tatuagem makonde como identidade cultural

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Tatuagem Makonde como Identidade Cultural Índice 1. Introdução................................................ 2 2. Quadro Teórico............................................ 4 2.1 Estereótipos, Cultura, tatuagem e Identidade.............4 2.1.1 Cultura................................................ 4 2.1.2 Identidade Cultural....................................4 2.1.3 Tatuagem............................................... 5 2.2 História e Reconhecimento da Tatuagem makonde............5 2.2.1 Origem das Tatuagens...................................6 2.3 O conflito Identitário...................................7 3. A Identidade como elemento relacional.....................7 4. Conclusão................................................. 8 Adimar Chato, Elísio Bajone, Rodrigues Jornal e Sara Chissano Página 1 Design II o Ano, T/B, Junho 2012-Teoria da Cultura II

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Page 1: Tatuagem Makonde Como Identidade Cultural

Tatuagem Makonde como Identidade Cultural

Índice

1. Introdução..............................................................................................................................2

2. Quadro Teórico......................................................................................................................4

2.1 Estereótipos, Cultura, tatuagem e Identidade.......................................................................4

2.1.1 Cultura...............................................................................................................................4

2.1.2 Identidade Cultural............................................................................................................4

2.1.3 Tatuagem...........................................................................................................................5

2.2 História e Reconhecimento da Tatuagem makonde.............................................................5

2.2.1 Origem das Tatuagens.......................................................................................................6

2.3 O conflito Identitário............................................................................................................7

3. A Identidade como elemento relacional.................................................................................7

4. Conclusão...............................................................................................................................8

Adimar Chato, Elísio Bajone, Rodrigues Jornal e Sara Chissano Página 1Design IIo Ano, T/B, Junho 2012-Teoria da Cultura II

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Tatuagem Makonde como Identidade Cultural

1. Introdução

O presente projecto de pesquisa pretende trazer uma análise sócio e cultural da tatuagem

makonde como um dos traços identitários que perfaz a cultura makonde. Para tal, Buscou-se

reflectir sobre as consequências e as implicações de se considerar identidade cultural a partir

de um entendimento epistemológico que permita pensar não apenas a identidade cultural

enquanto tema de estudo, mas sobretudo identidade cultural como “um conjunto vivo de

relações sociais e patrimónios simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a

comunhão de determinados valores entre os membros de uma sociedade” (MAX

GLUCKMAN, 2005:78).

Sendo um conceito de trânsito intenso e de tamanha complexidade, procurou-se

compreender que, a constituição de uma identidade em manifestações culturais pode envolver

um número amplo de situações que vão desde a maneira de falar, maneiras de viver e até a

participação em certos eventos na sociedade.

Por outro lado segundo FILIMONE MEIGOS (2009), “as identidades sociais são

processuais tal como a cultura e a unidade nacional/moçambicanidade. Por isso, devem ser

alimentadas quotidianamente por todos e cada um de nós”.

1.1 Objectivos

O presente projecto de investigação tem como objectivos:

Geral

Compreender a tatuagem makonde enquanto identidade da cultura makonde.

Específicos

Descrever a tatuagem makonde (História e reconhecimento);

Analisar o impacto sócio-cultural da tatuagem makonde no seio da comunidade;

1.2 Metodologia

Em função das exigências do tema e dos objectivos aqui tratados/abordados, este será

desenvolvido seguindo a metodologia comum às ciências sociais, ou seja, recorer-se-á,

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Tatuagem Makonde como Identidade Cultural

preferencialmente, à perspectiva de análise sistemática de recolha, análise e comparação de

dados e à explicação sistemática dos resultados. Consultar-se-á bibliografia especializada,

documentos que tratam o assunto em foco e em alguns casos algumas entrevistas semi-

estruturadas.

1.3 Justificativa

Desde já, é de salientar que para escolha deste tema, torna-se importante esclarecer os

assuntos aqui levantados e relaciona-los com a disciplina de Teoria de Cultura II, que nos

últimos dois semestres vem dedicando-se aos estudos culturais, com ênfase na Cultura, na

Identidade, seus afins e particularidades.

1.4 Hipóteses

Antes porém, de entrar no tema central deste trabalho, faz-se necessário tecer algumas

considerações sobre a “Tatuagem como Identidade Cultural na Cultura Makonde”:

A tatuagem makonde serve de elo de ligação entre o mundo dos vivos e o espírito dos

antepassados locais, onde o tatuado tem a função de intermediário;

A tatuagem transporta um conjunto de crenças mágico-religiosas traduzidas em

valores sócio-culturais, com valor apelativo e identitário;

A tatuagem makonde é um símbolo de identidade do povo makonde.

1.5 Objecto

O projecto de investigação desenvolver-se-á, em princípio, de acordo com o seguinte

esquema temático:

Título I. Quadro Teórico:

História e Reconhecimento da Tatuagem makonde;

A Tatuagem nos dias actuais;

O conflito Identitário.

Título II. A Identidade como elemento relacional.

Título III. Identidade e Alteridade Cultural caso da máscara makonde.

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2. Quadro Teórico

2.1 Estereótipos, Cultura, tatuagem e Identidade

Hoje em dia há uma necessidade urgente de se perceber a imagem social tida como a

percepção que temos de uma pessoa em quanto membro de um grupo. A imagem social é

resultado de processos cognitivos que utilizam estereótipos e preconceitos:

Podemos considerar estereótipos como:

Traços que se atribuem a um grupo ou a uma pessoa em quanto membro de um grupo;

Imagem mental simplificada e partilhada socialmente dos membros de um grupo.

Orientam as expectativas.

Nesta abordagem de é de afirmar que estereótipos também perfazem a identidade e

cultura temas estes que merecem um lugar de abordagem na temática do presente projecto.

2.1.1 Cultura

“A Cultura de uma sociedade compreende tantos aspectos intangíveis: as crenças, as

ideias e os valores que formam o conteúdo da cultura, como também aspectos tangíveis os

objectos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo” (GIDDENS, 2010).

FILIMONE MEIGOS (2009:10), “… a cultura, torna-se, pois num importante

instrumento, numa das prioridades dos Estados nascidos das independências…”. Ou por outra

vertente, “o conjunto organizado dos vários modos de vida de uma sociedade: o trabalho, a

religião, a linguagem, as ciências, as artes e a política (HEGEL, 2003)”.

2.1.2 Identidade Cultural

“A identidade cultural é um conjunto vivo de relações sociais e patrimónios

simbólicos historicamente compartilhados que estabelece a comunhão de determinados

valores entre os membros de uma sociedade” (G. CANCLINI, 2005).

“As identidades são construídas reflexiva e auto-reflexivamente, portanto, produtos

contextuais que são definidos pelas diferentes categorias que esse mesmo indivíduo ostenta.

As identidades, por conseguinte, são processos de exclusão, inclusão, integração

diferenciação, com e contra” (FILIMONE MEIGOS, 2009:13).

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Exemplo:

Sou macua, de pais zambezianos, cujos ancestrais são também nascidos e originários de Nampula,

falo macua que é segunda língua na minha família e português que é a língua materna de educação

informal e familiar.

Nesta ordem de ideias é de salientar que, a construção de identidades baseia-se

sempre de alteridades, ou seja, as identidades são relacionais, isto é, são sempre em

relacionadas a alguma referência onde: existe exclusão, inclusão.

Resumindo:

O conceito de identidade media entre o indivíduo e a sociedade, entre a acção

individual e a estrutura sociocultural;

O conceito de identidade é multidimensional e flutuante;

A cultura não é o mesmo que a identidade, a identidade utiliza a cultura em alguns

casos, mas não global.

2.1.3 Tatuagem

A tatuagem (também referida como tattoo na sua forma em inglês), ou

desmopigmentação, dermo (pele), ou pigmentação que é acto despigmentar, ou colorir. “É

uma das formas de modificação do corpo mais conhecidas e cultuadas do mundo, trata-se de

um desenho permanente, é uma aplicação subcutânea obtida através da introdução de

pigmentos por agulhas, um procedimento que durante muitos séculos foi completamente

“irreversível”, apesar de actualmente existirem processos de reversão”. (ALBERTO

PEREIRA, 2004).

2.2 História e Reconhecimento da Tatuagem makonde

O termo “Makonde” serve para designar uma etnia cultural e linguisticamente homogénea

que acabou por se fixar nos altiplanaltos, com enfoque ao planalto de Mueda (Distrito

localizado na província nortenha de Cabo-Delgado).

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Tatuagem Makonde como Identidade Cultural

Os makondes são descendentes homogéneos de populações antigas provenientes da

Tanzânia, que resultaram de miscigenação1 de gente com diferentes origens que procuravam

refúgios nos planaltos da zona norte de Moçambíque.

A sociedade makonde das terras altas era caracterizada por ser profundamente

segmentaria, sem poderes políticos territoriais relevantes, mas com uma tradição guerreira.

2.2.1 Origem das Tatuagens

“Os makondes tinham um total domínio na área comercial que exploravam um pouco por

toda a parte nortenha, o que fazia deles maiores detentores do comércio da borracha, quando

este produto passou a ser muito procurado pelo comércio internacional.

Sempre que havia desentendimento entre aldeias makondes, o maior motivo eram as

“mulheres”. A captura de cativos tinha como objectivo aumentar a numerosidade de nativos

de uma tribo, aumentar o trabalho e riqueza.

Por isso para tal eram integrados nestas tribos através de tatuagens identificadoras como

sinal de pertença ao grupo ora introduzidos” (ALBERTO PEREIRA, 2004).

Duarte Rafael (2012), defende que em tempos antigo era tido como obrigatoriedade a

tatuagem makonde nas mulheres sob o pretexto de preservar a identidade anti-assédio sexual

perante os colonialistas portugueses.

ALBERTO PEREIRA (2004:5), “entre os nativos o conhecimento da vida obtêm-se por

um exame prova que promove o adolescente a categoria de homem ou de mulher. É mais do

que uma cerimónia pois constitui um período de promoção e provação, considerando o mais

importante da vida e que o leva da situação neutra, inclassificada, à de elemento da

comunidade consciente e idóneo - a tatuagem.

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1. Mistura homogénea de várias culturas ou povos.

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O ensinamento das dores é o preço da entrada para as sociedades. A recordação do

sacrifício terá de perdurar, por isso é nas regiões mais sensíveis e dolorosas que há que

suportar a operação. O lagarto e o crocodilo são figuras entre os animais estilizados, motivos

mágicos como o do sardão2, combinam-se em valores decorativos, com os traçados

geométricos: triangulo, losangos ou quadrados, curvas rectas e outros que são exclusivos do

povo makonde”.

2.3 O conflito Identitário

Segundo PÉREZ ALFONSO (1986) pode existir dois tipos de conflitos de identidade:

a) Conflito de identidade - São conflitos entre duas formas de definir a identidade

colectiva no interior de um grupo e a pertença de uma série de indivíduos a um grupo, aqui

coloca-se o problema do reconhecimento e a objectivação social das identidades colectivas:

no caso da tatuagem makonde-como traço grupal e da cultura makonde.

b) Confusão entre identidades - São confusões sociais entre colectivos que não implica

uma disputa sobre a identidade. A identidade é suposta e cada colectivo reconhece a sua

identidade e a do outro.

Exemplo. Confusão de identidade entre a tatuagem makonde (Cabo-delgado) e tatuagem

báruè feita por uma etnia originária e residente no distrito de Báruè na província de Manica,

perpetrados pela sociedade actual.

3. A Identidade como elemento relacional

A identidade é um elemento que relaciona indivíduo e comunidade, indivíduo e

território, uma comunidade com outra, um grupo com outros. Mas, apropriado pelos actores

sociais, o conceito de identidade pode ser objectivado, isto é, pensada como continuidade da

base ecológica (território, meio natural), da base social (população, etnia), da base temporal

(história) e da base cultural (traços culturais). A identidade é objectivada em nomes, formas,

leis, objectos, etc. Alguns critérios desta Conceição objectivista da identidade seriam a

origem comum, a hereditariedade, a genealogia, a língua, o território, a religião, ou a

personalidade de base CUCHE, (1999: 138). Esta é uma noção organicista sobre elementos

que se consideram aprioris3, homogéneos, historicistas e linguísticos.

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2. Lagarto Verde preferido nas formas e desenhos de tatuagens makonde.

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4. Conclusão

A identidade é uma definição de uma colectividade que perfazem o “nós”, que é feita

em função dos conteúdos das relações para com a alteridade, os “outros”.

Conclui-se também que a identidade alimenta-se da alteridade, e está sempre em

processo de mudança quando se toma a cultura como estilo de vida próprio influenciado pelo

meio social em que vivemos, um espaço, um tempo, uma história, um modo de vida próprio,

que é compartilhável no nosso grupo de referência ou de pertença, se há uma identidade

cultural macua, marronga, machangana, massena, makonde: então é porque isso se manifesta

no na maneira de cantar, nos ritmos folclóricos, na maneira de dança, na maneira de comer,

no tipo de comida, nas crenças, e em todos aspectos que constituem hábitos e costumes do

dia-a-dia. Por conseguinte, nos leva a afirmar e concluir parcialmente que a tatuagem

makonde é identidade cultural da cultura makonde.

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Tatuagem Makonde como Identidade Cultural

5. Referências Bibliográficas

BORDALO LEMA, P.(1978): Tourém. Uma aldeia raiana do Barroso. Lisboa:

Inic-Centro de Estudos Geográficos.

HALL, Stuart, Da Diáspora identidades e mediações culturais, Brasília, Unesco no

Brasil, 2003.

HALL, Stuart, A Identidade Cultural da pós modernidade, Brasil Dp and A Editora.

LARAIA, Roque de Barros., Cultura, um Conceito Antropólogico, Rio de Janeiro,

Zahar, 2000.

MEIGOS, Filimone, Mozambique meu Corpus Quantun, Maputo, Marimbique, 2009.

MEIGOS, Filimone, et all, Kulimar, Maputo, ISArC, 2010.

Fontes Orais:

Duarte Rafael, 25 anos de idade, estudante de Gestão e Estudos Culturais, makonde e

natural de Cabo Delgado. Entrevistado no dia 28 de Maio de 2012.

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