de ser compatíveis com as
restrições orçamentais do Estado; o “contrato de associação” é substituído por
“contrato de serviço público de educação”; as escolas do Estado adquirem total autonomia e
também assinam os mesmos “contratos de serviço público de educação”;
• Medidas temporárias: A escolha dos professores pelas escolas tem de dar
prioridade aos actuais docentes; O alargamento a novas escolas deverá ser gradual.
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação
28Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Garante a sustentabilidade financeira dos encargos
Estrutura do Ministério da Educação: a maior parte dos actuais serviços do Ministério da Educação transformam-se em entidades autónomas de assessoria e apoio às escolas, evoluindo de acordo com as receitas que por essa via conseguirem obter.
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Público de Educação
29Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
As escolas da rede educativa que não desejarem aderir aos requisitos do SERVIÇO PÚBLICO DE EDUCAÇÃO poderão funcionar como ESCOLAS INDEPENDENTES, sendo que
• podem seleccionar os alunos;• não estão obrigadas a garantir, solidariamente, o
acesso aos alunos da vizinhança;• são livres de cobrar as propinas que desejarem;• o montante de financiamento do Estado às
famílias é inferior ao que é concedido aos alunos das escolas que prestam o serviço público.
II - Uma condição de PORTUGAL?
Serviço Independente de Educação
30Cidadania e Liberdade de Educação ALA – Academia de Letras e Artes , 5 de Junho de 2012
Cidadania e Liberdade de Educação Fernando Adão da Fonseca
5 de Junho de 2012
ALA – Academia de Letras e Artes