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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIBRASIL JEAN CARLOS FOSS FALE A VERDADE SOBRE MIM: UMA NARRATIVA SOBRE O HEAVY METAL CURITIBANO NA CONTEMPORANEIDADE CURITIBA 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIBRASIL

JEAN CARLOS FOSS

FALE A VERDADE SOBRE MIM: UMA NARRATIVA SOBRE O HEAVY METAL

CURITIBANO NA CONTEMPORANEIDADE

CURITIBA

2016

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JEAN CARLOS FOSS

FALE A VERDADE SOBRE MIM: UMA NARRATIVA SOBRE O HEAVY METAL

CURITIBANO NA CONTEMPORANEIDADE

Projeto apresentado à banca examinadora

do curso de Jornalismo como requisito para

obtenção do grau de bacharel em jornalismo

junto à Escola de Comunicação Social do

Centro Universitário UniBrasil.

Orientadora: Viviane Rodrigues

CURITIBA

2016

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RESUMO

O trabalho visa retratar o cenário contemporâneo do heavy metal curitibano a partir

de um recorte social, representado pelo Blood Rock Bar, atual ponto principal do

gênero na cidade. Tudo sob a ótica do jornalismo literário, tendo como suporte

midiático o livro-reportagem, que também abrange técnicas jornalísticas como

entrevistas e pesquisas. Dessa forma, o objetivo é contribuir com a documentação,

manutenção e crescimento do ritmo musical e, consequentemente, de parte da

cultura curitibana.

Palavras-chave: heavy metal, jornalismo literário, livro-reportagem.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 5

2 DELIMITAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO 6

2.1 A HISTÓRIA DA MÚSICA EM CURITIBA 6

2.2 O ROCK AND ROLL EM CURITIBA 8

2.3 O HEAVY METAL EM CURITIBA 12

2.4 O BLOOD ROCK BAR 15

3 OBJETIVOS 15

3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 16

4 JUSTIFICATIVA 16

5 REFERENCIAL TEÓRICO 18

5.1 O JORNALISMO LITERÁRIO 18

5.2 O PERFIL JORNALÍSTICO 21

5.3 A HISTÓRIA ORAL 23

5.4 A ENTREVISTA 24

5.5 O LIVRO-REPORTAGEM 26

5.6 O “EU REPÓRTER” NA NARRATIVA JORNALÍSTICA/GONZO 28

6 METODOLOGIA DE PESQUISA 30

7 DELINEAMENTO DO PRODUTO 31

7.1 PERSOANGENS 31

7.2 FOCO NARRATIVO 31

7.3 PROJETO GRÁFICO 32

7.4 PÚBLICO ALVO E VEICULAÇÃO 32

7.5 ORÇAMENTO E RECURSOS MATERIAIS 33

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 33

9 REFERÊNCIAS 35

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1. INTRODUÇÃO

Para os autores George Ramon Dimbarre e Silvana Maura Batista de

Carvalho, “o heavy metal é um amplo movimento social e cultural que surgiu na

Inglaterra no final da década de 1960, impulsionado pelo instrumental1 e pela

temática escolhida pelas bandas da época, principalmente a Black Sabbath”. E, para

complementar, vale lembrar que o estilo é um subgênero do rock and roll, que já

havia nascido na década anterior2. Há de se perceber que a definição organizada

pelos pesquisadores trata o metal como algo que transpassa apenas a música, e o

compreende, também, como um movimento social e cultural. Ou seja, o impacto que

o ritmo teve desde seu nascimento até agora foi enorme e não se restringe apenas a

um local, mas ao mundo todo, incluindo a capital paranaense, Curitiba. Todavia, há

tempos havia percebido a falta de materiais referentes à história e compreensão do

gênero na cidade. Aliás, as principais referências que pude encontrar para ter um

ponto de partida foram, primeiramente, o livro “A [des] Construção da Música na

Cultura Paranaense (2004)”, de Manoel de Souza Neto, e a matéria “Da fita cassete

à demolição do TUC (2013)”, sobre a cultura heavy metal curitibana, de José Marcos

Lopes. Dos quais apenas o segundo material tem como foco principal o metal.

Enxerguei, então, no curso de Jornalismo, a chance de fazer isso acontecer. De

retratar o estilo e a cultura que tanto gosto e vivo. Neste trabalho, portanto, é

resgatada um pouco da história do heavy em Curitiba, abordando quando e como

ele surgiu na cidade, mas, principalmente, em como a cena do gênero se comporta

na contemporaneidade. Tudo a partir de um ponto em particular, o Blood Rock Bar,

atual lar dos ouvintes de música pesada na capital.

Para realizar essa tarefa, a primeira parte do trabalho é iniciada com a

delimitação, que aborda como surgiu e se desenvolveu a música em Curitiba de

forma geral, afunilando, depois, para o rock e para o metal também na capital. Até

chegar à contemporaneidade, no tópico sobre o Blood Rock Bar, ponto principal do

gênero pesado na cidade, no qual a casa em questão é analisada brevemente e é

explicado o porquê de sua escolha. Em um segundo momento, são detalhados os

objetivos e motivações para o projeto, seguidos da justificativa que sustenta a

realização do trabalho. À frente, encontra-se o referencial teórico, composto pelos

1 Veloz e pesado, com, principalmente, guitarras altas e distorcidas 2 A história do ritmo musical é explorada mais adiante, no item 2.2.

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seguintes assuntos: jornalismo literário, perfil jornalístico, história oral, entrevista,

livro-reportagem e o “eu repórter” na narrativa jornalística. Conhecimentos

pertinentes e que são utilizados no desenvolvimento e conclusão do projeto, um

livro-reportagem.

Optei pelo livro-reportagem como suporte midiático, pois ele possibilita uma

abordagem mais extensa e cuidadosa do tema3. Além disso, escolhi utilizar o

jornalismo literário para compor a narrativa, uma vez que este quebra com os

paradigmas do jornalismo tradicional e se aprofunda mais no objeto de pesquisa,

oferecendo um detalhamento rico e envolvente4. Narrativa, aliás, que é feita em

primeira pessoa, refletindo, também, um pouco do Gonzo Journalism5.

Além das extensas pesquisas e checagem de dados, as técnicas que utilizei

na criação deste projeto partiram essencialmente da história oral6 e das entrevistas7.

Bandas e fãs, desta e da antiga geração, que representam a sociedade

contemporânea do heavy metal, foram entrevistados a fim de desvendar como

cenário do estilo musical e do movimento cultural se desenrola na cidade. Questões

como: quem são os fãs, quem são as bandas, quais pontos frequentam, como se

relacionam entre si, o viés mercadológico, etc. Tudo é respondido no livro, que dá ao

leitor uma perspectiva que talvez ele ainda não conhecesse sobre o metal, seja ele

fã ou não.

2. DELIMITAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO

2.1 A HISTÓRIA DA MÚSICA EM CURITIBA

A história musical de Curitiba teve início no século XIX, por meio de dois

nomes: Brasílio Itiberê da Cunha e Bento Antônio de Menezes. O primeiro destacou-

se pelo pioneirismo no piano, instrumento em que compôs canções como A

Sertaneja (1860), considerada pelo autor D’Hunac (1930, p.5) a primeira obra

3 Para entender melhor, item 5.5. 4 Definições presentes no item 5.1. 5 Explicações presentes no item 5.6. 6 Definições presentes no item 5.3. 7 Definições presentes no item 5.4.

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musical brasileira com elementos relacionados a temas folclóricos populares do

país. Além disso, o músico também chegou a formar par com o irmão, também

compositor, João Itiberê, o que projetou ainda mais a musicalidade presente na

família Itiberê e na capital paranaense para todo o território nacional. Já Bento

Menezes fez parte da Banda Sinfônica da Polícia Militar do Paraná, também

chamada de Banda de Música, declarada patrimônio histórico, artístico e cultural do

estado em 2009. O grupo foi formado em 1857, no dia 12 de março, quando o então

presidente do Governo da Província do Paraná, Zacarias de Goes e Vasconcelos,

assinou a lei nº30, que permitiu a liberação de verba para a criação de uma banda

musical na capital paranaense. Contanto que ela fosse anexa à Companhia da

Força Policial. O conjunto foi a primeira organização musical oficial do território

paranaense e foi efetivada no dia 7 de setembro de 1861, quando fez sua primeira

apresentação pública. Menezes foi o primeiro maestro da banda e lá permaneceu

por vinte e três anos. Chegou, inclusive, a se apresentar, juntamente com o grupo,

para o Imperador Dom Pedro II em sua visita à Curitiba em 22 de maio de 1880. O

músico e a banda foram elogiados pelo governante e fizeram parte de todas as

solenidades ocorridas durante a vinda do português à Curitiba. Entretanto, devido a

problemas financeiros, o conjunto se desfez em 1883, voltando a ser recomposta

apenas em 1891, já sem Menezes.

No século XX, a música no cenário curitibano cresceu. Enquanto no século

anterior as bandas eram muito associadas a comemorações oficiais e festas

populares (RODERJAN, 1969), no período posterior a música começou a se

desdobrar e atingir outras áreas e públicos. Primeiramente, ela passou a ser inserida

como complemento na educação e na recreação. Por isso, foi nessa época que

surgiu a primeira geração de instrumentistas em terras curitibanas. Além do mais, a

importação de instrumentos da Europa para os portos de Paranaguá e Antonina

também se tornou um fator importante no crescimento da música no estado e,

consequentemente, na capital, onde a procura pela música e por instrumentos era

maior. Foi no século XX, aliás, que estilos musicais mais dançantes, como o Jazz,

ganharam força em todo o mundo. Inclusive em Curitiba, que contava com grupos

como Jazz Paraná, Internacional Jazz Band Fuzarca, Os Futuristas Jazz Band, Os

Foliões Jazz Band, Cruzeiro do Sul Jazz Band e Curitybano Jazz, esta formada em

1923 e considerada a primeira banda de Jazz de Curitiba.

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Ainda no século XX, mais precisamente no ano de 1920, os encontros entre

músicos, compositores e instrumentistas eram promovidos por sociedades musicais,

geralmente formadas por membros da elite curitibana. Algumas ações como a

criação de conservatórios musicais e a apresentação de artistas e músicos (do

interior do estado, outras regiões do Brasil e até do exterior) em teatros também

auxiliavam na manutenção do cenário musical na capital. E graças a esses avanços,

a forma de se pensar da época começou, aos poucos, a se modernizar, criando

ainda mais espaço para a música, bem como para o entretenimento e o consumo de

cultura. Mas foi com o surgimento da tecnologia (rádio, gramofone e fonograma) e a

propagação dela, ainda nos anos 20, mas principalmente nas décadas

subsequentes, que a música decolou de vez, tanto em Curitiba como em todo o

país. Especialmente pelo surgimento de um estilo novo, que mudaria o mundo a

partir da década de 1950.

2.2 O ROCK AND ROLL EM CURITIBA

Na década de 1950, nos Estados Unidos, sob a Guerra Fria e um dos pontos

históricos em que o American Way Of Life8 mais aparecia, tem início o rock and roll

com artistas como Elvis Presley e Chuck Berry. Porém, no Brasil, o estilo da vez é a

Bossa Nova, popularizada por João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, entre

outros cantores e compositores do Rio de Janeiro. Em 1960, entretanto, o país verde

e amarelo testemunha o aparecimento do rock por meio da Jovem Guarda9, que

começa a dividir e, ao mesmo tempo, disputar espaço com a Bossa Nova. De

acordo com Souza Neto (2004), aliados a esse crescimento natural, o rádio e a

televisão desempenharam um papel fundamental na divulgação da Jovem Guarda e

do rock and roll no Paraná.

Primeiramente, é preciso entender que, nessa época (anos 60), o rock and roll

ainda não havia estourado na capital paranaense. Ele chegava de mansinho, como

explica o autor Manoel de Souza Neto, que escreveu o livro “A [des] construção da

8 Ideal norte-americano que pregava um estilo de vida nacionalista baseado na meritocracia. Ou seja,

de que todo o cidadão estadunidense poderia alcançar o sucesso se trabalhasse duro e seguisse as regras. Era uma ideia de cunho capitalista e que foi muito utilizada durante a Guerra Fria para combater o socialismo (1945-1991). 9 Banda brasileira de rock inspirada pelos Beatles que tinha como integrantes nomes como Roberto

Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

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música na capital paranaense” (2004). Segundo ele, o rock era apenas apresentado

como curiosidade, portanto, incluído no repertório de algumas bandas locais. Não

existiam, contudo, bandas puramente do gênero ainda. Apenas quem trazia discos

do estilo do exterior podia escutá-lo com mais atenção. Com o surgimento do The

Beatles, nos mesmos anos 60, entretanto, as coisas mudaram. A “Beatlemania” se

espalhou por todo o mundo e consolidou de vez o rock and roll como um gênero a

ser reconhecido e levado a sério. Afinal, quando ele surgiu, muitos críticos o

comparavam ao folk, ao country norte-americano e até ao fandango devido a sua

simplicidade e ao fato de que apenas as camadas mais baixas da sociedade o

ouviam.

Em Curitiba, todavia, o rock chegou de forma um pouco diferente daquele feito

na Inglaterra e nos EUA, como descreve Souza:

O comportamento de se esperar era que se fizessem então festas de arromba, quebra-quebra nos cinemas, juventude transviada e descontrolada gritando pelas ruas. Mas ao contrário do estardalhaço que se esperava, apareceram apenas algumas notinhas nos jornais dizendo que o rock não prestava e não era recomendado aos jovens. Apenas algumas pessoas se aventuraram na rebeldia (SOUZA NETO, 2004, p.173).

O rock curitibano, a princípio, era caipira. Comportado. Isso porque foi

transformado pela mídia local em produto para as rádios, que queriam apresentar

algo acessível ao povo paranaense, que ainda “não estava preparado para o rock n’

roll” (SOUZA NETO, 2004. p.286). Outro importante ponto na história do gênero em

Curitiba foi a realização do show de calouros do Programa Clube da Juventude, em

1958, na rádio Tingui, onde se encontraram Paulo Hilário e Vitório dos Santos. Os

dois jovens e entusiastas do rock decidiram ali formar um grupo roqueiro para se

apresentar em festas e outros shows de calouros. O projeto foi denominado Little

Devils, que um ano depois ganhou mais um integrante, Dirceu Graeser (radialista), e

um programa na rádio Guaiaracá, chamado de Ídolos da Juventude. O

acontecimento foi considerado por Souza Neto a mais importante parceria roqueira

do Paraná naquela época. Foi a partir disso que outros artistas autorais locais foram

incentivados e conquistaram mais espaço nas emissoras de rádio e televisão.

Impulsionados também pela onda da Jovem Guarda, os anos 60 e 70 deram luz a

bandas curitibanas de rock como The Snakers, Os Juvenis, Os Falcons, Os

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Carcarás e Os Metralhas, que chegaram a excursionar fora do Brasil, em países

como Paraguai, Peru, Chile e EUA.

Programas de televisão, como Ponto 6, A Festinha dos Metralhas e Alô

Juventude, além dos programas de rádio, como o de Lourival Neves na Rádio

Curitibana, Paulo Hilário na rádio Colombo e Dirceu Graeser na Rádio Clube foram

os principais responsáveis pela divulgação e crescimento do rock and roll na capital.

Todos os programas eram voltados ao público jovem, principal consumidor do ritmo

que já embalava uma geração toda em boa parte do mundo e, agora, também em

Curitiba.

O autor Souza Neto também diz que foi nos anos 70 que as composições de

bandas locais curitibanas começaram a surgir com mais frequência. Foi nesta

época, inclusive, que nasceu a banda A Chave, uma das mais importantes da

história da cidade. O grupo, como vários outros do cenário local, começou tocando

em bailes e festas. Porém, com composições originais, logo entrou nas

programações das rádios do estado e, mais tarde, de todo o país. O que fixou de

vez o rock na capital paranaense. A Chave, entretanto, teve um fim precoce, em

1979, uma vez que os integrantes decidiram investir em outras áreas.

Eis que chega a década de 80 e, com ela, uma pequena explosão de bandas

por todo o território nacional. Como motivos para isso, é possível citar o preço dos

instrumentos, que já não era tão alto naquela época, o surgimento das “tribos

urbanas”10 e a realização de eventos. Dentre eles, o histórico primeiro Rock In Rio,

de 1985, que trouxe para o Brasil nomes como Queen, Iron Maiden, AC/DC,

Scorpions, entre outros já consolidados no cenário rock/metal internacional. Quanto

às tribos urbanas, foram de suma importância para o crescimento do estilo rock, uma

vez que o surgimento de grandes grupos interessados pelo gênero o fortaleceram

ainda mais em toda a cidade, como explica o jornalista cultural Rodrigo Duarte

(2003).

Nessa época, surgem bandas como Blindagem, Os Catalépticos, Beijo AA

Força, entre outras, que impulsionaram ainda mais o rock paranaense. Bem como a

10 O termo “tribos urbanas foi criado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, em 1985, quando ele

começou a utilizá-lo em seus artigos. Denominação que ele explorou melhor na obra “O Tempo das Tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa”. Segundo ele, “tribos urbanas” são formadas por pós-modernos que partilham de sentimentos iguais ou similares e que, então, formam grupos, que são fragmentados em tribos (MAFFESOLI, 1998).

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cena underground11 e seus festivais, como o Radioatividade, do Guairinha, por onde

passaram os grupos Beijo AA Força, DeFalla e Cólera. Segundo Duarte, entretanto,

a celebração não durou muito, pois a organização do Teatro Guaíra não via com

bons olhos o descontrole por parte do público nas instalações do espaço. Já na

virada dos anos 80 para os anos 90, a cena se consolidava por meio das bandas já

citadas e de outros fatores, como o crescimento de bares alternativos, programas de

rádio e televisão, cadernos culturais, lojas de discos e selos independentes

(DUARTE apud SOUZA NETO, 2003. p.397). Cabareth Voltaire, Poeta Maldito, Hell,

Circus Bar e Hole foram alguns dos locais que cederam mais espaço para o rock

and roll em suas programações. Além desses, o AeroAnta, Syndicate, Mary Jane

Pub e Jail Bar foram alguns dos responsáveis pelo aumento de público em shows de

bandas locais. Lojas de discos participavam do cenário por meio da venda de discos

de bandas de rock e metal de Curitiba. Eram lojas como a 801 Discos, Temptation

Discos e CD Club que, além disso, também apoiavam fanzines produzidos na

capital. Para completar, vale citar outros festivais do cenário underground que

ajudaram a mover as engrenagens do rock curitibano, como o Paiol em Pólvora, no

Teatro Paiol, o BIG (Bandas Independentes de Garagem), no bar Ninety Two

Degrees (Atualmente, 92 Graus The Underground Pub) e o National Garage, no

Círculo Militar.

Adentrando nos anos 90, nascem os selos independentes. Uma plataforma e

tanto para artistas independentes, que alcançavam mais visibilidade e retorno por

meio desses selos, devido aos contatos que os empreendimentos tinham, do que se

fizessem tudo sozinhos. Dentre os selos de destaque da época, é possível citar o

Barulho Records, o Franzini e o De Inverno Records, que foram responsáveis por

diversos lançamentos de coletâneas e discos independentes. Também foi na década

de 90 que a corrida pela fama se intensificou. Com o Rock já consolidado no cenário

internacional e o surgimento de mais bandas importantes, como o Nirvana e o Pearl

Jam, quem estava no Brasil não queria ficar para trás. O rock and roll se tornou uma

febre e muitas bandas paranaenses, assim como de todo o cenário nacional,

queriam pegar carona nessa onda barulhenta e rebelde. E as grandes gravadoras

estavam procurando por possíveis talentos. Porém, a tarefa de se projetar para o

11 O movimento underground surgiu no final da década de 1960 nos Estados Unidos, juntamente com

as ondas contestatórias da contracultura. Underground é um termo inglês que significa “subterrâneo”,

refere-se aos produtos e manifestações culturais que fogem dos padrões comerciais (MAIA, 2013).

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todo cenário nacional não era fácil. “O sonho das bandas paranaenses tornou-se

entrar nessa febre nacional, mesmo que de forma inconsciente. Marca registrada,

Beijo AA Força, entre outras, tentaram, mas não conseguiram” (SOUZA NETO,

2004, p. 662). A banda que mais chegou perto de atingir esse objetivo foi a

Blindagem, que teve discos lançados por gravadoras de renome, como Continental,

Polygram e Warner. Porém, o grupo nunca caiu nas graças da grande mídia a ponto

de se popularizar amplamente. E, se para o rock já era difícil, para o heavy metal,

que veio em seguida, a situação era ainda pior.

2.3 O HEAVY METAL EM CURITIBA

Os anos 80 não foram apenas do rock and roll na capital paranaense. O heavy

metal, gênero atrelado a ele, também fez barulho em terras curitibanas. O ritmo

pesado chegou à cidade impulsionado pelo rock, pela explosão de bandas de metal

no cenário internacional e, especialmente, pelo Rock in Rio de 1985, que trouxe

diversas bandas do estilo ao Brasil. Em Curitiba, a história do metal começa com

dois lugares: o Teatro Universitário de Curitiba (TUC) e a extinta loja Música Viva. O

primeiro, localizado na galeria Júlio Moreira, no Centro, entre a Praça Tiradentes e o

Largo da Ordem, foi palco dos primeiros shows de heavy metal da cidade, enquanto

o segundo, localizado na mesma galeria, era o único local que vendia discos

importados do gênero. Entre esses dois pontos, era onde se concentravam os fãs e

simpatizantes do metal curitibano. “O que chamava a atenção dos fãs de música

pesada em Curitiba eram as paredes da Música Viva, com LPs de bandas como

Slayer, Metallica e Venom. Era o local onde batiam ponto diariamente” (LOPES,

2013).

Além desses dois espaços, o gênero chegava ao público na capital por meio

de fanzines, publicações xerocadas e enviadas pelo correio, que exerceram

importante função na disseminação do rock and roll também, como já citado. Os

fanzines de heavy metal vinham com endereços postais de lojas como a Galeria do

Rock e a Woodstock Records, ambas de São Paulo, que faziam entregas na capital

paranaense quando solicitadas. Os discos chegavam em cerca de duas ou três

semanas. E geralmente o que era vendido por essas lojas eram apenas fitas, pois os

LPs de metal eram extremamente raros em território nacional.

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A pirataria por meio da fita cassete foi o caminho para os fãs que fugiam da “farofa” despejada pelas gravadoras. Sem downloads ou iPods, corria-se atrás da Scotch transparente, da Basf alaranjada e da TDK preta. E sempre havia uma no bolso da jaqueta, para o caso de topar com alguma novidade pelo caminho. As gravações eram trocadas, as fitas corriam a cidade (LOPES, 2013).

Com o fim da Música Viva, os headbangers12, como são chamados os fãs de

heavy metal, adotaram outra loja como ponto de encontro: a Megaphone, que era

localizada no Omar Shopping, no Centro. O local chegou a proibir a entrada dos fãs

do estilo após algumas confusões ocorridas no centro comercial. Mas aquele já não

era o único lugar de encontro dos “cabeludos”, que já estavam espalhados pelo

Largo da Ordem e pelos bares da Saldanha Marinho (Centro). Vale ressaltar

também a Jukebox, localizada na Rua 13 de Maio, que foi outra loja de discos

importante para a cena da época devido as raridades e importados que

comercializava.

A primeira banda de metal de Curitiba foi a Metal Pesado, que tinha uma

proposta radical e 15 músicas originais inspiradas em artistas como AC/DC e Ozzy

Osbourne (Aramis Milarch apud LOPES, 2013). Mas se o espaço para o rock já não

era amplo, para o metal, menos ainda. O apoio era muito menor. Por isso, muitos

integrantes de grupos heavy se viam obrigados a carregar instrumentos e

aparelhagens nas costas, utilizar ônibus como forma de transporte, forrar salas com

caixas de ovos para ensaiar, entre outras ações. Por isso, as apresentações ao vivo

eram raras e muitas vezes em espaços sem nenhum tipo de estrutura. Isso porque o

TUC e o Teatro Paiol, outro ponto de shows do heavy metal em Curitiba, não

recebiam com frequência os espetáculos devido ao comportamento excessivo dos

fãs, que danificavam os locais.

Ainda sim, o Metal Pesado, que surgiu em 1984, foi o primeiro conjunto de

metal a adquirir certa notoriedade na cidade. Na mesma época, surgiram outros

nomes, como Cavaleiros do Apocalipse e O Trilha e o Garra, porém, com propostas

mais leves de som. Já em 1986, nasce o Epidemic, primeira banda de thrash metal

local, juntamente com outras bandas mais pesadas, como Masmorra, Scarnio e

Funeral, primeira banda de death metal de Curitiba. A banda que realmente se

destacou no cenário, todavia, a ponto de fazer um tour pela Europa, foi a Infernal,

12 O termo headbanger é utilizado para denominar fãs da cultura heavy metal. Em tradução livre, o

termo significa “batedor de cabeça”, ação que os fãs do gênero costumam realizar em shows.

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que gravou vários materiais nos anos 90. Mas ainda no final dos anos 80, mais

bandas haviam surgido. Amen Corner e Murder Rape, ambas de black metal, foram

duas importantes. Além delas, se destacaram a Holy Death, a Defamer e a Septic

Death. Essas três, no entanto, tiveram curta duração. Nos anos 90, o death metal

imperava com o grupo Imperious Malevolence, que lançou vários trabalhos e

também excursionou pela Europa (LOPES, 2013).

Voltando ao TUC, o local recebeu vários festivais entre os anos de 1984 e

1987, como explica Lopes (2013). A maioria das bandas citadas acima passou por

lá, inclusive. Bem como pelo Teatro Paiol. Porém, logo os dois lugares convidaram

todos os envolvidos com o metal a se retirarem das instalações, uma vez que os

danos causados pelos fãs aos espaços eram grandes. O público metaleiro migrou,

então, para casas noturnas da cidade. Muitas delas sem nenhuma estrutura, como

já mencionado. O Parque São Lourenço e o Centro Politécnico da UFPR também

abrigaram alguns, poucos, festivais de heavy metal. E assim a jornada do metal se

estendeu até a década de 90, quando alguns eventos importantes tomaram conta da

cidade e ajudaram a manter o ritmo respirando na cidade.

Em 1996, o Estádio Couto Pereira recebeu uma edição do mega festival

Monsters of Rock, e reuniu na capital paranaense nomes como Motörhead e Iron

Maiden. O evento ocorreu no dia 25 de agosto. Já no dia 11 de outubro do mesmo

ano, foi a vez do AC/DC pousar em terras curitibanas e fazer história na Pedreira

Paulo Leminski, que anteriormente já havia recebido shows do Sepultura e do

Ramones no mesmo 12 de novembro de 1994. Três verdadeiros marcos para

história do rock and roll e do metal na cidade. “Desde então, algumas centenas de

bandas de vários países e estilos já passaram pela cidade - incluindo algumas que

só apareciam nos fanzines e nas paredes da Música Viva” (LOPES, 2013). De lá

para cá, o metal ganhou adeptos e pontos na cidade. Alguns fecharam tão rápido

quanto abriram. Outros permaneceram. Mas, dentro todos, se há um que pode ser

visto como o principal na atualidade, é o Blood Rock Bar.

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2.4 O BLOOD ROCK BAR

Muitos locais, especialmente todos aqueles já citados acima, foram de suma

importância para o desenvolvimento e disseminação da música em Curitiba. Do rock

e do metal, principalmente. Porém, muitos deles já são extintos e poucos

conseguiram se manter firmes no cenário da cidade. De lá para cá, novos pontos

surgiram e um deles se destacou, conquistando o título de novo point heagbanger

curitibano: o Blood Rock Bar.

O espaço foi fundado em 2010 pelos músicos e empreendedores Pedro

Machado e Sergio Mazul, logo após o fechamento de duas importantes casas

curitibanas que abrigavam o metal: o Hangar e o Opera1. Ou seja, o local já tinha

um ponto a seu favor, pois, na teoria, serviria como novo “templo” para os fãs do

heavy. E foi exatamente isso o que aconteceu. O Blood Rock Bar, em seus seis

anos de existência, realizou a tarefa de agrupar os semelhantes e oferecer o que

eles queriam: música pesada. Mas além do som, o bar também agrada no quesito

visual. A atmosfera obscura criada pela decoração de terror, rústica e com

iluminação baixa caiu no gosto do público como uma luva. Não á toa, uma vez que

os proprietários da casa montaram o lugar sob o ponto de vista dos fãs. Afinal, antes

de empreendedores, ambos também são amantes do heay metal.

Aliás, Mazul e Machado já estavam envolvidos com eventos de metal antes

mesmo do Blood nascer. Eram eles os responsáveis por alguns shows no Opera1,

que atraiam centenas de pessoas todos os finais de semana ao Largo da Ordem,

onde a casa estava localizada. Ou seja, a ideia de dar luz ao Blood já estava sendo

germinada no início dos anos dois mil. Era apenas necessário esperar pelo

momento certo. A história mais detalhada da casa e os depoimentos que legitimam o

que foi escrito até aqui, entretanto, constam no livro.

3. OBJETIVOS

Narrar o cenário atual do heavy metal curitibano a partir de um recorte social,

representado pelo Blood Rock Bar, além de entrevistas e observações, sob a ótica

do jornalismo literário.

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3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Compreender e apresentar de que forma o cenário heavy metal de Curitiba se

apresenta atualmente.

- Mostrar quem faz parte da sociedade contemporânea do metal curitibano por meio

de entrevistas com bandas e fãs.

- Abordar um pouco da história do metal em Curitiba, desde sua chegada até o

presente.

- Contribuir para o acervo cultural de Curitiba por meio de uma obra histórica que

resgata parte da cultura da cidade e documenta a atual, permitindo compreendê-la

ainda mais.

4. JUSTIFICATIVA

Bem como diversos outros locais históricos que influenciaram o repertório

cultural da cidade ao longo dos anos, os bares de rock and roll e heavy metal

exerceram importante papel no crescimento e disseminação dos gêneros e da

música como um todo na capital paranaense. Especialmente nos anos 80. Porém,

também é importante atentar para a história atual da cidade, que está sendo

construída neste exato momento. O Blood Rock Bar, sendo o ponto mais relevante

do metal em Curitiba atualmente, já faz parte dela. Por isso, é interessante que sua

história, mesmo que pequena, seja resgatada e documentada enquanto acontece

para que, com o passar do tempo, não caia no esquecimento e não se perca perante

as constantes transformações contemporâneas. De acordo com Huyssen (2004), o

esquecimento de um fato pode ser entendido como fruto de uma imprensa inepta. “A

memória pode ser considerada crucial para a coesão social e cultural de uma

sociedade. Qualquer tipo de identidade depende dela. Uma sociedade sem memória

é uma sociedade reprovável.” (HUYSSEN, apud QUADROS, 2005).

O mesmo vale, portanto, para o heavy metal curitibano, foco principal deste

trabalho, parte viva da cultura da capital que ainda não teve seu cenário explorado

devidamente na contemporaneidade. Na construção dos retratos do estilo musical e

da casa em questão (Blood), o jornalismo, e em especial o jornalismo literário, se

encaixa de forma eficaz, uma vez que suas técnicas abrangem não só a apuração,

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mas também detalhes e descrições que auxiliam na produção de uma obra rica e

repleta de memórias. Memórias que ajudam a compreender o cenário do rock and

roll e do metal em Curitiba no passado e no presente e a relação desses estilos com

determinados pontos da cidade, como o Blood Rock Bar. “O passado condiciona e

determina o presente na justa proporção em que pode ser recuperado e, de novo,

presente à atenção” (FIDALGO, 2003, pág. 5, apud QUADROS, 2005).

O livro reportagem, por fim, possibilita uma extensa produção acerca desses

objetos de pesquisa, bem como eles exigem para que possam ser compreendidos

como parte fundamental da cultura musical curitibana.

Livro-reportagem é o veículo de comunicação impressa não-periódico que apresenta reportagens em grau de amplitude superior ao tratamento costumeiro nos meios de comunicação jornalística periódicos. Por grau de amplitude superior, se entende maior ênfase ao tratamento do tema em foco (...) (PESSA apud LIMA, 2004).

Isso significa que o desenvolvimento do tema proposto por meio do livro-

reportagem se dá de forma mais satisfatória, bem como o levantamento de outras

discussões que também estão presentes na obra, como citadas no item 2.1

(objetivos específicos).

Já a escolha por retratar o heavy metal em específico se deu devido a gostos

pessoais e pelo incômodo do autor com a falta de material que permita compreender

o gênero em Curitiba. Ou seja, história, locais de shows, bandas, quem são os fãs,

etc. Porém, mais do que isso, a necessidade de retratar o atual. De mostrar como o

ritmo continua vivo na capital. Para isso, foram utilizados recursos como entrevistas,

pesquisas, levantamento de dados e relatos. Todos exigem atenção e organização.

Portanto, para que eles possam ser desenvolvidos com qualidade, a quantidade de

casas de shows abordadas não poderia ser muito alta. Então, foi escolhida apenas

uma, que conseguisse reunir tudo o que era pretendido abordar. E que estivesse

inserida na contemporaneidade, época alvo do livro.

Em suma, após toda a pesquisa realizada e exposta na delimitação e as

discussões levantadas, observa-se que Curitiba carece de obras e fontes que

retratem o heavy metal de forma mais aprofundada. Por isso, o interesse em

resgatar brevemente e retratar a atual história do gênero e contribuir para uma área

tão importante como a de cultura. No quesito livros, como o proposto neste trabalho,

não foram encontrados quaisquer exemplares que resgatem a história, retratem a

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contemporaneidade ou tenham como alvo principal o metal curitibano ou os espaços

que difundiram e ainda difundem o estilo. O único livro encontrado que tem como

tema bares (e restaurantes) da capital paranaense se chama “História dos Bares e

Restaurantes de Curitiba – Memória do Gosto” (2015), de Marina Corção e Sabrina

Demozzi. Porém, o alvo do livro é a culinária e como ela se integra a esses locais.

Não casas de shows ou quaisquer gêneros musicais.

No mais, foram encontrados alguns livros de âmbito nacional que contam

histórias da cena rock/metal de algumas cidades brasileiras. É o caso de “Gauleses

Irredutíveis” (2001), de Alisson Avila, Cristiano Bastos e Eduardo Muller, que expõe

um pedaço do universo roqueiro do Rio Grande do Sul. E “Histórias Secretas do

Rock Brasileiro” (2014), de Nélio Rodrigues, que percorre a estrada do rock and roll

no Brasil nos anos 60 e 70. Livros brasileiros que estudam os estilos pesados, como

“Rock Me Like The Devil: A assinatura das cenas e das identidades metálicas”

(2014), de Jader Janotti Jr., também apareceram durante a pesquisa. Bem como

livros que analisam o underground, como “Trevas Sobre a Luz: O Underground do

Heavy Metal Extremo no Brasil” (2010), de Leonardo Carbonieri Campoy.

No âmbito acadêmico curitibano, foram encontradas algumas obras

relacionadas aos gêneros musicais e também seus representantes. Por exemplo, os

videodocumentários “Ivo Rodrigues – Sou legal, eu sei” (2011), que conta a história

do vocalista da banda Blindagem, e “Todo roqueiro é gente fina: história da banda A

Chave”, que narra a trajetória do grupo roqueiro curitibano (2014). Porém, nada que

retratasse o heavy metal curitibano na contemporaneidade.

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 O JORNALISMO LITERÁRIO

O jornalismo literário apareceu de forma mais efetiva na década de 60, com o

New Journalism, em uma época de revoluções e movimentos contraculturais. Os

hippies emergiam e lutavam contra a guerra por meio do amor e da paz. O American

Way of Life era questionado e recebia golpes de revoluções sexuais, artísticas e

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políticas que ferviam pelos Estados Unidos e outras partes do mundo. Andy Warhol

trazia ao mundo a pop art e o festival de Woodstock marcava toda uma geração,

apresentando artistas renomados como Jimmy Hendrix, que reproduziu sons de

aviões e bombas (em referência à guerra) com sua guitarra antes de atear fogo nela,

como forma artística de protesto. As drogas adquiriam espaço significativo entre os

jovens. Especialmente o LSD. E é nesse cenário que nasce esse subgênero do

jornalismo, cujas características quebraram com os moldes do então jornalismo

tradicional da época. Ou simplesmente acresceram a este, como explica Weise.

O jornalismo é fato da realidade. A literatura, da realidade somada à ficção. O jornalismo literário, logo, é uma miscelânea de ambos. Cumpre a missão de informar, preservando a essência jornalística, porém com ganho em vocabulário, estrutura narrativa e aprofundamento de conteúdo. Esse trinômio alicerça e ornamenta o texto que é levado ao leitor. E o jornalismo, enquanto retrato fiel da realidade inspira a literatura, esta, em escala menor, também acresce ao mesmo (WEISE, 2013).

Entretanto, o início do chamado jornalismo literário não foi dos mais fáceis.

Primeiramente, apesar de ter sido encabeçado por nomes cultuados como Gay

Talese, Tom Wolfe, Norman Mailer e Truman Capote, entende-se que o subgênero

nunca teve qualquer tipo de pretensão, como escreve Tom Wolfe no começo de seu

ensaio The New Journalism:

Duvido que muitos dos que irei citar neste trabalho tenham se aproximado do jornalismo com a menor intenção de criar um novo jornalismo, um jornalismo melhor, ou uma variedade ligeiramente evoluída. Sei que jamais sonharam que nada do que escrevessem para jornais e revistas fosse causar tal estrago no mundo literário... provocar pânico, roubar da novela o trono de maior dos gêneros literários, dotar a literatura norte-americana de sua primeira orientação nova em meio século...(WOLFE, 1976, p.9).

Na verdade, o New Journalism está associado à “rivalidade” jornalismo x

literatura. Na época, as duas formas de escrever eram tidas como coisas

completamente separadas. A literatura (romance) era o ápice, o sonho a ser

conquistado por qualquer um que escrevesse, enquanto o jornalismo não passava

de uma porta de entrada. Um primeiro degrau para quem queria atingi-lo. Por isso, o

novo jornalismo foi utilizado como meio para satisfazer a necessidade que muitos

jornalistas possuíam de escrever um romance. “Estou ansioso por apostar que, não

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há muito tempo, a metade das pessoas que iam trabalhar na imprensa o faziam na

crença de que o seu destino real era o de ser romancistas." (Wolfe, 1976, p.16).

Ainda sim, nem jornalistas nem escritores tinham ideia de como a nova forma

de se fazer jornalismo seria tão bem aceita. Apesar de não ter sido e ainda não ser

unanimidade, as novas técnicas e artifícios que o jornalismo literário oferecia caíram

nas graças de grandes revistas, como Esquire e Times, e até jornais, como o Herald

Tribune. Essa potencialização dos recursos do jornalismo, que ultrapassava os

limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionava visões amplas da realidade,

exercia plenamente a cidadania, rompia as correntes burocráticas do lide e,

principalmente, garantia perenidade e profundidade aos relatos (PENA, 2005), era

inovadora. Afinal, os jornalistas dos anos 60 procuravam se distanciar ao máximo da

realidade com uma escrita seca e direta.

A “reportagem realmente estilosa era algo com que ninguém sabia lidar, uma

vez que ninguém costumava pensar que a reportagem tinha uma dimensão estética”

(WOLFE, 2005, p.22). Ou seja, para muitos, era difícil levar o jornalismo literário a

sério, uma vez que ele se assemelhava muito a um romance e, portanto, aparentava

conceber uma realidade inventada. Por esse motivo, não era e ainda não é

unanimidade, como citado acima. Porém, o tom provocador e desafiador dessa nova

forma de se escrever permaneceu, e ainda é utilizado de forma ampla no jornalismo.

Para fechar o tema, é possível apontar algumas características do jornalismo

literário que o difere dos demais. Além daquelas já citadas neste tópico. Nesse

subgênero, por exemplo, o lado humano e mais sensível do fato ganha mais

notoriedade. E isso é feito por meio da aproximação entre jornalista e

acontecimento. Não há distanciamento, como no jornalismo tradicional. Porém,

apuração rigorosa, observação atenta, abordagem ética e capacidade de expressar

o fato de forma clara permanecem. Afinal, o jornalismo literário não cria verdades,

mas as aponta de forma rica, detalhada e por meio de técnicas narrativas que visam

envolver e chocar.

Além disso, ao utilizar o jornalismo literário, o profissional está apto a romper

com dois pontos fundamentais do jornalismo tradicional: a periodicidade e

atualidade.

Ele não está mais enjaulado pelo deadline, a famosa hora de fechamento do jornal ou da revista, quando inevitavelmente deve entregar a sua reportagem. E nem se preocupa com a novidade, ou seja, com o desejo do leitor em consumir os fatos que aconteceram no espaço de tempo mais

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imediato possível. Seu dever é ultrapassar estes limites e proporcionar uma visão ampla da realidade (...) (PENA, 2005, p.7).

Construção cena a cena, detalhamento apurado das vidas e características de

personagens, utilização da primeira pessoa na escrita ou ponto de vista da terceira

pessoa e diálogos também constituem pontos chave do jornalismo literário, que, em

suma, complementa o jornalismo tradicional e o potencializa.

E fica evidente que o jornalismo literário é fonte inesgotável de informação, trazendo consigo, na maioria dos casos, a versão mais completa do que se considera notícia. O ganho ao leitor não fica reduzido apenas ao conteúdo básico de matérias. Recebe ele também uma carga generosa de elementos para uso intelectual, emocional ou mesmo cognitiva, já que a humanização presente neste gênero pode ser um poderoso instrumento de incremento da capacidade de empatia, sabidamente a característica fundamental da inteligência emocional (WEISE, 2013).

Por esse motivo, o gênero foi escolhido para criar este projeto, que pretende

expor uma versão mais completa do tema em questão, detalhando-o e tornando-o

mais sensível do que uma notícia ou reportagem convencional. Algo que pode se

notar no livro-reportagem por meio das descrições, das escolhas das palavras e da

estrutura.

5.2 O PERFIL JORNALÍSTICO

Segundo a pesquisa da jornalista Amanda Tenório Pontes da Silva, intitulada

“O Perfil Jornalístico: possibilidades e enfrentamentos no jornalismo impresso

brasileiro” (2009), o subgênero teria surgido juntamente com o jornalismo literário,

encabeçado por nomes como Gay Talese. Este, aliás, publicou o texto “Frank

Sinatra Está Resfriado” (1966), perfil reconhecido pela criatividade, técnica e

inovação com as quais foi concebido13. Foi a partir daí que a novidade chegou ao

Brasil e revistas brasileira pegaram carona nesta nova forma de escrever.

(...) O Cruzeiro, Realidade e Veja começaram a dar destaque ao gênero, influenciadas principalmente pelas norte-americanas The New Yorker,

13 Escrita por Gay Talese em 1966 a pedido da revista Esquire, a reportagem é um perfil do cantor

norte-americano Frank Sinatra e ficou conhecida como um dos maiores ícones do chamado Novo Jornalismo (OLIVEIRA, 2013).

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Vanity Fair e Biography. Truman Capote, Tom Wolfe e Gay Talese foram alguns jornalistas destes periódicos imortalizados por publicações que marcaram época (SILVA, 2009, p.6).

O perfil jornalístico, geralmente associado ao jornalismo literário devido as

suas características de escrita (é um texto mais detalhado e aprofundado), consiste

em um retrato da história, características, qualidades, defeitos e experiências de

uma personagem por meio de um texto jornalístico. É o que explica Kotscho:

Filão mais rico das matérias chamadas humanas, o perfil dá ao repórter a chance de fazer um texto mais trabalhado – seja sobre um personagem, um prédio ou uma cidade. Para isso, é necessário que ele se municie previamente sobre o tema de que vai tratar: para ir fundo na vida de uma pessoa ou de um lugar, é preciso, antes de mais nada, conhecê-lo bem (2003, p.42).

A passagem acima também já revela o que é necessário para um bom perfil:

conhecer o alvo do texto. Ou seja, perfilar alguém ou um local exige pesquisa,

reconhecimento presencial, entrevistas, entre outras técnicas jornalísticas que

rendam uma apuração precisa. Do contrário, sem a imersão do jornalista no que é o

perfilado, o artigo não adquire a profundidade que o subgênero permite e busca.

Profundidade que, de acordo com Sergio Vilas Boas, pode ser conseguida por meio

da humanização. “Quando prima pela humanização, com tudo o que isso implica, o

texto perfil é irresistível. (...) O primeiro passo para humanizar é evitar pensamentos

binários do tipo ‘santo ou demônio’, ‘algoz ou vítima’, ‘melancólico ou eufórico’”

(VILAS BOAS, 2008)

O autor também reforça a ideia de que o perfil exige quase que total

conhecimento do perfilado. O suficiente para que não se formem hipóteses, mas

certezas.

Em vez de formular hipóteses, entre no mundo da pessoa, sem preconceitos; conheça-a em suas grandezas, fraquezas e rotinas; frequente os lugares que ela freqüenta; capte sua visão de mundo e suas marcas de temperamento. Não fique preso a abstrações (dados curriculares, números, performances). Mais importante é o que os personagens e seus convivas exprimem de dentro para fora. Importantíssimo: não idealize ninguém. As pessoas são o que são. E que assim sejam (VILAS BOAS, 2008).

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Também é importante citar que o perfil difere-se da biografia. Esta possui um

aprofundamento ainda maior e visa reunir todos os fatos, inclusive os pormenores,

da vida do entrevistado. Aquela, por outro lado, faz uma espécie de versão menor da

biografia, e apresenta uma narrativa mais curta (mas não menos envolvente) e pode

focar em apenas alguns acontecimentos pertinentes ao perfilado, como explica Vilas

Boas no livro “Perfis – e como escrevê-los” (2003).

E bem como em todo o jornalismo literário, os perfis não precisam estar

presos necessariamente à periodicidade e à atualidade. Podem, inclusive, ter como

alvo pessoas ou locais que já não existem mais. Neste caso, as técnicas utilizadas

serão as mesmas, mas o trabalho de pesquisa será ainda maior e as entrevistas

com quem viveu com o perfilado serão essenciais para reconstruí-lo de forma fiel.

No caso do trabalho, o perfilado principal foi um estilo de música em uma cidade

específica. E, segundamente, a casa de shows Blood e, em menor escala, as

bandas e fãs, que foram entrevistados. Todavia, antes da entrevista, é necessário

explicar o que é a história oral, uma vez que a base para aquela se encontra nesta.

5.3 A HISTÓRIA ORAL

De acordo com o Centro de Pesquisa e Documentação da História

Contemporânea, parte da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas,

a história oral é “uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas

gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas,

instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea14”. Ou

seja, juntamente com pesquisas, dados e outros documentos, tem como função,

especialmente, a compreensão do passado.

Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar. Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral (CPDOC – FVG, 2013).

14 Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral (2013).

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Nesse cenário, é possível comparar o jornalista a um historiador. No livro-

reportagem, por exemplo, é necessário que o profissional da comunicação insira

contexto aos fatos que está abordando. Busque na história acontecimentos que o

embasem e contribuam para com o que está tentando provar ou apresentar. “O

trabalho com a metodologia de história oral compreende todo um conjunto de

atividades anteriores e posteriores à gravação dos depoimentos. Exige, antes, a

pesquisa e o levantamento de dados para a preparação dos roteiros das entrevistas”

(CPDOC – FGV, 2013). Por isso, a história oral se faz, em conjunto com a entrevista

jornalística, imprescindível neste trabalho, que visa abordar uma sociedade cultural

muito específica e recheada de histórias que, se fossem apenas jogadas dentro do

produto, não fariam sentido e não o valorizariam.

Em suma, pode-se dizer que a história oral centra-se na memória humana. No

testemunho humano. Que, segundo Paul Thompson, pode ajudar a resgatar

conceitos e ideias presentes não apenas em um indivíduo, mas em uma cultura

inteira.

[...] a história oral pode dar grande contribuição para o resgate da memória nacional, mostrando-se um método bastante promissor para a realização de pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos (THOMPSON, 1992, p.17).

Assim, fica ainda mais perceptível a importância, e até necessidade, de ir além

dos documentos escritos e das pesquisas de dados e incluir o fator humano no

trabalho. Algo que também pode ser feito por meio das entrevistas, que não deixam

de ser uma forma de utilizar o método da história oral.

5.4 A ENTREVISTA

A entrevista é considerada uma das atividades mais essenciais dentro do

jornalismo. “Ela é a alma do jornalismo: pode impulsionar ou detonar uma matéria,

dar vida a narrativas e conduzir à compreensão de acontecimentos complexos”

(MAZOTTE, 2013). É, portanto, a base para a reportagem, que é estruturada e

direcionada a partir da entrevista e do material gerado por ela.

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De acordo com Oyama (2008), a entrevista pode ser dividida em duas

categorias.

“Aqui, preferi simplificar e dividir a entrevista em apenas duas categorias: a de informação – que pode ser breve, longa, testemunhal ou temática – e a de perfil – aquela em que se procura, por meio de perguntas e respostas, mostrar quem é o entrevistado. (...) para descrever os encantos, segredos e ciladas daquilo que é a base da reportagem e, na minha opinião, seu momento mais prazeroso (OYAMA, 2008).

Dessa afirmação, pode-se concluir que a entrevista de informação está

relacionada, como o nome revela, à pura extração de informações, sejam elas

análises, números, estudos ou exemplos de casos. Já a entrevista de perfil se

aprofunda um pouco mais na vida e história do entrevistado. Nessa segunda

categoria, a abordagem muda e extrair informações já não é a única tarefa a ser

realizada pelo jornalista.

Uma entrevista também pode tomar rumos muito diferentes dependendo das razões que levaram o entrevistador a procurar o entrevistado. Se o segundo é um especialista em uma doença, digamos, ou no estudo de um determinado fenômeno social, e esse é o motivo da conversa, a tarefa do repórter será a de tentar extrair dele análises, números, estudos, exemplos de casos – ou seja, informação. Se, ao contrário, o entrevistado é um escritor, diretor de cinema ou qualquer um que possa despertar a curiosidade do leitor por sua obra ou gênio, as questões – e a maneira de abordá-las – serão outras. Aqui, a tarefa do repórter não é mais a de extrair informação, mas, sobretudo, a de mostrar quem é o entrevistado e o que ele pensa (OYAMA, 2008).

E essa diferenciação é fundamental para que o jornalista possa saber de que

forma abordar o entrevistado e como conduzir a entrevista para satisfazer seus

objetivos. No caso deste projeto, no qual é proposto a realização de perfis e de

reconstrução histórica, por exemplo, há uma combinação entre os dois tipos de

entrevista. Porém, apesar de dados, números e informações gerais serem

importantes, a entrevista perfil ainda é predominante neste cenário, uma vez que os

detalhes para resgatar e mostrar como eram e são os locais de shows de rock e

metal de Curitiba exigem técnicas mais apuradas e aprofundadas de entrevista.

Quanto às técnicas e recursos da entrevista, variam de acordo com o

jornalista. Gay Talese, por exemplo, não utiliza gravadores e faz todas as suas

entrevistas cara a cara. “(...) a conversa cara a cara permite que o repórter observe

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detalhes do comportamento do entrevistado e da cena que escapam em conversas

por telefone ou e-mail” (MALLARY JEAN TENORE apud MAZOTTE, 2013). Mas há

quem opte por fazer uso do e-mail, do telefone e, mais recentemente, do Skype15.

Independentemente do meio escolhido, todavia, é imprescindível em todos eles

perspicácia no ato e pesquisa antecipada, bem como na produção do perfil,

explorado no tópico anterior. É o que expõe Mazotte em seu artigo “Um guia para

aprimorar a arte da entrevista” (2013), ao citar o também jornalista Jon Talton,

colunista do Seattle Times:

Uma boa entrevista começa muito antes do contato com o entrevistado.

Como Jon Talton, colunista do Seattle Times, escreveu para o Reynolds Center, conhecer muito bem a fonte e o tema que será tratado é o dever de casa. Fazer uma lista de perguntas prévias não garante o sucesso da entrevista, mas pesquisar e estar completamente por dentro do que será debatido e da pessoa com quem se debaterá pode render bons frutos (MAZOTTE, 2013).

A entrevista, portanto, é mais do que uma ferramenta auxiliadora na prática

jornalística. É uma de suas mais indispensáveis bases, que, dependendo de como é

aplicada, molda os caminhos e abordagens do produto final (reportagens,

programas, livros, entre outros).

5.5 O LIVRO-REPORTAGEM

O livro-reportagem nada mais é do que um produto cultural no qual o trabalho

cotidiano da imprensa, especialmente aquele ligado à reportagem, é ampliado e

aprofundado por meio de uma apuração ainda maior e a utilização de todo o leque

de técnicas jornalísticas. De acordo com o estudioso em comunicação e professor

Edvaldo Pereira Lima, na segunda edição de seu livro “O que é livro-reportagem”

(1998), o papel do livro-reportagem é “estender o papel do jornalismo

contemporâneo, fazendo avançar as baterias de explicações para além do terreno

onde estaciona a grande reportagem na imprensa convencional” (LIMA, 1998, p.16).

15 O Skype consiste numa ferramenta online que permite pessoas realizarem chamadas de vídeo e

áudio para que possam se comunicar.

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Ainda segundo Lima, no mesmo livro, o autor explica que o livro-reportagem

tem o poder de adentrar áreas subestimadas ou esquecidas pela sociedade e pelo

jornalismo tradicional, trazendo à tona aventuras que se perderam.

Para começo de conversa, esse veículo jornalístico, por ser um trabalho de autor, produzido individualmente ou em equipe, ganha uma liberdade de gestação e confecção inexistente na grande imprensa, aquela dos grandes meios de comunicação, voltada para vastas audiências. O primeiro grande vôo é o rompimento com dois carrascos conceituais nas redações convencionais: a atualidade e a periodicidade (LIMA, 1998, p. 18).

Na passagem acima, Lima expõe duas características essenciais do livro-

reportagem: a quebra com a periodicidade e a atualidade. Algo que pode ser visto

no jornalismo literário, subgênero explorado anteriormente no trabalho e que

engloba o veículo abordado neste tópico. Isso porque, como demonstram as

afirmações do autor, o livro-reportagem, bem como o jornalismo literário, não se

encaixa necessariamente nos moldes da mídia tradicional. São formas de apurar e

escrever que visam ir além, rompendo as barreiras do convencional.

A prisão do jornalismo comum em torno da atualidade o impede de buscar raízes um pouco mais distantes no tempo, que explicam melhor as origens dos acontecimentos, bem como as motivações dos atores envolvidos. Em lugar da atualidade, o jornalismo de profundidade deve buscar ler a contemporaneidade, um conceito muito mais elástico do tempo presente, que transcende o meramente atual para focalizar com grande pertinência as implicações, hoje, de eventos que não se deram apenas ontem, mas, sim, há anos, décadas, talvez. Isso porque a contemporaneidade abrange muito mais do que meros fatos, tendências que se formam ao longo do tempo nas mais diversas esferas da vida social, muitas vezes combinando-se e se relacionando nesse desenrolar. É esse trabalho de paciência detetivesca, encontrando ligações entre as coisas, que permite constatar o quanto do passado persiste no presente" (LIMA,1998, p.20).

Além do mais, na produção do livro-reportagem, leva-se em conta o interesse

da sociedade por histórias humanas. Pelo detalhamento e aprofundamento que o

veículo e o jornalismo literário oferecem por determinado tema, como afirma Belo

(2006).

A transição dos manuais de redação para o Novo Jornalismo, se deu a partir de uma conseqüência direta do interesse que havia na sociedade pelas histórias humanas, contadas de forma saborosa e muitas vezes em série de reportagens. Uma parte do público fazia questão de guardar aqueles retratos da época, e a idéia de transformá-los em livro acabou parecendo bastante natural (BELO, 2006, p.18).

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Com base nisso, é possível relacionar diretamente a plataforma midiática

escolhida com o tema e a proposta deste projeto, que visa fazer um resgate e narrar

um fato repleto de detalhes e observações que quebram com a periodicidade e

atualidade. Mais do que um resgate histórico, aliás, o livro-reportagem permite que

seja realizada uma leitura da contemporaneidade (LIMA, 1998), para que a

compreensão da realidade se dê de forma mais sólida e embasada. Uma das

maneiras de dar vida a um produto como esse e deixá-lo atrativo, aliás, é estar mais

próximo dos fatos. Algo que pode ser conquistado, dentre outros fatores, pela

escolha narrativa.

5.6 O “EU REPÓRTER” NA NARRATIVA JORNALÍSTICA

A narrativa jornalística, segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari no

livro “Técnica de reportagem: notas sobre a narrativa jornalística” (1986), é “todo e

qualquer discurso capaz de evocar um mundo concebido como real, material e

espiritual, situado em um espaço determinado. (...) O romance, o conto, o poema,

constituem formas diferentes de narrativa”. Porém, a narrativa não se prende

apenas ao ficcional, e aparece na prática jornalística com uma diferença: se

estrutura com base na realidade.

Mas a narrativa não é privilégio da arte ficcional. Quando o jornal diário noticia um fato qualquer, como um atropelamento, já traz aí, em germe, uma narrativa. O desdobramento das clássicas perguntas a que a notícia pretende responder (que, o que, como, quando, onde, por que) constituirá de pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário, como na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados, tornam-se reportagem (SODRÉ, FERRARI, 1986, p.7).

De acordo com os autores, os elementos essenciais para uma narrativa

jornalística consistem em duas coisas. “Sem um ‘quem’ e um ‘o que’, não se pode

narrar. Na reportagem, estes dois elementos têm de existir, mas têm, sobretudo, de

despertar interesse humano - ou não serão suficientes para sustentar a

problemática narrativa” (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.11). Logo, a presença da

personagem e do acontecimento são fundamentais para a produção. Nesse

contexto, há diferentes formas de narrar. Uma delas é a narrativa em primeira

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pessoa, também chamada de “eu, repórter”, na qual o profissional abandona o papel

de espectador e o distanciamento do fato para adentrá-lo e fazer parte dele

efetivamente.

A escolha do narrador por contar a história em primeira pessoa se dá por

diferentes motivos. O mais recorrente deles, ainda com base na obra de Sodré e

Ferrari, é o da humanização, fator determinante para o sucesso do material

produzido.

Diretamente ligada à emotividade, a humanização se acentuará na medida em que o relato for feito por alguém que não só testemunha a ação, mas também participa dos fatos. O repórter é aquele "que está presente", servindo de ponte (e, portanto, diminuindo a distância) entre o leitor e o acontecimento (SODRÉ; FERRARI, 1986, p.11).

Entende-se, portanto, que o repórter presente no fato, o acompanhando e o

narrando de perto, tende a despertar mais do que a curiosidade do leitor, e não

apenas suprir a necessidade por informações que este possui. A narrativa em

primeira pessoa visa envolver e diminuir ainda mais a distância entre o leitor e o

acontecimento por meio de um rico detalhamento descritivo que apenas quem está

presente na cena narrada poderia fazer. Sem mencionar o fator emocional, que

também permeia esse tipo de narrativa. Coisas extremamente importantes para que

o texto ganhe força e arrebate o leitor a lê-lo até o fim, como sumariza a jornalista

Hérica Lene ao citar a visão do autor Vilas Boas:

(...) jornalistas eram autores e personagens da matéria; ênfase em detalhes reveladores, não em estatísticas ou dados enciclopédicos; descrição do cotidiano; frases sensitivas; valorização dos detalhes físicos e das atitudes da pessoa; estímulo ao debate; repórteres reconheciam e assumiam, em primeira pessoa, as dificuldades de compreensão da às vezes indecifrável, mas sempre fascinante personalidade humana (VILAS BOAS apud LENE, 2006).

Ao assumir a posição de narrador em primeira pessoa e levar tudo isso em

consideração, surge uma abordagem mais original e particular dos fatos. Algo

pretendido neste projeto e que também é visto no Gonzo Journalism, criado na

segunda metade dos anos 60 pelo jornalista Hunter S. Thompson.

(...) Thompson propôs a transposição da barreira essencial que separa o jornalismo da ficção: o compromisso com a verdade. Também chamado de jornalismo fora-da-lei, jornalismo alternativo e cubismo literário, o gênero

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inventado por Thompson tem sua força baseada na desobediência de padrões e no desrespeito de normas estabelecidas, além da insistência em quatro grandes temas: sexo, drogas, esporte e política (CZARNOBAI, 2003, p.26).

Nessa modalidade jornalística, o repórter, portanto, é imerso no universo que

está explorando e tenta vivê-lo de forma que possa contar melhor os fatos. Um dos

textos mais importantes do gonzo é de autoria de Thompson, chamado Fear and

Loathing in Las Vegas: A Savage Journey to the Heart of the American Dream, no

qual o jornalista conta a história de dois homens que decidem alcançar o sonho

americano em uma jornada regada a drogas e loucuras. Neste projeto, a vivência no

Blood Rock Bar e a proximidade com as bandas e fãs possibilitaram uma

experiência Gonzo, que se reflete nos detalhes descritos no livro, que só poderiam

ser contados com mais precisão por quem estava, de fato imerso naquele universo.

6. METODOLOGIA DE PESQUISA

Para compor o trabalho, foram realizadas pesquisas exploratórias e

bibliográficas. A primeira consistiu na realização de entrevistas, observações e no

uso da metodologia da história oral. Além do levantamento de pesquisas, dados e

documentos. Tudo para que houvesse, primeiramente, uma visão ampla e mais

aproximada do tema que indicasse quais pontos deveriam ser trabalhados na obra.

Dessa forma, a construção do cenário contemporânea se deu de forma mais

simples e precisa.

Em relação às pesquisas bibliográficas, o primeiro passo foi reunir livros que

abordassem a temática ou se relacionassem a ela de alguma forma. Para isso,

foram realizadas pesquisas na biblioteca do Centro Universitário UniBrasil e

empréstimos de materiais de colegas e amigos. Após essa primeira coleta de

referências e a leitura delas, foi feita uma “peneira”, na qual foi decidido o que

poderia ser aproveitado ou não no projeto. Pesquisas com o auxílio da internet

também fizeram parte do trabalho. Lá, foram encontrados artigos acadêmicos,

pesquisas e até livros em formato PDF que contribuíram para a formação deste

documento. Bem como outros projetos de conclusão de curso semelhantes.

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7. DELINEAMENTO DO PRODUTO

O livro-reportagem foi produzido nas dimensões 14 x 21cm, possui 52

páginas e seis capítulos. A escolha por essa quantidade de páginas e pelos

capítulos mais curtos se deu por um motivo em particular: uma tentativa de

aproximar uma obra literária a uma composição musical no que diz respeito ao

consumo. A ideia é a de que o leitor consuma o livro-reportagem bem como

consome uma música, de uma só vez. Dificilmente um ouvinte iniciará a execução

de uma canção e pausará na metade para terminar depois. No entanto, esse

processo é mais presente no mundo dos livros. Nesta obra, portanto, o número mais

curto de páginas e os capítulos menores auxiliam para que o leitor a leia de uma só

vez, absorvendo, dessa forma, todo o conteúdo com mais unidade e imersão, já que

não deixará o livro. Além disso, pessoas que não estão familiarizadas com o tema

podem sentir-se mais propensas a ler uma obra mais compacta, porém completa,

do que um documento muito extenso a respeito do mesmo assunto.

Os capítulos do livro tratam de informações diferentes do tema, mas se

encontram em determinadas passagens, criando referências e uma leitura mais

embasada, que resgata informações quando necessário. Apenas um dos capítulos é

mais extenso e, por isso, dividido em duas partes. O último capítulo é um miniguia

com explicações sobre alguns termos utilizados na cultura do metal, realizado com

uma linguagem mais descontraída.

7.1 PERSONAGENS

Os personagens consistem nas bandas e fãs de heavy metal da capital que

frequentaram ou frequentem o Blood Rock Bar.

7.2 FOCO NARRATIVO

O livro é escrito em primeira pessoa. Porém, em algumas passagens, ao

retratar outras pessoas e em diálogos, é utilizada a terceira pessoa.

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7.3 PROJETO GRÁFICO

O projeto gráfico do livro segue uma linha minimalista, simples. Para a capa,

foi escolhida uma cor clara para criar um contraste interessante com o tema, heavy

metal, geralmente atrelado a cores mais escuras, especialmente o preto. Apenas a

primeira parte do título apresenta a cor vermelha, para dar destaque e atrair a

atenção. O restante (nome do autor e subtítulo) foi realizado nas cores pretas. Além

disso, a capa traz uma imagem, também mais clara, relacionada ao gênero musical

em questão. O uso do desenho da mão que imita chifres como detalhe para a

abertura de capítulos também se deu devido à relação com o ritmo. Outro ponto

importante é que em todas as páginas pares há uma marcação no canto da página,

indicando em qual capítulo o leitor se encontra. É uma forma de voltar rapidamente

à leitura, caso necessário. Por fim, na contracapa, repete-se a imagem da capa,

juntamente a uma breve descrição do autor, com foto. Todo o miolo do livro foi

elaborado em preto e branco.

7.4 PÚBLICO ALVO E VEICULAÇÃO

O público alvo deste livro-reportagem consiste em pessoas, sejam elas mais

novas ou mais velhas, interessadas em música e na história cultural do Paraná e,

especialmente, de Curitiba. São os fãs dos gêneros rock and roll e heavy metal e da

casa de shows em questão. Também, um público que se interesse por leitura e,

particularmente, por jornalismo literário, uma vez que o livro emprega técnicas

desse gênero jornalístico. Estudantes da área de comunicação, bem como a área

acadêmica, em um geral, também estão inclusos.

A veiculação da publicação será realizada por meio de eventos acadêmicos

que cedam espaços para exposições e divulgações de obras. Inscrições para

prêmios importantes de jornalismo também serão feitos com os objetivos de

aumentar a tiragem do livro e sua visibilidade, levá-lo a outras regiões e, talvez,

conseguir financiamento ou apoio para futuras produções, sejam elas ficcionais ou

jornalísticas. A publicação online também está prevista, em forma e-book.

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7.5 ORÇAMENTOS E RECURSOS MATERIAIS

Os equipamentos necessários para a realização do projeto são de posse do

autor. As entradas para o Blood Rock Bar custam R$15. Considerando que

aconteceram pelo menos três visitas à casa, o total seria de R$45. Houve também o

transporte para a realização das entrevistas, que ficou em torno de R$100. No mais,

as impressões das três cópias do livro, já com as capas, custaram R$230.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto se propôs a narrar e documentar parte da história e do atual cenário

do heavy metal curitibano por meio de um livro-reportagem, que se utilizou de

técnicas do jornalismo literário. Para tanto, o pesquisador precisou fazer um resgate

ao passado para, primeiramente, compreender como surgiu e se desenvolveu o

cenário headbanger da cidade. Pesquisa cujo resultado pode ser visto na primeira

parte do trabalho, na delimitação do tema, que também explora um ponto essencial

de Curitiba para o metal: o Blood Rock Bar. O bar é utilizado como recorte social ao

longo do projeto e, por isso, era de suma relevância que tivesse sua história

explorada, tanto no documento teórico quanto no projeto do livro. É a partir dele que

é concebida a construção da cena contemporânea do heavy, foco do projeto.

Em relação aos objetivos propostos neste trabalho, tanto o principal quanto os

específicos, foram atingidos. Por meio de entrevistas, do método da história oral,

observações e pesquisas, foi possível retratar como se comporta o gênero pesado

na cidade, analisando questões que vão desde quem são os atuais fãs e bandas e

como elas se relacionam com a cidade e o estilo até a parte histórica. Questões,

também, que contribuem para dar voz e documentar parte da cultura da cidade.

No livro, é possível notar como o embasamento teórico se fez presente na

obra. A narrativa do jornalismo literário, por exemplo, é visível nas descrições

detalhadas de cenários, sensações e situações, que se estendem até o fim da

publicação. Misturadas, também, a algumas percepções próprias, de quem está

presente no fato (narrativa em primeira pessoa). Percebe-se também o heavy metal

e suas características (perfil), construídas por meios de relatos (história oral) e

entrevistas com fãs e bandas de diferentes sexos, idades e estilos. Assim, o gênero

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não é retratado de forma unilateral ou rasa, mas aprofundada, como exige um livro-

reportagem. Enfim, conhecimentos jornalísticos que são essenciais ao projeto e que

são explorados no embasamento teórico, que é antecedido pela justificativa,

sustentada, principalmente, pelos argumentos: falta de projetos similares,

importância de retratar parte da cultura da cidade e documentar um cenário vivo em

plena capital.

Por fim, é possível observar como, além dessas técnicas citadas acima, o

trabalho, tanto a parte teórica como o produto, exigiram recursos de várias partes do

jornalismo. Recursos como pesquisa, organização e hierarquização de informações

e escrita apurada, por exemplo, que são aprendidos e utilizados ao longo de todo o

curso. Tudo auxiliou para que o objetivo principal do trabalho, que é narrar o cenário

atual do heavy metal, fosse cumprido. Na obra, portanto, é possível encontrar

informações pertinentes e seguras a cerca do tema, além de conhecimentos para

quem não está familiarizado com a cultura do metal. A última parte do livro,

“miniguia sobre o heavy metal”, por exemplo, traz alguns termos para que o leitor

compreenda um pouco mais do movimento e não se perca caso queira pesquisar

mais sobre a temática ou, talvez, comparecer a um evento do ritmo. O restante do

livro, no entanto, também segue uma linha detalhada que tenta não deixar nós

soltos ao apreciador. Algo que pode facilitar a leitura da obra como um todo e atrair

novos leitores.

Ao fim da obra, nota-se que a cena atual do heavy metal em Curitiba é frágil.

Sobrevive. Bandas autorais não se desenvolvem pela falta de incentivo e espaços

para tocarem e divulgarem materiais. Os grupos cover, por outro lado, conquistaram

o underground. São mais requisitados e são os únicos que conseguem, por

exemplo, gerar alguma renda financeira por meio da música. Mesmo que pouca.

Quanto aos espaços para shows, o principal e, quase único, é o Blood Rock Bar,

que, aparentemente, tem tudo para continuar o monopólio. Já em relação aos fãs,

há uma divisão e, ao mesmo tempo, uma mistura. Ou seja, são ouvintes de

diferentes idades, classes e gêneros, que convivem em um mesmo cenário, mas

que se dividem quando o assunto são preferências. Alguns colocam sua devoção

nas bandas cover, que celebram suas bandas clássicas favoritas, e rejeitam as

novidades. Ficam em um círculo vicioso em que só as bandas passadas tem

espaço. Outros buscam justamente algo mais novo, feito na contemporaneidade,

mas não encontram. Mas, pior do que isso, quando encontram, não pedem pelos

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conjuntos. Não buscam incentivar. Tudo isso torna o cenário, novamente, frágil. Mas

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