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Ciência e Saúde Revista Científica do HMC

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Ciência e Saúde Revista Científica do HMC

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DIRETORIA EXECUTIVA/Executive DirectoryLuis Márcio AraújoAdministrador de empresas, Administração financeira e MBA Executivo em Saúde Mauro Oscar Soares Souza LimaMédico especialista em endocrinologia e Advogado

CONSELHO EDITORIAL/Editorial BoardAlessandra Barbosa de Oliveira AndradeMSc. Eng. Produção, FisioterapeutaAlexandre Silva PintoMédico especialista em anestesiologia, TSA/SBAAllan Patryck Bassotto LinoFisioterapeuta especialista em fisioterapia com ênfase em terapia intensiva Ana Paula Barbosa Diniz AlvesFarmacêuticaAna Rosa dos SantosMédica especialista em clínica geral, alergia e imunologiaCláudia Maria Barbosa SallesMédica especialista em gastroenterologiaDaniel Costa Chalabi CalazansMédico especialista em nefrologia James Wagner MoraisMédico especialista em neurocirurgia, Membro titular da SBNJosé Adriano FerreiraMédico especialista em coloproctologiaJuliana Bechara Almeida SousaEnfermeira, MBA gestão empresarial, especialista em auditorias ONA e NIAHO/DIAS Kesley Maria Linhares ReisEnfermeira, especialista em Urgência e Emergência e em Educação profissional na área da saúde.Leonardo de Oliveira CamposMédico especialista em neurologia Leonardo de Oliveira SouzaMédico especialista em cirurgia cardiovascular Leonardo Stopa BarrosMédico especialista em clínica geralLetícia Guimarães Carvalho de Souza LimaMédica especialista em pediatria, Mestranda pela USP

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO/PUBLISHING COMMITTEE

Lorena Araújo VieiraEnfermeira especialista em gestão em serviços de saúde, especialista em auditorias ONA e NIAHO/DIASLuciano de Souza VianaMédico oncologista clínico, MSc, PhDMarcelo Adriano de Assis HudsonMédico especialista em radiologia, Membro titular CBRMarcos Aurélio Mergh MurerMédico especialista em hematologia e hemoterapiaMarjory Caroline Guimarães AndradeAnalista de Sistemas, MBA em Administração e qualidadePedro Paulo Neves de CastroMédico cardiologista intervencionista. Membro titular da SBCIRenata Pereira GuerraFarmacêutica, bioquímica, MBA em gestão empresarialRenato Prado SantosEng. Indl., Inovação e tecnologia, Black BeltRenato Ribeiro da CunhaMédico urologista. Membro titular da SBURenilton Aires LimaMédico especialista em ginecologia e obstetrícia. MSc. Saúde da mulher Roberto Martins de AndradeFisioterapeuta especialista em gestão hospitalarSolange Liege dos Santos PradoPedagoga especialista em gestão escolarSoraya Alves PereiraMédica especialista em otorrinolaringologia. Membro titular da SBO.Teresa Rodrigues SérgioCirurgiã dentista bucomaxilofacialVera Lúcia Venâncio GasparMédica pediatra, MSc em PediatriaVivian Ribeiro MirandaEnfermeira, MSc. Meio Ambiente e Sustentabilidade

INFORMAÇÕES TÉCNICAS/Technical InformationFlávia Aparecida Durães FerreiraAssistente Editorial Frederico Pereira MartinsDesign Editorial

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Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas GeraisSocioeconomic and educational profile of Adolescent mothers in a hospital of Minas Gerais East RegionAlice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar

Avaliação da qualidade de vida do paciente com doença renal crônica em tratamento hemodialítico, em Ipatinga/MGEvaluation of patient’s quality of life with chronic kidney disease in hemodialysis treatment in Ipatinga/MGAline Bussinger Maciel, Eberaldo Severiano Domingos

SUMÁRIO/CONTENTS

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13Maternidade na adolescência e as repercussões sobre a saúde do recém-nascidoTeenage pregnancy and the impacts on the newborn healthDébora Costa e Silva, Vera Lúcia Venâncio Gaspar 22Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectivaInitial treatment of femoral diaphysis fractures in adults: a restrospective analysisFabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes 30

Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de casoGranulomatous Amoebic Encephalitis: case reportEduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros

Normas para publicação

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68

Estudo da experiência sexual de adolescentesStudy of teenagers sexual experienceAdriana Almeida Moreira, Lais Maurício de Oliveira Almeida, Marcus Vinicius Carvalho Campos, Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima 40Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MGClinical and epidemiological profile of diabetic nephropathy patients in hemodialysis in Ipatinga/MGMatheus de Navarro Guimarães Godinho, Eberaldo Severiano Domingos 46

Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico de câncer gástricoAnalysis of Helicobacter Pylori infection prevalence in patients with gastric cancer diagnosisEduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Ralph Brito Damaceno, Leonardo Stopa Barros 54

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Revista Ciência e Saúde 4

ARTIGO ORIGINAL

PERFIL SOCIOECONÔMICO E EDUCACIONAL DAS MÃES ADOLESCENTES EM UM HOSPITAL DO LESTE DE MINAS GERAIS

SOCIOECONOMIC AND EDUCATIONAL PROFILE OF ADOLESCENT MOTHERS IN A HOSPITAL OF MINAS GERAIS EAST REGION

Alice Campos Veloso1, Vera Lúcia Venancio Gaspar2

1 Médica residente em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil. 2 Pediatra coordenadora da residência médica em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.

Autor correspondente: Alice Campos VelosoRua Vitorino Pereira, 34, Imbaúbas, Ipatinga, MG. CEP: 35160-285. Telefone: (31) 87852212.E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 05/03/2015Aprovado para publicação em 19/02/2016

RESUMOObjetivo: Identificar as características das mães adolescentes, como idade, nível educacional, conhecimento sobre educação sexual, desejo de engravidar e o contexto social em que elas estão inseridas. Métodos: Estudo transversal, descritivo e quantitativo, realizado com adolescentes puérperas internadas na maternidade de um Hospital no interior de Minas Gerais, por meio de entrevista com a aplicação de um questionário. A coleta de dados aconteceu no período de setembro a dezembro de 2014. Resultados: A maior parte das pacientes entrevistadas (93,2%) teve acesso ao hospital pelo Sistema Único de Saúde; no momento da entrevista 81,6% afirmaram não estão estudando, e o motivo da interrupção escolar foi a gestação, segundo 44,0% dos casos. A maioria das adolescentes (63,1%) relatou estar morando com o pai da criança, sendo este referido em 51,4% como o principal provedor

ABSTRACTObjective: To identify the adolescent mothers

aspects, such as age, educational background level,

sexual education knowledge, willingness to become

pregnant and the social context in which they are

situated. Methods: Cross-sectional, descriptive and

quantitative study carried out among adolescent

mothers admitted to the maternity of a Hospital in

Minas Gerais, by interviewing patients and filling survey forms. Data collection occurred between

September and December 2014. Results: most

of interviewed patients (93.2%) were able to be

admitted to the hospital by the Unified Health System; during the interview 81.6% said they were

not studying and when they were asked about the

reason of stopping attending to school, the response

“pregnancy” was reported in 44.0% of cases. Most

of adolescents (63.1%) responded they are currently

living with the child’s father, who is the main

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Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais

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INTRODUÇÃODe acordo com a Organização Mundial de Saúde

(OMS), a adolescência corresponde à faixa etária entre 10 e 19 anos.1 A adolescência é um período da vida caracterizado por intenso desenvolvimento físico, emocional e social, compreendendo a transição da infância para a fase adulta. Essas mudanças resultam, para o adolescente, em incertezas e dificuldades em manter a mesma relação com a família e com a sociedade, levando a transformações de comportamento até alcançarem a sua própria identidade.2

A ocorrência da gestação nesse período, em que o desenvolvimento ainda não se completou e a adolescente não atingiu a idade adulta, leva à interrupção de algumas etapas que seriam necessárias para o amadurecimento adequado.3

Com a gestação precoce, a fase final da adolescência pode ser alcançada de forma desfavorável. Nesse

sustainer of family income in 51.4%. The monthly

family income mentioned by 63.0% of surveyed

was up to minimum salary and 87.4% of adolescent

mothers do not financially support family expenses. 88.3% of all surveyed were pregnant for the first time, most of them initiated their sexual life at 15

years old and 46.6% had made use of contraceptive

pills. 84.5% of the adolescent mothers had received

sexual education guidance and less than half of

surveyed had willingness to become pregnant.

Conclusion: These results suggest that teenage

pregnancy prevailed in low socioeconomic status

families. The information disclosure about sexual

education occurs but it is not really consistent,

since most of adolescents do not use contraceptive

methods and get pregnant unintentionally.

Keywords: Teenage pregnancy. Sexuality.

Socioeconomic factors.

sentido, vivenciar esse período caracterizado como instável e ainda imaturo, no qual os jovens devem investir em sua formação pessoal e profissional, aliado a uma gravidez não planejada, torna-se ainda mais complexo. Além disso, pode gerar consequências negativas tanto para a adolescente quanto para o seu filho.2

A gestação nessa fase da vida, muitas vezes, está associada às condições socioeconômicas e educacionais do núcleo familiar. Na maioria dos casos, a família não sabe lidar com a saúde sexual, e os adolescentes não recebem informações consistentes sobre desenvolvimento e sexualidade. Isso os torna vulneráveis, não só à gravidez precoce, como também às doenças sexualmente transmissíveis. Após a descoberta da gestação, o casamento tem sido usado como forma de contornar o evento, no entanto, não evita que o desenvolvimento próprio da adolescente seja interrompido e que ela passe a assumir papéis e

da renda familiar. A renda mensal familiar citada por 63,0% das entrevistadas foi de até um salário-mínimo, e 87,4% das gestantes puérperas não contribuem financeiramente com os gastos da família. Do total das gestantes, 88,3% eram primíparas, a maioria havia iniciado a vida sexual aos 15 anos e 46,6% já haviam feito uso de método anticoncepcional. Das adolescentes, 84,5% haviam recebido orientações sobre educação sexual, e menos da metade desejava engravidar. Conclusão: Esses resultados mostram que a ocorrência da gravidez na adolescência predominou em famílias com baixo nível socioeconômico. A divulgação de informações sobre educação sexual, no entanto, não são consistentes, pois a maioria das adolescentes não usa método anticoncepcional e engravidam sem desejar.

Palavras-chave: Gravidez na adolescência. Sexualidade. Fatores socioeconômicos.

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Alice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar

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responsabilidades de uma pessoa adulta, o que pode ocasionar riscos para a sua vida e a de seu filho.2

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a gestação na adolescência ainda é uma das principais causas de mortalidade materna e infantil, além de contribuir para a continuação do ciclo de pobreza e problemas de saúde.4 Sendo assim, a gravidez não planejada pode ser considerada um problema de saúde pública, pelo grande número de ocorrências e, também, pelo fato de que as adolescentes puérperas apresentam mais risco de complicações durante a gestação e de consequências desfavoráveis para a saúde da criança.5,8

Como exposto anteriormente, muitas vezes, a gravidez precoce é resultado da vulnerabilidade a que os jovens estão expostos, decorrente da falta de estrutura familiar, do baixo nível intelectual e consequente falta de informações das adolescentes.9 Diante disso, o presente estudo visa conhecer as características socioeconômicas e educacionais das mães adolescentes e de seus familiares, para que ações educativas possam ser ampliadas, assim como os programas preventivos de gravidez não planejada.

MÉTODOSTrata-se de um estudo transversal, descritivo e

quantitativo, realizado com adolescentes puérperas internadas em um hospital do interior de Minas Gerais. Para tanto, foi realizada uma pesquisa, por meio de um questionário, elaborado especialmente para este projeto, aplicado em adolescentes puérperas, pelas médicas residentes em pediatria. As entrevistas aconteceram no período de setembro a dezembro de 2014, em um ambiente individualizado, no mínimo, 24 horas após o parto.

A coleta de dados foi iniciada após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), do Centro Universitário do Leste de Minas

Gerais, protocolo de pesquisa número 788.530. As pesquisadoras cumpriram as exigências éticas das pesquisas envolvendo seres humanos.

Para o cálculo amostral, foi utilizado o programa DIMAM 1.0, através da fórmula n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p, com um grau de confiança de 95%, erro máximo permitido de 7% e uma proporção de interesse de 24,2%, sendo a última referenciada no Ministério da Saúde 2013, para uma população de 360 pacientes, tendo como valor amostral 103 adolescentes. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, utilizando-se o software SPSS 19.0. As variáveis qualitativas foram descritas através de frequência absoluta e relativa. Já as variáveis quantitativas, estas foram descritas através de média e desvio padrão. A técnica de amostragem utilizada foi a probabilística aleatória simples e sistemática.

A amostra foi composta por adolescentes puérperas, de 13 a 19 anos de idade, que concordaram em participar da pesquisa e após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. Nos casos em que a adolescente era menor de 18 anos, foi solicitado que o seu representante legal assinasse o termo de consentimento livre e esclarecido, destinado aos pais ou responsáveis, de acordo com a Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012. As adolescentes que não concordaram em participar da entrevista não fizeram parte da pesquisa.

RESULTADOSQuanto às características pessoais e dos familiares

das 103 adolescentes participantes do estudo, 96 (93,2%) tiveram acesso à maternidade por meio da rede pública (Sistema Único de Saúde) e 7 (6,8%) por convênio de saúde. Do total das entrevistadas, 57 (55,4%) tinham entre 18 e 19 anos de idade e 5 (4,8%) eram menores de 15 anos. A maior parte das adolescentes, 72 (69,0%), morava em cidades

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Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais

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adjacentes à cidade onde o hospital está localizado. Do total das entrevistadas, 59 (57,3%) viviam

exclusivamente com o pai da criança e/ou outro filho, sendo que 29 (49,1%) dessas jovens passaram a morar com o companheiro após a descoberta da gestação, constituindo um núcleo familiar independente. As demais, 44 (42,7%) continuavam residindo, também, com outros familiares. Os dados relativos à idade, procedência, número de irmãos e criação encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 – Dados pessoais das adolescentesAspectos pessoais e familiares Frequência PercentualIdade das puérperas (anos)13 1 1,014 4 3,915 12 11,616 10 9,717 19 18,418 25 24,319 32 31,1ProcedênciaIpatinga 31 31,0Outras cidades 72 69,0Mora com o paida criançaSim 65 63,1Não 38 36,9Número de irmãosda adolescenteNenhum 4 3,91 18 17,52 35 34,03 17 16,54 10 9,7≥ 5 19 18,4Criada pela mãeSim 91 88,3Não 12 11,7Criada também pelo paiSim 71 68,9Não 32 31,1Fonte: Dados da pesquisa.

Em relação ao nível educacional, as entrevistadas informaram que 64 (62,1%) pais e 76 (73,8%) mães não ingressaram no ensino médio. Quanto às adolescentes, destaca-se que, no momento da entrevista, 84 (81,6%) das entrevistadas afirmaram que não estavam estudando atualmente, sendo que 37 (44,0%) relataram que a gestação motivou a interrupção escolar, e 22 (21,3%) adolescentes disseram que já haviam abandonado os estudos antes da gravidez, por falta de interesse. A maioria das jovens, 69 (82,1%) das 84, que não continuaram os estudos durante a gestação, pretende voltar a estudar.

Vale ressaltar, ainda, que, do total das entrevistadas, 26 (25,2%) não conseguiram concluir o ensino fundamental e 62 (60,3%) ingressaram no ensino médio, no entanto, destas somente 26 (25,3%) concluíram essa etapa dos estudos.

Em relação ao trabalho remunerado, um pouco mais da metade, 53 (51,5%) das entrevistadas, relatou já ter trabalhado. Quando questionadas sobre a contribuição financeira familiar, a maioria das adolescentes, 90 (87,4%), informou que não participa na renda familiar e apenas 13 (12,6%) informaram que estão trabalhando atualmente. A maioria das participantes não estudava nem trabalhava no momento da entrevista, independentemente da faixa etária.

Verificou-se, ainda, que a maior parte do núcleo familiar em que a adolescente estava inserida apresentava baixa renda, pois 65 (63,0%) das entrevistadas relataram renda familiar mensal de até 1 salário-mínimo, e apenas 4 (3,9%) informaram renda maior que 5 salários-mínimos. O pai da criança foi referido como o principal provedor de renda da família por 53 (51,5%) das entrevistadas, seguido dos avós maternos, 40 (38,8%) das adolescentes.

Os dados referentes à escolaridade das adolescentes, dos seus pais e às características socioeconômicas da família encontram-se na Tabela 2.

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Tabela 2 – Escolaridade das adolescentes e dos seus pais e condições socioeconômicasAspectos educacionais e socioeconômicos Frequência PercentualEscolaridade dos pais das adolescentes

Ensino fundamental incompleto 51 49,5

Ensino fundamental completo 8 7,8

Ensino médio incompleto 8 7,8

Ensino médio completo 13 12,6

Curso técnico 1 1,0

Ensino superior completo 1 1.0

Não sabe informar 16 15,5

Analfabeto 5 4,8Escolaridade das mães das adolescentes

Ensino fundamental incompleto 66 64,1

Ensino fundamental completo 10 9,7

Ensino médio incompleto 7 6,8

Ensino médio completo 13 12,6

Curso técnico 1 1,0

Ensino superior completo 1 1,0

Não sabe informar 5 4,8Continuou os estudos durante a gestação

Sim 19 18,4

Não 84 81,6

Razão para interrupção escolar

Gestação 37 44,0

Desinteresse 22 26,2

Conclusão do ensino médio 14 16,7

Trabalho 4 4,8

Falta de vaga na escola 2 2,4

Casamento 2 2,4

Mudança de cidade 2 2,4

Expulsão da escola 1 1,1

Pretende voltar a estudar

Sim 69 82,1

Não 15 17,9Continua

ConclusãoAspectos educacionais e socioeconômicos Frequência PercentualEscolaridade das adolescentesEnsino fundamental incompleto 26 25,2Ensino fundamental completo 15 14,5Ensino médio incompleto 36 35,0Ensino médio completo 24 23,3Curso técnico 1 1,0Ensino superior incompleto 1 1,0Já teve trabalho remunerado

Sim 53 51,5

Não 50 48,5Contribui financeiramente com a renda da famíliaSim 13 12,6

Não 90 87,4Renda mensal da família em salários-mínimosAté 1 65 63,0

2 a 5 34 33,0

6 a 10 3 2,9

11 a 20 1 1,0

Principal provedor do núcleo familiarPai da criança 53 51,4

Avós maternos 40 38,8

Avós paternos 5 4,9

Outros 5 4,9

Fonte: Dados da pesquisa.

Sobre a sexualidade, observou-se que 80 (77,7%) adolescentes iniciaram atividade sexual com 15 anos ou menos. Quanto aos aspectos reprodutivos, 91 (88,3%) eram primíparas, sendo que a idade de início da vida reprodutiva variou de 13 a 19 anos, e a primeira gestação ocorreu após os 17 anos em 56 (54,3%) das entrevistadas. História de aborto anterior foi relatado por 9 (8,7%) participantes, destas apenas 1 afirmou ter provocado o aborto. Esses dados encontram-se na Tabela 3.

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Perfil socioeconômico e educacional das mães adolescentes em um hospital do Leste de Minas Gerais

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Tabela 4 – Informações sobre contracepçãoInformações sobre contracepção Frequência PercentualUso de método anticoncepcionalSim 48 46,6Não 55 53,4Tipo de contracepção Contraceptivo hormonal 40 83,3Preservativo masculino 8 16,7Uso prévio de pílula do dia seguinteSim 47 45,6Não 56 54,4Orientação sobre educação sexualSim 87 84,5Não 16 15,5Principais fontes de informações sobre contracepção* Escola 62 53Família 26 22,2Unidade de saúde 18 15,4Médicos 5 4,3Amigos 4 3,4Internet 2 1,7Conhecimento sobre contracepçãoSim 95 92,2Não 8 7,8Gostaria de receber mais informações sobre anticoncepçãoSim 47 45,6Não 56 54,4Teve desejo de engravidarSim 44 42,7Não 59 57,3*Uma mesma adolescente pode citar mais de uma opção de resposta.

Tabela 3 – Características da sexualidade das adolescentes Aspectos reprodutivos Frequência PercentualIdade na época da primeira relação sexual1 1 1,05 5 4,814 14 13,629 29 28,231 31 30,111 11 10,77 7 6,85 5 4,8Número de gestaçõesPrimeira 91 88,3Segunda 10 9,7Terceira 2 2,0Idade ao engravidar pela primeira vez13 4 3,914 15 14,615 14 13,616 14 13,617 25 24,318 20 19,419 11 10,6AbortoSim 9 8,7Não 94 91,3Fonte: Dados da pesquisa.

Ao considerar os aspectos de anticoncepção, os métodos contraceptivos foram utilizados por menos da metade das jovens, 48 (46,6%), e o método mais utilizado foi a contracepção hormonal, em 40 (83,3%) dos casos. Entre as entrevistadas, 47 (45,6%) relataram já ter feito o uso de pílula do dia seguinte.

Em relação às orientações sobre educação sexual, uma parcela expressiva 87 (84,5%) já tinha recebido informações sobre contracepção. Como fonte de orientação, a escola foi a mais citada, 62 (53%),

seguida da família, 26 (22,2%), e de unidades de saúde, 18 (15,4%) adolescentes. Destaca-se que 56 (54,4%) não gostariam de receber mais informações sobre como evitar a gestação. Quando questionadas se a gravidez foi planejada, 44 (42,7%) confirmaram o desejo de engravidar. Esses dados encontram-se na Tabela 4.

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DISCUSSÃONesta pesquisa, foi possível observar que, entre as

adolescentes de 13 a 19 anos, 55,4% tinham entre 18 e 19 anos de idade e 4,8% eram menores de 15 anos. Desde 1990, tem ocorrido uma diminuição nas taxas de natalidade entre as adolescentes, entretanto, aproximadamente 11,0% dos nascimentos, em todo o mundo, ainda acontecem com jovens entre 15 e 19 anos de idade, sendo a maioria (95,0%) de países com baixa e média renda.4

Diante disso, vale ressaltar que 93,2% das gestantes tiveram acesso à internação por meio do Sistema Único de Saúde, o que oferece informação sobre a situação econômica das adolescentes. A gravidez na adolescência pode estar associada ao baixo nível socioeconômico e cultural em que as jovens estão inseridas, sendo que a maioria das famílias apresenta baixa renda, menor nível educacional, e as adolescentes não exercem atividade remunerada.10

A maioria das adolescentes entrevistadas (57,3%) morava com o companheiro, sendo que a metade dos casais passou a morar junto após a descoberta da gestação. Nesse sentido, a gestação é considerada um fator desencadeante para o início de uma união estável ou matrimônio entre os casais adolescentes.5

Entre as adolescentes, 81,6% não continuaram os estudos durante a gravidez, e 25,2% não concluíram o ensino fundamental. A gravidez durante a adolescência pode levar à interrupção escolar precoce.11 Das adolescentes que não estavam estudando atualmente, 82,1% relataram pretensão de voltar a estudar.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a maternidade não planejada gera consequências negativas para as adolescentes, levando muitas a abandonar os estudos.4 No entanto, o abandono escolar, em alguns casos, ocorre antes de a adolescente engravidar, sendo a evasão escolar uma possível condição de risco para a gestação precoce.11

Em relação à escolaridade dos pais das adolescentes, nota-se, também, a recorrência de baixo nível educacional. Na atual pesquisa, apenas 1,0% dos pais tinha ensino superior completo. Esse dado é considerado um fator de risco para a gravidez não planejada, visto que a família é uma importante fonte de informações sobre saúde, principalmente sobre sexualidade e contracepção. Por isso, os pais devem ser esclarecidos para que possam fornecer informações consistentes e orientações sobre educação sexual aos filhos.12

Das adolescentes que participaram da pesquisa, 51,5% já exerceram atividade remunerada, no entanto, apenas 12,6% contribuem financeiramente com os gastos da família. Uma jovem com menor nível de escolaridade tem menos oportunidades de inserção no mercado de trabalho e melhora das condições econômicas.10

A renda mensal familiar informada por 63,0% das adolescentes é de até um salário-mínimo, e o principal provedor do núcleo familiar é o pai da criança, porém, os avós maternos foram referidos como fonte de sustento em 38,8% dos casos. Observou-se que a união estável, incentivada pela gestação não planejada, não gera independência em relação aos pais em um número significativo das adolescentes. Estudiosos consideram que os profissionais devem ser cautelosos no atendimento às mães adolescentes, pois estas precisam de apoio dos profissionais de saúde e da família, para os cuidados com o recém-nascido.5

O início da vida sexual de 77,7% das adolescentes foi com menos de 16 anos de idade, e 32,0% destas tiveram a primeira gestação também nessa faixa etária. O início precoce da vida sexual tem sido associado com a maternidade na adolescência, além da falta de conhecimentos sobre a sexualidade e o uso pouco frequente de anticoncepção.13 Dentre os motivos para não se utilizar a contracepção, destaca-

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se que, no momento da relação, os adolescentes não pensam que podem engravidar, não se preocupam com as consequências da gestação e, muitas vezes, o companheiro se nega a usar o recurso contraceptivo. O conhecimento desses motivos tem relevante importância para a saúde pública no que concerne à educação sexual e às orientações antecipadas para os jovens.14

Das 103 adolescentes entrevistadas, menos da metade utilizava método anticoncepcional, e 45,6% informaram já ter utilizado a pílula do dia seguinte. O uso desse método contraceptivo entre as jovens vem aumentando por ser uma população que está mais exposta à gravidez não planejada. Esse medicamento pode ser usado em todas as idades, o entanto, somente em caso de emergência, sendo inadequado para o uso contínuo como método de contracepção, pois pode causar efeitos secundários, como irregularidade do ciclo menstrual, e, além disso, não previne as doenças sexualmente transmissíveis.15,16

O atual estudo evidenciou que a maioria das entrevistadas já havia recebido orientações sobre educação sexual, sendo a escola e, em seguida, a família as principais fontes. Dentre as adolescentes, 92,2% afirmaram saber como evitar gravidez, isso demonstra que apenas o conhecimento das adolescentes não é suficiente para o uso efetivo de métodos contraceptivos e prevenção da gestação não

planejada.12

Em relação ao desejo de engravidar, observou-se que mais da metade das adolescentes não desejavam ter engravidado, o que pode ser justificado pela certeza, da maioria das entrevistadas, da falta de estrutura para constituir um novo núcleo familiar no presente momento.10

CONCLUSÃOA gestação na adolescência está diretamente

relacionada a ambientes em que as condições sociais, econômicas e culturais são desfavoráveis. A permanência das adolescentes na escola tem importância na prevenção da gestação não planejada, visto que o baixo nível educacional das adolescentes puérperas, devido à evasão escolar, pode ser considerado tanto causa como consequência da gravidez precoce.

A identificação das características da adolescente gestante tem fundamental importância para a criação de políticas de educação sexual. Sugere-se que a orientação sexual seja oferecida o quanto antes às adolescentes, por meio de campanhas de prevenção, programas de planejamento familiar e ações educativas, que são consideradas de grande importância para a conscientização dos jovens e diminuição das gestações não planejadas, visto que a sexualidade tem sido pouco debatida no ambiente familiar.

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Revista Ciência e Saúde

Alice Campos Veloso, Vera Lúcia Venancio Gaspar

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE COM DOENÇA RENAL CRÔNICA EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO, EM IPATINGA/MG

EVALUATION OF PATIENT’S QUALITY OF LIFE WITH CHRONIC KIDNEY DISEASE IN HEMODIALYSIS TREATMENT IN IPATINGA/MG

Aline Bussinger Maciel1, Eberaldo Severiano Domingos2

1 Médica residente de Clínica Médica do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.2 Nefrologista. Preceptor de Clínica Médica no Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.

Autor correspondente: Aline Bussinger MacielHospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco XavierRua Copacabana, 335, Coronel Fabriciano, MG. CEP: 35170-098. Telefone: (31)89401981. E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 10/03/2015Aprovado para publicação em 19/02/2016

RESUMOIntrodução: Qualidade de vida é uma dimensão que tem sido amplamente investigada na saúde da população, independentemente da faixa etária. A natureza progressiva da doença renal crônica gera desequilíbrio e disfunção a longo prazo, o que leva a limitações físicas e psicológicas, alterando a qualidade de vida desses doentes. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida dos pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise, em um centro de terapia renal substitutiva. Métodos: Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo e transversal com pacientes em tratamento hemodialítico, em um hospital da região Leste de Minas Gerais. A qualidade de vida foi avaliada por meio do instrumento WHOQOL-bref, da Organização Mundial de Saúde. Resultados: pacientes com insuficiência renal crônica apresentam redução na qualidade de vida, principalmente no domínio geral e físico.

Palavras-chave: Qualidade de vida. Hemodiálise. WHOQOL-bref. Insuficiência Renal Crônica.

ABSTRACTIntroduction: Quality of life has been a subject of

growing research in population health studies field, regardless the age range group. The forward char-

acter of chronic kidney disease creates a long term

imbalance and dysfunction, which leads to physical

and psychological limitations, compromising the

quality of life of these patients. Objective: evaluate

the quality of life of patients with chronic kidney fail-

ure in hemodialysis in a renal replacement therapy

center. Methods: This is an epidemiologic, descrip-

tive and transversal study with patients in hemodi-

alysis treatment at a hospital in the eastern region

of Minas Gerais. The quality of life was analyzed

through the WHOQOL-bref testing instrument of the

World Health Organization. Results: patients with

chronic renal failure have quality of life reduced,

especially in general and physical control.

Keywords: Quality of life. Hemodialysis. WHO-

QOL-bref. Chronic Kidney Failure.

ARTIGO ORIGINAL

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INTRODUÇÃOAs doenças crônicas apresentam, de modo geral,

uma história natural arrastada, caracterizando-se por período de latência longo e curso assintomático prolongado. Além disso, acarretam alterações patológicas irreversíveis, com consequente incapacidade.1

A doença renal crônica (DRC) consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins, que, em fases mais avançadas, não conseguem manter o equilíbrio homeostático do paciente.2

A Insuficiência Renal Crônica (IRC) é, atualmente, um problema de saúde pública mundial. O aumento em sua incidência decorre, principalmente, da maior expectativa de vida da população e do aumento na prevalência de diabetes melito, hipertensão arterial e obesidade.3,4 O censo 2013 da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) estimou em 100.397 o número de pacientes em tratamento dialítico no Brasil, sendo a faixa etária prevalente dos 19 aos 64 anos (62,6%), e a distribuição por sexo se dá em 58% de pessoas do sexo masculino e 42% do feminino.5

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade de vida (QV) é a percepção da pessoa quanto a sua posição na vida, no contexto cultural e sistemas de valores em que ela vive, assim como quanto aos seus objetivos, preocupações e expectativas.6 De acordo com esses aspectos, o paciente com DRC, submetido à hemodiálise (HD), convive com a negação e as consequências da evolução natural da doença, além das limitações físicas, problemas emocionais e sociais, que repercutem em sua QV.7 O apoio social pode servir e ser utilizado como defesa emocional das consequências negativas durante o declínio da condição física, ao longo do processo de adoecer.

Assim, a DRC tem impacto negativo sobre a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). Portanto, a monitorização dos indicadores de QV é

de grande importância, pois, além de ser um aspecto fundamental da saúde, permite demonstrar sua relação com a morbidade e mortalidade. O tratamento hemodialítico é responsável por um cotidiano monótono e restrito, e as atividades dos pacientes são limitadas após o início do tratamento, o que favorece o sedentarismo e a deficiência funcional.

Diante disso, este estudo tem como objetivo avaliar a percepção de qualidade de vida do paciente com DRC, submetido a tratamento hemodialítico.

MATERIAIS E MÉTODOSTrata-se de um estudo observacional transversal,

no qual foram avaliados pacientes com insuficiência renal crônica, submetidos à hemodiálise, em Centro de Terapia Renal Substitutiva (CTRS) de um hospital localizado na região Leste de Minas Gerais.

A população pesquisada foi composta por pacientes maiores de 18 anos, portadores de IRC, em tratamento hemodialítico há mais de três meses, que aceitaram participar da pesquisa após assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todos tinham capacidade cognitiva para compreender e responder às perguntas dos questionários.

A coleta de dados foi feita na forma de entrevista diante da possível dificuldade dos participantes para escrever, devido à imobilização do membro durante a hemodiálise, déficit visual e baixo nível institucional. Assim, quando o participante não compreendia alguma pergunta do questionário WHOQOL-Bref, esta era lida novamente de forma pausada. Nas perguntas abertas, os pesquisadores registraram na íntegra as respostas dos participantes.

Para a coleta de dados, foram aplicados dois questionários. O primeiro era um questionário contendo 17 perguntas, que abordavam aspectos socioeconômicos e caracterização da amostra dos participantes do estudo. O segundo questionário

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Avaliação da qualidade de vida do paciente com doença renal crônica em tratamento hemodialítico, em Ipatinga/MG

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aplicado e escolhido para a avaliação da qualidade de vida foi o WHOQOL-Bref, instrumento testado e validado em várias culturas, sob a coordenação do World Health (OMS). O grupo de QV da OMS desenvolveu a versão abreviada do WHOQOL-100, o WHOQOL-Bref no ano de 1998. Este conta com 26 questões, sendo duas acerca de qualidade de vida e as outras 24 representando cada uma das 24 facetas que compõem o questionário original.

As questões do WHOQOL-Bref apresentam-se em quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e com o meio ambiente. Essas questões têm quatro tipos de escalas de respostas: intensidade, capacidade, frequência e avaliação, todas graduadas em cinco níveis. As escalas são do tipo Likert, sendo que a escala de intensidade varia de nada a extremamente; a escala de capacidade varia de nada a completamente; a escala de avaliação de muito insatisfeito a muito satisfeito e muito ruim a muito bom; e a escala de frequência de nunca a sempre. Todas as palavras-âncoras possuem uma pontuação de um a cinco e, para as questões de número 3, 4 e 26, os escores são invertidos em função de 1=5; 2=4; 3=3; 4=2 e 5=1.

O cálculo utilizado para determinação do tamanho da amostra, com base na estimativa do total de pacientes com insuficiência renal crônica submetidos à hemodiálise, foi n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p. Utilizou-se um grau de confiança de 95%, erro máximo permitido de 5% e uma proporção de interesse de 7,69%, sendo a última referenciada em um estudo de qualidade de vida de pacientes com insuficiência renal crônica submetidos a hemodiálise,8 para uma população de 312 pacientes com insuficiência renal crônica, tendo como valor amostral de 82 pacientes.

Os dados foram analisados empregando-se estatística descritiva. Para análise estatística, foi utilizado o software SPSS, versão 19.0. As variáveis quantitativas foram descritas através de média, já

as variáveis qualitativas foram descritas através de frequência absoluta e relativa.

RESULTADOSOs dados referentes às variáveis de caracterização

dos pacientes com DRC submetidos à HD, tais como, gênero, idade, município onde reside, estado civil, escolaridade, profissão, renda familiar, tipo de moradia, número de pessoas que residem com o paciente, estão demonstrados na Tabela 1.

Participaram deste estudo 82 pacientes, sendo a maioria do sexo masculino, 53,65% dos entrevistados. A média de idade da população estudada foi de 51,31 anos (variando de 18 a 82 anos). A maior parte dos pacientes, 98,78%, submete-se a três sessões de hemodiálise por semana.

Quanto à faixa etária, a maior porcentagem, 37,80%, compreendia a faixa etária de 51 a 65 anos. Com relação ao nível de escolaridade, observou-se que a maior parte dos pacientes, 64,63%, possui o 1° grau incompleto.

Tabela 1 – Distribuição da população em estudoVariáveis N %GêneroMasculino 44 53,65Feminino 38 46,35Faixa Etária18 a 35 anos 13 15,8536 a 50 anos 23 28,0451 a 65 anos 31 37,8066 anos ou mais 15 18,29Município em que resideIpatinga 29 35,37Outros 53 64,63Estado CivilCasado 46 56,09Solteiro 31 37,80Outros 5 6,09

Continua

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ContinuaçãoVariáveis N %EscolaridadeAnalfabeto 2 2,431° Grau Completo 9 10,971° Grau Incompleto 53 64,632° Grau Completo 13 15,852° Grau Incompleto 3 3,653° Grau Completo 0 0,003° Grau Incompleto 2 2,43OcupaçãoDo lar 12 14,63Aposentado/Licença Saúde 60 73,17Outros 10 12,19Renda Familiar MensalMenos de 1 Salário-Mínimo 2 2,431 a 2 Salários-Mínimos 63 76,823 a 5 Salários-Mínimos 16 19,51Mais de 5 Salários-Mínimos 1 1,21Interferência da HD nas atividades profissionaisSim 70 85,36Não 12 14,63Interferência da HD nas atividades de lazerSim 64 78,04Não 18 21,95MoradiaCasa Própria 63 76,82Aluguel 12 14,63Outra 7 8,53Número de pessoas que residem com o pacienteSozinho 6 7,211 Pessoa 22 26,822 Pessoas 20 24,393 Pessoas 23 28,044 Pessoas 7 8,535 ou Mais Pessoas 4 4,87

Continua

ConclusãoVariáveis N %Tempo que o paciente possui IRCMenos de 1 Ano 5 6,091 a 2 Anos 5 6,092 a 3 Anos 8 9,753 a 4 Anos 3 3,654 a 5 Anos 3 3,655 ou Mais Anos 58 70,73Não se lembra 0 0,00Tempo que o paciente faz hemodiáliseMenos de 1 Ano 24 29,261 a 2 Anos 13 15,852 a 3 Anos 9 10,973 a 4 Anos 4 4,874 a 5 Anos 3 3,655 ou Mais Anos 29 35,36Não se lembra 0 0,00Número de sessões por semana1 vez 0 0,002 vezes 0 0,003 vezes 81 98,78Mais de 3 vezes 1 1,21Complicações durante a hemodiáliseSim 60 73,17Não 22 26,82Estado emocional durante a sessão de hemodiáliseTranquilo 55 67,07Cansado 8 9,75Nervoso/Estressado 15 18,29Preocupado 4 4,87Outras doenças associadasSim 67 81,70Não 15 18,29Fonte: Dados da pesquisa.

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Tabela 2 – Escore Médio das facetas da qualidade de vida geral do instrumento WHOQOL-bref.

Nº da questão

Facetas daQualidade

de Vida GeralValor do

Escore Médio

1Como você avaliaria a

sua qualidade de vida? 2,90

2Quão satisfeito você está

com a sua saúde? 2,84

Escore Médio Geral 2,87

Tabela 3 – Escore Médio das facetas do domínio físico do instrumento WHOQOL-bref.

Nº da questãoFacetas do

Domínio FísicoValor do

Escore Médio

3

Em que medida você acha que sua dor (física) impede

você de fazer o que você precisa? 2,32

4

O quanto você precisa de algum tratamento médico

para levar sua vida diária? 3,85

10Você tem energia suficiente

para o seu dia a dia? 2,61

Tabela 3 – Escore Médio das facetas do domínio físico do instrumento WHOQOL-bref.

Nº da questãoFacetas do

Domínio FísicoValor do

Escore Médio

15Quão bem você é capaz

de se locomover? 3,79

16Quão satisfeito você está

com o seu sono? 3,52

17

Quão satisfeito você está com a sua capacidade

de desempenhar as atividades do seu dia a

dia? 2,73

18

Quão satisfeito você está com a sua capacidade

para o trabalho? 2,48

Escore Médio Geral 3,04

Tabela 4 – Escore Médio das facetas do domínio psicológico do instrumento WHOQOL-bref.

Nº da questãoFacetas do

Domínio PsicológicoValor do

Escore Médio

5O quanto você aproveita a

vida? 2,73

6Em que medida você acha que

a sua vida tem sentido? 4,16

7O quanto você consegue se

concentrar? 3,52

11Você é capaz de aceitar sua

aparência física? 3,55

19Quão satisfeito você está

consigo mesmo? 3,72

26

Com que frequência você tem sentimentos negativos tais

como mau humor, desespero, ansiedade e depressão? 2,55

Escore Médio Geral do Domínio 3,37

Quando questionados acerca da renda familiar mensal, tendo como base o salário-mínimo atual, verificou-se que 76,82% da população tinha uma renda de 1 a 2 salários-mínimos, enquanto 19,51% recebiam de 3 a 5 salários-mínimos.

Conforme mostra a Tabela 1, a maior parte dos pacientes relata que a hemodiálise interfere nas atividades profissionais e de lazer/recreação, respectivamente, 85,36% e 78,04%. Observa-se, ainda, que a maioria dos pacientes tem diagnóstico e encontram-se em hemodiálise há mais de 5 anos.

As Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6 apresentam escores variados, que podem ser observados a seguir.

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Tabela 5 – Escore Médio das facetas do domínio relações sociais do instrumento WHOQOL-bref.

Nº da questãoFacetas do

Domínio Relações SociaisValor do

Escore Médio

20

Quão satisfeito você está com suas relações pessoais

(amigos, parentes, conhecidos, colegas)? 4,23

21Quão satisfeito você está com

a sua vida sexual? 3,09

22

Quão satisfeito você está com o apoio que você recebe de

seus amigos? 4,10

Escore Médio Geral do Domínio 3,81

Tabela 6 – Escore Médio das facetas do domínio meio ambiente do instrumento WHOQOL-bref.

Nº da questãoFacetas do Domínio

Meio AmbienteValor do

Escore Médio

8Quão seguro você se sente em

sua vida diária? 3,17

9

Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição

atrativos)? 3,79

12Você tem dinheiro suficiente para satisfazer as suas necessidades? 2,54

13

Quão disponível para você estão as informações que precisa no

seu dia a dia? 3,18

14

Em que medida você tem oportunidade de atividade de

lazer? 2,79

23Quão satisfeito você está com as

condições do local onde mora? 3,94

24

Quão satisfeito você está com o seu acesso aos serviços de

saúde? 3,54

25Quão satisfeito você está com o

seu meio de transporte? 3,72

Escore Médio Geral do Domínio 3,33

Conforme mostram as tabelas apresentadas anteriormente, os menores escores foram encontrados na faceta qualidade de vida geral e domínio físico. O maior escore foi encontrado na faceta do domínio das relações sociais.

DISCUSSÃOA IRC e o tratamento de hemodiálise impactam a

QV de seus portadores em níveis variados, sob as dimensões física, psicológica, social, ambiental e geral, a partir do diagnóstico e ao longo do tempo em que permanecem em tratamento, estando esse impacto relacionado, também, com os dados sociodemográficos. Como se pode observar nos resultados, a IRC impacta a QV, principalmente de forma negativa.

A amostra foi constituída, em sua maioria, por participantes do sexo masculino. Esse resultado se assemelha aos de muitos trabalhos encontrados na literatura, que mostram o gênero masculino como predominante nas sessões de HD.7,9,10 Esse dado também é corroborado pelo censo de 2013, disponível no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia.5

Um fator que pode justificar o fato de ter mais homens em tratamento hemodialítico do que mulheres é que a hipertensão arterial tem maior prevalência no sexo masculino. Essa patologia é uma das principais causas de IRC, levando o paciente a necessitar de terapia renal substitutiva.

A maior parte dos pacientes estudados tinha entre 51 a 65 anos de idade. Alguns estudos encontrados na literatura verificaram que 53,1% dos pacientes renais crônicos estudados compreendiam a faixa etária de 36 a 55 anos;11 57,8% na faixa de 50 a 69 anos;12 26,3% estavam entre a faixa etária de 40 e 49 anos e a mesma proporção entre 50 e 59 anos;13 e 49% encontravam-se entre a faixa etária de 41 e 60 anos.14 A faixa etária média dos pacientes que

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desenvolvem DRC é de 60 anos.Apesar de a idade avançada ser um fator que

influencia a mortalidade, ela não deve ser um fator que contraindique o tratamento dialítico. Dessa forma, para compensar os efeitos negativos da idade avançada e elevada comorbidade associada, deve ser oferecido ao paciente cuidado individual, visando melhorar a expectativa desse grupo etário.

Quanto ao nível de escolaridade, este é um fator primordial, pois reflete de modo direto a assimilação das informações recebidas. O fato de a maior parte dos pacientes apresentarem baixo nível de escolaridade serve de alerta aos profissionais de saúde, para que utilizem uma linguagem simples e acessível a esses pacientes, tanto para as orientações quanto prevenção de complicações.

Dos 82 pacientes entrevistados, 63 disseram receber entre 1 e 2 salários-mínimos por mês. A baixa renda familiar mensal pode ser explicada pela limitação laboral que a DRC pode ocasionar. Alguns pesquisadores confirmam esses dados, segundo os quais, a maioria dos pacientes estudados, contavam com uma renda de 1 a 2 salários-mínimos.15 Vale lembrar que uma renda familiar muito baixa acaba não sendo suficiente para os gastos familiares e outras dificuldades acabam sendo associadas, tais como dificuldade em ter uma nutrição adequada e gasto com medicamentos.

A interferência na realização das atividades profissionais também ficou evidenciada neste estudo. Considera-se de grande importância que o profissional de saúde atente-se para a questão do trabalho na vida do paciente com DRC, pois esta é uma necessidade referenciada por eles, não só pelo lado financeiro, mas, também, pela questão social, como sentimento de ociosidade, inutilidade e sensação de peso para a família.16

As limitações nas atividades de lazer também

foram alvo de queixa da maior parte dos pacientes. É importante salientar que, apesar do paciente com IRC poder sobreviver por longos períodos devido aos avanços do tratamento hemodialítico, isso não significa necessariamente viver bem, já que quase sempre existem prejuízos na participação de algumas atividades de lazer. A QV pode estar prejudicada devido à periodicidade do tratamento contínuo.17

As insatisfações com a capacidade para o trabalho e a capacidade de realizar as atividades do dia a dia ficaram evidentes na faceta do domínio físico. Tais resultados corroboram com os achados de uma pesquisa que afirma que a dependência contínua do tratamento hemodialítico interfere nos estudos e no trabalho dos pacientes, assim como a falta de disposição e energia no dia a dia, decorrente das complicações e sintomas dessa patologia.14

O escore médio da faceta da qualidade de vida foi o mais baixo encontrado. A maneira de reagir à doença difere de pessoa para pessoa, mas todos têm a necessidade de reaprender a viver.18 A QV depende, portanto, das expectativas e do plano de vida de cada indivíduo. Assim, o que é uma vida de boa qualidade para um, pode não ser para o outro.19,20

Acerca do domínio psicológico, a faceta que apresentou menor escore, foi a de número 26. Sabe-se que a IRC e o tratamento hemodialítico provocam uma sucessão de situações para o paciente renal crônico, o que compromete não só o aspecto físico, como também o psicológico, trazendo repercussões sociais, familiares e pessoais. Além disso, o paciente com DRC vivencia uma mudança brusca no seu viver, convive com limitações e, muitas vezes, pensamento de morte.21

Já a faceta das relações sociais apresentou o maior escore encontrado neste estudo. As relações com familiares e amigos são consideradas como influenciadoras para a QV das pessoas, uma vez que

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poder contar com a compreensão e o respeito as suas limitações ajudará na conquista de uma melhor QV.22

Com relação ao domínio de meio ambiente, a faceta de número 12 (recursos financeiros) foi o menor escore encontrado. Tal aspecto corrobora o resultado encontrado neste estudo, em que 76,82% dos pacientes entrevistados relataram receber entre 1 e 2 salários-mínimos. O paciente com IRC em tratamento hemodialítico se depara com perda de emprego, com consequente diminuição da renda familiar e dependência de Previdência Social.14

CONCLUSÃOEste estudo permitiu caracterizar os pacientes

renais crônicos em hemodiálise. O questionário socioeconômico e o WHOQOL-bref não apresentaram dificuldades em sua aplicação; ambos permitem a conclusão de que a QV da população estudada é insatisfatória.

A IRC pode ocasionar mudanças no estilo de vida e causar alterações físicas e comportamentais nos nefropatas crônicos, decorrentes da condição de doentes crônicos. A DRC e o tratamento hemodialítico interferiram na percepção do paciente

frente ao suporte social recebido, a sua QV, englobando limitações físicas e alterações na vida social.

Vale destacar que, apesar da descrença e revolta com relação ao tratamento, os indivíduos portadores de IRC (terapia considerada inevitável e inadiável) não podem abandonar a busca por uma qualidade de vida melhor. Mediante tais fatos, é imprescindível uma abordagem por uma equipe multidisciplinar na avaliação e acompanhamento desses pacientes. Cabe aos profissionais ajudarem o paciente a desenvolver uma autoimagem positiva, descobrir novas maneiras de viver dentro de suas limitações e desenvolver um estilo de vida que lhe permita assumir a responsabilidade por seu tratamento e sua vida, ou seja, ser um indivíduo ativo na sociedade.

O paciente com DRC submetido à hemodiálise terá uma melhor QV quando for informado acerca de sua doença e tratamento, quando existir um forte apoio familiar e um sistema de saúde eficiente. Esse sistema deve oferecer estratégias de reabilitação ao paciente renal crônico, para que este seja capaz de levar uma vida ativa, produtiva e autossuficiente.

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ARTIGO ORIGINAL

MATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA E AS REPERCUSSÕES SOBRE A SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO

TEENAGE PREGNANCY AND THE IMPACTS ON THE NEWBORN HEALTH

Débora Costa e Silva1, Vera Lúcia Venâncio Gaspar2

1 Médica residente em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.2 Pediatra coordenadora da residência médica em pediatria do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.

Autor correspondente: Débora Costa SilvaRua Jordânia,99, Cariru, Ipatinga, MG. CEP: 35160-120. Telefone: (31)8816-4915.E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 01/03/2015Aprovado para publicação em 19/02/2016

RESUMOIntrodução: A adolescência é um período da vida em que ocorrem mudanças físicas e emocionais, um processo de transição para a vida adulta. A gestação nesta fase apresenta peculiaridades que podem repercutir sobre a saúde do filho da mãe adolescente. As consequências podem ocorrer no período neonatal e também durante o desenvolvimento da criança até a vida adulta. O contexto socioeducacional em que essas adolescentes estão inseridas também pode influenciar na saúde do recém-nascido. Objetivo: Verificar as repercussões da gestação na adolescência sobre a saúde do recém-nascido. Método: Estudo transversal, descritivo e quantitativo, realizado entre os meses de setembro a dezembro de 2014, com as adolescentes puérperas internadas no Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier. Para as entrevistas foram utilizados questionários padronizados. Resultados: A maiorias das

ABSTRACTIntroduction: Adolescence is a life period when

physical and emotional changes occur, it is a tran-

sition process to adult life. Pregnancy during this

phase of life brings some peculiarities that may

affect the newborn and adolescent mother health.

These consequences may occur in the neonatal

period and also during the growth phase up to adult

life. The socio-educational status in which these

teenagers are situated can also influence on the newborn health. Objective: Investigate the effects of

teenage pregnancy on the newborn health. Methods:

Cross-sectional, descriptive and quantitative study

that was carried out between September and Decem-

ber 2014, with adolescent mothers admitted to the

Hospital Márcio Cunha - FSFX. Standardized sur-

vey forms were used in the interviews. Results: Most

of teenagers had the support from the child’s father

during pregnancy and birth. In addition, they relied

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adolescentes recebeu apoio do pai da criança durante a gestação e no momento do parto. Além disso, elas contaram com a ajuda deste para educar o filho. Apesar de a maioria dos pais serem adultos jovens, 31 (31,3%) apresentam ensino médio completo. O estudo também mostrou que o parto normal foi o mais frequente entre as adolescentes e que a maioria dos filhos destas nasceu a termo, com peso adequado para a idade gestacional e apresentou Apgar entre 8 e 10. Conclusão: O estudo mostrou pequena incidência de repercussões negativas sobre a saúde do recém-nascido no período neonatal imediato, apesar do baixo nível de escolaridade dos pais e de a gestação ocorrer durante a adolescência. Seria interessante a realização de um estudo prospectivo, visando identificar repercussões a médio e longo prazos.

Palavras-chave: Gestação na adolescência. Recém-nascido. Política social.

on the child’s father’s help to raise him. Despite the

fact that most of parents were young adults, only 31

(31.3%) had concluded high school. The study also

revealed that natural childbirth was the most fre-

quent kind of birth among these adolescent mothers

and that most of babies were born by in term births,

with reasonable weight for the gestational age and

showed an Apgar score between 8 and 10. Conclu-sion: The study revealed a low incidence of negative

impacts on newborn health in the immediate neo-

natal period, regardless of low educational level of

the parents and teenage pregnancy. Conducting a

prospective study in order to identify the impacts in

the medium and long terms would be relevant.

Keywords: Teenage pregnancy. Newborn. Social

public policy

INTRODUÇÃOA adolescência é um importante período do

desenvolvimento humano, em que acontece a transição da infância para a vida adulta, ocorrendo transformações físicas e psicológicas.1 As atitudes e os comportamentos dos adolescentes têm repercussões na vida adulta e podem impactar as próximas gerações.2

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o período da adolescência como a faixa etária entre 10 e 19 anos.3 Já, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência compreende a faixa etária entre 12 e 18 anos de idade.3 Nesta pesquisa, adotou-se o critério da OMS para definir a adolescência.

Nessa fase da vida, uma gravidez apresenta consequências socioeconômicas e pode comprometer o futuro da mãe em relação a emprego, renda e saúde.4 Estudiosos afirmam que muitos adolescentes

buscam o sexo como forma de prazer, devido à falta de estímulo e de perspectiva de vida.5

Além das consequências para a saúde materna, a gestação na adolescência também pode ter repercussões sobre a saúde do filho. Estudo publicado em 2010, não mostrou associação entre óbitos fetais e a idade da puérpera, porém mostrou que o risco de óbito neonatal e pós-neonatal é maior quanto mais jovem é a mãe.6 A incidência de malformações, baixo peso ao nascer e prematuridade é maior entre as adolescentes quando comparado a mães com idade entre 20 e 39 anos. A prematuridade e baixo peso podem predispor a comprometimento neurológico.2 Além disso, as crianças de mães adolescentes estão mais sujeitas à violência e à síndrome da morte súbita infantil.7

É importante ressaltar que esses riscos não estão relacionados somente à idade materna, mas, também,

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às condições socioambientais precárias em que essas adolescentes estão inseridas.2,8,9,10 A gestação entre as adolescentes é mais frequente em algumas regiões, principalmente entre a população com menor poder aquisitivo e de baixa escolaridade, sendo considerada, portanto, um problema social e de saúde pública.5

Frequentemente, as adolescentes interrompem os estudos e a formação profissional devido à gravidez, o que resulta em dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Isso pode levar à perpetuação da pobreza e ter como consequência o aumento dos riscos sociais para a puérpera e o recém-nascido.11 Quanto às consequências para o recém-nascido, há um estudo que mostra que um nível de escolaridade materna maior e a participação paterna no pré-natal são fatores de proteção para os recém-nascidos. O mesmo estudo defende que a gravidez recorrente durante a adolescência está associada a óbito de recém-nascidos no período perinatal.12

Diante do exposto, este estudo tem como objetivo conhecer o perfil de saúde, ao nascer, do filho da mãe adolescente e o contexto social em que esses recém-nascidos foram gerados.

MATERIAIS E MÉTODOSA pesquisa foi realizada em um hospital, localizado

no interior de Minas Gerais, no Vale do Aço, sendo a maternidade considerada referência para as gestantes de alto risco da região.

Foi realizado um estudo transversal, descritivo e quantitativo, entre os meses de setembro a dezembro de 2014, com as adolescentes puérperas internadas nesse hospital. Para tanto, foram feitas entrevistas, através de um questionário padronizado, elaborado após revisão da literatura e de estudos sobre a gravidez na adolescência. O questionário foi aplicado pelas médicas residentes em pediatria do Hospital, após as participantes assinarem o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido. No caso de adolescente com menos de 18 anos, foi solicitada, também, a assinatura do responsável por esta.

Para o cálculo amostral, utilizou-se o programa DIMAM 1.0, através da fórmula n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p , com um grau de confiança de 95%, erro máximo permitido de 7% e uma proporção de interesse de 24,2%, sendo a última referenciada no Ministério da Saúde (2013), para uma população de 360 pacientes, tendo como valor amostral 103 pacientes. Os dados foram analisados utilizando-se estatística descritiva. As variáveis foram descritas através de frequência absoluta e relativa, e a técnica de amostragem utilizada foi probabilística aleatória simples e sistemática.

Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais. O estudo foi conduzido de acordo com a Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, após aprovação do CEP, sob registro de protocolo número 788.530.

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam entrevistadas 103 puérperas em internação

hospitalar, sendo uma gestante mãe de gemelares. Quando perguntadas sobre a participação do pai da

criança durante a gestação, 86 (83,5%) entrevistadas responderam que tiveram a gestação acompanhada pelo pai da criança e 17 (16,5%) disseram que não tiveram apoio do pai da criança. Na Tabela 1, são apresentados dados referentes à idade dos pais das crianças, ao relacionamento entre eles, ao auxilio na criação do recém-nascido e ao sentimento da adolescente diante da maternidade. Uma adolescente relatou não saber a idade do pai da criança.

Os acompanhantes das adolescentes, no momento do parto, também são apresentados na Tabela 1. 4 adolescentes não tiveram acompanhante no momento

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do nascimento da criança, quanto às que tiveram, os dados dos acompanhantes, também citados na tabela 1, foram os seguintes: primas (3), tias (2), sogra (2), cunhada (1), madrasta (1) e o atual namorado (1).

Ao serem indagadas se moravam com o pai do recém-nascido, 65 (63,1%) informaram que sim. Entre as 24 adolescentes casadas, 13 (54,2%) casaram após saberem da gestação.

Tabela 1 – Aspectos sociais e familiares das puérperasAspectos sociais e familiares Frequência Percentual

Faixa etária materna (em anos)

13 a 14 5 4,9

15 a 19 98 95,1

Total 103 100,0

Faixa etária paterna (em anos)

15 a 19 21 20,6

20 a 24 54 52,9

25 a 30 18 17,7

Mais de 30 9 8,8

Total 102 100,0Relacionamento entre os pais do recém-nascido

Companheiro 35 34,0

Namorado 31 30,0

Marido 24 23,3

Casual 8 7,8

“Ficante” 5 4,9

Total 103 100,0Acompanhante da adolescente durante o parto

Pai do recém-nascido 42 42,4

Mãe da adolescente 24 24,2

Avó materna 13 13,1

Irmã 6 6,1

Amiga 4 4,1

Outros 10 10,1

Total 99 100,0

Continua

ConclusãoAspectos sociais e familiares Frequência Percentual

Auxílio na criação do recém-nascido

Pai do recém-nascido 50 48,5Pai e avó materna do recém-nascido 31 30,1

Avó materna 18 17,5

Avó paterna 3 2,9

Atual namorado 1 1,0

Total 103 100,0Sentimento da adolescente diante da maternidade

Felicidade 79 76,7

Tranquilidade 16 15,5

Responsabilidade 2 1,9

Ansiedade 2 1,9

Preocupação 1 1,0

Entusiasmo 1 1,0

Abençoada 1 1,0

Não acredita 1 1,0

Total 103 100,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Quanto à escolaridade e profissão dos pais dos recém-nascidos, os dados encontram-se na Tabela 2. Segundo as informações obtidas, quatro (3,9%) adolescentes relataram não saber a escolaridade do pai da criança. Entre os demais pais, 83 (80,6%) trabalhavam, 17 (16,5%) não trabalhavam, uma (1%) adolescente disse não saber se o pai do recém-nascido trabalha, e 2 (1,9%) pais faleceram, ambos assassinados por arma de fogo.

Quando as puérperas foram questionadas sobre a profissão exercida pelo pai do recém-nascido, várias profissões foram citadas. Três adolescentes não souberam informar a profissão do pai da criança (Tabela 2).

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Tabela 2 – Escolaridade dos pais dos recém-nascidos e a profissão paternaEscolaridade dos pais e profissão paterna Frequência PercentualEscolaridade das mães dos recém-nascidosEnsino fundamental incompleto 26 25,2Ensino fundamental completo 15 14,5Ensino médio incompleto 36 35,0Ensino médio completo 24 23,3Curso técnico 1 1,0Ensino superior incompleto 1 1,0Total 103 100,0Escolaridade dos pais dos recém-nascidosEnsino fundamental incompleto 33 33,3Ensino fundamental completo 10 9,9Ensino médio incompleto 25 25,3Ensino médio completo 24 24,2Curso técnico 1 1,0Curso superior completo 6 6,1Total 99 100,0Profissões dos pais dos recém-nascidosAjudante de pedreiro 15 18,8Montador 9 11,3Mecânico 7 8,8Soldador 6 7,5Pedreiro 5 6,2Motorista 5 6,2Vendedor 5 6,2Outros 28 35,0Total 80 100,0Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 3 – Condições de nascimento do recém-nascidoCondições de nascimento do recém-nascido Frequência PercentualIdade gestacionalMenos de 30 semanas 3 2,931 a 34 semanas 1 1,035 a 36 semanas 5 4,837 a 38 semanas 27 25,939 a 40 semanas 49 47,141 semanas 19 18,3Total 104 100,0Peso de nascimento (em gramas)1.000 a 1.499 2 1,91.500 a 2.499 9 8,72.500 a 2.999 28 26,93.000 a 3.999 63 60,6Mais de 4.000 2 1,9Total 104 100,0Peso para a idade gestacionalAdequado para a idade gestacional 93 89,4Grande para a idade gestacional 9 8,7Pequeno para a idade gestacional 2 1,9Total 104 100,0Apgar no primeiro minuto0 a 3 1 1,04 a 7 3 2,98 a 10 100 96,1Total 104 100,0

Apgar no quinto minuto0 a 3 0 04 a 7 2 1,98 a 10 102 98,1Total 104 100,0Fonte: Dados da pesquisa.

Em relação às condições de nascimento dos recém-nascidos, entre os neonatos, 71 (68,3%) nasceram de parto normal e 33 (31,7%) de parto cesáreo. Nenhuma criança nasceu com uso de fórceps ou vácuo. Os resultados referentes à idade gestacional – peso de nascimento, classificação do recém-nascido quanto

ao peso para a idade gestacional, boletim de Apgar no primeiro e no quinto minuto – podem ser encontrados na Tabela 3.

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Tabela 4 – Internação hospitalarInternação hospitalar Frequência PercentualEncaminhamento do recém-nascido após o partoAlojamento conjunto 99 95,2Intermediária neonatal 3 2,9UTI neonatal 2 1,9Total 104 100,0Fonte: Dados da pesquisa.

Na Tabela 4, a seguir, podem ser observados os locais para os quais os recém-nascidos foram encaminhados após o parto. 6 crianças foram internadas com os seguintes diagnósticos: icterícia neonatal, asfixia neonatal grave, pneumonia congênita, sífilis congênita, doença da membrana hialina e taquipneia transitória do recém-nascido.

Entre as entrevistadas, 83,5% tiveram a gestação acompanhada pelo pai da criança. As adolescentes contam com a ajuda do pai e dos avós da criança para sua criação. O fato de a adolescente apresentar um companheiro é considerado um fator de proteção para prematuridade.12 Em um estudo realizado com cinco pais adolescentes, todos os entrevistados relataram ter participado das consultas de pré-natal e três assistiram ao parto. Todos eles afirmaram que estavam auxiliando suas parceiras nos cuidados com a criança.13 Os avós orientam as adolescentes quanto a problemas frequentes entre os recém-nascidos e, em alguns casos, são considerados como os responsáveis pelos cuidados com a criança.14

Quando questionadas sobre o sentimento diante da maternidade, 76,5% das puérperas disseram que se sentiam felizes e 15,5% tranquilas. Sentimentos de ansiedade, preocupação e responsabilidade também foram citados. A maioria das adolescentes gestantes apresenta sentimentos positivos diante da maternidade e associam-na a mais independência e status social.15

A maioria das puérperas entrevistadas (95,1%) tem idade entre 15 e 19 anos. Entre as adolescentes, 20,4% responderam que os pais das crianças também são adolescentes, com idade entre 15 e 19 anos. Entretanto, há um predomínio da faixa etária de adulto jovem, uma vez que 52,4% dos pais têm entre 20 e 24 anos. Dessa forma, a paternidade parece ocorrer mais tardiamente do que a maternidade, isso é reforçado por estudiosos ao defender que homens adultos que se tornam pais do filho de uma adolescente têm menor escolaridade e tendem a ser até 3 anos mais velhos que a mãe da criança.7 Entre as mães adolescentes mais jovens, é mais comum uma diferença de idade maior em relação ao pai da criança.7 Além disso, a união com um companheiro mais velho está relacionada com a recorrência da gestação na adolescência.12

Em relação à escolaridade, 35% das adolescentes têm ensino médio incompleto. Quanto à escolaridade do pai do recém-nascido, 33,3% tem ensino fundamental incompleto. Conhecer a escolaridade dos pais é importante, pois o baixo nível de escolaridade destes pode ter repercussão sobre a saúde e os cuidados do recém-nascido.8,12,16 As adolescentes que pertencem a classes sociais de menor poder aquisitivo geralmente priorizam a constituição de uma família e não os planos profissionais. Isso favorece a ocorrência da gravidez precoce, bem como a recorrência da gestação durante a adolescência.12

Na presente pesquisa, os pais dos recém-nascidos trabalham, muitos de forma autônoma. Estudos apontam que os adolescentes trabalham mais e são os principais provedores dessas famílias, cabendo às mães o papel de cuidadora do bebê. 17

A maioria das adolescentes mora com o pai da criança, sendo que 23,3% relataram que são casadas. Entre estas, mais da metade casou-se após descobrir a gestação. Assim, o casamento ainda é uma das consequências da gravidez na adolescência.9

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Entre as 103 gestantes entrevistadas, uma foi mãe de gemelares, 68,9% tiveram seus filhos através de parto normal, sendo que a maioria das gestações foi a termo. Como pode ser observado na Tabela 3, 9 recém-nascidos (8,7%) apresentaram baixo peso ao nascer, e 2 (1,9%) muito baixo peso. A maioria dos recém-nascidos nasceu com peso entre 3.000g e 4.000g. Quando analisada a classificação de peso para a idade gestacional, 89,4% dos recém-nascidos apresentaram peso adequado para a idade gestacional.

Em Minas Gerais nasceram 42.467 filhos de mães adolescentes em 2013. Destes, 13,4% nasceram prematuros, 1,6% apresentaram muito baixo peso ao nascer e 0,8% apresentaram anomalia congênita. A maioria dos neonatos (56,9%) nasceu através de parto vaginal.18

Um estudo multicêntrico realizado pela OMS, em 2014, mostrou que o parto normal é mais frequente que o parto cesáreo entre as mães adolescentes.19 Há pesquisas que relatam associação entre gestação na adolescência, baixo peso ao nascer e prematuridade.5,7 Outros estudos mostram que a gestação na adolescência não é um fator de risco isolado para baixo peso ao nascer e prematuridade.8,9,10,11,16

A prematuridade e o baixo peso ao nascer estão associados ao número de filhos prévios, número de consultas no pré-natal e cesariana.10 Outros fatores podem influenciar no baixo peso dessas crianças ao nascer, como os nutricionais, época de início do pré-natal e a estatura da adolescente.9 Variáveis importantes como etilismo ou tabagismo, classe socioeconômica mais baixa e o nível de escolaridade

também devem ser levados em consideração.9 Verificou-se que 96,2% dos recém-nascidos

apresentaram Apgar entre 8-10 no primeiro minuto e 98% no quinto minuto. Considera-se Apgar até 3, preditivo de hipóxia grave, entre 4 e 7, hipóxia moderada e, acima de 7, ausência de hipóxia.10 Como observado na Tabela 3, 1% dos recém-nascidos apresentou hipóxia grave e 2,9% apresentou hipóxia moderada no primeiro minuto de vida. No quinto minuto, 1,9% dos recém-nascidos apresentaram hipóxia moderada. Pesquisas mostraram que o risco de uma criança nascida por cesariana apresentar hipóxia grave com cinco minutos foi de 1,9 vezes o risco daquelas que nasceram por parto normal.10 Outros fatores associados com hipóxia grave foram o número de filhos prévios, o pequeno número de consultas pré-natal e gênero masculino.10

CONCLUSÃODiversos fatores podem influenciar a saúde do filho

da mãe adolescente. Além de medidas para prevenção da gestação na adolescência, são necessárias políticas que ampliem o acesso dessas gestantes à consulta pré-natal, conscientizem sobre a importância da participação paterna durante a gestação e propiciem melhorias na qualidade de vida.

Esses passos seriam fundamentais para diminuir a repercussão da gestação na adolescência sobre a saúde da criança. Embora o estudo não tenha mostrado uma elevada incidência de repercussões negativas para a saúde do recém-nascido no período neonatal imediato, os efeitos adversos podem repercutir no desenvolvimento da infância até a vida adulta.

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Revista Ciência e Saúde 30

ARTIGO ORIGINAL

TRATAMENTO INICIAL DAS FRATURAS DA DIÁFISE DO FÊMUR EM ADULTOS: UMA ANÁLISE RETROSPECTIVA

INITIAL TREATMENT OF FEMORAL DIAPHYSIS FRACTURES IN ADULTS: A RESTROSPECTIVE ANALYSIS

Fabrício Maciel Campos Ferreira1, Paulo Henrique Lemos de Moraes2

1 Médico residente em ortopedia e traumatologia do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.2 Médico ortopedista do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.

Autor correspondente: Fabrício Maciel Campos Ferreira Av. Kyioshi Tsunawaki, no 41, Bairro das Águas, Ipatinga, MG. CEP: 35160-158. Telefone: (31) 99196 3967. E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 30/03/2015Aprovado para publicação em 26/02/2016

RESUMOA fratura da diáfise do fêmur é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em pacientes vítimas de traumatismos de alta energia. Este é um estudo retrospectivo, com análise de prontuário eletrônico. O objetivo é avaliar qual método de fixação é mais eficaz no tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur: tração transesquelética ou fixador externo. Para tanto, foram escolhidos, aleatoriamente, 60 pacientes atendidos no Hospital Marcio Cunha, divididos em 2 grupos de 30, de acordo com o método de fixação utilizado. Os dados foram analisados empregando-se estatística descritiva e inferencial. Para análise estatística, foram utilizados o software SPSS, versão 20.0, e o Microsoft Excel. As variáveis quantitativas foram descritas através de média e desvio padrão. Já as variáveis qualitativas, estas foram descritas através de frequência absoluta e relativa. Para verificar a associação entre as variáveis

ABSTRACTThe femoral diaphysis fracture is one of the main

causes of morbidity and mortality in patients who

are victims of high-energy trauma. This is a retro-

spective study based on electronic medical handbook

analysis which aimed to evaluate which method of

fixation is more effective in the initial treatment of femoral diaphysis fracture: trans-skeletal traction or

external fixator. 60 patients were selected randomly to be treated at Marcio Cunha Hospital, a trauma

hospital considered as reference, and they were

divided into 2 groups of 30 patients each in accor-

dance with the fixation method used. The collected data was analyzed based on descriptive and inferen-

tial statistics. For statistical analysis, SPSS version

20.0 and Microsoft Excel software were used. Quan-

titative variables were described using mean and

standard deviation, whereas qualitative variables

were described by absolute and relative frequencies.

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Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva

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qualitativas em estudo, foi utilizado o teste qui-quadrado. Aplicou-se ANOVA para comparação das médias entre os grupos. Os resultados foram apresentados em tabelas. O nível de significância adotado foi de 5%, sendo considerado significativo valor de p≤ 0,05. Os pacientes tratados com fixador externo apresentaram, no momento da internação, score ISS maior que o grupo da tração. Os pacientes tratados com tração transesquelética apresentaram maior número de complicações em comparação aos tratados com fixador externo no grupo de pacientes com score ISS, entre 26-40. Já o grupo de pacientes tratados com fixador externo apresentou maior necessidade de transfusão sanguínea e maior tempo de espera para a fixação definitiva.

Palavras-chave: Fratura. Diáfise. Fêmur. Tração transesquelética. Fixador externo.

Chi-square test was used in order to investigate the

combination between qualitative variables in course.

ANOVA was used to compare means between the

groups. The results were displayed in tables. The

significance level was 5% and the value of p ≤ 0.05 was considered significant. Patients treated with external fixator presented ISS score higher than the group of traction at the time of admission. Patients

treated with trans-skeletal traction showed higher

number of complications when compared to the

group of patients treated with external fixator with ISS score between 26-40. The group of patients

treated with external fixator showed a higher need for blood transfusion and longer waiting period for

final fixation.

Keywords: Fracture. Diaphysis. Fémur. Trans-Skele-

tal Traction. External Fixator.

INTRODUÇÃOA fratura da diáfise do fêmur é uma das principais

causas de morbidade e mortalidade em pacientes vítimas de traumatismos de alta energia. Sua epidemiologia é de 3 fraturas para cada 10.000 habitantes e vem crescendo continuamente devido ao aumento da gravidade dos traumatismos.1 Sua incidência é mais comum em homens, ocorrendo em torno de 70%; 50,5% acometem o lado esquerdo e 80% delas são fechadas.1 Os principais mecanismos de trauma são acidentes de trânsito, seguidos por queda da própria altura nos idosos, acidentes com arma de fogo e em esportes.2

A incidência de complicações e morte pode ser diminuída por estabilização provisória imediata, com o uso de fixador externo ou tração transesquelética tibial.

A tração é, tradicionalmente, o método de tratamento inicial preferido por ser uma técnica fácil, de baixo custo e apresentar bons resultados. Porém, seu emprego

traz redução da mobilidade no paciente internado, aumentando, assim, o risco de complicações.3 Em um estudo realizado na Universidade Federal de São Paulo, com 40 pacientes portadores de fraturas expostas da diáfise do fêmur, todos foram estabilizados, primariamente, com tração transesquelética, obtendo-se 75% de excelentes resultados e 16,2% de infecção.2

Tem-se indicado a fixação externa uniplanar lateral como método de estabilização temporária das fraturas diafisárias do fêmur para o controle de danos.4 Essa opção é utilizada, principalmente, em fraturas expostas do tipo IIIB e IIIC de Gustillo e Anderson, em fraturas com grave contaminação do canal medular e/ou perda da musculatura3 e em pacientes politraumatizados graves.5

Diante do exposto, o objetivo do presente estudo é avaliar qual método de estabilização provisória inicial – tração transesquelética transtibial ou fixador externo uniplanar femoral – é mais eficaz no paciente adulto com fratura exposta da diáfise do fêmur.

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MATERIAIS E MÉTODOSEste é um estudo retrospectivo, com direcionamento

de uma pesquisa quantitativa, na qual foram utilizados registros de forma sistematizada para se obter dados num período, local e amostra determinados.

Foram avaliados os prontuários dos pacientes com fratura da diáfise do fêmur, atendidos no serviço de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Marcio Cunha, nos anos de 2012 e 2013. Incluíram-se, na pesquisa, os pacientes entre 18 e 65 anos de idade, com fratura da diáfise do fêmur. Excluíram-se da pesquisa os pacientes fora dessa faixa etária, os que não foram diagnosticados na admissão com fratura da diáfise do fêmur e os que foram submetidos a outros tratamentos diferentes da tração transesquelética e do fixador externo.

Assim, foram escolhidos, aleatoriamente, 60 pacientes submetidos a tratamento inicial de fratura de fêmur com tração transesquelética ou fixador externo, atendidos no referido pronto-socorro. Os pacientes foram divididos, conforme o tratamento inicial, em 2 grupos: 30 submetidos à tração transesquelética e 30 submetidos a fixador externo.

Em seguida, foram colhidos os dados do prontuário para calcular o escore ISS, que leva em consideração as lesões provocadas em cada segmento do corpo. A gravidade das lesões é determinada através de exame físico, testes radiológicos, cirurgia e autópsia. As lesões são classificadas em: leve, moderada, grave sem risco iminente de vida, grave com risco iminente de vida, crítica de sobrevida duvidosa e quase sempre fatal. O ISS é calculado após a classificação dos índices mais graves de cada uma das seis regiões do corpo, escolhendo os três índices mais altos em regiões diferentes (cabeça e pescoço, face, tórax, abdome, extremidades em geral).

Esse índice pode variar de 1 a 75 pontos,

considerando-se a idade no momento da admissão do paciente, sexo, mecanismo de trauma e classificação da fratura, de acordo com o grupo AO – as fraturas tipo A são de traço simples; as fraturas tipo B possuem um terceiro fragmento, indicando uma quantidade de energia intermediária; as fraturas tipo C são complexas – e a classificação de Gustillo para as fraturas expostas – as fraturas tipo 1 apresentam exposição menor que 1cm; as fraturas tipo 2 apresentam exposição entre 1 e 10cm; as do tipo 3, exposição maior que 10cm. As fraturas do tipo 3 subdividem-se em A, com boa cobertura de partes moles; B, sem cobertura total de partes moles; e C, com lesão vascular, que necessita de reparo de lesões associadas, internação em unidade de terapia intensiva e transfusão sanguínea, apresentando complicações durante o tempo de internação.

O cálculo utilizado para determinação do tamanho da amostra com base na estimativa do total de pacientes com fratura da diáfise do fêmur no Hospital Márcio Cunha, no período de janeiro de 2012 a dezembro de 2013, foi n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p. Utilizou-se um grau de confiança de 90%, erro máximo permitido de 10%, e uma proporção de interesse de 62,5%, com uma incidência de 3% de fraturas da diáfise do fêmur1

para uma população de 296 pacientes, obtendo-se, como valor amostral, 53 pacientes. Como os pacientes foram divididos em 2 grupos, para igualdade numérica entre eles, utilizaram-se, no estudo, 60 pacientes. A técnica de amostragem adotada foi a probabilística aleatória simples e sistemática.

Os dados foram analisados empregando-se estatística descritiva e inferencial. Para análise estatística, foram utilizados os softwares SPSS, versão 20.0, e Microsoft Excel. As variáveis quantitativas foram descritas através de média e desvio padrão. Já as variáveis qualitativas foram descritas através de frequência absoluta e relativa.

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RESULTADOSDos 60 casos analisados neste estudo, 47 dos

pacientes eram do sexo masculino (78,3%) e 13 do sexo feminino (21,7%); a média de idade foi de 26,9 anos, 39 pacientes (65%) na faixa etária entre 18 e 30 anos, 13 (21,7%) entre 31 e 40 anos e 8 (13,3%) entre 41 e 50 anos; o mecanismo de trauma mais prevalente foi o acidente com moto, totalizando 34 pacientes (56,7%), seguido pelo acidente com carro, no total de 14 pacientes (23,3%). Em relação à classificação AO, a maior incidência foi de fraturas do tipo A, com número de 26 pacientes (43,3%). Quanto à exposição do foco de fratura, 37 pacientes (61,7%) apresentaram fratura fechada e 23 (39,3%), fratura aberta. Segundo a classificação de Gustillo, a mais prevalente foi a Gustillo 1, com 10 pacientes (16,7%). Esses dados são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Idade, sexo e tipo de trauma dos pacientesVariáveis n.o %

Procedimento

Tração 30 50

Fixador 30 50

Sexo

Masculino 47 78,3

Feminino 13 21,7

Idade

18 - 30 anos 39 65,0

31 - 40 anos 13 21,7

40 - 50 anos 8 13,3

Mecanismo de trauma

Moto 34 56,6

Carro 14 23,3

Queda da própria altura 1 1,7

Queda de altura 3 5,0

Bicicleta 4 6,7

Continua

ConclusãoVariáveis n.o %

Atropelamento 4 6,7

Classificação AO

A 26 43,3

B 18 30,0

C 16 26,7Exposição óssea segundo a classificação de Gustillo

Não 37 61,7

Gustillo 1 10 16,7

Gustillo 2 8 13,3

Gustillo 3A 4 6,7

Bicicleta 3B 1 1,6

Lesões associadas

Sim 43 71,7

Não 17 28,3

Complicações

Sim 12 20

Não 48 80

Necessidade de transfusão sanguínea

Não 19 31,7

1 bolsa 14 23,3

2 bolsas 18 30,0

> 2 bolsas 9 15,0

Necessidade de internação em UTI

Sim 18 30

Não 42 70Tempo entre fixação provisória e fixação definitiva

< 7 dias 19 31,7

7 - 10 dias 19 31,7

> 10 dias 22 36,6

Divisão de acordo com o score ISS

0 - 25 25 41,7

26 - 40 19 31,7

> 40 16 26,7Fonte: Dados da pesquisa.

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Quanto à incidência de lesões associadas, 43 pacientes (71,7%) apresentaram lesões associadas, dentre as quais a mais prevalente foi a fratura do colo do fêmur, em 17 pacientes (28,3%), seguida da fratura do membro superior, em 15 pacientes (25%), como apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 – Incidência de lesões associadasLesões associadas n.o %TCE 14 23,3Trauma torácico 7 11,7Trauma abdominal 8 13,3Trauma de face 6 10,0Lesão vascular 2 3,3Fratura do membro superior 15 25,0Fratura do colo do fêmur 17 28,3Fratura do joelho 10 16,7Fratura do tornozelo 13 21,7Trauma pélvico 8 13,3Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 3 – Relação de complicações em pacientesComplicações n.o %Embolia 6 10,0Infecção 6 10,0TVP 3 5,0Rabdomiólise 5 8,3Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação às complicações, 12 pacientes (20%) apresentaram complicações, sendo que as mais incidentes foram embolia e infecção, com 6 pacientes (10%) cada uma, como apresentado na Tabela 3.

Desses pacientes com complicações, 41 necessitaram de transfusão, sendo que 14 (23,3%) receberam 1 bolsa, 18 (15%) receberam 2 bolsas e 9 (6,7%) necessitaram de mais de 2 bolsas. 18 pacientes (30%) necessitaram de internação em UTI.

Com relação ao tempo entre fixação provisória e fixação definitiva, 19 pacientes (31,7%) foram fixados definitivamente, em menos de 7 dias, 19 (31,7%) foram

operados entre 7 e 10 dias de internação e 22 (36,7%) foram operados com mais de 10 dias de internação.

Para medir a gravidade no momento da internação, utilizamos o escore ISS. Verificamos que 25 indivíduos (41,7%) apresentaram índice menor que 25, 19 (31,7%) apresentaram ISS entre 26-40 e 16 (26,7%) apresentaram escore acima de 40 pontos. Os pacientes submetidos a tratamento com fixador externo apresentaram escore ISS mais elevado que os pacientes tratados com tração transesquelética (P=0,007), como mostrado na Tabela 6.

Comparando os dois grupos de pacientes tratados com fixador externo e tração transesquelética, houve significância estatística, tendo em vista que os pacientes tratados com fixador externo apresentaram, na admissão, escore ISS mais elevado que os pacientes tratados com tração transesquelética. Em relação à medida do escore ISS categorizada (menor que 25, entre 26-40 e maior que 40), os dados (Tabela 4) apresentaram uma associação estatisticamente significante (p= 0,05). Os pacientes com escore ISS entre 26 e 40 que utilizaram tração esquelética apresentaram mais complicações que o grupo tratado com fixador externo. Comparando os dois grupos em relação à necessidade de transfusão sanguínea, pacientes nas faixas de ISS menor que 25 e maior que 40 tratados com fixador externo necessitaram de mais transfusão sanguínea que o grupo tratado com tração transesquelética, sendo esses resultados estatisticamente significantes (p= 0,007 e p= 0,000, respectivamente).

Com relação à necessidade de UTI, não houve associação estatisticamente significante na comparação entre os grupos, nas diferentes faixas de escore ISS (Tabela 4). Relativamente ao tempo entre fixação profilática e fixação definitiva, os pacientes na faixa de ISS acima de 40 apresentaram maior tempo de espera para cirurgia definitiva (p= 0,026).

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Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva

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Tabela 4 – Medida do escore ISS categorizadaTipo

Escore ISS Variáveis Fixador Tração Valor pn.o % n.o %

Subgrupos Complicações

0 a 25

Sim 2 20 2 13,30,532

Não 8 80 13 86,7Tranfusão

Sim 9 90 5 33,30,007*

Não 1 10 10 66,7UTISim 3 30 1 6,7

0,159Não 7 70 14 93,3

Espera cirúrgicaAté 7 dias 1 10 7 46,7

0,1527-10 dias 5 50 4 26,7> 10 dias 4 40 4 26,7

Subgrupos Complicações

26 a 40

Sim 0 0 4 400,05*

Não 9 100 6 60Transfusão

Sim 8 88,9 8 800,542

Não 1 11,1 2 20UTI Sim 0 0 2 20

0,263Não 9 100 8 80

Espera cirúrgicaAté 7 dias 4 44,4 4 40

0,9297-10 dias 2 22,2 3 30> 10 dias 3 33,4 3 30

Subgrupos Complicações

> 40

Sim 4 36,4 0 00,181

Não 7 63,6 5 100Transfusão

Sim 11 100 0 00,000*

Não 0 0 5 100UTISim 10 90,9 2 40

0,063Não 1 9,1 3 60

Espera cirúrgicaAté 7 dias 1 9,1 2 40

0,0637 - 10 dias 2 18,2 3 60> 10 dias 8 72,7 0 0

Fonte: Dados da pesquisa.

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Ao comparar as médias de tempo de internação entre os grupos dentro das várias faixas de ISS, observou-se

Tabela 5 – Médias de tempo de internaçãoTipo

Valor pVariáveis

Fixador TraçãoTempo de Internação

x ± s x ± sEscore ISS0 a 25 21,8 ± 15,5 12,4 ± 8,4

0,12926 a 40 15,4 ± 7,8 21,4 ± 21,8> 40 58,4 ± 39,2 31 ± 35,6Fonte: Dados da pesquisa.

que não houve diferença estatisticamente significante (p= 0,129). Dados mostrados na Tabela 5.

DISCUSSÃOAs fraturas da diáfise do fêmur são observadas

em todas as faixas etárias e atribuídas a diversos mecanismos de trauma.6 No entanto, pesquisadores1,3 mostraram, em seus estudos, que as fraturas da diáfise do fêmur são mais prevalentes em pacientes jovens, na faixa etária entre 18-30 anos. No presente estudo, a faixa etária variou de 18 a 55 anos, com média de 26,9 anos, estando 39 pacientes (56,7%) na faixa etária de 18 a 30 anos. Um estudo apresentou incidência de 83% de acometimento do sexo masculino5, e outro encontrou uma incidência, no sexo masculino, de 70%.7

Os acidentes de trânsito são a principal causa de morte em pessoas de 15 a 29 anos de idade, com um custo estimado em 518 bilhões de dólares por ano, no mundo. No Brasil, as mortes aumentaram como um todo e as mortes por acidentes de moto cresceram consideravelmente: de 1.421, em 1996, para 14.666, em 2011, representando 932,1% de aumento. Em

um estudo realizado em 2010 sobre o perfil dos acidentes motociclísticos, constatou-se que 59% dos traumas por eles ocasionados estavam relacionados ao sistema osteomuscular.8 Mais especificamente, 75% das fraturas da diáfise do fêmur eram produzidas por traumas relacionados ao trânsito.9 Este estudo mostrou que 56 pacientes (93,3%) sofreram acidentes relacionados ao trânsito como mecanismo de trauma associado à fratura diafisária do fêmur, sendo o mais prevalente o acidente com moto, incidência de 56,7%. Um estudo verificou que 78% de fraturas são resultado de acidentes motociclísticos, 9% a atropelamentos e 4% a quedas da própria altura.7 Nossos índices de atropelamento e queda da própria altura foram, respectivamente, 6,7% e 5%.

Quanto ao tipo de fratura, em uma pesquisa, 40% de fraturas do tipo A, 20% do tipo B e 40% do tipo C.10 Nossa observação com relação à classificação AO foi que 43,3% apresentaram fratura do tipo A, 30% do tipo B e 26,7% do tipo C.

Tabela 6 – Escore ISS por tipo de tratamentoTipo

Valor pFixador Traçãox ± s x ± s

ISS 34,9 ± 13,4 25,7 ± 12,2 0,007*Fonte: Dados da pesquisa.

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Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva

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Quanto à ocorrência de fraturas abertas, um grupo de pesquisadores observaram 16% de fraturas abertas em seu trabalho.7 Já outro grupo de pesquisadores, em seu estudo sobre fraturas abertas da diáfise do fêmur, encontraram uma incidência de 89% de fraturas do tipo 3 e 11% de fraturas do tipo 2. 5 A incidência de fratura aberta da diáfise do fêmur é de 31%.1 A amostra do nosso estudo mostrou 61% de fraturas abertas, sendo a mais prevalente a classificação de Gustillo 1, com 10 pacientes (16,7%).

O índice de gravidade, classificado como anatômico, e também conhecido como Injury Severity Score (ISS), pode variar de 1 a 75 pontos11 e vem sendo mundialmente utilizado para avaliação inicial dos pacientes vítimas de politraumatismos. Em estudo publicado em 1995, foi encontrada média de ISS de 25,4 nos pacientes com fratura da diáfise do fêmur.5 Na nossa amostra de pacientes, observamos média de escore de 25,8, variando de 16 a 66.

Com relação às lesões associadas, é comum a associação de outras lesões à fratura da diáfise do fêmur por se tratar de trauma de grande energia.3 Pesquisadores mostraram, em sua série de casos, 20,6% de trauma torácico, 12,7% de fratura bilateral da diáfise do fêmur, traumatismo craniano em 2% e traumatismo abdominal em 1,18%.4 Outros estudiosos, por sua vez, mostraram, em seu estudo, 100% dos pacientes com lesões associadas, com maior prevalência de associação com fraturas do membro superior, seguidas de traumatismo craniano.10 Analisando nossa incidência de lesões associadas, 43 pacientes (71,7%) apresentaram lesões associadas, sendo a mais prevalente a fratura do colo do fêmur, em 17 pacientes (28,3%), seguida de fratura do membro superior, em 15 pacientes (25%).

A tração óssea através de um pino percutâneo inserido na tíbia proximal possibilita uma força que reduz a fratura. O objetivo imediato desse método é

restaurar o comprimento anatômico do fêmur. Quanto menor o tempo do decorrer da fratura até a instalação da tração, menos peso pode ser colocado para se conseguir uma boa redução.3,12

Nos dias atuais, houve um grande aumento no número de pacientes com politraumatismos, devido, principalmente, aos acidentes de trânsito.13 Esses traumas levam não só às fraturas, mas também às lesões, como traumatismo craniano, trauma abdominal e torácico, sendo estes considerados, muitas vezes, instáveis e com risco iminente de vida, necessitando de um tratamento que estabilize suas principais lesões, no menor tempo possível, para evitar um aumento da sua resposta inflamatória ao trauma.14 A abordagem ortopédica, nesses pacientes, consiste em controle da hemorragia, manejo das lesões de partes moles e estabilização óssea.13

O melhor método para o controle de danos é o fixador externo, facilitando os cuidados com o paciente.13 Suas indicações incluem as fraturas graves tipo IIIB e IIIC com grave contaminação, proporcionando estabilização precoce, pouco invasiva,13 diminuição da perda sanguínea e menor tempo operatório.15 Em nosso estudo, 68% dos pacientes necessitaram de transfusão sanguínea e encontramos significância estatística nos grupos de pacientes com escore ISS menor que 25 e naqueles com escore maior que 40, mostrando que os pacientes tratados com fixador externo necessitaram de mais transfusão sanguínea que os pacientes tratados com tração transesquelética.

Pesquisadores relataram problemas relacionados ao alinhamento da fratura, infecção e perda de movimentos.17 O principal problema da fixação externa se relaciona com os pinos, como infecção, por exemplo.3 Em um estudo em que foi utilizado o fixador externo como tratamento definitivo, foi constatada uma infecção no trajeto dos pinos de 11,1%, com um período de acompanhamento de 5 anos.5 Dentre

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Fabrício Maciel Campos Ferreira, Paulo Henrique Lemos de Moraes

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as complicações imediatas, podemos citar: choque hipovolêmico, lesões vasculares, lesões nervosas, síndrome compartimental e complicações pulmonares, como a síndrome da embolia gordurosa. Como complicações tardias, destacam-se: pseudoartroses, consolidação viciosa, rigidez articular, osteomielite e complicações pulmonares decorrentes do repouso prolongado – atelectasia, pneumonia e fenômenos tromboembólicos.13 Um estudo realizado em um Congresso Brasileiro de Ortopedia mostrou a infecção como complicação mais frequente, informada por 50% dos ortopedistas entrevistados, seguida por pseudoartrose, em 38%, trombose venosa profunda, em 30%, tromboembolismo pulmonar, em 14%, e osteomielite, em 11%.16

Os pacientes com fratura da diáfise do fêmur exigem cuidados durante a internação, gerando custos para os hospitais, devido aos grandes períodos em que permanecem internados. Um estudo realizado na Universidade Luterana do Brasil mostrou que o tempo de permanência hospitalar desses pacientes foi de 14,82 dias, variando entre 4 a 64 dias.2

Nossa taxa de complicações gerais foi de 20%, ao passo que outros estudos encontraram incidência de complicações de 35%4 e índice de infecção de 6% em sua amostra.5 Já nosso índice de infecção, que foi a complicação mais encontrada, foi de 10%.

Pesquisadores defendem o uso de fixador externo em pacientes politraumatizados como princípio do controle de danos.3,4, Esse estudo visou comparar o

grupo de pacientes tratados com fixador externo e com tração transesquelética, usando o escore de gravidade ISS para nivelamento entre os grupos.

Na amostra, houve significância estatística de que os pacientes tratados com fixador externo apresentaram, na admissão, escores ISS de maior magnitude. Encontramos significância estatística relacionada a complicações no grupo de pacientes com faixa de ISS entre 26-40: os pacientes tratados com fixador externo apresentaram menor índice de complicações em comparação com pacientes tratados com tração transesquelética. Em relação ao tempo entre fixação inicial e fixação definitiva, os pacientes na faixa de ISS acima de 40 submetidos a tratamento com fixador externo, estatisticamente, obtiveram mais tempo entre os dois procedimentos cirúrgicos que os pacientes tratados com tração transesquelética.

CONCLUSÃOA tração transesquelética apresentou vantagem sobre

o grupo de fixadores externos, devido à evolução com menor número de complicações. O grupo de pacientes tratados com fixador externo apresentou mais necessidade de transfusão sanguínea e mais tempo de espera para cirurgia definitiva. Os dois métodos foram equivalentes quando comparados quanto à necessidade de internação em UTI. Para melhor comparação dos grupos, sugerimos trabalho prospectivo e randomizado para acompanhamento a longo prazo dos pacientes.

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Tratamento inicial das fraturas da diáfise do fêmur em adultos: uma análise retrospectiva

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ARTIGO ORIGINAL

ESTUDO DA EXPERIÊNCIA SEXUAL DE ADOLESCENTES

STUDY OF TEENAGERS SEXUAL EXPERIENCE

Adriana Almeida Moreira1, Lais Maurício de Oliveira Almeida1, Marcus Vinicius Carvalho Campos1, Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima2

1 Acadêmicos do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES - Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil.2 Docente do curso de Medicina do Instituto Metropolitano de Ensino Superior/IMES – Univaço, Ipatinga, Minas Gerais, Brasil

Autor correspondente: Letícia Guimarães Carvalho de Souza LimaRua Beta, no81, Bairro Castelo, Ipatinga, MG. CEP: 35160-070. Telefone: (31) 986648185. E-mail: letí[email protected]

Artigo recebido em 18/05/2016Aprovado para publicação em 29/02/2016

RESUMOIntrodução: É notória a crescente erotização da vida cotidiana, por meio de propagandas, novelas, filmes, internet ou outras vias de comunicação. Isso contribui para o despertar precoce da curiosidade e da atração pelo sexo. Métodos: Estudo transversal de base populacional exploratório, com abordagem quantitativa. A finalidade desta pesquisa é proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca da sexualidade de um grupo específico de adolescentes. Resultados: 786 adolescentes foram pesquisados, sendo 40,6% do sexo masculino e 59,4% do sexo feminino, com média de idade de 15,52 anos e 15,33 anos respectivamente. 82,4% relataram saber o que é masturbação, 52,2% sabem qual o período fértil da mulher (36,6% masculino e 63,2% feminino). 53,9% dos entrevistados afirmam que a escola onde estudam fornece algum método de informação sobre a sexualidade. O início da vida sexual já aconteceu

ABSTRACTIntroduction: The expanding eroticization in the

daily life through advertisements, TV soap operas,

films, internet or other means of communication nowadays is evident. It foments the early awaken-

ing of curiosity and sexual attraction. Methods:

Cross-sectional study based on quantitative ap-

proach survey. This research aimed to provide an

approximate kind of overview about sexuality of a

specific group of teenagers. Results: 786 teenagers

were surveyed, where 40.6% were male and 59.4%

were female, with a mean age of 15,52 and 15,33

years-old respectively. 82.4% reported their aware-

ness about masturbation; for 52.2% woman’s fertile

period is a common knowledge (36.6% male and

63.2% female). 53.9% of students confirmed that they are attending to a school where some sexuality

information method is provided. 37.9% of surveyed

has already initiated their sexual life. 63.1% of

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Estudo da experiência sexual de adolescentes

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para 37,9% dos jovens. A vida sexual ativa foi relatada por 63,1% dos adolescentes, dos quais 49,7% referem uso contínuo de algum método contraceptivo e 28,1% uso esporádico. O uso de preservativo no ato sexual é considerado importante por 95,9%, entretanto, 10,8% desses jovens alegam já terem sido expostos à vulnerabilidade de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), por não terem usado preservativos. Conclusão: A gravidez e sua consequência psicofísica e social é o tema de maior preocupação dos jovens pesquisados, mostrando que o aporte de conhecimento a seu respeito não gera comportamento necessário para o desenvolvimento da vida sexual segura. As DSTs são do conhecimento de muitos, entretanto, as doenças existentes dentro desse grupo geraram espanto e surpresa aos estudantes, induzindo à hipótese de elas estarem em segundo plano de interesse para os jovens, talvez por descrédito de que possam ser acometidos. A promoção da saúde sexual por meio dos cuidados com o próprio corpo requer informações adequadas, atitudes preventivas e específicas e acesso a serviços de saúde de boa qualidade.

Palavras-chave: Sexualidade. Adolescência. Comportamento de risco.

teenagers reported they have an active sexual life,

of which 49.7% confirmed they have continuous use of contraceptive methods whereas 28.1% use con-

traceptive methods randomly. The use of condoms

is considered relevant by 95.9%, whereas 10.8% of

them reported they have already been exposed to the

vulnerability of sexually transmitted diseases (STDs)

contamination because they did not use condoms.

Conclusion: Pregnancy and its psycho-physical and

social impacts are the main concern topic of teenag-

ers surveyed, what suggests that the knowledge ac-

quired does not generate the expected behavior for

developing a safe sexual life. STDs are a common

knowledge for most of them, however, the existing

diseases within this group had frighten off and as-

tonished the students, leading to the hypothesis that

STDs are in the background of interest to teenagers,

possibly for the discredit of the risk of being affect-

ed. The campaign for a healthy sexual life through a

good care of body itself requires appropriate infor-

mation, preventive and specific actions, and access to good quality of healthcare facilities.

Keywords: Sexuality, Adolescence, Risky Behavior.

INTRODUÇÃOA adolescência é entendida como o período de

crescimento e desenvolvimento humano que ocorre depois da infância e antes da idade adulta e compreende a faixa etária dos 10 aos 19 anos. Representa uma das transições críticas no ciclo da vida humana e é caracterizada por um intenso ritmo de crescimento e mudanças.1

Portanto, é um período de constantes flutuações de identidade, ou seja, é uma fase de identidades transitórias e circunstanciais influenciadas,

normalmente, por modelos atuais de identificação.2 Esse período é considerado marco inicial para a descoberta do corpo, em que as alterações estruturais e fisiológicas, a alteração dos hormônios sexuais e a ansiedade por novas experiências propiciam o início da prática sexual exploratória, principalmente quando eles já possuem alguma informação sobre o sexo.3

Entre as características mais importantes do desenvolvimento psicológico dos adolescentes está a busca da nova identidade. Assim, muitas vezes, o adolescente se expõe a riscos que, por sua vez,

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Adriana Almeida Moreira, Lais Maurício de Oliveira Almeida, Marcus Vinicius Carvalho Campos, Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima

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são mais graves nessa fase, porque eles sentem-se imortais, imunes e indestrutíveis.4

É notória a crescente erotização da vida cotidiana, por meio de propagandas, novelas, filmes, internet ou outras vias de comunicação, o que contribui para o despertar precoce da curiosidade e da atração pelo sexo. Isso coloca em destaque o lado prazeroso da atividade sexual sem alertar, na maioria das ocasiões, para a consequência que tal prática pode causar.

MÉTODOSPara esta pesquisa, foi realizado um estudo

transversal de base populacional exploratório, com abordagem quantitativa. Esse tipo de estudo tem como objetivo buscar informações e dados atualizados para uso em estudos e estratégias posteriores. Sua finalidade é proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca da sexualidade de um grupo específico de adolescentes. O projeto deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Unileste e obedeceu aos padrões estabelecidos pela Resolução 196/96, que trata das Normas de Pesquisa Envolvendo os Seres Humanos.5

A população estudada é representada por indivíduos com faixa etária entre 10 e 19 anos, seguindo a definição de adolescência apresentada pela Organização Mundial da Saúde.6 Para garantir representatividade com nível de significância de 5% e uma precisão de 5%, considerando um total de 3.154 alunos, distribuídos em 13 colégios, foi estimada uma amostra de aproximadamente 700 alunos, que foram pesquisados em 9 colégios.

Os centros de ensino foram selecionados aleatoriamente, e a população do estudo foi constituída por 786 adolescentes, estudantes do primeiro ano do ensino médio, da cidade de Ipatinga, no estado de Minas Gerais, sendo 40,6% do sexo masculino e 59,4% do sexo feminino, entre 14 e 19 anos de idade. Os alunos puderam participar deste estudo mediante

a apresentação de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelos responsáveis.

A abordagem do público-alvo deu-se, entre 2013 e 2014, através de dois encontros realizados dentro do ambiente estrutural escolar de cada colégio. Devido à possibilidade de permanecer dúvidas entre os jovens, foi estipulada como estratégia de mais aprendizado, assim como feito por outros pesquisadores,7 a disponibilização de uma urna para o depósito de dúvidas pré-palestra e foi entregue para cada aluno o TCLE, enfatizando que, para a participação na etapa do questionário, que iria acontecer posteriormente, seria necessária a assinatura desse documento. A coleta dos dados foi feita através de questionário estruturado de múltipla escolha, autoaplicado, em sala de aula, e de forma anônima. Os alunos que não estavam com o TCLE assinado, no dia da palestra, não realizaram o preenchimento do questionário.

Posteriormente, todos os alunos do 1° ano do ensino médio foram reunidos em um espaço oferecido por cada instituição de ensino, no qual os pesquisadores relizaram uma palestra, com o objetivo de oferecer informações a respeito do tema sexualidade. A palestra foi de cunho científico, com linguagem acessível, sobre os subtemas: anatomia reprodutora, masturbação, menstruação, gravidez, DSTs e métodos contraceptivos. Todos os estudantes poderiam participar e perguntar durante a apresentação, além disso, as dúvidas mais frequentes coletadas na urna de perguntas foram esclarecidas.

Os dados obtidos foram digitados no programa EpiDataEntry 3.1 e analisados no programa SPSS 15.0. Foram realizadas análises descritivas por meio da construção de tabelas de frequência e cálculos de medida de tendência central e variabilidade. Para avaliação por gênero, foram realizados testes de hipótese qui-quadrado de Pearson e T-student, mantendo nível de significância de 5%.

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RESULTADOSOs resultados gerados pela pesquisa foram

analisados e dispostos em dados estáticos e dinâmicos, organizados em grupos de correlação de ocorrência, apresentados a seguir.

Do total de 786 adolescentes pesquisados, 40,6% eram do sexo masculino e 59,4% do sexo feminino, com média de idade de 15,52 anos e 15,33 anos respectivamente, todos matriculados no primeiro ano do ensino médio.

Tabela 1 – Nível de conhecimento em comparação por sexo, em porcentagem (%)Conhecimento Feminino Masculino TotalMasturbação 74,5 94 82,4Período fértil da mulher 63,2 36,1 52,2Processo de gravidez 91,8 91,2 91,5DSTs 69,8 57,4 64,8Métodos contraceptivos 81,8 72,8 78Dados obtidos usando p<0,05

Tabela 2 – Comportamento sexual em comparação por sexo, em porcentagem (%)Hábitos Feminino Masculino TotalMasturbação 12,6 77,7 45,5Início da vida sexual 35,5 41,4 37,9Preservativo na sexarca 68,7 65,6 67,3Vida sexual ativa 63,8 62,1 63,1Uso de preservativo 48,6 51,3 49,7Dados obtidos usando p<0,05

A pesquisa demonstrou que 53,9% dos alunos afirmam que a escola onde estudam fornece algum método de informação sobre a sexualidade e elegem, como pessoas abertas ao diálogo, os amigos com 62,6%, os pais com 39% e o namorado(a) com 22,8%. Quando questionados sobre a origem do conhecimento sobre doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos relataram, como via de obtenção da informação, a televisão, 55,6%, a escola, 54,7%, e palestras, 51,3%. A pesquisa foi feita com a possibilidade de marcar mais de uma opção referente

a esses itens de obtenção de conhecimento. A respeito de conhecimento sobre métodos

contraceptivos, em comparação com o comportamento sexual, o nível de conhecimento influenciou apenas parcialmente o uso de preservativo na sexarca e durante vida sexual ativa, conforme demonstrado nas Tabelas 1 e 2.

Foi possível perceber, ainda, discrepância entre os dados de conhecimentos em educação sexual obtidos nos questionários respondidos pelos alunos e as dúvidas mais frequentes por eles apresentadas durante a palestra. Portanto, constatou-se que o assunto sexualidade ainda é um tabu para os adolescentes e que ainda há uma defasagem muito grande entre o que afirmam saber, mesmo considerando que o questionário tenha abordado perguntas diversas das apresentadas na urna e a extensão do conhecimento acerca do assunto.

DISCUSSÃOO tema sexualidade comporta uma quantidade

enorme de informações que, visivelmente, atrai a atenção dos jovens, evidenciando um interesse de ambos os sexos no decorrer deste trabalho.

Na puberdade, ocorre o início da busca por conhecimentos sobre sexualidade e seu próprio corpo, fazendo com que os adolescentes procurem esclarecimentos e respostas no local em que se sintam mais acolhidos. Uma grande parcela dos jovens afirma que o colégio onde estudam fornece informações sobre o tema, mas, ao serem questionados com quem possuem mais espaço para diálogo, houve uma predileção por amigos, assim como os dados achados na literatura.8,9,10 Esse fato gera preocupação, pois os conhecimentos podem surgir e se propagar com informações erradas.

Quanto ao nível de conhecimento, este foi significativo em ambos os sexos.8 No entanto,

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Adriana Almeida Moreira, Lais Maurício de Oliveira Almeida, Marcus Vinicius Carvalho Campos, Letícia Guimarães Carvalho de Souza Lima

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houve destaque para o sexo feminino, que detêm superioridade de conhecimentos nos campos que abrangem a sexualidade,11,12 perdendo apenas quando se trata do tema masturbação, sobre o qual houve maior nível de conhecimento e ocorrência entre o sexo masculino, confirmando, assim, os aspectos da construção social de sua sexualidade.13

Os jovens que estão vivenciando o início da vida sexual caracterizam-se por vulnerabilidade às DSTs e à gestação indesejada.14 Nesse contexto, de acordo com a OMS, os jovens já representam 18% da população mundial e estão em risco aumentado, sobretudo, com epidemia do HIV/Aids,2 pois representam a faixa etária com maior incidência de DSTs, aproximadamente 25% de todos os diagnósticos até os 25 anos15, associado aos altos índices de gestação na adolescência que já configuram de 20% a 25% do total de gestantes no país.16

Diante do exposto, é possível constatar que, embora existam informações, estas não são suficientes para a adoção de comportamentos protetores, e a falta de informações básicas contribui para aumentar a vulnerabilidade dos adolescentes.14,17

Há consenso geral sobre a necessidade e importância dos métodos contraceptivos, mas considerável parcela dos adolescentes acredita que não contrairá nenhum tipo de DST – o que foi concluído devido à baixa utilização do preservativo, 49,7% – ou que poderá ser surpreendida por uma gravidez indesejada. Isso expressa, mais uma vez, o senso de invulnerabilidade próprio da fase, respaldado pelo sentimento de

onipotência, que faz o adolescente acreditar ser imune aos perigos, desafiar regras, crer que esteja isento das consequências a que se expõem.18

CONCLUSÃOO tema sexualidade, para os jovens, ainda é de

difícil abordagem entre os familiares e a escola. Essa realidade tem como resultado uma transmissão de conhecimentos equivocados e formação de tabus, como foi observado durante a pesquisa. Os resultados obtidos com os questionários demonstraram níveis de conhecimento considerável sobre o tema sexualidade, entretanto, com o artifício da urna de dúvidas e as palestras, observou-se a carência de conhecimento em relação à vida sexual saudável.

A gravidez e sua consequência psicofísica e social é o tema de maior preocupação dos jovens pesquisados, pois possui muitos mitos, mostrando que o aporte de conhecimento a seu respeito não gera a segurança necessária para o desenvolvimento da vida sexual segura. As DSTs, tema relacionado à prática sexual desprotegida, são do conhecimento de muitos, entretanto, as doenças existentes dentro desse grupo geraram espanto e surpresa aos estudantes, induzindo à hipótese de que elas estejam em segundo plano de interesse, talvez pelo descrédito de que possam ser acometidos por tais doenças.

A promoção da saúde sexual, por meio dos cuidados com o próprio corpo, requer informações adequadas, atitudes preventivas e específicas, e acesso a serviços de saúde de boa qualidade. Portanto, torna-se necessário um padrão de conhecimento sobre a sexualidade.

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Estudo da experiência sexual de adolescentes

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ARTIGO ORIGINAL

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES COM NEFROPATIA DIABÉTICA EM HEMODIÁLISE, EM IPATINGA-MG

CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF DIABETIC NEPHROPATHY PATIENTS IN HEMODIALYSIS IN IPATINGA/MG

Matheus de Navarro Guimarães Godinho1, Eberaldo Severiano Domingos2

1 Médico residente de clínica médica do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.2 Nefrologista. Preceptor de clínica médica no Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.

Autor Correspondente: Matheus de Navarro Guimarães Godinho Hospital Márcio Cunha / Fundação São Francisco XavierRua dos Caetés 320/406 - Ipatinga/MG - CEP: 35162-038. Telefone: (31)87759935. E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 30/03/2015Aprovado para publicação em 19/02/2016

RESUMOIntrodução: A nefropatia diábetica é a principal etiologia de insuficiência renal crônica em pacientes iniciando tratamento em hemodiálise, nos países desenvolvidos. Sua incidência vem aumentando e o custo do tratamento é elevado, tornando-se um problema de saúde pública. No Brasil, existe uma carência de dados, em âmbito nacional, sobre essa população e suas características. Objetivo: Avaliar o perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em um centro de terapia renal substitutiva, em Ipatinga-MG/Brasil. Métodos: Estudo descritivo, transversal e quantitativo, com uma amostra de 86 pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, no qual foram avaliadas variáveis clínicas e sociodemográficas, obtidas através de questionário elaborado pelos autores. Resultados: A amostra foi constituída por 86 indivíduos diabéticos com insuficiência renal crônica, em hemodiálise, dos quais 50 (58,1%) eram

ABSTRACTIntroduction: Diabetic nephropathy is the main

etiology of chronic renal failure in patients starting

hemodialysis treatment in developed countries. Its

incidence is expanding and the costs are increasing,

becoming a public health problem. In Brazil there

is a lack of information on this population and its

aspects in national level. Objective: To evaluate the

clinical and epidemiological profile of patients with diabetic nephropathy in hemodialysis in a renal

replacement therapy center in Ipatinga/MG, Brazil.

Methods: Descriptive, transversal and quantitative

study with a sample of 86 patients with diabetic ne-

phropathy in hemodialysis, evaluated by clinical and

socio-demographic variables obtained through a

survey form developed by the authors. Results: The

sample consisted of 86 diabetic patients with chronic

renal failure in hemodialysis, of which 50 (58.1%)

were men, 23 (26.7%) were over 60 years-old, 73

(84.9%) were retirees, 57 (66.3%) were diabetic and

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Perfil clínico-epidemiológico dos pacientes com nefropatia diabética em hemodiálise, em Ipatinga-MG

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homens, 23 (26,7%) acima de 60 anos, 73 (84,9%) aposentados, 57 (66,3%) diabéticos e hipertensos, 64 (77,1%) apresentaram hipotensão durante sessão de hemodiálise. Conclusão: Este estudo possibilita mais conhecimento sobre o perfil dos pacientes portadores de uma patologia relevante para a implementação de políticas públicas no âmbito da saúde, bem como, para os serviços de terapia renal substitutiva e equipes multidisciplinares que prestam assistência ao portador de doença renal crônica.

Palavras-chave: Nefropatia diabética. Hemodiálise. Insuficiência renal crônica.

hypertensive patients, 64 (77.1%) had hypotension

during hemodialysis session. Conclusion: This study

enables a greater knowledge of the profile of patients with relevant conditions for implementing public

health policies as well as for renal replacement ther-

apy services and multidisciplinary teams qualified to provide healthcare to patients with chronic kidney

disease.

Keywords: Diabetic nephropathy. Hemodialysis.

Chronic Renal Failure.

INTRODUÇÃOA Nefropatia Diabética (ND) é a principal causa

de Insuficiência Renal Crônica (IRC) em pacientes iniciando tratamento em Hemodiálise (HD), nos países desenvolvidos, representando quase 50% dos novos casos1,2 e grande responsável pelo crescente número de pacientes nos países em desenvolvimento.3 Dados europeus e norte-americanos mostram que sua incidência tem aumentado, progressivamente, ao longo dos anos.2,4

A excreção urinária de albumina (EUA), aumentada na ausência de outras doenças renais, é o que define a ND e sua mensuração pode ser feita por um exame urinário.5 O curso clínico apresenta-se em três fases evolutivas, conforme a EUA e a função renal.6 A patogênese da ND é complexa, envolvendo a interação de múltiplos fatores relacionados ao distúrbio metabólico e às variáveis genéticas.7

A IRC é uma enfermidade que interfere nas condições psicológicas do paciente, além de gerar consequências físicas, alterar seu cotidiano e interferir no papel desse indivíduo na sociedade em que vive.8 Nos Estados Unidos e na grande São Paulo, a HD é a forma de tratamento mais utilizada em pacientes com

IRC terminal secundária à ND.9

No Brasil, o número estimado de pacientes em diálise, em 2012, foi de 97.586 pacientes, cerca de 28,5% destes eram diabéticos.4 Considerando o crescente aumento de indivíduos portadores de IRC, a situação representa um problema de saúde pública,10 e é relevante para o planejamento desta, pois esses pacientes necessitam de cuidados mais complexos, gerando mais custo, além de apresentar mais morbidade e mortalidade.11,12,13 Nos Estados Unidos, os custos para o tratamento dos pacientes com doença renal terminal por diabetes mellitus (DM) excede o valor de 9 bilhões de dólares anuais.14

Diante do exposto, o objetivo deste estudo é caracterizar o perfil sociodemográfico do paciente com nefropatia diabética, sob hemodiálise, em tratamento no Centro de Terapia Renal Substitutiva do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, em Ipatinga-MG/Brasil.

METODOLOGIAEste foi um estudo descritivo, transversal e

quantitativo, com finalidade de caracterizar, por meio de variáveis clínicas e sociodemográficas, uma população de pacientes com insuficiência renal

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crônica por nefropatia diabética, em tratamento com hemodiálise, em um centro de terapia renal substitutiva (CTRS), em Ipatinga-MG/Brasil.

O cálculo utilizado para determinação do tamanho da amostra, com base na estimativa do total de pacientes com nefropatia diabética inscritos em tratamento hemodialítico no hospital, foi n= z².q.p.N/e².(N-1)+ z².q.p. Utilizou-se um grau de confiança de 95%, erro máximo permitido de 5% e uma proporção de interesse de 28,5%, sendo a última referenciada em Censo dos Centros de Diálise do Brasil de 2012,15 para uma população de 118 pacientes diabéticos, tendo como valor amostral 86.

Foram elegíveis pacientes com diagnóstico de nefropatia diabética, com mais de 3 meses em tratamento hemodialítico, visando excluir possíveis casos de injúria renal aguda. Os pacientes eram maiores de 18 anos, capazes de responder ao questionário proposto, que aceitaram participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa, os dados foram coletados a partir de um questionário elaborado pelos próprios pesquisadores. A entrevista foi agendada previamente, com participação do nefrologista de plantão no dia da coleta dos dados, em um local privado, não interferindo na rotina habitual do paciente.

Procedimentos que assegurassem a confidencialidade e privacidade dos pacientes citados nos questionários foram adotados, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das pessoas, inclusive em termos de autoestima, prestígio econômico e/ou financeiro, respeitando a autonomia da instituição.

Os parâmetros analisados foram os sociodemográficos – sexo, faixa etária, local da residência, estado civil, escolaridade, ocupação atual, renda mensal, convênio para tratamento, Sistema Único de Saúde (SUS) ou

Plano de Saúde, interferência da hemodiálise nas atividades profissionais, no lazer ou recreação, tipo de moradia – e clínicos – fatores de risco, comorbidades associadas, tempo entre diagnóstico e início diálise, tempo de diálise, história familiar para diabetes ou doença renal crônica, complicações durante e frequência da hemodiálise.

Os dados foram analisados empregando-se estatística descritiva. Para análise estatística, utilizamos o software SPSS, versão 19.0. As variáveis quantitativas foram descritas através de média e desvio padrão, enquanto as qualitativas, através de frequência absoluta e relativa.

RESULTADOSNo período do estudo, 290 pacientes renais crônicos

foram informados que estavam em tratamento hemodialítico, no serviço de terapia renal substitutiva do Hospital Márcio Cunha/FSFX, em Ipatinga-MG/Brasil. Foram identificados 99 pacientes diabéticos, uma prevalência de 34,1%.

Em relação aos dados sociodemográficos, dos 86 pacientes, 50 eram do sexo masculino (58,1%) e 36 eram do sexo feminino (41,9%), a média de idade foi de 54,4 anos, 53 pacientes (61,6%) estavam na faixa etária entre 41 e 60 anos, 23 (26,7%) acima dos 60 anos e 5 (5,8%) entre 31 e 40 anos, o mesmo número estava com idades entre 18 e 30 anos. A maioria dos pacientes residia em Ipatinga-MG, totalizando 68 (79,1%). A prevalência de casados foi destaque, 72 (83,7%), junto com o expressivo número de aposentados 73 (84,9%). O tipo de convênio mais utilizado foi o SUS, 80 (93,0%). Analfabetos somavam 34 (39,5%), e 60 (69,8%) das famílias sobreviviam com renda mensal entre 1 a 2 salários-mínimos. Esses dados estão apresentados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Variáveis sociodemográficasVariáveis n.o %

Gênero

Masculino 50 58,1

Feminino 36 41,9

Faixa etária

18 l---- 30 anos 05 26,7

31 l---- 40 anos 05 5,80

41 l---- 60 anos 53 61,6

60 ou mais anos 23 26,7

Município onde reside

Ipatinga 68 79,1

Coronel Fabriciano 09 10,5

Timóteo 05 5,80

Iapu 01 1,20

Mariélia 02 2,30

Santana do Paraíso 01 1,20

Estado civil

Casado 72 83,7

Solteiro 04 4,70

Viúvo 03 3,50

Separado 07 8,10

Escolaridade

Analfabeto(a) 34 39,5

1º grau incompleto 09 10,5

1º grau completo 37 43,0

2º grau incompleto 00 0,00

2º grau completo 05 5,80

3º grau incompleto 00 0,00

3º grau completo 01 1,20

Profissão (ocupação)

Atuando 00 0,00

Dependente de Terceiros 05 5,80

Aposentado 73 84,9

Licença Saúde 08 9,30

Continua

ConclusãoVariáveis n.o %

Gênero

Tipo de moradia

Casa própria 76 88,4

Aluguel 10 11,6

Tipo de convênio utilizado

Sistema Único de Saúde (SUS) 80 93,0

Planos Privados de Saúde 06 7,00Interferência da hemodiálise na atividade profissional

Interferiu 00 0,00

Não interferiu 86 100,0Interferência da hemodiálise nas atividades de lazer e recreação

Interferiu 28 32,6

Não interferiu 58 67,4

Fonte: dados da pesquisa.

Analisando-se os parâmetros clínicos, é possível notar que 23 (26,7%) apresentavam tabagismo como fator de risco, seguido por história familiar de diabetes, 30 (34,8%), e de doença renal crônica, 10 (11,7%). Somente 10 (11,7%) dos pacientes não indicaram qualquer dos fatores perguntados. A prevalência da associação entre diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica foi elevada, em 57 (66,3%) dos participantes. O tempo médio entre a descoberta do diagnóstico de diabetes e o início do tratamento na hemodiálise foi de 7,4 anos. 58 (67,4%) dos pacientes já faziam terapia de substituição renal entre 12 e 60 meses (1 a 5 anos). O tempo médio deste último foi de 26 meses (quase 2 anos). Quase a totalidade dos doentes, 85 (98,8%), tinham 3 sessões de terapia por semana. Esses dados estão apresentados na Tabela 2.

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Tabela 2 – Parâmetros clínicosVariáveis n.o %Fatores de risco para insuficiência renal crônicaSem fatores de risco 10 11,7

Tabagismo 23 26,7

Etilismo 13 15,1

História familiar de diabetes 30 34,8História familiar de doença renal crônica 10 11,7

Comorbidades Associadas

Hipertensão arterial 00 0,00

Diabetes mellitus 15 17,4

Dislipidemia 00 0,00

Hipertensão arterial + diabetes mellitus 57 66,3Hipertensão arterial + diabetes mellitus + dislipidemia 14 16,3

Tempo de tratamento hemodialítico

1 l---- 6 meses 10 11,6

6 l---- 12 meses 14 16,3

12 l---- 60 meses 58 67,4

60 ou mais meses 04 4,70Número de sessões de hemodiálise por semana

1 vez 00 0,00

2 vezes 01 1,20

3 vezes 85 98,8

4 vezes 00 0,00

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 3 – Complicações apresentadas durante a sessão hemodialítica

n.o %Sem complicações 03 3,50Hipertensão arterial 06 7,22Precordialgia 04 4,81Vertigem 23 27,7Hipotensão arterial 64 77,1Dor abdominal 03 3,61Cefaléia 12 14,4Vômitos 07 8,43Câimbras 03 3,61NOTA: Houve mais de uma resposta por entrevistado

As complicações durante a sessão de hemodiálise são frequentes e poucos pacientes, 03 (3,50%), informaram, durante a entrevista, não ter apresentado nenhum tipo de sintoma. A queixa mais prevalente foi hipotensão arterial, 64 (77,1%), seguido por vertigem 23 (27,7%) e cefaleia 12 (14,4%). Deve-se ter em consideração que foi permitido mais de uma resposta ao tópico, por participante. Esses dados estão apresentados na Tabela 3.

DISCUSSÃOA incidência e prevalência de pacientes com

insuficiência renal crônica iniciando tratamento de hemodiálise vem crescendo progressivamente em todo o mundo, principalmente na Europa e na região Norte-Americana. Nessas ocorrências, a nefropatia diabética tem um papel significativo.2 No presente estudo, a prevalência de pacientes diabéticos em terapia de substituição renal foi semelhante ao encontrado na literatura. Fontes mostram que o percentual chega próximo a 29% na região Sul do Brasil.16 Nos Estados Unidos, em 1998, 40% dos pacientes em diálise eram portadores de DM.17

A faixa etária teve como média 54,4 anos; mais da metade, 53 (61,6%), encontrava-se com mais de 40 anos. As pesquisas encontradas na literatura verificaram que 53,1% dos nefropatas crônicos estudados compreendiam a faixa etária de 36 a 55 anos,18 57,8% na faixa de 50 a 69 anos19 26,3% estavam entre a faixa etária de 40 a 49 anos e a mesma proporção entre 50 a 59 anos,20 49,0% encontravam-se entre a faixa etária de 41 a 60 anos.21

Grande parte dos participantes, 68 (79,1%), reside no município de Ipatinga ou em cidades satélites, como

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Coronel Fabriciano, 9 (10,5%), e Timóteo, 5 (5,80%). Em menor quantidade, temos doentes provenientes de cidades mais distantes, 4 (4,7%), como Iapu, Mariélia, Santana do Paraíso. Vale ressaltar que esses pacientes que se deslocam dos municípios de origem para a realização da hemodiálise tem aumentado o tempo e o custo no tratamento, uma vez que, além do período de permanência na clínica, gastam horas do dia nas rodovias, sendo que muitos pacientes necessitam, também, do transporte oferecido pela rede pública. Um estudo para identificar empecilhos na sequência do tratamento da hipertensão arterial de doentes em atendimento ambulatorial mostrou que, dos 41,2% doentes do ambulatório que consideraram a distância do serviço de saúde como dificuldade para continuar seu tratamento, 57,2% justificaram ser por motivos relacionados ao número de conduções e o tempo gasto nesse transporte.22

Quanto à variável profissão (ocupação), a maioria, 81 (94,2%) dos entrevistados, encontrava-se aposentada ou com licença saúde. Essa é uma realidade entre os portadores de insuficiência renal crônica em tratamento hemodialítico, sendo que a aposentadoria é considerada uma condição de vida imposta pela doença. Nenhum participante estava trabalhando, e 5 (5,80%) são dependentes de terceiros, como familiares, para sobrevivência financeira. Outras pesquisas, que também estudaram as mesmas variáveis em pacientes renais crônicos em hemodiálise, encontraram os mesmos resultados, ou seja, mais ocorrência de pacientes aposentados, com licença saúde, ou que não trabalhavam, mas todos com valores inferiores aos citados acima: 67,5% 20 e 51,4%.21

Neste estudo, 76 (88,4%) doentes informaram ter sua casa própria e apenas 10 (11,6%) moravam de aluguel. Como muitos pacientes são impossibilitados para o trabalho, pelas complicações da doença,

diminuindo, dessa forma, a sua renda mensal, o fato de grande parte dessa população não necessitar de direcionar a sua renda para o pagamento de aluguel é uma vantagem. Para o Ministério da Saúde, as condições sociais de uma população têm peso expressivo na determinação de seu perfil de saúde.23

O elevado número de pacientes que utiliza como convênio o Sistema Único de Saúde (SUS), 80 (93,0%), reflete o perfil dos pacientes que é mais encontrado em todo o Brasil. Esse dado é destacado no Relatório do Censo Brasileiro de Diálise Crônica 2012,15 em que, das 255 unidades de hemodiálise participantes, 83,9% dos pacientes eram reembolsados pelo SUS.

Nenhum dos participantes alegou que a hemodiálise interferiu em suas atividades profissionais. Acreditamos que esse fato está relacionado, talvez, com o início da hemodiálise, já durante o afastamento do trabalho, seja por aposentadoria ou licença saúde. Pode ter ocorrido por algum desvio de entendimento, em relação à pergunta, pelos participantes. Um pesquisador, em seu estudo, observou que 64,8% dos pacientes mencionaram ter ocorrido alguma interferência da doença crônica no trabalho e atividades do lar.24

Os entrevistados, em sua maioria, 57 (66,3%), apresentaram diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica. É importante destacar a associação entre as duas, pois elas se interagem de forma íntima, podendo uma ser causa ou consequência da outra. Um defeito na função renal, quase certamente, está associado à patogenia da HAS primária, enquanto que a IRC é a causa mais comum de HAS secundária.25

Somente uma pequena minoria de pacientes não relatou nenhuma complicação durante a sessão de hemodiálise. O grande destaque fica com os que apresentaram hipotensão arterial, 64 (77,1%). Vertigem foi queixada por 23 (27,7%) e cefaleia por 12 (14,4%). Autores defendem que as principais

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complicações durante a realização da hemodiálise são: hipotensão (20 a 30% das diálises), câimbras (5 a 20%), náuseas e vômitos (5 a 15%), cefaleia (5%), dor no peito (2 a 5%), dor lombar (2 a 5%), prurido (5%) e febre e calafrios (menos que 1%).26

CONCLUSÃOEste estudo possibilita mais conhecimento acerca

do perfil dos pacientes portadores de uma patologia relevante para a implementação de políticas públicas no âmbito da saúde, assim como, para um melhor

planejamento do cuidado à saúde, contribuindo para a melhoria das condições de vida desses pacientes.

Espera-se que as informações adquiridas a partir dos resultados desta pesquisa sirvam como subsídio para elaboração de estratégias e intervenções para o controle das doenças-bases precursoras da IRC, bem como, para os serviços de terapia renal substitutiva e equipes multidisciplinares que prestam assistência ao portador de doença renal crônica, no âmbito estadual.

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Revista Ciência e Saúde 54

ARTIGO ORIGINAL

ANÁLISE DE PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI EM PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE CÂNCER GÁSTRICO

ANALYSIS OF HELICOBACTER PYLORI INFECTION PREVALENCE IN PATIENTS WITH GASTRIC CANCER DIAGNOSIS

Eduardo da Costa Marçal1, Guilherme Henrique Silveira Teixeira1, Ralph Brito Damaceno2, Leonardo Stopa Barros3

1 Acadêmico de medicina da Universidade Federal de Ouro Preto.2 Médico residente em Cirurgia Geral do Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.3 Médico Clínico Geral Membro do corpo clínico do Hospital Márcio Cunha– Fundação São Francisco Xavier, Ipatinga, MG, Brasil.

Autor correspondente: Ralph Brito DamacenoAvenida Monteiro Lobato, 207/201, Cidade Nobre, Ipatinga, MG. CEP: 35192-394. Telefone: (35) 99936 2828. E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 01/03/2015Aprovado para publicação em 26/02/2016

RESUMOA Helicobacter pylori (H. pylori) adquiriu grande importância durante as últimas décadas ao ser reconhecido como importante patógeno que infecta uma grande parte da população. Essa bactéria, localizada na mucosa gástrica, induz inflamação persistente nessa mucosa, com diferentes lesões orgânicas em humanos, tais como gastrite crônica, úlcera péptica e indução ao câncer gástrico. Os fatores determinantes desses diferentes resultados incluem a intensidade e a distribuição da inflamação induzida pelo H. pylori. O presente estudo tem como objetivo analisar a prevalência do H. pylori nos pacientes portadores de câncer gástrico. Trata-se de uma série de casos de pacientes inscritos no banco de dados de um grande hospital filantrópico do Leste de Minas Gerais. Para tanto, serão utilizados laudos

ABSTRACTHelicobacter pylori (H. pylori) acquired great im-

portance in recent decades due to the fact of being

recognized as a strong pathogen that infects a large

proportion of the population. This bacterium is sit-

uated in the gastric mucosa and it causes persistent

inflammation in this mucosa with different organic injuries in humans such as chronic gastritis, peptic

ulcer and gastric cancer inducing. The determining

elements of these different results include inflamma-

tion intensity and distribution induced by H. pylori.

The present study aims to analyze the prevalence of

Helicobacter pylori in patients with gastric can-

cer. This is a cases series with patients registered

in the database of a large philanthropic hospital in

the Eastern Minas Gerais. In this regard, reports

obtained through endoscopy will be used herewith

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Revista Ciência e Saúde

Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico de câncer gástrico

55

de estudos realizados através de endoscopia digestiva alta, juntamente com exames anatomopatológicos do ano 2013, com uma amostra de cerca de 90 pacientes. Os dados serão analisados empregando-se estatística descritiva e inferencial. As variáveis serão descritas pela frequência absoluta e relativa.

Palavras-chave: Helicobacter pylori. Câncer gástrico. Úlcera péptica. Endoscopia digestiva alta.

pathological examinations from 2013 with a sam-

ple of about 90 patients. The collected data will be

analyzed based on descriptive and inferential statis-

tics. The variables will be described by absolute and

relative frequency.

Keywords: Helicobacter pylori; Gastric Cancer,

Peptic Ulcer; Endoscopy.

INTRODUÇÃOA Helicobacter pylori (H. pylori ou HP) é uma

bactéria gram negativa, de forma espiralada, com distribuição universal, que causa a infecção crônica mais frequente em humanos. Estimam-se que 60% da população global estejam acometidos por esse micro-organismo.1

A infecção pela H. pylori ocorre em todo o mundo, mas a prevalência varia muito entre países e grupos populacionais dentro de um mesmo país. A H. pylori

coloniza o estômago de 50% da população nos países desenvolvidos e cerca de 80% nos países em desenvolvimento. A infecção é adquirida pela ingestão da bactéria e transmitida principalmente dentro das famílias, em que a principal fonte de transmissão é a mãe.2

A infecção por H. pylori induz inflamação persistente na mucosa gástrica com diferentes lesões orgânicas em humanos, tais como gastrite crônica, úlcera péptica e câncer gástrico. Os fatores determinantes desses diferentes resultados incluem a intensidade e a distribuição da inflamação induzida pela H. pylori na mucosa gástrica.3

O câncer gástrico (CG) é uma das neoplasias mais importantes no mundo, com significativa incidência e mortalidade. A Helicobacter pylori (HP) tem sido, portanto, associada à carcinogênese do câncer gástrico, o que sugere a observação de taxas mais

elevadas de infecção por HP, em pacientes com câncer gástrico, quando comparados aos controles normais em países ocidentais. Por outro lado, em países com alta incidência da neoplasia, a prevalência da infecção por HP parece ser ainda maior, ocorrendo em idades precoces da população em geral.4

Enquanto a maioria dos indivíduos infectados pela H. pylori permanecem assintomáticos, 10% a 20% vão desenvolver úlcera péptica e 1% evoluirá para o câncer gástrico.5

Portanto, este estudo visa verificar a prevalência da H. pylori em pacientes com câncer gástrico, bem como analisar o perfil demográfico da amostra em questão.

REVISÃO DA LITERATURA A bactéria H. pylori é frequentemente adquirida

na infância e pode persistir por toda a vida. A gastrite é uma consequência em quase todos os indivíduos infectados pela H. pylori e, apesar de muitos hospedeiros permanecerem assintomáticos, outros apresentam úlcera péptica ou duodenal, adenocarcinoma gástrico e linfomas, principalmente o linfoma MALT (Linfoma do tecido linfoide associado à mucosa).6

A infecção por H. pylori provoca grande desconforto em milhares de pessoas e leva à morte pelo menos um milhão de indivíduos, anualmente, dada a sua abrangência. Esses fatos têm sido subestimados pelas

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Revista Ciência e Saúde

Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Ralph Brito Damaceno, Leonardo Stopa Barros

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autoridades de saúde pública e por especialistas em doenças infecciosas. A infecção pela Helicobacter

pylori apresenta aumento da prevalência com a idade, os principais fatores de riscos estão relacionados ao baixo nível socioeconômico, e o mecanismo de transmissão permanece desconhecido.7

A gastrite crônica, induzida pela H. pylori, aumenta o risco para um amplo espectro de resultados clínicos, que vão de úlcera péptica (úlcera gástrica e duodenal) ao adenocarcinoma gástrico distal e Linfoma não-Hodgkin. Embora os fatores que determinam essa variedade de resultados clínicos da infecção por H. pylori não estejam bem compreendidos, o desenvolvimento de uma resposta imune inflamatória gástrica sustentada à infecção parece ser fundamental para o desenvolvimento da doença. O risco maior pode estar relacionado a diferenças na expressão de produtos bacterianos específicos (CagA, VacA e outros), a variações na resposta inflamatória do hospedeiro a bactérias ou a interações específicas entre o hospedeiro e a bactéria.8

O tratamento clínico padrão para a infecção pelo H.

pylori combina o uso de dois antibióticos, Amoxicilina e Claritromicina, com um inibidor de bomba de prótons, Omeprazol, Lanzoprazol ou Pantoprazol. O Metronidazol pode substituir a Amoxicilina em pacientes alérgicos. Em casos de resistência a antibióticos, mudanças ainda podem ser feitas, como a substituição da Claritromicina pela Azitromicina ou Levofloxacina. Ou do Metronidazol por Tetraciclina, Estreptomicina ou Rifampicina.

CÂNCER GÁSTRICOO pico de incidência se dá, em sua maioria, em

homens por volta dos 70 anos; cerca de 65% dos pacientes diagnosticados com câncer de estômago têm mais de 50 anos. No Brasil, esses tumores aparecem em terceiro lugar na incidência entre

homens e, em quinto, entre as mulheres. No resto do mundo, dados estatísticos revelam declínio da incidência, especificamente nos Estados Unidos, Inglaterra e outros países mais desenvolvidos. A alta mortalidade é registrada, atualmente, na América Latina, principalmente na Costa Rica, Chile e Colômbia. Porém, o maior número de casos ocorre no Japão, onde são encontrados 780 doentes por 100.000 habitantes.9

O câncer gástrico permanece entre os problemas mais sérios de saúde em vários países, incluindo o Brasil. O diagnóstico, geralmente, é feito na fase avançada de progressão da doença, o que dificulta a eficácia dos procedimentos e o prognóstico dos pacientes. Torna-se, portanto, relevante a identificação de fatores que possam ser utilizados como biomarcadores de risco para essa doença.10

Estudos da mucosa gástrica, em populações de alto risco, têm revelado uma série de lesões que, sequencialmente, evoluiriam da condição normal para gastrite crônica não-atrófica, em seguida, para gastrite atrófica e metaplasia intestinal e, finalmente, para displasia e adenocarcinoma. Portanto, a infecção por H. pylori determina a ocorrência de inflamação crônica da mucosa gástrica que pode persistir por décadas e conferir risco aumentado para o desenvolvimento gástrico.11

Araújo Filho et al. relatam que estudos epidemiológicos e histopatológicos têm demonstrado que pacientes com a infecção por H. pylori têm de 2 a 3 vezes mais chances de desenvolver câncer gástrico.12

A causa é multivariada e os componentes de risco conhecidos são de origem 1) infecciosa, como a infecção gástrica pela Helicobacter pylori; 2) idade avançada e gênero masculino; 3) hábitos de vida como dieta pobre em produtos de origem vegetal, dieta rica em sal, consumo de alimentos conservados de

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Revista Ciência e Saúde

Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico de câncer gástrico

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determinadas formas, como defumação ou conserva na salga; 4) exposição à drogas, como o tabagismo; 5) associação com doenças, como gastrite crônica atrófica, metaplasia intestinal da mucosa gástrica, anemia perniciosa, pólipo adenomatoso do estômago, gastrite hipertrófica gigante; e 6) história pessoal ou familiar de algumas condições hereditárias, como o próprio câncer e a polipose adenomatosa familiar.

MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma série de casos retrospectivos, com

objetivo descritivo de dados quantitativos, utilizando-se registros médicos individuais e o laudo do exame de endoscopia digestiva alta, associados a exames anatomopatológicos realizados pelos pacientes. Os pesquisadores envolvidos neste projeto irão analisar essas fontes de dados de pacientes internados em 2013, em um hospital de alta complexidade do Leste Mineiro, objetivando colher as seguintes informações: idade, sexo, presença de câncer gástrico e infecção por Helicobacter pylori.

O estudo será conduzido de acordo com a Resolução 466/2012, da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (CONEP). Os dados serão analisados empregando-se estatística descritiva. As variáveis serão descritas pela frequência absoluta e relativa. Foram incluídos, na amostra, pacientes internados em 2013, no Hospital Marcio Cunha, com diagnóstico de neoplasia gástrica primária e pesquisa de Helicobacter Pylori. Foram excluídos os pacientes com tumores gástricos secundários ou metástases.

DISCUSSÃODurante o ano de 2013, considerando-se como

amostra inicial os pacientes internados com CID-10 C16, obtemos 87 pacientes no banco de dados do hospital. Dessa amostra, foram excluídos 49 pacientes, por não terem em seus registros (evolução médica, resultado de endoscopia digestiva alta com teste da

uréase ou exame anatomopatológico) a pesquisa da H. pylori. Dos 38 pacientes elegíveis para o estudo, 22 são do sexo masculino (58%) e 16 do sexo feminino (42%), como pode ser observado no Gráfico 1. Assim como descrito na literatura, a maioria dos indivíduos afetados pelo câncer gástrico é do sexo masculino.

Fonte: Dados da pesquisa.

Ainda segundo a amostra, é possível afirmar que o câncer gástrico tem maior prevalência a partir da sexta década de vida, atingindo raramente indivíduos com menos de 50 anos. O Gráfico 2 ilustra a faixa etária de acometimento pela doença, no qual podemos observar a dominância dos pacientes entre a sexta e sétima décadas de vida (57,8%).

Em relação à presença da bactéria H. pylori na mucosa gástrica, apenas 4 dos 38 pacientes que realizaram pesquisa do patógeno foram positivos, perfazendo 10,52% da amostra. A relação direta de causa-efeito entre H. pylori e câncer gástrico não é possível, apesar de que a literatura documenta seu papel na gênese do câncer gástrico. A bactéria não pode ser vista como fator de risco independente para neoplasia, mas como um cofator para o desenvolvimento desta.

Masculino58%

Feminino42%

Análise do sexo dos pacientes portadores de câncer gástrico

Gráfico 1 – Gênero dos pacientes analisados

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Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Ralph Brito Damaceno, Leonardo Stopa Barros

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CONCLUSÃOApesar de inúmeros trabalhos demonstrarem a

influência da H. pylori na patogênese do câncer gástrico, ainda não faz parte da rotina clínica de alguns serviços a pesquisa desse agente nos pacientes portadores de neoplasia gástrica em propedêutica.

Dos 87 pacientes internados no serviço em 2013, 4 apresentavam MALT ao exame anatomopatológico, um tumor que pode ser tratado apenas com a

Gráfico 2 – Faixa etária dos pacientes portadores de câncer gástrico

erradicação da bactéria em alguns casos. O que evitaria gastos excessivos e exposição de pacientes a cirurgias desnecessárias. O perfil dos pacientes do Leste de Minas Gerais é igual ao do Brasil e do mundo, em que a doença atinge mais homens que mulheres e, geralmente, da sexta década de vida em diante

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4,5

4

3,5

3

2,5

2

1,5

1

0,5

0

Homens Mulheres

1

0 0

0-40

0 0

41-45

2 2

46-50

2

1

51-55

2

56-60

0

3

61-65

3

4

66-70

2 2

81-85

0

1

86-90Idade 71-75

2

4

76-80

3

4

Fonte: Dados da pesquisa.

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Revista Ciência e Saúde

Análise de prevalência da infecção por Helicobacter pylori em pacientes com diagnóstico de câncer gástrico

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Revista Ciência e Saúde 60

ARTIGO ORIGINAL

ENCEFALITE AMEBIANA GRANULOMATOSA: RELATO DE CASO

GRANULOMATOUS AMOEBIC ENCEPHALITIS: CASE REPORT

Eduardo da Costa Marçal1, Guilherme Henrique Silveira Teixeira1, Marcos Abreu Lima Cota2, Tardely Duarte Magalhães2, Aloísio Bemvindo de Paula3, Leonardo Stopa Barros4

1 Discente do curso de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto/internato hospitalar Clínica Médica Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG2 Médico Residente – Clínica Médica do Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG3 Médico infectologista, Coordenador/Preceptor da Residência em Clínica Médica Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG4 Médico, especialista em Clínica Médica, preceptor da Residência em Clínica Médica Hospital Márcio Cunha – Ipatinga/MG

Autor correspondente: Tardely Duarte Magalhães Rua São Geraldo, nº 81 bloco F01 apto 106, Bairro Água Fresca, Itabira, MG. CEP: 35900-465. Telefone: (31) 99963 8194. E-mail: [email protected]

Artigo recebido em 02/12/2015Aprovado para publicação em 26/02/2016

RESUMOEncefalite é uma inflamação do parênquima cerebral, associada à disfunção neurológica clinicamente evidente, que tem entre seus agentes causais as amebas. Estas, capazes de ocasionar a amebíase do Sistema Nervoso Central, manifesta-se sob a forma de meningoencefalite, abscesso ou granuloma cerebral. Este artigo retrata a casuística clínica de um paciente acometido pela patologia Encefalite Amebiana Granulomatosa e tem por objetivo aventar a discussão acerca do diagnóstico e do tratamento dessa patologia, com o propósito de assessorar no diagnóstico precoce e instituir mais especificidade ao tratamento, vislumbrando aumentar a possibilidade de êxito terapêutico, uma vez que a patologia segue um curso geralmente fatal, o que a torna uma patologia de grande interesse ao estudo médico.Palavras-chave: Encefalite Amebiana Granulomatosa. Ameba de vida livre. Diagnóstico. Tratamento.

ABSTRACTEncephalitis is a brain parenchyma inflammation re-

lated to neurological dysfunction clinically evident,

which has amoebas among its causal agents, able to

cause amoebiasis of Central Nervous System (CNS)

and it presents in the form of meningoencephalitis,

brain abscess or granuloma. This article describes

the clinical casuistry of a patient affected by the

Granulomatous Amoebic Encephalitis (GAE) pa-

thology, and it aims to suggest the discussion about

diagnosis and treatment of this disease in order to

assist in early diagnosis and establish more partic-

ularities to the treatment, envisioning higher pos-

sibilities of therapeutic success, once GAE usually

follows a fatal course, which makes it as a pathology

of keen interest to medical research.

Keywords: Granulomatous Amoebic Encephalitis.

Free-living Amoeba. Diagnosis. Treatment.

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Revista Ciência e Saúde

Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso

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INTRODUÇÃOEncefalite é uma inflamação do parênquima cerebral

associada à disfunção neurológica clinicamente evidente, cuja causa primacial é infecciosa, sendo os vírus e bactérias responsáveis por cerca de 90% dos casos.1 Ainda que raro, as amebas também podem ser identificadas como causadoras de encefalite e amebíase do Sistema Nervoso Central (SNC) manifestando-se sob a forma de meningoencefalite, abscesso ou granuloma cerebral, conforme o tipo de ameba, o estado imunitário do hospedeiro e as circunstâncias da infecção.2 Dentre as espécies de amebas capazes de propiciar a encefalite, estão a Entamoeba histolytica e as Amebas de Vida Livre (AVLs), sendo as últimas concernentes a um grupo de protozoários amplamente dispersos no ambiente, isolados na água, no solo ou no ar.2,3

A Encefalite Amebiana Granulomatosa (EAG) é uma infecção ainda mais rara do SNC, com aproximadamente 150 casos descritos em todo o mundo.4,5 Causada por amebas dos gêneros Acanthamoeba, Balamuthia

mandrillaris, e Sappinia diploidea, a EAG possui um curso clínico inespecífico, compreendendo cefaleias, com periodicidade semanal, durante meses, sinais/déficits neurológicos focais (paresia/plegia/ataxia/paralisia de nervos cranianos), coma e morte.2 Existe, ainda, outra espécie de AVL, a Naegleria fowleri, capaz de causar diferente acometimento do SNC, a meningoencefalite amebiana primária.2

O período de incubação da ameba é desconhecido, e a causa da morte correlaciona-se ao aumento da pressão intracraniana e a destruição do parênquima cerebral.5,6 O diagnóstico é complexo, pois, no ambiente do SNC, há necessidade de técnicas mais invasivas e a doença possui rápida progressão, além de existir uma quantidade maior de diagnósticos diferenciais diante da inespecificidade clínica na qual se apresenta.5,7 A evolução de EAG é quase sempre

fatal, uma vez que o tratamento farmacológico é incerto diante da dificuldade do diagnóstico, o que o torna, muitas vezes, tardio e, ainda, pela dificuldade de identificação da espécie amebiana.5

Relatos de casos de sobreviventes à infecção por AVLs sugerem apenas a associação de algumas drogas (antibacterianos, antifúngicos, antiparasitários) no tratamento, entretanto, ainda sem total evidência da eficácia dessas drogas na cura.5,8 Não existem drogas específicas para o tratamento direcionado à infecção por AVLs.8

O presente estudo teve por objetivo retratar a história clínica de um paciente acometido por Encefalite Amebiana Granulomatosa e aventar a discussão acerca do diagnóstico e do tratamento dessa patologia, com o propósito de assessorar no diagnóstico precoce e instituir mais especificidade ao tratamento, vislumbrando aumentar a possibilidade de êxito terapêutico.

MÉTODOS Trata-se de um estudo qualitativo, retrospectivo e

descritivo, abordando um caso clínico de um paciente acometido por Encefalite Amebiana Granulomatosa e admitido pela unidade de urgência clínica de um hospital de grande porte do Leste de Minas Gerais, em abril/2014. A abordagem inicial dos pesquisadores, em relação ao paciente, transcorreu durante internação deste, na enfermaria de neurocirurgia e clínica médica do referido hospital, em que os pesquisadores presenciaram a evolução na conduta e no quadro clínico do paciente.

A coleta dos dados foi realizada em maio/2015, exclusivamente pelos pesquisadores, por intermédio da análise das informações transcritas em prontuário eletrônico do paciente, preservando o sigilo das informações. Ressalta-se que o acesso aos dados do prontuário médico deu-se após a aprovação do projeto

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Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros

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de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos e a anuência da família do paciente, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram investigados aspectos como biotipo, história pregressa das condições de saúde, quadro clínico na admissão e evolução clínica do paciente, resultados de exames laboratoriais e de imagem e do tratamento medicamentoso realizado.

RELATO DE CASOPaciente de 62 anos, sexo masculino, cor parda,

casado, aposentado, evangélico, natural e procedente de Ipatinga-MG, evoluindo, há aproximadamente 45 dias, com paresia em membro inferior esquerdo, de aparecimento súbito e rápida progressão para paraplegia em dimídio esquerdo, sem relato de febre ou sintomas gerais de emagrecimento, inapetência, hiporexia. O paciente apresentou-se ao exame clínico da admissão em regular estado geral, consciente, sem alterações no exame cardiopulmonar; era marcante a existência de lesão cutânea em região dorsal, eritematosa, com bordas elevadas e infiltradas, bem delimitada e sem alteração de sensibilidade.

Na história pregressa, o relato de familiares aponta a existência de hanseníase, tratada durante 12 meses, com alta por cura. Todavia, após término do tratamento, surgiu nova lesão cutânea cujas características foram descritas previamente. Negava etilismo, tabagismo ou uso de substâncias ilícitas.

O estudo histológico da referida lesão dermatológica, realizado antes da internação, evidenciou dermatite crônica perivascular profunda, com intensa plasmocitose e focos de reação granulomatosa. A derme exibia moderado infiltrado inflamatório linfoplasmo-histiocitário perivascular, além de proliferação fibrovascular com raras células gigantes multinucleadas e edema, não sendo observados

granulomas ou alterações de epidermotropismo. Aventou-se a hipótese de lesão sifilítica associada aos déficits neurológicos apresentados pelo paciente, direcionando a conduta médica para o tratamento da patologia como neurossífilis, permanecendo, entretanto, sem melhora do quadro.

A análise dos exames complementares laboratoriais, realizados após a admissão hospitalar – como hemograma, função renal, função hepática, eletrólitos e radiografia de tórax –, evidenciaram resultados dentro dos padrões de normalidade, assim como as sorologias anti-HIV tipo 1/2, VDRL, FTaABs, HBsAG e Anti-HCV. A eletroneuromiografia de membros inferiores não apresentou alterações, enquanto a Ressonância Nuclear Magnética (RNM) da coluna tóraco-lombar, representado pelas Figuras 1 e 2, a seguir, evidenciou espessamento e heterogeneidade da medula espinhal, com marcado hipersinal em T2, nos níveis de D6 a D9, a esclarecer.

Figura 1 – Ressonância Nuclear Magnética da Coluna tóraco-lombar

Evidência de espessamento e heterogeneidade da medula espinhal, com marcado hipersinal em T2, nos níveis de D6 a D9.Fonte: Dados da pesquisa.

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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso

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Figura 2 – Ressonância Nuclear Magnética da Coluna tóraco-lombar

Figura 3 – RNM do crânio ponderada em T2, corte sagital

Figura 4 – RNM do crânio ponderada em T1, corte axial

Figura 5 – RNM do crânio ponderada em T2, corte sagital

Evidência de espessamento e heterogeneidade da medula espinhal, com marcado hipersinal em T2, no nível de D8.Fonte: Dados da pesquisa.

Evidencia lesão com hipersinal heterogêneo envolvendo a substância branca e o córtex do lobo frontal.Fonte: Dados da pesquisa.

Evidencia lesão com hipossinal envolvendo a substância branca e cinzenta do lobo frontal direito.Fonte: Dados da pesquisa.

Evidencia Lesão com hipersinal heterogêneo envolvendo a substância branca e o córtex do lobo frontal. Fonte: Dados da pesquisa.

A RNM do encéfalo, representada nas Figuras 3, 4, 5 e 6, revela múltiplas lesões passivas de realce pelo gadolínio, de contornos mal definidos, apresentando efeito de massa e edema distribuídas pelo encéfalo, as maiores nos lobos frontais, medindo cerca de 2,3 x 1,9 cm, à direita, e 2,2 x 1,8 cm à esquerda.

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Figura 6 – RNM do crânio ponderada em T1, corte axial

Figura 7 – RNM do crânio – Difusão. Corte axial

Figura 8 – RNM do crânio – FLAIR. Corte axial

Evidencia lesão com hipossinal T1 no lobo frontal esquerdo.Fonte: Dados da pesquisa.

As lesões apresentam restrição à difusão livre da água.Fonte: Dados da pesquisa.

Lesões com hipersinal T2 e importante edema perilesional, condicionando efeito de massa e colabamento parcial do ventrículo lateral esquerdo.Fonte: Dados da pesquisa.

A análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) apresentou aspecto turvo, xantocrômico, com 11 leucócitos/mm³ (100% mononucleares); 101 hemácias/mm³; hipoglicorraquia, 154 mg proteínas/dl; cloretos 108 mEq/L e imunologia sem anormalidades. O paciente foi submetido à ressecção da lesão medular com coleta de material para exame anatomo-patológico que apenas evidenciou processo inflamatório crônico.

Com o rápido progresso da sintomatologia neurológica e rebaixamento do nível de consciência, houve necessidade de ventilação mecânica invasiva e cuidados em unidade de terapia intensiva (UTI), sendo realizada coleta de material da lesão cerebral para análise microbiológica e histológica, além de nova RNM cerebral (vide Figuras. 7, 8 e 9). Notadamente, observa-se expansão das lesões cerebrais com destruição importante do tecido nervoso.

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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso

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Figura 9 – RNM do crânio ponderada em T1, com gadolínio

Lesões localizadas na alta convexidade, com realce predominantemente periférico pelo meio de contraste e exercendo efeito de massa.Fonte: Dados da pesquisa.

Diante da evolução clínica-neurológica extremamente desfavorável, juntamente com resultados de culturas – quais sejam hemoculturas, urocultura e cultura de tecido cerebral negativa –, vários esquemas de antimicrobianos, como penicilina cristalina endovenosa, piperacilina/tazobactan, vancomicina, sulfametoxazol/trimetropim, metronidazol e fluconazol, foram usados durante o tratamento, enquanto aguardava-se o resultado oficial do estudo histológico do tecido cerebral.

Após 44 dias de internação hospitalar, o paciente evoluiu para óbito. Somente após 30 dias do desfecho fatal foi recebido laudo oficial do estudo anatomopatológico do tecido cerebral, no qual foram observadas extensas áreas de necrose permeadas de reação histiocitária, notando-se denso infiltrado inflamatório linfoplasmo-histiocitário perivascular com formação de granulomas; foram identificadas estruturas arredondadas, PAS-positivas, nucleadas,

sugestivas de cistos/trofozoítos de ameba.

DISCUSSÃO Atualmente, as infecções do SNC por amebas,

principalmente as de vida livre, têm apresentado grande importância, uma vez que são de diagnóstico bastante difícil, além de apresentarem altas taxas de letalidade.5,9 As espécies amebianas relacionadas à lesão neurológicas são a E. histolytica e as AVLs, abrangendo Naegleria fowleri, Acanthamoeba ssp, Balamuthia mandrillaris e Sappinia pedata.5,6,10 Durante muito tempo, o estudo das AVLs esteve restrito ao campo da zoologia, entretanto, Fowler e Carter, em 1965, na Austrália, e Butt, nos Estados Unidos, em 1966, relataram os primeiros casos de meningoencefalite fatal humana associada a esses microorganismos.11

O abscesso cerebral é uma rara complicação da infecção por E. histolytica, a despeito da alta prevalência desse agente em infecções sintomática ou não, em diversos países do mundo.2

Duas síndromes clínicas de infecção do SNC estão associadas com amebas de vida livre: Meningoencefalite Amebiana Primária (MAP), causada por Naegleria fowleri, e a Encefalite Amebiana Granulomatosa (EAG) causadas por Acanthamoeba

spp, Balamuthia mandrillaris, e Sappinia diploidea.5

O gênero Acanthamoeba, além de causar EAG, pode, também, evoluir com lesões cutâneas, infecções renais, pulmonares e da nasofaringe em indivíduos imunocomprometidos, já nos imunocompetentes a Acanthamoeba pode causar ceratites.4,5,12 A Balamuthia mandrillaris, uma AVL relativamente próxima da Acanthamoeba, é responsável por causar uma forma fatal de EAG, especialmente em indivíduos imunocompetentes. Ademais, essa AVL pode causar infecções de pele, caracterizada por lesão em placa, não ulcerada, sem anestesia local e, ainda, lesões

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Eduardo da Costa Marçal, Guilherme Henrique Silveira Teixeira, Marcos Abreu Lima Cota, Tardely Duarte Magalhães, Aloísio Bemvindo de Paula, Leonardo Stopa Barros

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pulmonares.4,5,13 Outra espécie de AVL, a Naegleria

fowleri, causa a MAP de maneira não oportunista em crianças e adultos jovens saudáveis.4,5 Por fim, as AVLs do gênero Sappinia possuem apenas um caso relatado na literatura de EAG em humanos, com provável infecção adquirida por via inalatória.5,14

Ao realizar um paralelo entre a evolução clínica apresentada pelo paciente e as citações de estudiosos,2 observa-se uma patologia de evolução lenta, com lesões de pele recorrentes até a evolução para acometimento do SNC e, a partir daí, rápida progressão. O reconhecimento precoce da lesão de pele pode facilitar o diagnóstico e tratamento das infecções por AVLs, antes do envolvimento do SNC.5 É possível, no relatado caso,5,7 que, no ambiente do SNC, a investigação é muito mais desafiadora devido a um diagnóstico diferencial mais amplo, de técnicas mais invasivas, e pela rápida progressão da doença.

Como no caso apresentado, outros estudiosos descrevem que, após o envolvimento do SNC, o estudo de LCR caracteriza-se por uma punção lombar hemorrágica, com predomínio linfocítico, elevação na concentração de proteínas e concentração de glicose normal ou baixa, não sendo estas características patognomônicas para infecções do SNC por amebas.5 A detecção de AVLs no LCR é difícil e, apesar do bom aproveitamento da reação em cadeia de polimerase (PCR) para tal fim, seu uso é condicionado a uma alta suspeita clínica e disponibilidade do método. PCR em tempo real, no LCR, pode proporcionar resultado em cinco horas, embora este não esteja disponível em muitas áreas.5,7,10,15

O método rotineiramente utilizado para identificação de AVLs é a cultura no ágar não nutriente 1,5%, preparado com uma suspensão de Eschericia Coli termolisada por 10 dias. Pode também ser usado meio de ágar,16 infusão de soja e microcultivo em meio de Pavlova modificado.17 Posteriormente, a

identificação das espécies cultivadas no meio é feita por critérios microscópicos de Page, que incluem movimentos, tamanhos dos cistos e dos trofozoítos, tempo de contração de vacúolos contráteis, presença de acantopódios, aspectos morfológicos dos cistos e dos trofozoítos.18 Amebas do gênero Naegleria devem ser submetidas, ainda, ao teste da flagelação por ser a única espécie a possuir essa característica.11

Nota-se, também, com o presente estudo que, como descrito em pesquia12, apesar de atualmente o método mais adequado para correta taxonomia ser a PCR, tanto essa reação como as culturas específicas para AVLs são pouco disponíveis e praticamente restritos a instituições de pesquisa. Logo, o manejo no contexto de atendimento clínico hospitalar deve ser baseado na suspeita clínica e exclusão de outras causas.5

O estudo anatomopatológico do tecido cerebral sugere encefalite amebiana granulomatosa devido à identificação de estruturas compatíveis com cistos/trofozoítos de ameba, não podendo afirmar a espécie causadora por dificuldade na identificação. Apesar de não ter sido realizada cultura direcionada para AVLs ou PCR, no LCR ou tecido cerebral, por dificuldade de acesso a esses métodos diagnósticos, se observadas as descrições de alguns dos pesquisadores deste estudo2,4,5,13 acerca da evolução clínica das infecções por AVLs, pode-se inferir que, provavelmente, trata-se de uma Encefalite Amebiana Granulomatosa, causada por ameba de vida livre. Ainda segundo estudos, a EAG pode ser causada por Acanthamoeba spp, Balamuthia

mandrillaris ou Sappinia diploidea, e os gêneros que cursam com lesão de pele similar à apresentada pelo paciente em estudo são Acanthamoeba spp, Balamuthia mandrillaris.5

Ao confrontar os estudos2,3,5,7,15 com a evolução clínica do paciente, os exames laboratoriais, as imagens de RNM obtidas e o estudo anatomopatológico do tecido cerebral, pode-se caracterizar o presente caso como

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Encefalite Amebiana Granulomatosa: relato de caso

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Encefalite Amebiana Granulomatosa, provavelmente causada por Acanthamoeba spp ou Balamuthia

mandrillaris.O tratamento para as infecções do SNC causadas

por AVLs é incerto, a experiência se baseia em um número limitado de relatos de casos. O uso de múltiplas drogas, por um período prolongado, é garantido, e sobreviventes foram tratados com a associação de pentamidina, 5-flucitosina, fluconazol, macrolídeo (claritromicina ou azitromicina), mais um dos seguintes: sulfadiazina, miltefosina, tioridazina, ou anfotericina B lipossomal.5,19 Já o tratamento para

as infecções do SNC causadas por E. histolytica baseia-se no uso de metronidazol endovenoso, por um período prolongado.5,20

Sendo assim, uma alta suspeita clínica se faz necessária para o diagnóstico mais precoce da Encefalite Amebiana, uma vez que a evolução dessa patologia é quase sempre devastadora, e os exames padrão ouro para o diagnóstico são de difícil acesso na prática clínica. A terapêutica ainda é uma grande incerteza, e mais estudos podem contribuir para elaboração de melhores estratégias.

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A Revista Ciência e Saúde é um periódico semestral de caráter científico e de acesso livre, no formato eletrônico, editado pelo Hospital Márcio Cunha – Fundação São Francisco Xavier. A sua principal missão é a de difundir o conhecimento científico aplicável às práticas clínicas e gestão no âmbito hospitalar, visando ao aprimoramento no atendimento ao paciente. A Revista Ciência e Saúde reafirma seu compromisso ético, assim como de todas as partes envolvidas na publicação de artigos, incluindo autores, revisores e editora, com a adoção de melhores práticas na publicação científica.

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Os autores são os responsáveis pela veracidade e ineditismo do trabalho. O artigo submetido deve ser acompanhado de uma Declaração de Responsabilidade, assinada por todos os autores, em que afirmam que o estudo não foi publicado anteriormente, parcial ou integralmente, em meio impresso ou eletrônico, tampouco encaminhado para publicação em outros periódicos, e que todos os autores participaram na elaboração intelectual de seu conteúdo.

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Critérios de autoria

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Ética na pesquisa envolvendo Seres Humanos

A observância dos preceitos éticos referentes à

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Revista Ciência e Saúde 69

condução, bem como ao relato da pesquisa, são de inteira responsabilidade dos autores, respeitando-se as recomendações éticas contidas na Declaração de Helsinque. Para pesquisas realizadas com seres humanos no Brasil, os autores devem observar, integralmente, as normas constantes na Resolução CNS nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html); e resoluções complementares, para situações especiais. Os procedimentos éticos adotados na pesquisa devem ser descritos no último parágrafo da seção Métodos, fazendo menção ao número do protocolo de aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa.

Formato dos artigos

Serão aceitos artigos redigidos no idioma português. O trabalho deverá ser digitado em espaço 1,5, utilizando fonte Arial 12, no formato RTF (RichText Format) ou DOC (Documento do Word), em folha de tamanho A4 (210mm x 297mm), enumerando-se todas as páginas, com margens superior, inferior, direita e esquerda de 2,5cm. Não são aceitas notas de rodapé. O número total de laudas não deve ser superior a 16 (dezesseis).

Cada manuscrito, obrigatoriamente, deverá conter:

Folha de rosto

a) Título do artigo, em português e inglês.b) Nome completo dos autores e das instituições a

que pertencem (somente uma instituição por autor, incluindo unidade ou departamento), cidade, estado e país.

c) Endereço completo e endereço eletrônico, número de telefone do autor correspondente.

Resumo

Para as modalidades artigo original, revisão da literatura e nota de pesquisa, deverá ser redigido em parágrafo único, contendo até 150 palavras.

Palavras-chaveDeverão ser selecionadas três a cinco,

preferencialmente a partir da lista de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), vocabulário estruturado pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, também conhecido pelo nome original de Biblioteca Regional de Medicina (BIREME). Os DeCS foram criados para padronizar uma linguagem única de indexação e recuperação de documentos científicos (disponíveis em: http://decs.bvs.br).

AbstractVersão fidedigna do Resumo, redigida em inglês.

Key wordsVersão em inglês das mesmas palavras-chave

selecionadas a partir dos DeCS.

Texto completo

O texto nas modalidades de artigo original deverão apresentar as seguintes seções, nesta ordem: Introdução; Métodos; Resultados; Discussão e Referências. Tabelas e figuras deverão ser referidas nos Resultados e apresentadas ao final do artigo, quando possível, ou em arquivo separado (em formato editável).

DEFINIÇÕES E CONTEÚDOS DAS SEÇÕES:

Introdução

Deverá apresentar o problema gerador da questão de pesquisa, a justificativa e o objetivo do estudo, nesta ordem.

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Revista Ciência e Saúde 70

Métodos

Deverá conter a descrição do desenho do estudo, a descrição da população estudada, dos métodos empregados, incluindo, quando pertinente, o cálculo do tamanho da amostra, a amostragem, os procedimentos de coleta dos dados, as variáveis estudadas com suas respectivas categorias, os procedimentos de processamento e análise dos dados; quando se tratar de estudo envolvendo seres humanos ou animais, devem estar contempladas as considerações éticas pertinentes (ver seção Ética na pesquisa envolvendo seres humanos).

Resultados

Síntese dos resultados encontrados, podendo considerar tabelas e figuras, desde que autoexplicativas (ver o item Tabelas e Figuras destas Instruções).

Discussão

Comentários sobre os resultados, suas implicações e limitações; confrontação do estudo com outras publicações e literatura científica de relevância para o tema. Esta seção deverá iniciar, preferencialmente, com um parágrafo contendo a síntese dos principais achados do estudo, e finalizar com as conclusões e implicações dos resultados para os serviços ou políticas de saúde.

Referências

Para a citação das referências no texto, deve-se utilizar o sistema numérico; os números devem ser grafados em sobrescrito, sem parênteses, imediatamente após a passagem do texto em que é feita a citação, separados entre si por vírgulas; em caso de números sequenciais de referências, separá-los por um hífen, enumerando apenas a primeira e a última referência do intervalo sequencial de citação (exemplo: 7,10-16); devem vir após a seção Contribuição dos autores. As referências deverão ser listadas segundo a ordem de citação no

texto; em cada referência, deve-se listar até os seis primeiros autores, seguidos da expressão et al. para os demais; os títulos de periódicos deverão ser grafados de forma abreviada; títulos de livros e nomes de editoras deverão constar por extenso; as citações são limitadas a 30. Para artigos de revisão sistemática e metanálise, não há limite de citações, e o manuscrito fica condicionado ao limite de palavras definidas nestas Instruções.

Tabelas e figurasArtigos originais e de revisão deverão conter até 6

tabelas e/ou figuras, no total. As figuras e as tabelas devem ser colocadas ao final do artigo (quando possível) ou em arquivos separados, por ordem de citação no texto, sempre em formato editável. Os títulos das tabelas e das figuras devem ser concisos e evitar o uso de abreviaturas ou siglas; estas, quando indispensáveis, deverão ser descritas por extenso em legendas ao pé da própria tabela ou figura. Tabelas, quadros (estes, classificados e intitulados como figuras), organogramas e fluxogramas devem ser apresentados em meio eletrônico, preferencialmente, no formato padrão do Microsoft Word; gráficos, mapas, fotografias e demais imagens devem ser apresentados nos formatos EPS, JPG, BMP ou TIFF, no modo CMYK, em uma única cor (preto) ou em escala de cinza.

Uso de siglas

Recomenda-se evitar o uso de siglas ou acrônimos não usuais. O uso de siglas ou acrônimos só deve ser empregado quando estes forem consagrados na literatura, prezando-se pela clareza do manuscrito. Siglas ou acrônimos de até três letras devem ser escritos com letras maiúsculas (exemplos: DOU; USP; OIT). Na primeira citação no texto, os acrônimos desconhecidos devem ser escritos por extenso,

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acompanhados da sigla entre parênteses. Siglas e abreviaturas compostas apenas por consoantes devem ser escritas em letras maiúsculas. Siglas com quatro letras ou mais devem ser escritas em maiúsculas se cada uma delas for pronunciada separadamente (exemplos: INSS; IBGE). Siglas com quatro letras ou mais e que formarem uma palavra, ou seja, que incluam vogais e consoantes, devem ser escritas apenas com a inicial maiúscula (exemplo: DataSUS; Sinan). Siglas que incluam letras maiúsculas e minúsculas originalmente devem ser escritas como foram criadas (exemplo: CNPq). Para as siglas estrangeiras, recomenda-se a correspondente tradução em português, se universalmente aceita; ou seu uso na forma original, se não houver correspondência em português, ainda que o nome por extenso – em português – não corresponda à sigla.

Análise e Aceitação dos Trabalhos

Os artigos serão avaliados em duas etapas, segundo os critérios de originalidade, relevância do tema, consistência teórica/metodológica e contribuição para o conhecimento na área. Na primeira etapa será realizada uma análise prévia pelo corpo editorial da revista para verificar se o produto se enquadra dentro das linhas editoriais da mesma, e na segunda etapa será realizado o envio do artigo para, no mínimo, dois avaliadores que, utilizando o sistema blind review, procederão à análise. Depois de aprovado, o texto passará por aconselhamento editorial, normalização, revisão ortográfica e gramatical.

Direitos Autorais

Não haverá pagamento a título de direitos autorais ou qualquer outra remuneração em espécie pela publicação de trabalhos na Revista.

Submissão dos artigos

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