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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
EDUARDO MORAIS BUENO
ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA MOVELEIRA DA
MICRORREGIÃO DE UBÁ/MG SOB A PERSPECTIVA DE CLUSTER
Belo Horizonte
2016
Eduardo Morais Bueno
ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA MOVELEIRA DA
MICRORREGIÃO DE UBÁ/MG SOB A PERSPECTIVA DE CLUSTER
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Administração do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Inovação e Dinâmica Organizacional Linha de Pesquisa: Inovação, Redes Empresariais e Competitividade Orientador: Prof. Dr. Gustavo Quiroga Souki Centro Universitário UNA
Belo Horizonte
2016
Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras
B928a
Bueno, Eduardo Morais
Análise da cadeia produtiva moveleira da microrregião de Ubá/MG sob a
perspectiva de cluster. / Eduardo Morais Bueno. – 2016.
98f.
Orientador: Prof. Dr. Gustavo Quiroga Souki Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2016. Programa de Pós-
Graduação em Administração.
Inclui bibliografia.
1. Indústria de móveis. 2. Cluster industrial 3. Administração. I. Souki,
Gustavo Quiroga. II. Centro Universitário UNA. III. Título.
CDU: 658
AGRADECIMENTOS
À minha esposa Marina Delgado, pelo amor, companheirismo, paciência e incentivo
neste momento tão especial de minha formação acadêmica.
Ao meu orientador Prof. Dr. Gustavo Quiroga Souki pelo direcionamento e orientação.
Ao Prof. Dr. Rivadávia Correa Drummond de Alvarenga Neto pela inspiração.
Aos membros da banca, Prof. Dr. Henrique Cordeiro Martins e Prof. Dr. Ricardo César
Alves pela disponibilidade e pelas valiosas considerações e contribuições.
Ao SEBRAE/MG, especialmente à Sra. Fabiana Santos Vilela, pela autorização e
disponibilização do trabalho que foi o marco inicial desta dissertação.
Aos amigos Silvana Alves de Oliveira, Alexson Marcelino Pereira e Daniela Cristina
Soares Coimbra pelo apoio e incentivo.
Aos professores Dra. Iris Barbosa Goulart, Dr. Poueri do Carmo Mário, Dra. Fernanda
Carla Wasner Vasconcelos, Dra. Gisele Tessari Santos e Dr. Flávio Dias Rocha, pelos
ensinamentos transmitidos em sala de aula.
Aos meus colegas de turma pela ótima convivência neste período de estudos.
Aos empresários, representantes das entidades e representantes do poder público
visitados, pela disponibilidade em conceder parte de seu precioso tempo para a
execução desta pesquisa.
Ao Prof. Leonardo Parma de Lima pelas ótimas dicas para desenvolvimento da
pesquisa de campo.
Por fim, agradeço a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para o
desenvolvimento deste trabalho.
If you want to go fast, go alone. If you want to go far, go together.
Se você quiser ir rápido, vá sozinho.
Se você quiser ir longe, vá junto.
Provérbio Africano
RESUMO
Esta dissertação de mestrado traz uma análise da cadeira produtiva moveleira da microrregião de Ubá/MG sob a perspectiva de cluster. Os clusters, enquanto redes organizacionais, vêm sendo estudados desde o final do século XIX por Alfred Marshall, em seus trabalhos sobre os distritos industriais, tendo tomado mais corpo na literatura com as publicações de Porter no final do século XX. Dado a importância das aglomerações de empresas em torno de um processo produtivo, o presente trabalho buscou fazer uma análise detalhada do polo moveleiro, que possui em torno de 300 empresas, sendo o maior empregador da região onde está estabelecido. O trabalho explicita suas características a partir de 5 dimensões definidas com base na literatura: Inovação, políticas públicas, relação entre as partes, treinamento e desenvolvimento de mão de obra e associações e instituições de apoio. O trabalho, com uma abordagem qualitativa e de caráter descritivo, caracteriza-se como um estudo de caso. Foram realizadas entrevistas em profundidade com representantes de instituições públicas e privadas do polo em questão, onde se buscou além do aprofundamento nas características do cluster, também sugestões de soluções para seu maior desenvolvimento. Foi possível perceber que o poder público se encontra afastado do polo, atuando apenas como agente normativo, fiscalizador e punitivo. A relação entre os diversos agentes participantes da cadeia se caracterizam como frágeis, imediatistas e necessitando de maior confiança. Além disso, as associações e instituições de apoio são poucas e não muito participativas. Os entrevistados apresentaram diversas sugestões para expansão do polo, entre elas se destacam, a maior participação do poder público com efetivas ações de desenvolvimento, maior proximidade com universidades e outras instituições de apoio, e o avanço no aperfeiçoamento gerencial dos empresários, visto que aqueles que não estavam devidamente preparados, estão com maior dificuldade para atravessar a crise econômica do Brasil dos anos de 2015 e 2016. Palavras-chave: Cluster, Arranjo Produtivo Local, Polo Moveleiro
ABSTRACT
This dissertation brings an analyze of the furniture production chain of the Ubá / MG micro-region under the cluster approach. Clusters, as organizational networks, have been studied since the late nineteenth century by Alfred Marshall, in its work on industrial districts and took more body in the literature with Porter publications in the late twentieth century. Given the importance of clusters, this study pursued to make a detailed analysis of the furniture chain, which has around 300 companies, and is the largest employer in the region where is established. The work explains its features from 5 dimensions defined based on the literature: innovation, public policy, relationship between the parties, manpower training and development, and associations and support institutions. The work, with a qualitative and descriptive approach is characterized as a case study. Depth interviews were conducted with representatives of public and private institutions of the object in question, which was aimed to deepening the cluster characteristics, and also gather suggestions for solutions for their further development. It was possible to see that the government is away from the cluster, acting only as a normative, supervisory and punitive agent. The relationship between the different agents participating in the chain are characterized as weak, shortsighted and requiring greater confidence. In addition, associations and support institutions are few and not very participatory. Respondents had several suggestions for the cluster expansion, including greater participation of the public authorities with effective development actions, more proximity to the universities and other supporting institutions, and improvement on managerial training of the entrepreneurs, as those who were not properly prepared, are having more difficult to get through the 2015 and 2016 economic crisis in Brazil.
Keywords: Cluster, Local Productive Arrangement, Furniture Productive Chain
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 – Matriz da inovação....................................................................... 29 FIGURA 2 – O contexto da tecnologia nos clusters menos desenvolvidos .......35
FIGURA 3 – Posição dos municípios que compõe a microrregião de Ubá .......52 FIGURA 4 – Localização geográfica da microrregião de Ubá .......................... 54 FIGURA 5 – Vista de um dos laboratórios do SENAI em Ubá ......................... 69
FIGURA 6 – Divulgação de cursos do SENAI de Ubá ..................................... 72
FIGURA 7 – Cena comum em Ubá – Imóveis comerciais fechados ................ 74
QUADRO 1 – Tipos de clusters e performance...................................................21
QUADRO 2 – Instituições do GTP APL...............................................................40
QUADRO 3 – Principais fatos históricos do APL de Ubá.....................................55
QUADRO 4 – Pontos fortes e fracos do APL moveleiro da microrregião de
Ubá................................................................................................75
QUADRO 5 – Sugestões para maior desenvolvimento do cluster.......................80
LISTA DE TABELAS
1 – População residente do Município de Ubá em 2010. .......................................... 52
2 – Municípios que compõe a microrregião de Ubá .................................................. 53
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALMG Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
APEX Brasil Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
APL Arranjo Produtivo Local
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CNI Confederação Nacional da Indústria
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
FEMUR Feira de Móveis de Minas Gerais
FIEMG Federação das Industrias do Estado de Minas Gerais
FIESP Federação das Industrias do Estado de São Paulo
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
GTP APL Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais
IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
INTERSIND Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá
MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
OECD Organisation for Economic Co-operation and Development
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PEIEX Projeto Extensão Industrial Exportadora
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SESI Serviço Social da Indústria
UFV Universidade Federal de Viçosa
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11
1.1. Justificativa e relevância da pesquisa ....................................................... 13
1.2. Questão norteadora da pesquisa ................................................................ 14
1.3. Objetivos ....................................................................................................... 15
1.3.1. Objetivo geral ............................................................................................ 15
1.3.2. Objetivos específicos ............................................................................... 15
1.4. Estrutura da dissertação ............................................................................. 15
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 17
2.1. Redes organizacionais ................................................................................. 17
2.2. Clusters ......................................................................................................... 19
2.2.1. Estrutura de um cluster ............................................................................ 23
2.3. Dimensões para caracterização de um cluster ......................................... 27
2.3.1. Inovação..................................................................................................... 27
2.3.2. Políticas públicas ...................................................................................... 37
2.3.3. Relação entre as partes ............................................................................ 42
2.3.4. Treinamento e desenvolvimento de mão de obra ................................. 45
2.3.5. Associações e Instituições de Apoio ...................................................... 47
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 51
3.1. Caracterização da pesquisa ........................................................................ 51
3.2. Coleta de Dados ............................................................................................ 52
3.3. Técnicas de interpretação dos dados ........................................................ 54
4. UNIDADE DE ANÁLISE .................................................................................... 56
5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ...................................... 61
5.1. Dimensão 1: Inovação .................................................................................. 61
5.2. Dimensão 2: Políticas públicas ................................................................... 63
5.3. Dimensão 3: Relação entre as partes ......................................................... 66
5.4. Dimensão 4: Treinamento e desenvolvimento de mão de obra ............... 69
5.5. Dimensão 5: Associações e instituições de apoio ................................... 72
5.6. Sugestões para maior desenvolvimento do cluster ................................. 76
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 82
6.1. Limitações e sugestões para futuras pesquisas ....................................... 86
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 88
APÊNDICE ................................................................................................................ 97
11
1. INTRODUÇÃO
As redes de empresas, ou redes organizacionais, vêm despertando
interesse da literatura desde o final do século XX, graças a exemplos de sucesso, tais
como o modelo de produção da Toyota no Japão. A percepção de que trabalhar de
forma isolada não gera tanto valor para a organização quanto trabalhar de forma
colaborativa, despertou nas empresas a necessidade de atuar em redes empresariais,
onde há compartilhamento de recursos, aprendizado e informações (KLEIN;
PEREIRA, 2012; KLEIN; ALVES; PEREIRA, 2015).
Redes empresariais podem impulsionar a economia de determinada
região, favorecendo a competitividade através da inovação. Uma das vantagens para
uma empresa em fazer parte de uma rede, está no fato de poder juntar forças, para
que, coletivamente, consiga crescer e tornar-se maior. Neste contexto, a participação
em uma rede inserida em uma mesma região geográfica – um cluster-, possibilita
maior acesso a informações e parcerias (OSINSKI et al., 2015).
Estudos a respeito da formação e funcionamento dos clusters industriais se
propagam entre diversos autores e nos mais diversos países. O primeiro a levantar o
assunto foi Alfred Marshall (1920) em sua publicação “Princípios de Economia”, onde
iniciou a abordagem sobre os distritos industriais, que se caracterizam pela
concentração de indústrias de um mesmo ramo, a disponibilidade de pessoal
qualificado e troca de conhecimento entre os participantes. Outro importante marco a
respeito dos clusters, são os estudos de Michael Porter sobre a vantagem competitiva
das nações, que marcaram o início de uma nova era de estudos intensos e análise
econômica sobre o fenômeno da concentração de empresas, gerando extensa
literatura sobre suas configurações (DELGADO et al., 2016).
O conceito dos clusters envolve um fenômeno econômico onde em um
ambiente competitivo, muitas empresas, com proximidade geográfica, competem e
colaboram simultaneamente com o intuito de obter diferentes ganhos econômicos. Os
clusters permitem ganhos em escala e impulsionam a capacidade competitiva das
organizações participantes, onde as menores distâncias geográficas, a maior
capacidade de entendimento entre as partes e a criação e o compartilhamento de
conhecimento, fortalecem estes ganhos (LASTRES; CASSIOLATO, 2003).
O destaque econômico de clusters de sucesso são em si só, motivo
importante para o aumento da atenção que este modelo tem recebido da comunidade
científica e dos governos. Exemplos como o Vale do Silício, a indústria do cinema em
12
Hollywood, na Califórnia, a indústria da moda na Itália além dos clusters do vinho na
Austrália ou no Chile, mostram o sucesso que se pode alcançar com a aglomeração
de empresas em um mesmo local (PORTER, 1998).
Os clusters são tidos ainda como importantes espaços para a inovação.
Devido à proximidade geográfica, há maior troca de informações. Além disso, os
spillovers, ou seja, o desdobramento a partir de tecnologias existentes, a
concentração de pessoal qualificado e a existência de infraestrutura e apoio
adequado, são fatores que potencializam o processo criativo e consequentemente a
inovação (LAI et al., 2014; NISHIMURA e OKAMURO, 2011; OECD, 2007; TIGRE,
2006).
Aharonson et al. (2013) completam afirmando que novos empreendimentos
relacionados à tecnologia, são beneficiados por estar em um cluster. Os autores
demonstraram que empresas que estavam geograficamente mais próximas de seus
parceiros, se mostraram mais inovativas, e apresentavam maior número de patentes,
do que aquelas que estavam mais distantes de seus pares.
Kozhuharova et al. (2016) fazem uma síntese, afirmando que os clusters
podem ser considerados como um instrumento para aumento da competitividade
nacional e regional. De acordo com os autores, em um cluster há estimulo ao
crescimento econômico, e a cooperação entre as empresas, universidades,
instituições de pesquisa, fornecedores e autoridades públicas em uma região
geográfica específica é incentivada. O caráter interativo dos clusters estimula a
inovação e apropriação de conhecimentos de cunho econômico que são a base para
a geração de benefícios futuros e, ainda, criar condições favoráveis para uma gestão
inovativa de sucesso.
No Brasil, o termo cluster industrial foi cunhado como APL (Arranjo
Produtivo Local). A atenção sobre este fenômeno, e as possibilidades de ganhos no
desenvolvimento local com suas características teve início em 2004, com a
oficialização do termo pelo Governo Federal, e políticas de apoio e incentivo tiveram
início em todas as esferas da administração pública (FIESP/MDIC; 2007).
Naquele ano, o governo reuniu diversas entidades governamentais e não
governamentais para a formação de um Grupo de Trabalho Permanente com foco no
desenvolvimento dos APLs (GTP APL) sob comando do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Foram identificados os
arranjos produtivos existentes no Brasil e elaborados planos de curto e longo prazo
13
para cada um deles, com o objetivo de promover a competitividade e sustentabilidade
nos territórios abrangidos pelos APLs (BELLUCCI et al., 2014).
Há quase duas décadas, várias ações de desenvolvimento e apoio às
atividades produtivas vêm sendo realizadas pelo GTP APL, com atuação em conjunto
de entidades públicas e privadas, ressaltando a importância dos APLs para o
desenvolvimento regional, através de políticas de desenvolvimento inovativas e
produtivas (LASTRES et al., 2014).
E dentre os APLs do Brasil elencados como prioritários para ações do GTP
APL está o arranjo produtivo moveleiro de Ubá, que em 2007 teve um plano de
desenvolvimento elaborado, onde instituições públicas e privadas se reuniram para
elaborar ações para ampliação de mercado, aumento das vendas e geração de
emprego, com o intuito de fortalecer e desenvolver de modo sustentável as indústrias
moveleiras de Ubá e região (SEBRAE; INTERSIND; FIEMG, 2007).
1.1. Justificativa e relevância da pesquisa
A cadeia moveleira da microrregião de Ubá, localizado na Zona da Mata
Mineira, se destaca não só na economia local, mas também no cenário econômico do
Estado de Minas Gerais. Tendo iniciado na década de 1960, o setor moveleiro é o
maior empregador da região, contando com mais de 400 empresas, sendo
responsável pela geração de cerca de 70% das vagas de emprego da região (ALBINO
et al., 2008). O número de empregos gerado pelo setor na região é na ordem de
40.000 vagas, entre empregos diretos e indiretos (OLIVEIRA et al., 2010), o que
demonstra sua importância econômica tanto para a região da Zona da Mata Mineira,
como para o Estado de Minas Gerais.
Geograficamente, a microrregião de Ubá é formada por 17 municípios:
Astolfo Dutra, Divinésia, Dores do Turvo, Guarani, Guidoval, Guiricema, Mercês,
Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Senador Firmino, Silveirânia, Tabuleiro,
Tocantins, Ubá, Visconde do Rio Branco, com uma área territorial total de 3.586
Km2(ALMG, 2015).
Apesar de sediar a maior empresa de móveis de aço da América Latina e
alguns outros grandes fabricantes de móveis de madeira, o APL da microrregião de
Ubá é formado basicamente por micro e pequenas empresas, com foco na fabricação
de móveis residenciais, destinados ao mercado interno (SOUZA FILHO et al., 2013).
14
Isto vai de encontro a alguns estudos sobre os clusters, que, de forma geral,
normalmente possuem maior concentração de pequenas e médias empresas, que
fazem uso da vantagem da proximidade geográfica para maior desenvolvimento e
cooperação (CROCCO; HORÁCIO, 2001).
Apesar de seu tamanho, capacidade econômica e forte geração de
emprego, algumas publicações citam que a cadeia moveleira de Ubá apresenta
problemas estruturais que inibem seu maior desenvolvimento. São citados problemas
tais como ausência de cooperação horizontal, baixo nível de profissionalização dos
gestores, problemas nas relações entre fabricantes e fornecedores, concorrência
baseada em preços e até carência de infraestrutura (ALBINO, 2009; CROCCO;
HORÁCIO, 2001; SOUZA FILHO et al., 2013; TEIXEIRA et al., 2009; MACEDO et al.,
2010).
Desta forma, o presente trabalho buscou fazer uma análise da situação
atual da cadeia moveleira de Ubá, apresentando qual o formato e qual a dinâmica
existente, buscando apontar as principais características, relacionando pontos fortes
e fracos, e ainda buscou identificar sugestões para melhor desenvolvimento do polo.
Diante do exposto, a importância deste estudo se baseia na relevância da
cadeia moveleira para a economia local da microrregião de Ubá, podendo o trabalho
trazer à tona ações que a própria cadeia, através de seus principais agentes, sejam
eles internos ou externos, aí incluindo as entidades governamentais, possam tomar
para seu maior desenvolvimento.
Para o meio acadêmico, o trabalho se apresenta relevante pelo
aprofundamento no tema, ao levantar os principais estudos sobre clusters, fazendo
um paralelo com uma situação real.
Para o pesquisador, o presente trabalho representa uma importante
oportunidade de produção científica aliada à uma realidade econômica e social
relevante, e, enquanto gestor, a pesquisa se mostra como um aprendizado contínuo
e enriquecedor.
1.2. Questão norteadora da pesquisa
A presente pesquisa busca responder a seguinte pergunta norteadora: qual
a situação da cadeia produtiva moveleira da microrregião de Ubá, sob a perspectiva
de cluster?
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1.3. Objetivos
Considerando-se a questão norteadora da pesquisa, foram definidos os
seguintes objetivos:
1.3.1. Objetivo geral
A presente pesquisa busca analisar a situação da cadeia produtiva
moveleira da microrregião de Ubá/MG sob a perspectiva de cluster.
1.3.2. Objetivos específicos
a) Descrever a situação atual da Cadeia Moveleira da Microrregião de Ubá/MG,
enquanto cluster, a partir das dimensões de inovação, políticas públicas,
relacionamento entre as partes, treinamento/desenvolvimento de mão de obra,
e associações/instituições de apoio, relacionando pontos fortes e fracos da
cadeia;
b) Levantar sugestões junto aos diversos stakeholders de ações que poderiam ser
executadas para maior desenvolvimento do cluster.
1.4. Estrutura da dissertação
Na presente introdução foram apresentadas as justificativas da pesquisa,
a pergunta norteadora e os objetivos (geral e específicos).
A segunda parte trata da abordagem teórica da dissertação, onde serão
abordados os assuntos referentes à fundamentação da pesquisa, sendo: Redes
organizacionais, Clusters, Estrutura de um cluster, e as dimensões que possibilitam a
caracterização de um cluster: inovação, políticas públicas, relacionamento entre as
partes, treinamento e desenvolvimento de mão de obra, e, por último, associações e
instituições de apoio.
Na terceira parte do trabalho é apresentada a metodologia utilizada na
pesquisa, onde são apresentadas as técnicas utilizadas, a caracterização da região
estudada e as dimensões nas quais a pesquisa ocorreu.
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A quarta parte é a análise e interpretação dos resultados, seguida pela
última parte, que são as considerações finais, que apresenta ainda as limitações e
sugestões para futuras pesquisas.
17
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico da presente pesquisa se inicia com uma abordagem
sobre redes organizacionais, passando então para clusters, e a partir daí segue as
dimensões que possibilitam a caracterização de um cluster: inovação, políticas
públicas, relação entre as partes, treinamento e desenvolvimento de mão de obra, e,
por último, associações e instituições de apoio.
2.1. Redes organizacionais
As redes organizacionais representam uma forma adequada das
organizações manterem-se competitivas, principalmente para empresas de pequeno
e médio porte, que possuem maior dificuldade em atuar sozinhas no mercado. A
complementariedade de competências caracteriza as redes de empresas, criando
ainda ambiente favorável à diversificação de informações, aprendizado e inovação
(KLEIN; PEREIRA, 2012).
No século XX a sociedade começou a sofrer mudanças socioeconômicas,
que acabaram por influenciar uma nova forma de competição. A principal mudança
ocorrida, a globalização, representa a expansão e maior abertura dos mercados,
obrigando as empresas a adotarem novas formas de sobreviver em um mercado
competitivo. Novos modelos organizacionais surgiram, aparecendo as redes
organizacionais como uma nova forma de competição. Parcerias entre compradores
e vendedores marcaram o início deste processo, sendo a partir daí iniciado um
período marcado por parcerias de longo prazo, interdependência e confiança (SILVA;
DE ALMEIDA; FERREIRA, 2014).
Algumas situações, tais como, as alianças entre empresas Americanas e o
sistema de produção da Toyota, no Japão, contribuíram para o aumento do interesse
nas redes empresariais, mostrando que o princípio da competição isolada pode ficar
em segundo plano, dando ênfase para a cooperação, onde cada parte depende da
outra para chegar ao resultado final (KLEIN; ALVES; PEREIRA, 2015).
Empresas podem se reunir em rede, quando há uma ameaça do ambiente
para o seu desenvolvimento, e as oportunidades que se apresentam não seriam
possíveis de serem exploradas sozinhas (KLEIN; PEREIRA; QUATRIN, 2015). Os
autores completam afirmando que as redes podem proporcionar expansão de
mercado, redução de riscos e custos relativos a algum empreendimento, oportunidade
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de aprendizado de novas habilidades e processos, compartilhamento e acesso a
diferentes recursos, e ainda a melhoria no relacionamento com fornecedores, gerando
economia de escala.
De acordo com Klein e Pereira (2012) redes empresariais podem ser
caracterizadas quando há parceria entre duas ou mais organizações, compartilhando
recursos com um objetivo comum e buscando um maior desenvolvimento e uma
melhora no desempenho. Os autores afirmam ainda que as redes podem viabilizar o
compartilhamento de riscos, racionalização de recursos, maior compartilhamento de
informações, com um menor custo de transação, traduzindo em maiores ganhos
econômicos para todas as partes. A permanência de uma empresa em uma rede
ocorre quando há obtenção de vantagem competitiva, e o custo x benefício é favorável
à sua permanência.
As redes organizacionais podem ter diversas etapas para se constituírem,
indo da promoção do empreendimento e motivação de potenciais participantes, até a
autogestão, onde agentes externos que apoiaram o desenvolvimento da rede se
afastam, deixando de ter um papel principal nos negócios. Considera-se que as redes
possuem o equivalente a um ciclo de vida, indo dos estágios iniciais, onde há o
lançamento da ideia até uma fase de gestão independente e com identidade própria
(WEGNER; PADULA, 2012).
A gestão de uma rede de empresas requer um movimento constante de
negociação entre seus diversos atores. Em comparação com estruturas hierárquicas,
a gestão de uma rede empresarial acarreta consideráveis mudanças nas práticas
gerenciais. É necessário considerar a coletividade, os diversos interesses, nem
sempre unânimes, e a necessidade de estratégias que os participantes estejam
dispostos a colocar em prática. Quanto mais complexa é a rede, maior será a
complexidade de sua gestão (WEGNER et al., 2015).
Os autores reforçam ainda a necessidade da rede de criar práticas que
estimulem a inovação coletiva, fazendo com que a rede seja um espaço para troca de
experiências e criação de conhecimento.
Li et al. (2013) afirmam que a proximidade geográfica pode beneficiar o
conhecimento e inovação em uma rede organizacional. A proximidade geográfica
pode levar a uma proximidade social, onde há maior interação e relacionamento entre
os agentes, relações estas baseadas em amizade, parentesco ou em experiências.
Esta proximidade social melhora a capacidade das organizações em aprender uns
com os outros e de inovar. Os autores completam, afirmando que as redes
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organizacionais em forma de cluster, por apresentarem proximidade geográfica, têm
os custos reduzidos, e um aumento na frequência dos contatos pessoais que
culminam em relações sociais entre os participantes da rede, facilitando assim o fluxo
e transferência de conhecimentos.
2.2. Clusters
Os clusters industriais são hoje populares em todo o mundo, exercendo
fortes efeitos sobre as economias dos países onde estão alocados. Uma vasta
pesquisa sobre seus efeitos e formação já existe disponível atualmente (NIE; SUN,
2015).
Alfred Marshall (1920) foi o pioneiro no assunto de clusters, com seus
estudos relativos a distritos industriais, que são caracterizados pela concentração de
industrias de um mesmo ramo, disponibilidade de pessoal qualificado e troca de
conhecimento entre os participantes. O ambiente é caracterizado por Marshall como
havendo cooperação e competição, com redução de custos devido à proximidade
geográfica entre as empresas, gerando o que o autor caracterizou como
“externalidades”, que levam a ganhos positivos de escala.
Aquelas três características dos clusters, ou conglomerados, citadas por
Marshall são consideradas por Delgado et al. (2014) como associados com vantagens
de custo ou de produtividade para as empresas, resultante de atividade econômica
geograficamente próxima.
Otsuka e Sonobe (2011) completam afirmando que as vantagens da
aglomeração de indústrias apontadas por Marshall estão intimamente relacionadas
entre si e ao baixo custo de transação associado a um cluster: a proximidade das
industrias facilita o trânsito de informações de duas formas, quando uma empresa
retira um profissional de outra empresa, e ainda devido ao maior número de
transações entre as empresas.
No Brasil, utiliza-se o termo APL – Arranjo Produtivo Local como um
definidor de Cluster, e assim é definido por FIESP/MDIC (2007):
Arranjos Produtivos Locais são formados por um conjunto de atores econômicos, políticos e sociais, localizados em uma mesma região, desenvolvendo atividades produtivas especializadas em um determinado setor e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem.
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Porter (1998) caracterizou os clusters como sendo concentrações
geográficas de empresas que estejam relacionadas entre si, e sejam de um
determinado campo de atuação. Os clusters devem possuir uma matriz de empresas
interligadas de alguma forma, o que favorece a competitividade. Assim, tanto o
conceito originalmente americano de clusters, como a versão Brasileira de Arranjos
Produtivos Locais (APLs) ou mesmo aglomerado, denotam o mesmo sentido de
relacionamento entre os diversos agentes, que acabam por estabelecer uma rede de
troca e complementação em torno de uma atividade produtiva (OLIVEIRA et al., 2012).
Oliveira et al. (2012) mencionam ainda que os clusters podem ser formados
por diversos setores econômicos, que atuem em abrangências e capacidades
distintas, dando a ele um caráter de diversidade econômica, política e social.
Os clusters devem ainda considerar a presença e atuação de instituições
públicas e privadas, visando a capacitação de recursos humanos, desenvolvimento
técnico, políticas públicas, promoção do cluster e financiamento (PORTER, 2009 e
OLIVEIRA et al., 2012). Porter (2009) cita ainda que podem existir nos clusters, a
presença de associações e outros órgãos coletivos, que promovam o envolvimento
de seus membros.
A definição de Morosini (2004) de clusters industriais destaca que seus
membros trabalhem em conjunto em atividades de negócios relacionados ou
vinculados. Na verdade, a escala e as vantagens do conhecimento gerado dentro de
cluster, dependem do número e da natureza dos vínculos entre seus membros. Em
um cluster industrial bem desenvolvido, estas ligações podem ser numerosas, únicas
e específicas para aquele cluster, incluindo:
- Clientes em comum (tanto empresas como pessoas físicas);
- Fornecedores e prestadores de serviços em comum;
- Infraestrutura compartilhada, tais como transporte, comunicações e
serviços públicos;
- Compartilhamento de um mercado com profissionais qualificados e mão
de obra especializada;
- Instalações para treinamento compartilhadas;
- Conexões em comum com universidades e centros de pesquisa;
O relatório da OECD (2007) destaca que os clusters oferecem muitos
benefícios potenciais, incluindo custos de produção reduzidos, que incentivam a
inovação e o aumento da produtividade. Tais benefícios incluem ainda a sua função
de ser uma plataforma útil para o compartilhamento de conhecimentos, um ambiente
21
favorável para a maior especialização e um nível elevado de competição, que motivam
as empresas, entre outros benefícios.
Desenvolvimento econômico baseado em estruturas de clusters, tem sido
uma política adotada por diversas economias pelo mundo, e que normalmente podem
produzir benefícios em relação ao desenvolvimento regional e a competitividade da
indústria local. Os clusters podem ainda proporcionar um ambiente econômico que
pode se adaptar mais facilmente a eventos como uma crise econômica ou qualquer
outra transformação econômica e social (BOJA, 2011).
No Brasil, os APLs foram oficializados pelo Governo Federal em 2004,
através do Termo de Referência para Política Nacional de Apoio ao Desenvolvimento
de Arranjos Produtivos Locais. A intenção do Governo foi criar uma política pública
descentralizada, promovendo desenvolvimento econômico através do estímulo à
competitividade de micro e pequenas empresas. Desta forma, os APLs significam, de
modo geral, concentrações de empresas, normalmente de pequeno porte e
pertencentes ao mesmo ramo de atividade, que relacionam entre si e ainda com
outras entidades públicas ou privadas (FUINI, 2013). O autor conclui que os APLs, ao
fazerem parte das políticas de desenvolvimento regional no Brasil, tornam-se um dos
elementos utilizados pelo governo federal e mesmo por alguns Estados e municípios
para o aumento da competitividade e o crescimento do desenvolvimento econômico
dos territórios.
O MDIC (2004) no Termo de Referência para Política Nacional de Apoio ao
Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais, considera APL quando há um
número significativo de empreendimentos e de indivíduos atuando em torno de uma
atividade produtiva predominante, compartilhando formas percebidas de cooperação
e algum mecanismo de governança, podendo incluir pequenas, médias e grandes
empresas.
Como desdobramento do Termo de Referência para Política Nacional de
Apoio ao Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais, o Governo Brasileiro possui
algumas diretrizes de apoio e incentivo dos APLs, incluindo ações de identificação dos
arranjos, promoção de ações que busquem o desenvolvimento do mercado local,
ações de melhoria no relacionamento dos agentes envolvidos, e ainda ações que
visam sustentabilidade, preservação ambiental e valorização das relações
trabalhistas.
22
Lastres e Cassiolato (2003), complementam:
Os Arranjos Produtivos Locais se desenvolvem em ambientes favoráveis à interação, à cooperação e à confiança entre os atores, e sua formação está geralmente associada à construção histórica de identidades e vínculos territoriais regionais e/ou locais, a partir de uma base social, cultural, política e econômica comum (LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p. 63).
Mytelka e Farinelli (2000) fazem uma classificação dos clusters (ou APLs)
de acordo com sua dinâmica e algumas características estruturais. De acordo com os
autores, os clusters podem ser informais, organizados ou inovativos (Quadro 1).
QUADRO 1
Tipos de clusters e performance
Fonte: Adaptado de Mytelka e Farinelli (2000).
Clusters informais normalmente são formados por micro e pequenas
empresas cujo nível de tecnologia é baixo e cujos proprietário ou gestores têm fraca
capacidade de gestão. Os trabalhadores são geralmente pouco qualificados e os
treinamentos formais são quase inexistentes. Apesar de não haver fortes barreiras à
entrada de novas empresas, podendo levar ao crescimento do número de instituições,
isso não reflete necessariamente uma dinâmica positiva, dado que a coordenação e
ligação em rede entre as empresas localizadas em clusters informais tendem a ser
baixas e são caracterizadas por uma perspectiva de crescimento limitado, muitas
vezes concorrência predatória, pouca confiança e pouca troca de informações.
Infraestrutura deficiente, a falta de serviços críticos e estruturas de apoio e falta de
informação sobre os mercados estrangeiros tendem a reforçar esta dinâmica de
crescimento baixo (MYTELKA; FARINELLI, 2000).
Os clusters organizados caracterizam-se por um processo de atividade
coletiva, orientada principalmente para o fornecimento de infraestrutura e serviços, e
ainda pelo desenvolvimento de estruturas organizacionais destinadas a analisar e
Características Informais Formais InovativosPresença de Líderes Baixa Baixa a média Alta
Tamanho das empresas Micro e pequenas Pequenas e médias Pequenas, médias e grandesInovação Pequena Alguma ContínuaConfiança Pequena Alta Alta
Habilidades Técnicas Baixa Média AltaTecnologia Baixa Média Média
Vínculos entre os membros Algum Algum ExtensivosCooperação Pequena Alguma, não sustentável AltaCompetição Alta Alta Média a Alta
Mudança nos produtos Pouco ou nenhuma Alguma ContinuamenteExportação Pouco ou nenhuma Média a alta Alta
23
fornecer soluções aos seus membros, de forma a enfrentar problemas comuns.
Embora a maioria das empresas nesses grupos são de pequeno porte, em termos de
capacidade tecnológica elas se encontram atualizadas, e exibem a capacidade de
empreender adaptações de tecnologia, para projetar novos produtos e processos e
para trazê-los rapidamente ao mercado. O que distingue o cluster organizado é a
cooperação e o trabalho em rede que existe entre os seus membros (MYTELKA;
FARINELLI, 2000).
Os clusters inovativos normalmente estão em setores onde a capacidade
inovativa é a base para seu desempenho. Seus gestores possuem alta capacidade
gerencial e de adaptação, contando ainda com mão de obra qualificada. A visão do
mercado externo é constante, existindo ainda entre os seus membros forte confiança
e elevado nível de cooperação, fazendo com o que estes clusters tenham uma
dinâmica diferenciada (MYTELKA; FARINELLI, 2000).
Os autores afirmam ainda que os clusters informais e organizados são os
predominantes nos países em desenvolvimento, enquanto os clusters inovativos são
encontrados nos países mais desenvolvidos.
Importante concluir que os APLs - arranjos produtivos locais – ou clusters
se caracterizam, principalmente, pelas relações em rede entre os agentes que o
compõe, incluindo empresas e outras instituições, tais como: governo, universidades,
institutos de pesquisa, etc, visando desenvolvimento mútuo, em um ambiente de
cooperação e troca de conhecimento e informação.
2.2.1. Estrutura de um cluster
As publicações a respeito dos clusters trazem que eles são formados por
uma concentração de empresas, que possuem algum tipo de atributo em comum, ou
apresentam a característica de complementaridade (PORTER, 1998; PORTER, 2000;
BITTENCOURT et al., 2015). E ainda, como ressalta o manual sobre Arranjos
Produtivos Locais da FIESP/MDIC (2007), que o próprio nome já traz a ideia da
existência de um setor produtivo.
No tocante à parte produtiva de um cluster, as empresas podem atuar como
fornecedores, produtores e consumidores (BITTENCOURT et al., 2015). Dentre os
fornecedores, além dos fornecedores especializados de equipamentos e serviços,
destaca-se ainda a presença de empresas de suporte de serviços, tais como
24
advogados, empresas de recrutamento e seleção, transportadoras, fornecedores de
combustíveis e comunicação (CHLEBÍKOVÁ; MRÁZIKOVÁ, 2009).
Lastres e Cassiolato (2004), citam como exemplos de empresas
participantes de um cluster: “(...) desde produtoras de bens e serviços finais até
fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultorias e serviços,
comercializadoras, clientes, entre outros, e suas variadas formas de representação e
associação”. Na mesma linha, Mascena et al. (2012) citam a presença em um cluster
de “fornecedores de matérias-primas especializadas, tais como componentes,
máquinas e serviços, bem como fornecedores de infraestrutura especializada”.
Crocco e Horácio (2001) mostram em sua pesquisa a importância do
distanciamento dos fornecedores para as empresas, sendo a falta de fornecedores
dentro do cluster, um ponto de preocupação de empresários. A falta de fornecedores
de serviços, matérias primas e até de equipamentos, representa uma dificuldade para
a maior competitividade das empresas, assim como para a integração da cadeia
produtiva.
A base de um cluster pode ser formada a partir de “keycompanies”
(“empresas chave”), que acabam atraindo outras empresas que irão exercer o papel
de fornecedores, seja de componentes diretos da produção, ou mesmo serviços
indiretos, tais como transporte, alimentação e serviços em geral. Estas empresas,
normalmente de maior porte e ligadas a grupos multinacionais, são capazes de tirar
maior proveito do potencial e capacidade do cluster onde estão alocadas (MOROSINI,
2004). Alguns exemplos são da Boeing em Seattle (EUA) e a Toyota em Toyota City
(Japão), onde as empresas âncora estabeleceram fortes vínculos com fornecedores
locais, criando um ambiente de cooperação, e ainda estimulando a capacitação e
competitividade no sistema (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2003).
A presença de empresas de grande porte em um cluster, pode servir ainda
como atrativo para outras menores, que se realocam de um cluster para outro,
buscando a proximidade de uma grande empresa, principalmente em momentos de
crise (BOJA, 2011).
No tocante à atuação governamental em um cluster, este pode atuar
através das diversas esferas: Governo federal, estadual (ou regional) e municipal (ou
distrital). A função básica da atuação governamental, primeiramente, seria promover
estabilidade macroeconômica e política. Em segundo lugar, cabe à esfera
governamental melhorias microeconômicas que possam promover o desenvolvimento
regional. Melhorias estas que poderiam ser, por exemplo, prover educação
25
profissional, infraestrutura física adequada e informações econômicas atualizadas e
adequadas (PORTER, 2000).
O relatório da OECD (2007) reconhece que o nível de estruturas de
governança e de abrangência que um cluster possui, desempenha um papel no
desenvolvimento e implementação de políticas para promover eficazmente a
especialização dos clusters. Para esse desenvolvimento, existem fundamentos
econômicos para todos os níveis de governo (local, regional, nacional e, em alguns
casos supranacional) para apoiá-los. Estas diferentes lógicas são baseadas em
diferentes perspectivas sobre o valor de clusters.
Sobre instituições de pesquisa e desenvolvimento, Chlebíková e Mráziková
(2009) afirmam que Universidades, escolas locais e instituições de pesquisa em geral,
fazem parte e são importantes componentes em um cluster.
Autores como Titze et al. (2014) e Dilaver et al. (2014) caracterizam o
conjunto de Universidades e instituições de pesquisa, sejam públicas ou privadas, de
“Instituições Científicas” destacando a sua importância para o desenvolvimento
técnico dos clusters onde estão inseridas.
De acordo com Hoffmann et al. (2014), as universidades locais, próximas
a um cluster, ao darem educação formal aos profissionais que atendam as demandas
das empresas atuantes naquela área, agem como incentivadoras da inovação. Além
disso, elas podem ser fonte de apoio técnico e treinamento especializado, gerando
fortes benefícios de desenvolvimento.
Li et al. (2015) citam que as instituições científicas locais têm uma
importante posição no desenvolvimento regional, estimulando o crescimento
econômico na região. Elas atuam como importante fonte de informação e tecnologia
externa para o cluster.
A cooperação entre pesquisadores, universidades e outras partes
interessadas permitem às empresas do cluster antecipar e desenvolver novas
tecnologias, operações e canais de distribuição (GARANTI; BERZINA, 2013).
Para Vicedo e Vicedo (2011), em termos de redistribuição de capital, as
relações entre a Universidade e as empresas estão se tornando cada vez mais
importante, e há um claro aumento na quantidade de colaboração em pesquisas. Os
destaques desta tendência incluem linhas de pesquisa entre as principais empresas
do cluster e a universidade, juntamente com a participação em contratos de pesquisa
coletiva e projetos entre a universidade e os demais agentes do cluster, com o intuito
26
de melhorar a competitividade e diferenciar as empresas do cluster em tempos de
competição acirrada e globalização.
Para Boja (2011), ter uma infraestrutura comum para inovação, utilizada
para rápida transferência de conhecimento e apoiada por universidades e centros de
pesquisa, seria uma característica básica de um cluster.
No Brasil algumas instituições prestam apoio ao setor produtivo, que de
certa forma procuram trabalhar de forma coordenada, trocando informações e
compartilhando experiências, visando fortalecer a área de informação no país. Dentre
essas, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) possui
iniciativas voltadas para novas tecnologias de informação e comunicação e estimula
o empreendedorismo e a inovação. O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (SEBRAE) através de suas representações (balcões) instalados por todo o
Brasil atua como uma rede informacional. O Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) desenvolvem
atividades de informação para a indústria, dentre outras instituições (COSTA, 2007).
Em se tratando de APLs, o objetivo da atuação do SEBRAE é estimular a
competitividade das micro e pequenas empresas, promovendo o desenvolvimento
local, através de ações que vão além do atendimento individual e consultoria
empresarial. A organização atua também em um âmbito mais institucional e político,
promovendo a integração entre os pequenos empresários, e ainda com os demais
stakeholders (ZICA; MARTINS; CHAVES, 2010)
Também se destaca no Brasil a atuação do CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), como órgão de fomento à pesquisa,
vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O CNPq tem como
principais atribuições fomentar a pesquisa científica e tecnológica e incentivar a
formação de pesquisadores brasileiros (CNPQ, 2016).
De acordo com Silvestre e Silva Neto (2014), o CNPq atua em conjunto
com outras instituições governamentais de apoio, para financiar e promover a
pesquisa em ciência e tecnologia, bem como a formação de recursos humanos
especializados no país. Nos clusters pesquisados pelos autores, foi detectado que o
processo de desenvolvimento de novas tecnologias tem início com a interação entre
uma ou algumas empresas do cluster, e as organizações de apoio.
Outra organização de apoio com forte atuação no fomento da pesquisa e
desenvolvimento no Brasil é a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos). A FINEP
é uma empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação em
27
empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou
privadas, sediada no Rio de Janeiro e vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia
e Inovação (FINEP, 2016).
A FINEP possui dois programas com ações voltadas a APLs. O primeiro,
Programa de Incentivo à Inovação nas Empresas Brasileiras (Pró-Inovação), tem por
objetivo apoiar os custos do desenvolvimento de ações de pesquisa, desenvolvimento
e inovação, incluindo ativos tangíveis e intangíveis, financiando apenas as etapas
anteriores à produção, sem apoio de investimentos para expansão da produção. O
segundo, Programa de Apoio à Pesquisa e à Inovação em Arranjos Produtivos Locais
(PPI-APLs), tem por objetivo fazer com que os APLs sejam mais competitivos,
utilizando instrumentos do MCTI, CNPq e Finep, em apoio às atividades de pesquisa,
desenvolvimento e inovação feitas por empresas pertencentes aos APLs. Para isto,
disponibiliza apoio financeiro para atividades voltadas à assistência tecnológica,
prestação de serviços e solução de problemas tecnológicos de empresas constituintes
de arranjos produtivos (COSTA, 2010).
Da mesma forma que outras agências governamentais, incluindo o CNPq,
a FINEP, enquanto organização de apoio, provê verba para desenvolvimento
tecnológico e, em alguns casos, recurso adicional necessário para executar e concluir
com êxito o projeto (SILVESTRE; SILVA NETO, 2014).
2.3. Dimensões para caracterização de um cluster
Visando uma maior organização dos estudos a respeito dos clusters e
posteriormente da análise dos dados da pesquisa, foram definidos a partir de uma
revisão da literatura, 5 dimensões (ou categorias) que podem caracterizar um arranjo
produtivo como cluster. Tais dimensões foram baseadas nos estudos de Porter (1998
e 2000), e posteriormente desenvolvidos por outros autores.
Estas dimensões (Inovação, Políticas públicas, Relacionamento entre as
partes, Treinamento/Desenvolvimento de mão de obra e Associações/Instituições de
apoio), são capazes de cobrir todos os aspectos de um arranjo produtivo.
2.3.1. Inovação
Para analisar um cluster sob o aspecto de inovação, é preciso
primeiramente definir este termo e suas principais características. Schumpeter (1988),
28
pioneiro nos conceitos sobre inovação, fundamentou sua teoria econômica na
absorção de inovações ao sistema econômico. De acordo com o autor, as mudanças
no sistema econômico resultam das relações e consequências das inovações
tecnológicas.
Schumpeter (1988) sugere o conceito de “destruição criativa”, onde o
desenvolvimento econômico se passa pela adoção de novos hábitos de consumo,
substituindo antigos produtos. Ele afirma ainda que para as indústrias, o importante é
a inovação, e não apenas a invenção, dado que essa última, não sendo levado à
prática, torna-se irrelevante economicamente.
Inovação é caracterizada pelo autor como a introdução de um novo bem,
um novo método de produção, um novo formato de organização, a abertura de um
novo mercado, assim como a utilização de uma nova fonte de fornecimento de
matéria-prima ou de produtos semiacabados.
Lastres et al. (2003) atribuem também às teorias neoschumpeterianas o
desenvolvimento das abordagens sobre o caráter e o papel da inovação e esclarecem
que tal suposição parte de três pontos principais:
- Que o processo inovativo está baseado no conhecimento, e que
fomentam a mudança tecnológica e econômica a partir de sua criação e
compartilhamento. O aprendizado é o alicerce para acumulação de conhecimento.
- Qualquer inovação, seja em produtos, processos, etc, permitem o
incremento de ganhos competitivos e trazem mudanças qualitativas e o impulso na
heterogeneidade no sistema econômico.
- As organizações são fundamentais no desenvolvimento produtivo e
inovativo, sendo que influenciam e são influenciadas pelos processos de aprendizado.
Desta forma, as organizações passaram a ver a inovação como fonte para
a vantagem competitiva, e a criação de valor, tanto para os sócios, como para a
sociedade. (HERRERA, 2015).
A maior parte das inovações, surgem de novas tecnologias, incluindo o
lançamento de novos produtos, mudança em processos tecnológicos e o uso de
tecnologia da informação para a inovação em tecnologias capacitadoras (DAVILA et
al., 2009, p. 54).
Martins Tristão et al. (2013) caracterizam inovação como sendo um
processo de introduzir algo novo. O processo deve envolver a geração, adoção,
implementação e incorporação de novas ideias e práticas, com o objetivo de gerar
riqueza. A partir desta definição, os autores destacam a importância da gestão do
29
conhecimento, que desempenha um papel de destaque, pois seria o modo de
amplificar a capacidade organizacional, baseado no alcance da eficiência através da
criação, multiplicação e adoção de conhecimento científico e tecnológico.
Pode também ser caracterizado como inovação, o processo pelo qual
novos produtos ou serviços são projetados e implementados por determinado
produtor, independente de serem ou não novos para seus concorrentes (LEMOS,
2009).
O Manual de Oslo, elaborado pela OECD a partir de diversas outras
publicações é referência quanto à conceituação de inovação. O Manual tem como
objetivo trazer diretrizes para a coleta e a interpretação de dados sobre inovação
(OECD, 2005).
O manual apresenta o conceito de inovação de forma abrangente,
englobando os quatro tipos de inovação, conforme abaixo:
Uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Inovação de produto é a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne as suas características ou usos previstos. Incluem-se melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais. Inovação de processo é a implementação de um método de produção ou distribuição novo ou significativamente melhorado. Incluem-se mudanças significativas em técnicas, equipamentos e/ou softwares. Inovação de marketing é a implementação de um novo método de marketing com mudanças significativas na concepção do produto ou em sua embalagem, no posicionamento do produto, em sua promoção ou na fixação de preços. Inovação organizacional é a implementação de um novo método organizacional nas práticas de negócios da empresa, na organização do seu local de trabalho ou em suas relações externas (OECD, 2005, p. 47-52)
Inovações podem ser classificadas em três tipos: incrementais, semi-
radicais e radicais, conforme Davila et al. (2009, p. 57). Inovação incremental consiste
em melhorias não muito grandes em produtos ou processos, podendo ainda ser vista
como a solução de um problema onde a meta é clara, mas não necessariamente o
caminho para atingi-la. Por outro lado, uma inovação radical consiste no fornecimento
de produtos ou serviços de forma totalmente nova. A figura 1, chamado de “Matriz da
Inovação” pelos autores, ajuda a diferenciar os tipos de inovação, ao caracterizar cada
inovação, de acordo com as características de sua tecnologia e do modelo de
negócios apresentado.
30
Figura 1 – Matriz da Inovação
Fonte: Davila et al. (2009, p. 58).
As inovações incrementais são muito mais comuns no dia a dia, muitas
delas até passam imperceptíveis pelos consumidores, por se tratar de melhoria em
produtividade, eficiência em custos, qualidade, ou mesmo otimização de processos
de produção e design de produtos (LEMOS, 2009).
A respeito das inovações semi-radicais, Davila et al. (2009, p. 65) citam que
estas conseguem criar mudanças significativas em um ambiente competitivo, mas
representam mudança no modelo de negócios ou de tecnologia, mas não em ambas.
Os autores citam exemplos de inovações semi-radicais em serviços, tais como a rede
de lojas Wal-Mart, a companhia aérea South West Airlines e até a Apple, onde
produtos ou serviços já existentes no mercado foram remodelados, sendo oferecido
ao mercado mudanças na tecnologia ou no modelo de negócios.
Revellino e Mouritsen (2015) caracterizam a inovação radical quando há a
uma mudança fundamental ou revolucionária, por uma empresa ou grupo de
instituições, com clara visão de abandono de práticas anteriores. Os autores
complementam ainda afirmando que a inovação radical representa descontinuidade e
avanço, baseado em novos conhecimentos, alterando a natureza de como as coisas
eram feitas. Este tipo de inovação representa destruir ou abandonar competências e
envolve um alto grau de novidade associada à reorientação da organização.
As inovações do tipo “radical” podem ainda representar uma ruptura
estrutural, deixando para trás determinados padrões tecnológicos. Estas inovações
significam ainda a redução de custos e melhoria na qualidade de produtos existentes
(LEMOS, 2009)
O processo de inovação no âmbito empresarial tem como base a gestão
do conhecimento. Novas tecnologias de informação e comunicação têm permitido a
maior absorção dos recursos intangíveis da economia, tais como as formas de
Nova Semi-radical Radical
Semelhanteàexistente
Incremental Semi-radical
Semelhanteàexistente
Nova
Modelodenegócios
Tecnologia
31
treinamento da força de trabalho e o conhecimento adquirido através de esforços de
pesquisa e desenvolvimento. Nota-se a intensificação da relevância dos recursos
intangíveis na economia para a absorção e difusão do conhecimento, o que tem
propiciado maior tratamento e distribuição da informação. O aumento das fontes de
informação e a globalização, levaram a um acréscimo na interação entre as
organizações (LEMOS, 2009).
Tigre (2006) destaca que as empresas têm buscado maior conhecimento,
visando aumento das inovações, através de fontes internas e externas. As internas
seriam através dos esforços de pesquisa e desenvolvimento, programas de qualidade
e treinamento de pessoal. As principais fontes externas, seriam a aquisição de
informações (livros, revistas técnicas, manuais, vídeos, etc), contratação de
consultores especializados, obtenção de licenças para produção de produtos e ainda
tecnologias absorvidas na aquisição de novas máquinas e equipamentos. O autor
ressalta que enquanto as fontes internas necessitam de mais planejamento e
recursos, as diversas fontes externas de inovação são mais acessíveis e possuem
maior abrangência.
De acordo com Davila et al.(2009, p. 29-31) não existem fórmulas prontas
de modelos de inovação, mas sim um estilo de implementação de práticas adequadas
para cada organização. Deve haver equilíbrio na empresa, pois inovação exige
disciplina aliada a liberdade de criar. As empresas devem neutralizar tudo aquilo que
pode prejudicar a inovação, principalmente quando se fala de cultura organizacional,
e aprendizado com erros passados. Os autores ainda incentivam redes de inovação,
formados pela comunidade interna e externa à empresa.
A relação entre cluster e inovação foi citada por Marshall (1920), que
afirmava que o conhecimento “está no ar” em uma aglomeração de empresas. O autor
afirma que quando uma pessoa inicia uma nova ideia, esta é absorvida por outros que
incorporam suas próprias, e então se transforma em uma fonte de novas ideias. Isto
tudo de forma natural e inconsciente, sem muitos esforços.
Em estudos mais recentes, os clusters têm sido sempre associados como
importantes locais de inovação. A expectativa é sempre de que nos clusters, as
empresas locais promovam a inovação através da cooperação entre as empresas, e
também através de parcerias, por exemplo, universidades (NISHIMURA; OKAMURO,
2011).
Quando se fala em inovação e modernização, a participação de uma
empresa em um cluster oferece muitas vantagens comparado a atuar de forma
32
isolada. Empresas em um cluster são capazes de identificar as necessidades de seus
clientes de forma mais clara e rápida. Alguns exemplos são o Vale do Silício na
Califórnia e o cluster de computadores do Texas, que são muito mais capazes de
perceber as necessidades e tendências dos clientes, do que qualquer outra
localização. (PORTER, 2000).
Em um cluster, as empresas estão muito mais expostas a novas
possibilidades tecnológicas, operacionais, marketing, logística, e muitas outras. O
relacionamento de outras entidades com o cluster (por exemplo, universidades) facilita
o aprendizado contínuo. Por outro lado, a empresa isolada enfrenta custos mais
elevados e maiores dificuldades para acesso às possibilidades coletivas, além de ter
uma maior necessidade de criar conhecimento dentro de seus portões (PORTER,
2000).
Clusters inovadores são de suma importância para países em
desenvolvimento, pois incrementam o aumento produtivo, criam valor para o local
onde estão inseridos e promovem a atração de recursos humanos qualificados
(BITTENCOURT et al., 2015). Lai et al. (2014) reforça que em um cluster industrial a
criação, aquisição, armazenamento e difusão de conhecimento influencia
positivamente a performance de inovação das empresas, além da capacidade interna
de gerenciamento.
A difusão do conhecimento é mais eficaz se organizado em sistemas
interativos. Tecnologia e inovação não são criadas nas organizações isoladas, mas
em ambientes favoráveis, como os clusters, onde as organizações competentes e
profissionais qualificados interagem de uma forma construtiva e complementar para
assimilar o conhecimento existente e gerar novas ideias, produtos e processos de
produção. A circulação do conhecimento sob a forma de um sistema de inovação é,
portanto, um dos principais benefícios potenciais dos clusters (OECD, 2007). O
relatório da organização afirma que a difusão e spillovers são os mecanismos que
ligam pesquisa e desenvolvimento com o crescimento, e não apenas os níveis de
investimento nestas áreas.
No mercado competitivo mundial, a participação de uma empresa em um
cluster é de suma importância para seu desenvolvimento sustentável, considerando a
possibilidade de utilizar recursos de modo mais eficiente, tendo acesso a custos mais
baixos, aumentando sua competitividade (LAI et al., 2014). Os autores destacam que
a proximidade geográfica com outras companhias, influencia positivamente na sua
capacidade de inovação. Reforçam ainda que nos clusters, a inovação é
33
potencializada por melhor gerenciamento do conhecimento. Um cluster não é formado
apenas empresas do mesmo ramo, mas acaba por atrair talentos tecnológicos, que
levam a troca de informações, com um spillover de compartilhamento de técnicas.
Entretanto, é importante para as companhias analisarem as características
de um cluster antes de tomarem a decisão de se alocarem, entendendo a dinâmica
interna, barreiras de entrada e saída. É preciso saber o quanto a empresa se
beneficiará da geração de conhecimento daquele cluster, tirando benefício dos
spillovers existentes (PORTUGAL FERREIRA et al., 2014).
Estudos empíricos de Aharonson et al. (2013) mostraram que empresas
com foco em tecnologia se beneficiam quando estão alocadas em um cluster. O
número de patentes registradas por empresas em um cluster são maiores do que
daquelas que estão geograficamente isoladas. Os autores sugerem ainda que as
atividades de pesquisa e desenvolvimento das empresas não avançam quando
trabalham de forma isolada, sendo dependente do acesso a novas ideias.
A aglomeração de empresas promove o empreendedorismo, incentivando
o aumento no número de startups. Isto ocorre devido à convergência de recursos
tecnológicos e de pessoal especializado, além dos serviços e produtos
complementares. Clusters robustos podem elevar a diversidade de oportunidades de
inovação, além da possibilidade de redução de custos (DELGADO et al., 2010).
Anaz (2014) traz o exemplo do Vale do Silício, nos Estados Unidos, onde
uma verdadeira rede de informações foi criada, promovendo a inovação através de
parcerias e aprendizado coletivo. O autor cita ainda que a proximidade com Standford
e outras Universidades encoraja o empreendedorismo.
Chatterji et al. (2013) corroboram afirmando que a presença de
universidades que executam pesquisas, tem um poderoso impacto no
desenvolvimento e empreendedorismo na região onde atuam.
Garanti e Berzina (2013) também afirmam o quanto a presença de
universidades, centros de pesquisa e o investimento em pesquisa, têm um impacto
positivo na capacidade de inovação de um cluster. De acordo com os autores, a
criação e implementação de inovações são mais eficazes quando há colaboração
entre empresas e universidades, assim como quando ocorre a participação em redes
internacionais de inovação e também quando há cooperação entre os concorrentes.
Em muitos casos, as inovações são desenvolvidas em esforços de
colaboração nos clusters. Assim, as empresas colaboram entre si, reunindo as
ferramentas necessárias para desenvolver e explorar as inovações. É possível que
34
empresas que estejam em uma situação de possuir mais ativos complementares
essenciais, ganhem um maior poder de barganha, como por exemplo a empresa
norte-americana IBM, que possui uma posição dominante no mercado, não por sua
capacidade tecnológica, mas por possuir uma grande rede de vendas e ainda acesso
a recursos financeiros (PORTUGAL FERREIRA et al., 2012).
Rodriguez e Valencia (2008) afirmam que a inovação ocorre com maior
frequência dentro de um cluster, devido aos spillovers, à concentração de mão de
obra e a cooperação. Completam afirmando que com a proximidade, confiança,
rivalidade e contratos de fornecimento compartilhados, as novas tecnologias se
difundem mais rapidamente. Chatterjiet al. (2013) completam ao afirmar que a
presença de universidades na área do cluster pode ter um grande impacto no
desenvolvimento local. Isso também pode ser extraído de um relatório da OECD
(2007) que indica relação direta entre políticas relacionadas ao incentivo da pesquisa
universitária e inovação em clusters.
Tigre (2006) ao analisar a influência da localização, conclui que a existência
de infraestrutura social e tecnologia adequada, é fator crucial para o êxito de empresas
inovadoras. As grandes empresas normalmente concentram suas atividades de P&D
em suas origens, mas movimentos de transferência das pesquisas para países em
desenvolvimento têm ocorrido, devido ao aumento na disponibilidade de mão de obra
qualificada nessas regiões. É de suma importância que os países em desenvolvimento
promovam estruturas adequadas para a atração de atividades de P&D das grandes
empresas, levando a uma maior concentração de renda e produção. As atividades
inovadoras das pequenas empresas devem ser incentivadas, considerando que estas
vêm demonstrando ser fontes importantes de inovação tecnológica.
Apesar de não ser considerado por todos como inovações, as melhorias
em produção e gerenciamento são bastante comuns nos clusters, e agem de forma
semelhante a uma inovação, dado a dificuldade para ocorrer. Além disso, é imitado
por seguidores (OTSUKA; SONOBE, 2011). O estudo dos autores mostra ainda que
empresários inovadores aproveitam da alta disponibilidade e variedade de recursos
humanos no cluster, como comerciantes, engenheiros, designers e contadores, que
ali se reuniram em fases anteriores de expansão. Assim, é justo dizer que, como a
inovação, as melhorias em produção e gerenciamento são produto de uma nova
combinação dos recursos existentes.
Martins et al. (2014) também demostraram em sua pesquisa, como a
incorporação de inovações na área operacional, assim como gerencial, trouxeram
35
benefícios aos agentes da cadeia agroindustrial do leite estudada. Houve um aumento
na produtividade e redução de empreendimentos rurais com base familiar,
transformando organizações rurais tradicionais em empreendimentos lucrativos,
eficientes e competitivos.
Para alcançar maior competitividade e de forma mais rápida, as empresas
dentro de um cluster industrial devem procurar novas oportunidades para melhorar e
renovar as suas capacidades, especialmente as relacionadas com a inovação, e é
nesta área que a colaboração entre as universidades e as empresas podem
desempenhar um papel importante (VICEDO; VICEDO, 2011). Os autores citam ainda
que, por um lado, a literatura sobre inovação tem um foco maior nas relações entre
os vários tipos de spillovers e a cooperação em pesquisa e desenvolvimento, no qual
a universidade é vista como um gerador e membro de projetos de inovação. Por outro
lado, a literatura sobre gestão ou estratégia tem centrado principalmente em fatores
internos da empresa, a fim de determinar a sua propensão para colaborar com a
universidade, incluindo fatores como o tamanho, tempo de mercado e intensidade de
pesquisa e desenvolvimento da empresa.
Mytelka e Farinelli (2000) expõem que três fatores ligados aos clusters
estão relacionados ao maior desenvolvimento via inovação. Em primeiro lugar é o
quanto que estar em um cluster permite às empresas um aprofundamento e ampliação
na base de conhecimento local, incluindo design, controle de qualidade e informações
relacionadas ao mercado. Em segundo lugar é o quanto o cluster permite um maior
estabelecimento de conexões a produtores e detentores de conhecimento,
particularmente aqueles relacionados aos fornecedores de máquinas e equipamentos.
O terceiro é a capacidade das empresas nestes aglomerados de transformar
coletivamente indústrias de "baixa tecnologia" em empresas com conhecimento tácito
intenso, e de internalizar essa vantagem competitiva dentro do cluster. Um dos
exemplos que os autores dão neste ponto é de empresas fabricantes de móveis da
madeira.
Portanto, o processo de difusão da tecnologia é bem-sucedido se vários ou
a maioria dos membros de um cluster adotar a tecnologia proposta. A difusão de
tecnologia está associada com o modo de utilização, sempre que indivíduos e
organizações de forma interativa identificar, interpretar, adequar e manipular a
tecnologia de maneiras diferentes, consequentemente influenciando os padrões,
instalações e normas estabelecidos. Importante destacar ainda a importância das
36
organizações de apoio, para promover e difundir novas tecnologias (SILVESTRE;
SILVA NETO, 2014).
Os autores afirmam ainda que em clusters menos desenvolvidos, a difusão
de novas tecnologias é normalmente liderada pelas organizações de apoio e não
pelas empresas participantes do clusters (Figura 2), já que, de modo geral, as
empresas não possuem capacidade técnica, conhecimento e recursos para inovar.
Enquanto as organizações de apoio e suporte têm acesso a pessoal especializado e
recursos para customização de tecnologias, para então disponibilizar para as firmas
do clusters, através de um processo participativo.
FIGURA 2 – O Contexto da tecnologia nos clusters menos desenvolvidos.
Fonte: Adaptado de Silvestre e Silva Neto (2014).
O maior desenvolvimento tecnológico, a difusão de informações, e
consequente, o aumento da inovação de um cluster, devem ser fruto de uma mudança
na atuação das próprias empresas, das instituições de apoio e na atuação
governamental, onde a visão deve ser de longo prazo, considerando aspectos sociais
e de meio ambiente, e deixando para trás a visão de lucros e vantagens de curto prazo
(SILVESTRE; SILVA NETO, 2014).
- Promoção de novas tecnologias por organizações de apoio- Processo que enfatiza capacidades organizacionais (soft skills)- Importância das redes formais- Importância da capacidade de absorção das empresas- Exemplos de medidas de desempenho: taxa de adoção entre as empresas agregadas; número de empresas utilizando a tecnologia no
Difusão de Tecnologia
Dese
nvol
vim
ento
de
Tecn
olog
ia
Número de empresas no cluster utilizando a tecnologia
- Interação entre as empresas e as organizações de apoio- Processo que enfatiza as capacidades tecnológicas- Importância da infra-estrutura para o desenvolvimento de tecnologia- Importância da capacidade das organizações de apoio- Exemplos de medidas de desempenho: nova tecnologia / processo / equipamento / eficiência das máquinas e produtividade
37
2.3.2. Políticas públicas
O poder público pode atuar de diferentes formas no desenvolvimento de
um cluster. De acordo com Porter (2000), um governo eficiente deveria disponibilizar
força de trabalho especializada, estrutura física de infraestrutura adequada e ainda
informações econômicas relevantes e atualizadas. A atuação governamental deve
focar no reforço dos clusters existentes, ao invés de tentar criar novos clusters. Este
processo deve começar com o reconhecimento da existência do cluster, e a partir daí,
remover obstáculos, reduzir limitações e eliminar ineficiências que impeçam a
produtividade e inovação no cluster.
Ao focar suas iniciativas de forma geral em um cluster, ao invés de
conceder benefícios a empresas ou setores específicos, a atuação governamental
pode trazer maiores taxas de retornos, atingindo um ambiente mais amplo (PORTER,
2000).
Suzigan et al. (2007), destaca que a ação governamental em um cluster
pode ser exercida através da criação de centros de treinamento e desenvolvimento
de pessoal, visando a formação de mão de obra qualificada. Destaca ainda que os
governos podem implantar centros de prestação de serviços tecnológicos e agências
de desenvolvimento. Além disso, é importante que existam políticas públicas de
financiamento e investimento, através de bancos de desenvolvimento, visando a
formação e operação das empresas de um cluster.
Não há dúvidas de que o governo possui papel de suma importância no
desenvolvimento e sustentabilidade de um cluster. O papel do governo para ajuda e
desenvolvimento de um cluster pode ter várias dimensões, sendo o primeiro, como
uma inexistência de políticas econômicas governamentais para o cluster. Em
segundo, uma atuação catalítica, onde o governo atua apenas como mediador entre
as diversas partes, mas seu envolvimento direto é limitado. Temos ainda uma atuação
de suporte, onde o governo além de atuar mediando os diversos grupos, também
provê investimentos em infraestrutura e educação, e atua de forma passiva. A quarta
forma de atuação do governo é a diretiva, onde são lançados programas como foco
em melhoria de economias locais através de clusters. E por último, a atuação
intervencionista do estado, onde ele atua de forma mais ativa, provendo subsídios e
promovendo proteções e regulações, e ainda tomando mais decisões que instituições
privadas, inclusive tendo propriedade ou mesmo controle de empresas do cluster
(GALLARDO ESTRELLA, 2011).
38
Ketels (2013) também destaca que não há dúvidas sobre a importância das
políticas públicas para o desenvolvimento de um cluster, no entanto não existe um
consenso sobre como efetivamente devem ser estas políticas. Uma política pública
somente pode ser considerada como potencial, quando a sua aplicação confirmar que
houve efetivo crescimento e houver potencial de colaboração.
Feser (1998) ressalta a importância do governo nos clusters de alta
tecnologia. Nestes casos, devem existir políticas públicas de regulação do ambiente
de negócios, cumprimento da lei/fiscalização e regulação de preços. Além disso,
incentivos fiscais, investimento em educação e em estruturas de reciclagem, podem
impulsionar a demanda por produtos ambientalmente sustentáveis entre os
consumidores.
Entretanto, os governos locais não podem trabalhar sozinhos, devem
estabelecer parcerias com as instituições privadas no sentido de promover a inovação
em um cluster, através da flexibilização de barreiras para entrada e saída de empresas
no cluster, criação de instituições de pesquisa e desenvolvimento, capital para
investimento, além da capacitação de mão de obra especializada (ANAZ, 2014). O
autor cita ainda que o governo não deve ser o principal planejador, mas cabe a ele
assegurar a educação básica e permitir que a inovação aconteça.
O suporte da esfera pública, seja ela federal, estadual ou regional, pode ser
na forma de subsídios diretos (por exemplo, redução de impostos), infraestrutura
pública sem cobrança e apoio ao crédito. Intervenções pelo governo através de crédito
aos empreendedores podem ser justificadas quando há imperfeições do mercado de
crédito. O meio ideal de conceder um subsídio público pode ser na forma de um
empréstimo. Empréstimos ou garantias de empréstimos têm a vantagem, do ponto de
vista da esfera pública, de não parecer como um gasto direto dos impostos
arrecadados (CHATTERJI et al., 2013).
O manual da FIESP/MDIC (2007) lista uma série de funções que as
diversas esferas do governo podem ter no tocante à atuação nos clusters – ou APLs,
conforme nomenclatura Brasileira:
1. prover infraestrutura que suporte o crescimento dos APLs.
2. apoiar o ensino e treinamento de mão-de-obra.
3. apoiar atividades e centros de pesquisa e desenvolvimento.
39
4. financiar investimentos cooperativos que permitam aos empresários atingir escalas
e oferecer serviços especializados antes não disponíveis no APL.
5. fazer investimentos públicos que gerem externalidades.
6. ser interlocutor, estruturador e promover o aperfeiçoamento das entidades
representativas dos empresários.
Karnøe e Garud (2012) trazem um interessante exemplo de ação do
governo para desenvolvimento de um cluster. O cluster das turbinas eólicas na
Dinamarca teve seu crescimento impulsionado por duas pontas: o governo cedeu
subsídios àqueles que optassem por utilizar a energia eólica, e motivou a pesquisa e
desenvolvimento por parte dos empresários, incluindo a aprovação de projetos e
padrões em uma estação de testes e pesquisa. Em resumo, a intervenção do Estado
estimulou tanto a demanda (“pull”) como a oferta (“push”) de tecnologia.
A presença do Estado pode também ser justificada, principalmente em
países menos desenvolvido, pelo baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento
pelas empresas nestas regiões, onde a atuação governamental poderia ser um
catalizador da inovação (OECD, 2005).
O fato de haver tantas aglomerações de indústrias em países em
desenvolvimento, mesmo sem o suporte dos governos locais, e ainda com falhas de
mercado nos clusters, justifica a implementação de políticas públicas de
desenvolvimento industrial. A fim de assegurar o caminho do desenvolvimento, um
ambiente competitivo de mercado deve ser criado e mantido pelo governo (OTSUKA;
SONOBE, 2011).
Diferentes tipos de clusters podem demandar diferentes tipos de atuação
dos diversos níveis do Governo. Mesmo em clusters regionais, há justificativa
econômica para que todos os níveis de governo (local, regional e nacional) apoiem
essas políticas. Além disso, os diferentes níveis de governo têm competências e
ferramentas diferentes e, por sua vez geram diferentes graus de benefício. Mas é claro
que governos nacionais desempenham um papel no desenvolvimento e
implementação de políticas para promover eficazmente os clusters regionais (OECD,
2007).
Há ainda, segundo o relatório, justificativas para que os níveis mais baixos
do governo também desempenhem papel ativo nas políticas, dada sua proximidade
geográfica. As autoridades regionais podem ter mais informações e contatos do que
40
órgãos públicos federais no que diz respeito à apuração das necessidades. Eles estão
mais próximos dos clusters para serem capazes de identificar as possíveis conexões
entre os diversos participantes do cluster e as barreiras que impedem o
desenvolvimento. Eles também podem se beneficiar mais diretamente da atividade
econômica gerada pelos clusters mais bem-sucedidos na sua região. (OECD, 2007).
No Brasil, a principal atuação do Estado em relação aos APLs cabe ao
Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos Locais (GTP APL),
coordenado pelo MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior), e que reúne 34 entidades governamentais e não governamentais, conforme
quadro 2. O GTP APL foi instalado em agosto de 2004 pela Portaria Interministerial nº
200, de 02/08/2004 e posteriormente complementada em 24/10/2005. Sua
coordenação é realizada pela Coordenação-Geral de Arranjos Produtivos Locais,
órgão do Departamento de Competitividade Industrial do MDIC. Esta se constitui,
também, como Secretaria Técnica do GTP APL (MDIC, 2015).
Para uma melhor atuação do GTP APL, foram criados núcleos estaduais
formados por instituições governamentais e privadas com atuação expressiva em
relação aos APLs em cada estado (e no Distrito Federal). O Núcleo Estadual tem a
função de atender as demandas dos APL locais, examinar suas propostas e fomentar
relacionamentos institucionais com vistas ao apoio demandado (MDIC, 2015).
Os trabalhos iniciais do GTP APL tiveram como foco a identificação dos
APLs existentes no país, assim como a organização e o planejamento de cada um
deles. Foram então criados planos de desenvolvimento que continham desde ações
simples e de curto prazo, incluindo a indicação de um gestor ou a criação de um grupo
de e-mails, até ações de longo prazo, que demandariam um maior aporte de recursos
por parte das instituições envolvidas, incluindo a criação de escolas técnicas e de
centros tecnológicos (BELLUCCI et al., 2014). Ainda de acordo com os autores, o
objetivo da atuação do Governo, através do GTP APL, seria atuar como facilitador e
orientador das ações, visando a criação, consolidação e amadurecimento dos APLs,
atuando de forma integrada com demais políticas de desenvolvimento regional e de
apoio ao setor produtivo.
41
QUADRO 2
Instituições do GTP APL
Fonte: Adaptado de MDIC (2015).
Além do GTP APL, algumas outras iniciativas do Governo Brasileiro visam
o desenvolvimento regional por meio dos Arranjos Produtivos Locais. O objetivo
destas iniciativas é o desenvolvimento de micro, pequenas e médias empresas, e
dentre elas, uma de suma importância, com foco no comércio exterior é o Projeto
Extensão Industrial Exportadora (PEIEX). O programa, operacionalizado pela APEX
Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), busca
APEXBrasil AgênciaBrasileiradePromoçãodeExportaçõeseInvestimentosABDI AgênciaBrasileiradeDesenvolvimentoIndustrialBASA BancodaAmazôniaS.A.BNB BancodoNordestedoBrasilS.A.BNDES BancoNacionaldeDesenvolvimentoEconômicoeSocialCAIXA CaixaEconômicaFederalCODEVASF CompanhiadeDesenvolvimentodosValesdoSãoFranciscoedoParnaíbaCNI ConfederaçãoNacionaldaIndústriaCNPq ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoeTecnológicoEMBRAPA EmpresaBrasileiradePesquisaAgropecuáriaIPEA InstitutodePesquisaEconômicaAplicadaInmetro InstitutoNacionaldeMetrologia,QualidadeeTecnologiaMAPA MinistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimentoMCTI MinistériodaCiência,TecnologiaeInovaçãoMEC MinistériodaEducaçãoMDS MinistériodoDesenvolvimentoSocialMI MinistériodaIntegraçãoNacionalMinC MinistériodaCulturaMME MinistériodeMinaseEnergiaMDA MinistériodoDesenvolvimentoAgrárioMDIC MinistériodoDesenvolvimento,IndústriaeComércioExteriorMMA MinistériodoMeioAmbienteMPOG MinistériodoPlanejamento,OrçamentoeGestãoMtur MinistériodoTurismoMS MinistériodaSaúdeSUFRAMA SuperintendênciadaZonaFrancadeManausSUDENE SuperintendênciadoDesenvolvimentodoNordesteSUDECO SuperintendênciadoDesenvolvimentodoCentro-OesteSUDAM SuperintendênciadoDesenvolvimentodaAmazônia
IEL InstitutoEuvaldoLodiSEBRAE ServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresasSENAI ServiçoNacionaldeAprendizagemIndustrial
BRADESCO BancoBradescoS.A.
BB BancodoBrasilS.A.
EntidadesPublicas
EntidadesNão-Governamentais
EntidadesPrivadas
EntidadesMistas
42
aumentar a competitividade e promover a cultura exportadora das empresas
Brasileiras. O foco do PEIEX é justamente atuar em áreas onde haja concentração de
empresas, dando suporte técnico, consultoria e promovendo desenvolvimento
compartilhado entre as empresas e as instituições de apoio, governamentais ou não
governamentais, buscando elevar o seu nível de competitividade (APEX Brasil, 2016).
Importante notar que um dos pontos observados pelo manual da
FIESP/MDIC (2007) é a falta de conhecimento por parte das pequenas e médias
empresas, sobre programas governamentais de apoio aos APLs. Isso ocorre devido
à ineficiência no fluxo de informações, e mostra a importância dos diversos órgãos
públicos atuarem mais próximos aos clusters, incluindo suas associações locais.
2.3.3. Relação entre as partes
As conexões entre os diversos elos de um cluster são cruciais para a
competitividade. Porter (2000) destaca a importância da conexão entre as firmas e
industrias para aumento não somente da produtividade, mas também do nível de
inovação e geração de novos negócios no cluster. Importante destacar que, para uma
organização, simplesmente fazer parte de um cluster não significa necessariamente
que a empresa irá se beneficiar economicamente. Isso somente acontecerá se a
empresa estiver bem conectada aos elos da rede (BOSCHMA; FORNAHL, 2011).
A extensão e natureza das ligações entre os participantes de um cluster,
ou seja, clientes, fornecedores e concorrentes, podem determinar o avanço das
empresas, proporcionando novos conhecimentos, melhores práticas e disponibilidade
de recursos dentro do cluster. (LI et al., 2013).
No entanto, relações de cooperação não devem ocorrer apenas entre as
empresas do cluster, mas também com as associações e entidades governamentais
e não governamentais que dão apoio à estrutura (CARVALHO et al., 2016).
Jenkins e Tallman (2010) sugerem em seus estudos que as relações
formais entre os membros de um cluster somente terão seu potencial de geração de
conhecimento incrementado, se houver relações e estruturas informais apropriadas.
De acordo com os autores, o fluxo de conhecimentos ocorre de forma maior quando
existem relações formais entre as empresas, mas este fluxo pode ser facilitado pelas
relações informais que existam entre seus representantes.
43
Algumas características próprias de cada cluster podem influenciar a
relação entre os elos, incluindo a estrutura de produção, natureza do produto e base
tecnológica utilizada, a forma de organização da atividade produtiva dentro do cluster,
a presença de instituições locais e sua interação com o setor produtivo, e ainda o
contexto social, político e cultural do ambiente no qual esta inserido o cluster
(SUZIGAN et al., 2007). Os autores citam que a presença de grandes empresas
dominantes, pode deixar pouco espaço para políticas de governança local, a não ser
que haja decisões políticas e coordenação das empresas e seus líderes. Por outro
lado, clusters com predominância de pequenas empresas, com estruturas produtivas
sem assimetrias relevantes, favorecem a cooperação e interação entre os membros
do cluster.
O nível de maturidade do cluster representa também um diferencial no que
se refere a relação entre os seus membros. Em clusters mais informais, e com baixo
índice tecnológico, prevalece a competição e baixa confiança entre seus membros.
Clusters organizados, formados por empresas de maior porte, e voltadas ao comércio
internacional, já apresentam relações mais encorpadas, e com maior poder de
inovação. Já os clusters inovativos, considerados mais maduros e desenvolvidos,
formado por empresas dos mais diversos portes, apresentam comportamento mais
cooperativo pelos seus membros, com foco em exportação e consequentemente uma
capacidade inovativa mais avançada (OLIVEIRA et al., 2012).
A maior capacidade de se relacionar entre os membros de um clusters,
pode ser benéfico para uma companhia no sentido de aumento de sua produtividade,
de capacidade de investimentos e ainda de seu poder de inovação (LAI et al., 2014).
Assim, quando há um propósito claro de cooperação entre os membros de
um cluster, seus membros são beneficiados. A geração de novos conhecimentos tem
origem no relacionamento entre as empresas, desenvolvendo atividades produtivas
ou comerciais em conjunto (GONÇALVES; LEBARCKY, 2013).
Sobre a cooperação entre os diversos membros de um cluster, Carvalho et
al. (2016) mencionam que a existência de cooperação entre as empresas, não
significa que não haja competitividade.
Guan et al. (2015) defendem ainda que clusters com um ambiente formado
por estruturas de relacionamento entre as diversas partes, e que explorem redes de
colaboração, são benéficas para o aumento da performance em inovação.
De forma geral, a performance de um cluster como um todo irá depender
do quão forte ou debilitadas são as relações entre os diversos agentes. Um
44
pensamento em grupo entre os diversos membros pode ser uma poderosa fonte de
poder quando o cluster esteja em alguma situação de dificuldade de mercado ou de
maior desenvolvimento (CRUZ e SILVA, 2015).
Eisingerich et al. (2010) apuraram que clusters industriais caracterizados
por relações fortes e um elevado grau de abertura, estariam associados positivamente
com o desempenho geral do cluster, mostrando que as empresas devem adaptar suas
estruturas ao contexto ambiental no qual se encontram. Em outras palavras, o
desempenho sustentável de um cluster irá depender da capacidade dos membros de
formar relacionamentos para atender às demandas emergentes do mercado e para
incorporar as mudanças na tecnologia.
Santos et al. (2007) estudando um APL informal no interior do Estado de
Minas Gerais, perceberam que, apesar da cooperação ser um pilar fundamental para
desenvolvimento da cadeia, os empresários de modo geral ainda viam a cooperação
como resultado, e não como antecedente do sucesso. O importante seria que os elos
da cadeia, incluindo as empresas – ainda que concorrentes – entidades e governo,
colaborassem entre si, visando o desenvolvimento em conjunto.
O manual da FIESP/MDIC (2007) cita que um fator crítico para a
prosperidade de um cluster é a confiança entre os empresários ali presentes. Exercitar
a confiança pode fortalecer os laços e ser fator de sucesso nos projetos de médio e
longo prazo.
Na mesma linha, Filho et al. (2012) em seus estudos em um cluster de
micro, pequena e médias empresas do setor calçadista do estado de Minas Gerais,
concluíram ser muito produtiva e benéfica a associação dentro do cluster, no entanto,
falta maior conscientização dos membros em relação às vantagens da cooperação
entre as empresas.
Ainda no Brasil, um dos objetivos das políticas públicas do GTP APL, está
diretamente relacionado à uma melhor relação entre os diversos agentes de um
cluster. Assim, as ações desdobradas do grupo devem incentivar a cooperação
interna, além do estímulo à presença de relações mais fortes ao longo das cadeias
produtivas, incluindo ainda um aumento da coordenação entre diferentes APLs, mas
atuantes no mesmo setor (BELLUCCI et al., 2014). De acordo com os autores, entre
as políticas de fortalecimento dos APLs estavam ações para estimular maior interação
entre os agentes, desde os estágios embrionários de um arranjo produtivo, onde o
foco é a maior disseminação das informações, até o incentivo pela consolidação de
redes de relacionamento em APLs já consolidados.
45
As empresas de um aglomerado possuem normalmente contatos com
outras instituições fora do cluster. Mas ao mesmo tempo estão muito perto das demais
companhias, o que significa que elas podem explorar e promover transferência de
informação e conhecimento de fora para dentro da rede. Além disso, devido ao fato
de que as instituições interagem com muitas das empresas do cluster eles possuem
acesso a uma ampla variedade de soluções para seus problemas. A partir da
experiência adquirida pela observação de como os problemas foram resolvidos, as
instituições locais podem adquirir o conhecimento sobre as capacidades e soluções.
Assim, as instituições locais facilitam a inovação empresarial através do acesso a
informações e recursos, que por sua vez permite às empresas adquirir novas
capacidades e fortalecer as já existentes (VICEDO; VICEDO, 2011).
Moura (2015) afirma ainda que o conhecimento é base para o sucesso de
um cluster, mas a capacidade para disseminar o conhecimento entre seus membros,
através de relações e redes interfirmas, seria a chave para intensificar a
competitividade do cluster.
2.3.4. Treinamento e desenvolvimento de mão de obra
A presença de mão de obra especializada é característica básica de um
cluster (PORTER, 2000; LASTRES et al., 2003; CHLEBÍKOVÁ; MRÁZIKOVÁ, 2009;
DELGADO et al., 2014), mesmo Marshall (1920), já colocava como um dos
direcionadores dos chamados distritos industriais, a concentração de mão de obra.
No entanto, a capacidade de aprimoramento da mão de obra local é de crucial
importância para aumento da produtividade e inovação de um cluster.
O relatório da OECD (2007) demonstra que, apesar de uma base de
pessoal qualificada ser frequentemente citada como fator de sucesso de um cluster,
e um fator determinante para que uma firma se desloque para o local, nem sempre se
nota a ênfase em desenvolvimento de recursos humanos. Este resultado é
provavelmente devido, em parte, ao fato de que a maioria da educação e programas
de formação são muitas vezes vistos como condições já preestabelecidas. Os
programas de treinamento são também normalmente patrocinados por diferentes
agências e órgãos governamentais e não podem ser facilmente alinhados com as
necessidades particulares de um cluster em uma região.
46
Clusters menos estruturados costumam ter mão de obra menos qualificada,
ao contrário de clusters mais avançados, onde a presença de mão de obra mais
preparada é evidente. De toda forma, em ambos os casos a necessidade de
treinamento de pessoal constante é notória, seja para aumento da produtividade ou
mesmo para prover o cluster em crescimento com mais pessoal treinado e preparado
para os avanços da tecnologia (MENDONÇA, 2008). Os estudos do autor mostram
ainda a relação direta entre aumento de mão de obra qualificada e a atração de novas
empresas para o cluster, gerando um potencial cíclico, reduzindo as barreiras de
entrada de novas instituições.
Vicedo e Vicedo (2011) trazem uma discussão a respeito do papel de
Universidades no desenvolvimento de um cluster. Entre outras atribuições,
instituições de ensino podem servir como centros de treinamento de pessoal
especializado, promovendo a inovação e, por conseguinte o aumento da
produtividade das empresas do cluster. Essas instituições são importantes agentes
nos clusters, pois fornecem conhecimento específico adquirido através da sua posição
como intermediários. As instituições de ensino locais têm a posição privilegiada de
possuírem redes de contatos externos ao cluster, e ao mesmo tempo estarem perto
das empresas, o que significa que elas podem explorar e transferir informação
conhecimento de fora para dentro da rede.
Otsuka e Sonobe (2011) citam que empresários inovadores podem adquirir
novos conhecimentos sobre tecnologia e gestão, visitando países estrangeiros com
frequência para participar de feiras e programas de treinamento, e envio de
trabalhadores para treinamento no exterior. Além disso, os autores evidenciam que o
conhecimento ensinado em programas de treinamento se alastra dentro de um cluster
além dos participantes para não participantes, de modo que a divulgação de novos
conhecimentos é alcançada sem muito custo e, portanto, mais eficiente. Silvestre e
Silva Neto (2014) complementam afirmando que uma das barreiras ao
desenvolvimento dos clusters, é a falta de conhecimento do negócio que estão
entrando pelos empreendedores e também a sua falta de treinamento, mostrando,
portanto, que o treinamento e desenvolvimento não é importante apenas para os
níveis mais operacionais.
Em sua pesquisa com foco em clusters do Kênia, Sonobe et al. (2011)
identificou que empresários com mais estudos estão propensos a terem maior
sucesso, ao poderem promover maiores inovações no negócio, e terem maior
rentabilidade. Educação formal, bem como experiência formal de trabalho no setor em
47
que se encontra, são as chaves para aprender melhores métodos de produção e
melhoria na qualidade do produto. Neste ponto, governo e entidades não
governamentais, podem trabalhar em conjunto para prover os empresários de
programas de treinamento formais, que irão ensiná-los a promover inovações diversas
em seus produtos, marketing e na gestão do negócio.
No Brasil, instituições como SEBRAE e SENAI agem como instituições
capacitadoras, oferecendo treinamentos, consultorias e programas para a melhoria
dos processos gerenciais, das habilidades de liderança e do comportamento do
empreendedor. O objetivo é aumentar o nível de escolaridade e capacitação dos
trabalhadores, o que reflete no maior nível de competitividade das organizações de
um cluster (OLIVEIRA et al., 2010).
Além disso, faculdades e universidades presentes na região de um cluster,
podem, além de promover pesquisas de desenvolvimento de produtos, processos e
tecnologia, atuar na formação de pessoas para atuação na operação e gestão das
empresas (OLIVEIRA et al., 2010).
Também neste ponto a atuação do GTP APL elaborou ações de promoção
da capacitação gerencial aos gestores dos APLs, assim como para os formuladores
de políticas para APLs. A falta de qualificação destes personagens pode levar à uma
baixa qualidade tanto na elaboração como na gestão das ações e projetos. As
políticas nesta área incluem capacitação de liderança e capacidade para manipulação
de diferentes ferramentas gerenciais, com o intuito de melhor avaliação dos
resultados, e capacidade para se fazer ajustes, quando se fizer necessário
(BELLUCCI et al., 2014).
Além dos incentivos externos, tanto via políticas públicas ou através das
instituições de apoio, o esforço interno das companhias também pode incrementar as
condições de crescimento e refletir em ganhos para a comunidade. Práticas
organizacionais, tais como benefícios educacionais e treinamentos para reforço de
competências, além de boas condições de trabalho, certamente irão afetar o clima
interno, refletindo na qualidade de vida da comunidade na qual a empresa está
inserida (FELDMAN, 2014).
2.3.5. Associações e Instituições de Apoio
Porter (2000) dentro de uma lista de sugestões para maior
desenvolvimento de um cluster, apontou o envolvimento de seus participantes, e a
48
presença de associações. Apesar de existir a presença de indivíduos que não
contribuem com o todo, é importante que representantes das empresas de todos os
portes do cluster participem ativamente. Em seu artigo de 1998, Porter já apontava a
associação dos membros de um cluster como um dos pilares críticos para seu
desenvolvimento. Trabalhar de forma coletiva, seja através de associações, grupos
de estudo ou escritórios de representação, beneficiária o cluster por inteiro e
aumentaria sua competitividade.
Delgado et al. (2014) citam que a presença de empresas do mesmo setor
da economia, pode facilitar a aproximação e criação de instituições suporte, que
seriam responsáveis por programas educacionais e representação comercial. Estas
instituições facilitariam ainda a cooperação entre produtores e pesquisadores dentro
de um cluster.
Suzigan et al. (2007) destaca que para se caracterizar um cluster como
tendo uma boa estrutura de governança, deve haver a presença de instituições locais
com representatividade política, econômica e social, que interajam com o setor
produtivo. A atuação de associações de classe, ou mesmo de uma empresa líder,
pode ter efeitos externos, e principalmente internos, com a melhoria da
competitividade das instituições do cluster. Pode ainda, a partir do estímulo destas
associações ou sindicatos, incentivar relações mais amistosas entre as empresas,
tendo como consequência positiva o incremento da competitividade do sistema como
um todo.
O relatório da OECD (2007) relata a existência de diversas associações
entre os clusters estudados. Tais associações, normalmente de fins não lucrativos,
são responsáveis por consultorias financeiras e estratégicas, e são fundamentais para
o desenvolvimento dos clusters nos quais estão inseridos. Servem ainda como uma
ligação com as entidades públicas. Suas responsabilidades envolvem ainda
treinamento de pessoal, divulgação de tecnologia, busca de financiamentos e
estratégias conjuntas de marketing.
Associações industriais proativas favorecem a criação de um senso comum
de identidade, através de iniciativas de relacionamento com órgãos públicos locais e
federais (MOROSINI, 2004).
Silvestre e Silva Neto (2014) notaram em sua pesquisa, que normalmente
há a falta de maior coordenação e organização de entidades representativas nos
clusters. Estas entidades seriam de crucial importância para a promoção de seus
produtos e o desenvolvimento econômico, incluindo criação de empregos, geração de
49
renda e desenvolvimento local, destacando que a promoção é importante para que o
cluster negocie benefícios tanto na esfera pública como privada.
Mendonça (2008) cita que um dos fatores que promovem um ambiente
inovativo é a “presença de associações de classe e comerciais dedicadas à
qualificação da força de trabalho e capacitação tecnológica das firmas, além da
assistência de rotina às atividades produtivas técnicas e produtivas, comerciais e
financeiras”. Complementa com a necessidade da presença de associações de classe
para fins de qualificação de pessoal e do aumento da capacidade tecnológica das
empresas.
Importante citar a importância de associações locais dentro dos clusters.
Em caso de ausência ou falhas do Governo em promover pesquisa e
desenvolvimento, ações de apoio do cluster podem ser promovidas e implementadas
em regime de cooperação com as organizações locais, tais como associações
comerciais e câmaras de comércio e indústria. Possíveis falhas do governo podem
também ser mitigadas desta forma (NISHIMURA; OKAMURO, 2011).
Hoffmann et al. (2014) destacam a participação de instituições de apoio em
clusters da Noruega, ressaltando que as empresas se beneficiam por ter acesso a
associações de engenharia, que prestam alguns serviços de suma importância:
desenvolvimento profissional, promoção da cooperação local no que diz respeito a
acordos informais, para evitar a concorrência salarial, e a atração de investimento de
modo geral.
A concentração de empreendedores, formando um cluster, pode levar à
formação (consciente ou não) de instituições de apoio, em um processo de evolução
de desenvolvimento de tecnologia, do mercado e dos ambientes institucionais
(DILAVER et al., 2014). Os autores citam como exemplo, a oferta de fundos de risco
(Venture Capital), através do reinvestimento dos lucros. O crescimento subsequente
do cluster, por sua vez, será reforçado pela presença de tais instituições de apoio.
Li et al. (2015) ao mencionar as organizações locais de apoio, citando
instituições acadêmicas, instituições financeiras e outras agências de suporte,
destacam a importância destas instituições para preparação de mão de obra
qualificada, abertura de novas empresas, serviços de consultoria e cooperação em
pesquisa e desenvolvimento. Os autores afirmam ainda a importância que tais
instituições desempenham na atualização e disseminação de conhecimento no
cluster, tornando-se importantes na integração das empresas, incentivando a
cooperação. Estas instituições são ainda importantes como fontes de tecnologia e
50
informação externas, funcionando como uma ponte entre as empresas de dentro e de
fora dos clusters (VICEDO; VICEDO, 2011; LI et al., 2015).
Ao encerrar este referencial teórico, é importante destacar a relação entre
os diversos tópicos apresentados. A primeira parte, onde se falou das redes
organizacionais, buscou-se dar uma introdução aos aspectos teóricos que permeiam
os estudos dos clusters. Estes, que podem ser considerados um tipo de rede
organizacional inserido em um ambiente de proximidade geográfica. Posteriormente
foram abordados os diversos aspectos a respeito dos clusters, mostrando que seus
estudos tiveram início por Marshall (1920), tomando novamente atenção da literatura
científica no final do século XX, através de Porter (1998), que em seus estudos,
mostrou a considerável importância da concentração de empresas.
51
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nesta seção serão detalhados os métodos e as técnicas utilizados na
realização desta pesquisa, considerando o tipo e a natureza da pesquisa, assim como
o objeto estudado.
3.1. Caracterização da pesquisa
Para atingir os objetivos propostos na presente pesquisa, utilizou-se uma
abordagem qualitativa. E quanto aos fins, pode ser caracterizada como descritiva.
De acordo com Malhotra (2006), a pesquisa qualitativa pode ser utilizada
para gerar hipóteses e identificar variáveis que devem ser incluídas na pesquisa. O
autor cita ainda que a pesquisa qualitativa possibilita a compreensão do problema por
parte do pesquisador. Michel (2005) agrega da seguinte forma: Na pesquisa qualitativa, a verdade não se comprova numericamente ou estatisticamente, mas convence na forma da experimentação empírica, a partir da análise feita de forma detalhada, abrangente, consistente e coerente, assim como na argumentação lógica das ideias, pois os fatos em Ciências Sociais são significados sociais, e sua interpretação não pode ficar reduzida a quantificações frias e descontextualizadas da realidade. Deve-se considerar que há termos nas respostas dadas tão carregadas de valores, que só um participante do sistema social estudado, que vive e conhece a realidade daquele grupo, pode compreendê-los e interpretá-los (MICHEL, 2006, p. 33).
A pesquisa qualitativa não busca enumerar e/ou medir os eventos em
estudo, nem utiliza instrumentos estatísticos para a análise dos dados. Abrange a
coleta de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos pelo contato direto do
pesquisador com a situação objeto de estudo, procurando entender os fenômenos
segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo,
e a partir daí fazer a sua interpretação dos fenômenos estudados (GODOY, 1995).
A pesquisa é descritiva, porque busca descrever o funcionamento da
cadeia moveleira da microrregião de Ubá/MG. Conforme descrito por Raupp e Beuren
(2003), a pesquisa descritiva busca descrever as características de determinada
população, buscando analisar, classificar e interpretar fatos observados pelo
pesquisador, sem que este interfira neles. De acordo com Trivinõs (1987, p.110), a
pesquisa descritiva demanda do pesquisador uma quantidade de informações sobre
o que está sendo pesquisado e pretende descrever com precisão as particularidades
de determinada realidade.
52
Para Collis e Hussey (2005), essa modalidade de pesquisa descreve o
comportamento dos fenômenos, sendo usada para obter informações sobre as
características de uma determinada questão. Vai além da pesquisa exploratória, uma
vez que avalia e descreve as características das questões relevantes.
Vergara (2005), complementa: A pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação (VERGARA, 2005, p. 47).
Quanto aos meios, a pesquisa se caracteriza como um estudo de caso.
Dado que a presente pesquisa está focada em um cluster – Polo Moveleiro da
microrregião de Ubá/MG – o método de pesquisa “Estudo de Caso” é bastante
adequado. De acordo com Yin (2015) este tipo de pesquisa busca responder
basicamente o “como” e o “porque”, considerando que não exige por parte do
pesquisador o controle de eventos comportamentais, e possui enfoque em eventos
contemporâneos. O autor complementa afirmando que o estudo de caso é uma
maneira de se fazer pesquisa empírica, dentro do contexto de vida real do objeto
estudado, e utilizando múltiplas fontes de evidência, em situações em que os limites
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidos. De acordo com
Vergara (2005), “o estudo de caso é circunscrito a uma ou poucas unidades,
entendidas como uma pessoa, uma família, um produto, uma empresa, um órgão
público, uma comunidade ou mesmo um país. Tem caráter de profundidade e
detalhamento. Pode ou não ser realizado no campo”.
3.2. Coleta de Dados
Com o intuito de atingir os objetivos propostos no presente trabalho, e obter
respostas ao problema apresentado, e ainda, considerando sua abordagem
qualitativa, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com autoridades locais,
incluindo prefeitos e secretários de desenvolvimento econômico, representantes de
instituições de apoio, empresários e gestores das empresas e lideranças
representativas da unidade de análise que, de alguma forma, participam ou têm
influência na cadeia moveleira de Ubá.
A opção por um modelo semiestruturado de entrevista se deu pela
flexibilidade que este pode proporcionar, ao mesmo tempo que possui um
53
direcionador com as principais questões que se pretende abordar. Doody e Noonan
(2013) afirmam que este modelo de entrevista é mais flexível, com oportunidade de
explorar assuntos que surjam espontaneamente. O entrevistador pode no decorrer da
entrevista explorar novos caminhos, mantendo foco no tópico, e inclusive fazer
perguntas adicionais. Marconi e Lakatos (2011) destacam ainda a liberdade que a
entrevista semiestruturada proporciona ao entrevistador, que pode desenvolver cada
situação na direção que achar mais conveniente. As autoras afirmam que seria uma
forma de explorar mais amplamente a questão.
Os roteiros de entrevistas semiestruturados utilizados, foram elaborados
especificamente para cada um dos perfis de respondentes (Autoridades municipais,
empresários e Representantes das Associações/Instituições de apoio), que foram
selecionados por conveniência e acessibilidade.
Para elaboração do roteiro de entrevista foram selecionadas 5 dimensões
relativas à caracterização de um cluster, baseados no referencial teórico estudado:
1) Inovação
2) Políticas públicas
3) Relacionamento entre as partes
4) Treinamento e desenvolvimento de mão de obra
5) Associações e instituições de apoio.
Posteriormente, foram feitos cruzamentos entre os dados obtidos nas
entrevistas com a literatura a respeito dos clusters, possibilitando a identificação de
pontos fortes e fracos do APL moveleiro da microrregião de Ubá, tendo como
referência as categorias enumeradas acima.
A partir das entrevistas realizadas, foram também levantadas as sugestões
dos diversos stakeholders ouvidos, para um maior desenvolvimento da cadeia.
Ao todo, foram realizadas 9 entrevistas semiestruturadas, sendo 8
presenciais no próprio local de trabalho do entrevistado e 1 por telefone. As entrevistas
tiveram duração entre 15 e 70 minutos Das 8 entrevistas presenciais, 6 foram
gravadas e transcritas, totalizando 167 minutos de gravação e 55 páginas de
transcrição. Os 9 entrevistados ficam assim caracterizados:
- 4 empresários do setor moveleiro
- 3 representantes de instituições de apoio, sendo:
- Representante do sindicato patronal.
- Representante do SESI.
54
- Diretor de uma empresa prestadora de serviços de comunicação
na região, e que fez parte do GTP APL.
- 2 representantes do poder público, sendo
- Prefeito de uma das cidades
- Secretário municipal de desenvolvimento econômico, de uma das
maiores cidades da região.
Os entrevistados foram escolhidos por amostragem não probabilística, por
conveniência, tendo sido utilizado ainda a técnica de “bola de neve”, onde alguns dos
entrevistados indicaram outros profissionais para se submeterem à entrevista.
3.3. Técnicas de interpretação dos dados
Com o intuito de atender os objetivos propostos, o material coletado, entre
entrevistas realizadas pelo pesquisador, dados do projeto do SEBRAE realizado por
Souki (2014) e ainda as bases de dados públicas acessadas, foram submetidas à
análise de conteúdo, conforme o modelo proposto por Bardin (2011), segundo a qual
esta técnica é:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2011, p.42).
De acordo com a autora, a realização da análise de conteúdo implica na
observância de três fases: Pré-análise, exploração do material e tratamento e
interpretação dos resultados.
A fase da pré-análise refere-se à fase de organização do material, definindo
o formato do esquema de trabalho, o levantamento do que será necessário, com os
procedimentos bem definidos, porém flexíveis, propiciando a interpretação e a
preparação formal do material, incluindo ainda a possível edição dos textos, que pode
envolver o alinhamento de enunciados até a transformação linguística do texto. Esta
fase inclui uma leitura flutuante dos textos, onde se toma as primeiras impressões e
observações (BARDIN, 2011).
A fase de exploração do material corresponde à operacionalização e o
cumprimento das decisões tomadas na fase de pré-análise. Nesta etapa, é feita a
55
definição de um conjunto de categorias, propiciando ou não a riqueza das
interpretações e inferências (BARDIN, 2011).
E, finalmente, o tratamento dos resultados e interpretação compreende a
fase em que o pesquisador torna significativa e válidos os dados obtidos. No caso de
pesquisa qualitativa, como é o caso da presente pesquisa, são utilizadas inferências
e interpretações pelo pesquisador (BARDIN, 2011).
Neste caso, as categorias definidas foram aquelas estabelecidas nos
objetivos da pesquisa, e a análise foi feita baseada no referencial teórico levantado.
Tais categorias (ou dimensões) foram definidas a partir da revisão da literatura a
respeito de clusters, partindo dos estudos de Porter (1998 e 2000) e também de
diversos outros autores posteriores a ele.
56
4. UNIDADE DE ANÁLISE
A unidade de análise da presente pesquisa é a cadeia moveleira da
microrregião de Ubá/MG, localizada na Zona da Mata do estado de Minas Gerais,
próximo às fronteiras dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A principal cidade da região é Ubá, com uma superfície de 407,45 km2. A
população da cidade, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE (2010) é de 101.519
habitantes (Tabela1).
TABELA1
População residente do Município de Ubá em 2010
Fonte: Elaboração pelo autor com dados provenientes de IBGE (2015)
A microrregião de Ubá é formada por 17 municípios: Astolfo Dutra,
Divinésia, Dores do Turvo, Guarani, Guidoval, Guiricema, Mercês, Piraúba, Rio
Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Senador Firmino, Silveirânia, Tabuleiro, Tocantins,
Ubá, Visconde do Rio Branco, dispostas conforme figura 3 que juntas concentram
uma população de aproximadamente 270 mil habitantes e uma área territorial total de
3.586 Km2 (Tabela 2).
FIGURA 3 – Posição dos municípios que compõe a microrregião de Ubá
Fonte: CityBrazil (2016)
Urbana Rural TotalMasculino 48166 2092 50258 Feminino 49470 1791 51261 Total 97636 3883 101519
57
Em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o município de
Ubá apresenta um índice considerado alto, de 0,724 em 2010, tendo evoluído 15,24%
desde 2000, quando o índice era de 0,628. No entanto, o índice é puxado muito mais
pelos componentes de renda e longevidade, enquanto no critério de educação, o
município ainda apresenta um número baixo, com apenas 36,5% da população até 20
com ensino médio completo, contra 43% na média do estado de Minas Gerais (PNUD;
IPEA; FJP, 2013). Ainda de acordo com o relatório, a cidade de Ubá ocupa a 1191ª
posição entre os 5.565 municípios brasileiros, segundo o IDHM.
TABELA 2
Municípios que compõe a microrregião de Ubá
Fonte: Censo Demográfico do IBGE (2010).
A região encontra-se a cerca de 300 Km da capital de Minas Gerais, Belo
Horizonte, e também a aproximadamente a mesma distância da capital do Estado do
Rio de Janeiro. Além disso, sua localização é atendida por importantes eixos
rodoviários, que facilitam a logística do polo (Figura 4). Desta forma, a proximidade
das grandes metrópoles do Brasil, e a facilidade de acesso rodoviário da maioria das
regiões do Brasil, incluindo regiões Norte e Nordeste, pode ser considerada uma
vantagem competitiva para o APL, em comparação aos principais polos moveleiros
MunicípiodoAPL População ÁreaKm2AstolfoDutra 13049 158,89 Divinésia 3293 116,97 DoresdoTurvo 4462 231,17 Guarani 8678 264,19 Guidoval 7206 158,38 Guiricema 8707 293,58 Mercês 10368 348,27 Piraúba 10862 144,29 RioPomba 17110 252,42 Rodeiro 6867 72,67 SãoGeraldo 10263 185,58 SenadorFirmino 7230 166,50 Silveirânia 2192 157,46 Tabuleiro 4079 211,08 Tocantis 15823 173,87 Ubá 101519 407,45 ViscondedoRioBranco 37942 243,35 TOTAL 269650 3586,11
58
que se localizam predominantemente na região Sul do país, como Bento Gonçalves
(RS), São Bento do Sul (SC) e Arapongas (PR) (BUSTAMANTE, 2004).
FIGURA 4 – Localização geográfica da microrregião de Ubá
Fonte: Crocco e Horácio (2001).
O setor moveleiro na região de Ubá teve início na década de 1960, como
alternativa aos problemas ocasionados por uma crise econômica, e a redução da
importância do cultivo do fumo, gerando um aumento do desemprego na região. Com
o surgimento das primeiras fábricas de móveis, o setor moveleiro passou a ser
considerado o mais promissor na região, respondendo hoje por em torno de 65% de
toda a renda gerada na região (OLIVEIRA et al., 2010).
Os principais destaques em termo de pioneirismo na atividade moveleira
da região foram dois grupos industriais: a fábrica de móveis de aço Itatiaia e o grupo
Parma, grupo de empresas de José Francisco Parma, considerado o pioneiro na
criação do polo moveleiro. No início os móveis eram de qualidade baixa e se
destinavam à população de baixa renda. No início dos anos 1970, com o
encerramento das atividades das indústrias de José Francisco Parma, o que poderia
decretar a redução ou mesmo extinção do polo, mostrou-se como um novo
impulsionador da indústria, dado que boa parte dos antigos 1800 funcionários do
59
Grupo Parma deu início à produção própria de móveis, com a abertura de pequenas
empresas e absorvendo a mão de obra local (INTERSIND, 2016).
Um resumo com os principais acontecimentos que marcaram a história da
cadeia moveleira de Ubá pode ser vista no quadro 3.
QUADRO 3
Principais fatos históricos do APL de Ubá
Fonte: Macedo et al. (2011).
No APL é produzida uma sucessão de artigos do mobiliário, incluindo desde
produtos feitos de madeira até móveis de metal e ainda estofados. O polo moveleiro
de Ubá concentra em torno de 300 empresas tornando-se, assim, um dos mais
importantes polos moveleiros do estado de Minas Gerais e também do Brasil.
Bustamante (2004) demonstra o destaque que a microrregião de Ubá
possui em relação à concentração de empresas moveleiras no Estado de Minas
Gerais. O arranjo produtivo de Ubá destaca-se por ser o maior gerador de empregos
formais para a indústria moveleira no estado, representando 50% do total, e, ao
mesmo tempo, detém o significativo número de 33% das empresas moveleiras do
estado.
Os fabricantes de móveis de madeira do polo moveleiro, podem ser
divididos em 3 tipos, conforme (ALBINO, 2009):
- Empresas fabricantes de móveis chapeados e pintados: produtos de
linhas mais padronizadas, com foco nas classes mais populares;
- Empresas fabricantes de móveis em madeira maciça e chapas: móveis
na linha de marcenaria, com utilização conjugada de madeira maciça e MDF (ou
aglomerado). Possuem design mais apurado e tempo de fabricação mais longo,
60
exigindo menos tecnologia e mais trabalho de marceneiros. Os principais produtos
são salas de jantar e estofados.
- Empresas fabricantes de móveis tubulares padronizados: Móveis para
atender classes mais populares. Como exemplos temos móveis de escritório, camas
e estofados
Interessante notar que, se por um lado, o polo sedia a maior empresa de
móveis de aço da América Latina e alguns outros grandes fabricantes de móveis de
madeira, o APL da microrregião de Ubá é formado basicamente por micro e pequenas
empresas, com foco na fabricação de móveis residenciais, e destinados ao mercado
interno (SOUZA FILHO et al., 2013).
61
5. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Os dados coletados na pesquisa foram submetidos à análise de conteúdo.
Como dados primários foram utilizadas as transcrições e anotações provenientes das
entrevistas realizadas pelo autor no mês de julho de 2016.
As análises foram feitas com a segmentação pelas 5 dimensões relativas
à caracterização de um cluster, e que estão amparadas por subcapítulos do
referencial teórico, conforme exposto na Metodologia deste trabalho. Na descrição da
situação da cadeia, em cada dimensão, procurou-se mostrar os pontos fortes e fracos
do polo, identificados pelo pesquisador.
Ao final, serão apresentadas as sugestões para maior desenvolvimento da
cadeia produtiva madeireira da microrregião de Ubá/MG mencionadas pelos
entrevistados.
Os trechos das entrevistas apresentados na análise terão uma
classificação de duas letras, de acordo com o perfil do entrevistado, seguido de um
número (n), conforme o seguinte:
· Representante das instituições de apoio: [IAn]
· Representante do poder público: [PPn]
· Empresário: [EMn]
5.1. Dimensão 1: Inovação
Nesta dimensão, buscou-se compreender a capacidade de inovação do
polo, procurando entender como ocorre a geração e difusão de conhecimento.
Porter (2000) destaca que a participação de uma empresa em um cluster
oferece muitas e potenciais vantagens no que se refere a inovação, em comparação
a atuar de forma isolada. Além disso, em um cluster, para que a inovação aconteça
de forma mais eficaz é necessário que haja cooperação entre os seus participantes
(RODRIGUEZ; VALENCIA, 2008; NISHIMURA; OKAMURO, 2011; PORTUGAL
FERREIRA et al., 2012; GARANTI; BERZINA, 2013). No entanto, o que se percebe
no polo moveleiro da microrregião de Ubá – com pouquíssimas exceções – é um
isolamento dos empresários, e a baixa interação com as instituições para
desenvolvimento de novos produtos e/ou processos. Um dos empresários
entrevistados citou:
62
Algumas empresas se acham grandes e independentes, não dependem de ninguém e algumas são pequenas demais, e acreditam que ninguém vai dar ideia para ela, porque é pequeno, e acha que as vezes, isso não vai resolver. [EM1].
O mesmo entrevistado, quando perguntado se existe algum tipo de
cooperação quanto a troca de ideias, produtos, design e processos, respondeu:
Não interage entre as indústrias do polo não, muito raro isso acontecer. Até porque alguns tem algumas técnicas que ele quer preservar, porque se eu ensinar o pulo do gato, meu concorrente vai entrar também. [EM1].
Foi citado ainda que algumas empresas sequer aceitam convites para
entrevistas ou qualquer tipo de pesquisa acadêmica, acreditando que poderiam perder
informações para seus concorrentes. Foi mencionado ainda a medida extrema de
alguns empresários mais conservadores, de não divulgar os produtos mais recentes
em sua página na internet, acreditando que assim evitaria imitação pelos
concorrentes.
As poucas iniciativas de troca de informações ocorrem de maneira informal,
através de contatos entre empresários que possuem relação mais próxima, conforme
depoimento de uma das entrevistadas, quando questionada sobre a existência de
reuniões formais para troca de experiências e informações.
Li et al. (2013) já afirmava que a proximidade geográfica pode beneficiar o
conhecimento e inovação em uma rede organizacional, dado uma maior frequência
dos contatos pessoais, que culminam em relações sociais entre os participantes da
rede, facilitando assim o fluxo e transferência de conhecimentos.
Percebe-se que o polo não possui muita inovação em seus produtos, e que
as novas empresas que surgem, são na verdade uma repetição do que já existe, já
que normalmente são abertas por ex-funcionários de alguma outra indústria.
Isso não impede que os móveis produzidos no polo sejam de alta
qualidade, conforme mencionado por dois entrevistados:
Os móveis aqui são bons, de design, de qualidade, então, nós estamos competindo com qualquer outra região, por exemplo, o Sul, que é mais forte, São Paulo, em termos de qualidade de produto, nós estamos no mesmo nível, nós não temos diferença. [IA1]. É um polo preparado, tem produto bonito, tem produto de qualidade, o polo aqui ganha os prêmios top model do Brasil todo ano. A maioria dos prêmios a gente ganha: cerca de 30% dos prêmios vem para cá. [EM2].
63
De forma geral, o perfil dos empresários locais é de empreendedores, que
baseados em sua experiência profissional em uma das grandes empresas da região,
acaba por abrir o próprio negócio, fabricando móveis no mesmo padrão e estilo dos já
existentes, sem trazer novidades para o mercado. Esse perfil empreendedor, mas não
necessariamente com foco em inovação, pode ser notado na fala de alguns dos
entrevistados, ao serem perguntados se as novas empresas que surgiam traziam
novas ideias, produtos ou novas tecnologias:
Não necessariamente. No segmento moveleiro tem poucas empresas que puxam, que criam coisas novas, as outras copiam. Normalmente, é um setor de cópia (...) tem uma meia dúzia que puxa o barco, o resto vai atrás. [EM2]. O que a gente observa é que o espírito empreendedor faz com que a cidade saia de uma economia rural e fique quase que 100% voltada para a indústria. Dentro dessa linha, muitos ex-funcionários dos grandes grupos que iniciaram, se tornaram grandes grupos, mas os pioneiros foram e montaram as suas empresas. [PP1]
De acordo com Garanti e Berzina (2013) a presença de universidades,
centros de pesquisa e o investimento em pesquisa, têm um impacto positivo na
capacidade de inovação de um cluster. No entanto, a simples presença não é
suficiente. Deve haver colaboração entre as empresas e as universidades. No polo
moveleiro, a interação com Universidades e entidades de pesquisa é mínima, com
algumas ações isoladas, não representando fator relevante para o desenvolvimento
da inovação no polo.
De acordo com o representante de uma das instituições de apoio, a atuação
das universidades locais se restringe a projetos isolados de pesquisa e extensão, que
não trazem benefícios à inovação, seja de produtos ou processos, para o polo
moveleiro.
Estas instituições e suas ações serão melhor descritas nos itens de
Treinamento e desenvolvimento, e ainda na dimensão de Associações e instituições
de apoio.
5.2. Dimensão 2: Políticas públicas
Nesta dimensão mapeou-se quais órgãos da esfera pública atuam no APL,
e como funciona esta atuação. Investigou-se, ainda, a participação do GTP APL no
desenvolvimento do polo.
64
Considerando as cinco dimensões do papel de um governo para ajuda e
desenvolvimento de um cluster de Gallardo Estrella (2011), que vão desde inexistente,
até uma atuação intervencionista, percebe-se que no caso do APL moveleiro da
microrregião de Ubá, a atuação governamental está em uma posição intermediária
entre a primeira dimensão, que é uma inexistência de políticas econômicas
governamentais, a segunda, onde a atuação do governo se limita a ser apenas um
mediador entre as diversas partes, mas seu envolvimento direto é limitado. Muito se
ouviu nas entrevistas sobre o isolamento do polo em relação à atuação das diversas
esferas governamentais, conforme trechos das entrevistas abaixo:
A gente percebe que não tem nenhum incentivo, pelo menos no lado político. A prefeitura de Ubá em si, ela não oferece nenhum benefício hoje para vir uma indústria de fornecedor. [EM1] O segmento é um segmento de guerreiros, empresários guerreiros, não tem ajuda absolutamente nenhuma do governo, por iniciativa do governo. [EM2] Nem municipal, nem estadual, nem federal, nada. Não teve essa cultura aqui. Não houve na história de Ubá essa aproximação empresa/governo ou governo/empresa, é cada um por si. [EM2] E hoje você vê uma tendência muito forte do governo, cada dia mais empurrar responsabilidade social para cima das empresas. [EM2] A gente tem uma participação pequena do poder público, pequena, tanto a nível estadual, municipal, federal. Eu acho que quando começou com o GTP APL a gente tinha uma participação muito mais intensa. A gente conseguiu fazer trabalho com o MDIC, conseguimos fazer trabalho com FINEP. Então isso tudo mudou o foco, se perdeu um pouco. A gente não tem esse trabalho mais, então eu percebo que a gente ficou um pouco perdido, esse apoio governamental dos órgãos públicos se perdeu muito. [IA1]
Mesmo os representantes dos governos municipais entrevistados,
demonstraram a falta de apoio governamental, e ainda o distanciamento das demais
esferas:
A gente vê muito pouca ação, plano ou apoio dos governos estadual e federal. [PP1] Não há atuação do governo estadual e federal. Só quebra os municípios, só quebra as indústrias, porque a tributação é absurda, só aumenta, não tem anuência em nada, só cobrança, então só prejudica mesmo. [PP2]
Souki (2014) em sua pesquisa na mesma região estudada, já havia
identificado em suas entrevistas que a atuação pública no polo é muito mais
normativa, fiscalizadora e punitiva do que efetivamente buscando o desenvolvimento
da cadeia. Notou-se a falta de políticas públicas de longo prazo e ainda uma falta de
alinhamento entre os diversos órgãos normatizadores e fiscalizadores.
65
Sobre a atuação do GTP APL, que dentre os APLs do Brasil eleitos como
prioritários para suas ações está o arranjo produtivo moveleiro de Ubá, e que em 2007
teve um plano de desenvolvimento elaborado, apesar de ter sido importante para o
polo por um determinado tempo, notou-se que não possui mais ações diretas de
envolvimento, conforme mencionado por alguns dos entrevistados: Eles começaram o trabalho em 2006, inclusive, a gente participou como um dos APL’s piloto na época, dado que eles escolheram onze APL’s para atuar e um desses onze, fomos nós. Houve um trabalho grande, mas depois, não tem mais nenhum tipo de atuação. [IA1] Na época a gente conseguiu fazer um trabalho bem interessante junto com as outras entidades parceiras, SEBRAE, FIEMG, as próprias universidades, Universidade de Viçosa, Universidade de Juiz de Fora. Então, foi um trabalho integrado muito bom, a gente teve um trabalho de desenvolvimento grande aqui. E depois eles mudaram um pouco o foco do GTP APL. Antes era tudo em Brasília, quando começou, aí depois eles passaram para o estadual e eu para te falar verdade, eu nunca recebi nada de GTP APL estadual. Nunca mais fomos chamados para reunião nenhuma. [IA1] Nesses oito anos nunca fui visitado por eles. [PP1] Já tem um bom tempo que parou, já tem uns 4 ou 5 anos que parou. [IA2]
De acordo com os entrevistados, o GTP APL teve uma forte atuação junto
ao polo moveleiro, mas após alguns anos as ações foram suspensas, e mesmo os
principais interlocutores locais, não receberam mais qualquer tipo de informação sobre
o grupo.
Sobre a esfera municipal, percebe-se um distanciamento entre os
governantes e os empresários. Estes últimos ressaltam a importância econômica do
setor moveleiro para as cidades da microrregião, no entanto, pouco é feito pelos
municípios para impulsionar ainda mais o desenvolvimento do polo. Alguns
entrevistados citaram ainda a inexistência de um distrito ou bairro industrial, que
pudesse acomodar de forma mais organizada as atuais e novas empresas, conforme
trechos a seguir:
Também nunca houve muito reconhecimento pelos governos municipal, estadual e federal. Não é o reconhecimento que o setor merece. [IA2] A prefeitura de Ubá em si, ela não oferece nenhum benefício para vir uma indústria de fornecedor. [EM1] Se tiver um distrito industrial vai motivar outras indústrias ou fornecedor, prestador de serviço. O governo municipal precisa ter essa visão. Eu penso que precisa desse grande projeto, seria um marco para a nossa cidade esse distrito industrial. [EM1]
66
Por outro lado, o representante do governo municipal entrevistado, falou
das dificuldades para a criação de um distrito industrial na cidade de Ubá: Não tem espaço para criar um condomínio industrial, não tem essa área, seria detonar a topografia, então o que tem que fazer é conviver com isso aí. Eu vejo que sonho do distrito industrial, na minha opinião, é sonho e inviável. Porque se você tirar uma fotografia do alto, você vai ver imensos galpões, não são pequenos não e aí o cara vai sair do que é dele? E ainda mais o que eu falo, o empreendedorismo e o individualismo prevalece, o cara não vai sair do que é dele para viver em condomínio. Distrito industrial é condomínio, então você já mata por aí, já mata na origem do empresário daqui. [PP1]
Algumas ações governamentais de desenvolvimento ocorrem no polo
através do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). De acordo com seu
representante entrevistado, um programa que a instituição está implantando é o
“Brasil Mais Produtivo”, uma iniciativa do MDIC que visa aumentar a produtividade das
empresas. Segundo ele, 40 empresas do setor moveleiro da microrregião de Ubá
serão beneficiadas. A iniciativa é subsidiada pelo Governo Federal, que arca com
83,3% do custo de implantação, enquanto as empresas devem pagar uma
contrapartida de R$3.000,00, o que corresponde a 16,7% do custo total do trabalho,
que é R$18.000,00 (MDIC, 2016). Ainda de acordo com as informações do programa:
O Programa consiste na realização de consultoria tecnológica no processo produtivo, de baixo custo, com o objetivo de obter ganhos expressivos de produtividade ou redução no custo de produção. As melhorias rápidas acontecerão com a utilização de ferramentas de manufatura enxuta customizadas para atendimento aos setores do Programa, com foco na redução de sete tipos de desperdícios mais comuns no processo produtivo: superprodução, tempo de espera, transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e defeitos (MDIC, 2016).
A atuação do SENAI será ainda abordada nas dimensões de Treinamento
e Desenvolvimento, e Associações e instituições de apoio.
5.3. Dimensão 3: Relação entre as partes
Nesta dimensão o foco foi compreender como é a relação entre os diversos
elos da cadeia, dado que as conexões são cruciais para a competitividade de um
cluster.
67
Um fator crítico para o desenvolvimento de um cluster é a confiança entre
os empresários ali presentes (FIESP/MDIC, 2007). No entanto, conforme já visto na
dimensão de inovação, não existem fortes relações formais e de confiança entre os
empresários do polo moveleiro da microrregião de Ubá. Pelo contrário, existe
desconfiança e excesso de competitividade entre os concorrentes. Alguns trechos das
entrevistas ilustram esta situação:
Um outro problema que eu vejo, é a falta de associativismo entre as empresas. Eu percebo uma desunião muito grande, a falta de interesse do grupo em estar unido. [EM1] Não tem cooperação, o setor não chegou a essa maturidade ainda não, de cooperativismo. Vamos transportar em conjunto? Vamos comprar em conjunto? Não, não existe isso. [EM2] Não tem essa cultura política aqui, não tem, o pessoal não vê assim, não é o foco, a pessoa veio sozinha, cresceu sozinha, ganhou algum dinheiro sozinha e acha que não precisa de ninguém, entendeu? [EM2]
A gente já tentou fazer grupo de compras, mas não conseguimos não. Você oferece o preço mais barato, então, aí a empresa também fica desconfiada, porque ela tem que abrir custos, porque para você comprar conjunto, você tem que saber o preço que você está pagando. Como é que você compra o conjunto se você não tiver informação um do outro? [IA1] Um ponto fraco as vezes é abandonar alguns que estão nascendo. Isso aí a gente percebe claramente que tem um grupo, que em questão do sindicato deles, alguns dos moveleiros, as vezes acho que eles não olham muito para os que estão começando. A própria feira de móveis você vê isso característico, o pequeno não entra. [PP1]
A feira citada pelo entrevistado é a FEMUR (Feira de Móveis de Minas
Gerais), que ocorre a cada 2 anos na cidade de Ubá. A edição de 2016, ocorrida no
mês de maio, atingiu um volume de negócios de quase R$ 300 milhões para os 75
expositores presentes, tendo recebido aproximadamente 15 mil visitantes nos seus 5
dias de funcionamento (FEMUR, 2016).
Seria importante que os empresários tivessem uma visão de médio e longo
prazo, deixando de lado o imediatismo. O sucesso dos projetos é fruto do
fortalecimento dos laços, que somente ocorrerá com o aumento da confiança,
conforme FIESP/MDIC (2007).
Não somente o relacionamento entre os concorrentes é crítico no APL
moveleiro de Ubá, mas também as relações com fornecedores e com o Governo de
forma geral, conforme já mencionado no item anterior. Estas características, mostram
que o APL pode ser caracterizado como informal, de acordo com a classificação de
Oliveira et al. (2012). De acordo com o autor, neste tipo de cluster prevalece a
68
competição e baixa confiança entre seus membros, enquanto nos clusters
organizados e inovativos, as relações são mais encorpadas, e pode-se notar que os
membros são mais cooperativos. Algumas passagens das entrevistas mostram esta
relação com os fornecedores:
Eu tentei montar uma central de compras de estofado, mas tinha fornecedor também querendo quebrar esse projeto. Aí acabou o grupo perdendo força e infelizmente não teve jeito. [EM1] O fornecedor tinha que estar perto, para você desenvolver o produto, para ele ver qual é a dificuldade, para você ter uma aproximação com ele. A gente tem, assim, uma aproximação, claro que tem, porque é um polo, é o volume, então obriga o fornecedor a vir aqui. Mas, acaba não tendo um relacionamento muito mais próximo do que deveria ter. [IA1] Não houve preocupação em fortalecer o fornecedor, o empresário hoje, prefere andar sozinho, fazer com os próprios recursos, a ter gente em volta dele e não tem aquela visão de que se ele não tiver bons fornecedores vai chegar a hora que ele vai ter problemas. [IA2]
E algumas passagens mostram problemas no relacionamento com outros
membros da cadeia:
Vemos alguns advogados, alguns profissionais, tentando lesar a empresa, tentando lesar o estado, para beneficiar o trabalhador. E injustamente. [EM1] Acho que falta participação, sair um pouco desse individualismo, contribuir um pouco mais com a cidade, (...) e assim que estiverem legais, contribuírem com o que tem que fazer, que é pagar seus impostos em dia, sonegar menos. Precisa cada dia trazê-los para dentro da legalidade e trazê-los para a responsabilidade social, pagarem não só os seus impostos, como também dar retorno e qualidade de vida para os seus funcionários. [PP1]
Percebe-se pela fala dos entrevistados, que os empresários preferem
trabalhar “sozinhos”, sem criar maiores conexões com os demais membros da cadeia,
sejam eles concorrentes, fornecedores ou também o poder público. Com poucas
exceções, os empresários não conseguem ter a visão mencionada por Lai et al. (2014)
de que uma maior capacidade de se relacionar entre os membros de um clusters,
pode ser benéfico para a companhia no sentido de aumento de sua produtividade, de
capacidade de investimentos e ainda de seu poder de inovação.
Nas entrevistas realizadas por Souki (2014) também foi notada a fragilidade
nas relações entre as diversas partes. Notou-se uma falta de conhecimento da cadeia
produtiva, foco no ambiente interno das empresas e relações entre compradores e
fornecedores na base do “levar vantagem”. Percebeu-se uma necessidade urgente de
melhoria no fluxo das informações, comunicação e articulação, visando incrementar
as relações entre os diversos agentes da cadeira produtiva.
69
5.4. Dimensão 4: Treinamento e desenvolvimento de mão de obra
Nesta dimensão 4, o objetivo foi identificar como está a disponibilidade e
qualidade da mão de obra operacional especializada na cadeia moveleira,
investigando-se a existência de iniciativas para treinamento. Além disso, o objetivo foi
analisar a existência de treinamentos gerenciais e nível de preparo dos empresários,
o que pode ser um fator de maior competitividade do cluster.
De modo geral, quando se fala em capacitação técnica, foi apurado que os
trabalhadores do polo possuem as habilidades e conhecimentos adequados para a
produção de móveis, mas de maneira geral, com um perfil bastante operacional, e
sem acrescentar inovações aos produtos. Tais habilidades são adquiridas de duas
formas: primeiramente, via aprendizado no próprio ambiente de trabalho, seja por falta
de mão de obra para funções específicas no mercado ou por uma questão de
sucessão, onde as técnicas do ofício são passadas de pai para filho, conforme abaixo:
A capacitação vai passando de pai para filho, a indústria moveleira é muito familiar. Muito mais treinamento, vamos dizer, dentro do trabalho mesmo. As coisas acontecem é lá dentro mesmo. [PP1] A maioria aprende no trabalho mesmo, no trabalho, a maioria dos profissionais aprende no trabalho. [PP2]
Ervilha et al. (2013) observaram em sua pesquisa que apesar do
crescimento apresentado pelo APL, ainda se faz necessário maior investimento em
capacitação de pessoal para que haja um aumento na eficiência produtiva das
empresas.
A segunda vertente relativa à capacitação técnica dos trabalhadores da
cadeia moveleira de Ubá, refere-se à atuação do SENAI no treinamento técnico de
mão de obra na cadeia moveleira, que foi mencionado por todos entrevistados,
conforme depoimentos a seguir:
Eu fiquei até surpreso, essa semana eu visitei o SENAI em Ubá os caras estão com arsenal violento para preparar gente, entendeu? Então, eu acho que no futuro próximo, a dificuldade do conhecimento vai ser amenizada, se as empresas acreditarem e apoiarem aquele programa, ele tem muito que dar para a região. [EM2] A vocação do SENAI em Ubá é o setor moveleiro, então a quantidade de pessoas que eles já treinaram e já capacitaram é enorme. Tem curso técnico de design, tem curso técnico de Segurança do Trabalho, tem curso técnico
70
de Eletricista, tem curso técnico de Mecânico e fora os cursos que são típicos do SENAI mesmo, que são esses cursos de formação, de marceneiro, de estofador. [IA1] O SENAI trabalha muito bem isso, o SENAI é uma das instituições que continua porque não depende muito da vontade do empresário, depende da vontade do empregado, de estar reciclando. O SENAI continua assim, bem forte, eu acho que tem formado boas mão de obras. [IA2] O SESI SENAI é um parceiro que nós temos aí do nosso polo, importantíssimo que tem uma atuação, eu diria, que vem fortalecendo cada vez mais essa relação. [EM1]
Além da melhor preparação dos profissionais para o mercado de trabalho,
o objetivo do SENAI é que este aumento no nível de escolaridade e capacitação dos
trabalhadores, reflita no maior nível de competitividade das empresas do polo
(OLIVEIRA et al., 2010). Mendonça (2008) mostrou ainda que existe uma relação
direta entre aumento de mão de obra qualificada e a atração de novas empresas para
o cluster, gerando um potencial cíclico, reduzindo as barreiras de entrada de novas
instituições.
Em visita às instalações do SENAI na cidade de Ubá, foi possível notar que
a instituição possui uma estrutura de aprendizado bem montada, contando com
laboratórios para o aprendizado prático dos ofícios de marcenaria (Figura 5), entre
outros, e salas de aula equipadas com equipamentos de audiovisual.
FIGURA 5 - Vista de um dos laboratórios do SENAI em Ubá
Fonte: Resultados da pesquisa
71
Em relação ao conhecimento gerencial e capacidade de gestão dos
empresários, percebe-se que, de modo geral, eles possuem baixo nível de
escolaridade, alto conhecimento técnico, mas pouca noção de gestão empresarial,
conforme trechos a seguir:
A cultura do nosso polo, veio de uma base muito pouco estruturada em gestão, muito pouco estruturada em Administração. [EM1] Eu diria que essa cultura ela vem realmente da falta de cultura, a falta de conhecimento, de estudo, não é o nome correto, é a falta de formação acadêmica. [EM2] Os proprietários, em relação a formação, eu acho que tem pouca formação escolar, assim, se você for pensar, em termos formal, muito pouco, são poucos os empresários que tem curso superior. Agora, experiência, aí nem se fala, porque eles estão aí até hoje. [IA1] Muita empresa fechou por má gestão. [IA2]
Entretanto, nos últimos anos, tem-se notado um avanço na preocupação
dos empresários em se preparar gerencialmente, seja por perceberem a necessidade,
devido ao mercado mais competitivo, ou mesmo devido à crise financeira que atinge
o Brasil.
Esses empresários sentiram a necessidade de melhorar, e aí sim, a gente percebe um pouco mais de profissionalização, um pouco daquele espirito amador, empreendedor e começa a preocupar um pouco mais. [PP1] Em termos de capacidade gerencial, os proprietários, os diretores, eles passaram a se preocupar um pouco mais com isso. [PP2] Tem uma turma boa aí, que estão assim, bem preparados, acho que esse foi um ponto positivo do GTP APL, foi a questão da profissionalização da gestão. Muita empresa fechou por má gestão e o GTP APL veio para fazer isso também e fez bem feito. [IA2]
Esta última fala ressalta um dos benefícios que o GTP APL trouxe para o
polo, que foi a questão da capacitação gerencial dos proprietários das empresas,
conforme mencionado por Bellucci et al. (2014). De acordo com o autor, o grupo
promovia capacitação de liderança e ainda de diferentes ferramentas gerenciais, com
o objetivo de melhor acompanhamento de resultados e capacidade de fazer ajustes
necessários. Mas, como se percebe, estas ações de capacitação foram abandonadas,
com a suspensão das atividades do grupo.
Alguns entrevistados mencionaram que empresários com menor
capacitação gerencial, estão tendo maiores dificuldades para atravessar a crise
financeira que teve início no ano de 2015. Podemos ver aqui uma relação com os
72
estudos de Sonobe et al. (2011) que identificou na região estudada no Kênia, que os
empresários com mais estudos estavam mais propensos a terem maior sucesso, ao
poderem promover maiores inovações no negócio, e consequentemente conseguir
maior rentabilidade.
As empresas do polo moveleiro da microrregião de Ubá possuem, em sua
maioria, uma faixa de 20 a 30 anos de operação. Desta forma, estas empresas estão
começando a ter os primeiros casos de sucessão da gestão das empresas. Neste
ponto, se por um lado a maioria dos empresários locais não possui formação
acadêmica ou treinamentos específicos em gestão empresarial, seus filhos estão mais
bem preparados, sendo a maior parte formados em cursos de administração ou
correlatos, conforme mencionado por alguns entrevistados.
De acordo com o representante de uma das instituições de apoio, existem
projetos para programas de sucessão, pois, de acordo com ele, já houve casos
empresários que optaram por ser vender sua indústria, por falta de herdeiro preparado
que assumisse o negócio.
A excessiva centralização das empresas, e despreparo na sucessão na
administração, havia sido notado por Souki (2014). O autor percebeu também, através
de suas entrevistas, alguma dificuldade dos empresários em conseguir mão de obra
na quantidade e qualidade adequada. Além disso, foi identificado a falta de
capacitação gerencial dos empresários, relacionada à sua baixa escolaridade.
5.5. Dimensão 5: Associações e instituições de apoio
Nesta última dimensão, buscou-se entender quais associações e
instituições de apoio estão presentes no polo, e verificar a efetiva atuação destas
entidades no desenvolvimento do cluster.
Os depoimentos dos entrevistados demonstram que são poucas as
instituições que efetivamente atuam para o desenvolvimento do polo. Nota-se que
havia maior participação das organizações de apoio quando o GTP APL era atuante,
pois funcionava como um ponto de referência para interação entre os diversos
agentes, além de organizar as ações a serem implementadas na cadeia produtiva.
A instituição mais citada pelos entrevistados foi o Intersind, que é o
Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá, sendo uma instituição
patronal que atua em diversas frentes pelo desenvolvimento do polo. Outra instituição
com forte presença no polo, e também muito mencionada pelos entrevistados foi o
SENAI, principalmente pela sua atuação na formação de mão de obra operacional.
73
Sobre o Intersind, algumas passagens mostram sua importância para a
cadeia moveleira:
O Intersind é uma instituição forte. [EM1] Tem esse mérito o Intersind, que é o sindicato patronal. Os que são organizados dentro do Intersind, acho que têm força para buscar esses financiamentos. [PP1] O próprio Intersind faz esse trabalho de treinamento gerencial, que é o sindicato deles. [PP2]
Um dos entrevistados, representante de instituição de apoio, mencionou
ainda uma iniciativa do Intersind que é a organização de um grupo de trabalho com
os gestores de recursos humanos de seus associados. Tal grupo se reúne
mensalmente para troca de informações sobre treinamentos, processos trabalhistas
e técnicas para aumento da produtividade de seus funcionários.
Ainda sobre o Intersind, De Oliveira Júnior (2013) reforça:
É importante assinalar o significado e o papel do Intersind enquanto principal instituição articuladora de políticas e estratégias para o desenvolvimento local da região do Polo Moveleiro de Ubá. Ao pensar a região-polo como uma só, o Intersind se consolida como instituição motor na região, não só pela sua ação planejadora, mas sobretudo por criar e preservar valores locais e regionais, além de exercer liderança sobre as demais instituições e organizações que compõem o arranjo institucional (OLIVEIRA JÚNIOR, 2013, p. 18).
De acordo com a análise de Souki (2014), apenas as médias e grandes
empresas, mais estruturadas, são associadas do Sindicato. As empresas menores,
de estrutura mais familiar, não fazem parte do quadro de associados. O Intersind
mereceu destaque também em seu relatório, tendo sido notado a relevância de seu
papel no setor industrial de móveis.
Conforme já citado na dimensão de Treinamento e Desenvolvimento de
Mão de Obra, diversas passagens das entrevistas demonstram o trabalho que o
SENAI tem feito na região. São oferecidos diversos cursos profissionalizantes (Figura
6), com foco na indústria, que preparam um contingente de mão de obra para
utilização pelas empresas moveleiras.
74
FIGURA 6 - Divulgação de cursos do SENAI de Ubá
Fonte: Resultados da pesquisa
O SENAI tem também um papel importante no desdobramento de projetos
do Governo Federal relativos a aumento de produtividade na indústria. O programa
mais recente é o Brasil Mais Produtivo, já mencionado anteriormente. Os
representantes do SENAI atuam como consultores, implantando ferramentas de
qualidade e produtividade em 40 indústrias do setor moveleiro da região.
Em relação às Universidades e Faculdades presentes na região estudada,
percebe-se que não existe muita participação destas instituições no desenvolvimento
do polo, conforme pode ser notado nas seguintes passagens:
Não atua, elas tinham, eu acho que elas tinham que atuar mais. No campo de estagiário, então, tem um espaço, eu aqui por exemplo, preciso de fazer um trabalho de marketing e gostaria de ter um estagiário, que é um trabalho pequeno, mas um trabalho mais estruturado, aí a dificuldade, de estar mais próximo das faculdades entendeu, para poder ir atrás e estar aqui. [EM1] A universidade atua esporadicamente, mas eu acho que ela tem espaço para explorar mais. [IA2] Ainda não atuam no polo de alguma forma ou auxiliam, por exemplo, no desenvolvimento de produtos. Elas estão mais na parte, como vou dizer assim, preparação teórica, didática, dando aula para a turma. [EM2]
75
Não. Não tem trabalho com as faculdades locais. A gente já até teve, mas ultimamente não tem tido, não tem feito nenhum trabalho com a UEMG não, já até tivemos, a gente já até falou sobre isso, que está precisando aproximar mais, eles têm um curso de design... A gente poderia tentar fazer alguma coisa... Mas assim, ainda está meio, assim, não é que não faz nada, mas, faz uma coisa ou outra, um trabalho ou outro, a gente acaba fazendo juntos. Ações isoladas, nada sistematizado. [IA1]
Souki (2014) identificou a existência de várias IES (Instituições de Ensino
Superior) na região, com diversos cursos que poderiam agregar ao valor polo
madeireiro. No entanto, sua pesquisa não conseguiu identificar a participação delas
na criação de soluções para a cadeia produtiva.
Um dos poucos projetos conduzidos por uma instituição de ensino, que
possui maior proximidade no polo, trata-se de projeto conduzido pelo professor José
de Castro da UFV (Universidade Federal de Viçosa), projeto com foco no plantio de
florestas de eucalipto. A parceria foi citada por 3 entrevistados, que afirmam ser um
projeto mais estruturado e de longo prazo:
Nós temos o professor José de Castro, da Universidade de Viçosa, ele é um incentivador do plantio de floresta de eucalipto. [EM1]
A UFV também foi identificada por Souki (2014) como a única com projetos
mais relevantes para a região.
Nas entrevistas, percebeu-se que já houve maior participação das
instituições de apoio no polo, mas que as ações foram se perdendo com o tempo. Por
um lado, devido à interrupção da atuação do GTP APL, mas por outro, também por
falta de demanda dos empresários, que segundo um dos entrevistados muitos têm a
visão de que “a empresa se acha completa”, e entende que não depende destas
instituições para prosperar.
O quadro 4 apresenta um resumo dos principais pontos fracos e fortes
identificados no APL.
QUADRO 4
Pontos Fortes e Fracos do APL moveleiro da microrregião de Ubá
76
Fonte: Elaborado pelo autor
Nota-se que apesar de ter sido identificado um maior número de pontos
fracos, o APL de Ubá possui pontos fortes de destaque, que podem favorecer o seu
maior desenvolvimento.
5.6. Sugestões para maior desenvolvimento do cluster
A crise econômica do Brasil dos anos de 2015 e 2016 tem atingido
fortemente a cadeia, com retração na demanda, provocando fechamento de fábricas
e de vagas de emprego. Pelas informações dadas por alguns dos entrevistados,
estima-se que desde 2014, cerca de 10 fábricas encerraram as atividades e em torno
de 2.600 vagas foram fechadas no polo, o que corresponderia aproximadamente 15%
dos empregos diretos.
Na cidade de Ubá, é nítida a redução no comércio, que acabou sendo
atingido pelo menor volume de dinheiro circulando na cidade. Lojas apresentam pouco
movimento e vários imóveis comerciais estão fechados (Figura 7), conforme
observado pelo pesquisador.
Pontos Fracos Pontos FortesEmpresários trabalhando de forma isolada Spillover como característica forte
Baixa interação entre empresários e instituições de apoio
Móveis com qualidade, e design reconhecido no setor
Falta de cooperação quanto a troca de ideias, produtos, design e processos
Presença forte do SENAI no treinamento técnico
Relacionamentos informaisSENAI atuando no desobramento de políticas
governamentais
Produtos com pouca inovaçãoTrabalhadores com as habilidades e conhecimentos
adequados para a produção de móveis.
Fim da atuação do GTP APLGTP APL estimulou o crescimento por determinado
tempoPouca participação das instituições de ensino no
processo de inovaçãoSindicato patronal forte e atuante
Isolamento do polo em relação à atuação das diversas esferas governamentais
Grupo de gestores de RH organizado pelo sindicato
Falta de apoio governamental para maior desenvolvimento do polo
Desconfiança e excesso de competitividade entre os concorrentes
Relacionamento com fornecedores pautado pela falta de confiança
Empresários com pouca noção de gestão empresarial
Problemas de sucessão
77
FIGURA 7 - Cena comum em Ubá – Imóveis comerciais fechados
Fonte: Resultados da pesquisa
Os entrevistados foram indagados sobre sugestões de ações que poderiam
contribuir para o desenvolvimento do polo moveleiro. Nota-se que as sugestões são
de caráter estrutural, tendo os entrevistados tido o cuidado de mencionar ações de
médio e longo prazo, não sendo influenciados pelo momento de crise.
Muitos mencionaram uma maior presença do poder público, em todas as
esferas, dando a devida importância ao polo, pela quantidade de empregos que gera,
e ainda pela importância na geração de renda e recolhimento de impostos. As
sugestões nesta área referem-se a mais incentivos do Estado, incluindo questões
tributárias. Algumas passagens exemplificam estas sugestões: Então, a gente precisa ter esse canal aberto com Brasília, por exemplo, nosso polo e o Intersind, que é uma instituição bem forte, eu diria. [EM1] A questão tributária, ela é um problema que a gente precisa de trabalhar e discutir isso com as instituições, com o governo, porque não adianta só ir colocando peso em cima da indústria ou de quem gera renda. [EM1] Primeiro, atitude do governo. Primeiro ponto. Segundo, atitude do governo e terceiro atitude do governo, quarto, atitude do governo. [EM2] Um programa de refinanciamento tributário das dívidas atrasadas. [EM2] A gente precisaria muito de incentivo ao setor moveleiro, o governo deveria olhar com maior carinho por esse setor. (...) é um setor que gera muito emprego, gera muito emprego. Então, se o governo tivesse um olhar mais carinhoso para esse setor, estaria gerando mais empregos, menos gastos
78
para o governo, porque o cara que trabalha na Rondomoveis, trabalha na LJ, ele não vem atrás de um governo para pedir um exame, para pedir um remédio, ele tem condição de se bancar, entendeu, ele tem condição de se bancar, então esse desemprego só vai prejudicar mais as instituições, prejudicar a prefeitura, o governo do estado, prejudicar o governo federal, então tinha que se ter preparado um plano para socorrer essas indústrias agora para que elas não venham a falência, então isso que é importante, o auxílio mesmo de financeiro. Eu vejo os empresários com muita vontade de crescer, muita vontade de melhorar, de ajudar, são parceiros mesmo, mas precisariam de um incentivo mesmo do governo, hoje sentem muito prejudicados, pagam impostos altíssimos aqui na nossa região, enquanto no Rio de Janeiro os impostos são menores, são mais baixos. [PP2] Acho que um distrito industrial seria interessante. [IA2] Se tiver um distrito industrial vai motivar outras indústrias ou fornecedor, prestador de serviço a ir para este distrito. [EM1]
Sobre a implantação de um distrito industrial na cidade de Ubá, atitude
cobrada por dois entrevistados, o representante do governo municipal entrevistado
alega que não há área disponível no munícipio para isso. Além disso, ele acredita que
o distrito industrial não iria atrair as empresas, visto que já estão estabelecidas em
seus galpões, e não mudariam de local. Uma ação que o governo municipal tem
tomado é de legalizar as instalações físicas das indústrias moveleiras, trazendo eles
para a legalidade, e aumentando a arrecadação de impostos para o município.
Outra sugestão levantada que envolve o poder público, refere-se à maior
organização do transporte público coletivo em Ubá: segundo um dos entrevistados,
não há um planejamento do transporte público para atender os horários das indústrias
moveleiras, apesar de essas serem as maiores empregadoras da cidade. A criação
de terminais em locais específicos, e ainda a adequação de frota aos horários de
entrada, almoço e saída, poderia trazer benefícios à organização urbana.
Ainda sobre políticas públicas, o representante do SENAI destacou o
programa “Brasil mais Produtivo”, e que outros projetos como este deveriam ser
implementados na região, visando aumento de produtividade e rentabilidade pelas
empresas.
Além da maior atuação do poder público no desenvolvimento do APL,
também foram ouvidas as seguintes sugestões:
- Maior proximidade com as universidades: alguns entrevistados sentem
falta de mais projetos de pesquisa atrelados ao polo moveleiro. Afirmam também que
o conceito de estagiário ainda não é muito difundido na região.
- Uma campanha para valorização do móvel. De acordo com 2
entrevistados, são muito comuns as queixas contra as indústrias via Procon
(Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor), que após análise
79
detalhada, descobre-se que na verdade os problemas apresentados foram por mau
uso pelo comprador. Uma maior conscientização da população poderia evitar estas
pequenas disputas, que minam recursos e esforços dos fabricantes.
- Legalização das operações: um representante do governo municipal
entende que os empresários devem legalizar suas operações e instalações, para que
haja recolhimento correto de tributos, contribuindo para o desenvolvimento da cidade.
- Logística de entrega: 3 entrevistados falaram sobre uma tentativa que
houve no passado de compartilhamento de estrutura de entrega. Como a maioria das
empresas possui frota própria, tentou-se montar uma espécie de cooperativa para que
as entregas de mercadorias ocorressem de forma mais organizada, evitando
caminhões vazios e compartilhando o ganho com todos envolvidos. A ideia não
funcionou, mas eles acreditam que seria uma boa opção para redução de custos
logísticos e até redução nos prazos de entrega, pois os empresários não precisariam
aguardar ter um lote completo de mercadoria para fazer a distribuição.
- Representatividade política: 3 entrevistados mencionaram que o polo
deveria se unir para eleger representantes públicos, sejam eles vereadores,
deputados estaduais, federais e até mesmo senadores, que poderiam auxiliar no
direcionamento de esforços públicos para o polo. O trabalho de Souki (2014) já havia
identificado como fator crítico da cadeia, a falta de conscientização política de seus
membros. Uma representação política adequada, que atuasse pela proteção de seus
interesses junto aos governos, poderia contribuir para o desenvolvimento do polo.
De acordo com Suzigan et al. (2007) a presença de instituições locais que
tenham representação política, econômica e social, interagindo com o setor produtivo,
fomentaria o trabalho coletivo e consequentemente o desenvolvimento da cadeia
produtiva.
- Treinamento gerencial para os proprietários de indústrias: apesar do
avanço na capacidade gerencial dos empresários nos últimos anos, ressaltado pelos
entrevistados, vários depoimentos destacam que os gestores das empresas devem
se capacitar ainda mais em técnicas de gerenciamento. Foi citado por um dos
entrevistados uma parceria maior com o SEBRAE para treinamento de todos
empresários, com destaque em sua fala aos novos entrantes no mercado, dado que
boa parte deles possui bons conhecimentos técnicos, mas não consegue manter sua
empresa sustentável, por total desconhecimento de como administrar uma empresa.
Um dos entrevistados relembrou que uma das principais qualidades do GTP APL foi
80
justamente o treinamento gerencial, e que estas ações poderiam ser retomadas pelo
governo.
A melhoria da capacitação do corpo empresarial, poderia derrubar barreiras
ao maior desenvolvimento do polo. Silvestre e Silva Neto (2014) já destacava que um
dos principais empecilhos ao crescimento é justamente a falta de conhecimento pelos
empreendedores, e que o treinamento e desenvolvimento gerencial são tão
importantes quanto os treinamentos operacionais.
- Fornecedores: A microrregião de Ubá não possui fornecedores de matéria
prima suficientes para atender a indústria moveleira. Produtos tais como MDF, tintas
e vernizes, são adquiridas de outros estados, encarecendo o preço do produto final,
devido ao frete destas mercadorias. Foi levantado que alguma ação de atração destes
fornecedores poderia ocorrer, entre elas a própria criação do distrito industrial, onde
as empresas poderiam se instalar e ter condições de atender o mercado local, e ainda
através de incentivos fiscais, sejam eles municipais ou estaduais.
No entanto, a maior presença de fornecedores produzindo localmente,
deve ser acompanhada de melhoria nas relações com os fabricantes de móveis.
Souza Filho et al. (2013) enfatizou que um dos maiores problemas do polo moveleiro
de Ubá está justamente neste relacionamento. Enquanto não houver um esforço
conjunto para cooperação, não haverá ganho econômico para o APL. O excesso de
disputa e competição podem ser considerados limitadores da capacidade de
expansão dos fornecedores.
O quadro 5 faz uma compilação das principais sugestões identificadas junto
aos stakeholders entrevistados durante a pesquisa.
QUADRO 5
Sugestões para maior desenvolvimento do cluster
81
Fonte: Elaborado pelo autor
Importante notar que, apesar da maioria dos entrevistados ter mencionado
problemas com o poder público, várias das sugestões não dependem de iniciativas do
Governo, mas sim de uma maior articulação entre os membros da cadeia, visando um
desenvolvimento comum.
Maior apoio do poder público
Implantação de um distrito industrial
Melhoria do transporte público de Ubá
Maior proximidade com as universidades
Campanha para valorização do móvel
Legalização das operações pelas empresas informais
Organização da cooperativa para logística de entrega
Representatividade política pelos membros do polo
Treinamento gerencial para os proprietários de indústrias
Incentivo para que fornecedores se estabeleçam na região
82
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em um mercado competitivo e globalizado, como as empresas enfrentam
nos dias atuais, não há dúvidas de que trabalhar em rede é uma forma de prosperar,
e em alguns casos, até sobreviver. Trabalhar sozinho ou isolado de seus
fornecedores, do poder público, e até de seus concorrentes pode deixar uma empresa
para trás, em termos de desenvolvimento e inovação.
Exemplos como o modelo de produção da Toyota, as redes de agricultura
na Itália e as alianças entre empresas norte-americanas, mostraram que o princípio
da competição isolada não valia mais, e que trabalhar de forma coletiva, onde cada
um faz uma parte para se atingir o resultado final, seria o novo princípio a ser seguido
(KLEIN; ALVES; PEREIRA, 2015).
Como um bom exemplo de redes organizacionais, os clusters são
concentrações de empresas que possuem algum tipo de relação e atuam no mesmo
segmento. Não importa se seja consumidor, fornecedor, entidade de apoio ou órgão
governamental, em um cluster, todos devem estar interligados, estabelecendo
relações de troca e complementaridade.
No Brasil, o termo Arranjo Produtivo Local – APL define as concentrações
de empreendimentos em torno de uma atividade econômica predominante, onde haja
relacionamento entre as empresas e também com outras entidades públicas e
privadas.
O APL moveleiro da microrregião de Ubá, apesar de jovem, pois formou-
se há pouco mais de 30 anos, possui destaque na economia regional do estado de
Minas Gerais. Possuindo em torno de 300 empresas, é composto majoritariamente
por pequenas e médias empresas, mas possui também algumas de grande porte.
Com a criação do Grupo de Trabalho Permanente para Arranjos Produtivos
Locais (GTP APL) o polo foi eleito com um dos prioritários no Brasil para receber um
plano de desenvolvimento, visando sua expansão, aumento de renda e de emprego.
Diversas ações ocorreram nos primeiros anos de implantação, no entanto os trabalhos
foram suspensos, e as entidades locais envolvidas não tiveram mais acesso a
informações da atuação do GTP.
Neste contexto, o objetivo geral desta dissertação foi analisar a situação da
cadeia produtiva moveleira da microrregião de Ubá/MG sob a perspectiva de cluster.
Como desdobramento do objetivo geral, foram estabelecidos como
objetivos específicos, descrever a situação atual da Cadeia Moveleira da Microrregião
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de Ubá/MG, enquanto cluster, a partir das dimensões de inovação, políticas públicas,
relacionamento entre as partes, treinamento/desenvolvimento de mão de obra, e
associações/instituições de apoio; relacionar pontos fortes e fracos da cadeia,
verificando as diferenças entre a situação atual do cluster e estudos existentes a
respeito de clusters; e levantar sugestões junto aos diversos stakeholders de ações
que poderiam ser executadas para maior desenvolvimento do cluster.
Para a seleção das 5 dimensões relativas à caracterização de um cluster,
tomou-se como base o referencial teórico estudado, que inclui vasta bibliografia
internacional a respeito dos clusters e publicações nacionais sobre os APLs.
Em relação ao primeiro e segundo objetivos específicos foram atingidos a
partir de entrevistas realizadas em profundidade com diversos stakeholders do polo
moveleiro de Ubá, incluindo empresários, representantes de entidades de apoio, e
representantes do poder público.
Quando se fala em inovação, percebeu-se que no APL da microrregião de
Ubá pouco se faz para a criação de novos conhecimentos. As poucas iniciativas de
trocas de informações são feitas de maneira informal, entre empresários mais
próximos. Desta forma, os produtos fabricados no polo, apesar de em geral serem de
boa qualidade, não possuem design ou funcionalidades inovadoras, e são bastante
padronizados.
No APL a inovação se apresenta muito mais como expertise a partir da
tradição e experiência, faltando iniciativas para melhor desenvolvimento e
aprimoramento de áreas que não sejam diretamente ligadas ao produto.
Em relação às políticas públicas, notou-se que existe um enorme
afastamento de todas as esferas públicas em relação ao APL. Praticamente todos
entrevistados reclamaram que a presença do Estado no polo moveleiro é muito mais
normativo, fiscalizador e punitivo. Com pouquíssimas exceções, não se percebe
ações do poder público visando o desenvolvimento do cluster, apesar de sua
importância econômica e forte geração de empregos.
A relação entre as diversas partes da cadeia moveleira é também um ponto
crítico a se destacar. Não se nota confiança entre os empresários, e a falta de relações
fortes, formais e duradouras acaba por prejudicar o maior desenvolvimento do cluster.
Percebe-se uma falta de união e de cooperativismo entre os concorrentes, com
excesso de competitividade. Não se nota uma preocupação com o desenvolvimento
do APL em conjunto, mas apenas com suas próprias empresas.
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As relações com fornecedores são de modo geral fracas e não se nota
parcerias de longo prazo, mas pelo contrário, sempre alguém busca levar vantagens
nas negociações. E isso se desdobra também para as relações com os órgãos
públicos, que não possuem muita proximidade com os empresários, dado que estes
preferem trabalhar de forma isolada, desconsiderando que estão alocados em um
APL.
Para maior desenvolvimento do cluster, a cooperação entre os diversos
atores do APL deve ter prioridade central. Uma sugestão poderia ser a criação de
grupos onde as empresas se reunissem para discussão de problemas em comum, e
a elaboração de ações para solucioná-los. Neste aspecto, o sindicato patronal
(Intersind) deveria ter papel fundamental como elemento de coordenação.
A mão de obra operacional no APL moveleiro de Ubá é preparada de duas
formas: via cursos profissionalizantes, disponibilizados principalmente pelo SENAI, e
pelos treinamentos “on the job”, onde os ofícios são aprendidos no próprio ambiente
de trabalho. Isso ocorre devido a especificidades de alguns produtos, e em alguns
casos, à falta de mão de obra disponível no mercado na qualidade e quantidade que
se procura.
Já em relação ao preparo gerencial dos empresários, nota-se que eles são
empreendedores com alto conhecimento técnico da produção, mas baixa
escolaridade, o que acaba refletindo em técnicas de gestão mais conservadoras e que
não favorecem o desenvolvimento.
Um maior nível de produtividade poderia ser alcançado no APL moveleiro
de Ubá com o incremento da qualificação técnica de seus profissionais, assim como
a qualificação gerencial dos empresários e gestores.
O GTP APL, que teve atuação no polo no passado, mas atualmente não
possui mais iniciativas na região, teve como uma das ações, realizar a capacitação
dos empresários como gestores, o que na fala de alguns entrevistados, conseguiu
surtir algum efeito e houve algum avanço nesta área.
A intenção do GTP APL foi mostrar a importância da formação dos gestores
que fosse além da capacitação formal. O grupo atuou no desenvolvimento de
capacidade de liderança, com a utilização de ferramentas para avaliação de
resultados e realização de ajustes, quando for necessário. No entanto, com a
suspensão das atividades do GTP APL no cluster, não houve mais ações estruturadas
para formação gerencial do empresariado.
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E a última dimensão analisada no polo moveleiro foi sobre as associações
e instituições de apoio. Nota-se que são poucas as instituições que efetivamente
contribuem para o desenvolvimento do APL. As duas principais organizações que
atuam no polo são o Intersind, que é o sindicato das indústrias de marcenaria, e o
SENAI.
O Intersind é uma entidade sindical patronal, criada em 1989 e possui entre
seus associados majoritariamente as médias e grandes empresas da região. Sua
atuação se destaca, por ter ações tanto de desenvolvimento técnico e gerencial, como
também reuniões temáticas sobre os diversos assuntos que envolvam o polo, e ainda
propicia interlocução com os diversos órgãos públicos que de alguma forma, possam
influenciar no polo moveleiro.
O Intersind pode ser considerado como o principal articulador de
estratégias e políticas para o desenvolvimento do APL.
Outra instituição que mereceu destaque nesta pesquisa, foi o SENAI,
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, que possui instalações robustas para
preparação de mão de obra operacional, possuindo diversos cursos
profissionalizantes voltados para a indústria moveleira. A instituição atua ainda na
implantação de projetos do Governo Federal, entre eles, o programa Brasil Mais
Produtivo (B+P) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), onde consultores irão implantar ferramentas gerenciais para aumento de
produtividade em empresas do setor moveleiro.
Apesar dos problemas de governança, falta de apoio do governo e
ausência de mais ações das instituições de apoio, o APL moveleiro conseguiu
prosperar nas últimas décadas, atingindo boa participação no mercado e alto volume
de vendas. Isso ocorreu muito mais pelo espírito empreendedor dos empresários, boa
qualidade dos produtos e pela localização geográfica, já que o polo se encontra em
posição privilegiada para atender os estados da região Sudeste, quando comparado
com os polos moveleiros do sul do país.
Por um outro lado, durante a crise econômica brasileira de 2014 a 2016,
mostrou que os empresários que não se prepararam adequadamente, fazendo gastos
excessivos ou planejamento ineficaz, foram os mais atingidos pela retração. O
isolamento e falta de coordenação entre os diversos atores, também foi fator decisivo
em um momento de contração de mercado.
Conclui-se nesta pesquisa que o polo moveleiro da microrregião de Ubá
possui problemas estruturais, principalmente relacionados ao relacionamento entre
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seus diversos agentes e atuação do poder público. É evidente que o APL conseguiu
prosperar nas últimas décadas, mas quando se atinge um período de crise, fica
perceptível o quanto as fragilidades do polo encontradas na pesquisa podem
influenciar negativamente o seu desenvolvimento.
Espera-se que o presente trabalho possa servir de base para que
instituições de apoio e órgãos governamentais estabeleçam estratégias para maior
avanço e promoção do APL, buscando melhorias nas relações entre os diversos
agentes do cluster e incrementando de forma agregadora a participação do poder
público.
Pretende-se apresentar os resultados da pesquisa em um seminário para
discussão dos pontos fortes e fracos do polo, assim como as sugestões levantadas
junto aos diversos stakeholders. O público alvo será composto por dirigentes e
profissionais em geral do SEBRAE e outras instituições de apoio, empresários do
ramo e da região estudada, membros de órgãos públicos com interesse na região, e
pesquisadores interessados no assunto.
6.1. Limitações e sugestões para futuras pesquisas
Por se tratar de um estudo de caso, importante destacar que as conclusões
apresentadas possuem valor científico apenas para o caso estudado. Outros clusters
demandariam estudos específicos.
A pesquisa apresentou ainda como uma limitação, o fato de ter sido
realizada em período de forte retração econômica no Brasil, não sendo possível ter
uma base de comparação da situação do polo antes e pós crise. Isso poderia ser
resolvido em pesquisas futuras, que abordassem esta temática de comparabilidade
temporal do desempenho do cluster.
Em relação aos procedimentos metodológicos, esta pesquisa, enquanto
qualitativa, teve como característica a abordagem dos participantes para entrevistas
em profundidade. A quantidade de entrevistados foi limitada pelo tempo e
disponibilidade do pesquisador. Como sugestões de futuras pesquisas, estudos com
abordagem quantitativa, envolvendo resultados comparativos, não só de diferentes
períodos de tempo, mas também classificando por distintos portes das empresas,
poderiam apresentar resultados mais profundos e complementares.
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Sugere-se ainda estudos que abordem separadamente cada uma das
dimensões estudadas (Inovação, políticas públicas, relação entre as partes,
treinamento e desenvolvimento de mão de obra, associações e instituições de apoio),
fazendo um maior aprofundamento e especialização, buscando mais elementos que
complementem a presente pesquisa.
Pesquisas de ordem técnica, com foco na produtividade das empresas,
poderiam gerar resultados expressivos e que colaborariam com a expansão do
cluster. Tais pesquisas poderiam ter a parceria do SESI, dado que a instituição tem
trabalhado com projetos de aumento da produtividade das indústrias.
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APÊNDICE
ROTEIROS DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Público alvo: Autoridades municipais: Prefeitos e secretários de desenvolvimento econômico ou equivalente
1) Como você descreveria a cadeia produtiva moveleira da microrregião de Ubá?
2) Quais os principais pontos fortes e fracos você identifica nesta cadeia?
3) A prefeitura tem promovido ações de apoio para desenvolvimento da cadeia
produtiva? Quais?
4) A prefeitura participa de reuniões com as entidades e empresários relacionados
à cadeia produtiva? O que tem sido discutido? Como é a participação da
Prefeitura?
5) Os governos estadual e federal têm apoiado o desenvolvimento da cadeia
produtiva moveleira de Ubá? Por quê? Como?
6) Você conhece ou já ouviu falar no Grupo de Trabalho Permanente para
Arranjos Produtivos Locais? Aqui na região de Ubá existem ações do GTP APL
para a cadeia produtiva? Quais são estas ações? Como estas ações
influenciam o desenvolvimento da cadeia?
7) Como está a situação de emprego relacionado à cadeia produtiva na região de
Ubá?
8) Como você avalia o nível de capacitação dos profissionais atuantes na cadeia
produtiva? Qual é a formação dos profissionais atuantes na cadeia produtiva
da região de Ubá? Existem iniciativas de treinamento e capacitação de mão de
obra operacional na cadeia? Favor descrever estas iniciativas.
9) Quais são as entidades que atuam na cadeia produtiva moveleira da região de
Ubá? Quais são as atividades desenvolvidas por estas entidades? Como você
avalia o trabalho desenvolvido por estas entidades?
10) Quais sugestões você daria para maior desenvolvimento da cadeia?
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Público alvo: Empresários e gestores das empresas da região
1) Como você descreveria a cadeia produtiva moveleira da microrregião de Ubá?
2) Quais os principais pontos fortes e fracos você identifica nesta cadeia?
3) Como você percebe a relação entre os diversos participantes desta cadeia
(desde o produtor da madeira até o cliente da loja de móveis)?
4) Existem associações dos participantes da cadeia para troca de experiências?
Caso positivo, que tipo de informação é gerada e difundida?
5) Como você vê a relação entre os concorrentes?
6) Em sua opinião, qual é o papel de instituições públicas municipais, estaduais e
federais no desenvolvimento da cadeia produtiva moveleira na microrregião de
Ubá? O que elas têm feito e o que elas deveriam fazer?
7) Existe algum tipo de cooperação entre os participantes da cadeia, para
desenvolvimento de novos produtos/tecnologia? (Seja através de acordos,
feiras, grupos de troca de informações, etc)
8) Você acha que a cooperação entre as empresas da cadeia poderia ser maior?
9) Quais são as dificuldades para que as empresas cooperem mais entre si?
10) Como são difundidas as novas tecnologias ou tendências de mercado dentro
da cadeia?
11) A cadeia produtiva de Ubá tem atraído novas empresas? O que elas têm trazido
de novo?
12) Como você avalia o nível de capacitação dos profissionais atuantes na cadeia
produtiva? Qual é a formação dos profissionais atuantes na cadeia produtiva
moveleira da região de Ubá?
13) Existem iniciativas de treinamento e capacitação de mão de obra operacional
na cadeia? Favor descrever estas iniciativas.
14) E em relação a treinamento gerencial? Existem iniciativas por parte de
instituições externas? Os empresários têm tido interesse em se desenvolver,
seja tecnicamente como para gestão?
15) Existe concorrência pela contratação de pessoal mais qualificado presente na
região?
16) Quais são as entidades que atuam na cadeia produtiva da madeira da região
de Ubá?
17) Quais são as atividades desenvolvidas por estas entidades?
18) Como você avalia o trabalho desenvolvido por estas entidades?
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19) Quais sugestões você daria para maior desenvolvimento da cadeia?
Público alvo: Entidades de apoio: FIEMG/INTERSIND, SEBRAE, Universidades
1) Como você descreveria a cadeia produtiva moveleira da microrregião de Ubá?
2) Quais os principais pontos fortes e fracos você identifica nesta cadeia?
3) Você conhece ou já ouviu falar no Grupo de Trabalho Permanente para
Arranjos Produtivos Locais? Aqui na região de Ubá existem ações do GTP APL
para a cadeia produtiva? Quais são estas ações? Como estas ações
influenciam o desenvolvimento da cadeia?
4) Quais outras instituições de apoio você destaca na cadeia? (Incluindo,
faculdades, instituições não governamentais, etc).
5) A sua instituição participa de grupos de troca de informações com os
empresários e demais instituições de apoio?
6) Existem instituições que incentivam ou facilitam o desenvolvimento de novos
produtos ou processos?
7) Como você avalia o nível de capacitação dos profissionais atuantes na cadeia
produtiva? Qual é a formação dos profissionais atuantes na cadeia produtiva?
Existem iniciativas de treinamento e capacitação de mão de obra operacional
na cadeia? Favor descrever estas iniciativas.
8) Sobre a atuação do Governo, quais ações das diversas esferas (Municipal,
Estadual e Federal) você consegue identificar como relevantes para o
desenvolvimento da cadeia?
9) Quais sugestões você daria para maior desenvolvimento da cadeia?