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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO MESTRADO EM BIOÉTICA ALEXANDRE RIBEIRO ALCAIDE CONFLITOS BIOÉTICOS NO ANTENDIMENTO CLÍNICO DO ATLETA PROFISSIONAL SÃO PAULO 2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILOMESTRADO EM BIOÉTICA

ALEXANDRE RIBEIRO ALCAIDE

CONFLITOS BIOÉTICOS NO ANTENDIMENTO CLÍNICO

DO ATLETA PROFISSIONAL

SÃO PAULO2007

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILOMESTRADO EM BIOÉTICA

ALEXANDRE RIBEIRO ALCAIDE

CONFLITOS BIOÉTICOS NO ANTENDIMENTO CLÍNICO

DO ATLETA PROFISSIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

do Centro Universitário São Camilo para obtenção do título

de Mestre em Bioética

Orientador Prof. Dr. Marcos Almeida

Co-Orientador Profa. Dra. Margareth Priel

São Paulo

2007

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Pe. Inocente Radrizzani

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Alcaide, Alexandre Ribeiro Conflitos bioéticos no atendimento clínico do atleta profissional / Alexandre Ribeiro Alcaide . -- São Paulo : Centro Universitário São Camilo, 2007.

95 p.

Orientação de Marcos Almeida e Margareth Priel

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário São Camilo, Especialização em Bioética, 2007.

1. Cuidados médicos / ética 2. Esportes 3. Bioética 4. Medicina esportiva I. Almeida, Marcos II. Priel, Margareth III. Centro Universitário São Camilo IV. Título.

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CONFLITOS BIOÉTICOS NO ANTENDIMENTO CLÍNICO DO ATLETA

PROFISSIONAL

São Paulo, _____ de _____________ de 2007.

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Almeida - Orientador

_____________________________________________________________

Profa. Dra. Margareth Priel - Co-Orientador

_____________________________________________________________

Professor(a) Examinador(a) 1

_____________________________________________________________

Professor(a) Examinador(a) 2

4

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Dedico este trabalho a minha filha Ana Clara,

por me mostrar através do brilho do seus

olhos, o poder do Amor incondicional.

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AGRADECIMENTOS

À Deus pela vida .

À minha esposa Débora Gomes, por ter sido sempre a personificação da

Bioética, e por ter me mostrado o caminho. Te amo muito.

Aos meu Pais Carlos e Natália, pelo esforço para que eu pudesse realizar

meus sonhos, e principalmente por ter me ensinado os princípios de uma vida com

dignidade.

À minha Madrinha, Tia Darci, por ter me iluminado sempre, e estado em meus

pensamentos em cada segundo da minha vida.

Aos meus orientadores Prof.Marcos Almeida e Profa Margareth Rose Priel,

pelo incentivo, e por terem acreditado em algo que muitos desacreditaram.

Ao Pe. Christian de Paul de Barchifontaine e ao Pe. Leo Pessini, reitor e vice-

reitor do Centro Universitário São Camilo.

A todos os professores do programa de Mestrado em Bioética do Centro

Universitário São Camilo, foram encontros maravilhosos, tenham certeza que estão

no caminho certo.

Aos meus colegas de Mestrado, principalmente os alunos da segunda turma

do Mestrado em Bioética, conhecê-los foi um presente de Deus, e que todos vocês

que como eu, foram tocados pela Bioética e que querem ajudar a construir uma

sociedade melhor no futuro, espalhem estes conhecimentos pelo mundo.

A meu tio João e meus primos Carlos Eduardo, Rubinho e Aguinaldo, por

todas as horas de discussão e reflexão e também pelo incentivo.

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Page 7: CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO - Bioética e Fé Cristã bioeticos no... · Que a morte de tudo em que acredito Não me tape os ouvidos e a boca; Porque metade de mim é o que

A minha cunhada Marisa, minha sogra Aparecida e a Tia Marlene e Tia

Lourdes, por estarem sempre ao nosso lado, e auxiliando nesta difícil ,mas

prazerosa tarefa de ser Pai.

Á todos os meus amigos, e em especial para o Fernando e para o

Schumacker, vocês fazem parte da história da fisioterapia esportiva no Brasil e no

Mundo.

Á meu amigo Marcos Laranjeira, por me mostrar que é possível gerenciar

uma equipe de esporte competitivo, com responsabilidade social e ética.

A todos os meus alunos, do Centro Universitário São Camilo, e da pós-

graduação no CBES e na UMESP, vocês é que nos dão força e nos renovam a cada

dia, a cada momento de conhecimento e esperança que dividimos em nossas aulas,

vocês são o futuro, trabalhem com prazer, com ética, e construam uma sociedade

que ampare melhor os vulneráveis.

Á todos os profissionais da saúde que trabalham no esporte, e que na grande

maioria das vezes não são reconhecidos, não aparecem nas fotos dos jornais que

estampam as conquistas, nem dão entrevistas nas redes de rádio e televisão, mas

que estão ao lado de nossos atletas, e que trabalham para que as conquistam

sejam ainda maiores, mas sempre com ética e respeito.

Á todos os funcionários do Centro Universitário São Camilo, em especial para

aqueles que estão sempre ao nosso lado, nos auxiliando como anjos, no PA, na

biblioteca, no áudio-visual, nos laboratórios, parabéns pelo trabalho que realizam,

são vocês que fazem a alma desta instituição, e são vocês o segredo de todo este

sucesso.

Á todas as pessoas que ainda conseguem ser tocadas pela indignação, todas

as vezes que passam por viadutos e vêem a miséria que nos cerca.

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METADE

Que a força do medo que tenhoNão me impeça de ver o que anseio;Que a morte de tudo em que acreditoNão me tape os ouvidos e a boca; Porque metade de mim é o que eu grito,Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longeSeja linda, ainda que tristeza;Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada Mesmo que distante;Porque metade de mim é partidaMas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu faloNão sejam ouvidas como preceE nem repetidas com fervor,Apenas respeitadas como a única coisa que resta A um homem inundado de sentimentos;Porque metade de mim é o que ouçoMas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir emboraSe transforme na calma e na paz que eu mereço;E que essa tensão que me corrói por dentroSeja um dia recompensada;Porque metade de mim é o que penso Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afasteE que o convívio comigo mesmoSe torne ao menos suportável;Que o espelho reflita em meu rostoUm doce sorriso que me lembro ter dado na infância;Porque metade de mim é a lembrança do que fui,A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espíritoE que o teu silêncio me fale cada vez mais;Porque metade de mim é abrigoMas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma respostaMesmo que ela não saibaE que ninguém a tente complicarPorque é preciso simplicidade para faze-la florescer;Porque metade de mim é platéiaE a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada Porque metade de mim é amorE a outra metade... também. (Oswaldo Montenegro).

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RESUMO

Não é de todo equivocada a afirmação de que o esporte é um dos fenômenos

mais expressivos do século XX – e a prosseguir pelo século XXI. Sem dúvida, o

esporte faz hoje parte, de uma ou de outra forma, da vida da maioria das pessoas

em todo o mundo. Tão rápido e tão “ferozmente” quanto o capitalismo, o esporte

expandiu-se a partir da Europa para o mundo todo e tornou-se a expressão

hegemônica no âmbito da cultura corporal de movimento. Ele é hoje, em

praticamente todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade

As Olimpíadas continuam a ser a maior celebração do esporte mundial, são disputas

atléticas internacionais entre os povos, mesmo com as mudanças conceituais que

ocorreram através dos anos. Desde o seu inicio na era moderna em 1896 em

Atenas, o esporte vem crescendo muito em termos de interesse. Hoje, mais de um

século após a primeira Olimpíada da era moderna, o esporte foi incorporado à

sociedade, assumindo um papel importante na vida do cidadão. Um reflexo disto é

que na maioria dos paises hoje existe um ministério exclusivo para analisar as

políticas esportivas, dando com isso uma importância política grande ao esporte,

tanto competitivo como o esporte pedagógico.

O crescimento do esporte como espetáculo, fez com que os investimentos

aumentassem de maneira vertiginosa nos últimos anos, elevando atletas ao patamar

de verdadeiras celebridades, e aumento a responsabilidade de atletas, dirigentes e

profissionais da saúde que atuam no esporte.

O presente estudo apresenta como objetivo principal identificar através de

uma revisão da literatura, os principais conflitos bioéticos enfrentados pelos

profissionais da saúde que atuam no atendimento clínico do atleta profissional.É de

extrema importância, que os profissionais da saúde que atuam diretamente no

esporte discutam os problemas encontrados no atendimento prestado ao atleta

profissional, para que possamos minimizar os conflitos bioéticos que possam existir

nesta difícil relação.

Palavras chave - Bioética, Esporte, Fisioterapia, Medicina Esportiva

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ABSTRACT

It is not of all when the affirmation of which the sport is one of the most

expressive phenomena of the century XX made a mistake – and continuing for the

century XXI. Undoubtedly, the sport does today part, of one or otherwise, from the

life of most of the persons in whole world. So quick and so "cruelly how much the

capitalism, all expanded the sport from Europe for the world and it made the

expression hegemonic in the context of the physical culture of movement. It is today,

in practically all the societies, one of the social practices of bigger unanimity. The

Olympic Games keep on being the biggest celebration of the world-wide sport, they

are athletic international arguments between the people, even with the changes you

conceptualize what took place through the years.

From his beginning in the modern epoch in 1896 in Athens, the sport is

growing very much in terms of interest. Today, more than one century after the first

Olympic Games of the modern epoch, the sport was incorporated to the society,

assuming an important paper in the life of the citizen.

It is a reflex of this that in most of the countries today exists an exclusive

ministry to analyse the sporting politics, giving with that a political big importance to

the sport, so much competitively like the pedagogic sport.

The growth of the sport like show, to do so that the investments increased in

dizzy way in the last years, lifting up athletes to the landing of true celebrities, and I

increase the responsibility of athletes, leaders and professionals of the health who

act in the sport.

The present study presents like identifying principal objective through a

revision of the literature, the principal conflicts bioethics faced by the professionals of

the health who act in the clinical service of the professional athlete.

It is of extreme importance, that the professionals of the health who act

straightly in the sport discuss the problems found in the service been suitable to a

professional athlete, so that we can minimize the conflicts bioethics what could exist

in this difficult relation.

Key Words - Bioethics, Sport, Physiotherapy, Sporting Medicine

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Introdução..................................................................................... 12

Justificativa................................................................................... 16

Objetivo......................................................................................... 17

Metodologia.................................................................................. 18

Capítulo 1. O Esporte no contexto sociológico........................ 20

Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta................................... 28

Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o Principialismo norte americano....................................................................................... 36

3.1. Referenciais da beneficência e da não –maleficência..... 373.2. Referencial da autonomia................................................ 393.3. Referencial da Justiça...................................................... 443.4. Confidencialidade............................................................. 48

Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta............................................................................................... 50

4.1. O Estresse no Esporte..................................................... 544.2. O retorno às competições................................................ 584.3. O sigilo profissional e o atleta.......................................... 644.4. O conceito de “cuidar” e o profissional da saúde no

esporte............................................................................ 64

Capítulo 5. Discussão................................................................... 73

Capítulo 6. Conclusão................................................................... 90

Referências Bibliográficas........................................................... 94

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SUMÁRIO

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Introdução

INTRODUÇÃO

A palavra “esporte” provém do francês antigo “desport”, que significa

divertimento, passatempo, e indica ao mesmo tempo competições e exercícios

realizados individualmente ou em grupo, como manifestação esportiva, passatempo

ou para desenvolvimento da força e agilidade do corpo (Sgreccia,1997).

O Esporte Moderno, construído a partir da década de 1820, com as iniciativas

de Thomaz Arnold em Rugby (Inglaterra), logo incorporou o primeiro componente

ético que era o Associacionismo, cultivado pelos ingleses em todas as suas

manifestações. Logo a seguir, com a restauração do Movimento Olímpico, em 1892,

por Pierre de Coubertin, o Esporte recebeu o seu segundo componente ético: o Fair

Play que em português significa “Jogo Limpo”.

O Esporte Moderno entrou no século XX na perspectiva do Ideário Olímpico.

Além do Associacionismo e do Fair Play, a Carta Olímpica não fazia concessões ao

profissionalismo no esporte, o que permite afirmar que este posicionamento

inflexível do Movimento Olímpico trazia uma terceira referência para a Ética

Esportiva, que era o Amadorismo. Foi com o associacionismo, o Fair Play e o

Amadorismo, que o Esporte teve construída sua Ética. É fundamental acrescentar

que o conceito de Esporte vigente nesta Ética construída era o do Esporte de

Rendimento.

O esporte moderno está embasado sobre conceitos extremamente

humanísticos, que tiverem seu auge na Grécia antiga, e suas fundamentações

filosóficas foram resgatadas à modernidade pelo Barão Pierre de Coubertin no fim

do século XIX, tendo início assim o chamado “olimpismo”, movimento que recupera

valores disseminados na Grécia antiga através do esporte. Valores como

solidariedade, consagração, celebração da Paz entre os povos, estavam entre os

principais valores gregos a serem fixados através das disputas olímpicas, e que

foram trazidos para a era moderna.

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Introdução

Entretanto uso do Esporte e as suas circunstâncias como um palco da Guerra

Fria foi o fato marcante da destruição da Ética Esportiva, que havia sido construída

durante o período de idealização Olímpica.O exemplo de Hitler em Berlim (1936)

que tentou fazer dos jogos um acontecimento a favor de suas teses de supremacia

dos arianos, inspirou os Estados Unidos da América e os países socialistas,

principalmente a União Soviética a tornar o Esporte apenas como uma manifestação

efetiva de superioridade ideológica. Evidentemente que os Jogos Olímpicos

despidos dos preceitos éticos, passaram a representar o "locus" ideal para fatos

político-ideológicos de ressonância mundial como o massacre dos atletas

israelenses nos Jogos de Munique em 1972 entre outras manifestações, mas

também sendo sempre seguido de perto por ideais mais éticos, como o podium dos

americanos nas Olimpíadas de 1968, que denunciava o preconceito contra os

negros nos EUA. Nesta tentativa de destruição da Ética e dos ideais Olímpicos, o

profissionalismo rapidamente substituiu o amadorismo, através de formas

enganosas. Os socialistas criaram a carreira esportiva, na qual as crianças de

talento eram selecionadas e arregimentadas para escolas esportivas, de onde as

melhores saíam para as equipes nacionais para as disputas esportivas

internacionais. Quando encerravam suas carreiras como atletas, recebiam uma

formação pedagógica e voltavam para ser treinadores em suas especialidades. Por

outro lado, os Estados Unidos da América criaram o chamado amadorismo marrom,

onde os atletas, embora estudantes, recebiam apoio financeiro e adequações nas

suas vidas escolares. Na verdade, os atletas já eram profissionais.

Por outro lado, o Associacionismo e o “Fair Play” foram pouco a pouco

destruídos neste período pelo "chauvinismo da vitória" que significava "a vitória a

qualquer custo".

O Esporte, criado para reunir as pessoas, chegava ao final dos anos 80

completamente decadente e com um Movimento Olímpico incerto. Nas olimpíadas

de Moscou 1980, a delegação norte-americana não esteve presente, isso devido a

um boicote político realizado por seu país, e o mesmo ocorreu com a delegação

soviética nas olimpíadas de Los Angeles 1984.

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Introdução

Além disto vemos, atualmente, ideais olímpicos sendo superados por

interesses econômicos, comerciais, corrupção e muitos outros. Nas últimas décadas

o chamado “olimpismo”, vem procurando restabelecer, através das competições

esportivas, os valores humanistas que alicerçaram o esporte no início da sua

história, procurando maneiras mais éticas de disputa, através de regras mais rígidas

contra o doping, e competições mais próximas aos ideais de celebração da Paz e da

humanidade.

Durante a exacerbação do Esporte Moderno, algumas manifestações

importantes de reação surgiram com o Movimento “Esporte para Todos”, a

Sociologia Esportiva e os chamados Documentos dos Organismos Internacionais. O

Movimento “Esporte para Todos” pedia uma democratização da prática esportiva

estendendo-a a todas as pessoas. Os Organismos Internacionais editaram vários

documentos como o Manifesto do Esporte (CIEPs) Manifesto da Educação Física

(FIEP), Carta Européia do Esporte para Todos (Conselho da Europa) e Manifesto do

Fair Play (CIFP). Todas estas manifestações, de fato, denunciavam o rompimento

da Ética construída anteriormente, o que tornava o Esporte menos saudável,

expressando uma lógica que, na expectativa de vencer como única proposta,

estimulava, inclusive, a chegada dos ilícitos nos confrontos esportivos, entre eles, o

doping. A re-conceituação do Esporte como direito de todos, criando a base do

chamado Esporte Contemporâneo, o qual reconhece na sua abrangência o Esporte-

Educação, o Esporte-Lazer e o Esporte de Rendimento, evidentemente que passou

a exigir uma ética específica para cada uma destas manifestações conceituais. A

busca de um caminho para esta imposição conceitual, levou ao desenvolvimento de

princípios que possam servir de suporte na construção destas éticas, as quais

integradas formam a própria Ética do Esporte Contemporâneo (Tubino 1991).

Nesta linha de pensamento, o Esporte-Educação será referenciado em

princípios sócio-educativos que orientem para uma formação para a cidadania. A

Ética desta manifestação será a da Formação. Nesta Ética, além do respeito ao

crescimento biológico dos jovens, deverá ser levado em conta todas as

possibilidades de preparação para uma vida futura com um estilo de vida saudável e

responsável diante da sociedade que vai atuar. A Ética da Formação, como

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Introdução

referência no Esporte-Educação é inesgotável no oferecimento de caminhos viáveis

(Tubino 1991).

O Esporte-Lazer, voltado para o bem-estar como uma prática espontânea em

que o Princípio do Prazer é a referência, deve ser orientado para uma Ética de

Convivência que reforce os laços comunitários.

O Esporte de rendimento, por sua vez, compromissado com o espetáculo e o

negócio, e cujos protagonistas devem ser profissionais, regido pelo Princípio da

Superação, deverá também estar referenciado numa Ética de Convivência que não

se assemelha àquela do Esporte-Lazer, pois será uma possibilidade de estabelecer-

se uma rede de relações saudáveis entre profissionais que se preparam para vencer

os adversários. Esta convivência, exposta nos meios de comunicação, quando

obtida, cria uma ambiência extremamente ética e moral, tendo como suporte as

regras e os regulamentos, desenvolvendo nos atletas um espírito esportivo que

certamente servirá de exaltação ao Esporte (Tubino 1991).

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Justificativa

JUSTIFICATIVA

Nos dias de hoje, o esporte passou a ser um importante meio de

entretenimento, fazendo parte do cotidiano, e estando presente nas mais diferentes

classes sociais.. Atualmente, do ponto de vista acadêmico não é mais considerado

como um meio de alienação do indivíduo na sociedade, sendo hoje considerado

uma grande ferramenta de socialização, e educação, sendo utilizado como uma dos

principais instrumentos, em diversos programas educacionais, tanto por entidades

governamentais, como por iniciativas privadas.

Além disso, o esporte profissional é um importante mercado, do ponto de vista

econômico movimenta milhares de dólares no mundo todo, e,por isso seus principais

praticantes, os atletas profissionais, tornam-se ídolos nacionais e internacionais,

tendo sua imagem reconhecida no mundo todo.

A importância do esporte, e da saúde do atleta, trouxe um novo mercado para

profissionais da saúde, que hoje trabalham intensamente dentro do esporte, como

médicos, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros, e são responsáveis tanto pela

saúde do atleta, como por seu rendimento esportivo.

Este meio, por si só já é conflitante para o profissional da saúde, pois muitas

vezes a saúde, e a prática de um esporte em alta-performance na grande maioria

das vezes são antagônicas, o que leva o profissional da saúde a diversos

paradigmas bioéticos.

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Objetivo Geral

OBJETIVO GERAL

Identificar os principais conflitos bioéticos que ocorrem no cotidiano dos

profissionais da saúde que prestam atendimento a atletas profissionais, frente à

cobrança por melhores rendimentos esportivos, e a prevenção da saúde dos

mesmos. Isso realizado através de uma ampla revisão bibliográfica.

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Metodologia

METODOLOGIA

Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, sendo a busca

realizada nas bases de dados que estão disponíveis para pesquisa no site

www.bireme.br. Foram considerados os artigos publicado no período de 1966 até o

ano de 2006. Foram encontradas referencias apenas nas bases Medline (Literatura

Internacional em Ciências da Saúde) e Lilacs (Literatura Latino-Americana e do

Caribe em Ciências da Saúde).

Também foram realizadas pesquisas na base de dados Scielo (Scientific

Eletronic Library Online) e nos bancos de dados Google , Pubmed e Medscape, para

obter-se um estudo mais amplo sobre o tema.

.Para a busca, inicialmente foram utilizadas palavras-chave livres para

pesquisa nas bases de dados, utilizando-se a lógica Booleana AND para:

-Bioética AND Esporte

-Ética AND Esporte

-Ethics AND Sport

-Bioethics AND Sport

Também foi realizada pesquisa utilizando-se livros, que contemplem o tema

sobre bioética e ou, história do esporte e sociologia do esporte.

Apenas foram selecionados os trabalhos que tinham por objetivo a discussão

dos conflitos bioéticos no atendimento clínico do atleta, sendo excluídos os trabalhos

que tinham por objetivo discutir situações como doping e análise ética de alguma

modalidade esportiva.

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Metodologia

Foram encontrados 304 artigos, sendo:

Lilacs = 1

Med Line= 20

PubMed= 283

Após avaliação dos resumos, foram selecionados 12 artigos, pois estes

cumpriram todos os critérios de inclusão e exclusão já descritos.

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

Capítulo 1

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“Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens cruzem os braços.”

Edmund Burke

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

O ESPORTE NO CONTEXTO SOCIOLÓGICO

Não é de todo equivocada a afirmação de que o esporte é um dos fenômenos

mais expressivos do século XX – e a prosseguir pelo século XXI. Sem dúvida, o

esporte faz hoje parte, de uma ou de outra forma, da vida da maioria das pessoas

em todo o mundo. Tão rápido e tão “ferozmente” quanto o capitalismo, o esporte

expandiu-se a partir da Europa para o mundo todo e tornou-se a expressão

hegemônica no âmbito da cultura corporal de movimento. Ele é hoje, em

praticamente todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade

quanto a sua legitimidade social (Bracht 2003).

As Olimpíadas continuam a ser a maior celebração do esporte mundial, são

disputas atléticas internacionais entre os povos, mesmo com as mudanças

conceituais que ocorreram através dos anos. Desde o seu inicio na era moderna em

1896 em Atenas, o esporte vem crescendo muito em termos de interesse. Como

descrito pelo filósofo Paul Weiss, da universidade de Yale, “Quer tomemos parte

nele, quer estejamos apreciando, o esporte age rápido sobre as emoções, conquista

logo as emoções das pessoas, muitas vezes com uma intensidade que mais nada é

capaz de provocar” (Sgreccia 1997)

Segundo Coleman citado por Sgreccia:

“A arte, a ciência e a filosofia oferecem à cultura contribuições certamente maiores que o esporte. A agricultura, a indústria e o comércio têm um papel bem maior em nossa economia do que seria possível ao esporte, embora este, naturalmente, tenha hoje uma grande importância econômica. Mas raramente esses outros empreendimentos do homem são parte tão freqüente de suas conversas cotidianas ou exigem tanta fidelidade como o esporte. É o esporte que polariza o interesse e faz surgir a dedicação dos jovens e idosos, dos sábios e dos desprovidos, de quem tem uma educação e de quem não tem”. (Coleman apud Sgreccia 1997).

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

Existem portanto muitas dimensões encontradas na história do esporte. As 3

dimensões principais que, hora se sucedem, hora se intercalam são:

Dimensão clássica: de tipo mítico vivida, sobretudo na Antiguidade.

Dimensão pedagógica: na qual não se considera mais o mito nem a

divindade, mas se quer exaltar os valores agnósticos, civis, a relação supranacional,

como se quis com a retomada das Olimpíadas.

Dimensão das massas mais recente, na qual prevalece, incentivada pela

mídia, a participação das massas, que é quase universal e também possuí um apelo

fortemente emotivo. Como conseqüências desta última dimensão temos a violência,

os empreendimentos financeiros, que transformam hoje o esporte em muito mais

que um jogo, ou uma ferramenta pedagógica (Sgreccia 1997).

As Olimpíadas antigas tiveram início no ano de 776aC, junto ao santuário de

Júpiter, em Olímpia, nas Elidas (costa leste do Peloponeso), e eram disputadas por

atletas que provinham de várias polis, de cultura grega. Elas tinham um significado

político e religioso, pois evidenciavam os vínculos culturais das várias cidades-

Estado da Grécia antiga, que reafirmavam nestas ocasiões, as relações de Paz e

cooperação.

Hoje, mais de um século após a primeira Olimpíada da era moderna, o

esporte foi incorporado à sociedade, assumindo um papel importante na vida do

cidadão. Um reflexo disto é que na maioria dos paises hoje existe um ministério

exclusivo para analisar as políticas esportivas, dando com isso uma importância

política grande ao esporte, tanto competitivo como o esporte pedagógico. Países

comunistas do leste europeu investiam fortemente na descoberta, e no treinamento

de novos atletas, e esta política foi utilizada ideologicamente como uma forma de

massificar os ideais comunistas em contraposição ao mundo capitalista.

As histórias do esporte e das Olimpíadas são bastante entrelaçadas, contudo

não podemos de forma alguma pensar em esporte, somente no ambiente olímpico,

ou somente como uma “ferramenta” pedagógica. Nos dias de hoje o esporte está

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

presente em todas as culturas, e é hoje um negócio que movimenta somente nos

EUA, cerca de 3bilhões de dólares, e aproximadamente 8 bilhões em todo o mundo,

o que transforma o ambiente esportivo em um meio pleno de conflitos de interesses,

principalmente para os atletas, patrocinadores, investidores, dirigentes e

profissionais que nele atuam.

Há alguns anos atrás, a definição do espírito esportivo era intimamente ligada

ao profissionalismo do atleta, se o atleta recebia algum tipo de pagamento para

exercer sua atividade esportiva, tanto do poder publico como de um clube ou

patrocinadores, era aquele considerado um atleta profissional. Em torno desse atleta

era encontrada uma organização econômica e administrativa, que faziam com que

este atleta sobrevivesse integralmente de sua pratica esportiva. Essa organização

insere esse atleta, em um grupo de atletas que são ligados ao esporte que praticam

tanto de maneira afetiva como econômica.

Ao lado desse atleta, chamado de profissional, existem praticantes de

esportes, que mantêm uma prática competitiva, mas somente ligados ao emocional.

São atletas apaixonados por algumas modalidades esportivas específicas, mas que

não recebem nenhum tipo de compensação financeira, ou retribuição de outro tipo

para continuarem exercendo sua função esportiva. Esses atletas são chamados de

atletas amadores, aqueles que somente praticam sua modalidade por “amor” ao

esporte, por extremo “espírito de competição”.

Inevitavelmente, o esporte foi ganhando interesse em todo o mundo, sendo

hoje as Olimpíadas, o evento visto por maior número de pessoas no globo. O

crescimento do interesse pelas competições esportivas fez com que o esporte se

tornasse mais racional, sendo assim, introduzido no esporte uma razão mais

profissional, o ganho de interesse do público, foi proporcionalmente aumentando o

interesse de patrocinadores, e empresários ligados, fazendo com que hoje, esteja

quase que praticamente extinto, o chamado esporte amador. Restam os atletas

profissionais, que empenham para melhorar sua performance a todo o custo, pois

assim conseguem melhores patrocínios, melhores remunerações, além de uma

estrutura profissional mais adequada, que permita a este atleta melhorar ainda mais

seu desempenho.

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

O “antigo” esporte amador, hoje é praticado por atletas que não visam

primordialmente à melhoria de seus índices e performance atlética, e sim apenas o

lazer, ou meramente uma manutenção ou melhora do condicionamento físico tendo

pouca responsabilidade competitiva.

No profissionalismo em que o esporte mergulhou, o lazer deu lugar à busca

de metas e melhora de performance, tendo o atleta, uma responsabilidade muito

maior. Ele faz de seu corpo, o principal meio de chegada ao sucesso profissional,

sendo assim submetido a treinamentos cada vez mais intensos, o que trás em

contrapartida de aumento no número de lesões ligadas a prática de seu esporte

específico.

Esta transformação ocorrida através dos tempos, afastando o esporte de seu

eixo norteador, trouxe inúmeras conseqüências para atletas e para os profissionais

da saúde que atuam no esporte, como médicos, fisioterapeutas, educadores físicos,

psicólogos, entre outros, pois esses profissionais passaram a sofrer a cobrança por

melhores resultados, quebra de recordes, conquista de campeonatos. Isto faz com

que o desempenho do atleta seja hoje o objetivo, tanto do atleta como dos

profissionais que lhe prestam serviços, deixando muitas vezes a saúde e a

longevidade esportiva, em segundo plano.

Segundo Sgreccia (1999), “a ética no esporte não se refere apenas aos

atletas, mas a todos os componentes que lhes giram ao redor, bem como a todas as

implicações socioeconômicas que o esporte põe em movimento”. A prática esportiva

visando o lazer deve sempre ser reafirmada, tendo como principais objetivos à

educação e a saúde, e uma orientação buscando valores positivos, como cidadania,

inclusão social, convivência em grupo, controle da agressividade. Estes valores não

podem de maneira nenhuma ser renegado a um segundo plano, como ocorre com o

esporte profissional, pois certamente a disputa no âmbito esportivo pode ocorrer

paralelamente com exaltação destes valores.

A igreja católica tem insistido na busca dos valores éticos ligados ao esporte,

pela própria voz de seus pontífices, principalmente Pio XII que era praticante de

alpinismo, e João Paulo II, adepto do futebol e do esqui. Pio XII desenvolveu muitos

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

ensinamentos sobre os valores do esporte, principalmente os valores morais, que

são ligados à prática esportiva como lealdade, coragem, respeito ao adversário. Nos

discursos proferidos por João Paulo II, o esporte é visto como uma ligação pacífica

entre os povos, como ocorre nos mundiais de várias modalidades esportivas e nas

Olimpíadas.

Como valores positivos, ligados à prática esportiva, pode-se ressaltar a

relação fraterna entre os homens de diferentes condições sociais, políticas e

religiosas. Já os chamados valores ilícitos presentes cada vez mais no esporte,

estão geralmente ligados aos compromissos financeiros e ao dito “esporte-

espetáculo”, como ocorre no esporte profissional.

Atletas e profissionais da saúde estão cada vez mais ligados às fraudes

farmacológicas chamadas de doping, que visa obter sucesso mais seguro e rápido

com a utilização de substancias ou métodos que aumentam o desempenho

esportivo. Cada vez mais o doping merece atenção dos organizadores, e

profissionais da saúde ligados ao esporte. O Conselho da Europa, órgão ligado ao

Comitê Olímpico Internacional, e responsável pelo termo define, doping como “a

administração e o uso de substâncias, sob qualquer forma, estranhas ao organismo,

ou de substancias fisiológicas em quantidades exageradas, e por via anômala, por

parte de pessoas sadias, com finalidade exclusiva de obter um artificial e desleal

aumento do rendimento em uma competição”.

O controle antidoping representa uma grande dificuldade, pois os meios e os

medicamentos utilizados são múltiplos. Entre os mais usuais, estão as anfetaminas,

aminas simpaticomiméticas (efedrina), analgésicos narcóticos (morfina), esteróides

anabolizantes, entre outros. A ilicitude do doping baseia-se no fato de alterar o

resultados de competições que se pressupõe fundamentada nas qualidades naturais

dos competidores, e muitas destas substancias, são causadoras de doenças ou de

dependência por parte dos usuários.

Mas o doping não é a único motivo de discussão bioética presente no

ambiente esportivo, existem muitas outras formas de cultuar valores ilícitos no

esporte, apesar do doping ser hoje o responsável pela maioria de debates em

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

congressos ligados aos profissionais da saúde que militam no esporte e o principal

tema abordado nas revistas científicas.

A exaltação do atleta, como se fosse um deus, é considerada um fator

contrário ao sentido de igualdade e de valorização moral das pessoas. O profissional

do esporte continua sendo um homem com deveres e limites humanos, e incensá-lo,

pode comprometer sua humanidade e a de todos seres humanos (Sgreccia 1999).

A especulação financeira e econômica ligadas ao esporte faz com que muitas

vezes os atletas de diversas modalidades corram riscos desnecessários.O risco

pode vir de duas fontes diferentes: de fatores extrínsecos ao emprego de certas

técnicas, (em nosso caso a prática de determinados esportes), ou da natureza da

atividade do esporte em questão. Por exemplo, no automobilismo, o risco é

extrínseco no caso da chuva, que pode tornar as pistas escorregadias, ou no caso

de um defeito imprevisível no veículo, exatamente como pode ocorrer com qualquer

carro. Mas por exemplo em uma luta de Box, o risco do pugilista ter atingido sua

cabeça é intrínseco, pois os golpes fazem parte do objetivo, da técnica da própria

modalidade( Sgreccia 1999).

Nos dias de hoje, o esporte se tornou muitíssimo popular entre as diferentes

culturas mundiais, tornando-se assim importante para a sociedade, pois as

realizações nas arenas esportivas são motivos de orgulho nacional. Isso faz com

que o atleta, receba uma grande pressão, pois além de ter a possibilidade de se

tornar herói nacional e até ser internacionalmente reconhecido, recebe a pressão

financeira, de muitos ganhos através da comercialização de sua imagem. Essa

pressão exercida pela sociedade, e também pelos ganhos financeiros, mídia e

patrocinadores, se refletem nos profissionais que com ele trabalham, o que

facilmente nos leva a compreender, os desvios de conduta existentes nos

profissionais da saúde esportiva (Betti 1993).

Muitos profissionais que trabalham diretamente no esporte acabam por se

deparar com este tipo de pressão, e também o que é muito comum, os chamados

conflitos de interesse. A quebra da confidencialidade por parte do profissional, por

exigência de dirigentes de equipe é muito comum em saúde esportiva, pois muitos

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Capítulo 1. O Esporte No contexto sociológico

profissionais ligados diretamente ao desempenho do atleta, acabam por revelar

segredos obtidos durante a execução do seu trabalho, alegando serem funcionários

do clube, da equipe e não do atleta em questão.

Nos últimos anos, vem crescendo muito o número de publicações científicas

abordando problemas éticos existentes no relacionamento entre profissionais da

área de saúde e atletas, e a grande maioria destes trabalhos apontam o respeito a

confidencilidade, e a autonomia dos atletas, como os principais temas geradores de

conflitos bioéticos. A necessidade de se discutir a bioética relacionada ao ambiente

esportivo é gritante, face ao crescente interesse pelo esporte em todo o mundo, há

igualmente a exigência de que o esporte possa continuar sua escalada como

negócio, fixando-se cada vez mais como o maior espetáculo comercializado pelo

mercado de entretenimento, mas sem perder as suas características iniciais, e os

seus valores humanísticos.

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

Capítulo 2

“Se você é capaz de tremer de indignação cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.

Ernesto Che Guevara

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

A EQUIPE DE SAÚDE E O ATLETA

No Brasil e no mundo vivemos na área da saúde esportiva, uma incessante

busca pela melhora do desempenho, sem aumento do risco de lesões para seus

praticantes. Portanto o esporte profissional viu nos últimos anos uma grande

migração de profissionais ligado à saúde para o que antes era denominado de

“medicina esportiva”, pois somente o médico dentre os profissionais da saúde,

atuavam diretamente com os atletas.

A necessidade de um melhor desempenho físico e psicológico, para atingir os

objetivos profissionais de um atleta ou de uma equipe específica, foi fazendo com

que houvesse a entrada progressiva de vários profissionais na equipe,

transformando a área do esporte em uma equipe multidisciplinar, incorporando o

psicólogo, o fisioterapeuta, o nutricionista, o fisiologista, o educador físico. É esta

equipe de profissionais que responde pelo desempenho do atleta, e cada um deles é

responsável, tanto por sua performance atlética, como por sua saúde clínica. Esta

situação, é para muitos um grande conflito de interesses, pois muitas vezes o nível

de trabalho a que é submetido um atleta profissional, não é compatível com uma

vida saudável do ponto de vista clínico.

No futebol, esporte de maior visibilidade no mundo e maior gerador de receita

para patrocinadores e clubes, o preparador físico tem importância fundamental,

inclusive descrita na literatura especializada. Segundo Mazzei, citado por Gonçalves

(1998) os objetivos do preparador físico no futebol são:

- Planejar, educar, dirigir e supervisionar o programa de condicionamento físico

(atlético e fisiológico) dos jogadores, relacionado com o planejamento semanal,

mensal e anual.

- Planejar, educar, dirigir e supervisionar o aquecimento durante as sessões de

treinamento (técnica ou tática) e jogos;

- Auxiliar o técnico quando requisitado durante as sessões técnicas e táticas

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

- Estabelecer e orientar um programa especial de condicionamento físico para

os atletas lesionados ou que estão em reabilitação, em conjunto com o médico e o

departamento de fisioterapia;

- Fornecer um programa de atividades semanais, verificando os melhores

aspectos para o desenvolvimento de cada atleta;

- Dar opiniões sobre a importância ou não, da quantidade e qualidade dos

jogos amistosos de nível regional, nacional ou internacional;

- Manter um arquivo de controle com os dados e informações que poderão ser

importantes para o desenvolvimento das atividades no planejamento do próximo ano;

- Organizar e dirigir avaliações físicas para os jogadores;

- Participar de seminários, cursos, simpósios e licenças que poderiam introduzir

novas técnicas, sistemas e métodos de treinamento;

- Fornecer aos jogadores os resultados de suas avaliações físicas e

performances em jogos e, advertir sobre os problemas de comportamento fora do

campo e como poderão influenciar no seu desempenho físico;

- Analisar com os jogadores a frase do fisiologista francês M. Baquet (1976)

“Você anda com suas pernas, galopa com seus pulmões, corre com seu coração, mas

somente alcança seu destino com sua mente”, que demonstra a importância da

competência emocional e do prepara psicológico para o atleta profissional nos dias de

hoje.

No entanto, como já foi discutido anteriormente, o esporte de alto rendimento,

passou a ser um negócio onde dirigentes, empresários e clubes visam lucros, que

muitas vezes chegam à casa dos milhões de dólares, e por isso, como em todo

negócio, existem políticas de retenção de custos. Ocorre que não são em todas as

equipes, ou não são todos os atletas de esportes individuais, que possuem um staff

de profissionais da saúde tão completo. Sendo assim, a grande maioria das equipes

possuem somente um fisioterapeuta, e ou um médico, que, nestes casos, acabam

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

sendo aqueles com a maior parte da responsabilidade sobre as condições clínicas

dos atletas. No Brasil, são raros equipes e atletas que possuam uma equipe de

saúde com todos os profissionais citados anteriormente. Isto ocorre somente nas

grandes equipes de futebol profissional, as equipes de elite, que fazem parte da

primeira divisão do futebol brasileiro. Em outras equipes e em outros esportes,

muitas vezes não há a presença de nenhum profissional da saúde, o que acaba

criando, uma situação que torna os atletas mais vulneráveis.

O fisioterapeuta é sem duvida nenhuma o profissional da saúde mais atuante

no esporte. Ele é responsável pelo tratamento da maioria das lesões esportivas, e

esta presente em todas as instancias de acompanhamento do atleta, no aspecto

curativo, utilizando recursos eletrotermoterapêuticos, exercícios, recursos manuais,

visando à diminuição do tempo de afastamento do atleta de suas atividades

esportivas, e manutenção do condicionamento físico do atleta durante o tratamento.

Portanto na grande maioria das equipes multidisciplinares que atuam no esporte, é o

fisioterapeuta, juntamente com o médico, o responsável pelo afastamento do atleta

de suas atividades (como treinos físicos e competições), e também pelo retorno

deste atleta às atividades, o que aumenta e muito o conflito de interesses, com

dirigentes, técnicos, e empresários, pois sempre existe uma grande pressão para o

retorno do atleta o mais rapidamente possível.

Durante o tratamento de uma lesão, o atleta muitas vezes fica afastado das

atividades físicas e técnicas, o que diminui a sua capacidade atlética. Quando é

necessário um afastamento também das competições, o prejuízo para a equipe é

incalculável, pois o atleta em questão pode ser fundamental para o sucesso da

equipe. Também se reflete em prejuízos financeiros, uma vez que muitos atletas

despertam uma curiosidade do público e, por isto atraem a mídia aos treinos e as

competições da equipe, o que traz uma maior rentabilidade para os patrocinadores e

conseqüentemente para a equipe.

Exemplos não faltam, a seleção brasileira de futebol, recebe uma cota por

amistoso quando têm em campo seus principais atletas, e outro bem menor quando

atua com um selecionado sem os astros internacionais. Muitas vezes os fabricantes

de materiais esportivos também exigem a presença de determinados atletas nas

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

partidas mais importantes, sendo que a maioria destes atletas tem contrato com

estas empresas, e recebem uma bonificação mensal, pelo número de partidas que

atuaram na seleção de seus países.

Além da pressão financeira, existe também a pressão dos torcedores, que

querem ver seus ídolos em excelente forma, nos campos ou quadras, atuando,

dando o melhor de si, em nome das cores do clube que idolatram. Existem também

as competições internacionais como os mundiais, a copa do mundo de futebol, e as

olimpíadas, onde os torcedores se unem em busca de um objetivo comum, que é o

de levar uma nação ao ponto mais alto do podium. Vários sociólogos descreveram o

chamado “complexo de vira-lata” que era comum entre o povo brasileiro na década

de 60. Muitos intelectuais da época , relacionaram, as vitórias conquistadas pela

seleção brasileira de futebol, à melhora da auto-estima do povo brasileiro. As vitórias

do campo desportivo, também aproximaram os brasileiros dos símbolos de sua

Pátria, como o hino nacional e a bandeira, que hoje fazem parte do cotidiano

nacional em época de disputas esportivas.

Waddington e cols (2001), realizaram um trabalho na Inglaterra onde foram

entrevistados 12 médicos de clubes, 10 fisioterapeutas e 27 atletas, entre

aposentados e atletas ainda na ativa, todos ligados ao futebol profissional. Também

foram emitidos 90 questionários a varias equipes de todas as divisões do futebol

inglês, onde somente 58 retornaram. Como resultado obtiveram a informação de

quase 95 % dos médicos e fisioterapeutas das equipes, não tinha passado por

nenhum tipo de teste, nem nenhuma entrevista, para serem contratados. Quase que

a totalidade dos médicos e fisioterapeutas entrevistados, por gravação ou pelo

questionário, haviam sido contratados por intermédio único e exclusivo do gerente

da equipe.

Desta forma fica mais clara a dependência dos profissionais da saúde, sejam

eles médicos ou fisioterapeutas, da direção dos clubes em que trabalham, deixando

assim os atletas muito mais vulneráveis, e os profissionais da saúde mais

suscetíveis a todos os conflitos existentes na relação entre o médico do esporte e o

atleta, e entre fisioterapeuta do esporte e atleta.(Waddington e cols 2001)

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

Sem duvida são incontáveis as formas de pressão que surgem tanto para o

atleta quanto para o fisioterapeuta durante o tratamento de uma lesão incapacitante,

que fazem com que o fisioterapeuta sinta-se na obrigação de recuperar rapidamente

este atleta, para que ele retorne às arenas esportivas, para cumprirem os seus

deveres como atleta contratado, como garoto-propaganda e muitas vezes como

herói nacional. Apesar de todos estes fatores é essencialmente importante lembrar

que o atleta é acima de tudo um ser humano que necessita de tempo para

recuperar-se de uma lesão, mesmo tendo todo um aparato tecnológico e humano

para ampará-lo.

Além das atribuições durante a cura da lesão em si, o fisioterapeuta também

possuí a função de prevenir lesões esportivas, tanto as lesões traumatológicas

quanto as causadas por mecanismos repetitivos. Para isso o profissional da

fisioterapia acompanha os atletas em todas as suas atividades de treinamento e

competições, pois a grande maioria das lesões ligadas à prática de esportes ocorre

durante os treinos, tanto físicos quanto técnicos e táticos.

A função do fisioterapeuta é avaliar individualmente cada atleta durante o

início da temporada esportiva, identificar problemas posturais, que possam ser

desencadeantes de lesões, como, por exemplo, um calcâneo supinado, que

passaria como quase normal para um indivíduo comum. A necessidade de prevenir

uma lesão esportiva surge face ao grande prejuízo técnico e financeiro, já

mencionado anteriormente. Com certeza, é muito mais importante para o

profissional da saúde, prevenir uma lesão em um atleta de elite, do que trata-lo

posteriormente.

Sendo de tal importância para os atletas, tanto na parte cura, como também

na prevenção de lesões comuns ao esporte praticado, o fisioterapeuta torna-se

imprescindível em todas as atividades do atleta, ou de uma equipe. Isso faz com que

a maioria dos fisioterapeutas contratados na área esportiva, sejam funcionários do

clube em tempo integral, isto é, o vínculo empregatício que este mantêm com a

equipe ou com atleta, é sem dúvida o vínculo único profissional e financeiramente, o

que o deixa muito mais vulnerável às exigências feitas pelos dirigentes e

patrocinadores da equipe.

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

A realidade que ocorre na maioria das equipes que mantém uma equipe

multiprofissional de saúde, é que a maioria das atividades que podem culminar com

problemas físico, são supervisionadas apenas pelo técnico, preparador físico e pelo

fisioterapeuta. O médico visita os atletas apenas em um período, e somente

acompanha os atletas que estão lesionados, ou com algum outro problema que

requeira seus cuidados. Isto faz com que o profissional médico esteja em menor

contato direto com os atletas, o que com certeza cria um vínculo maior entre o

fisioterapeuta e o atleta. Portanto o fisioterapeuta é o profissional geralmente

escolhido para discussões e consultas dos assuntos mais polêmicos que envolvem o

profissional da saúde no esporte, como doping, dependência química por álcool ou

drogas ilícitas, ou qualquer outro problema que reflita diretamente nas atividades

esportivas e no desempenho do atleta.

As discussões sobre confidencialidade dentro do ambiente esportivo

envolvem todos os profissionais da saúde, que são regidos por um código de

conduta “ética” em sua profissão. Estes profissionais discutem diariamente

problemas relacionados à saúde dos atletas e, geralmente estes assuntos são

importantes nas relações profissionais dos atletas com os patrocinadores, dirigentes,

além de serem assuntos muito procurados pela mídia esportiva. Muitas informações

são divulgadas para a imprensa especializada, ou para dirigentes esportivos e

patrocinadores, à revelia do atleta, e muitas destas informações são responsáveis

por quebras de contrato de trabalho, ou negociações envolvendo o atleta e uma

outra equipe.

É um fenômeno mundial o aumento do número de veículos de imprensa

ligados ao esporte em todo o mundo. Tanto que no Brasil os grandes clubes de

futebol, e muitos atletas de elite, possuem assessoria de imprensa, e até locais

especializados somente para o atendimento à imprensa. A procura por informações

sobre o estado clínico, físico e psicológico dos atletas é incansável e, diariamente

tanto atletas como os membros das comissões técnicas passam por inúmeras

entrevistas aos vários representantes da mídia escrita, falada e televisiva. Essa

importância está intimamente ligada ao crescimento do interesse dos consumidores

no esporte em geral, e ao interesse dos patrocinadores em divulgarem suas marcas

cada vez mais através da imprensa, pois é ela que leva ao consumidor a marca dos

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Capítulo 2. A equipe de saúde e o atleta

investidores do esporte. Essa relação se torna cada vez mais estreita, pois a

imprensa necessita de notícias, e com isso tentam ter acesso às informações sobre

exames físicos e clínicos dos atletas. Mas a quem pertence esta informação? Ao

clube, aos médicos ou simplesmente aos atletas?

Durante a preparação da seleção brasileira de futebol para a disputa da copa

do mundo de 2006, a imprensa criticou constantemente os profissionais da saúde

que atuavam pelo selecionado brasileiro, pois estes se recusaram a divulgar os

resultados dos exames físicos e clínicos dos atletas. Ronaldo foi considerado acima

do peso por toda a imprensa mesmo esta não tendo acesso aos resultados dos seus

exames.

Será que houve um abuso por parte dos profissionais da seleção brasileira,

ou será que os próprios atletas não queriam compartilhar estes resultados com a

mídia em geral?

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

Capítulo 3

“Nenhum homem é bastante bom para governar ao outro sem seu consentimento”.

Abraham Lincoln

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

REFERENCIAIS BIOÉTICOS E O PRINCIPIALISMO NORTE-AMERICANO

Como observar o esporte sob a ótica da bioética? O princípios ou referenciais

da bioética são úteis para serem utilizados nas reflexões no âmbito da medicina do

esporte? Se partirmos da premissa que a bioética é uma ciência que estuda o

homem, juntamente com suas atitudes perante a sociedade, e ao meio em que vive,

a resposta é afirmativa. O estudo da biética na medicina do esporte, deve levar em

conta princípios e valores básicos que são comuns aos meios esportivos, como os

desafios, regras do esporte e os resultados (Grinberg e Accorsi 2005).

Dentre as correntes existentes na bioética, a corrente principialista se tornou

uma abordagem clássica, onde a bioética centra-se, sobretudo em alguns princípios

cuja aplicação supostamente leva à solução dos dilemas éticos na saúde.

Autonomia, beneficência, não maleficência, justiça, confidencialidade (Durand 2003).

Quando levamos em conta o pluralismo da sociedade atual, face a

interminável miscelânea cultural em que vivemos, este tipo de abordagem torna-se

muitas vezes frágil e muitas vezes incapaz de direcionar profissionais da saúde em

seu exercício profissional diário. A bioética deve ser alicerçada em pensamentos

puramente éticos, e não a enunciados que nada se diferenciam aos dogmas

encontrados a moral social comum. O que a corrente pricipialista chama de

“princípios bioéticos” na verdade devem apenas servir como referenciais, para a

elaboração de um pensamento ético autônomo.

3.1. Referenciais da beneficência e da não –maleficência

Em 1978/1979, elaborou-se o Relatório Belmont. Uma comissão de onze

profissionais de áreas e disciplinas diversas, que na época nos Estados Unidos,

eram membros da Comissão Nacional para Proteção dos Sujeitos Humanos da

Pesquisa Biomédica, responsabilizou-se pela sua redação. Neste relatório

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

encontrava-se 3 princípios, (1) o respeito às pessoas; (2) princípio da beneficência;

(3) princípio da justiça. Mas esse relatório apresentado à sociedade por esta

comissão, somente tratava de problemas relacionados à experimentação científica

que envolvia seres humanos, deixando de lado o atendimento clínico, a prática

clínica e assistencial. Foi vislumbrando este horizonte que Tom Beauchamp e James

F. Childress publicaram o livro “ Principles of Biomedical Ethics em 1979, com o

objetivo de analisar princípios morais que deveriam ser aplicados à biomedicina. Os

autores discutiram quatro princípios”:

1- Respeito à autonomia

2- Não maleficência

3- Beneficência

4- Justiça

Os autores defenderam na obra uma visão claramente pricipialista, onde a

ética biomédica era tratada de maneira sistemática, onde os princípios eram

aplicados aos problemas da prática médica assistencial. Para muitos estudiosos

esta sistematização do modo bioético de pensar e agir é valida, mas não se encaixa

em todas as situações e em todas as pessoas de maneira uniforme, a ótica

principialista é valida, mas é uma maneira parcial de ver e analisar uma determinada

situação.(Urban 2003)

O princípio da beneficência é uma ação que se realiza visando o benefício do

outro. No contexto do relacionamento médico-paciente, que se estende aos demais

profissionais da saúde, é operacionalizado no sentido de fazer ao paciente, agindo

sempre no interesse dele. Desde a criação do relatório de Belmont, existe uma

diferenciação entre beneficência e não-maleficência. O princípio da não-maleficência

visa à premissa inicial de não causar danos, nem físicos, nem psicológicos,

enquanto o princípio da beneficência visa à obrigação do profissional em retirar os

danos e promover o bem, além de prevenir os danos que podem ser causados ao

paciente.(Beauchamp e Childress 2002). Portanto, enquanto a não maleficência

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

envolve a abstenção, a beneficência requer a ação, justamente por isso qualquer

pessoa tem por obrigação não fazer o mal, enquanto a prática de fazer o bem é um

pouco menos abrangente.

Principalmente nos países ou locais em desenvolvimento, os profissionais da

saúde podem em seu exercício, utilizar uma atitude paternalista justificada nesses

dois princípios. O paternalismo é um comportamento impositivo que ocorre durante a

prática profissional, e é de difícil discussão de quanto ou quando pode ser

justificado, portanto é o cerne de vários problemas éticos, que ocorrem na relação

médico-paciente.(Segre e Cohen 1999). Uma determinada ação somente pode ser

considerada paternalista, quando o indivíduo visa somente o benefício do outro. Se

um médico opta em deixar o paciente se posicionar por uma cesariana, apenas para

benefício do próprio médico, esta ação não pode ser chamada de paternalista, pois

em nenhum momento ela visou o benefício apenas do paciente. Atitudes

semelhantes são descritas por atletas e vivenciadas por profissionais que atuam no

esporte. Médicos e ou fisioterapeutas muitas vezes levam um atleta a optar por um

tratamento que irá encurtar seu tempo de inatividade, não descrevendo os

benefícios de outros tratamentos. E em muitos casos estes profissionais pensam

somente em si neste momento, em o quanto será benéfico para suas carreiras se

determinado atleta ficar pouco tempo afastado de suas atividades, mesmo que o

tratamento seja lesivo em longo prazo. Estas atitudes não podem ser descritas como

paternalistas, pois não visam primordialmente os benefícios do paciente, alias esta

postura somente podem ser chamadas de egoísticas.

3.2. Referencial da autonomia

Alguns pesquisadores e estudiosos da bioética situam como o verdadeiro ato

de nascimento da bioética, o julgamento do tribunal de Nurenberg, em 19 de agosto

de 1947. Durante este julgamento foi concebida uma ligação indissolúvel entre a

ética biomédica e os direitos do homem. Tratava-se precisamente de avaliar a

conduta de médicos e pesquisadores nazistas que usaram prisioneiros de guerra e

deportados como cobaias humanas, sendo este julgamento a primeira decisão

ocorrida de forma oficial e solene que afirmou a exigência de um consentimento livre

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

e esclarecido de qualquer ser humano submetido à pesquisa. Esta norma foi

repetida posteriormente e adotada como um princípio bioético (Urban 2003).

A autonomia se opõe na teoria ao que se denomina heteronomia, pela qual

um indivíduo ou um grupo recebe sua norma do exterior. Kant mencionou como

princípios heteronômicos da moralidade os fatores distintivos do conceito de lei em

geral. Dentro desta concepção descrita por Kant temos a educação, a legislação

civil, a constituição, até a vontade de Deus. A autonomia exprime, segundo a ética

de Kant a capacidade de uma pessoa ser autora da norma moral que ela acha

correta seguir. O filósofo Immanuel Kant foi o primeiro a ampliar a visão de

autonomia governamental, isto é de um Estado em relação ao outro, que foi

concebida pelos filósofos gregos e retomada através do pensamento filosófico de

Rousseau. A autonomia (do grego auto- nomos: dar a si mesmo as próprias leis), é

propriedade do agente racional, que só se determina em virtude de sua própria

lei(Durand 2003).

A idéia fundamental é que sempre antes de executar uma ação, não devemos

elaborar, debatendo a prudência desta ação com a finalidade de saber se esta ação

é a forma mais apropriada para a obtenção do fim desejado, e também determinar

se esta ação é justa, ética. O pensamento autônomo opõe-se tanto a servidão em

relação às leis externas (políticas ou morais) como à submissão em relação aos

próprios desejos e caprichos individuais, subjetivos. Para Kant, o princípio de

autonomia exige que “sempre se faça à escolha de tal modo que as máximas de

nossa escolha sejam compreendidas ao mesmo tempo como leis universais”.

Portanto remete a capacidade, ou melhor, à responsabilidade de buscar o que

constitui o bem, o que é racionalmente ético. Para Kant, a autonomia não é somente

um atributo da pessoa, ela é um dever uma responsabilidade (Durand 2003).

Em um pensamento muito próximo ao pensamento racionalista de Kant, Gilles

Voyer citado por Durand (2003) define “autonomia“, como, o pleno desenvolvimento

da capacidade humana de fazer o bem, sendo o bem determinado de acordo com

três referencias: a si, ao outro singular e aos outros em geral.O princípio da

autonomia não da ao indivíduo uma liberdade absoluta, pois ele é condicionado aos

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

princípios de beneficência e não maleficência, e principalmente à dignidade da

pessoa humana (Durand 2003, Segre e Cohen 2002).

É muito importante lembrar que a autonomia é intimamente ligada a

capacidade do paciente compreender o mal que o aflige, e as opções existentes de

tratamento para este mal. Justamente por esta necessidade de liberdade para

escolha estar ligada ao esclarecimento do problema e de seu remédio, a autonomia

é impossível na veterinária, e diminuta em pediatria. Guy Durand descreve “as

informações devem esclarecer a natureza do tratamento, suas conseqüências

previsíveis, riscos eventuais e existência de alternativas. Essas informações devem

ser comunicadas em uma linguagem acessível e compreensível para o paciente ou

para o sujeito. O consentimento deve ser autêntico e livre, isto sem coerção ou

fraude” (Durand 2003, Urban 2003).

Durante milênios a deontologia médica foi dominada pelo princípio da

beneficência que foi reforçado pela Igreja Católica. Hoje o que se observa, através

da analise das produções científicas e literárias em bioética, é que atualmente o

princípio da autonomia é a idéia dominante entre os estudiosos em bioética clínica.

Isto mostra uma evolução no pensamento filosófico, pois demonstra que evoluiu-se

de uma concepção espontânea, comunitária e solidária a vida humana, para uma

concepção mais individual, analisando melhor o paciente em si e os seus problemas

como ser humano único e indissolúvel da sociedade. Passamos também da análise

problemática do dever de cada um para uma problemática dos direitos, isto é , do

dever de todos, principalmente os profissionais da saúde em relação aos seus

pacientes (Urban 2003).

Nas últimas décadas observamos atentamente o declínio das ideologias

político-sociais coletivistas, apesar de quase que na sua totalidade acompanhadas

por ditaduras intransponíveis, e o crescimento do chamado associacionismo, que

vem assumindo os papéis do Estado em diversas faces da sociedade, florescendo

assim as chamadas ONGs e associações que tentam prover os menos favorecidos.

A evolução do capitalismo veio salientar que o progresso coletivo depende da

liberdade criativa, a qual carrega na essência da individualidade (Urban 2003).

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

Segundo Kant “ apenas o homem detém o poder de se propor algo como fim”, não

sendo lícito usar outro ser humano “apenas como meio”.

A liberdade é inseparável, no ser humano, da responsabilidade, isto é, da

moralidade como capacidade e obrigação de escolha entre o bem e o mal. A

dignidade humana converge sempre a um pensamento da pessoa como centro

consciente, livre e responsável do seu agir. Muitos observam hoje a emersão de um

indivíduo “reivindicador do seu individualismo identidário, um indivíduo que cada vez

mais se recusa mergulhar de maneira anônima,em um pensamento coletivo de uma

massa globalizada (Urban 2003)

Cada vez mais nos dias de hoje vemos um indivíduo consciente e interado de

sua individualidade, ele reivindica seus diretos à escolha , como opção sexual,

ostenta seu regionalismo, sua etnicidade,de forma cada vez mais autônoma, e

indiferente ao bem comum, mas ressaltando a importância de seus direitos e

deveres individuais.

Em se tratando de liberdade de escolha de um tratamento na área de saúde,

o respeito a autonomia do paciente vem crescendo em todos as ramificações e

profissões da saúde. No esporte, os profissionais da saúde que trabalham com

atletas de competição e alto rendimento, tem dificuldades de aceitar que o paciente

deve participar inteiramente do seu próprio tratamento, sendo esclarecido sobre

cuidados durante o tratamento, prognóstico, adaptação de treinamento durante o

tratamento, e inclusive ser ouvido sobre qual tratamento deve ser realizado,

principalmente nos casos em que as opções sejam um tratamento cirúrgico ou um

tratamento conservador.

Existe hoje uma necessidade crescente que os profissionais da saúde que

atuam diretamente no esporte, se dêem conta que quando lidam com atletas, lidam

na esmagadora maioria dos casos com pessoas adultas, e portanto capazes de

decidir sobre suas vidas, do ponto de vista filosófico e do ponto de vista jurídico.

Basta apenas que o profissional da saúde esclareça ao atleta de maneira clara e

adaptada, que tipo de disfunção ele possuí, quais são as opções de tratamento, os

prognósticos de cada tratamento, e permita então ao paciente decidir qual o melhor

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

caminho, claro que a opinião do profissional será levada em conta pelo paciente,

mas é necessário permitir que ele decida qual caminho prefere seguir.

Se o paciente desfruta os benefícios da autonomia, o profissional não deve

ser despojado da sua própria autonomia. O profissional da saúde também tem uma

consciência respeitável, e a priori não menos respeitável do que a do paciente, esta

parceria, profissional da saúde e paciente, funciona da forma mais comum possível,

onde cada um responde pela própria atuação, ou negligência, e com eventual

responsabilidade penal (Beauchamp e Childress 2002).

Ser autônomo não é o mesmo que ser respeitado como um agente autônomo.

Respeitar um agente autônomo é, no mínimo, reconhecer o direito desta pessoa de

ter opiniões, fazer suas escolhas e agir com base em valores e crenças pessoais.

Para o profissional da saúde, isto também significa agregar ao seu tratamento mais

uma responsabilidade, e não se eximir de muitas como pensam alguns profissionais.

O respeito a autonomia do paciente consiste em agir de maneira ética com ele e

com a própria consciência do profissional, pois este deve primeiramente capacitar o

paciente a agir de maneira autônoma. Segundo Kant, o respeito a autonomia

origina-se do reconhecimento de que todas as pessoas tem valor incondicional, e de

que todas tem capacidade para determinar o próprio destino.Quando um profissional

da saúde, viola a autonomia de um atleta, ele trata deste individuo como se ele fosse

apenas um meio, de acordo com os objetivos de outros, sem levar em conta os

objetivos pessoais. (Beauchamp e Childress 2002). Isto ocorre de maneira

corriqueira no esporte, principalmente nos esportes coletivos, devido aos objetivos

do grupo, muitas vezes serem mais importantes do que os objetivos pessoais de

cada atleta. O profissional da saúde envolvido neste contexto, acaba também por

hipervalorizar os objetivos da equipe, como a luta por uma conquista de

campeonato, e por isso é levado muitas vezes a atender o atleta de maneira

paternalista, decidindo por seu tratamento ou pelo seu retorno ao esporte.

O que ocorre muitas vezes é que o profissional não decide pura e

simplesmente de maneira autoritária, ele usa de seu conhecimento e da confiança

do atleta para direcioná-lo em sua escolha, o que torna este ato tão antiético e de

não respeito à autonomia quanto o de escolher de forma autoritária.

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

O principio de respeito á autonomia é ligado ao respeito, à confidencialidade e

a privacidade do paciente, pois quando se respeita um indivíduo integralmente, se

respeita sua privacidade e seus segredos. Esse respeito deve permitir uma grande

reflexão aos profissionais e com isto leva-los a revelar informações, verificar e

assegurar o esclarecimento e a voluntariedade, e encorajar a tomada de decisão

mais adequada por parte do paciente. “A exigência de que tratemos os outros como

fins requer que assistimos as pessoas para que alcancem seus fins e que

encorajemos suas capacidades como agentes, e não meramente evitemos tratá-las

inteiramente como meios para nossos fins”.

È muito importante lembrar que até mesmo os mais fervorosos defensores do

respeito à autonomia na ética biomédica, defendem a idéia que existem pacientes

não autônomos, como os viciados em drogas, por exemplo.(Beauchamp e Childress

2002).

Sempre, em qualquer área da saúde, existe a tentação de usar a autoridade

do papel de médico, de fisioterapeuta, ou seja qual profissional for, para fomentar ou

perpetuar a dependência dos pacientes, em vez de promover sua autonomia. O

cumprimento do respeito à autonomia baseia-se em fazer com que o paciente

supere a necessidade de dependência e assim obtenha uma decisão mais fiel aos

seus valores morais e espirituais. Respeitar o outro significa encoraja-lo a produzir

opinião sobre seus próprios interesses.

3.3. Referencial da Justiça

As desigualdades sociais, na distribuição de renda, no acesso à assistência à

saúde e aos seguros-saúde, juntamente com o aumento desenfreado nos custos

dos serviços de saúde, alimentaram debates a respeito da justiça social, nos EUA e

em muitos outros países do mundo. Os termos “eqüidade”, “merecimento” e

“prerrogativa”, foram empregados por vários filósofos na tentativa de explicar o que é

justiça. Todas as concepções filosóficas de justiça levam em consideração o

tratamento justo e eqüitativo que a sociedade da aos seus indivíduos, levando em

consideração os seus direitos como membros desta sociedade, cidadãos e acima de

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

tudo seres humanos. Portanto quando adjetivamos uma situação como injusta, nós

deixamos claros que existe algo errado, e que algo que é de direito esta sendo

negado. Este fato pos fim a uma eqüidade social, e com isso tornou injusta a

situação.

Quando nos referimos à justiça distributiva, nos referimos a uma distribuição

justa, eqüitativa e apropriada no interior da sociedade, distribuição esta que foi

determinada por normas justificadas que estruturam os termos da cooperação

social. Desta forma, incluímos políticas que dividem entre os membros de uma

sociedade benefícios e encargos, como propriedades, recursos, taxas, privilégios, e

oportunidades (Beauchamp e Childress 2002) .

“A justiça é uma busca; pertence à ordem das coisas que se procura fazer

justamente porque não existem. Ela poderá existir na prática, em nossas ações; ela

é a finalidade e o horizonte de todas as virtudes. A justiça é aquilo sem o que os

valores deixariam de ser valores, ou não valeriam nada” (Comte A 1995).

Analisando as palavras de André Comte, vemos que a justiça não existe em

seu estado natural, ela só existe na medida em que é idealizada, e que assim os

homens passam a buscá-la. Não existe justiça sem sociedade,, sem cultura,

entretanto a lei não exprime o verdadeiro sentido de justiça. A justiça é sempre

prioridade, ela precede, e é através do conceito de justiça que podemos reconhecer

o que é prioridade ao homem como liberdade, dignidade, qualidade de vida, entre

outras. A lei deveria ser um reflexo da justiça, uma expressão da vontade da maioria

de um povo, mas na prática isto não ocorre. O poder normativo apenas traduz a

vontade da maioria dominante, da elite econômica, o que leva a sociedade a ser

uma vitrine de injustiças.

“Ao cidadão cabe lutar, alias é seu dever lutar, mesmo que desobedecendo a

lei quando injusta, pois a justiça não pertence a ninguém, a nenhum partido político,

regime de estado, lei ou código. Ela somente pode ser materializada através do

cidadão que a defende e no espírito justo dos que o fazem” dominante (Filho B.E.C

apud Urban 2003).

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

Na sociedade primitiva o homem era avaliado pelo que possuía, e a sociedade era

dividida em proprietários e não proprietários, isto fazia com os interesses entre os

homens fossem totalmente divergentes. Através do iluminismo que foi um

movimento custeado pela burguesia, que detinha o poder econômico, mas que era

destituída de poder político, houve um aumento da busca pelo progresso social,

político e científico, pois a idéia principal era buscar uma sociedade mais justa

através do desenvolvimento intelectual, contrapondo-se ao poder dominante na

época o absolutismo, que mantinha a sociedade distante da evolução, para assim

impor seus interesses. O Iluminismo transformou essas relações, garantindo o

acesso ao poder de “todos”, mas tão somente a todos aqueles que detivessem o

poder econômico. Com isso a grande mudança em termos de justiça social, e

equidade, foi que o poder não era mais ligado a aqueles que nasceram em famílias

reais e sim àqueles que nasciam ou ficavam ricos. Assim cria-se o Estado, o Direito,

para que garantam a harmonia social, mas na prática, a justiça continua sendo

utopia, pois a função primordial do Estado é fortalecer a classe dominante (Filho

B.E.C apud Urban 2003).

A bioética baseia-se nos seus referenciais, e objetiva ajudar a humanidade na

participação racional e cautelosa no processo de evolução biológica, cultural, nas

novas conquistas tecnológicas, e no estudo das atividades clínicas de profissionais

que lidam com a saúde e com a pesquisa científica, utilizando seres humanos e

outros animais em seu processo de trabalho.

O Código de Ética médica e de outros profissionais, sistematizam as normas

de condutas no exercício da profissão, atuando de forma repressora sobre os

profissionais, impondo comportamentos e deveres que se infringidos, implicam na

caracterização de ilícitos éticos, denominados infrações éticas (Filho B.E.C apud

Urban 2003).

Se é um dever do cidadão lutar pela justiça, mesmo que contrarie a lei, porque a

justiça não pertence a um Estado, ou a um código, podemos supor que existe

situações em que um profissional tenha divergências com normas de seu código de

ética, pois “seu conceito de ética, de buscar a justiça para aquele determinado caso,

não esta de acordo com seu código de ética profissional, e assim este profissional tem

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

o dever de buscar a justiça para o seu paciente, refletindo de forma autônoma à

situação conflitante que esta vivendo, e não simplesmente seguindo um código, como

se fosse um manual para a execução do seus atos profissionais.

Será justo impedir um atleta adulto, consciente e esclarecido, de participar de

uma final Olímpica contra a sua vontade, porque na visão do profissional, médico ou

fisioterapeuta, ele pode estar agravando a sua lesão? Será justo para um atleta que

um profissional que não viveu os seus problemas pessoais, suas dificuldades para se

tornar atleta, a dura busca de um patrocinador, a falta de recursos financeiros para

continuar praticando o seu esporte, um profissional que não esteve presente dia após

dia ao seu lado durante os treinamentos, por quinze ou vinte anos, sonhando em

chegar a este momento de glória, será justo este profissional decidir por este atleta?

O conceito de justiça, na prática clinica de qualquer profissão, esta na

hierarquização de valores, na reflexão ética destes valores, em parceria com o

paciente, atleta ou não, uma reflexão ética de maneira autônoma, livre de conceitos

normativos criados pelo estado ou por uma elite dominante, e assim chagar a um

veredicto final, buscando sempre o melhor para o paciente.

No ambiente esportivo, é muito conflitante para o fisioterapeuta, o que é mais

justo, pois muitas vezes ele pensa em retirar um atleta de uma competição, porque

existem riscos para a saúde deste atleta, mas o atleta deseja participar, e manifesta

isso. Neste caso o que seria mais justo? Impedir a participação do atleta, impedindo-

o de exercer sua autonomia, ou deixá-lo participar, esclarecendo todos os riscos

existentes?

Na bioética clínica é imprescindível, analisar de maneira justa todos os pontos

a serem observados, buscando à chamada Ética de Reflexão Autônoma (Segre

2006).

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

3.4. Confidencialidade

A confidencialidade é a garantia para o paciente que tudo que ele disser ao

médico, e tudo que o médico verificar durante a avaliação, seja durante o exame

físico ou pelos exames complementares, bem como toda a terapêutica instituída,

nada será divulgado.Todos os profissionais das áreas da saúde tem obrigações com

a manutenção do sigilo, pois estes profissionais investigam a vida do paciente,

examinam seus corpos e coletam suas confidencias, tudo isso em busca de

determinar o diagnóstico e o melhor tratamento.(Martins G Z apud Urban 2003).

Durante muitas décadas, os profissionais da saúde, principalmente os

médicos, mantinham com seus pacientes vínculos muito estreitos, pois atendiam

seus pacientes em casa, e portanto o vínculo profissional e afetivo formado era

muito forte. Nos dias de hoje a maioria dos atendimentos na área da saúde são

muito impessoais, pois ocorrem em clínicas, hospitais, onde a grande demanda de

pacientes, transformou a consulta dos profissionais da saúde em um contato

relâmpago, crescendo assim a dependência dos exames complementares para a

descoberta da doença e a terapêutica. Devido a estas mudanças, principalmente o

médico perdeu contato com o seus pacientes, e grande parte deste contato foi

absorvido por outros profissionais da saúde, entre eles o fisioterapeuta.

O tratamento fisioterápico tem usualmente longa duração seja pela

necessidade da repetição de série de exercícios ou de repetidas aplicações de

recursos tecnológicos, favorecendo a criação do vínculo afetivo e de confiança entre

o profissional e seu paciente. No esporte, a estrutura montada nas equipes de

competição, não é diferente desta realidade.O médico, avalia o atleta, para obter o

diagnóstico, e o encaminha ao setor de fisioterapia, onde ele o mesmo será tratado

por dias, e no caso do paciente atleta, durante várias horas por dia, geralmente nos

períodos da manhã, tarde e noite.

O que ocorre é que o grande contato com o paciente é mantido pelo

fisioterapeuta, que passa muitas horas, durante vários dias, com os atletas

lesionados, sendo inevitável a criação de um vínculo de confiança.A legislação

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Capítulo 3. Referenciais Bioéticos e o principialismo norte-americano

brasileira, tanto profissional, como civil e penal, e rigorosa e clara sobre o assunto, e

neste diapasão transcreve-se todo o conjunto de normas sobre a matéria.

No código de ética da fisioterapia, o inciso VIII, do artigo 7, coloca como

dever do fisioterapeuta “manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha

conhecimento em razão de sua atividade profissional e exigir o mesmo

comportamento do pessoal sob sua direção”

Os códigos de ética profissionais da saúde, são todos baseados no código de

ética médica, que descreve a obrigação do médico quanto ao sigilo de informações

do paciente, em vários artigos. No artigo 11 o código descreve que “o médico deve

manter sigilo, quanto às informações confidenciais de que tiver conhecimento, no

desempenho de suas funções. O mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto

nos casos em que seu silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador

e da comunidade”.

Já o artigo 102 descreve que é vedado ao médico, “revelar fato de que tenha

conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever

legal ou autorização expressa do paciente’. Em parágrafo único permanece esta

proibição, pois é descrito que mesmo que o fato seja de conhecimento público, ou

que o paciente tenha falecido, e que quando depoente como testemunha, o médico

comparecerá perante a autoridade e declarará seu impedimento.. No artigo 103

continua explícita a preocupação do código com a confidencialidade, ele descreve

“revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus

pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu

problema e conduzir-se por seus próprios maior para solucioná-los, salvo quando a

não revelação possa acarretar danos ao paciente”.

Além dos códigos de ética medica e da fisioterapia, todos os outros códigos

das profissões da saúde reservam artigos exclusivos para explicitar o veto à

divulgação do segredo profissional. Também é descrito na Constituição Federativa

do Brasil, no Código de Processo Penal, no Código de Processo Penal e no Código

de Processo Civil, artigo específico quanto ao dever de guardar fatos e segredos,

que foi conhecido atreves do exercício profissional.

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Capítulo 4

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“Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.”

Victor Hugo

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

QUESTÕES CONFLITANTES ENTRE A EQUIPE DE SAÚDE E O ATLETA

Existem no meio esportivo, diversos objetivos almejados por equipes e

atletas. Campeonatos importantes com grandes premiações, e com grande

repercussão na mídia, fazem com que as equipes se sustentem. Fazer um bom

papel nestas competições é primordial para a saúde financeira de uma equipe. Os

times de futebol brasileiros por exemplo, lutam e se planejam para estarem

presentes na disputa do campeonato sul-americano de times, ou copa Libertadores

da América. As equipes que conseguem se classificar para esta disputa, tem

geralmente assegurado um superávit financeiro para o ano, pois a importância desta

competição, traz dividendos para o clube, através de exposição na mídia, exposição

dos patrocinadores, venda de ingressos, e de materiais ligados a logomarca da

equipe. Tudo vai bem na maioria das vezes, fora do campo, quando a equipe esta

bem dentro dele.

Estes objetivos acabam sendo incorporados por todos os profissionais que

atuam junto a uma equipe. Durante a temporada, os objetivos a serem alcançados

são descritos, e toda planificação de trabalho é discutida entre os profissionais

ligados ao desempenho, e aqueles ligados à saúde dos atletas.

Este planejamento visando cada temporada de competições é muito comum,

principalmente entre as grandes equipes do futebol brasileiro.É neste momento em

que é realizada a periodização do treinamento físico. “O planejamento de um

treinamento é um procedimento de previsão sistemática orientado para obtenção de

um objetivo e do desempenho individual, que permite a estruturação, a longo prazo,

do processo de treinamento” (Starischka apud Weineck 2001).

Neste momento de planejamento de metas e distribuição de trabalhos, entre os

profissionais, surgem os primeiros conflitos ligados à saúde esportiva. Técnico e

preparador físico descrevem as competições mais importantes, aquelas que são

prioridades, e assim exigem uma planificação de trabalho visando estes objetivos.

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Estes profissionais têm como objetivos, durante o planejamento, somente alcançar as

metas esportivas que são prioridades para a equipe durante a temporada. O que é

pesado neste momento são as metas da equipe, não os objetivos individualizados de

cada um dos integrantes da equipe.

Em muitas equipes, o período de descanso dos atletas, que deveria ser de no

mínimo de 30 dias, não é respeitado, pois as datas entre o inicio das competições e o

término das férias dos atletas “não permitem” que estes gozem normalmente do

descanso anual para posteriormente iniciarem seus ciclos de treinamento. Na maioria

das equipes de futebol profissional isto é freqüente, e mais tarde dentro da temporada

o atleta é cobrado por resultados físicos primorosos que podem não estar sendo

alcançados por falta de um maior períodos de descanso.

É freqüente a verificação que atletas em geral, e mesmo aqueles de alto nível,

que ficam as vezes 4 anos sem férias, ou tendo apenas um período de descanso

inferior a 10 dias por ano, que é comprovadamente um período ineficaz de descanso

físico para o atleta. Para a maioria dos pesquisadores na área de treinamento

esportivo, o período de descanso, também chamado de período transitório é tão

importante para que o atleta atinja o auge de sua preparação física quanto os outros

períodos de treinamento (Weineck 2001).

Durante o planejamento, a participação da comissão técnica (técnico,

preparador físico) juntamente com o departamento de saúde (médico, fisioterapeuta,

principalmente) é de sumária importância para o andamento da equipe, tanto para que

os atletas atinjam seu ápice dentro da performance atlética, de maneira planejada,

dentro das competições mais importantes, quanto para a que este ápice seja atingido

sem um grande número de lesões, principalmente do aparelho locomotor.

Nesta etapa de planejamento, os profissionais da saúde envolvidos diretamente

no esporte, já passam por grande conflito ético. O que é mais importante, durante este

planejamento? Os interesses esportivos da equipe? Os interesses esportivos de cada

atleta, individualmente? Ou a saúde de cada indivíduo, que participa desta equipe?

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Com a mais absoluta certeza na afirmação, são objetivos muitas vezes

antagônicos a se iniciar pelo período de descanso dos atletas, já citado anteriormente.

Também é motivo de conflito entre saúde e desempenho, a forma com que este

treinamento é muitas vezes desenvolvido. No planejamento do treinamento esportivo

é realizado a escolha de competições esportivas a serem privilegiadas. Quando a

competição tem seu inicio no primeiro semestre, próximo de quando a equipe retornou

aos treinamentos, é muito comum que a carga de treinamento aumente para que o

ápice físico seja atingido mais precocemente. Neste tipo de periodização de

treinamento, ou quando o pico de performance é perto de início dos treinamentos, é

muito comum que os atletas que não tiveram um descanso ideal, ou aqueles de idade

mais avançada e os que possuem histórico anterior de lesões articulares graves não

suportarem o ritmo de treinamento imposto pela comissão técnica e lesionem-se

(Cohen; Abdala e cols 1997)

Neste ambiente conflitante, a equipe de saúde na maioria das vezes acaba

optando pelo rendimento esportivo em detrimento da saúde do atleta. Como dito

anteriormente, o esporte profissional exige, nos dias de hoje, uma preparação física

muito intensa e estressante para o atleta, tanto do ponto de vista físico como

psicológico.

4.1. O Estresse no Esporte

No esporte atual, cresce cada vez mais a importância do estudo dos múltiplos

fatores causais de uma boa performance. A importância da competência emocional

vem sendo mais estudada a cada dia, visando a melhora do desempenho esportivo ,e

em segundo plano a redução do estresse negativo do atleta.

A importância do estudo de estresse, da ansiedade e de outros fatores

emocionais e de personalidade no esporte competitivo é reconhecida há muitos anos,

porém, os estudos sistematizados com profissionais em Psicologia do Esporte

tomaram impulso a partir dos anos 60. A mensuração do estresse do atleta,

principalmente frente as incontáveis situações existentes nas competições

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

profissionais são registradas por vários pesquisadores. Brandão, fala sobre estresse

no atleta profissional de futebol.

“Do ponto de vista da psicologia cognitiva, estresse e ansiedade são fenômenos inter-relacionados que consistem basicamente de 4 elementos: a situação estressora, a cognição ou pensamento, a reação emocional e as suas conseqüências. Assim, a ansiedade é uma reação emociona resultante de uma interpretação cognitiva ou pensamento, que pode ser negativo ou positivo relacionado com determinada situação geradora de estresse. Esta reação pode, então, facilitar ou dificultar um determinado desempenho” (BRANDÃO, 2000).

Especialmente no futebol, o estudo de estresse tem um papel relevante uma

vez que os atletas, inclusive os do futebol amador, são submetidos a pressões

constantes. Neste esporte, o atleta almeja um lugar na equipe e uma vez atingido esta

posição, ela deve ser defendida e mantida. O rendimento é uma preocupação

constante e a queda de produção, até mesmo em uma única partida, pode resultar em

não ser titular na partida seguinte. Para atender o que se espera dele o atleta precisa

enfrentar adequadamente as expectativas do treinador, de seus companheiros de

equipe, dos seus familiares, dos amigos e dos meios de comunicação para poder

render corretamente (APISTZSCH,1994).

Como diminuir o estresse negativo sobre o atleta, se a própria comissão

técnica sofre também as cobranças por resultados? O profissional da psicologia, que

hoje em muitos clubes acompanha de perto os atletas, sofre também com os

conflitantes caminhos do esporte, onde as constantes cobranças exercidas pelos

dirigentes, patrocinadores, mídia, fazem parte do estresse acumulado no dia-á-dia de

atletas, comissão técnica e departamento de saúde.

Enquanto a prática esportiva não competitiva é estimulada como um ambiente

de relaxamento, onde o estresse acumulado no dia-à-dia profissional e familiar pode

ser esquecido e até tratado de forma objetiva, os atletas e outros profissionais que

trabalham no esporte competitivo são expostos a cada vez mais cobranças por melhor

desempenho e resultados. Na ultima olimpíada, disputada em 2004, em Atenas na

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Grécia, a obrigatoriedade da realização do exame anti-dopagem, fez com que um

atleta grego tenta-se suicídio.

O uso de substâncias ergogênicas, para melhorar a performance esportiva,

esta na maioria das vezes ligadas às cobranças por melhores resultados. Sem duvida

esta é uma das explicações que fazem com que um atleta orientado e ciente das

contra-indicações e efeitos deletérios que acompanham a utilização destas

substâncias, faça uso delas, arriscando a própria vida em busca de resultados

melhores em seu esporte.

Os fatores causais do estresse no atleta são ligados à performance esportiva.

Qualquer atleta profissional, nos dias de hoje, depende de seu rendimento para poder

obter uma vida melhor, através de melhores contratos com a equipe e com seus

patrocinadores pessoais. A pressão para que este atleta seja um vencedor dentro nas

arenas esportivas vem de todos os lados possíveis: patrocinadores, equipe,

dirigentes, dos outros atletas envolvidos na mesma modalidade, e principalmente dá

família.

No Brasil, um país em desenvolvimento econômico mas com problemas sociais

graves, e onde o desemprego afeta boa parte da população, o esporte é um dos

únicos meios de ascensão social nas camadas mais pobres da população. Quando

um membro desta camada social consegue um certo destaque através do esporte e

começa a melhorar sua vida financeira, é comum ter famílias inteiras atreladas a este

atleta e dependentes diretamente dele para sobreviver.

No futebol, que é sem duvida no Brasil o esporte mais assistido, fazendo parte

da cultura popular, e que tem como grande maioria dos seus praticantes, vindos das

camadas sociais mais vulneráveis, é muito comum encontrarmos atletas que logo no

início da carreira, estão sendo arrimo familiar para os pais, irmãos e primos, e vários

outros familiares.

Esta dependência, traz uma obrigação muito grande, aliada a uma auto-

cobrança para o jovem atleta, ainda em ascensão, como seu o futebol fosse o único

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

caminho para que ele possa contribuir com a melhora da vida de seus pais e parentes

diretos.

Se voltarmos um pouco no tempo, veremos que muitos autores remetem ao

futebol, um papel de muita importância na sociedade brasileira, a introdução do negro

na sociedade. Mário Rodrigues Filho, em sua obra “O negro no futebol brasileiro”

(1964) relata.

“Através da ascensão deste esporte tornou-se possível a sublimação do homem brasileiro, algo que anteriormente só se conseguia através de feitos heróicos, ou ações admiráveis que o exército, a Marinha e as Revoluções mais ou menos patrióticas abriam aos brasileiros brancos e, principalmente, mestiços ou de cor. O futebol tem na sociedade brasileira, em grande parte formada por elementos primitivos da cultura, uma importância toda especial que demorou muito tempo para ser estudada. Este esporte assumiu uma expressão contrária à moralidade dominante em nosso meio. O desenvolvimento do futebol, não num esporte como os outros, mas numa verdadeira instituição brasileira, tornou possível a sublimação de vários daqueles elementos irracionais de nossa formação social e irracional (por exemplo o samba e a capoeira, elementos presentes no estilo de jogo do brasileiro), o que possibilitou que o futebol brasileiro saísse do estilo original britânico e se tornasse uma dança cheia de surpresas irracionais e variações como é”. (Rodrigues Filho 1964).

Em uma época não muito distante onde o negro e o mulato, mesmo sendo

maioria em nossa sociedade, era ainda mais discriminado, a moral vigente era

justamente tratar os negros e seus descendentes como inferiores, foi o esporte, no

Brasil mais especificamente o futebol, um dos principais meios de divulgação dos

feitos dos negros brasileiros, que acabaram por ressoar de maneira heróica dentro de

uma sociedade hipócrita e altamente segregada. Na bela obra de Mario Filho, fica

claro a participação decisiva do esporte na democratização racial brasileira.

Hoje, sessenta anos depois da publicação da obra de Mario Filho, o que vemos

é o esporte servindo mais uma vez como veículo de democratização, mas agora de

uma democratização sócio-econômica, onde os privilegiados, que nascem com dons

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

físicos e emocionais para a prática do esporte de alto-rendimento, nascem em sua

maioria nas camadas menos abastadas de nossa sociedade.

É importante também ressaltar, a participação das universidades neste papel

de ascensão social do esporte. Muitas universidades, no Brasil e em muitos outros

paises, selecionam jovens atletas e os atraem para suas fileiras através do

oferecimento de bolsas de estudo, exigindo apenas que o atleta dispute as

competições universitárias com suas cores.

Como fica a cabeça de um atleta que usufrui de uma bolsa de estudos integral,

e que não possui recursos próprios para estudar, frente a uma lesão que o retire de

uma competição importante para ele e para a universidade? Com certeza esta

situação é excepcionalmente estressante, tanto para ele como para os profissionais

da saúde que o tratam, e que com certeza sofrem inúmeras pressões externas para

que este atleta dispute a competição.

4.2. O retorno às competições

O retorno do atleta às competições esportivas, é outro problema gerador de

conflitos entre a saúde dos atletas e suas ambições no esporte. É comum no esporte,

principalmente nos dias de hoje, onde a performance física esta cada vez mais

próxima ao limites do ser humano, que atletas sejam submetidos a uma carga de

treinamento sobre-humana, visando assim o melhor desempenho possível dentro das

competições.

A importância atribuída ao esporte-espetáculo, e toda as conseqüências

econômico-financeiras trazidas com ele, faz com que o aumento da competitividade

no esporte tenha aumentado demasiadamente nos últimos anos. Vemos que

atualmente a grande maioria dos esportes não é somente um jogo. Como já discutido

anteriormente, o esporte tem importante papel sócio-econômico na vida de atletas e

de profissionais que trabalham direta ou indiretamente com o esporte espetáculo.

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Gabriel de Rose e colaboradores (2006) escreveram.

(...)‘As lesões podem ser consideradas como o principal fator de afastamento de atletas de sua modalidade esportiva. Esse afastamento é prejudicial, pois influencia diretamente no seu desempenho físico e técnico, além dos possíveis prejuízos psicológicos, já que a recuperação pode ser demorada, exigindo dele muita paciência e cautela para voltar à atividade, conseqüentemente a equipe também é prejudicada.

As lesões, muitas vezes, acabam acontecendo em momentos importantes de suas carreiras, afastando-os de competições, tirando-os de seleções e, em alguns casos, provocando o abandono precoce da carreira.Cada esporte tem suas características próprias de espaço, tempo, dinâmica e exigências físicas, o que pode caracterizar o tipo de lesão mais freqüente em cada um deles. Por exemplo: a natação, que é um esporte onde não há nenhum tipo de contado físico com o adversário terá, certamente, diferentes lesões do que o boxe, onde o contato físico é predominante. Modalidades esportivas coletivas (basquetebol, futebol, futsal e handebol) têm suas lesões especificas, considerando-se que os atletas mantém um contato físico constante. Incluindo-se a elas o voleibol, podem-se também considerar as lesões decorrentes dos constantes deslocamentos, saltos e movimentos brusco”(...) ( De Rose e cols 2006).

As lesões esportivas podem atrapalhar o rendimento do atleta, ou por produzir

incapacidade funcional, ou mesmo por impedir que o atleta mantenha sua rotina de

treinamento, seguindo a periodização pré-estabelecida no inicio da temporada.

Estas lesões são na verdade acidentes de trabalho, e ocorrem como conseqüência

da prática esportiva e do treinamento esportivo do atleta. Segundo Buceta (1996) as

lesões esportivas são classificadas da seguinte maneira.

1-Supõe uma disfunção do organismo que produz dor, restringe as possibilidades de funcionamento e pode aumentar o risco de disfunções maiores.

2-Levam a interrupção ou limitação da atividade esportiva durante algum tempo ou até permanente;

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

3-Levam a interrupção ou limitação das atividades não esportivas como, por exemplo: atividades escolares para quem não é profissional ou outras atividades que, devido à lesão, não poderão realizá-las de nenhuma forma, ou da mesma maneira que antes;

4-Implicam, em geral, em mudanças na vida pessoal e familiar como conseqüência das restrições que a lesão impõe sobre a pessoa e as novas necessidades que derivam da própria lesão;

5-A reabilitação requer tempo, esforço, dedicação e, em algumas ocasiões, resistência a dor e também a frustração;

6-Podem ser acompanhadas de experiências psicológicas que afetam o bem-estar da pessoa lesionada e de todos que estão a sua volta. (Buceta 1996)

Desta maneira podemos entender o quanto é difícil, tanto para o atleta quanto

para a equipe de saúde, o afastamento das atividades esportivas. Vários atletas são

muitas vezes dispensados de uma equipe, por serem seguidamente afetados por

lesões esportivas. A mídia, os dirigentes, os torcedores todos cobram o atleta para

que este seja sempre um “super-homem”, seja um indivíduo capaz de enfrentar um

treinamento desgastante, competições seguidas, excesso de jogos e, acima de tudo,

a pressão pela vitória sem nenhum desgaste físico, sem se lesionar e ter um tempo

de recuperação adequado, pois fisiologicamente, o atendimento realizado pela

equipe de saúde em uma equipe esportiva, principalmente pelo médico e pelo

fisioterapeuta, pode acelerar o retorno do atleta ao esporte, pode inclusive melhorar

seu desempenho após o retorno, minimizar os danos físicos causados pelo

destreinamento, mas não pode superar a barreira de um tempo mínimo para sua

recuperação.

O atleta, por mais bem assistido que esteja, por melhor que seja a equipe de

saúde na qual ele esteja sendo amparado, possui um tempo mínimo de retorno ao

esporte. Este tempo é variável e não pode, a grosso modo, ser comparado entre

indivíduos. Alguns se recuperam mais rápido e sem grandes problemas, outros

demoram um pouco mais, e por isso necessitam de melhor atenção, de maior

assistência, mas todos seguem um tempo mínimo, que fisiologicamente é o

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

adequado para sua recuperação. Isto significa que as pressões para o retorno do

atleta lesionado ao esporte, somente atrapalham sua recuperação. Mas as pressões

existem, e são comuns no dia a dia dos profissionais da saúde , e dos atletas que se

recuperam de lesão.

É o fisioterapeuta, o principal responsável pela recuperação do atleta

lesionado. Ele desenvolve todo o tratamento através da utilização de meios físicos

como a crioterapia (terapia pelo frio), a hipertermoterapia (terapia pelo calor), a

eletroterapia (terapia à partir das correntes elétricas), e principalmente da

cinesioterapia (terapia por exercícios). Com a utilização destes recursos o

fisioterapeuta é o responsável pelo retorno do atleta ao esporte, sendo que a maior

parte das pressões externas e internas (do próprio atleta) recaem sobre esse

profissional.

A realidade da profissão fisioterapeuta no Brasil é muitíssimo delicada,

principalmente na área esportiva. O que vemos com maior freqüência ,são jovens,

que sonham com a possibilidade de atuar dentro do esporte, muitas vezes mau-

remunerados, pois os dirigentes se aproveitam do excesso de mão-de-obra

existente no país, que são submetidos às pressões de re-inserir o atleta ao esporte

em tempo recorde, pois em sua visão, é a velocidade de reabilitação deste atleta,

que esta sendo avaliada por seus empregadores, os dirigentes esportivos.

Os dirigentes do esporte, são os avaliadores do trabalho de toda a equipe de

saúde, e quase em sua totalidade, são indivíduos, sem nenhum conhecimento da

área de saúde e treinamento esportivo, muitas vezes tendo sua formação apenas na

área de marketing ou em gestão esportiva, e são estes profissionais que tem por

responsabilidade, gerir toda a equipe esportiva, e os profissionais que trabalham

com ela. Estes profissionais, não estão aptos a serem gestores em saúde, pois não

entendem dos problemas que envolvem o tratamento médico e fisioterapêutico em

atletas ou não. Alias este é um dos principais problemas existentes no tratamento do

atleta profissional, esquecermos que o atleta é antes de tudo um ser humano,

passível de erros e acertos, que passa por várias etapas psicofísicas durante a

recuperação de uma lesão, como qualquer outro ser humano.

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

A pressão exercida pela mídia, pelos torcedores e pelos dirigentes, faz com

que o bom profissional da fisioterapia esportiva seja aquele que recupera o atleta em

um tempo mais curto, muitas vezes expondo o atleta a um risco de recidiva da lesão

ou lesões secundárias, como as lesões musculares causadas em atletas pós

ligamentoplastia do ligamento cruzado anterior, isto ocorre devido ao desequilíbrio

muscular causado pela inatividade pós- cirúrgica. Toda esta logística encontrada nas

equipes esportivas, principalmente em esportes coletivos como vôlei, basquete e

principalmente o futebol, pois este possui uma imensa cobertura da mídia trazendo o

dia à dia de atletas e membros da comissão técnica diretamente através dos meios

de comunicação aos torcedores, faz com que os conflitos de interesses no

tratamento das lesões esportivas e na relação profissional da saúde- atleta sejam

cada vez mais numerosos.

Para o dirigente esportivo, o atleta fora da equipe, isto é em tratamento,

representa um grande prejuízo, pois ele continua a receber salários e não

desenvolve no campo ou na quadra o papel para que foi contratado. Para os

patrocinadores, o atleta lesionado não pode ser explorado como garoto-propaganda,

e a imagem deste atleta não pode mais ser incessantemente veiculada nos meios de

comunicação, o que também gera inúmeros prejuízos financeiros. Já para os

torcedores em geral, simpatizantes da equipe, a inatividade de determinado atleta

gera prejuízos esportivos para a equipe e também gera conflitos. As cobranças para

um tempo curto de inatividade do atleta recaem todas para o departamento de

saúde, para todos os profissionais que tratam diretamente deste atleta e

principalmente para os fisioterapeutas.

Os fisioterapeutas da equipe acabam por sofrer uma enorme pressão, muitas

vezes envolvendo até sua permanência no cargo, o que gera um enorme conflito.

Liberar o atleta somente quando este estiver com 100% das suas condições clínicas

e físicas para o retorno a pratica esportiva? Ou liberá-lo de maneira muitas vezes

prematura, mas contentar dirigentes e patrocinadores mesmo que arriscando o

desempenho do atleta, sua imagem vencedora, e até em alguns casos a

continuidade de sua carreira esportiva.

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Como já foi dito anteriormente, o atleta torna-se o lado mais vulnerável desta

cadeia de profissionais. Ele é vulnerável do ponto de vista científico, pois não detém

o conhecimento sobre o ponto de vista médico ou fisioterapêutico, para com isso

poder discutir os rumos do seu tratamento, as melhores opções quanto ao um

tratamento ou outro. Existem vários casos em que um tipo de tratamento mais

acelerado pode ser aplicado, diminuindo a inatividade do atleta, mas muitas vezes

aumentando o risco de agravamento de lesões ou de lesões secundarias que podem

determinar o encerramento precoce de sua carreira profissional. Por outro lado,

existe o caminho mais longo, onde o tempo de inatividade pode ser muito maior,

mas diminuindo de visivelmente os riscos do atleta. Quem deve optar por um

tratamento ou outro? O médico, o dirigente, o fisioterapeuta, o patrocinador ou o

próprio atleta?

O importante durante esta relação profissional da saúde e atleta é,dentro da

prática clínica, que o atleta se torna um cliente, e o profissional da saúde deve zelar

por seus interesses, acima dos interesses da equipe e os do próprio profissional. O

que ocorre na prática não é bem isso. Na maioria das vezes a política empregada

pelos profissionais da saúde é inversa, onde o interesse da equipe está em primeiro

plano, bem acima dos interesses do atleta. Os atletas neste momento em que estão

mais vulneráveis, são submetidos a tratamentos e condutas sem o mínimo de

respeito à autonomia.

Devemos lembrar que na conduta clínica, existem duas formas de desrespeito

à autonomia do paciente. Uma delas é quando o profissional da saúde, seja ele qual

for, trata do atleta sem esclarecer os detalhes do tratamento ao principal

interessado, que é o próprio atleta. Ele prescreve o tratamento sem pedir opinião do

atleta, somente colocando que é a melhor opção, e muitas vezes colocando de uma

maneira que para o atleta, que não detém as informações médicas, pareça a única

opção. A outra maneira, que é tão comum quanto a primeira, é o profissional que

esclarece o atleta das opções, mas o conduz para que pense da mesma maneira,

ocultando informações essenciais para que o paciente escolha o melhor caminho

terapêutico a seguir. Na primeira o profissional impõe sua opinião sobre o paciente,

não permitindo escolha, na segunda ele conduz a escolha, coloca a situação de

maneira a fazer com que o paciente se sinta autônomo, mas a decisão do

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

tratamento esta explicita antes mesmo do profissional submetê-la a decisão do

atleta.

Nas duas situações o profissional pode achar que esta escolhendo a melhor

opção para o atleta, ou ainda pior, estar ciente que o caminho terapêutico proposto

ao paciente não é o melhor para o atleta, mas sim o melhor para a equipe, e

conseqüentemente, para o profissional.

4.3. O sigilo profissional e o atleta

Outra situação muitas vezes conflitante para atletas e profissionais da saúde

é como o profissional da saúde deve administrar à confidencialidade dentro de uma

equipe esportiva. Em geral não são incomuns situações em que o profissional da

saúde é colocado em xeque devido a problemas particulares contados por atletas

durante o exercício de sua profissão, que podem influir diretamente no rendimento e

na performance esportiva deste atleta, e muitas vezes até em sua recuperação.

Não são incomuns situações em que atletas que se recuperam de lesões

esportivas, e que necessitam de repouso, estarem envolvidos em atividades sociais

noturnas, onde muitas vezes ocorre o consumo de álcool, que,aliado à falta de

descanso podem prejudicar sua recuperação. O que fazer neste tipo de situação?

Levar aos dirigentes informações sobre o estilo de vida do atleta, deixando-lhes

claro que este tipo de atitude prejudica a recuperação da lesão? Ou proteger as

informações do atleta quando este não quer que estas sejam reveladas, em

detrimento da equipe, e da recuperação do próprio atleta envolvido

4.4. O conceito de “cuidar” e o profissional da saúde no esporte

O conceito de “cuidado” é essencial para a relação profissional da saúde-

paciente. A principal atitude que os profissionais da saúde devem manter durante

seus atendimentos, em qualquer tipo de especialidade, é o objetivo de cuidar do

paciente. No momento da lesão, por menor que seja, os indivíduos mais fortes,

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

aqueles que simbolizam a força e a dedicação aos objetivos, como os atletas,

também tornam-se frágeis e vulneráveis.

Neste momento, a única atitude responsável do profissional da saúde,

perante as incertezas e ansiedades do atleta é o cuidado. O cuidado estava

presente na antiga literatura romana na palavra latina cura,que se pode traduzir por

cuidado, atenção, interesse. Na tradição estóica, o cuidado é entendido como

sollicitudo (solicitude) (REICH, 1995 apud JUNGUES, 2006. p. 75).

Boff (1999), enfatiza que cuidar é a essência do humano, más o humano não

é só sua essência. Por isso todo profissional da saúde deve orientar sua prática pelo

compromisso de cuidado e guiar seu agir por uma ética além da consciência

profissional, e além dos códigos de ética profissionais existentes em todas as

profissões da saúde.

Com o filósofo Martin Heidegger (1988), o cuidado recebe uma

fundamentação antropológica. Não é um conceito ao lado de outros, más um ponto

central de seu sistema filosófico.

“O cuidado como sendo a preocupação com as necessidades e carências do outro, em inglês (taking care of) e também o cuidado identificando-se com a solicitude pelas pessoas, por grupos humanos, pela natureza, etc, em inglês (care for). Percebendo que o primeiro nos remete à sobrevivência e à finitude do ser humano; o segundo supera e transcende a ansiedade da preocupação, desenvolvendo as potencialidades da solicitude que caracteriza o ser humano” (REICH, 1995 apud JUNGUES, 2006. p. 75).

A fundamentação antropológica do cuidado abriu a perspectiva para a

constituição de uma ética do cuidado, nunca antes formulada pela história da ética

ocidental. Só em 1982, com a publicação da obra de Carol Gilligam In a Diffetrent

Voice (Uma voz diferente), emergiu a perspectiva do cuidado na ética com o estudo

sobre o desenvolvimento moral das mulheres (JUNGUES, 2006).

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

Mesmo no atendimento ao atleta profissional, o cuidado deve ser o principal

objetivo do profissional da saúde que o assiste. Pelo efeito devastador que pode ter

uma lesão na vida do atleta, é importante melhorar o conhecimento da variáveis

psicológicas que interferem na lesão e as alternativas que a psicologia oferece para

auxiliar na prevenção e reabilitação das mesmas. As reações emocionais do atleta

lesionado são iguais ou em alguns casos até mais intensas que as pessoas comuns.

Muitos pesquisadores referem que a ocorrência de uma lesão física num atleta pode

levar ao aparecimento de ansiedade, depressão e prejuizos na sua auto-estima,

chegando mesmo a proporções clínicas significativas. Dessa forma é importante

identificar as mudanças emocionais que estão associadas às lesões do

esporte. (BECKER, 2000).

Weiss & Troxell apud BECKER, B., & SAMULSKI, D (1998) parecem ter sido

os primeiros investigadores a estudar as reações emocionais dos atletas frente às

lesões. Numa abordagem qualitativa, ele entrevistou 10 atletas de elite (3 homens e

7 mulheres), verificando como eles lidavam com as suas lesões. Os atletas

referiram, medo, tensão, fadiga, incredulidade, depressão e queixas somáticas

(enjoo, perda do apetite, insonia e etc.). Os autores também verificaram que os

atletas expressaram sua incapacidade de conviver com o período longo de

reabilitação, a restrição da atividade e a sensação de ser dominado pela lesão.

Alguns estudos avaliaram as emoções e auto-percepções de atletas

lesionados. Chan e Grossman (1988), por exemplo, verificaram que corredores

lesionados, nos pés ou pernas, apresentavam mais ansiedade, depressão, confusão

e baixa auto-estima do que corredores não lesionados. Smith e colegas (1990),

investigaram a presença, tipo, magnitude e duração das emoções, de 72 atletas de

recreação, desde a ocorrência das lesões até a reabilitação e retorno dos mesmos à

competição. Logo após as lesões os atletas mostravam elevados níveis de

frustação, depressão e raiva (BECKER, B., & SAMULSKI, D 1998)

Esses sentimentos permaneceram imutáveis até durante um mês para o

atleta que se lesionou mais severamente. Pearson & Jones verificaram o impacto

das lesões sobre sobre a área emocional do atleta comparando 61 atletas

lesionados com 61 não lesionados. Os lesionados mostraram maior depressão,

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

tensão, agressividade, confusão e fadiga do que os não lesionados (BECKER,

2000).

Todos estes estudos nos mostram, que o profissional da saúde no esporte,

não esta tratando com deuses gregos, imbatíveis e infalíveis, e sim com seres

humanos comuns, que são privilegiados fisicamente, e até em alguns casos

mentalmente, mas que se tornam vulneráveis durante a incerteza causada por uma

lesão que o afaste das atividades competitivas e dos treinamentos.

Atualmente, dentro da Bioética estão caracterizados os pilares da ética

moderna que traduz a autonomia como condição, a universalidade como critério e a

pessoa humana considerada fim em si mesma como conteúdo. Portanto o critério da

ética é a universalidade, e o conteúdo é a dignidade da pessoa, que deveria ser

muito respeitado durante a vulnerabilidade. A ética do cuidado concentra-se mais na

atitude ou no caráter da pessoa do que em seu comportamento ou ato correto,

sendo assim o cuidado não é uma teoria, isto é, um conjunto de proposições e

argumentações, mas uma orientação ética que enfatiza mais preocupações e

discernimento, hábitos e tendências de interpretação, seletividade de habilidades e

destrezas (JUNGUES, 2006).

A vulnerabilidade é a condição de possibilidade de cuidado. Se o ser humano

fosse totalmente autônomo e autárquico, não necessitaria de cuidado. Como ele é

quebradiço e vulnerável, precisa de cuidado. Essa é a base do cuidado, más é

igualmente o seu limite, porque em cuida também é vulnerável. Por isso é preciso

recuperar a fragilidade como princípio de compreensão do ser humano, construir

uma antropologia da vulnerabilidade como pressuposto filosófico e condição

indispensável para o surgimento e a consolidação de um paradigma do cuidado para

ética (TORRALBA I ROSELLÓ 1998, apud JUNGUES, 2006.)

O processo de cuidar é um diálogo, não de idéias, mas de vidas, em que a

paixão, e não tanto a razão, é o elemento central. No processo de cuidar de seres

vulneráveis, o diálogo é essencial, onde os elementos não-verbais, os gestos tem

uma importância transcendental. Assim, o processo de cuidar é um diálogo de

presenças, o encontro de dois seres que se dispõem a falar, a olhar-se, a aceitar-se

e enriquecer-se mutuamente. O processo de cuidar é delimitado e determinado em

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

seu desenvolvimento pela vulnerabilidade. Cuidar de alguém é deixá-lo expressar

sua vulnerabilidade, é dar-lhe instrumentos de análise para interpretar sua situação

(JUNGUES, 2006).

Justamente por isso, o cuidar de outro ser humano, situação inerente a

profissão ligada a saúde, é ajudá-lo em sua edificação, ou melhor na sua

reedificação. Como observados nos trabalhos que descrevem o perfil psicológico do

atleta frente as lesões, principalmente as mais graves, que afasta o atleta de suas

atividades profissionais, do seu treinamento e por conseqüência dos seus sonhos e

objetivos, são experiências altamente frustrantes e dolorosas, que acabam por

desestruturar emocionalmente o sujeito. Ele acaba por sofrer um processo de

desconstrução, e erosão na integração das diferentes dimensões e relações, e é

necessário, recolher os fragmentos existenciais para reedificar a interioridade,

redimensionando assim sos sonhos e os objetivos, tanto pessoais quanto

profissionais. O cuidar é exatamente isso, é oferecer os recursos para esta

reconstrução. Edificar uma pessoa afetada pela fragilidade gerada por uma lesão,é

ajudá-la a recompor seu interior, e reconstruir sua identidade pessoal (JUNGUES,

2006).

No processo de cuidar existente no tratamento de um atleta profissional, todo

este processo é muitíssimo semelhante. Como descrito em vários trabalhos, o atleta

lesionado, esta diante de um processo muito além da lesão física existente, ele esta

diante de um processo de degradação emocional, causada pelo afastamento do

esporte em que praticae pelo distanciamentos dos seus objetivos pessoais e

profissionais. O profissional da saúde que o assiste neste momento, deve se atentar

a todo o processo emocional e espiritual que vive o atleta neste determinado

momento, para desta maneira promover um cuidado de maneira mais ética e

conseqüentemente humanizado.

JUNGUES descreve alguns princípios que profissionais da saúde devem

respeitar quando exercem seus cuidados em indivíduos vulneráveis.

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

1-“Ter sempre presente a visão integral do ser humano

em suas diferentes dimensões e relações como horizonte de

compreensão que fornece as “pedras angulares” para a

edificação;estar atento às circunstâncias pessoais de cada um,

que são o solo sobre o qual se vai construir a indentidade

pessoal.”

2-“O cuidado deverá levar em consideração a

idiossincrasia particular de cada um se quiser ajudar a

enfrentar a experiência de fragilidade, mas ao mesmo tempo,

deverá estar atento à inserção comunitária do sujeito a ser

cuidado. É necessário ajudá-lo tanto a singularizar suas

dificuldades como superar a tendência ao encapsulamento pela

abertura às inter-relações. A prática é um processo de

singularização e uma reconfiguração comunitária e social ao

sujeito vulnerável

3-“Cuidar é uma ação esperançosa que abre

perspectivas de futuro para quem esta sem horizonte. Desperta

a atitude de esperança, porque faz olhar para a frente e a

pensar em novas possibilidades. Anima, suscitando

expectativas. Mas por outro lado, precisa ajudar também a

olhar para o passado, interpretar experiências dolorosas, voltar

às suas fontes e retomar a tradição. O cuidado deve ter um

olhar esperançoso para frente e um olhar interpretador para

trás”.

4-“O cuidado é antes de mais nada , um ato de

beneficência. Cuidar é querer o bem e proporcionar bem,

afastando toda a ameaça de males e fazendo acontecer todo

bem estar possível ao outro. Esse bem deve ser entendido em

sentido integral englobando os aspectos somático, psíquico e

espiritual. Para que a beneficência não seja uma imposição e

uma limitação da iniciativa, ela deve ser temperada com

autonomia de quem recebe ajuda. A prática do cuidado,

mesmo com a intenção de ajudar e produzir o bem, não deve

ser uma ação paternalista. A aceitação do cuidado, deve fruto

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

de uma decisão livre. Assim cuidar de alguém é também cuidar

de sua liberdade, ajudando-o a recobrar a autonomia e a

independência possíveis. Reconstruir a autonomia é auxiliar a

recuperar o centro pessoal a responsabilidade e o poder de

decisão.

5- A prática do cuidado, exige tanto responsabilizar-se

por quem é cuidado, como torná-lo responsável por uma

situação. Responsabilidade é o cuidado de outro ser,

reconhecido como dever, cuidado que dada a ameaça da

vulnerabilidade, se converte em preocupação. Responsabilizar-

se, é caminhar com o outro partilhando seus medos,

preocupações, expectativas e angustias. Cuidar é ajudar a

levar a carga de vida de alguém, aliviando seu peso. Cuidar é

ajudar a pessoa a se tornar responsável pela própria situação,

enfrentando e não eludindo o problema.(Junges 2006)

Será que quando se trata de cuidar de atletas profissionais, aqueles que

mechem com nossos sonhos, que são idealizados pela sociedade como verdadeiros

super-heróis, que em alguns poucos casos mechem com a emoção de uma nação,

que torce por eles, cuidamos desta forma descritas por Junges? São inúmeros as

publicações, e os filmes que nos contam histórias inspiradoras sobre verdadeiros

super-homens, que através do seu esporte, inspiraram nações inteiras a superarem

problemas. Histórias como a do lutador James J. Braddok, conhecido como homem

Cinderela, que lutou pelo titulo mundial em Nova York 1929, e foi derrotado por

nocaute. Depois da luta teve dificuldade de sobreviver, onde passou fome durante a

depressão economica norte americana. Voltou ao boxe para alimentar a família, e se

sagrou campeão mundial em 1935. Dizia que ganhou força, pois aprendeu que

agora “lutava por comida”. Sua força de vontade, superou uma fratura na mão, e

toda a tragédia econômica que acontecia em todo E.U.A naquela época. Por isso ele

foi fonte de inspiração, para pessoas que perderam tudo durante na depressão da

bolsa de Nova York, mas que como Braddok poderiam recomeçar do zero e obter

sucesso. Ele se tornou herói. Histórias como estas, e muitas outras, nos fazem

acreditar que atletas são na verdade super-humanos também. Mas a ciência vem

demonstrando que não são, que são seres-humanos, que sofrem e que necessitam

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Capítulo 4. Questões conflitantes entre equipe de saúde e atleta

de muito mais do que um cuidado apenas físico. Eles necessitam de um cuidado

mais amplo, abrangente, como o descrito do Jungles, e de alguém que durante uma

lesão, durante uma situação de estresse, saiba identificar a vulnerabilidade que ele

possa estar passando, e ajudá-lo assim a decidir sobre o melhor tratamento, para

que sua carreira prossiga com sucesso, e para que ele possa ter a oportunidade de

atingir seus objetivos. Por isso é importante saber que não podemos ajudar ninguém

a distancia, sem sequer se imaginar dentro daquela determinada situação. Junges

descreve:

“A prática do cuidado é um exercício de proximidade no sentido ético. Exige disponibilidade, preocupação pelo outro e sensibilidade pela sua dor. Não se pode ajudar alguém a distância. Porém quem cuida não pode estar tão próximo que tome o lugar do outro e responda por ele”(Junges 2006). O cuidado é uma modalidade comunicativa em que a linguagem não verbal ocupa um lugar central. Não existe cuidado sem comunicação. É necessário saber articular bem a linguagem não-verbal, porque a pessoa fragilizada é muito sensível a esse modo de comunicação. O sujeito vulnerável fala mais por gestos e olhares do que por palavras. Assim, existem situações em que o silêncio é muito comunicativo, e quem cuida deve saber compreender e interpretar esses momentos. Dessa forma cuidar é, essencialmente, escutar e estar atento as necessidades e solicitações de quem necessita de ajuda (Junges 2006).

Cuidar de alguém é dar a ele tempo, atenção, simpatia e qualquer auxílio que

possa tornar a situação suportável. É no cuidado que se expressa a solidariedade

para com os outros. Este é um componente importante no respeito e valor pela

dignidade humana e sobre ele, todo o resto deve ser construído (PESSINI, 2006). O

respeito a dignidade humana, deve ser referencia para todos os profissionais da

saúde, trabalhem eles com atletas, empresas, clubes ou onde quer que seja, a

realidade, é que as profissões ligadas à saúde nasceram para dar assistência e

cuidados aos seres humanos.

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Capítulo 5. Discussão

Capítulo 5

“A grandeza não consiste em receber honras, mas sim em merecê-las”.

Aristóteles

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Capítulo 5. Discussão

DISCUSSÃO

O primeiro aspecto relevante obtido após a analise dos trabalhos encontrados

é o pouquíssimo número de estudos que avaliam os conflitos bioéticos ocorridos

durante à prática clínica dos vários profissionais da saúde envolvidos em uma

equipe multidisciplinar que trabalha com atletas. Tanto nas modalidades individuais,

como nos esportes coletivos, fica clara, através do grande número de publicações, a

preocupação dos profissionais da saúde durante os estudo da bioética dentro do

ambiente esportivo, com o assunto dopping.

O primeiro trabalho que analisa os aspectos bioéticos da atuação clínica do

profissional da saúde durante o tratamento de atletas profissionais foi publicado em

1993 por Sim.

SIM (1993), analisou através de casos clínicos hipotéticos, aspectos

pertinentes aos principais conflitos bioéticos encontrados a relação entre o médico

do esporte e o atleta. O autor discute primeiramente, aspectos referenciais do

principialismo norte-americano e analisa condutas clínicas pelo prisma do

paternalismo e da autonomia. O autor conclui que a ética na medicina do esporte

deve ser analisada por vários ângulos, e que o médico do esporte, deve respeitar

critérios éticos comuns a medicina comum. Esta conclusão é, em nossa opinião a

base para uma análise bioética dos conflitos existentes no atendimento clínico do

atleta profissional, pois apesar da sociedade analisar o atleta como um super-

homem, ele é um ser humano comum, que acima de tudo necessita de atitudes

éticas e humanas de qualquer profissional que trabalhe ao seu lado. A análise de

SIM (1993) sobre a ética na medicina do esporte ter como princípio, uma análise de

vários ângulos, vem ao encontro da idéia de Segre (2005), que defende a idéia de

que toda atitude verdadeiramente Ética, deve partir de uma análise totalmente

desprovida de ideais políticos, religiosos, entre outros, é a chamada Ética de

Reflexão Autônoma, onde o indivíduo, que esta sob conflito, analisa de uma maneira

desprendida de valores morais, as opções terapêuticas pensando somente no

melhor para seu paciente.

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Capítulo 5. Discussão

Bernstein e cols (2000) relatam que a ética biomédica trata de assuntos muito

polêmicos, como a clonagem humana, e a determinação de quando é aceitável

retirar o suporte de vida de um ser humano sem possibilidades terapêuticas.

Entretanto, é importante ressaltar que a medicina esportiva não esta distante de

problemas éticos e polêmicos, somente porque trata com indivíduos robustos e

saudáveis. Os conflitos bioéticos são freqüentes no atendimento clínico do atleta,

principalmente no ambiente profissional, onde tanto o atleta quanto o profissional da

saúde, estão exercendo suas profissões.

Merode (1996) também concorda com a idéia de que o médico do esporte

deve ser um profissional que acima de quaisquer valores comerciais ou esportivos,

deve agir baseado em princípios éticos, como em qualquer outro campo da

medicina. Há trinta anos atrás, as equipes nada mais tinham, do que um médico,

responsável pelos exames e pelo tratamento das contusões dos atletas. Nos últimos

anos o que vemos é um extraordinário aumento da performance humana,

principalmente no caso da mulher. Hoje a ação do comitê medico do COI é baseada

em três princípios básicos, que são defender a ética na medicina do esporte,

proteger a saúde dos atletas e a condição de igualdade para eles. O movimento

Olímpico, que realçou o CITIUS, ALTIUS e FORTIUS, procura exaltar hoje as

capacidades físicas dos atletas, sem causar riscos a sua integridades física. Mas

como exercer a busca do aumento da performance, sem aumentar os riscos de

lesões? ( Merode, 1996)

Dentro os vários conflitos bioéticos possíveis dentro deste ambiente, onde a

saúde do atleta é totalmente incompatível com as cargas de treinamento a que estes

são submetidos para poderem seguir suas carreiras profissionais e serem

competitivos dentro dos seus respectivos esportes, os mais comuns observados

após a avaliação dos estudos encontrados sem dúvida nenhuma são a autonomia

do atleta, e a confidencialidade.

Vários autores abordam em seus trabalhos a importância da

confidencialidade, e a dificuldades de manter em sigilo informações importantes para

os clubes, para a mídia e principalmente para os atletas. Vários autores mostraram

as dificuldades enfrentadas por profissionais da saúde que atuam no esporte em

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Capítulo 5. Discussão

manter sigilo de informações obtidas durante o exercício de suas profissões. O

ambiente do esporte, as competições e os interesses financeiros são altamente

geradores de conflitos de interesses quando o assunto é a confidencialidade.

Collins e cols (1999) descrevem atitudes de desrespeito à confidencialidade

de atletas em equipes de competição, após entrevistas com fisioterapeutas. Neste

trabalho são descritas frases como:

“..eu tenho responsabilidades com o técnico e diretores, eles pagam meu salário... me contratando, assumo minhas condições profissionais...liberar um atleta quando este não tem condições não esta em meu vocabulário... também tenho responsabilidades com telespectadores...”

Collins e cols (1999), ainda como resposta o fato do atleta em uma equipe

não ter direito ao sigilo de informações, que são dadas aos profissionais da saúde

como médico e fisioterapeuta. A justificativa vem do fato em que o atleta tem

responsabilidade com o grupo e, com os outros atletas que esperam dele a melhor

condição e a melhor “performance” possível. O autor deixa claro que os códigos de

ética de cada especialidade devem ser respeitados e cumpridos a risca, como já foi

citado por Merode (1996) e J.SIM (1993).

Macauley (1999), levanta a discussão sobre a erosão da confidencialidade.

Segundo o próprio autor, nos dias de hoje, os problemas de saúde dos atletas

profissionais são debatidos abertamente pela mídia e por milhões de pessoas. Os

jornalistas se aproveitam do fato dos atletas interessarem muito ao público, pois

tornam-se heróis nacionais. Tornar público qualquer problema que esteja

acontecendo com o atleta, resulta em alterações em sua vida particular, no

marketing e no valor comercial do mesmo, pois informações dos profissionais de

saúde que assistem atletas de alto-rendimento podem valer milhões de dólares para

os patrocinadores em uma renovação de contrato.

Os profissionais de saúde que trabalham com este tipo de atleta, devem ser

responsáveis pelas informações obtidas durante o exercício profissional, e devem ter

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Capítulo 5. Discussão

cuidado ao conversar com amigos, parentes e até em locais públicos, pois estão

tratando de pessoas públicas, e onde qualquer informação interessa muitíssimo a

mídia. Um termo de livre consentimento tem extrema importância para facilitar a

discussão de informações obtidas durante o exercício da profissão. Pois se o atleta

libera a informação para o profissional, no caso de um estudo de caso a ser

apresentado em um Congresso, por exemplo, deve estar totalmente ciente, do

objetivo em que suas informações vão servir, e o profissional deve descrever

claramente quais são suas intenções. (Macauley 1999).

Segundo Orchard (2002), um dos principais princípios éticos, na relação

médico paciente, é o privilégio da confidencialidade. Na teoria, o médico não deve

repassar informações sobre o estado físico do atleta a nenhuma instituição, ou

pessoa, sem o consentimento do atleta envolvido. Segundo o mesmo autor na

prática não é bem isto que acontece, e a prática é tão comum que se torna banal.

Os atletas profissionais são celebridades, e trabalham em um segmento da industria

de entretenimento, por isso quando o atleta esta lesionado, é parte do

entretenimento das pessoas saber como aconteceu, porque aconteceu, e quando

ele poderá voltar. É comum atletas mentirem sobre suas lesões, em entrevistas,

para que seus adversários não se aproveitam da sua fragilidade, ou então para

conseguirem estar presente em uma competição, principalmente se esta competição

depende de uma convocação, como ocorre com atletas em uma Copa do Mundo da

FIFA.

Mas ainda segundo Orchard (2002), existem atletas que fazem o inverso e

inventam falsas contusões, para criar uma preocupação entre seus fãs, e com isso

estar em maior destaque nos noticiários e na mídia em geral. Existe uma procura tão

grande da mídia por informações médicas sobre atletas, que nos E.U.A, existem

mais de 13 sites especializados em informações sobre lesões de atletas, isto

somente na NBA, que é a liga de Basquetebol norte-americana profissional. Nestes

sites, qualquer informação sobre a participação ou não de um atleta em uma partida

por contusão é de extrema relevância. Após verificação dos sites, foi relatado que

em 82% dos casos de contusões em atletas profissionais da NBA, que estavam no

site, possuíam diagnóstico médico específico, com informações que somente

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Capítulo 5. Discussão

poderiam ter sido relatadas por um profissional da saúde ligado ao clube ou aos

atletas (Orchard 2002),

O autor relata sua experiência na Liga Australiana de Football (AFL), que o

ajudou a conduzir vários estudos sobre lesões esportivas. A liga e sua junta médica,

disponibilizava as informações sobre as lesões dos atletas, e os tratamentos a que

estes estavam sendo submetidos, tudo para realização de estudos a serem

publicados, gerando com isto benefícios claros para todos os atletas, e sempre

respeitando o comitê de ética, que avaliava cada estudo e cada informação para que

não ocorressem transgressões na publicação dos dados. Diante do próprio comitê

de ética o atleta assinava um termo de livre e esclarecido, permitindo a utilização

das informações para a criação deste banco de dados. (Orchard 2002).

O autor enfatiza que os dados não seriam utilizados para criar um ranking de

qual equipe possuía mais atletas lesionados, nem as lesões mais freqüentes em

determinadas equipes, justamente para impedir o sensacionalismo que poderia ser

criado em cima de uma determinada equipe ou de um atleta especificamente. Por

isso o nome dos atletas também não era divulgado. É importante que as pesquisas

na área de saúde cresçam, mas o mais importante é sabermos que a privacidade e

a confiança são bases de toda e qualquer pesquisa e tratamento”(Orchard 2002).

Waddington e Roderick (2002) publicaram um estudo, onde o objetivo era

analisar como a confidencialidade era tratada na relação entre médicos,

fisioterapeutas e atletas de futebol profissional da Inglaterra. A metodologia utilizada

foi a analise do discurso coletivo, por intermédio de entrevistas gravadas com 12

médicos que atuavam em equipes de futebol, 10 fisioterapeutas, 27 atletas. Além

disso, foram emitidos 90 questionários à médicos e fisioterapeutas de clubes, onde

58 retornaram. Através da analise dos dados coletados, concluíram que as questões

confidenciais dos atletas enquanto pacientes, não são respeitadas pelos médicos e

fisioterapeutas avaliados. Tanto médicos como os fisioterapeutas avaliados,

acreditam que não tem responsabilidade ética sobre os segredos do paciente, pois

são contratados dos clubes, e por isso possuem responsabilidades com os

dirigentes que os contrataram.

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Capítulo 5. Discussão

Os autores também concluíram que os fisioterapeutas respeitam menos a

questão da confidencialidade, se comparados com os médicos avaliados. Esta

opinião foi dada tanto por médicos, como pelos atletas, pois muitos referiram terem

tido problemas ligados ao sigilo de informações com os profissionais da fisioterapia.

Isto foi relacionado pelos atletas como um problema, pois enquanto em muitos dos

clubes avaliados, os médicos não estão disponíveis para os atletas durante todo o

dia, os fisioterapeutas passam toda sua jornada de trabalho ao lado dos atletas,

facilitando o acesso a informações privilegiadas, incluindo a vida particular dos

jogadores. Um dos fisioterapeutas avaliados,confirma a tese dizendo que “o

fisioterapeuta sabe mais sobre os atletas, do que qualquer outro dentro da equipe”,

Este mesmo profissional confirma que se soubesse que um atleta estivesse

bebendo em demasia, ou usando algum tipo de droga, relataria o fato aos dirigentes,

mesmo sem o consentimento do atleta envolvido( Waddington e Roderick, 2002)

Os autores discutem a importância de manter sigilo sobre as informações

obtidas durante o exercício da profissão, tanto para s médicos, como para os

fisioterapeutas. Relatam também as diretrizes da Associação Olímpica Inglesa

quanto a confidencialidade, que mostra que todos os profissionais da saúde devem

ter por responsabilidade ética e legal, sobe quaisquer informações obtidas durante o

exercício da profissão. Também relata que a relação entre os profissionais da saúde

avaliados e os atletas devem ser constantemente avaliada pelas entidades que

regem os esportes e as profissões (Waddington e Roderick 2002).

Em 2001 , Waddington e cols, publicam um outro estudo que avaliava a forma

de contratação de médicos do esporte e fisioterapeutas em equipes de futebol

profissional da Inglaterra. O Estudo se dividiu em duas formas. Na primeira etapa,

foram avaliados 12 médicos e 10 fisioterapeutas, além de 27 atletas, através do

método de analise do discurso coletivo, onde as entrevistam eram gravadas e

avaliadas posteriormente. Na segunda etapa, foram distribuídos 90 questionários

aos médicos de clubes, onde somente 58 questionários retornaram para avaliação

dos pesquisadores.

Os resultados mostraram que na grande maioria dos clubes de futebol da

Inglaterra avaliados possuem métodos informais de contratação de médicos e

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Capítulo 5. Discussão

fisioterapeutas. Na maioria dos clubes, estes profissionais são contratados sem

nenhum tipo de avaliação ou entrevista prévia. Estes profissionais, em sua maioria,

também não apresentavam experiências anteriores ligadas ao esporte, ou uma

formação acadêmica ligada ao esporte (Waddington e cols, 2001).

O estudo também encontrou uma fraca ligação no vinculo de contratação dos

fisioterapeutas, onde os médicos não opinam na contratação destes profissionais.

Indicação fica a cargo de dirigentes esportivos ligados ao clube, que geralmente

não possuem formação na área da saúde, o que informaliza ainda mais essa

contratação, pois esses profissionais não conseguem avaliar a capacidade dos

fisioterapeutas que irão atender os seus atletas. Quase 50 % dos clubes

entrevistados, não possuiam fisioterapeutas contratados. Este quadro de vinculo

empregatício tênue, deixa ainda mais vulnerável esses profissionais da saúde, o que

ameaça a autonomia clínica desses profissionais, frente aos conflitos de interesses

que ocorrem no tratamento do atletas profissionais (Waddington e cols, 2001).

Segundo o mesmo autor, todo o processo de contratação de médicos e

fisioterapeutas pelas equipes de futebol profissional da Inglaterra, deve ser revistos

imediatamente. A forma de contratação informal desses profissionais, que na

maioria das vezes não possuem formação no esporte, e muito menos experiência no

cuidado de atletas profissionais, faz com que a relação entre esses e os atletas

fiquem ainda mais sujeita a desvios de conduta, no ponto de vista ético. O autor

também avalia que os fisioterapeutas que são contratados pelos clubes, possuem

uma formação melhor e maior experiência no esporte, se comparados com os

fisioterapeutas que prestam serviço para os clubes mas não possuem vínculo

empregatício com os mesmos (Waddington e cols. 2001).

Outro problema verificado elo estudo é a quantidade de ex-atletas que hoje

exercem a função de fisioterapeuta, tendo como única experiência dentro da área de

saúde esportiva, sua vivencia como paciente. Estes profissionais se tornam ainda

mais vulneráveis aos desvios de conduta éticos, pois carregam consigo uma

experiência de atleta, que muitas vezes se mostra uma experiência deturpada. Os

profissionais da área da fisioterapia que não foram atletas possuem mais

experiência na área da saúde, o que muitas vezes é determinante na hora da

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Capítulo 5. Discussão

contratação pelos dirigentes de clubes, que acabam optando pelos ex-atletas

(Waddington e cols. 2001).

Estas formas de contratações que são realizadas pelas equipes avaliadas no

estudo, não ocorrem apenas na Inglaterra, ou somente no futebol profissional. Os

clubes brasileiros, em sua quase totalidade, também contratam os profissionais da

saúde que irão atuar em suas equipes da mesma maneira informal. Este método de

recrutamento, aliado a crise econômica que vive o Brasil hoje, aliada a dificuldade de

se obter emprego na área da saúde, como em outras áreas, faz com que o sigilo de

informações seja ainda mais difícil. É importante considerar que os profissionais da

saúde têm medo de perderem seus empregos, quando alegam impossibilidade ética

de dar informações sobre os atletas, para dirigentes de equipes e empresários. Este

ambiente determina, em nossa opinião, uma amplificação da falta respeito a

confidencialidade no atendimento de atletas profissionais de futebol, como foi

verificado nas equipes inglesas por Waddington e cols (2002).

Grinberg e Accorsi (2005) ressaltam em um trabalho publicado no Brasil, após

acontecimentos de mortes súbitas em atletas profissionais terem ocorrido no país,

que o médico não pode permitir que o direito a privacidade e ao sigilo de

informações coletadas durante o exercício da profissão seja quebrado. Somente

informações que sejam autorizadas pelo próprio atleta, podem ser divulgadas, tanto

para mídia, quanto para os dirigentes de equipes. Quando o médico esta atuando

para uma equipe, ele assume a responsabilidade sobre os atletas, da mesma forma

que assume a responsabilidade sobre todos os profissionais que com ele atuam

(Grinberg e Accorsi 2005).

Esta citação traz importantes reflexões, pois os profissionais da saúde não só

tem responsabilidade sobre as informações sobre a saúde e o tratamento dos

atletas, como também possuem responsabilidade sobre toda equipe de trabalho que

os assistem, isto é massagistas, assistentes de campo, recepcionistas entre outros.

Os autores Grinberg e Accorsi em (2005) iniciaram as publicações do

pensamento bioético em medicina esportiva na língua portuguesa. Os autores

realizam uma análise reflexiva sobre a atuação do médico no esporte, e as relações

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Capítulo 5. Discussão

entre ele e os atletas e dirigentes esportivos. Segundo Grinberg e Accorsi, o atleta

que se vê e é visto como um indivíduo saudável, tem seu mundo distorcido quando o

médico lhe comunica que ele será transferido da beira do campo, para a beira do

leito. As estatísticas de morte súbita em atletas jovens vem aumentando muito nos

últimos anos, e a bioética deve analisar os riscos sociais e humanos de atitudes em

que o atleta renega a sua saúde em segundo plano.

“O esporte é a arte do drible no basquete, ou da condução de um carro a mais de 300Km/h, ou a beleza e um nado sincronizado. A medicina do esporte, deve ser vista como a arte que se serve da ciência a beira do campo. Práticas de sobrevivência tornaram-se esporte no mundo moderno, como arco- e flecha o remo e a natação, e os esportes hoje são meios de sobrevivência, em meio a graus distintos de pofissionalismo, inclusive para os médicos” (Grinberg e Accorsi) 2005.

Outro conflito que foi amplamente discutido nos trabalhos consultados foi a

questão da autonomia do paciente. Vários autores colocam o desrespeito a

autonomia, um dos principais conflitos bioéticos encontrados na prática clínica dos

profissionais da saúde quando se deparam com o paciente atleta. Este desrespeito a

autonomia do paciente atleta é agravado quando o profissional da saúde tem vínculo

empregatício com o clube que detêm os direitos federativos do atleta. Neste caso os

conflitos de interesses já mencionados, com dirigentes esportivos, mídia, torcedores

e patrocinadores, levam médicos e fisioterapeutas a optar por uma decisão

paternalista, e a direcionar o atleta para um tratamento que permita que este retorne

rapidamente as competições, mesmo que este tratamento possa trazer problemas

futuros ao paciente.

Orchard (2001) relata que muitos médicos evitam discutir, de maneira aberta,

a utilização de anestésicos locais em atletas profissionais de futebol americano.

Segundo o autor, ou se assume a prática, ou o procedimento deve ser banido do

esporte em questão. Na opinião do autor, o ato de banir a utilização fará com que

vários atletas não consigam realizar o número de partidas que estão habituados, o

que traria prejuízo aos clubes e aos atletas. Além disso, a suspensão de tal

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Capítulo 5. Discussão

procedimento pelo médico não garantiria a ausência da auto-aplicação pelo atleta,

ou mesmo a busca por profissionais menos qualificados para a execução da

técnica, como ocorre com o dopping, expondo os atletas a um risco ainda maior.

Também não é pertinente, em sua visão, que os médicos atuantes em clubes de

futebol Americano simplesmente determinem que os atletas não possam fazer uso

de anestésicos locais antes de uma partida importante, pois segundo o autor os

médicos nunca disputaram uma partida profissional e por isso não sabem os

benefícios que uma boa atuação em uma partida decisiva pode fazer para a careira

de um atleta profissional. Se os benefícios superam os riscos, e o atleta segundo

ele, esta ciente dos riscos e quer fazer uso dos anestésicos, por que não utiliza-los?

Frente a um jogador que após uma lesão ligamentar, pede para o médico injetar

anestésico, para que ele atleta jogue sem dor, qual a atitude tomar? Dizer que a

utilização do medicamento pode trazer problemas degenerativos ao atleta no final de

sua carreira? Sim, mas o que dizer para aquele que responde que ao final da

carreira , se ele atuar sem dor em uma partida importante, terá tantos bens que não

precisará trabalhar? (Orchard 2001).

Na grande maioria das vezes o atleta prefere o risco de uma partida, mesmo

com uma lesão que acarrete uma dor muito forte, do que abrir mão de sua

independência financeira, e de todos objetivos que ele traçou para sua carreira,

desde criança, quando começou a prática do esporte. O atleta julga que o médico é

culpado por não ter aplicado uma injeção que diminua suas dores, que permita que

exerça sua função, e que assim possa renovar seus contratos com clubes e

patrocinadores (Orchard 2001).

Bernstein e cols (2000) relatam uma série de casos clínicos onde existem

“armadilhas éticas”, e onde o objetivo principal é elevar os níveis de consciência dos

profissionais que militam dentro do esporte. Neste trabalho o ponto de vista dos

autores sobre a autonomia é idêntico ao discutido por Orchard (2001). Bernstein e

cols (2000) discutem em uma série de casos o assunto autonomia. Os autores

relatam o caso de um atleta que tem como diagnóstico uma ruptura meniscal. O

médico identificou dois tipos de tratamento mais apoiados na literatura: a sutura

meniscal e a meniscectomia. A meniscectomia poderia requerer uma reabilitação

mínima, e quase que garantiria a participação do paciente nos jogos de pré-

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Capítulo 5. Discussão

temporada. Mas em contrapartida ela aumentaria muito o risco do atleta sofrer de

osteartrose em seu joelho depois de 10 anos do pós-cirúrgico. Já o reparo meniscal,

fornece ao atleta a oportunidade de não retirada do menisco, o que diminuiria muito

o risco da osteoartrose, mas exigiria uma reabilitação longa, onde o atleta teria que

se afastar de muitas partidas, permanecendo um longo tempo inativo, longe dos

treinos, o que acarretaria prejuízos fiscos, técnicos e psicológicos ao paciente.

Diante deste caso o médico prefere o reparo meniscal e o atleta a meniscectomia

(Bernstein e cols, 2000).

Em outras áreas da medicina, um paciente através de sua autonomia, pode

rejeitar uma transfusão de sangue que pode salvar sua vida, ou ainda arriscar sua

vida com o risco de uma intervenção cirúrgica em uma lipoaspiração, visando ter um

corpo mais belo. Da mesma maneira, a decisão do atleta de arriscar sua saúde

articular no futuro, visando os seus objetivos imediatos devem ser respeitados.

Somente o atleta pode analisar a situação de maneira a buscar a melhor saída para

si mesmo, pois é ele que esta vivenciando a situação, que sabe quanto vale o

esporte para ele, e o quanto pode abrir mão para realizar suas ambições esportivas

(Bernstein e cols 2000).

Segundo o autor, a responsabilidade do médico neste caso, é somente

ressaltar para o paciente, todos os riscos de cada um dos dois procedimentos, e

também os benefícios que podem ser alcançados através dos tratamentos. Somente

os valores do paciente podem guiar o processo terapêutico e a tomada de decisão.

Os custos e benefícios do médico também não podem ser analisados de forma

alguma, nem no parâmetro pessoal, nem no âmbito esportivo. O médico deve

assegurar que o paciente tenha compreendido todos os riscos e benefícios de cada

um dos tratamentos propostos, e o termo de consentimento informado, ressalta que

todo este processo foi respeitado. (Bernstein e cols 2000).

No mesmo trabalho, os autores ressaltam a importância do tema autonomia

durante o atendimento clinico do atleta, voltando novamente a esta discussão em

outro caso clínico apresentado. Um atleta de futebol do colégio que convivia com

muitas dores na articulação do joelho, foi submetido a uma cirurgia, onde teve o

quadro álgico diminuído durante um tempo. Quando o atleta retornou aos treinos

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Capítulo 5. Discussão

mais específicos, os sintomas dolorosos voltaram a incomodar e o atleta então

procura o médico da equipe para receber uma injeção de esteróides intra-articular,

pois segundo amigos e treinadores consultados, era um método novo que poderia

ajudá-lo a estender um pouco a sua carreira de atleta. O médico achava que as

injeções de esteróides poderiam ser prejudiciais e explicou sua opinião ao atleta,

que mesmo assim pedia o tratamento. (Bernstein e cols 2000).

É importante lembrar que muitos atletas, principalmente no inicio de suas

carreiras esportivas, possuem dificuldades de analisar o futuro, pois vislumbrar

somente o hoje, e o que a carreira pode lhe fornecer de benefícios imediatos. No

caso clínico reportado, a opinião não expressa a opinião livre e esclarecida do atleta,

e sim de amigos e membros da comissão técnica. A pressão externa exercida pela

comissão técnica e pelo próprio ambiente esportivo, podem estar influenciando a

decisão do atleta. O médico deve buscar uma autorização esclarecida do atleta,

antes de realizar um tratamento como este. Na opinião do autor, isto pode ser

complicado, mas possível. O médico tem por obrigação ética com seus princípios e

com seu paciente, ter certeza que o paciente esta ciente dos riscos, e que toma a

decisão por si mesmo, e não por influencia do meio esportivo que o cerca. O autor

lembra que as informações pertinentes ao caso, devem ser trocadas com o paciente

e não recitadas apenas. Contudo, depois de esclarecidos todos os riscos e

benefícios, a autonomia do paciente prevalece sobre a vontade do médico

(Bernstein e cols 2000).

Nesta discussão sobre a autonomia o autor ressalta a importância que os

profissionais da saúde tem em procurar demonstrar ao paciente todos os riscos e os

benefícios de cada tipo de tratamento, tendo como responsabilidade adicional o fato

de saber que a opinião do atleta esta alicerçada em seus valores pessoais e não em

pressões externas, como ocorrem em muitas ocasiões. No Brasil, atletas de futebol

profissional que se originam em sua grande maioria das camadas mais pobres da

sociedade, e que por isso possuem toda responsabilidade de serem muitas vezes a

única opção de suas famílias para uma vida melhor. Esta pressão somada as

pressões vindas de dirigentes e patrocinadores por si só, podem fazer com que o

atleta lesionado tome uma decisão pensando mais nos valores e necessidades de

sua família, deixando seus valores e necessidades em segundo ou terceiro plano.

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Capítulo 5. Discussão

No próximo caso apresentado pelo autor, ele invoca mais uma vez a

autonomia do paciente, mas o caso tem agora como protagonista uma atleta menor

de idade. Uma atleta de basquetebol de 15 anos de idade que se lesionou fora da

temporada, praticando esqui ela lesionou o braço. Nos exames complementares, foi

diagnosticado uma lesão da Bankart, e o médico apresenta como opções de

tratamento a cirurgia, que permite um bom prognóstico inclusive com excelentes

perspectivas de retorno ao esporte. E a segunda opção é o tratamento fisioterápico,

onde o médico recomenda afastamento do esporte competitivo. A atleta que além de

ser uma ótima atleta, é também uma boa estudante, e possuí perspectivas fora do

esporte, e vê a situação como um sinal para parar de jogar e se dedicar unicamente

aos estudos. Mas seu pai desaprova a escolha da filha, ele que foi atleta

profissional, insiste no tratamento operatório, com a esperança de que a filha tenha

um retorno satisfatório ao esporte. (Bernstein e cols 2000).

Neste caso, juridicamente a decisão deve ser tomada por seu responsável

legal. Entretanto, do posto de vista ético a atleta possui idade e maturidade

suficiente para decidir sobre o seu tratamento. O autor relata sua opinião dizendo

que não é a idade arbitrária da paciente que lhe fornece subsídios para escolher o

melhor tratamento para sua vida. As decisões médicas devem ser tomadas de

maneira que se baseiem em competências de decisões do paciente, que possui

maturidade emocional e cognitiva para isto (Bernstein e cols 2000).

A analise destes casos e da grande gama de conflitos bioéticos que podem

ser encontrados no atendimento clínico do atleta, reforçam a afirmação de

Waddington e cols (2001) que ao analisar a forma de contratações de médicos e

fisioterapeutas nas equipes de futebol profissional da Inglaterra, deixa claro que em

sua opinião que os mecanismos de contratação destes profissionais deixa ainda

mais vulneráveis os profissionais e os atletas que necesitam dos cuidados destes

profissionais.

Os resultados mostram que na grande maioria dos clubes de futebol da

Inglaterra avaliados possuem métodos informais de contratação de médicos e

fisioterapeutas. Na maioria dos clubes, estes profissionais são contratados sem

nenhum tipo de avaliação ou entrevista prévia. Estes profissionais também na

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Capítulo 5. Discussão

grande maioria não apresentavam experiências anteriores ligadas ao esporte, ou

uma formação acadêmica ligada ao esporte (Waddington e cols 2001). Como pode

um profissional da saúde dar autonomia ao paciente de decidir sobre sua vida, seu

tratamento e seu futuro como atleta e como cidadão, se o próprio profissional

trabalha com a pressão de manter um vínculo empregatício tênue e que pode ser

quebrado a qualquer momento por um dirigente que se sinta prejudicado por uma

opção de tratamento escolhida por um atleta que não atenda integralmente aos seus

interesses.

Bernstein e cols (2004) publicaram um estudo que teve por objetivo,

confrontar as opiniões de médicos do esporte que atuam em equipes filiadas as ligas

norte-americanas de futebol e hóquei, e boieticistas, sobre questões de conflito

éticos existentes no atendimento clínico do atleta. Para a realização do estudo foi

confeccionado um questionário contendo 6 casos clínicos hipotéticos, onde haviam

juntamente com cada caso clínico, de 3 a 6 afirmações sobre caso, e os médicos e

bioeticistas avaliados deveriam responder o concordavam ou discordavam destas

afirmações. Foi utilizado uma forma de mensuração através de uma escala visual

análoga, que variava de zero (0) para discordância total e cem (100) para

concordância total. O documento foi enviado para profissionais da área acadêmica

que trabalham com pesquisa e ensino da ética em faculdades e centros de Bioética

norte-americanos, e também enviados a todos os membros do grupo médico das

ligas esportivas supracitadas. Participaram do estudo 31 bioeticistas de 50 que

receberam o questionário, e 131 médicos do esporte, de 253 que receberam o

questionário.

Dentre os seis casos clínicos hipotéticos descritos pelos autores, dois se

referiam diretamente à analise da autonomia do paciente atleta em relação ao

tratamento proposto pela equipe de saúde, e um dos casos siscutia diretamente a

confidencialidade. Após a análise dos questionários com as respostas de médicos

do esporte e bioeticistas, ambos os grupos foram a favor da autonomia do paciente,

comentando nos dois casos que o paciente, mesmo que menor de idade, desde que

seja capaz de analisar os tipos de tratamento e decidir o que é melhor para ele, o

paciente deve ter o direito de decidir sobre qual o tratamento a ser seguido

(Bernstein e cols 2004).

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Capítulo 5. Discussão

No caso que analisa a discussão da confidencialidade dentro do ambiente

esportivo, tanto bioeticistas quanto os médicos concordam com a afrimação de que

embora o médico seja contratado pela equipe, deve manter em sigilo informações do

paciente, e é proibido de retransmitir quaisquer informações a qualquer outra pessoa

sem autorização expressa do atleta. Ambos os grupos também concordam que

quando o médico esta em posição de examinar um atleta que pode ser contratado

pela equipe, e esta contratação depende do aval do médico, este deve deixar

extremamente claro para o atleta a sua posição como avaliador, e que neste

momento não é medico particular do atleta (Bernstein e cols 2004)

Piantanida e cols (2004) comentaram a dificuldade da tomada de decisão do

médico, frente a um risco de morte súbita do atleta. Os autores relatam a

responsabilidade de permitir o retorno às atividades competitivas, para um atleta

com risco de morte súbita. Mas esta tomada de decisão deve ser realizada, através

da avaliação ética da questão, pois os valores éticos, não podem estar afastados de

uma decisão tão importante. Os autores relatam os referenciais éticos como a

beneficência, a não-maleficência, e a autonomia, como os principais referenciais nos

quais o médico que esta frente a este conflito deve se basear para resolvê-lo de uma

maneira ética. Em nossa opinião é difícil imaginar que um profissional da saúde

possa realizar uma ação benéfica a um paciente que tem todas as condições psico-

emocionais e culturais para decidir sobre seu futuro, tomando uma decisão

estritamente paternalista.

Grinberg e Accorsi 2005 ressaltam em um trabalho pioneiro publicado no

Brasil que um atleta portador de uma cardiopatia assintomática, que pode trazer

riscos para sua vida se continuar a praticar o esporte profissionalmente, deve ter

autonomia para decidir, mas legalmente, as responsabilidades do médico neste

caso, serão diferentes das responsabilidades éticas, “médico deve ter cuidado neste

momento para aplicar conceitos que aplicaria a beira do leito, na beira do campo”,

fica ressaltado o pensamento do poeta e educador Herry Wadsworth Longflow

(1807-1882) “...nós nos julgamos pelo que nos propomos a fazer, os outros nos

julgam pelo que fizemos”, portanto muitas vezes o profissional pode estar frente a

frente com uma situação onde a atitude mais ética, pode ser também ilegal , isto é

permitir que um atleta de prosseguimento a sua carreira, mesmo correndo riscos

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Capítulo 5. Discussão

importantes do ponto de vista cardiológico (Grinberg e Accorsi 2005). Em nossa

opinião, este é o conflito bioético que possa ser enfrentado por um profissional da

área da saúde no antendimento do atleta profissional. Permitir que um atleta de

prosseguimento a sua carreira, baseando-se na autonomia, quando este corre risco

de vida pro algum problema, como uma miocardiopatia, ou um traumatismo craniano

repetido em uma mesma temporada. Dados do COI (Comitê Olímpico Internacional),

mostram que desde 1966 até o anos de 2006 , 1101 atletas morreram durante a

prática esportiva. Trinta por cento destes são do futebol, vinte e cinco por cento do

basquete, e quinze por cento do atletismo.

Como reagir a um atleta, que mesmo correndo risco de vida ao prosseguir

com os treinamentos e com sua carreira, escolhe correr este risco. Permitir que um

atleta possa vir a morrer durante uma partida de futebol, ou um treino de sua equipe,

após ter sido diagnosticado um problema que imponha ao atleta este risco, pode ser

julgado como ilegal, e trazer conseqüências legais para o médico, como a perda do

direito de exercer sua profissão.

Após a análise destes trabalhos, fica claro que existem muitos conflitos

bioéticos que permeiam o exercício profissional dos profissionais da saúde que

trabalham no atendimento clínico do atleta profissional. Diversos fatores colaboram

com estes conflitos, como a pressão de torcedores, da imprensa, dos

patrocinadores, e até dos familiares dos atletas, podem prejudicar a decisão clínica

de um profissional da saúde, sobre o melhor tratamento a ser adotado, ou sobre

como proceder sobre as informações que foram obtidas a partir do exercício

profissional. Sem dúvida alguma, deixando de lado o doping, e seus aspectos éticos

ou não éticos, a confidencialidade e o respeito a autonomia do atleta, são as

principais preocupações dos profissionais que da saúde que atuam dentro do

esporte profissional.

Outra grande preocupação é a forma de contratação destes profissonais da

saúde, pois a maneira que ocorrem hoje, deixam ainda mais vulneráveis os atletas,

pois permitem que os conflitos de interessas entre dirigentes, patrocinadores e

profissionais da saúde se evidenciem . Além disso, é importante ressaltar que alguns

trabalhos, relatam que segundo os próprios atletas, o profissional que mais quebra a

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Capítulo 5. Discussão

confidencialidade dentro do ambiente esportivo é o fisioterapeuta, justamente aquele

que deveria possuir mais vínculo afetivo com os atletas, pois passa mais tempo no

convívio com estes atletas.

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Capítulo 6. Conclusão

Capítulo 6

"A justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, mas em descobrir o certo e sustentá-lo, onde quer que ele se encontre, contra o errado."

Theodore Roosevelt

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Capítulo 6. Conclusão

CONCLUSÃO

Através da analise da literatura e dos pensamentos publicados sobre a

bioética e o esporte, fica claro que a grande preocupação da maioria dos autores é

analisar os contextos éticos que cercam a utilização de substancias ou meios

ergogênicos, para assim produzirem um melhor desempenho esportivo, e assim

produzir um desempenho acima daquele que conseguiriam sem a utilização da

substancias ou recurso dopante. É muito claro que a utilização destas substancias,

retiram a naturalidade do esporte, pois alteram sem nenhuma duvida o resultado de

uma partida, ou de um recorde mundial, o que torna a atitude além de ilícita, anti-

ética. Mas a bioética não pode nos auxiliar em outras questões pertinentes ao

esporte, e as pessoas que nele trabalham? Com certeza sim, e a bioética como a

ciência que estuda a ética relacionada à vida, deve também analisar questões

conflitantes, como as que existem no relacionamento de profissionais da saúde e

atletas profissionais.

A literatura demonstra que os profissionais com maior contato com os atletas,

e portanto mais sujeitos a estarem expostos aos conflitos bioéticos são o médico e o

fisioterapeuta. A grande preocupação se concentra no respeito a confidencialidade,

onde estes profissionais da saúde ficam muito expostos a serem pressionados pela

mídia, e principalmente por dirigentes dos clubes, a estarem divulgando informações

sobres os atletas, suas lesões, contratos, e toda a vida intima que apesar de ocorrer

fora dos campos, e das arenas esportivas, estão ligadas a suas atuações dentro

delas. Estas informações, que circulam dentro do departamento médico de um

clube, são muito valiosas, não só para mídia esportiva, mas também para

patrocinadores,e em alguns paises até para apostadores.

Todos estes fatores,exercem uma demasiada pressão em todos os

profissionais que prestam serviços diretamente aos atletas. É justamente por estes

motivos, que a forma de contratação destes profissionais da saúde, principalmente

médicos e fisioterapeutas, devem ser revistas, para que o atleta esteja menos

vulnerável, e que suas informações pessoais, ligadas a sua performance física,

sejam respeitadas, como é de direito de qualquer paciente, pelos profissionais que

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Capítulo 6. Conclusão

necessitam de confiança para poderem exercer de forma correta seu trabalho. Se

atletas perderem a confiança de poderem expor seus problemas aos profissionais

que o tratam enquanto estão lesionados, todo o tratamento de médicos e

fisioterapeutas, podem ficar prejudicados. É de suma importância que o paciente

siba que suas informações estão seguras com estes profissionais,para que eles

tenham a segurança de poder contar informações que são de extrema relevância ao

tratamento. Se um atleta esta com dificuldades de se recuperar de uma lesão

muscular, mesmo estando em tratamento intensivo na fisioterapia, devido a um

problema ligado aos seus hábitos sociais noturnos, e a utilização de álcool durante

suas horas de folga, situação que esta impedindo-lhe de repousar e dormir bem a

noite, ele necessita de muita confiança nos profissionais que o estão tratando, para

poder contar-lhes sobre este problema. A confiança no sigilo de informações que o

paciente não deseja expor,é uma etapa importante da terapêutica de qualquer

profissional da saúde, e deve ser mantida.

Outro problema que está relatado, na maioria da literatura que trata de

conflitos bioéticos no atendimento clínico ao atleta, é o respeito à autonomia. O

atleta, apesar de ser fisicamente um indivíduo privilegiado, muitas vezes tem

dificuldades de compreender riscos e benefícios de um tratamento médico para sua

carreira, e para seu futuro depois que deixar o esporte. Portanto é um dever do

profissional refletir de maneira ética, relacionando sempre a autonomia do paciente,

com a vulnerabilidade do paciente que neste momento necessita que o profissional

da saúde responsável pela sua saúde, lhe explique de maneira inteligível, todas as

opções de tratamento, riscos e benefícios de cada terapêutica possível, e com isto,

permitir que ele decida sobre seu futuro. É o atleta que muitas vezes treinou durante

20 anos, sonhando chegar em uma competição importante, como as Olimpíadas, e

portanto somente ele pode saber o que é sepultar este sonho, em prol de uma vida

com mais saúde após o término de sua carreira ou é lê que deve ser responsável

pelo risco de um problema futuro, mas um presente onde ele possa ter a

oportunidade de chegar ao podium. Nenhum profissional da saúde pode se colocar

na situação do paciente para justificar uma ação paternalista, portanto a forma mais

justa, é que ao paciente seja dada a oportunidade de decidir sobre a terapêutica a

ser seguida, pois devemos lembrar que a justiça,é exatamente “dar ao indivíduo o

que lhe é de direito” e o dever da justiça, é assegurar que os direitos dos mais

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Capítulo 6. Conclusão

vulneráveis sejam respeitados, e neste momento, se apreensão diante de uma lesão

que pode levar um atleta a abrir mão dos seus maiores sonos profissionais, ele com

certeza é o ele mais fraco desta corrente.

É dever da bioética, analisar os conflitos de interesses que são comumente

vistos no esporte, e com isso também ocorrem no atendimento clínico do atleta

profissional, que muitas vezes é tratado pela midi e por dirigentes esportivos e

empresários, com uma mercadoria, sem poder de decisão sobre a própria vida e a

própria carreira. Cabe aos profissionais da saúde, a obrigação de através de uma

reflexão ética autônoma, avaliar a situação clínica em que o atleta se encontra, e

agir na contramão das relações existentes no esporte, isto é, permitindo que o atleta

seja um indivíduo capaz de decidir sobre seu futuro. O profissional da saúde deve

ter como base referenciais éticos, e realizar uma hierarquia de valores, permitindo-

se estar ao lado de seu paciente, em uma parceria, que trás às profissões da saúde,

uma dignidade e um sentido de justiça, que nos dias de hoje são essencialmente

necessários, visando que as relações humanas sejam cada vez mais alicerçadas na

bioética.

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