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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE FaC CURSO DE ADMINISTRAÇÃO MARIA MISCELÂNEA DE SOUSA PEREIRA SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCAL A PARTIR DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA BATURITÉ FORTALEZA 2012

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FaC CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

MARIA MISCELÂNEA DE SOUSA PEREIRA

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCAL A PARTIR DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA BATURITÉ

FORTALEZA 2012

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MARIA MISCELÂNEA DE SOUSA PEREIRA

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCAL A PARTIR DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA BATURITÉ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Administração do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de graduação. Orientador: Prof. Ms. Ricardo Cesar de Oliveira Borges.

FORTALEZA 2012

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MARIA MISCELÂNEA DE SOUSA PEREIRA

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCAL A PARTIR DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA BATURITÉ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Administração, como pré-requisito para obtenção do título de graduação, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovado pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: ____/____/_______

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Ms. Ricardo Cesar de Oliveira Borges (Orientador)

____________________________________________________

____________________________________________________

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Aos meus pais (in memoriam) e ao meu filho amado, Francisco Kauã Sousa Pereira.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelas oportunidades que me foram dadas na vida, principalmente

por ter conhecido pessoas interessantes, mas também por ter vivido fases difíceis,

que foram matérias-primas desse caminho do aprendizado.

À minha mãe, Maria do Socorro de Sousa, à minha irmã, Márcia Magda, e

ao meu esposo, Antônio Josimar Egídio Pereira, que sempre me ajudaram na

construção desse sonho, proporcionando o apoio fiel e necessário.

Aos professores do curso de Administração, com destaque aos

professores do primeiro ao quarto semestre, que me acolheram com seriedade,

atenção e compromisso profissional; os quais me fizeram ter uma visão holística na

perspectiva do futuro, sem esquecer-se de mais três professores que me cativaram

desde o primeiro dia de aula, aos encantadores e inesquecíveis Maria Eloisa

Bezerra, João Queiroz Júnior e Maria Bernadete Adriano.

Ao meu orientador, Professor Ricardo Cesar de Oliveira Borges, que me

deu forças para acreditar que sim, que seria possível, pelas boas conversas de

incentivo que tivemos, por nunca me deixar recuar nas horas mais difíceis, pela sua

garra e pelos ensinamentos de vida acadêmica que me proporcionou, pois o

considero como um exemplo de vida para quem busca o sucesso.

A todos que me auxiliaram e me incentivaram neste trabalho.

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“O homem só fracassa quando desiste de tentar: Todos os dias eu me levanto para viver.”

Aristóteles Onassis

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RESUMO

O presente estudo fundamenta-se pela preocupação em desenvolver ferramentas de gestão viáveis ao funcionamento das atividades industriais, em relação aos diferentes cenários local, regional, nacional e internacional, independentemente, que sejam para micros, pequenas, médias e grandes empresas ou de instituições públicas. Ao longo de sua história e formação, a Administração sofreu influências de diversas ciências, e somente a partir do século XIX, teve maior impulso com a notável contribuição dos economistas clássicos liberais a citar o criador da Escola Clássica da Economia, Adam Smith. Com as transformações da sociedade, onde a inovação e a tecnologia passaram a ser prioridade nas empresas, o efeito conhecido como globalização veio para somar com as teorias administrativas. A intensificação da indústria trouxe uma nova demanda de mercado consumidor, e fortes transformações contribuíram para o desenvolvimento econômico e a degradação do meio ambiente. Partindo dos argumentos acima, o objetivo elementar desta investigação é o de discutir teoricamente sobre os principais elementos da teoria administrativa com foco no desenvolvimento socioeconômico, local e sustentável a partir do setor industrial com base na Indústria de Cerâmica Baturité. Para o referido estudo, transcorreu-se por uma pesquisa de natureza qualitativa com tipologia descritiva, bibliográfica e de campo; e, para realização da coleta de dados utilizou-se formulário de entrevista, com objeto de estudo o município de Baturité, com ênfase na atividade industrial. Os resultados obtidos evidenciam que mesmo com ausência de planejamento e de parcerias efetivas com os atores locais e demais instituições públicas, a Indústria de Cerâmica promoveu de forma isolada um estágio inicial de desenvolvimento local e endógeno, além da preocupação com o meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável. Palavras-chaves: Gestão industrial. Desenvolvimento local. Desenvolvimento sustentável.

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ABSTRACT

This study is based on the concern to develop viable management tools for the operation of industrial activities in relation to different scenarios local, regional, national and international, regardless, they are for micro, small, medium and large companies or public institutions. Throughout its history and training, management became influenced by various sciences, and only from the nineteenth century, had greater momentum with the notable contribution of classical liberal economists cite the creator of the Classical School of economics, Adam Smith. With the transformation of society, where innovation and technology became a priority in companies, the effect known as globalization has come to add to the administrative theories. The intensification of the industry has brought a new demand from the consumer market, and strong transformations contributed to economic development and environmental degradation. Based on the arguments above, the basic objective of this research is to develop a theoretical discussion about the key elements of management theory with a focus on socio-economic development, local and sustainable from the industrial sector based on Ceramic Industry Baturité. For the study, went up by a qualitative research with descriptive typology, bibliographic and field, and to collect the data we used interview form, with the object of study Baturité municipality, with emphasis on industrial activity. The results show that even with lack of planning and effective partnerships with local actors and other public institutions the Ceramic Industry in isolation fostered an early stage of development and endogenous location, beyond the concern with the environment and with sustainable development. Keywords: Industrial management. Local development. Sustainable development

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Evolução da administração moderna .................................................... 20

FIGURA 2 – Formas de autoridade e seus pontos chaves ....................................... 22

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Teorias clássicas ................................................................................ 41

QUADRO 2 – Classificação das atividades de serviço ............................................. 45

QUADRO 3 – Endogeneidades do desenvolvimento regional .................................. 65

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental

APL Arranjos Produtivos Locais

BCB Bando Central do Brasil

BND Banco do Nordeste do Brasil S. A.

BNDE Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e Caribe

CETESB Campanha de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CETESB Campanha de Tecnologia de Saneamento Ambiental

CLEI International Council for Local Environmental Initiatives

CMN Conselho Monetário Nacional

DLIS Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

GEE Gases de Efeito Estufa

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Planejamento Econômico e Social

MMA Ministério do Meio Ambiente

ONU Organização das Nações Unidas

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PAE/CE Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação

dos Efeitos da Seca

PIB Produto Interno Bruto

PND Programa Nacional de Desestatização

PNDR Política Nacional de Desenvolvimento Regional

ProNEA Programa Nacional de Educação Ambiental

PSI Processo de industrialização por substituição de importações

SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento Econômico do Nordeste

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 PRIMÓRDIOS DA ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO INDUSTRIAL .......................... 19

2.1 Origem e evolução da ciência administrativa ...................................................... 19

2.1.1 Teoria clássica da administração ..................................................................... 22

2.1.2 O fordismo e a linha de montagem .................................................................. 24

2.1.3 Fayol e o processo administrativo .................................................................... 25

2.1.4 Mayo e a teoria das relações humanas ............................................................ 26

2.1.5 A contribuição da economia de Smith .............................................................. 27

2.2 As revoluções industriais e o setor industrial ....................................................... 28

2.3 O Ceará, suas agências de fomento e o seu distrito industrial ............................ 31

3 O COMÉRCIO, OS SERVIÇOS E O PANORAMA ECONÔMICO BRASILEIRO ... 36

3.1 Comércio: história e suas especificações ............................................................ 36

3.2 Serviços e seus contrapontos ............................................................................. 42

3.3 Panorama econômico brasileiro .......................................................................... 46

4 DESENVOLVIMENTOS ECONÔMICO, SUSTENTÁVEL E LOCAL ...................... 52

4.1 Fatores socioeconômicos .................................................................................... 52

4.2 Desenvolvimento econômico ............................................................................... 53

4.3 Desenvolvimento sustentável .............................................................................. 58

4.4 Desenvolvimento local......................................................................................... 60

4.5 Desenvolvimento econômico endôgeno .............................................................. 64

5 METODOLOGIA ..................................................................................................... 66

5.1 Natureza da pesquisa ......................................................................................... 66

5.2 Tipologia da pesquisa ......................................................................................... 67

5.3 Objeto de estudo ................................................................................................. 69

5.4 Instrumento de investigação ................................................................................ 70

5.5 Pré-teste .............................................................................................................. 72

5.6 Procedimentos operacionais da pesquisa ........................................................... 72

5.7 Tratamento de coleta de dados /tabulação dos dados ........................................ 74

6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................... 75

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 80

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 82

ANEXOS ................................................................................................................... 87

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo de sua história e formação, a Administração também sofreu

influências de outras ciências e buscou aquilo que considerava útil a sua atuação e

desenvolvimento. A partir do século XIX, a administração sofre maior influência

através dos chamados economistas clássicos liberais, onde deve-se citar a notável

contribuição do criador da Escola Clássica da Economia, economista do período

manufatureiro Adam Smith.

Igualmente, adotou-se de conhecimentos da Engenharia, enquanto

transformação, máquinas, ferramentas e produção. Logo depois aglutinou

contribuições importantes para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento nas

ciências do comportamento, para então trabalhar as adversidades do ser humano,

que é o caso da Psicologia e da Sociologia. Recebeu também influência da

Matemática, por meio da análise de gráficos, estimativas de produção,

probabilidade, estatística, análise financeira e contábil.

Principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, quando os métodos

quantitativos militares foram bastante difundidos e “[...] o mundo viveu o que os

especialistas denominam de Revolução industrial, predominando uma visão de

especialista da produção em série, da adaptação do homem à máquina” (FAVA,

2003, p. 5). A partir de 1970, surge a Revolução da Informação. E ainda, nos dias

mais atuais, tem-se a produção em massa, porém numa visão globalizada, de

adaptação não apenas do homem à máquina, mas também ao meio onde vive

(FAVA, 2003).

A Administração de Empresas nasceu como doutrinas organizadas. Foi

na década de 1920 que se desenvolveu a Administração Científica de Frederik

Winslow Taylor [1856-1915] e Henri Fayol [1841-1925]. Tanto o engenheiro

mecânico americano quanto o engenheiro francês, respectivamente, trabalharam as

bases da ciência administrativa. Contudo, o primeiro focava a racionalização do

trabalho onde a produção deixaria de ser de forma indutiva, para o método de

pesquisas, redesenhando o trabalho e selecionando os trabalhadores, mudando

suas atitudes, reduzindo o tempo de trabalho e diminuindo a velocidade de

execução das tarefas, proporcionando-lhes mais benefícios (MAXIMIANO, 2004).

Fayol trabalhou na perspectiva do processo administrativo. Via a

administração como uma atividade que exige grandes conhecimentos de

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planejamento, organização, comando, coordenação e controle. Segue uma

sequência lógica e cabe ao administrador tomar decisões, estabelecer metas, definir

diretrizes e atribuir responsabilidades aos integrantes da organização, onde seus

colaboradores necessitam de ordens para saber o que fazer e suas ações precisam

de coordenação e controle gerencial (MAXIMIANO, 2004).

A Administração de Relações Humanas encabeçada pelos preceitos de

Georges Elton Mayo [1980-1949], psicólogo industrial australiano, propiciou uma

complementação no estudo da ciência. Para Borges, Silva e Pinheiro (2012, p. 8):

Realmente o fator econômico como salários e benefícios, não é motivação única para os trabalhadores se o clima organizacional não proporcionar boas condições de trabalho. Além disso, não proporcionar a oportunidade de expor suas ideias, através de uma relação sadia entre patrões/empregados e principalmente que invista da sua evolução pessoal, oferecendo perspectiva para que seus colaboradores possam capacitar-se em áreas diferentes em que atuam. O colaborador por mais que receba uma boa remuneração, não pretende ficar no mesmo cargo por muito tempo, pois todo mundo tem ambição e quer crescer profissionalmente, para conquistar seu status social.

O período seguinte ficou conhecido como a Era da Produção em Massa

defendida pelo engenheiro estadunidense Henry Ford [1863-1947]. Para Maximiano

(2004), Ford alinhou a produção em massa de produtos não diferenciados com o

trabalho especializado buscando a produção vertical integrada associando a altos

salários e baixos preços de venda. A partir de 1950, surge a chamada Administração

Burocrática com Max Weber, enfocando, sobretudo a eficiência, pregando o controle

e a avaliação dos funcionários.

Até a década de 1980, o foco principal era os recursos físicos. Portanto,

buscava produzir ainda mais com intensos investimentos em equipamentos

e máquinas. Somente a partir de 1980 que a ênfase passou a ser nos processos

de produção, pois se percebeu que investir apenas em recursos físicos não

era o suficiente se os outros processos, como por exemplo, o fator humano, não

forem trabalhados em conjunto (MAXIMIANO, 2004; DIAS; CASSAR; RODRIGUES,

2002).

As transformações da sociedade, a partir do século XX, ocorreram de

forma extraordinária. Passou-se então de uma sociedade tipicamente agrária para

uma sociedade industrial, onde a inovação e a tecnologia passaram a ser a

prioridade nas empresas. Nesse período, o mundo vivenciou o que a literatura

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denomina de Revolução Industrial, inicialmente na Inglaterra, em meados do século

XVIII com as máquinas movidas a vapor, predominando uma visão de especialistas

da produção em série e da adaptação do homem à máquina; em seguida nos

Estados Unidos (2ª fase da Revolução Industrial – no final do século XIX e início do

século XX) com um sistema de produção mais aperfeiçoado, novas tecnologias e

máquinas mais eficientes aumentando a produtividade com redução de custos como

é o caso do fordismo (CAMPOS, 1994).

O efeito conhecido como globalização foi mais um fenômeno marcante

para essas teorias. Ocorreu o melhor acesso a informação, e com isso o ser humano

de hoje demonstra ser muito mais interessado e exigente, expondo mais as reais

necessidades e interesses individuais. Pensando nessa perspectiva as organizações

passaram a se preocupar mais com a opinião dos clientes, buscando, então

satisfazer suas necessidades. As empresas precisam essencialmente acompanhar

as constantes mudanças que acontecem em todo o mundo, principalmente, nos

aspectos econômicos e sociais.

Outro fenômeno de suma importância é o estudo de concentração

geográfica de empresas. Serve para dar um direcionamento mais evidente às novas

possibilidades de vantagens competitivas que surgem, seja pelas economias

externas, apropriadas pelo conjunto de produtores ou pela interação entre os

agentes locais, seja pelas economias internas, possibilitando um desenvolvimento

endógeno sustentável. Temas como Arranjos Produtivos Locais, Clusters, Alianças

Estratégicas e Redes Geográficas perpassam pela concentração geográfica de

empresas (BORGES; SILVA; PINHEIRO, 2012).

De acordo com Suzigan et al. (2006), o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA), em relatório consolidado, afirma que as empresas possuem a

capacidade de geração de economias externas e exercem um papel fundamental

para o incremento da competitividade dos produtores locais. As economias externas

podem ser incidentais, decorrentes de:

– Existência de um amplo contingente de mão-de-obra especializada e com habilidades específicas ao sistema local;

– Presença e atração de um conjunto de fornecedores especializados de matéria-prima, componentes e serviços.

– Grande disseminação dos conhecimentos, habilidades e informações, por meio de transbordamentos locais (spill-overs) concernentes ao ramo de atividade dos produtores locais (SUZIGAN et al., 2006, p. 04).

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A escolha do tema originou-se pelo interesse de conhecer os novos

mecanismos empresariais em superação às tradicionais e das divergentes formas

econômicas no ambiente empresarial. Tais fenômenos proporcionam melhor

desempenho e capacitação das empresas como forma de estratégia, promovendo

seu crescimento mútuo e do local onde estão inseridas. Ademais, relacionar duas

ciências, Economia e Administração, parece não somente um desafio, mas,

sobretudo, uma possibilidade de estudo multidisciplinar própria de um egresso ao

mercado global, competitivo e turbulento de trabalho. Soma-se aos fatos a

participação da pesquisadora em um grupo de estudo para tratar do

desenvolvimento local, a possibilidade de conhecer uma investigação para além dos

limites da faculdade e da cidade de Fortaleza. Mais do que isso, percebeu-se no

levantamento prévio das informações que os setores comércio e serviços possuem

um grande número de pesquisas, desmerecendo o setor industrial. Este, ainda que

com pouca participação de mão de obra, motivada pela automação, representa

percentual significativo no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Ainda mais quando

o setor não é o principal do Estado ou do país, como é o caso da indústria de

cerâmica.

Seja na indústria de cerâmica ou em outra área, devido à grande

demanda na produção, surgiu também a preocupação de desenvolver ferramentas

adequadas para o funcionamento das atividades. Além de regulamentações através

de certificações, tratados, ou até mesmo legislações específicas, para mitigar os

desperdícios e mobilizar os trabalhadores. Essa preocupação tem como objetivo

atender a essa demanda, padronizar os produtos e melhorar as condições de

trabalho entre patrões e trabalhadores.

Com a intensificação da indústria para atender a essa nova demanda do

mercado consumidor, fortes transformações contribuíram para a degradação

ambiental. Principalmente nas áreas marginais aos centros industriais, por causa da

geração dos resíduos industriais e do desordenado consumo de recursos naturais,

tornando-se um dos grandes problemas ambientais da atualidade.

Um exemplo marcante dessa realidade desenfreada de consumo ocorreu

na Região de Cubatão em 1982, onde a cidade ficou conhecida mundialmente como

a cidade mais poluída do mundo. Uma das maiores tragédias ecológicas da época,

por decorrência de vinte e três indústrias locais lançarem diariamente na atmosfera

1.000 toneladas de gases tóxicos e partículas nocivas ao homem e ao meio

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ambiente, comprometendo de maneira direta a qualidade de vida da população

(SERSON; PEREIRA, 2003).

Várias estratégias foram utilizadas, e por diferentes áreas, seja ela

governamental ou do setor privado, para mudar o quadro existente de degradação

ambiental, e melhorar a qualidade de vida da população. Hoje, existem inúmeras

ações que modificam e conscientizam o processo de produção industrial voltadas

para o desenvolvimento sustentável.

Entre as estratégias e ações realizadas, pode-se citar o Programa

Nacional de Educação Ambiental (ProNEA); O Passaporte Verde (lançado durante a

Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio +20), o

VIII Congresso Mundial do Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais

e a Campanha Nacional de conscientização ao consumo de sacolas plásticas

promovido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 2009 com o slogan “Saco é

um saco”.

O município serrano de Baturité, distante de Fortaleza em 90 quilômetros,

abrange uma área de aproximadamente 32.690 hectares. Uma de suas

peculiaridades é a sua vasta vegetação de mata atlântica, considerada a maior

extensão de mata preservada em todo o estado do Ceará. É Área de Proteção

Ambiental (APA) criada pelo Governo do Estado do Ceará, instituída através do

Decreto Estadual nº 20.956, de 18/09/1990 e alterado pelo Decreto nº 27.290, de

15/12/2003 (SEMACE, 2012).

A importância deste habitat para o cenário geoambiental brasileiro

é impar; motivo pelo qual há necessidade de adoção de medidas que minimizem

o risco de degradação e promova um desenvolvimento de forma sustentável aliado

à conservação da sua biodiversidade fazendo uso racional de seus recursos

naturais.

O desejo de realizar um trabalho científico junto a organizações industriais

nessa região também se deu pelo fato particular do interesse em rever os estudos

econômicos e analisar os aspectos socioeconômicos da região onde a pesquisadora

cresceu. Assim, identificar se há alguma relação marcante do setor industrial que

possa impactar no desenvolvimento econômico local do município de Baturité, tendo

em vista que a única indústria instalada na cidade é a de cerâmica e que está em

funcionamento a aproximadamente 30 (trinta) anos, portanto, representativa para a

economia endógena.

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O futuro Administrador, como qualquer outro profissional global, necessita

entender os cenários local, regional, nacional e internacional, independentemente,

para micros, pequenas, médias e grandes empresas e instituições públicas. Partindo

então dos argumentos acima, surge a necessidade de responder ao seguinte

questionamento: Como se dá a relação entre a ciência administrativa e a ciência

econômica nas relações sobre o desenvolvimento a partir da Indústria de

Cerâmica Baturité?

Com base na pergunta de partida, o objetivo primário desta investigação

científica é o de discutir teoricamente sobre os principais elementos da teoria

administrativa com foco no desenvolvimento socioeconômico local e sustentável a

partir do setor industrial com base em uma indústria de cerâmica em Baturité-CE.

Para sustentar o objetivo geral, foram identificados dois objetivos

específicos, são eles:

Identificar a relação da Indústria, objeto de estudo, com o Desenvolvimento Local

no tocante aos aspectos socioeconômicos e político;

Verificar fatores sustentáveis da Indústria no Desenvolvimento Econômico Local.

Para atender aos objetivos, a pesquisa possui uma natureza qualitativa,

de tipologia bibliográfica, e de campo, quanto aos meios. Quanto aos fins, é

classificada como exploratório, descritiva (VERGARA, 2009), permitindo diagnosticar

seu efeito na região em que está inserido de modo a compreender seus processos

dinâmicos. Com efeito de atividade in loco foi realizada uma entrevista com a

proprietária atual da Indústria de Cerâmica Baturité para se indicar os resultados

desta investigação.

O presente trabalho encontra-se subdividido em 06 (seis) sessões

distintas:

O primeiro capítulo trata-se da introdução, onde apresentam-se a

contextualização do assunto, a justificativa do tema, sua problemática, o objetivo

geral e os específicos, a metodologia aplicada para a realização do estudo e a

estrutura do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

O segundo capítulo discorrerá sobre a origem e a evolução da ciência

administrativa e a contribuição da ciência econômica com Adam Smith em meio as

transformações decorrentes da Revolução Industrial, em especial no setor industrial

do estado do Ceará.

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O terceiro capítulo abordará os aspectos históricos, sua origem e

principais conceitos em diferentes áreas do conhecimento adquirido ao longo dos

tempos, além de destacar a participação no cenário econômico brasileiro.

O quarto capítulo destina-se a falar sobre a relevância dos aspectos

econômicos, de sustentabilidade social e local para o contexto organizacional atual.

O quinto capítulo refere-se à metodologia do referido estudo, trazendo as

especificações metodológicas subdividida em 07 (sete) tópicos para melhor

descrever a presente pesquisa. Dispõe-se de natureza qualitativa com tipologia

descritiva, bibliográfica e de campo, onde para realização da coleta de dados

utilizou-se de formulário de entrevista, com objeto de estudo o município de Baturité,

com relevância a atividade industrial.

No sexto capítulo são apresentadas a análise e discussão dos resultados

extraídos da pesquisa de campo realizada no município de Baturité, na Indústria de

Cerâmica Baturité Ltda. com ênfase ao formulário de entrevista aplicado com a

gestora da empresa.

O sétimo e último capítulo traz as considerações finais da pesquisa, onde

será apresentada a resposta da problemática, bem como o alcance ou não dos

objetivos propostos e a indicação de pesquisas complementares ao referido estudo.

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2 PRIMÓRDIOS DA ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO INDUSTRIAL

Nesse capítulo será abordado o contexto histórico da administração e sua

evolução citando os principais aspectos e personagens, ao longo das mudanças

socioeconômicas, políticas e culturais das organizações. Serão relacionados os

fatores de maior relevância no desenvolvimento econômico das sociedades,

tomando como referência a realidade brasileira e cearense, de embate com as

políticas sustentáveis e suas implicações. Discorre também, sobre as atividades

econômicas no setor industrial, conceitos e seus principais feitos no cenário nacional

e regional.

2.1 Origem e evolução da ciência administrativa

Em decorrência da evolução na forma de administrar surgem diferentes

pensamentos adequando-se ao cotidiano das organizações à medida que os feitos

revolucionários e as inovações apareciam, se aperfeiçoando e adaptando-se ao seu

meio ao longo dos tempos. Desde as antigas organizações já existiam a

preocupação em administrar de maneira eficiente os recursos naturais, os fatores

socioeconômicos, políticos, entre outros, isso para garantir à promoção de uma vida

mais digna a sociedade.

Grandes organizações como na antiga Grécia e Roma, a Igreja católica e

as organizações militares já administravam soluções para trabalhar seus conflitos e

lidar com seus recursos disponíveis. Nos dias de hoje, muitas das teorias utilizadas

evoluíram devido às práticas de gestão do passado (MAXIMIANO, 2004).

Administrar consiste no processo de fazer com que as atividades

organizacionais sejam realizadas de modo eficiente e eficaz, por meio também de

outras pessoas, por isso, se torna tão complexo, visto que essas atividades

organizacionais são mutáveis, dependem de variações do ambiente em que estão

inseridas, e também da evolução constante da tecnologia.

Muitas vezes, a maioria das organizações não alcança o resultado

esperado por não administrar devidamente suas atividades organizacionais de modo

assertivo, por não acompanhar essa evolução tecnológica, e por último não

conhecerem também os fundamentos de Administração. “A função da gestão é

construir organizações que funcionem.” (MAGARETTA, 2003, p. 16). Contudo,

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repensar sobre o que é gestão a partir de inúmeras limitações existentes nos dias

atuais não é tarefa fácil para um Administrador. Variáveis sociais, econômicas,

físicas e ambientais, fazem parte de um complexo contexto histórico de relações e

demandas que constituem a formação de povos, regiões, e no desenvolvimento

territorial e sustentável, daí a necessidade de administrar essas inconstâncias ou

mutações.

Todavia os preceitos da Administração referem-se a fenômenos sociais,

cujas condições determinantes são consideradas imensuráveis, por isso é definida

como uma ciência humana e não exata (MAXIMIANO, 2004). A figura a seguir

apresenta a trajetória da evolução da humanidade e ações de alguns idealizadores

que marcaram a sua história.

FIGURA 1 – Evolução da administração moderna

Fonte: Maximiano (2004, p. 49).

No início a Administração acontecia de forma desassociada, somente a

partir das organizações militares surgiu a preocupação de elaborar planejamentos a

longo, trabalhar os princípios de organização, controle, disciplina, logística,

hierarquia e a formação de recursos humanos. Na Grécia, já se discutia os

parâmetros democráticos, éticos, de qualidade, além de analisar a Administração

como ciência. A partir de VII a.C. iniciou-se a formação de verdadeiros impérios

organizados, com grandes empresas privadas, formação de executivos, dentre

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outros acontecimentos, e o Renascimento trouxe a necessidade de ver os valores

humanistas. Neste mesmo período (século XVI), traz a invenção da contabilidade.

Logo em seguida, com a Revolução Industrial, o mundo passa por uma

forte mudança social e econômica que marca sua história. A invenção das fábricas

traz consigo a produção em larga escala surgindo uma nova visão de trabalho e de

consumo, é onde ocorre a criação de sindicatos, e é neste mesmo período que se

dar início a Administração como uma disciplina.

No contexto socioeconômico, o processo de modernização da sociedade

traz a substituição progressiva da economia feudal baseada na autoridade

tradicional (nobres, senhores feudais, patriarcas e autoridades religiosas). Esse

processo possibilita a abertura de espaço para uma economia industrial baseada na

autoridade racional-legal, pois ela é considerada mais adaptada às mudanças

sociais da época moderna marcada por um desenvolvimento acelerado e

transformações importantes até o surgimento da sociedade industrial (MOTTA;

VASCONCELOS, 2004).

Sendo assim os autores acima descrevem a trajetória da humanidade na

concepção socioeconômica, citando que dentre as formas de autoridades existentes

na época a mais adequada às transformações sociais que ocorriam seria a raciona-

legal, isso até o surgimento da sociedade industrial. Portanto, na administração dos

processos dessa época, se exigia um padrão de autoridade para tratar as atividades

operacionais existentes na organização.

Maximiano (2004, p. 60), retrata que

Weber, não tentou definir as organizações, nem estabelecer padrões de administração que elas devessem seguir. [...] descreveu as organizações burocráticas como máquinas totalmente impessoais, que funcionam de acordo com regras que ele chamou de racionais [...]

Sobre padrão, Max Weber; cientista social alemão, foi pesquisador das

organizações formais e autor do conceito de “Tipo Ideal”, quando realizou estudos

precursores sobre as burocracias na década de 1920. No conceito de Weber, a

administração burocrática é a forma mais racional de exercer a dominação, pois

possibilita o exercício da autoridade com eficácia (MAXIMIANO, 2004). Portanto, a

burocracia se baseia na racionalidade humana para administrar conflitos ou grandes

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demandas de processos operacionais de forma padronizada e assim chegar aos

objetivos esperados com a máxima eficiência possível.

A figura abaixo descreve, segundo Weber, o processo de modernização e

as demais formas de autoridade:

FIGURA 2 – Formas de autoridade e seus pontos chaves

Fonte: Motta e Vasconcelos (2004, p. 12).

É imprescindível destacar que ao longo dos tempos a ciência

Administrativa recebeu inúmeras contribuições, de diferentes personagens que

fizeram a história e colaboraram também para evolução da própria existência

humana. Contudo, com o crescimento e o desenvolvimento a nível populacional,

social, econômico, político e cultural, surgem outras necessidades para então

atender as demais exigências dessa nova realidade na produção de mercadorias em

grande quantidade, e é nesse mesmo período que nasce as Teorias Administrativas,

como é caso da Teoria Clássica da Administração.

2.1.1 Teoria clássica da administração

O início do século XX foi marcado por grandes transformações

tecnológicas, econômicas e sociais. Foi nesse período que surgiram e cresceram

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diversificadas empresas para fornecer, em grandes quantidades, os produtos e

serviços recém-criados e atender as necessidades das pessoas da época. “Em

1913, a economia norte-americana produzia cerca de um terço do produto industrial

bruto mundial.” (MOTTA; VASCONCELOS, 2004, p. 29).

A partir daí surge o interesse de estudar maneiras de como lidar com a

enorme demanda de recursos humanos e de materiais, que essas empresas

produziam.

Frederik Winslow Taylor, nascido na Filadélfia, desenvolvia princípios e

técnicas para abordar a eficiência dos processos produtivos, através da

racionalização do trabalho, com objetivo de evitar desperdícios e melhorar o

relacionamento patrão/empregado, e por consequência facilitar a aplicação dessas

técnicas e princípios no cotidiano dos empregados (MAXIMIANO, 2004).

Maximiano (2004) particulariza ainda que Taylor buscava modificar a

execução das tarefas através dos estudos dos tempos e movimentos, onde a

produção deixaria de ser de forma indutiva, para o método de pesquisas,

redesenhando o trabalho e selecionando os trabalhadores, alterando suas atitudes,

reduzindo assim o tempo de trabalho e diminuindo a velocidade de execução das

tarefas, proporcionando-lhes mais benefícios.

Na administração científica, de acordo com Karavantes, Panno e

Kloeckner (2005, p. 58):

A abordagem desenvolvida por Taylor, apoiada em quatro princípios básicos para aprimorar o desempenho organizacional: estudo das tarefas, usando medidas objetivas, visando determinar „a melhor maneira‟ de executá-las; seleção das melhores pessoas para tarefa, treinamento das mesmas nos métodos mais eficientes e incentivo monetário para os que desempenham as tarefas.

Nos dias atuais, percebe-se que as organizações que atuam de maneira

hierárquica tradicional e impessoal na relação patrão/empregado não sobrevivem

por muito tempo no mercado. É necessária que haja uma aproximação maior entre

os dois, uma troca de ideias e informações, proporcionando prosperidade entre

ambos e, consequentemente, melhorando o desempenho da organização no seu

labor diário. Na busca por uma eficiência, “[…] é preciso dar ao trabalhador o que ele

mais deseja – altos salários – e ao empregador o que ele realmente almeja – baixos

custos de produção.” (KARAVANTES; PANNO; LOECKNER, 2005, p. 60).

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Na concepção de Taylor a ideia de especialização era vital nas

organizações industriais; quanto mais acertado fosse o método utilizado na tarefa

realizada pelo empregado, maior seria o resultado na produtividade.

2.1.2 O fordismo e a linha de montagem

Para Maximiano (2004, p. 56), “O taylorismo desenvolveu-se em uma

época de notável expansão da indústria e junto com outra inovação revolucionária

do início do século: a linha de montagem de Henry Ford […]” Ford, na sua fábrica,

combinava a manufatura e a montagem de todas as peças-componentes de um

carro, usando uma linha de montagem principal, com inúmeras sublinhas de menor

porte alimentadas, e aplicando o princípio da integração vertical (KARAVANTES;

PANNO; KLOECKNER, 2005).

Por integração vertical entende-se, portanto, que tem relação direta com o

processo produtivo, significa basicamente “administrar um conjunto de operações

que pode ir da produção da matéria-prima à distribuição ao consumidor final”

(REZENDE, 1997, p. 7). Isto é, ter o controle total da produção de um determinado

produto até seu processo final para o consumo.

Segundo Rezende (1997), a integração vertical tende a promover a

redução de custos e contribui para um controle maior sobre itens como qualidade,

prazo, preço, especificações técnicas, o atendimento ao cliente (consumidor final), e

ritmo de expansão. Ou seja, tal método pretende diminuir custos de produção e a

maximizar os resultados.

Na visão de Motta e Vasconcelos (2004), as ideias de Ford contribuíram

para a generalização da linha de montagem e de um sistema econômico

fundamental para a consolidação da sociedade industrial, contudo também sofreu

com os efeitos da rigidez de seu modelo e os problemas ligados ao controle de

pessoal.

Para Maximiano (2004), Ford alinhou a produção em massa de produtos

não diferenciados com o trabalho especializado. “Ele não inventou nem a linha de

montagem, nem a produção em massa, nem controle de estoque em tempo real,

entretanto, usou estes conceitos com grande eficácia.” (KARAVANTES; PANNO;

KLOECKNER, 2005, p. 71).

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Foi graças às inovações de Ford, que tornou-se possível eliminar quase

todos os movimentos desnecessários nas atividades dos trabalhadores. O lendário

estrategista modificou os processos habituais da produção industrial com as novas

técnicas da linha de montagem, trazendo inúmeros benefícios que, nos dias atuais,

ainda são utilizados com frequência.

2.1.3 Fayol e o processo administrativo

Fayol desenvolveu sua teoria sobre as funções da Administração. Fayol

traduzia a administração como uma atividade comum a todos os empreendimentos

da sociedade (família, negócios, governos), onde determinavam grandes

conhecimentos em planejamento, organização, comando, coordenação e controle.

Foi o criador e divulgador de sua própria teoria, sendo o pioneiro no reconhecimento

de que a administração deveria ser entendida como uma função separada das

demais Na perspectiva de gerenciar, segue uma sequência lógica que cabe o

Administrador tomar decisões, estabelecer metas, definir diretrizes e atribuir

responsabilidades aos integrantes da organização cujos colaboradores necessitam

de ordens para saber o que fazer e as ações precisam de coordenação e controle

gerencial (MAXIMIANO, 2004).

Pressupõe, portanto que o trabalho de um administrador-gerente se difere

das operações técnicas de uma organização, composta por um sistema racional de

regras e procedimentos para justificar a necessidade da sua importância em

conduzir a empresa nas decisões mais abstratas. Essa distinção de Fayol torna mais

nítido o papel do executivo, do ponto de vista hierárquico da organização, se

aproximando dos conceitos gerenciais da atualidade.

Karavantes, Panno e Kloeckner (2005) destacam que Fayol antecipou o

planejamento em longo prazo, e entendia que as decisões tomadas, no presente,

condicionam e modelam os resultados futuros. Uma organização que não faz

planejamento a curto, a médio ou a longo prazo, não consegue resistir por muito

tempo à pressão dos concorrentes no mercado, pois não tem objetivos futuros. Em

resumo pode-se afirmar que Fayol trabalhou o princípio da administração por uma

visão gerencial, ao contrário de Taylor que cuidou do nível operacional; portanto, de

baixo para cima.

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2.1.4 Mayo e a teoria das relações humanas

Essa nova perspectiva de administrar, segundo seus idealizadores,

denominava que a função do líder era de facilitar a realização cooperativa de

objetivos, ao mesmo tempo em que deveria dar oportunidade para o

desenvolvimento e crescimento pessoal, e o foco principal seria as necessidades do

indivíduo e não as necessidades da organização.

A teoria das relações humanas nasceu baseada nos resultados

encontrados na experiência de Hawthorne. Um grupo de pesquisadores da

Universidade de Harvard realizou um estudo para descobrir se as variações de

luminosidade do local de trabalho teria algum efeito sobre o desempenho dos

trabalhadores. Esse projeto começou a apresentar resultados estranhos; quando

aumentava a intensidade da luz a produção aumentava e quando ocorria o contrário

(diminuía a intensidade da luz) a produção também aumentava. Posteriormente,

foram oferecidos outros benefícios como lanches e intervalos, e a produção

continuava aumentando. No final, todos os benefícios foram retirados e a produção

subia numa quantidade espantosa. A partir daí é que surge a contribuição de

Georges Elton Mayo na busca de tentar explicar esse acontecimento (MAXIMIANO,

2004).

Para Karavantes, Panno e Kloeckner (2005, p. 80), “Mayo é conhecido

[...] por causa de sua liderança na condução da pesquisa de Hawthorne e outras

investigações no campo do comportamento humano”. Ele foi considerado uma das

grandes figuras que colaborou de maneira fundamental na evolução das teorias da

Escola de Relações Humanas (MOTTA; VASCONCELOS, 2004).

Essas pesquisas e investigações de Mayo apresentaram os seguintes

resultados:

O resultado dos estudos de Hawthorne tinha sentido prático: aprimorar o desempenho da organização. [...] o incentivo econômico não é a única força motivadora a que o trabalhador responde; sua produção é fortemente influenciada tanto por suas relações com os outros companheiros de trabalho como por seus problemas pessoais, tanto dentro e fora da organização. [...] O grande mérito da escola de Relações Humanas foi desvendar ao mundo que o homem, o grupo e suas inter-relações eram vitais para os resultados buscados pelas organizações (KARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005, p. 81).

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Constata-se então que, o fator econômico, salários e benefícios, e demais

melhorias no ambiente de trabalho, não são motivação única para os trabalhadores.

Se o clima organizacional não proporcionar boas condições de trabalho,

consequentemente poderá comprometer na produção e nos resultados da

organização. O colaborador, por mais que receba uma boa remuneração, não

pretende ficar no mesmo cargo por muito tempo, pois todo mundo tem ambição e

quer crescer profissionalmente, para conquistar seu status social (MAXIMIANO,

2004).

Além disso, não proporcionar a oportunidade de expor as ideias,

através de uma relação sadia entre patrões/empregados e, principalmente, que

invista na evolução pessoal, oferecendo perspectivas para que colaboradores

possam capacitar-se em áreas diferentes das que atuam traz efeitos negativos para

as empresas em longo prazo, e para o trabalhador, como frustrações e

desmotivações.

Em suma, a participação eficaz de um funcionário não depende

exclusivamente da remuneração e do local de trabalho. A realização profissional

pode acontecer em qualquer empresa ou em qualquer conjunto de empresas

inclusive, participando de uma rede ou grupo de associações de empresas.

2.1.5 A contribuição da economia de Smith

Verificou-se que até 1980, o foco principal era os recursos físicos, isto é,

buscava produzir mais e mais com intensos investimentos em equipamentos e

máquinas. Posteriormente, a ênfase passou a ser nos processos de produção, pois

percebeu-se que investir apenas em recursos físicos não era o suficiente se os

outros processos não fossem coerentes. No geral, a sociedade industrial

caracterizava-se pela predominância da indústria na atividade econômica, e pelo

forte crescimento urbano (CAMPOS, 1994). Em seguida, sofreu influência dos

chamados economistas clássicos liberais, onde pode-se citar a contribuição de nada

menos que o criador da Escola Clássica da Economia, Adam Smith.

Adam Smith [1723-1790] nasceu na cidade de Kirkcaldy, Escócia. Recebe

o grau em Bacharel de Humanas, Oxford-Inglaterra. Até 1746 dedicou seus estudos

de Ciências Políticas e Linguística e mais tarde reuniu material para composição da

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sua obra Theory of Moral Sentiments (Teoria dos Sentimentos Morais). Logo depois

intensificou os estudos de Direito e de Economia Política, e em 1776 publicou a sua

grande obra The Wealth of Nations (A Riqueza das Nações), conceitos estes que

perpassam gerações, onde seus ensinamentos ainda servem de base de

ensinamento novos conceitos econômicos (DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002).

Como economista do período manufatureiro do capitalismo, Smith

considerava que a elevação da produtividade só podia ser obtida mediante a

atividade do trabalho. Conduto o seu maior mérito foi defender o ponto de vista de

que o valor da mercadoria era a expressão da quantidade de trabalho nela investido,

e que o salário do operário correspondia somente a uma parcela do produto de seu

trabalho, determinado pelo valor de seus meios de subsistência. Portanto, o lucro e

a renda não passam de uma dedução do produto criado pelo trabalho (DIAS;

CASSAR; RODRIGUES, 2002).

2.2 As revoluções industriais e o setor industrial

Essas regras racionais foram aplicadas no setor industrial. A atividade

industrial consiste no processo de produção que visa transformar a matéria-prima

(insumos) em mercadoria (produto final ou em processo) através da indispensável

participação da força de trabalho humana, incluindo as máquinas e a energia

(FERREIRA, 2004). Esse produto resultante do processo industrial tem como

finalidade principal ser comercializado para pessoas ou para outras indústrias. Essa

atividade econômica recebe inúmeras classificações, porém podem ser divididas

basicamente em dois tipos: indústrias de base e indústrias de bens de consumo.

Segundo conceitua Ferreira (2004, p. 1098), quando fala que a indústria é

uma: “[...] atividade de produção de mercadorias, especialmente de forma

mecanizada e em grande escala, abrangendo a extração de produtos naturais

(indústria extrativa) e sua transformação (indústria de transformação)”.

Indústrias de base são aquelas que atuam na transformação de matéria-

prima bruta em matéria-prima para outras indústrias. Já nas indústrias de bens de

consumo o seu objetivo é a produção direcionada ao consumidor final, para a

fabricação de mercadorias que atendam esse mercado consumidor, onde utiliza-se

da matéria-prima oriunda da indústria de base.

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No processo de produção, é importante mencionar as técnicas utilizadas

como o sistema de cartões Kanban1 ou o Just in time2 que integraram a linha de

produção fordista e a terceirização da produção que é uma solução estratégica de

gerenciamento dos processos para otimizar os recursos e reduzir custos, conforme

define Ching (2007).

A Revolução Industrial foi responsável pelo crescimento econômico

mundial, segundo Motta e Vasconcelos (2004). No entanto, esse avanço trouxe

consigo trágicas consequências para a sociedade. O sistema fabril regulava a forma

de trabalho do homem em função da máquina; neste caso, o foco central era o

processo produtivo. Por sua vez, o trabalhador tinha uma jornada de trabalho bem

maior para acompanhar o ritmo das máquinas. Com a produção em massa, as

indústrias passam a produzir uma quantidade ainda maior de resíduos tóxicos,

consumir um volume muito alto de matéria-prima bruta (insumos), além de

produzirem gazes poluentes nocivos à população local.

Ao longo dessa evolução, ocorre a modernização no maquinário e por

consequência as técnicas de produção utilizadas também são adaptadas a esses

novos avanços tecnológicos. Ocorre também a modernizações no nível estratégico

das organizações, com visões inovadoras no campo empresarial, para garantir a

lucratividade e o aumento da produtividade, com o melhor aproveitamento dos

recursos utilizados e consequentemente garantir o menor custo.

De acordo com Melane (2006, p. 12), “A primeira Revolução Industrial, na

segunda metade do século XVII, aprofundou a divisão social do trabalho ou

parcelamento das tarefas (cada trabalhador fazia uma mesma e repetida operação)”.

Essa visão mecanizada das pessoas era reflexo oriundo da orientação que vinha da

Revolução Industrial. “[...] As pessoas eram apenas „peças humanas‟.”

(MAXIMIANO, 2004, p. 60). E essa percepção foi agravada com “A Segunda

Revolução Industrial, além de recorrer ao parcelamento de tarefas, criava-se uma

nova divisão: entre países ricos e industrializados e países consumidores desses

produtos.” (MELANE, 2006, p. 12).

1 Utilização de cartões que sinalizam os passos do processo, permitindo um fluxo programado, com

uma comunicação evitando desperdício de tempo com esperas. 2 Visa eliminar os riscos de estoques desnecessários, como gastos de manutenção e desperdício de

matéria-prima mal acondicionada ou vencida, além de outros fatores como o espaço físico para estocagem de produtos.

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A indústria já faz parte da humanidade desde muito tempo, iniciando-se

na Inglaterra e mais tarde fazendo parte da rotina de outros países; cometida de

transformar a matéria-prima bruta em um produto comercializável, seja para as

pessoas, como para outras indústrias. Logo, com o desenvolvimento das

tecnologias, a produção deixou de ser manufaturada e abriu espaço para a produção

em larga escala, graças a Revolução industrial. Segundo Maximiano (2004, p. 54),

Foi a época em que surgiram e cresceram empresas para fornecer, em grandes quantidades, os novos produtos que haviam sido criados e que as pessoas desejavam: automóvel, lâmpadas elétricas, aparelho de som, cinema e telefone.

Percebe-se, portanto, que as transformações ocorridas no setor industrial

aconteciam em decorrência da evolução da sociedade e da divisão do trabalho, em

conjunto com as mudanças econômicas a nível mundial, moldando-se seus

principais aspectos na demanda dos produtos industrializados. “A prioridade era a

eficiência da produção, naquele momento de expansão industrial, quando o

importante era aproveitar as oportunidades do mercado” (MAXIMIANO, 2004, p. 60).

A história revela, em uma visão mais simplista, que a industrialização

brasileira teve sua origem a partir da 1ª Grande Guerra [1914-1918]. Os produtos

industrializados europeus ficaram escassos no mercado, levando assim à fabricação

de produtos similares em outros países a fim de atender ao consumo local, e tal

acontecimento promoveu o desenvolvimento do setor industrial e demais aspectos

as atividades fabris (NOBRE, 2001).

Somente com o final da 2ª Grande Guerra e a criação da Organização das Nações Unidas, que logo instituiu as Comissões Econômicas, uma delas para a América Latina (CEPAL), o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), modificou-se aquela orientação, substituída pelo “desenvolvimentismo”, naturalmente com grande impacto no Brasil, pelo empenho recente de industrializar-se, mediante a assistência técnica e financeira dos Estados Unidos, assegurada pela Comissão Mista Brasileiro-Americana e outras. (NOBRE, 2001, p. 171-172).

Conforme descreve Lacerda et al. (2006) esse acontecimento ficou

conhecido na literatura como o processo de industrialização por substituição

de importações (PSI), fato que proporcionou maior desenvolvimento industrial

no país.

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Melane (2006, p. 12) enfatiza que “a expansão da indústria, mudou a

paisagem urbana de muitas cidades, trazendo desenvolvimento econômico, social e

tecnológico”. No Brasil, esta transformação teve, e ainda tem, grandes proporções

com ajuda de incentivos governamentais (estadual ou federal), onde iniciou-se na

região Sul e Sudeste com a criação de grandes polos industriais como o ABC

paulista, e atualmente abrange todo o país.

Outro exemplo é a região Nordeste, que a partir do ano de 1961, com a

criação de um sistema de incentivos fiscais3, contribui diretamente na instalação de

novas indústrias, insumos e mão de obra para produzir (OLIVEIRA; LIMA, 1999).

Diante disso, a criação de um sistema de incentivos fiscais torna-se interessante não só para a região Nordeste, mas para o País em geral. De um lado, os grupos empresariais vislumbravam oportunidades de investimento que garantiriam uma boa rentabilidade ao seu capital, ao mesmo tempo que geraria demanda no setor de bens de produção. Por outro lado, criavam-se condições diferenciadas para os investimentos realizados no Nordeste, de modo a alavancar o desenvolvimento da Região através da implantação de novas indústrias. (OLIVEIRA; LIMA, 1999, p. 702).

Constata-se, portanto, que ambos os lados ganham e consequentemente

se proporciona o desenvolvimento da Região além dos agentes impulsionadores

com a criação do sistema de incentivos fiscais e como consequência o crescimento

econômico.

2.3 O Ceará, suas agências de fomento e o seu distrito industrial

Nesse mesmo período, especificamente em 1945, o estado do Ceará foi

bastante castigado, tanto pelas secas, como também pela retirada de quase todos

os homens válidos para a Amazônia, ou então pela convocação à Força

Expedicionária Brasileira da Companhia militar da Itália. Na capital, os

estabelecimentos fabris enfrentavam problemas sérios, como o absolutismo das

máquinas e dos equipamentos, a escassez de matéria-prima e a crise energética,

onde nesse período o problema energético ameaçava toda região Nordeste

(NOBRE, 2001).

3 Artigo 34 da lei nº 3.995 de 14.12.1961, alterado pelo artigo 18, da Lei nº 4.869 de 01.12.1965.

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Outra preocupação presente, segundo Nobre (2001), era de resolver o

problema da irregularidade climática da região. Instituiu-se a criação de um

departamento específico, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

(DNOCS), subordinado ao ministério da Aviação e Obras Públicas. Essa nova

política atendia ao plano de valorização do Vale do São Francisco, que tinha como

pretensão ampliar a área de atuação dos novos órgãos de desenvolvimento

regional, a começar do Banco do Nordeste do Brasil S. A. (BNB), destinado a gerir

os recursos financeiros previstos para serem aplicados na região, e também por em

funcionamento um processo de capitalização, impulsionador das atividades

econômicas, com ênfase na indústria.

Posteriormente, veio a criação da Superintendência do Desenvolvimento

Econômico do Nordeste (SUDENE), devido a seca de 1958, com implantação de

sistemas de incentivos fiscais, de acordo com a necessidade de cada região, assim

chamado de Polígono das Secas (NOBRE, 2001).

Outra contribuição, conforme Nobre (2001), foi a instituição do Conselho

Estadual de Economia, pela Lei nº 2.461, de 30 de outubro de 1954, presidido pelo

Engenheiro-Agrônomo, José Guimarães Duque, elaborou, com documento

preliminar, o estudo sobre Aspectos da Economia Cearense – Contribuição para um

programa de desenvolvimento, do qual, consta um capítulo sobre a situação e as

perspectivas da indústria cearense. Destaca-se ainda a direta influência do BNB e

da SUDENE para a formação de políticas industriais, nesse período de evolução do

Estado do Ceará (NOBRE, 2001, p. 181):

Sob a influência do BNB e da SUDENE, a política de industrialização passou a contar com uma diversidade de instrumentos, convergindo em unidades operacionais, denominadas “distritos industriais”, cuja localização decorre de estudos especializados, de condições e fatores não apenas do ponto de vista econômico e da infraestrutura de serviços (energia, abastecimento de água, vias de acesso, meios de transporte, etc.), como, igualmente, referentes à ecologia (eliminação de resíduos prejudiciais aos seres vivos, prevenção à poluição em geral, problema considerável em relação à indústria de óleos, uma das principais de Fortaleza).

No Ceará deu-se a denominação de Distrito industrial, inicialmente à

concentração de algumas fábricas na Barra do Ceará, ao poente da Capital

fortalezense, que em seguida atraiu outros estabelecimentos fabris, como o grupo

Edson Queiroz (NOBRE, 2001).

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No Ceará, o processo industrial iniciou-se, segundo Nobre (2001), a partir

da segunda metade do século XIX com as chamadas exposições mundiais. O

destaque cearense fora na Exposição Nacional em 1873, marcada pelo sucesso de

seus representantes, onde posteriormente, o êxito se repetiu na 4ª Exposição

Nacional, em 1975, quando lhe foi outorgado a Medalha do progresso.

A evolução industrial no Ceará não foi tão diferente dos países europeus.

Ocorreu-se de forma gradativa, reentrando a contribuição às Exposições Mundiais e

a consciência dos povos para a importância econômica e social da indústria

(NOBRE, 2001).

A industrialização exige capitais para o financiamento da compra de máquinas e equipamentos e para as despesas de instalação, tudo isso implicando em custos elevados, e que os empreendedores não podem atender, restando-lhes para levar à frente o seu projeto, recorrer à poupança de outras pessoas, através de estabelecimentos onde com maior facilidade poderão aqueles suprir-se do numerário, sob a forma de empréstimo.(NOBRE, 2001, p. 65).

Ademais, o Ceará contou também com adversidades climáticas e

territoriais que impossibilitou seu crescimento econômico e regional durante esse

período de evolução industrial, uma vez que a sua localização geográfica dificultou

bastante devido aos distantes acessos para comercialização de suas mercadorias e

ao longo dos tempos ter presenciado fortes secas que atingiu todo o Nordeste.

A instituição de Distritos Industriais no Ceará decorreu-se da importância

atribuída à interiorização do desenvolvimento a fim de evitar o afluxo contínuo de

pessoas vítimas da inexistência de uma agropecuária afetada pela marginalidade

em relação às leis trabalhistas. Principalmente, depende de uma comercialização

extorsiva sob a forma de venda antecipada e a preços irrisórios dos produtos de

maior procura. Com isso, a migração intensifica a periferia de Fortaleza,

submergindo a miséria, circunstância na qual não deu a devida atenção ao se

projetar e construir conjuntos habitacionais sem nenhuma possibilidade dos

moradores explorarem espaços produtivos, ainda na primeira metade do século XX

(NOBRE, 2001).

Um exemplo importante de desenvolvimento sustentável na região

cearense é o projeto no clima da Caatinga. Espera-se minimizar os impactos

ambientais associados ao processo de desertificação da Caatinga como a perda de

fertilidade do solo, e a redução da sua biodiversidade, por exemplo. Desde 1994, a

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Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou que o

dia 17 de junho fosse marcado como o Dia Mundial de Combate à Desertificação e

à Seca.

De acordo como o Programa de Ação Estadual de Combate à

Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAE/CE), a desertificação é a

degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas, em

decorrência de variações climáticas e atividades humanas como o desmatamento,

queimadas, cultivo e criação de animais de maneira irregular (NO CLIMA, 2012;

MMA, 2012).

O combate à degradação do bioma da Caatinga deve ser feito através de

diversas atividades como a educação ambiental e disseminação de técnicas

sustentáveis de produção agropecuária e programas de recuperação de áreas

degradadas.

Na Área de Proteção Ambiental (APA) do maciço de Baturité também

encontram-se inúmeros projetos sustentáveis para a preservação da fauna e da flora

da região. Como é o caso do Projeto Cara-suja; geração de renda e conservação da

biodiversidade no maciço de Baturité, iniciativa da Associação de Pesquisa e

preservação de ecossistemas aquáticos (AQUASIS4) em parcerias com outras

instituições, como Handara e Coelce. O projeto vem conduzindo ações envolvendo

estudo da biologia da espécie, trabalhando com a educação ambiental e o

envolvimento de políticas públicas.

De fato, existe a necessidade da mobilização e envolvimento da

população local nesse projeto, por isso foi criado um centro de visitantes localizado

na praça central de Guaramiranga, distante de Baturité em 11 quilômetros, para

sensibilizar as pessoas sobre a importância da conservação da natureza. Neste

local, motivado pelo clima e ambiente de serra, estão expostos cartazes informativos

detalhando sobre o projeto e sua relevância para garantir a qualidade de vida.

Como forma de gerar receita para a sustentabilidade do centro de

visitantes é importante ressaltar que o projeto apoia artesãos, artistas e pequenos

produtores locais no sentido de promover uma melhoria de seus produtos e

condições de produção, além de oferecer um espaço privilegiado em Guaramiranga

4 Organização não-governamental (ONG) que trabalha desde 1994 com o compromisso de conservar

a biodiversidade do Nordeste brasileiro. Atualmente está envolvida com a conservação de três espécies criticamente ameaçada de extinção global no estado do Ceará: o peixe-boi marinho e duas aves, o soldadinho-do-araripe e o periquito-cara-suja.

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para divulgação e venda dos produtos. Os produtos gerados pelo projeto possuem

um rigoroso critério e acompanhamento da cadeia produtiva, para buscar e

incentivar maiores práticas sustentáveis. Este projeto pretende capacitar e

acompanhar a produção dos artesãos locais, como a utilização de materiais que não

prejudiquem o meio ambiente.

Percebe-se, deste modo, que ambas as teorias, conceitos, experiências e

vivências apresentadas nesse capítulo expõe a longa trajetória das ciências

administrativas, em especial, da importância da administração de empresas para o

contexto histórico mundial, além de acomodar uma correlação intimamente

intrínseca com a ciência econômica. Abordou-se a relevância aos fatores ambientais

e a preocupação da melhor utilização dos recursos naturais existentes que ainda

estão disponíveis para a sociedade. Ademais, o capítulo a seguir discorrerá quanto à

realidade panorâmica do Brasil no setor comercial e o de serviços.

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3 O COMÉRCIO, OS SERVIÇOS E O PANORAMA ECONÔMICO BRASILEIRO

Nesse capítulo serão apresentados conceitos sobre os principais

segmentos que movimentam a economia brasileira no que diz respeito às atividades

do setor comercial e o de serviços. Discorrerá também, sobre os principais aspectos

e abrangência, como a origem, características e contribuições no panorama

econômico brasileiro.

3.1 Comércio: história e suas especificações

A palavra comércio deriva do conceito latim commercĭu. Refere-se à

negociação, permutação, tráfico, compra e venda de mercadorias ou valores.

Portanto, pode ser definida também como uma atividade socioeconômica que

consiste na compra e venda de bens ou serviços, seja para as pessoas ou para

outras empresas (FERREIRA, 2004).

Traduzindo para um conceito mais abrangente e atual, pode-se dizer que

o comércio é toda ação que tem como objetivo principal a compra e revenda de

mercadorias. Pode ser entendido ainda como um conjunto de atividades necessárias

para tornar um produto disponível a população, em determinado local, no tempo

solicitado e em quantidade e preços especificados ao consumidor alvo (IBGE, 2012,

online).

Na concepção do direito, sob o ponto de vista econômico, oriundo dos

ensinamentos de Rocco, o “comércio é o ramo de produção econômica que faz

aumentar o valor dos produtos pela interposição entre produtores e consumidores a

fim de facilitar a troca de mercadorias”. Com base nesta mesma perspectiva jurídica,

citam-se três elementos fundamentais e integrantes do comércio: mediação, fim

lucrativo e profissionalidade (REQUIÃO, 2003).

De acordo com a apresentação de Borges (2009, p. 24),

O comércio mais do que nunca é uma atividade globalizada. Não existe mais aquela idéia de se centrar apenas em um determinado segmento ou numa determinada região geográfica. O comércio é global e negócios são realizados em qualquer parte do mundo e a sua comercialização também não obedece a nenhuma fronteira.

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Segundo IBGE (2012, online), o comércio se subdivide em duas

categorias: o comércio atacadista5 e o comércio varejista6. Destaca-se que o

surgimento e o crescimento da atividade comercial se dão, de acordo com o nível de

desenvolvimento das próprias cidades, portanto quanto maior é a densidade

populacional maior é a quantidade de comércios. Segundo a organização, o

comércio pode ser classificado em formal7 e informal.

De acordo com a pesquisa anual de comércio (IBGE, 2000), o comércio

na economia brasileira se apresenta em considerável crescimento. Verifica-se que

na Região Sudeste é que se encontra maior índice de desenvolvimento econômico,

uma vez que reúne mais da metade dos estabelecimentos comerciais do país e

também a maior parcela da população brasileira.

Não se pode falar de comércio sem antes fazer referência ao

mercantilismo. O surgimento das ideias mercantilistas se deu entre os séculos XVI e

XVIII, diversas nações adotavam essa prática mercantil, porém seus precursores da

época não consideravam uma teoria articuladora de desenvolvimento nacional. No

final do século XV, com o fortalecimento dos Estados Absolutistas (Espanha, França

e Inglaterra), nasce a necessidade do Estado em promover o crescimento do

comércio, onde a partir daí segue a corrida para a obtenção de mais riqueza e poder

ao Estado. É nesse cenário que faz surgir o conceito de uma teoria econômica,

segundo Dias, Cassar e Rodrigues (2002).

A trajetória para o crescimento econômico desses países traz como

consequências a forte acumulação de riquezas minerais (ouro e prata) e de matéria-

prima para a manufatura da época, que posteriormente contribuiu para o marco

decisivo do início da Revolução Industrial.

A idéia central consistia em que os grandes estoques de metais preciosos constituíram a própria expressão da riqueza nacional. Inicialmente em Portugal e Espanha, essas idéias foram seguidas por outros Estados Europeus como: Holanda, França, Inglaterra e Alemanha, assumindo em cada um deles uma característica em função de seus recursos naturais (DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002, p. 12).

5 Funciona como centro de distribuição de mercadorias.

6 Têm a finalidade fornecer mercadoria para o público em geral. 7 Trata-se de uma atividade comercial juridicamente constituída como empresa e que tenha razão

social com finalidades e objetivos estabelecidos em sua formação.

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Nessa mesma época surgem estudiosos como Thomas Mun (Grã-

Bretanha), Jean-Baptiste Colbert (França), Antônio Serra (Itália) e o seu maior crítico

desse sistema, Adam Smith (Escócia). Ainda, de acordo com Dias, Cassar e

Rodrigues (2002), o mercantilismo adotou-se de denominações diferentes em outros

países, como por exemplo, o termo bulionismo na Espanha, colbertismo na França e

comeralismo na Alemanha. Porém embora houvesse variação de adoção de

medidas, conforme cada época e de cada Estado, os princípios básicos eram

comuns à ideia central no que diz respeito ao comércio entre as nações.

Dias, Cassar e Rodrigues (2002) retratam ainda os traços que definem a

época mercantilista:

a) Metalismo: trata-se da essência da atividade econômica do Estado, é a

concepção que identifica a riqueza e o poder de um Estado pela quantidade de

metais preciosos acumulados;

b) Balança Comercial favorável: significa dizer promover mais exportações e

menos importações, tal conceito surge com o mercantilismo para trazer o

equilíbrio entre as exportações e importações;

c) Protecionismo Alfandegário: refere-se a impostos pesados aos produtos

estrangeiros ou outras intervenções com a não comercialização;

d) Intervenção do Estado na ordem econômica: traduz-se ao controle dos aspectos

econômicos como a criação de leis que regulem e organizem a produção e o

comércio e assim facilitar a implementação da infraestrutura, da comunicação,

da regulamentação do trabalho, entre outras;

e) Monopólio: quando o Estado não exerce, transfere o direito para particulares ou

empresas, o monopólio comercial era um dos principais fundamentos do

mercantilismo; e

f) Colonialismo: conquista e exploração sem precedentes das colônias.

O Brasil viveu a maior parte de sua história sendo dominado sob as

práticas mercantis, cumprindo um papel significativo no processo de acumulação de

riquezas europeias, é onde nasce o capitalismo como sistema econômico

predominante.

De acordo com Nobre (2001, p. 68), “A participação do Ceará no

Comércio Internacional, desde o início do século XIX, acarretara mudança de

hábitos e de mentalidade, desenvolvendo o interesse por essa atividade [...]”.

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Em consenso com a visão mercantilista, o Ceará desviou considerável

quantia para o seu desenvolvimento em operações de seguro marítimo, o que se

pode verificar com o valor dos contratos celebrados por negociantes fortalezenses

com a Feliz Lembrança, companhia do ramo, cujo procurador da província era John

William Studart8 (NOBRE, 2001).

Entre meados do século XIX e a Primeira Guerra Mundial, a relação

comercial entre os países cresceu ainda mais, e se intensificou depois da Segunda

Grande Guerra. O crescimento do comércio ao longo dos tempos tem uma possível

explicação, deve-se à diminuição das barreiras alfandegárias e ao desenvolvimento

das telecomunicações e dos transportes. O maior acesso da população às novas

tecnologias de comunicação, devido ao barateamento, permite a pesquisa de

mercado e a realização de novos polos de compra e venda. A construção e o

aperfeiçoamento de rodovias, ferrovias, portos marítimos e aeroportos,

naturalmente, são benefícios na área de transportes que facilitam o deslocamento

de produtos a serem comercializados, contudo, também promovendo o crescimento

do comércio.

De acordo com Borges (2009, p. 24), no enfoque contemporâneo,

portanto, o “[...] comércio mais do que nunca é uma atividade globalizada [...]

negócios são realizados em qualquer parte do mundo e a sua comercialização

também não obedecem a nenhuma fronteira”.

O autor enfatiza que a globalização traduz o livre movimento dessa

atividade econômica, que é o comércio, e que tal fenômeno submerge o

funcionamento e a gestão das organizações. Foi com a globalização que se

reformularam inúmeros conceitos e surgiram outros entendimentos no que diz

respeito ao indivíduo (ser humano), alterando a sua maneira de ver o mundo, e

também para grandes empresas, pois caso contrário, num futuro próximo a mesma

estaria fadada ao fracasso.

Certamente, o impulso de modernização vinha das transformações técnicas que então se processavam nos países industriais, e por eles transmitidos a outros, beneficiando-se o Ceará com algumas dessas inovações em decorrência de programas do Governo Federal [...] (NOBRE, 2001, p. 121).

8 [1829-1878] Inglês, radicado em Portugal, veio às terras brasileiras em busca de prosperidade

material ou de receber consagração por feitos memoráveis. Sua vinda definitiva a Fortaleza foi em 24 de Fevereiro de 1855, onde seguiu como comerciante do ramo de algodão.

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Na verdade, segundo Nobre (2001), é indiferente, pela visão de ordem

internacional se é monarquia ou república, se o governo é democrático ou não,

quando estão em jogo os interesses econômicos, pois caso houvesse uma retração

no comércio internacional, em especial com a Europa, o Brasil, naquele final de

século XIX, se empenharia provavelmente em trabalhar o setor industrial, para

atender o seu consumo interno.

Já com o liberalismo, o comércio se manifesta com uma concepção mais

inovadora, nesse período já encontram-se empresas atuando segundo o regime da

livre concorrência; portanto, os preços das mercadorias se constituem em função de

características do próprio mercado consumidor, como a relação entre a oferta de

produtos, a demanda de consumidores e a eficiência das empresas (DIAS;

CASSAR; RODRIGUES, 2002).

Outra característica marcante do liberalismo econômico, segundo Smith

(1983), é a divisão do trabalho, na concepção dessa época, os países produzem

somente aquilo que considerar economicamente mais conveniente, permutando

seus excedentes com os outros países. Isso traduz em maior produtividade e custos

mais baixos, promovendo um bem-estar social mais favorável.

Se os produtos fabricados no país podem ser nele comprados tão barato quanto os importados, a medida é evidentemente inútil. Se, porém, o preço do produto nacional for mais elevado que o do importado, a norma é necessariamente prejudicial. Todo pai de família prudente tem como princípio jamais tentar fazer em casa aquilo que custa mais fabricar do que comprar. [...] Se um país estrangeiro estiver em condições de nos fornecer uma mercadoria a preço mais barato do que a mercadoria fabricada por nós mesmos, é melhor comprá-la com uma parcela da produção de nossa própria atividade, empregada de forma que possamos auferir alguma vantagem (SMITH, 1983, p. 380).

Sendo assim, a divisão do trabalho e seu efeito sobre a produtividade no

processo de produção demonstram que toda a sociedade se torna beneficiária e não

somente o Estado, contrapondo-se a teoria mercantilista de geração de riqueza.

Dentre os diversos defensores do liberalismo, Smith foi considerado o principal

idealizador desse pensamento liberal, inclusive visto como o fundador da economia

Clássica. Em A riqueza das nações, Smith busca descobrir os reais fatores

responsáveis pela riqueza das nações, estudando o caminho seguido pelos

principais países da Europa no desenvolvimento da indústria nesses países.

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Diante do contexto histórico abordado, o Quadro 1 a seguir demonstra as

principais teorias clássicas que sofrem destaque nessa época:

QUADRO 1 – Teorias clássicas

Autor Teoria desenvolvida Principal Característica

Adam Smith Teoria da vantagem

absoluta Cada país deve se concentrar em produzir somente as mercadorias em que apresentar melhores condições.

David Ricardo Teoria da vantagem

comparativa

Cada país deve se concentrar em produzir mercadorias que apresentem maior vantagem absoluta e menor

desvantagem comparativa entre si.

Fonte: Dias, Cassar e Rodrigues (2002).

Com David Ricardo [1772-1823], nascido em Londres, o liberalismo

aperfeiçoou a teoria econômica clássica desenvolvendo ideias que, durante longo

período foram utilizadas. Elas defendiam que o liberalismo seria a única opção para

evitar a dominação das classes privilegiadas da sociedade no desenvolvimento das

nações. Foi o fundador do princípio dos custos comparativos trabalhando com dados

explicativos para entender as razões de troca das mercadorias ao comércio

internacional (DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002).

Na afirmativa de Dias, Cassar e Rodrigues (2002), o pensamento chave

de Ricardo baseia-se na diferença comparada entre os custos o que determinava as

razões de troca de mercadorias. Se um país pode produzir duas mercadorias com

custos mais baixos do que outro, mas a vantagem em produzir não é tão grande

quanto à obtida pelo outro país, ele pagará ao outro para importar a primeira

mercadoria, exportando a outra em pagamento. As razões da troca entre os dois

países estão, portanto, limitadas pelas razões dos custos nos dois países, estes

medidos em termos de trabalho. Portanto, quando consideradas as relações entre

dois países, passa-se a falar de vantagem relativa.

Ricardo, já aos 14 anos participava dos negócios de seu pai tendo forte

contato com a complexidade da corretagem na Bolsa de Valores e principalmente

dos efeitos do mercado sobre preços e produtos. Em 1819 ingressa na política como

membro da câmara dos Comuns, como representante de Portarlington, um bairro

restrito irlandês conhecido como um „burgo pobre‟, testemunhou duas das mais

importantes revoluções da era moderna (a Revolução Industrial e a Revolução

Francesa). Ricardo presencia fortes transformações na sua época como a grande

concentração de mercadorias pela produção em larga escala devido a forte

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capacidade de produção fabril de máquinas a vapor da indústria de tecidos de

algodão na Grã-Bretanha (DIAS; CASSAR: RODRIGUES, 2002).

Ricardo, portanto, se mostrou um grande defensor do livre comércio,

segundo sua filosofia, pressupõe um comércio entre nações regido totalmente pela

livre concorrência, e buscava um mercado com benefícios coletivo, de maneira

comparativa na visão capitalista de mercado, que seria aproveitar as melhores

características de cada país na obtenção de vantagens para todos.

Sendo assim, baseado na teoria ricardiana, acredita-se que essas ações

resultariam na igualdade de resultados nas trocas entre os países de diferentes

níveis de desenvolvimento no comércio internacional, portanto, não considerava que

os países desenvolvidos sempre obtivessem vantagens em detrimento dos menos

desenvolvidos (DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002).

3.2 Serviços e seus contrapontos

Os serviços estão crescendo numa velocidade assustadora. Isso graças a

sua vasta diversificação nas características agregadas. A cada dia as organizações

buscam oferecer serviços diferenciados e com a máxima qualidade possível.

Conceituar serviço, não é algo simples, visto que os serviços envolvem

fatores subjetivos e visões diferentes em áreas distintas do conhecimento científico e

do senso comum. Serão abordadas a seguir, algumas definições segundo autores

de áreas de atuação distintas para melhor se entender da sua diversidade e

complexidade.

Quanto à significância da palavra “serviço”, Ferreira (2004) define como

ato de servir e o modo de servir, uma atividade econômica onde não resulta produto

tangível, o oposto da produção. Na realidade o autor enfatiza somente o aspecto

mais primitivo e original da palavra, limitando-se em definir como uma ação de fazer

algo e que maneira pode servir. Diferente da produção, pois cria-se o resultado da

ação que é o produto/mercadoria.

Kotler (1998, p. 412) propõe de maneira sucinta, o seguinte conceito

partindo de uma visão mais mercadológica, voltada nas necessidades essenciais do

consumidor final: “Serviço é qualquer ato ou desempenho que uma parte possa

oferecer a outra e que seja essencialmente intangível e não resulte na propriedade

de nada. Sua produção pode ou não pode estar vinculada a um produto físico”.

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Já para Ramaswamy (1996, p. 3), o serviço é visto como “transações de

negócios, [...] a fim de produzir um resultado que satisfaça o cliente”. Outro

entendimento conceitual, considerado um pouco mais amplo e que interage com o

conceito de Ramaswmy e de Kotler é o de Grönros (1995, p. 36):

O serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos intangível – que normalmente, mas não necessariamente, acontece durante as interações entre clientes e empregados de serviço e/ou recursos físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços – que é fornecida como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s).

Na visão de Las Casas (2006, p. 283), o setor de serviços é fundamental

na economia de um país:

O setor de serviços é um dos mais prósperos da economia. Além de representar a maior parte do PIB de quase todas as nações, é um dos setores que mais empregam funcionários. No Brasil, o faturamento do setor está por volta de 55% do PIB, enquanto em outros países do Primeiro Mundo o percentual chega a 67%, como no caso do Canadá.[...] Uma tendência é: quanto mais industrializada a nação, maior o percentual de participação dos serviços.

Para a conjuntura contemporânea é a “habilidade de interpretar as

informações, atendendo às especificações dos clientes, que faz dos serviços uma

atividade especial e de peso cada vez mais crescente na economia [...]”

(MEIRELES, 2006, p. 129). Ademais, é possível constatar, portanto, em uma

perspectiva mais abrangente, que o setor de serviços no âmbito econômico, traduz-

se em atender as necessidades dos clientes com base nas informações

relacionadas ao ambiente em que é inserida a prestação do serviço.

Ainda pela ótica econômica, Meireles (2006, p. 134) fundamenta que o

“serviço é trabalho em processo, e não o resultado da ação do trabalho; por esta

razão elementar, não se produz um serviço, e sim se presta um serviço”. Faz

menção ao contexto bem mais utilizado na economia, visto que não se propõe em

diferenciá-lo de produto, mas de explicá-lo com base na premissa de que serviço é

trabalho em processo.

Ainda tratando do aspecto econômico para o que seria serviço, ocorre

outras particularidades e especificidades, segundo Kon (1999, p. 73), quando cita

que:

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Algumas definições incompletas de serviços são encontradas na literatura econômica que podem ser resumidamente exemplificadas como; a) Indústria de Serviços, como sendo uma indústria que produz serviços em vez de bens, como as indústrias de transporte, comércio atacadista e varejista, seguros etc.; b) Serviços são bens de consumo ou intermediários que são principalmente intangíveis e são freqüentemente consumidos ao mesmo tempo que são produzidos. São usualmente intensivos em trabalho; c) Os serviços são o componente do Produto Nacional Bruto que mede o produto de itens intangíveis; d) Os serviços referem-se por vez a bens intangíveis, sendo uma de suas características o fato de em geral serem consumidos no ponto de sua produção.

Os exemplos acima são definições incompletas por que não são capazes

de explanar as novas formas de serviços advindas das constantes transformações

oriundos principalmente da implementação de novas tecnologias. O autor

supracitado traz a importância de não focar na definição de serviços apenas na

distinção com bens, mas, sobretudo na verificação de quais funções econômicas

são desempenhadas pelos serviços que não são desempenhadas pelos bens.

O serviço, em sua abordagem conceitual, traduz numa série de

indagações pertinentes quanto à natureza, atividade e objetivos. Isso porque de

acordo com Meireles (2006), partindo da visão dos autores clássicos como Adam

Smith, o mesmo relaciona serviço voltado aos aspectos capitalistas de produção

(oferta e demanda), sobrepondo-se a uma atividade fundamentalmente intangível e

economicamente não produtiva por não originar mais valia (lucro). Já para Marx

todos os serviços cujo processo produtivo se dê em bases capitalistas de produção

são considerados produtivos, independente do resultado ser tangível ou intangível,

porém só adquirem importância econômica quando estão associados diretamente ao

processo de valorização do capital industrial.

Meireles (2006, p. 133) ressalta também que:

É condição sine qua non para a prestação de qualquer serviço a interação entre prestadores e usuários de serviços, pois é impossível a existência de fluxo contínuo de trabalho sem um canal interativo que lhe dê suporte.

Segundo a autora supracitada, nos aspectos gerais de uma visão

contemporânea sobre a prestação de serviços, o fator interação se destaca como

ferramenta chave no relacionamento entre prestadores de serviço e os usuários do

serviço (clientes), caso contrário, o fluxo contínuo de trabalho deixa de existir. Já

quanto à caracterização dos serviços, Kotler (2002) define quatro pontos relevantes

para a prestação do serviço, são eles:

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Intangibilidade: não pode ser visto, tocado, sentido, ouvido, ou cheirado antes da

compra;

Inseparabilidade: é impossível separar de seus provedores;

Variabilidade: a qualidade depende de quem o executa e de quando, onde e

como são realizados os serviços; e

Perecibilidade: não são armazenados e nem possuem prazos de validade para

venda ou uso posterior.

No Quadro 2, Meireles (2006) busca formular quanto à classificação das

atividades de serviço, segundo os principais autores contemporâneos:

QUADRO 2 – Classificação das atividades de serviço

Autor Classificação Critério de

Classificação

Nusbaumer (1984)

Serviços Primários: fornecidos pelos fatores de produção em todas as atividades econômicas.

Serviços Intermediários: relacionados à comercialização e distribuição de bens e outros serviços.

Serviços Finais: relacionados ao bem-estar e à qualidade de vida dos consumidores finais, englobando inclusive os serviços públicos de segurança, saúde e educação.

Funções desempenhadas

e posição ocupada no circuito de produção e

troca.

Marshall (1988)

Serviços de Processamento de Informações.

Serviços relacionados à produção de bens e mercadorias.

Serviços de suporte às necessidades pessoais.

Conteúdo de expertise e

função desempenhada

Walker (1985)

Serviços de suporte à produção de mercadorias cujo resultado é um produto concreto e palpável.

Serviços de circulação de mercadorias, trabalho, dinheiro e informação e serviços relacionados a aluguel e transferência e propriedade de ativos.

Serviços baseados essencialmente em trabalho (labour services).

Serviços Governamentais.

Vínculo estabelecido no

processo produtivo e

resultado final (tangível ou intangível).

Fonte Meireles (2006, p. 129)

Os conceitos históricos abordados acima, sobre o comércio e a prestação

de serviços, comprovam sua relevância e distinção, sendo também diretamente

agregadas tais atividades no âmbito organizacional/empresarial. Contudo, é

importante destacar alguns acontecimentos que marcaram fortemente o cenário

econômico brasileiro, onde no item a seguir retratará de maneira sintetizada os

principais pontos chaves que marcou a economia brasileira e o seu consequente

desenvolvimento.

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3.3 Panorama econômico brasileiro

Por ocasião da crise do comércio exterior, de 1929, com a queda da

Bolsa de Nova York e o início da Depressão Econômica Mundial, o cenário

econômico brasileiro foi favorecido. De acordo com Dias, Cassar e Rodrigues

(2002, p. 168), “a intensificação do processo de industrialização brasileira teve seu

início com a substituição de importações”; estratégia de desenvolvimento visando

a eliminação de todas as importações com a obtenção do país alcançar

autossuficiência econômica para não depender de outros países na geração

de produtos.

É importante ressaltar que o Brasil também passava por uma crise no

governo, e que se apoiava tradicionalmente num equilíbrio de forças econômicas

regionais. As regiões nessa época, já apresentavam fortes desigualdades no grau

de desenvolvimento e uma grande diversidade dos interesses econômicos dos

grupos dominantes em cada região (DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002).

A vista de todos esses acontecimentos, Getúlio Vargas, o presidente

vigente (1934-1937), estabeleceu uma aliança entre parte significativa da classe

política da época e das forças armadas, permitindo que se instaurasse o Estado

Novo, com o mínimo de modificações na estrutura tradicional do poder. Observa-se,

que a industrialização no Brasil não adveio tão somente de medidas

governamentais, mas das próprias forças econômicas da época como consequência

de todas as tensões criadas pela crise do comércio exterior.

Deve-se salientar também, que a captação de recursos financeiros

para o desenvolvimento do processo industrial brasileiro, fundamentalmente, só foi

possível pela ação de medidas do governo como a criação do Banco Nacional

do Desenvolvimento Econômico (BNDE), hoje atualmente chamado de Banco

Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (DIAS; CASSAR;

RODRIGUES, 2002).

Segundo Lacerda et. al. (2006), na gestão de Getúlio Vargas ocorreu em

1950 a conjuntura política internacional (marcada pela Guerra Fria), onde os

interesses estrangeiros voltaram-se para a reconstrução da Europa e Japão,

colocando os países como Brasil à própria sorte em suas transações e projetos

desenvolvimentistas. Com a volta de Getúlio Vargas ao governo, agora por eleições

diretas (1951-1954), representou uma nova experiência de superação nacional

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na tentativa de implantar as bases de uma indústria pesada (indústrias de base)

no país.

Logo em seguida, na década de 60, ocorre a consolidação estrutural

da indústria brasileira, com o governo de Juscelino Kubitschek (JK), com o Plano

de Metas9:

[...] constituiu a mais sólida decisão consciente em prol da industrialização na história econômica do país [...] e conferia prioridade absoluta à construção dos estágios superiores da pirâmide industrial verticalmente integrada e do capital básico de apoio a esta estrutura. Daria continuidade ao processo de substituição de importações que se vinha desenrolando nos dois decênios anteriores (LESSA, 1981, p. 27, apud LACERDA et al., 2006, p. 97-98).

Nesse período, a inflação se manteve em taxas bastante elevadas

durante o governo JK e o PIB também cresceu a uma taxa anual de 8,2%, “o que

resultou em um aumento de 5,1% ao ano na renda per capita, superando o objetivo

do Plano de metas” (LACERDA et al., 2006, p. 99). Tais medidas contribuíram para

o aumento do capital estrangeiro e de oligopólios com a dominação de indústrias

multinacionais, aumentando a dependência externa do país e trazendo o

enfraquecimento das empresas nacionais (privadas).

Após o período de intenso crescimento do PIB, entre 1956 e 1962,

inicia-se uma crise industrial que traduz na desaceleração da economia brasileira

até 1967. Em 1964 ocorre a tomada do poder pelos militares com “ênfase à

estabilização e às reformas estruturais nos mercados financeiros” (BAER, 2002,

p. 93). Neste momento, o principal objetivo era de estabilizar a inflação com medidas

institucionais (PAEG 10 ). No mesmo período ocorre a criação do Conselho Monetário

Nacional – CMN, o Banco Central do Brasil – BCB e a partir de 1967, vem a

estabilidade da moeda.

Em 1970, a população urbana já superava a população rural em

decorrência do crescimento no setor industrial, e o trabalho assalariado, com isso as

áreas urbanas se intensificaram ainda mais.

Segundo Baer (2002, p. 108), outros ajustes econômicos ocorreram como

“[...] o choque do petróleo em novembro de 1973, o Brasil ingressou numa nova fase

9 Conjunto de 31 metas proposto no período de 1956 a 1960, incluindo a meta síntese que foi a

construção da capital brasileira, Brasília. 10

Conhecido como Plano de Ação Econômica, refere-se ao conjunto de transformações institucionais e centralização do poder político e econômico.

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de seu desenvolvimento [...]”, optando em adotar uma política de crescimento que

alterou diretamente sua composição econômica onde seus feitos resultaram, mais

uma vez, no surgimento da inflação e a rápida expansão da dívida externa.

O governo do general Geisel, que assumiu em março de 1974, buscou enfrentar os desequilíbrios estruturais da economia com a implantação do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), em que seria retomada a tentativa varguista de desenvolvimento [...] A prioridade do II PND foram as indústrias produtoras de bens de capital e bens intermediários, os grandes pontos de estrangulamento que impediam a continuidade do desenvolvimento nacional (LACERDA et al., 2006, p. 129-130).

Em 1977, no governo de Ernesto Geisel (1974-1979), iniciou-se a

construção da Hidrelétrica de Itauí, considerada a maior do mundo, inaugurada em

1984. É nesse cenário da história econômica brasileira, que acontece “gigantescos

investimentos a cargo de Eletrobrás, Petrobras, Siderbras, Embratel e outras

empresas públicas” consideradas o palco central da industrialização brasileira e o

principal sustentáculo do II PND, ou seja, o governo e suas grandes empresas eram

os únicos tomadores de recursos do sistema financeiro internacional (LACERDA et

al., 2006, p. 134-135). Contudo, tal situação provocou o agravamento da dívida

externa, onde em 1979, a dívida já estava a 63% das exportações (BAER, 2002).

Segundo Baer (2002), as taxas de crescimento econômico nacional foram

bastante positivas em relação ao desempenho da economia em 1980, o PIB cresceu

em 7,2% e seus principais elementos também apresentaram taxas elevadas de

crescimento, como é o caso da indústria com o índice de 7,9%, a agricultura 6,3%, o

comércio 7,2%, transporte e comunicações, 12,7%. Entretanto, a inflação também

atingiu índices elevados nesse período totalizando uma taxa de 110% ao ano.

Em 1985 iniciava o agravamento da crise econômica nacional e as

pressões políticas contra o regime militar iniciando a chamada Nova República11,

governo marcado pela tragédia de Tancredo Neves (sua morte), eleito, porém não

chegou a tomar posse. Foi a partir deste mesmo período que ocorreu a adoção de

medidas de congelamento de preços com o objetivo de controlar a inflação, porém

não funcionou e em 1989 o país encontrava-se no auge da hiperinflação (LACERDA

et al., 2006).

11

Refere-se a um governo tipicamente civil, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional.

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É proeminente salientar que com a abertura comercial em 1990, foram

realizados ajustes de reestruturação nos meios de produção, com processos de

reengenharia e qualidade total. Ajustes envolveram as seguintes medidas:

concentração em linhas de produtos competitivos; redução da diversificação da

produção; terceirização de atividades; implantação de programas de qualidade e

produtividade (LACERDA et al., 2006). De fato, tal acontecimento foi decisivo na

promoção dos destraves econômicos que o país passava anteriormente.

Segundo Lanzana e Lopes (2009, p. 15), os objetivos das medidas

adotadas no governo Collor “era internacionalizar a economia brasileira, com

redução da proteção à produção doméstica, privatização e aumento da eficiência do

Estado, integração internacional e política de atração do capital externo de risco”. A

pretensão era de estabilizar a economia nacional e, em curto prazo, derrubar a

inflação. A entrada dos produtos importados, com mais qualidade e menor preço,

promove mais concorrência aos produtos nacionais, oferecendo mais opções de

escolhas aos consumidores, contudo atribui um declive nos preços dos nacionais,

uma vez que teriam que ser mais competitivos, caso contrário, os prejuízos seriam

em maior escala ou até mesmo a falência (LANZANA; LOPES, 2009).

Na visão de Ferreira e Rossi Jr (1999, p. 25) “o processo de abertura

pode ser definido como um dos principais causadores dos ganhos de produtividade”.

A abertura comercial proporcionou menor tarifa nominal e menores taxas de

proteção efetiva, exercendo um efeito positivo sobre o aumento de produtividade.

Tais informações provêm do resultado de uma pesquisa dos autores sobre a

avaliação da evolução da produtividade industrial brasileira, apoiado pelo Instituto de

Planejamento Econômico e Social (IPEA), dando uma nova perspectiva aos estudos

de Braga e Rossi (1988).

Exemplo claro dos ajustes nos processos gerenciais desse período foi a

desverticalização. Pode-se mencionar da simples terceirização da produção à Joint

venture entre empresas concorrentes, como a Autolatina, união da Volkswagen e a

Ford, atuando no mercado do Brasil e da Argentina. Mas com a abertura comercial,

favorecendo as importações, começa um déficit crescente na balança comercial.

Para evitar que esse déficit levasse ao desequilíbrio externo, o governo procura

obter superávits na balança de capitais, com a implantação do programa de

privatização e com taxas de juros extremamente elevadas. Analisando essa

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estratégia do ponto de vista em termos ao combate à inflação, a privatização trouxe

resultados positivos para o país (LANZANA; LOPES, 2009).

A privatização foi responsável por grandes mudanças estruturais na

economia brasileira, que atingiu mais de cem estatais entre 1991 e 2001. De início,

“a privatização caracterizou-se como reprivatização de empresas que haviam sido

absorvidas pelo Estado, geralmente em função de dificuldades financeiras”

(LACERDA et al., 2006, p. 216).

Outro fator positivo da privatização, é apontado o fato de capitalizando

o país com investimentos estrangeiros, têm-se como consequência novos

conhecimentos em gestão e processos produtivos, acessos a novas tecnologias,

assim promovendo o desenvolvimento do país e início do processo de globalização.

Houve mudanças de governo, com implementações de novas políticas de

incentivo, incrementando a economia nacional bem como colaborando para a

contínua evolução dos processos de produção. O atual cenário econômico do Brasil

apresenta-se favorável aos negócios com boas oportunidades de mercado, dada à

estabilidade e crescimento da economia. Com o considerável aumento da população

das chamadas classes C, D e E, onde passaram a participar do mercado

consumidor mais ativamente devido ao aumento da renda familiar em decorrência

de programas sociais do governo federal de auxilio financeiro, tais como: o bolsa

família e auxilio maternidade, entre outros (BRASIL, 2012).

O aumento da participação das classes sociais C, D e E no mercado

consumidor gerou um aumento no fluxo financeiro no mercado, (aumento na renda

mensal da população em decorrência de programas sociais de auxílio, como por

exemplo, o bolsa família) o que aquece a economia local, tornando maior a

demanda de mercado. Tal comportamento propicia o crescimento das empresas,

uma vez que existe um crescimento de demanda, deixando o mercado brasileiro

atraente a novos negócios, tanto para produtos importados quanto para os produtos

nacionais (BRASIL, 2012).

Desde as privatizações, a terceirização passou a ser uma estratégia bem

disseminada no Brasil e em diversos setores da indústria de transformação e até de

outros serviços distintos, conhecida como estratégia de horizontalização da

produção (DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002). A terceirização, portanto, é

entendida como uma forma de otimizar os recursos, transferir os riscos de perca de

tempo e matéria-prima onde a empresa contratante paga apenas pelos produtos

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acabados dentro dos padrões de qualidade exigidos. No geral, a terceirização trouxe

positivas contribuições, e com isso refletiu diretamente na economia nacional.

Com a terceirização, aquilo que era custo fixo, como a manutenção de ambientes e ferramentas ou o pagamento de salários e encargos sociais, transforma-se em custo variável, ou seja, só significará custo quando houver uma real necessidade da utilização desses serviços. [...] O rápido desenvolvimento tecnológico (que torna inviável modernizar-se em todos os elos da cadeia produtiva), o requisito qualidade e a necessidade cada vez maior de certificação através das normas ISO, favorecem enormemente a terceirização (REZENDE, 1997, p. 12-14).

As teorias estudadas neste capítulo e seus primórdios evidenciam,

portanto, o processo de desenvolvimento e apresentam as diferentes formas de

gestão que foram ramificadas de acordo com as necessidades e a realidade de cada

época em que estão inseridas. Mostrou-se também uma visão voltada para

execução das tarefas e o desenvolvimento das técnicas a serem utilizadas de forma

mais otimizada e por fim contribuir no aumento da produtividade e no

desenvolvimento econômico.

O capítulo a seguir buscará enfatizar a relevância do desenvolvimento

local, em especial, no segmento industrial, atividade econômica que no cenário

nacional se destaca como um dos setores que faz a diferença do crescimento

econômico de uma nação.

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4 DESENVOLVIMENTOS ECONÔMICO, SUSTENTÁVEL E LOCAL

Este capítulo abordará concisamente um breve histórico sobre os

principais aspectos socioeconômicos voltados para o desenvolvimento econômico

local, desenvolvimento econômico endógeno e sobre desenvolvimento sustentável,

no que diz respeito o contexto brasileiro, delimitando-se a região Nordeste, em

especial, no estado do Ceará.

4.1 Fatores socioeconômicos

Até a década de 1980, como visto, buscava-se produzir mais e mais com

intensos investimentos em equipamentos e máquinas desprezando totalmente

outros fatores intrínsecos no processo de produção. Somente a partir deste período

que a ênfase passou a ser nos processos de produção como um todo, pois

percebeu-se que investir apenas em recursos físicos não era o suficiente se os

outros processos não fossem coerentes (MAXIMIANO, 2004).

Com isso, passa a existir um novo modelo político-econômico intitulado

de Neoliberalismo resgatando os ideais do liberalismo com uma nova perspectiva

sobre o livre-mercado dos economistas clássicos. Qualquer indivíduo pode agir de

maneira diferente, porém ao passo em que as mudanças resultam simplesmente da

pressão da necessidade objetiva, qualquer papel criativo fica ausente do sistema

econômico (SCHUMPETER, 1982). Por isso, ainda segundo o mesmo autor, é

indispensável lembrar que “Só se pode dar um passo econômico, se ficar

assegurado que a satisfação de necessidades mais intensas não se torna, com isso,

impossível” (SCHUMPETER, 1982, p. 23).

Segundo Schumpeter (1982, p. 15), “As condições externas dadas e as

necessidades do indivíduo aparecem como dois fatores decisivos no processo

econômico, que contribuem para a determinação do resultado”. Ainda salienta

Schumpeter (1982, p. 15), que “[...] a natureza e a intensidade das necessidades

desse produto são decisivas, dentro das possibilidades práticas”. Por isso, a

atividade econômica pode ser qualquer motivo, até mesmo intelectual, mas seu

significado é sempre a satisfação de necessidades do indivíduo (SCHUMPETER,

1982).

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Conforme Schumpeter (1982), a vida econômica também experimenta

diversas mudanças e fenômenos que transformam o curso tradicional da teoria

econômica (fluxo circular)12.

A ação de cada produtor ou mercado que está tentando obter lucro é contida por outros produtores ou mercadores que estão, provavelmente, tentando ganhar dinheiro. A competitividade reduz o preço dos bens e, consequentemente, o lucro de cada vendedor. Em situações em que há, inicialmente, apenas um único vendedor, o lucro extraordinário atrai novos concorrentes que aumentam a oferta e eliminam os lucros excessivos. Em um caminho análogo, os empregadores disputam os melhores trabalhadores, empregados disputam os melhores empregos e consumidores disputam pelo direito de consumir os produtos (BRUE, 2011, p. 70).

No caso, Brue (2011) afirma existir um conjunto de fatores envolvidos no

processo da atividade econômica, onde define em quais parâmetros se desenvolve,

onde a competitividade reduz o preço da mercadoria e também o lucro de quem está

vendendo nesse mercado consumidor, mas no final todos ainda saem ganhando.

Na análise de Brue (2011), somente depois do declínio do capitalismo

liberal, que iniciou-se o interesse em diferentes estudos sobre o desenvolvimento

econômico. E, posteriormente, a Organização das Nações Unidas (ONU) cria a

Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL) em 25 de fevereiro

de 1948, que nasce com o objetivo de ajudar e fomentar o desenvolvimento

econômico de países subdesenvolvidos e elevar as condições de vida da população

dos mesmos.

4.2 Desenvolvimento econômico

As teorias que tratam sobre o desenvolvimento econômico têm passado

ao longo dos tempos por diversas transformações. Recentes mudanças nas

economias, nacional e internacional, se acertam a partir do modelo neoliberal

inspirado no toyotismo e de outras contribuições ao longo da historia. Sendo assim,

esse novo cenário tem exigido um redirecionamento do papel do Estado e um

posicionamento mais efetivo de políticas de desenvolvimento.

12

Fluxo Circular – é semelhante a circulação do sangue no organismo, onde tal fluxo e demais canais alteram-se com o tempo e aqui abandonamos a analogia com a circulação do sangue. Pois embora esta também mude ao longo do crescimento e do declínio do organismo, só o faz continuamente.

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Alguns economistas iniciaram suas discussões de que o comércio

internacional seria um grande catalisador do crescimento, mas coube aos chamados

estruturalistas do CEPAL, levantar questões diferenciadas sobre os países do

terceiro mundo. Segundo eles, os países subdesenvolvidos não eram simplesmente

versões primitivas dos países desenvolvidos, como enxergava a teoria clássica

(FILHO; CARVALHO, 2001).

As teorias econômicas de Schumpeter, em 1911, sobre o

desenvolvimento econômico colaboram para uma constatação coerente das

leis naturais na evolução das estruturas econômicas, ao fornecer explicações

das flutuações econômicas ocorridas como consequência das inovações

tecnológicas. O que o faz propor a hipótese de que o desenvolvimento econômico

ocorre de forma descontínua em termos de intensidade ao longo do tempo

(SCHUMPETER, 1982).

O mesmo autor destaca que “O desenvolvimento econômico até agora é

simplesmente o objeto da história econômica, que por sua vez, é meramente uma

parte da história universal, só separada do resto para fins de explanação”.

(SCHUMPETER, 1982, p. 44). E atesta

Entenderemos por “desenvolvimento”, portanto, apenas as mudanças da vida econômica que não lhe forem impostas de fora, mas que surjam de dentro, por sua própria esfera econômica, e que o fenômeno que chamamos de desenvolvimento econômico é na prática, baseado no fato de que os dados mudam e que a economia se adapta continuamente a eles, então diríamos que não há nenhum desenvolvimento econômico (SCHUMPETER, 1982, p. 47).

Em outras palavras, o desenvolvimento econômico não é um fenômeno a

ser explicado somente na esfera econômica, mas que a economia em si mesma sem

desenvolvimento não se completa. É arrastada e adaptada pelas mudanças

mundiais e a explicação plausível do desenvolvimento deve ser procurada também

fora do grupo de fatos que são descritos pela própria teoria econômica.

Portanto, o mero crescimento da economia nem sempre se refere a um

processo de desenvolvimento. O desenvolvimento pressupõe de uma mudança

espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio, que altera

e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente, ou seja, nada

mais é do que o modo de tratar nesse fenômeno e os processos a ele inerentes

(SCHUMPETER, 1985, apud MARTES, 2010).

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No que se referem aos métodos produtivos enfatiza-se que:

todo método de produção em uso no momento dado se curva diante da adequação econômica. Esses métodos consistem em idéias de conteúdo não somente econômico, mas também físico. As últimas têm seus problemas e uma lógica própria, e o papel da tecnologia é pensar neles sistematicamente até resolvê-los – sem considerar de início o fator econômico [...] Métodos de produção diferentes só podem ser diferenciados pela maneira com que se dão essas combinações, ou seja, pelos objetos combinados ou pela relação entre suas quantidades (SCHUMPETER, 1982, p. 15-16).

“A lógica econômica prevalece sobre a tecnologia [...] o objetivo da

produção tecnológica é na verdade, determinado pelo sistema econômico; a

tecnologia só desenvolve método produtivo para bens procurados” (SCHUMPETER,

1982, p. 16). De fato, o crescimento econômico acontece quando a tecnologia está

presente em todas as etapas do processo produtivo, sempre trabalhando a

otimização dos resultados.

Com relação “[...] o trabalho, por exemplo, é um bem da ordem mais alta,

porque entra no início de toda a produção, embora também seja encontrado em

todos os outros estágios” (SCHUMPETER, 1982, p. 17).

Mas é assim sempre que leva a cabo qualquer trabalho. Ele age, não como base nas combinações normais das coisas, mas preferivelmente de acordo com certos sintomas, aos quais aprendeu a prestar atenção, especialmente as tendências que de imediato lhe mostram a demanda de seus fregueses. E a essas tendências ele se entrega, passo a passo, de modo que, normalmente, apenas elementos de menor significação podem ser-lhe desconhecidos.[...] Portanto, em nossos pressupostos, os meios de produção e o processo produtivo não têm em geral nenhum líder real, ou melhor, o líder real é o consumidor (SCHUMPETER, 1982, p. 20).

Filho e Carvalho (2001) destacam que a teoria do desenvolvimento

econômico tem centrado suas análises mais fortemente a fatores não econômicos e

sobre falhas de mercado, mediante a presença marcante de externalidades no

processo de crescimento e desenvolvimento dos países em desenvolvimento. E

para “[...] a teoria do crescimento econômico focaliza sua atenção basicamente

sobre os fatores econômicos tradicionais considerados determinantes no processo

de crescimento: capital físico” (FILHO; CARVALHO, 2001, p. 470).

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Conforme Schumpeter (1982, p. 50): “De modo especial, o crescimento

da população como também das fontes a partir das quais se pode poupar, tornou-se

possível em grande parte pelo emprego diferente dos meios então existentes”.

Não obstante, há aqui um ponto no qual, como já foi dado a entender, nossa teoria diverge da teoria tradicional. A teoria aceita vê um problema na existência dos meios produtivos necessários para processos produtivos novos, ou, na verdade, para qualquer processo produtivo, e, portanto, essa acumulação torna-se uma função ou serviço distinto. Não reconhecemos de modo algum esse problema; parece-nos que ele é criado por uma análise defeituosa (SCHUMPETER, 1982, p. 51).

De acordo com Borges (2009, p. 29), a “questão desenvolvimento

perpassa por vários segmentos, não enfocando apenas o âmbito do

desenvolvimento econômico, como evidenciado no passado”, segundo os

pensadores clássicos, como Adam Smith (1983) e David Ricardo (1982), por

exemplo. O desenvolvimento pode ocorrer através do capital humano, do capital

social, do capital natural, bem como no processo de desenvolvimento local ou

endógeno, regional, e também pelo desenvolvimento sustentável (BORGES, 2009).

Paulane (2001, p. 229, apud BORGES, 2009, p. 30) busca melhor

esclarecer o assunto com a apresentação dos seguintes conceitos de crescimento:

[...] o crescimento econômico diz respeito à elevação do produto agregado do país e pode ser avaliado a partir das contas nacionais. Desenvolvimento é um conceito bem mais amplo que leva em conta a elevação da qualidade de vida da sociedade e a redução das diferenças econômicas e sociais entre seus membros pode-se resumir da seguinte forma a afirmação acima, que para se avaliar até que ponto a renda produzida pelo país reverte em benefícios para a população, não levando apenas em consideração aspectos econômicos strictu sensu, como: nível de renda, renda per capita, distribuição de renda, etc., mas também levaram em conta aspectos de bens públicos, sendo: saúde, educação, dentre outros.

A opinião dos economistas clássicos influenciou fortemente no conceito

inicial do processo de desenvolvimento econômico, apesar de que no primeiro

momento esses pensadores visam à riqueza das nações apenas através do trabalho

produtivo. Percebe-se que o volume produtivo por cada trabalhador em um dado

período de tempo relacionada com a tecnologia aplicada e forma de divisão do

trabalho possibilita o entendimento da dimensão dos mercados.

O principal problema do desenvolvimento econômico desse período era a

agricultura, segundo Ricardo (1982, apud DIAS; CASSAR; RODRIGUES, 2002),

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pois não se conseguia produzir alimentos baratos para consumo dos trabalhadores.

Com isso gerava a elevação dos salários nominais e por consequência elevava

o valor dos fundos de salários, necessários para se localizar trabalhadores mais

produtivos. O autor mencionado preocupava-se em determinar as leis que

regulavam a distribuição do produto entre proprietários (renda), capitalistas (lucros) e

trabalhadores (salários), sobretudo, tal distribuição dependia de diferentes fatores

como a fertilidade do solo, da acumulação de capital, os instrumentos empregados

na agricultura, por exemplo.

Já Schumpeter (1982), ver o desenvolvimento sob a óptica econômica

onde se constrói por mudanças qualitativas e quantitativas com relação a variáveis

econômicas do chamado fluxo circular, distorcendo a sua estrutura e as condições

de equilíbrio original. Aumenta a disponibilidade de bens per capita, em função da

maior taxa de crescimento da produção em relação à população. Melhora a

qualidade dos produtos e dos serviços, assim, como a renda média dos indivíduos.

Partindo de uma nova realidade, do que vem a ser o “desenvolvimento”,

após diversos estudos e pesquisas científicas realizadas em longo prazo, evidencia-

se que o entendimento ao referido termo „desenvolvimento‟, deve ser analisado mais

amplamente e não apenas no enfoque econômico.

É a partir desse cenário de mudanças que surge a teoria da Economia do

Desenvolvimento, considerando que o crescimento econômico apesar de ser uma

condição indispensável não era suficiente para haver desenvolvimento (COSTA,

2010).

Borges (2009) esclarece que o desenvolvimento ainda requer do uso

sustentável do capital natural, o conceito da era industrial quanto à infinidade dos

recursos naturais (insumos) resultou em tragédias ambientais irreparáveis.

Depreende-se, portanto, que o desenvolvimento preconiza um estado dinâmico e que fatores e elementos são associados em busca de um estágio evolutivo. [...] Por isso, o processo de desenvolvimento tem que ser compatível com um crescimento econômico que possibilite a manutenção ou elevação, ao longo do tempo, do conjunto de bens econômicos e ecológicos, sem os quais não haverá um crescimento adequado. [...] Assim como no entendimento do desenvolvimento humano e do desenvolvimento social, o desenvolvimento sustentável vislumbra um processo de desenvolvimento humano e social, sem que se perca de vista o futuro, ou seja, numa forma ambientalmente correta e adequadamente harmônica, para com os meios naturais (BORGES, 2009, p. 35-36).

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Em uma perspectiva regional, deve-se reconhecer o desempenho

econômico cearense em meio às adversidades climáticas do Estado que castigou

sua evolução devido a fortes períodos de seca13. Destaca Nobre (2001), em especial

para o desenvolvimento local relacionado ao crescimento do setor industrial do

Estado.

Das fábricas principais em funcionamento em Fortaleza nenhuma pertencia a estrangeiros, embora o caso de técnicos contratados em outros países, o que comprova a capacidade empresarial dos próprios cearenses e o mérito, que lhes corresponde, da iniciativa de industrializar o Estado, transformando a matéria-prima de produção local ao invés de exportá-la, simplesmente, para, como o rendimento, se abastecerem de manufaturas da Europa e dos Estados Unidos (NOBRE, 2001, p. 121).

Graças ao empenho do Governo de Virgílio Távora (1963-1966), que o

Ceará dispõe da energia necessária a qual o processo industrial tornou-se realidade,

com reflexos na economia e no bem estar da população, bem como na geração de

emprego e renda, objetivo constante da sua administração, e em particular, ao longo

de sua vida pública (NOBRE, 2001).

4.3 Desenvolvimento sustentável

O conceito de Sustentabilidade vem ganhando espaço a cada dia, junto

aos governos, e principalmente, no seio das comunidades mais pobres de diferentes

regiões, em especial o nordeste do Brasil. No final do século XX, tal conceito vem

para harmonizar as diversas dimensões do desenvolvimento que até então

privilegiava, quase que exclusivamente o fator econômico. É um conceito que

apresenta uma visão de futuro, estabelecendo metas conscientes, para que o

crescimento atual não comprometa o meio ambiente das gerações futuras

(BORGES, 2009).

Essa preocupação, segundo Borges (2009), se acentua mais

profundamente, quando se analisa o crescimento da população comparada a

disponibilidade dos recursos naturais do planeta. O ponto preocupante, nesse

aspecto é o crescimento da oferta nos países em processo de desenvolvimento, pois

certamente não acompanhará a demanda, o que poderá gerar menos emprego,

13

Ocorreram três anos que marcou a região nordestina, em especial no Ceará, foi a seca em 1915, a de 1945 e de 1958.

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mais pobreza, menos recursos renováveis, dentre outros. Em outras palavras, “o

futuro está ameaçado, pelo uso inadequado e desenfreado do presente e que a

certeza de hoje é a incerteza de amanhã” (BORGES, 2009, p. 71).

Com isso, Borges (2009, p. 69) também enfatiza que o entendimento mais

amplo de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável é:

Na realidade, o desenvolvimento sustentável pretende refletir uma política e estratégia de desenvolvimento econômico e social contínuo, sem prejuízo do ambiente e dos recursos naturais, de cuja qualidade dependerá a continuidade da atividade humana e do desenvolvimento.

Os elementos principais que compõem o conceito de desenvolvimento

sustentável conforme Borges (2009) são dois. O primeiro é a preservação da

qualidade do sistema ecológico. O segundo refere-se ao crescimento econômico

para satisfazer as necessidades sociais e a equidade (todos possam compartilhar)

entre a geração atual e a futura.

De modo geral, o conceito de sustentabilidade baseia-se num equilíbrio

entre 03 (três) eixos fundamentais: o crescimento econômico, a preservação

ambiental e a igualdade social. Quando ocorre alguma disfunção em quaisquer

desses eixos desvirtua o referido conceito e passa a ser um mero interesse de

grupos isolados, visto que é de interesse comum da humanidade como um todo

(DIAS, 2009).

A preocupação com a sustentabilidade trouxe consigo, o processo de

desenvolvimento sustentável que começou a gravitar entre os dirigentes das nações,

a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento, que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992 (BORGES, 2009).

Para Borges (2009), a globalização contribuiu para o acirramento e

ampliação das desigualdades sociais, favorecendo também o aumento do processo

de degradação ambiental nas regiões mais pobres, onde ocorre com mais evidência

o aumento populacional (ampliação dos núcleos urbanos), o crescimento das taxas

de resíduos sólidos, e os índices de violência urbana.

O conceito de desenvolvimento sustentável consolida-se pela

necessidade de manter preservados e regulados os sistemas naturais do planeta,

considerando que são limitados para absorver os marcantes efeitos da produção e

do consumo. Daí a importância em criar políticas que eliminem ou minimizem a

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produção que causam danos ambientais que são irreversíveis e respeite a obrigação

de preservar a base ecológica do desenvolvimento econômico de um país

(TACHIZAWA, 2002, apud BORGES, 2009).

Discute-se que a sustentabilidade e a endogenia devem caminhar juntas,

uma vez que o processo endógeno pode ser considerado como uma resultante da

consciência das comunidades sobre a importância da sustentabilidade. Considerada

indispensável, adotar estratégias de intervenção social que busca, a partir do

endógeno, mobilizar e organizar o Estado, a sociedade, as empresas, as

organizações não governamentais, as comunidades e os atores locais na construção

de um modelo de desenvolvimento mais humano, mais justo, mais consciente e

mais sustentável (BORGES, 2009).

Para isso, serão necessárias mudanças fundamentais na forma de pensar e de agir de todos envolvidos nesse processo, enfatizando, mais uma vez que, além das questões ambientais, tecnológicas e econômicas, o desenvolvimento sustentável tem uma dimensão cultural, social e política que exige a participação e a conscientização da sociedade, par o processo de tomada de decisão relacionado às mudanças que poderão vir a ser implementadas (BORGES, 2009, p. 77).

Percebe-se, portanto, que o desenvolvimento sustentável vem a ser bem

mais do que preocupações específicas14, na verdade é um reconhecimento de que a

pobreza, a deterioração do meio ambiente e o crescimento da população estão

intrinsecamente interligados. Daí a importância da adoção de políticas de

desenvolvimento voltadas a garantir a sustentabilidade dos recursos naturais

existentes, por que caso a população humana duplique, por exemplo, a atividade

econômica também aumentará para habilitar e satisfazer as necessidades básicas e

aspirações mínimas para esse novo quantitativo.

4.4 Desenvolvimento local

Como visto nas teorias de anteriores, uma política de desenvolvimento

deve priorizar o capital humano e o estímulo às inovações tecnológicas,

indispensáveis ao desenvolvimento. Contudo, não é o bastante para áreas onde

14

Como por exemplo, o desenvolvimento de técnicas para substituição do uso de bens não-retornáveis, o adequado manejo dos resíduos sólidos, a racionalização do uso da energia para o seu uso de forma eficiente.

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existem diversidades de renda onde há a necessidade paralela de utilização de

estratégias que possam estimular os empreendimentos locais e por fim promover o

desenvolvimento local.

Entre as teorias e estudos sobre o desenvolvimento econômico dando

relevância ao território, destaca-se com grande influência no Brasil os estudos da

Comissão Econômica para América Latina (CEPAL). Por tratar-se de estudos

voltados aos países subdesenvolvidos e com um foco na América Latina, eles

nortearam as decisões políticas e planos econômicos desde o Regime Militar até a

intervenção das ideias Neoliberais a partir do Governo Collor em 1988.

De acordo com Alfred Weber15 (1909), o estudo sobre a localização

geográfica industrial, em que considera relevante o custo em seu modelo de

triângulo locacional, em função da localização das matérias-primas e dos mercados

consumidores, do mercado de trabalho e das forças de aglomeração (COSTA,

2010).

Ainda no que discorre Costa (2010), Walter Christaller, em sua

abordagem, o conceito de distância geográfica foi substituído pelo de distância

econômica, levando em conta os custos de frete e seguro, embalagem,

armazenagem e tempo necessário, no caso de mercadorias, ou custo de transporte,

tempo de viagem e desconforto no caso de passageiros. Evidencia a disposição

geográfica dos lugares centrais16 pelos obstáculos geográficos e pela infraestrutura

econômica, havendo uma relação direta entre a centralidade e o tamanho da área

de mercado.

A teoria de Christaller é considerada generalizada, por Cima e Amorim

(2007), pois não apenas explica o crescimento interno de uma cidade ou região de

forma individualizada, mas também a distribuição espacial dos centros urbanos na

economia regional e nacional. “A principal função da cidade é atuar como centro de

serviços a região de proximidade ou região complementar, distribuindo inúmeros

bens e serviços ao seu entorno” (CIMA; AMORIM, 2007, p. 80).

Em outros termos, Benko (1999) enfatiza que mesmo com a preocupação

da Teoria Neoclássica da Localização com a dispersão geográfica com relação ao

15

Economista alemão, sociólogo e teórico da cultura. Apoiou a reintrodução da teoria e modelos causais ao campo da economia, para complementar a análise histórica. Realizou trabalho pioneiro na modelação da localização industrial. 16

Teoria dos lugares centrais desenvolvida por Water Christaller em 1930, refere-se a um conteúdo econômico que explica a forma como os diferentes lugares se distribuem no espaço, é mais difundida para os aspectos do crescimento urbano.

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espaço produtivo, ainda despreza as questões de gestão do espaço e como esse

quesito influencia no desenvolvimento.

Ainda se tratando dos aspectos locais, as chamadas economias de

aglomerações ou clusters17 possuem algumas características peculiares que

diferenciam-se dos modelos tradicionais de desenvolvimento regional (FILHO;

CARVALHO, 2001).

Destaca Filho e Carvalho (2001, p. 469) que a principal característica

“[...] é a de estímulo a atividades vocacionadas e a cooperação entre empresas

pertencentes a uma mesma cadeia produtiva gerando a troca de informações e uma

maior possibilidade de fixação de empreendimentos no local”.

Nesse sentido, os autores supracitados chamam atenção para uma

integração entre empresas do mesmo segmento em prol do seu crescimento

econômico e por consequência contribuirá para o desenvolvimento dessa região.

No que tange a região nordestina, Filho e Carvalho (2001) afirmam que:

No nordeste do Brasil a competitividade das empresas tem como base de apoio os incentivos fiscais e patrimoniais ofertados por governos, a mão-de-obra abundante, o crédito e as taxas satisfatórias de produtividade do trabalhador nordestino, decorrente de novas tecnologias. Além disso, vários setores apontam para a formação de clusters como estratégia de longo prazo possibilitando ganhos de escala (FILHO; CARVALHO, 2001, p. 478).

Já, segundo Martins (2002), enquanto estratégia, o desenvolvimento local

aparece como um produto da iniciativa partilhada, da inovação e do

empreendedorismo comunitário. Ademais, compreender sobre o desenvolvimento

local requer, necessariamente, que se reflita sobre conceitos básicos que, em última

análise, estão diretamente implicados no cenário formado pela própria dinâmica da

vida e o ambiente de entorno.

Vitte (2006) afirma que o tema desenvolvimento local pode ser inserido

aos aspectos de gestão local, sobre práticas políticas específicas. Considera ainda

que este tema tenha ganhado célebre destaque à medida que se discute o

verdadeiro papel dos municípios como agentes ativos do desenvolvimento

econômico.

17

Em geral, é definido como um conjunto.de empresas inter-relacionadas, cujas articulações principais funcionam no interior de um dado espaço, regional ou local, pertinentes aos efeitos de proximidade geográfica sobre a dinâmica da interação, ao nível de competitividade e inovação do referido conjunto.

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A gestão do desenvolvimento local pode ser diferenciada e discutida por meio da análise das ações e estratégias de desenvolvimento implementadas por vários agentes, em especial o Estado, permitindo avaliar seus resultados sócio-econômicos e também observar como ocorre a materialização dessas estratégias no espaço (ou no ambiente construído), que resultam em alterações do conteúdo e do significado desse espaço (VITTE, 2006, p. 79).

A referida autora revela que o papel do estado como agente

predominante das ações estratégicas predomina o sucesso a resultados positivos

para o desenvolvimento local. Pressupõe ainda que o desenvolvimento local assume

variadas dimensões e significados, com a implementação de diversas políticas.

Como por exemplo, a de economia solidária, de Arranjos Produtivos Locais (APLs),

dos sistemas locais de inovação, do Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável

(DLIS), entre outras (VITTE, 2006).

Vale lembrar que, não constitui-se tarefa simples entender e conceituar o

que vem a ser desenvolvimento local. Contudo, os pensamentos de alguns autores

se divergem em meio à finalidade de cada cenário em que se enquadra sua

vivência, pois ambos buscam desenvolver estratégicas para atender suas

necessidades econômicas no âmbito local, e assim minimizar os índices de pobreza

identificando suas potencialidades produtivas e assim gerando emprego e renda ao

mercado local.

Compreende-se que o desenvolvimento econômico local busca

implementar ações em territórios ou regiões que proporcionem a ativa participação

do cidadão, que predomine o efetivo domínio social sobre gestão pública através do

fortalecimento da sociedade civil nas tomadas de decisão.

Em suma, percebe-se que de acordo com as inúmeras mudanças

ocorridas ao longo dos tempos, também se evolui um novo conceito do que vem a

ser desenvolvimento, deixando de ser uma questão exclusa do fator econômico

(fator produtivo), voltado agora às potencialidades das pessoas e das regiões onde é

inserida determinado segmento ou atividade econômica, contribuindo com o

crescimento econômico também baseado na estrutura locacional (desenvolvimento

local). O processo de globalização que fomenta os mercados internacionais

também estimulou a procura por essas novas perspectivas de crescimento

econômico, e a partir desse entendimento nasce a Teoria do Desenvolvimento

Econômico Endógeno.

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4.5 Desenvolvimento econômico endôgeno

O Desenvolvimento Endógeno para Borges (2009) é um fator de

transformação a partir de uma realidade local. “Em todos os enfoques do

desenvolvimento endógeno, a importância do entorno tem favorecido também uma

reorientação de políticas de promoção [...]” (BORGES, 2009, p. 81).

Em outros termos, o desenvolvimento endógeno é, portanto, “[...] o

processo dinamizador da comunidade local, a fim de que a mesma reative a

respectiva economia e todo seu progresso de qualidade de vida, sócio-cultural e

ambiental” (BORGES, 2009, p. 81-82 apud ÁVILA, 2000, p. 15).

Segundo Martins (2002, apud LA DINÁMICA, 1992), o Desenvolvimento

Endôgeno seria aquele fundamentado por iniciativas, necessidades e recursos

locais, tal como uma comunidade que de fato se conduz a caminho do

desenvolvimento, ou da promoção do seu bem estar. Neste processo, a participação

da comunidade assumiria uma destacada condição do desenvolvimento local, seja

de sua efetivação, seja de continuidade.

Conforme Borges (2009), o desenvolvimento endógeno baseia-se na

realização de políticas de fortalecimento e qualificação de estruturas internas, com o

objetivo de consolidar um desenvolvimento tipicamente local, mediante criação de

condições sociais e econômicas para a geração e atração de novas atividades

produtivas.

Tal entendimento adequa-se essencialmente para as situações

diferenciadas de atividades econômicas de forma isolada, como é o caso do objeto

de estudo deste trabalho (a indústria de Cerâmica). Portanto, ações isoladas

também podem ocorrer desenvolvimento, porém a longo prazo, e muitas vezes de

forma desestruturada18.

Para melhor entender as necessidades e demandas da população local a

endogeneidade do desenvolvimento regional se apresentam em quatro aspectos

que se cruzam em prol do bem estar econômico, social e cultural da comunidade

local. O Quadro 3, a seguir, conceitua esses enfoques que endogeneidade:

18

O fato da iniciativa da Cerâmica ajudar a construir as casas próximas a fábrica trará o desenvolvimento local com a instalação de mercearias, lojinhas e demais comércios beneficiando as famílias que lá residem (Baturité), e com isso trará também saneamento básico, energia elétrica, saúde e lazer.

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QUADRO 3 – Endogeneidades do desenvolvimento regional

Endogeneidade Política

Crescente capacidade regional para a tomada de decisões relevantes em relação a diferentes opções de desenvolvimento e com relação ao

uso dos instrumentos correspondentes.

Endogeneidade Econômica

Possui apropriação e reinversão regional de parte do excedente a fim de diversificar a economia regional, dando-lhe ao mesmo tempo uma base

permanente de sustentação a longo prazo.

Endoneidade Científica e Tecnológica

Capacidade interna de um sistema (neste caso em território organizado) para gerar seus próprios impulsos tecnológicos de mudança, capazes

de provocar modificações qualitativas no sistema.

Endogeneidade Cultural

Entendida como um modo de matriz geradora de identidade sócio-territorial.

Fonte: Boisier (1993, apud BORGES, 2009).

Entende-se, portanto, que o processo de desenvolvimento endógeno

mobiliza os recursos regionais. Privilegia o desenvolvimento de dentro para fora no

sentido de promover a sustentabilidade local, onde tais mudanças de mentalidade

da sociedade e a descentralização da riqueza acontecem. Muitas vezes, de forma

gradativa por meio de estímulos organizacionais ou institucionais com o intuito de

racionalizar os recursos públicos, favorecer a descentralização da renda e adequar

os projetos às condições e necessidades locais.

Para esta seção, buscou-se focalizar os conceitos econômicos voltados

para as necessidades do indivíduo destacando algumas teorias de autores que

abrangem o fator tecnológico como ferramenta essencial no processo produtivo

das organizações empresariais e, por conseguinte traduz no crescimento e

desenvolvimento econômico a nível global. Enfatiza ainda, a importância do fator

econômico, social e ambiental no desenvolvimento de forma eficiente e eficaz de

uma nação.

Por isso, o presente estudo busca relacionar essas realidades conceituais

de desenvolvimento e suas demais conjunturas a atividade industrial, em especial

estudando uma cidade onde possui apenas uma indústria. A metodologia adotada

discorrerá no capítulo a seguir, seguindo os parâmetros necessários que foram

utilizados na investigação da problemática do estudo. Detalhar-se-á através de

subitens que abordarão a natureza da pesquisa, sua tipologia, o objeto de estudo, o

instrumento de investigação, como ocorreu o pré-teste, e os seus procedimentos

operacionais, além da tabulação dos dados coletados in loco.

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5 METODOLOGIA

Neste capítulo será apresentada a Metodologia utilizada para a realização

e delineamento dessa pesquisa científica com objetivo de discutir teoricamente

sobre os principais elementos da teoria administrativa com foco no desenvolvimento

socioeconômico local e sustentável a partir do setor industrial com base em uma

indústria de cerâmica em Baturité no Ceará.

Segundo Andrade (2009, p. 119), metodologia “é o conjunto de métodos

ou caminhos que são percorridos na busca do conhecimento”. Método, segundo

Marconi e Lakatos (2009, p. 83), refere-se ao:

[...] conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.”

A pesquisa científica é definida como um procedimento formalizado,

composto por métodos que requer um tratamento científico e se constitui no

caminho para conhecer a realidade ou de descobrir verdades parciais (MARCONI;

LAKATOS, 2009).

Existe outro conceito em Andrade (2009, p. 111) que descreve que a

pesquisa “é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico,

que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a

utilização de métodos científicos”.

Salomon (1977, apud ANDRADE, 2009) associam pesquisa à atividade

científica, e o trabalho científico como sendo a real concretização do referido

estudo: “[...] trabalho científico passa a designar a concreção da atividade científica,

ou seja, a investigação e o tratamento por escrito de questões abordadas

metodologicamente” (SALOMON, 1977, p. 136, apud ANDRADE, 2009, p. 111).

5.1 Natureza da pesquisa

A referida pesquisa realizou-se através de uma pesquisa de natureza

qualitativa. Para se classificar uma pesquisa de acordo com um dos dois métodos,

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seja quantitativo ou qualitativo, é necessário atentar para o grau de utilização das

técnicas a serem trabalhadas dos autores.

Segundo Honorato (2004, p. 97), “A pesquisa qualitativa proporciona

melhor visão e compreensão do contexto do problema”. Já em Richardson (1989)

entende-se que, a abordagem qualitativa é para situações onde existe a

necessidade de substituir os dados estatísticos por dados qualitativos para entender

melhor aspectos mais complexos como peculiaridades distintas do entrevistado.

Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 1989, p. 39).

De acordo com a visão de Marconi e Lakatos (2008, p. 269) ambos

acompanham também as mesmas diretrizes e preceitos conceituais para os estudos

metodológicos qualitativos de uma pesquisa científica:

O método qualitativo difere do quantitativo não só por não empregar instrumentos estatísticos, mas também pela forma de coleta e análise dos dados. [...] A metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.

Existem diferentes maneiras de avançar no conhecimento de um

fenômeno e os estudos qualitativos, segundo pressupõe os autores supracitados,

também são formas promissoras de análise e investigação.

5.2 Tipologia da pesquisa

Quanto à tipologia da pesquisa, o presente estudo utilizou-se de

uma abordagem exploratória e descritiva. Enquadra-se entre pesquisas que

expõem características de uma determinada população ou de determinado

fenômeno, sem o compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora

sirva de embasamento para essa explicação (VERGARA, 2009).

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No aspecto científico: “[...] recomenda-se a pesquisa exploratória quando

há pouco conhecimento sobre o problema a ser estudado” (CERVO; BERVIAN;

SILVA, 2007, p. 64). Já, Leite (2008, p. 54) define que: “[...] a pesquisa exploratória é

a que explora algo novo, que frequentemente não é considerado ainda ciência, mas

que serve de base à ciência”. Portanto, percebe-se que os autores concordam que a

pesquisa exploratória é realizada, especificamente, quando se deseja aproximar-se

do assunto investigado.

Conforme salienta Gil (2002, p. 52), “As pesquisas descritivas têm como

objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou

fenômeno, ou, então o estabelecimento de relações entre variáveis”.

Para o levantamento dos dados e fundamentação da pesquisa deu-se

através de pesquisa bibliográfica em livros, artigos, periódicos e também em

trabalhos monográficos e dissertações, que ressaltam o assunto estudado.

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc. [...] Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma [...] (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 185).

Barros e Lehfeld (1990, p. 84) conceituam estudo de campo como “uma

metodologia de estudo que se volta à coleta de informações sobre um caso ou

vários casos particularizados”. Na análise de Cervo, Bervian e Silva (2007), ambos

definem estudo de caso como uma pesquisa sobre determinado indivíduo, família,

comunidade, ou grupo específico que seja representativo de seu universo, para

analisar aspectos diversos de sua vida.

Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 188).

A tipologia da pesquisa, ainda segundo Vergara (2009), pode também ser

classificada quanto aos fins e aos meios, e pelo presente estudo se optou pela

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classificação quanto aos fins, considerando que a abordagem exploratória e

descritiva se enquadra a referida investigação.

5.3 Objeto de estudo

O presente estudo foi realizado na cidade de Baturité, localizada na

mesorregião do norte cearense, especificamente com a Indústria de Cerâmica

Baturité Ltda., situada na Rodovia CE nº 356, s/n, km 05, zona rural do município de

Baturité, a aproximadamente a 90 quilômetros de Fortaleza.

Em seu processo histórico, a cidade de Baturité tem origem indígena do

Tupi ibi-tira-eté, que significa dizer serra verdadeira em sua toponímia. Porém tal

versão não é considerada unânime, segundo os estudiosos. As mais antigas

referências são a partir de 1746, quando Inácio Moreira Barros e André Moreira de

Moura fizeram uma petição ao Capitão-mor, Governador da Capitania do Ceará

Grande, João de Teive Barreto de Menezes, a concessão de uma sesmaria entre o

rio Choro e a serra de Baturité (IBGE, 2012, online).

Inicialmente permaneceu-se a denominação de Aldeias das Missões em

1762. Em seguida o local foi elevado à categoria de vila, assim nomeada por Palmas

em 1763 (Carta Régia datada de 6 de Agosto de 1763 e Portaria de 15 do mesmo

mês e ano, e conforme Edital, publicado a 31 de Março de 1784). Elevado à

condição de cidade através da Lei provincial nº 844, de 09/08/1858, trazendo o

nome de Baturité (IBGE, 2012, online).

Segundo divisão administrativa, em 1920, o referido município passou a

ter 08 (oito) distritos: Baturité, Caio Prado, Candeia, Castro (atualmente corresponde

a cidade de Itapiúna), Guaramiranga, Pernambuquinho, Putiú e Riachão

(Capistrano). Em divisão territorial datada de 01/07/1960, o município de Baturité é

constituído apenas do distrito sede, onde os demais distritos, ao longo dos tempos

ou foram extintos, ou elevados também à categoria de município (Capistrano,

Itapiuna e Pacoti), ou então agregados a novos municípios, como é o caso do distrito

de Caio Prado, que ficou para o município de Itapiuna, e Guaramiranga e

Pernambuquinho desmembrou-se para formação do município de Pacoti. De acordo

com a Lei municipal nº 932, datada em 17-01-1991, foram criados mais três distritos

para o município de Baturité: Baturité (distrito sede), Boa vista e São Sebastião

(IBGE, 2012, online).

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Segundo o IPECE (2011), a cidade de Baturité possui uma extensão

territorial de aproximadamente 308,78 quilômetros quadrados e constituída por um

montante populacional de 29.861 habitantes (população recenseada segundo dados

do IBGE-2000). Considerando seus aspectos climáticos, a mesma caracteriza-se por

um clima bastante favorável do tipo tropical quente sub-úmido, onde a temperatura

média se mantém entre os 26º a 28º, podendo também sofrer alterações à noite ou

no período chuvoso.

No setor econômico, a atividade que mais se desenvolve é o comércio e a

prestação de serviços. Outra fonte de renda em potencial, mas que ainda precisa ser

melhor explorada é o turismo. Atualmente, o município possui uma Área de Proteção

Ambiental (APA), considerada a primeira e a mais extensa criada pelo Governo no

Estado do Ceará19, nos remanescentes de mata atlântica existentes na cidade, além

de trilhas, cachoeiras e um grande acervo cultural de monumentos e edificações

centenárias (SEMACE, 2012).

Portanto a referida temática está focalizada a partir da delimitação da

problemática do presente estudo, baseado na pergunta de partida onde se busca

discutir teoricamente como se dá a relação entre as ciências administrativas e a

ciência econômica sobre as relações de desenvolvimento a partir do setor industrial

deste município que é a Indústria de Cerâmica Baturité.

5.4 Instrumento de investigação

Na coleta de dados in loco, foi necessária a utilização da técnica de

entrevista. O instrumento de pesquisa foi elaborado de forma semiestruturada; o

pesquisador vai a campo com um roteiro de perguntas previamente definido, porém

no decorrer da coleta das informações, caso seja necessário, o entrevistador poderá

acrescentar ou alterar as questões para então elucidar melhor a problemática da

pesquisa.

Quanto à caracterização e a aplicabilidade da entrevista, Gil (2002)

detalha como informal (quando distingue da conversação), focalizada (embora livre

possui uma temática específica), parcialmente estruturada (quando é guiada por

pontos de interesse), ou as vezes totalmente estruturadas (quando ocorre uma

19

Abrange uma área de 32.690 hectares, localizada na porção Nordeste do Estado na região serrana de Baturité. Instituída pelo Decreto nº 27.290, de 15 de dezembro de 2003.

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relação fixa de perguntas/questões). Sendo assim, a entrevista realizada para o

presente estudo acadêmico caracterizou-se de forma focalizada e parcialmente

estruturada.

Conforme May (2004, p. 145) “as entrevistas geram compreensões ricas

das biografias, experiências, opiniões, valores, aspirações, atitudes e sentimentos

das pessoas”. Já Andrade (2009, p. 278) ressalta que:

As entrevistas qualitativas são muito pouco estruturadas. [...] A entrevista permite o tratamento de assunto de caráter pessoal. Todavia, seria aconselhável o uso de um roteiro simples, que guie o entrevistador pelos principais tópicos, caso ele seja iniciante.

É importante salientar também que a entrevista é, antes de mais nada, é

um encontro entre duas pessoas, onde uma delas busca colher informações a

respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza

profissional e bastante utilizada na investigações de âmbito social (MARCONI;

LAKATOS, 2009). Vale citar que ambos os envolvidos, o entrevistador (pesquisador)

e o entrevistado, eram iniciantes nessa tarefa.

A empatia é considerada uma ferramenta indispensável ao pesquisador,

na promoção da vivência dos diferentes níveis da fala e toda a riqueza da

experiência de vida de forma ativa (MARRE, 1991). Isso por que o pesquisador

necessita de “situar-se naquilo que se poderia chamar de „vivência‟ do pesquisado e

do seu processo multidimensional de construção oral e não linear da verbalização da

sua própria experiência” (MARRE, 1991, p. 116).

Como instrumento de pesquisa adotou-se o formulário de Entrevista, onde

foi elaborado em três seções distintas, sendo a primeira estruturada para identificar

informações específicas do respondente, a segunda parte para identificar as

principais características da empresa investigada e por fim estão descritas 16

(dezesseis) perguntas que abordam sobre o tema desenvolvimento local, econômico

e sustentável.

A entrevista foi aplicada com a responsável pela empresa Indústria de

Cerâmica Baturité Ltda., Sra. Vilanci Borges, no dia 13 de outubro de 2012,

aproximadamente às 10 horas da manhã. Registrada através de gravação em áudio,

com a prévia autorização verbal da mesma e colhida também outras informações

documentações como fotos das instalações da empresa.

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Os dados colhidos foram considerados satisfatórios por responder a

pergunta de partida do presente trabalho acadêmico, que aborda sobre a existência

ou não do desenvolvimento local e sustentável no setor industrial desta região.

5.5 Pré-teste

Para o presente estudo, não houve a necessidade da realização de

um pré-teste tendo em vista a flexibilidade da entrevista, logo pelo primeiro

encontro.

Barros e Lehfeld (1990, p. 71) afirmam que “a validez de um instrumento

está relacionada com a sua capacidade de medir o que se deseja”. Assegura

Andrade (2009, p. 133) que “o teste dos instrumentos e procedimentos, ou pré-teste,

é um procedimento rotineiro nas pesquisas de campo, mas absolutamente

indispensável”.

Preocupou-se, portanto, em formular questões de maneira clara e

objetiva, adequando-se ao nível de entendimento da entrevistada. Essa

preocupação respalda-se em um preliminar diálogo informal e a constatação da

inexperiência da entrevistada no repasse de algumas informações no que se referia

a caracterização de faturamento/produção da empresa, por exemplo; não obstante a

mesma estar cursando o segundo ano do curso de Administração.

5.6 Procedimentos operacionais da pesquisa

Inicialmente, mediante orientação, buscou-se registros através de sites de

busca na internet e outros meios de mídia para encontrar empresas no setor

industrial no município de Baturité.

Após contato telefônico em 14 de Setembro de 2012, com a Sra. Vilanci

Borges, a atual responsável pela cerâmica há 04 (quatro) anos no cargo de Gerente

administrava (empresária, funcionária pública municipal e estudante do curso de

administração de empresas em instituição localizada no próprio município), foi

possível colher informações preliminares sobre a empresa pesquisada. Nesse

contato, a pesquisadora se apresentou, demonstrou motivação da ligação e indagou

sobre como a pesquisa seria desenvolvida.

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Um segundo contato, foi realizado no dia 04 de outubro de 2012, com

duração de aproximadamente 02 (dois) minutos, na tentativa do agendamento da

visita a cerâmica para realização da entrevista, porém a mesma não tinha como

confirmar no momento e solicitou retornar ligação.

Somente no terceiro contato, realizado dia 11 de outubro de 2012,

conseguiu-se o agendamento e a confirmação uma data para a realização da

referida entrevista. Para a data acertada também foi previamente montado um grupo

de pesquisa juntamente com o orientador para a realização de outras pesquisas de

campo que iriam ocorrer em outras cidades no dia 12 de outubro de 2012. Na

oportunidade, tal experiência foi bastante enriquecedora, no âmbito acadêmico

tendo em vista que foi a primeira experiência de coleta de dados em pesquisa de

campo realizado pela pesquisadora. Como se comportar a frente do pesquisado,

postura e demais instrumentos na obtenção dos dados necessários ao objeto de

estudo, entre outros, foram reveladores. Neste momento, ocorreu uma etapa inicial

de observação das atividades desenvolvidas pelo orientador junto à população local

na presença de colegas acadêmicos para, em seguida, com o auxílio da orientação,

iniciar o processo prático da execução da pesquisa.

Após confirmação por telefone, foi realizada entrevista com a gestora

atual da empresa Indústria de Cerâmica Baturité Ltda. na manhã do dia 13 de

outubro de 2012, na sala da gerência da referida empresa. A entrevista durou em

torno de 40 minutos e não houve interrupção. A entrevista transcorreu de forma

tranquila, respeitosa e em tom de empatia. A entrevistada estava muito receptiva e,

reconhecidamente, adora conversar e trocar conhecimentos e/ou informações. Antes

da gravação formal, fez questão de contar a história de vida da empresa e suas

principais dificuldades, tanto financeiras como familiares ao longo da sua gestão, até

chegar ao patamar atual de equilíbrio financeiro, em seguida iniciou-se a gravação

em aparelho de gravador com duração média de 12 minutos.

Posteriormente, identificou-se in loco a rotina diária do município e seus

costumes característicos da região; constatou-se também que a movimentação

comercial concentra-se em maior propriedade nos centros urbanos, onde se vê um

maior número de pessoas que vem das áreas mais afastadas (zona rural) para o

centro da cidade em busca de diversas transações, sejam bancárias, compras em

geral ou serviços públicos de utilidade básica, como por exemplo, reuniões de

sindicatos, pagamentos diversos e outros eventos existentes.

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5.7 Tratamento de coleta de dados /tabulação dos dados

A entrevista foi gravada com autorização da empresária. Durante a

transcrição dos relatos da entrevista exigiu-se de algumas horas de empenho e

concentração, além de proporcionar um enriquecedor aprendizado por tratar-se de

uma primeira experiência de campo vivida. Sendo assim, foram transcritas todo o

relato da entrevistada de forma fiel a sua narrativa no decorrer do período da

entrevista.

Segundo discorrem Rocha e Deusdará (2005, p. 308),

[...] a problemática da discursividade surgida com as contribuições da Análise do Discurso propõe o entendimento de um plano discursivo que articula linguagem e sociedade, entremeadas elo contexto ideológico. A Análise do Discurso, portanto, pretende não instituir uma “nova lingüística”, mas consolidade uma alternativa de análise, mesmo que marginal, à perspectiva “tradicional”.

Contudo, o exercício contínuo de leituras e reflexões, e as diversas idas e

vindas ao material empírico, foram fundamentais para organização, análise e

tratamento dos dados coletados. Como a entrevista foi utilizada como instrumento

de pesquisa em uma investigação de natureza qualitativa, a tabulação de dados

ficou a cargo da Análise de Discurso.

Na concepção de Bardin (1977, p. 213), a Análise de Discurso (AD) “[...]

tem por objetivo a „destruição da Análise de Conteúdo‟, visando sua substituição; por

conseguinte pode-se supor que a AD Procura preencher a mesma função através de

meios diferentes [...]”.

Em todas as dimensões estudadas o método adotado para o presente

estudo é o de AD, visto que melhor traduz o encadeamento das proposições e

expectativas do discurso oral do entrevistado ao responder as perguntas realizadas,

e em elencar o estudo da língua natural (discurso) na concepção científica.

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6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo, serão apresentadas a análise e discussão dos resultados

extraídos da pesquisa de campo realizada no município de Baturité, na Indústria de

Cerâmica Baturité Ltda. com ênfase ao formulário de entrevista aplicado com a

gestora da empresa.

A empresa é uma sociedade Limitada de oito sócios, composta por sete

irmãos e inclui o pai. É, portanto, uma empresa considerada familiar com 30 anos de

existência, composta de 68 funcionários onde todos residem nas proximidades da

indústria. Na região do Maciço, é a única empresa neste segmento industrial de

fabricação de tijolos e lajes e possui um faturamento médio de R$ 1,5 milhão ao ano.

Com a instalação recente de um novo maquinário, a gestão superior espera alterar

sua produtividade gerando maior lucratividade para a empresa.

No primeiro momento, a entrevistada fez um breve histórico da trajetória

da empresa até assumi-la, há quatro anos. Atestou que foi a sua primeira

experiência em participar de uma entrevista para fins acadêmicos e, contudo,

também parecia bastante ansiosa. Após a realização da entrevista foi apresentado a

área física da empresa e demais setores e subdivisões. Na oportunidade, foi visto

também como funciona a produção dos tijolos no local (chão de fábrica), onde se

armazena o material em processo e os que estão em fase de acabamento, bem

como o local onde ficam os tijolos em sua fase final também. Verificou-se que as

áreas da empresa estão dividas em: escritório, gerência, refeitório, oficina, balcões

de armazenamento de produtos acabados e em processo.

A empresa ainda utiliza-se de métodos bastante tradicionais na sua

produção (processos operacionais de forma braçal e na parte administrativa não

trabalham com relatórios e demais dados para comparar projeções de períodos, por

exemplo). É por este motivo que necessita de um número maior de mão de obra

nesta parte operacional de produção.

A entrevistada enfatiza a valorização do funcionário e as demais

condições de trabalho, pois relata que logo quando chegou os funcionários não

tinham nem mesmo onde fazer suas necessidades básicas. No início contou com a

ajuda dos funcionários mais experientes para administrar o segmento, pois não

conhecia o processo e não tinha nenhuma experiência no trato das atividades no

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âmbito de gestão. Foi a partir daí que surgiu a necessidade da entrevistada em

estudar Administração de Empresas e assim aperfeiçoar suas técnicas gerenciais.

Logo que assumiu a administração da empresa realizou uma iniciativa

coletiva com os funcionários em ajudar a construir suas casas para aqueles que

ainda não tinham a sua residência própria, fornecendo material a preço de custo de

forma parcelada. Nesse primeiro momento, percebe-se uma preocupação da

gestora com o entorno e, notadamente, com o desenvolvimento que existe da

possibilidade de um funcionário possuir uma residência digna para morar e,

consequentemente, trabalhar melhor gerando mais resultados positivos para a

empresa.

Com isso se formou uma pequena comunidade nas proximidades da

cerâmica e que hoje além dos funcionários já residem outros moradores e que

atualmente, logo em frente às casas dos funcionários, já estão sendo construídas

novas casas populares pela prefeitura municipal. Não foi verificado na visita in loco,

mas há possibilidade dessas casas, tanto construídas pela empresa indústria de

cerâmica como pela prefeitura, atraírem comércio e serviços locais, como

lanchonetes, lan houses, bares, mercearias, salões de beleza entre outros micro e

pequenos negócios.

Verificou-se também que a empresa não participa de nenhuma

cooperativa local ou associação no município, trabalha de forma individual onde

suas atividades se resumem basicamente na fabricação e venda de tijolos e lajes,

fornecendo apenas para empresas da própria região do Maciço de Baturité. Entre os

motivos da não associação, a empresária atesta: “[...] tenho trabalho demais,

inclusive aqui não têm uma associação, deve até ter uma associação, mas nunca

chegaram até mim para me convidar não, têm o CDL, mas aqui é indústria, né [...]”

(ENTREVISTADA, 2012).

Além de não participar de uma associação, a indústria de cerâmica

igualmente não participa de grupos empresariais na região. Apesar de não

apresentar parcerias, a entrevistada adota de algumas parcerias informais na

aquisição de matéria-prima (o barro e a madeira) necessária à produção média

existente, pois não têm insumos suficientes para suprir a sua produção. No caso do

barro (argila), realiza algumas parcerias com moradores da região que necessitam

construir açudes. Por exemplo, a indústria de cerâmica entra com os custos de

terraplanagem e construção do açude em troca de recolher o barro extraído na

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escavação do açude. Para adquirir a madeira, a empresa compra ou troca por seus

produtos acabados (tijolos e lajes) de moradores também da região.

Segundo a empresária, a empresa realiza planejamento das atividades de

forma sistemática, porém bastante operacional. Sempre direcionado a rotina do

segmento, como planejar o levantamento dos insumos, quando está se aproximando

a época de intensa produção. E quando necessário, realiza treinamentos e

capacitação dos funcionários, mas de caráter interno e específico ao setor de

produção. Destaca-se, portanto, que o planejamento a longo prazo não é realizado,

muito menos de forma participativa, desprivilegiando as informações dos atores

locais que trabalham na indústria.

Quanto à preocupação em renovar suas tecnologias de produção, a

empresa, compra máquinas e/ou equipamentos para melhoria da produtividade,

porém não identificou-se em qual mercado foi comprado o maquinário. “Sempre não,

agente já renovou o maquinário né, agente tinha um maquinário antigo hoje nós

temos um maquinário novo, é melhorando a produção” (ENTREVISTADA, 2012).

Conforme discorre a entrevistada, a empresa não oferece outros serviços

ou produtos além da atividade de produção principal, somente realiza a produção de

tijolos e lajes. A empresa também não realiza reuniões com a prefeitura e/ou

secretaria do município, mas relata que no passado aconteceu apenas uma relação

de parcerias que beneficiou os funcionários quando adquiriram terrenos próximos à

cerâmica para a construção de suas casas. Isso possibilitou a formação de uma rua

(arruamento definido) e por fim promoveu o crescimento desse trecho em termos

populacional e consequentemente no âmbito socioeconômico.

Constatou-se ainda que a empresa não possui convênios com

faculdades, escolas técnicas e outras entidades e também não possui incentivos

financeiros governamentais ou não governamentais. Destaca-se, nesse momento, a

presença de uma escola técnica federal e de duas universidades públicas estaduais

no maciço de Baturité, bem como diversas entidades que podem promover cursos

para o aprimoramento de técnicas e ferramentas da indústria e dos operários; não

obstante, elementos não utilizados pela empresa.

A Sra. Vilanci Borges prefere não importar mão de obra e sim trabalhar

apenas com a mão de obra local por que considera o custo mais baixo. Por trás do

fator financeiro, respalda-se outro elemento de desenvolvimento econômico local

uma vez que a empresária beneficia a população do entorno em detrimento a

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pessoas fora de Baturité. Não é somente mais viável financeiramente para ela,

contudo, a riqueza gerada pela indústria permanece no município e beneficia o

próprio. Existe uma relação direta não somente com o crescimento econômico, mas,

sobretudo, com o desenvolvimento econômico endógeno.

Na questão da perspectiva de geração de emprego e renda até o final

deste ano, a empresa costuma manter o mesmo quantitativo de funcionários.

A entrevistada ressaltou que irá trabalhar o período de baixa da produção (período

invernoso) dando férias aos funcionários já contratados para não ter que reduzir

o quadro no período de sazonalidade (inverso). Portando, a indústria realiza

um rodízio nesse período, privilegiando os atores locais, resguardando seus

empregos, mantendo-os economicamente ativos, respeitando suas experiências e

competências, possibilitando-os ascensão funcional e, principalmente, não gerando

desemprego o que impactaria fortemente de forma negativa no desenvolvimento

econômico local.

Segundo a entrevistada, a empresa não trabalha em oferecer iniciativas

que promovam o desenvolvimento do município, apesar do aludido. Na sua visão a

responsabilidade nessa parte cabe à prefeitura do município criando ações e

programas que encaixem o setor industrial para que ocorram verdadeiramente

parcerias em prol do desenvolvimento local. Informa ainda que, se preocupa e

acredita que a empresa contribui com o desenvolvimento locacional, mesmo de

forma desassociada, quando ajuda seus funcionários e se preocupa tanto com a

qualidade de vida de seus funcionários como também com a redução dos impactos

ambientais que a cerâmica possa ter na sua região. Portanto, responde claramente

esta questão quando fala que:

Eles20

não estão muito preocupados com agente não, sabe assim eles não se preocupam em crescer a cidade não. Quem cresce a cidade na realidade são os comerciantes... a prefeitura não está preocupada com isso não...eles nunca nem vieram aqui para conversar sobre isso... Quando eu cheguei, alguns funcionários ainda não tinham suas casas, tinha apenas o terreno, e por iniciativa minha, ai vamos comprar o material e pagar de 12 vezes vamos ver como é que agente paga diminuir o material para vocês... (ENTREVISTADA, 2012).

A empresa não possui nenhum programa regular com relação aos

aspectos do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, porém se preocupa

20

Em referência a prefeitura municipal de Baturité.

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em agredir o mínimo possível. Um das ações que utiliza é a compra de madeira

somente de galhos de cajueiros, pois esta árvore se renova mais rapidamente do

que as demais da região. Além disso, há uma preocupação com o meio ambiente,

porém a empresa não regulamentou isso; trabalha apenas conforme os parâmetros

e regulamentos dos órgãos regionais fiscalizadores como a Superintendência

Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) para não interferir no desenvolvimento e

funcionamentos dos ativos da empresa.

Mediante exposição dos resultados encontrados in loco e pela entrevista

realizada com a responsável da indústria de cerâmica, Sra. Vilanci Borges, pôde-se

constatar algumas questões relevantes e de cunho acadêmico, e que serão

detalhadas na seção seguinte.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelos dados teóricos levantados com o presente estudo e fazendo uma

interlocução com a realidade encontrada em campo percebeu-se que a cidade de

Baturité não funciona de maneira associada com os agentes locais (prefeituras,

associações, entre outros), apenas quando ocorrem os eventos comemorativos

como festa do município, da padroeira, feiras culturais e outros.

Em especial, para o setor industrial, após realização da entrevista

observou-se que o município pesquisado não possui ações partilhadas com esse

setor. Em virtude de a gestora trabalhar de forma individualizada, pois alega não ter

estrutura para aumentar seu negócio e consequentemente desenvolver

economicamente a cidade. No entendimento da responsável, promove esse

desenvolvimento da região mesmo trabalhando de forma isolada melhorando o

padrão de vida das pessoas que trabalham na sua empresa.

Ainda, conforme exibição dos dados encontrados in loco e através da

entrevista realizada com a responsável da indústria de cerâmica, pode-se constatar

a presente necessidade de um melhor manejo das teorias administrativas já

existentes e de um maior interesse por parte da gestão em parcerias com outros

agentes locais. Portanto, a forma de gestão verificada não consegue elaborar com

maior eficiência os procedimentos administrativos, pois os processos operacionais e

de gestão são planejamentos a curto e médio prazo, no intuito de atender apenas as

necessidades financeiras da empresa e demais sócios.

Outro motivo que leva o setor industrial a não se fazer destaque no

desenvolvimento local deste município é que existe somente uma indústria em

funcionamento na cidade limitando assim o campo de estudo pesquisado.

Convém destacar a preocupação da indústria com desenvolvimento

sustentável, da sua maneira, pois promove ações isoladas que menos degredam o

meio ambiente como a utilização de galhos de cajueiro.

Outro quesito importante é a preocupação com a infraestrutura física do

ambiente de trabalho e do acompanhamento das tecnologias existentes para o seu

segmento. Por uma questão de sobrevivência, de se manter no mercado já que atua

somente na região do maciço, segundo estudo in loco, constatou-se a instalação de

novo maquinário para a melhoria da produção e da forma de trabalho da cerâmica.

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Segundo análise de campo, a cidade de Baturité tem potencial para se

desenvolver economicamente aproveitando o crescimento da atividade de turismo

nessa região, porém também necessita de ações coletivas e de ordem pública mais

intensificadas e de mais conhecimento dos gestores nos processos organizacionais

talvez por não dominarem também os fundamentos de Administração.

É importante salientar que a cerâmica é a única empresa do setor

industrial do município, e trabalha apenas com fornecedores da própria região do

maciço de Baturité.

Com base na pergunta de partida, o objetivo primário desta investigação

científica é o de discutir teoricamente sobre os principais elementos da teoria

administrativa com foco no desenvolvimento socioeconômico local e sustentável a

partir do setor industrial com base em uma indústria de cerâmica em Baturité, no

estado do Ceará.

Portanto, o presente estudo demonstra que as ciências administrativas e

econômicas necessitam de trabalhar juntas para então promover o desenvolvimento

de forma endógena e sustentável, mas percebe-se que mesmo sendo constatada a

ausência de parcerias ocorre o desenvolvimento local de forma desassociada em

meio a ação de forma isolada que ocorreu com a iniciativa da atual gestão da

indústria de cerâmica Baturité, tendo em vista que a existência de somente uma

indústria limita o objeto de investigação para o município estudado.

Assim sendo, considerou-se de forma satisfatória o presente estudo

científico, respondendo a pergunta de partida, o objetivo geral e aos objetivos

específicos propostos.

Reconhecendo as limitações da pesquisa e a necessidade de uma

permanente construção sobre o tema, espera-se que o referido trabalho colabore

para que novos estudos sejam realizados e enriquecer a literatura acerca do

tema em destaque bem como sua aplicabilidade para outras regiões do interior do

estado.

Mediante resultados obtidos, sugere-se o desenvolvimento de mais

produções acadêmicas futuras acerca do tema Desenvolvimento local e endógeno para

outros setores como comércio e serviço, também em outros municípios do interior.

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SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. Trad. Maria Sílvia Possas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

SEMACE. Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará. Apa da Serra de Baturité. Disponível em <http://www.semace.ce.gov.br/2010/12/apa-da-serra-de-baturite/>. Acesso em: 04 nov. 2012.

SERSON, F. M. e T. G. PEREIRA, Práticas de desenvolvimento sustentável frente a degradação ambiental: o caso Cubatão. In: Anais do VII Encontro nacional sobre gestão empresarial e meio ambiente. São Paulo: Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP-FEA/USP, 2003.

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SUZIGAN, Wilson (Coord). Identificação, mapeamento e caracterização estrutural de arranjos produtivos locais no Brasil. Relatório Consolidado. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada/DISET – Diretoria de Estudos Setoriais, 2006. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/estudospesq/apls/Relat_ final_IPEA28fev07.pdf>. Acesso em 02 set. 2012.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 10. ed. São Paulo, 2009.

VITTE, Claudete de Castro Silva. Gestão do desenvolvimento econômico local: algumas considerações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local, v. 8, n. 13, p. 77-87, set. 2006.

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ANEXOS

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ANEXO A – Instrumento de Pesquisa: Formulário de Entrevista

FACULDADE CEARENSE CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

Aos Senhores Gestores da Indústria de Cerâmica Baturité Ltda.

Cumprimentando-os, cordialmente, informa-se que esta pesquisa acadêmica tem como objetivo levantar informações para subsidiar a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), do curso de Administração de Empresas da Faculdade Cearense – FaC. Por este instrumento, espera-se obter informações sobre a gestão no setor industrial (Cerâmica), fundamentada através do conceito de desenvolvimento econômico, Desenvolvimento local e Sustentável. Desde já, agradeço pelo valoroso tempo destinado a responder os questionamentos abaixo citados e pela inestimável colaboração. ENTREVISTADO: (nome completo) CARACTERIZAÇÃO DO RESPONDENTE (Marcar com X o item relativo à resposta do entrevistado): A) Sexo

( ) Masculino ( ) Feminino

B) Faixa etária ( ) Menor ou igual a 30 anos ( ) Acima de 30 anos

C) Tempo de Empresa ( ) Até 3 anos ( ) De 3 até 5 anos ( ) Acima de 5 anos

D) Tempo no Setor atual ( ) Até 3 anos ( ) De 3 até 5 anos ( ) Acima de 5 anos

E) Grau de Instrução (Escolaridade) ( ) Analfabeto ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Ensino superior ( ) Pós-Graduação ( ) ______________

F) Cargo ocupado ( ) Proprietário ( ) Principal acionista ( ) Direção geral/administrativo ( ) Gerente ( ) Supervisor ( ) ______________

CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA (Marcar com X o item relativo à resposta do entrevistado):

A) Estrutura acionária da sua empresa: ( ) Único proprietário ( ) Sociedade (Ilimitada c/terceiros) ( ) Sociedade (ilimitada c/familiares) ( ) Outros ________________

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B) A empresa possui: ( ) Até 3 anos de vida ( ) De 3 à 10 anos de vida ( ) Acima de 10 anos de vida

C) A empresa é composta atualmente por: ( ) Até 19 funcionários ( ) De 20 à 50 funcionários ( ) Acima de 50 funcionários

D) A empresa possui: ( ) Até 10% dos funcionários morando na mesma região onde trabalham (maciço) ( ) De 11% à 80% moram na mesma região onde trabalham (maciço) ( ) Acima de 80% residem na mesma região onde trabalham (maciço)

E) O faturamento anual médio da empresa é:

( ) Até R$ 80.000,00 ( ) De R$ 81.000,00 até R$ 250.000,00 ( ) De R$ 250.000,00 até 1,5 milhão ( ) Acima de R$ 1,5 milhão

CARACTERIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: 1) A empresa participa de alguma associação, sindicato ou cooperativa local no

município? 2) Quais os principais motivos que levaram a se associar e a se manter associado? 3) A empresa participa de algum grupo empresarial na região? 4) A empresa realiza planejamento das atividades da sua empresa? 5) A empresa realizada treinamentos e capacitação com os seus funcionários? 6) A empresa compra máquinas e/ou equipamentos para renovar suas tecnologias

de produção? 7) A empresa oferece outros serviços ou produtos além da atividade de produção

principal? 8) A empresa realiza reuniões com a prefeitura e/ou secretaria do município? 9) A empresa possui convênios como faculdades, escolas técnicas e outras

entidades? 10) A empresa possui algum apoio/incentivo financeiro governamental ou não

governamental? 11) Como empresário (a), você prefere importar a mão de obra ou trabalhar apenas

com a mão de obra local? Por que? 12) Qual a perspectiva de geração de emprego e renda até Dez/2012? 13) Como funciona esta iniciativa da empresa na promoção do desenvolvimento do

município? 14) Qual a relação que a empresa possui com o meio ambiente? 15) Como o meio ambiente interfere nas decisões da empresa? Ou seja, a

preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável influencia nas decisões da empresa?

16) Existe algum programa interno que trabalha o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente?

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ANEXO B – Transcrição da Entrevista

ENTREVISTADA: Vilancy Borges

CARACTERIZAÇÃO DO RESPONDENTE: A) Sexo:

Feminino

B) Faixa etária: Acima de 30 anos.

C) Tempo de empresa: De 3 até 5 anos.

D) Tempo no setor atual: De 3 até 5 anos.

E) Grau de instrução (escolaridade): Ensino médio.

F) Cargo ocupado: Gerente administrativo.

CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA: A) Estrutura acionária da sua empresa:

Sociedade (Ilimitada com familiares).

B) A empresa possui: Acima de 10 anos de vida (30 anos especificamente).

C) A empresa é composta atualmente por: Acima de 50 funcionários (68 funcionários).

D) A empresa possui: 100% residem na mesma região onde trabalham (maciço).

E) O faturamento anual médio da empresa é: Entre R$ 1,2 milhão a 1,5 milhão ao ano.

CARACTERIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1) A empresa participa de alguma associação, sindicato ou cooperativa local

no município? Não.

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2) Quais os principais motivos que levaram a se associar e a se manter associado? Não, eu já tenho trabalho demais, inclusive aqui não têm uma associação, deve até ter uma associação, mas nunca chegaram até mim para me convidar não, têm o CDL, mas aqui é indústria, né...

3) A empresa participa de algum grupo empresarial na região? Não.

4) A empresa realiza planejamento das atividades da sua empresa? Realiza sim, tudo que agente vai fazer agente planeja, inclusive agente tá querendo colocar o barro agora, já tá planejando como vai fazer, como é que o segmento, né.

5) A empresa realizada treinamentos e capacitação com os seus funcionários? Sim, agente chama, conversa, não fora, mas aqui dentro mesmo na empresa, o que que agente pode melhorar, muda de setor, se não estar se adaptando a esse setor...pra melhorar a produção...

6) A empresa compra máquinas e/ou equipamentos para renovar suas tecnologias de produção? Sempre não, agente já renovou o maquinário né, agente tinha um maquinário antigo hoje nós temos um maquinário novo, é melhorando a produção e assim, sempre não, né, só quando há necessidade...

7) A empresa oferece outros serviços ou produtos além da atividade de produção principal? Não, somente a produção de tijolos e lajes.

8) A empresa realiza reuniões com a prefeitura e/ou secretaria do município? Não.

9) A empresa possui convênios como faculdades, escolas técnicas e outras entidades? Não.

10) A empresa possui algum apoio/incentivo financeiro governamental ou não governamental? Não.

11) Como empresário (a), você prefere importar a mão de obra ou trabalhar apenas com a mão de obra local? Por quê? Mão de obra local, com certeza... Por que o custo seria mais barato...

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12) Qual a perspectiva de geração de emprego e renda até dezembro/2012? Não assim, agente contrata, agente tem uma turma, agente não vai mais contratar até dezembro, até por que vem o inverno. O inverno agente já não, praticamente trabalha feito formiguinha, trabalha, trabalha, quando chega o inverno agente dá uma paradinha, por que muita chuva não consegue, o barro molha, a madeira também molha, então agente não contrata muitas pessoas até Dezembro por conta de Janeiro agente já tem que diminuir os funcionários. Então eu dou férias para algumas pessoas, é por turma pra não colocar ninguém pra fora por que todos trabalham com carteira assinada. Agente deixa um pouco das férias para Janeiro, Fevereiro e março, faz um rodízio de férias nesse período.

13) Como funciona esta iniciativa da empresa na promoção do desenvolvimento do município? Eles não estão muito preocupado com agente não, sabe assim eles não se preocupam em crescer a cidade não. Quem cresce a cidade na realidade são os comerciantes... a prefeitura não esta preocupada com isso não...eles nunca nem vieram aqui para conversar sobre isso...Quando eu cheguei, alguns funcionários ainda não tinham suas casas, tinha apenas o terreno, e por iniciativa minha, ai vamos comprar o material e pagar de 12 vezes vamos ver como é que agente paga diminuir o material para vocês...

14) Qual a relação que a empresa possui com o meio ambiente? Amiga agente trabalha exatamente queimando lenha e o barro, sabe assim, agente se preocupa, se preocupa sim, agente poderia mudar, poderia mudar, mas ficaria muito caro colocar pra queimar com óleo diesel, né. De uma certa forma agente trabalha com a lenha que é no meio ambiente... né...

15) Como o meio ambiente interfere nas decisões da empresa? Ou seja, a preocupação com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável influencia nas decisões da empresa? Há uma preocupação, é tanto que a minha preocupação desde quando cheguei aqui com o meio ambiente, foi de que, de não queimar com tanta madeira, de queimar com cajueiro por que o cajueiro se renova a cada ano... então agente queima mais com cajueiro, é tanto para não degradar tanto o meio ambiente...

16) Existe algum programa interno que trabalha o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente? Não.