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Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VII - Edição nº 20 - Dezembro / 2012 Formando para a vida.

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Campus AterradoAv. Lucas Evangelista,nº 862, AterradoVolta Redonda - RJTel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925

Campus ColinaAnexo ao HospitalSão João BatistaRua Nossa Senhora das Graças, nº 273, ColinaVolta Redonda - RJTel.: (24) 3340-8400

Campus VilaRua 31, nº 43Vila Santa CecíliaVolta Redonda - RJTel.: (24) 3348-5991

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Campus Olezio GalottiAv. Paulo Erlei Alves Abrantes,nº 1325, Três PoçosVolta Redonda - RJTel.: (24) 3340-8400Fax: (24) 3340-8404

Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VII - Edição nº 20 - Dezembro / 2012

Formando para a vida.

CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1809-9475

CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO VII - nº 20 - Dezembro/2012

FOA

EXPEDIENTE

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinanceiroIram Natividade Pinto

Diretor de Relações InstitucionaisJosé Tarcísio Cavaliere

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitor

Alexandre Fernandes Habibe

Pró-reitora AcadêmicaCláudia Yamada Utagawa

Pró-reitora de Pós-Graduação,Pesquisa e Extensão

Daniella Regina Mulinari

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editora CientíficaDaniella Regina Mulinari

EXPEDIENTE

Capa e EditoraçãoLaert dos Santos / Caio Rossatto / Henrique Rossatto

Comitê EditorialProf. André Resende de Senna

Prof.ª Denise Celeste Godoy de Andrade RodriguesProf. Vitor Barletta Machado

Conselho EditorialProf. Agamêmnom Rocha de Souza

Prof. André Barbosa VargasProf. Carlos Alberto Sanches Pereira

Prof. Carlos Roberto XavierProf. Élcio Nogueira

Prof.ª Ivanete da Rosa da Silva de OliveiraProf. Júlio César de Almeida Nobre

Prof. Júlio César Soares AragãoProf.ª Margareth Lopes Galvão Saron

Prof.ª Maria Auxiliadora Motta BarretoProf. Mauro César Tavares de Souza

Prof. Sérgio Elias Vieira CuryProf.ª Sinara Borborema Gabriel

Revisão de textos

Língua PortuguesaClaudia Maria Gil Silva

Maricinéia Pereira Meireles da Silva

Língua InglesaMaria Amália Sarmento Rocha de Carvalho

Conselho Editorial ad hoc

Claudinei dos SantosDoutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de

Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP

Douglas Mansur da SilvaDoutor em Antropologia Social - Universidade Federal de Viçosa

Fábio Aguiar AlvesDoutor em Biologia Celular e Molecular - Fundação Oswaldo Cruz

Luiz Augusto Fernandes RodriguesDoutor em História pela Universidade Federal Fluminense - UFF

Maria José Panichi VieiraDoutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro

FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521

C122 Cadernos UniFOA / Centro Universitário de Volta Redonda. –ano VII, n. 20 (dezembro 2012). – Volta Redonda: FOA, 2012.

Quadrimestral

ISSN 1809-9475

1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas e tecnológicas – Periódicos. 3. Ciências da saúde e biológicas – Periódicos. 3. Ciências humanas e sociais aplicadas – Periódicos. I. Fun-dação Oswaldo Aranha. II. Título.

CDD – 050

Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAwww.unifoa.edu.br/cadernos

Submissõeswww.unifoa.edu.br/cadernos/ojs

SUMÁRIO

EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09

CIÊNCIAS EXATAS

Análise sobre as alterações do marco regulatório do petróleoFrancisco Dourado e Hernani Aquini Fernandes Chaves ............................................................................................................................ 11

Efeito do duplo envelhecimento nas propriedades da liga ti-12mo-13nbThallys Fillip Barbosa Vieira ,Juliana Torres ,Mauricio Bessa de Oliveira ,Emanuel Santos Jr. ,Luiz Henrique de Almeida ,Carlos Angelo Nunes ,Jean Dille ,Sinara Borborema Gabriel ........................................................................................................................................... 27

Isolamento térmico de duto circular em escoamento laminar completamente desenvolvido de fluidos imiscíveis (Água-Óleo)Artur Kimura e Élcio Nogueira.................................................................................................................................................................... 33

Solução analítica em aleta de perfil retangular: comparação de desempenho térmico entre aluminio e ferro fundido em motores elétricosDenise Freire Duarte, Ariane Novaes e Élcio Nogueira .............................................................................................................................. 43

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

Energia em diferentes contextos: uma proposta atual para sua definiçãoEdison de Sousa, Alexandre Yasuda Miguelote e Cristina Novikoff .......................................................................................................... 53

Naming: Uma metodologia para desenvolvimento do nome de um veículo de carga no BrasilCristiana de Almeida Fernandes, Luis Cláudio Belmonte dos Santos, Carla Fernandes Lima, Danton Gravina Baêta Rodrigues, Matheus Moraes Amorim Pereira, Pedro Lima de Oliveira e Thiago Philippe Catarino de Mello ............................................................... 65

Saúde mental e reforma psiquiátrica brasileira: reflexões acerca da cidadania dos portadores de transtornos mentaisAmanda de Alvarenga Caldas e Júlio Cesar de Almeida Nobre .................................................................................................................... 71

CIÊNCIAS DA SAÚDE E BIOLÓGICAS

A contribuição da musicoterapia na saúde do idosoGlauber Correia de Oliveira, Vanessa Ramos da Silva Lopes, Maria José Caetano Ferreira Damasceno e Elizete Mello da Silva4 .......... 85

A interface entre o Diabetes Mellitus tipo II e a hipertensão arterial sistêmica: aspectos bioquímicosPedro Lopes Fraga, Bruno José Martini-Santos, Bruno Nonato dos Santos Severino, Marise Ramos de Souza Oliveira e Guilherme Rapozeiro França ......................................................................................................................................................................................... 95Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do Xixarro, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangi-dae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.Paulo Henrique da Silva Gonçalves e Dimitri Ramos Alves ...................................................................................................................... 105

Ocorrência de ovos de Ancylostoma spp. em amostras de fezes de gatos (Felis catus LINNAEUS, 1758) domiciliados em uma área escolar da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ, BrasilViviane Abreu de Andrade, Marco Antonio Ferreira da Costa e Júlio Vianna Barbosa ........................................................................... 115

LIST OF CONTRIBUTIONS

EDITORIAL.......................................................................................................................................................................09

EXACT SCIENCES

Analysis of changes in the Oil Law Brazilian Regulatory Francisco Dourado e Hernani Aquini Fernandes Chaves ............................................................................................................................ 11

Effect Of Double Aging In The Properties Of Ti-12Mo-13Nb Alloy Thallys Fillip Barbosa Vieira ,Juliana Torres ,Mauricio Bessa de Oliveira ,Emanuel Santos Jr. ,Luiz Henrique de Almeida ,Carlos Angelo Nunes ,Jean Dille ,Sinara Borborema Gabriel ........................................................................................................................................... 27

Circular duct thermal insulation in laminar flow completely developed in immiscible fluids (Water-Oil) Artur Kimura, Élcio Nogueira ..................................................................................................................................................................... 33

Analytical solution in fins of rectangular profiles: comparing thermal performance between aluminum and cast iron in electric motorsDenise Freire Duarte, Ariane Novaes e Élcio Nogueira .............................................................................................................................. 43

HUMANITIES SCIENCES AND APPLIED SOCIAL SCIENCES

Energy in different contexts: a current proposal for its definition Edison de Sousa, Alexandre Yasuda Miguelote e Cristina Novikoff .......................................................................................................... 53

Naming: A methodology to develop a commercial vehicle name in BrazilCristiana de Almeida Fernandes, Luis Cláudio Belmonte dos Santos, Carla Fernandes Lima, Danton Gravina Baêta Rodrigues, Matheus Moraes Amorim Pereira, Pedro Lima de Oliveira e Thiago Philippe Catarino de Mello .............................................................................. 65

Mental Health and Brazilian Psychiatric Reform: reflections on the citizenship of people with mental disordersAmanda de Alvarenga Caldas e Júlio Cesar de Almeida Nobre ................................................................................................................... 71

HEALTH SCIENCE AND BIOLOGICAL

The music therapy contribution in the elderly healthGlauber Correia de Oliveira, Vanessa Ramos da Silva Lopes, Maria José Caetano Ferreira Damasceno, Elizete Mello da Silva ............. 85

The interface between the type ii diabetes mellitus and systemic arterial hypertension: biochemical aspectsPedro Lopes Fraga, Bruno José Martini-Santos, Bruno Nonato dos Santos Severino, Marise Ramos de Souza Oliveira e Guilherme Rapo-zeiro França ................................................................................................................................................................................................. 95

Community ecology of the metazoan parasites of rough scad, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) from the coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil.Paulo Henrique da Silva Gonçalves e Dimitri Ramos Alves ...................................................................................................................... 105

Occurrence of Ancylostoma spp. eggs in cats (Felis catus LINNAEUS, 1758) fecal samples in a school area in Rio de Janeiro Metropolitan Region Viviane Abreu de Andrade e Marco Antonio Ferreira da Costa, Júlio Vianna Barbosa .......................................................................... 115

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Editorial

A Revista Cadernos UniFOA é um veículo de divulgação técnica e científica do UniFOA com objetivo substancial de divulgar, para a comunidade científica em geral, resultados de pesquisas realizadas na Instituição que, de alguma forma, contribuam para o estado da arte das diversas áreas do conhecimento.

Neste editorial, venho confirmar minha imensa satisfação em apresentar a Edição nº 20. Em todas as edições a Instituição tem buscado contínuas melhorias, com o objetivo de primar pela qualidade e incentivar os autores em divulgar suas pesquisas.

Desta forma, o conselho editorial da Revista Cadernos UniFOA agradece aos colaboradores que tem mantido o elevado nível de nossos artigos científicos.

Em nome da Pró-reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e da Editora FOA agradeço aos docentes e discentes do UniFOA que participaram significativamente dessas produções.

Profa. Dra. Daniella Regina MulinariPró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

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ArtigoOriginal

Original Paper

Recebido em 05/2012

Aprovado em 12/2012

1 Departamento de Geologia Aplicada, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro2 Departamento de Estatigrafia e Paleontologia, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

ArtigoOriginal

Original Paper

Análise sobre as alterações do Marco Regulatório do petróleoAnalysis of changes in the Oil Law Brazilian Regulatory

Francisco Dourado¹Hernani Aquini Fernandes Chaves²

ResumoOs países, através de seus governos, celebram com empresas de petróleo basicamente dois tipos de acordos comerciais: Concessões e Contratos. Sendo que os contratos se subdivididem em: Simples, Partilha de Produ-ção e Contrato de Serviço. No Brasil, a maioria esmagadora dos acordos comerciais na indústria do petróleo são Concessões. Em 2008, o Governo Federal com o pretexto de garantir uma maior participação do Estado e da sociedade nos recursos advindos da produção do petróleo oriundo da camada Pré-Sal, propôs a adoção de Contratos sob o Regime de Partilha nessas áreas. Porém uma análise mais profunda mostra que não havia a ne-cessidade da inclusão de um novo regime de contrato, apenas necessitando o ajuste de alíquotas e critérios de pagamento dos Royalties e da Participa-ção Especial. A criação do Fundo Social, a capitalização da Petrobras, sua escolha como operadora única, a criação de uma nova estatal, a Pré-Sal S/A, o bônus de Assinatura em contratos de Partilha de Produção, a extin-ção Participação Especial (PE) e a delimitação geográfica e não geológico dos limites do Pré-Sal foram pontos que, ou não foram esclarecidos, ou suas justificativas não foram a contento durante a tramitação das Propostas de Lei (PL). Além da alegação financeira, foi utilizada como justificativa a União precisar ter um controle maior sobre a produção e exportação de petróleo e gás natural. Porém a existência da Agencia Nacional do Petróleo e do Conselho Nacional de Política Energética que têm a atribuição legar e o dever de exercer esses controles lança por terra essa justificativa.

Palavras-chave:

Royalties do petróleo

Marco Regulatório

Pré-Sal

AbstractCountries through their governments, oil companies celebrate with basically two types of trade agreements: Concessions and Contracts. Since contracts can be divided into: Simple Contract, Production Sharing Contracts and Service Agreement. In Brazil, the overwhelming majority of trade agreements in the oil industry are concessions. In 2008, the Federal Government under the pretext of ensuring greater participation of state and society in the proceeds from oil production coming from the pre-salt layer, proposed the adoption of contracts under the Scheme Shares in these areas. But a deeper analysis shows that there was no need to include a new system of contract, requiring only the adjustment of rates and criteria for payment of royalties and special participation. The creation of the Social Fund, the capitalization of Petrobras, its choice as the sole operator, creating a new state, the Pre-Salt A / S, Bonus Signing of Production Sharing Contracts, the extinction Special Participation (EP) and the geographical scope and not geological limits of the pre-salt were points that were either not informed or their justifications were not satisfactorily during the course of Proposed Law (PL). In addition to financial claims, was used as an excuse the Union needs to have more control over the production and export of oil and natural gas. But the existence of the National Agency of Petroleum and National Energy Policy Council who have the assignment and duty to bequeath to exercise these controls overthrows this justification.

Keywords:

Royalties

Government Participation Taxes

Economy of Rio de Janeiro State

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Introdução

Após Novembro de 2007, com a divul-gação dos primeiros resultados dos poços que ultrapassaram a camada de sal aptiniano da Bacia de Santos, houve uma comoção genera-lizada no país a respeito do volume de recursos que seria gerado pelo pagamento de Royalties e Participação Especial. Esta discussão levou a criação de uma Comissão Interministerial para analisar a mudança do Marco Regulatório do Petróleo. Foram então, apresentadas pela comissão, quatro propostas de alteração da legislação que estabelece e regulamenta a ati-vidade de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil.

Estas propostas previam a alteração no tipo de contrato, a criação de um fundo para perpe-tuação das riquezas geradas pela exploração do petróleo, a criação de uma empresa pública para gerir o óleo produzido e a cessão onerosa de 5 bilhões de barris para a PETROBRAS S/A.

1. Contratos de Exploração e Produção de Petróleo no Brasil

Atualmente, os acordos comerciais na indústria do petróleo se dividem basicamente em dois grupos: as concessões e os contratos. Este último pode se subdividir em: Contrato Simples, Contratos de Partilha de Produção e Contrato de Serviço (Tabela 1), que ainda pode ser um Contrato de Risco (Van Meurs, 2008 e Johnston, 2002). Como pode ser visto na Tabela 1, as principais diferenças entre os tipos de con-trato, estão ligados ao direito de exploração e à propriedade da produção dos hidrocarbonetos.

Atualmente a maior parte dos contratos vigentes são concessões, com a ocorrência isolada de alguns Contratos de Risco concen-trados na Bacia Potiguar celebrados na década de 70. Com a promulgação da Lei n° 12.351 de 22 de dezembro de 2010 foi autorizado o regime de Partilha de Produção na região de-limitada pela lei como Área do Pré-Sal e ou-tras áreas que venham ser classificadas como de interesse especial. Até Março de 2012 ain-da não foi anunciado nenhum novo leilão de áreas pela ANP, onde poderiam ser celebrados os primeiros contratos de Partilha de Produção na história da produção de petróleo no Brasil.

Considerando os atuais contratos de con-cessão, para ter o direito de explorar e produzir petróleo ou gás natural no Brasil, uma empre-sa deve ter sede e administração em território brasileiro, comprovar capacidade financeira e técnica qualificando-se entre não-operadora ou operadora, que pode ser do tipo A (opera em todos os blocos), B (opera em blocos em terra e em águas rasas) ou C (opera apenas em blocos terrestres).

Este sistema prevê a regulação e a fisca-lização das operações das empresas conces-sionárias por uma agência de regulação es-pecífica para este fim, além do pagamento de taxas e impostos sobre a produção e os lucros e mecanismos de sobretaxação para campo de alta rentabilidade. Apresenta também diversos mecanismos de controle sobre a produção tais como limites de produção visando o combate à exploração predatória das reservas ou a li-mitação dos volumes de exportação visando a prioridade do abastecimento interno.

1.1. Regulamentação (Órgãos ou Agências)

Através da Lei 9.478/97, foram ins-tituídos o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os órgãos de regulação da indústria de petróleo e gás natural.

A função do CNPE é promover a política nacional para o aproveitamento racional dos recursos energéticos do País, seguindo o prin-cípio da preservação do interesse nacional e do meio ambiente. Por sua vez, compete à ANP executá-la através de licitações e contratos em nome da União com os concessionários em atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural e da fiscali-zação das atividades das indústrias reguladas.

1.2. Government take

O Government take é a total de recur-sos que o governo se apropria em um projeto de E&P desde a aquisição da área, passando por todas as taxas e impostos diretos e indi-retos, até o pagamento da última taxa de re-tenção de área ao entregar um bloco licitado. Algumas taxas e impostos são muito claros e óbvios, tais como os Royalties, a Participação

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Especial, o Bônus de Assinatura, o Pagamento ao proprietário da terra e por Retenção de áreas, outros são mais comuns ao mundo dos contabilistas e distantes da nossa percepção, como, por exemplo, os Tributos Diretos e os Tributos Indiretos: Segundo Lima (2008), o Government Take no Brasil gira por volta de 60%. Este é o mesmo valor desde 2002 se-gundo o levantamento realizado por Gaffigan (2007). Neste trabalho, sintetizado na Tabela 2, podemos observar que o Brasil apresenta o mesmo valor da média dos 36 países estuda-dos. Para esse conjunto de países, os valores de Government Take variaram entre 93% no Irã e 20% na Irlanda. Entre os 10 países que optaram pela Concessão de áreas, a média foi de 50%, com máxima de 75% e mínima de 35%. Nos 15 países que aparecem como op-tantes do Contrato de Partilha a taxa média foi de 68%, enquanto a máxima e a mínima foram de 87% e 43% respectivamente.

1.3. Participações Governamentais

Partindo da premissa que em geral a Nação é proprietária do solo e do subsolo do seu espaço geográfico (os Estados Unidos da América são um exemplo da exceção à regra, onde o proprietário da terra tem direitos sobre os minerais do subsolo), os acordos comerciais para extração dos bens minerais seguem as re-gras estabelecidas por cada país. Deste modo, naquela época, a extração do petróleo era con-dicionada às mesmas regras que as utilizadas para a extração de qualquer outro bem mineral. Não havia regras distintas para sua produção.

De uma maneira geral, bens minerais se distribuem através de estruturas geológicas, obedecendo a regras impostas pela natureza, independente de ações antrópicas. Já a pro-priedade da superfície depende da posse ou de relações comerciais. Quando se constataram os problemas da relação mineralização/proprieda-de, surgiu então a necessidade de introduzir o dualismo jurídico das duas propriedades – a do solo e a do subsolo – para permitir a exploração dos recursos minerais sem interferência do pro-prietário da superfície. Esta separação foi esta-belecida pela primeira vez no Código Mineiro de Napoleão, em 1810 (Holtman, 1981).

Quarenta e dois anos após o Coronel Drake perfurar o primeiro poço de petróleo

(em Titusville – Pensilvânia, em 1859), se deu início ao primeiro sistema de concessões espe-cífico para o petróleo com a primeira concessão outorgada pela antiga Pérsia (atual Irã) ao cidadão inglês William Knox D’Arcy. A con-cessão previa a cessão do direito sobre o uso do subsolo de dois terços do país (1.243.000 km²) por 60 anos pelo valor de 20.000 libras e 16% dos lucros anuais da empresa (Tavern, 1994).

Esta prática se difundiu em todo o Oriente Médio, no Norte da África, no Leste Europeu e na América Latina, pois a prospecção era principalmente conduzida por empresas ingle-sas e americanas.

1.4. Royalties

O verdadeiro significado do pagamento de Royalties ligados à produção de petróleo e gás natural é, por vezes, deturpado ou mal entendido pela sociedade e até pelos próprios governantes e administradores públicos.

Os Royalties são uma das formas de com-pensação pelo empobrecimento e desvalorização do subsolo ou por danos que podem ser causados ao ambiente relacionados com as atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural. Esta palavra inglesa derivada de Royal que signi-fica “do Rei”, “da Realeza”; ou seja, royalty era uma compensação paga ao Rei, em geral, com parte da própria produção, pelo uso de suas ter-ras ou seus recursos (Barbosa, 2002).

Do mesmo modo, hoje, os Royalties são compensações financeiras pagas à Federação pelas concessionárias de produção pelo uso e exploração do subsolo brasileiro (Art. 7, da Lei 7.990/1989). É uma arrecadação federal visto que, pela Constituição Brasileira, o sub-solo pertence à União, que por sua vez conce-de a terceiros o direito de exploração.

1.5. A evolução das leis no Brasil sobre os Royalties

Em 1953, com a entrada em vigor da Lei n° 2.004 (03/10/1953), é estabelecido pelo governo federal o pagamento de Royalties re-lativos à produção de petróleo. Esta lei deter-minava que 4% da produção bruta de petróleo e gás natural fossem pagos aos estados produ-tores e 1% da produção bruta aos municípios.

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Além disso, dava início ao monopólio estatal com a criação da PETROBRAS.

Na década de 80, com o início da pro-dução off-shore um novo cenário da produção fica estabelecido. Para o embasamento legal deste novo cenário é promulgada a Lei nº 7.453 (27/12/1985) que estabelece novos cri-térios para o pagamento dos Royalties, embora o percentual de 5% sobre o valor da produção seja mantido. No caso da produção em terra a distribuição fica inalterada. No caso da produ-ção off-shore passa a ser distribuído da seguin-te forma: 1,5% da produção bruta de petróleo e gás natural seriam pagos aos estados con-frontantes aos poços produtores, 1,5% para os municípios confrontantes aos poços produto-res e aqueles pertencentes à região geoeconô-mica destes municípios, 1% ao Ministério da Marinha e 1% para um Fundo Especial.

A Lei nº 7.525 (22/06/1986) estabelece conceitos como região geoeconômica e exten-são dos limites territoriais entre estados e mu-nicípios litorâneos, de competência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com o Decreto nº 93.189 (29/08/1986) as li-nhas de projeção dos limites entre os estados e entre os municípios ficam regulamentadas.

Em 1989, a Lei nº 7.990 (28/12/1989) re-gulamentada pelo Decreto nº 01 (11/01/1991) modifica a distribuição dos Royalties adicio-nando uma parcela de 0,5% da produção bruta de petróleo e gás natural para os municípios que tenham em seu território instalações de embarque e desembarque de petróleo ou gás natural. A introdução deste recurso reduz a alí-

quota destinada aos estados (um corte de 3,5 p.p.), no caso de extração em terra, e do Fundo Especial (menos 0,5 p.p.) no caso de extração off-shore (Figura 1).

A “Lei do Petróleo” (Lei nº 9.478 de 06/08/1997 e regulamentada pelo Decreto nº 2.705 de 03/08/1998) altera a alíquota-base dos Royalties de 5% para 10% da produção bruta de petróleo e gás natural. Entretanto esta alíquota pode variar entre 5% e 10% em função dos riscos geológicos, da expectativa de produção e de outros fatores. Esta porção variável apresenta uma forma diferente de distribuição em relação à porção fixa de 5%. No caso de exploração em terra: 2,625% para o estado onde houver a extração, 0,75% para o município onde houver a extração, 0,375% para os municípios afetados pela operação de embarque e desembarque de petróleo e gás na-tural (segundo critérios da ANP) e 1,25% para o Ministério de Ciência e Tecnologia.

No caso de exploração off-shore: 1,125% da produção bruta de petróleo e gás natural para os estados confrontantes com campos produto-res, 1,125% para os municípios confrontantes com campos produtores, 0,375% para os mu-nicípios afetados por operações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural, 0,375% para o Fundo Especial, 0,75% para o Ministério da Marinha e 1,25% para o Ministério de Ciência e Tecnologia. Considerando-se uma alíquota total de 10%, a distribuição dos Royalties é apresentada na Figura 1.

Desta forma, o valor a ser recolhido em Royalties deve ser calculado da seguinte forma:

Vrecolhido= Volume * Preço de venda * Taxa de Câmbio (1)

onde,Vrecolhido= Valor a ser recolhido em RoyaltiesVolume = % da produção bruta (de 5% a 10%) em m3

Preço de venda = Preço médio de venda de uma cesta de petróleo e gás natural usada como referência em US$/m3 Taxa de Câmbio = valor de US$ 1 em Reais

Os Royalties são creditados aos estados e municípios beneficiários no segundo mês a partir do fato gerador. Assim, por exemplo, os Royalties referentes à produção do mês de Janeiro são depositados no Tesouro Nacional em até 30 dias após o fechamento do mês de

produção (fim de Fevereiro) e são creditados aos beneficiários até o vigésimo dia do mês de Março. A Figura 2 mostra o fluxo de paga-mento dos Royalties se a sua posterior distri-buição aos beneficiários.

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1.6. Participação Especial

A Participação Especial (PE) foi criada no artigo 50 da Lei nº 9.478 (A Lei do Petróleo) e regulamentada pelo Decreto nº 2705/98. A PE estabelece uma compensação financeira sobre os campos com grandes volumes de produção ou grande rentabilidade (Gutman, 2007). Esta compensação financeira variável, de caráter progressivo, ou seja, quanto maior a produção maior a alíquota a ser paga, não é uma exclu-sividade da legislação brasileira. Outros países apresentam ferramentas de sobretaxação simi-lares (e.g.: Windfall Profit Tax dos Estados Unidos, Hydrocarbon Tax da Noruega e o Petroleum Revenue Tax do Reino Unido).

Os recursos arrecadados são distribuídos da seguinte forma: 40% ao Ministério de Minas e Energia (MME), 10% ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), 40% para o Estado e 10% para o Município onde ocorrer a produção em terra ou confrontante com a plataforma conti-nental onde ocorrer a produção (Figura 3).

O MME deve investir os recursos em estu-dos e serviços de geologia e geofísica aplicados à prospecção de petróleo e gás natural, a serem pro-movidos pela ANP com o objetivo de regular a execução de serviços de geologia e geofísica apli-cados à prospecção petrolífera, visando ao levan-tamento de dados técnicos, destinados à comer-cialização, em bases não exclusivas. Por sua vez, o MMA deve investir os recursos no desenvolvi-mento de estudos e projetos relacionados com a preservação do meio ambiente e recuperação de danos ambientais causados pela atividade da in-dústria do petróleo. Ainda não foi regulamentada a aplicação dos recursos da cota-parte devida a Estados (40%) e Municípios (10%).

A Portaria ANP 10/99 (alterada pela Portaria ANP no 102/99) permite aos concessio-nários deduzirem alguns valores do montante a ser pago em Participação Especial. Tais dedu-ções são: o bônus de assinatura, do pagamento da retenção de área, o pagamento aos proprie-tários da terra, o investimento em pesquisa e desenvolvimento (de acordo com o artigo 18 da portaria citada, as empresas que pagam PE devem obrigatoriamente investir 1% da receita bruta em pesquisa e desenvolvimento) e alguns gastos nas fases de exploração, produção e de-senvolvimento. Estas deduções geram perdas para Estados e Municípios, uma vez que esses

dois beneficiados pela PE não são beneficiados por nenhuma dessas deduções e não recebem nenhuma contrapartida devido a essas dedu-ções. Por este motivo, tais deduções são dura-mente criticadas por estados e municípios.

1.7. Bônus de Assinatura (Bonus bidding)

O bônus de assinatura é uma compensação financeira paga pelo vencedor da licitação esta-belecida no artigo 46 da Lei do Petróleo. O bônus tem o seu valor mínimo estabelecido no edital de licitação do bloco e é proporcional ao potencial econômico conhecido do bloco. Quanto maior o potencial, maior será o bônus estabelecido.

Por lei, o bônus de assinatura deveria ser destinado ao custeio das necessidades operacio-nais da ANP e à pesquisa e desenvolvimento do setor de petróleo, o que na prática não ocorre devi-do ao contingenciamento do orçamento da União. Os valores arrecadados em Bônus de Assinatura são significativos, desde a primeira até a décima rodada de licitações, já foram arrecadados mais de R$ 5,48 bilhões em bônus (Gráfico 1).

1.8. Retenção de áreas (Rental fees)

Também é uma compensação financeira paga pelo concessionário pelo uso das áreas com o objetivo do desempenho de uma ati-vidade econômica. Gutman (2007) ressalta que diferentemente do aluguel de uma área, contrato no qual o locador cede a posse de um bem, a taxa de retenção de áreas tem por objetivo compensar a União pela cessão do di-reito de exercer a atividade de Exploração e Produção (E&P) na área em questão.

Este pagamento deve ser efetuado anual-mente pelos concessionários, a partir da data de assinatura do contrato, disposto no edital de licitação e nas cláusulas contratuais. As fai-xas de valores por quilômetro quadrado e por fase de processo de E&P, adotadas para fins de cálculo desta participação, estão definidas no Decreto n° 2.705/98. Para fixação destes va-lores a ANP levará em conta as características geológicas, a Bacia Sedimentar em que o blo-co se situar, bem como outros fatores pertinen-tes. Os recursos provenientes desta participa-ção governamental destinam-se, assim como o bônus de assinatura, ao custeio das despesas da ANP para o exercício de suas atividades.

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1.9. Pagamento ao proprietário da terra

O pagamento ao proprietário da terra é uma taxa paga ao detentor do direito de pro-priedade da superfície, seja ele uma pessoa física, jurídica ou mesmo União, Estados ou Municípios e pode variar entre 0,5% e 1% da produção de cada poço. É uma prática comum do setor de mineração baseada no artigo no 176 da Constituição Federal e consta no artigo no 52 da Lei do Petróleo.

2. Propostas de alteração das participações governamentais

Apesar de a população em geral conside-rar que é recente sua descoberta, a existência de hidrocarbonetos em camadas de idade pré--Aptiniana (chamadas de Pré-Sal nas bacias de Campos e Santos) já é conhecida desde 1962 com perfuração do poço descobridor do campo produtor de petróleo de Carmópolis em Sergipe e sua produção comercial que data do ano seguinte. Na realidade o que houve no dia oito de Novembro de 2007 foi a divulgação, ao público, de resultados promissores da per-furação do poço 1-BRSA-369A-RJS, finali-zada em Outubro de 2006, que indicava que o poço havia ultrapassado a camada de sal e encontrado indicações da presença de gran-des volumes de hidrocarbonetos. A partir dos resultados deste poço e de outros poços que foram perfurados na região que ultrapassaram a camada de sal aptiniano, o setor previu no mínimo a duplicação das atuais reservas brasi-leiras de petróleo. Esses números despertaram a cobiça de políticos de alguns estados não--produtores que por sua vez pressionaram o governo federal pela mudança dos critérios de distribuição dos Royalties e da Participação Especial oriunda da produção petrolífera.

Em função desta pressão política, o Governo Federal criou uma Comissão Interministerial para discutir o tema. A dis-cussão interna desta Comissão durou até 31 de agosto de 2009 quando foram apresentados quatro Projetos de Lei e que foram imedia-tamente enviados pelo Poder Executivo para o Congresso Federal sem qualquer discus-são prévia com a Sociedade Brasileira, Setor Industrial, Governos Estaduais ou Municipais:

• PL 5.938/08 - Dispõe sobre a exploração e a produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de partilha de produção, em áreas do pré-sal e em áreas estratégicas, alte-ra dispositivos da Lei nº. 9.478, de 6 de agosto de 1997, e dá outras providências.

• PL 5.939/08 - Autoriza o Poder Executivo a criar a empresa pública denominada Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S/A - Pré-Sal S/A, e dá outras providências.

• PL 5.940/08 - Projeto do pré-sal que cria o Fundo Social - FS com a finalidade de cons-tituir fonte regular de recursos para a reali-zação de projetos e programas nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento da educação, da cultura, da ciência e tecno-logia e da sustentabilidade ambiental.

• PL 5.941/08 - Autoriza a União a ceder onerosamente a Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRAS o exercício das ativida-des de pesquisa e lavra de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos flui-dos de que trata o inciso I do art. 177 da Constituição, e dá outras providências.

Destes projetos, o que estabelece o Regime de Partilha de Produção nos campos da área do Pré-Sal foi aprovado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados sob Lei nº 12.351/10 e que também criou o Fundo Social. A empresa Pré-Sal Petróleo S/A foi criada através da Lei nº 12.304/10 e a cessão onerosa à PETROBRAS foi autorizada pela Lei nº 12.276/10.

2.1. Discussão sobre os Projetos de Lei

Durante as discussões sobre a mudança do Marco Regulatório do Petróleo, o único consenso que houve entre Governo Federal, sua base, oposição e sociedade é a idéia de transformar a renda do petróleo desta região em benefício para a sociedade brasileira. Quanto ao modus operandi, as divergências foram muitas: existiam correntes que advo-gavam que todas as intenções propostas nos Projetos de Lei podem ser alcançadas sem mudanças radicais no Marco Regulatório do Petróleo, bastando apenas ajustes pontuais tais como a mudança das alíquotas e das faixas de cobrança na Participação Especial, o que se-

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gundo seus defensores traria agilidade ao pro-cesso de mudança e tranquilidade ao mercado. Outras correntes contestavam argumentando que a propriedade do petróleo é ponto funda-mental para melhorar a posição geopolítica do Brasil no cenário mundial, justificada pela crescente escassez dessa commodity.

Eram vários os argumentos e os contra--argumentos que falavam muito do “como fazer”. Porém, a principal discussão é a linha política que o Estado Brasileiro quer seguir: em um extremo, um Estado fortemente pre-sente nos processos decisórios e por vezes vis-to como autoritário, ou no outro extremo um Estado aberto à atração de investimentos es-trangeiros e visto por outros como neoliberal. As lacunas que ficaram sem discussão ou sem um consenso foram muitas.

2.2. A mudança do regime de contrato

Atualmente, o único tipo de Contrato vi-gente entre a União e as empresas de produ-ção de petróleo e gás natural é o de Concessão (Com exceção de alguns poucos contratos de risco que ainda estão em vigor). A Lei n° 12.351 de 22 de dezembro de 2010 trata da in-serção do contrato para o Contrato de Partilha para a área do Pré-Sal e outras áreas de espe-cial interesse. Ainda aguarda-se a realização da primeira rodada de licitação, pós-mudança do Marco Regulatório, para que sejam fir-mados os primeiros contratos de partilha no Brasil. Os Contratos de Partilha mudam de acordo com os interesses estratégicos, políti-cos e econômicos de cada país. A justificativa utilizada para a mudança foi aumentar a apro-priação dos recursos gerados pela exploração dos hidrocarbonetos do Pré-Sal, que segundo a justificativa não apresenta “risco” para quem for explorá-la, e o controle estratégico desses recursos. Tais justificativas não se sustentam quando discutidas mais aprofundadamente:

2.3. Apropriação dos recursos gerados

Além do IRPF e outros impostos, a ma-neira mais simples da União se apropriar de parte dos recursos gerados pela exploração do petróleo são os Royalties e a Participação Especial,pois não há o envolvimento direto da União e seus representantes na produção do

petróleo. No caso dos Royalties, a alíquota a ser recolhida pelos concessionários e seus cri-térios de distribuição foram criados pelas leis 7.990/89 e 9.478/97. Já a Participação Especial foi criada pela lei 7.990/89 e a alíquota a ser re-colhida por ela e seus critérios de distribuição foram estabelecidos pelo Decreto 2.705/98.

O fato da alíquota a ser recolhida e dos cri-térios de distribuição da Participação Especial terem sido regulamentados através de um decre-to (Decreto 2.705/98), concede ao Presidente da República, o direito de através de um novo de-creto, alterar a alíquota e os critérios de distribui-ção. O que não é possível fazer para os Royalties, pois os mesmos foram estabelecidos por uma lei. Tais mudanças, no caso dos Royalties, deman-dariam a aprovação das propostas pela Câmara de Deputados e pelo Senado para uma posterior sanção do presidente.

Considerando que os Royalties têm um caráter compensatório, enquanto a Participação Especial tem um caráter taxativo, portanto se a União quisesse sobretaxar as grandes produ-ções de petróleo, bastaria alterar as alíquotas e os critérios da Participação Especial através de um decreto presidencial (Dourado, 2010).

2.4. Controle estratégico da produção de petróleo

Outro argumento utilizado para a mudan-ça do tipo de contrato foi o controle estratégi-co da produção de petróleo. A tese novamente não se sustenta, pois o atual modelo permite o controle estratégico da produção de petróleo pela União através do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), cuja função é de-terminar a política do uso de energia no país e garantir o fornecimento dela de maneira eco-nômica e sustentável e pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), cuja função é regular o setor de petróleo, gás natural e biocombustí-veis. O CNPE é responsável por determinar as regiões de exploração e a velocidade das li-citações, delineando a Política Energética do país e aprovando as áreas indicadas pela ANP que por sua vez aprova os planos de produção dos campos a serem explorados e fiscaliza a produção. Em caso de situação de emergên-cia, a destinação do petróleo (exportação ou consumo interno) pode ser estabelecida pelo CNPE e pela ANP em conjunto.

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Deste modo, não era condição imprescin-dível à mudança do regime de contrato para aumentar a apropriação dos recursos gerados pela exploração dos hidrocarbonetos bastando a alteração de alíquotas e critérios de distribui-ção da Participação Especial (Dourado, 2010).

2.5. Dúvidas e pontos que não esclareci-dos durante a tramitação

Durante a tramitação dos projetos algu-mas dúvidas sobre as proposições não foram esclarecidas, como por exemplo:

2.6. A delimitação do Pré-Sal

O conceito Pré-Sal é geológico e não geo-gráfico. No Brasil está relacionado a rochas re-servatórios de idade pré-Aptiniana, pois seu selo é um sal depositado durante o Aptiniano (Idade do Cretáceo Inferior da era Mesozóica do éon Fanerozóico compreendida entre 125 milhões e 112 milhões de anos (ICS, 2004).). Na Figura 4, podemos observar o polígono definido pela Lei n° 12.351/2010 que define os limites da área do Pré-Sal. Aparentemente, estes limites estão relacio-nados à batimetria do litoral brasileiro no trecho em questão e às descobertas de hidrocarbonetos conhecidas na região. O projeto de lei ainda prevê a criação de novas áreas a serem licitadas sob o re-gime de Partilha de Produção, mas não especifica quais critérios técnicos para enquadrá-las.

Apesar do conhecimento limitado sobre as áreas onde existem rochas com as características geológicas do Pré-Sal, dados técnicos (a partir de poços de exploração) indicam a inexistência de reservatórios em partes da área delimitada pela lei como Pré-Sal. A área delimitada como Pré-Sal reúne regiões com características geológicas e de economicidade diferentes em apenas um conjunto. Esse fato poderá prejudicar áreas, então não promissoras, que serão obrigadas a ser licita-das sob os critérios dos Contratos de Partilha de Produção, que poderiam ser promissoras se licita-das sob o Contrato de Concessão.

Ainda existe o problema de reservatórios que estão localizados sobre o sal Apitiano, ou seja, fora da camada Pré-Sal, tenham que ser licitados usando a modalidade de contrato de Partilha de Produção, o que vai de encontro a proposta original da aplicação desse tipo de contrato (Dourado, 2010).

2.7. Os Royalties

Os Royalties são compensações finan-ceiras devidas a União, Estado e Municípios em função do empobrecimento de seu espaço geográfico. Não podemos esquecer que bem mineral pertence à União, nem que o espaço geográfico permeia as três esferas de governo.

É necessário estabelecer uma forma que não prejudique os estados e municípios pro-dutores. Para isso, essa diferença teria origem no aumento da alíquota retida da produção para os Royalties. A proposta seria a criação de uma nova da alíquota dos Royalties de 5% da produção bruta de petróleo e/ou gás natu-ral, que sobre posta aos 10% atuais somaria o total de 15% da produção bruta. Esses 5% adicionais poderiam ser destinados ao Fundo Especial de Estados e Municípios ou distri-buído apenas aos Estados e Municípios não produtores, o que aumentaria assim o acesso de todos os estado e municípios da federação às riquezas geradas pela produção desse bem mineral (Dourado, 2010).

2.8. A extinção da Participação Especial (PE)

Em função da natureza dos Contratos de Partilha de Produção, a Lei n° 12.351/2010 não contempla o pagamento de Participação Especial. Dados históricos mostram a Participação Especial como um instrumento mais eficaz na apropriação dos recursos gera-dos pela produção de petróleo no Brasil do que os Royalties. Apesar das inúmeras deduções possíveis, nos últimos anos, a Participação Especial tem apresentado um volume 1,7 ve-zes maior que arrecadação dos Royalties.

Sua extinção acarretaria um grande prejuízo aos estados e municípios produto-res. Os recursos destinados ao pagamento da Participação Especial terminaram sendo dis-tribuídos entre a Operadora e a União, pois a PE deixará de ser um custo, passará a fazer parte dos lucros que por sua vez, pelo Contrato de Partilha, serão divididos, de acordo com um contrato prévio, entre a Operadora e a União.

A manutenção da cobrança da Participação Especial seria outra forma de aumentar a participação nos lucros da ativi-dade petrolífera. Para potencializar essa par-

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ticipação, o Governo Federal poderia ainda estabelecer que a Participação Especial não fosse mais deduzida do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), que é recolhido pela União e apenas parte dele vai para o Fundo de Participação de Estado e Municípios que é distribuído entre todos os estado e municípios da federação como vimos no tópico anterior (Dourado, 2010).

O Bônus de Assinatura

O Bônus de Assinatura é um instrumen-to que não é utilizado no mercado internacio-nal em Contratos de Partilha de Produção. Podemos considera-lo uma forma de ante-cipação das receitas para União, pois poste-riormente pode ser deduzido no pagamento da Participação Especial. É uma receita total-mente destinada à União, não é compartilhado com os estados e municípios e como foi cita-do anteriormente ainda pode ser deduzido na Participação Especial, diminuindo a arrecada-ção de estados e municípios.

Sua extinção também seria um grande prejuízo para o Brasil para o plano atual de crescimento do país, assumindo que sem os Bônus de Assinatura, a arrecadação de um campo de petróleo ou gás natural só acontece-ria quando o mesmo entrasse em operação, ou seja, de 6 a 10 anos após sua licitação.

Considerando que o Bônus de Assinatura é um processo de aquisição de ativos para a empresa e considerando que o preço médio de venda/aquisição de ativos (de reservas prova-das) no mercado internacional de US$ 10,00/barril, temos que, se comprovado o potencial de até 80 bilhões de barris de reserva provadas no Pré-Sal (após certificação dos recursos) a União poderia arrecada até 800 bilhões de dó-lares em Bônus de Assinatura (Dourado, 2010).

2.9. Operadora única

Na Lei n° 12.351/2010 foi estabelecido que a Petrobras seja a única empresa autori-zada a operar os campos de produção no Pré-Sal. A Petrobras ainda será obrigada a ter um mínimo de 30% de participação em todas as áreas a serem exploradas no Pré-Sal. Partindo dessa obrigatoriedade alguns problemas irão acontecer:

• A Petrobras será obrigada a entrar em áreas que não tem interesse comercial; e

• O enfraquecimento da indústria de for-necedores de bens e serviços, devido ao número restrito de compradores.

Essa determinação poderá levará ao en-fraquecimento do mercado de bens e serviços do setor de petróleo no Brasil devido ao fato de haver apenas um e somente um comprador. O mercado brasileiro de engenharia e de pro-dução de bens fica completamente limitado, utilizando unicamente as especificações da PETROBRAS, criando um empecilho para a internacionalização do setor e dificultando que o Brasil desfrute de tecnologias diferentes existentes em outras regiões do planeta.

Uma análise histórica da PETROBRAS mostra que a abertura do setor de petróleo no Brasil fortaleceu a empresa. A confirmação da existência de reservatórios com hidrocarbo-netos no Pré-Sal ocorreu após a abertura do mercado. Dos 14 bilhões de barris de reservas provadas atuais, quase 8 bilhões foram incor-porados após essa abertura (Dourado, 2010).

2.10. A nova estatal para comercializar a cota-parte da união nos novos Contratos de Partilha – a Pré-Sal S/A

Os Contratos de Partilha pressupõe a exis-tência de um representante da União que será responsável pela gerência e venda da cota-parte em petróleo devida pela Operadora à União. Na Lei nº 12.304/10, o Governo criou uma nova es-tatal que será responsável pela comercialização do petróleo produzido através dos Contratos de Partilha. Em cada bloco de concessão haverá um Comitê de Operação onde a nova estatal terá poder de veto sobre as decisões. Como vi-mos no item anterior, ainda há a exigência que a Petrobras tenha no mínimo 30% de participa-ção em cada bloco de produção.

Baseado nesses fatos pressupõe-se que devido ao excessivo controle da União e da obrigatoriedade da PETROBRAS como ter-ceira “sócia” e operadora, a atração de novos players internacionais provavelmente seja reduzida. É possível que apenas empresas estatais de petróleo de países com crescente demanda de petróleo (e.g. NOCC/China) e alguns fundos internacionais de investimento

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tenham interesse em participar das licitações de blocos no Pré-Sal (Dourado, 2010).

A criação do Fundo Social

Proposto inicialmente pela PL 5.940/08, a proposta de criação do Fundo Social foi fun-dida com a PL 5.938/08 e deu origem a Lei nº 12.351/10, a lei que cria o Regime de Partilha de Produção. O Fundo Social tem como obje-tivo constituir fonte regular de recursos para a realização de projetos e programas nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento da educação, da cultura, da ciência e tecno-logia e da sustentabilidade ambiental. Esse Fundo Social é conhecido em outros países como Fundo Soberano. Este fundo receberá recursos diretos da União, dos Royalties, do Bônus de Assinatura e parte dos lucros da nova estatal criada para gerenciar os recursos oriundos da venda da cota-parte devida pela Operadora à União em função dos Contratos de Partilha. A gerência dos recursos será reali-zada por um Comitê de Gestão Financeira cujo objetivo é buscar a rentabilidade, a segurança e a liquidez de suas aplicações, e assegurar sua sustentabilidade financeira para o cumpri-mento das finalidades do fundo e um Conselho Deliberativo do Fundo Social cuja atribuição é deliberar sobre a prioridade e a destinação dos recursos resgatados.

Em geral os Fundos Soberanos são com-postos por títulos de países com economias sólidas (exceto a do país proprietário do fun-do) e de empresas altamente qualificadas eco-nomicamente (considerando rentabilidade e segurança) excetuando empresas que tenham atividades econômicas no setor de petróleo. O objetivo destas restrições é blindar o Fundo Soberano de impactos negativos gerados pela economia local do país e das variações do mercado internacional de petróleo.

Na distribuição dos Royalties, além das compensações à União e aos estados e muni-cípios produtores, a Lei do Petróleo anterior prevê (ainda em vigor nos contratos de con-cessão) um percentual da arrecadação para o Fundo Especial de Estados e Municípios que contempla todos os estados e municípios da federação. Os recursos desse fundo são dis-tribuídos da mesma forma que o Fundo de Participação de Estados e Municípios, ou seja,

proporcionalmente à população e inversamen-te proporcional ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sendo 20% do total arreca-dado distribuído para todos os estados e o Distrito Federal e 80% para todos os municí-pios da federação.

Então qual a necessidade da criação do um novo Fundo Social? Para aumentar o aces-so dos benefícios gerados pela exploração des-te bem mineral a toda a população brasileira, sem a criação de nada novo, bastaria aumen-tar a alíquota destinada ao Fundo Especial de Estados e Municípios.

Outro ponto temerário é que no proces-so de capitalização da PETROBRAS grande parte das ações disponibilizadas na oferta de ações da empresa foi adquirida pelo Fundo Soberano contrariando as prerrogativas apre-sentadas no parágrafo anterior. Esse fato ex-põe o Fundo Soberano às variações que as ações da PETROBRAS sofrerem no mercado (Dourado, 2010).

A capitalização da Petrobras

A capitalização tem como objetivo dar acesso à empresa aos recursos financeiros necessários para a exploração e a produção dos hidrocarbonetos da camada Pré-Sal pre-vistos no Plano de Negócios 2010-2014 da PETROBRAS (Petrobras, 2010a). A União, como principal acionária da empresa, fez a cessão onerosa de cinco bilhões de barris, atra-vés da Lei nº 12.276/10, em uma área de 3.865 km² na bacia de Santos, dentro do “Cluster do Pré-Sal”. Essas reservas foram “transforma-das” em recursos contábeis e serviram como aporte da União no processo de capitalização. Posteriormente esses recursos contábeis serão ajustados de acordo com os resultados da ven-da da produção desses 5 bboe. O restante dos recursos veio da aquisição de novas ações que os atuais acionistas tiveram direito de adquirir devido ao aumento de capital realizado pela União. Parte das ações que foram ofertadas a estes acionistas e que não forem adquiridas, a própria União adquiriu, prioritariamente, e o restante foi ofertado ao público em geral no mercado de capitais. Segundo comunicação da empresa, dados preliminares apontam que esse processo captou entre 75 e 100 bilhões de Reais (Petrobras, 2010b).

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A Tabela 3 lista os cinco blocos que for-necerão os cinco bilhões de barris do contrato de cessão onerosa. Note na Tabela 3, uma área chamada Peroba que foi contingenciada, ou seja, bloqueada para novas licitações. Esta área só será utilizada caso não seja possível extrair os 5 bboe das seis outras áreas cedidas. Será de Peroba retirada a diferença restante para alcan-çar os 5 bboe do contrato de cessão onerosa .

Dois pontos chamam atenção no proces-so: a. O volume potencial total de recursos da área contingenciada é quase o dobro do volu-me inicialmente concedido. b. Segundo a lei aprovada, os 4,87 bboe excedentes na área es-tão bloqueados, ou seja, impedidos de serem leiloados e poderão ser posteriormente incluí-dos oficialmente na cessão onerosa, caso seja interesse da União.

O Plano de Negócios 2010-2014 prevê um montante US$ 33 bilhões. Esses recursos não serão suficientes para todo o desenvolvi-mento dos prospectos conhecidos na camada “Pré-Sal”, mas serão suficientes para o inicio dos investimentos e provavelmente os lucros gerados pela exploração do “Pré-Sal” será re-investido na continuidade da exploração e de-senvolvimento destes prospectos.

Outro ponto que deve ser observado é que a PETROBRAS é a uma empresa pública de capital misto. Em Julho de 2010, 33% de todas as ações da empresa pertenciam à União, entre as ações ordinárias a participação era de 51% (IBOVESPA, 2010a) e após o processo de capitalização, os percentuais subiram para 43% e 58% respectivamente (IBOVESPA, 2010b). Desta forma qualquer benefício finan-ceiro dado à Petrobras, assim como o paga-mento de dividendos por ação, a União será diretamente beneficiada, mas também os de-mais acionistas, sejam eles investidores nacio-nais ou estrangeiros (Dourado, 2010).

3. Conclusões

A inclusão de um novo tipo de contrato, o de Partilha de Produção, parece não ser uma obri-gatoriedade para que a União alcance o objetivo de garantir uma maior participação do Estado e da sociedade nos recursos advindos da produção do petróleo oriundo da camada Pré-Sal.

Ficou claro que a inclusão de uma nova alíquota de Royalties, aos mesmos moldes da Lei 9.748/97 regulamentada pelo Decreto 2.705/98, para os novos contratos e a altera-ção dos parâmetros (profundidade, produtivi-dade, etc...) para o cálculo do pagamento de Participação Especial, assim como de suas alíquotas, são formas de aumentar a partici-pação do Estado e da sociedade nos recursos advindos da produção do petróleo oriundo da camada Pré-Sal sem a inclusão de um novo re-gime de contrato.

A justificativa de que a União precisa ter um controle maior sobre a produção e expor-tação de petróleo e gás natural para a inclu-são de um novo tipo de contrato no Marco Regulatório do Petróleo no Brasil, chega a ser um insulto a Agencia Nacional do Petróleo e ao Conselho Nacional de Política Energética que têm a atribuição legar e o dever de exercer esses controles.

A própria criação do Fundo Social se fa-zia desnecessária visto que o Fundo Especial de Participação dos Municípios e o Fundo Especial de Participação dos Estados, que já existem, poderiam ser regulamentados para o mesmo fim, sem a necessidade da criação de um novo fundo.

Além desses itens, outros pontos como a capitalização da Petrobras, sua escolha como operadora única, a criação de uma nova esta-tal, a Pré-Sal S/A, o bônus de Assinatura em contratos de Partilha de Produção, a extinção Participação Especial (PE) e a delimitação geográfica e não geológico dos limites do Pré-Sal foram pontos que, ou não foram esclareci-dos, ou suas justificativas não foram a contento.

Esse processo de alteração do tipo de con-trato para os campos da região delimitada como Pré-Sal além de atrasar em pelo menos quatro anos a exploração dos prospectos, abalou a cre-dibilidade do setor no mercado internacional devido à mudança radical no tipo de contrato.

Por fim, observou-se então que as mu-danças impostas foram muito mais ligados às diretrizes políticas-filosóficas de uma política de Governo do que uma política de Estado cuja intenção seria aumentar a apropriação pelo Estado dos recursos provenientes da pro-dução de petróleo e gás natural no Brasil.

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Endereço para Correspondência:

Francisco [email protected]

Universidade do Estado do Rio de JaneiroRua São Francisco Xavier, 524 sala 2019/ARio de Janeiro - RJCEP: 20550-900

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5. Tabelas, figuras e gráfico.

Tabela 1 – Tipos de acordos comerciais na indústria do petróleo no mundo (Compilado de Van Meurs, 2008 e Johnston, 2002)

Sistemas ModelosComo funcionam os modelos

Direitos exclusivos de exploração e produção

Proprietário da Produção

Países

ConcessãoConcessões (Concessions ou CA)

Empresas privadas adquirem através de leilões as concessões. Todo o produto extraído é de propriedade das empresas, mas elas são obrigadas a pagar impostos e royalties.

Empresa Empresa

Brasil, USA, UK, Noruega, Dinamarca, Holanda, Austrália, Nova Zelândia, Rússia, Argentina, Venezuela e Arábia Saudita.

Contrato

Partilha de produção (Production-sharing contracts ou PSC)

A empresa estatal se associa a companhias privadas para cuidar da prospecção. É o investidor que assume o risco. Em caso de sucesso, ele recebe uma parte da produção.

GovernoGoverno e Empresa

Indonésia, Malásia, China, Paquistão, Yemen, Oman, Síria, Rússia, Egito, Ligia, Algeria, Nigéria, Angola e Trinidad&Tobago.

Contrato de Serviço (Service Contracts ou SC)

Simples

A empresa privada produz e o Estado indeniza ou paga por barril produzido.

Governo GovernoVenezuela, México e Irã

Contrato de Risco (Risk-service agreements)

Com ou sem risco para o concessionário. Este não possui qualquer título sobre o petróleo extraído.

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Tabela 2 – Government take e os tipos de contrato no mundo (adaptado de Gaffigan, 2007)

País Tipo de ContratoGovernment Take (%)

1997 2002 2006

Angola PCS 59.93 81-88

Argentina CA 40.50 46.93 47-49

Austrália CA 61.20 45.51 53-56

Azerbaijão PCS 61.54

Brasil CA 60.19

Canadá CA 57.40 35.17

Cazaquistão PCS 35.10 51.88 83-88

China PCS 74.10 42.81 72-77

Dinamarca CA 47.20

Egito PCS 63.60 73.04 79-82

Estados Unidos CA 64.24 48-51

Holanda CA 41.92

Iêmen PCS 74.60 75.36 72-79

Índia PCS 66.82 61-69

Indonésia PCS 85.00 71.01 69-71

Irã SC 93.26

Líbia PCS 78.73

Malásia PCS 67.40 81.24 69-74

México SC 30-32

Nigéria PCS 85.00 87.44

Noruega CA 84.20 74.74

Nova Zelândia CA 37.51

Omã PCS 83.19

Paquistão PCS 58.90 45.46

Reino Unido CA 33.40 43.54

Russia CA/PSC 81.40

Síria PCS 84.50 83-87

Trinidad e Tobago PCS 68.20 69.00 62-66

Venezuela CA/SC 95.10 49.56 88-93

CA-Concessão SC-Contrato de serviço

PSC-Contrato de partilha Tipo Misto

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Tabela 3 – Campos cedidos pela União à Petrobras para sua capitalização (adaptado de PETROBRAS, 2010b)

BlocoVolume Cedido

(mboe)Volume potencial

da área (mboe)Valor do barril

(US$)

Franco 3.058 6.056 9,04Entorno de Iara 611 1.088 5,82

Florim 292 292 9,01NE Tupi 291 291 8,54

Sul Guará 144 144 7,94Sul Tupi 203 203 7,85

Sub-Total/Preço médio 5.000 8.074 8,51Peroba* 1.069 1.796

Total/Preço médio 6.069 9.870 8,51

* Bloco Contingente

Figura 1 – Distribuição dos Royalties relativos à produção na plataforma continental (adaptado de Barbosa, 2001)

Figura 2 – Fluxograma de pagamento dos Royalties (adaptado de Barbosa, 2001)

Figura 3 – Beneficiários da Participação Especial (adaptado de Barbosa, 2001)

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Figura 4 – Limites da área do Pré-Sal (fonte da base cartográfica: BDEP, 2010)

Gráfico 1 – Arrecadação desde 2000 em Bônus de Assinatura (Dourado, 2010)

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Efeito do duplo envelhecimento nas propriedades da liga ti-12mo-13nb

Effect Of Double Aging In The Properties Of Ti-12Mo-13Nb Alloy

Thallys Fillip Barbosa Vieira 1

Juliana Torres 1

Mauricio Bessa de Oliveira 1

Emanuel Santos Jr. 2

Luiz Henrique de Almeida 2

Carlos Angelo Nunes 3

Jean Dille 4

Sinara Borborema Gabriel 3

ResumoLigas de Ti do tipo β tem sido muito estudadas para aplicação em disposi-tivos biomédicos por apresentarem um balanço de vantagens em relação às outras ligas de Ti, tais como alta relação resistência / densidade, excelente resistência à fadiga e, além disso, tendem a apresentar o menor módu-lo dentre todos os tipos de ligas. Contudo, para um material ser utilizado como implante ortopédico é necessário um balanço entre alta resistência e baixo módulo de elasticidade. Estudos mostram que não é trivial obter simultaneamente baixo módulo de elasticidade e alta resistência nas ligas de Ti. Várias microestruturas podem ser obtidas por diferentes tratamen-tos de envelhecimento os quais influenciam várias propriedades das ligas e, portanto um satisfatório tratamento de envelhecimento poderá resultar num melhor balanço entre baixo módulo de elasticidade e alta resistência. Há vários tratamentos de envelhecimento que podem ser realizados em uma liga β metaestável. Um destes é o duplo envelhecimento, que consiste em dois processos. Realiza-se um envelhecimento em uma temperatura em torno de 250 ºC que favoreça a precipitação da fase ω (isotérmica) e um subsequente envelhecimento numa temperatura maior para a precipi-tação de fase α. O foco deste envelhecimento é obter uma precipitação de fase α mais fina e uniforme. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi estudar o efeito do duplo envelhecimento nas propriedades da liga Ti--12Mo-13Nb. A liga Ti-12Mo-13Nb foi processada termomecanicamente e passou por um duplo envelhecimento que consistiu primeiramente num envelhecimento na temperatura de 300 ᵒC por 10 min, 45 min e 3 h e um subsequente envelhecimento na temperatura de 500 ºC por 24 h. Como resultado foi observado que não houve variação significativa na dureza e no módulo de elasticidade com a variação da fração volumétrica da fase ω durante o envelhecimento prévio da temperatura externa.

Palavras-chave

Ligas de Titânio

Propriedades

Duplo envelhecimento

Recebido em 09/2012

Aprovado em 12/2012

ArtigoOriginal

Original Paper

1 Acadêmico do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA2 Doutor em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro3 Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP-Campinas4 Doutor em Engenharia de Materiais pela Université Libre de Bruxelles – ULB – Bruxelas, Bélgica5 Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro

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Abstract Ti alloys have been widely studied for use in biomedical devices because they have a advantages over other Ti alloys, such as high ratio strength / density, excellent fatigue resistance and, moreover, tend to have the lowest modulus among all types of alloys. However, materials to be used as orthopedic implants require a balance of high strength and low modulus. Studies have shown that it is not trivial to achieve both low modulus and high strength in Ti alloys. Several microstructures may be obtained by various aging treatments which influence various properties of the alloys, and therefore a satisfactory treatment of aging may result in a better balance between low modulus and high strength. There are several aging treatments that may be performed in a metastable β alloy. One of them is the double aging, which consists of two processes. Aging is carried out at a temperature around 250 ° C, which favors the precipitation of ω phase (isothermal) and a subsequent aging at a higher temperature for the precipitation of α phase. The focus of this aging process is to obtain a precipitation of α phase more thin and uniform. Of this form, the objective of this study was to study the effect of double aging on the properties of the Ti-13Nb-12Mo alloy. The Ti-13Nb-12Mo was thermomechanically processed and passed through a double aging consisting first aging at a temperature of 300 ° C for 10 min, 45 min and 3 hours and a subsequent aging at a temperature of 500 ° C for 24 h. As a result it was observed no significant variation in hardness and modulus with the variation of volume fraction of ω phase during aging prior.

Keywords

Ti alloys

Properties

Double Aging

1. INTRODUÇÃO

O aumento da expectativa de vida da po-pulação em geral tem acarretado um maior nú-mero de pessoas idosas, principalmente nos paí-ses desenvolvidos (Gunawarman et al., 2005) e isso têm conduzido a um contínuo aumento na demanda de materiais para implantes biomédi-cos (Oliveira, 2008). Estima-se que, próximo a 2030 serão realizadas por ano aproximadamente 272 mil substituições totais de quadril somente nos Estados Unidos (Rack, 2006).

Doenças ósseas degenerativas, tais como osteoporose, artrites reumáticas e hipercalce-mia são um problema crescente, que podem levar a necessidade de cirurgia utilizando ma-teriais para substitutos ósseos. Um substituto ósseo necessita exibir várias características a fim de ser satisfatório (Boehlert et al., 2005). Algumas destas características incluem bio-compatibilidade, excelente resistência à cor-rosão em meio corpóreo e apropriadas pro-priedades mecânicas em serviço, como alta resistência mecânica e boa resistência à fadiga para garantir uma operação segura do implan-te durante o período de tempo estimado, baixo módulo de elasticidade, baixa densidade e boa resistência ao desgaste (Nag et al., 2007).

Os materiais metálicos convencionais mais utilizados como implantes ortopédicos são: o aço inoxidável, as ligas Co-Cr e Ti co-

mercialmente puro (cp) e suas ligas, sendo que nesta classe a mais utilizada é a Ti-6Al-4V. Dentre os materiais metálicos, Ti e suas ligas são os que apresentam menor módulo de elas-ticidade, sendo este, um fator chave para o ma-terial ser usado como substituto ósseo (Zhou, 2008), pois possibilita uma melhor distribui-ção de tensão entre o implante e o osso.

Dessa forma, Ti e suas ligas são utiliza-dos em aplicações ortopédicas como placas, pinos, parafusos e endoprosteses. O Ti cp tem sido, gradualmente substituído por ligas, por estas apresentarem maior resistência mecâ-nica, sendo que a liga mais freqüentemente utilizada é a Ti-6Al-4V (Ando et al, 2008). Contudo, estudos desta particular liga têm mostrado que a liberação de pequenas quanti-dades dos elementos V e Al no corpo humano podem induzir efeitos citotóxicos e desordens neurológicas, respectivamente (Cremasco et al, 2008; Raabe et al, 2007; Vadiraj, 2007). Embora a liga Ti-6Al-4V apresente um menor módulo de elasticidade quando comparada com o aço inoxidável e as ligas de Co-Cr, esse valor (110 - 120 GPa) é alto comparado ao do tecido ósseo (~10 - 40 GPa). A diferença entre o módulo do metal e do tecido ósseo pode re-sultar em reabsorção óssea e eventual falha do implante (Hon et al., 2003).

Estudos recentes têm visado o desen-volvimento de novas ligas de Ti, do tipo b,

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compostas de elementos não tóxicos, como Nb, Ta, Mo, Zr e Sn. As vantagens destas li-gas incluem seu baixo módulo de elasticidade, boa compatibilidade mecânica (Matsumoto et al., 2008) e além disso, as variáveis de pro-cessamento podem ser controladas para obter propriedades desejadas (Oliveira et al., 2007). Nessa classe, as ligas na condição b metaestá-vel têm ganhado aceitação para aplicação em dispositivos biomédicos por apresentarem um balanço de vantagens em relação às outras li-gas de Ti, tais como alta relação resistência / densidade, excelente resistência à fadiga e re-sistência à propagação de trinca e, além disso, tendem a apresentar o menor módulo dentre todos os tipos de ligas.

Contudo, para um material ser utilizado como implante ortopédico é necessário um balanço entre alta resistência e baixo módulo de elasticidade (Zhou, 2008). Estudos mos-tram que não é trivial obter simultaneamente baixo módulo de elasticidade e alta resistência nas ligas de Ti. A superioridade das ligas de Ti-b (metaestável) é mais pronunciada na con-dição tratada e envelhecida, na qual o tama-nho de grão b, fração volumétrica, morfolo-gia, tamanho e espaçamento dos precipitados (Matsumoto et al., 2007) controlam os níveis de resistência. Já o módulo de elasticidade é uma medida de rigidez do material determi-nado pelas forças de ligação entre os átomos. Já que essas forças não podem variar sem que ocorram mudanças básicas na natureza do ma-terial, o módulo de elasticidade pode ser afeta-do pela adição de elementos de liga, tratamen-tos térmicos e mecânicos (Zhou, 2008). Em um material, diferentes fases têm diferentes valores de módulo de elasticidade e, portanto o módulo de elasticidade de uma liga multi-fásica é principalmente determinado pelo mó-dulo de elasticidade de cada fase (varia com a composição química) e suas frações volumé-tricas. ( Majumdar et al., 2008, Zhou, 2008). Várias microestruturas podem ser obtidas por diferentes tratamentos de envelhecimento os quais influenciam várias propriedades das li-gas e, portanto um satisfatório tratamento de envelhecimento poderá resultar num melhor balanço entre baixo módulo de elasticidade e alta resistência (Zhou et al., 2004).

Estudos propostos por Li et al. (2008) para a liga Ti-24Nb-4Zr-7,6Sn envelhecida

entre 350 e 500 °C mostraram que a precipi-tação de fase α na matriz b durante o trata-mento de envelhecimento ocorreu na forma de agulhas e quanto menor a temperatura de en-velhecimento menores os precipitados. A liga exibiu um significativo endurecimento duran-te o envelhecimento a curto tempo em baixa temperatura. Devido à supressão da fase ω, foi possível obter um balanço de propriedades como alta resistência e baixo módulo através do tratamento de envelhecimento. É mostra-do na literatura que a precipitação de w atua como precursor para a fina precipitação de a.

Há vários tratamentos de envelhecimen-to que podem ser realizados em uma liga β metaestável. Tem-se o chamado duplo enve-lhecimento que consiste em dois processos. Realiza-se um envelhecimento em uma tem-peratura em torno de 250 ºC que favoreça a precipitação da fase ω (isotérmica) e um subseqüente envelhecimento numa tempe-ratura maior para a precipitação de fase α. Normalmente este tipo de envelhecimento é feito em sistemas onde a fase ω precipita na forma de partículas elipsoidais. O foco des-te envelhecimento é obter uma precipitação mais fina e uniforme da fase α. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi estudar o efeito da fase ω na precipitação da fase α durante o envelhecimento nas propriedades da liga Ti-12Mo-13Nb.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAl

A liga Ti-12Mo-13Nb foi forjada a frio até 80 % de redução em área, respectivamen-te. Em seguida passou por um duplo enve-lhecimento que consistiu em dois processos. Realizou-se um envelhecimento na temperatu-ra de 300 °C por 10 min, 45 min e 3h (Mansur et al., 2012) para a precipitação da fase ω (iso-térmica) e um subseqüente envelhecimento na temperatura de 500 °C por 24h para a precipi-tação de fase α.

As análises de fases da liga nas diferentes condições na forma polida foram realizadas por difração de raios-X (DRX) usando uma Shimadzu modelo DRX 6000 nas seguintes condições: radiação CuKa (l = 1,5418 Å) com

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monocromador de grafite, tensão de 40 kV, corrente de 30 mA, varredura (2q) de 30 a 90 graus, passo angular de 0,05 º e tempo de con-tagem de 5 s por ponto. As fases foram identi-ficadas através da comparação com difratogra-ma simulado. As simulações foram realizadas através do programa Powdercell (Kraus & Nolze, 1996) inserindo dados das fases β e α (Villars & Calvert, 1991), como grupo espa-cial, parâmetros de rede e posições atômicas.

A microdureza da liga nas diferentes con-dições (polidas) foi medida utilizando um equi-pamento Micromet 2004, Buehler, com uma carga de 200 gf durante 30 s. Os valores de mi-crodureza representam a média de 5 medidas.

O valor do módulo de elasticidade da liga foi obtido usando a técnica de indentação ins-trumentada usando um nanoindentador MTS.

Cada valor do módulo representa a média de 27 medidas.

3. Resultados e Discussão

3.1. Dureza e módulo de elasticidadeOs valores médios (com os desvios-pa-

drão) de microdureza Vickers e do módulo de elasticidade para a liga Ti-12Mo-13Nb na con-dição forjada, pré-envelhecida após forjamen-to na temperatura de 300°C por 10 min, 45 min e 3 h seguido de resfriamento em água e enve-lhecimento a 500 °C por 24h são mostrados na Tabela 1. Observou-se que não houve uma va-riação significativa na dureza e no módulo da liga independente do prévio envelhecimento.

Tabela 1- Dureza da liga Ti-12-Mo-13Nb em em diferentes condições de envelhecimento.

Condição (envelhecimento) Dureza (HV) Módulo (GPa)

300°C/10 min- 500°C/24h 348,8 ± 14,3 119,43 ± 1,75

300°C/45min- 500°C/24h 347,8 ± 30,2 120,76 ± 2,06

300°C/3h- 500°C/24h e 356,4 ± 31,2 118,67 ±1,86

3.2. Difração de raios X

A Figura 1 mostra o padrão de DRX da liga Ti-12Mo-13Nb após duplo envelhecimen-to a 300°C/45min - 500°C/24h. Verificou-se a

presença de reflexões da fase α na matriz β. O mesmo foi observado para as outras condições de envelhecimento. Além disso, não foi obser-vado variação da fração volumétrica da fase α nas diferentes condições.

Figura 1 – Difratograma da liga Ti-12Mo-13Nb após duplo envelhecimento a 300°C/45min - 500°C/24h

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De acordo com os resultados obtidos e com os estudos realizados por Mansur et al. (2012) que mostraram que o aumento do tempo de envelhecimento a 300°C acarretou no aumento da fração volumétrica da fase ω pode-se concluir que a variação da fração vo-lumétrica da fase ω (envelhecimento prévio) não acarretou numa variação microestrutural (após o duplo envelhecimento) visto que não houve uma variação expressiva nos valores de dureza e do módulo de elasticidade.

4. CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos foi observado que não houve variação significati-va da dureza e do módulo de elasticidade após o duplo envelhecimento (precipitação da fase α) com a variação da fração volumétrica da fase ω durante o envelhecimento prévio.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de Lorena (EEL/USP), a Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Núcleo de Pesquisa do UniFOA pelo desen-volvimento deste trabalho.

6. REFERÊNCIAS

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2. BOEHLERT, C.J., COWEN, C.J., JAEGER, C.R., et al., Tensile and fatigue evaluation of Ti-15Al-33Nb (at. %) and Ti-21Al-29Nb (at.%) alloys for biomedical applications, Materials Science and Engineering C, v. 25, p. 263-275, 2005.

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1 Bacharel em Engenharia Mecânica - UniFOA2 Professor Doutor do Curso de Engenharia Mecânica - UniFOA

Isolamento térmico de duto circular em escoamento laminar completamente desenvolvido de fluidos imiscíveis (Água-Óleo)

Circular duct thermal insulation in laminar flow completely developed in immiscible fluids (Water-Oil)

Artur Kimura1

Élcio Nogueira2

ResumoO objetivo principal deste trabalho foi o de efetuar uma análise relacionada com a espessura de isolamento térmico em regime laminar de fluidos imis-cíveis (água-óleo) em dutos circulares. O sistema água-óleo é utilizado, na prática, para diminuição da potência de bombeamento (perda de carga), através da introdução de um filme de água entre o óleo e a parede do duto. Demonstrou-se que existe, claramente, uma relação de compromisso en-tre o problema de redução da potência de bombeamento e o problema de máxima troca de energia na forma de calor. Nesse sentido, efetuou-se uma análise da espessura do isolante térmico necessário para manutenção da temperatura ótima de potência de bombeamento, em relação à variação da temperatura externa.

Palavras-chave

Isolamento Térmico

FluidosImiscíveis (água – óleo)

Transferência de Calor

Escoamento Laminar completamente desenvolvido

Perda de Carga

AbstractThe purpose of this paper is to analyze the thickness of insulation in the laminar regime of immiscible fluids (water-oil) in circular ducts. The oil-water is used in practice to reduce the pumping power by introducing a water film between the oil and the duct wall. It is shown that there is clearly a compromise between the problem of reducing the pumping power and the problem of maximum exchange of energy as heat. We propose, indeed, to analyze the thickness of thermal insulation required to maintain the optimum temperature pumping power in relation to the variation of external temperature.

Keywords

Thermal Insulation

Immiscible fluids (water - oil)

Heat Transfer

laminar flow completely developed

load waste

Recebido em 07/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

Resultados experimentais disponíveis na literatura para sistemas gás-líquido e líquido-lí-quido foram apresentados por Brauner (2001), Angeli & Hewitt (2000), Prada & Bannwart (1999), onde se demonstra que a forma mais interessante para transporte de óleo muito vis-coso, em escoamento horizontal, consiste de in-jeção de água na forma de camada anular lubri-ficante. Resultados teóricos para escoamento e transferência de calor, neste tipo de sistema, fo-ram apresentados por Nogueira e Cotta (1990), Bentwich & Sideman(1964), Hasson & Fink (1974) e Kimura & Nogueira (2011). Esses tra-balhos demonstram que a queda na pressão e a redução na potência de bombeamento, sob con-dições laminares, são maiores do que em con-dições de escoamento turbulento-turbulento. Brauner (2001) concluiu, também, que para um núcleo altamente viscoso, o regime, no núcleo, é essencialmente laminar, evidenciando que o estudo de um escoamento bifásico líquido--líquido em regime laminar é muito importante, tanto em termo teórico quanto prático. Nogueira (2002) efetua um estudo de transferência de ca-lor para sistemas líquido-líquido, demonstran-do que há um significativo aumento da taxa de transferência de calor quando uma camada de fluido de maior condutividade é inserido no es-coamento próximo à parede do duto.

Considerando aspectos relacionados com potência de bombeamento e transferência de calor, há evidências na literatura especializada, Nogueira (1988), Kimura e Nogueira (2011), de que há uma espessura de filme adequada, que leva em consideração esses dois fatores com o objetivo de se obter o melhor desempe-nho em termos de dissipação de energia.

Neste trabalho efetuam-se análises da es-pessura de filme e do isolante térmico necessá-

rios para que se possa trabalhar em condições ideais de operação, na condução de petróleo circundado por um filme de água em dutos cir-culares.

2. Objetivos

Este trabalho visa demonstrar que existe uma relação entre a espessura ótima de isola-mento térmico e a potência de bombeamento mínima, em que ocorre o escoamento de flui-dos newtonianos imiscíveis, em condições de regime laminar de escoamento anular com-pletamente desenvolvido e termicamente de-senvolvido. O objetivo principal é analisar a influência do isolamento térmico em duto cir-cular, nas condições de escoamento enunciadas (líquido-líquido, anular, horizontal). As gran-dezas de interesse na análise são: espessura de filme, potência de bombeamento, transferência de calor e espessura de isolante térmico, através da variação dos coeficientes de transferência de calor interno e externo. A análise efetuada con-sidera, como objetivo principal, a obtenção da espessura ideal do isolante, uma vez que esta espessura afeta significativamente a taxa de transferência de calor.

3. Desenvolvimento

3.1. Análise de escoamento

O escoamento laminar desenvolvido de fluidos Newtonianos imiscíveis em um duto cirular Figura 1, sem estratificação e com pro-priedades constantes, é analiticamente descrito pela seguinte forma já simplificada da equação de quantidade de movimento na direção axial, Nogueira (1988) e Kimura e Nogueira (2011):

Figura 1: Representação esquemática de escoamento anular de fluidos imiscíveis e parede do duto com isolante térmico

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Definindo-se

Quando se considera a vazão interna e total, e Q, iguais, tem-se as seguintes equações, de acordo com o desenvolvimento apresentado em Nogueira (1988):

Equações das quais se obteve a solução para a representação gráfica na Figura 2, que representa a relação entre as potências de bombeamento e a espessura de filme de água.

Figura 2: Gráfico da relação entre as potências com relação à espessura de filme e variação da relação de viscosidades

A partir dos resultados representados através da Figura 2, determinou-se a menor relação entre as potências de bombeamento, considerando-se a variação da relação entre

as viscosidades. Neste trabalho, Figura 3, ob-teve-se o ponto de mínimo, demonstrando-se que a menor relação entre as potências ocorre à temperatura de 9.4 ºC

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Figura 3: Ponto de mínimo para menores relações entre as potências, em função da relação entre as viscosidades.

Com a escolha do material do duto e conhecendo-se suas dimensões físicas, realizou-se uma análise para garantir escoamento laminar a partir das seguintes equações e dados abaixo (Tabela 1):

Tabela 1: Valores para o petróleo [Pitts e Sisson ( 1981 )]

Temperatura [ºC]

Viscosidade dinâmica

(μ μ) [Kg/ms]

Viscosidade cinética

(υ υ) [m²/s]

Peso específico

(ρ ρ) [Kg/m³]

Relação entre as viscosidades

( ) ( )9.4 0.00606 0.00000712 851.12 0.168

A Figura 4, abaixo, demonstra a consistên-cia do modelo de escoamento apresentado, para escoamento em regime laminar (Re ≤ 2300). Observa-se que a maior velocidade média é aproximadamente 1,4 m/s para água e 0,3 m/s

para óleo, como esperado fisicamente. Esses valores diminuem quando baixamos o valor do número de Reynolds (Re). Resultados simi-lares, de forma aproximada, foram encontra-dos por Bentwich e Sideman (1964).

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Figura 4: Relação entre a velocidade média do fluido interno com o Delta ( δ ) para diversos valores de Reynolds na temperatura de mistura 9,4 °C.

3.2. Análise da transferência de calor em função da espessura do isolante térmico

Determinada a situação física onde ocor-re a menor relação entre a potência de bom-beamento [9.4 ºC , é de extremo interesse determinar a taxa de transferência de calor para essa situação específica, e a espessura de isolante térmico na parede, necessário para que essa situação se mantenha estável. Nesse caso, efetuou-se um estudo relacionado com o comportamento do número de Nusselt para escoamento completamente desenvolvido. Os resultados para número de Nusselt médio [en-contram-se representados na Figura 5, abaixo.

Os resultados da Figura 5 foram obtidos atra-vés de interpolação, a partir de tabelas numéri-cas apresentadas por Nogueira (1988).

Foram escolhidos para o desenvolvimento do trabalho dutos circulares de aço da norma API 5L (API: American Petroleum Institute). São tubos para oleodutos e gasodutos (line pi-pes) que variam, a partir de 1/8’’ até 30” ou mais, com espessuras variadas. As resistências à tração variam desde o grau A, com limite de escoamen-to mínimo de 30.000 psi (21,1 Kg/mm²) até o grau X80 com 80.000 psi (56.2 Kg/mm²).

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Figura 5. Número de Nusselt em função da espessura de filme, representando a ocorrência do ponto de máximo

A partir da Figura 5 obteve-se a seguinte expressão do número de Nusselt, em função de es-pessura de filme (δ), (Nu= -8638.89δ4 + 293730.7δ3 - 38294.9δ2 +21885δ – 4678.21), cujo ponto de máximo ocorre em 5.35 [Delta (δ )= 0.938, Nusselt= 5.35].

Tabela 2: Dimensões do duto utilizado e suas propriedades

Diâmetro Espessura da parede Condutividade térmica (C3)

mm polegada mm Polegada W/mK

101.60 4 5.74 0.226 45.8

Optou-se a trabalhar com o isolante térmico do tipo lã de vidro, cujas propriedades encontram-se representados através da Tabela 3.

Tabela 3: Propriedades do isolantes térmico – Lã de Vidro

Tipo C4 [W/mK] Norma Fonte

Lã de vidro 0.054 Petrobrás N - 1618 Pitts, Sisson, 1981

Para a determinação do valor do coeficiente de transferência de calor interno hf utilizou-se o valor da condutividade térmica da água [Pitts e Sisson (1981 )].

em que, o diâmetro hidráulico é definido por:

Para o duto considerado e, neste caso, podemos determinar o coeficiente de transferência de calor por convecção (h

f; Equação 10), em função do número de Nusselt.

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Para análise do fluxo de transferência de calor, através da parede do duto e do isolante térmico, utilizou-se a equação de condução de calor para regime permanente abaixo:

s=3, aço da tubulação (vide Figura 1)s=4, isolante térmico (vide Figura 1)Condições de contorno e de interface para o problema térmico:

Neste caso, temos os seguintes perfis de temperatura para os meios sólidos:

Logo, temos:

e

Para condições genéricas na região externa, demonstra-se que o fluxo de calor é obtido em função do coeficiente de transferência de calor externo () por:

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Figura 6: Relação da temperatura na parede do tubo em relação à espessura do isolante térmico (r4)

Figura 7: Fluxo de calor em relação à variação do número de Nusselt, função da espessura de filme, para temperatura externa prescrita igual a 25º C e temperatura de mistura igual a 9.4º C

Abaixo, na Figura 6 e Figura 7, apresen-tam-se as temperaturas internas e o fluxo de calor em função da espessura do isolante tér-mico, considerando-se temperatura prescrita externa igual a 25º C, com relação à variação da temperatura de mistura dos fluidos. Nesse

caso, uma espessura de aproximadamente 10 mm de lã de vidro possibilita um isolamento térmico adequado, permitindo-se, dessa for-ma, uma temperatura de mistura conveniente para um bom desempenho em relação à potên-cia de bombeamento.

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A Figura 7 e Figura 8 representam o fluxo de calor para duas condições de contorno ex-ternas: temperatura prescrita e variação do coe-ficiente de transferência de calor externo. Há uma evidente consistência entre os dois resul-tados apresentados, para as espessuras do iso-lante térmico analisado, quando o coeficiente de transferência de calor externo tende para in-finito, caso de temperatura prescrita, Figura 7.

4. Conclusão

Comprovou-se, neste trabalho, que existe uma relação entre a espessura ótima de isola-mento térmico e a potência de bombeamento mínima para o sistema sobre análise. Os argu-mentos abaixo permitem concluir que há uma espessura de isolante térmico adequada para o sistema na temperatura ideal de desempenho hidrodinâmico (9.4 ºC).

Demonstrou-se no trabalho de Kimura e Nogueira (2011) que há uma variação signifi-cativa da relação de bombeamento entre escoa-mento unifásico de óleo e uma mistura anular de água-óleo, com um filme de água próximo à parede do duto e que esta redução na potên-cia de bombeamento depende da temperatura de mistura dos fluidos. O principal resultado observado por Kimura e Nogueira (2011) é

que existe uma relação de compromisso entre a potência de bombeamento e a taxa de transfe-rência de calor no duto, uma vez que a taxa al-tera a temperatura de mistura dos fluidos. Neste trabalho demonstrou-se que a potência de bom-beamento passa por um mínimo à temperatura aproximada de 9.4º C, para os fluidos analisados. Demonstrou-se, ainda, que há um máximo de transferência de calor para espessuras de filme relativamente pequenas, de acordo com Figura 5. Nas situações analisadas, uma espessura apro-ximada de 10 mm de lã de vidro possibilita ma-nutenção da temperatura interna, de 9.4 ºC, para uma condição de temperatura externa igual a 25º C. O mesmo ocorre para espessuras de filme de água relativamente elevadas, de acordo com os resultados apresentados na Fig. (7). Além disso, de acordo com o estudo efetuado, resultados si-milares são obtidos para diferentes temperaturas externas (15º C, 30º C, 40º C).

A espessura de filme ideal para melhor de-sempenho hidrodinâmico, na situação analisada, é da ordem de 0,26. Nessa situação, de acordo com resultados apresentados nas Figuras 6 e 7, a espessura adequada de lã de vidro, como isolante térmico, é de aproximadamente 10 mm, confor-me discutido no parágrafo anterior. Como síntese geral de nossas conclusões, apresentamos os re-sultados mais relevantes dos estudos efetuados:

Figura 8: Fluxo de calor com a condutividade externa tendendo ao infinito e temperatura externa igual a 25º C

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1- a potência de bombeamento é função da tem-peratura global média dos fluidos utilizados; 2- a mínima potência de bombeamento ocorre para 9.4 ºC (petróleo; relação de densidade S=0.86; relação de viscosidades µ=0.168), com uma redu-ção da ordem de 64% em relação ao escoamento unifásico; 3- a máxima redução de potência de bombeamento ocorre para uma espessura relativa de água igual a 0.153; 4- com relação à transferên-cia de energia na forma de calor, a espessura rela-tiva ótima de água ocorre em 0.062 (muito pró-ximo da parede do duto, com número de Nusselt igual a 5.35; aproximadamente 1.5 vezes maior que o número de Nusselt na região termicamen-te desenvolvida em escoamento unifásico); 5- na espessura relativa ótima de filme para potência de bombeamento (0.153) a relação entre os números de Nusselt é da ordem de 1.3; 6- a espessura ideal para isolamento térmico, quando utilizado lã de vidro, é de 10 mm.

5. Agradecimentos

Os autores agradecem à Administração do Centro Universitário de Volta Redonda – UNIFOA, que possibilitou que este traba-lho fosse efetuado fornecendo uma bolsa de Iniciação Científica ao aluno do Curso de Engenharia Mecânica Artur Kimura.

6. Referências Bibliográficas

1. KIMURA, Artur; OLIVEIRA, Carolina Valente de; NOGUEIRA, Elcio. “Hidrodinâmica de Líquidos Imiscíveis (Água-Óleo) em escoamentos internos: Seção Reta Circular e Placas Planas Paralelas”. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano VI, n. 17, dezembro 2011. Disponível em: http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/17/17.pdf

2. Nogueira, E., 1988, “Escoamento Laminar e Transferência de Calor em Fluidos Imiscíveis sem Estratificação”, São José dos Campos, Brasil, pp. 131-134.

3. Nogueira, E., Cotta, R. M., 1990 “Heat Transfer Solution in Laminar Cocurent of Immiscibible Liquids”. Warme-Ünd Stoffübertagung, Vol. 25, Springer-Verlag, Alemanha, pp. 361-367.

4. Nogueira, E., Dantas, L. B., Cotta, R. M., 2002, “Heat Transfer in Liquid-Liquid Annular Two-Phase Flow in a Vertical Duct”. Hybrid Methods in Engineering, Vol. 4, pp. 1-19.

5. Nogueira, E., Cotta R. M., 1988 “Thermohyfraulic Performance in Cocurrent Laminar Flow of Immiscibible Liquids”. II Encontro de Ciências Térmicas – ENCIT, Águas de Lindóia, Brasil, pp. 307-310.

6. Prada, V., Bannwart, J. W., 1999 “Pressure drop in vertical core annular flow” XV COBEM, Congresso Brasileiro de Engenharia Mecânica, Águas de Lindóia, Brasil.

7. Angeli, P., & Hewitt, G. F. (2000). “Flow structure in horizontal oil-water flow”. Int. J. Multiphase Flow, 26, 1117-1140.

8. Brauner, N., 2001, “The prediction of dispersed flows in liquid-liquid and gás–liquid sistems”. Int. J. Multiphase Flow”, 27, 59-76.

9. Hasson, D. Orell, A., & Fink, M. (1974). “A study of vertical annular liquid-liquid flow – Part I: Laminar condictions”. Paper No. 5, Multiphase Flow Systems Symp., Inst. Chem Engng. Symp., Ser. No. 38, 1-15.

10. Bentwich, M. & Sideman, S. (1964). “Temperature distribuition and heat transfer in annular two-phase (liquid-liquid) flow”. Canad. J. Chem. Eng., 9-13.

11. Pitts, D. R., Sisson, L. E., 1981, “Fenômenos de Transporte”. São Paulo, Brasil, pp. 319 – 328.

Endereço para Correspondência:

Élcio Nogueira - Professor Dr. [email protected]

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOACampus Universitário Olezio GalottiAv. Paulo Erley Abrantes, 1325Três Poços - Volta Redonda - RJCEP: 27.240-560

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1 Aluna do Curso de Engenharia de Produção do UNIFOA2 Aluna do Curso de Engenharia Mecânica3 Professor Dr. Assistente do UNIFOA; Professor Adjunto da Faculdade de Tecnologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Solução analítica em aleta de perfil retangular: comparação de desempenho térmico entre aluminio e ferro fundido em motores elétricos

Analytical solution in fins of rectangular profiles: comparing thermal performance between aluminum and cast iron in electric motors

Denise Freire Duarte1

Ariane Novaes2

Élcio Nogueira3

ResumoA utilização de aletas para potencializar a eficiência na troca de energia na forma de calor tem sido um procedimento comum utilizado há várias décadas. Provemos, neste trabalho, soluções analíticas para condução de calor em aletas de perfis retangulares, utilizando dois diferentes tipos de materiais, o Alumínio e o Ferro Fundido, que são materiais comumente uti-lizados na confecção de carcaças de motores elétricos. Uma das aplicações industriais mais comuns de sistemas de aletas ocorre em motores elétricos, que se tornaram um dos mais notórios inventos do homem ao longo de seu desenvolvimento tecnológico. Utilizamos dados reais de um motor elétrico (Weg modelo W21), que pode ser utilizado na indústria para o acionamen-to de bombas, ventiladores, exaustores, britadores, moinhos, talhas, com-pressores e outras aplicações. A partir dos dados obtidos do motor elétrico, sobre suas características físicas e de operação de trabalho, foram obtidos resultados numéricos e gráficos, para ambos os materiais. Os resultados de-monstram o benefício que se consegue com a utilização de aletas na deter-minação da taxa de transferência de calor, neste tipo de equipamento.

Palavras-chave:

Aletas

Transmissão de Calor

Eficiência Térmica

Motor Elétrico

Key words:

FinsHeat Transfer

Thermal Efficiency

Electric Motor

AbstractThe use of fins to maximize efficiency in the exchange of energy as heat has been common procedure, used for several decades. Analytical solutions for heat conduction in fins of rectangular profiles, using two different types of materials - Aluminum and Cast Iron were provided in this paper. These kinds of materials are commonly used in the manufacture of electric motors carcasses. One of the most common industrial applications of systems of fins occurs in electric motors, which have become one of the most notorious inventions of man along its technological development. Real data from an electric motor (WEG W21 model), which can be used in industry to drive pumps, fans, blowers, crushers, grinders, hoists, compressors and other applications were used. The data obtained from the electric motor on its physical characteristics and operation work, provided numerical results and graphs for both materials. The results demonstrate the benefit achieved with the use of fins on determining the rate of heat transfer.

Recebido em 07/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

Motores elétricos são partes importantís-simas do processo produtivo industrial, não só no Brasil como no mundo (Garcia, 2003). Baseando-se no número de equipamentos e facilidades existentes, como geradores de força motriz, o parque de motores elétricos é responsável pelo consumo de um terço de toda a energia ofertada no país (Garcia, 2003). Em um cenário em que a eficiência energética torna-se tão presente, uma vez que a energia elétrica é a solução viável para a substitui-ção de energias ‘sujas’, como as por queima de combustível fóssil, reduzir o consumo de energia dos motores elétricos é fator crucial para a economia e sustentabilidade da socie-dade humana como um todo.

O motor elétrico é um dispositivo cuja finalidade é transformar a energia elétrica a ele aplicada em energia mecânica através de inte-rações eletromagnéticas entre as partes que o constituem. É o mais usado de todos os tipos de motores, pois combina às vantagens da energia elétrica, baixo custo, facilidade de transporte, limpeza e simplicidade de comando, com as de construção simples, custo reduzido, gran-de versatilidade de adaptação às cargas dos mais diversos tipos e melhores rendimentos ( Catálogo WEG, 2011, referência 3).

É possível obter um maior ganho na taxa de transferência de calor apenas mudando o material que compõe a carcaça ou, por sua vez, as aletas, mudando, desta forma, o valor da condutividade térmica do material, que no caso do alumínio é superior ao do ferro fundi-do (Incropera, 2012; Sissom & Pitts , 2000 ) .

Resultados analíticos para aletas retan-gulares são obtidos na literatura especializa-da com facilidade (Silva & Nogueira, 1997; Incropera, 2012; Sissom e Pitts, 2000). Os autores desconhecem, entretanto, na literatura aberta, trabalhos que utilizam a técnica analí-tica para aletas em motores eleétricos, com o fim específico de comparação entre alumínio e ferro fundido.

2. Objetivos

Este trabalho visa estudar o ganho obtido na troca de energia na forma de calor com a

utilização de aletas de perfil retangular com-parando dois diferentes tipos de material: motores com carcaça de alumínio e motores com carcaça de ferro fundido. As grandezas de interesse estudadas são: perfil de tempera-tura ao longo da aleta, material utilizado, taxa de transferência de calor, altura ideal, largura ideal e eficiência global do sistema.

Pretende-se determinar se o equipamen-to utilizado na simulação possui aletas de ta-manho ideal, qual o tipo de material é mais eficiente, alumínio ou ferro fundido, e qual o efeito dos parâmetros altura, largura e condu-tividade na eficiência térmica.

3. Metodologia

A metodologia utilizada foi a solução de equações diferenciais ordinárias (EDO) para o perfil de temperatura, utilizando o método analítico para determinação da taxa de trans-ferência de energia na forma de calor e outras grandezas de interesse. Utilizou-se o sistema de linguagem ForTran (Power Station) e o sis-tema gráfico Grapher para representação grá-fica. A utilização da linguagem de programa-ção ForTran (Formula Translation), através do software Power Station, permite, através de um programa fonte, que as equações deduzidas no trabalho sejam compiladas e executadas, obten-do-se, assim, os resultados numéricos utiliza-dos na confecção dos gráficos. A programação em ForTran é utilizada desde o início da década de 60 como linguagem de alto nível, e sua uti-lização nos dias de hoje - apesar de todo avan-ço computacional ao longo destes últimos 50 anos, como linguagem de cunho científico - é justificada em função de que a maior biblioteca de programas na área de matemática e estatís-tica (IMSL - International of Mathematic and Statistical Library) encontra-se em ForTran. A NASA utiliza sistematicamente o IMSL. Novas rotinas computacionais utilizadas pela agência espacial citada, e outras entidades de igual prestígio no mundo, são criadas, prefe-rencialmente, na linguagem ForTran.

O perfil de temperatura foi obtido para di-ferentes valores de temperatura externa, com a variação do coeficiente de transferência de calor por convecção. Através da integração do perfil de temperatura é possível obter a taxa de trans-

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ferência de calor. A análise da taxa de transfe-rência de calor foi efetuada a partir da variação da temperatura do motor em relação ao meio ambiente. A eficiência, diferente do definido nos textos clássicos (Incropera, 2012), foi calculada utilizando a razão da taxa de transferência do motor com aleta de alumínio em relação à taxa do motor com aleta de ferro fundido.

4. Desenvolvimento

A equação unidimensional da distribui-ção de temperatura em regime permanente de uma aleta de seção transversal constante (Figura 1) pode ser descrita como [Silva & Nogueira (1997).; Incropera (2012)].

Figura 1: Representação esquemática de uma aleta retangular.

Onde:

Por conveniência estabelecemos a seguinte troca de variável:

Logo, a equação 1 se reescreve:

A solução geral da equação diferencial ordinária de segunda ordem (Eq. 2) é:

Utilizando a equação 3 em x=0:

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Para x= L:

Onde obtemos:

Definimos:

Substituindo C1 C1 C2 C2 na equação 3 temos a seguinte equação para o perfil de tempera-tura ao longo da aleta:

E a taxa de transferência de energia na forma de calor:

Neste trabalho foi utilizado um motor elé-trico da Weg modelo W21 [http://www.weg.net/files/products/WEG-motores-eletricos-baixa-tensao-mercado-brasil-050-catalogo-portugues-br.pdf; referência 3]. Este modelo atende uma série de normas que vão desde a sua forma de construção até o tipo de isolamento empregado para fins de normalização.

O modelo W21 é um motor elétrico tri-fásico IP 55 (motores blindados), que possui

as suas dimensões construtivas atendendo a norma NBR – 5432. Sua carcaça é feita de fer-ro fundido (NBR – 8441), com potência que vai de 0.16 a 500 Cv. É de categoria N (NBR – 7094), está entre a maioria dos motores en-contrados no mercado atendendo ao aciona-mento de cargas normais. E possui classe de isolamento F (NBR – 7034).

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Tabela 1: Composição da temperatura do catálogo da Weg

Classe de Isolamento F

Temperatura ambiente 40°C

ΔT = elevação de temperatura (método da resistência) 105°C

Diferença entre o ponto mais quente e a temperatura média 10°C

Temperatura do ponto mais quente 155°C

O motor elétrico utilizado para estudo possui armadura e aletas retangulares feitas de ferro fundido. Com as mesmas características físicas, utilizamos os dados do material alumínio para fazer as comparações:

Tabela 2: Dados do Alumínio e do ferro fundido

Substância FERRO FUNDIDO ALUMÍNIO

Condutividade térmica (k) 80 W/ m°K 237 W/ m°K

Calor específico 450 j/Kg°K 900 j/Kg°K

Massa específica 7,20g/cm3 2,70g/cm³

Ponto de fusão °C 1200 660,3

Estado da matéria Sólido Sólido

Eletronegatividade (Pauling) 1,83 1,61

Densidade (g/cm³) 7,3 2,7

Figura 2: Representação dos componentes do motor elétrico Weg [03]

Efetuaram-se medições na armadura do motor e nas aletas onde foram retirados os seguintes dados:

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Tabela 3: Dados obtidos do motor

Diâmetro externo do motor

Largura do motor

Largura da base da aleta

Altura da aleta

Número de aletas

139.60 mm 130.13 mm 5.84 mm 17.00 mm 32

5. Resultados e Discussão

Figura 3: Taxa de transferência de calor com variação da temperatura externa.

A Figura 3 mostra os valores da taxa de transferência de calor entre o alumínio e o fer-ro fundido, para temperatura prescrita na base da aleta, condição imposta neste trabalho. É visível o aumento desta taxa para o alumínio em relação ao ferro fundido em todos os va-lores assumidos para a temperatura ambiente, para um mesmo valor de transferência de calor externo. Na Figura 3, acima, podemos perce-

ber que para todas as temperaturas avaliadas, a aleta de alumínio necessita de um coeficiente de transferência de calor externo (h2) menor que a aleta de ferro fundido para trocar a mes-ma quantidade de energia na forma de calor. Isso ocorre, como esperado fisicamente, pelo fato do valor da condutividade térmica do alu-mínio ser maior do que o do ferro fundido.

O motor opera com potência máxima de 750 W, e para efeito de análise foi estipula-do que a temperatura máxima de trabalho na parede do motor é de 98 °C, e a temperatura externa no ambiente de trabalho variando em 15 °C, 25 °C, 40°C, 55°C e 70 °C. Escolhemos neste trabalho a temperatura ambiente de 25

°C como padrão, por ser um valor intermediá-rio, uma vez que o fabricante especifica como a temperatura máxima ambiente em 40 °C. Temperaturas acima desse valor são conside-radas um caso especial de operação, mas para efeito de análise do comportamento do sistema, estas temperaturas foram utilizadas.

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Figura 4: Perfil de temperatura ao longo das aletas de alumínio e ferro fundido com Tinf=15ºC.

É possível visualizar, através da Figura 4, que aletas de ferro fundido possuem maior varia-ção no perfil de temperatura quando comparadas a aletas de alumínio. Isso é justificado pela con-dutividade térmica do alumínio (k) ser da ordem de 237 (W/m.K) enquanto que a do ferro fundido é de 80 (W/m.K), assim o alumínio tanto transfe-re mais energia na forma de calor para o ambien-te que a aleta de ferro fundido, como também absorve mais energia na forma de calor do motor que o ferro fundido é capaz de absorver. Dessa forma, para o alumínio, tem-se uma menor va-

riação no perfil de temperatura ao longo da aleta que para o ferro fundido.

Como definido anteriormente, a taxa de transferência de calor máxima foi fixada em 750 watts, o que forneceu valores máximos de coeficientes de transferência de calor externo (h2) de 2400 (W/m2.K) para aleta de alumí-nio e 5000 (W/m2.K) para de ferro fundido, já que o alumínio necessita de um coeficiente de transferência de calor externo (h2) menor que o ferro fundido para trocar a mesma quantida-de de energia na forma de calor.

Figura 1: Perfil de temperatura ao longo das aletas de alumínio e ferro fundido com Tinf=40ºC.

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Assim como observado através da Figura 4, o Gráfico 5, acima, também apresenta va-riação no perfil de temperatura maior para ale-tas constituídas de ferro fundido. A Tabela 3,

Tabela 3: Máximos Coeficientes de Transferência de Calor externo (h2).

Máximos valores de H2 (W/m2.k

Tinf (ºC) Alumínio Ferro Fundido

25 2.800 6.400

40 4.000 10.100

60 8.300 23.600

70 14.800 43.700

80 35.800 100.000

Figura 6: Taxa de transferência de calor entre alumínio e ferro fundido com variação da largura da base.

abaixo, apresenta os valores máximos de coe-ficiente de transferência de calor externo, em função da temperatura externa.

A Figura 6 representa a taxa de transferên-cia de calor em aletas de alumínio e ferro fun-dido, com área da base duplicada, quando sub-metidas a diferentes temperaturas e coeficientes de transferência de calor por convecção (h2) no meio externo ao motor. Quando comparamos a Figura 6 com os resultados apresentados atra-vés da Figura 3, percebemos que para todas as temperaturas avaliadas, a aleta de alumínio con-tinua necessitando de um coeficiente de transfe-rência de calor externo (h2) menor que a aleta de ferro fundido para trocar a mesma quantida-de de energia na forma de calor. Porém agora,

para ambos os materiais o coeficiente de trans-ferência de calor externo (h2) máximo é menor, posto que a área disponível para troca é maior, permitindo um menor coeficiente de transferên-cia de calor. Ao analisarmos a Figura 7, abaixo, temos também a comprovação da necessidade de um menor coeficiente de transferência de ca-lor externo (h2) para transferir a mesma quan-tidade de energia na forma de calor para aletas com base duplicada quando comparadas a ale-tas sem duplicação da base, isso ocorre devido a maior área disponível para a troca de energia, como já foi citado anteriormente.

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Figura 7: Relação entre as taxas de transferência de calor entre alumínio e ferro fundido

Ainda, da Figura 7, acima, podemos ver a eficiência do uso do alumínio, quando comparado ao ferro fundido, na troca de calor realizada por aletas em motores elétricos. Nos casos analisados, a aleta de alumínio assumiu valores de taxa de transferência de calor de aproximadamente 70% maiores que em aletas de ferro fundido, para valores extremos de h2.

6. Conclusão

Os resultados obtidos neste trabalho es-tão consistentes fisicamente e demonstram que é mais vantajosa, em termos de desempenho, a utilização do alumínio no lugar de ferro fundi-do para aletas de motores elétricos. A utilização

de métodos numéricos permite análise de novas geometrias, diferentes da aleta retangular. Em função da carcaça do motor ser cilíndrica, a aleta acompanha a geometria do mesmo e sua base é também cilíndrica, e este fato se torna mais sig-nificativo para aletas com bases maiores. Este último caso pode ser resolvido numericamente, utilizando o Método de Frobenius, ou analitica-mente, utilizando a Técnica da Transformada Integral (GITT). O Método de Frobenius é uma extensão do Método de Potência, muito utilizado e referenciado em literatura de soluções numéri-cas de Equações Diferenciais Ordinárias (EDO). A Técnica da Transformada Integral (GITT) é uma extensão das técnicas clássicas de transfor-mação de equações diferenciais (Transformada de Laplace e Transformada de Fourier).

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7. Referências

1. Denise, F. D.; Élcio N. “Aplicação de equações diferenciais em eficiência da troca de calor em motores aletados”. 10º Congresso Nacional de Iniciação Científica CONIC-SEMESP, realizado nos dias 19 e 20 de novembro de 2010, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo - SP.

2. Silva, E. L. P; E. Nogueira. “Estudo de Técnicas Matemáticas para Solução de Equações Diferenciais – Uma Aplicação em Condução de Calor em Aletas”. Universidade do Vale do Paraíba, 1997, São José dos Campos - SP

3. Incropera, F. P., Witt D. P. “Fundamental of Heat and Mass Transfer”, 4rd Ed., 2012.

4. http://www.weg.net/files/products/WEG-motores-eletricos-baixa-tensao-mercado-brasil-050-catalogo-portugues-br.pdf

5. Sissom, L. E., Pitts D. R. “Fenômenos de Transporte”. 96 – 140, 2000.

6. GARCIA, Agenor Gomes Pinto. “Impacto da Lei de Eficiência Energética para Motores Elétricos no Potencial de Conservação de Energia na Indústria”. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 2003.

Endereço para Correspondência:

Élcio Nogueira - Professor Dr. [email protected]

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOACampus Universitário Olezio GalottiAv. Paulo Erley Abrantes, 1325Três Poços - Volta Redonda - RJCEP: 27.240-560

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¹ Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO² Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências, Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIO³ Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA

Energia em diferentes contextos: uma proposta atual para sua definição

Energy in different contexts: a current proposal for its definition

Edison de Sousa 1

Alexandre Yasuda Miguelote ²Cristina Novikoff 1,3

ResumoNeste artigo, o termo energia foi apresentado em diferentes contextos. Fez-se uma abordagem histórica do uso de tal termo, na qual se in-cluiu diversos direcionamentos. O fato de a energia ser uma grandeza conservada, ainda que em diferentes áreas da física, foi colocado e concluiu-se que, embora seja um conceito de suma importância, pouco se avançou na direção de se encontrar um consenso sobre uma defini-ção mais apropriada para o termo energia. Existe, portanto, atualmente, grandes perspectivas para a sua completa definição.

Palavras-chave:

Energia

Contexto

Histórico

DefiniçãoFísica

AbstractIn this paper, the term energy was presented in different contexts. A historical approach to the use of such term was done, and many directions were included on it. It was placed the fact that energy is a conserved quantity, though in different areas of physics. And it was concluded that, although it is a concept of paramount importance, little progress towards finding a consensus on a suitable definition for the term energy was done. Therefore, nowadays, there are great perspectives for its complete definition.

Keywords:

Energy

Context

Historical

Definition Physics

Recebido em 10/2012

Aprovado em 12/2012

ArtigoOriginal

Original Paper

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1. Introdução

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se analisar algumas das definições do conceito de energia. Isto se deve ao fato de que há uma grande inquietação por parte da comunidade científica no processo de defini-ção de tal conceito. O que acarreta a existência de lacunas no tratamento do tema. Portanto, gostaríamos de esclarecer que o propósito des-te trabalho se limita apenas à apresentação das discussões que envolvem o assunto, mostran-do-se diversas abordagens apresentadas por diferentes autores, onde se discute o assunto em foco, sem que se objetive finalizar esta po-lêmica questão. Verificou-se que, embora as diversas formas em que se apresenta tenham suas definições, ainda nos encontramos distan-te de apresentarmos uma definição ideal para a energia, considerando sua importância e sua grande utilização no cotidiano.

A sequência deste artigo foi desenvolvida da seguinte forma: na seção dois foram apre-sentados diferentes contextos utilizados no cotidiano para o termo energia. Em seguida, foi apresentado um histórico onde se coloca a etimologia do vocábulo energia e já se inicia uma discussão sobre a sua conservação, a qual foi vista com mais detalhes na seção quatro. Por fim, são apresentadas as conclusões.

2. Diferentes contextos para a energia

De acordo com Nikolay Umov “a nossa percepção do mundo, desde a experiência diá-ria mais simples ao conteúdo mais sofisticado, é uma coleção de modelos [...]” que, como representações da realidade vivida, estão carregados pelos sentimentos dos indivíduos em suas relações cotidianas. (Umov apud Romanoviskis, 2001, p.1)

Então, o texto a seguir, representa parte de uma reportagem sobre futebol constante do ca-derno de esportes do jornal Extra, intitulada “Dia de recuperar a energia do time”, onde destaca-mos algumas palavras que são de uso corrente, mas que também estão incorporadas no contexto científico; com sentido diferente daquele.

O Botafogo chegou ontem de Assunção com o peso de saber que voltou a ocu-par a zona de rebaixamento no Brasilei-ro, por causa da vitória do Santo André sobre o Palmeiras. O discurso de que só se sai dessa situação com trabalho, no entanto, teve que ser deixado de lado, temporariamente.Ao desembarcar no Rio, o cansaço pesou, e o treino marcado para ontem, [...], foi cancelado. Tudo para tentar recarregar as baterias para o clássico [...]. (Machado, 2009, p.7)

As palavras que estão em destaque são relevantes para uma primeira aproximação do tema energia, por representarem comparações naturais quando se aborda o assunto e os di-versos tipos de manifestações em que se situa, considerando os distintos pontos de vista das pessoas na sociedade, como também as dife-rentes abordagens na educação e na ciência. Apesar de suas referências se concentrarem nas questões fisiológicas dos atletas, com re-percussões psíquicas, essa matéria jornalística pode enfocar algumas ideias que se utilizam na física; mas, com outras características. Por exemplo, trabalho tem o sentido de esfor-ço (força), um conceito importante da física. Peso, que é o produto da massa pela acele-ração da gravidade, aparece aqui em termos comportamentais; pois, se sentindo desgosto-so um jogador pode experimentar um “peso”. Cansaço pode ser aproximado para perda de energia, enquanto recarregar as baterias reme-te à eletricidade. Recarregar é colocar mais carga e bateria lembra pilha ou gerador ou “acumuladores” de energia. E, aproveitando a ocasião, ainda existem no comércio pilhas recarregáveis. O que reforça tanto o conceito quanto mostra também que a alusão inicial à fisiologia não é aparente; mas, uma possibili-dade a que recorrem a ciência e a tecnologia quando, algumas vezes, veem na “máquina” humana (analogia) um modelo para desen-volver engenhos tecnológicos. Ou mesmo, como o próprio Galileu Galilei, que ao fazer um experimento sobre o movimento de uma bola sobre um trilho em um plano inclinado, não somente observou-o,como também o me-diu. Mas, como mediu o tempo do movimen-

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to? Usou seu pulso contando as batidas de sua pulsação (Feynman, Leighton & Sands, 2008).

Então, como uma oportunidade para o esclarecimento dos diferentes processos que podem clarificar a compreensão do tema ener-gia, tentar-se-á abordar algumas questões que contribuirão com o trabalho dos professores envolvidos com o ensino dos jovens na educa-ção básica, onde se torna necessário explicitar didaticamente o objeto em questão.

3. Histórico

Segundo Guisasola, Montero e Fernandez (2008) há concordância de que o entendimen-to de conceitos e teorias necessita que se co-nheça, entre outros eventos, o seu contexto de desenvolvimento. Então, a energia pode ser estudada segundo essa perspectiva, pois con-sideramos esse contexto como a realidade cul-tural dos envolvidos no processo.

Portanto, se for possível admitir que houvesse, verdadeiramente, por parte dos en-volvidos no processo, o objetivo em concei-tuar a energia, pode-se dizer que a tentativa em desenvolver o conceito não teve o mesmo caminho na ciência e na educação nem tam-pouco no cotidiano das pessoas que estavam envolvidas no árduo trabalho nas indústrias do início da revolução industrial. Enquanto que na ciência a ideia ou o processo fundamental que deu origem ao tema possa ser situado no período iniciado no século XVI indo até o sé-culo XIX; um marco na educação encontra-se em meados da década iniciando-se no ano de 1960 quando a Fundação Nuffield publica um guia para professores seguido de livros para os alunos, visando uma reforma do ensino secun-dário de ciências. Este documento destinava--se a alunos na faixa de 14 a 16 anos de idade e realçava a ocorrência universal da energia, entre outros conteúdos (Mclldowie, 2004).

O assunto energia também toma força com a crise do petróleo por volta de 1973 (Koliopoulos & Tiberghien, 1986), porém adi-cionando outras questões.

Entretanto, isso não significa que o tema estivesse ausente do currículo e dos livros es-colares. Isso é confirmado quando Mclldowie (2004, p.212) relata que os textos da época pouco mencionavam a energia; mas, “nos

textos de teoria da eletricidade é claro que os escritores estão satisfeitos quando a energia é definida unicamente em termos de trabalho, energia cinética, [...].” O que mostrava a ne-cessidade da mudança percebida e proposta pela Fundação Nuffield.

Deste modo, pode-se dizer que nessa breve explanação percebem-se dois direciona-mentos possíveis a respeito do uso do termo: como resultado de experimentos e hipóteses, e em relação à sua posterior incorporação nos manuais escolares. No primeiro caso, como dizem Guisasola, Montero e Fernandez (2008, p.1), “os conceitos e teorias científicas não emergem milagrosamente; mas, é o resultado de um processo árduo de resolução de proble-mas e de contrastação rigorosa de hipóteses iniciais.” Além de incorporar a participação dos engenheiros, operários e técnicos das fá-bricas, combinando teoria e prática. Essa foi a trajetória do assunto em questão, enquanto parte desse processo.

3.1. O vocábulo energia

Primeiramente, pode-se afirmar que o vo-cábulo energia vem do grego energeia: “ativi-dade, operação”, de energos “ativo, trabalhan-do”, en (em, dentro) + ergon (ação, trabalho). Esse termo era usado por Aristóteles com o sentido de “força de expressão” (http://www.etymonline.com; http://etimologias.dechile.net). Ou como diz Bristoti (Bristoti, p.1), “for-ça em ação.” Segundo ele, “Isto quer dizer que qualquer tipo de força e de ação ou movimen-to estão relacionados com a ideia de energia.”

Mas, conforme Elkana (Elkana, 1967 apud Trumper, 1990, p.208), em vários idio-mas esta palavra tem seu uso mais comum na literatura. Nessa perspectiva, Heisenberg (1959, p.46), fazendo um paralelo entre as ideias de Heráclito e a física moderna, colo-ca o tema já naquela época. Porém, o que se conhece atualmente foi o resultado de dife-rentes trabalhos que culminaram com o esta-belecimento do princípio de conservação da energia. Entretanto, no período em questão, referia-se a muitos dos fenômenos explicados através da “vis viva” ou “força viva” do siste-ma (Gottfried Wilhelm Leibniz, 1646–1716) e de um “fluido” denominado de “calórico” (Lavoisier, século XVIII). De início, a pro-

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posta era que havia “uma quantidade finita de força no universo, que tomava a forma de vis viva.” (Lehrman, 1973, p.16) Depois, Christiaan Huygens contribuiu com a ideia que a vis viva é conservada em colisões e, em 1717, John Bernoulli propôs a palavra energia para essa quantidade conservada, que Leibniz havia definido como o produto da massa pelo quadrado da velocidade ( , como uma entidade relacionada ao seu cálculo diferen-cial (Westfall, 1971; Parkinson, 1973 apud Coopersmith, 2010). Uma medida de toda a atividade.

Quanto ao calórico, como propriedade material do fogo, tal fato vem desde os al-quimistas (Sousa e Brito, 2008). No entanto, é atribuída a Joseph Black “a sugestão da hi-pótese do calórico para explicar os fenômenos caloríficos.” (Idem, p.6).

Com o desenvolvimento das investiga-ções científicas, vis viva e calórico, ao longo do tempo, perderam seus significados iniciais; mas, contribuirão para a formação do conceito científico da energia que foi sendo construído tanto durante os procedimentos que redunda-ram na lei de conservação da energia quanto nos anos que se seguiram.

3.2. Um preâmbulo

Quando da apresentação da etimologia do vocábulo energia, observou-se que Aristóteles empregava-o como ‘força de expressão’ e Bristoti apresentou-o como ‘força em ação’. Então, verifica-se que o uso da energia como algo que exerce uma ação está presente há algum tempo na história. Portanto, o entendi-mento da energia como “uma força para fa-zer as coisas acontecerem, para a condução de todo o tipo de processo, máquina, dispo-sitivo ou, uma fonte de energia para moinhos (de vento) e rodas d’água (turbinas)”, é antigo (Coopersmith, 2010, p.5). Assim, concorda--se que seria importante tentar entender essas mesmas máquinas; mas, por um ponto de vista quantitativo. E tal posicionamento requererá formas úteis de energia. Isto é, transforma-ções da energia. Assim sendo, a autora citada elegeu a alavanca como ponto de partida para uma análise inicial, a qual aderimos.

Primeiramente, cabe lembrar os traba-lhos de Arquimedes (250 a.C.) quando trou-

xe informações importantes; mas, antes dele, os seguidores de Aristóteles, os denominados peripatéticos (300 a.C.) procuraram respostas para questões como: “Por que forças pequenas podem mover grandes pesos por meio de uma alavanca?” (Coopersmith, 2010, p.5)

Observando-se, então, essas colocações, percebe-se que já sabiam da relação entre o ponto central da alavanca (ponto de apoio) e as distâncias exigidas para a aplicação da força para o movimento do peso. No entan-to, davam como causa primeira o círculo, porque admitiam que “é bastante natural que seja assim, [...] não há nada de estranho em uma maravilha menor sendo causada por uma maravilha maior.” Portanto, “é uma maravilha que os contrários devem estar presentes em conjunto, e o círculo” possui tal característi-ca: “É composto de contrários.” Neste caso, para eles, enquanto o ponto central descansa, a circunferência do círculo está em movimen-to. (Hiebert, 1981; Ord-Hume, 1980 apud Coopersmith, 2010, p.5)

Coopersmith também faz referência à primeira roda d’água encontrada na China por volta de 200 a. C., bem como ao desenvolvi-mento de engrenagens, que permitiu mover rodas por meio de bois. Cita, ainda, moinhos movidos por água para o esmagamento de mi-lho na Albânia (100 a.C.); o chinês Ko Yu (1 d.C.) que teria inventado o carrinho de mão; Hero de Alexandria (60 d.C.) e os primeiros moinhos movidos pelo vento encontrados na Pérsia por volta de 600 d.C., utilizados para a moagem de grãos.

Seguindo então esse roteiro histórico, coloca-se a pergunta fundamental: E quando não houver água nem vento? Como pôr aquela força em ação?

Coopersmith conclui, com razão, que aquelas célebres máquinas desenvolvidas com o intuito de criar um movimento perpétuo re-solveria o problema, na concepção dos envol-vidos na questão. E, dentre as muitas ideias que mostravam a impossibilidade deste movi-mento, a ‘coroa de esferas’ de Stevin (1548-1620) teria sido a primeira, segundo a autora. Mas, Feynman, em Lições de Física, v.1, 2008 também abordou essa questão.

Nesse sentido, então, Simon Stevin (1548-1620) propôs um método de resolução do problema do equilíbrio de um corpo sobre

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um plano inclinado utilizando-se de uma cor-rente com quatorze contas como nas figuras a seguir (Figuras 1 e 2). E observem que o prin-cípio de conservação da energia apresenta-se implicitamente nessa ideia de Stevin; pois, ao eliminar a parte inferior da corrente, o equilí-brio das seis contas restantes não seria afetado. As duas contas sobre o cateto menor estão em equilíbrio com as quatro contas sobre o cateto

cuja medida é o dobro deste. Caso a corren-te se movesse sobre o plano inclinado, seria mantida a mesma proporcionalidade entre os dois lados do triângulo. Deste modo, não ha-veria movimento espontâneo e assim, o con-ceito de conservação da energia está suben-tendido. Observem, também, a relação entre conservação, energia e geometria.

Figura 1: a coroa de esferas de Stevin, 1586.

Fonte: http://lirias.kuleuven.be/bitstream/123456789/216866/1/review.pdf.

Figura 2: O triângulo de Stevin.

Fonte: Cindra (2008, p.3601-2)

Por fim, como foi assegurado anterior-mente, Feynman, Leighton & Sands (2008, p. 4.5) usaram figura semelhante (triângulo retângulo 3-4-5) para resolver um problema com roldana; confirmando, assim, a aplicação do princípio de conservação da energia para a resolução de problemas que envolveriam um grande número de relações.

4. A conservação da energia

Na física, os princípios possuem papel fundamental. Entre eles, os chamados prin-cípios de conservação que, nas palavras de Baptista (2006, p.543), estabelecerão “a pre-servação de grandezas independentes do ponto de vista do observador ou da maneira de repre-sentar estas grandezas.” Na verdade, “as teorias na física são frequentemente formuladas em termos de alguns conceitos e equações, onde são identificadas como “leis da natureza”” e, por este motivo, sugere-se sua aplicabilidade

universal. Portanto, leis e teorias científicas “quando são acolhidas se tornam parte da nos-sa compreensão do Universo” ou dos modelos elaborados com seu auxílio, tornando-se tam-bém a “base para a exploração de áreas menos bem-entendidas do conhecimento.”

Mas, esses modelos, assumindo diferen-tes concepções científicas, dependerão da for-ma como se escolhem os objetos de pesquisa, como são observados e uma série de outros fatores que representarão as diferentes visões de mundo dos envolvidos no processo. Além disso, alguns julgam incorreto que, no caso dos modelos, se admita que os fenômenos es-tudados tenham correspondência direta com as teorias que a mente elabora; assim, sim-plesmente, seriam produtos dessa mente que estabelece as leis e teorias científicas.

Por outro lado, não deve ser afastada a dimensão cultural na análise do tema. Neste caso, Baracca (2002, p.287) explica que “os conceitos e leis científicas não são um puro re-flexo da natureza”; mas, a atividade científica

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nasce, pelo contrário, da relação ativamente estabelecida entre o homem e a natureza.

Porém, toma sua forma e desenvol-vimento no marco da cultura de uma época, das formas de conceitualizar e argumentar, e ainda mais do papel que o cientista desenvolve em relação com as tarefas sociais, com os proble-mas concretos e conceituais que tem que enfrentar e resolver naquela época, naquele contexto econômico e social. (Barraca, 2002, p.287)

Assim, observa-se que neste processo estava o chamado engenheiro prático que não possuía a formação acadêmica como atual-mente se conhece; porém, buscava meios técnicos para dar conta dos novos processos, pois estava envolvido diretamente na produ-ção. Particularmente, a contribuição da área têxtil teve destaque, considerando-se o auxi-lio dos técnicos cujos esforços tomarão parte no desenvolvimento do conceito da energia; tanto operacionalmente (colocando a força em ação) quanto através do desenvolvimento de máquinas e aparatos tecnológicos (equilibran-do e realimentando a força).

Por esse prisma, os trabalhos iniciais dos artesãos com teares evoluirão para uma forma de agrupamento, onde em conjunto, estes equi-pamentos ganharão outra dinâmica; mas, esse processo chegará até a construção de plantas industriais movidas por máquinas. Enfim, es-

tavam criadas as condições necessárias aos trabalhos dos cientistas, que foram logo per-cebidas (Barraca, 2002). Também notamos que Coopersmith (2010, p.157) confirma es-ses pontos de vista quando inclui o trabalho dos engenheiros como um de seus blocos de energia, necessários à construção do concei-to científico. No entanto, lembra que mesmo hoje, esse bloco “se sente estranhamente na fí-sica”, pois relaciona “tanto artefatos humanos como máquinas, [...] tendo uma procedência incomum, sem usar um nome latino alterna-tivo como vis ou vis viva.” Incomum quando não se considera cultura e conhecimento como duas faces do mesmo poliedro multifacetado.

Consequentemente, o princípio de conser-vação da energia emergiu dos debates travados pelos cientistas da época; mostrando-se também que as leis e teorias da física, a respeito da ener-gia, calor, entropia e trabalho foram elaboradas pouco a pouco por meio dos trabalhos de inú-meros atores nas fábricas e fora destas, durante a revolução industrial dos séculos XVII, XVIII e XIX. Portanto, as tentativas da construção do conceito revestiram-se de bases teóricas, expe-rimentais e tecnológicas (motores, caldeiras,...) concebidas no processo descrito.

Quanto, especificamente, aos trabalhos dos cientistas que redundaram na lei de conser-vação da energia, as contribuições de Clausius, Helmholtz, Huygens, John Bernoulli, Joule, Leibniz, Mayer, entre outros, foram fundamen-tais. Devendo-se lembrar também que eram oriundos de distintas áreas do conhecimento.

Galileu Galilei (1564-1642)| René Descartes (1596-1650)| Christiaan Huygens (1629-1695)| Isaac Newton (1643-1727)| Gottfried Leibniz (1646-1716)|

Anteriormente, foi dito que Galileu havia medido o tempo do experimento com a bola descendo um trilho, por meio da pulsação; mas, Coopersmith (2010) afirma que ele o mediu utilizando-se do canto. A respeito de Huygens, por exemplo, mesmo considerando a mudan-ça da velocidade e da própria vis viva durante o movimento, admitia que a “vis viva de um sistema readquire o mesmo valor quando o sis-

tema readquire as mesmas posições, indepen-dentemente das trajetórias para voltar a essas posições” (Bevilacqua, p.40-41) . Logo, para esse autor, isso significa que a conservação da vis viva representava uma recuperação.

Contudo, segundo Baptista (2006, p.545), essa descoberta de Huygens nasceu de suas reflexões a respeito dos trabalhos de Galileu sobre a queda de um corpo ao longo de

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um plano inclinado. Assim, também observou que, se “todo corpo de peso p , deixado cair de uma altura H, ao longo de um plano inclina-do”, atinge “a mesma altura H no seu retorno, [...]”, então, “o trabalho realizado pelo peso sobre o corpo em queda é igual à metade da força viva adquirida pelo mesmo ao longo da queda.”Ou seja: .

Na verdade, os trabalhos de Galileu tam-bém propiciaram a introdução da ideia de siste-ma - imprescindível à formulação do conceito de energia, a introdução da contagem do tem-po – mesmo que as coisas não dependam do tempo absoluto, “a relatividade do movimento e a relação ∞ h”; quanto a Descartes, intro-

duziu “as medidas ‘quantidade de movimen-to’ (mv) e ‘trabalho de uma máquina’ (peso x altura)”; já “Huygens descobriu que era constante; seu apelo a simetrias e leis de con-servação pagaria dividendos nos séculos se-guintes.” A respeito de Newton, “trouxe a for-ça em um mundo débil e anêmico, fundando a Mecânica Newtoniana. Finalmente, Leibniz valeu-se de como ‘força viva’, a causa de todo o efeito no universo.” Nesse sentido, então, “sua nova análise dinâmica era moder-na em todos os aspectos, exceto um – ele não reconheceu o ‘movimento das pequenas partes ‘como calor’.” (Coopersmith, 2010, p.45)

Thomas Young (1773-1829) Hermann Von Helmholtz (1821-1894) Rudolf Clausius (1822-1888)

Quando Young afirmou que “a luz po-deria ser uma onda transversal”, “duas fontes de luz poderiam ser combinadas para produ-zir ... trevas” e que “havia interferência ao se sobrepor duas ou mais fontes de luz”, mesmo com suas dúvidas, eram ideias arrojadas para uma época em que “a ideia de ondas no espa-ço vazio era impensável.” Então, admitindo-se a concepção da época, Coopersmith (2010, p.174) afirmou que somente haveria a possi-bilidade dessa ocorrência se “algum tipo de meio ou éter estivesse implicado.”

Observa-se que Young associou luz e ca-lor porque “foi um dos primeiros a sugerir que o calor e a luz eram realmente a mesma coisa. Como a luz era uma ondulação, assim era o calor” (Coopersmith, 2010, p.174) . Portanto, em 1807, Thomas Young, em seu livro A Course of Lectures on Natural Philosophy And The Mechanical Arts (Um Curso de Palestras Sobre Filosofia Natural e As Artes Mecânica) faz a distinção entre força e energia, usando a palavra grega energeia no lugar de força viva. Entretanto, John Bernoulli, em 1717 já havia usado esse termo quando abordou o conceito de trabalho virtual, e, antes dele, Gilbert já o usara (Mottlelay, 1893). No caso de Young, restrin-gia-se ao que hoje se denomina energia cinética.

Finalmente, o termo foi prontamen-te aplicado a diversas espécies de energia

(Coopersmith, 2010). Assim, para Young, a energia relaciona-se com a capacidade de um corpo fazer determinado tipo de trabalho mecânico. O que hoje ecoaria como reducio-nismo; visto que o princípio da conservação da energia é válido para qualquer campo da física. Mas, era um modelo:

O produto da massa de um corpo pelo quadrado da sua velocidade pode ser corretamente denominado a sua ener-gia. [...] Este produto foi chamado a força viva ou força crescente, uma vez que a altura da ascensão vertical é pro-porcional à ela; e alguns a consideraram como a verdadeira medida da quanti-dade de movimento; mas, embora este parecer tenha sido universalmente re-jeitado, ainda assim a força estimada bem merece uma denominação distinta. (Young, 1807, p.52)

Enquanto que para Bevilacqua a contribui-ção de Helmholtz situava-se no campo da física teórica, Coopersmith afirma que também dei-xou sua contribuição no campo experimental. Porém, com respeito a quem estabeleceu pri-meiro a lei de conservação da energia, Elkana (Elkana, 1967 apud Trumper, 1990, p.208) considera que foi mesmo Helmholtz, apesar

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de nem mesmo ele ter “claramente definido o conceito de energia”; pois, a denominava força.

Nesse sentido, então, Helmholtz, “intro-duziu um novo significado de conservação: a kraft (energia) é conservada durante o movi-mento e uma variação da vis viva corresponde a uma variação do oposto da força de tensão.” E, a seguir, deduziu o princípio das velocidades virtuais de conservação das forças: “Um au-mento da vis viva pode resultar apenas do con-sumo de uma quantidade de força de tensão.” Assim, segundo ele, quando um sistema estiver em repouso, permaneceria em repouso “se não houver nenhum consumo das forças de tensão para cada direção possível de movimento no primeiro instante.” (Koenigsberger, 1906, p.48)

Em síntese, era fundamental para seus re-sultados que as forças centrais dependessem apenas das distâncias. Contudo, tais resulta-dos ainda não estavam isentos de problemas; mostrando-se, deste modo, que o processo de construção de teorias é árduo e com algu-mas incertezas. Mesmo assim, Koenigsberger (1906, p.48) considera que Helmholtz trouxe significativa contribuição ao desenvolvimen-to da física. Neste sentido, mostrou, também, que quando “os corpos naturais” atuarem “uns sobre os outros” por meio de “forças atrativas ou repulsivas”; mas, que não possuam rela-ção com o tempo e a velocidade, isto é, sejam independentes dessas grandezas, “a soma de suas vires vivæ e ‘as forças tensivas’ deve ser constante.” Entretanto, se são dependentes de “tempo e velocidade, ou agem em outras dire-ções senão as das linhas que unem dois pontos materiais ativos, então [...] as combinações de tais corpos serão possíveis no que a energia também pode ser perdida ou ganha”; mas, “in-finitamente”. Enfim, quando as condições des-critas anteriormente se efetivarem, “as forças são descritas como ‘conservativas’”. Isto é, “a Lei de Conservação da Energia diz simples-mente que todas as forças naturais elementares são conservativas.” (Ibid.)

Finalmente, Helmholtz, por questões filo-sóficas; porém, sem abandonar a lei de conser-vação da energia, deixou de observá-la como “o princípio superior orientador da física.” Agora, passa a focar suas ações “no princípio da mínima ação”. Os últimos anos de sua vida serão direcionados a esse objetivo; contudo, não houve grande sucesso. Para Coopersmith,

devido aos trabalhos de Helmholtz, o ‘vitalis-mo’ deixou de existir. Apesar da relutância de seus compatriotas alemães, no início, adota-ram o princípio da energia com “tamanho en-tusiasmo”, que a massa ou a força obtiveram substituto, pois “defenderam a energia como a quantidade principal.” E, a maior parte des-ses defensores era de químicos. (Coopersmith, 2010, p.282-283)

No entanto, somente após a demonstra-ção matemática desse princípio por Rudolf Clausius em 1865 é que foi considerada lei universal, sendo posteriormente denomina-da a Primeira Lei da Termodinâmica. Como consequência, então, o termo energia passa a ser considerado como “função de estado”. Consequentemente, não se poderia descuidar do “forte vínculo” que a energia possui, por sua constituição, com o calor e o trabalho. (Bucussi, 2006, p.13) Em síntese, esse vínculo pode ser identificado no seguinte relato:

Clausius foi convencido pela conversão calor trabalho de Joule [...] e viu que estas acabaram por ser explicadas pela teoria dinâmica do calor - que o calor é um movimento de constituintes microscópicos. No entanto, ele tinha consciência do desenvolvimento da Pri-meira Lei [...] sem recurso a quaisquer suposições microscópicas estranhas. (Coopersmith, 2010, p.289)

Isso nos mostrou que também existe uma relação entre calor, energia e trabalho.

Embora afirmado por Elkana que Helmholtz estabeleceu o princípio de con-servação da energia; nota-se, contudo, que as personagens apresentadas até o momen-to contribuíram com importantes parcelas para o estabelecimento do conceito científi-co da energia; inclusive técnicos e engenhei-ros. Entretanto, em relação aos trabalhos de Thomson e Clausius, Coopersmith (2010, p.299) afirma, ainda, que:

É impossível dizer quem contribuiu mais para essas descobertas [...]. Thom-son foi mais influente na introdução da energia para toda a física, enquanto o legado de Clausius foi particularmente na área da termodinâmica. Clausius foi

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quem percebeu que o fluido de calor su-til teve de ser substituído por um con-ceito sutil, energia.

Essa exposição corrobora a posição de que a lei de conservação da energia é uma sín-tese dos trabalhos de um período histórico no qual os experimentos e as teorias caminharam conjuntamente sob a luz de Clausius, Huygens, Joule e outros atores do processo. Também não se pode esquecer que, como resultado das inúmeras experiências, a formulação matemá-tica do princípio da energia vinculava-se às necessidades dos engenheiros do início da re-volução industrial, mostrando como a constru-ção de uma lei física possui raízes no contexto socioeconômico de uma época.

Então, essa lei representou um desafio que resultou em novas ideias, novos procedi-mentos e no conhecimento de novos domínios no campo científico e tecnológico. Por isso, na visão de Bevilacqua, após 1847, as ques-tões teóricas ganharam espaço em relação aos resultados experimentais, mas sem anulá-los. Nesse sentido, as leis físicas teriam de enfren-tar o desenvolvimento desses resultados que também teriam de ser julgados teoricamente. Com efeito, tanto relativamente ao princípio de conservação da energia quanto a outros.

Desse modo, a aceitação da energia como uma quantidade que se conserva somente to-mou impulso com esta lei. Portanto, se por um lado, a lei de conservação é o resultado de inúmeras experiências com motores, bate-rias e outros dispositivos; por outro lado, se insere também no que Guisasola, Montero e Fernandez (2008) se referiram quanto as “quantidades calculadas e somadas como par-te da contrastação rigorosa de hipóteses ini-ciais”, úteis e decorrentes das observações e teorias que as orientam. Por isso, representou uma hipótese ou conjunto de hipóteses rela-cionadas que foram confirmadas através de repetidos ensaios experimentais.

Diz então o princípio de conservação da energia:“Em um sistema isolado, toda a energia

que temos no início também teremos no final. Manifestamos isso dizendo que a energia é conservada.” Conclui-se, então, que a conser-vação da energia é um conceito fundamental da física juntamente com a conservação da massa e a conservação do momento.

Porém, dentro de algum domínio estabele-cido para análise de um problema, a quantidade de energia permanece constante e a energia não é criada nem destruída. Esta é a visão sistêmi-ca da energia como abordaram Coopersmith (2010), Doménech (2007; 2010) e Feynman, Leighton & Sands (2008). “Dentro do sistema, cada bloco de energia mantém sua formulação matemática específica.” No entanto, a energia pode ser convertida de uma forma para ou-tra. Ou seja, “uma interação contínua entre os blocos, uma perpétua ‘dança para a música do tempo’.” Por exemplo, a energia potencial pode ser convertida em energia cinética; entretanto, a energia total dentro do domínio estabelecido permanece constante. Consequentemente, “há um preço a pagar pela versatilidade e aplicabi-lidade universal da abordagem de sistemas - a ‘energia’ é mais variada, complicada e menos intuitivamente compreensível do que a força.” (Coopersmith, 2010, p.355).

5. Conclusões

Verificamos que, embora o conceito de energia seja utilizado há muito tempo em di-versas áreas da ciência, não se chegou a um consenso sobre uma definição mais apropria-da. Ainda que diversos autores consagrados tenham se pronunciado em relação à essa questão, pouco foi feito no sentido de termos o fechamento satisfatório, onde se venha con-sagrar uma definição plausível, em que a gi-gantesca estrutura conceitual de energia esteja totalmente contemplada. A própria comple-xidade do tema pode ensejar tal dificuldade. Existe, portanto, por parte de pesquisadores e professores, uma grande perspectiva de que se encontre uma definição coerente e satisfa-tória para o termo energia, já que, o que se tem, como vimos, são definições particulares, incompletas e insatisfatórias.

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6. Referências

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2. BAPTISTA, J. P. Os princípios fundamentais ao longo da história da física. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 28, n.4, p.541-553, 2006.

3. BARACCA, A. El desarrollo de los conceptos energéticos en la mecánica y la termodinámica desde mediados del siglo XVIII hasta mediados del siglo XIX. LUL, v. 25, n.53, p.285-325, 2002. Disponível em: <http://clio.rediris.es/n31/llull53.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2011

4. BEVILACQUA, F. Conservation and innovation: Helmholtz’s struggle with energy problems (1845-1894) and the birth of theoretical physics. Disponível em: <http://ppp.unipv.it/silsis/Pagine/Corso1/En%20lez/En%20lez%20Art/2_Helmholtz.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2011

5. BRISTOTI, A. Energias renováveis. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Núcleo de Energia. UFRGS. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/cenergia/arquivos_downloads/bristoti1.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2011

6. BUCUSSI, A. A. Introdução ao conceito de energia. Textos de apoio ao professor de física. UFRGS, Porto Alegre, v. 17, n.3, 2006. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/tapf/v17n3_Bucussi.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010

7. CINDRA, J. L. Um esboço da história do conceito de trabalho virtual e suas aplicações. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 3601-12, 2008.

8. COOPERSMITH, J. Energy, the subtle concept: the discovery of Feynman’s blocks from Leibniz to Einstein. New York: Oxford University Press, 2010.

9. DOMÉNECH, J. L. et al. Teaching of energy issues: a debate proposal for a global reorientation. Science & Education, v.16, p. 43-64, 2007.

10. DOMÉNECH, J. L.; MARTINEZ-TORREGROSA, J. Disponenlos estudiantes de secundaria de una compreensión adecuada de los conceptos de trabajo y calor y su relación con la energía? Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v.32, n.1, 1308, 2010.

11. FEYNMAN, R. P.; LEIGHTON, R. B.; SANDS, M. Lições de física de Feynman: edição definitiva. Porto Alegre: Bookman, v.1, 2008.

12. GUISASOLA, J., MONTERO, A.; FERNANDEZ, M. La historia del concepto de fuerza electromotriz en circuitos elétricos y la elección de indicadores de aprendizaje comprensivo. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 1604-1/8, 2008

13. HEISENBERG, W. Física y filosofía (Physics and Philosophy). Buenos Aires: Ediciones La Isla, 1959.

14. KOENIGSBERGER, L. Hermann von Helmholtz. Oxford at the Clarendon Press, 1906.

15. KOLIOPOULOS, D.; TIBERGHIEN, A. Elements d’une bibliographie concernant l’enseignement de l’energie au niveau des colleges, p.167-178, 1986.

16. LEHRMAN, R. L. Energy is not the ability to do work. Physics Teaching, v.11, n.1, p. 15-18, jan.1973.

17. MACHADO, V. Dia de recuperar a energia do time. Jornal Extra, Rio de Janeiro, Seção Jogo Extra, p.7, 2009.

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18. McLLDOWIE, E. A trial of two energies. Physics Education, p. 212-214, March 2004

19. MOTTELAY, P. F. William Gilbert of Colchester, physician of London, on the loadstone and magnetic bodies, and on the great magnet the earth. New York: John Wiley & Sons, 1893

20. ONLINE ETIMOLOGY DICTIONARY. Disponível em: <http://www.etymonline.com>. Acesso em: 20 ago. 2010

21. ORIGEN DE LAS PALAVRAS. Disponível em: <http://etimologias.dechile.net>. Acesso em: 20 ago. 2010

22. ROMANOVISKIS, T. Models: the basics of physical thinking. Conclusions for multimedia, 2001. Disponível em: <http://www.fisica.uniud.it/girepseminar2001/CS03/ROMANOVKIS_08_FINAL.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2011

Endereço para Correspondência:

Alexandre Yasuda [email protected]

Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciên-cias, Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, Universidade do Grande Rio - UNIGRANRIORua Prof. José de Souza Herdy, 1160Duque de Caxias - RJ.

23. SOUSA E BRITO, A. A. de. “Flogisto”, “calórico” & “éter”. Ciência & Tecnologia dos Materiais, v. 20, n. 3/4, 2008.

24. STEVIN, S. A coroa de esfera. In: ‘Magic is no magic’ the wonderful world of Simon Stevin. Disponível em: <https://lirias.kuleuven.be/bitstream/123456789/216866/1/review.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2011

25. TRUMPER, R. Energy and a constructivist way of teaching. Physics Education, n.25, p.209-212, 1990.

26. YOUNG, T. A Course of lectures on natural philosophy and the mechanical arts. Volume II. London: Printed for Joseph Johnson, St. Paul’s Church Yard, by William Savage, Bedford Bury, 1807. Disponível em: <http://www.archive.org/details/lecturescourseof02younrich>. Acesso em: 22 jun. 2010

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1 Docente do Curso de Design do Centro Universitário de Volta Redonda, UniFOA.2 Discente do Curso de Design do Centro Universitário de Volta Redonda, UniFOA.

Naming: Uma metodologia para desenvolvimento do nome de um veículo de carga no Brasil

Naming: A methodology to develop a commercial vehicle name in Brazil

Cristiana de Almeida Fernandes1

Luis Cláudio Belmonte dos Santos1

Carla Fernandes Lima2

Danton Gravina Baêta Rodrigues2

Matheus Moraes Amorim Pereira2

Pedro Lima de Oliveira2

Thiago Philippe Catarino de Mello2

ResumoEste ensaio pretende abordar a metodologia de naming – processo de criação de nomes para produtos, marcas, serviços etc - desenvolvida para atender a um projeto experimental de um veículo inteligente de distribuição urbana (V.I.D.U.), fruto de uma parceria entre a MAN Latin America e o Curso de Graduação em Design. Tal projeto bus-ca atender uma demanda oferecida como experiência para docentes e discentes desenvolverem um produto real de grande porte, assim como ampliar os horizontes de ambos acerca da prática de naming pertinente ao lançamento de novos produtos, marca, serviços no mercado.

Palavras-chave:

Transversalidade

Naming

Caso real

AbstractThis essay aims to address the methodology of naming - the process of creating names for products, brands, services, etc. - designed to meet an experimental project for a smart urban distribution vehicle (VIDU), the result of a partnership between MAN and Latin America Undergraduate Course Design Center University. This project seeks to meet the demands offered as experience for teachers and students develop a product real large, as well as broaden the horizons of both on the practice of naming relevant to new product launches, brand marketing services.

Keywords:

Transversalit

Naming

Real case

Recebido em 11/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

O UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda, situado na área estratégica industrial localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro, possui um curso de Design fundado para atuar de forma ampla atendendo às necessidades empresariais regionais do Sul Fluminense. Com o foco em formar profissio-nais preparados para esse mercado, o curso possui parcerias empresariais; frutos de uma política de prospecção que objetiva conhecer o meio empresarial e a produção regional. Como exemplo oportuno e atual, citamos a prática profissional ora desenvolvida com a MAN Latin America.

Essa parceria teve início com uma propos-ta da Volkswagen Caminhões, hoje pertencente ao grupo MAN, situado na cidade vizinha de Porto Real, cuja atividade é a montagem de caminhões de grande porte, onde os veículos desenvolvidos pela VW Caminhões são criados por designers contratados pela MAN L.A.

Em busca de novos olhares, numa abor-dagem experimental, o curso de Design do UniFOA foi convidado a desenvolver um pro-jeto de um veículo inteligente de distribuição urbana, V.I.D.U., para o ano de 2020. Os alu-nos participantes da atividade prática não obri-gatória, orientados por docentes com experti-ses projetuais distintas, ficariam encarregados de o todo processo produtivo.

Conforme o habitual do processo de de-sign, o projeto iniciou com obtenção de um briefing junto a MAN. Sequencialmente, essas informações nortearam uma pesquisa, que, a priori, serviram como fonte de informações do público-alvo, de linha estética e de sugestão de tecnologia e necessidades técnicas. Seu resul-tado convergiu em três conceitos, inicialmente não lapidados e definidos por três palavras--chave, que representavam não só as expecta-tivas do cliente como as ansiedades do público e as diretrizes e requisitos para os designers.

Após a pesquisa, o projeto caminhou com a execução de etapas em paralelo, sendo cada grupo de alunos responsável por uma de-terminada etapa do todo. Entre as etapas, a que temos como foco do presente artigo refere-se ao desenvolvimento de um nome que traduzis-se as palavras-chaves resultantes da pesquisa em um nome próprio que batizasse o veículo.

O nome revela em parte a origem da marca, aponta para o princípio de sua construção, e a identidade é também definida por essa origem. Assim um bom projeto de desenvol-vimento e escolha do nome de uma marca, conhecido como Naming, pode contribuir para posicioná-la corretamente no mercado e facilitar a comunicação com seus diversos públicos de interesse.(Rodriges, 2011)

Tal prática, conhecida como naming, não é exclusiva do profissional de design, sendo pertinente também a outras áreas de comuni-cação, como a publicidade, o jornalismo e até mesmo aos profissionais de letras. Contudo, a transversalidade característica da profissão faz com que o designer esteja também preparado para traduzir ideias em palavras tanto quanto já faz com formas e imagens.

O caráter interdisciplinar do design permi-te ao profissional da área participar efetiva-mente de ações ligadas ao processo de ges-tão e construção de identidade de marca. Vivemos um momento no qual a adoção do “Design Thinking” mostra a capacida-de que o designer tem em articular solu-ções complexas articulando conhecimento de diversas áreas. (Rodrigues, 2011, p. 97)

2. Desenvolvimento

O nome é sem dúvida, um dos pontos de contato mais importantes para uma marca e pode contribuir positivamente na cons-trução da identidade e ser uma forte arma competitiva. (Rodrigues, 2011, p.74)

Para o realização da atividade criativa de desenvolvimento do nome foi realizada uma seção de brainstorming.

Em um suporte de papel amplo adequa-do para a atividade, a equipe escreveu as três palavras-chave e sugeriu outras palavras que tivessem relação com algum desses três pilares do projeto, expandindo cada palavra-chave em grupos de termos associados. Como resultado desse procedimento divergente, obteve-se um mapa mental onde surgiram referencias diver-sas, ainda sem preocupações ou julgamentos de coerência (Figura 1).

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Figura 1: Grupos de termos de associação a partir das palavras escolhidas pela Equipe.

Após a etapa divergente, foi testada a rele-vância de cada termo citado com as outras duas palavras-chaves das quais não teve origem. Aquele

Figura 2: Termos associativos mais relevantes.

que teve sua recorrência aprovada era selecionado e as palavras que não eram recorrentes em outras palavras-chave eram descartadas (Figura 2).

Em seguida, foi montado um painel com cada palavra aprovada do brainstroming. Dessa forma, ficou mais fácil visualizar que, se reorganizassem a

ordem das palavras, formariam quatro grandes grupos de conceitos dentro das necessidades de representar as palavras-chave (Figura 3).

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Figura 3: Grupos de conceitos.

Entretanto, esses grupos tinham quatro abordagens completamente distintas para traduzir uma mesma necessidade. Assim, foi preciso filtrar novamente os grupos de conceitos com mais dois requisitos impor-tantes diagnosticados pelos alunos no pro-cesso de pesquisa. Esses dois novos filtros

caracterizavam-se como duas importâncias fundamentais apresentadas no briefing pelo cliente: o primeiro seria a coerência com o conceito da marca da empresa fabricante e o segundo seria aquilo que a empresa pretende oferecer como fator diferenciador para o seu público (Figura 4).

Figura 4: Filtragem de grupos de conceitos definidos para a escolha do nome do produto.

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Como dois grupos de conceito eram com-pletamente contrários às ideias das novas pa-lavras-chave incluídas como filtro, foram au-tomaticamente retirados. Ainda com a mesma técnica, palavras destoantes dentro de grupos

de conceito aprovados também fora retiradas. Dessa forma, garantimos no final das filtra-gens um grupo de palavras conexas, coesas, e adequadas ao desenvolvimento de um único universo (Figura 5).

Figura 5: Processo de naming

Cada uma dessas palavras foi utilizada para a formação de um texto, que contou com a criatividade da equipe para criar um conceito fi-nal do projeto. Esse manifesto, escrito e também transformado em vídeo, teve como objetivo ins-pirar a definição do nome próprio para o veículo como oferecer suporte a outras gerações de alter-nativas distintas que caminhavam em paralelo.

Em consequência, o storytelling preci-sa ser incluído no kit de ferramentas do design thinker – no sentido não de um início, meio e fim claramente discerní-veis, mas de uma narrativa contínua e aberta que envolva as pessoas e as in-centive a dar prosseguimento a ela e a escrever as próprias conclusões. (Bro-wn, 2010, p. 138) .

Mediante as informações sobre o cená-rio do produto, foi simples sugerir nomes que batizassem o veículo. Cada integrante do gru-po listou entre três e cinco nomes, certos de que todos teriam completa relação com o todo graças ao processo de naming desenvolvido.

Como o produto desenvolvido foi pen-sado com a premissa de um suposto lança-mento no Brasil e em outros países, a forma

escrita do nome e a sua pronúncia deveriam ser consideradas adequadas para o português e para o maior número possível de idiomas. Considerarmos uma pronuncia com proximi-dade ao inglês seria uma opção vantajosa, ten-do visto a grande difusão da língua.

O uso de nomes globais em um mundo onde as distâncias se encurtam faz com que as marcas sejam referências impor-tantes para uma pessoa que chega a um país estranho e não tem conhecimento da língua. (Rodrigues, p. 80 e 81)

Dessa forma, tais restrições apontaram

para três nomes válidos. Ficou a cargo do cliente, representante MAN LA no projeto, es-colher a melhor opção com base em toda sua experiência nos veículos Volkswagen.

3. Conclusão Esse artigo exemplifica a utilização de

processos metodológicos de Design para o de-senvolvimento de um nome para um Veículo Inteligente de Distribuição Urbana – V.I.D.U. - mediante a necessidade do próprio projeto

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automotivo. A parceria entre a Volkswagen – MAN Latin America e o UniFOA – Centro Universitário, trouxe a necessidade da aplica-ção de um processo de naming pelos alunos participantes do projeto que conseguiram não só batizar o veículo, mas estruturar uma forma de desenvolvê-lo e descrevê-lo posteriormente para que fosse registrado e reutilizado em no-vas oportunidades.

É por isso que o corrente texto não apre-senta resoluções e exemplos reais embora se trate de um caso real. O propósito aqui é re-gistrar a utilização dos processos de Design para, mais uma vez, encontrar uma solução para um problema, por mais que a palavra não o problema mais recorrente nem a mais usada forma de expressão desse profissional.

Espera-se que essa demonstração de in-terdisciplinaridade da formação em Design e do foco no processo, métodos e técnicas sejam exemplo de que o designer pode orientar pro-jetos de naming caso exista a necessidade de suprir essa demanda.

4. Referências

1. RODRIGUES, Delano. Naming: o nome da marca. Rio de Janeiro: 2AB, 2011.

2. BROWN, Tim. Design thinking: uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

Endereço para Correspondência:

Cristiana Fernandes de [email protected]

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOACampus Universitário Olezio GalottiAv. Paulo Erley Abrantes, 1325Três Poços - Volta Redonda - RJCEP: 27.240-560

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¹ Bacharel em Serviço Social pelo UniFOA.

² Doutor em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – Docente do UniFOA.

Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica Brasileira: Reflexões Acerca da Cidadania dos Portadores de Transtornos Mentais

Mental Health And Brazilian Psychiatric Reform: Reflections On The Citizenship Of People With Mental Disorders

Amanda de Alvarenga Caldas ¹Júlio Cesar de Almeida Nobre ²

ResumoO presente trabalho pretende promover, através de pesquisa bibliográ-fica, uma reflexão acerca da cidadania produzida para os portadores de transtornos mentais no Brasil a partir do movimento de reforma psi-quiátrica. Para isso, faz-se necessário compreender a loucura em sua dimensão temporal e de que modo, atualmente, esta vem se articulando a toda uma argumentação no âmbito dos direitos humanos e cidadania. Desse modo, nossa reflexão tem início com uma loucura que se produz articulada à exclusão, perpassando pelo momento em que ela se torna objeto de poder-saber da psiquiatria e desembocando na reforma psi-quiátrica – tanto no cenário internacional quanto sua propagação na re-alidade brasileira. Por fim, para que possamos fazer dialogar a questão da loucura com a cidadania, buscamos compreender como os direitos foram produzidos, de que modo transformaram-se em cidadania e de que maneira os loucos foram excluídos dessa dinâmica e reinseridos na sociedade contemporânea.

Palavras-chave:

Loucura

Reforma Psiquiátrica Brasileira

Portadores de Transtornos Mentais

Cidadania

AbstractThe present work aims to promote, through a bibliographic research, a reflection about the citizenship produced to the people with mental disorders in Brazil from the movement of psychiatric reform. For this, it is necessary to understand madness in its temporal dimension and how it has been organized in the context of human rights and citizenship. Thus, our observation begins by madness that produces itself articulated with exclusion, passing by the moment that it becomes object of knowledge of psychiatry and coming into the psychiatry reform - in the international setting as well as in its propagation in the Brazilian reality. Finally, in order to dialogue madness and citizenship we tried to comprehend how the rights were produced, how they became citizenship and how the mad people were excluded from this dynamic and reinserted in the contemporary society.

Keywords:

Madness

Brazilian Psychiatric Reform

People with Mental Disorders

Citizenship

Recebido em 08/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

Podemos afirmar, a partir de autores di-versos, que potentes articulações sociais co-nectaram a psiquiatria com a loucura e for-mataram o hospício como uma espécie de “meio natural” dos loucos. Desse modo, tais indivíduos, trancafiados intramuros, acabam por se configurar como estando predestina-dos a esse espaço e devendo ser mantidos por lá. Produzem-se como não sendo dotados de lugar fora dos muros, não tendo perten-cimento algum no mundo dos homens ditos comuns. Há quem diga que, com a Reforma Psiquiátrica, tudo isso muda – e de fato certas coisas parecem realmente estar se modifican-do. Porém, no mesmo passo que soluções para antigas questões são levantadas, outros pro-blemas se insinuam e apontam para renovadas controvérsias.

No presente trabalho, seguiremos a his-tória da loucura – apresentada por quem se in-teressou a conhecer através dos olhos dos ex-cluídos – nos guiando rumo à tese de que “(...) a loucura não é um fato da natureza, mas da civilização” (SANDER, 2010, p. 382). Michel Foucault (2007) argumenta que a loucura, do modo como a entendemos hoje, teve seu início no momento em que ter razão passou a ser si-nônimo de normalidade – no mesmo passo em que o domínio da desrazão se produziu através do internamento. O autor, por meio de uma genealogia da loucura, demonstra o quanto tal concepção binária – razão e desrazão – deno-ta uma função normatizadora e produtora de lugares.

Desse modo, abordaremos como, ao lon-go da trajetória da loucura, os ditos loucos tiveram sua cidadania roubada, seus direitos violados, sendo enclausurados em espaços desumanos, afastados do convívio de seus fa-miliares e do cotidiano daqueles considerados como normais. Mais ainda, passam a receber tratamentos que, ao invés de potencializarem o indivíduo para a realidade cotidiana, parecem agravar seu estado psíquico, físico e social. Porém, tudo isso teve perspectiva de mudança com a Reforma Psiquiátrica.

Entendemos que a relevância social deste trabalho encontra-se na reflexão que podemos fazer acerca da produção da loucura – silen-

ciada através do internamento – e da efetivi-dade – ou não – do movimento da Reforma Psiquiátrica em sua intenção de resgate de cidadania daqueles que parecem nunca terem tido o “status” de cidadão. Sendo assim, fa-remos uma leitura de processos produtivos da loucura como excluída e do modo como esta veio se articulando com a cidadania, no Brasil, a partir das lutas referentes ao movi-mento da respectiva reforma. Primeiramente, abordaremos – com base em Michel Foucault e Paulo Amarante – tal produção temporal da loucura como exclusão, bem como o surgi-mento da psiquiatria articulada a tal quadro. Em seguida, buscaremos compor a Reforma Psiquiátrica no cenário internacional no sen-tido de demonstrar a articulação de seus fun-damentos com uma possibilidade de reação a produção de uma loucura desprovida de voz. Mais a frente, com um foco no Brasil, o arti-go abordará a institucionalização da loucura, bem como a Reforma Psiquiátrica e as redes de assistência que surgiram nesse processo. Daremos seguimento ao argumento com uma reflexão acerca da cidadania e loucura – com base em Norberto Bobbio e Thomas Marshall – enfatizando como os direitos humanos e a ci-dadania, na Modernidade, se produziram, am-bos, articulados à razão. Desse modo, tal qua-dro acabou por demarcar uma loucura como desprovida de cidadania no mesmo passo em que se produzia como desrazão – situação esta que parece se instabilizar na atualidade.

2. Loucura, Psiquiatria E Reforma Psiquiátrica.

Podemos observar, nos estudos em Michel Foucault (2007) acerca da loucura, o quanto a articulação desta com a exclusão vem se produzindo fortemente em conjunto com uma dimensão temporal que a susten-ta. O autor aponta que, ainda no período do Renascimento, por exemplo, já havia uma forte imbricação da loucura com a segrega-ção, quando aborda o fenômeno da Nau dos Loucos. Tal acontecimento apontava para in-divíduos que, considerados loucos, eram colo-cados em embarcações e seguiam navegando sem destino com o objetivo de resgate de sua razão – compelidos a confrontar-se com sua

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própria verdade moral. Essa prática, estendi-da como podendo salvar a sociedade e a eles mesmos desse mal, acaba por evidenciar um modo bastante singular de exclusão referente aos portadores da loucura.

Seguindo adiante na genealogia da lou-cura de Foucault, encontramos uma singular produção do louco como excluído, articulada a um processo de organização das cidades. Tais indivíduos passam a ser despejados nos denominados Hospitais Gerais, na companhia de mendigos, pobres, vagabundos, crimi-nosos dentre outras categorias consideradas como causadoras de desordem social. Nesse momento, as cidades estavam se articulando a um novo sistema político e econômico que implicaria em uma forte transformação social e cultural. Estamos diante do soerguimento dos pilares da Modernidade, em que a uma nova cultura, uma ciência como norte para a verdade, um homem racional como sujeito ci-dadão e o louco negativizado como desrazão parecem se produzir simultaneamente.

Segundo Amarante (2003), em meados do século XVIII, a loucura começa a adquirir um status bastante singular. Os loucos, grada-tivamente, articulados à ciência, vão se produ-zindo como alienados. No Hospital Geral de Paris, havia um médico responsável, chamado Philippe Pinel, que participava da reorganiza-ção do hospital e “(...) buscava, em suas pró-prias palavras, uma base ‘verdadeiramente científica’ para o conhecimento da realidade” (AMARANTE, 2003, p. 54). Seu método par-tia do princípio de observar, descrever, com-parar e classificar os fatos.

A psiquiatria surge na França com Pinel, como especialidade médica, sob a vigência da Revolução Fran-cesa. A nova ordem social, agora centrada no homem, descontextu-alizado do fato social, passa a ser guiada pelos preceitos de liberdade, igualdade e fraternidade. Contudo, os loucos desafiam a universali-dade desses preceitos. O princípio de liberdade está referido ao ho-mem racional, livre para fazer es-colhas — leia-se livre para vender sua força de trabalho no mercado. Portanto, o louco, considerado des-

provido de razão, daquilo que de-fine a própria humanidade, não é humano, é alienado (aliens), sendo excluído do próprio estatuto de ci-dadão. Também não se aplica a ele o preceito de igualdade, posto que, não se ajustando ao modo de produ-ção, não pode ser tido como modelo de homem. Resta-lhe tão somente o princípio de fraternidade, que vai ser traduzido por cuidado, porém na ótica da tutela. É nesse caldo de cultura que se institui o hospital psiquiátrico. Numa só cajadada, a sociedade se “livra” da convivência com os loucos e reafirma os precei-tos da revolução, necessários à sus-tentação da sociedade capitalista. O isolamento torna-se a tecnologia de cuidado à loucura. (ROBAINA, 2010, p. 340)

Sendo assim, a alienação mental foi o pri-meiro termo conceituado por um médico so-bre a loucura. Para Pinel, o alienado era aquele que não mantinha o equilíbrio de suas paixões, sendo estranho àqueles que estavam a sua vol-ta e as novas regras produzidas como sendo moral e ética.

Formatada pela Modernidade como irra-cional, a loucura – aqui já introduzida a con-cepção cunhada por Pinel de alienados – foi colocada em instituições denominadas como manicômios. O modelo manicomial era ba-seado em instituições fechadas onde o sujeito alienado ficava sob tutela, custódia, vigilância e disciplina, promovendo o isolamento e a se-gregação destes. Desse modo, a institucionali-zação da loucura configurava-se como um dis-positivo que mantinha os loucos afastados das cidades e sua loucura silenciada sob o poder da psiquiatria positiva. Essa reforçava a ideia de que um louco deveria ser entendido como um ser alienado, doente, necessitando de uma prática voltada para sua cura.

Aproximando-nos do pensamento de Zygmunt Bauman (1999), podemos afirmar que a perspectiva moderna objetiva a ordem e a estabilidade de fronteiras, produzindo um argumento que se quer sólido, verdadeiro. Porém, ao delimitar o que é verdade, coloca de fora, de modo negativizado e como sim-

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ples reflexo dessa suposta solidez, em um mesmo movimento, tudo aquilo que enten-dido como “não verdade”. Assim, a verdade da Modernidade, articulada fortemente com a ciência, produzia um potente homem racional e uma cidade racionalmente organizada. A loucura, articulada aos processos modernos, é formatada como sólida inimiga dessa ordem, um lado de fora, alienado, que perturbava or-denamentos. Sendo assim, os loucos, passivi-zados como não racionais, deveriam ser ex-cluídos em instituições psiquiátricas, ou seja, ficarem em manicômios sob a ordem de quem detinha a razão.

A institucionalização da loucura sob o poder-saber do médico psiquiatra sofreu crí-ticas desde a criação dos primeiros manicô-mios (SANDER, 2010). Mas, somente após a Segunda Guerra Mundial, quando os hospitais psiquiátricos são comparados aos campos de concentração nazistas, que começam a sur-gir questionamentos referentes aos tratamen-tos dados no interior dos manicômios. Desse modo, a promoção do homem ideal, racional, articulado ao capitalismo e acreditando ser um desenvolvimento positivo da sociedade, começa a dar indícios de instabilidade. Após a destruição que a Segunda Guerra Mundial ocasionou ao mundo, novas formas de relação começam a despontar “(...) tendo em vista re-dimensionar a cultura e o passado fragilizado pelo trauma da guerra” (ALVES, et al., 2009, p. 89). Em meio a tais processos, algumas no-vas experiências começaram a despontar com intuito de modificação dos hospitais psiquiá-tricos. Essas experiências partiram de movi-mentos diversos, em busca de certa humani-zação dos asilos.

Segundo Amarante (1995), num primei-ro momento, as críticas aos manicômios eram referentes à estrutura institucional, ou seja, ao hospital psiquiátrico em si – visto que, após a institucionalização do indivíduo, eram gran-des os índices de cronificação da doença men-tal. As propostas que surgiram em torno dessa crítica ainda estavam amarradas à produção do manicômio como um local de cura e que, desse modo, seria necessário “(...) resgatar esse caráter positivo da instituição através de uma reforma interna da organização psiquiá-trica” (AMARANTE, 1995, p. 22). Assim, iniciaram-se movimentos para reformar o hos-

pital psiquiátrico, tais como: o movimento das Comunidades Terapêuticas, na Inglaterra e EUA, bem como a Psicoterapia Institucional, na França. Num segundo momento, outras experiências surgem, trazendo uma nova pro-posta, representadas pelos movimentos de Psiquiatria de Setor, na França e Psiquiatria Comunitária ou Preventiva, nos EUA. Tal nova proposta tinha por estratégia a “(...) expansão da psiquiatria ao espaço público, organizando-o com o objetivo de prevenir e promover a ‘saúde mental’” (AMARANTE, 1995, p. 22).

Outros movimentos surgiram, mas com proposta bastante diferenciada das apresenta-das acima. Na década de 60, despontam duas propostas que questionam a psiquiatria pro-priamente dita, sendo elas: a Antipsiquiatria e a Psiquiatria Democrática Italiana, tendo como proposta a ruptura com o modelo manicomial. Essa ruptura se refere “(...) a um olhar críti-co voltado para os meandros constitutivos do saber/prática psiquiátricos” (AMARANTE, 1995, p.22). Ou seja, a atitude era de rompimen-to com a ideia do saber médico sobre a loucura e com o tratamento que era dado a partir do que era construído com base nesse saber científico, tido como o certo para os loucos. Desse modo, buscavam a desconstrução do aparato psiquiá-trico, compreendido como sendo

(...) um conjunto de relações entre insti-tuições/práticas/saberes que se legitimam como científicos, a partir da delimitação de objetos e conceitos aprisionadores e redutores da complexidade dos fenôme-nos (AMARANTE, 1995, p. 22).

O movimento da psiquiatria democrática italiana promovida por Franco Basaglia na dé-cada de 60 foi “(...) a maior ruptura epistemo-lógica e metodológica entre o saber/prática psiquiátrico, vivenciada até então” (ALVES et al, 2009, p. 90). Ou seja, foi o movimento que levantou maiores críticas ao saber psiquiá-trico e seu domínio sobre a loucura, enfatizan-do, em consonância com o pensamento de Foucault, que “(...) a loucura foi enclausura-da e excluída da sociedade; há que libertá-la, dar-lhe cidadania” (SANDER, 2010, p. 384).

Assim, na década de 70, Basaglia dá início ao processo de “(...) desmontagem do aparato

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manicomial, seguido da constituição de novos espaços e formas de lidar com a loucura e a doença mental” (AMARANTE, 1995, p. 49). Deu-se início à construção de centros de saúde mental nas cidades, além da criação de vários grupos-apartamentos que se tornaram residên-cias dos usuários. Alguns moravam sozinhos enquanto outros, por necessidade, residiam acompanhados de técnicos ou voluntários que prestavam cuidados aos moradores. De acordo com Alves et al (2009), Basaglia tinha como premissa a necessidade de se produzir um ou-tro imaginário social da loucura onde fosse possível desvinculá-la da ideia de perigo, in-capacidade, diferença, exclusão dentre outros – construindo, desse modo, uma nova relação entre o louco e o cotidiano.

As experiências de reformas psiquiátricas no cenário internacional foram de suma impor-tância para o cenário brasileiro, principalmente a reforma psiquiátrica democrática italiana, que viria a influenciar no processo de construção da reforma psiquiátrica no Brasil, na década de 70 – tendo, inclusive, a participação de Franco Basaglia em congressos brasileiros.

3. Reforma psiquiatrica brasileira e cidadania em saúde mental Segundo Amarante (2003), com a chega-

da da família real, em 1808, ocorreram mu-danças no cenário político, econômico e cul-tural no Brasil. A transferência da Corte Real Portuguesa para o Rio de Janeiro ocasionou uma série de transformações para o país, prin-cipalmente na saúde e habitação. Com tal pro-cesso de urbanização se iniciando, houve um crescimento desordenado da população, o que de fato contribuiu para a criação do primeiro hospício no Brasil – assim como ocorreu na Europa em seu processo de industrialização. Nessa época, não havia nenhuma ação especí-fica na área da saúde no Brasil.

Em 1830, houve um movimento da popu-lação para a criação de hospícios – com o slo-gan “Aos loucos, hospício” (Amarante, 2003). Eles criticavam o abandono dos loucos à sua própria sorte e reivindicavam a construção de um hospício para estes. Desse modo, foi de-cretada pelo Imperador, em 1841, a criação

do Hospício Pedro II – mas este só veio a ser inaugurado em 1852.

A loucura passou a ser tratada como doença sob o modelo Europeu, tornando-se objeto do saber médico-psiquiátrico – salien-tamos que, nessa época, havia intensa crítica aos médicos psiquiatras devido aos maus-tra-tos e ausência de cura. Em 1890, o hospício foi desvinculado da Santa Casa, dando aos médi-cos uma maior liberdade de aplicar seus co-nhecimentos de modo desvinculado da prática religiosa – vínculo este, até então, firmemente estabelecido no Brasil. A proposta terapêutica do hospício, nessa época, baseava-se no trata-mento moral, no isolamento, organização do espaço terapêutico, vigilância e distribuição do tempo – estratégias herdadas de Pinel.

Nos anos entre 1910 e 1920, surgiu uma nova proposta terapêutica, a partir da qual fo-ram construídas colônias com objetivo de cura através do trabalho agropecuário, diminuindo os gastos do Estado com a estada dos doentes. Uma dessas colônias foi a Juliano Moreira, criada na década de 20, que utilizava a propos-ta terapêutica de pequenas oficinas e trabalho agrícola – sofrendo influência da colônia de Geel, localizada na Bélgica (Amarante, 2003).

Entre 1841 e 1930, a assistência psi-quiátrica pública, no Brasil, se concentrou na construção de leitos psiquiátricos ou em refor-ma dos mesmos. Em 1930, começam a sur-gir novos hospícios já com uma estruturação diferenciada dos anteriores. Nesse momento, os loucos passam a ser realocados confor-me sexo, poder aquisitivo e comportamento. A partir da década de 50 surgem as terapias biológicas como as eletroconvulsoterapias, as psicocirurgias e os psicofármacos – e de acor-do com Amarante (2003), essas terapias con-tribuíam para o agravamento do estado mental dos pacientes.

O movimento da reforma psiquiátrica no Brasil tem como estopim a crise da DINSAM – Divisão Nacional de Saúde Mental –, órgão destinado a formular políticas de saúde. Os profissionais e estagiários da área passam a trabalhar como bolsistas e em condições precá-rias, sendo expostos a violências institucionais. Começam a ser frequentes as denúncias de agressões, trabalho escravo, mortes suspeitas dentre outras violências institucionais. Desse modo, em 1978, profissionais e estagiários

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de alguns hospitais psiquiátricos iniciam uma grande greve – apoiada por forças sociais de-mocráticas que iam contra o regime militar. A partir de Amarante (1995), podemos afirmar que tal movimento se produziu articulado a rei-vindicações e denúncias realizadas no sentido de melhores salários, férias e garantia de outros direitos trabalhistas – visando também uma me-lhoria na formação de recursos humanos, modi-ficação das relações entre instituição, clientela e profissionais, bem como o estabelecimento de uma crítica ao modelo médico-assistencial e das condições de atendimento.

Na década de 70/80 houve um boom de encontros, congressos, na área da saúde men-tal por todo Brasil, com intuito de discutir me-lhorias nas condições de trabalho dos profis-sionais e no tratamento dado aos pacientes dos hospitais psiquiátricos. Nesse período, Michel Foucault realizou importantes conferências no Brasil, mas esses encontros não versavam di-retamente sobre a loucura. Tinham o foco na discussão sobre o poder e sua relação com as várias formas de exclusão (SANDER, 2010). Apesar disso, a

(...) apropriação que se fez de suas obras, de suas conferências, de seus en-sinamentos, que tornou possível a cata-lisação de pensamentos, críticas e ações que contribuíram para a reforma psiqui-átrica e o progressivo desmonte do ma-nicômio (...) de nosso país. (SANDER, 2010, p. 385)

Nesses encontros foram levantadas mui-tas questões por parte de porta-vozes e grupos defensores dos direitos humanos que, articu-ladas, acabaram por auxiliar na produção de uma preocupação em relação à defesa dos di-reitos dos pacientes psiquiátricos. O objetivo era de que todas as instituições psiquiátricas tivessem tal preocupação como princípio.

É constituída uma Comissão Parlamen-tar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional, para apurar as distorções na assistência psiquiátrica no Brasil, bem como rever a legislação penal e civil pertinente ao doente mental. Tinha ainda, o objetivo de vincular, organica-mente a luta da saúde aos movimentos

populares, que lutam não só pela li-berdade de organização e participação políticas, como também pela democra-tização da ordem econômico-social. (AMARANTE, 1995, p. 56)

Em 1986, na cidade de Brasília, ocorreu a VIII Conferência Nacional de Saúde e, pela primeira vez na história dessa conferência, foi aberta ao público, tendo um caráter de consul-ta e participação social. Uma nova concepção de saúde é formatada no evento, colocando a saúde como um direito do cidadão e um dever do Estado. Sendo assim

(...) permitiu a definição de alguns princípios básicos, tais como a uni-versalização do acesso à saúde, a des-centralização e a democratização, que implicaram uma nova visão do Estado (como promotor de políticas de bem--estar social) e uma nova visão de saúde (como sinônimo de qualidade de vida) (AMARANTE, 2003, p. 43)

Esses princípios básicos foram proclama-dos em 1988, através da Constituição Federal, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), onde foram estabelecidas as condições institucionais para a implantação de novas po-líticas de saúde, dando subsídios para criação de legislações em saúde mental.

A Declaração de Caracas, na déca-da de 90, levou em consideração a estraté-gia da Organização Mundial da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde de que todos os países deveriam atingir a meta de saúde para todos até no ano de 2000. Tal posicionamento contribuiu para que o Brasil pudesse desenvolver legislações especificas em saúde mental – redes assistenciais substitu-tivas ao modelo manicomial que foram sendo incorporadas ao SUS.

A década de 90 foi um momento intenso tanto na arena política quanto normativa para a saúde mental, consolidando assim a Reforma Psiquiátrica no país. A concepção de uma so-ciedade sem manicômios que, aparentemente, poderia parecer utópica, tornou-se possível após a lei do deputado Paulo Delgado – que prevê a extinção progressiva dos manicômios, além de direitos aos portadores de transtornos

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mentais. Tal lei – 10.216/01 – também reorga-niza os serviços de atendimento aos portado-res de transtornos mentais e sua família.

Os aparatos legais criados e implantados durante a década de 90 e os anos 2000 passam a ser formatados tendo por foco o argumento dos direitos humanos e os direitos civis, po-líticos e sociais para os portadores de trans-tornos mentais. A maioria das legislações e dispositivos assistenciais vem apontando para a promoção de cidadania, através da reinser-ção social, do trabalho, do tratamento em seu território, dentre outras estratégias voltadas a quem teve a liberdade violada por muito tem-po. Porém, há que se refletir sobre essa cidada-nia que parece se produzir para os loucos após a implantação da Reforma Psiquiátrica.

Para pensarmos a questão de cidadania em saúde mental no Brasil é preciso que realize-mos uma breve reflexão acerca do conceito de direitos humanos e cidadania – termos que são bastante utilizados hoje nas legislações em saú-de mental. Desse modo, estabeleceremos uma compreensão possível de como tais elementos vêm circulando pelo social e, simultaneamente, se articulando à concepção de cidadania para os portadores de transtornos mentais.

4. Cidadania e Loucura

Para abordarmos, mesmo que breve-mente, o conceito de cidadania, remeteremos nossa reflexão a noção de direitos a partir de Bobbio (2004), importante referência nessa te-mática. Em tal autor encontramos o argumen-to de que os primeiros direitos que obtiveram reconhecimento e proteção do Estado foram os direitos dos homens – salientamos aqui a articulação de tal quadro a Modernidade. Esse argumento aponta que, no sentido do reconhe-cimento e da concretização da proteção desses direitos, faz-se necessário a paz nos Estados e, desse modo, de acordo com o autor:

Direitos do homem, democracia e paz são três momentos necessários do mesmo mo-vimento histórico: sem direitos do homem reconhecidos e protegidos, não há demo-cracia; sem democracia não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos. (BOBBIO, 2004, p. 1)

Os direitos do homem configuram-se, desse modo, como uma característica forte-mente articulada ao Estado moderno – que marcou a modificação da relação soberano/sú-ditos para a relação moderna Estado/cidadão. Essa transformação implicou no direito de re-sistência a opressão, pressupondo um direito do indivíduo a não ser oprimido e podendo gozar de determinadas liberdades fundamen-tais: “(...) fundamentais porque naturais, e na-turais porque cabem ao homem enquanto tal e não dependem do beneplácito do soberano” (BOBBIO, 2004, p. 4). Desse modo, o autor acaba por realizar um certo entrelaçamento entre direitos fundamentais e direitos naturais, porém, ao mesmo tempo, salienta seu caráter histórico – visto que estes são apresentados como adquiridos devido às lutas em defesa da liberdade – em contraponto à ideia do jusnatu-ralismo de que os direitos naturais – de igual-dade e liberdade – nascem com os indivíduos.

Opondo-se ao jusnaturalismo, Bobbio (2004) questiona os direitos inatos. O au-tor defende o argumento de que não há um fundamento absoluto, na medida em que os direitos são sempre históricos e estarão em constante construção.

O elenco dos direitos do homem se mo-dificou, e continua a se modificar, com a mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos e dos interesses, das classes no poder, dos meios disponí-veis para a realização dos mesmos, das transformações técnicas, etc. Direitos que foram declarados absolutos no final do século XVIII, como a propriedade sacre et inviolable, foram submetidos a radicais limitações nas declarações contemporâneas; direitos que as de-clarações do século XVIII nem sequer mencionavam, como os direitos sociais, são agora proclamados com grande os-tentação nas recentes declarações. Não é difícil prever que, no futuro, poderão emergir novas pretensões que no mo-mento nem sequer podemos imaginar, como o direito a não portar armas con-tra a própria vontade, ou o direito de respeitar a vida também dos animais e não só dos homens. O que prova que não existem direitos fundamentais por

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natureza. O que parece fundamental numa época histórica e numa deter-minada civilização não é fundamental em outras épocas e em outras culturas. (BOBBIO, 2004, p. 18)

Para o autor, não existe uma definição exata de direitos, sendo que esse termo pode ser utilizado tanto para indicar os direitos enunciados numa declaração quanto àqueles efetivamente protegidos por aparatos constitu-cionais. Porém, ele salienta que há uma grande diferença entre o direito declarado e o efetiva-do, levantando uma crítica acerca dos direitos sociais que estão proclamados – pois a maioria deles não seria efetivada, ou seja, não estariam sendo reconhecidos nem protegidos, mesmo que proclamados.

A partir da criação do Estado e do reco-nhecimento dos direitos humanos – que acabou por possibilitar a reivindicação de novos di-reitos – foi possível construir a concepção de direitos civis, políticos e sociais – concepções estas que se articulam ao conceito de cidadania. Em se tratando do termo cidadania, de acordo com Marshall (1967), na sociedade feudal não existia o status de cidadão, pois, nesse período, o status era definido por herança de classe – onde os humanos eram diferenciados por serem nobres, plebeus, servos ou livres. Não havia leis que determinassem os direitos das pessoas, bem como não existia o Estado. Somente com a Modernidade e o Estado moderno que o status de cidadão toma uma robusta forma, eviden-ciando que a cidadania não é algo inerente à natureza humana atemporal, mas sim um ele-mento que se produz socialmente (Amarante apud Escobar, 2010).

Conforme Marshall (1967), cidadania é um status conferido aos indivíduos que são membros integrais de uma comunidade, onde todos que possuem tal status são iguais tendo em vista os direitos e deveres – estes amar-rados ao conceito de cidadão. O autor aponta que, concomitantemente a luta pela cidadania, existe a produção de uma de cidadania ideal – aos moldes de Bauman (1999), um sólido ordenamento a separar o dentro do fora.

O Estado moderno nasceu como uma força missionária, proselitista, de cruza-da, empenhado em submeter as popula-

ções dominadas a um exame completo de modo a transformá-las numa socie-dade ordeira, afinada com os preceitos da razão. A sociedade racionalmente planejada era a causa finalis declarada do Estado moderno. O Estado era um Estado jardineiro. Sua postura era a do jardineiro. (...) O projeto, supostamente ditado pela suprema e inquestionável autoridade da Razão, fornecia os crité-rios para avaliar a realidade do dia pre-sente (1999, p. 29).

Ao articularmos as concepções acerca dos direitos e cidadania com argumentos desenvol-vidos acerca da historicidade da loucura e sua produção moderna, parece-nos sugerir que o status de cidadão – produzido amarrado a tal Modernidade – estava associado à autoridade da razão – visto que somente o homem racional poderia fazer parte dessa sociedade, ou seja, a era moderna atrela o ideal de cidadania a uma base racional, enquanto aqueles que não a de-tivessem, deveriam ser imobilizados em uma condição negativizada. Desse modo, a loucura produzida pela Modernidade como desrazão, veio sendo excluída de um estatuto de cidada-nia. Para que os alienados pudessem gozar de direitos, deveriam privar-se de suas caracterís-ticas, ou seja, deveriam abdicar de sua loucura, tornar-se homens racionalizados para serem reconhecidos como iguais a todos os outros homens de sua nação. Do contrário, sob os di-tames da razão, seriam formatados como fora da razão, uma espécie de “lugar do sem lugar”.

Faz-se importante salientar que os direi-tos políticos e sociais associados à cidadania não se produziram no século XVIII, simulta-neamente à Revolução Francesa como os di-reitos civis. Marshall (1967) vai dizer que os direitos políticos datam do século XIX e que são aqueles que garantem a participação polí-tica, tanto como membro de uma organização quanto eleitor. Quanto aos direitos sociais, es-tes surgem apenas no século XX e dizem res-peito ao bem-estar econômico, garantias bási-cas de viver em sociedade – como o acesso à educação, saúde, alimentação, dentre outros que foram conquistados ao longo das reivin-dicações em movimentos diversos. Porém, faz-se importante lembrar, apoiados ainda em Marshall, que os direitos políticos e so-

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ciais foram desenvolvidos sob a mesma ótica que constituiu os direitos civis na Revolução Francesa – uma Modernidade onde, somente através da razão, haveria possibilidades de um progresso social. Desse modo, cidadania, direitos e razão parecem configurar-se como elementos fortemente articulados.

Voltando nosso olhar mais uma vez para a loucura, de acordo com Birman apud Escobar (2010), para que o louco pudesse ser inserido na sociedade na condição de cidadão, seria preciso superar a ideia clássica de cida-dania apresentada acima e reconstruí-la tendo em vista o reconhecimento de suas singulari-dades. No dizer de Sander:

(...) a própria noção de cidadania (...) é deveras problemática, uma vez que foi justamente em seu nome, isto é, em nome da constituição de sujeitos cida-dãos, racionais e disciplinados, que se baniu a desrazão: é na construção da cidade ordenada, racionalizada, que se institui a cidadania e se bane a loucura. E não deixa de ser paradoxal encontrar a cidadania como possível solução para a exclusão, como ponto final para esta querela, quando, na verdade, ela está no princípio do problema (SANDER, 2010, p. 384).

Tal possibilidade começa a ganhar con-tornos quando a concepção moderna de ho-mem racional e potente se fragiliza, em muito, por conta da destruição causada pela segunda guerra, já apontada anteriormente. Com um social instabilizado e em busca de transforma-ção na cultura racional, produziu-se uma pos-sibilidade de desvio na direção de um proces-so de mudança dos hospitais psiquiátricos e a implementação de uma controvérsia acerca da loucura como cidadã no cenário internacional.

Enquanto isso, no Brasil, o processo de produção daquilo que entendemos por cidada-nia se dava de modo bastante diferente do que foi construído no cenário internacional. No cenário nacional, conforme Carvalho (2002), o surgimento dos direitos tem seu início pelo reconhecimento dos direitos sociais, depois políticos e, por último, os direitos civis. Pode-se dizer que na Constituição Brasileira, criada em 1824, já havia indicativos de alguns di-

reitos sociais ao povo brasileiro, seguindo os moldes da Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa de 1789. Também fo-ram regulados os direitos políticos, sendo defi-nido quem teria o direito de votar e ser votado. Os direitos civis ainda eram muito restritos, vindo a serem reconhecidos após muitos anos.

Em 1988, o Brasil formatou uma cons-tituição federal que reconheceu os direitos civis, políticos e sociais a todos, inclusive aos portadores de transtornos mentais. Antes disso, os loucos não eram sequer reconheci-dos como cidadãos, além de serem submetido a tratamentos entendidos como desumanos, que estavam em desencontro com os direitos humanos e as ideias de reforma psiquiátrica que já circulavam naquele momento. Porém, voltando aos argumentos acerca do conceito de cidadania e articulados com Bobbio (2004) e suas ideias em relação aos direitos procla-mados e não efetivados, temos o Brasil como uma questão no tema do transtorno mental. O país produziu todo um processo de Reforma Psiquiátrica na década de 90, com o surgimen-to de muitas legislações em saúde mental que preconizam os direitos humanos e a cidadania, além da construção de modelos substitutivos aos hospitais psiquiátricos. Porém questiona-mos o modo como têm se dado as práticas e os argumentos acerca da cidadania voltados a toda população considerada como portadores de transtornos mentais.

5. Considerações Finais

A partir das reflexões realizadas, pode-mos afirmar que a loucura não é um fato da natureza, mas uma produção articulada de toda uma realidade complexa. Desse modo, a partir do momento em que o tecido social se transforma em sociedade civil, pertencen-te a um Estado moderno, a loucura é excluída dessa dinâmica na medida em que este mesmo Estado surge fundamentado na razão – onde somente deteria o status de cidadão aquele que pudesse contribuir para o desenvolvimento da cidade de forma racional. A loucura, então, é inserida no campo da desrazão, tornando--se alvo de enclausuramento e de poder-saber para a psiquiatria.

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Os argumentos acerca da cidadania pas-sam a se articular com os portadores de trans-tornos mentais a partir do momento em que a loucura começa a ser entendida não mais como doença que necessita de cura para ser re-conhecida como um elemento da saúde men-tal. Tal mudança significa que a loucura passa a ser entendida como parte da pessoa e, ao in-vés de se promover a cura da doença, deveria ser promovida a saúde. Isso foi possível, em muito, pelas ações do movimento de reforma psiquiátrica que propôs uma desconstrução da psiquiatria tradicional e, no lugar da cura da doença mental, sugeriu a invenção de saúde.

“Inventar saúde” como é entendido no âmbito da Reforma Psiquiátrica, é fazer com que os profissionais e sociedade re-conheçam que no contato com a loucura não se lida exclusivamente com a doen-ça, mas, com pessoas que passam por crises, momentos difíceis de sofrimento mental ou psíquico, cuja resposta do es-pecialista não deve ser o isolamento ma-nicomial. (AMARANTE, 2003, p. 63)

Entendemos que potencializar a diferen-ça, o desvio, é o que se coloca aqui. Como apontava Pelbart,

(...) é preciso insistir desde já que não basta destruir os manicômios. Tam-pouco basta acolher os loucos, nem mesmo relativizar a noção de loucura compreendendo seus determinantes psicossociais, como se a loucura fosse só distúrbio e sintoma social, espécie de ruga que o tecido social, uma vez devidamente “esticado” através de uma revolucionária plástica sociopolítica, se encarregaria de abolir. Nada disso basta, e essa é a questão central, se ao livrarmos os loucos dos manicômios mantivermos intacto um outro manicô-mio, mental, em que confinamos a des-razão (apud SANDER, 2010, p. 385).

Isso nos remete a pensar de que modo a cidadania e loucura – termos até então forte-mente articulados à razão, estão se produzin-do simultaneamente. Temos de fato a diferen-ça sendo potencializada?

Trazendo essa questão para o Brasil, sabe-mos que a reforma psiquiátrica ocorreu durante os anos 90 e 2000, momento em que surgiram muitas legislações no âmbito da saúde mental, em que muitas dessas legislações foram dire-cionadas a substituição do modelo manico-mial, sugerindo novos modelos assistenciais. Ferreira (2002), ao abordar tal quadro, indica que o movimento de antipsiquiatria acaba por desenvolver uma nova lógica de controle, onde a ordem não se estabelece mais pelo confina-mento, mas através de um apoderamento dos corpos “(...) exercido ao ar livre e de modo contínuo” (FERREIRA, 2002, p. 3). Essa ques-tão nos possibilita a reflexão de que a reforma psiquiátrica, pautada na extinção dos hospitais psiquiátricos e na criação de dispositivos assis-tenciais substitutivos ao modelo manicomial, pode se articular a uma nova lógica que passa por uma desresponsabilização do Estado com os loucos. Esse Estado, não sendo mais respon-sável pelo portador de transtornos mentais, se limitaria ao reconhecimento e efetivação dos direitos que muita das vezes está somente no papel, mas não são consolidados.

Para dar base a esse argumento, Ferreira (2002) busca em Foucault a fundamentação do Estado liberal, um sistema fundamentado na concepção de que os setores diversos se auto-regulam, principalmente aqueles que têm a sociedade civil como parceira – conhecido como as organizações sem fins lucrativos ou Terceiro Setor.

Assim, se os grupos ligados à Reforma Psiquiátrica visam conceder cidadania ao louco, em oposição ao sequestro e con-finamento compulsório, o atual governo pode ver aí uma simples possibilidade de se desobrigar, de lavar as mãos perante o mercado na regulação da vida daqueles que, em nome do perigo ou da fragilida-de ele até então tutelava. Eles agora que gerenciem os riscos que eles mesmos portam. Não apenas os loucos, mas os doentes, os idosos e outras classes de es-quecíveis. Eis uma marca do liberalismo mesclado às práticas de governo: delegar aos indivíduos a gestão e a responsabili-dade sobre seus próprios riscos, repassan-do a estes os encargos do próprio Estado. (FERREIRA, 2002, p. 4)

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Com base nisso, Ferreira (2002) aponta para um problema que essa questão pode acar-retar para os portadores de transtornos mentais.

De início não se deseja aqui afirmar que esta conjugação de forças é tão simples como se pretende aqui esquadrinhar. Mas houve e há uma forte simpatia pelo proje-to por parte de setores do governo, o que não implica necessariamente comunhão de interesses com os grupos proponentes deste projeto, imbuídos em restituir a ci-dadania à loucura. Atrás dos bons acordos nem sempre se encontram as melhores intenções (...), pois a dominação sobre a loucura sedimentada durante cinco sé-culos não haveria de se suprimir com a simples concessão de cidadania à loucu-ra. (FERREIRA, 2002, p. 4)

Importante se faz salientar que o autor

procura sempre deixar evidente que seu intuito não é criticar a Reforma Psiquiátrica, mas ape-nas evidenciar os riscos que ela traz ao romper com o modelo manicomial, provocando um desmonte de alguns serviços públicos conso-lidados, como no caso dos leitos psiquiátricos nos hospitais gerais. Ele aponta que tais leitos vêm sendo reduzidos progressivamente. Muitos deles eram ofertados pelo Estado em hospitais particulares, mas devido à ruptura com o mo-delo manicomial, houve também rompimento do vínculo com tais hospitais que forneciam os leitos. De acordo com Silva et al (2011), os poucos leitos que existem hoje, ofertados pelas instituições privadas, são de alto custo, deixan-do uma parcela de portadores de transtornos mentais mais graves sem cobertura.

Os indivíduos, com o desaparelhamento do Estado nessa área e uma política de inter-nações curtas, segundo Ferreira (2002), aca-bam por necessitar de clínicas particulares ou dos cuidados familiares. Desse modo, caso tais indivíduos sejam despossuídos de possi-bilidades financeiras, muito provavelmente terão a rua como futuro – visto que a família e seus respectivos membros, na atualidade, encontram-se todos articulados ao trabalho. Desse modo, uma situação muito inusitada parece poder se configurar: uma reedição dife-renciada da Nau dos Loucos apresentada por Foucault. Ferreira aponta que, agora fora dos

muros, uma população antes trancada pode se encontrar em um extramuros. Encontro esse que, agora, poderia confinar a loucura às ruas – com os detentores da razão confinados em suas casas, em seus muros de proteção ergui-dos solidamente. O autor denomina tal quadro como Grande Exclausuramento.

Se a produção, a mais racional, lucrati-va e eficaz comporta sempre um resto, um dejeto (seja pelo excedente, seja pelo não aproveitável), por que o mes-mo não deve se dar com as populações, agora tão precarizadas quanto o traba-lho que delas se esperava na geração de riquezas? Sempre um resto popula-cional do qual tentaremos nos defender vagará no coração das cidades, levando a uma separação cada vez mais radical entre o interior gradeado e o exterior nas cidades. (FERREIRA, 2002, p. 4)

Desse modo, teríamos na loucura – assim como em casos de outras ordens – uma sobra indesejada do processo produtivo, dejeto que, trancado no lado de fora dos muros, estaria excluído, agora, no exterior das cidades. Uma Nau dos Loucos que os conduziria para o exte-rior no interior das cidades. Tudo isso articula-do, ironicamente, a argumentos de cidadania.

Tendo em vista que a cidadania não é somente os direitos políticos, entendemos que os direitos sociais, em muito, ficam por conta da efetivação das políticas em saúde mental – e os direitos civis dos indivíduos entendidos como portadores de transtornos mentais tam-bém podem ser entendidos como que articula-dos a essa mesma política. Sendo assim, a im-plementação de uma efetiva cidadania para a loucura pode passar por uma política de saúde mental que disponibilize dispositivos necessá-rios para que os chamados loucos não venham a pertencer ao quadro de Exclausuramento que Ferreira (2002) nos apontou acima.

Por fim, com base no presente artigo, afir-mamos que não podemos deixar de reconhecer que a reforma psiquiátrica brasileira tem tido um importante e positivo impacto para os indi-víduos entendidos como portadores de transtor-no mental. Entendemos que a proposta da rede assistencial que visa substituir o modelo hos-pitalocêntrico, é um aparato inovador. Porém,

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ainda há muito que fazer para que o estigma do louco como perigoso porque sem razão, seja desconstruído socialmente e que estes sejam capazes de viver de modo potente, exercendo uma cidadania. Pois como aponta Sander,

(...) afinal, se há algo na desrazão, uma parte dela que é desmoronamento e dor; há outra parte que é potência e inven-ção. Temos enfatizado demais a primei-ra, pois ela tem se mostrado com maior frequência. Talvez o que precisemos é de uma ampliação de perspectiva, uma maior abertura nos muros e nas mentes. Talvez mesmo a própria noção de des-razão não seja suficiente para que pos-samos acessar algumas potências vitais estranhas e mal compreendidas (SAN-DER, 2010, p. 385).

6. Referências Bibliográficas

1. ALVES, C. F. O. et al. Uma breve história da reforma psiquiátrica. In: Neurobiologia, 72 (1) 85 – 96. jan/mar, 2009. Disponível em: <URL: http://www.neurobiologia .org/ex_2009/Microsoft%20Word%20-%2011_Ribas_Fred_et_al_Rev_OK_.pdf> Acesso em: 02 de maio de 2012

2. AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1995.

3. AMARANTE, P. (Org.). Saúde mental, políticas e instituições: programa de educação à distância. Vol. 1-10 Rio de Janeiro: FIOTEC/FIOCRUZ, EAD/FIOCRUZ, 2003.

4. BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.

5. BOBBIO, N. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

6. BRASIL. Ministério da Saúde. Legislação em Saúde Mental: 1990 – 2004. 5. ed. Brasília, 2004. Disponível em: <URL:

7. h t t p : / / b v s m s . s a u d e . g o v . b r / b v s /publicacoes/legislacao_mental.pdf> Acesso em: 30 de maio de 2012.

8. BRASIL. Ministério da Saúde. Reforma Psiquiátrica e Política de Saúde Mental no Brasil. Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas, Brasília, 2005. Disponível em: <URL: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf> Acesso em: 17 de maio de 2012.

9. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial. 1. ed. Brasília. 2004. Disponível em: <URL: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/118.pdf> Acesso em: 30 de maio de 2012.

10. BRASIL. Portaria nº 336 de 19 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União 2002, 20 fev. Disponível em: <URL:http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/Portaria%20GM%20336-2002.pdf> Acesso em: 30 de maio de 2012.

11. CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

12. ESCOBAR, K. O centro de atenção psicossocial e a política de saúde mental: um estudo avaliativo no município de Volta Redonda. 148f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2010.

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13. FERREIRA, A. A. L. Da nau dos loucos ao grande exclausuramento: uma história das histórias foucaultianas sobre a loucura. Cadernos de Saúde Coletiva. 2002; NESC-UFRJ. <URL:http: / /www.psicologia.ufrj .b r /nucc /?ge t= tex to&tex to= tex to /arthur/012> Acesso em: 15 de jun. 2012

14. FOUCAULT, M. Historia da loucura: na idade clássica. 7. ed. São Paulo: Perspectiva; 2007. 551p.

15. MARSHALL, T. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

16. ROBAINA, C. M. V. O trabalho do Serviço Social nos serviços substitutivos de saúde mental. Serv. Soc. Soc. [online]. 2010, n.102, pp. 339-351. Disponível em: <URL: http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n102/a08n102.pdf> Acesso em: 3 de maio de 2012.

17. SANDER, J. A caixa de ferramentas de Michel Foucault: a Reforma Psiquiátrica e os desafios contemporâneos. In: Psicologia & Sociedade. 382 – 387, 2010. Disponível em: <URL:http://www.scielo.br/pdf/psoc/v22n2/19.pdf> Acesso em: 25 de abr. 2012.

18. SILVA, P. F.; COSTA, N. R. Saúde mental e os planos de saúde no Brasil. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2011, vol.16, n.12, pp. 4653-4664. Disponível em: <URL: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011001300014&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt> Acesso em: 18 de jun. 2012

Endereço para Correspondência:

Júlio Cesar de Almeida Nobre [email protected] Marcelo Monteiro Cesar 140/402São GeraldoVolta Redonda-RJ.

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AbstractAs science the music therapy is new, however it’s been used since antiquity as prevention of diseases, palliative treatment and, sometimes, as clinic treatment, for example depression and some neurodegenerative diseases. The therapy can be active, when the patient uses some instrument, or passive, when the therapist uses the music to perform the treatment. This study aims to show the benefits that the music therapy can afford to elderly, directly or indirectly. In other words, how the music therapy can improve the elderly quality of life, prevent or help the treatment of common diseases in this age group and their complications. The methodology used in this study was the integrative review of articles with connected subject-matter in Lilacs, Bireme, Bvs, Scielo, Electronic Journal of Nursing, Embap, Usp, Fap e ABC databases. Through this data collection, we have concluded that the music therapy has an important role as multidisciplinary therapy and as elderly common diseases prevention, mainly hypertension, Alzheimer, Parkinson, skeletal muscle pain and depression, besides improving the elderly quality of life. Furthermore, this is an area of study that needs researching, although the music therapy has proven its effectiveness.

¹ Acadêmico de medicina da Escola de Ciências Médicas de Volta Redonda – UniFOA.² Acadêmica de enfermagem da Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA.³ Mestranda em Biologia e Envelhecimento na Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), Enfermeira, docente do curso de Enfermagem da Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA e Coorientadora deste Projeto de Pesquisa.4 Doutora em História, Mestre em História, Graduada em Licenciatura em História, docente do curso de Enfermagem da Fundação Educacional do Município de Assis – FEMA e Orientadora deste Projeto de Pesquisa.

A contribuição da musicoterapia na saúde do idoso

The music therapy contribution in the elderly health

Glauber Correia de Oliveira¹Vanessa Ramos da Silva Lopes²Maria José Caetano Ferreira Damasceno³Elizete Mello da Silva4

ResumoA musicoterapia é recente como ciência, porém, é utilizada desde a antigui-dade de diversas maneiras como medida preventiva, paliativa e, às vezes, até como terapêutica, como é o caso da depressão e de alguns distúrbios neurodegenerativos. A terapia pode ser ativa, quando o próprio paciente utiliza algum instrumento; ou passiva, quando o terapeuta utiliza-se da música para realizar o tratamento. Este estudo visa mostrar os benefícios que a musicoterapia proporciona para os idosos, direta ou indiretamente, ou seja, como a musicoterapia pode melhorar a qualidade de vida dos ido-sos e prevenir ou auxiliar o tratamento de doenças, comuns nessa faixa etária, e suas comorbidades. Para isso, utilizamos como metodologia a revisão bibliográfica de artigos relacionados ao tema nos bancos de dados Lilacs, Bireme, Bvs, Scielo, Revista Eletrônica de Enfermagem, Embap, Usp, Fap e ABC. Através desse levantamento de dados, pudemos concluir que a musicoterapia apresenta um papel importante como terapêutica mul-tidisciplinar e na prevenção de diversas doenças comuns das pessoas ido-sas, principalmente HAS, Alzheimer, Parkinson, dor Musculoesquelética e Depressão, além de melhorar a qualidade de vida dos idosos de maneira geral. Por outro lado, essa é uma área ainda carente de pesquisas, embora a terapia através da música seja comprovadamente eficaz.

Palavras-chave:

Musicoterapia

Geriatria

Qualidade de Vida

Reabilitação

Doenças Crônicas

Keywords:

Music Therapy

Geriatrics

Quality of life

Rehabilitation

Chronic Diseases

Recebido em 02/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

O conceito de saúde tem se tornado cada vez mais abrangente, levando em consideração não só a ausência das doenças, mas também a manutenção da qualidade de vida, a prevenção das doenças e a recuperação e reabilitação do paciente e da população. Com isso, há cada vez mais uma busca pelo bem-estar, levando o homem a se preocupar com fatores relaciona-dos à saúde e doença, fato que tem propiciado uma grande quantidade de pesquisas que tra-zem inovações quanto a práticas que possam gerar melhor qualidade à saúde da população. Assim, houve o surgimento das terapias com-plementares, como a musicoterapia, que pode agir tanto no aspecto de prevenção de doenças, quanto no tratamento ou cura das mesmas. A preocupação com o fator saúde-doença existe desde a antiguidade. Hipócrates, pai da medi-cina, considerava que o estado de saúde de-pendia da harmonia do homem com a natureza (Landmann, 1989).

Também desde a antiguidade a música era observada como um fator que faz bem para a saúde. Acredita-se que em 1500 a.C, os médicos egípcios consideravam a música uma terapia capaz de aumentar a fertilidade da mu-lher. Além disso, o médico Esculápio e os filó-sofos Platão e Aristóteles, julgavam a música como um benefício para a mente.

Na segunda metade do século XX, nos EUA, músicos passaram a utilizar recursos musicais com intuito de proporcionar uma me-lhor recuperação dos que foram atingidos pela guerra. Essa experiência teve significativa in-fluência sobre a percepção dos benefícios que a música pode causar. A partir dos resultados ob-servados, ocorreu o avanço de pesquisas rela-cionadas à influência da música na saúde. Com isso, a musicoterapia foi denominada ciência, a qual consiste na utilização da música e seus elementos para proporcionar melhores condi-ções de saúde, sendo capaz de gerar benefícios físicos, psicológicos e sociais (Costa, 1989).

Com essa nova definição de saúde e com a melhora da qualidade de vida e da saúde da população, a expectativa de vida das diversas populações tem aumentado cada vez mais em diversas regiões do planeta. Além disso, a taxa de fecundidade tem diminuído em mui-tos países, aumentando significativamente a

população idosa. A população brasileira vem acompanhando essa tendência, crescendo nas últimas décadas, enquanto ocorre a diminui-ção da taxa de fecundidade (World, 1998; Kalache,1987).

Com a tendência à inversão da pirâmide etária, ocorre também um aumento na incidên-cia e na prevalência de determinadas enfermi-dades características dessa população ou mais comuns nela. Dentre elas, podemos ressaltar a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), jun-tamente com suas complicações; doença de Parkinson; doença de Alzheimer; acidentes vasculares encefálicos; depressão; dores mus-culoesqueléticas, entre tantas outras.

Assim, o perfil de cuidado e de políticas de saúde tem direcionado atenção especial para essa população. Dentre essas políticas, uma das principais é a preservação da qualida-de de vida, através de estratégias que incluam os idosos na sociedade de maneira ativa. Dessa forma, busca-se também a prevenção de doen-ças emocionais, como depressão que ocorre com frequência devido ao isolamento, senti-mento de inutilidade no meio em que vive.

Na cidade de Tóquio (Japão) foi criado recentemente, um ônibus musical, que permite aos passageiros um passeio turístico incluindo atividades musicais. O público alvo são pes-soas com idade acima de 64 anos, quais rela-tam que esse veículo e seus aspectos musicais, proporcionam bem-estar quando cantam ou estão em contato direto com a música.

Contudo, podemos afirmar que é de grande importância a conscientização sobre a eficácia da musicoterapia como forma de prevenção, reabilitação e cura das doenças. É importante que a sociedade reconheça que o idoso necessita de intervenções que possibili-tam melhor qualidade de vida.

A partir desse raciocínio, os objetivos traçados neste trabalho foram: observar qual a contribuição da musicoterapia nos diversos tipos de tratamentos mais comuns à população idosa, além de descrever quais foram os bene-fícios alcançados em cada tipo de tratamento; entender como se dá a aplicação desse tipo de terapia e quais são os princípios aplicados a ela; compreender como a musicoterapia pode atuar na prevenção, no tratamento paliativo ou até mesmo na cura dessas doenças e de que maneira pode auxiliar na reabilitação das fun-

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ções de um indivíduo; e entender como é pos-sível utilizar esse tipo de terapia para melho-rar a qualidade de vida dessa população e em quais situações ela pode ser utilizada.

2. Metodologia

A pesquisa consiste em revisão de li-teratura, mediante a busca de artigos conti-dos nas bases de dados Lilacs, Bireme, Bvs, Scielo, Revista Eletrônica de Enfermagem, Embap, Usp, Fap e Associação Brasileira de Cardiologia (ABC), onde os descritores uti-lizados foram “Musicoterapia”, “Geriatria”, “População idosa”, “Doenças crônicas”.

Os critérios de inclusão foram: artigos que relacionassem a musicoterapia com a saú-de da população idosa ou que descrevessem a técnica utilizada; estivessem em português ou inglês; tenham sido publicados a partir do ano de 2000, a fim de fornecer as informações mais recentes possíveis; e que estivessem disponí-veis nas bases de dados descritas acima. Foram excluídos os artigos que não relacionassem a musicoterapia com a população idosa, salvo os que continham informações importantes sobre a técnica utilizada; que estivessem em outras línguas além do português e do inglês; e os que foram publicados antes do ano 2000.

A partir da análise de diversos artigos, fo-ram selecionados 22, publicados entre os anos de 2000 e 2012, que foram analisados e de onde foram extraídas as informações contidas neste trabalho.

3. A Música

A música é considerada como meio de comunicação e expressão universal e seus elementos apresentam muitas diversidades, a atração pelos diferentes ritmos, instrumentos e elementos derivados, variam e estão relacio-nadas à questão social e cultural do ser huma-no (Cunha, 2003).

Também é uma linguagem universal, está presente em qualquer época e cultura, e é aceita pelo ser humano conforme as reações psicológicas que esta proporciona a um indiví-duo. Segundo a “Teoria Modal dos Gregos”, a música é dividida em três elementos básicos,

tais são: melodia, harmonia e ritmo, os quais podem provocar alterações fisiológicas em um ser humano (Blasco, et al. 2003).

A terapia através da música, denomina-da musicoterapia, é considerada uma terapia não verbal, que possibilita o aumento da au-toestima de um indivíduo, além de propiciar interações em grupo, auxiliar no tratamento de doenças, proporcionando melhor qualidade de vida. Estes benefícios ocorrem através da influência da música, dos sons, movimentos, manuseio de instrumentos musicais, entre ou-tros (Padilha, 2008).

Nos primórdios, a doença era tida como uma influência sobrenatural e maligna sobre um indivíduo, portanto, os meios de cura uti-lizados eram relacionados a procedimentos religiosos, que incluíam músicas e danças. Até hoje os povos indígenas fazem danças por acreditar que ocorrerá a expulsão dos espíri-tos através da música, portanto, durante toda a história da humanidade, a música foi vista com um forte poder terapêutico, até que no século XIX essa aceitação entrou em declí-nio devido ao conceito positivista da ciência (RUUD 1990).

A música voltou a fazer parte das questões médicas durante o renascimento, e no século XVII passou a ser utilizada em casos psiquiátri-cos, em que houve a observação da eficácia da música para esse tipo de tratamento.

Em 1749 Richard Brocklesby escreve o primeiro tratado de musicoterapia e começa a crescer as pesquisas nesta área, mas o reco-nhecimento da musicoterapia como ciência teve seu início nos EUA na segunda metade do século XX, visando o tratamento de depressão após a segunda guerra mundial. (Costa, 1989)

A World Federation of Music Therapy define musicoterapia como a utilização da mú-sica e/ou dos elementos musicais (som, ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente, de forma individual ou grupo, em um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização (física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e de-senvolver ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor integração entra e interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida (WFMT, s/d)

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Segundo Fonseca et al (2006), em uma pesquisa realizada em Goiânia sobre a credi-bilidade e aceitação da musicoterapia pelos pacientes concluiu que estes apresentaram boa aceitação da música e ressaltaram que essa terapia deveria ser mais divulgada. Essa pesquisa mostrou ser ideal o desenvolvimen-to de novas pesquisas sobre a maneira como a música age no organismo, para que haja maior expansão do trabalho dos musicoterapeutas.

4. O Idoso

A população mundial está envelhecen-do e segundo as estatísticas da Organização Mundial da Saúde, em 2025 teremos aproxi-madamente 840 milhões de pessoas idosas, ou seja, 70% da população mundial e o Brasil será o 6º país com o maior número de idosos (World, 1998). Para Vargas (1983), um indiví-duo envelhece fisicamente, psicologicamente e biologicamente, portanto, ocorre uma série de transformações na vida do mesmo, como a tendência a obter lentidão, diminuição da concentração, dificuldade de lembrar fatos re-centes, declínio na visão e audição, entre ou-tros. O equilíbrio psíquico do idoso depende da maneira como ele aceita a realidade que o cerca e quando isso não acontece de maneira positiva, surgem as reações psicopatológicas do envelhecimento.

Com o surgimento das doenças que aco-metem a terceira idade, o indivíduo pode ser submetido a uma série de dificuldades e de-pendências que prejudicam na progressão e recuperação. Pode-se afirmar que o surgimen-to da doença pode afetar o grupo familiar em aspecto físico, emocional, econômico, sendo que esse grupo familiar tem maior proximida-de com o paciente e poderá ter grande influên-cia na sua recuperação.

As pessoas idosas consideradas na fase final da vida ou fora de possibilidades terapêu-ticas, geralmente são isoladas nos hospitais pela família e sociedade, e isso faz com que aumente a solidão, o esquecimento, a angús-tia, levando-os à morte biológica. O relaciona-mento interpessoal está ligado aos processos envolvidos na comunicação, sendo que a ins-titucionalização dos idosos, aposentadoria e outros fatores, promovem o isolamento destes

devido o fato de deixarem de ser saudáveis e produtivos. (Cortelletti, et al, 2004). A dimi-nuição da comunicação pode ocasionar inú-meros prejuízos aos idosos, sendo que pode afetar a atividade simpática e parassimpática, podendo comprometer a vitalidade das vísce-ras (Both, 2004). A inserção dos idosos de for-ma ativa na sociedade reflete na intensificação da atividade diencefálica (Both, 2004).

Quando um indivíduo é considerado fora de possibilidades terapêuticas de cura, surgem inúmeras dificuldades que também afetam fa-mília e cuidadores (Genezini, Cruz, 2006). Geralmente, esses pacientes, em ambiente hos-pitalar, são isolados, gerando o aumento da so-lidão, exclusão, tendo como consequência o au-mento do sofrimento e o medo da morte. Neste caso, é necessário que o olhar dos cuidadores esteja voltado para o fator emocional, espiri-tual e social do indivíduo (Carvalho, Merighi, 2004). Para isso, é importante que haja ações e políticas de saúde específicas que visam ao bem-estar e qualidade de vida do idoso, pois, segundo o Art 3º do Estatuto do Idoso, é obri-gação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com ab-soluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convi-vência familiar e comunitária.

5. A Utilização da Musicoterapia

A musicoterapia é algo transdisciplinar, pois são inúmeros os fatores que envolvem a música e terapia (Bruscia, 2000). O pensa-mento que associa a música à cura está liga-do a diversas culturas desde a antiguidade até os dias de hoje, sendo que a música tornou-se um objeto de estudo da neurociência (Baeck, 2002; Correa,1999; Sacks, 2007).

Essa terapia deve ser aplicada por um musicoterapeuta graduado, o qual deve se-guir procedimentos descritos na “Standards of Clinical Practice” da “National Association of Music Therapy”. No Brasil, essa terapia tem sido aplicada principalmente em escolas, clí-nicas, hospitais, centros de realibitação, sen-do que tem grande envolvimento em questões psiquiátricas, com função de auxiliar na recu-

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peração dos indivíduos. (BACKES et al, 2003; CHICYBAN, 1991; GALLICCHIO, 2002; LEÃO & SILVA, 2004).

O musicoterapeuta pode realizar trata-mentos de forma individual ou em grupos organizados. Antes de iniciar determinado tra-tamento, é necessária a realização de uma ava-liação clínica do indivíduo, pois, somente as-sim, será possível determinar a melhor maneira de seguir com o tratamento (Padilha, 2008).

Para o musicoterapeuta, primeiramente é essencial conhecer a Identidade Sonora (ISO) do paciente, sendo que Bebenzon (1988) preco-niza a palavra ISO que vem do grego isos que significa igual e este desenvolve o conceito de ISO, qual “resume a noção de existência de um som ou um conjunto de sons ou o de fenômenos acústicos e de movimentos internos que carac-terizam ou individualizam cada ser humano”.

Antes de o musicoterapeuta apresentar ao paciente propostas de atividades, deve-se, primeiramente, o conduzir a um relaxamen-to e aquecimento, com o objetivo de dimi-nuir a tensão, que permite que o indivíduo esteja mais apto para conhecer as propostas (Barcellos, 2006).

Existem estudos que relatam os benefí-cios da música no tratamento de doenças como Parkinson, Alzheimer, sendo que é relatado que o ato de ouvir música provoca liberação de substâncias cerebrais responsáveis por melho-rar o humor, reduzir agressividade, além de ser influente na melhora do sono e estado depres-sivo. (GIANNOTTI & PIZZOLI, 2004, p.36).

Marconato et al (2001) realizaram um es-tudo para investigar os efeitos da musicoterapia receptiva. Foram estudados dois homens e oito mulheres com idade superior a 18 anos, que apresentavam sintomas de estresse, sofrimen-to emocional e necessidade de mudar hábitos de vida em benefício da saúde. Primeiramente, foi feita anamnese dos participantes, os quais também responderam a questionários e foram submetidos a estímulos musicais. Após tais in-terferências, foi possível perceber uma signifi-cativa melhora nos níveis de estresse, hábitos alimentares e satisfação pessoal.

O uso da musicoterapia vem crescendo gradativamente, devido ao fato de proporcio-nar conforto, facilitar comunicação e relacio-namento, diminuir a dor e ansiedade (Bergold, Et Al, 2006). Além disso, esta pode ser uti-

lizada a favor da humanização do ambiente (Inchoste, ET AL, 2007).

Segundo Sales et al (2009), a música pro-move bem-estar para os pacientes e seus cui-dadores. A participação dos pacientes na esco-lha do repertório resulta em satisfação pessoal. Ressaltam, também, que a música serve como suporte espiritual, psicoemocional, permitin-do que o paciente enfrente de melhor forma a doença. Segundo Bergold (2009), a música como recurso terapêutico, potencializa a res-tauração do paciente hospitalizado, devido à promoção de humanização no ambiente, con-forto, relaxamento, bem-estar, interação em grupo, expressão das emoções, além de ser um recurso responsável pelo desejo de desenvol-ver movimentos.

6. A influência da musicoterapia na saúde do Idoso

A influência musical em um paciente ido-so é um fator significativo para proporcionar a este uma melhor qualidade de vida, pois a mú-sica pode melhorar o desenvolvimento motor e cognitivo, é responsável por facilitar a expres-são de sentimentos, é considerada uma forma de comunicação que permite maior interação social e também é capaz de estimular o indi-víduo a refletir sobre sua vida (Padilha, 2008).

A música se insere no contexto de cuida-do paliativo que pode proporcionar conforto, estímulo à memória, atuar como forma de en-tretenimento, além de auxiliar na criatividade (Othero, Costa, 2007 ; Foxglove, 1999).

Estudos relatam que para integrarmos os diversos elementos da música, tais como rit-mo, harmonia, timbres e tons, utilizamos di-versas partes do cérebro (Sacks, 2007). Além disso, os estudos demonstram que a música age no sistema nervoso autônomo de forma que é capaz de aliviar a dor, diminuir o estres-se, possibilitando a redução do consumo de analgésicos (Ikonomidou, Rehnstrom, Naesh, 2004). Este efeito é explicado pela teoria do portal no controle da dor, a qual considera que a música age de forma competitiva à dor, por-tanto, proporciona tal alívio (Todres, 2006).

A musicoterapia tem se mostrado benéfi-ca como tratamento complementar de pessoas com deficiências físicas, como distrofia mus-

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cular e paralisia, deficiência visual e auditiva, além de apresentar efeitos positivos no trata-mento de distúrbios como esquizofrenia, de-pressão, autismo, entre outros (Padilha, 2008). Esse recurso, também permite melhora da au-toestima, diminuição do desespero e se torna eficaz na promoção do conforto e bem-estar (Bergold,2009).

Há alguns estudos sobre a eficácia da mu-sicoterapia no controle da dor e diminuição da ansiedade, sendo que há relatos de que esta é semelhante aos benzodiazepínicos em questão de redução da ansiedade. Portanto, pacientes submetidos a tal influência musical, neces-sitam de quantidades menores de sedativos durante a anestesia espinhal (Lepage , 2011 ; Berbel , 2007).

A interferência musical, também tem se mostrado capaz de diminuir a confusão e os delírios dos idosos (McCaffrey, Locsin, 2004), além de auxiliar na diminuição dos distúrbios de humor em pessoas que são submetidas a tratamentos com altas doses de quimioterapia (Cassileth, Vickers, Magill, 2003).

Entre os efeitos psicológicos proporcio-nados pela música estão inseridos: o desper-tar das emoções, pois estimula a criatividade, e o desenvolvimento do raciocínio, o que e facilita a aprendizagem por ativar um grande número de neurônios. Além disso, a música é significativa quanto ao aspecto de socialização de um indivíduo (Blasco, et al.,2002).

Costa e Vianna (1982) fizeram um estudo referente a pacientes com transtornos mentais que foram submetidos à seções de musicotera-pia, em que faziam produções rítmicas simples, exploravam sons corporais e vocais, experimen-tavam instrumentos, entres outros. Contudo, concluíram que a música foi um meio de comu-nicação não verbal entre os pacientes e viabili-zou uma melhor socialização dos mesmos.

A música também é um importante fa-tor de contribuição para o desenvolvimento da coordenação motora e restabelecimento da memória. Dessa forma, essa terapia também é capaz de auxiliar na reinserção do indivíduo na sociedade, já que este, além de recuperar a capacidade motora de determinados movi-mentos, também passa a se sentir útil para a sociedade e para si mesmo, tendo mais auto-nomia e menos solidão, evitando doenças de-pressivas, características da terceira idade.

7. A Contribuição da Música na Doença de Parkinson e Alzheimer

Segundo Sacks (2007) a música obtém grande potencial terapêutico para serem utili-zadas em pessoas com doenças neurológicas as quais acometem a terceira idade, tais como: Parkinson e Alzheimer.

A doença de Alzheimer compromete a área do cérebro responsável pela memória, pensamento e linguagem, sendo que a sua evolução leva ao comprometimento cogniti-vo, motor e linguístico. Essas manifestações podem levar o indivíduo a ter dificuldades de interação social, o que propicia a entrada na pessoa um estado depressivo, no entanto, é sa-bido que a musicoterapia pode facilitar não só nesse processo como também na expressão e comunicação, permitindo ao idoso, um melhor convívio social (Cunha, 1999).

Logo, uma pessoa que possui Alzheimer sofre perda de memória ou até mesmo pode obter amnésia profunda, dificuldade de co-municação e autopercepção, e a música pode influenciar na preservação dos aspectos da personalidade, além de agir nas emoções, fa-culdades cognitivas, pensamentos e memória.

A doença de Parkinson compromete o sistema nervoso central, mais precisamente, o sistema motor, originando tremores nos pés, nas mãos, acinesia, bradicinesia, alterações na fala, escrita, etc. A musicoterapia possibilita o relaxamento, a expressão, além de beneficiar as funções físicas e mentais do indivíduo com essa patologia (Lodovici Neto, 2006).

Corte, em 2009, realizou uma pesqui-sa qualitativa, tendo como foco a relação da gerontologia e musicoterapia. A metodo-logia consistiu em entrevista realizada na Associação Brasil Parkinson (ABP) paulista-na, com indivíduos que possuem determinada relação com a doença de Parkinson (DP). O objetivo da pesquisa era verificar a importân-cia da musicoterapia no tratamento de pessoas que possuíam essa doença. A partir da inter-pretação dos dados, pode-se concluir que a musicoterapia é excelente nesse tipo de trata-mento, pois permite que haja a diminuição do sofrimento do indivíduo.

Sacks afirma, em 1997, que com a apli-cação da música como método terapêutico, os

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pacientes dançavam e cantavam, e essa inter-ferência musical possibilitava a eles a estabili-dade, controle, sincronicidade, facilidade para falar e realizar outros movimentos complexos. Porém, para que houvesse o resultado terapêu-tico esperado, era necessário que a música per-tencesse ao gosto musical do paciente e este fosse sensível à mesma.

8. Os efeitos da musicoterapia na qualidade de vida e pressão arterial.

A hipertensão arterial é uma doença que acomete grande parte da população e pode gerar graves problemas cardiovasculares (Jardim,1998).

De acordo com as Diretrizes de Hipertensão Arterial, é importante que uma equipe multiprofissional vise o bem-estar do paciente hipertenso. O musicoterapeuta se in-sere neste contexto, podendo contribuir no tra-tamento não medicamentoso dessa moléstia.

Em diversos estudos há exploração da influência da música no aspecto fisiológico relacionado à pressão arterial, respiração, fre-quência cardíaca, eletro encefalograma, sensi-bilidade à dor e variações emocionais ( Hatem, 2006 ; Didolich, 2008).

Bernardi, Porta, Sleight (2006) fizeram um estudo sobre alterações cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórias, a partir de interferências musicais, e concluíram que as músicas lentas permitiam relaxamento, dimi-nuição da pressão arterial, frequência cardíaca e da ventilação pulmonar, enquanto músicas de ritmos mais acelerados, através da ativação do sistema nervoso simpático, proporciona-vam aumento da pressão arterial, frequência cardíaca e ventilação pulmonar. Dessa forma, pesquisas afirmam que é positiva a influência da música calma no tratamento de pacien-tes que sofreram infarto agudo do miocárdio (White, 1999).

A musicoterapia tem sido reconhecida por melhorar o período de hospitalização do pa-ciente, assim como é capaz de lhe proporcionar melhor qualidade de vida (Myskja, 2008).

Qualidade de vida consiste em viver bem no aspecto social, afetivo, profissional e de saúde (Lipp, 1994). Inúmeros fatores são res-

ponsáveis por propiciar a um indivíduo uma melhor qualidade de vida, como boa condição dos fatores biológicos, físicos, sociais, além do nível de independência e relação no meio em que vive (OMS 1998).

A musicoterapia pode contribuir para uma melhor qualidade de vida do idoso, pois, esta é capaz de elevar a autoestima, indepen-dência, melhorar relações interpessoais, resta-belecimento da melhoria, entre outros benefí-cios (Neri, 2001).

Zanini (2009) constatou em seu estudo realizado com hipertensos de idade superior a 50 anos, que sessões de musicoterapia propor-cionam significativa melhora na pressão arte-rial e na qualidade de vida.

9. Os efeitos da musicoterapia no tratamento da dor crônica.

A dor crônica é um dos problemas de saúde mais comuns em todo mundo, especial-mente no ocidente, e os gastos no tratamento e no controle da dor são muito grandes para o paciente para o Estado.

Assim sendo, diversas medidas não far-macológicas têm sido usadas para esse trata-mento, entre elas estão programas educativo--comportamentais e a musicoterapia.

Sabe-se que a música abrange as dimen-sões biológica, mental, emocional e espiritual do ser humano, de forma que o mecanismo de ação no controle da dor é muito grande. A música é capaz de induzir o relaxamento, libe-rar endorfinas e provocar distração, tudo isso ajudando na diminuição e no controle da dor.

Além disso, a música é capaz de criar imagens mentais, criando um elo entre percep-ção, emoção e mudança corporal, sendo capaz de mudar o foco perceptual da dor.

Diversos estudos em que as pessoas com dor crônica leve-moderada eram submetidas a uma sessão de audição (sessão onde as pes-soas ouvem um determinado repertório musi-cal) mostraram que a intensidade da dor era reduzida após a sessão. Dessa forma, a neces-sidade do tratamento farmacológico é reduzi-da, reduzindo também os gastos e aumentando a qualidade de vida.

O estudo de LEÃO & SILVA (2004) mostrou justamente esse efeito sobre a intensi-

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dade da dor e a formação de imagens mentais durante uma audição de um repertório de mú-sicas eruditas, que teve como resultado uma grande quantidade de imagens mentais e uma redução significativa da dor nos pacientes que aceitaram participar da pesquisa.

10. Resultados e Discussão

Diante dos dados encontrados, foi possível observar que a metodologia utilizada na musi-coterapia é altamente eficaz no tratamento de diversas doenças que acometem a população idosa, seja como tratamento principal, seja como tratamento adjuvante, dependendo da gravidade em que se encontra o paciente e dos recursos dis-poníveis para o tratamento necessário.

Também foi possível observar a eficácia desse tipo de terapia na prevenção de diversas patologias frequentes nessa faixa etária, assim como na preservação da qualidade de vida dessas pessoas.

Portanto, a utilização da musicoterapia é muito ampla, podendo ser aplicada em di-versos tipos de situações e nas mais diferentes patologias que acometem os idosos, como por exemplo, a depressão, a ansiedade, a hiperten-são arterial sistêmica, a dor músculo-esque-lética, a Doença de Alzheimer, a Doença de Parkinson, a distrofia muscular, as paralisias, as deficiências visuais e auditivas, a esquizo-frenia, entre tantas outras.

11. Considerações finais.

A musicoterapia é uma terapia não ver-bal que consiste na utilização da música e seus elementos para intervir na saúde. Esta deve ser aplicada por um musicoterapeuta graduado, o qual fará a avaliação do paciente em vários as-pectos para definir a melhor maneira de seguir com o tratamento.

Em vista dos benefícios que a música pode proporcionar, é possível afirmar que a contri-buição da musicoterapia na saúde do idoso é muito relevante, pois é capaz de possibilitar uma melhora clínica dos distúrbios que acome-tem essa faixa etária, o que permite a participa-ção mais ativa e influente destes na sociedade, além de possibilitar melhor qualidade de vida.

Estudos relatam que esta terapia é eficaz no tratamento de vários distúrbios que afe-tam a população idosa, tais como: depressão, ansiedade, hipertensão arterial, dor músculo--esquelética, Alzheimer, Parkinson, distrofia muscular, paralisia, deficiência visual e auditi-va, esquizofrenia. Também se mostra capaz de estimular a criatividade, o raciocínio, facilitar a aprendizagem, melhorar o desenvolvimento motor e cognitivo, estimular as emoções, faci-litar a expressão e comunicação. Esta, também pode ser utilizada a favor da humanização do ambiente, melhora da autoestima, diminuição do desespero e se torna eficaz na promoção do conforto, bem-estar, além de atuar como for-ma de entretenimento.

Musicoterapia foi reconhecida como ciência há pouco tempo, e isso explica o fato de não ser tão conhecida e aplicada. O cam-po da musicoterapia é muito amplo e ainda há muitos fatores a serem exploradas nesta área, tanto com o objetivo de novas descobertas, quanto para aumentar a credibilidade e cons-cientização sobre sua eficácia, além de contri-buir para a aplicação desta nos hospitais.

É importante que os profissionais da área da saúde busquem conhecer diversas medidas que auxiliam na prevenção e tratamento de doenças, assim como a musicoterapia, propor-cionando uma melhor qualidade de vida, espe-cialmente aos idosos, já que a expectativa de vida vem aumentando.

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Endereço para Correspondência:

Glauber Correia de [email protected]

Rua Cristóvão Colombo, 303, casa 2Jardim Amália IIVolta Redonda- RJCEP: 27250-710

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1 Acadêmicos do curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA.2 Mestre em Educação e Saúde pelo UniFOA. Docente do curso de Medicina do UniFOA.3 Doutor em Ciências Biológicas (Biofísica) pela UFRJ.

A interface entre o Diabetes Mellitus tipo II e a hipertensão arterial sistêmica: aspectos bioquímicos

The interface between the type ii diabetes mellitus and systemic arterial hypertension: biochemical aspects

Pedro Lopes Fraga1

Bruno José Martini-Santos1

Bruno Nonato dos Santos Severino1

Marise Ramos de Souza Oliveira2

Guilherme Rapozeiro França3

Palavras-chave:

Diabetes Mellitus

Hipertensão arterial

Inibidores da ECA

Resumo:O Diabetes Mellitus Tipo II é uma doença que cursa com uma resposta tecidual subnormal a determinadas concentrações de insulina, através de um mecanismo de resistência à insulina, representando cerca de 90 a 95% dos casos de diabetes mellitus diagnosticados. Há correlação direta entre a angiotensina II e resistência insulínica em portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus tipo II. O objetivo deste arti-go é explicar, através de aspectos bioquímicos (reações e mudanças que ocorrem a nível celular, de que forma o Diabetes Mellitus Tipo II e a Hipertensão Arterial Sistêmica se inter-relacionam, no sentido de uma doença poder gerar a outra. Para isso, foram levantados artigos sobre o tema nas bases de dados Scielo, PubMed-Medline, além de livros que abordam o tema. Conclui-se que o principal mecanismo bioquí-mico envolvido é a ativação da via JAK/STAT/SOCS3, mediado pela ativação do receptor AT1, que por sua vez, determina a ubiquitinação dos substratos responsivos de insulina. Dessa forma, a interface entre o Diabetes Mellitus Tipo II e a Hipertensão Arterial Sistêmica fica melhor compreendida através do entendimento das mudanças bioquímicas que ocorrem na gênese destas duas patologias.

AbstractThe Type II diabetes mellitus is a condition that leads to a sub-normal tissue response to certain concentrations of insulin through a mechanism of insulin resistance, representing about 90-95% of cases diagnosed with diabetes mellitus. There is direct correlation between angiotensin II and insulin resistance in patients with hypertension and / or type II diabetes mellitus. The purpose of this article is to explain through biochemical aspects (reactions and changes that occur at the cellular level) how the Type II Diabetes Mellitus and Hypertension interrelate in order to generate a disease to another. Articles were surveyed in the databases SciELO, PubMed-Medline, and books that address the topic. It was concluded that the primary mechanism involved is the biochemical pathway activation JAK/STAT/SOCS3 mediated by activation of the AT1 receptor, which in turn determines the ubiquitination of substrates responsive of insulin. Thus, the interface between the Type II Diabetes Mellitus and Hypertension is best understood by understanding the biochemical changes that occur in the genesis of these two pathologies.

Keywords:

Diabetes Mellitus

arterial hypertension

ECA inhibitors

Recebido em 05/2012

Aprovado em 12/2012

ArtigoOriginal

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1. Introdução

O Diabetes Mellitus do Tipo II represen-ta cerca de 90 a 95% dos casos de diabetes mellitus diagnosticados. Ele é uma desordem metabólica de etiologia múltipla caracteriza-da por hiperglicemia crônica, com distúrbios no metabolismo dos carboidratos, gorduras e proteínas, originários de uma defeituosa se-creção e/ou ação da insulina nos tecidos-alvos (VASQUES et al., 2007).

De acordo com a Associação Americana de Diabetes, existem quatro classificações de Diabetes Mellitus: Tipo 1 ou insulino- depen-dente ( DM1); Tipo 2 ou não insulino- de-pendente (DM2); gestacional; e secundário a outras patologias. Independente da classi-ficação, a principal característica do DM é a manutenção da glicemia em níveis acima dos valores considerados normais. O retardo para o início do tratamento do DM pode acarretar no desenvolvimento de doenças cardiovascu-lares, retinopatias, neuropatias autonômicas e periféricas, nefropatias, doença vascular peri-férica, aterosclerose, doença cerebrovascular, hipertensão, susceptibilidade a infecções e doenças periodontais (ARSA et al., 2009).

O Diabetes Mellitus Tipo II apresenta in-ter-relações significativas com a pressão arterial sistêmica. É, portanto, de suma importância es-tabelecer a correlação entre o diabetes mellitus tipo II e a hipertensão arterial, uma vez que am-bas as patologias possuem diversos efeitos sis-têmicos e necessitam de um correto tratamento.

O objetivo desta revisão é expor através de bases bioquímicas a possível interface entre essas duas enfermidades.

2. Abordagem metodológica

Para a revisão de literatura proposta, fo-ram levantados artigos sobre o tema nas ba-ses de dados Scielo, PubMed-Medline, além de livros disponíveis na biblioteca do Centro Universitário de Volta Redonda- UniFOA.

Esse material bibliográfico conduziu à com-preensão de como o Diabetes Mellitus Tipo II e a Hipertensão Arterial Sistêmica se relacio-nam, no sentido de uma patologia contribuir para o aparecimento da outra, de acordo com aspectos bioquímicos, ou seja, das principais reações intracelulares envolvidas na gênese destas duas patologias.

3. Revisão de Literatura

3.1. Secreção de Insulina A insulina é um hormônio importante para

a manutenção da homeostase glicêmica e tam-bém para o crescimento e diferenciação celular. Tem função anabólica e é secretada pelo pân-creas (células beta das Ilhotas de Langerhans), em função da elevação da glicemia, dos níveis circulantes de aminoácidos e de ácidos graxos li-vres, como ocorre após a realização de refeições (ARSA et al., 2009).

O aumento da concentração de glicose sanguínea é o controlador primário da secre-ção de insulina pelas células beta pancreáticas (GUYTON.; HALL, 2011). Estas apresentam um grande número de transportadores de glico-se (GLUT-2) que permitem uma taxa de influxo de glicose proporcional à concentração sérica na faixa fisiológica. Quando a glicose sanguínea aumenta, os transportadores GLUT-2 carregam a glicose para dentro das células beta, em que é imediatamente convertida em glicose-6-fosfato pela hexocinase IV (glicocinase) e entra na via da glicólise. Com a taxa de catabolismo da glicose mais alta, a concentração de trifosfato de adeno-sina (ATP) aumenta, causando o fechamento dos canais de K+ controlados por ATP na membrana plasmática. A despolarização abre canais de Ca++ controlados por voltagem, e o aumento resultan-te na [Ca++] citosólica desencadeia a liberação de insulina por exocitose (LEHNINGER, 2011). Esses mecanismos básicos para a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas são de-monstrados na figura 1.

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Figura 1: Mecanismo primário de estímulo da glicose na secreção da insulina pelas células beta do pâncreas. Adaptado de Guyton.; Hall, 2011. Glut 2 : Transportador de glicose tipo 2; ATP: Trifosfato de adenosina.

3.2. Vias de Sinalização da Insulina

O receptor de insulina é formado por uma combinação de quatro subunidades que se mantêm unidas por meio de ligações dissulfe-to: duas subunidades alfa, que se situam intei-ramente do lado externo da membrana celular e duas subunidades beta, que penetram através da membrana, projetando-se no citoplasma ce-lular (GUYTON.; HALL, 2011).

A ação da insulina inicia-se, a partir da sua ligação às suas subunidades alfa do receptor es-pecífico na membrana, estimulando a subuni-dade beta que se autofosforila e implementa sua capacidade tirosina cinase. A subunidade beta é capaz de se autofosforilar e de fosforilar outras proteínas ou substratos sinalizadores intracelu-lares, dentre eles o substrato 1 do receptor de

insulina (IRS-1) e o substrato 2 do receptor de insulina (IRS-2). Após a fosforilação do IRS-1, este pode se associar à fosfatidilinositol-3--cinase (PI3-cinase), ativando-a. Essa ativação é necessária para a estimulação do transporte de glicose pela insulina, e é suficiente para indu-zir, pelo menos parcialmente, a translocação do GLUT-4 para a membrana plasmática. Após a fosforilação da PI3-cinase, essa proteína passa a ativar outros substratos citoplasmáticos, como as serinas cinases, proteína cinase B (AKT) e a proteína cinase C (PKC), que, uma vez fosfori-ladas, também participam das vias de transdu-ção do sinal de insulina durante o transporte de glicose (MARREIRO et al., 2004). As etapas de sinalização da insulina desde a sua ligação ao receptor até a ativação do transporte de gli-cose são esquematizadas na figura 2.

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Figura 2: As vias de sinalização da insulina, através de sua ligação às subunidades alfa do receptor específico, levando a autofosforilação das subunidades beta. Isso permite a fosforilação dos substratos sinalizadores intracelulares que contribuem

para a inserção do transportador de glicose na membrana celular, via ativação de enzimas específicas. IRS-1: Substrato 1 do receptor de insulina; IRS-2: Substrato 2 do receptor de insulina; PI(3)K: Fosfatidilinositol-3-cinase; AKT: Proteína cinase B; GLUT: Transportador de glicose. Fonte: Tabela feita pelo autor com base na referência Guyton.; Hall, 2011.

3.3. Hipertensão arterial e receptores de angiotensina

Os efeitos das angiotensinas são exer-cidos através de receptores heptaelicoidais acoplados à proteína G. Os dois subtipos de receptores de angiotensina são usualmente designados como AT1 e AT2. O papel funcio-nal dos receptores AT2 não está bem definido; entretanto, esse receptor pode exercer efeitos antiproliferativos, pró-apoptóticos, vasodi-latadores e anti-hipertensivos (JACKSON, 2006). A angiotensina II provoca constrição das arteríolas pré-capilares e, em menor grau, das vênulas pós-capilares ao ativar os recep-tores AT1 localizados nas células musculares lisas vasculares, de modo que a ocorrência de aumentos modestos nas concentrações plas-máticas de angiotensina II provoca elevação aguda da pressão arterial (JACKSON, 2006).

3.4. Resistência Insulínica, DM2 e o desenvolvimento de Hipertensão arterial

A resistência à insulina é definida como uma resposta biológica subnormal a uma de-terminada concentração desse hormônio. Cada vez mais prevalente em nossa sociedade, ela

acompanha várias situações clínicas, como a obesidade, o diabetes mellitus tipo 2, a hiper-tensão arterial, processos infecciosos, algumas doenças endócrinas e a síndrome do ovário po-licístico (CARVALHO-FILHO et al., 2007).

O hormônio angiotensina II é um peptí-deo biologicamente ativo que apresenta efei-tos pleiotrópicos sobre os sistemas nervoso, cardiovascular e endócrino, os quais são ini-ciados pela ativação de receptores específicos acoplados à proteína G, pertencentes à família dos receptores de sete segmentos transmem-brana, chamados AT1 e AT2. Embora AT1 e AT2 sejam igualmente distribuídos em car-diomiócitos, vários estudos têm revelado que a maioria das respostas da Angiotensina II é mediada pelo subtipo AT1 (ITO et al., 1995; SADOSHIMA e IZUMO, 1996).

Existem diversas vias de sinalização intra-celular que participam da transdução do sinal da angiotensina II em células alvo, a exemplo da via que envolve a ativação da proteína Gq. Entretanto, a inter-relação entre a hipertensão arterial e o diabetes mellitus tipo II fica melhor compreendida através da ativação da cinase intra-celular JAK2 (Janus quinase 2), que rapidamen-te direciona o sinal para o núcleo pelas proteínas transdutoras de sinal e ativadoras da transcrição (STAT) (SCHINDLER e DARNELL, 1995).

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A ativação da via JAK/STAT pela angioten-sina II foi observada em células musculares lisas vasculares (MARRERO et al., 1995), fibroblastos cardíacos (BHAT et al., 1995), células muscula-res cardíacas (MASCARENO et al., 1998) e te-cido cardíaco in vivo (VELLOSO et al., 1996). Por fim, por meio de uma combinação de efeitos diretos e secundários, a via JAK/STAT é ativada, com indução de uma variedade de fatores regula-dores da transcrição (JACKSON, 2006).

Como revisto por Calegari (2006), as pro-teínas SOCS, embora tenham sido, original-mente, descritas na sinalização das citocinas, podem ser induzidas através da ativação da via JAK/STAT por vários hormônios, como lepti-na, insulina, hormônio do crescimento, prolac-tina e angiotensina II. Além disso, SOCS3 é capaz de se ligar diretamente às proteínas IRS e direcioná-las para a degradação proteossômica (RUI et al., 2002). Dessa forma, sugere-se que as proteínas SOCS3 sejam potentes inibidores da sinalização da insulina. Esse fato é de grande interesse, uma vez que a expressão de SOCS3 está aumentada em várias situações associadas com resistência à insulina (UEKI et al., 2005).

A interação da SOCS3 induzida pela angiotensina II com as proteínas das vias de sinalização insulínica tem implicações mole-culares e funcionais. No nível molecular, essa interação impede a fosforilação em tirosina de IRS-1 e IRS-2 e a fosforilação em serina e a ativação da AKT. Além disso, a indução da

SOCS3 pela angiotensina II impede a ativação da via JAK-2/STAT-5b pela insulina. No nível funcional, o aumento da expressão de SOCS3 induzido pela angiotensina II impede a translo-cação do GLUT intracelular para a superfície da membrana. Portanto, a SOCS3 representa uma interface distal nos sistemas de sinaliza-ção de insulina e angiotensina II. Se, por um lado, isso pode representar uma proteção dos órgãos-alvo da insulina contra um estímulo constante de crescimento, por outro lado a in-dução da expressão da SOCS3 pode impedir uma transmissão eficiente do sinal de insulina pela via metabólica, dificultando a aquisição de energia (CARVALHO-FILHO et al., 2007).

A resistência à insulina, com inibição do IRS-1, leva a uma hiperinsulinemia compensa-tória e ao desenvolvimento de disfunção endo-telial, uma vez que o IRS-1 inibido impede a ativação da PI3-cinase, que está envolvida na geração do estímulo para a produção de óxido nítrico nas células endoteliais. Com a diminui-ção do estímulo para a produção do óxido ní-trico, a atividade contrátil da angiotensina II se torna mais evidente, produzindo vasoconstri-ção, bem como nefropatia, retinopatia, neuro-patia e hipertensão arterial (ARSA et al., 2009).

O mecanismo básico da interação da angiotensina II e o seu receptor AT1, promo-vendo a ativação da via JAK/STAT, com sua principal implicação molecular e funcional é demonstrado na figura 3.

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4. Discussão: a Angiotensina II pode alterar a ação da insulina?

As ações da angiotensina II e da insulina envolvem múltiplos aspectos bioquímicos no processo de transdução de sinais, especialmen-te quando se pensa na inter-relação entre resis-tência insulínica, DM2 e Hipertensão arterial.

Como revisto por Calegari (2006), vários mecanismos estão envolvidos na regulação dos sinais intracelulares transduzidos através da via JAK/STAT, entre eles, a internalização do receptor, a degradação pelo sistema ubiqui-tina/proteosoma, a ativação de proteínas PIAS (proteínas inibidoras ativadas pelas STATs) e também a expressão de moléculas reguladoras da sinalização, como as tirosinas fosfatases e as proteínas da família SOCS.

De acordo com evidências crescentes na literatura, o sistema ubiquitina/proteosoma torna-se crucial na marcação de determinadas proteínas intracelulares alterando a cascata de sinalização insulínica, uma vez que a SOCS3 é capaz de ligar-se ao IRS-1 e IRS-2, provocan-do sua degradação proteossômica, através do mecanismo de ubiquitinação (CARVALHO-FILHO et al., 2007). Nesse sentido, a angio-tensina II pode alterar a ação da insulina?

Há indicações de que a angiotensina II pode alterar a ação da insulina in vivo por pelo menos dois motivos principais. A angio-tensina II através do seu efeito vasoconstritor pode reduzir a eliminação de insulina nos te-cidos periféricos e assim levar a um excesso de insulina tecidual, o que por sua vez, levaria a uma hipossensibilização do receptor à ação da insulina (FLISER et al., 1997). Vários estu-dos têm demonstrado que o uso de agentes que inibem a ação da angiotensina II, como inibi-dores da enzima conversora de angiotensina II (ECA) e os antagonistas do receptor AT1, não somente reduzem a pressão sanguínea como também melhoram a sensibilidade à insulina em indivíduos hipertensos e resistentes à in-sulina (FELDMAN, 2000; SCHEEN, 2004). Dessa forma, torna-se claro que o sistema renina-angiotensina exerce papel regulatório importante sobre a ação da insulina.

Peraldi e colaboradores (2001) demons-traram que a insulina induz a expressão do RNAm de SOCS3 em adipócitos e a transloca-ção desta proteína para a membrana plasmáti-ca onde, através de seu domínio SH2, interage com a fosfotirosina 960 (py960) do receptor de insulina podendo, dessa forma, participar da dessensibilização do sinal da insulina já que

Figura 3: Modelo esquemático de hiperglicemia relacionado com a ativação de receptores AT1. JAK: Proteína Janus cinase; STAT: Proteínas transdutoras de sinal e ativadoras da transcrição; SOCS: Proteínas da família dos supressores de sinalização

de citocinas; IRS-1: Substrato 1 do receptor de insulina; IRS-2: Substrato 2 do receptor de insulina; AKT: Proteína cinase B; GLUT-4: Transportador de glicose do tipo 4. Fonte: Figura feita pelo autor com base na referência Calegari, 2006.

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compete com STAT5b por este sítio. A SOCS3 reduz a fosforilação em tirosina de IRS-1 e sua subsequente associação à subunidade p85 (subunidade regulatória) da enzima PI3-K, de-monstrando que a ligação de SOCS3 à py960 inibe o acoplamento entre IRS-1 e o receptor de insulina (EMANUELLI et al., 2001).

Conforme vários autores, a insulina re-gula finamente sua sinalização através de vá-rias alças de controle negativo (RICORT et al., 1995; VIRKAMAKI et al., 1999) e, dessa forma, vários circuitos de controle são neces-sários para manter a ordem adequada nas múl-tiplas vias de sinalização ativadas pelo hormô-nio e, portanto, permitir uma resposta celular final coordenada. Acredita-se que a indução de SOCS3 pela insulina constitua-se em um dos meios utilizados por este hormônio para controlar sua própria sinalização e de estabele-cer uma comunicação com outros hormônios.

Sabe-se que cerca de 50% dos pacien-tes portadores de diabetes mellitus tipo II apresentam hipertensão arterial e que, quase a totalidade de pacientes primariamente hi-pertensos, são resistentes à ação da insulina (FERRANNINI et al., 1987). A resistência à insulina em pacientes hipertensos e diabé-ticos tipo II é caracteristicamente acompa-nhada por hiperinsulinemia (DEFRONZO e FERRANNINI, 1991). Altos níveis circulan-tes de insulina podem causar hiperatividade do sistema nervoso simpático, o que poderia con-tribuir para o desenvolvimento da hipertensão arterial (LANDSBERG, 1999).

Dessa forma, tanto a hipertensão arterial quanto o DM2 são patologias que podem se expressar de forma recíproca, isto é, quando uma dessas não é tratada, tem grande chance de evoluir levando ao aparecimento da outra enfermidade, o DM2 pela ativação da SOCS3 que induz a degradação proteossômica dos substratos responsivos de insulina diminuin-do, dessa forma, a sinalização insulínica e a hipertensão arterial oriunda, dentre outros fa-tores, como consequência de uma super ativa-ção do sistema nervoso simpático.

Nesse sentido, o DM2 e a hipertensão arte-rial necessitam de alguns tratamentos, entre eles o farmacológico. Sabe-se que a formação da an-giotensina II é dada pela ação da ECA (enzima conversora de angiotensina), responsável pela conversão da angiotensina I, a qual tem pou-

co ou nenhum efeito sobre a pressão arterial, em angiotensina II, um potente vasoconstritor, atuando sobre os receptores AT1 e AT2.

A ECA tem presença abundante na su-perfície endotelial do pulmão e além de for-mar angiotensina II, também inativa a ação de peptídeos vasoativos como a bradicinina e a calidina (ARSA et al., 2009).

O tratamento com bloqueadores dos recep-tores AT1 da angiotensina II, assim como o uso de inibidores da ECA, vem sendo associado a uma menor incidência de novos casos de diabe-tes mellitus tipo 2 (ABUISSA et al., 2005).

Sabe-se que a via JAK/STAT é ativada pela angiotensina II através do receptor AT1 (ALI et al., 1997). Inibidores farmacológicos da atividade deste receptor, como Losartan, podem bloquear a atividade in vivo da angio-tensina II (ARDAILLOU, 1999).

Os bloqueadores dos receptores AT1 da angiotensina II são de uso corrente no trata-mento da hipertensão arterial, evitando as-sim os efeitos maléficos da angiotensina II (RIBEIRO, 2007).

Reduzir o impacto do DM2 e da hiperten-são arterial significa, antes de tudo, reduzir a incidência das doenças, antecipando-se ao apa-recimento com medidas preventivas, sobretu-do em indivíduos de alto risco. Intervenções comportamentais e farmacológicas têm sido estudadas e implementadas com esse objetivo.

5. Considerações Finais

Conclui-se que há correlação direta entre a angiotensina II e resistência insulínica em portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus tipo II. O principal mecanismo bioquí-mico envolvido é a ativação da via JAK/STAT/SOCS3, mediado pela ativação do receptor AT1, que por sua vez, determina a ubiquitina-ção dos substratos responsivos de insulina.

O controle farmacológico da hipertensão arterial sistêmica deve ser instituído, sempre que possível com inibidores da enzima con-versora de angiotensina (IECA), com o pro-pósito de diminuir a ativação dos receptores AT1, pela angiotensina II, portanto, assim, minimizar os efeitos de resistência insulínica desses pacientes.

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Endereço para Correspondência:

Pedro Lopes [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, no 1325,Três Poços – Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

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1 Discente do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA2 Docente do Curso de Ciências Biológicas – UniFOA.

Ecologia da comunidade de metazoários parasitos do xixarro, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

Community ecology of the metazoan parasites of rough scad, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) from the coastal zone State of Rio de Janeiro, Brazil.

Paulo Henrique da Silva Gonçalves¹Dimitri Ramos Alves2

ResumoEntre novembro de 2009 e abril de 2010, 64 espécimes do xixarro, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) coleta-dos no litoral do Estado do Rio de Janeiro (21-23ºS, 41-45ºW), foram necropsiados para o estudo das infracomunidades de metazoários pa-rasitos. Nove espécies de metazoários parasitos foram coletadas: duas espécies de digenéticos, uma de monogenético, uma de cestóide, uma de acantocéfalo, três de nematóides e uma de copépode. Todos os espé-cimes de T. lathami estavam parasitados por pelo menos uma espécie de metazoário. Foram coletados 725 espécimes de parasitos, com mé-dia de 11,32 ± 9,19 por peixe. Os digenéticos corresponderam a maio-ria dos espécimes coletados, com 78,34%. Ectenurus virgulus Linton, 1910 foi a espécie dominante, com os maiores valores de abundância, prevalência, frequência de dominância e dominância relativa média. Os parasitos de T. lathami apresentaram típico padrão de distribuição agregada. A riqueza parasitária média foi de 2,1 ± 0,8. Nenhuma espé-cie de metazoário parasito apresentou correlação entre o comprimento total do hospedeiro e a prevalência, abundância e a riqueza parasitárias.

Palavras-chave:

Metazoários parasitos

Trachurus lathami

Carangidae

Abstract From November 2009 to April 2010, 64 specimens of rough scad, Trachurus lathami Nichols, 1920 (Osteichthyes: Carangidae) collected from coastal zone of the state of Rio de Janeiro (21-23ºS, 41-45ºW), were necropsied to study their infracommunities of metazoan parasites. Nine species of metazoan parasites were collected: 2 digeneans, 1 monogenean, 1 cestode, 1 acantocephala, 3 nematodes and 1 copepod. All the T. lathami specimens were parasitized by, at least, one metazoan specie. A total of 725 parasites were collected, an average of 11.32 ± 9.19 per fish. The digeneans were the majority of the specimens collected, with 78.34%. Ectenurus virgulus Linton, 1910 was the dominant species with highest abundance, prevalence, frequency of dominance and media relative dominance. The parasites of T. lathami showed a typical aggregate pattern of distribution. The average richness of parasite species was 2.1 ± 0.8. None of the metazoan parasites species showed correlation among the fish total length and the prevalence, abundance and richness parasite.

Keywords:

Metazoan parasites

Trachurus lathami

Carangidae

Recebido em 07/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

Os peixes pertencentes ao gênero Trachurus têm ampla distribuição mundial, ocorrendo na maioria das áreas neríticas e oceânicas, em regiões tropicais e tempera-das. Das 15 espécies desse gênero, apenas Trachurus lathami Nicols, 1920 ocorre no Atlântico ocidental (SACCARDO, 1987; SACCARDO; KATSURAGAWA, 1995; SUDA et al., 1995; NELSON, 2006).

No Brasil, esse peixe é conhecido como xixarro, alcança aproximadamente 40cm de comprimento e cerca de 0,5Kg, forma cardumes grandes em águas relativamente afastadas da costa e constitui um importan-te recurso pesqueiro. Alimenta-se de inver-tebrados planctônicos, como copépodes e larvas de gastrópodos, e se distribui desde o Golfo do Maine (EUA) ao norte da Argentina (MENEZES; FIGUEIREDO, 1980; LOWE-MCCONNELL, 1999; FIGUEIREDO et al., 2002; CARVALHO; SOARES, 2006).

No Brasil, estudos sobre a ecologia das comunidades de metazoários parasitos caran-gídeos foram realizados por Takemoto et al. (1995, 1996) e Takemoto e Luque (2002) com Oligoplites spp.; Luque e Alves (2001) com Caranx hippos (Linnaeus, 1766) e Caranx la-tus Agassiz, 1831; Luque e Cezar (2004) com Trachinotus goodei Jordan e Evermann, 1896 e Cordeiro e Luque (2004) com Selene setapinnis (Mitchill, 1815). Ressaltamos também os estu-dos realizados por Luque e Poulin (2004, 2007), Luque et al. (2004) e Poulin et al. (2011) com a inclusão de carangídeos do litoral do Estado do Rio de Janeiro nas análises sobre biodiversi-dade parasitária. Em relação aos registros e/ou descrições de espécies de metazoários parasitos de T. lathami, podemos destacar os trabalhos realizados por Amato (1982), Fernandes et al. (1985) e Kohn et al. (2007).

O presente trabalho tem como objetivo desenvolver uma análise ecológica da comu-nidade de metazoários parasitos do xixarro, Trachurus lathami, proveniente do litoral do Estado do Rio de Janeiro, realizando uma aná-lise ao nível de infracomunidade e comunida-de componente.

2. Material E Métodos

No período de novembro de 2009 a abril de 2010 foram necropsiados 64 espécimes de T. lathami, coletados no litoral do Estado do Rio de Janeiro (21-23°S, 41-45°W). Os peixes foram adquiridos de pescadores artesanais. Uma vez obtidos, os mesmos foram acondi-cionados em caixas de isopor contendo gelo, para assegurar boas condições da coleta dos parasitos e protegê-los durante o transpor-te até o Laboratório de Zoologia do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), onde foram realizadas as necropsias. A deter-minação dos peixes foi feita de acordo com Menezes e Figueiredo (1980) e Figueiredo et al. (2002). A coleta, registro e processamento dos parasitos foram realizados de acordo com os procedimentos indicados por Eiras et al. (2000). A análise incluiu somente as espécies com prevalência maior que 10% (BUSH et al., 1990). O cálculo da frequência de dominância e da dominância relativa (número de espécimes de uma espécie/número total de espécimes de todas as espécies de cada infracomunidade) foi feito seguindo a metodologia de Rohde et al. (1995). O quociente entre a variância e a abun-dância média (índice de dispersão) foi calcula-do para cada espécie de parasito com o intuito de determinar seu padrão de distribuição, sen-do sua significância testada com o estatístico d (LUDWIG; REYNOLDS, 1988). O coeficiente de correlação por postos de Spearman, rs, foi usado para determinar possíveis correlações entre o comprimento total do hospedeiro e a abundância de infecção/infestação. O coefi-ciente de correlação de Pearson, r, foi usado para determinar a possível correlação entre o comprimento total do hospedeiro e a preva-lência da infecção/infestação parasitária, com prévia transformação angular dos dados de pre-valência (ZAR, 1996). As amostras dos hospe-deiros foram separadas em quatro intervalos de classe com amplitude de 1,5cm. A terminologia ecológica usada é a recomendada por Bush et al. (1997). Todos os valores que correspondem à média de alguma variável são acompanhados do respectivo desvio padrão. O nível de signifi-cância estatística adotado foi P < 0,05.

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3. Resultados

3.1. Componentes da comunidade pa-rasitária

Os espécimes de T. lathami mediram 18,2 ± 1,1 (16 – 22) cm de comprimento total. Os espécimes machos (n = 14) mediram 18,3 ± 0,7cm, os espécimes fêmeas (n = 21) medi-ram 18,3 ± 1,1cm e os demais espécimes (n = 29), cujo sexo não foi determinado, mediram 17,9 ± 1,2cm de comprimento total. O compri-mento total dos espécimes machos e fêmeas não apresentou diferença significativa (t = - 0, 263; P = 0,796).

Todos os espécimes de T. lathami esta-vam parasitados por pelo menos uma espécie de metazoário. Um total de 725 espécimes de parasitos pertencentes a nove espécies foi co-

letado, com abundância média de 11,32 ± 9,19. O digenético Ectenurus virgulus Linton, 1910 foi o mais prevalente e abundante (Tabela 1). Os digenéticos, nematóides e o acantocéfalo corresponderam a 78,34%, 17,51% e 2,34% do total de parasitos coletados, respectiva-mente. Os componentes da comunidade pa-rasitária do T. lathami apresentaram o típico padrão de distribuição superdispersão (Tabela 2). Ectenurus virgulus apresentou a maior fre-quência de dominância e o maior valor de do-minância relativa média (Tabela 3). Nenhuma espécie de metazoário parasito apresentou correlação entre o comprimento total do hos-pedeiro e a prevalência e abundância. A abun-dância média (rs = 0,241; P = 0,054) e a rique-za parasitária (2,1 ± 0,8; rs = 0,147, P= 0,246) não apresentaram relação com o comprimento do hospedeiro.

Tabela 1. Prevalência, amplitude da intensidade, intensidade média, abundância média e local de infecção/infestação dos metazoários parasitos de Trachurus lathami do litoral do Estado do Rio de

Janeiro, Brasil.

ParasitosPrevalência

(%)Amplitude da intensidade

Intensidade média

Abundância média

Localde

infecção

Digenea

Aponurus laguncula 26,56 1 – 4 1,76 ± 0,97 0,46 ± 0,92 Estômago

Ectenurus virgulus 92,18 1 – 34 9,11 ± 7,94 8,40 ± 8,01 Estômago

Monogenea

Pseudaxine trachuri 1,56 - 1 0,01 ± 0,12 Brânquias

Cestoidea

Grillotia sp. (Plerocercóide) 7,81 1 – 2 1,87 ± 2,10 0,10 ± 0,40 Mesentério

AcanthocephalaCorynosoma sp.

(Cistacanto) 15,62 1 – 7 1,7 ± 1,88 0,26 ± 0,94 Mesentério

Nematoda

Anisakis sp. (Larva) 9,37 1 – 8 3,0 ± 2,89 0,28 ± 1,20 Mesentério

Pseudoterranova sp. (Larva) 46,87 1 – 11 3,26 ± 2,83 1,53 ± 2,53 Mesentério

Raphidascaris sp. (Larva) 7,81 1 – 4 2,2 ± 2,10 0,17 ± 0,67 Mesentério

Copepoda

Caligus sp. 4,68 1 – 2 1,66 ± 0,57 0,7 ± 0,36 Brânquias

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Tabela 2. Índice de dispersão (ID) e do estatístico d dos metazoários parasitos de Trachurus lathami do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

ParasitosÍndice de dispersão

(ID)d

Aponurus laguncula 1,829 4,000*

Ectenurus virgulus 7,635 19,836*

Corynosoma sp. (Cistacanto) 3,381 9,459*

Pseudoterranova sp. (Larva) 4,187 11,788*

(*) Valores significativos.

Tabela 3. Frequência de dominância, frequência de dominância compartilhada e dominância relativa média dos componentes das infracomunidades de metazoários parasitos de Trachurus

lathami do litoral do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

ParasitosFrequência de dominância

Frequência de dominância

compartilhada

Dominância

relativa média

Aponurus laguncula 0 2 0,02 ± 0,05

Ectenurus virgulus 51 3 0,68 ± 0,30

Corynosoma sp. (Cistacanto) 4 2 0,04 ± 0,16

Pseudoterranova sp. (Larva) 6 3 0,14 ± 0,21

4. Discussão

Os resultados obtidos no presente trabalho indicam a dominância do digenético Ectenurus virgulus na comunidade de metazoários de Trachurus lathami. A maioria dos estudos sobre a comunidade parasitária de peixes marinhos do litoral do Estado do Rio de Janeiro relata o padrão de dominância de endoparasitos, sejam estes di-genéticos (LUQUE et al., 1996; TAKEMOTO et al., 1996; KNOFF et al., 1997; LUQUE; CHAVES, 1999; SILVA et al., 2000; ALVES et al., 2004; TAVARES et al., 2004; LUQUE et al., 2008; MARQUES; ALVES, 2011), nematói-des adultos (ALVES; LUQUE, 2001; ALVES et al., 2002) ou larvas de nematóides (LUQUE et al., 2002, 2003; SABAS; LUQUE, 2003) apresentando similaridade com o resultado en-contrado. Corroborando com o estudo realizado por Braicovich et al. (2012). Outra característica observada na composição da comunidade de pa-rasitos do xixarro foi a presença de um número maior de espécies em estágio larval (Grillotia sp.; Corynosoma sp; Anisakis sp.; Pseudoterranova sp.; Raphidascaris sp.) em relação aos endopa-rasitos adultos (Aponurus laguncula; Ectenurus

virgulus) e ectoparasitos (Pseudaxine trachuri e Caligus sp.). A primeira característica, do-minância de E. virgulus, pode estar associada ao hábito alimentar de T. lathami que se baseia principalmente no consumo de moluscos, crustá-ceos e quetognatos (MENEZES; FIGUEIREDO, 1980; SACCARDO, KATSURAGAWA, 1995; SUDA et al., 1995; FIGUEIREDO et al., 2002; CARVALHO; SOARES, 2006), os quais podem atuar como hospedeiro intermediário para o di-genético supracitado (DAPONTE et al., 2006; 2008; BRAICOVICH et al., 2009). A presença de larvas de parasitos em T. lathami pode ser con-siderada um reflexo do nível trófico intermediá-rio dessa espécie (GEORGE-NASCIMENTO, 1987; LUQUE; POULIN, 2004). Belleggia et al. (2011) registraram a ocorrência T. lathami como item alimentar do elasmobrânquio Mustelus schmitti (Carcharhiniformes: Triakidae), sendo este hospedeiro definitivo de cestóides tripano-rinquídeos (BEVERIDGE; CAMPBELL, 2010). No presente estudo, observamos a presença de Grillotia sp. (plerocercóide) na cavidade celomá-tica de T. lathami. Tal fato vem a reforçar a posi-ção intermediária do xixarro na cadeia alimentar.

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O caráter agregado ou superdisperso da distribuição dos parasitos na amostra de T. lathami, do presente trabalho, é considerado um aspecto típico do parasitismo em função da amplitude das dimensões dos nichos e da heterogeneidade das diversas populações de hospedeiros. Luque et al. (1996) citaram vá-rios exemplos relacionados com a dispersão de parasitos de peixes marinhos.

A comunidade parasitária de T. latha-mi apresentou menor número de espécies, riqueza parasitária, em relação às comunida-des de carangídeos estudadas da costa brasi-leira (TAKEMOTO et al., 1996; LUQUE; ALVES, 2001; CORDEIRO; LUQUE, 2004; BRAICOVICH et al., 2012). Tal fato pode ser atribuído às características biológicas, a distribuição geográfica e peculiaridades físi-co-químicas de cada região onde os espéci-mes foram coletados (OLIVA; GONZALEZ, 2005). Braicovich et al. (2012) registraram 18 espécies de metazoários parasitos em T. latha-mi provenientes da região de Cabo Frio, Rio de Janeiro, número maior do que observado no presente estudo (n = 9). Essa região, loca-lizada a nordeste do Estado do Rio de Janeiro, apresenta, devido à conjunção de fatores geo-gráficos, meteorológicos e hidrológicos, a particularidade do fenômeno da ressurgência (SADD; NETTO, 1992).

Entretanto, observamos similaridade qua-litativa em relação aos táxons registrados por

Takemoto et al. (1995; 1996), Luque e Alves (2001), Cordeiro e Luque (2004) e Braicovich et al. (2012). Nesses estudos os digenéticos hemiurídeos (Digenea: Hemiuridae), represen-tado pelos gêneros Ectenurus, Lecithochirium e Parahemiurus, estiveram presentes, as-sim como os cestóides tripanorinquídeos (Cestoda: Trypanorhyncha) e os anisaquídeos (Nematoda: Anisakidae). Os ectoparasitos, re-presentados pelos monogenéticos e crustáceos, apresentaram maior especificidade quanto aos carangídeos. Nas espécies de hospedeiros mais próximas filogeneticamente (Caranx spp., Senele spp. e Oligoplites spp.) podemos obser-var a similaridade a nível de espécie.

Em relação aos estudos sobre a comunida-de de metazoários parasitos de Trachurus spp. da América do Sul, podemos destacar os estu-dos de Oliva (1994) com Trachurus symetricus murphyi Nickols, 1920 provenientes do Chile e Braicovich et al. (2012) com espécimes de T. lathami provenientes da Argentina e Brasil. A fauna parasitária de Trachurus spp., nos estu-dos supracitados, apresentou o mesmo padrão na composição das espécies de parasitos.

5. Agradecimento

Agradecemos ao Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) pelo apoio financeiro.

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6. Referências

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Endereço para Correspondência:

Dimitri [email protected] Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, no 1325,Três Poços – Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

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1 Doutoranda em Ensino em Biociências e Saúde, Instituto Oswaldo Cruz, Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos, FIOCRUZ/RJ 2 Laboratório de Educação Profissional em Técnicas Laboratoriais em Saúde, Escola Politécnica Joaquim Venâncio, FIOCRUZ/RJ3 Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ/RJ

Ocorrência de ovos de Ancylostoma spp. em amostras de fezes de gatos (Felis catus LINNAEUS, 1758) domiciliados em uma área escolar da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Occurrence of Ancylostoma spp. eggs in cats (Felis catus LINNAEUS, 1758) fecal samples in a school area in Rio de Janeiro Metropolitan Region

Viviane Abreu de Andrade1

Marco Antonio Ferreira da Costa2

Júlio Vianna Barbosa3

ResumoO presente trabalho teve por objetivo realizar o inquérito coproparasito-lógico para helmintos de uma amostra da população de gatos, que vivia na área de uma escola localizada na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro. Foram colhidas e processadas 24 amostras de fezes de acordo com o método de diagnóstico de centrífugo-flutuação em solução de sa-carose (d=1,203g/cm3). Foram encontrados ovos de Ancylostoma spp. em 95,8% (23/24) das amostras analisadas. A elevada taxa de amostras positivas apontou a necessidade de aplicação de medidas de controle do parasitismo intestinal da população de gatos da área estudada, além de medidas educativas, destinadas à proteção da saúde animal e humana. Os resultados obtidos indicaram que a área escolar estudada apresenta-va potencial risco zoonótico para aquisição de Larva migrans cutânea.

Palavras-chave:

Zoonose

Ancylostoma

Helmintos

Gatos

Fezes.

AbstractThe present work accomplished the coproparasitology assessment for helminthes from a cats population sample that lives in a school area placed in the north zone of Rio de Janeiro. There were 24 feces samples that were collected and processed according to the sucrose solution centrifugal-fluctuation diagnosis method (d=1,203 g/cm3). Ancylostomid eggs were detected in 95,8% of the analyzed samples. The increased level of positive samples shows the necessity of intestinal parasitism control of the cats population from the studied area in addition to educational actions aiming human/animal health protection. The results obtained indicate that the school area studied reveal potential zoonotic hazard to the acquisition of Cutaneous Larva migrans.

Key-words:

Zoonosis

Ancylostoma

Helminth

Cats

Feces

Recebido em 04/2012

Aprovado em 12/2012

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1. Introdução

As fezes de gatos têm sido tratadas por diversos autores como um problema de saúde pública (CÔRTES et al., 1988; CASTILLO et al., 2000; NUNES et al., 2000; COELHO et al., 2001; RAGOZO et a., 2002; ALONSO et al., 2004; MERCADO et al., 2004; SANTARÉM et al., 2004 & GUIMARÃES et al., 2005; REY, 2008). O contato com fe-zes contaminadas de animais de estimação como gato, cachorro, pássaros e outros, pode promover algumas doenças conhecidas como zoonoses parasitárias. As zoonoses, segundo a Organização Mundial de Saúde (2009), são caracterizadas como todas as doenças e infec-ções, que de forma natural, acometem tanto animais vertebrados quanto o homem. Dentre as zoonoses associadas às fezes de gatos, este artigo tratará especificamente da dermatite serpiginosa ou Larva migrans cutânea.

A Larva migrans cutânea (LMC) é uma dermatite provocada pela migração de larvas de nematódeos em um hospedeiro não habi-tual (NEVES, 2005; REY, 2008). A Infecção humana por LMC ocorre onde há cães e ga-tos infectados por Ancylostoma spp. e solos arenosos. Esses animais, especialmente os gatos, apresentam o hábito de enterrar seus excrementos. E tal hábito, associado ao calor e a umidade elevada do ambiente, favorece o desenvolvimento das larvas e a consequente eclosão dos ovos dos ancilostomídeos (REY, 2008). O homem, ao entrar em contato com esse tipo de solo, pode se contaminar em ra-zão da possibilidade de penetração das lar-vas de ancilostomídeos em sua pele. Os pés, as pernas, as nádegas e as mãos são as par-tes do corpo mais afetadas (ARAÚJO et al, 2000; CASTRO et al., 2002; SANTARÉM et al.,2004; NEVES, 2005; REY, 2008). No or-ganismo humano, essas larvas não conseguem completar as migrações habituais do ciclo de vida do parasito e, por essa razão, escavam a região entre a epiderme e a derme até morrer. Na tentativa de conseguir seguir o caminho, no organismo hospedeiro, para realizar o ci-clo pulmonar, essas larvas causam erupções serpiginosas a partir do ponto de penetração na pele e seguem percorrendo um trajeto ir-regular, podendo se alongar como um traçado de um mapa. Por essa razão, essa zoonose é

conhecida popularmente como “bicho geográ-fico” (ARAÚJO et al, 2000; NUNES et al., 2000; NEVES, 2005; REY, 2008;) ou “bicho das praias” (REY, 2008).

No Brasil, Ancylostoma braziliensis e Ancylostoma caninum são os principais nema-tódeos envolvidos nas manifestações patológi-cas do tipo Larva migrans cutânea (NEVES, 2005; REY, 2008). Estudos mostram que a contaminação de caixas de areia e solo por fezes de gatos e cães com ancilostomídeos, em ambientes escolares e praças públicas, pode favorecer a infecção e o desenvolvi-mento de dermatites por Larva migrans na população humana (LIMA et al., 1984; UGA & KATOAKA, 1995; ABREU et al., 1996; ARAÚJO et al., 2000; MERCADO et al., 2004 & GUIMARÃES et al., 2005).

O trabalho teve como objetivo identifi-car a presença de nematódeos gastrointestinais em amostras de fezes de gatos de comporta-mento domiciliado, em semiconfinamento, que viviam na área de uma escola, localizada na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro - que atende aproximadamente 7.000 alunos.

2. Metodologia

A pesquisa foi desenvolvida numa área escolar com 32.960,00m2, localizada na Zona Norte do Município do Rio de Janeiro, RJ, no período de julho de 2004 a agosto de 2004.

Inicialmente, foi realizada a estimativa da população de gatos da área estudada segun-do o censo real. Segundo Mendes-de-Almeida (2002), este consiste na contagem de todos os indivíduos de determinada área. O parâmetro utilizado para a identificação e contagem dos in-divíduos que ocupavam a área pesquisada foi o padrão de cores da pelagem dos animais. Esses padrões foram registrados por meio de ensaio fo-tográfico. E, a identificação dos gatos foi realiza-da por meio das fotografias obtidas. Destaca-se que, o extenso padrão de atividade diurna, apre-sentado pela população estudada e a sua indife-rença quanto à observação humana favoreceram a etapa de elaboração do censo populacional real. A opção pela não captura dos animais foi motivada pelo suporte, de natureza relacionada à infraestrutura laboratorial, insuficiente para tal procedimento no locus da pesquisa.

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Concomitantemente ao levantamento da estimativa populacional, foi realizada a pes-quisa e a caracterização do nicho ecológico ocupado pela população de gatos da área pes-quisada, com base em observações da movi-mentação dos animais. As observações foram realizadas, durante as 24 horas do dia, em um período de 10 dias consecutivos, no mês de ju-lho de 2004.

Segundo Odum (1988) e Futuyma (1996), nicho ecológico é o conjunto de re-lações e de atividades características de uma espécie em seu ambiente. Ou seja, trata-se da atividade da espécie dentro de seu habitat (NEVES, 2005). O nicho ecológico engloba desde a maneira pela qual uma espécie se ali-menta até suas condições de reprodução, tipo

de moradia, hábitos, inimigos naturais, estra-tégias de sobrevivência, etc (REY, 2008).

A determinação do nicho ecológico ocu-pado pela população de gatos permitiu a identi-ficação e quantificação dos gatos; a localização das áreas ocupadas por estes; a determinação dos pontos de obtenção (fonte) de alimentos e os principais pontos onde estes defecavam.

A seleção dos pontos de coletas das fe-zes para análise foi associada aos resultados encontrados, referentes ao nicho ecológico. Dessa forma, foram determinados três pontos de coleta: o Ponto I, que se encontrava locali-zado em um banco de areia próximo ao parque esportivo da escola, o Ponto II, numa praça de convivência e o Ponto III, na área destinada ao lixo produzido pela escola (Figura 1).

Figura 1. Planta baixa da área pesquisada, fornecida pela prefeitura da escola. I ponto de coleta I, II ponto de coleta II e III ponto de coleta III.

Foram coletadas e analisadas 24 amos-tras de fezes. O material foi processado pelo método de centrifugo-flutuação em solução saturada de sacarose (d= 1,203g/cm3).

A descrição do método adotado foi obtida em Carli (2001) e a sua aplicação foi mencionada por Basso et al. (1998), Gennari et al. (1999), Ragozo et al. (2002) e Serra et al. (2003), em seus trabalhos de identificação de ocorrência de helmintos e protozoários em fezes de gatos. Esse método foi utilizado, tam-bém, por Guimarães et al. (2005) para identi-ficar ovos de Toxocara sp. e de Ancylostoma sp. em solo e areia de praças públicas, creches, unidades escolares e clubes.

3. Resultados e Discussão

3.1. O nicho ecológico

Foram encontrados 17 gatos, vivendo em semiconfinamento na área da escola. Foi verificado que esses animais encontravam-se distribuídos em quatro regiões diferentes da área escolar, formando grupos os quais foram denominados por letras (A, B, C, e D).

O grupo A era constituído por quatro (4) gatos que viviam na área destinada à garagem da escola, onde recebiam alimentos sob forma de ração e restos de alimentos próprios para o consumo humano. Os alimentos eram forneci-

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dos pelos funcionários da escola. Esse grupo defecava num banco de areia existente entre o Bloco F e a pista de atletismo do Parque Esportivo (Figura 1).

O grupo B era composto por seis (6) gatos que viviam na área destinada ao lixo produzido pela instituição. Nesse local, os animais se alimentavam basicamente de restos de alimentos, fornecidos pelos funcionários, e lixo. Nesse espaço havia uma área não ci-mentada, e com areia, que era utilizada, pelos animais, como o local para defecar.

O grupo C era composto por cinco (5) gatos que viviam na praça (jardim), onde re-cebiam restos de alimentos oferecidos pelos transeuntes, funcionários e estudantes, dessa área. Este grupo raramente defecava no jar-dim, provavelmente pela consistência do solo desta área, muito compactado, o que dificulta-va o ato de enterro das fezes. Talvez por essa razão, estes animais frequentemente defeca-vam em duas praças, cujos solos eram areno-sos, localizadas próximas ao Bloco I.

E o grupo D era composto por somen-te dois (2) gatos que viviam na área destinada

à gráfica da escola, onde recebiam alimentos cedidos por funcionários e defecavam em porções de areia colocadas no chão, dentro da gráfica, pelos mesmos funcionários.

Apesar da distribuição espacial dos animais (Figura 1), ter se demonstrado bem demarcada, foi verificada uma variação dos pontos onde os animais defecavam nos dias de tempo chuvoso. Como esses animais têm como hábito enterrar suas fezes (REY, 2008), com o solo úmido em razão da ocorrência de chuva, foi observado que os animais defeca-vam em locais alternativos e incomuns como vasos de plantas com terra e caixas de areia para descarte de lixo localizados nos corredo-res da escola, jardins parcialmente cobertos e até mesmo no piso dos corredores do Bloco D.

3.2. Análise coproparasitológica

A análise coproparasitológica mostrou a presença de ovos de Ancylostoma spp. (Figura 2) em 95,8% (23/24) (Tabela 1) das amostras analisadas. Não foram encontrados ovos de Toxocara sp. e/ou oocistos de protozoários.

Figura 2. Ovos de ancilostomídeos encontrados nas amostras de fezes analisadas.

Fotos obtidas por meio de microscopia óptica - Laboratório de Biologia Animal/UFRRJ.

A. (100X), B. e C. (400X).

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Foi verificada a ausência de ancilostomí-deos, somente, na amostra número cinco (5), pertencente ao grupo C, que foi coletada no ponto II (Praça do Bloco I). O resultado dessa amostra foi associado à introdução de um animal

jovem na área do jardim, durante o período de realização desta pesquisa. Sugere-se que, talvez este animal não estivesse infectado ou no caso positivo para infecção, não estivesse liberando ovos de ancilostomídeos em suas fezes.

Tabela 1. Resultados das análises coproparasitológicas

Pontos de Coleta

Amostra

01

12/07/2004

02

15/07/2004

03

19/07/2004

04

22/07/2004

05

26/07/2004

06

29/07/2004

07

03/08/2004

08

05/08/2004

I + + + + + + + +

II + + + + - + + +

III + + + + + + + +

Resultados: (+) = amostra positiva (-) = amostra negativa quanto à presença de ancilostomídeos. 95,8% de amostras positivas

A presença de ovos de ancilostomídeos nas fezes dos gatos que viviam na área pesqui-sada indica um potencial risco de infecção e ocorrência de LMC na população humana que frequenta essa área. Entretanto, o contato dire-to com estes animais não pode ser considerado um risco potencial de infecção, pois, os ovos de ancilostomídeos requerem pelo menos duas semanas, em condições de umidade e tempe-ratura específicas para atingirem a forma in-fectante (3° estádio larvário), o qual é capaz de penetrar na pele humana (COELHO et al., 2001; NEVES, 2005; REY, 2008).

Contudo, os relatos de casos humanos de Larva migrans em escolas, associados à pre-sença de animais e às áreas de lazer (ARAÚJO et al., 2000; NUNES et al., 2000) realçam a importância da adequada implementação de medidas educativas e preventivas para tal en-fermidade com o objetivo de estabelecer uma barreira efetiva à disseminação de doenças en-tre os gatos e entre os gatos e o homem na área escolar em que ocorreu esta pesquisa.

Apesar da síndrome da LMC não apre-sentar predominância quanto à raça, sexo ou idade, é comum observar a incidência maior de casos em faixas etárias menores (crianças). Santarém et al. (2004) justificam esta ocorrên-cia, relatando a maior exposição das crianças ao solo, em virtude das caixas de areia das áreas de recreação de escolas e parques, e das brincadeiras típicas da infância. Heukelbach et al. (2003) dissertam sobre o quadro desafiador

de síndrome de Larva migrans em comunida-des carentes onde há falta de informação, pre-sença de animais errantes, limitação financeira e o desconhecimento da importância do tra-tamento dos animais domésticos. Entretanto, os resultados encontrados neste trabalho nos fazem refletir quanto ao “real” desafio e am-plitude do quadro da síndrome de Larva mi-grans, uma vez que, a área pesquisada com-porta uma escola que atende, principalmente, a classe média da sociedade carioca. E as con-dições encontradas não divergem muito, exce-to pela situação financeira, daquelas apontadas por Heukelbach et al. (2003). Contudo, con-cordamos que ambas as situações refletem a carência de educação em saúde.

Epizootias zoonóticas, infecções que circu-lam entre animais, dessa natureza tratam-se de eventos importantes do ponto de vista sanitário, já que colocam o segmento populacional que vive na área em questão sob risco de infecção, apesar do homem não representar um elo neces-sário na cadeia de transmissão do parasito (REY, 2008). Esse contexto exige, dos serviços respon-sáveis, a implementação imediata de medidas voltadas ao tratamento dos animais, à profilaxia de casos humanos e à implementação de medi-das educativas que possibilitem a identificação do problema, a compreensão dos riscos associa-dos, o julgamento e o enfrentamento da situação mediante a tomada de decisão para interrupção do ciclo evolutivo do parasito e de possíveis transmissões entre os gatos e o homem.

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Ragozo et al. (2002), em seus estudos, referem-se à presença de animais domésticos em locais públicos com ressalvas, pois estes animais constituem fonte de infecção tanto para o homem quanto para outros animais e para o ambiente. Entretanto, segundo Mendes-de Almeida (2005), a erradicação ou a transfe-rência da população de gatos não são medidas indicadas para as áreas onde existe um nicho pré-estabelecido. Nesses casos, uma possível desocupação do nicho, promovida pela retirada dos animais, resultará na pronta ocupação da área por outra colônia de gatos, que, também, pode portar agentes etiológicos zoonóticos.

Na área escolar pesquisada, a presença dos gatos e a ausência de medidas de controle do parasitismo intestinal dessa população, so-madas a ausência de conteúdos e/ou propostas de trabalhos e projetos, no programa curricu-lar, de nível médio, da instituição de ensino localizada na área pesquisada, que discutam temas como zoonoses, parasitismo, saúde pú-blica dentre outros, indicam a desatenção e a pouca valorização, por parte da instituição e de seus profissionais da área de educação, dos conhecimentos científicos relacionados às in-terações (doenças/enfermidades) parasitárias, do contexto no qual os alunos encontram-se inseridos e da Educação em Saúde.

Desse modo, a postura adotada pela ins-tituição, diante da presença da população de gatos, encontrada na área escolar pesquisada, e do desconhecimento dos casos de enteropa-rasitismo desta mesma população, até a rea-lização deste trabalho, colocava em risco de contaminação o solo, os animais e a população humana que frequentava essa área. Tal risco devia-se à infecção presente na população de gatos, aos hábitos destes animais e a proximi-dade da população humana com a de gatos, somada aos hábitos dos alunos de sentarem no chão dos corredores e nos bancos do jardim, enquanto aguardam as aulas ou conversam du-rante os horários de intervalos entre as aulas.

Além disso, a prática esportiva na área próxima ao ponto de coleta I (Figura 1), tam-bém poderia expor os estudantes à contamina-ção pelo o contato com solo arenoso, onde os gatos eliminavam as fezes contaminadas por ancilostomídeos. Assim como, o uso inade-quado de equipamento de proteção individual por parte das pessoas que trabalhavam varren-

do o jardim, recolhendo o lixo, realizando a limpeza geral dos corredores e na manutenção dos vasos de plantas.

Destacamos que a ausência de oocistos de Toxoplasma sp. nas amostras analisadas, não diverge dos resultados obtidos por Serra et al.(2003) e dos dados da literatura que rela-tam a dificuldade deste diagnóstico por meio de análises coprológicas (SERRA et al., 2003; REY, 2008). Para tanto, é recomendada a aná-lise sorológica para alcançar diagnóstico mais preciso quanto à presença e/ou ausência de T. gondii (LUCAS et al., 1999; LANGONI et al., 2001; SERRA et al., 2003; REY, 2008).

3.3. Divulgação dos resultados das aná-lises coproparasitológicas e reco-mendações

Com base nos achados, foi recomendado, por intermédio de um relatório de situação en-caminhado à direção da escola, o tratamento sistemático dos animais, sob orientação e su-pervisão de um Médico Veterinário, com anti--helmínticos de largo espectro, para assegurar o controle da infecção e impedir reinfecções nos animais e impedir a infecção humana (NEVES, 2005; REY, 2008). Foi sugerida a instalação de caixas de areia, próprias para gatos defecarem, nos pontos de coleta de amostras de fezes de-terminados por esta pesquisa. Outra recomen-dação conferida, porém, menos viável, por se tratar de animais em semiconfinamento, estava relacionada ao impedimento do acesso dos ga-tos aos tanques de areia da praça de esportes (NEVES, 2005; REY, 2008), visto que o con-tato com o solo contaminado pelas fezes des-tes animais aumenta a exposição humana aos agentes causadores de zoonoses, gerando risco à saúde e a integridade do organismo dos es-tudantes que realizam atividades físicas neste local. O relatório, também, enfatizou a neces-sidade de reforçar a orientação da necessida-de de utilização de equipamentos de proteção individual, como botas e luvas, pela equipe de limpeza terceirizada que atuava na escola. Por fim, foram apresentadas duas alternativas com-plementares: o tratamento, com o lançamento de água fervente, do solo arenoso da área de prática de Educação Física, com vista à elimi-nação das larvas, e/ou substituição da areia do parque esportivo (REY, 2008).

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Em resposta a situação apresentada pelo relatório, a instituição promoveu a vermifuga-ção dos animais e realizou reformas na área destinada à lixeira da escola.

Esta pesquisa foi desenvolvida jun-to à Coordenação da disciplina Biologia e Programas de Saúde, da escola, e contou com a participação de 3 alunos. Estes acompanharam todas as etapas da pesquisa realizadas na área escolar e desenvolveram um trabalho em edu-cação e saúde, sob orientação da primeira au-tora deste trabalho, cujo intuito era apresentar à comunidade escolar, o processo de desenvol-vimento desta pesquisa, os resultados encon-trados, as discussões e os desdobramentos do trabalho resultante da pesquisa, além de infor-má-la sobre a parasitose de caráter zoonótico que circulava no ambiente escolar frequentado por esta. Dessa forma, buscamos inserir e apre-sentar tópicos do tema parasitoses no contexto escolar de maneira a situá-lo em um ambiente real (o da própria escola) em que as interações entre os seres vivos (gatos, parasitos e homem) e o ambiente fossem facilmente percebidas. Assim, os resultados desta pesquisa foram apresentados num evento acadêmico que acon-tece anualmente na escola. Verificamos, por meio de relatos orais, durante a apresentação desses resultados o desconhecimento, por parte do público, de assuntos como zoonoses e sín-drome de Larva migrans, além da presença de gatos na área escolar. Foi observado, também, grande interesse pelo tema, perante a apresen-tação do mesmo por meio de uma situação real, concreta e próxima aos sujeitos.

Sugerimos que o interesse da população escolar pelo tema e pela forma de apresenta-ção seja justificado em razão da grande pro-cura por informações junto aos alunos que apresentaram os resultados desta pesquisa no evento acadêmico e pela procura para visitar o stand no qual ficou exposto o material pro-duzido para apresentação do trabalho, mesmo nos horários em que não estava prevista a apresentação do trabalho pelos alunos.

À Coordenação da disciplina Biologia e Programas de Saúde foram recomendados o desenvolvimento e a valorização da educação em saúde. Entendida neste estudo, como a construção de conhecimentos, compreensão e a adoção de práticas orientadas para a prevenção e a promoção da saúde no cotidiano do estu-

dante (ALVES, 2005). Assim, entendemos que a educação em saúde pode oferecer subsídios para o desenvolvimento e adoção de hábitos e condutas saudáveis, que poderão impactar, de forma positiva, a qualidade de vida do indiví-duo no ambiente e o exercício da cidadania.

Destacamos que, pela busca bibliográfica realizada sobre o tema abordado por este arti-go, as pesquisas no Brasil ensaiam discussões pontuais quanto a presença e a convivência com animais domésticos em ambientes públi-cos como, escolas e praças de lazer. Porém, não foi verificada uma política pública, de cunho educacional, efetiva para esse assunto. Apesar de vários trabalhos destacarem as con-sequências da presença de animais domésticos em tais ambientes, uma vez que estes, quando contaminados, constituem fonte de infecção tanto para os animais quanto para o ambiente e para o homem.

4. Conclusão

Os resultados deste trabalho reforçam a importância da necessidade de discussão sobre a presença de animais domésticos e a epidemio-logia de zoonoses, como LMC, nos ambientes escolares. E da valorização do contexto esco-lar como mais um elemento para subsidiar a prática de ensino por meio de discussões que relacionem temas cotidianos, o ambiente no qual os indivíduos encontram-se inseridos, com tópicos das Biociências, como sugerido pelas orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ensino Médio (BRASIL, 2002).

5. Agradecimentos

Ao Departamento de Assuntos Acadêmicos da escola na qual foi realizado este trabalho pelo apoio institucional e financeiro necessário para a realização deste trabalho.

Ao Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, por ter viabilizado a identificação e a obtenção de fotos dos parasi-tos encontrados nos exames coproparasitológi-cos realizados.

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6. Referências

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20. MENDES-DE-ALMEIDA, F. Estudo prospectivo de uma colônia urbana de gatos domésticos (Felis catus Linnaeus, 1758) (Felidae: Carnívora) livres: controle populacional e condições sanitárias, 2005. Tese (Doutorado em Ciências Veterinárias) – Ciências Veterinárias, Univ. Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica (RJ), 2005.

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Endereço para Correspondência:

Viviane Abreu de [email protected]

Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz/RJLaboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos

Av. Brasil, 4365 - Rio de Janeiro - RJCEP: 21045-900

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12 Cadernos UniFOA é uma publica-ção quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espaço editorial de natureza inter e multi-disciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpretativo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emer-gentes e comunicações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Graduação, e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Seleção de artigos: na seleção de ar-tigos para publicação, avaliam-se a originalida-de, a relevância do tema e a qualidade da meto-dologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pelo periódico. Revisão por pareceristas: todos os artigos publicados são revisados por parece-ristas resguardado o anonimato dos autores para uma avaliação mais acurada. Ineditismo do material: o conteúdo do material enviado para publicação na Revista Cadernos UniFOA não pode ter sido publicado anteriormente, nem submetido para publicação em outros locais. Para serem publicados em ou-tros locais, ainda que parcialmente, necessitam aprovação por escrito dos Editores. Os concei-tos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. Direitos Autorais: ao encaminhar um original à revista, os autores devem estar cientes de que, se aprovado para publicação, os direitos autorais do artigo, incluindo os de reprodução em todas as mídias e formatos, de-verão ser concedidos exclusivamente para a Revista Cadernos UniFOA. Para tanto é soli-citado ao autor principal que assine declaração sobre o Conflito de interesses e Transferência de Direitos Autorais e envie para Editora FOA - Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).

Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções:

(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (máximo de 10.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou

nota curta, relatando observações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais – os interessados em contribuir com artigos para estas seções deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte).

Apresentação do Texto:

Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, com margens superiores de 3,0 cm e as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Notas de rodapé não serão aceitas.

Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras).

Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo

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em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 500 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave.

Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas nas disciplinas especializadas.

Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e em não havendo Comitê especializado na IES de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em contato com [email protected] (Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para maiores esclarecimentos e possível envio da pesquisa para avaliação neste.

Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros.

Referências: as referências devem ser identificadas indicando-se autor(es), ano de publicação e número de página, quando for o caso. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es) e devem seguir o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Exemplos:

1 Livro:

MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed Editora Médica, 2005.

2 Capítulo de Livros:

RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.; COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em dentes decíduos. In:

CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na

primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. p. 581-605.

3 Dissertação e Tese:

EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação da acarofauna do ecossitema domiciliar no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.

CUPOLILO, Sonia Maria Neumann. Reinfecção por Leishmania L amazonensis no modelo murino: um estudo histopatológico e imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.

4 Artigos:

ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B. M. A case of severe pancreatitis complicated by Raoultella planticola infection. Journal of Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p. 696-698, 2007.

COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical adhesives. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224, 1968.

5 Documentos eletrônicos:

INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/ >. Acesso em 4 ago. 2007.

Envio de manuscritos:

Os artigos deverão ser enviados exclusivamen-te pelo sistema de avaliação através do link www.unifoa.edu.br/cadernos/ojs, seguindo os padrões especificados anteriormente.

OBS: Se professor do UniFOA, informar em quais cursos leciona.

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12 UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes ori-ginal research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, ex-perimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short com-munications on partial or preliminary resear-ch results (maximum 2,000 words); (4) Book reviews - critical reviews of books related to the journal’s thematic field, published in the last two years (maximum 1,200 words); (5) Letters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting on field or laboratory observations (maximum 1,200 words); (6) Special articles - authors interested in contributing articles to this section should consult the Editor in ad-vance; (7) Debate - theoretical articles accom-panied by critiques signed by authors from different institutions at the Editor’s invitation, followed by a reply by the author of the prin-cipal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 interrelated articles by different authors, focusing on a theme of current interest (maxi-mum 12,000 words for the combined articles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and biblio-graphic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers

Contributions in Portuguese or English are welcome. The original should be double--spaced and submitted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be submitted with a title page, including the complete title (in the original language and English) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and the complete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD contai-ning the article’s file and identifying the software program and version used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether the article is being submitted for the first time or re-submitted to our Secretariat. When sending a second version of

the article, one print copy should be sent, to-gether with the diskette or CD. Illustrations: figures should be sent in a high-quality print version in black-and--white and/or different tones of gray and/or hachure. Any additional cost for publication of color figures will be covered entirely by the author(s). Graphs should be submitted sepa-rately in the format of the program in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quanti-tative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electroni-cally must be submitted on white paper (do not use tracing paper). Tables and/or figures should be kept to a minimum (maximum se-ven tables and/or figures). Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an abs-tract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words. Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and con-ventions adopted by specialized disciplines. Research involving Ethical Princi-ples: publication of articles with the results of research involving human beings is conditio-ned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), in addition to complying with the specific legislation (when existing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research in-volving human beings must contain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After acceptance of the article for publication, all the authors are re-quired to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos gradua-tion stating their full compliance with the spe-cific ethical principles and legislation. Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements. Declaration: the main author must send, by post office, declaration on the Conflict of Interests and Transference of Copyrights.

Instructions For Authors

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References

References should be numbered con-secutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numerals (e.g., Oliveira1). References cited only in ta-bles and figures should be numbered accor-ding to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the informa-tion contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articlesHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Institution as authorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Without author specificationRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-campto-thecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamp-tothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Books and other monographsFREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janei-ro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as authorDuarte LFD, Leal OF, organizers. Doen-ça, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fio-cruz; 1998.· Institution as author and publisherInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchma-rks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of bookAggio A. A revolução passiva como hipó-tese interpretativa da história política lati-no- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Events (conference proceedings)Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Paper presented at an eventBengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in me-

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The articles must be sent for the following electronic address: [email protected].

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Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

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FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SPE

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

Formando para vida.

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Campus AterradoAv. Lucas Evangelista,nº 862, AterradoVolta Redonda - RJTel.: (24) 3338-2764 (24) 3338-2925

Campus ColinaAnexo ao HospitalSão João BatistaRua Nossa Senhora das Graças, nº 273, ColinaVolta Redonda - RJTel.: (24) 3340-8400

Campus VilaRua 31, nº 43Vila Santa CecíliaVolta Redonda - RJTel.: (24) 3348-5991

Campus João Pessoa FagundesRua 28, nº 619TangerinalVolta Redonda/RJCEP: 27.264-330 Telefone: (24) 3348.1441 (24) 3348.1314

Campus Leonardo MollicaRua Jaraguá nº 1084RetiroVolta Redonda/RJCEP: 27277-130Telefone: (24) 3344.1850 (24)3344.1851

Campus Olezio GalottiAv. Paulo Erlei Alves Abrantes,nº 1325, Três PoçosVolta Redonda - RJTel.: (24) 3340-8400Fax: (24) 3340-8404

Centro Universitário de Volta Redonda - Ano VII - Edição nº 20 - Dezembro / 2012

Formando para a vida.