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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CLEVER ALVES MACHADO IMPASSES COMUNITÁRIOS PARA A PARTICIPAÇÃO NO PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA EM UMA COMUNIDADE TRADICIONAL RURAL Belo Horizonte 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

CLEVER ALVES MACHADO

IMPASSES COMUNITÁRIOS PARA A PARTICIPAÇÃO NO

PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA EM UMA

COMUNIDADE TRADICIONAL RURAL

Belo Horizonte

2016

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CLEVER ALVES MACHADO

IMPASSES COMUNITÁRIOS PARA A PARTICIPAÇÃO

NO PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA EM UMA

COMUNIDADE TRADICIONAL RURAL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Gestão Social, Educação

e Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA, como requisito parcial

à obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Inovação social e

desenvolvimento local.

Linha de pesquisa: Gestão Social e

Desenvolvimento Local

Orientadora: Profª. Drª. Ediméia Maria

Ribeiro de Mello

Belo Horizonte

2016

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LOMBADA DA CAPA DURA

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Diretoria de Educação Continuada e

Pesquisa

Programa de Pós-graduação em

Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local

CLEVER ALVES MACHADO IM

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IMPASSES COMUNITÁRIOS

PARA A PARTICIPAÇÃO NO

PROGRAMA BRASIL

QUILOMBOLA EM UMA

COMUNIDADE

TRADICIONAL RURAL

2016

2016

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Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

M149i

Machado, Clever Alves

Impasses comunitários para a participação no Programa Brasil Quilombola em

uma comunidade tradicional rural / Clever Alves Machado. – 2016.

135f.

Orientadora: Profa. Dra. Ediméia Maria Ribeiro de Mello.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2016. Programa de Pós-

graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Inclui bibliografia.

1. Quilombolas. 2. Federalismo. 3. Política pública. 4. Desenvolvimento social.

I. Mello, Ediméia Maria Ribeiro. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

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[...] é preciso considerar que a distribuição de conhecimento permanece

profundamente desigual e que é preciso repensar o processo inovativo em sua

amplitude, questionando organizações e instituições tendo em vista a

valorização do papel que jogam, nesta dinâmica, a multiplicidade dos agentes

sociais e a experiência coletiva de aprendizagem. É preciso, sobretudo, não se

esquecer que a inovação é um processo interativo com o qual contribuem, com

seus diferentes tipos de informações e conhecimentos, diferentes setores da

sociedade.

Lucília Machado, 2009

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à Dona Loreta, minha primeira professora que me ensinou a ler e

escrever minhas primeiras frases, a quem faço esta homenagem in memoriam e todos

(as) professores (as) que foram tão importantes na minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Jeová Deus, O Todo Poderoso, pelas bênçãos concedidas, pelo dom da vida,

pela presença em minha vida, pela proteção, e por mais esta conquista – cursar o

mestrado.

À Prof.ª Dra. Ediméia Maria Ribeiro de Mello, minha orientadora, que aceitou de bom

grado este encargo, auxiliando-me com toda dedicação, carinho e paciência na produção

da dissertação.

A todos (as) Professores (as) do mestrado que estiveram presentes durante toda essa

trajetória e nos fizeram chegar até aqui.

A toda equipe do Centro Universitário Una.

Aos moradores da comunidade pesquisada, aos conselheiros de igualdade racial e

servidores dos órgãos públicos que cederam documentos e informações para construção

deste trabalho.

Aos meus pais, e irmãos pelos momentos de encorajamento.

A minha esposa Marta Raquel, e filhas Ariadne e Ariane, por sempre me incentivar e

me auxiliar na busca por novos conhecimentos.

Aos meus amigos e colegas do curso do curso de mestrado, pelo apreço, convívio e

troca de conhecimento.

Aos meus colegas da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e

Cidadania meu agradecimento pelo incentivo e apoio.

A todos (as) pessoas não mencionadas, que, de uma forma ou de outra, colaboraram

para a realização deste trabalho.

Muito obrigado.

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RESUMO

Esta dissertação, apresentada em três capítulos, objetivou compreender as dificuldades

de uma comunidade quilombola em trilhar o processo de implementação da política de

promoção da igualdade racial, para se habilitar a usufruir dos benefícios do Programa

Brasil Quilombola. O primeiro capítulo analisa, do ponto de vista dos estudos

desenvolvidos por vários autores, as questões relacionadas ao federalismo e à

implementação das regulamentações legais de origem no governo central, junto às

gestões municipais, assim como, os objetivos e princípios da gestão social, considerada

com amplo potencial de desenvolvimento local, em territórios sob a influência de

grupos sociais específicos. Neste capítulo sistematizou-se, também, os dispositivos

legais que tratam da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, analisando-os

em seu contexto histórico. O segundo capítulo apresenta a pesquisa de campo realizada

em um território quilombola, escolhido para um estudo de caso. Visou conhecer os

entraves de uma comunidade quilombola, que vem se empenhando, sem sucesso, na

implementação da política de promoção da igualdade racial. Essa investigação constitui-

se em um esforço de pesquisa-intervenção, que proporcionou uma aproximação desses

entraves, compreendidas como impeditivas de a Comunidade Quilombola usufruir dos

benefícios do Programa Brasil Quilombola. O terceiro capítulo oferece uma

contribuição técnica na forma de um projeto de intervenção participativa com vistas na

implementação da gestão social para o desenvolvimento local. Esse projeto oferta uma

capacitação, destinada aos moradores e aos membros da diretoria e do conselho fiscal da

Associação, para habilitá-los a trilhar os caminhos que assegure à comunidade o acesso

aos benefícios do Programa Brasil Quilombola.

Palavras Chave: Federalismo; Políticas Públicas; Igualdade Racial; Quilombolas;

Gestão Social; Desenvolvimento Local.

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Sumário

LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ 12 LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................... 13 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .............................................................................. 14 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16 1. POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL.

IMPORTÂNCIA DA GESTÃO SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ......... 20 1.1 Introdução ....................................................................................................................... 20

1.2 Quilombola, quilombo e território da população negra .................................................. 22

1.3 A legislação antirracismo e as ações afirmativas ........................................................... 25 1.4 Articulação da política de enfrentamento do racismo. Os desafios postos pelo

federalismo ........................................................................................................................... 27 1.5 A Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial .................................................. 31

1.6 Ações governamentais de enfrentamento ao racismo em Minas Gerais ........................ 37 1.7 Gestão Social na Política de Promoção da Igualdade Racial. Potencial de

contribuição para o Desenvolvimento Local no Território Quilombola .............................. 39 1.10 Considerações finais ..................................................................................................... 45 Referências ........................................................................................................................... 47

2. IMPASSES PRESENTES NA COMUNIDADE QUILOMBOLA QUE A IMPEDEM

DE SE HABILITAR A USUFRUIR DO PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA .............. 53

2.1 Introdução ....................................................................................................................... 54

2.2 Metodologia .................................................................................................................... 54

2.2.1 Sujeitos da pesquisa ................................................................................................. 55 2.2.2 Técnicas de pesquisa utilizadas, instrumentos de coleta de dados e

cumprimento dos requisitos éticos ................................................................................... 56 2.3 Análise dos resultados: percepção da presença de entraves na Comunidade

Quilombola para o usufruto dos benefícios do Programa Brasil Quilombola ...................... 59 2.3.1 Percepções extraídas dos antecedentes da Comunidade Quilombola e de sua

Associação. ....................................................................................................................... 60

2.3.2 Percepções a cerca da rejeição social à condição de quilombola: o mito da

democracia racial e seus efeitos na comunidade .............................................................. 63

2.3.3 Percepção com respeito a falta de confiança nas lideranças e nas

representações existentes .................................................................................................. 67 2.3.4 Percepção do desconhecimento do direito à titulação do território da

Comunidade Quilombola .................................................................................................. 68

2.3.5 Percepção do desconhecimento do Programa Brasil Quilombola ........................... 68 2.3.6 Percepção de dificuldades de atuação efetiva da Associação.................................. 69 2.3.7 Percepção com respeito às dificuldades do Conselho Municipal de Promoção

da Igualdade Racial .......................................................................................................... 72 2.3.8 Percepções nas solicitações encaminhadas ao pesquisador ..................................... 79

2.4 Análise conclusiva .............................................................................................................. 81 Referências ........................................................................................................................... 86

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3. OFICINA DE CAPACITAÇÃO PARA LIDERANÇAS QUILOMBOLAS EM

GESTÃO SOCIAL COMUNITÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL EM

TERRITÓRIO TRADICIONAL. UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO.......................... 89 3.1 Introdução ....................................................................................................................... 90

3.2 Metodologia .................................................................................................................... 91 3.3 Objetivos ......................................................................................................................... 94

3.3.1. Objetivo Geral ........................................................................................................ 94 3.3.2. Objetivos Específicos ............................................................................................. 94

3.4 Público alvo .................................................................................................................... 95

3.5 Local e horário ................................................................................................................ 95 3.6 Organização da capacitação............................................................................................ 95 3.7 Recursos didáticos .......................................................................................................... 98 3.8 Equipamentos e materiais ............................................................................................... 98 3.9 Investimento financeiro .................................................................................................. 98

3.10 Considerações finais ..................................................................................................... 98 Referências ......................................................................................................................... 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS. ................................................................................................ 102 APÊNDICES E ANEXOS ..................................................................................................... 105 Apêndice A – Quadro 3: Legislação nacional e estadual de enfrentamento ao racismo ........ 105 Apêndice B – Roteiro para entrevista com conselheiros ........................................................ 109

Apêndice C – Roteiro para entrevista com Presidente da Associação ................................... 110 Apêndice D – Anotações encontros com a comunidade quilombola ..................................... 112 Anexo A – Quadro 4: Municípios de Minas Gerais onde se localizam comunidades

quilombolas ............................................................................................................................ 124 Anexo B Termo de Compromisso de Cumprimento da Resolução 466/2012 ....................... 130

Anexo C Termo de Autorização de uso de imagem e depoimentos ....................................... 131 Anexo D Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................................ 132 Anexo E Autorização para coleta de dados ............................................................................ 133

Anexo F Comprovante Aprovação Comitê de Ética em Pesquisa do Centro

Universitário UNA, sob o número CAAE Nº 45021515.0.0000.5098 ................................... 135

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Fio lógico metodológico das oficinas participativas...............................................100

Quadro 2 Investimento financeiro..........................................................................................101

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 Distribuição espacial das comunidades quilombolas em Minas Gerais...............27

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADCT Atos das Disposições Constitucionais Transitórias

ABA Associação Brasileira de Antropologia

ALMG Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais

CAF Comitê de Articulação Federativa

CEDFES Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva

CDH Centro de Direitos Humanos

CEPIR Coordenadoria Especial de Políticas Pró-Igualdade Racial

CONAPIR Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial

CONAE Conferência Nacional de Educação

CONEPIR Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial

CPDCN Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra

DEMASP Departamento Municipal de Saúde Pública "Dr. Antônio Benedito de

Araújo"

DHNET Direitos Humanos na Internet

FCP Fundação Cultural Palmares

FIPIR Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial

FUNDAC Fundação Municipal de Cultura "Professor Agenor Soares de Moura" -

GTI Grupo de Trabalho Interinstitucional

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias

LOA Lei Orçamento Anual

MPF Ministério Público Federal

NAVCRADI Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Intolerância

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PBQ Programa Brasil Quilombola

PIR Política de Igualdade Racial

PPAG Plano Plurianual de Ações Governamentais

PCMG Polícia Civil de Minas Gerais

SEAPA Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária e Abastecimento

SEDESE Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social

SEE Secretaria de Estado de Educação

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SEPLAG Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão

SEPPIR Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

SES Secretaria de Estado de Saúde

SINAPIR Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

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INTRODUÇÃO

Minas Gerais é o terceiro estado com maior número de comunidades quilombolas

certificadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP)1 logo a seguir do estado da Bahia e do

Maranhão (FCP, 2015). Entretanto, as estatísticas sobre as comunidades quilombolas são

estimativas incertas. De acordo com os representantes da Federação das Comunidades

Quilombolas de Minas Gerais, existem 520 comunidades quilombolas pré-identificadas. Os

dados da Fundação Cultural Palmares apontam que, dessas, apenas 233, localizadas em 106

municípios de Minas Gerais, foram certificadas até dezembro de 2015.

Esta dissertação fundamenta-se numa pesquisa realizada para identificar os entraves à

expansão da implementação da política de igualdade racial, junto às comunidades

quilombolas, por meio da adesão ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial

(SINAPIR). Oferece como produto final da pesquisa, um produto técnico que pretende

contribuir para reverter esse quadro.

Sendo assim, o tema, no qual se enquadra a pesquisa realizada, é o enfrentamento do

racismo e a promoção de ações afirmativas para as comunidades quilombolas, com base na

implementação da Política de Promoção da Igualdade Racial em municípios mineiros onde

elas se localizam.

A pesquisa se interessou por levantar os entraves que impedem as comunidades

quilombolas de se qualificarem para serem beneficiados pelo Programa Brasil Quilombola,

que proporcionaria a realização de ações que poderiam vir a contribuir para o

desenvolvimento endógeno em seus territórios.

Segundo os técnicos da Coordenadoria Especial de Políticas Pró-Igualdade Racial

(CEPIR), da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, as exigências de

implantação de um novo órgão na prefeitura e, de um conselho comprometido com a

promoção da igualdade racial, esbarram em restrições à ampliação da estrutura administrativa

e contratação de mais funcionários, em virtude do desequilíbrio fiscal dos municípios, assim

como, na existência de muitos conselhos com baixa participação dos populares, havendo a

representação das mesmas pessoas em vários deles.

Em Minas Gerais, dos 106 municípios com comunidades quilombola apenas os

municípios de Belo Horizonte, Contagem e Itabira criaram os órgãos e os conselhos

1 A Fundação Cultural Palmares é órgão vinculado ao Ministério da Cultura, fundado em 1988, com a função de

promover e preservar a arte e a cultura afro-brasileira.

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destinados à questão racial. Isso os habilitou a aderir ao SINAPIR e assim suas comunidades

foram tornadas prioritárias para usufruir dos recursos do Programa Brasil Quilombola (FCP,

2015). Poucos são os municípios mineiros que têm acessado aos recursos desse Programa.

Essa baixa adesão ao SINAPIR impedem que as comunidades quilombola tenham acesso ao

Programa.

Com base na experiência profissional do pesquisador principal2, a dificuldade para a

concretização da política de promoção da igualdade racial nessas comunidades, decorre

principalmente dos seguintes fatores: (a) falta de autonomia financeira, administrativa e

política dos órgãos de promoção da igualdade racial; (b) gestão desarticulada na

implementação da política, em virtude da inexistência do poder de intervenção junto aos

demais setores (agricultura, educação, habitação, saúde, transporte e obras, esporte),

dificultando desenvolver ações transversais na implementação da política de igualdade racial;

(c) descontinuidade das ações a cada mudança de governo; (d) dificuldade em estabelecer

prioridades em um cenário de demandas acumuladas há séculos; (e) baixa representatividade

dos quilombolas nos espaços de poder; e (f) desinteresse político por parte dos poderes

públicos municipais.

Por outro lado, do ponto de vista da gestão social, o protagonismo, o conhecimento de

seus direitos, as relações sociais em coletivos deliberativos, são ingredientes essenciais para

garantir a mobilização espontânea e o poder de reivindicação dos quilombolas para

possibilitar a articulação política em torno do Programa. Esses, entre outros aspectos a serem

pesquisados, são fatores relevantes para a implementação da política.

A questão central que mobilizou essa pesquisa foi: por que a quase totalidade das

comunidades quilombolas não consegue obter a titulação de suas terras e ter acesso aos

benefícios do Programa Brasil Quilombola?

Portanto o objetivo geral da pesquisa foi analisar os entraves que impedem aos

quilombolas se habilitarem a usufruir do Programa Brasil Quilombola.

Para alcançar esse objetivo, buscou-se realizar os seguintes objetivos específicos:

a) Sistematizar os dispositivos legais que tratam da Política Nacional de

Promoção da Igualdade Racial, analisando-os em seu contexto histórico.

2 Servidor publico estadual, o pesquisador, exerceu a coordenação da Coordenadoria Especial de Políticas Pró-

Igualdade Racial, órgão subordinado à Subsecretaria de Direitos Humanos da Secretaria de Estado do Trabalho e

Desenvolvimento Social. Esta coordenadoria tem a atribuição de articular, conjuntamente com a sociedade civil,

a implantação da Política de Igualdade Racial nos municípios mineiros. As comunidades quilombolas são o

público alvo desta coordenadoria.

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b) Estudar as questões de federalismo, relativas à implementação das

regulamentações legais de origem no governo central, junto às gestões

municipais e compreender os objetivos e princípios da gestão social,

potencializadora do desenvolvimento local.

c) Identificar os entraves presentes na Comunidade Quilombola em foco que a

impede de usufruir dos benefícios oferecidos pelo Programa Brasil

Quilombola.

Não se pode negar haver mobilização nacional pelos direitos dos quilombolas, que

resultou na promulgação de políticas pública destinadas a eles. Essa mobilização parece não

repercutir no território das comunidades, especialmente, frente ao poder público local. Por

essa razão, como produto técnico desse trabalho, pretende-se propor um programa

capacitação, que contribua para habilitar as comunidades quilombolas a se mobilizarem frente

aos direitos proporcionados pelas políticas públicas e pelos programas que as favoreçam.

Essa pesquisa justifica-se, em sua relevância para a linha de pesquisa do Mestrado, ao

se considerar que a implantação da política de igualdade racial, realizada com o envolvimento

do poder público e da sociedade civil, é uma prática que, para se tornar efetiva e contribuir

para o desenvolvimento local, requer estar alinhada com os conceitos da gestão social. Sabe-

se que o município, ao aderir ao Sistema Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade

Racial, habilita-se a ter acesso aos recursos do Governo Federal destinados a atender as

demandas das comunidades quilombola junto às políticas públicas de saúde, habitação,

saneamento, entre outras.

A concepção do programa Brasil Quilombola é um importante avanço nos direitos

humanos e potencial promotor do desenvolvimento local nas comunidades quilombolas. Mas,

o pequeno número de municípios aderidos demonstra que esta política carece de ajustes

inovadores que a torne efetiva, possibilitando encontrar meios para a adesão dos municípios,

que se encontram à margem da política.

Não se pode deixar de apontar também o valor da pesquisa para a produção e difusão

do conhecimento. O tema permite o aprofundamento dos conhecimentos para a

implementação da política em foco, de modo que ela se torne efetiva do ponto de vista dos

cidadãos contemplados por ela.

Para a experiência profissional ou acadêmica, esta pesquisa agregará eficiência aos

esforços de implementação da política junto às comunidades quilombolas, por meio do

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encontro de novos caminhos e da criação de novas estratégias para o cumprimento da meta do

poder público estadual, qual seja: articular com o poder público municipal e com os

movimentos sociais a implementação da política de igualdade racial.

Esta dissertação é composta por três capítulos. O capitulo 1 analisa o processo de

implementação da política de promoção da igualdade racial e seus impactos no

desenvolvimento das comunidades quilombolas. Além disso, sistematiza os dispositivos

legais que tratam da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial e os identifica,

quando for o caso, à gestão social, assim como, destaca os fatores que facilitam e os que

dificultam a execução da política da igualdade racial dos municípios mineiros.

O Capítulo 2 apresenta a pesquisa empírica e demonstra que o reconhecimento oficial

do território quilombola, por meio da certificação, não garante a sustentabilidade e o

desenvolvimento das comunidades e muito menos a efetivação da titulação de propriedade da

terra. Nesse capítulo são levantados os impasses que envolvem os quilombolas e os impedem

de se habilitarem a usufruir do Programa Brasil Quilombola.

Diante desses impasses, o Capítulo 3 é uma proposta técnica de capacitação destinada

aos membros da diretoria, conselheiros fiscais da Associação e aos moradores da comunidade,

visando estimular o desenvolvimento dos aspectos relativos aos objetivos e princípios da

gestão social, ou seja, participação ativa nos processos de tomada de decisão, e também nas

ações para mover o desenvolvimento do seu território.

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1. POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL.

IMPORTÂNCIA DA GESTÃO SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO

LOCAL

MACHADO, Clever Alves3

MELLO, Ediméia Maria Ribeiro de4.

RESUMO

Este artigo objetiva analisar o processo de implementação da política de promoção da

igualdade racial e seus impactos no desenvolvimento das comunidades quilombolas, por meio

da sistematização dos dispositivos legais que tratam da Política Nacional de Promoção da

Igualdade Racial e de sua análise à luz do paradigma da gestão social. Numa primeira

aproximação, busca-se identificar os fatores que facilitam e os que dificultam a execução da

política da igualdade racial dos municípios mineiros. A metodologia empregada contemplou a

pesquisa bibliográfica e documental. Concluiu que a implementação da política de igualdade

racial tem alcançado um número muito pequeno de comunidades quilombolas, grande maioria

delas não têm tido acesso aos benefícios dessa política que criou o Programa Brasil

Quilombola para promover o desenvolvimento dos quilombos.

Palavras Chave: Gestão Social, Desenvolvimento Local, Igualdade Racial, Políticas

Públicas, Programa Brasil Quilombola, Federalismo.

1.1 Introdução

O escopo desse artigo é a pesquisa na literatura e em documentos oficiais de

informações sobre a Política de Promoção da Igualdade Racial no Brasil, para conhecer o

histórico de construção da política, abordando a legislação que a apoia, os procedimentos

necessários para a sua implementação e o impacto das ações dessa política nas comunidades

quilombolas. Essas informações foram buscadas para subsidiar a análise da política com base

no paradigma da gestão social e verificar a sua capacidade de contribuir para o

3 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA. E-mail: [email protected]. 4 Professora Programa de Pós-Graduação em Gestão Social Educação e Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA. E-mail: [email protected].

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desenvolvimento local.

O foco da pesquisa são os entraves à implementação e à expansão da política de

igualdade racial, junto às comunidades quilombolas. O acesso a essa política assegura a

implementação das políticas públicas desenvolvidas pelo Governo de Minas Gerais para

garantir às comunidades o acesso à justiça social, referente aos direitos fundamentais

previstos na Constituição, tais como: educação, saúde, segurança pública, meio ambiente,

esporte, lazer, cultura, assim como, a titulação da territorialidade do espaço ocupado por elas.

A responsabilidade pela implementação da política é compartilhada pelos três níveis de

Governo: o Federal, o Estadual e o Municipal.

O Governo Federal, por meio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial (SEPPIR/PR), de assessoramento imediato à Presidência da República, é

responsável por formular, coordenar e articular políticas e diretrizes para a promoção da

igualdade racial e para a proteção dos direitos de indivíduos e grupos étnicos, com ênfase na

população negra, afetados por discriminação racial e demais formas de intolerância (BRASIL,

2003).

O Governo de Minas, por meio da Coordenadoria Especial de Políticas Pró-Igualdade

Racial - CEPIR subordinada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, criada pela

Lei Delegada nº 180 de 20 de janeiro de 2011, que dispõe sobre a estrutura orgânica da

Administração Pública do Poder Executivo do Estado de Minas Gerais e dá outras

providências, regulamentada pelo Decreto 45.767 de 04 de novembro de 2011, que dispõe

sobre a organização da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (MINAS GERAIS,

2011).

Posteriormente no ano de 2015, a Coordenadoria foi transformada em Subsecretaria de

Promoção da Igualdade Racial, órgão subordinado à Secretaria de Estado de Direitos

Humanos, Participação Social e Cidadania, criado por meio da Lei Estadual nº 21693/2015 e

regulamentado pelo Decreto Estadual nº 46783/2015, tem o papel de estabelecer parceria com

os municípios onde existem comunidades quilombolas, no intuito de promover acesso à

justiça e garantir os direitos fundamentais aos quilombolas (MINAS GERAIS, 2015).

Por sua vez, os governos municipais, podem instituir no âmbito municipal a política de

igualdade racial, por meio da criação de órgão e conselho específicos para o fim da Política,

como forma de enfrentar o racismo e garantir a participação democrática, gestão social e o

desenvolvimento local com cidadania.

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Esse embasamento teórico fundou-se, a princípio, por pesquisa bibliográfica,

abordando os temas relevantes para o esclarecimento de achados e para a fundamentação das

interpretações decorrentes das pesquisas documentais. A pesquisa documental levantou

documentos oficiais, tais como: leis, atas, relatórios oficiais, ofícios, publicações

parlamentares e documentos jurídicos para realizar a sistematização dos dispositivos legais

que tratam da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.

Portanto, a seguir, discutem-se temas que possibilitam compreender os quilombos e os

quilombolas, quais sejam: a legislação antirracismo e ações afirmativas; a Política de

Promoção da Igualdade Racial; a origem e aspectos legais das ações governamentais de

enfrentamento ao racismo em Minas Gerais; a articulação da política de enfrentamento do

racismo no contexto federativo; e a Política de Promoção da Igualdade Racial, ao longo do

artigo associam-se os conceitos de ações afirmativas, federalismo, gestão social,

desenvolvimento local.

1.2 Quilombola, quilombo e território da população negra

Minas Gerais é o terceiro estado da federação com maior número de comunidades

quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares (233), órgão vinculado ao

Ministério da Cultura, a seguir do estado da Bahia (612) e do Maranhão (467) (FCP, 2015).

A história da formação dos quilombos em Minas Gerais inicia-se no século XVIII,

como forma de reação contra o regime escravocrata, tendo grande participação na dinâmica

social mineira, contestando assim o discurso político de existência de relações harmoniosas

entre senhores e escravos na sociedade brasileira colonial. Entre 1710 a 1798, foram

descobertos e destruídos 160 quilombos na região das Minas Gerais (OLIVEIRA, 2007).

O território mineiro, com suas serras e matas fechadas, eram geograficamente

favoráveis à formação dos quilombos, atraindo os negros que conseguiam escapar aos duros

castigos a eles impostos, durante todo o período da escravatura. Como estratégia de luta, eles

buscavam locais de difícil acesso, para entrar, dificultava a perseguição e a captura.

Os quilombos eram territórios onde os negros fugidos da escravidão se abrigavam e

resistiam ao sistema colonial escravocrata. Desde a fundação do Brasil República, esses

espaços exerceram seu papel de defesa e resistência, ao garantir aos grupos autonomia e

sobrevivência. Martins (2008), informa a existência de comunidades quilombolas e, até

mesmo, de uma confederação, em Minas Gerais, já nos idos do século XVIII:

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A análise do mapa do Campo Grande dá a entender que Campo Grande seria

uma região onde existia uma federação ou confederação de quilombos, cuja

capital se chamava Quilombo do Ambrósio. Correspondência de 1756

menciona “As notícias que temos de se haverem confederado os negros

aquilombados” (MARTINS, 2008, p. 784).

Historicamente, contudo, pode-se dizer que os quilombos, até muito recentemente, não

receberam nenhuma espécie de tratamento específico por parte do Estado. Isso veio a

acontecer somente com o advento da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que reconheceu,

pela primeira vez, os direitos dos “remanescentes de quilombos”, com destaque para a

territorialidade.

Tal direito é previsto no artigo nº 68 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias da Constituição Federal de 1988, sob o enunciado: aos

remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas

terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes

os títulos respectivos (SCHMITT, TURATTI e CARVALHO, 2002, p.1).

O termo quilombola envolve uma identidade comum às comunidades rurais negras e

incorpora o significado de “[…] uma complexa arma nesta batalha desigual pela

sobrevivência material e simbólica” (SCHMITT, TURATTI e CARVALHO, 2002, p.5).

Já, a definição tradicional do termo quilombo é amplificada e atualizada por Schmitt,

Turatti e Carvalho (2002), de modo a abarcar o grande número de grupos, que compartilham

uma mesma identidade social e étnica e, que reclamam o direito de posse oficial de suas

terras, em virtude de ocupação antiga e submissão a práticas de resistência, conservação e

reprodução da cultura do lugar.

O termo “quilombo” teve seu conceito estendido para toda área ocupada por

comunidades remanescentes dos antigos quilombos (BRASIL, 1988), mas, foi em 2003 que,

praticamente, os critérios para a sua efetivação, por meio de garantia constitucional ganhou

corpo, admitindo-se, assim, a delimitação de um território sujeito, também, às determinação

dos quilombolas. De acordo com o artigo 2º de Decreto 4.887/20035:

Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins

deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição,

com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas,

5 O Decreto 4.887/03 é baseado na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos

Indígenas e Tribais.

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com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à

opressão histórica sofrida.

§ 1o Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das

comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria

comunidade.

§ 2o São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos

as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e

cultural.

§ 3o Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideração

critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades

dos quilombos, sendo facultado à comunidade interessada apresentar as

peças técnicas para a instrução procedimental (BRASIL, 2003).

A comunidade deve seguir o seguinte procedimento para a emissão da certidão de

comunidade remanescente de quilombo: (1) realizar reunião convocada para a autodefinição;

(2) elaborar a ata dessa reunião a ser aprovada pela maioria dos moradores, com a assinatura

dos presentes em lista de presença; e (3) enviar essa documentação para a Fundação Cultural

Palmares, juntamente com relato sintético da história, fotos, documentos, estudos e

reportagens, que atestem a história do grupo e suas manifestações culturais.

A delimitação do território é função do espaço necessário para a reprodução física,

social, econômica e cultural da comunidade, incluindo não só a área destinada à moradia, mas

também aquela reservada ao plantio, à caça, à pesca e ao manejo agroflorestal, conforme

ressaltado no parágrafo 2º do referido decreto (BRASIL, 2003).

Não há obrigatoriedade de a comunidade comprovar a descendência de escravos

fugidos, nem a posse histórica do território (desde a abolição da escravatura em 1888 até a

Constituição Federal em 1988), conforme ressaltado no parágrafo 3º, artigo 2º, do Decreto

Federal nº 4.887/2003, conforme a seguir:

[...] serão levados em consideração critérios de territorialidade indicados

pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado à

comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a instrução

procedimental.

Associar quilombo ao conceito de território decorre de uma invenção histórica de

procedimentos sociais e políticos, que realiza a junção do “chão mais a população”. Essa ideia

brota das condutas de territorialidade de um determinado grupo social. É no território que se

constrói a identidade e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence, ao consistir no

ambiente preciso e limitado, onde são expressas as afinidades grupais. O território é basilar

para o exercício do trabalho, das relações de produção, de poder, das trocas materiais e

espirituais (LITTLE, 2002; SANTOS, 2001).

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Por sua vez, o conceito de territorialidade se reporta à seiva oculta de grupos sociais,

ou seja, acolhe todas as manifestações essenciais à existência do grupo. São a conduta e a

identidade manifestadas nas formas de produzir, de viver, de resistir, de se relacionar,

originadas em um sistema tridimensional – sociedade-espaço-tempo – (LITTLE, 2002,

SANTOS, 2001; RAFFESTIN, 1998). O Mapa 1, a seguir, mostra a distribuição geográfica

das comunidades quilombolas em Minas Gerais.

Os territórios onde vivem os quilombolas são mais do que simples espaços

geográficos. Na verdade, são reservas identitárias de um povo, pois a terra, além de garantir a

subsistência do grupo, tem importância histórica e cultural. Esse local abriga as transmissões

dos valores éticos e morais, dos conhecimentos definidos pelas manifestações, pelas tradições

e pelo respeito à ancestralidade.

1.3 A legislação antirracismo e as ações afirmativas

A capacidade dos movimentos sociais negros em denunciar o racismo, resultou na

criação de leis e decretos por parte do governo brasileiro6. Percebe-se, na evolução histórica

da legislação antirracismo brasileira até o final dos anos 80, seu caráter punitivo. Contudo, o

uso da força repressiva no enfrentamento da discriminação racial mostrou-se ineficaz (IPEA,

2009).

Os anos 1990 foram pródigos em mostrar as limitações do tratamento do

preconceito e da discriminação pela legislação punitiva, seja em face dos

“efeitos presentes da discriminação passada” ou dos efeitos perversos do

processo de banalização de práticas discriminatórias dissimuladas e

cotidianas e do racismo institucional, de caráter impessoal e indireto (IPEA,

2009, p. 109).

Em decorrência dos desdobramentos da III Conferência Mundial contra Racismo,

Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, em Durban (2001), o Brasil

ensaiou adotar iniciativas inovadoras para combater o racismo e reduzir as desigualdades

raciais: o programa de “bolsas-prêmio para a diplomacia”, em favor de estudantes negros,

concedidas pelo Ministério das Relações Exteriores; e o Programa Nacional de Ações

Afirmativas, regulamentado pelo Decreto nº 4.228, publicado pelo Governo Federal em 2002

e instituído no âmbito da administração pública federal. Porem, essas ações foram propostas

em fins de governo, não tendo sido implementadas (IPEA, 2009).

6 O Quadro 3 (Apênidice A) sintetiza as legislações nacional e estadual de enfretamento ao racismo.

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Mapa 1: Distribuição espacial das comunidades quilombolas em Minas Gerais

Fonte: CEDEFES, 2008.

O Decreto 65.810, de 8 de dezembro de 1969, que Promulgou a Convenção

Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, no inciso II do

art. 2º, defini “Ações Afirmativas” como sendo:

[...] medidas especiais e concretas para assegurar como convier o

desenvolvimento ou a proteção de certos grupos raciais ou de indivíduos

pertencentes a estes grupos com o objetivo de garantir-lhes, em condições de

igualdade, o pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades

fundamentais (BRASIL, 1969).

Ações afirmativas são políticas notórias realização pelo governo ou pela iniciativa

privada visando corrigir as desigualdades raciais e oferecer igualdade de oportunidades a

todos. De acordo com o inciso VI do Art. 1º da Lei 12.288/2010 – Estatuto da Igualdade

Racial –, considera as ações afirmativas como sendo “os programas e medidas especiais

adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para

a promoção da igualdade de oportunidades” (BRASIL, 2010).

As ações afirmativas ganharam destaque, somente, no governo do Presidente Luiz

Inácio Lula da Silva, com a instituição da Política de Promoção da Igualdade Racial, com

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status de ministério, para coordenar ações dessa política. Logo de início, o presidente

sancionou a Lei nº 10.639/2003, que alterou a Lei no 9.394/1996, responsável por estabelecer

as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir, no currículo oficial da Rede de

Ensino, a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".

1.4 Articulação da política de enfrentamento do racismo. Os desafios postos pelo

federalismo

Uma das funções do Estado é a promoção do bem-estar da sociedade. Para isso torna-

se necessário desenvolver ações e atuar transversalmente em distintas áreas, conforme dispõe

o artigo 6º da Constituição Federal de 1.988: “[...] são direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”

(BRASIL, 1.988).

Para que o Estado brasileiro garanta os direitos fundamentais e promova o crescimento

econômico com inclusão social torna-se necessário criar mecanismos para ampliar a

arrecadação, bem como, facilitar a execução orçamentária com racionalidade. Para isso é

imprescindível qualificar e fortalecer, no contexto federativo, a gestão municipal essencial

para o sucesso da política (SEPPIR, 2009).

O federalismo brasileiro, caracterizado pela presença de dois níveis de poder – o

federal (União) e o estadual (estados-membros) –, repartindo entre si competências

legislativas, administrativas e políticas. Dessa forma, os municípios eram meros organismos

de administração descentralizada, dotados de atribuições específicas, mas sem autonomia

constitucional bem definida (VASCONCELOS JÚNIOR, 2012).

Porém, a Constituição de 1.988 (CF88), em seu artigo 1º, expressa que a República

Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito

Federal. Essa Constituição inova ao estabelecer que os municípios, antes meros organismos

de administração descentralizada, tenham papel importante na organização político-

administrativa, conforme dispõe o artigo 18, no qual a Constituição Federal outorga a eles

autonomia e competências próprias dos Estados-membros, tais como: legislar e cobrar

impostos sem a intervenção da União ou Estados (TAVARES, 2009; VASCONCELOS

JÚNIOR, 2012).

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Assim a Constituição de 1988, introduziu no modelo brasileiro uma descentralização

que permite aos estados e municípios tomarem decisões políticas inspiradas no padrão

cooperativo, a ser realizado pelo sistema de colaboração negociado. Teoricamente o

federalismo cooperativo é o compartilhamento solidário entre o governo central e os governos

subnacionais, alcançando os três níveis de governo na prestação dos serviços públicos.

A CF88, ao descentralizar muitas das responsabilidades pela execução da política

social para as instâncias de governo mais próximas da população – os municípios –, instituiu

legalmente a necessidade do estabelecimento de instrumentos de colaboração/cooperação,

dando conteúdo ao exercício dos pactos federativos.

Entretanto, na prática isso não tem acontecido, pois a Constituição de 1.988 não

estabeleceu o modo como consumar o processo, ou seja, não implementou as leis

complementares que fixem as regras para a cooperação entre a União, os estados, o Distrito

Federal e os municípios. Com isso, ao invés de garantir harmonia territorial, promoveu-se

competição entre os entes federados, acarretando desigualdades financeiras, políticas e

administrativas (COSTA, 2013; MACHADO, VELTEN, 2013; FRANZESE, 2010;

TAVARES, 2009).

Em virtude disso, o processo de descentralização e a municipalização das políticas

sociais têm fragmentado a promoção das políticas públicas realizadas nos 5.570 municípios

brasileiros. Alia-se a essa fragmentação institucional, os fatores de diferenças na orientação

partidária, prioridades de política pública e a grande desigualdade socioeconômica

enfrentados pelos governos locais de diversas formas, de acordo com suas capacidades fiscais

e administrativas, aprofundando a desigualdade no território brasileiro (FRANZESE, 2010).

O federalismo pode se realizar também sob a forma competitiva. Esse é o formato que

predomina no Brasil, onde há distribuição das competências e descentralização das receitas,

fortalecendo os municípios com autonomia financeira. Nesse caso, os municípios mais pobres

da Federação, por não conseguirem gerar recursos próprios suficientes para atender suas

necessidades, dependem das transferências da União e dos estados-membros. Outro fator

negativo nessa competição é a autonomia fiscal dos municípios, responsável pela guerra fiscal

e por gerar crises políticas entre os governos estaduais e municipais (TAVARES, 2009).

Mas, contemporaneamente, no país, cresce, cada vez mais, o exercício do federalismo

cooperativo por iniciativa dos próprios entes-federados.

Efetivamente, o que tem prevalecido nas relações entre entes federados,

visando à superação de desequilíbrios regionais e sociais em matéria de

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educação, são convênios pontuais, temporários e por adesão, que dependem,

portanto, de relações de confiança, vontades e consensos políticos para fins

de estabelecimento de parcerias. Logo, o regime de colaboração federativa

acaba se definindo por ações de governos e não por políticas de Estado.

Trata-se de um mecanismo que termina por reforçar a tradição

patrimonialista dos poderes públicos no Brasil, os casuísmos, a perspectiva

da descontinuidade das políticas públicas e a relativização de direitos sociais

(MACHADO; VELTEN, 2013 p. 1117).

Para atingir resultados as diversas áreas, no sentido de promover o bem-estar da

sociedade, os governos se utilizam das políticas públicas. Porém, essas precisam ser

formuladas com a participação da sociedade civil, conforme prevê o inciso II do artigo 204 da

Constituição Federal: “[...] participação da população, por meio de organizações

representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis”

(BRASIL, 1.988).

As novas práticas participativas de gestão das políticas públicas desencadearam no

Brasil a criação de espaços institucionais de relacionamento entre o Estado e a sociedade civil,

na forma dos conselhos e dos fóruns. Essa forma de gestar, equipada com instrumentos

participativos, vai ao encontro das recomendações do paradigma da gestão social,

constituindo-se importante ferramenta para a transformação social e o desenvolvimento local.

Nesse sentido o Conselho de Promoção da Igualdade Racial tem por atribuição propor e

avaliar/monitorar os programas e as políticas públicas concernentes aos temas raciais, bem

como fiscalizar a sua execução.

Essas instituições proporcionam avanços, na ação do Estado. A criação de estruturas

do sistema de políticas públicas aprofundará a cooperação no federalismo brasileiro, ao

compartilhar recursos, destinados aos fundos de financiamento de políticas públicas, e normas

operacionais, vigentes nas áreas de assistência social (Sistema Único de Assistência Social,

2005), da saúde (Sistema Único de Saúde, 1988) e da educação (Sistema Nacional de

Educação, 2009) (FRANZESE, 2010).

Para articular o diálogo entre as três esferas de poder, o sistema instituiu os fóruns de

negociação federativa, que são espaços privilegiados de gestão intergovernamental da política

pública. É “[...] nesse contexto de valorização e ampliação da relação da União com os

estados e municípios que ocorre a atuação do Fórum Intergovernamental de Promoção da

Igualdade Racial (FIPIR)” (SEPPIR, 2009, p. 50).

Esse Fórum tem como objetivo estabelecer estratégias para a incorporação da Política

Nacional de Promoção da Igualdade Racial nas ações governamentais de Estados e

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Municípios (FREITAS, FREITAS e DIAS, 2012). Tem como escopo a construção e a

ampliação da capilaridade da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR),

para contribuir para o fortalecimento e a busca do reconhecimento político dos órgãos

similares à SEPPIR nas estruturas institucionais existentes nos estados e municípios.

Para garantir o cumprimento desse desafio, o FIPIR tem articulado gestores da

promoção da igualdade racial nos estados e municípios, e realizado eventos, seminários e

encontros para capacitar, realizar intercâmbio e promover a troca de experiências entre os

gestores da referida política. Pode-se afirmar que o FIPIR tem sido ferramenta importante

para garantir ação descentralizada em âmbito nacional (SEPPIR, 2009).

Outro arranjo institucional de articulação na formulação de estratégias e

implementação de ações coordenadas e cooperativas entre as diferentes esferas de governo,

para o atendimento das demandas da sociedade e aprimoramento das relações federativas, é o

Comitê de Articulação Federativa (CAF), criado por meio do Decreto nº 6.181, de 3 de agosto

de 2007, no âmbito da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República

(BRASIL, 2007).

Uma terceira forma de implementar o federalismo cooperativo é o consórcio público

que envolve, especialmente, municípios. Ao se consorciarem, os entes federativos podem

compartilhar estruturas gerenciais, administrativas e de apoio técnico e com isso reduzir

custos na aquisição de bens e na prestação de serviços. Essa é uma modalidade prevista no

parágrafo único do artigo 12, no parágrafo 2º do artigo 15 e no artigo 26 do Decreto nº

8.136/2013, que aprovam o regulamento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade

Racial, instituído pela Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010.

Percebe-se, todavia, que, do ponto de vista de desenho do sistema, os instrumentos de

cooperação na forma consorciada de execução de políticas de igualdade racial ainda não

foram consolidados. Há problemas a serem sanados no federalismo, relativos à

descentralização, à colaboração e à cooperação entre a União, os estados e os municípios, em

suas disparidades populacionais, densidades demográficas, dinâmicas econômicas,

indicadores sociais, capacidades de arrecadação tributária e capacidades técnicas e gerenciais

de suas administrações (SEPPIR, 2009).

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1.5 A Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial

Compreender a origem da Política de Promoção da Igualdade Racial é basilar para que

se percebam os desdobramentos, trajetória e perspectivas desse instrumento estratégico de

enfrentamento ao racismo.

As injustiças sociais brasileiras incidem sobremaneira a população negra e têm o

racismo como fator estruturante. Em pleno século XXI, o tratamento dispensado aos negros é

desigual e desfavorável a eles. Essa situação é perceptível no acesso aos bens e serviços

ofertados pelas instituições públicas e privadas. No mercado de trabalho, aos negros são

sempre destinadas as funções mais subalternas. Na formação da família, o envolvimento entre

um (a) branco (a) e um (a) negro (a) é raramente bem aceito. A cor da pele ainda é um fator

determinante na sociedade brasileira (CICONELLO, 2007).

O tema “racismo” é amiúde excluído nos debates e deixado em segundo plano, devido

ao fato de ser considerado de cunho social e não étnico racial. A sociedade brasileira encara o

racismo como proveniente da desigualdade econômica. Contudo, dados oficiais apontam que

o racismo está presente no cotidiano dos diversos grupos sociais sejam eles, negros,

indígenas, ciganos, judeus e outros (CDH, 2005).

Após a abolição da escravatura novos desafios surgiram para a população negra,

diante do racismo praticado contra a população negra e a exclusão social perpetrado pelas

instituições públicas e privadas, sendo assim, formam-se diversas associações criadas pelo

próprio negro visando o enfrentamento ao racismo, dentre essas instituições destacamos a

Frente Negra Brasileira (FNB), fundada em 1931, em 1936 a FNB recebe seu registro como

partido, sendo cassado em 1937 na ditadura de Getúlio Vargas (GOMES, 2005).

Em fins da década de 1970, surgiu o Movimento Negro Unificado para denunciar o

racismo praticado contra a população negra brasileira, bem como, demandar do poder público,

a inserção da questão racial na agenda política de governo. Esse movimento,

[...] não apenas denuncia a imagem negativa do negro na sociedade brasileira

– desde os livros escolares à mídia em geral –, como assume e enaltece a

história de seus ancestrais, resgatando uma nova base da qual deve emergir

uma identidade do negro, sujeito de sua história e de sua cultura (IPEA,

2009, p. 25).

A resposta às demandas do movimento negro somente se deu a partir da Constituição

de 1988, que instituiu a criminalização do racismo, o reconhecimento do direito das

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comunidades quilombolas à territorialidade e criou a Fundação Cultural Palmares, conforme a

Lei nº 7.7688/1988 assinada pelo, então, presidente José Sarney (BRASIL, 1988).

Em 1995, o movimento negro “Marcha Zumbi de Palmares contra o Racismo, pela

Cidadania e a Vida”, em comemoração ao tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares,

entregou ao presidente Fernando Henrique Cardoso o "Programa de Superação do Racismo e

da Desigualdade Racial", resultando na criação, por meio de decreto presidencial, do Grupo

de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra (GTI). Esse Grupo era

composto por membros da sociedade civil ligados ao Movimento Negro e representantes dos

ministérios e secretarias, vinculados à presidência da República, para desenvolver políticas

para a valorização da população negra (LIMA, 2010).

Ainda, nesse governo foram lançados os Programas Nacionais de Direitos Humanos

(PNDH I e II) para implementar estratégias de combate às desigualdades raciais, por meio de

políticas específicas destinadas à população negra. Em 2001, na África do Sul, a maior

delegação na “Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial e a Xenofobia

e Formas Correlatas de Intolerância” foi a brasileira. No final do Governo FHC, foi lançado o

“Programa Nacional de Ações Afirmativas” sob a coordenação da Secretaria de Estado dos

Direitos Humanos do Ministério da Justiça (LIMA, 2010).

Em 21 de março de 2003, o Presidente Lula criou a Secretaria Especial de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), por meio da Lei 10.678/2003, e instituiu, por meio

do Decreto 4.886/2003, a Política de Promoção da Igualdade Racial, para reduzir as

desigualdades raciais no Brasil. Esse decreto enfatiza a população negra, mediante a

realização de ações exequíveis a longo, médio e curto prazo, com reconhecimento das

demandas mais imediatas, bem como, das áreas de atuação prioritária. Essa política tem como

princípios a transversalidade, a descentralização e a gestão democrática. É regida pelas

seguintes diretrizes: fortalecimento institucional, incorporação da questão racial no âmbito da

ação governamental, consolidação de formas democráticas de gestão das políticas de

promoção da igualdade racial, melhoria da qualidade de vida da população negra e inserção

da questão racial na agenda internacional do governo brasileiro (BRASIL, 2003).

Para usufruir dos benefícios proporcionados pela Política de Promoção da Igualdade

Racial, os municípios que abrigam comunidades quilombolas devem aderir ao Sistema

Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), regulamentado pelo Decreto Federal

nº 8.136/2013. Os artigos 1º e 2º desse Decreto explicam que esse sistema constitui, organiza

e articula a implementação do conjunto de políticas e serviços destinado a superar as

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desigualdades raciais existentes no país, permitindo, de forma descentralizada, tornar efetivas

as políticas públicas para o enfrentamento ao racismo e para a promoção da igualdade racial

no País mediante adoção de ações valorizativas, afirmativas e repressivas (BRASIL, 2013).

Esse é um sistema integrado, vinculado ao poder executivo federal, que visa a

descentralizar e tornar efetivas essas políticas públicas compreendidas como conjunto de

diretrizes, ações e práticas a serem observadas na atuação do poder público e nas relações

entre o Estado e a sociedade, sendo que cada ente federado – a União e os demais têm suas

competências e responsabilidades específicas definidas frente ao Sistema (BRASIL, 2013).

Isso significa que não se incentivam medidas simplesmente locais que não estejam

relacionadas com os princípios, objetivos e metas do SINAPIR e da própria Política Nacional

de Promoção da Igualdade Racial, fundamentada na lei comentada (CALIL, 2011).

A ação de cada parte integrante ao SINAPIR deve observar a finalidade comum,

garantindo a participação da sociedade civil e o controle social das políticas públicas

(BRASIL, 2013).

O SINAPIR está alicerçado nas seguintes normativas nacionais e internacionais:

Lei nª 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade

Racial, em cujo Título III está instituído o SINAPIR;

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação Racial, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 23, de 21 de junho

de 1967, ratificada pela República Federativa do Brasil em 27 de março de

1968 e promulgada pelo Decreto nº 65.810, de 08 de dezembro de 1969;

Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, instituída pelo Decreto nº

4.866, de 20 de novembro de 2003; e

Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PLANAPIR), aprovado pelo

Decreto nº 6.872 de 4 de junho de 2009. (BRASIL, 2013).

Para a execução das ações de igualdade racial devem ser adotadas estratégias que as

priorizem, no planejamento e no orçamento dos entes federados aderentes ao SINAPIR, de

modo a garantir o desenvolvimento de programas com impacto efetivo na superação das

desigualdades raciais (BRASIL, 2013).

OS instrumentos gerenciais do SINAPIR são o Plano Nacional de Promoção da

Igualdade Racial (PLANAPIR), os planos estaduais, distrital e municipais, e o Plano

Plurianual de Governo. A Rede-SINAPIR a ser criada para promover a gestão da informação

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e proporcionar as condições para o monitoramento, a avaliação, o acesso e o controle social

da política (BRASIL, 2013).

As seguintes instâncias integram a estrutura do SINAPIR: as Conferências de

Promoção da Igualdade Racial; o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial

(CNPIR); a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da

República (SEPPIR-PR); o Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial

(FIPIR); a Ouvidoria Permanente em Defesa da Igualdade Racial do Poder Executivo e os

órgãos de promoção da igualdade racial estaduais, distrital e municipais, responsáveis pela

articulação da política nas suas esferas de governo (BRASIL, 2013).

As Conferências de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) – nacional, estaduais,

distrital e municipais – constituem instâncias formais de diálogo entre o setor público e a

sociedade civil, para garantir a participação social na proposição, implementação e

monitoramento das políticas públicas (BRASIL, 2013). Essas Conferências tem natureza

consultiva e a competência de exercer o controle social, por meio do acompanhamento da

implementação das políticas de promoção da igualdade racial, assim como, da contribuição

para que a sua execução se dê em conformidade com as suas diretrizes (BRASIL, 2013).

A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR-PR) é

responsável pela articulação ministerial e pela coordenação central do Sistema e articulação

das políticas públicas e as diretrizes para a promoção da igualdade racial, e da proteção dos

direitos de indivíduos e grupos étnicos, com ênfase na população negra, afetados por

discriminação racial e demais formas de intolerância. Já, o Fórum Interinstitucional de

Promoção da Igualdade Racial (FIPIR) é o espaço de formação de pactos no âmbito do

Sistema (BRASIL, 2013).

A Ouvidoria Permanente em Defesa da Igualdade Racial do Poder Executivo é

responsável pela interlocução imediata entre os cidadãos e o Poder Público, funcionando

como um canal para o recebimento de opiniões e reclamações, a mediação de conflitos e o

encaminhamento de denúncias de racismo e discriminação racial (BRASIL, 2013).

A participação da sociedade civil no SINAPIR se dá por meio dos conselhos voltados

para a promoção da igualdade racial em âmbito nacional, estadual, distrital e municipal e das

conferências de Promoção da Igualdade Racial. Há também o incentivo para a criação de

outras instâncias de participação, como por exemplo, os grupos de trabalho, comitês e fóruns

(BRASIL, 2013). Outra forma de participação da sociedade civil organizada são as parcerias e

convênios para executar projetos específicos de promoção da igualdade racial e de

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enfrentamento ao racismo de interesse da coletividade, financiados pelo poder público

(BRASIL, 2013).

Tal aspecto, à evidência, não retira a competência dos outros entes da

Federação para atuarem (sic), de forma local ou regional, no combate á

desigualdade racial, partindo-se da premissa de que deverão respeitar os

comandos legais contidos na legislação específica federal, ou seja, atuarão

mediante adesão (com incentivo na implementação, nos termos do artigo 48,

inciso III) ou de forma complementar (CALIL, 2011, p. 287).

O mecanismo de financiamento da política de igualdade racial, conforme previsto no

Capítulo VI do Decreto nº 8.136/2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de

Promoção da Igualdade Racial, foi instituído pela Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010,

aponta as seguintes possibilidade de captação de recursos:

Art. 21. Os entes que aderirem ao Sinapir devem assegurar, em seus

orçamentos, recursos para a implementação das políticas de igualdade racial

e promover medidas de transparência quanto à alocação desses recursos.

Art. 22. As políticas de promoção da igualdade racial e de enfrentamento ao

racismo pactuadas no âmbito do Sistema serão cofinanciadas pela União e os

Estados, Distrito Federal e Municípios que aderirem ao Sinapir.

Art. 23. O mecanismo de financiamento do Sinapir, em âmbito federal,

compreende recursos oriundos:

I - do orçamento da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

da Presidência da República;

II - das ações orçamentárias previstas na lei orçamentária anual direcionadas

à promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo;

III - de doações voluntárias de particulares, de empresas privadas e de

organizações não governamentais;

IV - de doações voluntárias de fundos nacionais e internacionais; e

V - de doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios, tratados e

acordos internacionais.

Com respeito às transferências voluntárias, essas são regulamentadas pelas leis federal

e estadual. O Art. 60, de lei 12.019/2013 prevê a realização de transferências voluntárias,

conforme definidas no caput do art. 25 da Lei de Responsabilidade Fiscal, mediante

comprovação, pelo convenente, da existência de contrapartida prevista na lei orçamentária do

Estado, Distrito Federal ou Município. A Lei, que regula as transferências voluntárias no

âmbito estadual, é a de nº 20845, de 6 de agosto de 2013.

A ação de cada parte integrante deverá observar a finalidade comum e garantir a

participação da sociedade civil e da iniciativa privada na formulação, implementação,

monitoramento e avaliação da Política de Igualdade Racial, em todas as esferas de governo,

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conforme previsto no parágrafo 2º do artigo 47 da Lei de nº 12.288/2010 (BRASIL, 2010). A

participação da sociedade civil deve estar em consonância com um dos princípios delineados

no anexo do Decreto nº 4.886/2003, qual seja: a gestão democrática, reproduzindo uma das

características do modelo de gestão social (BRASIL, 2003).

A política de promoção da igualdade racial se concretiza por meio do Programa Brasil

Quilombola (PBQ), do Governo Federal, no âmbito do qual são oferecidos os benefícios às

comunidades quilombolas relativos à titularidade da terra e ao acesso prioritário aos

programas sociais e às linhas de financiamento para o acesso aos serviços públicos muitas das

vezes inexistentes. A responsabilidade pela implementação do Programa é compartilhada

pelos três níveis de Governo: o Federal, o Estadual e o Municipal. O Governo Federal atua

junto ao PBQ, por meio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

(SEPPIR/PR).

Dentre os diversos programas e projetos da Política de Promoção da Igualdade Racial,

o Programa Brasil Quilombola tem sido de suma importância para as populações

contempladas. Esse fato decorre do seu principal objetivo, qual seja: a garantia do acesso a

terra. Esse benefício, porém, não condiciona à realização de outras ações tais como as de

saúde e educação; construção de moradias, eletrificação, recuperação ambiental; pleno

atendimento às famílias quilombolas pelos programas sociais, como o Programa Bolsa

Família; medidas de preservação e promoção das manifestações culturais quilombolas; e de

incentivo ao desenvolvimento local.

A certificação das comunidades, realizada pelo Governo Federal, as qualifica a obter

os benefícios proporcionados pelo Programa Brasil Quilombola. Contudo, para captar esses

recursos e concretizar seus benefícios junto às comunidades, é necessário, além da

certificação, que o poder público municipal se habilite junto ao Programa, mediante adesão ao

SINAPIR. As prefeituras argumentam que as exigências, de maior dificuldade para esse fim,

referem-se à implantação de um órgão em suas estruturas, com a atribuição de promover a

igualdade racial, e de um conselho para o mesmo fim, do qual participe a comunidade.

Entretanto, o racismo institucional, ou racismo sistêmico, tem perpetuado a exclusão

seletiva dos grupos racialmente subordinados quer seja pela insuficiência ou inadequação de

prestar serviços adequados para a esses grupos em razão de sua cor, cultura ou origem étnica,

ou por dificultar a participação dos mesmos nos processos decisórios (SANTOS, 2013).

As hierarquias sociais brasileiras, definidas pelo sistema político tecnocrático,

estabeleceram lugares e papeis sociais em termos de raça, classe e gênero, e dessa forma,

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asseguraram a dominação, inferiorização e opressão da população negra nas “instituições

públicas ou privadas que controlam espaços públicos, serviços ou imagens (lojas, bancos,

supermercados, shoppings, empresas de segurança privada)” (SANTOS, 2013, p. 28).

A legitimação de condutas excludentes reflete negativamente na gestão social, onde a

participação dos povos e comunidades tradicionais tem sido evitada de forma explicita ou

não. “O acesso é dificultado, não por normas regras escritas e visíveis, mas por obstáculos

formais presentes nas relações sociais que se reproduzem nos espaços institucionais e

públicos” (SANTOS, 2013, p. 27).

Ao não divulgar as políticas disponíveis, e não disponibilizar os recursos previstos na

lei orçamentária para a implementação da Política de Igualdade Racial, bem como dificultar a

presença de quilombolas nos espaços e nos processos decisórios, são elementos do racismo

institucional, que comprometem a realização de uma gestão, segundo os princípios da gestão

social, quais sejam: o protagonismo e o exercício da cidadania plena dos quilombolas. Por

outro lado, alimentam o desrespeito aos interesses coletivos da população negra.

1.6 Ações governamentais de enfrentamento ao racismo em Minas Gerais

Em Minas Gerais, a inserção da temática racial na agenda das políticas públicas de

âmbito estadual se deu durante o Governo Newton Cardoso, com a criação do Conselho

Estadual de Participação e Integração da Comunidade Negra (CCN/MG). Criado por meio do

Decreto nº 28.071/1988, o CCN tinha a competência de desenvolver estudos relativos à

condição da comunidade negra e propor medidas para a defesa de seus direitos, a eliminação

das discriminações que a atingem e a sua plena inserção na vida sócio econômica, política e

cultural do estado (MINAS GERAIS, 1988). Esse decreto foi alterado pelo Decreto nº

30.578/1989 (MINAS GERAIS 1989).

Durante a I Conferência de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, em 2005, após

amplo debate, foi proposta a criação de outro conselho estadual a favor da igualdade racial.

Para esse fim, o CCN encaminhou proposta de projeto de Lei ao Governo do estado de Minas

Gerais para criar o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, paritário e com

dotação de recursos financeiros, para financiar as ações dessa política. É importante destacar

que a edição da lei foi precedida de debate, com envolvimento do próprio Conselho, conforme

o Ofício CCN/169, de 18/10/2007, subscrito por seu presidente. Dessa forma, em março de

2008, foi criado o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Projeto de Lei nº

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2.177/2008) (DIÁRIO DO LEGISLATIVO, 2008), transformado em Lei de nº 18.251, em

julho de 2009 (MINAS GERAIS, 2009). Em 2009 o CCN foi substituído pelo Conselho

Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

Outro avanço em Minas Gerais, foi a criação da Coordenadoria Especial de Políticas

Pró-Igualdade Racial (CEPIR), órgão subordinado a Subsecretaria de Direitos Humanos da

Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social, por Lei Delegada de nº

180/2011. A CEPIR atuou junto ao Sistema Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade

Racial (SINAPIR), desempenhando papel de interlocução com os municípios para a

formalização de parcerias que garantam às comunidades quilombolas acesso aos direitos

fundamentais, por meio de processos participativos (SEDESE, 2011). Muitas prefeituras

municipais, em municípios que abrigam comunidades quilombolas não têm cumprido os

requisitos da lei federal para usufruir da Política Racial.

De 2003 a 2014, o orçamento para atender ao público da política de igualdade racial –

povos e comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas – foi de R$ 297 milhões. Destina-

se à execução de programas, projetos e ações pelo Governo de Minas Gerais, de competência

das diversas secretarias. Desse montante R$ 266 milhões financiaram os seguintes benefícios:

estruturação da atenção primária à saúde; construção, reforma e melhoria de moradias;

desenvolvimento sustentável da agricultura familiar; medidas para o ingresso na universidade

e a diplomação de afrodescendentes; geração trabalho e renda por meio do fortalecimento de

empreendimentos coletivos da economia popular solidária; apoio à execução das atividades

técnicas de identificação, discriminação e regularização de áreas ocupadas; realização de

diagnóstico socioeconômico; obtenção de certidões de registro civil e de documentação civil

básica; realização de atendimento jurídico pelo Escritório de Direitos Humanos. Além disso,

entre os anos de 2012 e 2013, a Secretaria de Estado de Cultura despendeu R$ 19 milhões de

reais em ações afirmativas e valorizativas da cultura negra (SEDESE, 2014). Desse montante

cerca de R$ 33 milhões sofreram contingenciamento.

Durante o ano de 2014, a Coordenadoria Especial de Políticas Pró-Igualdade Racial do

Governo de Minas em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da

Igualdade Racial realizaram 75 reuniões técnicas com representantes do poder público e da

sociedade civil, para a construção conjunta da política de igualdade racial (SEDESE, 2014).

Segundo o relatório técnico da coordenadoria, os municípios manifestara interesse

pela política, porém apontara as seguintes dificuldades e impedimentos para aderirem ao

Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial: impedimento legal para a criação de

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novas estruturas; falta de recursos financeiros e administrativos; e inexistência de servidores

capacitados para trabalhar com a temática.

Outra informação revelada no relatório foi a da existência de municípios mineiros que

não admitem ganhos políticos com a execução da política de igualdade racial e, por esse

motivo não aderem a ela, outros, ainda, não manifestam interesse na implantação da política

por não a considerarem uma demanda de seu município.

O Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Intolerância (NAVCRADI)

da Polícia Civil mineira, criado no ano de 2014, é outro arranjo institucional para o

fortalecimento da política de igualdade racial. Seu objetivo é atender a demandas

configuradas como crimes raciais e de intolerância, além de monitorar os casos registrados em

outras delegacias (PCMG, 2013). O NAVICRADI oferece atendimentos jurídico, psicológico

e social por meio da prestação de serviços de instituições parceiras, além da realização de

perícia e exames específicos, pelo Instituto de Criminalística e pelo Instituto Médico Legal

(PCMG, 2013).

1.7 Gestão Social na Política de Promoção da Igualdade Racial. Potencial de

contribuição para o Desenvolvimento Local no Território Quilombola

As novas práticas de gestão das políticas públicas desencadearam no Brasil a criação

de espaços institucionais de relacionamento entre Estado e sociedade civil, na forma dos

conselhos e dos fóruns. Entre eles, o Conselho de Promoção da Igualdade Racial tem por

atribuição propor e avaliar/monitorar os programas e as políticas públicas destinadas à

promoção da igualdade racial, bem como fiscalizar a sua execução (FREITAS, FREITAS e

DIAS, 2012). Essa forma de gerir, equipada com instrumentos participativos vai ao encontro

da gestão social, constituindo-se importante ferramenta para a transformação social e o

desenvolvimento local.

“Gestão social é uma dimensão humana do próprio desenvolvimento que envolve o

empresário, o pesquisador e o ativista dos movimentos sociais” (IIZUKA, DIAS e

AGUERRES, 2011, p. 750). Ainda segundo Fischer, Melo, Carvalho et all (2006, p. 796),

A gestão adjetivada como social orienta-se para a mudança e pela mudança,

seja de microunidades organizacionais, seja de organizações com alto grau

de hibridização, como são as interorganizações atuantes em espaços

territoriais micro ou macro escalares. Múltiplas formas de poder são

exercidas em diferentes escalas, na construção paradoxal e controvertida de

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utopias traduzidas em programas, projetos e ações de desenvolvimento que

ocorrem em espaços territoriais e virtuais.

Ao contrário da gestão tecnoburocrática e monológica, a gestão social é participativa,

dialógica, ou seja, a tomada de decisão é exercida por meio dos diferentes atores sociais, que

agem com racionalidade comunicativa, expõem suas demandas e prioridades até que haja um

acordo (TENÓRIO, 1.998, p. 16). Assim a gestão social tem como finalidade “[...]

proporcionar condições à emancipação dos indivíduos, baseando-se na democracia

deliberativa, na formação da consciência crítica de seres humanos dotados de razão”.

(CANÇADO, 2013, p. 107)

Tenório (2008a, 2008b apud CANÇADO, 2013, p. 112) analisa os pares de palavras

“estado-sociedade” e “capital-trabalho”, sob o entendimento da gestão social, e inverteu a

ordem para “sociedade-Estado” e “trabalho-capital”, ressaltando a importância da sociedade e

do trabalho como protagonistas dessas relações. Para ampliar a discussão, Tenório (xxx)

insere outro par de palavras, qual seja: sociedade-mercado. Destaca, então, a sociedade como

protagonista no processo de interação com o mercado (CANÇADO, 2013).

Cançado (2013) corrobora com Tenório (2008a, 2008b) quando o mesmo propõe que a

cidadania deliberativa precisa intermediar a relação entre esses pares de palavras. Para o

autor:

[...] a cidadania deliberativa significa, em linhas gerais, que a legitimidade

das decisões deve ter origem em processos de discussão orientados pelos

princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da

autonomia e do bem comum [...], faz[endo] jus à multiplicidade de formas

de comunicação e un[indo] os cidadãos em torno de um autoentendimento

ético (Tenório, 2008a, p. 160, Tenório, 2008b, p. 167 apud CANÇADO,

2013, p. 112).

Sob esse aspecto, a esfera pública tem o papel de intermediar o Estado, a sociedade e

o mercado e, a cidadania deliberativa, o processo participativo de diálogo abalizado

necessariamente no entendimento (e não no convencimento ou negociação) entre as partes.

Assim, “[...] o procedimento da prática da cidadania deliberativa na Esfera Pública é a

participação” (CANÇADO, 2013, p. 112).

O potencial transformador da gestão social precisa ser abalizado no entendimento, e

não em uma percepção individual de mundo, mas sim “um acordo alcançado por meio da

discussão crítica, da apreciação intersubjetiva” (CANÇADO, 2013, p. 113). É com o diálogo

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e a participação que se alcançam os objetivos sociais, sendo assim o desafio é obter interação,

baseada na solidariedade entre o Estado, a sociedade e o mercado.

Portanto, a boa governança local é o centro da gestão social. Para seu funcionamento

eficaz, torna-se necessário a existência de espaços de participação democrática e deliberativa

dos cidadãos. É preciso proporcionar condições para essa participação, levando-se em conta

que o conflito de interesses é componente complementar do ideário democrático, ou seja, as

decisões são descentralizadas pelo Estado, na condução do processo democrático,

harmonizando eficiência para a efetiva participação do cidadão (CANÇADO, 2013).

Associa-se a isso, outras duas características da gestão social, quais sejam: o fato de

o processo ser cognitivo, “[...] a aprendizagem individual está ligada à aprendizagem

coletiva”; e a concentração do foco na interação entre finalidades, em detrimento da “[...]

interação entre as partes [...], definindo o caráter identitário, meta-interacional das

experiências” (CANÇADO, 2013, p. 118). Dessa forma, pode-se compreender a gestão social

como uma prática inovadora na criação de políticas públicas, onde o cidadão é coautor,

assumindo seu papel de protagonista no cenário político.

Comprova-se, nos incisos I a IV do artigo 4º do Decreto Federal nº 8.136/2013 que

aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, instituído pela

Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que a execução da Política Nacional de Promoção da

Igualdade Racial tem como princípios orientadores a gestão social, quais sejam: (1)

desconcentração no compartilhamento das responsabilidades pela execução e pelo

monitoramento das políticas setoriais de igualdade racial entre os órgãos e entidades da

administração púbica federal; (2) descentralização na definição de competências e

responsabilidades dos estados, Distrito Federal e municípios, de modo a permitir que as

políticas de igualdade racial atendam às necessidades da população; (3) gestão democrática da

participação da sociedade civil na proposição, acompanhamento e realização de iniciativas,

por meio dos conselhos e das conferências de Promoção da Igualdade Racial; e (4) estímulo à

adoção de medidas que favoreçam a promoção da igualdade racial pelos Poderes Legislativo e

Judiciário, Ministério Público, Defensorias Públicas e pela iniciativa privada.

Portanto “quanto maiores forem os canais de diálogo, colaboração, harmonização das

ações e apoio da sociedade civil” (SEPPIR, 2003, p. 9), maiores as possibilidades de êxito da

política de igualdade racial. Espera-se, assim, que as instituições da sociedade civil assumam

o protagonismo na formulação, implementação e monitoramento da referida política e não se

tornem apenas simples interlocutores de demandas sociais.

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As organizações da sociedade civil podem contribuir para a “[...] ampliação da

consciência popular sobre a importância das ações afirmativas, de modo a criar uma sólida

base de apoio social” (SEPPIR, 2003, p. 9). Para isso é necessário fazerem uso dos

instrumentos de gestão democrática. Um deles são os conselhos nacional, estaduais e

municipais de Promoção da Igualdade Racial, compostos por representantes governamentais

e, da sociedade civil. Esses são espaços de diálogo para a definição das prioridades e rumos

da política.

Não bastam a lei e o “status” que configuram o regime político como democrático.

Para garantir a cidadania ativa, é preciso diminuir as desigualdades e incentivar a educação

política da população. Tal aprendizado dá-se principalmente com a participação qualificada

nos diversos espaços sociais (SCHENATO, 2013, p. 143).

O objetivo principal da Política de Promoção da Igualdade Racial é a redução das

desigualdades raciais no Brasil, com ênfase na população negra, mediante a realização de

ações exequíveis a longo, médio e curtos prazos, reconhecendo as demandas mais imediatas,

definidoras das áreas de atuação prioritária (BRASIL, 2003).

João Antônio de Paula (2014), em palestra intitulada “Desafios do Desenvolvimento”

7, mencionou diversos significados, em português e em outras línguas, da palavra

desenvolvimento. Nesse exercício, chamou a atenção à palavra espanhola: “desarrollo”, cujo

significado, tirar a rolha, pode ser entendido como o deixar manifestar forças transformadoras

e produtoras de desenvolvimento.

Ao revelar as transformações que conduziram a formação econômica, social e

capitalista no Brasil, o professor afirmou que os grandes processos históricos foram marcados

pela incompletude. Citou, como exemplos, a Independência, que não significou de fato a

prevalência dos interesses do povo brasileiro. Também mencionou a Abolição da Escravidão,

única grande revolução social brasileira, um processo inconcluso, pois libertou os negros da

escravidão, mas os manteve marginalizados, excluídos dos direitos sociais básicos, e, como

resultado, hoje a população negra lidera o ranking da pobreza. Fez referência à Reforma

Agrária que até hoje não obteve êxito em reverter a concentração da propriedade da terra.

Para Paula (2014) a “República” ao invés de garantir a equidade e o desenvolvimento,

tem servido como instrumento para concentração de renda, riqueza, e poder junto à elite

brasileira. De acordo com o palestrante, para efetivar o desenvolvimento é preciso garantir

7 Palestra proferida pelo Professor João Antônio de Paula no III Simpósio de Socialização da Produção

Acadêmica, em 20 de novembro de 2014, no Centro Universitário UNA. Anotações realizadas por Clever Alves

Machado.

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distribuição de renda e riqueza, mediante acesso da população brasileira à educação de

qualidade, à saúde, ao saneamento, à qualificação e ao treinamento. Para isso são necessárias

reformas estruturais.

Por sua vez, Machado (2014)8 conceituou o desenvolvimento como a passagem de um

estado a outro, desdobramento, elaboração, processo complexo de mudanças e transformação.

Se se contrapõe ao neoliberalismo, tem o poder de ampliar direitos sociais conquistados e

potencializar a emancipação social e proporcionar a melhoria da qualidade de vida, conforme

Dowbor (2006)

O resultado, evidentemente, é a nossa prosaica qualidade de vida, numa

visão sustentável. A imagem da qualidade de vida nos remete a um bairro

agradável, com razoável prosperidade, saúde, riqueza cultural, equidade e

segurança: grande parte destas coisas se organiza localmente, e ter uma

economia gerida por resultados implica que estes resultados sejam em

grande parte determinados pelas comunidades criativas e diferenciadas que

temos, e não necessariamente reproduzindo de cima uma macdonaldização

generalizada (DOWBOR, 2006, p. 4).

Machado (2014) ensina o caráter do desenvolvimento realizado “no local, para o local,

e do local”, considerando a noção de que o termo local é difuso e polissêmico, surgindo em

determinadas situações “como lugar (território, região e área dispostos e ordenados

materialmente); como espaço (cenário, ambiente, situação e práticas sociais singulares); ou as

duas concepções dependendo do tipo de problema ou ação que se quer praticar”.

(MACHADO, 2014).9

Importante destacar que desenvolvimento não é apenas crescimento econômico.

Desenvolvimento pode e deve ser considerado como um processo que possibilita a expansão

das capacidades individuais, sentido dado por Sen (1993). Desenvolvimento tem a ver com a

liberdade individual, e sua expansão, ao garantir ao cidadão o direito de ser protagonista desse

processo e não apenas seu beneficiário indireto (SEN, 2010).

A expansão das liberdades é vista, por essa abordagem, como o principal fim

e o principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na

eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as

oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de

8 Palestra proferida pela Professora Lucília Regina de Souza Machado no III Simpósio de Socialização da

Produção Acadêmica, em 20 de novembro de 2014, no Centro Universitário UNA. Anotações realizadas por

Clever Alves Machado. 9 Palestra proferida pela Professora Lucília Regina de Souza Machado no III Simpósio de Socialização da

Produção Acadêmica, em 20 de novembro de 2014, no Centro Universitário UNA. Anotações realizadas por

Clever Alves Machado.

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agente. A eliminação de privações de liberdades substanciais, argumenta-se

aqui, é constitutiva do desenvolvimento (SEN, 2010, p.9).

O Projeto Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Local recomenda intensa

transformação da abordagem, ou seja, trocar a pergunta “o que o governo pode fazer por

nós?” Para, “como o governo pode apoiar o que estamos empreendendo?” (INSTITUTO

CIDADANIA, 2006, p.12).

Do ponto de vista das diversas instâncias de governo, das instituições

públicas ou privadas de apoio, da própria academia, trata-se de entender que,

somando-se às iniciativas que a comunidade assimila como suas, a

produtividade dos esforços aumenta, maximizando resultados (INSTITUTO

CIDADANIA, 2006, p.12).

Dowbor (2006) assinala a necessidade de reconciliar a democracia política e a

democracia econômica. Para isso é preciso associar desenvolvimento local com o conceito de

cultura do desenvolvimento, pois, “o outro mundo possível vai exigir também uma ciência

econômica mais aberta, que incorpore estas dimensões” (DOWBOR, 2006). Para isso é

preciso levar em conta as considerações a seguir.

[...] resgatar o potencial econômico da gestão local não envolve apenas

eficiência de gestão empresarial e pública, envolve também colocar uma

parte maior da economia na escala onde as pessoas têm sobre ela um

controle maior, resgatando assim o controle sobre as suas próprias vidas.

Uma economia que passa a pertencer ao cidadão abre mais espaço para uma

política que pertença ao cidadão (DOWBOR, 2006, p. 4).

Isso significa investir nas pessoas, sobretudo em educação. Porém não à maneira

messiânica, onde a educação é vista como panacéia dos problemas sociais “tanto a

providência para a mudança de circunstâncias sociais indesejadas, como o fator causal dessas

mesmas situações” (MACHADO, 2010, p. 2). É preciso investir igualmente em diferentes

políticas públicas para garantir qualidade de vida, tais como: saúde, alimentação, habitação,

saneamento, transporte, segurança etc., sem as quais a educação, por si só, não atinge seus

objetivos (PAULA, 2008).

Para Paula (2008) “o sentido do desenvolvimento deve ser o de melhorar a qualidade

de vida das pessoas (desenvolvimento humano), todas as pessoas (desenvolvimento social), as

pessoas que estão vivas hoje e as que viverão no futuro (desenvolvimento sustentável)”

(PAULA, 2008, p. 6).

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Desta feita a Política de Igualdade Racial, por meio do Programa Brasil Quilombola

associado ao modo de gestão social, pode contribuir para o desenvolvimento local, garantindo

aos quilombolas acesso à terra, construção de moradias, eletrificação, recuperação ambiental,

atendimento às famílias quilombolas pelos programas sociais, como o Programa Bolsa

Família, bem como medidas de preservação e promoção das manifestações culturais

quilombolas. Não se pode deixar de mencionar os espaços de interlocução, como os conselhos

de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, previsto na legislação que institui a Política de

Igualdade Racial, nos quais os quilombolas podem exercer sua cidadania e participação

social.

1.10 Considerações finais

O número de comunidades quilombolas existentes em Minas Gerais é um número

incerto. Afirma-se serem 520 comunidades conhecidas, mas, esse número pode alcançar as

700 comunidades. Essa pesquisa identificou 233 comunidades quilombolas certificadas,

situadas em 106 municípios de Minas Gerais.

Essa certificação as qualifica para obter os benefícios proporcionados pelo Programa

Brasil Quilombola, quais sejam: a possibilidade de obter a titularidade da terra, o acesso

prioritário aos programas sociais de habitação, saúde, saneamento, esporte, cultura, e a linhas

de financiamento para o desenvolvimento local.

Contudo, além dessa certificação, o poder público municipal deve estar habilitado,

mediante adesão ao SINAPIR, para captar os recursos do Programa e concretizar os

benefícios junto às comunidades. Apenas os municípios de Belo Horizonte, Contagem e

Itabira criaram órgãos e conselhos destinados à questão racial e se habilitaram a aderir ao

SINAPIR, ou seja, tornaram-se prioritários, frente aos recursos do “Programa Brasil

Quilombola”.

Observa-se que a gestão social da Política de Promoção da Igualdade tem ocorrido no

âmbito das esferas federal e estadual, não alcançando à realidade dos municípios. Aponta-se

dificuldades, para a concretização da política de promoção da igualdade racial nestas

comunidades, decorrentes principalmente dos seguintes fatores: (a) falta de autonomia

financeira, administrativa e política dos órgãos de promoção da igualdade racial; (b) gestão

desarticulada na implementação da política, em virtude da inexistência do poder de

intervenção junto aos demais setores (agricultura, educação, habitação, saúde, transporte e

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obras, esporte), dificultando desenvolver ações transversais na implementação da política de

igualdade racial; (c) descontinuidade das ações a cada mudança de governo; (d) dificuldade

em estabelecer prioridades em um cenário de demandas acumuladas há séculos; (e) baixa

representatividade dos quilombolas nos espaços de poder; e (f) desinteresse político por parte

dos poderes públicos municipais.

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53

2. IMPASSES PRESENTES NA COMUNIDADE QUILOMBOLA QUE A IMPEDEM

DE SE HABILITAR A USUFRUIR DO PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA

MACHADO, Clever Alves10

MELLO Ediméia Maria Ribeiro de11

.

RESUMO

Este artigo apresenta a pesquisa empírica realizada na Comunidade Quilombola escolhida

para a realização do estudo de caso, realização de entrevista com os conselheiros de igualdade

racial, com o presidente da Associação, alguns moradores da Comunidade, com o Estudioso

da comunidade e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Buscou-se conhecer as

dificuldades da Comunidade Quilombola em usufruir da política de promoção da igualdade

racial e dos benefícios do Programa Brasil Quilombola, por meio da observação participante.

A metodologia planejada em projeto não fio cumprida em sua totalidade, em virtude de

dificuldade de acessão aos quilombolas, requerendo adaptações realizadas. Essa dificuldade

conforme verificado esta na raiz da (in)capacidade da Comunidade em se articular para

usufruir do PBQ. Dentre as adaptações realizaram-se contatos com um estudioso da

comunidade e com o presidente do sindicato que confirmaram a ausência de fatores

indispensáveis de atuação dos quilombolas num coletivo de realizador do desenvolvimento

local, mesmo amparado no PBQ. Por esse motivo entende-se ser necessário apresentar à

Comunidade proposta de intervenção participativa com foco no desenvolvimento endógeno,

para capacitar moradores, membros da diretoria e do conselho fiscal da Associação a trilhar

todo o processo que lhes assegurem o acesso aos benefícios do Programa Brasil Quilombola.

Palavras Chave: Gestão Social, Desenvolvimento Local, Igualdade Racial, Políticas

Públicas, Comunidades quilombolas.

10

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA. E-mail: [email protected] 11

Professora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social Educação e Desenvolvimento Local. Centro

Universitário UNA. E-mail: [email protected]

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2.1 Introdução

Este artigo apresenta a pesquisa empírica realizada para investigar os obstáculos que

impedem a Comunidade Quilombola de conquistar seus direitos territoriais, garantidos pela

Constituição Brasileira e facilitados pelo Programa Brasil Quilombola. As evidencias

mostram que os processos de titulações dos territórios quilombolas em Minas Gerais são em

número insignificante, sujeitos a vários entraves burocráticos e desencadeadores de violência

no campo. Além disso, vigoram, ainda, em desfavor das causas quilombolas, as reações dos

setores mais conservadores, inseridos nos diversos níveis do Poder Público, federal, estadual e

municipal.

O reconhecimento oficial do território quilombola, por meio de certificação, não tem

garantido a efetivação da titulação, nem mesmo, a sustentabilidade e o desenvolvimento das

comunidades. Diante disso, pretende-se verificar a presença de entraves, de ordens várias,

junto aos quilombolas, que impedem à Comunidade pesquisada se habilitar a usufruir do

Programa Brasil Quilombola.

2.2 Metodologia

A pesquisa empírica empregou a abordagem metodológica qualitativa, com vistas em

aquilatar a relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito. O mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito não são traduzíveis em números, não se apresentam adequadamente

por meio de métodos e técnicas estatísticas. Dessa forma, buscou-se uma metodologia que

privilegiasse “o ambiente natural e a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador como

instrumento-chave” (SILVA, MENEZES, 2005, p. 20).

De encontro a essas convicções, essa pesquisa empírica, com fins exploratórios,

constituiu um estudo de caso único, junto a uma comunidade quilombola localizada em Minas

Gerais, com o objetivo de contribuir para o entendimento das causas que têm impedido o

acesso de comunidades quilombolas aos benefícios da política de promoção da igualdade

racial e ao Programa Brasil Quilombola. Não se desdenham aqui as restrições dessa

metodologia de pesquisa para a generalização de suas conclusões, mas consideram-se

importantes e adequadas as vantagens dos estudos de caso para a produção de conhecimentos

por um único pesquisador e num prazo relativamente curto, quais sejam: “[...] estimulam

novas descobertas, em função da flexibilidade do seu planejamento; enfatizam a

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multiplicidade de dimensões de um problema, focalizando-o como um todo e apresentam

simplicidade nos procedimentos, além de permitir uma análise em profundidade dos

processos e das relações entre eles” (VENTURA, 2007, p. 386).

Além disso, o estudo de caso possibilita investigar “um fenômeno atual dentro do seu

contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente

definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidência” (GIL, 2008, p. 58). Para isso

delimita-se e contextualiza-se um “tempo e lugar para que se possa realizar uma busca

circunstanciada de informações” (VENTURA, 2007, p 384). Essa é uma ferramenta utilizada

por pesquisadores sociais em pesquisas exploratórias, descritivas e explicativas, com distintas

finalidades, quais sejam:

[...] explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente

definidos; descrever a situação do contexto em que está sendo feita

determinada investigação; e explicar as variáveis causais de determinado

fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização

de levantamentos e experimentos (GIL, 2008, p. 58).

A pesquisa realizada tem caráter qualitativo e foi estruturada nas seguintes etapas:

coleta de dados, sistematização das informações, análise com discussão dos resultados.

Associaram-se diversas técnicas de pesquisa para o conhecimento da comunidade escolhida

quais sejam: a pesquisa bibliográfica e documental, a realização de entrevistas e a

metodologia de pesquisa-intervenção.

2.2.1 Sujeitos da pesquisa

Para realização das entrevistas, as amostragens não probabilísticas foram constituídas

em duas frentes: o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial e a Comunidade

Quilombola. No caso da Comunidade, essa amostragem foi sendo constituída à medida que se

encontravam pessoas dispostas a trocar ideias e informações. Portanto, essa amostragem foi

acidental, ou seja, composta por acaso, com aquém queria colaborar (SILVA e MENEZES,

2005). Simultaneamente a essas conversas, produziam-se as anotações dos depoimentos e

geravam-se relatórios, dos quais se tiravam as conclusões sobre a situação observada.

Apresenta-se a seguir, os sujeitos entrevistados:

1. Cinco conselheiros titulares do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial,

sendo, dois governamentais e três da sociedade civil para a obtenção não só de

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depoimentos, mas, também, de documentos. Entre os conselheiros entrevistados, 40%

eram negros e 40% brancos. A distribuição da escolaridade concentrou-se em 80%

portadores do ensino médio e 20% com ensino superior incompleto. Já, a distribuição

etária contemplou a maioria dos conselheiros com mais de 41 anos (60%).

2. O presidente da Associação da Comunidade Quilombola;

3. Apenas 3 quilombolas se dispuseram a dar depoimentos, pretendia-se abordar os

membros da associação por meio da aplicação das técnicas de Grupo Focal e Roda de

Conversa, porém encontrou-se muita dificuldade em conseguir voluntários dispostos a

participar dessas interações grupais. Em substituição, empenhou-se um esforço para se

obter depoimentos individuais, de pessoas encontradas por acaso e dispostas a

cooperar.

4. Um estudioso da comunidade. Este estudioso foi o responsável pela elaboração do

relatório antropológico parcial da comunidade, sendo este documento utilizado para

respaldar o processo de auto-declaração junto à Fundação Cultural Palmares.

5. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, tendo em vista ter sido um dos

responsáveis pela informação junto à comunidade a respeito do processo de auto-

declaração, sendo o mesmo responsável pela contratação do estudioso para elaborar o

relatório antropológico parcial.

2.2.2 Técnicas de pesquisa utilizadas, instrumentos de coleta de dados e cumprimento

dos requisitos éticos

O 1º contato com a Comunidade abordou o Presidente da Associação das

Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da Comunidade Quilombola, para apresentar o projeto

de pesquisa e solicitar a permissão para realizá-la na Comunidade. Com a mesma finalidade e

da mesma forma, foi feito contato com o Presidente do Conselho Municipal de Promoção da

Igualdade Racial.

Com o presidente da Associação e com os membros do Conselho foram realizadas

entrevistas semiestruturadas. Essas entrevistas foram padronizadas por meio de roteiros

previamente estabelecidos (Apêndices B e C). Conforme ensinam Silva e Menezes (2005) a

realização da entrevista, orientada por um roteiro, permite a repetição da pergunta ou a sua

formulação de maneiras diferentes para garantir o entendimento do interlocutor do que se

pretende compreender. Durante a realização das entrevistas, todas as informações foram

captadas por aparelho de gravador de modo a possibilitar o resgate fiel das informações.

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Entre os meses de junho a novembro de 2015, implementou-se a pesquisa intervenção.

Essa técnica proporcionou o contato com...

[...] a vida de coletividades na sua diversidade qualitativa, assumindo uma

intervenção de caráter socioanalítico [...] trata-se [...] de um dispositivo de

intervenção no qual se afirme o ato político que toda investigação constitui.

[...] a relação pesquisador/ objeto pesquisado é dinâmica e determinará os

próprios caminhos da pesquisa, sendo uma produção do grupo envolvido

(ROCHA e AGUIAR, 2003, p. 66-67).

Gabre (2012, p. 2) destaca os seguintes princípios norteadores da pesquisa

intervenção: “consideração das realidades sociais e cotidianas e o compromisso ético e

político da produção de práticas inovadoras”. A implementação da pesquisa realizada

observou as características da Pesquisa-intervenção, quais sejam:

1ª deve acontecer dentro do contexto pesquisado. 2ª É desencadeada pela

demanda, contribuindo na solução de problemas. 3ª O pesquisador atua

como mediador que articula, organiza encontros, sistematiza as vozes e os

saberes produzidos pelos sujeitos envolvidos na pesquisa, agindo num

processo de escuta ativa. 4ª Interação entre o pesquisador e os sujeitos da

pesquisa. 5ª As experiências cotidianas e práticas do coletivo,

sistematizadas, permitem descobertas e elaborações teórico metodológicas

(GABRE, 2012, p. 2-3).

Essa técnica contribuiu para romper com a “dicotomia que separa ‘sujeitos’ de

‘objetos’ de pesquisa” (MOREIRA, 2008, p. 430), em virtude de ser um instrumental para

produzir conhecimento com a Comunidade e para a Comunidade. Ao adotarmos pesquisa-

intervenção instauramos espaços de discussão entre quilombolas, conselheiros, poder público

sobre os direitos quilombolas e o acesso do mesmo ao Programa Brasil Quilombola.

O pesquisador conviveu com os membros da Comunidade durante um total de 12

sábados. Ao final de cada visita ele elaborou um relatório, por meio da recuperação do

registro mnemônico dos relatos informais, depoimentos, observações do cenário, enfim tudo o

que havia presenciado ou ouvido, assim como, também, as impressões e as reflexões acerca

das circunstâncias observadas.

Ao se deparar com a rede de poder e o jogo de interesses e os problemas

diagnosticados na Comunidade, por meio das informações coletadas junto aos entrevistados,

buscou-se intervir na solução de problemas específicos levantados pelos próprios

participantes da pesquisa, ou seja, os sujeitos envolvidos na pesquisa não foram apenas

informantes, mas protagonistas, pois suas concepções, valores e experiências foram refletidos

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na construção do conhecimento (ROCHA e AGUIAR, 2003; HASHIZUME E LOPOES,

2006; SALGADO, 2014).

Na pesquisa-intervenção, a relação pesquisador/objeto pesquisado é

dinâmica e determinará os próprios caminhos da pesquisa, sendo uma

produção do grupo envolvido. Pesquisa é, assim, ação, construção,

transformação coletiva, análise das forças sócio-históricas e políticas que

atuam nas situações e das próprias implicações, inclusive dos referenciais de

análise (ROCHA e AGUIAR, 2003, p. 72).

A implementação da pesquisa-intervenção na Comunidade Quilombola permitiu ao

pesquisador e pesquisados se conhecerem, aprenderem e se transformarem, pois todos se

posicionaram como parte do processo (HASHIZUME e LOPES, 2006).

A construção da pesquisa se deu de forma compartilhada, ou seja, com a Comunidade

Quilombola e não sobre uma comunidade quilombola, conforme recomendam Rocha e Aguiar

(2003, p. 73): “a relação pesquisador/objeto pesquisado é dinâmica e determinará os próprios

caminhos da pesquisa, sendo uma produção do grupo envolvido”.

A relação do pesquisador com os envolvidos na pesquisa foi além da simples

observação e coleta de dados, pois no decurso da pesquisa foi possível intervir e participar da

organização das atividades relacionadas a seguir:

1. Organização do I Encontro das mulheres da Comunidade Quilombola;

2. Organização e ministério de Curso de Elaboração de Projetos Sociais;

3. Prestação de consultoria para Associação Quilombola, elaborando ofícios para

poder público municipal e estadual visando reforma e ampliação da escola

situada na comunidade bem como a implantação da educação quilombola;

4. Elaboração do Projeto de Lei para a alteração do nome do distrito que abriga a

Comunidade Quilombola para um nome afinado com a identidade de seus

membros;

5. Elaboração do edital de convocação Comunidade para a eleição da diretoria e

conselho fiscal da Associação Quilombola, bem como, do regimento

regulamentador da eleição.

6. Elaboração do projeto técnico para a organização de evento para discutir o

tema da violência doméstica e familiar praticada contra as mulheres da

Comunidade.

7. Organização e participação do evento denominado “Mulheres do Quilombo

em Foco” realizado no dia 21 de novembro.

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O exercício do diálogo, em todas as oportunidades, tornou possível acessar elementos

palpáveis para formar percepções e construir a proposta de intervenção, disponível no terceiro

capítulo dessa dissertação, fundada nos objetivos e princípios da gestão social. Esse foi o

esforço realizado para fundar o entendimento da comunidade, por meio da tentativa de

apreensão da realidade vivida, em seu contexto social e histórico. Mas, sempre preservando os

entrevistados quanto às informações coletadas.

A pesquisa se iniciou após a submissão e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa

do Centro Universitário UNA. Encontram-se, anexos os respectivos termos cumpridos junto

aos sujeitos da pesquisa, a saber: Compromisso de cumprimento da Resolução 466/12 (Anexo

B), Termo de Autorização de uso de imagem e depoimentos (Anexo C), Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo D) e Autorização para a Coleta de Dados (anexo

E). Assim, foram cumpridas todas as recomendações contidas na Resolução 466/2012 do

Conselho Nacional de Saúde e o projeto foi apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do Centro Universitário UNA, sob o número CAAE Nº 45021515.0.0000.5098,

(Anexo F).

2.3 Análise dos resultados: percepção da presença de entraves na Comunidade

Quilombola para o usufruto dos benefícios do Programa Brasil Quilombola

A análise realizada, para fins de perceber os fatores que entravam as ações dos

quilombolas na direção do exercício de seus direitos, especialmente aqueles viabilizados pelo

Programa Brasil Quilombola, orientou-se pela metodologia descrita por Gomes (2005).

[...] o contexto no qual a informação foi obtida, concordâncias entre as

opiniões dos participantes, [...] ideias principais, comportamentos, gestos,

reações, sentimentos, valores de ordem pedagógica, ideológica e ética,

preconceitos, dificuldades de compreensão das perguntas feitas,

entusiasmos, dificuldades no enfrentamento de desafios, aproveitamento dos

espaços de liberdade, etc. (GOMES, 2005, p. 287).

O objetivo dessa pesquisa empírica foi verificar, e qualificar, a existência de entraves

na Comunidade Quilombola que impedem o acesso às políticas públicas que a beneficia.

Nesse sentido buscou-se resposta às indagações sobre a capacidade de governança grupal,

investigando a existência, a esse nível, de problemas que a torna (ir)receptível aos benefícios

que a política de Governo Central pode proporcionar. Acredita-se, outro sim, que esses

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entraves poderiam estar relacionados à ausência de categorias afins com o paradigma da

gestão social.

Em síntese, buscou-se conhecer as dificuldades de a Comunidade Quilombola usufruir

da política de promoção da igualdade racial e dos benefícios do Programa Brasil Quilombola,

com vistas na proposição de uma proposta técnica, que proporcionasse contribuir para

habilitar a Comunidade focalizada a ser atendida pela política de igualdade racial de forma

efetiva, em sua implementação, e, quiça, incrementar a efetividade do Programa junto às

comunidades quilombolas em geral.

A seguir apresentam-se as percepções realizadas nos diversos momentos vividos na

Comunidade Quilombola.

2.3.1 Percepções extraídas dos antecedentes da Comunidade Quilombola e de sua

Associação.

Essas informações não condizem com as perspectivas esperadas para uma comunidade

certificada. Por essa razão, essa comunidade foi escolhida para ser contemplada pelo estudo

de caso, para se alcançar o entendimento das dificuldades de uma comunidade quilombola em

trilhar todo o processo de implementação da política de promoção da igualdade racial e se

habilitar a usufruir dos benefícios do Programa Brasil Quilombola.

Essa Comunidade Quilombola, segundo o presidente da Associação, é formada por

100 famílias praticantes da agricultura de subsistência e da pecuária leiteira. Encontram-se em

seu território uma escola de ensino fundamental, dois bares, um restaurante, uma igreja

católica, um templo evangélico e dois terreiros de Umbanda. A comunidade tem como

símbolo uma figueira centenária, embaixo da qual, segundo o presidente, os escravos se

reuniam para confabular.

A origem dessa Comunidade é bem compreendida se se retrocede na história

oitocentista do município onde está situada. Registros históricos atestam ter sido essa “uma

sociedade extremamente apegada ao regime escravista [...] onde a maioria dos proprietários

de escravos possuía de 1 a 19 escravos [...] havia senhores que possuíam 30, 40, 50, 64, 70,

106 até 137 escravos” (CARVALHO, 2010, p.12). Além do padrão de propriedade escrava, o

perfil demográfico e socioeconômico do município tem origem “no cerne da escravidão, [e

em virtude da] relação desta região com o tráfico de escravos intra e interprovincial e ainda

[aos] realocamentos de escravos na esfera interna do Termo” (CARVALHO, 2010, p.15).

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Carvalho (2010) encontrou, no arquivo histórico do município, 405 inventários, bem

como, livros de notas de compra e venda de escravos, onde foi localizada...

[...] uma grande quantidade de escravos chegando de outras províncias do

império e de outras regiões de Minas Gerais, inclusive alguns municípios

agroexportadores como Mar de Hespanha, Juiz de Fora. Encontramos nos

inventários e livros de compra e venda, escravos vindo da Bahia, Maranhão,

Ceará, Cuiabá, Pernambuco (Mato Grosso), Paraíba do Norte, Bagagem

(Minas Gerais), Rio Claro, Santo Antônio dos Montes entre outros

(CARVALHO, 2010, p.15).

Já, na segunda metade do século XIX, o município, submetido às leis emancipatórias,

sofreu uma redefinição conjuntural e política, que forçou uma reorientação ideológica

senhorial e jurídica, onde se buscou condições para realizar a abolição gradual da escravatura,

ao mesmo tempo, em que davam aos escravos recursos sociais e legais. Isso colocava os

proprietários de escravos em situação difícil e ameaçadora para a sua autoridade moral

(CARVALHO, 2010, p.15). Durante esse período, muitos escravos foram libertos e houve um

aumento importante de negros e mestiços livres, donos de sua liberdade e usufrutuários dos

mesmos direitos dos homens livres.

[...] as arengas entre senhores com seus escravos elevam-se grandiosamente,

não somente no campo interno à propriedade, como também nas barras do

direito positivo em construção. Principalmente, no tocante as regras

costumeiras e os direitos criados pelos escravos a partir das cobranças e

obrigações paternalistas e morais, as quais o senhor, para manter sua

autoridade na propriedade estava sujeito (CARVALHO, 2010, p.21).

Com a perda da legalidade da escravidão e a libertação dos escravos, os senhores

reestruturam suas relações de domínio social e pessoal com o intuito de produzir um

trabalhador livre, porém, dependente e subordinado (CARVALHO, 2010). Essas relações foram

construídas a partir dos parâmetros hierárquicos sociais tradicionais estabelecidos pelas relações

escravistas e definiram e orientaram os comportamentos “tanto de ex-senhores e ex-escravos com suas

famílias e comunidades” (CARVALHO, 2010, p. 22).

Segundo Carvalho (2010), as libertações eram acompanhadas de doações em dinheiro,

utensílios e terras aos ex-escravos libertos. Essas doações, segundo o autor, contavam

extensões consideráveis, assentando comunidades de ex-cativos e suas famílias expandidas

(pai, mãe, filhos, tios, avós, primos) e estendidas (inclui também todos os elementos

admitidos pelo casamento, por compadrio e por amizade) (CARVALHO, 2010). Essa foi uma

estratégia maquinada para fixar a “mão-de-obra do trabalhador juridicamente livre na região,

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mantendo-o sob os auspícios do poder da família dos antigos senhores” (CARVALHO, 2010,

p.23). Entretanto tais concessões se converteram em direitos.

[...] as resistências e conquistas pela luta social e jurídica empreendida pelos

ex-escravos, se por um lado fragmentou o ideal paternalista escravocrata, por

outro se aprofundou em suas novas faces dominadoras geradas antes da

abolição e reproduzidas nos períodos posteriores. E estas raízes se

fundamentaram na estrutura de poder local e sistematizaram a dependência

da população liberta, afrodescendente e predominantemente pobre em

relação aos grandes políticos locais, fazendeiros negociantes que, de certa

forma, determinavam, com suas influencias, as redes de favores,

mandonismo, violência e subordinação social dentro de um arcabouço

concentrador de poder em moldes extremante opressores, aviltantes e

autoritários (CARVALHO, 2010, p.25).

É nessa conjuntura histórica, permeada por conflitos e afirmação de poder da

sociedade municipal, que os ex-escravos testemunharam “a perda da legitimidade do regime

escravista e as novas relações de liberdade como posseiros, proprietários de terras, agregados”

e assistiram à “reconfiguração hegemônica do poder [...] em torno da construção de um centro

político dado por meio da conciliação entre liberais moderados e conservadores”

(CARVALHO, 2015, p. 19). Assim...

As estruturas de poder e a organização socioeconômica e política construídas

[no município], desde o período colonial e imperial, acabaram criando um

imaginário coletivo e social que afirma, culturalmente, desde a infância dos

habitantes desta localidade que, para se ter um emprego e uma segurança,

bem como para sobreviver com certa dignidade deve-se estar subordinado a

um poderoso senhor local. Senhor que como um pai cuida de seus protegidos

e castiga os desobedientes. Sabemos que em quase todo o Brasil esta é a

realidade vigente em quase todas as suas regiões, devido aos seus

fundamentos culturais, políticos, econômicos e sociais originários das

instituições e legislações portuguesas. Mas, ressaltamos essa realidade

referente [ao município], em razão da mentalidade mandonista, patriarcal,

patrimonial e atreladora, que apesar das grandes transformações ocorridas no

século XX e XXI, faz com que a população [...] ainda padeça severamente

por esta mentalidade estar incrustada em sua própria educação e maneira

predominante de ver o mundo. Visão esta que nem as Universidades e

instituições políticas ditas “democráticas” foram capazes de superar, visto

que nesta cidade a dependência de um chefe político e autoridade municipal,

para se conseguir um emprego ou qualquer outro meio de sobrevivência, na

maioria das vezes, é quase uma exigência curricular, do contrário

permanece-se no ostracismo ou à margem da sociedade local (CARVALHO,

2010, p.25-26).

Acredita-se, ter sido esse o contexto em que surgiu muitas Comunidades Quilombolas,

alvo da pesquisa. Sua origem ainda é incerta e segundo Sátiro et al. (2012, p. 14) não há

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“documento oficial que possa explicar e datar com precisão a origem dos primeiros moradores

da Comunidade Quilombola [...]”. Entretanto há três versões distintas a respeito da

procedência do grupo.

A primeira versão aponta que as terras foram doadas por um Coronel ao Senhor A.,

que deu nome à comunidade. A segunda narrativa defende que esse Coronel teria comprado

uma faixa de terras do Senhor A. Já, a terceira versão destaca que os primeiros quilombolas

dessa comunidade eram ex-escravos que após a abolição da escravatura foram morar nesse

local (SÁTIRO, et al. 2012).

Sátiro et al. (2012) ao pesquisarem o inventário de Proteção do Patrimônio Cultural do

município encontram menção ao perfil do Sr. A., fundador da comunidade, qual seja: ele

usava algumas palavras do idioma africano, por isso falava embolado, era benzedeiro e tinha

por costume usar um rosário no pescoço.

Outra referência relativa à Comunidade, citada pelos pesquisadores Sátiro et al. (2012)

e Carvalho (2015), é a Lei nº 556 de 30 de agosto de 1911 que, ao dispor sobre a divisão

administrativa de Minas Gerais, reconhece o sítio onde se localiza a comunidade. Além disso,

Carvalho (2015) localizou um extrato de divisão de terras que elucida as conexões regionais e

as múltiplas comunidades, encontrando ali as suas delimitações. De modo, que se pode

afirmar que o Estado reconhece a existência do território quilombola, objeto da pesquisa

empírica.

2.3.2 Percepções a cerca da rejeição social à condição de quilombola: o mito da

democracia racial e seus efeitos na comunidade

Os negros têm sido “submetidos a todo tipo de juízos, normalmente negativos e

pejorativos, sobre sua condição de diferente no plano sociocultural” (SILVÉRIO, 2002, p.

223). A diferença entre negros e brancos foi construída ao longo dos anos e tornou-se uma

forma de classificação. No contexto das relações sociais “de poder e dominação, essas

diferenças foram transformadas em formas de hierarquizar indivíduos, grupos e povos”

(GOMES, 2003, p. 76). Em consequência são produzidas as desigualdades raciais,

“decorrente da escravização dos africanos [...] principal fonte de geração e manutenção de

hierarquias sociais vinculadas ao pertencimento racial” (SILVÉRIO, 2002, p. 222).

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Essa hierarquização é percebida na Comunidade Quilombola e atua adversamente

sobre o seu potencial de desenvolvimento, pois seus moradores sentem vergonha de serem

identificado como quilombolas, conforme o depoimento do presidente da Associação:

[...] certa vez eu consegui umas vagas no curso técnico do Instituto para

jovens da comunidade, ai combinei com o diretor que ia mandar eles para

fazer inscrição no curso. Ficou combinado que era para eles dizerem que

eram moradores da Comunidade Quilombola. Passou alguns dias perguntei

se eles tinham feito a inscrição e qual motivo que não estavam frequentando

o curso. Eles disseram que tinham feito a inscrição e que não foram

chamados. Ai, fui atrás do diretor para saber qual motivo não tinham sido

aceitos no curso, ai o diretor falou assim: não tem nenhuma inscrição da

Comunidade, eles não veio fazer a inscrição. Falei para o diretor que eles

tinham vindo e pedi para conferir para ver se eles tinha feito a inscrição.

Fiquei surpreso pois eles tinha feito a inscrição, mas não identificou como

quilombola e sim com o nome do distrito e não como Comunidade

Quilombola. Isso tem acontecido, pois eles tem vergonha de falar que é da

Comunidade Quilombola. A maioria dos moradores daqui tem vergonha de

ser quilombola. Então ai a gente perde muito com isso. A gente explica para

eles mas eles não aceitam (PRESIDENTE, 2015).

Esse sentimento é confirmado por um jovem que participou do curso de elaboração de

projetos, ao afirmar: “tenho vergonha de ser quilombola, quando me pergunto de onde sou, eu

nunca falo que sou da Comunidade Quilombola”.

Em uma roda de conversa realizada por ocasião da realização do evento denominado

“Mulheres do Quilombo em Foco” no dia 21 de novembro para o lançamento12

do

“atendimento móvel às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar” participaram 16

mulheres da Comunidade e 2 da vizinhança. Ao serem indagadas sobre a identidade

quilombola, a maioria das participantes disse não se identificar como quilombola. Em

conversa com a equipe da Subsecretaria de Políticas para Mulheres, e da Subsecretaria de

Políticas de Promoção da Igualdade Racial essas mulheres relataram que um número

considerável de participantes chegou a mencionar a vergonha de ser quilombola.

Acredita-se que a negação da identidade quilombola advém de ações racistas

vivenciadas no cotidiano da Comunidade. Essa não é uma manifestação isolada, decorrem de

processos relacionados com questões sociais, políticas, econômicas e culturais. Essa negação

identitária instiga a compreender “como os diferentes povos, ao longo da história,

classificaram a si mesmos e aos outros, como certas classificações foram hierarquizadas no

12

Lançamento realizado pelo secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania,

Nilmário Miranda, e pelas equipes da subsecretaria de Políticas para Mulheres, e da Subsecretaria de Políticas de

Promoção da Igualdade Racial.

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contexto do racismo e como este fenômeno interfere na construção da autoestima” (GOMES,

2003, 77).

Em sua atuação para a implantação do Programa Brasil Quilombola em Minas Gerais,

parte da função profissional do pesquisador, ele ouviu de lideranças de comunidades

quilombolas a seguinte afirmação:

[...] uma comunidade quilombola inicia por meio de um agente público ou de

algum membro da comunidade que tem conhecimento a respeito dos

procedimentos de autodeclaração, que é passado para quatro moradores que

se transforma em doze, número necessário para forma uma associação. Estes

doze reúnem a comunidade em uma assembléia para criar a associação e ao

mesmo tempo fazer a autodeclaração. A comunidade até participa, e vota

favoravelmente, mas muitos sequer sabem o que é uma comunidade

quilombola. Não é feito um trabalho com os moradores da comunidade sobre

a história da comunidade, sobre a identidade quilombola, ancestralidade.

A dificuldade dos quilombolas de várias comunidades, em geral localizadas em áreas

rurais, em se reconhecerem como quilombolas e com direito à terra que habitam, torna

praticamente impossível avançar com a implementação dos benefícios oferecidos pelo

Programa Brasil Quilombola. Dutra (2011, p. 10-11) cita experiência similar do Baixo Sul da

Bahia...

[...] um conjunto de comunidades negras rurais passa a assumir a identidade

quilombola [...] “imposta” pelos governos municipais como forma de

angariar recursos federais – e se organiza para garantir seus direitos,

tornando-se rapidamente um novo ator político coletivo na região”. [...]

Essas comunidades têm se organizado a partir da pressão dos governos

municipais, [que] começaram a “estimular” seu reconhecimento legal sem

que elas sequer soubessem do que se tratava.

Isso pode gerar questionamentos sobre a identidade étnica dos quilombolas, como se

estivessem forjando a identidade quilombola. No caso da comunidade pesquisada, o fato de

não se reconhecerem como quilombolas pode vir a reforçar o discurso dos não quilombolas

que moram na comunidade, que dizem: “aqui não existe comunidade quilombola, isso é

invenção de algumas pessoas”.

Dutra (2011), ao citar o ocorrido na região do Recôncavo Baiano, onde a comunidade

de São Francisco do Paraguaçu foi alvo de uma reportagem no ano de 2007 do Jornal

Nacional da Rede Globo em horário nobre, demonstrou que a comunidade havia forjado a

identidade quilombola, não existindo quilombolas ali. Além disso, os supostos quilombolas

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estavam depredando a natureza. Esse tipo de repercussão retira a legitimidade de um

movimento autêntico.

No ano de 2006, 7 pessoas dessa comunidade (que na época contava com uma

população de aproximadamente 350 moradores), pediram ação cautelar junto ao judiciário

“solicitando revisão do reconhecimento por não serem quilombolas e por estarem sendo

coagidas a assumir identidade falsa [...] o processo de reconhecimento é paralisado por um

ano e meio” (DUTRA, 2011, p. 35).

Ao longo do ano de 2007, o Observatório Quilombo / Koinonia registrou...

[...] mais de 60 reportagens contrárias publicadas [...] com títulos como

“Quilombos reais x quilombos suspeitos” e “É ou não é quilombo?” o

telejornal de maior audiência no Brasil – Jornal Nacional da Rede Globo –

questionou a identidade étnica de muitos dos grupos quilombolas que lutam

por suas terras (DUTRA, 2011, p. 27).

Fazendeiros têm empregado como estratégia a manipulação econômica e afetiva de

pessoas das comunidades para enfraquecer a luta quilombola e inviabilizar ações que venham

a assegurar o direito à terra. Dutra (2011) cita estratégia utilizada por fazendeiro para gerar

conflito com as lideranças e dividir a comunidade, qual seja, a criação de outras associações

que por terem vínculos e relações políticas conseguem proporcionar benefícios às

comunidades, evitando assim buscar o direito à titulação do território.

De acordo com Dutra (2011) a solução encontrada pelo Observatório Quilombola

Koinonia para fortalecer e empoderar os quilombolas foi promover intervenções junto às

comunidades, por meio da realização de cursos, encontros, seminários e produção de material

didático, no qual o tema central seria o direito territorial e o reforço da identidade legítima.

Há resistências desde o princípio com o próprio termo “quilombola”, que

historicamente é uma designação acusatória, e há a necessidade de se fazer o

caminho da afirmação da identidade de maneira que as comunidades possam

“traduzir” suas categorias nativas de autoidentificação com esta nova

categoria (DUTRA, 2011, p. 59).

Então, é importante entender o conjunto de representações sobre o negro na sociedade

brasileira e desconstruir as representações negativas e os diversos estereótipos causadores da

baixa autoestima presente na Comunidade.

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2.3.3 Percepção com respeito a falta de confiança nas lideranças e nas representações

existentes

O baixo poder de articulação da Associação foi percebido pela falta de confiança dos

moradores da comunidade nas lideranças e nas representações existentes, ou seja, a falta do

“Poder Humano Quilombola”, denominado por teóricos como “Capital Social”. Sem esse

poder humano, decorrente da articulação dos membros da comunidade em arranjos coletivos,

a Comunidade dificilmente conseguirá se beneficiar das políticas que a contemplam.

Motta (2010) ao conceituar “Capital Social” cita Pierre Bourdieu, James S. Coleman

onde os mesmos fazem alusão aos grupos sociais, coletivos e comunitários. Para Bourdieu

capital social são relações duráveis, institucionalizadas ou não, com reciprocidade de

conhecimento e reconhecimento, sentimento de pertencimento ao grupo, onde se possa

assegurar “o volume de capital (econômico, cultural, simbólico) de cada um daqueles aos

quais está ligado, sancionando e reforçando as distinções de classe” (MOTTA, 2010, p. 1).

De acordo com Motta (2010), Coleman baseado na teoria do capital humano vai

afirmar não haver “estrutura hierarquizada e nem negativa; perpassa todos os grupos, é

igualitário e benigno”, argumenta “que familiares e recursos da comunidade são fatores

potenciais de compensação das desvantagens econômicas”, beneficiando não somente o

indivíduo, mas a sociedade como um todo (MOTTA, 2010, p. 1).

Motta (2010) ao citar Putnam (2002) se deslocou para o associativismo, para as

organizações sociais, redes e normas que inserem comportamentos de confiança e cooperação

entre pessoas e instituições em benefício mútuo, como sinônimo de “cultura cívica”.

Sendo assim torna-se necessário trabalhar junto à diretoria da Associação e a

comunidade valores tais como confiança, cooperação, solidariedade, participação,

colaboração como forma de primeiro os moradores voltem a ter confiança na Associação e

nas lideranças e segundo fortalecer o poder articulador e mobilizador da Associação

Quilombola para que possam se esforçar coletivamente, formar redes sociais, para assim

tornarem capazes de suprir suas necessidades imediatas e superar seus problemas (MOTTA,

2015).

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2.3.4 Percepção do desconhecimento do direito à titulação do território da Comunidade

Quilombola

Já se passaram 27 anos de reconhecimento do direito de propriedade da terra ocupada

pelos quilombolas. Durante todo esse tempo, somente 1 comunidade quilombola foi titulada

em Minas Gerais. Na comunidade pesquisada, o presidente da Associação disse, ter ouvido

dizerem, que duas famílias têm a escritura das suas terras. A tentativa de confirmação dessa

informação foi infrutífera, mas, os moradores questionados afirmaram não possuírem

escritura do imóvel onde moram. Esses moradores se surpreenderam, por desconhecimento,

ao serem informados sobre o direito conferido aos quilombolas de obterem a titulação

definitiva de suas terras.

Percebeu-se a menor preocupação com essa questão, do que com o acesso às políticas

públicas sociais básicas, tais como: educação, saúde, trabalho, etc. Notou-se nos depoimentos

dos moradores, que a Comunidade anseia, preferencialmente, suprir outras demandas, quais

sejam: construção de um posto de saúde, cursos profissionalizante, construção praça, reforma

da escola, calçamento das ruas, saneamento básico. Ainda não tem sequer noção do que venha

a ser a titulação das terras.

O Decreto n° 4.887, de 20 de novembro de 2003 e a Instrução Normativa INCRA n°

20, de 19 de setembro de 2005, dão os marcos legais atuais deste processo e determinam que

o Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (art. 3º do dec. e art. 5º da Instrução Normativa do INCRA) seja o órgão

responsável pela titulação.

De acordo com o Decreto, a titulação é uma ação concorrente. Os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, também, têm competência para titular. Além disso, esses entes

públicos podem fazer convênio entre si para processar a titulação, quer seja por meio da

realização de elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), quer

por demais atos (a identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação) podem

e devem ser realizados diretamente pelos órgãos fundiários ou com a colaboração de outras

entidades, por meio de convênios.

2.3.5 Percepção do desconhecimento do Programa Brasil Quilombola

O Programa Brasil Quilombola (PBQ), do Governo Federal, oferece benefícios às

comunidades quilombolas relativos à titulação do território e ao acesso prioritário aos

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programas sociais e às linhas de financiamento para o acesso aos serviços públicos, muitas

das vezes, inexistentes. A responsabilidade pela implementação do Programa é compartilhada

pelos três níveis de Governo: o Federal, o Estadual e o Municipal.

Ao longo da pesquisa empírica, observou-se o desconhecimento dos quilombolas em

relação à esse programa. Conforme pode ser constatado no depoimento do presidente “[...]

vou ser sincero com você, eu não conheço o Programa Brasil Quilombola, você poderia me

dizer o que é esse programa e como a gente pode trazer para nossa comunidade”

(PRESIDENTE, 2015). Da mesma forma, se manifestaram os Quilombolas 1, 2 e 3 afirmando

não saberem o que venha ser o PBQ.

Já os conselheiros entrevistados afirmaram conhecer o Programa, porém a

Comunidade, até o momento da pesquisa, não teve acesso aos seus benefícios. Quando

indagados sobre o motivo de a Comunidade não ter acesso, ao programa, os conselheiros

responderem de diversas maneiras, tais como: a Comunidade não se aceita enquanto

comunidade quilombola; há falta do título da terra; há necessidade do poder executivo fazer

convênio com o Governo Federal; há fragilidade do Conselho; há falta de projeto.

Mesmo com essas dificuldades elencadas acima, o Conselho tem se empenhado para

conseguir acessar aos benefícios proporcionados pelo Programa Brasil Quilombola, contudo,

eles acreditam que a participação da Comunidade no Conselho deveria ser mais atuante. A

falta de ação da Comunidade e o desinteresse por parte do poder público foram apontados

como fatores chaves para inviabilizar o acesso aos benefícios do Programa.

A própria Comunidade se não corre atrás dessa parte, porque tem coisa que a

gente consegue fazer pela Comunidade mais tem coisa que a própria

Comunidade tem que fazer, não consegue [que seja] feito

(CONSELHEIRO 1).

A dificuldade principal é que não existe quilombola [no município] porque

eles não se auto declaravam quilombolas, eles começaram a se declarar

agora em janeiro de dois mil e quinze. Eu acredito que agora, [de] dois mil e

quinze [para] dois mil e dezesseis, a gente passa a conseguir com maior

facilidade, ou menor dificuldade, qualquer benefício lá pra comunidade

dentro do Programa Brasil Quilombola, por que agora nós temos pelo menos

setenta e cinco famílias de quilombolas dentro [do município] por que eles

começaram a se auto declarar como quilombolas. (CONSELHEIRO 4)

2.3.6 Percepção de dificuldades de atuação efetiva da Associação

A Comunidade conta Associação das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais da

Comunidade Quilombola, cuja finalidade é zelar pelos direitos trabalhistas e sociais dos

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trabalhadores da Comunidade. A Associação foi instituída em Assembleia Geral, em 12 de

abril de 2012, e teve papel relevante no processo de auto reconhecimento da Comunidade

junto à Fundação Cultural Palmares, cujo resultado foi a sua certificação.

Os documentos da Associação mostram tratar-se de uma associação civil sem fins

lucrativos, constituída para representar os interesses da Comunidade por prazo indeterminado.

Sua estrutura organizativa comporta a Assembleia Geral, a Diretoria e o Conselho Fiscal.

O presidente da Associação descreveu o processo de sua criação:

A associação na época não ia ser uma associação quilombola. A Associação

só é quilombola por causa da minha tia. Minha tia falava [o dialeto que

denomina a comunidade] ai [...] nois começou a pesquisar por que [...] ai

minha madrinha [portadora de] Alzheimer [...] falou [...] que aqui era uma

comunidade quilombola que aqui foi fundado pelos escravos, os escravos

que fundô lá os primeiros moradores da comunidade ai nois foi puxando,

puxando, puxando, ai nois criô a Associação, ai foi procurar saber dos

reconhecimentos (PRESIDENTE)

Os principais interesses da Associação se referem à defesa dos direitos quilombolas,

junto aos órgãos governamentais, com destaque para a titulação do território, conforme

disposto no artigo 68 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT/1988).

Outras prioridades da Associação são: promoção do desenvolvimento econômico e social de

caráter coletivo; a garantia de relações fraternas de apoio mútuo e solidariedade entre seus

membros; a troca de conhecimento e experiência com outros grupos de remanescentes de

quilombos em Minas Gerais, dentre outras (ESTATUTO SOCIAL DA ASSOCIAÇÃO,

2012).

Existe resistência interna na Comunidade, à Associação Quilombola, exercida por uma

moradora, que exerce uma função relevante junto aos seus membros.

[...] ela é quilombola, tem um centro de candomblé aqui na Comunidade, é

benzedeira. Ela é descendente direto do fundador da Comunidade, mas

infelizmente ela é contra tudo da Associação. Ela trabalha contra, a mando

dos poderosos, tem trabalhado a mando dos políticos aqui da cidade para ser

contra nós. Quando nós estava criando a Associação [liderança política da

cidade] foi contra nós ser quilombola, disse que isso é invenção nossa. Ele

tentou por meio dela não deixar registrar a Associação e nem fazer a reunião

de auto-declaração de quilombola. Ele deu um cargo para ela ser a prefeita

do distrito. Ouvi fala que ela ta recebendo da Prefeitura três mil reais. O

pessoal daqui tem medo dela. Quando a gente faz um evento ela corre e faz

outro evento no mesmo dia e mesmo horário para o nosso evento ficar vazio.

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Essa estratégia de dividir internamente os quilombolas tem sido uma prática recorrente

em muitas comunidades pelo Brasil afora. É uma tentativa de desarticular os quilombolas e,

assim retardar o processo de titulação das terras. Pelo que se pode observar, tem havido um

esvaziamento das atividades da Associação. O levantamento das atas de Assembleias Gerais

mostrou que essas não estão se reunindo, deixando de cumprir seu papel deliberativo, ou seja,

a gestão participativa não está acontecendo.

Hoje se eu te falar que tamo reunindo direto, eu tô te mentindo, hoje eu as

vezes, reúno aqui com minha cumade a gente conversa porque ela é

secretaria da Associação mais com os membros tudo igual, eu te falei num

tem mais tem lá no livro de ata nos registros da Associação acabou. Num

tem mais você chega perto das pessoas pra discutir sobre a associação, eles

finge que cê num tá falando nada, finge como que é surdo cego e mudo, fica

colocando empecilhos a não tô tendo tempo pra isso pra quilo

(PRESIDENTE)

Conforme observado a partir desse depoimento, o Estatuto não está sendo cumprido.

Inexiste plano de ação e não se executam os planejamentos de curto, médio e longo prazos.

Os problemas da Comunidade não são discutidos com a diretoria e muito menos com a

Comunidade.

Eu mesmo abordo, eu mesmo procuro o problema, um exemplo igual da

escola a professora da escola fala pra minha esposa e ela fala pra mim da

reforma da escola, ai você tenta procurar na secretaria, só que, porem, eu não

fui na secretaria, eu fui procurar direto você, porque eu pensei, talvez o

Clever sabe de um projeto que consiga arruma isso ai pra nós. E outras

coisas eu vou atrás dos vereador sobre água, tipo, tá faltando agua aqui, ai

vou atrás é assim que resolve (PRESIDENTE).

De acordo com o artigo 21 do Estatuto, a diretoria deveria reunir-se mensalmente e

extraordinariamente, mediante convocação, com pelo menos 2 dias de antecedência, porém

isso não tem acontecido.

Na época era doze pessoas mais fora os membros da Comunidade, era doze

pessoas só que assim as pessoas achou que ser presidente, ser membro da

Associação, assim, achou que ia ganhar dinheiro, só que foi muito bem

explicado: gente a Associação não recebe nada, e não paga ninguém. A

gente vai lutar pra trazer alguma coisa pra comunidade, só que muitos

engoliu e muitos não engoliu, ai ficou um, quatro cinco mês, e foi afastando.

O fulano tem reunião até eu vou, ai, chegava no dia da reunião e nada, ai, foi

só ino, ino e ino. [Hoje quantas pessoas estão com vocês?] Eu, meu cunhado

aqui, que me ajuda, aqui tadinho, que no tempo dele me da uma força, a

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minha cumade, que tá doente, e não pode ir, e o [jovem morador] que agora

entrou (PRESIDENTE).

É evidente o não exercício, por parte da atual diretoria da Associação, do

protagonismo no processo de desenvolvimento do território quilombola, devido à inexistência

de uma gestão social focada na participação coletiva. A gestão da Associação é centralizada

na pessoa de seu Presidente. As decisões não são tomadas em conjunto com os moradores.

[...] não tem conseguido cumprir com as metas. [Segundo ele,] quando os

problemas surgem na comunidade deveria ser levado para a Associação

resolver. Isso acontecia quando tinha reuniões, hoje não temos mais reunião

na Associação (QUILOMBOLA 1)

O Conselho Fiscal, órgão de controle interno da Associação, tem a atribuição de

fiscalizar os atos de gestão da entidade. É constituído por três membros titulares e três

suplentes eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de três anos. Seus membros devem

examinar e emitir parecer sobre os livros de escrituração da associação e o balancete

semestral apresentado pelo tesoureiro, apresentar relatórios de receitas e despesas sempre que

solicitados e opinar sobre a aquisição e a alienação de bens. O Conselho Fiscal deve reunir

ordinariamente a cada três meses e extraordinariamente sempre que necessário, entretanto,

esse órgão não tem cumprido com as suas atribuições e nem sequer se reúne com a

periodicidade definida, sendo, portanto omisso e inoperante.

A Associação tem que prestar contas, observando, minimamente, os princípios

fundamentais de contabilidade e as normas brasileiras de contabilidade. Ressalte-se que a

diretoria da associação não tem cumprido seu papel de gestor dos processos de organização da

Comunidade Quilombola, garantindo e incentivando a liberdade de opinião e a expressão dos

membros da comunidade.

2.3.7 Percepção com respeito às dificuldades do Conselho Municipal de Promoção da

Igualdade Racial

O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, criado por lei em 2007, é um

órgão vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social do município. É

composto por 12 conselheiros, conforme a seguir: 6 representantes da área governamental,

indicados pelo Prefeito; e 6 representantes da sociedade civil organizada, mediante indicação

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das respectivas bases. Para cada representante titular há um suplente do mesmo segmento

(CAMARA MUNICIPAL, 2007).

Os representantes da área governamental são oriundos dos seguintes órgãos: Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Social; Secretaria Municipal de Administração e Recursos

Humanos; Secretaria Municipal de Educação e Esportes; Departamento Municipal de Saúde

Pública; Fundação Municipal de Cultura; Polícia Civil e Policia Militar (CAMARA

MUNICIPAL, 2007).

Quanto aos representantes da Sociedade Civil, estão presentes as seguintes

instituições: 3ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil; Pró- Mulher; Associações de

Bairros; Sociedade São Vicente de Paulo; Organizações Não-Governamentais legais; e

movimentos representativos das minorias raciais sediados no município (CAMARA

MUNICIPAL, 2007).

Em 13 de julho de 2015, em reunião plenária do Conselho, o projeto que deu origem à

pesquisa foi apresentado para os conselheiros. Na ocasião, informou-se e discutiu-se com os

conselheiros sobre as possibilidades de o poder público apresentar proposta para atender às

demandas da comunidade quilombola, bem como, fortalecer a política de promoção da

igualdade racial por meio do chamamento público da SEPPIR para o financiamento de

projetos.

A plenária estava esvaziada, com baixa participação do poder público. O processo de

criação do Conselho possibilita entender esse esvaziamento. Segundo os conselheiros

entrevistados, o Conselho foi criado por pressão do movimento negro local, que há cerca de

30 anos atrás vinha discutindo a criação de uma instituição onde pudessem debater as

questões relacionadas à exclusão do negro.

Olha o processo ele foi empírico né foi ao longo dos últimos trinta anos

houve uma discussão dentro da militância ai chegou a conclusão que nos

precisamos ter uma trincheira de poder dentro do poder publico pra onde

pudéssemos discutir nossas causas e ai foi criado no mandato do [...] prefeito

M. A. No apagar das luzes lá ele criou a lei quatro mil e seis de dois mil e

três foi criado o conselho municipal de promoção da igualdade racial

(ENTREVISTADO CONSELHO 04, 2015).

O Conselheiro 1 relatou que “ao longo dos últimos 30 anos” desde a década de 1980

quando começam a surgir os conselhos de comunidade negra. O primeiro, de que se tem

notícia, foi o Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (CPDCN),

em São Paulo no governo de Franco Montoro, “criado em 1984 como resposta governamental

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às lutas empreendidas por diversas organizações negras ao longo do século 20” (SÃO

PAULO, 2010, p. 9).

A partir da criação do CPDCN, começaram a surgir em outros estados e municípios

outros conselhos voltados para o enfrentamento ao racismo, a participação e o

desenvolvimento da população negra. Em Minas Gerais, o Conselho de Participação e

Integração da Comunidade Negra (CCN) foi criado em 1988.

Importante destacar que a criação de conselhos para comunidade negra tinha objetivos

explícitos de combater o racismo e ao mesmo tempo promover a gestão social e

desenvolvimento da população negra, ou seja, “ao longo de sua atuação, o CPDCN esteve na

vanguarda das ações participativas e emancipatórias” (SÃO PAULO, 2010, p. 12).

O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial foi criado em 2007, por

meio de lei, e, segundo os conselheiros entrevistados, foi um processo de muita discussão e

pressão.

Foi uma briga bem ferrenha falando curto e grosso, foi tipo assim uns

queriam outros não, muita gente pra falar e pouca gente pra fazer, foi

bem custosa tanto é que do inicio eu não participei mais por tudo que

eu já ouvi os cabeça. (CONSELHEIRO 5) [...] houve um debate muito forte porque a gente precisava que o Conselho

fosse deliberativo e ele não concordava com isso. Depois de uma longa

discussão eu pessoalmente com o E, com o V, o M constituímos uma

comissão (CONSELHEIRO, 4).

Porém a lei que criou o Conselho não contemplava a proposta do movimento negro, de ter um

conselho deliberativo,

[...] e fomos ate ele pra falar dos nossos anseios que a lei não nos

comtemplava. Ou aprova a lei desse jeito ou então não vai ter o conselho ai

nos concordamos com aquilo de acordo com o presidente da câmera na

época [...] ele falou não pode aprovar do jeito que for depois a gente faz um

emenda na lei e muda o que for necessário de acordo com a vontade de

vocês e ate hoje de dois mil e três ate agora tem doze anos nos não

conseguimos mudar a lei e o conselho embora delibere ele é de origem

consultivo (CONSELHEIRO 4).

De acordo com a lei que criou o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial

(CMPIR) trata-se de um “órgão consultivo, das políticas que visem à promoção da igualdade racial e

implementação de programas”. Sua estrutura é composta por: Plenária, Mesa Diretora, Secretaria

Executiva, Comissões Temáticas Permanentes e Temporárias.

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Mesmo sendo um conselho paritário com representação governamental e não governamental,

suas competências estão elencadas no artigo 4º da Lei xxxx/2007, quais sejam: sugerir, propor e nunca

deliberar, ou seja, o poder público cumpre se quiser. Segundo os entrevistados a Comunidade

Quilombola não participou do processo de criação do Conselho. Vieram a participar após o seu

reconhecimento como comunidade quilombola. Desde então, houve uma aproximação do Conselho à

Comunidade.

A Comunidade [...] ela veio muito depois disso então que foi também um

processo criado dentro do sindicato dos trabalhadores rurais do qual eu fiz

parte o A. fez parte o M. J. da S. que é o presidente do conselho fez parte nos

tivemos lá [onde] fizemos o levantamento ai depois o [...] antropólogo

entrou fazendo o trabalho de levantamento histórico e documental da

comunidade foi criado, então na construção do Conselho [...] a Comunidade

Quilombola não participou porque eles vieram depois disso o

reconhecimento dele foi muito depois disso (CONSELHEIRO 4).

Quanto ao tempo de atuação dos entrevistados no Conselho, apenas 1 está atuando

deste a sua criação. Um dos membros está ha cinco anos e os demais, entre 2 a 1 ano. A

maioria dos entrevistados se inseriu no Conselho por indicação das instituições membros. São

voluntários, oriundos de instituições do movimento negro. No caso dos representantes

governamentais estão lá por indicação do prefeito.

Os conselheiros entrevistados mostram sensibilidade pela temática da igualdade racial,

a maioria deles teve influência do exemplo de luta de alguma liderança e diante disso se

interessou pela questão e aceitou participar do Conselho. Isso é perceptível no depoimento

dos entrevistados, a seguir:

Eu passei a frequentar o Conselho por causa do N. (CONSELHEIRO 1).

Conheci alguns membros que são bastante atuantes não só na militância da

igualdade racial como também em diversos outros setores da sociedade são

bastante atuante o A., o N. o M. do sindicato rural então como eu conheci

eles eu pascsei a interessar também sobre essa questão (CONSELHEIRO 2).

[...] eu já vou fazer quarenta anos de liderança comunitária toda vida eu

trabalhei com senso de justiça com senso de igualdade porque a

desigualdade pra min ela nunca foi bom porque uma vez que você eleva um

abaixa o outro então eu acho que a gente tem que caminhar juntos com o

mesmo tom a mesma palavra o mesmo objetivo e reconhecendo os valores

que são principais e iguais (CONSELHEIRO 5).

Os entrevistados, em sua maioria, reivindicam a igualdade racial. Entretanto, um deles

(CONSELHEIRO 5) se destacou por apresentar reivindicações diferentes, qual sejam: o

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controle social, o empoderamento da sociedade civil, em detrimento do poder público local,

ao qual ele atribui o controle exclusivo da sociedade.

Eu defendo que o Conselho tem que ser em [em]ponderado ele é um controle

social então quando se fala em controle social no meu entendimento é a

sociedade civil controlando as ações do governo e aqui [no município] isso

não acontece [...] o que acontece é o poder publico controlando a sociedade

civil (CONSELHEIRO 5).

Essa fala corrobora com a percepção de Carvalho (2010) sobre a vigência do

“coronelismo” autoritário no município, ao fazer a seguinte reflexão:

As estruturas de poder e a organização socioeconômica e política construída

no [município], desde o período colonial e imperial, acabaram criando um

imaginário coletivo e social que afirma, culturalmente, desde a infância dos

habitantes desta localidade que, para se ter um emprego e uma segurança,

bem como para sobreviver com certa dignidade deve-se estar subordinado a

um poderoso senhor local. Senhor que como um pai cuida de seus protegidos

e castiga os desobedientes (CARVALHO, 2010, p. 25).

Quanto à relação do Conselho com a Comunidade Quilombola, os entrevistados

disseram adotar uma política de aproximação com ela, por meio do presidente da Associação,

representante da Comunidade no Conselho. Entretanto os depoimentos apontam certa

dificuldade de diálogo com os habitantes da Comunidade Quilombola, devido aos seguintes

fatores: é uma comunidade muito fechada; há desunião entre os seus habitantes; há

dificuldade de participação dos seus representantes nas atividades do Conselho.

De acordo com os entrevistados, o Conselho tem procurado dialogar com a

Comunidade. Os quilombolas são convidados a participar das suas reuniões para fazer um

trabalho conjunto e o Conselho realiza visitas à comunidade.

[...] a gente tem tentado buscar valorizar chamar eles pra cá para o Conselho

para a gente debater mais infelizmente o outro lado ainda não tem

respondido mais a gente continua insistindo pra que eles venham com a

gente debater pra que a nossa relação seja bem mais forte (CONSELHEIRO

5).

[...] o Conselho fez uma vista porque partiu uma denuncia falando que a

agua estava contaminada esses tipos de coisa então o Conselho procurou ir

ate o local procurou ver a situação né dos [quilombolas] e assim tá tendo

uma parceria boa correndo atrás em busca disso dai (CONSELHEIRO 3).

O Conselho tem buscado promover, proteger, prospectar e restaurar os direitos

quilombolas, por meio de ações junto ao poder público. Todavia, por suas funções terem

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caracteres apenas consultivo e propositivo, suas recomendações não têm força de lei. Os

depoimentos demonstram essa fragilidade. O Conselheiro 1 explicou:

Tem tentado ver esse caso de perto qual é a atual realidade dos quilombolas,

mais a questão é a incompatibilidade de horários, tá sendo corrido tá, poderia

ser mais feito, poderia, mais como nosso Conselho não é deliberativo ele é

consultivo então muitas vezes não depende só da gente muitas vezes a gente

fica refém do bendito do poder publico (CONSELHEIRO 1).

O Conselheiro 4 informou que o Conselho participou do processo de autodeclaração

da comunidade junto à Fundação Cultural Palmares.

[...] o [presidente da Associação] trouxe essa questão pra gente através do

Instituto Patrimônio Histórico. S. A. que era o presidente do Instituto [...]

falou eu acho que aquela comunidade lá é quilombola pelas suas

características pela sua historia ai o [presidente da Associação] pegou esse

gancho trouxe pra dentro do sindicato dos trabalhadores rurais e o sindicato

foi lá e pesquisou os livros dos cartórios lá de [de um distrito próximo ao

distrito onde está localizada a Comunidade Quilombola] ai a gente descobriu

que realmente tinha a comunidade e era quilombola e foi uma questão assim

meio que ao contrario que as terras era do quilombola eu esqueço o nome da

pessoa agora mais era de um quilombola e depois foi estendida para os

fazendeiros foi vendida para os fazendeiros nesse aspecto o Conselho

participou através da minha pessoa desde a criação do Conselho desde o

credenciamento na Fundação Palmares então a gente tem trabalhado muito

(CONSELHEIRO 3).

Segundo o Conselheiro 5 o Conselho tem pautado, em suas reuniões, as demandas da

Comunidade e feito articulação com outros conselhos para garantir políticas públicas para a

Comunidade, conforme se pode observar no depoimento abaixo:

[...] faço parte da saúde [o Conselho] debateu anos pra trás a cobrança deles

[Prefeitura] de fazer um posto de saúde pra Comunidade mais ai o Secretario

de Saúde falou que o Ministério da Saúde tem um projeto lá que exige um

tanto de pessoas na Comunidade pra que seja atendida a reivindicação, ou

seja, tem que ter pessoas pra ser atendidas ali pra manter aquela unidade lá

diz. Segundo ele, [...] não tinha o número suficiente de usuários [...] pra

manter aquela unidade do qual eles cobravam o direito de fazer. Então, ele

falou isso na reunião. Lá o numero de habitantes da população não é

adequado ao numero exigido pela lei para que a gente faça esse posto de

saúde lá pras pessoas. Ai, ele ainda chamou a atenção, ai é necessário que

alguém discuta outro meio, outra maneira pra gente fazer um projeto pra

gente ajudar a Comunidade. Ai eu cobrei do representante o Secretario de

Saúde falou que o projeto do posto o numero de população não atende mais

a gente tem que insistir num segundo plano pra gente tentar alcançar a

atender a área da saúde desse povo, ou seja, a gente tem que fazer um novo

projeto ou uma outra maneira pra que seja criado um setor de saúde que

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atenda. O mesmo num deu o posto de saúde, mais pode dar outra coisa

(CONSELHEIRO 5).

Além disso, o desinteresse por parte do poder público também é um fator a ser

considerado, segundo o depoimento do Conselheiro 5:

[...] eu creio que as dificuldades que o Conselho tem é uma vez que tudo que

o Conselho vota e propõe a gente manda para o setor de Conselho. Eles é

que ficam responsáveis para mandar tudo que e debatido discutido para o

gestor e o gestor que fica responsável para mandar o que é discutido. Então

tudo passa na mão da tramitação do poder publico. A gente vota propõe mais

quem delibera é o poder publico. Então, uma vez que não anda o processo lá

ai o trabalho do Conselho fica amarrado. Outro problema do conselho é a

falta de capacitação, nós pedimos para prefeitura realizar cursos para os

conselheiros sobre como deve funcionar o conselho; as atribuições do

conselheiro; o papel da mesa diretora; legislação de combate ao racismo, etc.

Essa demanda até hoje não foi atendida, a prefeitura não deu resposta. A

gente precisa dessa capacitação (CONSELHEIRO 5).

Essa situação enfrentada pelo Conselho, qual seja, o seu esvaziamento, pode ser

entendida no depoimento dos conselheiros entrevistados. O poder público municipal não tem

promovido a gestão social, ao desconsiderar e não levar adiante as propostas do Conselho.

Percebe-se que Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial criado pelo

poder executivo do município tem caráter pró-forma. O descompromisso do poder público

municipal com a Política de Igualdade Racial é evidente. Exemplo disso o Poder Executivo

sancionou uma lei extinguindo a Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade Racial

no dia 20 de novembro de 2014.

Essa falta de compromisso por parte do poder público é uma realidade local e nacional

e tem afetado consideravelmente as comunidades quilombolas. Isso faz com que as

comunidades deixem de acreditar na possibilidade de poderem acessar as políticas publicas a

eles destinadas por meio do Programa Brasil Quilombola.

Fica evidente nas informações coletadas junto aos conselheiros, principalmente os

conselheiros governamentais, de que o poder público sabe a existência e conhece o Programa

Brasil Quilombola, mas nada tem feito para pactuar com o governo federal a realização de

ações voltadas para o desenvolvimento território quilombola. Houve conselheiro que

justificou essa inércia do poder publico junto à Comunidade Quilombola, afirmando que o

prefeito não tem interesse de implantar a Política de Igualdade Racial no município por

motivação política partidária.

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2.3.8 Percepções nas solicitações encaminhadas ao pesquisador

Com vistas em desconstruir as representações negativas e os diversos estereótipos

causadores da baixa autoestima presente na Comunidade, o pesquisador contribuiu, em

conjunto com a Associação, para a busca de medidas para transformar a realidade da

Comunidade, descritas a seguir.

Alteração do nome do Distrito

Uma delas foi a elaboração do Projeto de Lei para a alteração do nome do Distrito para

Comunidade Quilombola. Essa reivindicação foi protocolada por meio de projeto de lei, na

Prefeitura e na Câmara dos Vereadores. Com o intuito de angariar o apoio do Conselho

Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, uma cópia do projeto foi

protocolada no Conselho e, posteriormente, foi pauta de discussão em reunião, quando se

deliberou pelo apoio ao pleito da Comunidade. O Presidente da Câmara dos Vereadores

informou ao presidente da Associação que se o prefeito não autorizar a alteração reivindicada,

o projeto de lei poderá ser aprovada por iniciativa do Legislativo.

Projeto de titulação do território da comunidade quilombola

Elaborou-se, a pedido do presidente da Associação um projeto cujo objeto era a

elaboração de Relatórios Antropológicos, de caracterização histórica, econômica, sócio-

cultural e ambiental, os quais poderiam servir de subsídios técnicos para a identificação e

delimitação dos territórios das comunidades remanescentes de quilombo, incluindo aí também

estudos e pesquisas para fundamentar os relatórios antropológicos, conforme Art. 10, inciso I

e suas alíneas, da Instrução Normativa INCRA nº 57/2009, para que uma instituição pudesse

apresentar ao Governo do Estado de Minas Gerais.

O Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) da Comunidade

Quilombola seria elaborado por meio convênio de repasse de recursos do tesouro estadual

referente ao orçamento de 2015, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário –

SEDA, Função Programática nº 21.631.144.4.085. Essa proposta foi encaminhada para duas

instituições. Lamentavelmente nenhuma das instituições indicadas mostrou-se interessadas.

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Educação quilombola

Durante diálogo com a Comunidade e com os conselheiros municipais de Igualdade

Racial, sobre a escola e as práticas pedagógicas, informou-se que o currículo não contemplava

a prática da “Educação Quilombola”. A ausência dessa temática vai contra a legislação

educacional brasileira que preconiza o enfrentamento das desigualdades étnico-raciais nos

espaços educacionais.

A proposta do Ministério da Educação é que os temas transversais dialoguem com os

pressupostos da “pluralidade cultural”, em cumprimento ao disposto na Lei Federal

10.639/2003, que altera a LDB, estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica. Dessa forma, seria valorizada a

cultura negra brasileira e africana, bem como a educação quilombola, na modalidade de

ensino da educação básica, conforme as deliberações retiradas da Conferência Nacional de

Educação (CONAE) realizada em Brasília, em 2010.

Nesse sentido, a pedido do presidente da Associação, orientou-se e elaborou-se,

ofícios, solicitando a realização de Audiência Pública na Câmara Municipal, para discutir a

reforma e a ampliação da escola da Comunidade, bem como a implantação da “Educação

Quilombola”. Esses ofícios foram protocolados na Câmara dos Vereadores, com cópia para a

Prefeitura e para o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

Como resultado dessa articulação da Associação, a Secretaria Municipal de Educação

realizou reunião com a diretora da escola quilombola, representantes do Conselho, o Instituto

Federal e o responsável pela realização do levantamento etnográfico na Comunidade, para

discutir a implantação da “Educação Quilombola” junto à Comunidade.

A diretora da escola da Comunidade disse não conhecer a “educação quilombola”,

mas mostrou interesse em se aprofundar no tema. Informou que os professores da escola

passarão por uma capacitação sobre as práticas pedagógicas relacionadas à educação voltada

para a valorização da diversidade étnico-racial, e que já estavam discutindo estratégia

metodológica para elaborar, juntamente com a Comunidade, o Projeto Político Pedagógico da

Educação Básica, fundamentada na Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012 que define

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola.

Nilma Lino Gomes (2003) afirma que o rompimento da democracia racial e a

naturalização do racismo perpassam pela construção de práticas pedagógicas de combate à

discriminação racial. Espera-se que com a implementação da “Educação Quilombola” os

filhos dos moradores consigam promover o resgate da identidade étnica da Comunidade e

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recuperar sua história. Assim, se fortalecerem para se mobilizarem para a busca da titulação

de seu território, conforme garantido no artigo 68 dos Atos das Disposições Transitórias

Constitucionais (ADCT) e regulamentado pelo Decreto 4.887.

Curso de elaboração de projetos

Diante da dificuldade em ter acesso aos moradores da comunidade para levantar dados

para pesquisa foi proposto ao presidente da Associação a realização de um curso de

capacitação que viesse a interessar os moradores da Comunidade. De acordo com o

presidente, algumas pessoas na Comunidade manifestaram vontade em aprender a fazer

projetos sociais, visando a captação de recursos para financiar algumas ações na Comunidade.

Durante o ministério do curso de elaboração de projeto, percebeu-se o

desconhecimento da história da Comunidade por parte dos alunos participantes. Em virtude

disso propôs-se uma atividade de realização de entrevistas com os moradores antigos da

Comunidade sobre sua origem e história, com base em um roteiro orientador. Pretendia-se

transformar essas informações em um livro, de autoria dos moradores, que contasse a história

da Comunidade.

Entretanto, essa idéia não logrou êxito. Aguardou-se, em vão, a apresentação das

entrevistas realizadas pelos alunos. Com isso, alterou a atividade, propondo-se trabalhar, com

os alunos, os aspectos culturais da Comunidade comparativamente com a comunidade

quilombola dos Kalungas, a partir da exibição de reportagem da TV NBR. Em seguida,

promoveu-se uma discussão que gerou várias observações. Todos foram unânimes em atestar

que a situação da Comunidade Quilombola era melhor do que a dos Kalungas. Lá, a maioria

das casas é de pau-a-pique, enquanto que as casas da Comunidade são de alvenaria.

2.4 Análise conclusiva

A presença do pesquisador não foi bem acolhida pela Comunidade, em virtude da

existência de uma rejeição em relação a pesquisadores acadêmicos e ao poder público. Para o

presidente da Associação isso se deve às “muitas promessas que não se concretizaram e à

criação de expectativas e aos desapontamentos provocados na Comunidade”. (PRESIDENTE)

Essa rejeição a pesquisadores, poder público, e à própria Associação dificulta o

estabelecimento de diálogo com a Comunidade, indispensável para o exercício das

capacidades de acordo com os objetivos e princípio da gestão social.

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A apatia da Comunidade em relação a contatos entre si, com a Associação e com

instituições externas, assim com a ausência frequente às Assembleias da Associação e as

reuniões da diretoria demonstram a inexistência de confiança entre os membros da

comunidade. Essa desconfiança generalizada e o comportamento arredio e omisso impedem

que os moradores exerçam o protagonismo no processo de desenvolvimento local, e também

na implementação da gestão social que se realiza no coletivo participativo, deliberativo. A

gestão da Associação é centralizada na pessoa de seu presidente e as decisões são tomadas

com base em consulta a alguns quilombolas “privilegiados”.

[...] ela não tem conseguido cumprir com as metas. Segundo ele, “quando os

problemas surgem na comunidade deveria ser levado para a Associação

resolver, isso acontecia quando tinha reuniões, hoje não temos mais reunião

na Associação [...] os problemas da Comunidade: são vários: melhoramento

de ruas, casas precárias, escola precisa melhorar, para as crianças não ter que

ir frequentar escolas fora da comunidade (QUILOMBOLA 1).

Foi notável a falta de diálogo entre o presidente e a Diretoria da Associação e entre a

Associação e os moradores da comunidade. Não existe transparência e a ausência de

divulgação das ações, conquistas e dificuldades é fator de desconfiança e julgamentos

negativos, chegando a ponto de acusar o presidente de enriquecimento à custa da Associação.

Em seus contatos com a Associação, o pesquisador com a atual diretoria destacou a

importância da Associação, em virtude de seu papel político e articulador de políticas

públicas. Para tanto, é indispensável dar publicidade de todas as conquistas dos últimos anos,

quanto aos direitos dos quilombolas. Em depoimento, o presidente do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais relatou os benefícios recebidos pela Comunidade depois do seu

reconhecimento oficial pela Fundação Cultural Palmares como Quilombola, acessando-a às

seguintes políticas públicas:

[...] energia elétrica; distribuição de água, antes a água vinha no caminhão

pipa, uma água não potável, que chegou a encontrar na água camisinha,

barbeador, e que o prefeito fechou escolas da zona rural a única comunidade

que ele não conseguiu fechar foi esta comunidade por ser ela uma

comunidade quilombola, a lei não permite. Se a comunidade não participa e

não apóia a associação, não adianta depois reclamar, é preciso enxergar as

coisas boas que vocês conseguiram com a intervenção da associação

(PREDISENTE DO SINDICATO).

Essas lideranças ao invés cumprir seu papel de articulador e mobilizador, se

profissionalizam para desempenhar a função de arrecadadores de recursos e executoras de

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projetos. Essa postura não condiz com o perfil de liderança comunitária, cujo dever é

representar os interesses da comunidade e agir como “co-gestor e facilitador dos processos e

atividades comunitárias” (PARESQUE, et al. 2008, p. 67).

Essa tendência tem influenciado as organizações da sociedade civil, atingindo,

também, as instituições quilombolas. Vários moradores da Comunidade comentaram ter-se

criado expectativa de captar recursos para financiar ações de interesse da Comunidade.

Houveram promessas de que se a Comunidade criasse uma associação, viria dinheiro. Isso

não aconteceu, fazendo com que a Associação caísse em descrédito.

[...] quando estávamos criando a associação foi falado que tinha muito

dinheiro para quilombolas, que se criasse a associação o governo iria mandar

dinheiro para construção de casas, dinheiro para calçamento das ruas,

saneamento básico, construção do posto de saúde, igual tem em Padre Brito,

construir a praça para comunidade, academia ao ar livre, dinheiro para

comprar sementes, maquinário agrícolas, mas o tempo passou e nada disso

veio para a comunidade quilombola. Com isso a comunidade passou não

acreditar mais nas pessoas que vem aqui. Gastamos dinheiro do nosso bolso

para fundar a associação, e todas vezes que vinham pessoas de fora

autoridades, veio até africanos para conhecer a gente, tiramos dinheiro do

bolso para receber, só tivemos despesas, e nunca veio o tão falado dinheiro

para a comunidade, já até cobrei da prefeitura o dinheiro que era para vim

prá cá, mas eles que não esse dinheiro, penso que eles estão mentindo para

nós, e desviaram esse dinheiro. A gente um dia fica sabendo a verdade

(QUILOMBOLA, 2)

Esse depoimento foi confirmado por um Estudioso da comuidade que nos disse ter

sido questionado, muitas vezes, por quilombolas sobre o dinheiro para a Comunidade.

[...] realmente foi falado para eles da existência de recursos financeiros

destinados à melhoria da qualidade de vida dos quilombolas, tais como

construção de casas, posto de saúde, saneamento básico, eletrificação rural,

recursos do Programa Brasil Quilombola. Infelizmente, eles pensaram que

era só criar a Associação e pronto, que estes recursos viriam de imediato

com a criação da Associação. Foram orientados que eles precisavam se

organizar e articular, fazer um movimento de pressão, participar dos espaços

de decisão como conselhos, conferências, mas de forma organizada,

planejada. Porém eles não se organizaram, mesmo porque eles têm

dificuldade para isso, não tem recursos financeiros para arcar com as

despesas da associação. Teve uma vez que um secretário da Prefeitura me

parou e disse que o presidente o havia cercado na rua, cobrando dele os

recursos da comunidade (ESTUDIOSO DA COMUNIDADE).

A Associação focou na busca por recurso, e se esqueceu do papel de articular e

mobilizar. Essa é a função principal da Associação. Ao não exercer essa função ela passou a

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enfrentar um problema de identidade, perdeu o “horizonte político [...] da busca constante por

um Estado democrático” (FLEURY; GUERGHE e KABAD, 2013, p. 1). As Associações

deixaram de exercer um papel politizado e tornaram-se presas fáceis do Estado, bem como, de

outros atores externos que as subordinam e por vezes criam dinâmicas “para além das

associações ou por sobre elas” (FLEURY; GUERGHE e KABAD, 2013, p. 1).

Ao perder o horizonte político, a Associação Quilombola cai em descrédito, pois não

se preparou para serem agentes de pressão. Como diz Frei Beto: “político é igual feijão só fica

bom na panela de pressão.” E ao não pressionarem o poder público, participando dos espaços

de decisão política como os conselhos, assumindo seu protagonismo, as políticas públicas não

alcançam a Comunidade, conforme os moradores esperam.

Como as coisas não aconteceram de forma rápida, as repostas aos anseios

deles não foram correspondidas eles perderam as esperanças, ficaram

desanimados e com razão, daí os moradores pararam de participar das

atividades da associação. Foi ai que a diretoria começou a também perder o

fôlego e as coisas ficaram na mão do presidente, centralizadas nele

(ESTUDIOSO DA COMUNIDADE).

A centralização tem efeito negativo para qualquer associação, pois a responsabilidade

total recai sobre os ombros de uma pessoa. Se essa pessoa não estiver preparada, isso pode ser

um verdadeiro desastre. Ao invés de agir como liderança, pode-se criar divisão, esvaziamento,

má gestão, dificultando assim o desenvolvimento e o fortalecimento da associação tornando-a

não participativa, e presa fácil de agentes externos tais como o Poder Público e outros atores

com interesses duvidosos.

A liderança transformadora é aquela que motiva as pessoas, tenta fortalecer a

participação social e estimula aquelas pessoas que têm dificuldades de se

colocarem nos espaços coletivos a se inserirem. Já aquela liderança que

apresenta boas intenções, mas não estimula a participação da comunidade,

não delega tarefas, considera que sua dedicação e apreço pela comunidade é

maior do que os dos outros, que se considera insubstituível, chama-se de

narcisista-sedutora com efeitos positivos. Há o líder narcisista-sedutor com

efeitos negativos, que não está orientado para o bem-estar coletivo, mas para

seus interesses pessoais. Este reduz a participação de outros membros,

camuflando suas potencialidades, o que leva ao declínio da participação. Nas

situações de confronto se vitimiza. É daqueles sedutores, que beijam e

abraçam. A liderança altruísta é aquela que tem um bom desempenho na

comunidade e que realiza ações além das esperadas, tem consideração e

respeito pelos outros, representando muito bem o coletivo da comunidade

(PARESQUE, et al. 2008, p. 67).

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Percebeu-se na Comunidade Quilombola pesquisada, problemas sérios a serem

enfrentados devido a entraves e à inexistência de gestão social, protagonismo, participação,

apropriação da identidade quilombola e seus direitos, solidariedade, liderança transformadora,

motivação, trabalho coletivo, autonomia, empoderamento, cooperação e estabelecimento de

relações geradoras de desenvolvimento e emancipação social, participação social, capacidade

sociopolítica, trabalho em redes com a participação de diferentes atores, poder de agência do

indivíduo na sociedade, responsabilização social, articulação com o poder local (BARBOZA;

FERRARINI, 2013; DIOGO E GUERRA, 2013; MAURER, 2011; MACHADO, 2009;

SPINK, 2003). É inegável a necessidade de superar essa situação por meio de ações

inovadoras que venham transformar a realidade da Comunidade pesquisada, com foco no

desenvolvimento da pessoa, possibilitado torna-la capaz de mobilização e articulação, junto

ao poder público, para implantar o Programa Brasil Quilombola na Comunidade.

A falta de coesão grupal com confiança e articulação fragiliza o poder da Comunidade

em arranjos coletivos, dificultando, assim, obter os benefícios do Programa Brasil

Quilombola, devido à inexistência de relações duráveis, reciprocidade de conhecimento e

reconhecimento, sentimento de pertencimento ao grupo e trabalho em rede. Sendo assim, é

preciso trabalhar com os moradores da Comunidade, com os membros da diretoria e do

conselho fiscal da Associação, os valores de confiança, cooperação, solidariedade,

participação, colaboração para fortalecer o poder articulador e mobilizador da Associação

Quilombola no sentido do esforço coletivo e da formação de redes sociais para, assim, ser

capaz de suprir necessidades imediatas e superar os problemas.

Diante dos entraves da Comunidade pesquisada, elaborou-se uma proposta de

capacitação a ser apresentada no próximo capítulo, fundamentada nos objetivos e princípios

da gestão social. Trata-se de um projeto para oficinas participativas destinadas aos moradores

da Comunidade, membros da diretoria e do conselho fiscal da Associação Quilombola, com o

intuito promover transformações, com foco no desenvolvimento pessoal e local onde sejam

alargado o potencial de confiança, carisma, autonomia, protagonismo, solidariedade,

altruísmo, responsabilidade e poder de mobilização para a articulação de políticas públicas.

Pretende-se com esta proposta sensibilizar a diretoria para que assuma seu papel de

liderança, fazendo-se valer de momentos de reflexões sobre relações interpessoais, do

trabalho em grupo, solidariedade, comunicação, mediação de conflitos, captação de recursos,

apoios e parcerias, representatividade nos espaços de gestão democrática (conselhos, fóruns,

audiências etc.), e elaboração e execução de projetos.

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Referências

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3. OFICINA DE CAPACITAÇÃO PARA LIDERANÇAS QUILOMBOLAS EM

GESTÃO SOCIAL COMUNITÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL EM

TERRITÓRIO TRADICIONAL. UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

MACHADO, Clever Alves13

MELLO,Ediméia Maria Ribeiro de14

RESUMO

Este artigo registra uma proposta técnica, fundamentada em pesquisa bibliográfica,

documental e de campo, e tem por objetivo capacitar moradores da comunidade, diretoria e

conselheiros fiscais da Associação Quilombola, por meio de metodologias de oficinas

participativas com o intuito de estimular o desenvolvimento dos aspectos relativos aos

objetivos e princípios da gestão social, para o destravamento das capacidades dos

quilombolas, de forma a que possam participar ativamente dos processos de tomada de

decisão e de realização de ações coletivas. O projeto pretende o desencadeamento dos

processos de desenvolvimento local de comunidades quilombolas, por meio de uma

capacitação executada em 4 módulos, distribuídos em 9 oficinas com duração de 4 horas cada,

com os seguintes conteúdos: – Módulo inicial – apresentação da proposta de trabalho e do

processo de capacitação. – Módulo Conceitual – processo de ensino-aprendizagem, que

articula a construção de uma lógica pedagógica em uma área específica de conhecimento por

meio da técnica dialógica, participativa, compartilhada, com o intuito de expandir a

capacidade reflexiva acerca da realidade complexa e conflitante. – Módulo Formativo – trata

de questões referentes ao funcionamento e à administração da associação, discutindo seu

papel; as responsabilidades das Assembleias, da diretoria e do conselho fiscal; os limites da

associação dentro e fora da comunidade; e as formas de elaborar regras de funcionamento da

associação. O objetivo da capacitação é estimular as práticas da gestão social por meio da

articulação entre a formação teórica e a experiência prática. As oficinas finalizam com o –

Módulo Prático – preparação dos associados, diretores e conselheiros fiscais para lidar com as

dinâmicas e desafios cotidianos da associação.

13

Estudante do Programa de Mestrado Profissional Gestão Social, Educação e Desenvolvimento

[email protected]. Centro Universitário UNA. 14

Professora do Programa de Mestrado Profissional Gestão Social Educação e Desenvolvimento Local. Centro

Universitário [email protected].

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Palavras Chave: Gestão Social, Desenvolvimento Local, Inovação Social, Oficinas

Participativas.

3.1 Introdução

Este capítulo apresenta um projeto de intervenção participativa na Comunidade

Quilombola para desencadear o desenvolvimento endógeno, por meio da oferta de

capacitação aos moradores e membros da diretoria e do conselho fiscal da Associação. O

objetivo das oficinas é habilitá-los a trilhar todo o processo que lhes assegure a

implementação da política de promoção da igualdade racial e o acesso aos benefícios do

Programa Brasil Quilombola.

Espera-se, como uma decorrência da capacitação, que a Associação se transforme em

espaço de exercício da gestão coletiva participativa para impulsionar os processos de

mobilização e articulação da população local, em torno das ações que promovam o

desenvolvimento territorial quilombola, por meio das ferramentas da gestão social, no

usufruto dos direitos proporcionados pelas políticas e programas que as favoreçam.

O processo de capacitação adota o formato de oficina participativa, na qual os

participantes sejam estimulados a desenvolver os aspectos relativos à gestão de ações

coletivas, sejam empoderados frente a gestão comunitária, valorizem e aprendam a

importância da participação ativa com solidariedade. Tudo isso para o fortalecimento das

capacidades dos membros das comunidades quilombolas para que desempenhem as ações

necessárias ao desencadeamento do desenvolvimento local, por meio do acesso as políticas

públicas a eles destinadas.

Pretende-se com este projeto fortalecer o senso de identidade quilombola, qualificar a

comunidade para o exercício de sua cidadania e o desenvolvimento do seu território,

capacitando-o para a proposição, o monitoramento, a fiscalização das políticas públicas de

interesse da comunidade, bem como, a mobilização e a articulação do território para

impulsionar processos de concertação institucional.

É inegável a necessidade de superar essa situação por meio de ações inovadoras com

que venham transformar a realidade das comunidades, com foco no desenvolvimento da

pessoa, possibilitando-lhe tornar-se apta para a mobilização e a articulação junto ao poder

público para implantar o Programa Brasil Quilombola na comunidade.

Nesse sentido, esse projeto oferece uma inovação social, por ser um processo voltado

para a emancipação, construído de forma participativa para a resolução dos problemas que

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afligem as comunidades quilombolas. Ele visa melhorar o bem-estar social e promover o

desenvolvimento, restaurar a capacidade de resiliência das associações, por meio de tornar o

coletivo mais eficaz e cooperativo para o estabelecimento de relações geradoras de

desenvolvimento, desde a pessoa até o coletivo (BARBOZA; FERRARINI, 2013; BRASIL,

2013; DIOGO E GUERRA, 2013; MAURER, 2011; MACHADO, 2009; SPINK, 2003).

Inovação é um meio, um conjunto de intervenções, decisões e processos

multidimensionais, com certo grau de intencionalidade e sistematização, objetivando

transformar o espaço e a pessoa, modificar atitudes, ideias, culturas, conteúdos, modelos e

práticas (CARBONELL, 2002, p.19; MESSINA, 2001, p 226-227).

As práticas inovadoras dependem da “complementaridade de ideias, síntese de

contrários” (MACHADO, 2009, p. 6), ou seja, “inovação social vale-se de conhecimentos

originados no ambiente comunitário e sempre deve imprimir a lógica de compartilhamento

das informações e de cooperação das ações” (BARBOZA; FERRARINI, 2013, p.7), com foco

nos conhecimentos tácitos advindos do território onde se quer fazer a transformação. Esses

conhecimentos “estão implícitos no agir humano, são silenciosos e dependentes das

características, vivências e experiências subjetivas”, daí a necessidade de respeitar e dar

ênfase a eles (MACHADO, 2009, p. 6; BARBOZA; FERRARINI, 2013, p.7).

Sendo assim torna-se necessário radicalizar a democracia, onde a democracia

representativa migre “para a democracia deliberativa, na qual o acesso às informações, a

formação crítica e o protagonismo comunitário sejam subsídios para a intervenção no campo

social” (BARBOZA LACERDA, VIEIRA FERRARINI, 2013, p.10). Isso significa abrir

espaços de gestão participativos, onde “o respeito ao próximo [seja] apoiado sobre o princípio

de justiça social” (BARBOZA LACERDA, VIEIRA FERRARINI, 2013, p.10).

3.2 Metodologia

A metodologia adotada por este projeto está baseada na prática participativa,

democrática e criadora das condições políticas e pedagógicas em que o fazer educativo ocorra

num espaço de ação, reflexão e debate sobre a vida cotidiana dos quilombolas, por meio de

oficinas pedagógicas. Ou seja, pretende-se um processo para a reconstrução do conhecimento

com aplicação em situações práticas e a troca de experiências voltadas para a concretização de

práticas de gestão social na administração da Associação.

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As práticas de intervenção psicossocial de cunho democrático e participativo

envolvem (1) produção de conhecimento (o grupo-sujeito produz

conhecimento sobre si mesmo e sobre o seu contexto com a cooperação do

sujeito-analista) e (2) produção de ação sobre o mundo (os sujeitos fazem

escolhas, individuais e coletivas, sobre como agir no contexto histórico-

social) (AFONSO, 2010, p. 2).

Para que as oficinas sejam bem sucedidas, torna-se necessário identificar e ligar os

atributos e as experiências dos participantes. Isso implica em ligar os novos conceitos e

teorias com aquilo que os participante já sabem. Ao serem reconhecidos esses saberes, deve-

se reforçar o entendimento de que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os

homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (GETS, 2002, FREIRE, 1987, p. 39).

O trabalho com oficinas de intervenção psicossocial visa: (a) a análise e

compreensão pelos participantes do grupo da sua dinâmica interna e externa,

referida ao contexto sócio-histórico, (b) a experiência e análise de seus

vínculos sociais e afetivos, das relações interpessoais, construídas e vividas

através da comunicação e da linguagem, (c) a compreensão e facilitação dos

processos decisórios do grupo como um todo e de cada participante na

dinâmica grupal (AFONSO, 2010, p. 11).

Propõe-se, então, construir, a partir das capacidades de cada indivíduo, “a relação [...]

entre o vínculo afetivo e o vínculo social [...] no processo de expressão, sistematização,

desconstrução e reconstrução de significados no grupo” (AFONSO, 2010, p. 12), mediada

pelo diálogo que desafia o grupo a “pensar sua história social como a experiência igualmente

social de seus membros, vai revelando a necessidade de superar certos saberes” (FREIRE,

1996, p. 32).

Para Afonso, (2010), a participação em grupos do tipo “reflexão” ou de “ação”

possibilita aos participantes desenvolverem competências de “comunicação, interação,

construção de regras, eleição de objetivos comuns, construção de consensos, escolhas

coletivas, cooperação, manejo de conflitos, etc e etc.” (AFONSO, 2010, p. 15). Dessa forma,

a oficina tem o poder de estimular o pensamento crítico e criativo para a construção de novos

saberes, por meio da proposição do diálogo, entre sujeitos que têm uma história e uma

singularidade, evitando a conversa estereotipada e impessoal (AFONSO, ABADE, 2008).

Esta metodologia é orientada por um coordenador, que deve observar essas

recomendações, cuja função é motivar a participação do grupo. Para isso é necessário

sensibilizar e desafiar os participantes, utilizando de técnicas lúdicas e respeitando os

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posicionamentos e os limites dos membros do grupo. Afonso e Abade (2008) ressaltam,

ainda, as seguintes questões teóricas:

(1) para se assumir como interlocutor válido no debate, os sujeitos precisam

imprimir às suas ideias e experiências pelo menos um mínimo de validade,

(2) para se colocar no debate como interlocutor válido, o sujeito precisa

tentar transpor os seus entraves à comunicação e suas dificuldades relativas

ao reconhecimento mútuo entre atores sociais, (3) para cooperar no debate, o

sujeito precisa buscar esclarecer para si mesmo e para os outros os seus

pontos de vista e posições ocupadas nas relações, (4) para compreender e

interpretar o debate do qual participa, o sujeito precisa se abrir para a sua

própria experiência e para a experiência do outro, deixando-se transportar

pelo diálogo a posições que ele próprio ainda não conhece, ou seja, deve

conseguir suportar um mínimo de transformação que o fato de participar

deste diálogo lhe traz (AFONSO, ABADE, 2008, p. 41).

Assim, o interlocutor terá a função de coordenar os debates com o máximo de abertura

possível para imprimir a confiança e para acolher as novas ideias, isento de preconceitos. Ao

mesmo tempo em que deve imperar a liberdade de expressão, o assunto deve ser orientado

para a discussão sobre a temática introduzida pelo interlocutor por uma breve exposição e

resgatada sempre que a “oficina” ameaçar se distanciar do tema.

Segundo Afonso e Abade (2008, p. 15), é preciso atentar para as dificuldades e

conflitos que emergem na cena das “oficinas”. “Há que se superar uma visão romântica e

buscar desenvolver o diálogo sem deixar de analisar os conflitos e as resistências que vão

aparecendo ao longo da jornada” (AFONSO e ABADE, 2008, p. 15).

Com essa atitude, busca-se superar as barreiras implantadas pelo juízo de valor entre

os saberes popular e o científico: “nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão do

mundo, ou tentar impô-la, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa” (FREIRE, 1987, p.

49). Dessa feita, recobra-se o sentido da ponderação a respeito do posicionamento dos jovens

quilombolas na construção das relações sociais e no enfrentamento dos problemas da vida

cotidiana, por meio de ações efetivamente transformadoras.

Assim, a realização da capacitação visa propiciar um espaço de discussão democrática,

tendo como instrumento de participação a fala e a escuta para a reflexão participativa das

soluções dos problemas vivenciados pelos moradores da comunidade, relacionados à busca de

seus direitos enquanto comunidade tradicional.

Para conduzir a capacitação torna-se necessário, inicialmente, esboçar seus propósitos

e formatos, de forma a informar aos participantes, o que se espera de cada um deles,

permitindo que fiquem à vontade. Para isso recomenda-se utilizar da ludicidade para

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dinamizá-los, lançando mão de elementos da cultura local, como músicas, histórias, etc.

(AFONSO, 2010, p. 15).

Afonso (2010, p. 16) ensina que as técnicas lúdicas possibilitam:

(a) abertura perceptiva e sensibilização, (b) expressão de sentimentos e

idéias, (c) encenação de novas formas de interações, (d) experiência de

situações não cristalizadas no cotidiano, (e) reflexão e disposição para a

apreensão de novos significados e tomada de novas posições.

No desenvolvimento da capacitação, as atividades devem ser implementadas por meio

das seguintes atividades: aulas expositivas com recursos audiovisuais; discussão em pequenos

grupos de até quatro componentes, para compreender o ponto de vista de cada um sobre o

mesmo tema e/ou assunto; uso de materiais lúdicos e de apoio educativo para abordagem do

tema em estudo; uso de textos científicos e reflexivos, como artigos de periódicos científicos e

de revistas voltadas para o público quilombola; diálogo com os participantes e debate sobre

casos vivenciados em seu cotidiano, para aprofundar a reflexão e construir, no coletivo e de

forma participativa, planos de ação.

Espera-se capacitar os moradores da comunidade, membros da diretoria e conselho

fiscal da associação a utilizar as ferramentas da gestão social para realizar a expansão das

liberdades (SEN, 2010) da população local.

3.3 Objetivos

3.3.1. Objetivo Geral

Capacitar moradores de comunidades quilombolas e membros da diretoria e do

conselho fiscal de suas associações para a utilização das ferramentas da Gestão Social e para a

mobilização da população local, para o fim de promover o desenvolvimento do território

quilombola e usufruir das políticas públicas que a favoreça.

3.3.2. Objetivos Específicos

Adotar estratégias transformadoras para incentivar os membros das

comunidades a agir, tornando-se atores, possibilitando a participação

qualificada nos processos de tomada de decisão de forma democratizada

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Fortalecer espaços de tomada de decisões estratégicas a respeito do

desenvolvimento do território, da transformação da realidade e da construção

de um “Projeto Comum”.

Reunir os principais atores da comunidade quilombola em torno da definição

das ações a serem realizadas no território para a promoção do desenvolvimento

local.

3.4 Público alvo

Quilombolas em geral, e membros da diretoria e do conselho fiscal da associação, num total

de 30 pessoas.

3.5 Local e horário

Casa Paroquial do Quilombo, das 18h00min até 22h00min.

3.6 Organização da capacitação

A capacitação será executada em 4 módulos, distribuídos em atividades, com duração

de 4 horas. Os conteúdos dos módulos estão, a seguir, relacionados:

Módulo inicial: proposta de trabalho e do processo de capacitação.

Sensibilização dos participantes. Inscrição dos participantes. Apresentação da

associação quilombola e de sua importância.

Módulo Conceitual: processo de ensino-aprendizagem, que articula a

construção de uma lógica pedagógica em uma área específica de conhecimento

por meio da técnica dialógica, participativa, compartilhada, com o intuito de

expandir a capacidade reflexiva acerca da realidade complexa e conflitante.

Durante os momentos de trabalho buscar-se-á adotar junto aos participantes o

compromisso coletivo, interativo, integrativo, viabilizado com a construção

coletiva do projeto de desenvolvimento territorial por meio das seguintes

temas: “Direitos Quilombola”, “Gestão Social; “Desenvolvimento de Território

Tradicional”; “Democracia na Comunidade”.

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Módulo Formativo: questões referentes ao funcionamento e à administração

da associação, discutindo o seu papel; as responsabilidades da Assembleias, da

diretoria e do conselho fiscal; as atribuições da Assembleias, de cada membro

da diretoria e do conselho fiscal; os limites da associação dentro e fora da

comunidade; e as formas de elaborar regras de funcionamento da associação.

Estudo do estatuto da associação e das leis que a regem. Participação dos

quilombolas na associação e da associação nos espaços externos de decisão,

tais como: conselhos de direitos e setoriais e fóruns. Este módulo tem por

objetivo estimular as práticas da gestão social por meio da articulação entre a

formação teórica e a experiência prática.

Módulo Prático: preparação dos associados, diretores e conselheiros fiscais

para lidar com as dinâmicas e desafios cotidianos da associação.

Assessoramento à associação com respeito ao gerenciamento de suas

atividades, projetos e ações. Constitui este módulo a atividade “Plano e

ferramentas de Gestão Social”.

Quadro 1 – Fio lógico metodológico da capacitação

APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO Apresentação da proposta de trabalho e do processo de

capacitação; Sensibilização dos participantes; Inscrição dos

participantes; Introdução sobre o que é a Associação

Quilombola e qual sua importância.

CONCEITUAL

DIREITOS QUILOMBOLA

Constituição Federal; Convenção n.º 169 da Organização

Internacional do Trabalho; Convenção da Diversidade

Biológica; Convenção sobre a Proteção e Promoção da

Diversidade das Expressões Culturais; Lei n.º 10.678 -

Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade

Racial; Estatuto da Igualdade Racial; Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades

Tradicionais; Política Estadual para o Desenvolvimento

Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas

Gerais; Direitos específicos das comunidades quilombolas;

Como acessar os direitos.

GESTÃO SOCIAL

Estimular a participação para a efetivação dos direitos por

meio da Gestão Social; Conceitos de Gestão Social;

Ferramentas de Gestão Social; Compreensão da cidadania

como prática cotidiana; Ampliação da visão de cidadania, não

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a restringindo ao reconhecimento dos direitos e deveres,

fortalecendo, assim, a ideia de participação política.

Promoção da democracia como valor e método, no sentido de

ser a melhor forma para conquistar e negociar direitos e

projetos.

DESENVOLVIMENTO TERRITÓRIO TRADICIONAL

Conceito de Desenvolvimento Território Tradicional

Quilombola; Políticas Públicas; Programa Brasil Quilombola;

Titulação Território Quilombola; Uso Coletivo do Território;

Cooperativismo, Associativismo; Exemplos

Desenvolvimento Comunidades Quilombola.

DEMOCRACIA NA COMUNIDADE

Debate sobre o papel da associação, no sentido de que ela é

uma ferramenta de preparação para atividade de Gestão

Social, Participação, Representatividade em espaços públicos;

Reconstrução do conceito de Associação e o papel dela a

partir dos conteúdos trabalhados nas atividades anteriores;

Desenvolvimento de técnicas para a negociação de conflitos.

FORMATIVO

ASSOCIAÇÃO

O Estatuto, Regimento Interno, acordo e consagração das

responsabilidades, papéis da diretoria e conselho Fiscal;

direitos e deveres dos associados; Definição das “leis” que

irão reger a associação.

ASSEMBLÉIA GERAL

Divulgação e referendo da associação na comunidade;

Estímulo à prática cotidiana de consulta popular aos demais

membros da comunidade (experiência de democracia direta);

Construção de um processo eleitoral dentro da comunidade

com referência ao bem comum e ampla discussão

(experiência de democracia representativa).

PARTICIPAÇÃO ESPAÇÕS DE DECISÃO –

CONSELHOS DE DIREITOS E SETORIAIS E

FÓRUNS.

O que são conselhos de políticas públicas e para que servem?

Quais são os conselhos municipais? Como habilitar a

associação para participar dos processos decisórios destes

conselhos? Qual é a função dos conselheiros? O papel dos

representantes da associação junto aos conselhos?

PRÁTICO

PLANO E FERRAMENTAS DE GESTÃO SOCIAL

Assessoramento à associação para execução das atividades

gerenciais e administrativas com objetivo de garantir o

exercício de uma boa gestão social, democrática eficaz.

Capacitar os participantes ao uso de ferramentas de gestão

social: planejamento; diagnóstico participativo; formulação

de políticas públicas; avaliação; monitoramento; fiscalização. Fonte: Adaptado de Instituto Sou da Paz, 2005, p. 7.

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3.7 Recursos didáticos

Nas atividades de capacitação serão utilizados os dois capítulos que compõem esta

dissertação, documentos escritos – jornais, revistas, literatura, legislação, etc. – e/ou não

escritos – música, mapas, cartazes, cronologia, imagens, fotografias, etc..

A quantidade e o tamanho dos documentos selecionados serão adequados ao tempo

disponível.

3.8 Equipamentos e materiais

Projetor de data show, computador, caixas de som, cartolina, papel ofício, caneta,

pincel atômico, etc.

3.9 Investimento financeiro

Quadro 2 Investimento financeiro

Nº Itens Valores (R$)

1 Deslocamentos 2.250,00

2 Hospedagem 3.750,00

3 Ligações telefônicas 300,00

4 Impressão e encadernação material utilizado na capacitação 2.000,00

5 Lanche 1.700,00

Total 10.000,00

3.10 Considerações finais

A capacitação dos membros da comunidade (potenciais associados), da diretoria e dos

conselheiros fiscais, tem a intenção de estimular o desenvolvimento dos aspectos relativos à

gestão deliberativa coletiva, empoderando as pessoas e promovendo a participação e a

solidariedade, com vistas ao fortalecimento das capacidades das lideranças locais e à

expansão das liberdades, de forma a que possam participar ativamente dos processos de

tomada de decisão sob os objetivos e princípios da gestão social.

Fortalecer o senso de identidade quilombola, qualificar a comunidade para o exercício

de sua cidadania e o pleno desenvolvimento do seu território, por meio da aplicação das

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ferramentas de gestão social (planejamento; diagnóstico participativo; formulação de políticas

públicas; avaliação; monitoramento; fiscalização) internamente e externamente com o intuito

de reivindicar as políticas públicas de interesse da comunidade.

Acredita-se que a capacitação tem a função precípua de habilitar os quilombolas a

trilhar todo o processo que lhes assegure a implementação da política de promoção da

igualdade racial e o acesso aos benefícios do Programa Brasil Quilombola. Como um efeito

colateral desse despertamento, pensa-se possível tornar os quilombolas atores promotores do

desenvolvimento local.

Para tanto entende-se que a associação é o instrumento institucional potencialmente

dotado do poder de impulsionar os processos de mobilização e articulação da população local

em torno das estratégias coletivas para o desenvolvimento do território quilombola. Desde

que, a constituição dessa instituição assim como seu processo de funcionamento sejam

pautados pelos objetivos e princípios da gestão social, especialmente se fruto de iniciativas e

produtora de ações coletivas participativas deliberativas. Dessa forma, destravando as

comunidades quilombolas para se mobilizarem frente aos direitos proporcionados pelas

políticas e programas que as favoreçam e às iniciativas promotoras do desenvolvimento local.

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100

Referências

AFONSO, M.L.M. Produto 2. Revisão bibliográfica sobre metodologias de trabalho social

com famílias e análise do “estado da arte” do emprego das mesmas. Trabalho apresentado ao

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, através do TERMO DE

REFERÊNCIA 132028 do PNUD. Brasília, Janeiro de 2010, pp 93-116.

AFONSO, Maria Lúcia Medeiros e ABADE, Flavia Lemos. Para reinventar as rodas. Belo

Horizonte: Rede de Cidadania Mateus Afonso Medeiros (RECIMAM), 208. Publicação

Eletrônica. Disponível em: < http://www.ufsj.edu.br/portal-

repositorio/File/lapip/PARA_REINVENTAR_AS_RODAS.pdf>. Acesso em: 24 set. 2014.

BARBOZA LACERDA, Luiz Felipe; VIEIRA FERRARINI, Adriane. Inovação social ou

compensação? Reflexões acerca das práticas corporativas. Polis, Revista de La Universidad

Bolivariana, v. 12, n. 35, 2013, p. 1-16.

BRASIL. 2013. GUIA de Políticas Públicas para Comunidades Quilombolas. Programa Brasil

Quilombola. Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial / Secretaria de Políticas

para Comunidades Tradicionais. Brasília – 2013. Disponível em: <

http://www.seppir.gov.br/portal-antigo/arquivos-pdf/guia-pbq>. Acesso em: 29 set. 2015.

CARBONELL, Jaume. A aventura de inovar. A mudança na escola. Porto Alegre: Artmed,

2002 (coleção Inovação pedagógica). Cap. 1 A Inovação educativa hoje, p.14-40.

DIOGO, Vera; GUERRA, Paula - A inovação social como utopia renovada: o caso da

Associação Humanitária Habitat Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade

do Porto, Vol. XXV, 2013, pág. 141-163

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo

Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura). Disponível em: <Freire, Paulo

Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. – São Paulo:

Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura)>. Acesso em: 12 out. 2015.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.

Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/paulofreire/paulo_freire_pedagogia_do_oprimid

o.pdf>. Acesso em: 12 out. 2015.

GETS. Grupo de Estudos do Terceiro Setor United Way of Canada - Centraide Canada.

FACILITANDO OFICINAS: Da teoria à prática. Escrito por Janet Honsberger e Linda

George para os Treinamentos de Capacitadores do Projeto Gets - United Way do Canadá.

Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional. São Paulo, dezembro de 2002.

Disponível em: < http://www.iteco.be/sites/www.iteco.be/IMG/pdf/Facilitando_oficinas.pdf>.

Acesso em: 12 out. 2015.

INSTITUTO SOU DA PAZ. Guia Grêmio em Forma. 2005. Material para formação de

Grêmios Estudantis. Disponível em:

<http://www.soudapaz.org/upload/pdf/guia_gremioemforma.pdf>. Acesso em: 15 out. 2015.

MACHADO, Lucília. Inovações e mudanças: conceitos e abordagens. In: CABRAL, Eloisa

Helena; NETO, João Clemente de Souza. (orgs). Temas do desenvolvimento: Reflexões

críticas sobre inovações sociais. São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2009. p. 11-27.

MAURER, Ângela Maria. As dimensões de inovação em empreendimentos econômicos

solidários do setor de artesanato gaúcho. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do

Rio Grande do Sul, RS, 2011. p. 23-55.

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101

MESSINA, Graciela. Mudança e inovação educacional: notas para reflexão. Cadernos de

Pesquisa, n. 114, n. 2, nov. 2001. p. 225-233.

SPINK, Peter. Inovação na perspectiva dos inovadores: a experiência do Programa Gestão

Pública e Cidadania. Cadernos Ebape, FGV, v. 1, n. 2, 2003. p. 1-13.

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102

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A pesquisa realizada pretendeu investigar os entraves à expansão da implementação da

política de igualdade racial, junto às comunidades quilombolas, por meio da adesão ao

Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), para propor um produto

técnico que contribuísse para reverter este quadro.

A questão central que a mobilizou foi: por que a quase totalidade das comunidades

quilombolas não consegue obter a titulação de suas terras e ter acesso aos benefícios do

Programa Brasil Quilombola?

O interesse da pesquisa foi levantar os problemas que impedem as comunidades

quilombolas inserir seu território na dinâmica de desenvolvimento, mesmo tendo à disposição

políticas públicas e programas para realização de ações que poderiam vir a contribuir para

esse fim.

O número de comunidades quilombolas existentes em Minas Gerais é um número

incerto. Afirma-se serem 520 comunidades conhecidas, mas, esse número pode alcançar as

700 comunidades. Essa pesquisa identificou 233 comunidades quilombolas certificadas,

situadas em 106 municípios de Minas Gerais. Desses municípios, apenas 3 se encontram

habilitados para aderir ao SINAPIR.

A certificação da comunidade quilombola junto à Fundação Cultural Palmares, as

qualifica para obter os benefícios proporcionados pelo Programa Brasil Quilombola, quais

sejam: a possibilidade de obter a titularidade da terra, o acesso prioritário aos programas

sociais de habitação, saúde, saneamento, esporte, cultura, e a linhas de financiamento para o

desenvolvimento local.

Contudo, além dessa certificação, o poder público municipal deve estar habilitado,

mediante adesão ao SINAPIR, para captar os recursos do Programa e concretizar os

benefícios junto às comunidades. Apenas os municípios de Belo Horizonte, Contagem e

Itabira criaram órgãos e conselhos destinados à questão racial e se habilitaram a aderir ao

SINAPIR, ou seja, tornaram-se prioritários, frente aos recursos do “Programa Brasil

Quilombola”.

Observou-se que a gestão social da Política de Promoção da Igualdade tem ocorrido

no âmbito das esferas federal e estadual, não condizendo à realidade dos municípios, devido à

dificuldade para a concretização da política de promoção da igualdade racial nestas

comunidades, decorrentes principalmente dos seguintes fatores: (a) falta de autonomia

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financeira, administrativa e política dos órgãos de promoção da igualdade racial; (b) gestão

desarticulada na implementação da política, em virtude da inexistência do poder de

intervenção junto aos demais setores (agricultura, educação, habitação, saúde, transporte e

obras, esporte), dificultando desenvolver ações transversais na implementação da política de

igualdade racial; (c) descontinuidade das ações a cada mudança de governo; (d) dificuldade

em estabelecer prioridades em um cenário de demandas acumuladas há séculos; (e) baixa

representatividade dos quilombolas nos espaços de poder; e (f) desinteresse político por parte

dos poderes públicos municipais.

A pesquisa empírica constatou na Comunidade pesquisada a inexistência da gestão

social no âmbito da Associação, em virtude de sua constituição oportunista, ou seja, por uma

exigência da política pública. Assim falta, entre os membros da Comunidade, o conhecimento

dos direitos afetos aos quilombolas, assim como a confiança para que se constituam em atores

do próprio desenvolvimento enquanto comunidade. Provavelmente em decorrência desses

fatores, percebeu-se, também, o baixo poder de mobilização e articulação política na

Comunidade Quilombola.

Essa comunidade enfrenta problemas sérios, entretanto é (in)capaz de se articular para

a busca de soluções, acredita-se que devido à inexistência dos modos de ação típicos da

gestão social, quais sejam: protagonismo de seus membros, em geral, com participação

deliberativa; apropriação da identidade quilombola e sentimento de pertencimento, enquanto

cidadãos com direitos; exercício de solidariedade e de liderança transformadora; ausência de

motivação para o trabalho coletivo, com autonomia, empoderamento e cooperação; falta de

confiança entre os pares para o estabelecimento de relações geradoras de desenvolvimento e

emancipação social.

Com o objetivo de promover transformações que gerem superação dessas ausências

(in)capacitantes, elaborou-se um projeto de capacitação para a realização de oficinas

participativas, que favoreçam a comunidade pesquisada e outras comunidades quilombolas. O

projeto pretende que as comunidades se mobilizem, frente aos direitos proporcionados pelas

políticas públicas e aos programas que as beneficiam para assim dinamizarem o

desenvolvimento endógeno de seus territórios.

Pretende-se com este projeto fortalecer o senso de identidade quilombola, qualificar a

comunidade para o exercício de sua cidadania, estimular o desenvolvimento dos aspectos

relativos à coletividade, empoderamento, participação, solidariedade, e o desenvolvimento do

seu território, capacitando-o para proposição, monitoramento, fiscalização das políticas

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públicas de interesse da comunidade, bem como, mobilizar e articular o território e

impulsionar processos de concertação institucional.

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APÊNDICES E ANEXOS

Apêndice A – Quadro 3: Legislação nacional e estadual de enfrentamento ao racismo

Lei ou Decreto Considerações

Decreto-Lei nº

2.848/1940, do

Código Penal.

O § 3º do artigo 140 do Código Penal tipifica como crime racial a

conduta de injúria racial. Trata-se de crime formal, cujo objetivo é

atingir o decoro, a honra subjetiva da pessoa, ou seja, aquilo que alguém

pensa sobre si mesmo. A Injúria Racial se dá quando a honra for

atingida por expressões unicamente de cunho racista, aí sim estamos

diante de injúria racial. (SOARES, 2008)

Lei nº

1.390/1951, que

Inclui entre as

contravenções

penais a prática

de atos

resultantes de

preconceitos de

raça ou de côr.

Conhecida como Lei Afonso Arinos, sancionada pelo então presidente

Getúlio Vargas, a lei se propõe a punir atos resultantes de preconceitos

de raça ou de cor no Brasil.

Lei nº

2.889/1.956 que

Define e pune o

crime de

genocídio.

O artigo 1º profere: "quem, com a intenção de destruir, no todo ou em

parte, grupo nacional étnico, racial ou religioso" por morte, lesão grave

ou outro tipo de violência, está sujeito à penalidade igual à atribuída

para o homicídio qualificado, ou lesão corporal qualificada.

Lei nº

5.250/1.967

Regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. O

artigo 14 tipifica como crime a propaganda de preconceitos de raça ou

de classe, cominando pena de Detenção, de 1 a 4 anos.

Decreto 65.810,

de 8 de dezembro

de 1969, que

Promulga a

Convenção

Internacional

sobre a

Eliminação de

todas as Formas

de Discriminação

Racial

Esta convenção integra o sistema especial de proteção dos direitos

humanos. O Brasil reconhecendo e tutelando direitos endereçados às

pessoas vítimas de discriminação racial

Lei nº

7.437/1.985

Inclui entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de

preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. Dá nova redação

à Lei Afonso Arinos, Lei nº 1.390/1951

Constituição

Federal. Artigo

5º, incisos XLI e

XLII

Consideram a prática do racismo crime inafiançável, imprescritível e

sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei

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Constituição

Federal. Artigo

1º, inciso III

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é um valor essencial nos

países livres

Constituição

Federal. Artigo

3º, inciso IV

É um dos objetivos principais da República combater o preconceito e a

discriminação

Constituição

Federal. Artigo

4º, inciso VIII

Reafirma o compromisso da República de combater o racismo em todas

as suas manifestações

Constituição

Federal. Artigo

68 dos Atos de

Disposições

Constitucionais

Transitórias

Resgata a propriedade das populações quilombolas, incumbindo ao

Estado Brasileiro o seu reconhecimento. Ao garantir o direito à

territorialidade o Estado e a sociedade brasileira atenuam e eliminam de

forma eficaz e positiva as consequências negativas do racismo para os

remanescentes de quilombolas

Lei 7.77l6/1.989 Legislação penal infraconstitucional tipifica atos e condutas

consideradas crime resultantes de discriminação ou preconceito de raça,

cor, etnia, religião ou procedência nacional

Lei nº

9.455/1.997

define os crimes

de tortura e dá

outras

providências.

O artigo 1º, I, "c", pronuncia que "Constitui crime de tortura:

constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,

causando-lhe sofrimento físico ou mental, em razão de discriminação

racial ou religiosa". A pena para este crime é de reclusão, de 2 a 8 anos

Lei nº

9.459/1997,

altera os artigos

1º e 20 da Lei nº

7.716/1989,

Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor Acrescenta

parágrafo ao art. 140 do Decreto-lei nº 2.848/1940

Decreto Federal

nº 4.228/02

Institui, no âmbito da Administração Pública Federal, o Programa

Nacional de Ações Afirmativas e dá outras providências

Lei nº 10639/0

altera a lei nº

9394/96

Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no

currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática

"História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Esta ação

valorizativa tem por meta combater estereótipos negativos,

historicamente construídos e consolidados na forma de preconceitos e

racismo. Seu objetivo é reconhecer e valorizar a pluralidade étnica que

marca a sociedade brasileira e valorizar a comunidade afro-brasileira,

destacando tanto seu papel histórico como sua contribuição

contemporânea à construção nacional

Decreto Federal

nº 4.886/2003

Institui a política de promoção da igualdade racial

Decreto Federal

nº 4.887/2003

Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento,

delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por

remanescentes das comunidades dos quilombos. Afirmam direitos aos

quilombolas, potencializa ações no plano político-organizativo das

comunidades. No plano político institucional cria órgãos e núcleos

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ligados à questão quilombola. As demandas quilombolas ganharam

espaços e visibilidade em órgãos já existentes

Lei Federal Nº

11.645/2008

altera a Lei no

9.394/1996,

modificada pela

Lei no

10.639/2003

Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e inclui no

currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática

“História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Conteúdo programático:

diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação

da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, estudo da

história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos

indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o

índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas

contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à

história do Brasil. Os conteúdos referentes à história e cultura afro-

brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito

de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e

de literatura e história brasileiras.” Amplia a ação valorizativa aos

indígenas e aos afro-descendentes, ao combater os estereótipos

negativos, historicamente construídos e consolidados na forma de

preconceitos e racismo

Decreto Federal

Nº 6.872/2009

Aprova o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial

(PLANAPIR)

Lei nº

12.288/2010

Institui o Estatuto da Igualdade Racial

Lei Federal nº

12.519/2011

Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra

Lei Federal nº

12.711/2012

Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições

federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências

Decreto nº

8.136/2013

Aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade

Racial (SINAPIR), instituído pela Lei nº12.288, de 20 de julho de 2010

Portaria de Nº

8/2014

Aprova os procedimentos para adesão e as modalidades de gestão

previstas no Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial

(SINAPIR)

Decreto nº

28.071/1988

Cria o conselho de participação e integração da comunidade negra

(CCN)

Decreto nº

30578/1989

Dá nova redação e altera dispositivos do decreto nº 28.071/1988.

Criação do Conselho de Participação e Integração da Comunidade

Negra, e dá outras providências

Lei Estadual nº

18251/2009

Cria o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial e dá outras

providências

Decreto Estadual

45156/2009

Regulamenta a Lei nº 18.251, de 7 de Julho de 2009, criando o Conselho

Estadual de Promoção da Igualdade Racial e dá outras providências

Lei Delegada

180/2011

Cria na estrutura da Secretaria de Estado de Trabalho e

Desenvolvimento Social/ Subsecretaria de Direitos Humanos a

Coordenadoria Especial de Políticas Pró-Igualdade Racial (CEPIR)

Lei Estadual nº

21147/2014

Institui a política estadual de povos e comunidades tradicionais

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Lei Estadual

nº 21152/2014

Estabelece diretrizes e objetivos para a formulação e a implementação

da política estadual de combate às discriminações racial e étnica

Lei municipal nº

4006/2007

Cria o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.

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Apêndice B – Roteiro para entrevista com conselheiros

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Pesquisa: Impasses comunitários para a participação no Programa Brasil Quilombola em uma

comunidade tradicional rural.

ENTREVISTA COM OS CONSELHEIROS DO CONSELHO MUNICIPAL DE

PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

Perfil:

1. Nome:

2. Cor/raça (marque apenas uma alternativa):

[ ] branca [ ] preta [ ] parda [ ] amarela [ ] indígena [ ] não declarada

3. Escolaridade:

[ ] Ensino fundamental [ ] Ensino médio [ ] Superior incompleto [ ] Superior completo

[ ] Especialização [ ] Mestrado [ ] Doutorado

4. Faixa Etária (em anos):

[ ] até 20 [ ] de 21 a 30 [ ] de 31 a 40 [ ] de 41 a 60 [ ] mais de 60

Sobre o Conselho:

5. Como foi o processo de criação do Conselho? Como foi a participação dos

beneficiários?

6. Há quanto tempo você faz parte desse Conselho?

7. Como você veio a participar do conselho?

Sobre a posição frente ao Conselho:

8. Quais reinvindicações você defende no Conselho?

9. Como é a relação do Conselho com a comunidade quilombola?

10. O que tem feito o Conselho em relação à promoção, proteção, prospecção e restauração

dos direitos quilombolas?

Sobre o Programa Brasil Quilombola:

11. Você já ouviu falar no Programa Brasil Quilombola?

[ ] NÃO – encerra

[ ] Sim – segue para as próximas perguntas

12. O município já conseguiu algum recurso por meio do Programa Brasil Quilombola para

a comunidade?

13. Você sabe por que a comunidade não tem acesso aos benefícios proporcionados pelo

programa?

14. O Conselho tem se empenhado para conseguir acessar aos benefícios proporcionados

pelo programa Brasil Quilombola?

15. Quais as dificuldades do Conselho para conseguir acessar aos benefícios

proporcionados pelo programa Brasil Quilombola?

16. Como você sugere que o Conselho aja para conseguir acessar a Comunidade aos

benefícios proporcionados pelo Programa Brasil Quilombola?

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Apêndice C – Roteiro para entrevista com Presidente da Associação

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

Projeto: Impasses comunitários para a participação no Programa Brasil Quilombola em uma

comunidade tradicional rural.

ENTREVISTA COM PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO

Perfil:

1. Nome:

2. Função:

3. Escolaridade:

[ ] Ensino fundamental [ ] Ensino médio [ ] Superior incompleto [ ] Superior completo

[ ] Especialização [ ] Mestrado [ ] Doutorado

4. Faixa Etária (em anos):

[ ] até 20 [ ] de 21 a 30 [ ] de 31 a 40 [ ] de 41 a 60 [ ] mais de 60

Sobre a Associação:

5. Como foi o processo de criação da Associação?

6. Há quanto tempo você faz parte dessa Associação?

7. Como você se tornou um membro da Associação? De que outras formas as pessoas se

associam?

7. Quais interesses você defende em sua atuação na Associação?

8. Qual é o maior benefício de se fazer parte Associação?

9. Com que frequência vocês se reúnem?

10. Vocês são financiados por alguma instituição? Qual? Qual o projeto?

11. Qual a expectativa da comunidade quanto às ações da Associação?

Sobre os problemas da comunidade:

12. Quais são os maiores problemas de sua comunidade?

13. Como são encaminhados e como são resolvidos os problemas da comunidade?

14. A associação trabalha ou interage com outras comunidades, com objetivos semelhantes,

neste município ou em outros municípios? Com que frequência? Para quais fins?

Sobre a titularidade da terra:

15. O território da comunidade pertence à Associação?

16. Se não como é distribuída a propriedade do território?

17. Todas as famílias têm titulo de propriedade? Algumas. Quantas? Quantas não têm título

de propriedade?

18. Você acha importante a comunidade usufruir da propriedade coletiva? Qual a

importância?

19. A comunidade tem ciência da importância da propriedade coletiva?

Sobre a comunidade:

20. Nos últimos cinco anos, o tamanho da população da Comunidade

[ ] diminuiu [ ] permaneceu o mesmo ou [ ] aumentou

21. Como você avalia as relações interpessoais na comunidade? (Considere os seguintes

aspectos: confiança, solidariedade, ação coletiva, cooperação, liberdade de escolha,

conflito, violência)

Sobre o Programa Brasil Quilombola:

22. Você conhece o Programa Brasil Quilombola? O que você sabe a respeito desse

programa?

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23. Quais as dificuldades de a comunidade ter acesso aos benefícios proporcionados por

esse programa?

24. Quais as suas sugestões para que a comunidade acesse os benefícios proporcionados por

esse programa?

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Apêndice D – Anotações encontros com a comunidade quilombola

1ª encontro

Data e hora 27 de junho de 2015, 16h00m

Duração 2 horas

Local Casa paroquial, posteriormente, transferido para a casa do presidente

da Associação

Agendamento Prévio, não cumprido pelos membros da comunidade

Registro de

frequência

Presidente da Associação, quilombola 1 e quilombola 2, uma diretora

da Associação convidada ausente

Forma de

realização

Agendado previamente apenas com o presidentes da associação,

convite aleatório a dois membros da comunidade e convite,

transmitido de última hora, e recusado pela diretora da Associação

Compromissos Pesquisador: retorno em 1 semana

Presidente da Associação: reencaminhamento de convites para os

membros da comunidade para a participação dos grupos focais e da

roda de conversa

Informações:

A implementação da pesquisa, posteriormente ao primeiro contato na comunidade,

esbarrou com dificuldades de estabelecimento de uma agenda objetiva, em virtude de

problemas de comunicação. Depois de muitas tentativas, conseguiu-se marcar-se esse

primeiro encontro para prestar esclarecimentos sobre a pesquisa e convidar pessoas da

comunidade para as atividades previstas em projeto, quais sejam, os grupos focais e a

roda de conversa. Nenhum membro da comunidade compareceu, pontualmente, a esse

encontro. Com meia hora de atraso, o presidente da Associação, veio se desculpar, em

nome dos ausentes, alegando a ocorrência de uma festa no Quilombo. Ato contínuo, ele

propôs o deslocamento da reunião para sua casa. Durante a caminhada até lá, ele

convidou, aleatoriamente, dois jovens para participarem. Pediu, ainda, que uma pessoa

fosse até à casa de uma das diretoras da associação, para convidá-la, também. Porém a

diretora justificou sua ausência, em razão de timidez. O presidente da Associação

informou da habitual ausência dos membros às Assembleias e às reuniões de diretoria,

enfrentando muita dificuldade em fazer com que as pessoas compareçam e participem

das atividades da Associação. Relatou, ainda, o descrédito da comunidade em relação ao

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meio acadêmico, devido ao fato de, nos últimos anos, ter recebido diversos

pesquisadores, que, após conseguirem as informações com os quilombolas, não

voltaram sequer para apresentar os resultados das pesquisas. Isso gerou desinteresse em

contribuir para pesquisas acadêmicas. Um dos membros da comunidade (quilombola 1)

se apresentou como alguém que está sendo treinado para assumir a liderança da

Associação, juntamente com outros jovens. Suas preocupações: [...] preocupa com os

jovens da comunidade, pois não tem lazer, [...] a única forma de diversão é a quadra da escola,

[...] tem um bar na comunidade que não é um local bom para frequentar; [...] os jovens correm

risco de serem desencaminhados para coisas imprestáveis (quilombola 1). O presidente da

Associação relatou-nos que a comunidade tem dificuldade em se identificar como

morador quilombola. [...] certa vez eu consegui umas vagas no curso técnico do

Instituto para jovens da comunidade, ai combinei com o diretor que ai mandar eles

para fazer inscrição no curso, ficou combinado que era para eles dizerem que eram

moradores da comunidade quilombolas. Passou alguns dias perguntei se eles tinham

feito a inscrição e qual motivo que não estavam frequentando o curso. Eles disseram

que tinham feito a inscrição e que não foram chamados. Ai fui atrás do diretor para

saber qual motivo não tinham sido aceitos no curso, ai o diretor falou assim: não tem

nenhuma inscrição da comunidade, eles não veio fazer a inscrição. Falei para o diretor

que eles tinham vindo e pedi para conferir para ver se eles tinha feito a inscrição.

Fiquei surpreso pois eles tinha feito a inscrição, mas identificou como quilombola e sim

com o nome do distrito e não como comunidade quilombola. Isso tem acontecido, pois

eles tem vergonha de falar que é da comunidade quilombola. A maioria dos moradores

daqui tem vergonha de ser quilombola. Então ai a gente perde muito com isso. A gente

explica para eles mas eles não aceitam. Quando falei com o Presidente a respeito dos

benefícios proporcionados pela Programa Brasil Quilombola e se a comunidade tinha

recebido algum benefício desse programa, o mesmo me dissse: vou ser sincero com

você, eu não conheço o Programa Brasil Quilombola, você poderia me dizer o que é

esse programa e como a gente pode trazer para nossa comunidade? Ai expliquei a ele

O Programa Brasil Quilombola (PBQ), do Governo Federal, oferece benefícios às

comunidades quilombolas relativos à titulação do território e ao acesso prioritário aos

programas sociais e às linhas de financiamento para o acesso aos serviços públicos

muitas das vezes inexistentes. A responsabilidade pela implementação do Programa é

compartilhada pelos três níveis de Governo: o Federal, o Estadual e o Municipal.

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2º encontro

Data e hora 5 de julho de 2015, 16h00m

Duração 4 horas

Local Casa paroquial, posteriormente, transferido para a casa do presidente

da Associação.

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo Presidente da

Associação.

Registro de

presença

Presidente da Associação, comunidade ausente.

Forma de

realização

Entrega de um computador, obtido pelo pesquisador e doado à

comunidade pelo Instituto Sabarense de Educação e Cidadania.

Levantamento de documentos da Associação

Realização da entrevistaSemi-estruturada

Compromissos Agendado com as mulheres para a realização de atividades na semana

seguinte, no contexto de outro encontro marcado com servidores da

Prefeitura.

Informações:

Os servidores da Prefeitura promoveriam um evento para reunir as mulheres da

comunidade em torno da luta das famílias afrodescendentes. De acordo com o

presidente da Associação, “as mulheres da comunidade é o esteio de nossos lares e

guardam em seus corações uma cultura secular na culinária, na dança, na música e,

principalmente, na arte de educar seus filhos”. A atividade implementada pela

Prefeitura foi realizada no salão paroquial da Igreja e foi um momento exclusivo para as

mulheres e suas crianças. A presença do pesquisador não foi bem acolhida pela

comunidade, em virtude da existência de uma rejeição em relação a pesquisadores

acadêmicos e ao poder público, tendo sido o evento planejado para proporcionar uma

aproximação com o poder público. Para o presidente da Associação isso se deveu às

muitas promessas que não se concretizaram e à criação de expectativas e aos

desapontamentos provocados na comunidade. Entretanto, o pesquisador informou aos

organizadores do evento sobre suas intenções. Conforme entendimento do presidente da

Associação, “antes de iniciar a pesquisa [o pesquisador] já demonstrou por meio de

ações [de apoio à comunidade e a sua Associação] que não tem as mesmas intenções

dos anteriores pesquisadores”. Apoio oferecido pelo pesquisador: Leitura da ata de

reunião de constituição da Associação trás reivindicação da comunidade quanto a

necessidade de alterar o nome do distrito, assumindo o nome da Comunidade

Quilombola. Trata-se de demanda necessária para o fortalecimento de sua identidade,

sendo assim, o pesquisador elaborou a minuta de projeto de lei para a alteração de

nome do distrito, sendo a mesma protocolada pela Associação junto ao poder público

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municipal (executivo e legislativo) com como o intuito de angariar apoio do Conselho

Municipal de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, uma cópia do projeto de lei

foi protocolada no conselho.

3º encontro

Data e hora 11 de julho de 2015, 15h00m

Duração 3 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo presidente da

Associação

Registro de

presença

Presidente da Associação, membros da Comunidade, representante do

Poder Publico Municipal

Forma de

realização

Evento festivo: encontro das mulheres da comunidade. Momento

importante para os primeiros contatos com alguns moradores da

comunidade

Compromissos Agendada a realização de curso sobre elaboração de projetos sociais,

para os moradores da comunidade

Informações:

Entre erros e acertos, foi proposto ao presidente da Associação realizar alguma

atividade de interesse da comunidade como estratégia de aproximação para ganhar a

confiança dos membros da Comunidade. O presidente da Associação demandou a

realização de oficinas para ensinar pessoas da Comunidade a elaborar projetos sociais.

Diante da resistência da comunidade em participar da pesquisa, entendeu-se essa

iniciativa como uma forma de se conseguir informações sobre a Comunidade,

oferecidas pelos seus membros.

4º encontro

Data e hora 25 de julho de 2015, 18h00m

Duração 3 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo Presidente da

Associação

Registro de

presença

Presidente da Associação e 9 moradores da comunidade

Forma de

realização

Oficina de capacitação

Compromissos Agendado com os participantes a presença à oficina de capacitação

para elaboração de projetos sociais a ter continuidade na semana

Seguinte

Informações:

Por tentativa e erro, esperava-se que esta seria a oportunidade ideal para ganhar a

confiança dos moradores da Comunidade. Iniciou-se o curso, com material adaptado à

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realidade local, bem como ao nível de escolaridade dos participantes, quais sejam:

alguns com ensino fundamental incompleto e outros ensino médio. Participaram 9

pessoas. O curso iniciou às 18h30m e finalizou às 20h00m. Ensinou-se o roteiro básico

para apresentação de projetos. Ao final, foi proposta uma atividade para que os alunos

apresentassem na oficina seguinte. A atividade proposta, pactuada com eles, foi a

realização de entrevistas com moradores antigos da comunidade sobre a origem da

Comunidade. Na semana seguinte, seriam ouvidas as gravações pelos participantes da

oficina. Com essas informações teria inicio a escrita da história da Comunidade, contada

pelos próprios moradores, a partir de um pequeno roteiro para auxiliá-los nas

entrevistas. Pretendia-se elaborar um projeto para escrever um livro, no futuro, contando

a história da Comunidade, pois havia-se percebido, conversando com os participantes

adolescentes, o desconhecimento de sua historia. Houve participante que declarou ter

vergonha de se identificar como membro da Comunidade Quilombola. Planejava-se, na

semana seguinte, apresentar a eles a pesquisa e convidá-los a participar. Evitou-se

mencionar a pesquisa, no primeiro momento, para não assustá-los, em virtude de

elevado grau de timidez. Alguns participantes disseram, ao final da aula, terem

apreciado o que aprenderam e assumiram o compromisso de trazer mais pessoas para

participar da continuidade do curso de elaboração de projetos. Nesse encontro, foi dada

a notícia de que o presidente da Câmara Municipal teve acesso ao projeto de lei que

altera o nome do Distrito conforme deliberado pela Assembleia Geral da Associação em

2012, registrada em Ata. O presidente da Associação soube que se o prefeito não

autorizar a alteração reivindicada, a Câmara dos Vereadores vai aprovar o pedido por

iniciativa do Legislativo.

5º encontro

Data e hora 1 de agosto de 2015, 16h00m

Duração 2 horas

Local Residência da moradora mais antiga da Comunidade

Agendamento Não houve agenda prévia

Registro de

presença

Presidente da Associação, moradora e seu neto.

Forma de

realização

Visita informal

Compromissos Não houve

Informações:

Retornou-se á Comunidade, conforme combinado com o presidente da Associação, para

se iniciar as visitas aos membros da diretoria. A primeira visita não encontrou o

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morador. Decidiu-se, então, visitar a moradora mais antiga da Comunidade. Por se tratar

de uma pessoa de 95 anos e por não se conseguir o acesso á sua tutora, não foi possível

gravar os assuntos conversados. De acordo com o presidente da Associação, ela havia

sido proibida por sua tutora de conceder entrevistas. Essa senhora, casada filho do

fundador da comunidade, disse ter vindo morar na Comunidade, ainda criança, com

seus pais. Ali casou-se e teve filhos, que moram em São Paulo. Disse, também, sentir

saudades do tempo em que as pessoas eram mais solidárias, pois, segundo ela, “hoje as

pessoas não vivem como antigamente, [época em que] eram mais próximas umas das

outras”. Em seguida, visitou-se a figueira centenária, segundo o presidente da

Associação, o ponto de encontro dos escravos. O presidente afirmou que “a arvore é

assombrada, de madrugada a gente escuta os escravos conversando, passarinho

cantando” etc. Hoje essa figueira é símbolo da tradição e da história da Comunidade.

Sua imagem é usada como identidade visual da Associação comunitária. O presidente

revelou que a figueira foi preservada até hoje devido ao compromisso da Comunidade

em atuar na preservação do meio ambiente, pois, desde cedo, seus membros aprenderam

práticas sustentáveis. A agricultura de subsistência é promovida e incentivada pela

Associação.

Data e hora 1 de agosto de 2015, 18h00m

Duração 3 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo presidente da

Associação

Registro de

presença

Presidente da Associação e 16 moradores da Comunidade.

Forma de

realização

Oficina de capacitação.

Compromissos Agendado com os participantes a continuidade da oficina de

elaboração de projetos sociais

Informações:

Chegou-se pontualmente à Casa Paroquial para ministrar mais uma atividade da oficina

de elaboração de projetos sociais, com a participação de 16 pessoas. Aguardava-se a

apresentação das entrevistas realizadas pelos alunos com os membros mais antigos da

comunidade. No entanto, ninguém apresentou o resultado da entrevista. Assistiu-se,

então, a reportagem da TV NBR sobre os Kalungas15

, para trabalhar aspectos culturais

15

A equipe da TV NBR foi conhecer a comunidade quilombola Kalunga localizada em três cidades do norte do

Goiás: Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. Reportagem de Isabela Azevedo e Márcio de Andrade,

edição de imagens de João Batista e produção de Sumaia Villela. Publicado em 22 de novembro de 2012 pela

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da Comunidade e mostrar aos jovens os pontos em comuns entre as duas comunidades

quilombolas. Em seguida, promoveu-se uma discussão que gerou observações

comparativas da situação dos kalungas com os membros da Comunidade pesquisada.

Todos foram unânimes em atestar que a situação da Comunidade era melhor do que a

dos Kalungas. Lá, a maioria das casas é de pau-a-pique, enquanto que as casas da

Comunidade são de alvenaria. Dando continuidade às atividades, a turma foi dividida

em três grupos para a elaboração de três projetos. O Grupo 1 projetou uma horta na

escola; o Grupo 2, uma criação de cabras; e o Grupo 3, a plantação de árvores na

Comunidade. A aula terminou às 20 horas, sendo recolhidos os trabalhos desenvolvidos

pelos grupos.

6º encontro

Data e hora 8 de agosto de 2015, 18h00m

Duração 4 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo Presidente da

Associação

Registro de

presença

Presidente da Associação e 3 moradores da comunidade

Forma de

realização

Oficina de capacitação

Compromissos Aguardar manifestação dos interessados para dar continuidade à

realização das oficinas

Informações:

Ministrou-se mais uma oficina do curso de elaboração de projetos. Neste dia,

compareceram apenas 4 pessoas, dentre elas duas mulheres jovens. As atividades foram

iniciadas com uma reflexão sobre os 9 anos de sanção da Lei 11.340 de 2006,

denominada Maria da Penha, cujo principal objetivo é coibir a violência doméstica e

familiar contra a mulher. Foi distribuída aos participantes a cartilha publicada pela

Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, intitulada “Viver

sem violência é Direito da Mulher – entenda a Lei Maria da Penha”. Arrazoou-se com

os participantes sobre as “cinco formas de violência doméstica e familiar contra as

mulheres: violência psicológica, violência física, violência sexual, violência patrimonial

e violência moral” (SPM, 2015, p. 20). Os participantes manifestaram ter presenciado

ou sabido de casos de violência doméstica e familiar na comunidade, sem que tenha

sido tomada nenhuma providência, em virtude do desconhecimento dos procedimentos

NBR NOTÍCIAS. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=VZFOgK0il-M>. Acesso em: 15 julho

2015.

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a seguir. Diante dessa situação o grupo elaborou um projeto para a realização de um

evento para mulheres da Comunidade e da vizinhança, no qual discutiriam a violência

doméstica e familiar. Acertou-se que esta atividade seria realizada na Casa Paroquial, no

dia 21 de novembro de 2015, das 14 às 17 horas. Deliberou-se que a Associação ficaria

responsável por elaborar e encaminhar os convites, bem como buscar parcerias junto ao

Poder Publico municipal e estadual. Tendo em vista a baixa participação nas oficinas,

ficou combinado o retorno do pesquisador, somente após um diálogo do presidente da

Associação com todos os participantes do curso, para verificar o grau de interesse do

grupo. Foi, assim, suspensa a realização das oficinas de capacitação para elaboração de

projetos sociais.

7º encontro

Data e hora 26 de setembro de 2015, 18h00m

Duração 4 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo presidente da

Associação.

Registro de

presença

Presidente, vice-presidente, uma conselheira fiscal da Associação, um

morador da comunidade, um representante do Instituto Federal de

Educação Ciência e Tecnologia (IF SUDESTE MG) e o Presidente do

Sindicato dos Trabalhadores e Empregados Rurais (SINTER) do

município e região.

Forma de

realização

Assembleia extraordinária da Associação

Compromissos Realizar o evento do dia das crianças, em 12 de outubro, e aproveitar o

evento para realizar Assembleia da Associação.

Informações:

Esta reunião visou dar continuidade ao processo de elaboração do projeto do

evento para as mulheres sobre a violência doméstica e familiar. O presidente da

Associação havia convidado o representante do IF SUDESTE MG, para apresentar à

Comunidade o projeto a ser desenvolvido para ela pela instituição técnica. Para o

interesse da pesquisa em andamento, esse seria o momento de realizar uma aproximação

com a coordenação do projeto do Instituto Federal. Tratava-se da proposta de uma ação

de ampliação das atividades de extensão, anteriormente, esporádicas e voltadas

exclusivamente para a agricultura. Atualmente, ampliou-se o leque de cursos ofertados

pelas atividades de extensão pelo IF.

A finalidade da aproximação do IF com a Comunidade é oferecer suporte para o

resgate de suas práticas culturais, protagonizado pela própria Comunidade, a partir do

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levantamento oral dos saberes e fazeres tradicionais, registrados na memória dos mais

velhos da Comunidade. O projeto visa os estoques das culturas tradicionais para a

criação de produtos culturais Espera-se, com isso, elevar a autoestima dos participantes,

promover a visibilidade da história oral, reconhecer e valorizar a comunidade;

comercializar produtos culturais com a identidade dos quilombolas; elevar o nível

socioeconômico dos integrantes da Comunidade; e recuperar o meio ambiente na

geração de insumos. O projeto pretende a formação de empreendimentos criativos com

objetivo de gerar renda para a comunidade, utilizando mão de obra e administração

local e distribuição dos lucros entre os participantes.

Tendo em vista a Comunidade, público alvo do projeto, não ter comparecido à reunião,

discutiu-se a estratégia para atrair a sua participação. Deliberou-se entre os presentes,

que a Associação deveria promover uma missa, no inicio do dia, seguida de almoço e

diversas atividades para comemorar do dia das crianças. Pretendia-se, com essa

atividade, atrair os pais e parentes das crianças, e, desta forma, realizar apresentação do

projeto do IF. A reunião foi encerrada às 20h00m. Como as meninas foram embora, não

foi possível propor o momento de entrevistas com elas, orientado por novo roteiro.

Nessa ocasião, conseguiu-se apresentar a pesquisa para a vice-presidente e a conselheira

fiscal da Associação. Combinou-se com elas um retorno à Comunidade para conversar

sobre a Associação e a Comunidade. Convidou-se, também, o presidente do SINTER

para conceder uma entrevista, tendo em vista a instituição ter informado à Comunidade

sobre os direitos dos quilombolas e incentivado a criação da Associação, orientando-os

sobre os procedimentos necessários para a autodeclaração e a certificação enquanto

Comunidade Quilombola frente à Fundação Cultural Palmares. Discutiu-se, além disso,

o processo eleitoral da Associação e ofereceu-se, ao SINTER, o envio, por correio

eletrônico, dos documentos necessários (ofícios, projetos sociais, projetos de lei, notas

técnicas, editais, informativos, etc.) para serem entregues impressos para o presidente da

Associação.

8º encontro

Data e hora 11 de outubro de 2015, 18h00m.

Duração 3 horas

Local Residência do morador

Agendamento Via telefone

Registro de

presença

1 morador da comunidade

Forma de Diálogo

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realização

Compromissos Não se aplica

Informações:

Visitou-se um jovem quilombola de 21 anos, com ensino médio completo, que revelou

ter tido contado com antigos moradores da comunidade, alguns já falecidos.

Desaprovou a relação da comunidade com a prefeitura e elogiou a representação

exercida pelo Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, com base em

participação nas reuniões, considerando-o um representante legítimo da Comunidade?.

Porém, não deixou de dizer que o Conselho tem deixado a desejar com respeito às

demandas da comunidade. Conhecedor da atuação do representante da comunidade no

Conselho, declarou: ele “tem tentado fazer o máximo possível para alcançar os

objetivos no caso do que a comunidade necessita”. Sobre a Associação, disse conhecer

todos os membros da diretoria. Avaliou que a Associação tem como função “conseguir

melhoramentos para comunidade, tanto quais de estrutura, melhoramento na vida social

das pessoas”, mas ela não tem conseguido cumprir com as metas. Segundo ele, “quando

os problemas surgem na comunidade deveria ser levado para a Associação resolver, isso

acontecia quando tinha reuniões, hoje não temos mais reunião na Associação”.

Confirmou os problemas da Comunidade: “são vários: melhoramento de ruas, casas

precárias, escola precisa melhorar, para as crianças não ter que ir frequentar escolas fora

da comunidade”. Sobre as questões relacionadas à posse da terra e o Programa Brasil

Quilombola, o jovem quilombola informou que “ninguém tem escritura da terra e não

conhece o programa Brasil Quilombola, e nem sobre o direito à titulação do território e

o uso coletivo da terra”.

9º encontro

Data e hora 12 de outubro de 2015, 08h00m.

Duração 8 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo Presidente da

Associação.

Registro de

presença

Diretoria da Associação Quilombola; moradores da Comunidade, 2

representantes do IF SUDESTE MG, e 2 representantes do SINTER

Forma de

realização

Evento festivo e Assembleia da Associação

Compromissos Realizar o encontro das mulheres em 21 de novembro de 2015

Informações:

Na Casa Paroquial, o presidente da Associação deu início às tratativas, ponderando

sobre a importância da Comunidade estar presente à atividade organizada pela

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Associação, qual seja, comemoração ao “dia das crianças” e à Assembleia da

Associação. Em seguida, informou o objetivo da assembleia que é apresentar o projeto

do Instituto Federal a ser desenvolvido na Comunidade. Em sequência, o representante

do IF explicou aos presentes a finalidade do Instituto se aproximar da comunidade e

oferecer suporte para que ela pudesse protagonizar o resgate de suas práticas culturais, a

partir do levantamento oral dos saberes e fazeres tradicionais junto aos mais velhos da

Comunidade. Apresentado o projeto, o representante do IF marcou uma nova data para

fazer a inscrição dos interessados em participar. Dando prosseguimento à reunião, o

presidente da Associação apresentou a pesquisa na Comunidade do interesse dessa

dissertação e informou aos presentes sobre o trabalho de apoio e orientação à

comunidade, que vinha sendo realizado concomitantemente à pesquisa. Passada a

palavra para o pesquisador, esse ofereceu mais informações sobre a pesquisa e convidou

aos presentes à participação, por meio da concessão de entrevista a respeito dos

problemas da comunidade; da Associação; das ações da Prefeitura; etc. Em seguida, foi

concedida a palavra ao Presidente do Sindicato, que chamou atenção para a não

participação da Comunidade nas atividades da Associação. Refletiu sobre a situação da

comunidade antes do reconhecimento como quilombola e as conquistas posteriores, por

meio da Associação. Conclamou os presentes à participação nas reuniões e nos

processos decisórios ad Associação. Segundo depoimento do presidente do Sindicato

foram muitos os benefícios recebidos pela Comunidade depois do reconhecimento

oficial pela Fundação Cultural Palmares como Quilombola, vindo a acessar às seguintes

políticas públicas: [...] energia elétrica; distribuição de água, antes a água vinha no

caminhão pipa, uma água não potável, que chegou a encontrar na água camisinha, barbeador,

e que o prefeito fechou escolas da zona rural a única comunidade que ele não conseguiu fechar

foi esta comunidade por ser ela uma comunidade quilombola, a lei não permite. Se a

comunidade não participa e não apóia a associação, não adianta depois reclamar, é preciso

enxergar as coisas boas que vocês conseguiram com a intervenção da associação. (presidente

do SINDICATO, 2015). O presidente do sindicato encerrou convocando os moradores da

comunidade serem mais participativos e apoiarem a associação, argumentando: “pois só

assim é que a associação será mais forte para reivindicar melhorias para a comunidade”.

10º encontro

Data e hora 21 de novembro de 2015, 14h00m.

Duração 8 horas

Local Casa paroquial

Agendamento Prévio, mediante encaminhamento de convites pelo Presidente da

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Associação.

Registro de

presença

18 mulheres moradoras da comunidade

Forma de

realização

Encontro das mulheres da comunidade com representantes da

Subsecretaria de Políticas Para Mulheres da Secretaria de Estado de

Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania

Compromissos Organizar evento para discutir com os homens da comunidade a Lei

Maria da Penha

Informações:

Evento organizado pelos participantes do Curso de Elaboração de Projetos realizado nos

mês de julho a agosto, e contou com a parceria da associação com Subsecretaria de

Políticas Para Mulheres da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação

Social e Cidadania. Essa atividade contou com o lançamento do atendimento móvel às

mulheres vítimas de violência doméstica e familiar equipado com salas para

atendimento personalizado, o ônibus foi cedido à Secretaria de Estado de Direitos

Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) pela então ministra Eleonora

Menicucci, do antigo Ministério de Políticas para Mulheres (SPM). Durante a

solenidade do lançamento do atendimento móvel, que contou com as presenças do

secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário

Miranda, e da equipe da subsecretaria de Políticas para Mulheres, houve uma roda de

conversa, onde foram distribuído a Lei Maria da Penha e discutidos os avanços da

referida lei e as várias formas de violência contra as mulheres como a psicológica,

física, sexual, patrimonial e moral. Em entrevista a Subsecretária de Políticas para

Mulheres da Sedpac, Larissa Borges, a entrega deste veículo é de fundamental

importância no enfrentamento à violência contra as mulheres no Estado de Minas

Gerais. “Essa medida expressa o compromisso do Governo de Minas para o bem viver

das mulheres, considerando a sua diversidade. É um trabalho específico para os

quilombolas”. No decorrer das atividades as participantes relataram ter presenciado ou

ter sofrido violência doméstica e familiar, e que não denunciaram por não saber como

proceder e por medo de sofrerem retaliação por parte do agressor. As participantes do

evento foram orientadas a respeito de como proceder nestes casos. Em decorrência

dessas denúncias o grupo demandou pela realização de uma atividade como os homens

da comunidade.

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Anexo A – Quadro 4: Municípios de Minas Gerais onde se localizam comunidades

quilombolas

1. Almenara 1. Marobá dos Teixeiras

2. Marobá

2. Amparo do Serra 3. Estiva

3. Angelândia 4. Alto dos Bois

5. Barra do Capão

6. Córrego do Engenho

4. Antônio Carlos 7. Comunidade de Baú

5. Antônio Dias 8. Indaiá

6. Araçuaí 9. Arraial dos Crioulos

10. Baú

11. Córrego do Narciso do Meio

7. Ataléia 12. Salineiros

8. Barbacena 13. Candendês

9. Belo Horizonte 14. Luízes

15. Mangueiras

16. Manzo Ngunzo Kaiango

10. Belo Vale 17. Boa Morte

18. Chacrinha

11. Berilo 19. Água Limpa de Baixo

20. Água Limpa de Cima

21. Alto Caititu

22. Caitetu do Meio

23. Mocó dos Pretos

24. Morrinhos

25. Muniz

26. Quilombolas

27. Vila Santo Isodoro

12. Bertopolis 28. Pradinho

13. Bias Fortes 29. Colônia do Paiol

14. Bocaiúva 30. Macaúba Palmito e Macaúba Bela Vista

31. Mocambo e Sítio

15. Bom Despacho 32. Carrapatos da Tabatinhga

33. Quenta Sol

16. Bom Jesus do Amparo 34. Felipe

17. Brasília de Minas 35. Bora

18. Brumadinho 36. Marinhos e Rodrigues

37. Ribeirão

38. Sapé

19. Cantagalo 39. São Félix

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20. Capinópolis 40. Fazenda Sertãozinho

21. Carlos Chagas 41. Marques

22. Chapada do Norte 42. Buraquinhos

43. Córrego da Misericórida

44. Gravatá

45. Moça Sana

46. Poções

47. Porto dos Alves

48. Porto Serrano

23. Chapada Gaúcha 49. Barro Vermelho

50. Prata

51. São Félix

24. Coluna 52. Furtuoso

53. Pitangueira

54. Suassuí

55. Varjão

25. Conceição do Mato Dentro 56. Buraco

57. Cubas

58. Três Barras

26. Contagem 59. Arturos

27. Coração de Jesus 60. São Geraldo

28. Cristália 61. Barreiro

62. Paiol

29. Diamantina 63. Mata dos Crioulos

64. Quartel do Indaiá

65. Vargem do Inhaí

30. Divino 66. São Pedro de Cima

31. Dom Joaquim 67. Córrego Choeira, Xambá e Ribeirão

32. Felisburgo 68. Paraguai

33. Formoso 69. São Francisco

34. Francisco Badaró 70. Mocó

71. Passagem

72. Tocoiós

35. Francisco Sá 73. Poções

36. Fronteira dos Vales 74. Boa Vista

75. Os Nunes

76. Ventania

37. Frutal 77. Serrinha

38. Gameleiras

39. Jaíba

40. Pai Pedro

41. Porteirinha

78. Gorutuba

42. Gouveia 79. Espinho

43. Indaiabira 80. Brejo Grande

44. Itabira 81. Morro Santo Antônio

45. Itamarandiba 82. Chico Alves

83. Gangorra

84. Veneno

85. Asa Branca

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126

86. Córrego Fundo

87. Gaspar

88. São Gil

89. São Gil II

90. Tabatinga

46. Itinga 91. Genipapo Pintos

47. Jaboticatubas 92. Açude

93. Mato do Tição

48. Janaúba 94. Bem Viver de Vila Nova das Poções

49. Januária 95. Água Viva

96. Alegre

97. Alegre II

98. Balaieiro

99. Barreiro

100. Barreiro do Alegre

101. Buritizinho

102. Cabano

103. Caluzeiros

104. Capoeira Grande

105. Gameleira

106. Grotinha

107. Lambedouro

108. Onça

109. Pasta Cavalo

110. Pé da Serra

111. Pedras

112. Picos

113. Pitombeiras

114. Quebra Guiada

115. Retiro dos Bois

116. Riachinho

117. Várzea da Cruz

118. Vila Aparecida

50. Jenipapo de Minas 119. Lagoa Grande

51. Jequitibá 120. Dr. Campolina

52. Jequitinhonha 121. Mumbuca

53. Joaíma 122. Rural Barreirinho

54. João Pinheiro 123. Santana do Caatinga

55. Leme do Prado 124. Porto Coris

56. Luislândia 125. Júlia Mulata

57. Manga 126. Bebedouro

127. Brejo de São Caetano

128. Espinho

129. Ilha da Ingazeira

130. Justa I

131. Justa II

132. Malhadinha

133. Pedra Preta

134. Puris

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135. Vila Primavera

58. Mariana 136. Vila Santa Efigênia

59. Materlândia 137. Botelho

138. Bufão

60. Matias Cardoso 139. Lapinha

140. Praia

61. Mercês 141. Carreiros

62. Minas Novas 142. Capoeirinha

143. Curralinho

144. Garvatá

145. Macuco

146. Mata Dois

147. Pinheiro

148. Quilombo

63. Moeda 149. Taquaraçu

64. Monte Azul 150. Laranjeira

151. Buqueirão

152. Língua D’Água

153. Pesqueiro

154. Poções e Pacui

155. Roçado

156. São Sebastião

157. Socô Velho

158. Socô Verde

159. Tira Barro

65. Muzambinho 160. Muzanbinho

66. Nazareno 161. Jaguara e Palmital

67. Ouro Verde de Minas 162. Água Limpa

163. Agua Preta

164. Agua Preta de Cima

165. Córrego Carneiro

166. Negra Rural de Quilombo

167. Santa Cruz

68. Paracatu 168. Cercado

169. Família dos Amaros

170. Machadinho

171. Pontal

172. São Domingos

69. Paraopeba 173. Pontinha

70. Passa Tempo 174. Cachoeira dos Forros

71. Patos de Minas 175. São Sebastião

72. Paula Candido 176. Córrego do Meio

73. Pedras de Maria da Cruz 177. Ilha da Capivara e Caraíbas

178. Palmeirinha

74. Pedro Leopoldo 179. Povoado de Pimentel

75. Pescador 180. Comunidade dos Ferreiras

76. Piranga 181. Santo Antônio de Pinheiros Altos

182. Santo Antônio do Guiné

77. Pitangui 183. Veloso

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78. Pompéu 184. Saco Barreiro

79. Presidente Kubitschek 185. Raiz

80. Ponte Nova 186. Bairro de Fátima

81. Raul Soares 187. Comunidade dos Bernardos

82. Resende Costa 188. Curralinho dos Paulas

83. Ressaquinha 189. Santo Antônio do Morro Grande

84. Riacho dos Machado 190. Peixe Bravo

85. Rio Espera 191. Buraco do Paiol

192. Moreiras

86. Rio Piracicaba 193. Caxambu

87. Sabinópolis 194. Córrego Mestre

195. Maritaca

196. Quilombos Sesmaria

197. Santa Bárbara

198. São Domingos

88. Santa Maria de Itabira 199. Barro Preto

89. Santos Dumont 200. São Sebastião do Boa Vista

90. São Francisco 201. Bom Jardim da Prata

202. Buriti do Meio

91. São João da Ponte

203. Agreste

204. Boa Vistinha

205. Limeira

206. Sete Ladeiras

207. Terra Dura

208. Vereda Viana

92. São João da Ponte

93. Varzelândia

94. Verdelândia

209. Brejo dos Crioulos

95. Serra do Salitre 210. Família Teodoro de Oliveira e Ventura

96. Serranópolis de Minas 211. Brutiá

212. Campos

97. Serro 213. Ausente

214. Baú

215. Queimadas

216. Santa Cruz

217. Vila Nova

98. Tabuleiro 218. Bota Fogo

99. Teófilo Otoni 219. São Julião 2

100. Ubá 220. Namastê

101. Ubaí 221. Gerais Velho

102. Urucuia 222. Baixa Funda

103. Vazante 223. Bagres

224. Bainha

225. Cabeludo

226. Consciência Negra

104. Viçosa 227. Buieié

105. Virgem da Lapa 228. Alto Jequitibá

229. Curral Novo

230. Pega

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231. Quilombo das Almas

232. União dos Rosários

106. Visconde do Rio Branco 233. Maria Bernadete Lopes da Silva Fonte: Fundação Cultural Palmares, 2015.

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Anexo B Termo de Compromisso de Cumprimento da Resolução 466/2012

Nós, Professora Drª. Ediméia Maria Ribeiro de Mello, inscrita no CPF/MF sob o número

203729576/68, e Clever Alves Machado, brasileiro, casado, cientista social, portador de

documento de identidade nº. M-3.60w.757, inscrito do CPF/MF sob o número 611.440.706-

78, responsáveis pela pesquisa intitulada “Política de Promoção da Igualdade Racial em

municípios onde existem comunidades quilombolas” declaramos que:

Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que

serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;

Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados

para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;

O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa

responsabilidade;

Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em

encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os

direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à

divulgação;

Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum

risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não

tenha sido previsto no termo de consentimento.

O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento

da pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção

da pesquisa;

As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa.

Belo Horizonte/MG, xxx de xxxxxxx 2014

Profª. Drª. Ediméia Maria Ribeiro de Mello Clever Alves Machado

CPF nº. 203.729.576/68 CPF nº. 611.440.706-78

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Anexo C Termo de Autorização de uso de imagem e depoimentos

Eu __________________________, CPF ____________, RG_______________, depois de

conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da

pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem e/ou

depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),

AUTORIZO, através do presente termo, o pesquisador aluno Clever Alves Machado, sob a

orientação da Profª. Drª. Ediméia Maria Ribeiro de Mello, do projeto de pesquisa intitulado

“Política de Promoção da Igualdade Racial em municípios onde existem comunidades

quilombolas”, a realizar as fotos e/ou vídeos que se façam necessárias e/ou a colher meu

depoimento sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos negativos ou

cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e

transparências), em favor do pesquisador da pesquisa acima especificada, obedecendo ao que

está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da

Criança e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.°

10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº

5.296/2004).

Belo Horizonte/MG, ____ de _________ de 2014.

_______________________ ______________________________

Participante da pesquisa Pesquisador responsável pelo projeto

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Anexo D Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título da Pesquisa: “Política de Promoção da Igualdade Racial em municípios onde existam

comunidades quilombolas em Minas Gerais”

Nome do Pesquisador Principal: Clever Alves Machado

Nome da Orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello

1. Natureza da pesquisa: você está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que

tem como finalidade compreender as dificuldades de uma comunidade quilombola

trilhar todo o processo de implementação da política de promoção da igualdade racial e

se habilitar a usufruir dos benefícios do Programa Brasil Quilombola, para o

desenvolvimento de uma contribuição técnica, afim com a gestão social, que

proporcione incrementar o número de municípios aderidos à política, com vistas no

desenvolvimento local e com características de inovação social e potencial de

transformação social.

2. Participantes da pesquisa: 6 conselheiros municipais de promoção da igualdade racial

(3 governamental e 3 sociedade civil); membros da Diretoria da Associação da

Comunidade Rural Remanescente Quilombola; e moradores da comunidade.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a você permitirá que o

pesquisador Clever Alves Machado você tem a liberdade de se recusar a participar e

ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer

prejuízo para você. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa

por meio do telefone do pesquisador do projeto e, se necessário, por meio do telefone do

Comitê de Ética em Pesquisa.

4. Sobre as entrevistas: serão realizadas entrevistas com conselheiros do Conselho

Municipal de Promoção da Igualdade Racial, e diretoria da Associação da Comunidade

Rural Remanescente Quilombola. As entrevistas focalizadas visam extrair atitudes e

respostas dos participantes, seus sentimentos, opiniões e reações com intuito de

aproximar os sujeitos da pesquisa ao pesquisador, tornando flexível a condução da

entrevista, permitindo assim checar os dados no momento em que são oferecidas pelos

informantes.

5. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os

procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa

com Seres Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de

Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. Na pior das

hipóteses, pode provocar algum desconforto, mas o compromisso com a

confidencialidade da identidade resguarda o entrevistado.

6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente

confidenciais. Somente o pesquisador e a orientadora terão conhecimento dos dados.

7. Benefícios: ao participar desta pesquisa você não terá nenhum benefício direto.

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Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre a

Comunidade Rural Remanescente Quilombola, de forma que o conhecimento que será

construído a partir desta pesquisa possa dar visibilidade e empoderamento politico à

comunidade junto sociedade. O pesquisador se compromete a divulgar os resultados

obtidos sejam eles favoráveis ou não.

8. Pagamento: você não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem

como nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre e esclarecida para

participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu

consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de

consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste

estudo.

___________________________

Nome do Participante da Pesquisa

______________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

__________________________________

Assinatura do Pesquisador

___________________________________

Assinatura do Orientador

Pesquisador Principal: Clever Alves Machado

Telefone: (031) 3485-1144

Orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello

Telefone: 9992-3268

Comitê de Ética em Pesquisa

Rua Guajajaras, 175, 4o andar – Belo Horizonte/MG

Contato (e-mail): [email protected]

Anexo E Autorização para coleta de dados

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Eu, _________________________________, AUTORIZO a coleta de dados do projeto

“Política de Promoção da Igualdade Racial em municípios onde existem comunidades

quilombolas”, bem como para entrevistar técnicos vinculados à essa coordenadoria, pelos

pesquisadores Profª. Drª. Ediméia Maria Ribeiro de Mello (orientadora) e Clever Alves

Machado (aluno), após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro Universitário

UNA.

Belo Horizonte/MG, ___ de_________ de_____

Assinatura e carimbo:_________________________________________

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Anexo F Comprovante Aprovação Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário

UNA, sob o número CAAE Nº 45021515.0.0000.5098