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1 Boletim N.º 72 do Centro de Estudos de História da Contabilidade Dezembro de 2020 Edição: APOTEC – – Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade Conselho Editorial: – António Campos Pires Caiado, Prof. Doutor – Maria da Conceição Costa Marques, Prof. Doutora – Manuel J. Benavente Rodrigues, Doutor Coordenação: – Isabel Cipriano APOTEC – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DA CONTABILIDADE Fundado em 1996 José Alexandre dos Reis Barata UM HOMEM, TRÊS OBJECTIVOS: ESTUDO, ENSINO E INVESTIGAÇÃO CONTABILÍSTICA – RAÚL DÓRIA MARCOU PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XX (*) (SEGUNDA PARTE) RAÚL DÓRIA AOS OLHOS DE SEU FILHO ANTÓNIO ÁLVARO DÓRIA António Álvaro Dória via em seu pai “uma pessoa de espirito irrequieto, apesar da fragilidade da sua saúde, era um homem de espirito combativo, numa época em que duas ideologias anta- gónicas se confrontavam quase que diariamente, por isso se viu envolvido, com a quase totalidade da Academia portuense, nos tumultos provocados pela célebre Questão Calmon, que agitou violentamente o Porto no início do século XX.” Apesar de todo o seu envolvimento e entusiasmo numa ação política de carácter romântico, da vida escolar com as suas festas e passeios ao país vizinho, lhe fizeram esquecer-se que estava a preparar-se para a sua verdadeira vocação ou sacerdócio: O Pro- fessorado. Tudo começa, quando a pedido do seu amigo professor Santos Pousada, começa a dar explicações no seu modesto quarto na Rua de Santa Catarina, da cadeira de Escrituração Comercial, o que levou a que alguns dos seus contemporâneos do Instituto também quisessem receber lições, constituindo-se assim, um pequeno gru- po, que foi o gérmen da Escola Raúl Dória. (já atrás referido) Continua Álvaro Dória, “a afabilidade de trato de meu pai, por um lado, e o carácter absolutamente prático por ele imprimi- do ao ensino, por outro, deram-lhe certa aura, e daí resultou aumentar progressivamente o número de alunos, tornando-se já insuficiente o escasso espaço do quarto de estudante para com- portar aqueles que o procuravam no desejo de aprender.” Desta forma, no ano letivo seguinte e com o consentimento de

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    Boletim N.º 72 do Centrode Estudos de História da Contabilidade

    Dezembro de 2020

    Edição: APOTEC – – Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade

    Conselho Editorial:– António Campos Pires

    Caiado, Prof. Doutor– Maria da Conceição Costa

    Marques, Prof. Doutora– Manuel J. Benavente

    Rodrigues, Doutor

    Coordenação:– Isabel Cipriano

    APOTEC – ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

    CENTRO DE ESTUDOSDE HISTÓRIA DA CONTABILIDADEFundado em 1996

    José Alexandre dos Reis Barata

    Um homem, três objectivos: estUdo, ensino e

    investigação contabilística

    – raúl dória marcoU PortUgal no início

    do sécUlo XX(*)(segUnda Parte)

    RAÚL DÓRIA AOS OLHOS DE SEU FILHO ANTÓNIO ÁLVARO DÓRIA

    António Álvaro Dória via em seu pai “uma pessoa de espirito irrequieto, apesar da fragilidade da sua saúde, era um homem de espirito combativo, numa época em que duas ideologias anta-gónicas se confrontavam quase que diariamente, por isso se viu envolvido, com a quase totalidade da Academia portuense, nos tumultos provocados pela célebre Questão Calmon, que agitou violentamente o Porto no início do século XX.”

    Apesar de todo o seu envolvimento e entusiasmo numa ação política de carácter romântico, da vida escolar com as suas festas e passeios ao país vizinho, lhe fizeram esquecer-se que estava a preparar-se para a sua verdadeira vocação ou sacerdócio: O Pro-fessorado.

    Tudo começa, quando a pedido do seu amigo professor Santos Pousada, começa a dar explicações no seu modesto quarto na Rua de Santa Catarina, da cadeira de Escrituração Comercial, o que levou a que alguns dos seus contemporâneos do Instituto também quisessem receber lições, constituindo-se assim, um pequeno gru-po, que foi o gérmen da Escola Raúl Dória. (já atrás referido)

    Continua Álvaro Dória, “a afabilidade de trato de meu pai, por um lado, e o carácter absolutamente prático por ele imprimi-do ao ensino, por outro, deram-lhe certa aura, e daí resultou aumentar progressivamente o número de alunos, tornando-se já insuficiente o escasso espaço do quarto de estudante para com-portar aqueles que o procuravam no desejo de aprender.”

    Desta forma, no ano letivo seguinte e com o consentimento de

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    seu pai, “alargou as modestas instalações pela demolição de uma parede, anunciando então a criação do Curso Comercial e Caligráfico, em que logo obteve o mais lisonjeiro êxito, levando isto meu pai a pensar na possibilidade de mudar de local mais próprio, visto a sala ser já pequena para comportar o número dos que ali iam buscar os ensinamentos de que careciam para o bom desempenho de suas funções.”

    Continua Álvaro Dória, “tendo abandonado a frequência do Instituto no fim do curso por falta de tempo e dedicando-se ainda à profissão de guara-livros, meu pai hesitava em dar o passo em frente que decidiria a sua vida. Ao começar o ano letivo de 1901-1902 teve a sa-tisfação de verificar que excedia a sua expec-tativa, e assim, no fim desse ano escolar, mudou o seu curso para um andar na Rua de Santo Ildefonso, Nº 428, aí continuando, em mais larga escala, o seu labor docente.”

    Continua Álvaro, “sem propaganda, viu meu pai a frequência do modesto curso aumentar, o que, daí a pouco, o obrigou a considerar a hipótese de nova mudança. A casa tornara-se pequena com a afluência de alunos, os cursos iam funcionando independentemente pela enor-me acumulação de matriculados, pelo que ele, ia procurando impacientemente um outro edi-fício, mais amplo, com salas mais espaçosas, com mais luz, para onde pudesse mudar ime-diatamente a sede da Escola.”

    “É, pois, 30 de novembro de 1902 a data da autonomia da sua Escola, que, até à sua ex-tinção, em 1964, sempre se comemorou com mais ou menos luzimento”.

    “A primeira sede da Escola ficava, na Rua do Bonjardim, em prédio de dois andares, em local hoje desaparecido após as demolições para alargamento das vias de acesso à Avenida dos Aliados e futuro edifício dos CTT.”

    Continua o testemunho sobre o pai, “sozinho meu pai não teria possibilidades de ir mais além do ensino de Contabilidade e da Escri-turação Comercial, o que, reconhecido, o levou a estabelecer, por um lado, programas para os cursos ministrados, e pelo outro a organizar um corpo docente capaz de lhes dar realidade, para o que procurou entre os professores mais conhecidos do Porto os que melhores garantias oferecessem de idoneidade moral e pedagógica. Muito bem me recordo do bondoso Charles Simon, primeiro professor de Francês, e da-

    quele que muitos anos depois havia de ser meu amigo pessoal, José dos Santos Pêra, seu pri-meiro professor de Inglês.”

    Sobre seu pai Raúl Dória, continua o filho, “sempre o conheci dominado pelo seu sonho, vivendo única e exclusivamente para a Escola, que quase punha no mesmo plano que a famí-lia, parece que não distinguindo essas duas realidades uma da outra.”

    “O desenvolvimento da sua obra tomou tal incremento, que em breve lhe apareceram os primeiros candidatos a alunos internos, que não pôde admitir por falta de alojamentos condignos. Pensou por isso em mudar mais uma vez. E, assim, dois anos depois de ser ter instalado na Rua do Bonjardim, mudou meu pai a sua Escola para o Nº 424 da Rua de Fernandes Tomás, prédio também de dois an-dares, ainda hoje existente, e de que, sendo eu muito criança, conservo vaga ideia,” afirma Álvaro Dória.

    E a história à volta desta enorme figura, continua, “Para garantia da proficuidade do ensino na Escola estabeleceu meu pai, exames finais, que desde então, sempre se fizeram. Fixou o curso de Guarda-Livros em três anos, cada um com cinco disciplinas e chamou, lo-gicamente, novos professores. Forçado pelo desenvolvimento que o seu estabelecimento de ensino tomara, fez registar-lhe o nome com aquele que conservou até à sua extinção: Es-cola Prática Comercial Raul Dória.”

    Relata Álvaro Dória, “levado pelo seu velho sonho de introdu-zir a vida real no ensino da Contabilidade, à documentação que criara para utilização nas aulas práticas, meu pai acres-centou “notas de banco”, a moeda de cobre e de ouro e as próprias estampilhas postais e fiscais, inovação que foi exclusiva sua e jamais por mais nenhuma escola adotada. Ao iniciar o ano letivo, cada aluno de aulas práticas recebia, juntamente com os livros de escritu-ração e documentação respetiva – faturas, letras, recibos, livros de cheques, cadernetas de depó-sitos, papel de carta timbrado, etc. – uma

    certa quantidade de “dinheiro” em moedas e notas, parcela do seu “capital”, de que se serviria no decurso do ano para as suas transações, e isto dava a cada

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    aluno tal convicção que, em muitos casos, se convencia de, na realidade, ser o gerente da sua casa comercial. Instalaram-se vários “es-critórios” que “transacionavam”, com os alunos das aulas de Escrituração, havia troca de correspondência entre eles, em português, fran-cês e inglês, conforme as circunstâncias; o aluno ia à seção do correio comprar as estam-pilhas necessárias para franquear as cartas que escrevia, vindo as que recebia de Inglater-ra, da França e da Alemanha devidamente estampilhadas com selos do respetivo país…com o dístico “Raul Dória” – Porto.

    No “Banco” efetuavam os depósitos do exce-dente da “Caixa”, que, sempre que necessário, levantavam por meio de cheques. Num tempo em que ainda pouco se utilizava a máquina de escrever, a correspondência era feita com tinta hectográfica, pois, para obedecer ao preceito do Código Comercial, teria de ficar copiada no livro de correspondência.”

    A admiração que seu filho tem por todo o trabalho desenvolvido por seu pai é enorme, por isso continua sobre ele, “as suas ideias continuavam a evoluir no sentido de fazer sempre mais e melhor; ele era e sempre foi um idealista insatisfeito, que, para dar realidade ao seu pensamento, quase nunca se preocupou com os meios materiais para atingir o seu fim. Por isso a 3 de dezembro de 1905 realizou-se a primeira festa comemorativa do aniversário da Escola, sendo oferecido ao Diretor um ban-quete pelos seus alunos e uma mensagem em pergaminho, que piedosamente conservo. Foi a primeira duma série que durou ininterrup-tamente até ao falecimento do meu pai.”

    Continua Álvaro, “pouco mais de dois anos decorridos sobre a instalação da Escola na Rua de Fernandes Tomás, para que o prédio se tornasse exíguo para o fim a que o haviam destinado. A velha ideia surgida no modesto

    quarto da Rua de Santa Catarina era uma bola de neve a aumentar de volume. Mas onde instalar, condignamente, a sua Escola? Era este o problema premente, quase angustiante, de meu pai.”

    Diz-nos, “lançou-se, pois, à busca da casa para ali instalar a sua Escola. E um dia, o acaso deparou-lhe o edifício que parecia vir ao encontro dos seus desejos. Ali à Rua de Gon-çalo Cristóvão, nesse tempo deserta, ainda mal guarnecida de prédios e com um ar muito provinciano, erguia-se imponente palacete, silencioso e sombrio, com o seu quê de miste-rioso, de janelas sempre cerradas e as ervas bravas a crescerem no jardim abandonado. Corriam de boca em boca histórias abracada-brantes acerca do edifício: que fora construído por um individuo à imagem de outro seme-lhante que um seu irmão edificara, tendo aquele, por inveja, mandado incendiar o pri-meiro edifício, depois do que o suposto incen-diário morrera e a sua “alma penada”, vinha com frequência à sua casa… E isto afugentava os possíveis locatários.”

    “Rapidamente entrou em negociações para o seu arrendamento, sem olhar a mais nada senão o interesse da Escola, que a 9 de outubro de 1907 se instalava no prédio da Rua Gonça-lo Cristóvão, agora lamentavelmente destruído.”

    Uma nova era parece então desenvolver-se a contente deste nobre homem, por isso seu filho diz-nos, “com as novas instalações abre-se uma nova e brilhantíssima era na história da Escola Raúl Dória, iniciando-se uma, série de conferências e palestras a cargo de professores da Escola, que se inauguraram com uma de meu pai acerca das “Vantagens da escrituração comercial”. Ao tempo encontravam-se envoltas na mesma faixa a Contabilidade e a Escritu-ração, pelo que tantas pessoas, até de vistas largas e de cultura especializada, confundiam aquela com o cálculo comercial e consideravam esta simples arte facilmente acessível e, assim, sem importância de maior.”

    Mas Raúl Dória, “tinha na alma esse quid imponderável que faz os grandes homens de todos os tempos, a tenacidade, a teimosia mes-mo, que levou Gil Eanes a dobrar o Cabo Bojador, Colombo a atravessar o Atlântico, Papin a descobrir o princípio da máquina a vapor, Newton à lei da gravidade, Pasteur ao combate da raiva, e tantos, tantos outros menos

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    conhecidos, alguns ignorados, que, presos de um sonho, tudo sacrificaram pelo bem comum.” Continua, “meu pai, salvaguardadas as dis-tâncias do tempo e do meio em que ele e os outros citados viveram, tinha a mesma chispa espiritual dos grandes descobridores. Diz-se que, perguntando a Newton como chegara a descobrir a sua célebre lei, respondera: “pen-sando sempre nela”. Mutatis mutandis, poder--se-ia dizer que Raúl Dória ergueu a sua Es-cola até onde chegou, também, “pensando sempre nela”.

    Relato atrás de relato, continua seu filho, “em 30 de novembro de 1909 comemorava-se o 7º aniversário da Escola, com um brilho que excedia o das comemorações passadas. Realizou--se um baquete de 100 pessoas no refeitório da Escola, durante o qual professores e alunos entregaram ao meu pai uma mensagem e pela primeira vez se franquearam ao público as portas da Escola para que quem quisesse fos-se ver com os seus próprios olhos como a von-tade de um homem só e pobre pudera erguer uma obra cujo nome já percorria todo o país.”

    Mas, como em tudo na vida, as coisas nem sempre correram a seu gosto e algumas mágo-as começaram a afluir a Raúl Dória, diz-nos seu filho, “além de modestíssimo, fugindo de tudo o que de perto ou de longe transpirasse exibicionismo, meu pai jamais se mostrou in-grato com aqueles que de qualquer forma o auxiliaram ou com ele colaboraram. Por seu lado ajudou alguns a subir na escalada da vida, e, desses nem sempre recebeu o tributo da gratidão a que tinha jus, tendo ainda o desgosto de ser malsinado, caluniado e até atraiçoado por aqueles que se sentiam incomo-dados pela sombra gigantesca de um homem de baixa estatura. Mas meu pai, se um mo-mento vacilava, desgostoso com a calúnia soez, breve se retemperava, seguindo inalteravelmen-te o seu caminho, com os olhos postos na sua Escola, a avançar agora a todo o pano. O nome dela já era discutido, não só no país, mas também na vizinha Espanha e, principalmen-te no Brasil, de onde vinham numerosos jovens desejosos de se instruírem convenientemente nas lides comerciais que os habilitassem depois a singrar na vida.”

    Continuando a sua viagem pela vida de seu pai, diz-nos Álvaro Dória, “outro jus motivo de satisfação teve ele ao receber um ofício do Pre-

    sidente da Câmara Municipal do Porto, ao tempo o Dr. Nunes da Ponte, que, agradecendo o convite para assistir à Sessão Solene come-morativa do 8º aniversário da Escola, lhe co-municava que:

    “a Câmara aprovou, por unanimidade, que na acta desta sessão ficasse exarado um voto de louvor e congratulação pela forma como ministrais o ensino prático e teórico do comércio, na Escola que, com tão superior competência, dirigis.”

    O ano de 1911 é deveras marcante para a sua Escola, pois seu filho relata-nos, “nesse ano de 1911, em abril, aproveitando as férias da Páscoa, voltou meu pai a Paris, desta vez acompanhado de meu avô, e desta viagem, como se verá, vão sair grandes e profundas reformas na Escola. No ano letivo de 1911-1912, efetivamente, houve reestruturação na organi-zação dos cursos, introduzindo-se no de Guar-da-Livros novas cadeiras: Cálculo Comercial, História e Higiene. No Curso Secundário de Comércio, mais tarde denominado Curso Su-perior de Comércio, com quatro anos, introdu-ziram-se cadeiras de Ciências Físicas (com duas partes: Física e Ciências Naturais) no 3º ano, e Química no 4º ano, e ainda Língua Alemã, Esperanto, Matérias Primas e Desenho. A Escola contava então com 16 professores efetivos, incluindo o Diretor, 6 professores au-xiliares, para os cursos práticos, além de 3 professores especiais, que eram o de Educação Física, o de Música e o de Dança. Cuidadosa-mente selecionados, constituíam um núcleo homogéneo de pedagogos de alto valor, uns, apenas no começo da carreira em que mais tarde se notabilizaram, outros, já na plena posse das suas faculdades, sendo-me hoje gra-to recordar esses nomes, alguns dos quais foram meus mestres e meus amigos: O Dr. António Barradas, o Cap. António Dias Pimentel, o Dr. Artur Abeilard Teixeira, o Prof. Humberto Beça, o Prof. Hugo de Noronha, o Dr. Raul Tamag-nini Barbosa, o Prof. José dos Santos Pêra, a conhecidíssima professora de alemão Frau Else Heimburg, que a 1ª Guerra Mundial obrigou a emigrar, o não menos distinto e bondoso Prof. Charles Simon e tantos e tantos outros que vieram depois ampliar o quadro do Corpo Docente em face das exigências cada vez maio-res da expansão da Escola.”

    Continua Dória (filho), “entretanto, o lutador

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    denodado e incansável, dotado de uma tenaci-dade tão pouco habitual entre os portugueses, começava a ser atacado do mal que o vitimaria dez anos passados, e o obrigou a delicada in-tervenção cirúrgica, aliás sem resultado, por erro de diagnóstico que só nos últimos meses de vida pôde fazer-se corretamente, mas quan-do já não havia remédio. Este ano de 1912, a par do contratempo provocado pela doença de meu pai (que desde então sempre seria um valetudinário, frequentemente acamado, o que lhe perturbaria extraordinariamente o sistema nervoso aguçando-lhe a sensibilidade de ma-neira patológica), trouxe também notáveis progressos de ordem material com a instalação das oficinas de tipografia e encadernação nos baixos do edifício. Foi ainda em 1912 que meu pai, sobrecarregado com os trabalhos docentes e de direção da Escola, abalado de saúde por efeito da operação que sofrera, resolveu admi-tir pessoa que o pudesse coadjuvar nas suas funções na qualidade de, Codiretor, escolha que recaiu no professor do Ensino Particular José Campos Vaz, que, ao tempo, dirigia um colégio na vizinha Vila Nova de Gaia, e a quem de futuro se deveriam os prólogos dos Anuários publicados a partir de 1912-1913. Foi ainda neste ano letivo assinalado com pedra branca na vida brilhante da Escola Raúl Dória pelas realizações então levadas a cabo, a primeira das quais foi a construção de um pavilhão desmontável, instalado no amplo recreio, e onde, a partir daí, passaram a ser dadas as aulas práticas de Escrituração Comercial, desta for-ma deixando vagas as salas do 1º andar do edifício onde se haviam dado desde o início.

    Outra inovação foi a instalação de uma escola destinada ao sexo feminino, com o nome de Escola Prática de Comércio Raúl Dória, num edifício, hoje demolido, no Largo da Trin-dade, com três andares, onde funcionaria durante anos o colégio Alcântara Carreira, que meu pai tomou de trespasse, e para o qual transitaram as alunas que frequentavam a Escola de Gonçalo Cristóvão. Com administra-ção autónoma, por ser absolutamente indepen-dente da antiga Escola, não deu, infelizmente, os resultados esperados, pelo que, poucos anos depois, foi extinta, passando as alunas nova-mente para a Gonçalo Cristóvão.”

    Conta Álvaro Dória, “quando o Estado quis lançar as bases da organização do ensino ele-

    mentar e médio comercial e industrial, pela Direção Geral do Comércio e Indústria do Ministério do Fomento, foram solicitados a meu pai os programas da sua Escola, pois, como reza, o ofício de 14 de fevereiro de 1913, “bom é que aqueles que se interessam por estas coisas, consultem o que melhor haja organiza-do, sobre o assunto, no país.” Neste mesmo ano letivo criaram-se dentro da Escola várias as-sociações de estudantes, que, com vária fortu-na, duraram até ao encerramento da Escola: a Associação Fraternal dos Antigos Alunos, a Associação Recreativa e o Sport Club. No fim deste ano letivo realizaram-se as duas primei-ras excursões de longo alcance, a Braga e a Viana do Castelo, motivo de grande entusias-mo para os rapazes, que deram expansão à alegria e à exuberância juvenil com que sau-daram os seus Diretores. Mas as maiores datas deste ano memorável foram as das visitas ministeriais à Escola por parte do Dr. Afonso Costa, Presidente do Ministério, Dr. Sousa Júnior, Ministro da Instrução, e Eng. António Maria Silva, Ministro do Fomento.”

    O ano letivo de 1913-1914, continua a ser um ano de amplo desenvolvimento da Escola Comercial Raúl Dória, narra seu filho, “conti-nuava a progredir a Escola, com aumento constante de frequência, que neste ano letivo atingiu 341 alunos, e de novos professores. As instalações tiveram de ampliar-se, construindo--se então um segundo pavilhão, novas máqui-nas de escrever se adquiriram para as aulas práticas de dactilografia, montando-se também um pequeno laboratório para as demonstrações de Física e experiências de Química. Como o salão das aulas de Escrituração Comercial ficasse vago por elas terem transitado para os pavilhões anexos ao edifício, meu pai instalou ali um museu, que foi aumentando progressi-vamente e era motivo de curiosidade para os visitantes, e de estudo para os alunos.”

    O ano letivo de 1914-1915 inicia-se sob o signo da I Grande Guerra Mundial, e sobre este ano diz-nos Álvaro Dória, “neste ano aperfeiçoou-se mais ainda o Curso de Guarda--Livros, exatamente aquele que atraía maior número de alunos, introduzindo-se novas ca-deiras no seu elenco, embora se mantivessem os três anos iniciais. Simultaneamente passa-ram a adaptar-se, em várias dessas cadeiras, livros novos, da autoria de professores da

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    Escola e editados na mesma. As oficinas de tipografia e encadernação continuavam a tra-balhar em cheio, pois além das obras indicadas, e que começaram a ser pedidas por outras pessoas que não frequentavam a Escola, havia os cadernos de caligrafia e os trabalhos práti-cos de Escrituração comercial e respetivos impressos, que tinham um gasto extraordinário. Mas a grande inovação deste ano foi a inau-guração do cinema escolar, para que se utilizou, desde então, o magnifico pavilhão novo e se adquiriu uma máquina Pathé e numerosas películas, educativas umas, recreativas outras, tornando-se a partir deste ano as sessões de cinema obrigatórias em todas as festas come-morativas do aniversário da Escola.”

    Conta Dória sobre Dória, “a sua obra pare-cia ter atingido o ponto culminante, mas a resistência física do seu criador começava a revelar falhas. Muito criança ainda, eu próprio tinha a intuição – advinda da observação di-ária desse homem, cuja verdadeira grandeza só após a morte el alcancei plenamente – de que um dia breve não mais teria a companhia desse pai tão severo e, simultaneamente tão bom, tombado para sempre quando eu me en-contrava no limiar da mocidade.”

    No ano letivo de 1915-1916 a matrícula subiu até 317 alunos, dos quais 117 eram in-ternos, número máximo conseguido até então sendo muitos deles provenientes do Brasil, pois nesse ano registavam-se 60 alunos brasileiros nos boletins de matrícula da Escola. No final desse ano letivo recebeu a Escola nova visita de honra, na pessoa do Dr. Alexandre Braga, notável advogado e orador, antigo Ministro do Interior.”

    Homem frágil e doente Raúl Dória, sofria forte abalo no ano de 1917, conta-nos seu filho, “este ano letivo de 1916-1917 ficou, porém, as-sinalado por um acontecimento funesto na vida da Escola e na de toda a família Dória: o fa-lecimento de meu avô, ao fim de alguns meses de doloroso sofrimento de meu avô, ocorrido em 17 de março de 1917. Meu pai caíra de cama em novembro anterior, quando meu avô já se encontrava doente, o que o impediu que os 14 anos da Escola se comemorassem no seu dia, sendo adiada a festa, aliás de proporções re-duzidas, para os meados de dezembro. Mas se meu pai melhorou, meu avô não resistiu, e o que foi o seu imponente funeral di-lo a Impren-

    sa da época, cuja reportagem se registou no Anuário desse ano em seção especial. A par da dor que muitíssimo acabrunhou meu pai, havia a saudade de ter perdido para sempre um pai que jamais abandonara e que jamais o desam-parara e sempre fora o conselheiro amigo a indicar-lhe o melhor caminho para alcançar o seu objetivo, nunca se poupando a sacrifícios para proporcionar a felicidade ao filho, o úni-co homem que lhe restava de quatro rapazes que tivera, e em quem se revia. Meu pai tinha por ele uma verdadeira veneração que só então pude compreender ao acompanhá-lo todos os domingos e durante dois anos na visita à cam-pa onde meu avô repousa, e onde tantas vezes o vi chorar com os olhos cravados naquela lápide que assinalava o triste acontecimento.”

    Com mágoa e tristeza, avança Álvaro Dória, sobre seu pai, “está, porém, a aproximar-se o momento em que o Lutador indefeso que ergue-ra aquela obra vai tombar exausto. Disto teve ele o pressentimento, procurando, por isso, assegurar a continuidade da sua Escola que, quando ele faltasse soçobraria. Com um grupo de amigos e colaboradores criou a sociedade por quotas Raúl Dória, Limitada, que, a partir de 12 de setembro de 1919, passou a explorar aquela Escola. Alimentava meu pai um grande sonho, pois sabia que da sua concretização resultaria a consolidação da obra: a aquisição do edifício para onde se transferira havia 12 anos. Mas para dar realidade a esse desejo, tornava-se necessário vencer inúmeras dificul-dades, de que a menor era o seu custo. Por efeito de sucessivos falecimentos dos descenden-tes do primitivo proprietário, a propriedade encontrava-se extraordinariamente fracionada, alguns dos coproprietários viviam no Brasil, e outros haviam hipotecado a sua parte, de tudo resultando uma série de complicações e obsti-nações a vencer, o que levou, pelo menos, dois anos de luta, esperanças e desânimos.” Continua Dória, “meu pai revelava bem como era grande o esforço que fazia para continuar a luta que exigia um vigor físico de que já não gozava. Neste ano letivo de 1920-1921 adoeceu grave-mente, causando grandes preocupações a todos nós. Vendo-o na cama, custava-me a crer que ele pudesse desaparecer, e no meu íntimo fazia votos ardentes para que breve se restabelecesse. Após a crise grave por que passara, voltou meu pai ao trabalho e tudo parecia ter passado para

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    sempre, quando, em princípios de 1922, teve nova recaída. Com as preocupações voltaram os receios, aparentemente desvanecidos quando novamente se levantou e com disposição como havia muito o não víamos. A alegria do resta-belecimento fez esquecer as horas más, e no fim do ano letivo tudo parecia normalizado, quan-do a 7 de setembro fui chamado de Vizela, onde me encontrava com meus tios, por telegrama a reclamar a nossa presença urgente no Porto, para onde partimos nesse mesmo dia. Deixava meu pai com aspeto prometedor; voltava a vê-lo lívido, de olhar baço, quase irreconhecível. Senti-me paralisado ao saber que me encontra-va em frente do irremediável: meu pai morria!

    Continua, “mas, seu grande espírito não se mostrava ainda vencido pelo corpo em que se albergava. Ainda se ergueu, sentando-se no leito, para rever as provas do que havia de seu livro póstumo: Escrituração das Especialidades, o 5º da série “Estudos comerciais” que começa-ra a publicar dois anos antes. E vendo o esfor-ço que ele fazia para segurar nos dedos a ca-neta, senti-me tão comovido que lhe pedi que me deixasse a mim fazer a revisão, ao que ele se negou, consentido apenas que eu lhe segu-rasse a mão que tremia. Mas aquilo foi breve fogacho: ele já não concluiria a revisão das provas, voltando a deitar-se para não mais se erguer. E às 13 horas e meia dessa linda tarde de sol de 15 de setembro abria-se a porta do seu quarto para dar passagem ao médico as-sistente com a notícia fatal: meu pai falecera.

    Concluiu seu filho, “Raúl Dória morrera e com ele o grande sonho que fora a razão da sua vida durante vinte anos. Para trás ficavam esses anos de luta ingente, às vezes violenta, os ataques traiçoeiros, as vilanias com que pretendiam atingi-lo, as deslealdades, sim, mas também as horas altas dos triunfos, a satisfa-ção da vitória, a alegria daqueles a quem o meu pai dera alma que os ajudaria também a vencer na vida. Morrera sem ter ao menos a satisfação de saber, que deixava a sua Escola instalada definitivamente no edifício para onde mudara em 1907. Por pirraça dos Fados, a escritura de compra do prédio só pôde assinar--se um mês após o seu falecimento. Ele morre-ra, mas a sua obra ficou e continuou a viver por mais de 40 anos do impulso que ele lhe dera, assente nos alicerces que ele lhe abrira.”

    Concluiu António Álvaro Dória, com uma

    certa dor, “não sugiro que o Porto, a minha terra, recorde o nome de meu Pai com uma lápide na esquina de qualquer rua, por muito banalizada tal forma de prestar homenagem, aos vivos como aos mortos. Mas tendo sido meu Pai um dos mais estrénuos campeões do Ensi-no Técnico Comercial, causa estranheza que entre numerosas Escolas Técnicas Elementares existentes hoje no país, algumas batizadas com nomes absolutamente incolores, não houvesse uma a que dar o de Raúl Dória, o que o hon-rando, também contribuiria para não lhe dei-xar apagar o nome.”

    Este depoimento efetuado em 1966, e publi-cado mais tarde em 1968, é de grande profun-didade, não só porque alguém está a escrever sobre seu pai, o que não o obrigaria a tamanhos elogios, mas porque se trata de um escrito de profunda admiração e veneração por uma pessoa que, embora vivesse poucos anos, deixou tamanha obra, que só mais tarde ficaria reco-nhecida e muitos anos após a sua morte ofi-cializada pelo Estado português.

    Fica daqui, também a minha profunda ad-miração por este homem, RAÚL DÓRIA, mas também por sua família, principalmente na pessoa de seu filho, que dando continuidade ao trabalho do pai, embora envolvido noutras áreas, quis deixar também a sua “marca” na-quilo que foi a obra dos “DÓRIA”, ao longo dos anos.

    ANTÓNIO ÁLVARO DÓRIA SUCESSOR DE RAÚL DÓRIA

    António Álvaro da Silva Dória nasceu a 26 de outubro de 1902, no Porto e faleceu em 9 de setembro de 1990 em Braga. Era filho de Raúl Dória, notável contabilis-ta que, nas primeiras décadas do século XX, iniciou em Portugal o ensino profissional desta especialidade ao fundar a Escola Comercial Raúl Dória.

    Foi nesta escola que António Álvaro Dória concluiu o Curso Geral de Comércio, que lhe permitiu iniciar a sua atividade profissional

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    de contabilista e o exercício de docência nessa área. Por outro lado, adquiriu por sua inicia-tiva profundas competências em inglês e fran-cês, tendo durante vários anos lecionado línguas estrangeiras em diversas escolas, nomeadamen-te na Escola Frei Bartolomeu dos Mártires, em Braga.

    A partir de 1930 muda a sua residência para Braga, que ele co-nhecia desde criança, pois residia aí parte da sua família paterna.

    Juntamente com a sua atividade profissio-nal e de docência, teve ao longo da sua vida uma intensa atividade intelectual. Participou na elaboração de dicio-

    nários das línguas francesa e inglesa, como autor e coautor, colaborou em diversos jornais e revistas locais e regionais, publicando nume-rosos artigos sobre história e desenvolveu uma intensa atividade de recensão literária. Salien-ta-se a publicação em 1944, do ensaio biográ-fico, “A Rainha D. Francisca de Sabóia”, da Livraria Civilização, no Porto.

    Deu continuidade ao trabalho de seu pai, desenvolveu uma grande atividade no estudo da contabilidade, sendo autor de diversas obras didáticas e artigos técnicos em revistas da especialidade. Foi também o responsável pela 2ª e 3ª edições do “Dicionário Prático de Co-mércio”, da autoria de seu pai, em 1955 e 1970, respetivamente.

    Em 1979, a Academia Portuguesa de His-tória elegeu-o como académico correspondente e agraciou-o com uma medalha e placa. Em sessão comemorativa do 10 de junho, em Bra-ga, recebeu a Comenda das Ciências, Letras e Artes da Ordem Militar de Santiago e Espada.

    Foi associado fundador do Sindicato Nacio-nal dos Contabilistas e Empregados de Escri-tório de Braga e neste, grande impulsionador dos cursos de aperfeiçoamento profissional, de que foi nomeado diretor em 1946. Nesses cur-sos deu aulas noturnas e foi membro fundador da APOTEC – Associação Portuguesa dos Técnicos de Contas.

    Foi também notado como autor de contabi-lidade. Além da colaboração na Revista de

    Contabilidade e Comér-cio desde 1946 até 1986, escreveu sobre contabi-lidade pelo menos na Revista Indústria Por-tuguesa” e no jornal “Correio da Manhã”. Escreve o livro, “Reser-vas e Provisões – comen-tário contabilístico”, em 1983, onde distingue Reservas de Provisões, e afirma, “As contas de reservas são Contas do Capital Próprio ou da Situação Líquida Ativa (…) as provisões ocu-pam um lugar intermédio entre as reservas e as amortizações, mas situam-se mais próximas destas que daquelas”.

    António Álvaro Dória foi uma figura incon-tornável da cidade de Braga, quer ao nível dos estudos que fez de contabilidade, como de todas as obras históricas a que se dedicou, daí ainda hoje ter uma rua com o seu nome, nessa cidade.

    Não foi ao acaso que toda a sua generosi-dade que possuía na altura do seu falecimen-to, culminasse com a doação à CTOC, de todo o espólio bibliográfico que tinha acumulado ao longo da vida, acompanhado de uma carta endereçada pelos seus filhos a esta instituição, que não queria deixar de transcrever:

    “Exmos. Senhores, Desde o desaparecimento do nosso pai, António

    Álvaro da Silva Dória, que temos vindo a procurar o melhor destino a dar ao vasto espólio bibliográfico que com tanto carinho acumulou ao longo da vida.

    Para quem não sabe, ele revelou sempre desde muito novo um conjunto de qualidades invulgares que nós, seus filhos, pudemos testemunhar, embora sem nos darmos conta da sua real grandeza. Só para dar uma pequena ideia da sua excecional capacidade podemos descrever sucintamente o seu percurso do seguinte modo:

    Nasce em 1902, ano em que seu pai – Raúl Dória, funda a Escola que, de uma forma pioneira inicia em Portugal o Ensino Prático de Comércio e Conta-bilidade, a exemplo do que havia testemunhado, nomeadamente em França (Paris), adotando proces-sos e métodos até aí pouco ou nada utilizados na preparação de futuros profissionais, ditos ‘guarda--livros’.

    Depois de completar o ensino elementar, frequentou o curso que era ministrado na Escola de seu pai. Em 1918/19 depois de o completar é incentivado a integrar

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    o corpo docente da Escola, com apenas 17 anos de idade.

    A partir daí dedica-se com entusiasmo ao enrique-cimento da sua cultura acompanhando um grupo de jovens de mente bastante aberta para a época – cole-gas provenientes da própria Escola que frequentara, no cimentar das amizades nascidas naquele ambien-te, uns mais velhos outros mais jovens. Reunindo habitualmente em tertúlias com amigos de outras áreas, frequenta as livrarias do Porto, o centro A.C.M. (Associação Cristã da Mocidade) e integra o grupo A.E.P. (Associação de Escoteiros de Portugal).

    Em setembro de 1922 ocorre o falecimento do pai, Raúl Dória, o que veio a determinar uma mudança radical no rumo da sua vida, visto que por ser o mais velho de quatro irmãos e ter de assumir responsabi-lidades de quase chefe de família.

    Cedo surge o problema da titularização das quotas herdadas da sociedade comercial Raúl Dória, Limi-tada, constituída por nosso avô em 1919 com um grupo de amigos e colaboradores, procurando assim a continuidade do projeto.

    Este processo, que decorreu até meados de 1925, teve um desfecho muito desagradável para a família. Na sequência de várias situações criadas, para além do facto de seus filhos serem todos de menor idade e não haver um seguidor dentro da própria família que pudesse assumir a direção da Escola, levou a que as quotas pertencentes à família viessem a ser adquiridas por um dos outros sócios.

    As quotas dos herdeiros de Raúl Dória foram sen-do adquiridas, uma a uma, por valores bastante re-duzidos, dadas as circunstâncias do momento que atravessavam.

    António Álvaro Dória vê-se assim impotente para fazer valer a sua situação de sócio herdeiro dado ser agora minoritário.

    Este episódio é aqui sumariamente descrito para referir que, a partir dessa altura, a Escola passou a ser gerida por pessoa que não possuía o perfil de educador do tipo que seria necessário, para não só manter o espirito empreendedor e visão de futuro do seu fundador, como para continuar o esforço de alguns anos já, pela introdução do Curso nela ministrado dentro do estatuto do Ensino Oficial. Ou até para proceder, nos anos que se seguiram, à evolução e atualização que, como sabemos hoje, se viriam forço-samente a impor.

    Podemos dizer que o projeto corporizado pelo nos-so avô, com as características que tinha idealizado, durou apenas cerca de 30 anos.

    Em 1929 nosso pai casa, e vai viver para a cidade de Braga, onde residiam outros familiares chegados, após ter sido forçado a abandonar o seu cargo de professor na Escola Raúl Dória em face da sucessiva redução de horários que lhe foi sendo imposta pelo diretor de então.

    A partir daí desenvolve a atividade de contabilis-ta em variadas empresas da região, frequenta e obtém o Curso na Escola Comercial e Industrial de Braga;

    inicia várias colaborações em jornais e revistas de crítica literária e artigos de ensaio dentro das mais variadas áreas: técnica, linguística, histórica, literá-ria, filosófica, pedagógica, etc.; concorre a professor do Ensino Técnico Oficial.

    É convidado para exercer a atividade de Perito Contabilista junto dos tribunais de Braga e de Monção.

    Entretanto, porque foi alargando o seu agregado familiar com o nascimento de sete filhos, e para au-mentar os seus rendimentos, passou a acumular a função de professor do Ensino Técnico com o do En-sino Liceal, em matérias que lhe eram caras, , em vários colégios particulares da cidade de Braga.

    Entusiasta pelo movimento do associativismo dos empregados de escritório, passou a lecionar à noite no sindicato, onde foi um grande motor na reestru-turação do mesmo na companhia de algumas figuras esforçadas e entusiastas, ensinando e preparando os seus associados, transmitindo-lhes os seus conheci-mentos que estes necessitavam, mas que não tinham adquirido antes de iniciarem o exercício da profissão.

    Nos seus poucos momentos disponíveis efetuava ainda traduções de autores ingleses, que publicavam em universidades europeias e em Portugal, os resul-tados das suas investigações e pesquisas sobre épocas da história e literatura portuguesas muito pouco di-vulgadas nos círculos europeus.

    Sem prejuízo do tempo que devia dedicar à famí-lia, o nosso pai ainda encontrou disponibilidade e interesse para manter durante mais de cinquenta anos um intenso relacionamento epistolar com as mais diversas personalidades (de todas as partes do mun-do) com as quais foi estreitando laços de amizade e por vezes mesmo de grande intimidade. Alguns desses interlocutores vinham ainda daquele grupo de jovens acima mencionados da época da Escola.

    Durante toda a sua vida procurou sempre relembrar o nome de Raúl Dória, enaltecendo a sua memória, quer através de suas reedições do Dicionário Prático de Comércio, revistas e muito aumentadas, quer atra-vés da sua colaboração em revistas da especialidade, em jornais e outras publicações, como já referimos.

    Na devida altura inscreveu-se como TOC e parti-cipou interessadamente com nossos irmãos mais velhos, Raúl e Rui Dória, no arranque da APOTEC e da CTOC no Norte.

    Por todos estes motivos, vemos com muito agrado o amável e incansável empenho que o Exmo. Sr. Dr. Joaquim Cunha Guimarães nos demonstrou, para que a parte desse espólio bibliográfico de carácter técnico das bibliotecas pessoais de nossos Pai e Avô, viesse a ser acolhida pela biblioteca da CTOC.

    Calculamos que seria motivo de orgulho para nosso pai como o é presentemente para nós, os filhos, e nossos descendentes.

    Manifestamos deste modo o agradecimento sincero da Família Dória pelo gesto desta Organização espe-rando que o objetivo da doação seja compreendido quer pelos atuais, quer pelos futuros membros.

    Bem hajam!

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    CONCLUSÃO

    Em jeito de conclusão, queria apenas acres-centar que o que me moveu para fazer este trabalho, foi o facto de, num anterior trabalho relacionado com a História da Contabilidade em Portugal, “dar de caras” com esta impor-tante personagem ao consultor bibliografia sobre a evolução e difusão dessa temática.

    Efetivamente Raúl Dória foi um marco im-portante na divulgação contabilística nos pri-mórdios do século XX e talvez o facto de per-tencer ao Porto e situar toda a sua atividade no Norte, tenha feito com que o seu nome não fosse tão conhecido como outros grandes pen-sadores desta arte, que é a Contabilidade e o Comércio.

    A figura ímpar de Raúl Dória, que a morte prematura, com apenas quarenta e quatro anos de idade, ceifou-nos do muito que ainda tinha para dar à ciência das artes comerciais, fez dele um símbolo de persistência, dedicação e devoção à sua segunda família, a Escola Co-mercial Raúl Dória.

    É de realçar que morreu sem ver oficializada a sua Escola, pese embora todos os esforços e promessas de então, e até de exemplo que foi para o futuro das Escola Técnicas, que foram beber muito do que se ensinava na Escola Comercial Raúl Dória.

    O seu amor pelo ensino e pelo professorado foram de tal forma enormes, que o fez aban-donar os seus estudos, para se dedicar de corpo e alma a esta nobre profissão.

    Teve no seu pai, um grande conselheiro e na sua família um total apoio, sendo seu filho António Álvaro Dória, um exemplo de venera-ção e continuação do trabalho deixado por seu pai.

    Raúl Dória, não pode, nem deve deixar de pertencer aquele pequeno grupo que deram ao estudo da Contabilidade e ao desenvolvimento da escrituração comercial, o seu “mondus vi-vendi”, e por isso ficaram para sempre na história de Portugal no que respeita a estas matérias.

    Para terminar, Raúl Dória, tal como Cami-lo Cimourdain de Oliveira, António Lopes de Sá, Rogério Fernandes Ferreira, Ricardo José de Sá, Jaime Lopes Amorim, Fernando Vieira da Silva, Martim Noel Monteiro, entre outros, estarão sempre ligados aquilo que de melhor

    se fez em Portugal no que respeita aos estudos contabilísticos e escrituração comercial, poden-do mesmo considerá-los os “pais” desta ciência, hoje em dia já tão banal em nossas vidas.

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    ANEXOS

    Original de Registo de Óbito de Raul Montes da Silva Dória

    Alvará nº 806, do Ministério da Educação Nacional.Oficialização da Escola Prática Comercial Raul Dória

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    Raúl Dória e sua Escola em fotografia

    Instalações Palácio das Lousas

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    COMPOSIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DA CONTABILIDADE PARA O TRIÉNIO 2019-2021

    PrEsidEntE HOnOrÁriO dO CEHC: ESTEBAN HERNÁNDEZ ESTEVE, PROF. DOUTOR

    PrEsidEntE dO CEHC: ANTÓNIO CAMPOS PIRES CAIADO, Prof. Doutor

    PrEsidEntE dO COnsElHO CiEntífiCO: MARIA DA CONCEIÇÃO COSTA MARqUES, Prof. Doutora – Professora no ISCAC. CONSELHEIROS: LEONOR FERNANDES FERREIRA – Professora associada convidada na Nova School of Business and Economics (Nova SBE, UNL) • MANUEL JOSÉ BENAVENTE RODRIgUES, Doutor – Investigador ESPP-ISCTE-IUL • MARIA JULIETA NEVES AZEVEDO – Docente no ISCAL • MIgUEL ÂNgELO CAÇOILO gONÇALVES, Dr. – Professor no ISCAC • OLgA CRISTINA PACHECO SILVEIRA, Dr.ª – DgO

    PrEsidEntE dO COnsElHO ExECutivO: CARLOS ALBERTO DOMINgUES FERRAZ, Dr. – ROC. CONSELHEIROS: ANTÓNIO JORgE PEREIRA RIBEIRO, Dr. – Associado da APOTEC • ArmINDo FErNANDES DA CoSTA, Dr. – revisor oficial de Contas • CECILIA MARgARITA RENDEIRO CARMO, Dr.ª – Professora Adjunta do ISCA-UA • HELDER VIEgAS SILVA, Dr. – Docente no ISCAL • JOÃO FILIPE gONÇALVES PINTO, Dr. – Presidente da Assembleia Geral da APoTEC • JOSÉ MARTINS LAMPREIA, Dr. – roC • MATILDE CONCEIÇÃO ESTEVENS, Dr.ª – ex-Docente do ISCAL • MIgUEL MARIA CARVALHO LIRA, Prof. Doutor – Professor no ISCAC • RUI JORgE SAAVEDRA MAgALHÃES, Dr. – Docente no ISCAP • SEVERO PRAxEDES SOARES, Dr. – roC • TIAgO MATALONgA BARREIRO JORgE, Dr. – Docente no ISCAL

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    PrémiO História da COntabilidadE martim nOEl mOntEirO – aPOtEC 2020

    O Centro de Estudos de História da Contabilidade, da nossa Associação, APOTEC – Asso-ciação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade, institui um prémio anual destinado a premiar trabalhos tendo como objectivo o estudo e divulgação da História da Contabilidade, o qual pode ser apresentado até 15 de Dezembro de 2020.

    PrémiO EnriquE fErnandEz PEña dE HistOria da COntabilidadE – aECa 2020-2021

    A Comissão de História da Contabilidade da AECA, premeia todos os anos trabalhos sobre história da contabilidade, em qualquer das línguas ibéricas, publicados ou apresentados ofi-cialmente em Congressos, Encontros e similares, assim como em Universidades, entre 1 de Julho de 2020 e 30 de Junho de 2021.

    xii EnCOntrO EstEban HErnandEz EstEvE DE HISTORIA DE LA CONTABILIDADE

    ALGUNS ENDEREçOS ÚTEIS EM HISTÓRIA DA CONTABILIDADE

    Revista electrónica “De Computis” –AECA –Espanha: www.decomputis.org

    Comissão de História de Contabilidade da AECA: www.aecal.org/comisiones/comisionhc.htm

    Società Italiana di Storia della Ragioneria : www.sisronline.it

    The Academy of Accounting Historians: www.accounting.rutgers.edu/raw/aah

    novas da história

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    arte e contabilidade

    fóliO 45 dO livrO mEstrE dO ErÁriO régiO 537, anO dE 1762O título da conta inscrita neste fólio – Despesas da Guerra- está escriturado em letra francesa.

    Este tipo de caligrafia surgiu no fim do século XVII em França e as letras são inspiradas num círculo inscrito num quadrado, e por isso são redondas (rondes). Quanto à discriminação dos lan-çamentos estão em inglês cursivo; a grande diferença é que a primeira é escriturada com um apa-ro quadrado de ponta cortada, enquanto a segunda com um aparo flexível.

    Quanto à escrituração do débito e do crédito, repare-se que no lado direito –crédito- do fólio, as linhas em branco foram ocupadas pela continuação dos lançamentos a débito do lado esquerdo. Aqui no Erário, isto acontecia não por uma questão de economia do espaço, mas porque a leitura da respectiva conta, se tornava mais racional aos escriturários.

    Expressa entre outras, despesas com aquisições de pólvora, enxofre e entregas de dinheiro a di-versos agentes, entre os quais David Purry, Pina Manique e Conde de Lippe.

    O tema deste fólio, Despesas com a Guerra, tem a ver com a chamada Guerra Fantástica, Guer-ra do Mirandum, ou Guerra do Pacto de Família, porque na verdade não houve batalha conven-cional em Portugal, apenas guerrilhas, de que Portugal saíu mais ou menos vencedor contra o exército franco-espanhol, graças também à estratégia do Conde de Lippe, contratado para enquadrar o exército português.

    Por sua vez, esta Guerra Fantástica, integrou-se num grande conflito europeu, conhecido como Guerra dos Sete anos, e de que a Inglaterra saíu vencedora. Desenrolou-se em vários continentes e oceanos – há autores que a consideraram já, a primeira guerra mundial- e serviu para arrumar o resto das contas que não tinham ficado acertadas em 1748, após a entrega da Silésia à Prússia de Frederico II e o reconhecimento de Maria Teresa e Francisco I como imperadores do Império Ro-mano-Germânico.

    Manuel Benavente Rodrigues