centro de saÚde e tecnologia rural campus de … · ficha catalogada na biblioteca setorial do...

66
CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE PATOS – PB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA GILDENOR XAVIER MEDEIROS EPIDERMÓLISE BOLHOSA EM ANIMAIS PATOS-PB 2012

Upload: trinhkhanh

Post on 02-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CAMPUS DE PATOS – PB

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA

GILDENOR XAVIER MEDEIROS

EPIDERMÓLISE BOLHOSA EM ANIMAIS

PATOS-PB

2012

Page 2: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

GILDENOR XAVIER MEDEIROS

EPIDERMÓLISE BOLHOSA EM ANIMAIS

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Medicina Veterinária da Universidade Federal

de Campina Grande como requisito parcial para a

obtenção do título de Doutor em Medicina

Veterinária.

Orientador: Prof. Dr. Franklin Riet-Correa

PATOS-PB

2012

Page 3: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB

M488e 2012

Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise bolhosa em animais / Gildenor Xavier Medeiros Patos-PB: UFCG, CSTR, PPGMV, 2012. 64p. Bibliografia Orientador: Franklin Riet-Correa. Tese (Doutorado em Medicina Veterinária), Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural 1 – Dermatologia Veterinária – Tese. 2 – Doenças da pele. 3 – Caprinos. 4 – Bovinos. I Título.

CDU: 616.5:619

Page 4: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

GILDENOR XAVIER MEDEIROS

EPIDERMÓLISE BOLHOSA EM ANIMAIS

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Medicina Veterinária da Universidade Federal

de Campina Grande como requisito parcial para a

obtenção do título de Doutor em Medicina

Veterinária.

Aprovado em 29/06/2012

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Franklin Riet-Correa - Orientador

Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Patos-PB

Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária

Profa. Dra. Ana Lucia Pereira Schild

Universidade Federal de Pelotas – Faculdade de Veterinária – Pelotas-RS

Prof. Dr. José Augusto Bastos Afonso da Silva

Universidade Federal Rural de Pernambuco

Clínica de Bovinos - Campus de Garanhuns

Profa. Dra. Rosane Maria Trindade de Medeiros

Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Patos-PB

Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária

Prof. Dr. Otávio Brilhante de Sousa

Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Patos-PB

Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária

Page 5: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

“Dedico este trabalho à minha esposa Lu e aos meus filhos Guilherme e Giancarlo pelo apoio, compreensão e amor. Essa conquista é nossa!”

Page 6: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

AGRADECIMENTOS

A DEUS, que me ilumina, fortalece e protege todos os dias.

Aos meus pais, Seu Nivaldo e Dona Madazinha, com simplicidade e sabedoria, me

ensinaram a ter: honestidade, humildade, dignidade, respeito ao próximo, bom caráter,

disposição para aprender e trabalhar. Aos meus irmãos Gilberto, Gilmar e Givaldo por todo

apoio que me deram nesse momento e sempre.

À minha esposa Lu e aos meus filhos, Guilherme e Giancarlo, pela compreensão nos

momentos que precisei me ausentar para realizar as atividades do doutorado.

Ao meu orientador, Professor Dr. Franklin Riet-Correa, por acreditar na minha

capacidade de realizar este trabalho. Agradeço pelas várias horas dedicadas para me orientar,

sempre com muita sabedoria, respeito e paciência.

Ao Professor Dr. Antônio Flávio pelo apoio e orientações essenciais para a realização

deste trabalho.

Aos Doutores Severo, Mauro e Anibal pela realização da microscopia eletrônica,

indispensável para o êxito dos trabalhos.

Aos professores Eldinê, Sara, Almir, Rosane, Otávio, Verônica, Pedro, Sérgio

Azevedo, Felício, Danilo, Nara, Adriano, Sérgio Ricardo e Sônia Lima que, direta ou

indiretamente, contribuíram nessa conquista.

Ao colega Glauco que participou diretamente na realização deste trabalho. E aos

demais colegas da Patologia Animal: Fabrício, Rômulo, Luciano, Diego, Clarice, Lizanka,

Allan, Raquel, Eduardo, Andrei, Thalita, Luiza, José Carlos, Priscila, Everton, Carlos,

Gabriela, Pedroso, Malba, Temístocles, Lizziane, Valéria, Francelícia, Danilo, Jean, Jackson,

Fernando e Márcia. A todos, muito obrigado pelos momentos de aprendizado, ajuda e

companheirismo. Aos colegas de outras áreas que também foram importantes na realização do

trabalho: Evaristo, Gildeni, Tatiane, Beatriz, Adriana, Milena, Rodrigo (Digão), Ana Lucélia,

André, Fabrícia, Rodrigo Palmeira, Diego Catolé, João Marcos e Leonardo.

A todos os funcionários, em especial: Nevinha, Edinho, D. Joana, Seu Cuité, Seu Zé,

Finha, Josemar, Neide e Dal, que sempre me ajudaram no que foi necessário.

Aos Professores Dr. Alexandre Borges e Dr. José Filho da Faculdade de Medicina

Veterinária, UNESP, Botucatu, pelos ensinamentos e acolhida importantes para minha

formação profissional e pessoal.

Enfim, a todos MUITO OBRIGADO!

Page 7: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

RESUMO

Esta tese inclui três artigos sobre epidermólise bolhosa (EB) em animais, uma doença

hereditária, cuja principal característica é a formação de bolhas e erosões na pele e mucosas

em resposta ao mínimo trauma. O primeiro capítulo é um artigo de revisão que abrange o

diagnóstico, a classificação, a epidemiologia, o modo de herança, a clínica, a patologia e as

alterações ultraestruturais e moleculares da EB em animais. Baseado no nível ultraestrutural

de separação do tecido, a EB é dividida em três tipos: simples, juncional e distrófica. Em

humanos estima-se que a EB afeta 1 em 17.000 nascidos vivos, mas em animais a frequência

de EB não é estimada. Os achados clínicos e patológicos são semelhantes em todos os tipos

de EB, variando apenas na intensidade. A EB é causada por mutações nos genes que

expressam as proteínas do citoesqueleto dos queratinócitos ou da zona da membrana basal

(ZMB). No segundo capítulo foram descritos em caprinos os achados clínicos,

histopatológicos e ultraestruturais da EB distrófica transmitida por um gene autossômico

recessivo. Os caprinos apresentaram exungulação, erosões, crostas e cicatrizes na pele e

úlceras na cavidade oral. Histologicamente, a pele apresentava uma separação subepidérmica

preenchida com fluido eosinofílico claro, restos celulares ou neutrófilos. Ultraestruturalmente,

o local de separação foi abaixo da lâmina densa na ZMB. Na pele com formação de bolhas e

na pele não envolvida clinicamente, a lâmina basal foi preservada, mas as fibrilas de

ancoragem eram escassas e rudimentares. Sugere-se que a doença é similar a EB distrófica

recessiva generalizada e severa observada em humanos. No terceiro capítulo é descrito um

caso de EB em um bezerro. Ele tinha exungulação de todos os cascos, erosões e crostas

generalizadas na pele e úlceras na cavidade oral. Na histologia da pele foi observada

separação subepidérmica. No exame ultra-estrutural foi identificado a separação ao nível da

lâmina lúcida na ZMB, deixando a lâmina densa unida às papilas dérmicas. Os

hemidesmossomos apresentavam-se pequenos, pobremente definidos e sem demarcação clara.

Os achados clínicos, histológicos e ultraestruturais encontrados no bezerro são característicos

da EB juncional.

Palavras-chave: epidermólise bolhosa; zona da membrana basal; doenças mecanobolhosas;

doenças hereditárias; doenças da pele; caprino; bovino

Page 8: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

ABSTRACT

This thesis includes three papers on epidermolysis bullosa (EB) in animals, which is an

hereditary disease, characterized by the formation of blisters and erosions on the skin and

mucous in response to minor mechanical trauma. The first paper reviews the diagnosis,

classification, epidemiology, mode of inheritance, clinical, pathology, and ultrastructural and

molecular changes of EB reported in animals. Based on the ultrastructural level of tissue

separations EB is divided into three types: simplex, junctional, and dystrophic. In humans it is

estimated that EB affect 1 in 17000 live births, but in animal the frequency of EB is not

estimated. The clinical and pathological findings are similar in all types of EB, varying only

in intensity. EB is due to mutations in genes that express the protein constituent the

cytoskeleton of the basal keratinocytes or of the basement membrane zone (BMZ). In the

second paper, clinical, histopathological, and ultrastructural findings of dystrophic EB in

goats transmitted by an autosomal recessive gene are reported. The goats presented with

exungulation, erosions, crusts and scars on the skin and ulcers in the oral cavity.

Histologically, the skin showed subepidermal separation, with clefts filled with clear

eosinophilic fluid, cellular debris or neutrophils. Ultrastructurally, the site of blister formation

was the sub-lamina densa in the BMZ. In skin with blister formation and in clinically

uninvolved skin, the basal lamina was preserved, but the anchoring fibrils were scarce and

rudimentary. It is suggested that the disease is similar to human severe generalized recessive

dystrophic EB. In the third paper, a case of EB in a calf is reported. It was presented

exungulation of all hooves, widespread erosions and crusts on the skin, and ulcers in the oral

cavity. Histologically, the skin showed subepidermal clefts. Ultrastructurally, there was

epidermal-dermal separation at the level of the lamina lucida, with the lamina densa attached

to the papillary dermis. The hemidesmosomes were poorly defined and small. The clinical,

histological and ultrastructural findings are characteristic of junctional EB.

Keywords: epidermolysis bullosa; basal membrane zone; mechanobullous diseases; hereditary

diseases; diseases skin; goat; cattle

Page 9: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO I

Figura 1. Búfalo afetado com epidermólise bolhosa simples. A) São observadas

numerosas áreas de lesões crônicas com alopecia, erosões, crostas e cicatrizes na

pele. Também existem lesões recentes (setas). B) Aspecto palmar dos dedos do

membro torácico mostrando a perda do casco de um paradígito e deformidades nos

outros cascos. C) Pele com desprendimento recente da epiderme, causado por um

atrito ocasional. (A Figura 1 é uma cortesia da Dra. Cristina Fernandes da

Universidade Federal de Pelotas-RS)............................................................................

25

Figura 2. Bezerro afetado com epidermólise bolhosa juncional. A) São observadas

grandes áreas de erosões e crostas na pele, principalmente nos membros. Observe a

exungulação de todos os cascos. B) Aspecto lateral dos dedos do membro torácico

esquerdo, mostrando o desprendimento da pele e a exungulação dos cascos. C) Pele

da face interna do pavilhão auricular com desprendimento da epiderme por fricção

induzida. D) Mucosa ruminal com várias úlceras, situadas principalmente nos

pilares ruminais..............................................................................................................

26

Figura 3. Vestíbulo oral. Caprino (A) com epidermólise bolhosa distrófica e bezerro

(B) com epidermólise bolhosa juncional. A) No caprino existem úlceras e cicatrizes

na mucosa da bochecha, com perda das papilas (seta). B) No bezerro, observa-se

uma úlcera na mucosa da bochecha (seta), mas sem cicatrizes e perdas de papilas......

27

Figura 4. Fotomicrografia: Pele de um bezerro afetado com epidermólise bolhosa

juncional. A epiderme está destacada da derme, formando uma fissura

subepidérmica, contendo hemácias e neutrófilos. Hematoxilina e eosina (H&E).

Barra = 50 µm................................................................................................................

27

Figura 5. Representação esquemática da organização molecular do citoesqueleto

dos queratinócitos basais e da zona da membrana basal. E = epiderme; H =

hemidesmossomo; LL = lâmina lúcida; LD = lâmina densa; D = derme. Proteínas

dos desmossomos e da junção intercelular: Dp = desmoplaquina; Pg = placoglobina;

Pf = placofilina; C = caderinas......................................................................................

29

Page 10: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

Figura 6. Fotomicrografia eletrônica de transmissão: A) Pele de um búfalo afetado

com epidermólise bolhosa simples. O assoalho da bolha suprabasal (estrela) é

formado por células basais unidas a derme (D). Observe as células acantolíticas

(setas) dentro da bolha. Barra = 2 µm. B) Pele de um bezerro afetado com

epidermólise bolhosa juncional. As células basais estão formando o teto da bolha

(estrela), após a separação da derme ao nível da lâmina lúcida. Observe os pequenos

hemidesmossomos (quadrado). Barra = 1 µm. C) Ampliação do quadrado da Figura

B. Observe a membrana plasmática (seta) e os hemidesmossomos pequenos e mal

definidos dentro dos quadrados. Barra = 200nm. D) Pele de um caprino afetado com

epidermólise bolhosa distrófica. A lâmina densa (setas) forma o teto da bolha

(estrela). A lâmina basal, os hemidesmossomos e os filamentos de ancoragem estão

bem preservados. Barra = 500 nm. (Figura 6A é uma cortesia do Dr. Severo S.

Barros da Universidade Federal de Pelotas-RS)............................................................

32

CAPÍTULO II

Figura 1. Pedigree dos caprinos com epidermólise bolhosa distrófica. Os quadrados

representam os machos e os círculos as fêmeas. Os quadrados e círculos pretos são

os caprinos afetados. As linhas diagonais são os animais que

morreram....................................................................................................................

45

Figura 2. Caprinos com epidermólise bolhosa distrófica. (A) Caprino I-1. Vista

lateral direita da cabeça mostrando alopecia e desprendimento da epiderme na face

externa da orelha e na pálpebra superior. (B) Caprino II-8. Face interna da orelha

mostrando o desprendimento da epiderme após o teste de Nikolsky. (C) Caprino II-

9. Gengiva e lábios com desprendimento do epitélio da mucosa. (D) Caprino I-1.

Desprendimento e deformação dos cascos…………………………............................

46

Figura 3. Caprino II-9. (A) A cavidade oral mostrando úlceras e cicatrizes no palato

duro e na mucosa da bochecha, com perda das papilas bucais (setas). Note o exudato

mucopurulento. (B) A língua com extensa ulceração e cicatrizes no dorso, com

perda de papilas linguais (setas). Algumas papilas da bochecha e da língua

permanecem normais (*)...............................................................................................

46

Page 11: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

Figura 4. Pele. Caprino. (A) A epiderme está destacada da derme, formando uma

fissura subepidérmica (*). HE. Barra, 25 µm. (B) Micrografia eletrônica de

transmissão. A lâmina basal e os queratinócitos normais formam o teto da bolha (*),

e a derme está no assoalho. As fibrilas de ancoragem não são observadas. Barra, 2.5

µm. (C) Micrografia eletrônica de transmissão mostrando a lâmina densa (setas)

formando o teto da bolha (*). A lâmina basal, os hemidesmossomos e os filamentos

de ancoragem estão bem preservados. Barra, 1 µm. (D) Micrografia eletrônica de

transmissão. Pele sem lesões. A lâmina basal está preservada, mas as fibrilas de

ancoragem são escassas e rudimentares (setas). Barra, 0.5 µm.....................................

47

CAPÍTULO III

Figura 1. A) Bezerro afetado com epidermólise bolhosa juncional. São observadas

grandes áreas de erosões e crostas na pele, especialmente nas áreas de atrito e nos

membros. Note a exungulação de todos os cascos. B) Membro torácico mostrando

desprendimento da pele e exungulação dos cascos. C) Mucosa do palato e da

bochecha com desprendimento do epitélio...................................................................

58

Figura 2. Pele. Bezerro. A epiderme está destacada da derme, formando uma fenda

subepidérmica (*). HE, Barra 50 µm.………….…………………………...................

59

Figura 3. Micrografia eletrônica de transmissão. Pele. Bezerro. Junção dermo-

epidérmica. É observada a separação (*) ao nível da lâmina lúcida. Células basais

(BC). Derme (D). Barra, 5 µm. Inset: Secção semifina mostrando o local da

separação, observada na microscopia eletrônica (retângulo). Note a formação da

vesícula (estrela). Barra, 50 µm....................................................

59

Figura 4. Micrografia eletrônica de transmissão. Pele. Bezerro. Junção dermo-

epidérmica, com a derme separada das células basais. A lâmina densa (setas) está

unida à papila dérmica (PD). Note as fibras de colágeno com 20 nm (CF) dentro da

derme edematosa. A vesícula também é observada (estrela). Barra, 1 µm...................

59

Figura 5. Representação esquemática da ultraestrutura da zona da membrana basal

epidérmica......................................................................................................................

60

Page 12: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO I

Tabela 1. Tipos e subtipos de epidermólises bolhosas baseado no nível ultraestrutural

de separação na zona da membrana basal.......................................................................

19

Tabela 2. Ocorrência natural de epidermólise bolhosa em animais................................ 21

Tabela 3. Resumo dos achados clínicos e patológicos da epidermólise bolhosa em

animais.............................................................................................................................

24

Page 13: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

Referências............................................................................................................ 13

CAPÍTULO I – Epidermólise Bolhosa em Animais – Revisão de Literatura...... 15

Abstract................................................................................................................. 16

Resumo................................................................................................................. 17

Introdução............................................................................................................. 17

Diagnóstico e classificação.................................................................................. 18

Epidemiologia e modo de herança...................................................................... 20

Sinais clínicos e patologia................................................................................... 22

Alterações ultraestruturais e moleculares............................................................ 28

Epidemólise bolhosa simples..................................................................... 29

Epidermólise bolhosa juncional................................................................. 30

Epidermólise bolhosa distrófica................................................................ 31

Referências............................................................................................................ 33

CAPÍTULO II – Epidermólise Bolhosa Distrófica em Caprinos.......................... 40

Summary............................................................................................................... 41

Resumo................................................................................................................. 42

Introdução............................................................................................................. 42

Material e Métodos............................................................................................... 43

Resultados............................................................................................................. 44

Discussão.............................................................................................................. 48

Referências............................................................................................................ 50

CAPÍTULO III – Epidermólise Bolhosa em um Bezerro...................................... 54

Abstract................................................................................................................. 55

Resumo................................................................................................................. 55

Referências............................................................................................................ 61

CONCLUSÕES............................................................................................................ 63

ANEXOS..................................................................................................................... 64

Page 14: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

12

INTRODUÇÃO

A pele possui várias funções, dentre elas se destaca a proteção contra agressões físicas e

químicas. Para realizar tais funções, a pele conta com várias especializações dos

queratinócitos basais para manutenção da sua integridade. O citoesqueleto dos queratinócitos

basais e a membrana basal, que juntos formam os complexos juncionais (célula-matriz e

célula-célula), atuam na manutenção da estabilidade e integridade da pele, no bloqueio

seletivo de moléculas e no processo de diferenciação das camadas da epiderme (Christiano &

Uitto 1996). Os complexos juncionais são compostos por várias proteínas, que são produtos

de expressão de diferentes genes. A interação entre as proteínas proporciona uma forte união

entre epiderme e derme, entre os queratinócitos e entre as camadas da epiderme. Essa

intricada rede de proteínas proporciona resistência ao atrito e pressão (McMillan et al. 2003).

Alterações estruturais ou bioquímicas (primárias ou secundárias) nestas proteínas, resultam

em fragilidade da pele e desenvolvimento de lesões que caracterizam os sinais clínicos das

dermatoses bolhosas (Bruckner-Tuderman 1999, Solovan et al. 2005, Ko & Marinkovich

2010).

É importante ressaltar que a mesma proteína pode estar alterada por causa de uma

mutação no gene que a codifica ou por ação de anticorpos em desordens autoimunes, de

forma que, em ambas as situações, os sinais clínicos são semelhantes (Wozniak &

Kowalewski 2005). A compreensão da etiopatogenia das dermatoses bolhosas adquiridas e

hereditárias é essencial para o diagnóstico preciso. Um protótipo para essas condições é a

epidermólise bolhosa (EB), uma rara patologia hereditária de humanos (Sawamura et al.

2010, Sianez-Gonzáles et al. 2009) e animais (Bruckner-Tuderman et al. 2010, Natsuga et al.

2010), que pertence a um grupo heterogêneo de distúrbios mecanobolhosos, caracterizado

pela formação de bolhas na pele e mucosas, formadas em resposta a um trauma mínimo.

Baseado no nível ultraestrutural de separação do tecido, a EB pode ser dividida em três

categorias: epidermólise bolhosa simples (EBS), epidermólise bolhosa juncional (EBJ) e

epidermólise bolhosa distrófica (EBD) (Fine et al. 2008).

Diferentes formas de EB em humanos têm sido claramente definidas, entretanto, em

animais, ainda não foram definidos os critérios para a classificação das diferentes formas da

doença, nem os mecanismos moleculares de cada forma. Nos últimos seis anos foi

diagnosticado no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Federal de Campina Grande

(UFCG), Campus de Patos-PB, um caso de EB em caprinos e dois em bovinos. Diante da

Page 15: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

13

raridade da doença, surgiu a oportunidade de estudar a EB em animais. Esta tese teve o

objetivo de estudar os aspectos etiológicos, epidemiológicos, clínicos, patológicos, genéticos,

ultraestruturais e moleculares da EB diagnosticada em caprinos e bovinos. A mesma está

dividida em três artigos formatados de acordo com o que estabelece a NORMA Nº 01/2011 de

03 de junho de 2011 do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da UFCG,

Campus de Patos-PB (anexo 1). O primeiro trabalho é um artigo de revisão, submetido à

revista Veterinary Dermatology, que aborda o diagnóstico, a classificação, a epidemiologia, o

modo de herança, a clínica, a patologia e as alterações ultraestruturais e moleculares da EB

em animais. No segundo artigo, são descritos, pela primeira vez, os aspectos clínicos,

histopatológicos e ultraestruturais, e o modo de herança da EB do tipo distrófica em caprinos.

Este artigo foi aceito para publicação na revista Journal of Comparative Pathology. O terceiro

artigo foi publicado na revista Journal of Veterinary Diagnostic Investigation (DOI:

10.1177/104638711425953). O referido trabalho relata os aspectos clínicos, histológicos e

ultraestruturais de um caso de EB do tipo juncional em um bezerro.

Referências

Bruckner-Tuderman L. 1999. Biology and pathology of the skin basement membrane zone.

Matrix Biology 18: 3-4.

Bruckner-Tuderman L., McGrath J.A., Robinson E.C. & Uitto J. 2010. Animal models of

epidermolysis bullosa: update 2010. Journal of Investigative Dermatology 130: 1485-

1488.

Christiano A.M. & Uitto J. 1996. Molecular complexity of the cutaneous basement membrane

zone. Revelations from the paradigms of epidermolysis bullosa. Experimental

Dermatology 5: 1-11.

Fine J.D., Eadly R.A.J., Bauer E.A., Bauer J.W., Bruckner-Tuderman L., Heagerty A.,

Hintner H., Hovnanian A., Jonkman M.F., Leigh I., McGrath J.A., Mellerio J.E., Murrell

D.F., Shimizu H., Uitto J., Vahlquist A., Woodley D. & Zambruno G. 2008. The

classification of inherited epidermolysis bullosa (EB): Report of the Third International

Consensus Meeting on Diagnosis and Classification of EB. Journal of the American

Academy of Dermatology 58: 931-950.

Ko M.S. & Marinkovich M.P. 2010. Role of dermal-epidermal basement membrane zone in

skin, cancer, and developmental disorders. Dermatologic Clinics 28: 1-16.

Page 16: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

14

McMillan J.R., Akiyama M. & Shimizu H. 2003. Epidermal basement membrane zone

components: ultrastructural distribution and molecular interactions. Journal of

Dermatological Science 31: 169-177.

Natsuga K., Shinkuma S., Nishie W. & Shimizu H. 2010. Animal models of epidermolysis

bullosa 28: 137-142.

Sawamura D., Nakano H. & Matsuzaki Y. 2010. Overview of epidermolysis bullosa. Journal

of Dermatology 37: 214-219.

Siãnez-Gonzáles C., Pezoa-Jares R. & Salas-Alanis J.C. 2009. Congenital epidermolysis

bullosa: A review. Actas Dermosifiliogr 100: 842-856.

Solovan C., Ciolan M. & Olariu L. 2005. The biomolecular and ultrastructural basis of

epidemolysis bullosa. Acta Dermatoven APA 14: 127-135.

Wozniak K. & Kowalewski C. 2005. Alterations of basement membrane zone in autoimmune

sub epidermal bullous disease. Dermatological Science 40: 169-175.

Page 17: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

15

CAPÍTULO I

Epidermólise Bolhosa em Animais - Revisão de Literatura

O presente trabalho foi formatado, segundo as normas da revista Veterinary

Dermatology (anexo 2). O artigo foi submetido em 23 de junho de 2012 (anexo 3).

Page 18: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

16

Epidermólise Bolhosa em Animais

Gildenor Xavier Medeiros* e Franklin Riet-Correa*

*Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de campina

Grande, Patos, Paraíba, Brasil, CEP 58708-110.

Correspodência: Franklin Riet-Correa, Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária,

Universidade Federal de campina Grande, Patos, Paraíba, Brasil, CEP 58708-110. E-mail:

[email protected]

Fontes de Financiamento

Este estudo foi auto-financiado.

Conflitos de Interesses

Nenhum conflito de interesse foi declarado.

Abstract

Epidermolysis bullosa (EB) is a hereditary mechanobullous disease of animals and humans,

characterized by extreme fragility of the skin and mucous membranes. The main feature of the

EB, both in humans and animals, is the formation of blisters and erosions in response to minor

mechanical trauma. Based on the ultrastructural level of tissue separations EB is divided into

three broad categories: epidermolysis bullosa simplex, junctional epidermolysis bullosa, and

dystrophic epidermolysis bullosa. Based in ultrastructural changes and mode of inheritance,

human types of EB are divided in several sub-types, but in animals, subtypes are not clearly

established. In this paper sub-types of EB in domestic animals are reviewed in accordance

with human classification. In humans it is estimated that EB affect 1 in 17,000 live births, but

in animal the frequency of epidermolysis bullosa is not estimated. The clinical and

pathological findings are similar in all types of EB, varying only in intensity. EB is due to

mutations in genes that express the protein constituent of structures cytoskeleton of basal

keratinocytes or of the basement membrane zone. This paper reviews the diagnosis,

classification, epidemiology, mode of inheritance, clinical, pathology, and ultrastructural and

molecular changes of EB reported in animals.

Page 19: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

17

Resumo

A epidermólise bolhosa (EB) é uma doença mecanobolhosa hereditária de animais e humanos,

caracterizada por extrema fragilidade da pele e membranas mucosas. A principal

característica da EB, tanto em humanos como em animais, é a formação de bolhas e erosões

em resposta ao mínimo trauma. Baseado no nível de separação do tecido, a EB é dividida em

três amplas categorias: epidermólise bolhosa simples, epidermólise bolhosa juncional e

epidermólise bolhosa distrófica. Com base nas alterações ultraestruturais e no modo de

herança, os tipos de EB em humanos são divididos em vários subtipos, mas em animais, os

subtipos não são claramente definidos. Neste artigo, os subtipos em animais são revisados de

acordo com a classificação para humanos. Em humanos é estimado que a EB afeta 1 em

17.000 nascidos vivos, mas em animais a frequência de epidermólise bolhosa não é estimada.

Os achados clínicos e patológicos são semelhantes em todos os tipos de EB, variando apenas

na intensidade. A EB é causada por mutações nos genes que expressam as proteínas que

constituem o citoesqueleto dos queratinócitos ou a zona da membrana basal. Este artigo revisa

o diagnóstico, a classificação, a epidemiologia, o modo de herança, a clínica, a patologia e as

alterações ultraestruturais e moleculares da EB em animais.

Introdução

A epidermólise bolhosa (EB) é uma doença mecanobolhosa hereditária de animais e

humanos, caracterizada por extrema fragilidade da pele e membranas mucosas. A principal

característica da EB, tanto em humanos como em animais, é a formação de bolhas e erosões

em resposta a um trauma mínimo, especialmente em áreas mais propícias ao atrito.1,2 A

fragilidade da pele e mucosa resulta de anormalidades do citoesqueleto dos queratinócitos

basais ou da zona da membrana basal (ZMB).3,4 A EB em humanos tem sido bastante

estudada; recentes pesquisas identificaram mutações em diferentes genes, responsáveis pela

heterogeneidade clínica na EB.2,5 Camundongos geneticamente modificados foram usados

como animais modelos para a compreensão da patogênese da EB em humanos. Entretanto,

estudos moleculares em animais domésticos são raros, embora algumas mutações tenham sido

identificadas.1 Considerando a raridade da doença e a escassez de literatura em animais, uma

revisão compreendendo o diagnóstico, a classificação, a epidemiologia, o modo de herança,

os sinais clínicos, a patologia e as alterações ultraestruturais e moleculares da EB contribuirá

para o diagnóstico e a pesquisa.

Page 20: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

18

Diagnóstico e classificação

Suspeita-se de EB quando os animais têm bolhas e erosões na pele e mucosas, que se

apresentam em resposta ao mínimo atrito. Esta condição é bem identificada pela aplicação do

teste de Nikolsky,6 que é realizado pressionando e deslizando levemente a ponta do dedo ou

um objeto de ponta romba na pele. No teste positivo a epiderme desprenderá facilmente. É

importante realizar uma completa anamnese e um exaustivo exame físico, incluindo uma

criteriosa avaliação da distribuição das lesões e da presença de outros sinais clínicos ou

complicações. Também é necessário realizar uma análise genealógica dos animais afetados e

de seus ascendentes e descendentes para determinar o modo de herança. O diagnóstico

diferencial para EB inclui: penfigóide bolhoso, penfigóide cicatricial, lúpus eritematoso

sistêmico bolhoso, dermatose bolhosa por IgA linear, pênfigo vulgar, picadas de insetos e

bolhas friccionais.7 Uma vez descartados outros diagnósticos, a suspeita de EB pode ser

confirmada através da microscopia eletrônica de transmissão para identificar em que nível

ocorreu a separação na ZMB.8,9 Outras técnicas de laboratório, incluindo imunofluorescência

e análise de DNA, tornaram-se importantes no diagnóstico da EB.5,10

A classificação da EB em animais segue o mesmo critério usado para humanos, que é

o nível ultraestrutural de separação na ZMB. Dessa forma, a EB pode ser dividida em três

categorias principais: epidermólise bolhosa simples (EBS), caracterizada pela citólise dos

queratinócitos basais, formando uma fissura intraepidérmica; epidermólise bolhosa juncional

(EBJ), em que a separação ocorre na lâmina lúcida; e epidermólise bolhosa distrófica (EBD),

com separação dentro ou abaixo da lâmina densa. Cada forma de EB tem subtipos que são

definidos de acordo com as alterações ultraestruturais e o modo de herança (Tabela 1).11

Porém, em animais, os subtipos não são claramente estabelecidos.

Existe também uma forma adquirida de EB (EBA), uma rara doença autoimune

bolhosa da pele, que foi pela primeira vez relatada, em 1895, em humanos. A EBA é

classificada como uma EB porque clinicamente ela é semelhante à forma hereditária

distrófica.12 Ela é causada pela produção de imunoglobulinas G contra o colágeno VII, o

principal componente das fibrilas de ancoragem.13 Em animais, a EBA foi relatada em cães

em 1998,14,15 mas, devido à semelhança dos achados clínicos, histológicos e

imunohistológicos com o penfigóide bolhoso, essa doença foi mal diagnosticada antes de

1998.15 A EBA está incluída no grupo das doenças bolhosas subepidérmicas autoimunes,

portanto, não será abordada nessa revisão.

Page 21: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

19

Tabela 1. Tipos e subtipos de epidermólises bolhosas baseado no nível ultraestrutural de separação na zona da membrana basal (Adaptado de Fine et al. 2008)

Tipos e subtipos de EB Nível de separação ultraestrutural Outros achados ultraestruturais

EB simples (EBS)

EBS localizada Camada basal A fenda pode se estender até a camada suprabasal EBS Dowling-Meara Camada basal Os filamentos de queratina são densos, circunscritos e

aglutinados EBS com distrofia muscular Predominantemente na camada basal, acima da placa interna

hemidesmossomal Reduzida integração dos filamentos de queratina com os hemidesmossomos

EBS autossômica recessiva Queratinócitos basais Os filamentos de queratina são reduzidos ou ausentes dentro dos queratinócitos basais

EBS superficial

Suprabasal, usualmente na interface entre as camadas granular e cornificada

-

EBS letal acantolítica Suprabasal com acantólise Retração perinuclear dos filamentos de queratina EBS com deficiência de placofilina

Suprabasal, com separação célula-célula Os desmossomos suprabasais são pequenos; ocorre retração perinuclear dos filamentos de queratina

EB juncional (EBJ) EBJ Herlitz Lâmina lúcida Os hemidesmossomos são marcadamente reduzidos ou

ausentes; a placa densa sub-basal está ausente EBJ não-Herlitz Lâmina lúcida Os hemidesmossomos podem ser normais ou pequenos e

reduzidos em número EBJ com atresia pilórica Lâmina lúcida As placas hemidesmossomais são pequenas, sempre com

placa densa sub-basal atenuada EB distrófica dominante (EBDD)

EBDD generalizada Sub-lâmina densa As fibrilas de ancoragem são normais ou reduzidas em número

EBDD-dermólise bolhosa do recém-nascido

Sub-lâmina densa Corpos estrelados eletrodensos dentro da camada basal e reduzidas fibrilas de ancoragem

EB distrófica recessiva (EBDR) EBDR generalizada severa Sub-lâmina densa As fibrilas de ancoragem são escassas, ausentes ou

rudimentares EBDR generalizada Sub-lâmina densa As fibrilas de ancoragem são reduzidas ou de aparência

rudimentar EBDR- dermólise bolhosa do recém-nascido

Sub-lâmina densa Corpos estrelados eletrodensos dentro da camada basal e reduzidas fibrilas de ancoragem

Page 22: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

20

Epidemiologia e modo de herança

O termo epidermólise bolhosa foi usado pela primeira vez na medicina veterinária em

1974,16 embora em humanos esse termo já tenha sido usado por Koebner, em 1886, no

primeiro relato da doença.11 Doenças semelhantes a EB foram relatadas em animais com

outros nomes como: a doença do pé vermelho do ovino,17 doença mecanobolhosa hereditária

em equinos18,19 e em bovinos,20 e epiteliogênese imperfeita em equino.21 Em búfalos, uma

doença mecanobolhosa hereditária, chamada de dermatose acantolítica mecanobolhosa

suprabasilar hereditária, não foi classificada como EB porque o nível ultraestrutural de

separação é suprabasal, e as lesões orais não são observadas.22 Entretanto, com base na atual

classificação de EB em humanos (Tabela 1), esta doença pode ser definida como epidermólise

bolhosa simples com separação suprabasal. A doença é similar a EBS com deficiência de

placofilina-1, na qual as lesões orais também são mínimas ou ausentes.11 Uma separação

suprabasal semelhante é também relatada em uma doença mecanobolhosa hereditária de

bovinos da raça Angus, denominada de acantólise familiar.23

A EB é herdada através de mecanismo autossômico dominante ou recessivo. A

incidência não é afetada por raça e a doença ocorre tanto no sexo feminino quanto no

masculino.1 Até agora a EB é uma doença incurável tanto em humanos quanto em animais. A

maioria dos casos em humanos leva a morte na infância24 e os animais são eutanasiados ou

morrem durante os primeiros meses de vida.1 São raros os registros de sobrevivência por

meses ou anos em animais com EB. Uma cadela sem raça definida, diagnosticada com EBJ

não-letal, sobreviveu por pelo menos quatro anos,25 e os búfalos com EBS suprabasal22

sobrevivem até a idade adulta (Figura 1A). Estima-se que em humanos a doença afeta 1 a

cada 17.000 nascidos vivos em todo o mundo.26 Em animais, a frequência de EB não é

estimada. Entretanto, no laboratório de Patologia do Hospital Veterinário da Universidade

Federal de Campina Grande, no período de 1983 a 2012, de 861 diagnósticos de doenças em

caprinos, um cabrito foi diagnosticado com EB. No mesmo período, num total de 1.144

diagnósticos em bovinos, dois bezerros de diferentes fazendas foram diagnosticados com EB.

Um inventário atual de EB em animais é mostrado na Tabela 2.

Page 23: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

21

Tabela 2. Ocorrência natural de epidermólise bolhosa em animais

Tipo de EB e espécie animal Modo de herança Referências EBS

Bovino Autossômica dominante 34, 36-39 Bovino Autossômica recessiva 23 Búfalo Autossômica recessiva 22 Cão Não determinada 54

EBJ Herlitz

Bovino Não determinada 40 Equino Autossômica recessiva 18, 19, 21, 29-33,70 Ovino Autossômica recessiva 42, 44 Cão Não determinada 46 Rato Autossômica recessiva 50 Camundongo Autossômica recessiva 51

EBJ não-Herlitz

Cão Autossômica recessiva 7, 25, 58, 74-77 Gato Não determinada 27

EBD

Bovino Não determinada 20,35 Ovino Autossômica recessiva 41,43 Caprino Autossômica recessiva 45 Cão Autossômica recessiva 47, 55, 84, 85 Gato Autossômica recessiva 48

Page 24: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

22

Sinais clínicos e patologia

Os achados clínicos e patológicos são semelhantes em todos os tipos de EB, variando

apenas na intensidade. Como as descrições são baseadas em achados observados num

pequeno número de registros na literatura, o quadro completo de sinais clínicos pode ser mais

diverso (Figura 2A). É interessante notar que a fragilidade da pele e a formação de bolhas é

comum em humanos,2,24 enquanto em animais, especialmente em cães e gatos, o tegumento é

menos propenso a lesões. Uma possível explicação para esse fenômeno é que em animais o

pêlo previne o desprendimento da epiderme, não apenas por atuar como barreira mecânica,

mas também por ancorar profundamente a epiderme na derme ao nível da invaginação dos

folículos pilosos.27 Distrofia ou queda das unhas é outro sinal frequente em humanos com

EB,28 isto corresponde a deformidade e perda dos cascos em equinos,29-33 búfalos (Figura

1B),22 bovinos (Figura 2B),34-40 ovinos41-44 e caprinos45 e a onicomadese em cães7,25,46,47 e

gatos.27,48,49 Geralmente as lesões são mais severas em casos de EBJ (Figura 2A) do que em

outros tipos de EB (Figura 1A), provavelmente porque as alterações observadas em EBJ

envolvem as principais estruturas de união da ZMB (ver alterações ultraestruturais e

moleculares). Em bovinos (Figura 2A),40 equinos29 e ovinos42,44 afetados por EBJ tipo Herlitz,

as lesões de pele são severas e distribuídas pelo corpo, todos os cascos são afetados ao mesmo

tempo e os animais morrem nas primeiras semanas de vida. O mesmo é observado em cães,46

ratos50 e camundongos,51 mas as lesões são mais brandas. Em EBD, as lesões da pele e das

membranas mucosas têm uma tendência a cicatrizar, característica observada em caprinos45 e

humanos.52 A cura com cicatrizes ocorre porque a formação de bolhas é sob a lâmina densa da

ZMB, proporcionando uma cicatrização mesenquimal da derme.52,53

Em animais a intensidade das lesões está diretamente associada ao modo de vida de

cada espécie. Em animais de produção as lesões são mais intensas porque eles vivem em

rebanhos e num ambiente mais favorável a traumas. Quando os animais são contidos com as

mãos ou com cordas, ou entram em contato uns com os outros ou com os estábulos, a

epiderme se desprende facilmente (Figuras 1C e 2C). A perda dos cascos é também comum

durante o manejo.22,29,38-40,43 Em cães7,54,55 e gatos27,49 as lesões são menos graves do que em

animais de produção e são mais predominantes em áreas glabras como ápice do nariz e coxins

palmares e plantares.

As principais lesões orais são úlceras multifocais na mucosa da gengiva, do palato, dos

lábios, da bochecha e do dorso da língua.27,29,40-45,55 No entanto, as lesões em herbívoros são

mais extensas do que em outras espécies por causa do alimento fibroso. Os ruminantes podem

Page 25: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

23

ser mais afetados por lesões orais porque passam mais tempo mastigando do que os

monogástricos, em função da ruminação. Esporadicamente, são observadas úlceras na mucosa

de outros órgãos como esôfago,41,43,45,55 ânus, vulva,45 vagina,21 córnea38,41,45 e pré-estômagos

(Figura 2D). Tal como em humanos,56,57 em caprinos com EBD45 a cura com formação de

cicatrizes é responsável por alterações da arquitetura de algumas estruturas anatômicas da

mucosa oral, incluindo papilas da bochecha e da língua, que podem reduzir o comprimento ou

desaparecer após a cicatrização, deixando uma superfície plana (Figura 3A). Essa

característica não foi observada em ruminantes com EBS23,34,36-39 e EBJ (Figura 3B).40

Hipoplasia do esmalte dentário é um achado comum em humanos57 com EBJ, mas em

animais tem sido esporadicamente observada em equinos29,30 e caninos.58

Os achados histopatológicos da pele e da mucosa são similares em todos os tipos de

EB, mas variam de acordo com a evolução da manifestação clínica, o local da lesão e as

lesões secundárias, como infecção bacteriana. A lesão inicial é a separação subepidérmica

com inflamação mínima. Nas lesões mais avançadas, são observadas extensas áreas de

epiderme separadas da derme, formando grandes fissuras contendo fluido eosinofílico,

eritrócitos e neutrófilos ocasionais (Figura 4).38,40,43 Em EBS com separação suprabasal22,23 é

observada a perda da junção intercelular e acantólise. São observadas áreas de perda do

epitélio oral e lingual (exceto em búfalos)22 associada à necrose, extensiva ulceração,

infiltração por neutrófilos e hemorragia.38,40,45 Alterações similares são observadas na mucosa

do esôfago em ovinos41,43 e caprinos45 com EBD, e na mucosa vaginal e anal em equinos com

EBJ.21 Desprendimento do epitélio da córnea com o mínimo de inflamação foi observado em

EBD41,45 e EBS.38

A Tabela 3 resume os achados clínicos e patológicos de EB em animais. Podem

ocorrer variações entre as espécies e as informações resumidas na Tabela 3, que devem ser

consideradas como diretrizes, e não como descrições definitivas de cada fenótipo possível da

EB.

Page 26: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

24

Tabela 3. Resumo dos achados clínicos e patológicos da epidermólise bolhosa em animais

Achados clínicos e patológicos EBS EBJ EBD

Início dos sinais clínicos 1ª semana Ao nascer 1ª semana Pele

Distribuição predominante Membros, pontos de pressão,áreas glabras

Generalizada Membros, pontos de pressão,áreas glabras

Bolhas, erosões e crostas ++(bovino, búfalo), +(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) ++(ovino, caprino), +(cão, gato) Alopecia ++(bovino, búfalo), +(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) ++(ovino, caprino), +(cão, gato) Cicatriz atrófica - - ++(caprino) Milia - - +(cão, gato)

Cascos e garras Eritema da banda coronária ++(bovino, búfalo), +(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) ++(ovino, caprino), +(cão, gato) Deformidades ++(bovino, búfalo), +(cão) ++(bovino, equino, ovino), +( cão, gato, rato, camundongo) +++(ovino, caprino), +(cão, gato) Exungulação ++(bovino, búfalo), +(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) ++(ovino, caprino), +(cão, gato)

Envolvimento extra-cutâneo Retardo do crescimento ++ +++ ++ Lesões na cavidade oral +++(bovino), ++(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) +++(ovino, caprino), +(cão, gato) Úlcera na córnea +(bovino) +(gato) +(ovino, caprino)

Exame pós-morte Úlceras na cavidade oral +++(bovino), ++(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) +++(ovino, caprino), +(cão, gato) Úlceras na lingua +++(bovino), ++(cão) +++(bovino, equino, ovino), ++(cão, gato, rato, camundongo) +++(ovino, caprino), ++(cão, gato) Defeitos no esmalte dentário - Hipoplasia de esmalte, +(equino, cão) - Lesões no trato gastrointestinal - Úlceras nos pré-estômagos, + (Bovino) e ânus, +( equino) Úlcera esofágica, +(ovino, caprino, cão) Lesões no trato genitourinário - Úlceras na vagina, +( equino) Úlceras na vulva, +(caprino)

Morte 3ª semana (bovino) 1º (cão) ao 4º ano (búfalo)

Herlitz: 1ª semana Não-Herlitz: 1º (gato) ao 4º ano (cão)

1º ao 3º mês (ovino,caprino) 1º ano (cão, gato)

Escala de intensidade: -, ausente; +, esporadicamente presente; ++, frequentemente presente; +++, sempre presente

Page 27: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

25

Figura 1. Búfalo afetado com epidermólise bolhosa simples. A) São observadas numerosas

áreas de lesões crônicas com alopecia, erosões, crostas e cicatrizes na pele. Também

existem lesões recentes (setas). B) Aspecto palmar dos dedos do membro torácico

mostrando a perda do casco de um paradígito e deformidades nos outros cascos. C) Pele

com desprendimento recente da epiderme, causado por um atrito ocasional. (A Figura 1 é

uma cortesia da Dra. Cristina Fernandes da Universidade Federal de Pelotas-RS).

Page 28: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

26

Figura 2. Bezerro afetado com epidermólise bolhosa juncional. A) São observadas grandes

áreas de erosões e crostas na pele, principalmente nos membros. Observe a exungulação de

todos os cascos. B) Aspecto lateral dos dedos do membro torácico esquerdo, mostrando o

desprendimento da pele e a exungulação dos cascos. C) Pele da face interna do pavilhão

auricular com desprendimento da epiderme por fricção induzida. D) Mucosa ruminal com

várias úlceras, situadas principalmente nos pilares ruminais.

Page 29: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

27

Figura 3. Vestíbulo oral. Caprino (A) com epidermólise bolhosa distrófica e bezerro (B)

com epidermólise bolhosa juncional. A) No caprino existem úlceras e cicatrizes na mucosa

da bochecha, com perda das papilas (seta). B) No bezerro, observa-se uma úlcera na

mucosa da bochecha (seta), mas sem cicatrizes e perdas de papilas.

Figura 4. Fotomicrografia: A) Pele de um bezerro

afetado com epidermólise bolhosa juncional. A

epiderme está destacada da derme, formando uma

fissura subepidérmica, contendo hemácias e neutrófilos.

Hematoxilina e eosina (H&E). Barra = 50 µm.

Page 30: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

28

Alterações ultraestruturais e moleculares

A EB é causada por mutações nos genes que expressam as proteínas constituintes do

citoesqueleto dos queratinócitos basais e da ZMB.3,4 O citoesqueleto é formado por uma rede

citoplasmática de filamentos intermediários compostos de queratina 5 e queratina 14. Estes

filamentos estão conectados aos desmossomos e hemidesmossomos e desempenham um papel

na organização da arquitetura celular e na manutenção da integridade estrutural da epiderme.59

As células epidérmicas comunicam-se através dos desmossomos e junções intercelulares. Os

desmossomos são complexos especializados que formam as junções intercelulares entre as

células epiteliais adjacentes. As principais proteínas destas junções intercelulares são:

placoglobina, placofilina, desmoplaquina e as caderinas desmocolina e desmogleina (Figura

5).4 A ZMB está localizada na junção entre a epiderme e a derme. Sua função é manter a

adesão entre estes dois tecidos, estruturalmente diferentes, por meio de uma complexa rede de

moléculas de adesão intricadamente inter-relacionadas. A ZMB é dividida em três áreas: os

hemidesmossomos, a lâmina lúcida e a lâmina densa. Os hemidesmossomos são formados

pelas placas interna e externa. A placa interna é composta pelas proteínas hemidesmossomais

citoplasmáticas HD1/plectina e BP230. Ela está conectada aos filamentos intermediários, no

interior do citoplasma dos queratinócitos basais. A placa externa contém as proteínas integrina

α6β4 e BP180. A lâmina lúcida é formada por: membrana plasmática, placa densa sub-basal e

filamentos de ancoragem. Os filamentos de ancoragem são compostos pelas proteínas BP180

(também conhecido como colágeno XVII) e laminina 332 (antes chamada de laminina 5). A

lâmina densa é constituída principalmente pelo colágeno IV. Sob a lâmina densa estão as

fibrilas de ancoragem, elas se estendem até a papila dérmica e são compostas de colágeno VII

(Figura 5).60,61 Cada tipo de EB tem alterações ultraestruturais e moleculares específicas, que

são descritas em seguida.

Page 31: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

29

Figura 5. Representação esquemática da organização molecular do citoesqueleto dos

queratinócitos basais e da zona da membrana basal. E = epiderme; H = hemidesmossomo; LL =

lâmina lúcida; LD = lâmina densa; D = derme. Proteínas dos desmossomos e da junção

intercelular: Dp = desmoplaquina; Pg = placoglobina; Pf = placofilina; C = caderinas.

Epidermólise bolhosa simples

Em humanos24,62 e bovinos38 a EBS é geralmente causada por mutações nos genes que

codificam as queratinas 5 e 14 (genes KRT5 e KRT14) e transmitida por herança autossômica

dominante. Em bovinos a separação acima da membrana basal é formada por lise dos

queratinócitos basais e aglutinação de filamentos intermediários;38,39 essa mesma alteração foi

descrita na forma Dowling-Meara de EBS em humanos.62 Em bovinos foi identificada uma

mutação “missense” no gene KRT5, que causou a mudança no códon GAG (ácido glutâmico)

para AAG (lisina) na posição 478. Possivelmente, essa mudança de aminoácidos (ácido para

básico) alterou a formação da queratina e dos filamentos intermediários causando fragilidade

dos queratinócitos e a separação da epiderme.38 A mesma mutação foi relatada em casos de

EBS em humanos.63 Em humanos a EBS transmitida de forma recessiva é causada por

mutações nos genes PLECTIN,64,65 DESMOPLAKIN66 e PLAKOPHILIN-1.24,67 A EB em

búfalos, transmitida através de mecanismo autossômico recessivo, é caracterizada por

separação suprabasal entre o estrato basal e o estrato espinhoso, com perda da junção

desmossomal (Figura 6A).22 Estas mudanças assemelham-se a EBS com separação

Page 32: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

30

suprabasal, associada à deficiência de placofilina-1, conhecida como síndrome da fragilidade

da pele e displasia ectodérmica, observada em humanos.24,67 Estudos complementares

sugeriram que a doença em búfalos ocorreu, provavelmente, devido a defeitos na estabilidade,

estrutura ou função das caderinas desmossomais e não às alterações nas proteínas da placa

desmossomal.68

Epidermólise bolhosa juncional

Todos os subtipos de EBJ que afetam humanos2,11,24 e animais1 são transmitidos, por

genes autossômicos recessivos e são caracterizados por formação de bolhas na lâmina lúcida

(Figura 6B) e defeitos nas proteínas do complexo hemidesmossomos-filamentos de

ancoragem. Os hemidesmossomos são as principais estruturas de adesão na ZMB. As

anormalidades no complexo hemidesmossomos-filamentos de ancoragem podem causar

extrema fragilidade na junção entre epiderme e derme, de modo que os sinais clínicos são

mais severos em EBJ do que nos outros tipos de EB.24,69 Em bovinos,40 equinos,21,70 e ratos50

são observados filamentos de ancoragem reduzidos, hemidesmossomos pequenos e sem clara

demarcação (Figura 6C), e placa densa sub-basal atenuada. Em humanos a maioria das

mutações que causa EBJ, está situada em um dos três genes que codificam as cadeias α3, β3,

ou γ2 da laminina 332, respectivamente os genes LAMA3, LAMB3 e LAMC2.2 Essas

mutações causam a falta de expressão das respectivas cadeias de proteínas. A laminina 332

forma os filamentos de ancoragem que conecta a integrina α6β4 dos hemidesmossomos ao

colágeno VII das fibrilas de ancoragem.61 Uma mutação “frameshift” no gene LAMC2 gerou

um prematuro códon de parada em equinos Belgas29,31 e ovinos Black Headed Mutton,42

geneticamente similar a EBJ do tipo Herlitz, a forma mais severa observada em humanos.71,72

Em equinos da raça American Saddlebred foram identificadas mutações no gene LAMA3

devido a deleção de 6.589 pb na região incluindo os éxons 24-27. Esta mutação causou um

fenótipo semelhante ao dos equinos Belgas com EBJ.33 Em humanos com EBJ clinicamente

menos grave, conhecida como EBJ não-Herlitz, são identificadas mutações nos genes

COL17A1 (que codifica o colágeno XVII), ITGA6 e ITGB4 (que codificam a integrina

α6β4). Nesses casos, a microscopia eletrônica mostra os hemidesmossomos normais ou

pequenos e em menor número.11 Em cães25,73-77 são observados achados clínicos e

ultraestruturais semelhantes a EBJ não-Herlitz de humanos. Usando um anticorpo específico

para o colágeno XVII, em todos os fragmentos de pele (lesionada e não lesionada) de cães

Page 33: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

31

com EBJ, a reação imunoistoquímica foi negativa, sugerindo uma falha na expressão do gene

COL17A1.74

Epidermólise bolhosa distrófica

A EBD é transmitida por mecanismo autossômico dominante ou recessivo, causada

por mutações no gene COL7A1 que codifica o colágeno VII, o principal componente das

fibrilas de ancoragem da junção entre epiderme e derme.52,78,79 Ultraestruturalmente, o local

da separação é abaixo da lâmina densa (Figura 6D). Em humanos,9,52,78 gatos,49 cães,45

ovinos41 e caprinos45 com EBD recessiva são observadas fibrilas de ancoragem escassas e

rudimentares. Tais alterações diminuem a adesão das fibrilas de ancoragem com as fibras de

colágeno da derme, deixando a junção entre epiderme e derme susceptível a separação.80 Na

forma dominante, relatada em humanos, mas não em animais, as fibrilas de ancoragem têm a

forma normal, mas são reduzidas em número.81 Outras estruturas da ZMB (queratinócitos

basais, lâmina lúcida, lâmina densa e hemidesmossomos) são normais. Mais de 300 mutações

são relatadas em humanos e a maioria está associada a substituições de glicinas por diferentes

aminoácidos. Estas mutações são causadas por alteração em um alelo do gene que expressa o

colágeno VII. As substituições de glicinas provavelmente têm um efeito dominante negativo

na formação do colágeno VII.81-83 Uma mutação “missense” no gene COL7A1 com

substituição de glicina por uma serina foi também observada em cães com EBD recessiva.84,85

Page 34: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

32

Figura 6. Fotomicrografia eletrônica de transmissão: A) Pele de um búfalo afetado com

epidermólise bolhosa simples. O assoalho da bolha suprabasilar (estrela) é formado por

células basais unidas a derme (D). Observe as células acantolíticas (setas) dentro da bolha.

Barra = 2 µm. B) Pele de um bezerro afetado com epidermólise bolhosa juncional. As

células basais estão formando o teto da bolha (estrela), após a separação da derme ao nível

da lâmina lúcida. Observe os pequenos hemidesmossomos (quadrado). Barra = 1µm. C)

Ampliação do quadrado da Figura B. Observe a membrana plasmática (seta) e os

hemidesmossomos pequenos e mal definidos dentro dos quadrados. Barra = 200 nm. D)

Pele de um caprino afetado com epidermólise bolhosa distrófica. A lâmina densa (setas)

forma o teto da bolha (estrela). A lâmina basal, os hemidesmossomos e os filamentos de

ancoragem estão bem preservados. Barra = 500 nm. (Figura 6A é uma cortesia do Dr.

Severo S. Barros da Universidade Federal de Pelotas-RS).

Page 35: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

33

Referências

1. Bruckner-Tuderman L, McGrath JA, Robinson EC et al. Animal models of

epidermolysis bullosa: update 2010. Journal of Investigative Dermatology 2010; 130:

1485-1488.

2. Sawamura D, Nakano H, Matsuzaki Y. Overview of epidermolysis bullosa. Journal of

Dermatology 2010; 37: 214-219.

3. Solovan C, Ciolan M, Olariu L. The biomolecular and ultrastructural basis of

epidemolysis bullosa. Acta Dermatoven APA 2005; 14: 127-135.

4. Masunaga T. Epidermal basement membrane: its molecular organization and blistering

disorders. Connective Tissue Research 2006; 47:55-66.

5. Castiglia D, Zambruno G. Molecular testing in epidermolysis bullosa. Dermatologic

Clinics 2010; 28: 223-229.

6. Polifka M, Krusinski PA. The Nikolsky sign. Cutis 1980; 26: 521-526.

7. Cerquetella M, Spaterna A, Beribè F et al. Epidermolysis bullosa in the dog: four

cases. Veterinary Research Communications 2005; 29: 289-291.

8. Yiasemides E, Walton J, Marr P et al. A comparative study between transmission

electron microscopy and immunofluorescence mapping in the diagnosis of

epidermolysis bullosa. American Journal Dermatopathology 2006; 28: 387-394.

9. Eady RAJ, Dopping-Hepenstal PJC. Transmission electron microscopy for the

diagnosis of epidermolysis bullosa. Dermatologic Clinics 2010; 28: 211-222.

10. Pohla-Gubo G, Cepeda-Valdes R, Hintner H. Immunofluorescence mapping for the

diagnosis of epidermolysis bullosa. Dermatologic Clinics 2010; 28: 201-210.

11. Fine JD, Eady RAJ, Bauer EA et al. The classification of inherited epidermolysis

bullosa (EB): report of the Third International Consensus Meeting on Diagnosis and

Classification of EB. Journal of the American Academy of Dermatology 2008; 58:

931-950.

12. Hallel-Halevy D, Nadelman C, Chen M et al. Epidermolysis bullosa acquisita: update

and review. Clinics in Dermatology 2001; 19: 712-718.

13. Woodley DT, Chang C, Saadat P et al. Evidence that anti-type VII collagen antibodies

are pathogenic and responsible for the clinical, histological, and immunological

features of epidermolysis bullosa acquisita. Journal of Investigative Dermatology

2005; 124: 958-964.

Page 36: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

34

14. Olivry T, Fine JD, Dunston SM et al. Canine epidermolysis bullosa acquisita:

circulating autoantibodies target the aminoterminal non-collagenous (NC1) domain of

collagen VII in anchoring fibrils. Veterinary Dermatology 1998; 9: 19-31.

15. Hill PB, Boyer P, Lau P et al. Epidermolysis bullosa acquisita in a great Dane. Journal

of Small Animal Practice 2008; 49: 89-94.

16. Alley MR, O'Hara PJ, Middelberg A. An epidermolysis bullosa of sheep. New

Zealand Veterinary Journal 1974; 22: 55-59.

17. McTaggart HS, Ritchie JS, Copland AN. Red foot disease of lambs. Veterinary

Record 1974; 94: 153-159.

18. Frame SR, Harrington DD, Fessler J et al. Hereditary junctional mechanobullous

disease in a foal. Journal of the American Veterinary Medical Association 1988; 193:

1420-1424.

19. Kohn CW, Johnson GC, Garry F et al. Mechanobullos disease in two Belgians foals.

Equine Veterinary Journal 1989; 21: 297-301.

20. Thompson KG, Crandell RA, Rugeley WW et al. A Mechanobullous disease with sub-

basilar separation in Brangus calves. Veterinary Pathology 1985; 22: 283-285.

21. Lieto LD, Swerczek TW, Cothran EG. Equine epitheliogenesis imperfecta in two

American Saddlebred foals is a lamina lucida defect. Veterinary Pathology 2002; 39:

576-580.

22. Riet-Correa F, Barros SS, Damé MC et al. Hereditary suprabasilar acantholytic

mechanobullous dermatosis in buffaloes (Bubalus bubalis). Veterinary Pathology

1994; 31: 450-454.

23. Jolly RD, Alley MR, O’Hara PJ et al. Familial acantholysis of Angus calves.

Veterinary Pathology 1973; 10: 473-483.

24. Siañez-Gonzáles C, Pezoa-Jares R, Salas-Alanis JC. Congenital epidermolysis bullosa:

a review. Acta Dermosifiliogr 2009; 100: 842-856.

25. Nagata M, Iwasaki T, Masuda H et al. Non-lethal junctional epidermolysis bullosa in a

dog. British Journal of Dermatology 1997; 137: 445-449.

26. Featherson C. Epidermolysis bullosa: from fundamental molecular biology to clinical

therapies. Journal of Investigative Dermatology 2007; 127: 256-259.

27. Alhaidari Z, Olivry T, Spadafora A et al. Junctional epidermolysis bullosa in two

domestic shorthair kittens. Veterinary Dermatology 2006; 16: 69-73.

28. Tosti A, Farias DC, Murrell DF et al. Nail involvement in epidermolysis bullosa.

Dermatologic Clinics 2010; 28: 153-157.

Page 37: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

35

29. Spirito F, Charlesworth A, Linder K et al. Animal models for skin blistering

conditions: absence of laminin 5 causes hereditary junctional mechanobullous disease

in the Belgian Horse. Journal of Investigative Dermatology 2002; 119: 684-691.

30. Baird JD, Millon LV, Dileanis S et al. Junctional epidermolysis bullosa in Belgian

draft horses. In: Proceedings of the 49th Annual Convention of the American

Association of Equine Practitioners. New Orleans, LA: 2003; p.122-126.

31. Milenkovic D, Chaffaux S, Taourit S et al. A mutation in the LAMC2 gene causes the

Herlitz junctional epidermolysis bullosa (H-JEB) in two French draft horse breeds.

Genetics Selection Evolution 2003; 35: 249-256.

32. Georgescu S, Manea M, Dinischiotu A et al. A method for junctional epidermolysis

bullosa diagnostication in draft horses. Biotechnology in Animal Husbandry 2008; 24:

127-132.

33. Graves KT, Henney PJ, Ennis RB. Partial deletion of the LAMA3 gene is responsible

for hereditary junctional epidermolysis bullosa in the American Saddlebred horse.

Animal Genetics 2009; 40: 35-41.

34. Bassett H. A congenital bovine epidermolysis resembling epidermolysis bullosa

simplex of man. Veterinary Record 1987; 121: 8-11.

35. Deprez P, Maenhout T, Decock H et al. Epidermolysis-bullosa in a calf – a case-

report. Vlaams Diergeneeskundig Tijdschrift 1993; 62: 155-159.

36. Agerholm JS. Congenital generalized epidermolysis bullosa in a calf. Zentralbl

Veterinarmed A 1994; 41: 139-142.

37. Stocker H, Lott G, Straumann U et al. Epidermolysis bullosa bei einem kalb.

Tierärztliche Praxis 1995; 23: 123-126.

38. Ford CA, Stanfield AM, Spelman RJ et al. A mutation in bovine keratin 5 causing

epidermolysis bullosa simplex, transmitted by a mosaic sire. Journal of Investigative

Dermatology 2005; 124:1170-1176.

39. Foster AP, Skuse AM, Higgins RJ et al. Epidermolysis bullosa in calves in the United

Kingdom. Journal of Comparative Pathology 2010; 142: 336-340.

40. Medeiros GX, Riet-Correa F, Armién AG et al. Junctional epidermolysis bullosa in a

calf. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation 2012; 24: 231-234.

41. Bruckner-Tuderman L, Guscetti F, Ehrensperger F. Animal model for dermolytic

mechanobullous disease: sheep with recessive dystrophic epidermolysis bullosa lack

collagen VII. Journal of Investigative Dermatology 1991; 96: 452-458.

Page 38: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

36

42. Mömke S, Kerkmann A, Wöhlke A et al. A frameshift mutation within LAMC2 is

responsible for Herlitz type junctional epidermolysis bullosa (HJEB) in black headed

Mutton sheep. Plosone: 2011; 6: 1-6.

43. Pérez V, Benavides J, Delgado L et al. Dystrophic epidermolysis bullosa in Assaf

lambs. Journal of Comparative Pathology 2011; 145: 226-230.

44. Ostmeier M, Kerkmann A, Frase R et al. Inherited junctional epidermolysis bullosa

(Herlitz type) in German black-headed Mutton sheep. Journal of Comparative

Pathology 2012; 146: 338-347.

45. Medeiros GX, Riet-Correa F, Barros SS et al. Dystrophic epidermolysis bullosa in

goats. Submitted for publication in Journal of Comparative Pathology 2012.

46. Dunstan RW, Sills RC, Wilkinson JE et al. A disease resembling junctional

epidermolysis bullosa in a toy poodle. American Journal of Dermatopathology 1988;

10: 442-447.

47. Nagata M, Shimizu H, Masunaga T et al. Dystrophic form of inherited epidermolysis

bullosa in a dog (Akita Inu). British Journal of Dermatology 1995; 133: 1000-1003.

48. White SD, Dunstan RW, Olivry T et al. Dystrophic (dermolytic) epidermolysis bullosa

in a cat. Veterinary Dermatology 1993; 4: 91-95.

49. Olivry T, Dunston SM, Marinkovich MP. Reduced anchoring fibril formation and

collagen VII immunoreactivity in feline dystrophic epidermolysis bullosa. Veterinary

Pathology 1999; 36: 616-618.

50. Brenneman KA, Olivry T, Dorman DC. Rudimentary hemidesmosome formation in

congenital generalized junctional epidermolysis bullosa in the Sprague-Dawley rat.

Veterinary Pathology 2000; 37: 336-339.

51. Kuster JE, Guarnieri MH, Ault JG et al. IAP insertion in the murine LamB3 gene

results in junctional epidermolysis bullosa. Mammalian Genome 1997; 8: 673-681.

52. Bruckner-Tuderman L. Hereditary skin diseases of anchoring fibrils. Journal of

Dermatological Science 1999; 20: 122-133.

53. Varki R, Sadowski S, Uitto J et al. Epidermolysis bullosa. II. Type VII collagen

mutations and phenotype-genotype correlations in the dystrophic subtypes. Journal of

Medical Genetics 2007; 44: 181-192.

54. Scott DW, Schultz RD. Epidermolysis bullosa simplex in the Collie dog. Journal of

the American Veterinary Medical Association 1977; 171: 721-727.

Page 39: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

37

55. Palazzi X, Marchal T, Chabanne L et al. Inherited dystrophic epidermolysis bullosa in

inbred dogs: a spontaneous animal model for somatic gene therapy. Journal of

Investigative Dermatology 2000; 115: 135-137.

56. Azrak B, Kaevel K, Hofmann L et al. Dystrophic epidermolysis bullosa: Oral findings

and problems. Special Care in Dentistry 2006; 26: 111-115.

57. Wright JT. Oral manifestations in the epidermolysis bullosa spectrum. Dermatologic

Clinics 2010; 28: 159-164.

58. Capt A, Spirito F, Guaguere E et al. Inherited junctional epidermolysis bullosa in the

German pointer: establishment of a large animal model. Journal of Investigative

Dermatology 2005; 124: 530-535.

59. Jerábková B, Marek J, Bucková H et al. Keratin mutations in patients with

epidermolysis bullosa simplex: correlations between phenotype severity and

disturbance of intermediate filament molecular structure. British Journal of

Dermatology 2010; 162: 1004-1013.

60. Christiano AM, Uitto J. Molecular complexity of the cutaneous basement membrane

zone. Revelations from the paradigms of epidermolysis bullosa. Experimental

Dermatology 1996; 5: 1-11.

61. McMillan JR, Akiyama M, Shimizu H. Epidermal basement membrane zone

components: ultrastructural distribution and molecular interactions. Journal of

Dermatological Science 2003; 31: 169-177.

62. Sprecher E. Epidermolysis bullosa simplex. Dermatologic Clinics 2010; 28: 23–32.

63. Stephens K, Ehrlich P, Weaver M et al. Primers for exon-specific amplification of the

KRT5 gene: identification of novel and recurrent mutations in epidermolysis bullosa

simplex patients. Journal of Investigative Dermatology 1997; 108: 349-353.

64. Koss-Harnes D, Hoyheim B, Anton-Lamprecht I et al. A site-specific plectin mutation

causes dominant epidermolysis bullosa simplex Ogna: two identical de novo

mutations. Journal of Investigative Dermatology 2002; 118: 87-93.

65. Natsuga K, Nishie W, Akiyama M et al. Plectin expression patterns determine two

distinct subtypes of epidermolysis bullosa simplex. Human Mutation 2010; 31: 308-

316.

66. Jonkman MF, Pasmooij AMG, Pasmans SGMA et al. Loss of desmoplakin tail causes

lethal acantholytic epidermolysis bullosa. American Journal of Human Genetics 2005;

77: 653-660.

Page 40: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

38

67. Sprecher E, Molho-Pessach V, Ingber A et al. Homozygous splice site mutations in

PKP1 result in loss of epidermal plakophilin 1 expression and underlie ectodermal

dysplasia/skin fragility syndrome in two consanguineous families. Journal of

Investigative Dermatology 2004; 122: 647-651.

68. Fernandes CG. Contribuição ao estudo da patogenia de uma genodermatose em

búfalos Murrah. Thesis. Faculty of Medicine, São Paulo State University, Botucatu,

São Paulo, Brazil. 2001, 215pp.

69. Jonkman MF. Hereditary skin diseases of hemidesmosomes. Journal of

Dermatological Science 1999; 20: 103-121.

70. Johnson GC, Kohn CW, Johnson CW et al. Ultrastructure of junctional epidermolysis

bullosa in Belgian foals. Journal of Comparative Pathology 1988; 99: 329-336.

71. Aberdam D, Galliano MF, Vailly J et al. Herlitz's junctional epidermolysis bullosa is

linked to mutations in the gene (LAMC2) for the γ2 subunit of nicein/kalinin

(LAMININ 5). Nature Genetics 1994; 6: 299-304.

72. Hauschild R, Wollina U, Bruckner-Tuderman L. Junctional epidermolysis bullosa

gravis (Herlitz): diagnostic and genetic aspects. Journal of the European Academy of

Dermatology and Venereology 2001; 15: 73-76.

73. Guaguere E, Olivry T, Poujade-Delverdier A et al. Junctional epidermolysis bullosa

associated with absent expression of collagen XVII (BPAG2, BP180) in German

shorthaired pointers: a report of 2 cases. Pratique Médicale & Chirurgicale de

l’Animal de Campagnie 1997; 32: 471-480.

74. Olivry T, Poujade-Delverdier AS, Dunston SM et al. Absent expression of collagen

XVII (BPAG2, BP180) in canine familial localized junctional epidermolysis bullosa.

Veterinary Dermatology 1997; 8: 203-212.

75. Guaguere E, Capt A, Spirito F et al. L’épidermolyse bulleuse jonctionelle du Braque

Allemand: un modèle canin spontané de l’épidermolyse bulleuse jonctionelle de

l’homme. Bulletin de l'Academie Veterinaire de France 2003; 157: 47-52.

76. Sakurai K, Sekiguchi M, Momoi Y et al. Nonlethal junctional epidermolysis bullosa in

a dog. Veterinary Dermatology 2004; 15 (Suppl 1): 41-69.

77. Spirito F, Capt A, Del Rio M et al. Sustained phenotypic reversion of junctional

epidermolysis bullosa dog keratinocytes: establishment of an immunocompetent

animal model for cutaneous gene therapy. Biochemical and Biophysical Research

Communications 2006; 339: 769-778.

Page 41: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

39

78. Dunnill MG, Richards AJ, Milana G et al. Genetic linkage to the type VII collagen

gene (COL7A1) in 26 families with generalised recessive dystrophic epidermolysis

bullosa and anchoring fibril abnormalities. Journal of Medical Genetics 1994; 31: 745-

748.

79. Järvikallio A, Pulkkinen L, Uitto J. Molecular basis of dystrophic epidermolysis

bullosa: mutations in the type VII collagen gene (COL7A1). Human Mutation 1997;

10: 338-347.

80. Bruckner-Tuderman L. Dystrophic epidermolysis bullosa: pathogenesis and clinical

features. Dermatologic Clinics 2010; 28: 107-114.

81. Jonkman MF, Moreno G, Rouan F et al. Dominant dystrophic epidermolysis bullosa

(Pasini) caused by a novel glycine substitution mutation in the type VII collagen gene

(COL7A1). Journal of Investigative Dermatology 1999; 112: 815-817.

82. Mallipeddi R, Bleck O, Mellerio JE et al. Dilemmas in distinguishing between

dominant and recessive forms of dystrophic epidermolysis bullosa. British Journal of

Dermatology 2003; 149: 810-818.

83. Dang N, Murrel DF. Mutation analysis and characterization of COL7A1 mutations in

dystrophic epidermolysis bullosa. Experimental Dermatology 2008; 17: 553-568.

84. Baldeschi C, Gache Y, Rattenholl A et al. Genetic correction of canine dystrophic

epidermolysis bullosa mediated by retroviral vectors. Human Molecular Genetics

2003; 12: 1897-1905.

85. Gache Y, Pin D, Gagnoux-Palacios L et al. Correction of dog dystrophic

epidermolysis bullosa by transplantation of genetically modified epidermal autografts.

Journal of Investigative Dermatology 2011; 131: 2069-2078.

Page 42: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

40

CAPÍTULO II

Epidermólise Bolhosa Distrófica em Caprinos

O presente trabalho foi formatado segundo as normas da revista Journal of Comparative

Pathology (anexo 4). O artigo foi aceito para publicação (anexo 5).

Page 43: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

41

Epidermólise Bolhosa Distrófica em Caprinos

G. X. Medeiros*, F. Riet-Correa*, S. S. Barros †, M. P. Soares†, A. F. M. Dantas*,

G. J. N. Galiza*, S.V.D. Simões* and A. S. Borges ‡

*Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina

Grande, Patos, Paraíba, Brasil, CEP 58708-110, †Laboratório Regional de Diagnóstico,

Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul,

Brasil, CEP 96010-900, Departamento de Clínica Veterinária, Escola de Medicina

Veterinária e Ciência Animal, Universidade do Estado de São Paulo, UNESP, FMVD,

Botucatu, SP, 18618-000, Brasil.

Summary

Clinical, histopathological, and ultrastructural findings of dystrophic epidermolysis bullosa

(DEB) in goats transmitted by an autosomal recessive gene are reported. The goats presented

with exungulation, erosions, crusts and scars on the skin and ulcers in the oral cavity.

Histologically, the skin showed subepidermal separation, with clefts filled occasionally with

clear eosinophilic fluid, cellular debris or neutrophils. Ultrastructurally, the site of blister

formation was the sub-lamina densa in the epidermal basement membrane zone. In skin with

blister formation and in clinically uninvolved skin, the basal lamina was preserved, but the

anchoring fibrils were scarce and rudimentary. A twin brother of an affected kid was mated

over five years with his mother; three out of the ten kids born presented epidermolysis

bullosa, indicating that the disease is transmitted by a recessive autosomal gene. It is

suggested that the disease is similar to human severe generalized recessive DEB.

Keywords: anchoring fibrils; basal membrane; epidermolysis bullosa; Anglonubian goats;

skin diseases

Autor para correspondência: Franklin Riet-Correa (e-mail: [email protected]).

Enviado para publicação em 20.04.2012.

Recomendado pelos revisores para publicação e reenviado com as devidas correções em 01.05.2012.

Page 44: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

42

Resumo

Foram descritos em caprinos os achados clínicos, histopatológicos e ultraestruturais da

epidermólise bolhosa distrófica transmitida por um gene autossômico recessivo. Os caprinos

apresentaram exungulação, erosões, crostas e cicatrizes na pele e úlceras na cavidade oral.

Histologicamente, a pele apresentava separação subepidermal, com fissuras ocasionalmente

preenchidas com fluido eosinofílico claro, restos celulares ou neutrófilos.

Ultraestruturalmente, o local de separação foi abaixo da lâmina densa na zona da membrana

basal. Na pele com formação de bolhas e na pele não envolvida clinicamente, a lâmina basal

foi preservada, mas as fibrilas de ancoragem eram escassas e rudimentares. Um irmão gêmeo

do cabrito afetado foi usado para acasalamento com sua mãe, por cinco anos; desse

cruzamento, nasceram dez cabritos, três apresentaram epidermólise bolhosa, indicando que a

doença é transmitida por um gene autossômico recessivo. Sugere-se que a doença é similar a

epidermólise bolhosa distrófica recessiva generalizada e severa observada em humanos.

Palavras-chave: fibrilas de ancoragem; membrana basal; epidermólise bolhosa; caprinos da

raça Anglonubiana; doenças de pele

Introdução

A epidermólise bolhosa (EB) compreende um grupo de doenças hereditárias da pele e

membranas mucosas observada em humanos (Siãnez-Gonzáles et al., 2009; Sawamura et al.,

2010) e em diferentes espécies animais, incluindo ovinos (Bruckner-Tuderman et al., 1991;

Pérez et al., 2011), bovinos (Ford et al., 2005; Foster et al., 2010; Medeiros et al., 2012),

equinos (Spirito et al., 2002; Milenkovic et al., 2003; Georgescu et al., 2008; Graves et al.,

2009), cães (Nagata et al., 1995; Nagata et al., 1997; Palazzi et al., 2000; Baldeschi et al.,

2003; Cerquetella et al., 2005; Gache et al., 2011), gatos (White et al.,1993; Olivry et al.,

1999; Alhaidari et al., 2006), ratos (Brenneman et al., 2000) e camundongos (Kuster et al.,

1997). A principal característica da EB, tanto em humanos quanto em animais, é a formação

de bolhas e erosões em resposta a um mínimo trauma mecânico, especialmente em áreas

sujeitas a atrito e pressão, como os membros e a cavidade oral. A fragilidade da pele resulta

da pobre adesão da epiderme a derme devido aos defeitos na zona da membrana basal

(Christiano and Uitto, 1996; Bruckner- Tuderman, 1999). Baseado no nível ultraestrutural de

separação do tecido, a EB pode ser dividida em três categorias: epidermólise bolhosa simples

Page 45: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

43

(EBS), caracterizada pela citólise dos queratinócitos, produzindo fissuras intraepidermais;

epidermólise bolhosa juncional (EBJ), na qual a separação ocorre na lâmina lúcida; e

epidermólise bolhosa distrófica (EBD), com separação dentro ou sob a lâmina densa

(Yiasemides et al., 2006; Fine et al., 2008). A EBD é herdada através de mecanismo

autossômico dominante ou recessivo, com expressividade variável. Fine et al. (2008)

dividiram a EBD em cinco subtipos: EBD dominante generalizada, EBD dominante-

dermólise bolhosa do recém-nascido, EBD recessiva generalizada, EBD recessiva

generalizada e severa, e EBD recessiva-dermólise bolhosa do recém-nascido.

Casos de EBD na medicina veterinária foram registrados em cães (Nagata et al.,

1995; Palazzi et al., 2000; Baldeschi et al., 2003; Gache et al., 2011), gatos (White et al.,

1993; Olivry et al., 1999) e ovinos (Bruckner-Tuderman et al., 1991; Pérez et al., 2011).

Ultraestruturalmente, a EBD é caracterizada por formação de bolhas, as quais se formam

devido às alterações morfológicas ou quantitativas das fibrilas de ancoragem, que são

compostas de colágeno VII (Bruckner-Tuderman, 2010). As análises mutacionais em

humanos (Järvikallio et al., 1997; Dang and Murrel, 2008) e cães (Baldeschi et al., 2003;

Gache et al., 2011) mostraram que todas as formas de EBD resultaram de mutações no gene

do colágeno VII (COL7A1).

Neste trabalho, descrevemos os aspectos clínicos, histopatológicos e ultraestruturais e

o modo de herança da EBD em caprinos.

Material e Métodos

O primeiro animal afetado (I-1; Fig. 1) pertencia a um rebanho de 110 caprinos

oriundos de uma fazenda do Estado da Paraíba, Nordeste do Brasil. O caprino era macho,

tinha um mês de idade e era descendente de um bode da raça Anglonubiana e uma cabra cruza

de Anglonubiana, ambos nascidos na própria fazenda. O proprietário relatou que, antes desse

animal afetado, outros quatro nasceram com sinais clínicos semelhantes. Devido a esse

histórico, o bode reprodutor foi castrado. A cabra genitora e um irmão gêmeo (I-2; Fig. 1) do

cabrito afetado foram transferidos para o Hospital Veterinário da Universidade Federal de

Campina Grande, Patos, Paraíba, Brasil. A partir dos seis meses de idade, o bode

assintomático (I-2; Fig. 1) acasalou com sua mãe, por cinco anos consecutivos.

O modo de herança da doença foi estudado por análise da frequência de cabritos com

EB nascidos do cruzamento do bode I-2 com sua mãe (Fig. 1). As frequências de caprinos

afetados e normais foram analisadas, através do teste binomial (Zar, 1999), com um nível de

Page 46: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

44

significância de 5%, para testar a hipótese de que a doença foi transmitida por um gene

autossômico recessivo. A análise foi realizada pelo programa SPSS 20.0 para Windows. Os

caprinos afetados foram submetidos a um detalhado exame clínico.

Um completo exame pós-morte foi feito em todos os cabritos afetados (I-1, II-7, II-8 e

II-9; Fig. 1). Foram coletadas amostras de tecidos dos seguintes órgãos: pele, músculo

esquelético, tireóide, olhos, mucosa oral, língua, esôfago, encéfalo, medula espinhal e todos

os órgãos da cavidade torácica e da cavidade abdominal. Todas as amostras foram fixadas em

formol tamponado a 10%. Posteriormente, as amostras foram embebidas em parafina e

coradas com hematoxilina e eosina (H.E). Alguns fragmentos da pele e da mucosa oral foram

submetidos ao tratamento histoquímico do ácido periódico-reativo de Schiff (PAS), com

contra coloração nuclear pela hematoxilina de Harris.

Para microscopia eletrônica, biópsias de pele com e sem lesões, foram fixadas em

glutaraldeído a 2,5% (tampão cacodilato de sódio-0.1 M/pH 7.4). Os blocos foram pós-

fixados em solução de tetróxido de ósmio a 1% (tampão cacodilato de sódio-0.15 M/pH 7.4) e

embebidos em Epon 812. Cortes ultrafinos foram contrastados com citrato de chumbo e

acetato de uranila e examinados com um microscópio eletrônico Zeiss EM 109 de 80

kilovolts.

Resultados

O pedigree dos caprinos com EBD está apresentado na Fig. 1. Do cruzamento do bode

I-2 com sua mãe nasceram sete cabritos normais e três afetados. A frequência de caprinos

com EBD descendentes do bode I-2 (30%) foi estatisticamente (P = 0.474) igual à freqüência

esperada para uma doença de herança autossômica recessiva (Schild 2007).

Os quatro cabritos afetados nasceram aparentemente normais, mas a epiderme soltava-

se facilmente quando uma pequena pressão era exercida na pele intacta [sinal positivo de

Nikolsky (Polifka and Krusinski, 1980)]. Lesões espontâneas apareceram nas primeiras

semanas de vida, exceto no cabrito II-8, que apresentou lesões no mesmo dia em que nasceu.

Foram observadas alopecia, erosões e crostas na superfície externa da orelha (Fig. 2A), na

região ventral do tórax e do abdome, na face dorsal do carpo e na face dorsal do tarso. Um

extenso desprendimento da epiderme foi observado no cabrito II-8 após aplicação do teste de

Nikolsky (Fig. 2B) e os cascos soltavam-se facilmente em resposta ao atrito mínimo. Na

maioria dos casos, as lesões da pele curavam espontaneamente com cicatrizes distróficas. O

epitélio da gengiva e lábios estava ulcerado (Fig. 2C). Foram observadas eritemas e

Page 47: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

45

hemorragias na banda coronária de todos os cascos, que evoluíam para desprendimento e

deformação de alguns cascos (Fig. 2D). Foram observados também desnutrição e retardo do

crescimento. No cabrito II-9 foi observada perda da epiderme da vulva e opacidade de córnea.

Devido à gravidade das lesões e ao prognóstico desfavorável, os cabritos I-1 e II-7 foram

eutanasiados. O cabrito II-8 morreu poucas horas após o parto. O cabrito II-9 foi encontrado

morto aos três meses de idade, provavelmente em consequência da desnutrição devido às

lesões na mucosa oral.

No exame pós-morte foram observadas extensas úlceras multifocais na mucosa do

palato, gengiva, lábios, bochecha e dorso da língua (Figs. 3A e B). As estruturas anatômicas,

tais como rugas palatinas, papilas da língua, papilas dos lábios e papilas das bochechas

estavam parcialmente destruídas (Figs. 3A e B). Existia um exudato mucopurulento nas

úlceras orais mais avançadas (Fig. 3A). Foi observado no cabrito II-9 um desprendimento da

mucosa do esôfago. Não havia nenhuma lesão significante nos outros órgãos.

Fig 1. Pedigree dos caprinos com epidermólise bolhosa distrófica. Os quadrados

representam os machos e os círculos as fêmeas. Os quadrados e círculos pretos são os

caprinos afetados. As linhas diagonais são os animais que morreram.

Page 48: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

46

Fig. 2 Fig. 3

Fig 2. Caprinos com epidermólise bolhosa distrófica. (A) Caprino I-1. Vista lateral direita da cabeça

mostrando alopecia e desprendimento da epiderme na face externa da orelha e na pálpebra superior.

(B) Caprino II-8. Face interna da orelha mostrando o desprendimento da epiderme após o teste de

Nikolsky. (C) Caprino II-9. Gengiva e lábios com desprendimento do epitélio da mucosa. (D)

Caprino I-1. Desprendimento e deformação dos cascos.

Fig. 3. Caprino II-9. (A) A cavidade oral mostrando úlceras e cicatrizes no palato duro e na mucosa

da bochecha, com perda das papilas bucais (setas). Note o exudato mucopurulento. (B) A língua

com extensa ulceração e cicatrizes no dorso, com perda de papilas linguais (setas). Algumas papilas

da bochecha e da língua permanecem normais (*).

Os cabritos II-1 a II-6 e o II-10 não eram clinicamente afetados e não apresentavam

sinal de Nikolsky. Os cabritos II-2 a II-5 foram descartados ou morreram de outras causas em

diferentes idades (todos acima de um ano de idade).

As alterações histológicas na pele e na mucosa oral foram similares em todos os

caprinos afetados, com variações na gravidade dependendo dos estágios das lesões. A lesão

inicial foi separação subepidermal (Fig. 4A). Algumas bolhas eram preenchidas com fluído

eosinofílico claro e ocasionalmente com restos celulares ou neutrófilos. A separação entre

epiderme e derme ocorreu sem citólise das células epiteliais situadas no teto da bolha. Foram

observados diferentes graus de desprendimento dos folículos pilosos. Nas mucosas da boca e

da língua existiam separações subepiteliais semelhantes às observadas na pele. Foi observada

também a perda do epitélio oral e lingual, associada à necrose, extensa ulceração, infiltração

Page 49: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

47

por neutrófilos e hemorragia. No cabrito II-9 havia perda do epitélio do esôfago e da córnea

com inflamação mínima. Nenhuma lesão significativa foi observada nos outros tecidos

examinados.

Por meio da microscopia eletrônica a separação entre epiderme e derme foi

identificada abaixo da lâmina densa, com a lâmina basal formando o teto da bolha (Fig. 4B).

A lâmina lúcida foi atravessada por filamentos de ancoragem normais e os hemidesmossomos

tinham uma clara placa densa sub-basal. Não foram observadas fibrilas de ancoragem no teto

da bolha. Os queratinócitos basais, a lâmina basal, os hemidesmossomos e os filamentos de

ancoragem estavam bem preservados (Fig. 4C). Na pele sem bolhas foram observadas fibrilas

de ancoragem, mas eram escassas e rudimentares (Fig. 4D).

Fig 4. Pele. Caprino. (A) A epiderme está destacada da derme, formando uma fissura

subepidérmica (*). HE. Barra, 25 µm. (B) Micrografia eletrônica de transmissão. A

lâmina basal e os queratinócitos normais formam o teto da bolha (*), e a derme está no

assoalho. As fibrilas de ancoragem não são observadas. Barra, 2.5 µm. (C) Micrografia

eletrônica de transmissão mostrando a lâmina densa (setas) formando o teto da bolha

(*). A lamina basal, os hemidesmossomos e os filamentos de ancoragem estão bem

preservados. Barra, 1 µm. (D) Micrografia eletrônica de transmissão. Pele sem lesões. A

lâmina basal está preservada, mas as fibrilas de ancoragem são escassas e rudimentares

(setas). Barra, 0.5 µm.

Page 50: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

48

Discussão

Os achados clínicos, patológicos e ultraestruturais nos caprinos deste estudo são

característicos de EBD em animais e humanos. Nenhum tipo de EB foi previamente descrita

em caprinos. Em humanos, EBD pode ser transmitida por herança autossômica dominante ou

recessiva (Mallipeddi et al., 2003; Fine et al., 2008; Sawamura et al., 2010), mas em animais

domésticos, apenas formas recessivas foram descritas (Bruckner-Tuderman et al., 1991;

Olivry et al., 1999; Baldeschi et al., 2003; Gache et al., 2011; Pérez et al., 2011). O pedigree

do rebanho experimental (Fig. 1) demonstra que a doença em caprinos é transmitida por um

gene autossômico recessivo. Apesar de a doença não ter sido observada em outros rebanhos

de caprinos da raça Anglonubiana no Brasil, é provável que este gene esteja presente em

outras fazendas. Outra possibilidade é que a doença ocorreu apenas no rebanho estudado

devido a uma mutação em um caprino, seguida da disseminação do gene por consaguinidade.

Nos quatro casos de EBD descritos neste trabalho, a manifestação clínica variou de um

dia a três meses, mas todos os animais morreram ou foram eutanasiados devido às lesões na

cavidade oral e nos cascos. Geralmente, as lesões da mucosa oral e da pele, e o

desprendimento dos cascos são menos agressivos em EBD (Bruckner-Tuderman et al., 1991;

Pérez et al., 2011) e EBS (Ford et al., 2005; Foster et al., 2010) do que em EBJ. Em bovinos

(Medeiros et al., 2012) e equinos (Spirito et al., 2002) afetados por EBJ, as lesões de pele são

mais severas, todos os cascos são afetados ao mesmo tempo, e os animais morrem num curto

período, após o nascimento. Além disso, em EBD, existe uma tendência a cura das lesões com

cicatrizes distróficas (Bruckner-Tuderman, 1999), que raramente é observada em outros tipos

de EB (Foster et al., 2010; Sawamura et al., 2010; Medeiros et al., 2012). A formação de

cicatrizes ocorre porque as bolhas em EBD formam-se abaixo da lâmina densa da zona da

membrana basal, conduzindo a uma cicatrização mesenquimal na derme (Bruckner-

Tuderman, 1999; Varki et al., 2007). Igual aos humanos (Azrak et al., 2006; Wright, 2010),

nos caprinos deste estudo, a cura com formação de cicatrizes também foi responsável pela

destruição de algumas estruturas anatômicas da mucosa oral, incluindo as rugas palatinas e as

papilas linguais, que desaparecem após a cicatrização, deixando a superfície plana. O

desprendimento da mucosa esofágica, observada no cabrito II-9, também registrada em ovinos

(Bruckner-Tuderman et al., 1991; Pérez et al., 2011), é um achado comum em humanos,

especialmente na EBD recessiva generalizada e severa (Azrak et al., 2006; Wright, 2010). A

lesão de córnea, observada no cabrito II-9, foi descrita também em ovinos (Bruckner-

Tuderman et al., 1991) e humanos (Figueira et al., 2010), com EBD recessiva.

Page 51: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

49

A morfologia ultraestrutural das áreas afetadas mostra que a formação da bolha é

claramente abaixo da lâmina densa na zona da membrana basal. A quantidade de fibrilas de

ancoragem é marcadamente reduzida, e elas exibiram uma morfologia rudimentar e

filamentosa. Estas mudanças diminuíram a adesão entre as fibrilas de ancoragem e as fibras

de colágeno da derme, deixando a união entre epiderme e derme susceptível a separação

(Bruckner-Tuderman, 2010). As fibrilas de ancoragem são formadas por colágeno VII (Chung

and Uitto, 2010), sugerindo que este colágeno esteja envolvido na patogênese da EBD dos

caprinos. As fibrilas de ancoragem em ovinos (Bruckner-Tuderman et al., 1991; Pérez et al.,

2011), cães (Nagata et al. 1995; Baldeschi et al., 2003; Gache et al., 2011), gatos (Olivry et

al., 1999), e humanos (Kon et al., 1998; Jonkman et al., 1999; Eady and Dopping-Hepenstal,

2010) mostraram mudanças semelhantes. Mais de 300 mutações foram registradas em

humanos, e EBD está estritamente associada com a substituição de glicina, devido à mutação

em um alelo do gene que codifica o colágeno VII. A substituição de glicina provavelmente

tem um efeito dominante-negativo na formação do colágeno VII (Mallipeddi et al., 2003).

Um códon de parada prematuro está presente em ambos os alelos do gene COL7A1 na forma

generalizada e severa da EBD recessiva (Dunnill et al., 1994; Kon et al., 1998; Gardella et al.,

2002; Dang and Murrel, 2008). Uma mutação “missense” no gene COL7A1 com substituição

de glicina foi observada em cães com EBD recessiva (Baldeschi et al., 2003; Gache et al.,

2011).

Não há dúvida de que a anormalidade das fibrilas de ancoragem é o defeito estrutural

primário na patogênese da EBD; entretanto, as alterações destas fibrilas variam de acordo

com o modo de herança. Na forma dominante, as fibrilas de ancoragem são normais e

reduzidas em número, mas na forma recessiva, as fibrilas de ancoragem são rudimentares e

ausentes ou escassas (Fine et al. 2008). A ausência das fibrilas de ancoragem no teto da bolha,

o pequeno número e a aparência rudimentar das fibrilas de ancoragem na pele não envolvida

clinicamente, sugerem que esta doença nos caprinos é morfologicamente similar a EBD

recessiva generalizada e severa observada em humanos (Dunnill et al., 1994; Kon et al., 1998;

Gardella et al., 2002; Dang and Murrel, 2008) e ovinos (Bruckner-Tuderman et al. 1991;

Pérez et al., 2011).

Conflitos de interesse

Os autores declaram que não existem conflitos de interesse.

Page 52: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

50

Financiamento

Este trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), processo 471386/2010-3.

Referências

Alhaidari Z, Olivry T, Spadafora A, Thomas RC, Perrin C et al. (2006) Junctional

epidermolysis bullosa in two domestic shorthair kittens. Veterinary Dermatology, 16, 69-

73.

Azrak B, Kaevel K, Hofmann L, Gleissner C, Willershausen B (2006) Dystrophic

epidermolysis bullosa: Oral findings and problems. Special Care in Dentistry, 26, 111-115.

Baldeschi C, Gache Y, Rattenholl A, Bouillé P, Danos O et al. (2003) Genetic correction of

canine dystrophic epidermolysis bullosa mediated by retroviral vectors. Human Molecular

Genetics, 12, 1897–1905.

Brenneman KA, Olivry T, Dorman DC (2000) Rudimentary hemidesmosome formation in

congenital generalized junctional epidermolysis bullosa in the Sprague-Dawley rat.

Veterinary Pathology, 37, 336-339.

Bruckner-Tuderman L, Guscetti F, Ehrensperger F (1991) Animal model for dermolytic

mechanobullous disease: Sheep with recessive dystrophic epidermolysis bullosa lack

collagen VII. The Journal of Investigative Dermatology, 96, 452-458.

Bruckner-Tuderman L (1999) Hereditary skin diseases of anchoring fibrils. Journal of

Dermatological Science, 20, 122-133.

Bruckner-Tuderman L (2010) Dystrophic epidermolysis bullosa: Pathogenesis and clinical

features. Dermatologic Clinics, 28, 107-114.

Cerquetella M, Spaterna A, Beribè F, Mechelli L, Tesei B (2005) Epidermolysis bullosa in the

dog: Four cases. Veterinary Research Communications, 29, 289–291.

Christiano AM, Uitto J (1996) Molecular complexity of the cutaneous basement membrane

zone. Revelations from the paradigms of epidermolysis bullosa. Experimental

Dermatology, 5, 1-11.

Chung HJ, Uitto J (2010) Type VII collagen: The anchoring fibril protein at fault in

dystrophic epidermolysis bullosa. Dermatologic Clinics, 28, 93-105.

Dang N, Murrel DF (2008) Mutation analysis and characterization of COL7A1 mutations in

dystrophic epidermolysis bullosa. Experimental Dermatology, 17, 553-568.

Page 53: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

51

Dunnill MGS, Richards AJ, Milana G, Mollica F, Atherton D et al. (1994) Genetic linkage to

the type VII collagen gene (COL7A1) in 26 families with generalised recessive dystrophic

epidermolysis bullosa and anchoring fibril abnormalities. Journal of Medical Genetics, 31,

745-748.

Eady RAJ, Dopping-Hepenstal PJC (2010) Transmission electron microscopy for the

diagnosis of epidermolusis bullosa. Dermatologic Clinics, 28, 211-222.

Figueira EC, Murrell DF, Coroneo MT (2010) Ophthalmic involvement in inherited

epidermolysis bullosa. Dermatologic Clinics, 28, 143-152.

Fine JD, Eadly RAJ, Bauer EA, Bauer JW, Bruckner-Tuderman L et al. (2008) The

classification of inherited epidermolysis bullosa (EB): Report of the Third International

Consensus Meeting on Diagnosis and Classification of EB. Journal of the American

Academy of Dermatology, 58, 931-950.

Ford CA, Stanfield AM, Spelman RJ, Smits B, Ankersmidt-Udy AEL et al. (2005) A

mutation in bovine keratin 5 causing epidermolysis bullosa simplex, transmited by a

mosaic sire. Journal of Investigative Dermatology, 124, 1170–1176.

Foster AP, Skuse AM, Higgins RJ, Barrett DC, Philbey AW et al. (2010) Epidermolysis

bullosa in calves in the United Kingdom. Journal of Comparative Pathology, 142, 336-

340.

Gache Y, Pin D, Gagnoux-Palacios L, Carozzo C, Meneguzzi G (2011) Correction of dog

dystrophic epidermolysis bullosa by transplantation of genetically modified epidermal

autografts. Journal of Investigative Dermatology, 131, 2069–2078.

Gardella R, Zoppi N, Zambruno G, Barlati S, Colombi M (2002) Different phenotypes in

recessive dystrophic epidermolysis bullosa patients sharing the same mutation in

compound heterozygosity with two novel mutations in the type VII collagen gene. British

Journal of Dermatology, 147, 450–457.

Georgescu S, Manea M, Dinischiotu A, Tesio C, Costache M (2008) A method for junctional

epidermolysis bullosa diagnostication in draft horses. Biotechnology in Animal Husbandry,

24, 127-132.

Graves KT, Henney PJ, Ennis RB (2009) Partial deletion of the LAMA3 gene is responsible

for hereditary junctional epidermolysis bullosa in the American Saddlebred horse. Animal

Genetics, 40, 35-41.

Järvikallio A, Pulkkinen L, Uitto J (1997) Molecular basis of dystrophic epidermolysis

bullosa: Mutations in the type VII collagen gene (COL7A1). Human Mutation, 10, 338-

347.

Page 54: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

52

Jonkman MF, Moreno G, Rouan F, Oranje AP, Pulkkinen L et al. (1999) Dominant

dystrophic epidermolysis bullosa (Pasini) caused by a novel glycine substitution mutation

in the type VII collagen gene (COL7A1). Journal of Investigative Dermatology, 112, 815-

817.

Kon A, Pulkkinen L, Ishida-Yamamoto A, Hashimoto I, Uitto J (1998) Novel COL7A1

mutations in dystrophic forms of epidermolysis bullosa. Journal of Investigative

Dermatology, 111, 534-537.

Kuster JE, Guarnieri MH, Ault JG, Flaherty L, Swiatek PJ (1997) IAP insertion in the murine

LamB3 gene results in junctional epidermolysis bullosa. Mammalian Genome, 8, 673-681.

Mallipeddi R, Bleck O, Mellerio JE, Ashton GHS, Eady RAJ et al. (2003) Dilemmas in

distinguishing between dominant and recessive forms of dystrophic epidermolysis bullosa.

British Journal of Dermatology, 149, 810–818.

Medeiros GX, Riet-Correa F, Armién AG, Dantas AFM, Galiza GJN et al. (2012) Junctional

epidermolysis bullosa in a calf. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, 24, 231-

234.

Milenkovic D, Chaffaux S, Taourit S, Guéring J (2003) A mutation in the LAMC2 gene

causes the Herlitz junctional epidermolysis bullosa (H-JEB) in two French draft horse

breeds. Genetics Selection Evolution, 35, 249-256.

Nagata M, Shimizu H, Masunaga T, Nishikawa T, Nanko H et al. (1995) Dystrophic form of

inherited epidermolysis bullosa in a dog (Akita Inu). British Journal of Dermatology,

133, 1000–1003.

Nagata M, Iwasaki T, Masuda H, Shimizu H (1997) Non-lethal junctional epidermolysis

bullosa in a dog. British Journal of Dermatology, 137, 445-449.

Olivry T, Dunston SM, Marinkovich MP (1999) Reduced anchoring fibril formation and

collagen VII immunoreactivity in feline dystrophic epidermolysis bullosa. Veterinary

Pathology, 36, 616–618.

Palazzi X, Marchal T, Chabanne L, Spadafora A, Magnol JP et al. (2000) Inherited dystrophic

epidermolysis bullosa in inbred dogs: A spontaneous animal model for somatic gene

therapy. Journal of Investigative Dermatology, 115, 135-137.

Pérez V, Benavides J, Delgado L, Reyes LE, García MJF et al. (2011) Dystrophic

epidermolysis bullosa in Assaf lambs. Journal of Comparative Pathology, 145, 226-230.

Polifka M, Krusinski PA (1980) The Nikolsky sign. Cutis, 26, 521-526.

Sawamura D, Nakano H, Matsuzaki Y (2010) Overview of epidermolysis bullosa. Journal of

Dermatology, 37, 214–219.

Page 55: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

53

Schild AL (2007) Defeitos congênitos. In: Doenças de ruminantes e equídeos, 3rd Edit., F

Riet-Correa, AL Schild, RA Lemos, JR Borges Eds., Pallotti, Santa Maria, pp. 25-56.

Siãnez-Gonzáles C, Pezoa-Jares R, Salas-Alanis JC (2009) Congenital epidermolysis bullosa:

A review. Actas Dermosifiliogr. 100, 842-856.

Spirito F, Charlesworth A, Linder K, Ortonne JP, Baird J et al. (2002) Animal models for skin

blistering conditions: Absence of laminin 5 causes hereditary junctional mechanobullous

disease in the Belgian Horse. Investigative Dermatology 119, 684-691.

Varki R, Sadowski S, Uitto J, Pfendner E (2007) Epidermolysis bullosa. II. Type VII collagen

mutations and phenotype-genotype correlations in the dystrophic subtypes. Journal of

Medical Genetics, 44, 181-192.

White SD, Dunstan RW, Olivry T, Richter K (1993) Dystrophic (Dermolytic) Epidermolysis

Bullosa in a Cat. Veterinary Dermatology, 4, 91–95.

Wright JT (2010) Oral manifestations in the epidermolysis bullosa spectrum. Dermatologic

Clinics, 28, 159–164.

Yiasemides E, Walton J, Marr P, Villanueva EV, Murrell DF (2006) A comparative study

between transmission electron microscopy and immunofluorescence mapping in the

diagnosis of epidermolysis bullosa. The American Journal Dermatopathology, 28, 387-

394.

Zar JH (1999) Biostatistical Analysis. 4th Edit. Prentice Hall, Upper Saddle River. pp 663.

Page 56: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

54

CAPÍTULO III

Epidermólise Bolhosa Juncional em um Bezerro

O presente trabalho foi formatado segundo as normas da revista Journal of Veterinary

Diagnostic Investigation (anexo 6). O artigo foi publicado em janeiro de 2012 (DOI:

10.1177/104638711425953) (anexo 7).

Page 57: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

55

Epidermólise Bolhosa Juncional em um Bezerro

Gildenor X. Medeiros, Franklin Riet-Correa1, Anibal G. Armién, Antônio F. M. Dantas,

Glauco J. N. de Galiza, Sara V. D. Simões

Abstract. A case of epidermolysis bullosa in a calf descendent from a Gir bull and a

Gir crossbreed cow is reported. The calf presented with exungulation of all hooves,

widespread erosions and crusts on the skin, and ulcers in the oral cavity. Histologically, the

skin showed subepidermal separation with clefts occasionally filled with eosinophilic clear

fluid, cellular debris, or neutrophils. Ultrastructurally, there was epidermal-dermal separation

at the level of the lamina lucida, with the lamina densa attached to the papillary dermis. The

hemidesmosomes were poorly defined and small. The clinical, histological and ultrastructural

findings are characteristic of junctional epidermolysis bullosa.

Key words: basal membrane; cattle; epidermolysis bullosa; mechanobullous diseases;

skin diseases.

Resumo. Neste trabalho é descrito um caso de epidermólise bolhosa em um bezerro

filho de um touro da raça Gir e uma vaca cruza de Gir. O bezerro apresentava um quadro

clínico que se caracterizava por exungulação de todos os cascos, erosões e crostas

generalizadas na pele e úlceras na cavidade oral. Na histologia da pele foi observada

separação subepidérmica com formação de bolhas preenchidas com fluido eosinofílico claro,

restos celulares ou neutrófilos ocasionais. No exame ultraestrutural foi identificada separação

ao nível da lâmina lúcida na zona da membrana basal, deixando a lâmina densa unida às

papilas dérmicas. Os hemidesmossomos apresentavam-se pequenos, pobremente definidos e

com bordas sem demarcação clara. Os achados clínicos, histológicos e ultraestruturais

encontrados no bezerro são característicos da epidermólise bolhosa juncional.

1 Autor para correspondência: Franklin Riet-Correa, Hospital Veterinário, CSTR, Universidade Federal de

Campina Grande, Campus de Patos, Patos, Paraíba 58700-000, Brasil. [email protected]

Da Universidade Federal de Campina Grande, Hospital Veterinário, Patos, Paraíba, Brasil (Medeiros, Riet-

Correa, Dantas, Galiza, Simões), e do Laboratório de Diagnóstico Veterinário, Colégio de Medicina Veterinária,

Universidade de Minnesota, St. Paul, MN (Armién).

Artigo publicado: J VET Diagn Invest 2012, 24 (1): 231-234. DOI: 10.1177/104638711425953.

Page 58: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

56

Palavras chave: membrana basal; bovino; epidermólise bolhosa; doenças

mecanobolhosas; doenças da pele.

A epidermólise bolhosa (EB) é uma dermatose neonatal hereditária observada em

animais e humanos, caracterizada por marcada fragilidade da pele e das mucosas, que

desencadeia a formação de bolhas e ulcerações em resposta a pequenos traumas. As lesões

ocorrem em função da insuficiente conexão na junção entre epiderme e derme, devido a

defeitos na zona da membrana basal.4,6 Além da formação de bolhas nas regiões de maior

atrito, observa-se perda de unhas, garras ou cascos, e desprendimento do epitélio da mucosa

oral.7,8 A classificação dos tipos de EB segue uma sistemática estudada para humanos, em que

o critério principal é o nível ultraestrutural de separação da pele na zona da membrana basal.

São basicamente três tipos: epidermólise bolhosa simples (EBS), caracterizada por citólise

dos queratinócitos basais produzindo fissuras intraepidérmicas; epidermólise bolhosa

juncional (EBJ), na qual ocorre separação na lâmina lúcida; e epidermólise bolhosa distrófica

(EBD), com clivagem dentro ou abaixo da lâmina densa.3 A maioria dos tipos de EB é de

caráter autossômico recessivo e freqüência muito baixa. Estima-se que em humanos a

enfermidade afeta 1 a cada 17.000 nascidos vivos em toda população mundial.8 Em animais, a

frequência de EB não é estimada, existindo poucos relatos da doença. O objetivo deste

trabalho foi relatar os aspectos clínicos, histológicos e ultraestruturais de um caso de EB em

um bezerro de dois meses de idade, examinado em abril de 2010, no Hospital Veterinário da

Universidade Federal de Campina Grande (HV/UFCG), Patos, Paraíba, Brasil. O bezerro

pertencia a um rebanho de 18 animais. Era descendente de um touro Gir com uma vaca cruza

de Gir. Segundo o proprietário, um bezerro com lesões semelhantes (filho do mesmo touro)

havia morrido anteriormente na propriedade.

O bezerro apresentava exungulação de todos os cascos, erosões e crostas generalizadas

na pele (Fig. 1A, 1B) e úlceras na cavidade oral (Fig. 1C). A epiderme desprendia facilmente

quando se exercia uma pequena pressão na pele intacta (sinal de Nikolsky positivo8). Devido

à severidade do quadro clínico e prognóstico desfavorável, o animal foi eutanasiado e

necropsiado. No exame pós-morte foram observados vários graus de alopecia, erosões e

crostas na pele das seguintes regiões: metacarpal, metatarsal, cotovelo, joelho, ventral do

tórax, ventral do abdome e região glútea. Também existiam úlceras multifocais distribuídas na

gengiva, nos palatos duro e mole, na mucosa dos lábios, na mucosa da bochecha, e na face

dorsal da língua. Os demais órgãos não apresentaram lesões significativas.

Page 59: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

57

Durante o exame pós-morte foram coletadas amostras dos seguintes órgãos: pele,

músculo esquelético, mucosa oral, língua, linfonodos, tireóide, timo, pulmão, coração, fígado,

esôfago, pré-estômagos, abomaso, intestino delgado, intestino grosso, baço, rim, adrenal,

encéfalo e medula espinhal. Todas as amostras foram fixadas em formol tamponado a 10%.

Posteriormente foram embebidas em parafina e coradas com hematoxilina e eosina (HE) e

submetidos ao tratamento com ácido periódico de Schiff (PAS). Na histologia da pele a

primeira alteração observada foi a separação subepidérmica (Fig. 2), com formação de bolhas

preenchidas com fluido eosinofílico claro e ocasionalmente com restos celulares ou

neutrófilos. As células epidérmicas apresentaram degeneração evoluindo para necrose. As

papilas dérmicas estavam edematosas com marcada degeneração. Em lesões mais avançadas

existiam erosões cobertas por crostas, com edema perivascular e infiltração de neutrófilos e

células mononucleares na derme subjacente. Foram observadas lesões similares na mucosa

oral e lingual, ocasionalmente preenchidas por fluido eosinofílico. Áreas de perda total do

epitélio oral e lingual eram observadas, formando extensas úlceras infiltradas por neutrófilos e

exibindo necrose e hemorragia.

Para exame ultraestrutural, pequenos fragmentos de pele foram fixados em

glutaraldeído a 2% (tampão cacodilato de sódio-0.1 M/pH 7.4). Os blocos foram pós-fixados

em solução de tetróxido de ósmio a 1% (tampão cacodilato de sódio-0.166 M/pH 7.4) e

embebidos em resina.a Cortes de 1µm corados com azul de metileno foram usados para

avaliar as alterações histológicas. Em seguida foram selecionadas as áreas para exame

ultraestrutural (Fig. 3, inset). Cortes de 70-80nm das áreas selecionadas, foram contrastados

com acetato de uranila e soluções de citrato de chumbo e examinados com um microscópio

eletrônico.b Amostras da pele de um bezerro da mesma idade foram coletadas e processadas

para servir como controle. Ultraestruturalmente, as camadas de células basais estavam

destacadas da derme ao nível da lâmina lúcida (Fig. 3). A lâmina densa ficou unida às papilas

dérmicas (Fig. 4). Os hemidesmossomos eram pequenos e sem demarcação clara, quando

comparados com o animal controle.

Os sinais clínicos e a patologia deste caso são característicos da EB em animais e

humanos.3,4,8 Os achados ultraestruturais mostraram que a separação ocorreu ao nível da

lâmina lúcida na zona da membrana basal epidérmica, consistentes com o diagnóstico de EBJ.

Ultraestruturalmente, a membrana basal epidérmica é dividida em três áreas: os

hemidesmossomos, a lâmina lúcida e a lâmina densa (Fig. 5). Os hemidesmossomos são

compostos por uma placa interna e uma placa externa. A placa interna é composta pelas

proteínas hemidesmossomais citoplasmáticas HD1/plectin e BP230. A placa externa contém

Page 60: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

58

as proteínas α6β4 integrina e BP180. A lâmina lúcida é formada pela membrana plasmática,

pela placa densa subdesmossomal e pelos filamentos de ancoragem. A lâmina densa é

composta pelo colágeno tipo IV e pelas fibrilas de ancoragem (colágeno tipo VII). Os

filamentos de ancoragem são formados pelas proteínas BP180 e laminina 5, que conectam os

hemidesmossos ao colágeno tipo VII das fibrilas de ancoragem (Fig. 5).3,8 Nesse caso, os

dados da microscopia eletrônica indicam anormalidades no complexo hemidesmossomos-

filamentos de ancoragem, levando a separação na lâmina lúcida. Em humanos, a EBJ é a mais

geneticamente heterogênea das epidermólises, causada por seis diferentes genes recessivos

que codificam as proteínas laminina 5 (subunidades α3, β3 e γ2) e BP180. A falta de

expressão desses genes conduz a seis subtipos de EBJ, porém a variante mais letal e mais

frequente é a EBJ Herlitz (EBJH).8

Figura 1. A) Bezerro afetado com epidermólise bolhosa juncional.

São observadas grandes áreas de erosões e crostas na pele,

especialmente nas áreas de atrito e nos membros. Note a

exungulação de todos os cascos. B) Membro torácico mostrando

desprendimento da pele e exungulação dos cascos. C) Mucosa do

palato e da bochecha com desprendimento do epitélio.

Page 61: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

59

Figura 2. Pele. Bezerro. A epiderme está destacada da

derme, formando uma fenda subepidérmica (*). HE,

Barra 50µm.

Figura 3 Figura 4

Figura 3. Micrografia eletrônica de transmissão. Pele. Bezerro. Junção dermo-epidérmica. É

observada a separação (*) ao nível da lâmina lúcida. Células basais (BC). Derme (D). Barra, 5 µm.

Inset: Secção semifina mostrando o local da separação, observada na microscopia eletrônica

(retângulo). Note a formação da vesícula (estrela). Barra, 50 µm.

Figura 4. Micrografia eletrônica de transmissão. Pele. Bezerro. Junção dermo-epidérmica, com a

derme separada das células basais: A lâmina densa (setas) está unida à papila dérmica (PD). Note as

fibras de colágeno com 20 nm (CF) dentro da derme edematosa. A vesícula também é observada

(estrela). Barra, 1 µm.

Page 62: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

60

Figura 5. Representação esquemática da ultraestrutura da zona da membrana basal

epidérmica.

A epidermólise bolhosa juncional foi diagnosticada em equinos de diferentes raças.5,6,9

Em dois estudos em potros, o diagnóstico de EBJH foi baseado em achados clínicos,

histológicos, ultraestruturais e moleculares. Em ambos os estudos foi identificada uma

mutação no gene LAMC2 que causou a falha na expressão da laminina 5 (subunidade γ2).6,9

A distribuição das lesões em neonatos humanos e nos potros com EBJH, bem como as

alterações ultraestruturais, apresenta o mesmo padrão do bezerro deste trabalho, sugerindo

que a separação entre epiderme e derme ocorreu devido a falha na expressão da laminina 5.

Os relatos anteriores de bovinos com EB foram descritos apenas com base em achados

clínicos e histopatológicos.1,2,10 Em 2009, foram diagnosticados, no Reino Unido, oito casos

de bezerros com EBS, através de exame ultraestrutural.4 Um caso de EBJ em um bezerro da

raça Chalorais foi registrado na França. O diagnóstico foi baseado em exame histopatológico

e imunomapeamento de secções de pele congelada, usando anticorpos para os principais

componentes da membrana basal cutânea de humanos, que revelou a clivagem na lâmina

lúcida; não foi realizado exame ultraestrutural (Guaguere E, Berg K, Degorce-Rubiales, et al.:

2004, Junctional epidermolysis bullosa in a Charolais calf with deficient expression of

integrin α6β4. Vet Dermatol 15 (Suppl. 1):28. Abstract). Mais estudos são necessários para

investigar os possíveis modos de herança e a caracterização molecular da EBJ.

Page 63: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

61

Produtos e fabricantes

a. EMBED 812, Electron Microscopy Sciences, Hatfield, PA.

b. JEOL 1200EX II, JEOL Ltd., Tokyo, Japão.

Declaração de interesses conflitantes

O(s) autor(es) declarou(ram) não ter potenciais conflitos de interesse em

relação a pesquisa, a autoria, e/ou publicação deste artigo.

Financiamento

O(s) autor(es) não recebeu(ram) nenhum financiamento para a pesquisa,

autoria, e/ou publicação deste artigo.

Referências

1. Agerholm JS: 1994, Congenital generalized epidermolysis bullosa in a calf. Zentralbl

Veterinarmed A 41:139-142.

2. Bassett H: 1987, A congenital bovine epidermolysis resembling epidermolysis bullosa

simplex of man. Vet Rec 121:8-11.

3. Fine JD, Eadly RA, Bauer EA, et al.: 2008, The classification of inherited

epidermolysis bullosa (EB): report of the Third International Consensus Meeting on

Diagnosis and Classification of EB. J Am Acad Dermatol 58:931-950.

4. Foster AP, Skuse AM, Higgins RJ, et al.: 2009, Epidermolysis bullosa in calves in the

United Kingdom. J Comp Pathol 142:336-340.

5. Graves KT, Henney PJ, Ennis RB: 2008, Partial deletion of the LAMA3 gene is

responsible for hereditary junctional epidermolysis bullosa in the American

Saddlebred Horse. Anim Genet 40:35-41.

6. Milenkovic D, Chaffaux S, Taourit S, Guérin G: 2003, A mutation in the LAMC2

gene causes the Herlitz junctional epidermolysis bullosa (H-JEB) in two French draft

horse breeds. Genet Sel Evol 35:249-256.

7. Riet-Correa F, Barros SS, Damé MC, Peixoto PV: 1994, Hereditary suprabasilar

acantholytic mechanobullous dermatosis in buffaloes (Bubalus bubalis). Vet Pathol

31:450-454.

Page 64: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

62

8. Siãnez-Gonzales C, Pezoa-Jares R, Salas-Alanis JC: 2009, Epidermólisis ampollosa

congénita: revisión del tema [Congenital epidermolysis bullosa: a review]. Acta

Dermosifiliogr 100:842-856. In Spanish. Abstract in English.

9. Spirito F, Charlesworth A, Linder K, et al.: 2002, Animal models for skin blistering

conditions: absence of laminin 5 causes hereditary junctional mechanobullous disease

in the Belgian horse. J Invest Dermatol 119:684-691.

10. Stocker H, Lott G., Straumann U., Rusch P: 1995, Epidermolysis bullosa bei einem

kalb [Epidermolysis bullosa in a calf]. Tierarztl Prax 23:123-126. In German. Abstract

in English.

Page 65: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

63

CONCLUSÕES

As doenças mecanobolhosas hereditárias com separação suprabasilar (ex.: dermatose

acantolítica mecanobolhosa suprabasilar hereditária em búfalos e acantólise familiar em

bovinos), podem ser classificadas como EB do tipo simples, com base na atual classificação

das epidermólises.

A intensidade das lesões de pele está diretamente associada ao modo de vida de cada

espécie. Os animais de produção sofrem mais do que os cães e gatos, por causa do manejo

mais intenso e da necessidade de se deslocar para se alimentarem.

As lesões orais em herbívoros são mais extensas do que em outras espécies por causa

do alimento fibroso. Os ruminantes podem ser mais afetados por lesões orais porque passam

mais tempo mastigando do que os monogástricos.

O gene mutante, causador da EB distrófica nos caprinos estudados é transmitido por

mecanismo autossômico recessivo.

A cura espontânea das lesões, com formação de cicatrizes atróficas, é uma

característica da EB distrófica. Nos caprinos, a cicatrização causou a deformidades nos cascos

e a destruição de algumas estruturas anatômicas da mucosa oral, especialmente as papilas

linguais e bucais.

A ausência das fibrilas de ancoragem no teto da bolha, o pequeno número e a

aparência rudimentar na pele sem sinal clínico, sugerem que a doença nos caprinos é

morfologicamente similar a EB distrófica recessiva, generalizada e severa, observada em

humanos. Nenhum tipo de EB foi previamente descrito em caprinos.

Os aspectos clínicos, patológicos e ultraestruturais do bezerro são característicos da

epidermólise bolhosa juncional do tipo Herlitz. Igual ao observado em humanos, a EB

juncional, especialmente o subtipo Herlitz, é também a mais grave em animais.

Os hemidesmossomos pequenos e sem demarcação clara, observados no exame

ultraestrutural do bezerro, são fortes indícios de que a separação entre epiderme e derme

ocorreu devido a falha na expressão do gene da proteína laminina 5.

Page 66: CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CAMPUS DE … · FICHA CATALOGADA NA BIBLIOTECA SETORIAL DO CSTR UFCG – CAMPUS DE PATOS-PB M488e 2012 Medeiros, Gildenor Xavier Epidermólise

64

ANEXOS