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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA SOUZA

UNIDADE DE PS-GRADUAO, EXTENSO E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO E TECNOLOGIA

EM SISTEMAS PRODUTIVOS

LVARO DIOGO SOBRAL TEIXEIRA

DESENVOLVIMENTO DE COLETOR DE GUA DE CHUVA EM AMBIENTE

URBANO E CARACTERIZAO PRELIMINAR DA GUA DO ESCOAMENTO

INICIAL (FIRST FLUSH)

So Paulo

Julho/2017

LVARO DIOGO SOBRAL TEIXEIRA

DESENVOLVIMENTO DE COLETOR DE GUA DE CHUVA EM AMBIENTE

URBANO E CARACTERIZAO PRELIMINAR DA GUA DO ESCOAMENTO

INICIAL (FIRST FLUSH)

Dissertao apresentada como exigncia

parcial para a obteno do ttulo de Mestre em

Gesto e Tecnologia em Sistemas Produtivos

do Centro Estadual de Educao Tecnolgica

Paula Souza, no Programa de Mestrado

Profissional em Gesto e Tecnologia em

Sistemas Produtivos, sob a orientao da

Profa. Dra. Elisabeth Pelosi Teixeira.

So Paulo

Julho/2017

Teixeira, lvaro Diogo Sobral

T266d

Desenvolvimento de coletor de gua de chuva em ambiente urbano e caracterizao preliminar da gua do escoamento inicial (first flush) / lvaro Diogo Sobral Teixeira. So Paulo : CPS, 2017.

136 f. : il.

Orientadora: Profa. Dra. Elisabeth Pelosi Teixeira. Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e Tecnologia em

Sistemas Produtivos) Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, 2017.

1. Desenvolvimento tecnolgico - sistemas produtivos. 2.

Coletor de gua de chuva. 3. Caracterizao de gua de chuva. 4. First flush. 5. Ecotoxicologia. I. Teixeira, Elisabeth Pelosi. II. Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza. III. Ttulo.

LVARO DIOGO SOBRAL TEIXEIRA

DESENVOLVIMENTO DE COLETOR DE GUA DE CHUVA EM AMBIENTE

URBANO E CARACTERIZAO PRELIMINAR DA GUA DO ESCOAMENTO

INICIAL (FIRST FLUSH)

Profa. Dra. Elisabeth Pelosi Teixeira

Prof. Dr. Dirceu DAlkmin Telles

Profa. Dra. Silvia Pierre Irazusta

So Paulo, 13 de julho de 2017

Ao meu av, Takeji Kanamaru, eterno

bambuzal que enverga, mas no quebra.

AGRADECIMENTOS

Profa. Dra. Elisabeth Pelosi Teixeira, pela orientao, inspirao, dedicao e por

lapidar o trabalho desenvolvido, pois sem seu esforo no seria possvel concretizar esta

pesquisa.

Ao Prof. Plnio Tomaz, pela sugesto do tema e pelo suporte tcnico fornecido durante

todo o transcorrer da pesquisa.

Profa. Dra. Silvia Pierre Irazusta, pelo emprstimo do Laboratrio de

Ecotoxicologia e pela realizao, junto com seus orientados da graduao, das anlises

ecotoxicolgicas.

auxiliar docente Patrcia Hassato, pela realizao das anlises fsico-qumicas e

apoio nas interpretaes dos achados experimentais.

Ao auxiliar docente Paulo Blsamo, pelo auxlio na realizao da anlise

microbiolgica da primavera.

auxiliar docente Renata Nascimento, estagiria Bruna Carolina Rodrigues Silva e

aos discentes Cresley Martins e Rosangela Cattani, pela realizao das anlises

ecotoxicolgicas.

Ao Prof. Dr. Dirceu DAlkmin Telles, pelos conselhos acadmicos.

Aos professores de Hidrulica e Saneamento Ambiental da FATEC-SP: Luiz Antnio

de Almeida, Luiz Eduardo Mendes, Silvio Lus Giudice, Edmundo Pulz, Wladimir Firsoff e

Regina Pacca que contriburam de forma significativa para que eu chegasse at aqui.

Aos professores do Programa de Mestrado em Sistemas Produtivos do Centro Paula

Souza: Francisco Tadeu Degasperi, Carlos Vital Giordano e Celi Langhi pelas dicas tcnicas e

acadmicas que contriburam ao desenvolvimento do trabalho.

A todos os funcionrios do Programa de Mestrado do Centro Estadual de Educao

Tecnolgica Paula Souza, pela ateno, conhecimentos e aprendizados compartilhados.

Virgnia Dias de Azevedo Sodr pelo incentivo e compreenso e a todos os colegas

de trabalho que tambm estiveram incentivando durante o perodo: Leonardo Varallo,

Gustavo Bueno de Freitas, Carla Isabel Alzamora Bordini, Dbora Siqueira, Bruno Nogueira

Fukasawa, Beatriz Garcia Lontra, Marina Roque Oliveira, Alexandre Barreira Alves e Juan

Souza Dias.

Aos amigos Flvio Soares e Murilo Carbone pelo auxlio na montagem do coletor de

gua de chuva e emprstimo das ferramentas necessrias.

amiga Rafaela Ferreira Iassia por auxiliar na traduo e formatao das imagens do

trabalho e tambm por auxiliar nas anlises laboratoriais.

Ao amigo Jonathan Adam pelo auxlio na montagem do coletor de gua de chuva e

pelo auxlio nas anlises laboratoriais.

Aos amigos Felipe Manoel, Silmara Silva e ris Souza pelo auxlio nas anlises

laboratoriais.

Aos discentes Domenica Garcia, Gustavo Angeli, Jennifer Morais, Nathalia Kusaba,

Tain Yumi e William Raniele, que mesmo no podendo ajudar diretamente na pesquisa se

prontificaram em colaborar quando apoio foi solicitado.

Ao amigo Leonardo Costa Fernandes pelo auxlio nas tradues.

Aos amigos Ana Paula Silveira e Douglas Gomes do Nascimento pelo incentivo.

Priscila da Silva Oliveira, minha parceira e companheira de todas as horas por todo

apoio e compreenso e auxlio nas anlises laboratoriais.

minha me, Izaura Masako Kanamaru pela confiana e por sempre acreditar em

mim.

Eu sempre adorei o som da chuva

Batendo leve em minha janela

E ento o aroma do orvalho do amanhecer

Em meu gramado molhado vem me saudar

...O lar

Eu nunca valorizei isso

Eu nunca dei valor s gotas que derramei

Eu no consegui ver a relao

Entre mim e a fome mundial

A gua para os escolhidos

Mas como podemos esperar que sejamos ns...

Eu e voc?

GILDENLW, Daniel. Water. In.: One Hour

By The Concrete Lake. 1998.

RESUMO

TEIXEIRA, . D. S. Desenvolvimento de coletor de gua de chuva em ambiente urbano e

caracterizao preliminar da gua do escoamento inicial (first flush). 136f. Dissertao

Mestrado Profissional em Gesto e Tecnologia em Sistemas Produtivos. Centro Estadual de

Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2017.

A disponibilidade hdrica da Regio Metropolitana da cidade de So Paulo muito crtica,

semelhante s regies semiridas do Nordeste brasileiro. O aproveitamento da gua da chuva

uma das mais bsicas formas de coleta e armazenamento de gua. Este sistema possui

diversas vantagens, mas tambm possui inconvenientes. O objetivo deste trabalho foi

desenvolver um coletor de gua de chuva para uso urbano e realizar uma caracterizao

preliminar da qualidade fsico-qumica, microbiolgica e ecotoxicolgica do escoamento

inicial a ser descartado em sistemas de aproveitamento de gua de chuva, para fins no

potveis em regies densamente urbanizadas. A metodologia de carter experimental,

quantitativa, por meio de estudo de caso utilizando um coletor desenvolvido durante a

pesquisa, que capta a gua de chuva da cobertura de um prdio localizado em regio

densamente urbanizada do centro de So Paulo - SP. Os principais resultados indicam que

parmetros exigidos na ABNT NBR 15.527:2007 como cor, turbidez e ausncia de coliformes

s so atingidos com tratamento posterior coleta e no apenas com descarte do escoamento

inicial, porm este melhora a qualidade da gua armazenada em relao aos parmetros

estudados e apresenta reduo significativa de condutividade, alcalinidade e dureza. O pH no

variou nas anlises efetuadas. A gua coletada apresentou boa qualidade ecotoxicolgica e

baixa qualidade microbiolgica. A pesquisa confirma a importncia do descarte do

escoamento inicial para melhoria da qualidade da gua de chuva a ser armazenada e utilizada

em sistemas produtivos e/ou domsticos, alm de apresentar uma opo de sistema coletor de

gua de chuva de pequeno porte e fcil acesso para estudo em ambientes urbanos, discutindo

suas vantagens e possveis oportunidades de melhoria.

Palavras-chave: Desenvolvimento tecnolgico em Sistemas Produtivos; Coletor de gua de

chuva; Caracterizao de gua de chuva; First flush; Ecotoxicologia.

ABSTRACT

TEIXEIRA, . D. S. Development of rainwater collector in urban environment and preliminary characterization of the first flush. 136f. Dissertao Mestrado Profissional em Gesto e Tecnologia em Sistemas Produtivos. Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2017.

The water availability in the So Paulo city Metropolitan Area is very critical, similar to the

Brazilian Northeast semi-arid regions. The rainwater harvesting is one of the most basic forms

of collecting and storing water. This system has several advantages, but it also has its

drawbacks. The objective of this work was to develop a rainwater collector for urban use and

to perform a preliminary characterization of the physical-chemical, microbiological and

ecotoxicological quality of the initial runoff to be discarded in rainwater harvesting systems to

non-potable uses in densely urbanized areas. The methodology is experimental, quantitative,

by means of a case study using a collector developed in this research, which catches the

rainwater from a roof of a building located in a densely urbanized area of the So Paulo city

center. The main results indicate that parameters required by ABNT NBR 15.527:2007, such

as color, turbidity and coliforms absence, are only reached by post-colection treatment and not

only by discarding the first flush, but it improves the stored quality and also presents

significant reduction of conductivity, alkalinity and hardness. The pH did not change in the

analyzed tests. The collected water showed a good ecotoxicological quality and low

microbiological quality. The research confirms the importance of discarding the first flush to

improve the quality of rainwater to be stored and used in productive and/or domestic systems,

in addition to presenting a small and easily accessable rainwater collection system option for

studying in urban environments, by discussing their advantages and possible opportunities for

improvement.

Keywords: Technological development in Productive Systems; Rainwater collector;

Rainwater characterization; First flush; Ecotoxicology.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Disponibilidade hdrica por regio do Brasil 22

Tabela 2 Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua de

chuva em So Paulo 36

Tabela 3 Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua de chuva

no interior de reservatrio em So Paulo 38

Tabela 4 Parmetros de qualidade de gua de chuva para usos restritivos no

potveis 39

Tabela 5 Classificao da dureza da gua 45

Tabela 6 Descarte do escoamento inicial recomendado (mm) baseado na

turbidez (NTU) 52

Tabela 7 Tabela com as informaes a serem anotadas no ato da coleta da

gua de chuva 74

Tabela 8 Marca e modelo dos equipamentos utilizados para determinao dos

Slidos Suspensos Totais (SST) 76

Tabela 9 Caracterizao fsico-qumica do escoamento inicial realizada

na coleta teste de 28/04/2016 93

Tabela 10 Informaes sobre a coleta de gua de chuva 19/05/2016 95

Tabela 11 Informaes sobre a coleta de gua de chuva 10/11/2016 95

Tabela 12

Tabela com os resultados da tcnica dos tubos mltiplos para

Dados consolidados das anlises fsico-qumicas realizadas com

3 mm de gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada

98

Tabela 13

Tabela com os resultados da tcnica dos tubos mltiplos para

Dados consolidados das anlises fsico-qumicas realizadas com

3 mm de gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada

100

Tabela 14

Tabela com os resultados da tcnica dos tubos mltiplos para

Determinao do Nmero Mais Provvel (NMP) de coliformes

totais e termotolerantes em 3 mm de gua de chuva coletada em

fraes de 0,5 mm cada Coleta de 19/05/2016

114

Tabela 15

Determinao do Nmero Mais Provvel (NMP) de coliformes

totais e termotolerantes em 3 mm de gua de chuva coletada em

fraes de 0,5 mm cada Coleta de 10/11/2016

115

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Distribuio de gua doce e salgada no globo 26

Figura 2 Capacidade de armazenamento per capita no mundo [m/habitante] 26

Figura 3 Distribuio de gua doce e populao no Brasil 27

Figura 4 Situao dos usos da gua em relao vazo mnima natural 28

Figura 5 Esquema de sistema de aproveitamento de gua de chuva com

reservatrio first flush 30

Figura 6 Representao esquemtica de um sistema de aproveitamento de

gua de chuva 32

Figura 7 Exemplo do clculo para determinao do volume de first flush a ser

descartado 51

Figura 8 Amostrador first flush por Tomaz (2009) 51

Figura 9 Mdia de remoo dos parmetros cor e turbidez 53

Figura 10 Distribuio espacial da precipitao mdia mensal no Pas - mdias do

perodo de 1961 a 2007 54

Figura 11 Chuvas mdias mensais em postos pluviomtricos - dados de 1961-

1990 55

Figura 12 Dispositivos usados para coleta do escoamento inicial, segundo

Martinson e Thomas (2005) 56

Figura 13 Dispositivo para coletar separadamente os 10 primeiros minutos da

chuva, segundo Melo e Andrade Neto (2007) 56

Figura 14 Amostrador de gua de chuva de telhado, segundo concepo de

Vasconcelos (2008) 57

Figura 15 Amostrador que coleta gua de chuva diretamente da atmosfera,

segundo Hagemann (2009) 58

Figura 16 Amostrador que coleta gua da chuva do telhado, segundo

Hagemann (2009) 58

Figura 17 Dispositivos para coletar gua de chuva com zero, 2mm e 5mm de

descarte do escoamento inicial, de acordo com Santos (2010) 59

Figura 18 Sistema de coleta, descarte e armazenamento de gua de chuva, de

acordo com Rocha, Reis e Arajo (2011) 60

Figura 19 Dispositivo para descarte manual do first flush, segundo Lee e

Visscher (1992) 61

Figura 20 Descarte dependente da intensidade, segundo Church (2001) apud

Doyle (2008) 62

Figura 21 Descarte do escoamento inicial com orifcio de fundo, segundo

Thomas e Martinsson (2007) 63

Figura 22 Sistema de descarte "tubo com bola", segundo Doyle (2008) 63

Figura 23 Reservatrio de descarte com boia automtica de nvel 64

Figura 24 DesviUFPE 65

Figura 25 Pr-filtro vortex da Wisy 66

Figura 26 Pr-filtro cascata da W3PTechnik 66

Figura 27

Pr-filtro caseiro ( esquerda) desenvolvido por Kawashima e

SantAna (2015) e sua representao esquemtica em corte (

direita).

67

Figura 28 Separador de folhas Fortlev 68

Figura 29 Separador de folhas caseiro 68

Figura 30

Imagem de satlite da rea em estudo, dando destaque (em

vermelho) para a cobertura utilizada para a captao da gua de

chuva utilizada neste estudo.

85

Figura 31 Planta da rea do telhado utilizado para captao da gua de chuva 86

Figura 32 Localizao do espao para instalao do prottipo no hall entre a

cozinha e a sala de estudos do prdio da ps-graduao. Sem escala. 86

Figura 33 Corte A Vista lateral do coletor de gua de chuva 87

Figura 34 Corte B Vista frontal do coletor de gua de chuva 87

Figura 35 Coletor do escoamento inicial de gua de chuva instalado 88

Figura 36 Reservatrios e acessrios do coletor 89

Figura 37 Peas utilizadas para adaptao para interligao da vlvula de PVC

marrom com o t de derivao de PVC branco 89

Figura 38 Montagem do banco suporte para os reservatrios do coletor de

gua de chuva 90

Figura 39 Banco suporte envergando com o peso da gua nos reservatrios 90

Figura 40 Peas do coletor que se desmontam para limpeza e manuteno. Em

A: t de reduo 100x50mm; em B: vlvula de reteno em PVC 91

marrom; em C: cap inferior; em D: flange e plug.

Figura 41

Mtodos de fechamento da entrada do reservatrio. Em A: tubo

com bola, utilizando-se de 2 redues excntricas, luva simples e

em seu interior grelha e bola de tnis; em B: vlvula de reteno em

PVC

92

Figura 42 Histrico de chuva um ms antes da coleta do dia 19/05/2016 96

Figura 43 Histrico de chuva um ms antes da coleta do dia 10/11/2016 96

Figura 44 Aspecto visual da gua no ato da coleta das amostras para anlise 102

Figura 45 Anlises do parmetro COR realizadas com 3 mm de gua de chuva

coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 19/05/2016 103

Figura 46 Anlises do parmetro COR realizadas com 3 mm de gua de chuva

coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 10/11/2016 103

Figura 47 Presena de slidos particulados na tubulao horizontal do coletor

de gua de chuva 104

Figura 48 Anlises do parmetro TURBIDEZ realizadas com 3 mm de gua de

chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 19/05/2016 105

Figura 49 Anlises do parmetro TURBIDEZ realizadas com 3 mm de gua de

chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 10/11/2016 106

Figura 50

Anlises do parmetro SLIDOS SUSPENSOS TOTAIS realizadas

com 3 mm de gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada

Coleta 10/11/2016

107

Figura 51 Slidos decantados no fundo de garrafas de coleta da gua de chuva 108

Figura 52 Anlises do parmetro pH realizadas com 3 mm de gua de chuva

coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 19/05/2016 108

Figura 53 Anlises do parmetro pH realizadas com 3 mm de gua de chuva

coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 10/11/2016 109

Figura 54

Anlises do parmetro CONDUTIVIDADE realizadas com 3 mm de

gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta

19/05/2016

110

Figura 55

Anlises do parmetro CONDUTIVIDADE realizadas com 3 mm de

gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta

10/11/2016

110

Figura 56 Anlises do parmetro ALCALINIDADE realizadas com 3 mm de 111

gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta

19/05/2016

Figura 57

Anlises do parmetro ALCALINIDADE realizadas com 3 mm de

gua de chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta

10/11/2016

112

Figura 58 Anlises do parmetro DUREZA realizadas com 3 mm de gua de

chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 19/05/2016 113

Figura 59 Anlises do parmetro DUREZA realizadas com 3 mm de gua de

chuva coletada em fraes de 0,5 mm cada Coleta 10/11/2016 113

Figura 60

Taxa de germinao da semente Allium cepa nas amostras de gua

de chuva coletadas para ensaio de fitotoxicidade em Allium cepa

ndice de Germinao.

116

Figura 61

ndices de Aberrao Cromossmica (IAC), apresentados na figura

A para ensaio de genotoxicidade e ndices de Microncleo (IMN),

apresentado na Figura B para ensaio de mutagenicidade em Allium

cepa realizados nas amostras de gua de chuva do first flush.

117

Figura 62

Anlise citolgica das clulas meristemticas e F1 das razes de

cebola expostas s amostras de gua de chuva. Em A, a rea dentro

do crculo destaca grande vacuolizao dos citoplasmas das clulas

meristemticas; em B, perda cromossmica em destaque; em C,

observa-se microncleo nas clulas da poro F1, do controle

positivo; em D, observa-se figura de mitose normal.

118

Figura 63 Algas observadas no microscpio ptico comum, aumento de 400X 119

Figura 64 Inibio do crescimento algal pela gua da chuva. 119

Figura 65 Ensaio sem inibio do crescimento algal pela gua da chuva. 120

LISTA DE EQUAES

Equao 1 Volume descartado de first flush 50

Equao 2 Resduo slido suspenso total 76

Equao 3 mg/L de dureza em CaCo3 78

Equao 4 Mdia das porcentagens de inibio 81

Equao 5 Mdia aritmtica 81

Equao 6 Clculo do pH 81

Equao 7 pH convertido em mol 82

Equao 8 Varincia 82

Equao 9 Desvio padro 82

Equao 10 Coeficiente de variao 82

LISTA DE SIGLAS

ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

a.C. Antes de Cristo

ANA Agncia Nacional de guas

ASA Articulao no Semirido Brasileiro

AWWA American Water Works Association

CAT Atividade da Catalase

CBH-AT Comit de Bacia Hidrogrfica Alto Tiet

CETESB Companhia Ambiental do Estado de So Paulo

CN Controle negativo

CP Controle positivo

CPTM Companhia Paulista de Trens Metropolitanos

DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

DNA Deoxyribonucleic acid (cido desoxirribonucleico ADN)

DQO Demanda Qumica de Oxignio

EC50 Concentrao efetiva de 50%

EC

EDTA

Escherichia coli

Ethylenediamine tetraacetic acid (cido etilenodiamino tetra-actico)

EUA Estados Unidos da Amrica

FATEC Faculdade de Tecnologia

FIESP Federao das Indstrias do Estado de So Paulo

GSH Glutationa reduzida

IAC ndice de Aberrao Cromossmica

IG ndice de Germinao

IM ndice mittico

IMN ndice de Microncleo

INMET Instituto Nacional de Meteorologia

IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo

MS Ministrio da Sade

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

NMP Nmero Mais Provvel

NTU Nephelometric Turbidity Unit (Unidade Nefelomtrica de Turbidez UNT)

OD Oxignio Dissolvido

ONU Organizao das Naes Unidas

P1MC Programa Um Milho de Cisternas

pH Potencial Hidrogeninico

PP Polipropileno

PVC Policloreto de Vinila

RMSP Regio Metropolitana de So Paulo

SABESP Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo

SINDUSCON-SP Sindicado da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo

SST Slidos Suspensos Totais

SOD Superxido dismutase

UFC Unidade Formadora de Colnia

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

UNEP United Nations Environment Programme (Programa das Naes Unidas

para o Meio Ambiente PNUMA)

UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

USP Universidade de So Paulo

VB Verde de bromocresol

VM Vermelho de metila

LISTA DE SMBOLOS

S/cm Micro Siemens por centmetro

C Graus Celsius

A rea

cm Centmetro

CV Coeficiente de variao

dp Desvio padro

g Grama

h Hora

H Altura

km Quilmetro

km Quilmetro quadrado

km Quilmetro cbico

L Litro

m Metro

m Metro quadrado

m Metro cbico

mg Miligrama

mg/L Miligrama por litro

mol Concentrao molar

min Minuto

mL Mililitro

mm Milmetro

ppm Parte por milho

uH Unidade de Hazen

V Volume

SUMRIO

I INTRODUO .................................................................................................................. 22

1 Crise hdrica e gua de chuva ............................................................................................ 22

2 Objetivos ............................................................................................................................. 24

2.1. Objetivo geral .................................................................................................................. 24

2.2. Objetivos especficos ...................................................................................................... 24

II FUNDAMENTAO TERICA ................................................................................... 25

1 A gua no globo .................................................................................................................. 25

2 Aproveitamento de gua de chuva .................................................................................... 28

2.1 Conceituao .................................................................................................................... 28

2.2 Histrico ........................................................................................................................... 32

3 Qualidade da gua de chuva .............................................................................................. 34

3.1 Antes de atingir a rea de captao .............................................................................. 34

3.2 Aps o escoamento pela rea de captao .................................................................... 35

3.3 No interior do reservatrio ............................................................................................ 37

3.4 Nos pontos de utilizao ................................................................................................. 39

4 Parmetros fsico-qumicos ................................................................................................. 40

4.1 Cor ................................................................................................................................... 40

4.2 Turbidez .......................................................................................................................... 41

4.3 Slidos Suspensos Totais (SST) ..................................................................................... 42

4.4 pH ..................................................................................................................................... 43

4.5 Condutividade ................................................................................................................. 43

4.6 Alcalinidade total ............................................................................................................ 44

4.7 Dureza total ..................................................................................................................... 45

5 Anlises microbiolgicas ................................................................................................... 46

5.1 Coliformes termotolerantes ........................................................................................... 46

5.2 Coliformes totais ............................................................................................................. 47

6 Anlises ecotoxicolgicas ................................................................................................... 48

7 Descarte do escoamento inicial (first flush) ..................................................................... 50

7.1 Definio e mtodos de determinao ........................................................................... 50

7.2 Estudos sobre o descarte do escoamento inicial ........................................................... 55

7.3 Tecnologias para descarte do escoamento inicial ........................................................ 60

III METODOLOGIA ........................................................................................................... 70

1 rea de estudo .................................................................................................................... 70

2 Desenvolvimento do coletor de gua de chuva ................................................................ 71

2.1 Projeto do coletor de escoamento inicial da gua de chuva ......................................... 71

2.2 Construo e avaliao um coletor do escoamento inicial da gua de chuva ............ 71

3 Coleta da gua de chuva .................................................................................................... 72

3.1 Higienizao e montagem do amostrador ..................................................................... 72

3.2 Estabelecimento das condies de coleta ....................................................................... 72

3.3 Coleta das amostras ......................................................................................................... 73

4 Anlises da qualidade da gua da chuva .......................................................................... 74

4.1 Parmetros fsico-qumicos ............................................................................................ 75

4.2 Ensaios microbiolgicos ................................................................................................. 78

4.3 Ensaios ecotoxicolgicos ................................................................................................. 79

4.4 Anlises estatsticas ........................................................................................................ 81

IV RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................................... 84

PARTE 1 - Desenvolvimento do coletor de gua de chuva do telhado ............................. 85

1.1 Desenvolvimento dos clculos e desenhos ...................................................................... 85

1.2 Desenvolvimento do prottipo ........................................................................................ 87

PARTE 2 - Caracterizao preliminar da qualidade da gua de descarte do escoamento

inicial (first flush) ................................................................................................................... 92

2.1 Coleta teste ....................................................................................................................... 92

2.2 Informaes gerais sobre as coletas do first flush ......................................................... 94

2.3 Avaliao geral dos parmetros fsico-qumicos........................................................... 97

2.4 Apresentao detalhada dos parmetros analisados nas amostras do first flush .... 102

2.5 Avaliao geral dos ensaios microbiolgicos ............................................................... 114

PARTE 3 - Caracterizao dos aspectos ecotoxicolgicos da gua de descarte do

escoamento inicial (first flush) ............................................................................................ 115

3.1 Ensaios de fitotoxicidade, genotoxicidade e mutagenicidade em semente de Allium

cepa ........................................................................................................................................ 115

3.2 Ensaios de ecotoxicologia aqutica com Radophicelis subcapitata ............................ 118

V CONCLUSES ............................................................................................................... 123

REFERNCIAS ........................................................................................................ 125

ANEXO I .................................................................................................................... 135

22

I. INTRODUO

1. Crise hdrica e gua de chuva

A gua reservada na Terra consiste em 97,5% do seu volume em oceanos e mares,

sendo que apenas 2,5% de gua doce. Dentro destes 2,5%, h apenas 0,3% disponveis em

rios e lagos, e o restante se apresenta em forma de calotas polares, geleiras, aquferos e outros

reservatrios de difcil acesso, o que representa 0,0075% de toda gua do globo

(SHIKLOMANOV, 1998).

O Brasil ainda figura em um bom lugar no ranking das maiores reservas de gua doce

do mundo, possuindo 12% da reserva mundial e 53% da reserva latino-americana, mas a

situao aparentemente confortvel no evita escassez em algumas regies, j que 70% do

volume total das guas encontra-se na Regio Amaznica a menos habitada do pas

enquanto que os 30% restantes esto distribudos para 93% da populao. A Regio

Metropolitana de So Paulo, por exemplo, possui crtica disponibilidade hdrica por habitante,

como ilustra a Tabela 1, comparvel s reas mais secas do Nordeste brasileiro. Isto ocorre

por estar localizada numa regio de cabeceira e por ser o maior aglomerado urbano do pas

(LOMBA, 2010).

Tabela 1. Disponibilidade hdrica por regio do Brasil

Classificao

da ONU

Disponibilidade Hdrica

(m/habitante/ano)

Regio

(m3/habitante/ano)

Abundante Maior que 20.000 Brasil (35.000)

Correta Entre 2.500 e 20.000 Paran (12.600)

Pobre Entre 1.500 e 2.500 Estado de So Paulo (2.209)

Crtica Menor que 1.500

Estado de Pernambuco (1.270)

Bacia do Piracicaba (408)

Bacia do Alto Tiet (200)

Fonte: SABESP (2016)

Considerando o exposto na Tabela 1 faz-se necessrio intervir de diversas formas para

23

amenizar esta situao e a criao de uma nova cultura sobre a gua da chuva uma delas.

A economia possvel de ser obtida por meio dos sistemas de aproveitamento de gua

de chuva varia de acordo com a rea de captao, pluviometria local, consumo e capacidade

de reservao. Marinoski e Ghisi (2008) obtiveram economia de 45,8% em estudo realizado

em uma instituio de ensino localizada em Florianpolis-SC. Souza e Ghisi (2012)

obtiveram variaes de 20% a 60% de economia para usos no-potveis em residncias.

Dentro da situao crtica de uma metrpole como a de So Paulo, quaisquer porcentagens de

economia so bem-vindas como as sugeridas pelos autores.

So conhecidos mais de 250 patgenos ou contaminantes de veiculao hdrica que

podem causar doenas, tais como febre tifoide, clera e disenteria (EDUARDO et al., 2005).

Garantir a segurana sanitria dos sistemas de aproveitamento de gua de chuva so

indispensveis para evitar contaminao por estes microrganismos. Fazer o descarte do

escoamento inicial, o first flush, uma maneira simples e efetiva de garantir uma qualidade

melhor para a gua de chuva que ser destinada para armazenamento (DOYLE, 2008).

Dos organismos possveis de estarem presentes na gua coletada, o Cryptosporidium

parvum, um protozorio coccdeo, parasita intestinal que infecta diversas espcies animais,

incluindo aves, e conhecido por infectar seres humanos. Pode causar diarreia, acompanhada

de clicas abdominais, anorexia, vmito, desidratao, nusea e febre (EDUARDO et al.,

2005).

Heyworth, Glonek, Maynard et al. (2006) realizaram estudos no sul da Austrlia e

mostraram que 42% das crianas com idade entre 4 e 6 anos que beberam gua de chuva

como fonte de abastecimento potvel tiveram doenas gastrintestinais.

Pesquisadores ao redor do globo como Pacey e Cullis (1996, p. 63) e Doyle (2008)

tm demonstrado a necessidade de aproveitamento de gua de chuva para suprir a demanda,

bem como do estudo da teoria do first flush, para determin-lo da maneira mais adequada. O

volume de gua que deve ser rejeitado no first flush depende do tipo de material do telhado e

da quantidade de contaminao. Doyle (2008) estudou e quantificou o quanto deve ser o

descarte do escoamento inicial na regio de Ruanda e apresenta uma maneira de determinar o

volume a ser descartado que pode variar de 0,6mm a 2mm. J Pacey e Cullis (1996, p. 64)

utilizam os primeiros 15 a 20 minutos de precipitao.

Este estudo ainda no foi realizado no Brasil (TOMAZ, 2010), porm a ABNT NBR

15.527:2007 recomenda descartar 2 mm da precipitao inicial.

Para melhor aproveitamento, com eficincia e sem riscos sanitrios, determinar este

24

valor essencial. Este valor variar conforme as condies do entorno do local onde ser

instalado o sistema de aproveitamento de gua de chuva.

Assim, o que motiva a realizao desta pesquisa o desenvolvimento de um coletor de

gua de chuva que possibilite a caracterizao da gua do escoamento inicial (first flush) em

sistema de aproveitamento de gua de chuva captada na cobertura de uma edificao

localizada no bairro do Bom Retiro, muncipio de So Paulo SP (estudo de caso).

2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

Desenvolver um coletor de gua de chuva que possibilite uma caracterizao

preliminar da qualidade fsico-qumica, microbiolgica e ecotoxicolgica do escoamento

inicial a ser descartado em sistemas de aproveitamento de gua de chuva para fins no

potveis de sistemas produtivos e/ou domsticos situados em regies densamente

urbanizadas.

2.2. Objetivos Especficos

Projetar um arranjo experimental para coleta do escoamento inicial da gua de

chuva de 0,5 em 0,5 milmetro aps incio da precipitao;

Construir e avaliar um prottipo de coletor do escoamento inicial da gua de

chuva;

Realizar uma caracterizao preliminar da qualidade da gua de chuva de cada

instante coletado nos seus aspectos fsico-qumicos, microbiolgicos e

ecotoxicolgicos;

Analisar criticamente as variveis, limitaes e condicionantes para sucesso da

coleta de gua de chuva e sua posterior anlise qualitativa e quantitativa;

Analisar criticamente o potencial de uso da gua de chuva em sistemas produtivos

e/ou domsticos, considerando a qualidade encontrada em cada instante analisado.

25

II. FUNDAMENTAO TERICA

Este captulo apresenta os fundamentos tericos que serviram de base para o

desenvolvimento do trabalho. Inicialmente realizada uma breve apresentao do cenrio de

disponibilidade hdrica no Brasil e no mundo e, em seguida, os conceitos de aproveitamento

de gua de chuva, histrico de utilizao e qualidade da gua de chuva em seus diferentes

instantes. Para caracterizao da qualidade da gua da chuva so apresentados os parmetros

fsico-qumicos, microbiolgicos e ecotoxicolgicos. Tratamos em seguida do descarte do

escoamento inicial (first flush) e das tecnologias utilizadas para este fim.

Com a problemtica exposta foi desenvolvido um coletor de gua de chuva para

possibilitar estudos de caracterizao qualitativa e quantitativa do escoamento inicial em

sistemas de aproveitamento de gua de chuva para fins no potveis de sistemas produtivos

e/ou domsticos situados em regies densamente urbanizadas.

1. A gua no globo

O planeta Terra possui rea superficial de 510 milhes de km, mais de 361 milhes de

km ou 71% de sua superfcie coberta por gua. Elemento essencial vida a substncia

mais abundante na natureza com ocorrncia em rios, lagos, oceanos, mares e calotas polares

(SHKLOMANOV e RODDA, 2003).

Esse volume abundante representa aproximadamente 1,3 bilhes de km e deste

volume, 97,5% gua salgada e 2,5% gua doce. Analisando esta pequena parcela de gua

doce observa-se que apenas 0,3% esto disponveis em mananciais superficiais como rios e

lagos, o restante encontra-se em fontes de difcil acesso como geleiras, calotas polares e

mananciais subterrneos incluindo regies pantanosas (SHKLOMANOV e RODDA, 2003).

A Figura 1 ilustra a distribuio de gua no globo.

26

Figura 1. Distribuio de gua doce e salgada no globo

Fonte: UNEP, 2008

O volume de gua armazenado em reservatrios artificiais per capita tem sido

utilizado para avaliar a capacidade de gua reservada em determinada regio. Este indicador

utilizado pelo Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para identificar

o grau de vulnerabilidade hdrica para atender aos usos da gua (ANA, 2013).

Figura 2. Capacidade de armazenamento per capita no mundo [m/habitante]

Fonte: ANA, 2013

27

Segundo a Agncia Nacional de guas (ANA) (2013), o Brasil figura em bom lugar

no ranking das maiores reservas de gua doce do mundo, possuindo 13,70% da reserva

mundial e 56,90% da reserva sul-americana, conforme ilustra a Figura 2.

Mas a situao aparentemente confortvel no evita escassez em algumas regies, j

que 70% do volume total das guas encontram-se na Regio Amaznica a menos habitada

do pas enquanto que os 30% restantes esto distribudos para 93% da populao (ANA,

2013). A Figura 3 demonstra essa disparidade.

Figura 3. Distribuio de gua doce e populao no Brasil

Fonte: ANA, 2013

O problema da escassez de gua no exclusividade das regies ridas e semiridas.

Mesmo em regies onde h abundncia de recursos hdricos, o consumo excessivo e mau uso

do recurso faz com que seja necessrio racionalizar o consumo. Isso afeta diretamente o

desenvolvimento econmico e a qualidade de vida da populao desta regio.

Afunilando ainda mais o estudo da disponibilidade hdrica direcionando a ateno para

o estado de So Paulo, segundo o Comit de Bacia Hidrogrfica do Alto Tiet (CBH-AT) a

Regio Metropolitana de So Paulo apresenta disponibilidade hdrica muito crtica,

semelhante s regies semiridas do nordeste brasileiro.

68,50%

15,70%

6,50% 6,00%3,30%

6,98% 6,41%

15,05%

42,65%

28,91%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%

Norte Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste

Distribuio de gua Distribuio da populao

28

Figura 4. Situao dos usos da gua em relao vazo mnima natural

Fonte: Brasil, 2014

Considerando o exposto faz-se necessrio intervir de diversas formas para amenizar o

estresse hdrico e o desenvolvimento de uma nova cultura sobre o uso da gua de chuva uma

delas.

2 Aproveitamento de gua de chuva

O aproveitamento da gua da chuva uma das mais bsicas formas de coleta e

armazenamento de gua. Este sistema possui diversas vantagens, mas tambm possui alguns

inconvenientes. Ao contrrio da gua fornecida pelas concessionrias de saneamento, a gua

de chuva nem sempre est disponvel e pronta para o uso. Logstica e materiais de construo

so de menor necessidade do que em sistemas de captao subterrnea ou de redes de

distribuio, embora a capacidade do sistema seja limitada pela precipitao local e seus

custos de instalao sejam mais baratos (DOYLE, 2008).

2.1 Conceituao

O conceito de conservao da gua foi definido pela American Water Works

Association AWWA, em 1993, como prtica, tecnologias e incentivos que aperfeioam a

eficincia do uso da gua e vem sendo praticado em diversos pases da Amrica do Norte,

Europa e no Japo (TOMAZ, 2003, p.17).

29

Gonalves (2009) formulou as seguintes terminologias:

Uso racional da gua: objetiva o controle da demanda, atravs da reduo do

consumo, preservando a quantidade e a qualidade da gua para as diferentes

atividades consumidoras.

Conservao de gua: prev o controle da demanda juntamente com a ampliao

da oferta, por meio do uso de fontes alternativas de gua, tais como o

aproveitamento da gua de chuva e o reso de guas cinzas e negras.

No cenrio atual de baixa disponibilidade hdrica e alta contaminao dos mananciais

urbanos, as edificaes nas cidades utilizam gua potvel indiscriminadamente para todos os

usos. Utilizar gua menos nobre para fins menos nobres uma alternativa para reduzir o

consumo de gua potvel. Buscar por fontes alternativas (gua de chuva, reso,

dessalinizao, etc.) gerir a oferta que, associada gesto da demanda (reduo do

consumo), contempla o uso racional para a conservao da gua (OLIVEIRA et al., 2007).

Um sistema de aproveitamento da gua da chuva possui caractersticas prprias e

individualizadas e atende ao princpio do saneamento ecolgico, sendo, portanto,

independente de um sistema centralizado. Quando se utiliza deste, est se promovendo

autossuficincia e ainda se contribui para a conservao da gua (GONALVES, 2009).

Conforme a ABNT NBR 15.527:2007, os sistemas de aproveitamento de gua de

chuva so compostos de cobertura, calhas e tubulaes de descida, descarte do escoamento

inicial (first flush), armazenamento, tratamento e distribuio para utilizao em fins no

potveis.

A Figura 5 ilustra uma captao padro de gua de chuva para aproveitamento, onde a

gua precipitada no telhado coletada por uma calha e conduzida por condutos verticais e

horizontais para um dispositivo de descarte do escoamento inicial (first flush) e posterior

reservao para aproveitamento. O reservatrio deve constar sempre de extravasor e orifcio

de fundo para limpeza.

Antes do uso a gua dever ser tratada conforme a qualidade requerida para seu uso.

Atualmente diversos pases vm investindo na multiplicao de sistemas de

aproveitamento de gua de chuva, encontrando-se principalmente na Alemanha, Japo, Hong

Kong, Malsia, ndia, Austrlia, nos Estados Unidos da Amrica (principalmente nos estados

do Texas, Hava e nas Ilhas Virgens) e ainda no semirido do nordeste brasileiro (BERTOLO,

2006).

30

Figura 5. Esquema de sistema de aproveitamento de gua de chuva com reservatrio first flush

Fonte: Tomaz (1998)

Entre os benefcios de se utilizar a gua da chuva pode se destacar: i) a reduo do

consumo de gua da rede pblica e do custo de fornecimento desta; ii) reduo da utilizao

de gua potvel em situao onde no necessria, tais como, descarga em bacias sanitrias,

irrigao de jardins, lavagem de pavimentos, entre outros usos; iii) o retorno de investimento

positivo com perodo de retorno (payback) curto, podendo se pagar entre 6 meses e 2 anos; iv)

auxlio no controle de inundaes, retendo parte da gua que seria lanada nas galerias de

gua pluvial ou em cursos dgua; v) incentivo a conservao de gua, o uso sustentvel deste

recurso e uma postura ativa perante os problemas ambientais (VERDADE, 2008).

Segundo Tony Wong, diretor executivo do Centro de Pesquisa Cooperativa para

Cidades Sensveis gua, uma das lies aprendidas com a seca a necessidade de

diversificar o portflio de fontes de gua e o investimento em infraestrutura para aproveitar de

gua de chuva ajuda a solucionar tambm o problema de enchentes (TOLEDO, 2015).

O aumento de edifcios com essa tecnologia reflete diretamente no melhor

gerenciamento dos sistemas de drenagem urbana e na reduo das demandas das estaes de

tratamento de gua e de esgotos em operao, resultando tambm em menor consumo de

energia e de insumos como: cal, sulfato de alumnio, cloro, flor, que para serem produzidos

geram resduos slidos, lquidos e gasosos e, consequentemente, degradao ambiental

(CHENG, 2000).

31

Vale ressaltar tambm as desvantagens de um sistema de aproveitamento de gua de

chuva como custos de instalao e manuteno e diminuio do volume de gua captada nos

perodos de estiagem (BERTOLO, 2006; VERDADE, 2008).

Algumas regies no mundo j tentaram proibir o uso da gua de chuva, como o caso

do estado de Colorado nos Estados Unidos, onde uma lei de 2015 punia em at 500 dlares

por dia caso a gua da chuva de um telhado fosse desviada para um reservatrio. O argumento

utilizado pelo senador ruralista Jerry Sonnenberg era de que as pessoas da cidade estariam

roubando a gua da chuva que iria escoar at atingir as plancies jusante onde encontra-se

a rea rural do estado e seria usada para auxiliar na irrigao (HAYLE, 2015).

Em agosto de 2016 essa lei foi revogada e o aproveitamento de gua de chuva foi

tornado legal novamente no estado do Colorado. A representante democrata Jessie Danielson

afirmou que diante de mudanas climticas, escassez e um sistema de abastecimento de gua

tributado, o aproveitamento de gua de chuva domstico uma importante ferramenta de

conservao (HOOD, 2016).

De acordo com o manual da ANA, FIESP e SindusCon-SP (2005), a metodologia

bsica para projeto de sistemas de coleta, tratamento e uso de gua de chuva envolvem as

seguintes etapas, tambm representadas na Figura 6: i) determinao da precipitao mdia

local (mm/ms); ii) determinao da rea de coleta; iii) determinao do coeficiente de

escoamento superficial; iv) caracterizao da qualidade da gua de chuva; v) projeto do

reservatrio de descarte do escoamento inicial (first flush); vi) projeto do reservatrio de

armazenamento; vii) identificao dos usos da gua (demanda e qualidade); viii)

estabelecimento do sistema de tratamento necessrio e ix) projeto dos sistemas

complementares (grades, filtros, tubulaes etc.).

O aproveitamento de gua de chuva no deve ser confundido com reso ou

reaproveitamento. Os termos reso e reaproveitamento so usados para a gua que j foi

utilizada pelo homem para algum fim, como a lavagem de roupas, lavagem de mos, bacias

sanitrias, etc. A gua da chuva ainda no foi utilizada tornando incorreto usar reso ou

reaproveitamento (TOMAZ, 2013, p. 445).

32

Figura 6. Representao esquemtica de um sistema de aproveitamento de gua de chuva

Fonte: ANA, FIESP e SindusCon-SP (2005)

2.2 Histrico

O manejo e o aproveitamento da gua de chuva tem sido uma prtica exercida por

diferentes civilizaes e culturas ao longo do tempo, passando pelo Oriente, Oriente Mdio,

Europa, e pelos Incas, Maias e Astecas na Amrica Latina, havendo relatos de dispositivos de

coleta e armazenamento de gua de chuva que remontam a sistemas construdos e operados h

milhares de anos. No deserto de Negev, por exemplo, o sistema existe h mais de 4.000 anos

(GONALVES, 2009; SOARES; GONALVES, 2001).

A coleta de gua de chuva uma tcnica popular em muitas partes do mundo,

especialmente em regies ridas e semiridas, onde as chuvas ocorrem somente em poucos

meses do ano e com bastante variabilidade interanual. O senso comum preconiza armazenar

gua das estaes chuvosas para ser usada nas estaes de seca (GNADLINGER, 2006).

Na histria, h relatos de aproveitamento da gua da chuva antes de Cristo. Na Pedra

Moabita, encontrada no Oriente Mdio, datada de 850 a.C., o rei Mesha dos Moabitas sugere

a construo de um reservatrio em cada casa para aproveitamento de gua de chuva e h

2.750 a.C., na Mesopotmia, j se utilizava de gua de chuva (TOMAZ, 2003).

Os romanos eram famosos por terem levado gua para as cidades por meio de

aquedutos, mas usavam tambm a captao de gua de chuva em larga escala. Deles, os

rabes herdaram as tecnologias, as quais novamente serviram de exemplo para os espanhis e

portugueses (GNADLINGER, 2006).

33

Os portugueses implantaram a captao de gua de chuva em vrios lugares do

mundo. Cita-se como exemplo, as Ilhas Madeira e Porto Santo, porm no no Brasil, visto

que para os portugueses se tratava de um pas rico em gua, sendo o serto utilizado para

criao de animais e no para a agricultura (GNADLINGER, 2006).

No Mxico, as inscries mais antigas e tradicionais de coleta de gua de chuva so

datadas na poca dos Astecas e dos Maias. No sculo X, ao sul da cidade de Oxkutzcab,

situada ao p do monte Puuc, a agricultura era baseada na coleta de gua de chuva. As pessoas

viviam nas encostas e a gua da chuva era armazenada em cisternas com capacidade de

20.000 a 45.000 litros, chamadas de Chultuns (GNADLINGER, 2000). Na Pennsula de

Iucat, tambm no Mxico, existem reservatrios que datam de antes da chegada de Cristvo

Colombo Amrica e que ainda esto em uso (TOMAZ, 2003, p. 25).

No palcio de Knossos na ilha de Creta, aproximadamente 2000 a.C., a gua de chuva

era aproveitada para descarga em bacias sanitrias (KNIG, 2001, p. 100). Nesta mesma

regio, relata Tomaz (2003, p. 25) so inmeros os reservatrios escavados em rochas,

anteriores a 3000 a.C., que aproveitavam a gua da chuva para consumo humano.

Em Istambul, na Turquia, durante o governo de Csar Justinian (527-565 a.C), foi

construdo um dos maiores reservatrios do mundo denominado de Yerebatan Sarayi, cujas

dimenses totalizavam um volume de 80.000m com objetivo de armazenar gua da chuva

(UNEP, 2016).

Knig (2001, p. 100) relembra que, apesar do longo histrico de aproveitamento de

gua de chuva, na Alemanha comeou-se a investir em tecnologias para esta finalidade com o

surgimento do movimento ambientalista na dcada de 70. Desde ento, a legislao sobre o

uso da gua, regulamentos para construo de edifcios e ordenamentos municipais tm

sofrido diversas alteraes visando a conservao sustentvel dos recursos hdricos.

No Brasil os sistemas de aproveitamento de gua de chuva sempre fizeram parte da

realidade nas regies semiridas do Nordeste. Em outras regies do pas o interesse por estes

sistemas est crescendo, mas na maioria dos casos so implantados por iniciativa prpria e

ainda sem a verificao de muitos requisitos de desempenho e, em especial, dos critrios de

segurana sanitria (OLIVEIRA et al., 2007).

O sistema de gua de chuva mais antigo registrado no Brasil localiza-se no Forte de

So Marcelo em Salvador, Bahia desde 1664 (TOMAZ, 2010).

Desde os anos 2000 a Articulao Semirido Brasileiro (ASA) trabalha

implementando o Programa Um Milho de Cisternas (P1MC), que visa atender a necessidade

34

bsica de acessar gua para beber. A proposta ainda visa a descentralizao e democratizao

do acesso, instalando cisternas com volumes para uso de cada famlia ao invs de grandes

audes, que muitas vezes se localizam em terras particulares (ASA, 2016).

Entre os anos 2000 e 2003, na Frana, o interesse pelo aproveitamento da gua da

chuva foi crescente, aumentando em 475% a elaborao de projetos e execuo destes

sistemas (GOUVELLO et al., 2004).

Na capital japonesa, Tquio, a coleta de gua de chuva bem difundida por dois

motivos: os reservatrios de gua que abastecem a cidade ficam distantes e a cidade possui

alta taxa de impermeabilizao que impede a infiltrao da gua no solo. H dois tipos de

sistemas que so utilizados no Japo, um de armazenamento e aproveitamento e outro para

infiltrao da gua de chuva (KITA et al., 1999).

Em reas rurais no interior do Brasil comum a utilizao do aproveitamento de gua

de chuva para suprimento das demandas potveis das residncias. A bacia Amaznia apesar

de ser o maior reservatrio de gua doce do mundo no possui gua potvel disponvel para a

maioria da populao rural. Tradicionalmente, a gesto da gua ocorre em nvel domiciliar e a

populao utiliza-se de diferentes fontes: rio, poo e chuva (GOMES et al., 2014).

3 Qualidade da gua de chuva

Os contaminantes da gua de chuva podem aparecer com o arraste de partculas

suspensas na atmosfera, como tambm das contribuies das superfcies de captao, detritos

acumulados e lixiviados provenientes de sistemas de armazenamento, tubos e torneiras

(GOULD, 1999; FLINT, 2004).

De acordo com Tomaz (2009) a qualidade da gua de chuva varia de acordo com a

posio que esta se encontra no sistema. A gua da chuva pode, portanto, se encontrar em

quatro posies distintas: i) Antes de atingir a rea de captao; ii) Aps o escoamento pela

rea de captao; iii) No interior do reservatrio e iv) Nos pontos de utilizao.

3.1 Antes de atingir a rea de captao

Luca e Vsquez (2000) ao analisarem os padres de gua de chuva na regio

metropolitana de Porto Alegre depararam-se com elevados teores de amnia, fosfato, cromo e

mercrio, que transformam a gua de chuva em uma fonte de contaminao natural.

As fontes ou emissores de poluentes podem ser tanto naturais, quanto devidas ao

35

humana. Estas podem ser classificadas como estacionrias (indstrias em geral, postos de

gasolina, vulces, etc.) e mveis (veculos, avies, etc.). Dessa forma, na atmosfera podem

estar presentes uma grande variedade de poluentes, classificados como poluentes primrios,

que so aqueles emitidos diretamente pelas fontes (SO2, NO, NH3, hidrocarbonetos, materiais

particulados, etc.) e poluentes secundrios, que so aqueles formados na atmosfera por meio

de reao qumica entre poluentes primrios e constituintes naturais da atmosfera (O3, H2O2,

cidos sulfrico e ntrico, etc.) (FORNARO, 2006).

As principais fontes de poluio atmosfrica so: i) a combusto (carvo, gs natural,

gasolina, leos combustveis, etc.); ii) processos industriais (fundies, refinarias, fabricao

de fertilizantes ou papel, etc.); iii) queimadas (florestas e plantaes); iv) dejetos estocados a

cu aberto; v) sal marinho; vi) erupo vulcnica (suspenso de material particulado do solo);

vii) reaes qumicas na atmosfera (FORNARO, 2006).

Dentre os principais poluentes originados desses emissores merecem destaque o

material particulado de tamanho, massa e composio qumica varivel os CO e CO2,

NOx, SOx, hidrocarbonetos, cidos orgnicos, alm de ons em geral (Cl-, NO3-, SO42-, Na+,

K+, NH4+, Mg2+, Ca2+), metais (Fe, Cu, Pb, Ni Cd, etc.) e oznio (O3) (FORNARO, 2006).

Os principais mecanismos de remoo destes poluentes so a deposio seca, que

corresponde sedimentao gravitacional e interceptao do material particulado ou

absoro de gases por superfcie como solo, vegetao e edificaes; e a deposio mida,

que corresponde absoro de poluentes gasosos (como SOx ou NH3) e partculas por gotas

de nuvem (remoo dentro da nuvem) e por arraste durante a queda das gotas (remoo

abaixo da nuvem) na forma de neblina, chuva ou neve (FORNARO, 2006).

Quanto maior o tempo sem chuva maior ser o ndice de turbidez, variando de 12,4

NTU, em uma coleta aps meio dia sem chuva, 110 NTU quando a coleta realizada aps

4,5 dias sem chuva (DOYLE, 2008).

3.2 Aps o escoamento pela rea de captao

Alguns exemplos de contaminantes encontrados no telhado so: fezes de passarinhos,

pombas, fezes de ratos e outros animais, bem como poeiras, folhas de rvores, revestimentos

do telhado, fibrocimento, tintas, etc. (TOMAZ, 2003).

May (2004) apresenta na Tabela 2 as caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas

da gua de chuva coletada em So Paulo:

36

Tabela 2. Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua de chuva em So Paulo

Parmetros

gua de chuva coletada na

tubulao

Mnimo Mdio Mximo

Cor [uH] 20,0 52,5 218,0

Turbidez [UNT] 0,6 1,6 7,1

Alcalinidade [mg/L] 4,0 30,6 60,0

pH 5,8 7,0 7,6

Condutividade [s/cm] 7,0 63,4 126,2

Dureza [mg/L] 4,0 39,4 68,0

Clcio [mg/L] 1,1 15,0 24,3

Magnsio [mg/L] ND 1,1 2,2

Ferro [mg/L] 0,01 0,14 1,65

Cloretos [mg/L] 2,0 8,8 14,0

Sulfatos [mg/L] 2,0 8,3 21,0

Slidos totais [mg/L] 10,0 88,0 320,0

Slidos suspensos totais [mg/L] 2,0 30,0 183,0

Slidos suspensos volteis [mg/L] 0,0 15,0 72,0

Slidos dissolvidos totais [mg/L] 2,0 58,0 177,0

Slidos dissolvidos volteis 0,0 39,0 128,0

OD [mg/L] 1,6 20,0 42,0

DBO [mg/L] 0,4 2,5 5,2

Nitrato [mg/L] 0,5 4,7 20,0

Nitrito [mg/L] 0,1 0,8 3,8

Coliformes totais [100 mL-1] < 1 > 70 > 80

Fonte: May (2004)

37

3.3 No interior do reservatrio

Em pesquisa realizada na Universidade de So Paulo, foram constatadas as seguintes

caractersticas da gua de chuva coletada e armazenada em reservatrio: propriedades de gua

mole; pH entre 5,8 e 7,6; DBO5,20 menor que 10; presena de coliformes fecais em mais de

98% das amostras realizadas; presena de bactrias que podem causar intoxicao alimentar,

diarreia e infeces urinrias (ANA, FIESP e SINDUSCON-SP, 2005).

As bactrias encontradas nas amostras so: clostrdio sulfito redutor (91% das

amostras) que pode causar intoxicao alimentar, entre outras doenas; enterococos (98% das

amostras) que podem causar diarreia aguda; e pseudomonas (em 17% das amostras) que

podem ocasionar infeces urinrias (ANA, FIESP e SINDUSCON-SP, 2005).

O tempo de armazenamento e a temperatura afetam diretamente a qualidade da gua

dentro do reservatrio. Quando o tempo de armazenamento prolongado, como ocorre

frequentemente em grandes reservatrios, possvel que haja uma deteriorao da gua,

principalmente por ao microbiolgica.

Silva e Pdua (2007) e Brito et al. (2005) encontraram 70% das amostras de cisternas

em reas rurais com presena de coliformes totais e E. coli em desconformidade com os

padres de potabilidade vigentes poca Portaria n 518:2004 (BRASIL, 2004). Em relao

s bactrias heterotrficas, Silva (2013) encontrou presena em todas as anlises de cisternas

rurais realizadas, indicando que as bactrias que vivem livres no ambiente tambm se fazem

presentes nos sistemas de aproveitamento de gua de chuva.

Na Tabela 3 seguem as caractersticas gerais, segundo May (2004), da gua de chuva

coletada e armazenada em reservatrio no campus da Universidade de So Paulo:

38

Tabela 3. Caractersticas fsicas, qumicas e bacteriolgicas da gua de chuva no interior de reservatrio em So

Paulo

Parmetros

gua de chuva no interior do

reservatrio

Mdia

Cor [uH] 23,0

Turbidez [UNT] 0,8

Alcalinidade [mg/L] 18,8

pH 6,7

Condutividade [s/cm] 25,7

Dureza [mg/L] 19,6

Clcio [mg/L] 4,7

Magnsio [mg/L] 0,5

Ferro [mg/L] 0,06

Cloretos [mg/L] 12,2

Sulfatos [mg/L] 5,1

Slidos totais [mg/L] 25,0

Slidos suspensos totais [mg/L] 2,0

Slidos suspensos volteis [mg/L] 2,0

Slidos dissolvidos totais [mg/L] 24,0

Slidos dissolvidos volteis 24,0

OD [mg/L] 17,6

DBO [mg/L] 1,5

Nitrato [mg/L] 3,1

Nitrito [mg/L] 0,1

Coliformes totais [100 mL-1] > 65

Fonte: May (2004)

39

3.4 Nos pontos de utilizao

importante manter o controle da qualidade da gua da chuva a ser utilizada e

verificar a necessidade de tratamento especfico, de forma que no comprometa a sade de

seus usurios, nem a vida til dos sistemas envolvidos (ANA, FIESP e SINDUSCON-SP,

2005). Segundo a norma ABNT NBR 15.527:2007 a qualidade requerida para a gua de

chuva para usos no potveis deve seguir os parmetros apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Parmetros de qualidade de gua de chuva para usos restritivos no potveis

Parmetro Anlise Valor

Coliformes totais Semestral Ausncia em 100 mL

Coliformes termotolerantes Semestral Ausncia em 100 mL

Cloro residual livrea Mensal 0,5 a 3,0 mg/L

Turbidez Mensal < 2,0 Tb, para usos menos restritivos

< 5,0 T

Cor aparente (caso no seja utilizado

nenhum corante, ou antes da utilizao) Mensal < 15 H c

Deve prever ajuste de pH para proteo das

redes de distribuio, caso necessrio Mensal

pH de 6,0 a 8,0 no caso de tubulao

de ao carbono ou galvanizado

Nota: podem ser usados outros processos de desinfeco alm do cloro, como a aplicao de raio

ultravioleta ou aplicao de oznio. a No caso de serem utilizados compostos de cloro para desinfeco. b T a unidade de turbidez. c H a unidade Hazen.

Fonte: ABNT (2007)

Estes parmetros so os requisitos prvios para utilizao e possuem ainda margem de

atendimento para o item turbidez, sendo mais restritivo ao ser utilizada em bacias sanitrias e

menos restritivo para utilizao em irrigao. O mesmo ocorre, inversamente, ao item cloro,

que poder possuir residual menor ao ser utilizada para irrigao e residual maior ao

atendimento de bacias sanitrias.

O pH dever ser regulado apenas quando necessrio, o que deve ocorrer em locais de

alta concentrao industrial e precipitao de chuva cida. A norma ainda prev ausncia de

coliforme totais e termotolerantes, que mesmo presentes no ambiente da coleta devero ser

eliminados por desinfeco antes do uso e no caso de utilizao para fins potveis dever ser

atendida a Portaria 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministrio da Sade (BRASIL, MS,

2011).

40

importante avaliar quinzenalmente os padres de qualidade ao iniciar a operao do

sistema de aproveitamento de gua de chuva, at que os parmetros avaliados se apresentem

constantes aps trs ou mais leituras. Em regies com longo perodo de estiagem recomenda-

se a avaliao quinzenal, tambm no incio do perodo chuvoso, pois este o perodo em que

as guas carreiam maior quantidade de carga poluidora proveniente da lavagem das

superfcies de captao (OLIVEIRA et al., 2007).

Estudo realizado em um sistema residencial na cidade de Votorantim-SP por

Franceschini (2009) obteve caractersticas da turbidez e coliformes acima do permitido pela

norma, mesmo com um sistema de descarte do escoamento inicial realizado, o que sugere que

aps o descarte inicial e armazenamento a gua ainda deve passar por um sistema de filtrao

e clorao para atender aos parmetros da norma.

A presena dos mais variados patgenos na coleta da gua da chuva j foi indicada por

autores como Lye (1992) e Crabtree et al. (1996) no Estados Unidos, Fujioka et al. (1991) no

Hava e Wirojanagud et al. (1989) na Tailndia, sendo os principais microrganismos

identificados: Salmonella, Legionella-like spp, Clostridium perfringens, Aeromonas, Vibrio

parahaemolyticus, Cryptosporidium e Giardia.

Como a maior parte das famlias que utilizam gua da chuva para consumo potvel so

de poucas pessoas e o fato de casos de surgimento de doenas muitas vezes no serem

apresentados ou no serem conduzidos investigao posterior, os estudos que citam relaes

provadas entre surto de doenas e o abastecimento de gua de chuva so baixos (SIMMONS e

HEYWORTH, 1999; GOULD, 1999; BERTOLO, 2006).

4 Parmetros fsico-qumicos

4.1 Cor

A cor est associada reduo de intensidade que a luz sofre ao atravess-la, devido

presena de slidos dissolvidos, principalmente material em estado coloidal orgnico e

inorgnico, presena de metais, hmus, plncton ou outras substncias dissolvidas na gua.

Pode ser classificada em cor aparente, quando a cor conferida amostra afetada tambm

pelas substncias em suspenso e no s pelas substncias dissolvidas, e cor real, quando na

ausncia de turbidez a cor da amostra alterada pelas substncias dissolvidas (ABNT, 1997;

MAY, 2004; PEREIRA; SILVEIRA, 2013; PEREIRA, 2014).

41

A determinao da cor comumente feita pela comparao visual com solues de

cloroplatinato de cobalto ou com discos de cor semelhantes colorao das solues de

cloroplatinato de cobalto. recomendvel que seja feita no momento da coleta, evitando a

estocagem que poderia ocasionar variao de pH. Sua unidade de medida expressa em mg/L

Pt-Co ou uH (ABNT, 1997; MAY, 2004; PEREIRA e SILVEIRA, 2013; PEREIRA, 2014).

Hagemann (2009) em estudo sobre a qualidade da gua da chuva na cidade de Santa

Maria RS, que possui baixa densidade de ocupao, encontrou valores abaixo do limite de

deteco do ensaio (5 mg/L Pt-Co) em praticamente todas as amostras coletadas diretamente

da atmosfera e os valores mdios captados do telhado da UFSM variaram entre 5 e 31 mg/L

Pt-Co, deixando clara a influncia do escoamento sobre o telhado na colorao da gua de

chuva captada.

Valores para reas urbanas costumam ser superiores aos encontrados em reas rurais.

Valores coletados na cidade de So Paulo variam entre 20,0 e 218,00 mg/L Pt-Co (MAY,

2004) e podem ser ainda maiores se a gua de chuva for captada de uma cobertura verde.

Vasconcelos (2008) encontrou valores constantes de 250 mg/L Pt-Co em seus amostradores

de gua de chuva, indicando que o substrato do telhado verde confere elevada colorao a

gua e que o descarte dos primeiros milmetros no suficiente para provocar reduo. Os

maiores valores para cor foram encontrados em coletas efetuadas em dias de chuva precedidas

por um perodo de estiagem prolongado, sendo menores em coberturas metlicas e maiores

em coberturas de amianto (ROCHA, REIS; ARAJO, 2011).

4.2 Turbidez

Turbidez a quantificao da interferncia de absoro de luz incidente em uma

amostra caracterizada pela presena de partculas suspensas no solveis em gua, como

partculas inorgnicas (areia, silte e argila), algas e outros microrganismos. A presena dessas

partculas provoca a disperso e a absoro da luz, dando gua uma aparncia nebulosa,

esteticamente indesejvel e potencialmente perigosa, do ponto de vista sanitrio (SABESP,

1999a; MAY, 2004; FARIAS, 2012; PEREIRA, 2014).

Este parmetro fornece, de forma indireta, informaes acerca da concentrao de

partculas coloidais e em suspenso presentes na fase lquida. Sua unidade de medida a NTU

(Nephelometric Turbidity Unit) ou UNT (unidades nefelomtricas de turbidez) (SABESP,

1999a; MAY, 2004; FARIAS, 2012; PEREIRA, 2014), usando-se como padro para

calibrao do turbidmetro uma suspenso de formazin (sulfato de hidrazina + hexametileno

42

tetramina) ou uma suspenso de ltex, ou ento microesferas de estireno-divinilbenzeno,

conforme o fabricante do aparelho.

Hagemann (2009) encontrou valores mdios de 4 a 13 NTU para coleta diretamente da

atmosfera e de 8 a 35 NTU para coleta de telhados. Andrade Neto (2013) tambm encontrou

variao semelhante entre coleta antes e depois do escoamento que variou de 0,9 para 10,4

NTU.

Vasconcelos (2008) no encontrou variao significativa entre os amostradores para

turbidez e no estabeleceu relao com a intensidade de chuva para coleta em telhados

impermeveis. Porm estes valores apresentaram-se superiores quando coletados de cobertura

verde, sendo maiores conforme a intensidade de chuva elevada e perodos de estiagem longos.

Assim como ocorre com a cor, os maiores valores para turbidez foram encontrados em

coletas efetuadas em dias de chuva precedidas por um perodo de estiagem prolongado,

porm, diferente do parmetro cor, so menores em coberturas de amianto e barro e maiores

em coberturas metlicas (ROCHA, REIS; ARAJO, 2011).

Em pesquisa realizada na rea rural de Bisate Village, noroeste de Ruanda, foram

encontrados valores para turbidez entre 1,01 e 33,80 NTU em sistemas de aproveitamento de

gua de chuva que no faziam descarte do escoamento inicial, filtrao ou desinfeco.

Apresentando ainda, forte correlao com valores altos para coliformes totais de at 800

UFC/100mL (DOYLE, 2008).

Teixeira et al. (2015) verificaram em pesquisa realizada em So Paulo, que um sistema

de filtrao eficaz pode reduzir consideravelmente a turbidez, ocasionando em reduo da

presena de coliformes, mesmo quando o sistema no est passando por processo de

desinfeco.

4.3 Slidos Suspensos Totais (SST)

Slidos suspensos totais constituem toda matria que permanece como resduo aps

evaporao, secagem ou calcinao de um determinado volume de amostra. Seu valor

expresso em mg/L (SABESP, 1999b; PEREIRA; SILVEIRA, 2013).

O parmetro SST frequentemente substitudo por turbidez devido sua forte

correlao com este parmetro (DAVIES-COLLEY; SMITH, 2001).

Valores entre 93,0 e 232,0 mg/L com valor mdio de 138,5 mg/L foram encontrados

em coleta de gua de chuva realizada na cidade de Santa Maria RS, valores estes, maiores

que os encontrados em rea urbana, os quais variaram de 2,0 a 183,0 mg/L, com valor mdio

43

de 30,0 mg/L. Os valores maiores na rea menos urbanizada de Santa Maria podem ser

decorrentes de maior rea de solo exposta no entorno do local de captao (HAGEMANN,

2009; MAY, 2004).

4.4 pH

O pH (potencial hidrogeninico) utilizado universalmente para expressar o carter

cido ou alcalino de uma soluo. O parmetro pH mede a concentrao do on hidrognio,

podendo ser analisado por colorimetria ou eletrometria. Com a anlise do potencial

hidrogeninico da gua possvel verificar a ocorrncia de corrosividade quando o pH

baixo ou incrustao nas tubulaes do sistema de distribuio com o pH alto (MAY, 2004).

O CO2 um gs presente na atmosfera, que se dissolve na gua de chuva formando

cido carbnico, esse processo indica que o teor levemente cido da gua da chuva uma

caracterstica natural. A chuva cida caracterizada por valores de pH menores que 5,6

(JAQUES, 2005; TOMAZ, 2003).

May (2004) encontrou valores na cidade de So Paulo que variam de 5,8 a 7,6 para

gua de chuva que j escoou pela cobertura. Hagemann (2009) encontrou valores mdios de

5,8 a 6,0 para gua de chuva coletada diretamente do cu e valores entre 6,5 a 7,9 para coleta

realizada aps escoamento no telhado.

Esse comportamento do pH aumentar aps escoamento pela cobertura se d pela

influncia dos materiais que compem os telhados (cermica, amianto e concreto, por

exemplo) e das impurezas neles contidas (JAQUES, 2005; HAGEMANN, 2009).

O pH um parmetro que sofre pouca interferncia ao longo do ano e da variao de

intensidade de chuva (VASCONCELOS, 2008), e no costuma ser uma preocupao para

utilizao da gua de chuva, estando dentro da faixa indicada para aproveitamento em

praticamente todas as situaes (DOYLE, 2008).

4.5 Condutividade

a medida da habilidade de solues aquosas em conduzir corrente eltrica. Os ons

que so, geralmente, responsveis pelos valores de condutividade eltrica em guas so Ca2+,

Mg2+, Na+, K+; HCO3-, SO42-, Cl-, entre outros. Tambm pode ser definida como condutncia

especfica, que a unidade que define a capacidade de uma soluo conduzir corrente eltrica,

portanto, considera-se o inverso da resistncia eltrica (MACEDO, 2001; FARIAS, 2012;

PEREIRA, 2014).

44

A habilidade de conduzir corrente eltrica depende da presena de ons, de suas

concentraes, valncias e da temperatura da medida. O parmetro de condutividade fornece

informaes sobre disponibilidade de nutrientes (valores altos indicam grau de decomposio

elevada e valores reduzidos indicam acentuada produo primria) e possibilidade de

contaminao por fontes poluidoras. A unidade de medida utilizada para condutividade

expressa em S/cm (MACEDO, 2001; FARIAS, 2012; PEREIRA, 2014).

Os valores mdios/mximos de condutividade encontrados em Ruanda variam de

14/40 a 39/110 S/cm, para telhados de barro/metal, respectivamente. Na cidade de So Paulo

foi encontrado valor mdio de 63,4 S/cm e mximo de 126,2 S/cm, sendo, os valores de

condutividade so, portanto, ligeiramente superiores em reas urbanas do que em reas rurais

(DOYLE, 2008; MAY, 2004).

Os valores mais elevados de condutividade para gua de chuva ocorrem aps

escoamento pelo telhado. Para a gua de chuva coletada diretamente da atmosfera obteve-se

valores mdios de 6 a 41 S/cm, sendo que no primeiro coletor os valores variaram de 16 a

194 S/cm, o que demonstra a lavagem que ocorre na atmosfera decorrente do evento

chuvoso. J a gua de chuva coletada do telhado possui valores mdios entre 54 e 115 S/cm

(HAGEMANN, 2009).

A ABNT NBR 15.527:2007 no estabelece limites de valor para este parmetro,

porm um parmetro importante de medida da poluio para determinar a quantidade de sais

dissolvidos na gua (ROCHA, REIS E ARAJO, 2011).

4.6 Alcalinidade total

A alcalinidade representa a capacidade que um sistema aquoso tem de neutralizar

cidos a ele adicionados. Esta capacidade devida principalmente presena de bicarbonatos,

carbonatos e hidrxidos provenientes da dissoluo de rochas, da reao de CO2 com a gua

(CO2 que pode ser oriundo da atmosfera ou da decomposio de matria orgnica) e ainda, de

despejo de efluentes industriais (MAY, 2004; FARIAS, 2012; PEREIRA, 2014).

O conhecimento da alcalinidade importante no controle dos processos de corroso,

coagulao qumica em estaes de tratamento de gua e ainda pode alterar o sabor da gua.

A unidade de leitura expressa em mg/L CaCO3 (MAY, 2004; FARIAS, 2012; PEREIRA,

2014).

A alcalinidade apresenta valores mdios entre 1,7 e 7,0 mg/L CaCO3 quando coletada

gua da chuva diretamente da atmosfera e valores mdios na faixa de 31,5 a 40,3 mg/L

45

CaCO3 quando coletadas do telhado, conforme estudo realizado em Santa Maria RS

(HAGEMANN, 2009).

Valores similares foram encontrados na cidade de So Paulo SP que variaram entre

4,0 e 60,0 mg/L CaCO3 com valor mdio de 30,6 mg/L CaCO3 (MAY, 2004).

A alcalinidade um parmetro que apresenta diferena significativa de um tipo de

cobertura para outro. Os telhados de amianto costumam apresentar valores elevados de

alcalinidade, estando entre 7 e 46 mg/L CaCO3 sendo que 8% de todos os resultados obtidos

ficaram abaixo de 10 mg/L CaCO3, se comparados com telhas metlicas (de 5 a 20 mg/L

CaCO3) e telhas de barro (de 4 a 11 mg/L CaCO3) (ROCHA, REIS; ARAUJO, 2011).

4.7 Dureza total

Caracterstica conferida gua pela presena de alguns ons metlicos, principalmente

clcio (Ca++) e magnsio (Mg++) e, em menor grau por ons ferrosos (Fe++) e estrncio (Sr++).

A dureza reconhecida pela sua propriedade de impedir a formao de espuma no uso do

sabo. Isto significa que guas com alta dureza consomem muito sabo nas limpezas em

geral, alm de deixarem resduos insolveis e causarem corroso e incrustao em tubulaes

e instalaes.

A dureza total expressa como a concentrao de ons Mg++ na gua. Dureza

temporria refere-se quantidade de ons Mg++ que podem ser precipitados como CaCO3 e

MgCO3 aps fervura da gua, sendo estes compostos insolveis (PORTAL TRATAMENTO

DE GUA, 2008).

Ca2+ (aq) + 2HCO3_ (aq) H2O (l) + CaCO3 (s) + CO2 (g)

Ca2+ (aq) + 2HCO3_ (aq) + Ca(OH)2 (s) 2H2O (l) + 2CaCO3 (s)

Dureza permanente refere-se quantidade de Mg e Ca que permanecem na soluo

aps a remoo da dureza temporria e est associada a nions sulfato, cloreto e nitrato.

Tabela 5. Classificao da dureza da gua

Classificao Valores

gua mole At 50 mg/L

gua moderadamente mole De 50 a 150 mg/L

gua dura De 150 a 300 mg/L

gua muito dura Acima de 300 mg/L

Fonte: Adaptado de Richter e Neto, 1991

46

De acordo com os teores de sais de clcio e magnsio, expressos em mg/L de CaCO3,

a gua pode ser classificada conforme mostrado na Tabela 5.

A gua da chuva que percorre o solo enriquece-se de CO2 produzido por bactrias,

ocorrendo queda do seu pH, ento os carbonatos solveis so atacados e convertidos a

bicarbonatos solveis. A gua de chuva costuma ser mole, sendo tima para ser utilizada

em processos industriais. Seus valores so expressos em mg/L CaCO3 (OLIVEIRA, 1976;

CETESB, 1978; MAY, 2004; PEREIRA, 2014).

Assim como a alcalinidade, a dureza um parmetro que apresenta diferena

significativa de um tipo de cobertura para outro. Os telhados de amianto costumam apresentar

valores maiores de dureza (de 10 a 37 mg/L CaCO3) do que em telhas metlicas (2 a 14 mg/L

CaCO3) e em telha de barro (2 a 13 mg/L CaCO3) (ROCHA, REIS; ARAUJO, 2011).

A dureza apresenta valores mdios entre 0,8 e 5,6 mg/L CaCO3 quando coletada gua

da chuva diretamente da atmosfera e valores mdios na faixa de 33,5 a 52,1 mg/L CaCO3

quando coletadas do telhado em estudo realizado em Santa Maria RS (HAGEMANN,

2009).

Valores similares foram encontrados na cidade de So Paulo SP que variaram entre

4,0 e 68,0 mg/L CaCO3 com valor mdio de 39,4 mg/L CaCO3 (MAY, 2004).

5 Anlises microbiolgicas

5.1 Coliformes termotolerantes

As bactrias do grupo coliforme termotolerante ocorrem no trato intestinal de animais

endotrmicos e so indicadores de poluio por esgotos domsticos. Elas no so patognicas,

mas sua presena em grande nmero indica a possibilidade da existncia de microrganismos

patognicos que so responsveis pela transmisso de doenas de veiculao hdrica

(PEREIRA; SILVEIRA, 2014).

Alves et al. (2012) monitoraram a qualidade da gua de sete cisternas localizadas no

semirido brasileiro durante quatro anos. Em uma delas foi instalado dispositivo de descarte

do escoamento inicial. Os principais resultados mostraram que houve presena de coliformes

totais em todas as amostras e E. coli em 73,8% do total, porm, a cisterna na qual foi instalado

o dispositivo de descarte do escoamento inicial apresentou os menores teores de

contaminantes.

47

Coliformes termotolerantes foram encontrados em todas as amostras coletadas por

Rocha, Reis; Arajo (2011), Jaques (2005), Coombes et al. (2000) e Yaziz et al. (1989).

Brito et al. (2005) encontraram valores menores que 3 UFC/100mL at 93

UFC/100mL nas anlises de gua de chuva na comunidade de Atalho, municpio de Petrolina

PE. Estudo realizado em 8 cisternas no semirido do Estado da Bahia indicou presena de

coliformes termotolerantes em todas as coletas, sendo que 85% dos resultados estavam entre

48

Coliformes totais foram encontrados em todas as amostras coletadas por Rocha, Reis;

Arajo (2011), Jaques (2005), May (2004), Combees et al. (2000) e Yaziz et al. (1989).

Brito et al. (2005) encontraram valores menores que 3 UFC/100mL at 460

UFC/100mL na comunidade de Atalho, municpio de Petrolina PE.

No foi observada uma relao entre o perodo de estiagem e os valores encontrados

para nenhum tipo de cobertura (ROCHA, REIS e ARAUJO, 2011).

6 Anlises ecotoxicolgicas

Toxicologia refere-se aos efeitos prejudiciais das substncias nos organismos. As

substncias com tais efeitos so chamadas de substncias txicas, toxinas ou venenos. Para

caracterizar uma substncia como txica, depende da quantidade da substncia a que um

organismo est exposto e da intensidade da exposio, pois algumas substncias inofensivas

ou mesmo benficas em baixos nveis so txicas em nveis de exposio mais elevados.

Substncias txicas tm forte influncia sobre os ecossistemas e os organismos neles

presentes, de modo que as interaes entre ecologia e toxicologia so muito importantes.

Essas interaes podem ser complexas e envolver uma srie de organismos. A combinao da

ecologia e toxicologia o estudo dos efeitos das substncias txicas sobre os ecossistemas

passou a ser conhecida como ecotoxicologia, que se transformou em uma importante

disciplina das cincias ambientais (MANAHAN, 2010, p. 9).

A ecotoxicologia uma rea especializada da toxicologia ambiental que centra seus

estudos nos efeitos ocasionados por agentes qumicos e fsicos sobre a dinmica de

populaes e comunidades integrantes de ecossistemas definidos. Uma vez no ambiente, os

contaminantes podem estar sujeitos a uma combinao de processos que podem afetar o seu

destino e comportamento. As substncias potencialmente txicas podem ser degradadas por

processos abiticos e biticos que ocorrem na natureza. No entanto, algumas delas resistem

aos processos de degradao e por isso so capazes de persistirem no ambiente por longos

perodos de tempo. O descarte contnuo no ambiente, de uma substncia persistente, pode

levar sua acumulao em nveis ambientais suficientes para resultar em toxicidade (COSTA

et al., 2008).

Genotoxicidade definida como o potencial que uma substncia tem de reagir com o

DNA da clula. Isso pode ocasionar quebras de fita simples e/ou dupla do DNA, que, caso

sejam reparadas por enzimas endgenas de reparo do DNA, diz-se que a substncia que gerou

49

tais alteraes no DNA tem efeito genotxico. Caso as alteraes no DNA de uma clula no

sejam passveis de reparao, elas so transmitidas de modo estvel s clulas filhas no

processo de diviso celular, assim, a substncia que causou esse efeito chamada mutagnica

(GONTIJO; TICE, 2003).

Os testes de toxidade constituem uma forma de biomonitoramento ativo, pois neles

so utilizados organismos-teste, definidos como indivduos padronizados e cultivados em

laboratrio, que podem fornecer indicaes sobre as condies de um ecossistema frente

presena de um impacto ambiental. necessrio utilizar testes controle para que se possa

estimar as variaes naturais encontradas nos organismos testes e tambm as respostas que

estes organismos possam apresentar frente s situaes experimentais. O controle positivo

deve ser utilizado para garantir a resposta adequada do sistema (RODRIGUEZ, 2000).

O Allium cepa (cebola) foi o bioindicador selecionado como um dos organismos teste

porque apresenta vantagens se comparado com outros testes. A espcie Allium cepa contm

clulas meristemticas homogneas com grandes e poucos cromossomos (2n = 16), bem

visveis e facilmente corados, o que permite uma melhor avaliao dos danos cromossmicos

e/ou distrbios na diviso celular. Esta espcie, que frequentemente utilizada na avaliao

de citotoxicidade, genotoxicidade e mutagenicidade de vrias substncias, tambm apresenta

uma alta correlao com os outros sistemas biolgicos usados em ensaio para o mesmo fim,

como, por exemplo, os testes com mamferos, por apresentarem sistema enzimticos de

biotransformao semelhantes e bem conservados evolutivamente (FISKESJ, 1985;

MATSUMOTO e MARIN-MORALES, 2004; KURAS et al., 2006).

Testes em Allium cepa (cebola) so recomendados pois permite avaliar diversos

parmetros fitotxicos, tais como bioacmulo de contaminantes em diferentes tecidos

(razes, folhas e bulbos), inibio de crescimento de razes, perda de biomassa, alm

de biomarcadores de estresse oxidativo como peroxidao lipdica, carbonilao de

protenas, glutationa reduzida (GSH), atividade da catalase (CAT) e superxido

dismutase (SOD), alm de acebola ter um preo baixo e ser fcil de se manipular (FATIMA;

AHMAD, 2005; FISKESJ, 2006; MACAN et al., 2012).

Dentre os organismos mais recomendados para ensaios de avaliao da toxicidade

aqutica esto as algas, pois so produtores primrios dominantes na cadeia alimentar no

ambiente aqutico (PFLEEGER et al., 1991). Estudos com fitoplncton, indicam que as algas

apresentam uma rpida resposta fisiolgica e, assim, efeitos deletrios provocados por

compostos txicos podem ser detectados em um curto perodo de tempo. As algas podem ser

50

utilizadas como monitores biolgicos de qualidade de gua e como espcies indicadoras na

avaliao de impacto ambiental de poluentes (SICKO-GOAD; STOERMER, 1988;

HELLAWELL, 1986).

As microalgas Raphidocelis subcapitata so organismos unicelulares capazes

de realizar fotossntese mais rpida e eficientemente do que as plantas terrestres.

A espcie , provavelmente, cosmopolita e comum de ocorrer em ambientes mesotrficos a

eutrficos. uma alga unicelular recomendada para uso em ensaios de toxicidade. Sua

utilizao fundamenta-se na exposio dos organismos-teste a vrias concentraes de uma ou

mais substncias e aos fatores ambientais, durante um determinado perodo de tempo,

avaliando-se aps este perodo de tempo, a inibio do crescimento da biomassa algal

(TAVARES; PERERIA, 1981; TORGAN, 2002; BERTOLETTI, 2008).

7 Descarte do escoamento inicial (first flush)

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