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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE TURISMO LÍVIA PINTO FÉLIX INFLUÊNCIAS E EFEITOS DO TURISMO CULTURAL NA PRAINHA/AQUIRAZ: RELAÇÃO ENTRE VISITANTES E VISITADOS FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE TURISMO

LÍVIA PINTO FÉLIX

INFLUÊNCIAS E EFEITOS DO TURISMO CULTURAL NA PRAINHA/AQUIRAZ:

RELAÇÃO ENTRE VISITANTES E VISITADOS

FORTALEZA

2013

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LÍVIA PINTO FÉLIX

INFLUÊNCIAS E EFEITOS DO TURISMO CULTURAL NA PRAINHA/AQUIRAZ:

RELAÇÃO ENTRE VISITANTES E VISITADOS

Monografia submetida à aprovação Coordenação do Curso de Turismo da Faculdade Cearense como requisito parcial para obtenção do título de Graduação, sob orientação da professora Paula Roberta Leite.

FORTALEZA

2013

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LÍVIA PINTO FÉLIX

INFLUÊNCIAS E EFEITOS DO TURISMO CULTURAL NA PRAINHA/AQUIRAZ:

RELAÇÃO ENTRE VISITANTES E VISITADOS

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Turismo, outorgado pela Faculdade Cearense – Fac, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: 18 / 06 / 2013

BANCA EXAMINADORA

Professor (a) Paula Roberta de Oliveira Leite (Orientadora)

Professor (a) Mansueto da Silva Brilhante (Coordenador)

Professor (a) Maria Isabel de Barros Mamede Holanda

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A todos os profissionais que fazem com que o Turismo Cultural não

perca seus valores idealizando, assim, uma relação de benefícios

mútuos entre turista e comunidade receptora.

Aos meus familiares e, em especial, a minha MÃE.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por ter me dado garra e coragem para concluir mais uma etapa na

minha vida e foi a fé e dedicação que tenho que me ajudaram a alcançar este momento

tão esperado.

A minha família, pelo apoio e confiança em mim depositados, principalmente a minha

mãe Evilalba, que me ensinou a nunca desistir dos meus sonhos e esteve comigo em

busca deles, em momento algum me deixou fraquejar e esteve comigo nas vitórias e

derrotas. A minha tia Dione e minha avó Lindaura, anjos do céu que estão sempre

comigo, e nessa trajetória foram pessoas que sempre torceram pela minha vitória.

A Faculdade Cearense, que me deu a oportunidade de realizar atividades que sempre

tive vontade, que proporcionou momentos importantes e felizes na minha vida.

Aos meus queridos e amados Professores, que foram a base de toda essa trajetória.

Obrigada pela dedicação e atenção a mim dispensada, em especial a Professora Ariane

e a minha orientadora Paula Roberta, que, com seu carinho e paciência, acreditou no

meu trabalho e na minha dedicação. Aos demais só tenho que agradecer aos

ensinamentos passados, à competência, a amizade e pedir que Deus abençoe a vida de

cada um deles, pois tive sorte de ter os melhores ao meu lado.

Por ultimo e não menos importante aos meus colegas de sala. Com eles todo o caminho

pareceu mais fácil, as dificuldades foram ultrapassadas a cada semestre e todos os

momentos foram superados com alegria, parceria e amizade, acima de tudo.

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“É muito melhor lançar-se em busca de conquistas grandiosas,

mesmo expondo-se ao fracasso, do que alinhar-se com os pobres

de espírito, que nem gozam muito nem sofrem muito, pois vivem

numa penumbra cinzenta, onde não conhecem nem vitória nem

derrota”.

(Theodore Roosevelt)

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RESUMO

O Turismo Cultural é um tipo de turismo que remete a identidade do local em questão.

Práticas, costumes, crenças, valores, tudo que é característica de um povo engloba de

certa forma o Turismo Cultural, sendo de uma importância imprescindível a preservação

do mesmo. Esta pesquisa primeiramente dá uma visão geral do Turismo por concepções

de autores através de conceitos e análises, fazendo-se necessária esta análise mais

específica, incorporando assim o Turismo cultural. Este será estudado na comunidade da

Prainha, onde é muito comum o atrelamento da cultura local com a prática do turismo. O

patrimônio material e imaterial é utilizado para atrair turistas e trazem, com isso, economia

para a comunidade, que vive dessa troca. O objetivo geral será analisar a relação entre

turistas e comunidade, identificando os benefícios e as consequências causadas.

Especificamente, o objetivo será traçar também um perfil dessa influência externa,

analisar seus efeitos ao longo dos anos e definir o que trouxe de desenvolvimento e

conseqüências para o local. A problemática será constituída diante do questionamento

seguinte: qual a visão dos moradores da Prainha diante do Turismo praticado na

comunidade? A metodologia a ser utilizada será a pesquisa bibliográfica e a entrevista,

quando moradores serão indagados o quão essa relação é benéfica, como eles convivem

com os visitantes e até que ponto vai esse contato. Diante da metodologia aplicada foram

verificados os benefícios causados pelo Turismo na comunidade da Prainha como o

desenvolvimento da área, o próprio sustento que os moradores tiram do mesmo, dentre

outros aspectos analisados. Constatou-se também a preservação do Turismo Cultural em

que turistas se sentem mais atraídos a visitar a localidade e a construir a ideia de

sustentabilidade, que não deixa de ser visível. Os resultados desta análise feita destacam

a importância de um planejamento e de investimentos na Prainha.

Palavras-chave: Influências, Cultura, Turismo e Comunidade.

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ABSTRACT

The Cultural tourism is a type of tourism that refers the identity of the site in question.

Practices, customs, beliefs, values, everything that is characteristic of a people

encompasses somehow Cultural Tourism, being of vital importance to the preservation of

the same. This research first gives an overview of the concepts of tourism by authors

through concepts and analysis, making it necessary that more specific analysis, thus

incorporating the cultural tourism. This will be studied in the community of Prainha, where

it is very common for the harnessing of local culture and practice of tourism. The tangible

and intangible heritage is used to attract tourists and bring with it, saving to the community,

which lives this exchange. The overall objective is to analyze the relationship between

tourists and the community, identifying the benefits and consequences caused.

Specifically, the aim is also to draw a profile of this external influence, analyze its effects

over the years and define which brought development and consequences for the site. The

problematic will be made before the following question: what is the vision of the residents

of Prainha on tourism practiced in the community? The methodology to be used will be the

literature and the interview, when residents will be asked how this relationship is beneficial,

as they live with visitors and to what extent will this contact. Given the methodology were

verified benefits caused by tourism in the community of Prainha as the development of the

area, the very sustenance that residents take the same, among other aspects analyzed. It

was also the preservation of cultural tourism where tourists are most attracted to visit the

location and build the idea of sustainability, which is nonetheless visible. The results of this

analysis highlight the importance of planning and investment in Prainha.

Keywords: Influences, Culture Tourism and Community.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Windsurf em Jericoacoara .................................................................... 16

FIGURA 2 Voo Livre em Quixadá .......................................................................... 16

FIGURA 3 Trilha na Serra de Baturité .................................................................... 17

FIGURA 4 Romaria em Canindé ............................................................................ 18

FIGURA 5 Romaria em Juazeiro do Norte ............................................................. 18

FIGURA 6 Centro de Eventos do Ceará ................................................................ 19

FIGURA 7 Arena Castelão ..................................................................................... 19

FIGURA 8 Mapa de Localização de Aquiraz e da Prainha .................................... 24

FIGURA 9 Igreja Matriz de Aquiraz ........................................................................ 26

FIGURA 10 Antiga Casa da Câmara em Aquiraz, ................................................. 26

hoje Museu Sacro São José do Ribamar

FIGURA 11 Prainha Aquiraz Ceará ......................................................................... 27

FIGURA 12 Renda de Bilro ...................................................................................... 28

FIGURA 13 Casa de Praia na Prainha .................................................................... 29

FIGURA 14 CE040 Estrada que dá acesso à Prainha ............................................ 31

FIGURA 15 Centro das Rendeiras da Prainha ........................................................ 33

FIGURA 16 Placa de sinalização do Centro das Rendeiras .................................... 34

FIGURA 17 Associação das Rendeiras/Local da entrevista .................................... 37

FIGURA 18 Rendeira Irene da Silva ........................................................................ 38

FIGURA 19 Rendeira Santa Sousa .......................................................................... 39

FIGURA 20 Rendeira Maria Ferreira ........................................................................ 41

FIGURA 21 Rendeira Zenaide Moisés ..................................................................... 44

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11

2 TURISMO: EVOLUÇÃO E CONCEITOS ........................................................... 13

2.1 Visão geral e definições .................................................................................. 14

2.2 Principais segmentos do Turismo no Ceará .................................................... 15

2.3 Turismo cultural: definição e relação .............................................................. 20

2.4 O Turismo Cultural na prática .......................................................................... 22

3 PRAINHA AQUIRAZ ........................................................................................... 24

3.1 Aspectos Históricos do Município de Aquiraz ................................................. 25

3.2 Prainha: História e Desenvolvimento ............................................................... 27

3.2.1 Os efeitos do Turismo na comunidade .......................................................... 29

3.3 Rendeiras da Prainha ....................................................................................... 32

4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 35

4.1 Entrevista aplicada na comunidade .................................................................. 36

4.2 Resultado da análise ........................................................................................ 45

5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 47

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 49

APENDICE ............................................................................................................. 50

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1 INTRODUÇÃO

O Turismo Cultural, dentre seus diversos conceitos, configura-se em uma

atividade que explicita a identidade de uma comunidade. Nesta identidade cultural está

reunido tudo que caracteriza determinado grupo e o que o difere de outros.

Ao serem praticadas ao longo do tempo, estas atividades, sejam elas

costumes, crenças, danças, dentre outras, vão sendo mantidas e propagadas,

construindo, assim, um valor social de extrema importância na identificação da

comunidade.

A Cultura e o Turismo estão diretamente associados, pois um complementa o

outro em diversos fatores, sendo o principal destes os benefícios causados por essa

associação. Uma cidade que possui atrativos culturais irá se beneficiar com o turismo,

pois este atrairá pessoas para visitação e com isso divulgará determinada cultura.

Por outro lado, com a visitação estabelecida, subtende-se que as pessoas

responsáveis por tais atrativos irão se preocupar cada vez mais em mantê-los, pois este

ciclo de atrativos e turistas traz bastantes benefícios para população local. Este

pensamento é na teoria, mas será que na prática acontece como planejado?

Então, a problemática será constituída diante do questionamento seguinte: qual

a visão dos moradores da Prainha diante do Turismo praticado na localidade? Tal

pergunta pretende ser respondida considerando a comunidade da Prainha, localizada no

município de Aquiraz. No local, estabeleceu-se o interesse turístico devido ao seu grande

potencial e às belezas naturais. Hoje em dia a Prainha encontra-se na lista de destinos

mais procurados para a visita diária de quem tem pretensão de conhecer as outras praias

do litoral leste de Fortaleza ou para quem tem casas de praia, pois é um local de grande

especulação imobiliária devido à alta procura.

Assim, o objetivo deste trabalho, de forma geral, é identificar os benefícios e as

consequências da relação turista e comunidade local, verificando o desenvolvimento da

comunidade da Prainha em Aquiraz. Especificamente, o objetivo será traçar um perfil

dessa influência externa, analisar seus efeitos ao longo dos anos e definir o que trouxe de

desenvolvimento e consequências para o local.

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Para a análise da associação entre Turismo e Cultura e a busca pelos objetivos

citados, a identificação dos benefícios e das consequências causados por tal relação será

identificada na entrevista a ser aplicada com os moradores da comunidade da Prainha.

Nesta os atrativos turísticos, o tratamento receptivo ao turista, a infra-estrutura da cidade,

a situação hoteleira e os prestadores de serviço serão correlacionados e analisados.

Na estrutura do trabalho, expõe-se no primeiro capítulo uma introdução ao

tema. Logo em seguida, no capítulo dois, será conceituado Turismo e os tipos mais

comuns encontrados no Ceará. Há no mesmo capítulo uma conceitualização de um tipo

de turismo específico, o Turismo Cultural e ainda uma constatação do mesmo na prática.

No decorrer do capítulo três, desenvolve-se sobre a Prainha e o Turismo Cultural na

comunidade. Por fim, o capítulo quatro mostrará os resultados da análise das entrevistas

feitas com os moradores da Prainha, sendo seguido da conclusão e das referências

bibliográficas.

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2 TURISMO: EVOLUÇÃO E CONCEITOS

Turismo é sinônimo de deslocamento e este é feito há milhares de anos por

motivos dos mais variados. No início do século XIX, estes deslocamentos obtiveram uma

importância econômica e social, onde daí começou a surgir de fato o interesse na

atividade turística, comercializando os mesmos de forma organizada e precisa. Neste

mesmo período ocorreu também o surgimento dos termos ‘turismo’ e ‘turista’ com valores

teóricos, nos quais diversos escritores do mundo canalizaram os conceitos sobre o

turismo, expondo seus pensamentos em livros publicados na época.1

Após o crescimento do interesse em se estudar a atividade turística em escolas

e universidades, foram surgindo novas definições e a cada dia se desenvolvia cada vez

mais sobre o assunto. Já na prática, Dias (2005, p.16) afirma que

Privilegiou-se o tráfego pela importância que se dava à superação de distâncias.

Então os chamados ‘turistas’ eram pessoas que tinham condições para arcar com

todas as despesas do deslocamento, ou seja, uma minoria.

Considerou-se o marco inicial do turismo a viagem feita por Thomas Cook no

ano de 18412, onde a partir deste momento a prática do turismo foi se modificando e

tornando-se cada vez mais acessível. A inovação da viagem de Cook foi tornar as viagens

acessíveis a um maior número de pessoas, o que ele conseguiu organizando a viagem

com um pacote de serviços, tais como: transporte, acomodação e atividades no local de

destino.

No avançar dos anos, a prática do Turismo foi se tornando cada vez mais

popular. Surgiram diversas facilidades, dentre elas a de deslocamento, financeiras, o

cômodo da internet, o acesso ao local desejado antes mesmo de visitá-lo, dentre outras.

Com essas facilidades surgiu também uma organização na disponibilidade destes

requisitos, quando as agências oferecem os pacotes com toda uma programação com a

qual o cliente não se preocupa com nada, e ainda dá o suporte e segurança nos possíveis

imprevistos da viagem.

1 www.meguiabrasil.com/historiadoturismo

2 Dias, Reinaldo.2006.Turismo e Patrimônio Cultural

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A partir deste desenvolvimento do Turismo, surgiu a preocupação de defini-lo

diante da sociedade. No capítulo seguinte há várias definições da desta atividade e o que

ela representou para época.

2.1 Visão Geral e definições

O Turismo, de modo geral, pode ser visto de três formas. A primeira é afirmada

na definição da Organização Mundial de Turismo (apud DIAS, 2006, p.10) que descreve o

turismo como o setor que compreende “as atividades que praticam as pessoas durante

suas viagens e estadias em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período

consecutivo inferior a um ano, com o objetivo de lazer, negócios ou outras”, ou seja,

atividades que são incentivadas a serem praticadas quando uma pessoa viaja, fora da

rotina, motivadas a certo objetivo: descanso, entretenimento, conhecimento, negócios,

dentre outros.

A segunda segue na perspectiva social, em que Oscar de La Torre Padilha

(apud DIAS, 2006, p.10) descreve o turismo como,

um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, por motivo de recreação, descanso, ou saúde, se deslocam de seu lugar de residência habitual a outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural”. Neste, além das atividades fora da rotina, engloba-se na definição as inter-relações pessoais, quando em uma viagem a pessoa acaba tendo contato com outras, trocando experiências e conhecimentos de outras culturas.

Em uma terceira visão, desta vez de Molina (apud DIAS, 2006), além de todos

os requisitos citados, o turismo também é um sistema com vários subsistemas integrados

para alcançar um objetivo em comum, que são: a superestrutura, a demanda, a infra-

estrutura, os atrativos naturais e culturais, os equipamentos e instalações e as

comunidades receptoras. Esses subsistemas formam o ciclo do turismo, em que a relação

dos mesmos sustenta o sistema turismo e fazem com que o mesmo funcione da forma

correta, beneficiando a todos que participam direta ou indiretamente.

Segundo Dias (2006, p.11), “o turismo é um fenômeno de várias dimensões –

política, econômica, social, cultural, educativa, ambiental, entre outras – que, quando

devidamente exploradas, podem trazer inúmeros benefícios tanto para os turistas quanto

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para os residentes de um destino turístico.” Esta análise é, sobretudo, de uma perspectiva

econômica, com que se identificam os pontos positivos trazidos para comunidade local.

Em todos esses aspectos mencionados, o Turismo consegue transformar os

atrativos de um local em um produto comercializável, valorizando e preservando o

mesmo. Conforme Dias (2006, p.14), ”paisagens, mitos, lendas, música, estórias e

história, entre outros, são recursos que o turismo valoriza e disponibiliza a um mercado

consumidor com vontade de conhecimento, novidade e diversidade. Nesse processo, o

turismo gera renda e trabalho como o envolvimento de recursos jamais imaginados

durante o período da industrialização.” Tornar o produto com capacidade turística

comercializável não quer dizer que o mesmo será explorado até se tornar escasso ou até

mesmo inexistir, a atividade do uso consciente (sustentabilidade) é um dos preceitos para

que a utilização do atrativo torne-se possível e viável.

Conforme Beni (2007, p.34), “o Turismo, por sua definição, pode ser dividido

em três campos: o econômico, em que serão analisados os benefícios desta atividade no

ramo empresarial, sendo considerada industrial por englobar diversos setores; o técnico,

que seria uma definição padrão para diferenciar esta atividade das outras; e o holístico,

que é uma abordagem do assunto em geral, em que se reconhecem todos os aspectos e

centralizam-se os estudos no principal, o turista.” Um exemplo de definição holística do

Turismo é exemplificado por Jafar Jafari (apud BENI, 2007, p.36)

É o estudo do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e os impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físicos, econômico e sociocultural da área receptora.

Esta última definição, a holística, é vista e analisada de uma forma geral, onde

o intuito seria detectar os dois aspectos que compõe o Turismo: o turista, afirmado na

citação anterior como ‘o homem longe de seu local de residência’; e os serviços turísticos,

na citação a ‘indústria que satisfaz suas necessidades’.

2.2 Principais segmentos do Turismo no Ceará

O Ceará é um estado com paisagens bastante diversificadas e, embora o

turismo ‘sol e praia’ seja ainda o mais divulgado e praticado, dispõe de uma variedade de

atividades que vem crescendo e se desenvolvendo cada vez mais no mercado. Em cada

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cidade com atrativos se destaca um tipo diferente de turismo, pois, dependendo do que

esta tenha como patrimônio, o mesmo será o que determinará o tipo de turismo

desenvolvido na área em questão.

Três destaques de tipos de turismo praticados no estado são o esportivo, o

ecológico e o religioso3.

No esportivo, as áreas que algumas cidades proporcionam são ideais para a

prática de esportes e, com os eventos realizados frequentemente, o fluxo turístico

aumenta. Os exemplos mais conhecidos são a praia de Jericoacoara, onde se pratica o

windsurf e Quixadá, onde acontecem os campeonatos de voo livre. Os esportes citados

estão representados nas duas imagens a seguir.

Figura 1: Windsurf em Jericoacoara Fonte: http360graus.terra.com.brwindsurf

Figura 2: Voo Livre em Quixadá Fonte: www.fasantur.blogspot.com.br

3 www.biblioteca.sebrae.com.br

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O turismo ecológico é bastante praticado na região das serras. Este se

desenvolveu nessas áreas, tornando-se fonte de renda para população local. A população

está cada vez mais qualificada para atender a demanda, passando todas as noções de

segurança e qualidade no decorrer da atividade. Neste tipo é vivenciado o Ecoturismo,

quando, além de praticar diversos tipos de atividades como trilhas, caminhadas, etc, é

passada também aos visitantes a importância da sustentabilidade. Este pode ser

praticado na serra de Baturité (como mostra figura abaixo), na região do Cariri, Ibiapaba,

dentre outros locais.

Figura 3: Trilha na Serra de Baturité Fonte: http://ecojovemjm.blogspot.com.br

O turismo religioso é outro tipo de turismo em expansão no estado do Ceará.

Este, em determinadas épocas do ano, demanda um fluxo exorbitante de turistas, e

muitas vezes nas cidades sedes não são feitos planejamentos, por isso é classificado

também como um turismo de massa. As cidades de Juazeiro do Norte e Canindé são as

mais divulgadas, até em nível nacional. Diante da fé, a maior motivação neste tipo, as

pessoas percorrem distâncias consideráveis grandes para pagar promessas feitas aos

respectivos santos. Nestas cidades existe também o turismo indireto, quando muitas

pessoas frequentam as mesmas por outros motivos, entrando também nas estatísticas de

fluxo turístico das cidades citadas. A imagem abaixo representa a romaria na cidade de

Canindé, a próxima a romaria na cidade de Juazeiro do Norte, estas são as mais

populares no estado do Ceará sendo conhecidas em todo o Brasil.

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Figura 4: Romaria em Canindé – Ceará Fonte: www.aprece.org.br

Figura 5: Romaria em Juazeiro do Norte Fonte: www.jangadeiroonline.com.br

Além dos três tipos citados, um dos maiores destaques de turismo em

expansão no estado do Ceará é o turismo de eventos. A cidade de Fortaleza, por ser bem

localizada geograficamente e bem estruturada fisicamente, se tornou palco de grandes

eventos nacionais e internacionais. Uma das estruturas mais bem planejadas e ousadas

foi a construção do Centro de Eventos, onde em 152.694 metros quadrados de área total

estão distribuídas 36 salas integradas, dois salões com 13,6 mil metros quadrados cada,

3,2 mil vagas de estacionamento, além de banheiros, fraldários, ambulatórios, brigada de

incêndio, ouvidoria, vigilância sanitária, juizado de menores, salas de impressa, tradução

simultânea e segurança4.

4 www.feiratopmovel.com.br/2012/a-feira/centrodeeventosdoceara

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O turismo de eventos é um tipo de turismo que, se for bem planejado e

estruturado traz muitos benefícios para as cidades sedes pelo fato de demandar muitos

turistas, principalmente em eventos internacionais. Quando acontecem eventos deste

porte (internacionais), praticamente toda a cidade se prepara para receber pessoas de

outros países, seja da forma que for, além do melhoramento da infra-estrutura da cidade,

visando benefícios não só para os visitantes, mas para a comunidade e as pessoas que

trabalham na área do turismo. As imagens a seguir mostram o quanto os órgãos

governamentais estão investindo neste setor. A primeira mostra o Centro de Eventos do

Ceará e a outra o Arena Castelão, já citados no parágrafo anterior.

Figura 6: Centro de Eventos do Ceará Fonte: www.feiratopmovel.com.br/2012

Figura 7: Arena Castelão Fonte: www.redecol.com.br

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Com o Centro de Eventos e o Arena Castelão, Fortaleza sediará vários eventos

internacionais como: Copa das Confederações, Copa do Mundo, dentre outros. Essa

divulgação a nível mundial trará também diversos benefícios para estrutura da cidade e

para o Turismo, pois o estado do Ceará ficará conhecido por todo o mundo e se receber

da melhor forma possível esses visitantes poderá atrair cada vez mais deles em outras

épocas, garantindo uma fidelização dos mesmos.

2.3 Turismo Cultural: definição e relação

O Turismo cultural é aquele realizado em regiões (bairros, cidades, países) que

oferecem locais com informações culturais. Geralmente, este tipo de turismo ocorre em

cidades históricas ou locais com monumentos arquitetônicos com grande

representatividade cultural.5 Este tipo de turismo apresenta-se como, afirma Dias (2006,

p.36), “um caminho para obtenção de fundos necessários à preservação da herança

cultural e como uma ferramenta para proporcionar o desenvolvimento econômico local,

regional e até mesmo nacional.”

Com um papel mais para o lado educativo, quem pratica o turismo cultural tem

por objetivo o conhecimento, e dentro deste conhecimento há várias motivações, algumas

vezes pessoais, outras com uma enorme amplitude.

Segundo a Association for Tourism and Leisure Education (apud DIAS, 2006,

p.39), o Turismo Cultural é “o deslocamento de pessoas para atrativos culturais fora do

seu habitual de residência, motivando ter novas informações e experiências para

satisfazer necessidades culturais.”

Já a Embratur (apud DIAS, 2006, p.40) define turismo cultural como

Aquele que se pratica para satisfazer o desejo de emoções artísticas e informação

cultural, visando à visitação a monumentos históricos, obras de arte, relíquias,

antiguidades, concertos musicais, museus e bibliotecas.

O Ministério do Turismo (2010, p.15) afirma que o Turismo Cultural advém da

vivência de um conjunto de elementos significativos como bens históricos, ou seja, a

5 www.suapesquisa.com.br

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prática do turismo cultural será de fato efetivada quando o indivíduo tiver contato com

estes elementos e construir assim uma experiência vivida a partir de determinado

momento. Então, será um conjunto de atividades que trará a experiência da cultura no

turismo praticado, sendo equipamentos e serviços podendo incorporar o ambiente

cultural, desde o transporte, a hospedagem, a alimentação, dentre outros.

O antropólogo Appadurai (apud PERÉZ, 2009, p.108) relaciona o turismo com

uma paisagem de fluxo de bens, informação, serviços e turistas, através das fronteiras e

em um contexto de globalização, ou seja, este fluxo de produtos e a relação com o mundo

caracterizam o turismo com aspectos culturais, seja ele qual for. Conforme alguns autores

que discutem a relação de turismo com cultura, cita Peréz (2009, p.108), é afirmado que

“a prática turística é cultural, ou seja, não há turismo sem cultural, pois esta relação já

está presente de qualquer forma”. Quando se pratica o turismo, o contato que o individuo

irá ter com qualquer manifestação característica do local visitado já é um contato com a

sua cultura. Então, se for analisar esta interação turista-morador, a cultura já está

presente neste pequeno contato.

Já em uma perspectiva de que nem todo turismo é cultural e nem toda cultura

envolve turismo, Peréz (2009, p.109) nos leva a analisar as diferentes formas de como é

considerado o Turismo cultural: pode ser como uma simples atividade, uma experiência,

um formato do produto turístico, uma motivação ou fator chave para viagem e forma de

realizar a atividade cultural. De acordo com Bonink e Richards (apud PERÉZ, 2009,

p.109), as abordagens fundamentais para entender o Turismo cultural são:

A perspectiva dos lugares e dos monumentos. Implica descrever os tipos de atrações visitadas e pensar a cultura como um simples produto. Desde o ponto de vista da estratégia de investigação a seguir, esta seria fundamentalmente quantitativa e focaria as atividades e as motivações dos turistas culturais. A perspectiva conceptual questiona os porquês e como as pessoas vêem e praticam turismo cultural. Sublinha mais os sentidos, as práticas discursivas, os significados e as experiências. Nesta óptica, o importante seriam os princípios e as formas de fazer turismo, e não tanto os produtos. Portanto, ao nível de investigação implica uma abordagem mais qualitativa.

A cultura muitas vezes é tida como produto, até mesmo na prática do Turismo

cultural. A citação explana a importância não só ao produto em si trabalhado, no caso do

Turismo a cultura de uma região, de uma cidade, mas a forma de como essas

informações serão abordadas e passadas ao turista ou a comunidade. Então, uma forma

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22

de abordagem mais qualitativa seria a mais indicada para lidar com o Turismo cultural,

pois com ela o turista garante seu objetivo em vivenciar a cultura local e os moradores

não saem prejudicados com a exposição de suas rotinas.

2.4 O Turismo Cultural na prática

Neste tipo específico de Turismo, aponta Dias (2006, p.36), há diferenças de

quem pratica, normalmente são tipos particulares de pessoas, que têm interesses

culturais amplos, que desejam conhecer realmente a história da cidade, suas

características e rotina, que viajam com frequência e têm um nível acentuado de

preocupação com a preservação do local. Neste tipo de Turismo conta-se como maior

êxito a experiência vivida no local a ser visitado, onde tudo e qualquer coisa que

caracterizar o mesmo será válido na viagem do indivíduo.

Dias (2006, p.36) aponta o Turismo Cultural como uma certa ‘salvação’ para a

preservação de monumentos e museus, dentre outros, pois, com a visitação turística,

tornou-se viável preserva-los e, além de tudo, lucrativo. A questão da preservação é

bastante polêmica, pois muitos não dão o valor merecido, e só percebem sua importância

quando se ganha dinheiro com a mesma. Em cidades turísticas, onde a renda da maioria

das famílias é retirada do turismo, muitas vezes não se tem uma ‘visão sustentável’, até

porque na maioria das vezes não há uma pessoa qualificada para orientar esta

comunidade, que não usa os atrativos da forma correta.

Em meio à rotina dos centros urbanos, o Turismo Cultural cresceu como

atividade bastante praticada não só por turistas, mas como também por moradores locais.

Os museus, as feiras, os eventos, as convenções, o teatro também são tidos como

programações de finais de semana. Os brasileiros estão cada vez mais interessados em

diversidade, por isso, quanto mais diversificado for passeio, e este sendo atrelado a

cultura, maior será a experiência adquirida pela pessoa que freqüentar.

A prática do turismo cultural deve ser compreendida de duas formas: a

motivação que leva o indivíduo a visitar determinado local e a percepção do lugar por

parte dos turistas. Analisar os motivos que levam a pessoa visitar um local é

definitivamente difícil, pois estes são de tamanha variação. Conforme afirma Amigó (apud

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23

DIAS, 2006, p.41), ”os motivos mais comuns que levam a prática do turismo cultural são:

curiosidade, mitos, personagens da literatura, razões históricas, dentre outros”.

Na questão das mudanças geradas através da atividade do turismo, segundo

Bauman (apud PERÉZ, 2009, p.131),

Embora o turismo seja um vetor da mundialização que provoca mudanças nas culturas locais, o turista procura lazer, mas o anfitrião encontra-se a trabalhar. O turista chega com numerosas expectativas, mas que os anfitriões desconhecem. O que faz o turismo é transformar as culturas locais em bens de consumo, mas a mercantilização turística da cultura provoca uma distribuição desigual dos benefícios do turismo. No países anfitriões podem existir conflitos entre diversos sectores da comunidade, pois por exemplo, os empregados no turismo podem ter objetivos diferentes dos camponeses locais, e além disso, pode existir um certo monopólio por parte de certos grupos sociais e étnicos.

Dias (2006, p.42) afirma que se devem acompanhar as mudanças geradas ao

longo do tempo para que o turismo não seja classificado como uma atividade que destrua

a rotina de moradores e mantenham os mesmos indiferentes a desenvolvimento, ou até

mesmo que tenham uma visão de que não aconteceram mudanças, que deve continuar

como esta para que não seja alterada a atividade turística. Diante deste pensamento, é

possível que haja um equilíbrio nos impactos gerados através do turismo e em dois

aspectos bastante influenciáveis à comunidade receptora: a influência externa e o uso

irregular do patrimônio. Mantendo o equilíbrio nestes aspectos citados, é praticamente

impossível não haver reciprocidade no atuar do turista e sua atividade em seu destino.

Dentre esses conflitos também existe um fator que cresce cada vez mais e que

prejudica a atividade turística na região que o possui: a massificação. As cidades

turísticas que estão se adaptando ao fluxo de visitantes procuram melhorar nos serviços e

nas infra-estruturas culturais, sempre inovando para que despertem cada vez mais a

atenção dos turistas. Por muitas vezes cresce o interesse de visitantes, mas não há um

planejamento para recebê-los, causando assim uma falta de ‘harmonia’ no funcionamento

dos atrativos.

No capítulo seguinte serão analisados todos os conceitos vistos neste

capítulo em uma localidade específica, a Prainha, localizada em Aquiraz no estado do

Ceará. Será abordada a história da comunidade e seus atrativos turísticos, assim como a

prática do Turismo cultural na mesma.

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3 PRAINHA AQUIRAZ

Aquiraz é um município do Estado do Ceará com uma grande importância

histórica para o estado que pertence e para o Brasil, pois foi a primeira vila da Capitania,

em 13.02.1699, criada por ordem de El-Rei de Portugal. A figura abaixo mostra o mapa de

localização da Prainha, descrevendo também a distância da mesma de alguns pontos

turísticos do Ceará.6

Figura 8: Mapa de localização de Aquiraz e da Prainha. Fonte: www.lagunablu.com

Sua importância nos remete ao interesse de analisar todo esse

desenvolvimento que o tornou um atrativo turístico bastante desejado dentre os destinos

procurados pelos turistas e ainda verificar a relação entre visitante e cultura receptora,

identificando os pontos positivos e negativos desta análise.

O interesse turístico na região vem, em grande maioria, das belezas

naturais, onde o maior deles é a parte do litoral. As praias são destinos procurados por

turistas nacionais e pela própria população do estado do Ceará, são elas: Porto das

Dunas, Presídio, Iguape, Barro Preto, Batoque e Prainha.

A Prainha, objeto de estudo deste trabalho acadêmico, constitui-se em uma

comunidade de aproximadamente 10 mil habitantes, localizada a 28 quilômetros da

cidade de Fortaleza. É uma comunidade que vive basicamente da atividade turística e por

6 www.aquiraz.ce.gov.br

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esse motivo o contato direto com os visitantes é inevitável. Este contato será analisado no

decorrer deste capítulo, e com esta análise será identificado os prós e contras do mesmo

dentro da comunidade. O Turismo Cultural está presente na comunidade da Prainha

também como um atrativo turístico, pois o que chama atenção dos visitantes é

exatamente a forma de vida dos moradores, as mesmas atividades, a calmaria da região,

estes aspectos são utilizados também como um ponto que gera a prática do turismo.7

Além do histórico da comunidade da Prainha, serão expostos também seus

aspectos geográficos e econômicos e diante destas informações a análise começará com

o papel do turismo cultural na comunidade, identificando até que ponto este permanecerá

em locais que tem contato direto com o turista.

3.1 Aspectos Históricos do Município de Aquiraz

Aquiraz constitui um importante núcleo populacional do Ceará. A necessidade

de sua criação se deve ao fato de que, com ela e suas autoridades definidas, o El-Rei de

Portugal tinha como assumir o comando sem ter que interligar-se aos capitães-mores,

senhores absolutos das capitanias no século XVII. Posteriormente, por ordem do

Governador de Pernambuco, em 1700, foi instalada a nova vila, com sede no núcleo de

Fortaleza. Em 1701, transferiu-se a sede do município para Barra do Ceará, logo depois

chamado de Vila Velha e que havia recebido a sede do governo municipal por oferecer

melhor segurança naqueles tempos de pirataria. Em 1706, instala-se novamente o núcleo

originário de Fortaleza. No ano de 1910 a vila recebe a denominação de São José do

Ribamar do Aquiraz, por conta da transferência da sede do município para a localidade do

Aquiraz. Por volta de 1726, atracam no Ceará os padres João Guedes, Manuel Batista,

Felix Capelli e Irmão Manuel da Luz. Estes eram jesuítas e vinham com a missão de

levantar um hospício para a residência de dez padres da congregação. As terras do

hospício foram doadas em escritura de 14 de março de 1727, pelo coronel João de Barros

Braga, que as comprou ao coronel Manoel Rodrigues de Sousa. Este as comprara ao

primeiro donatário Estevão Velho de Moura, fundador do sitio Aquiraz.8

7 www.congressohistoriajatai.org

8 www.ibge.gov.br/cidadesat/painel

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Aquiraz mantém toda sua história retratada em seus monumentos

arquitetônicos. A Igreja Matriz de Aquiraz é uma construção de 1769 e ainda preserva em

seus altares as velhas imagens do Hospício dos Jesuítas. Outro monumento histórico de

Aquiraz é a Casa da Câmara, construção sólida, cujas paredes têm um metro de

espessura. Do seu mobiliário antigo, o Museu Histórico do Estado guarda uma grande

mesa, trabalhada em puro jacarandá e que serviu para despacho dos capitães-mores.9

Figura 9: Igreja Matriz de Aquiraz Fonte: http://arteculturaespiritualidade.blogspot.com.br/2012/08/cidades-do-ceara

Figura 10 (esquerda para direita): Antiga Casa da Câmara em Aquiraz, hoje Museu Sacro São José do Ribamar Fonte: www.dacadeirinhadearruar.blogspot.com.br/2013/04/aquiraz.html

Os patrimônios mostrados nestas figuras fazem parte da história da origem do

município e são valorizados e preservados, além da utilização do turismo como forma de

renda a favor dos mesmos.

9 www.fortalezabeaches.com/aquiraz-ceara

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27

3.2 Prainha: História e Desenvolvimento

Prainha é uma comunidade situada na Barra do rio Catu, distante 5

quilômetros do Centro de Aquiraz. O desenvolvimento da comunidade e o interesse

turístico veio a predominar com a chegada de energia elétrica no ano de 1968, onde

houve um melhoramento das vias de acesso e uma organização no setor turístico sobre

aquela região.10

A partir deste primeiro momento de interesses sobre a região, começou-se

uma grande especulação imobiliária, onde a Prainha passou a ser um lugar não só de

visitação, mas também de moradia, de veraneio e de empreendimentos imobiliários. A

imagem a seguir mostra a Prainha vista de cima, percebendo-se a grande quantidade de

casas.

Figura 11: Prainha Aquiraz Ceará. Fonte: www.sampaio.ws/prainha

As principais atividades econômicas praticadas na comunidade da Prainha

eram a pesca artesanal e, entre as mulheres, a produção de renda de bilro. Então, o

costume das famílias que residiam na Prainha era: o homem pescava para alimentar a

família e tirar o sustento de casa e a mulher produzia a renda, que era uma técnica

praticada no âmbito doméstico e passada de geração em geração. Estas duas atividades,

pesca e renda, convivem paralelamente na comunidade desde seus primórdios.

10

www.congressohistoriajatai.org

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28

Figura 12: Renda de Bilro. Fonte: http://estilo.uol.com.br

Posteriormente, outra atividade econômica praticada na Prainha foi à

agricultura. O indivíduo morador da comunidade plantava milho, feijão e mandioca tanto

para levar o alimento para dentro de casa quanto para fazer trocas comerciais com as

comunidades vizinhas, muitas vezes interrompidas pela falta de transporte compatível

com a carga e ainda as estradas em más condições de trafego.

Antes do interesse turístico, a comunidade da Prainha era humilde, simples no

seu modo de viver. Os moradores garantiam seu sustento com o pescado e a renda e não

tinham a preocupação de se adequar à outra atividade que não fosse d’aquele ambiente

interior. Quando o turismo se estabilizou na região, foi preciso mudar em todos os

sentidos para que esta nova prática pudesse se tornar comum no cotidiano dos

moradores, sujeitando-se aos prós e contras dessa mudança.

A história desta comunidade resume-se basicamente aos fatos apresentados,

que foram documentados através do contato com moradores antigos da região, pois são

muito escassos documentos físicos que comprovem as histórias relatadas. Porém, pode-

se classificar o desenvolvimento da Prainha em dois momentos: o de antes do ano de

1968 e depois deste mesmo ano. A chegada da energia elétrica veio como um marco do

desenvolvimento da comunidade, onde só a partir dela começou-se a identificar

mudanças na sua história com as novas motivações surgidas.

Esse momento “pós 1968” foi o de desenvolvimento turístico e com eles

diversas formas de adaptação da população, trazendo benefícios e problemas, dentre

eles a extinção das casas de palha de coqueiro comuns na beira da praia, o aumento da

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população, a depredação da natureza para construção de mansões (comuns hoje em dia)

e o principal, o surgimento de novos hábitos, costumes e crenças.11

Figura 13: Casa de Praia na Prainha Fonte: www.sampaio.ws/casa-de-praia-na-prainha.html

A atribuição de problemas à chegada do turismo na comunidade da Prainha é

valorativa quando analisada de forma histórica e social, mas trouxe também muitos

benefícios para os moradores. A energia, as técnicas de construção, as formas de

administração de negócios adaptadas à nova atividade foram benéficas para um modo de

vida melhor, como por exemplo, a lagoa que foi aterrada para a construção do espaço de

trabalho dos artesãos da comunidade, assim como os coqueiros que foram cortados para

instalação da energia elétrica, são mudanças que embora alterem a paisagem natural da

comunidade são de inteira importância para os moradores e para os visitantes.12

3.2.1 Os efeitos do Turismo na comunidade

O Turismo Cultural na Prainha é abordado como uma prática rotineira entre

todos que vivem na comunidade, pois é uma atividade que já faz parte da vida de todos

os moradores. A vida simples, a calmaria e a rotina dos moradores são elementos que

fazem parte da identidade deste local, caracterizando-o e classificando-o como um

destino turístico bastante visado através desta visão cultural.

11

www.congressohistoriajatai.org 12

www.congressohistoriajatai.org

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Diante de um grande fluxo de procura e uma notável exposição do local

citado, defini-se uma relação entre o turismo e a localidade turística, onde o turismo e o

turista provocam efeitos na cultura e na sociedade, exercendo influências, estas

repercutem de vários modos. O uso do termo ‘impacto’ para definir a relação citada difere

nas formas de análises, pois, esta relação pode causar impactos tanto positivos quanto

negativos. Analisando pelo lado social, segundo Barretto (apud Kapelusz, 1993, p.35),

Quando se trata de sociedade, especificamente, o meio que recebe o choque é

dinâmico e responsivo. A sociedade não é algo inerte. Portanto, parece melhor

falar em efeitos ou influências. Por efeitos entendem-se consequências, e, por

influências, ações e efeitos.

Então, entende-se que a sociedade está em constante transformação, não

sendo algo sem movimento ou atividade. Certamente o Turismo chega como uma

alavanca para entrar neste ciclo de desenvolvimento e, consequentemente, causar ações

transformadoras em uma comunidade como efeitos em qualidade de vida, costumes,

valores e crenças. Neste ciclo citado, segundo Barretto (2007, p.36), “turismo, sociedade

emissora e receptora criam circunstâncias em que o turismo deixa um legado positivo,

sobretudo na preservação de áreas históricas ou naturais para atrair turistas [...]”.

Na comunidade da Prainha tem acontecido este ‘ciclo de transformação’ desde

quando o Turismo passou a ser uma das principais atividades praticadas na região, pois,

para adequar-se à movimentação dos visitantes os moradores sofreram transformações

consideráveis em seus modos de vida, costumes e na parte física do local, precisando ser

remodelada a favor dessas mudanças. Com estas transformações a comunidade sofreu

alterações também em suas rotinas, passando a ter ‘problemas de cidade grande’ como

relata este texto de Terezinha Drumond (2003),

A diferença que divide a Prainha do passado e do presente se

materializa na tranquilidade de ontem e na insegurança de agora, nos transportes

que ajudaram a encurtar as distâncias e a ganhar tempo. Tempo que certamente

seria bem aproveitado em outras atividades. Se antes era preciso um dia inteiro

para chegar a Fortaleza, agora era possível ir e vir em menos duas horas.13

13

www.congressohistoriajatai.org

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31

As mudanças analisadas na citação anterior são, na verdade,

consequências das mesmas, ocasionadas por este ciclo de transformações dinâmicas

que acontecem em comunidades como a da Prainha. Um dos problemas citados foi a

insegurança que é caracterizada como um dos pontos negativos da comunidade. A falta

de segurança afeta o fluxo turístico diretamente, são roubos e outros tipos de delitos,

ocasionando frustração na experiência do visitante e fazendo com que o mesmo não

divulgue o local visitado, ou até mesmo deixe de ir outras vezes, não ocorrendo assim a

fidelização, que é importante para qualquer destino turístico.

Um efeito positivo relatado na citação anterior foi o melhoramento das estradas

que dão acesso à Prainha, e este efeito pode ser considerado um ponto positivo mútuo,

ou seja, trouxe benefícios tanto para a comunidade quanto para as pessoas que desejam

visitá-la. Com o acesso à comunidade melhorado, as pessoas tem mais facilidade de se

movimentar. A imagem abaixo mostra a estrada que dá acesso à Prainha. A CE040 foi

reformada e duplicada em fevereiro de 2012, trazendo melhorias a todo o litoral leste do

estado do Ceará.

Figura 14: CE040 Estrada que dá acesso à Prainha Fonte: www.g1.globo.com/ceara/noticia/2012/02/trecho-da-rodovia-ce-040

Para que se tenham mais aspectos positivos, como a reforma da CE040, é

preciso que o município em si tenha uma boa administração e saiba utilizar as

oportunidades a favor da comunidade. Com base na atividade do Turismo, os

governantes precisam ter ajuda de profissionais da área para que haja um planejamento

geral da realização das atividades, um estudo sobre o local explorado, a identificação do

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público a ser trabalhado, dentre outros aspectos. Além de todo esse planejamento, é

preciso também saber adequar esses investimentos com a comunidade, para que haja

proveito em ambas às partes.

Certamente os efeitos do Turismo na comunidade foram positivos e negativos,

mas serviram para que o desenvolvimento de instalasse naquele local de forma

progressiva. Hoje em dia, parte da comunidade ainda se dedica a pesca, as mulheres à

renda de bilro e ao artesanato e assim a rotina de antigamente insiste em permanecer nas

famílias mais tradicionais do local. Outra parte juntou-se ao desenvolvimento trazido pelo

Turismo, trabalham como caseiros das casas de veraneios e mansões, em restaurantes,

e em diversas outras atividades ligadas ao mesmo.14

3.3 Rendeiras da Prainha

Como já comentado no capítulo anterior, a renda fez e faz parte da cultura da

comunidade da Prainha, onde com a confecção de produtos utilizando a mesma,

mulheres ajudavam na renda familiar. Atrelando as rendeiras ao Turismo Cultural, este foi

um dos pontos que fez com que a cultura das rendas não ‘morressem’ na comunidade,

embora este seja um ofício hereditário, passado de mãe para filha. Mediante o interesse

turístico, houve uma organização das partes e um mercado para a venda das rendas.

Criado há 30 anos pela então primeira-dama do Ceará, dona Luiza Távora, o

centro de Prainha nasceu para satisfazer uma necessidade de convergir o comércio do

artesanato regional. Antes deste interesse de organização, as rendeiras trabalhavam

individualmente em seus lares e iam de porta em porta nas casas da própria comunidade

e pousadas de turistas para oferecer seus produtos.15

O Centro Artesanal da Prainha foi criado com os recursos do Programa

Nacional de Desenvolvimento do Artesanato (PNDA) e o apoio do Governador Virgílio

Távora através da FUNSESCE, o objetivo foi valorizar o artesanato local, melhorar a

renda das artesãs, diminuir a atuação do atravessador (que compra para monopolizar o

mercado) e ampliar as faixas de mercado para os produtos em renda de bilros.16

14

www.congressohistoriajatai.org 15

www.estilo.uol.com.br/moda/album/rendeiras 16

www.rendeirasdaprainha.com.br

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Figura 15: Centro das Rendeiras da Prainha Fonte: http://estilo.uol.com.br/moda/album/rendeiras

Quanto às matérias-primas utilizadas na confecção das peças de renda, as

sementes provêm dos frutos comidos pelo gado ou utilizados na preparação de doces, o

bilro é coletado de árvores, o enchimento da almofada que dá suporte aos fios é feito de

folhas secas de bananeira e os alfinetes que prendem os fios e o molde à almofada são

espinhos de cactos de diferentes tamanhos.17

O atual grupo é composto por 134 mulheres-rendeiras, sendo elas divididas em

dois centros em Aquiraz: o da Prainha com 80 mulheres e o de Iguape, com 54. Na

Prainha as rendeiras utilizam uma linha mais fina, que diferencia da renda confeccionada

no Iguape, que utilizam uma linha mais grossa. Além da confecção do artesanato o

Centro é associado a projetos onde seus produtos são comercializados. Há também,

adicionado a este trabalho artesanal, um design de moda com o intuito de modernizar o

produto final que acontece da seguinte forma: as artesãs recebem os moldes delimitados

pelos designes e em cima deles executam seu ‘toque final’.18

17

www.estilo.uol.com.br/moda/album/rendeiras 18

www.estilo.uol.com.br/moda/album/rendeiras

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Figura 16: Placa de sinalização do Centro das Rendeiras Fonte: Pessoal (27.04.13)

A placa mostrada na figura anterior fica localizada na rua principal da

comunidade e serve como sinalização turística, onde mostra a localização do Centro das

Rendeiras.

Em meio ao Turismo Cultural abordado na comunidade da Prainha, o próximo

capítulo irá abordar a relação dos moradores com a prática desta atividade, onde em uma

análise de dados obtidos através da pesquisa bibliográfica e de uma entrevista aplicada

na localidade irão ser identificados no decorrer dos tópicos às causas e consequências

desta relação.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

Como visto no capítulo anterior, o Turismo cultural esteve e está presente na

comunidade da Prainha como uma alavanca de desenvolvimento e também como fonte

de renda para a maioria dos moradores. Destes benefícios citados, o que irá ser

analisado neste trabalho acadêmico será a relação do turista com o morador local, pois a

partir do momento que a comunidade passou a ter um interesse turístico não se pensou

como esta atividade iria ser executada, não houve um planejamento, simplesmente foi

acontecendo e hoje faz parte da história do local.

Os procedimentos a serem utilizados na busca destas informações serão

inicialmente a visita ao local. A observação da rotina dos moradores e da estrutura da

comunidade serão pontos a serem analisados para que assim as causas e consequências

do Turismo na localidade sejam identificadas. Durante todo o trabalho, através da

pesquisa bibliográfica, serão averiguados todos os tópicos ligados ao Turismo, desde seu

início até a prática nos dias atuais. Os materiais utilizados na composição desta pesquisa

foram: livros, artigos e pesquisas na internet.

Logo após a análise feita através da pesquisa bibliográfica e com as

informações identificadas, foi aplicada uma entrevista com moradores da comunidade

com o objetivo de reconhecer a relação dos mesmos com o fluxo de visitantes da

localidade. Através desta entrevista os moradores irão expuseram sua percepção para

com o Turismo e o turista em si, aduzindo o que essa relação agrega de valores a sua

cultura, assim como também interfere nos seus costumes. A possibilidade da não

existência do Turismo na comunidade foi indagada também através deste método, onde o

morador apresentou sua opinião sobre o assunto abordado.

Com todas as informações obtidas através dos métodos citados, o problema a

ser indagado e estudado seria: a convivência com o Turismo é bem aceita pela

comunidade receptiva da comunidade da Prainha ou seria uma atividade inevitável na

localidade por conta da mesma ter um grande potencial turístico? De fato, há estes dois

pontos a serem analisados, pois somente a visão de moradores que viveram nestes dois

momentos que serão válidas a ponto de afirmar se a prática do Turismo na região foi

benéfica ou não, ou até mesmo identificar quais foram os pontos positivos e negativos, já

que há variedade de opiniões quanto ao assunto.

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Com a oportunidade de visitação do local e averiguação dos dados obtidos

através da entrevista, estes foram estudados e destacados para que assim haja um

consenso nos tópicos relacionados ao Turismo na visão dos moradores da comunidade.

Com as respostas obtidas foram expostas as relações destes dois pontos estudados

(turista e morador) e a verificados seus vínculos.

4.1 Entrevista aplicada na comunidade

A entrevista foi aplicada no dia 27 de abril do ano de 2013 durante uma

visitação ao local escolhido para o estudo. Esta tem por objetivo qualificar os ganhos e

perdas da prática do Turismo na Prainha, analisando todos os pontos que o levou a forma

que está nos dias de hoje, assim como verificar até que ponto o contato com o turista

modificou a rotina dos moradores locais, se a convivência com pessoas de outras culturas

agregaram valores as suas, dentre outros pontos.

Como a visita foi feita em época de baixa estação, foi visível o baixo número de

pessoas circulando na comunidade, apesar de segundo informações, nunca faltar

visitantes tanto na semana quanto nos finais de semana. Neste momento foi observada a

rotina de calmaria dos moradores: as rendeiras montando suas barracas, pessoas

sentadas em suas calçadas conversando tranquilamente, pescadores limpando e

preparando os peixes para serem vendidos e as barracas de praia com pouquíssimas

pessoas usufruindo.

Em um ambiente calmo e rotineiro, características percebidas no local que se

encontra a Associação das Rendeiras da Prainha, foi dado início a seção de perguntas.

Primeiramente foi traçado um perfil dos moradores entrevistados. Dentre os oito

indagados, todos com exceção de somente uma (Dona Irene da Silva nascida na cidade

de Acaraú, mas reside na Prainha há 40 anos) são nascidos e criados na Prainha, com

pais pescadores e mães rendeiras. Com idades entre 50 e 75 anos, a maioria continuam

no mesmo ofício dos pais, ou seja, criam suas famílias com a renda obtida do Turismo e

da venda do pescado.

Com relação à escolaridade dos oito entrevistados, a maioria não concluiu o

ensino fundamental, dentre os entrevistados seis deles estudaram somente até a 4º ou 5º

série, o restante concluiu o ensino médio, mas não prosseguiram nos estudos. A razão

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para este baixo grau de escolaridade segundo eles seria a necessidade de trabalhar

desde cedo para ajudar no sustento da casa. Quanto ao sexo, sete mulheres se

dispuseram a responder as perguntas e somente um homem no total de entrevistados.

Figura 17: Associação das Rendeiras. Local da Entrevista Fonte: Pessoal (27.04.13)

A figura mostra o local onde a entrevista foi feita, a Associação das Rendeiras.

Neste local amplo trabalham cinco rendeiras expondo seus produtos para turistas. Estas

se dividem em cômodos e barracas espalhadas por este espaço simples, porém

protegidas da chuva e outras intervenções.

Logo após delinear um perfil básico de moradores foi dado início as perguntas

relacionadas ao Turismo. Logo na primeira, perguntou-se qual a percepção do Turismo na

comunidade e, foi percebido que este foi realmente um ‘divisor de águas’ para toda a

comunidade. Irene da Silva (62 anos) destaca a ajuda do Governo do Estado no

desenvolvimento da atividade através de verbas com o objetivo de se construir um local

para venda das rendas. Antes disso, as rendeiras vendiam de porta em porta ou na praia.

Santa Sousa (75 anos) também valoriza o Turismo e diz que foi e ainda é muito bom para

a comunidade, que traz muitos benefícios.

Na segunda pergunta foi indagado se o desenvolvimento da Prainha se deve

ao fato da chegada do turismo e, praticamente todos associam ambos os pontos. Dona

Maria Ferreira (52 anos) afirma que até mesmo antes da divulgação da Prainha como

atrativo já era praticado o Turismo, depois foi que com a sua expansão desenvolveu-se

tanto a cidade para recepção dos visitantes (exemplo: surgimento de pousadas) quanto à

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própria atividade, já introduzida na localidade. Com sua viabilidade para o Turismo já

então conhecida, a comunidade começou então a se adequar as condições que era viver

em uma ‘cidade turística’. Nesse momento, a especulação imobiliária começou a

prevalecer e a comunidade a crescer com a construção de casas e mansões pelos

arredores da praia, afirma a moradora Olenir Andrade (55 anos) nascida e criada na

Prainha, que presenciou todas essas mudanças. A figura a seguir mostra uma das

entrevistadas que, também nascida na comunidade e testemunha de seu

desenvolvimento, contribuiu com suas informações para composição deste trabalho.

Figura 18: Rendeira Irene da Silva (62 anos) Fonte: Pessoal (27.04.13)

Na pergunta seguinte foi interrogada a relação dos entrevistados com o

Turismo e todos os oito responderam que a relação com a atividade vem desde criança.

Por aprenderem os ofícios dos pais quando crianças, o intuito era ajudar na renda

familiar, então o contato com o turista vinha desde cedo com a venda destes produtos. A

rendeira Zenaide Moisés (50 anos) diz ter aprendido a fazer a renda de bilro e os

chamados ‘labirintos’ com a mãe aos 8 anos de idade e, desde então, tem mantido

contato com os turistas e visitantes para a venda das mesmas. O pescador José Mario

(57 anos) afirma ter certo vínculo de parceria com os visitantes: “os turistas que tem casas

e estão acostumados a vir pra cá compram o peixe diretamente a nós, não vão mais às

barracas de praia”, diz o mesmo.

A quarta pergunta está relacionada a esta terceira explanada no parágrafo

anterior, pois investiga qual foi o primeiro contato dos entrevistados com os turistas e

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visitantes da comunidade. Também sem exceções, as respostas foram basicamente as

mesmas afirmando que o primeiro contato tinha sido quando crianças através da venda

das rendas e do pescado. Como já citado, os moradores revelam que o interesse turístico

vem desde antes do desenvolvimento da comunidade, então este contato já acontece há

muitos anos, onde muitas vezes nem eles próprios sabiam que a localidade tinha esse

potencial todo, explica a rendeira Santa (75 anos) que, dentre as oito pessoas

entrevistada é a com mais idade: “vendíamos nossa renda e o nosso peixe apenas para

sobreviver, nem sabíamos o que era Turismo e não tinha ninguém conhecedor do assunto

para nos explicar como tudo isso funcionava”. A figura abaixo mostra outra pessoa

entrevistada, a rendeira Santa, uma das mais antigas da comunidade, que contribuiu

nesta e em outras perguntas decorrentes deste trabalho.

Figura 19: Rendeira Santa (75 anos) Fonte: Pessoal (27.04.13)

Na quinta, foi perguntado aos oito entrevistados os benefícios que o Turismo

trouxe através do seu desenvolvimento na comunidade da Prainha e todos eles admitem

que o mesmo provocou o crescimento e a divulgação da localidade dentro deste

segmento. A rendeira Olenir Andrade (55 anos) afirma que o Turismo desde muitos anos

atrás beneficia a comunidade, que não tem o que falar de ruim de uma atividade que só

trouxe melhorias para seu povo. Iracilda Feitosa (50 anos) diz ser uma tradição familiar

agradar ao turista: “minha mãe sempre me ensinou a tratar bem os visitantes, pois é deles

que tiraremos nosso pão de cada dia, eles são as pessoas que valorizam nosso trabalho

e merecem qualidade tanto no produto quanto no acolhimento na nossa comunidade”,

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garante a mesma. Em meio a esta indagação, foi verificado que, aparentemente, todas as

pessoas da comunidade acreditam se beneficiar de alguma forma do Turismo, seja formal

ou informalmente.

Ainda com base na análise anterior, a sexta pergunta retrata o outro aspecto

que o Turismo pode trazer, os pontos negativos. Dentre os oito entrevistados apenas uma

descreveu este outro lado, mas não de uma forma totalmente negativa, sua forma de

pensar apenas visa à concorrência de venda do artesanato, ou seja, da renda. Como

explanado no parágrafo anterior, os moradores não tem muito que falar do Turismo, pois

vivem da renda retirada do mesmo, então não expõem seus aspectos negativos, até por

que é muito difícil ter um deles, pois em relação a alguns pontos que possam ser

provocados por visitantes ou turistas é detectada organização como: limpeza, ordem nas

praias, número considerável de visitantes, ou seja, não é observado um Turismo

massificado, dentre outros.

A rendeira Maria Ferreira (52 anos) que mais colaborou na resposta desta

sexta pergunta foi a única que não elogiou a atividade do Turismo inteiramente, pois, em

sua opinião as outras praias do município de Aquiraz, principalmente a do Porto das

Dunas, com seus empreendimentos e atrativos turísticos fazem com que o turista fique

por lá e não se interesse mais em visitar Prainha. Segundo a mesma, os turistas que

chegam à cidade de Fortaleza se dirigem diretamente para o Beach Park e por lá ficam,

sem interesse mais no Turismo cultural e, principalmente nos artesanatos das outras

praias. Dona Maria Ferreira ainda afirma que, quando o turista aparece nas imediações

do Centro das Rendeiras, é por intermédio dos bugueiros que ainda fazem a divulgação

da Prainha nestes pontos turísticos de mais movimentação. Os bugueiros levam os

turistas para conhecer a comunidade e para o Centro das Rendeiras, em troca ganham

uma porcentagem dos lucros apurados pelas rendeiras, mantendo assim certa parceria

entre ambas as partes. Segundo ela, se não fossem os bugueiros, poucos turistas iam de

livre e espontânea vontade visitar a Prainha, muitas vezes até nem sabem de sua

existência por falta de divulgação e por estes atrativos de grande porte concentrarem os

turistas para si, oferecendo desde a hospedagem ao serviço e fazendo com que os

mesmos não se desloquem.

A imagem seguinte mostra a rendeira Maria Ferreira que apresentou sua

opinião nesta sexta pergunta, sendo esta contraria de todos os outros entrevistados.

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.

Figura 20: Rendeira Maria Ferreira (52 anos) Fonte: Pessoal (27.04.13)

A Rendeira Maria Ferreira em sua barraca no Centro das Rendeiras (como

mostra a figura anterior) diz participar desta parceria com os bugueiros e afirma que, só

vende um número considerável de peças quando estes trazem os turistas do Beach Park,

confirmando assim os únicos pontos negativos detectados: a falta de divulgação da

localidade e, por consequência desta, a falta de interesse dos visitantes em atrativos

tradicionais e culturais.

A sétima pergunta entra na relação do cotidiano dos moradores e a rotina de

visitação na comunidade, se referindo se o Turismo causa ou não interferência no ritmo

de vida da localidade. Dentre as oito pessoas entrevistadas, todas responderam que, na

verdade, o Turismo já faz parte da rotina da comunidade, pois ainda existe um fluxo diário

deles, mas que em relação a antes, interferiu muito nos costumes da comunidade.

A moradora Cleide Sousa (53 anos) diz ser ‘protagonista’ dessa junção da

rotina de moradores e fluxo de turistas, pois desde criança tem esse contato e vê a

comunidade com o visitante: “Aqui, como a comunidade é voltada para o Turismo, a rotina

sempre foi com turistas em volta, só que antigamente era menos, hoje em dia acontece

com mais frequência essa movimentação”. Analisando a resposta da moradora e

comparando com as informações obtidas através da pesquisa bibliográfica, a rotina da

comunidade antes era somente a renda e a pesca, dando ênfase na calmaria e não

descartando a possibilidade (certeza para alguns moradores entrevistados) de já haver

Turismo naquela época. Hoje em dia a ênfase não é mais a calmaria, apesar da

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movimentação não ser tão intensa, o foco é no Turismo, então, de fato, mudou a rotina

dos moradores em relação a outras épocas, mas por consequência de um fluxo de

visitantes ser bem maior que antes e não pela prática do Turismo em si, que já acontecia

desde os primórdios da comunidade.

O pescador José Mario (57 anos) afirma que a prática do Turismo interferiu

muito nos costumes dos moradores da comunidade: “Antes nossa comunidade poderia

até ser chamada de paraíso de tão calma que era. A rotina era sair bem cedo para pescar

e as mulheres ficavam em casa produzindo peças com a renda, os poucos turistas que

apareciam compravam tanto a renda quanto o peixe e tirávamos um pouco de dinheiro

para comprar as coisas de casa. Hoje em dia tudo é voltado para ao Turismo e a rotina

não é mais a mesma”.

A rendeira Irene da Silva (62 anos), durante sua resposta a sétima pergunta

incluiu mais um item que a prática do Turismo modificou: “Desde que o Turismo começou

mesmo a se desenvolver na comunidade transformou não só a rotina e os costumes dos

moradores, mas toda a estrutura da Prainha”. Segundo ela, alguns moradores e

comerciantes da comunidade deixaram de ter sua identidade própria para se adequar as

condições do Turismo.

Outra resposta relevante sobre a sétima pergunta foi a da rendeira Iracilda

Feitosa (50 anos) que entende essas modificações de rotina, costumes e até da estrutura

da comunidade como bastante proveitosas para o desenvolvimento da mesma, que o

Turismo surgiu como um empurrão para tudo isso acontecer, por isso faz parte da história

da localidade.

A oitava pergunta que foi feita aos entrevistados foi como seria a possibilidade

da comunidade sem o Turismo. Dentre as oito pessoas, todas responderam basicamente

que a Prainha não teria evoluído ao que é hoje se não fosse os investimentos voltados

para o Turismo e também o foco dos moradores em fazer acontecer à atividade.

A moradora Santa (75 anos) cita a ação do Governo do Estado nos

investimentos de melhoria dos acessos à comunidade e sua estrutura afirmando que, se

não fosse o Turismo, o local estaria exatamente como era antes, totalmente inadequado

ao contexto turístico e esquecido pelos demais.

A rendeira Olenir Andrade (55 anos) afirma com precisão que a comunidade

não sobreviveria sem o Turismo, e que com as necessidades de hoje, se a mesma se

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mantivesse sem o fluxo turístico, os moradores já teriam se mudado para o município de

Aquiraz: “Se não fosse o turismo acho que nem existiria mais a nossa comunidade da

Prainha, pois todo o desenvolvimento estaria no Centro de Aquiraz, então qual seria o

motivo de manter um povoado sem nada? Por que hoje em dia não dá para se manter só

com pesca não, os tempos mudaram”.

A nona e última pergunta foi feita no mesmo contexto da anterior. Dentro de

uma possibilidade, foi perguntado aos moradores se as melhorias da comunidade teriam

sido executadas se não tivesse o interesse turístico por trás das mesmas e, todos os oito

entrevistados responderam que essas mudanças partiram dentro de um conjunto com

objetivo não só de tornar a comunidade um atrativo turístico fixo e de qualidade, mas

também de trazer melhorias aos moradores que convivem com a condição de viver em

terras com este potencial.

A rendeira Cleide Sousa (53 anos) afirma que, se não fosse o interesse

turístico a comunidade não tinha se desenvolvido de maneira nenhuma: “O Turismo que

nos deu desde a renda para comprar as coisas de casa à estrutura de nossa comunidade,

se não fosse ele nada disso teria acontecido”. Segundo ela, foi a prática desta atividade

que aumentou a parte física da comunidade, que fez com que a estrada de acesso

(CE040) fosse feita e reformada, facilitando assim a movimentação não só dos visitantes

mas também dos moradores que precisam se deslocar por alguma necessidade, dentre

outras melhorias. Então, não se deve pensar que tudo que foi feito somente com interesse

em ganhar dinheiro com o Turismo, foi pensado também nas condições dos moradores

em viver desta atividade, mantendo a comunidade sempre apta à visitação e a qualidade

de vida dos mesmos.

Outra resposta interessante em relação a pergunta anterior foi a da rendeira

Zenaide Moisés (50 anos). Segundo ela, o motivo dessas modificações e melhorias da

comunidade vem do Turismo e consequentemente da ajuda dos governantes: “Tudo foi

harmonicamente acontecendo para a forma que está hoje, o governador da época

juntamente com sua mulher veio visitar a comunidade e viu que esta apelava por

melhorias para melhor atender a demanda, e a partir daí foi crescendo o interesse em

tornar a Prainha um atrativo de qualidade”. Na figura abaixo é retratado o momento em

que Dona Zenaide conta sua história com o Turismo e as modificações percebidas da

comunidade em que nasceu.

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Figura 21: Zenaide Moisés (50 anos) Fonte: Pessoal (27.04.13)

A figura mostra Zenaide Moisés em seu espaço no Centro das Rendeiras que

diz ter conseguido através da ajuda do governo: “Em uma visita do governador com a

esposa na década de 80 à Prainha, eles perceberam que nós rendeiras não tínhamos

lugar certo para trabalhar, era de porta em porta ou na praia, então foi construído o

Centro, que nos dá o apoio e a segurança de que precisamos para ainda trabalhar com a

renda e não perdermos a tradição do nosso povo”. Nesta resposta a rendeira atribui até o

desenvolvimento da profissão ao Turismo. Então, de fato, o desenvolvimento da

comunidade nos remete ao interesse turístico, mas não se pode negar que os moradores

também se beneficiaram destas ações, então foram serviços mútuos que se

concretizaram.

No próximo tópico será feita uma análise de todas as respostas da entrevista

aplicada neste capítulo para que assim se possam obter dados relevantes quanto ao

assunto abordado. As informações obtidas através desta entrevista irão ser organizadas e

relacionadas ao tema deste trabalho.

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4.2 Resultado da análise

Através das informações obtidas durante a entrevista aplicada na comunidade

da Prainha pode-se perceber que o Turismo Cultural ainda continua muito forte nesta

localidade específica, pois dele se tira a renda necessária para sobrevivência.

Normalmente, moradores mais antigos quem não deixam ‘morrer’ os costumes

tradicionais, fazendo com que a comunidade preserve sua identidade. Exemplos deste

‘identidade preservada’ pode-se perceber nas pessoas entrevistadas neste trabalho, que

tem o Turismo como um segmento que sempre fez parte de suas vidas, permanecendo

no ofício familiar.

Fazendo referência ao parágrafo anterior, pode-se também compreender o

perfil das pessoas que mantém o Turismo Cultural na comunidade, normalmente

moradores que trabalham na área, mas que entendem que esta atividade foi e ainda é

fundamental para o desenvolvimento da Prainha. Então, afirmado explicitamente durante

a entrevista, os efeitos do Turismo na comunidade foram em sua maioria positivos,

trazendo desenvolvimento para a mesma e as influências por sua vez também foram

consideradas válidas dentro do âmbito comercial e inegavelmente otimistas, encorajando

toda uma população a investir neste ramo.

A compreensão da relação entre visitantes e visitados é confirmada benéfica

de acordo com as respostas apresentadas, pois a dependência de um com o outro faz

com que sua convivência seja a melhor possível. Por esse motivo, não foi atestado

durante a entrevista qualquer desavença de morador com turista ou vice-versa, pelo

contrário, os moradores tem o turista como pessoas boas, cultas, que apreciam seus

trabalhos e que valorizam sua cultura.

As perguntas de como seria a comunidade sem o Turismo e se as melhorias

teriam sido feitas se não fosse o desenvolvimento desta atividade foram as mais

polêmicas, pois veio à tona o esquecimento dos governantes para com a comunidade.

Todos foram enfáticos ao afirmar que se não fosse o Turismo nada teria sido feito, mas a

revolta da falta de investimentos e melhoria da qualidade de vida dos moradores foi

pautada nas respostas dos mesmos no momento deste questionamento.

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Durante a entrevista também foi verificado um problema que muitas localidades

que vivem do Turismo sofrem: a falta de divulgação. O medo de esquecimento por parte

dos moradores é aparente na questão do desenvolvimento da atividade do Turismo, pois

foi constatada a falta de um planejamento técnico na implantação do mesmo, o fato foi

que simplesmente aconteceu esta prática e os moradores tiveram que se acostumar e se

adaptar com a nova rotina. As medidas constatadas que deveriam ser tomadas, segundo

uma análise das respostas dos entrevistados, seria ter uma pessoa responsável na

comunidade pela prática do Turismo e principalmente na área de divulgação da área, para

que assim a mesma não se torne monótona e esquecida.

Torna-se fácil apresentar os aspectos negativos constatados na entrevista

aplicada na comunidade, pois quase não foram citados. A prática do Turismo, para os

entrevistados, é negativa na questão comercial, onde para eles, o número não é

suficientemente bom para a venda tanto das rendas quanto dos peixes. A partir desta

análise, tudo se torna um ciclo motivador dos aspectos positivos e consequentemente dos

negativos. A falta de divulgação faz com que o turista não saiba nem da existência da

Prainha, fazendo com que a comunidade perda a clientela para os outros atrativos de

Aquiraz. Então, o descontentamento da comunidade em relação à prática do Turismo é

somente a divulgação da localidade que não é feita com frequência, causando o aspecto

negativo discutido.

Diante dos fatos apresentados, o resultado desta análise foi positivo e a favor

da prática do Turismo em comunidades como a Prainha, que são aptas a receber o turista

com atrativos de qualidade e pessoas acolhedoras que preservam e cultuam sua

identidade cultural.

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5 CONCLUSÃO

O estudo feito neste trabalho acadêmico através da coleta de informações e

entrevistas aplicadas apresentou grande importância, pois através dele foram constatados

os benefícios que o Turismo causa em uma comunidade e seus arredores, renovando as

constatações de pontos positivos que este provoca dentro de um local que o tem como

principal fonte de renda. Além destes, foram explanados também os pontos negativos na

visão dos moradores, a questão comercial sem planejamento que interfere no decorrer da

prática da atividade.

Apresentando os dois lados, findou-se por afirmar que o Turismo Cultural de

fato é representativo não só para os interessados, neste caso os turistas, mas também

para os que o fazem e o mantém. A preservação da identidade cultural de um povo só

depende deles mesmos, pois os próprios representantes que irão fazer com que esta

cultura se mantenha valorizada, seja ela no âmbito de tradição familiar ou no comercial. A

importância dada a cultura faz com que o interesse nunca deixe de existir.

Com as análises feitas, conclui-se que os efeitos causados em uma

comunidade que está apta a desenvolver o Turismo são modificadores e ao mesmo

tempo um caminho sem volta. A grande questão citada pelos moradores mais antigos foi

a mudança de rotina da comunidade, sendo esta a mais drástica quando o Turismo é

implantado em um local. Por mais que a comunidade continue fazendo suas atividades e

tentando manter a rotina, no caso da Prainha a renda e a pesca, nunca mais vai ser como

antigamente. Após o Turismo as motivações são outras e não somente a sobrevivência

como era antes. Vale ressaltar também que não são todos que estão satisfeitos com

essa condição do Turismo que permanece na área.

No âmbito de modificações benéficas, sugere-se um maior planejamento

turístico da área e uma maior divulgação de seus atrativos. Se houvesse pessoas

encarregadas destas funções citadas nos principais locais que recebem turistas, a

comunidade da Prainha ia ser bem mais visitada e valorizada pelas autoridades. Um

maior investimento das prefeituras neste segmento alavancaria o fluxo de turistas que, por

sua vez aumentariam as vendas.

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As obras isoladas foram o grande problema citado pelos moradores, um

prefeito da época que visita o local e faz a Associação das Rendeiras, mas depois desta

feita não há um interesse de qualificá-las e prepará-las para lidar com pessoas de

diferentes nacionalidades, ou então um incentivo para investimentos no segmento. Outro

exemplo e voltando para o assunto da divulgação são os bugueiros, que levam o turista

para Prainha, mas em compensação ganham em cima do que a rendeira vende, há um

interesse nesta divulgação, que só é feita se levar algo em troca. Em cima destes fatos,

observa-se a falta de planejamento de um governo em não investir nesta comunidade rica

em cultura e com atrativos naturais belíssimos.

Por fim, acredita-se que com essas sugestões de modificações citadas nos

parágrafos anteriores façam com que a Prainha seja cada vez mais divulgada pela bela e

interessante comunidade que é. E que o desenvolvimento do Turismo traga sempre

benefícios para todas as localidades aptas ao mesmo.

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REFERÊNCIAS

BARRETTO, Margarita. Cultura e turismo discussões contemporâneas. Campinas, SP: Papirus, 2007. BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. SP: Editora Senac São Paulo, 2007. BRASIL, Ministério do Turismo. Turismo Cultural: orientações básicas. 3º edição Brasília: Ministério do Turismo, 2010. DIAS, Reinaldo. Introdução ao turismo. São Paulo: Atlas, 2005. DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural. São Paulo: Saraiva 2006 DRUMOND, Terezinha Bandeira Pimentel. Memórias, Imagens e Narrativas da Prainha – Aquiraz CE. Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia. 2003. MENESES, José Newton Coelho. História e Turismo cultural. 1 ed, 1 reimp. – Belo Horizonte: Autêntica, 2006. PERÉZ, Xerardo Pereiro. Turismo cultural, uma visão antropológica. El Sauzal

(Tenerife. España): ACA y PASOS, RTPC. 2009.

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APÊNDICE

01 – Qual a sua percepção do Turismo em toda a comunidade?

02 - Você acha que o desenvolvimento da Prainha se deve ao fato da chegada desta

atividade?

03 – Qual a sua relação com o Turismo?

04 – Como foi seu primeiro contato com os visitantes na comunidade?

05 – Quais benefícios você identifica com o desenvolvimento do Turismo na Prainha?

06 – Quais os pontos negativos você acha que o Turismo provoca na comunidade?

07 – A prática do Turismo interferiu na rotina e costumes dos moradores?

08 – Na sua opinião, como seria a comunidade sem o turista?

09 – As melhorias na comunidade teriam sido executadas se não tivesse o interesse

turístico?