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MUDANÇA DE PERSPECTIVA PARA UM MUNDO EM TRANSIÇÃO CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES

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MUDANÇA DE PERSPECTIVA PARA UM MUNDO EM TRANSIÇÃO

CENÁRIOS SOB

NOVAS LENTES

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Os Cenários sob novas lentes fazem parte de um processo contínuo que é usado há quarenta anos pela Shell para questionar as perspectivas dos executivos sobre o ambiente de negócios do futuro.

Os cenários são baseados em suposições e quantificações plausíveis e foram concebidos para desafiar a gestão a considerar até mesmo eventos que sejam apenas remotamente possíveis.

Portanto, estes cenários não pretendem ser previsões de eventos ou resultados futuros prováveis e os investidores não devem se basear neles para tomar suas decisões de investimento referentes aos títulos da Royal Dutch Shell plc.

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Prefácio 05

Introdução 06

Novas lentes para uma nova era 09

Paradoxos 10

Caminhos 12

Panoramas: Cenários sob novas lentes 16

Montanhas 22

Montanhas: uma visão geral 23

Transição geopolítica do Ocidente para o Oriente 26

Caminhos econômicos para cima e para baixo 30

Energia e ascensão do gás 34

Oceanos 46

Oceanos: uma visão geral 47

Uma variedade de litorais 50

Transições e bolhas econômicas 56

As grandes ondas da demanda energética 59

Reflexões sobre desenvolvimento e sustentabilidade 70

Observações finais 78

Apêndices: comparações de cenários, tabelas resumidas de quantificação, glossário, fontes de dados 80

Linha do tempo 92

ÍNDICE

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Em uma era de transições voláteis, não é realista propor uma lente única para prever o mundo de amanhã. Nossa percepção é moldada pelas diferentes perspectivas quando consideramos fatores chave como redes de energia, a velocidade da mudanças políticas e a disponibilidade de recursos.

Nosso conjunto de novas lentes oferece essa perspectiva, permitindo que exploremos dois mundos futuros e entendamos melhor as possíveis consequências das nossas escolhas de hoje.

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MONTANHAS OCEANOS

Este é um mundo onde o poder do status quo é fixo e é mantido firmemente por aqueles que são atualmente influentes. A estabilidade é o maior prêmio: aqueles no topo alinham seus interesses para liberar recursos de forma estável e cautelosa, não apenas segundo as forças de mercado imediatas. A rigidez resultante no sistema reduz o dinamismo econômico e reprime a mobilidade social.

No mundo de Oceanos a influência é mais difusa. O poder é delegado, interesses divergentes são negociados e reina o compromisso. A produtividade econômica aumenta com uma grande onda de reformas, no entanto, às vezes há desgastes na coesão social e instabilidades na política. Isso faz com que grande parte do desenvolvimento político secundário fique estagnado, dando uma maior proeminência às forças de mercado imediatas.

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PREfÁCIO DEFININDO UMA VISÃO DE FUTURO HÁ 40 ANOS

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Recentemente, comemoramos o 40º ano da prática de planejamento de cenários da Shell. Ao refletirmos sobre essas décadas de trabalho e ao relembrarmos de todos os indivíduos talentosos que estiveram envolvidos nesses anos, nos admira a maneira como esses cenários influenciaram um conjunto tão notável de questões, debates e decisões de negócio.

Olhando para o passado, vemos várias semelhanças entre o ambiente de negócios do início da década de 1970 e o da atualidade. Podemos citar como exemplos a volatilidade da economia global e certos sistemas políticos. Outras características são novas na forma como destacam desafios complexos para o sistema de recursos como um todo, que pressionarão os esforços criativos de organizações como a nossa, conforme caminhamos para o futuro.

Por exemplo, em 2011, pedi à nossa equipe de estratégia que começasse a examinar o nexo da água, energia e alimentos, que chamamos Nexo de Interdependência. Acredito que o sucesso da Shell – e da sociedade de maneira geral – baseia-se em trabalhar melhor em conjunto. Como negócio, estamos acostumados a servir pessoas através de colaborações comerciais eficazes, que impulsionam inovação e eficiência comercial e que trazem impactos positivos à lucratividade. No entanto, algo que precisamos fazer melhor – e rapidamente – é melhorar nossa colaboração com outras empresas, com todos os setores da economia e com governos e sociedades civis em diferentes localidades do mundo. Só assim seremos capazes de tirar maior proveito das eficiências que podem ser alcançadas pela colaboração no nível de sistemas.

Conforme descrevem estes Cenários sob novas lentes, até 2030, prevê-se um crescimento de 40% a 50% da demanda por recursos essenciais, tais como água, energia e alimentos. Para satisfazer essas necessidades sem prejudicar significativamente o meio ambiente, permanecer no cenário de atividade atual (business as usual) não é uma opção. Precisamos de um cenário de negócios diferente da norma atual. Em breve, começaremos a compartilhar mais os nossos planos para fortalecer parcerias e dar continuidade ao nosso papel ativo na transformação do sistema energético.

Estes novos cenários exploram complexidades e fazem perguntas exploratórias sobre como podemos criar um negócio mais reflexivo, receptivo e resistente. Compartilhá-los e incentivar o debate em torno das questões que eles consideram são partes importantes desse processo. Acredito que os suplementos que serão publicados periodicamente nos próximos anos também levarão isso à frente.

Espero que você ache o texto instigante e aproveito esta oportunidade para incentivá-lo a fazer parte da discussão sobre estes cenários, como tantos outros nos últimos 40 anos. n

PETER VOSER CEO, Royal Dutch Shell plc, março de 2013

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INTRODuçãOO PODER DOS CENÁRIOS

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Todos nós enfrentamos escolhas que produzem consequências durante anos – ou até décadas – no futuro. Seja desenvolvendo novas oportunidades ou prevendo ameaças significativas, baseamos nossas decisões nas nossas perspectivas de futuro. Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento aprofundado dos possíveis determinantes, tendências, incertezas, escolhas e ciclos que moldarão esse futuro desconhecido, que pode parecer muito diferente aos olhos dos diferentes atores.

O futuro não é completamente previsível nem completamente aleatório. Um exame pertinente de possíveis panoramas futuros inevitavelmente deve destacar características ou padrões alternativos. Há mais de quatro décadas, a Shell desenvolve e aplica cenários contrastantes para nos ajudar a considerar mais amplamente o futuro e a aprofundar nosso pensamento estratégico. Também compartilhamos externamente resumos desse trabalho sempre que sentimos que isso contribuirá para um melhor diálogo público sobre as escolhas e desafios coletivos que enfrentamos.

Os cenários fornecem pontos de vista quantificados e uma linguagem a ser usada pelos executivos da Shell ao lidarem com condições cada vez menos familiares e mais desafiadoras. Espera-se que estes cenários sejam instigantes, mas plausíveis, destacando as questões já proeminentes e também, fundamentalmente, os desenvolvimentos de base que devem ser alcançados. Se usados eficientemente, esses pontos de vista alternativos podem ajudar as organizações a enfrentarem questões difíceis que devem ser exploradas

de forma colaborativa, mesmo que existam opiniões extremamente diferentes em relação a elas.

Essa abordagem também ajuda a proporcionar aos responsáveis pela tomada de decisões um conhecimento mais aprofundado sobre as opiniões muito diferentes que outros possam ter, bem como a necessidade de lidar com essas perspectivas eficientemente e o significado das escolhas feitas pelos outros em relação ao seu próprio futuro. Nesse sentido, os cenários são profundamente relacionais, pois concentram-se em pessoas e no seu comportamento, e não apenas em forças econômicas, políticas e sociais que são supostamente impessoais.

Portanto, aqui temos algo da alquimia dos cenários como a vivenciamos na Shell: uma mescla de processo de pensamento estratégico, modo de análise, processo social de envolvimento e influência e, na sua forma mais potente, um facilitador de exploração e descoberta individual e coletiva.

Nesse sentido, as palavras do ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, são relevantes no sentido de que pelo menos uma das funções do trabalho com cenários é unir as pessoas para que explorem áreas a fim de revelar “desconhecimentos desconhecidos”. Esse exame não é primariamente voltado a produzir folhetos ou relatórios atraentes, embora estes possam ser muito interessantes. O mais importante é ajudar as pessoas a fazerem uma jornada que possa guiá-las a melhores escolhas baseadas em considerações mais ricas sobre o mundo à sua volta.

Essa jornada pode ser difícil. Como disse o filósofo Schopenhauer, as novas verdades são primeiro ignoradas ou ridicularizadas, depois sofrem violenta oposição para serem finalmente aceitas como evidentes. Em momentos diferentes, cenários específicos podem ser considerados irrelevantes, insensatos, irritantes e até desnecessários. Contudo, a experiência na Shell comprovou o valor dessa jornada para nossa empresa. n

JEREMy BENTHAMVice-Presidente de Ambiente de Negócios Diretor dos Cenários da Shell

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NOVAS LENTES PARA uMA NOVA ERA

“ PRECISAMOS MUDAR PARA QUE AS COISAS PERMANEÇAM AS MESMAS.”

GIuSEPPE TOMASI DI LAMPEDuSA O leopardo

Os cenários publicados anteriormente pela Shell destacaram nossa entrada em uma era de volatilidade e de transações múltiplas em termos econômicos, políticos e sociais e dentro dos sistemas energético e ambiental:

n Ciclos econômicos intensificados, pois foram alteradas as condições que caracterizaram o período entre meados de 1980 e meados de 2000, chamado de a “grande moderação” nas economias industriais avançadas.

n Maior instabilidade política e social, estimulada em parte pela volatilidade econômica.

n Tensões na ordem internacional, com instituições multilaterais tendo dificuldades para se adaptaràs mudanças do poder econômico, e proliferação de outros acordos.

n Transições demográficas significativas, incluindo o envelhecimento das populações em alguns lugares, o aumento da população jovem em outros, e a urbanização incansável nas economias emergentes e menos desenvolvidas.

n Aumento da demanda energética devido aos aumentos populacionais e à maior prosperidade, com a emergência de novas ofertas de energia enquanto outras têm dificuldades em manter o ritmo, e o aumento das emissões de gás, particularmente devido ao aumento do consumo do carvão.

n Emprego de avanços tecnológicos permitindo o rápido crescimento de recursos, tais como gás de xisto e xistos betuminosos, por exemplo, na América do Norte, com impactos internacionais, mas com perspectivas incertas em outras partes do mundo.

A tecnologia para utilizar recursos renováveis, tais como energia solar fotovoltaica, também avança, com o crescimento rápido da oferta proveniente de uma base pequena, mas bem estabelecida.

n Limites ecológicos mais bem definidos e consideravelmente questionados, incluindo pressões provenientes do Nexo de Interdependência entre água-energia-alimentos, sendo que cada um dos componentes sofre pressões em termos de oferta/demanda. Por causa dos seus vínculos, esses componentes impactam uns aos outros e aceleram o crescimento combinado da tensão.

Inevitavelmente, dados esses desenvolvimentos, qualquer panorama plausível será confuso e irregular. Entretanto, observamos que uma série de novas lentes pode nos ajudar a olhar para cenários familiares a partir de ângulos novos para que possamos enfatizar e esclarecer possíveis futuros.

Lentes de Paradoxo e Caminho nos ajudam a observar de perto e detalhadamente tendências e determinantes, enquanto nossos cenários panorâmicos destacam padrões mais abrangentes em possíveis panoramas futuros.

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PARADOXOS

O PARADOXO DA PROSPERIDADE

O desenvolvimento econômico está aumentando o padrão de vida de centenas de milhares de pessoas. Entretanto, também impõe pressões ambientais, de recursos, financeiras, políticas e sociais que podem abalar alguns dos benefícios da prosperidade. Ganhos privados podem florescer ao mesmo tempo que sobem os gastos públicos, e um maior conforto hoje pode levar a maiores riscos amanhã. A tendência da globalização é de reduzir a desigualdade de renda entre as nações, embora tenha aumentado as desigualdades dentro delas. Uma maior eficiência pode estimular o crescimento do consumo. Passado um determinado ponto, o aumento da prosperidade não aumenta o bem-estar relativo, que pode até diminuir. Por exemplo, quanto mais as pessoas prosperarem ou virem outras pessoas prosperarem, maiores serão seus desejos e expectativas para si e seus filhos – e maior será o descontentamento potencial.

O PARADOXO DA LIDERANçA

Lidar com tensões globais exige coordenação entre um número cada vez maior de grupos de tomadores de decisão. No entanto, quanto mais diversificados forem os grupos envolvidos, mais seus interesses tenderão a bloquear o progresso. Um provérbio africano muito citado sugere que para ir rápido, é melhor ir sozinho, mas para ir longe, é melhor ir acompanhado. Lidar com tensões cada vez maiores exige que caminhemos rápido e longe, o que implica uma necessidade paradoxal de ir sozinho e acompanhado. Formas novas de colaboração são necessárias para ultrapassar os familiares limites nacionais, público-privados e dos setores da indústria; contudo, não há modelos fortes para essas colaborações, que são extremamente difíceis de serem estabelecidas, pois as diferentes partes continuam a enfatizar em primeiro plano suas próprias questões e responsabilidades individuais.

Os líderes de todas as nações enfrentam profundos dilemas políticos. Os governos, pela sua natureza, são mais lentos do que a velocidade que a vida contemporânea muitas vezes exige. Os mandatos eleitorais frequentemente ofuscam a gestão de questões de longo prazo, complicadas ou impopulares.

OLHAR PELA LENTE DE TRÊS PARADOXOS AJUDA A DESTACAR AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO PANORAMA EMERGENTE

O PARADOXO DA CONECTIVIDADE

A crescente conectividade global estimula a criatividade, mas também coloca a propriedade intelectual em risco. A conectividade facilita a expressão individual e a capacitação, mas também incentiva o comportamento de rebanho e amplifica variações de confiança e demanda. A florescente disponibilidade de informações tem a capacidade de trazer conhecimento e transparência, mas a sobrecarga de dados pode, da mesma forma, gerar confusão e obscuridade.

De muitas maneiras, o Paradoxo da Conectividade impulsiona os outros dois paradoxos. O uso da tecnologia de informação e comunicação tem sido um determinante da globalização econômica, expandindo e fortalecendo vínculos comerciais, financeiros e de pesquisa, disseminando prosperidade e gerando desafios de liderança. A volatilidade econômica,

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De acordo com a ONU e análise da Shell, até 2030, o mundo precisará entre 40% e 50% a mais de água, alimentos e energia. A interdependência entre esses recursos – o Nexo de Interdependência – também aumenta a volatilidade: mais energia requer mais água; mais alimentos e água requerem mais energia. Mudanças do clima podem levar a condições climáticas extremas, tais como secas prolongadas e enchentes torrenciais que causam impactos à agricultura e à subsistência. A falta de água pode intensificar a instabilidade social e política, bem como provocar conflitos e causar danos ambientais irreparáveis.

O PARADOXO DA PROSPERIDADE

Com o aumento da demanda por alimentos, o impacto dos recursos ligados a produção de alimentos (terra, água, energia) pode aumentar consideravelmente, conforme os carboidratos são substituídos por proteína na dieta das pessoas.

O PARADOXO DA LIDERANçA

Os governos devem desenvolver políticas em todas as áreas do Nexo de Interdependência, mesmo sem entender completamente as interdependências e possíveis consequências não intencionais. “Alimento versus combustível” sugere que todos os alimentos e combustíveis são iguais e que há uma compensação direta, mas os problemas são mais complexos e a conveniência das partes interessadas determinam os debates.

O PARADOXO DA CONECTIVIDADE

A maioria dos países não é totalmente autossuficiente no Nexo de Interdependência entre alimentos, energia e água. Quais são as compensações entre segurança alimentar e energética nacionais? Como os mercados globais de commodities afetarão a segurança de recursos quando a volatilidade aumentar?

Além de apresentar desafios, o Nexo de Interdependência dos recursos também apresenta oportunidades. Que novas colaborações podem ser desenvolvidas, mesmo entre parceiros atualmente improváveis?

Quantos maiores e mais técnicos os problemas enfrentados pela sociedade, menor a possibilidade de o governo poder resolvê-los sozinho sem a ajuda do setor de negócios e outros. Em democracias avançadas, quanto mais capacidade as pessoas têm para se unirem em grupos de interesses especiais para influenciar governos, mais difícil é para os governos trabalhar primariamente pelo bem comum. Em várias partes do mundo, quanto mais a tecnologia das novas mídias dá poder aos cidadãos, mais capacita o governo a monitorar esses cidadãos.

A globalização em si traz um paradoxo para os líderes governamentais: quanto maiores as forças da globalização, menor é o poder autônomo dos governos nacionais. Da mesma forma, os líderes enfrentam um paradoxo resultante da própria natureza humana, com exceção de momentos de perigo imediato: quanto maior a necessidade de soluções comunitárias a longo prazo, menor é o apetite por sacrifícios individuais a curto prazo. n

O NEXO DE INTERDEPENDÊN-CIA DOS RECuRSOS

política e social pode ter sempre existido, mas esse grau sem precedentes de conectividade está contribuindo para uma intensidade fora do comum, em parte porque o aumento da conectividade fortalece atores individuais. Um vendedor de rua pobre pode, por exemplo, instigar a derrubada de governos no Oriente Médio. Um hacker solitário pode interromper o funcionamento de grandes negócios e empreendimentos governamentais. Sob a proteção do anonimato, pequenos números de “hacktivistas” podem causar milhões de dólares em perdas para empresas. Uma cantora de coral religioso da Escócia pode se tornar uma estrela do dia para noite quando o vídeo da sua audição para um programa de TV se transforma em sucesso viral na Internet e seu CD pode se tornar o CD mais vendido nas paradas do mundo todo.

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Espaço para manobra

Transição Complexa

Acúmulo de tensões

Reforma pontuada

Decadência/colapso

Crise existencial

Deriva/declínio

Reforma pontuada

Crise inicial

Deriva

Acúmulo de tensões

Deriva/declínio

Crise inicial

Deriva Decadência/colapsoCrise existencial

CAMINHOS

As tensões inerentes aos três paradoxos nutrem a era atual de transições. Países no mundo todo enfrentam desafios referentes aos seus modelos econômicos, regimes políticos e condições sociais. Os EUA estão lidando com um declínio a longo prazo do seu poder global relativo e atualmente passam por uma recuperação decepcionantemente vagarosa de uma recessão profunda e um sistema político paralisado. A China e outras economias emergentes, que pareciam resistentes em 2008, agora estão lidando com um conjunto adicional de incertezas na sua busca por estabilidade e crescimento contínuo.

Quando as tensões aumentam e uma crise emerge, alguns atores se adaptam e implementam reformas. No entanto, outros têm dificuldades até que a crise atinja um nível que force uma restruturação dramática e dolorosa ou o colapso. Explorando eras passadas de transição e transformação, aprendemos que duas lentes de Caminhos arquetípicas ajudam a trazer clareza e discernimento. Esses caminhos são chamados de “Espaço para manobra” e “Transição complexa”.

CAMINHOS

TRANSIçãO COMPLEXA

A capacidade financeira, social, política ou tecnológica é inadequada para aguentar as tensões. As respostas comportamentais atrasam as mudanças, fazendo com que as condições piorem até que, finalmente, é necessário um reajuste ou ocorre um colapso.

ESPAçO PARA MANOBRA

O capital financeiro, social, político ou tecnológico incentiva uma atuação rápida e resulta em mudanças/reformas eficazes.

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Consideremos exemplos recentes:

n Embora seriamente afetadas pela turbulência criada pela crise financeira global, economias tais como a Índia, a China e o Brasil mostraram-se resistentes, pelo menos no período logo após a crise. De maneiras diferentes, tiveram o “capital” financeiro, social, político e de recursos necessário para responder e reformar, seguindo um caminho de “Espaço para manobra”.

n A União Europeia mostrou que não tem esse nível de resistência e vem seguindo um caminho de “Transição complexa” no qual os problemas são “empurrados com a barriga” e os líderes não conseguem criar espaço para respirar em termos políticos e sociais. Portanto, os países ficam em uma deriva contínua, pontuada por uma série de minicrises que em algum ponto culminarão em uma restruturação que envolverá uma perda significativa de capital financeiro e político (através da soberania coletiva, por exemplo) ou a dissolução do Euro.

É claro que nem todos os países ou atores seguem exclusivamente um caminho de “Transição complexa” ou “Espaço para manobra” e nem sempre permanecem em um só caminho durante todos os desafios. De fato, aquilo que parece espaço para manobra para alguns atores pode simultaneamente parecer estar encurralado para outros; pense nas diferentes perspectivas de um gato e um rato presos juntos em um quarto. No entanto, as lentes de Caminhos destacam padrões recorrentes no panorama mais geral.

Países, negócios e até mesmo indivíduos traçam trajetórias diferentes. Será que responderão aos desafios enfrentados através de adaptação e reforma, seguindo o caminho de “Espaço para manobra”? Ou será que as mudanças serão adiadas, levando a um caminho de “Transição complexa” até que haja uma restruturação fundamental ou colapso?

DINÂMICA DA TRANSIçãO Do ponto de vista dos sistemas, as transições ocorrem quando aparecem lacunas entre as condições reais e as esperadas. Essas lacunas criam ansiedade ou insatisfação, que estimulam o desenvolvimento de abordagens novas e atualizadas que são, então, colocadas em prática para fechar essas lacunas.

Entretanto, muitas vezes há atrasos e muitos inibidores nesse processo. Por exemplo, a ansiedade promove negação e paralisia da mesma forma que incentiva novas abordagens. Sem capital social, intelectual e político, é difícil superar interesses estabelecidos para desenvolver e implementar novas abordagens. Outros inibidores-chave incluem inadequação institucional, desigualdade e insegurança.

Com todos esses inibidores sistêmicos, para que a transição progrida, são necessários facilitadores sistêmicos, como por exemplo, vitórias rápidas para superar a paralisia ou o desenvolvimento de capital social e político suficiente para superar os interesses estabelecidos.

É o equilíbrio dinâmico entre inibidores e facilitadores que molda as transições, um equilíbrio que difere de ator para ator e de transição para transição. Se esse equilíbrio favorecer os inibidores, a transição se torna complexa; no entanto, a presença de facilitadores suficientes criam espaço para manobra. n

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Até 2050, espera-se que cerca de três quartos da população mundial esteja vivendo em cidades. O maior crescimento da população urbana nesse período será na China, Índia, Nigéria e nos EUA. O crescimento mais dramático acontecerá em milhares de pequenas cidades que rapidamente se transformarão em grandes cidades.

Grande parte da infraestrutura para essas novas cidades ainda não foi projetada. A Booz & Company (em um estudo para o World Wildlife Fund) estima que o investimento total em infraestrutura urbana e suas operações nas próximas três décadas ultrapassará o número impressionante de $350 trilhões. A maior proporção será direcionada aos mercados emergentes. O financiamento dessas necessidades de investimento será um desafio importante e exigirá inovações consideráveis no financiamento global. Se essas necessidades puderem ser atendidas, isso constituirá uma importante fonte de demanda agregada para a economia global por um longo tempo no futuro.

Atualmente, as cidades usam 66% do total de energia do mundo, e nos próximos 30 anos esse número pode aumentar para quase 80%. No passado, os desenvolvimentos urbanos eram impulsionados por suposições de que a energia permaneceria disponível a preços relativamente baixos. A falta do conceito da necessidade de garantir a provisão de energia e de desenvolver políticas de planejamento levaram à expansão urbana e à ineficiência energética.

O PARADOXO DA PROSPERIDADE

Se cidades saudáveis com recursos abundantes crescem organicamente, elas tendem a se expandir, levando a uma grande ineficiência energética. As cidades mais pobres e mais povoadas também correm o mesmo risco. Se elas também seguirem o caminho orgânico, que é economicamente mais eficiente a curto prazo, correrão o risco de acabarem com uma infraestrutura gravemente ineficiente.

O PARADOXO DA LIDERANçA

Se os líderes municipais considerarem que os problemas são difíceis demais para serem resolvidos e que as soluções são impopulares demais para serem executadas, as tensões nas cidades serão ignoradas até que as condições de vida sejam ameaçadas. A grande lacuna entre os horizontes temporais de políticas e de infraestrutura é muito difícil de ser superada, mas essa superação é necessária para um desenvolvimento saudável.

O PARADOXO DA CONECTIVIDADE

Todos os aspectos da sociedade devem operar juntos para resolver o problema do crescimento das cidades: os governos têm que oferecer maiores incentivos e sanções para um crescimento inteligente; a sociedade deve ser incentivada a moderar a demanda por bens privados em favor da infraestrutura para todos; e os negócios devem oferecer uma infraestrutura mais inteligente e mais integrada, bem como soluções de moradia e de trânsito. Para prosperar, todos os grupos devem operar de forma coordenada, mas essa é uma dança difícil de controlar.

uMA NOVA LENTE SOBRE AS CIDADES

ESPAçO PARA MANOBRA

n Coalizões de liderança visionárias definem o crescimento

n As autoridades preveem tensões e implementam um planejamento integrado para o uso da terra, transporte, energia, água e lixo

n Soluções estruturais eficientes em termos de energia, incluindo desenvolvimento urbano compacto e transporte público

n Conhecimento partilhado e valorizado

TRANSIçãO COMPLEXA

n   As forças de mercado ditam o crescimento sozinhas n As autoridades supõem que os problemas são difíceis demais para serem enfrentados e que as soluções são impopulares demais para serem implementadasn As tensões são ignoradas até que as condições de vida na

cidade são ameaçadas e a reengenharia da infraestrutura passa a ser difícil

n Soluções individuais pontuais

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2010 Total consumption 000.00b m3

Fossils production 00.00billion m3

Biofuels prodution 00.00billion m3

Re�ning, GTL & CTL 00.00billion m3

Electricity - Oil 00.00billion m3

Electricity - Gas 00.00billion m3

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Electricity - Nuclear 00.00billion m3

Electricity - Biomass 00.00billion m3

Electricity - CSP 00.00billion m3

Electricity - Geothermal 00.00billion m3

Advantage can be: – Trade hub – Cluster of expertise – Special economic zone Ongoing development of commercial advantages

Companies invest to capitalise on advantages: – Expanding production – More ef�cient technology – New products – Service industries Government invests in infrastructure,

enabling more ef�cient businessoperations and improving amenity

– Transport – Services – Amenities – Communications – Education

Jobs and wealth opportunitiesattract labour from outside of thecity - increasing labour pool andsize of home market

Increasing education and up-skilling build talent and entrepreneurialism

MountingStress

Competitive commercialadvantage

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talent pool

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Competitive commercialadvantage

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talent pool

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Ciclo virtuoso do crescimento urbano

Desenvolvimento contínuo de vantagens comerciais As vantagens podem incluir: – Centro comercial – Conglomerado de experiências – Zona econômica especial

Empresas investem para capitalizar vantagens: – Expansão da produção – Tecnologia mais e�ciente – Novos produtos - Indústria de serviços Governo investe em infraestrutura,

permitindo operações de negócios mais e�cientes e melhorando a comodidade

– Transporte – Serviços – Comodidade – Comunicações – Educação

Oportunidades de emprego e riqueza atraem mão de obra de fora da cidade, aumentando o "pool" de pro�ssionais e o tamanho do mercado doméstico

Aumentando a educação e capacitando talentos e empreendedorismo

Vantagem comercialcompetitiva b

anco de talentos

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CICLO VIRTuOSO DO CRESCIMENTO uRBANO

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À medida que passamos para um ambiente geopolítico mais fluido, com incertezas políticas muito maiores, enfrentamos a possibilidade de um mundo cada vez mais conflituoso.

Quatro características-chave do ambiente geopolítico transicional se destacam para os próximos 10 a 20 anos.

RELAçãO ENTRE CHINA E EuAOs EUA continuarão em uma posição de proeminência, mas terão que aceitar um mundo mais plural. Terão que negociar consequências com outros poderes que possuem valores e objetivos diferentes. Em outras palavras, os EUA terão que aprender a “possibilitar mudanças”, ao invés de agirem unilateralmente. Sozinhos, não estarão mais dispostos ou não serão mais capazes de fornecer bens públicos globais dos quais dependa a ordem internacional. Um vácuo de liderança pode emergir se nenhum outro país estiver preparado para liderar ou se os EUA em si não estiverem preparados para permitir que outros assumam uma posição equivalente.

Como a grande potência econômica emergente, a China não se sente confortável com a ideia de assumir um papel global mais amplo e continua a defender seus interesses em termos estreitamente específicos e nacionais. As diferenças estruturais subjacentes entre os EUA e a China vêm à tona principalmente no que diz respeito ao comércio, à taxa de câmbio entre eles e aos desequilíbrios econômicos que foram criados ao longo do tempo. No entanto, a competição geopolítica entre eles está aumentando devido à influência na região do Pacífico Asiático, embora o Japão continue exercendo uma influência considerável por meio da sua tecnologia, investimento e esforços significativos na área de ajuda internacional. Se as capacidades dos EUA forem ampliadas e a China se estender por se sentir demasiadamente confiante na busca dos seus interesses regionais, será que um deles exercerá uma influência mais decisiva? Ou será que terão que encontrar uma forma de trabalhar juntos em áreas de interesse mútuo?

PANORAMAS CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES

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TRANSIçãO ORIENTAL NO NOVO SISTEMA INTERNACIONALA segunda característica-chave é a natureza do sistema internacional que as novas potências emergentes, tais como a China e a Índia, desejam ver. A China sempre descreveu seus objetivos internacionais em termos benignos, como “ascensão pacífica” e defende que sob seu sistema tributário imperial tradicional nunca buscou interferir nas questões internas de outros Estados. No entanto, o sistema tributário nunca foi um mundo de Estados soberanos igualitários, mas sim de Estados centrados na China como Estado preeminente. Todos os outros Estados deviam lealdade, pagavam tributos e definiam suas políticas de forma a manter boas relações com a China.

Esse sistema não é facilmente traduzido na ordem geopolítica atual. A transição para uma esfera de influência chinesa não é uma opção atrativa para muitos Estados. Há potencialmente uma história de duas Ásias. A Ásia pode continuar a ser a região mais dinâmica da economia global, mas pode também se transformar na região mais volátil e suscetível a conflitos na ordem global.

Graham Allison, Professor da Faculdade de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, defende que a questão-chave referente à ordem global nas próximas décadas será: A China e os EUA conseguirão escapar da armadilha de Tucídides? A metáfora desse historiador alude aos perigos que as duas partes enfrentam quando uma potência em ascensão compete com uma potência no poder. A maior parte dos desafios dessa natureza terminou em conflito. Resoluções pacíficas exigiram grandes compromissos por parte dos governos e dos cidadãos de ambas as potências para efetuar grandes reformas.

A ascensão dramática de Atenas nos tempos antigos chocou Esparta, a potência terrestre estabelecida. O medo produziu competição, confrontos e por fim conflitos. Após 30 anos, ambos os Estados foram destruídos. Tucídides escreveu: “Foi a ascensão de Atenas e o medo que isso causou em Esparta que fez com que a guerra fosse inevitável”. O Professor Allison observa os paralelos com os dias de hoje, já que a ascensão da China provoca frustração e medo nos EUA

“(…) A competição entre os Estados Unidos e a China é inevitável. Os líderes de ambos os países asseguram com otimismo que a competição pode ser gerenciada sem choques que ameacem a ordem global. Entretanto, a maioria dos analistas acadêmicos não é tão otimista (...) Dadas as diferenças entre os sistemas políticos americano e chinês, os pessimistas podem acreditar que a possibilidade de uma guerra é ainda maior (...) (Contudo) a moralidade pode exercer um papel fundamental na estruturação da competição internacional entre as potências políticas – separando os vencedores dos perdedores (...) Será a batalha pelos corações e mentes das pessoas que determinará quem prevalecerá no final. E conforme a previsão dos antigos filósofos chineses, vencerá o país que mostrar uma autoridade mais humana.”

“ VENCERÁ O PAÍS QUE MOSTRAR UMA AUTORIDADE MAIS HUMANA”yAN XuETONG Professor de Ciência Política da Universidade de Tsinghua

yAN XuETONG Professor de Ciência Política da Universidade de Tsinghua “How China Can Defeat America” (Como a China pode vencer os EUA), New York Times, 2011

ARMADILHA DE TuCÍDIDES

COMPETIçãO ENTRE EuA E CHINA

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TERRENO ACIDENTADO PARA INSTITuIçÕES INTERNACIONAISA terceira característica-chave do novo ambiente geopolítico é a cada vez maior inadequação das instituições internacionais existentes para lidar com problemas globais, tais como a proteção do comércio, a mudança do clima e o desarmamento nuclear. A elevação do Grupo dos 20 (G20) para líderes do nível governamental, incluindo os principais países desenvolvidos e em desenvolvimento, foi uma resposta à contínua crise financeira global. O G20 representa melhor onde o poder global realmente se encontra, em comparação ao mais exclusivo Grupo dos 8 (G8), que exclui duas das oito maiores economias globais, a China e o Brasil. No entanto, a transparência e a responsabilidade do G20 foram questionadas e o grupo ainda não evoluiu para tornar-se uma instituição duradoura que possa contribuir de qualquer maneira significativa.

As intervenções do FMI e do Banco Mundial tiveram um desempenho misto e a sua governança institucional permanece ancorada em uma era anterior de preeminência econômica. Contudo, no nível tecnocrático, muitas formas de cooperação e coordenação internacionais ainda são mantidas e estão sendo progressivamente expandidas.

CRESCIMENTO COMPRIMIDO E PERCEPçÕES DE SOMA ZERO A quarta característica-chave do panorama geopolítico transicional é que ao lidarem com a crise financeira, os países em desenvolvimento não sentiram que era necessário oferecer alternativas radicalmente diferentes ao modelo capitalista liberal que era a referência global antes de 2008. Por um lado, pode haver o retorno significativo do Estado na concepção e direção das políticas domésticas econômicas e sociais. Por outro lado, um período de recessão, ou uma fase extensa de crescimento abaixo da média, espreme o espaço para manobra dos governos. Não há dividendos de crescimento a serem distribuídos e a política passa a se concentrar em dividir o peso das reformas. Portanto, a principal questão política é: quem ganha e quem perde quando o crescimento é comprimido e a torta menor é dividida? Essa questão se torna altamente pertinente em uma era de declínio da confiança nos governos, possivelmente levando a transições políticas turbulentas com resultados perigosamente incertos.

Todos os países que estão integrados na economia global, sejam eles desenvolvidos ou em desenvolvimento, em algum momento precisam de crescimento para manter a legitimidade política e a estabilidade social. Há o perigo de que um aumento na insegurança possa resultar em novas ideologias fundamentalistas, alimentando uma busca populista de bodes expiatórios. O ponto de ruptura em países desenvolvidos pode vir não com as classes pobres, sejam elas empregadas ou desempregadas, mas com uma classe média pressionada pela competição global crescente e enfrentando o declínio dos seus padrões de vida. Foi a quebra da classe média na Alemanha de pós-1918 que criou o ambiente fértil para o extremismo político. As demandas crescentes da nova classe média em países emergentes, tais como a China, a Índia e o Brasil, representam uma pressão diferente, mas talvez igualmente explosiva, para seus respectivos governos.

Independentemente do que aconteça no debate sobre modelos rivais de governança – o Consenso de Pequim versus o Consenso de Washington – o progresso político pode eventualmente ser caraterizado como um movimento em direção a estruturas políticas que permitam uma maior negociação entre interesses conflitantes, ao invés da imposição de um interesse sobre os outros.

“ GRANDE PARTE DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE É COMPOSTA DE CONFLITOS DESIGUAIS ENTRE OS QUE TÊM E OS QUE NÃO TÊM.” JARED DIAMOND Armas, Germes e Aço: os destinos das sociedades humanas

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TRAJETÓRIAS HISTÓRICAS DE ECONOMIAS EMERGENTES EM COMPARAÇÃO A PAÍSES DESENVOLVIDOS

China

India

SouthKorea

Ano

1985

2008

1985

2008

1985

2008

EUA

1840

1940

1820

1880

1925

1986

1,519

6,725

1,079

2,975

5,670

19,614

1856

1958

1820

1900

1955

2006

Alemanha

1916

1967

1894

1957

1965

1994

Japão

1820

1940

1820

1865

1935

2000

Reino UnidoAnos em que níveis comparáveis foram alcançados

* Dólares internacionais Geary-Khamis -1990 Dados adaptados de Angus Maddison, Universidade de Groningen

PIB per capita*

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Tradicionalmente, a legitimidade dos regimes elitistas decorre da provisão de estabilidade e justiça para a maior parte da população. No último século, essa negociação ficou mais complicada, pois a busca do crescimento econômico agora é vista como um atributo fundamental de um Estado moderno.

A evolução política das democracias liberais da OCDE no último século pode ser vista como uma jornada instável, mas bem-sucedida, para lidar com as tensões entre crescimento econômico, distribuição e ordem social no nível nacional. Essas democracias desenrolaram o legado do colonialismo e da guerra total, que desfigurou as relações entre nações de 1850 a 1950. No nível nacional, essa jornada incluiu um aumento radical da participação política para incluir mulheres e grupos minoritários.

No mundo Anglo-Saxão, essa jornada tendeu a ser evolucionária ao invés de revolucionária, com notáveis exceções, entre elas a guerra civil nos EUA. Em momentos cruciais, reformas foram lideradas por patrícios para evitar desafios existenciais.

Theodore Roosevelt respondeu aos excessos da Era Dourada e Franklin D. Roosevelt aos escândalos de corrupção da Era Harding/Coolidge e à ineficiência de Herbert Hoover para lidar com a Grande Depressão. O caso da Europa Ocidental é mais complicado por causa da relativamente recente integração nacional da Itália, Alemanha e Espanha e do impacto territorial de duas grandes guerras, bem como episódios de fascismo.

Essas economias mais ricas evoluíram em um período onde os níveis de renda per capita eram bastante parecidos com dos níveis de renda per capita dos mercados emergentes mais ricos da atualidade. No entanto, paralelos com mercados emergentes e países em desenvolvimento atuais são difíceis de ver porque são distorcidos pelo impacto da história colonial. Em alguns casos, aquilo que costumava levar cerca de um século agora parece levar apenas uma geração (ver tabela abaixo).

A ESTRuTuRA DA ECONOMIA GLOBAL

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DISTRIBUIÇÃO GLOBAL DE RENDA

Em comparação ao passado recente, como se desenvolverá o poder econômico dos mais privilegiados e das camadas mais abrangentes da população?

Percentil da distribuição global de renda

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Há também protestos de descontentamento em relação à globalização, que alguns indivíduos começaram a considerar como um jogo de soma zero, apesar das tendências a longo prazo de desenvolvimento global e difusão tecnológica. A geopolítica também passa a ser vista em termos de soma zero, com as potências em ascensão ganhando às custas das potências estabelecidas. Essa mentalidade é parcialmente responsável pela falta de ações internacionais efetivas para lidar com a mudança climática, além de determinar a competição por recursos, que é impulsionada por preocupações referentes à insegurança dos recursos.

Conforme muitos defendem, a globalização sobreviverá, embora possa desacelerar. Entretanto, não possui uma tendência inerente de promover o mercado livre ou a democracia liberal. De fato, a globalização é comumente vista como prejudicial aos trabalhadores e como algo que priva as classes médias do mundo desenvolvido, já que a mão de obra do mundo em desenvolvimento aumenta seu nível de capacitação e avança na “escada da tecnologia”.

O capitalismo e as consequências da economia de mercado global estão começando a colidir com nacionalismos, aumentando as tensões à medida que

enfrentamos limitações de recursos e ambientais. A próxima fase de globalização promete ser tão turbulenta quanto o que vimos no século passado.

Os futuros quadros geopolíticos inevitavelmente terão um entendimento mais crítico dos mercados na geração de riqueza e de desigualdades e instabilidade. A natureza do próximo consenso em relação a Estados e mercados será um argumento-chave na definição da política internacional do século XXI e estabelecerá os termos nos quais a globalização será materializada. Ainda não há alternativas para a globalização, mas esta é uma força cada vez mais complexa e diversa, com impactos positivos e negativos, e cuja direção futura é incerta.

Mudança percentual em renda real, 1988-2008, em vários percentis de distribuição de renda global (em dólares PPC em 2005)

Branko Milanovic, “Global income inequality by the numbers: in history and now” (Desigualdade da renda global em números: na história e agora), novembro de 2012

A NATUREZA DO PRÓXIMO CONSENSO EM RELAÇÃO A ESTADOS E MERCADOS SERÁ UM ARGUMENTO-CHAVE NA DEFINIÇÃO DA POLÍTICA INTERNACIONAL DO SÉCULO XXI E ESTABELECERÁ OS TERMOS NOS QUAIS A GLOBALIZAÇÃO SERÁ MATERIALIZADA.

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MONTANHAS E OCEANOSEsses dados revelam padrões recorrentes, referentes à distribuição de poder e disponibilidade de recursos naturais, e a influência que exercem nas políticas, pessoas, mercados e crescimento.

O mundo no futuro será definido pela forma como as pessoas e os governos enfrentam os desafios impostos por instituições, desigualdades e inseguranças em relação aos paradoxos de prosperidade, liderança e conectividade.

n Quais paradoxos se tornarão mais agudos? n Quais serão resolvidos? n Quais indústrias, negócios, nações e grupos de

pessoas terão espaço para manobra?n Quais ficarão encurralados? n Como se desenvolverão as capacidades do capital,

da colaboração e da criatividade? n Como o poder e a influência serão distribuídos?

Esses cenários são concebidos para oferecer novas lentes pelas quais podemos explorar essas questões – ou, conforme exploramos esses mundos contrastantes, dois panoramas: Montanhas altas onde os benefícios de uma posição elevada são levados a cabo e protegidos e aqueles que são atualmente influentes mantêm o poder; e Oceanos vastos com marés altas, correntes fortes e uma mistura volátil de atores e eventos com compromissos irregulares entre interesses rivais.

Esses panoramas têm características sociais, econômicas e políticas distintas que poderão ser identificadas nos próximos 20 anos, com consequências para os desenvolvimentos de energia por meio século. Juntos, determinam previsões ecológicas para além de 2100. Eles formam os Cenários sob novas lentes para o século XXI. n

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O cenário de Montanhas é um mundo no qual aqueles que ocupam posições dominantes de vantagem (no topo) geralmente trabalham para criar estabilidade de forma a promover a persistência do status quo. Há uma contenção regular e autossustentada do poder e instituições titulares. Essa contenção limita o potencial econômico de certos setores da sociedade, mas permite que os setores estabelecidos alinhados com as forças de mercado disponibilizem os recursos que precisam de um volume considerável de capital e novas tecnologias. Para aqueles em uma situação menos favorável, a fragilidade das redes de segurança social não é completamente compensada pelo crescimento em filantropia, caracterizado pela erupção de fundações mantidas pelo crescente número de bilionários.

A oposição latente ao poder das elites políticas, comerciais e sociais é minimizada por uma combinação de incentivos e sanções, e a mobilidade social continua a cair. Porém, investimentos no lado da oferta são estimulados. Mesmo com novos investimentos, contudo, a ausência de importantes reformas estruturais e financeiras em países em desenvolvimento começa a desacelerar o PIB e a desestimular o comércio. Algumas economias em rápido desenvolvimento caem na “armadilha da renda média”, onde o crescimento atinge um platô e se mantém estagnado após uma proporção significativa da população alcançar níveis de renda média, principalmente porque as instituições não conseguem se adaptar a uma economia mais complexa.

Contudo, essa moderação de crescimento econômico alivia parte da pressão da demanda por energia. O crescimento da demanda é desacelerado ainda mais à medida que progressos são feitos com políticas de energia do lado da oferta, tais como o incentivo do desenvolvimento urbano compacto.

O gás não convencional e de xisto e o metano das jazidas de carvão (CBM) são muito bem-sucedidos e crescem para formar uma nova “espinha dorsal de gás” para o sistema energético global. Com um menor crescimento da demanda por combustíveis líquidos, o preço do petróleo permanece moderado e, em geral, o crescimento da produção é limitado.

Um crescimento econômico lento no período inicial, a substituição relativa de carvão por gás a longo prazo e os incentivos do lado da oferta para o emprego da tecnologia de captura e armazenamento de carvão (CAC) e energias renováveis são aspectos que contribuem para a moderação das emissões de gases do efeito estufa. Mesmo assim, o aumento da temperatura média global ultrapassa a meta atual de 2°C n

MONTANHAS UMA VISTA DE CIMA

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MONTANHAS: uMA VISãO GERALn Vantagens criam vantagens. A influência continua concentrada

nas mãos dos atuais poderosos.

n Estruturas de poder e instituições rígidas limitam o desenvolvimento econômico.

n Com menos agentes de poder, avanços positivos nas áreas de políticas secundárias são viáveis, tais como desenvolvimento urbano compacto, energia e impactos ambientais.

n Expectativas de recursos positivas são materializadas, com o apoio de estruturas políticas postas em prática; o gás natural torna-se a espinha dorsal do sistema energético global.

n Maiores tensões ambientais e de CO2 são moderadas devido ao crescimento geral mais lento; substituição de carvão por gás natural e o sucesso das tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CAC).

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PROSPERIDADE

O prolongamento de acordos institucionais mantendo o status quo que favorecem os já privilegiados prejudicam o dinamismo econômico a longo prazo. Conforme os ricos ficam mais ricos e os pobres permanecem relativamente pobres, os ricos em termos de educação e os seus filhos monopolizam as melhores escolas e universidades, desenvolvendo e perpetuando o sistema de classe, mesmo em países onde isso não é uma herança anterior. Os índices de desigualdade continuam a subir, alcançando níveis altos em muitas sociedades.

A América do Norte é afetada pela contínua polarização política em torno de acordos fiscais e o papel do governo, mas pontos fortes subjacentes continuam a brilhar apesar do impasse governamental e dos protestos sociais ocasionais. Devido aos contínuos argumentos de soberania, a crise da Zona do Euro não é resolvida de forma eficaz resultando em um período prolongado de estagnação.

No entanto, há algumas histórias de sucesso muito visíveis nos níveis de empreendimento, negócios e mesmo nacionais, onde altos níveis de investimento e criatividade podem ser combinados com custos de mão de obra relativamente baixos sem criar descontentamentos excessivos. Esses sucessos são particularmente visíveis em várias economias emergentes pobres da África, que são finalmente capazes de se livrar dos piores excessos de nepotismo e corrupção.

CONECTIVIDADE

A conectividade digital e financeira continua a aumentar no mundo das Montanhas, mas os firewalls e as áreas comerciais privadas também são cada vez mais comuns. Usando argumentos de segurança e econômicos, os governos têm mais controle na web, levando à sua “Balcanização” nos níveis regional e nacional. À medida que novas webs se desenvolvem, as perspectivas nacionais e privilegiadas começam a ser fixadas. De tempos em tempos, os jovens fazem tentativas de rebelião, levando a um mundo no qual os

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Os últimos 25 anos do século XIX nos Estados Unidos foram caracterizados por um toque de brilho encobrindo as crescentes desigualdades sociais e econômicas, pelo estabelecimento de riquezas imensas por meio de práticas imorais e muitas vezes ilegais e a corrupção do processo político segundo interesses restritos. Um período que Mark Twain chamou de a “Era Dourada”.

A crescente desigualdade da Nova Era Dourada tem dois aspectos principais: uma lacuna em termos de competências entre aqueles com um diploma universitário e aqueles que não o possuem e um crescimento enorme na parcela de renda dos 1% mais ricos da população, ou 0,1% de fato. Essa nova elite, muito parecida com suas contrapartes do século XIX, fez fortunas quando as restrições impostas pelo governo começaram a retroceder. A Nova Era Dourada manifesta-se na continuação dos altos níveis de desigualdade de renda e riqueza, mesmo com o colapso do mercado financeiro em 2008, e uma estagnação econômica permanente. A questão é se isso vai gerar impulsos reformistas no governo, como o que ocorreu na primeira Era Dourada.

Embora a política governamental seja importante, pode ser que a globalização e o avanço tecnológico limitem o espaço para manobra das políticas governamentais. São cruciais as diferenças entre as economias globalizadas de hoje e as circunstância que levaram ao fim da primeira Era Dourada. Isso sugere que embora as políticas venham a ser críticas, não serão suficientes. As soluções para resolver os problemas da Nova Era Dourada terão que ser radicalmente diferentes das soluções antigas.              

A NOVA ERA DOuRADA

protestos são pela liberdade de informação, bem como pela justiça social. A globalização perde o vigor, com exceção dos casos nos quais novos interesses comuns emergentes se encaixam nas formas existentes, por exemplo, a terceirização de mão de obra e serviços em economias mais baratas.

LIDERANçA

Os líderes no cenário de Montanhas são provenientes de um setor previsível de riqueza, oportunidade, expectativa, conexão, ideologia, incumbência e enculturação. Há poucos caminhos para aqueles que vêm de baixo se elevarem para posições de vantagem, pois esses caminhos envolvem celebradas conquistas de negócios, educação, artes ou cultura popular que geralmente reforçam a ideologia popular prevalente.

A ascensão de indivíduos excepcionais serve para reforçar a ideia de que as pessoas são predominantemente donas do seu próprio destino. Uma mistura vigorosa de “ser agradecido” e filantropia lida com as tensões que surgem do prolongamento do status quo para que as manifestações de descontentamento continuem enterradas nas sociedades. Como os líderes lidam com grupos de interesse e ambições relativamente limitados, mudanças ocasionais nas políticas podem ser rápidas, mas tendem a não ser muito abrangentes.

A concentração do poder no topo significa que as respostas aos desafios a curto prazo são rápidas e decisivas. Contudo, às vezes são feitas às custas de investimentos a longo prazo na prosperidade pública. O foco da liderança permanece na sustentação da estabilidade, propagando e defendendo o status quo e respondendo às inquietações da população em geral, promovendo a sabedoria dessas ações. O bem público é atendido quando os interesses são alinhados, por exemplo, na política de energia, onde a segurança de oferta e as tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CAC) são consideradas essenciais para que nosso “estilo de vida” seja mantido. n

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COERçãO E RESPONSABILIDADEA globalização no mundo das Montanhas concentra poder não apenas nas economias globais, mas também nos mais privilegiados de cada país. Juntos, eles formam uma elite cosmopolita transacional irregular, mas reconhecível. As empresas multinacionais e seus líderes também são vistos como parte desse grupo global. Embora tenham muitos interesses semelhantes, bem como problemas em comum, também têm fontes diferentes de poder, riqueza e legitimidade, e essas diferenças muitas vezes levam a conflitos relativos à lei internacional e a interesses nacionais concorrentes.

Como seus predecessores ao longo da história, as elites do mundo das Montanhas usam uma combinação de coerção e cooptação para manter seu poder. Os mais duradouros e bem-sucedidos encontram mecanismos para inserir novos talentos nas suas hierarquias para se protegerem contra a estagnação e, ao mesmo tempo, garantindo seus próprios interesses.

Enquanto isso, fronteiras nacionais desgastadas começam a influenciar as políticas nacionais. A resistência à globalização resulta de movimentos sociais populares, que se juntam em redes para mobilizar e coordenar ações diretas. A democracia e o poder populista muitas vezes trabalham contra os mercados globais, porém a mídia social serve para apoiar as preocupações locais.

Nos próximos anos, o sistema geopolítico sofrerá pressões de uma combinação de duas transformações. Ao mesmo tempo em que os países desenvolvidos do sistema internacional passam por uma crise econômica transformadora, o poder geopolítico e econômico continua a se mover de Leste para Oeste, trazendo consequências profundas. As potências em ascensão impõem seus interesses sobre as potências estabelecidas, em parte porque a autoridade destas foi prejudicada pela crise que as assomou. Mas mesmo com essas mudanças, a Ásia é a região mais volátil e sujeita a conflitos na ordem global do cenário de Montanhas.

TRANSIçãO GEOPOLÍTICA DO OCIDENTE PARA O ORIENTE

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NOVAS “REGRAS ANTIGAS” PARA O JOGO GLOBALNo cenários de Montanhas, primeiramente, os EUA tentam usar seu poder para estabelecer as regras do jogo para o sistema internacional, de acordo com seus próprios valores e a promoção dos seus interesses comerciais. Mas embora os EUA sejam incontestados militarmente, não têm mais o domínio dos mercados globais que possuíam antigamente. O poder é mais disperso na economia global, portanto, as demandas referentes ao comércio ou regulamentações financeiras são cada vez mais desafiadas e, muitas vezes, de forma bem-sucedida.

À medida que muda o equilíbrio do poder global, os EUA não desistem do seu papel de liderança, levando a um clima de incessante medo de conflito. A luta pelo poder continua com diplomacia coerciva, bloqueios e o potencial de conflitos violentos em águas territoriais, situação similar às guerras por procuração da era da Guerra Fria.

A China, motivada por um sentimento nacionalista crescente, busca uma participação exclusiva na Ásia Oriental, resultando em um tenso impasse, com os EUA agindo como fiador do status quo regional.

Tanto os EUA quanto a China buscam vantagens um sobre o outro, mesmo que seja para defender seus respectivos interesses. Mas essa defesa normalmente exige a ameaça de ofensiva. A presença de armas nucleares mantém guerras mais gerais à distância, mas este é um período tenso, difícil e perigoso do sistema global.

O sistema internacional das Montanhas é caracterizado por coalizões pontuais contra uma ou outra potência dominante, criando disputas ferrenhas. As antigas relações estão desgastadas. Os EUA e a Europa começam a se separar no que diz respeito a questões de segurança em um clima de falta de compreensão mútua. As instituições multilaterais e os acordos globais estabelecidos no passado também são muito mais fracos. À medida que essas instituições passam a se posicionar e se engajar com gestos simbólicos, aos invés de lideranças claras, conseguem apenas demonstrar como são irrelevantes no jogo de poder “realpolitik” que impulsiona o sistema internacional.

Perante esses dilemas, os atuais privilegiados buscam fortalecer seu poder contra a ameaça política da globalização corrosiva impondo interesses nacionais ou regionais contra mercados globais. Portanto, a movimentação em direção a mercados globais, que de fato beneficiou a maioria dos privilegiados, começa a ser moderada por um grau de controle estatal dos mercados e pelo menos por um protecionismo simbólico. Dessa forma, os Estados agem como um baluarte contra a insegurança típica do mercado global tanto para os mais privilegiados quanto para seus compatriotas menos privilegiados. Não importa que lado puxa com mais força no contínuo cabo de guerra entre mercados e Estados, pois as classes privilegiadas conseguem proteger seus interesses.

Há um tom coercivo no cenário de Montanhas, mas é uma coerção sancionada por lei e justificada pela necessidade de defender a estabilidade. Em diversos países do mundo, à medida que as sociedades se tornam mais ricas, diminui sua tolerância por injustiça e ações arbitrárias, e aumenta a determinação por conformidade, efeito que fica magnificado com a ascensão da mídia social. Estados fortes e poderosos exercem seu poder na esfera política doméstica com uma proliferação de agências reguladoras, mudando o equilíbrio entre os setores público e privado.

Estados revitalizados são a pedra angular do sistema internacional em Montanhas. Embora a governança do sistema internacional seja guiada pelos membros mais poderosos, o problema é chegar a um acordo entre eles, particularmente, assegurar a cooperação entre os Estados Unidos e a China. Como foi visto na época que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, a questão que vai pairar no ar nas décadas de 2020 e 2030 será se as grandes potências optarão por exercer seu poder de forma responsável ou arriscar destruir a ordem global devido à sua incapacidade de prever as consequências das suas ações.

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VOLTA A uM MuNDO PRAGMÁTICO DE INTERESSES MÚTuOSNa década de 2020, há um crescente reconhecimento dos interesses mútuos entre os EUA e a China, levando a um Grupo de 2 ou G2 liderando de fato o sistema global. Essa não é uma relação entre dois aliados, mas um casamento de conveniência forjado por cálculos de “realpolitik”. Cada um lida com questões econômicas domésticas e, portanto, questões políticas, que são influenciadas pelo outro. O mundo confrontante do período anterior abre caminho para um mundo adaptativo (mas não amigável), onde ao lidarem uns com os outros os Estados mantém seus “punhos preparados”. Os EUA e a China compartilham interesses, mas não compartilham valores, e portanto permanecem rivais. A luta pelo poder continua. As instituições multilaterais do passado não voltam mais. O modelo de liderança do G2, com seu forte enfoque interno no vai e vem das tensões entre EUA e China tende a deixar outras potências, principalmente as europeias, em uma posição secundária.

Até a década de 2030, à medida que outros Estados de desenvolvem, a ordem internacional torna-se mais variegada. As hegemonias regionais emergentes, incluindo Índia, Turquia, África do Sul e Brasil, usam sua crescente influência para estabelecer suas respectivas agendas regionais. Como na China antes deles, as políticas internacionais desse países amadurecem, criando mais grupos de interesse para a nova ordem mundial, especialmente para lidar com as crescentes preocupações referentes à mudança do clima, escassez de recursos e envelhecimento das populações. Alguns temem a possibilidade de vários países importantes tornarem-se países falidos, caso seus governos não consigam lidar com o desafio de manter a ordem dentro das suas fronteiras nacionais, à medida que comecem a crescer os desafios à sua autoridade.

Enquanto isso, as elites dominantes começam a reconhecer que novas formas de cooperação internacional são necessárias para lidar com esses desafios. Os países simplesmente terão que aprender a viver uns com os outros se quiserem evitar o tipo de batalha competitiva que leva a danos mútuos. Com o tempo, o “Concerto dos Grandes” global do século XXI se desenvolve, nutrido por um autointeresse pragmático compartilhado.

Como no Concerto da Europa (1815-1914), as relações são guiadas por coalizões governantes de elites dentro de um grupo central de grandes poderes que incluem não apenas os EUA e a China, mas também a Índia, a UE e alguns outros poucos selecionados. Diferentemente do seu predecessor, o Concerto dos Grandes do século XXI tem que lidar com uma variedade de desafios à segurança global, resultantes não apenas da rivalidade de poder entre seus membros, mas também de tensões financeiras, ambientais, alimentares, de água e outros recursos.

O mundo das Montanhas continua sendo um mundo de preocupações de segurança compartilhadas e acordos para lidar com elas, mas não de valores universalmente compartilhados. O desafio para o Concerto dos Grandes do século XXI é permanecer flexível conforme mudam rapidamente as condições e cálculos nacionais. Mais do que no passado, não há permanência no ambiente que os Estados enfrentam ou nas estruturas necessárias para lidar com esse ambiente. Com o tempo, as coalizões, acordos e medidas que sustentam o Concerto dos Grandes do século XXI gradualmente se solidificam conforme se institucionalizam e ganham tanto profundidade quanto abrangência. As pessoas no mundo todo começam a tomar o Concerto como garantido, da mesma forma como fizeram com seu predecessor do século XXI no anos anteriores a 1914. n

“ A GLOBALIZAÇÃO TORNA O MUNDO MENOR. TAMBÉM O TORNA – OU PARTES DELE – MAIS RICO. NÃO O TORNA MAIS PACÍFICO OU LIBERAL, E MUITO MENOS O TORNA PLANO.

JOHN GRAyThe World is Round (O mundo é redondo)

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Apesar das tensões entre Estados-nações, as elites transacionais cosmopolitas e flexíveis criadas pela globalização aumentam em proeminência, à medida que sobem seus níveis de riqueza e influência. Cada vez mais essas elites determinam as condições expressas e definem valores e normas, para melhor ou pior. No nível nacional, são cada vez mais influentes na determinação de políticas, mas menos preocupadas com seus compatriotas antepassados em relação à manutenção da coesão social, apesar da retórica ao contrário.

Nos EUA, por exemplo, a desigualdade de renda e riqueza continua a aumentar, com os ganhos da classe média estagnados, uma mobilidade social reduzida e um sistema educacional superior supostamente baseado em mérito, generosamente apoiado por isenções fiscais, cujos principais beneficiários são os filhos dos bem-sucedidos. Sobreposta a essa divisão de classe temos uma divisão cada vez mais séria entre gerações, enquanto os compromissos com os idosos por meio de programas de direitos desestimulam gastos discricionários que poderiam reconstruir infraestruturas econômicas e sociais. Da mesma forma, na Europa, o envelhecimento rápido da população e os compromissos com níveis mais elevados de direitos, que são frequentemente carentes de recursos, criam uma mescla de obstáculos sociais e políticos que desviam a atenção das principais questões econômicas estruturais enfrentadas pela região.

As economias altamente orientadas também encontram dificuldades em evoluir de uma forma maleável e orgânica por causa de poderosas alianças, empreendimentos e grupos de interesse criados nos estágios anteriores do desenvolvimento. Até 2030, tanto para as economias avançadas quanto para os mercados emergentes, o controle oligárquico desestimula o crescimento que de outra forma teria sido possível.

No mundo industrializado, o vínculo tradicional entre crescimento econômico e aumento do emprego em tempo integral e bem pago é gradualmente quebrado. Isso leva a uma maior insegurança e a uma crescente “informalização” do trabalho. Com o uso de impressão 3D, juntamente com o aumento crescente dos níveis de uso da Internet e das tecnologias de comunicação, a mão de obra torna-se relativamente menos essencial à produção. Os retornos do capital continuam favoráveis, enquanto os governos aumentam as barreiras para proteger os empregos nas suas próprias economias. Esse protecionismo leva a uma maior fricção entre os países.

As pressões protecionistas aumentam, impulsionadas não somente pela necessidade de proteger o mercado interno de trabalho, mas também pelo desejo de proteger direitos adquiridos. Os Estados buscam o envolvimento de forma oportunista com os mercados globais, ao invés de se abrirem por completo à globalização.

Apesar da força considerável da retórica ao contrário, as economias avançadas não conseguem obter sucesso na restruturação fundamental dos seus sistemas financeiros de forma a apoiar inovações de base ou empreendimentos de pequeno e médio porte. No entanto, há pouco apetite para expor o sistema político à ameaça quase existencial imposta por outra Grande Recessão. As regulamentações financeiras mais onerosas tencionam a intermediação financeira, além de serem uma barreira eficaz à entrada. Os reguladores nacionais adotam uma visão cada vez mais cética das atividades entre fronteiras das instituições financeiras estrangeiras, insistindo que o capital deve ser mantido localmente, ao invés de nos escritórios centrais.

CAMINHOS ECONôMICOS PARA CIMA E PARA BAIXO

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A ARMADILHA DA RENDA MÉDIAOs países pobres tendem a crescer mais rápido do que os países ricos a partir de uma base relativamente baixa, devido ao potencial inexplorado e devido ao fato de a imitação ser mais fácil do que a invenção. Mas isso não significa que todos os países pobres alcançam desenvolvimento. A maioria dos países que tinham renda média em 1960, em termos da renda por pessoa, continua nessa posição 50 anos mais tarde. Apenas 13 países escaparam dessa armadilha e fizeram a transição para economias de alta renda nesse período, incluindo a Coreia do Sul e Singapura, como exemplos mais notáveis.

À medida que as economias se tornam mais complexas, o controle centralizado é menos capaz de exercer a função de coordenação. Acima de um nível de atividade modesto, são necessárias ondas de reformas estruturais econômicas e financeiras para manter o vigor do crescimento econômico.

No nível global, há relativamente poucas mudanças nos aspectos essenciais da ordem monetária global: o dólar continua a ser a principal moeda de reserva e os EUA detêm seu domínio do FMI e do Banco Mundial, em parte porque seu principal rival, a China, está ocupada demais lidando com tensões internas para arriscar uma mudança significativa no seu próprio sistema financeiro que possa resultar de um papel regional mais proeminente.

De maneira geral, nas décadas de 2020 e 2030, várias formas de obstáculos atrapalham as atividades do sistema econômico global. O desenvolvimento econômico global decepciona, enquanto as economias avançadas permanecem rígidas ou tornam-se rígidas, e várias economias anteriormente emergentes caem em várias formas de armadilhas de renda média. O crescimento anual do PIB global nesse período fica em uma média inferior a 2%. n

LIçÕES DE OTTO VON BISMARCK E SIMON COWELL

ESPAçO PARA MANOBRA

As elites governantes podem criar espaço para manobra com a adoção de programas que distraem a oposição apoiando a estrutura adjacente do seu regime.

A Alemanha foi a primeira nação do mundo a adotar um programa de seguro social em 1889, concebido pelo Chanceler Otto von Bismarck. Sua motivação para introduzir o seguro social era promover o bem-estar dos trabalhadores, manter a economia alemã trabalhando no seu máximo de eficiência e evitar alternativas socialistas mais radicais.

Mais recentemente, as loterias nacionais e a proliferação de “reality shows” na TV oferecem caminhos bastante divulgados para uma pequena minoria de indivíduos que tornam-se privilegiados financeira ou socialmente, criando uma impressão exagerada de mobilidade social.

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PROSPERIDADE

Alguns economistas e responsáveis por políticas defendem que uma carga fiscal baixa estimula o esforço pessoal e o investimento corporativo, enquanto uma crescente desigualdade de renda e uma proporção mais alta de lucros somam-se às economias domésticas. Experiências mais recentes, no entanto, sugerem que essas vantagens são substancialmente neutralizadas por uma demanda de consumo fraca, resultante de rendimentos estagnados e tensões fiscais.

No passado, os economistas geralmente viam a desigualdade como uma condição necessária para o dinamismo econômico. Mas esse pensamento está atualmente sendo questionado. Em um estudo recente sobre desigualdade, Jonathan D. Ostry e Andrew G. Berg, do Fundo Monetário Internacional concluíram que a concentração de renda nas mãos dos mais ricos resulta não só em uma sociedade desigual, mas também em uma expansão econômica menos estável e um crescimento lento.

A desigualdade parece ter um efeito mais forte no crescimento do que outros fatores, incluindo investimentos estrangeiros, abertura ao comércio, competitividade da taxa de câmbio e a força das instituições políticas. Um número cada vez maior de economistas começou a se unir em torno dessa ideia, chamando atenção também para os perigos da desregulamentação.

Em relação aos grandes mercados emergentes, alguns sugerem que o desenvolvimento guiado centralmente, orquestrado por uma elite política e burocrática, pode resolver mais facilmente os problemas de coordenação em uma economia limitada em termos

de oferta. É certamente verdadeiro que economias tão diversas quanto a União Soviética, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Taiwan e China obtiveram sucesso considerável em alcançar um desenvolvimento industrial extraordinário sob uma direção central por um período considerável de tempo. Em contraste, a Índia é muita vezes mencionada como uma sociedade que permitiu que uma democratização prematura interferisse no seu crescimento.

No entanto, os argumentos são mais sutis do que esta formulação sugere. Para a maioria dos países, o crescimento rápido foi um importante fator para a legitimidade política nos estágios iniciais do desenvolvimento. Talvez também seja verdade que essa fase inicial de desenvolvimento sob autocracias causou mais desperdícios de recursos humanos e naturais do que teria acontecido em democracias, o que não é uma questão insignificante para um país pobre.

DESIGuALDADE, ECONOMISTAS E CRESCIMENTO

“ uMA MAIOR DESIGuALDADE SIGNIFICA uMA ECONOMIA MAIS FRACA, QuE SIGNIFICA uMA MAIOR DESIGuALDADE, QuE SIGNIFICA uMA ECONOMIA MAIS FRACA. COMO A DESIGuALDADE ECONôMICA ALIMENTA A ECONOMIA POLÍTICA, SuA HABILIDADE DE ESTABILIZAR A ECONOMIA FICA MAIS FRACA.”

JOSEPH E STIGLITZ Economista vencedor do prêmio Nobel

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ENERGIA PRIMÁRIA TOTAL POR FONTE

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A velocidade lenta do crescimento global tira um pouco da pressão da demanda energética. Além disso, as políticas do lado da oferta ajudam a disponibilizar recursos, e projeções otimistas para recursos recuperáveis são confirmadas.

O gás não convencional/de xisto e CBM são amplamente bem-sucedidos e evoluem para formar uma “espinha dorsal de gás” para o sistema energético global. Um planejamento urbano estratégico promove um desenvolvimento urbano mais compacto e a eletrificação do transporte. Uma infraestrutura de hidrogênio é desenvolvida para o armazenamento de energia e o transporte movido a recursos renováveis intermitentes ou remotos a longo prazo.

A demanda por combustíveis líquidos é comedida e o preço do petróleo permanece em média moderado. Os preços do gás natural convergem globalmente em níveis mais baixos como resultado das reservas de recursos potenciais de baixo custo, tais como o gás de xisto, que estão emergindo globalmente. Os preços moderados da energia fazem com que os recursos de alto custo não sejam explorados, o que coloca pressão em alguns detentores de recursos que são altamente dependentes de rendimentos energéticos.

A substituição parcial do carvão pelo gás e o incentivo da tecnologia de CAC contribuem para a redução rápida das emissões dos gases do efeito estufa após 2030. Entretanto, essas emissões excedem a trajetória necessária para um caminho de 2°C.

O RITMO DERRAPANTE DA DEMANDACom uma contínua lentidão econômica em algumas regiões e com decepções cada vez mais amplas em termos de crescimento e comércio, a turbulência financeira global do começo do século XXI entra em um período prolongado no qual a velocidade do crescimento da demanda energética é moderada.

Nas décadas de 2020 e 2030, algumas das economias antes mais emergentes têm dificuldade em ultrapassar as barreiras políticas e sociais da implementação de ondas de

mudanças estruturais industriais e financeiras que possam sustentar um ritmo elevado de desenvolvimento econômico. Apesar do crescimento populacional global, isso diminui o ritmo da aceleração da demanda por recursos.

No entanto, antes de meados do século, um número cada vez maior de economias emergem da estagnação da renda média e o crescimento econômico global começa a subir novamente. Contudo, por causa do impacto a longo prazo de medidas anteriores, tais como desenvolvimento urbano compacto e eletrificação, esse crescimento econômico não se traduz em aumento da demanda por energia, particularmente dada à proporção do desenvolvimento que ocorre também no setor de serviços com um uso menos intensivo de energia. Essa divergência marca uma quebra com a forte correlação até esse momento entre crescimento econômico e demanda energética.

ENERGIA E ASCENSãO DO GÁS

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ENERGIA E ASCENSãO DO GÁS

Durante a década de 1990, o hidrogênio foi a grande sensação como o novo combustível do transporte. No entanto, já não se fala mais tanto nisso em meados de 2000. Enquanto isso, o hidrogênio continuou a exercer um papel pouco notado, mas considerável, como matéria-prima industrial, por exemplo, na produção de amônia e refinamento de petróleo. A produção mundial de hidrogênio hoje tem um conteúdo energético equivalente a 2% do total da demanda por energia, ou um pouco mais de 10% da produção mundial de eletricidade. Em Montanhas, o hidrogênio é finalmente trazido ao mix convencional de energia quando forças de diferentes setores se combinam em um círculo virtuoso.

As empresas de eletricidade consideram cada vez mais difícil equilibrar carga de base e fontes de geração intermitentes, e diminuem-se as esperanças de que redes inteligentes serão capazes de satisfazer a imensidão do desafio de equilibrarem sozinhas o sistema. Começa a aumentar o medo de apagões parciais e dobra a atenção dada à energia baseada em hidrogênio, pois construir usinas de eletricidade que estão inativas na maior parte do tempo é algo caro e difícil de sustentar. Independentemente, cresce o interesse púbico por veículos de próxima geração movidos a células de combustível. A revista Top Gear™ decide comemorar seu 40º aniversário com uma edição em 2017 celebrando uma gama cada vez maior de veículos a célula de combustível de hidrogênio de alto desempenho que agora são “perfeitamente caros” para atrair consumidores mais ricos do Ocidente e também das economias em rápida ascensão da Ásia.

Com base em programas anteriores participativos de pequeno porte, em 2020 é formada uma aliança de empresas automobilísticas, empresas energéticas e fornecedores da indústria de hidrogênio para assegurar apoio e incentivo em vários países para programas substanciais para a construção de infraestrutura de hidrogênio. Os responsáveis pelas políticas reconhecem a necessidade urgente de garantir uma oferta estável e financeiramente acessível e de reduzir as emissões do transporte urbano. A possibilidade de um sistema energético mais flexível, eficiente e limpo através da integração do uso do combustível fóssil com a captura de dióxido de carbono também é atrativa.

Complementando a produção no local em áreas de indústria pesada, que incentiva economias de escala, são desenvolvidas redes locais e posteriormente regionais. A produção de hidrogênio, primariamente a partir do gás, é cada vez mais integrada ao sistema de eletricidade. Enquanto parte do uso de hidrogênio permanece escondido como armazenamento de energia em usinas para períodos de baixa demanda, seu uso final como vetor energético direto passa a ser mais óbvio na sociedade no transporte e geração de energia distribuída. Até 2060, os usos do hidrogênio no transporte ultrapassam a demanda industrial, sendo que os carros de passageiros são a principal força estimulando a produção, seguidos dos transportes de cargas rodoviárias.

Até o final do século, é possível que o hidrogênio tenha se erguido da sua posição inicial como um fênix.

O fÊNIX DO HIDROGÊNIO EM MONTANHAS

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TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS POR TRANSPORTADORA

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uMA INfRAESTRuTuRA DE TRANSPORTE EM TRANSfORMAçãOEm países importadores de energia com grandes populações urbanas, como a China e a Índia, as políticas governamentais oferecem incentivos para um desenvolvimento urbano compacto e os grandes negócios ajudam a planejar, financiar e executar projetos importantes. O desenvolvimento de cidades habitáveis eficientes é visto como uma forma de aliviar possíveis distúrbios sociais, que frequentemente se concentram nos centros urbanos. O desenvolvimento mais disseminado de cidades mais compactas oferece economias de uso de automóveis de em média 2.000 veículos/quilômetro por pessoa por ano, comparado a desenvolvimentos de baixa densidade comuns em várias partes do mundo atualmente. A redução é resultado de jornadas em média mais curtas, bem como de uma mudança para o transporte público e veículos de duas rodas. Além disso, as políticas de cidades compactas acompanham medidas para impor padrões de economia de combustível para veículos, uma imposição facilitada pelos habitantes dessas cidades que tendem a usar veículos menores ou híbridos e comprar veículos elétricos (movidos a bateria elétrica ou hidrogênio). As emissões por tubos de escape, as medidas antipoluição, os impostos sobre combustíveis e as taxas da pegada de CO2 integradas à importação exercem também um papel importante no alcance de eficiências.

Em muitas economias emergentes, números cada vez maiores de veículos movidos a gás natural são acrescentados à frota de veículos. Os caminhões movidos a gás natural começam a entrar no mercado, seguidos pela eletrificação de algumas vans de entrega locais. Os designs urbanos compactos facilitam essa transição através de centros radiais de transporte.

Remover o petróleo inteiramente do transporte rodoviário mundial é um compromisso verdadeiramente colossal. Com o crescimento reduzido da demanda por viagens, veículos mais eficientes e o uso cada vez maior de gás natural, eletricidade e hidrogênio, os combustíveis líquidos para o transporte rodoviário de passageiros declina após um pico global em 2035.

Até 2070, o mercado rodoviário de passageiros pode chegar a ser quase livre de petróleo e até o final do século uma disseminação extensiva da infraestrutura de hidrogênio desloca a demanda de petróleo para viagens longas e pesadas. Até lá, a eletricidade e o hidrogênio podem ser dominantes e veículos híbridos de hidrogênio recarregáveis e acessíveis oferecem o melhor da flexibilidade e eficiência.

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A ESPINHA DORSAL DE GÁSA história da energia no mundo de Montanhas é a história da ascensão do gás natural. Na primeira década do século XXI, sucessos na exploração e avanços tecnológicos mais do que dobram a base de recursos recuperáveis de gás. O gás não convencional/de xisto e CBM são fatores dominantes no crescimento dos recursos de gás, pois uma combinação de tecnologias de perfuração e fraturação desencadearam a produção.

O desenvolvimento de novos recursos em todo o mundo é cada vez mais bem-sucedido, permitindo que tanto a demanda quanto a oferta cresçam extensivamente. Esse crescimento é apoiado por políticas de incentivo do lado da oferta, que são comuns no mundo de Montanhas.

Embora haja certo nível de incerteza referente à quantidade restante de gás não descoberto, a produção de gás não convencional/de xisto assume uma porção cada vez mais significativa do mix de gás global, e o crescimento é sustentado para além de meados do século. Em um prazo ainda mais longo, o incentivo do lado da oferta para a realização de pesquisas e o desenvolvimento e aplicação em escala permite que os hidratos de metano sejam desenvolvidos. Esses recursos expandem ainda mais o crescimento da oferta de gás até o final do século XXI.

Os oito países que eram responsáveis por 60% da produção global de gás em 2012 continuam a aumentar sua participação nas próximas três décadas. No entanto, o surgimento de novos recursos cria uma nova ordem mundial

de produtores de gás. O anteriormente esperado declínio da produção norte-americana de gás é revertido e a China se junta aos três maiores produtores, permitindo que esses dois grandes consumidores de energia reduzam sua demanda por carvão e, mais tarde, por petróleo.

Um crescimento econômico global relativamente fraco e a abundância de gás significa períodos de pressão decorrentes da descida de preços para os produtores de todas as energias primárias, e muitos deles acham difícil garantir os retornos econômicos desejados. Até certo ponto, este é um fenômeno que se autoequilibra, pois mais uma vez o investimento reduzido restringe a oferta.

No mundo do petróleo, preços moderados colocam pressões em projetos fronteiriços tecnicamente difíceis e caros, mais comuns fora da OPEP. Países que são grandes detentores de recursos (MRH) começam a sofrer com rendas reduzidas, e começam a aflorar agitações sociais.

Embora as demandas populares por reforma política sejam atendidas em alguns países, os preços do petróleo, que são em média moderados, perpetuam a instabilidade e restringem a oferta. Os resultantes picos periódicos nos preços fortalecem o foco em políticas em outros lugares para reduzir a dependência na importação, o que é justificado domesticamente como sendo “bom para todos”. No entanto, as pressões intensas da OPEP e a necessidade de incorporar a produção crescente do Iraque também resultam na produção demasiada em relação a quotas e períodos de depressão dos preços.

PRODUÇÃO DE ÓLEO, CONDENSADO E GNL

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NOVAS RESERVAS DE RECuRSOS POTENCIAIS

Recursos como gás não convencional/de xisto, metano das jazidas de carvão (CBM) e xistos betuminosos (também conhecido como gás não convencional leve) são hidrocarbonetos que estão presos em formações rochosas amplamente impermeáveis em áreas subterrâneas profundas. Isso faz com que sejam praticamente imóveis e difíceis de serem acessados por meio de formas tradicionais de extração de gás e petróleo. As rochas que contêm esses recursos são arenitos ou carbonatos, xistos e carvões muito duros. Geralmente a produção somente é possível quando a rocha que os contêm é fraturada sob pressão hidráulica, um processo conhecido como “fracking”.

O gás não convencional/de xisto e CBM já formam mais de 15% da produção de gás mundial e têm o potencial de aumentar para 40% com o tempo. Estima-se que a base total de recursos seja equivalente a cerca de 100 anos do consumo de gás global atual. Os recursos de xistos betuminosos são menos seguros. Atualmente, são responsáveis por apenas 1% da produção mundial total de óleo e espera-se que isso aumente para no máximo 5-10%. As estimativas recentes da base global

de recursos são equivalentes a 15 anos do consumo de petróleo atual.

Obter água para o “fracking” pode ser um problema em áreas onde a água é escassa. Alguns estão preocupados com o fato de que o “fracking” pode fazer com que o gás passe para aquíferos de águas superficiais, embora normalmente a separação vertical entre gás subterrâneo e água seja de milhares de metros. Em alguns casos isolados, o “fracking” de poços foi associado a pequenos eventos sísmicos. O transporte de grandes quantidades de equipamentos necessários para desenvolver esses recursos de petróleo de gás também são preocupantes.

A aceitação pública e política do “fracking” varia de país para país. A América do Norte até agora é a região que mais o aceita, devido principalmente ao fato de os direitos de mineração pertencerem a indivíduos, que estão livres para lucrar com o seu arrendamento. Essa atividade é proibida em alguns países, incluindo a França, onde acredita-se estar localizado o maior potencial da União Europeia.

Dezenas de quilômetros*

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Revestimento paraproteger águas subterrâneas e isolar camadas geológicas

Acumulação de gás estrutural convencional

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Acumulação de gásde metano das jazidas de carvão

Sobrecarga – contém várias camadas impermeáveis que prendem gás nos seus reservatórios

Acumulação contínua de gás (gás não convencional/de xisto)

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Acumulação convencional de óleo *

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GÁS NãO CONVENCIONAL/DE XISTO E CBM

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Nesse mundo de tensão geopolítica, os EUA continuam a ser o fiador de bens públicos globais mais ativo, incluindo a paz regional, e permanecem ativamente engajados na diplomacia do Oriente Médio.

A abundância de gás e a demanda energética moderada em geral levam a um platô de consumo de petróleo na década de 2030 e um subsequente declínio nas décadas a seguir.

O gás em abundância também abre caminho para a eletrificação do transporte e permite que infraestruturas de hidrogênio recém-construídas forneçam armazenamento e transporte para energia renovável de mais longo prazo e intermitente. Novas redes de gás são construídas para serem mais tarde transferidas para hidrogênio, sendo necessário apenas um custo suplementar. A infraestrutura de hidrogênio permite o crescimento posterior de veículos a célula de combustível. As empresas de envio e de frete rodoviário começam a usar gás natural na forma de gás natural liquefeito (GNL). Com o tempo, a indústria de downstream vê uma transição firme para o não uso de combustíveis líquidos.

A estrutura de gás exige mudanças ao longo do século. Historicamente, seu uso tem sido orientado ao aquecimento, especialmente em latitudes temperadas. No cenário de Montanhas, o gás deixa alguns setores, tais como o aquecimento de prédios, ao longo de várias décadas. Posteriormente, também começa a deixar a geração de eletricidade. Simultaneamente, surgem novos mercados, especialmente de frete rodoviário e envio, bem como de petroquímicos. O mercado de produtos químicos prospera, em parte por causa do desenvolvimento da química de metano que permite a conversão do gás natural em produtos químicos.

Na década de 2030, o gás natural torna-se a maior fonte global de energia primária, colocando um fim ao reinado de 70 anos do petróleo. Antes disso, o carvão reina como a fonte energética global número um, durando cerca de 50 anos (aproximadamente de 1910 a 1960) após ter substituído fontes tradicionais de biomassa como madeira, turfa, estrume e resíduos agrícolas. n

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A fraturação hidráulica ou “fracking” tem o potencial de disponibilizar grande volumes de petróleo e gás, mais do que já foi consumido pelo mundo até agora e quase metade da recuperação futura esperada de petróleo e gases convencionais combinados. Na América do Norte, a indústria de gás deu uma reviravolta. Enfrentando o final da autossuficiência de gás natural em 2008, os preços subiram vertiginosamente para $12/MMBtu. Hoje, a produção aumentou 10% e o preço do gás está abaixo de $4/MMBtu. O continente enfrenta um longo futuro de crescimento da oferta energética com a continuação dos preços baixos do gás natural. A capacidade planejada de importação de GNL dos EUA foi cancelada e os planos para terminais de exportação começam a ser colocados em prática.

Como um combustível e matéria-prima de baixo custo, o gás e o gás natural liquefeito têm o potencial de revitalizar a indústria pesada norte-americana e de abrir novos mercados de transporte. As teorias do pico do petróleo são abandonadas à medida que os EUA entram em uma nova era de crescimento da produção, visando a possibilidade de autossuficiência energética até 2030.

Os EUA lideram o mundo no desenvolvimento da tecnologia nesse campo e na colheita dos benefícios provenientes do seu uso. Os fornecedores tradicionais de petróleo para os EUA estão desviando os carregamentos para novos mercados, e o carvão americano agora é exportado para a Europa, já que o gás torna-se o combustível de preferência para a geração de energia nos EUA.

A REVOLuçãO TECNOLÓGICA CONSEGuIRÁ SER GLOBAL? Mesmo com desafios técnicos, sociais e ambientais a serem superados, a perfuração exploratória continua a progredir em todo o mundo, e poços de petróleo e gás produtivos já foram perfurados em países como a Argentina. Alguns relatórios sugerem que a China pode ter mais gás de xisto do que os EUA, e poços estão sendo perfurados para investigar o potencial, já que essa economia em rápido crescimento busca alternativas para o carvão. O gás não convencional/de xisto tem o potencial de mudar a ordem mundial de energia.

Foram levantadas preocupações de que a abundância de gás pode prejudicar o avanço do setor de renováveis, mas o gás também pode agir como combustível fundamental enquanto a indústria de renováveis se desenvolve e a oferta intermitente torna-se um desafio cada vez maior. Além de substituir o carvão para reduzir as emissões de CO2, o gás pode servir como combustível de destino de baixo carbono juntamente com a tecnologia de captura de carbono, proporcionando uma flexibilidade de retaguarda para uma porção cada vez maior de renováveis.

Mas o crescimento de reservas de recursos potenciais tais como gás de xisto e xisto betuminoso não é de forma alguma definitivo. Novas tecnologias, competências e políticas precisam ser transferidas e desenvolvidas para transformar esse potencial em produção.

O desenvolvimento deve ser realizado de uma forma responsável e comprovada para que ganhe aceitação pública. O futuro pode ser incerto, mas novas reservas de recursos potenciais têm o poder de moldá-lo..   

A REVOLuçãO DO XISTO

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HIDRATOS DE METANOUm hidrato de metano é um gás de metano preso em estruturas cristalinas de moléculas de água por uma combinação de baixa temperatura e alta pressão. Esses hidratos são encontrados em abundância nos oceanos e também nas regiões de gelo permanente do Ártico em vários sedimentos. Os métodos de extração estão em estágios iniciais de testes, sendo que os Estados Unidos (Alasca) e o Japão estão na liderança. Prevê-se que a produção a partir das fontes mais fáceis (Ártico e areias marinhas) apenas ocorrerá após a metade do século XXI.

As estimativas de volumes locais variam enormemente, com um potencial técnico recuperável atual de zero para mais de 100 vezes a produção atual de gás em todo o mundo por ano.

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EM GERAL, A PROJEçãO DE EMISSÕES ATÉ MEADOS DO SÉCuLO uLTRAPASSA A TRAJETÓRIA DA META DOS 2°C

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� Indústria� Serviços� Transporte� Residencial� Geração de eletricidade*

Gt C

O2/

ano

� Refinaria e biocombustíveis**� Biomassa para uso não energético***� Outra produção energética� CAC Indústria� CAC Refinaria

Total

� CAC Eletricidade� CAC Outra produção energética

CO2 POR PONTO DE EMISSÃO

-30

-25

-20

-15

-10

-52010 2040

Ano

2070 2100

* Inclui biomassa para eletricidade que é, em combinação com CAC, um sumidouro de carbono.** Inclui biocombustíveis que são tratados como "créditos de carbono". Emissões de líquidos contadas em Transporte.

*** Biomassa comercial, sem competição com a cadeia de alimentos.

Other Energy Production CCS

Electricity CCS

Re�ning CCS

Industry CCS

Other Energy Production

Biomass - Non Energy

Electricity Generation

Residential

Transport

Services

Industry

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Re�ning & Biofuels

2070 2100

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CÉuS NuBLADOSAs emissões provenientes do uso de energia de hidrocarbonetos continua a crescer até a década de 2020, embora o ritmo moderado do desenvolvimento econômico tenha um impacto nessa trajetória. É de importância significativa a substituição do carvão por gás nos setores industrial e de geração de energia. Um setor de eletricidade neutro em carbono é uma possibilidade cada vez mais viável com o crescimento geral das contribuições de energia nuclear e de biomassa, e a aplicação da tecnologia de CAC passa a ser incorporada nas décadas seguintes. Esse processo é promovido por políticas segundo as quais os custos são transferidos aos consumidores. Os preços da eletricidade começam a refletir o preço implícito das emissões, enquanto o preço explícito do dióxido de carbono continua irregular e, em geral, baixo.

Desenvolvendo planos já iniciados, as primeiras iniciativas de CAC florescem e alcançam mais de 30% de captura de emissões de CO2 provenientes de energia até 2050, e 70% por volta de 2075. Esse sucesso

permite que o carvão seja reintroduzido posteriormente quando a próxima onda de economias emergentes faz com que a demanda aumente novamente. A tecnologia de CAC é também aplicada à geração de energia de biomassa. A produção de biocombustíveis de segunda geração contribui com “emissões negativas” para o sistema e começa o processo de realmente reduzir a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera.

A geração de eletricidade chega efetivamente a zero-CO2 até 2060. Em 2090, esses sumidouros de carbono neutralizam o impacto restante dos setores de transporte e industrial que são difíceis de serem descarbonizados.

Em geral, a situação cumulativa de emissões até meados do século significa que a meta de 2°C não é alcançada, mas posteriormente o uso expandido de CAC como sumidouro de carbono oferece um componente fundamental para um caminho potencial de gestão das emissões globais totais. n

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Oceanos é um mundo no qual interesses divergentes e a difusão de influências são tratados com uma onda crescente de entendimento. Essa trajetória é impulsionada por uma população global cada vez maior e com mais poder econômico, bem como um reconhecimento crescente das camadas mais privilegiadas de que seu sucesso contínuo exige comprometimento. As reformas estáveis das estruturas econômicas e financeiras acompanham o desenvolvimento das nações em rápida ascensão e progressivamente facilitam a produtividade de setores mais abrangentes da sociedade. No entanto, a volatilidade e os diferentes grupos de interesse impedem o desenvolvimento de políticas em outras áreas e, portanto, os recursos difíceis são disponibilizados primariamente pelas forças de mercado.

Inicialmente, pressões econômicas afetam a coesão social, forçando mudanças nas estruturas econômicas e políticas. As reformas despertam aspirações e quando são bem-sucedidas também criam expectativas de mais mudanças em termos de bem-estar, estruturas sociais e instituições internacionais significativas. Aumentam as aspirações, e as expectativas em relação a melhorias contínuas na qualidade de vida tornam-se fixas. A globalização é fortalecida; os países em desenvolvimento sustentam suas trajetórias de crescimento de recuperação e as principais economias em rápida ascensão passam para uma fase de crescimento mais equilibrado.

Gradualmente, as pressões cada vez maiores em termos de alimentos, água, energia e outros recursos tornam-se um novo foco de tensão social e política. As agitações políticas e o crescimento de grupos de interesses com poder agora dificultam o desenvolvimento de políticas, e a escassez de recursos é quase totalmente tratada pelas

forças de mercado agindo segundo estruturas antigas de políticas que fixam os preços de externalidades inadequadamente.

Com economias emergentes continuando a surgir e a impulsionar a demanda por energia, e sem mecanismos políticos eficazes em vigor, a demanda começa a comprimir a oferta. O nó fica ainda mais apertado quando a produção de gás convencional/de xisto e CBM não alcança as expectativas iniciais, obtendo um sucesso relativamente limitado fora da América do Norte, em parte por causa do apoio político irregular e em parte por causa de decepções geológicas e tecnológicas.

O crescimento na produção de petróleo por parte de alguns grandes detentores de recursos também é inicialmente limitado no cenário de Oceanos, por causa do impacto das transições de liderança. No entanto, os investimentos voltam a aumentar quando a estabilidade é restaurada. Períodos de alta nos preços do petróleo liberam novos recursos e opções de tecnologia, resultando em um longo jogo do petróleo.

Com um crescimento do volume de gás mais modesto do que o esperado, o carvão mantém um papel forte na geração de calor e energia. As tensões de recursos tornam-se graves, e os altos preços e as crises eventualmente estimulam um forte investimento do lado da demanda na eficiência de utilização. Essas medidas não são suficientes para lidar com as preocupações ambientais, visto que as emissões de gases do efeito estufa seguem um caminho em direção a um alto grau de mudança do clima e necessidade de adaptação significativa. n

OCEANOSUMA VISÃO DO HORIZONTE

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OCEANOS: uMA VISãO GERALn Interesses econômicos e políticos novos e concorrentes

chegam intermitentemente a acordos.

n Reformas desencadeiam nova produtividade econômica e aumentam as aspirações por novas reformas.

n Grupos com novos interesses adquiridos dificultam o progresso de políticas secundárias até que as pressões de recursos tornam-se agudas, como por exemplo, o crescimento das expansões urbanas, os atrasos na captura e o armazenamento de carbono.

n Preços mais altos liberam recursos de energia mais caros e impulsionam eficiências por parte do usuário final.

n Combustíveis líquidos e carvão continuam a exercer um papel importante no mix de energia até a ascensão da energia solar na segunda metade do século. O gás natural cresce mas não alcança as expectativas devido a estruturas de políticas inadequadas e recursos decepcionantes.

n As emissões de gases do efeito estufa alcançam seu pico e permanecem altas por um período longo de tempo até que são reduzidas devido a uma combinação de energia de biomassa, CAC e solar.

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PROSPERIDADE

São iniciadas ou aceleradas reformas institucionais nos sistemas político, fiscal, jurídico e financeiro por meio de uma combinação de respostas às crescentes frustrações das classes médias e a visão de futuro dos influentes do momento. Em nações onde há uma compensação insuficiente para as mudanças relativas de privilégio, ocorrem transições abruptas e até mesmo violentas. Essas transições destroem capital e desestimulam investimento. De maneira geral, as principais economias em rápida ascensão aprendem com os maus exemplos e tomam medidas para evitar esses problemas e, portanto, são capazes de conduzir reformas e restabelecer normas políticas sem colapso.

A força das economias em desenvolvimento estimula as economias avançadas. As reformas na Zona do Euro (envolvendo uma redução das soberanias nacionais) ajudam a criar algo como uma Renascença Europeia. A economia norte-americana fica estável, mas relativamente limitada por uma feroz polarização política em torno do papel do governo.

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LIDERANçA

Em Oceanos, há a expansão da participação na liderança para além dos detentores do poder. Os líderes começam a emergir das classes médias para representar interesses mais amplos, criando formas de coesão social que evitam mais eficazmente a captura por parte de interesses restritos.

Alguns membros das camadas privilegiadas reconhecem a importância prática e moral de investir mais em justiça social, reconhecendo também que a resiliência nacional normalmente requer a resiliência de vários setores da sociedade. Há uma mudança na ideologia popular em direção ao destaque de “destinos interconectados”, que muitas vezes é promovida por líderes científicos e de negócios mais acostumados a relações competitivas do que colaborativas, e amplificada pelas influentes comunidades de fé.

Inicialmente, o Paradoxo da Liderança mostra pouco movimento à medida que são criadas novas posições políticas, mas isso finalmente leva a um número de reformas profundas e abrangentes. Entretanto, com o tempo, essas reformas resultam, em realidade, em novos interesses adquiridos que tendem a paralisar outras reformas. Contudo, bens públicos locais e nacionais são impulsionados por um longo período de tempo e até mesmo alguns bens públicos globais são considerados quando a nova atenção política o permite. n

CONECTIVIDADE

Em Oceanos, os líderes focam as questões nacionais, em parte porque as reformas institucionais são geralmente concentradas em nível nacional. Surge também uma combinação entre localismo e internacionalismo, catalisada pelo poder do mundo digital de enfatizar tanto audiências locais quanto questões difundidas globalmente. Aparecem diferentes afiliações que são consistentes com uma ideologia de “destino partilhado” e, portanto, mesmo com a ênfase nas questões nacionais, a ideia de protecionismo não é tão forte como poderia ser em outros casos.

A web é difundida e aprofundada e permanece aberta. Enquanto essa abertura incentiva criatividade e variedade, também permite a contenção de perspectivas, ou seja, as pessoas optam por explorar apenas aquilo que lhes é familiar e se associam apenas com “pessoas como a gente”. Essa ênfase estreita é possibilitada pela tecnologia de sites de busca e de outros usuários de grandes volumes de dados que voltam para o indivíduo aquilo que ele já expressou como sendo uma de suas preferências. Portanto, embora surjam novas coalizões que impulsionam novas agendas, há também um número crescente de grupos isolados, excluídos ou negligenciados.

A conectividade aumenta a capacidade de melhorar a coordenação científica, de negócios, financeira e da cadeia de fornecimento, mas também aumenta a capacidade de transmitir mudanças de opinião muitas vezes irracionais e de diminuir a confiança em instituições no mundo todo, somando-se à volatilidade do cenários de Oceanos.

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O início das reformas aumenta as aspirações das pessoas por mais, e uma nova - e mais expressiva - política ganha dinamismo. A política, ou seja, o debate entre políticas alternativas e a resolução de conflitos de interesses ultrapassa as agendas estabelecidas pelos governos e é impulsionada pela ascensão de uma sociedade civil cada vez mais dinâmica que desafia o governo e busca soluções para problemas que estão fora do controle público. Em Oceanos, parecer aliado a um lado mais do que a outro (seja o interesse comercial ou político) é arriscar perder a influência entre os líderes em ascensão.

n O debate sobre a educação é realizado entre pais de diferentes estratos sociais que desejam as melhores oportunidades possíveis para seus próprios filhos e um número cada vez maior de pessoas sem filhos que lamentam a ênfase nessa provisão às custas de outros serviços.

n O debate sobre a mudança do clima é realizado entre a geração mais velha que sempre controlou o problema e uma geração mais jovem que quer encontrar soluções e reverter seus possíveis impactos.

n As elites financeiras são questionadas nas ruas de Londres e Nova Yorque.

n Os regimes autocráticos são desafiados por comunidades de “web-cidadãos” com o poder da informática.

O SuRGIMENTO DOS “WEB-CIDADãOS”Em um mundo cada vez mais conectado em rede, o poder popular leva a política a estabelecer os termos sob os quais cada mercado opera e a adaptar o Estado conforme seus desejos. A ênfase é colocada nos direitos individuais e coletivos, que são mantidos contra o Estado, ao invés de nas responsabilidades individuais em relação ao Estado. Revertendo a famosa citação de John F. Kennedy no seu discurso de posse presidencial, as pessoas perguntam o que o seu país pode – e deve – fazer por elas, ao invés de o que elas podem fazer pelo país.

As organizações não governamentais (ONGs) são revitalizadas, principalmente aquelas que expandem seu foco para além de questões isoladas e abraçam uma abordagem sistêmica e abrangente. Em contraste, é bastante difundido o ceticismo público em relação à honestidade e eficácia dos políticos e suas burocracias. Os grandes negócios caem na mesma categoria de desconfiança. Suspeitos de estarem presos a relações incestuosas com o governo, normalmente são vistos como “politizados”. Do implacável ponto de vista do público, as empresas e os governos ficam ou caem pela sua reputação, seja esta justificada ou não.

A tecnologia da informação emerge como uma força social poderosa e provedora de interfaces alternativas para os governos e em torno da qual identidades coletivas coalescem. Esse desenvolvimento desafia os governos nacionais que finalmente buscam, de forma ineficaz, controlar essas redes. A revolução da informação cria expectativas e demandas, impulsionando melhorias e, ao mesmo tempo, incendiando ressentimentos contra as estruturas de controle social estabelecidas, que são vistas como um impedimento ao progresso das pessoas. Essas forças populistas são atualizadas no cenário de Oceanos. Elas geram novas ideias e novas pressões, mas às vezes, promulgam pontos de vista limitados e egoístas.

uMA VARIEDADE DE LITORAIS

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“ O QUE MAIS IMPRESSIONA É A ACELERAÇÃO, A PROGRESSÃO GALOPANTE DA MUDANÇA OU, EM OUTRAS PALAVRAS, O COLAPSO DO TEMPO. DA PRIMEIRA PEDRA LASCADA AO PRIMEIRO AÇO FUNDIDO FORAM QUASE 3 MILHÕES DE ANOS; DO PRIMEIRO FERRO À PRIMEIRA BOMBA DE HIDROGÊNIO FORAM APENAS 3.000.”

RONALD WRIGHT Breve história do progresso

TARA E TINAA globalização continua, mas a natureza da globalização, ou pelo menos nosso entendimento normativo dela, muda. Na década de 1990, foi dominada pela hegemonia dos EUA e pelo Consenso de Washington: uma abordagem liberal e baseada no mercado livre para administrar economias nacionais. Em outras palavras, a globalização era equiparada para seguir o modelo econômico norte-americano.

Pela sua própria natureza, a globalização descentraliza influência e difunde poder: à medida que muitos países crescem agarrando as rédeas da globalização, eles deixam suas próprias marcas culturais, sociais, econômicas e políticas em tudo aquilo que a globalização promove. O Consenso de Washington começa a ser equiparado em influência pelo Consenso de Pequim, que defende, como alternativa, uma abordagem política e econômica autoritária mais centrada no Estado. Na realidade, são praticados vários modelos de governança com diferentes níveis de envolvimento do Estado.

Até 2025, a influência dos EUA diminui tanto que o conceito de TINA (do inglês, “There Is No Alternative”), onde não há alternativas para o avanço da globalização, liberalização e tecnologia, é substituído pelo conceito de TARA (do inglês, “There Are Real Alternatives”), onde são possíveis alternativas reais. Isso não consiste em um declínio da globalização, liberalização ou economia, mas um processo dinâmico no qual outros Estados se recuperam e colhem os benefícios de uma ordem internacional aberta estabelecendo suas próprias regras para lidar com isso. O conceito de TARA leva a um declínio do poder relativo dos EUA, que, no entanto, continua a determinar as fronteiras da produtividade global e da tecnologia.

O “poder suave”, ou seja, o poder que atrai outros e molda o pensamento das outras pessoas por meio da natureza convincente de seus próprios valores e exemplos não é mais um monopólio americano. Outros países e causas oferecem modelos políticos e econômicos alternativos convincentes e influenciam de uma maneira ou outra por meio do “poder suave” que cada um é capaz de dispor.

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A modernidade globalizada não é mais comparada ao modelo dos EUA, contudo, como um oceano que toca diferentes litorais, é associada aos caminhos do desenvolvimento asiático, bem como as trajetórias baseadas na forte tradição social-democrática europeia. Essa globalização diversa e polimórfica é expressa no fortalecimento de identidades regionais supranacionais em diferentes partes do mundo.

O APARECIMENTO DO “MINILATERALISMO”Os problemas enfrentados pela ordem global em Oceanos surgem da sua maior complexidade e da proliferação de transações internacionais e transacionais. Estas requerem coordenação que as instituições globais existentes acham cada vez mais difíceis de administrar.

Em contraste às abordagens multilaterais de grande escala do passado, o “minilateralismo”, que algumas pessoas definem como o menor número possível de países para assegurar o maior impacto possível, provou ser mais eficaz. O minilateralismo proporciona a velocidade e a flexibilidade necessárias para começar a lidar com a grande complexidade dos problemas globais. Com o tempo, o grupo central se expande para incluir outras partes, tornando-se universalmente difuso e expandindo sua legitimidade. Nas próximas duas décadas, proliferarão soluções minilaterais, mantendo a globalização no bom caminho.

As forças que definem a globalização vêm de várias fontes diferentes, levando à volatilidade e desestabilização, pois as antigas forças estatais ficam enfraquecidas. A concentração cada vez maior de riquezas, normalmente em minorias definidas etnicamente, resulta em confrontos com comunidades majoritárias que dividem o mesmo espaço. Isso fica particularmente marcado em geografias com grandes populações de jovens.

Os resultados são colisões explosivas entre democracia e poder populista de um lado e mercados (e minorias que são vistas como beneficiárias deles) do outro. Assim como a revolta contra as minorias ricas, o antagonismo é direcionado contra os EUA, que ainda são vistos como

um ente todo-poderoso. Nas correntezas transversais de Oceanos, a globalização da democracia de mercado livre gera reações destrutivas e violentas que pontuam a trajetória da globalização e levam a um período de transições voláteis, junto com crescimento econômico.

Essa globalização de retalhos de Oceanos não necessariamente cria contradições. Às vezes as diferentes forças trabalham juntas em uma forma de sincronia que reconhece interesses comuns em uma ordem global aberta e estável. A fluidez de Oceanos cria espaço para manobra para que forças conflitantes se alinhem e encontrem resoluções que possam gerar resultados positivos.

Contudo, ainda existem tensões, em parte porque os governos são pressionados a satisfazer as expectativas cada vez maiores das pessoas e as demandas por bem-estar social, bem como a provisão de serviços públicos. Juntamente com as correntes rápidas e fluidas que geram oportunidades e expandem a mobilidade social, o cenário de Oceanos continua a induzir tensões e choques turbulentos.

A próxima década é caracterizada por um delicado ato de equilíbrio. Na esfera doméstica, uma sociedade civil insubordinada não quer mais ser limitada pelo Estado, mas ainda se volta ao Estado para fornecer a segurança e os serviços que formam as bases essenciais para que os mercados operem eficientemente. No sistema internacional, a soberania é limitada em um mundo de mercados globalizados e sociedades civis firmes.

Nesse mundo de globalização revitalizada, os Estados ainda afirmam sua soberania. Muitos resistem às tentativas de impor regras legais e éticas a questões “universais”, tais como os direitos humanos e, às vezes, se dão conta de que seus valores tradicionais são conflitantes com suas obrigações globais.

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OS NOVOS MANDARINSAté 2030, a ordem mundial será mantida por relações econômicas globais, nacionalmente impalpáveis. Há um impulso em direção à abertura das fronteiras nacionais, baseado em uma crença na eficiência do mercado, que é limitado por sua vez por preocupações relativas à coesão social e aos efeitos negativos dos mercados globais. Esses efeitos negativos são, até certo grau, mitigados pelo crescimento econômico, mantendo o descontentamento controlado, enquanto os países em desenvolvimento diminuem a lacuna em relação ao países desenvolvidos, que também alcançam mais crescimento.

As regras são difíceis de serem impostas globalmente e ainda mais difíceis de serem acordadas. Esse é um problema duradouro no mundo de Oceanos, mas que é mitigado de certa forma por iniciativas minilaterais.

À medida que o cenário de Oceanos progride ao longo do século, uma nova geopolítica começa a emergir de colaborações entre países que constroem “arquiteturas adequadas” para regular os fluxos globais. Estas são baseadas em vínculos tecnocráticos entre burocracias internacionais e nacionais. Não são as reuniões de ministros do governo, nem as reuniões de organizações não governamentais internacionais que definem o sistema internacional. Contrariamente, são as redes transnacionais de cooperação tecnocrática prática que impulsionam o progresso. Essas redes conectam burocracias que têm poucos valores em comum e não veem a necessidade deles. Também não estão preparadas para adotar modelos econômicos ou políticos universais.

Os Novos Mandarins sofrem de uma falta de responsabilidade democrática global mas, ao mesmo tempo, não há uma autoridade global única que imponha suas exigências nos outros. O etos pode ser resumido como “monótono, mas importante – e funciona”.

Caminhando para um mundo com recursos cada vez mais finitos e tensões ambientais crescentes, os países mais fortes normalmente não são os maiores, mas sim os atores mais ágeis de médio porte que são economicamente eficientes e que abraçaram caminhos radicais para a sustentabilidade econômica, incluindo o Japão, liderado por uma geração de jovens que reconhecem que pouco pode ser muito, bem como a Coreia do Sul, a Noruega e uma União Europeia revitalizada que dá aos seus Estados-membros espaço para manobra.

Os países maiores são desafiados a descentralizar e inovar para conquistar um crescimento sustentável. Até a década de 2030, os EUA conseguem renovar e revitalizar suas forças inovadoras tradicionais. A China também transforma seu modelo de governança, criando uma “nova China” com espaço para vigor inovador, impulsionada por uma onda de empreendedorismo dinâmico.

As sociedades civis ganham mais poder que nunca com a tecnologia. Mas a influência da sociedade civil nas estruturas globais é mesclada. As organizações sociais usam novas formas de comunicação e mídia para avançar suas agendas e para aumentar sua influência sobre questões globais. Essas agendas variam de liberal e democrática a limitadamente intolerante ou mesmo criminosa. Como suas contrapartes da atualidade, as redes de mídia global disseminam informações, pontos de vista globais e intolerância paroquial com o mesmo vigor.

Mesmo assim, no coração da história de Oceanos estão comunidades definidas por geografia, interesses ou capacidades. Elas formam a base de toda a estrutura geopolítica. São suas decisões e sua habilidade de colaborar e se envolver globalmente que determinam o destino deste edifício global. n

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PROfESSOR ANNE-MARIE SLAuGHTERUniversidade de Princeton, A New World Order (Uma nova ordem mundial), 2004

“ Uma nova ordem mundial formada por redes governamentais horizontais e verticais pode criar um Estado de direito genuinamente global sem instituições globais centralizadas e pode envolver, socializar, apoiar e limitar agentes governamentais de todos os tipos em todas as nações. Nesse futuro, poderemos ver instituições governamentais desagregadas – os membros das redes governamentais – como os verdadeiros portadores de uma medida de soberania, fortalecendo-as ainda mais, mas também submetendo-as a obrigações legais específicas (...) Seria uma ordem mundial criada e composta por instituições estatais desagregadas, permitindo que as nações-estados evoluam de forma a acompanhar as mudanças no setor privado e que expandem o poder estatal. Seria uma ordem mundial eficaz no sentido de ser capaz de traduzir princípios escritos em ação individual e organizacional. Para ser verdadeiramente eficaz, também terá que ser uma ordem mundial justa, ou mais inclusiva, respeitosa, tolerante e igualitária possível.”

uMA NOVA ORDEM MuNDIAL

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TRANSfERINDO A RIQuEZA DO SuCESSOOs países escandinavos são muitas vezes os mais bem- sucedidos em reconciliar seus modelos sociais e fiscais com os níveis cada vez mais altos de globalização no mundo de Oceanos. Mesmo assim, a igualdade continua a ser em grande parte um processo guiado pelas elites, pois é um reflexo de agitações vindas de baixo. Nesse mundo, as maiores economias são relativamente pobres, e adições à força de trabalho global vêm principalmente do sul asiático e da África subsaariana.

Em economias avançadas, o sucesso continua sendo distinguido pelo sistema educacional. Este é sustentado pela igualdade do acesso à educação da mais alta qualidade, mecanismos eficazes de ensino até o final da vida e um alto padrão mínimo de educação para todos os residentes. Os países bem-sucedidos conseguem superar desafios políticos imensos inerentes ao processo de transferência de recursos, tais como a segurança financeira e médica, da crescente população de idosos para os jovens. É uma transferência difícil, mesmo em uma economia fechada, mas especialmente em um mundo globalizado.

O espaço para manobra é alcançado através de uma mistura complexa de descentralização e transferências fiscais. As economias abertas de tamanho médio se adaptam com mais facilidade a essas mudanças do que as grandes economias continentais, sendo que as nações do G20 terminam na retaguarda ao invés de na vanguarda da inovação social.

Após uma transição difícil, as sociedades que conseguem superar esses desafios e oferecem empregos produtivos e competitivos para a sua mão de obra são recompensadas com um crescimento mais rápido.

MERCADOS EMERGENTES: NEGOCIANDO A “ARMADILHA DA RENDA MÉDIA”Em Oceanos, os mercados emergentes que adotam organizações sociais mais inclusivas tiram proveito de um dividendo de crescimento que permite que evitem a “armadilha da renda média”. Eles sustentam sua evolução em direção ao status de economias avançadas principalmente porque têm muito caminho a percorrer, seja na atualização da tecnologia ou na urbanização. Parte do crescimento sustentável acontece por causa de uma demografia favorável. Uma característica definidora do cenário de Oceanos é o sucesso da Índia e da China na adoção de um sistema econômico inclusivo e que promove a capacitação, à medida que enriquecem. Nesse cenário, a Ásia continua a ser a região mais dinâmica da economia global.

À medida que as economias de grande porte e relativamente pobres da Ásia dão grandes passos domesticamente e em termos de segurança regional, a urbanização impulsiona um boom no investimento em infraestrutura. Esse boom inclui residências familiares e se compara ao crescimento da infraestrutura nos EUA, Europa Ocidental e Japão na décadas de 1950 e 1960.

TRANSIçÕES E BOLHAS ECONôMICAS

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“ GRANDES GANHOS EMANCIPATÓRIOS PARA A LIBERDADE HUMANA NÃO FORAM O RESULTADO DE PROCEDIMENTOS INSTITUCIONAIS ORDENADOS, MAS DE AÇÕES DESORDENADAS, IMPREVISÍVEIS E ESPONTÂNEAS QUE DESTRUÍRAM A ORDEM SOCIAL A PARTIR DE BAIXO.’”

LIDERANçA

A perspicaz crítica da sociedade indiana de 1990 de V.S. Naipaul “Um milhão de motins agora” sugere que após um milênio de uma hierarquia social sufocante legitimada pelo sistema de castas, uma combinação de independência, afluência e democracia estava desencadeando o questionamento geral da ordem e autoridade tradicionais – um milhão de motins. Como romancista e diarista, a preocupação principal de Naipaul eram as implicações humanas e políticas dessas revoltas. Sua tese traz também importantes implicações econômicas para a expansão do empreendedorismo e da produtividade humana. Essas implicações, pelo menos no caso da Índia, tornaram-se mais claras desde que seu trabalho foi publicado.         

uM MILHãO DE MOTINS

Enquanto uma parte considerável desse boom é financiada publicamente, a intermediação financeira exerce um papel importante, incluindo o investimento transnacional por meio de ações e títulos. Para se proteger contra o problema do comportamento de rebanho e interrupções repentinas dos fluxos de capital, é criado um banco de infraestrutura BRIC, bem como novos mecanismos de fortalecimento de crédito. Novos credores oferecem competição às instituições financeiras internacionais dos EUA e da Europa, e até meados do século, Nova Yorque e Londres dividem sua supremacia no mercado com Singapura, Xangai e Mumbai.

Para acomodar a transferência de recursos do exterior, muitos mercados emergentes asiáticos aceitam déficits moderados e a valorização das suas taxas de câmbio. O aumento do valor da sua moeda coloca pressão no crescimento do emprego, que ainda é fortemente dependente das exportações.

ATRAPALHANDO O MONOPÓLIO DA ELITE Na África subsaariana e em muitos países do sul e do sudeste asiático, as pressões provenientes de insatisfações rurais e religiosas perturbam o monopólio da elite. Vários países, como por exemplo, Gana, fazem progresso estável. Para outras, melhorias em governança e infraestrutura não sobrevivem ou não trazem qualquer melhoria para os resultados econômicos.

Embora Oceanos seja um mundo no qual os mercados emergentes crescem e prosperam, a volatilidade inerente às transições rápidas cria incertezas, especialmente para investidores estabelecidos com muito a perder n

JAMES C. SCOTTTwo Cheers for Anarchism (Dois vivas à anarquia)

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A ERA DOURADA AMERICANA E ALÉM

1917

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1982

1987

1992

199720022010

Ano

A Longa Era Dourada

Classe Média Americana

A Grande Compressão

A Grande Divergência

Fonte: Thomas Piketty and Emmanuel Saez, correção Paul Krugman

Prop

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25

32

39

46

53

60

PROSPERIDADE

Há Eras Douradas diferentes, mas conectadas, acontecendo simultaneamente no mundo. Por um lado, há a Nova Era Dourada nos EUA e em muitos países desenvolvidos de língua inglesa. Do outro, há a primeira Era Dourada nos países emergentes da era moderna, que estão se aproveitando das oportunidades abertas pela globalização, industrialização e urbanização, assim como fez o mundo Ocidental no século XIX, mas com uma tecnologia mais avançada e uma economia global muito mais interconectada.

Os privilegiados dos países emergentes são os que mais se beneficiam, mas essa Era Dourada para o mundo desenvolvido também está tirando da pobreza uma grande faixa da população que passa para a classe média. As elites dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento agora são interconectadas e colhem os lucros dos trabalhadores da industrialização e urbanização nos países em desenvolvimento. Os mais pressionados são os trabalhadores de ambos os mundos, conforme sobem degraus da escada econômica. Enquanto isso, a economia digital, que supostamente substituiria a economia industrial no Ocidente, gera cada vez menos empregos.

A colisão dessas duas eras douradas está criando intensas pressões políticas e sociais. Mudanças sempre causam transtornos e os ganhos provenientes dessas mudanças são desigualmente distribuídos. Pode muito bem haver uma reestruturação resultante da Era Dourada no mundo em desenvolvimento. Os primeiros sinais disso estão aparecendo com o aumento da renda e das desigualdades sociais e a raiva e a indignação cada vez mais fortes das novas classes médias. Elas detectam abusos de poder e corrupção por parte das suas elites governantes e de negócios, que se juntam em relações capitalistas cúmplices. Podemos esperar mudanças convulsivas antes de qualquer ponto de reestruturação ser alcançado.

APRENDEREMOS COM A HISTÓRIA?

A Era Dourada original nos EUA levou a uma “Era Progressista” marcada pela presidência de Theodore Roosevelt a partir de 1901, quando a opinião pública, preocupada com a exploração e os abusos da época, começou a pressionar contra seus excessos. Um governo mais ativista lidou com os interesses dos pequenos negociantes, agricultores e movimentos trabalhistas, buscando a limpeza do processo político e diminuindo os abusos por meio da dissolução de grandes negócios e monopólios. O trabalho de jornalistas e ativistas como Ida Tarbell foi importantíssimo para esse movimento. Mas foi só quando o Presidente Wilson introduziu os impostos de propriedade e renda e as reformas contra trustes, seguidos pelo Novo Acordo de Franklin D. Roosevelt, que a desigualdade de renda começou a ser comprimida. O Novo Acordo efetivamente pôs fim à Era Dourada e fez surgir uma sociedade de prosperidade amplamente partilhada e um período de crescimento estável que continuou até a Era Reagan nos anos 80, quando as divisões sociais e econômicas voltaram a se alargar.

DuAS ERAS DOuRADAS

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ENERGIA PRIMÁRIA TOTAL POR FONTE

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Ano

� Petróleo� Biocombustíveis� Gás natural

� Biomassa gaseificada� Carvão� Biomassa/resíduos

� Biomassa tradicional� Nuclear� Hidroeletricidade

� Other Renewables� Geotérmica Outros renováveis� Solar� Eólica

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1200Other Renewables

Wind

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Hydro-electricity

Nuclear

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Coal

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Natural Gas

Biofuels

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2060205020402030202020102000

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Enquanto economias emergentes continuam a surgir e a demanda energética cresce, a tensão entre oferta e demanda resultante é ainda mais constringida por políticas energéticas atrasadas.

Fora da América do Norte, o gás não convencional/de xisto e CBM têm sucesso limitado devido a uma combinação de políticas e decepções geológicas e tecnológicas.

À medida que as transições políticas têm um impacto negativo no investimento, a produção de petróleo de alguns grandes detentores de recursos também é inicialmente constrangida. Portanto, Oceanos é um mundo onde os preços de óleo e gás são particularmente altos. Essa realidade econômica leva à disponibilização de novos recursos e oportunidades tecnológicas, invocando um “longo jogo do petróleo” e ascensão da energia solar em escala global.

Como o crescimento da produção global de gás natural é mais modesto do que o esperado, os preços, que se mantêm regionalizados, são fortes em regiões de relativa escassez. As tensões de recursos tornam-se agudas. Os preços altos e as crises periódicas estimulam uma forte atenção do lado da

demanda para aumentar a eficiência do uso. Contudo, com um forte crescimento energético e uma atenção atrasada à tecnologia de CAC, as emissões de gases do efeito estufa seguem um caminho preocupantemente muito mais alto do que a meta de 2°C, o que, por sua vez, aumenta ainda mais o foco na adaptação dos efeitos da mudança do clima.

REVIRAVOLTAS NA DEMANDA E GRuPOS DE INTERESSEA turbulência financeira global do começo do século XXI introduz um período longo de reformas econômicas e políticas estruturais ou casos ainda mais dramáticos de reestruturações onde as tensões não são resolvidas. Esses desenvolvimentos apoiam a recuperação do crescimento econômico global e, consequentemente, a forte nova emergência de demandas energéticas subjacentes. O crescimento populacional exerce um papel importante, mas muito mais significativo é o desenvolvimento contínuo, e muitas vezes turbulento, da maior parte das economias de rápido crescimento da atualidade ao longo das décadas de 2020 e 2030. O desenvolvimento desses países é seguido de subsequentes ondas de desenvolvimento das economias mais pobres da atualidade. A maré alta levanta todos os barcos, mesmo que irregularmente.

AS GRANDES ONDAS DA DEMANDA ENERGÉTICA

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No mundo de hoje de 7 bilhões de pessoas, as desigualdades de renda e consumo de energia são gritantes. Hans Rosling destacou essa lacuna, demonstrando que 2 bilhões de pessoas vivem abaixo do nível de pobreza de US$2 por dia. As 5 milhões de pessoas restantes estão divididas em três grupos:

n Três bilhões de pessoas vivem com menos de US$40 por dia, que permite um consumo de energia básico nas suas casas, por exemplo, uma lâmpada e talvez um fogão.

n Um bilhão de pessoas vive com menos de US$80 por dia – suficiente para operar uma máquina de lavar.

n Um bilhão de pessoas têm vidas comparáveis ao mundo desenvolvido e são capazes de pagar, por exemplo, uma viagem de avião nas férias.

CONSuMO SuSTENTÁVEL

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Paradoxalmente, aqueles beneficiados pelas reformas políticas financeiras e econômicas são responsáveis por atrasos nas reformas da energia. A combinação entre respostas políticas de energia atrasadas, uma demanda crescente e várias decepções de oferta levam a preços de energia altos e crescentes.

A mudança na demanda energética global é dramática. Em 2000, os países membros da OCDE eram responsáveis por 55% da demanda mundial de energia. No entanto, com a ascensão da China, a participação da OCDE diminuiu para 45% em 2010. A mudança de Oeste para Leste continua no cenário de Oceanos e a participação da OCDE cai para cerca de 33% em 2030, com impactos significativos nos fluxos de comércio de energia do mundo todo.

Por meio de reformas estruturais profundas, as economias de rápido crescimento conseguem fazer uma transição adiantada da indústria pesada para leve. Esses países desenvolvem uma economia com um setor de serviços maior, seguindo um padrão emergente de desmaterialização em todo o mundo. A pressão nos recursos gera preços e incentivos econômicos para a eficiência, reciclagem e reutilização. A indústria pesada recicla aço e alumínio, muitas casas usam bombas de calor e os aparelhos domésticos tornam-se extremamente mais eficientes.

Até o final do século, um terço das matérias-primas químicas podem vir da reciclagem e do reutilização e a eficiência geral do setor da indústria pesada global aumenta em 80%.

Há ganhos de eficiência consideráveis nas construções, pois aumenta a porcentagem de moradias passivas e residências fortemente readaptadas entre as construções em geral. Com um ambiente de preços altos de combustível, o valor econômico das melhorias de energia de capital intenso é alto. A eficiência energética doméstica melhora 60% em média até 2060 e possivelmente 90% até 2100.

Mesmo em muitos países pobres, as rendas pessoais mais altas permitem um mudança direta para a energia solar fotovoltaica (solar FV) no setor residencial, substituindo a biomassa tradicional. A imensa quantidade de tecnologias de geração localizadas e mais eficiência dos aparelhos elétricos leva a uma eletrificação de grande escala.

Fora da América do Norte, com recursos decepcionantes e um apoio político irregular, novas reservas potenciais têm apenas um sucesso limitado. O mercado rodoviário global de passageiros busca alternativas para os combustíveis líquidos, tais como veículos a gás natural, elétricos ou movidos a hidrogênio. As alternativas não fazem incursões consideráveis nas próximas duas décadas, em parte por causa dos impressionantes avanços tecnológicos com motores de combustão interna que mantém os carros a gasolina e diesel à frente.

“ ...SEIS DAS TRINTA E UMA PROVÍNCIAS, MUNICIPALIDADES E REGIÕES DA CHINA CONTINENTAL SERIAM CLASSIFICADAS ENTRE AS TRINTA E DUAS MAIORES NAÇÕES DO MUNDO EM TERMOS DE PODER DE COMPRA. XANGAI SE EQUIPARA À ARÁBIA SAUDITA.”

JONATHAN fENBy Tiger Head, Snake Tails (Cabeça de Tigre, Rabo de Cobra), 2012

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Os fabricantes de carros competem por tecnologias avançadas de motor de combustão, e outros ganhos de eficiência dos veículos a gasolina e diesel seguem a adoção difundida das tecnologias híbridas. Baterias menores para veículos híbridos (ao contrário das baterias maiores necessárias para os veículos recarregáveis via plug-in) tornam-se mais econômicas para quem compra carros novos e se preocupa com os altos preços do combustível. Em muitos países, os preços altos e o envelhecimento da população levam a uma redução parcial dos veículos. Os avanços na ciência de materiais e petroquímicos possibilitam a criação de subprodutos para os veículos mais leves. A luta pela volta dos veículos a gasolina e diesel contra os substitutos é bem-sucedida apesar do preço do petróleo mais alto, já que o custo por quilômetro continua acessível.

A longo prazo, o preço mais alto do petróleo oferece suporte para o desenvolvimento de recursos de petróleo mais caros e para a utilização em massa dos biocombustíveis. Até meados do século, os combustíveis líquidos ainda são responsáveis por 70% dos quilômetros de passageiros rodoviários.

A demanda por petróleo aumenta entre as décadas de 2020 e 2030 antes de atingir um platô longo na década de 2040. Com o crescimento forte dos biocombustíveis o total de combustíveis líquidos continua a crescer até 2060, dando origem ao longo jogo do petróleo (e dos combustíveis líquidos). No entanto, até o final do século, os biocombustíveis satisfazem cerca de dois terços de toda a demanda de transporte por combustíveis líquidos e o petróleo é, na sua maior parte, usado como matéria-prima petroquímica, onde seu valor tende a ser o mais alto.

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A biomassa, como o hidrogênio, exerce um papel pivô no futuro a longo prazo dos sistemas energéticos com menos emissões de carbono. No cenário de Oceanos, incentivos econômicos são alinhados a preferências dos consumidores e negócios para tornar a biomassa uma das opções energéticas mais valorizadas, primeiro no transporte e depois como matéria-prima para plásticos transformados.

Os altos preços do petróleo em Oceanos, além de estimularem a produção de provisões de petróleo mais difíceis, também são um incentivo para os produtores de biocombustíveis. Os biocombustíveis de primeira geração crescem estavelmente, atingindo um pico de um pouco mais de 4 milhões barris de óleo equivalente por dia em 2050. À medida que são aplicados critérios de sustentabilidade mais rigorosos, são feitas mudanças nos tipos e locais de cultivos ao redor mundo, principalmente para uma produção mais tropical de etanol da cana-de-açúcar. Mas é com o desenvolvimento de biocombustíveis de segunda geração (derivados dos cultivos de não alimentos ou resíduos de colheitas) que a produção decola. Esses biocombustíveis começam a ser produzidos comercialmente na década de 2020 e até 2050 a produção global alcança os níveis dos biocombustíveis de primeira geração.

Embora lidar com biomassa como matéria-prima seja muito mais difícil do que lidar com petróleo e gás, os bioplásticos

conquistam uma grande aceitação entre consumidores e também emergem em escala comercial devido ao aumento da demanda por materiais. Até 2060, quase 10% de todos os materiais petroquímicos são derivados da biomassa, potencialmente subindo para 25% até o final do século.

Nos países em desenvolvimento, a eletrificação oferece ainda mais suporte à comercialização de biomassa. O sucesso crescente da energia solar FV permite que os usuários finais saltem diretamente do uso de fontes de energia tradicionais (resíduos agrícolas, madeira, turfa e estrume) para usar eletricidade em casa, até para cozinhar. A demanda cada vez mais fraca por biomassa tradicional leva várias comunidades a desenvolverem biomassa comercialmente. Até o final do século, o uso de biomassa tradicional para energia desaparece quase por completo.

Embora as limitações à base de recursos acabe por restringir a contribuição de biomassa a longo prazo, seu lugar ainda é substancial, com diferentes tipos de biomassa suprindo quase um quinto da energia primária total no final do século. Nessa época, os biocombustíveis também atendem dois terços de todas as necessidades de transporte em termos de combustíveis líquidos. A captura de carbono por meio de bioplásticos e a integração da produção de biocombustíveis com CAC compensam no final todas as emissões de energia restantes provenientes de combustíveis fósseis no sistema energético mundial.

BIOMASSA EM OCEANOS: O CuLTIVO DA ENERGIA

� Base potencial de recursos de biocombustíveis*

Demanda por combustíveis líquidos para Transporte em 2060 (Oceanos)

Demanda por combustíveis líquidos para Transporte em 2010

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OceaniaAfricaAsiaEuropeSouth AmericaNorth America

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* Base de recursos maximizada para produção de segunda geraçãoFonte: estudo da Ecofys para a Shell

POTENCIAL DE BIOCOMBUSTÍVEIS EM COMPARAÇÃO COM A DEMANDA DE COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS PARA TRANSPORTE

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BASE DE RECURSOS DE GÁS

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� Produzido� Convencional desenvolvido� Convencional subdesenvolvido� Potencial de recuperação

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� Convencional a ser encontrado� Gás não convencional� Hidratos de metano

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BASE DE RECURSOS DE PETRÓLEO

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� Produzido� Convencional desenvolvido� Convencional subdesenvolvido� Potencial de recuperação Convencional� Convencional a ser encontrado

� Óleo não convencional leve Xistos betuminosos� Óleo extrapesado Betume� Querogênio

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1000

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7000Kerogen

Extra Heavy Oil / Bitumen

Light Tight Oil / Liquid Rich Shale

Yet to Find Conventional

Scope for Recovery Conventional

Undeveloped

Discovered Conventional

ProducedOceanosMontanhas

COMBuSTÍVEIS LÍQuIDOS E A ASCENSãO DA ENERGIA SOLARA energia em Oceanos continua no seu caminho recente, com uma combinação de sucessos exploratórios e avanços tecnológicos, apoiados pelo preço crescente do petróleo.

Uma melhor capacidade de perfuração mesmo nos ambientes mais difíceis permite o acesso a águas profundas e ao Ártico; técnicas mais avançadas de recuperação de petróleo tornam-se cada vez mais viáveis; tecnologias de fraturação e perfuração permitem o desenvolvimento atraente de óleo não convencional leve e xisto betuminoso em formações rochosas. O ambiente de alto preço do petróleo e maiores capacidades técnicas para produzir óleo extrapesado em lugares como Canadá, Venezuela, Rússia e Cazaquistão liberam o potencial desses recursos.

Em Oceanos, os países que produziram mais de 75% da atual produção global de petróleo em 2012 aumentam ainda mais sua participação. Os países da OPEP detêm o maior potencial de crescimento a baixo custo e aumenta ainda mais a recuperação com tecnologias mais caras. No entanto, esses desenvolvimentos são inicialmente limitados por instabilidade geopolítica e o consequente investimento insuficiente na maioria dos países da OPEP.

Com o tempo, a proteção propiciada pela capacidade excedente da OPEP fica erodida e os mercados se adaptam a uma volatilidade de preços mais altos e a uma nova gestão comercial e estratégica de estoques. A longo prazo, a OPEP volta a ter estabilidade suficiente para que o investimento decole, mas a pressão para satisfazer o forte crescimento da demanda mantém os preços altos, permitindo o desenvolvimento de reservas convencionais e potenciais de maior custo fora da OPEP.

Até a década de 2030, os EUA veem uma redução gradual das importações em termos do volume geral de petróleo, em parte por causa do aumento da oferta e em parte por causa dos padrões de eficiência dos combustíveis. Os preços mais altos ajudam a moderar a demanda. No entanto, há desalinhamentos consideráveis entre a cada vez maior importância dos xistos betuminosos e a configuração das refinarias e sistemas de dutos e, consequentemente, a importação e exportação de produtos refinados ou petróleo bruto ainda são necessárias. Os choques de preços ainda atingem a América do Norte e é mantido o interesse nacional na estabilidade do sistema energético global por razões de políticas internacionais mais amplas.

A produção de gás natural continua a crescer, dando continuidade aos desenvolvimentos na América do Norte.

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Solar 37,7%

Biomassa gaseificada 5,3%

Biomassa de resíduos 4,1%

Carvão 3,9%

Nuclear6,3%

Geotérmica 4,4%

Eólica 8,40%

Petróleo 10,1%

Biocombustíveis 9,5%

Gás natural7,5%

Hidroeletricidade 2,2%

Biomassa tradicional 0,3%

Outros renováveis 0,03%

DOMÍNIO DA ENERGIA SOLAR ATÉ 2100?

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No entanto, as grandes expectativas que muitos tinham para o desenvolvimento global de gás não convencional/de xisto e CBM não são totalmente alcançadas, pois progressos mostram-se demasiadamente difíceis ou os volumes recuperáveis são muito baixos.

Apesar do seu impacto ambiental, o carvão continua a ser o mais econômico respaldo de segurança energética para a geração de energia, pelo menos até meados do século. A partir daí, a incidência cada vez maior de eventos climáticos extremos leva a um acordo internacional em torno das políticas climáticas suficientes para impulsionar investimentos significativos em CAC e para frear a produção de carvão. Com o avanço do CAC, o crescimento global da demanda por carvão é retomado até 2050, com novos países em desenvolvimento iniciando sua fase de desenvolvimento mais intensiva energeticamente. Na falta de regimes de políticas de apoio, a energia nuclear encontra barreiras para o seu crescimento na maioria dos países.

Os preços e demanda crescentes promovem um forte crescimento contínuo da energia renovável. Os biocombustíveis tornam-se cada vez mais importantes em setores como a mobilidade, onde há a dependência contínua de combustíveis líquidos por causa da falta de alternativas credíveis. Em outros setores, os recursos renováveis que precisam de consentimento de grande escala ou popular, tais como parque eólicos e esquemas de energia geotérmica, continuam a enfrentar oposição.

Essas condições favorecem o posicionamento da energia solar FV distribuída como uma das principais fontes de energia primária na economia global. Da sua posição atual como 13ª maior fonte de energia no mundo, cresce rapidamente, alcançando a quarta posição até 2040, atrás apenas do petróleo, gás e carvão, e prosseguindo para a primeira posição em 2100. O sol nasce para criar o domínio da energia solar no sistema global.

A ascensão da energia solar ocorre, em parte, devido a pressões públicas que levam os governos a priorizarem esse tipo de energia na “ordem de mérito” da eletricidade. A integração em rede é adaptada com um funcionamento mais variável de outras formas de

geração de eletricidade ao longo do dia – notavelmente a energia hidrelétrica, onde esta estiver disponível, ou gás, carvão e biomassa. À medida que aumenta a escala, os regulamentadores são forçados a passar esses custos mais altos de balanceamento da rede para os consumidores de energia. Por sua vez, isso incentiva os usuários finais a desenvolverem soluções locais para nivelar a oferta e demanda diárias de energia. Enquanto alguns começam a se concentrar em baterias e outros a armazenar energia como água quente, alguns aparelhos domésticos, tais como geladeiras e máquinas de lavar, oferecem a capacidade de serem conectados à provisão doméstica de energia solar. Pequenas comunidades criam redes solares cooperativas, fornecendo um nivelamento ainda maior dos padrões de oferta e demanda.

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Year� Oil� Biofuels � Natural Gas� Biomass Gasified� Coal

� Biomass/Waste� Biomass Traditional� Nuclear� Hydro-electricity� Geothermal

� Solar� Wind� Other Renewables

� Indústria� Serviços� Transporte� Residencial� Geração de eletricidade*

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� Refinaria e biocombustíveis**� Outra produção energética� Biomassa para uso não energético***� CAC Indústria� CAC Refinaria

Total

� CAC Eletricidade� CAC Outra produção energética

CO2 POR PONTO DE EMISSÃO

-20

-15

-10

-52010 2040

Ano

2070 2100

* Inclui biomassa para eletricidade que é, em combinação com CAC, um sumidouro de carbono.** Inclui biocombustíveis que são tratados como "créditos de carbono". Emissões de líquidos contadas em Transporte.

*** Biomassa comercial, sem competição com a cadeia de alimentos.

Other Energy Production CCS

Electricity CCS

Re�ning CCS

Industry CCS

Other Energy Production

Biomass - Non Energy

Re�ning & Biofuels

Electricity Generation

Residential

Transport

Services

Industry

210020700

5

10

15

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25

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35

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45

2070 2100

Balancear a rede ao longo de um dia é uma coisa. Balancear a rede ao longo de estações é muito mais difícil para a energia solar FV. Nas latitudes temperadas de muitos países da OCDE, 80% da eletricidade solar PV é gerada nos meses de verão. A eletrólise e o armazenamento de hidrogênio locais tornam-se uma parte fundamental da solução, particularmente quando combinados com seu uso industrial. Dada a dificuldade de coordenação política internacional de alto nível, isso prova ser mais prático do que os planos sugeridos para redes de eletricidade em escala continental.

Portanto, enquanto as nações mais ricas adotam a energia FV solar mais cedo, é em vários países emergentes que ela prospera a longo prazo. Até 2060, quase 40% da eletricidade é gerada pela tecnologia solar FV, dentro e fora da OCDE. Os números fora da OCDE continuam a aumentar para 60% até o final do século e essa revolução fenomenal faz parte de um crescimento no nível de geração de eletricidade global até sete vezes maior do que o nível de 2012.

TEMPESTADES NO CÉuO crescimento econômico global, a importância contínua do carvão na geração de energia e o uso do petróleo no transporte acompanham o crescimento contínuo das emissões de gases do efeito estufa em Oceanos. Compensados com eficiências e energia renovável, os gases do efeito estufa alcançam um platô onde permanecem da década de 2030 à década de 2050. Até lá, os níveis elevados de CO2 na atmosfera são claramente reconhecidos como conectados com o aumento observado de eventos climáticos extremos, que finalmente, resultam em mudanças políticas e no uso de tecnologias que até então estavam sendo deixadas de lado, complementando esforços esporádicos de colocar preços nas emissões.

Embora o uso de CAC no começo do século seja pouco significativo, a mitigação de CO2 é acrescentada à lista de prioridades urgentes a partir de 2060 para complementar a adaptação dos efeitos da mudança climática. A tecnologia CAC cresce de 5% das emissões de energia capturada para 25% até 2075. Até o final do

século, quase todas as emissões poderiam ser capturadas ou neutralizadas.

Tendo começado nas economias avançadas, o impacto do CAC rapidamente aumentou nas economias de crescimento rápido. Após 2050, é implementado relativamente cedo na fase de desenvolvimento econômico e industrial das novas economias em desenvolvimento, primariamente para mitigar emissões na geração de energia e refinaria.

A aplicação da tecnologia CAC em usinas de biomassa e biocombustível é a primeira contribuição para reduzir as concentrações gerais de dióxido de carbono na atmosfera. O setor de geração de eletricidade torna-se neutro em carbono na década de 2090. No entanto, na década de 2070, as compensações de carbono começam a contrabalançar as contínuas emissões dos setores de transporte e industrial, que são mais difíceis de serem descarbonizadas. n

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É POSSÍVEL ALCANçAR 100% DE ENERGIA RENOVÁVEL?

Uma das questões mais discutidas em debates sobre a transformação do sistema de energia é: quando alcançaremos um sistema energético baseado em 100% de recursos renováveis?

Nos Cenários sob novas lentes, os recursos renováveis atingem uma participação de 30-40% do total de energia até 2060 em Montanhas e Oceanos, alcançando talvez 60-70% de saturação se o horizonte temporal for expandido. Alguns podem ficar decepcionados com esses números, mas há boas razões para dizer que mesmo esse nível será uma vitória.

O primeiro desafio é a localização geográfica da base de recursos renováveis, que normalmente é muito longe dos centros de demanda de energia. Os locais onde pode haver grandes recursos solares (por exemplo, no deserto) são normalmente muito distantes dos centros populacionais, que também podem ficar em outros países ou continentes. Onde a localização compartilhada é possível, também existem outros problemas. As imensas porções de terras necessárias para a geração de energia eólica, solar FV e outras formas renováveis podem restringir sua implementação, sendo que a aceitação social do uso da terra é um problema potencial para que sejam alcançados níveis de penetração altos. O uso dessas tecnologias é problemático particularmente em países como a Índia e a Nigéria, por exemplo, que entre eles conterão quase um quarto da população mundial até o final do século (de acordo com projeções médias da ONU), mas que possuem apenas 3% da terra praticamente disponíveis do planeta.

O segundo maior desafio é a saturação do setor. Os recursos de energia renovável modernos geram primariamente eletricidade, mas em 2010, a eletricidade contava apenas com 18% da demanda total de energia. Há um limite na quantidade de eletricidade que pode ser forçada em outros setores. O setor de produtos químicos precisa de matérias-primas de hidrocarboneto, o de transporte (principalmente a aviação) precisa de combustíveis de hidrocarboneto e a fabricação de aço precisa de carbono.

Eventualmente poderemos ver um volume muito maior de hidrogênio usado no transporte. Mas no começo esse hidrogênio virá do carvão ou do gás. Produzir hidrogênio a partir de renováveis usando eletrólise é atualmente caro e termodinamicamente ineficiente.

O terceiro desafio refere-se à competitividade em termos de custo do armazenamento e transporte de energia em distâncias. Para que os renováveis façam uma contribuição significativa para nosso sistema energético, é necessário algum tipo de armazenamento para as circunstâncias nas quais a oferta não consiga satisfazer a demanda e vice-versa. Embora grandes quantidades de dinheiro já estejam sendo gastas em pesquisa, as tecnologias de geração estão deixando as tecnologias de armazenamento de lado. O armazenamento precisa progredir ou poderá limitar a velocidade do uso da tecnologia de geração renovável.

Alguns dizem que super-redes intercontinentais e imensos cabos submarinhos ofereceriam soluções para vários desses problemas. Outros apontam para o hidrogênio, não apenas como meio de armazenamento, mas também como uma fonte de energia transportável em forma de líquido. Embora essas soluções sejam tecnologicamente possíveis, são todas projetos enormes que cruzam fronteiras e custam vários bilhões de dólares. Será necessário um nível extraordinário de cooperação internacional e um vasto investimento financeiro para tomarmos esses passos em direção à descarbonização do nosso sistema energético.

O otimismo referente a um futuro completamente renovável precisa ser moderado pelo entendimento das consideráveis questões tecnológicas, geográficas e de mercado, bem como o desafio político e societário necessário. Mesmo assim, se o otimismo for direcionado a um sistema energético com zero emissão, incluindo o uso bem-sucedido de combinações de CAC e biomassa, essa será uma opção distintamente mais viável do que um sistema energético 100% renovável.

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Os Cenários sob novas lentes descrevem desenvolvimentos plausíveis nas esferas sócio-político-econômica e impulsionam a exploração a longo prazo da energia e de seus limites relacionados.

Esses limites refletem as possíveis consequências de cada cenário, mas não estão mecanicamente ligados a eles. Por exemplo, se as escolhas relevantes forem feitas, é possível que o robusto cenário econômico global em Oceanos seja acompanhado por parte dos avanços em energia atualmente atribuídos em Montanhas. Isso de certo modo aliviaria as pressões energéticas e ambientais mais extremas encontradas nos limites externos da história em Oceanos. Também é possível que as hipóteses mais otimistas sobre gás não convencional/de xisto e recursos globais de CBM encontrados em Montanhas sejam verdadeiras em qualquer um dos cenários. Ao longo do século, o acúmulo das emissões de CO2 chega a ser quase 25% maior em Oceanos do que em Montanhas gerando sérias preocupações sobre turbulências climáticas contínuas e destacando a necessidade de direcionar atenção e recursos a estratégias de adaptação. É, evidentemente, muito decepcionante considerar esse limite “rígido” em Oceanos – mas também é importante reconhecer que até mesmo o limite “frouxo” em Montanhas representa um desafio considerável à sustentabilidade ambiental a longo prazo. O acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera ainda excede as metas atuais para limitar o aumento da temperatura atmosférica a 2°C. Isso ocorre mesmo com as menores trajetórias econômicas, a rápida substituição do carvão pelo gás, os avanços no desenvolvimento urbano compacto com eficiência energética e a implementação acelerada da tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CAC) e de outras tecnologias.

Essas conclusões desafiadoras destacam a importância não só dos cenários, mas também de um diálogo muito maior para o qual contribuem, assim como as decisões tomadas como resultado desse mesmo diálogo. O crescimento econômico em si é geralmente positivo, embora, naturalmente, aumente a pressão sobre os recursos. Esta é uma característica central do Paradoxo da Prosperidade. Se apenas políticas fracas e reacionárias forem oferecidas no setor energético, então a trajetória rumo ao limite descrito em Oceanos vai se concretizar. Isso, por sua vez, provocará uma pressão extrema na economia de recursos e no meio ambiente, não apenas no que se refere ao CO2, mas também aos recursos de água doce e de alimentos.

Para que resultados insustentáveis sejam evitados, a lição fundamental é a necessidade de acelerar a implementação de políticas proativas e integradas – e de não argumentar que resultados econômicos inferiores por parte de países em desenvolvimento restringiria os efeitos dos gases de efeito estufa. Na verdade, economias promissoras podem vir a ser catalisadores necessários para políticas de recursos inteligentes, uma vez que preocupações ambientais tendem a perder prioridade quando o desenvolvimento econômico é lento.

Uma impressão do impacto da política acelerada e coordenada pode ser obtida a partir do gráfico de emissões de CO2, que ilustra uma análise de sensibilidade na qual a trajetória econômica global em Oceanos é combinada com a evolução dos recursos e do lado da oferta explorados em Montanhas e com a implementação prévia das respostas de utilização eficiente destacadas em Oceanos (Oceanos – limpos e verdes). Embora não seja ideal em termos de emissão, o impacto positivo é significativo – um resultado encorajador.

REfLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO E SuSTENTABILIDADE

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Nessa análise de sensibilidade, a demanda crescente é inicialmente atendida pelo aumento da oferta de combustível fóssil e do emprego de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CAC). Até 2030, cada vez mais fontes de energias renováveis entram no mix econômico em escala, a princípio para atender o aumento da demanda, mas, progressivamente, para substituir o carvão e o petróleo. A intensidade energética das tendências de desenvolvimento econômico sofre uma queda em consequência da melhoria do planejamento urbano e dos ganhos em eficiência na utilização de energia.

Juntos, esses avanços levam a um sistema energético construído com base em estruturas e aplicações eficientes, além de gás, exploração de carvão combinada ao uso da tecnologia de CAC e de recursos renováveis. Por ser composto por recursos em abundância, esse sistema atende a demanda, mantém os preços acessíveis e basicamente reduz o impacto ambiental.

Uma conclusão que pode ser tirada dos Cenários sob novas lentes é que uma mudança substancial não acontecerá por si só – como resultado da sinalização de preços ou de respostas políticas adiadas até que as crises tornem-se aparentes. Um resultado positivo requer uma série de avanços políticos proativos, visionários e coordenados, tanto nacional como

internacionalmente, o que, até o momento, parece estar além dos limites da plausibilidade.

Uma vez que a pior fase da crise financeira atual tenha passado, os alarmantes indícios de resultados negativos para todos os atores devem resultar na renovação da atenção. Se essas questões não forem abordadas, o limite rígido descrito em Oceanos se tornará realidade. Se, no entanto, as consequências climáticas aceitas por grande parte da comunidade científica estiverem corretas, o limite aqui descrito torna-se cada vez mais improvável. Em outras palavras, as elevadas emissões associadas a Oceanos poderiam gerar um nível de turbulência climática que prejudicaria severamente a economia, reduziria drasticamente a demanda de energia e diminuiria as emissões, embora por uma rota negativa.

Este trabalho ilustra uma trajetória hipotética para as emissões de gases do efeito estufa, com interrupções potenciais resultantes de turbulências climáticas que terão um impacto cada vez maior nas condições econômicas, sociais e políticas globais. Em vista das incertezas em torno dos avanços potenciais a longo prazo, não é vantajoso inserir ciclos de feedback tão dramáticos diretamente nos cenários centrais. Em vez disso, desejamos deixar bem claro o rumo que as trajetórias citadas estão tomando e apoiar um diálogo mais bem informado sobre as possíveis consequências.

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Histórico Oceanos Oceanos - limpos e verdes

Montanhas Caminho de 2ºC (ilustrativo)

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EMISSÕES DE CO2 GLOBAIS RELACIONADAS À ENERGIA

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A agricultura representa cerca de 70% do uso global de água doce, de modo que para explorar melhores práticas na utilização da água através dos cenários, seria necessário concentrar a atenção no setor agrícola.Contudo, os fornecedores de energia estão entre os maiores consumidores industriais de água doce. A água é utilizada principalmente para gerar energia, mas também é necessária para a perfuração, inundação de poços, refinamento de petróleo e produção de biocombustíveis. O International Water Management Institute (IWMI) estima que a indústria energética dos EUA responde sozinha por 40% de toda a água doce captada.

Por outro lado, é necessário utilizar energia nos processos de fornecimento, purificação, distribuição e tratamento da água e esgoto. No relatório “Clear Gold”, o CSIS afirma que em alguns países do Oriente Médio, a energia usada para dessalinizar a água corresponde a 65% do uso nacional de petróleo. De acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, 75% do custo da água provém dos gastos em energia, e 4% de toda a energia gerada é utilizada no transporte e tratamento de água.

Olhando para o futuro, nosso modelo de energia e suas ligações com a água indicam que em 2060 o consumo industrial de água doce será mais que o dobro do consumo atual. Essa é a situação indicada tanto em Montanhas quanto em Oceanos, embora a composição seja ligeiramente diferente. Os principais fatores são o crescimento da geração de energia elétrica a partir do carvão, embora outras formas de geração de energia elétrica também contribuam, assim como os biocombustíveis e o aumento da intensidade da água na produção de petróleo e gás. Contudo, a captação de água doce se iguala ao começo da década atual, devido aos avanços na produção de energia eficiente no que se refere ao consumo de água – por exemplo, a eliminação gradativa dos sistemas de resfriamento em ciclo fechado.

O NEXO DE INTERDEPENDÊNCIA: LIGAçÕES ENTRE ÁGuA E ENERGIA

Municipal 10%

Indústria 20%

Agricultura 70%

CAPTuRA GLOBAL DE ÁGuA DOCE POR SETOR

CONSUMO DE ÁGUA DOCE (MONTANHAS)

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� Produção de fósseis� Produção de biocombustíveis� Refinaria� Eletricidade - petróleo� Eletricidade - gás

� Eletricidade - carvão� Eletricidade - nuclear� Eletricidade - biomassa� Eletricidade - solar� Eletricidade - geotérmica

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150 Electricity - Geothermal

Electricity - Solar

Electricity - Biomass

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Electricity - Coal

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Biofuels production

Fossils production

206020352010

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O MuNDO PRECISARÁ DE 40% A 50% A MAIS DE ÁGuA, ENERGIA E ALIMENTOS ATÉ 2030

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POSSIBILIDADES DRAMÁTICAS: uRBANIZAçãO

Na década de 2020, uma série de tempestades violentas leva ao aumento do nível do mar na Ásia, causando grandes inundações em cidades costeiras. A resposta dos governos consiste em diques construídos às pressas, barreiras de desvio para novas tempestades e infraestrutura de energia renovável, principalmente parques eólicos e solares. Contudo, uma década mais tarde, uma outra série de inundações incomuns destrói essas barreiras de desvio e infraestrutura.

Os ricos conseguem garantir para si geradores e outros mecanismos energéticos de sobrevivência, mas os pobres exigem que o governo encontre um culpado para pagar por essa rodada de reparos. Além disso, ricos e pobres insistem que algo deve ser feito para sanar a principal causa do problema, isto é, reduzir drasticamente as emissões de CO2 no prazo de uma geração.

Em resposta a esse consenso social, os combustíveis fósseis ficam sujeitos a uma carga fiscal maior para arcarem com os custos das adaptações de infraestrutura exigidas pelas novas realidades climáticas. Eventualmente, esses custos são repassados para os consumidores finais, mas no começo pegam a indústria de combustíveis fósseis completamente desprevenida.

Nesse novo mundo, prefere-se o gás ao carvão, e os biocombustíveis tornam-se obrigatórios no mix de combustíveis em um ritmo vertiginoso. No final da década de 2030, a implementação da tecnologia de CAC também se apresenta em estado acelerado. Surgem medidas de regulamentação para adequar a utilização final da energia. Dentre elas incluem-se mandatos para a integração da resiliência, tais como: habitações ecologicamente corretas que emitem zero-carbono, painéis solares fotovoltaicos ou energia eólica e produção combinada de calor e eletricidade (CHP). A demanda de transporte é reduzida através do replanejamento de cidades que tornam-se mais compactas, equipadas com centros de logística e que dão preferência a soluções que produzem baixo teor de carbono (transporte público elétrico), que limitam a necessidade de utilizar automóveis.

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POSSIBILIDADES DRAMÁTICAS: ALIMENTOS E ÁGuAA partir da década de 2020, uma seca prolongada nos Estados Unidos e o excesso de chuvas e alagamentos em outras partes do mundo reduzem drasticamente a produção de alimentos nos 20 anos seguintes. Empresas multinacionais que possuem a maior parte das terras agrícolas dos Estados Unidos começam a vendê-las a fim de investir em empreendimentos mais previsíveis. Os fazendeiros de menor poder aquisitivo nos países em desenvolvimento enfrentam um aumento vertiginoso no preço do milho, arroz e trigo.

Condições climáticas extremas afetam fazendas, infraestruturas e linhas de abastecimento global, enquanto o aumento do nível do mar resulta na salinização dos rios Mekong e Ganges. A acidificação oceânica mostra-se igualmente prejudicial para a cadeia alimentar. Os corais, fitoplânctons calcários, mexilhões, caracóis, ouriços-do-mar e outros seres marinhos tornam-se incapazes de construir suas conchas ou esqueletos de carbonato de cálcio. Juntamente com alterações na temperatura do mar, esse desaparecimento progressivo desequilibra os ecossistemas marinhos de tal forma que várias espécies passam a migrar em grande escala, resultando até mesmo no colapso de ecossistemas.

Há migrações de populações em massa que dependem de todas essas fontes de alimentos. Os governos de vários países, sempre que possível, respondem a essa crise com projetos de irrigação e proteção à inundação, mas também se utilizam do deslocamento forçado de pessoas, que prova-se uma medida muito impopular. Além disso, as emissões de CO2 são tributadas de forma significativa. A China se destaca no uso de tecnologias de CAC limpando seu processo de geração de energia a partir do carvão e trazendo o carvão de volta à cena como um competidor formidável para o gás a longo prazo. Há uma redução dos biocombustíveis e de outras formas de biomassa utilizadas na produção de energia, uma vez que a produção de alimentos torna-se prioridade.

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O atual debate sobre o futuro energético é marcado por um grande abismo. Há quem faça projeções com base no que consideram plausível tendo em vista a realidade atual, a natureza do comportamento humano e a gama de possibilidades técnicas e econômicas. Outros almejam resultados que gostariam que se tornassem realidade e, em seguida, demonstram a viabilidade matemática dessas metas a fim de oferecer encorajamento.

Do ponto de vista da resiliência , o problema na primeira abordagem é que todos os resultados plausíveis parecem ser ecologicamente insustentáveis a longo prazo e, portanto, tornam-se economicamente insustentáveis. A segunda abordagem supõe uma mudança sísmica no comportamento humano e um consumo de energia em menor escala a partir de hoje. Além disso, o debate sobre as mudanças do clima tem sido fortemente contaminado por ideologias polarizadas e politizadas oriundas de tensões históricas.

Usando parte da linguagem utilizada neste livro, a evolução de políticas climáticas globais enfrenta atualmente uma Transição Complexa. A situação é de deriva, com apenas pequenos avanços ocorrendo enquanto as escolhas difíceis são adiadas, muitas vezes por anos. Esse atraso se dá através dos longos períodos de tempo que sustentam mudanças ecológicas globais. Mas o caminho arquetípico sugere que quanto maior o período de deriva, maior será a reposição necessária e redução associada do capital financeiro, político e social.

Será que estamos moralmente preparados para deixar que a próxima geração lide com essa questão? Se medidas forem tomadas mais cedo do que tarde, estaremos prontos para aceitar o potencial dano econômico e as frustrações causadas por erros no desenvolvimento de políticas e por beneficiários? Será que agora estamos prontos para explorar implementações de políticas por etapas que desencadeiem o poder do motor comercial para oferecer bens públicos globais ao mesmo tempo em que atende às necessidades privadas localizadas? n

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Vivendo em um mundo complicado e conectado, esperamos que esses cenários contribuam para um diálogo sobre os tipos de escolhas e colaborações que todos nós podemos fazer para alcançar um melhor equilíbrio de consequências positivas das nossas ações. De forma mais detalhada, esses quadros diagnósticos e panoramas de cenários já estão sendo usados na Shell para nos ajudar a considerar nossas escolhas na qualidade de negócio e um modelador do sistema energético do futuro.

Os cenários estão nos ajudando a reconhecer como os desenvolvimentos estão conectados, como os ciclos de feedback modificam direções iniciais e como as correntes em uma direção criam contracorrentes fazendo com que os ciclos sejam inevitáveis.

A lentidão das reformas políticas descritas no início de Montanhas cria tensões sociais que, em algum momento, encontrarão alguma forma de expressão política, levando a mudanças. As reformas descritas no começo de Oceanos criam mais grupos com novos interesses adquiridos que podem reprimir reformas futuras. A rigidez ou soltura da oferta/demanda estimula os preços de mercado e respostas que alteram o equilíbrio de oferta e demanda. Nesse sentido, um cenário contém as sementes do outro e vice-versa. Essa característica pode ser mais familiar aos leitores com uma perspectiva Oriental tradicional, enquanto as características lineares quantificadas dos cenários podem ser mais notáveis aos olhos educados em padrões de pensamentos Ocidentais. É claro que em um mundo conectado estamos aprendendo a importância de usar ambas as lentes.

Este não é um argumento para supor que a realidade do futuro será uma “média” entre Montanhas e Oceanos. É um reconhecimento de que independentemente de onde olhamos, vemos tanto Montanhas quanto Oceanos, da mesma forma que vemos os paradoxos da prosperidade, liderança e conectividade, e os dois caminhos Transições Complexas e Espaço para Manobra.

Um objetivo da abordagem de cenário no planejamento estratégico é desenvolver líderes que são mais eficientes em notar os padrões de comportamento que podem ser diferentes da visão de mundo convencional. Também nos ajudam a reconhecer que há uma variedade de possíveis consequências para eventos que não podem ser totalmente controlados, nem ignorados, mas que podem ser influenciados.

A sabedoria das nossas escolhas, individual e coletivamente, é fundamental. Ambos os cenários captam características tanto positivas quanto preocupantes, com uma diferença que depende muitas vezes do nosso próprio ponto de vista. Quanto mais claramente conseguirmos olhar para a complexa dinâmica do mundo de amanhã, mais facilmente poderemos navegar da turbulência para águas mais calmas e picos mais altos, fazendo escolhas mais sábias para nossa jornada e fomentando parcerias mais fortes.

Esperamos que você defenda isso de forma tão apaixonada quanto a nossa e que os Cenários sob novas lentes que apresentamos aqui ajude a todos nós a aprimorarmos nossa visão do futuro.

THE SHELL SCENARIO TEAMMarço de 2013

CONSIDERAçÕES fINAIS

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APÊNDICES:COMPARAÇÕES DE CENÁRIOS E DESAFIOS – EXEMPLOS

ÁREA DETERMINANTES MONTANHAS OCEANOS

PADRÕES PERSISTENTES Legado de posições e comportamentos humanos

Contenção do poder titular, instituições e rigidez

Disparada das expectativas e acordos entre interesses concorrentes

Contracorrentes Número limitado de partes com poder facilita alguns desenvolvimentos

Maior número de partes com poder atrasa algumas reformas

PARADOXOS PROSPERIDADE Maior estratificação e concentração Cada vez mais distribuído e difundido

LIDERANçA Manutenção de posições de privilégio e acordos institucionais

Base crescente de grupos de interesses divergentes e representações

CONECTIVIDADE A globalização perde certo vigor Balcanização da web

Globalização turbulenta

Desenvolvimento aberto da web

CAMINHOS ESPAçO PARA MANOBRA

Estruturas econômicas e de poder atualmente influentes.

Áreas de políticas que não ameaçam diretamente prioridades de status quo.

Grupos de renda média e estruturas emergentes

Reformas importantes de políticas econômicas e financeiras e crescimento

TRANSIçãO COMPLEXA

Dificuldades na reforma econômica levam à armadilha da renda média em algumas economias

Tensões políticas e sociais

Novos interesses adquiridos atrasam reformas fora das áreas de prioridade

Tensões referentes ao clima e emissões

OuTRAS CARACTERÍSTICAS Criatividade Conquistas individuais em artes, tecnologia e empreendedorismo

Inovação política e do modelo de negócios

Preservação “Nossa forma de vida” Redução de ineficiências

Justiça social

Relações Afiliações nacionais e de elites Affiliations among ‘silent majorities’

Ideologias populares Mestre do próprio destino

Excelência e recompensa individuais

As pessoas têm o que merecem

Destinos interligados e compartilhados

Solidariedade

Os sistemas têm o que merecem

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ÁREA DETERMINANTES MONTANHAS OCEANOS

DEMANDA ENERGÉTICA Escolha Mandatos Mercados

Preços Externalidades implicitamente incluídas

Mundo de preço moderado

Mundo com preços mais elevados

Externalidades explicitamente incluídas

Tecnologia eficiente Padrões de produtos Impulsionado pelo mercado

Comportamento eficiente

Incorporado Sensível a preços

Economia Inicialmente mais baixa que a tendência Seguindo a tendência

RECuRSOS ENERGÉTICOS Petróleo Perdendo terreno Longo jogo dos combustíveis líquidos

Gás Sucesso global do gás de xisto Gás de xisto vacilante fora da América do Norte

Carvão Carvão limpo Carvão resistente

Nuclear Renascença Oposição pública

Renováveis elétricos Dificuldades com custos Espinha dorsal de solar FV

Biomassa Para eletricidade Para transporte e (mais tarde) usos em materiais

TECNOLOGIA ENERGÉTICA Inovação Governada por direitos de propriedade intelectual

Inovação aberta

Implementação Focado em oferta de grande escala Respostas locais (oferta e eficiência)

Transporte Gás e eletrificação

Jornadas urbanas mais curtas

Transporte movido a gasolina e diesel mais eficiente

Eletricidade Centralizada & CAC, integrada com hidrogênio Mais distribuída, gestão de intermitência

MEIO AMBIENTE Uso da terra Cidades compactas Debate de energia versus alimentos

Poluição local Padrões regulados incorporados ao modelo Soluções locais preventivas

Clima/Biodiversidade

Áreas protegidas e reflorestamento Tecnologia geneticamente modificada, restauração local

Adaptação Defesas Migração

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TABELAS RESuMIDAS DE QuANTIfICAçãOMONTANHAS VERSUS OCEANOS

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Petróleo 52,0 98,0 130,3 135,7 153,3 173,1 190,2 199,6 188,7 160,5 132,4

Biocombustíveis 0,0 0,0 0,1 0,3 0,5 2,5 6,6 8,6 10,0 10,2 13,5

Gás natural 18,9 35,3 51,6 70,2 87,3 114,8 149,7 188,8 226,2 237,7 234,8

Biomassa gaseificada 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 1,3 5,4 11,5 18,2 33,9 41,7

Carvão 52,2 61,6 75,9 94,2 100,1 146,2 184,8 199,0 191,4 211,8 247,0

Biomassa/resíduos sólidos 6,6 7,7 9,8 11,6 13,3 17,1 14,0 10,5 16,3 26,3 31,9

Biomassa tradicional 14,9 18,0 21,5 26,0 29,3 33,2 35,1 37,6 39,9 42,0 45,9

Nuclear 0,0 0,9 7,8 22,0 28,3 30,1 37,5 55,6 74,6 91,9 107,5

Hidroeletricidade 2,6 4,2 6,2 7,8 9,5 12,4 13,2 14,7 16,7 18,7 20,7

Geotérmica 0,1 0,2 0,5 1,4 2,1 2,4 4,0 6,1 9,4 14,7 30,8

Solar 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,8 3,6 11,3 19,5 32,1 51,3

Eólica 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 1,2 3,0 5,2 11,5 21,8 34,3

Outros renováveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1

Total 147 226 304 369 424 535 647 749 822 902 992

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Indústria pesada 16,0 28,2 36,4 36,4 43,5 56,8 71,0 77,5 76,2 76,5 80,6

Agricultura & outra indústria 29,8 41,2 51,7 57,1 45,5 56,9 69,5 76,0 74,5 73,8 73,8

Serviços 6,1 12,7 16,9 19,2 23,6 30,0 36,6 43,3 52,1 59,7 68,2

Transporte de passageiros – Marítimo 0,2 0,2 0,3 0,5 0,6 0,7 0,9 1,0 1,0 1,0 1,0

Transporte de passageiros – Ferroviário 1,3 0,7 0,7 0,9 0,6 0,7 1,0 1,2 1,3 1,4 1,5

Transporte de passageiros – Rodoviário 9,1 16,9 25,1 31,9 39,5 48,5 56,1 64,0 68,9 62,7 50,4

Transporte de passageiros – Aéreo 2,3 3,7 4,8 6,2 7,5 8,4 9,9 11,2 12,1 14,0 15,7

Transporte de cargas – Marítimo 5,4 5,6 5,7 5,9 7,7 9,8 12,1 13,5 13,8 14,0 14,2

Transporte de cargas – Ferroviário 2,7 2,6 2,5 1,6 1,3 1,5 1,6 1,7 1,6 1,5 1,4

Transporte de cargas – Rodoviário 4,1 7,2 11,4 15,2 20,4 25,1 29,8 36,2 42,6 48,1 53,0

Transporte de cargas – Aéreo 0,5 0,9 1,0 1,5 2,0 2,1 2,6 3,3 4,0 5,0 6,2

Residencial – Aquecimento & cozinha 30,0 40,6 49,4 58,1 67,2 74,1 77,0 80,4 82,8 84,3 87,7

Residencial – Iluminação & aparelhos domésticos 0,9 2,1 4,0 6,0 8,8 12,8 16,8 21,9 25,7 27,7 28,8

Uso não energético 3,7 9,4 14,8 20,0 25,8 33,4 45,7 58,6 69,2 79,9 91,3

Total 112 172 225 260 294 361 430 490 526 550 574

MONTANHAS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR FONTE

Consumo de energia (EJ/ano)

* Todos os totais são arredondados para o número inteiro mais próximo

Demanda de energia primária (EJ/ano)

MONTANHAS – CONSUMO FINAL TOTAL – POR SETOR

Page 85: CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES - Shell Global · Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento aprofundado dos possíveis determinantes, tendências, incertezas, escolhas e ciclos

CEN

ÁRIO

S SOB N

OVA

S LENTES A

PÊND

ICES: TA

BELAS RESu

MID

AS D

E Qu

AN

TIFICA

çã

O 83

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Petróleo 52,0 98,0 130,3 135,7 153,3 173,1 196,4 214,0 221,8 220,7 201,4

Biocombustíveis 0,0 0,0 0,1 0,3 0,5 2,5 4,6 5,5 7,2 14,2 25,9

Gás natural 18,9 35,3 51,6 70,2 87,3 114,8 147,9 169,2 187,3 185,6 175,4

Biomassa gaseificada 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2 1,3 7,8 19,8 20,4 22,1 26,8

Carvão 52,2 61,6 75,9 94,2 100,1 146,2 202,7 222,3 201,7 218,6 204,2

Biomassa/resíduos sólidos 6,6 7,7 9,8 11,6 13,3 17,1 18,7 14,1 15,5 17,7 21,4

Biomassa tradicional 14,9 18,0 21,5 26,0 29,3 33,2 28,9 26,9 24,2 24,3 22,5

Nuclear 0,0 0,9 7,8 22,0 28,3 30,1 33,3 42,1 47,2 52,4 54,7

Hidroeletricidade 2,6 4,2 6,2 7,8 9,5 12,4 13,5 14,8 16,8 18,7 20,6

Geométrica 0,1 0,2 0,5 1,4 2,1 2,4 5,1 9,7 18,9 26,4 34,1

Solar 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,8 4,4 25,2 70,1 132,6 209,6

Eólica 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 1,2 4,7 13,2 24,7 42,4 59,3

Outros renováveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2

Total 147 226 304 369 424 535 668 777 856 976 1056

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Indústria pesada 16,0 28,2 36,4 36,4 43,5 56,8 74,3 76,7 80,0 90,0 92,5

Agricultura & outra indústria 29,8 41,2 51,7 57,1 45,5 56,9 69,1 76,8 81,0 85,4 89,0

Serviços 6,1 12,7 16,9 19,2 23,6 30,0 41,4 54,2 63,8 80,7 98,4

Transporte de passageiros – Marítimo 0,2 0,2 0,3 0,5 0,6 0,7 0,9 1,1 1,1 1,1 1,0

Transporte de passageiros – Ferroviário 1,3 0,7 0,7 0,9 0,6 0,7 1,0 1,2 1,4 1,7 2,0

Transporte de passageiros – Rodoviário 9,1 16,9 25,1 31,9 39,5 48,5 56,8 62,2 65,4 67,7 66,2

Transporte de passageiros – Aéreo 2,3 3,7 4,8 6,2 7,5 8,4 10,2 13,0 16,9 21,5 24,8

Transporte de cargas – Marítimo 5,4 5,6 5,7 5,9 7,7 9,8 12,3 13,7 15,1 16,9 17,9

Transporte de cargas – Ferroviário 2,7 2,6 2,5 1,6 1,3 1,5 1,8 2,0 2,1 2,2 2,4

Transporte de cargas – Rodoviário 4,1 7,2 11,4 15,2 20,4 25,1 31,3 40,3 49,9 59,2 66,1

Transporte de cargas – Aéreo 0,5 0,9 1,0 1,5 2,0 2,1 2,6 3,5 4,4 5,7 6,9

Residencial – Aquecimento & cozinha 30,0 40,6 49,4 58,1 67,2 74,1 72,5 73,1 70,7 73,8 76,6

Residencial – Iluminação & aparelhos domésticos 0,9 2,1 4,0 6,0 8,8 12,8 18,3 22,4 25,5 27,6 27,2

Uso não energético 3,7 9,4 14,8 20,0 25,8 33,4 44,8 56,3 66,8 79,6 91,6

Total 112 172 225 260 294 361 438 496 544 613 663

Consumo de energia (EJ/ano)

OCEANOS – CONSUMO FINAL TOTAL – POR SETOR

Demanda de energia primária (EJ/ano)

OCEANOS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR FONTE

Page 86: CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES - Shell Global · Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento aprofundado dos possíveis determinantes, tendências, incertezas, escolhas e ciclos

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

EUA & Canadá 46,0 71,0 83,9 89,6 106,9 105,0 107,0 106,7 112,0 123,2 130,2

UE 31,5 53,2 65,8 69,7 72,4 74,2 71,8 71,2 73,2 80,5 88,0

Outros países Europa 22,4 30,1 44,9 58,2 40,6 46,4 51,3 58,6 63,7 64,9 66,7

OCDE Ásia & Oceania 5,1 13,9 19,6 26,9 35,6 38,0 39,2 37,9 37,5 39,3 41,1

China 10,5 15,6 25,2 36,5 49,5 101,3 152,0 193,4 213,8 211,3 199,8

Índia 4,9 6,4 8,6 13,3 19,2 29,1 49,4 70,7 76,1 99,1 138,7

Outros países Ásia & Oceania 8,6 11,3 17,9 24,2 30,8 43,0 55,7 68,3 77,4 87,2 102,1

América Latina & Caribe 7,1 9,8 16,3 19,8 25,4 33,6 41,3 49,6 63,9 78,2 88,7

Oriente Médio & Norte da África 1,6 3,0 7,5 13,5 21,2 34,8 43,3 49,4 53,6 57,8 66,2

África Subsaariana 5,3 6,9 9,5 12,7 16,0 21,3 25,8 30,9 38,9 47,7 57,6

Bunkers marítimos internacionais 4,5 4,5 4,6 4,8 6,4 8,4 10,4 11,8 12,1 12,4 12,8

Total 147 226 304 369 424 535 647 749 822 902 992

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Petróleo 0,8 2,9 5,0 4,1 3,6 3,0 2,6 1,8 1,1 0,6 0,4

Biocombustíveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Gás natural 0,9 1,9 2,9 5,0 8,2 14,4 20,0 25,7 26,8 21,5 18,9

Biomassa gaseificada 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4 1,3 3,4 7,7 9,1

Carvão 3,8 6,1 9,3 13,0 17,8 26,2 34,9 39,0 39,0 41,8 46,4

Biomassa/resíduos sólidos 0,1 0,1 0,1 0,4 0,5 1,0 1,3 1,5 3,2 5,7 6,6

Nuclear 0,0 0,2 2,1 5,9 7,7 8,3 10,4 15,5 20,9 25,8 29,3

Hidroeletricidade 2,2 3,5 5,1 6,3 7,6 10,2 10,9 12,1 13,9 15,7 17,4

Geotérmica 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,2 0,3 0,5 0,9 1,4 3,0

Solar 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 1,6 7,2 13,2 19,9 29,7

Eólico 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 1,1 2,5 4,0 8,2 15,1 22,6

Outros renováveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1

Total 8 15 25 35 46 65 85 109 131 155 184

MONTANHAS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR REGIÃO

Consumo de energia (EJ/ano)

Demanda de energia primária (EJ/ano)

MONTANHAS – CONSUMO TOTAL DE ELETRICIDADE TOTAL – POR FONTE

* Todos os totais são arredondados para o número inteiro mais próximo

Page 87: CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES - Shell Global · Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento aprofundado dos possíveis determinantes, tendências, incertezas, escolhas e ciclos

CEN

ÁRIO

S SOB N

OVA

S LENTES A

PÊND

ICES: TA

BELAS RESu

MID

AS D

E Qu

AN

TIFICA

çã

O 85

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

EUA & Canadá 46,0 71,0 83,9 89,6 106,9 105,0 104,6 100,1 98,4 97,6 97,9

UE 31,5 53,2 65,8 69,7 72,4 74,2 69,8 68,8 68,1 69,5 70,1

Outros países Europa 22,4 30,1 44,9 58,2 40,6 46,4 56,9 63,3 63,9 62,5 61,0

OCDE Ásia & Oceania 5,1 13,9 19,6 26,9 35,6 38,0 38,3 36,1 34,7 34,1 34,0

China 10,5 15,6 25,2 36,5 49,5 101,3 159,5 198,4 190,9 176,5 162,6

Índia 4,9 6,4 8,6 13,3 19,2 29,1 51,9 80,3 111,1 142,9 156,3

Outros países Ásia & Oceania 8,6 11,3 17,9 24,2 30,8 43,0 55,2 71,9 94,4 133,2 158,2

América Latina & Caribe 7,1 9,8 16,3 19,8 25,4 33,6 51,9 63,5 73,9 84,1 87,8

Oriente Médio & Norte da África 1,6 3,0 7,5 13,5 21,2 34,8 42,3 45,2 51,2 67,7 83,2

África Subsaariana 5,3 6,9 9,5 12,7 16,0 21,3 26,8 37,5 56,2 92,5 128,5

Bunkers marítimos internacionais 4,5 4,5 4,6 4,8 6,4 8,4 10,6 11,8 13,2 15,2 16,4

Total 147 226 304 369 424 535 668 777 856 976 1056

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Petróleo 0,8 2,9 5,0 4,1 3,6 3,0 1,7 0,8 0,3 0,0 0,0

Biocombustíveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Gás natural 0,9 1,9 2,9 5,0 8,2 14,4 21,8 27,1 30,8 27,0 17,9

Biomassa gaseificada 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1,2 3,8 3,7 3,3 2,9

Carvão 3,8 6,1 9,3 13,0 17,8 26,2 37,7 41,9 36,9 44,0 41,8

Biomassa/resíduos sólidos 0,1 0,1 0,1 0,4 0,5 1,0 2,9 2,7 2,8 2,8 2,7

Nuclear 0,0 0,2 2,1 5,9 7,7 8,3 9,3 12,0 13,7 15,3 16,1

Hidroeletricidade 2,2 3,5 5,1 6,3 7,6 10,2 11,1 12,4 14,3 16,2 17,9

Geotérmica 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2 0,2 0,5 0,8 1,2 0,8 0,6

Solar 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 1,9 14,2 41,1 74,7 112,0

Eólico 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 1,1 3,5 8,3 14,5 24,1 33,0

Outros renováveis 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,1 0,2

Total 8 15 25 35 46 65 92 124 159 208 245

OCEANOS – TOTAL DE ENERGIA PRIMÁRIA – POR REGIÃO

Consumo de energia (EJ/ano)

Demanda de energia primária (EJ/ano)

OCEANOS – CONSUMO TOTAL DE ELETRICIDADE TOTAL – POR FONTE

Page 88: CENÁRIOS SOB NOVAS LENTES - Shell Global · Portanto, é muito valioso desenvolver um entendimento aprofundado dos possíveis determinantes, tendências, incertezas, escolhas e ciclos

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Indústria pesada 1,07 1,79 2,12 2,09 2,43 3,16 3,70 3,72 3,20 2,62 2,05

Agricultura & outra indústria 2,07 2,66 3,34 2,87 2,40 2,91 3,58 3,69 3,15 2,64 2,23

Serviços 0,42 0,78 0,91 0,81 0,77 0,89 0,99 0,94 0,91 0,84 0,76

Transporte de passageiros – Marítimo 0,02 0,02 0,02 0,04 0,04 0,05 0,07 0,07 0,07 0,07 0,07

Transporte de passageiros – Ferroviário 0,11 0,05 0,03 0,02 0,02 0,02 0,03 0,03 0,02 0,01 0,01

Transporte de passageiros – Rodoviário 0,64 1,20 1,78 2,26 2,79 3,41 3,92 4,36 4,37 3,43 2,15

Transporte de passageiros – Aéreo 0,16 0,27 0,34 0,44 0,53 0,59 0,70 0,79 0,86 0,95 1,02

Transporte de cargas – Marítimo 0,39 0,39 0,41 0,42 0,55 0,69 0,86 0,96 0,97 0,98 0,98

Transporte de cargas – Ferroviário 0,23 0,20 0,18 0,12 0,08 0,08 0,09 0,10 0,09 0,07 0,06

Transporte de cargas – Rodoviário 0,29 0,51 0,81 1,08 1,45 1,78 2,11 2,55 2,90 2,99 2,85

Transporte de cargas – Aéreo 0,03 0,06 0,07 0,10 0,14 0,15 0,19 0,23 0,28 0,35 0,44

Residencial – Aquecimento & cozinha 1,09 1,47 1,57 1,84 1,81 1,88 1,90 1,87 1,81 1,69 1,55

Produção de combustíveis sólidos 1,00 0,91 0,91 0,91 0,84 1,53 1,56 1,54 1,35 1,23 1,16

Produção de combustíveis líquidos 0,41 0,74 0,92 1,07 1,01 1,05 0,99 1,00 0,84 0,47 -0,22

Produção de combustíveis gasosos 0,30 0,49 0,60 0,73 0,96 1,26 1,72 2,10 2,26 2,03 1,27

Geração de eletricidade 1,89 3,25 4,94 6,46 8,35 11,76 15,13 16,67 14,09 7,18 0,89

Produção de hidrogênio 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,02 0,10 0,30 0,58

Geração de calor 0,18 0,38 0,69 1,24 0,97 1,08 0,94 0,79 0,64 0,45 0,32

Biomassa – Comercial a uso não energético -0,10 -0,16 -0,19 -0,73 -0,85 -0,99 -0,87 -0,75 -0,74 -0,78 -0,98

Total 10 15 19 22 24 31 38 41 37 28 17

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Produção de fósseis 1,2 1,5 3,1 4,1 5,1 7,6 10,4 13,8 15,9 16,1 17,2

Produção de biocombustíveis 0,0 0,0 0,6 1,2 1,6 8,4 21,4 27,6 28,3 23,6 21,0

Refinaria 1,7 3,2 4,1 4,4 5,0 5,7 6,2 6,6 6,3 5,3 4,3

Eletricidade – petróleo 0,2 0,7 1,4 1,1 0,6 0,4 0,3 0,2 0,1 0,1 0,1

Eletricidade – Gás 0,9 1,4 1,6 2,2 2,0 2,5 2,1 2,6 2,8 2,5 2,6

Eletricidade – Carvão 7,6 11,2 17,0 23,7 29,7 36,6 46,4 50,4 48,6 54,5 64,0

Eletricidade – Nuclear 0,0 0,1 1,0 2,6 3,1 3,2 3,3 4,3 5,2 6,1 6,8

Eletricidade – Biomassa 0,1 0,1 0,1 0,7 0,6 1,0 1,5 2,3 5,1 10,2 12,2

Eletricidade – Solar 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 0,7 2,4 6,8 15,4

Eletricidade – Geotérmica 0,0 0,0 0,1 0,3 0,4 0,5 0,7 1,1 1,8 2,9 6,2

Total 12 18 29 40 48 66 93 110 116 128 150

Emissões líquidas (Gt CO2/ano)

Consumo de água (bilhões m3/ano)

MONTANHAS – EMISSÕES DE CO2 LÍQUIDAS – POR PONTO DE EMISSÃO

MONTANHAS – CONSUMO DE ÁGUA DOCE PARA ENERGIA

* Todos os totais são arredondados para o número inteiro mais próximo

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Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Indústria pesada 1,07 1,79 2,12 2,09 2,43 3,16 4,23 4,08 3,53 2,99 2,33

Agricultura & outra indústria 2,07 2,66 3,34 2,87 2,40 2,91 3,36 3,39 3,19 3,02 2,90

Serviços 0,42 0,78 0,91 0,81 0,77 0,89 1,12 1,27 1,43 1,77 2,27

Transporte de passageiros – Marítimo 0,02 0,02 0,02 0,04 0,04 0,05 0,07 0,08 0,08 0,08 0,07

Transporte de passageiros – Ferroviário 0,11 0,05 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 0,02 0,01 0,01 0,00

Transporte de passageiros – Rodoviário 0,64 1,20 1,78 2,26 2,79 3,41 3,98 4,29 4,35 4,18 3,74

Transporte de passageiros – Aéreo 0,16 0,27 0,34 0,44 0,53 0,59 0,73 0,92 1,20 1,51 1,73

Transporte de cargas – Marítimo 0,39 0,39 0,41 0,42 0,55 0,69 0,87 0,97 1,06 1,19 1,25

Transporte de cargas – Ferroviário 0,23 0,20 0,18 0,12 0,08 0,08 0,10 0,11 0,09 0,07 0,05

Transporte de cargas – Rodoviário 0,29 0,51 0,81 1,08 1,45 1,78 2,21 2,84 3,49 3,99 4,09

Transporte de cargas – Aéreo 0,03 0,06 0,07 0,10 0,14 0,15 0,18 0,25 0,31 0,40 0,48

Residencial – Aquecimento & cozinha 1,09 1,47 1,57 1,84 1,81 1,88 1,92 1,70 1,29 0,95 0,76

Produção de combustíveis sólidos 1,00 0,91 0,91 0,91 0,84 1,53 1,77 1,66 1,39 1,24 1,06

Produção de combustíveis líquidos 0,41 0,74 0,92 1,07 1,01 1,05 1,26 1,77 2,12 1,58 0,53

Produção de combustíveis gasosos 0,30 0,49 0,60 0,73 0,96 1,26 1,59 1,68 1,58 1,44 1,27

Geração de eletricidade 1,89 3,25 4,94 6,46 8,35 11,76 16,19 17,99 16,58 16,87 13,75

Produção de hidrogênio 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,03 0,09 0,23

Geração de calor 0,18 0,38 0,69 1,24 0,97 1,08 1,02 0,89 0,74 0,63 0,57

Biomassa – Comercial a uso não energético -0,10 -0,16 -0,19 -0,73 -0,85 -0,99 -0,95 -1,01 -1,15 -1,50 -2,25

Total 10 15 19 22 24 31 40 43 41 40 35

Ano 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060

Produção de fósseis 1,2 1,5 3,1 4,1 5,1 7,6 10,6 14,3 17,7 19,5 21,6

Produção de biocombustíveis 0,0 0,0 0,6 1,2 1,6 8,4 14,3 17,8 22,0 32,3 39,5

Refinaria 1,7 3,2 4,1 4,4 5,0 5,7 6,7 8,3 9,6 9,6 8,9

Eletricidade – petróleo 0,2 0,7 1,4 1,1 0,6 0,4 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0

Eletricidade – Gás 0,9 1,4 1,6 2,2 2,0 2,5 2,3 2,7 3,2 2,7 1,7

Eletricidade – Carvão 7,6 11,2 17,0 23,7 29,7 36,6 51,1 58,3 50,6 52,2 46,2

Eletricidade – Nuclear 0,0 0,1 1,0 2,6 3,1 3,2 3,1 3,4 3,5 3,5 3,5

Eletricidade – Biomassa 0,1 0,1 0,1 0,7 0,6 1,0 2,5 3,7 3,8 3,6 3,4

Eletricidade – Solar 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 3,0 9,1 21,7 41,8

Eletricidade – Geotérmica 0,0 0,0 0,1 0,3 0,4 0,5 0,9 1,6 2,5 1,6 1,3

Total 12 18 29 40 48 66 92 113 122 147 168

Emissões líquidas (Gt CO2/ano)

Consumo de água (bilhões m3/ano)

OCEANOS – EMISSÕES DE CO2 LÍQUIDAS – POR PONTO DE EMISSÃO

OCEANOS – CONSUMO DE ÁGUA DOCE PARA ENERGIA

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IMPRESSãO 3D

Tecnologia de fabricação relativamente rápida e barata onde um objeto tridimensional é criado por camadas de material bruto que formam uma réplica precisa do original.

BRICS

Brasil, Rússia, Índia e China (às vezes BRICs – também incluindo a Indonésia) – economias emergentes de rápido crescimento.

CAC (CAPTuRA E ARMAZENAMENTO DE CARBONO)

Tecnologias que podem ser usadas para coletar dióxido de carbono (CO2) e colocá-lo em armazenamento subterrâneo a longo prazo.

CHP

Produção combinada de calor e eletricidade

RECuPERAçãO AVANçADA DE PETRÓLEO

Técnica para aumentar a quantidade de petróleo que pode ser extraída de um reservatório (campo petrolífero) usando métodos térmicos ou químicos ou injeção de gás miscível.

fRACKING (fRATuRAçãO HIDRÁuLICA)

Processo no qual água é misturada com areia e são injetadas substâncias químicas sob altas pressões para criar fendas na subsuperfície de rochas para permitir o fluxo de gás preso.

G20 (GRuPO DOS 20)

Fórum estabelecido em 1999 para cooperação internacional em questões econômicas e financeiras globais, composto de representantes de 19 importantes países e da União Europeia.

G8 (GRuPO DOS 8)

Fórum estabelecido em 1975 para os governos de oito das maiores economias mundiais que se reúnem anualmente para discutir questões globais. Os membros são: França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Rússia e um representante da União Europeia.

PIB (PRODuTO INTERNO BRuTO)

Medida da atividade econômica anual de uma nação. Soma do valor agregado pelos produtores da economia mais impostos, menos quaisquer subsídios.

XISTOS BETuMINOSOS/ÓLEO NãO CONVENCIONAL LEVE (LTO)

Óleo bruto ou condensado de baixa viscosidade contido em formações rochosas de baixa permeabilidade.

GNL (GÁS NATuRAL LIQuEfEITO)

Gás (principalmente metano) resfriado até a forma líquida para ser transportado e depois aquecido para voltar à forma de gás para ser usado em geração de energia e provisão elétrica doméstica.

MRH

Do inglês, “major resource holder” (grande detentor de recursos) - uma nação com recursos soberanos significativos, tais como petróleo, gás, carvão, metais e minerais.

ONG (ORGANIZAçãO NãO GOVERNAMENTAL)

Qualquer organização sem fins lucrativos ou grupos de cidadãos voluntários que se organizam em nível local, nacional ou internacional.

GLOSSÁRIO

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OCDE (ORGANIZAçãO PARA A COOPERAçãO E O DESENVOLVIMENTO ECONôMICO)

Uma organização de 30 países, na sua maior parte nações industrializadas ocidentais, formada em 1961 para ajudar os países-membros a alcançar um crescimento econômico sustentável e aumentar o padrão de vida dos seus habitantes.

OPEP (ORGANIZAçãO DOS PAÍSES EXPORTADORES DE PETRÓLEO)

Organização formada em 1961 para administrar uma política comum para a venda de petróleo. Seus membros atuais são Argélia, Angola, Equador, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela.

ENERGIA SOLAR fV (fOTOVOLTAICA)

Tecnologia que usa um painel solar para produzir elétrons livres quando expostas à luz, resultando na produção de uma corrente elétrica.

NEXO DE INTERDEPENDÊNCIA

A inter-relação entre os sistemas de energia, água e alimentos.

GÁS NãO CONVENCIONAL/DE XISTO E METANO DAS JAZIDAS DE CARVãO (CBM)

Fontes de gás presas subterraneamente em rochas de baixíssima permeabilidade, tais como carvão, arenito e xisto. O gás normalmente é extraído por meio de fraturacão hidráulica por poços horizontais.

ABREVIAçÕES DE ENERGIA

boe = barril de óleo equivalenteCO2 = dióxido de carbono Gt = gigatonelada kWh = quilowatt por horambd = milhões de barris por diappm = partes por milhão em volumet = tonelada métricatcf= trilhões de pés cúbicos

SISTEMA INTERNACIONAL DE uNIDADES:

MJ = megajoule = 106 joulesGJ = gigajoule = 109 joulesTJ = terajoule = 1012 joulesEJ = exajoule = 1018 joules

CONVERSãO ENTRE uNIDADES:

1 boe = 5,63 GJ*1 mbd = 2,05 EJ/ano1 milhão de metro cúbico de gás natural = 34 450 GJ*1 milhão de tonelada de gás natural = 46 100 TJ*1 tonelada de carvão = 25 GJ*1 tonelada de biomassa primária = 12 GJ*1 kWh = 3,6 MJ

* Esta é uma média típica, mas o conteúdo de energia de um condutor específico pode variar.

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Este livro de cenários contém declarações sobre expectativas futuras que podem afetar a condição financeira da Shell, bem como os resultados das operações e negócios da Royal Dutch Shell.

Todas as declarações, com exceção das declarações sobre fatos históricos, são ou podem ser consideradas declarações sobre expectativas futuras. As declarações sobre expectativas futuras baseiam-se em expectativas e pressuposições atuais da direção e envolvem riscos e incertezas, conhecidos e desconhecidos, que podem fazer com que resultados, desempenhos ou eventos concretos sejam substancialmente diferentes daqueles expressos ou implícitos nessas declarações.

As declarações sobre expectativas futuras incluem, entre outras coisas, declarações sobre a exposição potencial da Royal Dutch Shell aos riscos de mercado e declarações que expressam as expectativas, crenças, estimativas, projeções e suposições da direção. Essas declarações sobre expectativas futuras são identificadas pelo uso de termos e frases como “antecipar”, “acreditar”, “poderia”, “calcular”, “esperar”, “metas”, “tencionar”, “poderia/poderiam”, “objetivos”, “perspectiva”, “planejar”, “provavelmente”, “projeto”, “riscos”, “buscar/procurar”, “deveria/deveriam”, objetivo”, “irá/irão”, bem como termos e frases semelhantes.

Há vários fatores que poderiam afetar as operações futuras da Royal Dutch Shell e fazer com esses resultados sejam substancialmente diferentes daqueles expressos nas declarações de perspectiva futura contidas neste livro de cenários, o que inclui (sem limitar-se a):

(a) flutuações dos preços de petróleo bruto e do gás natural;(b) mudanças na demanda por produtos da Shell;(c) flutuações cambiais(d) resultados de atividades de perfurações e produção;(e) estimativas de reservas(f) perda de participação no mercado e concorrência da indústria;(g) riscos ambientais e físicos;

(h) riscos associados à identificação de propriedades e alvos adequados para aquisição em potencial, e a negociação e conclusão bem-sucedidas de tais transações;

(i) o risco de manter atividades comerciais em países em desenvolvimento e países sujeitos a sanções internacionais;

(j) desenvolvimentos de natureza legislativa, fiscal e reguladora, incluindo medidas regulamentadoras que lidam com a mudança climática;

(k) condições de mercado de natureza econômica e financeira em diversos países e regiões;

(l) riscos políticos, incluindo os riscos de expropriação e renegociação dos termos de contratos com entidades governamentais, atrasos ou avanços na aprovação de projetos e atrasos no reembolso de custos partilhados; e

(m) mudanças na condições comerciais.

Todas as declarações sobre o futuro contidas neste livro de cenários são expressamente qualificadas, em sua totalidade, pelas declarações de prudência contidas ou mencionadas nesta seção.

Os leitores não devem basear-se excessivamente em declarações de perspectiva futura.

Os fatores adicionais que podem afetar os resultados futuros estão contidos no relatório 20-F da Royal Dutch Shell para o ano encerrado em 31 de dezembro de 2011, que está disponível nos sites: www.shell.com/investor e www.sec.gov.

Esses fatores também devem ser considerados pelo leitor. Cada uma das declarações de perspectiva futura refere-se somente à data deste livro de cenários, ou seja, março de 2013. Nem a Royal Dutch Shell nem qualquer das subsidiárias assume qualquer obrigação no sentido de atualizar ou revisar publicamente qualquer declaração de perspectiva futura como resultado de novas informações, eventos futuros ou outras informações.

Tendo em vista esses riscos, os resultados poderão diferir substancialmente daqueles declarados, implícitos ou inferidos a partir das declarações de perspectiva futura contidas neste livro de cenários.

ISENçãO DE RESPONSABILIDADE

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Agradecemos os colegas da Shell e os muitos especialistas externos que contribuíram para o desenvolvimento dos Cenários sob novas lentes e dos outros Cenários da Shell já publicados.

Outros materiais dos Cenários da Shell podem ser encontrados no website: shell.com/scenarios.

© 2013 Shell International BVTodos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou armazenada em sistemas de informações, publicada ou transmitida sob qualquer formato ou por qualquer meio sem a autorização prévia, por escrito, da Shell International BV.

As principais fontes de dados usadas no desenvolvimento das análises e quadros dos cenários da Shell neste livro, além das que já foram mencionadas, são:

n IEA World Energy Statistics and Balances 2012 © OCDE/IEA 2012, conforme modificado pela Shell International

n Divisão de população da ONUn EIAn Booz & Companyn International Water Management Institute (IWMI)n Center for Strategic and International Studies (CSIS)n Banco Mundial

AGRADECIMENTOS

fONTES DE DADOS

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50% DA ÁSIAURBANIZADA

OS IDOSOS AGORA SÃO 15% DA POPULAÇÃO MUNDIAL

POPULAÇÃO MUNDIAL ALCANÇA 9 BILHÕES

TOTAL POPULACIONAL DA EUROPA COMEÇA A DIMINUIR

50% DA ÁFRICAURBANIZADA

80% DA EUROPA URBANIZADA

TOTAL POPULACIONAL DA ÁSIA COMEÇA A DIMINUIR

Veículos de hidrogênio são comercializados

Carvão torna-se a fonte de energia número um

Capacidade mundial de CAC 20 GW

Emissões de CO2 globais alcançam 40 Gt/ano

Eletricidade mundial a partir de gás natural alcança 2000 GW, 40% acima do nível de 2012

China conta com 180 GW instalados de energia nuclear

CAC mundial captando 1 Gt CO2/ano

E�ciência da frota mundial de aeronaves aumenta 50%desde 2012

Fontes não fósseis compõem 30% da energia primária do mundo

Capacidade nuclear mundial chega a 1200 GW

Média mundial da frota de carros (em estradas) é de 35 milhas/gal. dos EUA (subindo 45% desde 2010)

Demanda mundial por energia alcança 1000 EJ/ano

Eletricidade descarbonizada

Índia torna-se o consumidor de gás natural número um do mundo

Combustíveis líquidos eliminados de veículos rodoviários de passageiros

Média mundial de passageiros rodoviários/quilômetro satura em 3 vezes o nível de 2012

Zero emissões mundiais de CO2

10% da eletricidade mundial provenientede biomassa

CAC mundial captando 10 Gt CO2/ano

Gás natural é fonte de energia número um, a primeira a alcançar 200 EJ/ano

10% de todos os quilômetros rodoviários de passageiros no Japão são rodados com eletricidade ou células de combustível

Capacidade eólicamundial = 400 GW

China supera EUA como consumidor número um de petróleo

Emissões mundiais de CO2 alcançam 40 Gt/ano

Capacidade mundial de energia solar FV = 500 GW

Produção de petróleoalcança 100 mbd

Média da frota de carros da UE (em estradas) é de 50 milhas/gal. dos EUA (acima 45% desde 2010)

Fontes renováveis compõem 20% da energia mundial primária

Frota de carros da Índia alcança 500 milhões de veículos

Índia é o maior consumidor de energia

A demanda mundial de viagens áreas (22 trilhões de passageiros/quilômetros) alcança 5 vezes o nível de 2012

Emissões mundiais de CO2 diminuem para 2 Gt/ano

Média mundial da frota de carros (em estradas) é de 70 milhas/gal. dos EUA (quase três vezes o nível de 2012)

Eletricidade alcança 30% da demanda �nal de energia

Média mundial de passageiros rodoviários/km chega a 3 vezes o nível de 2012

Demanda mundial por energia alcança 1000 EJ/y

Média mundial da e�ciência do aquecimento de edifícios dobra em relação a 2012

Energia solar FV é a fonte de energia número um do mundo

Eletricidade descarbonizada

Frota de carros na China = 114 milhões de veículos

Média da frota de carros dos EUA (em estradas) é de 30 milhas/gal. dos EUA (acima 45% desde 2010)

Capacidade mundial de energia solar FV = 1800 GW

Capacidade mundial de energia solar FV = 2000 GW

Demanda �nal de energia mundial atinge pico

Eletricidade alcança 40% da demanda �nal de energia

A média mundial de e�ciência energética da indústria pesada dobra em comparação a 2012

POPULAÇÃO MUNDIALALCANÇA 8 BILHÕES

LINHA DO TEMPO DE OCEANOS

PRESSÕES SOCIAIS E POLÍTICAS ESTIMULAM REFORMAS OU MUDANÇA RADICAL DE REGIME

PIB DA CHINA ALCANÇA 20.000 USD/CAP (PPP)

PIB DA ÍNDIA ALCANÇA 10.000 USD/CAP (PPP)

GÁS NÃO CONVENCIONAL/DE XISTO E CBM TÊM SUCESSO LIMITADO FORA DA AMÉRICA DO NORTE

LONGO PLATÔ DE CONSUMO/PRODUÇÃO DE PETRÓLEO

ÁFRICA SUPERA A EUROPA E A AMÉRICA DO NORTE COMO O SEGUNDO MAIOR CONTINENTE CONSUMIDOR DE ENERGIA (DEPOIS DA ÁSIA) DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

ESTIMULADO POR PREÇOS, MAS SECUNDÁRIO AO ATRASO POLÍTICO

ECONOMIAS DE RÁPIDO CRESCIMENTOIMPLEMENTAM REFORMAS ECONÔMICAS QUE SÃO EFICAZES

PRESSÕES SOCIAIS E POLÍTICASINCENTIVAM A FIXAÇÃO DEINTERESSES EXISTENTES

REFORMAS FINANCEIRAS E ECONÔMICAS SÃO INSUFICIENTES PARA SUSTENTAR AS TAXAS DE CRESCIMENTO

ALINHAMENTOS ENTRE OS INFLUENTES FACILITAM A IMPLEMENTAÇÃO SELETIVA DE POLÍTICAS

O USO DE GÁS NÃO CONVENCIONAL/DE XISTO E CBM REPETE A EXPERIÊNCIA DA AMÉRICA DO NORTE INTERNACIONALMENTE

COMBUSTÍVEIS LÍQUIDOS PARA O TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PASSAGEIROS ATINGE PICO GLOBAL

RELAÇÕES INTERNACIONAIS DOMINADAS PELOS EUA E CHINA

GÁS SE TORNA A ESPINHA DORSAL DO SISTEMA ENERGÉTICO (GÁS NATURAL COM BIOGÁS CRESCENTE)

VÁRIAS ECONOMIAS DE GRANDE PORTE EMERGEM DA ARMADILHA DE RENDA MÉDIA E TENDÊNCIA DE CRESCIMENTO GLOBAL MAISUMA VEZ É ALTA

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