ce - primeiro capítulo

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  • 8/8/2019 CE - Primeiro Captulo

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    H. Vill,ii,,i Kdih Vanda Maria Elias

    n . i t u > momento da leitura, tomando como ponto de partida as pistasu - o tex to lhes oferece, construir para ele um sentido que seja compatvel> in a proposta apresentada pelo seu produtor.( ' . a i Ia um dos nove captulos apresenta, a par de uma exposio acerca

    i tpico tratado, um conjunto de exemplos comentados, com a funot facilitar o seu entendimento. Trabalha-se com textos cie diversos. ' IKTOS, procurando ressaltar as peculiaridades de cada um deles, bem>mo aquilo que comum a toda e qualquer manifestao da linguagemrrbal e, portanto, a todo ato de leitura.

    Kspera-se, assim, preencher uma lacuna no mercado editorial, no qualm predominado as obras tericas sobre a questo, ou, ento, os livrosid a ticos. Nossa preocupao a de estabelecer uma ponte entre teoriasi >l >r e texto e leitura - esta aqui considerada a habilidade de compreenso/nterpretao de textos - e prticas de ensino. Por esse motivo, so nossosnterlocutores privilegiados os professores dos vrios nveis de ensino, emspc-cial os de lnguas - materna e estrangeiras -, estudantes de cursosU - Letras, de Pedagogia, bem como os demais interessados em questesIr compreenso de leitura, ensino e funcionamento da linguagem dem>do geral.

    Si mios gratas Editora Contexto por seu constante incentivo nossaproduo intelectual e por, mais uma vez, acolher e divulgar um denossos trabalhos.

    Ser, para ns, altamente gratificante se este pequeno livro puderi r; i / i - r sua contribuio no sentido de incentivar e intensificar, em nosso

    ,1 prtica da leitura.

    As Autoras

    Leitura, texto esentido

    Concepo de leituraFrequentemente ouvimos falar- e tambm falamos - sobre a importncia

    da leitura na nossa vida, sobre a necessidade de se cultivar o hbito deleitura entre crianas e jovens, sobre o papel da escola na formao deleitores competentes, com o que concordamos prontamente.

    Mas, no bojo dessa discusso, destacam-se questes como: O que ler? Para que ler? Como ler? Evidentemente, as perguntas podero serrespondidas de diferentes modos, os quais revelaro uma concepo deleitura decorrente da concepo de sujeito, cie lngua, de texto e ciesentido que se adote.Foco no autor

    Sobre essa questo, KOCH (2002) afirma que concepo de lnguacomo representao do pensamento corresponde de sujeitopsicolgico, individual, dono de suavontade e de suas aes.Trata-sede um sujeito visto como um ego que constri uma representao mentalc- deseja que esta seja "captada" pelo interlocutor da maneira como foimentalizada.

    Nessa concepo de lngua como representao do pensamento ede suje i to COIMO srnlior absoluto de suas aoes c- de seu di/rr , o texto

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    V,inil. i M l h,i',

    to como um produ to - lgico - do pensamento (representaoMI . n i . i h d i . n i i o r , nada mais cabendo ao leitor seno "captar" essa

    . ' n i . i .n > m enta l , juntamente com as intenes (psicolgicas) dol l i i h > i . exen endo , pois, um papel passivo.

    \, assim, entendida como a atividade de captao das ideiasi h . n M o r , se m se levar em conta as experincias e os conhecimentosdo l e i t o r , a interao autor-texto-leitor co m propsitos constitudosM H locognitivo-interacionalmente. O foco de ateno , pois, o autor eSUES intenes, e o sentido est centrado no autor, bastando to-somente. 1 0 l e i t o r captar essas intenes.Foco no texto

    l 'or sua vez, concepo de lngua como estrutura corresponde adi sujeito determinado, "assujeitado" pelo sistema, caracterizadopor uma espcie de "no conscincia". O princpio explicativodi 1 lodo e qualquer fenmeno e de todo e qualquer comportamentoi nd i v i dua l repousa sobre a considerao do sistema, quer l ingustico,( | U C T social.

    Nessa concepo de lngua como cdigo - portanto, como meroins trumento de comunicao - e de sujeito como (pre)determinadopelo sistema, o texto visto como simples produto da codificao deum emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, parat an to , o conhecimento do cdigo utilizado.

    Consequentemente, a leitura uma atividade que exige do leitor oloco no texto, em sua linearidade, uma vez que "tudo est dito no dito".Sr, na concepo anterior, ao leitor cabia o reconhecimento das intenesdo autor , nesta concepo, cabe-lhe o reconhecimento do sentido daspalavras e estrutu ras do texto. Em ambas, porm, o leitor caracterizadopo r realizar uma atividade de reconhecimento, de reproduo.Foco na interao autor-texto-leitor

    Diferentemente das concepes anteriores, na concepoink-racional(dialgica)da lngua, os sujeitos so vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que - dialogicamente - seconstrem e so construdos no texto, considerado o prprio lugar

    Ler e compreender 1 1

    da interao e da constituio dos interlocutores. Desse modo, h lugar,no texto, para toda uma gama de implcitos, dos mais variados tipos,somente detectveis quando se tem, como pano de fundo, o contextosociocognitivo (ver captulo 3) dos participantes da interao.

    Nessa perspectiva, o sentido de um texto construdo na interaotexto-sujeitos e no algo que preexista a essa interao. A leitura ,pois, uma atividade interativa altamente complexa de produode sentidos, que se realiza, evidentemente com base nos elementoslingusticos presentes na superfcie textual e na sua forma de organizao,mas requer a mobilizao de um vasto conjunto de saberes no interiordo evento comunicativo.

    A ttulo de exemplificao do que acabamos de afirmar, vejamos atirinha a seguir:

    Na tirinha, G arfield representa bem o papel do leitor que, em interaa< >com o texto, constri-lhe o sentido, considerando no s as informaesexplicitamente constitudas, como tambm o que impl i c i t amentesugerido, numa clara demonstrao de que:

    a leitura uma atividade na qual se leva em conta as ex p e r i i u . I Ne os conhecimentos do leitor;

    a leitura de um texto exige do leitor bem mais que o c o n l u v i i i i e n i do cdigo lingustico, uma vez que o texto n o sproduto cia codificao de um emissor a ser d cco d i l u ad i i poireceptor passivo.

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    i i M.MI.i l li,i'.

    to como u n i produto - lgico - do pensamento (representaon i l > do . i i i i o r , nada mais cabendo ao leitor seno "captar" essa

    . m . n . IM m enta l , juntamente com as intenes (psicolgicas) dol H . H l u i . u exen endo, pois, um papel passivo.

    \, assim, entendida como a atividade de captao da s ideiasdo . n i i o i , se m se levar em conta as experincias e os conhecimentosdo I r i l o r , a interao autor-texto-leitor co m propsitos constitudos.1 H i, icognitivo-interacionalmente. O foco de ateno , pois, o autor e

    i ias intenes, e o sentido est centrado no autor, bastando to-somente.n > l e i t o r captar essas intenes.Foco no texto

    Por sua vez, concepo de lngua como estrutura corresponde ad i - sujeito determinado, "assujeitado" pelo sistema, caracterizadopor uma espcie de "no conscincia". O princpio explicativode todo e qualquer fenmeno e de todo e qualquer comportamentoi nd i v i dua l repousa sobre a considerao do sistema, quer lingustico,q u e r social.Nessa concepo de lngua como cdigo - portanto, como meroinstrumento de comunicao - e de sujeito como (pre)determinadopelo sistema, o texto visto como simples produto da codificao deum emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, parat a n t o , o conhecimento do cdigo utilizado.Consequentemente, a leitura uma atividade que exige do leitor oloco no texto, em sua linearidade,uma vez que "tudo est dito no dito".Sc-, na concepo anterior, ao leitor cabia o reconhecimento das intenesdo autor, nesta concepo, cabe-lhe o reconhecimento do sentido daspalavras e estruturasdo texto. Em ambas, porm, o leitor caracterizadol x >r realizar uma atividade de reconhecimento, de reproduo.Foco na interao autor-texto-leitor

    Diferentemente das concepes anteriores, na concepoInteracional (dialgica) da lngua, os sujeitos so vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que - dialogicamente - seconstrem e so construdos no texto, considerado o prprio lugar

    Ler e compreender 1 1

    da interao e da constituio dos interlocutores. Desse modo, h lugar,no texto, para toda uma gama de implcitos, dos mais variados tipos,somente detectveis quando se tem, como pano de fundo, o contextosociocognitivo (ver captulo 3) dos participantes da interao.

    Nessa perspectiva, o sentido de um texto construdo na interaotexto-sujeitos e no algo que preexista a essa interao. A leitura ,pois, uma atividade interativa altamente complexa de produode sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementoslingusticos presentes na superfcie textual e na sua forma de organizao,mas requer a mobilizao de um vasto conjunto de saberes no interiordo evento comunicativo.

    A ttulo de exemplificao do que acabamos de afirmar, vejamos atirinha a seguir:

    Na tirinha, Garfield representa bem o papel do leitor que, em interaac >co m o texto, constri-lhe o sentido, considerando no s as informaesexplic i tamente constitudas, como tambm o que imp l ic i tamen tesugerido, numa clara demonstrao de que:

    a leitura uma atividade na qual se leva em conta as ex pe r iene i. ise os conhecimentos do leitor;

    a leitura de um texto exige do leitor bem mais que o c o i i l i e e i i i i e i i i . .do cdigo lingustico, uma vez que o texto n o e . s i iproduto da codificao de um emisso ra se r decod i ln ado poireceptor passivo.

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    i. i M.MI. i l l i,r

    l um l . n i i c i i i . i M K > nos, pois , em uma concepo sociocognitivo-inte-i .i i o i i . i l dc I n q u a qu e privilegia os sujeitos e seus conhecimentos i n processos de interao. O lugar mesmo de interao - como jo texto cujo sentido "no est l", mas construdo,

    u le i ando -se , para tan to , as "sinalizaes" textuais dadas pelo. n i i i i r c os conhecimentos do leitor, que, durante todo o processo del e i t u r a , deve assumir um a atitude "responsiva ativa". Em outras pala-\ i a s , espera-se que o leitor, concorde ou no com as ideias do autor,(, omplete-as, adapte-as etc., uma vez que "toda compreenso prenhede respostas e, de uma forma ou de outra, forosamente, a produz" M A K I I T I N , 1992:290).

    A interao: autor-texto-leitorNas consideraes anteriores, explicitamos a concepo de leitura

    como unia atividade de produo de sentido. Pela consonncia comnossa posio aqui assumida, merece destaque o trecho a seguir sobrel e i t u r a , extrado do s Parmetros Curriculares de Lngua Portuguesa:

    A leitura o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo decompreenso e interpretao do texto, a partir de seus objetivos, de seuconhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobrea linguagem etc. No se trata de extrair informao, decodificando letrapor letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implicaestratgias de seleo, antecipao, inferncia e verificao, sem as quaisno possvel proficincia. o uso desses procedimentos que possibilitacontrolar o que vai sendo lido, permitindo tomar decises diante dedificuldades de compreenso, avanar na busca de esclarecimentos,va l ida r no texto suposies feitas.I n : Parmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fundamenta l :l n j - u a portuguesa/Secretaria de Educao Fundamenta l . - Braslia: MEC/SEF, 1998,P l> . (>9-70.

    Ler e compreender 1 3

    Como vemos nesse trecho, encontra-se reforado, na atividade deleitura, o papel do leitor enquanto construtor de sentido, utilizando-se, para tanto, de estratgias, tais como seleo, antecipao, infernciae verificao.Estratgias de leitura

    Desse leitor, espera-se que processe, c ritique, contradiga ou avalie ainformao que tem diante de si, que a desfrute ou a rechace, que dsentido e significado ao que l (cf. SOLE , 2003:21).

    Essa concepo de le i tu ra , que pe em foco o le itor e seusconhecimentos em interao com o autor e o texto para a construo desentido, vem merecendo a ateno de estudiosos do texto e alimentandomuitas pesquisas e discusses sobre a sua importncia para o ensino daleitura.

    A ttulo de exemplificao, tentemos um a "simulao"de como ns,leitores, recorremos a uma srie de estratgias no trabalho de construode sentido. Para o nosso propsito, selecionamos o miniconto intituladoO retorno do Patinho Feio, de Marcelo Coelho, publicado na Folhinhacia Folha de S.Paulo.

    Nossa atividade de leitores ativos em interao com o autor e o textocomea com antecipaes e hipteses elaboradas com base em nossosconhecimentos sobre:

    o autor do texto: Marcelo Coelho; o meio de veiculao do texto: Folha de S.Paulo; o gnero textual: miniconto; o ttulo: elemento constitutivo do texto cuja funo , geralmente,

    chamar a ateno do leitor e orient-lo na produo de sentido; a distribuio e configurao de informaes no texto.Especificamente, ao nos depararmos com o ttulo O retorno < ! < >

    1'atinho Feio, fazemos antecipaes, levantamos hipteses q u r , n< >c U-correr da leitura, sero confirmadas ou rejeitadas. Neste l t i m o < . 1as hipteses sero reformuladase novamente testadas em um m< > v i m r n i < >que destaca a nossa atividade de leitor, respaldada cm c < > i i l i < - < n u marquivados na memria (sobre a lngua, as coisas do m u u < l < > .

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    l l - l 1 . 1 , 1 1 1 . 1 l ll, l\ T OS ex tu a i s , como veremos no captulo 2) e ativados

    i K i processo de in tcruco com o texto.l < < . i l i / . u u l o o t tulo, atentamos para a palavra "retorno" e seu

    . i ; , : 1 1 1 1 1 1 . u l o rc> resso, volta e situamos a histria no mundo das narrativasi n l . i n i i s , n-sgatando em nossa memria a histria do Patinho Feio com a< | i u l rsii- conto dialoga de perto.

    < < > m "previses" motivadas pelo ttulo, "adentramos" o texto,prosseguindo em nossa atividade de leitura e produo de sentido:Alfonso era o mais belo cisne do lago Prncipe de Astrias. Todos os dias,ele contemplava sua imagem refletida nas guas daquele chiqurrimo eexclusivo condomnio para aves milionrias. Mas Alfonso no se esquecia desua origem humilde.- Pensar que, no faz muito tempo, eu era conhecido como o Patinho Feio...Um dia,ele sentiu saudades da me,dos irmos e dos amiguinhos da escola.

    A leitura desse trecho apresenta-nos uma personagem - que ulgamostratar-se da principal, uma vez que citada no ttuloe aparece em posiode destaque no incio da histria.

    Tambm nossos olhos de leitores atentos apontam para uma oposiomarcante no trecho em torno dos nomes Alfonso x Patinho Feio, qualsubjazem outras oposies: presente x passado; riqueza x pobreza.

    No quadro abaixo, destacamos essa oposio:Alfonso

    O mais belo cisnePatinho Feioo Patinho Feio

    lago Prncipe de Astriaschiqurrimo e exclusivo

    condomnio para aves milionrias( ) quadro chama a nossa ateno para a forte caracterizao de Alfonso,

    impos ta pelas adjetivaes referentes personagem e sua morada,cm l i vn te fraca caracterizao no que concerne sua vida quando era( o n l u v i d o como Patinho Feio, fato esse que pode servir de estmulo

    lacao de novas antecipaes do leitor ativo.

    Ler e compreender 1 5

    No trecho em destaque, ainda nos salta aos olhos a expresso -um dia - introdutria de uma situao-problema, conforme conhe-cimento empiricamente constitudo como ouvintes e/ou leitores dessegnero textual.

    Continuando o processo de efetiva interao com o texto, levantamoshipteses sobre o passado de Alfonso (Onde morava? Como era esselugar?), bem como sobre as provveis aes do "mais belo cisne do lagoPrncipe das Astrias", motivadas pelo sentimento de saudade expressono enunciado: Um dia, ele sentiu saudades da me, dos irmos e dosamiguinhos da escola.

    Ento, o que far Alfonso? Voltar ao lugar de origem? Reencontrard me, os irmos e amiguinhos de escola?

    Prossigamos a leitura para a verificao e confirmao (ou no) denossas hipteses:

    Voou at a lagoa do Quaquenh. O pequeno e barrento local de sua infncia.A pata Quitria conversava com as amigas chocando sua quadragsima ninhada.Alfonso abriu suas largas asas brancas.- Mame! Mame! Voc se embra de mim?... se antecipamos que Alfonso voltaria sua origem, acertamos.

    A leitura do trecho ainda nos prope um avano na caracterizao dolugar de origem do Patinho Feio, em contraposio e complementao.10 contedo do primeiro trecho da histria.

    Vejamos a representao das novas informaes (em negr ito )no quadro:

    AlfonsoO mais belo cisne Patinho Feioo Patinho Feiolago Prncipe de Astrias lagoa do Quaquenh

    i liKjurrimo e exclusivo condomniopara aves milionrias O pequeno e barrento localde sua infncia

    < ) i ix-cho se encerra com uma pergunta: - Mamai-! Mamai ' !' i n b r a de mim?, cuja resposta - positiva ou nr . ! ' , . i i i \ ' h n

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    l c i. li V.ind.i M, N. l h, s

    int( > 1 1 '. i i e \ . im os veri f icar na continuidade da interao com o texto.\ ' I . I

    < r/a levantou-se muito espantada.- Se-se-senhor cisne ... quanta honra... mas creio que o senhor seconfunde...-Mame...?- Como poderia eu ser me de to belo e nobre animal?No adiantou explicar. Dona Quitria balanava a cabea.- Esse cisne mesmo lindo... mas doido de pedra, coitado...O texto tambm nos desperta sentimentos, emoes. Envoltos naatmosfera de emoes sugerida pela leitura, qu e efeito o "esquecimento"da pata Quitria provocar no Alfonso?Depois disso, o que pode acontecer? O que far o pobre Alfonso?Voltar para o seu luxuoso condomnio? Hiptese nmero um . Persistirno seu intento de ser reconhecido e novamente aceito na comunidade?

    Hiptese nmero dois. verdade que outras hipteses podero ser formuladas, tantas quantaspermitirem os conhecimentos e a criatividade dos leitores. Mas comonossa pretenso a de uma mera simulao de como o leitor interagecom o texto, fiquemos naquelas duas apontadas e vamos confirm-las(ou no) na leitura do trecho a seguir:Alfonso foi ento procurar a Bianca. Um a patinha linda do pr-primrio. Qu evivia chamando Alfonso de feio.- Lembra de mim, Bianca? Gostaria de me namorar agora? He, he, he.E, agora, o que ns, leitores, prevemos: B ianca responder afirmativaou negativamente s perguntas do Alfonso? Estamos torcendo para quesim ou para qu e no?-Deusmelivre! Est ouco? UmapatanamorandoumcisnelAberraodanatureza...Como vemos, at o momento, a situao n o est nada bo a paraAlfonso. Diante da negativa da pata Q uitria e da patinha Bianca, o que

    Ler e compreender 1 7

    Alfonso poder fazer? Voltar para o lago Prncipe das Astrias e esquecerde vez seu passado humilde? uma (outra) hiptese...Alfonso respirou fundo. Nada mais fazia sentido por ali. R esolveu procurar umfamoso bruxo da regio.

    Temos de confessar que por essa no espervamos, no mesmo?O que acontecer, ento? Resolver o bruxo o problema do Alfonso?Ou insistimos na hiptese de que nenhum a tentativa ciar certo,devendo Alfonso retornar ao seu luxuoso condomnio e esquecer devez seu passado humilde? Ter a histria um final (in)feliz? s lerpara ver:Co m alguns passes mgicos, o feiticeiro e astrlogo Ornar Rhekko resolveu oproblema. Em poucos dias, Alfonso transformou-se num pato adulto. Gorduchoe bastante sem graa. Dona Quitria capricha fazendo lasanhas para ele.- Cuidado para no engordar demais, filhinho.Bianca faz um cafun na cabea de Alfonso.- Gordo... pescoudo... bicudo... Mas sabe que eu acho voc uma gracinha?Viveram felizes para sempre.

    Chegamos ao final da leitura do texto O retorno do Patinho Feio,apresentado em fragmentos, para atende r a nosso propsito. A seguir, olexto ser apresentado de forma ininterrupta, para propiciar a sua releitura.O Retorno do Patinho FeioAlfonso era o mais belo cisne do lago prncipe de Astrias. Todos os dias,ele contemplava sua imagem refletida nas guas daquele chiqurrimo eexclusivo condomnio para aves milionrias. Ma s Alfonso no se esquecesua origem humilde.- Pensar que, no faz muito tempo, eu era conhecido como o Patinho l >Um dia, ele sentiu saudades da me, dos irmos e dos amiguinh*Voou at a lagoa do Quaquenh. O pequeno e barrento /oc, > nfnda

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    V.iiHl.i M.IN,i l h.r,

    / conversava com as amigas chocando sua quadragsima ninhada.- , ihriu suas largas asas brancas.

    M, u 11, K/ Mame! Voc se lembra de mim?n,i levantou-se muito espantada.

    - Se-se-senhor cisne... quanta honra... mas creio que o senhor sei lande...

    Mame... ?- Como poderia eu ser me de to belo e nobre animal?No adiantou explicar. Dona Quitria balanava a cabea.- Esse cisne mesmo lindo... mas doido de pedra, coitado...Alfonso foi ento procurara Bianca. Um a patinha linda do pr-primrio. Quevivia chamando Alfonso de feio.- Lembra de mim, B/anca? Gostaria de me namorar agora? He, he, he.- Deus me livre! Est louco? Um a pata namorando um cisne! Aberrao danatureza...Alfonso respirou fundo. Nada mais fazia sentidopor ali. Resolveu procurar umfamoso bruxo da regio. Com alguns passes mgicos, o feiticeiro e astrlogoOrnar Rhekko resolveu o problema. Em poucos dias, Alfonso transformou-senum pato adulto. Gorducho e bastantesem graa. Dona Quitria caprichafazendo lasanhas para ele.- Cuidado para no engordar demais, filhinho.Bianca faz um cafun na cabea de Alfonso.- Gordo... pescoudo... bicudo... Ma s sabe que eu acho voc um a gracinha?Viveram felizes para sempre.

    Fonte: COELHO, Marcelo. "O Retorno do Patinho Feio". Folha de S.Paulo, 19 mar. 2005. Folhinha, p. 8

    Na atividade de leitores ativos, estabelecemos relaes entre nossosconhecimentos anteriormente constitudos e as novas informaes contidasno texto, fazemos inferncias, comparaes, formulamos perguntasrelacionadas com o seu contedo.

    Mais ainda: processamos, criticamos, contrastamos e avaliamos asi n lo r maces que nos so apresentadas, produzindo sentido para o queIrmos, lm outras palavras, agimos estrategicamente, o que nos permite l i n ; . ' . i i aulorregular nosso prprio processo de leitura.

    Ler e compreender 1 9

    Objetivos de leitura claro que no devemos nos esquecer de que a constante interaoentre o contedo do texto e o leitor regulada tambm pela intenocom que lemos o texto, pelos objetivos da leitura.

    De modo geral, podemos dizer que h textos que lemos porquequeremos nos manter informados (jornais, revistas); h outros textosque lemos para realizar trabalhos acadmicos (dissertaes, teses, livros,peridicos cientficos); h, ainda, outros textos cuja leitura realizadapor prazer, puro deleite (poemas, contos, romances); e, nessa lista, nopodemos nos esquecer dos textos que lemos para consulta (dicionrios,catlogos), dos que somos "obrigados" a ler de vez em quando (manuais,bulas) , dos que nos caem em mos (panfletos) ou nos so apresentadosaos olhos (outdoors, cartazes, faixas).So, pois, os objetivos do leitor que nortearo o modo de leitura,em mais tempo ou em menos tempo; com mais ateno ou com menosateno; com maior interao ou com menor interao, enfim.

    Leitura e produo de sentidoAnteriormente, destacamos a concepo de leitura como uma atividade

    baseada na interao autor-texto-leitor. Se, por um lado, nesse processo,necessrio se faz considerar a materialidade lingustica do texto, elementosobre o qual e a partir do qual se constitui a interao, por outro lado, preciso tambm levar em conta os conhecimentos do leitor, condiofundamental para o estabelecimento da interao, com maior ou menorintensidade, durabilidade, qualidade.Leitura e ativaode conhecimento por essa razo que falamos de um sentido para o texto, n o tio.ntido, e justificamos essa posio, visto que, na atividadc dr I r i i u i . i .. u ivamos : lugar social, vivncias, relaes c om o ou t r o , valores > l . i< < imunidade , conhecimentos textuais (cf. PAULINO et ai . 200 \. < > n h irnvnos revela a leitura do texto a seguir:

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    ' i"l"ir VI||,K,,I K c x h V.uui.i Mcina Elias

    MF/V/05 T/SJU5 MUSCULAR, MENO5 BRClHO NO CABEIOMEN05 PEITO, MEN05 BUNDA MEDIDA QUE EWELHECE,A GE/SffE VAI FICA/VDO CADA VE2 ME^O J

    5EJA MAI5 POSITIVA, __,..PEfS5A EMTODO O QUETEM AGORAE NO TINH HA 20 ANO5 JE,TEM RAZO;MAI5MAI5MAI5 PAPADA,MAI5 MANCHA5JMAI5 BARRIGA,MAI5 CELULITE...

    'JBI

    Fonte: ColeoSubindo nas Tamancas 7. Selecionado por Maitena, trad. Ryta Vinagre, p. 21.

    Na leitura da charge, dentre outros conhecimentos, ativamos valorescia poca e da comunidade em que vivemos, conforme verificamos narelao de causa e consequncia sugerida na materialidade lingusticati o texto:

    a velhice a causa de se ficar cada ve z menos: menos tnusmuscular, menos brilho no cabelo, menos peito, menos bunda...

    a velhice a causa cie se ficar cacla vez mais: mais olheiras, maisrugas, mais papada, mais manchas, mais barriga, mais celulite...

    Ler e compreender 2 1

    Quer encabeada pelo MENOS, quer pelo MAIS, no texto se destaca um aavaliao negativa sobre a velhice, atualmente compartilhadapor muitos.Sabemos - verdade - que nem sempre foi assim, nem so todos osque assim pensam sobre essa fase da vida. A leitura e a produo desentido so atividades orientadas por nossa bagagem sociocognitiva:conhecimentos da lngua e das coisas do mundo (lugares sociais, crenas,valores, vivncias).

    Pluralidade de leituras e sentidosConsiderar o leitor e seus conhecimentos e que esses conhecimentos

    s o diferentes de um leitor para outro implica aceitar um a pluralidadede leituras e de sentidos em relao a um mesmo texto.

    A ttulo de exemplificaodo que acabamos de afirmar, a proposta deGalhardo, expressa na tirinha abaixo - embora caricaturizada -, excelente.

    D

    A/A

    ESTA /tE A VIA VW.HC--/LME 00

    . c i wFonte: Folha de S.Paulo, 11 ago. 1997.

    A tirinha - que parte da proposta maior expressa verticalmentei icrda como mote - apresenta trs leituras para o mesmo fato: o

    i - . i i Ki^amento do mosquito na parede. Sobre esse fato, as le i turasnum lotai de 36, segundo a proposta do autor - vo se constituindod i f e r e n t e m e n t e dependendo do leitor - seu lugar s o c i a l , seusi Hihrcimentos, seus valores, suas vivncias.

    l < laro que com isso no preconizamos que o leitor possa ler qu^ lquc i.1 ( . ' i i i um texto, pois, como j afirmamos, o sentido no est apcnuN

    I n . l e i t o r , nem no texto, mas na interao autor-texto-leitor. l 1lamentai importncia que o leitor considere na e para a proclucai

    as "sinali/aces" do texto, alm dos conhecimento.-. < | i i veremos no captulo a seguir, e de sua atitude cooperativa perantei > le.xto, por outro lado.Sc- vimos, anteriormente, em relao tirinha do Galhardo, que a

    l e i t u r a pode variar de um leitor para outro, podemos verificar tambm( j i i e a leitura pode variar em se tratando do mesmo leitor. o queevidenciaremos com o texto a seguir:

    te

    * *****>**Mfi.-..,~ ^.. ^,,g*e^!JnMfc4rtaiiSB&

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    l V,ind.i Miin.i l li,r,

    No i r x i n , :i acentuao do grau de embriaguez est correlacionada cnis inu;oes sinttico-semanticamente comprometidas: quanto mais

    I I K i c i r n i c - . s os enunciados, mais acentuado o grau de embriaguezi . i l i n a l , bbado no fala coisa co m coisa mesmo, no ?). Como\, o icxto pressupe do leitor qu e leve em conta a "incoerncia"

    estilisticamente constituda - como uma indicao relevante para a| ) K ulu o de sentido.

    Fatores de compreenso da leituraJ do nosso conhecimento que a compreenso de um texto variasegundo as circunstncias de leitura e depende de vrios fatores,

    complexos e inter-relacionados entre si (ALLIENDE & CONDEMARN, 2002).Embora defendamos a correlao de fatores implicados na

    compreenso da leitura, queremos chamar a ateno para as vezesem que fatores relativos ao autor/leitor, por um lado, ou ao texto, poroutro lado, podem interferir nesse processo, de modo a dificult-lo oufacilit-lo.Autor/leitor

    Esses fatores referem-se a conhecimento dos elementos lingusticos(uso de determinadas expresses, lxico antigo etc.), esquemas cognitivos,bagagem cultural, circunstncias em que o texto fo i produzido.

    A fim de exemplificar o que afirmamos, vamos ler o texto a seguir:Vide BulaH cerca de l O anos publiquei este artigo no Jornal de Cajuru, num momentoespecial para o pas, quando o esquema colorido havia sido desmantelado, ehavia grandes expectativas quanto ao futuro poltico do Brasil.Hoje aproveito para republic-lo, como prvia para o Vide Bula II, que certamente/1, >r novos medicamentos, para quem sabe, desta vez, curar o paciente. Umaerta: esteja no est mais na UTI. Concordam?

    pst doente. ta frasezinha batida! Todo mundo est cansado de saberdiabo : qual remdio?

    Ler e compreender 25

    Muito se tem tentado com drogas tradicionais, ou novidades, porm at agoranenhuma teve o to almejado efeito de curar este pobre enfermo.H bem pouco tempo foi tentada uma droga novssima, quase no testada, masque prometia sucesso total, a "Collorcana", que, infelizmente, na prtica denada serviu, seus efeitos colaterais extremamente deletrios (como a liberaoda "Pecelidona") quase acaba com o doente.Porm, para o ano que vem, novos medicamentos podero ser usados.Enquanto isso no acontece, o doente consegue se manter com doses de"Itamarna" qu e uma espcie de emplastro que, se no cura, tambmno mata.Mas, voltando ao ano que vem, se que podemos voltar ao futuro, vamosestudar os possveis medicamentos que teremos disposio do moribundo.A primeira droga a ser discutida j uma antiga qu e estava em desusoe voltou co m nova embalagem e novas indicaes, podendo se r eficazno momento.Trata-se da "Paumalufina", extrada do pau-brasil com a propriedade depromover perda das gorduras, principalmente estatais, acentuando a livreiniciativa. Tem como efeito colateral a crise aguda de autoritarismo e tambmde perdularismo, sendo contraindicada para as democracias.A segunda droga, tambm j testada, derivada da "Pemedebona", a"Orestequercina", que atua em praticamente todos os rgos, que passam afuncionar somente s custas da "Desoxidopropinainterferase", que promoveum desem penho muito mais fisiolgico.

    Esta droga tem como efeito colateral um a grande depleo das reservas,depleo esta que pode ser fatal ao organismo.Mais recentemente foi criada a "LA. Fleurizina". Derivada da "Orestequercina",age de maneira muito semelhante mesma, sendo, entretanto, muito maiscontundente e agressiva. forma/mente contraindicada para Carandirus eprofessores.A terceira droga do nosso tratado uma ainda no testada, mas com famade eficincia. Trata-se do "Cloridrato de Lulal", derivada da "Estrelapetina",e, como efeito, promete revitalizar as clulas perifricas, tornando-as toimportantes quanto as do SNC (Sistema Nervoso Central). importante lembrar que a mesma pode causar imobilismo com liberao deseitas e dissidncias. Tais efeitos colaterais podem ser evitados com injeo n< iveia de "antisectarina" e cpsulas de "Bonsensol".Ainda bom lembrar que o uso de tal substncia provoca uma coravcrn< vn todos os rgos.A quarta droga que discutiremos a "Tucanina Cacicoide'um ( o mplexo de inmeros componentes, como

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    Ler e compreender 27

    "i/trina", a "Mariocovase" e muitas outras mais que so muito eficientes"In Vido", porm sem comprovao de efeito "In Vivo".i nuior efeito colateral a interao de seus componentes que competem

    c / ) / / c v, causando uma sndrome chamada "encimamurismo", sndrome estaAmamente deletria e que pode invibializar o uso de tal medicamento.,tem ainda drogas menores como a "Brizolonina" que, quando aplicada,provoca intensa verborragia e manias perseguitrias.

    H ainda a A.C. Malvadezina, uma droga extremamente txica que causanuseas at em quem aplica.Terminando nosso estudo, esperamos que, desta vez, os mdicos saibam oremdio certo para salvar o doente.

    Autor: Luiz Fernando Elias cardiologista e, nas horas vagas, cronista.

    O que nos chama a ateno no texto? Que conhecimentos sonecessrios da parte do leitor para compreender o texto?Respondendo primeira pergunta, podemos dizer que nos chama aateno a criao de um "cdigo especfico"Collorcana, Pecelidona, I tamar ina , Paumalufna, Pemeclebona,Orestequercina, Desoxidopropinainterferase, L.A. Fleurizina,

    Orestequercina, Cloridrato de Lula l , Estrelapetna, antisectarina,Bonsensol, Tucanina Cacicoide, .11. Cardozina, Zesserrinitrina,Mariocovase, encimamurismo, Brizolonina, A.C. Malvadezina

    resultante da conjugao do conhecimento do autor sobre: poltica e medicina; elementos formadores e processos de formao de palavras, o que

    lhe possibilita elaborar um "diagnstico" sobre a poltica brasileira.Alm desse "cdigo inventado", destacamos as partes do textoi r f e r e n t e s a informaes sobre as "drogas", composio, efeitoco la te ra l , contraindicao. Em outras palavras, o autor, em suaproduo , tambm evidencia o conhecimento que possui sobre oj^riu-ro bula. o que podemos verificar se compararmos o contedodr i n i i a b u l a qualquer com o contedo do texto apresentado no quadro;uir:

    DROGACollorcana

    ItamarinaPaumalufna

    Orestequercina

    LA. Fleurizina

    li Hidrato de

    lii' .u una'ide

    COMPOSIO : INFORMAO EFEITO COLATERAL CONTRAINDICA/

    derivada daPemedebona

    Derivada daOrestequercina

    derivada daEstrelapetna

    um complexo deinmeros com-ponentes, comoa F.H. Cardozina,a Zesserrinitrina,a Mariocovasee muitas outrasmais que somuito eficientes"In Vitro"

    uma espcie de emplastroExtrada do pau-bras/l com apropriedade de promoverperda das gorduras,principalmente estatais,acentuando a livre iniciativaque atua em praticamentetodos os rgos, que passama funcionar somente s custasda Desoxidopropinainterfera-se, que promove um desem-penho muito mais fisiolgicoage de maneira muitosemelhante mesma, sendo,entretanto, muito maiscontundente e agressivapromete revitalizar as clulasperifricas, tornando-as toimportantes quanto as do SNC(Sistema Nervoso Central)

    extremamente deletrios(como a liberaoda Pecelidona)

    a crise aguda de autoritarismoe tambm de perdu/arismo

    uma grande depleo dasreservas, depleo esfa quepode ser fatal ao organismo

    pode causar imobilismo coml iberao de seitas e dissidn-cias. Tais efeitos colateraispodem ser evitados com inje-o na veia de antisectarina ecpsulas de Bonsensol.provoca uma cor avermelhadaem todos os rgosa interao de seus compo-nentes que competem entresi, causando uma sndromechamada encimamurismo,sndrome esta extremamentedeletria e que pode invibiali-zar o uso de tal medicamento

    provoca intensa verborragia emanias perseguitriasuma droga extremamentetxica que causa nuseas atem quem aplica

    para as demo

    forma/mentecontraindicadCarandiruse professores

    Como vemos, se, do lado do autor, fo i mobilizado um c onjunto dr oiihecimentos para a produo do texto, espera-se, cia parte do l e i l o i , ( l i e considere esses conhecimentos (de lngua, de gnero t e x t u a l r drm u n d o ) no processo de leitura e construo de sentido.

    l''m outras palavras, podemos dizer que os conhecimenli >s selecii > n , n ll u - l o autor na e para a constituio do texto "criam" um l e i t o r modi l

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    "l.i M,HM l h, r ,

    i " A I , , , pela forma como produzido, pode exigir mais >nhecimento prvio de seus leitores. O texto anterior

    emplo de que um texto no se destina a todos e a quaisquerl i -H - SM i p e um determinado tipo de leitor.Km nosso dia a dia, deparamo-nos com inmeros textos veiculados

    diversos (jornais, revistas, rdio, TV, internet, cinema teatro)' Produo "orientada" para um determinado tipo de leitor (umO especfico), o que, alis, vem evidenciar o princpio interacional' ' -M M n i uivo do texto, do uso da lngua.

    TextoAlm dos fatores da compreenso da leitura derivados do autor e doh os derivados do texto que dizem respeito sua legibilidadepodendo ser materiais, lingusticos ou de contedo (cf. ALLIENDE &CONDEMARN, 2002).Dentre os aspectos materiais que podem comprometer

    ompreenso, os autores citam.- o tamanho e a clareza das letras a corura do papel, o comprimento das linhas, a fonte empregada ,variedade tipogrfica, a constituio de pargrafos muito longos; e em se

    ando da escrita digital, a qualidade da tela e uso apenas de maisculasde minsculas ou excesso de abreviaes.Alm dos fatores materiais, h fatores lingusticos que podemcultar a compreenso, tais como: o lxico; estruturas sintticas>mplexas caracterizadas pela abundncia de elementos subordinados-

    s supersimplificadas, marcadas pela ausncia de nexos para indicar'aes de causa/efeito, espaciais, temporais; ausncia de sinais detuaao ou inadequao no uso desses sinais.Vejamos, a seguir, um clssico exemplo de um gnero textual (bula)

    ' Qual a conjugao de fatores materiais e lingusticos compromete acompreenso leitora.

    Ler e compreender 29

    Esta bua continuamente atualizada. Favor proceder a sua leitura antes de utilizar o medicamento.Novalginadipirona sdica AvetltSFORMAS FARMACUTICAS E APRESENTAESComprimidos 500 mg - embalagens com 30, 100e 240 comprimidos.Soluo oral (gotas) - frascos com 10 e 20 mL.Soluo oral - frascos com 100 mL acompanhados de medda graduada (2,5 mL - 5 rnL - 7,5 mL e 10 mL).USOADULTO E PEDITRICOCOMPOSIOCada comprimido de SOO mg contm:Dipirona sdicaExcipientes q.s.p(estearato de magnsio, macrogol 4000)

    500 mg. 1 comprimido

    Cada mL de soluo oral (gotas) contm:Dipirona sdica 500 mgVeiculo q.s.p 1 mL(fosfato de sdio monobsico d-idratado, fosfato de sdio dibsico dodecaidratado, sacarina sdica, essncia meio a meio, corante amarelotartrazina, gua purificada)Cada mL de soluo oral contm:Dipirona sdica 50mgVeiculo q.s.p 1 mL(acar, formaldeldo bissulfito de sdio, sorbato de potssio, benzoato de sdio, cido ctrico, corante eritrosina, essncia de framboesa,gua purificada)INFORMAO AO PACIENTEAo esperada do medicamento: NOVALGINA (dipirona sdica) um medicamento base de dipirona sdica, utilizado no tratamento dasmanifestaes dolorosas e febre. Para todas as formas farmacutic as, os efeitos analgsico e antipirtico podem ser esperados em 30 a 60minutos aps a administrao e geralmente duram aproximadamente 4 horas.Cuidados de armazenamento: NOVALGINA (dipirona sdica) comprimidos deve ser armazenado ao abrigo da luz e umidade, NOVALGINA(dipirona sdica) soluo oral deve ser armazenado ao abrigo da luz e NOVALGINA (dipirona sdica) gotas deve ser armazenada emtemperatura ambiente (entre 15 e 30 C) ao abrigo da luz e umidade.Prazo de validade: vide cartucho.Ao adquirir o medicamento,confira sempreo prazo devalidade mpresso naembalagemexterna do produto.NUNCA USE MEDICAMENTO COM PRAZO DE VALIDADE VENDIDO. PODE SER PREJUDICIAL SUA SADE.Gravidez e lactao: nforme seu mdico a ocorrncia de grav idez na vigncia do tratamento ou aps o seu trmino ou se est amamentando.NOVALGINA (dipirona sdica) no deve ser utilizada durante o primeiro e terceiro trimestres da gravidez e durante a actao.Cuidados de administrao: siga a orientao do seu mdico, respeitando sempre os horrios, as doses e a durao do tratamento.NOVALGINA (dipirona sdica) no deve se administradaem altas doses, ou por perodos prolongados, sem controle mdico. Cada 5 mLdeNOVALGINA (dipirona sdica) soluo oral contm 3,6 g de acar, portanto, no deve ser administrada a diabticos.Modo de usar:

    OOXIMOB-_j_- 00

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    tniuuumUca1,1 dipiniMM Hdca e d e seus metablitos no est completa mente investigada, porm as seguintes informaes podem< mi, ndp rona sdica completamente hidrolsada em sua poro ativa, 4-N-metilamnoantipirina (MAA). A biodisponibilidade(n ttpinxlmadamente 90%, sendo um pouco maor aps administrao oral quando comparada administrao intravenosa.i 1 MAA no extensivamente alterada quando a dipirona sdica administrada concomitanemente a alimentos.A, mas tambm o 4-aminoantipirina (A), contribuem para o efeito clnico. Os valores de AUC para A constituemVi do valor de AUC para MAA. Os metablitos 4-N-acetilaminoantipirina (AAA) e 4-N-formilaminoantipirina (FAA) parecemn clinico. So observadas farmacocinticas no-lineares para todos os metablitos. So necessrios estudos adicionais ,i uma concluso sobre o significado clnico destes resultados. O acmulo de metablitos apresenta pequena relevncia>: ; de curto prazo.. protenas plasmticas de 58% paca MAA, 48% para A, 18% para FAA e 14% para AAA.

    i. v o intravenosa, a meia-vida plasmtica de aproximadamente 14 minutos para a dipirona sdica. Aproximadamente 96%.iJiomarcada administrada por via intravenosa foram excretadas na urina e fezes, respectivamente. Foram identificados 85%

    IMS que so excretados na urina, quando da administrao oral de dose nica, obtendo-se 3% 1% para MAA, 6% + 3% para A,Uii AAA e 23% 4% para FAA. Aps administrao oral de dose nica de 1 g de dipirona sdica, o "clearance" renal foi de 5 mLara MAA, 38 mL 13 mL/min para A, 61 mL 8 mL/mn para AAA, e 49 mL + 5 mi /mm - -* * -ites foram de 2,7 0.5 hnrasnaro MAA n - . - - -, ^w Uuoc nica, obtendo-se 3% 1% par;. ^ *.o/o 11-/o para hAA. Aps administrao oral de dose nica de 1 g de dipirona sdica, o "cie

    i 'J! ml / i r i in para MAA, 38 mL 13 mL/min para A, 61 mL 8 mL/mn para AAA, e 49 mL 5 mL/min para FAA. As meias-vidas plasmticascorrimpondentes foram de 2,7 0,5 horas para MAA, 3,7 + 1,3 horas para A, 9,5 1,5 horas para AAA, e 11,2+ 1,5 horas para FAA.Em idosos, a exposio (AUC) aumenta 2 a 3 vezes. Em pacientes com cirrose heptica, aps administrao oral de dose nica, a meia-vidadu MAA e FAA aumentou 3 vezes (10 horas), enquanto para A e AAA este aumento no foi to marcante.Pacientes com insuficincia rena l no foram extensivame nte estudados at o momento. Os dados disponveis indicam que a eliminao delguns metablitos (AAA e FAA) reduzida.INDICAESAnalgsico e antipirtico.CONTRAINDICAESNOVALGINA (dipirona sdica) no deve ser administrada a pacientes com:- Hipersensibilidade dipirona sdica ou a qualquer um dos componentes da formulao ou a outras pirazolonas (ex.: fenazona,propifenazona) ou a pirazolidinas (ex.: fenilbutazona, oxifembutazona) incluindo, por exemplo, caso anterior de agranulocitose emeao a um destes medicamentos.- Em certas doenas metablicas tais como: porfiria heptica aguda intermitente (risco de induo de crises de porfiria) e deficinciacongnita da glcose-6-fosfato-desdrogenase (risco de hemlise).- Funo da medula ssea insuficiente (ex.: aps tratamento citostfrfti *. **- -Asma analasic nu i*i-~--:-

    PRECAUES E ADVERTNCIASEm caso de ocorrncia de sinais sugestivos de agranulocitose ou trom bopenfa (ver item REAES ADVERSAS), deve-se nterrompero tratamento com NOVALGINA (dipirona sdica) imediatamente e realizar contagem de clulas sanguneas (incluindo contagemdiferencial de leuccitos). A interrupo do tratamento com NOVALGINA (dipirona sdica) no deve ser adiada at que os resultadosos testes laboratoriais estejam disponveis.Pacientes que apresentam reaes anafilactoides dipirona sdica podem apresentar um risco especial para reaes semelhantesoutros analgsicos no-narcticos.Pacientes que apresentam reaes anafi(ticas ou outras imunologicamente mediadas, ou seja, reaes alrgicas (ex.: agranulocitose) dipirona sdica, podem apresentar um risco especial para reaes semelhantes a outras pirazolonas ou pirazolidinas.Os seguintes pacientes apresentam risco especial para reaes anafilactoides graves possivelmente relacionadas dipironadica:

    - pacientes com asma analgsica ou intolerncia analgsica do tipo urticria-angiodema (ver item CONTRAINDICAES);- pacientes com asma brnquica, particularmente aqueles com rnosinuste poliposa concomitante;- pacientes com urtcria crnica;- pacientes com intolerncia ao lcool, ou seja, pacientes que reagem at mesmo a pequenas quantidadesde certas bebidas alcolicas,apresentando sintomas como espirros, lacrimejamento e rubor pronunciado da face. A intolerncia ao lcool pode ser um indcio desndrome de asma analgsica prvia no diagnosticada;-pacientes com intolerncia a corantes (ex.: tartrazina) ou a conpra- A administraro H ^;~

    u..9uan^ias aeve ser realizada sob superviso m d i _ _ . . ,., 9( necessrias medidas preventivas (como estabilizao dacirculao) para reduzir o risco de reaes de hipotenso,Em pacientes nos quais a diminuio da presso sangunea deve ser absolutamente evitada, tais como em pacientes com coronariopatiagrave ou estenose relevantes dos vasos sanguneos que suprem o crebro, a dipirona sdica deve ser administrada somente sobonitorizao hemodinmica.

    Ler e compreender 3 1

    Como vemos, no toa que a bula conhecida como um tcxiode difcil leitura por seus aspectos materiais, lingusticos e de contedo.Tamanha a dificuldade cia leitura e compreenso cio gnero, que jexiste em andamento uma proposta para resolver o problema. o quenos informa o texto a seguir:

    NOVAS BULASNa linguagem popular, a expresso "como bula de remdio" j se tornousinnima de texto difcil de ler, seja pelas letras pequenas seja pela linguagemobscura. especialmente cruel o fato de que as letras mnimas causam especialembarao s pessoas de maior idade, ustamente as que mais tendem a precisarde medicamentos., portanto, mais do que bem-vinda a iniciativa da Anvisa (Agncia Nacional deVigilncia Sanitria)de modificar as regras para a confeco de bulas, visandoa facilitar a vida do consumidor. A oportunidade do empreendimento no otorna, porm, mais simples ou mesmo factvel.Dentro em breve, a pessoa que comprar um medicamento na farmcia receberapenas a bula que contm explicaes destinadas ao paciente. As informaestcnicas - dirigidas a mdicos - constaro de um bulrio on-line da Anvisa e defrmacos utilizados em hospitais, alm, claro, dos diversos dicionrios de remdiosj no mercado. Atualmente, as bulas trazem tanto informaes ao paciente comoas destinadas a profissionais de sade.Com as novas regras, ser possvel aproveitar melhor o espao para aumentaro tamanho da letra. A separao do s textos tambm evitar a duplicao deinformaes, que frequentemente gera dvidas.A principal dificuldade encontrar a linguagem ideal para a bula ao paciente.Tomam remdios e deveriam se r capazes de entender suas instrues desde osemianalfabeto at pessoas com formao superior.Se, para os segundos, um termo como "crise epilptica" no oferece maioresproblemas de compreenso, ele pode se r impenetrvel para o pblico co mmenor formao. E como substitu-lo sem sacrificar em demasia a precisotcnica?N o h resposta pronta. Sabe-se apenas que ela passa pelo bo m senso.Infelizmente, apesar do que certa ve z proclamou um sbio, o bom senso n ofoi muito bem repartido entre todos os seres humanos.

    Fonte: Folha de S.Paulo, 25 mar.2004.

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    V . i n d . i M , i i i , i l l i , r ,

    l '.d 11 .1 e leitura: contexto del > i < > ( l u ( . , ) o e contexto de uso

    Depois de escrito, o texto tem uma existncia independente do autor.Entre .1 produo do texto escrito e a sua leitura, pode passar muitotem].. ., as circunstncias da escrita (contexto de produo) podem

    i ; i l > s u l u lamente diferentes da s circunstncias da leitura (contextode uso), fato esse que interfere na produo de sentido, como be mexemplifica a tirinha a seguir:

    AS AjprasesoeATRAS CC) 4 jNSwiwejA OtTBW AUMWAOQ UM WtSCAse r 'OS

    Fonte: fo//ia de S. Pau/o, 8 maio 2005.

    Pode acontecer tambm que o texto venha a ser lido nu m lugarmuito distante daquele em que foi escrito ou pode ter sido reescrito demuitas formas, mudando consideravelmente o modo de constituio daescrita, como nos exemplificam os textos a seguir:TEXTO 1

    Captulo lQUE TRATA DA CONDIO E EXERCCIO DOFAMOSO FIDALGO DOM QUIXOTE DE LAMANCHANum lugar de La Mancha,' de cujo nome no quero lembrar-me, vivia, noh muito, um fidalgo, dos de lana em cabido, adarga antiga, rodm fraco, e

    \o de Cervantes pode referir-se a um dos sete povoados: Miguel Esteban, VillaverdeK' l"" Ias, l isteafiera, Quintanar de La Orden, Argamasilia de Calatrava, Argamasilha de Alba-n orie tradio cervantina.

    Ler e compreender 33

    galgo corredor. Passadio, olha seu tanto ma s de vaca do que de carneiro,2 asmais das ceias restos da carne picados com sua cebola e vinagre, aos sbadosoutros sobejos ainda somenos, lentilhas s sextas-feiras, algum pombito decrescena aos domingos, consumiam trs quartos do seu haver. O remanescente,levavam-no saio de velarte,3 calasde veludo para as festas, com seus pantufosdo mesmo; e para os dias de semana o seu vellor4 do mais fino. Tinha em casauma ama que passava dos quarenta, uma sobrinha que no chegava aos vinte,e um moo da poisada e de porta afora, tanto para o trato do rodm, comopara o da fazenda. Orava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Erarijo de compleio, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigoda caa. Querem dizer que tinha o sobrenome de Quijada ou Quesada, quenisto discrepam algum tanto os autores que tratam na matria; ainda que porconjeturas verossmeis se deixa entender que se chamava Quijana. Isto, porm,pouco faz p r a nossa histria; basta que, no que tivermos de contar, no nosdesviemos da verdade nem um til. pois de saber que este fidalgo, nos intervalos que tinha de cio (que eram osmais do ano), se dava a ler livros de cavalarias, com tanta afeio e gosto, que seesqueceu quase de todo do exerccioda caa, e at da administrao dos seusbens; e a tanto chegou a sua curiosidade e desatino neste ponto, que vendeumuitos trechos de terra de semeadura para comprar livros de cavalarias que ler,com o que untou em casa quantos pde apanhar daquele gnero. Dentre todoseles, nenhum lhe pareciam to bem como os compostos pelo famoso Felicianode Silva,5 porque a clareza da sua prosa e aquelas intrincadas razes suas lhe

    dam de prolas, e mais, quando chegava a ler aqueles requebros e cartasi /i ' desafio, onde em muitas partes achava escrito: "A razo da sem-razo que, i minha razo se faz, de tal maneira a minha razo enfraquece, que com razo

    lueixo da vossa formosura". E tambm quando lia: "...os altos cus quec/ c vossa divindade divinamente com as estrelas vos fortificam, e vos fazem

    cedora do merecimento que merece a vossa grandeza".6KVAN I I S SAAVEDRA , Miguel de. Dom Quixote de Ia Mancha. So Paulo: Nova Cultural, 2002, p. 31.

    Ir i .1 in f i ro era mais apreciada que a de vaca. Em toda essa passagem pinta CcrvuntCSl > . i t i l n ,1 medocre do f i dalgo.

    l i is i ioso, usado como agasalho.i media, da cor da l , embora i nf er ior ao vcl ar l e .

    'iiidd C(iniC(/in (/ m l\< In

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    i i . i l l i , r ,Ler e compreender 35

    onhadori. .M i nu i oi mm muito sonhador. Vivia imaginando'Mi orn que sempre fazia o papel de heri,

    i 11 > ii m pequena aldeia na Provncia da Mancha, na. niili' I I . IVLJ nascido. Como tinha pouco o que fazer, sobra-n|io p.ir.i '.onhar e ler muitos livros. Gostava dos livrosirw, principalmente os que contavam as incrveis histriasi n', i . ! > . , i i i - no - , .indantes. Elas o deixavam muito empolgado.

    r. .n ' i i i , de tanto ler e fantasiar, seu crebro comeou aosi u n mi..,i roniiindir-se. O passado e o presente se misturavam.

    H ACerto dia, convenceu-se de que era um daqueles valentes ca-

    valeiros e tinha como misso ajudar os fracos e salvar as belasprincesas raptadas por viles.

    Vasculhando um escuro sto cheio de coisas inteis, DomQuixote encontrou uma antiga armadura de algum de seus avos.Como estava toda desmantelada, deu um jeito de amarrar aspartes rompidas com tiras de couro e ajeitar o melhor que podia osferros tortos. Limpou-a depois muito bem, at ficar brilhante.

    Vestiu a estranha roupa, armou-se de uma velha espada enfer-rujada e de uma lana h muito ali esquecida, e sentiu-se tal qualum de seus heris.

    Satisfeito, montou em seu magro e estropiado cavalo. Haviachegado a hora de sair em busca de aventuras, como um ver-dadeiro fidalgo da ordem dos cavaleiros andantes!

    Era um espetculo ver o magrissimo Dom Quixote vestindoaquela armadura to ridcula e montado num pangar esqueltico,

    l o Rocinante, arrastando-se pela estrada afora, sem rumo.

    O texto l, extrado de Dom Quixote, clssico de Miguel de Cervantes,e o texto 2, extrado'de Do m Quixote, adaptao da obra de Cervantesvoltada para o pblico infantil, so exemplos muito bons de que: um texto pode ser lido num lugar e tempo m uito distantes daquele

    em que foi produzido; um texto pode ser reescrito de muitas formas, objetivando atendera tipos diferentes de leitor.

    Texto e leituraNeste nosso percurso, destacamos que a leitura uma atividade qu e

    solicita intensa participao do leitor, pois, se o autor apresenta umtexto incompleto, po r pressupor a insero do que foi dito em esquemascognitivos compartilhados, preciso que o leitor o complete, por meiode Lima srie de contribuies.Assim, no processo de leitura, o leitor aplica ao texto um modelocognitivo, ou esquema, baseado em conhecimentos armazenados namemria. O esquema inicial pode, no decorrer da leitura, se confirmare se fazer mais preciso, ou pode se alterar rapidamente, como podemosverificar na leitura do texto a seguir:

    Almas Gmeas l- Oi! Tudo bem?- Tudo tranquilo, e a?- Eu estava louca para conversar com voc de novo, ontem nosso papo foimuito bom...- verdade, h um ms euentrei no bate-papo meio por entrar e de repente...- De repente?- De repente, encontro uma Maria, com a qual sonhei a vida inteira.- Verdade mesmo? Voc est falando srio?- Falando srio? Voc nem imagina quanto! Nas nossas conversas rpidas, eusentiassim uma premonio de que ali estava, f inalmente, a minha alma gmea.-Agora voc me deixou emocionada... Mas, na verdade, eu tambm senti um acoisa meio diferente e hoje mais ainda, neste nosso incio de bate-papo. Sabede uma coisa, Joo? At parece que eu te conheo de uma vida inteira.- E eu, Maria? Desde outras vidas, tamanha a afinidade que eu sinto por voc.- Que bonito, Joo. Assim covardia, esta batalha voc ganhou.- Ganhei nada, sou desde j refm da sua simpatia, seu eito, sua forma deexpressar...- Obrigada, Joo.- Nem agradea, Maria. Vamos conversar mais, quero saber tudo de voc.Quem voc?

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    V.md.i M,iM,i l !M C,

    iivinha, se gostas de mim...in voc, minha misteriosa?

    / / / sou Colombina.l it sou Pierrot. Mas nem carnaval, nem meu tempo passou. Bom, pelo/iimos depois de voc.

    - verdade, Joo. Deixando a msica de lado, eu que no sou to menina,apesar de estar me sentindo assim, quero que voc saiba que a minha vidaestava muito chata, muito montona at que o destino te colocou neste dilogomeio louco, meio mgico...- Vamos fazer o ogo da verdade, Maria? Eu sou Joo, ou outro nome qualquer,tenho 45 anos, casado h muito tempo, sem filhos. Meu casamento entrounuma rotina...- Eu tambm, Joo, estou casada h muito tempo, tambm sem filhos, achandoque era feliz, at te descobrir, e, principalmente, descobrir que estou viva.Apesar de tambm ter passado dos quarenta, estou me sentindo uma colegial,diante das primeiras emoes.- A minha esposa boazinha, mas no tem a mnima imaginao, nem a tuasensibilidade. Jamais seria capaz de um dilogo deste nvel.- O meu marido honesto, trabalhador, mas um tremendo cretino, s pensaem futebol.- Eu at gosto de futebol, mas no sou muito fantico. A minha mulher squer saber daquelas novelas chatas, sempre do mesmo jeito.- Eu quase que nem assisto novelas, prefiro ler e conversar. Co m pessoas comovoc, claro!- Pois ... este papo de internauta gostoso, mas no me satisfaz plenamente.Eu quero te conhecer pessoalmente, tocar no teu corpo. E quem sabe...- Eu fico meio envergonhada... Mas, dane-se o pudor, estou louca para fazercom voc as coisas mais loucas que puder...- Que tal neste fim de semana, tarde... a gente poderia ir a um barzinho...- Eu topo!!!- Me deixa o nmero do seu celular...-Ah! 9899...- 9899... Ma s este o celular da minha esposa!!! voc, Joana???-Jos?!!!!

    Aiilui l i i i / 1 crnando Elias cardiologista e, nas horas vagas, cronista.

    Ler e compreender 37

    Como leitores, ao iniciarmos a interao com o autor por meio dotexto, situamos a histria no seguinte quadro: um homem e uma mulheresto em um bate-papo de internet e, geralmente, como esperado nessasituao, comportam-se como dois desconhecidos.

    O modo pelo qual o autor constri a histria pressupe do leitor aconsiderao a esse esquema, que guiar a compreenso at a penltimalinha do texto, quando a hiptese inicial, reforada pelo desenvolvimentoda histria, deve ser alterada e reconstruda pelo leitor: o homem e amulher que conversavam numa sala de bate-papo via internet no eramdois desconhecidos - no se levarmos em conta o sentido mais corriqueiroda palavra -, eram, para surpresa dos dois personagens (do mundotextual) e dos virtuais leitores (do mundo real), marido e mulher.

    Assim, o texto um exemplo de que o autor pressupe a participaodo leitor na construo do sentido, considerando a (re)orientao que lhe dada. Nesse processo, ressalta-se que a compreenso no requer que osconhecimentos do texto e os do leitor coincidam, mas que possaminteragir dinamicamente (ALLIENDE & CONDEMARN, 2002: 126-7).

    Se, como vimos, a leitura uma ativiclade de construo de sentido quepressupe a interao autor-texto-leitor, preciso considerar que, nessaatividade, alm da s pistas e sinalizaes que o texto oferece, entram emjogo os conhecimentos do leitor. desses conhecimentos que trataremosa seguir.