charlie e o grande elevador, roald dahl 1972, pdf

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Título original: Charlie and the Great Glass Elevator, Roald Dahl-1972Livro indicado para o 4º ano de escolaridade.

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  • DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com o objetivo de oferecer contedo parauso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo decompra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudavel a venda, aluguel, ou quaisquer uso comercial do presente contedo

    Sobre ns:

    O Le Livros e seus parceiros, disponibilizam contedo de dominio publico e propriedade intelectual de forma totalmente gratuita,por acreditar que o conhecimento e a educao devem ser acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrarmais obras em nosso site: LeLivros.Info ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando por dinheiro e poder, ento nossasociedade poder enfim evoluir a um novo nvel.

  • Roald Dahl

    Charlie e o Grande Elevador de Vidro

    Ilustraes Cludia Scatamacchia

    Traduo Monica Stahel

    Martins FontesSo Paulo 2001

  • Esta obra foi publicada originalmente em ingls com o ttulo CHARLIE AND THE GREAT GLASS ELEVATOR, por Puffin Books. 1a ediomaro de 2001TraduoMONICA STAHELReviso grficaIvete Batista dos Santos Ivany Picasso BatistaProduo grfica Geraldo AlvesPaginao/Fotolitos Studio 3 Desenvolvimento Editorial

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP. Brasil) Dahl, Roald, 1916-Charlie e o grande elevador de vidro / Roald Dahl ; ilustraes Cludia Scatamacchia ; traduo Monica Stahel. So Paulo :Martins Fontes, 2001. (Coleo escola de magia)Ttulo original: Charlie and the great glass elevator.ISBN 85-336-1392-X1. Literatura infanto-juvenil 1. Scatamacchia, Cludia. II. Ttulo. III. Srie.01-0698 _CDD-028.5

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Literatura infantil 028.5 2. Literatura infanto-juvenil 028.5

  • Roald Dahl nasceu em 1916 no Pas de Gales, filho de pais noruegueses. Passou a infncia naInglaterra e, aos dezoito anos, foi para a frica como empregado da companhia de petrleo Shell.Participou da Segunda Guerra Mundial como piloto da Real Fora Area da Inglaterra. Comeoua escrever quando era adido da embaixada inglesa em Washington. Seus livros para adultos ecrianas so hoje traduzidos e apreciados no mundo todo. Roald Dahl morreu em 1990, aossetenta e quatro anos. Cludia Scatamacchia de So Paulo. Seus dois avs eram artesos. Cludia j nasceupintando e desenhando, em 1946. Quando criana, desenhava ao lado do pai, ouvindo Paganini.Lembra com saudade as trs tias de cabelo vermelho que cantavam pera. Lembra com respeito ainfluncia do pintor Takaoka sobre sua formao. Cludia recebeu vrios prmios como artistagrfica, pintora e ilustradora. Monica Stahel nasceu em So Paulo, em 1945. Formou-se em Cincias Sociais, pela USP, em1968. Na dcada de 70 ingressou na rea editorial, exercendo vrias funes ligadas edio eproduo de livros. Durante os doze anos em que teve nesta editora, como tarefa principal, aavaliao de tradues e edio de textos, desenvolveu paralelamente seu trabalho de tradutora,ao qual hoje se dedica integralmente.

  • Para minhas filhasTessa Ophelia Lucy

    E para meu afilhadoEdmund Pollinger

  • 1O Sr. Wonka vai longe demais A ltima vez que vimos Charlie, ele estava l no cu azul, dentro do Grande Elevador de Vidro,pairando sobre a cidade. O Sr. Wonka tinha acabado de comunicar ao menino que agora aFantstica Fbrica de Chocolate era inteirinha dele. Nosso amiguinho estava voltando fbrica,junto com toda a famlia, para tomar posse de sua nova propriedade.

    S para lembrar, os passageiros do elevador eram: Charlie Bucket, nosso pequeno heri; oSr. Wonka, excepcional fabricante de chocolate; o Sr. e a Sra. Bucket, pai e me de Charlie; VovJos e Vov Josefina, pai e me do Sr. Bucket;

    Vov Jorge e Vov Jorgina, pai e me da Sra. Bucket.Vov Josefina, Vov Jorgina e Vov Jorge ainda estavam na cama. A cama tinha sido

    arrastada para dentro do elevador antes da decolagem. Vov Jos, como vocs devem lembrar,tinha sado da cama para visitar a Fbrica de Chocolate com Charlie.

    O Grande Elevador de Vidro fazia um vo maravilhoso, a uma altura de trezentos ecinqenta metros. O cu estava azul e brilhante. Todos a bordo estavam entusiasmados com aidia de morar na famosa Fbrica de Chocolate. Vov Jos cantava. Charlie pulava no lugar. OSr. e a Sra. Bucket riam pela primeira vez em muitos anos, e os trs velhinhos na cama sorriamum para o outro, mostrando suas gengivas rosadas e desdentadas.

    O que que est segurando essa geringona no ar? grasnou Vov Josefina. Minha senhora disse o Sr. Wonka , isto j deixou de ser um elevador como os

    outros. Os elevadores comuns sobem e descem dentro dos prdios. O nosso j se soltou e entrouno cu, um elevador especial, o GRANDE ELEVADOR DE VIDRO.

    E o que que est segurando este elevador especial? perguntou mais uma vez VovJosefina.

    Ganchos celestes disse o Sr. Wonka. Duvido retrucou Vov Josefina. Minha cara disse o Sr. Wonka , tudo isto novidade para a senhora. Depois de

    ficar um pouquinho mais conosco, nada mais vai surpreend-la. Esses tais ganchos celestes... disse Vov Josefina. Digamos que uma das pontas

    est presa a esta geringona que est levando a gente. Certo? Certo confirmou o Sr. Wonka. Mas e a outra ponta? Onde esses ganchos esto presos? continuou Vov Josefina. Estou ficando cada dia mais surdo disse o Sr. Wonka. Por favor, na volta lembrem-

    me de consultar meu mdico de ouvido.

  • Charlie disse Vov Josefina , acho que no confio muito nesse cavalheiro. Nem eu disse Vov Jorgina. Ele no leva nada a srio.Charlie debruou sobre a cama e cochichou para as duas velhinhas: Por favor, no sejam estraga-prazeres. O Sr. Wonka um homem fantstico. meu

    amigo, e eu gosto muito dele.Vov Jos chegou perto e sussurrou: Charlie tem razo. Agora fique quieta, Josinha, e no se preocupe. Precisamos nos apressar! disse o Sr. Wonka. Temos muito tempo e pouca coisa

    para fazer. No! Espere! Anule esse comando! Inverta! Obrigado! Agora vamos voltar para afbrica! ele gritou, batendo palmas, pulando e batendo no ar um p no outro. Vamos voarde volta para a fbrica! Mas precisamos subir antes de descer. Precisamos subir mais e mais!

    No falei? disse Vov Josefina. Esse homem doido! Fique quieta, Josinha disse Vov Jos. O Sr. Wonka sabe o que est fazendo. Ele doido varrido! disse Vov Jorgina. Precisamos subir mais! disse o Sr. Wonka. Precisamos subir muito, muito mais!

    Segurem o estmago!Ele apertou um boto marrom. O Elevador estremeceu e, com um chiado assustador,

    lanou-se verticalmente como um foguete. Todos se agarraram um ao outro e a engenhocaacelerou vertiginosamente. O chiado do vento l fora tornava-se cada vez mais alto e agudo, atse transformar num guincho estridente, obrigando todos a berrar para serem ouvidos.

    Pare! berrou Vov Josefina. Jos, mande esse homem parar com isso! Querodescer! Socorro! berrou Vov Jorgina.

    Desa! berrou Vov Jorge. Nada disso! berrou o Sr. Wonka. Temos que subir! Por qu? berraram todos ao mesmo tempo. Por que subir e no descer? Porque, quanto mais no alto ns estivermos quando comearmos a descer, maior ser

    nossa velocidade na hora de bater disse o Sr. Wonka. Quando batermos, vamos estar a umavelocidade espantosa.

    Quando batermos em qu? eles gritaram. Na fbrica, claro respondeu o Sr. Wonka. O senhor que no est batendo bem disse Vov Josefina. Ns vamos todos

    virar pasta! Vamos virar omelete! disse Vov Jorgina. Temos que correr esse risco disse o Sr. Wonka. O senhor s pode estar brincando! retrucou Vov Josefina. Vamos, diga que

    brincadeira. Minha senhora, eu no brinco nunca disse o Sr. Wonka. Minha nossa, vai ser uma esfregai Provavelmente disse o Sr. Wonka.Vov Josefina deu um grito e sumiu debaixo das cobertas, Vov Jorgina se agarrou com

    tanta fora ao Vov Jorge que ele at mudou de forma. O Sr. e a Sra. Bucket ficaram abraados,mudos de pavor. S Charlie e Vov Jos se mantiveram mais ou menos calmos. J conheciambem o Sr. Wonka e estavam acostumados com suas surpresas. Mas, medida que o grandeElevador subia e se afastava cada vez mais da terra, at Charlie comeou a ficar meio nervoso.

    Sr. Wonka ele gritou, vencendo o barulho , no estou entendendo por que vamoster que descer a uma velocidade to grande.

  • Ora, garoto respondeu o Sr. Wonka , se no descermos a uma velocidade togrande, nunca vamos conseguir atravessar o telhado da fbrica. No fcil abrir um buraco numtelhado to forte como aquele.

    Mas j abrimos um buraco nele na hora de sair disse Charlie. Ento vamos abrir outro. melhor dois buracos do que um s. Qualquer camundongo

    sabe disso respondeu o Sr. Wonka.E o Elevador subia, subia, at eles comearem a enxergar os pases e os oceanos da Terra

    como se estivessem desenhados num mapa. Era tudo muito bonito, mas dava uma sensaomuito desagradvel estar de p num cho de vidro, olhando para baixo. At Charlie estava meioapavorado. Agarrou com fora a mo do Vov Jos e olhou ansioso para o rosto do velhinho.

    Estou com medo, Vov disse o menino. Eu tambm disse Vov Jos, abraando Charlie pelo ombro. Sr. Wonka chamou o menino. O senhor no acha que chega de subir? Quase respondeu o Sr. Wonka , mas ainda falta um pouco. No fale comigo agora,

    por favor. No me distraia. Nesta fase preciso controlar tudo muito direitinho. questo defraes de segundo, garoto. Est vendo esse boto verde? Preciso apert-lo no momentoexatamente certo. Se deixar passar meio segundo, teremos subido demais!

    O que acontece quando a gente sobe demais? perguntou Vov Jos. Pare de falar, preciso me concentrar! disse o Sr. Wonka.Bem naquele instante Vov Josefina ps a cabea para fora do lenol e olhou pela beira da

    cama. Pelo cho de vidro ela viu a Amrica do Norte quase trezentos e vinte quilmetros abaixodeles. O continente inteiro parecia do tamanho de uma barra de chocolate.

    Algum tem que segurar esse maluco! ela berrou.Ento a Vov Josefina esticou a mo magra e enrugada, segurou o Sr. Wonka pela barra

    do casaco e o puxou at a cama. No, no! gritou o Sr. Wonka, tentando se soltar. Largue-me! Tenho que acionar

    os controles! No atrapalhe o piloto! Seu louco! guinchou Vov Josefina, sacudindo tanto o Sr. Wonka que nem dava

    para ver direito a cabea dele. Leve-nos para casa imediatamente! Solte-me! gritou a Sr. Wonka. Preciso apertar aquele boto, seno vamos subir

    demais. Solte-me! Solte-me!Mas Vov Josefina continuou segurando. Charlie gritou o Sr. Wonka , aperte o boto! O boto verde! Rpido, rpido!

  • Charlie pulou para o outro lado do Elevador e apertou o boto verde com o polegar. Namesma hora o Elevador deu um gemido forte e virou para o lado. O chiado do vento parou.Tudo ficou em absoluto silncio.

    Tarde demais! exclamou o Sr. Wonka. Minha nossa, estamos fritos!Mal ele acabou de falar, a cama com os trs velhos e o Sr. Wonka se ergueu suavemente do

    cho e ficou suspensa no ar. Charlie, Vov Jos, o Sr. Bucket e a Sra. Bucket tambm comearama flutuar. Todo o grupo e tambm a cama pairavam como bales dentro do grande Elevador deVidro.

    Veja s o que a senhora fez! disse o Sr. Wonka, flutuando. O que aconteceu? perguntou Vov Josefina. Ela estava de camisola, suspensa fora

    da cama, perto do teto. Fomos longe demais? perguntou Charlie. Longe demais? gritou o Sr. Wonka. Claro que fomos longe demais! Sabem o que

    aconteceu, meus amigos? Ns entramos em rbita!Embasbacados, assombrados, estarrecidos, eles no conseguiam nem falar. Estamos girando em torno da Terra a uma velocidade de quase trinta mil quilmetros

  • por hora disse o Sr. Wonka. O que acham disso? Estou chocada ofegou Vov Jorgina , no consigo respirar! Claro disse o Sr. Wonka. Aqui no tem ar.Ele deu umas braadas, como se estivesse nadando, at um boto logo abaixo do teto em

    que estava escrito OXIGNIO. O Sr. Wonka apertou o boto e disse: Agora vai melhorar. Respirem fundo. Que sensao estranha disse Charlie, nadando um pouquinho. Estou me sentindo

    como uma bolha. maravilhoso disse Vov Jos. Parece que no tenho peso. E no tem mesmo disse o Sr. Wonka. Nenhum de ns est pesando nada, nem

    um grama. Que bobagem! disse Vov Jorgina. Pois eu peso exatamente sessenta e sete

    quilos. Pois agora a senhora no est pesando nada. Est completamente sem peso disse o

    Sr. Wonka.Vov Jorge, Vov Jorgina e Vov Josefina tentavam a todo o custo voltar para a cama,

    mas sem sucesso. A cama flutuava, solta no ar. Eles tambm flutuavam, claro, e cada vez quechegavam cama e tentavam se deitar saam voando para longe dela. Charlie e Vov Jos tiveramum acesso de riso.

    Qual a graa? disse Vov Josefina. Finalmente conseguimos fazer vocs sarem da cama! disse Vov Jos. Cale a boca e ajude a nos segurar! zangou-se Vov Josefina. Desistam disse o Sr. Wonka. Vocs nunca vo conseguir se deitar. Continuem

    flutuando e pronto. Esse homem louco! gritou Vov Jorgina. Estou avisando, cuidado, seno ele

    ainda vai acabar com a gente!

  • 2Hotel Espacial U.S.A. O Grande Elevador de Vidro do Sr. Wonka no era a nica coisa que girava na rbita da Terranaquele momento. Dois dias antes, os Estados Unidos tinham lanado seu primeiro HotelEspacial, uma cpsula gigantesca, em forma de salsicha, que tinha mais de trezentos metros decomprimento. Chamava-se Hotel Espacial U.S.A., sendo a maravilha da era espacial. Dentro dohotel havia quadra de tnis, piscina, um ginsio, quarto de brinquedo para crianas e quinhentosdormitrios de luxo, cada um com banheiro privativo. A cpsula toda tinha ar-condicionado.Alm disso, era equipada com aparelhagem de produo de gravidade, de modo que dentro dohotel dava para andar normalmente, ningum flutuava.

    Esse objeto extraordinrio estava girando em torno da Terra a uma altura de trezentos eoitenta quilmetros. Os hspedes eram levados para cima e para baixo por um servio de txi.Eram pequenas cpsulas que decolavam da base de Cabo Kennedy de hora em hora, de segunda asexta-feira. Mas at ento no havia ningum a bordo, nem mesmo um astronauta. Isso porque naverdade ningum tinha acreditado que um objeto enorme daqueles conseguisse decolar semexplodir.

    No entanto o lanamento tinha sido um sucesso, e, agora que o Hotel Espacial tinhaentrado em rbita com toda a segurana, estava havendo a maior agitao para mandar osprimeiros hspedes l para cima. Corriam boatos de que o prprio Presidente dos EstadosUnidos estaria entre os primeiros a se hospedar no hotel. Alm disso, claro, no mundo inteiropessoas de todo tipo corriam para fazer suas reservas. Muitos reis e rainhas entravam em contatocom a Casa Branca, em Washington, para tentar conseguir lugar. Um milionrio do Texas,chamado Orson Soda, que estava de casamento marcado com uma estrela de cinema chamadaHelen Aguada, estava oferecendo cem mil dlares por dia pela sute de lua-de-mel.

    S que impossvel hospedar pessoas num hotel quando no h gente para cuidar delas, eisso explica por que naquele momento havia um outro objeto interessante girando em torno daTerra. Era a imensa Cpsula Transportadora que levava toda a equipe de trabalho do HotelEspacial USA. Havia gerentes, sub-gerentes, secretrios, garonetes, mensageiros, camareiras,confeiteiros e porteiros. A cpsula em que eles estavam viajando era pilotada pelos trs famososastronautas Shaton, Shokant e Shute, todos muito simpticos, inteligentes e corajosos.

    Pelo alto-falante, Shaton disse aos passageiros: Dentro de uma hora vamos nos acoplar com o Hotel Espacial U.S.A., que ser o lar de

    vocs pelos prximos dez anos. A qualquer momento, se vocs olharem sua frente, poderoavistar a magnfica nave espacial. Ah! Estou vendo alguma coisa ali! Deve ser ela, pessoal! Ali,bem na nossa frente!

  • Shaton, Shokant e Shute, e tambm os gerentes, subgerentes, secretrios, garonetes,mensageiros, camareiras, confeiteiros e porteiros, todos olhavam ansiosos pelas janelas. Shatonsoltou dois foguetinhos para fazer a cpsula acelerar, e eles foram se aproximando muitodepressa.

    Ei! gritou Shute. Esse no nosso Hotel Espacial. Com mil demnios! berrou Shokant. Em nome de Neblsio, o que aquilo? Depressa! O telescpio! gritou Shaton. Com uma das mos ele focalizava o

    telescpio enquanto com outra acionava a chave de conexo com o Controle de Vo no solo. Al, Houston! ele berrou no microfone. H um objeto maluco aqui em cima!

    uma coisa voando na nossa frente, diferente de todas as naves espaciais que j vi na minha vida! Descreva o objeto imediatamente ordenou o Controle de Vo em Houston. ... todo de vidro, meio quadrado e cheio de gente dentro! Esto todos flutuando

    como peixes num aqurio! Quantos astronautas a bordo? Nenhum disse Shaton. Eles no podem ser astronautas. Por que est dizendo isso? Porque pelo menos trs deles esto de camisola! No seja bobo, Shaton grunhiu o Controle de Vo. Contenha-se, homem! Esse

    assunto srio! Mas eu juro! gritou Shaton. Trs esto de camisola! Duas velhas e um velho!

    Estou vendo claramente! Estou at vendo a cara deles! Credo, so mais velhos do que Moiss!Devem ter uns noventa anos!

    Voc ficou louco, Shaton! gritou o Controle de Vo. Est despedido! Passe-me oShokant.

    Shokant falando disse Shokant. Oua, Houston. H mesmo trs pssaros velhosde camisola flutuando dentro de uma caixa de vidro maluca. E tambm um cara engraado, debarbicha, cartola preta, fraque de veludo cor-de-ameixa e cala verde-garrafa...

    Pare! berrou o Controle de Vo. E tem mais disse Shokant. Tambm h um garoto de uns dez anos de idade... No garoto, idiota! gritou o Controle de Vo. um astronauta disfarado!

    um astronauta ano vestido como garoto! Os velhos tambm so astronautas! Esto todosdisfarados!

    Mas quem so eles? gritou Shokant. Como que eu vou saber? disse o Controle de Vo. Eles esto rumando para

    nosso Hotel Espacial? Exatamente para l! gritou Shokant. Agora estou vendo o Hotel Espacial a cerca

    de um quilmetro e meio de distncia. Eles vo explodi-lo! berrou o Controle de Vo. Vai ser uma catstrofe! ...De repente sua voz se interrompeu e Shokant ouviu nos fones de ouvido uma outra voz,

    muito diferente. Era grave e rouca. Vou dar um jeito nisso disse a voz grave e rouca. Voc est a, Shokant? Claro que estou disse Shokant. Mas deixe de ser atrevido. No meta o nariz

    nessa histria. Afinal, quem voc? Aqui o Presidente dos Estados Unidos disse a voz. E aqui o Mgico de Oz disse Shokant. Est querendo me gozar? Pare com essa bobagem, Shokant reclamou o Presidente. Trata-se de uma

  • emergncia nacional! Minha nossa! disse Shokant, virando-se para Shaton e Shute. o Presidente

    mesmo. o Presidente Capingord em pessoa. ... Bem, oi, seu Presidente. Como vai o senhor? Quantas pessoas h dentro da cpsula de vidro? rouquejou o Presidente. Oito disse Shokant. Todas flutuando. Flutuando? Aqui estamos fora do alcance da gravidade, Sr. Presidente. Tudo flutua. Se no

    estivssemos amarrados, ns tambm estaramos flutuando. O senhor no sabia disso? Claro que sabia disse o Presidente. O que mais pode me dizer sobre essa cpsula

    de vidro? Dentro dela h uma cama disse Shokant. Uma cama de casal, que tambm est

    flutuando. Uma cama? vociferou o Presidente. Onde j se viu uma cama dentro de uma

    espaonave? Juro que uma cama disse Shokant. Voc deve estar lel, Shokant declarou o Presidente. Mais maluco do que um

    ovo quadrado! Deixe-me falar com o Shute! Shute falando, Sr. Presidente disse Shute, pegando o microfone das mos de

    Shokant. uma grande honra falar com o senhor, Sr. Presidente! Ora, cale a boca! disse o Presidente. S me diga o que est vendo.

    Uma cama, Sr. Presidente. Estou vendo pelo telescpio. Com lenol, cobertor e

    colcho... No cama, seu doido varrido! berrou o Presidente. No est vendo que um

    disfarce? uma bomba! uma bomba disfarada de cama! Eles vo explodir nosso magnficoHotel Espacial!

  • Eles quem, Sr. Presidente? perguntou Shute. Pare de falar e deixe-me pensar disse o Presidente.Houve alguns minutos de silncio. Shute esperava, tenso. Shokant e Shaton tambm. E

    tambm os gerentes, subgerentes, secretrios, garonetes, mensageiros, camareiras, confeiteiros eporteiros. E l embaixo, na imensa Cabine de Controle em Houston, cem controladores estavamsentados, imveis, diante de seus painis e monitores, espera das ordens que o Presidente dariaaos astronautas.

    Tive uma idia disse o Presidente. No h uma cmara de televiso a na frenteda nave de vocs, Shute?

    Claro, Sr. Presidente. Ento ligue-a, inseto, para todos ns aqui embaixo podermos ver esse tal objeto. Eu no tinha pensado nisso disse Shute. No para menos que o senhor o

    Presidente. L vai.Ele ligou a cmara de TV instalada no nariz da espaonave e, no mesmo instante,

    quinhentos milhes de pessoas do mundo todo, que estavam ouvindo tudo pelo rdio, saramcorrendo para seus televisores.

    Nas telas, todos viram exatamente o que Shaton, Shokant e Shute estavam vendo: umaestranha caixa de vidro em rbita em torno da Terra; e dentro da caixa, em imagem meioembaada mas bem visvel, sete adultos, um menino e uma cama de casal, tudo flutuando. Trsadultos estavam de camisola, com as pernas de fora. E mais ao longe, para alm da caixa de vidro,

  • os espectadores puderam ver a forma enorme, cintilante e prateada do Hotel Espacial U.S.A.Mas todos estavam mais atentos sinistra caixa de vidro e s sinistras criaturas que a

    ocupavam: oito astronautas to resistentes e fortes que nem se davam ao trabalho de vestir trajesespaciais. Quem eram aquelas pessoas e de onde elas vinham? E que diabo era aquela coisaimensa disfarada de cama de casal? O Presidente tinha dito que era uma bomba, e decerto eletinha razo. Mas o que iam fazer com ela? Uma espcie de pnico foi se espalhando por todos ostelespectadores dos Estados Unidos, do Canad, da Rssia, do Japo, da ndia, da China, dafrica, da Inglaterra, da Frana, da Alemanha e de todos os outros lugares do mundo.

    Fiquem bem longe deles, Shute! ordenou o Presidente, pelo rdio. Certo, Presidente! respondeu Shute. Vamos ficar bem longe!

  • 3A acoplagem Dentro do Grande Elevador de Vidro a agitao tambm era grande. Charlie, o Sr. Wonka etodos os outros viam nitidamente a imensa forma prateada do Hotel Espacial U.S.A., cerca de umquilmetro e meio frente deles. E atrs vinha a Cpsula Transportadora, que era menor (masmesmo assim era imensa). O Grande Elevador de Vidro (que no parecia grande perto daquelesdois monstros) ia no meio. E claro que todos, at mesmo a Vov Josefina, sabiam muito bem oque estava acontecendo. At sabiam que os trs astronautas responsveis pela CpsulaTransportadora chamavam-se Shaton, Shokant e Shute. O mundo inteiro sabia disso. Nosltimos seis meses os jornais e a televiso quase no falavam em outra coisa. A Operao HotelEspacial era o acontecimento do sculo.

    Que sorte! gritou o Sr. Wonka. Viemos parar bem no meio da maior operaoespacial de todos os tempos!

    Viemos parar no meio de uma terrvel confuso disse Vov Josefina. Volteimediatamente!

    No, Vov disse Charlie. Agora temos que assistir. Precisamos ver a CpsulaTransportadora acoplar com o Hotel Espacial.

    O Sr. Wonka flutuou para perto de Charlie. Vamos passar a perna neles, Charlie ele cochichou. Vamos chegar na frente e

    subir a bordo do Hotel Espacial.Charlie compreendeu. Engoliu em seco e disse baixinho: impossvel. No temos nenhum dispositivo para nos ligar a uma outra nave espacial,

    Sr. Wonka. Se fosse preciso, meu Elevador poderia se ligar a um crocodilo disse o Sr. Wonka.

    Deixe comigo, garoto. Vov Jos! chamou Charlie. Ouviu isso? Vamos nos acoplar com o Hotel

    Espacial e subir a bordo dele! Iupiiiiii! gritou Vov Jos. Que boa idia! Que idia genial!Vov Jos agarrou a mo do Sr. Wonka e comeou a sacudi-la como se ela fosse um

    termmetro. Fique quieto, seu morcego velho maluco! disse Vov Josefina. J temos encrenca

    suficiente. Quero voltar para casa! Eu tambm disse Vov Jorgina. E se eles vierem atrs de ns? disse o Sr. Bucket, falando pela primeira vez. E se eles nos prenderem? disse a Sra. Bucket.

  • E se eles nos matarem? disse Vov Jorgina. E se minha barba fosse de espinafre verde? gritou o Sr. Wonka. Quanta conversa

    mole! Vocs nunca vo conseguir nada se ficarem perdendo tempo com todos esses se. Serque Colombo teria descoberto a Amrica se tivesse ficado perguntando: E se eu naufragar nocaminho? E se eu encontrar piratas? E se eu no conseguir voltar? No teria nem comeado aviagem. No queremos ningum perguntando se por aqui, no mesmo, Charlie? Ento vamosl. Espere... uma manobra muito complicada e vou precisar de ajuda. H trs conjuntos debotes que vamos ter que apertar, em trs pontos diferentes do Elevador. Eu fico com aquelesdois ali, o branco e o preto.

    O Sr. Wonka fez um barulho engraado com a boca, como se estivesse assoprando, e, semesforo, deslizou como um pssaro pelo Elevador, at os botes preto e branco, e l ficoupairando.

    Vov Jos, por favor, coloque-se ali, ao lado daquele boto prateado... isso, essemesmo... E voc, Charlie, fique flutuando ali, ao lado daquele boto dourado perto do teto. Bem,cada um desses botes faz disparar foguetes de um lugar diferente, fora do Elevador. assim quevamos mudar de direo. Os foguetes do Vov Jos nos fazem virar para estibordo, direita. Osfoguetes do Charlie nos fazem virar para bombordo, esquerda. Os meus nos fazem voar maisalto ou mais baixo, mais depressa ou mais devagar. Preparados?

    No! Espere! gritou Charlie, que estava flutuando exatamente a meio caminho entreo cho e o teto. Como fao para subir? No consigo chegar at o teto!

    O menino agitava os braos e as pernas violentamente, como um nadador se afogando,mas no conseguia sair do lugar.

    Ora, menino disse o Sr. Wonka. Aqui dentro no d para nadar. Isso no gua. ar, e ar muito ralo. No h nada que voc possa empurrar para tomar impulso. Por isso preciso usar propulso a jato. Olhe para mim. Primeiro, respire fundo, depois forme umburaquinho redondo com a boca e sopre o mais forte que puder. Se voc soprar para baixo, vaiser impelido para cima. Se soprar para a esquerda, vai disparar para a direita, e assim por diante.Voc vai conseguir manobrar a si mesmo como uma espaonave, s que usando sua boca comofoguete propulsor.

    De repente todos comearam a exercitar aquele jeito de voar, e no Elevador s se ouviamos sopros e fungos dos passageiros. Vov Jorgina, com sua camisola de flanela e as pernas magrase peladas para fora, trombeteando e bufando como um rinoceronte, voava de um lado para ooutro e gritava:

    Saiam da frente! Saiam da minha frente!No fim, ela acabou trombando com os coitados do Sr. Bucket e da Sra. Bucket, na maior

    velocidade.Vov Jorge e Vov Jorgina faziam a mesma coisa. Imaginem s o que os milhes de

    pessoas l embaixo na Terra estavam achando ao ver aquela loucura toda na televiso. Ainda porcima, elas no enxergavam as coisas com muita nitidez. Na tela, o Grande Elevador de Vidro erado tamanho de uma laranja, e as pessoas l dentro, meio embaadas atravs do vidro, eram dotamanho das sementes da laranja. Mesmo assim, os espectadores as viam zumbindo agitadas deum lado para o outro, como insetos numa caixa de vidro.

    O que que eles esto fazendo? gritou o Presidente dos Estados Unidos, de olhosgrudados na televiso.

    Parece uma espcie de dana de guerra, Sr. Presidente respondeu o astronauta Shutepelo rdio.

  • Est querendo dizer que eles so ndios peles-vermelhas? Eu no disse isso, senhor. Disse, sim, Shute. No, eu no disse, Sr. Presidente. Silncio! disse o Presidente. Est me deixando confuso.L no Elevador, o Sr. Wonka estava dizendo: Por favor! Por favor! Parem de voar! Fiquem em seus lugares para podermos continuar a

    abordagem! Maldita sardinha velha! disse Vov Jorgina, que passou navegando ao lado dele.

    Justo agora que comeamos a nos divertir um pouco, voc est querendo interromper!

    Olhem todos para mim! gritou Vov Josefina. Estou voando! Eu sou uma guiadourada!

    Sei voar mais depressa do que vocs todos! gritou Vov Jorge, zumbindo emcrculos, com a camisola flutuando atrs dele como um rabo de papagaio.

    Vov Jorge! gritou Charlie. Acalme-se, por favor. Se no agirmos depressa,aqueles astronautas vo chegar antes de ns. Vocs no querem ver o Hotel Espacial por dentro?

    Saiam da frente! gritou Vov Jorgina, soprando-se para trs e para a frente. Souum jato jumbo!

    A senhora um morcego velho maluco! disse o Sr. Wonka.No fim, os velhos estavam cansados e sem flego e todos pararam, em posio de

    flutuao. Tudo pronto, Charlie e Vov Jos? perguntou o Sr. Wonka. Tudo pronto, Sr. Wonka respondeu Charlie, pairando perto do teto. Vou dar as ordens disse o Sr. Wonka. Eu sou o piloto. No disparem seus

    foguetes enquanto eu no mandar. E no se esqueam de quem quem. Charlie, voc bombordo. Vov Jos, o senhor estibordo.

    O Sr. Wonka apertou um dos botes dele e imediatamente foguetes de propulsocomearam a disparar por baixo do Grande Elevador de Vidro. O Elevador se lanou para afrente, mas deu uma guinada violenta para a direita.

    A bombordo! berrou o Sr. Wonka.Charlie apertou o boto dele. Seus foguetes dispararam. O Elevador voltou sua rota.

  • Manter a rota! gritou o Sr. Wonka. Dez graus a estibordo!... Manter!... Manter!...

    Sempre em frente!...Logo estavam voando bem embaixo da cauda do enorme Hotel Espacial prateado. Esto vendo aquela portinha quadrada, com parafusos? disse o Sr. Wonka.

    Aquela a entrada de abordagem. Agora falta pouco... Uma frao a bombordo!... Manter!... Umpouco a estibordo... timo... timo... Agora est fcil... estamos quase conseguindo...

    Charlie tinha a sensao de estar num barquinho a remo minsculo embaixo do casco domaior navio da mundo. O Hotel Espacial erguia-se enorme por cima deles.

    No vejo a hora de entrar e ver como ele sussurrou Charlie.

  • 4O Presidente Oitocentos metros atrs, Shaton, Shokant e Shute mantinham a cmara de televiso o tempotodo focalizando o Elevador de Vidro. No mundo todo, milhes e milhes de pessoas se reuniamem torno de seus televisores, assistindo nervosas ao drama que se desenrolava trezentos e oitentaquilmetros acima da Terra. Em seu escritrio da Casa Branca, estava Lancelote R. Capingord,Presidente dos Estados Unidos da Amrica, o homem mais poderoso do mundo. Naquelemomento de crise, os seus mais importantes assessores tinham sido convocados com urgncia, eagora estavam todos ali, seguindo de perto, no imenso telo, todos os movimentos daquelacpsula de vidro ameaadora e seus oito astronautas desvairados. O Gabinete em peso estavapresente. O Ministro do Exrcito estava ali, com mais quatro generais. Tambm estavam oMinistro da Marinha, o Ministro da Aeronutica e um engolidor de espadas do Afeganisto, queera o melhor amigo do Presidente. Tambm estava o Ministro das Finanas, em p no meio dasala, tentando equilibrar na cabea o oramento, que insistia em cair. Quem estava mais perto doPresidente era a Vice-Presidente, uma senhora enorme, de oitenta e nove anos, com barba noqueixo. A Vice-Presidente tinha sido bab do Presidente quando ele era beb. Chamava-sesenhorita Tibrcia e era a eminncia parda do governo, isto , a pessoa que de fato tinha poder einfluenciava o Presidente. Ela no suportava que ningum perdesse a cabea. Diziam que eramais severa com o Presidente agora do que quando ele era menino. Era o terror da Casa Branca eat o Chefe do Servio Secreto ficava morrendo de medo quando ela o convocava. S oPresidente tinha permisso para cham-la de B. A famosa gata do Presidente, Sra. Sabichana,tambm estava na sala.

    No gabinete presidencial, o silncio era absoluto. Todos os olhos estavam grudados na telade TV quando o minsculo objeto de vidro, disparando os foguetes de propulso, chegousuavemente por trs do imenso Hotel Espacial.

    Eles vo acoplar! gritou o Presidente. Eles vo subir a bordo do nosso HotelEspacial!

    Vo explodi-lo! gritou o Ministro do Exrcito. Vamos explodi-los antes! Crash,bang, glop, bum-bum-bum-bum.

    As faixas e medalhas que o Ministro do Exrcito trazia penduradas no peito cobriam todaa frente de sua tnica, dos dois lados, e se espalhavam at sua cala.

    Vamos l, Sr. Presidente, vamos realizar algumas super-hiper-exploses de verdade! Silncio, menino bobo! disse a Srta. Tibrcia, e o Ministro do Exrcito se encolheu

    num canto.

  • Ouam disse o Presidente , a questo a seguinte: Quem so eles? De onde eles vm?Onde est meu Espio-chefe?

    Aqui, Sr. Presidente respondeu o Espio-chefe. Ele tinha bigode postio, barbapostia, clios postios, dentes postios e voz de falsete.

    Toc-toc! disse o Presidente. Quem ? disse o Espio-chefe. Estcio. Estcio de qu? Estcio cupando? disse o Presidente. Houve um breve silncio. O Presidente lhe fez uma pergunta disse a Srta. Tibrcia, com voz fria. Estcio

    cupando de alguma coisa? No, minha senhora disse o Espio-chefe, se retorcendo todo. Bem, ento comece rosnou a Srta. Tibrcia. Isso mesmo disse o Presidente. Diga-me imediatamente quem so aquelas

    pessoas na cpsula de vidro! Ah! disse o Espio-chefe, retorcendo o bigode postio. Essa uma questo

    muito difcil. Est querendo dizer que no sabe? Estou querendo dizer que sei, Sr. Presidente. Pelo menos acho que sei. Oua.

    Acabamos de lanar o hotel mais fantstico do mundo, certo? Certo! E quem pode estar com tanto cime desse hotel maravilhoso a ponto de querer

    explodi-lo? A Srta. Tibrcia disse o Presidente. Errado disse o Espio-chefe. Tente de novo. Bem disse o Presidente, depois de pensar muito. Nesse caso, ser que no

    algum outro proprietrio de hotel que est morrendo de inveja do nosso lindo hotel? Brilhante! exclamou o Espio-chefe. Continue, Presidente. Est esquentando. o Sr. Savoy! disse o Presidente. Est esquentando, Sr. Presidente. O Sr. Ritz! Est esquentando, Sr. Presidente. Est fervendo! Continue! Adivinhei! gritou o Presidente. o Sr. Hilton! Muito bem, senhor! disse o Espio-chefe. Tem certeza de que ele? Certeza eu no tenho, mas no deixa de ser muito possvel, Sr. Presidente. Afinal o Sr.

    Hilton tem hotis em quase todos os pases do mundo, mas no tem nenhum no espao. Ele deveestar louquinho de inveja!

    Com efeito, precisamos confirmar isso! esbravejou o Presidente, pegando um dosonze telefones da sua escrivaninha. Al, al, al! Onde est a telefonista? apertandoinsistentemente aquela pecinha que a gente aciona quando quer falar com a telefonista. Telefonista, onde voc foi parar?

    Vai ser difcil responderem agora! disse a Srta. Tibrcia. Esto todos vendoteleviso.

    Bem, esta vai responder! disse o Presidente, tirando do gancho um telefonevermelho. Era a linha direta com o Primeiro-ministro da Rssia Sovitica, em Moscou. Estava

  • sempre aberta e s era usada em casos gravssimos. Tanto podem ser os russos como o Sr.Hilton continuou o Presidente. Concorda, B?

    Com certeza vo ser os russos disse a Srta. Tibrcia. Primeiro-ministro Peguenov falando disse a voz de Moscou. O que aconteceu,

    Presidente? Toc-toc disse o Presidente. Quem fala? disse o Primeiro-ministro sovitico. o Guerra. Guerra de qu? Guerra e paz, de Tolstoi disse o Presidente. Escute aqui, Peguenov, pegue

    aqueles oito astronautas seus e tire-os imediatamente do nosso Hotel Espacial! Seno, Peguenov,ns que vamos pegar nove, eles e mais voc!

    Aqueles astronautas no so russos, Sr. Presidente. Mentira dele disse a Srta. Tibrcia. Mentira sua disse o Presidente. Mentira coisa nenhuma disse o Primeiro-ministro Peguenov. J olhou bem para

    aqueles astronautas dentro da caixa de vidro? No consigo v-los muito bem na minha tela, masum deles, o baixinho de barbicha e cartola, tem cara de chins. Na verdade, acho que ele se parecemuito com meu amigo Primeiro-ministro da China...

    Droga! gritou o Presidente, batendo o telefone vermelho e pegando o de porcelana.O telefone de porcelana tinha ligao direta com o Chefe da Repblica Chinesa em Pequim.

    Al, al, al! disse o Presidente. Ping Peixaria e Quitanda de Xangai disse uma vozinha distante. Sr. Ping falando. B! gritou o Presidente, batendo o telefone. Pensei que esta linha fosse direta

    com o Primeiro-ministro! E disse a Srta. Tibrcia. Tente outra vez. O Presidente tirou de novo o fone do

    gancho. Al! ele berrou. Sr. Pong falando disse uma voz do outro lado. Sr. Quem? gritou o Presidente. Sr. Pong, chefe de estao, Piuing. Se quel sabel soble o tlem das dez holas, o tlem das

    dez holas no funciona hoje. A caldeila explodiu.

  • O Presidente jogou o telefone no Diretor Geral de Comunicaes, que estava do outrolado da sala. O telefone acertou o estmago dele.

    O que est acontecendo com esse negcio? gritou o Presidente.

  • muito difcil falar com a China, Presidente. Ora cai num Ping, ora num Pong. Umverdadeiro pingue-pongue.

    No brinque comigo disse o Presidente.O Diretor Geral de Comunicaes ps o telefone de volta em cima da mesa. Tente mais uma vez, por favor, Sr. Presidente dei uma apertada nos parafusos.Mais uma vez, o Presidente tirou o fone do gancho. Meus cumplimentos, Sr. Plesidente disse ao longe uma vozinha macia. Aqui o

    Vice-plimeilo-ministlo Ra-Pi-Din. O que posso fazer pelo senhor? Toc-toc disse o Presidente. Quem ? Caio. Caio de qu? Caio sempre que subo na Muralha da China disse o Presidente. Muito bem, Ra-

    Pi-Din. Quero falar com o Primeiro-ministro Tu-Vai-Bin. Sinto muito, Plimeilo-ministlo Tu-Vai-Bin no est agola, Sr. Plesidente. Onde ele est? Saiu pala consertar o pneu da bicicleta. Ah, no nada disso disse o Presidente. Voc no me engana, seu mandarim

    espertalho. Neste exato momento ele est entrando no nosso magnfico Hotel Espacial commais sete ces furiosos para explodi-lo!

    Desculpe, pol favol, Sr. Plesidente. O Sr. est cometendo um elo... Erro coisa nenhuma! grunhiu o Presidente. E se no mand-los sair de l agora

    mesmo vou ordenar ao meu Ministro do Exrcito que os faa explodir e sumir para sempre.Vamos, rapidinho, Ra-Pi-Din.

    Vivaaa! disse o Ministro do Exrcito. Vamos explodir todo o mundo! Bang-bang! Bang-bang!

    Silncio! urrou a Srta. Tibrcia.

  • Consegui! gritou o Ministro das Finanas. Vejam todos! Equilibrei o oramento!De fato, ele tinha conseguido. Estava em p no meio da sala, todo orgulhoso, com o

    imenso oramento de duzentos bilhes de dlares equilibrado bem em cima da careca. Todosbateram palmas. Ento, de repente a voz do astronauta Shaton irrompeu com urgncia no alto-falante do rdio no escritrio do Presidente.

    Eles acoplaram e subiram a bordo! gritou Shaton. E levaram junto a cama... querdizer, a bomba!

    O Presidente abriu a boca, aspirou fundo e engasgou com uma mosca que ia passandobem naquela hora. A Srta. Tibrcia bateu em suas costas, ele engoliu a mosca e se sentiu melhor.Mas o Presidente estava muito zangado. Pegou lpis e papel e comeou a fazer um desenho.Enquanto desenhava ia resmungando:

    No posso tolerar moscas no meu escritrio. No posso conviver com elas.Seus assessores esperavam ansiosos. Sabiam que o chefe estava prestes a oferecer ao

    mundo mais uma de suas invenes brilhantes. A ltima tinha sido o Saca-rolhas Capingord paracanhotos, aclamado pelos canhotos do pas inteiro como uma das maiores ddivas do sculo.

    Pronto! disse o Presidente, levantando o papel. Esta a Armadilha de MoscasCapingord!

    Todos se aproximaram para ver. A mosca sobe pela escada da esquerda disse o Presidente. Ela anda pela tbua.

    Depois pra, funga, sente um cheiro bom. Espia pela beirada e v o torro de acar. Ento elaexclama: Ah! Acar! Prepara-se para descer pelo barbante quando v a vasilha de guaembaixo. Ela exclama: Oho! uma armadilha! Eles querem que eu caia l dentro! Ela continuaandando, pensando que uma mosca muito esperta. Mas, como vocs vem, tirei um dos degrausda escada pela qual ela vai descer. Ento a mosca cai e quebra o pescoo.

    Sensacional, Sr. Presidente! exclamaram todos. Fantstico! Um golpe de gnio!

  • Quero encomendar cem mil para o Exrcito, imediatamente disse o Ministro doExrcito.

    Obrigado! disse o Presidente, anotando a encomenda. Repito disse a voz ansiosa de Shaton no alto-falante. Eles subiram a bordo e

    levaram a bomba junto! Fique longe deles, Shaton ordenou o Presidente. No h razo para ir para os

    ares com seus rapazes tambm.Ento, no mundo todo, milhes de espectadores, mais tensos do que nunca, aguardavam

    os acontecimentos na frente de seus televisores. A imagem de suas telas, em cores vivas, mostravao sinistro caixote de vidro firmemente amarrado barriga do gigantesco Hotel Espacial. Pareciaum minsculo filhote de animal grudado me. E, quando a cmara deu um zoom, todospuderam ver claramente que a caixa de vidro estava completamente vazia. Os oito bandidostinham entrado no Hotel Espacial, levando a bomba com eles.

  • 5Homens de Marte Dentro do Hotel Espacial no se flutuava. O aparelho de produzir gravidade era o responsvelpor isso. Assim, depois que a acoplagem foi realizada com sucesso, o Sr. Wonka, Charlie, VovJos, o Sr. Bucket e a Sra. Bucket puderam sair andando do Grande Elevador de Vidro e entrarno saguo do hotel. Quanto a Vov Jorge, Vov Jorgina e Vov Josefina, fazia mais de vinteanos que nenhum deles punha os ps no cho, e certamente no iriam mudar de hbito agora.Ento, quando pararam de flutuar, os trs se enfiaram de volta na cama e insistiram para que acama fosse levada junto com eles para dentro do Hotel Espacial.

    Charlie examinou o imenso saguo sua volta. No cho, havia um grosso carpete verde.Vinte lustres reluzentes pendiam do teto. As paredes estavam cobertas de quadros valiosos e portoda parte havia poltronas fofas e imensas. No fundo do saguo, viam-se as portas de cincoelevadores. Todos permaneciam em silncio, assombrados diante de tanto luxo. Ningum ousavafalar. O Sr. Wonka tinha alertado que cada palavra que dissessem seria captada pelo ControleEspacial de Houston, portanto era preciso ter cuidado. Um zumbido fraco vinha de algum lugardebaixo do piso, mas aquilo s tornava o silncio mais fantasmagrico. Charlie agarrou a mo deVov Jos e a segurou com fora. Na verdade, no estava gostando muito daquilo. Tinhamacabado de entrar no maior engenho jamais construdo pelo homem, propriedade do governodos Estados Unidos. Se fossem descobertos e capturados, como decerto acabariam sendo, o queiria acontecer com eles? Priso perptua? Sim, ou alguma coisa pior.

    O Sr. Wonka escreveu alguma coisa em seu caderninho. Depois o levantou para todoslerem: ALGUM EST COM FOME?

    Os trs velhos na cama comearam a agitar os braos, balanar a cabea e abrir e fechar aboca. Sr. Wonka virou a folha. Do outro lado estava escrito: AS COZINHAS DESTE HOTELESTO CHEIAS DE COMIDAS DELICIOSAS: LAGOSTAS, FILS, SORVETE. VAMOSFAZER UMA FESTA DE ARROMBA.

    De repente, uma voz trovejante saiu de um alto-falante escondido em algum lugar dorecinto.

    ATENO! trovejou a voz.Charlie deu um pulo. Vov Jos tambm. Todos eles pularam, at o Sr. Wonka. ATENO, OITO ASTRONAUTAS ESTRANGEIROS! ESTE O CONTROLE

    ESPACIAL DE HOUSTON, TEXAS, ESTADOS UNIDOS DA AMRICA! VOCSESTO INVADINDO UMA PROPRIEDADE AMERICANA! ORDENAMOS QUE SEIDENTIFIQUEM IMEDIATAMENTE! AGORA FALEM!

    Pssss! fez o Sr. Wonka, com o dedo nos lbios.

  • Seguiram-se alguns minutos de silncio assustador. Ningum fazia nada. S o Sr. Wonkacontinuava fazendo:

    Psss! Psss! QUEM... SO... VOCS? trovejou a voz de Houston, e o mundo todo ouviu.

    REPITO... QUEM... SO... VOCS? gritou a voz, ansiosa e zangada.E quatro milhes de pessoas se amontoavam diante de seus televisores, esperando uma

    resposta dos seres misteriosos que estavam no Hotel Espacial. A televiso no conseguia mostrara imagem dos estrangeiros misteriosos. No havia cmara no interior do hotel para registrar acena. S as palavras eram transmitidas. Os telespectadores s viam a parte externa do gigantescohotel em rbita, evidentemente fotografada por Shaton, Shokant e Shute, que continuavam maisatrs. Durante meio minuto, o mundo esperou por uma resposta.

    Mas no houve resposta. FALEM! trovejou a voz, cada vez gritando mais, at que por fim se transformou

    num grito aterrador que fez vibrar os tmpanos de Charlie. FALEM! FALEM! FALEM!Vov Josefina se escondeu debaixo do lenol. Vov Jorgina tampou os ouvidos com os

    dedos. Vov Jorge cobriu a cabea com o travesseiro. O Sr. e a Sra. Bucket, petrificados, maisuma vez se abraaram. Charlie apertava a mo do Vov Jos, e os dois encaravam o Sr. Wonka,pedindo com os olhos para que ele fizesse alguma coisa. O Sr. Wonka ficou muito quieto e,embora sua expresso estivesse muito tranqila, com certeza seu crebro esperto e inventivoestava trabalhando como um dnamo.

    ESTA SUA LTIMA CHANCE! trovejou a voz. VAMOS PERGUNTARMAIS UMA VEZ: QUEM... SO... VOCS? RESPONDAM IMEDIATAMENTE! SE NORESPONDEREM SEREMOS OBRIGADOS A TRAT-LOS COMO INIMIGOSPERIGOSOS. ACIONAREMOS O BOTO DO FREEZER DE EMERGNCIA E ATEMPERATURA NO HOTEL ESPACIAL CAIR PARA CEM GRAUS ABAIXO DEZERO. TODOS VOCS SE CONGELARO IMEDIATAMENTE. VOCS TMQUINZE SEGUNDOS PARA FALAR. DEPOIS DISSO SE TRANSFORMARO EMPEDRAS DE GELO... UM... DOIS... TRS...

    Vov sussurrou Charlie, enquanto a contagem continuava , precisamos fazeralguma coisa! Precisamos! Depressa!

    SEIS! disse a voz. SETE!... OITO!... NOVE!...O Sr. Wonka continuava sem se mexer. Ainda estava olhando fixo para a frente, sempre

    muito calmo, com uma expresso totalmente vazia. Charlie e Vov Jos olhavam para eleapavorados. Ento, de repente, viram as minsculas ruguinhas de um sorriso surgirem nos cantosde seus olhos. Ele voltou vida. Girou sobre os ps, deu alguns passos e ento, numa espcie deguincho extraterrestre, comeou a gritar:

    FIMBO FIZ!O alto-falante parou a contagem. Fez-se silncio. O mundo todo ficou em silncio.Os olhos de Charlie fixaram-se no Sr. Wonka, que ia falar de novo. Ele respirou fundo. BUNGO BUNI! gritou o Sr. Wonka.Ele ps tanta fora na voz que at ficou na ponta dos ps. BUNGO BUNI DAFU DUNI IUBI LUNI!Novo silncio.Quando o Sr. Wonka voltou a falar, suas palavras saram rpidas, ntidas e altas, como se

    fossem tiros de metralhadora. ZUNK-ZUNK-ZUNK-ZUNK-ZMVK! ele esbravejou.

  • O som ecoou por todo o saguo do Hotel Espacial. O som ecoou pelo mundo inteiro.Sr. Wonka virou-se para o fundo do saguo e ficou de frente para o lugar de onde saa a

    voz do alto-falante. Avanou alguns passos, como faria algum que quisesse ter uma conversamais ntima com seus ouvintes. Dessa vez seu tom era mais tranqilo, as palavras saram maisdevagar, mas havia uma dureza de ao em cada slaba:

    KIRASOKO MALICOBO NOSSABIDO VOCESBOBO.ALIPENDA CACABIDA CALABAIXA SUSPENDIDA!FUIKIKA KANDECOTE NOSEFORTE CESFRACOTEPOPOKOTA BORUMOKA TEMPERIGO CESPROVOCA!KATIKATI LUAPARTE FANFINITO VENUSMARTE!

    O Sr. Wonka fez uma pausa dramtica, de alguns segundos. Depois respirou fundo, tomou

    flego, e com voz furiosa e assustadora berrou:KITIMBIBI ZUNK!FUMBOLESO ZUNK!GUGUMISA ZUNK!FUMIKAKA ZUNK!ANAPOLALA ZUNK ZUNK ZUNK!

  • Essas palavras tiveram um efeito de choque sobre o mundo. Na Sala de Controle em

    Houston, na Casa Branca em Washington, em palcios, edifcios e choupanas da Amrica Chinae ao Peru, os quinhentos milhes de indivduos que ouviram a voz feroz e assustadora berrandoaquelas palavras estranhas e misteriosas comearam a tremer de medo diante de seus televisores.Todos perguntavam a todos: Quem so eles? Que lngua era aquela? De onde eles vieram?

    No gabinete presidencial na Casa Branca, a Vice-Presidente Tibrcia, os membros doGabinete, os Ministros do Exrcito, da Marinha e da Aeronutica, o engolidor de espadas doAfeganisto, o Ministro das Finanas e a Srta. Sabichana, a gata, todos estavam tensos e imveis.Estavam apavorados. Mas o Presidente manteve a cabea fria e as idias claras.

    B ele gritou. Oh, B, o que vamos fazer? Vou lhe trazer um copo de leite quente disse a Srta. Tibrcia. Detesto isso! disse o Presidente. Por favor, no me faa beber leite quente! Convoque o Intrprete-chefe disse a Srta. Tibrcia. Convoque o Intrprete-chefe disse o Presidente. Onde est ele? Aqui, Sr. Presidente disse o Intrprete-chefe. Em que lngua aquela criatura estava falando, l no Hotel Espacial? Seja rpido! Era

    esquim? No era esquim, Sr. Presidente. Ah! Ento era taglogo! Ou taglogo ou ugro! No era taglogo, Sr. Presidente. Nem ugro. Ento era tulu? Ou tungo? Ou tupi?

  • No era tulu de jeito nenhum, Sr. Presidente. E tenho certeza absoluta de que no eratungo nem tupi.

    No fique a falando o que no era, idiota disse a Srta. Tibrcia. Diga o que era. Sim senhora, Srta. Vice-Presidente disse o Intrprete-chefe, tremendo. Acredite,

    Sr. Presidente, era uma lngua que nunca ouvi na minha vida. Mas eu pensei que voc conhecesse todas as lnguas do mundo! E conheo, Sr. Presidente. No minta, Intrprete-chefe. Como que voc pode conhecer todas as lnguas do

    mundo se no conhece essa? No uma lngua deste mundo, Sr. Presidente. Que absurdo! esbravejou a Srta. Tibrcia. Eu mesma entendi alguma coisa! Aquelas pessoas, Srta. Vice-Presidente, obviamente tentaram aprender algumas das

    nossas palavras mais simples, mas aquela lngua nunca foi ouvida antes neste mundo! Com mil escorpies! gritou o Presidente. Est querendo me dizer que eles

    podem ter vindo de... de... de outro lugar? Exatamente, Sr. Presidente. De onde, por exemplo? Quem pode saber? disse o Intrprete-chefe. Mas o senhor notou, Sr. Presidente,

    que eles usaram as palavras Vnus e Marte? Claro que notei disse o Presidente. E da? Ah! Entendi aonde est querendo

    chegar! Minha nossa! Homens de Marte! de Vnus! disse o Intrprete-chefe. Isso poderia complicar as coisas disse o Presidente. Poderia mesmo! disse o Intrprete-chefe. Ele no estava falando com voc disse a Srta. Tibrcia. O que vamos fazer agora, General? disse o Presidente. Vamos explodi-los! gritou o General. Est sempre querendo explodir as coisas disse o Presidente, irritado. No

    consegue ter alguma outra idia? Gosto de explodir as coisas disse o General. faz um barulho to lindo: Vump-

    vump! No seja bobo! disse a Srta. Tibrcia. Se explodir essas pessoas, Marte vai

    declarar guerra contra ns! E Vnus tambm! Tem razo, B disse o Presidente. Seramos decapitados como perus, todos ns!

    Seramos esmagados como batatas! Vou dar um jeito neles gritou o Ministro do Exrcito. Cale a boca! cortou a Srta. Tibrcia. Est despedido! Viva! disseram todos os outros generais. Muito bem, Srta. Vice-Presidente.A Srta. Tibrcia disse: Devemos tratar essa gente com toda a gentileza. Aquele que falou parecia extremamente

    irritado. Devemos ser bem educados com eles, trat-los bem, deix-los satisfeitos. A ltima coisaque desejamos ser invadidos por homens de Marte! Precisa falar com eles, Sr. Presidente. Diga aHouston que queremos outra ligao direta por rdio com o Hotel Espacial. E depressa!

  • 6Convite para ir Casa Branca Agora o Presidente dos Estados Unidos vai dirigir-se a vocs anunciou a voz do alto-falante no saguo do Hotel Espacial.

    Vov Jorgina espiou cautelosamente para fora do lenol. Vov Josefina tirou os dedos dosouvidos. Vov Jorge tirou a cabea de baixo do travesseiro.

    Quer dizer que ele vai mesmo falar conosco? sussurrou Charlie. Psss! disse o Sr. Wonka. Ouam! Caros amigos disse a j conhecida voz presidencial no alto-falante. Caros amigos,

    queridos amigos! Bem-vindos ao Hotel Espacial U.S.A. Parabns aos valentes astronautas de Martee Vnus...

    Marte e Vnus! sussurrou Charlie. Quer dizer que ele pensa que ns somos de... Psss-sss-sss! fez o Sr. Wonka. Ele estava se dobrando de rir em silncio, se

    sacudindo todo e pulando no lugar, de um p para o outro. Vocs percorreram um longo caminho continuou o Presidente. Por que no

    caminham um pouquinho mais e vm nos fazer uma visita aqui embaixo, em nossa Terrahumilde? Convido vocs oito para passarem uns dias aqui em Washington, como meus hspedesde honra. Podero pousar com esse maravilhoso engenho areo de vidro no gramado atrs daCasa Branca. Sero recebidos com o tapete vermelho estendido. Espero que conheam nossalngua suficientemente para poderem me entender. Aguardo sua resposta ansiosamente...

    Ouviu-se um clique e o Presidente saiu do ar. Que coisa fantstica! sussurrou Vov Jos. A Casa Branca, Charlie! Fomos

    convidados para ir Casa Branca como hspedes de honra!Charlie e o Vov Jos saram danando de mos dadas pelo saguo do hotel. O Sr.

    Wonka, ainda se chacoalhando de tanto rir, sentou-se na cama e fez sinal para todos se reuniremem torno dele, para poderem cochichar sem serem ouvidos pelos microfones ocultos.

    Eles esto morrendo de medo sussurrou. No vo nos incomodar mais. Ento,vamos fazer aquela festa da qual estvamos falando e depois podemos explorar o hotel.

    No vamos Casa Branca? sussurrou Vov Josefina. Eu quero ir Casa Brancae ficar com o Presidente.

    Minha querida velhinha maluca disse o Sr. Wonka. A senhora se parece tantocom um marciano quanto um percevejo! Eles iam perceber na mesma hora que tinham sidoenganados. Seramos presos antes de dizer bom-dia.

    O Sr. Wonka tinha razo. No podiam aceitar de jeito nenhum o convite do Presidente, etodos sabiam disso.

  • Mas temos de dizer alguma coisa Charlie sussurrou. Neste momento o Presidentedeve estar sentado na Casa Branca, esperando ansioso por uma resposta.

    Dem uma desculpa disse o Sr. Bucket. Digam que temos um compromisso disse a Sra. Bucket. Tm razo sussurrou o Sr. Wonka. falta de educao ignorar um convite.Sr. Wonka se levantou e deu alguns passos. Ficou em silncio e pensativo durante um ou

    dois minutos. Depois, novamente Charlie viu aquelas ruguinhas sorridentes nos cantos dos olhosdele. Ento o Sr. Wonka comeou a falar, dessa vez com uma voz de gigante, uma voz grave emisteriosa. Ele falava alto e muito devagar:

    No pntano de lodo, angstia e ameaa,No barro vil, na lama lamenta e na terra baa,Na hora do terror em que a bruxa passa,Os grobos bobos saem da fumaa.Oua seu suave lamento,Escorregando no cho lamacento,O corpo oleoso e grudentoLameando-se em escuro tormento.Que correria! Oh, pesadelo,Pelo limo, pela lama, com lodo no plo,Se arrastam, se agitam, que atropelo!Os grobos se enroscam como novelo! No seu gabinete, trezentos e oitenta quilmetros abaixo, o Presidente ficou mais branco

    do que a Casa Branca. Macaquinhos me penteiem! ele gritou. Acho que esto vindo atrs de ns. Oh, por favor, deixe-me explodi-los! disse o ex-Ministro do Exrcito. Silncio! disse a Srta. Tibrcia. J para o canto, de castigo!No saguo do Hotel Espacial, o Sr. Wonka fez uma pausa, simplesmente para pensar num

    outro versinho. J ia comear a recitar, quando um berro assustado o paralisou. Era VovJosefina. Estava sentada na cama, apontando para os elevadores no fundo do saguo. Ela berroude novo, sempre apontando, e todos os olhos se voltaram para os elevadores. A porta do elevadorda esquerda ia se abrindo devagarinho e todos puderam ver claramente que havia alguma coisa...uma coisa gorda... uma coisa marrom... no bem marrom, mas marrom-esverdeada... uma coisa depele viscosa e olhos enormes... agachada dentro do elevador!

  • 7Uma criatura estranha no elevador Vov Josefina parou de berrar. Ficou dura, em estado de choque. O resto do grupo, ao lado dacama, estava imvel feito pedra inclusive Charlie e o Vov Jos. Ningum ousava se mexer.Eles mal ousavam respirar. E o Sr. Wonka, que tinha se virado rapidamente para olhar ao ouvir oprimeiro grito, estava to perplexo quanto os outros. Imvel, olhava fixamente a coisa doelevador, com a boca entreaberta, os olhos arregalados como duas rodas. O que ele viu, o quetodos viram, foi nada mais nada menos do que isto:

    Parecia um ovo enorme, equilibrado sobre sua extremidade mais pontuda. Tinha a alturade um menino grande e a largura de um homem gordo. Sua pele marrom-esverdeada tinha umbrilho de umidade e era toda enrugada. A trs quartos de sua altura, de baixo para cima, na partemais larga, havia dois olhos grandes e redondos, do tamanho de dois pires. Os olhos erambrancos, com uma pupila vermelha e brilhante bem no centro. As duas pupilas vermelhasencararam o Sr. Wonka. Depois comearam a se mover lentamente, passando por Charlie, VovJos e os outros, na cama, fixando neles um olhar frio e maldoso. Os olhos eram tudo. No haviaoutros traos: no havia nariz, nem boca, nem orelhas. O corpo em forma de ovo se moviamuito, muito devagar, pulsando e se encrespando aqui e ali, como se a pele estivesse cheia dealgum lquido grosso.

    Nesse momento, Charlie notou que o outro elevador estava descendo. O painel acima daporta mostrava... 6... 5... 4... 3... 2... 1... S (de saguo). Houve uma pausa breve. A porta se abriu el estava, dentro do segundo elevador, um outro ovo enorme, enrugado e viscoso, com doisolhos!

  • Agora os nmeros apareciam nos painis acima das portas dos trs outros elevadores, que

    vinham descendo... descendo... descendo... Ento, exatamente ao mesmo tempo, eles chegaram aoandar do saguo e suas portas se abriram... Agora eram cinco portas abertas... uma criatura emcada elevador... cinco ao todo... e cinco pares de olhos com pupilas vermelhas e brilhantes,olhando fixamente o Sr. Wonka, Charlie, Vov Jos e os outros.

    Havia ligeiras diferenas de tamanho e forma entre os cinco, mas todos tinham a mesmapele marrom-esverdeada e enrugada, e todos se encrespavam e pulsavam.

    Durante uns trinta segundos nada aconteceu. Ningum se mexia, ningum emitia um som.O silncio era terrvel. O suspense tambm. Charlie estava to assustado que se sentia encolherpor dentro. Ento ele viu que a criatura no elevador da esquerda comeou a mudar de forma! Seucorpo foi se alongando, se afinando e foi se erguendo na direo do teto do elevador. Mas nosubiu em linha reta: curvou-se graciosamente para a esquerda, como uma cobra, e no alto seenrolou para a direita e foi descendo de novo, formando um semicrculo... depois a parte de baixofoi crescendo, como um rabo... esticando-se pelo cho... esticando-se pelo cho para a esquerda...at que finalmente a criatura, que no incio parecia um ovo imenso, ficou parecendo umaserpente comprida e encurvada, apoiada no rabo.

    Depois a criatura do elevador ao lado tambm foi se esticando, do mesmo jeito. Era umacoisa esquisita e meio nojenta de se ver! Ela foi se contorcendo e se moldando numa forma umpouco diferente da primeira, at finalmente se equilibrar na ponta do rabo.

    Finalmente, as trs outras criaturas comearam a se esticar todas ao mesmo tempo, cadauma se espichando, se alongando, se afinando, se contorcendo, se encurvando e se dobrando,acabando por se equilibrar de uma maneira diferente. Quando todas pararam de se mexer, suaforma era esta:

  • Sumam! gritou o Sr. Wonka. Vamos dar o fora, depressa! Nunca ningum correu tanto quanto Vov Jos, Charlie, o Sr. Bucket e a Sra. Bucket

    naquela hora. Todos foram para trs da cama e passaram a empurr-la como loucos. O Sr.Wonka corria na frente, gritando:

    Sumam! Sumam! Sumam!Em exatos dez segundos estavam todos fora do saguo, de volta ao Grande Elevador de

    Vidro. Apressado, o Sr. Wonka comeou a soltar parafusos e apertar botes. A porta do GrandeElevador de Vidro se fechou e a mquina inteira comeou a sair de lado. Estavam salvos! E claro que todos eles, inclusive os trs velhinhos da cama, voltaram a flutuar.

  • 8Os Cnidos Vermicosos Oh, minha nossa! suspirou o Sr. Wonka. Oh, minha cala sem cinto! Oh, meu cinto semala! Oh, minha gata descala! Nunca mais quero ver uma coisa daquelas!

    Ele flutuou at o boto branco e o apertou. Os foguetes propulsores dispararam. OElevador avanou numa velocidade to grande, que logo o Hotel Espacial desapareceu atrsdeles.

    Mas quem eram aquelas criaturas horrorosas? perguntou Charlie. Quer dizer que voc no sabe! exclamou o Sr. Wonka. Ainda bem, sorte sua. Se

    voc tivesse uma leve idia dos horrores a que esteve exposto, o tutano teria escorrido de seusossos! Ficaria fossilizado de pavor e grudado ao cho! E eles teriam pegado voc! Eles o teriamcortado em pedacinhos, ralado feito queijo e transformado em flocos! Teriam feito colares comsuas falanges e pulseiras com seus dentes. Pois aquelas criaturas, meu pobre garoto ignorante, soas feras mais brutais, nocivas e assassinas de todo o universo.

    O Sr. Wonka fez uma pausa e passou a ponta da lngua rosada em torno dos lbios. CNIDOS VERMICOSOS! ele gritou. isso que eles so!Ele pronunciou bem o C... Assim: CNIDOS. Pensei que fossem grobos disse Charlie. Aqueles grobos bobos e grudentos de

    que o senhor falou ao Presidente. Que nada, aqueles eu s inventei para assustar a Casa Branca respondeu o Sr.

    Wonka. Mas os Cnidos Vermicosos no so inveno, pode acreditar. Como todos sabem, elesvivem no planeta Vermes, que fica a trinta mil quatrocentos e vinte e sete bilhes de quilmetrosdaqui, e so monstros muito, muito espertos. O Cnido Vermicoso pode assumir a forma quedesejar. Ele no tem ossos. Seu corpo, na verdade, um msculo imenso, extremamente forte,mas muito elstico e flexvel. como se fosse uma mistura de borracha e polainas de couro comarame de ao por dentro. Normalmente ele tem forma de ovo, mas tambm pode criar duaspernas como um ser humano ou quatro patas como um cavalo. Pode se tornar redondo comouma bola ou comprido como uma linha de pipa. A uma distncia de cinqenta metros, um CnidoVermicoso capaz de esticar o pescoo e arrancar a cabea de algum com uma mordida, semsair do lugar!

    Com uma mordida? disse Vov Jorgina. Mas parece que eles no tm boca. Eles mordem com outras coisas disse o Sr. Wonka. Com o qu, por exemplo? perguntou Vov Jorgina. Chega disse o Sr. Wonka , seu tempo est esgotado. Agora ouam todos, vejam

    s que engraado: eu quis pregar uma pea no Presidente e fingir que ramos criaturas de algum

  • outro planeta, e na verdade havia mesmo criaturas de outro planeta a bordo! O senhor acha que eles eram muitos? perguntou Charlie. Mais do que os cinco

    que ns vimos? Milhares! disse o Sr. Wonka. H quinhentos apartamentos no Hotel Espacial, e

    provavelmente h uma famlia deles em cada apartamento. Algum vai ter uma surpresa desagradvel ao subir a bordo! disse Vov Jos. Todos sero devorados como amendoins disse o Sr. Wonka. Um por um. O senhor no est falando srio, no mesmo, Sr. Wonka? disse Charlie. Claro que estou disse o Sr. Wonka. Esses Cnidos Vermicosos so o terror do

    Universo. Eles vagueiam em enxames pelo espao, aterrissando em outros astros e planetas edestruindo tudo o que encontram. H muito tempo, havia criaturas muito simpticas, quemoravam na Lua. Eram chamadas Puzas. Mas os Cnidos Vermicosos devoraram todas elas.Fizeram a mesma coisa em Vnus, Marte e outros planetas.

    Por que eles no desceram at a Terra e nos devoraram? perguntou Charlie. Bem que tentaram, Charlie. Muitas vezes. Mas nunca conseguiram. A Terra envolvida

    por uma imensa camada de ar e gs, e tudo o que se choca contra ela em grande velocidade virabrasa. As cpsulas espaciais so feitas de um material especial, prova de calor. E, quando elasvoltam, sua velocidade se reduz a cerca de trs mil quilmetros por hora, primeiro porretrofoguetes e depois por uma coisa chamada atrito. Mesmo assim, as cpsulas chegamseriamente chamuscadas. Os Cnidos, que no so prova de calor e no tm retrofoguetes, seincendeiam totalmente antes de chegar. Voc j viu uma estrela cadente?

    Um monte disse Charlie. Na verdade, elas no so estrelas cadentes disse o Sr. Wonka. So Cnidos

    cadentes. So Cnidos em chamas, por terem tentado atravessar a atmosfera da Terra em altavelocidade.

    Que bobagem disse Vov Jorgina. Ento espere para ver disse o Sr. Wonka. Vai ver isso acontecer antes do

    amanhecer. Mas, j que eles so to ferozes e perigosos, por que no nos devoraram l no Hotel

    Espacial? perguntou Charlie. Por que perderam tempo transformando seus corpos paraescrever SUMAM?

    Porque eles so exibidos respondeu o Sr. Wonka. Tm um orgulho imenso emsaber escrever daquele jeito.

    Mas por que disseram sumam se queriam nos pegar e nos devorar? a nica palavra que eles conhecem disse o Sr. Wonka. Vejam! gritou Vov Josefina, apontando pelo vidro. Ali!Antes de olhar, Charlie j sabia exatamente o que ia ver. Os outros tambm. Adivinharam

    tudo, pelo tom histrico da voz da velhinha.E l estava, voando ao lado deles sem nenhum esforo, um Cnido Vermicoso

    simplesmente colossal, gordo como uma baleia, comprido como um vago de trem, com umaexpresso terrivelmente vermicosa no olhar! Estava a menos de doze metros deles, tinha forma deovo, era viscoso, marrom-esverdeado, e com seu olho malvolo (o nico visvel) olhavainsistentemente as pessoas que flutuavam dentro do Grande Elevador de Vidro!

    Chegou o fim! gritou Vov Jorgina. Ele vai nos devorar! berrou a Sra. Bucket. Numa tragada s! disse o Sr. Bucket.

  • Estamos fritos, Charlie disse o Vov Jos. Charlie concordou com a cabea. Noconseguia falar nem emitir nenhum som. O medo apertava sua garganta.

    Mas o Sr. Wonka no entrou em pnico. Manteve-se totalmente calmo.

    Vamos nos livrar disso! ele disse.O Sr. Wonka apertou seis botes ao mesmo tempo e imediatamente seis foguetes

    propulsores se lanaram do Elevador. O Elevador disparou como um cavalo ferroado, cada vezmais veloz, mas o imenso Cnido verde e grudento o acompanhava imperturbvel.

    Faa-o ir embora berrou Vov Jorgina. No agento mais esses olhos meolhando desse jeito!

    Minha senhora disse o Sr. Wonka , ele no vai conseguir entrar aqui. Admito quefiquei um pouco apavorado l no Hotel Espacial. E com razo. Mas aqui no temos nada a temer.O Grande Elevador de Vidro prova de choque, prova de gua, prova de bomba, provade bala e prova de Cnido! Portanto, relaxe!

    E o Sr. Wonka cantarolou: Ol, Cnido vil e vermicoso

  • Voc grudento, mido e pegajoso!Mas no faz mal, no importa,Aqui ningum entra, seu pretensioso,Se a gente no abrir a porta. Nesse momento, o Cnido monstruoso se virou e foi se afastando do Elevador. A est! exclamou o Sr. Wonka, triunfante. Ele me ouviu! Est voltando para

    casa!Mas o Sr. Wonka estava errado. Quando chegou a uns cem metros de distncia, a criatura

    parou, hesitou por um instante, depois voltou, dando as costas (a parte mais pontuda do ovo)para o Elevador. Mesmo de marcha a r, sua acelerao era incrvel. Parecia um projtilmonstruoso disparado contra eles, e sua velocidade era tanta que ningum teve tempo nem degritar.

    CRASH! O Cnido trombou violentamente com eles. O Grande Elevador chacoalhou,balanou, mas o vidro agentou firme e o Cnido ricocheteou como uma bola de borracha.

    Eu no disse? exclamou o Sr. Wonka, triunfante. Aqui dentro estamos seguroscomo salsichas!

    Depois dessa, ele deve estar com uma terrvel dor de cabea disse o Vov Jos. No foi a cabea, foi a bunda disse Charlie. Veja, Vov, a parte que ele bateu

    est ficando inchada e roxa!Era isso mesmo. Um inchao roxo, do tamanho de um carro, foi aparecendo na cauda do

    Cnido gigante. Ol, seu monstro imundo! gritou o Sr. Wonka. Ol, seu Cnido, por que esse muxoxo?Que cor estranha, o que aconteceu?Por que esse bumbum todo roxo?Que pancada, hem? Quem foi que deu?Que palidez, est passando mal?Tem febre, dor de dente, alguma queixa?Por que esse rabo inchado, afinal?Queremos ajudar, o senhor deixa?Vou chamar um mdico pra ver seu traseiro.Endereo e telefone, s ver na lista.Aqui est, doutor aougueiro,Parece que um grande especialista.Depressa doutor, um caso urgente.Estamos chamando aqui do espao.Tudo bem, cheguei, quem o paciente?E esse Cnido, veja s que inchao!Cus, que horror! Foi uma batida e tanto!Diz o doutor, com cara de espanto.Parece um balo, uma bola imensa!A coisa mais grave do que o senhor pensa!

  • Pra estourar a bolota, o doutor linha-duraComea a bater no bumbum do Cnido.O que isso?, grita a criatura,Ser preciso tratamento to sofrido?Mas no d certo, a situao piora,Tanta pancada s aumenta o inchao.O Cnido grita e reclama:E agora? Na hora de sentar, o que que eu fao?O doutor conclui:O que era possvel foi feito.Pra sentar na cadeira no vai dar.Pra voc descansar s vai ter um jeito:Cabea pra baixo e bumbum pro ar.

  • 9Engolidos No dia em que tudo isso aconteceu, nenhuma fbrica do mundo funcionou. Todas as firmas eescolas permaneceram fechadas. Ningum saiu da frente da televiso, nem mesmo por unsminutos, para beber gua ou dar de mamar ao beb. Era uma tenso insuportvel. Todos ouviramo convite do Presidente dos Estados Unidos aos homens de Marte para visit-lo na Casa Branca.E ouviram a misteriosa resposta rimada, que mais parecia uma ameaa. Tambm ouviram umgrito lancinante (da Vov Josefina), e um pouco depois ouviram algum gritar Sumam! Sumam!Sumam! (o Sr. Wonka). Ningum entendeu nada daquela gritaria. Acharam que fosse algumalngua marciana. Mas, quando os oito astronautas misteriosos de repente voltaram correndo cpsula de vidro e se desligaram do Hotel Espacial, quase deu para ouvir o suspiro de alvio detodos os habitantes da Terra. Telegramas e mensagens choviam sobre a Casa Branca, dando osparabns ao Presidente por sua brilhante maneira de lidar com uma situao to assustadora.

    Agora o Presidente estava calmo e pensativo. Sentado em sua escrivaninha, ele enrolavaum pedacinho de chiclete mascada entre o polegar e o indicador. Estava esperando para jog-lona Srta. Tibrcia sem que ela visse. Finalmente jogou, mas errou o alvo e acertou o Ministro daAeronutica bem na ponta do nariz.

    Ser que os homens de Marte aceitaram meu convite para vir Casa Branca? perguntou o Presidente.

    Claro que aceitaram disse o Secretrio para Assuntos Estrangeiros. Foi umdiscurso brilhante, Sr. Presidente.

    Eles devem estar a caminho disse a Srta. Tibrcia. V limpar essa mo toda sujade chiclete, depressa. Daqui a pouco eles devem estar aqui.

    Primeiro quero ouvir uma cano disse o Presidente. B, cante outra que fala demim... por favor.

    CANO DE NINAR Este homem importante que aqui se v,O mais poderoso deste planetaUm dia j foi um lindo bebDe cueiro, fralda e chupeta.Foi esse beb que eu conheci.Era eu que o ninava no bercinho,

  • Dava-lhe o penico pra fazer xixiE na hora da fome lhe aprontava o leitinho.Era eu tambm que lhe dava banho,Cortava suas unhas e o enxugava,Limpava seu nariz cheio de ranhoE na hora do choro o consolava.Tratei o menino com todo o cuidado,Dia e noite, sempre a seu lado.Dava-lhe uns tapas se fazia travessuraSem nunca deixar de lhe dar ternura.Mas logo se revelou a triste verdade:Ele era burro, no dava pra esconder,Pois com vinte e trs anos de idadeNo sabia ler nem escrever.O que vamos fazer?, dizia a me, amuada.E o pai lamentava: O que ser desse rapaz?No conhece as letras, no sabe tabuada.Do que ser que ele capaz?Ento eu tive uma tima idia:Vai ser poltico, esse menino.Ele exultou: B, minha tetia!Est resolvido! Brilhante destino!Ento vamos l, disse eu,Aprenda a arte da trapaaE o mundo todo ser seu.Troque votos por transporte de graa,Em cada canto inaugure uma praaE nunca se lembre do que prometeu.Um discurso a cada dia,Sempre enrolando bastante.E pra tirar fotografia muito, muito importanteTer rosto limpo e roupa engomada,Pois a mentira no ser reprovadaNa boca de um homem elegante.Agora que estou velha e doenteS me resta pedir perdoPor ter feito PresidenteEsse porco canastro. Muito bem, B! gritou o Presidente, batendo palmas. Bravo! gritaram os outros. Muito bem, Srta. Vice-Presidente! Brilhante!

    Sensacional!

  • Minha nossa! disse o Presidente. Aqueles homens de Marte devem chegar aqualquer momento! O que vamos oferecer a eles de almoo? Onde est meu Cozinheiro-chefe?

    O Cozinheiro-chefe era um francs. Ele tambm era um espio francs, e naquelemomento estava espiando pelo buraco da fechadura do escritrio do Presidente.

    Estou aqui, Monsieur le President! ele disse, entrando precipitado. Cozinheiro-chefe, o que os homens de Marte comem de almoo? Tomarte disse o Cozinheiro-chefe. Assado ou cozido? Assado, claro, Monsier le President. Tomarte cozido horrvel!A voz do astronauta Shaton penetrou no escritrio do Presidente pelo alto-falante. Autorizao para acoplar e subir a bordo do Hotel Espacial? ele disse. Autorizao concedida disse o Presidente. V em frente, Shaton. Agora est

    vazio... graas a mim.E assim a enorme Cpsula Transportadora, pilotada por Shaton, Shokant e Shute, levando

    a bordo todos os gerentes de hotel, subgerentes, porteiros, confeiteiros, mensageiros, garonetes ecamareiras, aproximou-se lentamente e se acoplou ao gigantesco Hotel Espacial.

    Ei! Nossa imagem de TV sumiu exclamou o Presidente. Parece que a cmara se espatifou contra a lateral do Hotel Espacial, Sr. Presidente

    respondeu Shaton.O Presidente disse um palavro no microfone. Ento milhes de crianas no pas inteiro

    saram repetindo alegremente o que tinham ouvido e levaram palmadas de seus pais. Todos os astronautas e cento e cinqenta funcionrios embarcaram em segurana no

    Hotel Espacial Shaton transmitiu pelo rdio. Agora estamos no saguo! E o que vocs esto achando? perguntou o Presidente.Ele sabia que o mundo inteiro estava ouvindo e queria que Shaton dissesse o quanto tudo

    aquilo era maravilhoso. Shaton no o decepcionou. Puxa, Presidente, fantstico! ele disse. inacreditvel! imenso! E ... difcil

    encontrar palavras para descrever tudo isso. realmente grandioso, especialmente os lustres, oscarpetes e tudo o mais! Tenho aqui a meu lado o Gerente-chefe do hotel, Sr. Saulo S. Sales. Elequer ter a honra de conversar com o senhor, Presidente.

    Ponha-o na linha disse o Presidente. Sr. Presidente, aqui Saulo Sales. Que hotel suntuoso! A decorao magnfica! O senhor notou que os carpetes no tm emenda de sala a sala, Sr. Saulo Sales?

    disse o Presidente. Notei sim, Sr. Presidente. sensacional! Vai ser um prazer dirigir um hotel lindo como

    este!... Ei! O que aquilo? Tem uma coisa saindo dos elevadores! Socorro!De repente o alto-falante da sala do Presidente comeou a soltar uma srie de berros e

    gritos terrveis. Aiiiiiii! Uaaaaauuuuu! Aaaaaaaiai! So-coooor-ro! So-coooorro! So-coooorro! O que est acontecendo? disse o Presidente. Shaton! Voc est a, Shaton?... Shokant! Shute! Sr. Saulo Sales! Onde esto vocs? O que

    aconteceu?Os gritos prosseguiam. Eram to altos que o Presidente teve de tampar os ouvidos com as

    mos. Todas as casas do mundo que tinham rdio ou televiso ouviram aqueles gritosassustadores. Tambm se ouviam outros barulhos. Eram grunhidos, roncos e guinchos muitoaltos. Depois fez-se silncio.

  • O Presidente chamou o Hotel Espacial ansiosamente pelo rdio. Houston chamou o HotelEspacial. O Presidente chamou Houston. Houston chamou o Presidente. Depois os doischamaram o Hotel Espacial de novo. Mas no houve resposta. L no espao tudo era silncio.

    Aconteceu alguma coisa terrvel disse o Presidente. So aqueles homens de Marte disse o ex-Ministro do Exrcito. Eu disse para o

    senhor me deixar explodi-los. Quieto interrompeu o Presidente. Preciso pensar.O alto-falante comeou a estalar. Al! ele disse. Al, al, al! Est me ouvindo, Controle Espacial de Houston?O Presidente agarrou o microfone que estava em cima da escrivaninha. Deixe comigo, Houston! ele gritou. Aqui o Presidente Capingord. Estou

    ouvindo claramente. Continuem! Aqui o astronauta Shaton, Sr. Presidente. Estamos de volta Cpsula

    Transportadora... graas a Deus! O que aconteceu, Shaton? Quem est com voc? Tenho a satisfao de dizer que quase todos ns estamos aqui, Sr. Presidente. Shokant

    e Shute esto comigo, e tambm muita outra gente. Acho que ao todo perdemos umas duasdzias de pessoas, entre confeiteiros, porteiros, esse tipo de coisa. Foi duro sair com vida daquelelugar!

    O que voc quer dizer com perdemos duas dzias de pessoas? gritou o Presidente. Como foi que as perdeu?

    Engolidas! respondeu Shaton. Um gole e pronto! Vi um subgerente alto, de ummetro e oitenta, sendo engolido como um naco de sorvete, Sr. Presidente. Sem mastigar... nada!Enfiado pela goela e pronto!

    Mas quem! berrou o Presidente. De quem est falando? Quem foi que engoliu? Cuidado! gritou Shaton. Minha nossa, eles vm vindo! Esto saindo do Hotel

    Espacial! Esto chegando como um enxame! Com licena, Sr. Presidente. No tenho tempo paraconversar agora!

  • 10

    Cpsula Transportadora comproblemas Ataque n 1

    Enquanto Shaton, Shokant e Shute eram expulsos do Hotel Espacial pelos Cnidos, o GrandeElevador de Vidro do Sr. Wonka girava em torno da Terra a uma velocidade fantstica. O Sr.Wonka tinha disparado todos os seus foguetes e o Elevador corria a uma velocidade de cinqentamil quilmetros por hora em vez dos habituais vinte e cinco mil. Eles estavam tentando escapardaquele Cnido Vermicoso enorme e feroz, de traseiro roxo. O Sr. Wonka no tinha medo, mas aVov Josefina estava apavorada. Cada vez que olhava para ele, soltava um grito estridente etampava os olhos com a mo. Mas, para um Cnido, cinqenta mil quilmetros por hora brincadeira de criana. Meninos Cnidos saudveis percorrem sem pensar um milho e meio dequilmetros entre o almoo e o jantar, e no dia seguinte mais um milho antes do caf da manh.Se no fosse assim, como poderiam viajar entre o planeta Vermes e outros astros? O Sr. Wonkadevia saber disso e economizar seus foguetes, mas ele continuava avanando na mesmavelocidade e o Cnido continuava acompanhando o Elevador sem nenhum esforo, olhando paradentro com seu olho vermelho arregalado. Ele parecia estar dizendo:

    Vocs machucaram meu traseiro, e vou acabar pegando vocs por isso.Fazia uns quarenta e cinco minutos que estavam dando a volta Terra quando Charlie,

    que flutuava tranqilamente ao lado de Vov Jos perto do teto, disse de repente: Estou vendo alguma coisa na nossa frente! Est vendo, Vov Jos? Bem l na frente! Estou, Charlie. Estou vendo, sim... Minha nossa, o Hotel Espacial! No pode ser, Vov. Ns o deixamos para trs h muito tempo. Ah disse o Sr. Wonka. Estamos voando to rpido que j demos uma volta

    inteira na Terra e o alcanamos de novo! Que velocidade fantstica! E l est a Cpsula Transportadora. Est vendo, Vov? Bem atrs do Hotel Espacial!H mais uma coisa ali, Charlie, se no me engano! Eu sei o que aquilo! berrou Vov Josefina. So Cnidos Vermicosos! Faam meia-

    volta imediatamente! Voltem! gritou Vov Jorgina. Peguem outro caminho! Minha senhora disse o Sr. Wonka isto no um automvel numa rodovia. Quando

    se est em rbita, impossvel voltar atrs. No tenho nada a ver com isso! gritou Vov Josefina. Pise no freio! Pare! Marcha

    a r! Os Cnidos vo nos pegar! Acabe com essa bobagem de uma vez por todas! disse o Sr. Wonka, muito srio.

    A senhora sabe muito bem que meu Elevador totalmente prova de Cnidos. No h razo para

  • ter medo.Agora estavam mais perto e podiam ver os Cnidos saindo pela traseira do Hotel Espacial e

    se juntando como vespas em torno da Cpsula Transportadora. Esto atacando a Cpsula Transportadora gritou Charlie.Era uma viso apavorante. Os Cnidos marrons-esverdeados em forma de ovos se

    agrupavam em esquadres de cerca de vinte Cnidos cada um. Depois cada esquadro se alinhavaem colunas, com cerca de um metro entre um Cnido e outro. Atacavam de marcha a r, com ascaudas pontudas na frente, e numa velocidade incrvel.

    VAMM! Um esquadro atacou, ricocheteou e saiu rodopiando.CRASH! Outro esquadro investiu contra a lateral da Cpsula Transportadora. Leve-nos embora daqui, seu maluco gritou Vov Josefina. O que est

    esperando? Depois eles vm atrs de ns! gritou Vov Jorgina. Pelo amor de Deus, homem,

    volte! Duvido que a cpsula deles seja prova de Cnidos disse o Sr. Wonka. Ento precisamos ajud-los! exclamou Charlie. Temos que fazer alguma coisa! H

    cento e cinqenta pessoas dentro daquela coisa!L embaixo na Terra, no gabinete da Casa Branca, o Presidente e seus assessores ouviam

    horrorizados as vozes dos astronautas, pelo rdio. Eles esto nos atacando em bandos! Shaton gritou. Esto nos despedaando! Mas quem! berrou o Presidente. Vocs ainda no nos disseram quem os est

    atacando! So imensos monstros imundos, marrons-esverdeados, de olhos vermelhos!

    intrometeu-se Shokant. Tm forma de ovos enormes e esto nos atacando de marcha a r! De marcha a r? gritou o Presidente. Por que de marcha a r? Porque eles tm a bunda mais pontuda do que a cabea! explicou Shaton.

    Ateno! Est chegando um outro bando! BANG! No estamos mais agentando, Presidente! Asgaronetes esto chorando, as camareiras esto histricas, os mensageiros esto enlouquecendo eos porteiros esto rezando. O que fazer, Sr. Presidente? Que diabos ns podemos fazer?

    Dispare seus foguetes, idiota, e faa meia-volta! Volte para a Terra imediatamente!

  • Impossvel! gritou Shute. Eles arrebentaram nossos foguetes! Estilhaaram umpor um!

    Estamos fritos, Sr. Presidente continuou Shokant. No temos sada. Mesmo queeles no consigam destruir a cpsula, vamos ter que ficar em rbita pelo resto da vida! Nopodemos voltar Terra sem foguetes!

    O Presidente suava, e o suor lhe escorria pela nuca e entrava pelo colarinho. A qualquer momento vamos perder contato com vocs, Presidente continuou

    Shokant. H outro bando vindo pela esquerda, e esto mirando nossa antena de rdio! Aesto eles! Acho que no vamos conseguir...

    A voz se interrompeu. O rdio emudeceu. Shokant! gritou o Presidente. Onde est voc, Shokant?... Shaton! Shokant!

    Shute!... Shuton! Shote! Shakant!... Shoton! Shate! Shukant! Por que no respondem?!L no Grande Elevador de Vidro, onde no havia rdio e ningum conseguia ouvir nada

    dessas conversas, Charlie dizia: Com certeza a nica esperana deles voltar Terra imediatamente! disse o Sr. Wonka. Mas para voltar atmosfera terrestre eles teriam de se

    lanar para fora da rbita. Teriam de mudar de direo e embicar para baixo. Para fazer isso,precisariam de foguetes! Mas seus foguetes esto arrebentados e retorcidos! D para ver daqui.Esto inutilizados.

  • Ser que no podemos reboc-los para baixo? perguntou Charlie.O Sr. Wonka deu um pulo. Mesmo flutuando, ele pulou. Estava to agitado que se lanou

    para o alto e bateu a cabea no teto. Ento ele deu trs cambalhotas no ar e exclamou: Charlie, voc resolveu! isso! Vamos reboc-los para fora da rbita! Aos botes,

    rpido! Com o que vamos reboc-los? Com nossas gravatas? perguntou Vov Jos. No se preocupe com esses detalhes! gritou o Sr. Wonka. Meu Grande Elevador

    de Vidro est preparado para qualquer coisa! Vamos l! Assumam os comandos, meus amigos! Segurem esse homem! gritou Vov Josefina. Fique quieta, Josinha disse Vov Jos. Tem gente precisando de socorro e nossa

    obrigao ajudar. Se est com medo, feche os olhos e tampe os ouvidos.

  • 11

    A batalha dos Cnidos Vov Jos! chamou o Sr. Wonka. Por favor, voe at aquele canto do Elevador e gireaquela manivela! Ela faz baixar a corda!

    Corda no adianta, Sr. Wonka! Os Cnidos vo tritur-la com os dentes num instante! uma corda de ao disse o Sr. Wonka. feita de ao retemperado. Se eles

    tentarem morder isso, seus dentes vo se esmigalhar como palitos! Aos seus botes, Charlie! Vaiter que me ajudar a manobrar! Vamos nos colocar acima da Cpsula Transportadora e enganch-la firmemente.

    Como um navio de guerra entrando em ao, o Grande Elevador de Vidro com osfoguetes propulsores acionados moveu-se suavemente at se colocar acima da enorme CpsulaTransportadora. Os Cnidos pararam imediatamente de atacar a Cpsula e se voltaram para oElevador. Esquadres de gigantescos

    Cnidos Vermicosos arremessavam-se uns aps os outros contra a maravilhosa engenhocado Sr. Wonka. VAMM! CRASH! BANG! O barulho era estrondoso e terrvel. O Elevadorbalanava no ar como uma folha ao vento. Dentro dele, Vov Josefina, Vov Jorgina e VovJorge, flutuando de camisola, urravam, uivavam e batiam os braos, pedindo socorro. A Sra.Bucket se abraou ao Sr. Bucket e o apertava com tanta fora que os botes de sua blusa atmarcaram a pele dele. Charlie e o Sr. Wonka, l perto do teto, frios como dois cubos de gelo,acionavam os controles dos foguetes. Vov Jos, soltando gritos de guerra e xingando os Cnidos,girava a manivela que desenrolava a corda de ao. Ao mesmo tempo, ele via a corda atravs dopiso de vidro do Elevador.

    Um pouco a estibordo, Charlie! gritou Vov Jos. Agora estamos bem em cimada cpsula!... Dois metros para a frente, Sr. Wonka.... estou tentando enganchar aquele pinoespetado ali!... Mantenha assim!... Consegui... Pronto!... Um pouquinho para a frente para ver sesegurou!... Mais!... Mais!...

    A corda de ao se esticou. E segurou! Ento, para espanto geral, com os foguetespropulsores acionados, o Elevador comeou a arrastar a imensa Cpsula Transportadora paralonge!

    Avanar a toda velocidade! gritou o Sr. Wonka, e o Elevador avanou.A corda continuou segurando. O Sr. Wonka tomou um impulso e desceu at o Vov Jos

    para lhe dar um caloroso aperto de mo. Muito bem, cavalheiro! disse ele. O senhor fez um trabalho brilhante, sob fogo

    pesado!Charlie olhou para a Cpsula Transportadora, que ia uns trinta metros atrs deles, na

  • ponta da corda de ao. Ela tinha umas janelinhas no alto, e pelas janelas ele viu claramente ascaras assombradas de Shaton, Shokant e Shute. O menino acenou para eles e fez um sinal com opolegar para cima. Os astronautas no responderam ao aceno. Estavam embasbacados. Noconseguiam acreditar no que estava acontecendo.

    Vov Jos lanou-se para cima e ficou pairando ao lado de Charlie, transbordando de

    entusiasmo. Charlie, garoto ele disse , ultimamente ns passamos juntos por muita coisa

    divertida, mas essa foi diferente de todas as outras! Vov, onde esto os Cnidos? Eles sumiram de repente!Todos olharam em volta. O nico Cnido vista era seu velho conhecido, aquele de bunda

    roxa, que continuava no lugar de sempre, olhando para dentro do Elevador. Espere a! gritou Vov Josefina. O que aquilo que estou vendo?Eles olharam de novo, e dessa vez viram com toda a nitidez, l longe no espao azul-

    escuro, uma densa nuvem de Cnidos Vermicosos rodopiando e girando como uma esquadrilhade bombardeiros.

    Se vocs pensam que estamos fora de perigo, esto totalmente enganados! gritouVov Jorgina.

    No tenho medo de Cnidos! disse o Sr. Wonka. Vamos dar cabo deles agora! Macacos me penteiem! disse Vov Josefina. Vo nos alcanar num instante! Veja

    s! Eles vo entrar! Esto chegando!Era verdade. A imensa esquadrilha de Cnidos avanava numa velocidade incrvel e estava

    voando ao lado do Grande Elevador de Vidro, uns duzentos metros direita. O Cnido debumbum roxo estava bem mais perto, apenas a vinte metros, do mesmo lado.

    Ele est mudando de forma! exclamou Charlie. Esse que est mais perto! O queele vai fazer? Est se alongando!

    E estava mesmo. O corpo em forma de ovo foi se esticando como chiclete, at ficarparecendo uma serpente verde comprida e viscosa, da grossura de uma rvore e do comprimentode um campo de futebol. Na frente ficavam os olhos, grandes, brancos e com o centro vermelho.Atrs uma espcie de rabo afilado, e na ponta do rabo via-se a bola enorme e inchada que tinha seformado quando o Cnido bateu no vidro.

  • Os ocupantes do Elevador olhavam e esperavam. Ento viram o Cnido comprido se virare vir de encontro ao Grande Elevador de Vidro, mas bem devagar. Comeou ento a enrolar seucorpo em torno do Elevador, como se fosse uma corda. Deu uma volta, duas voltas... Era umasensao horrvel estar l dentro e ver aquele corpo viscoso e mole encostado no vidro, do ladode fora.

    Ele est nos amarrando como um pacote! disse Vov Josefina. Incrvel! disse o Sr. Wonka. Ele vai nos esmagar! chorou Vov Jorgina. Nunca! disse o Sr. Wonka.Charlie olhou de relance para a Cpsula Transportadora. Shaton, Shokant e Shute estavam

    com as caras brancas feito lenol encostadas no vidro nas janelinhas, apavorados, estupefatos,assombrados, boquiabertos, com a expresso congelada. Mais uma vez,

    Charlie lhes fez um sinal com o polegar para cima. Shute reagiu com um sorrisinhoforado, e foi s isso.

    Oh, oh, oh choramingou Vov Josefina. Tirem da essa coisa grudenta!Depois de enrolar o corpo duas vezes em torno do Elevador, o Cnido tratou de dar um n

    com suas duas extremidades, um n duplo, primeiro a ponta esquerda sobre a direita, depois adireita sobre a esquerda. Depois de apertar bem o n, uns cinco metros de uma ponta aindaficaram soltos, pendurados. Era