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CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR - LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES CURSO DE NUTRIÇÃO PROGRAMAÇÃO METABÓLICA: EFEITOS DESDE A FORMAÇÃO DO EMBRIÃO ATÉ O SEGUNDO ANO DE VIDA KARLA DE OLIVEIRA MAGALDI RIO DE JANEIRO 2017

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CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR - LAUREATE

INTERNATIONAL UNIVERSITIES

CURSO DE NUTRIÇÃO

PROGRAMAÇÃO METABÓLICA: EFEITOS DESDE A FORMAÇÃO

DO EMBRIÃO ATÉ O SEGUNDO ANO DE VIDA

KARLA DE OLIVEIRA MAGALDI

RIO DE JANEIRO

2017

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CENTRO UNIVERSITÁRIO IBMR - LAUREATE

INTERNATIONAL UNIVERSITIES

CURSO DE NUTRIÇÃO

PROGRAMAÇÃO METABÓLICA: EFEITOS DESDE A FORMAÇÃO

DO EMBRIÃO ATÉ O SEGUNDO ANO DE VIDA

KARLA DE OLIVEIRA MAGALDI

Orientadora: Prof ª. Dra. Patrícia Souza dos Santos

RIO DE JANEIRO

2017

Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado ao Curso de Nutrição do Centro Universitário IBMR/ Laureate International Universities, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Bacharel em Nutrição

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KARLA DE OLIVEIRA MAGALDI

PROGRAMAÇÃO METABÓLICA: EFEITOS DESDE A FORMAÇÃO

DO EMBRIÃO ATÉ O SEGUNDO ANO DE VIDA

Banca examinadora composta para defesa de Trabalho de

Conclusão de Curso para obtenção do grau de Bacharel em

Nutrição

Aprovada em: ______ de ________________ de _________

Presidente e Orientador: __________________________________

Membro Avaliador: _______________________________________

RIO DE JANEIRO

2017

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a DEUS, pois me deu forças para chegar até aqui,

permitiu que tudo isso acontecesse. É o maior MESTRE que alguém pode conhecer.

À minha mãe Maria da Conceição, minha irmã Kátia Magaldi, e minha prima

Amanda Magaldi, pelo incentivo e apoio em todas as horas.

Agradeço a minha orientadora, Prof ª. Dra. Patrícia Souza dos Santos, pelo

suporte, paciência e dedicação.

A todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu

muito obrigada!

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“O Senhor é minha luz e salvação,

o Senhor é a força da minha vida.”

Salmos 27

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MAGALDI, Karla Oliveira. Programação metabólica: Efeitos desde e a formação do embrião até o segundo ano de vida. Rio de Janeiro, 2017, 37 p. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Nutrição, Centro Universitário IBMR/Laureate International Universities.

RESUMO

Programação Metabólica contempla eventos que acontecem durante o período intrauterino, e podem repercutir na vida adulta. A alimentação da gestante pode induzir hábitos e preferências alimentares da criança, pois essas modificações que promovem alterações no genoma ocorrem durante a gestação. A programação metabólica no desenvolvimento embrionário nos mostra que, a nutrição, estímulo ambiental, prática de atividade física, estilo de vida, tem efeitos sobre as funções do organismo podendo modificar o genoma, sendo capaz de aumentar ou diminuir os riscos de desenvolvimento de doenças. Este estudo visa demonstrar que a maioria das doenças metabólicas são originadas durante o período gestacional, podendo ser modificada com a Programação Fetal, constatar que a dieta da gestante está relacionada às modificações no genoma, evidenciar a importância do aleitamento materno e introdução adequada da alimentação complementar. Realizou-se uma revisão de literatura sobre alguns fatores que podem iniciar no desenvolvimento intrauterino, modificando a expressão gênica do bebê, assim como no estado geral de saúde na vida adulta. As informações foram obtidas de livros e artigos publicados em revistas científicas nas bases de dados MEDLINE, Scielo, PubMed. A programação metabólica tem ratificado a importância da nutrição materna e sua influência no risco para o desenvolvimento de várias doenças crônicas não transmissíveis. Palavras-chave: programação metabólica; epigenética, dieta materna, lactação.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Recomendações nutricionais para gestantes...........................................19

Quadro 2. Recomendações nutricionais para gestantes...........................................20

Quadro 3. Esquema de introdução de alimentos complementares...........................26

Quadro 4. Grupos de alimentos complementares que podem ser oferecidos a criança

ao concluir seis meses. .............................................................................................27

Quadro 5. Alimentos que podem ser oferecidos à criança nas pequenas refeições...27

Quadro 6. Esquema alimentar para os dois primeiros anos de vida..........................31

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LISTA DE SIGLAS

GET- Gasto Energético Total

DNA - Ácido desoxirribonucleico

CPG - Gene Calbindina

HDL- High Density Lipoproteins

ITC - Isotiocianatos

SBB - Beckwith – Wiedemann Syndrome

SRS - Silver Russell Syndrome

DRM – Differentially Methylated Regions

ICR – Imprinting Control Region

PIG - Pequenas para Idade Gestacional

RCIU - Restrição de Crescimento Intrauterino

IGF2 - Insulin - like Growth Factor

IGA - Imunoglobulina A

IGM - Imunoglobulina M

IGG - Imunoglobulina G

OMS – Organização Mundial da Saúde

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SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................... 09

2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral........................................................................................ 11

2.2. Objetivos Específicos ............................................................................ 11

3. Material e Métodos ........................................................................................... 12

4. Revisão de Literatura

4.1. Programação Metabólica ...................................................................... 13

4.2 Nutrientes, Compostos Bioativos, e Gens: Nutrigenômica, Nutrigenética e

Epigenética Nutricional ............................................................................................. 14

4.2.1. Nutrientes e Compostos bioativos que influenciam a expressão

gênica………………………………………………………………………........................15

4.2.2. Imprinting metabólico ............................................................................ 17

4.2.3. Recomendações nutricionais para gestantes ........................................ 19

4.3. Modulação do imprinting metabólico através da alimentação complementar na

primeira infância ........................................................................................................ 20

4.3.1. 10 Passos para boa alimentação infantil ............................................. 25

5. Considerações Finais ........................................................................................ 32

6. Referências Bibliográficas ................................................................................. 33

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1. INTRODUÇÃO

A dieta materna exerce grande influência na vida dos filhos. No decorrer do

desenvolvimento embrionário ocorrem modificações epigenéticas, diversos ajustes

fisiológicos e anatômicos, refletindo assim no aumento da demanda nutricional. Isso

não significa que a dieta deve ser hipercalórica, pois acarretaria no ganho de peso da

gestante, podendo aumentar a adiposidade do bebê ao nascer e também na vida

adulta. Uma alimentação balanceada tem influência nas etapas de desenvolvimento

durante a gestação onde ocorre o crescimento fetal, e as reservas nutricionais

maternas são utilizadas (BARROS; SEYFARTH, 2008).

Nessa fase a alimentação da mãe pode influenciar no desenvolvimento, na

expressão gênica do bebê, assim como no estado geral de saúde na vida adulta. Tudo

que a mãe ingere é utilizado pelo feto como fonte de nutrição. Caso a alimentação da

gestante não esteja adequada, ocorre competição de nutrientes entre a mãe e o bebê,

podendo gerar deficiências graves e acarretar em danos futuros (CAMBIAGHI; ROSA,

2012).

Algumas práticas tem efeitos sobre o organismo e suas funções, podendo

modificar o genoma, aumentando ou diminuindo as chances de desenvolvimento de

doenças crônicas, futuramente, que são, nutrição, estímulo ambiental, prática de

atividade física, estilo de vida, ganho de peso durante a gestação, aleitamento

materno, introdução da alimentação complementar (PAFFENBARGER, 1994).

Um campo muito estudado atualmente é programação metabólica, que atua

alterando ou regulando a expressão gênica, e envolve modificações no DNA,

metilação, e acetilação de histonas, e tem sido alvo para prevenção de diversas

doenças (COMBES; WHITELAW, 2010).

Os nutrientes são capazes de promover alterações no genoma, podendo

modificar a suscetibilidade do desenvolvimento de diversas patologias. Durante o

período de desenvolvimento intrauterino até os 2 anos é essencial uma alimentação

adequada, pois pode impactar no desenvolvimento neurocognitivo e reduzir risco de

doenças ao longo da vida (ALLERGUCCI et al., 2004).

É imprescindível que a gestante faça pré-natal, acompanhamento nutricional,

pois terá um efeito significativo na vida do bebê. A dieta deve ser adequada à

quantidade de calorias e nutrientes, devendo optar por uma alimentação saudável

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com fontes ricas de carboidrato integral, proteína de origem animal e vegetal (ricas

em ferro, B12), vitaminas, minerais, seguindo as recomendações vigentes durante

essa fase (COX JT; PHELAN ST, 2008).

A finalidade deste estudo é relacionar hábitos de vida, mais especificamente a

alimentação, as modificações no genoma, avaliar a influência da programação fetal

demonstrando que as doenças metabólicas podem ser originadas durante o período

intrauterino demostrando que a alimentação da mãe tem impacto direto na vida dos

filhos podendo modificar genes diminuindo os riscos do desenvolvimento de doenças.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Evidenciar que a dieta da gestante está associada às modificações no genoma

do feto, podendo impactar na saúde do indivíduo adulto.

2.2. Objetivos Específicos

✓ Relacionar hábitos de vida, mais especificamente a alimentação, as

modificações no genoma

✓ Avaliar a influência da programação fetal demonstrando que as doenças

metabólicas podem ser originadas durante o período intrauterino

✓ Constatar a importância do aleitamento materno e introdução adequada da

alimentação complementar

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3. MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo constitui-se de uma revisão de literatura, no qual foram coletadas

informações com base em livros e artigos publicados em revistas científicas a partir

das bases de dados MEDLINE, Scielo, PubMed. As pesquisas foram realizadas nos

anos de 1993 a 2017, utilizando as palavras-chave: programação metabólica;

epigenética, dieta materna, lactação, nos idiomas português e inglês.

Keywords: metabolic programming; epigenetics, maternal diet, lactation.

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Programação Metabólica

O conjunto de mudanças permanentes na fisiologia e no metabolismo é

caracterizado como programação metabólica, que são causadas durante os períodos

em que o organismo é submetido a alguma forma de estresse (ADENOT et al., 1997).

A programação fetal visa demonstrar que a maioria das doenças metabólicas

são originadas durante a gestação. O desenvolvimento do feto está relacionado as

diversas modificações intrauterinas que podem levar às alterações metabólicas

permanentes. Estudos mostraram que as práticas alimentares durante a gestação

podem ter reflexos na vida adulta (ALLERGUCI et al., 2004).

Há uma etapa no desenvolvimento intrauterino em que o feto fica mais sensível

as alterações, sofre um período crítico a partir da terceira semana onde ocorrem

modificações no organismo, adaptações, e se prepara para viver em um ambiente

desfavorável após o nascimento. Essas alterações podem ocorrer por fatores como

deficiência e excesso de nutrientes durante a gestação (BEAUCHAMP; MENELLA,

1999).

Durante a fase gestacional é necessário uma nutrição adequada, pois ocorre o

aumento da demanda energética em até 20% do gasto energético total (GET) devido

a velocidade da multiplicação celular. A dieta não deve ser hipercalórica, pois

acarretaria no ganho de peso da gestante, podendo aumentar a adiposidade do bebê

ao nascer e também na vida adulta. Uma alimentação balanceada influencia nas

etapas de desenvolvimento durante a gestação onde ocorre o crescimento fetal, e as

reservas nutricionais maternas são utilizadas (PARIZZI; FONSECA, 2010).

É recomendado que a gestante adote uma dieta fracionada evitando ficar

longos períodos sem se alimentar para não causar hipoglicemia, que é bastante

frequente devido o feto utilizar de maneira preferencial a glicose como fonte de

energia, que é transferida através da placenta. Devendo a mesma seguir as

recomendações nutricionais durante essa fase (PARIZZI; FONSECA, 2010).

A resposta à dieta vai variar de indivíduo para indivíduo, as escolhas por

determinados tipos de alimentos estão relacionadas à constituição genética. Segundo

pesquisadores, experiências na vida intrauterina podem determinar até mesmo o

paladar do bebê. Durante o período gestacional o feto é exposto a diversos estímulos

sensoriais que são captados através das papilas gustativas que aparecem por volta

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da 7ª e 8ª semana, e logo após todas as informações são conduzidas ao Sistema

Nervoso Central. A formação do hábito alimentar inicia-se na gestação, desde o

período intrauterino até a amamentação, assim vai se formando as preferências, e

devido a isso os pais tem grande influência nos hábitos alimentares dos filhos

(BEAUCHAMP et al., 1999).

Sendo assim, a mãe deve ter uma dieta variada, pois tudo o que ingere interfere

no líquido amniótico e no sabor do leite materno. Quando a mãe proporciona novas

experiências, sendo essas com variedades, facilita na aceitação de diversos alimentos

na vida futura. Portanto as práticas alimentares dos pais podem interferir de maneira

positiva ou negativa, por exemplo, pais obesos, com dietas hipercalóricas podem

induzir ao desenvolvimento da obesidade. Os maus hábitos podem gerar problemas

de saúde de forma imediata ou a longo prazo (WORLD HEALTH ORGANIZATION,

2001).

A programação metabólica no desenvolvimento embrionário nos mostra que, a

nutrição, estímulo ambiental, prática de atividade física, estilo de vida, tem efeitos

sobre as funções do organismo podendo modificar o genoma. É capaz de aumentar

ou diminuir os riscos de doenças, e a memória celular é estocada ao longo da vida

(SOUZA; TARALLI, 2002).

4.2 Nutrientes, Compostos Bioativos e Gens: Nutrigenômica, Nutrigenética e

Epigenética nutricional

A nutrigenômica estuda como os alimentos, os nutrientes e os compostos

bioativos ingeridos influenciam o genoma, a nutrigenética estuda como a constituição

genética de uma pessoa afeta sua resposta à dieta, e a epigenômica nutricional é

qualquer atividade reguladora de genes promovida por nutrientes e/ou compostos

bioativos de alimentos que não envolve mudanças na sequência do DNA (Ácido

desoxirribonucleico) e que pode persistir por uma ou mais gerações. Sua origem vem

do grego “epi” que significa acima, ela estuda a funcionalidade dos genes

(CARPENTER K. J, 2003).

Mecanismos epigenéticos promovem distinção por meio da regulação do

acesso à informação genética, inibem a replicação de elementos repetitivos dentro do

genoma, ocorre metilação no DNA, modificações das histonas, remodelação da

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cromatina, ou seja, altera o fenótipo sem mudar o genótipo, podendo perdurar por

gerações (TANG W. Y; HO S. M, 2007).

O papel da epigenética na memória celular funciona da seguinte forma, o óvulo

é fertilizado por um espermatozoide, a partir do momento que ocorre a fecundação,

um conjunto de células darão origem ao embrião, tudo dependerá da captação de

sinais pelas células (sinais do meio externo, de células vizinha, ou até mesmo da

própria célula). Os sinais recebidos irão determinar a morfologia, fisiologia do embrião,

assim como o seu comportamento, dessa forma vemos que as células respondem a

nutrientes, hormônios, estímulos ambientais, mas para que tudo isso aconteça os

sinais gerados por receptores devem chegar ao núcleo celular (COMBES;

WHITELAW, 2010).

Determinadas mudanças podem manifestar-se desde a fase intrauterina até a

terceira idade, assim como fatores ambientais também podem intervir em diversas

patologias, envolvendo alterações genes nutriente (AFFMAN L; MULLER M, 2006).

A epigenética atualmente tem sido destinada como alvo para prevenção de

diversas doenças como, por exemplo, câncer (patologia onde ocorrem modificações

no DNA), obesidade, resistência insulínica, sendo um tema importante para

futuramente conseguirmos reduzir as chances de desenvolvimento dessas doenças

(EGGER G et al., 2004).

4.2.1 Nutrientes e compostos bioativos que influenciam a expressão gênica

A necessidade de nutrientes é individual, assim como o efeito dos mesmos em

cada pessoa. Este efeito tem associação direta com as características genéticas de

cada indivíduo (CAMBIAGHI; ROSA, 2012). Alguns nutrientes podem promover

modificações epigenéticas, como a colina que é essencial para o desenvolvimento do

tubo neural do feto, sendo este incumbido pelo desenvolvimento de uma estrutura que

é responsável pelo armazenamento da memória por toda a vida. A privação dessa

vitamina durante a gestação está associada a hipermetilação no gene calbindina

(CPG), e ocorre modificações na sequência do DNA (ZEISEL, 2013).

Fitoquímicos são compostos químicos encontrados em plantas. Atuam na

prevenção e no tratamento de várias doenças crônicas não transmissíveis como as

doenças neurodegenerativas e inflamatórias, hipertensão, diabetes, câncer. Possuem

propriedades antioxidantes, protegem as células contra radicais livres, aumentam a

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imunidade, assim como os níveis de HDL, impedem a formação de coágulos,

neutralizam os componentes tóxicos no organismo (LÓPEZ-LÁZARO, 2002).

Alimentos funcionais como frutas cítricas, alho, cebola, gengibre, brócolis,

podem alterar a metilação do DNA e dessa maneira transformar a expressão genica.

Determinadas modificações podem regredir processos patológicos (DEBUSK R. M et

al., 2005).

Camellia Sinensis, planta utilizada para elaboração do chá verde, chá preto,

chá da índia, pertence à família Theaceae. Seus principais componentes químicos

terapêuticos são os flavonoides e catequinas, possui efeito antioxidante uma vez que

tem capacidade de sequestrar os radicais livres, inibindo assim a peroxidação lipídica

(RIETVELD A.; WISEMANS S, 2003).

As catequinas são antioxidantes, inibem os danos causados ao DNA pelo

estresse oxidativo, inflamação cutânea, imunossupressão (GUARATINI et al., 2007).

Os polifenóis possuem efeitos antioxidantes, o que explica seu efeito

antiaterosclerótico e anticancerígeno. Estudos mostraram que o chá preto e chá verde

exercem controle no diabetes, atuam nas células β pancreáticas e possuem efeitos

hipoglicêmico, antioxidante e insulino estimulante. Ambos possuem efeito protetor,

atuam na oxidação de lipoproteínas, e previne a aterosclerose. Os polifenóis também

possuem efeitos anti-inflamatórios, eles atuam inibindo o metabolismo do ácido

araquidônico (RIETVELD A.; WISEMANS S., 2003).

Resveratrol, é um polifenol, podemos encontra-lo em frutas, vinho tinto,

vegetais. Possui efeito antioxidante, antitumoral (impede a proliferação de células

tumorais), inibe a angiogênese, tem efeito neuroprotetor, inibe a proliferação de células

cancerígenas por induzir a apoptose (CHACHAY; VERONIQUE S, 2011).

Flavonoides, catequinas, desempenham funções quiomio preventivas, efeito

cardioprotetor e anti-inflamatório, devido a capacidade antioxidante. Eles atuam

também silenciando os genes supressores do tumor (LÓPEZ-LÁZARO; CAMELIA,

2002).

Isoflavonas são fitoquímicos encontrados nas leguminosas. Possui propriedade

antioxidante, estrogênica, antifúngica, tem função na inibição de tumores e doenças

crônicas. Estudos tem demonstrado que a isoflavona da soja, especificamente a

genisteína possui efeito anti-cancerígeno, atua inibindo as enzimas envolvidas no

processo da carcinogênese (ESTEVES; MONTEIRO, 2001).

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Isotiocianatos (ITC), são antioxidantes presentes em crucíferas, como por

exemplo couve, brócolis, couve-flor, couve de bruxelas, repolho, rúcula. Estudos

mostraram que os ITC possuem a capacidade de induzir a apoptose de células

cancerígenas (BALBACH; BOARIM; DANIEL, 2007).

Licopeno é um fitoquímico, podemos encontrar no tomate e em seus derivados,

como polpa de tomate, molho de tomate, etc... Potente antioxidante, muito eficaz na

redução de lesão oxidativa do DNA, modula a expressão de genes, atua também

induzindo a apoptose de células cancerígenas (KRINSKY, 2001).

Curcumina é um fitoquímico obtido do açafrão - da -índia (Cúrcuma longa).

Estudos mostraram que é eficaz em tratamento de doenças inflamatórias, pois atua

nos fatores de transcrição (citoquinas, proteínas quinases). Possui efeitos antigênicos,

antioxidante, impede a propagação e invasão de células tumorais, tem propriedade

terapêutica para doenças crônicas como esclerose múltipla, antiparasitária,

antibacteriana, anti-inflamatória, antitrombótica (inibe agregação plaquetária). A

cúrcuma tem impacto positivo na regressão de doenças cardíacas, ela reveste os

vasos e regula o fluxo sanguíneo (AGGARWAL et al., 2005).

4.2.2 Imprinting metabólico

Imprinting é um fenômeno controlado epigeneticamente, onde os genomas

materno e paterno se diferenciam um do outro, e como resultado ocorre marcação no

gene que pode influenciar no desenvolvimento fetal (REIK; WALTER, 2001).

As marcas do imprinting são estabelecidas nas células que tem o potencial de

gerar gametas (espermatozoides e óvulos), são propagadas por vários ciclos de

replicação do DNA durante o desenvolvimento fetal e esse fenômeno pode alterar a

estrutura da cromatina. As marcações ocorrem de forma seletiva materna ou paterna,

e como consequência apresentará um conjunto simples de cromossomos

aumentando a susceptibilidade a alterações no genoma, porém sob outra perspectiva

pode regular o crescimento do feto (BOURC’HIS et al., 2001).

Genes que sofrem influência do imprinting geralmente encontram-se ligados a

um grupamento junto com outros genes que já foram marcados, isso reflete em uma

regulação, domínio cromossômico. As ICRs (Imprinting Control Region) fazem o

controle da expressão dos genes marcados, sua existência preconiza que o controle

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primário é realizado a nível de cromossomos, e não somente em um único gene

(COMBES; WHITELAW, 2010).

A metilação das DRM (Differentially Methylated Regions) pode regular a

expressão de diversos genes marcados, quando ocorre ele torna-se capaz de resistir

aos eventos de reprogramação no genoma no período de pré-implantação até após a

fertilização (CEDAR; BERGMAN, 2009).

O imprinting genômico é de extrema importância no desenvolvimento de

algumas doenças, como a Síndrome de Beckwith-Wiedemann (SBB) e de Silver-

Russell (SRS), ambas estão associadas ao grave retardo no período de crescimento

intrauterino e pós-natal, que resulta em uma expressão atípica de determinados genes

localizados na região 11p15, no qual encontram-se a ICR1 e ICR2 (REIK; WALTER,

2001).

Nos genes marcados ocorrem mutações e epimutações na região 11p15, no

qual está associado à doenças que causam alterações no desenvolvimento da

placenta e do feto, podendo ocorrer Restrição de Crescimento Intrauterino (RCIU), ou

crianças avaliadas como Pequenas para Idade Gestacional (PIG), principalmente se

o peso da placenta estiver abaixo da média (VILLAR et al., 1995).

O gene IGF2 (do inglês, Insulin-like Growth Factor 2) é importante no

crescimento do feto e desenvolvimento da placenta, é expresso paternalmente.

Alguns autores consideram que este gene tem o poder de suprimir a célula tumoral

(OHLSSON et al., 1993).

O imprinting está diretamente relacionado à placenta, e não podemos encontra-

lo em outros tecidos embrionários, sendo este essencial para o desenvolvimento da

mesma. Estes genes marcados atuam no desenvolvimento e regulação do

crescimento fetal, assim como na capacidade de transferência de nutrientes da mãe

para o feto. Por exemplo, genes Igf2P0, Phlda2 e H19 são essenciais para o

desenvolvimento da placenta, o Igf2 regula o aporte de nutrientes, o crescimento do

feto e da placenta (REIK W.; WALTER J., 2001).

Durante o período gestacional o imprinting pode ser variável, dessa forma

vemos que é regulado durante o desenvolvimento placentário, podendo estar

relacionado aos períodos críticos da gestação (WATERLAND; GARZA, 1999).

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4.2.3. Recomendações nutricionais para gestantes

Durante o período gestacional, é necessário um aporte diferenciado de

nutrientes para o desenvolvimento e crescimento do feto, pois ele utiliza as reservas

nutricionais da mãe como fonte de energia. As necessidades nutricionais vão

depender da idade da mãe e período gestacional, as recomendações nutricionais para

gestantes (Quadro 1) além de fornecer a quantidade adequada de nutrientes para a

manutenção da saúde e proporcionar o desenvolvimento adequado do feto, pode

influenciar no imprinting metabólico, já que durante esta fase do desenvolvimento a

interação gene-nutrientes reflete em como o indivíduo pode responder na vida adulta

a alguns fatores como, alimentação (restrição e supernutrição), estresse ambiental

(acesso a xenobióticos), etc... (PARIZZI; FONSECA, 2010).

Quadro 1. Recomendações Nutricionais para gestantes

Elemento Função Recomendação

Nutricional

Fonte Nutricional

Proteína Fonte de aminoácidos- síntese proteica.

1,1 g /Kg /dia 0,75-1g kg/ dia mais 6g/ dia

Carnes, derivados de leite, ovos, leguminosas, oleaginosas.

Carboidrato Fonte de energia. 175 g/ dia 55-75% do VET diário

Cereais, frutas, hortaliças, açúcar.

Lipídeo Fonte de energia, metabolismo, síntese de hormônios.

15 à 30% do total VET, até 10% de gordura saturada n-6 13g/dia n3 1,4g/ dia

Óleos vegetais e de origem animal.

Vitamina A Proteção da Córnea indicada para crianças e gestantes, defesa do organismo.

770 µg /dia Leite, carne, óleos de peixe, gema de ovo, folhosos verde-escuro, oleaginosas.

Vitamina C Diminui o risco de parto prematuro, pré-eclâmpsia, infecções e deslocamento da placenta.

85 mg/ dia Frutas cítricas, pimentão e agrião.

Vitamina D Ganho menor de peso do concepto, redução da mineralização óssea.

15 µg /dia Óleo de fígado de bacalhau, peixes, gema de ovo e leite.

Vitamina E Ação anti-inflamatória e antioxidante.

15mg/dia Gérmen de trigo, óleos vegetais, castanhas, gema, folhosos verdes-escuros, legumes.

Vitamina K Evita hemorragia no lactente.

Neonato de 1,0 -2.0mg imediatamente após o parto

Folhos verdes-escuros, óleo, oleaginosas e frutas.

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Elemento Função Recomendação Nutricional

Fonte Nutricional

Riboflavina ND

1,4mg/dia Carne, ovos, cereais.

Folato Previne anemias, doenças cardiovasculares, e neurais.

600 µg / dia Folhosos verdes, levedo de cerveja, cenoura, gema de ovo, fígado, feijão.

B12 ND 2,6 µg /dia Alimentos de origem animal

Tiamina ND 1,4 mg/ dia Cereais integrais, nozes, leguminosas, carne de porco magra.

Niacina (Vitamina B3)

ND 18 mg/ dia Carnes, ovos, farelos, amendoim, legumes, abacate, cereais.

Ácido Pantatênico (Vitamina B5)

ND - Carne, leite, peixes, leguminosas, cereais, integrais, vegetais, farelo de trigo, queijo.

Piridoxina (Vitamina B6)

ND 1,9 mg/dia Carnes, grãos integrais, vegetais, gema de ovo, e sementes.

Cálcio Formação óssea 1.000mg/dia Carne, leite e derivados, vegetais folhosos verdes-escuros.

Ferro Reduz o nascimento de bebês prematuros e baixo peso, e o risco de morte materna durante o parto, e no pós-parto imediato, previne infecções.

27mg/dia Carne de boi (fígado e vísceras), carnes de aves e peixes, mariscos crus, feijões, grãos integrais, nozes e castanhas, melado de cana-de-açúcar, rapadura.

Zinco Deficiência leva ao aborto, retardo do crescimento intrauterino, prematuridade e pré- eclâmpsia.

11 mg/dia Oleaginosas, carnes, cereais integrais, semente de abóbora, feijão e leite.

Fonte: PARIZZI; FONSECA, 2010.

ND – Não interfere na gestação

4.3 . Modulação do imprinting metabólico através da alimentação complementar na

primeira infância

Imprinting metabólico descreve como a experiência nutricional na infância pode

acarretar em um efeito duradouro, podendo persistir ao longo da vida predispondo a

determinadas doenças. Pode ocorrer por diversos mecanismos como alterações no

número de células, variações na estrutura de órgãos, alterações na expressão dos

genes. Portanto uma alimentação inadequada durante a primeira infância, pode trazer

consequências para a saúde a longo prazo. Esse pode ser um dos fatores que levam

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ao aparecimento de doenças crônicas na vida adulta, como doença cardiovascular,

obesidade, hipertensão (TANG W. Y; HO S. M., 2007).

O aleitamento materno é uma das experiências nutricionais mais precoces na

vida do bebê, dando seguimento a nutrição iniciada na vida intrauterina, garante um

melhor estado de saúde e desenvolvimento psicológico da criança (BALABAN; SILVA,

2004; AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 2005).

Amamentar envolve profunda interação entre a mãe e o bebê, o efeito protetor

inicia-se logo após o nascimento, é indicado que a amamentação seja feita nos

primeiros minutos de vida da criança (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS,

1997).

A amamentação desempenha um papel importante na programação metabólica

que está pré-determinada nos primeiros anos de vida, promovendo a resposta

genética, podendo ter impacto positivo ou negativo na vida adulta. O aleitamento

materno deve ser estimulado em razão de seus benefícios. Estudos evidenciam que

o mesmo feito de forma exclusiva possui consistentes associações com a

programação metabólica, protege contra doenças infecciosas como (diarreia,

meningite bacteriana, otite, infecção do trato respiratório, infecção do trato urinário),

favorece o crescimento adequado da criança, reduz riscos de desenvolvimento de

doenças cardiovasculares como hipertensão, obesidade, diabetes, dislipidemias,

desenvolvimento cognitivo, câncer na infância e na fase adulta (KRAMER et al., 2002;

DEWEY, 2003; FEWTRELL, 2004; AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 2005).

Na infância ocorre interação entre as funções imunológicas e os fatores

ambientais, nutricionais e infecciosos, e o aleitamento materno tem um papel

fundamental na maturação imunológica. Possui propriedades imunomoduladoras,

anti-infecciosas, anti-inflamatórias, o aleitamento complementa a imunidade dos

lactentes contra patógenos gastrintestinais, respiratórios, estimula maturação

imunológica das superfícies de mucosa, e esses benefícios podemos notar a curto e

longo prazo (MACHADO, 1995).

O recém-nascido tem o sistema imunológico imaturo, sendo assim, não consegue

se defender contra a invasão bacteriana e vírus. Todo recém-nascido que é

amamentado recebe grandes quantidades de substâncias imunológicas que protegem

seu organismo dos microrganismos. As substâncias estão presentes no colostro e no

leite humano, elas atuam modificando o lúmen intestinal inibindo o crescimento de

patógenos. No leite materno podemos encontrar todos os tipos de imunoglobulinas

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(IgA, IgM, IgG), sendo sua maior concentração no colostro (líquido que antecede a

secreção do leite, e é fornecido somente nos 3 à 4 primeiros dias de vida do bebê).

IgA protege nariz, ouvido, garganta, tubo digestivo, recobre a mucosa intestinal

impermeabilizando-a contra patógenos causadores de infecções (RODRIGUEZ,

2003).

Além do IgA, IgM, IgG, possui outros fatores de proteção como, macrófagos e

neutrófilos (são glóbulos brancos que atuam destruindo bactérias patogênicas),os

macrófagos produzem as lisozimas que são enzimas que eliminam bactérias,

linfócitos T CD8+ (são importantes na resposta imune, eliminam células infectadas por

vírus), linfócitos T CD4+ (coordenam a resposta imune, destroem células infectadas

por patógenos), lactoperoxidase (oxida bactérias e tem ação antimicrobiana),

lactoferrina (ela se une ao ferro, atuam na defesa pois impedem o crescimento

bacteriano e formação de biofilmes) (RODRIGUEZ, 2003).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou aleitamento materno,

sendo

hoje reconhecido no mundo inteiro, de acordo com a exclusividade do referido

alimento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2008).

- Aleitamento materno exclusivo: O bebê recebe somente leite materno, de

forma exclusiva, diretamente da mama ou ordenhado, sem que acrescente outros

líquidos.

- Aleitamento materno predominante: Quando a criança além do leite materno

recebe água ou bebidas à base de água como sucos, chás, infusões.

- Aleitamento materno: A criança recebe somente o leite materno (direto da

mama ou ordenhado), independente de receber outros alimentos.

- Aleitamento materno complementado: Além do leite materno a criança recebe

alimento sólido ou semi-sólido com o objetivo de complementar e não substituir.

- Aleitamento materno misto ou parcial: O bebê recebe leite materno e outros

tipos de leite.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda-se que o

aleitamento materno seja exclusivo até os primeiros 6 meses de vida, e que a duração

da amamentação seja em média de 2 a 3 anos de idade, sendo o desmame feito de

forma gradativa e natural (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2008).

De acordo com VIEIRA et al., (2009), o leite materno possui vários benefícios

tanto para a mãe como para o bebê, tais como:

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❖ Vantagens do aleitamento materno para a criança

▪ Evita morte infantil, pois protege contra infecções

▪ Doenças respiratórias

▪ Aumenta o vínculo entre a mãe e o filho

▪ Tem efeito protetor contra doenças crônicas

▪ Reduz riscos de desenvolver alergia alimentar

▪ Reduz chances de obesidade

▪ Contribui para o desenvolvimento cognitivo

❖ Vantagens do aleitamento materno para a mãe

▪ Reduz riscos de câncer de mama e ovário

▪ Reduz alguns tipos de fraturas ósseas

▪ Auxilia na perda de peso

▪ Facilita a involução uterina mais rapidamente

Nos primeiros meses de vida os cuidados com a criança são fundamentais,

nessa fase a alimentação possui um papel importante para proporcionar o

crescimento adequado. Após os 6 meses, é necessário que seja feita a introdução da

alimentação complementar pois somente o leite materno não supre as necessidades

nutricionais. A partir dessa fase a criança já está pronta para receber outros tipos de

alimentos que são os alimentos complementares (MONTE; GIUGLIANI, 2004).

Alimentos complementares são alimentos líquidos ou sólidos que são

oferecidos a criança em adição ao leite materno. Mesmo que seja feita a introdução

de outros alimentos a mãe deve continuar amamentando o bebê até dois anos de

idade, pois a alimentação complementar não substitui o leite materno (OLIVEIRA et

al., 2005).

Os alimentos complementares são divididos em categorias, alimentos

transicionais e complementares não modificados. Os alimentos transicionais são

preparados de forma exclusiva para a criança alterados para atender as suas

necessidades. Alimentos complementares não modificados, são aqueles consumidos

pela família (DIAS et al., 2010).

Diversos fatores influenciam na introdução alimentar, a interação materna é um

elemento fundamental para a saúde da criança e pode sofrer interferência pelo grau

de escolaridade da mãe, experiências maternas, tempo disponível para cuidar do filho,

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crenças, propagandas de fabricantes de alimentos. A introdução dos alimentos antes

dos 6 meses do ponto de vista nutricional pode ser prejudicial, pois vai ocorrer a

diminuição da duração do aleitamento materno podendo interferir na absorção de

nutrientes como o ferro e zinco aumentando as chances de contaminação e alergias

(SALDIVA et al., 2007).

É desnecessário oferecer a criança antes dos 6 meses alimentos que não seja

o leite materno, pois pode deixa-la suscetível a desnutrição, diarreia, infecções

respiratórias podendo comprometer o desenvolvimento mental e crescimento. A

introdução precoce de alimentos foi associada ao desenvolvimento da asma, o

aleitamento materno exclusivo tem efeito protetor durante os dez primeiros anos de

vida, sendo evidente em famílias com história familiar pregressa de doenças atópicas.

O não aleitamento materno pode paralisar o desenvolvimento motor oral que é obtido

durante o aleitamento materno, pois durante a sucção que vai promover o

desenvolvimento dos órgãos fonoarticulares, funções da respiração, mastigação,

deglutição, articulação dos sons da fala (MONTE; GIUGLIANI, 2004).

Já a inclusão tardia dos alimentos também é desvantajosa, pois não atende as

necessidades energéticas da criança podendo levar a um retardo no crescimento

aumentando o risco de deficiência de micronutrientes podendo levar a desnutrição.

Caso haja a prorrogação do aleitamento materno exclusivo após o sexto mês, poderá

ocorrer deficiência de energia, proteína, zinco, vitamina A, ferro. A influência da

amamentação duradoura no estado nutricional da criança pode ser diversificada de

acordo com a população (UCHIMURA et al., 2003).

Para uma correta alimentação complementar é necessário alimentos ricos em

micronutrientes (ferro, cálcio, zinco, vitamina A, vitamina C, folato), livre de

contaminações (microrganismos patogênicos, toxinas), com baixo teor de sódio, na

quantidade apropriada. Para garantir que as necessidades nutricionais da criança

sejam atendidas os alimentos complementares deverão ser inseridos no momento

certo, ou seja, quando a necessidade de nutrientes ultrapassar o que é fornecido pelo

aleitamento materno exclusivo. A quantidade e o número de refeições deverá ser de

acordo com a idade da criança (BARROS; SEYFFARTH, 2008).

Aos seis meses deverá ser ofertado a criança três refeições ao dia, com

alimentos complementares e água nos intervalos entre as refeições. As refeições

deverão ser constituídas por papa de frutas e uma salada com verduras, legumes,

cereal, carne, frango, feijões, etc... Aos sete meses deverá incluir duas papas

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salgadas e duas de frutas. Ao completar oito meses a criança pode receber

progressivamente alimentos que foram preparados para família sob condição de não

serem alimentos industrializados, sem temperos picantes, com baixo teor de sódio,

picados, amassados, desfiados ou em pequenos pedaços. Quando a criança

completar um ano poderá receber alimentos com textura normal (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2010).

As crianças tendem a optar por alimentos da maneira a qual foram

apresentados inicialmente, e esses hábitos podem persistir ao longo da vida. Portanto

recomenda-se que seja ofertado alimentos com baixo teor de açúcar e sal. É de

extrema importância práticas alimentares adequadas nos primeiros anos de vida, pois

é uma etapa em que os hábitos alimentares são estabelecidos e continuarão durante

toda a vida (SIMON et al., 2003).

4.3.1 10 Passos para boa alimentação infantil, 0 à 2 anos.

Nos primeiros anos de vida a nutrição é fundamental para um bom

desenvolvimento físico e mental. As primeiras experiências nutricionais são capazes

de programar o padrão metabólico por toda a vida, podendo aumentar ou diminuir as

chances do desenvolvimento de doenças crônicas futuramente (PARADA et al.,

2007).

Pensando nisso, o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2013) desenvolveu um guia

alimentar que será apresentado os próximos 10 passos para boa alimentação infantil

de 0 à 2 anos, com objetivo de orientar mães e cuidadoras, e fazer a promoção de

uma alimentação saudável, pois nessa fase as mães costumam apresentar dúvidas,

receios e ansiedade.

• Passo 1

Ofertar somente leite materno até os 6 meses; não oferecer chá, água, ou

qualquer outro alimento. As mães geralmente oferecem chá porque imaginam que a

criança está com cólica, com o objetivo de acalmar, fazer dormir mais rápido, ou até

mesmo que esteja com sede, não sendo necessário até os 6 meses. É importante

orientar que o leite que é produzido em pequena quantidade, logo após o parto,

chamado de colostro, é extremamente necessário nos primeiros dias de vida,

especialmente em bebês prematuros pois possui alto teor de proteínas. O leite

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materno é o alimento mais completo, e contém tudo que o bebê precisa até os seis

meses de idade, inclusive água.

• Passo 2

Ao completar 6 meses de idade, deve ser feita a introdução de alimentos de

forma lenta e gradual, assim como mencionado no Quadro 3, mantendo o leite

materno até os 2 anos. Quando a criança completa 6 meses ocorre o aumento das

necessidades nutricionais que não são mais atendidas somente com o leite materno,

porém o mesmo continua sendo fonte importante de nutrientes e calorias. Com a

inclusão dos alimentos é importante que a mãe ofereça água (tratada e fervida) para

a criança nos intervalos.

Quadro 3. Esquema de introdução de alimentos complementares

Idade Tipo de alimento

Até completar 6 meses Aleitamento materno exclusivo.

Ao completar 6 meses Leite materno, papa de fruta, papa salgada.

Ao completar 7 meses Segunda papa salgada.

Ao completar 8 meses Gradativamente passar a alimentação da

família.

Ao completar 12 meses Comida da família

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013.

• Passo 3

Ao concluir os 6 meses a mãe deverá introduzir alimentos complementares

(Quadro 4), cereais, carnes, tubérculos, leguminosas, frutas, legumes, 3 vezes ao dia

se a criança ainda estiver sendo amamentada. Quando a criança começa a receber

outros tipos de alimentos a absorção do ferro do leite materno será diminuída, por isso

é importante a introdução de carnes, vísceras e miúdos (exemplo: moela, fígado,

coração) no mínimo uma vez por semana, ingerir alimentos fontes de vitamina C

(laranja, acerola, kiwi) junto ou após a refeição. Nas pequenas refeições (Quadro 4),

a mãe poderá oferecer ao completar 6 meses frutas (abacate, caqui, mamão, etc..),

ao completar 12 meses (frutas e cereal ou tubérculo).

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Quadro 4. Grupos de alimentos complementares que podem ser oferecidos a criança

ao concluir seis meses

Cereais, tubérculos Arroz, aipim, batata doce, cará, inhame,

mandioca, macaxeira, batata baroa.

Leguminosas Soja, feijões, lentilha, ervilha seca, grão de

bico.

Legumes, verduras e frutas Laranja, folhas verdes, abóbora, banana,

beterraba, abacate, mamão, cenoura,

melancia, tomate, manga.

Carnes ou ovo Frango, peixe, pato, boi, miúdos e vísceras.

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013.

Quadro 5. Alimentos que podem ser oferecidos à criança nas pequenas refeições

Ao completar 6 meses

até 18 meses.

Frutas: abacate, caqui, mamão, banana,

maçã, priorizar alimentos da região.

Ao completar 12 meses

Frutas + cereal ou tubérculos

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013.

• Passo 4

A alimentação complementar poderá ser oferecida no mesmo horário que refeição

da família, de forma regular respeitando o apetite da criança. Quando os pais adotam

esquemas inflexíveis de alimentação afeta o desenvolvimento o autocontrole da

ingestão alimentar pela criança. A capacidade gástrica da criança que está iniciando

a alimentação complementar é pequena, após os seis meses é de 20 a 30 ml kg/ peso.

Durante os primeiros dias caso a mãe perceba que a criança não está saciada com a

alimentação complementar, poderá oferecer leite materno. É importante saber

distinguir quando a criança está com fome, para não insistir que ela coma quando não

deseja. É desaconselhável oferecer prêmios para que a criança coma, pois as

crianças precisam ser estimuladas e não forçadas.

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• Passo 5

A alimentação complementar deverá ser espessa e oferecida na colher, no

início a consistência deverá ser pastosa (papas/ purê), aumentando gradativamente a

textura do alimento até chegar a alimentação da família. Quanto mais consistente as

refeições, maior será a densidade energética se comparada com as dietas diluídas

(líquidas, como sopas e sucos). A capacidade gástrica da criança é pequena, portanto

consumirá poucas colheradas no início da introdução dos alimentos complementares.

Sendo assim, é importante aumentar o aporte calórico com papas com valor calórico

elevado.

Aos seis meses a gengiva da criança já se encontra endurecida (devido a

aproximação dos dentes), já sendo a mesma capaz de fazer a trituração

complementar dos alimentos. A alimentação espessa estimula as funções de

lateralização da língua, a criança joga os alimentos para os dentes trituradores e

reflexo de mastigação. Aos oito meses a criança que recebeu o estímulo com papas

de consistência espessa desenvolverá da melhor forma a musculatura facial, assim

como a capacidade de mastigação.

Recomendações para papa salgada segundo MINISTÉRIO DA SAÚDE (2013):

1- Cozinhar bem todos os alimentos.

2- Amassar com o garfo, não bater no liquidificador e não passar na peneira.

3- A papa deverá ficar consistente, como purê grosso.

4- Ao completar seis meses a primeira papa poderá ser oferecida no almoço, e

quando completar sete meses poderá introduzir a segunda papa no jantar

conforme a aceitação da criança.

• Passo 6

Ofertar diferentes alimentos ao dia, de forma variada e colorida. Deverá haver

variações dentro de cada grupo de alimentos. O consumo de diferentes alimentos

durante as refeições como frutas e papas vão garantir o suprimento de todos os

nutrientes necessários para o desenvolvimento da criança. A mãe deverá ofertar duas

frutas diferentes por dia, principalmente as ricas em vitamina A. É importante conter

um alimento de cada grupo na papa, como cereais ou tubérculos, leguminosas,

legumes e verduras, carne ou ovo. A cada dia deverá implementar novos alimentos

para compor a papa.

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• Passo 7

Incentivar o consumo diário de frutas, legumes e verduras nas refeições, pois

são fontes de vitaminas, minerais e fibras. As frutas deverão ser ofertadas in natura,

amassadas. O suco natural deverá ser ofertado após a refeição, pois ele ajuda a

absorver o ferro orgânico principalmente os que são ricos em vitamina C. Caso a

criança recuse determinado alimento, a mãe poderá oferecê-lo novamente em outras

refeições. Em média é necessário a exposição de oito à dez vezes de um novo

alimento para que seja aceito pela criança. Até os doze meses não se recomenda que

os alimentos sejam muito misturados, pois estão aprendendo a conhecer novas

texturas e sabores. As grandes refeições como almoço e jantar não deverão ser

substituídas por fórmulas lácteas ou lanches, devendo as mesmas serem mais

elaboradas, papa salgada ou comida de panela.

• Passo 8

Evitar o consumo de açúcar, enlatados, café, refrigerante, fritura, balas, entre

outras guloseimas, no primeiro ano de vida. O sal deve ser usado com moderação,

estudos comprovaram que a criança nasce com preferência para alimentos com sabor

doce, portanto não é necessário a adição de açúcar, devendo ser evitada nos dois

primeiros anos de vida. Com essa conduta a criança não perderá o interesse pelas

verduras, legumes, cereais, vão aprender a diferenciar outros sabores. A mucosa

gástrica da criança é muito sensível, dessa forma, substâncias que estão presentes

nos enlatados, refrigerantes, café, mate, podem irritar causando comprometimento na

digestão e absorção de nutrientes e possuem baixo valor nutricional.

O sal deve ser usado com moderação, ele auxilia para que a criança se adapte

a alimentação da família. Nos primeiros anos de vida frituras não são necessárias, o

lipídeo (fonte de gordura) já está presente naturalmente no leite materno, em fontes

proteicas, e no óleo vegetal usado para cozinhar alimentos. O óleo que sofre

superaquecimento libera radicais livres, e causam danos na mucosa intestinal da

criança, e a longo prazo pode ter efeito prejudicial à saúde. A ingestão de alimentos

como refrigerante, salgadinhos, doces, açúcar, temperos prontos, refresco em pó,

achocolatados, está associado as alergias alimentares, anemia e excesso de peso.

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• Passo 9

Atentar-se na higiene, no preparo e manuseio dos alimentos, garantir o correto

armazenamento e conservação. No momento em que a criança passa a receber

alimentação complementar ocorre o aumento da possibilidade de contaminação,

doenças diarreicas, que são causas de morbimortalidade em crianças pequenas. Um

dos maiores problemas é a contaminação da água e alimentos durante a manipulação

e preparo, inadequada higiene pessoal, utensílios, conservação dos alimentos em

temperaturas impróprias. As refeições devem ser preparadas e armazenadas em

recipientes limpos, secos, e conservadas em local fresco. O ideal é usar copos, pois

a mamadeira é um risco de contaminação devido a dificuldade de higienização

adequada. Recomenda-se que os alimentos sejam preparados na quantidade ideal

para o consumo.

• Passo 10

Incentivar a criança doente a se alimentar, ofertando alimentação habitual,

respeitando sua aceitação. A criança quando está com alguma patologia, infecção,

ingere menos alimentos pois ocorre a diminuição do apetite, e isso pode ser devido a

febre, cólicas, aumento da produção de anticorpos e hormônios. Com isso há um

aumento no catabolismo proteico, com perdas de nitrogênio através da urina, em

casos de diarreia ocorrem perdas gastrintestinais de energia e micronutrientes.

Quando a infecção ocorre com frequência, pode levar ao retardo no desenvolvimento

e deficiências nutricionais como (vitamina A, zinco e ferro), podendo aumentar as

chances de novos episódios de infecção comprometendo o estado nutricional. Para

criança doente a prioridade é a ingestão adequada de calorias, utilizando alimentos

pastosos ou em forma de papa. Assim que se recuperar e o apetite voltar ao normal

a mãe poderá oferecer mais uma refeição extra ao dia. Nos primeiros dois anos de

vida, a mãe deverá seguir as recomendações para cada faixa etária da criança como

citado no (Quadro 6).

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Quadro 6. Esquema alimentar para os dois primeiros anos de vida

Ao completar

6 meses

Ao completar

7 meses

Ao completar

12 meses

Leite materno sob livre

demanda

Leite materno sob livre

demanda

Leite materno e fruta ou cereal

ou tubérculo

Papa de fruta Papa de fruta Fruta

Papa salgada Papa salgada Refeição básica da família

Papa de fruta Papa de fruta Fruta ou pão simples ou

tubérculo ou cereal

Leite materno Papa salgada Refeição básica da família

Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nesta revisão constatou-se que, a alimentação da gestante influencia

a expressão gênica do feto, podendo impactar na saúde. Com uma alimentação

saudável, acompanhamento nutricional durante a gestação, prática de atividade física,

reduz riscos de desenvolvimento de diversas patologias tanto na gestante quanto no

bebê.

Observou-se a importância do aleitamento materno, introdução adequada da

alimentação complementar, pois possuem benefícios para a saúde da criança. A

alimentação complementar feita de forma inadequada pode causar danos à saúde do

bebê, podendo acarretar no desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta.

Estes dados mostram a importância do nutricionista, profissionais da área da

saúde, para melhor orientar, incentivar o aleitamento materno, assim como a

alimentação apropriada tanto para a gestante, quanto para o bebê.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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