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Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição nº 23 - Dezembro / 2013 Formando para a vida.

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Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição nº 23 - Dezembro / 2013

Formando para a vida.

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1809-9475

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO VIII - nº 23 - Dezembro/2013

FOA

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Comitê EditorialDenise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues

Vitor Barletta Machado

Conselho EditorialAgamêmnom Rocha de Souza

Ana Carolina Callegario PereiraAndré Barbosa Vargas

Carlos Alberto Sanches PereiraCarlos Roberto Xavier

Danielle Pereira Cintra de SennaDimitri Ramos Alves

Élcio NogueiraÉrica Leonor Romão

Erika Fraga RodriguesIvanete da Rosa da Silva de Oliveira

Júlio César de Almeida NobreJúlio César Soares Aragão

Katia Mika NishimuraLeonardo Mello de SousaMarcello Silva e SantosMarcelo Alves de Lima

Margareth Lopes Galvão SaronMaria Aparecida Rocha Gouvêa

Maria Auxiliadora Motta BarretoMaria Carolina dos Santos Freitas

Mauro César Tavares de SouzaMichelle Lopes Ribeiro Guimarães

Monica Santos BarisonOtávio Barreiros MithidieriPaulo Roberto de AmorettyRicardo de Freitas Cabral

Rodolfo Liberato NoronhaRonaldo Figueiró Portella Pereira

Sabrina Guimarães SilvaSandy Sampaio VideiraSérgio Elias Vieira Cury

Sinara Borborema GabrielWalter Luiz Moraes Sampaio da Fonseca

Conselho Editorial ad hocAdriano Arnóbio José da Silva e Silva

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Claudinei dos SantosDouglas Mansur da Silva

Fábio Aguiar AlvesJoão Paulo Rodrigues

Luiz Augusto Fernandes RodriguesPriscila Filgueiras DuarteRenato Teixeira da Silva

Tamara Nunes de Lima CamaraTatiana Gomes Martins

Revisão de Línguas Portuguesa e InglesaMarcel Álvaro de Amorim

Editor de LayoutLaert dos Santos Andrade

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinanceiroIram Natividade Pinto

Diretor de Relações InstitucionaisJosé Tarcísio Cavaliere

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitora

Claudia Yamada Utagawa

Pró-reitor AcadêmicoDimitri Ramos Alves

Pró-reitora de Pós-Graduação,Pesquisa e Extensão

Katia Mika Nishimura

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editora CientíficaDaniella Regina Mulinari

EXPEDIENTE

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FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária: Alice Tacão Wagner - CRB 7/RJ 4316

C122 Cadernos UniFOA / Centro Universitário de Volta Redonda. – ano VIII, n. 23 (dezembro 2013). – Volta Redonda: FOA, 2013.

Quadrimestral

ISSN 1809-9475

1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas – Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos. 3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fun-dação Oswaldo Aranha. II. Título.

CDD – 050

Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAwww.unifoa.edu.br/cadernos

Submissõeswww.unifoa.edu.br/cadernos/ojs

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SUMÁRIO

CIÊNCIAS EXATAS

Avaliação do potencial de uso da Biomassa seca de Aguapé (Eichornia crassipes) na descontaminação de soluções aquo-sas contendo nitrato e zincoBárbara Schelen Busatamante Domingos; Laíz Marques da Costa; Fabiana Soares dos Santos; Ana Carolina Callegario Pereira; André Marques dos Santos ....................................................................................................................................................................................... 9

Avaliação energética de um sistema de secagem combinada para café cereja descascadoFernanda Augusta de Oliveira Melo; Juarez Sousa Silva; Roberto Precci Lopes ........................................................................................ 15

Estudo de Caso: Implementação da Norma ISO 9001:2008 em uma Empresa Mecânica de Pequeno PorteMárcia Catharino de Mello; Viviane Pontes Cunha; Sérgio Ricardo Bastos de Mello ............................................................................... 25

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

A negação não psicótica da gravidez: vicissitudes de um não saberThomás Gomes Gonçalves ............................................................................................................................................................................. 35

Dilemas da compensação: as mudanças nos meios de vida das famílias de Pedra Negra atingidas pela construção da Usina Hidrelétrica do FunilDouglas Mansur da Silva; Natan Ferreira de Carvalho .............................................................................................................................. 43

O que há de crítica na formação “crítica”? Uma análise de dois cursos de graduação em Administração no Rio de JaneiroRejane Prevot Nascimento; Bianka Coutinho Alvim Santos; Ligia do Carmo Martins; Igor Magalhães Cunha; Claudio Marcos Maciel da Silva .... 55

CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS

Câncer de mama: trajetória da mulher valenciana a partir de uma suspeitaMárcia Ribeiro Braz; Luanda Louzada e Silva Oliveira; Priscila de Paiva; Juciene do Espírito Santo; Priscilla Marques Hasman Bueno ...........69

O Controle do Cálcio e a HipocalcemiaFrederico Schulz Campos; Fernanda Romanholi Pinhati ............................................................................................................................ 77

Os limites da Escola Pública no enfrentamento da obesidade infantilNatália Rodrigues Moreira; Alden dos Santos Neves ................................................................................................................................. 87

Um olhar sobre a relação entre a Educação Física Escolar e o desenvolvimento de desportos individuais Cláudio Delunardo Severino; Paulo Celso Magalhães ................................................................................................................................. 95

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LIST OF CONTRIBUTIONS

EXACT SCIENCES

Assessment of potential use of water hyacinth (Eichornia crassipes) dry biomass in decontamination of aqueous solutions containing nitrate and zincBárbara Schelen Busatamante Domingos; Laíz Marques da Costa; Fabiana Soares dos Santos; Ana Carolina Callegario Pereira; André Marques dos Santos ....................................................................................................................................................................................... 9

Energy Evaluation of a drying system combined for husked cherry coffeeFernanda Augusta de Oliveira Melo; Juarez Sousa Silva; Roberto Precci Lopes ........................................................................................ 15

Implementation of ISO 9001:2008 in a small mechanical companyMárcia Catharino de Mello; Viviane Pontes Cunha; Sérgio Ricardo Bastos de Mello ............................................................................... 25

HUMANITIES SCIENCES AND APPLIED SOCIAL SCIENCES

The non-psychotic denial of pregnancy: vicissitudes of a not knowingThomás Gomes Gonçalves ............................................................................................................................................................................. 35

Compensation dilemmas: changes in livehood of Pedra Negra’s families affected by the construction of the Funil´s Hydroelectric Plant Douglas Mansur da Silva; Natan Ferreira de Carvalho .............................................................................................................................. 43

What’s critical in training “critical”? an analysis of two Management courses in Rio de JaneiroRejane Prevot Nascimento; Bianka Coutinho Alvim Santos; Ligia do Carmo Martins; Igor Magalhães Cunha; Claudio Marcos Maciel da Silva .... 55

HEALTH SCIENCE AND BIOLOGICAL

Breast cancer: the story of the Valencian woman from a suspectedMárcia Ribeiro Braz; Luanda Louzada e Silva Oliveira; Priscila de Paiva; Juciene do Espírito Santo; Priscilla Marques Hasman Bueno ...........69

The Control of Calcium and HypocalcemiaFrederico Schulz Campos; Fernanda Romanholi Pinhati ............................................................................................................................ 77

The limits of Public School in fighting childhood obesityNatália Rodrigues Moreira; Alden dos Santos Neves ................................................................................................................................. 87

A look on the relationship between School Physical Education and development of individual sportsCláudio Delunardo Severino; Paulo Celso Magalhães ................................................................................................................................. 95

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Recebido em 07/2013

Aprovado em 12/2013

ISSN1809-9475

Avaliação do potencial de uso da Biomassa seca de Aguapé (Eichornia crassipes) na descontaminação de soluções aquosas contendo nitrato e zinco

Assessment of potential use of water hyacinth (Eichornia crassipes) dry biomass in decontamination of aqueous solutions containing nitrate and zinc

1 Bárbara Schelen Busatamante Domingos1 Laíz Marques da Costa2 Fabiana Soares dos Santos3 Ana Carolina Callegario Pereira4 André Marques dos Santos

ResumoA contaminação da água consiste num grave problema ambiental e tam-bém à saúde humana. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência do uso da biomassa seca do aguapé na descontaminação de águas con-taminadas por nitrato (NO3

-) e zinco (Zn). Foi realizado um experimen-to avaliando o efeito da biomassa seca de aguapé na remoção desses elementos de uma solução contaminada. Os tratamentos consistiram em 5 doses de NO3

- (3,3; 33; 100; 150 e 200mg L-1) e Zn (1,8; 18; 50; 79 e 105mg L-1), em dois tempos de coleta (1h e 72h). Os resultados obtidos sugerem que a biomassa seca do aguapé possui capacidade de remoção de NO3

- e Zn de soluções contaminadas, sendo esta capacidade potencializada com o aumento do tempo de contato da biomassa com a solução.

Palavras-chave

Contaminantes

Poluição hídrica

Remediação

AbstractWater contamination is a serious environmental problem and also to human health. The study aim to evaluate the efficiency of water hyacinth dry biomass in the water decontamination by nitrate (NO3

-) and zinc (Zn). We conducted a laboratory experiment that evaluated the effect of the water hyacinth dry biomass in removing these elements from a contaminated solution. The treatments consisted of five doses of NO3

- (3.3; 33; 100; 150 e 200L-1 mg) and Zn (1.8; 18; 50; 79 e 105L-1mg) at two sampling times (1h and 72h). The results suggested that the water hyacinth dry biomass is capable of removing NO3

- and Zn contaminated solutions, which is enhanced with increasing contact time of biomass with the solution.

Keywords

Contaminants

Water pollution

Remediation

1 Eng. Ambiental, Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA.

2 Profa. Adjunta, Departamento de Engenharia de Agronegócios, Universidade Federal Fluminense – UFF.

3 Profa. do Departamento de Formação Profissional do Centro de Tecnologias e Engenharias, Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA.

4 Prof. Adjunto, Departamento de Química, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

A água é utilizada para diversas finalida-des, como abastecimento de cidades e uso do-méstico, geração de energia, irrigação, navega-ção entre outros. O desenvolvimento dos países normalmente é acompanhado pelo aumento populacional, crescimento e fortalecimento de indústrias, agricultura e outras atividades que consomem água. O lançamento desordenado de efluentes industriais não tratados em corpos d’água e a demanda das atividades agropecuá-rias têm provocado problemas ambientais com graves danos e riscos à saúde humana.

Oliveira et al. (2001) afirmaram que, dentre as várias formas de contaminação do meio am-biente resultante das diversas atividades indus-triais e agrícolas, a contaminação da água com metais pesados tem trazido mais preocupação aos pesquisadores e órgãos governamentais envolvi-dos no controle de poluição. Os metais pesados são considerados uma grande fonte de contami-nação nos solos e água, pois são elementos está-veis no ambiente, não podendo ser degradados. Portanto, os estudos têm se concentrado no acú-mulo dos mesmos no ambiente (Borges, 2007).

O zinco (Zn) é um elemento essencial para o crescimento vegetal (Marschner, 1995), porém, em concentrações acima de 5,0 mg L-1, confere sabor à água e uma certa opalescência a águas al-calinas. Os efeitos tóxicos do Zn sobre os peixes são muito conhecidos assim como sobre algas. Os padrões para águas reservadas ao abasteci-mento público indicam 5,0 mg L-1 de Zn como valor máximo permissível (CETESB, 2010).

Das diversas formas de nitrogênio presen-tes na natureza, a amônia (NH3) e, em especial, o nitrato (NO3

-) são importantes no comprome-timento da qualidade da água devido a sua capa-cidade de contaminação desse recurso. Embora a NH3, quando presente na água em altas con-centrações, possa ser letal aos peixes por sua alta toxicidade, quando originada no solo ou aplicada via fertilizantes tende a ser rapidamente conver-tida a amônio (NH4

+), e esse, por sua vez, é con-vertido em NO3- pelo processo microbiano da nitrificação. Portanto, o NO3

- é a principal forma de nitrogênio associada à contaminação da água pelas atividades agropecuárias (Resende, 2002).

O nitrato é encontrado naturalmente em baixas concentrações na água e no solo. Porém,

essas concentrações podem ser alteradas devi-do ao uso intensivo de fertilizantes na agricul-tura e à coleta e disponibilização inadequada de esgotos domésticos (Rossi et al., 2007). O ânion NO3

-, caracterizado por ser fracamente retido nas cargas positivas dos coloides do solo, tende a permanecer mais em solução, principalmente nas camadas superficiais nas quais a matéria or-gânica acentua o caráter eletronegativo da fase sólida (repelindo o nitrato), e os fosfatos apli-cados na adubação ocupam as cargas positivas disponíveis. Na solução do solo, o nitrato está sujeito ao processo de lixiviação, e, ao longo do tempo, pode haver considerável incremento em seus teores nas águas profundas (Resende, 2002). Sendo o nitrato extremamente solúvel na água, move-se com facilidade e contamina a água subterrânea (Barbosa, 2005).

Nas águas subterrâneas, os nitratos ocor-rem em teores geralmente abaixo de 5 mg L-1. Nitritos e amônia são ausentes devido à velo-cidade com que são convertidos a nitrato pelas bactérias. Devido ao risco que representa, a concentração de nitrato na água para consumo humano não deve exceder 10 mg de N-NO3

- L-1 ou 44 mg de NO3

- L-1, de acordo com os limites adotados pelo Conselho Nacional do Meio Am-biente – CONAMA (Brasil, 1986) e pelo Mi-nistério da Saúde (Brasil, 2001). Esses também são os limites adotados pela Agência de Pro-teção Ambiental dos Estados Unidos – USEPA (Ator & Ferrari, 2001).

De acordo com Pignatelli et al. (1993), o NO3

- no organismo humano pode se tornar tóxico. Dentre as doenças mais relacionadas à ingestão de nitratos em excesso estão a me-tahemoglobinemia e possivelmente a neoplasia gástrica, além de câncer no estômago e esôfa-go causados pela formação de N-nitrosaminas, um potente agente carcinogênico (Leifert et al., 1999; Nugent et al., 2001).

Estudos recentes indicam que a biomassa de macrófitas aquáticas, tais como Potamoge-ton lucens, Salvinia sp. e Eichornia crassipes, mesmo seca, possui alta capacidade de acumular íons metálicos e nutrientes de soluções e águas contaminadas (Gonçalves Júnior; Selzlein; Nac-ke, 2009), bem como pode ser utilizada como adsorvente na recuperação de efluentes contami-nados com corantes utilizados na indústria têxtil (Chagas et al., 2010; Oliveira Neto et al., 2012;

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Rubio et al., 2000) e como adsorvente de conta-minações por óleos (Rubio et al., 2000).

Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência da biomassa seca do aguapé (Eichornia crassipes) na remoção de NO3

- e Zn de soluções contaminadas.

2. Material e Métodos

2.1. Área de coleta do Aguapé

O material vegetal (Eichornia crassipes) utilizado no experimento foi coletado no Reser-vatório de Vigário (LIGHT), no município de Pi-raí – RJ. O ponto de coleta foi localizado distante do canal principal, numa área de remanso, situa-do nas coordenadas geográficas: 22°38’58.65”S de Latitude e 43°53’33.39”O de Longitude.

2.2. Coleta e preparo das amostras

No mesmo dia da coleta, as macrófitas fo-ram lavadas superficialmente em água corrente, seguida de enxague com água deionizada. Após a lavagem, o material foi seco sobre bancadas em temperatura ambiente para retirada do ex-cesso de umidade. Após 24 horas, as plantas co-letadas foram acondicionadas em sacos de pa-pel e colocadas em estufa de circulação forçada de ar a 65°C até apresentarem peso constante, sendo em seguida trituradas em moinho.

2.3. Montagem do experimento

O experimento foi conduzido em copos descartáveis com capacidade para 100mL. Em cada copo foram adicionados 50mL da solução contaminada e 1g de biomassa seca de aguapé, acondicionada em “sachês” confeccionados com tecido de poliéster.

Os tratamentos consistiram em cinco do-ses crescentes de NO3

- (3,3; 33; 100; 150 e 200 mg L-1) e Zn (1,8; 18; 50; 79 e 105mg L-1 de Zn) na forma de nitrato de zinco (Zn(NO3)2.6H2O). As coletas de solução para determinação dos teores de nitrato NO3

- e Zn foram realizadas às 1h e 72h após a adição da biomassa seca na so-lução contaminada.

2.4. Determinação dos teores de Nitrato na solução contaminada

A determinação dos teores de NO3- foi realizada em 2 mL da solução contaminada conforme metodologia desenvolvida por Mi-randa; Espey; Wink (2001) these assays can ei-ther be time consuming or require specialized equipment (e.g., nitrate reductase, chemilumi-nescent detector, com pequenas modificações.

Uma alíquota de 30 μL da solução coleta-da em cada tempo de coleta (diluída quando ne-cessária) foi misturada a 60 μL do reagente de Griess (1:1:2), seguida de incubação a 40ºC por 50 minutos. Após a adição de 110 μL de água ul-trapura (milliQ), a leitura espectrofotométrica foi realizada em 540 nm utilizando o KNO3 (10, 25, 50, 100, 150, 200 e 250 μM NO3

-) como padrão. As leituras foram realizadas em um espectrofo-tômetro de microplacas (ThermoFisher Scienti-fic) utilizando-se microplacas de 96 poços.

2.5. Determinação dos teores de Zinco na solução contaminada e na biomassa seca do Aguapé

Às 72 horas após a instalação do experimento, a biomassa seca do aguapé foi retirada e seca em estufa com circulação for-çada de ar por 48 horas a 65°C, para posterior determinação dos teores de Zn por meio de di-gestão por mistura nitro perclórica 6:1, segundo Tedesco et al. (1995). Ao término desta etapa, os teores de Zn nos diferentes tratamentos e tempos de coleta foram determinados por es-pectrofotometria de absorção atômica.

2.6. Análise estatística

As médias obtidas correspondentes a três repetições foram comparadas estatisticamente com base em seu desvio padrão.

3. Resultados e Discussão

As primeiras pesquisas utilizando-se ma-crófitas em estratégias de descontaminação de corpos hídricos contaminados com nitrogênio, fósforo, metais pesados e fenóis datam dos anos 60 e 70 (Rubio et al., 2000). No entanto, todas

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estas experiências utilizavam plantas vivas e acabaram por ser abandonadas devido aos in-convenientes causados por seu cultivo, relacio-nados principalmente à proliferação de mos-quitos e à dificuldade de manejo dessas plantas (Rubio et al., 2000).

Mais recentemente, houve uma mudança na estratégia de utilização dessas plantas em es-tratégias de descontaminação de corpos hídri-cos, utilizando-se sua capacidade de adsorção de poluentes quando utilizadas secas. Assim, o uso da biomassa seca dessas macrófitas apre-senta uma série de vantagens em relação à utili-zação dessas plantas vivas, por exemplo, facili-dade no manuseio, transporte, armazenamento e baixo custo (Rubio et al., 2000).

Estudos recentes têm demonstrado a efi-ciência na utilização da biomassa seca de aguapé como adsorvente de diversos contaminantes. Por exemplo, foi reportada a utilização eficiente de aguapé em pó como bioadsorvente no tratamento de efluentes líquidos contendo corantes sintéticos como o vermelho congo (Chagas et al., 2010) e o turquesa remazol (Oliveira Neto et al., 2012).

Neste trabalho, nós avaliamos a capacida-de da biomassa seca de aguapé remover nitrato e zinco de soluções contaminadas com esses nutrientes. Para nitrato, houve redução signifi-cativa nos teores desse nutriente em todos os tratamentos estudados e esta remoção foi maior na coleta às 72h (Figura 1). Portanto, quanto maior o tempo de contato da biomassa seca de aguapé com o contaminante, maior a eficiência de descontaminação. Nos tratamentos com me-nores concentrações de NO3

- em solução (T1 e T2), a biomassa seca de aguapé causou a remo-ção quase que completa da contaminação por nitrato (Figura 1).

É possível que, para contaminações supe-riores a 150mg L-1 de nitrato em solução, seja necessário maior tempo de contato da biomassa seca de aguapé com o contaminante para sua completa remoção. Por outro lado, pode ser que às 72h a biomassa seca de aguapé tenha atingi-do sua capacidade máxima de remoção de ni-trato de soluções com níveis de contaminação superiores a 150mg L-1 de nitrato. Assim, torna--se necessário a realização de novos estudos com tempos de coletas maiores que 72h, a fim de se determinar o tempo máximo de remoção de contaminação pela biomassa seca de aguapé.

Figura 1. Conteúdo de nitrato nos diferentes tratamentos (T1= 3,3; T2 = 33; T3 = 100; T4 =

150 e T5 = 200 mg L-¹ de NO3- ) em duas coletas

(1 e 72 h). Cada barra vertical corresponde a uma média de três repetições ± desvio padrão.

A biomassa das plantas aquáticas é carac-teristicamente muito porosa, portanto, mesmo quando secas, essas plantas apresentam elevada área superficial, o que implica uma enorme ca-pacidade de acumulação de solutos (Rubio et al., 2000). Esse mecanismo poderia justificar a alta capacidade da biomassa seca de aguapé em remo-ver nitrato de soluções contaminadas. Klučáková (2010), estudando a interação entre nitrato e áci-dos húmicos, concluiu que nitratos são adsorvi-dos principalmente por partículas húmicas sóli-das e, em menor quantidade, ligados a agregados e macromoléculas húmicas dissolvidas.

Mecanismo similar poderia explicar os re-sultados obtidos neste trabalho, no entanto, resta melhor detalhar quais seriam os mecanismos de adsorção de nitrato à biomassa seca de aguapé.

Foi observado também um efeito crescente de adsorção de Zn pela biomassa seca de agua-pé, ou seja, as concentrações desse metal na biomassa do aguapé apresentaram aumento à medida que as concentrações dos tratamentos também foram sendo aumentadas (Figura 2). Por outro lado, não houve diferença significati-va entre os tratamentos 4 e 5, indicando que já no T4 a concentração de Zn adsorvida foi máxi-ma, ou seja, indicando estar próxima a capaci-dade máxima de adsorção de Zn pela biomassa seca de aguapé.

O aumento nas concentrações de Zn nos tratamentos foi acompanhado por aumento na concentração de Zn adsorvido pela biomassa do aguapé, até o T4, já que não houve diferença significativa entre o T4 e o T5. Isso ocorreu pos-sivelmente por saturação da superfície específi-ca da biomassa seca do aguapé, na quantidade utilizada neste experimento (1,0g) (Figura 2).

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Os resultados obtidos estão de acordo com Gonçalves Júnior; Selzlein; Nacke (2009) que afirmaram que a Eichornia crassipes é amplamente conhecida por sua capacidade de remoção de metais pesados e nutrientes de soluções e águas contaminadas.

Figura 2. Conteúdo de Zn na biomassa seca do aguapé nos diferentes tratamentos (TEST = Testemunha,

biomassa seca do aguapé sem adição de contaminação; T1 = 1,8; T2 = 18; T3 = 50; T4 = 79 e T5 = 105mg

L-¹ de Zn) após 72 h. Cada barra vertical corresponde a uma média de três repetições ± desvio padrão.

Conforme observado na Figura 3, houve significativa redução na concentração de Zn em todos os tratamentos. Assim, pode-se dizer que houve remoção significativa do contami-nante pela biomassa seca do aguapé em todas as doses de contaminação testadas (Figura 3). Resultados similares foram encontrados por Gonçalves Júnior; Selzlein; Nacke (2009) estu-dando a capacidade de biomassa seca de aguapé na remoção de Cd, Pb, Cr, Cu e Zn de soluções contaminadas.

No entanto, foi possível observar que no T5, tratamento com maior nível de contamina-ção, houve um decréscimo representativo da concentração de Zn na solução contaminada, indicando que a biomassa seca do aguapé foi eficiente na remoção de Zn do sistema conta-minado (Figura 3). É interessante ressaltar que a capacidade de remoção do contaminante por meio de sua adsorção à biomassa seca do agua-pé cresce com o aumento da concentração de Zn na solução contaminada, sendo ainda mais evidente no T5 (Figura 3).

Figura 3. Concentração de Zn nos diferentes tratamentos (T1 = 1,8; T2 = 18; T3 = 50; T4 = 79 e T5 = 105mg L-¹ de Zn) em duas coletas (1 e 72 h). Cada barra vertical corresponde a uma

média de três repetições ± desvio padrão.

Mesmo após a secagem, as plantas man-têm, ainda que biologicamente inativas, muitas de suas propriedades químicas (Rubio et al., 2000). Tal característica explicaria a capacida-de da biomassa seca de aguapé remover Zn de soluções contaminadas. Segundo Rubio et al. (2000), a remoção de metais pesados de efluen-tes ocorre principalmente através de troca de íons, pela presença de radicais orgânicos como os grupos carboxila (COO-) presentes nos te-cidos vegetais. Quando em contato com íons como os de cobre (Cu+2), zinco (Zn+2), níquel (Ni+2), cádmio (Cd+2), chumbo (Pb+2) e cromo (Cr+3), presentes em ambientes poluentes, há uma tendência química de substituição de me-tais alcalinos e alcalinos terrosos por metais de transição, favorecendo a adsorção desses íons tóxicos pela biomassa seca do vegetal, “descon-taminando” a solução (Rubio et al., 2000).

4. Conclusão

A biomassa seca do aguapé (Eichornia crassipes) possui capacidade de remoção de NO3

- e Zn de soluções contaminadas, sendo essa capacidade potencializada com o aumento do tempo de contato da biomassa com a solu-ção, podendo ser utilizada em estratégias de descontaminação de água.

5. Agradecimentos

Os autores agradecem ao Sr. João de Oli-veira Domingos pelo apoio durante a realização das coletas.

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ISSN1809-9475

Avaliação energética de um sistema de secagem combinada para café cereja descascado

Energy Evaluation of a drying system combined for husked cherry coffee

1 Fernanda Augusta de Oliveira Melo2 Juarez Sousa Silva3 Roberto Precci Lopes

ResumoA secagem combinada consiste na utilização de um secador em alta temperatura, para reduzir o teor de água dos grãos até 16-18% b.u., associado a um sistema de secagem com ar em temperatura próxima à temperatura ambiente, até os grãos atingirem a um teor de água ideal para o armazenamento ou comercialização. O presente trabalho teve por objetivo estudar a viabilidade desse sistema, tendo como referência a secagem convencional em alta temperatura, avaliando parâmetros re-lativos aos grãos, ao ar de secagem e ambiente, ao consumo de energia e à qualidade final do café. Foi utilizado um secador pneumático de fluxo concorrente desenvolvido para esse tipo de secagem. A secagem com ar natural transcorreu em um silo do tipo secador-armazenador. Foram realizados três testes para coleta de dados e cálculos dos parâme-tros energéticos. Os resultados obtidos comprovam ser viável.

Palavras-chave

Café

Secagem baixa temperatura

Secagem em alta temperatura

Eficiência energética

AbstractCombined drying consists of the utilization of a dryer at high temperature to reduce the moisture content of grains to 16-18% w.b. associated with a drying system with air at a temperature close to the environment, until the grains reach the ideal moisture for their commercialization. The objective of the present work was to study the viability of this system, using conventional drying at high temperature as a reference, evaluating relative parameters of the grain, drying, and ambient air, energy consumption, and final coffee quality. A pneumatic concurrent flow dryer was developed and used for this type of drying. The drying with natural air takes place in a drying and storage silo. Three tests were conducted to collect the data and calculations of the energy parameters. The results obtained prove viable the use of the combined drying methodology for the husked cherry coffee, proportioning better.

Keywords

Coffee

Low temperature drying

High temperature drying

Energy efficiency

1. Discente dos Cursos Engenharia Ambiental, Engenharia de Produção, Gestão de Recursos Humanos e Ciências Contábeis do UNIFOA.

2. Professor do Curso de Engenharia Agrícola da UFV, PhD pela Michigan State University, USA. Universidade Federal de Viçosa-MG.

3. Professor do Curso de Engenharia Agrícola da UFV, D. S. Engenharia Agrícola pela UFV. Universidade Federal de Viçosa-MG.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

Um dos fatores determinantes do declínio do café brasileiro no mercado internacional foi a falta de um padrão de qualidade do produto nacional. O país preocupava-se em exportar grandes quantidades, sem acompanhar a cres-cente exigência dos mercados consumidores. Os exportadores concorrentes que percebe-ram a importância de se oferecer um produto de qualidade e quantidade para garantirem uma oferta continuada com bom preço, aliado, preferencialmente, às questões sociais e ecoló-gicas, saíram na frente em busca dos novos e exigentes consumidores.

Nesse contexto, apresenta-se um impasse: não se pode ignorar o enorme potencial agrícola brasileiro e desconsiderar as dificuldades envol-vidas, e que o crescimento se baseia num pacote intensivo de capital e energia, precisamente os fatores que agora se tornam escassos. Torna-se indispensável considerar as relações entre con-sumo de energia e as qualidades inerentes ao produto, antes e depois do pré-procesamento.

Uma maneira de se contornar esse proble-ma seria a adoção de um sistema de secagem combinada, em que há a possibilidade de se operar tanto com lotes maiores quanto com lo-tes menores de café, sem que haja a necessidade de se misturar cafés colhidos em diferentes dias e sem comprometer a qualidade final do produ-to (SILVA et al. 2007).

A secagem combinada envolve a secagem parcial em secadores convencionais de altas temperaturas, com posterior transferência do grão para um processo lento de retirada de umi-dade. As principais vantagens esperadas na uti-lização de um sistema de secagem combinada são: utilização do secador em altas temperatu-ras na faixa de umidade em que é mais eficien-te, ou seja, alto teor de água; secagem lenta e uniforme do produto durante a etapa de utiliza-ção do sistema em baixas temperaturas; menor consumo de combustível; menor custo de ope-ração e melhor qualidade final do produto.

Na secagem combinada, a fase de secagem a baixa temperatura é normalmente realizada em silo com fundo perfurado, no qual o produto é seco e armazenado ao mesmo tempo. O fluxo de ar mínimo recomendado e a profundidade máxima da camada de grãos no silo dependem

do teor de umidade inicial do produto e das condições ambientais (BAKKER-ARKEMA, 1984). Por ser um processo de secagem lento, há a possibilidade de desenvolvimento de fungos antes de o produto atingir o teor de água deseja-do. Entretanto, quando bem operado, esse siste-ma de secagem permite a manutenção da quali-dade do produto, devido ao pequeno incremento na temperatura do ar (Dalpasquale, 1983), mos-trando-se, por isso, muito adequado à secagem de sementes e produtos sensíveis à temperatura.

Os secadores de fluxos concorrentes ad-mitem a possibilidade de uso de temperaturas mais elevadas durante a secagem, comparada com os outros sistemas existentes. No secador de fluxos concorrentes os grãos e o ar desen-volvem trajetórias de mesmo sentido dentro do secador e a grande diferença entre a tempera-tura do ar de secagem e a temperatura máxima alcançada pelos grãos permite a utilização de temperaturas superiores àquelas utilizadas em todos os outros sistemas (THOMPSON, 1978; LACERDA FILHO, 2006).

A alta temperatura e o elevado fluxo do ar de secagem proporcionam grande eficiência energética ao secador de fluxos concorrentes, quando comparado com o sistema de fluxos cruzados (BAKKER-ARKEMA, 1978; LA-CERDA FILHO, 2005).

A secagem a baixa temperatura tem sido apontada como um método capaz de manter a qualidade dos grãos a um nível aceitável para a indústria de processamento, e também de re-duzir a dependência de combustíveis requeridos para a secagem. Nesse processo, utiliza-se ar nas condições ambientais ou levemente aquecido de 3 a 5oC, movimentado por um ventilador. Os mé-todos de secagem a baixa temperatura são ener-geticamente eficientes e resultam num produto final de boa qualidade. Podem ser empregados para pequenas ou grandes produções e têm como pontos limitantes as condições ambientes e a ve-locidade de colheita do produto (SILVA, 2000).

Freire (1998) projetou, construiu e avaliou um sistema de secagem combinada para café des-polpado. Quantificou a economia de energia pro-porcionada no processo combinado de secagem e avaliou a qualidade final do produto obtido. O autor concluiu que a secagem com sistemas com-binados para café é um método viável quanto ao consumo de energia e à qualidade do produto.

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Objetivou-se, com este trabalho, avaliar um sistema para secagem combinada de café cereja descascado.

2. Material e Métodos

O experimento foi conduzido na Área de Pré--Processamento e Armazenamento de Produtos Vegetais do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa - UFV.

O sistema de secagem é composto por um secador pneumático de fluxos concorrentes, com carga, descarga e revolvimento pneumá-ticos, e de silo, com ventilação, para secagem complementar do produto.

Foram realizados três testes experimen-tais. Pela impossibilidade de se obter médias entre testes de sistemas de secagem, por não haver repetições entre os mesmos, os resulta-dos foram analisados considerando cada teste individualmente. Os testes foram codificados como FT e numerados de 1 a 3 para designar a ordem dos testes.

O café foi colhido pelo método de derriça no chão, em uma propriedade localizada na re-gião de Viçosa – MG. Após a colheita, o produto foi lavado e foram separados os frutos de maior massa específica (“cerejas” e “verdes”) dos fru-tos de menor massa específica (“bóias”). O ex-perimento foi conduzido utilizando-se os frutos “cerejas”. Esses frutos foram descascados e co-locados ao sol até atingirem teor de água de 33,5 ± 3,5 % b.u. e, então, foram transferidos para o secador pneumático de fluxos concorrentes para serem secados até atingirem o teor de água de 15 ± 2 % b.u., para que a secagem fosse completa-da com ar natural no silo secador-armazenador. De cada teste, aproximadamente 10 kg de fru-

tos foram secados ao sol, para serem utilizados como testemunhas.

2.1. Secagem intermitente em altas temperaturas em secador pneumático de fluxos concorrente

O protótipo com capacidade para 2.500l de café cereja descascado é composto das se-guintes partes: (a) moega de homogeneização com volume de 0,5 m3; (b) câmara de descanso/secagem com área transversal de 1 m2 e volume de 1 m3; (c) câmara de secagem com área trans-versal de 1 m2 e volume de 1 m3; (d) transpor-tador pneumático feito em seção quadrada com área transversal de 0,0225 m2 e comprimento de 4,50 m; (e) ventilador centrífugo acoplado a um motor elétrico de 5 cv e 1750 rpm.

O aquecimento do ar de secagem foi fei-to por uma caldeira compacta, flamotubular, a lenha, que foi acoplada a um trocador de calor compacto (LOPES,2001).

2.2. Secagem em baixas temperaturas em silo secador-armazenador

Com a finalidade de se usar o sistema de secagem combinada, foi projetado e construído um silo secador-armazenador, segundo as reco-mendações de Silva et al. (2008). Para o estu-do, a base do silo-secador, câmara plenum, foi construída em alvenaria com diâmetro interno de 2,0 m e altura de 1,80 m. Um ventilador cen-trífugo de pás retas, acionado por um motor elétrico de 1 cv a 1730 rpm foi acoplado ao silo secador-armazenador.

A Figura 1 ilustra o sistema de secagem constituído por: secador pneumático de fluxo concorrente e silo secador-armazenador.

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Figura 1. Sistemas de secagem combinada: (a) secador pneumático de fluxos concorrentes; e (b) silo secador armazenador.

Fonte: Melo (2008)

Para o monitoramento das temperaturas, por meio das sondas termoelétricas, foi utiliza-da uma unidade de aquisição de dados, marca Fluke, modelo Hydra 2625A.

Umidade relativa e teor de água dos grãos. A umidade relativa do ar ambiente foi de-terminada utilizando um sensor integrado de lei-tura de temperatura e umidade relativa com pre-cisão de 3%. Os dados de temperatura e umidade relativa do ar ambiente foram anotados e arma-zenados em intervalos regulares de dez minutos.

No secador, a amostragem foi feita por meio de coleta de produto úmido, na moega de recepção de grãos, no carregamento do seca-dor; após o revolvimento do produto, durante a secagem e na descarga do secador.

No silo secador-armazenador, foram cole-tadas amostras, semanalmente, na camada su-perior da massa de grãos.

Para a determinação do teor de água dos grãos foi utilizado o método EDABO (Evapo-ração Direta da Água em Banho de Óleo), uma variação do método de destilação com precisão semelhante ao método oficial da estufa (SAM-PAIO, 2004). Retirou-se, também, amostras para a determinação do teor de água pelo mé-todo padrão da estufa sob pressão atmosférica.

Vazão de ar. Para avaliar a vazão do ar de secagem foi utilizada a velocidade média do ar aquecido, cuja determinação baseou-se nas me-

Análise do sistema de secagem. Para estudo e avaliação do desempenho do sistema proposto para secagem combinada, foi utilizada a metodologia proposta por Bakker-Arkema et al. (1978), porém utilizando as variáveis con-sideradas como as mais importantes por Silva (2000): (i) temperatura da massa de grãos; (ii) umidade relativa e temperatura do ar ambiente e de exaustão do secador; (iii) vazão de ar; (iv) tempo de secagem; (v) consumo energético; (vi) velocidade do produto no interior do secador; (vii) características qualitativas; e (viii) pro-priedades físicas do produto (inicial e final).

2.3. Monitoramento dos parâmetros

Temperaturas. As medidas de temperatu-ra do ar ambiente, do ar de secagem, do ar de exaustão, da massa de grãos na câmara de seca-gem, câmara de descanso/secagem e na moega de homogeneização foram monitoradas usando termopares do tipo T com os sensores instala-dos nos pontos de medições.

Para a medição da temperatura da massa de grãos, um cabo de aço foi posicionado verti-calmente em seu interior, no qual foram fixados cinco termopares em intervalos de 0,40 m, ori-ginando os pontos de medição T0,40, T0,80, T1,20, T1,60 e T2,0.

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didas das velocidades em 5 pontos da seção do duto de ventilação. A velocidade do ar de seca-gem foi medida nos pontos estipulados, ou seja, na saída do ventilador, no duto vertical depois da bifurcação para descarga do secador e no topo do secador, utilizando-se um tubo de Pit-tot com saída digitalizada e função velocidade.

Massa de grãos e de lenha. As massas ini-cial e final do café, para cada teste, antes de ir para o secador e/ou pré-secador, foram obtidas mediante pesagem em balança rodoviária da marca Filizola, com sensibilidade de leitura de 2 kg. Para acompanhamento, as massas inicial e final dos lotes de café foram também estimadas, indiretamente, pela relação entre a massa inicial e os teores de água final e inicial dos lotes de café.

A determinação da massa de lenha consu-mida durante os testes de secagem foi realizada por pesagem direta, em uma balança de plata-forma da marca Filizola, com sensibilidade de leitura de 0,1 kg.

Energia. O consumo específico de energia para a secagem foi determinado pelo balanço energético do ar. Os consumos de energia elé-trica para o secador e para o silo secador-arma-zenador foram estimados com base na potência nominal dos motores, fornecida no eixo e no tempo de funcionamento. Assim, para calcular o consumo total de energia elétrica, empregou--se a Equação 1. Para a uniformização dos da-dos, utilizou–se a relação 1 kWh = 3600 kJ.

(1)

O consumo específico total de energia, que é a quantidade de energia necessária para evaporar uma unidade de massa de água presente no produto durante o processo de secagem, foi obtido pela equação 2.

(2)

2.4. Avaliação da qualidade final do produto

Na descarga do silo secador-armazenador fo-ram retiradas amostras simples a cada 0,20m, cons-tituindo a amostra composta a mistura das amostras

simples enviadas para a Corretora de Café Três Ir-mãos Ltda., localizada em Viçosa - MG, onde foram realizadas análise sensorial e classificação do café.

em que;ET = consumo específico total de energia, kJ Kg-1 de água evaporada;EC = energia consumida na secagem (térmica + elétrica), kJ;Ui = teor de água inicial dos grãos, % b.u.;Uf = teor de água final dos grãos, % b.u.;Mi = massa inicial de grãos.

em que;Ce = consumo total de energia elétrica, kJ;Pot. = potência do motor, kW;Potnominal = potência nominal, cv; eε = rendimento do motor elétrico, decimal.

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3. Resultados e Discussão

As curvas de secagem relativas à primeira fase da secagem em altas temperaturas no secador de fluxo concorrente podem ser vistas nas Figuras 2, 3 e 4.

Figura 2. Variação no teor de água dos grãos em função do tempo de secagem, no teste FT1.

Figura 3. Variação no teor de água dos grãos em função do tempo de secagem, no teste FT2.

Figura 4. Variação no teor de água dos grãos em função do tempo de secagem, no teste FT3.

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Na Figura 2, teste FT1, em que o teor ini-cial de água dos grãos foi 37% b.u., observa-se que a taxa de secagem para o período analisado foi de 1,1 pontos percentuais por hora. Nessa figura, observa-se ainda uma redução em tor-no de 3 pontos percentuais no teor de água, nas duas primeiras horas de secagem e ao reiniciar a secagem após interrupção, devido à maior fa-cilidade de remoção.

Na Figura 3, teste FT2, em que o teor de água inicial foi de 30% b.u., observou-se uma taxa de secagem de 0,9 ponto percentual, por hora, para o período analisado. Nessa faixa de teor de água a quantidade de água livre nos grãos é menor, dificultando a remoção. Nas duas primeiras horas de secagem e ao reiniciar a se-cagem após interrupção, observou-se remoção de 1 ponto percentual no teor de água dos grãos.

No teste FT3, em que o teor de água inicial era de 30% b.u., observou-se taxa de secagem de 1,1 pontos percentuais por hora para o período analisado. Nas duas primeiras horas de secagem, observou-se remoção de 1 ponto percentual de água nos grãos. Nessa faixa de teor de água, em-bora a quantidade de água livre nos grãos seja menor, após a interrupção da secagem, houve remoção de 2 pontos percentuais de água nos grãos, fato esse devido às condições ambientais durante o período de interrupção (Figura 2c).

Os valores de massa de água evaporada no secador pneumático com secagem comple-mentar no silo secador, assim como os valores médios de consumo específico total de energia para o café atingir o teor de água ideal para a sua comercialização (11% b.u.), são apresenta-dos na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados do consumo específico total de energia (secador pneumático de fluxo concorrente + silo secador-armazenador).

TesteConsumo de energia

Consumo total de energia

Massa total de água evaporada

Consumo específico total de

energia(MJ) (MJ) (kg) (Kj kg-¹)

Térmica Elétrica

FT1Secador 1.118 216 1.334 370 3.605

Silo - 13 13 31,7 410Total - - - - 4.015

FT2Secador 754 150 904 194 4.660

Silo - 34 34 52 654Total - - - - 5.314

FT3Secador 829 150 979 215 4.553

Silo - 13 13 24,1 540Total - - - - 5.093

Quanto ao consumo específico de energia para a secagem em altas temperaturas, no seca-dor pneumático de fluxos concorrentes, segundo Thompson, citado por Osório (1982), deve estar na faixa de 4.185 a 5.120 kJ kg-1 de água evapo-rada. Como se pode perceber, o consumo espe-cífico de energia manteve-se na faixa de valores citados por Thompson. Vale ressaltar que, nos cálculos, não foi computada a eficiência térmica do sistema de aquecimento do ar, que varia con-forme o tipo de sistema empregado, nem energia consumida pelo motor do ventilador.

Como o sistema de aquecimento do ar de secagem (caldeira) não foi objeto de estudo, foi

realizada apenas a adaptação de um sistema já construído e estudado por LOPES (2001). O sis-tema utilizando para o aquecimento do ar de se-cagem está superdimensionado para o secador desenvolvido, razão pela qual apenas os valores teóricos foram considerados para os cálculos de consumo de energia.

Na Tabela 1, observa-se elevado consumo de energia elétrica na primeira etapa da seca-gem (altas temperaturas) em relação à secagem complementar a baixas temperaturas, no silo secador. Esse resultado pode ser explicado pelo fato do sistema de ventilação, do sistema de se-cagem em altas temperaturas, ter sido dimen-

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sionado para transportar grãos, exigindo maior potência do sistema de ventilação do que quan-do secando os grãos.

Na Tabela 2, são apresentados os fatores analisados para a classificação do café, depois da secagem complementar em silo secador.

Tabela 2 – Qualidade dos cafés, após secagem complementar no silo secador-armazenador

Camada Testes Teor de água %b.u Peneira % Catação % Renda % Bebida

1(0,00 m) FT1 11,85A 64,25A 9,25A 71,25A 82,25A

2(0,20 m)

3(0,40 m)

4(0,60 m)

5(0,80 m) FT2 11,43 B 63,67A 12,67A 72,67A 78,00A

6(1,00 m)

7(1,20 m)

8(1,40 m) FT3 11,55AB 69,00A 11,00A 71,25A 80,00A

9(1,60 m)

10* 11,5 67 12 5 71 Mole

As medias seguidas de uma mesma letra na coluna, para cada amostra, não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Apesar da estatística, tecnicamente ou para fins de comercialização, se aceita ± 0,5.

*Amostra composta.

De acordo com a Tabela 2, para o parâme-tro teor de água, houve diferença significativa entre as amostras analisadas; a análise de va-riância apresentou um coeficiente de variação de 1,41%. Quanto à peneira, as amostras não apresentaram diferença significativa, sendo que a análise de variância apresentou um coeficien-te de variação de 9,83%. Quanto ao parâmetro catação, as amostras não apresentaram diferen-ça significativa e a análise de variância apresen-tou um coeficiente de variação de 19,83%. Para o parâmetro renda, não houve diferença signi-ficativa entre as amostras analisadas; a análi-se de variância apresentou um coeficiente de variação de 2,66%. Com relação à bebida, não houve diferença significativa entre as amostras analisadas; a análise de variância apresentou um coeficiente de variação de 3,62%.

De acordo com os resultados, para as con-dições em que foi realizado este trabalho, da qualidade final do produto após o término da secagem complementar em silo secador, em que não foi feito controle rigoroso da temperatura e

da umidade dos grãos, não houve interferência na qualidade final do café. Isso prova que, na se-cagem combinada, não é necessário um controle rigoroso da temperatura e da umidade dos grãos.

4. Conclusão

A secagem combinada com secagem em fluxo concorrente e a complementação em silo secador-armazenador foi uma alternativa efi-ciente, apresentando consumo específico total baixo, quando comparados com sistemas tradi-cionais de secagem.

O sistema de secagem pneumático de fluxo concorrente não proporcionou estresse térmico aos frutos de café, não influenciando a quali-dade final do produto, verificada nas análises laboratoriais de qualidade do produto.

Os cafés processados no sistema de seca-gem combinada foram considerados de ótima qualidade para a região.

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Estudo de Caso: Implementação da Norma ISO 9001:2008 em uma Empresa Mecânica de Pequeno Porte

Implementation of ISO 9001:2008 in a small mechanical company

1 Márcia Catharino de Mello2 Viviane Pontes Cunha3 Sérgio Ricardo Bastos de Mello

ResumoA sobrevivência e a prosperidade das empresas estão relacionadas com a adoção de modelos de gerenciamento que possibilitem melhorar os resultados de suas operações. O sistema de gestão proposto pelo padrão ISO 9001:2008 se constitui num forte mecanismo para as empresas al-cançarem seus objetivos. O presente artigo tem por objetivo analisar o processo de implementação do sistema de gestão pela qualidade e certificação segundo a norma ISO 9001:2008 de uma empresa mecâni-ca de pequeno porte, como também relatar as dificuldades encontradas durante este processo e os benefícios decorrentes do mesmo. A meto-dologia foi o estudo de caso que consistiu no diagnóstico da situação atual da empresa e estabelecimentos de objetivos a serem alcançados, treinamento para implantação, análise crítica sistemática e padroniza-ção do novo modelo de gestão proposto para a empresa. O processo de implantação e certificação ISO 9001:2008 ocorreu no prazo planejado de seis meses e a empresa alcançou um retorno não só financeiro, mas principalmente no relacionamento interpessoal dos funcionários.

Palavras-chave

Certificação ISO 9001:2008

Qualidade

Empresa de Pequeno Porte

AbstractThe survival and prosperity of companies involves the application of management models that allow the improvement of operation results. The management system proposed by the ISO 9001:2008 it’s based in a strong mechanism for companies to achieve their goals. This article aims to analyze the process of implementation of the quality management system and certification according to ISO 9001:2008 models into a small mechanical company , as well as report the hard points found during this process and the benefits that it can brings. The methodology was a study case that consisted in the diagnosis of the current situation of the company and definition of objectives to be achieved, deployment training, systematic critical analysis and standardization of the new management model proposed for the company . The development process of certification ISO 9001:2008 was executed in six months as planned and the company received not only financial rewards but increased especially the interpersonal relationships of employees.

Keywords

Certification to ISO 9001:2008

Quality

Small company

1. Arquiteta e Urbanista – USU.

2. Engenheira Eletricista – Faculdade de Engenharia de Resende.

3. Professor Mestre Engenharia de Produção – UniFOA.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

No dia 15 de setembro de 2008, os jornais americanos noticiaram a maior declaração de falência da história americana, quando o ban-co Lehman Brothers sucumbiu finalmente a um lento e mal sucedido processo de busca por au-xílio. Sua fragilidade surgiu do imenso volume de títulos que perderam valor com a crise de confiança no sistema bancário mundial. A eco-nomia americana foi o epicentro da crise que atingiu em cadeia a economia mundial.

A conjuntura econômica a que estão sub-metidas as empresas atuantes em mercados glo-balizados tem passado por constantes e signi-ficativas transformações, exigindo a renovação contínua em seus modelos de gestão. Tornou-se de vital importância a adoção de estratégias de gerenciamento que possam elevar os padrões de qualidade e produtividade das empresas.

Neste cenário cabe o questionamento: “A certificação pela norma ISO 9001:2008 seria um modelo de gestão adequado para as empre-sas de pequeno porte assegurarem a sua sobre-vivência no mercado?”

A norma ISO 9001:2008 é uma norma in-ternacional que estabelece as melhores práticas a serem adotadas na condução do Sistema de Gestão pela Qualidade de uma empresa. Trata--se de um modelo atualizado, reconhecido e aplicado em todo mundo e que permite esta-belecer através de procedimentos devidamente planejados e documentados, indicadores de de-sempenho dos processos e do próprio sistema, ações para promover a melhoria contínua da qualidade e dos resultados do negócio, além de proporcionar um maior foco para atendimento aos requisitos especificados pelo cliente.

Trata-se, portanto, de uma forte ferramen-ta para estruturar, organizar e direcionar a ges-tão do negócio como um todo, desde os resulta-dos internos até a satisfação cliente.

A norma ISO 9001:2008 traz benefícios não somente para a empresa que implanta o sistema de gestão pela qualidade, mas para os clientes, fornecedores e a sociedade em ge-ral através de uma administração responsável dos recursos utilizados (eficiência) e com foco nos resultados e melhoria (eficácia) (MASTER QUALIDADE, 2009).

A empresa objeto deste estudo de caso foi fundada em 1997, iniciando suas atividades em reforma e manutenção de máquinas industriais e fabricação de dispositivos mecânicos confor-me desenho ou amostra fornecido por seu clien-te. O escopo atual do sistema de gestão pela qualidade da empresa inclui:

1. Fabricação de componentes mecânicos;

2. Recuperação de equipamentos e com-ponentes mecânicos;

3. Serviços de caldeiraria leve (não exi-gem qualificação e certificação legal).

A necessidade de atender a área de petró-leo e gás levou a empresa a tomar a decisão de implementar e certificar seu sistema de gestão pela qualidade segundo o padrão proposto pela norma ISO 9001:2008.

A crise econômica de 2008 acelerou esse pro-cesso. Nesse período foi imposta à empresa uma utilização de somente 30% da sua capacidade pro-dutiva e forte redução de sua força de trabalho. As principais causas para esse desfecho foram:

1. 90% de sua capacidade produtiva eram direcionadas para um único segmento, o automotivo, que foi for-temente impactado pela crise econô-mica, e

2. Sua impossibilidade de penetrar no segmento de petróleo e gás, o princi-pal segmento produtivo do estado, que estabelece entre seus requisitos con-tratuais a certificação ISO 9001:2008 do sistema de gestão pela qualidade de seus fornecedores.

2. Planejamento do Sistema de Ges-tão pela Qualidade

2.1. Planejamento da implantação

O planejamento da implantação do sistema de gestão pela qualidade da empresa foi desen-volvido por um consultor externo, seguindo os passos:

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1. Foi realizado um diagnóstico para a ava-liação do estágio em que a empresa se encontrava em relação aos requisitos pro-postos pela norma de referência (Anexo I);

2. Foi elaborado um cronograma das atividades necessárias para a imple-mentação do sistema de gestão pela qualidade e sua certificação;

3. O consultor envolveu o diretor princi-pal da empresa nas quatro primeiras reuniões de trabalho, que contou com a participação de seu corpo gerencial, com os seguintes objetivos:• definir a política da qualidade;• definir objetivos da qualidade, me-

tas e indicadores;• mapear os processos necessários

para determinar, realizar e medir a satisfação dos clientes;

• mapear os processos de apoio e de gestão necessários para satisfazer as necessidades dos clientes;

• definir os responsáveis pelos pro-cessos mapeados;

4. definir o representante da direção.

5. O desenvolvimento da documentação necessária foi realizado pelos respon-sáveis pelos processos envolvendo o maior número de pessoas de suas equipes;

6. Foram identificados e realizados os treinamentos necessários para formar as competências requeridas para im-plantação do sistema de gestão pela qualidade e para as atividades que impactam a realização do produto de forma a atender as necessidades dos clientes.

Durante a fase de diagnóstico e as primei-ras semanas de implantação do sistema foram identificadas algumas limitações que represen-taram dificuldades significativas nesse proces-so. Dentre elas podemos citar:

1. Centralização das decisões no diretor;

2. Rotinas administrativas excessiva-mente manuais e não estruturadas;

3. Ausência de controles administrativos e operacionais essenciais;

4. Atividades elementares dependentes de supervisão continuada;

5. Ausência completa de estruturação do RH;

6. Excesso de falhas no processo de compras, por identificação inadequa-da dos requisitos de compras.

Algumas premissas básicas foram defi-nidas nas primeiras reuniões para o desenvol-vimento da gestão pela qualidade, dentre elas podemos citar:

1. Documentação mínima, objetiva e que não comprometesse a proatividade;

2. Documentação mais ilustrada e me-nos textual;

3. Gestão à vista como prioridade;

4. Informações disponíveis para fazer o processo fluir dentro da planta e inde-pender de supervisão continuada.

3. Planejamento da Documentação

A documentação foi definida em dois ní-veis: estratégico/tático e operacional.

No nível estratégico foi definido o manual da qualidade, compulsório pela norma de refe-rência, com o seguinte conteúdo:

1. Escopo do sistema de gestão pela qualidade;

2. Mapeamento dinâmico dos processos (processos e suas interações);

3. Procedimentos documentados estabeleci-dos para o sistema de gestão pela qualidade.

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No manual da qualidade os processos mapeados foram documentados no formato “Entrada/Processamento/Saída” (ASSEN, et al, 2010), com indicação em caixas auxiliares (Anexo II) de:

1. Recursos transformadores: instala-ções, equipamentos e veículos;

2. Recursos humanos;

3. Métodos e procedimentos auxiliares ao processo;

4. Medição e avaliação: indicadores de desempenho e sistemática de avaliação.

A interação entre os processos mapeados é evidenciada no manual da qualidade na caixa de entrada de cada processo, onde é indicado para cada entrada o processo de origem.

As atividades previstas na caixa de pro-cessamento são definidas, sempre que possível, nos próprios registros que evidenciarão seus re-sultados e permitirão sua análise no processo decisório dentro da organização, não compro-metendo a proatividade do sistema.

No nível operacional foram elaboradas instruções de trabalho (Figura 2) contendo:

1. Fotos indicando as tarefas constituin-tes de cada atividade documentada;

2. Autoridade delegada ao supervisor e aos operadores para intervenção na atividade;

3. Registros requeridos para evidenciar a realização e a avaliação das atividades realizadas;

4. O status do documento (revisão e data) para permitir seu controle.

Foram mapeados seis processos e seus subprocessos (Figura 1).

Figura 1 – Mapeamento do processo

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Figura 2 – Instrução de Trabalho

A melhoria contínua é autossustentada pe-las medidas de desempenho dos processos re-queridas pela Norma ISO 9001:2008.

De acordo com uma visão mais mercado-lógica, e numa lógica competitiva, as organiza-ções para atingir seus objetivos, buscam satisfa-zer a seus clientes (e outros grupos de interesse) de forma mais eficiente e eficaz que seus con-correntes. O nível de desempenho de uma ope-ração é função dos níveis de eficiência e eficácia que suas ações têm (CORRÊA, 2008).

Foram estabelecidos indicadores de de-sempenho para avaliar a eficácia e a eficiência do sistema para cada processo mapeado:

1. Comercial – Faturamento / Propostas Aprovadas / Clientes Ativos;

2. Produção – Índice de Produtividade / Qualidade / Disponibilidade de Máquina;

3. Suprimentos – Índice de Pontualidade de Entrega (IPE - Fornecedor e IPE - Cliente) / Índice de Qualidade de Entre-ga (IQE – Fornecedor e IQE - Cliente);

4. RH – Custo de Mão de Obra / Horas Extras;

5. Qualidade – Satisfação do cliente;

6. Implementação do Sistema de Gestão pela Qualidade.

A implementação de um sistema de gestão que tenha por base as Normas ISO 9000 requer trabalho em equipe. Quanto mais pessoas en-volvidas, maior a possibilidade de assimilação da cultura da qualidade e cumprimento dos seus princípios. As normas, necessariamente, não se aplicam de modo uniforme a todos os tipos de empresas. O objetivo primordial não está cen-trado na padronização, mas nos resultados. As mudanças e exigências do cliente/sociedade são motivos fundamentais para a garantia da adap-tabilidade e da melhoria contínua. A convivên-cia harmônica de ordem, disciplina e de rotina com liberdade criativa é requisito indispensável para o funcionamento de um sistema de gestão da qualidade (LAMPRECHT, 1994).

O fator determinante da implantação e consolidação de programas de qualidade é a cultura local. A qualidade depende do quanto a organização (representada pela alta adminis-tração) e seus integrantes (representados pelos funcionários) consideram a qualidade como algo relevante (PALADINI, 2004).

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A palavra mudança é forte, ameaçadora, podendo estimular idealismo, revolução, des-contentamento, e não assegurar respeito aos valores existentes (BERGAMO, 1999).

Como em todo processo de mudança, as pessoas na empresa se dividiram em três grupos:

1. As que enxergaram aquele momento como uma oportunidade para exter-nar suas competências latentes;

2. As que se fecharam em seu medo; e

3. Aquelas que só entraram no jogo quando perceberam que o caminho trilhado pela empresa era responsável e seria levado a cabo. As pessoas deste grupo não comprometem o processo em sua fase inicial e abraçam a ques-tão com bastante intensidade quando aderem à mesma, pois o fazem por convicção. Entretanto, exigem sagaci-dade dos consultores do processo em sua fase inicial.

O primeiro grupo tem espírito proativo por natureza e sempre identifica nas oportunidades propostas pela empresa o momento de alcan-çar seus objetivos pessoais. Nesse grupo foram identificadas competências que levaram a de-finição do RD e de potenciais de liderança no grupo operacional, que atualmente já respon-dem como supervisores de células da produção.

A habilidade dos dirigentes na condução do processo de implantação do sistema de ges-tão pela qualidade possibilitou o resgate de vá-rios funcionários que se mostraram retraídos no início do processo. Entretanto, somente um funcionário preferiu não continuar na empresa durante o processo e outro após a certificação não sustentou sua posição no grupo.

4. Resultados Alcançados

Podemos relacionar resultados alcançados tangíveis e intangíveis. Entre os resultados tan-gíveis podemos citar:

1. Implantação e certificação do sistema de gestão pela qualidade no prazo de seis meses como previsto no crono-grama original (início em maio e tér-mino em outubro de 2009);

2. Ampliação do faturamento junto ao mercado atual (a meta de faturamen-to prevista para 2010 foi alcançada no mês de agosto, sendo revisada);

3. Aumento da satisfação dos clientes, com melhor atendimento dos contra-tos, medida pelos indicadores de pon-tualidade de entrega e de qualidade do fornecimento;

4. Aumento de investimento em equipa-mentos mais modernos (aquisição de dois tornos CNC);

5. Ampliação das instalações.

Entre os resultados intangíveis podemos selecionar:

1. O crescimento profissional dos fun-cionários que se mostram mais par-ticipativos e criativos na solução de problemas;

2. O relacionamento interpessoal melho-rou consideravelmente;

3. A comunicação interna foi ampliada com informações mais transparentes decorrentes da disponibilização do pro-grama de produção, da ordem de produ-ção e do quadro de gestão à vista com os indicadores de desempenho da empresa;

4. O fluxo de caixa melhorou com o fatu-ramento da quantidade certa no prazo estabelecido;

5. O poder de decisão ficou mais descen-tralizado dentro da organização.

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5. Conclusão

Este trabalho evidencia que a implantação do sistema de gestão pela qualidade em uma empresa de pequeno porte é viável trazendo re-torno tangível e intangível para a organização e, também, confirma a proposta da organização ISO de que a norma não visa burocratizar as empresas.

Nas palavras do Diretor da empresa: “o investimento na certificação pela norma ISO 9001:2008 trouxe um grande retorno, não só financeiro, mas principalmente no relaciona-mento interpessoal dos funcionários. Houve um crescimento profissional e eles se mostram mais participativos no processo e estimulados a colaborar através de seu conhecimento e sua experiência profissional. Eu já conhecia o pro-cesso com uma visão burocrática, portanto, fi-quei surpreso com a forma da implementação, pois o sistema foi implantado de forma simples e objetiva. As instruções de trabalho ficaram bem elaboradas e bem ilustradas facilitando a execução das atividades. Hoje a empresa está

apta a participar de concorrências na área de petróleo e gás e é procurada por clientes poten-ciais para cotação de serviços pelo fato de pos-suir a certificação”.

De acordo com dados do IBGE, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) respondem por 98% das empresas existentes no país. Temos atualmente 7284 empresas com certificados ISO 9001 válidos, isto é, certificados não venci-dos, não suspensos e não cancelados (dados do INMETRO 11/08/2010). Um número de empre-sas certificadas pouco significativo.

Segundo Alfredo Carlos Orphão Lobo, Diretor da Qualidade do INMETRO, esta cons-tatação sugere “ações para a criação de uma base tecnológica acessível às empresas de pe-queno porte e às que atuam no comércio”.

Fica clara a ideia de que temos um campo imenso a cultivar no que diz respeito à certifica-ção pela qualidade principalmente em relação às pequenas empresas, possibilitando assim o seu crescimento estruturado e garantindo a sua sobre-vivência num mercado cada vez mais competitivo.

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6. Bibliografia

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7. Anexos

Anexo I – Diagnóstico inicialIT

EM SGQ Responsabilidade da direção

Gestão de recursos RH/RM Realização do produto Medição, análise

e melhoria

1 Processos mapeados?

Política da qualidade Descrição de cargos? Programa de produção da satisfação dos

clientes?

2 Principais processos

Objetivos e indicadores

Política de treinamento?

Instruções e registros disponíveis? auditoria interna?

3 Processos terceirizados?

Reuniões de análise crítica sistemáticas? (com ata?)

Política de reconhecimento e recompensa?

Inspeções e ensaios requeridos?

indicadores de processos?

4 Processos especiais?

Satisfação dos clientes? Nº de funcionários Pedido de vendas: requisitos

dos produtos; análise críticaM&M de parâmetros de processos?

5

Tipos de documentos? (normas, desenhos, IT, registros)

Nº de clientes Nº de turnos 7.3 Projeto e desenvolvimento: aplicável?

M&M de produtos: inspeção, registro, critérios de aceitação e autoridade para liberação

6 Controle de documentos? Tipos de produtos

Tipos de software e base de dados; (backup?)

Pedido de compras: fornecedores aprovados; inspeção de recebimento;

7 Controle de registros? - Tipos de hardware /

equipamentos

identificação do produto quanto aos requisitos de monitoramento e medição

Controle de produto não conforme: autorização para seu uso; retrabalho; reinspeção 8 Manual da

qualidade - Política de manutenção Identificação da propriedade do cliente

9 - - Transporte próprio? Controle de equipamentos de M&M

Ações corretivas e preventivas

10 - - - Tipos e quantidade de equipamentos de M&M -

Anexo II – Descrição do processoRecursos Transformadores Recursos Humanos Software para processamento de dados Computadores e acessórios Internet, e-mail, fax

Diretor; Responsáveis por processos; RD; Do RH: Matriz de competências

Responsável:

ENTRADAS ATIVIDADES DO PROCESSO DA

QUALIDADE SAÍDAS

GESTÃO DO NEGÓCIO: 1. Política e Objetivos da

qualidade 2. Saídas das análises críti-

cas anteriores COMERCIAL:

3. Requisitos dos clientes TODOS PROCESSOS:

4. Resultados de auditorias anteriores

5. Desempenho dos processos

1. Controle de documentos e registros da qualidade

• Lista mestra de documentos (R-xx)• Tabela de registros (R-xx) 2. Auditoria interna • Programa anual de auditoria (R-xx) • Relatório de auditoria (R-xx) 3. Controle de produto não conforme e

ações corretivas e preventivas • Plano de ação (R-xx) 4. Pesquisa de satisfação dos clientes (R-xx) Para cada indicação regular ou ruim é aber-to um plano de ação corretiva (R-xx)

1. R-xx 2. R-xx 3. R-xx 4. R-xx 5. R-xx 6. Plano de ação (R-xx)

Métodos e Procedimentos Medição e avaliação

Política da Qualidade Objetivos da Qualidade Manual da Qualidade

Indicadores de desempenho (R-xx) 1. Nº de não conformidades / auditoria (semes-

tral) Satisfação dos clientes (mensal)

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A negação não psicótica da gravidez: vicissitudes de um não saber

The non-psychotic denial of pregnancy: vicissitudes of a not knowing

Thomás Gomes Gonçalves

ResumoO presente artigo aborda o fenômeno da negação não psicótica da gravi-dez. Constatou-se, a escassa produção científica sobre esse tema. Trata--se de uma situação na qual há uma negação por parte da mulher de sua própria gravidez. Ressalta-se como aspecto singular desse fenômeno a não presença de um diagnóstico de psicose, bem como o fato de que, muitas vezes, a constatação da gestação ocorre apenas no momento do parto. Este artigo explora algumas considerações sobre essa complexa situação e propõe uma leitura a respeito das consequências desse fenô-meno na relação mãe-bebê, a partir de aportes psicanalíticos de Donald Winnicott sobre a preocupação materna primária. Além de possibilitar uma reflexão sobre um fato que ocorre com certa frequência na clínica obstétrica, pretende-se provocar uma discussão a respeito de uma si-tuação cujos inegáveis efeitos interferem na qualidade dos momentos iniciais experienciados entre a mãe e filho.

Palavras-chave

Negação não psicótica da gravidez

Psicanálise

Preocupação materna primária

AbstractThis article addresses the phenomenon of non-psychotic denial of pregnancy. It was realized that there is a few scientific production about this topic. It is about a situation which there’s a denial from woman of her own pregnancy. It is highlighted as a singular aspect about the absence of a psychosis diagnostic, as well as, the fact that in many cases, that some women realize that they are pregnant just when they are in labor. This paper explores some considerations about this complex situation and proposes a lecture about the consequences of this phenomenon in the relationship between mother and child from psychoanalytic support by Donald Winnicott about the Primary Maternal Preoccupation. Besides enabling some thoughts about the fact which occurs with some frequency in the obstetrical clinic, it is intended to discuss about this situation which the undeniable effects interfere in the primary quality moments experienced between mother and child.

Keywords

Non-psychotic denial of pregnancy

psychoanalysis

primary maternal preoccupation

1. Psicólogo. Mestre em Psicologia Clínica pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutorando em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Membro da Associação Francesa pelo Reconhecimento da Negação da Gravidez (Toulouse, França). Psicanalista em formação pelo Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre.

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1. Introdução

A situação complexa de não reconheci-mento da própria gravidez por parte de mu-lheres sem diagnóstico de psicose tem sua compreensão pouco explorada em artigos cien-tíficos. Trata-se de uma situação denominada em inglês como non psychotic denial of preg-nancy. Nessa situação, ocorre um fenômeno de negação da própria gravidez, por parte de mulheres não psicóticas. Esse fenômeno pode ser definido como a falta de consciência sub-jetiva por parte da mulher em relação a estar grávida (WESSEL; ENDRIKAT; BUSCHER, 2002). Corroborando com essa asseveração, o termo “negação da gravidez” refere-se também à ignorância, por parte da mulher, de seu es-tado gravídico (FERRAGU, 2002). Na negação não psicótica da gravidez, a realidade está pre-servada, ou seja, a realidade não é substituída por outra realidade alternativa, logo as grávidas não estão vivenciando um episódio psicótico (SPIELVOGEL; HOHENER, 1995). Esse fenô-meno, então, não é nem uma dissimulação da gravidez e tampouco resultante de uma condi-ção psíquica de ruptura com a realidade. Não se trata, portanto, de uma situação na qual a mulher sabe que está grávida, porém não revela esse fato aos demais, por medo do que a gravi-dez possa causar em seu entorno.

Constatou-se, porém, mediante busca e leitura de artigos científicos nacionais e inter-nacionais, que são escassos os estudos reali-zados sobre essa temática. No Brasil não foi encontrada nenhuma produção sobre o tema. Logo, parece ser inquestionável a importância de abrir um espaço de reflexão e de estudo so-bre tão relevante situação (GONÇALVES; MA-CEDO, 2012).

Dessa forma, trata-se de um tema bastan-te importante no que diz respeito à experiência de maternidade, a qual tem e terá consideráveis efeitos psíquicos, tanto para a mulher frente ao nascimento de seu filho, quanto para a saúde emocional do bebê. Todos esses fatores motiva-ram o presente estudo sobre o fenômeno da non psychotic denial of pregnancy.

2. Non psychotic denial of pregnancy – considerações iniciais

Para melhor compreensão do fenômeno da negação não psicótica da gravidez, é necessário situá-lo como não raro e tampouco exótico, con-trariando, assim, o senso comum. O que chama atenção em termos de cada vez mais rara apari-ção diz respeito à gravidez psicológica, ou seja, pouco surgem na clínica situações desta natu-reza na qual uma mulher pensa estar grávida sem realmente estar (WESSEL; ENDRIKAT; BUSCHER, 2002). Além disso, a situação da ocorrência da negação não psicótica da gravi-dez é mais frequente do que a eritroblastose fe-tal e a ruptura uterina; sendo, ainda, três vezes mais comum do que o nascimento de trigêmeos (WESSEL; ENDRIKAT; BUSCHER, 2002).

Um dos fatores que contribuem para que a mulher negue a situação de estar grávida é a ocorrência de uma suposta menstruação. Em estudos realizados sobre a negação não psicóti-ca da gravidez, várias mulheres reportaram ter apresentado uma menstruação contínua, sendo que, em verdade, seria um sangramento que se confundiria com a menstruação (WESSEL; ENDRIKAT, 2005). A causa desse sangramen-to que leva a mulher a crer que esteja aconte-cendo uma menstruação regular ainda não é bem conhecida. Pode se tratar de um endomé-trio cervical instável ou de algo relacionado à cérvix como fonte do sangramento, ou ainda algo relativo à pseudo-menstruação advinda da decídua (WESSEL; ENDRIKAT, 2005). Ape-sar de divergirem sobre a sua origem, os auto-res concordam ao afirmar que o sangramento que ocorre na negação não psicótica da gravi-dez não é o sangramento de uma menstruação normal.

Quando nos deparamos com o fenômeno da non psychotic denial of pregnancy, é neces-sário refletir sobre os fatores de risco tanto para a mãe, quanto para o bebê. Os fatores de ris-co que concernem à negação não psicótica da gravidez denunciam certa discordância entre autores estudiosos dessa temática. Por um lado, alguns deles colocam como fatores de risco: o isolamento social, baixo poder aquisitivo, inte-ligência baixa, imaturidade, baixa idade, con-cepção premarital, a condição feminina de ser solteira e, até mesmo, a ingenuidade em relação

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às funções do corpo (NEIFERT; BOURGOIS, 2000). Por outro lado, certos achados contradi-zem esses fatores de risco, pois, em pesquisa com 65 casos de mulheres que apresentaram non psychotic denial of pregnancy, apenas nove tinham menos de 20 anos, mais de 80% pos-suíam um relacionamento estável e tinham en-sino completo, sendo que apenas um terço das participantes do estudo não tinha estado grávi-da anteriormente (WESSEL, 2007). Além des-sas refutações, os autores afirmam que alguns fatores de risco são insuficientes para identifi-cação da maioria das mulheres que negaram a situação da gravidez, enfatizando, no entanto, a heterogeneidade como uma característica do fenômeno.

A Portaria GM/MS nº 569/GM, de 1º de junho de 2000, do Ministério da Saúde do Bra-sil, estabeleceu o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), tendo como objetivo estimular que municípios e estados possibilitem um melhor acompanhamento às mulheres grávidas no cadastramento, nos exa-mes da etapa pré-natal, ampliação da cobertura, melhoria no acesso aos serviços de saúde para as gestantes, buscando, assim, diminuir as ta-xas de morbimortalidade materna e perinatal (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2000). No PHPN, vários exames laboratoriais e testes são preco-nizados, como, por exemplo, o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), que é um teste para identificação de pacientes com sífilis, além de testagem anti-HIV, exame de hemoglobina, hematócrito, etc. Trata-se de uma iniciativa do Ministério da Saúde que reconhece a importân-cia e visa atender necessidades decorrentes da condição de gravidez.

Logo, considerando-se a relevância de um acompanhamento pré-natal, um dos in-questionáveis riscos na situação de negação não psicótica da gravidez é o fato dessas mulheres não terem realizado nenhum exame de acompa-nhamento durante boa parte ou toda a sua gra-videz. O processo inteiro de acompanhamento e os exames citados deixaram de ser realizados devido a esta situação de não reconhecimen-to da gravidez por parte dessas mulheres, que colocam a si mesmas e ao feto em situação de risco. O fato de a gestante estar fazendo o pré--natal possibilita vários benefícios, tanto para ela mesma quanto para seu filho, sendo que este

acaba por apresentar um melhor crescimento intrauterino, assim, como menor mortalidade perinatal e infantil (HALPERN ET AL., 1998). O acompanhamento pré-natal é referido como um dos fatores que contribuem para que não haja uma taxa maior de mortalidade perinatal (TREVISAN ET AL., 2002). Alguns riscos são apontados para o recém-nascido na ocorrência de negação da gravidez, como a prematuridade e baixo peso na idade gestacional (WESSEL; ENDRIKAT; BUSCHER, 2002). Nessa dire-ção, existe a necessidade de se fazer uma ava-liação pediátrica, além de se ter um apoio do serviço social e uma avaliação da capacidade de cuidar de um filho para todas as mulheres que não fizeram o pré-natal (FRIEDMAN, HE-NEGHAN; ROSENTHAL, 2007).

Para que esta situação de negação da gravidez tenha ocorrido, pode-se supor que também alguns procedimentos por parte dos médicos tenham deixado a desejar. É o caso de que os médicos considerem, em seu exercício clínico, a possibilidade de uma negação não psicótica da gravidez frente à necessidade de um diagnóstico diferencial, ou seja, para mu-lheres que estejam apresentando náuseas, dores abdominais, aumento de peso, e tendo ou não amenorreia, deveria ser considerada a possibi-lidade de negação da gravidez (FRIEDMAN, HENEGHAN; ROSENTHAL, 2007).

Outra consequência possível frente ao fenômeno da negação não psicótica da gravi-dez é a ocorrência do neonaticídio. Para melhor compreensão da dinâmica própria dessa situa-ção, é necessário diferenciar o neonaticídio do infanticídio e do filicídio. Os três fenômenos são assassinatos praticados por um ou por am-bos os pais contra seus filhos. O neonaticídio é a morte de um recém-nascido nas primeiras 24 horas de vida, já o infanticídio se caracteriza pela morte de uma criança até um ano de idade e o filicídio é a morte de indivíduos com idade superior a um ano (RESNICK, 1969). Não há nenhum crime de compreensão mais complexa do que o assassinato de um bebê pelo seu pro-genitor (RESNICK, 1970). São descritos dois tipos diferentes de neonaticídio: ativo e passivo. O primeiro se refere a uma violência direta re-lacionada a um pânico extremo, e o segundo a uma negligência praticada contra o bebê logo após o parto (BONNET, 1993).

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As motivações para que um progenitor mate seu filho são muito diferentes no neonati-cídio, quando se compara ao filicídio. No neo-naticídio o motivo aparente mais comum é o de filho não desejado, com 83%, enquanto que no filicídio essa porcentagem cai para 11%; em re-lação a uma motivação altruísta, ou seja, nos casos de transtorno de depressão maior, depres-sões psicóticas e psicose, no filicídio essa mo-tivação é a predominante, com 53%, enquanto que no neonaticídio esse número cai para 3% (BONNET, 1993).

É importante ressaltar que as mães que cometem neonaticídio não apresentam transtor-nos mentais significativos (BONNET, 1993). O neonaticídio não está relacionado com a tristeza materna (baby blues), pois esta ocorre aproxi-madamente três dias depois do parto (DOB-SON; SALES, 2000). O neonaticídio não é um ato premeditado e, sim, uma resposta a uma si-tuação de forte intensidade, tal como a culpa, o medo e o choque (PITT; SALE, 1995).

Por isso, é importante que o fenôme-no da negação não psicótica da gravidez seja encarado como uma situação que efetivamente pode acontecer e, ainda, tendo uma frequência até mesmo maior do que a inicialmente pensada por leigos e profissionais de modo geral. A in-tervenção adequada por parte de profissionais que lidam diretamente com mulheres e com situações de ocorrência de uma gravidez pode evitar as graves consequências decorrentes des-se fato, como, por exemplo, as importantes di-ficuldades emocionais nestes tempos iniciais da relação mãe-bebê.

2.1. A negação não psicótica da gravidez: reflexões a partir de Donald Winnicott

Algumas considerações quanto aos aspec-tos emocionais são importantes na aproxima-ção e estudo do fenômeno da negação da gravi-dez não psicótica. Nesse sentido, encontram-se, nos aportes psicanalíticos de Donald Winnicott, elementos que contribuem para a exploração das complexidades psíquicas envolvidas nessa situação. O conceito de Preocupação Materna Primária (WINNICOTT, 1950) refere-se a um estado de grande sensibilidade em que se en-contra a mãe durante e, principalmente, no final da gravidez. Em inglês, o termo para Preocu-

pação Materna Primária é Primary Maternal Preoccupation. É interessante analisar a defi-nição sobre o verbete preoccupation. Segundo o dicionário AURÉLIO (2007), preoccupation refere-se a um estado de pensamento contínuo sobre alguma coisa; algo que o sujeito pensa frequentemente, ou por um longo tempo, ou ainda um estado de espírito criado pelo pen-samento que resulta em cuidado sobre alguma coisa e em ignorância quanto a outras. Assim, a pessoa que está preocupada não presta atenção nas demais coisas, pelo contínuo pensamento e inquietação sobre algo.

Na preocupação de uma mãe preocupada não se trata de algo corriqueiro, ou seja, não é uma preocupação qualquer, e sim uma preocu-pação que passa pelos cuidados que despende a seu filho recém-nascido. É uma preocupa-ção que envolve o acalmar, aquecer o corpo do bebê, amamentá-lo e consolá-lo em suas dores

(GRANATO, 2000). A Preocupação Materna Primária é definida como uma condição que a mãe deve alcançar, no início mesmo da vida do bebê, que corresponde a uma sensibilidade exacerbada sobre tudo o que diga respeito a seu filho (WINNICOTT, 1950). Essa condição se prolonga por algumas semanas após o parto e, não fosse o fato da própria gravidez, esse es-tado seria considerado uma doença, devido às suas características de retraimento, dissociação e fuga, podendo ser comparado também a um estado mais profundo, como um episódio esqui-zoide (WINNICOTT, 1950). Além disso, segun-do DIAS (2003), este estado em que se encontra a mãe é de extrema importância para o bem-es-tar do lactente. Se existe uma mãe preocupada, há um bebê que está numa continuidade de ser.

É relevante aqui diferenciar o que é da or-dem da espontaneidade e o que é da ordem da reatividade. Nesse sentido, o bebê é pensado como uma bolha. Se a pressão externa e a pres-são interna estão equalizadas, este bebê, esta bolha, pode seguir na sua existência, este bebê pode continuar sendo. Caso a pressão externa e a interna estejam descompassadas, haverá uma reação à intrusão (DIAS, 2003). Essa bolha se modifica como reação a uma mudança no am-biente, não passando por um impulso próprio. A autora refere que, nessa situação, “o bebê terá uma interrupção do ser, produzida pela reação à intrusão” (DIAS, 2003, p.159).

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Este fenômeno da Preocupação Materna Primária proporciona uma situação na qual al-guém está suficientemente identificado com o bebê, identificando, desse modo, suas deman-das e dando condições de continuidade de ser ao bebê. Em relação a esta condição de iden-tificação, as mães vão, gradativamente, ainda com seu bebê no útero, tendo uma percepção aguçada perante as necessidades do filho que está sendo gestado (WINNICOTT, 1979). Essa identificação permanece por algum tempo após o parto e vai perdendo sua relevância aos pou-cos. Sem essa identificação, a mãe não estaria atendendo aquilo que é necessário no começo da vida seu filho, ou seja, uma adaptação viva às necessidades do recém-nascido (WINNI-COTT, 1979). Porém, um aspecto que merece ser destacado é a menção feita por Winnicott ao fato de que a mãe deve ter saúde suficiente para desenvolver este estado de doença/enamo-ramento e, também, para recuperar-se dele à medida que o bebê a libere (MOREIRA, 2007).

Por mais que a preocupação materna pri-mária esteja atrelada à condição de maternida-de, há mulheres que, de alguma forma, evitam entrar em contato com esse tipo de estado, ou seja, evitam se submeter à regressão que existe nessa condição; não conseguindo assim se di-recionar e se focar no bebê que esperam, não obtendo, dessa forma, uma identificação com o bebê (DIAS, 2003). Nas situações em que as mães que não estabelecem uma comunicação profunda com os seus filhos, por estarem ocu-padas com outras preocupações, há o sério risco de que elas não consigam cuidar do lactente de forma adequada, fazendo-o somente, então, por via mental, de maneira engessada, intelectua-lizada e deliberada. Neste modelo de relação, provavelmente, a mãe seguirá apenas roteiros de como se deve cuidar de um bebê, tendo, as-sim, um contato impessoal, não estabelecendo um cuidado suficientemente bom (DIAS, 2003).

Associando, portanto, o conceito de Preo-cupação Materna Primária com a situação de negação da gravidez em mulheres não psicóti-cas, pode-se apresentar algumas importantes considerações. Tomando como ponto de partida a constatação de que essas mulheres não sabiam que estavam grávidas, cabe a reflexão a respeito do quanto a sua relação com o bebê pode ficar prejudicada. Justamente por essas mães não

terem estado nessa condição de sensibilidade, tão necessária para uma adaptação melhor do lactente ao mundo, cabe a preocupação com os efeitos prejudiciais daí decorrentes tanto para a mãe, quanto para seu filho. Esta provisão am-biental tão essencial para o desenvolvimento maturativo das primeiras semanas e meses da vida do bebê, quando falha, pode constituir-se em um fator traumático que terá importante re-percussão no processo de integração que favo-rece ou não a formação de self (WINNICOTT, 1979). Quando não há essa falha, o bebê vive de maneira subjetiva, por um certo período de tempo, num mundo onde a realidade externa não está incidida; e este bebê vive “um senso de predizibilidade, e, desta maneira, as funções dos estágios iniciais muito delicados do crescimento da personalidade podem ser assentadas. Profila-xia, no contexto da saúde mental, é a provisão de uma facilitação suficientemente boa neste es-tágio inicial” (WINNICOTT, 1979, p.220). Este senso de predizibilidade é “uma espécie de co-nhecimento baseado na familiaridade, que torna possível ao bebê ser capaz de reter lembranças, esperar pelos cuidados e cogitar a respeito dos sentimentos da mãe. Desse modo, é a previsi-bilidade dos cuidados maternos que viabiliza o encadeamento paulatino de um sentido de pas-sado, presente e futuro e a conformação do eu enquanto uma unidade” (MELLO, 2008, p.44) .

Pode-se pensar, portanto, na relevância de um momento anterior a esse, ou seja, a vida intrauterina. Como se dá o acompanhamento/experiências do período pré-natal e quais as possíveis consequências da não consciência da mãe perante a sua própria gestação?

Em algum momento da gestação o bebê tem um primeiro despertar, ou seja, uma cons-ciência ainda muito primitiva, assim como um incipiente estado de ser e da continuidade de sua existência no tempo. Os movimentos que o feto faz vão sendo retidos por memórias corpo-rais e, aos poucos, a junção dessas memórias vai vingar num novo ser humano. Quando o movimento parte de dentro para fora, ou seja, a ação advém do bebê e a mãe consegue respeitar essa exploração que o bebê está fazendo do am-biente, isso ajudará a estabelecer um padrão de relacionamento. Por outro lado, se o movimento parte do externo para o interno, isto é, se o am-biente se antecipa ao movimento do bebê, ocor-

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rerá uma intrusão nesta tentativa de criação de um padrão de relacionamento (DIAS, 2003).

O bebê pode ser atingido, ainda na vida intrauterina, por uma rigidez ou inadaptabili-dade advindas da ansiedade ou de um estado depressivo materno (WINNICOTT, 1988). Cabe também ressaltar que “o feto pode sentir mudanças repentinas no ritmo cardíaco da mãe, bem como suas movimentações bruscas ou os efeitos de uma alimentação tóxica ou desregra-da” (WINNICOTT, 1979, p.159). Logo, deve--se considerar o prejuízo que pode sofrer o feto quando a mãe não está consciente de estar ges-tando um ser que necessita, desde essa época, de um cuidado especial.

Há três maneiras mediante as quais se dá a comunicação entre a mãe e seu feto: por meio empático, fisiológico, além do comportamen-tal. Por via fisiológica, segundo a autora, a mãe vincula suas emoções ao bebê e, além disso, qualquer outra substância de que a mãe faça uso irá passar diretamente para o feto, como, por exemplo, o álcool, o fumo, drogas, etc. Já, por via empática, a mãe se vincula ao desenvol-vimento afetivo do feto, estando afetivamente disponível para ele. A via comportamental tam-bém irá ganhar repercussão na vida intrauteri-na, então, se espera que a mãe faça de seu com-portamento uma marca que não seja traumática

(WHILHEM, 2006). Assim, a influência am-biental pode iniciar-se numa etapa muito preco-ce, determinando se, futuramente, a pessoa, ao buscar a confirmação de que a vida vale a pena, irá à procura de experiências, ou se retrairá, fu-gindo do mundo (WINNICOTT, 1974).

Depois de um “primeiro despertar” na vida intrauterina, algum tempo antes do nas-cimento, ocorre o “grande despertar”, em que o bebê está pronto para nascer (DIAS, 2003). Assim que o bebê nasce, ele depende “funda-mentalmente da presença de um ambiente fa-cilitador que forneça cuidados suficientemente bons” (DIAS, 2003, p.96). Este ambiente facili-tador frente ao nascimento do bebê correspon-de à condição materna de ser uma mãe suficien-temente boa. Essa mãe tem como uma de suas tarefas exercer a sua função de holding para com o bebê, ou seja, dar uma sustentação ade-quada, que ajudará no processo de integração do lactante (CELERI, 2007). O holding diz res-peito ao colo físico e psicológico, que defende

o bebê de intrusões do ambiente (GRANATO, 2000). Essa modalidade de defesa protege o bebê de um retorno a um estado não integrado, do predomínio de estados de confusão psíquica, protegendo-o, portanto, de danos reais e fanta-siados, e facilitando os processos de integração

(GRANATO, 2000). Além disso, o holding se refere a uma “contenção física com seu subs-trato emocional. É o colo, o modo de envolver o bebê com cuidado, atenção e apoio afetivo” (SONAGLIO, 2009, p.120). Outra função que a mãe deverá exercer junto a seu bebê é o han-dling, o qual envolve “toda a sorte de cuidados físicos dispensados ao bebê, que propicia a in-tegração psicossomática” (DIAS, 2003, p.17). Portanto, a qualidade do envolvimento materno tem importante e inegável repercussão no ma-nejo de situações cotidianas no convívio com seu filho e na inscrição de vivências que servi-rão de alicerce ao psiquismo infantil.

Por fim, cabe, também à mãe a condição de apresentar os objetos à criança, ou seja, pas-sa pelo exercício da função materna a oferta de condições para que ocorra uma “situação em que o quê, o como, o quando e o quanto a realidade externa é apresentada ao bebê são fundamentais, ocasião em que poderá utilizar seu potencial criativo, caso a mãe se ofereça como filtro que simplifica e adapta a realidade às suas necessi-dades e habilidades” (GRANATO, 2000, p.17).

Em casos do fenômeno de negação não psicótica da gravidez, se fazem presentes con-dições que podem levar à impossibilidade de recursos para que se estabeleçam o holding, o handling e apresentação de objetos adequados ao bebê. Cabe uma reflexão a respeito dos com-prometimentos emocionais gerados por essas falhas no processo de integração e amadureci-mento pessoal do bebê, bem como sobre as di-ficuldades que podem se manifestar na relação desta mãe com o seu bebê.

3. Considerações finais

Apesar da gravidade de efeitos decorrentes do fenômeno da negação não psicótica da gravi-dez, constatou-se a existência de poucos artigos científicos tanto na produção científica nacional, quanto internacional, a respeito dessa situação. Considerando ser inegável a presença desse fenô-

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meno na clínica médica e a necessidade de bus-car melhor compreensão sobre a complexidade de fatores envolvidos nessa situação, o presente artigo buscou trazer à luz o tema e propor algu-mas reflexões sobre ele. Trata-se de uma situação não rara, na qual tanto a mãe quanto seu filho situam-se frente a riscos físicos e emocionais.

O fenômeno da negação não psicótica da gravidez interroga e solicita um olhar mais am-plo, que não esteja restrito apenas a uma questão obstétrica, mas também contemple um questio-namento a respeito das consequências psíquicas decorrentes de falhas na relação mãe-bebê des-de a vida intrauterina. Sabe-se da relevância de que, mesmo antes do nascimento, a mulher possa

ocupar-se das importantes demandas decorren-tes da condição de estar gestando uma criança.

Os aportes de Winnicott a respeito dos tem-pos iniciais da relação mãe-bebê trazem à cena estas questões emocionais vinculadas à constru-ção dessa relação e contribuem para uma reflexão sobre a necessidade e a urgência de buscar um es-tudo aprofundado sobre essa problemática. Logo, reafirma-se a relevância do Programa de Huma-nização no Pré-natal e Nascimento proposto pelo Ministério da Saúde. O tema da humanização requer considerar e atender demandas do período gestacional e no nascimento que assegurem me-lhores recursos para os dois protagonistas de uma relação singular e inaugural da condição humana.

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Aprovado em 12/2013

ISSN1809-9475

Dilemas da compensação: as mudanças nos meios de vida das famílias de Pedra Negra atingidas pela construção da Usina Hidrelétrica do Funil

Compensation dilemmas: changes in livehood of Pedra Negra’s families affected by the construction of the Funil´s Hydroelectric Plant

1 Douglas Mansur da Silva2 Natan Ferreira de Carvalho

ResumoO presente artigo tem como objetivo analisar as mudanças nos meios de vida das famílias de Pedra Negra atingidas pela construção da UHE Fu-nil. A partir da consulta aos documentos referentes ao processo de licen-ciamento ambiental do empreendimento, da realização de entrevistas e de trabalho campo, procuramos analisar os recursos e estratégias de vida acionadas por essas famílias antes e depois da construção da usina. Buscamos compreender, ainda, o papel que os programas de compensa-ção, na área socioeconômica, propostos pelo consórcio empreendedor, assumem dentro desta problemática.

Palavras-chave

Usinas Hidrelétricas

Licenciamento Ambiental

Meios de vida

AbstractThis article aims to analyze the change in livelihoods of families affected by the construction of a hydroelectric plant (called Funil) in Pedra Negra, Minas Gerais, Brazil. We analyzed the documents related to the licensing process of the project, beyond the use of detailed interviews and fieldwork. Thus, we analyzed the strategies driven by these families before and after the construction of the plant, also trying to understand the role that compensation programs in the socioeconomic area, proposed by the consortium of entrepreneurs, assume within this problematic.

Keywords

Hydroelectric Factory

Ambiental Licensing

Livehoods

1. Antropólogo. Departamento de Ciências Sociais/Universidade Federal de Viçosa.

2. Mestre em Extensão Rural.Universidade Federal de Viçosa.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

O barramento do Rio Grande no ano de 2002, visando à formação do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) do Funil – uma parceria entre a VALE (51% de participação) e a Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG (49% de participação) – provocou a inundação de uma área de aproximadamente 34,71km², em áreas dos municípios de Lavras, Perdões, Bom Sucesso, Ijaci, Itumirim e Ibitu-runa, na região do Campo das Vertentes, no es-tado de Minas Gerais. A área inundada era o lu-gar onde moravam várias famílias que, ao longo dos anos, constituíram seus meios de vida.

O conceito de meios de vida tem sido bas-tante utilizado para analisar processos de desen-volvimento em países pobres, principalmente no continente africano (ELLIS, 2000), por meio da identificação e compreensão dos diferentes modos com que as pessoas constroem suas for-mas de vida. O termo, comumente usado em re-lação aos processos do mundo rural, aborda as diferentes combinações de recursos utilizados localmente como estratégia para construir as formas de reprodução social através do traba-lho (agrícola e não-agrícola), redes sociais, co-nhecimento, tecnologia, emprego, utilização de recursos naturais e outras formas de obtenção de renda (HENBICK, 2007).

Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo analisar o processo de mudança nos meios de vida das famílias atingidas pela cons-trução da UHE Funil, em particular das fa-mílias da comunidade de Pedra Negra, tendo como foco os programas de compensação so-cioeconômica adotados e as mudanças em rela-ção ao trabalho e à obtenção de renda.

Ao compararmos as diferentes formas com que esses programas, formas de trabalho, recursos e estratégias assumiam antes e assu-mem agora, mais de dez anos após a constru-ção da usina, buscamos compreender como se deu o processo de reprodução social dessas famílias, particularmente através do trabalho, da utilização de recursos naturais disponíveis e outras formas de obtenção de renda. Por con-seguinte, torna-se importante discutir e avaliar a efetividade ou não dos Programas de Reati-vação Econômica propostos pelo consórcio em-preendedor como forma de compensação pelos

danos causados pela construção da usina, bem como analisar as permanências e mudanças em relação às atividades de trabalho exercidas por essas famílias antes e depois da UHE.

A obra atingiu diretamente as comunida-des de Macaia, Ponte do Funil e Pedra Negra, esta última uma das mais afetadas pelo proces-so. Era uma comunidade de atividade econômi-ca rural, que vivia às margens do Rio Grande, em um local de difícil acesso: só se chegava até lá pela estrada de chão ou pela balsa que vinha de Macaia e foram vários os relatos dos mora-dores sobre o fato de ficarem ilhados em épocas de chuva. A maioria da população trabalhava na “panha de café” e em outros serviços rurais nas grandes fazendas da região, que empregavam famílias inteiras, inclusive as crianças, que co-meçavam cedo a ajudar os pais no trabalho na la-voura (LOPES, 2011). A comunidade ribeirinha acostumou-se a usufruir das terras férteis que acompanhava o seu leito, das suas praias, suas águas, os peixes e a mata que o acompanhava; enfim, construíram suas vidas junto à dinâmica do rio, que algumas vezes transbordou e causou sérios problemas aos moradores de Pedra Negra.

Entretanto, essa dinâmica social foi sig-nificativamente alterada a partir do início dos estudos para a implantação da UHE Funil. No geral, os moradores desconheciam o processo de construção de uma UHE, bem como os seus efeitos sociais. Além disso, o fato de as famílias de Pedra Negra não terem contato ou apoio mais significativo de entidades externas que as pudes-sem orientar – como o próprio Movimento dos Atingidos por Barragens, ou ONG’s, ou até mes-mo grupos ligados à Igreja ou universidades -, fez com que acabassem por não constituir uma mobilização efetiva a fim de obterem mais infor-mações sobre todo o processo, seus direitos, bem como onde e como reivindicá-los. Após a cons-trução da UHE, Pedra Negra se transformou em um bairro urbano da cidade de Ijaci, um lugar com características socioambientais bastante distintas das que estavam acostumados a viver antes da usina, o que provocou alterações signi-ficativas nos seus meios de vida.

Levando-se em conta o fato de que os meios de vida não são estáticos, mas se inse-rem em contextos de heterogeneidade social e se transformam ao longo da vida dos atores que buscam responder aos diversos fatores pelos

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quais estão expostos e que alteram seus meios de vida (mudanças climáticas – secas, enchen-tes, etc. –, perda de rendimentos, mudanças es-truturais como as provocadas pela construção de uma UHE, entre outros), a pesquisa teve como foco indivíduos em relações sociais con-cretas, bem como suas representações sobre o processo que viveram, sem perder de vista as implicações entre processos sociais em múlti-plas escalas (local, regional, global).

Nesse sentido, foi necessária a realização de uma pesquisa de campo intensa numa unida-de de análise menor, para que se pudesse com-preender o comportamento concreto e a prática cotidiana de um número restrito de indivíduos. Procuramos seguir a tradição dos estudos et-nográficos, buscando a permanência junto às famílias do bairro Pedra Negra, vivenciando parcialmente suas experiências diárias, travan-do contatos e diálogos para tentar compreender os discursos, as práticas, ações, interações e estratégias assumidas pelos indivíduos, sem a pretensão de abarcar a totalidade de opiniões existentes entre as famílias do bairro em rela-ção ao tema aqui estudado. A pesquisa de cam-po ocorreu ao longo de 2012, com permanência por um período maior de tempo nos meses de janeiro, fevereiro, julho, agosto e novembro.

De forma complementar, consultamos os arquivos da Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Sul de Minas, em Varginha, para analisar os docu-mentos referentes à concessão do licenciamento ambiental da UHE Funil. Além disso, realizamos entrevistas semiestruturadas com alguns atingi-dos e com uma técnica que à época da construção da usina foi contratada pelo consórcio empreende-dor para fazer o levantamento histórico e cultural das comunidades que seriam atingidas. O projeto de pesquisa e sua metodologia foram submetidos e aprovados, em seus aspectos éticos, pelo Comi-tê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Federal de Viçosa.

2. Licenciamento e mitigação

Para entendermos melhor o processo de construção da UHE Funil, torna-se necessário analisar os aspectos econômicos, políticos, so-ciais e culturais que envolvem a construção de

UHEs no Brasil e, em particular, no estado de Minas Gerais. Segundo Paul Little (2003), no Brasil, um dos resultados práticos das múltiplas discussões, pressões políticas e mobilizações sociais em torno da questão ambiental foi a expansão da ação governamental brasileira na área, incluindo uma legislação e políticas am-bientais específicas. Contudo, como destaca o autor, várias dessas medidas incomodaram di-versos setores do próprio Estado, bem como de empresas privadas, que passaram a considerá--las como entraves ao desenvolvimento. Na área de legislação ambiental, o debate mais marcan-te se deu em torno da questão do processo de licenciamento ambiental que, apesar de muitas críticas, é considerado como um dos principais instrumentos da Política Nacional de Meio Am-biente. (ZHOURI et al., 2005). O licenciamento ambiental é um procedimento administrativo e uma exigência legal (Lei n°7.772, 1980) em re-lação a atividades causadoras ou potencialmen-te causadoras de impactos ambientais. Apesar de reconhecerem esse avanço institucional, os autores acima citados apresentam uma forte crítica ao processo de licenciamento, princi-palmente ao explicitarem os problemas polí-ticos-estruturais e procedimentais do mesmo, mostrando como o campo é constituído por po-sições hierarquizadas e relações de poder muito desiguais. (ZHOURI et al. , 2005; 2011)

Como argumenta Ribeiro (2008), a na-tureza jurídica da licença ambiental é matéria bastante polêmica, comportando divergências de interpretação pelos especialistas do Direito quanto ao seu poder de intervenção e decisão sobre as iniciativas de investimento em ativida-des econômicas. Conforme o autor, segundo o entendimento de alguns juristas, o ato adminis-trativo do licenciamento ambiental se aproxi-maria mais de uma licença, no sentido do Direi-to Administrativo, do que de uma autorização:

As diferenças de tal distinção estão rela-

cionadas ao fato de que em se tratando de

licença, o administrador, ou seja, o Estado,

através do órgão ambiental, estaria sem-

pre obrigado a conceder as licenças soli-

citadas, desde que os pressupostos legais

fossem cumpridos. (...) Por outro lado, o

entendimento jurídico que identifica no li-

cenciamento um ato de natureza própria

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das autorizações compreende a hipótese

da negativa quando as avaliações técnicas

e discussões públicas sobre as restrições

socioambientais das atividades sob licen-

ciamento revelem a inconveniência de sua

implantação. (RIBEIRO, 2008: 15).

O que se tem observado é a predominância do primeiro argumento, ou seja, o que tende a interpretar o ato administrativo do licenciamen-to ambiental como um direito do empreendedor, desde que seu projeto seja devidamente adequa-do, mesmo que em fase adiantada do processo de licenciamento, com as medidas de mitigação e de compensação ambientais. Ou seja, nessa per-cepção – que não admite a hipótese da inviabili-dade ambiental de projetos - todos os empreen-dimentos podem ser executados, sob a condição da implementação de medidas que atenuem e/ou compensem seus impactos socioambientais.

Ao fazer uma análise da estrutura e do funcionamento do Conselho Estadual de Políti-ca Ambiental de Minas Gerais, Carneiro (2005) aponta para o processo de oligarquização do exercício do poder no Conselho, ressaltando a limitação deste enquanto um espaço democráti-co e representativo da diversidade social. Além disto, também chama a atenção para o fato de que a política ambiental mineira, na forma com que vem sendo conduzida ao longo dos anos, se resume a um “jogo de mitigação” onde, por razões estruturais, a interação entre os agentes conduz à formação de um sistema rotinizado de disputas técnico-jurídicas cujo alcance se res-tringe à definição do grau de rigor mitigatório a ser observado no julgamento de processos de licenciamento ambiental (op.cit.).

Com isso, apesar de todo o procedimento envolvendo a concessão de licenças ambientais, e da tentativa de se promover um espaço aber-to para que as partes envolvidas construam os seus argumentos e expressem suas interpreta-ções da realidade, há uma grande assimetria de poder existente entre os envolvidos no proces-so. Na prática, o que em geral se vai negociar são os projetos de mitigação e de compensação que, muitas vezes, nem contemplam a interpre-tação/reivindicação dos atingidos, sendo pauta-dos apenas a partir da visão de mundo que guia a lógica dos técnicos.

3. O caso de Pedra Negra: progra-mas de reativação econômica e cursos oferecidos

Na maioria dos casos, os benefícios aos atingidos anunciados pelo consórcio empreen-dedor dizem respeito aos programas de miti-gação e compensação. Além disto, o procedi-mento geralmente utilizado na elaboração dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA), de sepa-rar o meio ambiente em meios físico, biológico e socioeconômico, é uma expressão do olhar fragmentado em relação à Natureza, e serve de orientação aos técnicos das empresas de consul-toria contratadas para este tipo de serviço. Ao agirem dessa forma, desconsideram “o entrela-çamento empírico entre esses meios, bem como as dinâmicas socioculturais de apropriação, uso e reprodução dos recursos ambientais” (FASE, 2011: 22). Uma expressão disso é a elaboração de uma série de EIAs padronizados (ZHOURI, 2008; FASE, 2011), alguns sendo inclusive co-piados e usados no licenciamento de empreen-dimentos totalmente distintos.

Dentro desta lógica de fragmentação, o que se tem observado é que o aspecto social vem sendo sistematicamente subvalorizado no processo de licenciamento (op.cit.). Em relação à UHE Funil esta questão se mostrou bastan-te nítida. Em entrevista, uma técnica envolvi-da nesse processo nos contou que a ideia de se fazer um levantamento histórico e cultural das comunidades atingidas não partiu do consórcio empreendedor, pois o estudo, a princípio, se limitava à dimensão técnica e estrutural. Du-rante a entrevista, a técnica comenta sobre seu trabalho desenvolvido nas comunidades:

Nosso trabalho foi pra minimizar mesmo,

mostrar, e foi um trabalho que hoje eles

estão fazendo em outros locais, porque

o homem não fazia parte do meio, o ho-

mem era pra chegar, negociar, tirar dali e

pronto acabou. Até o nosso trabalho era

isso, porque nós vimos os trabalhos das

outras usinas, eles mostraram pra gente

os livros, então tinha aquele registro de

arquitetura, registro de natureza, mas de

homem não falava. (entrevista técnica 1,

agosto de 2012)

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No que concerne aos programas de com-pensação socioeconômica das comunidades atingidas pela UHE Funil, em documento con-sultado na SUPRAM do sul de Minas, em Var-ginha, a FEAM discorda da afirmativa do Pla-no de Reativação Econômica onde o consórcio afirma que “os empreendedores não têm a obri-gação de realizar investimentos nas proprieda-des, uma vez que já indenizaram ou adquiriram as áreas inundadas” (FEAM – LO- C. AHE Fu-nil- 00122/1992/003/2002. [Anexos 15,16,17] ). Segundo a FEAM:

Do ponto de vista socioambiental, a res-

ponsabilidade do empreendedor pela

compensação ou mitigação dos impactos

determinados pela implantação da usina

não se esgota no pagamento de indeniza-

ção, mas sim, avança na perspectiva de

recomposição, em níveis atuais ou me-

lhores, das condições de vida das famílias

afetadas (IBID, 2002 ).

Neste sentido, apesar do argumento inicial apresentado pelo consórcio, como decorrência do EIA elaborado para atender as exigências previstas no licenciamento ambiental da UHE Funil, foram apresentados no Plano de Contro-le Ambiental (PCA), uma série de programas e projetos com o intuito de mitigar e compensar os danos causados pela usina.

O Programa de Reativação Econômica foi apresentado como uma alternativa de renda às famílias relocadas, tendo sido elaborado em par-ceria com a EMATER/MG, que ficaria responsá-vel pelas ações no âmbito dos estabelecimentos agropecuários, e o SEBRAE/MG, que atuaria nos aglomerados urbanos atingidos. Como cons-ta no site do consórcio empreendedor:

O Programa tem como objetivo oferecer

alternativas de geração de renda através

do apoio técnico, estrutural e financeiro

às famílias relocadas pelo empreendi-

mento. A premissa básica do progra-ma é o trabalho organizado de forma coletiva. O atendendo acontece com os grupos de pessoas que se organi-zaram de forma espontânea em torno dos mesmos interesses de atividades. (CONSÓRCIO AHE FUNIL, 2013)

De acordo com o relatório de uma das con-sultoras contratadas, os estudos de campo se ini-ciaram em fevereiro de 2002. De março a maio daquele ano foi aplicado um questionário para coleta de dados e identificação in loco dos pro-blemas/expectativas individuais (MOTA, 2011). Importante ressaltar aqui o atraso em relação a esses estudos, que se iniciaram a nove meses do fechamento das comportas para o enchimento do reservatório da usina. Em 2003, após o en-chimento do lago, foi contratada pelo consórcio empreendedor a empresa Práxis Projetos e Con-sultoria Ltda., de Belo Horizonte, para a elabora-ção e acompanhamento das atividades relativas ao Programa de Reativação Econômica. Após o mapeamento dos focos de interesse dos atingi-dos, constatou-se a necessidade de priorização dos investimentos nas quatro atividades po-tencialmente geradoras de renda identificadas: Projeto de Agricultura, Projeto de Artesanato, Projeto de Culinária e Projeto de Pesca (op.cit.).

Entre os moradores de Pedra Negra foram desenvolvidos, prioritariamente, os projetos de artesanato - por iniciativas como a fabricação de móveis feitos com bambu - e de culinária – por meio da confecção de doces e salgados. -, tendo sido explorados também algumas intervenções referentes ao projeto de agricultura - através da tentativa de construção de uma horta comunitá-ria. O projeto de pesca foi desenvolvido exclusi-vamente na nova comunidade da Ponte do Funil.

Diversas tentativas foram feitas, ao lon-go dos anos, no sentido de procurar fazer com que essas atividades dessem bons resultados. No entanto, o que pudemos perceber durante a pesquisa foi que nenhum desses programas es-tava funcionando efetivamente. O local onde se tentou fazer a horta comunitária estava coberto de mato, a casa que construíram para servir de sede para os que trabalhariam com o artesanato estava abandonada e a única associação em fun-cionamento era a Associação das Doceiras São José da Pedra Negra – Delícias da Estação, que contava com cinco membros que trabalhavam de forma individual e esporádica, por encomenda.

Em conversa com alguns atingidos que par-ticiparam dessas alternativas, muitos disseram que o principal problema enfrentado pelos traba-lhadores foi a falta de união e a dificuldade de se trabalhar coletivamente, pelo menos da maneira como foi proposto. Como comentou um atingido:

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... porque geralmente Pedra Negra era as-

sim né, cada um fazia o que quisesse no

seu cantinho né, nunca trabalhou em con-

junto... trabalhava em conjunto assim, na

fazenda né, mas lá tinha um organizador,

então chegou na sua casa cada um fazia

o seu né, nunca viu falar num conjunto,

nunca ouviu falar num grupo, sei lá, por-

que isso aí faz parte... (entrevistado 1, fe-

vereiro 2012).

Ao que parece os atingidos não tinham o costume de trabalhar de forma coletiva. Nesse sentido, não sabemos até que ponto “o gerencia-mento dos grupos de trabalho é mais simples do que o atendimento de casos individuais” (CON-SÓRCIO AHE FUNIL, 2013), como afirma o consórcio empreendedor, uma vez que em to-dos os programas implementados, os conflitos internos e a dificuldade de se trabalhar coleti-vamente foram apontados pelos atingidos como um dos principais entraves para o desenvolvi-mento das iniciativas.

Além dessa dificuldade, outra questão im-portante é o fato de que a maioria dos atingidos não tem condições financeiras de se dedicarem efetivamente aos projetos e, como o lucro com o trabalho não é imediato, muitos associados não têm como esperar pelo resultado, sendo obriga-das a arranjarem outras formas de ganhar di-nheiro para conseguirem sustentar suas vidas.

No entanto, do nosso ponto de vista, o prin-cipal fator a se apontar em relação ao fracasso desses projetos diz respeito à precariedade com que estes programas socioeconômicos foram le-vados a cabo pelo consórcio empreendedor. Em relação ao Projeto de Artesanato, por exemplo, uma técnica entrevistada nos afirmou que ele foi feito sem levar em consideração o conhecimento que os atingidos já possuíam deste tipo de traba-lho, uma vez que existiam moradores que já se utilizavam dessa matéria-prima, o bambu, mas que não participaram efetivamente da elabora-ção e implementação do projeto. Em sua fala a técnica deixa transparecer a forma com que es-tes programas foram planejados, de cima para baixo, sem a participação efetiva dos atingidos.

Além desses projetos de reativação econô-mica, o consórcio empreendedor também ofere-ceu vários cursos de curta duração, que contaram

com a participação de um número significativo de pessoas da comunidade mas que, segundo os atin-gidos, também não deram bons resultados. Na opi-nião dos entrevistados, os cursos não tinham uma continuidade, o que impedia as pessoas de adquiri-rem as práticas e habilidades necessárias. Segundo uma técnica entrevistada, na época da inaugura-ção dos cursos, o consórcio empreendedor orga-nizava uma festa, convidava autoridades locais, mas depois ia embora e não dava continuidade. Ao perguntá-la sobre os cursos que o SENAR e o SE-BRAE ofereceram, ela respondeu que foram vá-rios, mas não adequados ao perfil dos moradores.

Além do mais, os atingidos também não conseguiam ver como poderiam utilizar aquilo que foi aprendido. Durante o trabalho de campo, em conversa com uma moradora local sobre os cursos oferecidos pelo consórcio empreendedor, ela confirmou que realmente foram vários, de diferentes tipos. Em sua opinião, “gente velha, acostumada a lidar na roça, não dá pra esses tipos de serviços não”; segundo ela esses cur-sos são pra gente jovem, “a cabeça nossa não acostuma com essas coisas não”. No entanto, em conversas com alguns jovens, eles confirmaram que o consórcio chegou a oferecer diversos cur-sos e que eles participaram de vários deles, mas que “não serviram de nada”, pois, na busca por emprego, o que geralmente se pede são cursos de computação ou cursos técnicos, diferente da-queles que estavam sendo oferecidos.

Neste sentido, ao analisarmos os meios de vida da população, pudemos observar que os programas de compensação propostos pelo consórcio empreendedor - considerados me-didas suficientes para a liberação das licenças ambientais necessárias à efetivação do em-preendimento -, não se consolidaram enquanto estratégias de vida para a população atingida, que tiveram que recorrer a outros mecanismos para garantirem sua sobrevivência.

4. Mudanças e permanências em re-lação ao trabalho

Como vimos, a maioria dos moradores da velha Pedra Negra era de trabalhadores rurais. Todos os atingidos que entrevistamos e todos com quem conversamos durante o trabalho de

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campo, nos disseram que antes da construção da usina trabalhavam em “serviço de roça”.

Era serviço de roça né, com plantação

das coisas, era milho, café, feijão, ar-

roz... na época nós plantava muito ar-

roz (...) nós plantava pra nós comer, pai

plantava,engordava muito porco, mexia

com muita galinha né, nossa, na época

tínhamos muito porco e galinha, tinha

peru, pato, quando nós morou lá a gente

tinha tudo quanto é tipo de criação (...)

tudo vinha era das culturas do terreno

dele [pai] lá, nós plantava lá e... tinha lá

um...essa menina ai tava até falando, ti-

nha até moinho d’água no fundo da nossa

horta lá, então moia fubá, grosso pra por-

co, fino pra gente mesmo (...) mexia com

carro de boi, na roça, plantar, aquelas

coisas que nós plantava de mão, ôh mais

nós sofria (...) não tinha jeito de estudar

porque a vida era difícil. (entrevistado 2,

fevereiro de 2012).

De acordo com Lopes (2011), há uma forte presença do trabalho informal na Pedra Negra. A autora entende como trabalho informal aque-le onde não se tem carteira assinada. Na pesqui-sa por ela realizada, 62 pessoas - cerca de 50 % dos trabalhadores ativos entrevistados - decla-raram que trabalham sem registro em carteira.

Dentre estas atividades, a que se destaca é a panha do café, que acontece entre os meses de maio a setembro. Segundo a autora, após este período, o serviço se torna escasso. Ela tam-bém aponta a presença dos antigos fazendeiros locais como importantes empregadores e, para aqueles que possuem emprego nas antigas fa-zendas da região de Pedra Negra, o consórcio empreendedor garante o transporte por meio do passe de ônibus que lhes é disponibilizado.

Durante a pesquisa de campo pudemos observar que “o serviço de roça” ainda é uma atividade importante entre os atingidos. Acos-tumados desde novos ao trabalho no meio ru-ral, principalmente na cultura do café, o que podemos perceber é que muitos mantêm uma preferência por esse tipo de trabalho, em de-trimento aos empregos na cidade. No entanto, muitos moradores com quem conversamos de-

monstraram uma descrença em relação à pos-sibilidade de manutenção do “serviço de roça” que, segundo eles, já estava ruim mesmo antes da construção da UHE e hoje tende a acabar.

...hoje o serviço tá acabando porque na-

quele tempo capinava café tudo era na

enxada, hoje já não capina mais café na

enxada mais NE. Tudo é com randape

ou máquina né, essas coisas. O povo da

roça, o serviço da roça enfrequeceu muito

NE. hoje, tirando a panha de café, quase

não tem serviço mais na roça, onde tra-

balhava 15/20 lá na Pedra Negra, hoje ta

trabalhando 4, pra fazer o mesmo serviço

(...) os retireiro de lá acabou quase que

tudo também, lá na Pedra Negra velha,

que ainda tira leite mesmo é só eu e uma

vizinha lá, o resto acabou tudo também,

os fazendeiros grande morreram, os ve-

lhos morreram, e os filhos não permane-

ceu com aquele trem não, largou né, foi

fazer outras coisas (...). Sempre deu mui-

to serviço fazenda de retiro, hoje acabou

também né, se tem que plantar um milho

pra encher o cilo, hoje a máquina já vai

lá, já colhe ele e joga lá né, umas 2 ou

3 pessoas fazem aquilo ali, de primeiro

não, trabalhava uns 8/10, tinha que cortar

o milho, juntar aquilo, por na vala, levar

lá no cilo, encher, socar, ah hoje mudou

tudo, diminuiu muito a mão de obra né, a

parte pobre nessa parte ficou prejudicada

né, os trabalhador ficou prejudicado nisso

ai né, porque tirou muito o serviço deles.. (entrevistado 3, fevereiro de 2012)

Além desta conjuntura mais ampla desfa-vorável ao “serviço de roça”, segundo os mo-radores, este tipo de trabalho também não é exercido no novo local de moradia por falta de condições. A distância em relação ao antigo lu-gar de trabalho e a impossibilidade de manuten-ção deste tipo de atividade em um bairro urba-no que não apresenta as condições necessárias para essa prática - eles não têm lugar para plan-tar ou cuidar de criação - não deixam escolhas aos moradores que acabam sendo obrigados a procurar outras formas de obtenção de renda:

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Nós tinha um terreninho lá que era nos-

so, nós trabalhava no que era nosso né,

então, nós mudou pra cá e acabou que eu

tive um prejuízo grande porque nós tinha

as engorda dos porcos , me dava aí uns...

naquela época me dava quase que um sa-

lário por mês, de porco, que eu vendia lá.

Eu perdi isso, porque todo mês eu mata-

va um e vendia pra turma lá, eu tinha a

minha freguesia lá, aí vendia, e tirava o

leite também, eu mesmo pegava e tirava

o meu leite, não dependia de ninguém pra

fazer pra mim, plantava umas lavoura lá

(...), tinha uns dois ou três empreiteiro

que plantava de meia comigo, (...) aca-

bei perdendo isso tudo, até os meeiro eu

perdi, e essa parte aí eu não recebi nada

da perda disso ai não, eles indenizaram

a casa, essas coisa que tinha eles indeni-

zou, indenizou o que a água pegou, mas

as perda de coisa eu não recebi nada por

isso não... e vim pra cá, aqui não pode ter

o porco, não posso ter gado aqui porque

fica longe, pra mim ir lá tirar esse leite é

longe, porque puseram um ônibus aí que

ele vai lá, mas em dia de chuva não vai,

e retiro é um trem que tem que ser todo

dia né, não pode falhar (entrevistado 3,

fevereiro de 2012)

Como podemos perceber, esta dificuldade em relação ao uso produtivo da terra traz algu-mas consequências negativas aos atingidos. A maioria das pessoas com quem conversamos comentaram que, na velha Pedra Negra, “ti-nham de tudo lá” (horta, pomar, etc.), “planta-vam de tudo” (arroz, feijão, milho, etc.) e por isso não precisavam de comprar quase nada para o sustento da família. Durante a pesqui-sa, muitos moradores reclamaram que, apesar de não passarem fome, têm de comprar tudo, gastando com supermercado por volta de 200 a 300 reais por mês, valor considerado alto.

Hoje já não tem o que a gente tinha lá né,

aqui tudo que a gente depende hoje tem

que buscar lá no supermercado, e lá não, lá

eu tinha meus porco, tinha meus feijão, ti-

nha arroz, tinha milho, tudo isso nós plan-

tava lá, plantava de tudo, tinha horta, tinha

até uma horta lá que era grande, tinha um

pedaço lá que eu plantava cana nele, tinha

um vizinho lá que me comprava essa cana

todo ano, essa cana me dava açúcar pra eu

tomar café o ano inteiro, então nem açúcar

eu não comprava lá... e aqui eu perdi isso

tudo né...agora tem que comprar tudo no

supermercado, tem que buscar tudo lá...e

diminuiu a minha renda né, porque eu per-

di o leite, perdi os porcos, e perdi também

a parte que eu mesmo fazia e colhia, que

eu mesmo consumia né, não gastava di-

nheiro pra comprar essas coisas não (...) eu

acho que nessa parte eu levei muito pre-

juízo...(entrevistado 3, fevereiro de 2012)

Além dos alimentos plantados no próprio terreno, próximo às casas, outra atividade bas-tante comum entre os moradores da velha Pe-dra Negra e que também garantia o sustento de muitas famílias era o trabalho de meia. Durante entrevista com um ex- meeiro, ele comenta so-bre suas antigas atividades:

Uai, lá assim, porque nós trabalha-

va, igual, eu trabalhava pra esse Luiz

Fernando, mas eu tinha meus quebra-

-galho do lado, eu plantava arroz, feijão,

milho, essas coisas, mas quando eu não

podia ir lá cuidar eu punha um pra cuidar

pra mim sabe (...) trabalhava de meia com

o rapaz (...) a gente tirava o pro gasto e o

resto que sobrava a gente vendia né (...)

tinha a horta de couve que nós plantava,

plantava couve, alface, repolho, tudo isso

nós plantava, não plantava muito mas pro

gasto nós plantava né (...) engordava um

porquinho também, tinha as galinha, né...

(entrevistado 4, fevereiro de 2012)

Quando perguntamos se ele achava que a vida tinha melhorado ou piorado depois da construção da usina ele respondeu que:

Pra mim piorou... piorou... porque quando

eu tava lá eu trabalhava, eu tinha as minhas

vaquinhas, eu tinha o meu mantimento, tudo

que eu colhia né, e como se diz, eu tirava o

que eu gastava e o resto eu vendia, e agora

aqui eu tenho que buscar tudo no supermer-

cado, é caro né, e não é igual aos que eu co-

lhia lá né. (entrevistado 4, fevereiro de 2012)

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Outro entrevistado explicou como funcio-nava o trabalho de meia:

… as partes de meia lá funcionava assim,

um arava um terreno, cercava, e dava de

meia pra um sujeito plantar, e leva a se-

mente, e o adubo eles pagava a metade e

nós dava metade, e ele colhia, nós fazia o

transporte, entregava a parte dele na casa

dele e ficava com a nossa, ele plantava ,

colhia, e pagava a metade do adubo na

meia, se tinha esterco de curral... nós lá

tinha, mas não dava pra todo mundo não,

mas nós usava esterco de curral naquelas

partes pior, porque o esterco de curral é

muito bom, você põe naquelas partes pior

e ele dava bom resultado, melhor de que o

adubo, mas ai num ponto acabou tudo né

(...) antigamente você dava de meia com

esse povo, pros empregados tudo, todo

mundo plantava roça lá, todo mundo ti-

nha o que comer né, colhia aquilo, e hoje

não, hoje você trabalha de salário e não

tem nada, ele tem que vender daquele sa-

lário e comprar tudo né, de primeiro não,

de primeiro você tinha lavoura, e tinha

feijão, e tinha arroz, e tinha milho, e ti-

nha porco, e tinha galinha, as vezes tinha

um leite né, tinha umas criança pequena

lá e dava o leite, fornecia o leite né, e hoje

não, hoje acabou tudo...(entrevistado 3,

fevereiro de 2012) [grifos nossos].

É interessante ressaltar o fato de que mui-tos moradores da velha Pedra Negra nos afir-maram que, além de terem o sustento da família garantido pelos alimentos que plantavam e pe-las criações que possuíam, antigamente nunca faltava serviço aos moradores locais. Em con-versa com uma atingida durante o trabalho de campo, ela nos disse que o emprego na nova Pedra Negra é muito difícil de arrumar, muitos são aqueles que não conseguem arranjar ser-viço, e é por isso que é tão comum ver várias pessoas “por ai, de bobeira, sem ter o que fa-zer”. Ela comentou também que na velha Pedra Negra não era assim, todo mundo tinha serviço, todos trabalhavam na roça.

No entanto, como todo ser humano precisa criar condições que possam garantir a reprodu-ção material de sua existência, e, nas palavras

de outro atingido, como “o serviço de roça hoje em dia tá muito custoso”, ao mudarem pra ci-dade de Ijaci, os moradores de Pedra Negra ti-veram que encontrar outros tipos de trabalho, geralmente vinculados ao meio urbano.

De acordo com Lopes (2011), a construção civil se apresentou como uma das principais alternativas de trabalho. Além destas ativida-des, a autora ainda destaca como empregado-res na cidade de Ijaci a indústria, o comércio e empresas de extração de minérios; em Lavras, indústrias e agroindústrias. Também aponta a significativa presença de empregadas domésti-cas e faxineiras, principalmente em Lavras. É interessante analisarmos a importância deste tipo de trabalho entre os moradores, pois, além do fato deste tipo de emprego ter crescido con-sideravelmente nos últimos anos, sua presença entre os atingidos está relacionado ao fato de que muitos deles já tinham algum tipo de ex-periência na construção. Muitos entrevistados mencionaram que foram eles próprios que cons-truíram suas próprias casas.

Além disso, muitos moradores afirmaram viver de “bicos”. Durante o trabalho de campo pudemos observar uma enorme rotatividade en-tre os trabalhadores do bairro, que não se man-tinham em um mesmo emprego durante muito tempo. Isto nos parece ser reflexo daquilo que Antunes (2010) denominou ser a “periferia da força de trabalho”, que compreende dois sub-grupos diferenciados:

O primeiro consiste em ‘empregados

em tempo integral com habilidades fa-

cilmente disponíveis no mercado de tra-

balho, como pessoal do setor financeiro,

secretárias, pessoal das áreas de trabalho

rotineiro e de trabalho manual menos es-

pecializado’. Esse subgrupo tende a se

caracterizar por uma alta rotatividade no

trabalho. O segundo grupo situado na pe-riferia ‘oferece uma flexibilidade numé-

rica ainda maior e inclui empregados em

tempo parcial, empregados casuais, pes-

soal com contrato por tempo determinado,

temporários, subcontratação e treinados

com subsídio público, tendo ainda menos

segurança de emprego do que o primeiro

grupo periférico’ (IBID.: 2010, p. 62).

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No entanto, apesar de o autor apontar os empregos temporários como uma tendência dentro das sociedades capitalistas, o fato dos trabalhadores de Pedra Negra não permanece-rem por muito tempo em um mesmo emprego também está ligado à dificuldade de adaptação em relação ao trabalho no meio urbano, que apresenta características distintas daquelas por eles vivenciados no meio rural. Durante entre-vista realizada com a técnica contratada pelo consórcio, ela afirma que os moradores de Pe-dra Negra não estão acostumados com uma jor-nada de trabalho regulada por horários rígidos. Segundo ela, esta é uma rotina diferente pra eles e é por isso que não conseguem ficar por muito tempo em um mesmo emprego.

Este foi o caso relatado por um entrevis-tado que nos disse preferir o “serviço de roça” e, mais particularmente, o “trabalho de emprei-to” em detrimento ao trabalho no meio urbano pois, segundo ele, o horário nestes caso é livre, mais flexível. Durante entrevista ele comenta:

Não, assim, eu não parei de trabalhar na

roça não, porque eu ainda fui panhar café

lá, todo ano eu ainda panho café lá ainda.

Eu aposentei, mas eu panho café todo ano.

E a gente faz algum servicinho que tá aqui

perto também, eu faço serviço de piá, eu

não quero mais serviço pesado não, tá doi-

do, eu tenho artrose nos dois joelho (...)

aqui a gente mexe fazendo cerca, roçando

pasto, servicinho mais leve, mas nós que

somos de pegar pasto de empreito, porque

empreito, eles pagou aquele tanto, nois tra-

balha na hora que quiser, pode chegar mais

tarde, não tem horário pra pegar e nem pra

parar... (entrevistado 2, fevereiro de 2012)

Além da temporalidade que rege o trabalho no meio urbano ser diferente da do meio rural, a sociabilidade também é distinta. A relação mais formal e burocrática contrasta com a familiari-dade e maior proximidade das relações que se observa nos trabalhos rurais, como é o caso da panha do café. Durante entrevista com a referi-da técnica, ela nos descreveu sua experiência ao acompanhar o trabalho na panha do café:

Agora eu acho o seguinte, serviço pesa-

do, serviço cansativo, pesado... É alegre!

Eu acompanhei a panha e é uma diversão

(...) Até era muito engraçado, porque eu

fui, acompanhei a panha com o pessoal,

desde cedinho, desde a hora que eles saí-

ram até a hora que acabou a panha, o dia

inteiro aquela confusão e aquela palhaça-

da. (...) E eles cantavam né. Aí eles co-

meçavam a cantar... Eles chega... Muito

legal. Sai cedo né! Aí chega faz oração

pra proteger o dia, tem todo um ritual. Aí,

chegar chegando não, tem todo um ritual,

porque tem cobra, é perigoso o negócio

sabe. Mas ó, pára pra almoçar ali todo

mundo nas marmitinhas né, faz o fogui-

nho ali mesmo, esquentar as marmitas né,

toma um cafezinho, pita um paiêro e ó, e

arrasta o pano! Então eles vão pegando

aquelas rua né. Cê já deve ter visto a pa-

nha de café (...) E aquilo vai até de tarde.

Agora é explorado também viu. O pesso-

al ganha muito nesses café pra pagar tão

pouco. E parece que tá piorando quanto

que tá pagando. Eles tiravam mais. (en-

trevista técnica 1, fevereiro de 2012)

Apesar de ter conversado com alguns atin-gidos que relataram os benefícios proporciona-dos pelo trabalho urbano, como a possibilidade de adquirir novos conhecimentos e alguns bens que o trabalho na roça não havia lhes proporcio-nado, o que pudemos observar é que o contato permanente com a natureza, o produzir, o plan-tar, o colher, e as relações sociais que envolvem essas atividades são muito valorizadas por boa parte dos atingidos pela UHE Funil.

5. Considerações finais

Como analisamos ao longo deste artigo, apesar de serem consideradas como medidas sufi-cientes para a implementação das UHEs e apesar da significativa quantidade de recursos investidos, nenhum dos programas de reativação econômica propostos pelo consórcio empreendedor para as famílias de Pedra Negra tiveram êxito. Os prin-cipais motivos apontados pelos atingidos foram a falta de união e a dificuldade de se trabalhar co-letivamente, que é uma premissa básica dos pro-gramas adotados. Além disso, constatamos que a grande maioria dos atingidos não tinham con-

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dições financeiras que os permitissem disponibi-lizar o tempo necessário para se dedicarem aos projetos da forma com que esses exigiam.

No entanto, o grande motivo da ineficiência destes projetos se deve à precariedade com que estes programas socioeconômicos foram levados a cabo pelo consórcio empreendedor, que os pla-nejaram e implementaram sem a devida participa-ção dos atingidos e sem levar em consideração os conhecimentos tradicionais dos mesmos, impon-do uma racionalidade nova e muitas vezes incom-patível com a cultura local. Um fator agravante da ineficiência desses programas se deu pelo fato de, após a transferência para o bairro de Ijaci, a im-possibilidade de se plantar o próprio alimento fez

com que as famílias de Pedra Negra passassem cada vez mais a depender do dinheiro, da renda, para conseguir sustentar suas vidas. Mas o traba-lho também não pode ser visto apenas como um meio de se ganhar dinheiro, de se gerar renda, ele está relacionado a algo mais complexo, que tem a ver com a própria realização do ser humano. É nesse sentido que podemos perceber a preferência dos atingidos pelos “serviços de roça”, como é o caso da panha do café que, juntamente com os tra-balhos temporários ou bicos por eles realizados, constituem-se nas atividades em que mais se sen-tem realizados, além de se constituírem nos prin-cipais recursos acionados pelos atingidos a fim de garantirem o sustento dos seus meios de vida.

6. Referências

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Recebido em 08/2013

Aprovado em 12/2013

ISSN1809-9475

O que há de crítica na formação “crítica”? Uma análise de dois cursos de graduação em Administração no Rio de Janeiro

What’s critical in training “critical”? an analysis of two Management courses in Rio de Janeiro

1 Rejane Prevot Nascimento2 Bianka Coutinho Alvim Santos 2 Ligia do Carmo Martins2 Igor Magalhães Cunha3 Claudio Marcos Maciel da Silva

ResumoO objetivo deste artigo é fazer uma análise da disciplina Teoria Geral da Administração nos cursos de graduação em Administração, no que diz respeito ao ensino da Teoria Crítica e dos Estudos Críticos. Para o embasamento teórico, fez-se necessária uma breve contextualização sobre a Teoria Crítica, os Critical Management Studies (CMS) e sobre o ensino superior em Administração no Brasil. A metodologia utilizada no estudo incluiu a realização de entrevistas semi-dirigidas com coor-denadores de cursos de Administração. A partir da análise verificou-se que as instituições pesquisadas apresentam realidades distintas quanto à formação crítica dos seus alunos.

Palavras-chave

Teoria Crítica

Ensino Superior

Cursos de Administração

AbstractThe purpose of this article is to analyze the discipline General Theory of Administration in management courses, with regard to the teaching of Critical Theory. For the theoretical background, it was necessary a brief contextualization of Critical Management Studies (CMS) and the Administration on higher education in Brazil. For the study we used the desk research and field research, interviews with semi-directed. From the analysis it was found that the institutions surveyed have different realities as critical to the formation of their students.

Keywords

Critical theory

Undergraduate teaching

Management courses

1 PPGA / UNIGRANRIO2 UNIGRANRIO3 Universidade Estácio de Sá

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

O ensino das teorias das organizações tem se apresentado com um caráter baseado na ra-cionalidade instrumental (Ramos, 1999). Espe-cialmente no Brasil, nos cursos de graduação em Administração é frequente a abordagem das Teorias das Organizações baseada na perspec-tiva da Teoria Geral da Administração, como se esta se constituísse, de fato, de perspecti-vas conceituais calcadas em estudos de orga-nizações, reforçando ainda mais este caráter instrumental e reduzindo as possibilidades de reflexão teórica nestes cursos. Tal fenômeno foi acentuado pela proliferação de manuais e com-pilações das teorias (ditas “administrativas”, embora caracterizadas por um forte cunho in-terdisciplinar) que influenciaram o pensamento organizacional, sem a necessária contextuali-zação histórica e epistemológica destas teorias.

Entretanto, para Wood (2003, p 69), “as faculdades de administração, como outras es-colas, são agentes de socialização. Além de métodos e ferramentas, os pupilos assimilam perspectivas e valores”. Tal afirmação reforça a importância das universidades como trans-formadoras de indivíduos, no aspecto social e comportamental. As teorias fazem parte da formação do profissional, logo, devem ser colo-cadas em discussão e reflexão por aqueles que as deveriam absorver, possibilitando um enten-dimento mais amplo a seu respeito. Neste con-texto, torna-se fundamental que os cursos de Administração estejam comprometidos com a formação de administradores que conheçam as teorias, suas origens no campo da ciência e da epistemologia, e que sejam dessa forma capazes de desenvolver um senso crítico e reflexivo so-bre estas. A formação de profissionais com ca-pacidade para a critica possibilitaria, em última análise, o desenvolvimento de material técnico e didático orientado para a realidade brasileira, em detrimento da importação de modelos de “boas práticas” que não atendem às especifici-dades organizacionais e sociais regionais e às características da cultura local.

Partindo-se desta constatação, este artigo busca responder à questão: os cursos de admi-nistração em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas estão formando profissionais críticos? Como objetivo geral, este estudo ocu-

pa-se em analisar a disciplina Teoria Geral da Administração (TGA) nos cursos de adminis-tração de duas Instituições de Ensino Superior, localizadas no Rio de Janeiro, aqui denomi-nadas IES “A” e “B”; e estabelecer uma com-paração, a fim de verificar se as mesmas estão comprometidas com a formação de indivíduos críticos ou apenas “reprodutores de conceitos”. Como objetivos intermediários espera-se con-ceituar Teoria Crítica, o movimento dos Critical Management Studies (CMS), os Estudos Críti-cos e seu papel nos estudos organizacionais e apresentar uma breve descrição do ensino supe-rior em Administração no Brasil.

Optou-se pela análise da disciplina Teoria Geral da Administração por se compreender que, considerando-se as matrizes curriculares e ementas dos cursos de graduação em adminis-tração, as abordagens teóricas que fazem parte da formação do administrador são abordadas no âmbito desta disciplina. Não obstante, a aná-lise também considerou outras disciplinas cuja ementa abrangia temas de enfoque critico.

No sentido de responder à questão pro-posta, o artigo inicia-se com a apresentação dos pressupostos teóricos da Teoria Crítica e dos Estudos Críticos. Em seguida, discute-se a Teoria Crítica nas Organizações. Na terceira parte, aborda-se a questão do ensino superior em Administração no Brasil, formando assim as bases teóricas para a análise. O percurso metodológico é apresentado na quarta parte do trabalho, seguido da análise dos dois cursos de graduação em Administração e das Considera-ções finais do estudo.

2. Revisão da Literatura

2.1. A Teoria Crítica

A Teoria Crítica surge do inconformismo com os pilares da sociedade capitalista e pela necessidade de transformação da realidade so-cial nesta sociedade e, consequentemente, das organizações que atuam como motores da do-minação do homem neste sistema, tornando-o escravo de seus valores e restringindo sua pos-sibilidade de pensamento livre e autônomo. Ra-mos (1999, p. 14) afirma que:

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O que mantém uma sociedade em fun-

cionamento como importante ordem co-

esiva é a aceitação, pelos seus membros,

dos símbolos através dos quais ela faz sua

própria interpretação. A interação simbó-

lica é a essência da vida social significa-

tiva e, portanto, para usar uma expressão

de Kenneth Burke, a “simbolicidade”

constitui um atributo essencial da ação

humana. Significado, na vida humana e

social, é obtido através da prática da in-

teração simbólica. Mas, na sociedade in-

dustrial, o significado foi subordinado ao

imperativo do controle técnico da nature-

za e da acumulação de capital.

A Teoria Crítica é reconhecida como uma corrente teórico-espistemológica que influen-ciou cientistas sociais e filósofos do ocidente no início do século XX, fundada por um grupo de pensadores vinculados ao Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (Gabriel, 2008), denomina-do posteriormente como a “Escola de Frank-furt”. A Escola de Frankfurt foi fundada em 1923 e entre os teóricos críticos remanescentes desta escola destacam-se alguns nomes como Max Horkheimer,Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamim e Erich Fromm. O filósofo alemão Jürgen Habermas é visto como um dos principais expoentes desta tradição teórica na atualidade (Gabriel, 2008; Scherer, 2009).

Conceitua-se a Teoria Crítica e seus ele-mentos predominantemente a partir de Marx e Freud, na medida em que estes autores definem a civilização capitalista ocidental como “pro-founding alienating and alienated” (Grabriel, 2008, p. 62). Neste sentido, a Teoria Crítica consistiria, de acordo com os Teóricos da Es-cola de Frankfurt, em um conjunto de ideias cujo objetivo principal seria o de promover a libertação do indivíduo do estado de alienação imposto pelo capitalismo, possibilitando a sua emancipação e o resgate do pensamento crítico. Segundo Gabriel (2008, p. 62):

The Frankfurt School advocated critical

theory as an emancipatory form of kno-

wledge, wich brings about an elimination

of false consciousness and opens up the

possibility of new forms of society free

from oppression and exploitation. They

viewed exploitation not only in material

terms (freedom from exploitation at the

workplace), but also in other spheres in-

cluding sexual, aesthetic, and moral. [...]

In the sphere of epistemology, they offe-

red influential critiques of positivism and

empiricism, arguing that these approa-

ches make the pathologies of contem-

porary societies (crime, suicide, divorce,

etc.) appear natural and inevitable, inste-

ad of estabilishing the way that they are

socially defined and rooted and how they

may eventually be overcome.

Em seu livro sobre a Teoria Critica nas Organizações, Paula (2008) afirma que: “[…] a teoria crítica sempre expressou interesse pela abolição da injustiça social, além de um com-promisso com a integridade e liberdade do indi-víduo, atacando a estrutura ideológica e institu-cional da opressão” (Paula, 2008, p.2).

O termo “Teoria Crítica” foi criado por Horkheimer, em 1937 em seu trabalho “Teoria Tradicional e Teoria Crítica”, com o intuito de se opor a todas as teorias “tradicionais” exis-tentes, principalmente à ciência desenvolvida a partir das bases do racionalismo cartesiano e do paradigma funcionalista, estabelecendo suas bases na critica social que já era defendi-da por Marx. Neste texto, Horkheimer aborda os princípios da Teoria Tradicional, fundados a partir da filosofia de René Descartes. O méto-do introduzido por Descartes leva, segundo o autor, a abordagem dos fenômenos a partir da separação entre indivíduo e sociedade, o desa-parecimento da noção de classe social e a sim-plificação e eliminação da práxis social (Hor-kheimer, 1975). A Teoria Tradicional baseia-se nos pressupostos das ciências naturais e exatas, em especial a matemática, as quais servem de referências de rigor científico para as outras áreas do conhecimento. Como consequência, há uma predominância do método dedutivo em todos os campos da ciência, desde a matemáti-ca até as ciências sociais. Horkheimer identifica aí o problema da construção acrítica da teoria, sem questionamentos sobre a forma como esta é produzida e seu distanciamento da realidade empírica. Horkheimer (1975) critica, assim, a Teoria Tradicional no sentido em que para esta

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há uma distinção entre o nível do conhecimen-to, representado pela teoria, e o nível da trans-formação histórica, representado pela empiria, postura esta identificada inclusive na própria ciência social tradicional:

Não é o significado da teoria em geral

que é questionado aqui, mas a teoria ‘de

cima para baixo’, por outros, elabora-

da sem o contato direto com os proble-

mas de uma ciência empírica particular.

Diferenciações, como por exemplo, entre

coletividade e sociedade (Toennies), entre

solidariedade mecânica e solidariedade

orgânica (Durkheim), entre cultura e ci-

vilização (A. Weber), empregadas como

formas fundamentais de socialização hu-

mana, desvendam imediatamente sua pro-

blemática, se intenta aplicá-las a proble-

mas concretos (Horkheimer, 1975, p.127).

Desta forma, o comportamento crítico emerge da noção da contradição inerente às bases econômicas da sociedade, e do incômodo do sujeito frente à esta contradição. O teórico Tradicional, ao contrário, sente-se satisfeito en-quanto adaptado à sociedade. O contexto objeto de análise da Teoria Critica é visto por Horkhei-mer (1975), neste sentido, como condicionado pela divisão imposta ao trabalho e pela diferen-ça de classes:

Para os sujeitos do comportamento críti-

co, o caráter discrepante cindido do todo

social, em sua figura atual, passa a ser

contradição consciente. Ao reconhecer o

modo da economia vigente e o todo cultu-

ral nele baseado como trabalho humano,

e como a organização de que a humani-

dade foi capaz e que impôs a si mesma

na época atual, aqueles sujeitos se iden-

tificam, a si mesmos, com esse todo, e o

compreendem como vontade e razão: ele

é o seu próprio mundo. Por outro lado,

descobrem que a sociedade é comparável

com processos naturais extra-humanos,

meros mecanismos, porque as formas

culturais baseadas em luta e opressão não

é a prova de uma unidade consciente e

unitária. Em outras palavras: esse mun-

do não é o deles, mas sim o do capital.

Aliás, a história não pôde até agora ser

compreendida a rigor, pois compreensí-

veis são apenas os indivíduos e grupos

isolados, e mesmo essa compreensão não

se dá de forma exaustiva, uma vez que

eles, por força de uma dependência inter-

na de uma sociedade desumana, são ainda

funções meramente mecânicas, inclusive

na ação consciente. Aquela identificação

é, portanto, contraditória, pois encerra em

si uma contradição que caracteriza em si

todos os conceitos da maneira de pensar

critica. (Horkheimer, 1975, p. 138)

Percebe-se, a partir da leitura do trecho acima, que para Horkheimer a teoria tradicio-nal enxerga a realidade como algo exterior ao indivíduo, a qual só pode ser apreendida com base no distanciamento, estabelecendo assim um afastamento entre o conhecimento, o saber e a ação. O conhecimento de uma dada realida-de só seria possível, de acordo com esta noção, por meio do distanciamento desta realidade. Horkheimer reconhece que o conhecimento é distinto da ação, mas propõe que ambos podem ser construídos em conjunto, uma vez que a pró-pria realidade é fruto da ação humana. É neste contexto que a critica se orienta pela transfor-mação da realidade dos homens, de acordo com Horkheimer, para a emancipação.

Neste sentido, a teoria crítica se dedica ao exame do mercado e suas relações, tendo como centro a emancipação, ou seja, a busca da liber-dade e da igualdade do indivíduo na sociedade capitalista. A orientação para a emancipação do homem na sociedade e a manutenção do com-portamento crítico são os princípios básicos da teoria (Vieira & Caldas, 2006). No campo epis-temológico, a Teoria Critica se situa, segundo os paradigmas das ciências sociais propostos por Burrel e Morgan (1979, como citado por Morgan, 1980, p. 608), sob a visão humanista radical. As teorias que se constroem sob a concepção huma-nista, segundo Morgan (1980) buscam formas de superação do processo de dominação e alienação que se dão na realidade social capitalista.

Entende-se, assim, que a Teoria Crítica propõe um questionamento dos estudos teóri-cos tradicionais, em particular o conhecimento funcionalista, oferecendo uma visão alternativa do mundo capitalista. Há uma preocupação, en-

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tre os teóricos críticos, em mostrar “não como as coisas são, mas como elas poderiam ser” (Vieira & Caldas, 2006, p. 60) . O pensamento crítico focaliza a ação que gera a teoria, não ad-mitindo a neutralidade dos estudos tradicionais positivistas. Desta forma os estudos funciona-listas e positivistas tradicionais são vistos como parciais diante dos estudos críticos (Horkhei-mer, 1975; Vieira & Caldas, 2006).

O filósofo alemão Jürgen Habermas é na atualidade o principal remanescente da Escola de Frankfurt, e um dos poucos teóricos no mun-do que mantém a tradição critica em seus ensaios teóricos. Em seu trabalho “Técnica e Ciência como Ideologia” (1975), Habermas aborda a do-minação imposta à sociedade pela racionalidade técnica, a qual, ao proporcionar aos homens o controle da natureza e a obtenção e uso de seus recursos, tem como consequência a submissão de todas as outras racionalidades à sua lógica, que é, em última análise, a lógica do capital.

Paula (2008, p. 2) afirma que o objetivo da Teoria Crítica é:

[...] promover a reflexividade e uma nova

base para a práxis, que uniria teoria e prá-

tica, realizando as seguintes tarefas: uma

oposição ao determinismo econômico e a

qualquer teoria etapista da História, por

meio da crítica ao “socialismo realmente

existente”; e um resgate da relação entre o

marxismo e a filosofia para fazer uma re-

visão das categorias marxistas e da teoria

anacrônica da revolução inserida pela lei-

tura que Lênin faz da obra de Marx, des-

nudando o que dificulta a prática revolu-

cionária e o seu desfecho emancipatório.

Mais uma vez fica explícito o objeto prin-cipal da teoria crítica, qual seja, o estímulo ao questionamento, ao desenvolvimento de uma postura reflexiva quanto aos conceitos impres-sos pela racionalidade, uma possível emancipa-ção do homem. Entretanto, como expõe Bau-mann (2001, p.31):

A questão é, porém, que a sociedade con-

temporânea deu à “hospitalidade à crítica”

um sentido inteiramente novo e inventou

um modo de acomodar o pensamento e a

ação críticas, permanecendo imune às con-

sequências dessa acomodação e saindo,

assim, intacta e sem cicatrizes – reforçada,

e não enfraquecida – das tentativas e testes

da “política de portas abertas”.

Alvesson e Deetz afirmam que:

[…] à teoria crítica é dado um significado

amplo que inclui todos os trabalhos que le-

vam a uma posição basicamente crítica ou

radical na sociedade contemporânea, com

uma orientação direcionada para a investi-

gação da exploração, repressão, injustiça,

relações de poder assimétricas […], co-

municação distorcida e falsa consciência.

(Alvesson & Deetz, 2006 p. 229).

Percebe-se na afirmação acima, disposi-ção de ir contra todos os comportamentos que inibem a atuação do homem nas organizações e, consequentemente, na sociedade, não des-prezando as teorias dominantes, e sim descor-tinando para uma melhor reflexão acerca do papel do homem nas organizações.

Percebe-se, desta forma, que a sociedade em que vivemos deixou de se questionar, diante da não obrigatoriedade de refletir e até mesmo de validar suas suposições tácitas e/ou declara-das e, neste contexto, a formação universitária tem o papel fundamental de propor ao estudan-te leituras e visões de mundo alternativas à vi-são tradicional funcionalista positivista.

2.2. Os Critical Management Studies e os Estudos Críticos

A emergência dos estudos críticos sobre as organizações ocorre a partir do movimento conhecido como Critical Management Studies (CMS), a partir da publicação de um livro com o mesmo nome por Alvesson e Willmott na déca-da de 90, o que fez com que o tema fosse centro de estudos, conferências e discussões. O objeti-vo do movimento é imprimir no gestor a idéia de que a gerência de organizações é um fenômeno político, cultural e ideológico, e não simples-mente uma função técnica (Paula, 2008).

As ideias formuladas pela Teoria Crítica podem ser vistas como as bases filosóficas pre-dominantes na constituição dos CMS (Scherer, 2009). Além da Teoria Crítica, as outras corren-

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tes teórico-epistemológicas que influenciaram os CMS foram a Teoria do Processo de Traba-lho (Labour Process Theory), o Pós-Estrutura-lismo e o realismo crítico (Scherer, 2009).

Os CMS propõem um questionamento da autoridade e da relevância do pensamento e da prática gerencial dominante (Alvesson, Bridg-man, & Willmott, 2009). Os estudos realizados sob esta perspectiva concentram-se no estudo da gestão, e às vezes, segundo Alvesson, Brid-gman e Willmott (2009), contra a gestão, muito mais do que no desenvolvimento de técnicas de gestão. As ferramentas gerenciais, sob a visão desta corrente de estudos, são definidas como formas de dominação e de manutenção das relações de submissão e dependência do indi-víduo às organizações e suas estruturas, como explicita Gabriel (2009, p. 63) : “Critical mana-gement studies theorists investigate how power is exercised in subtle and invisible forms”.

A gestão sempre esteve voltada para a con-cepção de que o homem era parte de um ma-quinário maior, identificado com os objetivos da própria organização. Motta (1998) afirma que o (considerado pela administração clássica) “bom” administrador é aquele que saberá pla-nejar cuidadosamente seus passos, organizar racionalmente as atividades dos subordinados e controlar tais atividades, conduzindo-as em direção aos objetivos organizacionais. Os prin-cipais autores que difundiram estes conceitos na área foram o americano Frederick Taylor e o francês Henri Fayol. De forma resumida, as concepções da escola clássica com relação às organizações são: a eficiência da empresa está relacionada com a divisão do trabalho; agrupa-mento de tarefas em departamentos obedecen-do a critérios da semelhança de objetos; número reduzido de subordinados para cada chefe; cen-tralização das decisões e organização de tarefas de forma a criar uma estrutura ideal.

Na contemporaneidade, sobretudo após a difusão dos métodos de gestão influenciados pelo modelo toyotista e pelas técnicas japonesas de gerenciamento na década de 70, as ferramen-tas gerenciais utilizam-se de formas de domina-ção não explícitas, que atuam muito mais sobre as instancias subjetivas do indivíduo e muito menos sobre o controle físico ou material. A fi-gura do chefe ou gerente é substituída pela figura do “líder”; o funcionário, ou trabalhador, desa-

parece, dando lugar ao “colaborador”, os níveis hierárquicos são sublimados pela idéiaideia de “equipe”ou “time” de trabalho, que ensejam a falsa percepção de que “todos são iguais” e es-tão trabalhando “em torno de uma mesma meta”. Há a proliferação dos programas motivacionais e dos treinamentos corporativos, muitas vezes on-line, que capturam o indivíduo para o centro da filosofia corporativa, tal como uma religião cuja missão é propagar o pensamento único: o com-prometimento com as metas organizacionais.

Do ponto de vista critico, as organizações concebidas e geridas sob a ótica racionalista fun-cionalista podem ser associadas a instrumentos de dominação do homem (Morgan, 1999). Nas organizações o funcionário é pago apenas para desenvolver a sua atividade, repetir regras e pro-cedimentos traçados por outros e não para im-primir qualquer característica própria na organi-zação. Deixa-se de lado a essência de cada um, e coloca-se, acima de tudo, o objetivo organiza-cional, onde o ser humano deve estar inserido em um modelo que é comum a todos (Aktouf, 2001).

Os CMS tem como pressuposto contrapor o paradigma clássico, emancipar o homem desta prisão organizacional. Alvesson e Deetz (2006) afirmam que o centro da teoria crítica nas orga-nizações é levar o homem à percepção de que o trabalho não pode ser propósito de dominação, e sim uma oportunidade comum de contribuir para uma realidade organizacional voltada para o desenvolvimento de todos os que estiverem inseridos neste contexto. Os autores do movi-mento CMS partem do pressuposto de que a or-ganização serve para atender à uma dada elite, à alguns grupos ou interesses em detrimento dos interesses ou sobrevivência de outros grupos que encontram-se em condição de desvantagem. É neste sentido que todos os grupos sociais devem ter a possibilidade de emancipação (Alvesson, Bridgman, & Willmott, 2009).

Mas, afinal, o que é crítica? Como defi-nir os estudos críticos, seja ele influenciado ou não pelos pressupostos da Teoria Crítica ou dos CMS? A crítica pode ser entendida como qualquer tentativa de reflexão que busca visões alternativas ao pensamento dominante. A capa-cidade de crítica é fundamental para o apren-dizado e para a construção do conhecimento. Gabriel (2008) propõe uma definição:

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Criticism can be positive or negative – at

its most basic it involves a judgement of

quality. Negative criticism entails a dis-

satisfaction with the status quo and a de-

cision to challenge it in some way. At its

simplest, it states ‘x is not good’, where

x can be a work of art, a person, a theory,

or virtually anything else. At more elabo-

rate level, criticism states ‘x is not what

it seems; it then seeks to show that what

seemed incontestable can be challenged

and shown to be contestable and untrue.

Desta forma, pode se definir como críticos estudos que buscam propor explicações alterna-tivas ao “mainstream”, reflexões contrárias ao pensamento gerencialista dominante, ensaios, pesquisas, trabalhos que buscam dar voz às minorias, aos indivíduos silenciados, que des-cortinam o implícito, o sutil, e revelam o su-bentendido; que explicitam seu inconformismo com o status quo ou que não compactuam, epis-temologicamente ou metodologicamente, com o paradigma funcionalista.

2.3. A Educação Superior em Administração no Brasil

O contexto para a formação de adminis-tradores no Brasil começou a tomar forma na década de quarenta, com a necessidade de pro-fissionais especializados nesta área. Porém, foi em 1952, quando os EUA já formavam em tor-no de 50 mil bacharéis em Administração, que o ensino desta área se iniciava no Brasil (CFA).

Atualmente, quase 500 mil profissionais são formados por ano, atuando nas mais diver-sas áreas, devido à grande expansão do curso no país. Diante deste crescimento, encontra--se uma grande variedade de especializações dentro da área de Administração, formando profissionais de diferentes competências e ha-bilitações (Saraiva, 2007). Segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-sas Educacionais), em 2011 havia 2.365 cursos espalhados pelo Brasil, em instituições públicas e privadas. Em 2011 havia 843.197 alunos ma-triculados no curso de Administração.

O grande problema desta expansão é a massificação dos cursos, deixando em segundo plano a qualidade para se buscar uma quantida-

de maior de matrículas e aprovações. Esta visão assemelha-se, segundo Alcadipani e Bresler (2000, como citado por Paula & Rodrigues, 2006) ao processo de “macdonaldização”, com-parando os cursos às cadeias de fast-food, onde há uma busca de padronização de informações e maximização da quantidade de alunos. Esta referência já era ressaltada por Tragtenberg (1979 como citado por Paula & Rodrigues, 2006) que apontou, há mais de duas décadas, uma certa “delinquência” acadêmica da área.

Schwartzman e Schwartzman (2002) ob-servaram que o crescimento sem planejamento de diversas instituições de ensino levaria a uma concorrência acirrada, em função da fixação de preços de mensalidades baixas. Neste cenário, o aumento da concorrência, com a entrada de grupos financeiros, levou a uma série de fusões e aquisições no setor educação. Durante o pe-ríodo entre 2007 e 2012, o setor educacional teve um grande número de fusões e aquisições. Mais de oitenta casos foram verificados nesse período. No final de 2012, temos três grandes grupos de ensino com ações cotadas na Boves-pa: Kroton, Anhanguera e Estácio.

Para que possa gerenciar esse crescimento, a instituição de ensino, então, otimiza ao má-ximo a sua estrutura administrativa, para que possa alcançar a economia de escala. De forma a monitorar essa ação, diversos indicadores de produtividade são utilizados: número de alunos por disciplina, taxa de ocupação de sala de aula, custo-docente por curso, etc. Neste contexto, o aluno passa a ser tratado como cliente, com isso, o objetivo de educar é transformado em simplesmente atender o que o cliente deseja, uma vez que o lucro parte dele (Saraiva, 2007).

Barcellos et al (2011) afirma que o curso de administração possui o desafio de delimitar a autonomia e identidade em um cenário onde a universidade está cada vez mais vinculada as demandas do mercado. A formação do admi-nistrador não pode estar apenas restrita a orga-nizações que busquem apenas o lucro econô-mico, e sim para atuar em diversas formas de organização (tais como organizações do tercei-ro setor, administração pública, etc.).

Siqueira (2013) assinala que os próprios pro-jetos pedagógicos não possuem papel de desta-que na gestão de um curso, uma vez que a ótica de viabilidade financeira é a principal meta s ser

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atingida. Segundo o próprio autor, que também é presidente do Conselho Regional de Adminis-tração (CRA-RJ), “os badalados projetos pedagó-gicos são muitas vezes cópias de modelos bem sucedidos alhures, em que o critério de “redução sociológica de adaptação à realidade” não passa de digitação do tipo ctrl+c e ctrl+v”.

Diante do exposto, percebe-se que o ensi-no passa a ser utilizado para atender o “consu-mismo” dos indivíduos, que buscam uma pro-fissionalização sem dar ênfase à possibilidade de agregar, em larga escala, conhecimento que não seja para o desenvolvimento de habilida-des. Leva-se a uma reprodução do que fazer, sem incentivar um questionamento, por parte do aluno, do que se pode ser utilizado e absor-vido ou não, ou seja, o curso de administração veio atender ao desejo das organizações de contar com um profissional capaz de atuar efe-tivamente apenas no que elas desejam. O curso de Administração precisa ser de fato um curso de Ciência Social Aplicada, e não apenas uma ciência que só tem sido aplicada (Saraiva, 2011)

De acordo com o MEC (Ministério da Educação), na Resolução n.º 4, de 13 de julho de 2005, que Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Admi-nistração, dispõe no artigo 5º § II, os conteúdos de formação profissional do curso são: teorias da administração e das organizações, adminis-tração de recursos humanos, mercado e marke-ting, materiais, produção e logística, financeira e orçamentária, sistemas de informações, pla-nejamento estratégico e serviços.

Dentre estas áreas específicas, destaca-se a disciplina teorias da administração que ofe-rece uma possibilidade de conhecimento das diferentes áreas abrangidas pelo curso, dando oportunidade do aluno compreender histori-camente e conceitualmente as organizações e suas inter-relações.

3. Metodologia do Estudo

Este estudo é de natureza qualitativa. A pesquisa qualitativa, segundo Flick (2009), bus-ca compreender fenômenos sociais particulares considerando o sujeito em seu contexto, e pos-sibilita uma análise mais complexa de situações cuja compreensão transcende as correlações de

causa e efeito. A pesquisa qualitativa é a abor-dagem mais alinhada com os estudos empíricos de orientação critica (Alvesson & Deetz, 2000), orientação esta que caracteriza este trabalho.

As ferramentas de coleta de dados utiliza-das foram a pesquisa documental, posto que fo-ram consultados documentos institucionais dos cursos e IES pesquisadas, tais como o Projeto Pedagógico do Curso, Ementas das disciplinas e os Projetos Pedagógicos Institucionais e a pesquisa de campo, uma vez que foram reali-zadas visitas às IES pesquisadas, em diferentes momentos, para a coleta de dados primários. A pesquisa de campo incluiu a realização de entrevistas, por meio de roteiros semiestrutu-rados, com coordenadores dos cursos analisa-dos. É importante mencionar que as entrevistas foram realizadas após a leitura dos Projetos Pedagógicos e das Ementas dos cursos, a fim de possibilitar uma melhor compreensão dos documentos pesquisados e abordar as dúvidas e questões que emergiram após esta leitura. Desta forma, o roteiro de entrevista foi cons-truído considerando-se as especificidades de cada curso, com perguntas gerais que aborda-vam a definição de critica e estudos críticos e questões mais relacionadas às características de cada ementa em particular.

A escolha das duas IES analisadas seguiu o critério de acessibilidade. Ambas as institui-ções possuem unidades no estado do Rio de Janeiro, a IES A em mais de um município. A entrevista realizada com o coordenador da IES A foi realizada pelos entrevistadores na presen-ça do entrevistado. A outra entrevista, com a IES B, foi realizada por intermédio de correio eletrônico. A análise dos dados foi realizada utilizando-se o método da análise de conteúdo.

4. O Ensino da Disciplina Teorias da Administração

Nesta seção serão apresentados os dados e interpretações obtidos na pesquisa documental e na pesquisa de campo junto às IES pesquisa-das. A análise dos dados obtidos e as considera-ções sobre o estudo serão apresentadas na seção final deste trabalho.

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4.4. O Ensino da Disciplina Teorias da Administração na IES A

A IES A está localizada no Estado do Rio de Janeiro e conta com unidades espalhadas em todo o estado e é uma das duas maiores IES, em número de alunos, do Rio de Janeiro. O curso de Administração, nesta instituição, foi reco-nhecido pelo MEC há mais de vinte anos e tem o perfil de formação de profissionais orientados para o mercado, porém, conforme ressaltado em seu Projeto Pedagógico, com o desenvolvi-mento de um olhar crítico da gestão empresa-rial. A mensalidade do curso de Administração desta IES, conforme ressaltado pelo coordena-dor entrevistado, situa-se entre as mais baixas dentre as IES do estado, possibilitando o acesso a este curso de alunos oriundos da classe C, que já estão no mercado de trabalho, sendo este o perfil predominante dos alunos.

No Projeto Pedagógico do curso, um dos objetivos específicos apresentados consiste em estimular no aluno uma visão crítica e analítica, desenvolvida por meio de ações que incentivem a pesquisa científica, visão esta reforçada pelo coordenador do curso de administração entre-vistado. O referido coordenador concorda que o objetivo é formar alunos críticos que não aceitem conceitos prontos sem, ao menos, questionar se são válidos ou não, porém completa que a prática não reflete o que está escrito. Os alunos não são levados a questionar e sim a assimilar e aceitar conceitos e ideias apresentadas pelos professores. Ele afirma ainda que, em um cenário mais agra-vante, os professores ainda não estão preparados para este tipo de aluno, crítico, questionador, pen-sante, pois isso acarretaria uma maior necessida-de de atualização por parte do próprio professor.

Segundo o entrevistado, o erro começa na visão que os professores, e até coordenadores, têm dos alunos da Instituição, rotulados como “limitados, com poucos recursos, sem possibi-lidades de comprar livros e, por isso, caracte-rizados como um aluno de segunda categoria”. Com isso, os professores não se dedicam, não se doam “oferecendo o máximo” e, como con-sequência, formam-se profissionais de fato de “segunda categoria”, de acordo com seu relato, repetidores de conceitos e ideias. E, segundo ele, esta visão não é própria somente da disci-plina de Teorias e sim do curso como um todo.

Observa-se que a ementa da disciplina Teorias da Administração I abrange as teorias administrativas, em termos cronológicos, des-de a Teoria da Administração Científica até a Teoria da Contingência. Os livros utilizados nesta disciplina são Andrade e Amboni (2009) e Chiavenato (2000; 2004). O enfoque presente no Programa analisado trata mesmo teorias or-ganizacionais no âmbito das Teorias da Admi-nistração (como por exemplo, a “Teoria” da Bu-rocracia). Em todo o currículo do curso não há espaço para a discussão da Teoria Critica ou de Estudos Críticos, caracterizando-se o conteúdo geral do curso por uma perspectiva instrumen-tal funcionalista. Da mesma forma, não há uma disciplina dedicada à Teoria das Organizações, de modo que a formação oferecida ao graduan-do deixa de lado as teorias mais recentes, entre elas a Teoria Crítica. Em Teorias da Adminis-tração II, onde se poderia dar uma continui-dade ao pensamento teórico, com abordagens mais recentes, percebe-se uma preocupação em apresentar somente ferramentas administra-tivas. O esforço de ensinar o conteúdo instru-mental é explicado pelo entrevistado como uma necessidade de se apresentar o aluno ao mundo capitalista dos negócios, oferecendo-o aqui-lo que as empresas esperam que eles saibam, muitas vezes recaindo em fórmulas e modelos pré-estabelecidos.

Percebe-se, ao analisar as competências das disciplinas, que não há uma preocupação em estimular no aluno o pensamento crítico, e sim de apresentar as técnicas, ferramentas, teorias, imprimindo um viés instrumental. Diante do exposto anteriormente, os alunos tendem a sim-plesmente reproduzir estes conceitos, sem um questionamento se estes são pertinentes ou não.

O coordenador entrevistado afirma, ainda, que se faz necessário um processo de reeduca-ção dos professores para trabalhar com a dis-ciplina Teorias da Administração, pois ela tem uma característica diferenciada, com assuntos mais complexos e abstratos, alem de ter um ca-ráter inter e multidisciplinar, abrangendo con-ceitos da psicologia, sociologia, antropologia, entre outros, que dificulta o seu entendimento por parte do aluno. Isso pode resultar numa di-ficuldade do professor em discernir a melhor forma de trabalhar esses conceitos. Entende-se, então, que a mudança deste cenário só será pos-

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sível se houver, primeiramente, uma mudança de postura ou mesmo de formação do profes-sor, para que, posteriormente, com a alteração da ementa da disciplina possam se alcançar os resultados esperados nos alunos.

4.5. O Ensino da Disciplina Teorias da Administração na IES B

A IES B tem sua sede localizada em São Paulo, com unidades no Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, e pertence ao seleto grupo de instituições que receberam nota máxima em to-das as avaliações (provões) do MEC. Faz parte da missão desta IES formar “empreendedores e profissionais com perfil de liderança”. Além disso, cultiva valores como ética, excelência e ensino, responsabilidade social e inovação. O curso de graduação em Administração foi in-serido ao leque de opções de cursos da Institui-ção no ano de 1991, quando a IES posicionou-se como uma escola voltada para o mercado.

O curso de Administração na IES B tem o perfil de formação de profissionais que te-nham visão “holística” da gestão, segundo os documentos pesquisados, sendo também espe-cializados em determinadas áreas. Para isso, o candidato ao curso pode optar por uma das duas linhas oferecidas: ênfase em Negócios e ênfase em Marketing e Entretenimento, sendo a primeira “mais generalista, mais focada na proatividade e na visão macro do mercado”; e a segunda mais voltada para uma área específica. A mensalidade cobrada para este curso é uma das mais altas entre os cursos de graduação em Administração do estado, atraindo alunos das classes A e B.

No que se refere ao ensino das teorias or-ganizacionais e administrativas, o curso ofere-ce três disciplinas: Teoria Geral da Administra-ção (TGA), Teoria das Organizações e Teoria Administrativa Crítica. Na concepção do coor-denador entrevistado, o pensamento crítico é desenvolvido ao longo do curso, a disciplina de TGA não tem como objetivo o pensamento crítico e sim apenas apresentar as teorias que serão revistas e discutidas no decorrer do curso, em disciplinas como Teoria das Organizações, Comportamento Organizacional, Estratégia Empresarial, Recursos Humanos e outras. A disciplina Teoria Administrativa Crítica, ofere-

cida no fim do curso, tem o objetivo de resgatar tudo o que foi aprendido e vivenciado, com o propósito de desenvolver o pensamento crítico.

Em Teoria Geral da Administração o alu-no estuda a Administração e o Administrador, as Organizações e seu ambiente, História do Pensamento Administrativo, Abordagem Clás-sica, Abordagens Humana e Comportamental, Abordagem Estruturalista e do Desenvolvi-mento Organizacional, Teorias Sistêmicas e Contingencial e Perspectivas Contemporâneas. Espera-se, ao final da disciplina, que o aluno seja capaz de refletir sobre a realidade da admi-nistração contemporânea à luz da compreensão do processo histórico de seu desenvolvimento.

Os autores utilizados na disciplina Teoria Geral da Administração são: Andrade e Am-boni (2009), Chiavenato (2000; 2004), Maxi-miniano (2004), Robbins (2000), Silva (2001). Motta (1998), Daft (2002), Stoner (2002) e Morgan (1999).

Percebe-se que tanto a ementa quanto a bi-bliografia utilizada neste curso não diferem da-queles utilizados no curso da IES A. No relato do entrevistado verifica-se também que o enfo-que desta disciplina possui também um caráter instrumental.

A disciplina Teoria das Organizações contempla os Fundamentos das Organizações, Evolução da Teoria sobre as Organizações, Es-trutura e Projeto Organizacional de Governan-ça e Gestão, Cultura Organizacional e Valores Éticos, Conflito, Poder e Política nas Organiza-ções e Inovação e Mudança Organizacional. Ao final do curso o aluno deverá conhecer os prin-cipais elementos conceituais das principais teo-rias organizacionais, com ênfase na arquitetura e nas dimensões das organizações (complexi-dade, tecnologia e cultura) e pensar estrategi-camente os pontos críticos da dinâmica orga-nizacional, discutindo problemas, soluções, tendências e desafios das empresas nacionais e internacionais.

Verifica-se, na análise da ementa desta disciplina, que diferentes conceitos e temáticas são incluídos sob a nomenclatura de “Teorias Organizacionais” sem que haja, necessaria-mente, associação de tais conceitos com esta perspectiva teórica. Além disso, é apresentado como objetivo da disciplina o desenvolvimen-to do “pensar estratégico” do aluno e, pelo que

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se pode inferir, a visão critica que se pretende incutir no aluno limita-se aquela que permite a identificação de problemas que impedem ou dificultam o desenvolvimento e a implementa-ção das ferramentas de gestão, possibilitando o aluno visualizar soluções para estes problemas.

A disciplina Teoria Administrativa Crítica aborda os tópicos: a Corporação, Paradigmas, Assédio Moral, Corrosão do Caráter, Simbolis-mo nas Organizações, Modismos Gerenciais, Globalização e Ensino da Administração. Ao término do curso espera-se que o aluno seja capaz de formular reflexões críticas sobre reali-dade das organizações e do trabalho, aplicando conceitos de Teoria Crítica para analisar uma situação organizacional previamente definida.

A bibliografia básica da disciplina Teoria Administrativa Crítica compõe-se de autores como Boaventura de Souza Santos e Richard Senett. A bibliografia complementar inclui au-tores como Thomas Wood Jr., Maria Ester de Freitas e Omar Aktouf , além do livro clássico no estudo de epistemologia e análise organiza-cional: “Sociological Paradigms Organizational Analysis”, de Gibson Burrel e Gareth Morgan.

Observa-se que, a partir do conteúdo programático e a bibliografia (básica e com-plementar) da disciplina Teoria Administrati-va Crítica, há um estímulo para que os alunos desenvolvam um olhar crítico sobre as teorias da administração e das organizações, possibi-litando, desta forma, o alcance dos objetivos da mesma, oferecendo aos alunos a oportunidade de ter uma visão do pensamento crítico nos es-tudos organizacionais.

5. Algumas Considerações

É pertinente ressaltar a importância do pensamento crítico para a formação do admi-nistrador na contemporaneidade, sobretudo considerando-se as características dos modelos de gestão utilizados atualmente. O homem deve ter a capacidade de pensar, de questionar mo-delos pré-estabelecidos, de quebrar paradigmas que obscurecem a sua autonomia de agir nas organizações e na sociedade. Por esta razão é que se observa uma ruptura no papel essencial das Instituições de Ensino, quando pregam que estão voltadas para o mercado. O objetivo da

educação deve estar voltado para a emancipa-ção do homem e não para o seu enquadramento em padrões organizacionais estruturados, na racionalidade excessiva do mercado.

A partir dos dois cursos analisados perce-be-se que a crítica, ou o estímulo ao pensamen-to crítico, existe apenas na redação dos Projetos Pedagógicos ou nos objetivos explicitados, mas não na formação oferecida. Desta forma, há muito pouco de crítica na formação crítica nas IES estudadas. No caso da IES A, conforme destacado inclusive pelo próprio coordenador, a estrutura do ensino, em conjunto com o con-teúdo das disciplinas são incapazes de desper-tar uma reflexão crítica nos estudantes. Há uma clara orientação para a formação técnica, que atenda às demandas impostas pelo “mercado”. Este discurso pela formação de um profissional que atenda a este “mercado” justifica implicita-mente o uso exclusivo das teorias tradicionais nos planos de ensino da disciplina Teoria Geral de Administração.

Por outro lado, considerando-se a origem socioeconômica da maioria dos estudantes des-te curso, um esforço para o ensino dos pressu-postos do CMS ou o contato com estudos de orientação crítica poderia possibilitar a estes futuros profissionais uma forma alternativa de enxergar a sua profissão? Ou ainda, não poderia despertá-los para uma ação emancipatória?

Todos estes questionamentos vão ao encon-tro das ideias de Horkheimer, já comentadas ao longo deste artigo. O conhecimento e ação, apesar de serem distintos, podem caminhar jun-tos. O aluno ao ter contato com as perspectivas críticas, pode ter uma formação mais completa não apenas para o simples acesso ao mercado de trabalho, e sim para a sua atuação na sociedade.

No caso do curso da IES B, verifica-se um esforço, ainda que tímido, para dar acesso aos estudantes ao pensamento alternativo ao mains-tream. Observa-se que existe a preocupação em desenvolver entre alunos e professores a crítica e o questionamento, principalmente por meio da disciplina Teoria Administrativa Crítica, que segundo o coordenador entrevistado, é ofereci-da no último período do curso. A existência da disciplina não significa que o discurso esteja ali-nhado à prática, mas já sinaliza um esforço de reflexão neste sentido. Ressalta-se aqui a preo-cupação da IES B, observada pelos autores des-

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te estudo, no oferecimento da disciplina Teoria Administrativa Crítica no último período, quan-do os discentes têm a possibilidade de revisitar o conteúdo estudado durante todo o curso, por meio da leitura da bibliografia oferecida na dis-ciplina, desenvolvendo assim, um pensamento mais crítico. Cabe, contudo assinalar que, tanto nos objetivos dispostos em seu Projeto Pedagó-gico quanto no relato do coordenador entrevis-tado, o enfoque de formação para o mercado se mantém, assim como verificado na IES A. Tal esforço de adequação às diretrizes do mercado parece orientar grande parte da formação dos administradores de um modo geral.

Outro aspecto que merece ser mencionado refere-se à ausência de autores críticos brasilei-ros nos programas dos cursos analisados, em es-pecial na IES B, que possui uma disciplina de enfoque crítico. Tal fato sugere outra reflexão, no sentido de se pensar a formação de administra-dores para o contexto brasileiro, que estude os problemas e características locais. Neste senti-do, autores como Guerreiro Ramos e Mauricio Tragtenberg teriam muito a contribuir, como já abordado em vários trabalhos, para a construção de um pensamento administrativo à brasileira.

Partindo-se da ideia de que a crítica funda--se no inconformismo com a realidade tal como esta se apresenta, e que o pensamento crítico busca a construção de visões e explicações alternativas do mundo, a formação de indiví-duos com uma visão influenciada pelas ideias da Escola de Frankfurt ou dos CMS torna-se uma ameaça para o pensamento organizacional dominante e para a manutenção do status quo gerencialista. Tal mudança teria implicações não apenas na forma como os administradores

se inserem e gerem as organizações, mas nas suas escolhas políticas, o que comprometeria a manutenção de um estado social mais amplo.

Algumas questões se fazem pertinentes, neste contexto, entre elas: até quando os cur-sos de graduação continuarão a ser meros re-produtores de conceitos e teorias, cultivando ainda mais o pragmatismo? Quando começarão a se questionar e a cultivar uma cultura mais reflexiva e crítica nas salas de aula? O contexto recente do ensino superior no Brasil, onde as universidades são comparadas com cadeias de fast food, conforme apontado por vários auto-res apresentados ao longo deste artigo, parece orientar o conteúdo dos cursos de administra-ção para uma lógica meramente instrumental e de rápida absorção por parte dos alunos.

Mais uma vez estes questionamentos reme-tem a outro autor crítico abordado neste estu-do: Habernas. Ao fazer uma analogia com suas ideias, verificamos que o predomínio da raciona-lidade técnica nos currículos de administração pode levar a formação de profissionais com ideo-logia associada à lógica do capital. O tecnicismo limitado a estudos de casos de sucesso faz com que o aluno tenha uma falsa impressão de que isto é suficiente para a sua formação acadêmica.

As instituições de ensino precisam perce-ber a necessidade de fazer com que o profissio-nal seja capaz de transformar as organizações e não apenas replicar conceitos e ferramentas experimentadas em outras empresas. Os cursos devem estar voltados para a formação e cres-cimento do homem nas organizações e não simplesmente para o mercado, como se este mercado fosse autônomo e não resultado da in-terferência da ação humana.

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Recebido em 03/2013

Aprovado em 12/2013

ISSN1809-9475

Câncer de mama: trajetória da mulher valenciana a partir de uma suspeita

Breast cancer: the story of the Valencian woman from a suspected

1 Márcia Ribeiro Braz2 Luanda Louzada e Silva Oliveira2 Priscila de Paiva2 Juciene do Espírito Santo2 Priscilla Marques Hasman Bueno

ResumoO Sistema de Informação do Controle do Câncer de Mama (SISMA-MA) visa criar um banco de dados no Brasil, juntando dados de todas as regiões sobre a doença através da informatização padronizada da requisição de mamografia e de seu resultado. Este estudo tem por obje-tivos apresentar a dinâmica do SISMAMA no município de Valença/RJ e descrever a trajetória da mulher valenciana, com suspeita de câncer de mama. Estudo descritivo-exploratório, transversal. Os resultados apon-taram que no município Valença, no ano de 2010 foram acompanhadas pelo SISMAMA um total de 41mulheres. Entre estas, 18 apresentaram BI-RADS 4, sugestivo de malignidade, necessitando de atenção dire-cionada e especializada. Conclui-se que a mulher valenciana, a partir da suspeita de câncer de mama tem seu primeiro atendimento com o enfermeiro na Atenção Básica.

Palavras-chave

Câncer de mama

Sistema de informação

Rastreamento

AbstractThe Information System Control of Breast Cancer (SISMAMA) aims to create a database in Brazil, gathering data from all regions on the disease through standardized computerization of mammography requisition and its outcome. This study aims to present the dynamics of the city of Valença SISMAMA / RJ and describe the trajectory of the Valencian woman with suspected breast cancer. An exploratory descriptive transversal study. Data were collected through the SISMAMA -2010 report. The results showed that in the city Valencia, in 2010 were followed by a total of SISMAMA 41mulheres between the results of mammograms, 18 women had BI - RADS 4, suggestive of malignancy, requiring targeted and specialized care. We conclude that the Valencian woman from suspected breast cancer has its first service with nurses in Primary Care .

Keywords

Breast cancer

SISMAMA

Tracking

1. Discente do Curso de Enfermagem do Centro de Ensino Superior de Valença - FAA.

2. Docente do Curso de Enfermagem do Centro de Ensino Superior de Valença - FAA.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

No decorrer da graduação percebemos que muitos são os cuidados a serem prestados a saúde da mulher, nos identificamos muito com esse tema, e sabemos que a prevenção é fun-damental, em se tratando de câncer de mama, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), se o mesmo for diagnosticado e tratado em sua fase inicial a cura pode atingir 100% dos casos diagnosticados.

O diagnóstico do câncer de mama na vida da mulher acarreta efeitos traumáticos, para além da própria enfermidade, tendo que se depa-rar com a iminência da perda de um órgão alta-mente investido de representações. Para Moreira e Ângelo (2008 apud ARAÚJO et al., 2010, p.3),

Diante do diagnóstico do câncer de

mama, a mulher passa por completa mu-

dança em suas relações sociais, familiares

e com ela mesma. Requer, portanto, além

de uma assistência médico-hospitalar,

assistência humanizada, capaz de vê-la

como pessoa que sofre, mas que não per-

deu sua essência.

Carvalho et al. (2010) afirmam que devido a sua alta incidência e aos seus efeitos psicoló-gicos que afetam a sexualidade e a imagem pes-soal da mulher, o câncer de mama é com certe-za muito temido pelas mulheres. “A mama para a mulher não é somente um órgão de adorno ou de estímulo sexual, e sim, a representação de sua feminilidade, de sua condição de mulher”.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM, 2011), o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, res-pondendo por 22% dos casos novos a cada ano, sendo este mais raro no homem, representando menos de 1% dos casos, sendo que o principal sintoma é um nódulo endurecido atrás do “bico” do peito, principalmente em pacientes acima de 50 anos de idade. (SBM, 2011).

A SBM aponta para diferenças nas taxas de incidência da doença entre as regiões do Brasil. A maior incidência ocorre na região su-deste. A medida utilizada para quantificar essa incidência chama-se taxa bruta, que correspon-de ao número de casos para cada 100 mil mu-

lheres. Na região sudeste, essa taxa é de 64.54 casos/100mil mulheres; região sul, 64.3/100mil mulheres; região centro-oeste, 37,68/100mil mulheres; região nordeste, 30,11/100mil mu-lheres e região norte, com a menor incidência, 16,62/100mil mulheres. Estas as diferenças provavelmente são decorrentes, do fato já co-nhecido, de quanto maior o desenvolvimento da região, maior a incidência de câncer de mama. Isto reflete uma sociedade mais industrializada, com consumo cada vez maior de uma alimen-tação inadequada, excesso de peso e talvez es-tresse. (SBM, 2011).

De acordo com o INCA, os programas de detecção precoce do câncer de mama são de fun-damental importância para um melhor prognós-tico da doença, diminuindo suas taxas de mor-talidade. As ações de detecção precoce incluem: diagnóstico e rastreamento. Essas ações são rea-lizadas principalmente através do Exame Clíni-co das Mamas (ECM) e da mamografia (BRA-SIL, 2010). Com a realização cada vez mais frequente da mamografia, tem-se diagnosticado o câncer de mama no Brasil em fases mais pre-coces, o que aumenta as chances de cura. Hoje, a maioria dos casos diagnosticados no Brasil não é mais em fases avançadas (SBM, 2011).

Segundo INCA (2008), o ECM deve ser uma rotina quando a mulher vai realizar o exa-me ginecológico, e tem como objetivo a detec-ção precoce de neoplasia maligna e de qualquer outra patologia incidente. Já em 2002, o Minis-tério da Saúde afirmava que, cerca de 40% das mulheres brasileiras nunca realizaram o exame citopatológico do colo uterino e o exame clínico das mamas, dificultando ações de saúde e assis-tência com ênfase na prevenção e no diagnósti-co precoce. (BRASIL, 2002).

As estratégias de prevenção e controle do câncer do colo uterino e da mama têm como objetivos reduzir a ocorrência (incidência) e mortes (mortalidade), bem como, as repercus-sões físicas, psíquicas e sociais (morbidade) causadas por esses dois tipos de cânceres, por meio de ações de promoção e prevenção, pro-porcionando oferta de serviços para detecção em estágios iniciais da doença no tratamento e reabilitação das mulheres. (BRASIL, 2006).

O ECM pode ser realizado pelo enfermei-ro durante um exame físico geral ou exame ginecológico. Esse profissional também desem-

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penha importante papel orientando as mulheres quanto ao Auto Exame das Mamas (AEM), que pode ser feito em qualquer ambiente, inclusive durante o exame ginecológico. A enfermeira, durante o atendimento às mulheres, deve esti-mular o autocuidado, direcionando a sua práti-ca para a prevenção e detecção precoce do apa-recimento de displasias uterinas e mamarias, executando a favor da mulher a manutenção da vida, da saúde e bem estar. (BRASIL, 2010).

Quanto à mamografia, enquanto método de detecção precoce, trata-se de um procedi-mento diagnóstico que permite identificar al-terações ou sinais de malignidade nas mamas, mesmo ainda não perceptíveis a exame clínico, ou seja, antes de tornar-se uma lesão palpável. O Ministério da Saúde recomenda, para o ras-treamento do câncer de mama, que mulheres de 40 a 49 anos realizem ECM anualmente e, se alterado, a realização de mamografia diagnósti-ca (BRASIL, 2010).

Para mulheres de 50 a 69 anos, indica ECM e mamografia de rastreamento a cada dois anos. No caso de mulheres de 35 anos ou mais, com risco elevado, ou seja, com história familiar de pelo menos um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha), com câncer de mama abaixo dos 50 anos de idade, câncer de mama bilateral, câncer de ovário em qualquer faixa etária, história de câncer de mama masculino e diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ recomenda-se ECM e mamografia de ras-treamento anual. (SBM, 2011).

A mamografia pode ser classificada em: mamografia de rastreamento, que é o exame proposto para mulheres da população-alvo que ainda não apresentam sinais e sintomas de neoplasia mamária, e mamografia diagnóstica, que consiste no exame solicitado para pessoas de qualquer idade que apresentarem quaisquer sinais e sintomas de neoplasia mamária. Entre eles: nódulo, espessamento, descarga papilar, retração de mamilo, uma vez que dor não é sin-toma de câncer de mama. (BRASIL, 2010).

Com o objetivo de se atuar de forma mais prática e efetiva, e poder se basear em dados de avaliação rápida, regular e seguros do câncer de mama, foi criado um sistema eletrônico de infor-mação: o Sistema de Informação do Controle do Câncer de Mama (SISMAMA), que visa criar um

banco de dados no Brasil, juntando dados de to-das as regiões sobre a doença, através da informa-tização padronizada da requisição de mamografia e de seu resultado. (SANTOS; KOCH, 2010).

O SISMAMA entrou em vigor no ano de 2009 e, para isso, as Secretarias de Estado deram início, em 2008, à capacitação dos pres-tadores regionais e municipais sobre esse novo sistema. Este reproduz automaticamente as ca-tegorias do Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS®), de acordo com os acha-dos encontrados nos exames de mamografia. Isso permite que se disponibilizem laudos em que os achados radiológicos sejam fidedignos à categoria a que pertencem, já que o sistema exclui informações antagônicas. É uma ferra-menta necessária para a gestão do controle da doença. (SANTOS; KOCH, 2010).

De acordo com dados do IBGE (2010), a população residente na cidade de Valença, mu-nicípio localizado na região Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, é equivalente a 71. 843 pessoas sendo que 37.393 são do sexo femi-nino e 2.807 mulheres estão entre a faixa etária de 45 a 49 anos de idade. Diante desses dados, ao refletirmos sobre o câncer de mama no mu-nicípio de Valença, surgem as seguintes ques-tões: qual a característica das mulheres porta-doras de câncer de mama em Valença? Como funciona o SISMAMA em Valença?

O estudo justifica-se devido: à falta de informação da população e dos próprios pro-fissionais da saúde em relação ao SISMAMA, a trajetória percorrida pela mulher a partir da suspeita de câncer de mama e para a conscienti-zação desta, em relação à importância do retor-no para o devido acompanhamento. Portanto, este estudo tem por objetivos apresentar a dinâ-mica do SISMAMA no município de Valença e descrever o trajeto da mulher valenciana com suspeita de câncer de mama.

2. Abordagem Metodológica

Trata-se de estudo exploratório, transversal, com abordagem quanti qualitativo, realizado atra-vés da análise de um relatório do SISMAMA, no município de Valença, no período de tempo com-preendido entre setembro e outubro de 2012. O relatório compreende aos dados do ano de 2010.

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Os dados foram coletados no Centro de Saúde da Mulher em Valença, que vem usando o SISMAMA desde o ano de 2010. Os números foram fornecidos pela coordenadora do Centro de Saúde da Mulher e por uma funcionária ad-ministrativa, que alimenta o SISMAMA através de informações que constam na ficha de requi-sição (feita pelo médico da paciente ou enfer-meiro da unidade de saúde de origem) e da ficha de resultado de mamografia (preenchida, uma parte, pela técnica responsável, e a outra parte – a dos achados radiológicos pelo médico respon-sável pelo laudo). Para atingir os objetivos do estudo foram estudadas as seguintes variáveis: idade, classificação do BI-RADS, seguimento de mulheres acompanhadas pelo SISMAMA.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Éti-ca em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Valença, filiado ao CONEP sob o parecer 010/CEP/2012. Os dados foram apresentados sob a forma de tabelas e discutidos sob a luz de lite-ratura pertinente.

3. Resultados e Discussão

O relatório do SISMAMA, disponível no serviço para este estudo, foi o do ano de 2010. Nesse ano, foi acompanhado pelo SISMAMA, um total de 41 mulheres. As faixas etárias nas quais as mulheres em acompanhamento pelo SISMAMA são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição da Amostra Por Faixa Etária (n=41)Faixa etária Quantidade Percentual

35-40 3 7,3

41-45 9 22,0

46-50 8 19,5

51-55 5 12,2

56-60 3 7,3

61-65 3 7,3

66-70 5 12,2

71-75 3 7,3

76-80 0 0,0

81-85 1 2,4

86-90 1 2,4

Fonte: SISMAMA, 2010

Observa-se nesses dados que a maioria das mulheres em seguimento no SISMAMA no ano de 2010, está entre 41 e 45 anos correspondendo a nove mulheres e entre 46 e 50 anos compreendendo

oito mulheres. Correspondente a um percentual de 41,5% de mulheres nesta faixa etária de ris-co. A idade continua sendo o principal fator de risco para o câncer de mama, as taxas de in-cidência aumentam rapidamente dos 35 até os 50 anos e, posteriormente, esse aumento ocorre de forma mais lenta. (BRASIL, 2010). O Mi-nistério da Saúde (BRASIL, 2010) define como fatores de risco bem estabelecidos para o de-senvolvimento do câncer de mama aqueles que

se encontram relacionados à vida reprodutiva da mulher (menarca precoce, antes dos 11 anos, nuliparidade, primeira gestação acima dos 30 anos, uso de anticoncepcionais orais, menopau-sa tardia, após os 50 anos, e utilização de tera-pia de reposição hormonal).

Tabela 2: Resultados de mamografias, demonstrados pela classificação BI--RADS do total de mulheres por fai-

xa etária em seguimento em 2010.

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Faixa

etáriaNúmero

Sem

BI-RADSBI-RADS 0 BI-RADS 3 BI-RADS 4 BI-RADS 5

35-40 3 3

41-45 9 3 1 2 3 1

46-50 8 3 1 1 2

51-55 5 1 1 3

56-60 3 1 2

61-65 3 1 2

66-70 5 1 3 1

71-75 3 1 2

76-80 0

81-85 1 1

86-90 1 1

Total 41 14 3 4 18 2

90%. Segundo dados encontrados na descrição do seguimento, já estão sendo feitas tentativas de contato pela assistente social do serviço de saúde.

Em programas de rastreamento, seguir é ir atrás de indivíduos livres de doença, para ob-servar o momento em que este poderá ou não adoecer, além de acompanhar a evolução e o tratamento das pessoas diagnosticadas. (BRA-SIL, 2011). O seguimento significa acompanhar atentamente as mulheres com exames alterados para verificar se as mesmas estão sendo ava-liadas e tratadas. Ainda, analisando dados da descrição do seguimento, identificamos alguns dados relevantes como algumas alterações na descrição do seguimento e o local onde a bióp-sia foi realizada. Cabe ressaltar que algumas mulheres inserem-se em mais de uma das ca-tegorias apresentadas no que diz respeito às alterações e biópsia, no município e no centro de referência (INCA). Se tratando do câncer de mama, a detecção precoce e o controle dos ca-sos já constatados são imprescindíveis , Sendo assim, se faz extremamente necessária a busca ativa dessas mulheres, realizando um trabalho com ênfase na conscientização e informação sobre a importância dos exames realizados e possíveis tratamentos necessários às mulheres já acometidas pela doença. É de grande impor-tância também, que seja feito o correto preen-chimento dos dados estipulados pelo sistema,

Na análise da Tabela 2 percebe-se um nú-mero considerável de 18 mulheres (43,9%) com resultado de BI-RADS 4, o que é preocupante, uma vez que o resultado de BI-RADS 4 é suges-tivo de malignidade.

A categoria BI-RADS é classificada den-tro de uma escala de 0 a 6 onde BI-RADS 0 é inconclusivo, assim como, o risco para câncer. Recomenda-se avaliação adicional; BI-RADS 1 quer dizer que não foram encontrados achados, com risco para câncer de 0,05% e recomenda-se rotina de rastreamento; BI-RADS 2 sugere acha-dos benignos com risco para câncer de 0,05%, é recomendado rotina de rastreamento; BI-RADS 3 significa achados provavelmente benignos com risco para câncer de até 2%, onde é recomenda-do repetir em 6 meses e eventualmente realizar biópsia; BI-RADS 4 quer dizer que os achados são suspeitos de malignidade e tem risco para câncer maior que 20%, é recomendado biópsia; BI-RADS 5 são achados altamente sugestivos de malignidade com risco para câncer maior de 75%, recomenda-se biópsia e BI-RADS 6 signi-fica biópsia prévia com malignidade comprovada com risco para câncer de 100%. (BRASIL, 2010).

De um total de 41(100%) mulheres em se-guimento no ano de 2010, 4 (10%) mulheres ainda estavam num processo de busca ativa, e 37 mu-lheres se encontravam em acompanhamento am-bulatorial e/ou no INCA com um percentual de

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de forma assídua para que o mantenha atuali-zado, favorecendo o melhor acompanhamento dos casos e melhor assistência. As estratégias que visam à prevenção e o controle do câncer de mama têm por objetivo diminuir a incidência e a mortalidade do mesmo e os impactos causa-dos por ele sejam social ou psicologicamente. Isso é realizado através da realização de ações de prevenção, ofertas de serviço para a detec-ção precoce e para o tratamento e reabilitação das mulheres. (BRASIL, 2006).

Têm-se ainda como atribuições aos pro-fissionais de saúde envolvidos nesse contexto, conhecer as ações de controle dos cânceres do colo do útero e da mama; planejar e programar as ações de controle dos cânceres do colo do útero e da mama, com priorização das ações segundo critérios de risco, vulnerabilidade e desigualda-de; realizar ações de controle dos cânceres do colo do útero e da mama (promoção, prevenção, rastreamento/detecção precoce, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos); alimentar e analisar dados dos Sistemas de In-formação em Saúde para planejar, programar e avaliar as ações de controle dos cânceres do colo do útero e mama; conhecer os hábitos de vida, valores culturais, éticos e religiosos das famílias assistidas e da comunidade (BRASIL, 2006).

O primeiro contato da mulher com o ser-viço de saúde é feito através da Atenção Básica. Na unidade básica é feito o pedido da mamo-grafia que a mulher faz semestralmente ou uma vez por ano. Em caso dessa mamografia estar alterada, é solicitada a ultrassonografia mamá-ria, e fazer o detalhamento dessa alteração. O ginecologista faz a avaliação do ultrassom na unidade e referencia a paciente para o INCA, ou para o Hospital Escola de Valença. O per-curso da mulher nesse fluxo de atendimento se inicia com os dados coletados na unidade bá-sica de saúde, onde será preenchida a ficha de requisição da mamografia. Quando é solicitada a realização da mamografia, a mulher é enca-minhada para o serviço de radiologia, onde será realizado o exame. Com o resultado do exame, a mulher volta à unidade básica para uma ava-liação do profissional de saúde para que se esti-pule a conduta adequada embasada no resulta-do da mamografia. Se o resultado for alterado, essa mulher será encaminhada para a unidade secundária para a avaliação diagnóstica. Se

não alterada, será realizada a rotina de rastrea-mento. (INCA, 2011). É importante seguir esse fluxo de atendimento para que não haja uma sobrecarga em nenhum dos setores envolvidos.

4. Conclusão

Durante este estudo, observamos que a di-nâmica do SISMAMA, sistema que entrou em vigor no município de Valença no ano de 2010, tem por objetivo criar um banco de dados a partir da informatização das fichas de requisição e dos resultados dos exames mamográficos, podendo ser uma importante ferramenta na saúde da mu-lher. Assim sendo, o conhecimento do perfil das pacientes que realizam o exame mamográfico, a partir das informações disponíveis no SISMA-MA, pode ser útil na avaliação dos serviços de saúde, além de poder, também, servir de base para a promoção de ações que visem prevenir a morbimortalidade gerada pelo câncer de mama. Em Valença, no ano de 2010, foram acompanha-das pelo SISMAMA, um total de quarenta e uma mulheres. Dentre os resultados de mamografias, dezoito mulheres apresentaram BI-RADS 4, su-gestivo de malignidade, necessitando de atenção direcionada e especializada.

Apesar de o SISMAMA estar implantado no município há dois anos, percebem-se alguns elementos os quais dificultam o processo, ele-mentos esses que não estão relacionados somen-te a um setor, e sim, a vários deles, como a falta de veículo disponível para que se faça busca ati-va dessas mulheres em regiões mais afastadas e questões políticas envolvendo falta de pagamen-to dos prestadores, causando o atraso na entrega dos resultados de exames. Essas situações in-fluem de forma a agravar o quadro epidemiológi-co e trazer malefícios às pacientes, uma vez que, o câncer deve ser tratado o mais precocemente possível para um melhor prognóstico. Contudo, a atenção básica é de fundamental importância para a detecção precoce e o controle do câncer de mama, de modo a organizar o serviço, trabalhan-do de forma multidisciplinar, mas tendo como base principal o contexto que envolve a saúde da mulher e a figura do enfermeiro.

Atendendo ao segundo objetivo do estu-do, a mulher valenciana, a partir da suspeita de câncer de mama, tem seu primeiro atendi-

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mento na Atenção Básica, após o resultado da mamografia, é referendada ou não ao INCA. A assistência do enfermeiro, durante esta traje-tória da mulher na atenção básica, representa, muitas das vezes, a detecção precoce do câncer de mama, uma vez que este profissional realiza

o ECM durante a realização do exame gineco-lógico. O enfermeiro, ao realizar o acolhimento humanizado, consegue satisfatoriamente orien-tar em relação à importância da realização dos exames oferecidos para a detecção precoce e continuidade do tratamento.

5. Referências

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ISSN1809-9475

O Controle do Cálcio e a Hipocalcemia

The Control of Calcium and Hypocalcemia

1 Frederico Schulz Campos2 Fernanda Romanholi Pinhati

ResumoO cálcio é o quinto elemento mais abundante no organismo humano, e sua regulação é realizada pelo paratormônio (PTH), rins, massa óssea, vitamina D e seus metabolitos. O cálcio é essencial para o corpo huma-no, suas ações relacionam-se à formação óssea, à coagulação, à trans-missão nervosa e também à contração muscular. Distúrbios do equilí-brio homeostático do cálcio podem levar a quadros de hipercalcemia ou hipocalcemia. O controle dos níveis séricos de cálcio é realizado, principalmente, pelo PTH e 1,25(OH)2 D, que atuam em seus orgãos--alvo, o rim, o tecido ósseo e o trato gastrintestinal. O diagnóstico se inicia pela dosagem de cálcio sérico e cálcio ionizado, sendo que o tratamento visa à correção dos níveis séricos de cálcio.

Palavras-chave

Cálcio

Paratormônio

Vitamina D

Calcemia

Hipocalcemia

Abstract

Calcium is the fifth most abundant element in the human body, and its adjustment is performed by parathyroid hormone (PTH), kidney, bone, vitamin D and its metabolites. Calcium is essential for the human body, its actions are related to bone formation, the coagulation, nerve transmission and also to muscle contraction. Balance disorders of calcium homeostasis can lead to conditions such as hypercalcemia or hypocalcemia. The control of serum calcium is accomplished primarily by PTH and 1,25(OH) 2 D, which act on their target organs, kidney, bone and gastrointestinal tract. Diagnosis begins by serum total calcium and ionized calcium, and the treatment is to correct serum calcium.

Keywords

Calcium

Parathyroid hormone

Vitamin D

Calcemia

Hypocalcemia

1. Acadêmico do Curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA..

2. Docente do Curso de Medicina - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

O cálcio faz parte do grupo dos elemen-tos minerais essenciais e precisa ser adquirido pormeio da alimentação. As principais fontes de cálcio são o leite e seus derivados (queijo, man-teiga, iogurte etc) e os vegetais verdes folhosos. A maior concentração do cálcio no corpo hu-mano ocorre na matriz óssea (99%), distribuído entre os ossos e dentes sob a forma de fosfato de cálcio. A parcela restante do cálcio (1%) locali-za-se no meio intra e extracelular, principalmen-te associado à proteína carreadora, como, por exemplo, a albumina (JACKSON et al., 2006).

O cálcio desempenha várias funções im-portantes na regulação de processos orgânicos, como, por exemplo, a excitabilidade neuro-muscular, processos secretórios, liberação de hormônios e neurotransmissores, além da ma-nutenção e formação da matriz óssea. O cálcio pode atuar nessas situações como um trans-missor de sinais ou como ativador de proteínas (CHAPUY et al., 1992).

O paratormônio (PTH) é um hormônio fundamental no controle da homeostase do cál-cio, agindo direta ou indiretamente em órgãos relacionados ao armazenamento, à excreção e à absorção deste íon divalente. O PTH é produ-zido pelas células principais das glândulas pa-ratireóides, sendo o principal estímulo para sua produção a redução da concentração extracelu-lar do cálcio. Além da hipocalcemia, outros es-tímulos são o aumento do fósforo extracelular e a redução na concentração sérica da forma ativa de vitamina D (calcitriol) (CONSTANZO, 2011).

O objetivo desta revisão é analisar o con-trole da homeostase do cálcio, sob ação da tría-de: paratormônio, calcitonina e 1, 25-vitamina D3, bem como realizar a apreciação da hipocal-cemia, um desvio patológico associado à redu-ção nos níveis séricos de cálcio no organismo, e apresentar a etiologia associada à hipocalcemia e as possíveis formas de tratamento.

Para a revisão de literatura proposta, foram le-vantados os mais recentes artigos sobre o tema nas bases de dados Scielo, PubMed-Medline e capítu-los de livros disponíveis na biblioteca do UniFOA.

2. Revisão de Literatura

2.1. Homeostase do cálcio

Dois terços da massa óssea é mineral, composta principalmente de fosfato e cálcio. O corpo humano adulto saudável contém entre 1000-1400 g de cálcio, 99% do qual é encontra-do nos ossos e dentes. No nascimento, o corpo de uma criança, em média, contém de 25 a 30 gramas de cálcio, a diferença de aproximada-mente 1000 g será adquirida por meio da dieta. Essa alta concentração é praticamente auto--evidente. Todas as recomendações de ingestão de nutrientes para animais de laboratório e ani-mais domésticos, bem como primatas não-hu-manos, são ricos em cálcio, que terão efeitos no crescimento e na manutenção da massa óssea. Os seres humanos estão na extremidade infe-rior do espectro de ingestão de cálcio. Quando expressos por unidade de energia na dieta, reco-mendações de ingestão de cálcio para animais são de 3 a 10 vezes maiores do que as atuais recomendações para os seres humanos (HEA-NEY et al., 2003).

O cálcio apresenta duas funções importan-tes para o osso. Em primeiro lugar, por ser o cátion em maior concentração na matriz óssea, deve ser absorvido em quantidades suficientes nos alimentos ingeridos visando à construção do esqueleto durante o crescimento e a manu-tenção da massa óssea na maturidade (o últi-mo, por compensação das perdas obrigatórias do corpo). Em segundo lugar, serve como um regulador indireto da remodelação esquelética. A primeira função tem dominado a atenção da comunidade de nutrição clínica na maior parte do século passado e fornece a base para a gran-de variedade de informações nutricionais atual-mente disponíveis. A segunda está emergindo como um importante contribuinte para a força dos ossos, sendo principalmente avaliada pelos profissionais de educação física (ALMEIDA Jr.; RODRIGUES, 1997).

Dois mecanismos estão envolvidos na ab-sorção intestinal do Ca: um paracelular, passivo e não saturável, que é o principal responsável pela absorção quando a quantidade de Ca inge-rida é adequada ou elevada, sendo diretamente influenciado pela quantidade de Ca presente no quimo; e um transcelular, ativo e saturável,

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que envolve a participação de canais e proteí-nas transportadoras de Ca encontrados no epi-télio intestinal (DOS REIS; JORGETTI, 2000; WEAVER; HEANEY, 2003).

A absorção intestinal de cálcio depende de um pH ácido, que é mais expressivo no seg-mento duodenal do intestino delgado. Uma vez absorvido pelo enterócito, o cálcio será liberado no espaço paracelular através da bomba de cál-cio, presente na membrana contra luminal, que irá transferi-lo para a corrente circulatória.

O transporte transcelular de cálcio ocorre do lume intestinal em direção ao capilar san-guíneo, por processo ativo na sua maior parte, por diferença de potencial eletroquímico tran-sepitelial, através da borda em escova do ente-rócito. Na borda em escova, o cálcio liga-se a calbindina, de modo a manter o cálcio em so-lução, já que é pouco solúvel em meio aquoso. Esse processo é regulado pela vitamina D, que interage na membrana plasmática da borda em escova, abrindo canais de cálcio. A vitamina D também atua facilitando a absorção de cálcio nos rim, aumentando a calcificação e minerali-zação óssea (BRONNER, 2009).

A ativação da vitamina D ocorre em duas etapas pela ação do PTH. A primeira etapa con-siste na hidroxilação da vitamina D pela enzi-ma 25-hidroxilase vitamina D, no fígado; a se-gunda etapa ocorre no rim, onde a vitamina D é submetida a outra hidroxilação pela 25- OH-D-1-α-hidroxilase, que converte a vitamina D na sua forma ativa, 1,25-dihidroxi-vitamina D3 (1,25[OH]2 D3) ou calcitriol. Nessa forma ati-va, a vitamina D intensifica a absorção intesti-nal do cálcio, por aumentar a concentração das bombas de cálcio na membrana basolateral do intestino (MOREIRA et al., 2004).

Entretanto, a calcemia não é regulada apenas pela vitamina D, sua manutenção é um resultado entre a interação da vitamina D com o PTH sobre os ossos, os rins e, de forma indireta, sobre o intestino. Acredita-se que o PTH seja o principal determinante da calcemia.

2.2. Atuação do Paratormônio (PTH)

O PTH é um hormônio fundamental no controle da homeostase do cálcio, agindo dire-ta ou indiretamente em órgãos relacionados ao armazenamento, à excreção e à absorção desse

íon divalente. Tal hormônio é um polipeptídio linear composto de 84 resíduos de aminoácidos, segregado pelas células principais das quatro glândulas paratireóides, localizadas posterior-mente à glândula tireóide – atrás de cada pólo superior e inferior da tireóide. Inicialmente, é sintetizado como um pré-pró-hormônio e poste-riormente convertido em pró-hormônio, o qual será transportado através do retículo endoplas-mático rugoso, e, sob forma de hormônio, será estocado em vesículas secretórias nas glândulas paratireóides (BERGWITZ; JUPPNER, 2010).

A ação direta do PTH ocorre nos ossos e rins, e a indireta sobre o intestino. Seu mecanis-mo de ação se inicia por meio de um receptor de membrana acoplado à proteína G, denominado de PTH/PTHrp tipo 1 ou PRP1, presentes nos ossos e tecidos principais de ação. Nos ossos, o PTH estimula a atividade dos osteoblastos, in-duzindo a diferenciação de pré-osteoclastos em osteoclastos, que, por sua vez, estimulam a di-gestão da matriz óssea e na reabsorção do cálcio, culminando na descalcificação óssea e conse-quentemente elevando as concentrações plasmá-ticas de cálcio. Nos rins, o PTH influencia a reabsorção tubular de cálcio e a excreção tubular de fosfato. Além disso, estimula também a con-versão para a forma ativa da vitamina D (ARIO-LI; CORRÊA, 1999; GRACITELLI et al., 2002; BATISTA, 2005; GUYTON; HALL, 2006).

A atuação do PTH sobre os ossos e rins é denominada de feedback rápido, enquanto sua in-fluência no trato gastrintestinal é denominada de sistema de feedback mais demorado, pois ocorre apenas 1 ou 2 dias após a liberação hormonal pe-las paratireóides (ARIOLI; CORRÊA, 1999).

Assim como o íon cálcio, a maior parte do fósforo presente no organismo encontra-se na forma cristalizada, no entanto, o efeito do PTH sobre o controle do fósforo é oposto àquele ob-servado em relação ao cálcio. O PTH age inibin-do a reabsorção do fósforo nos túbulos renais.

Discreta queda dos níveis circulantes de cálcio, aproximadamente 10%, é suficiente para aumentar a secreção de PTH em 200% a 300%, que dará inicio ao processo de mobilização de cálcio em direção ao sangue periférico, en-quanto aumenta a reabsorção nos túbulos renais (PAULA et al., 2001; LANNA et al., 2001).

A calcitonina, um hormônio peptídeo se-cretado pela glândula tireóide, tende a diminuir

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a concentração plasmática do cálcio e, em geral, atual como antagonista ao PTH. No entanto, quantitativamente, o papel da calcitonina é bem menor que o PTH na regulação da concentra-ção de cálcio iônico. Também tem a proprieda-de de diminuir os níveis de fosfatos no sangue (CASHMAN, 2002).

2.3. Distúrbios da homeostase e hipocalcemia

Dada a importância do cálcio para o or-ganismo, seus níveis séricos devem sempre se encontrar em equilíbrio dinâmico, de modo que as concentrações permaneçam sempre dentro da normalidade. Os níveis normais de cálcio encontram-se entre 8,5 – 10,5 mg/dL (ARIOLI; CORRÊA, 1999).

Quaisquer distúrbios desta homeostase podem elevar ou diminuir os valores das con-centrações de cálcio, caracterizando quadros de hipercalcemia ou hipocalcemia, respectiva-mente (DUARTE et al., 2005).

A hipercalcemia corresponde a uma pato-logia em que a síntese de PTH está aumentada por uma ou mais das paratireóides, devido a hiperfunção glandular, sendo chamada hiper-paratireoidismo. Como os níveis de PTH estão aumentados, as concentrações séricas de cálcio no organismo também irão se elevar podendo resultar, por exemplo, na formação de cálculos renais (MARY et al., 2003).

O diagnostico de hiperparatireoidismo é rea-lizado por meio das dosagens dos níveis séricos de cálcio e PTH e o tratamento consiste na explora-ção cirúrgica do pescoço, com a retirada das glân-dulas hiperfuncionais (DUARTE et al., 2005).

A hipofunção da glândula como resulta-do de falhas nos mecanismos homeostáticos desencadeia um quadro de hipoparatireoidis-mo. Quando as glândulas paratireóides não secretam uma quantidade suficiente do PTH, a reabsorção osteocítica do cálcio diminui e os osteoclastos tornam-se quase totalmente inati-vos, como consequência, a reabsorção de cálcio do osso fica tão deprimida que o nível de cálcio nos líquidos corporais diminui com consequen-te hipocalcemia pela queda das concentrações séricas de PTH (MAEDA et al., 2006).

A hipocalcemia pode ser causada por diver-sos fatores, que podem estar diretamente relacio-nados a baixas taxas de PTH, sendo denominados distúrbios PTH-dependentes, como, por exemplo, cirurgia, irradiação, doença autoimune, resultan-do em uma hipofunção glandular, enquanto os distúrbios que não estão diretamente referidos a alterações nas taxas de PTH, denominados distúr-bios PTH-independentes, como, por exemplo, a má absorção intestinal, a desnutrição, deficiência de vitamina D. A Tabela 1 apresenta as principais classificações da hipocalcemia, baseando-se na premissa de que o principal determinante da cal-cemia é o PTH (ARIOLI; CORRÊA, 1999).

Tabela 1. Etiologia da hipocalcemia.PTH dependente PTH independente

Desenvolvimento deficiente das paratireóides Síndrome de DIGeorgaHipoparatireoidismo isolado ligado ao cromossomo XSíndrome de Kenny-CaffeyNeuromiopatias mitocondriais

Deficiência de vitamina DNutricionalSíndrome da má absorçãoInsuficiência renalInsuficiência hepáticaDeficiência da enzima alfa hidroxilaseDeficiência do receptor de vitamina D

Destruição das paratireóidesCirurgiaIrradiaçãoDoença Autoimune PoliglandularInfiltração granulomatosaInfiltração metástatica

MedicamentosAsparaginaseNitrato de gálioCisplatinaCetoconazol

Distúrbios no controle da secreçãoMutação no receptor sensor de cálcioHipomagnesemia

Hiperfosfatemia

Resistência periféricaPseudo hipoparatireoidismo

PancreatiteMineralização óssea aceleradaPós-cirurgia de hiperparatireoidismo primárioSepticemia

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2.4. Manifestações clínicas

A hipocalcemia pode se apresentar de ma-neira assintomática. Os sintomas são variáveis de acordo com a concentração sérica de cálcio. As manifestações clínicas da hipofunção glan-dular incluem tetania, convulsões, catarata, den-tre outras manifestações. No caso da síndrome convulsiva, há estudos que comprovam que a intoxicação alcoólica aguda e crônica diminui o cálcio plasmático, levando a um quadro hipocal-cêmico (KAYATH et al., 1999; PORTO, 2008).

Tanto a hipocalcemia quanto o etanol di-minuem o limiar de excitação para convulsões, o que acaba tornando o paciente mais suscep-tível à epilepsia. Uma possível explicação para a relação etanol - hipocalcemia seria a de que existe uma inibição aguda do efluxo de cálcio do osso para o plasma, promovida pelo etanol (KAYATH et al., 1999).

Caso haja um declínio da função renal, várias alterações ocorrem no organismo, como, por exemplo, a anemia, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, alterações neuroló-gicas e também do metabolismo mineral. Nas alterações do metabolismo mineral, salientam--se alterações séricas e teciduais do cálcio, do fósforo e elevações dos níveis de PTH, além da diminuição dos níveis de vitamina D. Isto por causa da não hidroxilação da vitamina D2 e D3 nos rins, o que leva a uma hipersecreção de PTH na tentativa de regular a queda dos níveis de cál-cio (BATISTA, 2005; MAEDA et al., 2006).

Além dos distúrbios endógenos, a hipo-calcemia pode também ser resultado da tireoi-dectomia, que consiste num procedimento ci-rúrgico de remoção total ou parcial da glândula tireóide. Durante o procedimento, é comum à remoção acidental de uma ou mais glândulas paratireóides. Os sintomas clássicos no pós--operatório são astenia e formigamentos e os sinais de Chvostek e Trousseau (espasmos dos músculos faciais em resposta à percussão do nervo facial na região zigomática). A hipocal-cemia geralmente aparece uma semana após a cirurgia (FILHO et al., 2004; JÚNIOR et al., 2006; SOUSA, 2007). Szubin et al. (1996), es-tudando 40 pacientes submetidos a tireoidec-tomia total, observaram que o período crítico para a ocorrência de hipocalcemia foi nas pri-meiras 24 a 96 horas pós-operatórias.

As calcificações cerebrais são uma rarida-de associada ao hipoparatireoidismo decorren-te da tireoidectomia, diagnosticado após vários anos da cirurgia. A hipótese é que essas calci-ficações sejam decorrentes de um depósito de cristais de cálcio, secundários a um processo degenerativo do sistema extrapiramidal (JÚ-NIOR et al., 2006).

A má absorção intestinal pode estar tam-bém relacionada à deficiência de vitamina D e à desnutrição. Distúrbios que incapacitem o trato gastrointestinal em utilizar corretamente os nutrientes provenientes da dieta, interferin-do na digestão ou no próprio processo absorti-vo, são denominado síndrome da má absorção. A síndrome do Espru Tropical e da alça longa são alguns exemplos dos distúrbios que preju-dicam a absorção intestinal. As manifestações clínicas dessas síndromes são, dentre outras, a desnutrição, deficiência de ferro, vitamina B12 e vitamina D, osteoporose, tetania, anemia e fraqueza (GRÜDTNER et al., 1997).

A deficiência de vitamina D e a redução nas concentrações de cálcio e fosfato no sangue provocam o raquitismo nas crianças e a osteo-malácia nos adultos (BIESEK et al., 2005).

2.5. Diagnóstico e Tratamento

A abordagem diagnóstica nos quadros de hipocalcemia se inicia pela suspeita clínica por meio do conhecimento das doenças de bases do paciente ou do quadro clínico apresentado. Sen-do que a evolução dependerá da velocidade de aparecimento, gravidade bioquímica e caracte-rísticas clínicas.

A dosagem de cálcio sérico e cálcio io-nizado é primordial, enquanto a dosagem de fósforo, PTH, calcitriol elucidará a etiologia da hipocalcemia.

O tratamento da hipocalcemia visa ade-quar os valores séricos de cálcio, no entanto, a reposição de cálcio pode reparar o quadro clínico e os sintomas, porém não representa o tratamento eficaz da doença. A eficiência na in-fusão de cálcio é transitória, de modo que se torna necessária a determinação da causa base da hipocalcemia, para que assim possa ser tra-tada (COOPER; GITTOES, 2008).

Os portadores de hipocalcemia podem ser classificados em assintomáticas ou sintomáticas.

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A hipocalcemia assintomática apresenta nível sérico de cálcio inferior a 8,0 mg/dL ou cálcio iônico inferior a 3,2 mg/dL. Este grupo de pa-cientes pode ser tratado com reposição de cálcio por via oral. Um aumento de 1.000 mg de cálcio na dieta é o suficiente para corrigir os valores

séricos de cálcio. A suplementação por via oral pode ser feita com carbonato de cálcio ou citrato de cálcio, não existindo superioridade na com-paração das apresentações. A Tabela 2 apresen-ta a porcentagem de cálcio elementar nas apre-sentações de cálcio (ANAST et al., 1976).

Tabela 2. Cálcio elementar e formulações de cálcio.Sal de cálcio Cálcio elementar (%)

Carbonato de cálcio 40Fosfato de cálcio 39Acetato de cálcio 25Citrato de cálcio 21Lactato de cálcio 13

Gluconato de cálcio 9Glucobionato de cálcio 6,5

Os sintomas na hipocalcemia sintomática estão diretamente relacionados à velocidade da queda do cálcio sérico. Os sintomas se tornam mais frequentes quando o cálcio sérico se en-contra abaixo de 7 mg/dL ou o cálcio ionizado abaixo de 2,8 mg/dL. A Figura 1 mostra um flu-xograma para o quadro de hipocalcemia aguda

em adultos que se baseia na experiência clínica para a reposição de cálcio. O gluconato de cálcio é a forma preferida de cálcio por via intravenosa, uma vez que o cloreto de cálcio é mais suscep-tível de causar irritação local. Esse tratamento pode ser repetido até que os sintomas tenham desaparecido (COOPER; GITTOES, 2008).

Figura 1: Fluxograma para o gerenciamento de hipocalcemia aguda para um controle em minutos/horas ou minutos/semanas.

3. Discussão

Devido a sua máxima importância, manter a homeostase do cálcio é imprescindível para um correto funcionamento do organismo, con-

tribuindo também para um melhor funciona-mento dos demais sistemas fisiológicos. Alguns distúrbios gastrointestinais, renais, glandulares e a deficiência da vitamina D podem levar a al-

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terações no controle do cálcio, resultando em um quadro de hipercalcemia ou hipocalcemia.

A hipocalcemia é uma desordem do contro-le do cálcio, em que há a queda dos seus níveis séricos no organismo. Essa brusca queda pode resultar em doenças como o raquitismo em crian-ças, a osteomalácia em adultos e mais raramente pode estar associada a calcificações cerebrais.

O processo cirúrgico para a retirada da glândula da tireóide - tireoidectomia - pode também levar a quadros de hipocalcemia. Esse distúrbio é um resultado da retirada acidental das glândulas paratireóides devido à sua íntima posição anatômica com a glândula a ser removi-da. Nos casos de tireoidectomia, deve-se sem-pre ser meticuloso no procedimento, tomando o cuidado necessário para que não se descarte as glândulas saudáveis.

O diagnóstico da hipocalcemia se inicia pela suspeita clínica e é confirmado pela dosa-gem dos níveis de concentração do cálcio sé-rico e do cálcio ionizado. Uma vez constatada a hipocalcemia, deve-se identificar a doença primária que gerou o distúrbio homeostásico do cálcio. Em casos de hipocalcemia leve, de-ve-se aumentar a oferta de cálcio das refeições

diárias, e em casos de hipocalcemia grave, a simples suplementação de cálcio não elimina a causa do problema, sendo necessário um trata-mento específico.

4. Conclusões

A hipocalcemia cursa com quadros assin-tomáticos e sintomáticos que estão diretamente relacionados aos níveis de cálcio sérico no or-ganismo, sendo diagnosticada mais frequente-mente pelos clínicos, a partir do conhecimento da sua fisiopatologia. Em função dessas carac-terísticas, além de uma história médica comple-ta e exame físico, o diagnóstico de hipocalce-mia é feita por meio de testes do sangue para a quantidade de cálcio.

A hipocalcemia pode melhorar sem trata-mento em alguns casos, especialmente se não há sintomas. No entanto, o tratamento especí-fico para a hipocalcemia será determinado pelo médico com base na saúde geral e na história médica do paciente, na extensão da doença, e na tolerância do paciente aos medicamentos espe-cíficos, como gluconato de cálcio intravenoso.

5. Referências Bibliográficas

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Recebido em 02/2013

Aprovado em 12/2013

ISSN1809-9475

Os limites da Escola Pública no enfrentamento da obesidade infantil

The limits of Public School in fighting childhood obesity

1 Natália Rodrigues Moreira2 Alden dos Santos Neves

Resumo Segundo estudiosos, a obesidade é definida como um excesso de gordu-ra corporal relacionado à massa magra e está cada vez mais prevalente em crianças, o que se torna ainda mais preocupante. Esta pesquisa obje-tiva realizar uma investigação sobre os limites que as escolas encontram para combater a obesidade infantil e transmitir para os discentes hábitos mais saudáveis de alimentação. Esta análise partiu da necessidade de se verificar quais as limitações encontradas pelas escolas públicas, para mudar os hábitos alimentares dos alunos e ensiná-los a obterem hábitos alimentares saudáveis. Para tanto, foi proposto uma pesquisa interpre-tativa, com base na análise documental e de conteúdos com a finalidade de mostrar os limites das escolas públicas para enfrentar a obesidade infantil, e a importância do nutricionista trabalhar juntamente com.

Palavras-chave

Obesidade infantil

Escola pública

Promoção de saúde na escola

AbstractAccording to scholars obesity is defined as an excess of body fat related to lean mass and is increasingly prevalent in children, what is even more worrying. This research has objective to conduct an investigation into the limits that schools are to combat childhood obesity and transmit to the students more healthy eating habits. This analysis was based on the need to verify what the limitations faced by public schools, to change the eating habits of students and teach them how to achieve healthy eating habits. Therefore it was proposed interpretive research, based on analysis of documents and content in order to show the limits of public schools to address childhood obesity and the importance of working together nutritionist with the school community. It can be concluded that training is required for teachers, the inclusion of a healthy.

Keywords

Childhood obesity

Public school

School health promotion

1. Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA.

2. Coordenador do Curso de Nutrição do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA.

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

Durante as últimas décadas, a obesida-de vem aumentando significativamente. Anos atrás, ela afetava, em sua maioria, apenas a adultos, porém, nos dias atuais, esse proble-ma não atinge apenas os adultos, mas também ,crianças na idade escolar. Um dos fatores são as mudanças do estilo de vida da população, inclusive nos hábitos alimentares. A inversão do estado nutricional dos brasileiros da desnu-trição para a obesidade mostra um importante aumento dos casos de sobrepeso e obesidade especialmente em crianças na idade escolar e em adolescentes (FERNANDES et al. 2009; SILVA et al., 2009).

As crianças obesas possuem maior chance de desenvolver precocemente diversas doenças como diabetes mellitus, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, problemas sociais e psicológicos. Além dessas doenças, ainda po-dem ter a permanência dessa obesidade na ida-de adulta (FILGUEIRAS et al., 2012).

O crescimento da obesidade e de dislipi-demias em crianças mostram a necessidade de atenção e de implementação de medidas inter-vencionistas no combate e prevenção desse dis-túrbio nutricional, juntamente com os familia-res, profissionais da área da saúde e também da área de educação, sabendo-se que a escola exer-ce grande influência na vida dos seus alunos, transmitindo valores que são expressos na esco-la por meio de aspectos concretos como a qua-lidade da merenda escolar (SILVA et al., 2010).

Para isso é de grande importância o conhe-cimento sobre nutrição por todos os profissio-nais que atuam direta ou indiretamente no cam-po da alimentação infantil, para a melhoria do estado nutricional das crianças, pois, além de contribuírem na formação do hábito alimentar destas, podem auxiliar os pais a fim de diminuir ou até mesmo evitar a obesidade infantil (SIL-VA et al., 2010).

Cada aluno traz para a escola, além de seu conhecimento de mundo, hábitos alimentares, sociais e culturais, esses são transmitidos pelos próprios familiares e sustentados por tradições. Com isso, nota-se que, os hábitos alimentares dos pais estão diretamente relacionados ao de-senvolvimento do comportamento alimentar dos filhos. Porém, o comportamento alimentar

é mutável, isto é, pode-se modificar-se ao longo da vida (MIRANDA; NAVARRO, 2008).

Segundo Bernandon e colaboradores (2009), em uma capacitação realizada em qua-tro escolas do Distrito Federal, educadores par-ticipantes relataram, que, apesar de reconhece-rem os hábitos errôneos dos alunos e saberem sobre a importância da educação nutricional, muitas vezes, os deixam praticar a alimentação não conveniente. Isso pode acontecer, talvez, por faltar , nos docentes certos conhecimentos sobre alimentação saudável, fazendo com que estes não interfiram na formação dos hábitos alimentares das crianças.

Logo, nota-se que a necessidade de uma capacitação para os educadores a fim de que estes saibam explicar aos alunos sobre a impor-tância de se ter hábitos alimentares saudáveis. Alguns docentes acreditam que não interferem nos hábitos alimentares de seus alunos, por fal-ta de tempo para ações educativas sobre esse assunto, sendo necessária a criação de uma nova disciplina (BERNARDON et al., 2009).

Muitos alimentos encontrados em canti-nas escolares, os quais os estudantes têm prefe-rência, são muito energéticos, calóricos, ricos em açúcares, gorduras e sal, podendo causar a obesidade. As cantinas e os refeitórios devem ser espaços que estimulem e reforcem os hábi-tos alimentares saudáveis, e os docentes, em sa-las de aula, podem e devem abordar esses temas a fim de mudar essa realidade tão comum nos dias atuais (SCHMITZ et al., 2008).

A escola pode trabalhar para prevenir e reduzir o sobrepeso e obesidade na população infantil, bem como auxiliar no tratamento des-tes. Nota-se que em escolas onde não há canti-na e a merenda escolar a é servida pela própria instituição há mais possibilidade de contribui-ção para a inserção de hábitos alimentares mais saudáveis (NETO et al., 2010).

Diante do exposto, este artigo objetiva reali-zar uma investigação sobre os limites que as esco-las encontram para combater a obesidade infantil.

2. Metodologia

Esta pesquisa é uma revisão bibliográfi-ca descritiva, realizada de setembro de 2011 a outubro de 2012, através da busca de artigos

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científicos, sites (IBGE e FNDE), monografias e resoluções, publicados entre 2006 e 2012, nas bases de dados eletrônicos (Scielo, Lilac e Bi-blioteca Virtual em Saúde).

3. Desenvolvimento

3.1. Obesidade e sobrepeso no Brasil

Entre vários problemas de saúde pública no Brasil, um dos que mais vem se destacando é a obesidade e o sobrepeso, esses são encontrados em todas as regiões brasileiras. Pode-se conside-rar que o problema tornou-se uma epidemia mun-dial. Considera-se o sobrepeso como uma propor-ção relativa de peso maior que a desejável para a altura (FLORENTINO; FERREIRA, 2011).

De acordo com Filgueiras e colaboradores (2012), “... a obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de massa adiposa em relação ao peso corporal total que resulta em efeitos deletérios para a saúde”.

A obesidade em crianças e adolescentes tem crescido em grande parte dos países, indicando um dos mais importantes problemas nutricio-nais atualmente; vem se tornando frequente até mesmo em países em desenvolvimento,onde pode-se presenciar casos tanto de desnutrição como de obesidade em uma mesma casa (LO-PES et al., 2010).

3.2. Obesidade e sobrepeso infantil

A sociedade contemporânea está vivendo a transição nutricional da desnutrição para a obesidade. Por isso, se faz necessário o acompa-nhamento nutricional das crianças desde cedo. Fatores sociais, econômicos e culturais podem determinar o aumento da prevalência da obesi-dade, a qual vem sendo observada também em cidadãos das classes sociais mais baixas, onde estes podem obter sérios problemas de doenças crônico-degenerativas (NETO et al., 2010).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) os casos de obesidade in-fantil aumentaram muito e se torna cada vez mais preocupante a situação. No mundo, exis-tem 17,6 milhões de crianças obesas com idade inferior a cinco anos. Desde a década de 60, o

número de crianças obesas entre 6 e 11 anos, dobrou. Trata-se de um problema global que atinge os países desenvolvidos de forma cres-cente e é responsável por 2 a 6% do custo total de atenção à saúde (LOPES et al., 2010).

Segundo dados da Pesquisa de Orçamen-tos Familiares (POF), o número de crianças de 5 a 9 anos com excesso de peso teve um elevado salto ao longo de 34 anos. Em 2008-09, 34,8% dos meninos estavam com o peso acima da fai-xa considerada saudável pela OMS. Em 1989, esse índice era de 15%, contra 10,9% em 1974-75. Observou-se um padrão semelhante nas me-ninas, que de 8,6% na década de 70 foram para 11,9% no final dos anos 80 e chegaram aos 32% em 2008 -09 (IBGE, 2008 - 2009).

Os errôneos hábitos alimentares, os quais se caracterizam pelo aumento no consumo de alimentos altamente calóricos, principalmente os industrializados, juntamente com a diminui-ção da atividade física, resulta em um desequi-líbrio energético, sendo esses os principais fato-res que auxiliam no aumento da prevalência da obesidade e são influenciados diretamente pe-los hábitos dos pais (MIRANDA; NAVARRO, 2008; SIMON et al., 2009).

Uma alimentação inadequada, além de cau-sar a obesidade, pode resultar em alterações do aprendizado e da atenção, e também pode ocasio-nar problemas psicossociais, levando a criança ou adolescente a ter baixa autoestima e podendo le-var ao isolamento social (GRANADA; GOLDS-MITCH, 2008; MIRANDA; NAVARRO, 2008).

Para que se estabeleça um tratamento da obesidade infantil é necessária uma avaliação precoce e eficaz, desenvolvendo programas apropriados, juntamente com uma equipe for-mada por nutricionista, pediatra, psicólogo e educador físico, incluindo alterações nos hábi-tos alimentares e no estilo de vida físico (MI-RANDA; NAVARRO, 2008).

3.3. Os limites apresentados nas escolas públicas para o ensino-aprendizagem de hábitos alimentares saudáveis

Com o crescimento descontrolado da obe-sidade e do sobrepeso infantil, os problemas re-lacionados à obesidade passaram a ser não so-mente de responsabilidade dos funcionários da área da saúde, mas sim de todos que trabalham

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diretamente ou indiretamente com crianças e adolescentes (SILVA et al., 2010).

As instituições escolares são espaços privilegiados para a promoção da saúde e de-sempenham papel fundamental na formação de hábitos, valores e estilos de vida, inclusive o da alimentação, em função dessas crianças e adolescentes passarem boa parte das horas de seus dias inseridos nesses locais. A alimentação escolar propicia a socialização de seus discen-tes favorecendo sua interação e aprendizagem (GRANADA; GOLDSMITCH, 2008).

A alimentação escolar no Brasil surgiu na década de 30 como um meio de correção nu-tricional em crianças de classes mais baixas as quais eram sujeitas aos diversos tipos e graus da desnutrição. Atualmente, ela está inscrita na Constituição Federal Brasileira como um direito de todas as crianças e adolescentes que frequentam, desde a Educação Infantil até o 9º ano do Ensino Fundamental (GRANADA; GOLDSMITCH, 2008).

A educação alimentar é conteúdo previs-to no Parâmetro Curricular Nacional (PCN), devendo ser trabalhada na aula de ciências, vi-sando à melhoria do estilo de vida, por meio de escolhas alimentares saudáveis. Mas, para que o professor se transforme em agente promotor de hábitos alimentares saudáveis, é importante que possua, além do conhecimento teórico de dieta equilibrada, uma postura consciente de sua atuação na formação dos hábitos alimenta-res das crianças (FONTES, 2011).

A educação nutricional deveria ser obriga-toriamente incluída no currículo escolar, pro-pondo atividades que possibilitem aos alunos a reflexão e a busca de estratégias para pequenas mudanças em seu cotidiano, modificando seu estilo de vida e a qualidade de sua alimentação, visando à saúde e a qualidade de vida. (MI-RANDA; NAVARRO, 2008).

Porém, como os docentes devem cumprir seus planejamentos e essa disciplina não está inserida no currículo das escolas, muitos pro-fessores não trabalham de forma aprofundada o tema (BERNARDON et al., 2009).

Uma das causas do aumento na prevalência de obesidade e sobrepeso entre esses indivíduos é o tipo de alimentação. O nutricionista e a co-munidade escolar devem trabalhar juntos para a conscientização e planejamento da alimentação

saudável. Porém, nas escolas, há a presença de algumas barreiras, como por exemplo, o lanche escolar, este pode ser um obstáculo à alimenta-ção adequada, tanto os disponíveis nas cantinas quanto os preparados em casa, e os distribuídos na merenda escolar, pois, a preferência dos in-divíduos na idade infantil ou na adolescência é por alimentos gordurosos, calóricos, com grande teor de sal ou de açúcar, entre outros (SCHMITZ et al., 2008; NETO et al., 2010).

Programas de reeducação alimentar e a avaliação nutricional deveriam ser fortes alia-dos contra a obesidade em instituições escola-res, consultórios e serviços públicos de saúde, tentando controlar os problemas de excesso de peso, principalmente em idades como a dos pré-escolares (SIMON et al., 2009).

É importante que, antes dos dez anos de idade ou na adolescência, sejam introduzidos hábitos alimentares saudáveis, podendo-se re-duzir a gravidade de doenças, de forma mais eficaz do que se esses hábitos forem introduzi-dos na idade adulta (CARVALHO et al., 2009).

De acordo com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a merenda esco-lar tem a finalidade de atender às necessidades nutricionais dos alunos durante o período que estão na escola e também promover hábitos ali-mentares saudáveis (CARVALHO et al., 2010).

O cardápio ideal escolar seria uma meren-da de composição variada com aproximadamen-te 450 kcal, tendo sempre produtos de qualidade e cuidados que devem ir desde a compra até a distribuição, e preparados dentro das técnicas de higiene (CARVALHO et al., 2009).

As cantinas escolares devem adotar um cardápio com alimentos menos calóricos e mais nutritivos e saudáveis, não basta apenas fornecer alimentos aos alunos, é fundamental que essa alimentação fornecida seja equilibra-da para recuperar e manter o estado nutricio-nal adequado (FREITAS, 2010; PONTES et al., 2011). Os programas de educação nutricional devem ir além das atividades em sala de aula. O objetivo da merenda escolar é complemen-tar as necessidades nutricionais da criança, po-rém, em casos de extrema pobreza essa “com-plementação” pode ser a única refeição do dia (GRANADA; GOLDSMITCH, 2008).

Como uma política pública essencial às necessidades nutricionais, de saúde e sociais

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da população escolar, faz-se obrigatória a im-plementação da educação nutricional desde o ensino fundamental, propondo a construção co-letiva do conhecimento, mediante planejamento participativo com integração entre a equipe de saúde, a escola, a criança e a família, pois, na idade escolar, um trabalho realizado em grupo, nas escolas é de grande importância (MIRAN-DA; NAVARRO 2008).

Como parte das políticas públicas para combate à obesidade, com base no ambiente es-colar, foi promulgada em 08 de maio de 2006, a Portaria Interministerial, nº. 1.010. Suas di-retrizes baseiam-se nas ações de educação ali-mentar e nutricional, estímulo à produção de hortas escolares, implantação de boas práticas de manipula ção, monitoramento da situação nutricional e regulamentação do comércio de alimentos: restrição ao comércio no ambiente escolar de alimentos e preparações com altos teores de gordu ra saturada, gordura trans, açú-car livre e sal, com incentivo ao consumo de frutas e hortaliças.

A fim de construir políticas públicas inter-setoriais, o governo Federal criou o Programa Saúde na Escola (PSE), lançado pelo Ministério da Saúde e da Educação, através do Decreto nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007, objetivando contribuir para a formação integral dos estu-dantes da rede pública de educação básica por meio de ações de prevenção, promoção e aten-ção à saúde, visando á melhoria da qualidade de vida da população brasileira. O PSE beneficia estudantes da Educação Básica, gestores e pro-fissionais de saúde e educação, comunidade es-colar e também estudantes da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e da Edu-cação de Jovens e Adultos (EJA). Essa inicia-tiva reconhece e acolhe as ações de integração entre saúde e educação que já existem e que tem colaborado positivamente na qualidade de vida dos estudantes. Dentre as atividades previstas, está a avaliação nutricional; prevenção precoce de hipertensão e diabetes; saúde bucal; acuidade visual e auditiva; avaliação psicológica; preven-ção e promoção da saúde – o que irá trabalhar com a construção da cultura de paz, combate a violência, álcool e outras drogas como tabaco; educação sexual e reprodutiva; estímulo à ativi-dade física; educação permanente; capacitação de profissionais e de jovens; e, monitoramento

e avaliação da saúde dos estudantes (PORTAL DA SAÚDE; PORTAL BRASIL, 2012).

Devido a necessidade no Brasil e no mun-do de mudanças nos perfis nutricionais, foi necessário implementar estratégias de promo-ção da alimentação saudável para escolares. Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a criar uma legislação específica (lei estadual 12.061/2001) para regulamentar os alimentos comercializados nas cantinas escolares. Alguns estados como Paraná, Mato Grosso, São Paulo e Rio Grande do Sul adotaram a ideia e vem regulamentando esse comércio nas escolas. No Distrito Federal, para a promoção da alimenta-ção saudável nas instituições escolares, criou--se um projeto de lei em que se registra que a cantina deve ser administrada por pessoas capacitadas em aspectos de alimentação e nu-trição, relevantes para o exercício do comércio de alimentos destinados as crianças e jovens (REIS et al., 2011).

3.4. A importância do nutricionista nas escolas públicas

Vários são os projetos que o governo fede-ral tem estabelecido para promover a saúde ali-mentar nas escolas públicas, entre eles tem- se o PNAE que, ao longo do tempo, vem sofrendo alterações benéficas para a alimentação esco-lar. Através de equipes de Nutrição, diretrizes, resoluções e leis vem-se capacitando o Nutri-cionista Escolar nas atribuições de sua função (FNDE, 2012).

Com base nessa política de alimentação, observa-se o avanço e consolidação no âmbito es-colar público. O importante é que essas políticas estabelecidas contam também com o apoio e su-pervisão da sociedade (conselhos gestores), como exemplo, na Alimentação Escolar existe o CAE (Conselho da Alimentação Escolar) em que na sua composição participam membros da socieda-de civil, pais de alunos, professores e outros. Ou-tro exemplo é a aquisição de gêneros alimentícios vindos da agricultura familiar (FNDE, 2012).

O nutricionista é o profissional capacita-do para promover a saúde na escola, através de atividades educativas e assistenciais que enfatizem hábitos alimentares saudáveis e pro-movem o envolvimento familiar (MIRANDA; NAVARRO, 2008).

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O profissional de nutrição no PNAE tem o objetivo de monitorar o estado nutricional dos estudantes; programar, elaborar e avaliar os cardápios da alimentação escolar, levando em consideração os perfis epidemiológicos, as ida-des dos alunos atendidos, a cultura alimentar de cada local e a vocação agrícola da região; acompanhar, desde a aquisição dos gêneros alimentícios até a produção e distribuição da alimentação e realizar ações de educação ali-mentar e nutricional nas instituições escolares, de modo que promova hábitos alimentares sau-dáveis (SANTOS et al., 2012).

A inserção do nutricionista nas institui-ções educacionais como, por exemplo,em cre-ches, escolas e nos meios de comunicação, tam-bém devem ser estimuladas a fim de fortalecer as ações de educação nutricional (MIRANDA; NAVARRO, 2008).

4. Considerações Finais

Conclui-se que as instituições escolares são locais propícios para o desenvolvimento de ações educativas em saúde e demonstra a gran-

de necessidade de implantações de programas para a prevenção da obesidade infantil com o in-tuito de formar hábitos alimentares adequados e influenciar um estilo de vida saudável, devido ao grande tempo que os alunos passam inserido nesses lugares. As políticas públicas existentes são fundamentais para garantia do direito a ali-mentação adequada e para obter mudança nos quadros de sobrepeso e obesidade.

Os principais limites, apresentados na atualidade, para a utilização da escola enquanto espaço promotor de saúde, foi a merenda le-vada pelo estudante, a falta de capacidade dos professores em ensinar sobre alimentação sau-dável aos alunos e falta do nutricionista nestas instituições.

Para isso, verifica-se a necessidade de uma capacitação para os docentes, a inserção do tema alimentação saudável como conteúdo edu-cativo, a criação de uma nova disciplina de edu-cação nutricional, a adequação das merendas escolares e a presença do nutricionista na rede pública escolar a fim de preparar o cardápio dos alunos, acompanhar o momento das refeições e fazer um acompanhamento direto e contínuo com professores, alunos, pais e familiares.

5. Referências Bibliográficas

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ISSN1809-9475

Um olhar sobre a relação entre a Educação Física Escolar e o desenvolvimento de desportos individuais

A look on the relationship between School Physical Education and development of individual sports

1 Cláudio Delunardo Severino1 Paulo Celso Magalhães

ResumoO presente estudo apresenta como objetivo correlacionar a realidade pedagógica da Educação Física Escolar com o desenvolvimento de mo-dalidades esportivas individuais, aqui especificamente se tratando do Atletismo, da Ginástica Artística, do Tênis e das Lutas. Foram realiza-das reflexões em dimensões específicas dessas modalidades, como os conteúdos a serem trabalhados, o rendimento em competições, as pos-sibilidades de inserção dos esportes individuais no cotidiano das aulas de Educação Física e a relação entre a prática sistematizada de moda-lidades esportivas com a vida acadêmica dos alunos. Para a realização do estudo, empregou-se a pesquisa bibliográfica como metodologia, e utilizou-se o método descritivo da bibliografia com o objetivo de expor as opiniões de autores voltados para a pesquisa relacionada.

Palavras-chave

Educação física escolar

Desportos individuais

Prática pedagógica

AbstractThis study has aimed to correlate the educational reality of Physical Education with the development of individual sports, here specically dealing with the Track and Field, Artistic Gymnastics, Tennis and Fights. Reflections were made on specific dimensions of these, like the contents to be worked, the performance in competitions, the possibilities of integration of individual sports in daily Physical Education classes and the relation between the systematic practice of sports with the academic life of students. For the study, we used the literature as methodology, and used the descriptive method of the bibliography in order to expose the opinions of the authors focused on research related to individual sports and daily Physical Education classes in environment school. The sport in general is in a rich content of Physical Education classes.

Keywords

School physical education

Individual sports

Pedagogical practice

1. Mestre em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente. Docente do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

Vem sendo observado um número cada vez maior de recordes estabelecidos em despor-tos individuais. O desempenho desses atletas em qualquer modalidade esportiva é determi-nado por vários fatores, dentre eles as habilida-des técnicas, além das capacidades físicas que muito contribuem para que objetivos estabele-cidos previamente sejam alcançados. Também esses resultados estão associados não apenas à qualidade técnica dos atletas, mas também à evolução dos equipamentos esportivos e a sis-tematização do treinamento a que os mesmos se submetem, entre outros aspectos que direta-mente representam o caminho para o êxito.

Acerca da vivência relacionada a moda-lidades esportivas individuais, entende-se que a sua prática possa estar presente na formação geral do indivíduo, principalmente no ambien-te escolar, que representa um dos espaços de maior relevância nesse processo. Em se tratan-do das aulas de Educação Física, o ensino do desporto individual deve ser interpretado como uma importante prática pedagógica que, por in-termédio da aplicação de seus conteúdos, possi-bilita ao praticante um convívio com experiên-cias atreladas ao seu desenvolvimento.

Contudo, para Marques e Iora (2009), o desenvolvimento do repertório de movimentos específicos em diversas ocasiões demonstra-se restrito em função das condições desfavoráveis para o exercício das ações pedagógicas, dentre elas a inadequação dos espaços físicos, a falta de materiais apropriados e a falta de formação complementar por parte dos docentes.

O presente estudo objetiva correlacionar a realidade pedagógica da Educação Física Es-colar com o desenvolvimento de modalidades esportivas individuais. Além disso, pretende-se também analisar aspectos relacionados a três modalidades esportivas individuais: Atletismo, Ginástica Artística e Lutas, no sentido de perce-ber como suas especificidades podem contribuir para a construção de um paradigma voltado para a formação desportiva de crianças e jovens.

Para a realização deste estudo, a metodo-logia empregada baseou-se na pesquisa biblio-gráfica, e utilizou-se o método descritivo da bi-bliografia com o objetivo de expor as opiniões de autores voltados para a pesquisa relacionada

a esportes individuais e o cotidiano das aulas de Educação Física em ambiente escolar.

2. A Educação Física Escolar e a Prática Esportiva

Muito se evidencia a necessidade da com-preensão de que o professor não pode abrir mão do reconhecimento de que a Educação Física é antes de tudo uma prática pedagógica. Como tal, ela deve servir de campo de reconhecimen-to da cultura corporal, tendo como objeto de estudo a expressão corporal como linguagem, e não uma representatividade de um processo so-cial de afunilamento e/ou exclusão. Entretanto, como observam Prado e Matthiesen (2007), nas aulas de Educação Física Escolar nas quais se apresenta o ensino de modalidades esportivas com frequência, os docentes baseiam a sua me-todologia no processo de ensino-aprendizagem de movimentos técnicos, deixando em segun-do plano os conteúdos conceituais e atitudinais que neles também estão inseridos.

Na perspectiva de Prado e Matthiesen (2007), os professores de Educação Física Es-colar nem sempre fazem uso das possibilidades de contextualização da prática, invariavelmen-te em função do desconhecimento de aspectos histórico-culturais associados ao desporto a ser trabalhado. Os referidos autores também apontam que tal procedimento acaba por con-tribuir para a concepção de que a Educação Física é uma disciplina “menos importante” no processo de formação dos discentes, podendo ser substituída por atividades extras realizadas fora do horário de aulas. No que tange a este conceito, Bassani et al. (2003), apresentam o paradoxo de que a Educação Física Escolar em diversas ocasiões cumpre o papel de disciplina importante em relação à estrutura curricular ao mesmo tempo em que, muitas vezes em função da postura (ou falta dela) do professor, sua fun-ção pedagógica é inferior às outras disciplinas e, invariavelmente, ela é enxergada como sim-plesmente dispensável.

O conceito de que a Educação Física é uma disciplina que possibilita a construção de conheci-mento e valores também é colocado em discussão por Bassani et al. (2003) quando estes indicam que a partir do instante em que se coloca o esporte

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na condição de conteúdo central das aulas, repre-sentando unicamente a vontade de professores e alunos, ela – a Educação Física – deixa de ocupar o seu lugar social. Os autores complementam que o objetivo desta ação nem sempre é o esporte pro-priamente dito, mas os processos de docilização dos corpos resultantes de sua prática.

Em se tratando da inserção de modalidades esportivas como conteúdos das aulas de Edu-cação Física, outro aspecto a ser mencionado é a caracterização de sua prática objetivando o rendimento. Marques e Iora (2009), tratando do Atletismo como conteúdo, observam que em muitas escolas esta modalidade é desenvolvida por intermédio de procedimentos metodológicos que objetivam unicamente a rendimento dos dis-centes em competições. Nesse caso, apontam os autores, os procedimentos conceituais e atitudi-nais são preteridos, impossibilitando assim o de-senvolvimento de novas formas de movimento e a compreensão desses num contexto pedagógico.

Acerca da competição esportiva, percebe--se que a Educação Física Escolar pode con-tribuir para a construção da autonomia e da liberdade dos discentes, desde que haja uma intervenção em prol da educação, mesmo reco-nhecendo que esse tema – a competição – care-ce de estudos sobre a atuação dos profissionais no nível de formação esportiva (NUNOMURA et al., 2009). Esta ação dá-se a partir do instan-te em que os diversos valores adquiridos pela competição não sejam praticados unicamente em seu ambiente, mas num cenário mais abran-gente. Da mesma forma, nota-se que esses mes-mos valores devem vigorar por toda a vida, e não apenas para a prática esportiva e a partici-pação em competições. Nesse sentido, Marques e Iora (2009) sustentam a opinião de que, numa relação entre a Educação Física e a competição, deve-se privilegiar a diversidade de conteúdos, a produção da cultura corporal e a valorização do coletivo sobre o individual, criando assim perante os alunos a percepção da diferença en-tre competir “com” e não “contra”.

Levando em consideração as ideias cita-das, percebe-se que a Educação Física deve as-sumir o papel de valorizar a competição em am-biente escolar, dando ênfase à cooperação entre os participantes, procurando enaltecer tanto vencedores quanto perdedores. Ao tomar essa atitude, o professor deixaria de privilegiar ape-

nas os resultados, dando importância também às atividades realizadas por seus alunos, bem como todo o trabalho realizado para que a sua participação na competição seja gratificante.

3. O Ensino de Modalidades Espor-tivas Individuais, a formação de Atletas e a Educação Física Escolar

Percebe-se, em se tratando da Educação Física Escolar, que a prática de modalidades esportivas vem já há algum tempo se tornando tema praticamente obrigatório das aulas, fa-zendo com que essas, em diversas ocasiões, se transformem nas prediletas da maioria dos dis-centes. Para Marques e Iora (2009) esse cenário coloca de maneira explícita a preferência por modalidades coletivas por parte dos discentes, em função não apenas da suposta falta de as-pectos lúdicos que envolvem as práticas espor-tivas individuais, mas também por recordações de experiências desagradáveis que a tentativa de aprender novas modalidades ocasionou.

Seguindo as considerações citadas, os conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física podem oportunizar o desenvolvimen-to dos objetivos da Educação Física Escolar a partir do instante em que alguns procedimentos metodológicos sejam alterados. Marques e Iora (2009) citam como exemplo a ser relacionado a estes procedimentos, o ensino do Atletismo sob forma de encenação, o que poderia permitir a oportunização da percepção desse esporte e de seu processo histórico.

Considerando os procedimentos metodo-lógicos com ênfase não somente nos conteúdos procedimentais, mas também nos conceituais e atitudinais, Prado e Matthiesen (2007) entendem que para o ensino de modalidades esportivas, especificamente o Atletismo, o docente deve, além do desenvolvimento de atividades voltadas para a aprendizagem dos movimentos específi-cos de uma determinada prova ou modalidade, abordar aspectos históricos inerentes a ela. Nes-te caso, haverá a contribuição para uma ampla compreensão acerca do conteúdo trabalhado, oportunizando aos discentes e docentes não apenas a vivência de movimentos específicos, mas também a oportunidade para análise crítica

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e reflexiva no que tange ao desenvolvimento des-tes (RPADO; MATTHIESEN, 2007).

Tratando-se dos conteúdos aplicados nas aulas de Educação Física, Nascimento e Al-meida (2007) indicam que a sua ampliação não é um processo que ocorre rapidamente. Utili-zando as Lutas como exemplo, os autores afir-mam que no ambiente escolar este tema, além de pouco trabalhado, gera diversos questiona-mentos por parte dos professores quanto ao seu trato pedagógico. Entre as restrições apresen-tadas por Nascimento e Almeida (2007) que justificam a dificuldade de se incluir as Lutas com conteúdos das aulas de Educação Física, são elencadas a falta de experiência por parte dos professores não apenas no cotidiano, mas no âmbito acadêmico e também a associação da violência com a prática de Lutas.

Analisando os dois argumentos apresen-tados, Nascimento e Almeida (2007) apresen-tam reflexões sobre os mesmos. Sobre a falta de experiência por parte dos professores ser considerada indispensável, observa-se nova-mente a possibilidade de enfatizar não somen-te a dimensão procedimental, mas também a conceitual e a atitudinal. Assim, as Lutas são trabalhadas como conteúdos das aulas de for-ma que os discentes possam se apropriar dos aspectos inerentes às Lutas, como perspectivas históricas, rituais e regras básicas, onde, no pla-no atitudinal, pode-se discutir questões como diferenças de gênero, respeito às regras e aos colegas (NASCIMENTO; ALMEIDA, 2007).

Sobre a associação das Lutas à violência, Nascimento e Almeida (2007) relatam uma in-tervenção por parte do professor de modo que os alunos puderam experimentar atividades de luta, construindo em conjunto a prática e a interação entre todos no sentido de oportunizar a oposição com contato físico. Os autores relataram que, du-rante a intervenção, não se constatou condutas violentas no desenvolvimento das atividades. Na verdade, percebeu-se o envolvimento de todos associado ao cumprimento de acordos.

Outro fator a ser considerado, em se tra-tando da prática sistemática de modalidades esportivas em ambiente escolar é o desempe-nho acadêmico do aluno que dela participa. Em estudo realizado por Nunomura et al. (2009), os professores entrevistados - 46 técnicos es-pecializados em Ginástica Artística de 26 ins-

tituições esportivas do Brasil – mencionam a preocupação com o fato de os alunos adminis-trarem as atividades acadêmicas e esportivas sem prejuízo para uma em função de outra. Os entrevistados também apresentam a necessida-de de que a partir da aproximação do ingresso do aluno no ensino superior, ocorra o incentivo por parte dos professores para que os discentes priorizem os estudos no sentido de garantirem um futuro profissional.

O estudo citado observa também os bene-fícios de ordem motora que a prática sistema-tizada de modalidades esportivas individuais, especificamente se tratando da Ginástica Ar-tística. Nunomura et al. (2009), por meio dos resultados obtidos, afirmam que os professores observaram a importância das ações motoras vivenciadas pelas crianças na Ginástica Artís-tica, mencionando a relevância da formação de um repertório motor necessário para o desen-volvimento na modalidade, sem a necessidade de avançar de maneira precoce para as habili-dades específicas.

Associando a prática sistematizada men-cionada com a participação em competições, em diversas ocasiões, os professores/técnicos concedem opiniões favoráveis à participação precoce de crianças em competições esportivas, apresentando o argumento que essas “se prepa-ram para a vida” ao se defrontarem com obstá-culos e dificuldades. Todavia, este conceito aca-ba por promover atitudes inconsequentes que objetivam a promoção de uma prontidão para competir por parte da criança que é motivada por um imediatismo de rendimento. Nunomura et al. (2009) lembram que a prática de modali-dades esportivas deve beneficiar o processo de desenvolvimento do indivíduo sem ultrapassar fases, mas contribuir para o crescimento da criança respeitando sempre as suas limitações bem como os seus respectivos interesses.

Ao abordarem a questão da formação de tenistas, Pacharoni e Massa (2012) mencionam que o alicerce para a formação de atletas con-siste de algumas questões, como por exemplo, o estabelecimento de um planejamento que en-volve saberes como os objetivos estabelecidos, conteúdos e a metodologia a ser aplicada. Além disso, observam também os autores referidos que “no decorrer do processo” torna-se mis-ter aplicar avaliações objetivando informações

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acerca das aptidões físico-motoras dos alunos, entre outras necessidades. Tais necessidades, segundo Nunomura et al. (2009), podem ser sa-nadas por intermédio de estratégias como, por exemplo, buscar apoio dos pais no sentido de minimizar as limitações da capacidade de co-municação inerentes a crianças menores.

A Educação Física Escolar e a sua rela-ção com a competição pode ser, de acordo com Bassani et al. (2003), observada a partir de dois significados: a Luta por resultados em compe-tições e a formação global dos alunos/atletas. Nota-se que a competição não deve ser banida do ambiente escolar, pois assim estaria sendo defendido o fim do desporto como conteúdo de ensino. Entretanto, observa-se que não deve haver uma exacerbação da competição, já que desta maneira se estaria dando ênfase ao indi-vidualismo e outros sentimentos incompatíveis com a vida em sociedade.

4. Considerações Finais

Em relação à Educação Física Escolar, ob-serva-se a sua importância como agente contri-buinte ao desenvolvimento global dos discentes, e não apenas ao aprendizado de fundamentos específicos de uma modalidade esportiva, mes-mo reconhecendo este como elemento inerente da disciplina. Em todas as disciplinas curricu-lares existem conteúdos que são considerados importantes ou imprescindíveis. Dentre os di-versos conteúdos da Educação Física, o espor-

te é inegavelmente parte da sua história que se faz presente em todas as instituições escolares, constituindo-se assim um elemento fundamen-tal. Contudo, este deve ser compreendido, aci-ma de tudo, como uma prática pedagógica ao alcance de todos.

A Educação Física Escolar deve represen-tar uma viabilidade para que se possa não so-mente priorizar o aprendizado de técnicas espe-cíficas e de habilidade motoras, mas também as representações culturais encontradas em cada conteúdo, as maneiras de se praticar diversas atividades, podendo despertar o senso crítico no aluno conforme as possibilidades apresenta-das por cada modalidade esportiva. Nesse caso, percebe-se nos esportes individuais um campo fecundo para tais ações.

Acerca da especialização em modalidades esportivas, percebemos que o papel do pro-fessor de Educação Física é deveras relevante, diante da necessidade de se priorizar a forma-ção do cidadão por intermédio da prática espor-tiva em detrimento da busca incessante por re-sultados em competições. O esporte de maneira geral constitui-se em um valioso conteúdo das aulas de Educação Física em função das inúme-ras possibilidades de ações associadas ao mes-mo. Entretanto, torna-se necessária a percepção de que ele deve ser apresentado aos alunos não apenas como uma gama de movimentos repeti-tivos e condicionados, mas como um caminho para o desenvolvimento social, cognitivo, mo-tor e afetivo dos seus praticantes, respeitando sempre a faixa etária em que eles se encontram.

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5. Referências Bibliográficas

BASSANI, J. J; TORRI, D; VAZ, A. F. Sobre a presença do esporte na escola: paradoxos e ambiguidades. Revista Movimento, vol. 9, n. 2, p. 89-112. Porto Alegre. 2003. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/2811>. Acesso em 23 set. 2012.

MARQUES, C. L. S; IORA, J. A. Atletismo escolar: possibilidades e estratégias de objetivo, conteúdo e método em aulas de Educação Física. Revista Movimento, vol. 15, n. 2, p. 103-118. Porto Alegre. 2009. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/3078>. Acesso em: 20 out. 2012.

NASCIMENTO, P. R. B; ALMEIDA L. A tematização das lutas na educação física escolar: restrições e possibilidades. Revista Movimento, vol. 13, n. 3, p. 91-110. Porto Alegre. 2007. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/3567/1968. Acesso em: 20 out. 2012.

NUNOMURA, M; CARRARA, P. D. S; CARBINATTO, M. Ginástica artística competitiva: considerações sobre o desenvolvimento dos ginastas. Revista Motriz, vol. 15, n. 3, p. 503-514. Rio Claro – SP. 2009. Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/motriz/article/view/2222/2427>. Acesso em 19 out. 2012.

PACHARONI, R; MASSA, M. Processo de formação de tenistas talentosos. Revista Motriz, vol. 18, n. 2, p. 253-261. Rio Claro – SP. 2012. Disponível em: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/motriz/article/view/4373/pdf_171. Acesso em: 21 out. 2012.

PRADO, V. M; MATTHIESEN S. Q. Para além dos procedimentos técnicos: o atletismo em aulas de educação física. Revista Motriz, vol. 13, n. 2, p. 120-127. Rio Claro – SP. 2007. Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/motriz/article/view/757/1032>. Acesso em: 19 out. 2012.

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Instruções para Autores

Cadernos UniFOA é uma publicação quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espaço editorial de natureza inter e multidisciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpretativo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emergentes e comunicações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Graduação, e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu.

Seleção de artigos: na seleção de artigos para publicação, avaliam-se a originalidade, a relevância do tema e a qualidade da metodologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pelo periódico.

Revisão por pareceristas: todos os artigos publicados são revisados por pareceristas resguardado o anonimato dos autores para uma avaliação mais acurada.

Ineditismo do material: o conteúdo do material enviado para publicação na Revista Cadernos UniFOA não pode ter sido publicado anteriormente, nem submetido para publicação em outros locais. Para serem publicados em outros locais, ainda que parcialmente, necessitam aprovação por escrito dos Editores. Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabili-dade dos autores.

Direitos Autorais: ao encaminhar um original à revista, os autores devem estar cientes de que, se aprovado para publicação, os direitos autorais do artigo, incluindo os de reprodução em todas as mídias e formatos, deverão ser concedidos exclusivamente para a Revista Cadernos UniFOA. Para tanto é solicitado ao autor principal que assine declaração sobre o Conflito de interesses e Transfe-rência de Direitos Autorais e envie para Editora FOA - Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).

Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções:

(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou concei-tual (máximo de 10.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou prelimi-nares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Car-tas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou nota curta, relatando observações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais – os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previa-mente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte).

Apresentação do Texto:

Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, com margens superiores de 3,0 cm e as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma

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original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Notas de rodapé não serão aceitas.

Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é ne-cessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras).

Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos subme-tidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 500 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave.

Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botâni-ca, assim como abreviaturas e convenções adotadas nas disciplinas especializadas.

Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados está con-dicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, refor-mulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e em não havendo Comitê especiali-zado na IES de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em contato com [email protected] (Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para maiores esclarecimentos e possível envio da pesquisa para avaliação neste.

Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros.

Referências: as referências devem ser identificadas indicando-se autor(es), ano de publicação e nú-mero de página, quando for o caso. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es) e devem seguir o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Exemplos:

1 Livro:

MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte: Coop-med Editora Médica, 2005.

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2 Capítulo de Livros:

RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.; COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em dentes decí-duos. In:

CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. p. 581-605.

3 Dissertação e Tese:

EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação da acarofauna do ecossitema domiciliar no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasi-tária)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.

CUPOLILO, Sonia Maria Neumann. Reinfecção por Leishmania L amazonensis no modelo muri-no: um estudo histopatológico e imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado em Patologia)___FIO-CRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.

4 Artigos:

ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B. M. A case of severe pancreatitis complicated by Raoultella planticola infection. Journal of Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p. 696-698, 2007.

COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical adhesives. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224, 1968.

5 Documentos eletrônicos:

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/ >. Acesso em 4 ago. 2007.

Envio de manuscritos:

Os artigos deverão ser enviados exclusivamente pelo sistema de avaliação através do link www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs, seguindo os padrões especificados anteriormente.

OBS: Se professor do UniFOA, informar em quais cursos leciona.

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Instructions For Authors

UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes original research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs.

The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, experimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short communications on partial or preliminary research results (maximum 2,000 words); (4) Book reviews - critical reviews of books related to the journal’s thematic field, published in the last two years (maximum 1,200 words); (5) Letters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting on field or laboratory observations (maximum 1,200 words); (6) Special articles - authors interested in contributing articles to this section should consult the Editor in advance; (7) Debate - theoretical articles accompanied by critiques signed by authors from dif-ferent institutions at the Editor’s invitation, followed by a reply by the author of the principal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 interrelated articles by different authors, focusing on a theme of current interest (maximum 12,000 words for the combined articles).

The above-mentioned maximum word limits include the main text and bibliographic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately).

Presentations of Papers

Contributions in Portuguese or English are welcome. The original should be double-spaced and submit-ted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be submitted with a title page, including the complete title (in the original language and English) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and the complete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD containing the article’s file and identifying the software program and version used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether the article is being submitted for the first time or re-submitted to our Secretariat.

When sending a second version of the article, one print copy should be sent, together with the dis-kette or CD.

Illustrations: figures should be sent in a high-quality print version in black-and-white and/or dif-ferent tones of gray and/or hachure. Any additional cost for publication of color figures will be covered entirely by the author(s). Graphs should be submitted separately in the format of the pro-gram in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quantitative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electronically must be submitted on white paper (do not use tracing paper). Tables and/or figures should be kept to a minimum (maximum seven tables and/or figures).

Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an abstract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words.

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Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and conventions adopted by specialized disciplines.

Research involving Ethical Principles: publication of articles with the results of research invol-ving human beings is conditioned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), in addition to complying with the specific legislation (when existing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research invol-ving human beings must contain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After acceptance of the article for publication, all the authors are required to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos graduation stating their full compliance with the specific ethical principles and legislation.

Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements.

Declaration: the main author must send, by post office, declaration on the Conflict of Interests and Transference of Copyrights.

References

References should be numbered consecutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numerals (e.g., Oliveira1). References cited only in tables and figures should be numbered according to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All referen-ces should be presented in correct and complete form. The veracity of the information contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articles

Hedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke survivors: nurses as moderators of the communication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.

b) Institution as author

European Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.

Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.

c) Without author specification

Rubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-camptothecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamptothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.

d) Books and other monographs

FREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2000.

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· Editor or organizer as author

Duarte LFD, Leal OF, organizers. Doença, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 1998.

· Institution as author and publisher

Institute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchmarks Qual Im-prov., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of book

Aggio A. A revolução passiva como hipótese interpretativa da história política latino- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.

f) Events (conference proceedings)

Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMINÁRIO SO-BRE CORRETIVOS AGRÍCOLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.

g) Paper presented at an event

Bengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in medical infor-matics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5.

h) Theses and dissertations

Rodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Lon-drina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004.

i) Other published work

· Journal article

Lee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admissions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.

· Legal documents

MTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Portaria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regulamentadora N° 9: Programas de Prevenção de Riscos Ambientais.

j) Electronic material

· CD-ROM

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Severino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repicagem de plântu-las de mamoneira visando à produção de mudas. In: I Congresso Brasileiro de Mamona - Energia e Sustentabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004

Internet

UMI ProQuest Digital Dissertations. Disponível em: <http://wwwlib.umi.com/dissertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

The articles must be sent for the site: www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs.

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Permutas Institucionais Informações sobre [email protected]

ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

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ção

nº 2

3 -D

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bro/

2013

FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SPE

Permutas Institucionais Informações sobre [email protected]

Page 111: Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VIII - Edição ...web.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/23/cadernos_23_online.pdf · Leonardo Mello de Sousa ... Thomás Gomes Gonçalves

Formando para vida.

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Campus AterradoAv. Lucas Evangelista,nº 862, AterradoVolta Redonda - RJTel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925

Campus ColinaAnexo ao HospitalSão João BatistaRua Nossa Senhora das Graças, nº 273, ColinaVolta Redonda - RJTel.: (24) 3340-8400

Campus VilaRua 31, nº 43Vila Santa CecíliaVolta Redonda - RJTel.: (24) 3348-5991

Campus João Pessoa FagundesRua 28, nº 619TangerinalVolta Redonda/RJCEP: 27.264-330 Telefone: (24) 3348.1441 (24) 3348.1314

Campus Leonardo MollicaRua Jaraguá nº 1084RetiroVolta Redonda/RJCEP: 27277-130Telefone: (24) 3344.1850 (24)3344.1851

Campus Olezio GalottiAv. Paulo Erlei Alves Abrantes,nº 1325, Três PoçosVolta Redonda - RJTel.: (24) 3340-8400Fax: (24) 3340-8404