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MINIISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA Rua Promotor Manoel Alves Pessoa Neto, 97, Candelária, Natal/RN CEP 59.065-555 – FONE/FAX: (84) 3232-7132 – E -MAIL: [email protected] EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL/RN, A QUEM ESTA COUBER POR DISTRIBUIÇÃO LEGAL Ref. Inquérito Civil n.º 005/12-PGJ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, através do Procurador-Geral de Justiça, com suporte no art. 127, caput, e art. 129, incisos II e III, da Constituição Federal, na Lei 8.429/92, na Lei 7.347/85, e no art. 29, VIII, da Lei 8.625/93, vem perante Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA com pedido cautelar de indisponibilidade de bens 1

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Page 1: CEP 59.065-555 – FONE/FAX: (84) 3232-7132 – E -MAIL: … ESTADUAL VERSÃO FIN… · há elementos nos autos que indicam que a própria MARCA iria assumir o Hospital Ruy Pereira,

MINIISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTEPROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA

Rua Promotor Manoel Alves Pessoa Neto, 97, Candelária, Natal/RNCEP 59.065-555 – FONE/FAX: (84) 3232-7132 – E -MAIL: [email protected]

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS DA

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE NATAL/RN, A QUEM ESTA COUBER POR

DISTRIBUIÇÃO LEGAL

Ref. Inquérito Civil n.º 005/12-PGJ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,

através do Procurador-Geral de Justiça, com suporte no art. 127, caput, e art. 129, incisos II e

III, da Constituição Federal, na Lei 8.429/92, na Lei 7.347/85, e no art. 29, VIII, da Lei 8.625/93,

vem perante Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

com pedido cautelar de indisponibilidade de bens

1

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em desfavor de:

1) ROSALBA CIARLINI ROSADO, brasileira, casada, médica, inscrita no CPF n.º 199.516.984-

68, ocupando o cargo de Governadora do Estado do Rio Grande do Norte, podendo receber intimações na

Governadoria, Centro Administrativo do Estado, BR 101, Km 0, Lagoa Nova - CEP: 59.064-901 –

Natal/RN, e com endereço residencial na Rua Maria Negócio, 175, Centro, Mossoró/RN, CEP 59610080;

2) DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA SOBRINHO, brasileiro, casado, médico, ex-Secretário

Estadual de Saúde Pública do Rio Grande do Norte, portador do CPF n.º 056.192.974-20, residente

na Rua Dr. Carlos Passos, 1783, Morro Branco, Natal/RN;

3) MARIA DAS DORES BURLAMARQUI DE LIMA, brasileira, casada, servidora pública

estadual aposentada, portadora de CPF n.º 307.950.104-78, residente na Rua Duodécimo Rosado,

1306, Apto. 602, Condomínio Spazio de Firenze, Nova Betânia, Mossoró/RN;

4) ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, brasileiro, casado, Procurador do Município de

Natal, portador do CPF n.º 790.799.464-00, residente e domiciliado na Rua Maxaranguape, 550,

Apt. 1501, Tirol, Natal-RN;

5) VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE SOUZA, brasileira, casada, servidora pública

estadual, portadora de CPF nº 877.085.584-68, residente na rua Tibério Burlamaqui, 59, paredões,

no Município de Mossoró/RN;

6) TUFI SOARES MERES, brasileiro, casado, empresário, portador de CPF nº 116.860.657-87,

residente e domiciliado à Rua Jornalista Ricardo Marinho, nº 300, Ap. 1906, Barra da Tijuca, Rio

de Janeiro/RJ;

7) VÂNIA MARIA VIEIRA, brasileira, casada, empresária, CPF nº 356.666.257-72, residente e

domiciliada à Rua João Xavier, n.º 250, Bloco I, Apt. 301, Duarte da Silveira, Petrópolis-RJ;

8) ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA, brasileira, casada, empresária, portadora do CPF

002.179.437-56, residente e domiciliada à Rua Praia de Botafogo, nº 528, Apto. 1205, Bloco A,

Botafogo, Rio de Janeiro/RJ;

9) ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR (MANINHO), brasileiro, casado, empresário,

CPF 776.389.727-91, residente e domiciliado à Rua Praia de Botafogo, nº 528, Apto. 1205, Bloco

A, Botafogo, Rio de Janeiro/RJ;

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10) ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, brasileira, solteira, portadora do CPF n.º 099.689.767-41,

residente na Rua Senhor dos Passos, n.º 135, Centro, São José do Vale do Rio Preto-RJ;

11) OTTO DE ARAÚJO SCHMIDT, brasileiro, casado, empresário, CPF nº 183.206.277- 53,

residente e domiciliado à Rua Roberto Dias Lopes, n.º 83, Apt. 703, Leme, Rio de Janeiro-RJ;

12) SADY PAULO SOARES KAPPS, brasileiro, casado, empresário, CPF nº 134.740.737-53,

residente e domiciliado à Av. Barão do Rio Branco, n.º 3050, Bloco III, Apt. 203, Retiro,

Petrópolis-RJ;

13) HÉLIO BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO, brasileiro, casado, empresário, CPF nº

738.110.257-91, residente e domiciliado à Rua Dr. Nelson de Sá EARP, 88, Apt. 208, Centro,

Petrópolis-RJ;

14) CARLOS ALBERTO PAES SARDINHA, brasileiro, casado, empresário, CPF nº

230.008.137-72, residente e domiciliado à Rua São Salvador, 38, Flamengo, Rio de Janeiro-RJ;

15) SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES, brasileiro, casado, empresário, CPF

nº 105.494.127-00, residente e domiciliado à Rua Professor Margarida Valadão, 221, Barra da

Tijuca, Rio de Janeiro-RJ;

16) FRANCISCO MALCIDES PEREIRA DE LUCENA, brasileiro, casado, médico, CPF n.

112.494.633-00, residente na Rua Barão de Aracati, 1565, apto 702, Aldeota, CEP 60115080,

Fortaleza/CE;

17) LEONARDO JUSTIN CARAP, brasileiro, casado, empresário, portador do CPF nº

500.674.947-49, residente e domiciliado à Rua Visconde de Morais, 252, Apt. 1402, Ingá,

Niterói/RJ;

18) ASSOCIAÇÃO MARCA PARA PROMOÇÃO DE SERVIÇOS, pessoa jurídica de direito

privado, CNPJ n.º 05.791.879/0001-50, com sede na Avenida Rio Branco, 122, sala 1701, Centro,

no Município do Rio de Janeiro/RJ;

19) NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL - SALUTE SOCIALE, pessoa jurídica de direito

privado, CNPJ n.º 32.088.890/0001-21, com sede na Avenida Amaral Peixoto, 305, sala 208, Areal,

no Município do Rio de Janeiro/RJ;

20) HEALTH SOLUTIONS LTDA., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ n.º

05.113.395/0001-52, com sede na Avenida das Américas, 3434, Bloco 05, Sala 205 e 206, Barra da

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Tijuca, no Município do Rio de Janeiro/RJ;

21) ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA CONTÁBIL LTDA. - ME, pessoa jurídica de

direito privado, CNPJ n.º 08.364.700/0001-77, com sede no Largo do Machado, 29, sala 501,

Catete, no Município do Rio de Janeiro/RJ;

22) ADVENTUS GROUP E CONSULTORES LTDA., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ

n.º 04.425.789/0001-83, com sede na Rua Capitão Aguiar, 70 a, Aldeota, no Município do

Fortaleza/CE;

23) NÚCLEO SERVIÇOS DIAGNÓSTICOS LTDA., pessoa jurídica de direito privado, CNPJ

n.º 11.780.146/0001-13, com sede na Avenida Jornalista Moacir Padilha, 540, Jardim Primavera, no

Município do Duque de Caxias/RJ;

24) AZEVEDO & LOPES AUDITORES INDEPENDENTES LTDA. - ME, pessoa jurídica de

direito privado, CNPJ n.º 06.337.379/0001-06, com sede na Rua dos Andradas, 96, sala 403,

Centro, no Município do Rio de Janeiro/RJ;

25) OLIVAS PLANEJAMENTO ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA., pessoa jurídica de

direito privado, CNPJ n.º 07.404.400/0001-01, com sede na Rua Manoel Damas, 44, sala 60,

Centro, no Município do José do Vale do Rio Preto/RJ;

26) THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA., pessoa jurídica de direito privado,

CNPJ n.º 11.391.700/0001-70, com sede na Rua João Dias de Oliveira, 784, Barro Vermelho, no

Município de Natal/RN.

I – OS FATOS: VISÃO GERAL

Em 30 de agosto de 2012, a Procuradoria-Geral de Justiça instaurou o Inquérito

Civil nº 005/2012-PGJ, com a finalidade de apurar a legalidade da contratação da ASSOCIAÇÃO

MARCA PARA PROMOÇÃO DE SERVIÇOS, na qualidade de OSCIP, por meio do Termo de

Parceria nº 001/2012, pactuado entre a Secretaria Estadual de Saúde e a mencionada entidade, para

a prestação do serviço de gerenciamento do Hospital da Mulher Parteira Maria Correia, em

Mossoró, bem como para examinar a conduta da Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO no

tocante à referida contratação.

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As provas colhidas no procedimento, sobretudo as que foram obtidas mediante

compartilhamento autorizado pelo Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal de Natal, oriundas da

denominada Operação Assepsia1, revelam que a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA pelo

Estado do Rio Grande do Norte, mediante dispensa de licitação, sob a alegação de situação

emergencial, foi direcionada pela Governadora do Estado ROSALBA CIARLINI ROSADO e pelo

Secretário de Saúde DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA.

Para tanto, no âmbito da Secretaria Estadual da Saúde o processo administrativo

foi manipulado e construído para o favorecimento da Associação Marca, com graves prejuízos ao

Estado e à saúde pública, conforme detalhado ao longo da petição.

No mesmo sentido, a prova dos autos demonstra que o governo do Estado

concebeu e planejou, desde meados de 2011, a terceirização da administração do Hospital da

Mulher, com grande antecedência em relação à própria contratação emergencial da ASSOCIAÇÃO

MARCA, somente formalizada em 29 de fevereiro de 2012, de modo que o estado de emergência

alegado para balizar a contratação, gerado pela própria ineficiência do governo com a assistência

médica em Mossoró, foi instrumentalizado para justificar o desejo da Governadora ROSALBA

CIARLINI de contratação da entidade e para introdução imediata do terceiro setor na gestão da

saúde pública.

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A Operação Assepsia desvendou esquema de corrupção e superfaturamento de preços dos serviços da mesma ASSOCIAÇÃO MARCA na administração de unidades de saúde no Município de Natal, na gestão da ex-prefeita MICARLA DE SOUZA.

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Para tornar viável a contratação milionária, a Governadora ROSALBA CIARLINI

ROSADO, tão logo celebrado o termo de parceria, logo no início de 2012, suplementou recursos

orçamentários de quase 16 (dezesseis) milhões de reais apenas para esse contrato, mais do que o

total dos investimentos em saúde do Estado em todo o ano de 2011, conforme relatório do Tribunal

de Contas do Estado.

A contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA pela Governadora ROSALBA

CIARLINI ROSADO e pelo Secretário de Saúde DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA foi intermediada

pelo demandado ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, representante informal dos

interesses da entidade no Rio Grande do Norte e arauto propagandístico do terceiro setor no Estado.

Para tanto, o governo do Estado solicitou a cessão do referido servidor ao Município de Natal no

segundo semestre de 2011, passando ele a transitar entre o Gabinete Civil do Governo do Estado e a

Secretaria Estadual de Saúde, no intuito de viabilizar a terceirização da saúde no Estado do Rio

Grande do Norte.

Nesse sentido, a privatização da administração do Hospital da Mulher não era

providência isolada, mas parte de um projeto para terceirizar os principais hospitais do Estado,

mediante a entrega de suas administrações a organizações sociais (OS) e organizações da sociedade

civil de interesse público (OSCIP) previamente ajustadas com a Chefe do Executivo. Nesse ponto,

há elementos nos autos que indicam que a própria MARCA iria assumir o Hospital Ruy Pereira, e a

CRUZ VERMELHA passaria, segundo relatado pelo Secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA, a

administrar o Hospital WALFREDO GURGEL.

Os autos expõem ainda a autorização pessoal da Governadora ROSALBA

CIARLINI ROSADO e do Secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA para que a ASSOCIAÇÃO

MARCA promovesse a reforma das instalações do antigo Hospital da Unimed em Mossoró,

adquirisse equipamentos e contraísse obrigações à custa do termo de parceria, antes mesmo que

este contrato administrativo fosse celebrado e a entidade em apreço fosse formalmente escolhida

para prestar o serviço, sob a égide de uma emergência dolosamente fabricada e silenciosamente

permitida pelo governo, desde o fechamento do Hospital da Unimed em junho de 2011.

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A instrução revela que todo o processo que antecedeu a avença, a própria

contratação e também a execução do termo de parceria com a MARCA foi controlado pessoalmente

pela Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO, que incumbiu pessoalmente MARIA DAS

DORES BURLAMAQUI DE LIMA, Secretária Adjunta da Saúde, de acompanhar em seu nome as

despesas que indevidamente ordenou e assumiu antes da celebração do Termo de Parceria nº

001/2012, cumpre dizer, as atinentes à reforma das instalações físicas que a MARCA promovia no

antigo Hospital da Unimed, à custa do inexistente termo de parceria, através da empresa THE

WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA, além de avalizar a compra de equipamentos que a

entidade adquiria, junto a diversas outras empresas, para equipar o nosocômio, mesmo sem a

formalização do termo de parceria.

Depois do pacto assinado e após vir a público o escândalo da Operação Assepsia,

a Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO designou, por intermédio do Secretário ISAÚ

GERINO, a pessoa de VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE SOUZA, para supostamente

fiscalizar o contrato. Esta, no exercício do verdadeiro mister que lhe foi confiado pela Governadora

ROSALBA CIARLINI, erigiu-se em grande obstáculo à fiscalização da comissão de auditoria

interna da própria SESAP, formada por servidores de carreira, que fazia o levantamento das

irregularidades do contrato.

Vale mencionar que as duas servidoras, MARIA DAS DORES BURLAMAQUI

DE LIMA e VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE SOUZA, embora vinculadas à Secretaria de

Saúde, reportavam-se diretamente à Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO no que tange a

essa contratação.

O dano ao patrimônio público advindo da contratação, apurado em auditoria

interna da Secretaria Estadual de Saúde e também pelo Corpo instrutivo do Tribunal de Contas do

Estado, decorrente de serviços superfaturados, ou não prestados, ou de equipamentos cobrados, mas

não instalados, notas fiscais frias e outras formas de desvio, alcançou a milionária cifra de R$

11.960.509,00 (onze milhões, novecentos e sessenta mil, quinhentos e nove reais).

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A instrução do inquérito civil desvendou que a planilha de custos para

funcionamento do Hospital da Mulher foi elaborada pela própria entidade contratada, a

ASSOCIAÇÃO MARCA, o que permitiu o superfaturamento dos serviços e a inclusão de itens

ilegais como o pagamento de comissão e de uma taxa de lucros que alcançava 24,77% do valor

mensal do contrato, incompatíveis com a natureza de uma entidade contratada como se fora uma

Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP.

No bojo deste imenso prejuízo para os cofres públicos está inserida uma

inacreditável taxa de “retorno para a administração” em torno de 10% (dez por cento) a 20%

(vinte por cento) em pelo menos um dos contratos que compõem esse esquema, conforme captado

em conversa telefônica interceptada do demandado FRANCISCO MALCIDES PEREIRA DE

LUCENA, proprietário de uma das empresas subcontratadas pela MARCA, a ADVENTUS

GROUP E CONSULTORES LTDA., com sede em Fortaleza/CE. Essa taxa teria o condão de

“fidelizar o contrato”, segundo disse o próprio demandado FRANCISCO MALCIDES PEREIRA

DE LUCENA, fato que é típico não apenas como improbidade administrativa que enseja

enriquecimento ilícito (art. 9º da LIA), mas também sujeita os agentes envolvidos aos crimes de

corrupção ativa e passiva, previstos no Código Penal, conforme o caso.

Os técnicos do Tribunal de Contas do Estado e os membros da Comissão de

auditoria interna da SESAP, além das ilegalidades já mencionadas nos subcontratos da MARCA

com as empresas ADVENTUS GROUP E CONSULTORES LTDA e THE WALL

CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA, encontraram irregularidades graves nas subcontratações

das pessoas jurídicas NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL - SALUTE SOCIALE,

HEALTH SOLUTIONS LTDA, ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA CONTÁBIL

LTDA. – ME, NÚCLEO SERVIÇOS DIAGNÓSTICOS LTDA, AZEVEDO & LOPES

AUDITORES INDEPENDENTES LTDA. – ME e OLIVAS PLANEJAMENTO

ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA, todas ligadas ao esquema de TUFI SOARES MERES,

já desvendado no âmbito do Município de Natal durante a Operação Assepsia2.2

TUFI SOARES MERES é o chefe do grupo SALUTE VITA, sediado no Rio de Janeiro, do qual faz parte a ASSOCIAÇÃO MARCA. A organização SALUTE VITA integra a chamada máfia do 3º setor na área

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Além dessas pessoas jurídicas, as pessoas físicas VÂNIA MARIA VIEIRA,

ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA, ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR

(MANINHO), ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, OTTO DE ARAÚJO SCHMIDT, SADY

PAULO SOARES KAPPS, HÉLIO BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO, CARLOS

ALBERTO PAES SARDINHA, SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES e

LEONARDO JUSTIN CARAP concorreram para os atos de improbidade como integrantes do

esquema de TUFI SOARES MERES.

I.A. OS FATOS: A DISPENSA INDEVIDA DE LICITAÇÃO. A CONTRATAÇÃO

DIRECIONADA. O ESTADO DE EMERGÊNCIA FICTO. A DECISÃO DE

CONTRATAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO MARCA PELA GOVERNADORA ROSALBA

CIARLINI ROSADO E PELO SECRETÁRIO DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA

O termo de parceria nº 01/2012, datado de 29 de fevereiro de 2012, formalizou a

contratação emergencial da ASSOCIAÇÃO MARCA pela Secretaria Estadual de Saúde,

contemplando a entidade com a administração do Hospital da Mulher Parteira Maria Correia, no

Município de Mossoró ao custo global de R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais), pelo prazo

inicial de cento e oitenta dias.

No entanto, a prova dos autos revela que essa contratação foi previamente

acertada pela Governadora do Estado ROSALBA CIARLINI ROSADO e pelo Secretário estadual

de Saúde DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA e que a emergência alegada foi apenas utilizada para

justificar a escolha pessoalizada da entidade, com quem a administração já mantinha estreitos

contatos visando à contratação nos vários meses que antecederam a celebração do ajuste.

Com efeito, desde meados de 2011 que a Governadora ROSALBA CIARLINI

de saúde pública e suas atividades foram desvendadas na Operação Assepsia, promovida pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte. Os seus principais componentes respondem a ações penais e de improbidade em Natal e no Rio de Janeiro, em face da prática de atos de corrupção relacionados à prestação de serviços de saúde nos Estados do Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

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previa a instalação e a terceirização de um Hospital no Município de Mossoró. Isso está

documentado em diálogos telefônicos mantidos entre o secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA

e o procurador do Município de Natal ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, espécie de

representante informal da ASSOCIAÇÃO MARCA no Rio Grande do Norte:

6141090 DOMÍCIO relata a ALEXANDRE que esteve na Governadoria, onde teve acesso a um relatório no qual se demonstra o interesse da Governadora em alugar o Hospital da Unimed em Mossoró e transformá-lo numa unidade materno-infantil. Continuou DOMÍCIO relatando que disse a Governadora que o caminho para a implantação é a terceirização (Terceiro Setor) e que deve ser feito com uma OSCIP. Segundo DOMÍCIO, em Mossoró, essa implantação seria mais tranquila. Em seguida, DOMÍCIO diz a ALEXANDRE que a situação do Hospital Walfredo Gurgel está insustentável (excesso de pacientes, falta de pontos de oxigênio) e que vai contratar a Cooperativa de Enfermeiros para implantar emergencialmente 30 leitos no Hospital Ruy Pereira. Nos dizeres de DOMÍCIO, “dá para botar 30 pessoas internadas... a gente bota aqueles pacientes lá... abre de qualquer maneira”.

28/06/11

17:27:47

(04:20)

ALEXANDRE

e

DOMÍCIO

ARRUDA

6225197

18/07/2011

09:16:16

(02:31)

ALEXANDRE e DOMÍCIO ARRUDA

(84 9982-3870)

DOMÍCIO relata que esteve com a Governadora e, numa coletiva de imprensa, em Mossoró, ela afirmou que seria montado um hospital lá. Ele afirmou que disse a Governadora que faria um pedido ao ministério semelhante ao que foi feito para o Hospital Ruy Pereira e que estava aguardando o valor estipulado para a “terceirização”, para que este pedido fosse feito nesse mesmo valor. DOMÍCIO diz que a Governadora deseja que seja feito essa avaliação para que ela leve ao ministério. Continuando, DOMÍCIO diz que “quem conseguiu esse negócio” foi “Henrique” e que este conseguiu com o “secretário-geral” (Beltrame). ALEXANDRE diz que irá apresentar o projeto a DOMÍCIO, que está com “Rogério Marinho” e que quer

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encontrar DOMÍCIO. ALEXANDRE diz que irão à secretaria encontrá-lo por volta das 10:00 hs.

Inúmeros outros documentos mostram os contatos da Administração com a

ASSOCIAÇÃO MARCA, através do demandado ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA,

ainda no ano de 2011:

6283410 01/08/2011 18:03:57

(01:33)

De:

DOMÍCIO

ARRUDA

(84 9982-

3870)

Para:

ALEXAND

RE

DOMÍCIO pergunta a ALEXANDRE se ele tem alguma notícia do “pessoal”. ALEXANDRE responde dizendo que está preparando uma apresentação com o planejamento que eles lhes repassaram. Continua dizendo que eles estiveram “aqui”, na semana passada, nas duas unidades. DOMÍCIO diz que a Governadora marcou uma audiência, na quarta-feira, no ministério e que lá irá falar sobre o aumento de teto; ele diz que pediu que fosse feito uma exposição de motivos para que ela possa apresentar. DOMÍCIO pede que ALEXANDRE vá, no dia seguinte, para apresentar uma estimativa de valor.

6324645 18/08/2011 11:49:15

(01:48)

ALEXANDR

E e

DOMÍCIO

DOMÍCIO informa que está acompanhando a Governadora e o Secretário de Planejamento e pergunta se ALENXADRE tem alguma notícia do pessoal com relação a Mossoró. ALEXANDRE responde que

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sim, mas que ainda não repassou os dados pois está fazendo um estudo prévio; continuando, ele diz que o “pessoal” passou o valor de R$ 2 milhões e que pediu um detalhamento deste valor. DOMÍCIO diz que o valor é muito alto e que pode remanejar médicos para que o valor diminua. ALEXANDRE diz que na segunda-feira apresentará os resultados desse estudo.

6343658 24/08/2011 19:17:25

(02:00)

ALEXANDR

E e

DOMÍCIO

ARRUDA

DOMÍCIO pergunta se ALEXANDRE tem alguma novidade, tendo este respondido que sim. ALEXANDRE afirma que, na segunda-feira, apresentará o planejamento e aceita a orientação de DOMÍCIO para que apresente, antes, a “D. Dorinha”. ALEXANDRE diz que apresentará a esta no dia seguinte. O planejamento diz respeito à abertura de hospital, em Mossoró, pelo Governo do Estado.

6349259 26/08/2011 10:50:44

(04:15)

ALEXANDR

E e D.

DORINHA

ALEXANDRE diz que quer marcar uma reunião com ela e com os proprietários do Hospital da Unimed para que possa apresentar o projeto. ALEXANDRE diz que sugerirá algumas adequações do edifício e a troca de equipamentos obsoletos. Em seguida, ALEXANDRE diz que a proposta será de R$ 750 mil/mês para 30 leitos (de clínica), R$ 700 mil/mês para leitos de UTI, e R$ 700 mil/mês de neonatal.

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O planejamento a que alude o Secretário DOMÍCIO ARRUDA e que seria

apresentado à demandada DORINHA BURLAMAQUI, Secretaria Adjunta da Secretaria Estadual

da Saúde, pessoa da estrita confiança da Governadora ROSALBA CIARLINI, também está

documentado nos e-mails da OPERAÇÃO ASSEPSIA e corresponde a um projeto básico elaborado

pela equipe da MARCA/SALUTE VITA, organização comandada por TUFI SOARES MERES,

com previsão orçamentária acima de 2 milhões de reais mensais, conforme documenta o email

abaixo e seu anexo (em razão da extensão do anexo, a sua transcrição é desaconselhável, mas pode

ser conferida na documentação que instrui a ação):

From: tmeres

Sent: Monday, August 22, 2011 4:41 PM

To: Rosi Bravo

Subject: Fwd: CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE PROJETO HOSPITALAR NO RIO GRANDE DO NORTE_MOSSORÓ.docx

---------- Mensagem encaminhada ----------De: Leonardo Carap <[email protected]>Data: 19 de agosto de 2011 19:50Assunto: CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE PROJETO HOSPITALAR NO RIO GRANDE DO NORTE_MOSSORÓ.docxPara: Tufi Soares Meres <[email protected]>

Prezado amigo

Segue projeto mais burilado

Abs

Bom fds

Leonardo

Esse projeto, embora elaborado pela equipe da MARCA/SALUTE VITA, aportou

nos autos do processo administrativo que viabilizou a contratação como se fora o projeto básico

confeccionado pela própria administração, fato que demonstra a força e a interação entre a

administração estadual e o grupo MARCA/SALUTE VITA. Não é por acaso que logo no início da

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atual gestão do Estado, quando se cogitou o nome de DOMÍCIO ARRUDA para assumir o cargo de

Secretário de Saúde, TUFI SOARES MERES, chefe dessa organização, revelou, em contato com

LEONARDO CARAP, a pessoa que elaborou o projeto hospitalar do Hospital da Mulher (cf. email

anterior), ter mantido contato pessoal com a Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO, que

lhe assegurou nova rodada de conversa tão logo definisse o novo Secretário de Saúde. Observe-se a

missiva:

From: Leonardo Carap

Sent: Wednesday, January 05, 2011 10:23 AM

To: tmeres

Subject: RE: Natal

Estou preparando...

-----Original Message----- From: tmeres Sent: 1/5/2011 1:15:38 PM To: Leonardo Carap Subject: Re: Natal

Acredito que sim, conversei pessoalmente com ela e me falou que tão logo definise o secretário,marcaria uma conversa comigo !

O nosso assunto d IPMDC ? Vamos adiante !!! o ano começou e temos a encomenda para A Marca,

aguardo,

abs,

Tufi

Em 4 de janeiro de 2011 13:41, Leonardo Carap <[email protected]> escreveu:

Feliz 2011, amigo.o texto abaixo revela alguma oportunidade para nós?

RN: ex-diretor da Unimed é noemado secretário de saúde

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por Saúde Business Web

03/01/2011

Como uma indicação técnica, o médico Domício Arruda foi o escolhido para assumir a secretaria estadual de Saúde do Rio Grande do Norte

O médico Domício Arruda foi o escolhido para assumir a secretaria estadual de Saúde do Rio Grande do Norte. Ex-diretor da Unimed e do Hospital Walfredo Gurgel, Domício chega à pasta como um-a indicação técnica. A escolha dele ocorreu na véspera da posse da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), após a desistência do médico Ricardo Lagreca para que assumir a função. Domício Arruda é graduado em Medicina pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UFRN), turma de 1977 e fez especialização em Urologia no Rio de Janeiro. Atualmente é médico do Hospital Walfredo Gurgel e voluntário na Liga Norte-riograndense Contra o Câncer, além de Superintendente do Hospital da Unimed. Rosalba chegou a 30 horas da sua posse ainda sem ter nome para a secretaria de Saúde. A chefe do Executivo chegou o deputado estadual Paulo Davim (PV) para o cargo. No entanto, ele assumirá o cargo de senador, na vaga de Garibaldi Filho, que foi indicado para o Ministério da Previdência. O deputado estadual Getúlio Rego também foi uma opção, mas ele avisou que preferia continuar na Assembleia Legislativa. Ana Tânia Sampaio, que foi secretária municipal de Saúde, e o diretor do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), RicardoLagreca, também foram especulados.

Domício Arruda

O secretário escolhido pretende mergulhar a partir da semana que vem na formação de sua equipe, mantendo na agenda o compromisso já assumido do novo governo de realizar um corte de 30% em seus cargos de confiança. Além disso, um grande acordo com todos os setores ligados à Sesap (Secretaria de Estado da Saúde Pública) deve ser conduzido por Arruda, dentro do pressuposto que o futuro governo nada tem a ver com a situação administrativa instalada na pasta.

Leonardo Justin CarâpQualimed Planejamento & Gestão em Saúde Diretor Técnico55-21-2719.958555-21-8105.1417

Neste ínterim, cumpre contextualizar que, naquela mesma época, chegaram os

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envolvidos a tratar nos bastidores da Administração Pública Estadual da possibilidade de o Hospital

da Mulher ser inaugurado já em outubro de 2011, consoante se infere da mensagem e do diálogo

abaixo:

SMS “Pre-planejamento para inauguracao de mossoro (unidade materno-infantil) dia 14 de outubro (sexta-feira). Amanha, se voce estiver em natal, lhe apresento para sua aprovacao, o calendario de atividades ate a inauguracao. Alexandre”.11/07/2011

13:11:46

Enviado para 84 9982-3870 - DOMÍCIO ARRUDA

6259854 Inicialmente, ALMERINDA e ALEXANDRE conversam sobre uma notícia divulgada informando que a cozinha do Hospital da Unimed estaria funcionando em agosto. ALEXANDRE explica que não está sabendo disso e que seu compromisso é o de que o funcionamento se dará no final de outubro. Em seguida, ALMERINDA pergunta o que irão fazer com o Hospital Ruy Pereira. ALEXANDRE explica que estão fazendo um levantamento para saber o que o hospital precisa para funcionar de forma completamente autônoma, com todos os equipamentos e equipe. ALMERINDA complementa o raciocínio de ALEXANDRE dizendo “para a gente entregar para alguém”. ALEXANDRE confirma e diz que após o levantamento discutirão para saber como seria esse modelo: se entregarão “todo”; se centralizarão todos os contratos de terceirização numa só entidade. Ele diz, também, que o mesmo será feito em relação ao Hospital da Unimed, em Mossoró, e que a decisão será feito pela coordenação de ALMERINDA e pelo secretário “Domício”.

27/07/2011

12:10:02

(02:17)

ALMERINDA e ALEXANDRE

As iniciativas prosseguiram sob o pálio de ALEXANDRE MAGNO ALVES DE

SOUZA e DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA, e de tudo era dado conhecimento à demandada

DORINHA BURLAMAQUI, escalada pela Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO para

tratar do assunto:

6349259 ALEXANDRE diz que quer marcar uma reunião com ela e com os proprietários do Hospital

da Unimed para que possa apresentar o projeto. ALEXANDRE diz que sugerirá algumas

adequações do edifício e a troca de equipamentos obsoletos. Em seguida, ALEXANDRE diz

que a proposta será de R$ 750 mil/mês para 30 leitos (de clínica), R$ 700 mil/mês para leitos

de UTI, e R$ 700 mil/mês de neonatal.

26/08/2011

10:50:44

(04:15)

ALEXANDRE e D.

DORINHA

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Num determinado momento, restou inclusive elaborada a minuta do edital nº

001/2011, cujo objeto se referia à deflagração de um concurso de projeto visando à escolha de uma

OSCIP para contratar com o Poder Público Estadual o gerenciamento do Hospital da Mulher e

também do Hospital Ruy Pereira. Evidentemente que o acerto com a MARCA, já definido,

contemplava informações privilegiadas, para que a entidade auferisse o contrato. Por isso que a

minuta do edital circulou nos emails de responsáveis pela Associação MARCA, em agosto de 2011,

sem que fosse sequer publicada no Diário Oficial do Estado:

From: tmeres

Sent: Monday, August 22, 2011 12:09 PM

To: Leonardo Carap ; viviane.advogada

Subject: Minuta de seleção

Segue minuta de edital, para Ruy Pereira e Mossoró

Para sugestões,

Abs

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As negociações, de fato, prosseguiram durante todo o ano de 2011, mas havia

duas dificuldades: o Estado não tinha recursos suficientes para encetar a contratação e não havia lei

local permitindo a contratação de OSCIP na área de saúde pública. Representativo desse momento é

o seguinte diálogo telefônico:

02/07/2011 11:03:24 ROSI BRAVO

X CLÁUDIO

CLAUDIO pergunta sobre o negócio de Parnamirim, ROSE responde que não vai dar certo, até porque os médicos lá estão em greve. Diz que tratou direto com o TUFI. CLAUDIO fala que ISABEL esteve lá e viu que os serviços precisam realmente de melhorias. ROSE fala que as instabilidades dos negócios em Natal estão contribuindo para que em Parnamirim não dê certo. CLAUDIO pergunta sobre o andamento com o Estado. ROSE diz que o problema do Estado é o orçamento e que para o que o DOMÍCIO quer com um milhão e meio, não dá pra fazer. Que na verdade teria que se ter de três milhões e meio a quatro milhões e hoje o Estado não tem orçamento para isto. CLAUDIO fala que tem uma pessoa que pode resolver tudo isso, tanto com a Prefeitura quanto com o Estado. CLAUDIO afirma que quem trouxe esse um milhão e meio foi essa tal “pessoa”.

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CLAUDIO diz que acha interessante ter uma reunião em Brasília ou Rio de Janeiro ou São Paulo com essa pessoa para resolver esses assuntos. CLAUDIO diz que essa “pessoa” consegue resolver tudo isso e afirma que hoje o Estado depende exclusivamente dessa “pessoa” para tudo e complementa que tudo passa por essa “pessoa”. ROSE pede para CLAUDIO repassar essas informações para o TUFI, mas CLAUDIO diz que não consegue entrar em contato com o TUFI. CLAUDIO diz que esse “amigo” perguntou se gostaria de fazer o mesmo na Paraíba. Pela proximidade com Natal já teria uma estrutura.

Não obstante todas essas dificuldades, o certo é que existia um compromisso

bastante sólido entre os componentes da Administração Pública Estadual e a organização chefiada

pelo demandado TUFI MERES para que a respectiva contratação ocorresse a todo custo. Logo, era

só uma questão de tempo para que a mesma se concretizasse, pois a todo momento surgia uma nova

forma para implementá-la. Neste sentido, insta exemplificar com o seguinte e-mail, trocado entre

TUFI e seu braço direito ROSI BRAVO, no qual consta duas outras possibilidades cotadas

para operacionalizar o acordo em comento:

---------- Mensagem encaminhada ----------De: merest <[email protected]>Data: 7 de setembro de 2011 13:09Assunto: NatalPara: Rosi Bravo <[email protected]>Cc: [email protected], monique monteiro <[email protected]>

Rosi,boa tarde.Breve relato para que já amanhã pela manhã vc fale c Risiely.Miguel me levou p tomar café da manhã com Francisco Vagner,da SEGELM(Secretario de Gestão,Logistica e Modernização) e Wellington Tavares(subsecretario).-Expus toda a questão sobre a qual falamos no aeroporto ontem.-Resolveu-se: 1- A partir de amanhã a Prefeita cria uma pequena comissão,da qual eles farão parte,para solucionar as prorrogaçoes.2- O PGE opina e trabalha pela correção da Lei das OS ,e já na proxima semana pensam aprovar na ALERN.3- Caso não consigam(entendem que conseguem),faz-se Têrmo de Parceria.4- Este procedimento cobre todos os contratos,IGAPÓ e UPA Nova Esperança tambem.5- A SSMRN , cuja secretária Perpétua é corporativista,fica fora deste processo,tendo atuação operacional.6- A questão pagamentos será tratada em nova reunião com novas pessoas.Não fazer nada até lá.7- Já amanhã colocar Risiely em contato com Wellington Tavares( Pai de Tobias),cel 55 84 88023232 , se colocando a disposição para eventuais docs.

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- No RN , Alexandre avançou e vc deve ter relato.Já levo na semana que vem o CHC-Barcelona para assinar Protocolo de intenções.No anexo, A TRibuna do RN de hj,onde o PMDB entra oficialmente no GovernoRosalba.Estive com Henrique Eduardo Alves e já falamos sobre a Gestão do Hosp Est .- Com a prorrogação dos contratos,vamos falar sobre a participação do Nucleos em todas as unidades,mas falo pessoalmente com vc.Fale um pouco com Alexandre que já coloquei à par , e me falou que ficou muito satisfeito com esta nova interlocução.Vamos falar amanhã,ok ?Volto hj no mesmo TAM que vc voltou ontem.abs,Tufi

Corroborando as informações insertas no aludido correio eletrônico, pode-se

remeter a trecho de depoimento prestado ao Ministério Público por. NELSON FREDERICO

ACCIOLY VARELLA BARCA, assessor jurídico da SESAP, em que confirma ter participado de

reunião em que se discutiu a elaboração de projeto de lei que especificaria os critérios necessários à

qualificação, em âmbito estadual, de Organizações Sociais (O.S.), com a finalidade de possibilitar a

celebração de contrato com a respectiva entidade do Terceiro Setor pelo Poder Público e, desta feita,

dar azo a implementação da primeira opção nele sugerida, senão vejamos:

“(…) que em relação à contratação de organizações sociais para gerir unidades de

saúde no Rio Grande do Norte recorda-se que, em outubro ou novembro de 2011,

foi convocado para participar de reunião com a então Secretária-Adjunta de

Saúde do Rio Grade do Norte, conhecida como DORINHA, na qual foi

apresentada a ideia de contração de organizações sociais; que na oportunidade,

foi discutido que o Estado iria instalar um hospital voltado para o atendimento

de mulheres em Mossoró, no antigo Hospital da Unimed; que DORINHA

esclarecia que aquela ação era de interesse da Governadora Rosalba Ciarlini,

pois esta via a necessidade de um hospital voltado para o atendimento às

mulheres em sua cidade natal; que, no entanto, o Estado não tinha estrutura de

pessoal para colocá-lo em funcionamento, daí a necessidade de se pensar o

modelo de contratação de organizações sociais; que o Hospital de Traumas de

João Pessoa foi citado como exemplo; que ao ser questionado sobre a

possibilidade de contratação de Oss, nesta mesma reunião, o depoente

esclareceu de plano que seria necessária uma lei regulamentadora no âmbito

estadual; que a reunião discutiu esse assunto e por aí ficou; (…)”3

3 Íntegra do Termo de Depoimento prestado pelo Sr. NELSON FREDERIDO ACCIOLY VARELLA BARCA às 812/813, V. 3.

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Contudo, na prática, o que se verificou foi uma total falta de paciência por parte

dos envolvidos em promover as medidas necessárias à regulamentação, em âmbito estadual, da

contratação de entidades do Terceiro Setor pelo Poder Público, mesmo tendo pleno conhecimento

de que tal inobservância afrontaria flagrantemente o ordenamento jurídico pátrio. A decisão

governamental de contratar a MARCA, especificamente a MARCA, não se harmonizava com um

processo mais lento e regulamentado, a fim de propiciar a competição entre diversas entidades,

hipótese que resguardaria o interesse público.

Entrementes, foi exatamente por meio da segunda opção descrita no e-mail supra -

elaborado pelo demandado TUFI MERES em 07.09.2011 - que se processou a contratação da

Associação MARCA para Promoção de Serviço pelo Governo deste Estado no início do ano de

2012, qual seja, através da celebração de “Termo de Parceria”, forma que os demandados

pensavam ser a mais rápida de conseguir implementar seus planos ilegais.

Para tanto, valeram-se ilegalmente da qualificação de Organização da Sociedade

Civil de Interesse Público (OSCIP) concedida à Associação MARCA para Promoção de Serviços

pelo Ministério da Justiça, a qual, a bem da verdade, só tem validade em sede de parcerias firmadas

com a União.

A participação de pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos na

gestão de serviços considerados não exclusivos do Estado é matéria a ser tratada à luz da legislação

vigente, tendo sempre por foco a prevalência do interesse público e os princípios constitucionais

que sempre devem reger o trato com a coisa pública, com ênfase na legalidade, moralidade,

impessoalidade, transparência e eficiência

No que concerne especificamente às Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público (OSCIPs), entidades que compõem o terceiro setor, a regulamentação, no plano federal, se

dá pela Lei Federal nº 9.790/99, que estabelece os requisitos indispensáveis para que determinadas

entidades possam ser qualificadas como OSCIP, devendo, também, ter sempre como propósito a

prestação de uma série de serviços sociais e/ou a promoção de direitos sociais. Assim, a

qualificação das OSCIPs não é discricionária, devendo preencher uma série de requisitos formais

que estão dispostos na lei. Ainda, de acordo com a citada lei federal, cabe ao Ministério da Justiça

atribuir a qualificação de OSCIP às pessoas jurídicas que preencham os requisitos legais.

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Ocorre que a Lei Federal n. 9.790/99 é de caráter geral, e à medida que o seu

artigo 3º estabelece uma série de requisitos para que uma entidade possa receber a

qualificação como OSCIP, à toda evidência faz-se necessário que cada esfera de Governo

proceda à devida regulamentação local, de modo a definir os elementos necessários para

tanto, observando-se a realidade e necessidades de cada ente, independentemente de a

entidade encontrar-se qualificada pelo Ministério da Justiça.

Assim, cabe aos Estados e Municípios estabelecerem os pressupostos que se lhes

assemelham necessários a que algumas entidades qualifiquem-se como OSCIPs, a fim de que a

norma possa ser aplicada de maneira mais adequada à sua própria realidade local.

Desta feita, antes de o ente público pretender firmar Termo de Parceria com

OSCIP, é indispensável a existência de lei no respectivo nível de governo que preveja os

requisitos necessários a que determinada entidade possa qualificar-se como tal.

Nesse sentido o escólio de Paola Nery Ferrari e Regina Maria Macedo Nery

Ferrari:

“Considerando a Federação brasileira, Estados, Municípios e Distrito Federal,

também podem criar tanto organizações sociais como organizações da sociedade

civil de interesse público, desde que, em seu âmbito de atuação, exista prévia

previsão legal. Isto porque a legislação federal, as Leis n. 9.637/98 e n. 9.790/99, só

se aplica à administração pública federal e não serve de suporte para qualificar,

como tais, pessoas jurídicas de direito privado, na esfera estadual, municipal e

distrital.4

Na mesma esteira de pensamento já decidiu o Tribunal de Contas do Estado do

Minas de Gerais, consoante parecer emitido através da consulta nº 716.238, que restou assim

ementado:

“Município — Organização da sociedade civil de interesse público — Assessoria

jurídica à população carente — Exigência de lei municipal para qualificação da

OSCIP — Necessidade de licitação para celebração do termo de parceria —

Limitações ao exercício da advocacia — Apreciação do estatuto social pela OAB —

Fiscalização e controle pelo Tribunal de Contas — Empregados celetistas —

4 FERRARI, Paola Nery; FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. Controle das organizações sociais. Belo Horizonte: Fórum, 2007. p.85

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Impossibilidade de lançamento em Despesa de Pessoal. (Tribunal Pleno, sessão do

dia 27/11/2008, Conselheiro Presidente Elmo Braz, parecer aprovado à

unanimidade). Grifos inovados.

Ainda encampando o entendimento sobre a obrigatoriedade de edição lei

autorizativa, o Tribunal de Contas do Estado da Bahia editou a Resolução nº 1.258/07, disciplinando

os procedimentos concernentes à qualificação de entidades civis sem fins lucrativos como OSCIP e

à celebração de termos de parceria entre o Poder Público municipal, trazendo, dentre outros, os

seguintes considerandos:

“a) a Lei Federal n. 9.790, de 23 de março de 1999, prevê a qualificação de

pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos como Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público — OSCIP, habilitando-as, mediante a

celebração de termo de parceria, a colaborar com o Poder Público no atendimento

de interesses públicos, desde que em seus objetivos sociais constem, pelo menos,

uma das finalidades catalogadas no seu art. 3º;

b) a lei mencionada no item anterior restringe-se, por suas disposições, aos serviços

públicos federais, sendo imprópria sua utilização direta pelos Municípios para

fundamentar a celebração de termos de parceria com OSCIPs;

c) compete aos Municípios editar leis que disponham sobre as entidades que

sejam passíveis de qualificação como OSCIPs, sobre as exigências para essa

qualificação, inclusive no que tange às disposições estatuárias da pretendente,

sobre a instituição e o conteúdo dos termos de parceria e demais requisitos

necessários, observando-se, subsidiariamente, as regras estabelecidas pelos arts.

2º, 3º e 4º da Lei n. 9.790/99, além dos procedimentos insculpidos em seu art. 5º,

no que couber;

d) alguns Municípios, não obstante o entendimento dominante, vêm celebrando

termo de parceria com OSCIPs, inclusive com trespasse de serviços inteiros, sem

respaldo legal, devido à inexistência de lei municipal autorizativa;

e) é vedada a utilização de OSCIPs para contratação de pessoal para o serviço

público, o que caracteriza burla ao princípio.” Destaques inovados

Como se afere, apenas a qualificação da entidade como OSCIP no âmbito federal

não serviria de fundamento para que o Estado do Rio Grande do Norte pudesse, de pronto, firmar

termo de parceria. Necessária e imprescindível que a referida contratação tivesse sido precedida da

edição de norma estadual que estabelecesse os requisitos para qualificação de entidade particular

como OSCIP, para, a partir de então, selecionar a instituição de direito privado com a qual pudesse

ser estabelecida parceria. Nada disso foi feito pelo Poder Público Estadual.

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Nesse sentido, o governo estadual, através da Governadora ROSALBA

CIARLINI ROSADO e do Secretário de Saúde DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA, conduziu a

situação até se chegar a um estado de emergência ficta na área de saúde, pois nesta hipótese,

conforme orientação do Procurador-Geral do Estado MIGUEL JOSINO NETO, seria possível a

dispensa de seleção pública prévia e, assim, proceder à escolha direta de uma OSCIP, no caso a

MARCA.

Na verdade, impende destacar que a situação de emergência em que se

fundamentou a contratação sob exame casou com o interesse da demandada ROSALBA

CIARLINI de contratar a ASSOCIAÇÃO MARCA, conforme os contatos que vinham sendo

mantidos por ela e pelo Secretário de Saúde com a presteza interessada de ALEXANDRE

MAGNO ALVES DE SOUZA. A Governadora inclusive, à época (início de 2012), incomodava-se

com a demora do demandado DOMÍCIO ARRUDA em resolver a questão, que vinha sendo

postergada ao longo de meses, a fim de que pudesse inaugurar o Hospital da Mulher e consumar de

uma vez por todas os contatos que foram feitos com a MARCA.

Com o novo orçamento, relativo ao exercício de 2012, passando por cima do

óbice da inexistência de lei estadual, o Governo finalmente contratou a MARCA, nos exatos

valores constantes nas planilhas elaboradas pelo grupo de TUFI SOARES MERES. Confiram-se os

documentos:

Em 27 de janeiro de 2012 11:54, Otto Schmidt <[email protected]> escreveu:

Tufi,Segue em anexo a PLANILHA FINANCEIRA e de RESULTADOS de Mossoró. Este valor é o número final (real) que chegamos e não vejo como reduzí-lo, a não ser que tenhamos mais condições de reduzir pessoal.Ressalto que o valor ficou um pouco acima do que havíamos imginado, pois existe o valor do aluguel do imóvel.AbraçosOtto Schmidt

Re: PLANILHAS DE MOSSORÓ

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Oi,

2.8 - treinamento interno = 22.000

2.11 = 1500.00

2.15 = 1000.00

3.4=5.000

5.9=35.000

5.11=8000.00

5.12=10.000

5.13=5.000

5.19=18.000

Muda os acima e pode mandar.

Depois de mudar , reemprime e me envia de novo

Email: Mossoró

Tufi,

Seguem as planilhas devidamente alteradas.

NOTA: O RESULTADO FICOU UM POUCO MENOR, POIS AS ALTERAÇÕES QUE VC ME PEDIU PARA FAZER EU NÃO INCLUI COMO RECEITA.

Abraços

Otto Schmidt

Inicialmente, a planilha financeira acostada ao primeiro correio eletrônico

remetido pelo demandado OTTO SCHMIDT para o demandado TUFI MERES tinha os seguintes

custos:

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Após as alterações ordenadas pelo demandado TUFI MERES ao demandado

OTTO SCHMIDT, restou montada por este último nova planilha contendo a seguinte

discriminação financeira:

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Esta última planilha, do jeito que foi elaborada pela organização de TUFI

SOARES MERES, determinou o valor que consta no termo de parceria nº 001/2012, sem qualquer

questionamento do governo, seja da demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO, seja do

demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA. Da análise das citadas planilhas, infere-se que as

modificações dos custos ordenadas pelo demandado TUFI MERES ao seu comparsa, o demandado

OTTO SCHMIDT, recaíram sobre despesas claramente genéricas, como, por exemplo,

treinamentos interno e externo, programação visual, consultoria jurídica, desenvolvimento e

implantação de sistemas etc, acerca das quais se pode questionar não só o montante por ele

arbitrado aleatoriamente, mas também a própria pertinência das mesmas.

A demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO, no entanto, não titubeou,

aceitando sem glosa o preço imposto pela ASSOCIAÇÃO MARCA, razão pela qual providenciou,

tão logo foi assinado o termo de parceria nº 01/2012, a abertura de crédito suplementar para

custeio da respectiva despesa, por meio do Decreto nº 22.575, de 02 de março de 2012, cujo

montante foi da ordem de R$ 15.806.057,91 (quinze milhões, oitocentos e seis mil, cinquenta e

sete e reais e noventa e um centavos), valor que, diga-se de passagem, superior a todo o

investido na saúde estadual durante o ano de 2011 (R$ 11.076.834,92). Eis a seguir cópia do

mencionado ato:

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Nesse ponto, o próprio demandado DOMÍCIO ARRUDA, no seu depoimento

prestado na Procuradoria-Geral de Justiça, bem explicitou que uma contratação envolvendo tão

vultoso valor não poderia partir dele, Secretário, de forma solitária, estando o poder decisório

de contratar nas mãos da requerida Governadora Rosalba Ciarlini. Convém lembrar suas

palavras:

“(...) que a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA envolveu recursos da ordem R$

13.000.000,00 (treze milhões de reais) e o depoente como Secretário de Saúde não tinha

condições orçamentárias de viabilizar essa contratação sem envolver a decisão política da

Governadora ROSALBA CIARLINI de carrear recursos para fazer frente a essa

contratação...”5

Resta clarividente que a demandada ROSALBA CIARLINI direcionou a

5

Vide Fls. 824-825, V. 3.

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contratação da entidade Associação MARCA, com o qual o governo mantinha contatos desde o

início de 2011. E carreou recursos milionários para dar suporte a essa contratação, sabendo de

antemão que os valores envolvidos não foram fruto do planejamento administrativo, mas obra e

cálculo do futuro parceiro privado, previamente escolhido, sem qualquer glosa por parte do governo.

A bem da verdade, quando TUFI SOARES MERES deu números finais à sua

planilha de custos, contemplou no valor do projeto alguns fatores incompatíveis com um contrato

celebrado com uma OSCIP. A planilha que detalha o resultado financeiro da empreitada é elucidativa

do superfaturamento, já que contempla um lucro de 24,77%, como resultado financeiro do grupo

SALUTE VITA, o equivalente a R$ 641.712,00 (seiscentos e quarenta e um mil, seiscentos e doze

reais), por mês. Confira-se o extraordinário documento, elaborado pela equipe de TUFI SOARES

MERES, de circulação restrita nos e-mails de TUFI MERES e os integrantes da sua organização e

obtido mediante cooperação internacional:

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Ouvido, o Secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA tentou passar a impressão

de que o nome da ASSOCIAÇÃO MARCA foi lembrado apenas no início do ano de 2012, quando

a Governadora ROSALBA CIARLINI se mostrou desapontada com a sua demora em efetivar o

projeto de terceirização do Hospital da Mulher. O seu depoimento foi prestado nos seguintes

termos:

“que desde o anúncio do fechamento do Hospital da UNIMED que a

Governadora ROSALBA CIARLINI assumiu pessoalmente a tarefa de dar

resposta a essa situação, tanto na parte jurídica quanto na parte financeira; que

antes mesmo da Secretaria de saúde ter uma resposta para a situação do

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fechamento do Hospital da Unimed, a governadora ROSALBA CIARLINI já

havia anunciado publicamente que o Estado iria assumir o Hospital; que o

desejo da Governadora era ter uma organização social na área de saúde, mas

era necessário uma alteração legal; que repete o depoimento anterior quando diz

que a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA pelo Estado do Rio Grande do

Norte foi uma decisão conjunta do depoente e da Governadora ROSALBA

CIARLINI, mas que o nome da MARCA foi sugestão do depoente; que houve

várias reuniões de ALEXANDRE MAGNO com o depoente e a governadora

ROSALBA CIARLINI para tratar da contratação da MARCA; que ALEXANDRE

MAGNO defendia que uma OSCIP poderia ser contratada sem alteração legal;

que o Procurador MIGUEL JOSINO disse à Governadora e ao depoente que a

MARCA podia ser convidada diretamente como OSCIP, sem processo seletivo ou

licitação, em virtude da emergência, pelo prazo de seis meses;”

A tentativa do Secretário é óbvia, no sentido de se acostar a uma opinião técnica

do Procurador Geral do Estado MIGUEL JOSINO NETO, de que é possível fazer uma contratação

direta em razão de um estado emergencial, para justificar a contratação direta de uma entidade com

quem já vinha negociando há meses, aproveitando-se justamente de uma situação caótica gerada

pela sua própria inação como Secretário de Saúde Pública.

Ocorre que o Procurador MIGUEL JOSINO NETO não tinha conhecimento das

tratativas anteriores do Secretário DOMÍCIO ARRUDA e da Governadora ROSALBA CIARLINI

ROSADO com a ASSOCIAÇÃO MARCA. Isso ficou patente em seu depoimento, prestado na

Procuradoria Geral de Justiça, quando ele frisou que não deu qualquer parecer que justificasse

especificamente a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA:

“que se manifestou formalmente no processo de contratação de uma entidade do

terceiro setor para administrar o Hospital da Mulher, admitindo a possibilidade

jurídica da contratação de uma OSCIP, inclusive de forma emergencial; que não

sabe dizer se o Estado do Rio Grande do Norte qualificou a ASSOCIAÇÃO

MARCA como uma OSCIP antes da celebração do termo de parceria; que não

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confirma a informação de DOMÍCIO ARRUDA de que ALEXANDRE MAGNO

ALVES DE SOUZA tenha consultado o depoente sobre as cláusulas do termo de

parceria; que não conhece as cláusulas do termo de parceria, nem teve qualquer

participação na sua elaboração; que quando elaborou o seu parecer, não sabia

que a MARCA já tinha sido escolhida pelo Governo; que participou de audiência

pública com o Ministério Público em Mossoró em março de 2012 sobre esse

tema; que acredita que alguém da MARCA participou da audiência pública, mas

não sabe dizer quem; que não tem conhecimento de qualquer autorização formal

ou informal do governo permitindo que a ASSOCIAÇÃO MARCA fizesse

reformas no prédio do Hospital da UNIMED e adquirisse equipamentos e

produtos médicos para o funcionamento do futuro Hospital da Mulher às custas

de uma futura contratação e do futuro termo de parceria; que a Procuradoria

Geral do Estado jamais autorizou a inserção de despesas prévias realizadas pela

MARCA nos anexos do termo de parceria firmado com a MARCA ou nas

prestações de contas da entidade, conforme obriga o termo de parceria;”

Decerto, o caos evidenciado na saúde pública estadual, nesse momento, figurou

como ambiente propício a configurar um estado crítico e apto a justificar a contratação

“emergencial” da Associação Marca. Na verdade, essa urgência era previsível, tanto que nos

bastidores um ajuste fraudulento já era programado com mais de seis meses de antecedência, diga-

se de passagem. A transcrição adiante evidencia essa prática, que parte justamente do Secretário

Estadual de Saúde, médico de formação, ressalte-se, e que vislumbra “nessa situação de crise

encontrada” a “oportunidade para decretar estado de emergência em Mossoró e no RN” e fazer as

contratações que vinham sendo planejadas pelo Secretario e pela Governadora6:

6787605.W

03/01/2012

17:00:48 ALEXANDRE e DOMÍCIO ARRUDA

DOMÍCIO relata a ALEXANDRE que o “negócio de Mossoró parece que engrossou”, deixando a governadora muito

6

Conforme será explicitado no próximo tópico, a governadora ROSALBA CIARLINI pretendia terceirizar a administração de vários hospitais estaduais e estava conversando com duas entidades para esse fim, a ASSOCIAÇÃO MARCA e a CRUZ VERMELHA, a quem pretendia contemplar salomonicamente com contratos específicos.

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AV angustiada. Continuando, DOMÍCIO diz que ligou para o “menino da Cruz Vermelha”, por ser o mais próximo, e que este disse que se a “ela” (supostamente a governadora) estiver disposta a conversar virá até aqui, pois já está em João Pessoa. DOMÍCIO diz que esta pessoa já está com a estrutura montada em João Pessoa, tendo 16 pessoas já trabalhando com ele. ALEXANDRE, então, se questiona como isso será resolvido, pois, na sua opinião, se essa saída for para resolver de forma mais rápida o problema, acha ótima. DOMÍCIO afirma que, nessa situação de crise encontrada, será a oportunidade para decretar estado de emergência na urgência de Mossoró e do RN. Nesse momento, DOMÍCIO pergunta se “o cara tem 6 meses para tomar a contratação das coisas”. ALEXANDRE afirma que tem 6 meses para contratação emergencial. DOMÍCIO, então, diz que durante esses 6 meses verão o resultado e que foi isso que “eles fizeram em João Pessoa”. ALEXANDRE questiona se DOMÍCIO está falando “de abrir o hospital” ou de “contratar o pessoal que não está trabalhando”. DOMÍCIO responde afirmando que era para “trazer de fora”, “abrir o hospital”. ALEXANDRE mais uma vez indaga se é para “abrir o Hospital da Unimed”, tendo DOMÍCIO confirmado que se trata deste hospital. Em seguida, DOMÍCIO diz que “ela” (supostamente a governadora) reclamou e o apontou como culpado em razão de não ter apresentado o projeto. DOMÍCIO, então, pede a ALEXANDRE para darem uma alinhavada e este pergunta quando ele quer fazer isso. ALEXANDRE pergunta se isso poderá ser feito e apresentado a “ela” no dia seguinte. DOMÍCIO responde dizendo que é isso o que “D. Dorinha” está tentando programar. ALEXANDRE diz que está chegando em

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casa e que poderá já fazer o projeto e encaminhar para o e-mail de DOMÍCIO. Este concorda e acrescenta que “o cara de João Pessoa” também quer vir (supostamente para conversarem com a governadora). ALEXANDRE concorda que ele venha e diz que acha que ele dirá que precisa de 45 dias para assumir. ALEXANDRE diz que já dará início à elaboração do projeto e que, no dia seguinte, conversarão.

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Na verdade, a crise enfrentada pela saúde pública do Município de Mossoró já era

conhecida pelos gestores públicos desde muito tempo antes ao evento pontual que o demandado

DOMÍCIO ARRUDA, ardilosamente, lançou mão para justificar a contratação direta, por dispensa

de licitação, da Associação MARCA no início do ano de 2012.

SAMEC, MATER DEI, UNICÁRDIO, HOSPITAL DUARTE FILHO e CASA

DE SAÚDE SANTA LUZIA são exemplos de unidades de saúde localizadas na referida

Municipalidade que foram fechando as portas com a complacência do governo, como reflexo das

dificuldades na saúde, sobretudo da falta de financiamento, que tem feito reduzir a estrutura naquela

cidade nos últimos anos, apesar dos aumentos populacional e de demanda por esse tipo de serviço.

Além delas, duas outras unidades de saúde já com especialização no atendimento

materno-infantil de Mossoró, pelos mesmos sobreditos motivos, anunciaram diferentes mudanças

em seus destinos ainda no primeiro semestre de 2011, que foram justamente o Hospital da

UNIMED e a UNIPED – Unidade de Pronto-Atendimento Infantil de Mossoró, mas que, na prática,

redundaram igualmente no fomento da situação de crise na assistência à população.

Registre-se, outrossim, que até mesmo o evento pontual utilizado pelo demandado

DOMÍCIO ARRUDA para decretar estado de emergência na saúde de Mossoró era totalmente

previsível meses antes. Ora, a greve iniciada em 1º de janeiro de 2012 pelas cooperativas dos

médicos pediatras, obstetras e anestesiologistas da Casa de Saúde Dix-Sept Rosado/Maternidade

Almeida Castro, que serviu de subterfúgio para o Governo do RN contratar diretamente a

Associação MARCA em vislumbre, teve como principal motivo o atraso no pagamento dos salários

desses profissionais por quase três meses e o não pagamento das férias dos mesmos, desde agosto

de 2011, pelo próprio governo, conforme se extrai de notícias veiculas à época em anexo.

Portanto, a falta de assistência na saúde pública no Estado do Rio Grande do

Norte não é nenhuma novidade: passam-se os anos e o abandono continua o mesmo, justamente

pela desídia daqueles que são incumbidos pelo povo de lhes assegurar um direito fundamental que é

a saúde. Sobre isso, bem pontou a Informação n. 326/2013-DAD, Diretoria de Controle Externo do

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Tribunal de Contas do RN, inserta no processo n. 15153/2012-TC:7

“Nesse sentido, a necessidade de melhora da rede de assistência à saúde da mulher em Mossoró, não obstante ser um grave problema, não foi um episódio que se iniciou no início do ano de 2012. Trata-se, de fato, de situação crônica mantida por várias administrações omissas em fornecer alguma solução concreta para solucioná-la.”

O Tribunal de Contas da União, conforme voto exarado pelo Ministro Carlos

Átila, bem asseverou que somente cabe a invocação da exceção legal se “a situação adversa, dada

como de emergência ou de calamidade pública, não tenha se originado, total ou parcialmente, da

falta de planejamento, da desídia administrativa ou da má gestão dos recursos disponíveis, ou seja,

que ela não possa, em alguma medida, ser atribuída à culpa ou dolo do (s) agente (s) público (s) que

tinha (m) o dever de agir para prevenir a ocorrência de tal situação...”8

E chama atenção relativamente à suposta situação de emergência o fato de que em

06 de setembro de 2011 a demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI DE LIMA,

Secretária Adjunta da SESAP, expediu o Memorando n. 047/2011, encaminhando ao Secretário

DOMÍCIO ARRUDA as “minutas de termo de parceria para instalação de uma Unidade Materno-

Infantil em Mossoró e Hospital Ruy Pereira dos Santos, em Natal, com gerenciamento da unidade a

ser feito através da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, escolhida

mediante SELEÇÃO PÚBLICA.”9 Desde essa época poderia ser feita sem dificuldades uma

licitação que atendesse ao interesse público. Mas o interesse dos demandados residia apenas na

contratação da MARCA.

O fato é que, ao menos oficialmente, desde setembro de 2011 o Estado do RN

adotou o primeiro passo visando à contratação de uma entidade do Terceiro Setor para gerir uma

unidade Materno-Infantil em Mossoró, mas o demandado DOMÍCIO ARRUDA, para dispensar a

seleção pública, em 06 de fevereiro de 2012, exatamente 05 (cinco) meses depois, sem tomar

7

Relatório que consta no CD de fl. 635, V. 2, p. 29.8 Idem, ibidem, p. 240.9 P. 23, V. I

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qualquer das providências que lhe cabiam, veio reconhecer a suposta “situação de emergência”. E

esse ardil não passou despercebido pela análise do Corpo Técnico do TCE/RN, na Informação n.

326/201310:

“Ora, constata-se que desde 06 de setembro de 2011 a Administração Pública já tinha a intenção de instalar o Hospital da Mulher em Mossoró, sendo a realização de sua gestão procedida mediante Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), e somente em 06 de fevereiro de 2012 é que o então Secretário de Saúde declara a suposta situação de emergência veiculada pela imprensa; depreende-se, dessa maneira, a montagem de situação emergencial com vistas a contratação de forma direta da Associação MARCA fundamentada no art. 24, IV da Lei 8.666/93. Desse modo, caso o procedimento licitatório tivesse ocorrido de forma regular e célere que a situação exigia, dificilmente chegar-se-ia a uma contratação ás pressas, nos moldes da pactuada com a OSCIP acima mencionada.”(…)

Destarte, pode-se concluir sem maiores dificuldades que o próprio governo

aceitou, fomentou e conviveu com a crise que passou a alegar para contratar diretamente a

ASSOCIAÇÃO MARCA, em caráter emergencial.

Em depoimento na Promotoria do Patrimônio Público, em 27 de julho de 2012, o

Secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA, revelou, a seu modo, como foram feitos os contatos

com a MARCA:

“(...) Que existiu a ideia de terceirizar o Hospital Dr. Ruy Pereira, pois era um hospital alugado

que tinha uma dotação orçamentária fixa e seria possível com o valor do custeio, alugar o

serviço; Que recebeu a visita da DERSLON da FIBRA em uma audiência na SESAP; Que ele

afirmou que a Fibra administrava uma UPA em Guarabira e estava atuando no Hospital de

Trauma de Campina Grande; Que Deslon da Fibra chegou a visitar o Hospital Dr. Ruy Pereira,

mas a Fibra não apresentou proposta; Que a Marca também visitou o Hospital Dr. Ruy Pereira,

através de Rose Bravo, Maninho e uma terceira pessoa; Que a Marca não chegou a apresentar

uma proposta; Que existia também um empecilho para contratação destas entidades pela falta

de legislação regulamentando as organizações sociais; Que com a crise do Walfredo Gurgel e

com a solução realizada na Paraíba quando a Cruz Vermelha passou a administrar o Hospital

de Traumas em João Pessoa, a SESAP manteve contato com a Cruz Vermelha através de seu

representante Edmont Silva, Que fez uma visita ao hospital administrado pela Cruz Vermelha

em João Pessoa; Que foi marcada uma reunião com Cruz Vermelha em Natal para tratar sobre

uma solução para administrar o Walfredo Gurgel; Que a reunião foi na Governadoria; Que

10 Relatório que consta no CD de fl. 635, V. 2, p. 27

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estavam presentes Edmont Silva, Daniel Gomes, Dorinha, Rosalba e o depoente; Que foi nesta

reunião que a Cruz Vermelha afirmou como tinha sido a solução para o Hospital de Traumas

de João Pessoa, através da decretação do estado de emergência e da aprovação de uma lei

estadual que possibilitou a contratação de organizações sociais por parte do Estado da Paraíba;

Que a Governadora pediu para fazer uma reunião quinze dias depois com a área jurídica do

Estado; Que entre as reuniões foi apresentada a matéria no Fantástico com denúncias sobre

algumas empresas no Rio de Janeiro no âmbito da saúde, entre elas a Toesa; Que segunda

reunião foi na Secretaria de Planejamento; Que estavam presentes Edmont Silva, Daniel

Gomes, Dorinha, Rosalba, Miguel Josino, José Marcelo, Alexandre Magno, Oberi, o depoente e

um consultor do Estado da Paraíba que não se recorda o nome; Que nesta reunião, Daniel

Gomes falou ao depoente que ele era consultor da Cruz Vermelha; Que a Toesa administra o

SAMU em João Pessoa; ; Que nesta reunião ficou decidido que sem a existência de uma lei não

era possível realizar a contratação; Que ficou sabendo que o projeto de lei das OS's já estava

sendo redigido; Que em junho ou julho de 2011, o Hospital da Unimed em Mossoró fechou;

Que surgiu a ideia de uma organização social para administrar o Hospital da Mulher em

Mossoró após o agravamento do problema com a assistência obstetrícia em janeiro de 2010;

Que foi feito o convite para a Marca administrar o Hospital da Mulher, visto que a entidade

tinha experiência do município de Natal; Que teve uma reunião com Rose Bravo e Maninho na

SESAP, em janeiro de 2012, onde o depoente informou a situação da saúde de Mossoró e fez o

convite verbal para a Marca assumir o Hospital; Que este convite verbal teve o aval de Miguel

Josino; Que Miguel Josino afirmou que poderia ser feito um convite a uma OS para fazer um

contrato emergencial de seis meses, para depois ser feito uma licitação; Que seguiu esta

orientação; Que esta orientação foi confirmada por Miguel Josino em seu parecer emitido no

processo do contrato emergencial; Que Rose Bravo e Maninho foram até Mossoró e visitaram o

hospital; Que Rose Bravo e Maninho falaram que poderiam colocar o hospital para funcionar

em 45 dias; Que a Marca apresentou uma proposta foi levado para a reunião com a

Governadora, o Chefe da Casa Civil, o Secretário de Planejamento e o depoente e ela foi

aprovada; Que existiu o compromisso do Governo contratar a Marca; Que o contrato (termo de

parceria) foi assinado no dia 29 de fevereiro de 2012; Que o termo de parceria foi redigido por

Alexandre Magno, por parte da Sesap; Que o Hospital da Mulher foi inaugurado no dia 09 de

maço de 2012;

É importante registrar que o grupo de TUFI SOARES MERES já havia, por

intermédio do demandado ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, conseguido estabelecer

um canal próprio de interlocução com a Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO e o

Secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA. Um dos exemplos dessa aproximação é o correio

eletrônico a seguir citado, de 24 de maio de 2011, que traz a tona o relato de acertos mantidos pela

mencionada organização com o demandado ALEXANDRE MAGNO, relativos a uma viagem para

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a qual os demandados ROSALBA CIARLINI e DOMÍCIO ARRUDA11 foram convidados a fazer

para Barcelona, na Espanha, com a finalidade de conhecer projetos lá desenvolvidos pelo Consórcio

Hospitalar da Catalunha, que, no Brasil, possui convênio com o grupo Salute Vita. Em resumo:

seria uma outra forma de o aludido grupo criminoso conseguir formalizar sua contratação

com a Administração Pública Estadual também na área de medicamentos , mas que,

inobstante todo o esforço, não vicejou por esse prisma. Vejamos:

From: [email protected]: Tue, 24 May 2011 07:38:48 +0000To: Tufi<[email protected]>ReplyTo: [email protected]: Res: Re: Goias/Carta manifestaçao InteresseBom dia Dr!

Ontem em conversa cxom Alexandre aqui, ele disse para providenciar estes convites o + rapido possivel, mas tb disse q a data de 23 será praticamente impossivel por ser tradicao do RN o Sao Joao e q a Gov vai marcar a data q provavelmente será primeira semana de julho, mas q so pode confirmar as datas com os convites!

Att

Rosi

Enviado do meu BlackBerry® da Oi.

From: tmeres <[email protected]>Date: Mon, 23 May 2011 22:13:30 -0300To: Jordi Campo<[email protected]>Subject: Re: Goias/Carta manifestaçao InteresseBoa noite Jordi,Confirmo estas datas com 3,5 dias de agenda.Pode emitir os convites,abs,Tufi Meres

Em 19 de maio de 2011 04:41, Jordi Campo <[email protected]> escreveu:

Prezado,

Mando a carta com a correção do nome do Hospital.

11

Na data de 24 de setembro de 2013, o demandado Domício Arruda Câmara Sobrinho prestou depoimento ao Ministério Público deste Estado e, naquela oportunidade, confirmou o recebimento do ofício aposto nesta peça, através do qual foi convidado a conhecer os projetos desenvolvidos pelo Consórcio Hospitalar da Catalunha em Barcelona, tendo, inclusive, aproveitado o ensejo para entregar uma cópia do por ele recebido (fl.718, V. 3).

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O dia 24 de junho é São João. Não temos as festas juninas como vocês, mas é feriado e tem uma festa importante o dia 23 a noite. Se você acha que temos suficiente com 3,5 dias de agenda (de segunda de manhã ate quinta ao médiodia) não vejo problemas por as datas. Por favor, me confirme.

Um abraço,

Jordi

De: tmeres [mailto:[email protected]] Enviado el: dimecres, 18 / maig / 2011 23:34Para: Jordi CampoAsunto: Re: Goias/Carta manifestaçao Interesse

Jordi,

1- Chegou a tempo, obrigado. Preciso que vc faça uma correção no nome da instituição.

O correto é : Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia ou HUAPA.

Favor alterar e reenviar.

Estamos hoje com chances de 80% para nossa contratação.Questões de valores contratuais

2-Com relação a visita da Governadora do Rio Grande do Norte,desta vez parece que sai .

Aqui no Brasil haverá o feriado de "Corpus Cristis" em 23 de Junho. Como seria para vcs, se o periodo da visita a Barcelona fosse entre 19 e 24 de junho ?

Se de acordo, já me envia o convite para a Governadora e para o secretário de saúde,cujos nomes são :

Governadora - Rosalba Ciarlini

Secretário de saúde- Domício Arruda Câmara

Aguardo,

Abs,

Tufi

Em 17 de maio de 2011 12:58, Jordi Campo <[email protected]> escreveu: Prezado,

Conforme combinado, mando você a manifestação de interesse.

Espero não "chegar" tarde demais...

Um abraço,

Jordi

From: tmeres

Sent: Sunday, May 29, 2011 2:22 PM

To: [email protected] ; Rosi Bravo

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Subject: Fwd: Enviando por correo electrónico: Carta_convite_governadora_Natal.pdf, Carta_convite_secretario_SESAP_Natal.pdf

Boa tarde Alexandre,

Nos anexos os convites para a Governadora e para o Sec Saúde.

abs,

Tufi Méres

---------- Forwarded message ----------

From: Jordi Campo <[email protected]>

Date: 2011/5/25

Subject: Enviando por correo electrónico: Carta_convite_governadora_Natal.pdf,

Carta_convite_secretario_SESAP_Natal.pdf

To: [email protected]

<<Carta_convite_governadora_Natal.pdf>>

<<Carta_convite_secretario_SESAP_Natal.pdf>>

Pronto!

Por favor, confirme recepçao dos arquivos.

Estarei no Brasil (Salvador e Brasilia) do 2 ate o 9 de junho, qualquer coisa a gente se liga.

Abraços,

jordi

Os convites anexados aos e-mails têm a seguinte conformação:

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Para concretizar os planos pretendidos pela demandada ROSALBA CIARLINI,

foram empreendidas diversas medidas iniciais, como, a título de exemplo, a visita realizada em

julho de 2011 pelo próprio ALEXANDRE MAGNO, acompanhado da demandada ROSIMAR

BRAVO, representante da ASSOCIAÇÃO MARCA, ao Hospital da UNIMED em Mossoró, com a

finalidade de verificarem a estrutura do respectivo prédio e os equipamentos nele existentes,

conforme narrado nos seguintes áudios degravados:

6174312 ALEXANDRE está em Mossoró e diz a DR. NEY que foi ver a questão do Hospital da Unimed e que conversará com “D. Dorinha”. Os dois combinam de se encontrar no dia seguinte, em Mossoró, no Hospital Tarcísio Maia. DR. NEY pergunta a ALEXANDRE o que ele irá verificar no Hospital (“tá vendo a parte de estrutura? De check-list também?”), tendo este respondido que verá tudo. ALEXANDRE complementa dizendo que “há uma tendência de uma entidade conveniada pelo Estado assumir o Hospital”; diz, ainda: “isso acontecendo, a entidade para assumir a necessidade que a gente disser; se a gente disser: ‘não tem equipamento nenhum; você vai ter que comprar tudo e entrar’; eles entram... a gente é que dá as diretrizes”. Os dois finalizam confirmando o encontro no dia seguinte.

06/07/2011

14:54:49

(02:56)

DR. NEY ROBSON e ALEXANDRE

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6167840 ROSI diz a RISIELY que já chegou a Natal e que uma funcionária da “MV Sistemas” havia lhe ligado perguntando se um rapaz poderia ir à UPA recolher dois servidores. RISIELY diz que o que era da “MV Sistemas” já estava separado. Em seguida, RISIELY pergunta se ROSI irá ao escritório, tendo esta respondido que estava aguardando “Alexandre” e que só iria se este demorasse a passar onde ela estava. Complementando, ROSI diz que irá a Mossoró. RISIELY pergunta se pode continuar tentar com a “Márcia” tudo o que foi solicitado com a Prefeitura (possivelmente a reunião acima relatada). ROSI confirma que sim e diz que “Dr. Tufi” chegará, no dia seguinte, para ir a reunião às 19:00hs. ROSI diz que seria bom se ela conseguisse conversar com “Kalazans” ou com o Vice-Prefeito. RISIELY opina dizendo que, naquele primeiro momento, a primeira opção seria melhor (conversar com “Kalazans”). Segundo RISIELY, complementando sua opinião, “ele” (“Kalazans”) é a pessoa de credibilidade “dela”; e o segundo é “porque ela não tem como fugir daquilo”. ROSI, então, se refere ao Vice-Prefeito como um grande articulador, demonstrando seu interesse em tratar com ele também. RISIELY concorda com ela e complementa: “ele vai fazer qualquer coisa que seja com você para o futuro... para depois desse mandato dela”. RISIELY diz que se ROSI conseguir conversar com os dois estará de bom tamanho. Em seguida, RISIELY diz que “Sandra” está com ela perguntando se ROSI tem alguma previsão sobre Igapó. ROSI, então, responde dizendo, inicialmente, que não há previsão, mas, posteriormente, diz que a previsão é: “quando sair o repasse, 20 dias depois”.

05/07/201109:15:44(04:36)

RISIELY e ROSI BRAVO

Mais ou menos nessa época, foi identificado, fruto da operação Assepsia, o correio

eletrônico a seguir, que demonstra a existência de estreito contato mantido pela demandada

ROSALBA CIARLINI com os integrantes do grupo criminoso do demandado TUFI MERES:

Assunto: Nutricionista Ana Caroline Ciarline – Brasília Teimosa

Date: 22/07/2011

From: Fabiana RH - Natal

To: Risielly, Micaela Gerente Enfermagem

Risiely, bom dia

Micaela, Gerente de Enfermagem de Brasília Teimosa, veio hoje no escritório fazer mais reclamações em relação a Ana Carolina, Nutricionista.Ela sempre, chega atrasada, no mês de junho, está faltando, sem justificativas e nem apresentado atestados em nenhuma ocasião.

Eu liguei pra ela, pra ela vim conversar comigo, Dra. Francisca também pediu pra ela vim no escritório, e ela ainda não veio e também não justificou o motivo de não ter atendido o nosso pedido.

O problema é que ela é indicação de Rosalba (Governadora do RN), ela é sobrinha da mesma.

Gostaria de ter orientação em relação a mesma, pois a meta dela não está sendo cumprida, desde que entrou, sobrecarregando o outro profissional, que já dobrou sua quantidade de atendimentos.

Ela já foi chamada atenção várias vezes em relação a farda, ela usa jeans e não usa a bata da empresa, quando vai falar com ela, ela simplesmente ignora.

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Att.

Fabiana Inácio A. BarretoAnalista de R.H.(84)88319670

Pouco depois dos convites para a viagem à Espanha, a equipe da MARCA aportou

em Mossoró para fazer os levantamentos encomendados pelo Governo do Estado relativos ao

Hospital da Mulher. Lá, o demandado ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR, o Maninho,

foi recebido exatamente pela demandada DORINHA BURLAMAQUI:

6255731 ALEXANDRE avisa a DORINHA que, no dia seguinte, um rapaz chamado “Antônio” (“Maninho”) chegará do Rio de Janeiro para ir a Mossoró fazer um levantamento do Hospital da Unimed. DORINHA afirma que ligará para “Iranilde” e pedirá que ela o acompanhe. “Antônio” estará em Mossoró às 09:00hs e procurará “Iranilde” na “USAP” (“Regional”). Em seguida, DORINHA pergunta qual o horário em que ALEXANDRE estará na SESAP, pois quer saber se “eles já deram alguma sinalização” para ALEXANDRE.

26/07/2011

15:11:31

(02:14)

ALEXANDRE e DORINHA

(84 9972-2342)

6259149 ALEXANDRE diz que o rapaz que iria ao Hospital da Unimed em Mossoró está procurando a regional para encontrar a pessoa que o acompanhará na avaliação. DORINHA pede que ele encaminhe o rapaz até o Hospital Tarcísio Maia e procure por “Dr. Nei”, pois este o acompanhará.

27/07/2011

10:35:15

(00:51)

ALEXANDRE e DORINHA

Aliás, foi a partir dessas vistorias que restou elaborado pelo demandado

LEONARDO CARAP o projeto que descreveu o perfil proposto pela organização em vislumbre

para o Hospital da Mulher, consoante se depreende do e-mail abaixo, de agosto de 2011, muito

antes da assinatura do termo de parceria ou da deflagração do processo administrativo que resultou

na contratação da MARCA. Recorde-se o email suso transcrito:

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From: tmeres

Sent: Monday, August 22, 2011 4:41 PM

To: Rosi Bravo

Subject: Fwd: CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE PROJETO HOSPITALAR NO RIO GRANDE DO NORTE_MOSSORÓ.docx

---------- Mensagem encaminhada ----------De: Leonardo Carap <[email protected]>Data: 19 de agosto de 2011 19:50Assunto: CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE PROJETO HOSPITALAR NO RIO GRANDE DO NORTE_MOSSORÓ.docxPara: Tufi Soares Meres <[email protected]>

Prezado amigo

Segue projeto mais burilado

Abs

Bom fds

Leonardo

Frise-se que a demandada DORINHA BURLAMAQUI foi escalada pela

Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO “para apresentar a ela as propostas, as sugestões e

soluções para o Hospital da Mulher”, segundo a própria demandada MARIA DAS DORES

BURLAMAQUI afirmou em depoimento prestado ao Ministério Público (fls. 785/786, V. 3). Isso

explica porque o demandado ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA tinha uma preocupação

especial em apresentar a DORINHA BURLAMAQUI os resultados da interlocução que fazia com

os representantes da MARCA. Ela própria tinha consciência disso, conforme relatou em seu

depoimento:

“que a depoente e o secretário DOMÍCIO ARRUDA eram os interlocutores da

Governadora ROSALBA CIARLINI para apresentar a ela as propostas, as

sugestões e as soluções para o Hospital da Mulher; que acredita que esse foi o

motivo pelo qual ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA procurava a

depoente para tratar de assuntos do Hospital da Mulher;”

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Registre-se, nesse particular, alguns desses contatos, o primeiro deles

documentando o passo seguinte à visita do demandado “Maninho” a Mossoró:

6349259 ALEXANDRE diz que quer marcar uma reunião com ela e com os proprietários do Hospital

da Unimed para que possa apresentar o projeto. ALEXANDRE diz que sugerirá algumas

adequações do edifício e a troca de equipamentos obsoletos. Em seguida, ALEXANDRE diz

que a proposta será de R$ 750 mil/mês para 30 leitos (de clínica), R$ 700 mil/mês para leitos

de UTI, e R$ 700 mil/mês de neonatal.

26/08/2011

10:50:44

(04:15)

ALEXANDRE e D.

DORINHA

6261469

27/07/2011 16:48:25

(01:00)

ALEXANDRE e HNI (“Deputado”)

(84 9926-8681)

@

MNP

MCRIP

HNI diz a ALEXANDRE que conversou com o reitor. ALEXANDRE pergunta se a conversa foi boa, tendo ele respondido que sim e que “ele” (reitor) abriu expectativas interessantes em relação ao instituto. Em seguida, HNI pergunta se houve “alguma coisa boa” para o lado de ALEXANDRE e este responde que “andaram os projetos”; “o pessoal veio, foi a Mossoró e veio aqui; já voltaram e levaram um bocado de dados”. HNI pergunta se a conversa com “Dorinha” foi boa. ALEXANDRE diz que foi ótima e que depois dirá a HNI como foi. Finalizando, HNI pergunta se ALEXANDRE já “viu com Canindé” a “situação” que ele (HNI) havia falado. ALEXANDRE diz que não viu “Canindé” nesse dia.

Então, quando os fatos afunilaram, a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA era

algo natural para o governo, desde o fechamento do Hospital da Unimed, em junho de 2011. O

agravamento das condições da assistência à maternidade em Mossoró e região oeste, desde o

término das atividades da unidade de saúde, foi um espetáculo lento e dantesco permitido ao longo

de meses pelo governo e que resultou na contratação emergencial da ASSOCIAÇÃO MARCA para

gerenciamento do Hospital da Mulher.

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A escolha dirigida, mesmo sob o pálio de uma emergência concebida, atropelou a

praxe administrativa e não foi resultado de qualquer escolha técnica, mas de um convite pessoal do

Secretário DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA, seguida da aprovação oficial da demandada

ROSALBA CIARLINI ROSADO, nos moldes narrados pelo próprio DOMÍCIO ARRUDA no seu

depoimento suso transcrito.

Seguindo esse mesmo raciocínio, urge destacar trechos dos depoimentos prestados

ao Ministério Público pelos demandados DOMÍCIO ARRUDA e MARIA DAS DORES

BURLAMAQUI em que confirmam a participação da demandada ROSALBA CIARLINI em

todos os momentos em que se processou a contratação da Associação MARCA com o Poder

Público Estadual, in verbis:

“(...) que antes da celebração do termo de parceria, houve um acordo verbal, que não

foi formalizado, garantido pela própria governadora ROSALBA CIARLINI

ROSADO, que a ASSOCIAÇÃO MARCA instalaria às suas custas e depois que o

Hospital estivesse montado, com todos os equipamentos, é que o termo de parceria

seria assinado, contemplando todas as despesas realizadas com os equipamentos e a

reforma física do prédio do antigo Hospital da UNIMED; que o Estado não comprou

qualquer equipamento; que todos os equipamentos foram adquiridos pela MARCA,

antes da assinatura do termo de parceria; que essa decisão foi conjunta do depoente e

da Governadora ROSALBA CIARLINI; (…) que a Governadora ROSALBA

CIARLINI decidiu que a contratação seria mediante convite e seria contratada uma

OSCIP para, durante seis meses, resolver o problema emergencial; que essa solução

foi abonada pelo setor jurídico do governo; (…) que a governadora estava

pressionando politicamente tanto a PGE quanto a SESAP para concluírem o

processo, pois a inauguração já estava anunciada publicamente e a assistência

obstétrica na região estava totalmente prejudicada; (…) que no dia 09 de janeiro de

2012, a Governadora ROSALBA CIARLINI autorizou o depoente a fazer contato

com a ASSOCIAÇÃO MARCA especificamente.” - Depoimento prestado pelo

demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA SOBRINHO em 24.09.2013 (fls.

715/717, V. 2)

“(...) que a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA envolveu recursos da

ordem R$ 13.000.000,00 (treze milhões de reais) e o depoente como Secretário

de Saúde não tinha condições orçamentárias de viabilizar essa contratação sem

envolver a decisão política da Governadora ROSALBA CIARLINI de carrear

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recursos para fazer frente a essa contratação; que desde o anúncio do fechamento

do Hospital da UNIMED que a Governadora ROSALBA CIARLINI assumiu

pessoalmente a tarefa de dar resposta a essa situação, tanto na parte jurídica quanto

na parte financeira; que antes mesmo da Secretaria de saúde ter uma resposta para a

situação do fechamento do Hospital da Unimed, a governadora ROSALBA

CIARLINI já havia anunciado publicamente que o Estado iria assumir o Hospital;

que o desejo da Governadora era ter uma organização social na área de saúde,

mas era necessário uma alteração legal; que repete o depoimento anterior

quando diz que a contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA pelo Estado do Rio

Grande do Norte foi uma decisão conjunta do depoente e da Governadora

ROSALBA CIARLINI, mas que o nome da MARCA foi sugestão do depoente;

que houve várias reuniões de ALEXANDRE MAGNO com o depoente e a

governadora ROSALBA CIARLINI para tratar da contratação da MARCA; que

ALEXANDRE MAGNO defendia que uma OSCIP poderia ser contratada sem

alteração legal; que o Procurador MIGUEL JOSINO disse à Governadora e ao

depoente que a MARCA podia ser convidada diretamente como OSCIP, sem

processo seletivo ou licitação, em virtude da emergência, pelo prazo de seis meses...

Depoimento prestado pelo demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA

SOBRINHO em 11.11.2013 (fls. 824-825, V. 3)

“(...) que acompanhou como Secretária Adjunta, informalmente, a realização de

adequações no prédio do antigo Hospital da Unimed; que não havia uma missão

oficial nesse sentido; que quem estava realizando as adequações no prédio era uma

empresa da ASSOCIAÇÃO MARCA; que o Secretário de saúde DOMÍCIO

ARRUDA tinha conhecimento de que a MARCA estava realizando a reforma do

antigo Hospital da Unimed para funcionar o Hospital da Mulher; que acredita que a

Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO também tinha conhecimento, pois

depois que tinham iniciado várias vezes a própria depoente informava a

Governadora ROSALBA CIARLINI do andamento da obra de adequação; (…) que

a depoente acha que as obras de adequação começaram em janeiro de 2012; (…) que

acha que a escolha da MARCA para fazer o trabalho foi feita em conjunto pelo

Secretário DOMÍCIO ARRUDA e pela Governadora ROSALBA CIARLINI.” -

Depoimento prestado pela demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI

DE LIMA em 01 de outubro de 2013 (fl. 770, V. 3)

Em outra oportunidade, o demandado DOMÍCIO ARRUDA chegou a relatar que

manteve contato com os demandados ROSIMAR BRAVO e ANTÔNIO CARLOS DE

OLIVEIRA (Maninho) no mês de janeiro de 2012, com o objetivo de solicitar o envio de proposta

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pela Associação MARCA relativa à prestação de serviço de gerenciamento do Hospital da Mulher,

e que tão logo a recebeu, se reuniu com a demandada ROSALBA CIARLINI e outros, tendo

advindo desta a autorização para efetivar a respectiva contratação, senão vejamos:

Que surgiu a ideia de uma organização social para administrar o Hospital da

Mulher em Mossoró após o agravamento do problema com a assistência

obstetrícia em janeiro de 2010; Que foi feito o convite para a Marca

administrar o Hospital da Mulher, visto que a entidade tinha experiência do

município de Natal; Que teve uma reunião com Rose Bravo e Maninho na

SESAP, em janeiro de 2012, onde o depoente informou a situação da saúde de

Mossoró e fez o convite verbal para a Marca assumir o Hospital; Que este

convite verbal teve o aval de Miguel Josino; Que Miguel Josino afirmou que

poderia ser feito um convite a uma OS para fazer um contrato emergencial de

seis meses, para depois ser feito uma licitação; Que seguiu esta orientação; Que

esta orientação foi confirmada por Miguel Josino em seu parecer emitido no

processo do contrato emergencial; Que Rose Bravo e Maninho foram até

Mossoró e visitaram o hospital; Que Rose Bravo e Maninho falaram que

poderiam colocar o hospital para funcionar em 45 dias; Que a Marca

apresentou uma proposta foi levado para a reunião com a Governadora, o

Chefe da Casa Civil, o Secretário de Planejamento e o depoente e ela foi

aprovada; Que existiu o compromisso do Governo contratar a Marca; Que o

contrato (termo de parceria) foi assinado no dia 29 de fevereiro de 2012; Que o

termo de parceria foi redigido por Alexandre Magno, por parte da Sesap; Que o

Hospital da Mulher foi inaugurado no dia 09 de maço de 2012; (...)” -

Depoimento prestado pelo demandado DOMÍCIO ARRUDA ao 44º Promotor

de Justiça da comarca de Natal na data de 27 de julho de 2012.

Definitivamente, o acerto com a ASSOCIAÇÃO MARCA envolvia o comando da

Administração Estadual, na pessoa da demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO, e foi

antecedente à própria formalização da contratação, cumpre destacar, antes que nos autos do

processo administrativo n º 3972/2012-1 existisse qualquer decisão que tenha efetivamente

selecionado a MARCA ou qualquer outra entidade para esse fim.

No ponto, observe-se que o processo esteve na Procuradoria Geral do Estado até a

data da formalização do termo de parceria, ainda sem qualquer decisão, nos autos, acerca de qual a

entidade que seria contratada para gerenciamento do hospital. O processo percorreu os seguintes

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caminhos (atente-se para as datas das manifestações:

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Perceba-se que o processo seguiu da Procuradoria Geral do Estado -PGE para a

Secretaria de Saúde no mesmo dia da formalização do termo de parceria, 29 de fevereiro de 2012,

sem qualquer escolha existente nos autos.

A partir da escolha pessoal da MARCA, todo o processo administrativo foi

criminosamente montado, através da simulação de atos, para conferir a impressão de que o poder

público ainda atuava para a seleção da OSCIP, de modo que enquanto os atos do processo falavam

em envio de convites para três entidades, a MARCA já estava operacionalizando a reforma do

prédio do Hospital.

A propósito, a 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Mossoró requisitou que a

demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI DE LIMA (Dorinha), então Secretária

Estadual de Saúde Adjunta, apresentasse os convites que teriam sido enviados a entidades com

eventual interesse em instalar o Hospital Mulher.12 Na resposta, a requerida Maria das Dores

pontificou:

“Em atenção ao Ofício supracitado, no que pertine à formulação de convite a outras instituições para estabelecimento de parceria no gerenciamento do Hospital da Mulher de Mossoró, informamos que foram convidadas para oferecer propostas não só a Associação Marca, como também a Cruz Vermelha, que administra o Hospital de Trauma da Paraíba e a Associação Fibra, que gerencia a unidade de Prontoatendimento (UPA) no município de Guarabira.As três entidades visitaram a edificação que se destinava ao Hospital e, como decorrência disso, a Associação Marca ofertou o projeto completo de atuação e a Cruz Vermelha manifestou-se pela falta de interesse naquele momento... Já a Associação Fibra compareceu à SESAP, quando já havia sido decidido pela formulação do Termo de Parceria com a MARCA, o que fez com que esse assunto não fosse mais tratado.”13

Ocorre que tais “convites” inexistem formalmente no procedimento

administrativo n. 3972/2012. O que se vê é a contratação DIRETA da MARCA, sem que sequer

houvesse uma pesquisa de mercado a apontar que aquela seria a proposta mais vantajosa

para a Administração Pública.

Também não houve consulta ao Conselho Estadual de Saúde. Os representantes

do Conselho Estadual de Saúde informaram que o termo de parceria firmado entre o Estado do Rio

12 Fl. 1054, Anexo VI.13 Fl. 1055, Anexo VI.

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Grande do Norte e a Associação Marca Para Promoção de Serviços não fora submetido à análise do

órgão de controle social (fls.460, Anexo III).

No caso específico da celebração de termos de parceria com OSCIPs, a Lei

Federal nº 9.790/90 estabelece, em seu art.10, §1º, a obrigatoriedade de realização de consulta

prévia ao Conselho de Políticas Públicas da área, no respectivo nível de governo.

Art. 10. O Termo de Parceria firmado de comum acordo entre o Poder Público e as

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público discriminará direitos,

responsabilidades e obrigações das partes signatárias.

§ 1 o A celebração do Termo de Parceria será precedida de consulta aos Conselhos

de Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, nos

respectivos níveis de governo.

Nesse sentido, a doutrina existente sobre o tema reputa determinante fiscalizar a

política de saúde através do controle social, enfatizando a aplicação dos princípios

constitucionais da transparência e da eficiência. Veja-se o seguinte exemplo:

“Reconhecida como OSCIP, o poder público ainda não está vinculado à

parceria, que é facultativa, e, se decidir positivamente à cooperação, deverá

previamente ouvir o Conselho de Política Pública da respectiva área em que a

entidade desenvolverá suas atividades, conforme art. 10, §1º, da Lei Federal

9.760/1999. Aqui cabe relembrar uma possível forma de controle, tanto interno,

como externo, bem como o viés de aplicação igualmente da Lei de Improbidade

Administrativa, mesmo porque nessas parcerias há o repasse de recursos

públicos.” 14

“É importante controlar os rumos da política de saúde para abrir a

possibilidade de que seja realmente efetivado o que se conquistou legalmente

com o SUS: saúde, direito de todos e dever do Estado. E para tanto, é

determinante controlar os recursos destinados à saúde, verificando-se quanto

entra e de onde vêm (as contrapartidas da esfera federal, estadual e municipal),

e participar da decisão de como e onde devem ser alocados (elaboração de

planos estadual e municipal de saúde e de planilhas orçamentárias”. 15(Grifos

acrescidos)

Assim, por decorrência lógica – e expressa previsão legal -, os contratos e

14 MARTINS, Fernando Rodrigues. MARTINS, Fernando Rodrigues. Controle do Patrimônio Público. Comentários à Lei de Improbidade Administrativa. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. p. 116.

15 CORREIRA, Maria Valéria Costa. Desafios para o Controle Social: Subsídios para a Capacitação de Conselheiros de Saúde, Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, pág. 65.

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convênios firmados com pessoas jurídicas de direito privado com o SUS, para oferta de serviços de

saúde, devem ser objeto de apreciação pelos Conselhos de Saúde, especialmente porque são

instrumentos excepcionais na execução da política de saúde.

No entanto, mais uma vez, tangenciou o Poder Público Estadual no cumprimento

de dever legal, fazendo tábula rasa do ordenamento jurídico brasileiro de Direito Público, tratando

a gestão das verbas públicas como se privadas fossem, livres de quaisquer formas de controle. No

caso concreto, a dispensa de cumprimento da norma legal atendia ao desiderato de contratar acima

de todos os empecilhos de ordem legal, a ASSOCIAÇÃO MARCA para a administração do

Hospital da Mulher.

Inicialmente, o processo administrativo nº 3972/2012-116, originário da Secretaria

Estadual de Saúde, foi instaurado em 09 de janeiro de 2012 e teve como justificativa inicial para

seu nascedouro “solicitação para elaboração de minuta de Medida Provisória-MP, visando a

contratação dos serviços de uma ORGANIZAÇÃO SOCIAL para prover a gestão da unidade

hospital denominada de Hospital da Mulher, que será inserida na Rede Hospitalar Estadual” (fl.

22, V. I).

Através de despacho da lavra do demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA

SOBRINHO, datado de 06 de fevereiro de 2012 , pôs-se em curso a estratégia de contratação da

MARCA, com a alteração do objeto do referido processo, e a invocação da existência de situação de

emergência enfrentada pela área da saúde deste Estado, com fulcro em reportagens publicadas à

época em veículos de comunicação em Mossoró (fls. 128/142). Ao final, como não poderia deixar

de ser, foi apontada a solução da contratação emergencial, aduzindo-se ainda, por ironia, que não

havia sido selecionada a entidade parceira responsável pela gestão do Hospital da Mulher.

Convém trazer à baila os exatos termos utilizados pelo demandado DOMÍCIO ARRUDA para

declarar a “situação de absoluta emergência”:

“- Situação de absoluta emergência:Temos clareza que o Estado do Rio Grande do Norte deve efetuar seleção de instituições para poder firmar termo de parceria (instrumento próprio para existência de vínculo entre o Poder Público e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP), na forma do Decreto Federal n. 3.100/99 (ex vi art. 23). Ocorre que conforme notícias administrativas, amplamente veiculadas pela imprensa local e estadual a situação é insustentável.Como apontam reportagens juntadas em anexo.Essa situação obviamente acarreta real e iminente risco à saúde das mulheres que necessitam dar-a-luz (sic), o que não permite a adoção de soluções ortodoxas e que demandariam um tempo que não dispomos. Ao administrador recai o ônus de resolver entre as opções postas a que melhor

16 Cópias do inteiro procedimento administrativo n. 3972/2012 encontram-se nos anexos XVII a XXI, apensados ao presente Inquérito Civil.

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ampara os administrados e, portanto, a coletividade e qual seja essa não temos dúvida.(….)A entidade não foi escolhida . Entretanto, deve ser enviado convite para apresentação de projetos

ao menos 03 instituições, dando-se o prazo de 07 dias para formalização de interesse nos termos

que aqui são apresentados. A escolha deverá ser baseada em critérios de capacidade de logística de

implantação até início de março, ou seja, aproximadamente 45 (quarenta e cinco) dias para

funcionamento efetivo.”(fls. 145/147). Grifo nosso.

Nesse mesmo período, toda a estrutura da MARCA já se deslocava para Mossoró para a entidade

assumir o Hospital da Mulher, o que é comprovado pelos seguintes e-mails:

------- Mensagem original --------Assunto: Re: Re: Fwd: PASSAGENSData: Fri, 3 Feb 2012 16:07:15 -0200De: Otto Schmidt <[email protected]>Para: [email protected]

Neste momento sim, pois até agora o Anselmo não foi em Natal e eles ficarão 2 dias em cada cidade. Irão ter encontros com a cooperativa de médicos que nos atende em Natal e ainda abrirão conversas com a cooperativa de anestesistas para Mossoró.Além disto, terão que fazer contato para SESMT e buscar espaço para seleção do pessoal de Mossoró. Após esta primeira semana, na fase de implantação, bastará a presença de um deles.

Em 3 de fevereiro de 2012 14:29, <[email protected]> escreveu:

Ok , mesmo Sandro e Anselmo?Enviado do meu BlackBerry® da Oi.From: Otto Schmidt <[email protected]>Date: Fri, 3 Feb 2012 12:14:23 -0200To: <[email protected]>Subject: Re: Fwd: PASSAGENSTufi, Entendo que nesta primeira ida, seja ideal que vá todo este grupo, pois a cidade seria mapeada para providências futuras. AbraçosOtto Schmidt

Em 3 de fevereiro de 2012 10:53, <[email protected]> escreveu:

Vamos rever as pessoas, conforme falamos . Sua sugestao?Enviado do meu BlackBerry® da Oi.From: ELIANE MOREIRA MATHIAS DA COSTA <[email protected]>Date: Fri, 3 Feb 2012 10:36:08 -0200

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To: Tufi Meres<[email protected]>Subject: Fwd: PASSAGENSDr Tufi Bom DiaEncaminho solicitação do Dr Maninho para seu conhecimento e aprovação.

Fico no seu aguardo.

AttEliane ---------- Mensagem encaminhada ----------De: ANTONIO CARLOS OLIVEIRA JR <[email protected]>Data: 1 de fevereiro de 2012 18:13Assunto: PASSAGENSPara: ELIANE MOREIRA MATHIAS DA COSTA <[email protected]>, Rosi Mô <[email protected]>, Marcio Viana <[email protected]>, Sandro Vaz <[email protected]>, Anselmo Carvalho <[email protected]>, Bruno Guimaraes <[email protected]>, [email protected]

Eliane, Após reunião realizada na data de hoje e definir os membros que irão para Natal/Mossoró para implantação do Hospital Estadual da Mulher, solicito providenciar as passagens aéreas para as seguintes datas: IDA = RIO - NATAL Dia 05/02 - 20:20h - Márcio Viana e Julio Manoel Barros (CPF 193.203.967/87 - [email protected]) Dia 06/02 - 20:20h - Anselmo e Sandro Dia 08/02 - 20:20 - Rosimar Bravo, Maninho e Bruno Tourinho Guimarães Correa (CPF 025.735.537/52 - [email protected]) VOLTA = NATAL - RIO Dia 10/02 - 14:50h - Márcio Viana, Anselmo, Sandro e Dia 16/02 - 14:50h - Bruno Tourinho Guimarães, Maninho e Rosi Bravo Quanto a hospedagem, solicito providenciar o seguinte (podendo ser o Quality):

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Diária do dia 05/02 ao dia 06/02 - Márcio Viana e (os demais dias irão para Mossoró e ficarão lá até o dia 10/02) Diária do dia 06/02 ao dia 08/02 - Sandro e Anselmo (os demais dias irão para Mossoró e ficarão lá até o dia 10/02) Diária do dia 08/02 ao dia 16/02 - Bruno, Maninho e Rosi Bravo Sem mais, Maninho P.S: Aos que irão para Mossoró posso sugerir o seguinte: 1) Márcio e Júlio alugam carro na LOCALIZA do aeroporto e seguem para Mossoró no dia seguinte. 2) Sandro e Anselmo alugam carro na LOCALIZA do Aeroporto e quando chegarem em Mossoró (independente do dia) podem entregar o carro na LOCALIZA de Mossoró e ficar num carro só (junto ao Márcio).

No mesmo sentido, impende enumerar diversas despesas relacionadas ao efetivo

funcionamento do Hospital da Mulher executadas por parte da Associação MARCA para Promoção

de Serviços, contraídas ao longo do mês de fevereiro de 2012, algumas antes de 06 de fevereiro,

quando sequer havia sido reconhecido o estado de emergência nos autos do processo administrativo

nº 3972/2012-1 e outras antes da celebração do respectivo termo de parceria. Parte da prestação de

contas apresentada pela aludida entidade17 evidenciam o ajuste ilícito em desconformidade com o

que consta no processo de contratação:

PRESTAÇÃO DE CONTAS DA ASSOCIAÇÃO MARCA -HOSPITAL DA MULHER

FORNECEDOR NOTA FISCAL EMITIDA EM

OBJETO FLS.

Queiroz Filhos Comercial LTDA

01/02/2012; 03/02/2012, dentre outros

Aquisições de materiais

1279, 1280, 1281, 1282, 1283, Anexo IV

The Wall Construções e Serviços Ltda

01/02/2012 Serviços de Arquitetura

1066, Anexo VI

Concret Materiais de Construção Ltda

04/02/2012, 06/02/12; 08/02/12, 09/02/12, 13/02/12, 22/02/12, dentre outros

Aquisições de materiais

1285, 1286, 1287, 1300, 1324, 1349,Anexos IV e V

IMAGEM Produtos Radiológicos

28/02/2012 Aquisições de produtos radiológicos (RS 98.000,00)

1500, Anexo V

Comjol Comercial José Lucena

23/02/2012 Aquisições de materiais

1603, Anexo VI

17 Fls. 1255 e ss, anexo IV, V, VI

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Teka Tecelagem 27/02/12 Aquisições de materiais (600 lençóis)

1363, Anexo X

Interessante destacar que até a data que consta no ofício nº 014/2012, endereçado

ao demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA SOBRINHO, que remeteu a proposta de preço

da Associação MARCA para Promoção de Serviços18, é anterior à data do próprio despacho que

deflagra a contratação emergencial do serviço em comento. O primeiro datado de 02 de fevereiro

de 2012, enquanto o ato do Secretário Estadual de Saúde remete ao dia 06 de fevereiro de 2012.

E tudo isso era do pleno conhecimento da Governadora do Estado ROSALBA

CIARLINI ROSADO, pois como afirmou a demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI

em depoimento prestado ao Ministério Público: “a depoente acha que as obras de adequação

começaram em janeiro de 2012;” (fl. 770, V. 3).

Saliente-se que através da efetivação da medida de busca e apreensão na

residência do demandado ALEXANDRE MAGNO, restou apreendida agenda pessoal em que

constava o “Passo-a-Passo” dos planos atinentes a como e quando tramitaria o procedimento

administrativo “montado” para alicerçar a parceria sob análise, previsto inicialmente para o mês de

janeiro. Lá, no meio das anotações (item 5), devia surgir para o processo o ofício da MARCA.

Confira-se:

18 Vide Fls, 177, V. 1.

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O mais interessante disso tudo é a ingênua participação do Procurador Geral do

Estado no processo em curso. O demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA afirma que o

Procurador MIGUEL JOSINO aprovou a contratação emergencial. Na realidade, o parecer subscrito

pelo Procurador Geral do Estado está datado de 17 de fevereiro de 2012, quando a parceria com a

MARCA já estava pactuada verbalmente com os demandados DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA e

ROSALBA CIARLINI ROSADO.

Portanto, a governadora ROSALBA CIARLINI, pessoalmente, aprovou a

contratação, antes de qualquer formalização legal. É prova inconteste dessa assertiva o registro da

aprovação do layout do empreendimento (confira-se a data dos e-mails adiante), elaborado sob a

chancela da demandada ROSIMAR GOMES BRAVO (ROSI BRAVO), e a comemoração do

grupo de TUFI SOARES MERES:

From: isnar castro

Sent: Thursday, January 19, 2012 6:35 AM

To: [email protected]

Subject: Re: Res: Re: Res: Re: Cti

Combinado a reuniao ,fico feliz pela prosperidade ,parabens

Em 18/01/2012 17:52, <[email protected]> escreveu:

Ok amigo, atrazos sao normais. Vou dar o projeto a eles. Segunda e a nossa reuniao ,ok ? Estamos assumindo uma maternidade em Mossoro , no RN sendo esta a nossa quinta unidade em Natal, com inauguracao em 10/2; Va se preparando ,pois o maior hospital de emergencia de Natal será nosso tambem e você vai fazer Trauma la . Tambem mais 2 Upas e o PSF de Macae , em 01/ 02 . Agora falta uma grande emergencia no RJ .

From: Rosi Bravo

Sent: Wednesday, February 01, 2012 2:52 PM

To: Tufi Soares Meres ; Otto Schmidt ; Sandro Vaz ; Anselmo ; ANTONIO Jr ; Giselle Gobbi ; Izabel Mendonça ; Bruno ; [email protected]

Subject: Apresentação Hospital da Mulher

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Prezados,

segue apresentação deo Hospital da Mulher - Mossoro - que foi apresentado e aprovado pela Governadora.

Abs

Rosi Bravo

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From: Izabel Mendonça

Sent: Wednesday, February 01, 2012 3:20 PM

To: ANTONIO CARLOS OLIVEIRA JR

Cc: Rosi Bravo ; Tufi Soares Meres ; Otto Schmidt ; Sandro Vaz ; Anselmo ; Giselle Gobbi ; Bruno ; [email protected]

Subject: Re: Apresentação Hospital da Mulher

recebidoabs

Em 1 de fevereiro de 2012 15:55, ANTONIO CARLOS OLIVEIRA JR <[email protected]> escreveu:

mUITO LINDA!!! pARABÉNS.ABSMANINHOEm 1 de fevereiro de 2012 15:52, Rosi Bravo <[email protected]> escreveu:Prezados,segue apresentação deo Hospital da Mulher - Mossoro - que foi apresentado e aprovado pela Governadora.AbsRosi Bravo

A rigor, até mesmo a agência de publicidade encarregada da feitura dessas peças

já estava integrada ao processo de contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA. Email da Operação

Assepsia revela que um dos proprietários da ART&C COMUNICAÇÃO INTEGRADA, ARTURO

ARRUDA CÂMARA, coincidentemente sobrinho do demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA,

apresentou pessoalmente à demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO os produtos publicitários

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alusivos ao Hospital da Mulher. A missiva é exemplar da escolha prévia da entidade pela

demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO:

Date: 31.01.2012 10:47

Email: Res: Logomarca Hospistal de Mossoró - Previsão de entrega.

De: [email protected]

Para: Art&C | Nina<[email protected]>;

Oj Nina! To nooo aguardo!

Rosi

Sent from my BlackBerry® smartphone from Oi

From: "Art&C | Nina" <[email protected]> Date: Tue, 31 Jan 2012 09:55:31 -0300To: Rosi<[email protected]>Subject: Logomarca Hospistal de Mossoró - Previsão de entrega.

Bom dia, Rosi.Arturo irá apresentar a logomarca da hospital da Mulher de Mossoró ainda hoje para a governadora.Se a marca for aprovada, hoje mesmo eu te mando o arquivo finalizado, ok?Alexandre já foi comunicado sobre isso.Abs, Nina Barbalho // Gestora de Clientes // 9461.1741 Av. Romualdo Galvão / 920 / Tirol / Natal-RN

84 / 4008.8250 / twitter.com/artccom / artc.com.br

No ponto, não deixa de ser interessante observar que, no e-mail, a funcionária da

Art&C avisa à demandada ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA que o demandado

ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA já foi comunicado das providências em curso

mencionadas no texto.

Diante de todo esse quadro, soa como um desapreço à verdade a petição de

resposta da demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO, protocolado pelos advogados

ESEQUIAS PEGADO CORTEZ, FELIPE CORTEZ e THIAGO CORTEZ, em que a Chefe do

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Executivo confere toda a responsabilidade da contratação ao demandado DOMÍCIO ARRUDA

CÂMARA e coloca-se como pessoa distante dos fatos e sem qualquer contato com a organização de

TUFI SOARES MERES e, particularmente, com a ASSOCIAÇÃO MARCA. Melhor é conferir o

texto do documento:

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Conforme foi exposto, o projeto do Hospital da Mulher em Mossoró foi concebido

politicamente pela demandada ROSALBA CIARLINI e a sua concretização, a partir da contratação

da ASSOCIAÇÃO MARCA, foi minuciosamente acompanhada pela Governadora do Estado,

mediante reuniões habituais com o Secretário DOMÍCIO ARRUDA, o demandado ALEXANDRE

MAGNO ALVES DE SOUZA e atualização permanente das informações através da demandada

DORINHA BURLAMAQUI, além dos contatos registrados nos autos com a organização de TUFI

SOARES MERES.

No campo burocrático, a demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO não só

decidiu contratar diretamente a MARCA, com favoritismo sobre qualquer outra pessoa jurídica que

pudesse vir a ser contratada, como disponibilizou os recursos suficientes para custear a milionária

contratação, que concentrou verba pública superior ao valor de todos os investimentos realizados

em saúde pública no ano de 2011. A intenção de se eximir dos atos que ela própria praticou, sob a

alegação de que não era a ordenadora de despesas, equivale a dizer que o Secretário de Saúde é

quem chefiava o governo.

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Destarte, apesar de aparentemente obedecidos todos os trâmites procedimentais, o

que se verificou, na prática, foi que o procedimento administrativo nº 3972/2012-1 serviu para

hospedar atos flagrantemente ilegais por parte da Administração Pública Estadual, elaborados com

o único e exclusivo intuito de avalizar a escolha, concretizada previamente, da entidade

Associação MARCA para assumir a administração do Hospital da Mulher.

Estamos diante de típico caso de desvio de finalidade, haja vista que o

procedimento administrativo nº 3972/2012 foi desviado de sua finalidade precípua, que levaria à

seleção da entidade que melhor atendesse ao interesse público, para se transformar em instrumento

manipulado pelos demandados para atender aos seus próprios interesses e dar ares de legalidade à

contratação da Associação MARCA.

I.B. OS FATOS: O PROJETO DE TERCEIRIZAÇÃO DA SAÚDE PÚBLICA. O

RECRUTAMENTO DE ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, REPRESENTANTE

INFORMAL DA ASSOCIAÇÃO MARCA, PARA A MONTAGEM DO PROJETO DE

PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE ESTADUAL. A ORGANIZAÇÃO DE TUFI SOARES

MERES, COMO INTEGRANTE DA MÁFIA DO TERCEIRO SETOR.

Para melhor compreensão da sistemática dos prévios acertos ilegais que

redundaram na contratação em vislumbre e antes de nos debruçarmos sobre o relevantíssimo papel

do Procurador Municipal ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA na contratação emergencial

da ASSOCIAÇÃO MARCA para administrar o Hospital da Mulher, convém detalhar como

funciona a organização comandada por TUFI SOARES MERES, na qual se insere a

ASSOCIAÇÃO MARCA.

Convém iniciar a narrativa a partir de uma breve apresentação acerca de quem

verdadeiramente é a Associação MARCA para Promoção de Serviços. Trata-se de instituição, em

tese, sem fins lucrativos integrante do Terceiro Setor, qualificada pelo Ministério da Justiça como

Organização Social de Interesse Público (OSCIP), sediada no Estado do Rio de Janeiro, e que tem

como objetivo social atuar na gestão de serviços de saúde.

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Imprescindível ao conhecimento da estrutura organizacional da ASSOCIAÇÃO

MARCA, é fazer remissão ao demandado TUFI SOARES MERES, um dos grandes e experientes

articuladores da “máfia do terceiro setor” no Rio de Janeiro e que replicou seu modelo neste

Estado, por meio da organização que chefia e a qual integra a ASSOCIAÇÃO MARCA.

A notícia histórica do aludido cidadão remonta ao governo de Rosinha Matheus no

Estado do Rio de Janeiro, nos idos de 2003 a 2006. Funcionou como chefe de um núcleo

empresarial na cidade de Petrópolis/RJ, o qual fazia parte de um esquema de corrupção no âmbito

do referido Estado, segundo investigação realizada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

Realmente, nos termos da Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa nº 0073487-

49.2010.8.19.0001_201_001 (vide item III.4), “uma fração de recursos públicos desviados foi

depositada na conta bancária do PMDB, para financiamento de pré-candidatura de ANTHONY

GAROTINHO à Presidência da República.”

No esquema descoberto pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, uma

das entidades ligada a TUFI SOARES MERES e utilizadas para desviar os recursos públicos era o

Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania - CBDDC. Com a divulgação da ação por

parte do MP-RJ, a entidade muda de nome e passa a se chamar Núcleo de Cidadania e Ação Social

– Nucas e logo em seguida passa a se chamar Núcleo de Cidadania e Ação Social – Salute Sociale.

É com essa mesma denominação que a entidade foi subcontratada pela MARCA no Município de

Natal e também em Mossoró, na administração do Hospital da Mulher.

O modus operandi do grupo de TUFI SOARES MERES identificado pelo

Ministério Público do Rio de Janeiro, e agora também pelo Ministério Público do Rio Grande do

Norte na Operação Assepsia, consistia inicialmente na contratação de uma organização social ou de

uma OSCIP pelo Poder Público e em subcontratações subsequentes de diversas empresas de

fachada ligadas à entidade contratada pela Administração. Estas, por sua vez, serviam para mascarar

um serviço que jamais foi efetuado, emitindo notas fiscais frias, superfaturadas ou ideologicamente

falsas, para apresentação nas prestações de contas de contratos de gestão, no caso das organizações

sociais, ou dos termos de parceria, na hipótese de a entidade contratada ser uma OSCIP –

Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

O ingresso da ASSOCIAÇÃO MARCA na organização comandada pelo

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demandado TUFI SOARES MERES se deu quando, após um tempo desativada, a demandada

ROSIMAR GOMES BRAVO e seu esposo, o demandado ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA

JÚNIOR, ambos responsáveis pela referida OSCIP, firmaram parceria para atuar em conjunto com

TUFI MERES, que possuía a expertise no desvio de recursos públicos mediante utilização de um

“pool” de empresas de fachada (ARTESP/MEDSMART/RJ CONSULTORIA DIFERENCIADA

EM SAÚDE LTDA EPP/ ITAYPARTNERS INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE

NEGÓCIOS LTDA ME/ EDITORA GRÁFICA IMPERATOR, dentre outras), e que ocupava o

posto de “chefe” do esquema ilícito montado. A vasta experiência no desvio de recursos públicos

por parte do demandado TUFI SOARES MERES, que o alçou à referida condição hierárquica,

remonta a escândalos de corrupção envolvendo a entidade SALUTE SOCIALE, uma das entidades

constantes na respectiva organização, ao tempo em que recebia a denominação de CBDDC – Centro

Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania.

Por meio do organograma abaixo apreendido na sede da RJ CONSULTORIA

DIFERENCIADA EM SAÚDE, é possível ter uma exata noção de como funciona a organização

comandada pelo demandado TUFI SOARES MERES19:

19

Vide fl. 161, V. 2

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Observe-se que no topo da pirâmide organizacional fica exatamente a SALUTE

VITA e seu presidente, o demandado TUFI SOARES MERES. Este, formalmente, não tem

ligação alguma com as entidades contratadas no Rio Grande do Norte, como é o caso da

ASSOCIAÇÃO MARCA. Todavia, por trás, dirige toda a atividade das entidades e empresas

ligadas ao seu grupo. Perceba-se que, na parte de baixo do organograma acima, já está incluído o

Hospital da Mulher como um dos empreendimentos administrados pela organização de TUFI

SOARES MERES.

E, muito embora o comando central esteja sediado no Estado do Rio de Janeiro,

onde atua fortemente em vários municípios, os negócios espúrios dessa organização foram

alastrados por vários estados da Federação. O desenrolar das investigações da Operação Assepsia,

que descortinou a atuação do grupo iniciada no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde de

Natal/RN, permitiu compreender que a organização é extremamente articulada, pois conta

constantemente com o respaldo de inúmeros agentes políticos (em todo território nacional e em

várias unidades da federação, diga-se de passagem).

O modus operandi das OS's - Organizações Sociais - e OSCIP's – Organizações

Sociais de Interesse Público - controladas pela referida organização é de se valer do regime jurídico

diferenciado e atípico concedidos a essas entidades que lhes permitem auferir determinados

benefícios previstos em lei, para celebrar com o Poder Público contratos de gestão ou termos de

parcerias, dependendo da qualificação da respectiva instituição, e a partir daí desviar recursos

públicos de diversas formas, quais sejam, inserindo como subcontratadas outras empresas

controladas ou acionadas pelo grupo criminoso nas prestações de contas, criando despesas fictícias

ou superfaturadas, emitindo notas fiscais frias em nome dessas pessoas jurídicas, entre tantas outras

irregularidades.

E esse esquema criminoso ocorreu no Município de Natal, tendo estendido os seus

tentáculos para o Estado do Rio Grande Norte, conforme se verá nas linhas seguintes.

Foi essa organização quem cooptou para os seus quadros o Procurador Municipal

ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, o que explica a sua desenvoltura nos escaninhos

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políticos do Estado do Rio Grande do Norte em defesa dos interesses da ASSOCIAÇÃO MARCA

PARA PROMOÇÃO DE SERVIÇOS.

A teor dos elementos angariados através da Operação Assepsia, cujo

compartilhamento foi autorizado judicialmente pelo Juiz da 7ª Vara Criminal desta Capital (fls. 621-

623, V. 2), restaram identificadas provas de que os demandados DOMÍCIO ARRUDA e

ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, ainda em maio de 2011, trataram diretamente

sobre a contratação da MARCA pelo Estado do Rio Grande do Norte para administrar outro

hospital do Estado do RN, o Ruy Pereira, com integrantes da organização de TUFI MERES,

consoante se pode exemplificar por meio da conversa documentada abaixo:

Date: 03/05/2011 14:43:42

From: Rosi Bravo

To: Tufi Soares Meres

Dr, somente agora consegui uma conversa um poucoi mais clara com Natal. Repasso-a.

Alexandre: Trabalhe no projeto básico

eu: o PB está pronto e com vcs

só preciso saber as deficiçoes de mudança pra alterar

Alexandre: To falando do rui pereira

eu: ahhh sim. Ele definiu o perfil?

Alexandre: Sobre abastecimento, Thiago está mudando tudo. Quer rescindir a dengue e iniciar

uma seleção pra abastecimento esta semana

Alexandre: Estou meio deprimido. Acho que ele esta se entregando

eu: entendi. Era o q ele havia dito semana passada. Sobre a Dengue, creio q não haverá outra

saída, mas sobre abastecimento, abrindo dessa forma ele terá varias propostas e o q será pior, não

saberá se realmente resolverão.

Eu o achei mt desanimado semana passada.

outra coisa, os 20 leitos de UTI q foram publicados no DO do Estado são pra qd?

Alexandre: O contrato da dengue esta tão bom ou ruim como o que fizemos com o ipas. É que

thiago cansou definitivamente

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eu: ele não quer comprar a briga

o problema dise é q qualquer contrato q vier agora ele vai sofrer as mesmas pressoes

Alexandre: Não

Alexandre: Ele cansou. O problema é que eu me expus. Ontem, contra uma recomendação do

governo do estado, eu fui defender a legalidade do contrato na câmara e hoje ele me chega com

essa de rescindir

eu: Eu li q vc foi a Camara

Alexandre: Recebi recado de rogério e de domicio para não ir a câmara, mas por questão ética eu

fui

Aí ele resolve rescindir agora? Me deixa em situação dificílima

eu: eu penso q ele deveria sentar com o ITCI e rever as açoes e metas. Precisava reverter o quadro

e consegueria se eles realmente forem bons.

Vc está realmente numa situação mt ruim

eu: Eu disse a ele semana passada q ele deveria cobrar do ITCI as açoes q a SMS precisa e

divulgar os resultados rapidamente, mas creio q ele nao vá fazer. Será + facil desistir

Alexandre: Mudando de assunto, tente fazer um projeto para o ruy pereira, com leitos de

vascular 45, traumato 25 e 10 urologia. Porta fechada. Com centro cirúrgico nessas áreas.

Pode ser, para começar?

eu: pode sim. Vou dar início. Domício encontrou com Maninho e cobrou q as coisas estão

paradas

Alexandre: O problema é esse. Ele quer que a gente faça tudo. Inclusive o perfil

eu: entendo, mas por outro lado, se ele está abero a aceitar nossa proposta, fica mais facil

trabalhar tb!

Vou dar inicio aqui para q semana q vem seja apresentada uma proposta

Alexandre: Faça isso

eu: ok

eu: Qualquer noticia sobre abastecimentos por favor, me avise

Alexandre: Vou preparar o termo de referência para seleção, mas antes de qualquer coisa lhe aviso

antes

Vc vem?

eu: Estou com passagem emitida para amanha as 9, mas estou considerando se realmente seré

necessário

Enviado às 14:34 de terça-feira

Rosi Bravo

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Como se percebe na conversa, a ida de ALEXANDRE MAGNO ALVES DE

SOUZA, Procurador do Município de Natal e um dos investigados na Operação Assepsia, para o

Estado teve o intuito de levar adiante o projeto de terceirização da saúde. Ademais, demonstra que,

desde maio de 2011, já estavam em curso tratativas com a MARCA para implementação de tal

plano. A sua escolha para assessorar o governo na área de saúde foi uma das principais estratégias

adotadas para o fim de garantir que o modelo de gestão descentralizada para o Terceiro Setor de

serviços de saúde planejado pela demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO fosse efetivamente

implementado.

Sob outra ótica, impende destacar que a ida do demandado ALEXANDRE

MAGNO também transpareceu bastante vantajosa para o mesmo no sentido de expansão de seus

negócios escusos, visto que o projeto de terceirização implantado no Município de Natal à época já

estava sofrendo os efeitos da intensa fiscalização por parte do Ministério Público Estadual que

levaram, inclusive, a revogação do contrato com o ITCI e ao pedido de exoneração do Secretário

Municipal de Saúde, Thiago Trindade. Logo, foi vista essa mudança pelo referido como “uma nova

estratégia em virtude do novo quadro” , como bem externou no diálogo a seguir:

Áudio 5959425

Dia: 11/05/11

Horário:12:53:20

Duração: 00:04:29

ROGÉRIO MARINHO E

ALEXANDRE MAGNO

Deputado Rogério Marinho liga para Alexandre, conversam sobre a saída de Thiago. Alexandre diz: “eu não disse a você omi, em primeira mão hoje, foi a primeira, você foi a única pessoa fora do circuíto que eu avisei”. Rogério Marinho diz: “sim companheiro, mais ele pede todo dia, que nem o caso daquela história da raposa e do pastor”. Alexandre diz: “depois eu converso com você, mas ele pediu ao vivo na TV Cabugi, pediu não, ele entregou mesmo entregando, o que eu lhe disse na mensagem, exatamente o que eu lhe disse. Pediu, não concorda com a extensão do processo, como foi determinado pela Prefeita que ele revogasse, ele revogou e está saindo”. Rogério Marinho diz: “eu só não entendi porque ele revogou, ele devi não ter revogado, deixasse que ela botasse alguém para revogar”. Alexandre diz “houve esse negocio ontem, sabe? Mas assim, a ideia deles é que se fosse outra pessoa que revogasse ficaria claro de a administração entendia que havia uma irregularidade, por isso ele não querendo revogar, outra pessoa teria revogado no lugar dele, aí ele achou melhor ele revogar, e dizer que o contrato não tinha erro nenhum puxar para cima dele a coletiva, ele deu uma coletiva agora”. Rogério Marinho diz: “esse vai ser o assunto, né? esse e a greve da educação”. Alexandre diz “agora ela vai ficar num rabo de foguete, porque os agentes não voltam” Rogério Marinho diz: “ela vai fazer uma matéria hoje sobre meu processo na TV Ponta Negra, já ligou para minha assessoria. Aí deixa eu lhe fazer uma pergunta, ela vai tentar desviar o foco né, claro né? Que raspando em mim melhor ainda né? Mas é o tipo do assunto que há 5 anos é requentado, né? Não tem fôlego para existir muito tempo, né? Mais você se lembra que as minhas contas foram aprovadas em 2005e 2006, né? Depois é que aconteceu aquela situação (palavra não compreendida), será que eu conseguiria uma certidão no Tribunal de Contas?” Alexandre diz: “acho que sim, mas a melhor pessoa que pode lhe dar uma dica sobre isso é Cacau”. Rogério Marinho diz: “é, vou dar uma ligada para ele”. Alexandre diz: “que dia é hoje, quarta é?” Rogério Marinho diz: “é, amanhã eu tô aí”. Alexandre diz: “é, deixe isso para se resolver amanhã”. Rogério Marinho diz: “é amanhã eu tô aí.” Alexandre diz: “é melhor”. Rogério Marinho diz: “eu joguei um poster”. Alexandre diz: “no twitter”. Rogério Marinho diz: “no twitter, não sei se você chegou a ver, onde eu digo o seguinte: que eu tô

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jogando a realidade para cima dela, como é que ela não sabia que houve o problema”. Alexandre diz: “não, mais escute, ela sabia, e Thiago disse isso na entrevista e hoje na nota oficial, a nota diz assim: a Prefeita determinou”. Rogério Marinho diz: “é mais ela não, ela disse ao Ministério Público que não sabia, no depoimento dela, entendeu?”. Alexandre diz: “sabia, escute, e mais, bom quando você chegar aqui a gente traça uma nova estratégia em virtude do novo quadro”. Rogério Marinho diz: “você já teve com Domício ?” Alexandre diz: “não, eu tô ainda aqui lambendo as feridas, não dormi, tudo isso que aconteceu durou até 4 da manhã. Inclusive Bruno indo lá em casa, num sei o que, aí já tô trabalhando mais tô aqui ainda, acabou agora a coletiva, não sei nem como é que foi, mas hoje de tarde eu acho que dou um pulo lá em Domício”. Conversam sobre notícia de motel que foi assaltando na Zona Norte de Natal, que estava na 1ª página do UOL. Rogério Marinho diz: “ei, é, procure Domício companheiro, ele tá (fala palavras não compreendidas por conta da interrupção de Alexandre)”. Alexandre diz: “hoje a tarde, deixa eu dizer, já que você tá com tempo sobrando, hoje a tarde eu vou procurar Arturo pedi a ele para refazer o meio de campo, dizer que eu tava entalhando nesse negócio, barará, bororó, e que eu vou procurá-lo hoje a tarde. Mas primeiro eu vou procurar Arturo, entendeu. Sossegue, o quadro mudou”. Rogério Marinho diz: “porque ele é importante para gente, demais, você voltar para lá, tá bom. Outra coisa uma informação que eu tive hoje, o estado tem UPA no Rio de Janeiro tem?” Alexandre diz: “tem, só o estado tinha UPA no Rio de Janeiro até muito pouco tempo atrás. Agora ele está municipalizando e vai ficar só com algumas do Corpo de Bombeiros, para servir de parâmetro para as outras”. Rogério Marinho diz: “tá bom, vamos a luta, Deus te abençoe” e encerra o áudio.

Obs.: O poster no citado no Twitter é este:

rogeriosmarinho Rogério Marinho

Caos administrativo em natal,aumenta a incidência de dengue,pmn rescinde contrato com empresa,prefeita alega que não sabia..e você acredita?

Além disso, sua vinda para a Administração Pública Estadual teve ainda o intento

de estreitar os laços com a organização comandada pelo demandado TUFI SOARES MERES, e

estabelecer um canal de negociação direto com a Governadora ROSALBA CIARLINI acerca do

assunto em comento. Isso se deve ao fato de que era o demandado ALEXANDRE MAGNO

ALVES DE SOUZA quem mantinha estreitos contatos com os responsáveis pela atividade

operacional da Associação MARCA, os demandados ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA

e ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR, o “Maninho”, bem como com o próprio TUFI

MERES, durante o período em que o Município de Natal contratou com o aludido grupo criminoso.

Amparando a narrativa supra, convém transcrever degravação de duas conversas

interceptadas durante a Operação Assepsia, nas quais o demandado ALEXANDRE MAGNO

ALVES DE SOUZA fala abertamente as razões que o levaram a ir para a SESAP, senão vejamos:

21/06/11 – (18:56:35)

ALEXANDRE diz a THIAGO que estava reunido com Domício Arruda Câmara Sobrinho. THIAGO, então, pergunta como Domício está, tendo ALEXANDRE respondido que ele

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6127762 (Domício) estava “achando uma merda”, que “Ana Tânia” está lá e que a visão de administração dela é “aquela que a gente já conhece”; continua dizendo que ele (Domício) está precisando “fazer o sistema ter eficiência e não está conseguindo”. ALEXANDRE complementa dizendo “nesta ordem e uma ruma de outras coisas”. THIAGO, então, diz “ainda estão nesse disco”. ALEXANDRE confirma que sim e que a ele (ALEXANDRE) lhe parece que “hoje” começou a entrar no Estado, porque estava desanimado. THIAGO pergunta se ALEXANDRE foi mal visto por “Ana Tânia” e este responde que os dois (Alexandre e Ana Tânia) são até amigos, mas que o problema é que ambos têm “visões diferentes de como as coisas devem rodar”. ALEXANDRE, então, continua dizendo que ele e o secretário têm o mesmo pensamento (“o secretário pensa igual a mim”), mas que este não tem coragem de contrariar “Ana Tânia” (“só que não está querendo dar uma peitada nela”). THIAGO volta a dizer que “ainda estão nesse disco, ou seja, ainda vão decidir que linha vão tomar e quem vai mandar”. ALEXANDRE diz que ele (o secretário) já decidiu, mas que não comunicou aos demais; que esta decisão só é da ciência do próprio secretário, de ALEXANDRE e da Governadora (“a Governadora já decidiu também”). Continuando, ALEXANDRE exemplifica a situação dizendo que pede “um perfil do Ruy Pereira” (“o que é que vocês querem do Ruy Pereira?”), mas que, como resposta, dizem que se deve ter cuidado, que se deve perguntar a “Terezinha Rêgo”. ALEXANDRE diz que isso complica e que diz ao secretário que está com “essa visão” e que, “se não for para fazer isso”, não tem o que fazer lá (“eu não tenho o que fazer aqui”). ALEXANDRE diz que a resposta do secretário é de que não se preocupasse e que concorda com ele. Em seguida, THIAGO diz que “se não for para implementar o Terceiro Setor” ALEXANDRE “não tem função nenhuma ali”. ALEXANDRE concorda com a afirmação de THIAGO e diz que falou para o sobrinho do secretário e para o próprio secretário. THIAGO interrompe e faz o seguinte questionamento: “tu vai ficar fazendo processo administrativo, é?”; ao que ALEXANDRE responde: “pois é; não tem o menor sentido isso”. THIAGO ainda complementa o questionamento: “cessão de servidor e outra coisas mais?”. ALEXANDRE, em seguida, pergunta onde THIAGO anda e diz que está indo para a ART&C (Arturo o espera) naquele momento. THIAGO, então, pede para conversar com ALEXANDRE antes dele entrar na ART&C. ALEXANDRE concorda e diz que os dois podem se encontrar no estacionamento da ART&C. Em virtude do horário e da duração do compromisso na ART&C, ALEXANDRE, então, combina de encontrar THIAGO no apartamento deste após sair da ART&C.

29/06/2011

(18:10:14)

6143737

ALEXANDRE diz a WASHINGTON que a conversa que teve com ele foi boa. Segundo ALEXANDRE, para o que ele tem que fazer na secretaria, terá que brigar com todo mundo, exceto com o Secretário e com a Governadora, pois todos são contra. WASHINGTON agradece o fato de ALEXANDRE ter se aberto com ele e diz que numa próxima conversa ele é quem se abrirá.

No mesmo sentido, as trocas de mensagens abaixo entre os demandados

ALEXANDRE MAGNO e TUFI MERES, a respeito de agendamento de encontro com o

demandado DOMÍCIO ARRUDA:

----Mensagem Original-----

From: [email protected]

Sent: Wednesday, May 04, 2011 11:56 AM

To: [email protected]

Subject: Bate-papo com Alexandre Souza em 05/4/2011

Participantes:

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-------------

Merest, Alexandre Souza

Mensagens:

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Merest: Foram consideracoes

Alexandre Souza: Ok. Vamos em frente. Tufi eu entendo suas dificuldades. Sei que eh dificil fazer as coisas assim, mas estamos todos aqui onde estamos pela nossa capacidade de resolver os problemas. Para fazer devagar e com calma existem outras opções

Merest: Ok, a palavra final e de quem contrata. . O que me preocupa e a anciedade dele...

Alexandre Souza: Isso eh contingencia e nao discuto contingencia. A questao verdadeira eh: eh possivel fazer?

Merest: Ja ta sendo feito...

Alexandre Souza: Entao ta resolvido

Merest: Chegaram agora 5 pessoas no aeroporto

Merest: Vc ja me viu brincar ?

Alexandre Souza: Sei disso. Eh que você ta querendo moleza. Vamos resolver

Merest: Quinta estarei ai com precos e planilhas

Merest: To não

Alexandre Souza: Venha simbora

Merest: To querendo seguranca ppra não fazer merda... Coisas de gente velha !!!

Merest: Ranzinza...

Alexandre Souza: Nada. Vai dar certo e tudo seguro

Merest: Sabe gente velha, cascudo?

Merest: Vamos em frente

Merest: Quinta to ai

Alexandre Souza: Você sabe das questoes e sabe que o ambiente nao eh o ideal, mas eh a oportunidade

Merest: Ok, vamos juntos...

Alexandre Souza: Abs

Merest: Abs

Merest: Boa tarde

Alexandre Souza: Oi

Merest: Nosso pessoal ai ja achou uma solucao para a questao do soro

Merest: Posso resolver ja por conta ?

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Merest: Ha noticia que ha mais carretas com soro

Alexandre Souza: Resolveriamos como?

Merest: Havera mais soro ?

Merest: Estou indo com Sidnei amanha ,

Merest: Disponível a partir das 14.3

Alexandre Souza: Estou a disposição

Merest: Veja se vamos ao Domicio

Alexandre Souza: Vou agendar

Merest: Ok

Merest: Indo bem ai ?

Alexandre Souza: Esta. Como cuscuz na pressão

Merest: Aleluia !!!

Merest: Bom dia

Merest: Como vamos ai?

Alexandre Souza: Oi tudo ok

Merest: Avancamos bem ...

Merest: Consegui um preco de Medicamentos excepsional .

Merest: E ja podemos entregar...

Alexandre Souza: Ok. Perfeito. Estou indo ao escritorio tudo agora

Merest: Ok

Merest: Semana qie vem vou sem falta para irmos no Domicio . Agora ta mais tranquilo !

Merest: Abs

Alexandre Souza: Aguardo então abs

Merest: Abs

Merest: Bom dia Frances

Enviado através do meu BlackBerry® da Nextel

Como se pode aferir, esses contatos foram todos anteriores à formalização do

termo de parceria entre o Governo do Estado e a ASSOCIAÇÃO MARCA. Para ser preciso, nove

meses antes da celebração do ajuste. Com efeito, a chegada do demandado ALEXANDRE

MAGNO à Secretaria Estadual de Saúde para assessorar o demandado DOMÍCIO ARRUDA foi

crucial para que a implantação do modelo de gestão descentralizada e os acertos com o grupo

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criminoso SALUTE VITA pudessem se desenrolar mais facilmente. E isso se deu devido ao fato de

ALEXANDRE MAGNO possuir uma ampla rede de contatos políticos e manter uma relação

bastante aproximada com os integrantes da aludida organização.

Ademais, é importante que se diga que tão grande era o interesse dos demandados

ROSALBA CIARLINI e DOMÍCIO ARRUDA na implementação do modelo de gestão

descentralizada para o Terceiro Setor neste Estado que autorizaram ao demandado ALEXANDRE

MAGNO ALVES DE SOUZA para tratar de tal assunto nos bastidores da gestão estadual, antes

mesmo que fosse ele formalmente cedido à SESAP em 17 de setembro de 2011.

Com efeito, no depoimento que o demandado DOMÍCIO ARRUDA prestou na

qualidade de testemunha, nos autos do processo criminal nº 0125526.25.2012, 7ª Vara Criminal,

referente à operação Assespsia, ele chegou a admitir que ALEXANDRE MAGNO era uma espécie

de “assessor informal da Secretaria”20, referindo-se à SESAP! É certo que essa “assessoria

informal” foi efetivamente prestada por ALEXANDRE MAGNO com o único intuito de favorecer

o ingresso do terceiro setor no Estado do RN, conforme o plano concebido pela Governadora

ROSALBA CIARLINI ROSADO.

Como se demonstrou, desde o mês de maio de 2011, há registros de mensagens,

conversas e emails interceptados, através da Operação Assepsia, que comprovam que o demandado

ALEXANDRE MAGNO já auxiliava o demandado DOMÍCIO ARRUDA nas tratativas

pessoalizadas relacionadas à terceirização de serviços de saúde em âmbito estadual, com especial

destaque para aquelas que guardassem relação com a organização comandada pelo demandado

TUFI SOARES MERES.

Em julho de 2011, conforme registros telefônicos suso mencionados,

ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA tratou inúmeras vezes com a demandada DORINHA

BURLAMAQUI, interlocutora direta da demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO, das

questões da terceirização do Hospital da Mulher em Mossoró.

20

Vide depomento que consta no CD que repousa à fl. 871, V. 3, especificamente a partir de 32 minutos.

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Mas não era apenas a administração do Hospital da Mulher que seria terceirizada.

Já havia, desde o primeiro semestre de 2011, articulações do governo com a ASSOCIAÇÃO

MARCA para assumir o Hospital Ruy Pereira e com a CRUZ VERMELHA, a quem a Governadora

ROSALBA CIARLINI ROSADO iria entregar a administração do maior hospital do Estado, o

WALFREDO GURGEL.

A comunicação telefônica, por mensagem, captada entre ALEXANDRE MAGNO

ALVES DE SOUZA e ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA, proprietária de fato da

ASSOCIAÇÃO MARCA, revela que realmente a Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO

havia decidido contratar a CRUZ VERMELHA para assumir a administração do Hospital

WALFREDO GURGEL. Como estaria no Rio de Janeiro, ALEXANDRE MAGNO tentava

desmarcar uma reunião marcada em Natal para tratar do assunto. Veja-se o registro:

Start Time: 26/06/2012 13:52:57(UTC+0)

Last Activity: 26/06/2012 18:16:33(UTC+0)

Participants: 268FC9F1 Rosi Bravo, 278E61B3 Alexandre Souza

From: From: 278E61B3 Alexandre Souza

TimeStamp: 26/06/2012 13:52:57(UTC+0)

Source Application: BlackBerry Messenger

Body:

Bom dia, ja chegou no 122?

-----------------------------

From: From: 268FC9F1 Rosi Bravo

TimeStamp: 26/06/2012 13:53:17(UTC+0)

Source Application: BlackBerry Messenger

Body:

Bom dia

-----------------------------

-----------------------------

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From: From: 268FC9F1 Rosi Bravo

TimeStamp: 26/06/2012 18:12:04(UTC+0)

Source Application: BlackBerry Messenger

Body:

Você não vai?

-----------------------------

From: From: 278E61B3 Alexandre Souza

TimeStamp: 26/06/2012 18:13:33(UTC+0)

Source Application: BlackBerry Messenger

Body:

Tenho que ficar. Não consigo desmarcar a reuniao com a cruz vermelha amanha de manha. A gov quer eles

no walfredo e preciso estar dentro

-----------------------------

Fica claro pela mensagem que ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA

também trabalhava na articulação para contratar a CRUZ VERMELHA para administrar o Hospital

WALFREDO GURGEL, conforme já havia decidido a Governadora ROSALBA CIARLINI

ROSADO. Esses projetos somente não foram adiante porque houve a deflagração da Operação

Assepsia exatamente no dia 27/06/2012, um dia depois dessa mensagem. A imprensa local noticiou

o fato nos:

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Postado dia 27/06/2012 às 12h06

por: Portal JHMP deflagra OPERAÇÃO ASSEPSIA que investiga contratação de organizações sociais na área de saúde do município de Natal

O Ministério Público do Rio Grande do Norte, por meio da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de…O Ministério Público do Rio Grande do Norte, por meio da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de

Natal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), deflagrou na manhã desta quarta-

feira, dia 27/06/2012, com o apoio da Polícia Militar do Estado, a OPERAÇÃO ASSEPSIA, que investiga a contratação

de supostas organizações sociais pelo Município de Natal, com atuação na área da saúde pública.

Estão sendo cumpridos mandados de busca e apreensão e de prisões preventivas e temporárias, expedidos pelo Juiz de

Direito da 7ª Vara Criminal de Natal. As buscas e as prisões vem sendo realizadas em Natal e no Rio de Janeiro.

Em Natal, estão sendo realizadas buscas e apreensões nas residências do ex-Secretário Municipal de Saúde, THIAGO

BARBOSA TRINDADE, do Procurador do Município de Natal ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA, do

Secretário de Planejamento do Município ANTÔNIO CARLOS SOARES LUNA, do Coordenador Administrativo e

Financeiro da Secretaria Municipal de Saúde FRANCISCO DE ASSIS ROCHA VIANA, do ex- Coordenador

Administrativo e Financeiro da Secretaria Municipal de Saúde CARLOS FERNANDO PIMENTEL BACELAR

VIANA, na filial da ASSOCIAÇÃO MARCA, na sala da Coordenadoria Administrativa e Financeira da Secretaria

Municipal de Saúde, na sede da SMS, e no Gabinete do Secretário Municipal de Planejamento, na sede da SEMPLA.

Ainda em Natal, o Poder Judiciário expediu mandado de prisão preventiva em desfavor do Procurador Municipal

ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA e mandados de prisões temporárias de THIAGO BARBOSA

TRINDADE, ANTÔNIO CARLOS SOARES LUNA, FRANCISCO DE ASSIS ROCHA VIANA e de CARLOS

FERNANDO PIMENTEL BACELAR VIANA.

No Rio de Janeiro, a Polícia cumpre mandados de busca e apreensão nas residências de TUFI SOARES MERES, de

GUSTAVO DE CARVALHO MERES, do casal ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA e ANTÔNIO CARLOS

DE OLIVEIRA JÚNIOR, conhecido como MANINHO, e em três salas de um edifício empresarial situada na Barra da

Tijuca, onde funcionam empresas ligadas a TUFI SOARES MERES.

Também no Rio de Janeiro, a Polícia busca cumprir mandados de prisão preventiva de TUFI SOARES MERES e

ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA e de prisão temporária de ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR.

Com efeito, na busca e apreensão da operação ASSEPSIA, foram encontradas nas

agendas do demandado ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA anotações através das quais

é possível dimensionar o gigantismo do projeto de terceirização dos serviços de saúde pública

concebido pelo Governo da demandada ROSALBA CIARLINI, que incluía, no caso da MARCA,

além do Hospital da Mulher, em Mossoró, a terceirização da administração do Hospital Ruy

Pereira, e também a inserção da CRUZ VERMELHA nos projetos relacionados aos hospitais

WALFREDO GURGEL, MARIA ALICE FERNANDES, DEOCLÉCIO MARQUES, JOÃO

MACHADO, GIZELDA TRIGUEIRO e SANTA CATARINA, e a previsão de construção de um

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“Hospital Geral”, no valor de R$ 100.000.000,00 (cem milhões de reais), este último a ser

explorado mediante Parceria Público Privada, com prazo de 35 anos, ao custo de R$ 10.000.000,00

(dez milhões) mensais para o parceiro privado, segundo as anotações de ALEXANDRE MAGNO

ALVES DE SOUZA. Confiram-se os seus registros:

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Como se afere, a Governadora ROSALBA CIARLINI vinha planejando executar

serviços milionários na área de saúde pública. Neste sentido, há o registro da ampliação dos planos

de contratação direta de outras unidades de saúde, tendo como entidade parceira a ASSOCIAÇÃO

MARCA. Além dela, seria contemplada também a CRUZ VERMELHA no plano de terceirização

da saúde. É interessante notar que o cronograma previsto na figura 4 para a contratação da MARCA

para administrar o Hospital da Mulher já estava posto desde o início do mês de janeiro de 2012, de

modo que os atos praticados no processo de contratação foram mera execução fraudulenta de uma

decisão já adotada previamente.

Entre as anotações do demandado ALEXANDRE MAGNO ALVES DE

SOUZA, verificou-se ainda informações relacionadas à visita dos demandados DOMÍCIO

ARRUDA e ROSALBA CIARLINI à Espanha, numa articulação com TUFI SOARES MERES,

conforme foi relatado antes, além da criação de UPAS estaduais como parte da estratégia de

expansão do terceiro setor no Rio Grande do Norte:

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Sobre esse processo de expansão do terceiro setor na área de saúde, com escolhas

predeterminadas do parceiro privado, o demandado DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA detalhou a

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existência de diversas reuniões ocorridas, inclusive com a presença da demandada ROSALBA

CIARLINI, conforme depoimento prestado em 27 de julho de 2012, na sede da Promotoria do

Patrimônio Público:

“(...) Que existiu a ideia de terceirizar o Hospital Dr. Ruy Pereira, pois era um hospital

alugado que tinha uma dotação orçamentária fixa e seria possível com o valor do custeio,

alugar o serviço; Que recebeu a visita da DERSLON da FIBRA em uma audiência na

SESAP; Que ele afirmou que a Fibra administrava uma UPA em Guarabira e estava atuando

no Hospital de Trauma de Campina Grande; Que Deslon da Fibra chegou a visitar o

Hospital Dr. Ruy Pereira, mas a Fibra não apresentou proposta; Que a Marca também

visitou o Hospital Dr. Ruy Pereira, através de Rose Bravo, Maninho e uma terceira pessoa;

Que a Marca não chegou a apresentar uma proposta; Que existia também um empecilho

para contratação destas entidades pela falta de legislação regulamentando as organizações

sociais; Que com a crise do Walfredo Gurgel e com a solução realizada na Paraíba quando a

Cruz Vermelha passou a administrar o Hospital de Traumas em João Pessoa, a SESAP

manteve contato com a Cruz Vermelha através de seu representante Edmont Silva, Que fez

uma visita ao hospital administrado pela Cruz Vermelha em João Pessoa; Que foi marcada

uma reunião com Cruz Vermelha em Natal para tratar sobre uma solução para administrar

o Walfredo Gurgel; Que a reunião foi na Governadoria; Que estavam presentes Edmont

Silva, Daniel Gomes, Dorinha, Rosalba e o depoente; Que foi nesta reunião que a Cruz

Vermelha afirmou como tinha sido a solução para o Hospital de Traumas de João Pessoa,

através da decretação do estado de emergência e da aprovação de uma lei estadual que

possibilitou a contratação de organizações sociais por parte do Estado da Paraíba; Que a

Governadora pediu para fazer uma reunião quinze dias depois com a área jurídica do

Estado; Que entre as reuniões foi apresentada a matéria no Fantástico com denúncias sobre

algumas empresas no Rio de Janeiro no âmbito da saúde, entre elas a Toesa; Que segunda

reunião foi na Secretaria de Planejamento; Que estavam presentes Edmont Silva, Daniel

Gomes, Dorinha, Rosalba, Miguel Josino, José Marcelo, Alexandre Magno, Oberi, o

depoente e um consultor do Estado da Paraíba que não se recorda o nome; Que nesta

reunião, Daniel Gomes falou ao depoente que ele era consultor da Cruz Vermelha; Que a

Toesa administra o SAMU em João Pessoa; ; Que nesta reunião ficou decidido que sem a

existência de uma lei não era possível realizar a contratação; Que ficou sabendo que o

projeto de lei das OS's já estava sendo redigido;”

O Consultor-Geral do Estado, o Procurador do Estado de carreira JOSÉ

MARCELO FERREIRA COSTA, sem perceber que as parcerias e as negociações estavam tão

avançadas com essas entidades, relatou a propósito:

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“que participou de reuniões com DOMÍCIO ARRUDA, ALEXANDRE MAGNO e um Procurador

do estado da Paraíba e uma advogada representante da CRUZ VERMELHA, a mando da

Governadora ROSALBA CIARLINI; que o foco dessas discussões, como foi dito antes, era a

aplicabilidade da lei federal das organizações sociais no Estado; que nessa reunião, os

participantes saíram convencidos de que a lei estadual precisava ser alterada para possibilitar a

contratação de organizações sociais para atuar na área de saúde, como de fato ocorreu; que chegou

a ir ao Estado da Paraíba juntamente com a Governadora ROSALBA CIARLINI para visitar o

Hospital de Trauma de João Pessoa; que foram à convite de um médico que era o Diretor do

Hospital, administrado na época pela CRUZ VERMELHA;”

Atente-se que nas reuniões em que o Consultor Geral do Estado participou, com o

conhecimento da Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO, ficou clara a impossibilidade

jurídica de contratação de organizações sociais para atuar na área de saúde, no âmbito estadual, sem

lei local autorizativa.

Em que pese a vontade férrea da demandada ROSALBA CIARLINI em expandir

o plano de terceirização da saúde, bem como a evolução das conversas mantidas pelos respectivos

agentes públicos com os parceiros privados escolhidos a dedo pela Chefe do Executivo, não restou

exitosa a disseminação do modelo de gestão descentralizada para o Terceiro Setor nos moldes do

implantado no Hospital da Mulher, como primeira experiência no âmbito do Governo Estadual, por

força dos fatos que vieram à tona após a deflagração da operação Assepsia, em junho de 2012.

Isso porque foi a partir da deflagração da referida operação que houve o

descortinamento das tratativas ilegais que se davam nos bastidores da Administração Pública, tanto

no Município de Natal quanto na esfera Estadual, envolvendo servidores públicos e integrantes do

grupo comandado por TUFI MERES, entre eles os demandado ALEXANDRE MAGNO, que à

época estava cedido à SESAP, ROSIMAR BRAVO (ROSI BRAVO) e ANTÔNIO CARLOS DE

OLIVEIRA (MANINHO), entre outros.

I.C. OS FATOS: O CONTRATO VERBAL QUE VIGOROU ENTRE O ESTADO E A

ASSOCIAÇÃO MARCA, PAUTADO NA PALAVRA DA GOVERNADORA ROSALBA

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CIARLINI ROSADO, NA FASE QUE ANTECEDEU A FORMALIZAÇÃO DO TERMO DE

PARCERIA Nº 01/2012. DESPESAS NÃO AUTORIZADAS POR LEI: A REFORMA DO

HOSPITAL DA UNIMED E A AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS, SEM LICITAÇÃO, À

CUSTA DO TERMO DE PARCERIA. A CONTRATAÇÃO DE PESSOAL PARA

TRABALHAR NO HOSPITAL DA MULHER SUBMETIDA AO CRIVO POLÍTICO DA

DEMANDADA ROSALBA CIARLINI, ATRAVÉS DORINHA BURLAMAQUI. A

EXECUÇÃO DO TERMO DE PARCERIA.

Como ficou demonstrado, houve um acordo da Governadora ROSALBA

CIARLINI ROSADO com os representantes da ASSOCIAÇÃO MARCA em anuir com a

celebração de despesas prévias na montagem do Hospital da Mulher, em data anterior à celebração

do contrato administrativo. Houve, na prática, a pactuação verbal do termo de parceria, com efeitos

imediatos na assunção de despesas pelo poder público, no que tange à reforma do espaço físico do

antigo hospital da Unimed em Mossoró e na aquisição de equipamentos para funcionamento do

nosocômio.

A Lei 8.666/93 é peremptória em vedar ajustes verbais nos contratos celebrados

pelo Poder Público. Confira-se o dispositivo:

“Art. 60. Os contratos e seus aditamentos serão lavrados nas repartições interes-sadas, as quais manterão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro sis-temático do seu extrato, salvo os relativos a direitos reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartório de notas, de tudo juntando-se cópia no processo que lhe deu origem.

Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administra-ção, salvo o de pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aque-las de valor não superior a 5% (cinco por cento) do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei, feitas em regime de adiantamento.

Isso importa dizer que a Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO ordenou

a realização de despesas não autorizadas por lei, praticando ato visando fim proibido em lei (art. 11,

inciso I, da LIA).

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Prova inconteste é o email que veicula a minuta do contrato celebrado entre a

MARCA e a empresa THE WALL, em que consta expressamente que as despesas seriam custeadas

pelo termo de parceria celebrado com a Estado. Observe-se no trecho que importa, procedendo-se o

devido cotejo da data do email (07/02/2012) com a data do termo de parceria (29/02/2012):

De: ANTONIO CARLOS OLIVEIRA JR [mailto:[email protected]] Enviada em: terça-feira, 7 de fevereiro de 2012 14:53Assunto: Contrato The Wall

Alexandro,

Após entendimento com nossa Assessoria Jurídica, segue em anexo o contrato de prestação de serviços. Lembro que estaremos levando impresso em 3 vias e asssinado pela Elisa. Não há necessiadade que você imprima. Se houver modificações e/ou erros de digitação, favor nos comunicar.

Abs,

MANINHO

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SUPERVISÃO,

REFORMA E ADEQUACAO, NO HOSPITAL ESTADUAL DA MULHER

NO MUNICIPIO DE MOSSORÓ, QUE ENTRE SI CELEBRAM A

ASSOCIAÇÃO MARCA PARA PROMOÇÃO DE SERVIÇOS E THE

WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA

(...)

CLÁUSULA PRIMEIRA: DO OBJETO

1.1. O presente CONTRATO tem por objeto a contratação de prestação de serviços especializados para

reforma, adequação e supervisão de obra a ser realizada nas instalações do Hospital Estadual da Mulher,

localizado no Município de Mossoró/ RN, a fim de atender ao Termo de Parceria nº 001/2012-SES/RN,

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firmado entre a CONTRATANTE e o Governo do Estado do Rio Grande do Norte.

1.2. Dentre os serviços contratados e os seus respectivos custos, conforme abaixo indicados, estão

incluídos: anotação de responsabilidade técnica (ART) junto ao CREA/RN; alimentação da equipe; diárias

de deslocamentos; a revisão de toda a parte elétrica e hidráulica do Hospital; pintura, revisão e reparo da

rede de gases medicinais.

A inserção dessas despesas na planilha de custos do termo de parceria está

devidamente comprovada nos autos. Veja-se o email adiante:

From: ANTONIO CARLOS OLIVEIRA JR <[email protected]>Date: Mon, 30 Jan 2012 12:28:20 -0200To: Otto Schmidt<[email protected]>; Rosi Mô<[email protected]>; <[email protected]>Subject: Planilha de Obras

Rosi e Otto,

Para que seja incluído nas planilhas de custos que seguirá para a SES/RN e com base no que foi acertado com o Alexandro, segue mais ou menos os custos de obras, sem contar o material que não tenho noção de quanto ficará.

Empresa The Wall - R$ 15.000,00 (podendo sofrer acréscimo se tivewr que retirar ou instalar equipamentos específicos);Mão de Obra - R$ 60.748,80 ( levando em consideração os seguintes dados: Empresa R$ 212,65/dia; Pedreiro R$ 91,06/dia (sendo 8); Ajudante R$ 59,74/dia (sendo 16); Eletricista R$ 95,41/dia (sendo 3) e Mestre R$ 127,99 (sendo 01) que irão trabalhar durante 30 dias).

Os contratos destas empresas estão sendo providenciados pelo Bruno, já temos alguns dados da The Wall mas falta da outra.

LEMBRAR:é sexta-feira teremos que pagar a empresa de mão de obra , não sei o valor aproximado mas o Alexandro deve passar o valor ainda hoje.Abs,MANINHO

A aquisição prévia de equipamentos também estava contemplada no ajuste coma

empresa THE WALL. Mais uma vez observe-se o email:

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De: Alexandro Vasconcelos [mailto:[email protected]] Enviada em: segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012 09:57Assunto: Enc: FW: Construtora The Wall

Solicitei orcamento de instalacao dos arcondicionados! Empresa que o Dr. Ney appresentou! Solicitei a outra tambem, para comparativo! Temos que correr com a aquisocao dos equipamentos, visto que para instalacao necessita de pelo manos 15 dias! Fora os acabamento se necessario apos instalacao!

The Wall Constrrutor e Consultoria ImobiliariaAlexandro Vasconcelos - Engenheiro CivilTel. 55 84 96552112

From: FRIOTEC REFRIGERAÇÃO LTDA FRIOTEC REF. <[email protected]>

Date: Mon, 6 Feb 2012 12:49:22 +0000

To: <[email protected]>

Subject: FW: Construtora The Wall

Bom dia,

Alexandro, segue anexo orçamento.

As ordens

Eduardo Ramalho

FRIOTEC REFRIGERAÇÃO LTDA.

(84) 3314-7367 - 3314-1659 - 3321-4374 Av. Cunha da Mota, 553, Centro

Mossoró/RN Cep 59.600-160

Convém assinalar que já no dia 2 de fevereiro de 2012 21, a Associação Marca

respondia ao convite formulado pela Secretaria Estadual de Saúde, apresentando proposta

para implantação do nosocômio em questão, tanto que no dia 1º de fevereiro de 2012, a Oscip

já havia formalizado contratos de aluguel do prédio onde funciona o hospital materno-

infantil22, bem como com a empresa responsável por reformá-lo 23, qual seja a THE WALL

CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA, afora todos os contatos anteriores já esmiuçados

21 Fl. 177, V. 1 e fl. 3133, Anexo XVII22 Fls. 3858-3863, Anexo XX23 Fls. 3775-3781, Anexo XX

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nesta petição.

A autorização da Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO para a realização

de despesas anteriores ao termo de parceria remonta ao mês de janeiro de 2012, como está

documentado no email seguinte:

Re: Re: Res: Re Andamento em MossoróDate: 14/02/2012From: Otto SchmidtTo:[email protected]

Maninho,Favor observar o seguinte:1) A relação definitiva dos equipamentos, só nos passada na quinta-feira, 09/02 - neste período, já havíamos liberado a solicitação de orçamento para os diversos forncedores;2) Após o recebimento deste arquivo, tansferimos os novos quantitativos para nossa planilha, para mensurarmos o custo total do projeto;3) Os instrumentais a relação só veio na sexta-feira, dia 10/03;4) Só poderíamos sinalizar a viabilidade ou não da montagem do hospital, com base na data prevista para entrega dos equipamentos, que os fornecedores nos passam em suas cotações;5) Na sexta-feira, dia 10/02, posicionei a Rosi sobre a minha preocupação com o prazo que teríamos, e ontem (13/02) informei ao presidente;6) Concordo que deveremos agendar uma reunião para avaliarmos a situação.AbraçosOtto SchmidtEm 14 de fevereiro de 2012 12:25, Antonio Carlos <[email protected]> escreveu:

Prezados,

No dia 18/01/12 nos foi apresentada a proposta de assumirmos a gestão do hospital em

Mossoro.

Em 23/01/12 viemos a Mossoro e verificamos "in-locco" a realidade, voltamos ao Rio e nos

reunirmos para decidir.

Em 30/01/12, já devidamente autorizado, iniciaram as obras, que a principio seria o grande

problema devido ao exímio tempo. Nesta data tentamos adiar a inauguração e não

conseguimos.

Assumimos o compromisso com a nossa equipe e com a Secretaria Estadual, envolvemos

todos os responsáveis. Fizemos cronogramas e estamos nos organizando.

Acho que estamos realmente apertados no tempo, entendo perfeitamente que a entrega de

equipamentos exige tempo (ainda mais com um carnaval no meio). Entendo também que todos

(nossa equipe e SES/RN)estão cientes que poderá haver atraso nas entregas.

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Quanto ao recrutamento e seleção, entendo que se vier uma boa equipe de seleção daremos conta.

Só p lembrar, nas Ames já foi assim.

Agora, se é realmente impossível, já deveríamos ter agendado ou proposto uma reunião com a

presidência e equipe responsável + a SES/RN para deliberar, caso contrario colocaremos todo

nosso trabalho sob suspeita.

Abraços,

Maninho

Ainda para reforçar essa verdadeira farsa, a própria demandada MARCA, por

meio de sua Diretora Geral Elisa Andrade de Araújo, atendendo à requisição da 1ª Promotoria de

Justiça de Defesa da Saúde da Comarca de Mossoró, encaminhou os “processos de aquisição de

Materiais no período de fevereiro a abril”, assim como os processos de aquisição de

Equipamentos”, sendo tudo isso referente à instalação do Hospital da Mulher. Consta, por

exemplo, nota fiscal referente a serviços de arquitetura para as “adequações necessárias da reforma

do Hospital da Mulher24, emitida em 01/02/2012, notas de pagamento referente à aquisição de

“Tintas para a Pintura do Hospital da Mulher”25, com data de pagamento 23/02/2012, dentre várias

outras despesas realizadas em fevereiro de 2012, conforme já aduzido alhures, antes da celebração

do próprio instrumento contratual.

A participação da demandada DORINHA BURLAMAQUI, além de autoridade

administrativa devidamente constituída, como secretária Adjunta da Saúde, na qualidade de pessoa

elegida pela demandada ROSALBA CIARLINI, quanto ao acompanhamento dessa fase do espúrio

processo de contratação da MARCA, desponta dos autos com grande realce. Em seu próprio

depoimento, DORINHA BURLAMAQUI destacou a missão confiada pela Governadora:

“que acompanhou como Secretária Adjunta, informalmente, a realização de

adequações no prédio do antigo Hospital da Unimed; que não havia missão

oficial nesse sentido; que quem estava realizando as adequações no prédio era

uma empresa da ASSOCIAÇÃO MARCA; que o Secretário de saúde DOMÍCIO

ARRUDA tinha conhecimento de que a MARCA estava realizando a reforma do

antigo Hospital da Unimed para funcionar o Hospital da Mulher; que acredita

que Governadora ROSALBA CIARLINI ROSADO também tinha conhecimento,

24 Fl. 1066, Anexo VI.25 Fl. 109

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pois depois que tinham iniciado várias vezes a própria depoente informava a

Governadora ROSALBA CIARLINI do andamento da obra de adequação; que

entre essas adequações foi montada uma UTI neonatal; que a depoente também

testemunhou a chegada dos equipamentos médicos e, nesse caso, constatou que a

pessoa de SEVERINA era responsável da MARCA pelo recebimento desses

equipamentos; que os equipamentos iam sendo montados à medida que a obra de

adequação também avançava; que acha que a obra somente ficou pronta às

vésperas da inauguração, alguns dias antes desse ato; que a depoente acha que

as obras de adequação começaram em janeiro de 2012;

Em verdade, a tentativa de distanciamento dos fatos da demandada DORINHA

BURLAMAQUI, presente na afirmação de que acompanhava apenas informalmente o desenrolar da

contrato verbal, é incompatível com a sua posição de Secretária Adjunta da Saúde. O mesmo se diga

em relação à Governadora ROSALBA CIARLINI, que tinha o controle de todos as fases da

implementação do Hospital da Mulher, inclusive porque era informada, passo a passo, pela

demandada DORINHA BURLAMAQUI, com quem mantém relação de confiança antiga e que

remonta ao seu governo no Município de Mossoró. A demandada DORINHA BURLAMAQUI,

realmente, asseverou:

“(...) que a depoente e o secretário DOMÍCIO ARRUDA eram os interlocutores

da Governadora ROSALBA CIARLINI para apresentar a ela as propostas, as

sugestões e as soluções para o Hospital da Mulher; que acredita que esse era o

motivo pelo qual ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA procurava a

depoente para tratar dos assuntos do Hospital da Mulher.”26

Cumpre registrar, outrossim, que o demandado DOMÍCIO ARRUDA, ao prestar

depoimento judicial, como testemunha, nos autos da Ação Penal nº 0125526.25.2012 (Operação

Assepsia)27, ao ser indagado pelo Ministério Público se teria autorizado verbalmente o início da

reforma no Hospital da UNIMED, já em janeiro de 2012, para a instalação do Hospital da Mulher,

ele declarou que a MARCA logo começou a instalação porque "a Governadora tinha garantido

que honraria os compromissos assumidos" com a MARCA.

26 Depoimento de fl. 785, V. 3.27 Depoimento no CD à fl. 871, V. 3, a partir de 26 minutos.

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As subcontratações da ASSOCIAÇÃO MARCA, justamente, desobedeceram o

regime legal a que estava submetida a organização. Nos termos do artigo 37, XXI, da Constituição

Federal, ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações

serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a

todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as

condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de

qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

As regras gerais de licitação, por sua vez, foram previstas pela Lei nº 8.666/93,

bem como pela lei nº 10.520/2002, a qual estabelece normas sobre pregão.

A utilização de procedimento licitatório significa, pois, a busca pela proposta mais

vantajosa para a Administração Pública, observando-se, dentre outros, os princípios da

impessoalidade, publicidade e moralidade administrativa.

Com relação especificamente às Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público, insta afirmar que também estão abarcadas pelo espectro de incidência das normas que

condicionam à aquisição de bens, obras, serviços e alienações ao prévio processo de licitação

quando celebram termo de parceria com o Poder Público, na medida em que passam a gerir verbas

públicas.

No âmbito federal, o Decreto nº 5.504/05 determina que os instrumentos de

parceria com as Organizações Sociais e as OSCIPs que receberem repasse de recursos

públicos da União deverão conter cláusula que determinem que as obras, compras, serviços e

alienações a serem realizadas por estes entes sejam contratados mediante pregão,

preferencialmente na modalidade eletrônica, devendo ser justificado pelo dirigente ou

autoridade competente caso seja inviável a utilização de tal forma de pregão.

Não se poderia aceitar outro entendimento que afastasse a necessidade de

realização de licitação por parte dessas entidades privadas quando firmam termo de parceria com o

Poder Público, uma vez que passarão a administrar recursos públicos em sentido estrito.

Nesse sentido já se pronunciou o Tribunal de Contas da União no Acórdão

1070/2003. Veja-se.

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“... Note-se que a entidade privada não está obrigada a firmar convênio com a

administração pública, mas ao assinar deve ter a certeza que está administrando

recursos públicos em sentido estrito e, isto é verbas incluídas em lei orçamentária,

dessa forma, deve observar rigorosamente, como todo administrador público, os

princípios que informam a gestão da coisa pública, em especial o da legalidade, sob

o ponto de vista formal e material. Não pode, por isso mesmo, dar destinação

diversa aos recursos, daquela fixada na lei orçamentária, sob pena de ser

condenado à devolução das importâncias recebidas por desvio de finalidade; não

pode, ademais, deixar de prestar contas dos recursos recebidos, por expressa

determinação constitucional; como também não pode descumprir a Lei nº

8.666/93.”

No mesmo sentido os seguintes acórdãos também do TCU:

Ementa: Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Termo de

Parceria. Terceiro Setor. Atuação do Tribunal. Limite de remuneração da

administração pública. Obrigatoriedade de aplicação das Leis nºs 8.666/93 e

10.520/2002 às OSCIPs para contratações com recursos públicos transferidos em

razão de Termo de Parceria firmado com a Administração Pública. (GRUPO II –

CLASSE V – PLENÁRIO, TC 008.011/2003-5, Data da Sessão:09/11/2005)

EMENTA: Existem direitos potestativos inseridos na Lei n.º 8.666/93 que são

competências privativas de entes que integram a administração pública, tais como:

aplicação de multas, rescisão unilateral de contratos e declaração de inidoneidade de

licitantes. Essas prerrogativas, que privilegiam o princípio da supremacia do

interesse público, não se conferem a entidades privadas. Com base nesse

entendimento, o Plenário determinou à Fundação Instituto de Hospitalidade

(OSCIP) que, quando da gestão de recursos públicos federais recebidos

mediante transferências voluntárias, observe os princípios da impessoalidade,

moralidade e economicidade, além da cotação prévia de preços no mercado

antes da celebração do contrato, de acordo com o art. 11 do Decreto nº

6.170/2007. (Acórdão n.º 114/2010-Plenário, TC-020.848/2007-2, rel. Min.

Benjamin Zymler, 03.02.2010)

Nesse passo, considerando que o compromisso assumido por meio do Termo de

Parceria implica alocar recursos públicos a uma entidade privada para a consecução de uma

atividade de interesse público, desatenderia aos princípios constitucionais da impessoalidade e da

publicidade permitir que a entidade privada, que realizará gastos os mais diversos com recursos

públicos, deixe de observar o princípio da licitação, nos termos do que estabelece o inciso XXI do

art. 37 da Constituição Federal e permitiria a malversação do dinheiro público.

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No vertente caso, após notificada pela Promotoria de Justiça de defesa da Saúde

da Comarca de Mossoró, para prestar esclarecimentos sobre a forma de aquisição de materiais e

equipamentos para o Hospital da Mulher, a Associação Marca Para Promoção de Serviços, por

meio de sua diretora, a demandada ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, informou que possui

regulamento que define os critérios e condições a serem observados pela entidade nas

compras e aquisições de quaisquer bens, na contratação de quaisquer trabalhadores e

serviços, inclusive de engenharia, alienações e locações, destinadas ao regular atendimento das

necessidades institucionais e operacionais relativas à execução do termo de parceria firmado

com o Estado do Grande do Norte (fls.1.125-1.127, Anexo IV).

Ocorre que, a despeito de o regulamento estabelecer diversas modalidades de

contratação, como a pesquisa de preços, a carta-convite, a concorrência e a concorrência especial,

todas prevendo a cotação de, no mínimo, 3 (três) propostas, o que se percebe da documentação

acostada é que, durante a execução do termo de parceria, não houve a realização de procedimento

de seleção de proposta mais vantajosa para a aquisição de produtos e serviços pela entidade.

Houve, quando muito, a apresentação de orçamento por um único fornecedor, o que nem de longe

caracteriza a existência de múltiplas propostas. A grande maioria das contratações foi realizada de

forma direta, sem qualquer pesquisa de preços (Anexos VII ao XII do Inquérito Civil).

Consoante informações prestadas pela Associação Marca, por meio de sua

Diretora Geral, a demandada ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, foi asseverado que em virtude da

situação de calamidade pública da saúde na região de Mossoró, o processo de compras teria sido

realizado “de forma mais rápida”, tendo em vista que “muitos dos equipamentos não foram

encontrados para pronta entrega” (fl. 1569, Anexo VI).

Informou, ainda, que algumas cotações de preços foram realizadas ainda em

dezembro de 2011, tendo em vista que tão logo receberam a proposta de apresentação do

modelo de gestão para o referido hospital, foi iniciado contato com os fornecedores para

levantamento de custos dos equipamentos (fl.1.569, Anexo VI)!

Realmente, consoante restou já evidenciado nesta peça, a partir da análise dos

diálogos travados entre os membros da Associação MARCA, o compromisso da Governadora

ROSALBA CIARLINI com a MARCA e seus dirigentes já havia sido firmado desde 2011, tanto

que logo em janeiro de 2012 começaram as obras para a reforma do prédio onde funcionaria

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o Hospital da Mulher, nada obstante o Termo de Parceria ter sido celebrado tão somente em 29 de

fevereiro de 2012, fato corroborado nos depoimentos já citados dos demandados DOMÍCIO

ARRUDA e MARIA DAS DORES BURLAMAQUI.

No que se refere especificamente à aquisição de materiais de construção, a

demandada ELISA ANDRADE DE ARAÚJO mencionou à fl. 1571 (Anexo VI) que todos foram

comprados no município de Mossoró, junto às empresas que previamente realizaram cadastro junto

à instituição, de modo a viabilizar pronta entrega com preço de mercado. Acrescentou, ainda, que

esta foi uma forma de valorizar o comércio local.

Em momento algum a lei de licitações dispõe que a seleção de proposta para o

Poder Público deve se pautar pela valorização do comércio local. Ao contrário, independente do

local onde sejam adquiridos produtos ou serviços, deve-se ter em mente a seleção da proposta mais

vantajosa em termos econômicos para o Poder Público.

Registre-se, ainda, que a demandada ASSOCIAÇÃO MARCA somente utilizou

esse critério de “valorização do comércio local” quando foi de sua conveniência, pois é certo que

todo o corpo médico do Hospital da Mulher é oriundo da cidade de Fortaleza/CE, por meio de

contratações a preços astronômicos, e que a maior parte dos equipamentos não foi adquirida

sequer no Estado do Rio Grande do Norte.

Ademais, conforme asseverado, o regulamento da Associação Marca dispõe sobre

a necessidade de observar as normas por meio dele instituídas também na contratação de quaisquer

trabalhadores e serviços, inclusive de engenharia, alienações e locações. Nada disso foi observado

com relação ao Hospital da Mulher, pois não houve cotação de preços para a contratação do serviço

de reforma do Hospital.

Noutro ponto, Constatou-se que o recrutamento do pessoal efetivado pela

Associação Marca, para trabalhar na unidade materno-infantil denominada Hospital da Mulher, foi

feito bem antes da assinatura do Termo de Parceria, havendo, inclusive, indicação de pessoas pelo

critério político da Secretaria Adjunta, a demandada DORINHA BURLAMAQUI.

Com efeito, consoante termo de parceria celebrado pelo Estado do Rio Grande do

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Norte com a Associação Marca Para Promoção de Serviços, em sua cláusula terceira, II, 1, foi

atribuída à OSCIP a obrigação de realizar a seleção e contratação de pessoal para laborar no

Hospital da Mulher de Mossoró.28

Ocorre que a Associação Marca começou a recrutar profissionais de diversas

áreas, DESDE O DIA 20 DE FEVEREIRO DE 2012, conforme informado pela própria

entidade EM SEU RELATÓRIO DE ATIVIDADES,29 como técnicos de enfermagem,

enfermeiros, médicos de diversas especialidades, farmacêuticos, dentre outros, tendo a escolha de

pessoal sido realizada, segundo informações prestadas por representante da OSCIP, por meio da

análise de currículos, entrevistas e realização de prova escrita.

Para esse fim, a Associação Marca Para Promoção de Serviços abriu processo

seletivo para recrutamento de pessoal no período de 20 de fevereiro de 2012 a 30 de março de

2012. E o recrutamento prévio ocorreu sob a égide da própria demandada ROSALBA

CIARLINI, ficando incumbida de selecionar os funcionários do Hospital da Mulher a pessoa

de confiança da Governadora, DORINHA BURLAMAQUI, Secretária Adjunta de Saúde, a

quem caberia a realização do filtro político das contratações, em pleno ano de eleições

municipais, como se vê no e-mail abaixo:

Resultado de reuniãoDate: 16.02.2012 14:51:34FROM: antonio carlos oliveira jr.TO: Otto Schmidt, Anselmo Carvalho, Sandro Vaz, Daniel Velazquez Teixeira, Severina Pilar, Rosi Mô, Marta, Marcio Viana Viana, Bruno Guimaraes, [email protected], Giselle Gobbi, A MarcaPessoal,Tendo em vista reunião realizada no dia de hoje para tratarmos do resumo que havia sido encaminhado via e-mail no dia de ontem, segue o desdobramento:DANIEL - 1) Ficou de encaminhar as medidas da autoclave para os rapazes da obra ainda hoje ([email protected] ou [email protected]) ;2) Ficou de verificar junto ao laboratório Núcleo condições de se estabelecer em Mossoró (falar das UTI e das análises patológicas);3) Quanto ao material de limpeza, ficou de ver com Severina e fechar a listagem para passar para o Márcio;SEVERINA - 1) Rever toda listagem de equipamentos para consertar a que esta com Rosi;MÁRCIO - 1) Ver empresa de manutenção para o foco cirúrgico existente;2) Ver empresa de limpeza da cisterna, caixa de água e exames da água;3) Ver empresa de desratização e dedetização;4) Verificar empresa de coleta de lixo hospitalar em Mossoró;BRUNO - 1) Fechar com Armando a listagem de mobiliário e repassar a lista para o Otto e Márcio;2 ) Ver como fazer CNPJ, Alvará Sanitário e Alvará de localização em Mossoró;MANINHO - 1) Fechar com D. Dorinha e Dr. Nei os nomes para seleção no dia 29/02 para os cargos de direção;Abs,

28 Vide fl. 274 , V. 1.29 Fl.3421 e 3427, Anexo XVIII.

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MANINHO

Assim, é relevante concluir que a atuação do terceiro setor, no caso concreto,

devia se dar sob o pálio da impessoalidade. Inobservada a regra do concurso público, deveria

vigorar sobretudo o critério técnico que, em tese, fez a administração agraciar a MARCA com tão

relevante contrato. Pode-se dizer, em verdade, que o contrato com qualquer OSCIP se dá intuito

personae, de modo que a suposta excelência e aptidão na prestação de serviços pressupõe um corpo

de funcionários habilitados para o mister, sem que a organização tenha que se submeter aos

caprichos de indicações políticas para qualquer cargo de suas atividades.

No tocante à execução do Termo de Parceria, melhor sorte não houve ao

combalido contribuinte potiguar. Diante da constatação de diversas ilegalidades na contratação da

Associação Marca, a 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Mossoró de Defesa da Saúde ajuizou

naquela Comarca a ação civil pública nº 0008561-37.2012.8.20.010630, em 06/06/2012, com pedido

de tutela antecipada, em desfavor do Estado do Rio Grande do Norte e da Associação Marca, com a

finalidade de anular o Termo de Parceria, modulando-se seus efeitos, para que o Estado do RN

reassumisse a prestação do serviço, convocasse e nomeasse os candidatos aprovados no último

concurso público da SESAP, dentre outros pedidos.

Após o ajuizamento da Ação Civil Pública em Mossoró, que teve o seu pedido

de tutela antecipada deferido em parte, o então Secretário de Saúde do Estado do RN Sr. Isaú

Gerino Vilela da Silva expediu a Portaria n. 334/GS/SESAP, em 05 de outubro de 2012, e formou

uma comissão interna presidida pelo servidor público Marcos Antônio Costa, que ficou responsável

pela realização de uma auditoria em relação aos contratos, atendimentos, funcionamento,

aquisições, bem como em relação a todas as obrigações estabelecidas e assumidas pelo Parceiro

Privado, conforme se vê nos considerandos da referida Portaria (fls. 375-376, V. 2).

A citada Comissão elaborou um relatório preliminar, exarado em 25 de outubro

de 2012, no qual foi constatado graves irregularidades praticadas com recursos públicos,

recomendando que o Governo do Estado não autorizasse qualquer transferência de recursos para a

Associação Marca (Anexo XVI). Cumpre informar, ainda, que cópia do citado relatório

preliminar foi encaminhado ao Tribunal de Contas deste Estado, o qual instaurou a

30 Cópias da referida ação civil pública estão nos anexos I a XV, apensos ao presente Inquérito Civil.

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Informação Seletiva e Prioritária n. 015153/2012-TC (Anexo XXI).

As ilegalidades e imoralidades de logo detectadas no Relatório Preliminar da

Auditoria Interna da SESAP foram de tamanha gravidade que o Tribunal de Contas do RN, em

decisão publicada em 30 de novembro de 2012, por unanimidade, concedeu MEDIDA

CAUTELAR para determinar a suspensão de todo e qualquer pagamento à Associação Marca

pelo Estado do RN, além de decretar a indisponibilidade do bens desta e de seus dirigentes,

dentre outras medidas (fls. 468-490, V. 2 e fls. 184-214, Anexo XXI).

Com a conclusão dos trabalhos, foi elaborado o Relatório Final pela Auditoria da

SESAP (fls. 526/745-V. 2), apontando sérias ilegalidades e prejuízo ao Erário no montante de R$

8.414.600.69 (oito milhões quatrocentos e quatorze mil, seiscentos reais e sessenta e nove

centavos). Do mesmo modo, o Corpo Técnico do Tribunal de Contas do RN emitiu Relatório

Final sobre o caso, o qual consta no CD acostado à fl. 635, V. 2. Nesse relatório, foi

quantificado dano ao Erário no valor de R$ 11.804.811,38, “cujo valor é ratificado pela

robustez e precisão das evidências cotejadas nos autos.” O dano ao Erário causado pelos

demandados será esmiuçado pormenorizadamente mais adiante.

Esse verdadeiro atentado aos Cofres Públicos ocorreu em decorrência da

conivência dos próprios agentes estatais, representados aqui pelos agentes públicos

demandados, ao direcionar a prestação do serviço e, por consequência, a utilização dos

recursos públicos pela organização MARCA e seus comparsas.

Apenas para se ter uma ideia da conivência estatal, no Termo de Parceria que

repousa às fls. 270-274 (V. 1), em sua Cláusula Terceira, item 5, já restou estabelecida a obrigação

do Estado de criação de uma Comissão de Gestão, Monitoramento e Avaliação do Termo de

Parceria, sendo obrigação da OSCIP enviar ao Parceiro Público relatório bimestral sobre as

atividades (cláusula quarta, 4.1, alínea “b”).

Apesar do Termo de Parceria nº 01/2012 ter sido celebrado em 29 de

fevereiro de 2012 , a citada comissão foi apenas nomeada pelo Estado em outubro de 2012 , ou

seja, no apagar das luzes da respectiva contratação, e teve como sua presidente a Sra. MARIA

JOSÉ FERNANDES TORRES, servidora da SESAP. Em depoimento prestado ao Ministério

Público Estadual (fls. 775, V. 3), a Sra. Maria José relatou sérias dificuldades que a referida

comissão enfrentou para ter acesso aos documentos elaborados pela Associação MARCA a fim

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de proceder a sua fiscalização, destacando, neste ínterim, atitudes negativas praticadas pela

servidora da MARCA chamada GEMMA, como também da demandada VALCINEIDE

ALVES DA CUNHA DE SOUZA, esta que, inclusive, ficou conhecida como “representante da

Governadora Rosalba Ciarlini no Hospital da Mulher.”

Essa dificuldade de fiscalização, em total afronta ao princípio constitucional

da transparência, também foi sentida de perto pela Comissão de Auditoria Interna da SESAP.

Com efeito, no dia 25 de novembro de 2012, representantes da Comissão de Auditoria da SESAP

foram ouvidos pelo Ministério Público (fls. 371-373. Volume 2). Na oportunidade narraram muitas

das ilegalidades que já foram mencionadas, ocorridas no bojo no procedimento administrativo nº

3972/2012-1. Acrescentaram que os processos de pagamento relativos à Associação MARCA não

seguiam os trâmites legais dentro da SESAP e que houve forte pressão do Estado para que fosse

liberado o primeiro empenho à MARCA, mesmo sem a devida análise do mérito pela

CONTROL. Registraram também que a comissão sofreu forte pressão por parte da demandada

VALCINEIDE ALVES31, nomeada como uma espécie de “gestora” do Hospital da Mulher pela

Governadora Rosalba Ciarlini. Vejamos alguns trechos do referido depoimento:

“Que trabalha como técnico administrativo na SESAP há três anos; que trabalha na CPCI (Comissão Permanente de Controle Interno), da SESAP/RN; que é o Presidente do Controle Interno; que foi nomeado para presidir a Comissão de Auditoria Interna da SESAP/RN, relativamente à contratação da empresa Marca para gerir o Hospital da Mulher, conforme a Portaria 334, Gabinete do Secretário/SESAP, publicada em 05/10/12 e republicada no DOE 17/10/12; que foram nomeados também Antônio Bezerra da Rocha, membro do controle interno, Francisco de Assis Paiva Filho, representante do SEA (Sistema Estadual de Auditoria), Flávio José de Andrade Rebouças, da Comissão de Gerenciamento de Contratos; Edinice Moreira de Souza, da COHUR (Coordenadoria de Hospitais e Unidade de Referência); José Antonio Lopes Barcelos, da COAD (Coordenadoria Administrativa, cargo comissionado); Valcineide Alves Cunha de Souza (gestora do Termo de Parceria celebrado com a MARCA); que com a nova publicação da Portaria saiu Valcineide, diante de sua evidente vinculação com a empresa MARCA, e ingressou Alexandre Sátiro Soares de Souza, da Comissão de Controle Interno; Alexandro Alves de Souza, representante da SEA, Maria Aparecida Cunha de Souza, assistente social, Dra. Ariluce Barbosa, médica, dentre outros elencados na Portaria 334/GS/SESAP, publicada em 17/10/12; que sua função, conforme a Portaria, é realizar uma auditoria em relação aos contratos, atendimentos, funcionamento, aquisições, bem como todas as obrigações estabelecidas pelo Termo de Parceria n. 001/2012, com poderes para solicitar os documentos necessários; que, no entanto, vem sentindo grande dificuldade em exercer a referida atividade; primeiramente porque quanto aos documentos solicitados, a MARCA encaminha cópias, muitas vezes ilegíveis, faltando documentos e com rasuras nos valores dos contratos; que nas solicitações de documentos pede-se os documentos originais, mas esses até o momento nunca foram enviados (...) que na análise do processo de pagamento e liquidação detectou várias irregularidades(...) que o processo de pagamento feito para a Marca não

31 Valcineide foi nomeada como membro da Comissão de Auditoria Interna da SESAP, na qualidade de gestora do Termo de Parceria da MARCA, conforme Portaria n. 334/GS/SESAP, de 05 de outubro de 2012 (fl. 3655 do Anexo XIX). Depois, diante da flagrante vinculação da mesma com a MARCA, foi retirada da comissão, sendo a Portaria republicada por “incorreção”. Mas Valcineide continuou nos bastidores, tentando intimidar os componentes da referida Comissão, conforme depoimento prestado perante o Ministério Público.

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seguia os trâmites legais da SESAP, posto que deveria passar pela Comissão de Controle Interno, pelo Sistema Estadual de Auditoria e pela Comissão de Gerenciamento de Contratos; mas o referido processo da MARCA saia do Gabinete do Secretário para a Coordenadoria Financeira, era realizado o pagamento, retornava ao Gabinete do Secretário para ser arquivado, sem passar pelos setores competentes (...), conforme pode ser verificado às fls. 725 , volume III, do processo administrativo 3972/12 da SESAP (...) que foi aberto um crédito suplementar especial pelo Estado para pagar a MARCA, no valor de quinze milhões, oitocentos e seis mil, cinquenta e sete reais e noventa e um centavos, conforme consta no Decreto 22575, de 02/03/12, publicado no DOE de 03/03/12, conforme se constata às fls. 306 dos referidos autos citados; que a liberação do empenho foi feito mesmo sem que a CONTROL analisasse o mérito da legalidade do pagamento, conforme fls. 313, frente e verso, onde constam despachos com ressalvas da CCI (Comissão de Controle Interno) e da CONTROL, isso para liberação do empenho; que houve muita pressão do Governo para que fosse liberado o empenho da CPCI/SESAP; no despacho de Antonio Osir Costa Filho, subcoordenador da CUFIFN/CONTROL ELE LIBERA O EMPENHO SEM ANÁLISE DO MÉRITO; que registram que a comissão sofreu muita pressão por parte de Valcineide, nomeada gestora do Hospital da Mulher pelo Governo do Estado, no sentido que a auditoria apresentasse relatório por amostragem, sem analisar todos os documentos; que Valcineide sempre falava que trabalhava para o “ casal ” , referindo-se à Governadora e seu marido, dizendo que a Governadora deveria demitir quem vazou as informações do relatório preliminar da comissão para imprensa, no afã de desestabilizar o trabalho da equipe; que sempre Valcineide tentava intervir no trabalho da comissão, querendo conduzir os trabalhos de sua forma.”

Ademais, observa-se que o processo de pagamento da MARCA foi encaminhado

para análise da Controladoria Geral do Estado em 09 de março de 2012 e, no mesmo dia, o técnico

ANTÔNIO OSIR COSTA FILHO proferiu despacho “pela liberação do empenho, “SEM O

DEVIDO EXAME DO MÉRITO POR PARTE DA CONTROL.” Ouvido perante o Ministério

Público, o Sr. Antônio Osir32 declarou:

“que é servidor do Estado do Rio Grande do Norte, da DATANORTE, redistribuído para Controladoria Geral do Estado, desde 1998, salvo engano; que na CONTROL ocupa um cargo comissionado de subcoordenador de fiscalização e finanças; que se recorda de ter chegado para análise os empenhos referentes à primeira parcela da contratação da ASSOCIAÇÃO MARCA, relativamente à gestão do hospital da mulher em Mossoró; que confirma ter exarado o despacho que consta à fl. 3261, verso (Anexo XVIII); que se recorda que os referidos empenhos chegaram da SESAP para análise da CONTROL no dia 09 de março de 2013; que se recorda que nessa data a Governadora Rosalba estava com sua comitiva em Mossoró, e foi repassado para o declarante que ela estava lá já para inaugurar o Hospital da Mulher e que esse pagamento referente à primeira parcela contratual tinha que ser feito com a máxima urgência; que diante dessa pressa, o declarante se manifestou pela liberação do pagamento, sem exame do mérito, haja vista que existia um parecer favorável da Procuradoria Geral do Estado, ratificado pelo CDE ; que não houve tempo hábil para que o declarante analisasse devidamente o processo; que o declarante ficou bastante preocupado com essa situação e informou o caso ao Controlador Geral do Estado, Dr. Francisco de Melo; que o processo voltou para a SESAP; que algum tempo depois desse fato houve várias denúncias de irregularidade na contratação da MARCA....”

32 Vide fls. 820, V. 3

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O funcionário ANTÔNIO OSIR evidenciou em seu despacho de fl. 3261-verso, a

pressão que estava sofrendo para liberar o empenho para a Associação MARCA, tanto que

registrou que liberava MAS sem a análise do mérito, isso porque a Governadora ROSALBA

CIARLINI já estava com sua comitiva em Mossoró, no dia 08 de março de 2013, preparando-se

para colher os frutos midiáticos da inauguração do “Hospital da Mulher”, na sua terra natal, no dia

internacional da mulher, e tinha que adimplir com o compromisso assumido com a organização

desde 2011, deixando claro que havia uma ordem governamental nesse sentido.

Os demandados ROSALBA CIARLINI e DOMÍCIO ARRUDA, de fato,

decidiram pela contratação direta da MARCA sob a égide dos interesses da contratada, já que foi a

empresa quem ditou todas as regras da parceria, orçando valores astronômicos e irreais em sua

planilha de custos33, para garantir o seu LUCRO, sem a realização SEQUER de uma pesquisa de

mercado. Todas as benesses ficaram para a organização privada e todas as desvantagens para

o Estado do RN e, por consequência, para a população, que teve que arcar, segundo o TCE,

danos no montante de mais de onze milhões de reais, detalhados em tópico adiante.

E foi nesse clima de pressão “de cima para baixo”, ditada pela pressa da

demandada ROSALBA CIARLINI para inaugurar o hospital no dia internacional da mulher, que

houve a liberação do primeiro empenho à MARCA, no montante de R$ 2.590.740,87 -

exatamente o valor da planilha superfaturada decidida por TUFI SOARES MERES -, lançado

em 09 de março de 2012, sem que sequer tivesse havido a devida análise de mérito pela

Controladoria do Estado.

Muito tempo depois da celebração do Termo de Parceria, quando eclodiu a

Operação Assepsia e os escândalos envolvendo a MARCA foram sendo descortinados, é que o

Estado resolveu nomear a comissão interna de Auditoria da SESAP, cujos membros relataram ao

Ministério Público o quão difícil foi executar o seu trabalho, diante de empecilhos impostos

pelo próprio Estado.

Neste sentido, um dos principais obstáculos arquitetados pela Governadora,

pessoalmente, foi a designação da demandada VALCINEIDE ALVES para supostamente “proteger

o funcionamento do HOSPITAL DA MULHER”, cuja publicação saiu no DOE de 18 de julho de

201234, pouco tempo após a deflagração da operação Assepsia.

33 Vide proposta de fl. 219, V. 1.34 Na data de 18 de julho de 2012, foi publicada no Diário Ofícial deste Estado a Portaria nº 219/GS/SESAP que designou Valcineide Alves da

Cunha de Souza para ser gestora do Termo de Parceria com a Associação MARCA para Promoção de Serviços, relativo à gestão do Hospital da Mulher em Mossoró (fl. 873 – Volume 3).

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Tal designação, travestida da criação da atividade de gestora do respectivo Termo

de Parceria, teve, na verdade, como função primordial a de atrapalhar, o quanto pôde, os trabalhos

de fiscalização da comissão de Auditoria Interna da SESAP e da própria comissão de

Monitoramento e Avaliação do Contrato de Gestão 001/2012, conforme já relatado acima,

procurando impedir o acesso à informação e mostrando-se sempre com uma postura

intimidadora, apresentando-se como a pessoa que trabalhava para o “casal”, referindo-se à

Governadora e ao seu esposo.

E como a própria demandada afirmou em seu depoimento ao Ministério

Público (CD de fl. 866, V. 3), o que ela recebeu diretamente da demandada ROSALBA

CIARLINI foi uma verdadeira “missão”, a qual cumpriu com bastante esmero e dedicação,

consoante se pode depreender dos relatos de integrantes de ambas as comissões!

Contudo, esse mesmo desempenho não foi observado em relação à específica

atividade de gestora do Termo de Parceria nº 01/2012. Ora, não obstante possuir a demandada

VALCINEIDE ALVES conhecimentos técnicos suficientes a embasar sua designação, restou

constatado pelos componentes da comissão de auditoria da SESAP que, mesmo após sua chegada à

administração do Hospital da Mulher, inúmeras impropriedades/irregularidades continuaram sendo

executadas pelo corpo técnico da Associação MARCA à frente do aludido nosocômio e que estas,

inclusive, contaram com o atesto de legítimas e legais por parte da referida servidora35.

Como se vê, ao invés de ter realizado o mister para o qual foi designada, qual seja,

“fiscalizar e atestar a efetividade da execução do contrato, bem como materializar a sua

declaração de 'Atesto' nos quantitativos e valores constantes das notas fiscais/faturas apresentadas

pela contratada, declarando sua correção, compatibilidade e vinculação ao contrato”, procedeu de

forma contrária, no sentido de “avalizar” todas as ilegalidades cometidas pela Associação MARCA

por meio dos seus atestos, ocultando-as, desta forma, tanto de seus superiores quanto dos demais

órgãos de fiscalização, como é o caso do Ministério Público, em franca contraposição ao que prevê

o artigo 13 da Lei nº 9.790/99.

Destarte, revela-se flagrante que a demandada VALCINEIDE ALVES foi mais

uma na condição de servidora pública deste Estado partícipe dos desmandos ocorridos durante a

execução do Termo de Parceria nº 01/2012, agindo dolosamente de modo a obstar o trabalho

35 Vide documento às fls. 3399/3404 do Anexo XV e trecho constante no relatório às fls. 596/597 – Volume 2.

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daqueles que se propunham a fiscalizar. E pior: seu agir decorreu de “missão” pessoalmente dada

pela demandada ROSALBA CIARLINI.

Entrementes, mesmo com a imposição de tantos obstáculos por parte do Estado e

seus agentes, a Comissão da SESAP conseguiu concluir o seu relatório preliminar, já constatando

naquela oportunidade um dano ao erário no valor de R$ 3.160.474,93 (três milhões, cento e sessenta

mil, quatrocentos e setenta e quatro reais e noventa e três centavos).

Posteriormente, após a realização de vistoria in loco em Mossoró, a Auditoria

Interna da SESAP elaborou o Relatório Conclusivo que consta às fls. 524-600, V. 1, apontando um

dano ao Erário na cifra de R$ 8.414.600,69 (oito milhões, quatrocentos e catorze mil, seiscentos

reais e sessenta e nove centavos).

Ocorre que o trabalho da Comissão Interna de Auditoria da SESAP incomodou e

muito o Governo deste Estado. Tanto que os servidores MARCOS ANTONIO COSTA, que presidiu

a referida comissão, bem como ANTONIO BEZERRA DA ROCHA, que a compôs, ambos como

representantes da Comissão de Controle Interno da SESAP (vide portaria de fls. 375-374, V.2),

foram exonerados da Comissão de Controle Interno da SESAP (CCI), da qual faziam parte há

anos, mediante a publicação da Portaria n. 161/2013, publicada no DOE no dia 20/04/2013, sem

que lhes fosse dada a menor explicação, em uma nítida atitude de retaliação por parte do

Governo deste Estado. Esse quadro está bem retratado no seguinte depoimento:

“Que são funcionários públicos efetivos do Estado do RN, lotados na SESAP; que foram nomeados para atuarem na CPCI (Comissão Permanente de Controle Interno), da SESAP/RN; que o Sr. Antônio Bezerra atuava na comissão há cerca de dezenove anos, desde 04/05/94; que o Sr. MARCOS atua na CPCI desde fevereiro de 2010; que foram nomeados também para participarem da Comissão de Auditoria Interna da SESAP/RN, relativamente à contratação da empresa Marca para gerir o Hospital da Mulher, conforme a Portaria 334, Gabinete do Secretário/SESAP, publicada em 05/10/12 e republicada no DOE 17/10/12; que estavam exercendo suas funções normalmente, quando foram chamados pela Sra. Catarina Lins, assessora do Gabinete do Secretário de Saúde do Estado do RN, no dia 18/04/2013, por volta das 11hs, a qual lhes afirmou que ambos seriam exonerados da CPCI, em decorrência “do vazamento do relatório do hospital da mulher”, segundo palavras dela; que estavam na sala apenas os declarantes e a Sra. Kátia; que ficou claro para os declarantes se tratar de uma retaliação do Governo do RN em decorrência da atuação dos declarantes de fiscalizarem com retidão a gestão do hospital da mulher de Mossoró; que o Sr. Antônio indagou se seria colocado por escrito o motivo dessa exoneração; que a Sra. Catarina declarou que não seria colocado por escrito a motivação do ato; que no dia 20/04/13 os declarantes foram surpreendidos com uma publicação no DOE/RN, qual seja a Portaria 161/2013, exonerando os declarantes da Comissão; que a publicação foi feita de modo bastante sutil, em meio a inúmeras outras Portarias, a fim de “recompor a composição da Comissão de Controle Interno”, sem nenhuma fundamentação; que sempre exerceram com zelo suas funções, e estão se sentindo perseguidos pelo

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Governo do Estado do RN. ” 36

Ocorre que nada obstante tal retaliação, o árduo trabalho feito pela Comissão de

Auditoria Interna da SESAP já cumprira o seu papel, descortinando o verdadeiro desfalque nos

cofres públicos deste Estado, fruto da contratação vergonhosa da organização MARCA.

E o trabalho iniciado pela Comissão de Auditoria Interna da SESAP foi ainda

mais burilado pelo Corpo Técnico da Diretoria de Controle Externo do Tribunal de Contas do RN, o

qual quantificou o dano ao erário estadual no montante de R$ 11.804.811,38 (onze milhões,

oitocentos e quatro mil, oitocentos e onze reais e trinta e oito centavos), “ratificado pela

robustez e precisão das evidências cotejadas nos autos.”37

No item seguinte, serão esmiuçadas as despesas ilegais apresentadas pela

MARCA em sua prestação de contas, que permitiram quantificar o dano ao erário no valor acima

descrito.

I.D. OS FATOS: O DANO AO ERÁRIO CONTABILIZADO PELO TRIBUNAL DE

CONTAS DO ESTADO E PELA COMISSÃO DE AUDITORIA INTERNA DA SESAP.

SERVIÇOS SUPERFATURADOS, NOTAS FISCAIS FRIAS, SERVIÇOS NÃO

REALIZADOS, EQUIPAMENTOS INEXISTENTES, COMISSÃO, PREVISÃO DE

LUCRO, “ TAXA DE RETORNO PARA A ADMINISTRAÇÃO” E OUTRAS FORMAS DE

DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS OBSERVADOS NA EXECUÇÃO DO CONTRATO.

I .D.1) DA AUDITORIA INTERNA DA SESAP:

Conforme já referido anteriormente, a Comissão de Auditoria Interna da

SESAP produziu um Relatório Preliminar de Auditoria38, em 31 de outubro de 2012, no qual já

se evidenciavam inúmeras ilegalidades praticadas pela demandada Associação MARCA na

execução do Termo de Parceria nº 001/2012.

No citado Relatório39, a Comissão explicitou a dificuldade que estava

encontrando para realizar a sua fiscalização por empecilhos postos por outros órgãos da

36 Vide depoimento que consta à fl. 625, V. 2.37 Vide Relatório Final do Corpo Técnico, no CD acostado à fl. 635, V. 138 Vide Relatório Preliminar da Comissão de Auditoria Interna da SESAP, acostado ao Anexo XVI.39 Vide Relatório, fls. 2918, Anexo XVI

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Administração Direta e pela Associação MARCA, haja vista que a própria Controladoria Geral

do Estado estava se negando a disponibilizar os dados colhidos no Relatório de Auditoria

Extraordinária formulado pelos técnicos da CONTROL.

Além disso, na análise do Processo de Prestação de Contas nº 136.410/2012-2,

bem como do Processo de Prestação de Contas nº 486.630/2012-4, a Comissão detectou que a

demandada MARCA juntou cópias de documentos sem a devida autenticação, sem numeração, sem

observância à ordem cronológica dos fatos, além de não terem sido juntados aos autos documentos

fundamentais à análise pela Comissão, como por exemplo o Relatório da Execução Físico-

Financeira da aplicação de todos os recursos previstos no Termo de Parceria 001/2012.

Nada obstante, a Comissão da SESAP, com base nos elementos que lhe foram

disponibilizados, já detectou uma série de ilegalidades, os quais foram detalhados no citado

Relatório Preliminar, por exemplo:

Ilegalidades na planilha financeira40 apresentada pela Associação MARCA,

com previsão de custos mensais irreais. Por exemplo, no item 1.4 foi previsto o item “Reserva

Técnica” no valor de R$ 8.901,09, quando a Portaria Interministerial/CGU/MF/MP 507/201141, em

seu art. 52, inciso I, veda a realização de despesas a título de taxa de administração, de gerência ou

similar, EXATAMENTE PORQUE SE ESTÁ, EM TESE, DIANTE DE ENTIDADE SEM

FINS LUCRATIVOS;

Previsão do custo “1.5- Encargos trabalhistas”, no valor mensal de R$

734.372,87, de forma generalizada, quando a Associação MARCA é beneficiária de imunidade

junto ao INSS, restando para a entidade apenas o custo de FGTS;

Previsão do item 1.7 “seguro de vida”, item não localizado nos autos;

Repasses financeiros para a MARCA, que, até o período de 24/10/2012, já

alcançavam o valor de R$ 18.396.528,78 (dezoito milhões, trezentos e noventa e seis mil,

quinhentos e vinte e oito reais e setenta e oito centavos), sem a devida análise de mérito por parte

da Comissão de Controle Interno – CPCI/SESAP, órgão interno de controle e responsável pela

chancela formalística da despesa pública no âmbito da pasta respectiva;

Custo médio da folha de pagamento de pessoal do Hospital da Mulher,

“gerenciado” pela Entidade “Núcleo de Saúde e Ação Social- SALUTE SOCIALE, para o período

de março de 2012 a junho de 2012, de aproximadamente R$ 326.000,00, enquanto que os repasses

40 Vide Anexo IV Planilha Financeira proposta pela Associação Marca para a gestão do Hospital da mulher, às fls. 3216, Anexo XVII.41 Portaria que regula os convênios, contratos de repasse e os termos de cooperação celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública

Federal com órgãos e entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos para a execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco, que envolvam a transferência de recursos públicos.

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da MARCA para a SALUTE SOCIALE só no mês de abril somou a importância de R$

2.406.583,06 (dois milhões, quatrocentos e seis mil, quinhentos e oitenta e três reais e seis

centavos);

Dificuldade de acesso às informações;

Realização de contrato denominado erroneamente de “Convênio” entre

a MARCA e a SALUTE SOCIALE42, “visando cooperação técnica para gestão e execução do

Termo de Parceria n. 001/2012", celebrado em 16 de fevereiro de 2012, portanto bem antes da

formalização do Termo de Parceria, em 29/02/2012!!

Realização de despesas ilegais em data anterior à celebração do Termo

de Parceria (como, por exemplo, toda a despesa para a reforma do antigo Hospital da UNIMED e

funcionamento do Hospital da Mulher, por meio de contrato com a empresa The Wall Construções e

Serviços Ltda.; contrato de aluguel com a empresa UNICÁDIO, cujo objeto era a locação de um

imóvel onde funcionaria o referido Hospital);

Identificação, já naquele momento, de um dano ao erário no montante

de R$ 3.160.474,93 (três milhões, cento e sessenta mil, quatrocentos e setenta e quatro reais e

noventa e três centavos) .

Após aprofundar a análise do caso, a Comissão de Auditoria Interna da SESAP

produziu o seu relatório final.43

No citado Relatório, a Comissão iniciou por apontar as despesas ilegais

realizadas pela Associação MARCA, antes mesmo da assinatura do Termo de Parceria nº

001/2012, em 29/02/12, já mencionadas no tópico anterior.

Com efeito, pontuou que a Associação MARCA já celebrava contratos com outras

empresas, em 01/02/2012, realizando despesas sem qualquer lastro legal, à guisa de promover a

inauguração do Hospital da Mulher, a saber:

Contrato de aluguel44 celebrado pela Associação MARCA, por meio de sua

Diretora Geral a demandada ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, com a empresa "UNICÁDIO -

URGÊNCIAS CARDIOLÓGICAS LTDA", cujo objeto era a locação de um imóvel para a

instalação do Hospital da Mulher, com duração de 07 (sete) meses, iniciando-se no dia 01 de

fevereiro de 2012 e término dia 01 de setembro de 2012, no valor mensal de R$ 45.000,00

42 Vide “Convênio” celebrado entre a Associação MARCA e a SALUTE SOCIALE, às fls. 3714-3719, Anexo XX.43 Vide relatório acostado às fls. 524-600, V. 244 Fls. 3858-3863, Anexo XX.

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(quarenta e cinco mil reais);

Contrato, denominado erroneamente de "Convênio", celebrado pela

Associação MARCA, por meio de sua Diretora Geral ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, com a

empresa "NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL SALUTE SOCIALE, representado por

seu diretor-presidente o ora demandado Sady Paulo Soares Kapps, cujo objeto era a

"cooperação técnica para seleção, treinamento, provimento e gestão de recursos profissionais,

visando a realização das atividades necessárias para a prestação de serviços de gerência do

Hospital da Mulher Parteira Maria Correia". Na cláusula 5ª do referido instrumento lê-se que "o

valor global determinado para a execução desse CONVÊNIO será aquele estabelecido no Termo de

Parceria celebrado entre a CONCEDENTE e o Estado do Rio Grande do Norte, especificamente nas

rubricas orçamentárias destinadas a despesas com recursos humanos e seus encargos."45

Contrato46 celebrado pela Associação MARCA, por meio de sua Diretora

Geral Elisa Andrade de Araújo, com a empresa The Wall Construções e Serviços LTDA, cujo

objeto foi a "prestação de serviços especializados para a reforma, adequação e supervisão da obra a

ser realizada no Hospital Estadual da Mulher, localizado no Município de Mossoró/RN, a fim de

atender ao Termo de Parceria nº 001/2012-SES/RN, firmado entre o contratante e o Governo do

Estado do Rio Grande do Norte", no valor global de R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais).

Interessante é que nesse último contrato, celebrado com a empresa The Wall

Construções em 01/02/12 , chegou-se ao cúmulo de já mencionar o Termo de Parceria nº 001/2012,

quando, a rigor, esse sequer existia formalmente, haja vista que foi celebrado em 29/02/2012. Esse

fato evidencia o conluio que gerou o termo de parceria, englobando até mesmo a empresa que iria

promover a adequação do prédio onde funcionaria o Hospital.

Continuando a análise do Relatório conclusivo da Auditoria Interna da SESAP,

nele também se fez menção ao contrato celebrado em 29/02/2012, curiosamente na mesma data da

assinatura do Termo de Parceria nº 001/12, pela Associação MARCA, por meio de sua Diretora

Geral ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, com a Empresa OLIVAS PLANEJAMENTO

ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA, representada no ato pela demandada ROSIMAR

GOMES BRAVO E OLIVEIRA (ROSE BRAVO), com o vago objeto de "prestação de serviços

de assessoria, consultoria, implantação, acompanhamento, controle e apoio a gestão do

Hospital da Mulher Parteira Maria Correia-Mossoró, RN, com vigência por seis meses, cujo

valor mensal foi de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais).

45 Fls. 3714-3720, Anexo XX46 Fls. 1231-1237, Anexo IV.

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Convém lembrar que Rose Bravo é sócia de fato da MARCA e foi uma espécie de

"representante executiva da MARCA" para instalar o Hospital da Mulher em Mossoró,

segundo relatado pelo próprio demandado o Secretário Estadual Domício Arruda47. Ou seja,

trocando em miúdos, a demandada Rose Bravo celebrou um contrato consigo mesma, visando

receber a vultosa quantia de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) mensais, para a prestação de serviço

incompreensível, de tão vago que se apresenta, cuja realização não foi comprovada pelos

demandados, conforme a seguir será melhor detalhado, ao analisar o relatório do Corpo Técnico do

TCE/RN. E esse foi apenas mais um capítulo da série de apropriações de dinheiro público promovi-

das pelos demandados.

Outrossim, passou o Relatório de Auditoria da SESAP à análise da gestão e

execução do Hospital da Mulher. Para tanto, teve por base levantamento feito por Técnicos do

Sistema Estadual de Auditoria SEA/SESAP/RN.

Nesse campo, o relatório citou uma série de várias irregularidades na gestão do

Hospital da Mulher, no período da gestão efetuada pela Associação MARCA, refletindo total

desleixo com o trato da saúde pública. Como exemplo, convém citar os principais pontos apontados

pelos Técnicos do Sistema Estadual de Auditoria SEA/SESAP/RN:

Inexistência de alvará sanitário;

Não foram entregues os documentos dos profissionais que compunham a

equipe técnica;

Documentos entregues na forma de cópias, gerando dúvidas sobre sua

autenticidade;

Notas fiscais em forma de cópias;

A UTI Adulto não possuía alvará sanitário, apenas o número de protocolo

vencido em 16/05/2012, do mesmo modo a UCI (unidade de cuidados intermediários) e a UTI

NEONATAL, sendo que essas duas últimas também não estavam de acordo com a RDC nº 50 da

ANVISA48;

O setor de farmácia também não possuía alvará sanitário, apenas o número de

protocolo vencido em 16/05/2012, e as compras eram realizadas por cotação simples, sem

observar o procedimento licitatório, além do que também não estava de acordo com a RDC nº

50, da ANVISA;

47 Vide depoimento judicial prestado por Domício Arruda nos autos do processo criminal n. 0125526.25.2012, no CD acostado à fl. 871, v. 3.48

Dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde.

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Quanto ao Setor de Nutrição, as refeições para funcionário e acompanhantes

eram terceirizadas à empresa Meio-Dia refeições, sendo que não foi disponibilizado o alvará

sanitário da mesma, não sendo informada a forma de aquisição de gêneros alimentícios para a

feitura das refeições, confeccionadas na cozinha do hospital;

O Hospital não possuía lavanderia, sendo que a demanda era recebida pelo

Hospital Regional Tarcísio Maia, existindo um "contrato de permissão" celebrado entre o Hospital

Tarcísio Maia e a Associação MARCA, para tal fim49;

O transporte das roupas era feito em um carro comum, sem nenhuma licença

da vigilância sanitária, sendo que o mesmo carro que levava a roupa suja trazia a roupa limpa;

O material utilizado para a lavagem era do Hospital Tarcísio Maia;

As funcionárias do Hospital da Mulher se alimentavam no Tarcísio Maia;

Não existia a atuação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

(CCIH), sendo que essa só passou a existir após a ocorrência de 05 (cinco) óbitos neo natal em maio

de 2012;

A área de esterilização estava em desacordo com a RDC/ANVISA nº 50; os

funcionários transitavam da área suja para a área limpa e os Equipamentos de Proteção Individual

eram de uso compartilhado;

Quanto à sala de parto, também em desacordo com a RDC/ANVISA nº 50,

sendo que o ambiente era compartilhado para a realização de parto normal e curetagem;

O Centro Cirúrgico/Obstétrico também em desacordo com a RDC/ANVISA

nº 50, estando o registro de nascidos vivos incompleto;

O Laboratório de Análises Clínicas não apresentou alvará sanitário, tampouco

o contrato celebrado observou a Lei de Licitações;

Várias irregularidades na alimentação do SIH (Sistema de Informação

Hospitalar)50 e do CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde);

No período de março a setembro de 2012 houve 179 AIHs (Autorização de

Internação Hospitalares) rejeitadas, por diversos motivos, tais como: profissional não cadastrado no

CNES; AIH com duplicidade; erro de faturamento no número de diárias do acompanhante, dentre

outros;

Deixaram de ser processadas 157 AIH's no citado período, por diversas falhas

no faturamento, como por exemplo diversas AIH's sem espelho, provavelmente não enviadas;

Segundo o relatório da SESAP, em decorrência das falhas no processamento

dessas 336 AIH's, no período entre março a setembro de 2012, o Fundo Estadual de Saúde deixou

49 Fls. 3866-3870, Anexo XX.50

Sistema que visa, dentre outros pontos, garantir maior autonomia ao gestor local no processamento das informações relativas a internações hospitalares, desde o cadastramento até o pagamento das Autorizações de Internação Hospitalares - AIH em cada competência.

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de captar o montante relativo a R$ 139.584,48 (cento e trinta e nove mil, quinhentos e oitenta e

quatro reais e quarenta e oito centavos);

O percentual de cesáreas, em relação aos partos normais, foi bem acima do

estabelecido pelo Ministério da Saúde, verificando-se que não houve uma política programada de

incentivo ao parto normal humanizado;51

Quantidade expressiva de Atendimentos em clínica médica que não eram da

especialidade do Hospital da Mulher, registrando-se queda nos atendimentos de obstetrícia e

pediatria;

Os leitos de UTI somente foram habilitados em outubro de 2012, deixando o

valor gerado em diárias de UTI sem o pagamento devido pelo Ministério da Saúde, devido à falta de

cadastramento do Hospital da Mulher no CNES. Pontuou o Relatório que o Estado deixou de

receber, no período, aproximadamente R$ 86.000,00 (oitenta e seis mil reais) por mês pela

utilização dos leitos de UTI Neo Natal e R$ 110.00,00 (cento e dez mil reais) por mês para os leitos

de UTI adulto.52

Após a análise das irregularidades na gestão e execução do Hospital da Mulher,

passou o Relatório da SESAP a analisar as ilegalidades efetuadas nos contratos celebrados entre a

Associação MARCA e os terceirizados. Eis os principais pontos identificados:

Os contratos celebrados pela Associação MARCA na gestão do Hospital da

Mulher não observaram os ditames da lei de licitações;

Os contratos apresentados foram todos na forma de cópias, muitas

apresentadas com rasuras, e não havia ninguém responsável pela fiscalização desses contratos, para

dar parecer e atestar a efetiva prestação do serviço;

Contrato com a empresa ADVENTUS GROUP, com o objeto de prestação

de serviço de assessoria em gestão de saúde, nas especialidades médicas de Ginecologia, Obstetrícia

e Anestesiologia, em atendimento às demandas pré-agendadas, fixando o valor em R$ 60.000,00

(sessenta mil reais) por mês (para um período de 03 meses e 05 dias), sendo o valor total do

contrato R$ 190.000,00 (cento e noventa mil reais), sendo que o valor a ser pago é fixo, havendo

ou não procedimentos!53

Contrato de prestação de serviços de laboratório de análises clínicas para

atendimento no Hospital da Mulher, celebrado entre a Associação MARCA e o Laboratório Zona

Sul Ltda ME. Nesse caso, a cláusula referente ao valor encontra-se rasurada, estimando um valor

51 Vide fl. 570, v.2.52 Vide Relatório, fls. 565, v. 2.53 Vide contrato de fls. 3752-3760, Anexo XX.

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global de R$ 180.000,00 (cento e oitenta mil reais), porém, entre parênteses, está escrito por extenso

duzentos e quarenta e seis mil reais;54

Aquisição de insumos e equipamentos para a manutenção e funcionamento

do Hospital da Mulher de forma direta, sem observar a Lei de Licitações;

A produção da Unidade Hospitalar foi toda custeada pelo Orçamento Geral

do Estado (OGE), quando havia a possibilidade de contrapartida pelo Fundo Nacional de Saúde,

porém essa forma de retorno financeiro para o hospital não fora utilizada, causando danos ao Erário

Estadual55;

O Estado possuía mão de obra qualificada para atuação dentro do hospital da

mulher, mas a Associação MARCA procedeu a contratações diretas, em desrespeito ao concurso

público em aberto para convocação (Edital 001/2010 SEARH, cujo resultado foi homologado em

24/06/2010 e publicado em 26/06/2010).56

"A gestão da OSCIP se mostrou ineficaz e antieconômica para administração

do Hospital da Mulher";57

Os objetos dos contratos não estão definidos de forma clara;

Falta de publicação em meio próprio dos instrumentos denominados

"contrato", para conhecimento da sociedade e dos órgãos de controle e fiscalização.

Relativamente à aplicação dos recursos, o relatório da SESAP rememorou as

ilegalidades já apontadas no relatório preliminar, com alguns acréscimos, por exemplo:

O custo efetivo da folha de pagamento do pessoal do Hospital da Mulher,

"gerenciado" pela entidade Núcleo de Saúde e Ação Social - SALUTE SOCIALE, para o período de

março de 2012 a setembro de 2012 foi o correspondente a um montante de R$ 2.538.098,68 (dois

milhões, quinhentos e trinta e oito mil, noventa e oito mil e sessenta e oito centavos) mensais; já os

repasses dos valore transferidos à referida entidade (SALUTE SOCIALE), para o período de março

de 2012 a outubro de 2012 foi de R$ 5.745.954,86 (cinco milhões, setecentos e quarenta e cinco

mil, novecentos e cinquenta e quatro reais e oitenta e seis centavos), restando evidenciada uma

diferença no período de março a setembro de R$ 2.387.0006,00 (dois milhões, trezentos e oitenta e

sete mil e seis centavos) conforme detalhado no relatório58;

Na análise da prestação de contas, foi constatada a transferência de recursos

financeiros entre contas da Associação MARCA, no total de R$ 1.761.584,12 (um milhão,

54 Vide contrato fls. 3784-3792, Anexo XX.55 Fls. 570, v. 2.56 Fls. 572, v. 2.57 Fls. 572, v.2.58 Vide fls. 585 e 586, v. 2.

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setecentos e sessenta e um mil, quinhentos e oitenta e quatro reais e doze centavos), sem a devida

comprovação de que foi empregada corretamente dentro do objeto do termo de pareceria;59

Foi detectada a realização de despesas anteriores à vigência do Termo de Parceria

001/2012, portanto de forma ilegal, no total de R$ 758.379,68 (setecentos e cinquenta e oito mil,

trezentos e setenta e nove reais e sessenta e oito centavos), conforme consta na prestação de

contas da entidade n. 136410/2012-2, v.I, fl.05;60

Realização de despesas fora do objeto do Termo de Parceria, relativas a "PIS

DEPÓSITO JUDICIAL", no total de R$ 353.187.86,00 (trezentos e cinquenta e três mil, cento e

oitenta e sete reais e oitenta e seis centavos);61

Despesas de natureza particular, fora do objeto do Termo de Parceria, como

pagamentos para a CAERN, relativas à residência de JAILMA GOMES DE SOUSA CARVALHO,

bem como pagamentos de contas de telefone da CLARO, em nome de BRUNO TOURINHO

GUIMARÃES CORREA, sócio da ASSOCIAÇÃO MARCA, no total de R$ 1.788,17 (hum mil

reais, setecentos e oitenta e oito reais e dezessete centavos); 62

Despesas de vários particulares, pagas por meio de CUPOM FISCAL, ora em

dinheiro, ora em cartão de crédito (despesas em shopping, com lanches, refeições, postos de

combustível, dentre outras), no total de R$ 6.931,42 (seis mil, novecentos e trinta e um reais e

quarenta e dois centavos);63

O contrato com a empresa THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA

foi celebrado com o valor global de R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais), para a realização de

reformas nas instalações do Hospital Estadual da Mulher, porém foram encontrados pagamentos à

empresa no valor de R$ 155.697,62 (cento e cinquenta e cinco mil, seiscentos e noventa e sete reais

e sessenta e dois centavos), conforme consta nas notas fiscais que estão no processo n.

600838/2012-8, v. I, folhas 94 a 160;64

Foi realizado contrato com a empresa OLIVAS PLANEJAMENTO E

ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA65, para a qual a MARCA repassou o valor de R$

420.000,00 (quatrocentos e vinte mil reais), para "a prestação de serviços de assessoria,

consultoria, implantação, acompanhamento, controle e apoio a gestão do Hospital da Mulher",

sendo que os auditores não encontraram um relatório sequer apresentado pelos tais

CONSULTORES da OLIVAS.

Relativamente ao FGTS, foi constatado que a MARCA anexou na prestação de

59 Vide fls. 587-588, v. 2.60 Fls. 588, v. 2.61 Fls. 588-589, v. 2.62 Fls. 589, v. 2.63 Fls. 589 a 592, v.2.64 Fls. 593, v. 2.65 Fls. 594, v.2.

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contas o comprovante de recolhimento correspondente à totalidade dos seus funcionários, sem

fazer a devida alocação dos funcionários por tomador de serviço, que no caso seriam aqueles

alocados em decorrência do Termo de Parceria 001/2012, o que representou uma diferença de

R$ 3.707.561,25 (três milhões, setecentos e sete mil, quinhentos e sessenta e um reais e vinte e

cinco centavos).66

Diante de tudo isso, o relatório concluiu que os repasses feitos pela SESAP/RN

para a MARCA não percorreram os trâmites legais ordinários, pois não passavam pelos órgãos de

controle e fiscalização da própria SESAP;67

A demandada VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE SOUZA, a qual foi

nomeada pela demandada ROSALBA CIARLINI como gestora do Termo de Parceria, por meio da

Portaria 219/GS/SESAP, de 17/07/2012, com atribuição para "fiscalizar e atestar a efetividade da

execução dos contratos", mas nada disso foi feito, sendo que a MARCA nunca sequer apresentou os

extratos da conta de aplicação financeira dos recursos recebidos;68

O Estado do Rio Grande do Norte foi totalmente omisso em acompanhar a

execução do Termo de Parceria69, posto que sequer nomeou no tempo devido a Comissão de Gestão,

Monitoramento e Avaliação do Termo de Parceria, de que tratava a cláusula 3ª, alínea 5, do referido

termo, a qual, registre-se, apenas foi nomeada em outubro de 2012. Convém rememorar que

segundo a Presidente dessa comissão, a requerida VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE SOUZA

ainda dificultou o serviço da comissão, impedindo o acesso a documentos, dizendo-se

representante do Governo dentro do Hospital da Mulher;70

Analisando todas as ilegalidades cometidas na contratação e gestão do Hospital da

Mulher, a auditoria interna da SESAP concluiu pela existência de dano ao erário, estimado em

R$ 8.414.600,69 (oito milhões, quatrocentos e catorze mil, seiscentos reais e sessenta e nove

centavos)71, pugnando pela devida restituição desse valor aos cofres públicos, sugerindo a remessa

do relatório ao Ministério Público Estadual, Controladoria Geral do Estado e Tribunal de Contas do

RN.

Relativamente à Controladoria Geral do Estado, essa elaborou dois relatórios,

cujas conclusões foram basicamente as mesmas das que já haviam sido realizadas pela auditoria

interna da SESAP, razão pela qual se torna desnecessário transcrevê-los.72

66 Fls. 595-596, v.267 Fl. 596, v.2.68 Fl. 596, v.269 fL. 596, V.270 Vide depoimento de MARIA JOSÉ FERNANDES TORRES, à fl. 775, v.3.71 Fls. 598. v. 2.72 Vide o primeiro "Relatório Final" da CONTROL às fls. 3699-3713, Anexo XX, de 30 de agosto de 2012, bem como o Relatório Final de

Auditoria, às fls. 679-706, v. 2, de 21 de março de 2013, encaminhado a esta PGJ pelo Secretário Adjunto da CONTROL em 23/09/2013.

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Desta feita, o citado Relatório foi encaminhado também ao Tribunal de Contas do

Estado, gerando uma análise mais detalhada por parte da citada Corte, por intermédio dos técnicos

da Diretoria de Administração Direta – DAD, cujos resultados e conclusões serão detalhadas a

seguir.

I.D. 2) DO RELATÓRIO DO CORPO TÉCNICO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTA -

DO .

O Tribunal de Contas deste Estado, por parte de seu Corpo Técnico, debruçou-se

sobre a prestação de contas da Associação Marca, relativamente à sua contratação bem como sobre

a execução do Termo de Parceria nº 001/2012. A análise técnica do TCE/RN detectou que a

aventura do terceiro setor na saúde pública estadual foi permeada de ilegalidades tamanhas que

redundou aos cofres públicos um dano ao erário estimado na cifra de R$ 11.827.563,84 (onze

milhões, oitocentos e vinte e sete mil, quinhentos e sessenta e três reais e setenta e quatro

centavos), conforme pontou a Informação n.º 326/2013-DAD, da Diretoria de Controle Externo

do Tribunal de Contas do RN, inserta no processo n.º 15153/2012-TC.73

O Corpo Técnico do TCE constatou, em suma, que a Associação MARCA,

juntamente com as empresas Núcleo de Saúde e Ação Social - SALUTE SOCIALE (responsável

pelo gerenciamento dos recursos humanos do Hospital da Mulher), a Health Solutions Ltda

(empresa responsável pelo sistema de informação hospitalar) e a Olivas Planejamento, Assessoria

e Serviços S/C Ltda – ME (empresa responsável pela assessoria e consultoria no projeto Hospital

da Mulher Mossoró/RN, tendo como sócia gerente a demandada ROSIMAR GOMES BRAVO E

OLIVEIRA), operaram verdadeiro esquema criminoso na saúde pública estadual, com a finalidade

de desviar recursos públicos, por meio dos mais diversos artifícios, sendo o principal modus

operandi a apresentação de notas fiscais sem a devida comprovação da efetiva prestação dos

serviços.

A seguir, passar-se-á a apontar cada uma das ilegalidades praticadas pelos

demandados que causaram o supracitado dano ao erário, conforme análise do corpo técnico

do TCE.

73 Vide Informação Técnica do TCE que consta no CD de fl. 635, v. 2.

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DA ILEGITIMIDADE DAS DESPESAS RELATIVAS ÀS PRESTAÇÕES DE CONTAS DO

TERMO DE PARCERIA Nº 001/2012.

DA OMISSÃO NO DEVER DE PRESTAR CONTAS

Segundo apurou o Corpo Técnico do TCE, no período compreendido de

22/3/2012 a 15/10/2012, a Secretaria de Estado da Saúde do RN repassou, por intermédio do

FUSERN, o montante de R$ 18.396.798,78 (dezoito milhões, trezentos e noventa e seis mil,

setecentos e noventa e oito reis e setenta e oito centavos) à Associação MARCA para Promoção

de Serviços.

Do total repassado, R$ 15.544.445,22 (quinze milhões, quinhentos e quarenta e

quatro mil, quatrocentos e quarenta e cinco reais e vinte e dois centavos) foram destinados para o

gerenciamento mensal da unidade hospitalar, sendo esses recursos transferidos por meio de seis

repasses mensais no valor de R$ 2.590.740,87 (dois milhões, quinhentos e noventa mil, setecentos e

quarenta mil e oitenta e sete centavos). O restante dos recursos foi transferido em 10/4/2012

mediante três parcelas fixas de R$ 2.543.515,00 (dois milhões, quinhentos e quarenta e três mil e

quinhentos e quinze reais); R$ 218.838,56 (duzentos e dezoito mil, oitocentos e trinta e oito reais e

cinquenta e seis centavos) e R$ 90.000,00 (noventa mil reais), destinados respectivamente a

compra de equipamentos e mobiliários hospitalares, custear a obra de readaptação predial e

implementar o sistema de climatização do Hospital da Mulher, nos termos da cláusula quinta

do TP nº 001/2012, conforme tabela do SIAF/RN que consta à fl. 43 da Informação Técnica do

TCE nº 326/2013.74

Ocorre que a Associação MARCA somente apresentou documentação relativa

a despesas no valor de R$ 18.281.424,86 (dezoito milhões, duzentos e oitenta e um mil,

quatrocentos e quarenta e quatro mil reais e oitenta e seis centavos), conforme Tabela 2, fl. 44, da

Informação Técnica. Assim, não houve comprovação de despesas no montante de R$ 115.373,92

(cento e quinze mil, trezentos e setenta e três reais e noventa e dois centavos), conforme aferiu o

Corpo Técnico, a partir da análise dos volumes 5 ao 19 do TP nº 001/2012.

E ao agir assim, a demandada Associação MARCA contrariou o art. 70, parágrafo

74 Vide Informação Técnica do TCE que consta no CD de fl. 635, v. 2.

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único, da Constituição Federal, o qual determina que prestem contas todas as pessoas físicas ou

jurídicas, públicas ou privadas, que utilizem bens e dinheiros públicos, bem como o art. 4º, inciso

VII, “d”, da Lei Federal nº 9.790/1999, o qual rememora a obrigatoriedade da prestação de contas

pela entidade parceira de todos os recursos e bens de origem pública.

A referida conduta violou os princípios basilares da Administração Pública,

esculpidos no art. 37, caput, da Constituição Federal, mais notadamente o da legalidade estrita,

publicidade, moralidade e transparência da Administração, restando configurada a hipótese da

prática de ato de improbidade administrativa prevista no art. 11, caput, e inciso VI, da Lei nº

8.429/92.

Mas não é só. A análise da prestação de contas da MARCA, pelo Corpo Técnico

do TCE, revelou a ocorrência de efetivo dano ao patrimônio público, conforme se verá a seguir.

SERVIÇOS PAGOS E NÃO EXECUTADOS

Apurou o Corpo Técnico do TCE/RN que, em 10 de abril de 2012, a SESAP/RN

repassou para Associação MARCA o valor de R$ 308.838,56 (trezentos e oito mil, oitocentos e

trinta e oito reais e cinquenta e seis centavos), sendo R$ 218.838,56 (duzentos e dezoito mil,

oitocentos e trinta e oito reais e cinquenta e eis centavos) referente à reforma para a readequação

predial, e R$ 90.000,00 (noventa mil reais) para a implantação do sistema de refrigeração, ambos

relativos ao Hospital da Mulher em Mossoró/RN.

No afã de verificar a efetiva execução desses serviços, foi realizada vistoria

técnica no Hospital da Mulher em Mossoró/RN, no dia 18/12/2012, pelos engenheiros pertencentes

ao quadro do Grupo Auxiliar de Engenharia e Projetos da SESAP/RN, sendo esses, Alcedo

Germano Rodrigues (CREA 210361244-2) e Rafael Ferreira Cavalcanti (CREA 210649804-7).

Ocorre que, a partir desta visita técnica, os mencionados engenheiros produziram

Relatório de Vistoria, no qual constataram serviços não executados no montante de R$

165.795,5175. Assim, concluiu o Corpo Técnico que a conduta da Associação MARCA gerou

dano ao erário Estadual na ordem de R$ 165.795,51 (cento e sessenta e cinco mil, setecentos e

75 Vide Relatório de Vistoria de fls. 308-309, Anexo XXXVII, do IC 005/12-PGJ.

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noventa e cinco reais e cinquenta e um centavos), visto não ter executado 46,32% dos serviços

contratados.

DO PAGAMENTO DE MULTAS E DESPESAS BANCÁRIAS INDEVIDAS

A partir do levantamento dos documentos apresentados pela Associação MARCA

para comprovar a utilização dos recursos do TP nº 001/2012, o Corpo Técnico apurou o uso

indevido dos recursos para o pagamento de juros e multa no valor de R$ 36.067,18 (trinta e seis

mil, sessenta e sete reais e dezoito centavos), bem como de despesas bancárias indevidas no valor

de R$ 1.271,40 (hum mil, duzentos e setenta e um reais e quarenta centavos), perfazendo o valor

total de R$ 37.338,58 (trinta e sete mil, trezentos e trinta e oito reais e cinquenta e oito

centavos).

Segundo o Corpo Técnico do TCE, tanto as multas como as despesas bancárias

destacadas "foram decorrentes exclusivamente de culpa da Associação MARCA, já que os

repasses financeiros efetuados pela Secretaria Estadual de Saúde do RN ocorreram oportunamente,

não justificando, assim, o atraso desses pagamentos."76 Em relação às despesas bancárias, o Corpo

Técnico considerou que a concretização destas ocorreu no momento em que a movimentação

bancária foi realizada em conta bancária não oficial.

Registrou que, com base nos princípios constitucionais da Administração Pública

(Art. 37, CF/88), mormente o da moralidade, o TCE/RN pontificou, mediante Súmula nº 21:

PAGAMENTO DE MULTAS E TAXAS SOBRE O SALDO DEVEDOR. ILEGALIDADE. RESTITUIÇÃO DOS RESPECTIVOS VALORES. O pagamento indevido de multas e taxas sobre saldo devedor constitui grave irregularidade, sujeitando o responsável à devolução integral desses valores, sem prejuízo de outras sanções.

Desta feita, concluiu o Corpo Técnico do TCE que "em decorrência da

negligência administrativa da Associação MARCA, assim como pelo desrespeito aos princípios

constitucionais basilares da Administração Pública, insculpidos no art. 37 da CF, ocorreram

76 Fl. 46, da Informação Técnica nº 326/2013 - DAD.

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pagamentos injustificados e indevidos de despesas bancárias, juros e multas no valor total de R$

37.338,58"77 (trinta e sete mil, trezentos e trinta e oito reais e cinquenta e oito centavos), o qual

deverá ser devidamente ressarcido aos cofres públicos.

DA REALIZAÇÃO DE DESPESAS ANTES DA VIGÊNCIA DO TERMO DE PARCERIA Nº

001/2012.

A realização de despesas ILEGAIS, antes da vigência do Termo de Parceria nº

001/2012, por determinação da própria Governadora do Estado, a demandada ROSALBA

CIARLINI ROSADO, ao lado de seus comandados, os também demandados Secretário Estadual de

Saúde DOMÍCIO ARRUDA e o seu "assessor" ALEXANDRE MAGNO, bem como a Secretária

Adjunta de Saúde MARIA DAS DORES BURLAMAQUI, já foi exaustivamente mencionada no

decorrer desta peça.

Ocorre que, ao debruçar-se sobre os processos de prestação de contas apresentado

pela Associação MARCA, o Corpo Técnico do TCE também detectou que apesar do TP nº

001/2012 ter sido celebrado em 29 de fevereiro de 2012, a Associação MARCA apresentou

documentação de despesas realizadas no montante de R$ 804.071,05 (oitocentos e quatro mil,

setenta e um reais e cinco centavos), em data anterior a vigência do referido termo de

parceria.

Com efeito, registrou o Corpo Técnico que, em 01/02/2012, a demandada

Associação MARCA, representada pela Diretora Geral, Elisa Andrade de Araújo, firmou contrato

de locação no valor mensal de R$ 45.000,00 com a empresa UNICÁRDIO – Urgências

Cardiológicas de Mossoró Ltda.78, tendo como objeto a locação do imóvel utilizado para instalação

e funcionamento do Hospital da Mulher.

Observou que, ao firmar contrato de aluguel do prédio na mencionada data, a

Associação MARCA se comprometeu a, além do aluguel de fevereiro79, honrar com as despesas de

luz, água e esgoto da competência deste mês, consoante os termos da Cláusula Segunda do aludido

77 Fls. 47 da Informação Técnica nº 326/2013-DAD78 Vide contrato de locação às fls. 3858-3863, Anexo XX.79 Vide recibo do aluguel de fevereiro, às fls. 1289, Anexo XXXIV, do IC 005/12.

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contrato, em que são estabelecidas as obrigações da locatária. Assim, detectou o Corpo Técnico

que o referido contrato de locação gerou pagamentos de despesas irregulares da ordem de R$

50.620,08 (cinquenta mil seiscentos e vinte reais e oito centavos), conforme demonstrado na

Tabela 3, à fl. 48 da Informação 326/2013-DAD.80

Ainda, segundo o Corpo Técnico, foram apresentados 11 documentos relativos às

aquisições de equipamentos e mobiliários hospitalares para o Hospital da Mulher de Mossoró/RN,

no montante de R$ 753.450,97(setecentos e cinquenta e três mil, quatrocentos e cinquenta reais

e noventa e sete centavos), em que a data da emissão das notas fiscais corresponde à data anterior

ao início da vigência do TP nº 001/2012, conforme demonstrado na Tabela 4, fls. 48-49, da

Informação nº 326/2013-DAD.81

Como se não bastasse, o Corpo Técnico ressaltou que "não há segurança de que

esses bens adquiridos foram realmente incorporados ao patrimônio do Hospital da Mulher, e, por

conseguinte, ao da Secretaria de Estado da Saúde Pública, conforme determina a Cláusula Nona do

TP nº 001/201247, visto que os documentos acostados às prestações de contas não se encontram

efetivamente certificados pelo responsável da MARCA com informações acerca do recebimento

desses bens. "

Bem lembrou o Corpo Técnico que em âmbito federal é vedada a prática de

comprovar despesas com documentos que possuem data de emissão de suas notas fiscais anterior à

vigência do instrumento, uma vez que contraria flagrantemente o art. 39, inciso V, da Portaria

Interministerial nº 127/2008, de 29/05/2008, que dispõe:

Art. 39. O convênio ou contrato de repasse deverá ser executado em estrita observância às cláusulas avençadas e às normas pertinentes, inclusive esta Portaria, sendo vedado:(...)V - realizar despesa em data anterior à vigência do instrumento;

Registre-se que essa vedação é uma decorrência da própria Lei 8.666/93, a qual

estabelece em seu art. 60, parágrafo único:

Art.60. Os contratos e seus aditamentos serão lavrados nas repartições interessadas, as quais manterão arquivo cronológico dos seus autógrafos e registro sistemático do seu

80 A documentação que comprova a realização dessas despesas anteriores à vigência do Termo de Parceria, citada na Tabela 3, fl. 48, da Informação nº 326/2013-DAD, está acostada nos anexos XXX, XXXIII, XXXIV e XXXV, deste IC.

81 A documentação citada na Tabela 4 encontra-se acostada nos Anexos XXXI,XXXIV e XXXV, deste IC.

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extrato, salvo os relativos a direitos reais sobre imóveis, que se formalizam por instrumento lavrado em cartório de notas, de tudo juntando-se cópia no processo que lhe deu origem.

Parágrafo único. É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de pequenas compras de pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a 5% (cinco por cento)do limite estabelecido no art. 23, inciso II, alínea "a" desta Lei, feitas em regime de adiantamento.

Ora, como o Termo de Parceria só foi assinado em 29/02/2012, de modo que as

despesas anteriores são fruto de acordo verbal entre os contratantes, situação que foi autorizada pela

própria Governadora do Estado, a demandada ROSALBA CIARLINI ROSADO.

De bom alvitre lembrar que o demandado DOMÍCIO ARRUDA, ao prestar

depoimento judicial, como testemunha, nos autos da Ação Penal nº 0125526.25.2012 (Operação

Assepsia)82, quando indagado pelo Ministério Público se teria autorizado verbalmente o início da

reforma no Hospital da UNIMED, já em janeiro de 2012, para a instalação do Hospital da Mulher,

ele declarou que a MARCA logo começou a instalação porque "a Governadora tinha garantido

que honraria os compromissos assumidos" com a MARCA. Portanto, a demanda Rosalba

Ciarlini, juntamente com seus asseclas, ordenou e permitiu a realização de despesas não autorizadas

em lei ou regulamento, incidindo na conduta ímproba descrita no art. 10, caput e inciso IX, da Lei

8.429/92.

Desta forma, diante da apresentação na prestação de contas de 23 (vine e três)

despesas realizadas ilegalmente antes da vigência do TP nº 001/2012, no valor total de R$

804.071,05 (oitocentos e quatro mil, setenta e um reais e cinco centavos), restou configurada a

prática de ato de improbidade administrativa descrito acima (art. 10, caput e inciso IX, da Lei

8.429/92), além da ofensa patente aos princípios constitucionais da Administração Pública, com

ênfase na legalidade, moralidade e transparência (art. 11, caput, da citada lei), cabendo o devido

ressarcimento ao erário.

DA APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS EM DUPLICIDADE PARA COMPROVAÇÃO

DE DESPESAS:

82 Depoimento no CD à fl. 871, V. 3, a partir de 26 minutos.

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Apurou o Corpo Técnico, a partir da análise dos documentos contidos nas

prestações de contas apresentadas pela Associação MARCA, a existência de três pagamentos em

duplicidade, gerando dessa forma comprovação irregular das despesas no montante de R$

24.225,88 (vinte e quatro mil, duzentos e vinte e cinco reais e oitenta e oito centavos), conforme

Tabela 5 (fl. 51 da Informação 326/2013-DAD).83

Sobre o fato, esclareceu o Corpo Técnico à fl. 51 da Informação 326/2013:

"Em relação ao primeiro pagamento, relacionado na tabela acima, a Associação MARCA, além de apresentar esse documento na prestação de contas do mês de fevereiro, referente à primeira parcela, o incluiu também na prestação do mês de março de 2012 (Vol. 18, às fls. 1532 – 1535).84 Quanto ao segundo, observou-se que, a entidade parceira, na prestação de contas do mês de maio de 2012, apresentou a nota fiscal nº 6771 no valor de R$ 192,00, referente à fatura da CLARO FIXO S/A, em dois momentos distintos, sendo que no primeiro momento às fls. 217-218 (Vol. 9)85 o pagamento foi realizado pelo internet banking, enquanto o segundo às fls. 283-285 (Vol. 9) foi acostado um cheque nominal a própria Associação MARCA para comprovar a realização da despesa. Por último, observou-se o pagamento, da segunda parcela referente à nota fiscal nº 458, à empresa W S Comércio e Serviços e Serviços Ltda. ME em dois momentos distintos, isto é, às fls. 509-511 (Vol. 6)86 se observa o primeiro documento e às fls. 575-578 (Vol. 6) se constata a inserção do mesmo documento. Diante da apresentação dessas notas fiscais em duplicidade pela Associação MARCA, conclui-se pela irregularidade material das despesas e, consequentemente, dano ao erário estadual no montante de R$ 24.225,88."

É dizer, para justificar contabilmente o uso de recursos repassados à entidade pela

FUSERN, a Associação MARCA computou, em sua prestação de contas, despesas já liquidadas e

contabilizadas em meses anteriores, do que resultou o pagamento em duplicidade no montante de

R$ 24.225,88 (vinte e quatro mil, duzentos e vinte e cinco reais e oitenta e oito centavos), tudo em

prejuízo ao erário estadual.

DA APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTAÇÃO INIDÔNEA PARA COMPROVAÇÃO DE

DESPESAS.

Neste ponto, a auditoria do Corpo Técnico identificou a inclusão indevida, nas

prestações de contas do TP nº 001/2012, de documentação inidônea com o intuito de ratificar

83 Os documentos citados na tabela 05 estão acostados aos Anexos XXIV, XXVII e XXXIV, do IC 005/2012.84 Vide Anexo XXXV do IC 005/12.85 Vide Anexo XXVII, do IC 005/12.86 Vide Anexo XXIV.

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despesas no valor de R$ 412.038,29 (quatrocentos e doze mil, trinta e oito reais e vinte e nove

centavos). Conforme apurado, foram identificadas duas maneiras de realizar a comprovação

irregular desses recursos:

a) com documentos relativos à compra fictícia de medicamentos e insumos hospitalares, no valor R$ 367.401,20 (trezentos e sessenta e sete mil, quatrocentos e um reais e vinte centavos); eb) com documentos fraudados a partir da inserção de dados nos DANFE`s, depois da emissão das respectivas NF-e, no valor de R$ 44.637,09 (quarenta e quatro mil, seiscentos e trinta e sete reais e nove centavos).

Segundo o Corpo Técnico, na primeira forma, a documentação apresentada pela

entidade parceira simula negócios que nunca ocorreram (apresentação de notas frias). Em relação à

segunda, " a documentação comprobatória corresponde efetivamente à compra de medicamentos e

insumos hospitalares pela Associação MARCA. No entanto, informações falsas foram inseridas

nesta documentação com o intuito de simular a entrega desta mercadoria no Hospital da Mulher em

Mossoró/RN."87

Convém observar a forma como se efetivou cada uma dessas fraudes.

Em relação à compra fictícia de medicamentos e insumos hospitalares, apurou o

Corpo Técnico que, nas prestações de contas dos meses de maio e junho de 2012, a Associação

MARCA apresentou sete DANFE`s inidôneos no valor total de R$ 251.113,80 (duzentos e

cinquenta e um mil, centro e treze reais e oitenta centavos), os quais descrevem aquisições

fictícias de medicamentos e insumos hospitalares em empresa sediada na cidade de Duque de

Caxias/RJ, Glalmed Distribuidora de Medicamentos Ltda. (vide Tabela 6, à fl. 53 da Informação

326/2013-DAD).88

Convém transcrever os esclarecimentos do Corpo Técnico sobre esse aspecto89:

"Por oportuno, cabe mencionar que uma das funções básicas do DANFE, com base no § 3º da Cláusula décima quinta, do Ajuste SINIEF 07 (Sistema Nacional de Informações Econômicas e Fiscais), de 30 de setembro de 2005, é conter uma “chave de acesso” para que se consulte, no ambiente nacional disponibilizado pela Receita Federal do Brasil, a regularidade da NF-e cujo DANFE representa. Nesse sentido, com vistas a identificar a

87 Vide fl. 52 da Informação 326/2013-DAD.88 Os documentos descritos na Tabela 06 estão anexados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXVII, XXVIII e XXX, do IC 005/12.89 Fls. 53 a 55 da Informação nº 326/2013-DAD

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autenticidade e a validade desses DANFE`s foram realizadas consultas ao referido ambiente nacional, em 15/5/2013, o qual demonstrou, por fim, que todas as chaves de acesso são inválidas, ou seja, esses documentos não correspondem a nenhuma operação efetivamente realizada, conforme documentação acostada no Anexo 390. Cabe ressalvar ainda que as chaves de acesso contidas nos DANFE`s possuem quarenta e quatro caracteres numéricos divididos em nove campos representados por informações que se encontram dispersos na sua respectiva NF-e, sendo que o sexto campo desta chave, constituído por nove caracteres, deverá obrigatoriamente identificar o número da nota fiscal eletrônica. "(...)Dessa maneira, a confirmação dessa irregularidade se deu, ainda, pela correlação do número da nota fiscal contido no DANFE com o número referente ao sexto campo da chave de acesso. Campo esse que identifica o número da nota fiscal eletrônica, consoante se constata na Tabela 791 abaixo:(...)Ante ao exposto, é evidente a fraude realizada pela Associação MARCA, pois os DANFE`s possuem numeração fiscal totalmente diferente dos números dos documentos fiscais contidos na chave de acesso. Inclusive, percebe-se que na confecção da fraude a Associação MARCA repetiu os números do documento fiscal na chave de acesso, já que a sequência 000.000.856 se repete nos seis primeiros DANFE`s. Ademais, constatou-se, ainda, que, na prestação de contas do mês de junho de 2012, a Associação MARCA adotou novamente a prática fraudulenta de falsificação de DANFE´s, quando apresentou irregularmente quatro documentos que não correspondem a uma operação efetivamente realizada, perfazendo um desvio de R$ 116.287,40, conforme demonstrado na Tabela 892 abaixo:(...)Os referidos documentos descrevem a compra de medicamentos na empresa Material Hospitalar Hosp-News Ltda., localizada no município de Duque de Caxias/RJ. No entanto, todos os quatro DANFE`s possuem a mesma chave de acesso, sendo ela: 3312.0611.2780.8000.0168.5500.1000.0000.2310.9060.0603. Primeiramente, é importante esclarecer que para cada NF-e existe apenas uma chave de acesso, que tem como objetivo, dentre outros, de confirmar a existência da referida NF-e, em outras palavras, não se pode ter um código (chave de acesso) representando duas ou mais NF-e. Dessa forma, com base na aludida chave de acesso, a consulta realizada no ambiente nacional da Receita Federal do Brasil resultou na ratificação da fraude, uma vez que o destinatário e o comprador das mercadorias constantes na NF-e é o Hospital Estadual Getúlio Vargas, estabelecido no município de Duque de Caxias/RJ, inscrito no CNPJ sob o nº 42.498.717/0003-17, conforme se evidencia no Anexo 4. 93 Portanto, com base nas evidências colhidas fica evidente a conduta fraudulenta da Associação MARCA na apresentação desses documentos nas prestações de contas uma vez que esses documentos falsos representam operações não efetivamente realizadas pela entidade parceria na compra de medicamentos e insumos hospitalares para o Hospital da Mulher de Mossoró/RN. Dessa maneira, conforme o exposto acima, conclui-se que a Associação MARCA com o intuito de justificar os recursos recebidos do Termo de Parceria nº 001/2012 perpetrou mediante a apresentação de 11 DANFE`s fraudados a comprovação irregular de despesas no valor de R$ 367.401,20." (grifos acrescidos)

Portanto, conclui-se que a demandada Associação MARCA – aqui contemplando

90 Essa documentação, referida pelo TCE como Anexo III, está acostada no Anexo XXXVII, fls. 166-184, do IC 005/12.91 Vide tabela 7, à fl. 54 da Informação nº 326/2013-DAD. Os documentos referidos nessa tabela, nas respectivas folhas, estão acostados nos Anexos XXVII,

XXVIII e XXX, do IC 005/12.92 Vide tabela 08, à fl. 55 da Informação nº 326/2013-DAD. Os documentos referidos nessa tabela estão acostados no Anexo XXX, do IC 005/12-

PGJ.93 Essa documentação, referida pelo TCE como Anexo IV, está acostada no Anexo XXXVII, fls. 185-196, do IC 005/12.

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todos os seus membros formais e informais – apresentou documentos fraudados com o fim de

"justificar" os recursos recebidos no Termo de Parceria nº 001/2012, havendo comprovação

irregular de despesas no valor de R$ 367.401,20 (trezentos e sessenta e sete mil, quatrocentos e um

reais e vinte centavos).

Mas não era somente isso.

Ainda segundo a análise minuciosa do Corpo Técnico do TCE/RN, a Associação

MARCA inseriu dados falsos em DANFE'S, após a emissão da correspondente NF-e, de forma a

alterar o destino das mercadorias que, em tese, seriam destinadas ao Hospital da Mulher em

Mossoró/RN.

Necessário é transcrever as conclusões do Corpo Técnico do TCE:

"Nas prestações de contas dos meses de abril e maio de 2012, a Associação MARCA apresentou nove DANFE`s, cujas informações do local de entrega indicavam o “Hospital da Mulher. Rua Francisco Bessa, 168 – Bairro Nova Betânia – Mossoró/RN. CEP 59612-207”. Contudo, cotejando esses dados com os da NF-e, por meio do site da Receita Federal do Brasil, evidenciou-se que nos dados da NF-e não há menção nenhuma de que esse material foi entregue no Hospital da Mulher, em outras palavras, esses nove DANFE`s foram fraudados após a emissão das suas respectivas NF-e. Esta afirmação é corroborada pelo Manual de Orientação do Contribuinte NF-e o qual determina que o campo denominado de “Informações Complementares” do DANFE, onde foi observada a irregularidade, deverá obrigatoriamente conter todos os dados do campo “Informações Adicionais” da NF-e. O aludido manual ressalta, ainda, que os campos do DANFE deverão representar o conteúdo das respectivas NF-e, não podendo ser impressas informações que não constem na NF-e. 190. Destarte, este Corpo Técnico a partir desta constatação apurou um dano ao erário Estadual na ordem de R$ 44.637,09, conforme se demonstra na Tabela 9...94

(...)Com efeito, diante de tal conduta praticada pela Associação MARCA, conclui-se que a compra desses medicamentos e insumos hospitalares não foram para atender as necessidades do Hospital da Mulher em Mossoró/RN. Logo, a inserção dessas informações falsas nos DANFE`s tem como único objetivo comprovar despesas por meio de documentação inidônea dos recursos provenientes do TP nº 001/2012 na monta de R$ 44.637,09."

Do mesmo modo como descrito anteriormente, houve comprovação irregular de

despesas pela Associação MARCA e seus comparsas no valor de R$ R$ 44.637,09 (quarenta e quatro

mil, seiscentos e trinta e sete reais e nove centavos), o que, além de constituir improbidade

administrativa causadora de DANO AO ERÁRIO, importa ainda em ato de improbidade

94 Vide Tabela 9, à fl. 56 da Informação nº 326/2013-DAD. Os documentos referidos na Tabela 9 , nas respetivas folhas, estão acostados nos Anexos XXVII e XXXIII, do IC 005/12-PGJ.

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administrativa de ENRIQUECIMENTO ILÍCITO, descrito no art. 9º da Lei de Improbidade

Administrativa.

DA COMPROVAÇÃO DE DESPESAS COM DOCUMENTOS ILEGÍTIMOS E NÃO

FISCAIS.

O Corpo Técnico também apurou, a partir da análise das prestações de contas

apresentadas pela Associação MARCA, a existência de diversos pagamentos efetuados tanto a

pessoas jurídicas quanto a pessoas físicas, no montante de R$ 48.298,4 (quarenta e oito mil,

duzentos e noventa e oito reais e quatro centavos), sem a devida juntada do documento fiscal ou

outro documento equivalente que comprove a devida contraprestação desses serviços ao Hospital

da Mulher. Ainda, apurou que "não há nos pagamentos a descrição detalhada do serviço realizado

nem dados completos do prestador do serviço, assim como não existem as devidas

retenções, no caso da prestação do serviço por pessoa física, da contribuição para a

seguridade social, a ser recolhida pela contratante juntamente com a própria contribuição."95

A informação Técnica pontuou o entendimento do Tribunal de Contas da União a

esse respeito, citando o Acórdão nº 2.261/2005 que convém trazer a lume:

"(...) Os responsáveis por órgãos da Administração Pública não podem admitir, nos documentos de prestação de contas, comprovação de despesas baseadas em documentos ilegítimos, pois tal atitude, além de ferir normativos em vigor, tende a facilitar práticas de evasão fiscal (art. 1º, Lei 4.729/65) e de crimes contra a ordem tributária (art. 1º, V, da Lei 8.137/90).

A prática abre caminho para a evasão fiscal, pela falta de lançamento dos tributos e contribuições devidos, gerando, em consequência, prejuízo ao erário, além de elevar o risco de fraude contra a Administração pela maior facilidade de se forjar documentos não fiscais e da falta de fiscalização fazendária sobre os mesmos.(...)

"(...) para fiel cumprimento ao que determina o art. 30 da IN/STN n.º 01/1997 e as demais normas que regulam a matéria, em especial as Leis nºs 4.729/1965, art. 1º, incisos II a IV; 8.137/1990, art. 1º, inciso V; 8.846/1994, arts. 1º e 2º; 9.532/1997, art. 61, § 1o; 4.502/1964, art. 47, e o Convênio ICMS S/Nº, de 15/12/1970, art. 6º, somente aceitem a comprovação de despesas, no caso de fornecedor pessoa jurídica, por meio de notas fiscais ou documentos fiscais equivalentes e, no caso de fornecedor pessoa física, que não esteja obrigado à emissão de nota fiscal ou documento equivalente, somente por meio de documentação que atenda as exigências da legislação trabalhista e

95 Fl. 58 da Informação 326/2013-DAD. Vide também Tabela 10 de fls. 58-59, que traz o elenco de todas as despesas realizadas sem a devida comprovação comprobatória . Os documentos nele referidos estão acostados, nas respectivas folhas, nos anexos XXVI, XXVIII, XXX, XXXIII, XXXIV, XXXV e XXXVI, do IC 005/12-PGJ.

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previdenciária ....(TCU, Plenário, Processo nº TC-003.067/2005-4, Min. Rel. Guilherme Palmeira. Acórdão nº 2.261/2005 – TCU, 13/12/2005).

Assim, concluiu o Corpo Técnico que a Associação MARCA, na percepção de

recursos públicos provenientes do Termo de Parceria nº 001/2012, comprovou inadequadamente

23 (vinte e três) despesas, no montante de R$ 48.298,44 (quarenta e oito mil, duzentos e noventa

e oito reais e quarenta e quatro centavos),96 apresentando documentos ilegítimos, afrontando, dessa

forma, aos princípios constitucionais da Administração Pública, com ênfase ao da legalidade e

moralidade.

DA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS PARA PAGAMENTOS DE DESPESAS NÃO

COMPATÍVEIS COM O OBJETO E A FINALIDADE DO TERMO DE PARCERIA Nº

001/2012

O Corpo Técnico do TCE também apurou pagamentos irregulares de despesas não

compatíveis com o objeto e a finalidade do TP nº 001/2012 no valor total de R$ 4.070.839,43

(quatro milhões, setenta mil, oitocentos e trinta e nove reais e quarenta e três centavos).

Concluiu a auditoria que, para a consumação dessa ilegalidade, foram

identificados três padrões utilizados pela Associação MARCA para comprovar a aplicação ilegal

dos recursos provenientes do TP nº 001/2012, quais sejam:

a) documentos comprobatórios em nome de terceiros, no valor de R$ 48.461,94

(quarenta e oito mil, quatrocentos e sessenta e um reais e noventa e quatro centavos);

b) endereço de local da entrega de mercadorias diferente do endereço do Hospital da

Mulher em Mossoró/RN, no valor R$ 180.009,52 (cento e oitenta mil, nove reais e

cinquenta e dois centavos) e

c) repasses financeiros efetuados para a própria Associação MARCA, no valor de R$

820.099,35 (cento e vinte mil, noventa e nove reais e trinta e cinco centavos) e para a

SALUTE, no valor de R$ 3.022.268,62 (três milhões e vinte e dois, duzentos e sessenta e

oito reais e sessenta e dois centavos), sem a devida comprovação da aplicação desses

96 Fls. 60 da Informação nº 326/2013.

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recursos na finalidade prevista do TP nº 001/2012.

Os técnicos do TCE detalharam como ocorreu cada uma das ilegalidades

supracitadas, conforme se verá nos parágrafos a seguir.

Em relação aos documentos comprobatórios em nome de terceiros, apurou o

Corpo Técnico que, em relação à categoria contábil correspondente à energia elétrica, constatou-se

irregularidade nos pagamentos na ordem de R$ 266,03 (duzentos e sessenta e seis reais e três

centavos), visto que nas prestações de contas dos meses de março, abril, junho e julho de 2012, a

entidade parceira apresentou faturas da COSERN tendo como endereço de cobrança a Rua Doutor

João Marcelino, nº 7, no Bairro de Nova Betânia, Mossoró/RN. Tal endereço fica a 1,7 km de

distância do endereço onde está localizado o Hospital da Mulher (Rua Francisco Bessa, 168, no

Bairro de Nova Betânia, em Mossoró/RN). 97

A auditoria também identificou tês faturas da CAERN, no valor total de R$

559,40 (quinhentos e cinquenta e nove reais e quarenta centavos) em nome de Jailma Gomes de

Sousa Carvalho98, esposa do na época chefe do Gabinete Civil da Governadora do Estado, Sr.

José Anselmo de Carvalho Júnior, cujo endereço é a Rua Raimundo Leão de Moura, nº 21, bairro

de Nova Betânia, Mossoró/RN, sendo que tais despesas não possuem qualquer relação com o

imóvel contratado pela MARCA, visto que esse está localizado na Rua Francisco Bessa, 168, no

Bairro de Nova Betânia, em Mossoró/RN. Desse modo, tais despesas foram inadequadamente

inseridas pela MARCA, motivo pelo qual foram desconsideradas para fins de prestação de contas.

Ainda, foram identificados nove pagamentos de faturas da CLARO FIXO S/A,

no valor total de R$ 578,89 (quinhentos e setenta e oito reais e oitenta e nove centavos), em nome

de um particular, Sr. Bruno Tourinho Guimarães Correa, Diretor Administrativo da Associação

MARCA.99

Ademais, o Corpo Técnico identificou outra irregularidade em relação à

documentação referente aos serviços de telefonia prestados à MARCA pela empresa TNL PCS S.A.

Com efeito, foram pagas duas faturas no montante de R$ 1.029,33 (mil e vinte e nove reais e trinta

e três centavos), porém, foi observado que apesar das faturas estarem em nome da “Associação

97 Vide tabela 11, à fl. 61, da Informação Técnica 326/2013-DAD. Os documentos citados na referida tabela, nas páginas respetivas, estão acostados nos Anexos XXVI,XXX, XXXIII e XXXV, do IC 005/12-PGJ.

98 Vide fls. 394-395, Anexo XXVII; fls. 2404-2405, Anexo XXX e fls. 609-610 do Anexo XXIV, todos do IC 005/12.99 Vide Tabela 13, fl. 62, da Informação 326/2013-DAD. As notas fiscais citadas na referida tabela encontram-se acostadas, nas respetivas folhas,

nos Anexos XXIV, XXVII, XXX e XXXVI, todos do IC 005/12-PGJ.

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MARCA para Promoções de Serviços", o endereço constante nas mesmas é a Av. Rio Branco, nº

122, SL 1701, no Centro da cidade do Rio de Janeiro/RJ”. 100

Ademais, segundo relatado, "os dados constantes nas notas fiscais são precários,

uma vez que não identificam nem o número nem a quantidade das linhas telefônicas utilizadas pela

entidade parceira. Desse modo, considera-se que essas despesas apresentadas pela MARCA são

incompatíveis com termo de parceria em análise, razão pela qual se desconsidera o seu

reconhecimento." 101

Finalmente, o Corpo Técnico identificou, em seis oportunidades, pagamentos na

ordem de R$ 46.028,29 (quarenta e seis mil e vinte e oito reais e vinte e nove centavos)102 à

empresa ARBC ATACADISTA LTDA EPP, sediada na cidade do Rio de Janeiro/RJ, cujos

documentos fiscais apresentaram como destinatário das mercadorias o Hospital Regional

Tarcísio de Vasconcelos Maia inscrito no CNPJ nº 08.241.754/0104-50. Assim, concluiu a

Auditoria que, "para todos os fins legais, a documentação apresentada retrata que houve uma

relação comercial entre a empresa supracitada e o Hospital Tarcísio Maia, não acarretando qualquer

despesa que pudesse ser reconhecida no âmbito do TP nº 01/2012-SESAP. "

Nesse passo, convém transcrever a conclusão da auditoria:

"(...) Desse modo, é importante frisar que em suas relações comerciais a Associação MARCA utilizou o CNPJ sob o nº 05.791.879/0001-50, referente a sua matriz no Rio de Janeiro/RJ, o CNPJ nº 05.791.879/0004-01, referente a sua filial sediada em Natal/RN, e, por fim, o CNPJ nº 05.791.879/0005-84, referente também a sua filial em Mossoró/RN, ou seja, não existem motivos ou razões que justifiquem a comprovação de despesas utilizadas para gerir o Hospital da Mulher em nome de pessoas físicas (Bruno Tourinho Guimarães Correa) ou do Hospital Regional Tarcísio de Vasconcelos Maia.Diante do exposto, conclui-se que a Associação MARCA comprovou ilegalmente a utilização de recursos, no valor de R$ 48.461,94, com documentos cujos pagamentos das despesas não são compatíveis com o objeto e a finalidade do TP nº 001/2012, visto que estes documentos estão em nome de terceiros. "103

Verificou-se, também, que a MARCA apresentou em sua prestação de contas

diversas notas fiscais nas quais constam como local de entrega, de prováveis mercadorias

adquiridas pela OSCIP, destino diferente do endereço do Hospital da Mulher de Mossoró/RN,

100 Vide notas de fls 2359-2360, Anexo XXX, e fls. 548-549, Anexo XXIV, todos deste IC.101 Fl. 63 da Informação 326/2013-DAD.102 Vide Tabela 15, às fls. 63-64 da Informação 326/2013-DAD. As notas referidas nessa tabela estão acostadas, nas respectivas páginas, nos Anexos

XXIV (fls. 643-646), XXX (fls. 2484-2486), XXXIII (fls. 1020-1022) e XXXVI (fls. 177-179), todos do IC 005/12-PGJ.103 Fl. 64 da Informação 326/2013-DAD

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de modo que tais documentos não comprovam efetivamente a entrega de tais mercadorias nessa

Unidade Hospitalar.

Comprovando o fato acima referido, a Tabela 16, fl. 64, da Informação 323/2013-

DAD, relacionou as notas de materiais de limpeza adquiridos na empresa W T Comércio e

Representações Ltda., com endereço de entrega na cidade do Rio de Janeiro, no valor total de

R$ 33.370,25 (trinta e três mil, trezentos e setenta reais e vinte e cinco centavos).104

Outrossim, a Tabela 17, fl. 65 da Informação, relacionou as notas de

Medicamentos e insumos hospitalares, com endereço de entrega no Rio de Janeiro, no valor

total de R$ 9.761,60 (nove mil, setecentos e sessenta e um reais e sessenta centavos).105

Ademais, a Tabela 18, fls. 65-66 da Informação, relacionou as notas de

mercadorias com endereço de entrega na filial da Associação MARCA em Natal/RN, no valor

total de R$ 72.126,54 (setenta e dois mil, cento e vinte e seis reais e cinquenta e quatro

centavos.106

Na Tabela 19, fls. 67-68 da Informação 326/2013, foram relacionadas as notas de

mercadorias com endereço de entrega na UPA de Pajuçara, no valor total de total R$ 51.447,51

(cinquenta e um mil, quatrocentos e quarenta e sete reais e cinquenta e um centavos).107

Por fim, na Tabela 20, fl. 68 da Informação nº 326/2013,encontram-se as

mercadorias com endereço de entrega na Secretaria de Saúde Pública do RN, no valor total de

R$ 13.303,62 (treze mil, trezentos e trinta e três reais e sessenta e dois centavos).108

E bem pontuou a Informação Técnica que, segundo a Súmula nº 22 do TCE/RN,

“a aquisição de material sem comprovação de sua destinação por meio documental caracteriza dano

ou prejuízo ao Erário, e gera, dentre outros efeitos, a obrigação de restituir o valor despendido."

Desse modo, concluiu o Corpo Técnico que todas as despesas acima citadas "são

fatos geradores que resultaram em dano ao erário no valor total de R$ 180.009,52, uma vez que os

documentos comprobatórios das despesas supramencionadas demonstram inequivocamente que tais

104 Os documentos citados nessa tabela estão acostados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXIV, XXVI e XXX, todos do IC 005/12. 105 Os documentos citados nessa tabela estão acostados , nas respectivas páginas, nos Anexos XXVIII, XXXIII e XXXV, deste IC.106

Os documentos citados nessa tabela estão acostados , nas respectivas páginas, nos Anexos XXIV, XXVI, XXVII, XXVIII, XXX e XXXIII, deste IC.107 Os documentos citados nesta tabela estão acostados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXIV, XXVI, XXVII, XXVIII,XXX e XXXIII, todos deste IC.108 Os documentos citados nessa tabela estão acostados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXVIII, XXX, XXXIII e XXXV, deste IC.

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mercadorias não foram entregues no endereço do Hospital da Mulher Mossoró-RN, qual seja: Rua

Francisco Bessa, 168, Nova Betânia, Mossoró/RN. "

Ainda no tópico em exame, restou apurado pelo Corpo Técnico do TCE que, no

período compreendido de 26/3/2012 a 25/10/2012, a Associação MARCA realizou vinte e seis

transferências bancárias a crédito da própria conta bancária (nº 7.8003, agência 471 – Banco

do Bradesco) para outra conta de titularidade da própria MARCA na mesma agência do Banco

do Bradesco (c/c nº 7.8006), perfazendo o valor total de R$ 820.099,35 (oitocentos e vinte mil,

noventa e nove reais e trinta e cinco centavos).109

Bem registrou o Corpo Técnico que a demandada Associação MARCA, ao

transferir recursos oriundos do Termo de Parceria (TP) nº 001/2012 para conta diversa da prevista

para gerir tais recursos, contrariou o estabelecido na cláusula terceira, item II, subitem 17 do Termo

de Parceria, o qual determina que os recursos oriundos do mesmo serão movimentados

exclusivamente em conta-corrente indicada pela própria SESAP. 110 Com efeito:

"(...) Nesse sentido, as referidas transferências foram contabilizadas pela entidade parceria nas prestações de contas na categoria contábil titulada como “Gestão Manutenção de Projeto - manutenção do projeto do Hospital da Mulher de Mossoró”. Em que pese tal importância, não foi encontrada nos autos memória de cálculo que justifique a previsão de verbas mensais nesse montante para tal categoria contábil. Ademais, não há qualquer comprovação das despesas com Gestão Manutenção de Projeto, o que há são simples comprovantes bancários de transferência. "111

DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DAS DESPESAS DE PESSOAL DECORRENTES

DOS REPASSES REALIZADOS PELA ASSOCIAÇÃO MARCA À EMPRESA SALUTE

SOCIAL.

Quanto às transferências financeiras realizadas entre a Associação MARCA e a

empresa Núcleo de Saúde e Ação Social – SALUTE SOCIALE, observou-se que tais

transferências foram decorrentes de acordo denominado de “Convênio”112, cujo objeto era a

"cooperação técnica para seleção, treinamento, provimento e gestão de recursos profissionais para

a prestação de serviços de gerência do Hospital da Mulher Parteira Maria Correia". O tal convênio

fixou, conforme cláusula quinta, que a SALUTE SOCIALE receberia recursos provenientes do TP

109 Vide Tabela 21, fls. 69 e 70, da Informação 326/2013-DAD. Os documentos descritos na referida Tabela, nas respectivas páginas, estão acostados nos Anexos XXIV, XXV, XXVI, XXVII, XXVIII, XXX, XXXV e XXXVI, deste IC.

110 Vide Termo de Pareceria à fls. 270-284, V. 1.111 Fl. 70 da Informação 370/2013-DAD.112 Fls. 3714-3720, Anexo XX.

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001/2012 com vistas a custear todas as despesas com recursos humanos e seus encargos, além

das despesas com treinamento e seleção de pessoal.

Ressaltou o Corpo Técnico que os custos com pessoal especificado no Anexo IV

– Formação de Custos Mensais113- mereceram análise detalhada por parte da auditoria. Segundo

apurado, os gastos globais com pessoal divididos em onze categorias contábeis alcançaram a

quantia mensal de R$ 1.799.907,53 (hum milhão, setecentos e noventa e nove mil, novecentos e

sete reais e cinquenta e três centavos), de modo a representar 69,47% do custo total do

referido anexo.

No entanto, nada obstante tão alto valor, não há nos autos memória de cálculo que

fundamente esse custo mensal com pessoal. Existe apenas no referido Anexo IV menção da

existência de 363 (trezentos e sessenta e três) funcionários. Segundo a auditoria:

"(...) não há qualquer justificativa da necessidade deste quantitativo, assim como não existe identificação das especialidades dos funcionários. Nesse sentido, com base no convênio firmado, a Associação MARCA, no período de 10/4/2012 a 5/10/2012, prestou contas de quinze transferências diretas no valor total de R$ 5.745.954,86 relativas aos custos com pessoal, as quais tiveram como beneficiária a SALUTE SOCIALE, os valores correspondentes ingressaram em conta corrente nº 77000-0, da titularidade desta no Banco do Bradesco, agência 0471."114

Destacou a Auditoria que as transferências para SALUTE SOCIALE eram

efetivadas e, por sua vez, comprovadas nas prestações de contas por intermédio de simples recibos

autodenominados de “Nota de Débito”, os quais não possuem detalhamento suficiente para

justificar os repasses realizados pela Associação MARCA, pois não apresentam informações que

comprovem o real custo com pessoal.

Ocorre que a Associação MARCA tinha a obrigação de apresentar, nos termos da

alínea “c” da Cláusula Quarta do TP nº 001/2012115, bimestralmente, além de relatório das

atividades desenvolvidas pela MARCA, os comprovantes de pagamentos de salários, obrigações

trabalhistas, encargos sociais, alimentação e vale-transporte dos funcionários encarregados de

executar os serviços pactuados, nesse caso, os empregados contratados pela SALUTE direcionados

ao Hospital da Mulher de Mossoró/RN.

113 Vide fls. 258-259, V. 1.114 Fl. 71 da Informação Técnica nº 326/2013-DAD. As citadas transferências estão descritas na Tabela 22. Os documentos citados nessa Tabela

estão acostados, nas respectivas folhas, nos Anexos XXIV, XXV, XXVI, XXX, XXXIII e XXXVI.115 Termo de Parceria nº 001/2012, às fls. 270-284.

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No entanto, a demandada MARCA nada disso comprovou, limitando-se a apre-

sentar relatórios analíticos com a composição dos custos com pessoal, e não os comprovantes dos

pagamentos dos salários e demais obrigações.

Com base nesses relatórios analíticos da folha de pessoal e demais documentos

constantes da prestação de contas, o Corpo Técnico concluiu que dos R$ 5.745.954,86 (cinco

milhões, setecentos e quarenta e cinco mil, novecentos e cinquenta e quatro reais e oitenta e

seis centavos) repassados para a empresa SALUTE SOCIALE, a fim de, supostamente,

promover a gestão dos recursos humanos no Hospital da Mulher, apenas R$ 2.723.686,24 (dois

milhões, setecentos e vinte e três mil, seiscentos e oitenta e seis reais e vinte e quatro centavos)

seriam realmente necessários para o pagamento de todas as despesas com pessoal.116 Esse

cálculo é relativo ao período de março a setembro de 2012, já que a Associação MARCA, apesar

de ter gerenciado o Hospital da Mulher até 30/10/2012, não apresentou a documentação referente à

folha de pagamento do mês de outubro de 2012, sob a justificativa da falta de repasses financeiros

pela SESAP.117

Destarte, concluiu o Corpo Técnico do TCE:

"(...) o confronto entre o valor total repassado à SALUTE SOCIALE e o provável custo real da empresa com os funcionários pertencentes ao quadro de pessoal do Hospital da Mulher de Mossoró/RN revela uma diferença no montante de R$ 3.022.268,62, de modo que não há comprovação de que esta diferença contabilizada foi destinada à realização das atividades necessárias para o cumprimento do objeto do TP nº 001/2012. Assim, conclui-se que os recursos transferidos para Associação MARCA, no valor de R$ 820.099,35, assim como os transferidos para SALUTE SOCIALE, no valor de R$ 3.022.268,62, geraram a consumação de dano ao erário no valor total de R$ 3.842.367,97, tendo em vista que esses recursos não foram aplicados no objeto do TP nº 001/2012. "118 (Grifos)

Na verdade, aprofundando ainda mais as conclusões do Corpo Técnico, cumpre

registrar que o dano ao Erário gerado pela empresa SALUTE SOCIALE é consequência direta do

esquema criminoso orquestrado pelo demandado TUFI MERES na incursão do chamado Terceiro

Setor na área da Saúde.

Com efeito, restou evidenciado, a partir da análise probatória realizada na

116 Vide Memória de Cálculo Completa da Folha de Pagamento, elaborada pelo Corpo Técnico, à fl. 255, Anexo XXXVII, deste IC.117 Vide a Tabela 23, às fls. 73-74 da Informação nº 326/2013. A documentação citada na referida Tabela está acostada, nas respectivas folhas, nos Anexos

XXIII, XXV, XXVI, XXVIII, XXIX, XXXI e XXXII, deste Inquérito Civil.118 Fl. 74 da Informação nº 326/2013-DAD.

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denominada "Operação Assepsia", cujas provas foram devidamente compartilhadas com este IC119,

que a SALUTE SOCIALE é mais uma das empresas que atuam no esquema criminoso do requerido

TUFI MERES, conhecido como "o Chefe".

A SALUTE SOCIALE tem como sócios formais as pessoas de Sady Paulo Soares

Kapps, CPF 134.740.737-53, Hélio Bustamante da Cruz Secco, CPF 738.110.257-91, e Carlos

Alberto Paes Sardinha, CPF 230.008.137-72, contudo a empresa é gerenciada por TUFI

SOARES MERES que faz parte do conselho fiscal junto com sua esposa VANIA MARIA VIEIRA.

Os sócios formais têm plena ciência que TUFI SOARES é o mentor da organização e assumem o

seu papel operacional dentro da organização, conforme diversos e-mails trocados entre eles.

Além dos sócios formais, TUFI SOARES MERES também conta com o suporte

de Otto de Araújo Schmidt na gestão da SALUTE SOCIALE/SALUTE VITA. Pelos diversos e-

mails captados, ficou claro o grau de subordinação de Otto de Araújo Schmidt com relação às

determinações emanadas pelo “chefe”. Após a análise da prova produzida, verifica-se que TUFI

SOARES MERES120 tem o controle completo do pagamento e das finanças da SALUTE, junto com

o contador GUSTAVO GONÇALEZ CARNEIRO, que consulta TUFI sobre qualquer pagamento,

inclusive indicando bens que deviam ser adquiridos em nome da SALUTE SOCIALE, conforme

diversos e-mails apreendidos, por exemplo:

------- Mensagem original --------Assunto: Bate-papo com Gustavo CarneiroDe:Gustavo Carneiro<[email protected]>Para: [email protected]: oieu: boa tardeeu: oi guGustavo: Boa tardeeu: boaseu: sant foi ai ?Gustavo: Naoeu: okeu: paga agora HS Informare junhoGustavo: Okeu: preciso 10 as 14,30 para um pgGustavo: Ok

119 Decisão de fls. 621-623, v. 2.120 Utilizava o e-mail [email protected].

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eu: laboratorio outubro 79.104,33eu: boletas Cris ?Gustavo: Total 142eu: okeu: jr ?eu: MGustavo: Total 367eu: so as velhas do Jr ?Gustavo: 231eu: quanto ja passou da marca para salute de outubro ?Gustavo: 4.8 + 1,3 do 13 salarioGustavo: Nov = 1,1eu: okeu: ja passou quanto hj de natalGustavo: Ia te perguntar agora se faz essa transf., 1.103eu: não todaeu: passa 600 marca Noveu: 500 Nataleu: vai ter mais 650 hj na marcaeu: ok ?Gustavo: Okeu: saca 10 para carlosGustavo: Jr faz o que?Gustavo: Ta muuuito dificil sacar, to conseguindo os 10 q vc pediu, mais q isso

so seino final do diaeu: ta ali no emaileu: okeu: e pro carloseu: avisa a beleeu: pode pagar jr M , so o velhoGustavo: So consigo fazer tudo depois dos 650Gustavo: Quer que priorize alguma coisa?eu: entendieu: vai chegareu: laboratorioeu: HS

Mensagem original --------Assunto: Enc: Programação Curso - 08/02/11Data: Wed, 26 Jan 2011 14:39:45 +0000De: [email protected] a: [email protected]: Tufi novo <[email protected]>CC:Gustavo<[email protected]>Boa tarde Dr!O curso abaixo é de suma importancia para 3 profissionais da Marca por se tratar

de prestacao de contas de OS!Solicitei ao Gustavo, no entanto ele pediu q eu passasse pela sua aprovacao!

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Disse ainda q o Sr poderia querer q alguem da Salute tb fosse!Atente-se q a data para pagamento do boleto é hj, por isso a necessidade de seu

retorno ainda hj!AbsRosiEnviado do meu BlackBerry® da Oi.

Mensagem original --------

Assunto: Fwd: Gama camara - Medicina Nuclear

Data: Thu, 2 Sep 2010 09:47:24 -0300

De: tmeres <[email protected]>

Para:

Gustavo Carneiro

<[email protected]>

Gustavo,

Esta aquisição será feita pelo Salute Sociale.

Favor se comunicar com a empresa vendedora, por aqui, para as providencias,

Tufi

---------- Mensagem encaminhada ----------

De: raul.ronquete <[email protected]>

Data: 1 de setembro de 2010 18:42

Assunto: Re: Gama camara - Medicina Nuclear

Para: [email protected]

Prezado Dr. Tuffi,

Fvr. informar dados da empresa para cadastro formalização da proposta e

faturamento.

Cordialmente,

Raul Ronquete

Original Message -----

From: [email protected]

To: Raul Ronquete

Sent: Wednesday, September 01, 2010 6:02 PM

Subject: Res: Gama camara - Medicina Nuclear

Boa tarde Raul. Ok,vamos fechar a compra. Aguardo!

137

Page 138: CEP 59.065-555 – FONE/FAX: (84) 3232-7132 – E -MAIL: … ESTADUAL VERSÃO FIN… · há elementos nos autos que indicam que a própria MARCA iria assumir o Hospital Ruy Pereira,

Enviado pelo meu aparelho BlackBerry® da Vivo

From: raul.ronquete <[email protected]>

Date: Mon, 30 Aug 2010 21:04:40 -0300

To: <[email protected]>

ReplyTo: "raul.ronquete" <[email protected]>

Subject: Gama camara - Medicina Nuclear

Prezado Dr. Tuffi,

Estou confirmando as condições de fornecimento do Equipamento para exames

de Medicina Nuclear conforme acordado em nossa reunião de 30/08/2010.

Valor do equipamento: 126,000 Us$ (cento e vinte e seis mil dolares

americanos) ao câmbio de R$ 1,80/ dolar

Sinal de 15% R$ 34.020,00 na assinatura da proposta

9 parcelas iguais de R$ 21.420,00 a 1a. 30 dias após a assinatura.

Fvr. dar o " de acordo" retornando o e-mail.

Cordialmente,

Raul Ronquete

Comercial -RJ

(21)2187-6800 - 9857-9949

- Mensagem original --------

Assunto:

Fwd: Nucleo - Folha de Pagamento e

Encargos - 10/2011

Data: Mon, 7 Nov 2011 09:02:38 -0200

De: tmeres <[email protected]>

Para: Anselmo carvalho

<[email protected]

>, [email protected]

Bom dia,

138

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Anselmo e sandro,

Favor fazer uma inspeção nesta folha para sabermos se está sendo executada

com

critérios tecnicos. Se está correta.

Vejam e me informem , se for feira pelo Salute , qual a economia que

podemos alcançar.

Se a economia for significativa ,vou propor mudar para o Salute,

Grato,

Tufi

(Grifos acrescidos)

Portanto, evidente está que a feitura do denominado "Convênio", realizado entre a

Associação MARCA e a SALUTE SOCIALE, foi mais uma forma orquestrada pelo esquema

criminoso comandado por TUFI e seus intermediários para promover essa verdadeira sangria nos

cofres públicos estaduais, tudo com a conivência e aquiescência do mais alto escalão do Governo do

RN, como já foi dito ao longo desta peça.

DA FALTA DE DOCUMENTAÇÃO COMPROVANDO A EFETIVA PRESTAÇÃO DOS

SERVIÇOS CONTRATADOS OU DOS BENS ADQUIRIDOS

Analisando as prestações de contas do Termo de Parceria 001/2012, o Corpo

Técnico do TCE/RN considerou irregulares pagamentos efetivados por serviços cuja prestação

não restou comprovada, no vultoso valor de R$ 6.149.582,74 (seis milhões, cento e quarenta e

nove mil, quinhentos e oitenta e dois reais e setenta e quatro centavos).

Segundo o Corpo Técnico do aludido Órgão, essa irregularidade foi identificada

nas prestações dos serviços das seguintes empresas contratadas pela MARCA:

a) Núcleo de Saúde e Ação Social – SALUTE SOCIALE, no valor de R$

2.712.560,35 (dois milhões, setecentos e doze mil, quinhentos e sessenta reais e trinta e cinco

centavos);

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b) Olivas Planejamento, Assessoria e Serviços S/C Ltda – ME, no valor de

R$ 394.170,00 (trezentos e noventa e quatro mil, cento e setenta reais);

c) Núcleo Serviços Diagnósticos Ltda., no valor de R$ 185.823,00 (cento e

oitenta e cinco mil, oitocentos e vinte e três reais);

d) Health Solutions Ltda, no valor de R$ 64.863,50 (sessenta e quatro mil,

oitocentos e sessenta e três reais cinquenta centavos);

e) Adventus Group e Consultores Ltda., no valor de R$ 2.768.225,89 (dois

milhões, setecentos e sessenta e oito mil, duzentos e vinte e cinco reais e oitenta e nove centavos);

f) Espíndola & Rodrigues Assessoria Contábil Ltda. – ME, no valor de R$

20.000,00 (vinte mil reais); e

g) Azevedo & Lopes Auditores Independentes, no valor de R$ 3.940,00 (três

mil, novecentos e quarenta reais).

A informação técnica do Corpo Técnico do TCE detalhou cada uma dessas

contratações ilegais, conforme se verá a seguir.

A) DO NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL – SALUTE SOCIALE:

Além dos já citados repasses irregulares para a SALUTE SOCIALE, acrescentou

o Corpo Técnico que, em relação à documentação apresentada pela Associação MARCA com o

intuito de comprovar as despesas realizadas com pessoal, apenas se pôde considerar comprovados

os gastos com as despesas de vales-transportes, no valor de R$ 11.125,89 (onze mil, cento e vinte e

cinco reais e oitenta e nove centavos), uma vez que apenas essas foram devidamente evidenciadas

pela entidade parceira.

Com efeito, informou o Corpo Técnico que os gastos com salários, no valor de R$

2.019.453,34 (dois milhões, dezenove mil, quatrocentos e cinquenta e três reais e trinta e quatro

centavos); insalubridade, no valor de R$ 210.028,85 (duzentos e dez mil, vinte e oito reais e oitenta

e cinco centavos); abono/hora extra/adicionais, no valor de R$ 148.165,88 (cento e quarenta e oito

mil, cento e sessenta e cinco reais e oitenta e oito centavos); e encargos trabalhistas, no valor de R$

334.912,28 (trezentos e trinta e quatro mil, novecentos e doze reais e vinte e oito centavos),

devidamente detalhados no Anexo 9, cujos valores totais perfazem a quantia de R$ 2.712.560,35,

não foram devidamente comprovados, ferindo assim a alínea “c” da cláusula quarta do Termo de

140

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Parceria nº 001/2012121, a qual determina que a entidade parceira apresente a comprovação dos

pagamentos de salários, obrigações trabalhistas, encargos sociais e alimentação dos

funcionários contratados.

Esclareceu o Corpo Técnico que as despesas deveriam ser comprovadas mediante

os seguintes documentos: holerites assinados e datados, ou comprovantes de pagamentos, mediante

autenticação bancária, com identificação dos beneficiários, ou ainda folhas de pagamentos

assinadas pelos beneficiários, com a devida identificação destes, assim como a comprovação tanto

do recolhimento do FGTS por meio das informações à Previdência Social (GFIP) como o

recolhimento do INSS retido dos funcionários, sendo que a comprovação do FGTS mediante GFIP

deverá ser individualizada com vistas a identificar somente os funcionários contratados para o

Termo de Parceria nº 001/2012. 122 Assim, concluiu a auditoria:

"(...) diante desta constatação, conclui-se que a Associação MARCA não comprovou devidamente nas prestações de contas os recursos públicos utilizados para pagamentos com despesas com pessoal. Conduta que culminou em dano ao erário estadual pela ausência da efetiva contraprestação dos serviços contratados, descumprindo, assim, a alínea “c” da cláusula quarta do TP nº 001/2012, bem como os princípios da transparência e da moralidade (CF, art. 37), motivo pelo qual deve responder solidariamente a empresa Núcleo de Saúde e Ação Social – SALUTE SOCIALE (CNPJ nº 32.088.890/0001-21), pelo débito de R$ 2.712.560,35. "123

B) OLIVAS PLANEJAMENTO, ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA.:

Detectou o Corpo Técnico que a empresa Olivas Planejamento, Assessoria e

Serviços S/C Ltda. – ME, inscrita no CNPJ nº 07.404.400/0001-01, com sede no município de São

José do Vale do Rio Preto, no Estado do Rio de Janeiro, foi beneficiada, no período de 12/6/2012 a

23/10/2012, com sete transferências diretas no montante de R$ 394.170,00 (trezentos e noventa

quatro mil, cento e setenta reais).124

Registrou a Auditoria que se tratou de uma "contratação de serviços cujo objeto

possui características totalmente genéricas e com pouca definição. Além disso, constam nos autos

apenas as notas fiscais de prestação de serviço, não existindo qualquer documentação adicional que

comprove a regular e efetiva execução dos serviços prestados, tais como relatórios com conclusões

121 Vide fl. 277, v. 1.122 Vl. 75, da Informação 326/2013-DAD.123 Vide fls.124 Vide Tabela 24, à fl. 76 da Informação 326/2013-DAD. Os documentos referidos nessa Tabela estão acostados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXIV,

XXV, XXX e XXXVI.

141

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e recomendações dos consultores, bem como as ações públicas levadas a efeito com base em tais

conclusões e recomendações, com ênfase nos resultados obtidos. "125

Deveras, ao observar o Contrato de Prestação de Serviços126 celebrado entre a

ASSOCIAÇÃO MARCA, por meio de sua diretora, a demandada ELISA ANDRADE DE

ARAÚJO, e a empresa OLIVAS PLANEJAMENTO E ASSESSORIA, representada pela

demandada ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA, vê-se o quão genérico é o seu objeto, qual

seja, a "prestação de serviços de assessoria, consultoria, implantação, acompanhamento,

controle e apoio a gestão do Hospital da Mulher, a fim de atender ao Termo de Parceria nº

001/2012", celebrado no dia 29/12/2012, curiosamente o mesmo dia em que foi assinado o referido

Termo de Parceria.

Registrou o Corpo Técnico do TCE, tomando por base um caso análogo ao

presente, referente ao contrato de gestão com uma organização social para a prestação dos serviços

públicos de saúde no município de Carazinho/RS, que, no julgamento do processo nº 6492-

02.00/08-3, o Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul entendeu pela irregularidade de

“pagamento efetivado por serviços de assessoria cuja prestação não restou comprovada ou cuja

finalidade não atenda ao interesse público”. 127

Desse modo, concluiu a Auditoria que "a Associação MARCA não comprovou

devidamente nas prestações de contas dos recursos públicos utilizados para pagamentos com

despesas de assessoria e consultoria, descumprindo os princípios norteadores da administração

pública, insculpidos no art. 37 da CF/88, sobretudo, os da transparência e da moralidade, motivo

pelo qual deve responder solidariamente a empresa Olivas Planejamento, Assessoria e Serviços

S/C Ltda. – ME (CNPJ nº 07.404.400/0001-01), pelo débito de R$ 394.170,00."128

Ocorre que, aprofundando ainda mais essa contratação, a partir dos elementos

colhidos na denominada "Operação Assepsia", que descortinou o esquema de corrupção da

Associação MARCA na Secretaria Municipal de Saúde de Natal/RN129, verificou-se que a

contratação da aludida entidade por parte do Estado do RN não se restringiu apenas à citada OSCIP,

mas englobava um pacote de outras empresas do esquema ilícito (SALUTE SOCIALE,

HEALTH SOLUTIONS LTDA, ARTESP, OLIVAS, LABORATÓRIO ZONA SUL / NÚCLEO

125 Vide fls. 76-77 da Informação 326/2013-DAD.126 Vide fls. 1.185-1192, Anexo IV.127 Fl. 77 da Informação nº 326/2013-DAD.128 Fl. 77 da Informação nº 326/2013-DAD.129 As provas colhidas durante a Operação Assepsia foram compartilhadas com este IC, por meio da decisão judicial de fls. 621-623.

142

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DE DIAGNÓSTICO, dentre outras), que foram contratadas para prestar serviços ao Poder

Público Estadual por meio da Associação MARCA, sem ter que se submeter a um processo

licitatório.

Ora, o Termo de Parceria celebrado entre um ente da federação e uma organização

social representa a administração direta dos recursos do erário por parte de uma entidade privada,

razão porque esta última não pode almejar lucro. Para burlar a regra da distribuição dos lucros

aos sócios e associados prevista Lei n.º 9.790/99 (OSCIP's), ROSIMAR GOMES BRAVO E

OLIVEIRA (Rose Bravo) e seu esposo ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA JUNIOR

(Maninho) adotaram a seguinte tática:

a) colocaram seus empregados como dirigentes da ASSOCIAÇÃO MARCA,

enquanto eles continuaram a ser os verdadeiros proprietários da instituição;

b) criaram uma empresa (OPAS - OLIVAS PLANEJAMENTO ASSESSORIA E

SERVICOS S/C LTDA, CNPJ 07.404.400/0001-), que passou a ser permanentemente contratada

pela MARCA para prestar “assessoria”, e justificar a saída de recursos da OSCIP para a empresa do

casal, a fim de que isso não fosse identificado com distribuição de lucros.

A movimentação de parte do dinheiro decorrente do Termo de Parceria nº

001/2012 seguiu o caminho traçado no organograma abaixo:

Secretária Estadual de Saúde – SESAP

(repassa os recursos para a OSCIP)

ASSOCIAÇÃO MARCA

(recebe os recursos, conforme Termo de Parceria)

OLIVAS PLANEJAMENTO

(contratada para prestar “assessoria” à MARCA)

ROSIMAR BRAVO E ANTONIO CARLOS

(verdadeiros proprietários da MARCA, juntamente com TUFI MERES, recebem os

recursos por intermediação da OLIVAS)

143

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Com efeito, conforme já esmiuçado nesta peça, a partir da análise das tratativas

traçadas entre os membros da MARCA, obtidas mediante autorização judicial durante a Operação

Assepsia, comprovou-se que ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA, vulgo ROSE

BRAVO, apesar de não mais constar oficialmente como sócia da MARCA, continuava de fato

dela fazendo parte, haja vista que ROSE, juntamente com seu esposo, ANTÔNIO CARLOS

DE OLIVEIRA JÚNIOR, vulgo MANINHO, e TUFI MERES, foram as pessoas que

coordenaram todo o esquema para a contratação da MARCA para gerir o HOSPITAL DA

MULHER em Mossoró.

Essa fato foi confirmado pelo próprio demandado Domício Arruda, quando

ouvido pela Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Natal (fls. 05-

07, v.1), o qual afirmou que "foi feito o convite para a MARCA administrar o Hospital da Mulher,

visto que a entidade tinha experiência no município de Natal; que teve uma reunião com ROSE

BRAVO e MANINHO na SESAP, em janeiro de 2012, onde o depoente informou a situação de

saúde de Mossoró e fez o convite verbal para a MARCA assumir o Hospital." E ainda, o requerido

Domício Arruda revelou que Rose Bravo era uma espécie de "representante executiva da

MARCA" para instalar o Hospital da Mulher em Mossoró, segundo depoimento judicial por ele

prestado130.

Portanto, de fácil percepção que foi repetido o mesmo esquema criminoso

realizado no âmbito do Município de Natal, desta vez na Secretaria Estadual de Saúde do Rio

Grande do Norte, lesando o patrimônio público de forma avassaladora, tudo com a conivência do

mais alto escalão do Governo.

NÚCLEO SERVIÇOS DIAGNÓSTICOS LTDA.:

Apurou o Corpo Técnico do TCE/RN que a empresa Núcleo Serviços

Diagnósticos Ltda., inscrita no CNPJ nº 11.780.146/0001-13, sediada no município de Duque de

Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, foi beneficiada com recursos do Termo de Parceria nº

001/2012 no valor de R$ 185.823,00 (cento e oitenta e cinco mil, oitocentos e vinte e três reais).131

130 Vide depoimento judicial prestado por Domício Arruda nos autos do processo criminal n. 0125526.25.2012, no CD acostado à fl. 871, v. 3.131 Vide Tabela 25, à fl. 77 da Informação nº 326/2013-DAD. Os documentos citados nessa tabela estão acostados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXV,

XXVIII e XXX.

144

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Segundo a Auditoria, não existe nos autos da prestação de contas da Associação

MARCA contrato firmado entre a citada pessoa jurídica e a Associação, não sendo possível

identificar o objeto contratado. Contudo, com base tanto nos dados das notas fiscais quanto nos do

CNPJ da empresa supostamente contratada, afere-se que o tipo de serviço prestado pela referida

empresa seria de exames laboratoriais e ambulatoriais. 132

Dessa forma não foi possível ao Corpo Técnico identificar o quantitativo dos

serviços adquiridos, tampouco a comprovação efetiva da prestação desses serviços, haja vista não

existir nas prestações de contas documentação comprobatória que confirme o fornecimento de

exames laboratoriais e ambulatoriais.

Ocorre que as irregularidades não param por aí. O Corpo Técnico relatou

inúmeras ilegalidades relativas à empresa Núcleo de Diagnósticos Ltda., constatadas pelo Sr.

Marcondes de Souza Diógenes Paiva durante o período em que atuou como interventor judicial a

frente das AME`s Nova Natal, Brasília Teimosa, Planalto e da UPA de Pajuçara, as quais

foram geridas pela Associação MARCA. As referidas irregularidades constam nos relatórios da

Administração Judicial133dos meses de julho, agosto e setembro/outubro, dentre as quais se

destacam:

a) conclui-se, com base no relatório de julho, que os exames dos pacientes eram

supostamente realizados no Rio de Janeiro/RJ, os quais eram enviados diariamente por via aérea,

colocando em questão a viabilidade econômica do acordo e, sobretudo, a qualidade desses

resultados. Além disso, constatou-se uma grande quantidade de exames não entregues aos pacientes;

b) em relação ao relatório de agosto, conclui-se que a empresa Núcleo Serviços

Diagnósticos Ltda., além de não prestar o serviço diretamente, não possuía o registro no Conselho

Regional de Farmácia do RN, assim como funcionava sem Alvará Sanitário. Além disso, segundo as

informações prestadas pelo Sr. Gilson Marques Teodoro, funcionário da referida empresa, a

chefia da organização é do Sr. Tufi Soares Meres, sendo a administração desta realizada na empresa

SALUTE SOCIALE.134

Aprofundando ainda mais o esquema criminoso, a partir da análise do material

probatório apurado na Operação Assepsia135, afere-se que O NÚCLEO SERVIÇOS

132 Fl. 78 da Informação nº 326/2013 - DAD.133 Vide Relatórios do Interventor Judicial na Associação MARCA, acostados ao Anexo XXII, deste IC.134 Vide fl. 32, Anexo XXII.135 O compartilhamento das provas da Operação Assepsia foi devidamente autorizado por meio da decisão judicial que repousa às fls. 621-623. v. 2.

145

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DIAGNÓSTICOS LTDA. na verdade é outra empresa ligada a TUFI SOARES MERES,

administrada por MONIQUE MONTEIRO MARTINS, PAULO FERNANDO VILLELA

FERREIRA e VICENTE SEMI ASSAN SALEK, conforme se verifica nos seguintes e-mails

captados:

------- Mensagem original --------

Assunto: Fwd: Re: Contrato

Data: Fri, 5 Aug 2011 14:48:58 -0300

De: tmeres <[email protected]>

Para: monique monteiro

<[email protected]>

Veja como vc é injusta comigo e só tem feito me ofender...

As 12:38 recebo um email do Paulo me comunicando que mandou a alteração

contratual.

As 12:39 eu respondo perguntando a ele como ele estipulou as cotas ?

As 13:29 ele me responde que fez proporcional a participação de cada um , e me

manda

planilhas anexas

As 13:59 eu solicito que faça as cotas iguais e retire da Jane o que vai completar

as suas.

As 12:51 vc ja me pergunta pra que te coloquei com 3,23

As 12:52 eu te pergunto o que vc ta falando,pois não havia lido o email do Paulo

nem

falado com ele.

As 12:53 vc ja sai me jogando pedras e fazendo afirmações , quando eu não sabia

siquer

ainda o que o mPaulo havia feito, ele so me respondeu

136 e-mail utilizado por TUFI MERES.

146

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as 13:29 .

As 13:59 eu peço que tire da Jane ( são minhas as cotas e não dela ) e passe pra

vc pra

igualar com os outros socios.

As 14 :01 vc me fala que minha atitude é desprezivel, pois deveria igualar aos

demais.

Foi exatamente o que fiz , tinha 2 minutos antes.

As 14:58 vc continua me ofendendo, dizendo que agora quero que saia... Há uma

hora

atráz eu pedi ao Paulo para igualar,havia comentado

com ele que talvez até deixase as minhas cotas tambem com vc .

Quanto destempero, quantas ofensas .

O Paulo tá no exterior, fez as coisas da cabeça dele, não conversamos.

não seja tão ingrata assim...

---- Mensagem original --------

Assunto: Fwd: Upa

Data: Thu, 20 Jan 2011 11:42:47 -0300

De: Tufi Meres <[email protected]>

Para: [email protected], [email protected],

[email protected], [email protected]

CC: [email protected]

Senhores,

Solicito que avaliem a possibilidade real de instalarmos o Nucleo em Natal com

urgencia ,visto que o laboratorio que presta servicos no momento,nao atende

satisfatoriamente a demanda atual,e que como esta demanda aumentara

147

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significamente

no decorrer dos proximos meses,inclusive com abertura de novas unidades,no

meu

entender sera economicamente viavel !

Sent from my iPad

-------- Mensagem original --------

Assunto: Fwd: Fw: pedidos da UPA Natal

Data: Thu, 23 Jun 2011 20:34:36 -0300

De: Paulo Villela <[email protected]>

Para: Tufi Soares Meres <[email protected]>,

Salek - Vicente

<[email protected]>, Monique

<[email protected]>

Prezados

Estamos mudando a qualidade em Natal, vamos acompanhar

abs

Paulo Villela

---------- Mensagem encaminhada ----------

De: Andre Freitas ::: Nucleo Diagnosticos

<[email protected]>

Data: 23 de junho de 2011 17:25

Assunto: Re: Fw: pedidos da UPA Natal

Para: Paulo Villela <[email protected]>

Já avisei ao Gilson. As máquinas chegam e logo em seguida o engenheiro para

montagem e a assessoria científica para treinamento.

---- Mensagem original --------

Assunto: Fwd: MOBILIÁRIOS E OUTROS

Data: Thu, 17 Nov 2011 21:40:19 -0200

De: monique monteiro

<[email protected]>

Para: Miriam Lima ::: Dmed

<[email protected]>

148

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CC: Tufi Soares Meres

<[email protected]>, Paulo Villela

<[email protected]>,

[email protected], "Andre

Freitas ::: Nucleo Diagnosticos"

<[email protected]

m.br>, Wagner <[email protected]>

Boa noite Miriam!

Realmente não consigo entender como o nucleo ainda possa estar devendo algo a

DMED, penso que quando o Wagner e o Tufi resolveram a dissolução e fizeram

um

acordo onde o Wagner recebeu tudo o que solicitou, o assunto se deu por

encerrado.

Vamos por favor aproveitar que os dois estão copiados e se entendem muito bem,

resolvam mais essa questionavel divida.

O Andre não tem condições de responder por algo que não faz parte do trabalho

dele.

Qualquer questao pendente terá de ser resolvida entre o Wagner e o Tufi.

Att

Monique

--- Mensagem original --------

Assunto: Re: upa senador camara

Data: Sun, 20 Feb 2011 20:52:53 -0300

De: Rosi Bravo

<[email protected]>

Para: [email protected]

CC: Tufi Soares Meres

<[email protected]>

Boa noite Vicente!

Preciso de notícias sobre os laboatórios das AMEs e UPA de Natal.

Eles estão me perguntando até quando se dará a prestação de serviços deles.

Viegas havia falado que dia 20 estaria com o laboratório da UPA funcionando,

mas não

149

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me deu mais nenhuma notícia e por isso já avisei o Roberto garcia que ele ficará

até dia

28.

No aguardo

Rosi

Mensagem original --------

Assunto: Bate-papo com Nik em 14/8/2011

Data: Sun, 14 Aug 2011 13:52:47 +0000

De: [email protected]

Responder a: [email protected]

Para: Abrao Meres <[email protected]>

Participantes:

-------------

Merest, Nik

Mensagens:

---------

Merest: Vc ta muito ligada !!!

Merest: Saudade ...

Merest: Cade vc ?

Nik: Estava discutindo com a Riziele o tamanho da "cacada" que esse

povo do nucleo fez aqui. Amor, e mta maluquice com o dinheiro alheio.

Esse imovel de 4.500 todo fudido a arquiteta mostrou ontem o quanto de

obra.

Nik: A Riziele disse que essa uma area de risco para esse tipo de

negocio. Existe um local onde ficam clinica e laboratorios.

Merest: Entendi

Nik: Mas tudo bem vou pontuar tudo com calma para voce.

Merest: Sim

Merest: Precisamos fazer mudancas

Merest: E vamos fazer...

Nik: Muitas e rapido, as decisoes sao simples porque o dinheiro nao e

deles

Merest: Eu sei

Nik: Ninguem quer ficar no local porque e longe e ai manda fazer,

150

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manda fechar negocio, manada pagar.

Nik: Fui no contador, uma merda, nao fez nada ate hj, e assim vai. So

dinheiro jogado fora. Mas te darei detalhes concretos sobre tudo ok?

Merest: Ok

Merest: Vc e mil

Nik: Estou em outra reuniao, mas mutreta do ze. Dps te falo.

Merest: Ok

Merest: Tambem to aqui ...

Nik: Ok

Nik: Vou te encaminhar, um email do paulo mais nao responda apenas

analise e depois falamos.

Merest: Ok

Nik: Você fez minha ted?

Merest: Sim

Nik: Cef ou BB

Merest: Vou ver

Nik: Ok

Merest: Vc vem ?

Nik: Sim, estou saindo da ultima empresa, vamos comer algo e aeroporto

Nik: Chego as 19

Merest: Ok

Merest: cef

Nik: Ok ja vi o recibo

Merest: Bj

Nik: Bj

Nik: Você vai subir hoje?

Merest: Iria sim

Merest: Mas ?

Merest: Oi

(...)

nilopolis e na cidade. E dia de sexta você vai para casa.

Merest: Mas tenho o dia todo

Merest: Algum horario vc tem

Nik: Mas eu nao, so tenho a noite.

Merest: E a empresa ? Nao vai trabalhar hoje ?

151

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Nik: Estou trabalhando mais do que você pensa, tenho chegado as 8:30 e

saido as 20h.

Merest: Eu tenho visto...

Nik: Ali tem muito trabalho, issob ninguem quer, acho que o que

interessa e o lugar do wagner.

Nik: A preocupacao e tratar com fornecedor mais nada.

Merest: Fique tranquia e toca tuas coisas

Merest: Assim que puder , me fala .

Merest: Almoco tambem ocupada ?

Nik: O email de ontem tem gestao, administracao e financeiro. Mas estamos

jogando dinheiro pelo ralo, deixando a desejar com mao de obra, a contabilidade de natal nao

existe, fui ao contador e um louco incompetente, peguei o numero de uma pessoa com a riziele. Fui

a um fornecedor com o andre e desfiz mais um esquemao do wagner. A nossa

conta do rio nao tem provisao. Aqui onde temos 11 unidades nao temos um

central. Mas nao posso me meter...

Merest: Estava me arrumando pra sair , desci com meu genrro

Merest: Vc pode e deve se meter sim

Merest: Independente de ser de minha confianca ...

Merest: Vc e socia ...

Merest: A partir desta semana , vou conversar com todos e vc passara a

ser vista como socia enao funcionaria...

Merest: Vou enquadrar o Paulo

Merest: Vc deve ver a empreza daqui pra frente

Merest: Nova empreza

Merest: Novos metodos

Merest: O pra traz, fica como exemplo

Merest: As 9:10 te perguntei : almoco tambem ocupada ?

Nik: Estou sim, mas estarei no centro as 16h

Merest: Ok

Merest: Estou no centro na R B

Nik: Ok

Nik: 17;40 onde?

Nik: ?????

Nik: ????

Merest: 17:40

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Nik: Sim, para encontar onde?

Merest: No 2 ? Nao vou la ha tempos .

Nik: Ok, mas sem me deixar esperar.

Merest: Sim

Portanto, claro está que a suposta prestação de serviços pela NÚCLEO

SERVIÇOS DIAGNÓSTICOS, mais uma das empresas do esquema criminoso da Associação

MARCA, foi outra forma de malversação e desvio do dinheiro público, razão pela qual o Corpo

Técnico do TCE lhe imputou responsabilidade solidária com a Associação MARCA pelo

ressarcimento ao erário do valor de R$ 185.823,00 (cento e oitenta e cinco mil, oitocentos e vinte e

três reais), visto que não comprovou devidamente, nas prestações de contas, os recursos públicos

utilizados para pagamentos das despesas com exames laboratoriais e ambulatoriais.

HEALTH SOLUTIONS LTDA

Apurou o Corpo Técnico do TCE/RN que a empresa Health Solutions Ltda.,

inscrita no CNPJ nº 05.113.395/0001-52, sediada na cidade do Rio de Janeiro/RJ, recebeu por meio

da Associação MARCA recursos provenientes do Termo de Parceria nº 001/2012, no valor de R$

64.863,50 (sessenta e quatro mil, oitocentos e sessenta e três reais e cinquenta centavos).137

Ocorre que não há nos autos de prestação de contas qualquer contrato pactuado

entre a Health Solutions Ltda. e a Associação MARCA. A partir da análise das notas fiscais

apresentadas nas prestações de contas, o Corpo Técnico inferiu que os pagamentos à referida

empresa seriam relativos à prestação de serviços de implantação e manutenção do sistema de gestão

do estoque no Hospital da Mulher em Mossoró/RN.

Ainda, a Auditoria não constatou nos autos a comprovação de que tal serviço de

instalação e manutenção do sistema de gestão dos estoques de almoxarifado e farmácia do Hospital

da Mulher foi devidamente implantado e, por sua vez, que se encontra em pleno funcionamento,

faltando a devida comprovação da efetiva contraprestação desses serviços.

Desta feita, concluiu o Corpo Técnico do Tribunal de Contas pela irregularidade

das despesas apresentadas pela Associação MARCA cujos recursos foram utilizados para

137 Vide Tabela 26, à fl. 79 da Informação nº 326/2013-DAD. Os pagamentos relacionados nessa Tabela estão acosta-dos, nas respectivas páginas, nos Anexos XXIV e XXXVI.

153

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pagamento à empresa Health Solutions Ltda. (CNPJ nº 05.113.395/0001-52), asseverando que

devem responder solidariamente pelo débito de R$ 64.863,50 (sessenta e quatro mil, oitocentos e

sessenta e três reais e cinquenta centavos).

Ocorre que, da mesma forma das empresas anteriores, foi apurado na denominada

Operação Assepsia que empresa HEALTH SOLUTIONS fazia parte do núcleo empresarial da

Associação MARCA.

A partir da análise das provas colhidas na referida operação, devidamente

compartilhadas com este IC, infere-se que, formalmente, a HEALTH SOLUTIONS LTDA, CNPJ

05.113.395/0001-52, pertence a SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES, CPF

105.494.127-00, sem qualquer ligação aparente com o grupo liderado por TUFI SOARES MERES.

Todavia, a empresa tem uma sociedade em conta de participação com a empresa

ITAYPARTNERS INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE NEGÓCIOS LTDA ME,

pertencente a TUFI SOARES MERES e a sua esposa VANIA MARIA VIEIRA, ficando o

líder da organização e sua esposa com 50% (cinquenta por cento) dos lucros nesta contratação.

Deste modo, contratar a HEALTH SOLUTIONS LTDA é contratar TUFI

SOARES MERES, interpostos, na negociação, pela ITAYPARTNERS INTERMEDIAÇÃO E

CORRETAGEM DE NEGÓCIOS LTDA ME, com quem a HEALTH SOLUTIONS LTDA.

desenvolve parceria comercial, conforme se extrai dos e-mails abaixo relacionados:

Mensagem original --------

Assunto: HS x Itaypartners

Data: Wed, 5 Oct 2011 12:21:30 -0300

De:

Leonardo Berenhauser

<[email protected]>

Para:

Eduardo Schmidt

<[email protected]>

CC: tmeres <[email protected]>

Prezado Eduardo,

154

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Conforme contato por telefone, segue em anexo o Contrato a ser celebrado entra

a HS e a Itaypartners.

Vou tentar resumir um pouco para vc entender a necessidade desta SCP. A HS

desenvolveu um software (DOC 1) para atender as necessidades hospitalares, e por sua vez, a

itaypartners faz parte desta criação e desenvolvimento do produto. Mas a Itay somente quer

participar no direito do produto a ser comercializado pela HS. Portanto todas as responsabilidades

irão recair sobre a HS, e a Itay só tera participação no lucro final do produto, caso haja uma

comercialização do mesmo.

Tenho algumas duvidas quanto aos pontos marcados em amarelo e em vermelho

no contrato.

A primeira duvida é quanto a Especificação do Produto. Na parte do Objeto

Social, coloquei o nome do produto objeto deste contrato, e coloquei entre parenteses o DOC 1,

que seria uma explicação do produto. Queria saber se tem algum problema

anexar a especificação do produto no Contrato? Pois acredito que colocando, estamos nos

resguardando melhor.

A segunda duvida é quanto ao Capital Social da SCP. É necessario ter Capital

social? Pois não sei como seria esta parte? Ou podemos fazer sem capital social?

A terceira questão é sobre a cláusula nona. O pro Labore neste caso tb é

necessario? É obrigado ter uma remuneração para os socios? Se sim, precisa ser estabelecido no

Contrato ou não o valor/porcentagem a ser retirado?

Acho que é isso. Peço que caso haja necessidade de modificar, implementar ou

excluir algo, sinta-se a vontade.

Agradeço sua atenção!

Um Abraço!

--

Leonardo V. B. Borba

+ 55 24 8855-7902

Mensagem original --------

Assunto: HS x ITAYPARTNERS

Data: Mon, 10 Oct 2011 12:11:38 -0300

De: Leonardo B.

<[email protected]>

Para: <[email protected]

CC: <[email protected]>

155

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Prezado Hélio,

Segue em anexo o Contrato e o Descritivo do Objeto (Anexo I) que serão

utilizados para formalizar o contrato.

Peço que seja assinado e rubricado em 03 vias, incluindo o Anexo I.

Assim que estiver com as 03 vias assinadas pela HS, solicito que entre em

contato para que eu possa colher as demais assinaturas e reconhecer firma em cartório.

Aguardo seu retorno.

Um Abraço,

Leonardo V. B. Borba

“Pelo presente instrumento e na melhor forma de direito, de um lado, HEALTH SOLUTION

LTDA, com sede no município do Rio de Janeiro, estabelecida na Avenida das Américas, 3.434, Bloco 05, Salas

205/206, Barra da Tijuca, inscrita no CNPJ/MF sob o n° 05.113.395/0001-52, doravante denominada SÓCIA

OSTENSIVA; e do outro lado, ITAYPARTNERS INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE NEGÓCIOS

LTDA ME, com sede no município de Petrópolis, estabelecida na Estrada União Indústria, 10.126, Itaipava, inscrita

no CNPJ/MF sob o n° 35.842.715/0001-76, doravante denominada SÓCIA PARTICIPANTE; resolvem constituir

uma Sociedade em Conta de Participação – SCP, regida pelas cláusulas seguintes:

CLÁUSULA PRIMEIRA:

A SCP será uma sociedade não personificada, que se regerá pelos artigos 991 à 996 da

Lei n o 10.406 de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Novo Código Civil Brasileiro.

CLÁUSULA SEGUNDA:

O prazo de duração da sociedade será indeterminado, iniciando suas atividades a partir

da assinatura deste instrumento.

CLÁUSULA TERCEIRA:

A sociedade tem por objetivo o aperfeiçoamento e a comercialização de um Sistema Hospitalar

Informatizado denominado SALUTESYS – Sistema de Gestão de Saúde, desenvolvido em conjunto pelas contratantes

e cujo descritivo encontra-se no Anexo I, utilizando-se para isso da denominação comercial da SÓCIA OSTENSIVA.

PARÁGRAFO PRIMEIRO: O compromisso da guarda dos códigos fontes deve ser atualizado

sistematicamente e compartilhado entre as sócias ora contratantes.

PARÁGRAFO SEGUNDO: Toda e qualquer modificação, aperfeiçoamento e/ou

evolução do sistema informatizado em apreço faz parte de sua expansão e regular

desenvolvimento.

CLÁUSULA QUARTA:

O capital social da SCP no ato da assinatura deste instrumento, subscrito e integralizado

pelas partes é de R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais), assim distribuído entre as

sócias participantes:

a) SÓCIA OSTENSIVA – subscreve e integraliza 50% do capital social da SCP no

156

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valor de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais), neste ato;

b) SÓCIA PARTICIPANTE – subscreve e integraliza 50% do capital social da SCP no

valor de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais), neste ato.”

Outrossim, restou apurado na Operação Assepsia que os recursos da

ITAYPARTNERS INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE NEGÓCIOS LTDA ME também são

utilizados para aquisição de imóveis e depois estes bens retornam para a família MERES, conforme

e-mail abaixo:

-------- Mensagem original --------

Assunto: Re: Extravio de Documentos Fiscais

Data: Wed, 7 Dec 2011 14:54:40 -0200

De: tmeres <[email protected]>

Para:

Eduardo Schmidt

<[email protected]>

Boa tarde Eduardo.

Podemos nos reunir na segunda feira , em horario a ser marcado entre nós.

Solicito que vc agilise aqueles processos de baixa da Itaypartners, Junto a Justiça

Federal, para que o meu Filho Bernardo possa registrar a escritura de seu apartamento, que ele

comprou da Itaypartners, com financiamento do Banco itau.

E peço tambem que façamos a ação contra a Sul Imagem, visto a empresa não

dar a minima para soluçoes que seriam de concenso.

Todas as conversas são protelatórias,

abs

Portanto, claro está que a empresa HEALTH SOLUTIONS LTDA, também

pertencia ao grupo de TUFI SOARES, sendo a suposta contratação mais uma forma de malversação

e desvio de dinheiro público operada pelo esquema criminoso em tela.

157

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ADVENTUS GROUP E CONSULTORES LTDA. ME:

Detectou o Corpo Técnico do TCE/RN, ainda, que a empresa Adventus Group e

Consultores Ltda., inscrita no CNPJ sob o nº 04.425.789/0001-83, representada por Francisco

Malcides Pereira de Lucena, com sede na cidade de Fortaleza/CE, firmou três contratos de

prestação de serviço com a Associação MARCA, tendo como objeto a terceirização de médicos nas

especialidades de ginecologia, obstetrícia e anestesiologia.

O primeiro contrato138estabelecido entre a Associação MARCA e a Adventus,

em 12/3/2012, teve como objeto os serviços de coordenação da equipe médica de ginecologia e

obstetrícia, assim como a contratação de quatorze médicos gineco-obstetras, sendo dois por tuno de

plantão de 24 (vinte e quatro) horas, tendo como custo mensal o valor total de R$ 250.000,00

(duzentas e cinquenta mil reais). 139

Outrossim, foi firmado um segundo contrato140, também em 12/3/2012, referente

à contratação de sete médicos anestesiologistas, sendo um por turno de plantão de 24 (vinte e

quatro) horas, no valor mensal de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais).141

Finalmente, foi firmado em 21/5/2012, pela Associação MARCA, o terceiro

contrato142 com a empresa Adventus Group e Consultores Ltda., no valor mensal de R$ 60.000,00

(sessenta mil reais), o qual tem como objeto a prestação de serviço de assessoria em gestão de

saúde, nas especialidades de ginecologia, obstetrícia e anestesiologia, sendo o atendimento

exclusivo para as demandas pré-agendadas do Hospital da Mulher, incluindo apenas os

atendimentos ambulatoriais e cirúrgicos pré-agendados pela Associação MARCA, não englobando

atendimentos em sistema de plantão ou emergência. 143

Assim, em decorrência destes contratos, aferiu o Corpo Técnico que a empresa

138 Vide fls. 266-273, Anexo XXXVII, deste IC.139 Vide Tabela 27 da Informação 326/2013,fl. 80, que relaciona todos os pagamentos feitos à Adventus Group relativos ao primeiro contrato. Os documentos

relacionados nessa tabela, nas respectivas páginas, estão acostados nos Anexos XXIV, XXV, XXVI, XXVII, XXX, XXXIII e XXXVI, deste IC.140 Vide fls. 277-284, Anexo XXXVII, deste IC.141 Vide Tabela 28, fls. 80-81 da Informação 326/2013-DAD, que relaciona os pagamentos à Adventus Group referentes ao segundo contrato. Os documentos

referidos nessa tabela estão acostados, nas respectivas páginas, nos Anexos XXIV, XXV, XXVI, XXVII, XXX, XXXIII e XXXVI, deste IC.142 Vide fls. 286-294, Anexo XXXVII, deste IC.143 Vide Tabela 29, fl. 81 da Informação 323/2013-DAD, que relaciona os pagamentos à Adventus Group, referentes ao terceiro contrato. Os documentos

referidos nessa tabela estão acostados, nas respectivas páginas, aos Anexos XXIV, XXVI e XXXVI, deste IC.

158

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Adventus Group e Consultores Ltda. foi beneficiada com recursos provenientes do Termo de

Parceria nº 001/2012 no montante de R$ 2.768.225,89 (dois milhões, setecentos e sessenta e oito

mil, duzentos e vinte e cinco reais e oitenta e nove centavos).

Asseverou o Corpo Técnico que, de acordo com os citados contratos firmados, as

condições necessárias para a efetivação dos pagamentos era a apresentação, pela contratada, da nota

fiscal de serviços devidamente acompanhada de relatórios dos serviços prestados, nos termos

padrão do item "7.2", da cláusula sétima dos contratos firmados.

No entanto, observou a Auditoria, a partir da análise das prestações de contas da

Associação MARCA, que os pagamentos foram efetuados em sua totalidade e apenas com as

notas fiscais de serviço. Não existe documentação que comprove a contraprestação dos

serviços realizados pela empresa Adventus Group e Consultores Ltda.

Ainda, afirmou o Corpo Técnico que os citados contratos foram formalizados

sem definição precisa e clara dos preços contratados. Com efeito, relatou o Corpo Técnico que

"existe apenas menção do valor mensal do serviço e, por conseguinte, o custo global do serviço,

sem fundamentação tanto da real necessidade dos profissionais quanto do custo unitário por

médico."144

Assim, concluiu a Auditoria pela "falta de documentação suficiente para se

comprovar a efetiva contraprestação dos serviços médicos ora em análise, uma vez que não há nos

autos documentos que atestem a devida prestação desses serviços, motivo pelo qual devem

responder solidariamente pelo débito de R$ 2.768.225,89 a Associação MARCA, por não

comprovar devidamente o uso de recursos públicos, como também a empresa Adventus Group e

Consultores Ltda. (CNPJ nº 04.425.789/0001-83), tendo em vista o dano originado pela não

contraprestação dos serviços. "145

Ademais, urge trazer a lume relevante fato descoberto durante investigações

empreendidas pelos Promotores de Justiça de Defesa do Patrimônio Público desta Capital

relacionadas à contratação firmada pela empresa Adventus Group e Consultores Ltda. com a

entidade sucessora da Associação MARCA no gerenciamento do Hospital da Mulher, o INASE –

Instituto Nacional de Assistência à Saúde e à Educação, mas que, a toda evidência, pode servir

de parâmetro para escancarar possível tipo de “acerto” que a aludida empresa mantivera com a 144 Fl. 87 da Informação nº 326/2013-DAD.145 Fls 81-82 da Informação nº 326/2013-DAD.

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administração à época em que prestou serviço para a MARCA.

Em conversa interceptada por ordem do MM. Juiz de Direito da 4ª Vara Criminal

da comarca de Natal no bojo do processo nº 0103698-36.2013.8.20.0001, cujo compartilhamento

com o inquérito civil que lastreia a presente ação de improbidade foi deferido (cópia em anexo)146, o

demandado FRANCISCO MALCIDES PEREIRA DE LUCENA, representante da empresa

ADVENTUS, falou abertamente com a sua interlocutora, sua esposa ERINALDA SCARCELA

CAVALCANTE DE LUCENA, sobre a necessidade de superfaturar a proposta de preço apresentada

ao INASE com a finalidade de inserir percentual ilícito, em torno de 10% a 20%, dado a título de

“retorno pra administração”, o intuito declarado e hipócrita de “fidelizar o contrato”, fazendo

referência explícita no sentido de seguir o "mesmo modelo" do contrato da MARCA, conforme se

afere da degravação a seguir:

Data: 06/03/2013Horário: 11:12:13ERIN X MALCIDES

MALCIDES diz: “ta podendo falar?”ERIN diz: “to... to eu cheguei aqui agora...eu to...to...atrás aqui de um prédio aqui.”MALCIDES diz: “hum...é....aqui...to...indo...pra...pra...voltando para Mossoró.”ERIN diz: “Hã.”MALCIDES diz: “com o....eu precisava...é... formular um contrato, pra apresentar o contrato....”ERIN diz: “Hã.”MALCIDES diz: “com o ... tem como você me mandar a...a....a....a....é.... eu dizer só os valores e

você já mandar o contrato?”ERIN diz: “tem meu filho, tem, só me dá o valor aí, que eu mando a menina, a Paula preparar e

ela passa o e-mail. Não tem o contrato da MARCA, mesmo modelo.”MALCIDES diz: “é....um anestesista, um obstetra e um pediatra, ta certo?”ERIN diz: “hã! O pediatra quem é, é o Jean?”MALCIDES diz: “é.”ERIN diz: “hã.”MALCIDES diz: “certo, aí você vai e joga, ta certo? Joga ...é....é....o valor de quatrocentos mil e

vinte oito mil....”ERIN diz: “hã.”MALCIDES diz: “eu acho que já poderia era botar um...o...o...quanto é que botaria ....é...é....pra

ficar de participação do ...do....do....pro...acho que bota o que? 5 %?”ERIN diz: “de que, de administração?”MALCIDES diz: “não, de retorno pra administração.”ERIN diz: “é.”MALCIDES diz: “é, quantos? 5% ou 10%?”ERIN diz: “(Erin então fala com alguém na rua dizendo: “ei moço, aonde é o Ministério Público

aqui?”) só um minutinho meu filho (então Erin conversa com alguém e não dá para compreender o que falam, só em dado momento que ela diz: “é não...é não....fica lá mesmo...dentro do Fórum....não (trecho não compreendido pelo analista) é o Ministério Público onde é que fica a sede do Ministério Público? tá bom então”) diga meu filho, ta, 5% de retorno para a administração...e é normal isso?”

MALCIDES diz: “não, é que eu to comprando popular, pra poder fidelizar o contrato.”ERIN diz: “10%? 5% é pouco, pode botar 10. Eles normalmente fazem em torno de 20.”MALCIDES diz: “então ficaria alguma coisa em torno (trecho não compreendido pelo analis-

ta).”ERIN diz: “geralmente o retorno é 10 a 20 %, normalmente.”MALCIDES diz: “(trecho não compreendido pelo analista) acrescentar mais quarenta mil aí

146 Vide documentos às fls. 874/880 do Volume III.

160

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(trecho não compreendido pelo analista) quatrocentos e vinte oito, seria quatrocentos e sessenta e oito mil.”ERIN diz: “ainda vai ser mais baixo do que o dele?”MALCIDES diz: “não, ta mais alto, o dele é quatrocentos e cinqüenta.”ERIN diz: “ele não pode botar mais alto, pode?”MALCIDES diz: “omi, estoure, bote quatrocentos e quarenta.”ERIN diz: “anram.”MALCIDES diz: “ai a gente espreme pra baixo.”ERIN diz: “ta bom.”MALCIDES diz: “ta.”ERIN diz: “ta. Ei e quem é o contato.” (então o áudio faz som de encerramento de chamada)

O pagamento de propina para fidelização do contrato, não só constitui

improbidade administrativa, mas também sujeita os negociantes aos rigores da lei penal, pelo

cometimento dos crimes de corrupção ativa pelos particulares e de corrupção passiva por parte dos

funcionários do governo, ainda não identificados, que recebiam essa vantagem indevida.

Sopesando o diálogo acima transcrito com as provas carreadas ao presente caso,

resta evidente que tal conversa se harmoniza com os robustos indícios de superfaturamento no valor

contratado pela empresa Adventus com a Associação MARCA, irregularidade que inclusive fora

objeto de ponderação por parte da Comissão de Auditoria da SESAP, consoante se extrai do

seguinte trecho retirado do Relatório Final147 elaborado pela mencionada equipe:

“3. O núcleo de ginecologia nos entregou um documento em anexo II, onde detalha a reunião realizada entre a empresa MARCA e o Núcleo de Ginecologia, a cerca dos valores cobrados pelo plantão de ginecologia na unidade hospitalar, no documento detalha a proposta dos profissionais pelo plantão de 12hs o valor de R$ 1.200,00 (Hum mil e duzentos Reais); no entanto foi celebrado o contrato com Adventus de Fortaleza onde o plantão de 24 h e pago o valor de R$ 8.064 (Oito mil e sessenta e quatro reais, por dia); a equipe de auditoria pegou o valor contratualizado com a empresa Adventus Group, R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) e dividimos por 31 dias, segundo o contrato o valor de R$ 8.064,00 corresponde a dois plantonistas e medico diarista, dividindo esse valor por 3, fica R$2.688,00 (dois mil seiscentos e oitenta e oito reais);4. Os valores dos contratos apresentam indícios que estão bem acima dos valores praticados no mercado;”

Desta feita, tudo leva a crer que o montante a maior identificado pela Comissão de

Auditoria como superfaturamento do valor acordado pela Associação MARCA com a empresa

Adventus Group e Consultores Ltda. significa o possível repasse realizado em proveito da

“administração” para garantir a “fidelização do contrato” - aquilo que é reportado no diálogo como

“retorno para administração”.

Neste sentido, a ausência de documentação que comprove a contraprestação dos

serviços realizados pela empresa Adventus Group e Consultores Ltda., serve, em verdade, como 147 Vide fl. 566 do citado documento acostado ao Volume 2 do IC em anexo.

161

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subterfúgio para esconder essa diferença de quantia, como forma de não evidenciar tal prática ilícita

e justificar aquilo que, contabilmente, não pode ser atestado.

ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA CONTÁBIL LTDA. – ME:

Apurou, ainda, o Corpo Técnico do TCE que a empresa Espíndola & Rodrigues

Assessoria Contábil Ltda. – ME, inscrita no CNPJ sob o nº 08.364.700/0001-77, representada por

Célia Regina Caruzo Espíndola, sediada na cidade do Rio de Janeiro/RJ, firmou, em 01/3/2012,

contrato148, no valor mensal de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) com a Associação MARCA, tendo

como objeto a contratação “de prestação de serviços especializados para assessoria contábil do

Hospital Estadual da Mulher”.

Ocorre que detectou o Corpo Técnico que, relativamente a esse contrato, o que

existe são cinco pagamentos apresentados nas prestações de contas dos meses de julho e outubro de

2012, de despesas no valor total de R$ 20.000,00 (vinte e mil reais), os quais não possuem a

devida comprovação nos autos da efetiva contraprestação desses serviços contratados. 149

Lembrou o Corpo Técnico do TCE que, de acordo com a Cláusula Quarta do

referido contrato, a empresa tem como obrigações, dentre outras, de conduzir os serviços prestados

conforme as normas estabelecidas pelo Conselho Regional de Contabilidade (CRC), assim como

elaborar listagem de documentos necessários ao preparo de guias e relatórios, com a indicação das

datas dos seus respectivos vencimentos.

No entanto, ponderou a Auditoria que tais obrigações pactuadas apresentam

características genéricas e com pouca definição. Ademais, bem pontuou que a Lei Federal nº 9.790,

de 23 de março de 1999, estabelece em seu artigo 4º, alínea “a”, que as normas referentes às

prestações de contas devem observar os princípios da contabilidade e as Normas Brasileiras de

Contabilidade.

Assim, asseverou o Corpo Técnico que, "em relação aos serviços prestados de

acordo com as Normas Brasileiras de Contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade

148 Vide contrato às fls. 298-304, no Anexo XXXVII, deste IC.149 Vide Tabela 30 , à fl. 82 da Informação nº 326/2013-DAD. Os documentos referidos nessa Tabela estão acostados, nas páginas respectivas, nos Anexos

XXVI e XXXVI deste IC.

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(CFC) regulamentou, por meio da Resolução nº 1.409, de 21/9/2012, aplicável aos exercícios

iniciados a partir de 1/1/2012, que as demonstrações contábeis de elaboração obrigatória pela

entidade sem finalidade de lucros são: o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do

Período, a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Fluxos de

Caixa e as Notas Explicativas."150

E essa obrigação estava estabelecida de forma cristalina, na Cláusula Sétima,

Parágrafo Primeiro, inciso II, do Termo de Parceria 001/2012, a saber:

Cláusula Sétima – Do Acompanhamento e da Prestação de Contas(...)Parágrafo Primeiro – A OSCIP deverá entregar ao PARCEIRO PÚBLICO a prestação de contas instruída com os seguintes documentos:

II - demonstrativo integral da receita e despesa realizadas na execução do objeto, oriundos dos recursos recebidos do PARCEIRO PÚBLICO, bem como, se for o caso, demonstrativo de igual teor dos recursos originados da própria OSCIP e referentes ao objeto deste TERMO DE PARCERIA, assinados pelo contabilista e pelo responsável da OSCIP indicado na Cláusula Terceira;

Nada obstante, segundo o Corpo Técnico do TCE, o único documento fornecido

pela Associação MARCA foram os demonstrativos de receita e despesa realizadas na execução do

Termo de Parceria 001/2012. Contudo, não há assinatura do contabilista, assim como não se

identifica nas prestações de contas nenhum demonstrativo contábil, dentre os estabelecidos pelo

CFC (Conselho Federal de Contabilidade).

Desta forma, conclui o Corpo Técnico pela irregular prestação de contas de

despesas relativas aos serviços de assessoria contábil, diante da inexistência de efetiva

contraprestação dos serviços contratados, ferindo a alínea “a” do artigo 4º da Lei Federal nº

9.790/1999, motivo pelo qual devem responder solidariamente pelo débito de R$ 20.000,00 (vinte

e mil reais), a Associação MARCA, por não comprovar devidamente o uso de recursos públicos,

como também a empresa Espíndola & Rodrigues Assessoria Contábil Ltda. – ME, em face do

dano originado pela não contraprestação dos serviços.

AZEVEDO & LOPES AUDITORES INDEPENDENTES :

150 Fl. 83 da Informação nº 326/2013-DAD.

163

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Por fim, detectou o Corpo Técnico que, na prestação de contas do mês de outubro

de 2012, foram realizados dois pagamentos à empresa Azevedo & Lopes Auditores Independentes,

inscrita no CNPJ sob o nº 06.337.379/0001-06, no valor total de R$ 3.940,00 (três mil, novecentos

e quarenta reais).151

No entanto, foi apurado que a comprovação dessas duas despesas "não se deu por

notas fiscais ou outros documentos revestidos de formalidades legais, mas pela apresentação de

recibos com informações precárias. Na descrição dos serviços, existe apenas que foram “serviços

de auditoria externa na prestação de contas mensal do projeto Hospital da Mulher de Mossoró”. 152

Lembrou a Auditoria que a Lei Federal nº 9.790, de 23 de março de 1999, nos

termos do artigo 4º, inciso VII, alínea “c”, prevê a obrigatoriedade da realização de auditoria,

inclusive por auditores externos independentes se for o caso, da aplicação dos recursos objeto do

Termo de Parceria. Assim, nos termos da Cláusula Sétima, parágrafo primeiro, inciso IV, do

Termo de Parceria nº 001/2012, a Associação MARCA deveria ter fornecido à SESAP, juntamente

com as prestações de contas, “parecer e relatório de auditoria independente sobre a aplicação dos

recursos objeto deste Termo de Parceria”.153

Ocorre que foi constatada a inexistência de relatório de auditoria expressando

opinião acerca dos aspectos de consistência, regularidade e autenticidade dos registros e dos

documentos constantes das prestações de contas mensais da MARCA relativas ao Termo de Parceria

em análise.

Assim, o Corpo Técnico instrutivo do TCE asseverou: "conclui-se pela irregular

prestação de contas de despesas relativas aos serviços de auditoria externa, visto que não existe a

efetiva contraprestação desses, ferindo a alínea “c” do inciso VII do artigo 4º da Lei Federal nº

9.790/99, motivo pelo qual devem responder solidariamente pelo débito de R$ 3.940,00 a

Associação MARCA, por não comprovar devidamente o uso de recursos públicos, como também a

empresa Azevedo & Lopes Auditores Independes Ltda. – ME (CNPJ nº 06.337.379/0001-06),

tendo em vista o dano originado pela não contraprestação dos serviços."

Desse modo, após detectar todas as irregularidades supracitadas, o Corpo Técnico 151 Vide Tabela 31, da Informação nº 326/2013-DAD, que relacionou os pagamentos à citada empresa. Os documentos referidos nessa tabela estão

acostados, nas páginas respectivas, no Anexo XXXVI, deste IC.152 Fl. 84 da Informação nº 326/2013-DAD.153 Vide Termo de Parceria, às fls. 270-284, v. 1, deste IC.

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do Tribunal de Contas deste Estado concluiu pela existência de dano ao Erário Estadual, no

valor total de R$ 11.827.563,84 (onze milhões, oitocentos e vinte e sete mil, quinhentos e

sessenta e três reais e oitenta e quatro centavos), o que merece a devida reprimenda pelo Poder

Judiciário, sendo inadmissível a conduta de todos os demandados, os quais, cada um a seu modo,

contribuíram e participaram de modo determinante para essa sangria nos cofres públicos, conforme

será detalhado no tópico a seguir.

II – OS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA COMETIDOS.

INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS

A Constituição Federal, no artigo 37, § 4º, consagra a repressão aos atos de

improbidade administrativa, culminando-lhes severas sanções, quais sejam, a suspensão dos direitos

políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário.

Acerca do conceito de probidade administrativa, colhe-se da doutrina os seguintes

ensinamentos:

“O funcionário deve servir à Administração com honestidade, procedendo no exercício de suas funções sempre no intuito de realizar os interesses públicos, sem aproveitar os poderes e facilidades delas decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer . ”154

“O princípio da probidade administrativa é norma superior que exige do agente público e de terceiros atos honestos e leais para com a Administração Pública.”155 (grifo não pertencente ao original)

Em síntese, é prudente dizer que todo agente público deve exercer o seu mister

colocando como única finalidade a ser perseguida a consecução do interesse público, porque agindo

dessa maneira estará procedendo conforme prescreve o dever de probidade. Não é lícito ao

administrador utilizar as suas prerrogativas para auferir vantagens para si próprio ou para outrem

vedadas pelo ordenamento jurídico, devendo, portanto, ao desempenhar uma função pública, ter

como fim precípuo o servir, e não desfrutar como se fosse proprietário dos bens, rendas e serviços

públicos, em detrimento dos interesses dos administrados.

Segundo De Plácido e Silva o vocábulo ‘‘improbidade’’, do latim improbitas, tem

o sentido de desonestidade, má fama, incorreção, má conduta, má índole, mau caráter, e

‘‘revela a qualidade do homem que não procede bem, por não ser honesto, que age indignamente,

154 CAETANO, Marcelo. Manual de Direito Administrativo. Coimbra:Livr. Almedina, 1992, pág. 749.155 MATOS NETO, Antônio José de. Responsabilidade Civil por Improbidade Administrativa. RT, v.727, maio 1996.

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por não ter caráter, que não atua com decência, por ser amoral’’ e “... sem capacidade ou

idoneidade para a prática de certos atos’’156. Nesta linha de pensamento, improbidade

administrativa constitui uma deformidade de caráter do agente público, que atua na contramão

daquilo que tem como moralmente correto, contrariando os interesses institucionais do órgão a que

pertence.

No presente caso, restou patente que os ora demandados afrontaram o dever de

probidade imposto pelo regramento constitucional brasileiro e, desta forma, terminaram por incorrer

em diversas das condutas ímprobas descritas na Lei nº 8.429/92.

De fato, consoante restou largamente demonstrado alhures, estruturou-se no

âmbito da Administração Pública Estadual esquema ilícito para no curso da implementação de um

novo modelo de gestão descentralizada de serviços públicos de saúde, projeto de governo da

demandada ROSALBA CIARLINI. O que deveria ser feito sob o manto da impessoalidade

resultou na escolha favorecida e pessoalizada de determinadas entidades, particularmente a

ASSOCIAÇÃO MARCA, para a prestação desses serviços no Hospital da Mulher, sob o norte dos

acordos clandestinos que maculam o dever de probidade perante a Administração Pública.

Para tal fim, contou ela com o apoio inestimável e estratégico dos servidores

públicos ora demandados DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA, ALEXANDRE MAGNO ALVES

DE SOUZA, MARIA DAS DORES BURLAMAQUI e VALCINEIDE ALVES, uma vez que

cada um deles, valendo-se de seus cargos/funções à época, contribuiu para que essa contratação

pudesse ser implantado e executado a todo custo, como efetivamente foi feito, provocando um

imenso dano ao erário, difícil de ser recomposto.

Noutra banda estão os demandados TUFI MERES, OTTO SCHMIDT,

LEONARDO JUSTIN CÂRAP, ROSIMAR BRAVO, ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA, e

ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, bem como as empresas ASSOCIAÇÃO MARCA PARA

PROMOÇÃO DE SERVIÇOS, NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL - SALUTE

SOCIALE, HEALTH SOLUTIONS LTDA., ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA

CONTÁBIL LTDA. - ME, ADVENTUS GROUP E CONSULTORES LTDA., NÚCLEO

SERVIÇOS DIAGNÓSTICOS LTDA., AZEVEDO & LOPES AUDITORES

INDEPENDENTES LTDA. - ME, OLIVAS PLANEJAMENTO ASSESSORIA E SERVIÇOS

S/C LTDA e THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA, que, nos termos do disposto

156 Vocabulário Jurídico, Forense, 1984, p. 431.

166

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no artigo 3º da Lei de Improbidade Administrativa, concorreram (as pessoas físicas) e se

beneficiaram (as pessoas jurídicas) da indevida parceria celebrada pelo Estado do RN, através da

SESAP, com a Associação MARCA para Promoção de Serviços, instrumentalizada por meio do

Termo de Parceria nº 001/2012.

E ao praticarem os atos ímprobos detidamente explicitados na presente ação, os

demandados dolosamente causaram lesão ao erário estadual, ensejando uma perda patrimonial

avaliada pelo Corpo Técnico do TCE/RN na cifra de R$ 11.804.811,38 (onze milhões, oitocentos e

quatro mil, oitocentos e onze reais e trinta e oito centavos), acrescido de R$ 155.697,62 (cento e

cinquenta e cinco mil, seiscentos e noventa e sete reais e sessenta e dois centavos), quantificado

pela Comissão de Auditoria da SESAP.

Com efeito, é certo que a sangria ocorrida nos cofres públicos deste Estado

decorreu diretamente da maneira como se processou a contratação da Associação MARCA, qual

seja, por meio de tratativas obscuras realizadas nos bastidores da Administração Pública Estadual,

do direcionamento exacerbado em proveito da Associação MARCA, dos fundamentos “fabricados”

que alicerçaram a parceria em destaque e a escolha pessoal da contratada pelos demandados

ROSALBA CIARLINI e DOMÍCIO ARRUDA, entre tantas outras ilegalidades objeto de

enfrentamento no bojo desta peça. E, ao assim agirem, incorreram nos atos de improbidade

administrativa elencados abaixo, do modo como será detalhado resumidamente em seguida:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:(...)XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:(...)VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento;(..)XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada sem observar as formalidades previstas na lei;

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

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I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

II.1 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA ROSALBA CIARLINI.

In casu, a atuação da demandada ROSALBA CIARLINI foi determinante para

produção dos resultados danosos ao patrimônio público. Até mesmo porque tudo foi motivado pelo

interesse da mesma em implantar e executar, em seu governo, a terceirização de determinados

serviços de saúde, a qualquer custo e com ofensa ao princípio da impessoalidade.

Sob essa ótica, pode-se atribuir a ela a responsabilidade pela montagem estratégica

da equipe de servidores públicos ora demandados que atuaram no afã de implementar, com afronta

às leis, o citado modelo de gestão, visto que seguiram exatamente, como primeira experiência, o

projeto alardeado pela governadora na imprensa local, desde julho de 2011, a inauguração de uma

unidade materno-infantil em sua “cidade natal”, Mossoró.

Ademais, partiu dela todas as exigências para efetivar num curto espaço de tempo

a inauguração do Hospital da Mulher, inclusive a escolha da contratada, com quem assumiu

compromissos anteriores à celebração do termo de parceria.

Nesse diapasão, imputa-se à demandada ROSALBA CIARLINI a escolha direta

da Associação MARCA e a autorização prévia para preparação do Hospital da Mulher, passando ao

largo e violando frontalmente os pressupostos legais para se estabelecer uma parceria com uma

OSCIP, bem como anuindo com a produção dos atos elaborados no bojo do respectivo

procedimento administrativo para “justificar” a escolha já feita.

Além disso, expediu a Governadora o Decreto nº 22.575, de 02 de março de 2012,

que autorizou a abertura de crédito suplementar na ordem de R$ 15.806.057,91 (quinze milhões,

oitocentos e seis mil, cinquenta e sete e reais e noventa e um centavos), para pagamento da

contratação ilegal em destaque.

Ademais, urge destacar que a demandada ROSALBA CIARLINI, juntamente

com o demandado DOMÍCIO ARRUDA, autorizaram verbalmente a Associação MARCA a

contrair despesas antes mesmo da celebração do Termo de Parceria, o que, a toda evidência, colide

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diretamente com o ordenamento jurídico brasileiro, consoante se explicitou alhures.

Outrossim, restou evidenciada a plena ciência e conivência da demandada

ROSALBA CIARLINI em relação às ilegalidades que ocorreram durante a execução da parceria

em comento, tendo ela inclusive agido de modo a obstaculizar o trabalho de auditoria realizado

pelas comissões criadas com este propósito, por meio da designação da demandada VALCINEIDE

ALVES para obstar o referido mister.

À guisa do breve exposto e por tudo mais que outrora foi largamente relatado, o

Ministério Público Estadual imputa à demandada ROSALBA CIARLINI a prática dos atos de

improbidade previstos nos artigos 10, caput, incisos VIII, IX e XIV, e 11, caput, e inciso I, da Lei

nº 8.429/92.

II.2 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AO

DEMANDADO DOMÍCIO ARRUDA.

Ao assumir o cargo de Secretário Estadual de Saúde, passou o requerido

DOMÍCIO ARRUDA a ser o braço direito da demandada ROSALBA CIARLINI, especialmente

no que diz respeito à implementação dos planos de governo atinentes à área da saúde.

In casu, o demandado DOMÍCIO ARRUDA, em conjunto com os demandados

ALEXANDRE MAGNO e MARIA DAS DORES BURLAMAQUI, não só anuiu com a escolha

direta feita pela Governadora da Associação MARCA, como deixou a cargo desta a realização dos

projetos e custos suportados pelo Governo do RN para manter a aludida contratação, defendendo,

deste modo, os interesses da respectiva OSCIP e não do poder público.

Assim, DOMÍCIO ARRUDA atuou da seguinte forma: executou a contratação

direta da Associação MARCA, com a qual já existia um prévio acerto com a demandada

ROSALBA CIARLINI ROSADO; montou e executou o projeto relativo à contratação direta da

Associação MARCA, sendo responsável pela ausência de um estudo prévio aprofundado acerca dos

custos que a referida parceria importaria aos cofres públicos; participou de todas as decisões que

redundaram na contratação direta e em caráter emergencial, por dispensa de licitação, da Associação

MARCA, bem como na “fabricação” do procedimento administrativo nº 3972/2012-1, com especial

destaque para os próprios atos por ele exarados; autorizou, juntamente com a demandada

ROSALBA CIARLINI, que a Associação MARCA contraísse despesas antes mesmo da celebração

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do Termo de Parceria nº 01/2012; e ainda celebrou o Termo de Parceria à total revelia do Conselho

de Saúde, burlando a exigência do art. 10, § 1º, da Lei 9.790/99.

E diante de tais condutas, o Ministério Público Estadual imputa ao demandado

DOMÍCIO ARRUDA a prática dos atos de improbidade previstos nos artigos 10, caput, incisos

VIII, IX e XIV, e 11, caput, e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

II.3 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA MARIA DAS DORES BURLAMAQUI.

Em continuidade ao resumo das condutas atribuídas aos demandados epigrafados,

insta explicitar acerca das atinentes à demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI.

Desde sua nomeação ao cargo de Secretária Adjunta da SESAP, recebeu a

demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI a incumbência de atuar como interlocutora da

demandada ROSALBA CIARLINI e, nesta função, se prestava a não só mantê-la atualizada acerca

dos andamentos dados aos projetos de seu interesse, como também de repassar aos demais

envolvidos as ordens, vontades e os anseios da governadora.

E foi no desempenho do papel por ela assumido que terminou por colaborar

ativamente para que a contratação com a Associação MARCA fosse efetivada. Sua ciência acerca

da forma como as tratativas se deram no presente caso é plena. Tanto que MARIA DAS DORES

BURLAMAQUI fez uso consciente da minuta do edital elaborado pela organização criminosa

chefiada por TUFI MERES, que circulava nos e-mails de parcela dos envolvidos no mês de

agosto/2011, para embasar o memorando nº 047/2011, datado de 06.09.2011, que foi um dos

documentos utilizados para iniciar o procedimento administrativo nº 3972/2012-1.

In casu, a demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI, em conjunto com

os demandados ALEXANDRE MAGNO e DOMÍCIO ARRUDA não só anuiu com a escolha

direta feita pela Governadora da Associação MARCA, como deixou a cargo desta a realização dos

projetos e custos suportados pelo Governo do RN para manter a aludida contratação, defendendo,

deste modo, os interesses da respectiva OSCIP e não do poder público, atuando ainda da seguinte

forma: executando a contratação direta da Associação MARCA, com a qual já existia um prévio

acerto da demandada ROSALBA CIARLINI; colaborando ativamente com os demandados

ALEXANDRE MAGNO e DOMÍCIO ARRUDA na finalização do projeto apresentado à

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governadora, que justificou a celebração da parceria em vislumbre; sendo responsável pela ausência

de um estudo prévio aprofundado acerca dos custos que a referida parceria importaria aos cofres

públicos; contribuindo para a execução dos atos que antecederam à celebração do Termo de

Parceria nº 01/2012, como é o caso do acompanhamento in locu da obra de reforma do prédio onde

veio a funcionar o Hospital da Mulher e participando da seleção de pessoal para ocupar cargos no

âmbito do Hospital da Mulher, atendendo a critérios de interesse político.

E ao assim agir, praticou a demandada MARIA DAS DORES BURLAMAQUI,

os atos ímprobos descritos na Lei nº 8429/92 nos artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e 11,

caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

II.4 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA VALCINEIDE ALVES.

Outra importante servidora pública que colaborou com a execução do projeto da

demandada ROSALBA CIARLINI foi a demandada VALCINEIDE ALVES. Diferentemente dos

demais agentes públicos epigrafados, a demandada VALCINEIDE ALVES só veio a compor a

equipe estrategicamente montada pela Governadora ROSALBA CIARLINI para controle das

atividades relativas ao Hospital da Mulher em julho de 2012 , ou seja, durante a execução do Termo

de Parceria nº 01/2012. Contudo, não por isso merece algum tipo de descrédito sua contribuição

para os desmandos ocorridos no presente caso.

Isso porque em sua designação para ocupar a função de gestora do Termo de

Parceria nº 01/2012 foi essencial para a continuidade da execução do plano da Chefe do Executivo

Estadual relacionado ao funcionamento a todo custo do Hospital da Mulher sob a égide do poderio

da organização denominada Associação MARCA, uma vez que, após a deflagração da operação

Assepsia, emergiram fortes suspeitas acerca da ocorrência de ilegalidades envolvendo a parceria

celebrada pelo Governo deste Estado com a referida OSCIP, fato este que, a qualquer momento,

poderia redundar na suspensão das respectivas atividades ante o descortinamento da malversação de

dinheiro público no presente caso.

Neste pórtico, como resposta às suspeitas levantadas à época pelos órgãos de

fiscalização, como o Ministério Público Estadual, a demandada ROSALBA CIARLINI designou

formalmente a demandada VALCINEIDE ALVES para atuar na função de gestora do respectivo

Termo de Parceria. Já na surdina, delegou uma verdadeira “missão” à mesma, que foi de obstar

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qualquer trabalho de fiscalização dos órgãos de controle.

Realmente, foi com bastante "esmero e dedicação" o mister desenvolvido pela

demandada VALCINEIDE ALVES, na condição de braço direito da Governadora dentro do

Hospital da Mulher, da forma que ela própria alardeava no local, que integrantes de ambas as

comissões de fiscalização estruturadas naquele tempo, a de Auditoria Interna da SESAP e a de

Monitoramento e Avaliação do Contrato de Gestão 001/2012, relataram que ela dificultou muito o

acesso às informações atinentes à execução do TP em comento, bem como se mostrou sempre com

uma postura intimidadora, apresentando-se como a pessoa que trabalhava para o “casal”,

referindo-se à Governadora e ao seu esposo.

Entrementes, esse mesmo desempenho não foi aferido em relação à específica

atividade de gestora do Termo de Parceria nº 01/2012. Ora, não obstante possuir a demandada

VALCINEIDE ALVES conhecimentos técnicos suficientes a embasar sua designação, restou

constatado pelos componentes da comissão de auditoria da SESAP que, mesmo após sua chegada à

administração do Hospital da Mulher, inúmeras impropriedades/irregularidades continuaram sendo

executadas pelo corpo técnico da Associação MARCA à frente do aludido nosocômio e que estas,

inclusive, contaram com o atesto de legítimas e legais por parte da demandada Valcineide157.

Como se vê, ao invés de ter realizado o mister para o qual foi formalmente

designada, qual seja, “fiscalizar e atestar a efetividade da execução do contrato, bem como

materializar a sua declaração de 'Atesto' nos quantitativos e valores constantes das notas

fiscais/faturas apresentadas pela contratada, declarando sua correção, compatibilidade e

vinculação ao contrato”, atestou os serviços não executados, ocultando essas ilegalidades da

fiscalização tanto de seus superiores quanto dos demais órgãos, como é o caso do Ministério

Público, em franca contraposição ao que prevê o artigo 13 da Lei nº 9.790/99.

Destarte, revela-se flagrante que a demandada VALCINEIDE ALVES foi

também responsável pelos desmandos ocorridos durante a execução do Termo de Parceria nº

01/2012. E pior, sua “complacência” com os atos ímprobos narrados decorreu de “missão”

pessoalmente dada pela demandada ROSALBA CIARLINI.

Portanto, em seu agir, VALCINEIDE ALVES praticou atos de improbidade

administrativa, por ter atestado serviços não prestados ou prestados incorretamente, como também

157 Vide documento às fls. 3399/3404 do Anexo XV e trecho constante no relatório às fls. 596/597 – Volume 2.

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por ter dolosamente obstruído, como pôde, os trabalhos de fiscalização da Auditoria Interna da

SESAP e da Comissão de Monitoramento e Avaliação do Contrato de Gestão 001/2012.

Assim agindo, incorreu a demandada VALCINEIDE ALVES na prática dos atos

de improbidade administrativa previstos nos artigos 10, caput, e 11, caput e inciso II, da Lei nº

8.429/92.

II.5 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AO

DEMANDADO ALEXANDRE MAGNO.

Consoante largamente explicitado nesta petição, o demandado ALEXANDRE

MAGNO ALVES DE SOUZA participou de todas as fases da contratação, desde a montagem do

negócio, atuando ativamente das negociações de preços, obras de readequação, contatos com os

dirigentes da MARCA e com TUFI SOARES MERES, das tratativas com a Governadora

ROSALBA CIARLINI e com o Secretário DOMÍCIO ARRUDA, tudo dentro de um plano mais

amplo que foi abraçado pela Governadora ROSALBA CIARLINI de terceirizar quase que por

completo a saúde estadual.

Nesta esteira, o demandado ALEXANDRE MAGNO, em conjunto com os

demandados MARIA DAS DORES BURLAMAQUI e DOMÍCIO ARRUDA, não só executou a

contratação direta da Associação MARCA, como deixou a cargo desta a realização dos projetos e

custos suportados pelo Governo do RN para manter a aludida contratação, defendendo, deste modo,

os interesses da respectiva OSCIP e não do poder público, atuando ainda da seguinte forma: montou

e executou, juntamente com o demandado DOMÍCIO ARRUDA, a elaboração do projeto

apresentado à governadora que deu o pontapé inicial para celebração da parceria em vislumbre;

participou de todas as decisões que redundaram na contratação direta e em caráter emergencial, por

dispensa de licitação, da Associação MARCA, bem como na “fabricação” do procedimento

administrativo nº 3972/2012-1 e na execução das despesas autorizadas antecipadamente pelos

demandados ROSALBA CIARLINI e DOMÍCIO ARRUDA à celebração do Termo de Parceria

nº 01/2012.

Já no que tange às ilegalidades e irregularidades in casu imputadas à organização

criminosa a qual integra a Associação MARCA, a colaboração prestada pelo demandado

ALEXANDRE MAGNO se deve ao estreito vínculo por ele mantido tanto com o “chefe”, o

demandado TUFI MERES, quanto com os demandados ROSIMAR BRAVO e ANTONIO

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CARLOS DE OLIVEIRA, desde a época em que o Município de Natal iniciou a contratação do

aludido grupo criminoso.

Ressalte-se que esse também foi um dos motivos que o levou a ser cedido para o

Governo deste Estado com a finalidade de assessorar o demandado DOMÍCIO ARRUDA, haja

vista que a estreita aproximação com os chefes da entidade privada favorecida pela governadora

facilitou e muito a execução dos planos pretendidos pela Chefe do Executivo.

Na verdade, a ida do demandado ALEXANDRE MAGNO foi igualmente

estratégica para implementação também dos projetos criminosos arquitetados pelos integrantes da

organização em destaque, visto que passaram a ter uma pessoa da confiança deles dentro da

Administração Pública Estadual, abrindo “portas”, facilitando contatos, defendendo seus interesses,

em resumo, “advogando” em favor deles.

E, desta feita, foi a partir do terreno fértil produzido no âmbito do Governo deste

Estado pelo demandado ALEXANDRE MAGNO que se desenvolveram os planos de

locupletamento ilícito estruturados por partes dos membros do grupo criminoso sob exame, cujas

consequências em termos unicamente monetários chegaram ao desvio do montante de R$

11.804.811,38 (onze milhões, oitocentos e quatro mil, oitocentos e onze reais e trinta e oito

centavos), acrescido de R$ 155.697,62 (cento e cinquenta e cinco mil, seiscentos e noventa e sete

reais e sessenta e dois centavos), quantificado pela Comissão de Auditoria da SESAP.

E assim agindo, ALEXANDRE MAGNO praticou condutas que se enquadraram

com perfeição nos atos de improbidade previstos nos artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e

11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

II.6 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AO

DEMANDADO TUFI SOARES MERES.

Em continuidade à individualização das condutas ímprobas imputadas aos

membros da organização criminosa em destaque, cumpre trazer à baila breve explanação sobre as

relacionadas ao “chefe”, o demandado TUFI SOARES MERES.

Tal condição hierárquica restou construída pelo demandado TUFI MERES à custa

de sua vasta experiência no desvio de recursos públicos, a qual remonta a escândalos de corrupção

174

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envolvendo a entidade SALUTE SOCIALE, uma das entidades constantes na respectiva

organização, ao tempo em que recebia a denominação de CBDDC – Centro Brasileiro de Defesa dos

Direitos da Cidadania. E como consequência dessa vida de malfeitos praticados durante todos esses

anos, aprimorou sua atuação com a estruturação de um verdadeiro “pool” com empresas de fachada

(ARTESP/MEDSMART/RJ CONSULTORIA DIFERENCIADA EM SAÚDE LTDA EPP/

ITAYPARTNERS INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE NEGÓCIOS LTDA ME/ EDITORA

GRÁFICA IMPERATOR, dentre outras), cujo fundo comum tem como principal beneficiária a

entidade SALUTE VITA, da qual é presidente.

No presente caso, há registro da participação ativa do demandado TUFI MERES

desde o início do ano de 2011, oportunidade em que discutiu a implementação da terceirização de

serviços públicos de saúde no âmbito do Estado do RN, tendo ofertado como entidade parceira a

Associação MARCA, consoante relatou em e-mail transcrito anteriormente.

Entrementes, sua atuação não se restringiu a tal episódio. Muito pelo contrário, a

partir do material colhido durante a operação Assepsia, restaram identificados diversos e-mails,

diálogos e mensagens que evidenciam que, em todos os momentos, o demandado TUFI MERES

esteve sempre colaborando na clandestinidade com a implantação do projeto de terceirização da

saúde do governo da demandada ROSALBA CIARLINI.

Neste sentido, urge exemplificar que foi dele, como chefe da organização, que

partiu a solicitação para a pessoa de LEONARDO JUSTIN CÂRAP, igualmente demandado,

elaborar o projeto que descreveu o perfil proposto pela organização em vislumbre para o Hospital da

Mulher, como também foi identificado que circulou em seu email pessoal a minuta do Edital que

instruiu o memorando nº 047/2011, datado de 06.09.2011, acostado ao procedimento administrativo

nº 3972/2012, o que revela um vínculo inquestionável com a Chefe do Executivo Estadual, ainda

que por meio de terceiros.

Além disso, restou clara sua penetração no âmbito decisório da Administração

Pública Estadual, visto que desde 07.09.2011 o demandado TUFI MERES já prenunciava em

correio eletrônico outrora transcrito que se não fosse realizada a modificação na Lei das OS's, a

contratação em vislumbre se daria por meio da celebração de “Termo de Parceria”, como

efetivamente foi feito.

Outrossim, impende relembrar o papel de chefe da organização, patamar que

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autorizou o demandado TUFI MERES a alterar, sem qualquer critério ou justificativa, a planilha

financeira preliminar elaborada pelo demandado OTTO SCHMIDT, promovendo a elevação dos

custos atinentes a despesas claramente genéricas arroladas na proposta da Associação MARCA,

como, por exemplo, treinamentos interno e externo, programação visual, consultoria jurídica,

desenvolvimento e implantação de sistemas etc, conduta esta que redundou em flagrante

locupletamento ilícito por parte da organização criminosa comandada pelo mesmo.

De fato, tal postura só evidencia a expertise do mesmo em onerar os custos para o

respectivo ente público contratante, a partir da elevação aleatória de despesas estrategicamente

genéricas inseridas na proposta de preços de entidade integrante do seu grupo criminoso, com o

único e exclusivo intuito de desviar o máximo de recursos públicos possível em proveito próprio e

daqueles que fazem parte de sua rede criminosa. E isso sem contar com a percepção ilegal de

montante a título de lucro líquido, também diretamente prevista em documento denoninado de

“planilha de resultados”, consoante restou explicitado alhures.

Como se pôde demonstrar, valeu-se o demandado TUFI MERES da celebração,

por dispensa de licitação, do Termo de Parceria nº 001/2012 que teve como entidade contratada a

Associação MARCA, integrante de sua rede criminosa, como subterfúgio para lesar o erário público

deste Estado em proveito próprio e dos seus asseclas.

Pelo brevemente exposto e por tudo mais que restou demonstrado na presente

petição, o Ministério Público Estadual imputa ao demandado TUFI MERES a prática dos atos de

improbidade administrativa previstos nos artigos 9º, inciso XI, 10, caput e incisos VIII, IX e XIV,

e 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

II.7 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AO DEMANDADO

OTTO SCHMIDT.

Com efeito, impende aproveitar o momento para individualizar as condutas

atribuídas ao gerente administrativo financeiro158 da organização criminosa sob exame, o

demandado OTTO SCHMIDT, a quem o Ministério Público Estadual imputa a prática dos atos de

improbidade administrativa descritos nos artigos 10, caput e incisos VIII e IX, e 11, caput e I, da

Lei nº 8.429/92.

158 A função de gerente administrativo financeiro foi atribuída ao demandado Otto Schmidt pelo demandado Antônio Carlos (Maninho) em e-mail datado de 14 de fevereiro de 2012 citado no tópico IV.1.

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Além da mencionada função, cumula o demandado OTTO SCHMIDT a diretoria

da SALUTE SOCIALE, uma das empresas contratadas por “quarteirização” pela Associação

MARCA no presente caso, e o Conselho Consultivo da SALUTE VITA, o que, a toda evidência, só

serve para escancarar ainda mais sua importância no âmbito do referido grupo criminoso.

Fundamentalmente, foi de sua incumbência preparar a planilha financeira

preliminar que serviu de base para a proposta de preço da Associação MARCA in casu, a qual

continha estratégica e dolosamente despesas de cunho genérico utilizadas de subterfúgio para o

demandado TUFI MERES onerar os gastos contraídos pela Administração Pública Estadual, tudi

com o objetivo de auferir dinheiro público indevido. Ademais, colaborou ativamente para as

definições de despesas que antecederam à celebração do Termo de Parceria nº 001/2012, conforme

se comprova por meio de diversas comunicações eletrônicas transcritas ao longo desta peça.

À guisa do esposado e pelo que mais consta nesta petição, resta límpido que a

participação do demandado OTTO SCHMIDT foi essencial para a ocorrência do dano ao erário

público, tendo como beneficiária a organização criminosa a qual integra, bem como desempenhou

papel fundamental para a tomada de importantes decisões relacionadas à execução da parceria em

tela, pelo que deve responder pelos atos de improbidade administrativa elencados.

II.8 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AO

DEMANDADO LEONARDO JUSTIN CARAP .

Outro que integra a organização criminosa especializada em lesar o erário, como

consultor, é LEONARDO JUSTIN CARAP. No caso dos autos, preparou documento denominado

“considerações iniciais” e deu o suporte inicial à contratação da MARCA para administrar o

Hospital da Mulher em Mossoró, colaborando, assim, na elaboração do projeto eivado de ilicitudes,

de forma consciente e dolosa, pelo que praticou os atos de improbidade previstos nos artigos 10,

caput e incisos VIII, IX e XIV, e 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

II.09 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AO

DEMANDADOS ROSIMAR BRAVOANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR .

Sem perder de vista, urge individualizar com brevidade as condutas ímprobas

imputadas aos demandados ROSIMAR BRAVO (Rosi Bravo) e ANTÔNIO CARLOS DE

OLIVEIRA JÚNIOR (Maninho), enquadrados no disposto nos artigos 9º, inciso XI, 10, caput e

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incisos VIII, IX e XIV, e 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

Conforme narrado, foram os demandados ROSIMAR GOMES BRAVO e

ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR os responsáveis pelo ingresso da ASSOCIAÇÃO

MARCA na organização comandada pelo demandado TUFI SOARES MERES, para o compor o

“pool” de empresas/entidades utilizadas para desviar recursos públicos.

Embora não apareçam formalmente como integrantes da Associação MARCA,

ambos os demandados ROSIMAR BRAVO e seu esposo ANTÔNIO CARLOS JÚNIOR são os

reais dirigentes da referida entidade privada, juntamente com o chefe do grupo TUFI MERES. Tal

condição se deveu ao interesse na aplicação da seguinte tática para burlar a regra da distribuição dos

lucros aos sócios e associados prevista Lei n.º 9.790/99 (OSCIPs):

a) colocaram seus empregados como dirigentes da ASSOCIAÇÃO MARCA, enquanto eles

continuaram a ser os verdadeiros proprietários da instituição;

b) criaram uma empresa (OPAS - OLIVAS PLANEJAMENTO ASSESSORIA E SERVICOS S/C

LTDA, CNPJ 07.404.400/0001-), que passou a ser permanentemente contratada pela MARCA para

prestar “assessoria”, e justificar a saída de recursos da OSCIP para a empresa do casal, que será

beneficiada por estes recursos, a fim de que isso não fosse identificado com distribuição de lucros.

Nestes termos, não só mantiveram o efetivo controle administrativo/financeiro da

mencionada entidade, como também puderam se valer de outro subterfúgio para desviar ainda mais

recursos públicos que foi a abertura da empresa OLIVAS, a qual no presente caso aparece como

contratada da Associação MARCA - por “quarteirização” - para prestar serviços públicos inerentes

à própria parceria nº 01/2012, cujo montante percebido chegou à cifra de R$ 394.170,00159.

Para melhor ilustrar, insta relembrar a movimentação de parte do dinheiro

decorrente do Termo de Parceria nº 001/2012 a partir do caminho traçado no organograma abaixo:

Secretária Estadual de Saúde – SESAP(repassa os recursos para a OSCIP)

ASSOCIAÇÃO MARCA (recebe os recursos, conforme Termo de Parceria)

OLIVAS PLANEJAMENTO (contratada para prestar “assessoria” à MARCA)

159 Fl. 77 da Informação nº 326/2013-DAD.

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ROSIMAR BRAVO E ANTONIO CARLOS (verdadeiros proprietários da MARCA,

juntamente com TUFI MERES, recebem os recursos por intermediação da OLIVAS)

Com efeito, a teor do já esmiuçado nesta peça, foi por meio da análise das

tratativas mantidas entre os membros da associação criminosa MARCA, obtidas mediante

autorização judicial durante a Operação Assepsia, que se comprovou que ROSIMAR BRAVO,

juntamente com seu esposo ANTÔNIO CARLOS JÚNIOR e TUFI MERES, foram as pessoas

que coordenaram todo o esquema para a contratação da MARCA para gerir o HOSPITAL

DA MULHER em Mossoró, em conluio com a Governadora ROSALBA e os demandados

DOMÍCIO ARRUDA, ALEXANDRE MAGNO e MARIA DAS DORES BURLAMAQUI.

Para além disso, as participações dos demandados ROSIMAR BRAVO e

ANTÔNIO CARLOS JÚNIOR podem ser observadas em todos os momentos da parceria em

apreço, uma vez que não só foram as pessoas que efetivamente se apresentaram para o demandado

DOMÍCIO ARRUDA como sendo representantes da Associação MARCA e, assim, trataram de

todos os pormenores que antecederam à celebração do TP nº 01/2012, como também a execução do

serviço contratado pelo Estado do RN com a Associação MARCA, tanto sob a ótica do que coube à

citada entidade privada quanto pelo que foi “quarteirizado” para a empresa OLIVAS de propriedade

de ambos e para outras empresas integrantes da organização de TUFI SOARES MERES.

Em face do que foi explicitado e por tudo que mais restou demonstrado ao longo

da presente petição, devem os demandados ROSIMAR BRAVO e ANTÔNIO CARLOS DE

OLVEIRA JÚNIOR responder pela prática dos atos de improbidade administrativa previstos nos

artigos 9º, inciso XI, 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e 11, caput e inciso I, da Lei nº

8.429/92.

II.10 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA ELISA ANDRADE DE ARAÚJO.

Em relação à demandada ELISA ANDRADE DE ARAÚJO. Sua colaboração

para os desmandos ocorridos no presente caso remonta ao fato de ter sido ela quem assinou, na

qualidade de Presidente da Associação MARCA, o Termo de Parceria nº 01/2012, mesmo tendo

plena ciência que, no mundo dos fatos, já se encontravam em execução diversos dos serviços

necessários à inauguração do Hospital da Mulher.

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Também foram dela as assinaturas apostas em grande parte dos contratos

celebrados pela Associação MARCA com empresas apontadas pelo Corpo Técnico do TCE e pela

Comissão de Auditoria da SESAP como participantes do esquema de desvio de recursos públicos

que redundou no dano ao erário estadual quantificado em R$ 11.960.509,00 (onze milhões,

novecentos e sessenta mil, quinhentos e nove reais) , entre elas a OLIVAS PLANEJAMENTO

ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA. e a THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS

LTDA.

E, da forma como agiu, incorreu a demandada ELISA ANDRADE na prática dos

atos de improbidade descritos nos artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e 11, caput e I, da

Lei nº 8.429/92.

II.11 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA ASSOCIAÇÃO MARCA.

Adentrando na individualização das condutas atribuídas às pessoas jurídicas ora

demandadas, urge trazer à baila a Associação MARCA para Promoção de Serviços. Como dito

anteriormente, trata-se de instituição “em tese” sem fins lucrativos integrante do Terceiro Setor,

qualificada pelo Ministério da Justiça como Organização Social de Interesse Público (OSCIP),

sediada no Estado do Rio de Janeiro, e que tem como objetivo social declarado atuar na gestão de

serviços de saúde.

Contudo, o que se apurou foi que a mesma integra a organização criminosa

comandada pelo demandado TUFI MERES, cuja estrutura se assemelha puramente com a de uma

empresa, tanto que restou colhida prova da expressa previsão em documento denominado “planilha

de resultados” da percepção de lucro líquido pela mesma. Além disso, também é utilizada como

conveniada no “poll” de empresas de fachada da rede criminosa, “quarteirizando” serviços a ela

contratados para outras entidades integrantes dessa mesma rede, com a finalidade de facilitar a

prática de desvio de recursos públicos.

No presente caso, foi a Associação MARCA para Promoção de Serviços a

entidade contratada como parceira pelo Governo deste Estado, cuja instrumentalização se deu

através da celebração do Termo de Parceria nº 001/2012, a qual, neste ato, foi representada por sua

diretora, a demandada ELISA ANDRADE, uma espécie de presidente de fachada, já que as

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decisões são tomadas de fato pelo demandados ROSIMAR BRAVO e ANTÔNIO CARLOS

JÚNIOR. No caso concreto, foi com eles, e não com ELISA ANDRADE, que foram tratados

diretamente todos os pormenores relativos à aludida contratação nos bastidores.

No que tange à quantificação do dano envolvendo diretamente a entidade em

comento, restou apurado pelo Corpo Técnico do TCE que no período compreendido de 26/3/2012 a

25/10/2012 a Associação MARCA realizou injustificadamente vinte e seis transferências

bancárias a crédito da própria conta bancária (nº 7.8003, agência 471 – Banco do Bradesco)

para outra conta de titularidade da própria MARCA na mesma agência do Banco do Bradesco

(c/c nº 7.8006), perfazendo o valor total de R$ 820.099,35 (oitocentos e vinte mil, noventa e nove

reais e trinta e cinco centavos), mesmo ciente de que tal conduta contrariava o estabelecido na

cláusula terceira, item II, subitem 17 do TP, a qual previa que os recursos oriundos da parceria em

vislumbre seriam movimentados exclusivamente em conta-corrente indicada pela própria

SESAP.

Desta feita, e por tudo mais que consta nesta peça, atribui o Ministério Público

Estadual a incidência da Associação MARCA para Promoção de Serviços como beneficiária das

condutas ímprobas descritas nos artigos 9º, XI, 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e 11, caput e I,

da Lei nº 8.429/92, bem como quantifica o ressarcimento ao erário estadual no valor de R$

820.099,35 (oitocentos e vinte mil, noventa e nove reais e trinta e cinco centavos).

II.12 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AOS

DEMANDADOS NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL - SALUTE SOCIALE , SADY

PAULO SOARES KAPPS, HÉLIO BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO, CARLOS

ALBERTO PAES SARDINHA) E VANIA MARIA VIEIRA

Já no que concerne à demandada NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL -

SALUTE SOCIALE, restou evidenciado a partir do conjunto probatório colhido na operação

Assepsia que a demandada é mais uma das empresas que atuam no esquema criminoso do requerido

TUFI MERES.

Inobstante a SALUTE SOCIALE ter como sócios formais as pessoas de SADY

PAULO SOARES KAPPS, HÉLIO BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO e CARLOS

ALBERTO PAES SARDINHA, a empresa é, na verdade, gerenciada por TUFI SOARES

MERES que faz parte do conselho fiscal junto com sua esposa VANIA MARIA VIEIRA, e ainda

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conta ele com o apoio do demandado OTTO SCHMIDT. Neste sentido, há provas robustas que os

sócios formais tem plena ciência que TUFI SOARES MERES é o mentor da organização e assume

o seu papel operacional dentro da organização criminosa, juntamente com seu assecla OTTO

SCHMIDT.

In casu, apurou-se que a entidade SALUTE SOCIALE foi uma das empresas

contratadas por “quarteirização” pela Associação MARCA, cuja instrumentalização se deu por meio

de um “Convênio”, tendo como objeto a "cooperação técnica para seleção, treinamento,

provimento e gestão de recursos profissionais para a prestação de serviços de gerência do Hospital

da Mulher Parteira Maria Correia". E, nesta condição, havia expressa previsão na cláusula quinta

do citado convênio que a SALUTE SOCIALE receberia recursos provenientes do TP nº 001/2012,

com vistas a custear todas as despesas com recursos humanos e seus encargos, além das despesas

com treinamento e seleção de pessoal.

No efetivo exercício do referido mister, a SALUTE SOCIALE só comprovou

ordenadamente despesas de vales-transportes no valor de R$ 11.125,89 (onze mil, cento e vinte e

cinco reais e oitenta e nove centavos), visto que quanto ao pagamento da folha de pessoal foi

constatado o repasse do valor R$ 5.745.954,86 (cinco milhões, setecentos e quarenta e cinco mil,

novecentos e cinquenta e quatro reais e oitenta e seis centavos), sendo que apenas R$

2.723.686,24 (dois milhões, setecentos e vinte e três mil, seiscentos e oitenta e seis reais e vinte e

quatro centavos) seriam realmente necessários para o pagamento de todas as despesas com

pessoal, segundo cálculo realizado pelo Corpo Técnico do TCE160.

Por conseguinte, foi estabelecido como prejuízo ao erário estadual pelo Corpo

Técnico do TCE o montante de R$ 3.022.268,62 (três milhões, vinte e dois mil, duzentos e sessenta

e oito reais e sessenta e dois centavos), haja vista inexistirem provas na prestação de contas da

Associação MARCA de onde a entidade SALUTE SOCIALE empregou verdadeiramente tal

quantia.

À guisa do esposado, imputa o Ministério Público à demandada NÚCLEO DE

SAÚDE E AÇÃO SOCIAL - SALUTE SOCIALE, bem como aos seus sócios formais (SADY

PAULO SOARES KAPPS, HÉLIO BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO E CARLOS

ALBERTO PAES SARDINHA), bem como VANIA MARIA VIEIRA, que fazia parte do

Conselho Fiscal da empresa, juntamente com TUFI, os quais tinham plena consciência dos atos

160Esse cálculo é relativo ao período de março a setembro de 2012, empregado de R$ 2.712.560,35 (dois milhões, setecentos e doze mil, quinhentos e

sessenta reais e trinta e cinco centavos).

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praticados pela organização criminosa, as condutas ímprobas descritas nos artigos 9º, XI, 10,

caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92, bem como quantifica o ressarcimento ao

erário estadual no valor de R$ 3.022.268,62 (três milhões, vinte e dois mil, duzentos e sessenta e

oito reais e sessenta e dois centavos).

II.13 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA OLIVAS PLANEJAMENTO E ASSESSORIA .

Em continuidade à individualização das condutas atribuídas às empresas ora

demandadas, insta ressaltar a participação da empresa OLIVAS PLANEJAMENTO E

ASSESSORIA de propriedade da demandada ROSIMAR BRAVO nos desmandos ocorridos no

caso sob exame.

Por meio da celebração de Contrato de Prestação de Serviço, a ASSOCIAÇÃO

MARCA, através de sua diretora, a demandada ELISA ANDRADE DE ARAÚJO, e a empresa

OLIVAS PLANEJAMENTO E ASSESSORIA, representada pela demandada ROSIMAR BRAVO,

firmaram acordo para o fim de que esta última prestasse serviços de assessoria, consultoria,

implantação, acompanhamento, controle e apoio à gestão do Hospital da Mulher, tendo

recebido a título de retorno financeiro o valor total de R$ 394.170,00 (trezentos e noventa e

quatro mil, cento e setenta reais) - condição que a enquadra como beneficiária dos atos de

improbidade previstos nos arts. 10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92.

Contudo, consoante explicitou o Corpo Técnico do TCE, não foi possível a

comprovação efetiva da prestação desses serviços, haja vista inexistir nas prestações de contas

entregues pela entidade parceira documentação comprobatória que confirme o exercício de

quaisquer das atividades arroladas no citado contrato.

Logo, atribui o Ministério Público deste Estado à demandada OLIVAS

PLANEJAMENTO E ASSESSORIA, como beneficiária, as condutas ímprobas descritas nos

artigos 9º, XI, 10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92, bem como quantifica o

ressarcimento ao erário estadual no valor de 394.170,00 (trezentos e noventa e quatro mil, cento e

setenta reais).

II.14 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AOS

DEMANDADOS HEALTH SOLUTIONS LTDA. E SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE

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FREITAS LOPES.

Nesta mesma esteira, deve ser igualmente atribuída a prática do atos de

improbidade acima indicados à demandada HEALTH SOLUTIONS LTDA., sediada na cidade do

Rio de Janeiro/RJ, que recebeu injustificadamente por meio da Associação MARCA recursos

provenientes do Termo de Parceria nº 001/2012 no valor de R$ 64.863,50 (sessenta e quatro mil,

oitocentos e sessenta e três reais e cinquenta centavos), estes que devem ser ressarcidos

integralmente aos cofres públicos deste Estado.

Isso se deve ao fato de não haver no bojo da prestação de contas apresentada pela

Associação MARCA qualquer contrato pactuado com a demandada Health Solutions Ltda. De

fato, só restaram identificadas pelo Corpo Técnico do TCE notas fiscais das quais se inferiu que os

respectivos pagamentos feitos à referida empresa guardariam relação com a prestação de serviços

de implantação e manutenção do sistema de gestão do estoque no Hospital da Mulher em

Mossoró/RN.

Contudo, mesmo que se tratassem de tais serviços, não foi constatada pelos

auditores a comprovação de que foram devidamente implantados e, por sua vez, que se

encontravam em pleno funcionamento.

Além disso, restou descoberto durante a operação “Assepsia” que empresa

HEALTH SOLUTIONS também fazia parte do núcleo empresarial da organização criminosa que

integra a Associação MARCA. In casu, constatou-se que formalmente a referida empresa pertence

a SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES, sem qualquer ligação aparente com o

grupo liderado por TUFI SOARES MERES. Todavia, aprofundado o exame, verificou-se que a

mesma tem uma sociedade em conta de participação com a empresa ITAYPARTNERS

INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE NEGÓCIOS LTDA ME, pertencente a TUFI

SOARES MERES e a sua esposa VANIA MARIA VIEIRA, ficando o líder da organização

criminosa e sua esposa com 50% (cinquenta por cento) dos lucros nesta contratação.

Deste modo, ao contratar a HEALTH SOLUTIONS LTDA foi contratado

indiretamente o demandado TUFI SOARES MERES, por meio da ITAYPARTNERS

INTERMEDIAÇÃO E CORRETAGEM DE NEGÓCIOS LTDA ME, consoante evidenciaram tais

vínculos os emails transcritos outrora. E deve responder pelo mesmo ato de improbidade

administrativa o seu sócio formal SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES, uma

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vez que tinha plena consciência da utilização da citada empresa como mero instrumento para a

consumação de fins ilícitos pelo organização comandada por TUFI MERES.

II.15 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA AZEVEDO & LOPES AUDITORES INDEPENDENTES LTDA. - ME.

Outra empresa supostamente contratada pela Associação MARCA para Promoção

de Serviços que o Corpo Técnico do TCE não localizou qualquer instrumento formal foi a

demandada AZEVEDO & LOPES AUDITORES INDEPENDENTES LTDA. - ME.

De fato, o Corpo Técnico do TCE, na prestação de contas do mês de outubro de

2012, consta a realização de dois pagamentos à empresa Azevedo & Lopes Auditores

Independentes Ltda. - ME no valor total de R$ 3.940,00 (três mil, novecentos e quarenta reais)

- condição que a enquadra nos arts. 10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92.

No entanto, foi apurado que a comprovação dessas duas despesas "não se deu

por notas fiscais ou outros documentos revestidos de formalidades legais, mas pela apresentação de

recibos com informações precárias. Na descrição dos serviços, existe apenas a descrição de

“serviços de auditoria externa na prestação de contas mensal do projeto Hospital da Mulher de

Mossoró”.

Do mesmo modo, em observância aos termos da Cláusula Sétima, parágrafo

primeiro, inciso IV, do Termo de Parceria nº 001/2012, a Associação MARCA deveria ter fornecido

à SESAP, juntamente com as prestações de contas, “parecer e relatório de auditoria independente

sobre a aplicação dos recursos objeto deste Termo de Parceria”. Ocorre que não foi constatada a

existência desse relatório de auditoria expressando opinião acerca dos aspectos de consistência,

regularidade e autenticidade dos registros e dos documentos constantes das prestações de contas

mensais da MARCA relativas ao Termo de Parceria em análise.

E, por fim, explanou o Corpo Técnico do TCE o seguinte: "conclui-se pela

irregular prestação de contas de despesas relativas aos serviços de auditoria externa, visto que

não existe a efetiva contraprestação desses, ferindo a alínea “c” do inciso VII do artigo 4º da Lei

Federal nº 9.790/99, motivo pelo qual devem responder solidariamente pelo débito de R$ 3.940,00 a

Associação MARCA, por não comprovar devidamente o uso de recursos públicos, como também a

empresa Azevedo & Lopes Auditores Independes Ltda. – ME (CNPJ nº 06.337.379/0001-

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06), tendo em vista o dano originado pela não contraprestação dos serviços."

Em face do exposto, imputa o Ministério Público deste Estado à demandada

AZEVEDO & LOPES AUDITORES INDEPENDENTES LTDA. - ME as condutas ímprobas

descritas nos artigos 9º, XI, 10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92, bem como

quantifica o ressarcimento ao erário estadual no valor de R$ 3.940,00 (três mil, novecentos e

quarenta reais).

II.16 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS AOS

DEMANDADOS ADVENTUS GROUP E CONSULTORES LTDA e FRANCISCO

MALCIDES PEREIRA DE LUCENA.

Dando continuidade à individualização das condutas ímprobas atribuídas às

empresas ora demandadas, impende destacar o envolvimento da ADVENTUS GROUP E

CONSULTORES LTDA. com o presente caso.

Ora, consoante se apurou, a Associação MARCA celebrou com a empresa

ADVENTUS GROUP 03 (três) contratos de prestação de serviço para fornecimento de mão-de-

obra especializada para o Hospital da Mulher. O primeiro deles trata do fornecimento de médicos

para atuar nas áreas de ginecologia e obstetrícia pelo prazo de 05 (cinco) meses e 14 (quatorze) dias,

tendo como valor total o montante de R$ 1.366.666,67 (hum milhão, trezentos e sessenta e seis mil,

seiscentos e sessenta e seis reais e sessenta e sete centavos) - condição que a enquadra nos arts.

10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92.

Já o segundo contrato tem como objeto o fornecimento de médicos para atuar na

área de anestesiologia pelo prazo de 05 (cinco) meses e 14 (quatorze) dias, tendo como valor total o

montante de R$ 683.333,33 (seiscentos e oitenta e três mil, trezentos e trinta e três reais e trinta e

três centavos).

Quanto ao terceiro instrumento, constatou-se que tem como objeto o fornecimento

de médicos para atuar nas áreas de ginecologia, obstetrícia e anestesiologia em demandas pré-

agendadas, pelo prazo de 03 (três) meses e 05 (cinco) dias, tendo como valor total o montante de R$

190.000,00 (cento e noventa mil reais).

Entrementes, observou a Auditoria, a partir da análise das prestações de contas da

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Associação MARCA, que os pagamentos foram efetuados em sua totalidade apenas com base em

notas fiscais de serviço, ou seja, desacompanhada de qualquer documentação que comprove a

efetiva contraprestação dos respectivos serviços, violando, desta feita, o item "7.2", da cláusula

sétima dos contratos por eles firmados.

Ademais, afirmou o Corpo Técnico do TCE que os citados contratos foram

formalizados sem definição precisa e clara dos preços contratados, ponderando que "existe

apenas menção do valor mensal do serviço e, por conseguinte, o custo global do serviço, sem

fundamentação tanto da real necessidade dos profissionais quanto do custo unitário por médico."

Por fim, concluiu a Auditoria o seguinte: "falta de documentação suficiente para

se comprovar a efetiva contraprestação dos serviços médicos ora em análise, uma vez que não há

nos autos documentos que atestem a devida prestação desses serviços, motivo pelo qual devem

responder solidariamente pelo débito de R$ 2.768.225,89 a Associação MARCA, por não

comprovar devidamente o uso de recursos públicos, como também a empresa Adventus Group e

Consultores Ltda. (CNPJ nº 04.425.789/0001-83), tendo em vista o dano originado pela não

contraprestação dos serviços "161 .

Por todo o esposado, atribui o Ministério Público à empresa ADVENTUS

GROUP E CONSULTORES LTDA a condição de beneficiária da prática dos atos de improbidade

descritos nos artigos 9º, XI, 10, caput e VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92, bem como

quantifica o ressarcimento ao erário estadual no valor de R$ 2.768.225,89 (dois milhões,

setecentos e sessenta e oito mil, duzentos e vinte cinco reais e oitenta e nove centavos). E nos

mesmos atos deve incidir o representante legal da empresa, Francisco Malcides Pereira de

Lucena, o qual, segundo restou evidenciado alhures162, tinha pleno domínio do fato sobre os

negócios escusos da empresa, com ênfase nos valores altíssimos colocados nos contratos, como

forma de "fidelizar" as avenças e garantir o que ele mesmo denominou de "retorno administrativo".

II.17 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA CONTÁBIL LTDA. - ME.

No que tange à empresa ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA

CONTÁBIL LTDA. - ME, imputa o Ministério Público Estadual a condição de beneficiária da

prática dos atos de improbidade descritos nos artigos 9º, XI, 10, caput e VIII, e 11, caput, da Lei 161 Fls 81-82 da Informação nº 326/2013-DAD.162 Vide item relativo ao dano ao Erário causado pela empresa Adventus Group.

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nº 8.429/92, bem como quantifica o ressarcimento ao erário estadual no valor de R$ 20.000,00

(vinte e mil reais).

No presente caso, a Associação MARCA celebrou contrato de prestação de

serviços especializados de assessoria contábil para o Hospital da Mulher com a empresa Espíndola

& Rodrigues Assessoria Contábil Ltda. – ME, representada por Célia Regina Caruzo Espíndola,

sediada na cidade do Rio de Janeiro/RJ, tendo acordado como pagamento mensal a cifra de R$

4.000,00 (quatro mil reais) - condição que a enquadra nos arts. 10, caput e inciso VIII, e 11,

caput, da Lei nº 8.429/92.

Ocorre que detectou o Corpo Técnico do TCE que, relativamente a esse contrato,

o que existe são cinco pagamentos apresentados nas prestações de contas atinentes aos meses de

julho e outubro de 2012 no valor total de R$ 20.000,00 (vinte e mil reais), sem que, para tanto,

estivessem eles embasados em documentos que atestassem a efetiva contraprestação de tais

serviços.

Lembrou o Corpo Técnico que, de acordo com a Cláusula Quarta do referido

contrato, a empresa tem como obrigações, dentre outras, de conduzir os serviços prestados

conforme as normas estabelecidas pelo Conselho Regional de Contabilidade (CRC), assim como

elaborar listagem de documentos necessários ao preparo de guias e relatórios, com a indicação das

datas dos seus respectivos vencimentos.

No entanto, ponderou a Auditoria que tais obrigações pactuadas apresentam

características genéricas e com pouca definição. Ademais, bem pontuou que a Lei Federal nº 9.790,

de 23 de março de 1999, estabelece em seu artigo 4º, alínea “a”, que as normas referentes às

prestações de contas devem observar os princípios da contabilidade e as Normas Brasileiras de

Contabilidade.

II.18 – DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS ÍMPROBAS IMPUTADAS À

DEMANDADA THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA .

Por fim, urge individualizar as condutas ímprobas praticadas através da empresa

THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA. Conforme dito alhures, a contratação da

citada empresa remonta a período anterior à própria celebração do Termo de Parceria nº 001/2012,

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haja vista ter o respectivo contrato163 sido firmado pela Associação MARCA para Promoção de

Serviços, representada no ato pela demandada ELISA ANDRADE, com a empresa THE WALL

CONSTRUÇÕES na data de 01 de fevereiro de 2012, tendo como objeto a prestação de serviços

especializados para reforma, adequação e supervisão da obra ocorrida no antigo prédio do Hospital

da Unimed.

A Comissão de Auditoria da SESAP detectou ainda a existência injustificada de

repasse em valor superior ao contratado, visto que, enquanto consta no respectivo instrumento

contratual o custo total de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), restaram verificadas diversas

transferências em benefício da empresa THE WALL CONSTRUÇÕES cujo montante chega à

cifra de R$ 155.697,62 (cento e cinquenta e cinco mil, seiscentos e noventa e sete reais e

sessenta e dois centavos) - ato que a faz incidir nos artigos 9º, XI; 10, caput, e 11, caput, da Lei

nº 8.429/92.

Ante o expendido e, por tudo mais que consta no conjunto probatório em anexo,

imputa o Ministério Público Estadual à empresa THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS

LTDA, as qualidades de instrumento e beneficiária da prática dos atos de improbidade descritos nos

artigos 9º, XI, 10, caput e VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92, bem como quantifica o

ressarcimento ao erário estadual no valor de R$ 155.697,62 (cento e cinquenta e cinco mil,

seiscentos e noventa e sete reais e sessenta e dois centavos).

III - DO PEDIDO CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS: DO PERICULUM IN

MORA E DO FUMUS BONI IURIS:

A prática de atos dolosos ou culposos que causem prejuízo ao erário ou que

violem os princípios da Administração Pública implicam na responsabilidade do agente público.

Conforme acima demonstrado, os demandados atuaram em conluio, causando

graves danos ao patrimônio público do Estado do Rio Grande do Norte.

A demora decorrente do trâmite processual pode tornar inócua futura decisão

condenatória.

Por tais razões, a medida acautelatória de indisponibilidade de bens presume o

163 Vide instrumento contratual às fls. 1231/1237 (anexo IV).

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perigo da demora, conforme pacífica jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

inclusive ao julgar caso bem similar ao presente:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - INDISPONIBILIDADE DE BENS - ART. 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992 - FUMUS BONI IURIS PRESENTE - PERICULUM IN MORA PRESUMIDO - MEDIDA CAUTELAR CONCEDIDA.- O provimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata o art. 7º, parágrafo único, da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios de responsabilidade do agente na consecução do ato ímprobo, em especial nas condutas que causem dano material ao Erário.- Verifica-se in casu, conforme assinalado pela instância ordinária, "Quanto ao fumus boni juris, encontra-se suficientemente demonstrado na exordial, na qual foram comprovados diversos fatos que constituem robustos indícios da existência de atos de improbidade praticados, em princípio, pelos requeridos. 5. Ha indícios de que os requeridos fazem parte de uma Organização Criminosa especializada no fornecimento fraudulento de unidades moveis de saúde, ambulâncias, odontomóveis, veículos de transporte escolar, unidades itinerantes de inclusão digital e equipamentos médico-hospitares à Prefeituras Municipais e a Organizações da Sociedade Civil de Interesse Publico (OSCIP's) de todo o Brasil, apropriando-se de vultosos recursos federais provenientes do Fundo Nacional de Saúde. 6. Tal fato reveste-se de maior gravidade tendo em vista tratar-se de dinheiro público que seria destinado à saúde e por ter parlamentares, prefeitos e empresários envolvidos, além de ter abrangido diversos estados da federação. 7. Especificamente quanto ao pedido de indisponibilidade de bens, medida de natureza cautelar, que não retira dos requeridos a propriedade dos bens afetados, percebo, no caso vertente, que se demonstra devidamente fundamentado, ainda mais se considerado o grande vulto da quantia objeto de investigação, impondo-se a utilização da cautela em prol da preservação do interesse público, que suplanta, no caso concreto, o interesse privado." - Consoante jurisprudência pacífica desta Corte, o periculum in mora está implícito no próprio comando legal, que prevê a medida de indisponibilidade, uma vez que visa a 'assegurar o integral ressarcimento do dano'.- Presentes os requisitos ensejadores da medida assecuratória, é plenamente regular a imposição da indisponibilidade dos bens da ora recorrida, nos moldes requerido pelo Parquet.- Recurso especial provido para conceder a medida de indisponibilidade de bens.(REsp 1314092/PA, Rel. Ministra DIVA MALERBI (DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO), SEGUNDA TURMA, julgado em 07/03/2013, DJe 14/03/2013) Grifos acrescidos.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA.INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART. 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992. REQUISITOS PARA CONCESSÃO. DESNECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO DE BENS. OMISSÃO DO JULGADO QUANTO AO FUMUS BONI IURIS. NOVO JULGAMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO.1. O provimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata o art. 7º, parágrafo único, da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios de responsabilidade do agente na consecução do ato ímprobo, em especial nas condutas que causem dano material ao Erário.2. O requisito cautelar do periculum in mora está implícito no próprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a 'assegurar o integral ressarcimento do dano'.Precedentes do STJ.3. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que, nas demandas por improbidade

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administrativa, a decretação de indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único, da LIA não depende da individualização dos bens pelo Parquet.4. A medida constritiva em questão deve recair sobre o patrimônio dos réus em ação de improbidade administrativa, de modo suficiente a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, ainda, o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Precedentes do STJ.5. Hipótese em que o Tribunal de origem não apreciou a presença do fumus boni iuris, referente à demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, pois indeferiu a medida constritiva com base exclusivamente na ausência de dilapidação do patrimônio pelo agente.6. Recurso especial provido, para determinar novo julgamento do agravo de instrumento.(REsp 1328976/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe 20/08/2013)

RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. FUMUS BONI IURIS DEMONSTRADO.

1. No caso presente, o juízo singular e o Tribunal a quo concluíram pela inexistência de elementos que justificassem a indisponibilidade de bens dos recorridos, na forma do art. 7º da Lei n.º 8.429/92, ao fundamento de ser necessária a especificação dos bens necessários ao ressarcimento do dano ou eventualmente decorrentes de acréscimo patrimonial, por enriquecimento ilícito.2. No especial, alega-se a existência de fundados indícios de dano ao erário – fumaça do bom direito – o que, por si só, seria suficiente para motivar o ato de constrição patrimonial, à vista do periculum in mora presumido no art. 7º da Lei n.º 8.429/92.3. É desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estariam dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. Precedentes.4. O acórdão impugnado manifestou-se, explicitamente, sobre a plausibilidade da responsabilidade imputada aos recorridos, constatando, assim, a presença da fumaça do bom direito.5. Recurso especial provido.(REsp 1201702 / MT, 2ª Turma, Relator Ministro CASTRO MEIRA, julgado em 21/09/2010, publicado no DJ em 04/10/2010)

Dessa forma, ante a manifesta comprovação dos atos de improbidade

administrativa acima descritos, é evidente a necessidade da medida acautelatória para garantir o

ressarcimento do erário, cuja perda patrimonial foi avaliada pelo Corpo Técnico do TCE/RN na

cifra de R$ 11.804.811,38 (onze milhões, oitocentos e quatro mil, oitocentos e onze reais e trinta

e oito centavos), acrescido de R$ 155.697,62 (cento e cinquenta e cinco mil, seiscentos e noventa

e sete reais e sessenta e dois centavos), quantificado pela Comissão de Auditoria da SESAP.

As provas compendiadas nos autos evidenciam a fraude praticada pelos réus e

suas empresas, conforme o caso, em manifesto prejuízo ao erário público.

A documentação que instrui esta inicial demonstra, de forma contundente e

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indiscutível, a plausibilidade do provimento que se pretende ao final.

Diante do concurso desses dois pressupostos (fumus boni iuris e periculum in

mora), bem como dos gravíssimos fatos relatados nesta peça inicial, praticados em prejuízo do

erário público, requer o Ministério Público que seja decretada liminarmente, inaudita altera parte, a

indisponibilidade dos bens dos demandados, suficientes para o ressarcimento integral do dano

provocado, no valor de R$ 11.960.509,00 (onze milhões, novecentos e sessenta mil, quinhentos e

nove reais), evitando, assim, a dilapidação de seus patrimônios e viabilizando a futura execução da

sentença, nos exatos termos do art. 7º da Lei 8.429/92, oficiando-se, para tanto:

a) À Receita Federal para que remeta aos autos as declarações de rendimentos

dos últimos cinco anos dos requeridos, visando a identificação completa de seus patrimônios;

b) À Corregedoria Geral de Justiça dos Estados do Rio de Janeiro, do Rio

Grande do Norte e do Ceará, solicitando certidões de matriculas de imóveis pertencentes àqueles e

instrumentos públicos de mandato ou procuração em que figurem como outorgados ou outorgantes,

os réus, expedindo-se, para tanto, comunicação aos cartórios de registro de imóveis e de notas, para

procederem a buscas e averbarem a indisponibilidade;

c) Aos DETRANs situados nos Estados do Rio de Janeiro, do Rio Grande do

Norte e do Ceará, determinando a indisponibilidade de veículos existentes em nome dos requeridos;

d) Ao Banco Central do Brasil, via BACEN-JUD, para determinar o bloqueio de

valores depositados em instituições financeiras em nome dos requeridos.

Cumpre consignar, outrossim, que a indisponibilidade deve alcançar os valores

das multas civis cominadas no artigo 12 da Lei de Improbidade Administrativa, também conforme

pacífica jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA – NATUREZA CÍVEL DA AÇÃO – MINISTÉRIO PÚBLICO – PRAZO EM DOBRO PARA RECORRER – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA ATÉ A INSTRUÇÃO FINAL DO FEITO - INDISPONIBILIDADE DOS BENS LIMITADA AO RESSARCIMENTO INTEGRAL DO DANO AO ERÁRIO.

1. O entendimento jurisprudencial sedimentado no STF e no STJ, na época em que protocolizado o agravo de instrumento, era no sentido que a

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intimação pessoal do Ministério Público se dava com o "ciente" lançado nos autos, quando efetivamente entregues ao órgão ministerial, e não da data da entrada dos autos na secretaria.2. Em razão da natureza cível da ação, o Parquet tem prazo em dobro para recorrer na ação civil pública por improbidade administrativa (art. 188 do CPC).3. Nos casos de improbidade administrativa, a responsabilidade é solidária até a instrução final do feito, momento em que se delimitará a quota de responsabilidade de cada agente para a dosimetria da pena.4. É entendimento assente no âmbito desta Corte que, conforme o artigo 7º, parágrafo único, da Lei n. 8.429/92, a indisponibilidade dos bens deve ser limitada ao valor que assegure o integral ressarcimento ao erário e do valor de eventual multa civil.5. Cumpre à instância ordinária verificar a extensão da medida de indisponibilidade necessária para garantir o ressarcimento integral do dano, pois, avaliar se os bens constritos excederam, ou não, o valor do dano ao erário, implicaria a análise do material probatório dos autos, inviável em sede de recurso especial, nos termos da Súmula 7 desta Corte.Agravo regimental parcialmente provido, apenas para limitar a extensão da medida de indisponibilidade ao valor necessário para o integral ressarcimento do suposto dano ao erário e do valor de eventual multa civil.” (AgRg nos EDcl no Ag 587748 / PR, 2ª Turma, Relator Ministro HUMBERTO MARTINS, julgado em 15/10/2009, publicado no DJ em 23/10/2009)

“ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 7º da LEI 8.429/1992. INDISPONIBILIDADE DE BENS.

1. A indisponibilidade de bens – em Ação de Improbidade Administrativa ou em Cautelar preparatória – serve para garantir todas as conseqüências financeiras (inclusive multa civil) da conduta do agente, independentemente de o patrimônio ter sido adquirido antes da prática do ato investigado. Precedentes do STJ.2. Recurso Especial não provido.” (REsp 637413 / RS, 2ª Turma, Relator Ministro HERMAN BENJAMIN, julgado em 07/05/2009, publicado no DJ em 21/08/2009)

Dessa forma, requer o Ministério Público que seja decretada a indisponibilidade

dos bens dos réus até o limite de R$ 11.960.509,00 (onze milhões, novecentos e sessenta mil,

quinhentos e nove reais) , valor consistente no prejuízo causado pelos requeridos aos cofres

públicos estaduais, conforme análise do Corpo Técnico do TCE/RN e da Comissão de Auditoria da

SESAP, o qual ainda importa ser devidamente atualizado pela Tabela Prática do Tribunal de Justiça

do Estado do RN até a presente data, e acrescido da multa civil prevista no artigo 12, inciso I, da Lei

nº 8.429/92.

IV - DOS PEDIDOS:

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Por todo o exposto, requer o Ministério Público Estadual a Vossa Excelência:

A) a concessão, em sede liminar, da decretação da indisponibilidade dos bens de

propriedade das pessoas físicas ROSALBA CIARLINI ROSADO (CPF n.º 199.516.984-68),

DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA SOBRINHO (CPF n.º 056.192.974-20), MARIA DAS DORES

BURLAMARQUI DE LIMA (CPF n.º 307.950.104-78), ALEXANDRE MAGNO ALVES DE

SOUZA (CPF n.º 790.799.464-00), TUFI SOARES MERES (CPF nº 116.860.657-87),

LEONARDO JUSTIN CARAP (CPF nº 500.674.947-49), ROSIMAR GOMES BRAVO E

OLIVEIRA (CPF 002.179.437-56), ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR (CPF

776.389.727-91), ELISA ANDRADE DE ARAÚJO (CPF n.º 099.689.767-41), OTTO DE

ARAÚJO SCHMIDT (CPF nº 183.206.277-53), VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE

SOUZA (CPF nº 877.085.584-68), bem como das pessoas jurídicas ASSOCIAÇÃO MARCA

PARA PROMOÇÃO DE SERVIÇOS (CNPJ n.º 05.791.879/0001-50), NÚCLEO DE SAÚDE E

AÇÃO SOCIAL - SALUTE SOCIALE (CNPJ n.º 32.088.890/0001-21), HEALTH

SOLUTIONS LTDA. (CNPJ n.º 05.113.395/0001-52), ESPÍNDOLA & RODRIGUES

ASSESSORIA CONTÁBIL LTDA. - ME (CNPJ n.º 08.364.700/0001-77), ADVENTUS GROUP

E CONSULTORES LTDA. (CNPJ n.º 04.425.789/0001-83), NÚCLEO SERVIÇOS

DIAGNÓSTICOS LTDA. (CNPJ n.º 11.780.146/0001-13), AZEVEDO & LOPES AUDITORES

INDEPENDENTES LTDA. - ME (CNPJ n.º 06.337.379/0001-06), OLIVAS PLANEJAMENTO

ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA. (CNPJ n.º 07.404.400/0001-01), THE WALL

CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA. CNPJ n.º 11.391.700/0001-70; FRANCISCO

MALCIDES PEREIRA DE LUCENA (CPF nº 112.494.633-00); VÂNIA MARIA VIEIRA (CPF

nº 356.666.257-72); SADY PAULO SOARES KAPPS (CPF nº 134.740.737-53); HÉLIO

BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO (CPP nº 738.110.257-91); CARLOS PAES SALDANHA

(CPF nº 230.008.137-72) e SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES (CPF nº

105.494.127-00), solidariamente, ou subsidiariamente na medida da responsabilidade a cada um

atribuída, nos termos do art. 7º da Lei 8.429/92, expedindo-se ofícios:

a) à Receita Federal requisitando as declarações de rendimentos relativas aos

últimos 05 (cinco) anos, visando a identificação completa de seus patrimônios;

b) às Corregedorias Gerais de Justiça dos Estados do RN, do RJ e do CE,

solicitando a realização de pesquisas junto aos Cartórios de Registro de Imóveis e de Notas do

Estado visando apurar a existência de matriculas de imóveis em nome dos Réus e/ou de

instrumentos públicos de mandato ou procuração nos quais figurem como outorgados ou

outorgantes, bem como a subseqüente averbação da indisponibilidade;

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c) Aos Diretores-Gerais do DETRAN/RN, DETRAN/RJ e DETRAN/CE

determinando o bloqueio de veículos existentes em nome dos requeridos.

d) Ao Banco Central do Brasil, via BACEN-JUD, para determinar o bloqueio de

valores depositados em instituições financeiras em nome dos requeridos.

B) a notificação dos demandados para, querendo, no prazo legal, oferecerem

manifestação por escrito (art. 17, § 6º, da Lei nº 8.429/92);

C) a citação dos demandados, para, querendo, oferecerem contestação, sob pena

de confissão e revelia;

D) a citação do Estado do Rio Grande do Norte para contestar ou, de outra forma,

assumir a posição processual que lhe aprouver, consoante permite o art. 17, § 3º da Lei nº 8.429/92;

E) a condenação dos ora demandados nas penas descritas no artigo 12 da Lei nº

8.429/92, cumulativamente, em relação às condutas ímprobas a seguir:

1) ROSALBA CIARLINI ROSADO - artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e art. 11,

caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

2) DOMÍCIO ARRUDA CÂMARA SOBRINHO - artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e

art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

3) ALEXANDRE MAGNO ALVES DE SOUZA - artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e

art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

4) MARIA DAS DORES BURLAMARQUI DE LIMA - artigos 10, caput e incisos VIII, IX e

XIV, e art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

5) TUFI SOARES MERES - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e art. 11,

caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

6) LEONARDO JUSTIN CARAP - - artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e art. 11, caput

e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

7) ROSIMAR GOMES BRAVO E OLIVEIRA - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e incisos VIII,

IX e XIV, e art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

8) ANTÔNIO CARLOS DE OLIVEIRA JÚNIOR - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e incisos

VIII, IX e XIV, e art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

9) ELISA ANDRADE DE ARAÚJO – artigos 10, caput e incisos VIII, IX e XIV, e art. 11,

caput e I, da Lei nº 8.429/92;

10) OTTO DE ARAÚJO SCHMIDT - artigos 10, caput e incisos VIII e IX, e art. 11, caput e I,

da Lei nº 8.429/92;

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11) VALCINEIDE ALVES DA CUNHA DE SOUZA - artigos 10, caput, e 11, caput e inciso II,

da Lei nº 8.429/92;

12) FRANCISCO MALCIDES PEREIRA DE LUCENA - artigos 9º, XI, 10, caput e inciso

VIII, e art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

13) VÂNIA MARIA VIEIRA - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e inciso VIII, e art. 11, caput, da

Lei nº 8.429/92;

14) SADY PAULO SOARES KAPPS - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e inciso VIII, e art. 11,

caput, da Lei nº 8.429/92;

15) HÉLIO BUSTAMANTE DA CRUZ SECCO - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e inciso VIII,

e art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

16) CARLOS ALBERTO PAES SARDINHA - artigos 9º, inciso XI, 10, caput e inciso VIII, e

art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

17) SIDNEY AUGUSTO PITANGA DE FREITAS LOPES - artigos 9º, XI, 10, caput e inciso

VIII, e art. 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

18)ASSOCIAÇÃO MARCA PARA PROMOÇÃO DE SERVIÇOS - artigos 9º, XI, 10, caput e

incisos VIII, IX e XIV, e art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92;

19)NÚCLEO DE SAÚDE E AÇÃO SOCIAL - SALUTE SOCIALE- artigos 9º, inciso XI, 10,

caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

20) HEALTH SOLUTIONS LTDA. - artigos 9º, XI, 10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei

nº 8.429/92;

21)ESPÍNDOLA & RODRIGUES ASSESSORIA CONTÁBIL LTDA. - ME - artigos 9º, XI,

10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

22) ADVENTUS GROUP E CONSULTORES LTDA. - artigos 9º, XI, 10, caput e inciso VIII, e

11, caput, da Lei nº 8.429/92;

23) NÚCLEO SERVIÇOS DIAGNÓSTICOS LTDA. - artigos 9º, XI, 10, caput e inciso VIII, e

11, caput, da Lei nº 8.429/92;

24) AZEVEDO & LOPES AUDITORES INDEPENDENTES LTDA. - ME - artigos 9º, XI,

10, caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

25) OLIVAS PLANEJAMENTO ASSESSORIA E SERVIÇOS S/C LTDA. - artigos 9º, XI, 10,

caput e inciso VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92;

26) THE WALL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA. - artigos 9º, XI, 10, caput e inciso

VIII, e 11, caput, da Lei nº 8.429/92.

F) a condenação dos ora demandados ao pagamento de todas as custas judiciais e

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sucumbenciais.

Protesta o Ministério Público pela produção de todas as provas admissíveis em

direito, especialmente através do documental (Inquérito Civil nº 05/2012-PGJ), do testemunhal (Rol

de testemunhas abaixo) e do depoimento pessoal dos demandados.

Dá-se à causa o valor de 11.960.509,00 (onze milhões, novecentos e sessenta mil,

quinhentos e nove reais)

Natal, 25 de abril de 2014.

RINALDO REIS LIMAProcurador-Geral de Justiça

ROL DE TESTEMUNHAS:

1) MARCOS ANTÔNIO COSTA (CPF nº 175.552.214-20)

Endereço: Rua Segundo Wanderley, 430, Barro Vermelho, no Município de Natal/RN - CEP 59030-

050.

2 ) FLÁVIO JOSÉ DE ANDRADE REBOUÇAS (CPF nº 221.149.634-20)

Endereço: Rua Raimundo Chaves, 2005, Candelária II, no Município de Natal/RN - CEP 59064-

390.

3) ALEXSANDRO ALVES DE SOUSA (CPF nº 729.233.183-15)

Endereço: Rua Banward Bezerra, nº 298, Padre Andrade, CEP 60356400, Fortaleza/CE.

4) FRANCINETE MELO DOS SANTOS (CPF nº 201.215.044-68)

Endereço: Rua Dianópolis, 78, Parque dos Coqueiros, no Município de Natal/RN – CEP 59115-550.

5) MARIA JOSÉ FERNANDES TORRES (CPF nº 106.148.694-04)

Endereço: Rua Montanhas, 08, Lagoa Nova, no Município de Natal/RN.

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6) VILMAR CRISANTO DO NASCIMENTO (CPF nº 026.595.714-14)

Endereço: Rua Espírito Santo, 55, Rosa dos Ventos, no Município de Parnamirim/RN – CEP nº

59141-255

7) JOSÉ LUIZ MOREIRA REBOUÇAS (CPF nº 045.602.174-40)

Endereço: Rua Neuza Farache, 1922, Capim Macio, no Município de Natal/RN – CEP 59082-100

8) RONALD MEDEIROS DE MORAIS (CPF nº 045.323.814-95)

Endereço: Rua Aimore, 5030, Neópolis, no Município de Natal/RN – CEP 59084-020

9) ANTÔNIO OSIR COSTA FILHO (CPF 188395414-20)

Endereço: Rua Arenópolis, n. 12, Conjunto IPE, Ponta Negra, no Município de Natal/RN - CEP

59091-160.

10) NELSON FREDERICO ACCIOLY VARELLA BARCA (CPF 297.571.004-63)

Endereço: Rua Cel. Luiz Julio, 42, Lagoa Nova, Natal/RN.

11) MIGUEL JOSINO NETO (CPF n.º 427.623.754-87)

Endereço: Rua Senador José Ferreira de Souza, 1872, Apto 102, Candelária, Natal/RN;

12) JOSÉ MARCELO FERREIRA COSTA (Procurador do Estado do Rio Grande do Norte, atual

Consultor Geral do Estado)

Endereço: Rua Dr. Múcio Galvão, 411, Apto. 1001, Barro Vermelho, Natal/RN.

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