centro universitÁrio boa viagem wyden cento de … · creativity, both in the cultural aspects of...
TRANSCRIPT
CENTRO UNIVERSITÁRIO BOA VIAGEM WYDEN
CENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO-CPPA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL – MPGE
LORENA BEZERRA DE SOUSA
TRADIÇÃO DA DOÇARIA ARTESANAL NA FEIRA DE CARUARU COMO
PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO E VALOR ESTRATÉGICO
RECIFE
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFBV – WYDEN
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL
- MPGE -
CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES
Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o
acesso à dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - do Centro
Universitário UniFBV é definido em três graus:
Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);
Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em conseqüência, restrita a
consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada;
Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto, se
confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou custódia;
A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.
Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as
condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.
Título da Dissertação: “TRADIÇÃO DA DOÇARIA ARTESANAL NA FEIRA DE
CARUARU COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO E VALOR
ESTRATÉGICO”
Nome do(a) autor(a): Lorena Bezerra de Sousa
Data da Aprovação: 14 de dezembro de 2018
Classificação conforme especificação acima:
Grau 1
Grau 2 ×
Grau 3 ×
Recife, 8 de fevereiro de 2018.
__________________________
Assinatura do(a) Autor(a)
LORENA BEZERRA DE SOUSA
TRADIÇÃO DA DOÇARIA ARTESANAL NA FEIRA DE CARUARU COMO
PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO E VALOR ESTRATÉGICO
Dissertação apresentada como requisito
complementar para obtenção do grau de
Mestre em Gestão Empresarial do Centro de
Pesquisa e Pós-Graduação em Administração
– CPPA do Centro Universitário Boa Viagem
– Wyden, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Maria
Auxiliadora Diniz de Sá.
RECIFE
2019
Catalogação na fonte -
Biblioteca do Centro Universitário UniFBV | Wyden, Recife/PE
B574tBezerra, Lorena de Melo. Tradição da doçaria artesanal na feira de Caruaru como
patrimônio cultural de Pernambuco e valor estratégico/ Lorena
de Melo Bezerra. –Recife: UniFBV | Wyden, 2018.
90f. : il.
Orientador(a):Maria Auxiliadora Diniz de Sá.
Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Centro
Universitário UniFBV | Wyden.
1. Cultura. 2.Doçaria artesanal.3.Feira de Caruaru.4.
Gastronomia. 5. Valor estratégico. I. Título. DISS658[18.2]
Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, meu escudo e fortaleza, pois, sem Ele, nada seria possível.
À minha amada mãe, que nunca mediu esforços, dedicação e amor, e que, apesar da distância,
estava sempre presente me apoiando.
Ao amor da minha vida, Hudson, pelo amor, carinho, paciência e companheirismo, sempre
me apoiando e incentivando a conquistar novos horizontes.
À Uni FBV|Wyden, pela bolsa e oportunidade de crescimento. É um orgulho fazer parte desta
instituição.
À minha querida orientadora, professora Maria Auxiliadora Diniz de Sá, eterna Dorinha, pela
sua competência, gentileza, doçura, paciência, sempre incentivando e achando inspiração.
À minha eterna coordenadora e exemplo de profissional, Isabella Jarocki, pelo incentivo ao
meu desenvolvimento profissional.
Ao professor Diogo Helal, por sua paciência, gentileza, compreensão epela condução com
maestria da disciplina de Seminários de Dissertação.
À minha Família e amigos pelo apoio, fé, confiança demonstrada e orações.
Aos meus alunos, pela inspiração, respeito e valorização.
“A honra, a glória, a força e o poder ao Rei
Jesus, e o louvor ao Rei Jesus.”
Aline Barros
RESUMO
Os estudos na área da alimentação, com foco na gastronomia investigativa de hábitos, costumes e
valores sociais é um tema sempre atual, ultrapassa o sentido material e ganha legitimidade como
patrimônio cultural imaterial, pois referencia o cotidiano e a culinária regional. As feiras são
locais abertos ao público, onde se percebem, livremente, a criação e expressão da criatividade
popular, tanto no aspecto culturais de uma região, quanto de inovação e recriação. A Feira de
Caruaru, em Pernambuco, reúne aspectos culturais e artesanais de criação, confecção, escultura e
saber, além da disseminação da tradição da produção e venda de preparações artesanais, como
farinhas, gomas, queijos, bolos, doces, entre outras comidas nordestinas. O açúcar sempre teve um
papel importante para o desenvolvimento do Brasil; por meio da cultura açucareira surgiram
produtos que utilizavam o açúcar como matéria-prima, como doces, bolos, compotas e
sobremesas. Assim, o presente trabalho visa, a partir dessas discussões, identificar de que maneira
a doçaria artesanal da Feira de Caruaru, em Pernambuco, tem sido percebida por consumidores
como patrimônio cultural e valor estratégico. A pesquisa foi delineada de forma qualitativa,
utilizando como instrumento de coleta dos dados: observação não participante, entrevistas por
pauta, imagens, fotos, bem como músicas populares. Para análise dos dados optou-se por utilizar a
análise de conteúdo proposta por Bardin (1977). Foram entrevistados compradores e vendedores
de comercializam doces artesanais na Feira de Caruaru. Os resultados sugerem que o Patrimônio
cultural da doçaria artesanal da feira de Caruaru reforça o valor estratégico. Contudo, apesar do
esforço de consumidores e vendedores em continuar com a cultura da doçaria artesanal, fazem-se
necessários projetos de valorização, divulgação e incentivo ao desenvolvimento dos negócios já
existentes e de outros que venham a surgir, desses bens tão importantes para cultura e economia
local por meio do poder público.
Palavras-chave: Cultura. Doçaria Artesanal. Feira de Caruaru. Gastronomia. Valor
estratégico.
ABSTRACT
The studies in the area of food, focusing on the investigative gastronomy of habits, customs
and social values is an ever current theme, surpasses the material sense and gains legitimacy
as intangible cultural heritage, as it refers to daily life and regional cuisine. The fairs are
places open to the public, where they freely perceive the creation and expression of popular
creativity, both in the cultural aspects of a region, as well as in innovation and recreation.
Caruaru Fair, in Pernambuco, brings together cultural and artisan aspects, of creation,
confection, sculpture and knowledge besides the dissemination of the tradition of the
production and sale of handmade preparations such as: flour, gums, cheeses, cakes, sweets
among other northeastern foods. Sugar always had an important role for the development of
Brazil, through the sugar culture products that used sugar as raw materials such as sweets,
cakes, jams and desserts appeared. Thus, the present work aims at these discussions, to
identify in which way the artisanal confectionery of the Feira de Caruaru, in Pernambuco,
have been perceived by consumers as cultural heritage and strategic value. The research was
qualitatively delineated, using as instrument of data collection: non-participant observation,
interviews by staff, images, photos, as well as popular songs. To analyze the data we chose to
use the content analysis proposed by Bardin (1977). Buyers and sellers of homemade sweets
were interviewed at the Caruaru Fair. The results suggest that the cultural heritage of the
handmade sweets of Caruaru fair reinforces the strategic value. However, in spite of the
efforts of consumers and vendors to continue with the culture of artisan sweets, it is necessary
to develop projects of valorization, dissemination and incentive to the development of
existing businesses and others that may arise, of such important goods for culture and local
economy through public power.
Keywords: Culture. Handmade Candy. Caruaru Fair. Gastronomy. Strategic Value.
LISTA DE SIGLAS
FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
INCR Inventário Nacional de Referências Culturais
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Desenho metodológico da pesquisa .........................................................................17
Figura 2 - Parque 18 de Maio ..................................................................................................20
Figura 3 - Feira de Caruaru ......................................................................................................20
Figura 4 - Doces artesanais 01 .................................................................................................24
Figura 5 - Doces artesanais 02 .................................................................................................24
Figura 6 - Doces artesanais 03 .................................................................................................25
Figura 7 - Rapadura ..................................................................................................................25
Figura 8 - Cocada de coco........................................................................................................26
Figura 9 - Mariola ....................................................................................................................26
Figura 10 - Compota de frutas .................................................................................................26
Figura 11 - Suspiro ...................................................................................................................27
Figura 12 - Pirulitos de açúcar..................................................................................................27
Figura 13 - Doces Variados (Doce de leite, rapadura, compotas) ...........................................36
Figura 14 - Doces de fabricação Valéria Doces .......................................................................37
Figura 15 - Banco de doces artesanais .....................................................................................37
Figura 16 - Valéria expondo na Feira Livre Cultural do Caruaru Shopping ...........................38
Figura 17 - Alfenim .................................................................................................................39
Figura 18 - Facebook Valéria Doces .......................................................................................40
Figura 19 - Instagram Valéria Doces .......................................................................................40
Figura 20 – Doces com maior capacidade de gerar valor estratégico.......................................41
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Publicações sobre gastronomia (2001-2017).....................................................15
Quadro 2 Música A Feira de Caruaru...............................................................................19
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 12
1.1 Objetivos da pesquisa.............................................................................................................. 14
1.1.1Objetivo geral ..................................................................................................................... 14
1.1.2 Objetivos específicos .......................................................................................................... 14
1.2 Justificativas da pesquisa ........................................................................................................ 14
1.2.1 Justificativas teóricas ......................................................................................................... 15
1.2.2 Justificativas práticas ........................................................................................................ 15
2 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................................
2.1 Caracterização da pesquisa .....................................................................................................
2.2 Desenho da pesquisa ...............................................................................................................
2.3 Locus da pesquisa ...................................................................................................................
2.4 Sujeitos da pesquisa ................................................................................................................
2.5 Técnicas de coleta dos dados ..................................................................................................
2.6 Técnica de análise dos dados ..................................................................................................
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ..............................................................................
3.1 Doces artesanais mais referenciados da Feira de Caruaru-PE .................................................
3.2 Patrimônio cultural da doçaria da Feira de Caruaru ................................................................
3.2.1 Literatura ..............................................................................................................................
3.2.2 Músicas .................................................................................................................................
3.2.3 Poemas ..................................................................................................................................
3.2.4 Entrevista com consumidores ...............................................................................................
3.3 Valor estratégico da doçaria artesanal da Feira de Caruaru ....................................................
3.4 Doces com maior capacidade de gerar valor estratégico.............................................
4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..............................................................................
4.1 Sugestões para futuros estudos ........................................................................................... .....
16
16
16
18
21
22
22
23
23
28
29
29
31
31
32
41
42
43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................
APÊNDICES ................................................................................................................................
APÊNDICE A - Roteiro básico da entrevista por pauta com consumidores ...............................
APÊNDICE B - Roteiro básico da entrevista por pauta com vendedores ...................................
APÊNDICE C - Transcrição das entrevistas por pautas com consumidores ..............................
APÊNDICE D - Transcrição das entrevistas semiestruturadas com vendedores ........................
44
48
48
49
50
62
12
1 INTRODUÇÃO
A partir da década de 1960, a história da alimentação vem se afirmando como um campo de
estudos consolidados; a cultura material tem ganhado enfoque mais complexo,
compreendendo estudos teóricos e conceituais mais amplos e, nesse contexto, a comida e a
gastronomia vem recebendo maior destaque (MORAIS, 2011).
Neste sentido, alimentar-se vai muito mais além do que o ato biológico de ingerir nutrientes
necessários para o funcionamento saudável do corpo; deixa de ser tratado apenas como
produto material, tornando-se representação de hábitos, tradições, conduta, escolhas,
símbolos, códigos sociais e valores de um povo; são capazes de revelar a sua história.
Para Cascudo (2004), o alimento funciona como um fixador psicológico, no plano emocional,
e, desta forma, comer certos alimentos é ligar-se ao local ou a quem os preparou. Sobre este
contexto, Maciel (2004) afirma que a cozinha é formada por um conjunto de elementos,
técnicas, produtos, hábitos e comportamentos, capazes de provocar uma mudança, não só no
estado da matéria, mas também no sentido que ela representa.
Como não poderia deixar de ser, os estudos na área da alimentação, com foco na gastronomia
investigativa de hábitos, costumes e valores sociais, vão mais além: ultrapassam o sentido
material e ganham legitimidade como patrimônio cultural imaterial,como referência do
cotidiano e da culinária regional (MACIEL, 2004).Corroborando com essa afirmação, Morais
(2011) reforça que os saberes e fazeres culinários devem ser reconhecidos, por meio de
registro, e legitimados como bens culturais; ainda, devem ser protegidos como patrimônio.
Nas obras de Gilberto Freyre (2004, 2007), a culinária já vinha sendo enaltecida como
identidade nacional, principalmente o açúcar, representando doces nordestinos, como bolos,
doces e biscoitos. Desde então, vêm sendo reconhecidos como símbolo nacional, tal como o
futebol, a música, principalmente carioca (Villa-Lobos; Pixinguinha), a arte mineira de
escultura em pedra-sabão (Aleijadinho), todas elas tradicionalmente brasileiras (SILVA,
2014).Freyre (2007) realça, ainda, a culinária regional, quando afirma que o preparo de doces,
bolos e sobremesas com açúcar asseguram ao Nordeste, em especial, um dos “orgulhos” da
cultura brasileira.Desde o início da Colonização, o açúcar teve um papel importante para o
13
desenvolvimento do Brasil. Por meio da cultura açucareira ficou reconhecido
internacionalmente; Pernambuco, na época, participou ativamente da sua produção, inclusive
exportando para a Europa (FREYRE, 2007).
Destacava-se, ainda, a produção de produtos que utilizavam o açúcar como matéria prima, tal
como os doces, bolos, compotas e sobremesas, produzidos, todos, na cozinha das Casas
Grandes, pelas senhoras portuguesas e suas mucamas. Nessa época, surgiram o bolo de rolo,o
bolo Sousa Leão, o bolo de noiva, compotas e licores com frutas típicas locais, entre tantas
outras preparações que adoçaram e continuam adoçando a vida de brasileiros, principalmente
dos nordestinos, até os dias atuais.Com o passar dos anos, essas preparações saíram das Casas
Grandes e ganharam espaço nas ruas, por meio das escravas que as confeccionavam e
vendiam em feiras (FREYRE, 2007).
Essas feiras, como atualmente, são locais abertos ao público, onde se percebem, livremente, a
criação e expressão da criatividade popular, tanto no aspecto de tradição, quanto de inovação
e recriação, além de também ser um espaço de encontros, ofícios, troca de fazeres e
expressões tradicionais de uma região. Além de tudo isso, as feiras são lugares possíveis à
geração de renda, oportunidade de trabalho e inclusão social no mercado consumidor, tanto
para a população local quanto a circunvizinha.
De maneira específica, a Feira de Caruaru, em Pernambuco, reúne aspectos culturais e
artesanais de criação, confecção, escultura e saber, relacionados a: utensílios e bonecos em
barro, bordados, brinquedos em madeira, produtos em couro, palhas, vime e tecidos, além da
troca de conhecimento sobre o uso de ervas medicinais (medicina popular).
Ainda, a Feira de Caruaru também se caracteriza pela criação e manifestação de expressões
artísticas populares, como: cordel, poesias, banda de pífano, músicas e cantos populares
(emboladas e repentistas), além da disseminação da tradição da produção e venda de
preparações artesanais, como farinhas, gomas, queijos, bolos, doces, entre outras comidas
nordestinas.
Diante disso, pode-se observar a importância de estudos na área de gastronomia, por meio de
investigações sobre sua cultura e tradição, com o intuito de resguardar a identidade e valorizar
14
esses conhecimentos como patrimônio cultural e estratégico, de uma determinada
região.Sendo assim, propõe-se, para esta pesquisa, a seguinte questão: de que maneira a
doçaria artesanal da feira de Caruaru, em Pernambuco, tem sido percebida por consumidores,
como patrimônio cultural e valor estratégico? Para respondê-la, foram determinados os
objetivos geral e específicos, a seguir.
1.1 Objetivos da pesquisa
Os objetivos aqui estabelecidos nortearão a realização de todo este trabalho, na intenção de
entender a doçaria artesanal da Feira de Caruaru, em Pernambuco, como patrimônio
estratégico.
1.1.1 Objetivo geral
Identificar de que maneira adoçaria artesanal da Feira de Caruaru, em Pernambuco, tem sido
percebida por consumidores, como patrimônio cultural e valor estratégico
1.1.2 Objetivos específicos
Descrever os doces artesanais mais referenciados da Feira de Caruaru, em Pernambuco,
segundo a percepção de consumidores;
Identificar se e como o patrimônio cultural da doçaria artesanal da Feira de Caruaru,
reforça o valor estratégico;
Identificar, dentre os doces artesanais estudados, na doçaria artesanal da Feira de Caruaru,
em Pernambuco, quais aqueles que têm maior capacidade de gerar valor estratégico.
1.2 Justificativas da pesquisa
A seguir estão algumas justificativas teóricas e práticas que talvez possam apoiar a
importância de se proceder a este estudo.
15
1.2.1 Justificativas teóricas
Segundo Montanari (2008), por meio do estudo da gastronomia pode-se conhecer a identidade
cultural de um povo, pela revelação de suas expressões, comidas típicas, lugares, cotidianos,
características e diferenças. Apesar do aumento da quantidade de pesquisas nessa área, de
maneira em geral, observam-se, ainda, lacunas, quando relacionadas à cultura popular
(Quadro 1).
Quadro 1: Publicações sobre gastronomia (2001- 2017)
Palavras-chave SCIELO RAC
Gastronomia 41 0
Cultura popular 145 0
Tradição 188 7
Cultura popular e gastronomia 3 0
Fonte: Dados da pesquisa, 2017
Observando essa lacuna teórica, espera-se que um estudo sobre a Feira de Caruaru, no
Agreste pernambucano, venha reforçar a memória cultural dessa comunidade e, em especial,
da sua doçaria, como patrimônio popular. Ainda, venha ressaltar a necessidade de preservação
da produção e comercialização dos seus doces, além de suas tradições.
1.2.2 Justificativas práticas
A gastronomia, além de carregar valores culturais, estabelece-se como fonte de renda e
sustento de um povo e regiões, na medida em que pode gerar empregos, fomentar o turismo e
valorizar as suas tradições (VALENTE, 2005 apud ZANETI, 2011).Neste sentido, entende-se
como relevante este estudo, uma vez que o realce à doçaria da Feira de Caruaru, além de
estimular a tradição, como já mencionado, espera-se promover produtores e comerciantes
dessa região, potenciais geradores de renda local e no estado de Pernambuco.
16
2 METODOLOGIA DA PESQUISA
Neste capítulo, são apresentados os procedimentos metodológicos norteadores deste estudo,
cujo objetivo é investigar de que maneira a doçaria artesanal da Feira de Caruaru, em
Pernambuco, tem sido percebida por consumidores, como patrimônio cultural e estratégico.
2.1 Caracterização da pesquisa
Com base na natureza do problema apresentado e os objetivos deste trabalho, a pesquisa foi
delineada de forma qualitativa, pois, segundo Godoy (1995), ela compreende os fenômenos de
acordo com a perspectiva dos sujeitos estudados, possibilitando a obtenção de dados
descritivos sobre pessoas, lugares e processos envolvidos na pesquisa. A partir da pesquisa
qualitativa procura-se extrair significados perceptíveis do seu objeto de estudo, por meio da
investigação e interpretação de fenômenos situados em um determinado local, procurando
identificar os fenômenos e os significados a ele atribuídos (CHIZZOTI, 2003).
Ao contrário do que ocorre com a utilização de metodologias numéricas, como, por exemplo,
a aplicação de questionários inquisitivos, a metodologia qualitativa procura investigar
profundamente os aspectos que compreendem um indivíduo, grupo social ou organizacional
(GOLDENBERG, 1997). Esta pesquisa caracteriza-se como exploratória, por ser, ainda, um
tema pouco estudado, e por um estudo descritivo, pois se propõe a descrever aspectos de um
fenômeno (GIL, 2008).
Por fim, caracteriza-se como estudo de caso, entendido como uma investigação empírica que
tem como característica o estudo real de fenômenos atuais, em situações em que as fronteiras
entre o fenômeno e o contexto não estão claramente estabelecidas (YIN, 2015). Nesta
situação, vai-se abordar um único caso: a doçaria artesanal da Feira de Caruaru, em
Pernambuco.
2.2 Desenho metodológico da pesquisa
Utilizou-se o modelo proposto por Gil (2008), objetivando expor de maneira clara e objetiva
as diversas etapas metodológicas deste estudo (Figura 1).
17
Figura 1: Desenho metodológico da pesquisa
Fonte: Adaptado de Gil (2002).
Conforme exposto no desenho metodológico da pesquisa, a proposta deste trabalho é
desenvolver a pesquisa nas seguintes etapas:
Etapa 1 – Elaboração inicial da introdução com a definição do problema de pesquisa e dos
objetivos gerais e específicos;
Etapa 2 – Definição da metodologia adotada (realizada em parte). A coleta dos dados por
meio da análise de documentos, as entrevistas com consumidores de faixas etárias distintas
deram prosseguimento ao trabalho;
Etapa 3 – Análise dos resultados por intermédio da técnica de análise de conteúdo;
Etapa 4 – Conclusão do trabalho;
Etapa 5 – Referências;
Etapa 6 – Apêndices e anexos.
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
ANÁLISE DOS
RESULTADOS
PROBLEMA DE
PESQUISA
OBJETIVOS GERAIS E
ESPECÍFICOS
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
APÊNDICES E
ANEXOS
PESQUISA QUALITATIVA
ESTUDO DE CASO
ENTREVISTA POR PAUTA OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE
IMAGENS E FOTOGRAFIAS E MÚSICAS
ANÁLISE DE CONTEÚDO
MÉTODO INDUTIVO
18
2.3 Locus da pesquisa
O locus desta pesquisa refere-se ao estudo da tradição da doçaria artesanal, na Feira de
Caruaru, em Pernambuco. O surgimento desta Feira faz parte da história de Caruaru, cidade
que teve início com a chegada da Família Rodrigues de Sá a uma Sesmaria, doada à margem
esquerda do Rio Ipojuca, onde foi instalada a Fazenda Caruaru, no início do século XVII
(FERREIRA, 2001).
Ainda segundo esse mesmo autor, em janeiro de 1782 foi construída a Capela de Nossa
Senhora da Conceição, fazendo assim um local de convergência, onde era comum, aos
domingos, o deslocamento de pessoas que se dirigiam para lá, a fim de assistir as celebrações
ali realizadas. Dessa movimentação surgiram as primeiras trocas, vendas e compras de
mercadorias nos arredores da Capela: tecidos, linha, dedal, chapéus, apetrechos de uso
feminino, etc. (FERREIRA, 2001).
Assim, as festas religiosas tornaram-se um fator que impulsionou o surgimento e crescimento
da Feira e de um pequeno povoado, nessas imediações, que culminou na Vila de Caruaru
(RODRIGUES, 1995). Em 18 de maio de 1857 foi sancionada a elevação da vila de Caruaru à
categoria de cidade pela Lei Provincial de nº. 416, tornando-se distrito em 02 de novembro de
1892, por meio da lei municipal de nº. 3 (BARBALHO, 1980 apud IPHAN, 2007). Ainda
segundo esse mesmo autor, aos poucos, a Feira livre da fazenda foi se desenvolvendo em
frente à Capela e, por isso, aquele local passou a se chamar Rua do Comércio, mais tarde
recebendo o nome de Praça João Guilherme de Azevedo.
A comercialização de frutas, cereais, gado bovino, artesanato e utensílios produzidos
manualmente atraíam, cada vez mais, vendedores e compradores (IPHAN, 2006). Rodrigues
(1995) afirma que a fusão das Feiras de Artesanato, Verduras, Sulanca, Gado, Bolos e Troca-
Troca culminou na imensa Feira que se vê nos tempos atuais. Nas décadas de 40 e 50, as
boleiras de Caruaru ganharam destaque expondo na Feira seus bolos de mandioca, milho,
suspiro, broas, bolinho de goma, aumentando, assim, a visibilidade da doçaria artesanal
(IPHAN, 2007).
19
Em 1957, Luiz Gonzaga gravou a música Feira de Caruaru (Quadro2), composta por Onildo
Almeida. Ela ganhou repercussão e levou o nome da Feira a todo o Brasil (GLOBO, 2017).
Segundo Onildo Almeida, em entrevista para G1, a música em homenagem a Feira de
Caruaru surgiu a partir da sua percepção de que não se tratava de uma Feira comum, mas
devido a alguns dos artigos lá vendidos que “não são de feira”, como barraca de miudezas,
anéis, bordados, fita e elástico. Segundo ele, itens de feira são: banana, laranja, manga, batata
e doce.
Quadro 2 – Música Feira de Caruaru
A Feira de Caruaru
(Onildo Almeida, 1956)
A Feira de Caruaru
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra vendê,
Na Feirade Caruaru.
Fonte: Portal G1 Caruaru(2017).
A partir do crescimento e desenvolvimento da Feira surgiu a necessidade de ampliação
(IPHAN, 2009). Em 1992, a Feira de Caruaru foi transferida para o Parque 18 de Maio
(Figura 2), ocupando uma área de 1200m² e representando hoje um dos principais atrativos
turísticos da cidade, sendo considerada uma das mais importantes Feiras do Brasil
(CARUARU, 2017), situada geograficamente em uma área que atrai pessoas de mais de 30
municípios (ALMEIDA, 2002). Lá, são comercializados vários produtos, desde artesanatos,
confecções e alimentos, constituindo a base da economia local (RODRIGUES, 1995).
20
Figura 2: Parque 18 de Maio
Fonte: portal onordeste.com (2017).
Entre as Feiras mais divulgadas estão a de artesanato, que inclui o Museu do Cordel (ponto de
exposição, produção e reprodução de expressões artísticas populares) e Livre, que é
representada pelas Feiras Tradicional e das Confecções Populares, inclusive a da Sulanca;
quanto aos Mercados, encontram-se o da Carne e o da Farinha (IPHAN, 2007).
Em 2004, a Prefeitura Municipal de Caruaru entregou ao IPHAN um pedido de registro da
Feira de Caruaru como Patrimônio Cultural, quando se iniciou o Inventário Nacional de
Referências Culturais – INRC, no local. Em 6 de dezembro de 2006 foi-lhe concedido, em
virtude de sua referência cultural, objeto de preservação do Estado, configurando a identidade
da região para seus habitantes (Figura 3).
Figura 3: Feira de Caruaru
Fonte: Prefeitura de Caruaru1(2017).
1Disponível em: https://www.caruaru.pe.gov.br/pontos-turisticos.Acesso em:
21
A Feira dos Bolos, seção de goma e doces, abriga um sentido cultural ligado à gastronomia
nordestina, em que, por meio de seus ingredientes, produtos e técnicas mantêm a tradição da
culinária açucareira de Pernambuco e do Nordeste, fruto da miscigenação indígena,
portuguesa e africana. Muitos dos produtos que lá são comercializados, tais como bolos,
gomas e doces foram originados dos engenhos de açúcar durante a época colonial (IPHAN,
2007).
Como se pode perceber, essa Feira é considerada importante para o cenário cultural e
econômico local; é composta por barracas, que funcionam de segunda a sábado,
comercializando bolos, queijos, doces, bolachas e produtos derivados da mandioca: manuê,
barra banca, pé de moleque, Souza Leão, entre outros; há os derivados do trigo: pão-de-ló,
engorda marido, bolo de leite, mata-fome e, ainda, os derivados do milho, além de diversos
tipos de bolachas salgadas e doces: tareco, biscoito de canela, maragogi (alagoano) (IPHAN,
2007).
Finalmente, são encontrados produtos à base de goma de mandioca, que servem de
ingredientes para a fabricação de bolinhos de goma, papas, cuscuz, bolos, beijus e tapiocas; há
os doces de frutas, fabricados artesanalmente: mariola, cocadas (coco, jaca, goiaba entre
outros), doce de corte, quebra-queixo, também conhecido como japonês, alfenins, pirulito,
entre outros (IPHAN, 2007).
2.4 Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa foram consumidores e vendedores da doçaria artesanal
da Feira de Caruaru, em Pernambuco, seguindo o princípio da saturação das informações, isto
é, não se determina, antecipadamente, uma quantidade de pessoas a ser entrevistada.
Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa foram 10 consumidores e 4 vendedores da doçaria
artesanal da Feira de Caruaru, em Pernambuco. Assim, foram entrevistados consumidores,
escolhidos de forma intencional, por acessibilidade e vendedores escolhidos de forma
intencional.
22
2.5 Técnicas de coletas dos dados
Foram utilizadas como técnicas de coleta dos dados: observação não participante, entrevistas
por pauta, imagens, fotos, bem como músicas populares.
2.6 Técnica de análise dos dados
A técnica de análise dos dados utilizada neste trabalho será a análise de conteúdo (BARDIN,
2010). Para Morais (1999), a análise de conteúdo em uma abordagem qualitativa possibilita
ao pesquisador o entendimento de inúmeras necessidades, pois, a partir das interpretações do
material de origem verbal ou não-verbal, como jornais, cartas, músicas, filmes, vídeos,
fotografias, entre outros, é possível desvendar estudos relacionados a histórias,
representações, crenças, tradição e cultura (BARDIN, 2010). Esta autora divide a análise de
conteúdo em três etapas subsequentes: a pré-analise, a exploração do material e o tratamento
dos dados,a inferência e a e interpretação.A pré-análise é a fase da organização, em que é
definido um plano de análise, que tem como principal objetivo a ordem das ideias que vão
conduzir o desenvolvimento do trabalho (BARDIN, 2010).
A fase de exploração do material consiste na construção das operações de codificação,
seguindo regras de contagem e a classificação previamente estipuladas (BARDIN, 2010). A
última fase compreende o tratamento dos resultados, inferência e interpretação, que consiste
em interpretar o material coletado (observação, documentos, entrevistas), tornando-o mais
claro e significativo (BARDIN, 2010).
23
3ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A alimentação compreende muito mais que a necessidade de se alimentar para sobreviver e,
além de material, traz consigo características intangíveis, formadas por símbolos de
linguagem, de organização social, geográfica e cultural (FERRO,2018). Os alimentos
ingeridos carregam elementos culturais, significados e tradições do povo. Na culinária está o
reconhecimento de identidade alimentar, muito maior do que apenas um ato biológico, mas
também formado pelo espaço social, geográfico e histórico, capaz de transportar
subjetivamente o indivíduo a se sentir pertencente uma determinada sociedade (CASTRO,
2011).
Para a análise dos dados, tomou-se por referência os objetivos específicos deste trabalho.
Após a realização das entrevistas com os consumidores que frequentam a feira de doces
artesanais da Feira de Caruaru, observou-se a necessidade de entrevistar os vendedores, a fim
de identificar como os doces artesanais comercializados na feira de Caruaru têm potencial
como patrimônio estratégico.
3. 1 Doces artesanais mais referenciados da Feira de Caruaru
Por meio de observação não participante realizada na feira de doces situada na Feira de
Caruaru foi observada a procura pelos consumidores de: doce de leite, cocada de coco, mata-
fome (sorda), nego bom, mariola, chupetinha, rapadura, tareco, bolo de goma, suspiro,doce de
jaca, cocada de jaca, lanchinho e pirulito colorido.
24
Figura 4: Doces artesanais 01
Fonte: Arquivo pessoal
Figura 5: Doces artesanais 02
Fonte: Arquivo pessoal
25
Figura 6: Doces artesanais 03
Fonte: Arquivo pessoal
Os principais doces artesanais mais referenciados nas entrevistas pelos consumidores foram:
doce de leite, cocada de coco, bolo de goma, suspiro, doce de jaca, cocada de jaca, pirulito
colorido, mariola.
Doce de leite, cocada de coco, doces assim mais [...] mais caseiros (Consumidor
1.2);
Só que bolo de goma e suspiro [...] Doce de jaca (Consumidor 3);
Bolo de goma, [...] doce de jaca, [...] A cocada (Consumidor 3.2);
Doce de jaca, esses docinhos coloridopras crianças (Consumidor 4.2);
Mariola, [...] biscoito, bolinho de goma[...] (Consumidor 5).
Fonte: Histórias e Cenários Nordestinos2(2018)
2Disponível em: http://historiasecenariosnordestinos.blogspot.com/2013/08/rapadura-o-doce-nordestino.html
Rapadura: está presente na mesa do
nordestino para adoçar o café e o leite,
além de consumida com farinha,
cuscuz, carne de sol e mungunzá.
Obtida a partir do batimento do
concentrado de caldo de cana quente e
acondicionado em formas retangulares
de madeira até secar (GASPAR, 2009;
CAVALCANTE, 2010).
Figura 7: Rapadura
26
Fonte: A Revista da Mulher3 (2018)
Fonte: Pinterest4 (2018)
Fonte: Uberlândia.com5
3Disponível em: http://arevistadamulher.com.br/receitas/content/2304866-cocada
4Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/284430532695049137/?lp=true
5Disponível em: http://www.uberlandia.com/anuncio/doces-em-compota-14/
Cocada de coco: elaborada a partir da
mistura do coco ralado com açúcar e
cozido até atingir ponto de fio fino
(VAINSENCHER, 2016).
Figura 8: Cocada de Coco
Fonte: A Revista da Mulher
Mariola: doce de corte típico do
Nordeste brasileiro, obtido a
partir do cozimento de açúcar
com fruta madura (banana, goiaba
ou caju), cortado e passado no
açúcar.
Figura 9: Mariola
Fonte:
Figura 10: Compota de frutas
Fonte:
Compota de frutas: técnica
introduzida no Nordeste pelas sinhás
portuguesas, que cozinhavam as
frutas em xarope de açúcar. Ex:
Caju, goiaba, jaca (CAVALCANTE,
2010).
27
Fonte: Pinterest6 (2018)
A cana de açúcar foi trazida para o Brasil pelos portugueses que dominavam sua técnica de
produção e conheciam seu valor no mercado internacional. Instalaram engenhos para a
plantação de cana e produção de açúcar na Zona da Mata pernambucana, devido ao solo sapé,
ideal para o cultivo da cana de açúcar (FREYRE, 2007).
Tal fato transformou Pernambuco no maior produtor de açúcar da Colônia, o que contribuiu
para a produção de riquezas materiais e imateriais, como o surgimento de doçaria artesanal
brasileira, mais precisamente pernambucana, devido à facilidade ao acesso ao açúcar.
Segundo Freyre (2007), o açúcar, além de revolucionar paladares, foi um grande agente de
mudanças estruturais e sociológicas, alcançando, além dos aspectos econômicos, aspectos da
convivência humana.
6Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/521010250619560377/
Figura 11: Suspiro
Fonte:
Suspiro: obtido a partir da clara
batida em ponto de neve com
açúcar e levado ao forno até ficar
firme.
Figura 12: Pirulitos de açúcar
Fonte: Arquivo pessoal
28
Por Pernambuco ser um estado baseado na cultura canavieira, o açúcar esteve presente na
mesa pernambucana por meio de doces produzidos nas casas grandes, pelas mãos das
senhoras portuguesas, que dominavam a técnica da produção da iguaria. Contudo, não
dispunham dos ingredientes tradicionais utilizados na Europa e precisaram adaptar as receitas
tradicionais a ingredientes locais disponíveis, como milho, coco, mandioca, goiaba,
amendoim e caju.
A partir das substituições dos ingredientes surgiram, assim, doces tipicamente
pernambucanos, como bolo de rolo, bolo Souza leão, bolo pé-de-moleque. E doces com frutas
locais, como doce de goiaba, doce de caju e frutas cristalizadas.
3.2 Patrimônio cultural da doçaria da Feira de Caruaru
A cultura gastronômica regional é formada pelo conjunto de tradições, saberes, práticas
culinárias e símbolos. A comida revela mais do que aspectos nutricionais, revela a cultura em
que um indivíduo está inserido (MÜLLER; AMARAL, 2012).O patrimônio cultural é
classificado como de natureza material ou imaterial, formado pelo resultado das ações
humanas, da forma de pensar, de ser e atuar dos diferentes grupos que formam a sociedade. É
o legado transferido de geração em geração (IPHAN, 2018).
A Feira de Caruaru foi eternizada, como dito anteriormente, na voz de Luiz Gonzaga por meio
da música A Feira de Caruaru, de Onildo Almeida. A UNESCO reconhece como Patrimônio
Cultural Imaterial as expressões, técnicas, representações, lugares, objetos, monumentos
associados a um determinado grupo, gerando sentimento de pertencimento e interação com
sua história, que contribui para preservação da diversidade cultural (IPHAN, 2011).
Ainda sobre Patrimônio Cultural Imaterial, Vogt (2008) afirma ser formado por um conjunto
de comportamentos que compreende:
Maneiras de vestir, hábitos alimentares, instrumentos musicais, obras de arte,
técnicas construtivas, monumentos, máquinas e equipamentos, móveis, moedas e
outros bens de uma sociedade. O patrimônio imaterial é constituído por canções,
crenças, celebrações, ritos, lendas; por saberes que passam de uma geração para
outra, como as formas de cultivar e as maneiras de produzir, a linguagem para se
comunicar; por manifestações cênicas, lúdicas e plásticas; por lugares e espaços de
encanto e de convívio e encontro de uma sociedade. (VOGT, 2008, p.14).
29
Os hábitos alimentares de um povo revelam a história, conduta, hábitos e valores de um
determinado grupo de indivíduos. Freixa e Chaves (2012) afirmam que a gastronomia tem
uma grande importância cultural, que é um inventário patrimonial tão importante quanto os
museus, as festas, as danças e os templos religiosos.
Neste sentido, os hábitos culinários carregam características culturais e sociais. Os
ingredientes, utensílios, modificações e consumo de determinados alimentos assinalam o
imaginário de determinada comunidade, comprovando, assim, a importância da gastronomia
como elemento portador de história e ligação do comensal com o espaço em que está inserido,
tornando o indivíduo, ainda que por um momento, parte daquela comunidade (SIMON et al.,
2015), assim como afirmou Mintz (2001, p.32): “A comida “entra” em cada ser humano. A
intuição de que se é de alguma maneira substanciado – “encarnado” – a partir da comida que
se ingere pode, portanto, carregar consigo uma espécie de carga moral”.
Ainda segundo Atala e Dória (2008), o sentido que o povo tem de pertencimento ao espaço,a
infinidade sabores e fazeres produzidos são características de saberes que compõem a riqueza
e o patrimônio cultural gastronômico regional.A cultura alimentar de um povo é tão
importante que ultrapassa as barreiras da cozinha e vira versos de músicas e poemas, fato este
observado por intermédio da análise destes escritos, nos quais pode-se ver a citação de vários
doces típicos, seus ingredientes e técnicas tradicional de produção.
3.2.1 Literatura
Segundo o jornal recifense A Marmota Pernambucana, publicado em 1850: A cocada é o doce
do povo, é o doce patriótico e democrático, e é a sobremesa dos pobres e, além disto, tem a
particularidade de excitar o prazer de se beber um bom copo de água fresca [[...]]
(CASCUDO, 2004, p. 614, grifo nosso).
3.2.2 Músicas
Por meio da análise das músicas, observa-se a presença da citação de doces artesanais, não
apenas do nome, mas também contém técnicas de fabricação e variações do mesmo doce.
30
Quando paro que olho as horas
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba (MATA, 2007).
Músicas como Tareco e Mariola, do cantor Flávio José, conhecida nacionalmente, em que
apresenta em seus versos um pouco da cultura do povo caruaruense, pois se passa em
Vassoural, um bairro da cidade de Caruaru-PE. Quem conhece a música, talvez nunca tenha
comido mariola, mas sabe que é um doce que se encontra na Feira de Caruaru. E, vindo um
dia a provar, lembrará da música que faz alusão a esse doce.
Eu me criei
Matando a fome com tareco e mariola
Fazendo versos dedilhados na viola
Por entre os becos do meu velho Vassoural (JOSÉ, 1995).
Também foi observado nos versos das músicas, variações de apresentação e técnicas para
determinado doces, como cocada de coco com cravo (influência do uso de especiais pelos
portugueses) e tipos de cocadas variadas (de coco branca de coco queimado, de amendoim).
Colhia meus cocos meus frutos feliz.
Ralava eles todos com cravo e açúcar
E punha no tacho pra fazer cocada (VIEIRA, 1997)
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Coca da branca e cocada escura
Cocada puxa de amendoim [...]
A cocadeira já vendeu doce de coco lá na feira (FERREIRA, 2010)
É cocada boa
Não é?
É cocada boa
É cocada boa
Não é? (SILVA, 1993)
31
3.2.3 Poemas
É possível também observar a técnica de preparação do doce tão apreciado pela criança, que
ajudava e acompanhava todo o preparo, afim de ganhar um bocado de gratificação. E assim
pode-se ver a tradição da fabricação dos doces artesanais sendo passada de geração a geração.
Eu devia ter nesse tempo dez anos.
Era menina prestimosa e trabalhadeira à moda do tempo.
Tinha ajudado a fazer aquela cocada.
Tinha areado o tacho de cobre e ralado o coco.
Acompanhei rente à fornalha todo o serviço, desde a escumação da calda até a
apuração do ponto.
Vi quando foi batida e estendida na tábua, vi quando foi cortada em losangos. Saiu uma cocada morena, de ponto brando atravessada de paus de canela cheirosa.
O coco era gordo, carnudo e leitoso, o doce ficou excelente. (CORALINA, 2006).
3.2.4 Entrevista com consumidores
Entre os entrevistados observou-se o predomínio de consumidores locais e de cidades
vizinhas, tendo o hábito de frequentarem a feira de doces artesanais semanalmente à procura
de doces para consumo próprio e de familiares, adultos e crianças. Alguns dos consumidores
preservam a cultura de frequentar a feira de Caruaru – PE e comprar seus doces.
Sou da zona rural de Bezerros. [...] sempre venho na feira pra comprar de tudo um
pouco (Consumidor 4);
Variável, viu? Normalmente são doce de jaca, esses docinhos colorido pras crianças.
[...] É, as crianças gostam desses docinhos coloridos (Consumidor 4.2);
Sou da zona rural de Caruaru. [...] eu só venho de quinze em quinze dias, quando dá
pra vir, uma vez por semana, eu venho (Consumidor 5);
Serrote dos Bois. [...] Faz, faz muito tempo. [...] De eu garotinha, já hoje tô
caducando. [...] e esses doces assim, olhe, doces quase de criança, né? [...] É da
minha menina (Consumidor 2).
Observou-se que mesmo consumidores turistas se sentem inseridos na cultura e tradição.
Sertânia, mas eu moro em Recife. [...] É a primeira vez que eu tô vindo aqui na feira.
[...] nessa barraca aqui, porque a gente já foi indicada (Consumidor 3);
32
Moro em Recife há 35 anos, mas eu sou de Arcoverde [...] Mas eu conheço a Feira
de Caruaru, gosto muito[...] Minha irmã sempre que vem aqui em Caruaru, sempre vem nessa barraca aqui[...] Nesse banco mesmo (Consumidor 3.2).
Nesse contexto, o ato de frequentar a feira de Caruaru ou de simplesmente comer um doce
típico do local carrega consigo a tradição do povo que, por meio de seus saberes e fazeres
constrói sua identidade. Assim como afirma Santos (2013, p.2): “O alimento é passível de
influenciar a construção da identidade e a natureza daquele que o ingere, pois uma dimensão
do gosto é influenciada pelo imaginário”, comprovando que cultura e tradição fazem parte do
dia a dia do consumidor da feira de Caruaru. Sendo o saber fazer local um agente de
fortalecimento cultural e desenvolvimento identitário, por intermédio do apego ao passado e
suas relações inter-relacionadas como o segmento comercial reforçando o desenvolvimento
regional.
3.3 Valor estratégico da doçaria artesanal da Feira de Caruaru
Para Bourdieu (1983), o gosto possui efeito identitário, capaz de regular os interesses e
predisposições para aquisição de determinados produtos, materiais ou imateriais, sendo o
capital econômico, cultural e simbólico os principais influenciadores no gosto dos indivíduos,
Os significados e a relevância atribuídos a determinados produtos ultrapassam sua
funcionalidade e seu valor comercial, tornando-se capaz de transmitir e de comunicar
significados culturais (MCCRACKEN, 2007).
Assim, o capital cultural atua como fator determinante, convertendo-se em gostos e em
práticas de consumo, estabelecendo assim uma espécie de herança cultural dos indivíduos
moldando seus gosto e práticas de consumo (PONTE; MATTOSO, 2014).
Por meio das entrevistas realizadas com vendedores de doces artesanais da Feira de Caruaru-
PE, foi reforçado o seu papel como um local de cultura e tradição:
Quando a feira veio pr‟aqui, foi no governo de João Lira que a feira veio pr‟aqui. Eu
digo: “Mas meu Deus, sair da feira é possível?”. Aí fiquei botando essas
bolachinhas, pra tá passando o tempo. [...] Não é pelo dinheiro não, [...]Mas eu gosto
de tá aqui (Vendedor 3);
O banco começou com minha vó que fabricava e vendia desde a época que a feira
era no centro. [...] Aí eu também eu fabrico bolinho de goma e suspiro, desde a
época da minha avó. [...] Eu vendia lá em cima o bolinho porque é uma tradição de
família, sabe? [...] Então nós fabricamos há mais de 70 anos. O bolinho de goma e o
33
suspiro. Eu não era nem nascida, mamãe começou nova, a minha avó, o meu avô,
entendeu? (Vendedor 4).
Isto corroborou, assim, com os achados de Lima (2010):
Outrossim, que a Feira da Sulanca para estes indivíduos, representa muito mais do
simplesmente um local onde são realizadas operações comerciais, e sim, um
ambiente onde costumes, hábitos e valores são produzidos, criando e recriando suas
práticas de vida, e assim, reproduzindo sua cultura. (LIMA, 2010, p.84)
Pode-se observar com o relato do vendedor 3 (Apêndice C), uma senhora que vive da/e na
feira há mais de 50 anos, que o local representa muito mais do que apenas um ponto
comercial, mas, sobretudo, representa um lugar de convivência, de vínculos de amizade.
O vendedor 4 explica que a feira já faz parte da história de sua família, que produzir doces e
comercializar na feira é um costume passado de geração a geração há mais de 70 anos,
corroborando assim com Bell e Valentine (1997), que afirmam que a herança cultural
constitui base para a construção da cozinha regional, com identidade territoralista, sendo a
preservação desse patrimônio importante para preservação da identidade de uma família ou
comunidade e perpetuação de suas heranças a futuras gerações.
Além de sua importância para a valorização, preservação e perpetuação de sabores e saberes,
a gastronomia regional contribui para fortalecimento e desenvolvimento de uma região,
favorecendo o fomento do turismo e a comercialização de produtos típicos regionais, sendo
esses saberes e fazeres agentes transformadores e fortalecedores de laços regionais, em
contrapartida com a padronização da globalização (SIMON et al., 2015).
Para Petrini (2009), as especialidades culinárias de uma determinada região estimulam
viajantes na busca de “comida de verdade”, comida esta que reflete o modo de pensar, fazer e
agir de quem a produz, sendo a visita in loco parte desta experiência, pois, a partir do
momento que um indivíduo prova um produto regional, ele é influenciado pelo imaginário
que aquele produto carrega culturalmente (VOGT, 2008).Também foi observada a
importância da feira de doces como fonte de sustento e crescimento profissional. A seguir,
seguem-se falas dos vendedores, referentes ao tempo que comercializam na feira.
34
Doze anos (Vendedor 2);
Olhe, eu tenho mais de cinquenta anos que eu vivo na feira, e é por isso que eu tô
com uma idade dessa. [...]Eu tenho mais de cinquenta anos... Eu vim da feira, de lá
do comércio. Você não se lembra da feira. [...] Lá na feira do comércio eu vendi...
tem até a balança aí ainda. Eu vendia uns bolinhos, bolo de costa (Vendedor 3);
Nessa feira aqui vai fazer 24 anos. [...] Do centro da cidade, da feira de lá. [...]
vendia doces também (Vendedor 4).
Além da importância que a feira de doces tem para geração de renda, percebe-se, por meio do
surgimento de novos vendedores que tiram da venda de doces artesanais na feira de Caruaru o
sustento para sua família, que a venda de doces artesanais constitui negócio promissor para
investimento.
Tô com um ano. [...] Eu trabalhava para meu patrão e aí ele alugou (Vendedor 1).
Esses achados corroboraram com o que Santos (2012) descreve sobre a importância
econômica do valor identitário do saber fazer, em que foi estudada a força cultural local dos
produtos e técnicas dos derivados da mandioca para a cultura dos Miaiense. E observou-se
que além da relevância cultural, a produção e comercialização desses produtos contribui para
geração de renda destinada ao sustento familiar.
Mesmo com o crescimento da feira e mudança de local, pode-se observar que o costume de
comprar produtos da doceria artesanal continua presente na vida de antigos compradores e no
surgimento de compradores de idade mais jovens.
São, que já são freguês antigo, que já me conhece já de muito tempo... Vai morrendo
os véi e ficando os novo. [...] que não era nem nascido, né? Muita gente chega aqui,
olhe... “A senhora não me conhece não, mas eu lhe conheço lá da feira de lá, eu
fazia lanche pro seu banco”, eu vendia negócio de lanche, bolinho, cocada... tinha
uma jarra d‟água bem grande pra o pessoal beber... Eu partia o bolinho, partia e o
pessoal lanchava, sabe? (Vendedor 3);
Eu tenho muitos clientes que infelizmente já se foram, né? Aí a gente tem assim,
uma lembrança boa, alguns já se foram, aí a gente já vai constituindo outros. [...]
Tava até comentando aqui. Um rapazinho, que ele deve tá com uns 16 anos, ele tava
me contando ali ontem, e eu disse “Meu filho, como o tempo passa rápido, você
comprava aqui, tudo pequenininho”, eles correndo ali do banco, até filhos de
pessoas que comercializam aqui na feira também. [... ]Vem tudo pequenininho, com
3, 4 anos, vem correndo, já tão tudo... hoje já são pai, tem uns que já são pais,
entendeu? E começou aqui tudo pequenininho. [...]De geração pra geração, sabe?
(Vendedor 4).
35
Nos meses de dezembro, janeiro, junho (devido ao são João, que é uma festividade importante
para cidade de Caruaru-PE)e julho já são esperados os turistas à procura de doces
artesanais,como mariola, rapadura, doce de leite, doce e cocada de jaca, pirulito de açúcar
colorido, lanche e nego bom, tanto para consumo próprio como para levarem como lembrança
para amigos e familiares.
Vem, procura mais mariola, como nós falamos, mariola, rapadura, que é em
dezembro e em junho, que eles mais procuram (Vendedor 1);
Tem de Caruaru, mas a gente tem muito de São Paulo, do Rio [...] Muito, muito,
muito, muito [...] junho e... agora [...] dezembro... até fevereiro ainda tem muito. [...]
Esses, jaca, pirulitinho de açúcar, pirulitinho desse colorido... Essas coisas assim.
Doce de leite, rapadura... Rapadura eles levam(Vendedor 2);
E4: Isso. Daqui de Caruaru e cidades vizinhas, aí de vez em quando aparecem uns
turistas... esta época é a época de turista. [...] Pessoal do sul, sabe, que vem visitar os
parentes... Gosta de levar os doces. [...] É meio de dezembro, pra o final de janeiro, e
mês de junho e julho.[...] Olhe, é o lanche, a mariola, rapaduras, nego bom... são os
principais, aquelas chupetinhas de açúcar (Vendedor 4)
Figura 13: Doces variados (doce de leite, rapadura, cocadas, compotas)
Fonte: Acervo pessoal
Observou-se a importância de que, além de patrimônio cultural, a feira de doces artesanais
tem grande poder como patrimônio estratégico. A partir da entrevista realizada com Valéria
(vendedor 4), proprietária do banco Valéria Doces, atualmente é formado por 10 bancos
conjugados, onde comercializam-se produtos de fabricação própria, entre eles bolo de goma e
suspiros (Figura 14), tomou-se conhecimento de que ela apreendeu a fazer os doces com sua
36
avó. No entanto, seu banco vende também doces de produtores locais e de cidades vizinhas,
como bolos de lata de sardinha de produtores locais, que entregam bolos novinhos de duas a
três vezes na semana, nego bom de Bezerros-PE, alfenim produzido por uma senhora de
Agrestina-PE, entre outros doces.
“Aí eu também eu fabrico bolinho de goma e suspiro, desde a época da minha avó.
[...] Eu vendia lá em cima o bolinho porque é uma tradição de família, sabe?
[...]Então nós fabricamos há mais de 70 anos. O bolinho de goma e o suspiro. [...]
Esse é o suspiro, aí são vários tamanhos, e também são dois formatos. (Vendedor 4)
Figura 14: Doces de fabricação Valéria Doces
Fonte: Acervo pessoal
Aí comecei botando um, só com meu bolinho e suspiro, aí depois fui diversificando,
sabe? Mas lá em cima eu só vendia bolinho de goma, suspiro e alfenim. Sim, tinha o
pirulito colorido também, que vende muito... (Vendedor 4)
37
Figura 15: Banco de doces artesanais
Fonte: Facebook Valéria Doces7
Valéria ainda conta que expõe em feiras de produtos artesanais. Uma delas é a Feira Livre
Cultural, que acontece mensalmente no Caruaru Shopping (Figura 16), onde monta uma
miniatura de seu banco da Feira de Caruaru e vende os doces que comercializa no ponto
tradicional, que, porventura são doces que dificilmente são encontrados para vender em
shopping, por estes terem um apelo mais cultural que comercial.
Eu até exponho lá Shopping North todo mês... Numa feira que tem lá. Vai começar
essa semana novamente, quinze dias lá, vinte dias. Tem mês que são dois dias, tem
mês que é vinte, esse mês agora de dezembro é trinta, são joão é trinta.Já fevereiro
não vai ter, porque é carnaval, porque senão passava 20 dias lá, mas todo mês
geralmente são só dois dias.Aí é bom porque a gente também... assim, né? essa
ideia... As pessoas conhecem... (Vendedor 4)
7Disponível em: https://www.facebook.com/1379899485666325/photos/?tab=album&album_id=1379906405
665633. Acesso em: 23 ago. 2018.
38
Figura 16: Valéria expondo na Feira Livre Cultural do Caruaru Shopping
Fonte: Fonte: Facebook Valéria Doces8
Conforme descreve Santos (2002), a valorização da identidade cultural regional está
diretamente ligada ao saber fazer local, sendo esta uma forma de expressão cultural realizada
pelos indivíduos e seus grupos. Neste sentido, Flores (2006), afirma que:
As sociedades podem ser estimuladas a explorar seu potencial territorial e o saber
fazer local, através de um processo de construção coletiva através da cooperação,
cujo resultado poderia ser a diferenciação de produtos com qualidade para o
mercado. (FLORES, 2006, p. 10).
Valéria fala sobre a importância de vender doces que fazem parte da cultura e tradição de um
povo e da importância de não deixar essa tradição ser esquecida. Ela mostra o alfenim
(Figura17) como exemplo, e conta que é o único banco de doces que dispõe do doce para
venda, caso que foi confirmado pelos vendedores 1 e 2. E ainda esclarece que os outros
vendedores sempre indicam o banco dela quando os consumidores chegam à procura.
8Disponível em: https://www.facebook.com/1379899485666325/photos/a.1379915552331385/163256423
3733181/?type=3&theater. Acesso em: 23 ago. 2018.
39
Figura 17: Alfenim
Fonte: Acervo pessoal
Sempre procuram. [...] alfenim... esse também é um doce muito antigo (Vendedor
1);
Tem, é alfenim. O nome é alfenim. Tem, aqui em Caruaru é difícil. Mas na região
tem, um lugarzinho aí... Agrestina... parece que vende ainda... É alfenim. [...] É
como se fosse uma rapadura, sendo bem fina. Que é quando eles faziam guarda-
chuvinha... patinho... essas coisas assim... Eram bem branquinhas (Vendedor 1).
Comenta também que nos dias atuais apenas uma família da Cidade Agrestina- PE continua
com a tradição da fabricação e venda do doce, que hojeestá sob responsabilidade de uma filha,
que carrega a tradição. Afirma ainda que é um doce delicado de ser feito, que não consegue
ter disponível todo o ano para venda, pois na época de chuva (inverno) não pode ser
fabricado, posto que é necessário sol para secar os alfenins.
É um doce muito antigo, sabe?[...] Agrestina, só é lá que faz.E Infelizmente, essa
mulher em Agrestina, se ela não fizer mais o alfenim vai acabar a tradição, assim
como acabou a da truita. [...] Era com a mãe dela. Não, os filhos não querem fazer
mais não. Os jovens de hoje em dia não quer saber dessas coisas mais não, criatura,
só quer saber de coisa de computador. [...] Ai essa mulher do alfenim, de Agrestina,
já foram fazer até reportagem na casa dela, e foi, não sei se foi o SENAC, ou não sei
se foi o SEBRAE. [...] Que foi pra ela ensinar os alunos pra não acabar a tradição.
Eu acho que rolou pra lá essas aulas, mas não sei se as pessoas... não sei. Mas houve
isso. Porque é ela só que faz. A mãe vive em cima de uma cama, o pai já morreu, e
ela ainda faz. Digo “Dona Nenê, traga”, porque tem época do, pronto, na época do
inverno não tem, pode esquecer, seca no sol. Não tem sol, não tem alfenim, que ele
não dá o ponto. Ela faz ele, bota lá no sol pra... o sol é que vai dar o ponto, pra secar,
ficar durinho, senão ele fica mole... fica uma geleia. [...] Aí também tem isso, só tem
no verão, viu?
40
Expressa-se, assim, o seu cuidado com a valorização dos doces artesanais e com a
importância que esses produtos têm como patrimônio estratégico, disseminando, inclusive,
em mídias sociais (Figura 18 e 19).
Figura 18: Facebook Valéria Doces
Fonte: Facebook Valéria Doces9
Figura 19: Instagram Valéria Doces
Fonte: Instagram Valerias Doces10
9Disponível em: https://www.facebook.com/pg/Val%C3%A9ria-Doces-1379899485666325/photos/?ref=page
_internal. Acesso em: 25 ago. 2018.
10
Disponível em: https://www.instagram.com/valeriadoces2018/. Acesso em: 25 ago. 2018.
41
Para Atala e Dória (2008), determinados produtos merecem uma atenção especial, por parte
da gastronomia, setores públicos, da academia e também de todos os atores regionais, devido
à importância que são atribuídos a eles por seu território. Exemplos destes produtos, que
recebem do seu território importância e que representam a identidade gastronômica do estado
de Pernambuco, temos: o bolo de Rolo (lei nº 13.436 de 24/04/08), o bolo Souza Leão (lei nº
13.428 de 16/04/08) e a Cartola (lei nº 13.751 de 24/04/09). Todos reconhecidos como bens
imateriais pernambucanos.
Visto isso, torna-se imprescindível a participação de setores públicos e privados, academia,
chefes de cozinha e estudantes de gastronomia a valorização de determinados produtos não
sejam visto apenas como simples mercadorias, fonte de exploração de renda, e passem a ser
visto como legado cultural das gerações passadas para as futuras. Neste sentido, o
desenvolvimento regional com apoio de vários atores envolvidos, além de produzir
transformações de ordem econômica, social e cultural nos territórios, é capaz de valorizar e
resgatar os traços culturais e valorizar a identidade local.
3.4 Doces com maior capacidade de gerar valor estratégico
Por meio das entrevistas realizadas com consumidores e vendedores foi possível identificar
quais doces artesanais comercializados na Feira de Caruaru têm capacidade de gerar valor
estratégico (Figura 20).
Figura 20: Doces com maior capacidade de gerar valor estratégico
Fonte: Acervo pessoal
42
4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este trabalho teve como objetivo geral identificar de que maneira a doçaria artesanal da Feira
de Caruaru, em Pernambuco, tem sido percebida por consumidores como patrimônio cultural
e valor estratégico.
Para chegar ao objetivo proposto, três objetivos específicos foram elencados: descrever os
doces artesanais mais referenciados da Feira de Caruaru, em Pernambuco, segundo a
percepção de consumidores; identificar se e como o patrimônio cultural da doçaria artesanal
da Feira de Caruaru reforça o valor estratégico; identificar, dentre os doces artesanais
estudados, na doçaria artesanal da Feira de Caruaru, em Pernambuco, quais aqueles possuem
maior capacidade de gerar valor estratégico.
Em relação ao primeiro objetivo específico trabalhado, descrever os doces artesanais mais
referenciados da Feira de Caruaru, em Pernambuco, segundo a percepção de consumidores,
foi identificado, por meio da observação não participativa e de entrevista semiestruturada a
compra de doces variados, entre eles: doce de leite, cocada de coco, mata-fome (sorda), nego
bom, mariola, chupetinha, rapadura, tareco, bolo de goma, suspiro, doce e cocada de jaca,
lanchinho e pirulito colorido.
Sobre o segundo objetivo específico proposto, identificar se e como o patrimônio cultural da
doçaria artesanal da Feira de Caruaru reforça o valor estratégico, reforçou-se a importância
cultural dos doces artesanais comercializados na Feira de Caruaru, fazendo parte do cotidiano
de consumidores locais e circunvizinhos, por intermédio da prática de perpetuação para seus
descendentes, sendo também uma constante por parte dos turistas, que procuram a Feira de
Caruaru para adquirirem seus doces artesanais, pois sabem que nela existe uma área
específica para vende destes.Apesar dos anos e mudança de local, a Feira de doces continua
fazendo parte da grande Feira de Caruaru. Destaque também para o papel desenvolvido pelos
vendedores novos e consolidados, que atuam como investidores e preservadores da cultura da
venda de doces, em alguns casos, ultrapassando os limites da feira, e comercializando seus
produtos em locais improváveis para venda, como shopping, por exemplo, o que reforça a
importância da memória cultural como gerador de valor estratégico.
43
Ainda sobre o segundo objetivo específico, observa-se também a importância de
investimentos públicos e privados, visto que os doces artesanais, além de valor cultural, têm
um grande potencial gerador de valor estratégico, uma vez que atrai o interesse de centros
comerciais modernos (shoppings) na divulgação e venda, por meio de feiras periódicas e
exposição de produtos artesanais. Já em relação ao terceiro e último objetivo, identificar,
dentre os doces artesanais estudados, na doçaria artesanal da Feira de Caruaru, em
Pernambuco, quais aqueles que possuem maior capacidade de gerar valor estratégico,
observa-se por meio das entrevistas com consumidores e vendedores, e da análise da
literatura, músicas e poemas, a cocada de coco, de jaca e de leite, doce de leite e de jaca,
suspiro, mariola e rapadura.
Tendo em vista os aspectos observados, os resultados sugerem que o patrimônio cultural da
doçaria artesanal da Feira de Caruaru reforça o valor estratégico. Contudo, apesar do esforço
de consumidores e vendedores em continuar com a cultura da doçaria artesanal, fazem-se
necessários projetos de valorização, divulgação e incentivo ao desenvolvimento dos negócios
já existentes e de outros que venham a surgir, desses bens tão importantes para cultura e
economia local, por meio do poder público.
Sendo necessário a existência de uma consciência coletiva (setores públicos, chefs de cozinha,
academia) para que, no futuro, todas as pessoas que fazem parte da comunidade possam
elaborar planos, a fim de assegurar a sobrevivência dos ensinamentos de seus antepassados
para seus sucessores.
4.1 Sugestões para futuros estudos
Este estudo não esgota a discussão sobre a temática. Sua finalidade é se tornar o ponto de
partida para novos debates. Entende-se que futuros trabalhos envolvendo os doces artesanais
da Feira de caruaru devam abordar estratégias de valorização e disseminação da cultura local
por meio do turismo gastronômico.
Futuros estudos também devem explorar as diversas feiras de produtos da gastronomia local
que compõem a Feira de Caruaru.
44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, C. de F. C. B. R. de; ALBUQUERQUE, P. de. Uso e Conservação de Plantas
e Animais Medicinais no Estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): Um Estudo de
Caso. México: Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal vol. 27
nº 6. Pág. 276- 285. Disponível em <http://www.redalyc.org/html/339/33906902/>. Acesso
em: 20 Nov. 2017.
ATALA, Alex; DÓRIA, Carlos Alberto. Com unhas, dentes e cuca: prática culinária e
papo-cabeça ao alcance de todos. São Paulo: Ed Senac, 2008.
BARBALHO, N. Trem da Saudade – Parada Obrigatória: Estação Caruaru. Recife: Ed. Do
Autor. 1980. Apud. IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
PATRIMONIO CULTURAL IMATERIAL, Dossiê - Feira de Caruaru. Recife, 2007.
BARDIN, L. L. Análise de Conteúdo. 5ª ed. Lisboa: Edições 70, 2011.
BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre
Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 82-121
CORALINA, C. in: Conto com você – vol.2 – Coleção Antologia de Contos para
Crianças. São Paulo, Editora Global, 2006.
CARUARU. Pontos Turísticos: A feira de Caruaru. Portal Prefeitura de Caruaru.
disponível em: <https://www.caruaru.pe.gov.br/pontos-turisticos>. Acesso em 20 Nov. 2017.
CASCUDO, Luiz da Câmara. História da alimentação no Brasil. 4ª ed. – São Paulo: Global,
2011.
CASTRO, H. C.; MACIEL, M. E.; MACIEL, R. A. Comida, cultura e identidade: conexões a
partir do campo da gastronomia. Ágora, Santa Cruz do Sul, v. 18, n. 7, p. 18-27, jan./jun.
2016.
CHIZZOTTI, A. A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e
desafios. Minho: Revista Portuguesa de Educação, 2003, 221-236.
FERREIRA, J. E. Ocupação Humana do Agreste Pernambucano – Uma abordagem
antropológica para a história de Caruru. João Pessoa: Idéia, 2001.
FERREIRA, Roque. Cocada. In.: SÁ, Roberta. Quando o canto é reza. Universal Music,
2010. 1 CD. Faixa 4 (3 min 25).
45
FLORES, Murilo. A identidade cultural do território como base de estratégias de
desenvolvimento - Uma visão do estado da arte. Santiago-Chile: RIMISP, 2006.
FREIXA, D.; CHAVES, G. Gastronomia no Brasil e no Mundo. 2ª.ed. 2ª. reimpressão. Rio
de Janeiro: SENAC Nacional, 2012.
FREYRE, Gilberto. Nordeste. 7ª ed. São Paulo:Global, 2004.
________. Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do
Brasil. 5ª ed. São Paulo: Global, 2007.
GASPAR, Lúcia. Engenhos de rapadura. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim
Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 8
Ago. 2018.
GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GLOBO. “Feira de Caruaru” Completa 60 Anos e Onildo Almeida Afirma: “Minha
Maior Obra”. Caruaru: Portal G1 Caruaru. 2017. Disponível em:
<http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2017/03/feira-de-caruaru-completa-60-anos-e-
onildo-afirma-minha-maior-obra.html.> Acessado em 25 nov. 2017.
GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. In: Revista de
Administração de Empresas. São Paulo: v.35, n.2, p. 57-63, abril 1995.
IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. PATRIMONIO CULTURAL
IMATERIAL, Dossiê - Feira de Caruaru. Recife, 2007.
______.Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br. Acesso em Set. 2018.
JOSÉ, Flávio. Tareco e Mariola. In.: TARECO & MARIOLA. LBC, 1995. 1 CD. Faixa 1 (4
min 10).
MACIEL, M. E. Uma cozinha à brasileira. Rio de Janeiro: Revista Estudos Históricos, v. 1,
n. 33, p. 25-39, 2004.
MATA, Vanessa da. Pirraça. In.: SIM. Sony BMG, 2007. 1 CD. Faixa 6 (3 min 25).
MCCRACKEN, G. Cultura e Consumo: uma Explicação Teórica da Estrutura e do
Movimento do Significado Cultural dos Bens de Consumo. RAE-Revista de Administração
de Empresas, v. 47, n. 1, jan-mar, p.116-123, 2007. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-
75902007000100008.
46
MINTZ, S.W. Comida e antropologia: uma breve revisão. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, v. 16, n. 47, out. 2001.
MORAIS, L. P. Comida, identidade e patrimônio: Articulações Possíveis. Curitiba:
História: Questões & Debates, n. 54, p. 227-254, jan./jun. 2011.
MÜLLER, Silvia Grauden.; AMARAL, Fabian. Mortimer. A preservação dos saberes e
fazeres gastronômicos por meio da articulação entre o Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Santa Catarina e espaços culturais. Revista Therma. 9 (1), 2012.
PETRINI, Carlo. SlowFood: princípios da nova gastronomia. Tradução de Renata Lucia
Botini. São Paulo: Editora Senac, 2009.
PONTE, L. F.; MATTOSO, C. Q. Capital cultural e o consumo de produtos culturais: as
estratégias de consumo de status entre mulheres da nova classe média. Revista Brasileira de
Marketing, v. 13, n. 6, p. 18-33, 2014.
RODRIGUES, F. K. A Feira de Caruaru: Origem Histórica, Questões Econômicas,
Sócio‐Políticas e Culturais. Caruaru: Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru,
1995. Monografia de conclusão de curso.
SANTOS, C.R.A. O Império McDonald e a Mcdonalização da Sociedade: Alimentação,
Cultura e Poder. Seminário facetas do império na história. Paraná Nov. 2006. 23p.
SANTOS, Rafaela. A força da cultura local: a manutenção da produção de guisados frente a
expansão da cana-de-açúcar em Miai de Baixo Coruripe/AL. Ateliê Geográfico, Goiânia-GO,
v. 6, n. 3 (Ed. Especial) p. 12-27, Out/2012.
SILVA, Bezerra da. Overdose de Cocada. In.: SILVA, Bezerra da. Cocada Boa. RCA, 1993.
1 CD. Faixa 1 (4 min 50).
SIMON, E. L.; ETGES, V. E.; MINASI, M. M. A Gastronomia Regional e o Turismo como
Elementos Fortalecedores da Identidade Cultural Frente à Tensão entre o Global e o Regional.
Cenário, Brasília, v. 3, n. 5, p. 153-171, dez. 2015.
VAINSENCHER, Semira Adler. Cocada. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim
Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em:
Acesso em: 8 Ago. 2018.
VIEIRA, Antônio. Cocada. In.: RIBEIRO, Rita. Rita Ribeiro. Velas/Galeão, 1997. 1 CD.
Faixa 2 (3 min 55).
VOGT, Olgário P. Patrimônio cultural: um conceito em construção. MÉTIS: história e
cultura, v. 7, n. 13, p. 13-31, jan./jun. 2008.
YIN, R. K. Estudo de caso. Planejamento e métodos. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2015.
47
ZANETI, T. B. Das panelas das nossas avós aos restaurantes de alta gastronomia: os
processos sociais de valorização de produtos agroalimentares tradicionais. Brasília: Faculdade
de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 2012, 176 p. Dissertação de
Mestrado.
48
APÊNDICES
APÊNDICE A - Roteiro básico da entrevista por pauta com consumidores
QUAL SEU NOME?
DE ONDE VOCÊ É?
COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ VEM A FEIRA DE DOCES?
QUAIS PRINCIPAIS PRODUTOS VOCÊ COMPRA?
QUAL PRODUTO NÃO PODE FALTAR NA SUA FEIRA DE DOCES?
EXISTE ALGUM DOCE QUE VOCÊ COMPRAVA E NÃO ENCONTRA MAIS PARA
VENDER?
49
APÊNDICE B - Roteiro básico da entrevista por pauta com vendedores
A QUANTO TEMPO O SR(A) TRABALHA VENDENDO BOLOS E DOCES?
QUAL O DOCE MAIS PROCURADO?
QUEM SÃO SEUS PRINCIPAIS CLIENTES?
QUAIS OS PRODUTOS SÃO MAIS PROCURADOS PELOS CLIENTES LOCAIS?
QUAL ÉPOCA É VENDIDO MAIS BOLOS E DOCES?
OS TURISTAS JÁ CHEGAM COM UM PRODUTO CERTO PARA COMPRAR, QUAIS
SÃO ELES?
QUAIS PRODUTOS OS TURISTA MAIS COMPRAM?
O SR(A) TEM ALGUMA HISTÓRIA INTERESSANTE SOBRE A FEIRA DE BOLOS E
DOCES QUE PODE ME CONTAR?
50
APÊNDICE C - Transcrição das entrevistas por pautas com consumidores
ENTREVISTA 1
Lorena: Qual o nome de vocês?
E1 (1): Stephane.
Lorena: E o teu?
E1 (2): Naelson.
Lorena: Naelson? Vocês sempre têm o costume de comprar doces aqui na feira?
E1 (1): Sim.
Lorena: Quais são os principais doces que vocês normalmente compram?
E1 (2): Doce de leite, cocada de coco, doces assim mais[...] mais caseiros.
Lorena: Mais doces regionais mesmo, né?
E1 (2): Isso.
Lorena: Tem algum doce, assim, que vocês sentem falta que não[...] que compravam
antigamente e não acha mais hoje?
E1 (2): Não. Não, assim, aquelas goiabadas que era feitasfeitas[...] caseira mesmo[...]
Lorena: Entendi.
E1 (2): Hoje em dia não tem mais. É mais industrializada.
Lorena: Industrializada. Certo. Vocês vêm toda semana comprar ou esporadicamente?
E1 (2): Não. Esporadicamente.
Lorena: Certo. Tá bom. Obrigada.
E1 (2): De nada.
Lorena: Só uma pergunta que eu esqueci: vocês são daqui?
E1 (2): Sim.
51
Lorena: De Caruaru mesmo. Tá bom. Brigada.
E1 (1) e (2): De nada.
52
ENTREVISTA 2
Lorena: Como é o nome da senhora?
E2: Maria Valentim.
Lorena: Maria[...]?
E2: Valentim.
Lorena: Dona Maria, a senhora é daqui de Caruaru mesmo?
E2: Sou não, sou de[...] [ininteligível] dos bois.
Lorena: De?
E2: Serrote dos Bois, lá no[...]
Lorena: Rota dos Bois, certo[...]
E2: Serrote.
Lorena: É, mas aí mora aqui ou mora lá ainda?
E2: Moro lá ainda. Vim só fazer compras.
Lorena: Aí vem pra feira pra fazer compras[...]? A senhora faz muito tempo que compra aqui
na feira?
E2: Faz, faz muito tempo[...] De eu garotinha, já hoje tô caducando[...]
Lorena: Posso perguntar quantos anos a senhora tem hoje?
E2: Não, não.
Lorena: Não? Quer responder não?
E2: Não, não, quero não.
Lorena: Mas há muitos que trabalha, que já compra aqui na feira, né?
E2: É, é isso aí.
Lorena: Quais são os doces que normalmente, assim, esses doces típicos daqui de
Pernambuco, daqui da feira que a senhora compra, normalmente?
53
E2: É, esses doces assim, olhe, doces quase de criança, né?
Lorena: É.
E2: Assim, coisinha fraquinha, né? Coisa forte não, sabe?
Lorena: Certo. Mas assim, mariola, esses biscoitinhos, cocada, a senhora normalmente
compra?
E2: É, é.
Lorena: Esse aqui é da senhora também?
E2: É da minha menina.
Lorena: Tudo bom? Eu tô fazendo uma entrevista, tava falando com ela sobre os doces que
são as pessoas que compram os doces aqui em Caruaru. Aí ela tá dizendo aqui que compra
desde pequena, né? Desde que ela era garotinha que ela compra aqui na feira de Caruaru. Eu
tô vendo que vocês estão levando mata fome, né? Essa é a mata fome menorzinha?
E2 (2): Hum hum.
Lorena: Que vocês normalmente compram[...] tem algum doce específico que vocês vêm
sempre comprar?
E2 (2): Não, não, sempre a gente[...] O que agradar assim, nada específico não[...]
Lorena: Nada específico. Tem algum doce que a senhora compravacomprava antigamente que
hoje em dia não acha mais aqui na feira?
E2: Não, que eu lembre não. Dos que eu comprava ainda tem um bocado de coisa.
Lorena: A maioria ainda tem, dos que a senhora gostava.
E2: Tem, tem[...]
Lorena: Tá certo, tá bom.
E2: A gente vai comer assim, se abusa, já muda pra outro[...]
Lorena: Entendi.
E2: Pra não abusar com aquele ali, aí já muda pra outro.
54
Lorena: Já muda pra outro, mas é bem comum a senhora vir na feira mesmo comprar o doce,
né?
E2: Não, é, é isso aí[...] (risos)
Lorena: Pronto, tá bom. Obrigada, viu?
E2: De nada. Obrigada também.
55
ENTREVISTA 3
Lorena: Qual o nome da senhora?
E3: Marlene.
Lorena: Marlene. Dona Marlene, a senhora[...]
E3: Me chame de “dona” não[...]
Lorena: “Dona” não? Então Marlene, vou chamar. Pronto. Tão nova, né?
E3: É[...]
Lorena: Olhos lindos! Olha os olhos!
E3: Eu sou super jovem, só tenho 15 anos[...]
Lorena: Olha aí[...] (risos) Você sempre vem aqui, você é de fora? De que região daqui?
E3: Na realidade, eu sou de Sertânia, mas eu moro em Recife.
Lorena: Certo.
E3: Certo? Só que bolo de goma e suspiro, eu conheço.
Lorena: Certo.
E3: Aí vim comprar.
Lorena: Vem comprar aqui[...]
E3: É. É a primeira vez que eu to vindo aqui na feira.
Lorena: Ah, tá vindo a primeira vez aqui na feira. Ah, aí, de Sertânia, mas não conhecia
aqui[...]
E3: Não, mas eu moro em Recife há muitos anos.
Lorena: Há muitos anos[...] Aí tá pesqui[...] veio já específico pra comprar[...] bolo de
goma[...]
E3: Não, aqui nessa barraca aqui, porque a gente já foi indicada.
Lorena: Já foi indicada, né? Certo[...]
56
E3: Eu vou comprar[...]
Lorena: Tem outros doces?
E3: Tem, eu vou comprar bolo de jaca, fale com ela agora[...]
Lorena: Pronto, vou falar[...] (risos). Como é seu nome?
E3 (2): É Bete, pode me chamar de Bete.
Lorena: Bete. Bete, você é de Recife também?
E3 (2): Sou de More[...] Moro em Recife há 35 anos, mas eu sou de Arcoverde.
Lorena: É de Arcoverde.
E3 (2): Mas eu conheço a Feira de Caruaru, gosto muito[...] Minha irmã sempre que vem aqui
em Caruaru sempre vem nessa barraca aqui.
Lorena: Nessa barraca aqui comprar[...] Quais foram os doces que você normalmente compra
quando vem por aqui?
E3 (2): Eu comprei bolo de goma, que em Arcoverde sempre tem, e o doce de jaca também
que eu sempre comi na minha infância.
Lorena: É o doce mesmo ou a cocada?
E3 (2): A cocada.
Lorena: A cocada de jaca, né?
E3 (2): É. Maravilhosa. Aí eu já peguei aqui e já comprei.
Lorena: Já levou. Sempre vem por aqui pra comprar? Aqui nesse banco mesmo?
E3 (2): Nesse banco mesmo.
Lorena: Tem algum doce, como você sempre comprava por aqui, tem algum doce específico
que existia antigamente e hoje você não acha mais por aqui?
E3 (2): Olhe, tem um que eu não achei até agora, mas eu cho que vou achar. Não é doce, era
um bolo, chamado bolo de arroz.
Lorena: Certo.
57
E3 (2): Que eu não encontro porque era na feira de Arcoverde que tinha, que era feito um
grudinho, que eu adorava[...]
Lorena: Certo.
E3 (2): Quando eu era pequena eu chegava lá[...]
Lorena: Que normalmente é típico de feiras.
E3 (2): Era. Exatamente.
Lorena: E não encontra mais pra vender[...] Bolo de arroz.
E3 (2): É. Agora, ele ficava feito um grudinho. Sabe como é, assim? Era feito um pudim duro.
Lorena: Entendi.
E3 (2): Bem consistente.
Lorena: Pronto. Obrigada, viu?
E3 (2): De nada.
58
ENTREVISTA 4
Lorena: Bom dia, qual o seu nome?
E4: Marlene.
Lorena: Dona Marlene, você é daqui de Caruaru?
E4: Não.
Lorena: Vocês são turistas?
E4: Não. Sou da zona rural de Bezerros.
Lorena: Ah, de Bezerros, certo. Aí sempre vem aqui na feira comprar doces? Ou é a primeira
vez?
E4: Não, sempre venho na feira pra comprar de tudo um pouco.
Lorena: De tudo um pouco,
E4: Isso.
Lorena: mas sempre passa aqui pela[...] pela parte dos doces.
E4: Sim, também, pra comprar.
Lorena: Sempre. Como é o nome do senhor?
E4 (2): Fernando.
Lorena: Seu Fernando[...] O senhor sempre compra por aqui?
E4 (2): Com certeza.
Lorena: Quais são os doces que vocês normalmente levam? Esses doces típicos[...]
E4 (2): Variável, viu? Normalmente são doce de jaca, esses docinhos colorido pras
crianças[...]
Lorena: esses pirulitinhos colorido pras crianças[...] Eu vi vocês levando um monte de
pirulitinho
E4 (2): É, as crianças gostam desses docinhos coloridos.
59
Lorena: é, e é bom porque não tem hoje, como esses pirulitos por aí que são cheios de produto
aditivo, né? E aí é bem natural, né? Tem algum doce, assim, que vocês compravam
antigamente que hoje em dia não acha mais aqui na feira?
E4 (2): É[...] demora um pouco, mas encontra às vezes.
Lorena: Às vezes né? Outra pergunta que eu ia fazer pro senhor[...] Em relação, assim, aos
doces, aqui quando eu entrevistei primeiro a dona Valéria, há uns quinze dias atrás, aí ela até
falou de um doce que é difícil às vezes encontrar, que é a única barraca que encontra aqui, que
é o alfenim[...]
E4 e E4 (2): Sim, sim.
Lorena: Que é o que você não acha muito mais pra vender, né?
E4 (2): É isso mesmo, que é aqueles branquinho, que era uns cachimbinho, umas coisinha,
né?
Lorena: Era uns cachimbinho. É. Aí ela até me mostrou que aqui ela vende, olha, tá vendo ali
em cima? É assim, são raridades, guardadinho ali[...] Eu digo a ela que é o[...] o tesouro dela,
que é o único banco aqui que vende.
E4: É, você falavam nisso aí, né? Que não tem mais, né?
Lorena: Que é difícil de achar[...].
E4: Isso, que era difícil[...] Eu achava tão gostoso, que tinha de coco[...] Tinham uns, que pra
mim era de coco[...] Era gostoso. Antigamente[...] Mas hoje em dia não encontra[...]
Lorena: Não encontra muito. Pronto. Tá bom. Brigada, viu?
E4: Por nada, minha filha. Boa sorte, viu?
60
ENTREVISTA 5
Lorena: Qual o nome da senhora?
E5: É Lourdes.
Lorena: Dona Lourdes, a senhora sempre compra aqui na Feira de Caruaru esses doces?
E5: Compro[...] compro.
Lorena: A senhora é daqui da cidade mesmo?
E5: Não, sou não.
Lorena: É de outra cidade.
E5: sou da zona rural de Caruaru.
Lorena: Da zona rural de Caruaru. Quais são os principais doces, assim, que vende aqui na
feira que a senhora compra? Que gosta, que a senhora gosta mais de comprar?
E5: Eu compro mariola, é[...] biscoito, bolinho de goma[...]
Lorena: certo.
E5: É bala, bala de hortelã[...]
Lorena: tem algum doce que era vendido antigamente e hoje em dia a senhora não acha[...]
Que a senhora gostava muito de comer, mas hoje não vende mais? Não se encontra tão
facilmente?
E5: Tira, né?
Lorena: Oi?
E5: Tira aqueles doces que as pessoas mais gosta
Lorena: É. Alguns saem, né?
E5: É.
Lorena: Certo. A senhora[...]
E5: Tem muitas mercadorias que não tem saída que o povo não gosta[...]
61
Lorena: Entendi.
E5: Aí vai escolher o que gosta, né isso?
Lorena: É. A senhora vem toda semana comprar ou vem de vez em quando?
E5: Não, eu só venho de quinze em quinze dias[...] quando dá pra vir, uma vez por semana, eu
venho.
Lorena: Certo. Tá bom.
E5: De mês em mês[...]
Lorena: Tá bom. Tá bom. Brigada, viu?
E5: De nada[...]
62
APÊNDICE D - Transcrição das entrevistas semiestruturada com vendedores
ENTREVISTADO 1
Lorena: Pronto[...] Como é o nome do senhor?
E1: É José Cardoso da Silva.
Lorena: Certo[...] Eu posso[...] O senhor autoriza a gente fazer a gravação?
E1: Pode.
Lorena: Pronto[...] Há quanto tempo o senhor trabalha vendendo doces aqui na[...]?
E1: Tô com um ano.
Lorena: Um ano. Mas aí comprou esse banco de outra pessoa?
E1: Eu trabalhava para meu patrão e aí ele alugou.
Lorena: Certo.
E1: É alugado.
Lorena: Certo. Ele que trabalhava assim e arrendou?
E1: Isso.
Lorena: Certo. Quais os doces mais procurados aqui, desses doces típicos daqui, tradicionais?
E1: É[...] lanche, mariola, nego bom, cocada de coco, de jaca, tem uns aqui, vende muito
rapadura.
Lorena: Rapadura também, né? E entre os doces, assim, os principais clientes? O que é que
eles procuram mais esses produtos, e quem são seus principais clientes? Normalmente?
E1: Os clientes mais principais são os que[...] pra revenda.
Lorena: Pra revenda.
E1: É, compra balas, pipoca, salgadinhos[...] É o cliente melhor que a gente temos.
Lorena: E esses dos doces típicos[...]?
63
E1: É mais pra consumo.
Lorena: Pra consumo mesmo daqui[...] Aí as pessoas daqui ou turista também?
E1: Turista.
Lorena: Turista. Aí normalmente o turista vem atrás de algum[...] produto?
E1: Vem, procura mais mariola, como nós falamos, mariola, rapadura, que é em dezembro e
em junho, que eles mais procuram.
Lorena: E o pessoal daqui de Caruaru e cidade vizinha?
E1: Não, eles procura[...] O daqui é mais tradicional.
Lorena: Consome todos[...] Vem comer todos os doces.
E1: Isso.
Lorena: Certo[...] E quais os produtos, assim, os turistas, o senhor já disse, tem alguma
história interessante assim sobre doces, ou alguém que veio procurar algum doce diferente
aqui[...]
E1: Não, sempre procuram. Mas, tipo, um tal de um que é antigo, mas não fabricam mais, é
batata de embu, é uma cocadinha que faziam, mas não faz mais, aí[...]
Lorena: O pessoal às vezes vem atrás.
E1: Alfenim[...] esse também é um doce muito antigo, que não faz também mais[...]
Lorena: Que não encontra muito mais pra vender, né? Nenhuma barraca de doce aqui tem o
alfenim[...]?
E1: É difícil. Não tem.
Lorena: Não tem[...] Certo. Pronto. Tá bom! Muito obrigada, viu?
(voz ao fundo): Alfenim era bom demais, viu?
E1: É.
(ruído)
64
ENTREVISTADO 2
Lorena: Qual o nome da senhora?
E2: Gorete.
Lorena: Gorete. A senhora trabalha há quanto tempo aqui vendendo doces?
E2: Doze anos.
Lorena: Doze anos. Quais os doces, assim, entre os doces tradicionais, que são mais
procurados?
E2: O de jaca, cocada de jaca, tem o doce em pote, de jaca, mas eu não vendo ele não.
Lorena: Certo.
E2: Mas a cocada de jaca vende bem.
Lorena: Vende bem. E quem são seus principais clientes? Normalmente?
E2: São esses[...]
Lorena: O público assim, aqui de Caruaru e circunvizinho[...]?
E2: Tem de Caruaru, mas a gente tem muito de São Paulo, do Rio[...]
Lorena: Muito turista também.
E2: Muito, muito, muito, muito[...]
Lorena: Quais são os meses que eles vêm normalmente?
E2: Junho e[...] agora.
Lorena: Dezembro, janeiro[...]
E2: Dezembro[...] até fevereiro ainda tem muito.
Lorena: Ainda tem muito. E normalmente eles vêm atrás de qual doce certo?
E2: Esses, jaca, pirulitinho de açúcar, pirulitinho desse colorido[...] Essas coisas assim. Doce
de leite, rapadura[...] Rapadura eles levam[...]
65
Lorena: Vem certo, né, já pra comprar. Em relação ao público local mesmo daqui de Caruaru
e de cidades vizinhas, né? Quais são que eles mais procuram também?
E2: Rapadura.
Lorena: Rapadura. Rapadura, que é o básico mesmo[...] Tem alguma história interessante
nesse tempo que a senhora trabalha aqui vendendo doce? Assim, sobre doces de algum
cliente?
E2: Não[...]
Lorena: Não? Eles vêm assim, atrás de algum doce que não vende mais ou que não existe
mais?
E2: Tem, é alfenim. O nome é alfenim. Tem, aqui em Caruaru é difícil. Mas na região tem,
um lugarzinho aí[...] Agrestina[...] parece que vende ainda[...] É Alfenim.
Lorena: Certo.
E2: É como se fosse uma rapadura, sendo bem fina[...]
Lorena: Bem fininha.
E2: Que é quando eles faziam guarda-chuvinha[...] patinho[...] essas coisas assim[...] Eram
bem branquinhas[...]
Lorena: Entendi. E hoje não vende mais[...]
E2: Aqui, assim, possa ser que apareça.
Lorena: Mas é difícil. E normalmente eles vêm atrás.
E2: Alfenim.
Lorena: Alfenim. Pronto. Tá bom! Muito obrigada, viu?
E2: Por nada, minha filha. Precisando[...]
66
ENTREVISTADO 3
Lorena: Como é o nome da senhora?
E3: É Maria de Lourdes.
Lorena: Pronto[...] Eu posso fazer a gravação[...] da conversa da gente?
E3: Pode!
Lorena: Há quanto tempo a senhora trabalha vendendo esses produtos?
E3: Olhe, eu tenho mais de cinquenta anos que eu vivo na feira, e é por isso que eu tô com
uma idade dessa, tô por aqui somente e não é pelo dinheiro não, porque isso aqui não deixa
nada não, pra não tá dentro de casa. Eu tenho mais de cinquenta anos[...] Eu vim da feira, de
lá do comércio. Você não se lembra da feira[...]
Lorena: Não, eu não lembro não, ele lembra. Mas eu não lembro não.
E3: lá na feira do comércio eu vendi[...] tem até a balança aí ainda. Eu vendia uns bolinhos,
bolo de costa.
Lorena: Sei.
E3: Quando a feira veio pr‟aqui, foi no governo de João lira que a feira veio pr‟aqui. Aí eu[...]
bolo aqui não deu não. Eu digo: “Mas meu Deus, sair da feira é possível?”. Aí fiquei botando
essas bolachinhas, pra tá passando o tempo.
Lorena: Certo.
E3: Não é pelo dinheiro não porque eu tenho mais de 60,00 de despesa aqui. Pago o chão, pra
comprar embalagem, que é vinte real[...] pago segurança, pago bombeiro, numa besteira
dessa, pra tirar daqui[...]
Lorena: Entendi.
E3: Mas eu gosto de tá aqui.
Lorena: Entendi.
67
E3: Esses ano todinho né, dentro da feira, até a mulher daí brincou comigo, “Oh Dona lu, vão
fazer primeiro andar, é?”. Eu faço não, eu aqui, a senhora lá, porque a gente mora aqui, dentro
da feira[...]
Lorena: Dentro da feira[...] Quais são os produtos daqui que a senhora mais vende?
E3: Olhe, o que eu vendo é essas coisas aqui mesmo, é bolacha [[...]], essa é de Caetés, é de
Caetés que é essa bolacha aí.
Lorena: Salgada[...]
E3: Essa daí é de Passira, essa de lá[...] Olhe, de tudo eu vendo um pouquinho.
Lorena: Certo.
E3: O que eu botar aqui eu vendo. Ele botou uns dez bolinhos desse que eu não vendo hoje,
mas amanhã eu vendo.
Lorena: Entendi. Porque amanhã é melhor porque é o dia da feira mesmo, né?
E3: Mas de tudo eu vendo. Essas coisinhas que tá aqui, de tudo eu vendo, amanhã eu vendo
tudo.
Lorena: Pronto[...] E assim, os clientes da senhora, normalmente são pessoal daqui de Caruaru
e de vizinhança ou[...]?
E3: É mais do, é mais do[...] interior[...]
Lorena: Do interior[...] E vem turista comprar?
E3: Esse povo de fora não compra nada não.
Lorena: Aqui não, esses aqui, eles não procuram muito não[...]
E3: Não compra não, essas coisas não, é difícil eles comprar. Só negócio de doce, negócio de
artesanato pra lá[...]
Lorena: Entendi. Esses aqui são os mais tradicionais, né?
E3: É.
Lorena: Aqui é broa, mata fome, né?
E3: Mata fome[...] biscoito[...] essa bolachinha doce[...]
68
Lorena: Aqui é esse biscoito de canela, né?
E3: Tareco.
Lorena: Tareco[...] Pronto.
E3: Só não tem a mariola.
Lorena: Só não tem a mariola. Faltou a mariola, não foi? E o que é que[...] a senhora tem
alguma história, assim, pra contar, de alguma coisa que aconteceu nessas feiras?
E3: Não, graças a Deus, comigo, nunca aconteceu nada não.
Lorena: Mas foi assim, alguma história boa, algum cliente que chegou aqui[...]
(voz ao fundo): História engraçada.
Lorena: Alguma história engraçada, alguma coisa, não?
E3: Não. Não. Meus freguês são tudo gente boa.
Lorena: São ótimos[...]
E3: São, que já são freguês antigo, que já me conhece já de muito tempo[...] Vai morrendo os
véi e ficando os novo.
Lorena: Entendi.
E3: Meus freguês é tudo freguês já antigo.
Lorena: Entendi.
E3: Num sabe? Faz mais de cinquenta anos na feira que[...]
Lorena: Aí os filhos que vêm comprar[...]
E3: [...] que não era nem nascido, né? Muita gente chega aqui, olhe[...] “A senhora não me
conhece não, mas eu lhe conheço lá da feira de lá, eu fazia lanche pro seu banco”, eu vendia
negócio de lanche, bolinho, cocada[...] tinha uma jarra d‟água bem grande pra o pessoal
beber[...] Eu partia o bolinho, partia e o pessoal lanchava, sabe?
Lorena: Certo.
E3: Então teve uma veia aqui[...] eu não conhecia. Comprou R$15,00 de coisa. Sabe? A mãe
dela é conhecida minha, nunca mais tinha vindo aqui. Viu?
69
(ruído)
E3: Os meus freguês são tudo gente boa.
Lorena: Tá ótimo.
E3: Quem me procura mesmo é porque me conhece, sabe? É o conhecimento, viu? É o
conhecimento[...]
Lorena: Já vem atrás dos produtos que a senhora vende, né?
E3: É. É.
Lorena: Pronto. Tá bom. Muito obrigada, viu?
E3: De nada, amor. Jesus abençoe.
Lorena: Amém.
E3: É assim a vida, né? Eu gosto de tá por aqui, tá dentro de casa não me dou não. Dentro de
casa, né?
Lorena: E já se acostumou, né? Tá aqui dentro da feira[...]
E3: Aí então chega essa bolachinha[...] pronto. Essa daqui, olha, de Caetés, olha. Ontem
chegou[...] Essa caixa dela, eu até vendo bem, graças a Deus.
(voz ao fundo): Todo dia a senhora abre[...]?
Lorena: Todo dia a senhora abre?
E3: Todo dia. Até meio-dia.
Lorena: Até meio-dia[...]?
E3: Até meio-dia, doze e meia, eu almoço em casa.
Lorena: Entendi.
E3: Eu não como aqui na feira não.
Lorena: Certo.
E3: Que eu tomo um suco[...] uma fruta[...] mas só almoço em casa.
Lorena: Almoça em casa, mas depois não volta mais?
70
E3: Não.
Lorena: Só amanhã.
E3: Só amanhã.
Lorena: Pronto[...]
E3: Eu não como essa comida daqui não, só to acostumada com a minha comida[...] Sabe que
eu faço[...]
Lorena: Pronto. Tá bom, obrigada, viu?
E3: De nada, amor.
(ruído)
71
ENTREVISTADO 4
Lorena: Como é seu nome?
E4: Valéria.
Lorena: Valéria[...] Valéria, você trabalha há quanto tempo aqui na feira vendendo doces?
E4: Nessa feira aqui vai fazer 24 anos.
Lorena: Nessa feira, mas você já veio da[...]
E4: Do centro da cidade, da feira de lá.
Lorena: Da feira, da primeira feira.
E4: Isso.
Lorena: lá já vendia doces também?
E4: É, vendia, vendia, vendia doces também.
Lorena: Certo. Quais são os principais doces assim, que são vendidos, desses tradicionais?
E4: Olhe, doces, nós vendemos mais as mata-fomes, né?
Lorena: Certo.
E4: Que é uma broa, né? E o doce também, mariola, nego bom, rapadura[...] cocadas
variadas[...]
Lorena: certo.
E4: E tem outros itens também, sabe? Mas sai mais esses aí, mais[...]
Lorena: Esses que são os principais.
E4: Isso. Isso.
Lorena: Os seus clientes são daqui, daqui mesmo de Caruaru e das cidades vizinhas?
E4: Isso. Daqui de Caruaru e cidades vizinhas, aí de vez em quando aparecem uns turistas[...]
esta época é a época de turista.
Lorena: certo.
72
E4: Pessoal do sul, sabe, que vem visitar os parentes[...] Gosta de levar os doces pra[...]
Lorena: E quais são os principais doces que eles normalmente levam?
E4: Que eles levam? Olhe, é o lanche, a mariola, rapaduras, nego bom[...] são os principais,
aquelas chupetinhas de açúcar[...]
Lorena: Sei[...]
E4: Eles gostam de castanha.
Lorena: E as castanhas.
E4: Isso.
Lorena: As castanhas também vende[...]
E4: Também vende castanhas.
Lorena: Certo[...] Aí a época normalmente que eles vêm é essa época, dezembro[...]
E4: É meio de dezembro, pra o final de janeiro, e mês de junho e julho.
Lorena: Que é forte por causa do São João, né?
E4: Isso, isso, isso.
Lorena: também muito turista. E as pessoas locais daqui? Né, normalmente eles vêm o quê?
Toda semana[...]
E4: É, por semana.
Lorena: Por semana. Eles levam normalmente[...]
E4: É, é assim, leva bolachas, gostam muito de bolachas, do mata-fome, que é a sorda[...]
Lorena: É[...]
E4: Bolinho de saia, bolinho do estilo do formato de uma lata de sardinha, entendeu?
Lorena: Sei[...]
E4: Assim, entendeu? Pronto, é[...] varia[...] Pipocas[...]
Lorena: Pipocas também[...]
73
E4: É, povo do sítio. A gente tem um cliente aqui no sábado que é mais pessoal do sítio, zona
rural, sabe?
Lorena: Também vem procurar, né?
E4: Ah, principalmente eles[...]
Lorena: Entendi. Ainda vem procurar na feira[...]
E4: Vem, vem sim.
Lorena: Pronto. Vocês têm alguma história nesse tempo todinho que a senhora trabalha,
assim, com a feira de doces, de algum cliente, algo que é engraçado, alguma memória de
algum cliente que sempre vinha[...]?
E4: É, é que são tantos clientes, deixa eu ver aqui[...] Eu tenho muitos clientes que
infelizmente já se foram, né? Aí a gente tem assim, uma lembrança boa, alguns já se foram, aí
a gente já vai constituindo outros[...]
Lorena: Outros[...] os filhos deles normalmente vem?
E4: Tava até comentando aqui. Um rapazinho, que ele deve tá com uns 16 anos, ele tava me
contando ali ontem, e eu disse “Meu filho, como o tempo passa rápido, você comprava aqui,
tudo pequenininho”, eles correndo ali do banco, até filhos de pessoas que comercializam aqui
na feira também[...]
Lorena: Também.
E4: Vem tudo pequenininho, com 3, 4 anos, vem correndo, já tão tudo[...] hoje já são pai, tem
uns que já são pais, entendeu? E começou aqui tudo pequenininho.
Lorena: E continuam comprando.
(voz): Vendeu aos pais e tá vendendo aos filhos agora.
E4: Exatamente. Aí vai aquela, né?
Lorena: Aos netos, né? Na realidade, porque vendeu aos pais e tá vendendo aos netos.
E4: De geração pra geração, sabe? Tem pessoas também que vêm aqui à compra de alfenim,
aí se emociona quando vê o alfenim.
Lorena: Vocês têm aqui o alfenim?
74
E4: Tenho.
Lorena: Ah, eu queria olhar.
E4: É um doce muito antigo, sabe?
Lorena: É[...]
E4: E as pessoas lembram quando veem as chupetinhas e lembram da infância, se
emocionam. É engraçado[...]
(ruído)
E4: Aí tem essas coisas assim, sabe? Do doce que lembra a infância, que os pais levavam pra
eles, sabe? O alfenim, que é um doce antigo que nunca deixou de[...] o alfenim, aquela
chupetinha de açúcar.
(voz): É feito aqui ou no interior de[...]
E4: Agrestina.
(voz): Agrestina, né?
E4: Só é lá que faz.
(voz): Só é lá que faz, né?
E4: A beira seca, que chama truita, a beira seca também infelizmente[...]
Lorena: Não existe.
E4: O pessoal procura muito, mas não existe.
Lorena: Ela era o quê? Era tipo uma[...]?
E4: Era tipo assim, o formato de pastel, sendo que da cor de uma tapioca. É a mesma coisa
que tá vendo uma tapioca, sendo que é um formato menor, e tinha um mel, um creme doce[...]
Lorena: É o que minha mãe fala, minha mãe fala muito dessa aí.
E4: Truita eu chamava beira seca, porque formava uma beirinha seca, assim, sabe? Ao redor,
branquinho, dessa cor aí.
Lorena: Sei.
E4: No formato de uma tapioca.
75
Lorena: Entendi.
(voz): Mas feita de massa também ou não?
E4: Ele é feito com uma massa, só que ele endurece, sabe? Eu não sei o que eles botam que a
capa, ela fica durinha, crocante, e o que é interessante nela é o recheio, que é aquele mel
escuro, com erva doce, com cravo, e mais algumas coisas que eles botam.
(voz): Especiarias, né?
E4: É. É cravo que arde um pouquinho, sabe?
Lorena: Entendi.
E4: Fica um sabor assim, bem[...] não é[...] posso dizer apimentado, né? Sem ser pimenta.
Lorena: Eu sei, mais forte, né?
E4: Aí eu também eu fabrico bolinho de goma e suspiro, desde a época da minha avó.
Lorena: Hummm[...]
E4: Eu vendia lá em cima o bolinho porque é uma tradição de família, sabe?
Lorena: Certo.
E4: Então nós fabricamos há mais de 70 anos. O bolinho de goma e o suspiro. Eu não era nem
nascida, mamãe começou nova, a minha avó, o meu avô, entendeu? Aí eu revendo muito meu
bolinho de goma e o suspiro.
Lorena: Entendi.
E4: Isso aqui é um complemento, sabe?
Lorena: Sei.
E4: Quando eu cheguei aqui, fui comprando um banco, aí comprei mais outro[...] mas aqui
são 12 bancos[...]
(voz): Doze?
E4: Doze.
Lorena: Doze bancos, ok.
E4: Minto eu, desculpa, são dez.
76
Lorena: Dez bancos.
E4: Aí comecei botando um, só com meu bolinho e suspiro, aí depois fui diversificando,
sabe? Mas lá em cima eu só vendia bolinho de goma, suspiro e alfenim. Sim, tinha o pirulito
colorido também, que vende muito[...]
Lorena: Que vende bastante, né? Esse aqui é o que a senhora produz?
E4: Isso, e eu produzo ele[...] esse é o suspiro, aí são vários tamanhos, e também são dois
formatos, sabe?
Lorena: Certo. É, tem aqui: “Um produto Valéria Doces”, tô vendo aqui[...]
E4: Isso[...]
Lorena: Pois tá bom, muito obrigada, viu? Vou tirar algumas fotos aqui do seu banco dos
doces[...]
E4: Pode ficar à vontade[...] Tem aquele lado, que são os doces, essas coisas assim,
industrializadas não, mas aqui no meio é normal ter.
Lorena: É, que é pra agregar valor, né? Realmente[...]
E4: A maioria aqui é caseiro[...]
Lorena: Eu tô vendo, a senhora tem muito[...] O alfenim, os bancos que a gente passou aqui
nenhum tinha alfenim, e dizem que muita gente vem procurar o alfenim, e às vezes não
acha[...]
E4: Mas eles me indicam muito.
Lorena: Pra cá[...]
E4: Muitas vezes, as pessoas vêm do artesanato e dizem: “Mas você é conhecida, viu? Porque
a gente tava no artesanato e o povo diz „Vai em Valéria, que Valéria tem isso‟”, tem coisa até
que o povo acha que eu tenho, até coisas demais[...]
Lorena: Mas eu acho mesmo que alguém já falou da senhora porque eu ensino aqui
gastronomia na faculdade, na FAVIP, aí eu fiz um trabalho com meus alunos sobre confeitaria
e panificação, eu fiz um trabalho com eles sobre o resgate de doces. E de doces, bolos, que os
avós faziam, e teve uma aluna que disse “Não, professora, tem um banco lá na feira que
vende”, ela levou pra mim, ela levou pra servir com café.
77
E4: Ah, sim, o quê? O bolinho?
Lorena: Não, ela levou o alfenim, porque não conhecem, os alunos não conhecem o alfenim.
E4: E Infelizmente, essa mulher em Agrestina, se ela não fizer mais o alfenim vai acabar a
tradição, assim como acabou a da truita.
(voz): É uma pessoa só que faz, é?
Lorena: É uma senhora e os filhos, né?
E4: Era com a mãe dela. Não, os filhos não querem fazer mais não.
Lorena: Não querem fazer mais não.
E4: Os jovens de hoje em dia não quer saber dessas coisas mais não, criatura, só quer saber de
coisa de computador[...]
(voz): Infelizmente, daqui a pouco tá em extinção, né? Não tem mais[...]
E4: É, porque veja, a truita, que é a mesma coisa que a beira seca, não existe mais. Cadê a
tradição? Diz que tem uma mulher em Trapiá, lá pro lado de Cumaru, que faz ela, mas ela faz
assim[...]
(voz): Pra casa.
Lorena: Pra vender, e pra vender assim, na frente de casa[...] pra vizinho.
E4: Ai essa mulher do alfenim, de Agrestina, já foram fazer até reportagem na casa dela, e foi,
não sei se foi o SENAC, ou não sei se foi o SEBRAE[...]
Lorena: SEBRAE.
E4: Que foi pra ela ensinar os alunos pra não acabar a tradição. Eu acho que rolou pra lá essas
aulas, mas não sei se as pessoas[...] não sei. Mas houve isso. Porque é ela só que faz. A mãe
vive em cima de uma cama, o pai já morreu, e ela ainda faz. Digo “Dona Nenê, traga, porque
tem época do[...]”, pronto, na época do inverno não tem, pode esquecer, seca no sol.
Lorena: Entendi.
E4: Não tem sol, não tem alfenim, que ele não dá o ponto.
Lorena: Entendi.
E4: Ela faz ele, bota lá no sol pra[...] o sol é que vai dar o ponto[...]
78
Lorena: O ponto, secar ele[...] ficar crocante.
E4: Pra secar, ficar durinho, senão ele fica mole[...] fica uma geleia.
Lorena: Entendi.
E4: Aí também tem isso, só tem no verão, viu?
Lorena: Certo.
E4: Se quiser tirar, olha, aqui tem outras coisas[...]
Lorena: Pronto, vou, vou tirar sim, dos doces[...]
E4: Dos doces ali, viu?
(voz): Tá de parabéns pela banca, viu?
Lorena: É.
E4: Obrigada!
Lorena: É. Eu vou, eu acho, que eu vou até depois marcar[...] Ah, eu adoro, esse aí é festa
infantil[...]
(voz): Esse aí até a minha avó fazia, vovó fazia esse aí.
Lorena: Esse aí[...]
E4: Eu até exponho lá Shopping North todo mês[...]
Lorena: Sim.
E4: Numa feira que tem lá.
Lorena: Eu vi, eu já vi a feira lá, que às vezes quando tô por lá[...]
E4: Vai começar essa semana novamente, 15 dias lá, 20 dias[...]
Lorena: Pronto[...]
E4: Tem mês que são 2 dias, tem mês que é 20, esse mês agora de dezembro é 30, São João é
30[...]
Lorena: Entendi.
79
E4: Já fevereiro não vai ter, porque é carnaval, porque senão passava 20 dias lá, mas todo mês
geralmente são só 2 dias.
Lorena: Entendi.
E4: Aí é bom porque a gente também[...] assim, né? essa ideia[...] As pessoas conhecem[...]
Lorena: É um a mais, é um turista, um cliente que tá lá, né?
E4: Eles gostam muito de sabor. No peso, eu vendo lá[...]
Lorena: Eu acho que já vi lá. É um que fica quando você entra[...]
E4: Na entrada do Hiper.
Lorena: Na entrada do Hiper. Assim, eu já vi. E que fica lá um senhor que vende café
também, né?
E4: Exatamente. Pode ficar à vontade, viu?
Lorena: Pronto, pronto. Eu vi. Obrigada.
E4: Tem rapadura também aqui, viu? Vá vendo o que é que lhe interessa pra tirar foto[...]
(ruído)
80
Tareco e Mariola
(Flávio José)
fonte: https://www.letras.mus.br/flavio-jose/46008/
Eu não preciso de você
O mundo é grande e o destino me espera
Não é você quem vai me dar na primavera
As flores lindas que eu sonhei no meu verão
Eu não preciso de você
Já fiz de tudo pra mudar meu endereço
Já revirei a minha vida pelo avesso
Juro por Deus, não encontrei você mais não
Cartas na mesa
O jogador conhece o jogo pela regra
Não sabes tu que eu já tirei leite de pedra
Só pra te ver sorrir pra mim não chorar
Você foi longe
Me machucando provocou a minha ira
Só que eu nasci entre o velame e a macambira
Quem é você pra derramar meu mungunzá
81
Eu me criei
Ouvindo o toque do martelo na poeira
Ninguém melhor que mestre Osvaldo na madeira
Com sua arte criou muito mais de dez
Eu me criei
Matando a fome com tareco e mariola
Fazendo versos dedilhados na viola
Por entre os becos do meu velho Vassoural
Cocada (Antônio Vieira)
https://www.letras.com.br/antonio-vieira/cocada
Ai meu Deus se eu pudesse
Eu abria um buraco
Metia os pés dentro criava raiz
Virava coqueiro trepava em mim mesmo
Colhia meus côcos meus frutos feliz
Ralava eles todos com cravo e açúcar
E punha no tacho pra fazer cocada
Depois convidava morenas e loiras
Mulatas e negras pra dá uma provada
Depois satisfeito de tanta dentada
Na boca de todas eu me derretia
Aí novamente eu abria um buraco
82
Metia os pés dentro com toda alegria
Virava coqueiro trepava em mim mesmo
Colhia meus côcos fazia tachada
Com cravo e açúcar ficava roxinho
Ficava doidinho pra ser mais cocada
Côco, côco, cocada, Côco, côco, cocada,
Côco, côco, cocada, Côco, côco, cocada,
Depois satisfeito de tanta dentada
Na boca de todas eu me derretia
Aí novamente eu abria um buraco
Metia os pés dentro com toda alegria
Virava coqueiro trepava em mim mesmo
Colhia meus côcos fazia tachada
Com cravo e açúcar ficava roxinho
Ficava doidinho pra ser mais cocada
Côco, côco, cocada, Côco, côco, cocada,
Côco, côco, cocada, Côco, côco, cocada,
Côco, côco, cocada, cocada pra sinhô, cocada pra sinhá
Côco, côco, cocada, cocada pra ioiô, cocada pra iaiá
Cocada
(Roberta Sá)
fonte: https://www.letras.mus.br/roberta-sa/1718987/
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Vá ralar o coco pra fazer cocada
83
Cocada branca e cocada escura
Cocada puxa de amendoim
Pra vender no tabuleiro na ladeira do Bonfim
Olha a cocada
A cocadeira já vendeu doce de coco lá na feira
Meu senhor mandou vender na ladeira do Bonfim
Cocada com coco e araçá-mirim
Oh, vá ralar
Vá ralar o coco
Vá ralar o coco pra fazer
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Deitar no tabuleiro cocadinha de dendê
Olha a cocada
Trepe no coqueiro
Tire o coco e vá quebrar
Quebre o coco, tire a casca
Pegue o coco e vá ralar
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Cocada branca e cocada escura
Cocada puxa de amendoim
Pra vender no tabuleiro na ladeira do Bonfim
84
Olha a cocada
A cocadeira já vendeu doce de coco lá na feira
Meu senhor mandou vender na ladeira do Bonfim
Cocada com coco e araçá-mirim
Oh, vá ralar
Vá ralar o coco
Vá ralar o coco pra fazer
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Deitar no tabuleiro cocadinha de dendê
Trepe no coqueiro
Tire o coco e vá quebrar
Quebre o coco, tire a casca
Pegue o coco e vá ralar
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Cocada branca e cocada escura
Cocada puxa de amendoim
Pra vender no tabuleiro na ladeira do Bonfim
Oh, vá ralar
Vá ralar o coco pra fazer cocada
85
Vá ralar o coco pra fazer cocada
Cocada branca e cocada escura
Cocada puxa de amendoim
Pra vender no tabuleiro na ladeira do Bonfim
Overdose de Cocada
(Bezerra da Silva)
Fonte: https://www.letras.mus.br/bezerra-da-silva/44562/
Alô rapaziada,
Se liga no refrão[...]
É cocada boa
Não é?
É cocada boa[...]
Ih
É cocada boa
Não é?
É cocada boa.
Outra vez pra marcar.
É cocada boa
Não é?
É cocada boa[...]
86
Não é?
É cocada boa.
Aí rapaziada, eu tô duro
Só quero a rapa da cocada
E mais nada!
Olha aí!
Já armei meu tabuleiro
Vendo pra qualquer pessoa
Tem da preta e tem da branca
E quem prova
Não enjoa, porque!
É cocada boa
Não é?
É cocada boa
É cocada boa
Não é?
É cocada boa[...](2x)
Tem preto que come da branca
Tem branco que come da preta
Tem gosto pra todo freguês
Só não vale misturar
Vai numa de cada vez
87
Não misture o paladar
E overdose de cocada
Até pode te matar.
Só porque[...]
É cocada boa
Não é?
É cocada boa
É cocada boa
Não é?
É cocada boa[...](2x)
O delega da área
Já mandou averiguar
"Que é que tem nessa cocada
Que tá todo mundo
Querendo comprar?"
Houve uma diligência
Só para experimentar
Eles provaram da cocada
E disseram doutor
Deixa isso prá lá!
Só porque[...]
(Repetir a Letra)
88
É cocada boa
Não é?
É cocada boa
É cocada boa
Não é?
É cocada boa[...](final 5x)
Pirraça
(Vanessa da Mata)
Fonte: https://www.letras.mus.br/vanessa-da-mata/1005163/
Passa o tempo sem demora
Quando não penso nas horas
Os ponteiros do relógio
Fazem voltas se não olho
Mas quando acendo o fogo
Para fazer um café
Vejo o tempo parar
Pra água ferver
Parece nunca acabar, espera sem fim
06:04; 06:05; 06:05; 06:05
Esperando o apito da chaleira
Vejo o tempo parar
89
Parar
O tempo pirraça
Quando à tarde no trabalho
Quero que o tempo passe
Os ponteiros do relógio
Só me dão o tique-taque
Quando eu encontro os amigos
Para tomar um café
A rapidez que não tinha
Sem disfarçar
Parece brincadeirinha
Pega-pega
Quando paro que olho as horas
Para o tempo que me olha
E espero ansiosa
Vou comendo a casa
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros
E vejo o tempo parar
Parar
90
O tempo pirraça
Paçoca, suspiro, cocada, jujuba
Quindim, bombom, churros, bomba