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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X CESÁREAS ELETIVAS OU PARTOS VIOLENTOS? PESQUISA COMPARADA SOBRE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA ARGENTINA, NO BRASIL E NO URUGUAI Maria Josefina Mastropaolo 1 Resumo: A violência obstétrica, como uma forma da violência que afeta as mulheres, é imanente às relações que, na sociedade capitalista, se estabelecem em torno do cuidado da mulher durante a gravidez, o parto e o puerpério. As organizações e movimentos de mulheres vêm, nas últimas décadas, fazendo esforços para visibilizar essa violência e para tirar o véu de naturalização que a encobre, influindo na determinação dos Estados em adotar iniciativas tendentes a combatê-la. O artigo recolhe os avanços da pesquisa de pós-doutorado que consiste num estudo comparado entre Brasil, Argentina e Uruguai sobre o estado da arte da pesquisa acadêmica sobre violência obstétrica, identificando as principais tendências do debate e as iniciativas estatais. O artigo aborda também o campo das legislações envolvidas, a implementação de políticas públicas tendentes a combater a violência obstétrica, bem como o reconhecimento e a caracterização dos movimentos de mulheres que se mobilizam em torno desta temática, seus principais debates e ações desenvolvidas. Palavras-chave: Violência Obstétrica, Políticas Públicas, Mulheres, Corpo, Saúde Pública Violência obstétrica como fenômeno social Define-se a violência obstétrica como todas as ações, proposições, ideias que ferem a autonomia da mulher na compreensão e o controle dos seus processos fisiológicos e emocionais, em relação com a sua sexualidade e sua reprodução. A violência obstétrica supõe uma perda de autonomia por parte das mulheres relativa à compreensão e à experiência da gravidez e do parto e da maternidade em geral e dos processos de abortamento. Supõe e, ao mesmo tempo tem como resultado, um estranhamento por parte da mulher, do seu próprio corpo e dos processos fisiológicos que fazem parte da sua natureza. Segundo declaração da OMS de 2014, o “tratamento desrespeitoso e ofensivo” às mulheres durante o parto, nos centros de saúde, é muito frequente, mas não “há um consenso internacional sobre como definir e medir cientificamente o maltrato ou a falta de respeito. Por conseguinte se desconhecem sua prevalência e impacto na saúde, o bem-estar e eleições das mulheres” (OMS, 2014). Contudo, e possivelmente porque não é propriamente necessário ter evidência científica para entender que a violência sempre e em qualquer instância tem efeitos nocivos sobre as pessoas, esse organismo elabora uma série de recomendações aos governos, das quais se pode derivar certa ideia do que entende por violência obstétrica, são estes: falta de acesso a serviços de atenção materna que sejam 1 Professora Substituta na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

CESÁREAS ELETIVAS OU PARTOS VIOLENTOS? PESQUISA

COMPARADA SOBRE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NA ARGENTINA, NO

BRASIL E NO URUGUAI

Maria Josefina Mastropaolo1

Resumo: A violência obstétrica, como uma forma da violência que afeta as mulheres, é imanente às

relações que, na sociedade capitalista, se estabelecem em torno do cuidado da mulher durante a

gravidez, o parto e o puerpério. As organizações e movimentos de mulheres vêm, nas últimas décadas,

fazendo esforços para visibilizar essa violência e para tirar o véu de naturalização que a encobre,

influindo na determinação dos Estados em adotar iniciativas tendentes a combatê-la. O artigo recolhe

os avanços da pesquisa de pós-doutorado que consiste num estudo comparado entre Brasil, Argentina

e Uruguai sobre o estado da arte da pesquisa acadêmica sobre violência obstétrica, identificando as

principais tendências do debate e as iniciativas estatais. O artigo aborda também o campo das

legislações envolvidas, a implementação de políticas públicas tendentes a combater a violência

obstétrica, bem como o reconhecimento e a caracterização dos movimentos de mulheres que se

mobilizam em torno desta temática, seus principais debates e ações desenvolvidas.

Palavras-chave: Violência Obstétrica, Políticas Públicas, Mulheres, Corpo, Saúde Pública

Violência obstétrica como fenômeno social

Define-se a violência obstétrica como todas as ações, proposições, ideias que ferem a autonomia

da mulher na compreensão e o controle dos seus processos fisiológicos e emocionais, em relação com

a sua sexualidade e sua reprodução.

A violência obstétrica supõe uma perda de autonomia por parte das mulheres relativa à

compreensão e à experiência da gravidez e do parto e da maternidade em geral e dos processos de

abortamento. Supõe e, ao mesmo tempo tem como resultado, um estranhamento por parte da mulher,

do seu próprio corpo e dos processos fisiológicos que fazem parte da sua natureza.

Segundo declaração da OMS de 2014, o “tratamento desrespeitoso e ofensivo” às mulheres

durante o parto, nos centros de saúde, é muito frequente, mas não “há um consenso internacional

sobre como definir e medir cientificamente o maltrato ou a falta de respeito. Por conseguinte se

desconhecem sua prevalência e impacto na saúde, o bem-estar e eleições das mulheres” (OMS, 2014).

Contudo, e possivelmente porque não é propriamente necessário ter evidência científica para entender

que a violência sempre e em qualquer instância tem efeitos nocivos sobre as pessoas, esse organismo

elabora uma série de recomendações aos governos, das quais se pode derivar certa ideia do que

entende por violência obstétrica, são estes: falta de acesso a serviços de atenção materna que sejam

1 Professora Substituta na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Brasil.

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respeitosos, competentes e compreensivos, a falta de um acompanhante escolhido pela mulher, a

imobilidade, a proibição de ingerir alimentos e líquidos durante o trabalho de parto, a falta de

confidencialidade e de privacidade e a falta de informação sobre as intervenções que lhe serão

praticadas.

As organizações de mulheres, grupos e redes sociais2 (onde grande parte do debate e da luta

contra a violência obstétrica se expressam), inclusive iniciativas estatais, caracterizam a violência

obstétrica envolvendo também outros elementos. Uma cartilha da Defensoria Pública do Estado de

São Paulo define:

A violência obstétrica existe e caracteriza-se pela apropriação do corpo e processos

reprodutivos das mulheres pelos profissionais de saúde, a través do tratamento

desumanizado, abuso de medicalização e patologização dos processos naturais, causando a

perda de autonomia e capacidade de decidir livremente, sobre seus corpos e sexualidade,

impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres (DEFENSORIA PÚBLICA

DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013).

Registre-se que o ponto de partida desta discussão é a busca pelo reconhecimento da violência

obstétrica como fenômeno social efetivamente existente e sobre o fato de que a sua ocorrência não é

isolada, nem episódica, mas que faz parte das formas naturalizadas de atenção e assistência às

mulheres durante a gravidez, o parto, o puerpério e o abortamento. A atenção obstétrica no nosso

tempo histórico é violenta, sempre – salvo que deliberadamente se opere contra os usos e costumes –

porque opera a partir de formas que, ainda não parecendo violentas, vão socavando a autonomia da

mulher e reservam para o âmbito médico e institucional o controle da relação das mulheres com seus

corpos. Existe, neste sentido, um protagonismo da instituição e seus agentes frente a uma

desvalorização do sujeito “mulher”, seu autoconhecimento e inclusive, seu poder de decisão sobre o

próprio corpo.

Analisando a produção acadêmica e científica sobre violência obstétrica, nos três países objeto

desta pesquisa, chama a atenção a quantidade de estudos de casos, bem delimitados territorialmente

e circunscritos a instituições específicas, ou pesquisas estatísticas que definem perfis sanitários. Todas

elas buscam caracterizar o fenômeno, expôr seus traços, mostrar a sua prevalência, como também se

constatam pesquisas que buscam compreender a perspectiva das mulheres envolvidas nessa violência,

o que elas pensam, o que sentem, já se trate de usuárias dos serviços ou de profissionais que trabalham

nas instituições de saúde. Esse perfil exploratório do fenômeno apresentado pela maioria das

2 Esta pesquisa não se propôs a indagar sobre o ativismo feminista virtual que busca problematizar e lutar contra

a violência obstétrica, mas, sem dúvida, é uma instância de circulação de ideias e debates privilegiada neste momento

histórico, inclusive geradora de grupos e movimentos que a partir dessa instância se organizam para realizar ações não

virtuais.

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pesquisas, esse esforço por recolher práticas e relações naturalizadas e denunciar seu caráter violento,

se condiz com o momento que os movimentos de mulheres enfrentam na luta política por tornar a

violência obstétrica como um tipo de violência reconhecida pelas mulheres que a sofrem e pelos

estados, as corporações e os indivíduos que a perpetram.

São numerosos os exemplos com os quais se visualiza, de forma muito concreta, a violência

obstétrica: formas de tratamento que inferiorizam as mulheres, que dão nomes infantilizados e

diminutivos, ou que fazem graça a partir de características físicas ou atos da mulher, como evacuar,

gritar, ter medo. As mulheres denunciam ameaças e falas irônicas, ou ainda, realização de

procedimentos dolorosos, humilhantes e desnecessários como a raspagem de pelos pubianos, a

lavagem intestinal, a posição ginecológica de pernas abertas, o impedimento de se locomover e de se

comunicar com o “mundo exterior”. Há que mencionar a realização de procedimentos sem explicá-

los e sem informar seu objetivo, o submetimento das mulheres a sucessivos exames de toque,

especialmente por vários profissionais, mesmo que seja para ensino dos alunos, fazer procedimentos

quando desnecessários, como administração de hormônios para acelerar o trabalho de parto, fazer

episiotomia, manobras de Kristeller, cesarianas desnecessárias e gerar convencimento da necessidade

dessas práticas sob argumentos falsos (cordão enrolado, tamanho do bebê, bacia pequena), submeter

bebês saudáveis a procedimentos de rotina (como administração de nitrato de prata, aspiração) separar

a mulher do bebê, impedindo, com isso, o início da amamentação ainda sob vigência do reflexo de

sucção. (Duarte, 2015; Parto do Principio, 2012; Defensoria Pública do Estado de São Paulo, 2013).

Um dos indicadores de violência obstétrica mais facilmente medíveis, já que consegue ser

registrado nas estatísticas, é a taxa de cesarianas em cada um dos países. Desde a década de 1980 a

Organização Mundial da Saúde recomenda que em torno de 10 a 15 % dos nascimentos precisarão

ser resolvidos de forma cirúrgica para evitar a morbimortalidade materna e neonatal, para além dessa

porcentagem não se reconhecem melhoras nos resultados perinatais (OMS, 2015), pelo contrário, em

casos desnecessários, a utilização da intervenção traz mais riscos para a saúde da mulher e do bebê.

Na América Latina, as taxas de cesárea são particularmente altas em relação ao resto das regiões

conforme os limites marcados pela OMS, sendo o Brasil o país com a taxa mais alta (56%, sendo que

a media dos hospitais particulares chega a 80%). Nos países da região, ainda que estes não estejam

consagrados nos primeiros lugares, os dados mostram que as taxas vêm crescendo. Na Argentina, e

no Uruguai as taxas rondam em torno de 30%, aumentando claramente no setor privado. (Coppola,

2015; Carbajal, 2001)

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A “epidemia” de cesáreas tem se tornado um problema de saúde pública, por um lado

aumentam a morbimortalidade materna e neonatal, mas por outro representam um altíssimo custo.

Na Argentina, segundo dados da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia de Buenos Aires, são

praticadas 74.256 cesáreas desnecessárias anuais, que significam um gasto desnecessário para o

sistema de saúde de 37 milhões de dólares (Carbajal, 2001).

O controle do corpo das mulheres e da subjetividade feminina.

Há um certo consenso ao interior dos debates do feminismo sobre o fato de que, se bem o

patriarcado existe desde tempos bem anteriores a nossa era, a partir do desenvolvimento do conjunto:

modo de produção capitalista – sociedade burguesa – estado moderno, formas de controle do corpo

da mulher e da subjetividade feminina se afirmaram desenvolvendo as especificidades com que hoje

as conhecemos.

O que do feminino, da nossa experiência histórica, do nosso acumulo foi atacado, mutilado,

cerceado? Quais as memórias e as habilidades que as mulheres precisamos deixar guardadas nas

sombras que as luzes projetavam? Sobre que aspectos do feminino as elites projetaram seus medos

mais oprobriosos?

Na pesquisa que dá origem ao livro Calibán e a bruxa, Frederici (2015), se propõe a

compreender o processo de perseguição e genocídio de mulheres, na sua maioria camponesas e muito

pobres, durante o período de tempo que vai desde meados do século XVI até meados do século XVIII.

Esse processo, que ficou conhecido como Caça às bruxas, a pesar da sua relevância no

desenvolvimento da sociedade capitalista e na formação do operariado moderno, é relativizada pela

historiografia como sendo um episódio menor, sem maiores impactos, sustenta a autora. Contudo ela

defende que, junto com os processos de privatização da terra, aumento dos impostos, e da intervenção

progressiva do estado em diferentes aspectos da vida social, faz parte dos violentos processos,

perpetrados pelas aristocracias latifundiárias e os estados, e que buscaram a desintegração das

comunidades camponesas, e tributaram, por tanto, à formação das classes trabalhadoras urbanas, nos

marcos da acumulação primitiva de capital.

A caça às bruxas aprofundou a divisão entre mulheres e homens, inculcou nos homens o

medo do poder das mulheres e destruiu um universo de práticas, crenças e sujeitos sociais

cuja existência era incompatível com a disciplina do trabalho capitalista, redefinindo assim

os principais elementos da reprodução social. Neste sentido, de um modo similar ao ataque

contemporâneo à “cultura popular” e o “Grande Internamento” de pobres e vagabundos em

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hospícios em workhouses, a caça às bruxas foi um elemento essencial da acumulação

primitiva e da “transição” ao capitalismo. (FEDERICI, 2015, p.264)3

A modernidade ilustrada e o estado de direito buscaram retirar da sua carga genética os

massacres de grandes proporções nos quais se fundam: tanto a colonização da América com a

escravização de povos africanos a ela atrelada, quanto a caça às bruxas. A autora contesta a ideia de

que a caça às bruxas possa ser considerada como parte dos últimos estertores do mundo feudal em

decadência. Os primeiros julgamentos de mulheres pelo crime de bruxaria, tiveram lugar só em

meados do século XV, no marco da crise do sistema feudal, num contexto de intensas revoltas

populares e dizimação da população por epidemias. Nessas circunstâncias também se desenvolveram

as primeiras produções de uma “doutrina sobre a bruxaria, na qual a feitiçaria foi declarada uma forma

de heresia e o crime máximo contra Deus, a Natureza e o Estado” (Idem, p.267, grifos nossos).

Tanto o poder religioso, quer das igrejas protestantes, quer da católica, quanto os poderes

seculares estiveram envolvidos no processo de caça às mulheres e, se bem as acusações foram

elaboradas a partir de crimes que perpetravam violações a preceptos religiosos4, a grande maioria dos

julgamentos foram produzidos pelas cortes seculares.

Há indícios que permitem construir a ideia de que a grande perseguição de mulheres tenha

sido um projeto das elites europeias, projetada e impulsionada de forma relativamente centralizada e

como um processo de cima para baixo; um deles, por exemplo, são as similitudes que guardam os

registros das declarações das mulheres nos julgamentos, ainda que feitos em territórios muito

distantes e diferentes do ponto de vista dos costumes dos povos locais.

A perseguição das mulheres na Europa foi promovida, sustenta Federici (2015), por uma

verdadeira campanha “multimídia com o objetivo de gerar uma psicose em massa entre a população.

Uma das primeiras tarefas da imprensa foi alertar o publico sobre os perigos que as bruxas

representavam, por meio de panfletos que publicizavam os julgamentos mais famosos e os detalhes

de seus feitos mais atrozes” (Idem, p.271). As primeiras descrições sobre o sabá também fazem parte

dessa construção.

Essa campanha foi construindo a noção de bruxa, fazendo detalhadas caracterizações de seus

traços e práticas. Entre outras coisas elas eram acusadas de venderem o corpo e a alma ao demônio,

de assassinar crianças e utilizar a carne e o sangue para fazer poções, de causar a ruína dos vizinhos

3 Todas as traduções de Calibán e a bruxa, salvo outra indicação, são do Coletivo Sycorax, numa versão on line

disponível em: http://coletivosycorax.org/capitulo-iv/#A_epoca_de_queima_de_bruxas_e_a_iniciativa_estatal. 4 É importante destacar que se trata de um tempo histórico em que a moral secular não se distinguia ainda da

moral religiosa.

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destruindo cultivos e trazendo desastres climáticos. Nas descrições que se faziam sobre as atividades

das bruxas, estas se reuniam em florestas, ou terrenos afastados onde preparavam poções, praticavam

atos sexuais ominosos, faziam voos noturnos, e se relacionavam com o demônio, geralmente

representado na figura de um cabra macho.

Até os inícios da modernidade, as questões relativas ao controle da sexualidade, da

reprodução, seja por contracepção ou por abortos, e da cura das enfermidades eram exclusivamente

femininas. Na hora de parir, as mulheres eram assistidas por suas parentes e mulheres próximas e por

parteiras das comunidades. As mulheres sabiam parir e sabiam também ajudar outras mulheres a

parirem. Especialmente entre as classes baixas, as mulheres foram as primeiras a desenvolver

conhecimentos farmacopeicos para curar, para evitar a concepção e para fazer abortos, já que tinham

controle das ervas e os segredos do seu uso eram transmitidos de umas a outras e

intergeracionalmente. Elas foram, durante séculos, nos territórios que hoje conformam a Europa (e

também em outras latitudes) as que cuidaram da saúde das classes subalternas. (Federici, 2015;

Ehrenreich e English, 1981)

Esses saberes, produto da experiência, eram a fonte de uma profunda autonomia no uso do

corpo, e eram também transmitidos na experiência e não estavam objetivados sob forma escrita.

Assim, o saber estava vivo dentro do corpo das mulheres que o cultivavam. Portanto, não eram

saberes custodiados pela igreja nos mosteiros e eram alheios às instituições que concentravam o

poder, desta e dos estados. Para controlá-los desenvolveram a estratégia de controlar o próprio corpo

das mulheres sábias. Nas narrativas hegemônicas sobre a gênese e o desenvolvimento da ciência

médica moderna, postula-se a ideia de que esta viria a superar o conhecimento assistemático, a magia

e a superstição; mas, constatando historicamente, verifica-se um violento processo de repressão e de

eliminação das mulheres. A caça às bruxas dizimou a população feminina através de estratégias

terroristas, e, chama profundamente a atenção que, foi mais difundida e mais exitosa nas regiões onde

o nascente capitalismo estava mais afiançado, e, portanto, os elos comunitários mais debilitados.

Federici(2015) indica a coincidência de espaço e tempo entre a guerra contra as mulheres e a gênese

do capitalismo, e ressalta a importância relativa da caça às bruxas no processo de acumulação

originária de capital, mostrando a perda de autonomia que as mulheres sofreram como triste tributo

para entrar na “idade da razão”.

Os poderes de sanação que as mulheres tinham eram atribuídos aos domínios mágicos e às

superstições, lógicas e raciocínios que a incipiente sociedade burguesa não podia tolerar porque

fugiam do controle da sua racionalidade. Para a nova organização do trabalho capitalista, a magia era

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um obstáculo no domínio que pretendia realizar da natureza, dos homens e das mulheres assim como

para a racionalização do trabalho. Reorganizou-se assim uma “nova ordem patriarcal em que o corpo

das mulheres, seu trabalho, seus poderes sexuais e reprodutivos foram postos sob o controle do estado

e transformados em recursos do processo econômico” (Federici, 2015, p.275) [tr. nossa].

Portanto, sustenta a autora, na perseguição às “bruxas” havia menos interesse no castigo de

uma transgressão específica do que na eliminação de formas generalizadas intoleráveis do

comportamento feminino e que deviam ser construídos como abomináveis perante os olhos da

população. Ao mesmo tempo, funcionou como patamar a partir do qual poderia ser perseguida uma

ampla série de crenças e práticas populares, tornando-se, assim, numa ferramenta contra a resistência

popular à reestruturação econômica e social.

Assim, o controle sobre o corpo e a subjetividade das mulheres, não foi apenas um ato

cometido por alguém ou por uma instituição, num momento pontual, ou em muitos, mas um modo5

de ser na modernidade burguesa, uma dinâmica de violência que funda e atualiza permanentemente

a relação das mulheres com o estado moderno.

Os estados, as leis e as possibilidades de viver uma vida menos violenta

Apesar dessas constatações, no esforço por construir condições de viver uma vida cada vez

mais livre de violências, as mulheres, através de sus lutas, de suas organizações, se propuseram a

construir inclusive por dentro dos mecanismos e ferramentas dos estados nacionais e suas instâncias

Internacionais.

Os três países selecionados para a pesquisa ratificaram as duas convenções internacionais de

maior relevância no que tange à legislação relativa à defesa dos direitos das mulheres; trata-se da

“Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher” (CEDAW)6 e

a “Convenção Interamericana para prevenir, sancionar e erradicar a violência contra a mulher”,

conhecida como Convenção de Belém do Pará. Ambas são instrumentos jurídicos internacionais

vinculantes, o que significa que os Estados assinantes ficam comprometidos a garantir os direitos que

nelas se especificam.

A CEDAW foi adotada pela Assembleia das Nações Unidas em dezembro de 1979 e entrou

em vigência em 1981. Uruguai ratificou-a em 1981, o Brasil em 1984 e a Argentina em 1985. Em

5 A discussão sobre as possibilidades e as contradições de construir condições de viver uma vida sem violência

ao interior da forma estatal que se nos apresenta como ontologicamente misógina, é extremamente necessária, e nos

propomos a desenvolvê-la no médio prazo, contudo, excede os limites deste trabalho. 6 Convention on the Elimination of all forms of Discrimination Against Women (CEDAW)

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1999 adotou-se o Protocolo Facultativo da CEDAW que estabelece, vinte anos após adotada a

Convenção, mecanismos mínimos de exigibilidade. A Argentina ratificou o protocolo em 2000, o

Uruguai o fez em 2001 e o Brasil em 2002.

A Convenção de Belém do Pará foi adotada pela Organização dos Estados Americanos (OEA)

em 1994. Foi ratificada pelo Brasil em 1995 enquanto Argentina e Uruguai o fizeram em 1996.

Tanto os informes do Comitê de Acompanhamento da CEDAW, quanto os informes

alternativos das diferentes organizações que conformam os movimentos de mulheres nos três países

– conhecidos como “informe sombra” - quanto o mecanismo de seguimento da Convenção de Belém

do Pará ressaltam os deficit que ainda existem com relação à atenção da saúde das mulheres com

especial destaque para a mortalidade materna.

Nos três países verifica-se a existência de órgãos encarregados de levar adiante as políticas de

igualdade de gênero e as ações de luta contra a violência. Na Argentina desde 1992 funciona o

Consejo Nacional de la Mujer, hoje Consejo Nacional de las Mujeres (CNM), no Brasil existe desde

2003 a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), que chegou a se tornar Ministério das

Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos em 2016 e foi rapidamente transformado em

Secretaria Especial de política para as mulheres, e no Uruguai desde 2005 contam com o Instituto

Nacional de las Mujeres (INMUJERES).

O último Informe sombra da Argentina, de 2010, destaca que o CNM, integrante do Ministerio

de Desarrollo Social de la Nación, é o responsável principal para direcionar as ações necessárias para

tornar efetivos os direitos das mulheres e carece de orçamento, de equipes técnicas e de status

hierárquico para poder desenvolver as ações necessárias.

No Brasil, a SPM teve até outubro de 2015 status ministerial. Junto com a Secretaria de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria de Direitos Humanos, foi recentemente

incorporada ao Ministério de Cidadania o que implica um recorte do orçamento dedicado a cada uma

delas, perdendo importantes graus de autonomia.

Com relação ao Uruguai, o último Informe sombra de 2008 também chama a atenção sobre o

fato de que o INMUJERES, dependente do Ministerio de Desarrollo Social, tem hierarquia e

orçamento deficitários para levar adiante as medidas necessárias para atingir a igualdade de gênero.

Verifica-se, portanto, uma constante nos três países a respeito do lugar residual dos órgãos

governamentais para tornar efetiva a garantia de direitos para as mulheres ainda que estejam

garantidos na legislação.

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A pesar da precariedade dos avanços institucionais, os movimentos de mulheres vão

avançando em paulatinas conquistas, com diferencias substantivas em cada um dos países.

Um mapeamento inicial – que possivelmente seja pouco exaustivo – dos avanços nas respostas

estatais em cada um dos países, sejam respostas legislativas ou políticas públicas de atenção da saúde

ou de prevenção da violência, mostra que as mulheres vão, paulatinamente, conseguindo conquistar

alguns direitos que podem funcionar como ferramentas para avançar em direção a uma vida com

graus menores de violência.

Na Argentina foi sancionada e promulgada, em 2004, a lei do Parto Humanizado, número

25.929, que só veio a ser regulamentada em 2015 a través do decreto 2035/2015. Esta é uma

normativa de alcance nacional, que tanto se aplica às práticas acontecidas no âmbito das instituições

públicas quanto das privadas. Se bem a lei não propõe uma definição de violência obstétrica faz uma

lista das situações que a lei busca prevenir.

Encontra-se uma definição de violência obstétrica na lei 26.485, sancionada em 2009, de

Protección integral para prevenir sancionar y erradicar la violencia contra las mujeres en el ámbito

de las relaciones interpersonales, segundo a qual, é “aquella que ejerce el personal de salud sobre el

cuerpo y los procesos reproductivos de las mujeres, expresada en el trato deshumanizado, abuso de

medicalización y patologización de los procesos naturales”.

O Ministerio de Desarrollo Social de la Nación, a través do Consejo Nacional de las Mujeres,

disponibiliza a línea telefônica gratuita 144, para denuncia de violência contra as mulheres. Entre as

formas de violência que podem ser denunciadas contempla-se a violência contra a liberdade

reprodutiva e obstétrica.

A organização feminista Las Casildas lançou em colaboração com o Consejo Nacional de las

Mujeres, em 2015 o Observatório de Violência Obstétrica de Argentina. Este se propõe a criar uma

rede nacional que permita tanto coletar e sistematizar dados estatísticos, acompanhar denúncias,

monitorar as políticas públicas, os projetos legislativos, e o cumprimento das leis. Também elaborar

recomendações a organismos e instituições, e criar espaços de difusão e debates com profissionais

envolvidos e com a cidadania em geral. Ao mesmo tempo pretende promover pesquisas, apoiar e

difundir as ações de outros coletivos e articular ações com outros observatórios nacionais e

internacionais7.

Na cidade de Rosário o Observatorio de salud, género y derechos humanos, elaborou em 2003

um informe de direitos humanos na atenção da saúde reprodutiva em hospitais públicos que chamou

7 Cfr. http://lascasildas.com.ar/

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Con todo el aire, o informe ganhou uma segunda versão em 2008, chamado Con todo el aire/2. A

Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Rosário, acabou de criar, não sem mediação de

uma polêmica que chegou a se expressar como discussão ao interior da Academia Argentina de

Ciências, uma disciplina eletiva que chama El aborto como problema de salud, e que começará a ser

oferecida a partir do segundo semestre de 2017.

Em junho deste ano de 2017 houve a primeira sentença num processo judiciário de caráter

civil, por violência obstétrica, em que tanto a mulher quanto a filha demandaram o seguro de saúde,

a clínica, o obstetra e a neonatologista por danos morais, o que senta um precedente histórico, no

marco das lutas contra a violência obstétrica.

No Brasil, desde abril de 2005, está em vigência a lei federal nº 11.108, conhecida como “lei

do acompanhante”, esta foi regulamentada pelo Ministério da Saúde no final de 2005, e em 2008

pelas Agências Nacionais de Saúde Suplementar (ANS) e de Vigilância Sanitária (ANVISA). A lei

prevê garantir a presença de um/a acompanhante da escolha da mulher durante todo o trabalho de

parto, parto e pós-parto imediato, entendendo-se por este último os dez primeiros dias após o parto.

Também estão em vigência 11 leis que garantem às mulheres o direito a ter uma doula durante

o trabalho de parto, parto e pós-parto, nenhuma delas de caráter federal. Tem duas de ingerência

estadual: a lei 10.648/2016 na Paraíba e lei estadual 7314/2016 no Rio de Janeiro. As restantes

correspondem a leis municipais, na cidade de São Paulo, lei 16 602/2016; a lei distrital 5534/2015

com ingerência no Distrito Federal; lei 13080 em João Pessoa; lei 4727/2016 na cidade de Patos na

Paraíba; lei 7946/2014 em Blumenau; lei 21/2017 em Americana, lei 8490/2015 em Jundiaí, ambas

do estado de São Paulo; lei 56/2016 em Cascavel na Bahia e a lei 10914 em Belo Horizonte.

No estado de Santa Catarina foi aprovada em janeiro de 2017 a lei estadual 17.097 que dispõe

sobre a implantação de medidas de informação e proteção à gestante e parturiente contra a violência

obstétrica. Também se tramita na Câmara Federal de deputados, desde 2014, o projeto de lei nº

7633/2014, lei de parto humanizado.

No Uruguai, as mulheres contam desde desde 2001 com a lei n° 17386/2001 que garante a

presença de um acompanhante da escolha da mulher durante o trabalho de parto, parto e puerpério.

Desde 2012 com a lei 18.987, de despenalização da interrupção voluntária da gravidez, que regula a

prática do aborto, suspendo a aplicação da penalidade nos casos que cumpram com os requisitos

estabelecidos na mesma. A lei foi regulamentada pelo decreto 375/012.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A partir de 2014 o Ministerio de Saúde Pública do Uruguai disponibilizou umas Guías en

Salud Sexual y Reproductiva, baseadas nas recomendações da OMS. Orientam a prática nas

instituições mas não tem exigibilidade legal. Organizações da sociedade civil estão construindo um projeto de lei de parto humanizado para

ser apresentado no parlamento, que prevê a criação de um observatório de violência obstétrica.

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em: 18 nov. 2015

ELECTIVE CESAREAN OR VIOLENT CHILDBIRTH? COMPARED RESEARCH ON

OBSTETRIC VIOLENCE IN BRAZIL, ARGENTINA AND URUGUAY

Abstract: Obstetric violence, as a form of violence affecting women, is immanent to the relationships

that are established, within the capitalist society, around women care during pregnancy, childbirth

and the post-partum period. Women's organizations and movements, during the last decades, have

been making efforts to give visibility to that violence and to remove the veil of naturalization that

disguises it, affecting Governments' determination to adopt initiatives aiming to fight it. This article

gathers advances in my post-doctorate research, consisting in a compared study between Brazil,

Argentina and Uruguay on the state of the art of academic research about obstetric violence,

identifying the main tendencies of the debate and governmental initiatives. It also addresses the scope

of related legislation, implementation of public policies aiming to fight obstetric violence, as well as

recognizing and characterizing the women's movements that mobilize around this matter, their main

discussions and actions undertaken.

Keywords: Obstetric Violence. Public Policies. Women. Body. Public Health