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1 China “ Não importa a cor do gato, o que interessa é se ele come ratos” Deng Xiaoping 01. RELIGIOSIDADE O culto aos antepassados é um ponto comum à religiosidade do Extremo Oriente. Trata-se de um dos elementos básicos tanto do confucionismo como do xintoísmo, ou xintó (do japonês shinto, "caminho dos deuses"). Outra característica comum é a pluralidade religiosa. Várias religiões não só coexistem lado a lado, como também se influenciam umas às outras. Não é raro alguém seguir diversas religiões ou tirar inspiração de diversas religiões. Desde tempos antigos os chineses falam nos "três caminhos": taoísmo, confucionismo e budismo. O budismo veio da Índia e, além da China, propagou-se também no Japão, onde teve grande influência sobre a religião nacional, o xintoísmo. Na China, a religião passou a exercer um papel cada vez menor nos anos do pós-guerra. Quando Mao Tsé-Tung assumiu o poder em 1949, a liberdade de expressão religiosa foi fortemente reprimida. Destruíram-se templos e se confiscaram propriedades religiosas comunitárias. Após a morte de Mao, em 1976, houve uma pequena liberalização do campo religioso, assim como em outras áreas da esfera pública. a) O Confucionismo Até 1911 a China foi uma potência imperial, onde o imperador reinava acima de tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do supremo deus Céu. Ao mesmo tempo, era também o filho do Céu na Terra. O próprio imperador realizava o sacrifício ao Céu no Templo do Céu, situado na capital, Pequim. Fazia ainda sacrifícios às montanhas e aos rios sagrados da China. O Império chinês era uma sociedade hierárquica, com líderes permanentes. À frente da administração havia uma elite de funcionários altamente letrados, os mandarins. Sua ideologia era o confucionismo, um conjunto de pensamentos, regras e rituais sociais desenvolvidos pelo filósofo K'ung-Fu- Tzu (ou, na forma latina, Confucius) cujas doutrinas prevaleceram na China até a queda do imperador. Confúcio também formulou normas para a vida religiosa, para os sacrifícios e os rituais. O confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e pelas classes dominantes, a qual, no entanto, nunca se disseminou muito entre as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma que o imperador, em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu era remoto e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A religião dos pobres era a adoração dos espíritos, particularmente dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras religiões. As grandes potências da Europa constituíam uma ameaça para a independência econômica e política do país. Isso explica, em parte, a tendência isolacionista e o ceticismo em face dos impulsos vindos do exterior. Os intelectuais atacavam a religião popular, acreditando que esta era um obstáculo para a ciência moderna e o moderno pensamento político. Isso levou alguns a tentarem um reavivamento e uma modernização das antigas religiões, ao passo que outros desenvolveram um interesse maior por ideias não religiosas vindas do Ocidente. Há alguma incerteza quanto às origens de Confúcio (551-479 a.C.), mas é provável que ele tenha nascido numa família aristocrática empobrecida. Recebeu uma boa educação e se tornou um sábio, atraindo muitos discípulos. Algumas de suas interpretações da filosofia antiga e das tradições, em especial quando ele tocava em assuntos relacionados a ética e filosofia social, foram inovadoras. Confúcio acreditava que o Céu o escolhera para revitalizar a cultura e a moralidade estabelecidas pelos sagrados imperadores em tempos antigos. Só que ele não organizou suas ideias em nenhum sistema simples, nem as registrou ele mesmo, motivo por que elas chegaram até nós apenas por meio dos escritos de seus discípulos. Confúcio teve um efeito decisivo no desenvolvimento da China. Após sua morte, os discípulos começaram a difundir e ampliar suas ideias. O confucionismo acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, chegando muitas vezes a atacar outras religiões, como o budismo e o taoísmo. Foram

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China

“ Não importa a cor do gato, o que interessa é se ele come ratos” Deng Xiaoping

01. RELIGIOSIDADE O culto aos antepassados é um ponto comum à religiosidade do Extremo Oriente. Trata-se de um dos elementos básicos tanto do confucionismo como do xintoísmo, ou xintó (do japonês shinto, "caminho dos deuses"). Outra característica comum é a pluralidade religiosa. Várias religiões não só coexistem lado a lado, como também se influenciam umas às outras. Não é raro alguém seguir diversas religiões ou tirar inspiração de diversas religiões. Desde tempos antigos os chineses falam nos "três caminhos": taoísmo, confucionismo e budismo. O budismo veio da Índia e, além da China, propagou-se também no Japão, onde teve grande influência sobre a religião nacional, o xintoísmo. Na China, a religião passou a exercer um papel cada vez menor nos anos do pós-guerra. Quando Mao Tsé-Tung assumiu o poder em 1949, a liberdade de expressão religiosa foi fortemente reprimida. Destruíram-se templos e se confiscaram propriedades religiosas comunitárias. Após a morte de Mao, em 1976, houve uma pequena liberalização do campo religioso, assim como em outras áreas da esfera pública. a) O Confucionismo Até 1911 a China foi uma potência imperial, onde o imperador reinava acima de tudo. O imperador era considerado o representante do país diante do supremo deus Céu. Ao mesmo tempo, era também o filho do Céu na Terra. O próprio imperador realizava o sacrifício ao Céu no Templo do Céu, situado na capital, Pequim. Fazia ainda sacrifícios às montanhas e aos rios sagrados da China. O Império chinês era uma sociedade hierárquica, com líderes permanentes. À frente da administração havia uma elite de funcionários altamente letrados, os mandarins. Sua ideologia era o confucionismo, um conjunto de pensamentos, regras e rituais sociais desenvolvidos pelo filósofo K'ung-Fu-Tzu (ou, na forma latina, Confucius) cujas doutrinas prevaleceram na China até a queda do imperador. Confúcio também formulou normas para a vida religiosa, para os sacrifícios e os rituais. O confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e pelas classes dominantes, a qual, no entanto, nunca se disseminou muito entre as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma que o imperador, em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu era remoto e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e camponeses. A religião dos pobres era a adoração dos espíritos, particularmente dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras religiões. As grandes potências da Europa constituíam uma ameaça para a independência econômica e política do país. Isso explica, em parte, a tendência isolacionista e o ceticismo em face dos impulsos vindos do exterior. Os intelectuais atacavam a religião popular, acreditando que esta era um obstáculo para a ciência moderna e o moderno pensamento político. Isso levou alguns a tentarem um reavivamento e uma modernização das antigas religiões, ao passo que outros desenvolveram um interesse maior por ideias não religiosas vindas do Ocidente. Há alguma incerteza quanto às origens de Confúcio (551-479 a.C.), mas é provável que ele tenha nascido numa família aristocrática empobrecida. Recebeu uma boa educação e se tornou um sábio, atraindo muitos discípulos. Algumas de suas interpretações da filosofia antiga e das tradições, em especial quando ele tocava em assuntos relacionados a ética e filosofia social, foram inovadoras. Confúcio acreditava que o Céu o escolhera para revitalizar a cultura e a moralidade estabelecidas pelos sagrados imperadores em tempos antigos. Só que ele não organizou suas ideias em nenhum sistema simples, nem as registrou ele mesmo, motivo por que elas chegaram até nós apenas por meio dos escritos de seus discípulos. Confúcio teve um efeito decisivo no desenvolvimento da China. Após sua morte, os discípulos começaram a difundir e ampliar suas ideias. O confucionismo acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, chegando muitas vezes a atacar outras religiões, como o budismo e o taoísmo. Foram

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construídos templos em honra a Confúcio e se ofereciam sacrifícios a ele na primavera e no outono, assim como se ofereciam sacrifícios ao Céu. Apesar disso, deve-se enfatizar que o confucionismo nunca havia sido uma religião independente. Falando-se mais precisamente: o termo abrange uma série de ideias filosóficas e políticas que formavam os pilares do governo e da burocracia da China imperial, muito embora a ética do confucionismo também permeasse amplas camadas da população chinesa. É típica dessa tradição sua visão política pragmática e seu interesse pelas questões sociológicas reais, como a educação dos filhos, o papel do indivíduo na sociedade, as regras corretas de conduta etc. Seu interesse pelas questões religiosas e metafísicas é muito menor. Uma das ideias fundamentais de Confúcio era que a natureza e o universo estão em harmonia, e que isso deve se aplicar também ao homem. Para esse fim, Confúcio adotou alguns antigos conceitos chineses e os moldou a seus próprios objetivos. O tao é a harmonia predominante no universo; em outras palavras, o relacionamento bom e equilibrado entre todas as coisas. Essa harmonia é um modelo para a sociedade, na qual, da mesma forma, o indivíduo deve tentar viver em compreensão e harmonia. Isso pode ser atingido se seu ser interior estiver em consonância com o tao, pois então ele encontrará o incentivo necessário, o te, ou o caminho certo para a ação. A fim de alcançar a harmonia com o tao, o homem precisa de conhecimento e compreensão, o que ele pode obter estudando o passado, a tradição. Esta ensina ao indivíduo as regras de comportamento correto, a celebração fiel dos rituais e das cerimônias religiosas, e qual é seu devido lugar na sociedade. Confúcio via o homem como naturalmente bom e pensava que todo mal brota da falta de conhecimento. A educação, portanto, implica transmitir os conhecimentos corretos. O lugar do indivíduo na sociedade é regulado por cinco relações: entre senhor e servo, entre pai e filho, entre mais velho e mais jovem, entre homem e mulher, e entre amigo e amigo. Isso significa que o soberano deve ser bom e o servo deve ser leal, uma relação que tornou o confucionismo politicamente conservador e dificultou os desafios à autoridade. Isso significa também que o pai deve ser amoroso e o filho respeitador, uma ideia ligada ao culto dos antepassados. E significa que o homem deve ser justo e a mulher obediente, o que diz bastante sobre o papel da mulher nesse sistema. O ideal para todos os homens e os conceitos mais importantes para Confúcio são: Piedade filial, respeito e reverência. Confúcio não se opunha, de modo nenhum, à religião popular, e não duvidava que os deuses e os espíritos existissem. Acreditava que um ser sobrenatural o inspirava: "O Céu deu à luz a virtude dentro de mim". Só que o Céu para ele não era um Deus pessoal. Ainda que esse lhe desse inspiração e direção, Confúcio não fundamentou sua ética em mandamentos morais transmitidos por Deus. O mais importante para Confúcio era que os deuses deviam ser cultuados adequadamente, que os rituais, os sacrifícios e as cerimônias deviam ser realizados corretamente, pois isso demonstrava a piedade filial da pessoa. Mas ele não estava interessado em assuntos religiosos ou metafísicos. Consta que ele disse: "Mostre respeito pelos deuses, mas mantenha-os à distância". E quando lhe perguntaram sobre a vida após a morte, respondeu: "Quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte?". b) O Taoísmo O taoísmo se baseia num livro chamado Tao Te Ching, "O livro do Tao e do Te". Tao (ordem do mundo) e te (força vital) são antigos conceitos chineses aos quais Confúcio deu uma interpretação um pouco diferente. O Tao Te Ching é um livrinho de apenas vinte ou 25 páginas, dividido em 81 capítulos. Ninguém sabe ao certo quem o escreveu, mas diz a lenda que foi o filósofo Lao-Tse, que viveu no século VI a. C., tendo sido mais ou menos contemporâneo de Confúcio. As histórias sobre a vida de Lao-Tse são muitas e variadas, e os historiadores não têm certeza sequer se ele de fato existiu. Feita essa advertência, abaixo vamos nos referir a Lao-Tse como autor do Tao Te Ching. Para Confúcio, o tao era a suprema ordem do universo, que o homem tinha de seguir. Lao-Tse também concebia o tao como a harmonia do mundo, especialmente do mundo natural. Só que ele foi mais além: o tao é a verdadeira base da qual todas as coisas são criadas, ou da qual elas jorram. Várias vezes o tao é descrito como o "Céu", isto é, como algo divino, embora não seja um deus pessoal. A diferença mais importante entre a concepção de Lao-Tse sobre o tao e as outras é que Lao-Tse acreditava ser impossível descrever o tao de maneira direta e racional. "O tao que pode ser descrito não é o tao real", disse ele. Isso significa que o homem não pode investigar ou estudar a verdadeira natureza do

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tao, não pode usar o intelecto para compreendê-lo. Ele deve meditar, imerso numa tranquilidade sem nexos e esquecer todos os seus pensamentos a respeito de coisas externas, como o lucro e o progresso na vida. Só então irá alcançar a união com o tao e será preenchido pelo te, a força vital. O taoísmo implica passividade e não atividade. Para um sábio taoísta, a ação mais importante é a "não-ação". Isso obviamente tem uma grande influência em sua visão da vida comunitária. Enquanto Confúcio desejava educar o homem por meio do conhecimento, Lao-Tse preferia que as pessoas permanecessem ingênuas e simples, como crianças. Enquanto Confúcio ansiava por regras e sistemas fixos na política, Lao-Tse acreditava que o homem deveria interferir o mínimo possível no desdobramento natural dos fatos. Confúcio queria uma administração bem-ordenada, mas Lao-Tse acreditava que qualquer administração é má. "Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá", diz o Tao Te Ching. O Estado ideal de Lao-Tse era a pequena comunidade (a aldeia ou a cidade pequena) que, segundo ele, existia já nos tempos antigos. Ali as pessoas tinham vivido em paz e contentamento, sem interesse em guerrear contra seus vizinhos, como fizeram mais tarde as províncias chinesas. O líder devia ser um filósofo, e sua única tarefa era que sua passividade e seu distanciamento servissem de exemplo para os outros. A caridade ativa não faz sentido para um taoísta. Mas ele tem uma boa vontade sem limites para com todos os outros, sejam eles bons ou maus. Alguns discípulos de Lao-Tse direcionaram o misticismo natural para aspectos mais mágicos. Foram esses elementos de magia que encontraram maior ressonância entre as massas, ao se incorporarem às crendices e feitiçarias de tempos mais antigos. Por exemplo, Lao-Tse acreditava que quando um indivíduo permanece passivo, preserva sua força vital por longo tempo, mantendo-a saudável e pura. Mais tarde, algumas pessoas começaram a interpretar essa idéia como a possibilidade de alcançar uma longevidade cada vez maior, e passaram a se interessar em se tornar imortais. Filósofos taoístas, além de meditar, exercitavam práticas mágicas e tentavam descobrir o elixir da vida eterna. Lado a lado com o taoísmo filosófico, foi se desenvolvendo uma religião popular baseada em Lao-Tse mas que também tinha seus próprios deuses, templos, sacerdotes e monges. Havia rituais complexos, em parte inspirados pela prática budista, com procissões, oferendas de alimentos aos deuses e cerimônias em honra dos vivos e dos mortos. 02. ASPECTOS GEOGRÁFICOS GERAIS

A República Popular da China é o terceiro maior país do mundo em área ocupando uma superfície de 9.640.821 km² (ou 9.676.801 km², se incluído o território de Taiwan, que a República Popular da China reivindica), também o mais populoso do planeta, com 1,385 bilhão de habitantes ocupando uma parte considerável da Ásia oriental. Sua capital é Pequim. Suas fronteiras ao Norte são com o Quirguistão, com o Cazaquistão, com a Mongólia e com a Rússia, a Leste com a Coreia do Norte, com o mar Amarelo (do outro lado do qual se encontra a Coreia do Sul), com o mar da China Oriental e com o estreito de Taiwan, que a separa de Taiwan (país que reivindica), a Sul com o mar da China Meridional, com o Vietname, com o Laos, com Myanmar, com a Índia, com o Butão e com o Nepal e a Oeste com o Paquistão, o Afeganistão e o Tadjiquistão.

O relevo, a oeste, é caracterizado pelo Himalaia, onde se encontra a maior montanha do planeta, o Everest, com 8.850 metros de altitude. Conforme se avança rumo ao litoral dos mares Amarelo, da China Oriental e da China Meridional, que banham o país a leste, as altitudes vão diminuindo. Apenas 12% do território é plano.

O território chinês costuma ser dividido em três grandes regiões, que coincidem com os vales dos rios mais importantes. Na planície do Huang Ho (Amarelo), famoso por suas cheias, fica a China do Norte. No vale do Yang Tsé (Azul), o mais extenso do continente, com 6,3 mil quilômetros, encontra-se a China Central. Finalmente, ao longo do Xi-Jiang, localiza-se a China do Sul.

Outros rios de destaque são o Amur, que desenha a fronteira com a Rússia; o Brahmaputra, o Salween e o Mekong, que se dirigem ao sul; e o Tarim, no oeste. Há, ainda, vários lagos, tanto de água doce quanto de água salgada. Entre os mais importantes estão o Dongting e o Poyang. Eles possuem canais por meio dos quais regulam a bacia do Yang Tsé: no período das cheias, os lagos absorvem o excedente de água, que é devolvido ao rio na época mais seca.

a) Vegetação e clima

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As florestas ocupam mais de 15% do território chinês. Ao sul do vale do Xi-Jiang, há espécies tropicais. Ao norte do Yang Tsé e a oeste do planalto do Tibet, predomina a flora subtropical, com azinheiras, bambus e pinheiros, entre outros. Nas encostas das montanhas encontram-se carvalhos, freixos, bétulas, bordos, olmos e azinheiras. Nas zonas mais altas crescem coníferas. As planícies são cobertas por pastagens e, nas áreas mais secas, por espécies adaptadas à baixa umidade. A variedade do relevo e a extensão do território determinam a existência de diversos climas. Em geral, predomina o ambiente temperado, embora haja zonas com características tropicais, subtropicais e continentais. b) Agricultura

O setor primário da economia chinesa responde por 15% do PIB de US$ 2,2 trilhões do país. A agricultura, muito diversificada, produz arroz, trigo, milho, cevada, soja, cana-de-açúcar, beterraba açucareira, batata, verduras, frutas, chá e algodão. A pecuária abrange a criação de suínos, caprinos, ovinos e bovinos. A pesca também é importante, tanto no mar quanto nos rios e lagos. Além disso, criam-se peixes em cativeiro. A exploração das florestas fornece madeira e borracha. c) Indústria

A China possui vastas riquezas minerais que incluem reservas de carvão, petróleo, gás natural, urânio, ferro, zinco, estanho, chumbo, magnesita, antimônio, cobre e níquel, entre as principais. No setor industrial destaca-se a fabricação de aço, navios, trens, tratores, automóveis, caminhões, bicicletas, equipamentos para prospecção e refino de petróleo, eletrodomésticos, tecidos, material de construção e produtos petroquímicos e químicos. Quanto à geração de eletricidade, a maior parte ocorre em usinas termelétricas, 20% provêm de hidrelétricas e uma pequena parcela vem de usinas nucleares. d) População Com uma população de mais de 1,32 bilhão de habitantes (a maior do planeta). De origem mongoloide, os chineses distinguem-se mais pelas línguas que utilizam do que pelas etnias a que pertencem. O grupo majoritário é o dos han, que abrange mais de 90% da população. O restante é composto a uma infinidade de comunidades, como os chuans, os manchus, os uigures, huis, os tibetanos, os mongóis e os coreanos. Mais de 40% dos habitantes declaram não praticar nenhuma religião. Cerca de 30% seguem crenças populares chinesas. Os demais dividem-se, principalmente, entre budistas e cristãos. A língua oficial é o mandarim, que possui muitos dialetos unificados pela escrita. 03. SISTEMA POLÍTICO O governo chinês é dominado por três organizações - o Partido Comunista Chinês, os militares e o Conselho de Estado. Quase todos os líderes militares e do Conselho ocupam cargos de comando no Partido Comunista. Isso significa que o Partido controla firmemente o sistema político chinês. E como não poderia deixar de ser, num país das maiores coisas do mundo, também o Partido Comunista é o maior do planeta, com 40 milhões de afiliados. A constituição do país foi adotada em 1982 e estabelece o Congresso Nacional do Povo como a mais alta autoridade governamental. Seus membros têm mandatos de cinco anos. O Partido Comunista indica os candidatos ao congresso, e esses são eleitos por governos provinciais eleitos indiretamente por governos locais. O congresso desempenha funções legislativas e transmite os programas nacionais do governo aos outros órgãos governamentais. Na prática, o congresso não tem poder real. O Conselho de Estado é responsável pelas tarefas cotidianas do governo. A organização é chefiada pelo primeiro-ministro chinês, o chefe de governo no país nomeado pelo Partido Comunista. Além de planejar a economia e a política da China, o Conselho de Estado estabelece e executa os regulamentos administrativos. A China está dividida em 23 províncias, 5 regiões autônomas, 4 municípios sob comando direto do Governo Central e 2 regiões administrativas especiais. 04. ASPECTOS HISTÓRICOS A China é considerada um dos quatro berços da civilização e a mais antiga civilização viva do mundo. Sua história escrita tem mais de 3.500 anos, e o hominídeo mais antigo encontrado por lá viveu na região há 1,7 milhão de anos. O Homem de Pequim, que viveu a sudoeste da moderna Pequim entre 400 mil e 500 mil anos atrás, tinha as características básicas do homo sapiens: andava ereto, fazia e usava ferramentas simples e sabia como fazer fogo. A escrita primitiva da China, que era feita em ossos e utilizava desenhos simples para representar palavras, tornou-se a base da língua escrita chinesa: os ideogramas. Seu

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nome chinês, “zhong guo”, significa “país do meio” ou “reino central”. Os antigos chineses acreditavam que seu país era o centro geográfico do mundo, e a única cultura civilizada. No princípio, os chineses viviam em pequenos diversos Estados que se transformaram em uma única nação, há cerca de 2.000 anos. A nação era governada por grupos familiares, as dinastias. Houve diversas dinastias, mas as mais importantes foram Xia, Shang, Zhou, Qin e Han. a) Período Xia A história chinesa possui um certo hiato na passagem entre o seu período proto-histórico e aquela que seria considerada a sua primeira dinastia organizada, a Dinastia Xia, cujas datas tradicionais a colocam entre -2205 -1766. Igualmente incertos são os antecedentes da cultura Yangshao, que hoje é generalizadamente reconhecida como a gênese da cultura chinesa por causa da influência permanente que a sua agricultura autossuficiente exerceu sobre as tribos que a partir daí se consideraram o povo chinês. Na Idade do Bronze, que durou cerca de 2 mil anos na China, a dinastia Xia é o período inicial no desenvolvimento da tecnologia do bronze e que lançou sólidas bases para a sua prosperidade. Os objetos de bronze da última fase da dinastia podem ser classificados em categorias de serviços de vinho, serviço de cozinha, armas, instrumentos musicais, ferramentas e adornos. b) Período Shang Primeiro grupo organizado, na civilização chinesa , a civilização é também conhecida como Idade do Bronze Chinês ou Época da Realeza Palaciana. Na época Shang, a metalurgia do Bronze desenvolveu-se tecnicamente de forma rápida e avançada, ultrapassando em muito as conquistas do Ocidente. Também dominavam a construção de carros de combate, com os quais guerreavam e eram enterrados: e até a época Han estes foram utilizados de forma ampla. Sabe-se que os Shang viviam em cidades-estado e que estas, muito provavelmente, possuíam alguma autonomia. No entanto, não sabemos quais eram as relações entre as mesmas, as respostas que possuímos para este período são ainda um pouco incompletas e inseguras. Os Shang não eram um grupo disperso: apesar da vida organizada em cidades semiautônomas, parece ter havido a ascensão de reis responsáveis pela administração dos interesses coletivos das comunidades. Existem indícios de que a decadência dos Shang, em torno do século XI, se deu pela fragmentação de seu poder interno, aliado ao contexto de invasão externa que teria sido promovido pelos grupos constituidores da dinastia posterior, os Zhou que instalaram um novo tipo de regime monárquico feudatário. c) Período Zhou A época Zhou é conhecida por uma terminologia variada: ela já foi chamada de Idade dos principados, Época Feudal chinesa e Primeiro Grande Império. Inaugurado o Mandato do Céu como instituição. A política com base na distribuição de terras e títulos nobiliárquicos para os aliados e servidores fiéis. Desta forma, era possível dentro do “Império Zhou” a existência de reinos quase autônomos, que guerreavam entre si sob o arbítrio da casa imperial. Haviam as relações de vassalagem e uma hierarquia social baseada em títulos e funções sociais. A História dos Zhou, começa com a derrocada dos Shang em torno dos séculos XI-X a.C. Os grupos étnicos que comporiam os Zhou teriam uma ascendência próxima dos Shang-Yin (manifesta pelos estilos artísticos e pela escrita), mas habitavam fora do território “imperial”, e viviam em contato direto com os “bárbaros”. De tradição militarista (embora seus costumes sociais e fúnebres fossem muito menos cruéis que os dos Shang), os Zhou promoveram uma invasão do território conduzidos por um rei chamado Wen, que tinha por objetivo findar com a sucessão de terríveis déspotas Yin que afligiam a sociedade. O início dos Estados Combatentes é marcado pelo fim da capacidade de arbítrio dos Zhou sobre os problemas internos e a concentração de força em apenas sete principados: Qi, Qin, Chu, Zhao, Han, Yen e Wei. Cada qual, com sua força militar e seu próprio corpo de funcionários, encetou um processo de guerra ininterrupta que culminou com a vitória do melhor organizado (e cruel) Estado Qin, em 221 a.C. O início do declínio do feudalismo, bem como o movimento no sentido da unidade O pensamento chinês foi marcado pelo período denominado Época das Cem Escolas, que marca o alvorecer dos sistemas clássicos de pensamento, onde a percepção de um conflito eminente foi atentada pelo surgimento de inúmeras escolas filosóficas. As mais influentes foram: Ru jia, ou escola dos letrados,

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mais especificamente os confucionistas, seguidores da linha de Confúcio, Mêncio e Xunzi; Moístas, de Mozi; Taoístas, da linha de Laozi, Liezi e Zhuangzi, escolas dos nomes, de Huizi; Escola das leis, de ShangYang, Han Fei e Lisi; Escola dos políticos; Escola dos ecléticos; Escola do Yin-Yang; Escola dos Cinco elementos; Escola da Agricultura. Estas teriam sido as mais importantes do período, havendo outras de caráter secundário. d) Período Qin O período Qin - Han estabelece as bases sobre as quais as dinastias posteriores iriam governar a China. A estrutura construída era tão sólida que não só resistiu ao tempo quanto foi capaz de converter dinastias estrangeiras aos modos chineses. Os Qin empreenderam uma reforma completa na sociedade e no governo, utilizando-se das teorias legistas para tal fim. Unificaram o poder em torno da figura do Imperador Qin Shi Huang Di, suprimindo grande parte da influência e dos direitos nobiliárquicos. Centralizaram a administração pública nas mãos do corpo burocrático, estabelecendo as diretrizes funcionais dos cargos e atributos das posições. O regime centralizado possuía caracteres despóticos, e essa era a real intenção dos Qin. Através do controle burocrático estatal, diminuía-se a capacidade de afirmação das elites de cada um dos principados, filtrando a participação das mesmas no regime através da atuação junto ao governo. No campo econômico, as mudanças políticas também surtiram efeito junto à produção agrícola, manufatureira e nas obras públicas. Houve uma reformulação na arrecadação de impostos, no recolhimento de reservas em grãos para as épocas de carestia, crise ou guerra, e o estímulo ao comércio externo. Grandes obras de irrigação, barragens, arroteamento de novos terrenos e fortificação de cidades foi empreendida, ao custo de milhares de escravos, servos e camponeses livres convocados para o trabalho compulsório. A Grande Muralha é um dos demonstrativos do projeto megalômano de Qin Shi Huang Di: construída pela união de várias outras pequenas muralhas locais, seu objetivo era regular a presença dos nômades do Norte nas fronteiras chinesas. Unificação de pesos, medidas e moedas para facilitar o trânsito de mercadorias. Promoveu também a uniformização dos ideogramas, criando a primeira gramática-dicionário da língua chinesa, de caráter universal. Esta síntese permitiu que, nos séculos posteriores, várias outras nações pudessem falar e escrever chinês, sendo a base, ainda, dos ideogramas modernos. Em meio a tantas medidas positivas, a dinastia Qin também foi marcada pela violência: perseguições aos sábios discordantes do regime, queima de livros, supressão de práticas religiosas, culto à imagem do Imperador, exaustão das classes baixas pela exploração do trabalho...a unificação do Império teve um alto custo social, que em breve despertou a insatisfação popular. O reinado de Qin Shi Huang Di foi marcante, porém efêmero: em 210 a.C. ele morre, provavelmente envenenado pelos elixires que tomava para obter a imortalidade. Onde vários assassinos falharam, a vaidade enterrou o tirano. Depositado em seu fabuloso mausoléu, descoberto em 1974, foi guarnecido por soldados de terracota que, planejados para defendê-lo em outro mundo, não puderam protegê-lo da fúria dos camponeses. A tumba foi saqueada e enterrada na terra. Sem deixar substitutos à altura, a China foi lançada numa nova guerra civil, mas dessa vez rápida, que fez ascender ao poder o ex-camponês Liu Bang, fundador da Dinastia Han, em 206 a.C. e) Período Han Os Han foram ainda mais efetivos na administração do Império, embora tenham suavizado suas características autoritárias. Preservando muito da estrutura administrativa Qin, algumas reformas foram feitas para dinamizar a burocracia: realização de exames para a admissão de funcionários, criação de escolas públicas e Universidades para formação e renovação do corpo e ampliação dos quadros. Reformaram o exército, combatendo de forma eficaz os sempre ameaçadores bárbaros do Norte. Restituíram parte dos títulos nobiliárquicos, mas sem a importância dos tempos Zhou. No campo ideológico, a grande reforma foi a adoção do Confucionismo como doutrina oficial de Estado, o que alçou a posição desta Escola ao patamar de prática religiosa. Foi um período fértil para a cultura chinesa: o taoísmo também se desenvolveu bastante (tanto como filosofia quanto religião) e o Império ainda recebeu a entrada dos primeiros pregadores budistas. A literatura cresceu em todos os campos, estendendo-se pela filosofia, história, romance, poesia, teatro, etc. Há uma renovação da arte, promovida pelo contato com novas estéticas vindas do estrangeiro. Destaca-se a inventividade da cerâmica, do bronze e o da pintura;

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Os Han desenvolveram ainda mais a expansão do Império em direção ao Oeste. Durante o reinado de Wudi (II-I a.C.) estabelecem-se contatos com os impérios do Ocidente (Roma e Partia) e com a Índia, abrindo a Rota da seda para difundir suas mercadorias em todas as partes do Mundo Antigo. A mais importante realização do reinado de Wudi foi sem dúvida a expansão do poder chinês e dos limites territoriais da China, fatos que merecem um exame mais detido. A expansão deu-se em três direções: para o noroeste, para o nordeste e para o sul. A experiência dos Han foi definitiva para o estabelecimento do Império chinês. Foi neste momento que a sociedade constituiu a estrutura mais duradoura de sua existência, encontrando seu apogeu, no período clássico, na mesma época Han e depois, com os Tang (618-907 d.C.). Nunca, depois do terceiro século, a China criaria outro sistema imperial que não fosse diretamente inspirado no antigo regime Han. Este foi o marco da antiguidade chinesa, sobre o qual a civilização iria se desenvolver posteriormente. f) Período dos Três Reinos (reinos de Wei, Shu e Wu): Durante o período dos Três Reinos (220-265), os políticos Cao Cao, Zhuge Liang e Sun Quan foram personagens famosas. Cao Cao, fundador do Reino de Wei, empregou a política de aproveitar amplamente os talentos, esconder tropas e abrir terras férteis para defender as zonas de fronteira. Zhuge Liang foi Primeiro Ministro do Reino de Shu. Sua nobre qualidade de não medir esforços para cumprir com seu dever passou a seus sucessores como modelo de sabedoria da antiguidade chinesa. Embora relativamente curto este período histórico, foi romantizado extremamente nas culturas da China, do Japão, da Coreia e do Vietnam. Foi comemorado e popularizado nas óperas, histórias populares, novelas e em épocas mais recentes, em umas películas, em umas séries da televisão, e nos jogos de vídeogame. O melhor destes é, indubitavelmente, o "Romance dos Três Reinos". O período de três reinos é também um do mais sangrentos na história chinesa. Um censo da população na Dinastia oriental antes dos Han relatou uma população de aproximadamente 56 milhões, quando o censo da população na dinastia ocidental posterior de Jin (depois que Jin reunificou a China) relatou uma população de aproximadamente 16 milhões. Mesmo fazendo exame na ocorrência destes relatórios de censo, é seguro supor que uma grande parte da população esteve fora durante as guerras constantes empreendidas durante este período. g) Período Jin (265-420): Existiram neste período, duas dinastias Jin, a Dinastia Jin Ocidental (265-316), que foi fundada pelo Imperador Wu de Jin, mais conhecido como Sima Yan. Embora tenha fornecido um breve período de unidade após ter conquistado o estado de Wu oriental em 280, Jin não podia conter a invasão e a insurreição de povos nómades após a guerra devastadora dos oito príncipes. A capital da dinastia Jin Ocidental era Luoyang até 311, quando o imperador Huai foi capturado pelas forças de Han Zhao. A capital foi transferida para Chang'an, por quatro anos até sua conquista por Han Zhao em 316. Então a corte de Jin fujiu para o norte e o sul e restabeleceram a corte de Jìn em Jiankang, a sudeste de Luoyang e de Chang'an e a Nanjing, sob o príncipe de Longya. As famílias locais proeminentes de Zhu, de Gan, de Lu, de Gu e de Zhou suportaram a proclamação do príncipe de Langye como o imperador Yuan da Dinastia Jin Oriental (317-420) quando a notícia da queda de Chang'an alcangou o sul. (Porque os imperadores da dinastia Jìn oriental vieram de Langye, os estados rivais de Wu a Hu que não reconheceram sua legalidade. As autoridades militaristas e as crises flagelaram a corte oriental de Jin ao longo de seus 104 anos de existência. Sobreviveu às rebeliões do Dun de Wang e a Su Jun. Em 420 o último imperador da dinastia Jin oriental abdicaria do trono devido à disputas, dando-o à Liu Yu. h) Período Tang (618-907) Li Yuan estabeleceu em 618 a dinastia Tang. Seu filho Li Shimin, o Imperador Taizong, foi um dos imperadores que tiveram mais êxito da história chinesa. Ele tomou uma série de medidas conhecidas como "Política de Zhenguan", impulsionando a prosperidade na época feudal. Na época dos Tang se desenvolveu muito a agricultura, o artesanato e o comércio. A tecelagem, a tinturaria, a produção de cerâmica, a siderurgia e a construção naval apresentaram novos progressos técnicos. As comunicações aquáticas e

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terrestres tiveram grande desenvolvimento e se estabeleceram amplos contatos econômicos e culturais com o Japão, a Coréia, a Índia, a Pérsia e os países árabes. i) Período Pós-Tang: Depois da dinastia Tang veio o período das Cinco Dinastias e Dez Estados (907 a 960). Em 960 o General Zhao Kuangyin, do Reino de Zhou Posterior, deu um golpe de Estado e subiu ao trono, fundando a Dinastia Song (960-1279). j) Dinastias Mongóis: Em 1206, Gengis Khan unificou as tribos mongóis e estabeleceu o kanato mongol. Seu neto Kublai entrou no Sul, fundou a Dinastia Yuan (1271-1368) e elegeu Dadu, atual Beijing (Pequim), como sua capital. Durante as dinastias Song e Yuan, a indústria e o comércio interno e externo também se desenvolveram. Muitos comerciantes e viajantes vieram à China e o veneziano Marco Polo realizou extensa viagem pelo país. No relato de sua viagem, ele descreveu de maneira viva e detalhada a prosperidade e o poder da Chi-na, bem como seu florescimento industrial e comercial. A fabricação de papel, a imprensa, a bússola e a pólvora, durante as dinastias Song e Yuan, tiveram novos progressos e foram transmitidos a outras regiões como contribuições importantes para a civilização universal. Em 1368, Zbu Yuanzhang iniciou em Nanjing a Dinastia Ming (1368 a 1644). Após a morte, seu filho Zhu Di subiu ao trono e começou a construir em Pequim (Beijing), em grande escala, palácios e templos. Em 1421 transferiu a capital para. Durante a dinastia Ming, a produção agrícola e o artesanato conseguiram notável desenvolvimento e no final dos Ming apareceram sinais do capitalismo. Ao mesmo tempo, os contatos amistosos com outros países asiáticos e africanos tornaram-se cada vez mais freqüentes. No final da dinastia Ming, se fortaleceu o poder da etnia Manchu do Nordeste da China, que, sob a direção de seu chefe Nuerhachi, empreendeu expedições ao Sul e depois de três gerações, em 1644, foi fundada a Dinastia Qing (1644 a 1911). Desta região, os manchus expandiram a dinastia para a China propriamente dita e os territórios circundantes da Ásia central, estabelecendo o Império do grande Qing (pinyin: dàqīng dìguó). Kangxi e Qianlong foram os imperadores mais célebres desta dinastia, cujo reinado é chamado de "sociedade próspera de Kangxi-Qianlong". Durante este período foi publicado o longo romance Sonho das mansões vermelhas, no qual Cao Xueqin descreveu o processo de mudança da prosperidade para a decadência de uma família nobre feudal. A Qing foi a última dinastia imperial da China; os seus imperadores ocuparam a sua capital entre 1644 e 1912, quando, no seguimento da revolução de 1911, uma nova República da China foi estabelecida e o último imperador da China, Puyi, abdicou. k) China Republicana A partir do século XIX, a influência ocidental causa grande impacto sobre o Império Chinês. Em 1820, os britânicos obtêm exclusividade de comércio no porto de Cantão. Interesses comerciais opõem China e Reino Unido e levam-nos às duas Guerras do Ópio (1839/1842 e 1856/1860). Vitoriosos, os britânicos garantem o monopólio do comércio da droga, a abertura de cinco portos chineses ao Ocidente e a posse de Hong Kong. Em 1844, os Estados Unidos (EUA) e a França conquistam privilégios comerciais. A Rússia ocupa, em 1858, territórios no norte. Em 1885, a China cede Anã (Vietnã) à França e, dez anos depois, perde a península da Coréia e Taiwan (Formosa) para o Japão. A submissão da dinastia manchu à intervenção externa provoca, entre 1898 e 1900, a Guerra dos Boxers, revolta dos nacionalistas contra estrangeiros e missionários cristãos. A rebelião é sufocada com a ajuda de tropas ocidentais e japonesas. Em 1908, o médico Sun Yat-sen funda o Partido Nacionalista (Kuomintang), em oposição à monarquia e à hegemonia estrangeira. Apoiado por militares é proclamado presidente provisório em 1911, mas a república não consegue estabelecer-se em todo o país, que entra em longo período de guerra civil. A morte de Sun Yat-sen, em 1925, provoca luta pelo poder no Kuomintang. A facção vitoriosa, liderada por Chiang Kai-shek, une-se ao Partido Comunista Chinês (PCCh) - fundado em 1921- contra os senhores feudais do norte do país. A aliança dura até 1927, quando uma insurreição operária em Xangai é reprimida com violência pelo Kuomintang. Os comunistas, liderados por Mao Tsé-tung, são colocados na clandestinidade.

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l) China Socialista Debilitada, a China não resiste ao Japão, que, em 1931, invade a Manchúria. Para escapar ao cerco do Kuomintang, 90 mil comunistas, liderados por Mao, deslocam-se 9 mil quilômetros rumo ao norte. É a Grande Marcha (1934/1935), que dá prestígio e dimensão quase mítica aos comunistas. Diante do avanço japonês, , o Kuomintang e o PCCh fazem nova aliança em 1936. Com a rendição do Japão, no fim da II Guerra Mundial, recomeçam os combates entre comunistas e nacionalistas. Em outubro de 1949, os comunistas proclamam a República Popular da China, com Mao Tsé-tung como dirigente supremo. Chiang Kaishek foge para Taiwan (Formosa), onde instala a República da China. A China continental é reorganizada nos moldes comunistas, com coletivização das terras, nacionalização das empresas estrangeiras e controle estatal da economia. Em 1950, a China assina tratado de amizade com a União Soviética (URSS). No mesmo ano ocupa e anexa o Tibete. Após a morte do ditador soviético Josef Stálin, em 1953, Mao enfatiza sua autonomia em relação à URSS. Em 1956 lança a Campanha das Cem Flores, para estimular críticas da população à burocracia partidária. Quando essas críticas ultrapassam limites considerados toleráveis, o regime reage com a Campanha Antidireitista. Milhares de intelectuais são perseguidos, presos e mortos. Em seguida, Mao lança outra campanha: o Grande Salto para a Frente (1958/1960), que pretendia transformar rapidamente a China em nação desenvolvida e igualitária. Os camponeses são obrigados a se juntar em gigantescas comunas agrícolas. Siderúrgicas improvisadas são instaladas por toda a parte. O "salto" leva à total desorganização econômica. Milhares de camponeses morrem de fome. A cúpula do PCCh afasta Mao da condução dos assuntos internos. Outros veteranos da revolução, como Liu Shaoqi e Deng Xiaoping, assumem a direção do partido. Mao continua a chefiar a política externa. Crescem as críticas à URSS, que reage e suspende a ajuda econômica e militar, em 1960. Em 1966, Mao lança uma ofensiva para voltar ao poder: a Grande Revolução Cultural Proletária. A população - em especial a juventude - é instigada a se rebelar contra as autoridades, acusadas de burocratização, cerca de 20 milhões de estudantes formam as Guardas Vermelhas, que fazem perseguições em grande escala. Mas o pacto com as guardas acaba em 1969, quando Mao usa o Exército para liquidar seus aliados, agora acusados de extremismo. Aos poucos, a ala reformista do PCCh reconquista posições e, após a morte de Mao, em 1976, assume o poder. Com Deng Xiaoping à frente do governo, o país adota a política das Quatro Grandes Modernizações (da indústria, da agricultura, da ciência e tecnologia e das Forças Armadas). São criadas Zonas Econômicas Especiais, abertas a investimentos estrangeiros, e incentiva-se a propriedade privada no campo. O modelo propicia grande crescimento econômico à China a partir de 1978. A abertura na economia estimula reivindicações por democracia. Em 1986, Hu Yaobang, secretário-geral do partido desde 1982, é acusado de "desvios liberais" e substituído por Zhao Ziyang. A morte de Hu, em abril de 1989, desencadeia onda de protestos. Os estudantes exigem a reintegração póstuma de Hu ao partido. Em maio, centenas de milhares de estudantes fazem manifestações contra a corrupção e exigem abertura política. Os jovens reúnem-se na praça da Paz Celestial, em Pequim, onde estão instalados os principais órgãos do poder. Em junho, o Exército abre fogo contra os estudantes. A imprensa estrangeira estima entre 2 mil e 5 mil o número de mortos. Deng Xiaoping morre em 1997, aos 92 anos. Seu sucessor, Jiang Zemin, mantém a política de reformas econômicas. Nesse mesmo ano, o PCCh rompe um princípio básico do comunismo, a propriedade estatal dos meios de produção, e anuncia gigantesco programa de privatizações. Ao mesmo tempo, o partido reforça o controle político sobre o país. O governo reprime duramente a seita religiosa Falun Gong. Receoso de que sua popularidade enfraqueça o PCCh, bane a seita em 1999 e prende milhares de fiéis. 04. CHINA ATUAL Devido a sua enorme população, o crescimento vertiginoso de sua economia, seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento, seus gastos militares e sua condição de Estado declaradamente detentor de armas nucleares, a China costuma ser considerada uma superpotência emergente. Seu PIB é de 8,2 trilhões. É a quarta maior economia do mundo (ou a segunda maior, pelo critério de paridade de poder de compra) e representa a China como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Desde 1978, o país implementa reformas para adotar, em alguma medida, uma economia de mercado, o

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que ajudou a tirar 400 milhões de pessoas da pobreza. Entretanto, o país enfrenta outros problemas econômicos, inclusive o rápido envelhecimento da população e uma crescente disparidade entre a renda urbana e a rural. A China desempenha um papel importante no comércio internacional, ao ser o maior consumidor mundial de aço e concreto (usa, respectivamente, um terço e mais da metade daqueles insumos) e o segundo maior importador de petróleo. É o terceiro maior importador do mundo e o segundo maior exportador, em termos globais. Sua moeda é o Iuan. Após 15 anos de negociações, a China torna-se membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro de 2001. Com isso, o país tem de abrir seu mercado às importações e permitir a entrada do capital estrangeiro em setores antes protegidos, como bancos e telecomunicações. Em troca, amplia o acesso dos produtos chineses ao mercado mundial. No 16° Congresso do PCCh, em 2002, o vice-presidente, Hu Jintao, é conduzido à chefia do partido. Em março de 2003 é eleito presidente do país pelo Congresso Nacional do Povo. Wen Jiabao substitui Zhu Rongji como primeiro-ministro. O novo governo define como objetivos, entre outros, manter a estabilidade econômica e atrair os empresários para o partido. Em outubro de 2003, a China toma-se o terceiro país a lançar uma missão tripulada ao espaço. Novo lançamento é feito em 2005. Em outubro de 2007, o país envia seu primeiro satélite para a órbita lunar. O programa espacial chinês é visto com reservas pelos EUA, que temem o uso das missões para fins militares. A partir de 2005, com o fim de um acordo de 30 anos que restringia o comércio global de têxteis, os vestuários chineses ficam livres de taxas e cotas e invadem os mercados mundiais. Prejudicados com a liberalização, a União Européia (UE) e os EUA pressionam a China, que, após meses de negociações, cede e limita temporariamente suas vendas externas a europeus e norte-americanos. Em maio de 2006, a China inaugura a usina de Três Gargantas, no rio Yang-tsé, que passa a ser a maior hidrelétrica do mundo, superando a usina de Itaipu. Quando passar a funcionar plenamente, em 2008, a hidrelétrica vai gerar 84,7 bilhões de kilowatts/hora por ano. O complexo, que levou 13 anos para ficar pronto, a um custo estimado em mais de 25 bilhões de dólares, faz parte dos esforços chineses para suprir sua demanda por energia e reduzir a dependência por carvão e petróleo. O projeto é criticado, no entanto, por seu custo humano e ambiental. Mais de 1 milhão de pessoas tiveram de migrar à força para dar espaço às obras e outros 4 milhões devem se retirar a partir de 2008. Em setembro de 2007, o governo chinês reconhece que a hidrelétrica pode causar catástrofe ambiental. Em setembro de 2006, o governo chinês anuncia que as agências de notícias internacionais não podem mais distribuir suas informações sem passar antes pelo crivo da agência estatal chinesa. Em outubro de 2007, o governo intensifica a censura na internet. Em janeiro de 2007, entra em vigor uma reforma no sistema penal, aprovada pelo Parlamento três meses antes. De acordo com a nova legislação, só a Suprema Corte pode autorizar a pena de morte. A medida pretende reduzir a aplicação dessa pena. De acordo com a Anistia Internacional, a China é responsável por 63% das execuções no mundo em 2006. Nesse ano, pelo menos 1.010 prisioneiros são executados, embora algumas fontes elevem este número para 8 mil. Em janeiro de 2007, teste de um míssil chinês anti-satélite causa preocupação à comunidade internacional. Dois meses depois, a China anuncia elevação de 17,8% em seus gastos militares para 2007, o maior aumento em dez anos. Analistas acreditam que o objetivo do governo chinês é desenvolver uma força bélica que não apenas vença Taiwan em um eventual conflito, mas também desencoraje qualquer tentativa de defesa do país vizinho por parte dos EUA. Em março, após 13 anos de discussões, o Congresso Nacional do Povo aprova lei que garante à propriedade privada os mesmos direitos que os de propriedade estatal. A decisão histórica, que aproxima a China do capitalismo, é criticada pelo fato de não proteger as terras coletivas exploradas por camponeses. Em junho, o Parlamento aprova mudanças na legislação trabalhista que aumentam a proteção aos trabalhadores, o que, segundo analistas, pode desestimular investimentos, em virtude da elevação do custo da mão-de-obra. Em agosto, é aprovada legislação antimonopólio, que submete as empresas estrangeiras a um controle do governo chinês antes de efetuar fusões e aquisições no país. Condenado à pena de morte por receber propina em trocada aprovação de licenças para novos remédios, Zheng Xiaou, ex-diretor da agência que supervisiona questões de saúde, é executado em julho. O caso está ligado à crise de credibilidade por que passa a indústria chinesa. Ao longo de 2007, vários países

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retiram do mercado produtos chineses inadequados ao consumo ou nocivos à saúde. O próprio governo admite que quase 20% dos produtos estão abaixo dos padrões de qualidade e fecha diversas fábricas. O 17° Congresso do PCCh, realizado em outubro, consolida , o poder de Hu Jintao, ao nomear lideranças mais próximas ao presidente. O congresso também aponta as diretrizes políticas do governo, que abrangem uma preocupação maior com as disparidades sociais e regionais, com o meio ambiente e com o controle da economia. 05. OLIMPIADAS DE PEQUIM Os Jogos Olímpicos de Verão de 2008, oficialmente conhecidos como Jogos da XXIX Olimpíada, foram um evento multiesportivo realizado em Pequim, na República Popular da China, de 8 (à exceção do futebol, que iniciou-se a 6 de Agosto) a 24 de Agosto de 2008. Um total de 10 500 atletas competiram nos 302 eventos dos 28 esportes, totalizando um evento a mais que os Jogos de 2004, em Atenas. Os Jogos de Pequim marcaram a primeira ocasião em que uma edição dos Jogos Olímpicos, seja ela de Verão ou Inverno, foi realizada na China, que foi a 22ª nação a abrigar o evento. O governo chinês não mediu esforços para tentar realizar os maiores Jogos Olímpicos da história e investiu bastante na infra-estrutura que acercou o evento. Um total de 37 locais foram usados para abrigar as competições, sendo doze deles inteiramente construídos especialmente para o evento. A escolha da China como país anfitrião gerou alguns protestos de políticos e organizações não governamentais pelo fato do país não respeitar os direitos humanos. Outros, entretanto, advertiram contra a politização dos Jogos. Os Jogos proporcionaram a quebra de 43 recordes mundiais e 132 recordes olímpicos. Um total de 87 nações conquistaram medalhas durante os Jogos. Os atletas chineses conquistaram 51 medalhas de ouro, o segundo melhor desempenho de uma delegação na história moderna dos Jogos, com exceção das edições em que ocorreram boicotes. Logo após os Jogos Olímpicos, foram realizados os Jogos Paraolímpicos, de 6 a 17 de Setembro. 06. REGIÕES ADMINISTRATIVAS ESPECIAIS a) Hong Kong Hong Kong volta à soberania da China em 1° de julho de 1997, com status de Região Administrativa Especial, após 156 anos de domínio britânico. Com a transferência - Hong Kong é um dos maiores mercados financeiros do mundo e possui o porto mais movimentado da Ásia -, a China amplia seu poderio econômico. A devolução segue o lema "um país, dois sistemas" (comunista e capitalista). Hong Kong deverá manter, pelo menos até 2047, seu sistema econômico e autonomia administrativa. A China responderá pela política externa e pela defesa. A ilha de Hong Kong foi cedida ao Reino Unido em 1842, com a derrota chinesa na I Guerra do Ópio. A península de Kowloon passa para o controle britânico em 1860, e os Novos Territórios são arrendados em 1898. Nos anos 1960, Hong Kong elimina impostos, taxas e encargos sociais para atrair investimentos externos. Em 1997, o empresário Tung Chee-Hwa é escolhido chefe do Executivo pelo governo chinês, como prevê a lei. Em 2002 obtém novo mandato. No mesmo ano, 500 mil pessoas protestam contra o anúncio de um projeto de lei que amplia o poder do Executivo. Meses depois, Tung susta a tramitação do projeto. Em 2003: na eleição para os conselhos distritais, o oposicionista Partido Democrático (DP) consegue importante resultado eleitoral. No mesmo ano é derrotada a moção apresentada por James To (DP), no Conselho Legislativo de Hong Kong, que prevê a instauração da democracia na ilha. Em 2004, o Parlamento chinês veta a eleição direta para o chefe do Executivo local em 2007 e para 60 membros do Conselho Legislativo (apenas metade é eleita diretamente) em 2008. Em março de 2005, problemas de saúde levam Tung Chee-Hwa a pedir demissão. Em junho, Donald Tsang é escolhido pelos, membros de um colégio eleitoral para ser o novo chefe do Executivo. Em dezembro um ato pró-democracia leva quase 100 mil pessoas às ruas de Hong Kong. Os manifestantes protestam contra a limitada reforma democrática proposta por Tsang, que não fixa um cronograma para o estabelecimento do voto universal. No fim do mês, a reforma é barrada pelo Legislativo chinês. Em novembro de 2006, o Conselho Legislativo vetou proposta de definir para 2012 o início do sufrágio universal. Em marco de 2007, na D primeiras eleições para a escolha dos chefe do Executivo, Tsang é reeleito

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pelo comitê eleitoral, superando com folga o candidato pró-democracia Alan Leong. Em junho, o presidente chinês, Hu Jintao, visita Hong Kong nas comemorações dos dez anos de devolução do território à China. Após uma década, as cobranças por reformas democrática na ilha intensificam-se. b) Macau O território está encravado no sudeste chinês e inclui a península de mesmo nome e as ilhas de Taípa e Colôane. Com população de maioria chinesa, vive do jogo e do turismo. Em 1557, Portugal, estabelece um entreposto comercial na região, que, em 1951, se toma província ultramarina. Em 1986, portugueses e chineses chegam a um acordo para a devolução. Macau torna-se Região Administrativa Especial com autonomia, exceto nos assuntos de defesa e política externa. O status será mantido por 50 anos. O chefe do Executivo da região, o banqueiro Edmund Ho, é nomeado em maio de 1999. Em dezembro, Macau transferido pacificamente para a China. c) Domínio do Tibete Localizado no centro-leste da Ásia, o Tibete é uma região de tradição budista. A prática religiosa, aliada à submissão à autoridade suprema do Dalai lama, marca a história do povo tibetano, que nunca aceitou a ocupação chinesa, ocorrida em 1950. Uma rebelião liderada por monges budistas, em 1959, é esmagada pelas tropas da China, forçando ao exílio o líder espiritual tibetano, o 14° Dalai lama, Tenzin Gyatso. Ele se refugia em Dharmsala, no norte da índia. A causa da independência do Tibete ganha força no Ocidente após a concessão do Prêmio Nobel da Paz a Gyatso, em 1989. Apesar dos protestos internacionais, a China continua a punir severamente os militantes pela independência do Tibete. Nos últimos anos, Gyatso e o governo chinês ensaiam uma aproximação, mas sem progresso significativo. Mais contido em suas exigências, o dalai lama agora busca maior autonomia e não mais a independência do Tibete. Entretanto, a China ainda acusa Gyatso de promover o separatismo. As relações entre o dalai lama e Pequim ficam mais abaladas após o encontro histórico entre Gyatso e o presidente norte-americano, George W. Bush, em outubro de 2007. Nas primeiras décadas da ocupação, o governo chinês destrói a maioria dos monastérios da região e toma medidas para suprimir a identidade e a religião do povo tibetano. Uma delas é romper a unidade político-territorial, incorporando a porção leste a províncias chinesas. Outra é estimular a emigração de chineses han para o Tibete, de forma a diluir a cultura local. Além disso, muitos tibetanos vêm sendo transferidos de áreas rurais para urbanas. Estima-se que hoje o número de chineses supere o de tibetanos na região. Em julho de 2006, é inaugurada a mais alta ferrovia do mundo, que liga a cidade chinesa de Golmud, em Qin Ghai, até Lhasa, a capital tibetana, a 1.140 quilômetros de distância. No ponto mais elevado da ferrovia, os trens circulam a mais de 5 mil metros de altitude. O governo chinês pretende ainda estender a malha ferroviária, além de construir aquele que seria o aeroporto mais alto do mundo, em Ngari. 07 - FATOS RECENTES O presidente Hu Jintao é recebido por Barack Obama em Washington em janei-ro de 2011. No encontro, são negociados acordos comerciais de 45 bilhões de dólares. Em abril, o artista plástico e ativista político Ai Weiwei é preso, acusado de sonegar impostos. Weiwei é libertado três meses depois, mas deve pagar 2,4 milhões de dólares pela suposta evasão fiscal. Protestos Em junho, milhares de trabalhadores são reprimidos com violência na região de Zengcheng, no sul. Desde 2010, uma onda de greves na Honda e de suicídios na gigante Foxconn – fornecedora de componentes eletrônicos à Apple e à HP – traz à tona a insatisfação dos operários chineses com suas condições de trabalho. Queda de Bo Xilai Em março de 2012, Bo Xilai, governador da municipalidade de Chongqing e um dos principais dirigentes do PCCh, é afastado do partido. A crise tem início no mês anterior, quando sua mulher, Gu Kailai,

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é acusada de envolvimento no assassinato de um empresário britânico. Julgada em agosto, Gu Kailai é condenada à morte, mas tem sua pena suspensa por dois anos. A queda de Bo Xilai se completa em setembro e outubro, quando ele é expulso do partido e tem o mandato cassado, acusado de corrupção e abuso de poder. Analistas atribuem sua queda à disputa entre setores do PCCh que defendem o aprofundamento das reformas capitalistas e a ala neomaoista, representada por Bo, que prega limites para o “socialismo de mercado”. Em Chongqing, Bo desencadeou ampla campanha anticorrupção, atingindo grupos empresariais e máfias. Em setembro de 2013, ele recebe pena de prisão perpétua. Chen Guangcheng Abril de 2012, o ativista cego Chen Guangcheng foge da prisão domiciliar, com a ajuda de simpatizantes, e refugia-se na embaixada norte-americana em Pequim. Em maio, após tensas negociações, o governo chinês permite que Chen vá com a família para os EUA. Mar do Sul da China Já em 2012, cresce a disputa em torno do Mar do Sul da China. A China reivindica soberania sobre a maior parte, entrando em atrito com Vietnã, Filipinas, Brunei, Malásia e Taiwan. Crise Com o Japão O Japão compra de um proprietário privado, em setembro, um pequeno arquipélago que é reivindicado também pela China. Isso desencadeia uma crise entre os dois países. As ilhas – chamadas de Senkaku pelos japoneses e de Diaoyu pelos chineses – são desabitadas, mas ricas em pesca, e podem conter reservas de gás natural. Reagindo à aquisição japonesa, a China envia navio-patrulha para a região. Em novembro de 2013, os chineses anunciam a criação de uma zona de defesa aérea, na área que inclui as ilhas, elevando ainda mais a tensão. Novos Dirigentes Em novembro de 2012, o 18° Congresso do PCCh escolhe a nova direção do partido e os futuros governantes. Em março de 2013, Xi Jinping assume como secretário-geral do PCCh e presidente do país, e Li Keqiang, como primeiro-ministro. Tensão em Xinjiang A província de Xinjiang é palco de enfrentamentos com mortes em abril, junho e agosto de 2013. As autoridades culpam integrantes de grupos islâmicos radicais pela violência. Muitos uigures, entretanto, denunciam a a discriminação de que seriam vítimas os muçulmanos. Em outubro, um carro invade a Praça da Paz Celestial, em Pequim, e pega fogo, causando a morte de cinco pessoas. A polícia afirma tratar-se de um atentado cometido por uigures muçulmanos. Cyberataques Relatório do Departamento de Defesa dos EUA, publicado em maio, acusa a China de promover cyberataques com o objetivo de roubar informações militares e comerciais. As autoridades chinesas dizem que as acusações são infundadas. Visita a Obama No mês de junho (2013), o presidente norte-americano Barack Obama recebe Xi Jinping no sul da Califórnia, no primeiro encontro entre os dois chefes de Estado. A espionagem cibernética é um dos assuntos mais delicados da pauta, que também inclui o comércio bilateral e a relação chinesa com Vietnã e Japão. Reformas Após reunião do Comitê Central do PCCh, em novembro, o governo anuncia uma ampla agenda de reformas, centrada em 60 pontos. Entre as decisões de maior impacto está a flexibilização da política do filho único, em vigor desde 1979. Os casais que moram em regiões urbanas poderão ter dois filhos, desde que um dos cônjuges seja filho único. Anteriormente, era necessário que ambos fossem filhos únicos para

Page 14: China - arturbruno.com.brarturbruno.com.br/images/conteudo/file/China2014.pdf · O confucionismo acabou se tornando uma espécie de religião estatal da China, chegando muitas vezes

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poderem ter o segundo filho. Outras importantes medidas são o fim dos campos de trabalho forçado para o cumprimento de penas, diminuição dos crimes sujeitos à pena de morte, políticas para facilitar a mobilidade dos moradores rurais e a criação de sistemas de Previdência e saúde. No campo econômico, as reformas promovem maior abertura econômica. Na esfera política, contudo, o comando deve continuar centralizado no PCCh, permanecendo as restrições aos direitos individuais. Pró-Democracia O movimento por democracia se intensifica a partir de 2004, quando 500 mil pessoas saem às ruas de Hong Kong para exigir o sufrágio universal no território. No ano seguinte, Tung Chee-Hwa pede demissão por problemas de saúde, e Donald Tsang é indicado para ser o novo chefe do Executivo. Em 2007, Tsang é reeleito pelo Comitê Eleitoral. No mesmo ano, a China concorda com a possibilidade de eleições diretas para o chefe do Executivo em 2017 e para o Conselho Legislativo em 2020. Conselho Legislativo Em março de 2012, Leung Chun-ying é eleito chefe do Executivo, ao obter 689 votos, de um total de 1.132, do Comitê Eleitoral. No dia de sua posse, em julho, milhares de pessoas manifestam-se por democracia, contra as desigualdades sociais e a corrupção. Em setembro, nas eleições ao Conselho Legislativo (que passa a ter 70 membros, 40 dos quais eleitos diretamente), as forças pró-democracia obtêm 27 assentos, recuando proporcionalmente em relação ao pleito anterior. Em novos atos de protesto, realizados em janeiro e julho de 2013, dezenas de milhares de participantes exigem a renúncia de Leung Chun-ying e a convocação de eleições diretas.

_________________ BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E SUGESTÃO DE LEITURAS: - FAIRBANK e GOLDMAN. China: uma nova história, 2ª Ed. Porto Alegre: LP&M, 2007. - HELLERN, NOTAKER e GAARDER. O livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. - Almanaque Abril 2014, 40ª ed. São Paulo: Ed. Abril, 2014. - ARRUDA, J. e PILETTI, N. Toda a História, 4ª ed. São Paulo: Ática, 1996. - Atlas National Geografic, livro 08: Ásia II. São Paulo: Ed. Abril, 2008. - http://www.wikipedia.org - BUENO, André. História da China Antiga. http://china-antiga.blogspot.com/2007/07/construo-da-histria-chinesa.html