ciclo inicial

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    1

    Belo Horizonte2004

    Caderno

    CICLO INICIALDE ALFABETIZAO

    Orientaes para a organizao doCiclo Inicial de Alfabetizao

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    A coleofaz parte da estratgia de preparao

    dos professores para atuarem no ensino fundamental que, apartir de 2004, passou a ter a durao de nove anos.

    A implantao do ensino fundamental de 9 anos,organizado em ciclos nos anos iniciais com nfase naalfabetizao e no letramento, na rede estadual e na maioria dosmunicpios do Estado de Minas, constitui-se em poderosaferramenta para elevao da qualidade da educao pblica, poissignifica a universalizao da pr-escola no mbito do ensinofundamental. Com mais tempo para ensinar e mais tempo paraaprender, a escola ter condies de planejar seu trabalho epropiciar experincias pedaggicas e culturais a todas ascrianas de modo a garantir a aprendizagem significativa.

    Agradeo equipe do Ceale (Centro de Alfabetizao,Leitura e Escrita) da Faculdade de Educao da UFMG queelaborou esta coleo. Sou grata tambm s professorasalfabetizadoras* da Rede Pblica Escolar que participaram degrupos de discusso, partilhando suas experincias profissionaiscom a equipe do Ceale.

    Orientaes para a Organizao do CicloInicial de Alfabetizao

    * Ana Clia Costa Conrado, Ana Maria Prado Barbosa,Bernadete do Carmo Gomes Ferreira, Dirlene Aparecida Chagas Guimares,Maria Lcia Nogueira Ribeiro, Maria Terezinha Pessoa Vieira de Aquino,

    Maura Lcia de Almeida, Nancy Fernandes Rodrigues de Souza,Rita de Cssia Pinheiro Quaresma, Rosa Maria Lacerda,Rosngela Presoti Versieux, Rosngela Rodrigues de Arajo Prado,Soraya do Valle.

    Vanessa Guimares PintoSecretria de Educao

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    Este caderno integra a Coleo ,

    elaborada para auxiliar as escolas das redes pblicas do Estado de Minas Gerais na

    organizao do CicloInicial de Alfabetizao.

    A Coleo composta dosseguintes cadernos:

    Caderno 2: Alfabetizando

    Caderno3:Preparandoaescolaeasaladeaula

    Caderno 4: Acompanhandoe avaliando

    Para que a Coleo possa, de fato, auxiliar na organizao do Ciclo Inicial de

    Alfabetizao, a sua colaborao muito importante. Escreva, dando suas sugestes e

    fazendo suascrticas.

    Orientaes para o Ciclo Inicial de Alfabetizao

    Caderno1: Ciclo Inicialde Alfabetizao!

    !

    !

    !

    Entre em contato conosco:

    SEE/SD/SED/DEIFAv. Amazonas, 5855 - GameleiraBelo Horizonte/MGCEP: 30.510-000Fax: 31 [email protected]

    Universidade Federal de Minas GeraisFaculdade de Educao/CEALEProjeto Ciclo Inicial de Alfabetizao

    Av. Antnio Carlos, 6627 Campus PampulhaBelo Horizonte / MGCEP: 31.270-901Fax: 31 3499 53 [email protected]

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    APRESENTAO

    A rede de ensino do Estado de Minas Gerais implantou o Ensino Fundamental de nove

    anos. Dividiu esse ensino em dois grandes ciclos de aprendizado. H o Ciclo Inicial de

    Alfabetizao, com durao de trs anos e voltado para o atendimento s crianas de seis, sete

    e oito anos. E h o Ciclo Complementar de Alfabetizao, que atende s crianas de nove e dez

    anosetemaduraodedoisanos.

    Muitos educadores professores, supervisores e diretores devem estar se

    perguntando:

    Como trabalharcomesse novo sistema?

    Que atividades propor para os diferentes Ciclos?

    Que habilidades ou capacidades deve-se buscar desenvolver em cada um dessesmomentosda Educao Fundamental?

    Como trabalhar com as crianas de seis anos que passaro a ingressar no primeiro ano do

    CicloInicial de Alfabetizao?

    Alm disso, muitos professores, supervisores e diretores devem tambm estar se

    perguntando:

    Porquemodificar(mais uma vez) a organizao do EnsinoFundamental?

    Explicar as razes que orientaram essa nova forma de organizao do EnsinoFundamental o objetivo deste Caderno. Discutir, com os educadores, como organizar

    pedagogicamente o Ciclo Inicial de Alfabetizao, para fazer com que toda criana tenha

    !

    !

    !

    !

    !

    Posteriormente, uma outra

    coleo abordar o Ciclo

    Complementar de

    Alfabetizao.

    assegurado o seu direito de aprender a lngua escrita, o objetivo

    dos demais cadernos.

    Cada um desses cadernos integra a coleo denominada

    . Seu tema central Orientaes para o Ciclo Inicial de Alfabetizao

    a organizao do trabalho, na escola e na salade aula, para a alfabetizao das crianas.Por essa razo, concentra sua ateno no primeiro ciclo da Educao fundamental. Seu

    objetivo central discutir, com os educadores, instrumentos pedaggicos a serem

    compartilhados entre as escolas para a elaborao, a execuo e a avaliao de seus projetos

    para o ensino inicial da lngua escrita, da alfabetizao.

    A foi apresentada e discutida, em sua verso preliminar, em um evento

    exclusivamente destinado a essa finalidade, denominado

    , organizado pela Secretaria de Estado da Educao, em

    parceria com o Centro de Alfabetizao, Leitura e Escrita da Faculdade de Educao/UFMG(CEALE). O Congresso foi realizado no perodo de 2 a 5 de dezembro de 2003, em Belo

    inicial

    Coleo

    Ensino Fundamental de Nove anos:

    Congresso Estadual de Alfabetizao

    7..........

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

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    Horizonte, com a participao de 1800 educadores mineiros. A dinmica do evento possibilitou

    o envolvimento dos participantes com conferncias, palestras, discusses em grupo e em

    plenria, resultando em inmeras contribuies para a ampliao desta proposta, a ser

    compartilhada com todos os educadores envolvidos com o Ciclo Inicial de Alfabetizao do

    EstadodeMinasGerais.

    Essa Coleo constituda de quatro cadernos:

    Este Caderno apresenta e problematiza os fatores que justificam a reorganizao do

    Ensino Fundamental no Estado e a nfase que nesse processo se d alfabetizao. No

    Caderno, voc examinar e discutir respostas s questes sobre o porqu e o para que da

    proposta de ciclos de alfabetizao.

    Nos diferentes momentos do Ciclo Inicial de Alfabetizao, o que ensinar? Que

    habilidades ou capacidades devem ser desenvolvidas? Nesse Caderno, voc analisar e

    debater essas habilidadese capacidadese suadistribuioao longo dos trs anos do Ciclo.

    A organizao da escola para o difcil trabalho de alfabetizao o tema desse

    Caderno. Nele, so apresentados critrios e instrumentos relativos seleo de professores

    alfabetizadores, ao planejamento da sala de aula, de sua rotina e das atividades a serem

    realizadas e seleo dos mtodos e livrosde alfabetizao.

    Como diagnosticar o conhecimento dos alunos? Como avali-los? Como avaliar a

    escola? Que respostas dar aos problemas de ensino e de aprendizagem detectados pelo

    diagnstico e pela avaliao? O Caderno apresenta instrumentos para auxiliar a responder a

    essas perguntas.

    At aqui, foram apresentadas as finalidades desta Coleo e sua estrutura. Nas duas

    sees seguintes, voc poderconhecere analisarcomo a Coleo foi elaborada.

    Caderno 1: Ciclo Inicialde Alfabetizao

    Caderno2: Alfabetizando

    Caderno3:Preparandoaescolaeasaladeaula

    Caderno 4: Acompanhando e avaliando

    Como a Coleo foi elaborada?

    Atendendo a demanda da SEE-MG, esta Coleo foi

    elaborada por uma equipe de professores do Centro deAlfabetizao, Leitura e Escrita (CEALE). O Centro um rgo da

    A noo de letramento

    discutida mais frente.

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .........8

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    O debate terico-

    metodolgico da rea da

    alfabetizao ser

    apresentado nas sees

    seguintes.

    referncia, mas de tornar suas mais relevantes contribuies

    operacionais e passveis de ser implementadas pelos

    educadores.

    A Coleo deveria assumir uma atitude equilibrada em relao

    s que caracterizam opolarizaes tericas e metodolgicas

    !

    Faculdade de Educao da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que desenvolve

    projetos depesquisa e ao educacional nareada alfabetizao e do .

    Para elabor-la, a equipe baseou-se em trspressupostos principais:

    A Coleo deveria assumir um carter predominantemente , de modo a fornecer aos

    educadores instrumentos para auxili-los no planejamento, no acompanhamento e na

    avaliao da alfabetizao. O Brasil e o Estado de Minas Gerais j contam com ricos

    referenciais curriculares. No seria o caso de propor mais um documento geral de

    letramento

    prtico!

    estado atual das discusses sobre alfabetizao. Isso significa evitar a defesa de apenas

    uma proposta terico-metodolgica, como, por exemplo, uma das que se fundamentam em

    mtodos de base fnica ou uma das que se orientam por pressupostos construtivistas. Mais

    relevante seria a reavaliao ou o redimensionamento das questes terico-

    metodolgicas, no atual contexto poltico-pedaggico e luz de nossas atuais

    necessidades, para que as principais contribuies dessas diferentes perspectivas da

    alfabetizao possam ser incorporadas.

    A Coleo deveria basear-se na experincia e no saber acumulados pelos professoresalfabetizadores, que enfrentam cotidianamente os desafios da alfabetizao e do

    respostaspositivasa esses desafios.

    Tendo em vista esses pressupostos, a equipe do CEALE utilizou trs grandes

    conjuntos de fontespara a elaborao da Coleo:

    A documentao oficial produzida nos ltimos anos, no Brasil, na qual se incluem, entre

    outros documentos, o (1998), que

    define vrios eixos de formao e capacidades a eles relacionadas, e os

    (1997), que sistematizam objetivos para o ensino da lngua,

    definindo categorias de contedos (conceituais, procedimentais e atitudinais) em funo de

    vrios eixos didticos.

    Estudos e pesquisas nacionais e internacionais sobre a alfabetizao, produzidos com

    base em diferentes perspectivas tericas.

    A experincia de um grupo de alfabetizadores da rede pblica do Estado, que discutiu sua

    prtica de ensino com a equipe do CEALE, evidenciando problemas e dificuldades, e

    apresentando as solues dadas a esses problemas. A experincia desse grupo foi

    ampliada coma participao no referido Congresso, a ela se agregando as contribuies de

    representantes dasescolas pblicas do Estadode Minas Gerais.

    Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil

    Parmetros

    Curriculares Nacionais

    !

    !

    !

    !

    9............

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

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    Alm desta Coleo, a

    SEE-MG est preparando

    outros subsdios para

    implementao dos ciclos

    de alfabetizao. Eles

    dizem respeito a dimenses

    como a formao do

    alfabetizador, seu estatuto

    profissional, suas condiesde trabalho e a avaliao

    desta proposta.

    Apresentamos, at aqui, as finalidades e a estrutura desta

    Coleo, o processo de sua elaborao e consolidao final.

    preciso, agora, examinar:

    Uma menina chamada Dbora nos ajudar a responder a

    essas questes.

    tem 12 anos. Ela est numa turma equivalente 4

    srie da educao fundamental. Foi reprovada duas vezes. Ela l e

    escreve com tanta dificuldade que no se considera alfabetizada.

    Numa entrevista coma supervisora de sua escola, ela disse:No sei

    escrever direito; quando fao alguma coisa, fao errado. Na mesma

    entrevista, quando indagada sobre as pessoas que, em sua casa,

    sabem ler e escrever, ela respondeu que todos sabiam, menos ela e

    suairm.Suairmtemdezanoseestnaterceirasrie.

    Dbora vive na regio metropolitana de Belo Horizonte, na

    periferia de uma das vrias cidades que compem a metrpole. Sua

    Dbora

    Dbora a

    !

    !

    !

    porque a reorganizao do Ensino Fundamental foi necessria?

    por que enfatizara alfabetizao?

    porque elaboraresta Coleo?

    famlia pobre e, s vezes, passa por perodos difceis. Mas seus pais so alfabetizados e, de

    acordo com ela, sua me anota as coisas para no ficar devendo e seu pai costuma escrever

    as contas. De outras pessoas que, na vizinhana usam a escrita, Dbora lembra-se de uma

    vizinha que escreve para saber o que faz no servio e as coisas que est precisando em casa.

    Dbora j sabe que a escrita representa sons da lngua, o que um passo muito

    importante em seu processo de alfabetizao. Ela escreve e l corretamente muitas palavras:

    algumas porque decorou sua forma; outras porque so mais simples. Por exemplo, num ditado,

    escreveu corretamente caneta e caderno, dentre outras palavras.

    Mas Dbora faz tambm erros estranhos de escrita, que no condizem com seusacertos: ela troca sempre, por exemplo, o P pelo T, duas letras muito diferentes graficamente e

    O caso de Dbora baseia-se

    em diferentes casos reais de

    crianas com dificuldades

    no aprendizado da leitura e

    da escrita. Mas a maior

    parte das informaes foi

    extrada de casos relatados

    e analisados pela professora

    Ana Maria Prado Barbosa.

    Ela atua como docente e

    como supervisora na rede

    de ensino do Estado.

    ! Aps o Congresso, a equipe do CEALE reformulou a Coleo, que a Secretaria de Estado

    de Educao agora apresenta a toda a rede de ensino.

    A do Ciclo Inicial de Alfabetizao ser acompanhada ao longo dos

    anos de 2004, 2005 e 2006. Por meio desse acompanhamento, novas reformulaes podero

    ser feitasna Coleo, para queelase torne umareferncia efetiva no trabalhodasescolas.

    implementao

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......10

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    que representam sons muito diferentes, escrevendo latis, em vez de lpis; latiseira, em vez

    de lapiseira. Dbora tambm escreve de maneira pouco previsvel outras palavras: zir, em

    vez de giz, sena, emvez de semana, trino, emvez de tio.

    Na leitura, a lentido, a hesitao e a necessidade de decompor cada slaba mostram

    como, para ela, difcil decodificar palavras. To difcil que, lendo textos, o sentido de palavras

    e passagens se perde. Dbora manifesta vrias dificuldades na leitura: no consegue ler

    globalmente as palavras; slabas pouco comuns (e, em geral, mais difceis para um aprendiz)

    terminam por exigir um grande dispndio de tempo e de energia, como em ele te, ti ,

    le e coe .

    Com certeza, Dbora j sabe muitas coisas importantes sobre a lngua escrita. Mas

    deveria saber muito mais aos doze anos, na 4 srie: em razo de suas dificuldades na

    codificao e na decodificao de palavras, apresenta srias limitaes para escrever e ler

    textos; apresenta srias limitaes para usar a escrita na escola para aprender novos

    contedos e para desenvolver novas habilidades.

    A supervisora da escola de Dbora estava fazendo uma complementao de seu curso de

    Pedagogia. E Dbora se correspondeu com um dos professores da supervisora. Na

    primeira carta,ela escreveu,coma ajuda da supervisora:

    fan gre

    o lho

    a

    Na primeira carta, o

    professor disse a Dbora

    para desculp-lo pela letra

    ruim. Foi por isso que ela

    respondeu que no era para

    se preocupar com a sua

    letra.

    Eugostei da cartaescrevadadi novo

    oi

    brigada t ela carta ce voc m ondou

    para min voc deve ser legau

    descute pela

    com a letre

    um abrao

    Dbora

    [pela] [que] [mandou]

    [...]

    [noprecisadesepreocupar]

    [desculpe]

    [letra]

    No pre siza desipre

    acuta

    Na mesma turma de Dbora, outras crianas apresentam dificuldades parecidas: h o

    William, h o Jhonatan. William l, mas escreve com muitas dificuldades. Jhonatan, como

    Dbora, l e escreve comdificuldade.

    Como eles, mais da metade das crianas de 4 srie manifesta tantas dificuldades que

    no pode ser considerada alfabetizada, ou alfabetizada funcionalmente. Descobrimos isso em

    2003.

    11..........

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

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    Educacionais Ansio Teixeira (INEP). A segunda a do Programa

    Internacional de Avaliao de Estudantes (PISA), desenvolvida pela

    Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    (OCDE) eenvolvendo .

    E os resultados no so nada bons. De acordo com os

    dados do PISA, a proficincia em leitura de estudantes brasileiros dequinze anos significativamente inferior de todos os outros pases

    participantesda avaliao.

    De acordo com os dados do SAEB, na avaliao realizada

    em 2001 (divulgada em 2003), apenas 4,48% dos alunos de 4 srie

    do Ensino Fundamental possuem um nvel de leitura adequado ou

    superior ao exigido para continuarseus estudos.

    Uma parte deles apresenta um desempenho situado no

    nvel intermedirio: 36,2%, segundo o SAEB, esto comeando a

    diferentes pases

    a

    32 pases participaram do

    PISA, dentre eles Coria do

    Sul, Espanha, EUA,

    Federao Russa, Frana,

    Mxico, Portugal e Brasil.

    desenvolver as habilidades de leitura, mas ainda aqum do nvel exigido para a 4 srie (p. 8). A

    grande maioria se concentra, desse modo, nos estgios mais elementares de

    desenvolvimento: 59% dos alunos da 4 srie apresentam acentuadas limitaes em seu

    aprendizado da leitura e da escrita. Dito de outra forma: cerca de 37% dos alunos esto no

    estgio de construo de suas competncias de leitura (o que significa que tm

    a

    a

    crtico

    Qualidade da Educao:

    uma nova leitura do

    desempenho dos estudantes

    da 4 srie do Ensino

    Fundamental. Braslia:

    MEC/INEP. Abril 2003.

    Analfabetismo na escola!?

    Em 2003, os jornais e as revistas noticiaram o fracasso da escola brasileira em fazer

    comqueseus alunosse alfabetizem,aprendendo a ler e a escrever.

    As notcias foram a propsito da divulgao dos resultados de duas avaliaes dashabilidades de leitura de crianas e jovens brasileiros. A primeira a do Sistema de Avaliao

    da Educao Bsica, o SAEB, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

    Trata-se do trabalho

    realizado por Alicia

    Bonamino, Carla Coscarelli

    e Creso Franco (Avaliao

    e letramento: concepes de

    aluno letrado subjacentes

    ao SAEB e ao PISA.

    ,

    Campinas, vol. 23, n. 81, p.

    91-113, dez. 2002). A

    comparao foi feita com

    os dados do SAEB 1999.

    As citaes foram extradasda pgina 103.

    Educao e Sociedade

    dificuldades graves para ler) e 22% esto abaixo desse nvel, no

    estgio (o que significa quenosabemler).

    Segundo o SAEB, as crianas no estgio crtico se

    caracterizam pelo fato de no serem leitores competentes, por

    lerem de forma truncada, apenas frases simples (p. 8). As crianas

    no estgio muito crtico, por sua vez, so aquelas que no

    desenvolveram habilidades de leitura. No foram alfabetizadas

    adequadamente. No conseguem responder aos itens da

    prova(p.8).

    Uma comparao, feita por , entre os

    resultados no SAEB de alunos do Ensino Fundamental (4 e 8

    sries) e do Ensino Mdio (3 ano), tambm desalentadora: o

    aumento da proficincia em leitura de uma para outra srie

    muito crtico

    pesquisadoresa a

    o

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......12

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    bastante modesto, o que significa uma aquisio ainda muito restrita de novas habilidades e

    competnciasem lngua portuguesa ao longo da escolaridade bsica.

    A concluso uma s e assustadora: um nmero expressivo de estudantes no

    aprende a lerna escola brasileira; essa escola produz um grande contingente de analfabetos ou

    de - quer dizer, pessoas que, emboradominem as habilidades bsicas do ler e do escrever, no so

    capazes de utilizar a escrita na leitura e na produo de textos na

    vida cotidiana ou na escola, para satisfazer s exigncias do

    aprendizado.

    Pode-se compreender, assim, por que o Estado de Minas

    Gerais est ampliando a durao do Ensino Fundamental. Pode-se

    compreender tambm por que d tanta importncia alfabetizao,

    denominando os dois ciclos do primeiro segmento desse ensino

    como ciclos de alfabetizao. Isso no significa, evidentemente, que

    os outros contedos da instruo no sejam importantes (a mesma

    avaliao do SAEB mostra que o desempenho dos alunos de 4 srie

    analfabetos funcionais

    a

    em Matemtica tambm se concentra nos estgios e ). Isso tampouco

    significa que o carter formativo da escola esteja sendo abandonado. Significa apenas que,

    tendo em vista a natureza da alfabetizao para o aprendizado dos demais

    contedos escolares, o domnio da leitura e da escrita deve, neste momento, ser destacado,

    ganhar maior visibilidade e concentrar os esforos de gestores e educadores. preciso fazer

    comqueaescolaalfabetizesuascrianas.

    Mas, por que muitas crianas no tm se alfabetizado? A constatao de que a escola

    (que tem como uma de suas principais funes alfabetizar as crianas) vem produzindo,

    paradoxalmente, analfabetos e analfabetos funcionais gerou um intenso debate nas escolas,

    nas universidades, nas secretarias de Educao, na imprensa. Nesse debate, duas principais

    possibilidades de explicao desse fracasso tm sido levantadas:

    para uns, o sistema de ciclos e a adoo do sistema de progresso continuada o principal

    fator;

    para outros, a responsabilidade do fracasso recai na escolha e adoo de mtodos

    inadequados de alfabetizao.

    Discutir essas diferentes possibilidades de explicao pode nos ajudar a tomar

    decises a respeito de como buscar modificar nosso fracasso em alfabetizar. o que faremos

    nas prximassees.

    muito crtico crtico

    instrumental

    !

    !

    Aqui voc encontra uma

    definio de

    . Essa definio

    retomada mais frente.

    analfabeto

    funcional

    Por que ampliar a durao

    do ensino fundamental? Por

    que organizar seu primeiro

    segmento em ciclos dealfabetizao? Aqui voc

    encontra uma resposta.

    13..........

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

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  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    15/26

    dezenove anos relativas a crianas e jovens que esto ou estiveram na escola apresentam

    uma reduo expressiva nos ltimos anos: entre 1996 e 2001, os percentuais de analfabetos

    nessafaixadeidadecaempelametade,isto,decercade14%paracercade7%.

    Mais importante, avanamos (mesmo que lentamente), ao mesmo tempo em que

    aumentamos nossas expectativas em relao alfabetizao, quer dizer, ao mesmo tempo em

    que progressivamente ampliamos o nosso conceito de alfabetizao, em resposta a novos

    problemas, colocados pelomundo contemporneo.

    O (2001) apresenta a definio de

    alfabetizao. Ela o ato ou efeito de alfabetizar, de ensinar as primeiras letras. Assim, uma

    pessoa alfabetizada entendida como aquela que domina as primeiras letras, que domina as

    habilidadesbsicas ou iniciais do lere do escrever.

    A ampliao do conceito de alfabetizao

    Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa estrita

    15..........

    Conseguimos, tambm, na dcada passada, reduzir os

    percentuais de analfabetismo entre crianas e jovens em idade

    escolar: as taxas de analfabetismo nas faixas etrias de dez a

    Ver, a respeito, o

    .

    Braslia: INEP, 2003.

    Mapa do

    analfabetismo no Brasil

    Um exemplo: voc capaz de ler global e instantaneamente

    (de uma s vez, sem analisar cada elemento) a primeira

    porque alfabetizado. Outro exemplo: voc capaz de

    decodificar, analisando seus elementos (letra, slaba), a segunda

    (embora elanoexista), porquevoc alfabetizado.

    palavra ao

    lado

    palavraaoladoAVLATONPLAN

    CASA

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

    As mesmas desigualdades tambm se manifestam em matria de escolarizao: s

    no final da dcada passada, o Pas conseguiu universalizar o acesso escola, embora em

    muitos estados persistampercentuais expressivos de crianas fora da escola.

    Sabemos sobre que parcelas da populao incidem o analfabetismo e o fracasso

    escolar. Sabemos quais grupos sociais no tm acesso escolarizao. Os dados do SAEBso exemplares: o fracasso na alfabetizao maior entre as crianas que vivem em regies

    que possuem piores indicadores sociais e econmicos; entre as crianas que trabalham, entre

    as crianas negras. Quer dizer, o problema do analfabetismo, na escola ou fora dela, parte de

    um problema maior, de natureza : o da desigualdade social, o da injustia social, o da

    excluso social.

    Assim, as dificuldades que enfrentamos no presente no so, em certa medida,

    dificuldades novas. Fazem parte de uma dificuldade antiga e persistente em nosso Pas: a de

    assegurarmos a todos os brasileiros a igualdade de acesso a bens econmicos e culturais,

    neles compreendidos a alfabetizao e o domnio da lnguaescrita.

    Mas os mesmos dados que mostram a difcil herana que nos foi legada e as

    dimenses de nosso desafio mostram tambm que, ainda que muito lentamente, avanamos.

    Ao longo de todo o sculo passado, conseguimos incluir novas parcelas da populao no

    mundo da escrita. ramos cerca de 18% de alfabetizados, quase no final do sculo XIX; no

    inciodo sculoXXI, somos quase 83%.

    poltica

  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    16/26

    A ressignificao do conceito de alfabetizao nos Censos

    ... at os anos 40 do sculo passado, os questionrios do Censo indagavam, simplesmente,

    se a pessoa sabia ler e escrever, servindo, como comprovao da resposta afirmativa ou

    negativa, a capacidade de assinatura do prprio nome. A partir dos anos 50 e at o ltimo

    Censo (2000), os questionrios passaram a indagar se a pessoa era capaz de ler e escrever

    um bilhete simples, o que j evidencia uma ampliao do conceito de alfabetizao: j no se

    considera alfabetizado aquele que apenas declara saber ler e escrever, genericamente, mas

    aquele que sabe usar a leitura e a escrita para exercer uma prtica social em que a escrita

    necessria.

    Essa ampliao do conceito revela-se mais claramente em estudos censitrios

    desenvolvidos a partir da ltima dcada, em que so definidos ndices de alfabetizados

    funcionais (e a adoo dessa terminologia j indica um novo conceito que se acrescenta ao de

    alfabetizado, simplesmente), tomando como critrio o nvel de escolaridade atingido ou a

    concluso de um determinado nmero de anos de estudo ou de uma determinada srie (em

    geral, a quarta do ensino fundamental), o que traz, implcita, a idia de que o acesso ao mundo

    da escrita exige habilidades para alm do apenas aprender a ler e a

    escrever. Ou seja: a definio de ndices de alfabetismo funcional

    utilizando-se, como critrio, anos de escolaridade, evidencia o

    reconhecimento dos limites de uma avaliao censitria baseada

    apenas no conceito de alfabetizao como saber ler e escrever ou

    saber ler um bilhete simples, e a emergncia de um novo conceito,

    que incorpora habilidades de uso da leitura e da escrita

    desenvolvidas durante alguns anosde escolarizao.

    Ao longo do sculo passado, porm, esse conceito de

    alfabetizao foi sendo progressivamente ampliado, em razo de

    necessidades sociais e polticas, a ponto de j no se considerar

    alfabetizado aquele que apenas domina as habilidades de

    codificao e de decodificao,mas aquele que sabe usar a leitura e

    a escrita para exercer uma prtica social em que a escrita

    necessria.

    A definio entre aspas

    de Magda Soares(Alfabetizao: a

    ressignificao do conceito.

    .

    Revista de Educao de

    Jovens e Adultos. RaaB, n.

    16, julho 2003, p. 10-11).

    Alfabetizao e Cidadania

    Essa ampliao se manifesta, por exemplo, nos Censos (cujos dados utilizamos

    acima). Leia o texto abaixo, de Magda Soares, sobre como os Censos foram progressivamente

    ampliando seu conceito de alfabetizao:

    O trecho foi extrado do

    mesmo artigo da educadora,

    citado acima.

    Alfabetizao: a

    ressignificao do conceito.

    Alfabetizao e Cidadania.

    Revista de Educao de

    Jovens e Adultos. RaaB, n.16, julho 2003, p. 10-11.

    Em sntese: alfabetizao, em seu sentido estrito, designa, na leitura, a capacidade de

    decodificar os sinais grficos, transformando-os em sons, e, na escrita, a capacidade de

    codificaros sons da lngua, transformando-os em sinaisgrficos.

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......16

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    17..........

    A ampliao do conceito de alfabetizao se manifesta tambm na escola. At muito

    recentemente, considerava-se que a entrada da criana no mundo da escrita se fazia apenas

    pela alfabetizao, pelo aprendizado das primeiras letras, pelo desenvolvimento das

    habilidades de codificao e de decodificao. O uso da lngua escrita, em prticas sociais de

    leitura e escrita, seria uma etapa posterior alfabetizao, devendo ser desenvolvido nassries seguintes.

    Desde meados dos anos 80, porm, concepes psicolgicas, lingsticas e

    psicolingsticas de leitura e escrita vm mostrando que, se o aprendizado das relaes entre

    as letras e os sons da lngua uma condio do uso da lngua escrita, esse uso tambm

    uma condio da alfabetizao ou do aprendizado das relaes entre as letrase os sons da

    lngua.Essa idia se manifesta

    tambm em muitas outrasprticas pedaggicas

    realizadas antes, durante e

    depois da alfabetizao,

    como, por exemplo, a

    leitura em voz alta pelo

    professor, a redao de

    textos coletivos em que o

    docente serve de secretrio

    ou escriba, o contato com

    textos que circulam na

    sociedade e no apenas com

    textos produzidos para a

    explorao das relaes

    entre letras e sons.

    Talvez tenha-se manifestado, primeiramente, na

    defesa da criao, em sala de aula, de um .

    Metodologicamente, a criao desse ambiente se

    concretizaria na busca de levar as crianas em fase da alfabetizao

    a usar a lngua escrita, mesmo antes de dominar as primeiras

    letras, organizando a sala de aula com base na escrita (registro de

    rotinas, uso de etiquetas para organizao do material, emprego de

    q ua dr os p ar a c o nt r ol ar a f r eq nc i a, p or e xe mp l o) .

    Conceitualmente, a defesa da criao de um ambiente alfabetizadorestaria baseada na constatao de que saber para que a escrita

    serve (suas funes de registro, de comunicao distncia, por

    exemplo) e saber como usada em prticas sociais (organizar a sala

    de aula, fixar regras de comportamento na escola, por exemplo)

    essa idia

    ambiente alfabetizador

    auxiliariam a criana em sua alfabetizao. Auxiliariam por dar significado e funo

    alfabetizao; auxiliariam por criar a necessidade da alfabetizao, auxiliariam, por fim, por

    favorecera explorao, pela criana, do funcionamento da lnguaescrita.

    A necessidade desse conhecimento sobre os usos e as funes da lngua escrita seriaparticularmente relevante para crianas de famlias com restrita explorao da cultura escrita e

    de suas diversas prticas, ou seja, que no teriam muitas oportunidades de manusear textos,

    de participar de situaes de leitura e produo de textos.

    Assim, alfabetizar no se reduziria ao domnio das primeiras letras. Envolveria

    tambm saber utilizar a lngua escrita nas situaes em que esta necessria, lendo e

    produzindo textos. para essa nova dimenso da entrada na cultura

    escrita que se cunhou uma nova palavra, . Ela serve para

    designar o conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidadesnecessriospara usar a lnguaem prticas sociais.

    letramento

    Aqui se aborda o conceitode letramento.

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

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    18/26

    Por meio desse conceito, a escola ampliou, assim, o seu conceito de alfabetizao. O

    que boa parte dos dados do SAEB mostra que muitas crianas, embora alfabetizadas, no

    so letradas (ou manifestam diferentes graus de analfabetismo funcional). Em outras palavras,

    no so capazes de utilizar a lngua escrita em prticas sociais, particularmente naquelas que

    se do na prpria escola, no ensino e no aprendizado de diferentes contedos e habilidades deescrita.

    As dificuldades que enfrentamos hoje na alfabetizao so agravadas tanto pelo

    passado (a herana do analfabetismo e das desigualdades sociais), quanto pelo presente (a

    ampliao do conceito de alfabetizao e das expectativas da sociedade em relao a seus

    resultados).

    O que fazer em resposta a essas dificuldades? Resolveremos o problema pela

    alterao do sistema de ciclos e da promoo contnua? Resolveremos pela adoo de um

    nico mtodo?

    Tem-se alegado, com certa freqncia, que o sistema de ciclos de aprendizagem,

    implantado na ltima dcada em diferentes redes pblicas de ensino, seria o grande

    responsvel pelos resultados desastrosos com que hoje deparamos. Tambm se tem alegado

    que a no-reprovao de alunos, bem como os diferentes programas de correo de fluxo damatrcula desenvolvidos pelas redes de ensino teriam contribudo, diretamente, para o

    analfabetismo escolar.

    Com certeza, o sistema de ciclos traz novos problemas para a escola e pede novos

    modos de atuao tanto dos gestores das redes de ensino quanto dos profissionais da

    educao, sejam eles diretores ou supervisores. Mas o problema da aprendizagem da leitura e

    da escrita no, de forma alguma, novo,apesardosprogressos feitosnasltimas dcadas.

    Um problema dos ciclos?

    Isso fica claro quando analisamos sobre a matrculanassries iniciais do Ensino Fundamental, em meadosda dcada de

    80, ou seja, antes da implantao desses diferentes programas. As

    estatsticas dessa poca mostram que, de cada mil crianas que

    iniciavam a 1 srie, menos da metade chegava 2 ; menos de um

    tero conseguia atingir a 4 srie, e menos de um quinto conseguia

    dados

    a a

    a

    concluir esse nvel de Ensino. Quer dizer: no havia analfabetos na escola ou sua presena

    no era percebida porque, em funo justamente da repetncia, eles se concentravam na 1

    srie, ou porque, em razo da evaso, eles abandonavam a escola (ou, dependendo do pontode vista, dela eram expulsos).

    a

    Os dados estatsticos foram

    extrados do trabalho de

    Magda Becker Soares

    ( : uma

    perspectiva social. So

    Paulo: tica, 1986).

    Linguagem e escola

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......18

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    19/26

    19..........

    Os argumentos contra os ciclos de aprendizagem, alm disso, esto baseados num

    pressuposto inadequado: o de que a maior parte da rede escolar se organize com base nesse

    sistema e no na seriao. No o que ocorre. Segundo os dados do Censo Escolar de 2002,

    apenas 20,9% das matrculas do Ensino Fundamental foram

    cobertas por escolas assim organizadas. Em outros termos, cerca de80% das matrculas foram oferecidas por escolas organizadas pelo

    sistema seriado.

    A progresso continuada e os diferentes programas de

    correo de fluxo tampouco podem ser responsabilizados. A evaso,

    primeiramente, um problema que continua a ocorrer na escola

    Os dados do Censo Escolar

    esto disponveis no site do

    INEP (www.inep.gov.br),

    nos links Sinopse da

    Educao Bsica e

    EdudataBrasil.

    fundamental: 10,4% dos alunos abandonaram a escola pblica em 2002 (para se ter um termo

    de comparao, na rede privada, apenas1% dosalunos abandonoua escola em 2002).

    A repetncia, em segundo lugar, est longe de ser uma questo resolvida: de cada dez

    alunos do Ensino Fundamental, dois repetiram a srie em 2001 e 2002. Na primeira srie

    (momento em que se realiza a alfabetizao), os percentuais so mais altos: 31,6%. Como se

    v, mesmo em ndices menores que na dcada de 80, a escola brasileira uma escola que

    reprova percentuais expressivos de alunos e que contribui, em certa medida, para sua

    desistncia.

    Tudo isso no significa que a implantao dos ciclos de aprendizagem no seja

    problemtica. Muitas vezes, ela feita sem a necessria adeso dos professores. Com

    freqncia, ela no acompanhada de medidas que favoream o trabalho coletivo do

    professor, que possibilitem o desenvolvimento de estratgias de superviso e

    acompanhamento dos professores, bem como de apoio a seu trabalho. Muitas vezes, os ciclos

    so implantados apenas como uma soluo para diminuio das taxas de reprovao, sem

    uma preocupao efetiva com a aprendizagem.

    Alm desses problemas, a organizao em ciclos, por ampliar o tempo dos

    aprendizados, pode conduzir a uma diluio ou uma procrastinao de metas e objetivos a

    serem atingidos gradativamente ao longo do processo de escolarizao. Do mesmo modo, oprincpio da progresso continuada pode tambm, se mal concebido e mal aplicado, resultar

    numa ausncia de compromisso com o desenvolvimento sistemtico de habilidades e

    conhecimentos.

    Talvez a residam muitos dos problemas que atribumos aos ciclos: em sua

    implementao, muda-se o modo de organizao escolar, mas no se criam mecanismos para:

    a) , diagnosticar os problemas de ensino-aprendizagem; b) fazer face a eles, por

    meio de processos dinmicos de reagrupamento; c) alterar procedimentos de ensino que se

    mostrarem inadequados para os alunos em dificuldade. Na maior parte das vezes, cadaprofessor continua fazendo sozinho trabalho, com turma, com modo de ensinar,

    com expectativasem relao shabilidadesa serem dominadas por alunos.

    coletivamente

    seu sua seu

    suas seus

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

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    20/26

    Assim, o sistema de ciclos atende de modo mais adequado ao desenvolvimento daalfabetizao e do letramento, submetendo o tempo da escola ao tempo dessas

    aprendizagens, afirmando o aprendizado em oposio reteno.

    Tambm para pesquisadores, os ciclos, se adequadamente implementados, possuem

    um conjunto de implicaes positivas:

    Os problemas de implementao, entretanto, no impedem

    reconhecer a para a

    ampliao das possibilidades de aprendizagemdos alunos.

    importncia da organizao em ciclos

    A partir daqui, voc

    encontra uma justificava

    para a adoo dos ciclos de

    alfabetizao.

    Eu participei do Congresso Mineiro de Educao em 1983 como

    professora de alfabetizao. Eu me lembro que uma das nossas

    reivindicaes era aquele um ano... Naquela poca era o mtodo

    global [de alfabetizao]. No dava tempo... Um ano era pouco... O

    menino era retido... A, no incio do ano ele comeava tudo de

    novo. Quando em 1985 foi implementado o Ciclo Bsico no foi

    realmente uma coisa assim... imposta. Quem trabalhou na poca

    lembra que realmente isso foi reivindicao dos professores

    alfabetizadores.

    Em relao alfabetizao, suas conseqncias positivas so apontadas por

    professores e educadores. A respeito da implantao do Ciclo Bsico de Alfabetizao em

    Minas Gerais, uma professora e supervisora de So Joo Del Rey d o seguinte depoimento,

    em que argumenta que o sistema de ciclos foi uma reivindicao dos prprios professores

    alfabetizadorese evidencia a importncia do ciclo para a alfabetizao:O depoimento da

    professora foi citado por

    Cludia Fernandes e Creso

    Franco no trabalho Sries

    ou ciclos? O que acontece

    quando os professoresescolhem? (In: FRANCO,

    Creso.

    .

    Porto Alegre: Artmed,

    2001. p. 55-68.) A citao

    do depoimento da

    professora est na

    pgina 58.

    Avaliao, ciclos e

    promoo na educao

    Implicaes positivas da organizao por ciclos

    1. Cria a necessidade de se repensar o sentido da escola, dasprticas avaliativas, dos contedos curriculares, do trabalho

    pedaggico e da prpria organizao escolar;

    2. Agiliza o fluxo de um maior nmero de alunos, contribuindo

    para a diminuio do desperdcio de recursos financeiros.

    Pode tambm gerar a necessidade de expanso da oferta

    dassriesfinaisdo EnsinoFundamental e Mdio;

    3. Descongestiona o sistema, possibilitando o acesso

    populaoescolarizvel quese encontra fora da escola(...);

    O trecho sobre as

    implicaes positivas dos

    ciclos de autoria de

    Jefferson Mainardes (Aorganizao da escolaridade

    em ciclos: ainda um desafio

    para os sistemas de ensino.

    In: FRANCO, Creso.

    A

    .

    Porto Alegre: Artmed, 2001.

    p. 35-54). O trecho utilizado

    est na pgina 48.

    valiao, ciclos e

    promoo na educao

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......20

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    21..........

    A organizao em ciclos possui, portanto, diferentesimplicaes positivas. em razo dessas implicaes e das

    reivindicaes dos professores alfabetizadores que Minas Gerais

    voltar a adotar o sistema de ciclos para o primeiro segmento do

    Ensino Fundamental.

    Alm disso, ao incluir a

    faixa etria de seis anos, o sistema adotado amplia o direito dessa

    criana a uma escolarizao mais extensa e a uma alfabetizao

    ressignificada com a nfase que vem sendo assumida nestaproposta. Historicamente, o marco de entrada da criana na escola

    bsica - fixado em torno de sete anos - sempre se regulou pela

    concepo de prontido para a aprendizagem da escrita e da leitura,

    avaliada por testes classificatrios. As atuais exigncias de

    democratizao do acesso escola pblica de qualidade se

    no Ciclo Inicial de Alfabetizao

    4. Garante aos alunos maior permanncia na escola, elevando assim as mdias de

    escolaridade, em termosde anos de estudo;

    5. Exige a destinao de maiores recursos para a educao, a fim de garantir

    condies adequadas;6. Implica mudanasnas concepes e prticas pedaggicas;

    7. Implica igualmente mudana de atitude dos , que deixariam de se preocupar

    apenas com a aprovao, passando a se interessarem, tambm, pelo conhecimento

    que seus filhos estariam adquirindo na escola, bem como pela necessidade de

    assumir a responsabilidade da freqncia escola no perodo regular e nos perodos

    destinados ao reforo ou recuperao.

    pais

    Por causa da importncia da

    presena e da participao

    dos pais na escola, oCaderno 3 apresenta

    sugestes para envolv-los

    na alfabetizao.

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

    Como ser visto nos

    prximos Cadernos, a

    organizao do Ciclo Inicial

    de Alfabetizao no se faz

    por faixa etria, mas simpor ano de escolaridade no

    Ensino Fundamental, sendo

    o primeiro ano designado

    como Fase Introdutria e os

    dois seguintes como Fase I

    e Fase II, respectivamente.

    acompanham de demandas bastante complexas: a permanncia das crianas de camadas

    populares nessa escola e a ampliao de suas oportunidades de acesso cultura escrita, pois

    tais oportunidades j so precocemente vivenciadas por camadas sociais mais favorecidas.Isso implica o direito daquelas crianas alfabetizao e ao letramento, em processos de

    aprendizagem que assegurem progressivas capacidades e habilidades, como se procurar

    evidenciar no Caderno 2 desta Coleo.

    Para isso, o importante no se submeter a aprendizagem exclusivamente ao

    processo de maturao ou desenvolvimento, previamente determinado por testes,

    acreditando-se que as aprendizagens vivenciadas pelas crianas so capazes de produzir

    processos de desenvolvimento e novas possibilidades de avano em suascapacidades.

  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    22/26

    Esses mtodos de base fnica cuja utilizao vem sendo

    defendida recentemente no se identificam com o j conhecido

    mtodo fnico de alfabetizao. Os mtodos de base fnica mais

    recentes propem metodologias de ensino baseadas no necessriodesenvolvimento da , na anlise da relao

    entre letras ou grafemas e sons ou fonemas da lngua, bem como

    no desenvolvimento da fluncia em leitura,

    conscincia fonolgica

    do vocabulrio e da

    compreenso.

    Seria timo que os problemas da alfabetizao no Pas

    pudessem ser resolvidos por um mtodo seguro e eficaz. Mas as

    metodologias de ensino, por si mesmas, no so suficientes para

    assegurar resultados positivos, pois dependem sempre do

    professor, de sua sensibilidade para interpretar as necessidades dos

    alunos - particularmente daqueles que apresentam dificuldades no

    processo de aprendizagem. Dependem tambm de uma

    organizao coletiva da escola e das redes de ensino, por meio das

    quais so definidos os patamares mnimos de aprendizagem numa

    srie ou ciclo, estabelecidas formas de diagnstico e desenvolvidos

    processos de interveno.

    Alm disso, os argumentos dos defensores brasileiros do

    retorno aos mtodos de base fnica baseiam-se em um pressuposto

    inadequado: o fato de os programas curriculares de estados e

    municpios, bem como de os Parmetros Curriculares Nacionais

    adotarem fundamentos ligados a teorias construtivistas ou ao

    conceito de letramento no significa que as metodologias

    decorrentes desses fundamentos tenham sido adotadas

    efetivamente, nassalas de aula.

    Um bom indicador de que essas metodologias no foram

    adotadas so os padres de deescolha de livros didticos

    A conscincia fonolgica

    pressupe a compreenso

    de que a escrita se organiza

    como seqncia de sons,

    diferenciados conforme a

    posio ocupada por letras

    e slabas nas palavras. As

    rimas, por exemplo, podem

    ser percebidas nesse nvelde conscincia e facilitam

    estratgias de inferncias e

    generalizaes para novas

    construes de palavras.

    A principal associao

    internacional de alfabetizao

    e letramento, a International

    Reading Association (IRA)

    defende a multiplicidade de

    mtodos para o ensino inicial

    da leitura e da escrita (

    , IRA, 1999.

    Using

    multiple Methods of

    beginning reading

    instruction

    Esses dados sobre a escolha de

    livros de alfabetizao so

    analisados em BATISTA,

    Antnio Augusto Gomes

    (Org.).

    .

    Relatrio de pesquisa. Braslia:SEF/MEC, 2002.

    O professor e a escolha

    do livro didtico (1998-2001)

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......22

    Um problema de mtodo?

    Tem-se tambm alegado que o analfabetismo escolar tem

    como base principal a implantao de metodologias de ensino

    baseadas no construtivismo e no conceito de letramento. Por essarazo, defende-se a utilizao de mtodos de base fnica,

    organizados em torno da explorao sistemtica das relaes entre

    letra e som, isto , entre o sistema fonolgico do portugus e seu

    sistema ortogrfico.

  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    23/26

    23..........

    alfabetizao no Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD). Como se sabe, so os

    professores e as escolas que escolhem, nesse Programa, os livros que utilizaro. Desde o

    PNLD 1998, os livros mais solicitados ao MEC pelas escolas so justamente aqueles que se

    organizam em torno de princpios do mtodo silbico, baseado na explorao das ditas famlias

    silbicas, compostas inicialmente apenas por vogais, depois por slabas consideradascomplexas, passando, antes, pelas consideradas simples. Mesmo que o mtodo silbico se

    distancie, em diferentes aspectos, das novas concepes fnicas, estas esto baseadas numa

    gradual e sistemtica explorao das relaes entre grafemas e fonemas. Assim, no se trata

    de pedir um retorno aos mtodos de base fnica. Eles so, de fato, aqueles presentes nas

    escolas.

    Mas aqueles que defendem o mtodo como explicao para o analfabetismo escolar

    poderiam ter razo em uma coisa (embora no utilizem esse argumento): o discurso de base

    construtivista ou fundamentado na concepo de letramento, por ter-se tornado hegemnico,

    tem inibido o desenvolvimento de outras perspectivas metodolgicas e tem contribudo, em

    certa medida, para a perda da especificidade da alfabetizao.

    Evidentemente, a perspectiva construtivista trouxe diferentes e importantes

    contribuies para a alfabetizao. Algumas dessas contribuies so apontadas, em um

    artigo, porMagda Soares. Segundo ela, o construtivismo

    ... alterou profundamente a concepo do processo de construo

    da representao da lngua escrita, pela criana, que deixa de ser

    considerada como dependente de estmulos externos para

    aprender o sistema de escrita, concepo presente nos mtodos

    de alfabetizao at ento em uso, hoje designados tradicionais

    - e passa a sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir

    esse sistema de representao, interagindo com a lngua escrita

    em seus usos e prticas sociais, isto , interagindo com material

    para ler, no com material artificialmente produzido para

    aprender a ler; os chamados para a aprendizagempr-requisitos

    Este trecho foi retirado do

    mesmo artigo de Magda

    Soares:

    : as muitas

    facetas, apresentado na 26

    Reunio Anual da ANPED.

    GT Alfabetizao, Leitura e

    Escrita. Poos de Caldas, 7

    de outubro de 2003.

    Letramento e

    alfabetizao

    da escrita, que caracterizariam a criana pronta ou madura para ser alfabetizada -

    pressuposto dos mtodos tradicionais de alfabetizao - so negados por uma viso

    interacionista, que rejeita uma ordem hierrquica de habilidades, afirmando que a

    aprendizagem se d por uma progressiva construo do conhecimento, na relao da

    criana com o objeto lngua escrita; as dificuldades da criana, no processo de

    construo do sistema de representao que a lngua escrita - consideradas

    deficincias ou disfunes, na perspectiva dos mtodos tradicionais - passam a ser

    vistas comoerros construtivos, resultado de constantes reestruturaes.

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    24/26

    Em primeiro lugar, dirigindo-se o foco para o processo de construo do sistema

    de escrita pela criana, passou-se a subestimar a natureza do objeto de conhecimento em

    construo, que , fundamentalmente, um objeto lingstico constitudo, quer se

    considere o sistema alfabtico quer o sistema ortogrfico, de relaes convencionais e

    freqentemente arbitrrias entre fonemas e grafemas. Em outras palavras, privilegiando a

    faceta psicolgica da alfabetizao, obscureceu-se sua faceta lingstica fontica e

    fonolgica.

    Em segundo lugar, derivou-se da concepo construtivista da alfabetizao uma

    falsa inferncia, a de que seria incompatvel com o paradigma conceitual psicogentico aproposta de mtodos de alfabetizao. De certa forma, o fato de que o problema da

    aprendizagem da leitura e da escrita tenha sido considerado, no quadro dos paradigmas

    conceituais tradicionais, como um problema sobretudo metodolgico contaminou o

    conceito de mtodo de alfabetizao, atribuindo-lhe uma conotao negativa: que,

    quando se fala em mtodo de alfabetizao, identifica-se, imediatamente, mtodo com

    os tipos tradicionais de mtodos sintticos e analticos (fnico, silbico, global, etc.),

    como se esses tipos esgotassem todas as alternativas metodolgicas para a

    aprendizagem da leitura e da escrita. Talvez se possa dizer que, para a prtica daalfabetizao, tinha-se, anteriormente, um mtodo, e nenhuma teoria; com a mudana de

    concepo sobre o processo de aprendizagem da lngua escrita, passou-se a ter uma

    teoria, e nenhummtodo.

    Acrescente-se a esses equvocos e falsas inferncias o tambm falso

    pressuposto, decorrente deles e delas, de que apenas atravs do convvio intenso com o

    material escrito que circula nas prticas sociais, ou seja, do convvio com a cultura escrita,

    a criana se alfabetiza. A alfabetizao, como processo de aquisio do sistema

    convencional de uma escrita alfabtica e ortogrfica, foi, assim, de certa formaobscurecida pelo letramento, porque este acabou por freqentemente prevalecer sobre

    aquela, que,como conseqncia, perde sua especificidade. Este trecho foi retirado do

    artigo

    : as muitas

    facetas, apresentado na

    26 Reunio Anual da

    ANPED. GT

    Alfabetizao, Leitura e

    Escrita. Poos de Caldas,7 de outubro de 2003.

    Letramento e

    alfabetizao

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao

    .......24

    Apesar dessas contribuies, necessrio reconhecer que a perspectiva

    construtivista e os estudos baseados no letramento conduziram a diferentes equvocos. Leia,

    no texto a seguir, um outro trecho do artigo de Magda Soares sobre esses equvocos:

    A necessidade de articular os processos de e de

    ser retomada no Caderno 2. importante enfatizar que tais processos

    devem ser desenvolvidos de forma simultnea e indissocivel. O

    no deve ser compreendido como um processo ou estgio preparatrio

    que antecede a alfabetizao ou como um conjunto de atividades pertinentes

    apenas a uma classe inicial de alfabetizao.

    alfabetizao letramento

    letramento

  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    25/26

    25..........

    Mas tudo isso s possvel se atentarmos para dois conjuntos de fatores no

    analisados aqui e que tambm condicionam nosso fracasso em alfabetizar.

    preciso que as redes de ensino enfrentem trs problemas que tm evitado enfrentar:

    o professor alfabetizador precisa ser um dos mais capacitados da escola (ele precisa, portanto,

    de uma adequada formao); precisa tambm ser um dos mais valorizados da escola (ele

    precisa, portanto, de um estatuto diferenciado); necessrio reorganizar a escola e os tempos

    destinados ao trabalho coletivo, em equipes de professores e coordenadores (o professor no

    o dono de sua sala, mas algum que responde, com o conjunto da escola, pela alfabetizao desuascrianas).

    Os demais cadernos desta

    coleo fornecem

    instrumentos para esse

    conjunto de tarefas.

    Ciclo Inicial de Alfabetizao.............

    discriminar que conhecimentos e habilidades devem ser dominados pela criana em diferentes

    etapas do ciclo. Para isso, fundamental, tambm, que as escolas possuam instrumentos

    compartilhados para diagnosticar e avaliar os alunos e o trabalho que realiza; fundamental,

    por fim, que, coletivamente, as escolas desenvolvam mecanismos para reagrupar, mesmo que,

    provisoriamente, os alunos que no alcanam os conhecimentos e habilidades em cada etapa

    do processo, utilizando novos procedimentos metodolgicos e diferentes materiais didticos

    baseados ou no em mtodos fnicos, inspirados ou no em fundamentos construtivistas,

    calcados ou noem mtodos ideovisuais ou globais.

    Em primeiro lugar, as redes de ensino e as escolas devem

    definir quais so as capacidades mnimas a serem atingidas em

    diferentes momentos desse primeiro ciclo; extremamente

    contraprodutivo esperar que s ao final do terceiro ou do segundo

    ano do ciclo o aluno esteja alfabetizado e ponto final. necessrio

    A questo metodolgica da alfabetizao possui, assim, de fato, um peso importante

    no nosso fracasso em alfabetizar. Esse fracasso, entretanto, reside, em certa medida, na

    ausncia de um equilbrio entre essas diferentes perspectivas terico-metodolgicas. Como se

    defendeu anteriormente, o letramento uma condio para a alfabetizao, para o domnio das

    correspondncias entre grafemas e fonemas; mas a alfabetizao e a explorao sistemticadessas relaesgrafo-fonmicas so tambm uma condio para o letramento.

    Do mesmo modo, o conhecimento das hipteses feitas pelas crianas no aprendizado

    da lngua escrita uma condio fundamental para o seu aprendizado; mas a anlise e a

    explorao gradual e sistemtica dascaractersticas formais da lngua escrita so tambmuma

    condiofundamental da alfabetizao.

    A escola pblica brasileira mudou, aps a implantao do sistema de ciclos. E nela no

    possvel continuar a trabalhar como se fosse a mesma escola de antes. O problema da

    alfabetizao inicial tem de ser resolvido no primeiro ciclo de aprendizagem. Mas no vai ser a

    escolha de um mtodo, por si mesma, que resolvero problema.

    O que fazer?

  • 8/8/2019 Ciclo inicial

    26/26

    preciso que os professores alfabetizadores se conscientizem de que as crianas das

    escolas pblicas, em sua maior parte expostas a processos de excluso social, so capazes de

    aprender: no possuem deficincias cognitivas, no possuem deficincias lingsticas,

    culturais, comportamentais.

    nossa responsabilidade individual, nossa responsabilidade poltica, assegurar aessas crianas o domnio da lnguaescrita.

    ..........Ciclo Inicial de Alfabetizao