ciclo de debate e formaÇÃo na eja: enfrentando a...

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Educação UAB/UnB/ MEC/SECADI III Curso de Especialização em Educação na Diversidade e Cidadania, com Ênfase em EJA / 2014-2015. MÁRCIO BRAZ DO NASCIMENTO CICLO DE DEBATE E FORMAÇÃO NA EJA: ENFRENTANDO A VIOLÊNCIA (FÍSICA E MORAL) NA ESCOLA BRASÍLIA, DF Novembro/2015

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UNIVERSIDADE DE BRASLIA Faculdade de Educao UAB/UnB/

MEC/SECADI III Curso de Especializao em Educao na

Diversidade e Cidadania, com nfase em EJA / 2014-2015.

MRCIO BRAZ DO NASCIMENTO

CICLO DE DEBATE E FORMAO NA EJA: ENFRENTANDO A VIOLNCIA (FSICA E MORAL) NA ESCOLA

BRASLIA, DF

Novembro/2015

UNIVERSIDADE DE BRASLIA Faculdade de Educao - UAB/UnB/ MEC/SECAD

III Curso de Especializao em Educao na Diversidade e Cidadania, com nfase em EJA / 2014-2015

CICLO DE DEBATE E FORMAO NA EJA: ENFRENTANDO A VIOLNCIA (FSICA E MORAL) NA ESCOLA

MRCIO BRAZ DO NASCIMENTO

PROFESSORA ORIENTADORA:

Dra. CLUDIA GUILMAR LINHARES SANZ

TUTOR:

Esp. CLAUDIO AMORIM DOS SANTOS

PROJETO DE INTERVENO LOCAL - PIL

BRASLIA, DF

Novembro/ 2015

UNIVERSIDADE DE BRASLIA

Faculdade de Educao - UAB/UnB/ MEC/SECAD

III Curso de Especializao em Educao na Diversidade e

Cidadania, com nfase em EJA / 2014-2015

MRCIO BRAZ DO NASCIMENTO

CICLO DE DEBATE E FORMAO NA EJA: ENFRENTANDO A VIOLNCIA (FSICA E MORAL) NA ESCOLA

Trabalho de concluso do III Curso de Especializao em Educao na Diversidade e Cidadania, com nfase em EJA /2014-2015, como parte dos requisitos necessrios para obteno do grau de Especialista na Educao de Jovens e Adultos.

__________________________________________________________________________

Dra. CLUDIA GUILMAR LINHARES SANZ Professora Orientadora

__________________________________________________________________________

Dra. PATRCIA LIMA MARTINS PEDERIVA Avaliadora Externa

__________________________________________________________________________

Esp. CLAUDIO AMORIM DOS SANTOS Tutor Orientador

BRASLIA, DF Novembro/2015

RESUMO

Este Projeto de Interveno local PIL tem por objetivo conscientizar os protagonistas da Comunidade Escolar do CED 02 de Taguatinga, especialmente, alunos, professores e pais para o reconhecimento, o entendimento e a superao das ocorrncias de violncias fsicas, morais e simblicas produzidas e vivenciadas nas relaes escolares como fenmeno social contemporneo. Nesse sentido, o PIL prope como metodologia de ao pedaggica e poltica para a comunidade escolar local a criao, o desenvolvimento e a avaliao processual de uma conscincia dialgica (dilogos) e dialtica (crtica de contedos em ao mtua interacionista) pelos atores da escola alunos de EJA (1, 2 e 3 segmento), pais e responsveis, professores, auxiliares, especialistas e tcnicos em Educao. A partir da vivncia de Ciclos de Debate e Formao, pretendemos contribuir para uma possvel experincia de cidadania real: reconhecimento e valorizao da diversidade cultural e humana, na perspectiva do multiculturalismo e no princpio da alteridade. Nosso projeto de interveno tem como tema central, portanto, a violncia urbana transportada e desenvolvida na e pela Educao, e o problematiza, investigando e debatendo com a comunidade escolar possveis causas da violncia humana (psicoemocionais, intrapessoais, intrapsicolgicas e sociohistricas). Tal anlise se baseia, em primeiro lugar, no diagnstico acerca da realidade do CED 02 de Taguatinga construdo por significativa coleta de dados de alunos e professores, registros disciplinares e anlise das demandas de violncia escolar e por uma pesquisa participante entrevistas a comunidade e observao de campo. Em segundo lugar, nosso projeto tambm confronta os dados levantados com as anlises da pesquisa bibliogrfica, utilizando como referencial terico autores como Mirian Abromavay, Maria das Graas Rua, Jlio Groppa Aquino, Marcus Eugnio Oliveira Lima, Marcos Emanoel Pereira e Lev Vigotsky. A partir dos resultados da pesquisa bibliogrfica qualitativa e da prtica de campo constatou-se que a Pedagogia Histrico Cultural de Vigotsky, na qual a cultura e os saberes dos alunos so valorizados no processo de ensino e aprendizagem (proposta do Projeto Poltico Pedaggico da SEDF, em vigor); os atendimentos psicoemocionais e pedaggicos da SOE e das Salas Generalistas; as aulas interdisciplinares (projetos pedaggicos e esportivos da escola); e, principalmente, o olhar/dilogo para alm de o aluno problema podem intervir minimizando os processos de violncia, contribuir na formao de alunos solidrios ao processo formativo escolar e, principalmente, afinar a parceria escola-famlia-sociedade. Forma-se, deste modo, a hiptese de que o PIL Ciclo de Debate e Formao, a ser aplicado no ano de 2016, possa gerar uma cultura de dilogo e mediao de conflitos, a partir da percepo das violncias como violao de direitos e impactar na mudana substancial: de alunos, pais e professores como sujeitos histricos dialticos, que transformam a prpria realidade social.

Palavras chave: Educao, Violncia fsica e moral, Cidadania e Sociedade.

ABSTRACT

This Project of Local Intervention - PLI aims to aware the protagonists of school

community from CED 02 in Taguatinga, specially, students, teachers and parents for

the recognition, the understanding, and overcoming of violence occurrences:

physical, moral and symbolic they are produced and lived in school relationships as

a contemporary social phenomenon. This intent, the PLI proposes as a

pedagogical and political action methodology for the local school community

the creation, the development and the procedural grading of a dialogic (dialogue)

conscience and dialectic (content criticism in mutual action integrationist) by school

actors: EJA students (1st, 2nd, 3rd segment), parents and responsible, teachers,

assistants, specialists and Education Technicians. From living of cycles of Debate

and Formation, we intend to contribute to a possible experience of real citizenship:

recognition and valorization of cultural and human diversity, in the multiculturalism

perspective and in the principle of otherness. Our intervention project has its central

theme; however, the urban violence transported and developed in and for

Education, and problematizes, investigating and debating with school community

possible causes of human violence (psych emotional, intrapersonal, intra

psychological and social historical). This analysis is based, first, in diagnoses about

the reality of CED 02 in Taguatinga built by a meaningful data collection of

students and teachers, discipline records and analyses of school violence demand

and also by a participant research interview with community and filed observation.

Second, our project also confront surveyed data with analyses of bibliographic

research, making use of theoretical reference of authors such as: Miriam Abromavay,

Maria das Gracas Rua, Jlio Groppa Aquino, Marcus Eugnio Oliveira Lima, Marcos

Emanoel Pereira and Lev Vigotsky whose culture and students knowledge are

valorized in the process of teaching learning (Current Propose of Pedagogical

Political Project of SEDF); the psych emotional appointments of SOE and General

Rooms; the interdisciplinary classes (pedagogical and sportive school project); and,

mainly, the view/dialogue besides the problem student can make an intervention

diminishing violence problems, contribute in forming solidary students to forming

school process and, specially, refine partnership school-family-society. This way, it is

created, the hypothesis that PLI: Cycles of Forming Debates, to be applied in

2016, can generate a culture of dialogues and conflicts measuring, from the

perception of violence as a right violation, and to impact a generous changing: of

students, parents and teachers as historical dialectic subjects who transform their

own social reality.

KEY WORDS: Education, Fisical and Moral Violence, Citizenship and Society.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Amostragem de alunos: percepo sobre a EJA....................................28

Quadro 2 Livro de registros do disciplinar - 1 semestre de 2015 (adaptado)..,.....36

Quadro 3 Pesquisa sobre violncia na Educao Europa (adap.).......................78

Quadro 4 Objetivos: geral e especficos..................................................................82

Quadro 5 Ciclo de Debate e Formao...................................................................93

Quadro 6 Primeiro Ciclo de Debate e Formao....................................................97

Quadro 7 Segundo Ciclo de Debate e Formao.................................................105

Quadro 8 Terceiro Ciclo de Debate e Formao...................................................113

Quadro 9 Cronograma...........................................................................................114

Quadro 10 Oramento...........................................................................................116

SUMRIO

INTRODUO.......................................................................................................................08

1. DADOS DE IDENTIFICAO DO(S) PROPONENTE (S)...............................................17

2. DADOS DE IDENTIFICAO DO PROJETO..................................................................17

3. AMBIENTE INSTITUCIONAL............................................................................................20

3.1- Historicidade..............................................................................................................24

3.2- Diagnstico da Realidade Escolar...........................................................................25

3.3- Anlise da violncia no CED 02 de Taguatinga......................................................32

4. JUSTIFICATIVA.................................................................................................................38

4.1- Caracterizao do problema....................................................................................45

4.1.2- A violncia como expresso das crenas nos esteretipos negativos,

nas discriminaes e nos preconceitos........................................................46

4.2- Marco Terico.............................................................................................................53

4.2.1- Pressupostos tericos da formao dos preconceitos................................59

4.2.2- Esteretipos, Preconceitos Sociais, Discriminaes e o Fenmeno da

violncia na Educao.....................................................................................67

4.2.2.1- Violncia e Educao..........................................................................68

5. OBJETIVO GERAL............................................................................................................80

5.1- Objetivos Especficos................................................................................................80

6. O CONTEXTO INSTITUCIONAL.......................................................................................83

7. ATIVIDADES/RESPONSABILIDADES.............................................................................87

8. CRONOGRAMA...............................................................................................................114

9. PARCEIROS....................................................................................................................115

10. ORAMENTO................................................................................................................116

11. ACOMPANHAMENTO E AVALIAO.........................................................................117

REFERNCIAS....................................................................................................................118

ANEXOS...............................................................................................................................123

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INTRODUO

A temtica deste Projeto de Interveno Local PIL, no CED 02 de

Taguatinga, aborda a violncia social vivenciada na escola em suas mltiplas

formas, notadamente: a fsica, a moral e a simblica. Essas se impem nas diversas

relaes escolares, especialmente, nas experienciadas pelos professores e alunos,

como vivncias de medo, desrespeito, intimidao, violao de direitos,

comportamentos incoerentes ao meio, hierarquizao de poder e no adoecimento do

processo de ensino e aprendizagem. Violncia compreendida como uma contradio

sociohistrica em um espao social de formao do ser; principalmente, em um polo

de Educao de Jovens e Adultos caracterizado pela diversidade cultural e

humana. Essas ocorrncias de violncias foram a reflexo acadmica e

comunitria para a investigao e o enfrentamento das causas, dos dilemas e das

consecues de um fenmeno mltiplo, que no nasce na escola, mas encontra

desenvolvimento e forma; sobretudo, por estar interrelacionado com srias questes

sociais e ticas da sociedade, notadamente: a pobreza, as desigualdades sociais, as

intolerncias, os preconceitos, as discriminaes, os esteretipos, a violao dos

direitos humanos, a negao ao princpio do dilogo e da alteridade1 e da

experincia com a Multiculturalidade; alm, da incapacidade de conciliao nas

diversas formas de relao de poder nas prticas e nas interaes sociais. Neste

contexto, no se encobre, a violncia simblica, tambm, presente no modelo de

Educao contemporneo, que ainda faz referncia a uma Sociedade

Disciplinar. Um campo de recorrentes contradies e grandes desafios.

Mais do que uma experincia de transformao local ou comunitria, a

temtica da violncia urbana transportada e desenvolvida nas relaes afetivas e

pedaggicas da Educao escolar formal, uma reflexo da prpria Educao como

representao da sociedade, cujos valores e honras esto misturados com uma

tica capitalista de sobrevivncia humana, nem sempre coerente com os valores que

dignificam: a moral social da igualdade, os prprios direitos humanos, o princpio da

1 Guimares (2008) afirma que o princpio da alteridade, especialmente, na Multiculturalidade,

corresponde ao reconhecimento do outro como legtimo participante da sociedade, ou seja, um cidado com direito a vivncia plena dos seus direitos civis, sociais e poltico a legitimao social do outro.

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alteridade (do reconhecimento do outro), o respeito multiculturalidade, a

valorizao da diversidade cultural e humana, os princpios cidados da democracia

brasileira, entre outros valores. Neste sentido, a Educao pode ser uma fonte de

transformao social.

Em 2012, os alunos do CED 02 de Taguatinga tiveram a experincia de

composio de um jornal, que expressasse a Diversidade Cultural e Humana, em

seus bairros e cidades. Em preparao para as pesquisas de campo e apurao das

notcias, artigos e entrevistas foi proposta uma discusso sobre os problemas

sociais, notadamente, a violncia urbana na Educao. A experincia com Ciclos de

Reflexo nas aulas de Portugus contribuiu, de modo geral, para a percepo de

que os dilogos, os questionamentos e as proposies acerca das causas e do

desenvolvimento do comportamento hostil na sala de aula gerou o desejo em obter

mais informao; principalmente, a respeito de direitos e deveres sociais. Nos ciclos

seguintes, os dilogos foram pautados nas ideias que arregimentam os direitos

cidados civis, polticos e sociais. Temas como racismo, homofobia, intolerncia,

desrespeito, preconceitos, entre outros, tornaram-se alvos continuados de pesquisa

e de interesse. A informao como conhecimento tornou possvel olhar para as

diversas violncias sobre outros pontos de vistas, especialmente, a da violao de

direitos. E resultou, nos alunos da EJA, em uma abrangente mudana de

comportamento nas salas de aula. Os alunos mostravam-se mais concentrados no

cotidiano escolar e respeitosos entre si e com o professor.

Uma das principais caractersticas do diagnstico a respeito da realidade

social do CED 02, em 20142, correspondeu a esta importante questo: o quanto a

informao que se torna conhecimento reflexivo e crtico pode solidifica-se em

conhecimento tcito nas e para as prticas sociais? A anlise de diagnstico escolar

apropriou-se da experincia dos Ciclos de Reflexo das aulas de Portugus, em

2012, para produzir a proposio inicial de que toda a Comunidade Escolar,

2 Ressalta-se que o diagnstico escolar da vivncia de diversas violncias acontece no ano de 2014,

correspondendo ao incio do curso na UnB e da investigao acadmica do fenmeno, mas apropria-se de experincias positivas de enfrentamento ocorridas em 2012 na escola. Esse quadro de violncia fsica, moral e simblica corresponde a fenmeno que coloca o CED 02 em um cenrio de violncia urbana e social que ultrapassa este recorte (2012-2014), por isso a validade da pesquisa no se restringindo a um nico semestre de diagnstico (prprio da EJA). A interveno, deste modo, prev um processo imediato de realizao (2016), mas com resultados esperados para mdio e longo prazo.

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especialmente, pais, alunos e professores necessitam desta possibilidade de

informao crtica-reflexiva (ou dialtica) direcionada para um conhecimento que se

aplique dialogicamente (em dilogos), frente ao fenmeno da violncia escolar.

Informao que possibilite a alterao do quadro recorrente de violncias e

punies, mas tambm, contrarie o continuismo da intolerncia, hostilidade;

omisso; vitimizao; passividade ou dos clamores por penalidades e dos discursos

inconformistas.

A hiptese em se gerenciar uma informao capaz de torna-se conhecimento

transformador basea-se inicialmente nas perspectivas da Pedagogia Histrico -

Cultural3 desenvolvida nas escolas pblicas brasilienses, por meio dos preceitos de

Vigotsky, cujos princpios desenvolvem a perspectiva de a escola com o auxlio de

o professor atuarem como intermedirios do aprendizado, como uma Zona de

Desenvolvimento Potencial do estudante. Essa sedimenta-se na valorizao dos

saberes e da prpria cultura adquirida do aluno para internalizar novos

conhecimentos, processando a aprendizagem significativa processo construtivista

e interacionista do saber social (PPP, 2011).

A realidade social escolar do CED 02, averiguada no diagnstico escolar,

demonstrou que dentre as diversas conjeturas internas e externas para explicar as

violncias na escola, recorrendo-se s mltiplas associaes com caractersticas e

atributos das vtimas e dos agressores, essas ocorrncias concentraram-se na ao

protagonista de alunos jovens, entre 15 18 anos, do turno diurno. Esses

representam, notadamente, o fenmeno de juvenizao da EJA ocorrido nas ltimas

dcadas como os alunos em atraso escolar e transferidos para os polos de

Educao de Jovens e Adultos.

Neste contexto, o diagnstico escolar do CED 02 apontou indcios para a

consecuo do quadro de violncias no espao escolar, de maneira especial,

destacando-se:

3 Segundo a professora D Patrcia Pederiva (UNB, 2015) o termo que faz a correta referncia a

Pedagogia de Vigotsky a Histrico-Cultural ou Instrumental e a mediao do conhecimento, nessa teoria, sempre realizada por meio da mediao de ferramentas, no da mediao do professor ou da pessoa. Equvoco presente na literatura brasileira a respeito das Teorias da Aprendizagem.

11

A questo de gnero tem, na realidade escolar averiguada, meninos e

meninas envolvidos em graves casos de indisciplinas e hostilidades, tais como:

incivilidades e selvagerias, agressividades verbais e fsicas, inimizades com outro

aluno e professores, entre outros. A questo que se evidenciou no diagnstico

escolar a de que a prtica de violncias fsicas, como lutas de grupos de alunos

por conquistas de poder e territrio; notadamente, atribudas ao gnero masculino,

na realidade investigada, passou a ser protagonizada por grupos de meninas.

A questo da idade e das transformaes psicoemociais do adolescente,

tambm, substanciam comportamentos, por vezes, interpretados como inadequados

ao ambiente escolar;

As questes: da etnia, da origem, da orientao sexual, entre outros, revelam-

se em violncias nem sempre detectadas por essas associaes o comportamento

agressivo pode estar se reproduzindo, por exemplo, por meio de esteretipos

dominantes, o que se exprime em embates, que se traduzem em violao de direitos

dos negros, homossexuais, alunos com deficincias e principalmente, com a

pobreza;

A questo da famlia e de sua completa ausncia ou incapacidade em dialogar

com o adolescente, de compreend-lo, de educ-lo com respeito a sua integridade

fsica, moral e emocional soma-se a inexistncia da autoridade e do respeito em

casa. Essa, tambm, representa um espao de vulnerabilidades diversas,

destacando-se a social e a emocional, com resultantes graves para a recorrncia de

quadros de violncia fsica, moral e at sexual.

A questo dos ambientes externos contribuindo para a recorrncia das

experincias com as diversas violncias: comunidades e bairros violentos, sem

polticas pblicas bsicas que garantam os direitos sociais e cidados; o uso e

trfico de drogas; o movimento hostil de gangues comandando a ordem social; as

inmeras reas/territrios de vulnerabilidade social; e

As questes intrapsicoemocionais e polticas do jovem que no aceita ou

compreende os mecanismos de manuteno de poder, tanto da escola

disciplinadora, quanto da sociedade, que demonstram serem territrios de disputas e

diversas injustias, notadamente, na forma de classificao e avaliao escolar

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excludente. Isso faz referncia ao modelo da Educao contempornea, ainda,

baseada na ideia do confinamento, da uniformizao e da ordem social, na prtica,

perfazendo-se mais importante do que o aprendizado.

A Escola moderna como produto da Sociedade Disciplinar possui uma

realidade multifacetria e, por vezes, contraditria. As violncias simblicas veladas

no processo de ensino e aprendizagem podem estar implcitas: na didtica do

professor desqualificado; nos currculos ocultos sem propsitos pedaggicos; na

desmotivao dos educadores pouco valorizados, cujo trabalho torna-se mecnico e

sem compromisso tico; nas coeres ditatorias da prpria escola, especialmente,

no modelo de educao que despersonaliza o aluno por uma tentativa errnea em

padronizar os saberes da classe. Nesse escopo, nota-se a desvalorizao do aluno

de EJA, cujo processo de avaliao, por exemplo, executado como se esse

pertencesse ao ensino regular. A violncia, neste contexto, representa, tambm, o

paradoxo de uma Educao que reprimindo o aluno, o exclui mais uma vez da

sociedade. Essa violncia simblica e institucional transfere-se para a relao

afetivo-pedaggica do professor-aluno e torna o exerccio da autoridade

antidemocrtico, criando, equivocadamente, a ideia de superioridade do docente.

Neste mesmo espao de construo do ser e vulnervel as diversas violncias

o grupo tcnico-pedaggico escolar do CED 02 de Taguatinga apresenta-se

inteiramente comprometido com todos os preceitos tericos para a prxis de uma

Educao constituidora de cidadania e respeito mtuo. Contudo, a violncia

simblica, nem sempre notada ou consentida, da estrutura escolar contempornea

brasileira, torna os muros da escola uma representao das cercanias da relao de

poder horizontal, entre: professor-aluno, escola-aluno e ensino-aluno. Especialmente

sentido e percebido no diagnstico deste polo de EJA, esse deve cumprir, para

todos os efeitos, o que a Sociedade, a Justia, o Governo, os pais e as escolas de

ensino regular no conseguiram - acessar as mentes e os coraes dos jovens

estudantes encaminhados para uma modalidade da Educao, que no foi pensada

para acolh-los ou desenvolv-los. Neste contexto, todos so vtimas e algozes.

Por isso, a proposta de aplicao de um projeto de enfrentamento e possvel

superao de quadro de recorrncia de violncia na Educao basea-se na

participao conjunta dos atores da Comunidade Escolar, por meio da apreciao de

13

Ciclos de Informao. Segundo Serra (2003) informao a resultante do

processamento, manipulao e organizao de dados, de tal forma que represente

uma modificao (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa,

animal ou mquina) que a recebe.

Para Le Coadic (1996), pesquisador da rea da Cincia da Informao, o valor

dessa varia conforme o indivduo, as necessidades e o contexto em que produzida

e compartilhada. Uma informao pode ser altamente relevante para um indivduo e

a mesma informao pode no ter significado nenhum para outro indivduo. Ainda

segundo Le Coadic (1996) informao enquanto conceito carrega uma diversidade

de significados, do uso quotidiano ao tcnico. Genericamente, o conceito de

informao est intimamente ligado s noes de restrio, comunicao, controle,

dados, forma, instruo, conhecimento, significado, estmulo, padro, percepo e

representao de conhecimento, segundo Beynon-Davies (2002).

Por isso, neste PIL, a abordagem da informao como anlise crtica

produzindo um possvel conhecimento para a autonomia, uma influncia que pode

conduzir a transformao do indivduo e do grupo (BEYNON-DAVIES, 2002).

Hiptese que se aproxima dos estudos da Informao multifacetada, de Beynon-

Davies (2002), em termos de sinais e sistemas de signos-sinais para a construo

da informao-conhecimento. Esse considera a semitica (pragmtica, semntica,

sintaxe e empirismo) como campo vlido de anlise da informao produzida e

assimilada como conhecimento que a conecta ao mundo social, entre outros. Neste

sentido, Beynon-Davies (2002) afirma que, referente informao, a semntica

pode ser considerada como o estudo da relao entre smbolos e seus referentes ou

conceitos, particularmente a forma como os sinais se relacionam com o

comportamento humano e nele interfere produzindo novos conhecimentos. Essas

conjecturas associam-se aos desgnios de transformao dos Ciclos de Informao

e Reflexo, propsito do PIL, em espaos e tempos de aprendizagem para a

mediao de conflitos. Informao formativa para o enfrentamento das violncias no

polo de EJA, mas tambm, na vida familiar e na relao da escola com o aluno.

A hiptese de produo de informao para o conhecimento ou aplicao nas

relaes sociais e pedaggicas escolares apresenta-se como ideologia da Educao

historicossocial, na perspectiva do papel da Escola como Instituio Social do

https://pt.wikipedia.org/wiki/Dadoshttps://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento

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Estado, mas assumindo o seu carter de Educao emancipadora, conscientizadora

e transformadora. Uma escola que pretende desnaturalizar as hegemonias

capitalistas das prticas de mercantilizao do conhecimento. Neste contexto, na

grande reflexo sobre os papis e os objetivos que toda comunidade escolar

(alunos, professores e pais) pode abraar conjunta e cotidianamente, no

aperfeioamento da qualidade da Educao, est uma Sociedade de valores

lquidos e efmeros, em uma perspectiva de valorizao de trocas e compras de

mercadorias. Por isso, o equvoco em se tratar a Educao escolar formal, tambm,

como uma mercadoria comprvel e no uma expresso de formao cognitiva,

poltica, tica e acadmica para a emancipao humana em todas as suas mltiplas

possibilidades.

A violncia na Educao, tambm, escamoteia-se de mltiplas facetas, que

revelam a alma humana doente e limitada pelas fragilidades da prpria existncia

sensvel em associao com a opresso social, prpria da superestrutura capitalista

(DOWBOR, 1998). Os resultados da luta de classes e da sobrevivncia no meio

urbano corroboram para a distoro de valores e comportamentos, que se infiltram

na mente e no corao do sujeito social, tornando-o cmplice de atitudes que o

desabonam como um cidado de direitos e de deveres.

Os ciclos de debate e reflexo com pretensa hiptese de formao crtico e

reflexiva de alunos, professores e pais no um fim em si mesmo, mas uma

proposta de interveno na realidade social de recorrentes violncias. Como

hipteses sociais para a vivncia urbana na escola, o diagnstico de amostragem de

alunos e professores indiciou: a mdia em seu discurso de formao da opinio

pblica e em um possvel adestramento do homem social, corrompido e corruptvel

por essa, que representa as hegemonias capitalistas - e, ainda, um maniquesmo da

publicidade capitalista na emergncia do consumo, do ter e do sucesso fcil. Nesse

intento, essa investigao do PIL deve aprofundar essas questes na percepo,

principalmente, de alunos e professores do quanto os meios de comunicao de

massa podem contribuir ou no, tanto para a banalizao das violncias na escola,

quanto para o seu recharcimento. Assim, como na apreciao do poder concedidas

as mdias.

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Os ciclos de Debate e Formao so, portanto, parte do pressuposto que

podemos desenvolver uma ideia de associativismo cidadania como vivncia plena

dos direitos civis, sociais e polticos (realizando-se em sujeitos histricos com

direitos e deveres). Essa, arregimenta-se no conceito de Escola como instituio

social que deve: socializar, instruir, formar, desenvolver, entre outros, o sujeito social

para influenciar positivamente a sociedade (PCN, 2010). Por isso, a cidadania

desenvolvida na Educao deve combater e superar todas as formas de violncias,

inclusive refletindo as suas causas, nos alunos, professores e pais, como uma

questo de desenvolvimento historicossocial (PPP, 2011).

Associados a tudo isto, a violncia nas escolas demonstra de forma audaz,

que um caso de bullying, como por exemplo: o roteiro de um valento - ou um grupo

de valentes - oprimindo a um, ou a vrios alunos, no espao escolar e comunitrio,

pode representar; problemas psicoemocionais individualizados, violncia familiar,

baixa autoestima, uso e trfico de drogas, inaceitao da prpria orientao sexual,

distrbios psicolgicos, caso de psicopatia, racismos diversos, homofobia,

discriminaes sociais, de gnero, de cor, de raa, de crena, etc. Em todos os

casos, a Educao deve atuar com a mesma presteza: a valorizao da integridade

humana na formao cidad, tambm, como princpio dos valores democrticos,

visto que, a Pedagogia de ensino pautada nos ideais Sociohistricos de Vigotsky

observa, que at a violncia pode ser analisada como um trao da cultura brasileira,

j que, a dimenso social (as discrepncias socias) contribui para o cenrio de

diversas violncias: no aluno, na famlia e na prpria sociedade.

Este Projeto de Interveno Local PIL tem, desta forma, por eixos temticos

de abordagem e investigao, no carter histricossocial e, tambm, individual:

- Eixo intrapsicolgico (sociedade) e intrapessoal (indivduo) pretende

investigar a violncia nas suas causas psicoemocionais do sujeito social

(especialmente, o jovem do 2 segmento escolar: 15 a 18 anos), em busca da

revelao de como o processo de violncia torna-se parte da personalidade do aluno

e desenvolve-se como trao da cultura local. Nos aspectos intrapessoais

investigar-se-: s relaes afetivas, emocionais, sociais e culturais dos alunos de

EJA com a Escola, mas principalmente, com a vida social. Trazendo luz da

investigao, as singularidades do ser e as especificidades dos grupos sociais, das

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interaes sociais, nas prticas sociais. A Educao possui a perspectiva de orientar

o aluno, enquanto sujeito histrico, para a emancipao da conscincia;

- Eixo historicossocial as violncias so expresses da Realidade Social

brasileira, dinmica ao desenvolvimento de direitos, mas tambm, de fenmenos

sociais e culturais que produzem: esteretipos, discriminaes, preconceitos e

violncias (fsicas e morais). Neste eixo, a Educao familiar, a vida em comunidade,

o desenvolvimento na sociedade contribuem para investigao da gnese e

desenvolvimento da violncia. Versa sobre a trade, em suas mltiplas interrelaes:

Famlia-Escola-Sociedade; e

- Eixo da educao escolar formal (o polo de EJA) a prxis de vivncia do

direito social. A avaliao de como os direitos se desenvolvem no campo da

construo coletiva da cidadania. Campo de investigao da Instituio Social no

papel de escola, perante o quadro crescente de violncias. Estudo da prtica

educativa de EJA como ferramenta de enfrentamento e superao da cultura da

banalizao das violncias. Percepo dos possveis conflitos geradores de

violncia prprios do fenmeno da Sociedade Disciplinar, da escola como Aparelho

Ideolgico do Estado, da relao hierrquica entre: escola-aluno e professor-aluno.

Por tudo isso, o sentido de violncia escolar, neste PIL, compreendido em

funo no somente da anlise de diagnstico da realidade social do CED 02, mas

tambm, no contexto de causas externas (sociohistricas) e internas (contexto

educacional). Aproxima-se da ideia do professor de Cincias da Educao o

especialista Bernard Charlot (1997) que amplia o conceito de violncia na Educao,

classificando-o em trs nveis: violncia (que inclui golpes, ferimentos, roubos,

crimes e vandalismos, e sexual), incivilidades (humilhaes, palavras grosseiras e

falta de respeito) e violncia simblica ou institucional compreendida, entre outras

coisas, como desprazer no ensino, por parte dos alunos, e negao da identidade e

da satisfao profissional, por parte dos professores. (ABRAMOVAY; AVANCINI,

2011).

A compreenso de que a escola no um lugar neutro e isento dos valores

socioculturais refletem-se diretamente nas relaes pedaggicas e afetivas.

Segundo Abramovay e Avancini (2011) para se compreender o fenmeno da

17

violncia nas escolas, necessrio se levar em contar tanto os fatores externos,

quanto os internos da instituio de ensino. Especialmente nos aspectos externos,

implicam, por exemplo, as questes de gnero, as relaes raciais, a influncia dos

meios de comunicao de massa, a influncias dos grupos sociais, a expectativa

social e familiar, como tambm, o territrio no qual a escola est inserido. J entre

os fatores internos, idade, srie, modalidade, impacto do sistema de regras sobre o

jovem, por exemplo.

1. DADOS DE IDENTIFICAO DO PROPONENTE:

1.1- Nome: Mrcio Braz do Nascimento

1.2- Endereo: AG Quadra 11 Lote 09 Casa 01 Incra 08. Brazlndia DF. CEP

72760110

1.3- Turma: 9 (nove)

1.4- Professor Tutor: Esp. Cludio Amorim dos Santos

1.5- Professora Orientadora: D Cludia Guilmar Linhares Sanz

1.6- Contato: (61) 3540-1713; 3540-1472 e 8239-1577; E-mail:

[email protected].

2. DADOS DE IDENTIFICAO DO PROJETO:

2.1- Ttulo: Ciclo de Debate e Formao na EJA: enfrentando a violncia (fsica e

moral) na escola.

2.2- rea de abrangncia: Local

2.3- Instituio:

Nome: Centro Educacional 02 de Taguatinga - DF

Endereo: QSA 24/25, QSD 09/11 rea Especial.

18

3901-6782 / 3901-6783

Instncia institucional de deciso:

- Governo do Distrito Federal GDF

- Secretaria de Educao do Distrito Federal SEDF

- Conselho de Educao do Distrito Federal

- Regional: Diretoria Regional de Ensino de Taguatinga

- Escola Coordenao Pedaggica e Gesto Escolar.

2.4- Pblico Alvo:

a) Alunos (as) de 1, 2 e 3 segmento de EJA

b) Professores (as)

c) Departamentos: pedaggico, disciplinar e de assistncia educao.

d) Direo

e) Pais e ou responsveis

f) Comunidade escolar

2.5- Perodo de execuo: ao longo de cada Semestre/Ano Letivo

No Centro Educacional 02 de Taguatinga Sul

Nvel micro mbito da sala de aula ambiente de Sociologia ou de Cincias Sociais:

ms 03 de 2016 ao ms 07 e 2016. Primeiro, segundos e terceiros segmentos de

EJA.

Nvel macro mbito da escola:

a) Apresentao e discusso do PIL ao grupo de professores (as) e direo na

Semana Pedaggica, em fevereiro de 2016;

19

b) Disponibilizao de livros aos professores (as) e direo sobre as temticas

que contemplam as questes da violncia urbana social e violncia escolar,

tambm, em seus diversos desdobramentos: violncia na famlia, violncia na

sala de aula, tipos de violncia (fsica, moral e simblica), bullying, causas

externas e internas as consecues de violncia na Educao, violncia aos

direitos humanos e contra as minorias sociais; e reflexes pedaggicas e

sociais para o enfrentamento da violncia.

c) Eixo problemtico: violncia urbana social; violncia na Educao; violncia

fsica, moral e simblica; preconceitos, discriminaes e negao

Multiculturalidade.

d) Perguntas fundamentais: como o projeto pode, na prtica, impactar no

comportamento da comunidade escolar no enfrentamento das violncias na

educao, na perspectiva da trade social: famlia-escola-comunidade? Os

objetivos do projeto podem formar sujeitos multiplicadores?

e) Encaminhamento prtico de aplicao do PIL na escola:

1 - Aps exposio dos objetivos do PIL (na Semana Pedaggica),

composio de grupo gestor de professores para o PIL. Propsito de

produo, avaliao e gerenciamento do projeto.

2 - Leitura e estudo do Livro: Violncias nas escolas, de Miriam Abramovay e

Maria das Graas Rua. Braslia: UNESCO. Instituto Ayrton Senna, 2004.

Captulo 1: Violncia nas escolas: Revisitando a literatura (pg. 67-91);

Captulo 2: O ambiente escolar (pg. 95-123); Captulo 3: A escola:

funcionamento e relaes sociais (pg. 139-182); Captulo 4: Escola, excluso

e racismo (pg. 191-213); captulo 5: As violncias nas escolas: ocorrncias,

praticantes e vtimas (231-291).

3 - O grupo gestor se responsabilizar nas coordenaes pedaggicas em

expor os propsitos do PIL, em referncia ao diagnstico da realidade social

da escola (ocorrncias, praticantes, vtimas e algozes; repercusso negativa

da violncia no processo de ensino e aprendizagem, na vida dos atores

envolvidos e possveis solues, que sero propostas nos Ciclos de Debate e

Formao do Projeto de Interveno Local).

20

f) Encaminhamento prtico das atividades dos Ciclos de Debate e Formao

aplicao nos atores da Comunidade Escolar: alunos, professores e pais.

(Ver: 7. ATIVIDADES/RESPONSABILIDADES)

3. AMBIENTE INSTITUCIONAL

A primeira impresso sobre o ambiente fsico e cultural do CED 02 de se

tratar de uma escola convencional da Secretaria de Educao do Distrito Federal.

Em um segundo olhar atento, percebe-se a notvel diversidade cultural e humana

pelos corredores e salas de aula.

Na vivncia com a Cultura Organizacional escolar do polo de Educao de

Jovens e Adultos, a realidade confronta-se com muitos sonhos de alunos adultos,

que em idade escolar, trabalhavam ou casaram-se. Muitos so pais e avs.

Contudo, possuem o imenso desejo em aprender a ler e a escrever. H tambm, um

nmero cada vez maior de alunos com deficincias, adultos que, na

contemporaneidade, tem acesso a Educao escolar.

A realidade social dos alunos adultos da EJA faz meno a mltiplas

realidades, que retratam o desenvolvimento, mas tambm, os entraves sociais

brasileiros. Esto presentes na EJA as donas de casa, mes e avs, vivas,

desempregadas, pensionistas ou aposentadas mas, todas com objetivos comuns:

o aprendizado escolar e o to sonhado diploma, que a realidade as avultou em ter

na infncia e adolescncia; assim como inmeros pais, avs e homens casados ou

solteiros alguns jovens amasiados profissionais em busca de qualificao

profissional. Os relatos diversos demonstrando os sotaques da esperana misturam-

se com a realidade de rduas jornadas de trabalho, para alguns: duplas e somam-se

a distncia dos bairros. A escola assume a representatividade da recuperao de

sonhos e utopias, mas tambm, da ressignificao de novos sonhos.

A vivncia com os adultos e jovens trabalhadores da EJA do CED 02 de

Taguatinga, averiguada no diagnstico escolar, faz referncia obra de Paulo Freire

Pedagogia da Autonomia na perspectiva em perceberem-se, alunos e professores,

como capazes de intervir na prpria realidade. Principalmente, no contexto da

21

Educao, o desafio no somente constata a realidade, mas ser capaz de interagir

e intervir como um sujeito histrico. Hbeis para vivendo na sociedade, ser capaz de

mudar, no se adaptar. A cultura de relaes entre professores e alunos , desde

modo, de uma transformao mtua.

Por todas estas questes, a Educao na EJA no pode ter uma postura

neutra perante a realidade social de seus alunos e, tambm, da sociedade e do

mundo. Essa modalidade de ensino atua como um universo de possibilidades de

mudana da realidade social. Deste modo, os relatos, as experincias, os saberes,

os pontos de vista, as dificuldades de aprendizagem, as fragilidades; enfim, o

repertrio dos alunos jovens e adultos trabalhadores so valorizados. Contudo, o

quadro de alunos de EJA mudou, radicalmente, com a necessria acolhida de

alunos jovens.

Neste conjunto de necessidades e desejos, o CED 02 de Taguatinga j se

caracteriza, com cerca de 80% dos alunos do diurno, principalmente, no 2

segmento, de alunos jovens, entre: 15 e 21 anos, em atraso escolar.

A viso dos jovens alunos ao terem que se matricularem no polo de EJA no

positivo. Eles declaram terem sido excludos do sistema educacional regular. Os

argumentos so o de negligncia da Educao frente aos problemas de

inadaptabilidade ao sistema de avaliao somativo e classificatrio da Secretaria de

Educao; recusa em perceber o quanto a escola disciplina-os e despersonaliza-os,

formando um exrcito de alunos que so incapazes de racionar e contestar.

O diagnstico da escola demonstrou que esse discurso no qual a EJA

considerada pelos prprios alunos como uma Educao de terceira categoria

unssono. Revelando que os alunos, principalmente, jovens, recm-chegados do

Ensino Regular sentem-se duplamente rejeitados. Na viso desses, pelo sistema

que no conseguiu despertar um interesse pelo processo formativo educacional e

por eles prprios, que se sentem menos capazes, por isso foram encaminhados,

como uma punio social, para um polo de EJA. Esse retrato distorcido do papel e

dos objetivos da Educao de Jovens e Adultos, na viso de seus alunos, revela a

base das hipteses para que a violncia tenha se tornado no um fenmeno isolado,

mas uma forma de comunicao, quase um apelo para a sociedade.

22

Somados a essa realidade de degradao moral da EJA, apresentam-se as

realidades: da gravidez na adolescncia, violncia na famlia, do uso e trfico de

drogas, das expulses do Ensino Regular, mas tambm, dos jovens que esto no

mercado de trabalho para se sustentarem ou para contriburem com a renda familiar.

Alm daqueles que esto na EJA para conclurem os estudos e concorrerem a uma

vaga na universidade e no servio pblico. Em todos os casos, predomina o desejo

em ter uma formao acadmica para ter melhores condies de acesso ao

mercado de trabalho e, consequente, melhor mobilidade social.

O fenmeno da evaso escolar que retirou esses alunos das salas de aula em

idade escolar repete-se, agora, na vida adulta no polo de EJA. O tempo escolar

continua distinto e esmagado pelo do mercado de trabalho. Por isso, a importante

misso de um processo de ensino que produza sentidos para o aluno jovem e adulto

trabalhador. A pedagogia da e para a autonomia deve fazer parte do processo de

ensino e aprendizagem em avaliaes formativas e contnuas de modo a tornar todo

o processo uma construo de sabedoria para a vida, de compreenso crtica da

realidade social e gerar, assim, competncias para usufruir no mundo do trabalho.

Neste contexto, a violncia do grupo jovem de alunos mais um obstculo para o

aluno trabalhador.

Essa cultura de violncia juvenil constatada no diagnstico do ambiente

escolar do CED 02 poderia ser caracterizada, a partir dos seguintes eixos:

a) Revolta juvenil, em referncia ao perodo de transio entre a vida infantil

para a adulta, cabendo aqui inmeras observaes a respeito das necessrias

transgresses polticas de carter contestador para o sujeito social; como tambm,

uma violncia que se desenvolve, a partir da reao a outras violncias: a familiar, a

opresso social, a explorao sexual, aos preconceitos e discriminaes, a social e

a simblica educacional. Mas, todas de inegvel impacto em todo o processo da

educao escolar formal da EJA;

b) Ausncia de reconhecimento de autoridade de professores e gestores na

escola, em virtude da Educao preconizada na vida social e familiar;

23

c) Transgresses comportamentais psicoemociais e sociais, em constatao

das dificuldades de gerao de identidade pessoal e social. Indcio de violncias

fsicas, moral e sexual na vida pregressa do aluno;

d) Crise de identidade cultural, em vista da inexperincia humana com uma

identidade de f trao marcante da cultura brasileira;

e) Insatisfao com o modelo educacional, ainda com circunscries de

educao tradicional, hierarquizante, sistemtica, somativa, classificatria, etc;

f) Vivncia da violncia urbana e social transportada para as relaes afetivas

e pedaggicas da sala de aula; principalmente, na perspectiva de inaceitao da

Sociedade Disciplinar configurada na relao: professor-aluno e aluno-sala de aula.

Uma demonstrao clara da falncia desse modelo disciplinar de educao,

ultrapassado e causador de inmeros casos de contestao classificados como de

indisciplina.

g) Ausncia de metodologias e reflexes da escola e do professor acerca da

experincia sociohistrica dos alunos com os dispositivos eletrnicos e

comunicacionais presentes na sociedade contempornea. Essa baseada na

velocidade e abrangncia da linguagem digital, da pretensa aquisio de informao

e conhecimento, por meio do mundo digital e virtual, no qual tudo veloz,

abrangente e imediato. Esse modelo educacional tradicional do quadro de giz, da

repetio e de provas classificatrias e somativas no condizem mais com a ideia de

Educao que reflete as vivncias sociais. Por isso, a apatia, o desconforto e

transgresso.

h) Referente a prxis docente, ausncia de reconhecimento do valor e das

experincias dos alunos de EJA, de suas narrativas histricas, saberes e cultura;

alm, do pouco desenvolvimento de metodologias inovadoras e novos contedos,

mais diretamente relacionados com a realidade social do aluno trabalhador e adulto;

i) A fundamental questo das prticas pedaggicas: classificatrias, somativas

e, por vezes, excludentes do sistema uniformizante, normatizador e disciplinador

escolar. Neste contexto, a Escola Moderna fruto do Estado Moderno, sculo XVIII,

e da ideia dos confinamentos produtivos, como a fbrica, portanto, passvel de

24

sanses e punies. Provavelmente, um dos mais emblemticos equvocos da

Educao contempornea materializada, erroneamente, na Educao de Jovens e

Adultos, ocasionando uma violncia simblica implcita e contnua; defendida como

necessria para a manuteno da ordem social.

3.1- Historicidade4

Construdo em 1976, o Centro Educacional 02 iniciou suas atividades em 27

de fevereiro de 1977, sendo inaugurado em 5 de junho desse mesmo ano. A

criao desta escola deu-se atravs da Resoluo n 79-CD, de 01 de junho de

1978 (DODF n 109, de 12 de junho de 1978 e N. da FEDF vol.II). O plano de

funcionamento desta instituio foi aprovado pelo Parecer n 125 CEDF de 06 de

dezembro de 1978 (Boletim n 13, - CEDF) e a autorizao para seu funcionamento

se deu pela Portaria n 56, de 29 de dezembro de 1978 (DODF n 13, de 18 de

janeiro de 1979 e A.N. da FEDF vol.I). Vinculado ao antigo Complexo Escolar B

de Taguatinga, pela Instruo n 38-DEX.,de 24 de outubro de 1979. Seu

reconhecimento foi feito por intermdio da Portaria n 17 SEC, de 07 de julho de

1980 (DODF n 129, de 10 julho de 1980 e A.N. da FEDF).

Ao longo desses anos, funcionaram no Centro Educacional 02 de Taguatinga

diversos projetos, tais como Creche; Projeto Pedaggico Alternativo; Escola Polo de

Msica; Ensino Mdio Regular e outros que atualmente no funcionam mais. O

corpo docente da escola obteve premiaes com diversos projetos, alguns prmios

foram idealizados e desenvolvidos para a expobsica. A escola teve destaque na

rea de esportes, com vrias premiaes em competies das quais participou. Nos

Jogos da DRET, a melhor participao foi no ano de 2006.

No ano de 2007 foi realizada a Semana 30 Anos que reuniu funcionrios que

trabalharam na escola desde 1977, lembrando as origens e transformaes pelas

quais a escola passou no decorrer dos anos. As comemoraes dos 30 Anos

culminaram com uma Festa no estilo dos anos 70, homenageando os funcionrios

que participaram por mais tempo da histria da instituio. O Conselho Escolar

presente, sendo que a Comunidade participa no que possvel. Desde 2004 vrias

parcerias com o comrcio local foram estabelecidas no intuito de apoiar as

4 Baseado no Projeto Poltico Pedaggico do CED 02, no ano de 2011-2012.

25

atividades desenvolvidas na escola, tais parcerias promovem a melhoria da parte

fsica e na aquisio de materiais para o corpo docente e discente.

Desde o ano de 2012 o Centro Educacional 02 de Taguatinga atende apenas

a Educao de Jovens e Adultos nos trs turnos, pois a escola tornou-se um polo da

Educao de Jovens e Adultos - EJA. O espao fsico do Centro Educacional 02 de

Taguatinga conta com 20 (vinte) salas de aulas e algumas salas de mltiplas

funes como o Laboratrio de fsica, Sala de Artes Cnicas, Laboratrio de

informtica, Sala de educao fsica, Sala de Recursos Generalista, Biblioteca,

Mecanografia, Cantina, Lanchonete, Quadra poliesportiva com vestirios masculino

e feminino e uma sala pequena para as servidoras de limpeza. Alm disso, dispe

de secretaria, sala de direo, superviso pedaggica, sala de professores e sala

para coordenao. As salas de aula so ambientes.

As salas de aula so menores que as das outras escolas no geral, pois foram

projetadas para no mximo 35 alunos, embora sejam ocupadas por uma mdia de

42 alunos. A rea total da escola bem ampla, porm a rea construda deixa muito

a desejar; sem contar que a escola necessita de reformas no telhado, no teto, nas

salas de aula, no piso em geral, e em outros lugares. Para melhoria das atividades

desenvolvidas, existe a necessidade de um auditrio para a realizao de eventos

com um maior nmero de pessoas, incluindo formatura, atividades do projeto EJA

em Ao.

3.2- Diagnstico da Realidade Escolar 5

O Centro Educacional 02 de Taguatinga atende os trs Segmentos da

Educao de Jovens e Adultos, distribudos nos trs turnos. Ao se tornar polo de

Educao de Jovens e Adultos EJA - o Centro Educacional 02 de Taguatinga

possibilitou a diversos estudantes o retorno aos estudos que tempos atrs haviam

abandonado, ou que por diversos motivos os atrasaram. Para atender as diversas

especificidades da EJA, a escola oferece os 3 segmentos de EJA, o 1 segmento

atendido no turno vespertino, o 2 segmento atendido nos turnos matutino e

vespertino e o 3 segmento atendido nos trs turnos. A disponibilidade dos

segmentos em vrios turnos permite ao estudante da EJA, transferir seu horrio de

5 Baseado no Projeto Poltico Pedaggico de 2014 e na observao do fenmeno de violncias na escola.

26

estudo de acordo com as variaes em sua vida, principalmente nas que se referem

ao seu sustento financeiro.

A matrcula na EJA feita por componentes curriculares independentes e

cada estudante tem o seu horrio individualizado podendo conter componentes

curriculares de diferentes etapas dentro do mesmo segmento, um estudante pode

cursar componentes curriculares da 5, 6, 7 e 8 etapas no decorrer do mesmo

semestre, por exemplo. Considerando essa diferena marcante da EJA em relao

ao ensino regular, no se pode pensar na organizao da escola, dos professores,

das atividades escolares e dos prprios estudantes da mesma maneira que se faz

em uma escola de ensino regular.

O corpo discente constitui-se de estudantes que residem em diversas

localidades, poucos residem prximos escola, a maioria reside em outras cidades

satlites e no entorno do DF, so exemplos: Brazlndia (inclusive, rea rural: Incra 6,

7, 8 e 9), Samambaia, Recanto das Emas, Ceilndia, Santa Maria, Valparaso, Santo

Antnio do Descoberto, guas Lindas de Gois, entre outras. Isso acarreta alguns

problemas, como atrasos, faltas, evaso escolar e falta da integrao famlia/escola;

dessa maneira o desenvolvimento das atividades escolares e o rendimento do

estudante so prejudicados.

1 SEGMENTO DE EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS VESPERTINO

No 1 Segmento de Educao de Jovens e Adultos a escola atende 73

estudantes matriculados no turno vespertino, divididos em duas turmas. A idade dos

estudantes varia de 15 anos a 65 anos. As turmas so inclusivas, tendo primeira: 3

estudantes e a segunda: 4 estudantes com deficincias.

2 SEGMENTO DA EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS MATUTINO e

VESPERTINO

O 2 Segmento da Educao de Jovens e Adultos atende adolescentes com a

idade mnima de 15 anos e adultos de todas as idades. A escola atende a 907

alunos. As turmas, tambm, so inclusivas, possuindo alunos: DI Deficientes

Intelectuais; TDAH Transtorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade; DF

Deficientes Fsicos; DA Deficientes Auditivos, entre outros. neste segmento e

27

turnos: matutino e vespertino onde se encontram as maiores incidncias de casos

de violncia fsica e moral. A predominncia de adolescentes de 15 a 18 anos,

cerca de 80% dos estudantes do diurno.

A Educao de Jovens e adultos no uma educao voltada para

adolescentes que foram excludos do sistema regular de ensino, mais sim, uma

modalidade de ensino criada para atender a trabalhadores, jovens e adultos que no

tiveram a oportunidade de estudar na faixa etria considerada adequada quando

eram crianas e adolescentes. No entanto, a maioria dos estudantes desse

segmento de adolescentes excludos do sistema regular, por consequncia de

comportamento inadequado, infrequncia, repetncias e baixo rendimento nas

escolas de origem. Conforme entrevista com amostragem de alunos jovens na EJA -

Quadro 1.

Neste sentido, a percepo de um nmero considervel de alunos jovens na

EJA a de que essa modalidade de ensino seria uma sub-educao dentro do

sistema educacional da Secretaria de Educao. Um equvoco que colabora para a

implantao e continuidade do quadro de violncias vivenciadas e praticadas por

este grupo de estudantes jovens na EJA. Um problema vivenciado cotidianamente

por toda a comunidade escolar do CED 02, principalmente, pelos professores e

alunos envolvidos ou no com o quadro de agresses e incivilidades. A viso dos

entrevistados, notadamente, do segundo segmento, aponta para a proposio de

uma total averso pela modalidade de ensino. Conforme Quadro 1.

AMOSTRAGEM

ALUNOS NA EJA

CAUSA DE

MATRCULA NA EJA

PERCEPO A

RESPEITO DA EJA

1 SEG 12 alunos

(60% de meninas

40% de meninos)

Alfabetizao e insero no

mercado de trabalho

Excelente. um lugar para

ganhar aprendizado

(resposta que corresponde a

mais de 50% das entrevistas).

2 SEG 90 alunos

(70% de meninas

Indisciplina, evaso escolar,

baixo rendimento, ingresso no

mercado de trabalho, gravidez

na adolescncia, liberdade

assistida, uso e trfico de

Ruim. um castigo, educao

de terceira categoria;

interesse somente no diploma,

no no aprendizado; uma

forma de terminar logo os

28

30% de meninos) drogas (expulso). estudos (respostas com maior

incidncia nas entrevistas)

3 SEG 50 alunos

(50% de meninas

50% de meninos)

Evaso escolar: ingresso no

mercado de trabalho;

impossibilidade de estudar na

idade escolar; mobilidade

social pelo ingresso no

concurso pblico; paternidade.

Bom. a maior dificuldade a

conciliao entre o trabalho, a

famlia, os filhos pequenos e

escola; chances reais de

ingresso na faculdade e no

concurso pblico. (respostas

com maior incidncia nas

entrevistas)

Total de alunos

entrevistados: 152

(Enquete realizada no

perodo de 2012-2014)

Quadro 1 - Amostragem de alunos do 1, 2 e 3 segmentos percepo sobre a EJA.

Algumas escolas que encaminham estudantes ao CED 02 prestam

informaes equivocadas aos pais e estudantes quanto ao funcionamento da EJA,

chegando a estabelecer que o ensino ser inferior e com isso o estudante pode

alcanar o xito escolar que at o momento no foi possvel. A EJA no deve ser

considerada mais fcil, na realidade uma educao diferenciada, e alguns desses

estudantes jovens no se adaptam a metodologia da EJA, devido falta de

maturidade em administrar seu tempo e, principalmente, suas responsabilidades.

Um dos problemas que atingem os adolescentes a partir dos 15 anos o

contato precoce com drogas lcitas e ilcitas. O uso dessas drogas ocorre antes do

estudante entrar na escola, o que resulta em uma conduta degradante que culmina

com a total falta de interesse pelas aulas, em agresses fsicas entre colegas, a falta

de respeito pelos funcionrios, professores e pela autoridade policial presente na

escola. Alm do desrespeito, ameaas a professores e funcionrios, chutes nas

portas, bombas com gs, uso de palavras de baixo calo, e outras atitudes que no

condizem com o ambiente escolar so constantes. O comportamento inadequado do

aluno que usa drogas reflete negativamente na relao da escola com a comunidade

local. O CED 02 tem sido denunciado pelos moradores locais porque segundo eles,

os alunos esto consumindo drogas na porta de suas casas deixando-os merc de

29

adolescentes agressivos e perigosos. Existem denncias de que alguns estudantes

portam armas, por esse e outros motivos ao policial deve ser mais frequente

com abordagem aos estudantes nos arredores e no interior escola (solicitao do

Conselho Escolar).

Na maioria dos dias letivos h ocorrncias policiais dentro e fora da escola, as

mais frequentes so: uso de maconha, agresses aos colegas e assaltos mo

armada. Tais acontecimentos envolvem tanto os estudantes do CED 02, quantos

indivduos que no fazem parte da comunidade escolar e se aproveitam da situao

de vulnerabilidade em que alguns estudantes se encontram.

O consumo indiscriminado de drogas lcitas e ilcitas e suas consequncias

sociais e pedaggicas esto associados, desde a impunidade dos menores de

idade, at a incapacidade de a escola, como instituio social do Estado, em possuir

meios de tratar esse grave problema social. Em vrios casos foram constatados que

quando o menor abordado usando a maconha, ele ainda zomba da cara do policial

alegando ser apenas usurio e quando encaminhado DCA, logo liberado;

voltando naturalmente no outro dia para a escola. O posto policial do batalho

escolar no est presente de maneira permanente na escola, o contrrio disso

favoreceria a ao preventiva quanto abordagem dos estudantes por indivduos

oportunistas.

No mbito pedaggico, ocorrncias dirias so registradas, o regimento

escolar aplicado com orientaes, advertncias e suspenses, de acordo com o

caso. Os acontecimentos so comunicados aos pais, mas por diversas vezes,

surpreendemo-nos porque os mesmos j sabem do uso de drogas pelos seus filhos.

Na verdade os pais se limitam apenas a obrigar os filhos a frequentar a escola

estando eles interessados ou no. Apesar de toda essa realidade descrita, vale

ressaltar, e enfatizar que no CED 2 existem estudantes que realmente tem o perfil

para a EJA, que so trabalhadores e querem estudar. Mas infelizmente, parte desse

grupo est evadindo do ambiente escolar, uma vez que sofrem ameaas constantes

sua integridade fsica e moral, embora a escola busque todas as alternativas

possveis e legais para evitar essa evaso.

A escola no tem estrutura adequada para solucionar a problemtica familiar e

social. Faltam solues efetivas e apoio de outros segmentos do governo e polticas

pblicas para resolver ou minimizar os problemas citados. Em reunies e

30

coordenaes so discutidas aes que atendam a demanda dessa modalidade de

ensino. Nas discusses salientado que para sanar esses problemas as parcerias

com a famlia, a Coordenadoria Regional de Ensino, a Secretaria de Educao

(SEEDF), o Ministrio Pblico, a Polcia Militar, a Polcia Civil, o Conselho Tutelar, o

Sindicato dos Professores, a Secretaria de Justia e outras instituies sociais so

necessrias e at fundamentais para o xito do desenvolvimento escolar.

A escola atende aproximadamente 20 estudantes menores de idade que

cumprem medidas scio-educativas, obedecendo ao Estatuto da Criana e

Adolescente, alguns desses estudantes causam problemas, pois so matriculados

no decorrer do semestre, no conseguem acompanhar o contedo, no se

empenham em estudar os contedos j ministrados, com isso dificultando o seu

aprendizado e o seu relacionamento com os colegas.

O acompanhamento do desenvolvimento escolar nesses casos no

eficiente, muitas vezes a responsabilidade fica somente para a escola e para o

professor, constatado que o estudante nessa situao deve ser cobrado com mais

empenho pelos responsveis pela medida scio-educativa quanto ao seu

desempenho e comportamento na escola, j que est recebendo uma chance para

socializao, e no uma oportunidade de envolver-se ou incitar situaes em

discordncia com o bom funcionamento da instituio escolar.

Hoje constatada a juvenizao da Educao de Jovens e Adultos em todos

os segmentos cujo pblico alvo bastante peculiar se comparado aos alunos do

Ensino Regular. A idade mnima de 15 anos para ingresso nos 1 e 2 segmentos

no condiz com a maturidade exigida para desenvolver seus estudos em EJA. As

ocorrncias de violncia na escola tem se concentrado no pblico jovem.

3 SEGMENTO DE EDUCAO DE JOVENS E ADULTOS Matutino,

Vespertino e Noturno.

O 3 Segmento de Educao de Jovens e Adultos atende, atualmente, 1442

estudantes. A idade mnima exigida do estudante para ingresso no 3 segmento 18

anos, no h limite de idade mxima para adultos que desejem estudar. Isso mostra

a grande diversidade que se tem na EJA. Nos turnos matutino e vespertino, a

concentrao maior de estudantes mais jovens, que tambm foram excludos do

31

ensino mdio regular ou no tiveram oportunidade de estudar na idade prpria.

Felizmente, os alunos do 3 segmento raramente apresentam problemas

relacionados indisciplina, agressividade ou envolvimento com drogas. O desafio

nesse caso minimizar a evaso escolar, que acontece pelos problemas

apresentados pelo 2 segmento fora e dentro da escola. Os estudantes do 3

segmento j aspiram novos horizontes, estabelecem objetivos de estgio e

emprego, com isso a escola busca favorecer esse desenvolvimento ofertando aulas

de qualidade, recursos tecnolgicos e didticos, alm de espaos fsicos que

atendam aos projetos desenvolvidos pelos educadores.

Os estudantes do turno noturno em sua maioria adultos trabalhadores,

apresentam um comportamento diferente dos estudantes do diurno, tendo mais

conscincia em relao a sua postura enquanto estudantes, apresentam mais

respeito para com os educadores e colegas, o que facilita o desenvolvimento das

atividades propostas pelos educadores. Mesmo com uma quantidade significativa de

jovens com 18 anos, que assumem agora as primeiras responsabilidades da vida

adulta, esses no chegam a atrapalhar as aulas como ocorre nos turnos matutino e

vespertino.

Entre as dificuldades apresentadas no turno noturno, so destacadas a

frequncia obrigatria, a no realizao de tarefas de casa, e o pouco tempo para

estudo. Os estudantes justificam que no h tempo hbil, pois trabalham o dia

inteiro, dependem de transporte pblico e saem muito cedo para o trabalho e

chegam muito tarde a suas casas. A frequncia obrigatria que considerada para

fins de aprovao e, principalmente, reprovao um fator que promove a evaso

de parte desses estudantes, j que alguns perdem o 1 horrio de aulas devido as

dificuldades de locomoo, seja quanto a disponibilidade de transporte pblico e/ou

quanto a fluidez de trnsito, que constantemente apresenta-se congestionado e

lento; o fato de reprovar por essas faltas em algumas disciplinas, desestimula o

estudante a permanecer nas demais.

No turno noturno, boa parte dos estudantes est retornando aos estudos, e

no apenas mudando de modalidade como acontece no diurno, com isso

apresentam deficincias de contedos significativos para cursar o 3 segmento; em

virtude disso os educadores consideram necessrios atendimentos extraclasse com

atividades de reforo, preferencialmente de portugus e matemtica.

32

Os estudantes do noturno apresentam em seu perfil residir em localidades

distantes da escola, como por exemplo: Brazlndia (inclusive rea rural: Incra 6, 7, 8

e 9), Samambaia, Recanto das Emas, Ceilndia, Santa Maria, Santo Antnio do

Descoberto e guas Lindas de Gois; e, em sua minoria, por alunos que moram em

suas adjacncias. A escola escolhida por apresentar a modalidade de ensino em

EJA e ficar em uma localizao entre o trabalho e a residncia, j que em escolas

prximas as residncias no seria possvel chegar no tempo destinado s aulas, que

das 19h s 23h. caracterstica, quase geral, dos estudantes desse turno

chegarem atrasados para a 1 aula e querer a qualquer custo sair mais cedo na 5

aula, isso se deve a dificuldade no uso do transporte pblico e na falta de segurana

na sada da escola e na chegada as residncias. Os alunos alegam que o nibus

passa bem antes do trmino da aula ou bem depois, por isso correm o risco de

assaltos. Esses fatores so os principais problemas que resultam em atrasos, faltas

e at mesmo a evaso escolar.

Alguns fatores so comuns aos turnos e interferem no desempenho dos

estudantes, entre eles so destacados a falta de hbito/horrio de estudo; a falta de

limites (respeito ao prximo); o desinteresse e a falta de pr-requisitos.

3.3- Anlise da violncia no CED 02 de Taguatinga

O fenmeno de violncia na Educao no um caso isolado de uma

unidade escolar do Distrito Federal, to pouco de um nico pas no mundo.

Abramovay e Rua (2004) afirmam que os estudos da Unicef sobre a violncia nas

escolas, desde a dcada de 1990, desenvolvem-se em diversos pases da Europa e

nos Estados Unidos, comprovando a urgncia da questo e o surgimento de novas

demandas, especialmente, as violncias fsicas associadas as morais.

O retrato que pretende desenhar o quadro de constantes casos de violncia

escolar no polo de EJA do CED 02 de Taguatinga no encerra um julgamento final

sobre as ocorrncias, to pouco aponta para um nico grupo como o responsvel,

antes pretende, no conjunto deste Projeto de Interveno, conjugar-se do esprito

investigativo da Educao para averiguar os dilemas da violncia, principalmente,

quando todos so envolvidos em um processo de desfigurao do processo

formativo.

33

Abramovay e Rua (2004) afirmam que pensar a violncia na escola ,

tambm, perceber quando essa caracterizada como violncia fsica e moral

(comportamento agressivo e antissocial, intimidao fsica e moral, degradao do

semelhante, bullying); portanto, passvel de correo e punio, essas podem

suplantar questes mais srias de desordem psicoemocional e psicossocial.

Abramovay e Rua (2004, p. 71 apud NANCY DAY, 1996, p. 44-45) informam que as

ocorrncias de violncias so reaes sociais e intrapsicolgicas como um abuso

fsico e psicolgico, alm de moral, contra algum que no capaz de se defender;

assim as ocorrncias de violncias escolares podem esconder outros episdios na

vida do jovem agressor.

Especialmente na escola contempornea, na qual a ordem social deve ser

mantida como prerrogativa de manuteno da Instituio Social, os constantes

casos de violncia escolar so apontados pelos grupos pedaggicos e disciplinar da

escola como um problema social e (des) estrutura familiar, alm dos efeitos que

esses causam nos alunos, impactando em alunos avessos ao processo de ensino e

aprendizagem. Nesse sentido, pouco feito pelo estado, pela Sociedade e at pelas

escolas para romper com o ciclo de violncias diversas sofridas e praticadas pelo

aluno agressor, investigando-se a realidade social do aluno e propondo

oportunidades para superao dos problemas detectados. As recorrentes punies

na escola demonstram, na prtica, que essa no finda a violncia (ABRAMOVAY;

RUA, 2004).

Em um extremo do perfil de alunos indisciplinados, encontram-se os alunos

em Liberdade Assistida LA; cujo comportamento na escola desenvolve-se sob

duas vertentes: como alunos que se tornam sociveis (pelo receio em ficarem

confinados nos Centros de reabilitao social nos fins de semana) e, aqueles que

perderam o senso tico de respeito pelos colegas, pelos professores e pela

sociedade.

No perfil de alunos indisciplinados est o contingente de estudantes jovens,

entre 15 e 18 anos, que se encontram em atraso escolar e recorrem a EJA

juvenizando-a, sob a perspectiva de reinsero educacional e social. Neste contexto,

o quadro de violncias registradas no disciplinar aponta a prioridade de tratamento

da violncia na escola, como um problema da comunidade escolar:

34

REGISTRO DISCIPLINAR6

OCORRNCIA ALUNOS ENVOLVIDOS AO PEDAGGICA/

DISCIPLINAR

1- Alunos em conflito

fsico com outro no

espao escolar (sala

de aula,

dependncias ou

proximidades da

escola).

Ocorrncia de nvel:

frequente no

semestre escolar.

Alunos jovens (15 18

anos); normalmente, 2

segmento.

Incidncia demonstra ausncia ou incapacidade de dilogo em situaes extremas.

Providncias levam em

considerao a reincidncia:

1 - Advertncia Oral

(registrada);

2 - Advertncia Escrita

(registrada, com convocao

dos pais ou responsvel);

3- Assinatura dos

responsveis do Termo de

Compromisso; e

- Transferncia para outra

escola, aps deliberao do

Conselho Escolar.

2- Alunos com uso e

porte de drogas

lcitas e ilcitas no

espao escolar.

Ocorrncia de nvel:

frequente.

Alunos jovens (15-18 anos)

maior incidncia, contudo,

este quadro apresenta a

ocorrncia, tambm, para os

maiores de idade.

Novamente, lideram os

alunos do 2 segmento

diurno.

O boletim de ocorrncia registrado na DCA leva em considerao o fenmeno da ameaa a outrem (aluno, professor ou funcionrio da escola)

Providncias levam em

considerao a reincidncia:

1 - Advertncia Escrita

(registrada, com convocao

dos pais ou responsvel);

2- Assinatura dos

responsveis do Termo de

Compromisso; e Registro de

Boletim Policial na DCA

Departamento da Criana e

Adolescente;

3 - Suspenso das

atividades escolares;

- Transferncia para outra

escola, aps deliberao do

Conselho Escolar/de Classe.

6 Dados do Livro de Registro disciplinar, referente ao primeiro semestre de 2015. Trata-se de amostragem de

casos, no contemplando os casos de indisciplina e desrespeito em sala de aula, que no se tornaram registros

escolar. Normalmente, estes casos so registrados, pelo professor, no Dirio Eletrnico e so discutidos nos

Conselhos de Classe bimestral.

35

3- Agresses verbais e

fsicas entre alunas

nas dependncias

escolares (sala de

aula, ptio, banheiro,

imediaes da

escola)

Ocorrncia de nvel:

frequente.

Alunas jovens e adultas (15-

26 anos) maior incidncia no

2 segmento.

Agresses verbais e morais

entre meninas so um dos

fenmenos de maior

crescimento no quadro de

violncia da escola.

Causas apontadas:

Disputas amorosas;

Disputas de poder:

Uso e trfico de drogas ilcitas

Providncias levam em

considerao a reincidncia:

1 - Advertncia Escrita

(registrada, com convocao

dos pais ou responsvel);

2- Assinatura dos

responsveis do Termo de

Compromisso; e Registro de

Boletim Policial na DCA

Departamento da Criana e

Adolescente;

3 - Suspenso das

atividades escolares;

- Transferncia para outra

escola, aps deliberao do

Conselho Escolar/de Classe.

4- Agresses verbais e

morais de aluno em

Liberdade Assistida a

colegas e aos

professores/

funcionrios da

escola.

Ocorrncia de nvel:

ocasional.

Alunos em Liberdade

Assistida - LA esto

cumprindo medida

socioeducativa,

principalmente, com o

objetivo de ressocializao.

Normalmente, dura 6 meses.

Providncias levam em

considerao a reincidncia:

1 - Advertncia Escrita

(registrada, e encaminhada

aos psiclogos e a justia

que os acompanha);

2 - Suspenso das

atividades escolares;

3- Sofrem a sanso de

permanecerem confinados

no centro de ressocializao

(principalmente, fins de

semana).

- Solicitao de

transferncia para outra

escola, aps deliberao do

Conselho Escolar/de Classe.

5- Inmeros casos Avaliao do disciplinar Providncias levam em

36

isolados de exaltao

e ou desequilbrio

emocional: pontuais

a problemas

psicoemocionais

(temporrios ou em

virtude de

acontecimentos

externos, e ainda,

aos casos de Alunos

Laudados).

Ocorrncias de nvel:

ocasional.

realizada respeitando as

singularidades do

fato/fenmeno e ao histrico

escolar de indisciplina, por

exemplo.

Exemplos de anlise:

Alunos com problemas emocionais pontuais;

Alunos com quadros depressivos;

Alunos em luto;

Alunos sob medicao controlada;

Alunos com laudos, etc.

considerao a reincidncia:

- Registro escrito da

ocorrncia;

- Em virtude da anlise

psicoemocional e social,

convocao dos pais

(registro de termo de

responsabilidade).

Solicitao de

esclarecimento: laudo,

receiturio, pareceres

mdicos, psicolgicos, etc.

- Encaminhamento para:

SOE Secretaria de Orientao Educacional.

Sala Multifuncionais atendimento de alunos com deficincias e DI Dificuldades de Aprendizagem.

Mais de 50% das ocorrncias do disciplinar correspondem:

a) Desrespeito verbal ao professor em sala;

b) Agresses verbais a colegas e professores em sala

Maior incidncia entre os

alunos jovens da EJA: 15

18 anos, 2 segmento.

Providncias levam em

considerao a reincidncia:

1 - Advertncia Oral

(registrada);

2 - Advertncia Escrita

(registrada, com convocao

dos pais ou responsveis);

3- Assinatura de

responsveis ao Termo de

Compromisso; e

- Transferncia para outra

escola, aps deliberao do

Conselho Escolar

Quadro 2 Livro de registros do disciplinar - 1 semestre de 2015 (adaptado).

37

As ocorrncias do livro de registro escolar do CED 02 de Taguatinga contribui

para a anlise, segundo Abramovay e Rua (2004, p. 72) de que a literatura nacional

contempla o estudo e a avaliao no apenas da violncia fsica, mas inclui o

acento na tica e na poltica e a preocupao em dar visibilidade a violncia

simblica: na quebra de dilogo, na incapacidade de negociao que, de alguma

forma, matria-prima do conhecimento/educao.

38

4.JUSTIFICATIVA

O Projeto de Interveno Local PIL cujo propsito o de perceber, refletir,

enfrentar e superar as diversas manifestaes de violncias: fsica e moral no

espao-tempo escolar justifica-se, notadamente, pela percepo de que a

transposio da violncia urbana, fruto da Realidade Social brasileira, para as salas

de aula , especialmente, um problema social.

O estudo e reflexo sobre o fenmeno da violncia na Educao formal,

principalmente pelos atores da Educao: alunos, professores, pais e sociedade so

fundamentais para enfrentar a violncia que mais cresce no mundo juvenil, segundo

a OMS (2010) Organizao Mundial da Sade, em relatrio sobre a sade e

educao no mundo para os enfrentamentos dos males sade fsica e moral dos

educandos.

Neste contexto, Grinspun (2001) defende a ideia da Funo Social da

Educao para a formao do aluno-cidado, preparado para as demandas scias

do sculo XXI, afirmando que:

A socializao e a preparao para a participao ativa e consciente do indivduo na sociedade contribuem, de certa forma, para estimular uma reflexo sobre a realidade sociocultural, educativa e tecnolgica e, tambm, para o encaminhamento da criao e inovao, do progresso e da mudana social. A escola, enquanto formaliza a educao, tem que transmitir os conhecimentos acumulados pela sociedade e propiciar meios que levem aquisio de outros conhecimentos, aos desenvolvimentos de atitudes e valores dos alunos. (GRINSPUN, 2001, p. 51)

A pesquisadora Fante, autora da obra Fenmeno Bullying: Como Prevenir a

Violncia nas Escolas e Educar para a Paz (2001, p. 224) afirma que a violncia do

bullying, nos espaos de educao formal: uma das violncias contemporneas

que mais se desenvolve no mundo, atingindo todas as classes sociais e podendo

ocorrer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famlias,

vizinhanas e locais de trabalho. Fante (2001) ressalta que:

39

O que, primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode camuflar crenas e preconceitos sociais slidos, oriundos da vivncia do aluno em sociedade, reforando-o como consentimentos culturais, em detrimento da pulverizao emocional e fsica de seu alvo passivo. (FANTE, 2001, p. 224)

A importncia do estudo e anlise do tema: violncia no espao escolar

merece especial destaque pela proposio de esse, ser um nutriente e a nutrio

dos: esteretipos, preconceitos e discriminao sociais (GUIMARES, 2008).

Principalmente, quando a Escola o espao, na sociedade, da formao inteira do

ser. Segundo a LDB Lei 9.394 (1996), em seu art. 13, afirma ser responsabilidade

da Educao: zelar pela aprendizagem dos alunos. Inclusive no combate a

comportamentos que impeam o direito coletivo a um ambiente propcio para a

Educao.

Neste contexto, afirma o art. 3 da LDB Lei 9.394/1996 contrria a toda

manifestao de violncia e intolerncia, os Princpios e Fins da Educao Nacional

(LDB/Art. 3), o ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios:

igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola. Colaborando,

dessa forma, para interpretao da lei de que a cidadania, o direito em ter direitos e

exerc-los, uma construo permanente e coletiva.

Investigar a violncia, no espao escolar quer seja como rea de estudo e

verificao da: Psicologia Social, Cognitiva e da Personalidade; ou ainda, como

campo de investigao dos diagnsticos e intervenes nos problemas de ensino e

aprendizagem so plataformas de anlise deste PIL. Cujos objetivos acadmicos

so a melhor percepo sobre os temas que envolvem o processo educativo, ou

neste se interpelam impedindo a sua plena realizao: a violncia com cultura

estudantil.

A relevncia social para a investigao e anlise dos eixos temticos que

verso sobre a gnese e desenvolvimento das violncias sociais transportadas para

o relacionamento afetivo-pedaggico escolar aproxima a cincia da reflexo a

respeito da importncia e da qualidade educacional no preparo e formao do

estudante para as prticas sociais e para o mundo do trabalho. Inmeros outros

temas associam-se aos incontveis casos de violncias na escola: necessidade de

40

diminuio da maioridade penal, juvenizao da EJATrabalhadores, prostituio e

gravidez juvenil, evaso escolar, despreparo de professores, ausncia da famlia na

Educao, cultura de violncia, entre outros.

Neste contexto, o Projeto de Interveno Local O PIL deve investigar

tambm -, como causas do fenmeno: a construo e o desenvolvimento dos

esteretipos, preconceitos e discriminaes no espao escolar formal, na Educao

como manifestaes dos valores socioculturais do sujeito em sociedade (LIMA;

PEREIRA, 2004).

Esses, esto embrenhados nas atitudes e iderios de alunos, e tambm de

educadores, que compem a comunidade escolar. A vertente: preconceitos e

esteretipos alimentam as discriminaes e essas, a manifestao da violncia

urbana, por vezes, camuflada de: violncia escolar, problemas de ordem

psicossocial e cultural do corpo discente. E por outras, da ausncia de polticas

pblicas sociais e educacionais eficazes. A Escola pblica brasileira , portanto, um

terreno frtil para o desenvolvimento da violncia fsica e moral, principalmente,

porque um espao de manifestao dos mais variados preconceitos sociais da

prpria sociedade (GUIMARES, 2008).

Nesta abordagem de anlise da validade da pesquisa, ressalta-se o que

afirmam Lima e Pereira (2004, p. 9): os esteretipos, o preconceito e a

discriminao so fenmenos presentes desde o surgimento dos primeiros

agrupamentos humanos. Os estudos sistemticos sobre o assunto se aprimoraram,

a partir dos anos 20 do sculo XX, quando Walter Lippman definiu o que so

esteretipos. Seguido da formulao de mtodo de investigao sobre o fenmeno,

por Katz e Braly. Entretanto, na dcada de 50, que Allport publica o livro: A

natureza do preconceito cujos estudos formulariam os fundamentos tericos para

os estudos dos esteretipos, dos preconceitos e da discriminao como prodgios da

vida em sociedade e da consecuo da violncia urbana e da excluso social (LIMA;

PEREIRA, 2004).

Na histria da psicologia, a anlise de desenvolvimento dos fenmenos de

excluso social est diretamente relacionada com o desenvolvimento sociocultural

41

da sociedade. Lima e Pereira (2004) relacionam trajetria desses temas,

pontuando:

At a dcada de 1920 do sculo XX, os preconceitos eram vistos como atitudes normais frente a grupos sociais classificados como inferiores; Os anos 40 e 50 assistiram ao surgimento de teorias de mbito intra-individual, como a da frustrao-agresso e da personalidade autoritria; Nas dcadas de 70,80 e 90 foi observado o predomnio de teorias que enfatizavam processos de relaes intergrupais, a da identidade social e a do conflito intergrupal. (LIMA; PEREIRA, 2004, p. 9)

Contudo, a partir da metade do sculo XX que importantes posicionamentos

polticos sociais alteraram a percepo pessoal do sujeito em sociedade, tais como:

a Declarao da UNESCO, sobre o Preconceito Racial (1950); as lutas pelos direitos

civis nos EUA; o movimento feminista; os movimentos sociais de luta por direitos

iguais na Europa, Amrica do Sul e frica - promovendo mudanas nas formas de

percepo do preconceito e do racismo, iniciando importantes mudanas de

inteligncia na luta contra os esteretipos e s minorias sociais tambm, contra a

violncia urbana social, no final do sculo XX (LIMA; PEREIRA, 2004).

Neste contexto, os preconceitos, ainda hoje, alimentam-se, das e nas prticas

sociais, dos esteretipos aguados por influncias socioculturais e desenvolvidos no

ncleo da sociedade (LIMA; PEREIRA, 2004). , sobretudo, um processo de

construo social presente na evoluo terica e metodolgica social. Confirmam a

relevncia do tema, Lima e Pereira (2004, p.10), defendendo que: os esteretipos,

os preconceitos e as discriminaes refletem-se nas mudanas sociais e histricas,

assim como nas normas sociais que estruturavam as rel