celebridades nos media: a construção imagética da morte de...

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Celebridades nos media: a construção imagética da morte de Angélico Vieira Ana Santiago * Índice Introdução ............................. 2 1 Imagem e culto das celebridades nos media ......... 3 2 Morte nos media e celebridades ................ 7 3 Construção imagética da morte de Angélico Viera: pesquisa exploratória .......................... 10 3.1 Notícias pós-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011) .... 11 3.2 Notícias no dia da morte (28 de junho de 2011) ...... 15 3.3 Notícias pós-morte (29 e 30 de junho de 2011) ....... 16 Considerações finais acerca da pesquisa ............. 19 Referências Bibliográficas .................... 20 Anexo 1 – Notícias sobre Angélico Vieira, publicadas on line no Expresso e na Caras, entre os dias 25 e 30 de junho de 2011 . 23 Resumo No contexto de uma civilização marcada pela imagem mediática, este artigo visa refletir sobre o culto das celebridades e a mediatização da morte, com o objetivo de compreender o fenómeno de construção imagética da morte de celebridades nos media. Após uma breve revi- são da literatura, apresenta-se uma pesquisa exploratória a partir de um * Doutoranda em Ciências da Comunicação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Texto financiado pela Fundação Nacional para a Ciência e a Tecnologia e co-financiado pelo Fundo Europeu e pelo Programa Operacional Potencial Humano/POPH. [email protected].

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Page 1: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

Celebridades nos media a construccedilatildeoimageacutetica da morte de Angeacutelico Vieira

Ana Santiagolowast

IacutendiceIntroduccedilatildeo 21 Imagem e culto das celebridades nos media 32 Morte nos media e celebridades 73 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa

exploratoacuteria 1031 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011) 1132 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011) 1533 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011) 16Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa 19Referecircncias Bibliograacuteficas 20Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no

Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011 23

Resumo

No contexto de uma civilizaccedilatildeo marcada pela imagem mediaacuteticaeste artigo visa refletir sobre o culto das celebridades e a mediatizaccedilatildeoda morte com o objetivo de compreender o fenoacutemeno de construccedilatildeoimageacutetica da morte de celebridades nos media Apoacutes uma breve revi-satildeo da literatura apresenta-se uma pesquisa exploratoacuteria a partir de um

lowastDoutoranda em Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo no Instituto de Ciecircncias Sociais daUniversidade do Minho Texto financiado pela Fundaccedilatildeo Nacional para a Ciecircnciae a Tecnologia e co-financiado pelo Fundo Europeu e pelo Programa OperacionalPotencial HumanoPOPH anasantiagolopesgmailcom

2 Ana Santiago

olhar descritivo interpretativo e comparativo sobre uma sequecircncia denotiacutecias e respectivas imagens publicadas por dois meios de informa-ccedilatildeo on line (um de caraacutecter generalista e outro pertencente agrave imprensalaquocor-de-rosaraquo) a propoacutesito da morte de um cantor e ator portuguecircs ndashAngeacutelico Vieira

Palavras-chave Celebridades media morte imagem

Abstract

In the context of a civilization influenced by the mediatic imagethis article aims to reflect on the cult of celebrities and the media co-verage of death with the goal of understanding the phenomenon of theimagetic construction of the death of celebrities in the media After abrief review of the literature an exploratory research is presented ba-sed on a descriptive interpretative and comparative point of view of asequence of news and their respective images published by two meansof online information (one of a general nature and the other related tolaquoyellow pressraquo) concerning the death of a Portuguese singer and actorndash Angeacutelico Vieira

Key-words Celebrities media death image

Introduccedilatildeo

VIVEMOS na ldquocivilizaccedilatildeo da imagemrdquo (Martins 2011a77) e laquoo usocontemporacircneo da palavra ldquoimagemrdquo remete na maior parte das

vezes para a imagem mediaacuteticaraquo (Joly 1999 14) Mas o fenoacutemenomais intrigante eacute sem duacutevida o da substituiccedilatildeo das ideologias peloculto das celebridades nos media (Alexandre 2001 121) Talvez porisso a investigaccedilatildeo cientiacutefica nesta aacuterea se tenha intensificado nos uacutelti-mos anos (Rojek 2001 Matta 2009 Lipovetsky 2010 Conboy 2011Hollander 2011 Jorge 2011 Torres 2011)

Outro fenoacutemeno que tambeacutem tem sido estudado por vaacuterios investi-gadores (Dayan e Katz 2005 Oliveira 2005 Trigueiro 2005 Martins2011b) eacute o da mediatizaccedilatildeo da morte em particular a morte de celebri-dades

Neste contexto e com o objetivo de relacionar os dois fenoacutemenoso presente artigo comeccedila por enquadrar as celebridades na cultura da

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imagem mediaacutetica contemporacircnea e evidenciar o lugar da morte na so-ciedade do espetaacuteculo (Debord 1997) com base na revisatildeo de litera-tura de alguns autores nacionais e internacionais para depois analisar aconstruccedilatildeo imageacutetica da morte do cantor e ator portuguecircs Angeacutelico Vi-eira a partir de 46 notiacutecias publicadas on-line num meio de informaccedilatildeogeneralista (Expresso) e num de imprensa laquocor-de-rosaraquo (Caras)

Com esta pesquisa exploratoacuteria pretende-se conhecer e comparar otratamento jornaliacutestico concretamente ao niacutevel das imagens realizadopelos dois oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo social em causa entre o dia 25 de ju-nho (dia do acidente que vitimou o cantor) e o dia 30 de junho de 2011(dia da cerimoacutenia fuacutenebre) a fim de identificar possiacuteveis diferenccedilas econfirmar a suspeita de que a imprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cober-tura mais alargada deste tipo de acontecimento pelo facto de envolverldquofamososrdquo

1 Imagem e culto das celebridades nos mediaNo tempo presente laquoa imagem constitui a proacutepria forma da nossa cul-turaraquo (Martins 2011a 77) Por isso mesmo haacute muitos que se referem agravenossa eacutepoca como a ldquocivilizaccedilatildeo da imagemrdquo Quer se queira quer natildeolaquoa utilizaccedilatildeo das imagens generaliza-se de facto e quer as olhemos queras fabriquemos somos quotidianamente levados agrave sua utilizaccedilatildeo deci-fraccedilatildeo e interpretaccedilatildeoraquo (Joly 1999 9)

Entretanto natildeo se pode dissociar o estatuto alcanccedilado pela imagemna contemporaneidade da influecircncia exercida pelos media pois satildeo es-tes que difundem a todo o momento inuacutemeras imagens de todas as par-tes do mundo A imprensa a televisatildeo e a internet satildeo bons exemplosdisso Daiacute laquoa imagem invasora a imagem omnipresente aquela quecriticamos e que faz ao mesmo tempo parte da vida quotidiana de cadaum eacute a imagem mediaacuteticaraquo (Joly 1999 14) que atinge laquouma audiecircn-cia relativamente grande heterogeacutenea e anoacutenimaraquo ou seja uma audiecircn-cia tatildeo vasta que impede o comunicador de atuar diretamente sobre osseus membros heterogeacutenea na medida em que atinge pessoas com ca-racteriacutesticas socio-econoacutemicas distintas e anoacutenima porque os membrosda audiecircncia natildeo chegam a ser conhecidos pelo comunicador (Wright1973 13-14)

Com o advento dos meios de comunicaccedilatildeo de massa resultante das

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transformaccedilotildees tecnoloacutegicas ocorridas em menos de um seacuteculo a ima-gem deixou de ter um papel meramente esteacutetico e em alguns casosilustrativo para se transformar laquonum elemento informativo autoacutenomofundamental e indispensaacutevelraquo que daacute ao puacuteblico a versatildeo visual dosacontecimentos em regime de difusatildeo simultacircnea para todo o mundo(Casasuacutes 1979 58-60)

Para aleacutem disso laquoa necessidade da informaccedilatildeo de massas tal comohoje eacute concebida leva a procurar na imagem tudo o que ela possa trazerde ineacutedito surpreendente insoacutelito dramaacutetico ou ldquosensacionalrdquoraquo (Casa-suacutes 1979 60)

Sendo assim a imagem tem um papel cada vez mais central nos me-dia e estaacute intimamente relacionada com a sociedade na verdade laquoumamodifica a outra a segunda influi na primeira de um lado porque ela aalimenta de outro porque a utilizaraquo (Casasuacutes 1979 96)

Eacute precisamente neste contexto da cultura da imagem e da sua me-diatizaccedilatildeo que se acentua o interesse pela pessoa em si (Torres 201184) e se daacute a substituiccedilatildeo das ideologias pelo culto das celebridades(Alexandre 2001 121)

O fenoacutemeno comeccedila na primeira metade do seacuteculo XX quando o ci-nema cria as ldquoestrelasrdquo e difunde a sua imagem em todo o mundo comoo primeiro grande produto cultural A tiacutetulo de exemplo Carlos GardelMarylin Monroe e James Dean chegaram a ser objecto de laquosublimaccedilatildeofotograacutefica por parte doa fatildesraquo fenoacutemeno que explica em certa medidao record de vendas de posters destes mitos daquele seacuteculo (Casasuacutes1979 88-90)

Com o desenvolvimento das induacutestrias culturais este fenoacutemeno co-nhecido por star-system atinge o mundo da muacutesica e a televisatildeo e maistarde acaba por se estender a outras atividades tais como a poliacutetica aarte a moda o desporto entre outras De tal forma que laquoatualmente jaacutenada escapa ao sistema do vedetariado As estrelas abundam sendo asua imagem difundida e planetarizada pelos jornais a televisatildeo e a rededa webraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 92-101)

Hoje as ldquoestrelasrdquo fazem-se natildeo soacute de muacutesicos e atores mas tam-beacutem de atletas estilistas modelos algumas pessoas ricas (tais comoDonald Trump e Paris Hilton) e ateacute de membros da realeza (como eacute ocaso da famiacutelia real britacircnica e em particular da falecida princesa Di-ana) Na verdade todos se tornam ceacutelebres porque laquosatildeo exemplares em

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auto-promoccedilatildeo e conseguem obter uma sustentada atenccedilatildeo dos mediaraquo(Hollander 2011 65)

Chris Rojek (2001 10-29) no seu livro ldquoCelebrityrdquo refere que oestatuto de celebridade pode ser conferido adquirido ou atribuiacutedo Acelebridade conferida relaciona-se com a linhagem (o Priacutencipe Williamde Inglaterra e o Priacutencipe Felipe de Espanha satildeo exemplos disso) a ce-lebridade adquirida resulta de realizaccedilotildees individuais alcanccediladas por viade talentos ou habilidades raras (por exemplo David Beckham Cristi-ano Ronaldo e Joseacute Mourinho) enquanto a celebridade atribuiacuteda derivade uma fabricaccedilatildeo cultural da representaccedilatildeo de um indiviacuteduo por in-termediaacuterios culturais ou seja por agentes publicitaacuterios fotoacutegrafospromotores e outros profissionais cujo trabalho passa pela apresenta-ccedilatildeo puacuteblica de pessoas que possam merecer uma atenccedilatildeo duradoura dopuacuteblico (em Portugal temos o caso de Bibaacute Pitta e Cinha Jardim)

Por sua vez Eduardo Cintra Torres (2011 87-89) apresenta umatipologia da celebridade partilhada informalmente no meio televisivoEla eacute composta em primeiro lugar por ldquoestrelasrdquo que ganham este es-tatuto a partir do trabalho que desenvolvem como atores artistas entreoutros em segundo lugar por ldquocelebridades ou famososrdquo cuja laquopre-senccedila da individualidade (corpo emoccedilotildees vida privada roupas etc)sobrepotildee-se ou segue a par com a sua vida profissionalraquo por vezes asua actividade profissional eacute dedicada agrave exploraccedilatildeo da sua celebridadee em terceiro lugar por ldquoconhecidosrdquo ou seja por pessoas comuns quese tornam haacutebito no ecratilde ao participarem no daytime televisivo e nosreality shows

Importa ainda dizer que a celebridade difere do heroacutei do passadoRonaldo Helal recorrendo agraves interpretaccedilotildees de Joseph Campell e Ed-gar Morin diferencia heroacutei de celebridade afirmando que laquoo primeirovive para lsquoredimir a sociedade de seus pecadosrsquo vive para os outrosenquanto o segundo vive somente para si (Helal 18)raquo (Pena 2002 3)Por sua vez Daniel Boorstin pioneiro da definiccedilatildeo e da anaacutelise destefenoacutemeno refere que laquoa celebridade eacute uma pessoa conhecida por serconhecida [] O heroacutei distingue-se pelos seus feitos ao passo que acelebridade se distingue pela sua imagem ou marca O heroacutei criou-seenquanto a celebridade foi criada pelos media [] (Boorstin 1961 57-61)raquo (Hollander 2011 64)

Eacute por isso difiacutecil dissociar o culto da celebridade das tecnologias

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modernas Tornar-se ceacutelebre implica ser-se amplamente conhecido eisso soacute eacute possiacutevel a partir dos media pois apenas eles tecircm a capacidadede disseminar largamente laquoas imagens as caracteriacutesticas e os feitos (talcomo satildeo) dos aspirantes a celebridades ou das celebridades instituiacute-dasraquo (Hollander 2011 63)

Na contemporaneidade as celebridades surgem por um lado comoum objeto construiacutedo a partir de laquoprinciacutepios racionais e estrateacutegicosque contrariam a ideia de um talento natural que eacute reconhecido por to-dos (Benhamou 2002)raquo para atuar num determinado campo de accedilatildeo(televisatildeo cinema muacutesica ou moda) e por outro lado como laquoum con-teuacutedo humano apelativo agraves audiecircncias a baixo custoraquo com enormepotencial de promoccedilatildeo de produtos mediaacuteticos e culturais (programasde televisatildeo muacutesica merchandising entre outros) e de utilizaccedilatildeo pu-blicitaacuteria em produtos de grande consumo (roupa acessoacuterios bebidasetc) (Jorge 2011 634)

Eacute pois verdade que a celebridade eacute uma laquomarca mercadologica-mente construiacutedaraquo para gerar grandes audiecircncias e receitas financeiras(Matta 2009 1-2) e que esta loacutegica se sobrepotildee mesmo a questotildeesde participaccedilatildeo A associaccedilatildeo da celebridade a uma causa social ouambiental tem quase sempre baixo impacto na consciecircncia das audiecircn-cias dado o formato ldquoespetaacuteculordquo que estes momentos assumem (Jorge2011 636)

A celebridade um dos desenvolvimentos da sociedade do espetaacute-culo torna-se assim laquouma induacutestria que vende imagens narrativas eemoccedilotildees na intimidade e como identidade submetendo-se como qual-quer outra induacutestria agraves leis da oferta e da procuraraquo (Torres 2011 83)

Segundo Torres (2011 96-97) o culto das celebridades tem essen-cialmente dois polos a televisatildeo e a imprensa laquocor-de-rosaraquo A tele-visatildeo cria conhecidos e programas para os dar a conhecer ao puacuteblicoenquanto laquoas revistas especializadas difundem fotografias contam ossegredos e invadem a intimidaderaquo (Lipovetsky e Serroy 2010 102)

Assim o sucesso deste fenoacutemeno natildeo soacute laquofavoreceu o aparecimentoduma imprensa especializada com os seus paparazzi as suas derivasinquisitoacuterias e falta de respeito pela intimidade dos outrosraquo como tam-beacutem motivou a inserccedilatildeo da rubrica ldquosociedaderdquo em inuacutemeros jornais(Lipovetsky e Serroy 2010 102-106)

As celebridades trazem laquoagraves notiacutecias um ineacutedito potencial para a

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 2: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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olhar descritivo interpretativo e comparativo sobre uma sequecircncia denotiacutecias e respectivas imagens publicadas por dois meios de informa-ccedilatildeo on line (um de caraacutecter generalista e outro pertencente agrave imprensalaquocor-de-rosaraquo) a propoacutesito da morte de um cantor e ator portuguecircs ndashAngeacutelico Vieira

Palavras-chave Celebridades media morte imagem

Abstract

In the context of a civilization influenced by the mediatic imagethis article aims to reflect on the cult of celebrities and the media co-verage of death with the goal of understanding the phenomenon of theimagetic construction of the death of celebrities in the media After abrief review of the literature an exploratory research is presented ba-sed on a descriptive interpretative and comparative point of view of asequence of news and their respective images published by two meansof online information (one of a general nature and the other related tolaquoyellow pressraquo) concerning the death of a Portuguese singer and actorndash Angeacutelico Vieira

Key-words Celebrities media death image

Introduccedilatildeo

VIVEMOS na ldquocivilizaccedilatildeo da imagemrdquo (Martins 2011a77) e laquoo usocontemporacircneo da palavra ldquoimagemrdquo remete na maior parte das

vezes para a imagem mediaacuteticaraquo (Joly 1999 14) Mas o fenoacutemenomais intrigante eacute sem duacutevida o da substituiccedilatildeo das ideologias peloculto das celebridades nos media (Alexandre 2001 121) Talvez porisso a investigaccedilatildeo cientiacutefica nesta aacuterea se tenha intensificado nos uacutelti-mos anos (Rojek 2001 Matta 2009 Lipovetsky 2010 Conboy 2011Hollander 2011 Jorge 2011 Torres 2011)

Outro fenoacutemeno que tambeacutem tem sido estudado por vaacuterios investi-gadores (Dayan e Katz 2005 Oliveira 2005 Trigueiro 2005 Martins2011b) eacute o da mediatizaccedilatildeo da morte em particular a morte de celebri-dades

Neste contexto e com o objetivo de relacionar os dois fenoacutemenoso presente artigo comeccedila por enquadrar as celebridades na cultura da

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imagem mediaacutetica contemporacircnea e evidenciar o lugar da morte na so-ciedade do espetaacuteculo (Debord 1997) com base na revisatildeo de litera-tura de alguns autores nacionais e internacionais para depois analisar aconstruccedilatildeo imageacutetica da morte do cantor e ator portuguecircs Angeacutelico Vi-eira a partir de 46 notiacutecias publicadas on-line num meio de informaccedilatildeogeneralista (Expresso) e num de imprensa laquocor-de-rosaraquo (Caras)

Com esta pesquisa exploratoacuteria pretende-se conhecer e comparar otratamento jornaliacutestico concretamente ao niacutevel das imagens realizadopelos dois oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo social em causa entre o dia 25 de ju-nho (dia do acidente que vitimou o cantor) e o dia 30 de junho de 2011(dia da cerimoacutenia fuacutenebre) a fim de identificar possiacuteveis diferenccedilas econfirmar a suspeita de que a imprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cober-tura mais alargada deste tipo de acontecimento pelo facto de envolverldquofamososrdquo

1 Imagem e culto das celebridades nos mediaNo tempo presente laquoa imagem constitui a proacutepria forma da nossa cul-turaraquo (Martins 2011a 77) Por isso mesmo haacute muitos que se referem agravenossa eacutepoca como a ldquocivilizaccedilatildeo da imagemrdquo Quer se queira quer natildeolaquoa utilizaccedilatildeo das imagens generaliza-se de facto e quer as olhemos queras fabriquemos somos quotidianamente levados agrave sua utilizaccedilatildeo deci-fraccedilatildeo e interpretaccedilatildeoraquo (Joly 1999 9)

Entretanto natildeo se pode dissociar o estatuto alcanccedilado pela imagemna contemporaneidade da influecircncia exercida pelos media pois satildeo es-tes que difundem a todo o momento inuacutemeras imagens de todas as par-tes do mundo A imprensa a televisatildeo e a internet satildeo bons exemplosdisso Daiacute laquoa imagem invasora a imagem omnipresente aquela quecriticamos e que faz ao mesmo tempo parte da vida quotidiana de cadaum eacute a imagem mediaacuteticaraquo (Joly 1999 14) que atinge laquouma audiecircn-cia relativamente grande heterogeacutenea e anoacutenimaraquo ou seja uma audiecircn-cia tatildeo vasta que impede o comunicador de atuar diretamente sobre osseus membros heterogeacutenea na medida em que atinge pessoas com ca-racteriacutesticas socio-econoacutemicas distintas e anoacutenima porque os membrosda audiecircncia natildeo chegam a ser conhecidos pelo comunicador (Wright1973 13-14)

Com o advento dos meios de comunicaccedilatildeo de massa resultante das

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transformaccedilotildees tecnoloacutegicas ocorridas em menos de um seacuteculo a ima-gem deixou de ter um papel meramente esteacutetico e em alguns casosilustrativo para se transformar laquonum elemento informativo autoacutenomofundamental e indispensaacutevelraquo que daacute ao puacuteblico a versatildeo visual dosacontecimentos em regime de difusatildeo simultacircnea para todo o mundo(Casasuacutes 1979 58-60)

Para aleacutem disso laquoa necessidade da informaccedilatildeo de massas tal comohoje eacute concebida leva a procurar na imagem tudo o que ela possa trazerde ineacutedito surpreendente insoacutelito dramaacutetico ou ldquosensacionalrdquoraquo (Casa-suacutes 1979 60)

Sendo assim a imagem tem um papel cada vez mais central nos me-dia e estaacute intimamente relacionada com a sociedade na verdade laquoumamodifica a outra a segunda influi na primeira de um lado porque ela aalimenta de outro porque a utilizaraquo (Casasuacutes 1979 96)

Eacute precisamente neste contexto da cultura da imagem e da sua me-diatizaccedilatildeo que se acentua o interesse pela pessoa em si (Torres 201184) e se daacute a substituiccedilatildeo das ideologias pelo culto das celebridades(Alexandre 2001 121)

O fenoacutemeno comeccedila na primeira metade do seacuteculo XX quando o ci-nema cria as ldquoestrelasrdquo e difunde a sua imagem em todo o mundo comoo primeiro grande produto cultural A tiacutetulo de exemplo Carlos GardelMarylin Monroe e James Dean chegaram a ser objecto de laquosublimaccedilatildeofotograacutefica por parte doa fatildesraquo fenoacutemeno que explica em certa medidao record de vendas de posters destes mitos daquele seacuteculo (Casasuacutes1979 88-90)

Com o desenvolvimento das induacutestrias culturais este fenoacutemeno co-nhecido por star-system atinge o mundo da muacutesica e a televisatildeo e maistarde acaba por se estender a outras atividades tais como a poliacutetica aarte a moda o desporto entre outras De tal forma que laquoatualmente jaacutenada escapa ao sistema do vedetariado As estrelas abundam sendo asua imagem difundida e planetarizada pelos jornais a televisatildeo e a rededa webraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 92-101)

Hoje as ldquoestrelasrdquo fazem-se natildeo soacute de muacutesicos e atores mas tam-beacutem de atletas estilistas modelos algumas pessoas ricas (tais comoDonald Trump e Paris Hilton) e ateacute de membros da realeza (como eacute ocaso da famiacutelia real britacircnica e em particular da falecida princesa Di-ana) Na verdade todos se tornam ceacutelebres porque laquosatildeo exemplares em

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auto-promoccedilatildeo e conseguem obter uma sustentada atenccedilatildeo dos mediaraquo(Hollander 2011 65)

Chris Rojek (2001 10-29) no seu livro ldquoCelebrityrdquo refere que oestatuto de celebridade pode ser conferido adquirido ou atribuiacutedo Acelebridade conferida relaciona-se com a linhagem (o Priacutencipe Williamde Inglaterra e o Priacutencipe Felipe de Espanha satildeo exemplos disso) a ce-lebridade adquirida resulta de realizaccedilotildees individuais alcanccediladas por viade talentos ou habilidades raras (por exemplo David Beckham Cristi-ano Ronaldo e Joseacute Mourinho) enquanto a celebridade atribuiacuteda derivade uma fabricaccedilatildeo cultural da representaccedilatildeo de um indiviacuteduo por in-termediaacuterios culturais ou seja por agentes publicitaacuterios fotoacutegrafospromotores e outros profissionais cujo trabalho passa pela apresenta-ccedilatildeo puacuteblica de pessoas que possam merecer uma atenccedilatildeo duradoura dopuacuteblico (em Portugal temos o caso de Bibaacute Pitta e Cinha Jardim)

Por sua vez Eduardo Cintra Torres (2011 87-89) apresenta umatipologia da celebridade partilhada informalmente no meio televisivoEla eacute composta em primeiro lugar por ldquoestrelasrdquo que ganham este es-tatuto a partir do trabalho que desenvolvem como atores artistas entreoutros em segundo lugar por ldquocelebridades ou famososrdquo cuja laquopre-senccedila da individualidade (corpo emoccedilotildees vida privada roupas etc)sobrepotildee-se ou segue a par com a sua vida profissionalraquo por vezes asua actividade profissional eacute dedicada agrave exploraccedilatildeo da sua celebridadee em terceiro lugar por ldquoconhecidosrdquo ou seja por pessoas comuns quese tornam haacutebito no ecratilde ao participarem no daytime televisivo e nosreality shows

Importa ainda dizer que a celebridade difere do heroacutei do passadoRonaldo Helal recorrendo agraves interpretaccedilotildees de Joseph Campell e Ed-gar Morin diferencia heroacutei de celebridade afirmando que laquoo primeirovive para lsquoredimir a sociedade de seus pecadosrsquo vive para os outrosenquanto o segundo vive somente para si (Helal 18)raquo (Pena 2002 3)Por sua vez Daniel Boorstin pioneiro da definiccedilatildeo e da anaacutelise destefenoacutemeno refere que laquoa celebridade eacute uma pessoa conhecida por serconhecida [] O heroacutei distingue-se pelos seus feitos ao passo que acelebridade se distingue pela sua imagem ou marca O heroacutei criou-seenquanto a celebridade foi criada pelos media [] (Boorstin 1961 57-61)raquo (Hollander 2011 64)

Eacute por isso difiacutecil dissociar o culto da celebridade das tecnologias

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modernas Tornar-se ceacutelebre implica ser-se amplamente conhecido eisso soacute eacute possiacutevel a partir dos media pois apenas eles tecircm a capacidadede disseminar largamente laquoas imagens as caracteriacutesticas e os feitos (talcomo satildeo) dos aspirantes a celebridades ou das celebridades instituiacute-dasraquo (Hollander 2011 63)

Na contemporaneidade as celebridades surgem por um lado comoum objeto construiacutedo a partir de laquoprinciacutepios racionais e estrateacutegicosque contrariam a ideia de um talento natural que eacute reconhecido por to-dos (Benhamou 2002)raquo para atuar num determinado campo de accedilatildeo(televisatildeo cinema muacutesica ou moda) e por outro lado como laquoum con-teuacutedo humano apelativo agraves audiecircncias a baixo custoraquo com enormepotencial de promoccedilatildeo de produtos mediaacuteticos e culturais (programasde televisatildeo muacutesica merchandising entre outros) e de utilizaccedilatildeo pu-blicitaacuteria em produtos de grande consumo (roupa acessoacuterios bebidasetc) (Jorge 2011 634)

Eacute pois verdade que a celebridade eacute uma laquomarca mercadologica-mente construiacutedaraquo para gerar grandes audiecircncias e receitas financeiras(Matta 2009 1-2) e que esta loacutegica se sobrepotildee mesmo a questotildeesde participaccedilatildeo A associaccedilatildeo da celebridade a uma causa social ouambiental tem quase sempre baixo impacto na consciecircncia das audiecircn-cias dado o formato ldquoespetaacuteculordquo que estes momentos assumem (Jorge2011 636)

A celebridade um dos desenvolvimentos da sociedade do espetaacute-culo torna-se assim laquouma induacutestria que vende imagens narrativas eemoccedilotildees na intimidade e como identidade submetendo-se como qual-quer outra induacutestria agraves leis da oferta e da procuraraquo (Torres 2011 83)

Segundo Torres (2011 96-97) o culto das celebridades tem essen-cialmente dois polos a televisatildeo e a imprensa laquocor-de-rosaraquo A tele-visatildeo cria conhecidos e programas para os dar a conhecer ao puacuteblicoenquanto laquoas revistas especializadas difundem fotografias contam ossegredos e invadem a intimidaderaquo (Lipovetsky e Serroy 2010 102)

Assim o sucesso deste fenoacutemeno natildeo soacute laquofavoreceu o aparecimentoduma imprensa especializada com os seus paparazzi as suas derivasinquisitoacuterias e falta de respeito pela intimidade dos outrosraquo como tam-beacutem motivou a inserccedilatildeo da rubrica ldquosociedaderdquo em inuacutemeros jornais(Lipovetsky e Serroy 2010 102-106)

As celebridades trazem laquoagraves notiacutecias um ineacutedito potencial para a

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 3: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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imagem mediaacutetica contemporacircnea e evidenciar o lugar da morte na so-ciedade do espetaacuteculo (Debord 1997) com base na revisatildeo de litera-tura de alguns autores nacionais e internacionais para depois analisar aconstruccedilatildeo imageacutetica da morte do cantor e ator portuguecircs Angeacutelico Vi-eira a partir de 46 notiacutecias publicadas on-line num meio de informaccedilatildeogeneralista (Expresso) e num de imprensa laquocor-de-rosaraquo (Caras)

Com esta pesquisa exploratoacuteria pretende-se conhecer e comparar otratamento jornaliacutestico concretamente ao niacutevel das imagens realizadopelos dois oacutergatildeos de comunicaccedilatildeo social em causa entre o dia 25 de ju-nho (dia do acidente que vitimou o cantor) e o dia 30 de junho de 2011(dia da cerimoacutenia fuacutenebre) a fim de identificar possiacuteveis diferenccedilas econfirmar a suspeita de que a imprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cober-tura mais alargada deste tipo de acontecimento pelo facto de envolverldquofamososrdquo

1 Imagem e culto das celebridades nos mediaNo tempo presente laquoa imagem constitui a proacutepria forma da nossa cul-turaraquo (Martins 2011a 77) Por isso mesmo haacute muitos que se referem agravenossa eacutepoca como a ldquocivilizaccedilatildeo da imagemrdquo Quer se queira quer natildeolaquoa utilizaccedilatildeo das imagens generaliza-se de facto e quer as olhemos queras fabriquemos somos quotidianamente levados agrave sua utilizaccedilatildeo deci-fraccedilatildeo e interpretaccedilatildeoraquo (Joly 1999 9)

Entretanto natildeo se pode dissociar o estatuto alcanccedilado pela imagemna contemporaneidade da influecircncia exercida pelos media pois satildeo es-tes que difundem a todo o momento inuacutemeras imagens de todas as par-tes do mundo A imprensa a televisatildeo e a internet satildeo bons exemplosdisso Daiacute laquoa imagem invasora a imagem omnipresente aquela quecriticamos e que faz ao mesmo tempo parte da vida quotidiana de cadaum eacute a imagem mediaacuteticaraquo (Joly 1999 14) que atinge laquouma audiecircn-cia relativamente grande heterogeacutenea e anoacutenimaraquo ou seja uma audiecircn-cia tatildeo vasta que impede o comunicador de atuar diretamente sobre osseus membros heterogeacutenea na medida em que atinge pessoas com ca-racteriacutesticas socio-econoacutemicas distintas e anoacutenima porque os membrosda audiecircncia natildeo chegam a ser conhecidos pelo comunicador (Wright1973 13-14)

Com o advento dos meios de comunicaccedilatildeo de massa resultante das

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transformaccedilotildees tecnoloacutegicas ocorridas em menos de um seacuteculo a ima-gem deixou de ter um papel meramente esteacutetico e em alguns casosilustrativo para se transformar laquonum elemento informativo autoacutenomofundamental e indispensaacutevelraquo que daacute ao puacuteblico a versatildeo visual dosacontecimentos em regime de difusatildeo simultacircnea para todo o mundo(Casasuacutes 1979 58-60)

Para aleacutem disso laquoa necessidade da informaccedilatildeo de massas tal comohoje eacute concebida leva a procurar na imagem tudo o que ela possa trazerde ineacutedito surpreendente insoacutelito dramaacutetico ou ldquosensacionalrdquoraquo (Casa-suacutes 1979 60)

Sendo assim a imagem tem um papel cada vez mais central nos me-dia e estaacute intimamente relacionada com a sociedade na verdade laquoumamodifica a outra a segunda influi na primeira de um lado porque ela aalimenta de outro porque a utilizaraquo (Casasuacutes 1979 96)

Eacute precisamente neste contexto da cultura da imagem e da sua me-diatizaccedilatildeo que se acentua o interesse pela pessoa em si (Torres 201184) e se daacute a substituiccedilatildeo das ideologias pelo culto das celebridades(Alexandre 2001 121)

O fenoacutemeno comeccedila na primeira metade do seacuteculo XX quando o ci-nema cria as ldquoestrelasrdquo e difunde a sua imagem em todo o mundo comoo primeiro grande produto cultural A tiacutetulo de exemplo Carlos GardelMarylin Monroe e James Dean chegaram a ser objecto de laquosublimaccedilatildeofotograacutefica por parte doa fatildesraquo fenoacutemeno que explica em certa medidao record de vendas de posters destes mitos daquele seacuteculo (Casasuacutes1979 88-90)

Com o desenvolvimento das induacutestrias culturais este fenoacutemeno co-nhecido por star-system atinge o mundo da muacutesica e a televisatildeo e maistarde acaba por se estender a outras atividades tais como a poliacutetica aarte a moda o desporto entre outras De tal forma que laquoatualmente jaacutenada escapa ao sistema do vedetariado As estrelas abundam sendo asua imagem difundida e planetarizada pelos jornais a televisatildeo e a rededa webraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 92-101)

Hoje as ldquoestrelasrdquo fazem-se natildeo soacute de muacutesicos e atores mas tam-beacutem de atletas estilistas modelos algumas pessoas ricas (tais comoDonald Trump e Paris Hilton) e ateacute de membros da realeza (como eacute ocaso da famiacutelia real britacircnica e em particular da falecida princesa Di-ana) Na verdade todos se tornam ceacutelebres porque laquosatildeo exemplares em

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auto-promoccedilatildeo e conseguem obter uma sustentada atenccedilatildeo dos mediaraquo(Hollander 2011 65)

Chris Rojek (2001 10-29) no seu livro ldquoCelebrityrdquo refere que oestatuto de celebridade pode ser conferido adquirido ou atribuiacutedo Acelebridade conferida relaciona-se com a linhagem (o Priacutencipe Williamde Inglaterra e o Priacutencipe Felipe de Espanha satildeo exemplos disso) a ce-lebridade adquirida resulta de realizaccedilotildees individuais alcanccediladas por viade talentos ou habilidades raras (por exemplo David Beckham Cristi-ano Ronaldo e Joseacute Mourinho) enquanto a celebridade atribuiacuteda derivade uma fabricaccedilatildeo cultural da representaccedilatildeo de um indiviacuteduo por in-termediaacuterios culturais ou seja por agentes publicitaacuterios fotoacutegrafospromotores e outros profissionais cujo trabalho passa pela apresenta-ccedilatildeo puacuteblica de pessoas que possam merecer uma atenccedilatildeo duradoura dopuacuteblico (em Portugal temos o caso de Bibaacute Pitta e Cinha Jardim)

Por sua vez Eduardo Cintra Torres (2011 87-89) apresenta umatipologia da celebridade partilhada informalmente no meio televisivoEla eacute composta em primeiro lugar por ldquoestrelasrdquo que ganham este es-tatuto a partir do trabalho que desenvolvem como atores artistas entreoutros em segundo lugar por ldquocelebridades ou famososrdquo cuja laquopre-senccedila da individualidade (corpo emoccedilotildees vida privada roupas etc)sobrepotildee-se ou segue a par com a sua vida profissionalraquo por vezes asua actividade profissional eacute dedicada agrave exploraccedilatildeo da sua celebridadee em terceiro lugar por ldquoconhecidosrdquo ou seja por pessoas comuns quese tornam haacutebito no ecratilde ao participarem no daytime televisivo e nosreality shows

Importa ainda dizer que a celebridade difere do heroacutei do passadoRonaldo Helal recorrendo agraves interpretaccedilotildees de Joseph Campell e Ed-gar Morin diferencia heroacutei de celebridade afirmando que laquoo primeirovive para lsquoredimir a sociedade de seus pecadosrsquo vive para os outrosenquanto o segundo vive somente para si (Helal 18)raquo (Pena 2002 3)Por sua vez Daniel Boorstin pioneiro da definiccedilatildeo e da anaacutelise destefenoacutemeno refere que laquoa celebridade eacute uma pessoa conhecida por serconhecida [] O heroacutei distingue-se pelos seus feitos ao passo que acelebridade se distingue pela sua imagem ou marca O heroacutei criou-seenquanto a celebridade foi criada pelos media [] (Boorstin 1961 57-61)raquo (Hollander 2011 64)

Eacute por isso difiacutecil dissociar o culto da celebridade das tecnologias

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modernas Tornar-se ceacutelebre implica ser-se amplamente conhecido eisso soacute eacute possiacutevel a partir dos media pois apenas eles tecircm a capacidadede disseminar largamente laquoas imagens as caracteriacutesticas e os feitos (talcomo satildeo) dos aspirantes a celebridades ou das celebridades instituiacute-dasraquo (Hollander 2011 63)

Na contemporaneidade as celebridades surgem por um lado comoum objeto construiacutedo a partir de laquoprinciacutepios racionais e estrateacutegicosque contrariam a ideia de um talento natural que eacute reconhecido por to-dos (Benhamou 2002)raquo para atuar num determinado campo de accedilatildeo(televisatildeo cinema muacutesica ou moda) e por outro lado como laquoum con-teuacutedo humano apelativo agraves audiecircncias a baixo custoraquo com enormepotencial de promoccedilatildeo de produtos mediaacuteticos e culturais (programasde televisatildeo muacutesica merchandising entre outros) e de utilizaccedilatildeo pu-blicitaacuteria em produtos de grande consumo (roupa acessoacuterios bebidasetc) (Jorge 2011 634)

Eacute pois verdade que a celebridade eacute uma laquomarca mercadologica-mente construiacutedaraquo para gerar grandes audiecircncias e receitas financeiras(Matta 2009 1-2) e que esta loacutegica se sobrepotildee mesmo a questotildeesde participaccedilatildeo A associaccedilatildeo da celebridade a uma causa social ouambiental tem quase sempre baixo impacto na consciecircncia das audiecircn-cias dado o formato ldquoespetaacuteculordquo que estes momentos assumem (Jorge2011 636)

A celebridade um dos desenvolvimentos da sociedade do espetaacute-culo torna-se assim laquouma induacutestria que vende imagens narrativas eemoccedilotildees na intimidade e como identidade submetendo-se como qual-quer outra induacutestria agraves leis da oferta e da procuraraquo (Torres 2011 83)

Segundo Torres (2011 96-97) o culto das celebridades tem essen-cialmente dois polos a televisatildeo e a imprensa laquocor-de-rosaraquo A tele-visatildeo cria conhecidos e programas para os dar a conhecer ao puacuteblicoenquanto laquoas revistas especializadas difundem fotografias contam ossegredos e invadem a intimidaderaquo (Lipovetsky e Serroy 2010 102)

Assim o sucesso deste fenoacutemeno natildeo soacute laquofavoreceu o aparecimentoduma imprensa especializada com os seus paparazzi as suas derivasinquisitoacuterias e falta de respeito pela intimidade dos outrosraquo como tam-beacutem motivou a inserccedilatildeo da rubrica ldquosociedaderdquo em inuacutemeros jornais(Lipovetsky e Serroy 2010 102-106)

As celebridades trazem laquoagraves notiacutecias um ineacutedito potencial para a

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

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Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

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Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

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Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

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Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 4: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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transformaccedilotildees tecnoloacutegicas ocorridas em menos de um seacuteculo a ima-gem deixou de ter um papel meramente esteacutetico e em alguns casosilustrativo para se transformar laquonum elemento informativo autoacutenomofundamental e indispensaacutevelraquo que daacute ao puacuteblico a versatildeo visual dosacontecimentos em regime de difusatildeo simultacircnea para todo o mundo(Casasuacutes 1979 58-60)

Para aleacutem disso laquoa necessidade da informaccedilatildeo de massas tal comohoje eacute concebida leva a procurar na imagem tudo o que ela possa trazerde ineacutedito surpreendente insoacutelito dramaacutetico ou ldquosensacionalrdquoraquo (Casa-suacutes 1979 60)

Sendo assim a imagem tem um papel cada vez mais central nos me-dia e estaacute intimamente relacionada com a sociedade na verdade laquoumamodifica a outra a segunda influi na primeira de um lado porque ela aalimenta de outro porque a utilizaraquo (Casasuacutes 1979 96)

Eacute precisamente neste contexto da cultura da imagem e da sua me-diatizaccedilatildeo que se acentua o interesse pela pessoa em si (Torres 201184) e se daacute a substituiccedilatildeo das ideologias pelo culto das celebridades(Alexandre 2001 121)

O fenoacutemeno comeccedila na primeira metade do seacuteculo XX quando o ci-nema cria as ldquoestrelasrdquo e difunde a sua imagem em todo o mundo comoo primeiro grande produto cultural A tiacutetulo de exemplo Carlos GardelMarylin Monroe e James Dean chegaram a ser objecto de laquosublimaccedilatildeofotograacutefica por parte doa fatildesraquo fenoacutemeno que explica em certa medidao record de vendas de posters destes mitos daquele seacuteculo (Casasuacutes1979 88-90)

Com o desenvolvimento das induacutestrias culturais este fenoacutemeno co-nhecido por star-system atinge o mundo da muacutesica e a televisatildeo e maistarde acaba por se estender a outras atividades tais como a poliacutetica aarte a moda o desporto entre outras De tal forma que laquoatualmente jaacutenada escapa ao sistema do vedetariado As estrelas abundam sendo asua imagem difundida e planetarizada pelos jornais a televisatildeo e a rededa webraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 92-101)

Hoje as ldquoestrelasrdquo fazem-se natildeo soacute de muacutesicos e atores mas tam-beacutem de atletas estilistas modelos algumas pessoas ricas (tais comoDonald Trump e Paris Hilton) e ateacute de membros da realeza (como eacute ocaso da famiacutelia real britacircnica e em particular da falecida princesa Di-ana) Na verdade todos se tornam ceacutelebres porque laquosatildeo exemplares em

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auto-promoccedilatildeo e conseguem obter uma sustentada atenccedilatildeo dos mediaraquo(Hollander 2011 65)

Chris Rojek (2001 10-29) no seu livro ldquoCelebrityrdquo refere que oestatuto de celebridade pode ser conferido adquirido ou atribuiacutedo Acelebridade conferida relaciona-se com a linhagem (o Priacutencipe Williamde Inglaterra e o Priacutencipe Felipe de Espanha satildeo exemplos disso) a ce-lebridade adquirida resulta de realizaccedilotildees individuais alcanccediladas por viade talentos ou habilidades raras (por exemplo David Beckham Cristi-ano Ronaldo e Joseacute Mourinho) enquanto a celebridade atribuiacuteda derivade uma fabricaccedilatildeo cultural da representaccedilatildeo de um indiviacuteduo por in-termediaacuterios culturais ou seja por agentes publicitaacuterios fotoacutegrafospromotores e outros profissionais cujo trabalho passa pela apresenta-ccedilatildeo puacuteblica de pessoas que possam merecer uma atenccedilatildeo duradoura dopuacuteblico (em Portugal temos o caso de Bibaacute Pitta e Cinha Jardim)

Por sua vez Eduardo Cintra Torres (2011 87-89) apresenta umatipologia da celebridade partilhada informalmente no meio televisivoEla eacute composta em primeiro lugar por ldquoestrelasrdquo que ganham este es-tatuto a partir do trabalho que desenvolvem como atores artistas entreoutros em segundo lugar por ldquocelebridades ou famososrdquo cuja laquopre-senccedila da individualidade (corpo emoccedilotildees vida privada roupas etc)sobrepotildee-se ou segue a par com a sua vida profissionalraquo por vezes asua actividade profissional eacute dedicada agrave exploraccedilatildeo da sua celebridadee em terceiro lugar por ldquoconhecidosrdquo ou seja por pessoas comuns quese tornam haacutebito no ecratilde ao participarem no daytime televisivo e nosreality shows

Importa ainda dizer que a celebridade difere do heroacutei do passadoRonaldo Helal recorrendo agraves interpretaccedilotildees de Joseph Campell e Ed-gar Morin diferencia heroacutei de celebridade afirmando que laquoo primeirovive para lsquoredimir a sociedade de seus pecadosrsquo vive para os outrosenquanto o segundo vive somente para si (Helal 18)raquo (Pena 2002 3)Por sua vez Daniel Boorstin pioneiro da definiccedilatildeo e da anaacutelise destefenoacutemeno refere que laquoa celebridade eacute uma pessoa conhecida por serconhecida [] O heroacutei distingue-se pelos seus feitos ao passo que acelebridade se distingue pela sua imagem ou marca O heroacutei criou-seenquanto a celebridade foi criada pelos media [] (Boorstin 1961 57-61)raquo (Hollander 2011 64)

Eacute por isso difiacutecil dissociar o culto da celebridade das tecnologias

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modernas Tornar-se ceacutelebre implica ser-se amplamente conhecido eisso soacute eacute possiacutevel a partir dos media pois apenas eles tecircm a capacidadede disseminar largamente laquoas imagens as caracteriacutesticas e os feitos (talcomo satildeo) dos aspirantes a celebridades ou das celebridades instituiacute-dasraquo (Hollander 2011 63)

Na contemporaneidade as celebridades surgem por um lado comoum objeto construiacutedo a partir de laquoprinciacutepios racionais e estrateacutegicosque contrariam a ideia de um talento natural que eacute reconhecido por to-dos (Benhamou 2002)raquo para atuar num determinado campo de accedilatildeo(televisatildeo cinema muacutesica ou moda) e por outro lado como laquoum con-teuacutedo humano apelativo agraves audiecircncias a baixo custoraquo com enormepotencial de promoccedilatildeo de produtos mediaacuteticos e culturais (programasde televisatildeo muacutesica merchandising entre outros) e de utilizaccedilatildeo pu-blicitaacuteria em produtos de grande consumo (roupa acessoacuterios bebidasetc) (Jorge 2011 634)

Eacute pois verdade que a celebridade eacute uma laquomarca mercadologica-mente construiacutedaraquo para gerar grandes audiecircncias e receitas financeiras(Matta 2009 1-2) e que esta loacutegica se sobrepotildee mesmo a questotildeesde participaccedilatildeo A associaccedilatildeo da celebridade a uma causa social ouambiental tem quase sempre baixo impacto na consciecircncia das audiecircn-cias dado o formato ldquoespetaacuteculordquo que estes momentos assumem (Jorge2011 636)

A celebridade um dos desenvolvimentos da sociedade do espetaacute-culo torna-se assim laquouma induacutestria que vende imagens narrativas eemoccedilotildees na intimidade e como identidade submetendo-se como qual-quer outra induacutestria agraves leis da oferta e da procuraraquo (Torres 2011 83)

Segundo Torres (2011 96-97) o culto das celebridades tem essen-cialmente dois polos a televisatildeo e a imprensa laquocor-de-rosaraquo A tele-visatildeo cria conhecidos e programas para os dar a conhecer ao puacuteblicoenquanto laquoas revistas especializadas difundem fotografias contam ossegredos e invadem a intimidaderaquo (Lipovetsky e Serroy 2010 102)

Assim o sucesso deste fenoacutemeno natildeo soacute laquofavoreceu o aparecimentoduma imprensa especializada com os seus paparazzi as suas derivasinquisitoacuterias e falta de respeito pela intimidade dos outrosraquo como tam-beacutem motivou a inserccedilatildeo da rubrica ldquosociedaderdquo em inuacutemeros jornais(Lipovetsky e Serroy 2010 102-106)

As celebridades trazem laquoagraves notiacutecias um ineacutedito potencial para a

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

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Referecircncias na imprensa

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Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 5: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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auto-promoccedilatildeo e conseguem obter uma sustentada atenccedilatildeo dos mediaraquo(Hollander 2011 65)

Chris Rojek (2001 10-29) no seu livro ldquoCelebrityrdquo refere que oestatuto de celebridade pode ser conferido adquirido ou atribuiacutedo Acelebridade conferida relaciona-se com a linhagem (o Priacutencipe Williamde Inglaterra e o Priacutencipe Felipe de Espanha satildeo exemplos disso) a ce-lebridade adquirida resulta de realizaccedilotildees individuais alcanccediladas por viade talentos ou habilidades raras (por exemplo David Beckham Cristi-ano Ronaldo e Joseacute Mourinho) enquanto a celebridade atribuiacuteda derivade uma fabricaccedilatildeo cultural da representaccedilatildeo de um indiviacuteduo por in-termediaacuterios culturais ou seja por agentes publicitaacuterios fotoacutegrafospromotores e outros profissionais cujo trabalho passa pela apresenta-ccedilatildeo puacuteblica de pessoas que possam merecer uma atenccedilatildeo duradoura dopuacuteblico (em Portugal temos o caso de Bibaacute Pitta e Cinha Jardim)

Por sua vez Eduardo Cintra Torres (2011 87-89) apresenta umatipologia da celebridade partilhada informalmente no meio televisivoEla eacute composta em primeiro lugar por ldquoestrelasrdquo que ganham este es-tatuto a partir do trabalho que desenvolvem como atores artistas entreoutros em segundo lugar por ldquocelebridades ou famososrdquo cuja laquopre-senccedila da individualidade (corpo emoccedilotildees vida privada roupas etc)sobrepotildee-se ou segue a par com a sua vida profissionalraquo por vezes asua actividade profissional eacute dedicada agrave exploraccedilatildeo da sua celebridadee em terceiro lugar por ldquoconhecidosrdquo ou seja por pessoas comuns quese tornam haacutebito no ecratilde ao participarem no daytime televisivo e nosreality shows

Importa ainda dizer que a celebridade difere do heroacutei do passadoRonaldo Helal recorrendo agraves interpretaccedilotildees de Joseph Campell e Ed-gar Morin diferencia heroacutei de celebridade afirmando que laquoo primeirovive para lsquoredimir a sociedade de seus pecadosrsquo vive para os outrosenquanto o segundo vive somente para si (Helal 18)raquo (Pena 2002 3)Por sua vez Daniel Boorstin pioneiro da definiccedilatildeo e da anaacutelise destefenoacutemeno refere que laquoa celebridade eacute uma pessoa conhecida por serconhecida [] O heroacutei distingue-se pelos seus feitos ao passo que acelebridade se distingue pela sua imagem ou marca O heroacutei criou-seenquanto a celebridade foi criada pelos media [] (Boorstin 1961 57-61)raquo (Hollander 2011 64)

Eacute por isso difiacutecil dissociar o culto da celebridade das tecnologias

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modernas Tornar-se ceacutelebre implica ser-se amplamente conhecido eisso soacute eacute possiacutevel a partir dos media pois apenas eles tecircm a capacidadede disseminar largamente laquoas imagens as caracteriacutesticas e os feitos (talcomo satildeo) dos aspirantes a celebridades ou das celebridades instituiacute-dasraquo (Hollander 2011 63)

Na contemporaneidade as celebridades surgem por um lado comoum objeto construiacutedo a partir de laquoprinciacutepios racionais e estrateacutegicosque contrariam a ideia de um talento natural que eacute reconhecido por to-dos (Benhamou 2002)raquo para atuar num determinado campo de accedilatildeo(televisatildeo cinema muacutesica ou moda) e por outro lado como laquoum con-teuacutedo humano apelativo agraves audiecircncias a baixo custoraquo com enormepotencial de promoccedilatildeo de produtos mediaacuteticos e culturais (programasde televisatildeo muacutesica merchandising entre outros) e de utilizaccedilatildeo pu-blicitaacuteria em produtos de grande consumo (roupa acessoacuterios bebidasetc) (Jorge 2011 634)

Eacute pois verdade que a celebridade eacute uma laquomarca mercadologica-mente construiacutedaraquo para gerar grandes audiecircncias e receitas financeiras(Matta 2009 1-2) e que esta loacutegica se sobrepotildee mesmo a questotildeesde participaccedilatildeo A associaccedilatildeo da celebridade a uma causa social ouambiental tem quase sempre baixo impacto na consciecircncia das audiecircn-cias dado o formato ldquoespetaacuteculordquo que estes momentos assumem (Jorge2011 636)

A celebridade um dos desenvolvimentos da sociedade do espetaacute-culo torna-se assim laquouma induacutestria que vende imagens narrativas eemoccedilotildees na intimidade e como identidade submetendo-se como qual-quer outra induacutestria agraves leis da oferta e da procuraraquo (Torres 2011 83)

Segundo Torres (2011 96-97) o culto das celebridades tem essen-cialmente dois polos a televisatildeo e a imprensa laquocor-de-rosaraquo A tele-visatildeo cria conhecidos e programas para os dar a conhecer ao puacuteblicoenquanto laquoas revistas especializadas difundem fotografias contam ossegredos e invadem a intimidaderaquo (Lipovetsky e Serroy 2010 102)

Assim o sucesso deste fenoacutemeno natildeo soacute laquofavoreceu o aparecimentoduma imprensa especializada com os seus paparazzi as suas derivasinquisitoacuterias e falta de respeito pela intimidade dos outrosraquo como tam-beacutem motivou a inserccedilatildeo da rubrica ldquosociedaderdquo em inuacutemeros jornais(Lipovetsky e Serroy 2010 102-106)

As celebridades trazem laquoagraves notiacutecias um ineacutedito potencial para a

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

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Referecircncias na imprensa

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Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 6: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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modernas Tornar-se ceacutelebre implica ser-se amplamente conhecido eisso soacute eacute possiacutevel a partir dos media pois apenas eles tecircm a capacidadede disseminar largamente laquoas imagens as caracteriacutesticas e os feitos (talcomo satildeo) dos aspirantes a celebridades ou das celebridades instituiacute-dasraquo (Hollander 2011 63)

Na contemporaneidade as celebridades surgem por um lado comoum objeto construiacutedo a partir de laquoprinciacutepios racionais e estrateacutegicosque contrariam a ideia de um talento natural que eacute reconhecido por to-dos (Benhamou 2002)raquo para atuar num determinado campo de accedilatildeo(televisatildeo cinema muacutesica ou moda) e por outro lado como laquoum con-teuacutedo humano apelativo agraves audiecircncias a baixo custoraquo com enormepotencial de promoccedilatildeo de produtos mediaacuteticos e culturais (programasde televisatildeo muacutesica merchandising entre outros) e de utilizaccedilatildeo pu-blicitaacuteria em produtos de grande consumo (roupa acessoacuterios bebidasetc) (Jorge 2011 634)

Eacute pois verdade que a celebridade eacute uma laquomarca mercadologica-mente construiacutedaraquo para gerar grandes audiecircncias e receitas financeiras(Matta 2009 1-2) e que esta loacutegica se sobrepotildee mesmo a questotildeesde participaccedilatildeo A associaccedilatildeo da celebridade a uma causa social ouambiental tem quase sempre baixo impacto na consciecircncia das audiecircn-cias dado o formato ldquoespetaacuteculordquo que estes momentos assumem (Jorge2011 636)

A celebridade um dos desenvolvimentos da sociedade do espetaacute-culo torna-se assim laquouma induacutestria que vende imagens narrativas eemoccedilotildees na intimidade e como identidade submetendo-se como qual-quer outra induacutestria agraves leis da oferta e da procuraraquo (Torres 2011 83)

Segundo Torres (2011 96-97) o culto das celebridades tem essen-cialmente dois polos a televisatildeo e a imprensa laquocor-de-rosaraquo A tele-visatildeo cria conhecidos e programas para os dar a conhecer ao puacuteblicoenquanto laquoas revistas especializadas difundem fotografias contam ossegredos e invadem a intimidaderaquo (Lipovetsky e Serroy 2010 102)

Assim o sucesso deste fenoacutemeno natildeo soacute laquofavoreceu o aparecimentoduma imprensa especializada com os seus paparazzi as suas derivasinquisitoacuterias e falta de respeito pela intimidade dos outrosraquo como tam-beacutem motivou a inserccedilatildeo da rubrica ldquosociedaderdquo em inuacutemeros jornais(Lipovetsky e Serroy 2010 102-106)

As celebridades trazem laquoagraves notiacutecias um ineacutedito potencial para a

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 7: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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composiccedilatildeo emotivaraquo (Conboy 2011 130) numa altura em que emergelaquoum novo paradigma de fazer informaccedilatildeo caracterizado por novas poliacute-ticas editoriais em que predomina o registo emotivo em detrimento doracionalraquo conhecido por infotainment (Gil 2011 145)

Contudo esta imprensa sensacionalista soacute prolifera porque laquohaacute umpuacuteblico que a procuraraquo dada a sua laquonecessidade de sonhar por procura-ccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 106) Para o puacuteblico as celebridadespersonificam o ecircxito laquopor serem ricas conhecidas reverenciadas e fisi-camente atraentesraquo (Hollander 2011 62)

Consciente desta necessidade do puacuteblico os media vatildeo mais longeao permitirem que o cidadatildeo comum passe de um momento para o outrodo anonimato para as luzes da ribalta no uso dos seus quinze minutosde fama anunciados pelo artista plaacutestico norte-americano Andy Warhol(Alexandre 2001 121)

Nesta loacutegica laquoos anoacutenimos ficam famosos e ganham seus minutosde celebridade os que jaacute satildeo famosos viram mitosraquo (Alexandre 2001121) Outras vezes as celebridades do quotidiano do ldquoeu espetacu-larizadordquo acabam por se sobrepor agraves proacuteprias ldquoestrelasrdquo criadas pelosmedia na forma tradicional de entretenimento (Pena 2002 7)

Na verdade enquanto prevalecer a democracia e o capitalismo ascelebridades iratildeo continuar a fazer parte da sociedade contemporacircnea(Rojek 2001 198-199) Esta eacute a era da celebridade para todos (Lipo-vetsky e Serroy 2010 105)

2 Morte nos media e celebridadesO tratamento informativo de acidentes cataacutestrofes crimes e guerrassempre fizeram parte da histoacuteria do jornalismo pelo que a morte sem-pre foi notiacutecia Poreacutem a forma como ela se apresenta hoje difere muitodo tempo em que era noticiada por escrito num tom factual e com umcerto distanciamento do acontecimento (Oliveira 2005 1952)

Com o aparecimento da televisatildeo e o desenvolvimento das novastecnologias a morte passou a ocupar um novo lugar no imaginaacuterio con-temporacircneo por isso laquodiz Susan Sontag que ldquocaptar uma morte que estaacutea ocorrer e embalsamaacute-la para todo o sempre eacute algo que apenas uma cacirc-mara pode fazer (Sotang 2003 65)raquo (Oliveira 2005 1953) Natildeo obs-tante a morte natildeo eacute tolerada na sociedade ocidental atual tendo aliaacutes

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 8: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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sido apontada pelos psicanalistas existenciais como o grande tabu dofinal do seacuteculo XX (Torres 1983 in Caputo 2008 78)

Numa era em que se registam grandes avanccedilos na medicina em quese preserva a felicidade e se vive mais a individualidade torna-se difiacutecilaceitar a morte Portanto ela deixa de ser um fenoacutemeno natural neces-saacuterio para se tornar um fracasso (Ariegraves 1988 in Oliveira 2005 1954)Talvez por isso laquoos uacuteltimos instantes a missa fuacutenebre e a inumaccedilatildeosatildeo atos sociais realizados agrave pressa e mesmo com alguma ligeireza []com a exceccedilatildeo siderante do funeral das estrelas mass-mediaacuteticasraquo taiscomo o piloto Ayrton Senna (1994) a Princesa Diana de Gales (1997)o Papa Joatildeo Paulo II (2005) o futebolista Niklas Feheacuter (2004) o cantorMichael Jackson (2009) entre muitos outros (Martins 2011b 3-4)

Na sociedade do espetaacuteculo (Debord 1997) laquoas honras fuacutenebresdas celebridades do mundo artiacutestico poliacutetico esportivo e religioso dei-xaram de ser um acontecimento privado para se tornar um aconteci-mento de interesse da miacutedia e especialmente da televisatildeoraquo (Trigueiro2005 4)

A propoacutesito importa referir que a morte natildeo ocupou sempre o mes-mo espaccedilo na civilizaccedilatildeo ocidental Na primeira Idade Meacutedia (do seacute-culo V ao seacuteculo XII) a morte era domesticada familiar e encaradacomo algo natural da vida Os mortos conviviam com os vivos jaacute queeram sepultados dentro e no paacutetio das igrejas locais privilegiados deencontros e reuniotildees Na segunda Idade Meacutedia (do seacuteculo XII ao seacute-culo XV) a morte transformou-se num momento de provaccedilatildeo mediadopela Igreja e por essa razatildeo o corpo do morto tornou-se insuportaacutevelpassando a ser ocultado numa caixa de madeira (caixatildeo) (Caputo 200875-77) No seacuteculo XVII surge a morte barroca que reconstitui as hie-rarquias sociais na procissatildeo fuacutenebre de um enterro de luxo (Martins2011b 3) No seacuteculo XVIII a morte entra no periacuteodo romacircntico e ohomem passa a ter complacecircncia para com ela Os corpos passam a sersepultados apenas nos cemiteacuterios e a sepultura passa a ser identificadaA partir do seacuteculo XIX a morte do outro natildeo eacute aceite e na segunda me-tade do seacuteculo XX torna-se um objeto interdito (Caputo 2008 77-78)

Atualmente os media trazem a morte e a dor a ela associada parao espaccedilo puacuteblico em nome do ldquofazer-se sentirrdquo assinalado por Perni-ola confundindo-se informaccedilatildeo com sensacionalismo (Oliveira 20051956) Assim laquoa narrativa mediaacutetica da morte constitui eacute verdade uma

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 9: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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inteacutermina glosa agrave condiccedilatildeo humana sempre com a morte nos olhos vi-vendo em permanente tensatildeoraquo (Martins 2011b 6)

Apesar de subverter os coacutedigos jornaliacutesticos a cobertura mediaacuteticada morte insiste em colocar o logos (razatildeo ideias palavras) e o ethos(eacutetica valores haacutebitos) sob o domiacutenio do pathos (emoccedilatildeo sensaccedilotildeespaixotildees) de tal modo que ldquocome o pensamentordquo como se lhe referiuKarl Kraus (Martins 2011b 7)

Pelo simulacro televisivo laquoa morte de todas as trageacutedias coletivase tambeacutem a morte de todas as personalidades assim como a morte docidadatildeo comumraquo chega-nos em direto (Martins 2011b 5) E assimlaquoa televisatildeo impotildee o reino da imagem em direto que provoca choquevisual e emoccedilatildeoraquo (Lipovetsky e Serroy 2010 93)

Entretanto este fenoacutemeno estende-se agrave raacutedio aos jornais e revistase agrave internet laquocom o objetivo de vender os seus significados sagradose profanos para alcanccedilar um nuacutemero maior possiacutevel de receccedilatildeoraquo (Tri-gueiro 2005 5)

A morte passa a ser um espetaacuteculo mediaacutetico de interesse particu-lar quando envolve figuras puacuteblicas Por isso eacute que laquoolhar a morte daPrincesa Diana de Gales de Madre Teresa de Calcutaacute ou de Joatildeo PauloII eacute participar da construccedilatildeo de um luto que se vive ficcionalmente naemoccedilatildeo produzida pelo aparelho mediaacuteticoraquo (Oliveira 2005 1961)

O caso mais paradigmaacutetico eacute o do Papa Joatildeo Paulo II (18 de maiode 1920 ndash 2 de abril de 2005) Agrave volta da sua agonia morte e cerimoacuteniafuacutenebre os media construiacuteram o maior acontecimento noticioso do seacute-culo XXI com mais de 75 mil reportagens publicadas em todo o mundosegundo dados apresentados pela Global Language Monitor O nome deJoatildeo Paulo II foi citado cerca de 10 milhotildees de vezes na rede mundial deinformaccedilatildeo e as imagens da missa de corpo presente chegaram a 90 paiacute-ses atraveacutes de canais puacuteblicos e privados de televisatildeo (Trigueiro 20056)

Este acontecimento teve tal impacto no mundo que superou outrosmomentos de enorme expressatildeo mediaacutetica como o atentado de 11 desetembro de 2001 nos Estados Unidos da Ameacuterica a morte do pilotobrasileiro Ayrton de Sena a 1 de maio de 1994 e da princesa Diana deGales a 31 de agosto de 1997 e motivou o adiamento de outros como ocasamento do priacutencipe Charles com Camilla Parker-Bowles (Trigueiro2005 6-9)

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 10: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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Natildeo eacute de estranhar a cobertura mediaacutetica em volta da morte de JoatildeoPaulo II uma vez que durante o seu pontificado sempre fez questatildeo detirar partido dos meios de comunicaccedilatildeo social

Fica claro que laquoas transformaccedilotildees operadas na cultura pelas tecnolo-gias e pelos media de tatildeo profundas vieram alterar ao longo do seacuteculoXX o sentido que tanto damos agrave vida como agrave morteraquo (Martins 2011b1) e que os media natildeo satildeo soacute instrumentos de extensatildeo dos nossos sen-tidos como defendeu McLuhan mas tambeacutem de prolongamento da dor(Oliveira 2005 1961)

3 Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Vierapesquisa exploratoacuteria

Apoacutes uma breve reflexatildeo sobre a cultura das celebridades e a mediati-zaccedilatildeo da morte na sociedade do espetaacuteculo realiza-se de seguida umapesquisa exploratoacuteria com o intuito de perceber de que forma a morte decelebridades eacute retratada na imprensa portuguesa nomeadamente na im-prensa de caraacutecter generalista e na imprensa dita laquocor-de-rosaraquo a partirde um estudo de caso ndash Angeacutelico Vieira

O material de investigaccedilatildeo que seraacute alvo de um olhar descritivointerpretativo e comparativo consiste nas imagens visuais (fotografia eviacutedeo) que acompanharam as notiacutecias da morte do cantor e ator Angeacute-lico Vieira publicadas on-line no Expresso (meio de informaccedilatildeo gene-ralista) e na Caras (imprensa cor de rosa) entre os dias 25 e 30 de junhode 2011 ou seja entre o dia do acidente que vitimou a celebridade e odia da cerimoacutenia fuacutenebre

Antes disso recorde-se que Angeacutelico Vieira nascido em Lisboa a31 de dezembro de 1982 iniciou a sua carreira de ator na seacuterie televisivaMorangos com Accediluacutecar programa que serviu de rampa de lanccedilamentopara a banda DrsquoZRT da qual fez parte Em 2008 a banda dissolveu-see a 29 de Setembro Angeacutelico lanccedilou o seu primeiro aacutelbum a solo como nome Angeacutelico sendo nesse mesmo dia anunciado como discode ouro Deu continuidade agrave sua carreira de ator tendo participadoem quatro telenovelas trecircs produccedilotildees nacionais e uma brasileira Namadrugada de 25 de junho de 2011 sofreu um traumatismo cranioence-faacutelico no seguimento de um acidente de viaccedilatildeo na auto-estrada do Norte

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(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Celebridades nos media 19

Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Celebridades nos media 21

Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 11: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

Celebridades nos media 11

(A1) na zona de Estarreja e acabou por falecer no dia 28 de junho noPorto

Nesta pesquisa exploratoacuteria foram consideradas 46 notiacutecias com 417fotografias e 8 viacutedeos distribuiacutedas pelos dois meios em anaacutelise da se-guinte forma

Considerando o nuacutemero de notiacutecias e de fotografias publicadas enuma primeira anaacutelise constata-se que a Caras fez uma cobertura maisalargada ao acontecimento (26 notiacutecias 345 fotografias e trecircs viacutedeos)do que o Expresso (20 notiacutecias 73 fotografias e cinco viacutedeos) Destaforma confirma-se a suspeita de que o assunto ldquocelebridadesrdquo mereceuma maior atenccedilatildeo por parte da imprensa laquocor-de-rosaraquo do que da im-prensa generalista

Como o principal objetivo desta pesquisa exploratoacuteria consiste emdescrever interpretar e comparar sumariamente as imagens que acom-panharam as notiacutecias em volta da morte de Angeacutelico Vieira nos doismeios on-line optou-se por dividir as mesmas em trecircs periacuteodos de tem-po notiacutecias poacutes-acidente notiacutecias publicadas no dia da morte e notiacuteciaspoacutes-morte (ver tabela 1 em anexo) a fim de facilitar o trabalho e aleitura do artigo

Na impossibilidade de apresentar neste artigo todas as imagens (417fotografias e oito viacutedeos) seraacute apresentada uma pequena amostra emcada periacuteodo de notiacutecias

31 Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de2011)

As notiacutecias publicadas no dia 25 de junho datildeo conta do acidente e es-tado de gravidade de Angeacutelico Vieira O Expresso adiantou a primeiranotiacutecia agraves 9h26m onde foi publicada uma fotografia do cantor e ator

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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14 Ana Santiago

gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

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Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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22 Ana Santiago

_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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24 Ana Santiago

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 12: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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(imagem 1) com a legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda fenoacute-meno nacional DrsquoZrtrdquo e dois viacutedeos do canal de televisatildeo SIC (imagem2) com imagens do acidente ocorrido em Estarreja por volta das 3h30mna A1 sentido Porto-Lisboa declaraccedilotildees do Comandante Manuel Netodo corpo de bombeiros de Santa Maria da Feira e de Humberto Ma-chado director do Serviccedilo de Urgecircncia do Hospital Santo Antoacutenioonde Angeacutelico Vieira foi hospitalizado Enquanto a Caras publicou aprimeira notiacutecia cerca de duas horas mais tarde com duas fotografiasdo cantor e ator (imagem 3) a primeira com uma expressatildeo seacuteria e asegunda sorridente

No mesmo dia a Caras publicou mais duas notiacutecias Uma reveloua causa do acidente (rebentamento de um pneu) fazendo-se acompa-nhar de duas fotografias do carro sinistrado (imagem 4) com a legendaldquoo carro conduzido por Angeacutelico Vieira ficou totalmente destruiacutedordquo ea outra comunicou o seu prognoacutestico muito reservado com uma foto-galeria composta por sete fotografias algumas delas apresentadas nasnotiacutecias anteriores Jaacute o Expresso publicou apenas mais uma notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoAngeacutelico ia apresentar hoje novo CDrdquo onde aparece umaimagem de corpo inteiro de Angeacutelico Vieira (imagem 5) de uma cam-panha publicitaacuteria revelando assim mais uma faceta do cantor e ator

No dia 26 de junho o Expresso limitou-se a publicar uma uacutenicanotiacutecia para informar que o cantor e ator se encontrava ligado ao venti-lador Para tal utilizou uma fotografia da ldquoestrelardquo em palco (imagem6) com a seguinte legenda ldquoAngeacutelico Vieira fez parte da banda DrsquoZrtrdquo

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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14 Ana Santiago

gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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20 Ana Santiago

depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Celebridades nos media 21

Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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22 Ana Santiago

_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 13: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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bem como um viacutedeo da Sic com uma declaraccedilatildeo de Paulo Lemos ochefe de equipa da Urgecircncia do Hospital de Santo Antoacutenio no Porto(imagem 7)

A Caras alargou a cobertura jornaliacutestica a trecircs notiacutecias que deram aconhecer o estado de sauacutede do cantor e ainda as visitas ao hospital porparte de familiares e amigos alguns deles tambeacutem ldquofamososrdquo Numasoacute notiacutecia foram publicadas 21 fotografias (imagem 8) que provam oseu tiacutetulo ldquoAmigos e familiares de Angeacutelico Vieira transtornados como estado de sauacutede do cantorrdquo A notiacutecia que deu a conhecer o estado decoma induzido do cantor tem trecircs imagens a primeira eacute a mesma queabriu a notiacutecia do acidente (expressatildeo facial seacuteria) enquanto as outrasduas satildeo novas e revelam um Angeacutelico alegre e feliz (imagem 9) Auacuteltima notiacutecia do dia destacou numa fotografia a chegada de duas figurasconhecidas ao hospital Eduardo Beauteacute e Luiacutes Borges (imagem 10)

As notiacutecias de 27 de junho confirmaram o prognoacutestico muito reser-vado do cantor anunciaram a sua morte cerebral e testemunharam oapoio de familiares e amigos aos quais se juntaram centenas de fatildes

Nesse dia o Expresso publicou cinco notiacutecias Nas notiacutecias intitula-das ldquoMatildee de Angeacutelico natildeo quer desligar a maacutequinardquo e ldquoMorte cerebraldispensa consulta agrave famiacuteliardquo natildeo foram publicadas quaisquer imagensA notiacutecia ldquoAngeacutelico centenas de fatildes entopem telefones do hospitalrdquomostra uma imagem de Angeacutelico a representar numa telenovela (ima-

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gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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16 Ana Santiago

qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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18 Ana Santiago

O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Celebridades nos media 19

Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Celebridades nos media 21

Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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24 Ana Santiago

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 14: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

14 Ana Santiago

gem 11) com a legenda ldquoPai de Angeacutelico que se encontrava em An-gola jaacute chegou ao Portordquo enquanto a notiacutecia ldquoAgecircncia de Angeacutelicoorganiza rsquocorrente de luzrsquordquo aparece uma imagem sua numa campanhapublicitaacuteria da Penhalta Hombre (imagem 12) Neste meio a uacuteltimanotiacutecia do dia apresentou uma fotogaleria composta por oito fotografiasda ldquovigiacutelia por Angeacutelicordquo (imagem 13)

A Caras preparou seis notiacutecias A primeira notiacutecia da manhatilde como tiacutetulo ldquoAngeacutelico pode ter sofrido morte cerebralrdquo apresenta duas fo-tografias do cantor uma de corpo inteiro e outra de meio corpo (ima-gem 14) mais uma vez com uma expressatildeo feliz A segunda mostraum viacutedeo com uma declaraccedilatildeo de Isabel Almeida chefe de equipa doServiccedilo de Urgecircncia do hospital a comunicar o prognoacutestico muito reser-vado (imagem 15) A terceira notiacutecia eacute composta por uma fotogaleria dedez fotografias de amigos que visitaram o cantor (imagem 16) A quartanotiacutecia intitulada ldquoEsperanccedila eacute a palavra de ordem entre os fatildes de An-geacutelico Vieirardquo repete a imagem da primeira notiacutecia do dia A quintanotiacutecia tem um print screen da paacutegina de apoio a Angeacutelico Vieira noFacebook (imagem 17) jaacute que o tiacutetulo eacute ldquoOnda de apoio a Angeacutelico Vi-eira nas redes sociaisrdquo Na uacuteltima notiacutecia eacute apresentada uma fotogaleriacomposta por 23 fotografias na vigiacutelia de apoio ao cantor (imagem 18)ou seja mais 15 imagens do que as apresentadas na notiacutecia do Expressosobre o mesmo assunto

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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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24 Ana Santiago

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
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32 Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)No dia 28 de junho foram publicadas seis notiacutecias no Expresso e cincona Caras Agraves 11h9m o Expresso deu a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico devas-tado ao ver o filhordquo acompanhada de uma fotografia do cantor (imagem19) enquanto a Caras anunciou na primeira notiacutecia (11h45m) a natildeo alte-raccedilatildeo do estado de Angeacutelico Vieira recorrendo mais uma vez agrave fotogra-fia do famoso que apresentou no dia do acidente Este meio de imprensalaquocor-de-rosaraquo soacute lanccedilou agraves 12h46m a notiacutecia ldquoPai de Angeacutelico Vieirasentiu-se mal ao ver o filhordquo com duas fotografias (imagem 20) maisde uma hora e meia depois do Expresso Em contrapartida a Caras eacutea primeira a confirmar a morte cerebral (15h00m) com uma imagemquase uma hora antes do Expresso (15h52m)

Anunciada a morte cerebral os dois meios de informaccedilatildeo passarama publicar uma espeacutecie de albuacutem de memoacuteria em homenagem ao can-tor e ator O Expresso optou por fazecirc-lo em dois artigos distintos oprimeiro com o tiacutetulo ldquoRecorde Angeacutelico Vieirardquo tem uma fotogaleriacomposta por 32 imagens do famoso em campanhas publicitaacuterias emeventos diversos em telenovelas onde representou junto da banda da

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16 Ana Santiago

qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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Celebridades nos media 17

da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Celebridades nos media 19

Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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20 Ana Santiago

depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Celebridades nos media 21

Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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22 Ana Santiago

_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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24 Ana Santiago

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
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16 Ana Santiago

qual fez parte e numa reportagem (imagem 21) o segundo artigo in-titulado ldquoPerfil de Angeacutelico Vieirardquo apresenta a imagem do primeiroalbuacutem a soacutelo do cantor (imagem 22) lanccedilado em 2008 e dois viacutedeo-clips um com uma muacutesica do seu albuacutem e outro com o tema Para mimtanto me faz um dos primeiros ecircxitos dos DrsquoZrt Por seu turno a Ca-ras fez a homenagem no artigo ldquoAngeacutelico Vieira e os DrsquoZrtrdquo com umafotografia do cantor e 14 da banda da qual fez parte (imagem 23)

Entretanto a morte de Angeacutelico Vieira eacute confirmada pelos doismeios em anaacutelise com uma diferenccedila de trecircs minutos mais uma veza Caras adianta-se (23h46m) em relaccedilatildeo ao Expresso (23h49m) Am-bas as notiacutecias fazem-se acompanhar de uma uacutenica imagem do cantorO Expresso utilizou pela primeira vez uma das imagens que a Carastinha repetido inuacutemeras vezes em notiacutecias anteriores mas sujeitou-a atratamento A imagem passa a apresentar o perfil do rosto de Angeacutelicoem grande plano (o corpo desaparece) e a sua cor eacute mais fria (imagem24) A imagem utilizada pela Caras mostra um Angeacutelico em pose comuma expressatildeo facial serena mas fechada (imagem 25)

33 Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)Depois da morte confirmada e ateacute agrave cerimoacutenia fuacutenebre o Expresso di-fundiu seis notiacutecias e a Caras um total de nove Neste conjunto de notiacute-cias concentram-se a maioria das fotografias publicadas sobre o assunto

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da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
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Celebridades nos media 17

da presente pesquisa em particular na Caras onde as duas uacuteltimas notiacute-cias somaram 197 fotografias alusivas ao veloacuterio de Angeacutelico Vieira

Assim no dia 29 de junho o Expresso apresentou uma fotogaleriacomposta por oito fotografias para ilustrar e provar o tiacutetulo ldquoFatildes espe-raram por um milagrerdquo (imagem 26) ficando os dois restantes tiacutetulosdo dia (ldquoAngeacutelico deixou albuacutem de originais inacabadordquo e ldquoOacutergatildeo deAngeacutelico foram retirados para doaccedilatildeordquo) sem qualquer imagem

Nesse dia a Caras fez uma cobertura mais alargada do que o Ex-presso tendo publicado sete notiacutecias 54 fotografias e um viacutedeo Nestecaso a maioria das imagens divulgadas concentraram-se sobretudo emtrecircs notiacutecias que homenagearam o cantor e a ator o tiacutetulo ldquoMorreu An-geacutelico Vieira Recorde algumas imagens do ator e cantorrdquo com 30 foto-grafias (imagem 27) o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Recorde as imagens doconcerto dos DrsquoZrt no Rock in Rio 2010 (fotogaleria)rdquo com uma foto-grafia da banda e uma fotogaleria composta por 19 fotografias (imagem28) e o tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira no Episoacutedio Especialrdquo com um viacutedeo deuma entrevista realizada por Sofia Fernandes para um programa da SICdurante uma viagem ao Brasil em abril de 2009

Nas restantes quatro notiacutecias do dia 29 de junho a Caras publicouuma imagem de Angeacutelico utilizada em duas notiacutecias do dia 27 de ju-nho com o tiacutetulo ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira autopsiado ainda hojerdquooutra imagem repetida em cinco notiacutecias anteriores para acompanharo tiacutetulo ldquoFuneral de Angeacutelico Vieira realiza-se amanhatilderdquo e mais duasimagens para documentar a notiacutecia ldquoCorpo de Angeacutelico Vieira recebidopor centenas de amigos e admiradoresrdquo uma com o rosto de felicidadede Angeacutelico e outra com a multidatildeo que o aguardou a sua chegada agraveterra natal (imagem 29)

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18 Ana Santiago

O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Celebridades nos media 19

Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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20 Ana Santiago

depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Celebridades nos media 21

Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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22 Ana Santiago

_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Celebridades nos media 23

Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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24 Ana Santiago

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 18: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

18 Ana Santiago

O tiacutetulo ldquoAngeacutelico Vieira Amigo garante que o cantor levava cintode seguranccedila (viacutedeo)rdquo foi comprovado com um viacutedeo com uma declara-ccedilatildeo de Hugo Pinto o jovem que sobreviveu ao acidente da madrugadado dia 25 de junho

No dia 30 de junho o Expresso publicou trecircs notiacutecias e a Caras duasEm compensaccedilatildeo esta uacuteltima publicou muito mais fotografias do que omeio de informaccedilatildeo generalista conforme referido anteriormente

No Expresso os tiacutetulos ldquoAngeacutelico funeral realiza-se hoje no cemi-teacuterio do Feijoacuterdquo e ldquoMultidatildeo no funeral de Angeacutelicordquo tiveram direito ape-nas a uma fotografia cada a primeira ilustrava exactamente a legendaldquoas mensagens dos fatildes multiplicam-serdquo (imagem 30) e a segunda mos-trava o carro fuacutenebre identificado com o nome do cantor e ator cercadopor inuacutemeras pessoas (imagem 31) Este oacutergatildeo de comunicaccedilatildeo socialfechou o dia com o tiacutetulo ldquoEmoccedilatildeo no adeus a Angeacutelico (fotogaleria)rdquoonde foram apresentadas 15 fotografias de inuacutemeros admiradores (ima-gem 32)

Neste dia a Caras publicou duas notiacutecias a primeira intitulada ldquoE-moccedilatildeo no uacuteltimo adeus a Angeacutelico Vieirardquo onde apresentou uma foto-galeria composta por 127 fotografias (imagem 33) a segunda notiacuteciacom o tiacutetulo ldquoFamiliares amigos e fatildes no veloacuterio de Angeacutelico Vieirardquorevelou 70 fotografias do momento em causa Para aleacutem de mostra-rem os fatildes de Angeacutelico estas imagens mostram familiares amigos fa-mosos (tais como Nayma Naide Gomes Abel Xavier Marta AragatildeoPinto Filipe Terruta Andreacute Cerqueira entre outros) inclusive a suaex-namorada Rita Pereira tambeacutem ela conhecida do puacuteblico (imagem34)

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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20 Ana Santiago

depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
Page 19: Celebridades nos media: a construção imagética da morte de …bocc.ufp.pt/pag/santiago-ana-2013-celebridades-nos-media.pdf · 2013. 5. 15. · Celebridades nos media 3 imagem mediática

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Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisaA pesquisa exploratoacuteria apresentada neste artigo permitiu identificar al-gumas diferenccedilas no tratamento jornaliacutestico e construccedilatildeo imageacutetica damorte de uma celebridade portuguesa por parte de um meio de informa-ccedilatildeo generalista e outro da imprensa dita laquocor-de-rosaraquo

No caso do acidente morte e cerimoacutenia fuacutenebre do cantor e ator An-geacutelico Vieira verificou-se que foram publicadas mais notiacutecias na Caras(26) do que no Expresso (20) mas a grande diferenccedila residiu no nuacutemerode fotografias publicadas no primeiro caso 344 e no segundo 73

O conteuacutedo das imagens tambeacutem diferiu Ambos os meios divul-garam imagens do cantor mas soacute a Caras mostrou imagens de famososque visitaram o cantor no hospital ou participaram no funeral

Entretanto a Caras repetiu algumas imagens em vaacuterios artigos en-quanto o Expresso optou por revelar sempre fotografias diferentes dofamoso De referir que o Expresso utilizou mais viacutedeos (5) do que aCaras (3)

A maioria das imagens publicadas revelam um Angeacutelico Vieira mul-tifacetado (cantor ator modelo) e quase todas mostram-no com um ex-pressatildeo alegre e feliz Haacute contudo uma imagem que apresenta umaexpressatildeo facial seacuteria e fechada de Angeacutelico que eacute frequentemente uti-lizada pela Caras e que o Expresso utiliza para comunicar a sua morte

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20 Ana Santiago

depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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22 Ana Santiago

_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas online no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 dejunho de 2011

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24 Ana Santiago

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
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20 Ana Santiago

depois de sujeita a algum tratamento Esta imagem passa a destacar soacute orosto de Angeacutelico e a cor passa a ser mais fria Isto prova que as fotogra-fias publicadas na imprensa natildeo satildeo na maior parte das vezes imagensldquopurasrdquo mas sim imagens seleccionadas e processadas para gerar cono-taccedilotildees particulares conforme defendeu Roland Barthes no ensaio ldquoThephotographic messagerdquo (1977) (Bignell 2002 94)

Constatou-se ainda que a grande maioria das notiacutecias apresentou fo-tografias do cantor e ator e que no dia da cerimoacutenia fuacutenebre elas desapa-receram nos dois meios on line para dar lugar a imagens de familiaresamigos famosos e centenas de fatildes

Apesar de terem sido publicados apenas oito viacutedeos nas notiacuteciasconsideradas nesta pesquisa eles tecircm um papel fundamental na cons-truccedilatildeo da morte de Angeacutelico porque revelam declaraccedilotildees do responsaacuteveldos bombeiros que prestaram assistecircncia no dia acidente dos responsaacute-veis do serviccedilo de urgecircncia da unidade hospitalar onde Angeacutelico deuentrada apoacutes o acidente e acabou por falecer e ainda as declaraccedilotildees deum dos sobreviventes do acidente

Esta pesquisa exploratoacuteria permitiu confirmar a suspeita de que aimprensa laquocor-de-rosaraquo faz uma cobertura mais alargada a aconteci-mentos relacionados com celebridades sobretudo em termos de ima-gem visual Neste sentido natildeo haacute duacutevida que estas revistas especiali-zadas vivem de facto das celebridades embora a imprensa generalistanatildeo resista em seguir um caminho semelhante (Lipovetsky amp Serroy2010 102)

Apesar de tudo natildeo eacute possiacutevel generalizar estas diferenccedilas encontra-das a outros casos porque a pesquisa se circunscreve apenas agrave morte deAngeacutelico Vieira Por isso este trabalho natildeo se esgota aqui muito pelocontraacuterio Para chegar a alguma conclusatildeo sobre a cobertura mediaacute-tica da morte de celebridades em Portugal seria necessaacuterio aprofundaro conhecimento deste fenoacutemeno atraveacutes do estudo de mais casos

Referecircncias BibliograacuteficasAlexandre M (2001) O papel da miacutedia na difusatildeo das representaccedilotildees

sociais Disponiacutevel em Sinpro

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Celebridades nos media 21

Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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22 Ana Santiago

_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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  • Introduccedilatildeo
  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
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Bignell J (2002) Media Semiotics ndash an introduction 2a ed Manches-ter University Press p 55-104

Caputo R (2008) ldquoO homem e suas representaccedilotildees sobre a mortee o morrer um percurso histoacutericordquo in Saber Acadeacutemico no6Disponiacutevel em Uniesp 20012012

Casasuacutes J (1979) Teoria da imagem Rio de Janeiro Salvat Editorado Brasil p 25-96

Conboy M (2011) ldquoCelebridade na cultura tabloacuteide britacircnicardquo inTorres E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 123-148

Dayan D amp Katz E (1999) A histoacuteria em directo Coimbra Minerva

Dayan D amp Katz E (2005) ldquoAs construccedilotildees do luto apoacutes a morte deDianardquo in Revista Caleidoscoacutepio no 5 20042005 p 65-68

Debord G (1997) A Sociedade do Espetaacuteculo Lisboa Editora Con-traponto

Gil A (2011) Literacia e Cultura de Massas um binoacutemio impossiacute-vel Disponiacutevel em Lasics 16012012

Hollander P (2011) ldquoA cultura da celebridade Americana a moderni-dade e a decadecircnciardquo in Torres E amp Zuacutequete J (coord) A vidacomo um filme fama e celebridade no seacutec XXI Alfragide TextoEditores p 61-80

Joly M (1999) Introduccedilatildeo agrave anaacutelise da imagem Lisboa Ediccedilotildees 70

Jorge A (2011) Celebridades e jovens de recursos para a litera-cia mediaacutetica agrave literacia para o consumo Disponiacutevel em Lasics16012012

Lipovetsky G amp Serroy J (2010) A cultura mundo resposta a umasociedade desorientada Lisboa Ediccedilotildees 70 p 85-107

Martins M (2011a) Crise no castelo da cultura das estrelas para osecratildes Coimbra Graacutecio Editor

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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

Referecircncias na imprensa

Notiacutecias publicadas no Expresso Google 30012012

Notiacutecias publicadas na Caras aeiou 31012012

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  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
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_____ (2011b) O corpo morto ndash mitos ritos e supersticcedilotildees Centro deEstudos em Comunicaccedilatildeo e Sociedade (CECS)

Matta J (2009) Cultura da miacutedia e celebridades (midiaacuteticas) do con-temporacircneo Madonna e Avril Lavigne Disponiacutevel em Espm19012012

Oliveira M (2005) ldquoOlhando a morte dos outrosrdquo in Actas do 4o SOP-COM Universidade de Aveiro Disponiacutevel em BOCC 28012012

Pena F (2002) A vida eacute um show Celebridades e heroacuteis no espetaacuteculoda miacutedia Disponiacutevel em BOCC 28012012

Rojek C (2001) Celebrity ndash (FOCI) Reaktion Books p 9-49 e181-202

Torres E (2011) Televisatildeo a celebridade em estado natural in Tor-res E amp Zuacutequete J (coord) A vida como um filme fama ecelebridade no seacutec XXI Alfragide Texto Editores p 81-104

Trigueiro O (2005) Joatildeo Paulo II um ativista mediaacutetico Disponiacutevelem BOCC ndash ver link original 29012012

Wright C (1973) Comunicaccedilatildeo de massa uma perspectiva socioloacute-gica Rio de Janeiro Bloch Editores

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    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
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  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
      • Anexo 1 ndash Notiacutecias sobre Angeacutelico Vieira publicadas on line no Expresso e na Caras entre os dias 25 e 30 de junho de 2011
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  • Imagem e culto das celebridades nos media
  • Morte nos media e celebridades
  • Construccedilatildeo imageacutetica da morte de Angeacutelico Viera pesquisa exploratoacuteria
    • Notiacutecias poacutes-acidente (de 25 a 27 de junho de 2011)
    • Notiacutecias no dia da morte (28 de junho de 2011)
    • Notiacutecias poacutes-morte (29 e 30 de junho de 2011)
      • Consideraccedilotildees finais acerca da pesquisa
      • Referecircncias Bibliograacuteficas
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