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R E S U M O Analisa-se,nopresentetrabalho,umconjuntocompostoporsessentaedoisfragmentos

decerâmicadeengobevermelhopompeiano,recolhidonaintervençãoarqueológicadotea-

troromanodeLisboaduranteascampanhasaílevadasacaboem2001,2005e2006.Esta

intervenção implantou-se na zona a sul do teatro, concretamente por detrás do muro do

postcaenium,estruturaexumada,deigualmodo,nestascampanhasdeescavação.Salienta-sea

homogeneidadedoconjunto,sendodesublinharofactode,naíntegra,corresponderema

peçasdeimportaçãoproduzidasnazonadaCampânia.

A B S T R A C T ThisworkanalysesawholesetofsixtytwoPompeianredwarefragments,col-

lectedinthearchaeologicalworksthattookplaceintheRomantheatreinLisbon,throughout

severalcampaignsheldinthemonumentin2001,2005and2006.Thiscampaignlocatedin

theSouthof the theatrearea,more specifically,behind the postcaeniumwall, laidopen the

structureinthesameway.Specialreferencedeservesthehomogeneityofthewholeset,since

itcorrespondsentirelytoimportationpiecesproducedintheregionofCampania.

1. Introdução

Analisa-se no presente trabalho a colecção de cerâmicas de engobe vermelho pompeianoproveniente das intervenções arqueológicas realizadas no teatro romano de Lisboa durante ascampanhasarqueológicasaílevadasacabonosanosde2001,2005e2006edirigidasporumdossignatários(L.F.).

Opresenteconjuntoécompostoporsessentaeduaspeças,tratando-se,namaioria,depeque-nosfragmentos,aindaquealgunsdeperfilcompleto.Destacam-se,quantoaestesúltimos,duaspeças de razoáveis dimensões que conservam uma grande porção da peça original (n.os inv.TRL/06/07;TRL/05/2267)(Figs.9e10).

Oconjuntoemanáliseprovémdascampanhasarqueológicasqueseefectuaramnaáreaasuldoteatroromano,concretamente,nazonadopostcaenium.Aspeçasdistribuíam-seportodaaárea

Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa LíDiAFERnAnDES1

ViCTORFiLiPE2

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intervencionada,comcercade300m2,eaindaqueumapercentagemsignificativatenhasurgidoemníveisdeépocasposterioresaosdaedificaçãodoteatro,umgrandenúmerofoiexumadoemcontextosdeépocaromanaqueserelacionamdirectamentecomomonumento.importa,aesterespeito,sublinharahomogeneidadedoconjuntoagoraemanálise,oqueésugeridopelacrono-logiaetipologiaevidenciada,bemcomopeloscentrosprodutoresqueterãoproduzidotaisexem-plares.

Pretende-se,destemodo,aobtençãodedadosquepossamauxiliarnaprecisãodecronologiasparacampanhasdeedificaçãoe/ouremodelaçãodomonumento,informaçõesestasquepodemserrectificadasecalibradaspelosdadosfornecidosporoutrosmateriaiscujoestudoseencontraemcurso3.Porúltimo,depara-se-nosdegrandeinteresseadivulgaçãodopresenteconjunto,sobre-tudotendoemcontaodiminutonúmerodecerâmicasdeengobevermelhopompeianoactual-menteconhecidonoterritórionacional,visando-se,nestecontexto,umaanálisedecertaformamaisabrangentesobreestaspeças.

2. O teatro romano de Lisboa

Ahistóriadadescobertadestemonumento,localizado a meia encosta da actual colina doCastelodeS.Jorge(freguesiadaSéedeSantiago,em Alfama) (Fig. 1), é sobejamente conhecidaabstendo-nos,quantoaesteaspecto,aumadescri-ção pormenorizada das etapas e vicissitudes dasuadescoberta4.

Até1991asintervençõesarqueológicasleva-das a cabo no monumento centraram-se no seuinterior,ouseja,nasáreascorrespondentesàorches-tra, hyposcaenium, proscaenium e aditus maximus —zona intervencionada durante a década de 1960—e,posteriormente,napartenorte,coincidentecompartedasbancadas—trabalhosefectuadosde1989a1991.Aprogressivaextensãodaáreainter-vencionadalevantou,dopontodevistadeprotec-çãodosvestígios,bemcomodotratamentomuse-ográfico,inúmerosproblemas.Assim,em2001,aCâmaraMunicipaldeLisboa,atravésdacriaçãodoMuseudoTeatroRomano,procuroucriarinfra--estruturasqueunissemruínaseespaçodeexposição,visandoumacompreensãoglobaldoedifício.nestesentido,onovoprojectocientíficocentrouasuaatençãonaáreaasuldoteatro,localocupadopelaantigacasadoguardadomonumento,comoobjectivodeareabilitarepermitiraligaçãoaonovoMuseudoTeatroRomano,situadoasuldoespaçocénico(Fig.2).

nesteâmbito,foramrealizadasem2001asprimeirasintervençõesarqueológicasnonúcleodesignadopor“casadoguarda”tendosidodetectadaumaenormeestruturadeépocaromana,deorientaçãoE/W,aqualfoiinterpretadacomocorrespondenteaomurodesustentaçãodafrentecénica.Curiosamente,aorientaçãodaactualRuadeS.MamedeaoCaldas,bemcomoaimplanta-çãodosedifíciosdestaartéria,obedeceàorientaçãodessaestruturaromana,constatando-seclara-mentequeaspreexistênciasarquitectónicasmarcaram,emdefinitivo,aurbanísticadacidadeatéà

Fig. 1 LocalizaçãodoteatroromanodeLisboa.

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actualidade(Fig.2).Foramigualmentecolocadosa descoberto vestígios dos séculos XVi/XVii eXViii relacionados com o antigo edifício doCeleirodaMitra,antigadependênciadoCabidodaSé,muitoafectadopeloterramotode1755equefuncionounestelocalatéaosfinaisdoséculoXViiiouiníciosdoséculoXiX.

Ascampanhasde2005e2006incidiramnaárea anexa, onde se localiza o pátio do n.º 3 daRua de S. Mamede ao Caldas (Fig. 2). Deu-se,destemodo,continuidadeàescavaçãoarqueoló-gica iniciada em 2001, estabelecendo a conexãoentreasduasáreasdaintervenção(ade2001eade 2005) através da demolição do alicerce daparededoséculoXiXqueasseparava.importavaessencialmente, para além da escavação integraldetodoesteespaço,colocaradescobertoagrandeestrutura fundacional do teatro que se havia

encontradonodecursodaescavaçãode2001equeaseguiranalisaremos.Aindaqueaescavaçãodaáreade2001nãoseencontreconcluídafoipossível,atravésdoprolon-

gamentodostrabalhosparaEste—acçãolevadaacaboentre2005enoanoseguinte—,teceralgumasconsideraçõessobreestaestrutura.Estaedificação,surgidaduranteaprimeiracampanha,abrangiatodaapartenortedaáreadeescavaçãoentãodisponível(Fig.3),apresentando-se,nasuafaceSul,revestidaporrebocosesbranquiçadosqueescondiamamaiorpartedasuasuperfície.

Fig. 2 ÁreadoteatroromanodeLisboa,comindicaçãodoslocaisintervencionadosarqueologicamenteerespectivocronograma.

Fig. 3 Plantaesquemáticadaáreaintervencionadaem2001,comindicaçãodasváriasestruturasexumadas.

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Comefeito,estaestruturafoiprofundamentealteradaduranteosséculosXVieXVii,alturaemqueaedificaçãoquinhentista,correspondenteaoantigo“CeleirodaMitra”aquiseinstalou,aproveitando-acomopartedaconstrução.Dessaocupaçãodatamosrebocos,argamassas,nichoseremendosfeitoscompedrasefragmentosdetijolo.Comointuitodeseobservarosistemacons-trutivoprocedeu-se,numaáreacircunscrita,àremoçãodessesrevestimentos.Foipossível,destemodo,observaraoestepelomenosquatrofiadasdesilharesdedimensõesvariáveis,apresentandoomaior1,30mx46m.Estasfiadasapresentam-sedispostasalternadamente,comoéhabitualnaedificaçãoromana,emposiçãode“togaytizón”5(Fig.4).Acoloraçãoencarniçadadealgunsdoselementospétreosdeve-seàacçãodoincêndioocorridoem1755,umavezqueapedrautilizadaéo vulgar calcarenito de coloração bege/amarelada que vemos empregue no interior do teatroromano,concretamentenasrespectivasinfra-estruturasquesuportariamacaveae,deigualmodo,nosmúltiploselementosarquitectónicosdecorativos6.

Ascampanhasdeintervençãoarqueológicaimplementadasem2005e2006tiveramcomoobjectivoprolongaraexumaçãodestagrandeestruturaparaEste,únicaáreapossívelparaaconti-nuaçãodaescavação7.Ostrabalhosnazonadopátiopossibilitaramaexumaçãodaqueleenormemuro,tendo-seatingidooseulimitenaparteeste(Fig.5).Obtivemos,destemodo,umaextensãototalde20,70m,sendoque8,76mhaviamsidocolocadosadescobertoem2001eaparterestanteexumadaentre2005e2006.

Afacesuldestaedificação8,aqualfoipossívelobservarem2001equeacimadescrevemos,apresenta,noseuprolongamentoparaEste,umaextensãoconsiderável,nãopossuindo,àprimeiravista, alterações estruturais e de superfície suscitadas por remodelações de épocas posteriores.

Comefeito,estaestruturafoiprofundamentealteradaduranteosséculosXVieXVii,alturaemqueaedificaçãoquinhentista,correspondenteaoantigo“CeleirodaMitra”aquiseinstalou,aproveitando-acomopartedaconstrução.Dessaocupaçãodatamosrebocos,argamassas,nichoseremendosfeitoscompedrasefragmentosdetijolo.Comointuitodeseobservarosistemacons-trutivoprocedeu-se,numaáreacircunscrita,àremoçãodessesrevestimentos.Foipossível,destemodo,observaraoestepelomenosquatrofiadasdesilharesdedimensõesvariáveis,apresentandoomaior1,30mx46m.Estasfiadasapresentam-sedispostasalternadamente,comoéhabitualnaedificaçãoromana,emposiçãode“togaytizón”5(Fig.4).Acoloraçãoencarniçadadealgunsdoselementospétreosdeve-seàacçãodoincêndioocorridoem1755,umavezqueapedrautilizadaéo vulgar calcarenito de coloração bege/amarelada que vemos empregue no interior do teatroromano,concretamentenasrespectivasinfra-estruturasquesuportariamacaveae,deigualmodo,nosmúltiploselementosarquitectónicosdecorativos6.

Ascampanhasdeintervençãoarqueológicaimplementadasem2005e2006tiveramcomoobjectivoprolongaraexumaçãodestagrandeestruturaparaEste,únicaáreapossívelparaaconti-nuaçãodaescavação7.Ostrabalhosnazonadopátiopossibilitaramaexumaçãodaqueleenormemuro,tendo-seatingidooseulimitenaparteeste(Fig.5).Obtivemos,destemodo,umaextensãototalde20,70m,sendoque8,76mhaviamsidocolocadosadescobertoem2001eaparterestanteexumadaentre2005e2006.

Afacesuldestaedificação8,aqualfoipossívelobservarem2001equeacimadescrevemos,apresenta,noseuprolongamentoparaEste,umaextensãoconsiderável,nãopossuindo,àprimeiravista, alterações estruturais e de superfície suscitadas por remodelações de épocas posteriores.

Fig. 4 Troçodoalçadodomuroromano(postcaenium)detectadoem2001.

Fig. 5 CunhalEstedomuroromano(postcaenium)colocadoadescobertoem2005e2006.

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Destemodo, foipossível clarificaro tipode sistemaconstrutivoempresença.Trata-sedeumaorganizaçãoestruturalmistaquealiaoopus quadratum,emaparelhoisódomo,comoopus incertum.Esteúltimo,corresponde,quasediríamos,aumenchimentodaparteinternadaestruturaaqualéreforçada,comoviemosaconstatar,pormurostransversaisquedesempenhamafunçãode“contra-fortes”,sendorealizadosemaparelhoesquadriado.Convémreferirqueestes“contrafortes”apre-sentamumalarguramaisoumenosconstantedecercade1,50moquecorrespondeacercade5PR.noquerespeitaaodistanciamentoqueapresentamentresi,estaconstânciaaltera-se.Temos,assim,edeOesteparaEste,afastamentosde22PR(6,60m),25PR(7,30m)e,porúltimoeatéaocunhaldestaestrutura,12PR½(3,70m),medidasestas tomadasdoeixo,numtotaldequatro“contrafortes”visíveisatéaomomento.

interiormente,estaconstruçãoépreenchidaporopus caementicium,decaracterísticas,deigualmodo,muitosimilaresàsqueseobservamnointeriordoteatro,comosepodeobservarnomuronortedoaditus maximus9.Asuacomposiçãointernaincluifragmentosdepedradedimensõesmédiasagrandes,decalcarenitofossilíferodecoloraçãobegeamarelada,certamenteumaproveitamentododesbastedosubsolonaturaldolocal,levadoacaboaquandodostrabalhospreparatóriosparaacons-truçãodoteatro10.Oliganteéumaargamassagrosseira,deigualcoloração,comgrandepercentagemdeareiaderio,sobretudoquartzítica.Aestruturaédumacoesãoabsoluta,continuandoamanterpraticamenteinalteradasassuascaracterísticasdeagregação.Derealçarquenãosedetectamquais-querfragmentosdecerâmicaemnenhumaáreaemqueéempregueestetipodeopus.

Este sistema construtivo é empregue, como referimos, no interior desta grande estrutura,sendorevestidoexteriormente(facesul)pelafiadadesilharesqueacimadescrevemos,nasáreasondeseimplantamosdesignados“contrafortes”.Estesapresentamumaespessuraquevariaentreos60eos80cm11,enquantoque,noquerespeitaaorespectivocomprimento,adimensãoésensi-velmenteconstante,correspondendoa1,50m,comoacimareferimos12.

Podem-se indicar vários paralelos para este sistema construtivo que emprega simultanea-menteoopus caementiciumeasilhariaregular.Aestepropósito,refere-nosCorzoSánchez,relativa-menteaoteatrodeCádis,quesetratadeumsistema“...acordecomlossistemasrepublicanosmásquecomlosimperiales”(CorzoSánchez,1993,p.135).

noteatroromanodeCartagena,porexemplo,datadodosfinaisdaépocarepublicanaoudosiníciosdoséculoid.C.,encontramosprecisamenteestesistemaquerecorreaousogeneralizadodoopus caementiciumrevestidoaopus quadratum(RamalloAsensioetal.,1993,p.81),técnicaque,segundoLuigiCrema,foihabitualmenteutilizadanaépocadeSilaedeAugustoaindaqueempre-gue,excepcionalmente,atéàépocaflávia(Crema,1957,p.314-317).TambémnoteatrodeAugusta Bilbilisencontramosautilizaçãointensadoopus caementicium,sobretudonaelevaçãodomurodopostcaeniumoqual tinhaa funçãode, juntamentecoma frons scaenae, suportaracolinaondeoteatroseimplantou(Martín-BuenoenúñezMarcén,1993,p.121).Aedificaçãodesteteatro,daépocadeAugustooudosiníciosdeTibério,foiiniciadaprecisamentepelaconstruçãodestaenormeestrutura, correspondendoaumaobrapreparatóriade terraplanagemdacolinaondeomonu-mentoseimplantoueopontodepartidaparaarestanteedificaçãodoespaçocénico.

noquerespeitaàestruturainternadesteenormemurodoteatrodeOlisipo,elaéigualmenterealizada em opus caementicium. neste mesmo sistema construtivo é realizado um outro muro,paraleloaojáreferidoedeledistanciado1,60mparanorte(implantadoimediatamenteporbaixodaactualfachadadoedifíciocomfrenteparaaRuadeS.MamedeaoCaldas)econservadonumaalturasignificativa.Oespaçoentreestesdoismuros,encontra-serebaixado,apresentandoumasuperfíciehomogénea,oquenospoderáindicarumafuncionalidadedesteespaçocomoparasceniaou,maisprovavelmente,comoskenotheke(Fernandes,2006,p.188)(Fig.6).

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Se contabilizarmos a largura máxima domuro de orientação E/W (1,5 m) bem como adimensãode1,60mdaárearebaixadaeseadicio-narmosidênticomuro,deigualorientaçãoE/W,quese localizaporbaixoda fachadaactual,deigualdimensão,obtemosumalarguratotalparaa estrutura do postcaenium de 4,60 m, ou seja15,60PR.

Estaenormeconstruçãodelimita,a sul,oteatroromano.Tratar-se-á,destemodo,daestru-tura tardoz onde encosta a frente cénica. nãoobstante, continuamos sem saber o local deimplantaçãoda frons scaenae,oquenosimpedede comprovar o modelo vitruviano, segundo oqual, aquela se localizaria tangencialmente àbase do triângulo mais perto da cena, inscritoaquelenacircunferênciadefinidoradaorchestra(Vitrúvio, Livro V, Cap. Vi). no caso do teatroromanodeLisboa,ocentrodestacircunferênciadeverá localizar-se no eixo dos aditus maximi,aindaqueoseudiâmetrodevaincluirosdegrausda proedria13. A verificar-se tal aspecto, apenasexistirão duas fiadas paralelas de blocos deassentamentodopulpitum—asquaisseencontramvisíveisdesdeaescavaçãoarqueológicade1967—umavezqueumaterceirafiadainviabilizariaaimplantaçãodafrons scaenaesegundoomodelovitruviano14.Aindaque talaspectonãosejadecisivo,umavezqueummaioroumenorafasta-mentoaestespostuladosécorrente15,pensamosque,paraumteatrodedimensõesmédias,comoterásidoocasododeLisboa,aprofundidadedecercade5,8mouseja,praticamente20PRparaopulpitum,seenquadranasdimensõesprováveisquetalestruturaatingiria.

Atendendoaestesdados,restamcercade31PRatéàfaceSuldamuralhaagoracolocadaadescoberto.Seaestamedidaretirarmosalarguradestaestruturaquedeveráserde4,60m,oquesignificacercade15PR,restarão17PRparaafrentecénica(aproximadamente5m).Poderemos,combasenestasconsiderações,concluirquealarguradestamuralhaquesuportaafrentecénica,ocuparámetadedadimensãoquevaidolimitesuldoteatroaoiníciodopulpitum.

Poroutrolado,gostaríamosdechamaraatençãoparaofactodocomprimentototaldestemurodopostcaenium,comcercade40m,ouseja,135PR,ultrapassar1actus,aindaque,comosetratadeumedifíciopúblicoeimplantadonumazonadeacentuadosdesníveissercompreensíveltal discrepância em relação à eventual ou possível centuriação que se aplicaria à cidade deOlisipo.

Combasenestespressupostose,comalgumasalteraçõesaoindicadoporTheodorHauschildnolevantamentoapresentadoem1990(Beilage2),ondeprojectavaumprolongamentoexageradodasestruturasdoproscaeniumefrons scaenae,pensamosqueestemonumentonãoultrapassaráon.º7dessaartéria16.Sabemosdesdejá,pelostrabalhoslevadosacaboem2001non.º3dessarua—juntoàparedededivisãoentreosdoisedifícios—queamuralhadesustentaçãodafrons scaenaedoteatroseprolongapeloedifíciocontíguo(n.º5).Tal factoéperfeitamentedescortinávelnoalçadoEstedessaparedesendonítidooprolongamentodamuralharomana.Curiosoconstatara

Fig. 6 EstruturadopostaceniumdoTeatro.Possíveláreadestinadaaskenotheke.

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manutençãodotraçadodaruaeimplantaçãodasactuaisfachadas,asquaisseregempelapreexis-tênciadestaenormeconstruçãoquedemarcaoseualinhamentoequeaaproveitamcomoalicer-çamento.Estasituaçãoéexplícita,aliás,namanutençãodaorientaçãodasestruturasdosséculosXVi/XViiedaprimeirametadedoséculoXViiiassociadasaoCeleirodaMitra,edasqueselhessobrepuseramcomareconstruçãodacidadedepoisdoterramotooqueocorreu,nestaárea,jánosfinaisdoséculoXViiieiníciosdoséculoXiX.

3. Acerca das cerâmicas de engobe vermelho pompeiano

As cerâmicas de engobe vermelho pompeiano foram alvo de inúmeros estudos desde osinícios do século XX (Ritterling, 1901; Kruger, 1905; Loeschcke, 1909; Gose, 1950; Lamboglia,1950;Vegas,1964;Goudineau,1970;CavalieriManasse,1973;Peacock,1977;AguarodOtal,1991).AexcelentesínteseacercadahistóriadestetipodecerâmicafeitaporAguarodOtal(1991)noseutrabalho“CerámicaromanaimportadadecocinaenlaTarraconense”tornadesnecessáriorepetiraquiaspectosjádevidamenteestudadosepublicados.

Contudo,parece-nospertinentereferirquesetrata,nasuageneralidade,deformasbaixas,pratos na sua grande maioria de amplo diâmetro, com a superfície interna revestida com umespesso engobe vermelho, sendo o exterior simplesmente alisado. É uma cerâmica destinada àutilização na cozinha, na preparação e confecção de alimentos, podendo igualmente ter sidoempreguenoserviçodemesaparaconterouserviralimentossólidos(ArrudaeViegas,2002).

Astampasterãosidoutilizadas,aoquetudoindica,tambémcomopratos.Aíseserviriaoguisado, porquanto a pega, em forma de fundo, facilitava a sua utilização simultaneamenteenquantoprato.Estaspeçasapresentam-se,invariavelmente,comumdesgastemaisacentuadonointeriordoquenoexterior(Aguarod,1991).

AcerâmicadeengobevermelhopompeianofoiproduzidaemduaszonasdistintasdaPenín-sulaitálica,aEtrúriaeaCampânia.QuantoàEtrúria,oiníciodasproduçõesremontapelomenosa220a.C.,tendosidoidentificadaemníveisdeabandonoemBolsena(Goudineau,1970)eperduraaté finaisdaRepública.AsproduçõesdaregiãocampanasubstituíramasdaEtrúriaduranteoséculoia.C.,passandoaserdominantesapartirdeAugusto,vindoasuaproduçãoafindarnoúltimoquarteldoséculoid.C.,em79,aquandodaerupçãodoVesúvio.

Estas cerâmicas foram imitadas em vários pontos do império Romano (Espanha, França,inglaterra, Flandres, Renânia), tendo sido igualmente identificadas no território actualmenteportuguês.Algumasdestasimitaçõesnãosedestinavamsimplesmenteaabastecermercadoslocaisouregionais,tendosidodifundidasparapontosbemdistantesdolocaldefabrico,comoficoudemonstradopelotrabalhodePeacock(1977)naidentificaçãodeproduçõesdaáreadeLezouxedaBélgicaemterritóriobritânico.

As produções da Campânia estão presentes por toda a área do antigo império Romano apartirdeAugusto—itália,França,Suiça,Áustria,Bélgica,Alemanha,inglaterra,Espanha,Portu-gal,Grécia,nortedeÁfricaeChipre(Aguarod,1991,p.55-57).

Relativamenteàsproduçõesmaisantigas,procedentesdaEtrúria,estasparecemrestringir-seàszonasmaisprecocementeromanizadas.

Adifusãodestasproduções cerâmicasestádirectamenterelacionadacomapresençaeinfluên-ciaexercidapelaslegiõesromanasjuntodaspopulaçõeslocais,fazendopartedoconjuntodecerâ-micasutilizadaspelosmilitaresromanosnaconfecçãoepreparaçãodosalimentosqueintegravamoseuregimealimentarquotidiano.

manutençãodotraçadodaruaeimplantaçãodasactuaisfachadas,asquaisseregempelapreexis-tênciadestaenormeconstruçãoquedemarcaoseualinhamentoequeaaproveitamcomoalicer-çamento.Estasituaçãoéexplícita,aliás,namanutençãodaorientaçãodasestruturasdosséculosXVi/XViiedaprimeirametadedoséculoXViiiassociadasaoCeleirodaMitra,edasqueselhessobrepuseramcomareconstruçãodacidadedepoisdoterramotooqueocorreu,nestaárea,jánosfinaisdoséculoXViiieiníciosdoséculoXiX.

3. Acerca das cerâmicas de engobe vermelho pompeiano

As cerâmicas de engobe vermelho pompeiano foram alvo de inúmeros estudos desde osinícios do século XX (Ritterling, 1901; Kruger, 1905; Loeschcke, 1909; Gose, 1950; Lamboglia,1950;Vegas,1964;Goudineau,1970;CavalieriManasse,1973;Peacock,1977;AguarodOtal,1991).AexcelentesínteseacercadahistóriadestetipodecerâmicafeitaporAguarodOtal(1991)noseutrabalho“CerámicaromanaimportadadecocinaenlaTarraconense”tornadesnecessáriorepetiraquiaspectosjádevidamenteestudadosepublicados.

Contudo,parece-nospertinentereferirquesetrata,nasuageneralidade,deformasbaixas,pratos na sua grande maioria de amplo diâmetro, com a superfície interna revestida com umespesso engobe vermelho, sendo o exterior simplesmente alisado. É uma cerâmica destinada àutilização na cozinha, na preparação e confecção de alimentos, podendo igualmente ter sidoempreguenoserviçodemesaparaconterouserviralimentossólidos(ArrudaeViegas,2002).

Astampasterãosidoutilizadas,aoquetudoindica,tambémcomopratos.Aíseserviriaoguisado, porquanto a pega, em forma de fundo, facilitava a sua utilização simultaneamenteenquantoprato.Estaspeçasapresentam-se,invariavelmente,comumdesgastemaisacentuadonointeriordoquenoexterior(Aguarod,1991).

AcerâmicadeengobevermelhopompeianofoiproduzidaemduaszonasdistintasdaPenín-sulaitálica,aEtrúriaeaCampânia.QuantoàEtrúria,oiníciodasproduçõesremontapelomenosa220a.C.,tendosidoidentificadaemníveisdeabandonoemBolsena(Goudineau,1970)eperduraaté finaisdaRepública.AsproduçõesdaregiãocampanasubstituíramasdaEtrúriaduranteoséculoia.C.,passandoaserdominantesapartirdeAugusto,vindoasuaproduçãoafindarnoúltimoquarteldoséculoid.C.,em79,aquandodaerupçãodoVesúvio.

Estas cerâmicas foram imitadas em vários pontos do império Romano (Espanha, França,inglaterra, Flandres, Renânia), tendo sido igualmente identificadas no território actualmenteportuguês.Algumasdestasimitaçõesnãosedestinavamsimplesmenteaabastecermercadoslocaisouregionais,tendosidodifundidasparapontosbemdistantesdolocaldefabrico,comoficoudemonstradopelotrabalhodePeacock(1977)naidentificaçãodeproduçõesdaáreadeLezouxedaBélgicaemterritóriobritânico.

As produções da Campânia estão presentes por toda a área do antigo império Romano apartirdeAugusto—itália,França,Suiça,Áustria,Bélgica,Alemanha,inglaterra,Espanha,Portu-gal,Grécia,nortedeÁfricaeChipre(Aguarod,1991,p.55-57).

Relativamenteàsproduçõesmaisantigas,procedentesdaEtrúria,estasparecemrestringir-seàszonasmaisprecocementeromanizadas.

Adifusãodestasproduções cerâmicasestádirectamenterelacionadacomapresençaeinfluên-ciaexercidapelaslegiõesromanasjuntodaspopulaçõeslocais,fazendopartedoconjuntodecerâ-micasutilizadaspelosmilitaresromanosnaconfecçãoepreparaçãodosalimentosqueintegravamoseuregimealimentarquotidiano.

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EmPortugalsãopoucososestudosquesedebruçamsobreestetipodecerâmica.OartigopublicadoporAnaMargaridaArrudaeCatarinaViegas(2002)sobreosvermelhospompeianosdaAlcáçovadeSantarémapresenta-secomooestudomaiscompletosobreestetipodecerâmicade produção itálica presente em território hoje português. As autoras analisam um conjuntobastante significativo de materiais, sendo, para já, a colecção numericamente mais expressivaestudadaemPortugal.Em2003,éigualmentepublicadooestudodeumpequenoconjuntodecerâmicas de engobe vermelho pompeiano de Alcácer do Sal proveniente de achados isolados(Sepúlvedaetal.).

noquedizrespeitoàsimitaçõesdestetipodecerâmica,oestudomaisabrangentefoilevadoacaboporManuelaDelgadoem1993.nestetrabalhoaautoradebruça-sesobreasimitaçõesdestetipodecerâmicaencontradasemváriasescavaçõesnacidadedeBragaesuaenvolvente,tratando--se,emnossaopinião,deumestudodereferência.

AscerâmicasdeengobevermelhopompeianosurgemigualmentepublicadasemPortugalemestudosumpoucomaisgenéricos,comoaconteceemConímbriga(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975;DeMan,2006),ondeestetipodematerialsurgeemnúmeroquesepodeconsiderarpoucoexpressivoeondeestãopresentesalgumaspeçasdeimitação,concretamentenoforumdeAeminium(Carvalho,1998),emSãoCucufate(Pinto,1999)enaCidadedasRosas(Caeiro,1978).

4. Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano

4.1 Contexto estratigráfico

Comoanteriormentese referiu,os fragmentosaquianalisadosprovêmdascampanhasde2001,2005e2006,tendosidorecolhidosem33camadasindividualizadas.Osgrandesrevolvimen-tosregistadosnaestratigrafiadestaáreadoteatro,provocadospordiversasesucessivasconstru-çõesereconstruçõesdeedifícios,perturbaramdeumaformabastantevisívelpartedaestratigrafiacorrespondenteàsocupaçõesdeépocaromanaqueaquinosinteressam.Talfactosucedeu,essen-cialmente,naáreaabrangidapela intervençãoarqueológicade2001 (núcleo“Casadoguarda”)onde,atécercade12mdeprofundidade,seexumaramestruturasdosséculosXVi/XViirelaciona-dascomoantigoCeleirodaMitra,asquaisforamgrandementeafectadaspeloterramotode1755.Assim,registou-seoaparecimentodecerâmicasdeengobevermelhoemcamadasqueseestendemcronologicamenteatéaosfinaisdoséculoXViii.

Aintervençãoarqueológicaqueseprocessouem2005e2006foilevadaacabonopátio,localondeasestruturasdeépocamodernaselocalizavamacotassignificativamentemaisaltas.Atribuí-veisaoPeríodoModernosãoascamadasC2daVala2;C9daVala7;C15eC15adaVala5;C12daVala6;C7daVala8;C3,C6,C6a,C7,C7a,C15,C18beC20daVala11.DestascamadasapenasaC9daVala7éposteriora1755,sendoasrestantesanterioresaoterramoto.

AcamadaC8daVala7situa-senoséculoXiV.DoPeríodoMedievalsãoascamadasC2eC2adaVala9,C2daVala10,eC2eC2adaVala11,camadas,aliás,equivalentes.Estas,correspondema uma reposição de terras efectuada em período medieval que afectou maioritariamente níveisdatáveisdoséculoid.C.Comefeito,amaioriadosmateriaisrecolhidosnestascamadasinsere-secronologicamentenumafaixadetempobastantecircunscrita,atribuívelàqueleséculo,sendoqueosdecronologiamedievaladquiremumcarácterquaseresidual.

Genericamenteenquadráveisnoséculoid.C.sãoascamadasC6eC8daVala10,ondeserecolheramrespectivamenteosfragmentos2357e408,deformaindeterminada.

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Balizadasentrefinaisdoséculoia.C.eaprimeirametadedoséculoid.C.sãoascamadasC6,C9,C9b,C10,C17,C16,C15e15adaVala9,ondeserecolheramfragmentosdaforma6e3deAguarodedeformaindeterminada.

4.2. Caracterização do conjunto

Formas

Oconjuntodecerâmicasdeengobevermelhopompeianorecolhidonasescavaçõesdoteatroromano de Lisboa soma um total de sessenta e dois fragmentos, correspondendo todos eles aproduçõesdaCampânia.Verifica-seapresençadetrêsformasdistintasdepratos,formas4,5e6deAguarod,etampasdeforma3deAguarod(Celsa80.8145).Àsemelhançadoqueacontecenamaioriadossítios17ondeseregistaapresençadestetipodecerâmica,aformamaisrepresentadaéaforma6deAguarod,equivalendoa35%dototaldoconjunto.

Ao contrário do que acontece em Santarém (Arruda e Viegas, 2002), verifica-se aqui umamaiorpercentagemdemateriaiscommarcasdefogo,contabilizando60%dototaldoconjunto.Aindaassim,ésignificativooconjuntodepeçasquenãoapresentaqualquerindíciodecontactocomfogo(40%),destinando-semuitoprovavelmenteàpreparaçãodosalimentosoumesmoparaserviràmesa.

Bastanteinteressanteparece-nosofactodeseteremidentificado,emcincofragmentosdefundo,marcasdecortesnasuperfícieinternarealizadossobreoengobe,osquaisinterpretámoscomotendosidoproduzidosporfaca.AguarodfazreferênciaaomesmofenómenoemmateriaisdeBilbilis(1991,p.54).Estescortespoderãotersidofeitosaocortar-seapatinaaliconfeccionada.noentanto,eaocontráriodoqueacontececomoscortesidentificadosnoengobeinternodospratosdeBilbilis,queseapresentamemsentidoradial,ospresentesprojectam-seemdiferentesdirecçõescruzando-sealeatoriamente.

nãodeixadesersignificativoofactodenãosepresenciaremnoteatroimitaçõesdepratosdeengobevermelhopompeiano,novamenteàsemelhançadoqueaconteceemSantarém.Estefacto

Forma 3 (tampas)

Forma 4

Forma 5

Forma 6

Indeterminados

3354%

2235%

23%

12%4

6%

Gráfico 1Distribuiçãodasformasexistentes.

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depara-se-nostantomaisevidentequandoemcomparaçãocomapresençadeimitaçõesnorestanteterritórionacional,comosucedeemConímbriga,BragaeAlentejo,entreoutroslocais.

OfactodeestascerâmicasexistirememLisboaeSantarémemquantidadesnãoigualáveisemoutrospontosdoterritórionacional(faceaoqueestápublicado),apardainexistênciadeimita-ções,comojásublinhámos,indicia,nonossopontodevista,ummaiorediferenciadoincrementocomercialcomosprodutosvindosdaPenínsulaitálica.Provavelmenteamaiordisponibilidadeoufacilidade de aquisição destes produtos em Lisboa e Santarém, ocorrendo similar situação emoutroscentroscosteiros, tornariadesnecessáriaaproduçãode imitações jáqueasuaaquisiçãoseriarelativamenteusual.

O conjunto do teatro apresenta um dado até agora inédito nas colecções publicadas emPortugal:aexistênciadetampasdeengobevermelhopompeianoproduzidasnaCampânia.iden-tificaram-sequatrofragmentosdetampas,correspondentesàforma3deAguarod(Celsa80.8145).Estasformasnãoapresentamotípicoengobeditodevermelhopompeiano,exibindoapenasemdoisdosfragmentos(TRL/05/2349eTRL/06/581)umaaguadadecorvermelha(respectivamente,10R5/8e10R5/4)nobordo.

Engobes e pastas

O engobe destas cerâmicas apresenta as características típicas, sendo geralmente espesso,aderentee lustroso,podendoemalgunscasosserpoucoaderenteebaço,ouapresentar-semalconservadoeadestacar-se.Decorvermelha,podevariarentre10R4/6e10R5/8.Esteengobecobre completamente a superfície interna dos pratos e parcialmente a superfície externa dobordo.

Quanto às produções, em todos os fragmentos se observam as características típicas daspastasdaCampânia,comgrandesquantidadesdeelementosnegrosdeorigemvulcânica,quartzosepresençadegrãosferruginosos,dehematitesemicas,sendonormalmentecompactasedetexturaarenosa.Acorvariaentrecastanho-avermelhado(5YR5/4)ecastanho(7.5YR5/4).

4.3. Tipologia

Do conjunto de cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboaapenasse identificouumfragmentodebordoatribuívelà forma4deAguarod(Fig.17),oqueequivalea2%dototaldoconjunto.Trata-sedeumpratodeamplodiâmetro(52,4cm),debordodesenvolvidoeaplanadoedeparedeslevementeconvexas,quecorrespondeaogrupobdaspastasdescritasporAguarodeatribuível,aparentemente,aumaproduçãotardia.

EstaformafoiproduzidanoscentrosoleirosdaEtrúriaedaCampâniadesdeofinaldoséculoiia.C.atéaosprincipadosdeTibérioeCláudio.Asuadifusãoparececircunscrever-seàszonasmeridionaisdoimpério,Penínsulaitálica,Penínsulaibérica,SuldaGáliaenortedeÁfrica,comaexcepçãodo limesgermânico,ondesurgeapartirdoprincipadodeAugusto (Loeschcke,1942).Tendo-sepopularizadosobretudoasproduçõesdaCampâniaapartirdoséculoia.C.,elasmarcampresençanaTarraconenseapartirdosegundoquarteldesteséculo(Aguarod,1991).

EmPortugal,paraalémdesteexemplar,estaformafoiidentificadaemConímbriga(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975),emSantarém(ArrudaeViegas,2002)eemAlcácerdoSal(Sepúlvedaetal.,2003).

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Fig. 7 PerfilestratigráficodaVala9(áreaintervencionadaem2005).

Fig. 8 PerfilestratigráficodaVala9/10/11(áreaintervencionadaem2005e2006).

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Fig. 9 Forma6deAguarod(Luni5)(n.ºinv.TRL/06/7).

Fig. 11 Forma6deAguarod(Luni5)eformaindeterminada(TRL/05/2345e2346).

Fig. 13 Forma3deAguarod(Celsa80.8145)(TRL/05/2349).

Fig. 10 Forma6deAguarod(Luni5)(n.ºinv.TRL/05/2267).

Fig. 12 Forma5deAguarod(Luni3)(TRL/01/2337e2338).

Fig. 14 Forma3deAguarod(Celsa80.8145)(TRL/05/2332.2333).

Fig. 15 Grafitoefectuadocomapastaaindafrescajuntoaolimitedofundoexterno(TRL/06/415).

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Daforma5deAguarodidentificaram-sedoisfragmentosdebordo(Figs.12e18),correspon-dendoa3%dototaldoconjunto.Trata-sedepratoscomparedesabertasquevãoficandomaisdelgadasàmedidaqueseaproximamdobordoeapresentandoumperfilpoucoconvexo.Possuemumaligeiracarenanofundointerno,juntoàjunçãocomaparede.Ofundoéligeiramenteelevadonocentro,apoiando-seunicamentenazonamaispróximadoarranquedaparede.

Odiâmetrodestasformasévariável,porém,sãonormalmentedepequenasoumédiasdimen-sões.OsexemplaresdaTarraconenseestudadosporAguarod(1991)possuementre17,5e23cm,eosdoteatroromanodeLisboa23,6e25cm.Oseufabricoteveinícionoséculoia.C.naCampâ-nia,tendoalcançadoasuamáximadifusãoemépocaaugustana.

Aforma5deAguarodestáidentificadanaPenínsulaitálica,GáliaePenínsulaibérica.Estaproduçãoperdurouatémeadosdoséculoid.C.EmPortugalestaformafoiidentificadaemConím-briga18(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975)eemS.Cucufate19(Pinto,1999).

Aforma6deAguarodéamaisrepresentadanoconjuntodascerâmicasdeengobevermelhopompeianodoteatroromanodeLisboa,tendosidoidentificadosvinteedoisfragmentosdebordo(Figs.9,10,11,19,20e21),oquecorrespondea35%dototaldoconjunto.Obordoérectoouligeiramentereentrante,podendoserligeiramenteengrossadoousimplesmentearredondado.Asparedesdescrevemumperfilquepodesermaisoumenosconvexoeumângulodeaberturavariá-vel.Ofundoégeralmenteplanoouligeiramenteelevadonocentro.

Odiâmetrodestaformavariabastante,sendoconhecidospratosde13,7cm(Aguarod,1991)a95cm(Wynia,1979).Osfragmentosaquianalisadosvariamentreos15eos71,8cm.Estavaria-çãotãoacentuadanadimensãodepeçasdamesmaformatipológicarelaciona-secomasuafunçãoenecessidadesespecíficasdosseusutilizadores,nãosignificandotalfactoumaevoluçãotipoló-gicanotempo(Aguarod,1991).Trata-sedeumaformaunicamenteproduzidanaCampânia,apartirdaépocadeAugustoequeperduraatéaofinaldasproduçõescampanasnaúltimametadedoséculoid.C.É,provavelmentedevidoàcronologiadoiníciodasuaprodução,aformamaisdifundidapeloimpério,estandopresenteemváriossítiosdaPenínsulaibéricaeitálica,nortedeÁfrica,Gália,Suiça,Áustria,limesgermânico,Britânia,GréciaeChipre.

Sãoconhecidosváriosgrafitosemarcasdeoleirorealizadosnestaformatipológica.normal-menteefectuadasjuntoaolimitedofundoexternocomapastaaindafresca,indicamonomedooleiroouproprietáriodaoficina,emboraexistamgrafitossobreestasmesmasformasemPompeia(Aguarod,1991)quenãosãocompostosporletrasmassimpornúmerosecujosignificadoestáaindapordecifrar.SegundoAguarod,aoorientar-seapeçademaneiraaquesepossamlerosgrafi-tos,constata-sequeestessesituaminvariavelmentenapartesuperiordapeça,juntoaolimitedofundoexterno.noúnicografitoqueidentificámosnoconjuntodascerâmicasdeengobevermelhopompeianodoTeatroromanodeLisboa(Figs.15e23),constatamosqueissoseverifica.Emboramuitofragmentado,situa-sejuntoaolimitedofundoexterno,peloquenosépossívelobterasuaorientaçãocorrecta.infelizmenteasualeituraafigura-seimpossível.

EmPortugalaforma6deAguarodfoiidentificadaemConímbriga(Alarcão,1976;Alarcãoetal.,1975),emCoimbra(Carvalho,1998),emSantarém(ArrudaeViegas,2002)eemAlcácerdoSal(Sepúlvedaetal.,2003).

identificámosquatrobordosde tampasqueatribuímosao segundogrupoda forma3deAguarod(Celsa80.8145),oquecorrespondea6%doconjunto(Figs.13,14e16).Aguaroddividiuesta forma em dois grupos distintos: o primeiro é composto por peças de perfil completo; osegundocompõe-sedepeçascujoperfilseencontraincompletoenasquaisnãoépossívelverificaraexistênciadepega,emboraambososgrupos tenhamoperfildobordoearranquedaparedeidêntico. São formas relativamente planas, com bordo arredondado, prolongado, ligeiramente

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engrossadoeviradoaoexterior.AindaquenasquatropeçasdoteatroromanodeLisboaseconserveapenasobordoepartedaparede,estasformaspossuíam,nazonadapega,umpequenoressaltoemformadeanel,comasuperfícieinteriorligeiramenteabaulada.

Emnenhumadaspeçasseverificaaexistênciademarcasdefogojuntoaobordo,porém,naspeçasn.º2349(Fig.13)en.º581observa-sequeobordoécobertocomumaaguadadecorverme-lha,quesediferenciadorestodapeça,equeseestende,nocasodoexemplarn.º2349,cercade1cmnaparteinternadobordoe0,5cmnoladoexternodomesmo.nofragmentocomon.ºinv.

Fig. 16 Forma3deAguarod(Celsa80.8145)–tampas.

Fig. 17 Forma4deAguarod(Luni2/4).

Fig. 18 Forma5deAguarod(Luni3).

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581essaaguadarecobrecercade3,5cmdafaceinternae1,5cmdoladooposto.Trata-sedeumacaracterísticatécnica—designadapor“bordeahumado”—apenasconstatadaemalgunsexempla-res e exclusivados fabricosdaCampâniaeaqual consiste “enunapigmentacióndecolorgrisoscuro—marróncenicientoquecubreelbordedelasmismas”(Aguarod,1991,p.114).

Écertoqueosnossosexemplaresn.º2349en.º581foramproduzidosnaCampâniaequepossuemobordocobertoporumaaguada,porém,acordesta(vermelho—10R5/8e10R5/4)diferedaquenosédescritaporAguarod.Éigualmenteobservávelumacentuadodesgastenazonaemqueatampaseapoiavanobordodopraton.º2349,aspectoquecertamenteseficaráadeveràintensautilizaçãodomesmo.

Osdiâmetrosdestastampas,àimagemdoqueacontececomospratos,sãoextremamentevariáveis,estandodocumentadasnaTarraconensedimensõesqueoscilamentreos18,4eos56,8cm(Aguarod,1991).Asqueaquiseanalisamoferecemdimensõesquevariamentreos30eos47,2cm.

EmboratambémtenhamsidoproduzidasnaEtrúria,estasformassãobastantemaiscomunsnosegundogrupodepastasdescritasporAguarod(1991),ouseja,asproduzidasnaCampâniadesdemeadosdoséculoia.C.atéàprimeirametadedoséculoid.C.

São,deigualmodo,conhecidastampasdaforma3deAguarodnaTarraconense,noSuldaGáliaenolimesgermânico—emHalterneOberaden—(Aguarod,1991,mapa33).Aescassaoumesmoinexistentepresençadetampasdestaedeoutrasformasemsítiosarqueológicosemquesãoconhecidospratosdeengobevermelhopompeianopareceestarmaisrelacionadacomoestadomuito fragmentado destas peças e respectiva dificuldade na sua identificação (já que, emborasejamproduzidasnamesmapastaqueospratos,nãopossuemo típicoengobequeéaplicadonaqueles),doquepropriamentecomumarealausênciadasmesmas.

AindasegundoAguarod,estaformadestinar-se-iaataparpratosquecorrespondemàsformas4,5,6,7e8,trêsdasquaisestãopresentesnoconjuntoagoraemestudo.

Fig. 19 Forma6deAguarod(Luni5).

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Fig. 20 Forma6deAguarod(Luni5).

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Fig. 21 Forma6deAguarod(Luni5).

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Fig. 23 Grafitoefectuadocomapastaaindafrescajuntoaolimitedofundoexterno.

Fig. 22 Forma6deAguarod(415)?Formasindeterminadas(6,8,412,2266e2).

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5. Considerações finais

AcronologiaapontadaparaaconstruçãodoteatroromanodeLisboa,iníciosdoséculoid.C.,e a sua remodelação em meados do mesmo século20, corresponde, temporalmente, ao auge dasimportações de cerâmica de engobe vermelho pompeiano vindas da região da Campânia. Comefeito,astipologiasaquiidentificadasconheceramnesseperíodoumamaiordispersãoportodooimpérioromano,sendocompreensívelapresençadestetipodepeçasnoteatroromanoemquanti-dadesquesepodemconsiderarrazoáveis.

Relativamenteàsformasidentificadas,estassão,deumaformageral,comunsnosrestantessítiosarqueológicosportuguesesondesãoreconhecidosengobesvermelhospompeianos.Oquenosparecederealçarnoconjuntodoteatroéofactodeestaremreunidastodasasformasanterior-mente identificadasemPortugal,comexcepçãodepratosdaforma3deAguarod,presenteemníveisrepublicanosdaAlcáçovadeSantarém(ArrudaeViegas,2002),bemcomoapresençadetampas—Celsa80.8145(Aguarodforma3paraestetipodepeças).Defacto,nosconjuntosconhe-cidosemPortugalverifica-seainexistênciadetampasnestacerâmica,constituindo-secomoúnicasemPortugalasqueaquiseapresentam.Talpoderáencontrarexplicaçãonadificuldadeemidenti-ficá-las,comoanteriormentereferimos,jáque,emborasejamproduzidasnamesmapastaqueospratos,nãopossuemotípicoengobequeàqueleséaplicado,bemcomonoestadomuitofragmen-tadoemqueestaspeçasgeralmenteseencontram(Aguarod,1991).Muitoprovavelmenteaquan-tidadedetampasseriatambéminferioràdospratos.

Embora existam no teatro de Lisboa inúmeros materiais de cronologia republicana, nãopodemos,demomento,concluirporníveisdeocupaçãoindiscutivelmenteatribuíveisaesseperí-odo,oquepoderia,eventualmente,explicaraausênciadaforma3deAguarod.Asconclusõesaapresentar sobreestaquestão terãoqueaguardarporumaanálisedetalhadade todooespóliocerâmico,sobretudooexumadonasduasúltimascampanhasoque,demomento,nãofoipossívelrealizar.Contudo,seatendermosaofactodascidadesdeScallabiseOlisiposesituaremnomesmoâmbitogeográfico,bordejadaspeloTejoe integradasnosmesmoscircuitoscomerciais, cremosque as produções e formas que chegaram a um sítio terão, muito provavelmente, alcançado ooutro.SomenteoaparecimentoeestudodemaismateriaisdeidênticacronologiaemLisboapode-rãoauxiliarnoesclarecimentodetalquestão.

Evidentetambémpareceserarelaçãoentreestasduascidadesnoquetocaàinexistênciadeproduçõeslocaisouregionaisqueimitamestetipodecerâmica.Relembramosqueasimitaçõesdepratosdeengobevermelhopompeianosãoumaconstanteemtodosossítiosnacionaisondeforamidentificados,constituindo,porvezes,osúnicosespécimesidentificados.Talpareceestarrelacio-nadocomaelevadacapacidadeeconómicadoshabitantesdeScallabisedeOlisipo,aliadoàprivile-giadasituaçãogeográficaeestatutojurídico(ArrudaeViegas,2002).

Emboraquantitativamentepoucoexpressivoquandocomparadocomovolumedemateriaiscerâmicosrecolhidosnascampanhasde2001,2005e2006,especialmentesetivermosemcontaaelevadapercentagemdecerâmicasimportadasdaPenínsulaitálicaedeoutrospontosdoimpério,oconjuntodecerâmicasdeengobevermelhopompeianoagoraemanálisepode,aindaassim,serconsideradosignificativo.Tratando-sedecerâmicacomum,énaturalqueasuaexportaçãonãoalcançasseaprofusãoeaquantidadecomquesurgemoutrosmateriais,comoacontececomascerâmicascampanienseseaterra sigillata.noqueserefereaestasúltimas,aquantidadedepeçasitálicasdatáveisdosiníciosdoséculoi,corroboram,deigualmodo,acronologiaagorapropostaparaascerâmicasdeengobevermelhopompeiano,omesmoacontecendocomoutrosmateriais,comoéocasodaslucernasecerâmicasdeparedesfinas21.

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importaigualmenterealçarqueoespólioprovenientedasintervençõesarqueológicasrealiza-dasasuldoteatro—istoé,aslevadasacaboentre2001,2005e2006(sobretudoestasduasúltimascampanhas)equeseoperaramnapartedopostcaenium—contrastanitidamente,emtermoscrono-lógicos,comaspeçasexumadasnointeriordomonumento,provenientesdasescavaçõesaíefectu-adasentre1964e1993.nesteúltimocaso,dospoucosmateriaisqueatéaomomentoforampubli-cados, salientamos as lucernas, as quais se distribuem cronologicamente por um espectroacentuadamenteamplo,abrangendotodooperíodoentreasegundametadedoséculoieasextacentúria(DiogoeSepúlveda,2000,p.153-161).Talfactopode,igualmente,serconstatadonoqueserefereàorigemdosrespectivosfabricos,ressaltandoasproduçõeseimitaçõeslocais.

Agrandediferençaqueseestabeleceemrelaçãoaidênticosmateriaisexumadosnapartesuldoteatro,ouseja,jáforadoespaçocénico,mascorrespondendoaumaáreapertencenteaoedifí-cio, refere-se ao facto de todos eles se enquadrarem numa baliza cronológica que dificilmenteultrapassaráosmeadosdaprimeiracentúria,aindaque,pensamos,sejapossívelprecisarcommaisalgumdetalhe,futuramente,esteâmbitocronológico.Estefactorevela-se-nosimportantenoquerespeitaaaspectosfundacionaisdomonumentoeilustra-nos,deigualmodo,umaocupaçãodife-renciadadestasduasáreas:ointerioreapartesuldomonumento.noprimeirocaso,aintensaocupaçãoqueoedifíciosofreuaolongodosséculosrevela-seemmateriaisqueacompanhamtaldiacroniaprovindo,muitosdeles,decontextosmodernosecontemporâneos.Aoinvés,nazonatardozdopostcaeniumobserva-seque,apartirdecertacota,ascamadasevidenciadas—aindaqueaspossamosconsiderar,deformasimplista,comodeaterrolevadoacaboemépocaromana—ficaramseladasdurantetodooperíododevivênciadoedifíciopúblico,tendoaocupaçãoposteriordessaáreaapenasafectadoosestratossuperiores.

noqueserefereàáreadopostcaenium,asúltimasinvestigaçõeslevam-nosaconcluirporumaocupação antrópica anterior ao monumento cénico. Tais contextos terão sido profundamentealteradoscomaconstruçãodoteatro,explicando-se,nesteâmbito,aenormequantidadedepeçasexumadas da idade do Ferro que surgiram, na sua maior parte, em deposição secundária22.Aocupaçãoposteriordestaárea,aoperadajáemépocamedievalemodernateráocorridobastantetardiamenteesemafectaralgunsdosníveisanteriores,aspectoquecontrastaclaramentecomointeriordoteatro,onde,quaseseminterrupção,seassisteaumaocupaçãointensaesucessivadomesmo.

Destemodo,eaindaquemuitasdaspeçasqueagoraseestudam,provenhamdeestratosquesepodemrelacionarcomocupaçõesdeépocaposterior,sublinhamosquenosdeparamosperanteumapercentagemsignificativadeexemplaresqueseincluememcontextoscoevosdaedificaçãodomonumentoromano.

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Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa Lídia Fernandes | Victor Filipe

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 229-253 249

N.º Forma Fragmento Contexto Diâmetro Produção/ Engobe ObservaçõesInv. (Aguarod) (vala/camada/ano) (cm) Pasta

2266 indeterminada Fundo/ V.7/C.8/2005 26,6 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida parede

2267 Forma6 Bordo V.9/C.9/2005 71,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2269 Forma6 Bordo V.8/C.7/2005 41,4 Campânia Típico –

2329 Forma6 Bordo V.6/C.12/2005 35 Campânia Típico –

2330 indeterminada Fundo V.10/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida Apresentaumaaguadadecor vermelha

2331 indeterminada Fundo V.5/C.15a/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2332 Forma3 Bordo V.7/C.9/2005 47,2 Campânia – nãoapresentaqualquertipo (Celsa80.8145) (tampa) deengobeouaguada

2333 Forma6 Bordo V.10/C.2/2005 57,8 Campânia Típico –

2334 indeterminada Fundo V.6/C.12/2005 – Campânia Típico –

2335 Forma6 Bordo V.9/C.15a/2005 41,2 Campânia Típico –

2336 Forma6 Bordo V.9/C.6/2005 ? Campânia Típico –

56 Forma5 Bordo V.2/C.2/2001 23,6 Campânia Típico –

224 Forma5 Bordo V.2/C.2/2001 25 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2339 Forma4 Bordo V.7/C.9/2005 52,4 Campânia Típico –

2340 indeterminada Fundo V.7/C.9/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2341 indeterminada Fundo V.9/C.17/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 9linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

2342 Forma6 Bordo V.9/C.16/2005 35,4 Campânia Típico –

2343 Forma6 Bordo V.9/C.9/2005 45,6 Campânia Típico –

2344 Forma6 Bordo V.5/C.15a/2005 29 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2345 Forma6 Bordo V.5/C.15/2005 67,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2346 indeterminada Fundo V.5/C.15/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno.

2347 indeterminada Fundo V.5/C.15/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2348 indeterminada Fundo V.5/C.15/2005 – Campânia Típico Marcasdecortesdefaca

2349 Forma3 Bordo V.9/C.9b/2005 46,2 Campânia – Aguadadecorvermelha (Celsa80.8145) (tampa)

2350 Forma6 Bordo V.9/C.9b/2005 37 Campânia Típico –

2351 Forma6 Bordo V.10/C.2a/2005 15 Campânia Típico –

2352 Forma6 Bordo V.7/C.9/2005 44,4 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2353 indeterminada Fundo V.8/C.7/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 10linhasconcêntricasnofundo interno

2354 indeterminada Fundo/ V.9/C.7/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. parede 8linhasconcêntricasnofundointerno.

2355 indeterminada Fundo V.9/C.2a/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. Marcasdecortesdefaca

2356 indeterminada Fundo V.9/C.6/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 7linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

2357 indeterminada Fundo/ V.10/C.6/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida parede

2358 indeterminada Fundo V.9/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

2359 indeterminada Fundo V.9/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 2linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

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Lídia Fernandes | Victor Filipe Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 229-253250

N.º Forma Fragmento Contexto Diâmetro Produção/ Engobe ObservaçõesInv. (Aguarod) (vala/camada/ano) (cm) Pasta

2360 indeterminada Fundo V.9/C.2/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno

2361 indeterminada Fundo V.9/C.15/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno.

2362 Forma6 Bordo V.9/C.9b/2005 30,2 Campânia Típico –

2363 indeterminada Fundo V.9/C.10/2005 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 6linhasconcêntricasnofundointerno.

1 Forma6 Bordo V.11/C.2a/2006 38 Campânia Típico –

2 indeterminada Fundo/ V.11/C.2a/2006 36,4 Campânia Típico 4linhasconcêntricasnofundointerno. parede

3 indeterminada Fundo V.11/C.2a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 5linhasconcêntricasnofundointerno.

4 indeterminada Fundo V.11/C.2a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 8linhasconcêntricasnofundointerno.

5 indeterminada Parede V.11/C.2a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida.

6 indeterminada Fundo/ V.11/C.2a/2006 15 Campânia Típico – parede

7 Forma6 Bordo/ V.11/C.2a/2006 61,4 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. parede/ 8linhasconcêntricasnofundointerno. fundo

8 indeterminada Fundo V.11/C.3/2006 21,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 5linhasconcêntricasnofundointerno.

10 Forma6 Bordo V.11/C.3/2006 31 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

408 indeterminada Parede V.10/C.8/2006 – Campânia Típico –

409 Forma6 Bordo V.11/C.2/2006 24 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

410 indeterminada Fundo V.11/C.6/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 4linhasconcêntricasnofundointerno. Marcasdecortesdefaca

411 Forma6 Bordo V.11/C.6a/2006 37,6 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

412 indeterminada Fundo/ V.11/C.7/2006 26 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. parede 4linhasconcêntricasnofundointerno.

413 indeterminada Fundo V.11/C.7a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

414 indeterminada Fundo V.11/C.7a/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

415 indeterminada Fundo V.11/C.7a/2006 ? Campânia Típico Umgrafitonofundoexterno (Forma6?)

416 Forma6 Bordo V.11/C.15/2006 ? Campânia Típico –

417 Forma6 Bordo V.11/C.15/2006 31,2 Campânia Típico –

418 Forma6 Bordo V.11/C.15/2006 34,8 Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

419 indeterminada Parede V.11/C.18b/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida

420 indeterminada Fundo V.11/C.20/2006 – Campânia Típico Superfícieexternaenegrecida. 8linhasconcêntricasnofundointerno.

581 Forma3 Bordo V.11/C.21/2006 30 Campânia – Aguadadecorvermelha (Celsa80.8145) (tampa)

582 Forma3 Bordo V.11/C.2a/2006 41 Campânia – nãoapresentaqualquertipodeengobe (Celsa80.8145) (tampa) ouaguada

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Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa Lídia Fernandes | Victor Filipe

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nOTAS

1 ArqueólogadoServiçodeArqueologiadoMuseudaCidade–DivisãodeMuseusePalácios(CâmaraMunicipaldeLisboa,DirecçãoMunicipaldeCultura,DepartamentodePatrimónioCultural).MestreemHistóriadeArte.CoordenadoracientíficadaintervençãoarqueológicadoteatroromanodeLisboa.

2 Arqueólogo,colaboradordaequipadeinvestigaçãodoTeatroRomanodeLisboa.

3 Destacamosotrabalhoquetemosvindoadesenvolversobreascerâmicasfinasdoteatroromano(terrasigillata,lucernaseparedesfinas),levadoacaboporumdossignatários(L.F.)eporEuricoSepúlveda,bemcomooestudodomaterialânfórico(empreparaçãoporVictorFilipe).Paralelamente,realçamosoestudodoselementosarquitectónicosedecorativosdomonumento,doqualalgunsdadosjáforamdivulgados(Fernandes,1997,2001).Outrostrabalhostêmvindoaserrealizadosmasversandoespóliosdedistintoshorizontescronológicos.AestetítulodestacamosoestudoquevemsendodesenvolvidosobrepeçasdaidadedoFerro,ondecolaboram,paraalémdospresentesautores,MarcoCaladoeJoãoPimenta,assimcomoainvestigaçãodesenvolvidasobreumconjuntocerâmicodatáveldoséculoXiV(Fernandes,MarqueseTorres,empublicaçãonaRevistaArqueologia Medieval).Porúltimo,nãopoderemosdeixardemencionarainvestigaçãoquetemvindoaserrealizadasobreoespaçoidentificadocomooantigoCeleirodaMitra,edificaçãoquinhentistaqueadossouaomurodopostcaeniumdoTeatroromano,elevadaacaboporLídiaFernandeseRitaFragosodeAlmeida.

4 Cf.quantoaesteaspecto:Azevedo,1815;Almeida,1966,p.561-571;Moita,1970,p.7-37;Hauschild,1990,p.348-392;Fernandes,2006,p.181-204.

5 SeguindoaterminologiaaplicadaporRamalloAsensio(1993,p.62).

6 Comoacontececomosfustes,basesecapitéis,queseriamrevestidosaestuque.

7 noladocontrário,ouseja,paraOeste,estaacçãoencontra-seinviabilizadapelaexistênciadeedifíciosdehabitaçãoquenãopertencemàCâmaraMunicipaldeLisboa.

8 Aúnicavisívelpoisafacenorteencontra-seporbaixodaactualRuadeS.MamedeaoCaldas.

9 noarranqueinferiordopilarnortedoúnicoaditusvisível(ladoEste)éclaramenteperceptívelesteaparelhoeotipodeconstituiçãointerna,tendosidoutilizadoquercomoopreenchimentodasáreasondenãoexistiaafloramentorochoso,quernaelevaçãodopilardedescargadaabóbadaaqualseria,provavelmente,realizadaemsilhares.Derealçarocontrasteentreatécnicaagoraenunciada,comaquevemosempreguenopilarsuldamesmaentrada.nesseladoenaausênciaderochabase,opilarsuléintegralmenteformadoporsilharesosquaisapresentam,nasfacesexteriores,umtratamentodasuperfícieembossagem,tambémdesignado“aparelhoalmofadado”.

10 Comefeito,apartecentraldoteatro,correspondenteàorchestraeparteinferiordaimma cavea,foiencaixadanosolobaseatravésdorespectivorebaixamentooudesbaste,situaçãoqueéclaramenteobservávelnosdegrausinferioresemédiosdoprimeironíveldebancadas.OdesmontedosalicercesdosedifíciosdosséculosXViii/XiXquesesobrepunhamàsbancadasdoteatro,trabalhoaqueprocedemosem2004,permitiu-nos

confirmarestasituação,tendo-secolocadoadescobertooutrasduasfiadasdeassentosaindatalhadasnarocha.

11 Dimensãoobservadanointeriordo“núcleodaCasadoGuarda”eespessuraqueseconstatanafiadasuperiordesilhares.Obviamentequedesconhecemosqualaprofundidadedosoutrosblocosqueseencontramsubjacentes,osquais,quandocolocadostransversalmente,possuirãoumamaiordimensão.

12 Fernandes,L.(2004)-TeatroromanodeLisboa–novosdadosconstrutivossobreomonumento,IV Congresso de Arqueologia Peninsular,14-19Setembro2004.Faro(comunicaçãooral).

13 QuantoaesteaspectojáT.Hauschildhaviachamadoaatenção,talcomoédemonstradonoseutextode1990,assimcomonaplantaqueapresenta:Hauschild,1990,p.385,Beilage2.

14 AfavordaquelahipótesejáJ.Alarcãosehaviapronunciadoaoreferirque“Admitindoquenãohouvesseterceirafiadadeblocos,equeadistânciadasegundafiadaaomurodascaenaefronsseriaigualàdistânciaentreaprimeirafiadaeoproscaenium[2,30m,medidosdecentroacentrodospilares]teríamos5,80m,aproximadamente,comoprofundidadedopulpitum.Comterceirafiada,teríamosquase12m.Paraumcomprimentodecercade36m[comocomprimentodoproscaenium],umaprofundidadede5,80parece-nosmaisproporcionada”(Alarcão,1982,p.290).

15 AspectoparaoqualjáopróprioMarcoVitrúvioPoliónhaviachamadoaatençãoaoreferirque”…nemtodososteatrospoderãocorresponderatodasestasregraseefeitos,masconvémqueoarquitectoconsiderequaisasproporçõesqueénecessárioseguirparaatingiracomensurabilidadeecomoosadaptarànaturezadolocalouàsdimensõesdaobra”(Vitrúvio,LivroV,Cap.Vi,7.,trad.Maciel,2006,p.190).

16 nolevantamentoreferidooautorindicaumprolongamentodasestruturasdoteatroatéaolimiteOestedon.º7daRuadeS.MamedeaoCaldas.Aalteraçãodeorientaçãoqueseobservanon.º5,noquerespeitaalinhamentodasfachadaspode,nãoobstante,indiciaralgumapreexistênciaquemodifiqueestasuposição.

17 EmPortugalapenasemAlcácerdoSalseverificaquetalnãoacontece,sendoaforma4deAguarodamaisrepresentada.Contudo,parece-nosqueessesdadosdeverãoserencaradosdeformacautelosaumavezquesetratademateriaisrecolhidosforadecontexto,sendooconjuntocompostoapenasportrêsfragmentos(Sepúlvedaetal.,2003).

18 SegundoclassificaçãodeAguarod(1991),comaqualconcordamos.

19 SegundoclassificaçãodeSepúlvedaetal.(2003),comaqualconcordamos.

20 Atestadaestapelainscriçãoexistentenofrons pulpitum domurodoproscaenium(Silva,1944,p.172).

21 Aanálisedesteconjuntodecerâmicasfinasdeépocaromana(terra sigillata,lucernaseparedesfinas),comoreferidoanteriormente,encontra-seemestudoporumdossignatários(L.F.)eporEuricoSepúlveda.nãopoderíamosdeixardeagradecervivamenteaesteinvestigadoraleituraatentadopresentetexto.

22 Aanálisedesteespólio,àqualjáaludimos,permitiráesclareceracronologiadealgumasestruturasque,eventualmente,poderãoaindapertenceracontextosanterioresàépocaromana.

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Lídia Fernandes | Victor Filipe Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa

REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 10. número 2. 2007, p. 229-253252

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