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MUDANÇA DE PERSPECTIVA PARA UM MUNDO EM TRANSIÇÃO CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES

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  • MUDANÇA DE PERSPECTIVA PARA UM MUNDO EM TRANSIÇÃO

    CENÁRIOS SOB

    NOVAS LENTES

  • Os Cenários sob novas lentes fazem parte de um processo contínuo que é usado há quarenta anos pela Shell para questionar as perspectivas dos executivos sobre o ambiente de negócios do futuro.

    Os cenários são baseados em suposições e quantificações plausíveis e foram concebidos para desafiar a gestão a considerar até mesmo eventos que sejam apenas remotamente possíveis.

    Portanto, estes cenários não pretendem ser previsões de eventos ou resultados futuros prováveis e os investidores não devem se basear neles para tomar suas decisões de investimento referentes aos títulos da Royal Dutch Shell plc.

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    Prefácio 05

    Introdução 06

    Novas lentes para uma nova era 09

    Paradoxos 10

    Caminhos 12

    Panoramas: Cenários sob novas lentes 16

    Montanhas 22

    Montanhas: uma visão geral 23

    Transição geopolítica do Ocidente para o Oriente 26

    Caminhos econômicos para cima e para baixo 30

    Energia e ascensão do gás 34

    Oceanos 46

    Oceanos: uma visão geral 47

    Uma variedade de litorais 50

    Transições e bolhas econômicas 56

    As grandes ondas da demanda energética 59

    Reflexões sobre desenvolvimento e sustentabilidade 70

    Observações finais 78

    Apêndices: comparações de cenários, tabelas resumidas de quantificação, glossário, fontes de dados 80

    Linha do tempo 92

    ÍNDICE

  • Em uma era de transições voláteis, não é realista propor uma lente única para prever o mundo de amanhã. Nossa percepção é moldada pelas diferentes perspectivas quando consideramos fatores chave como redes de energia, a velocidade da mudanças políticas e a disponibilidade de recursos.

    Nosso conjunto de novas lentes oferece essa perspectiva, permitindo que exploremos dois mundos futuros e entendamos melhor as possíveis consequências das nossas escolhas de hoje.

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    MONTANHAS OCEANOS

    Este é um mundo onde o poder do status quo é fixo e é mantido firmemente por aqueles que são atualmente influentes. A estabilidade é o maior prêmio: aqueles no topo alinham seus interesses para liberar recursos de forma estável e cautelosa, não apenas segundo as forças de mercado imediatas. A rigidez resultante no sistema reduz o dinamismo econômico e reprime a mobilidade social.

    No mundo de Oceanos a influência é mais difusa. O poder é delegado, interesses divergentes são negociados e reina o compromisso. A produtividade econômica aumenta com uma grande onda de reformas, no entanto, às vezes há desgastes na coesão social e instabilidades na política. Isso faz com que grande parte do desenvolvimento político secundário fique estagnado, dando uma maior proeminência às forças de mercado imediatas.

  • PREfÁCIO DEFININDO UMA VISÃO DE FUTURO HÁ 40 ANOS

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    Recentemente, comemoramos o 40º ano da prática de planejamento de cenários da Shell. Ao refletirmos sobre essas décadas de trabalho e ao relembrarmos de todos os indivíduos talentosos que estiveram envolvidos nesses anos, nos admira a maneira como esses cenários influenciaram um conjunto tão notável de questões, debates e decisões de negócio.

    Olhando para o passado, vemos várias semelhanças entre o ambiente de negócios do início da década de 1970 e o da atualidade. Podemos citar como exemplos a volatilidade da economia global e certos sistemas políticos. Outras características são novas na forma como destacam desafios complexos para o sistema de recursos como um todo, que pressionarão os esforços criativos de organizações como a nossa, conforme caminhamos para o futuro.

    Por exemplo, em 2011, pedi à nossa equipe de estratégia que começasse a examinar o nexo da água, energia e alimentos, que chamamos Nexo de Interdependência. Acredito que o sucesso da Shell – e da sociedade de maneira geral – baseia-se em trabalhar melhor em conjunto. Como negócio, estamos acostumados a servir pessoas através de colaborações comerciais eficazes, que impulsionam inovação e eficiência comercial e que trazem impactos positivos à lucratividade. No entanto, algo que precisamos fazer melhor – e rapidamente – é melhorar nossa colaboração com outras empresas, com todos os setores da economia e com governos e sociedades civis em diferentes localidades do mundo. Só assim seremos capazes de tirar maior proveito das eficiências que podem ser alcançadas pela colaboração no nível de sistemas.

    Conforme descrevem estes Cenários sob novas lentes, até 2030, prevê-se um crescimento de 40% a 50% da demanda por recursos essenciais, tais como água, energia e alimentos. Para satisfazer essas necessidades sem prejudicar significativamente o meio ambiente, permanecer no cenário de atividade atual (business as usual) não é uma opção. Precisamos de um cenário de negócios diferente da norma atual. Em breve, começaremos a compartilhar mais os nossos planos para fortalecer parcerias e dar continuidade ao nosso papel ativo na transformação do sistema energético.

    Estes novos cenários exploram complexidades e fazem perguntas exploratórias sobre como podemos criar um negócio mais reflexivo, receptivo e resistente. Compartilhá-los e incentivar o debate em torno das questões que eles consideram são partes importantes desse processo. Acredito que os suplementos que serão publicados periodicamente nos próximos anos também levarão isso à frente.

    Espero que você ache o texto instigante e aproveito esta oportunidade para incentivá-lo a fazer parte da discussão sobre estes cenários, como tantos outros nos últimos 40 anos. n

    PETER VOSER CEO, Royal Dutch Shell plc, março de 2013

  • INTRODuçãOO PODER DOS CENÁRIOS

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    Todos nós enfrentamos escolhas que produzem consequências durante anos – ou até décadas – no futuro. Seja desenvolvendo novas oportunidades ou prevendo ameaças significativas, baseamos nossas decisões nas nossas perspectivas de futuro. Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento aprofundado dos possíveis determinantes, tendências, incertezas, escolhas e ciclos que moldarão esse futuro desconhecido, que pode parecer muito diferente aos olhos dos diferentes atores.

    O futuro não é completamente previsível nem completamente aleatório. Um exame pertinente de possíveis panoramas futuros inevitavelmente deve destacar características ou padrões alternativos. Há mais de quatro décadas, a Shell desenvolve e aplica cenários contrastantes para nos ajudar a considerar mais amplamente o futuro e a aprofundar nosso pensamento estratégico. Também compartilhamos externamente resumos desse trabalho sempre que sentimos que isso contribuirá para um melhor diálogo público sobre as escolhas e desafios coletivos que enfrentamos.

    Os cenários fornecem pontos de vista quantificados e uma linguagem a ser usada pelos executivos da Shell ao lidarem com condições cada vez menos familiares e mais desafiadoras. Espera-se que estes cenários sejam instigantes, mas plausíveis, destacando as questões já proeminentes e também, fundamentalmente, os desenvolvimentos de base que devem ser alcançados. Se usados eficientemente, esses pontos de vista alternativos podem ajudar as organizações a enfrentarem questões difíceis que devem ser exploradas

    de forma colaborativa, mesmo que existam opiniões extremamente diferentes em relação a elas.

    Essa abordagem também ajuda a proporcionar aos responsáveis pela tomada de decisões um conhecimento mais aprofundado sobre as opiniões muito diferentes que outros possam ter, bem como a necessidade de lidar com essas perspectivas eficientemente e o significado das escolhas feitas pelos outros em relação ao seu próprio futuro. Nesse sentido, os cenários são profundamente relacionais, pois concentram-se em pessoas e no seu comportamento, e não apenas em forças econômicas, políticas e sociais que são supostamente impessoais.

    Portanto, aqui temos algo da alquimia dos cenários como a vivenciamos na Shell: uma mescla de processo de pensamento estratégico, modo de análise, processo social de envolvimento e influência e, na sua forma mais potente, um facilitador de exploração e descoberta individual e coletiva.

    Nesse sentido, as palavras do ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, são relevantes no sentido de que pelo menos uma das funções do trabalho com cenários é unir as pessoas para que explorem áreas a fim de revelar “desconhecimentos desconhecidos”. Esse exame não é primariamente voltado a produzir folhetos ou relatórios atraentes, embora estes possam ser muito interessantes. O mais importante é ajudar as pessoas a fazerem uma jornada que possa guiá-las a melhores escolhas baseadas em considerações mais ricas sobre o mundo à sua volta.

    Essa jornada pode ser difícil. Como disse o filósofo Schopenhauer, as novas verdades são primeiro ignoradas ou ridicularizadas, depois sofrem violenta oposição para serem finalmente aceitas como evidentes. Em momentos diferentes, cenários específicos podem ser considerados irrelevantes, insensatos, irritantes e até desnecessários. Contudo, a experiência na Shell comprovou o valor dessa jornada para nossa empresa. n

    JEREMy BENTHAMVice-Presidente de Ambiente de Negócios Diretor dos Cenários da Shell

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    NOVAS LENTES PARA uMA NOVA ERA

    “ PRECISAMOS MUDAR PARA QUE AS COISAS PERMANEÇAM AS MESMAS.”

    GIuSEPPE TOMASI DI LAMPEDuSA O leopardo

    Os cenários publicados anteriormente pela Shell destacaram nossa entrada em uma era de volatilidade e de transações múltiplas em termos econômicos, políticos e sociais e dentro dos sistemas energético e ambiental:

    n Ciclos econômicos intensificados, pois foram alteradas as condições que caracterizaram o período entre meados de 1980 e meados de 2000, chamado de a “grande moderação” nas economias industriais avançadas.

    n Maior instabilidade política e social, estimulada em parte pela volatilidade econômica.

    n Tensões na ordem internacional, com instituições multilaterais tendo dificuldades para se adaptaràs mudanças do poder econômico, e proliferação de outros acordos.

    n Transições demográficas significativas, incluindo o envelhecimento das populações em alguns lugares, o aumento da população jovem em outros, e a urbanização incansável nas economias emergentes e menos desenvolvidas.

    n Aumento da demanda energética devido aos aumentos populacionais e à maior prosperidade, com a emergência de novas ofertas de energia enquanto outras têm dificuldades em manter o ritmo, e o aumento das emissões de gás, particularmente devido ao aumento do consumo do carvão.

    n Emprego de avanços tecnológicos permitindo o rápido crescimento de recursos, tais como gás de xisto e xistos betuminosos, por exemplo, na América do Norte, com impactos internacionais, mas com perspectivas incertas em outras partes do mundo.

    A tecnologia para utilizar recursos renováveis, tais como energia solar fotovoltaica, também avança, com o crescimento rápido da oferta proveniente de uma base pequena, mas bem estabelecida.

    n Limites ecológicos mais bem definidos e consideravelmente questionados, incluindo pressões provenientes do Nexo de Interdependência entre água-energia-alimentos, sendo que cada um dos componentes sofre pressões em termos de oferta/demanda. Por causa dos seus vínculos, esses componentes impactam uns aos outros e aceleram o crescimento combinado da tensão.

    Inevitavelmente, dados esses desenvolvimentos, qualquer panorama plausível será confuso e irregular. Entretanto, observamos que uma série de novas lentes pode nos ajudar a olhar para cenários familiares a partir de ângulos novos para que possamos enfatizar e esclarecer possíveis futuros.

    Lentes de Paradoxo e Caminho nos ajudam a observar de perto e detalhadamente tendências e determinantes, enquanto nossos cenários panorâmicos destacam padrões mais abrangentes em possíveis panoramas futuros.

  • PARADOXOS

    O PARADOXO DA PROSPERIDADE

    O desenvolvimento econômico está aumentando o padrão de vida de centenas de milhares de pessoas. Entretanto, também impõe pressões ambientais, de recursos, financeiras, políticas e sociais que podem abalar alguns dos benefícios da prosperidade. Ganhos privados podem florescer ao mesmo tempo que sobem os gastos públicos, e um maior conforto hoje pode levar a maiores riscos amanhã. A tendência da globalização é de reduzir a desigualdade de renda entre as nações, embora tenha aumentado as desigualdades dentro delas. Uma maior eficiência pode estimular o crescimento do consumo. Passado um determinado ponto, o aumento da prosperidade não aumenta o bem-estar relativo, que pode até diminuir. Por exemplo, quanto mais as pessoas prosperarem ou virem outras pessoas prosperarem, maiores serão seus desejos e expectativas para si e seus filhos – e maior será o descontentamento potencial.

    O PARADOXO DA LIDERANçA

    Lidar com tensões globais exige coordenação entre um número cada vez maior de grupos de tomadores de decisão. No entanto, quanto mais diversificados forem os grupos envolvidos, mais seus interesses tenderão a bloquear o progresso. Um provérbio africano muito citado sugere que para ir rápido, é melhor ir sozinho, mas para ir longe, é melhor ir acompanhado. Lidar com tensões cada vez maiores exige que caminhemos rápido e longe, o que implica uma necessidade paradoxal de ir sozinho e acompanhado. Formas novas de colaboração são necessárias para ultrapassar os familiares limites nacionais, público-privados e dos setores da indústria; contudo, não há modelos fortes para essas colaborações, que são extremamente difíceis de serem estabelecidas, pois as diferentes partes continuam a enfatizar em primeiro plano suas próprias questões e responsabilidades individuais.

    Os líderes de todas as nações enfrentam profundos dilemas políticos. Os governos, pela sua natureza, são mais lentos do que a velocidade que a vida contemporânea muitas vezes exige. Os mandatos eleitorais frequentemente ofuscam a gestão de questões de longo prazo, complicadas ou impopulares.

    OLHAR PELA LENTE DE TRÊS PARADOXOS AJUDA A DESTACAR AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PANORAMA EMERGENTE

    O PARADOXO DA CONECTIVIDADE

    A crescente conectividade global estimula a criatividade, mas também coloca a propriedade intelectual em risco. A conectividade facilita a expressão individual e a capacitação, mas também incentiva o comportamento de rebanho e amplifica variações de confiança e demanda. A florescente disponibilidade de informações tem a capacidade de trazer conhecimento e transparência, mas a sobrecarga de dados pode, da mesma forma, gerar confusão e obscuridade.

    De muitas maneiras, o Paradoxo da Conectividade impulsiona os outros dois paradoxos. O uso da tecnologia de informação e comunicação tem sido um determinante da globalização econômica, expandindo e fortalecendo vínculos comerciais, financeiros e de pesquisa, disseminando prosperidade e gerando desafios de liderança. A volatilidade econômica,

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    De acordo com a ONU e análise da Shell, até 2030, o mundo precisará entre 40% e 50% a mais de água, alimentos e energia. A interdependência entre esses recursos – o Nexo de Interdependência – também aumenta a volatilidade: mais energia requer mais água; mais alimentos e água requerem mais energia. Mudanças do clima podem levar a condições climáticas extremas, tais como secas prolongadas e enchentes torrenciais que causam impactos à agricultura e à subsistência. A falta de água pode intensificar a instabilidade social e política, bem como provocar conflitos e causar danos ambientais irreparáveis.

    O PARADOXO DA PROSPERIDADE

    Com o aumento da demanda por alimentos, o impacto dos recursos ligados a produção de alimentos (terra, água, energia) pode aumentar consideravelmente, conforme os carboidratos são substituídos por proteína na dieta das pessoas.

    O PARADOXO DA LIDERANçA

    Os governos devem desenvolver políticas em todas as áreas do Nexo de Interdependência, mesmo sem entender completamente as interdependências e possíveis consequências não intencionais. “Alimento versus combustível” sugere que todos os alimentos e combustíveis são iguais e que há uma compensação direta, mas os problemas são mais complexos e a conveniência das partes interessadas determinam os debates.

    O PARADOXO DA CONECTIVIDADE

    A maioria dos países não é totalmente autossuficiente no Nexo de Interdependência entre alimentos, energia e água. Quais são as compensações entre segurança alimentar e energética nacionais? Como os mercados globais de commodities afetarão a segurança de recursos quando a volatilidade aumentar?

    Além de apresentar desafios, o Nexo de Interdependência dos recursos também apresenta oportunidades. Que novas colaborações podem ser desenvolvidas, mesmo entre parceiros atualmente improváveis?

    Quantos maiores e mais técnicos os problemas enfrentados pela sociedade, menor a possibilidade de o governo poder resolvê-los sozinho sem a ajuda do setor de negócios e outros. Em democracias avançadas, quanto mais capacidade as pessoas têm para se unirem em grupos de interesses especiais para influenciar governos, mais difícil é para os governos trabalhar primariamente pelo bem comum. Em várias partes do mundo, quanto mais a tecnologia das novas mídias dá poder aos cidadãos, mais capacita o governo a monitorar esses cidadãos.

    A globalização em si traz um paradoxo para os líderes governamentais: quanto maiores as forças da globalização, menor é o poder autônomo dos governos nacionais. Da mesma forma, os líderes enfrentam um paradoxo resultante da própria natureza humana, com exceção de momentos de perigo imediato: quanto maior a necessidade de soluções comunitárias a longo prazo, menor é o apetite por sacrifícios individuais a curto prazo. n

    O NEXO DE INTERDEPENDÊN-CIA DOS RECuRSOS

    política e social pode ter sempre existido, mas esse grau sem precedentes de conectividade está contribuindo para uma intensidade fora do comum, em parte porque o aumento da conectividade fortalece atores individuais. Um vendedor de rua pobre pode, por exemplo, instigar a derrubada de governos no Oriente Médio. Um hacker solitário pode interromper o funcionamento de grandes negócios e empreendimentos governamentais. Sob a proteção do anonimato, pequenos números de “hacktivistas” podem causar milhões de dólares em perdas para empresas. Uma cantora de coral religioso da Escócia pode se tornar uma estrela do dia para noite quando o vídeo da sua audição para um programa de TV se transforma em sucesso viral na Internet e seu CD pode se tornar o CD mais vendido nas paradas do mundo todo.

  • Espaço para manobra

    Transição Complexa

    Acúmulo de tensões

    Reforma pontuada

    Decadência/colapso

    Crise existencial

    Deriva/declínio

    Reforma pontuada

    Crise inicial

    Deriva

    Acúmulo de tensões

    Deriva/declínio

    Crise inicial

    Deriva Decadência/colapsoCrise existencial

    CAMINHOS

    As tensões inerentes aos três paradoxos nutrem a era atual de transições. Países no mundo todo enfrentam desafios referentes aos seus modelos econômicos, regimes políticos e condições sociais. Os EUA estão lidando com um declínio a longo prazo do seu poder global relativo e atualmente passam por uma recuperação decepcionantemente vagarosa de uma recessão profunda e um sistema político paralisado. A China e outras economias emergentes, que pareciam resistentes em 2008, agora estão lidando com um conjunto adicional de incertezas na sua busca por estabilidade e crescimento contínuo.

    Quando as tensões aumentam e uma crise emerge, alguns atores se adaptam e implementam reformas. No entanto, outros têm dificuldades até que a crise atinja um nível que force uma restruturação dramática e dolorosa ou o colapso. Explorando eras passadas de transição e transformação, aprendemos que duas lentes de Caminhos arquetípicas ajudam a trazer clareza e discernimento. Esses caminhos são chamados de “Espaço para manobra” e “Transição complexa”.

    CAMINHOS

    TRANSIçãO COMPLEXA

    A capacidade financeira, social, política ou tecnológica é inadequada para aguentar as tensões. As respostas comportamentais atrasam as mudanças, fazendo com que as condições piorem até que, finalmente, é necessário um reajuste ou ocorre um colapso.

    ESPAçO PARA MANOBRA

    O capital financeiro, social, político ou tecnológico incentiva uma atuação rápida e resulta em mudanças/reformas eficazes.

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    Consideremos exemplos recentes:

    n Embora seriamente afetadas pela turbulência criada pela crise financeira global, economias tais como a Índia, a China e o Brasil mostraram-se resistentes, pelo menos no período logo após a crise. De maneiras diferentes, tiveram o “capital” financeiro, social, político e de recursos necessário para responder e reformar, seguindo um caminho de “Espaço para manobra”.

    n A União Europeia mostrou que não tem esse nível de resistência e vem seguindo um caminho de “Transição complexa” no qual os problemas são “empurrados com a barriga” e os líderes não conseguem criar espaço para respirar em termos políticos e sociais. Portanto, os países ficam em uma deriva contínua, pontuada por uma série de minicrises que em algum ponto culminarão em uma restruturação que envolverá uma perda significativa de capital financeiro e político (através da soberania coletiva, por exemplo) ou a dissolução do Euro.

    É claro que nem todos os países ou atores seguem exclusivamente um caminho de “Transição complexa” ou “Espaço para manobra” e nem sempre permanecem em um só caminho durante todos os desafios. De fato, aquilo que parece espaço para manobra para alguns atores pode simultaneamente parecer estar encurralado para outros; pense nas diferentes perspectivas de um gato e um rato presos juntos em um quarto. No entanto, as lentes de Caminhos destacam padrões recorrentes no panorama mais geral.

    Países, negócios e até mesmo indivíduos traçam trajetórias diferentes. Será que responderão aos desafios enfrentados através de adaptação e reforma, seguindo o caminho de “Espaço para manobra”? Ou será que as mudanças serão adiadas, levando a um caminho de “Transição complexa” até que haja uma restruturação fundamental ou colapso?

    DINÂMICA DA TRANSIçãO Do ponto de vista dos sistemas, as transições ocorrem quando aparecem lacunas entre as condições reais e as esperadas. Essas lacunas criam ansiedade ou insatisfação, que estimulam o desenvolvimento de abordagens novas e atualizadas que são, então, colocadas em prática para fechar essas lacunas.

    Entretanto, muitas vezes há atrasos e muitos inibidores nesse processo. Por exemplo, a ansiedade promove negação e paralisia da mesma forma que incentiva novas abordagens. Sem capital social, intelectual e político, é difícil superar interesses estabelecidos para desenvolver e implementar novas abordagens. Outros inibidores-chave incluem inadequação institucional, desigualdade e insegurança.

    Com todos esses inibidores sistêmicos, para que a transição progrida, são necessários facilitadores sistêmicos, como por exemplo, vitórias rápidas para superar a paralisia ou o desenvolvimento de capital social e político suficiente para superar os interesses estabelecidos.

    É o equilíbrio dinâmico entre inibidores e facilitadores que molda as transições, um equilíbrio que difere de ator para ator e de transição para transição. Se esse equilíbrio favorecer os inibidores, a transição se torna complexa; no entanto, a presença de facilitadores suficientes criam espaço para manobra. n

  • Até 2050, espera-se que cerca de três quartos da população mundial esteja vivendo em cidades. O maior crescimento da população urbana nesse período será na China, Índia, Nigéria e nos EUA. O crescimento mais dramático acontecerá em milhares de pequenas cidades que rapidamente se transformarão em grandes cidades.

    Grande parte da infraestrutura para essas novas cidades ainda não foi projetada. A Booz & Company (em um estudo para o World Wildlife Fund) estima que o investimento total em infraestrutura urbana e suas operações nas próximas três décadas ultrapassará o número impressionante de $350 trilhões. A maior proporção será direcionada aos mercados emergentes. O financiamento dessas necessidades de investimento será um desafio importante e exigirá inovações consideráveis no financiamento global. Se essas necessidades puderem ser atendidas, isso constituirá uma importante fonte de demanda agregada para a economia global por um longo tempo no futuro.

    Atualmente, as cidades usam 66% do total de energia do mundo, e nos próximos 30 anos esse número pode aumentar para quase 80%. No passado, os desenvolvimentos urbanos eram impulsionados por suposições de que a energia permaneceria disponível a preços relativamente baixos. A falta do conceito da necessidade de garantir a provisão de energia e de desenvolver políticas de planejamento levaram à expansão urbana e à ineficiência energética.

    O PARADOXO DA PROSPERIDADE

    Se cidades saudáveis com recursos abundantes crescem organicamente, elas tendem a se expandir, levando a uma grande ineficiência energética. As cidades mais pobres e mais povoadas também correm o mesmo risco. Se elas também seguirem o caminho orgânico, que é economicamente mais eficiente a curto prazo, correrão o risco de acabarem com uma infraestrutura gravemente ineficiente.

    O PARADOXO DA LIDERANçA

    Se os líderes municipais considerarem que os problemas são difíceis demais para serem resolvidos e que as soluções são impopulares demais para serem executadas, as tensões nas cidades serão ignoradas até que as condições de vida sejam ameaçadas. A grande lacuna entre os horizontes temporais de políticas e de infraestrutura é muito difícil de ser superada, mas essa superação é necessária para um desenvolvimento saudável.

    O PARADOXO DA CONECTIVIDADE

    Todos os aspectos da sociedade devem operar juntos para resolver o problema do crescimento das cidades: os governos têm que oferecer maiores incentivos e sanções para um crescimento inteligente; a sociedade deve ser incentivada a moderar a demanda por bens privados em favor da infraestrutura para todos; e os negócios devem oferecer uma infraestrutura mais inteligente e mais integrada, bem como soluções de moradia e de trânsito. Para prosperar, todos os grupos devem operar de forma coordenada, mas essa é uma dança difícil de controlar.

    uMA NOVA LENTE SOBRE AS CIDADES

    ESPAçO PARA MANOBRA

    n Coalizões de liderança visionárias definem o crescimento

    n As autoridades preveem tensões e implementam um planejamento integrado para o uso da terra, transporte, energia, água e lixo

    n Soluções estruturais eficientes em termos de energia, incluindo desenvolvimento urbano compacto e transporte público

    n Conhecimento partilhado e valorizado

    TRANSIçãO COMPLEXA

    n   As forças de mercado ditam o crescimento sozinhas n As autoridades supõem que os problemas são difíceis demais para serem enfrentados e que as soluções são impopulares demais para serem implementadasn As tensões são ignoradas até que as condições de vida na

    cidade são ameaçadas e a reengenharia da infraestrutura passa a ser difícil

    n Soluções individuais pontuais

  • 2010 Total consumption 000.00b m3

    Fossils production 00.00billion m3

    Biofuels prodution 00.00billion m3

    Re�ning, GTL & CTL 00.00billion m3

    Electricity - Oil 00.00billion m3

    Electricity - Gas 00.00billion m3

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    Electricity - Nuclear 00.00billion m3

    Electricity - Biomass 00.00billion m3

    Electricity - CSP 00.00billion m3

    Electricity - Geothermal 00.00billion m3

    Advantage can be: – Trade hub – Cluster of expertise – Special economic zone Ongoing development of commercial advantages

    Companies invest to capitalise on advantages: – Expanding production – More ef�cient technology – New products – Service industries Government invests in infrastructure,

    enabling more ef�cient businessoperations and improving amenity

    – Transport – Services – Amenities – Communications – Education

    Jobs and wealth opportunitiesattract labour from outside of thecity - increasing labour pool andsize of home market

    Increasing education and up-skilling build talent and entrepreneurialism

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    Ciclo virtuoso do crescimento urbano

    Desenvolvimento contínuo de vantagens comerciais As vantagens podem incluir: – Centro comercial – Conglomerado de experiências – Zona econômica especial

    Empresas investem para capitalizar vantagens: – Expansão da produção – Tecnologia mais e�ciente – Novos produtos - Indústria de serviços Governo investe em infraestrutura,

    permitindo operações de negócios mais e�cientes e melhorando a comodidade

    – Transporte – Serviços – Comodidade – Comunicações – Educação

    Oportunidades de emprego e riqueza atraem mão de obra de fora da cidade, aumentando o "pool" de pro�ssionais e o tamanho do mercado doméstico

    Aumentando a educação e capacitando talentos e empreendedorismo

    Vantagem comercialcompetitiva

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    CICLO VIRTuOSO DO CRESCIMENTO uRBANO

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  • À medida que passamos para um ambiente geopolítico mais fluido, com incertezas políticas muito maiores, enfrentamos a possibilidade de um mundo cada vez mais conflituoso.

    Quatro características-chave do ambiente geopolítico transicional se destacam para os próximos 10 a 20 anos.

    RELAçãO ENTRE CHINA E EuAOs EUA continuarão em uma posição de proeminência, mas terão que aceitar um mundo mais plural. Terão que negociar consequências com outros poderes que possuem valores e objetivos diferentes. Em outras palavras, os EUA terão que aprender a “possibilitar mudanças”, ao invés de agirem unilateralmente. Sozinhos, não estarão mais dispostos ou não serão mais capazes de fornecer bens públicos globais dos quais dependa a ordem internacional. Um vácuo de liderança pode emergir se nenhum outro país estiver preparado para liderar ou se os EUA em si não estiverem preparados para permitir que outros assumam uma posição equivalente.

    Como a grande potência econômica emergente, a China não se sente confortável com a ideia de assumir um papel global mais amplo e continua a defender seus interesses em termos estreitamente específicos e nacionais. As diferenças estruturais subjacentes entre os EUA e a China vêm à tona principalmente no que diz respeito ao comércio, à taxa de câmbio entre eles e aos desequilíbrios econômicos que foram criados ao longo do tempo. No entanto, a competição geopolítica entre eles está aumentando devido à influência na região do Pacífico Asiático, embora o Japão continue exercendo uma influência considerável por meio da sua tecnologia, investimento e esforços significativos na área de ajuda internacional. Se as capacidades dos EUA forem ampliadas e a China se estender por se sentir demasiadamente confiante na busca dos seus interesses regionais, será que um deles exercerá uma influência mais decisiva? Ou será que terão que encontrar uma forma de trabalhar juntos em áreas de interesse mútuo?

    PANORAMAS CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES

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    TRANSIçãO ORIENTAL NO NOVO SISTEMA INTERNACIONALA segunda característica-chave é a natureza do sistema internacional que as novas potências emergentes, tais como a China e a Índia, desejam ver. A China sempre descreveu seus objetivos internacionais em termos benignos, como “ascensão pacífica” e defende que sob seu sistema tributário imperial tradicional nunca buscou interferir nas questões internas de outros Estados. No entanto, o sistema tributário nunca foi um mundo de Estados soberanos igualitários, mas sim de Estados centrados na China como Estado preeminente. Todos os outros Estados deviam lealdade, pagavam tributos e definiam suas políticas de forma a manter boas relações com a China.

    Esse sistema não é facilmente traduzido na ordem geopolítica atual. A transição para uma esfera de influência chinesa não é uma opção atrativa para muitos Estados. Há potencialmente uma história de duas Ásias. A Ásia pode continuar a ser a região mais dinâmica da economia global, mas pode também se transformar na região mais volátil e suscetível a conflitos na ordem global.

    Graham Allison, Professor da Faculdade de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, defende que a questão-chave referente à ordem global nas próximas décadas será: A China e os EUA conseguirão escapar da armadilha de Tucídides? A metáfora desse historiador alude aos perigos que as duas partes enfrentam quando uma potência em ascensão compete com uma potência no poder. A maior parte dos desafios dessa natureza terminou em conflito. Resoluções pacíficas exigiram grandes compromissos por parte dos governos e dos cidadãos de ambas as potências para efetuar grandes reformas.

    A ascensão dramática de Atenas nos tempos antigos chocou Esparta, a potência terrestre estabelecida. O medo produziu competição, confrontos e por fim conflitos. Após 30 anos, ambos os Estados foram destruídos. Tucídides escreveu: “Foi a ascensão de Atenas e o medo que isso causou em Esparta que fez com que a guerra fosse inevitável”. O Professor Allison observa os paralelos com os dias de hoje, já que a ascensão da China provoca frustração e medo nos EUA

    “(…) A competição entre os Estados Unidos e a China é inevitável. Os líderes de ambos os países asseguram com otimismo que a competição pode ser gerenciada sem choques que ameacem a ordem global. Entretanto, a maioria dos analistas acadêmicos não é tão otimista (...) Dadas as diferenças entre os sistemas políticos americano e chinês, os pessimistas podem acreditar que a possibilidade de uma guerra é ainda maior (...) (Contudo) a moralidade pode exercer um papel fundamental na estruturação da competição internacional entre as potências políticas – separando os vencedores dos perdedores (...) Será a batalha pelos corações e mentes das pessoas que determinará quem prevalecerá no final. E conforme a previsão dos antigos filósofos chineses, vencerá o país que mostrar uma autoridade mais humana.”

    “ VENCERÁ O PAÍS QUE MOSTRAR UMA AUTORIDADE MAIS HUMANA”yAN XuETONG Professor de Ciência Política da Universidade de Tsinghua

    yAN XuETONG Professor de Ciência Política da Universidade de Tsinghua “How China Can Defeat America” (Como a China pode vencer os EUA), New York Times, 2011

    ARMADILHA DE TuCÍDIDES

    COMPETIçãO ENTRE EuA E CHINA

  • TERRENO ACIDENTADO PARA INSTITuIçÕES INTERNACIONAISA terceira característica-chave do novo ambiente geopolítico é a cada vez maior inadequação das instituições internacionais existentes para lidar com problemas globais, tais como a proteção do comércio, a mudança do clima e o desarmamento nuclear. A elevação do Grupo dos 20 (G20) para líderes do nível governamental, incluindo os principais países desenvolvidos e em desenvolvimento, foi uma resposta à contínua crise financeira global. O G20 representa melhor onde o poder global realmente se encontra, em comparação ao mais exclusivo Grupo dos 8 (G8), que exclui duas das oito maiores economias globais, a China e o Brasil. No entanto, a transparência e a responsabilidade do G20 foram questionadas e o grupo ainda não evoluiu para tornar-se uma instituição duradoura que possa contribuir de qualquer maneira significativa.

    As intervenções do FMI e do Banco Mundial tiveram um desempenho misto e a sua governança institucional permanece ancorada em uma era anterior de preeminência econômica. Contudo, no nível tecnocrático, muitas formas de cooperação e coordenação internacionais ainda são mantidas e estão sendo progressivamente expandidas.

    CRESCIMENTO COMPRIMIDO E PERCEPçÕES DE SOMA ZERO A quarta característica-chave do panorama geopolítico transicional é que ao lidarem com a crise financeira, os países em desenvolvimento não sentiram que era necessário oferecer alternativas radicalmente diferentes ao modelo capitalista liberal que era a referência global antes de 2008. Por um lado, pode haver o retorno significativo do Estado na concepção e direção das políticas domésticas econômicas e sociais. Por outro lado, um período de recessão, ou uma fase extensa de crescimento abaixo da média, espreme o espaço para manobra dos governos. Não há dividendos de crescimento a serem distribuídos e a política passa a se concentrar em dividir o peso das reformas. Portanto, a principal questão política é: quem ganha e quem perde quando o crescimento é comprimido e a torta menor é dividida? Essa questão se torna altamente pertinente em uma era de declínio da confiança nos governos, possivelmente levando a transições políticas turbulentas com resultados perigosamente incertos.

    Todos os países que estão integrados na economia global, sejam eles desenvolvidos ou em desenvolvimento, em algum momento precisam de crescimento para manter a legitimidade política e a estabilidade social. Há o perigo de que um aumento na insegurança possa resultar em novas ideologias fundamentalistas, alimentando uma busca populista de bodes expiatórios. O ponto de ruptura em países desenvolvidos pode vir não com as classes pobres, sejam elas empregadas ou desempregadas, mas com uma classe média pressionada pela competição global crescente e enfrentando o declínio dos seus padrões de vida. Foi a quebra da classe média na Alemanha de pós-1918 que criou o ambiente fértil para o extremismo político. As demandas crescentes da nova classe média em países emergentes, tais como a China, a Índia e o Brasil, representam uma pressão diferente, mas talvez igualmente explosiva, para seus respectivos governos.

    Independentemente do que aconteça no debate sobre modelos rivais de governança – o Consenso de Pequim versus o Consenso de Washington – o progresso político pode eventualmente ser caraterizado como um movimento em direção a estruturas políticas que permitam uma maior negociação entre interesses conflitantes, ao invés da imposição de um interesse sobre os outros.

    “ GRANDE PARTE DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE É COMPOSTA DE CONFLITOS DESIGUAIS ENTRE OS QUE TÊM E OS QUE NÃO TÊM.” JARED DIAMOND Armas, Germes e Aço: os destinos das sociedades humanas

  • TRAJETÓRIAS HISTÓRICAS DE ECONOMIAS EMERGENTES EM COMPARAÇÃO A PAÍSES DESENVOLVIDOS

    China

    India

    SouthKorea

    Ano

    1985

    2008

    1985

    2008

    1985

    2008

    EUA

    1840

    1940

    1820

    1880

    1925

    1986

    1,519

    6,725

    1,079

    2,975

    5,670

    19,614

    1856

    1958

    1820

    1900

    1955

    2006

    Alemanha

    1916

    1967

    1894

    1957

    1965

    1994

    Japão

    1820

    1940

    1820

    1865

    1935

    2000

    Reino UnidoAnos em que níveis comparáveis foram alcançados

    * Dólares internacionais Geary-Khamis -1990 Dados adaptados de Angus Maddison, Universidade de Groningen

    PIB per capita*

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    Tradicionalmente, a legitimidade dos regimes elitistas decorre da provisão de estabilidade e justiça para a maior parte da população. No último século, essa negociação ficou mais complicada, pois a busca do crescimento econômico agora é vista como um atributo fundamental de um Estado moderno.

    A evolução política das democracias liberais da OCDE no último século pode ser vista como uma jornada instável, mas bem-sucedida, para lidar com as tensões entre crescimento econômico, distribuição e ordem social no nível nacional. Essas democracias desenrolaram o legado do colonialismo e da guerra total, que desfigurou as relações entre nações de 1850 a 1950. No nível nacional, essa jornada incluiu um aumento radical da participação política para incluir mulheres e grupos minoritários.

    No mundo Anglo-Saxão, essa jornada tendeu a ser evolucionária ao invés de revolucionária, com notáveis exceções, entre elas a guerra civil nos EUA. Em momentos cruciais, reformas foram lideradas por patrícios para evitar desafios existenciais.

    Theodore Roosevelt respondeu aos excessos da Era Dourada e Franklin D. Roosevelt aos escândalos de corrupção da Era Harding/Coolidge e à ineficiência de Herbert Hoover para lidar com a Grande Depressão. O caso da Europa Ocidental é mais complicado por causa da relativamente recente integração nacional da Itália, Alemanha e Espanha e do impacto territorial de duas grandes guerras, bem como episódios de fascismo.

    Essas economias mais ricas evoluíram em um período onde os níveis de renda per capita eram bastante parecidos com dos níveis de renda per capita dos mercados emergentes mais ricos da atualidade. No entanto, paralelos com mercados emergentes e países em desenvolvimento atuais são difíceis de ver porque são distorcidos pelo impacto da história colonial. Em alguns casos, aquilo que costumava levar cerca de um século agora parece levar apenas uma geração (ver tabela abaixo).

    A ESTRuTuRA DA ECONOMIA GLOBAL

  • DISTRIBUIÇÃO GLOBAL DE RENDA

    Em comparação ao passado recente, como se desenvolverá o poder econômico dos mais privilegiados e das camadas mais abrangentes da população?

    Percentil da distribuição global de renda

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    Há também protestos de descontentamento em relação à globalização, que alguns indivíduos começaram a considerar como um jogo de soma zero, apesar das tendências a longo prazo de desenvolvimento global e difusão tecnológica. A geopolítica também passa a ser vista em termos de soma zero, com as potências em ascensão ganhando às custas das potências estabelecidas. Essa mentalidade é parcialmente responsável pela falta de ações internacionais efetivas para lidar com a mudança climática, além de determinar a competição por recursos, que é impulsionada por preocupações referentes à insegurança dos recursos.

    Conforme muitos defendem, a globalização sobreviverá, embora possa desacelerar. Entretanto, não possui uma tendência inerente de promover o mercado livre ou a democracia liberal. De fato, a globalização é comumente vista como prejudicial aos trabalhadores e como algo que priva as classes médias do mundo desenvolvido, já que a mão de obra do mundo em desenvolvimento aumenta seu nível de capacitação e avança na “escada da tecnologia”.

    O capitalismo e as consequências da economia de mercado global estão começando a colidir com nacionalismos, aumentando as tensões à medida que

    enfrentamos limitações de recursos e ambientais. A próxima fase de globalização promete ser tão turbulenta quanto o que vimos no século passado.

    Os futuros quadros geopolíticos inevitavelmente terão um entendimento mais crítico dos mercados na geração de riqueza e de desigualdades e instabilidade. A natureza do próximo consenso em relação a Estados e mercados será um argumento-chave na definição da política internacional do século XXI e estabelecerá os termos nos quais a globalização será materializada. Ainda não há alternativas para a globalização, mas esta é uma força cada vez mais complexa e diversa, com impactos positivos e negativos, e cuja direção futura é incerta.

    Mudança percentual em renda real, 1988-2008, em vários percentis de distribuição de renda global (em dólares PPC em 2005)

    Branko Milanovic, “Global income inequality by the numbers: in history and now” (Desigualdade da renda global em números: na história e agora), novembro de 2012

    A NATUREZA DO PRÓXIMO CONSENSO EM RELAÇÃO A ESTADOS E MERCADOS SERÁ UM ARGUMENTO-CHAVE NA DEFINIÇÃO DA POLÍTICA INTERNACIONAL DO SÉCULO XXI E ESTABELECERÁ OS TERMOS NOS QUAIS A GLOBALIZAÇÃO SERÁ MATERIALIZADA.

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    MONTANHAS E OCEANOSEsses dados revelam padrões recorrentes, referentes à distribuição de poder e disponibilidade de recursos naturais, e a influência que exercem nas políticas, pessoas, mercados e crescimento.

    O mundo no futuro será definido pela forma como as pessoas e os governos enfrentam os desafios impostos por instituições, desigualdades e inseguranças em relação aos paradoxos de prosperidade, liderança e conectividade.

    n Quais paradoxos se tornarão mais agudos? n Quais serão resolvidos? n Quais indústrias, negócios, nações e grupos de

    pessoas terão espaço para manobra?n Quais ficarão encurralados? n Como se desenvolverão as capacidades do capital,

    da colaboração e da criatividade? n Como o poder e a influência serão distribuídos?

    Esses cenários são concebidos para oferecer novas lentes pelas quais podemos explorar essas questões – ou, conforme exploramos esses mundos contrastantes, dois panoramas: Montanhas altas onde os benefícios de uma posição elevada são levados a cabo e protegidos e aqueles que são atualmente influentes mantêm o poder; e Oceanos vastos com marés altas, correntes fortes e uma mistura volátil de atores e eventos com compromissos irregulares entre interesses rivais.

    Esses panoramas têm características sociais, econômicas e políticas distintas que poderão ser identificadas nos próximos 20 anos, com consequências para os desenvolvimentos de energia por meio século. Juntos, determinam previsões ecológicas para além de 2100. Eles formam os Cenários sob novas lentes para o século XXI. n

  • O cenário de Montanhas é um mundo no qual aqueles que ocupam posições dominantes de vantagem (no topo) geralmente trabalham para criar estabilidade de forma a promover a persistência do status quo. Há uma contenção regular e autossustentada do poder e instituições titulares. Essa contenção limita o potencial econômico de certos setores da sociedade, mas permite que os setores estabelecidos alinhados com as forças de mercado disponibilizem os recursos que precisam de um volume considerável de capital e novas tecnologias. Para aqueles em uma situação menos favorável, a fragilidade das redes de segurança social não é completamente compensada pelo crescimento em filantropia, caracterizado pela erupção de fundações mantidas pelo crescente número de bilionários.

    A oposição latente ao poder das elites políticas, comerciais e sociais é minimizada por uma combinação de incentivos e sanções, e a mobilidade social continua a cair. Porém, investimentos no lado da oferta são estimulados. Mesmo com novos investimentos, contudo, a ausência de importantes reformas estruturais e financeiras em países em desenvolvimento começa a desacelerar o PIB e a desestimular o comércio. Algumas economias em rápido desenvolvimento caem na “armadilha da renda média”, onde o crescimento atinge um platô e se mantém estagnado após uma proporção significativa da população alcançar níveis de renda média, principalmente porque as instituições não conseguem se adaptar a uma economia mais complexa.

    Contudo, essa moderação de crescimento econômico alivia parte da pressão da demanda por energia. O crescimento da demanda é desacelerado ainda mais à medida que progressos são feitos com políticas de energia do lado da oferta, tais como o incentivo do desenvolvimento urbano compacto.

    O gás não convencional e de xisto e o metano das jazidas de carvão (CBM) são muito bem-sucedidos e crescem para formar uma nova “espinha dorsal de gás” para o sistema energético global. Com um menor crescimento da demanda por combustíveis líquidos, o preço do petróleo permanece moderado e, em geral, o crescimento da produção é limitado.

    Um crescimento econômico lento no período inicial, a substituição relativa de carvão por gás a longo prazo e os incentivos do lado da oferta para o emprego da tecnologia de captura e armazenamento de carvão (CAC) e energias renováveis são aspectos que contribuem para a moderação das emissões de gases do efeito estufa. Mesmo assim, o aumento da temperatura média global ultrapassa a meta atual de 2°C n

    MONTANHAS UMA VISTA DE CIMA

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    MONTANHAS: uMA VISãO GERALn Vantagens criam vantagens. A influência continua concentrada

    nas mãos dos atuais poderosos.

    n Estruturas de poder e instituições rígidas limitam o desenvolvimento econômico.

    n Com menos agentes de poder, avanços positivos nas áreas de políticas secundárias são viáveis, tais como desenvolvimento urbano compacto, energia e impactos ambientais.

    n Expectativas de recursos positivas são materializadas, com o apoio de estruturas políticas postas em prática; o gás natural torna-se a espinha dorsal do sistema energético global.

    n Maiores tensões ambientais e de CO2 são moderadas devido ao crescimento geral mais lento; substituição de carvão por gás natural e o sucesso das tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CAC).

  • PROSPERIDADE

    O prolongamento de acordos institucionais mantendo o status quo que favorecem os já privilegiados prejudicam o dinamismo econômico a longo prazo. Conforme os ricos ficam mais ricos e os pobres permanecem relativamente pobres, os ricos em termos de educação e os seus filhos monopolizam as melhores escolas e universidades, desenvolvendo e perpetuando o sistema de classe, mesmo em países onde isso não é uma herança anterior. Os índices de desigualdade continuam a subir, alcançando níveis altos em muitas sociedades.

    A América do Norte é afetada pela contínua polarização política em torno de acordos fiscais e o papel do governo, mas pontos fortes subjacentes continuam a brilhar apesar do impasse governamental e dos protestos sociais ocasionais. Devido aos contínuos argumentos de soberania, a crise da Zona do Euro não é resolvida de forma eficaz resultando em um período prolongado de estagnação.

    No entanto, há algumas histórias de sucesso muito visíveis nos níveis de empreendimento, negócios e mesmo nacionais, onde altos níveis de investimento e criatividade podem ser combinados com custos de mão de obra relativamente baixos sem criar descontentamentos excessivos. Esses sucessos são particularmente visíveis em várias economias emergentes pobres da África, que são finalmente capazes de se livrar dos piores excessos de nepotismo e corrupção.

    CONECTIVIDADE

    A conectividade digital e financeira continua a aumentar no mundo das Montanhas, mas os firewalls e as áreas comerciais privadas também são cada vez mais comuns. Usando argumentos de segurança e econômicos, os governos têm mais controle na web, levando à sua “Balcanização” nos níveis regional e nacional. À medida que novas webs se desenvolvem, as perspectivas nacionais e privilegiadas começam a ser fixadas. De tempos em tempos, os jovens fazem tentativas de rebelião, levando a um mundo no qual os

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    Os últimos 25 anos do século XIX nos Estados Unidos foram caracterizados por um toque de brilho encobrindo as crescentes desigualdades sociais e econômicas, pelo estabelecimento de riquezas imensas por meio de práticas imorais e muitas vezes ilegais e a corrupção do processo político segundo interesses restritos. Um período que Mark Twain chamou de a “Era Dourada”.

    A crescente desigualdade da Nova Era Dourada tem dois aspectos principais: uma lacuna em termos de competências entre aqueles com um diploma universitário e aqueles que não o possuem e um crescimento enorme na parcela de renda dos 1% mais ricos da população, ou 0,1% de fato. Essa nova elite, muito parecida com suas contrapartes do século XIX, fez fortunas quando as restrições impostas pelo governo começaram a retroceder. A Nova Era Dourada manifesta-se na continuação dos altos níveis de desigualdade de renda e riqueza, mesmo com o colapso do mercado financeiro em 2008, e uma estagnação econômica permanente. A questão é se isso vai gerar impulsos reformistas no governo, como o que ocorreu na primeira Era Dourada.

    Embora a política governamental seja importante, pode ser que a globalização e o avanço tecnológico limitem o espaço para manobra das políticas governamentais. São cruciais as diferenças entre as economias globalizadas de hoje e as circunstância que levaram ao fim da primeira Era Dourada. Isso sugere que embora as políticas venham a ser críticas, não serão suficientes. As soluções para resolver os problemas da Nova Era Dourada terão que ser radicalmente diferentes das soluções antigas.              

    A NOVA ERA DOuRADA

    protestos são pela liberdade de informação, bem como pela justiça social. A globalização perde o vigor, com exceção dos casos nos quais novos interesses comuns emergentes se encaixam nas formas existentes, por exemplo, a terceirização de mão de obra e serviços em economias mais baratas.

    LIDERANçA

    Os líderes no cenário de Montanhas são provenientes de um setor previsível de riqueza, oportunidade, expectativa, conexão, ideologia, incumbência e enculturação. Há poucos caminhos para aqueles que vêm de baixo se elevarem para posições de vantagem, pois esses caminhos envolvem celebradas conquistas de negócios, educação, artes ou cultura popular que geralmente reforçam a ideologia popular prevalente.

    A ascensão de indivíduos excepcionais serve para reforçar a ideia de que as pessoas são predominantemente donas do seu próprio destino. Uma mistura vigorosa de “ser agradecido” e filantropia lida com as tensões que surgem do prolongamento do status quo para que as manifestações de descontentamento continuem enterradas nas sociedades. Como os líderes lidam com grupos de interesse e ambições relativamente limitados, mudanças ocasionais nas políticas podem ser rápidas, mas tendem a não ser muito abrangentes.

    A concentração do poder no topo significa que as respostas aos desafios a curto prazo são rápidas e decisivas. Contudo, às vezes são feitas às custas de investimentos a longo prazo na prosperidade pública. O foco da liderança permanece na sustentação da estabilidade, propagando e defendendo o status quo e respondendo às inquietações da população em geral, promovendo a sabedoria dessas ações. O bem público é atendido quando os interesses são alinhados, por exemplo, na política de energia, onde a segurança de oferta e as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CAC) são consideradas essenciais para que nosso “estilo de vida” seja mantido. n

  • COERçãO E RESPONSABILIDADEA globalização no mundo das Montanhas concentra poder não apenas nas economias globais, mas também nos mais privilegiados de cada país. Juntos, eles formam uma elite cosmopolita transacional irregular, mas reconhecível. As empresas multinacionais e seus líderes também são vistos como parte desse grupo global. Embora tenham muitos interesses semelhantes, bem como problemas em comum, também têm fontes diferentes de poder, riqueza e legitimidade, e essas diferenças muitas vezes levam a conflitos relativos à lei internacional e a interesses nacionais concorrentes.

    Como seus predecessores ao longo da história, as elites do mundo das Montanhas usam uma combinação de coerção e cooptação para manter seu poder. Os mais duradouros e bem-sucedidos encontram mecanismos para inserir novos talentos nas suas hierarquias para se protegerem contra a estagnação e, ao mesmo tempo, garantindo seus próprios interesses.

    Enquanto isso, fronteiras nacionais desgastadas começam a influenciar as políticas nacionais. A resistência à globalização resulta de movimentos sociais populares, que se juntam em redes para mobilizar e coordenar ações diretas. A democracia e o poder populista muitas vezes trabalham contra os mercados globais, porém a mídia social serve para apoiar as preocupações locais.

    Nos próximos anos, o sistema geopolítico sofrerá pressões de uma combinação de duas transformações. Ao mesmo tempo em que os países desenvolvidos do sistema internacional passam por uma crise econômica transformadora, o poder geopolítico e econômico continua a se mover de Leste para Oeste, trazendo consequências profundas. As potências em ascensão impõem seus interesses sobre as potências estabelecidas, em parte porque a autoridade destas foi prejudicada pela crise que as assomou. Mas mesmo com essas mudanças, a Ásia é a região mais volátil e sujeita a conflitos na ordem global do cenário de Montanhas.

    TRANSIçãO GEOPOLÍTICA DO OCIDENTE PARA O ORIENTE

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    NOVAS “REGRAS ANTIGAS” PARA O JOGO GLOBALNo cenários de Montanhas, primeiramente, os EUA tentam usar seu poder para estabelecer as regras do jogo para o sistema internacional, de acordo com seus próprios valores e a promoção dos seus interesses comerciais. Mas embora os EUA sejam incontestados militarmente, não têm mais o domínio dos mercados globais que possuíam antigamente. O poder é mais disperso na economia global, portanto, as demandas referentes ao comércio ou regulamentações financeiras são cada vez mais desafiadas e, muitas vezes, de forma bem-sucedida.

    À medida que muda o equilíbrio do poder global, os EUA não desistem do seu papel de liderança, levando a um clima de incessante medo de conflito. A luta pelo poder continua com diplomacia coerciva, bloqueios e o potencial de conflitos violentos em águas territoriais, situação similar às guerras por procuração da era da Guerra Fria.

    A China, motivada por um sentimento nacionalista crescente, busca uma participação exclusiva na Ásia Oriental, resultando em um tenso impasse, com os EUA agindo como fiador do status quo regional.

    Tanto os EUA quanto a China buscam vantagens um sobre o outro, mesmo que seja para defender seus respectivos interesses. Mas essa defesa normalmente exige a ameaça de ofensiva. A presença de armas nucleares mantém guerras mais gerais à distância, mas este é um período tenso, difícil e perigoso do sistema global.

    O sistema internacional das Montanhas é caracterizado por coalizões pontuais contra uma ou outra potência dominante, criando disputas ferrenhas. As antigas relações estão desgastadas. Os EUA e a Europa começam a se separar no que diz respeito a questões de segurança em um clima de falta de compreensão mútua. As instituições multilaterais e os acordos globais estabelecidos no passado também são muito mais fracos. À medida que essas instituições passam a se posicionar e se engajar com gestos simbólicos, aos invés de lideranças claras, conseguem apenas demonstrar como são irrelevantes no jogo de poder “realpolitik” que impulsiona o sistema internacional.

    Perante esses dilemas, os atuais privilegiados buscam fortalecer seu poder contra a ameaça política da globalização corrosiva impondo interesses nacionais ou regionais contra mercados globais. Portanto, a movimentação em direção a mercados globais, que de fato beneficiou a maioria dos privilegiados, começa a ser moderada por um grau de controle estatal dos mercados e pelo menos por um protecionismo simbólico. Dessa forma, os Estados agem como um baluarte contra a insegurança típica do mercado global tanto para os mais privilegiados quanto para seus compatriotas menos privilegiados. Não importa que lado puxa com mais força no contínuo cabo de guerra entre mercados e Estados, pois as classes privilegiadas conseguem proteger seus interesses.

    Há um tom coercivo no cenário de Montanhas, mas é uma coerção sancionada por lei e justificada pela necessidade de defender a estabilidade. Em diversos países do mundo, à medida que as sociedades se tornam mais ricas, diminui sua tolerância por injustiça e ações arbitrárias, e aumenta a determinação por conformidade, efeito que fica magnificado com a ascensão da mídia social. Estados fortes e poderosos exercem seu poder na esfera política doméstica com uma proliferação de agências reguladoras, mudando o equilíbrio entre os setores público e privado.

    Estados revitalizados são a pedra angular do sistema internacional em Montanhas. Embora a governança do sistema internacional seja guiada pelos membros mais poderosos, o problema é chegar a um acordo entre eles, particularmente, assegurar a cooperação entre os Estados Unidos e a China. Como foi visto na época que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, a questão que vai pairar no ar nas décadas de 2020 e 2030 será se as grandes potências optarão por exercer seu poder de forma responsável ou arriscar destruir a ordem global devido à sua incapacidade de prever as consequências das suas ações.

  • VOLTA A uM MuNDO PRAGMÁTICO DE INTERESSES MÚTuOSNa década de 2020, há um crescente reconhecimento dos interesses mútuos entre os EUA e a China, levando a um Grupo de 2 ou G2 liderando de fato o sistema global. Essa não é uma relação entre dois aliados, mas um casamento de conveniência forjado por cálculos de “realpolitik”. Cada um lida com questões econômicas domésticas e, portanto, questões políticas, que são influenciadas pelo outro. O mundo confrontante do período anterior abre caminho para um mundo adaptativo (mas não amigável), onde ao lidarem uns com os outros os Estados mantém seus “punhos preparados”. Os EUA e a China compartilham interesses, mas não compartilham valores, e portanto permanecem rivais. A luta pelo poder continua. As instituições multilaterais do passado não voltam mais. O modelo de liderança do G2, com seu forte enfoque interno no vai e vem das tensões entre EUA e China tende a deixar outras potências, principalmente as europeias, em uma posição secundária.

    Até a década de 2030, à medida que outros Estados de desenvolvem, a ordem internacional torna-se mais variegada. As hegemonias regionais emergentes, incluindo Índia, Turquia, África do Sul e Brasil, usam sua crescente influência para estabelecer suas respectivas agendas regionais. Como na China antes deles, as políticas internacionais desse países amadurecem, criando mais grupos de interesse para a nova ordem mundial, especialmente para lidar com as crescentes preocupações referentes à mudança do clima, escassez de recursos e envelhecimento das populações. Alguns temem a possibilidade de vários países importantes tornarem-se países falidos, caso seus governos não consigam lidar com o desafio de manter a ordem dentro das suas fronteiras nacionais, à medida que comecem a crescer os desafios à sua autoridade.

    Enquanto isso, as elites dominantes começam a reconhecer que novas formas de cooperação internacional são necessárias para lidar com esses desafios. Os países simplesmente terão que aprender a viver uns com os outros se quiserem evitar o tipo de batalha competitiva que leva a danos mútuos. Com o tempo, o “Concerto dos Grandes” global do século XXI se desenvolve, nutrido por um autointeresse pragmático compartilhado.

    Como no Concerto da Europa (1815-1914), as relações são guiadas por coalizões governantes de elites dentro de um grupo central de grandes poderes que incluem não apenas os EUA e a China, mas também a Índia, a UE e alguns outros poucos selecionados. Diferentemente do seu predecessor, o Concerto dos Grandes do século XXI tem que lidar com uma variedade de desafios à segurança global, resultantes não apenas da rivalidade de poder entre seus membros, mas também de tensões financeiras, ambientais, alimentares, de água e outros recursos.

    O mundo das Montanhas continua sendo um mundo de preocupações de segurança compartilhadas e acordos para lidar com elas, mas não de valores universalmente compartilhados. O desafio para o Concerto dos Grandes do século XXI é permanecer flexível conforme mudam rapidamente as condições e cálculos nacionais. Mais do que no passado, não há permanência no ambiente que os Estados enfrentam ou nas estruturas necessárias para lidar com esse ambiente. Com o tempo, as coalizões, acordos e medidas que sustentam o Concerto dos Grandes do século XXI gradualmente se solidificam conforme se institucionalizam e ganham tanto profundidade quanto abrangência. As pessoas no mundo todo começam a tomar o Concerto como garantido, da mesma forma como fizeram com seu predecessor do século XXI no anos anteriores a 1914. n

    “ A GLOBALIZAÇÃO TORNA O MUNDO MENOR. TAMBÉM O TORNA – OU PARTES DELE – MAIS RICO. NÃO O TORNA MAIS PACÍFICO OU LIBERAL, E MUITO MENOS O TORNA PLANO.

    JOHN GRAyThe World is Round (O mundo é redondo)

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  • Apesar das tensões entre Estados-nações, as elites transacionais cosmopolitas e flexíveis criadas pela globalização aumentam em proeminência, à medida que sobem seus níveis de riqueza e influência. Cada vez mais essas elites determinam as condições expressas e definem valores e normas, para melhor ou pior. No nível nacional, são cada vez mais influentes na determinação de políticas, mas menos preocupadas com seus compatriotas antepassados em relação à manutenção da coesão social, apesar da retórica ao contrário.

    Nos EUA, por exemplo, a desigualdade de renda e riqueza continua a aumentar, com os ganhos da classe média estagnados, uma mobilidade social reduzida e um sistema educacional superior supostamente baseado em mérito, generosamente apoiado por isenções fiscais, cujos principais beneficiários são os filhos dos bem-sucedidos. Sobreposta a essa divisão de classe temos uma divisão cada vez mais séria entre gerações, enquanto os compromissos com os idosos por meio de programas de direitos desestimulam gastos discricionários que poderiam reconstruir infraestruturas econômicas e sociais. Da mesma forma, na Europa, o envelhecimento rápido da população e os compromissos com níveis mais elevados de direitos, que são frequentemente carentes de recursos, criam uma mescla de obstáculos sociais e políticos que desviam a atenção das principais questões econômicas estruturais enfrentadas pela região.

    As economias altamente orientadas também encontram dificuldades em evoluir de uma forma maleável e orgânica por causa de poderosas alianças, empreendimentos e grupos de interesse criados nos estágios anteriores do desenvolvimento. Até 2030, tanto para as economias avançadas quanto para os mercados emergentes, o controle oligárquico desestimula o crescimento que de outra forma teria sido possível.

    No mundo industrializado, o vínculo tradicional entre crescimento econômico e aumento do emprego em tempo integral e bem pago é gradualmente quebrado. Isso leva a uma maior insegurança e a uma crescente “informalização” do trabalho. Com o uso de impressão 3D, juntamente com o aumento crescente dos níveis de uso da Internet e das tecnologias de comunicação, a mão de obra torna-se relativamente menos essencial à produção. Os retornos do capital continuam favoráveis, enquanto os governos aumentam as barreiras para proteger os empregos nas suas próprias economias. Esse protecionismo leva a uma maior fricção entre os países.

    As pressões protecionistas aumentam, impulsionadas não somente pela necessidade de proteger o mercado interno de trabalho, mas também pelo desejo de proteger direitos adquiridos. Os Estados buscam o envolvimento de forma oportunista com os mercados globais, ao invés de se abrirem por completo à globalização.

    Apesar da força considerável da retórica ao contrário, as economias avançadas não conseguem obter sucesso na restruturação fundamental dos seus sistemas financeiros de forma a apoiar inovações de base ou empreendimentos de pequeno e médio porte. No entanto, há pouco apetite para expor o sistema político à ameaça quase existencial imposta por outra Grande Recessão. As regulamentações financeiras mais onerosas tencionam a intermediação financeira, além de serem uma barreira eficaz à entrada. Os reguladores nacionais adotam uma visão cada vez mais cética das atividades entre fronteiras das instituições financeiras estrangeiras, insistindo que o capital deve ser mantido localmente, ao invés de nos escritórios centrais.

    CAMINHOS ECONôMICOS PARA CIMA E PARA BAIXO

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    A ARMADILHA DA RENDA MÉDIAOs países pobres tendem a crescer mais rápido do que os países ricos a partir de uma base relativamente baixa, devido ao potencial inexplorado e devido ao fato de a imitação ser mais fácil do que a invenção. Mas isso não significa que todos os países pobres alcançam desenvolvimento. A maioria dos países que tinham renda média em 1960, em termos da renda por pessoa, continua nessa posição 50 anos mais tarde. Apenas 13 países escaparam dessa armadilha e fizeram a transição para economias de alta renda nesse período, incluindo a Coreia do Sul e Singapura, como exemplos mais notáveis.

    À medida que as economias se tornam mais complexas, o controle centralizado é menos capaz de exercer a função de coordenação. Acima de um nível de atividade modesto, são necessárias ondas de reformas estruturais econômicas e financeiras para manter o vigor do crescimento econômico.

    No nível global, há relativamente poucas mudanças nos aspectos essenciais da ordem monetária global: o dólar continua a ser a principal moeda de reserva e os EUA detêm seu domínio do FMI e do Banco Mundial, em parte porque seu principal rival, a China, está ocupada demais lidando com tensões internas para arriscar uma mudança significativa no seu próprio sistema financeiro que possa resultar de um papel regional mais proeminente.

    De maneira geral, nas décadas de 2020 e 2030, várias formas de obstáculos atrapalham as atividades do sistema econômico global. O desenvolvimento econômico global decepciona, enquanto as economias avançadas permanecem rígidas ou tornam-se rígidas, e várias economias anteriormente emergentes caem em várias formas de armadilhas de renda média. O crescimento anual do PIB global nesse período fica em uma média inferior a 2%. n

    LIçÕES DE OTTO VON BISMARCK E SIMON COWELL

    ESPAçO PARA MANOBRA

    As elites governantes podem criar espaço para manobra com a adoção de programas que distraem a oposição apoiando a estrutura adjacente do seu regime.

    A Alemanha foi a primeira nação do mundo a adotar um programa de seguro social em 1889, concebido pelo Chanceler Otto von Bismarck. Sua motivação para introduzir o seguro social era promover o bem-estar dos trabalhadores, manter a economia alemã trabalhando no seu máximo de eficiência e evitar alternativas socialistas mais radicais.

    Mais recentemente, as loterias nacionais e a proliferação de “reality shows” na TV oferecem caminhos bastante divulgados para uma pequena minoria de indivíduos que tornam-se privilegiados financeira ou socialmente, criando uma impressão exagerada de mobilidade social.

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    PROSPERIDADE

    Alguns economistas e responsáveis por políticas defendem que uma carga fiscal baixa estimula o esforço pessoal e o investimento corporativo, enquanto uma crescente desigualdade de renda e uma proporção mais alta de lucros somam-se às economias domésticas. Experiências mais recentes, no entanto, sugerem que essas vantagens são substancialmente neutralizadas por uma demanda de consumo fraca, resultante de rendimentos estagnados e tensões fiscais.

    No passado, os economistas geralmente viam a desigualdade como uma condição necessária para o dinamismo econômico. Mas esse pensamento está atualmente sendo questionado. Em um estudo recente sobre desigualdade, Jonathan D. Ostry e Andrew G. Berg, do Fundo Monetário Internacional concluíram que a concentração de renda nas mãos dos mais ricos resulta não só em uma sociedade desigual, mas também em uma expansão econômica menos estável e um crescimento lento.

    A desigualdade parece ter um efeito mais forte no crescimento do que outros fatores, incluindo investimentos estrangeiros, abertura ao comércio, competitividade da taxa de câmbio e a força das instituições políticas. Um número cada vez maior de economistas começou a se unir em torno dessa ideia, chamando atenção também para os perigos da desregulamentação.

    Em relação aos grandes mercados emergentes, alguns sugerem que o desenvolvimento guiado centralmente, orquestrado por uma elite política e burocrática, pode resolver mais facilmente os problemas de coordenação em uma economia limitada em termos

    de oferta. É certamente verdadeiro que economias tão diversas quanto a União Soviética, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Taiwan e China obtiveram sucesso considerável em alcançar um desenvolvimento industrial extraordinário sob uma direção central por um período considerável de tempo. Em contraste, a Índia é muita vezes mencionada como uma sociedade que permitiu que uma democratização prematura interferisse no seu crescimento.

    No entanto, os argumentos são mais sutis do que esta formulação sugere. Para a maioria dos países, o crescimento rápido foi um importante fator para a legitimidade política nos estágios iniciais do desenvolvimento. Talvez também seja verdade que essa fase inicial de desenvolvimento sob autocracias causou mais desperdícios de recursos humanos e naturais do que teria acontecido em democracias, o que não é uma questão insignificante para um país pobre.

    DESIGuALDADE, ECONOMISTAS E CRESCIMENTO

    “ uMA MAIOR DESIGuALDADE SIGNIFICA uMA ECONOMIA MAIS FRACA, QuE SIGNIFICA uMA MAIOR DESIGuALDADE, QuE SIGNIFICA uMA ECONOMIA MAIS FRACA. COMO A DESIGuALDADE ECONôMICA ALIMENTA A ECONOMIA POLÍTICA, SuA HABILIDADE DE ESTABILIZAR A ECONOMIA FICA MAIS FRACA.”

    JOSEPH E STIGLITZ Economista vencedor do prêmio Nobel

  • ENERGIA PRIMÁRIA TOTAL POR FONTE

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    � Petróleo� Biocombustíveis� Gás natural� Biomassa gaseificada� Carvão

    � Biomassa/resíduos� Biomassa tradicional� Nuclear� Hidroeletricidade� Geotérmica

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    Hydro-electricity

    Nuclear

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    Biomass Gasified

    Natural Gas

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    A velocidade lenta do crescimento global tira um pouco da pressão da demanda energética. Além disso, as políticas do lado da oferta ajudam a disponibilizar recursos, e projeções otimistas para recursos recuperáveis são confirmadas.

    O gás não convencional/de xisto e CBM são amplamente bem-sucedidos e evoluem para formar uma “espinha dorsal de gás” para o sistema energético global. Um planejamento urbano estratégico promove um desenvolvimento urbano mais compacto e a eletrificação do transporte. Uma infraestrutura de hidrogênio é desenvolvida para o armazenamento de energia e o transporte movido a recursos renováveis intermitentes ou remotos a longo prazo.

    A demanda por combustíveis líquidos é comedida e o preço do petróleo permanece em média moderado. Os preços do gás natural convergem globalmente em níveis mais baixos como resultado das reservas de recursos potenciais de baixo custo, tais como o gás de xisto, que estão emergindo globalmente. Os preços moderados da energia fazem com que os recursos de alto custo não sejam explorados, o que coloca pressão em alguns detentores de recursos que são altamente dependentes de rendimentos energéticos.

    A substituição parcial do carvão pelo gás e o incentivo da tecnologia de CAC contribuem para a redução rápida das emissões dos gases do efeito estufa após 2030. Entretanto, essas emissões excedem a trajetória necessária para um caminho de 2°C.

    O RITMO DERRAPANTE DA DEMANDACom uma contínua lentidão econômica em algumas regiões e com decepções cada vez mais amplas em termos de crescimento e comércio, a turbulência financeira global do começo do século XXI entra em um período prolongado no qual a velocidade do crescimento da demanda energética é moderada.

    Nas décadas de 2020 e 2030, algumas das economias antes mais emergentes têm dificuldade em ultrapassar as barreiras políticas e sociais da implementação de ondas de

    mudanças estruturais industriais e financeiras que possam sustentar um ritmo elevado de desenvolvimento econômico. Apesar do crescimento populacional global, isso diminui o ritmo da aceleração da demanda por recursos.

    No entanto, antes de meados do século, um número cada vez maior de economias emergem da estagnação da renda média e o crescimento econômico global começa a subir novamente. Contudo, por causa do impacto a longo prazo de medidas anteriores, tais como desenvolvimento urbano compacto e eletrificação, esse crescimento econômico não se traduz em aumento da demanda por energia, particularmente dada à proporção do desenvolvimento que ocorre também no setor de serviços com um uso menos intensivo de energia. Essa divergência marca uma quebra com a forte correlação até esse momento entre crescimento econômico e demanda energética.

    ENERGIA E ASCENSãO DO GÁS

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    ENERGIA E ASCENSãO DO GÁS

    Durante a década de 1990, o hidrogênio foi a grande sensação como o novo combustível do transporte. No entanto, já não se fala mais tanto nisso em meados de 2000. Enquanto isso, o hidrogênio continuou a exercer um papel pouco notado, mas considerável, como matéria-prima industrial, por exemplo, na produção de amônia e refinamento de petróleo. A produção mundial de hidrogênio hoje tem um conteúdo energético equivalente a 2% do total da demanda por energia, ou um pouco mais de 10% da produção mundial de eletricidade. Em Montanhas, o hidrogênio é finalmente trazido ao mix convencional de energia quando forças de diferentes setores se combinam em um círculo virtuoso.

    As empresas de eletricidade consideram cada vez mais difícil equilibrar carga de base e fontes de geração intermitentes, e diminuem-se as esperanças de que redes inteligentes serão capazes de satisfazer a imensidão do desafio de equilibrarem sozinhas o sistema. Começa a aumentar o medo de apagões parciais e dobra a atenção dada à energia baseada em hidrogênio, pois construir usinas de eletricidade que estão inativas na maior parte do tempo é algo caro e difícil de sustentar. Independentemente, cresce o interesse púbico por veículos de próxima geração movidos a células de combustível. A revista Top Gear™ decide comemorar seu 40º aniversário com uma edição em 2017 celebrando uma gama cada vez maior de veículos a célula de combustível de hidrogênio de alto desempenho que agora são “perfeitamente caros” para atrair consumidores mais ricos do Ocidente e também das economias em rápida ascensão da Ásia.

    Com base em programas anteriores participativos de pequeno porte, em 2020 é formada uma aliança de empresas automobilísticas, empresas energéticas e fornecedores da indústria de hidrogênio para assegurar apoio e incentivo em vários países para programas substanciais para a construção de infraestrutura de hidrogênio. Os responsáveis pelas políticas reconhecem a necessidade urgente de garantir uma oferta estável e financeiramente acessível e de reduzir as emissões do transporte urbano. A possibilidade de um sistema energético mais flexível, eficiente e limpo através da integração do uso do combustível fóssil com a captura de dióxido de carbono também é atrativa.

    Complementando a produção no local em áreas de indústria pesada, que incentiva economias de escala, são desenvolvidas redes locais e posteriormente regionais. A produção de hidrogênio, primariamente a partir do gás, é cada vez mais integrada ao sistema de eletricidade. Enquanto parte do uso de hidrogênio permanece escondido como armazenamento de energia em usinas para períodos de baixa demanda, seu uso final como vetor energético direto passa a ser mais óbvio na sociedade no transporte e geração de energia distribuída. Até 2060, os usos do hidrogênio no transporte ultrapassam a demanda industrial, sendo que os carros de passageiros são a principal força estimulando a produção, seguidos dos transportes de cargas rodoviárias.

    Até o final do século, é possível que o hidrogênio tenha se erguido da sua posição inicial como um fênix.

    O fÊNIX DO HIDROGÊNIO EM MONTANHAS

  • TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS POR TRANSPORTADORA

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    Ano� Combustíveis de hidrocarboneto líquidos

    � Combustíveis de hidrocarboneto gasosos

    � Eletricidade e hidrogênio

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    uMA INfRAESTRuTuRA DE TRANSPORTE EM TRANSfORMAçãOEm países importadores de energia com grandes populações urbanas, como a China e a Índia, as políticas governamentais oferecem incentivos para um desenvolvimento urbano compacto e os grandes negócios ajudam a planejar, financiar e executar projetos importantes. O desenvolvimento de cidades habitáveis eficientes é visto como uma forma de aliviar possíveis distúrbios sociais, que frequentemente se concentram nos centros urbanos. O desenvolvimento mais disseminado de cidades mais compactas oferece economias de uso de automóveis de em média 2.000 veículos/quilômetro por pessoa por ano, comparado a desenvolvimentos de baixa densidade comuns em várias partes do mundo atualmente. A redução é resultado de jornadas em média mais curtas, bem como de uma mudança para o transporte público e veículos de duas rodas. Além disso, as políticas de cidades compactas acompanham medidas para impor padrões de economia de combustível para veículos, uma imposição facilitada pelos habitantes dessas cidades que tendem a usar veículos menores ou híbridos e comprar veículos elétricos (movidos a bateria elétrica ou hidrogênio). As emissões por tubos de escape, as medidas antipoluição, os impostos sobre combustíveis e as taxas da pegada de CO2 integradas à importação exercem também um papel importante no alcance de eficiências.

    Em muitas economias emergentes, números cada vez maiores de veículos movidos a gás natural são acrescentados à frota de veículos. Os caminhões movidos a gás natural começam a entrar no mercado, seguidos pela eletrificação de algumas vans de entrega locais. Os designs urbanos compactos facilitam essa transição através de centros radiais de transporte.

    Remover o petróleo inteiramente do transporte rodoviário mundial é um compromisso verdadeiramente colossal. Com o crescimento reduzido da demanda por viagens, veículos mais eficientes e o uso cada vez maior de gás natural, eletricidade e hidrogênio, os combustíveis líquidos para o transporte rodoviário de passageiros declina após um pico global em 2035.

    Até 2070, o mercado rodoviário de passageiros pode chegar a ser quase livre de petróleo e até o final do século uma disseminação extensiva da infraestrutura de hidrogênio desloca a demanda de petróleo para viagens longas e pesadas. Até lá, a eletricidade e o hidrogênio podem ser dominantes e veículos híbridos de hidrogênio recarregáveis e acessíveis oferecem o melhor da flexibilidade e eficiência.

  • A ESPINHA DORSAL DE GÁSA história da energia no mundo de Montanhas é a história da ascensão do gás natural. Na primeira década do século XXI, sucessos na exploração e avanços tecnológicos mais do que dobram a base de recursos recuperáveis de gás. O gás não convencional/de xisto e CBM são fatores dominantes no crescimento dos recursos de gás, pois uma combinação de tecnologias de perfuração e fraturação desencadearam a produção.

    O desenvolvimento de novos recursos em todo o mundo é cada vez mais bem-sucedido, permitindo que tanto a demanda quanto a oferta cresçam extensivamente. Esse crescimento é apoiado por políticas de incentivo do lado da oferta, que são comuns no mundo de Montanhas