cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de

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229 R E S U M O Analisa-se, no presente trabalho, um conjunto composto por sessenta e dois fragmentos de cerâmica de engobe vermelho pompeiano, recolhido na intervenção arqueológica do tea- tro romano de Lisboa durante as campanhas aí levadas a cabo em 2001, 2005 e 2006. Esta intervenção implantou-se na zona a sul do teatro, concretamente por detrás do muro do postcaenium, estrutura exumada, de igual modo, nestas campanhas de escavação. Salienta-se a homogeneidade do conjunto, sendo de sublinhar o facto de, na íntegra, corresponderem a peças de importação produzidas na zona da Campânia. A B S T R A C T This work analyses a whole set of sixty two Pompeian red ware fragments, col- lected in the archaeological works that took place in the Roman theatre in Lisbon, throughout several campaigns held in the monument in 2001, 2005 and 2006. This campaign located in the South of the theatre area, more specifically, behind the postcaenium wall, laid open the structure in the same way. Special reference deserves the homogeneity of the whole set, since it corresponds entirely to importation pieces produced in the region of Campania. 1. Introdução Analisa-se no presente trabalho a colecção de cerâmicas de engobe vermelho pompeiano proveniente das intervenções arqueológicas realizadas no teatro romano de Lisboa durante as campanhas arqueológicas aí levadas a cabo nos anos de 2001, 2005 e 2006 e dirigidas por um dos signatários (L.F.). O presente conjunto é composto por sessenta e duas peças, tratando-se, na maioria, de peque- nos fragmentos, ainda que alguns de perfil completo. Destacam-se, quanto a estes últimos, duas peças de razoáveis dimensões que conservam uma grande porção da peça original (n. os inv. TRL/06/07; TRL/05/2267) (Figs. 9 e 10). O conjunto em análise provém das campanhas arqueológicas que se efectuaram na área a sul do teatro romano, concretamente, na zona do postcaenium. As peças distribuíam-se por toda a área Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa LÍDIA FERNANDES 1 VICTOR FILIPE 2 REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 229-253

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R E S U M O Analisa-se,nopresentetrabalho,umconjuntocompostoporsessentaedoisfragmentos

decerâmicadeengobevermelhopompeiano,recolhidonaintervençãoarqueológicadotea-

troromanodeLisboaduranteascampanhasaílevadasacaboem2001,2005e2006.Esta

intervenção implantou-se na zona a sul do teatro, concretamente por detrás do muro do

postcaenium,estruturaexumada,deigualmodo,nestascampanhasdeescavação.Salienta-sea

homogeneidadedoconjunto,sendodesublinharofactode,naíntegra,corresponderema

peçasdeimportaçãoproduzidasnazonadaCampânia.

A B S T R A C T ThisworkanalysesawholesetofsixtytwoPompeianredwarefragments,col-

lectedinthearchaeologicalworksthattookplaceintheRomantheatreinLisbon,throughout

severalcampaignsheldinthemonumentin2001,2005and2006.Thiscampaignlocatedin

theSouthof the theatrearea,more specifically,behind the postcaeniumwall, laidopen the

structureinthesameway.Specialreferencedeservesthehomogeneityofthewholeset,since

itcorrespondsentirelytoimportationpiecesproducedintheregionofCampania.

1. Introdução

Analisa-se no presente trabalho a colecção de cerâmicas de engobe vermelho pompeianoproveniente das intervenções arqueológicas realizadas no teatro romano de Lisboa durante ascampanhasarqueológicasaílevadasacabonosanosde2001,2005e2006edirigidasporumdossignatários(L.F.).

Opresenteconjuntoécompostoporsessentaeduaspeças,tratando-se,namaioria,depeque-nosfragmentos,aindaquealgunsdeperfilcompleto.Destacam-se,quantoaestesúltimos,duaspeças de razoáveis dimensões que conservam uma grande porção da peça original (n.os inv.TRL/06/07;TRL/05/2267)(Figs.9e10).

Oconjuntoemanáliseprovémdascampanhasarqueológicasqueseefectuaramnaáreaasuldoteatroromano,concretamente,nazonadopostcaenium.Aspeçasdistribuíam-seportodaaárea

Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa LíDiAFERnAnDES1

ViCTORFiLiPE2

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intervencionada,comcercade300m2,eaindaqueumapercentagemsignificativatenhasurgidoemníveisdeépocasposterioresaosdaedificaçãodoteatro,umgrandenúmerofoiexumadoemcontextosdeépocaromanaqueserelacionamdirectamentecomomonumento.importa,aesterespeito,sublinharahomogeneidadedoconjuntoagoraemanálise,oqueésugeridopelacrono-logiaetipologiaevidenciada,bemcomopeloscentrosprodutoresqueterãoproduzidotaisexem-plares.

Pretende-se,destemodo,aobtençãodedadosquepossamauxiliarnaprecisãodecronologiasparacampanhasdeedificaçãoe/ouremodelaçãodomonumento,informaçõesestasquepodemserrectificadasecalibradaspelosdadosfornecidosporoutrosmateriaiscujoestudoseencontraemcurso3.Porúltimo,depara-se-nosdegrandeinteresseadivulgaçãodopresenteconjunto,sobre-tudotendoemcontaodiminutonúmerodecerâmicasdeengobevermelhopompeianoactual-menteconhecidonoterritórionacional,visando-se,nestecontexto,umaanálisedecertaformamaisabrangentesobreestaspeças.

2. O teatro romano de Lisboa

Ahistóriadadescobertadestemonumento,localizado a meia encosta da actual colina doCastelodeS.Jorge(freguesiadaSéedeSantiago,em Alfama) (Fig. 1), é sobejamente conhecidaabstendo-nos,quantoaesteaspecto,aumadescri-ção pormenorizada das etapas e vicissitudes dasuadescoberta4.

Até1991asintervençõesarqueológicasleva-das a cabo no monumento centraram-se no seuinterior,ouseja,nasáreascorrespondentesàorches-tra, hyposcaenium, proscaenium e aditus maximus —zona intervencionada durante a década de 1960—e,posteriormente,napartenorte,coincidentecompartedasbancadas—trabalhosefectuadosde1989a1991.Aprogressivaextensãodaáreainter-vencionadalevantou,dopontodevistadeprotec-çãodosvestígios,bemcomodotratamentomuse-ográfico,inúmerosproblemas.Assim,em2001,aCâmaraMunicipaldeLisboa,atravésdacriaçãodoMuseudoTeatroRomano,procuroucriarinfra--estruturasqueunissemruínaseespaçodeexposição,visandoumacompreensãoglobaldoedifício.nestesentido,onovoprojectocientíficocentrouasuaatençãonaáreaasuldoteatro,localocupadopelaantigacasadoguardadomonumento,comoobjectivodeareabilitarepermitiraligaçãoaonovoMuseudoTeatroRomano,situadoasuldoespaçocénico(Fig.2).

nesteâmbito,foramrealizadasem2001asprimeirasintervençõesarqueológicasnonúcleodesignadopor“casadoguarda”tendosidodetectadaumaenormeestruturadeépocaromana,deorientaçãoE/W,aqualfoiinterpretadacomocorrespondenteaomurodesustentaçãodafrentecénica.Curiosamente,aorientaçãodaactualRuadeS.MamedeaoCaldas,bemcomoaimplanta-çãodosedifíciosdestaartéria,obedeceàorientaçãodessaestruturaromana,constatando-seclara-mentequeaspreexistênciasarquitectónicasmarcaram,emdefinitivo,aurbanísticadacidadeatéà

Fig. 1 LocalizaçãodoteatroromanodeLisboa.

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actualidade(Fig.2).Foramigualmentecolocadosa descoberto vestígios dos séculos XVi/XVii eXViii relacionados com o antigo edifício doCeleirodaMitra,antigadependênciadoCabidodaSé,muitoafectadopeloterramotode1755equefuncionounestelocalatéaosfinaisdoséculoXViiiouiníciosdoséculoXiX.

Ascampanhasde2005e2006incidiramnaárea anexa, onde se localiza o pátio do n.º 3 daRua de S. Mamede ao Caldas (Fig. 2). Deu-se,destemodo,continuidadeàescavaçãoarqueoló-gica iniciada em 2001, estabelecendo a conexãoentreasduasáreasdaintervenção(ade2001eade 2005) através da demolição do alicerce daparededoséculoXiXqueasseparava.importavaessencialmente, para além da escavação integraldetodoesteespaço,colocaradescobertoagrandeestrutura fundacional do teatro que se havia

encontradonodecursodaescavaçãode2001equeaseguiranalisaremos.Aindaqueaescavaçãodaáreade2001nãoseencontreconcluídafoipossível,atravésdoprolon-

gamentodostrabalhosparaEste—acçãolevadaacaboentre2005enoanoseguinte—,teceralgumasconsideraçõessobreestaestrutura.Estaedificação,surgidaduranteaprimeiracampanha,abrangiatodaapartenortedaáreadeescavaçãoentãodisponível(Fig.3),apresentando-se,nasuafaceSul,revestidaporrebocosesbranquiçadosqueescondiamamaiorpartedasuasuperfície.

Fig. 2 ÁreadoteatroromanodeLisboa,comindicaçãodoslocaisintervencionadosarqueologicamenteerespectivocronograma.

Fig. 3 Plantaesquemáticadaáreaintervencionadaem2001,comindicaçãodasváriasestruturasexumadas.

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Comefeito,estaestruturafoiprofundamentealteradaduranteosséculosXVieXVii,alturaemqueaedificaçãoquinhentista,correspondenteaoantigo“CeleirodaMitra”aquiseinstalou,aproveitando-acomopartedaconstrução.Dessaocupaçãodatamosrebocos,argamassas,nichoseremendosfeitoscompedrasefragmentosdetijolo.Comointuitodeseobservarosistemacons-trutivoprocedeu-se,numaáreacircunscrita,àremoçãodessesrevestimentos.Foipossível,destemodo,observaraoestepelomenosquatrofiadasdesilharesdedimensõesvariáveis,apresentandoomaior1,30mx46m.Estasfiadasapresentam-sedispostasalternadamente,comoéhabitualnaedificaçãoromana,emposiçãode“togaytizón”5(Fig.4).Acoloraçãoencarniçadadealgunsdoselementospétreosdeve-seàacçãodoincêndioocorridoem1755,umavezqueapedrautilizadaéo vulgar calcarenito de coloração bege/amarelada que vemos empregue no interior do teatroromano,concretamentenasrespectivasinfra-estruturasquesuportariamacaveae,deigualmodo,nosmúltiploselementosarquitectónicosdecorativos6.

Ascampanhasdeintervençãoarqueológicaimplementadasem2005e2006tiveramcomoobjectivoprolongaraexumaçãodestagrandeestruturaparaEste,únicaáreapossívelparaaconti-nuaçãodaescavação7.Ostrabalhosnazonadopátiopossibilitaramaexumaçãodaqueleenormemuro,tendo-seatingidooseulimitenaparteeste(Fig.5).Obtivemos,destemodo,umaextensãototalde20,70m,sendoque8,76mhaviamsidocolocadosadescobertoem2001eaparterestanteexumadaentre2005e2006.

Afacesuldestaedificação8,aqualfoipossívelobservarem2001equeacimadescrevemos,apresenta,noseuprolongamentoparaEste,umaextensãoconsiderável,nãopossuindo,àprimeiravista, alterações estruturais e de superfície suscitadas por remodelações de épocas posteriores.

Comefeito,estaestruturafoiprofundamentealteradaduranteosséculosXVieXVii,alturaemqueaedificaçãoquinhentista,correspondenteaoantigo“CeleirodaMitra”aquiseinstalou,aproveitando-acomopartedaconstrução.Dessaocupaçãodatamosrebocos,argamassas,nichoseremendosfeitoscompedrasefragmentosdetijolo.Comointuitodeseobservarosistemacons-trutivoprocedeu-se,numaáreacircunscrita,àremoçãodessesrevestimentos.Foipossível,destemodo,observaraoestepelomenosquatrofiadasdesilharesdedimensõesvariáveis,apresentandoomaior1,30mx46m.Estasfiadasapresentam-sedispostasalternadamente,comoéhabitualnaedificaçãoromana,emposiçãode“togaytizón”5(Fig.4).Acoloraçãoencarniçadadealgunsdoselementospétreosdeve-seàacçãodoincêndioocorridoem1755,umavezqueapedrautilizadaéo vulgar calcarenito de coloração bege/amarelada que vemos empregue no interior do teatroromano,concretamentenasrespectivasinfra-estruturasquesuportariamacaveae,deigualmodo,nosmúltiploselementosarquitectónicosdecorativos6.

Ascampanhasdeintervençãoarqueológicaimplementadasem2005e2006tiveramcomoobjectivoprolongaraexumaçãodestagrandeestruturaparaEste,únicaáreapossívelparaaconti-nuaçãodaescavação7.Ostrabalhosnazonadopátiopossibilitaramaexumaçãodaqueleenormemuro,tendo-seatingidooseulimitenaparteeste(Fig.5).Obtivemos,destemodo,umaextensãototalde20,70m,sendoque8,76mhaviamsidocolocadosadescobertoem2001eaparterestanteexumadaentre2005e2006.

Afacesuldestaedificação8,aqualfoipossívelobservarem2001equeacimadescrevemos,apresenta,noseuprolongamentoparaEste,umaextensãoconsiderável,nãopossuindo,àprimeiravista, alterações estruturais e de superfície suscitadas por remodelações de épocas posteriores.

Fig. 4 Troçodoalçadodomuroromano(postcaenium)detectadoem2001.

Fig. 5 CunhalEstedomuroromano(postcaenium)colocadoadescobertoem2005e2006.

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Destemodo, foipossível clarificaro tipode sistemaconstrutivoempresença.Trata-sedeumaorganizaçãoestruturalmistaquealiaoopus quadratum,emaparelhoisódomo,comoopus incertum.Esteúltimo,corresponde,quasediríamos,aumenchimentodaparteinternadaestruturaaqualéreforçada,comoviemosaconstatar,pormurostransversaisquedesempenhamafunçãode“contra-fortes”,sendorealizadosemaparelhoesquadriado.Convémreferirqueestes“contrafortes”apre-sentamumalarguramaisoumenosconstantedecercade1,50moquecorrespondeacercade5PR.noquerespeitaaodistanciamentoqueapresentamentresi,estaconstânciaaltera-se.Temos,assim,edeOesteparaEste,afastamentosde22PR(6,60m),25PR(7,30m)e,porúltimoeatéaocunhaldestaestrutura,12PR½(3,70m),medidasestas tomadasdoeixo,numtotaldequatro“contrafortes”visíveisatéaomomento.

interiormente,estaconstruçãoépreenchidaporopus caementicium,decaracterísticas,deigualmodo,muitosimilaresàsqueseobservamnointeriordoteatro,comosepodeobservarnomuronortedoaditus maximus9.Asuacomposiçãointernaincluifragmentosdepedradedimensõesmédiasagrandes,decalcarenitofossilíferodecoloraçãobegeamarelada,certamenteumaproveitamentododesbastedosubsolonaturaldolocal,levadoacaboaquandodostrabalhospreparatóriosparaacons-truçãodoteatro10.Oliganteéumaargamassagrosseira,deigualcoloração,comgrandepercentagemdeareiaderio,sobretudoquartzítica.Aestruturaédumacoesãoabsoluta,continuandoamanterpraticamenteinalteradasassuascaracterísticasdeagregação.Derealçarquenãosedetectamquais-querfragmentosdecerâmicaemnenhumaáreaemqueéempregueestetipodeopus.

Este sistema construtivo é empregue, como referimos, no interior desta grande estrutura,sendorevestidoexteriormente(facesul)pelafiadadesilharesqueacimadescrevemos,nasáreasondeseimplantamosdesignados“contrafortes”.Estesapresentamumaespessuraquevariaentreos60eos80cm11,enquantoque,noquerespeitaaorespectivocomprimento,adimensãoésensi-velmenteconstante,correspondendoa1,50m,comoacimareferimos12.

Podem-se indicar vários paralelos para este sistema construtivo que emprega simultanea-menteoopus caementiciumeasilhariaregular.Aestepropósito,refere-nosCorzoSánchez,relativa-menteaoteatrodeCádis,quesetratadeumsistema“...acordecomlossistemasrepublicanosmásquecomlosimperiales”(CorzoSánchez,1993,p.135).

noteatroromanodeCartagena,porexemplo,datadodosfinaisdaépocarepublicanaoudosiníciosdoséculoid.C.,encontramosprecisamenteestesistemaquerecorreaousogeneralizadodoopus caementiciumrevestidoaopus quadratum(RamalloAsensioetal.,1993,p.81),técnicaque,segundoLuigiCrema,foihabitualmenteutilizadanaépocadeSilaedeAugustoaindaqueempre-gue,excepcionalmente,atéàépocaflávia(Crema,1957,p.314-317).TambémnoteatrodeAugusta Bilbilisencontramosautilizaçãointensadoopus caementicium,sobretudonaelevaçãodomurodopostcaeniumoqual tinhaa funçãode, juntamentecoma frons scaenae, suportaracolinaondeoteatroseimplantou(Martín-BuenoenúñezMarcén,1993,p.121).Aedificaçãodesteteatro,daépocadeAugustooudosiníciosdeTibério,foiiniciadaprecisamentepelaconstruçãodestaenormeestrutura, correspondendoaumaobrapreparatóriade terraplanagemdacolinaondeomonu-mentoseimplantoueopontodepartidaparaarestanteedificaçãodoespaçocénico.

noquerespeitaàestruturainternadesteenormemurodoteatrodeOlisipo,elaéigualmenterealizada em opus caementicium. neste mesmo sistema construtivo é realizado um outro muro,paraleloaojáreferidoedeledistanciado1,60mparanorte(implantadoimediatamenteporbaixodaactualfachadadoedifíciocomfrenteparaaRuadeS.MamedeaoCaldas)econservadonumaalturasignificativa.Oespaçoentreestesdoismuros,encontra-serebaixado,apresentandoumasuperfíciehomogénea,oquenospoderáindicarumafuncionalidadedesteespaçocomoparasceniaou,maisprovavelmente,comoskenotheke(Fernandes,2006,p.188)(Fig.6).

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Se contabilizarmos a largura máxima domuro de orientação E/W (1,5 m) bem como adimensãode1,60mdaárearebaixadaeseadicio-narmosidênticomuro,deigualorientaçãoE/W,quese localizaporbaixoda fachadaactual,deigualdimensão,obtemosumalarguratotalparaa estrutura do postcaenium de 4,60 m, ou seja15,60PR.

Estaenormeconstruçãodelimita,a sul,oteatroromano.Tratar-se-á,destemodo,daestru-tura tardoz onde encosta a frente cénica. nãoobstante, continuamos sem saber o local deimplantaçãoda frons scaenae,oquenosimpedede comprovar o modelo vitruviano, segundo oqual, aquela se localizaria tangencialmente àbase do triângulo mais perto da cena, inscritoaquelenacircunferênciadefinidoradaorchestra(Vitrúvio, Livro V, Cap. Vi). no caso do teatroromanodeLisboa,ocentrodestacircunferênciadeverá localizar-se no eixo dos aditus maximi,aindaqueoseudiâmetrodevaincluirosdegrausda proedria13. A verificar-se tal aspecto, apenasexistirão duas fiadas paralelas de blocos deassentamentodopulpitum—asquaisseencontramvisíveisdesdeaescavaçãoarqueológicade1967—umavezqueumaterceirafiadainviabilizariaaimplantaçãodafrons scaenaesegundoomodelovitruviano14.Aindaque talaspectonãosejadecisivo,umavezqueummaioroumenorafasta-mentoaestespostuladosécorrente15,pensamosque,paraumteatrodedimensõesmédias,comoterásidoocasododeLisboa,aprofundidadedecercade5,8mouseja,praticamente20PRparaopulpitum,seenquadranasdimensõesprováveisquetalestruturaatingiria.

Atendendoaestesdados,restamcercade31PRatéàfaceSuldamuralhaagoracolocadaadescoberto.Seaestamedidaretirarmosalarguradestaestruturaquedeveráserde4,60m,oquesignificacercade15PR,restarão17PRparaafrentecénica(aproximadamente5m).Poderemos,combasenestasconsiderações,concluirquealarguradestamuralhaquesuportaafrentecénica,ocuparámetadedadimensãoquevaidolimitesuldoteatroaoiníciodopulpitum.

Poroutrolado,gostaríamosdechamaraatençãoparaofactodocomprimentototaldestemurodopostcaenium,comcercade40m,ouseja,135PR,ultrapassar1actus,aindaque,comosetratadeumedifíciopúblicoeimplantadonumazonadeacentuadosdesníveissercompreensíveltal discrepância em relação à eventual ou possível centuriação que se aplicaria à cidade deOlisipo.

Combasenestespressupostose,comalgumasalteraçõesaoindicadoporTheodorHauschildnolevantamentoapresentadoem1990(Beilage2),ondeprojectavaumprolongamentoexageradodasestruturasdoproscaeniumefrons scaenae,pensamosqueestemonumentonãoultrapassaráon.º7dessaartéria16.Sabemosdesdejá,pelostrabalhoslevadosacaboem2001non.º3dessarua—juntoàparedededivisãoentreosdoisedifícios—queamuralhadesustentaçãodafrons scaenaedoteatroseprolongapeloedifíciocontíguo(n.º5).Tal factoéperfeitamentedescortinávelnoalçadoEstedessaparedesendonítidooprolongamentodamuralharomana.Curiosoconstatara

Fig. 6 EstruturadopostaceniumdoTeatro.Possíveláreadestinadaaskenotheke.

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manutençãodotraçadodaruaeimplantaçãodasactuaisfachadas,asquaisseregempelapreexis-tênciadestaenormeconstruçãoquedemarcaoseualinhamentoequeaaproveitamcomoalicer-çamento.Estasituaçãoéexplícita,aliás,namanutençãodaorientaçãodasestruturasdosséculosXVi/XViiedaprimeirametadedoséculoXViiiassociadasaoCeleirodaMitra,edasqueselhessobrepuseramcomareconstruçãodacidadedepoisdoterramotooqueocorreu,nestaárea,jánosfinaisdoséculoXViiieiníciosdoséculoXiX.

3. Acerca das cerâmicas de engobe vermelho pompeiano

As cerâmicas de engobe vermelho pompeiano foram alvo de inúmeros estudos desde osinícios do século XX (Ritterling, 1901; Kruger, 1905; Loeschcke, 1909; Gose, 1950; Lamboglia,1950;Vegas,1964;Goudineau,1970;CavalieriManasse,1973;Peacock,1977;AguarodOtal,1991).AexcelentesínteseacercadahistóriadestetipodecerâmicafeitaporAguarodOtal(1991)noseutrabalho“CerámicaromanaimportadadecocinaenlaTarraconense”tornadesnecessáriorepetiraquiaspectosjádevidamenteestudadosepublicados.

Contudo,parece-nospertinentereferirquesetrata,nasuageneralidade,deformasbaixas,pratos na sua grande maioria de amplo diâmetro, com a superfície interna revestida com umespesso engobe vermelho, sendo o exterior simplesmente alisado. É uma cerâmica destinada àutilização na cozinha, na preparação e confecção de alimentos, podendo igualmente ter sidoempreguenoserviçodemesaparaconterouserviralimentossólidos(ArrudaeViegas,2002).

Astampasterãosidoutilizadas,aoquetudoindica,tambémcomopratos.Aíseserviriaoguisado, porquanto a pega, em forma de fundo, facilitava a sua utilização simultaneamenteenquantoprato.Estaspeçasapresentam-se,invariavelmente,comumdesgastemaisacentuadonointeriordoquenoexterior(Aguarod,1991).

AcerâmicadeengobevermelhopompeianofoiproduzidaemduaszonasdistintasdaPenín-sulaitálica,aEtrúriaeaCampânia.QuantoàEtrúria,oiníciodasproduçõesremontapelomenosa220a.C.,tendosidoidentificadaemníveisdeabandonoemBolsena(Goudineau,1970)eperduraaté finaisdaRepública.AsproduçõesdaregiãocampanasubstituíramasdaEtrúriaduranteoséculoia.C.,passandoaserdominantesapartirdeAugusto,vindoasuaproduçãoafindarnoúltimoquarteldoséculoid.C.,em79,aquandodaerupçãodoVesúvio.

Estas cerâmicas foram imitadas em vários pontos do império Romano (Espanha, França,inglaterra, Flandres, Renânia), tendo sido igualmente identificadas no território actualmenteportuguês.Algumasdestasimitaçõesnãosedestinavamsimplesmenteaabastecermercadoslocaisouregionais,tendosidodifundidasparapontosbemdistantesdolocaldefabrico,comoficoudemonstradopelotrabalhodePeacock(1977)naidentificaçãodeproduçõesdaáreadeLezouxedaBélgicaemterritóriobritânico.

As produções da Campânia estão presentes por toda a área do antigo império Romano apartirdeAugusto—itália,França,Suiça,Áustria,Bélgica,Alemanha,inglaterra,Espanha,Portu-gal,Grécia,nortedeÁfricaeChipre(Aguarod,1991,p.55-57).

Relativamenteàsproduçõesmaisantigas,procedentesdaEtrúria,estasparecemrestringir-seàszonasmaisprecocementeromanizadas.

Adifusãodestasproduções cerâmicasestádirectamenterelacionadacomapresençaeinfluên-ciaexercidapelaslegiõesromanasjuntodaspopulaçõeslocais,fazendopartedoconjuntodecerâ-micasutilizadaspelosmilitaresromanosnaconfecçãoepreparaçãodosalimentosqueintegravamoseuregimealimentarquotidiano.

manutençãodotraçadodaruaeimplantaçãodasactuaisfachadas,asquaisseregempelapreexis-tênciadestaenormeconstruçãoquedemarcaoseualinhamentoequeaaproveitamcomoalicer-çamento.Estasituaçãoéexplícita,aliás,namanutençãodaorientaçãodasestruturasdosséculosXVi/XViiedaprimeirametadedoséculoXViiiassociadasaoCeleirodaMitra,edasqueselhessobrepuseramcomareconstruçãodacidadedepoisdoterramotooqueocorreu,nestaárea,jánosfinaisdoséculoXViiieiníciosdoséculoXiX.

3. Acerca das cerâmicas de engobe vermelho pompeiano

As cerâmicas de engobe vermelho pompeiano foram alvo de inúmeros estudos desde osinícios do século XX (Ritterling, 1901; Kruger, 1905; Loeschcke, 1909; Gose, 1950; Lamboglia,1950;Vegas,1964;Goudineau,1970;CavalieriManasse,1973;Peacock,1977;AguarodOtal,1991).AexcelentesínteseacercadahistóriadestetipodecerâmicafeitaporAguarodOtal(1991)noseutrabalho“CerámicaromanaimportadadecocinaenlaTarraconense”tornadesnecessáriorepetiraquiaspectosjádevidamenteestudadosepublicados.

Contudo,parece-nospertinentereferirquesetrata,nasuageneralidade,deformasbaixas,pratos na sua grande maioria de amplo diâmetro, com a superfície interna revestida com umespesso engobe vermelho, sendo o exterior simplesmente alisado. É uma cerâmica destinada àutilização na cozinha, na preparação e confecção de alimentos, podendo igualmente ter sidoempreguenoserviçodemesaparaconterouserviralimentossólidos(ArrudaeViegas,2002).

Astampasterãosidoutilizadas,aoquetudoindica,tambémcomopratos.Aíseserviriaoguisado, porquanto a pega, em forma de fundo, facilitava a sua utilização simultaneamenteenquantoprato.Estaspeçasapresentam-se,invariavelmente,comumdesgastemaisacentuadonointeriordoquenoexterior(Aguarod,1991).

AcerâmicadeengobevermelhopompeianofoiproduzidaemduaszonasdistintasdaPenín-sulaitálica,aEtrúriaeaCampânia.QuantoàEtrúria,oiníciodasproduçõesremontapelomenosa220a.C.,tendosidoidentificadaemníveisdeabandonoemBolsena(Goudineau,1970)eperduraaté finaisdaRepública.AsproduçõesdaregiãocampanasubstituíramasdaEtrúriaduranteoséculoia.C.,passandoaserdominantesapartirdeAugusto,vindoasuaproduçãoafindarnoúltimoquarteldoséculoid.C.,em79,aquandodaerupçãodoVesúvio.

Estas cerâmicas foram imitadas em vários pontos do império Romano (Espanha, França,inglaterra, Flandres, Renânia), tendo sido igualmente identificadas no território actualmenteportuguês.Algumasdestasimitaçõesnãosedestinavamsimplesmenteaabastecermercadoslocaisouregionais,tendosidodifundidasparapontosbemdistantesdolocaldefabrico,comoficoudemonstradopelotrabalhodePeacock(1977)naidentificaçãodeproduçõesdaáreadeLezouxedaBélgicaemterritóriobritânico.

As produções da Campânia estão presentes por toda a área do antigo império Romano apartirdeAugusto—itália,França,Suiça,Áustria,Bélgica,Alemanha,inglaterra,Espanha,Portu-gal,Grécia,nortedeÁfricaeChipre(Aguarod,1991,p.55-57).

Relativamenteàsproduçõesmaisantigas,procedentesdaEtrúria,estasparecemrestringir-seàszonasmaisprecocementeromanizadas.

Adifusãodestasproduções cerâmicasestádirectamenterelacionadacomapresençaeinfluên-ciaexercidapelaslegiõesromanasjuntodaspopulaçõeslocais,fazendopartedoconjuntodecerâ-micasutilizadaspelosmilitaresromanosnaconfecçãoepreparaçãodosalimentosqueintegravamoseuregimealimentarquotidiano.

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EmPortugalsãopoucososestudosquesedebruçamsobreestetipodecerâmica.OartigopublicadoporAnaMargaridaArrudaeCatarinaViegas(2002)sobreosvermelhospompeianosdaAlcáçovadeSantarémapresenta-secomooestudomaiscompletosobreestetipodecerâmicade produção itálica presente em território hoje português. As autoras analisam um conjuntobastante significativo de materiais, sendo, para já, a colecção numericamente mais expressivaestudadaemPortugal.Em2003,éigualmentepublicadooestudodeumpequenoconjuntodecerâmicas de engobe vermelho pompeiano de Alcácer do Sal proveniente de achados isolados(Sepúlvedaetal.).

noquedizrespeitoàsimitaçõesdestetipodecerâmica,oestudomaisabrangentefoilevadoacaboporManuelaDelgadoem1993.nestetrabalhoaautoradebruça-sesobreasimitaçõesdestetipodecerâmicaencontradasemváriasescavaçõesnacidadedeBragaesuaenvolvente,tratando--se,emnossaopinião,deumestudodereferência.

AscerâmicasdeengobevermelhopompeianosurgemigualmentepublicadasemPortugalemestudosumpoucomaisgenéricos,comoaconteceemConímbriga(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975;DeMan,2006),ondeestetipodematerialsurgeemnúmeroquesepodeconsiderarpoucoexpressivoeondeestãopresentesalgumaspeçasdeimitação,concretamentenoforumdeAeminium(Carvalho,1998),emSãoCucufate(Pinto,1999)enaCidadedasRosas(Caeiro,1978).

4. Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano

4.1 Contexto estratigráfico

Comoanteriormentese referiu,os fragmentosaquianalisadosprovêmdascampanhasde2001,2005e2006,tendosidorecolhidosem33camadasindividualizadas.Osgrandesrevolvimen-tosregistadosnaestratigrafiadestaáreadoteatro,provocadospordiversasesucessivasconstru-çõesereconstruçõesdeedifícios,perturbaramdeumaformabastantevisívelpartedaestratigrafiacorrespondenteàsocupaçõesdeépocaromanaqueaquinosinteressam.Talfactosucedeu,essen-cialmente,naáreaabrangidapela intervençãoarqueológicade2001 (núcleo“Casadoguarda”)onde,atécercade12mdeprofundidade,seexumaramestruturasdosséculosXVi/XViirelaciona-dascomoantigoCeleirodaMitra,asquaisforamgrandementeafectadaspeloterramotode1755.Assim,registou-seoaparecimentodecerâmicasdeengobevermelhoemcamadasqueseestendemcronologicamenteatéaosfinaisdoséculoXViii.

Aintervençãoarqueológicaqueseprocessouem2005e2006foilevadaacabonopátio,localondeasestruturasdeépocamodernaselocalizavamacotassignificativamentemaisaltas.Atribuí-veisaoPeríodoModernosãoascamadasC2daVala2;C9daVala7;C15eC15adaVala5;C12daVala6;C7daVala8;C3,C6,C6a,C7,C7a,C15,C18beC20daVala11.DestascamadasapenasaC9daVala7éposteriora1755,sendoasrestantesanterioresaoterramoto.

AcamadaC8daVala7situa-senoséculoXiV.DoPeríodoMedievalsãoascamadasC2eC2adaVala9,C2daVala10,eC2eC2adaVala11,camadas,aliás,equivalentes.Estas,correspondema uma reposição de terras efectuada em período medieval que afectou maioritariamente níveisdatáveisdoséculoid.C.Comefeito,amaioriadosmateriaisrecolhidosnestascamadasinsere-secronologicamentenumafaixadetempobastantecircunscrita,atribuívelàqueleséculo,sendoqueosdecronologiamedievaladquiremumcarácterquaseresidual.

Genericamenteenquadráveisnoséculoid.C.sãoascamadasC6eC8daVala10,ondeserecolheramrespectivamenteosfragmentos2357e408,deformaindeterminada.

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Balizadasentrefinaisdoséculoia.C.eaprimeirametadedoséculoid.C.sãoascamadasC6,C9,C9b,C10,C17,C16,C15e15adaVala9,ondeserecolheramfragmentosdaforma6e3deAguarodedeformaindeterminada.

4.2. Caracterização do conjunto

Formas

Oconjuntodecerâmicasdeengobevermelhopompeianorecolhidonasescavaçõesdoteatroromano de Lisboa soma um total de sessenta e dois fragmentos, correspondendo todos eles aproduçõesdaCampânia.Verifica-seapresençadetrêsformasdistintasdepratos,formas4,5e6deAguarod,etampasdeforma3deAguarod(Celsa80.8145).Àsemelhançadoqueacontecenamaioriadossítios17ondeseregistaapresençadestetipodecerâmica,aformamaisrepresentadaéaforma6deAguarod,equivalendoa35%dototaldoconjunto.

Ao contrário do que acontece em Santarém (Arruda e Viegas, 2002), verifica-se aqui umamaiorpercentagemdemateriaiscommarcasdefogo,contabilizando60%dototaldoconjunto.Aindaassim,ésignificativooconjuntodepeçasquenãoapresentaqualquerindíciodecontactocomfogo(40%),destinando-semuitoprovavelmenteàpreparaçãodosalimentosoumesmoparaserviràmesa.

Bastanteinteressanteparece-nosofactodeseteremidentificado,emcincofragmentosdefundo,marcasdecortesnasuperfícieinternarealizadossobreoengobe,osquaisinterpretámoscomotendosidoproduzidosporfaca.AguarodfazreferênciaaomesmofenómenoemmateriaisdeBilbilis(1991,p.54).Estescortespoderãotersidofeitosaocortar-seapatinaaliconfeccionada.noentanto,eaocontráriodoqueacontececomoscortesidentificadosnoengobeinternodospratosdeBilbilis,queseapresentamemsentidoradial,ospresentesprojectam-seemdiferentesdirecçõescruzando-sealeatoriamente.

nãodeixadesersignificativoofactodenãosepresenciaremnoteatroimitaçõesdepratosdeengobevermelhopompeiano,novamenteàsemelhançadoqueaconteceemSantarém.Estefacto

Forma 3 (tampas)

Forma 4

Forma 5

Forma 6

Indeterminados

3354%

2235%

23%

12%4

6%

Gráfico 1Distribuiçãodasformasexistentes.

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depara-se-nostantomaisevidentequandoemcomparaçãocomapresençadeimitaçõesnorestanteterritórionacional,comosucedeemConímbriga,BragaeAlentejo,entreoutroslocais.

OfactodeestascerâmicasexistirememLisboaeSantarémemquantidadesnãoigualáveisemoutrospontosdoterritórionacional(faceaoqueestápublicado),apardainexistênciadeimita-ções,comojásublinhámos,indicia,nonossopontodevista,ummaiorediferenciadoincrementocomercialcomosprodutosvindosdaPenínsulaitálica.Provavelmenteamaiordisponibilidadeoufacilidade de aquisição destes produtos em Lisboa e Santarém, ocorrendo similar situação emoutroscentroscosteiros, tornariadesnecessáriaaproduçãode imitações jáqueasuaaquisiçãoseriarelativamenteusual.

O conjunto do teatro apresenta um dado até agora inédito nas colecções publicadas emPortugal:aexistênciadetampasdeengobevermelhopompeianoproduzidasnaCampânia.iden-tificaram-sequatrofragmentosdetampas,correspondentesàforma3deAguarod(Celsa80.8145).Estasformasnãoapresentamotípicoengobeditodevermelhopompeiano,exibindoapenasemdoisdosfragmentos(TRL/05/2349eTRL/06/581)umaaguadadecorvermelha(respectivamente,10R5/8e10R5/4)nobordo.

Engobes e pastas

O engobe destas cerâmicas apresenta as características típicas, sendo geralmente espesso,aderentee lustroso,podendoemalgunscasosserpoucoaderenteebaço,ouapresentar-semalconservadoeadestacar-se.Decorvermelha,podevariarentre10R4/6e10R5/8.Esteengobecobre completamente a superfície interna dos pratos e parcialmente a superfície externa dobordo.

Quanto às produções, em todos os fragmentos se observam as características típicas daspastasdaCampânia,comgrandesquantidadesdeelementosnegrosdeorigemvulcânica,quartzosepresençadegrãosferruginosos,dehematitesemicas,sendonormalmentecompactasedetexturaarenosa.Acorvariaentrecastanho-avermelhado(5YR5/4)ecastanho(7.5YR5/4).

4.3. Tipologia

Do conjunto de cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboaapenasse identificouumfragmentodebordoatribuívelà forma4deAguarod(Fig.17),oqueequivalea2%dototaldoconjunto.Trata-sedeumpratodeamplodiâmetro(52,4cm),debordodesenvolvidoeaplanadoedeparedeslevementeconvexas,quecorrespondeaogrupobdaspastasdescritasporAguarodeatribuível,aparentemente,aumaproduçãotardia.

EstaformafoiproduzidanoscentrosoleirosdaEtrúriaedaCampâniadesdeofinaldoséculoiia.C.atéaosprincipadosdeTibérioeCláudio.Asuadifusãoparececircunscrever-seàszonasmeridionaisdoimpério,Penínsulaitálica,Penínsulaibérica,SuldaGáliaenortedeÁfrica,comaexcepçãodo limesgermânico,ondesurgeapartirdoprincipadodeAugusto (Loeschcke,1942).Tendo-sepopularizadosobretudoasproduçõesdaCampâniaapartirdoséculoia.C.,elasmarcampresençanaTarraconenseapartirdosegundoquarteldesteséculo(Aguarod,1991).

EmPortugal,paraalémdesteexemplar,estaformafoiidentificadaemConímbriga(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975),emSantarém(ArrudaeViegas,2002)eemAlcácerdoSal(Sepúlvedaetal.,2003).

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Fig. 7 PerfilestratigráficodaVala9(áreaintervencionadaem2005).

Fig. 8 PerfilestratigráficodaVala9/10/11(áreaintervencionadaem2005e2006).

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Fig. 9 Forma6deAguarod(Luni5)(n.ºinv.TRL/06/7).

Fig. 11 Forma6deAguarod(Luni5)eformaindeterminada(TRL/05/2345e2346).

Fig. 13 Forma3deAguarod(Celsa80.8145)(TRL/05/2349).

Fig. 10 Forma6deAguarod(Luni5)(n.ºinv.TRL/05/2267).

Fig. 12 Forma5deAguarod(Luni3)(TRL/01/2337e2338).

Fig. 14 Forma3deAguarod(Celsa80.8145)(TRL/05/2332.2333).

Fig. 15 Grafitoefectuadocomapastaaindafrescajuntoaolimitedofundoexterno(TRL/06/415).

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Daforma5deAguarodidentificaram-sedoisfragmentosdebordo(Figs.12e18),correspon-dendoa3%dototaldoconjunto.Trata-sedepratoscomparedesabertasquevãoficandomaisdelgadasàmedidaqueseaproximamdobordoeapresentandoumperfilpoucoconvexo.Possuemumaligeiracarenanofundointerno,juntoàjunçãocomaparede.Ofundoéligeiramenteelevadonocentro,apoiando-seunicamentenazonamaispróximadoarranquedaparede.

Odiâmetrodestasformasévariável,porém,sãonormalmentedepequenasoumédiasdimen-sões.OsexemplaresdaTarraconenseestudadosporAguarod(1991)possuementre17,5e23cm,eosdoteatroromanodeLisboa23,6e25cm.Oseufabricoteveinícionoséculoia.C.naCampâ-nia,tendoalcançadoasuamáximadifusãoemépocaaugustana.

Aforma5deAguarodestáidentificadanaPenínsulaitálica,GáliaePenínsulaibérica.Estaproduçãoperdurouatémeadosdoséculoid.C.EmPortugalestaformafoiidentificadaemConím-briga18(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975)eemS.Cucufate19(Pinto,1999).

Aforma6deAguarodéamaisrepresentadanoconjuntodascerâmicasdeengobevermelhopompeianodoteatroromanodeLisboa,tendosidoidentificadosvinteedoisfragmentosdebordo(Figs.9,10,11,19,20e21),oquecorrespondea35%dototaldoconjunto.Obordoérectoouligeiramentereentrante,podendoserligeiramenteengrossadoousimplesmentearredondado.Asparedesdescrevemumperfilquepodesermaisoumenosconvexoeumângulodeaberturavariá-vel.Ofundoégeralmenteplanoouligeiramenteelevadonocentro.

Odiâmetrodestaformavariabastante,sendoconhecidospratosde13,7cm(Aguarod,1991)a95cm(Wynia,1979).Osfragmentosaquianalisadosvariamentreos15eos71,8cm.Estavaria-çãotãoacentuadanadimensãodepeçasdamesmaformatipológicarelaciona-secomasuafunçãoenecessidadesespecíficasdosseusutilizadores,nãosignificandotalfactoumaevoluçãotipoló-gicanotempo(Aguarod,1991).Trata-sedeumaformaunicamenteproduzidanaCampânia,apartirdaépocadeAugustoequeperduraatéaofinaldasproduçõescampanasnaúltimametadedoséculoid.C.É,provavelmentedevidoàcronologiadoiníciodasuaprodução,aformamaisdifundidapeloimpério,estandopresenteemváriossítiosdaPenínsulaibéricaeitálica,nortedeÁfrica,Gália,Suiça,Áustria,limesgermânico,Britânia,GréciaeChipre.

Sãoconhecidosváriosgrafitosemarcasdeoleirorealizadosnestaformatipológica.normal-menteefectuadasjuntoaolimitedofundoexternocomapastaaindafresca,indicamonomedooleiroouproprietáriodaoficina,emboraexistamgrafitossobreestasmesmasformasemPompeia(Aguarod,1991)quenãosãocompostosporletrasmassimpornúmerosecujosignificadoestáaindapordecifrar.SegundoAguarod,aoorientar-seapeçademaneiraaquesepossamlerosgrafi-tos,constata-sequeestessesituaminvariavelmentenapartesuperiordapeça,juntoaolimitedofundoexterno.noúnicografitoqueidentificámosnoconjuntodascerâmicasdeengobevermelhopompeianodoTeatroromanodeLisboa(Figs.15e23),constatamosqueissoseverifica.Emboramuitofragmentado,situa-sejuntoaolimitedofundoexterno,peloquenosépossívelobterasuaorientaçãocorrecta.infelizmenteasualeituraafigura-seimpossível.

EmPortugalaforma6deAguarodfoiidentificadaemConímbriga(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975),emCoimbra(Carvalho,1998),emSantarém(ArrudaeViegas,2002)eemAlcácerdoSal(Sepúlvedaetal.,2003).

identificámosquatrobordosde tampasqueatribuímosao segundogrupoda forma3deAguarod(Celsa80.8145),oquecorrespondea6%doconjunto(Figs.13,14e16).Aguaroddividiuesta forma em dois grupos distintos: o primeiro é composto por peças de perfil completo; osegundocompõe-sedepeçascujoperfilseencontraincompletoenasquaisnãoépossívelverificaraexistênciadepega,emboraambososgrupos tenhamoperfildobordoearranquedaparedeidêntico. São formas relativamente planas, com bordo arredondado, prolongado, ligeiramente

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engrossadoeviradoaoexterior.AindaquenasquatropeçasdoteatroromanodeLisboaseconserveapenasobordoepartedaparede,estasformaspossuíam,nazonadapega,umpequenoressaltoemformadeanel,comasuperfícieinteriorligeiramenteabaulada.

Emnenhumadaspeçasseverificaaexistênciademarcasdefogojuntoaobordo,porém,naspeçasn.º2349(Fig.13)en.º581observa-sequeobordoécobertocomumaaguadadecorverme-lha,quesediferenciadorestodapeça,equeseestende,nocasodoexemplarn.º2349,cercade1cmnaparteinternadobordoe0,5cmnoladoexternodomesmo.nofragmentocomon.ºinv.

Fig. 16 Forma3deAguarod(Celsa80.8145)–tampas.

Fig. 17 Forma4deAguarod(Luni2/4).

Fig. 18 Forma5deAguarod(Luni3).

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581essaaguadarecobrecercade3,5cmdafaceinternae1,5cmdoladooposto.Trata-sedeumacaracterísticatécnica—designadapor“bordeahumado”—apenasconstatadaemalgunsexempla-res e exclusivados fabricosdaCampâniaeaqual consiste “enunapigmentacióndecolorgrisoscuro—marróncenicientoquecubreelbordedelasmismas”(Aguarod,1991,p.114).

Écertoqueosnossosexemplaresn.º2349en.º581foramproduzidosnaCampâniaequepossuemobordocobertoporumaaguada,porém,acordesta(vermelho—10R5/8e10R5/4)diferedaquenosédescritaporAguarod.Éigualmenteobservávelumacentuadodesgastenazonaemqueatampaseapoiavanobordodopraton.º2349,aspectoquecertamenteseficaráadeveràintensautilizaçãodomesmo.

Osdiâmetrosdestastampas,àimagemdoqueacontececomospratos,sãoextremamentevariáveis,estandodocumentadasnaTarraconensedimensõesqueoscilamentreos18,4eos56,8cm(Aguarod,1991).Asqueaquiseanalisamoferecemdimensõesquevariamentreos30eos47,2cm.

EmboratambémtenhamsidoproduzidasnaEtrúria,estasformassãobastantemaiscomunsnosegundogrupodepastasdescritasporAguarod(1991),ouseja,asproduzidasnaCampâniadesdemeadosdoséculoia.C.atéàprimeirametadedoséculoid.C.

São,deigualmodo,conhecidastampasdaforma3deAguarodnaTarraconense,noSuldaGáliaenolimesgermânico—emHalterneOberaden—(Aguarod,1991,mapa33).Aescassaoumesmoinexistentepresençadetampasdestaedeoutrasformasemsítiosarqueológicosemquesãoconhecidospratosdeengobevermelhopompeianopareceestarmaisrelacionadacomoestadomuito fragmentado destas peças e respectiva dificuldade na sua identificação (já que, emborasejamproduzidasnamesmapastaqueospratos,nãopossuemo típicoengobequeéaplicadonaqueles),doquepropriamentecomumarealausênciadasmesmas.

AindasegundoAguarod,estaformadestinar-se-iaataparpratosquecorrespondemàsformas4,5,6,7e8,trêsdasquaisestãopresentesnoconjuntoagoraemestudo.

Fig. 19 Forma6deAguarod(Luni5).

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Fig. 20 Forma6deAguarod(Luni5).

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Fig. 21 Forma6deAguarod(Luni5).

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Fig. 23 Grafitoefectuadocomapastaaindafrescajuntoaolimitedofundoexterno.

Fig. 22 Forma6deAguarod(415)?Formasindeterminadas(6,8,412,2266e2).

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5. Considerações finais

AcronologiaapontadaparaaconstruçãodoteatroromanodeLisboa,iníciosdoséculoid.C.,e a sua remodelação em meados do mesmo século20, corresponde, temporalmente, ao auge dasimportações de cerâmica de engobe vermelho pompeiano vindas da região da Campânia. Comefeito,astipologiasaquiidentificadasconheceramnesseperíodoumamaiordispersãoportodooimpérioromano,sendocompreensívelapresençadestetipodepeçasnoteatroromanoemquanti-dadesquesepodemconsiderarrazoáveis.

Relativamenteàsformasidentificadas,estassão,deumaformageral,comunsnosrestantessítiosarqueológicosportuguesesondesãoreconhecidosengobesvermelhospompeianos.Oquenosparecederealçarnoconjuntodoteatroéofactodeestaremreunidastodasasformasanterior-mente identificadasemPortugal,comexcepçãodepratosdaforma3deAguarod,presenteemníveisrepublicanosdaAlcáçovadeSantarém(ArrudaeViegas,2002),bemcomoapresençadetampas—Celsa80.8145(Aguarodforma3paraestetipodepeças).Defacto,nosconjuntosconhe-cidosemPortugalverifica-seainexistênciadetampasnestacerâmica,constituindo-secomoúnicasemPortugalasqueaquiseapresentam.Talpoderáencontrarexplicaçãonadificuldadeemidenti-ficá-las,comoanteriormentereferimos,jáque,emborasejamproduzidasnamesmapastaqueospratos,nãopossuemotípicoengobequeàqueleséaplicado,bemcomonoestadomuitofragmen-tadoemqueestaspeçasgeralmenteseencontram(Aguarod,1991).Muitoprovavelmenteaquan-tidadedetampasseriatambéminferioràdospratos.

Embora existam no teatro de Lisboa inúmeros materiais de cronologia republicana, nãopodemos,demomento,concluirporníveisdeocupaçãoindiscutivelmenteatribuíveisaesseperí-odo,oquepoderia,eventualmente,explicaraausênciadaforma3deAguarod.Asconclusõesaapresentar sobreestaquestão terãoqueaguardarporumaanálisedetalhadade todooespóliocerâmico,sobretudooexumadonasduasúltimascampanhasoque,demomento,nãofoipossívelrealizar.Contudo,seatendermosaofactodascidadesdeScallabiseOlisiposesituaremnomesmoâmbitogeográfico,bordejadaspeloTejoe integradasnosmesmoscircuitoscomerciais, cremosque as produções e formas que chegaram a um sítio terão, muito provavelmente, alcançado ooutro.SomenteoaparecimentoeestudodemaismateriaisdeidênticacronologiaemLisboapode-rãoauxiliarnoesclarecimentodetalquestão.

Evidentetambémpareceserarelaçãoentreestasduascidadesnoquetocaàinexistênciadeproduçõeslocaisouregionaisqueimitamestetipodecerâmica.Relembramosqueasimitaçõesdepratosdeengobevermelhopompeianosãoumaconstanteemtodosossítiosnacionaisondeforamidentificados,constituindo,porvezes,osúnicosespécimesidentificados.Talpareceestarrelacio-nadocomaelevadacapacidadeeconómicadoshabitantesdeScallabisedeOlisipo,aliadoàprivile-giadasituaçãogeográficaeestatutojurídico(ArrudaeViegas,2002).

Emboraquantitativamentepoucoexpressivoquandocomparadocomovolumedemateriaiscerâmicosrecolhidosnascampanhasde2001,2005e2006,especialmentesetivermosemcontaaelevadapercentagemdecerâmicasimportadasdaPenínsulaitálicaedeoutrospontosdoimpério,oconjuntodecerâmicasdeengobevermelhopompeianoagoraemanálisepode,aindaassim,serconsideradosignificativo.Tratando-sedecerâmicacomum,énaturalqueasuaexportaçãonãoalcançasseaprofusãoeaquantidadecomquesurgemoutrosmateriais,comoacontececomascerâmicascampanienseseaterra sigillata.noqueserefereaestasúltimas,aquantidadedepeçasitálicasdatáveisdosiníciosdoséculoi,corroboram,deigualmodo,acronologiaagorapropostaparaascerâmicasdeengobevermelhopompeiano,omesmoacontecendocomoutrosmateriais,comoéocasodaslucernasecerâmicasdeparedesfinas21.

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Lídia Fernandes | Victor Filipe Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa

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importaigualmenterealçarqueoespólioprovenientedasintervençõesarqueológicasrealiza-dasasuldoteatro—istoé,aslevadasacaboentre2001,2005e2006(sobretudoestasduasúltimascampanhas)equeseoperaramnapartedopostcaenium—contrastanitidamente,emtermoscrono-lógicos,comaspeçasexumadasnointeriordomonumento,provenientesdasescavaçõesaíefectu-adasentre1964e1993.nesteúltimocaso,dospoucosmateriaisqueatéaomomentoforampubli-cados, salientamos as lucernas, as quais se distribuem cronologicamente por um espectroacentuadamenteamplo,abrangendotodooperíodoentreasegundametadedoséculoieasextacentúria(DiogoeSepúlveda,2000,p.153-161).Talfactopode,igualmente,serconstatadonoqueserefereàorigemdosrespectivosfabricos,ressaltandoasproduçõeseimitaçõeslocais.

Agrandediferençaqueseestabeleceemrelaçãoaidênticosmateriaisexumadosnapartesuldoteatro,ouseja,jáforadoespaçocénico,mascorrespondendoaumaáreapertencenteaoedifí-cio, refere-se ao facto de todos eles se enquadrarem numa baliza cronológica que dificilmenteultrapassaráosmeadosdaprimeiracentúria,aindaque,pensamos,sejapossívelprecisarcommaisalgumdetalhe,futuramente,esteâmbitocronológico.Estefactorevela-se-nosimportantenoquerespeitaaaspectosfundacionaisdomonumentoeilustra-nos,deigualmodo,umaocupaçãodife-renciadadestasduasáreas:ointerioreapartesuldomonumento.noprimeirocaso,aintensaocupaçãoqueoedifíciosofreuaolongodosséculosrevela-seemmateriaisqueacompanhamtaldiacroniaprovindo,muitosdeles,decontextosmodernosecontemporâneos.Aoinvés,nazonatardozdopostcaeniumobserva-seque,apartirdecertacota,ascamadasevidenciadas—aindaqueaspossamosconsiderar,deformasimplista,comodeaterrolevadoacaboemépocaromana—ficaramseladasdurantetodooperíododevivênciadoedifíciopúblico,tendoaocupaçãoposteriordessaáreaapenasafectadoosestratossuperiores.

noqueserefereàáreadopostcaenium,asúltimasinvestigaçõeslevam-nosaconcluirporumaocupação antrópica anterior ao monumento cénico. Tais contextos terão sido profundamentealteradoscomaconstruçãodoteatro,explicando-se,nesteâmbito,aenormequantidadedepeçasexumadas da idade do Ferro que surgiram, na sua maior parte, em deposição secundária22.Aocupaçãoposteriordestaárea,aoperadajáemépocamedievalemodernateráocorridobastantetardiamenteesemafectaralgunsdosníveisanteriores,aspectoquecontrastaclaramentecomointeriordoteatro,onde,quaseseminterrupção,seassisteaumaocupaçãointensaesucessivadomesmo.

Destemodo,eaindaquemuitasdaspeçasqueagoraseestudam,provenhamdeestratosquesepodemrelacionarcomocupaçõesdeépocaposterior,sublinhamosquenosdeparamosperanteumapercentagemsignificativadeexemplaresqueseincluememcontextoscoevosdaedificaçãodomonumentoromano.

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Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa Lídia Fernandes | Victor Filipe

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N.º Forma Fragmento Contexto Diâmetro Produção/ Engobe ObservaçõesInv. (Aguarod) (vala/camada/ano) (cm) Pasta

2266 indeterminada Fundo/ V.7/C.8/2005 26,6 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida parede

2267 Forma6 Bordo V.9/C.9/2005 71,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2269 Forma6 Bordo V.8/C.7/2005 41,4 Campânia Típico –

2329 Forma6 Bordo V.6/C.12/2005 35 Campânia Típico –

2330 indeterminada Fundo V.10/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida Apresentaumaaguadadecor vermelha

2331 indeterminada Fundo V.5/C.15a/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2332 Forma3 Bordo V.7/C.9/2005 47,2 Campânia – nãoapresentaqualquertipo (Celsa80.8145) (tampa) deengobeouaguada

2333 Forma6 Bordo V.10/C.2/2005 57,8 Campânia Típico –

2334 indeterminada Fundo V.6/C.12/2005 – Campânia Típico –

2335 Forma6 Bordo V.9/C.15a/2005 41,2 Campânia Típico –

2336 Forma6 Bordo V.9/C.6/2005 ? Campânia Típico –

56 Forma5 Bordo V.2/C.2/2001 23,6 Campânia Típico –

224 Forma5 Bordo V.2/C.2/2001 25 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2339 Forma4 Bordo V.7/C.9/2005 52,4 Campânia Típico –

2340 indeterminada Fundo V.7/C.9/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2341 indeterminada Fundo V.9/C.17/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 9linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

2342 Forma6 Bordo V.9/C.16/2005 35,4 Campânia Típico –

2343 Forma6 Bordo V.9/C.9/2005 45,6 Campânia Típico –

2344 Forma6 Bordo V.5/C.15a/2005 29 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2345 Forma6 Bordo V.5/C.15/2005 67,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2346 indeterminada Fundo V.5/C.15/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno.

2347 indeterminada Fundo V.5/C.15/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2348 indeterminada Fundo V.5/C.15/2005 – Campânia Típico Marcasdecortesdefaca

2349 Forma3 Bordo V.9/C.9b/2005 46,2 Campânia – Aguadadecorvermelha (Celsa80.8145) (tampa)

2350 Forma6 Bordo V.9/C.9b/2005 37 Campânia Típico –

2351 Forma6 Bordo V.10/C.2a/2005 15 Campânia Típico –

2352 Forma6 Bordo V.7/C.9/2005 44,4 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2353 indeterminada Fundo V.8/C.7/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 10linhasconcêntricasnofundo interno

2354 indeterminada Fundo/ V.9/C.7/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. parede 8linhasconcêntricasnofundointerno.

2355 indeterminada Fundo V.9/C.2a/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. Marcasdecortesdefaca

2356 indeterminada Fundo V.9/C.6/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 7linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

2357 indeterminada Fundo/ V.10/C.6/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida parede

2358 indeterminada Fundo V.9/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2359 indeterminada Fundo V.9/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 2linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

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Lídia Fernandes | Victor Filipe Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 229-253250

N.º Forma Fragmento Contexto Diâmetro Produção/ Engobe ObservaçõesInv. (Aguarod) (vala/camada/ano) (cm) Pasta

2360 indeterminada Fundo V.9/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno

2361 indeterminada Fundo V.9/C.15/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno.

2362 Forma6 Bordo V.9/C.9b/2005 30,2 Campânia Típico –

2363 indeterminada Fundo V.9/C.10/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno.

1 Forma6 Bordo V.11/C.2a/2006 38 Campânia Típico –

2 indeterminada Fundo/ V.11/C.2a/2006 36,4 Campânia Típico 4linhasconcêntricasnofundointerno. parede

3 indeterminada Fundo V.11/C.2a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 5linhasconcêntricasnofundointerno.

4 indeterminada Fundo V.11/C.2a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 8linhasconcêntricasnofundointerno.

5 indeterminada Parede V.11/C.2a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida.

6 indeterminada Fundo/ V.11/C.2a/2006 15 Campânia Típico – parede

7 Forma6 Bordo/ V.11/C.2a/2006 61,4 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. parede/ 8linhasconcêntricasnofundointerno. fundo

8 indeterminada Fundo V.11/C.3/2006 21,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 5linhasconcêntricasnofundointerno.

10 Forma6 Bordo V.11/C.3/2006 31 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

408 indeterminada Parede V.10/C.8/2006 – Campânia Típico –

409 Forma6 Bordo V.11/C.2/2006 24 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

410 indeterminada Fundo V.11/C.6/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 4linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

411 Forma6 Bordo V.11/C.6a/2006 37,6 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

412 indeterminada Fundo/ V.11/C.7/2006 26 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. parede 4linhasconcêntricasnofundointerno.

413 indeterminada Fundo V.11/C.7a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

414 indeterminada Fundo V.11/C.7a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

415 indeterminada Fundo V.11/C.7a/2006 ? Campânia Típico Umgrafitonofundoexterno (Forma6?)

416 Forma6 Bordo V.11/C.15/2006 ? Campânia Típico –

417 Forma6 Bordo V.11/C.15/2006 31,2 Campânia Típico –

418 Forma6 Bordo V.11/C.15/2006 34,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

419 indeterminada Parede V.11/C.18b/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

420 indeterminada Fundo V.11/C.20/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 8linhasconcêntricasnofundointerno.

581 Forma3 Bordo V.11/C.21/2006 30 Campânia – Aguadadecorvermelha (Celsa80.8145) (tampa)

582 Forma3 Bordo V.11/C.2a/2006 41 Campânia – nãoapresentaqualquertipodeengobe (Celsa80.8145) (tampa) ouaguada

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Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa Lídia Fernandes | Victor Filipe

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nOTAS

1 ArqueólogadoServiçodeArqueologiadoMuseudaCidade–DivisãodeMuseusePalácios(CâmaraMunicipaldeLisboa,DirecçãoMunicipaldeCultura,DepartamentodePatrimónioCultural).MestreemHistóriadeArte.CoordenadoracientíficadaintervençãoarqueológicadoteatroromanodeLisboa.

2 Arqueólogo,colaboradordaequipadeinvestigaçãodoTeatroRomanodeLisboa.

3 Destacamosotrabalhoquetemosvindoadesenvolversobreascerâmicasfinasdoteatroromano(terrasigillata,lucernaseparedesfinas),levadoacaboporumdossignatários(L.F.)eporEuricoSepúlveda,bemcomooestudodomaterialânfórico(empreparaçãoporVictorFilipe).Paralelamente,realçamosoestudodoselementosarquitectónicosedecorativosdomonumento,doqualalgunsdadosjáforamdivulgados(Fernandes,1997,2001).Outrostrabalhostêmvindoaserrealizadosmasversandoespóliosdedistintoshorizontescronológicos.AestetítulodestacamosoestudoquevemsendodesenvolvidosobrepeçasdaidadedoFerro,ondecolaboram,paraalémdospresentesautores,MarcoCaladoeJoãoPimenta,assimcomoainvestigaçãodesenvolvidasobreumconjuntocerâmicodatáveldoséculoXiV(Fernandes,MarqueseTorres,empublicaçãonaRevistaArqueologia Medieval).Porúltimo,nãopoderemosdeixardemencionarainvestigaçãoquetemvindoaserrealizadasobreoespaçoidentificadocomooantigoCeleirodaMitra,edificaçãoquinhentistaqueadossouaomurodopostcaeniumdoTeatroromano,elevadaacaboporLídiaFernandeseRitaFragosodeAlmeida.

4 Cf.quantoaesteaspecto:Azevedo,1815;Almeida,1966,p.561-571;Moita,1970,p.7-37;Hauschild,1990,p.348-392;Fernandes,2006,p.181-204.

5 SeguindoaterminologiaaplicadaporRamalloAsensio(1993,p.62).

6 Comoacontececomosfustes,basesecapitéis,queseriamrevestidosaestuque.

7 noladocontrário,ouseja,paraOeste,estaacçãoencontra-seinviabilizadapelaexistênciadeedifíciosdehabitaçãoquenãopertencemàCâmaraMunicipaldeLisboa.

8 Aúnicavisívelpoisafacenorteencontra-seporbaixodaactualRuadeS.MamedeaoCaldas.

9 noarranqueinferiordopilarnortedoúnicoaditusvisível(ladoEste)éclaramenteperceptívelesteaparelhoeotipodeconstituiçãointerna,tendosidoutilizadoquercomoopreenchimentodasáreasondenãoexistiaafloramentorochoso,quernaelevaçãodopilardedescargadaabóbadaaqualseria,provavelmente,realizadaemsilhares.Derealçarocontrasteentreatécnicaagoraenunciada,comaquevemosempreguenopilarsuldamesmaentrada.nesseladoenaausênciaderochabase,opilarsuléintegralmenteformadoporsilharesosquaisapresentam,nasfacesexteriores,umtratamentodasuperfícieembossagem,tambémdesignado“aparelhoalmofadado”.

10 Comefeito,apartecentraldoteatro,correspondenteàorchestraeparteinferiordaimma cavea,foiencaixadanosolobaseatravésdorespectivorebaixamentooudesbaste,situaçãoqueéclaramenteobservávelnosdegrausinferioresemédiosdoprimeironíveldebancadas.OdesmontedosalicercesdosedifíciosdosséculosXViii/XiXquesesobrepunhamàsbancadasdoteatro,trabalhoaqueprocedemosem2004,permitiu-nos

confirmarestasituação,tendo-secolocadoadescobertooutrasduasfiadasdeassentosaindatalhadasnarocha.

11 Dimensãoobservadanointeriordo“núcleodaCasadoGuarda”eespessuraqueseconstatanafiadasuperiordesilhares.Obviamentequedesconhecemosqualaprofundidadedosoutrosblocosqueseencontramsubjacentes,osquais,quandocolocadostransversalmente,possuirãoumamaiordimensão.

12 Fernandes,L.(2004)-TeatroromanodeLisboa–novosdadosconstrutivossobreomonumento,IV Congresso de Arqueologia Peninsular,14-19Setembro2004.Faro(comunicaçãooral).

13 QuantoaesteaspectojáT.Hauschildhaviachamadoaatenção,talcomoédemonstradonoseutextode1990,assimcomonaplantaqueapresenta:Hauschild,1990,p.385,Beilage2.

14 AfavordaquelahipótesejáJ.Alarcãosehaviapronunciadoaoreferirque“Admitindoquenãohouvesseterceirafiadadeblocos,equeadistânciadasegundafiadaaomurodascaenaefronsseriaigualàdistânciaentreaprimeirafiadaeoproscaenium[2,30m,medidosdecentroacentrodospilares]teríamos5,80m,aproximadamente,comoprofundidadedopulpitum.Comterceirafiada,teríamosquase12m.Paraumcomprimentodecercade36m[comocomprimentodoproscaenium],umaprofundidadede5,80parece-nosmaisproporcionada”(Alarcão,1982,p.290).

15 AspectoparaoqualjáopróprioMarcoVitrúvioPoliónhaviachamadoaatençãoaoreferirque”…nemtodososteatrospoderãocorresponderatodasestasregraseefeitos,masconvémqueoarquitectoconsiderequaisasproporçõesqueénecessárioseguirparaatingiracomensurabilidadeecomoosadaptarànaturezadolocalouàsdimensõesdaobra”(Vitrúvio,LivroV,Cap.Vi,7.,trad.Maciel,2006,p.190).

16 nolevantamentoreferidooautorindicaumprolongamentodasestruturasdoteatroatéaolimiteOestedon.º7daRuadeS.MamedeaoCaldas.Aalteraçãodeorientaçãoqueseobservanon.º5,noquerespeitaalinhamentodasfachadaspode,nãoobstante,indiciaralgumapreexistênciaquemodifiqueestasuposição.

17 EmPortugalapenasemAlcácerdoSalseverificaquetalnãoacontece,sendoaforma4deAguarodamaisrepresentada.Contudo,parece-nosqueessesdadosdeverãoserencaradosdeformacautelosaumavezquesetratademateriaisrecolhidosforadecontexto,sendooconjuntocompostoapenasportrêsfragmentos(Sepúlvedaetal.,2003).

18 SegundoclassificaçãodeAguarod(1991),comaqualconcordamos.

19 SegundoclassificaçãodeSepúlvedaetal.(2003),comaqualconcordamos.

20 Atestadaestapelainscriçãoexistentenofrons pulpitum domurodoproscaenium(Silva,1944,p.172).

21 Aanálisedesteconjuntodecerâmicasfinasdeépocaromana(terra sigillata,lucernaseparedesfinas),comoreferidoanteriormente,encontra-seemestudoporumdossignatários(L.F.)eporEuricoSepúlveda.nãopoderíamosdeixardeagradecervivamenteaesteinvestigadoraleituraatentadopresentetexto.

22 Aanálisedesteespólio,àqualjáaludimos,permitiráesclareceracronologiadealgumasestruturasque,eventualmente,poderãoaindapertenceracontextosanterioresàépocaromana.

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Lídia Fernandes | Victor Filipe Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 229-253252

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