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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO: UM ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA PETROBRAS Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku São Paulo 2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO:

UM ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA

PETROBRAS

Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku

São Paulo

2017

Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO: UM

ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA PETROBRAS

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para

a obtenção do título de Mestre em

Controladoria Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

São Paulo

2017

S556c Shimabuku, Fabiano Augusto Akiyama

Causas e consequências da operação lava-jato: um estudo

econômico e socioambiental da Petrobrás / Fabiano Augusto

Akiyama Shimabuku - 2017.

102 f.: il.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial)

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017.

Orientação: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

Bibliografia: f. 89-96

1. Operação lava jato. 2. Corrupção. 3. Petrobrás. 4.

Prejuízo. I. Título.

CDD 658.4012

Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO: UM

ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA PETROBRAS

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para

a obtenção do título de Mestre em

Controladoria Empresarial.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Jose Roberto Ferreira Savoia — Examinador Externo

Universidade de São Paulo

a Examinador ac enzie

of. Dr. on ra niver idade Presbiteri

“O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.”

(Aristóteles)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha esposa, Patricia, pela paciência e compreensão, sempre me

motivando a nunca desanimar diante das dificuldades, que foram muitas ao longo dessa

trajetória.

Aos meus filhos, Caio e Ian, que são minha inspiração, minha paixão e a quem todo

sacrifício nunca é demais.

Aos meus pais, Ana e Antonio, que sempre deram a devida importância à educação,

não importando as dificuldades, que também foram diversas ao longo de todas as nossas

vidas.

Ao Instituto Presbiteriano Mackenzie, cujo orgulho de ser Mackenzista me foi

despertado desde os tempos da graduação.

Agradeço ao meu orientador, Prezado Professor Doutor Luiz Carlos Jacob Perera,

cujos ensinamentos foram valiosíssimos e que sempre contribuiu de forma exemplar para que

o trabalho atingisse o objetivo da melhor forma possível.

Ao Coordenador do Curso Prof. Dr. Henrique Formigoni, pela oportunidade dada.

Aos Professores Doutores Jose Roberto Ferreira Savoia, Ronaldo Gomes Dultra de

Lima e Umberto Guarnier Mignozzetti, membros da banca examinadora, que contribuíram de

maneira brilhante - durante o processo de qualificação e de avaliação - com seus

conhecimentos e recomendações.

Aos demais professores do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis, um

agradecimento todo especial pelos ensinamentos, dicas, contribuições em geral, que

auxiliaram muito neste processo.

Aos colegas de classe, que compartilharam muitas experiências, sempre propiciando

um ambiente leve e descontraído.

RESUMO

Este estudo teve como objetivo identificar como os casos de corrupção, investigados

no âmbito da Operação Lava Jato, influenciaram a sustentabilidade da Petrobras, com base na

avaliação dos relatórios financeiros e de sustentabilidade e na análise dos preços das ações da

companhia. O período de análise estendeu-se de 2011 a 2016 de acordo com a disponibilidade

dos relatórios utilizados [demonstrativos financeiros e relatórios de sustentabilidade (Global

Reporting Initiative, o GRI)]. Os procedimentos de análise utilizaram método qualitativo e

quantitativo. A pesquisa qualitativa analisou em profundidade o desempenho dos principais

métodos de combate à corrupção citados em pesquisa global realizada pela Association of

Certified Fraud Examiners (ACFE): Canal de Denúncias, Controles Internos, Auditoria

Interna e Auditoria Externa. A parte quantitativa da pesquisa efetuou um estudo de evento

sobre a variação dos preços das ações da Petrobras a partir da homologação da delação

premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa – marco operacional da operação

Lava Jato. Os principais resultados evidenciaram que:(i) a atividade fraudulenta na empresa

perdurava há mais de dez anos, quando a operação Lava Jato foi deflagrada;(ii) os

procedimentos antifraudes tanto interna, quanto externamente, eram inoperantes; (iii) a

variação das ações da Petrobras foram influenciadas pelos eventos eleitorais coincidentes com

a deflagração da operação Lava Jato; (iv) medidas efetivas antifraude somente foram

efetivadas após a operação Lava Jato; (v) efetivamente, a Petrobras reduziu seu patrimônio e

investimentos tanto na área social quanto ambiental.

Palavras-chave: Operação Lava Jato, Corrupção, Petrobras, Desvalorização, Prejuízo.

ABSTRACT

This study had as objective identifying how corruption cases, investigated by

Operação Lava Jato, have impacted Petrobras’ sustainability, based on assessment of financial

and sustainability reports and based on assessment of its stock prices. The analysis period was

2011 to 2016, according to the available reports (financial statements and sustainability

reports (Global Reporting Initiative – GRIE)). The analysis procedures have used qualitative

and quantitative methods. The qualitative research has analised deeply performance of the

main methods to fight corruption according to the global research made by Association of

Certified Fraud Examiners (ACFE): Complaint Channel, Internal Controls, Internal Audit and

External Audit. The quantitative research has made an study of event over the change of

Petrobras stock prices as from the homologation of Paulo Roberto da Costa awarding

delation, former company’s director – operational beginning of Operação Lava Jato. The main

results have evidenced that: i) fraud activity last over ten years when Operação Lava Jato

began; ii) antifraud procedures, internally and externally, were ineffective; iii) change of

Petrobras stocks were impacted by elections running on the same period of Operação Lava

Jato; iv) antifraud effective measures only were implemented after Operação Lava Jato; v)

Petrobras has reduced its financial position and its investments on social and environmental

areas.

Keywords: Operação Lava Jato, Corruption, Petrobras, Depreciation, Loss.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15

1.1 Questão de pesquisa ........................................................................................................... 16

1.2 Objetivo geral ..................................................................................................................... 17

1.3 Objetivos específicos .......................................................................................................... 17

1.4 Justificativa ......................................................................................................................... 18

1.5 Contribuições ...................................................................................................................... 18

1.6 Limitações .......................................................................................................................... 19

1.7 Organização ........................................................................................................................ 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO E FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES .............................. 21

2.1 Teoria da agência ................................................................................................................ 21

2.2 Corrupção ........................................................................................................................... 22

2.3 Combate à corrupção .......................................................................................................... 25

2.4 Responsabilidade Social Corporativa ao Desenvolvimento Sustentável e à

Sustentabilidade ....................................................................................................................... 36

2.5 Petrobras e a formulação de hipóteses ................................................................................ 44

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 63

3.1 Tipo de pesquisa ................................................................................................................. 63

3.2 Procedimentos de teste ....................................................................................................... 67

4 RESULTADOS .................................................................................................................... 71

4.1 Hipóteses HA,1 e HA,2 .......................................................................................................... 71

4.2 Hipóteses HA,3 e HA,4 .......................................................................................................... 74

5 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 89

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Controles antifraudes .......................................................................................... 31

Figura 2 – Triple Bottom Line ................................................................................................ 37

Figura 3 – Posição acionária em 31 de dezembro de 2015 .................................................. 46

Figura 4 – Representação gráfica do esquema .................................................................... 48

Figura 5 – Preço das ações PN Petrobras ............................................................................. 50

Figura 6 – Resultado Consolidado (R$ Bilhões) .................................................................. 50

Figura 7 – Estrutura Organizacional da Petrobras ............................................................ 51

Figura 8 – Etapas do Estudo de Evento ................................................................................ 65

Figura 9 – CAR das ações da Petrobras ............................................................................... 69

Figura 10 – Posição da Petrobras no ranking da Forbes .................................................... 75

Figura 11 – Impairment nos ativos (R$ Bilhões) .................................................................. 76

Figura 12 – Resultados Consolidados (R$ Bilhões) ............................................................. 78

Figura 13 – Retorno das ações das 5 Maiores Petrolíferas Americanas x Petrobras ....... 79

Figura 14 – Retornos trimestrais das ações das 5 Maiores Petrolíferas Americanas x

Petrobras em 2014 .................................................................................................................. 81

Figura 15 – Retorno acumulado das ações da Petrobras – Set/2014 a Dez/2014 .............. 82

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Métodos de detecção por região – América Latina e Caribe ........................... 30

Tabela 2 – Canal de Denúncias ............................................................................................. 71

Tabela 3 – Gerenciamento de Controles Internos ............................................................... 72

Tabela 4 – Auditoria Externa ................................................................................................ 74

Tabela 5 – Perdas registradas nos ativos da Petrobras ....................................................... 76

Tabela 6 – Resultados da Petrobras (R$ Bilhões) ................................................................ 78

Tabela 7 – Classificação do rating de risco da Petrobras .................................................... 79

Tabela 8 – Investimentos socioambientais da Petrobras .................................................... 83

Tabela 9 – Quantidade de empregados diretos e indiretos ................................................. 84

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAA American Accounting Association

ACFE Association of Certified Fraud Examiners

AICPA American Institute of Certified Public Accountants

BMF&BOVESPA Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo

CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento

Sustentável

CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies

CFC Conselho Federal de Contabilidade

CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

COSO Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission

CVM Comissão de Valores Mobiliários

E&P Exploração e Produção

ERP Enterprise Resource Planning

FEI Financial Executives Internacional

GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas

GRI Global Reporting Iniciative

IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

IFAC International Federation of Accountants

IFRS International Financial Reporting Standard

IIA Institut of Internal Auditors

ITRs Informações Trimestrais

KPMG KPMG Auditores Independentes

MPF Ministério Público Federal

NYSE New York Securities Exchange

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development

PCAOB Public Company Accounting Oversight Board

PPPC Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção

PRISMA Programa Integrado de Sistemas e Métodos de Avaliação

PWC PRICEWATERHOUSECOOPERS

SEC Securities Exchange Commission

SOX Sarbanes-Oxley

TBL Triple Bottom Line

UGC Unidade Geradora de Caixa

UNEP United Nations Environment Programme

WBCSD World Business Council for Sustainable Development

NÚMERO DA ÁREA DO CNPq

6.00.00.00-7 Ciências Sociais Aplicadas

6.02.02.01-7 Contabilidade e Finanças Públicas

6.02.04.00-1 Ciências Contábeis

6.03.02.03-8 Contabilidade Nacional

15

1 INTRODUÇÃO

Considerada a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já

teve (Ministério Público Federal - MPF, 2016), o caso envolvendo desvios de recursos,

propinas, lavagem de dinheiro, entre outros esquemas de corrupção na empresa estatal

brasileira Petrobras tem sido a manchete principal, há pelo menos três anos, de toda imprensa

nacional, com forte repercussão internacional.

À investigação deste esquema de corrupção, envolvendo a maior empresa estatal do

país, destinou-se o nome de Operação Lava Jato.

Conforme o MPF (2016), estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da

Petrobras esteja na casa dos bilhões de reais. Este esquema dura há, pelo menos, dez anos e

envolve grandes empreiteiras nacionais, funcionários da estatal, políticos e agentes do

mercado financeiro.

Os casos de corrupção envolvendo empresas do setor público podem ter uma relação

direta com os políticos eleitos. Assim, o conceito original da teoria da agência de que a

assimetria da informação existe entre o principal e o agente, com os agentes esperando

maximizar sua própria riqueza, pode ser aplicado ao Governo (PILCHER, 2014).

A perspectiva habitual do conflito de agência é de que o servidor público é o agente e

os cidadãos são os principais que precisam destinar incentivos e controles para evitar que o

servidor público receba propina (CUERVO-CAZURRA, 2016).

Os controles antifraudes são essenciais para detectar e mitigar atos de corrupção.

Contudo, para mitigar e detectar a corrupção eficientemente se faz necessário que os

instrumentos funcionem de forma conjunta, assegurando o fortalecimento dos sistemas de

controles internos, sendo substancial que cada empresa adote métodos de combate à

corrupção de acordo com o ambiente em que atua.

Existem vários instrumentos utilizados para o combate e controle da corrupção. Este

trabalho utilizou os principais controles de combate à corrupção citados na pesquisa global

realizada pela Association of Certified Fraud Examiners - ACFE (2016) na região da América

Latina e Caribe, dentre os quais se destacam: Canal de Denúncias, Gerenciamento de

Controles Internos, Auditoria Interna e Auditoria Externa.

No caso específico da Petrobras, tais controles existiam e não foram capazes de

detectar e impedir os casos de corrupção em que a companhia se envolveu e são alvos de

investigação pela Operação Lava Jato.

16

Este trabalho se propôs a examinar e identificar os impactos da Operação Lava Jato na

Petrobrás, pela ótica do Triple Bottom Line (Elkington, 1994), ou seja, avaliando os impactos

nos três pilares que compõem sustentabilidade: econômico, social e ambiental.

Para isso, foram utilizadas as metodologias da análise documental e de estudo de

evento. Para identificar o impacto econômico da Operação Lava Jato na Petrobras, utilizaram-

se ambas as metodologias, sendo que o estudo de evento foi usado para medir o impacto dos

desdobramentos da Operação Lava Jato sobre o preço das ações da Petrobrás e a análise

documental para medir os demais impactos econômicos, como impairment, resultado

contábil, entre outros.

Já, nos aspectos social e ambiental, a análise documental foi realizada, utilizando-se os

relatórios de sustentabilidade da empresa, na tentativa de se obter informações a respeito dos

investimentos realizados pela companhia antes e após a deflagração da Operação Lava Jato.

De acordo com a Global Reporting Iniciative (GRI, 2016), o Relatório de

Sustentabilidade é um relatório publicado por uma empresa ou organização sobre os impactos

econômicos, ambientais e sociais causados por suas atividades diárias.

No relatório de sustentabilidade da Petrobras, encontram-se as informações a respeito

dos investimentos sociais e ambientais realizados no período. Foram analisados os relatórios

dos anos de 2011 a 2015 para fins deste estudo.

1.1 Questão de pesquisa

De acordo com Booth, Colomb e Williams (2008), o problema de pesquisa surge,

quando seu fundamento lógico implica naquilo em que o pesquisador não tem conhecimento,

porém, deveria ter. Já Martins e Theóphilo (2007) explicam que um problema de pesquisa tem

sua origem na inquietação, na dúvida, no interesse e na curiosidade sobre um determinado

assunto desconhecido e/ou uma questão ainda não resolvida.

De acordo com Lupion (2016), escândalos de corrupção recentes, como os revelados

pelas operações Zelotes e Lava Jato, envolvendo grandes corporações, revelam brechas nos

controles dos sistemas públicos, sendo exploradas para diminuir o valor dos impostos devidos

ou desviar recursos para políticos, servidores públicos e operadores financeiros.

17

Neste sentido, a inquietação que se manifestou, neste estudo, relaciona-se aos

impactos econômicos, sociais e ambientais que os casos de corrupção investigados no âmbito

da Operação Lava Jato causaram a maior empresa estatal do país: a Petrobras.

Importante destacar que este estudo se limitou a discutir os aspectos aplicáveis a

empresas de grande porte, as quais possuem grande complexidade operacional e buscam as

melhores práticas de governança corporativa.

Assim, por conta da importância do assunto e da implicação econômica, social e

ambiental envolvida, formulou-se a seguinte questão de pesquisa:

Quais as principais causas, no âmbito da área de Controladoria, da

desvalorização da Petrobras e as consequências econômicas e socioambientais

levantadas a partir da Operação Lava Jato?

1.2 Objetivo geral

O objetivo do trabalho foi identificar, no âmbito da área de Controladoria, os

principais fatores relacionados aos esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava

Jato que levaram à desvalorização da Petrobras, assim como levantar os prejuízos causados a

esta empresa.

1.3 Objetivos específicos

O primeiro objetivo específico foi conectar o objetivo geral com o contexto e os

fundamentos teóricos. Isto foi feito com base na literatura apresentada em trabalhos

científicos publicados em periódicos e congressos nacionais e internacionais, assim como

pesquisas apresentadas por associações profissionais e mais elementos disponíveis como a

imprensa especializada.

Dessa maneira, foi possível levantar, inicialmente, os principais controles antifraudes

utilizados pelas empresas e também foram considerados os 4 (quatro) principais controles

citados nas pesquisas sobre fraudes. Posteriormente, por intermédio destes controles

antifraudes, foram identificadas as principais atividades responsáveis pelo seu monitoramento

18

e, consequentemente, pelo combate e detecção as fraudes corporativas: Canal de Denúncias,

Controles Internos, Auditoria Interna e Auditoria Externa.

O segundo objetivo específico foi identificar, por intermédio de análise das

informações disponibilizadas no site da Petrobras e em seus relatórios financeiros, se a

companhia, mediante tais controles, havia identificado quaisquer sinais de corrupção, antes da

deflagração da Operação Lava Jato.

O terceiro objetivo específico foi apresentar estudo de evento sobre os preços das

ações da Petrobras antes e depois da Operação Lava Jato e expor análise documental de seus

relatórios financeiros, no intuito de se obter o impacto econômico desta investigação.

O quarto e último objetivo específico foi identificar, no relatório de sustentabilidade

da empresa, quais foram os impactos da Operação Lava Jato em seus investimentos sociais e

ambientais. Para isto, foram analisados os relatórios dos anos 2011 a 2015.

1.4 Justificativa

Não há muitos trabalhos realizados até o momento a respeito dos impactos da

Operação Lava Jato na Petrobras. Assim, este trabalho abordou um caso único de esquema de

corrupção com ampla cobertura nacional e internacional, envolvendo a maior empresa estatal

do país e outras importantes empresas do setor privado, além de servidores públicos, políticos

e agentes financeiros.

Justifica-se, então, o desenvolvimento deste trabalho, na medida em que se destinou

foco e esforço na identificação dos impactos econômicos, sociais e ambientais deste esquema

de corrupção na maior empresa estatal do país, cuja legitimidade - perante a sociedade - foi

abalada.

1.5 Contribuições

Este trabalho contribuiu para o entendimento de como a Petrobrás foi impactada pelo

esquema de corrupção, incrementando-se o conhecimento a respeito destes impactos, em caso

único de corrupção, envolvendo agentes públicos, políticos, empreiteiras e agentes

financeiros.

19

A partir do conhecimento adquirido, também foram sugeridas medidas de controles

internos e externos que objetivam mitigar ou evitar possíveis atos deletérios futuros,

contribuindo para que as empresas alinhem suas atividades de negócios aos fundamentos

relacionados à sustentabilidade econômica e socioambiental e combate à corrupção.

Adicionalmente, embora a análise tenha se concentrado nas causas e consequências

dos casos de corrupção investigados pela Lava Jato na Petrobras, grandes empresas

envolvidas, como Odebrecht, OAS, entre outras, podem beneficiar-se dos aprendizados e das

recomendações deste trabalho.

1.6 Limitações

Como limitação do trabalho, aponta-se o escopo, o qual se limita a uma única empresa

dentre as envolvidas na Operação Lava Jato, no caso, a Petrobras, que prepara e divulga

publicamente o relatório de sustentabilidade. As demais empresas investigadas na Operação

Lava Jato não dispõem deste relatório.

Outra limitação refere-se ao fato de a Operação Lava Jato ainda estar em andamento

na ocasião da elaboração deste trabalho, qualificação e defesa, com acordos entre réus e a

justiça brasileira sendo construídos, possibilitando que novos fatos possam surgir, trazendo

novos impactos à Petrobras.

1.7 Organização

Para alcance do objetivo proposto, o presente estudo foi estruturado em cinco

capítulos.

O primeiro tratou da própria introdução, em que o contexto da Operação Lava Jato, os

controles antifraudes mais utilizados para detecção e combate à corrupção, a teoria e a

metodologia utilizadas foram apresentados. Também foram expostos os objetivos pretendidos

e a questão de pesquisa que delineou todo o estudo, bem como as justificativas, as

contribuições e as limitações.

O segundo capítulo tratou da revisão bibliográfica de literatura, que apresentou a

estrutura teórica do estudo, dividida em cinco partes. Inicialmente, abordaram-se os aspectos

20

relacionados com a Teoria da Agência com conceitos, definições e relação direta, com a

ocorrência de casos de corrupção dentro das organizações empresariais. Em seguida,

explanou-se o conceito referente à fraude corporativa, mencionando a corrupção relacionada

com os quatro fatores desencadeadores do ato fraudulento dentro das organizações e sua

relação com o setor público. Na sequência, foram mencionados os principais procedimentos

de combate à fraude, conforme as pesquisas realizadas por órgãos profissionais. A próxima

parte discorreu sobre sustentabilidade, suas principais definições e o desenvolvimento

sustentável no ambiente corporativo. Também foram apresentadas as formas de evidenciação

da sustentabilidade e o principal relatório utilizado atualmente pelas organizações quando se

trata de reportar suas ações a respeito do tema. Por fim, foi apresentada a empresa Petrobras,

objeto do estudo e sua relação com os casos de corrupção, controles, sustentabilidade e

impactos da Operação Lava Jato.

O terceiro capítulo relacionou-se com os detalhes da metodologia empregada para o

desenvolvimento do trabalho, classificando-a quanto à natureza, à forma de abordagem e aos

objetivos e procedimentos. Em prosseguimento, foram descritos a definição da população, a

coleta, o tratamento e a análise dos dados obtidos.

O quarto capítulo trouxe os resultados obtidos mediante os quais foram evidenciados

os impactos econômicos, sociais e ambientais da Operação Lava Jato na Petrobras.

E, por final, o quinto capítulo apresentou os principais aspectos encontrados na

pesquisa e as respectivas conclusões, suas implicações para a academia e para a prática nas

empresas, suas limitações e sugestões para estudos futuros relacionados ao tema.

21

2 REFERENCIAL TEÓRICO E FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES

Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre os principais aspectos conceituais que

baseiam o trabalho, por meio de uma revisão resumida da literatura relacionada à Teoria da

Agência, Corrupção e Controles antifraudes, Sustentabilidade e o caso da Petrobras.

2.1 Teoria da agência

A teoria da agência surgiu de uma corrente de pensamento que enfatizava a

necessidade de se conhecer a realidade da empresa, a partir dos problemas associados à

delegação de autoridade e à tomada de decisão. Seu objetivo era analisar e conhecer, com

maior profundidade, o papel da empresa no mercado, de forma a configurar adequadamente

uma série de relações complexas que existem no íntimo da estrutura organizacional

(COSENZA; ALEGRÍA; LAURENCEL, 2010).

De acordo com Jensen e Meckling (1976), uma relação de agência é um contrato em

que um indivíduo (principal) emprega outro indivíduo (agente) para prestar serviços em seu

nome, o que envolve delegar a autoridade da tomada de decisão. A relação entre acionistas e

administradores de uma corporação encaixa na definição de uma relação de agência.

Mesmo o agente sendo contratado para atuar de forma a maximizar o interesse do

principal, ele também possui e persegue seus próprios interesses. Assim, quando estabelecida

a relação de agência, as decisões empreendidas dentro de uma companhia tendem a ser

conflituosas. Ao visar seus próprios interesses, o agente pode atuar de forma a não atender aos

objetivos do principal. Esta divergência derivada das necessidades do agente e do principal é

denominada como conflito de agência.

Lambert (2001) apresenta quatro razões típicas para o surgimento dos conflitos de

agência: (i) aversão ao esforço por parte do agente; (ii) desvio de recursos por parte do agente

para seu consumo ou uso; (iii) horizontes de tempo diferentes (o agente não é tão preocupado

com o efeito futuro de suas ações, pois não planeja permanecer na companhia); e (iv)

diferentes níveis de aversão ao risco por parte do agente.

Na relação entre acionistas e administradores, os acionistas podem limitar tais

conflitos, monitorando as atividades dos executivos e estabelecendo incentivos contratuais

apropriados a eles. Desta forma, os acionistas incorreriam em custos para alinhar os interesses

22

dos administradores aos seus, que são denominados de custos de agência (SAITO;

SILVEIRA, 2008).

Os custos de agência incluem os custos de estruturação, monitoração e alinhamento de

um conjunto de contratos entre agentes com conflitos de interesses. O controle de tais custos é

importante para não permitir que o agente se desvie dos interesses do principal. Um efetivo

sistema de controle implica na separação entre propriedade e controle (FAMA; JENSEN,

1983).

Contudo, estes problemas de custos de agência citados não ocorrem na maioria das

empresas brasileiras, em virtude de sua forte concentração acionária, em que é muito comum

a presença de acionistas controladores na administração das empresas e não de executivos

contratados para este fim (MOURA et al., 2014).

Uma relação direta pode ser estabelecida entre o político eleito e o setor público que é

encarregado pela implementação da política de governo. Assim, o conceito original da teoria

da agência de que a assimetria da informação existe entre o principal e o agente, com os

agentes esperando maximizar sua própria riqueza, pode ser aplicada ao Governo (PILCHER,

2014).

A visão usual da agência é que o funcionário público é o agente e os cidadãos são os

principais que precisam designar incentivos e controles para prevenir o funcionário público de

pedir propina (CUERVO-CAZURRA, 2016).

Neste contexto, pode-se fazer uma analogia com os conflitos existentes entre

acionistas controladores (agentes) e não controladores (principais), os quais são derivados, em

sua maioria, da expropriação realizada pelo controlador em detrimento dos interesses dos

demais acionistas.

Os conflitos de agência estão inseridos na realidade de qualquer ambiente corporativo,

estes podem manifestar-se de diversas formas dentro das companhias, desde desalinhamentos

sobre os rumos estratégicos da empresa até casos mais graves como atos de corrupção.

2.2 Corrupção

Corrupção tem origem na palavra latina corruptionem, que quer dizer corrompimento,

decomposição, devassidão, depravação, suborno, perversão, peita. Corrupção como ato ou

efeito de corromper, atualmente é uma expressão que está tão generalizada que, no campo

23

tecnológico, passou a significar tudo o que envolve a desonestidade e a falta de caráter (SÁ;

HOOG, 2010).

Embora seja um fenômeno antigo em todas as sociedades, a corrupção vem crescendo

em virtude da complexidade da vida social e do desenvolvimento econômico (ABREU,

2011).

Para Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998), corrupção significa transação ou troca

entre quem corrompe e quem se deixa corromper, normalmente uma promessa de recompensa

em troca de um comportamento que favoreça os interesses do corruptor.

Wells (2008) define corrupção como ato intencional de uma pessoa, que usa de seu

cargo ou posição, para obter vantagem inconsistente com seu dever e com os direitos de

outros.

Com base na análise econômica, Abreu (2011) conceitua corrupção como uma

transação, um processo de troca, uma relação contratual que configura um mercado informal,

ilegal, em que agentes econômicos interagem pelo lado da oferta como produtores de

decisões, detendo poder político, social e institucional e, pelo lado da procura, como

detentores do poder de compra sustentado por seu patrimônio.

Esta prática quase sempre ocorre pelo uso de expedientes escusos como comissões,

propinas e utilização particular de bens públicos (SÁ; HOOG, 2010).

Araújo e Sanchez (2005) e Santos, Amorim e Hoyos (2010) argumentam que os

reflexos da corrupção impedem o crescimento econômico, diminuem a capacidade do Estado

em fornecer serviços fundamentais à sociedade, desmotiva a população a buscar o bem

comum e influencia - de forma negativa - a sustentabilidade econômica, social e política de

qualquer sociedade.

No Brasil, a corrupção está intimamente ligada com o setor público. Os estudos

realizados por pesquisadores brasileiros apresentam o conceito de corrupção como o

comportamento de indivíduos com autoridade ou posição em cargos públicos que se desviam

de suas funções para obter vantagens pessoais ou para terceiros, tanto de caráter financeiro

quanto de caráter pessoal, envolvendo o patrimônio público (ARAÚJO, 2005; COSTA, 2008;

EMPRESA LIMPA, 2010; MIARI; MESQUITA; PARDINI, 2015; SODRÉ; ALVES, 2010).

Assim, neste trabalho, é utilizada a classificação da Árvore da Fraude [estrutura que propõe

51 (cinquenta e um) esquemas individuais de fraudes, divididos em três grupos: Corrupção,

Apropriação Indevida de Ativos e Demonstrações Financeiras Fraudulentas (ACFE, 2016)],

que caracteriza corrupção somente quando há envolvimento do poder público.

24

Dessa forma, corrupção pode ser conceituada como o uso indevido de poder ou

autoridade concedida a uma pessoa, com o intuito de auferir vantagens pessoais ou a terceiros,

através de propinas, subornos, comissões, entre outros, sempre em prejuízo da organização

que representa, infringindo com as atribuições que lhe foram outorgadas. Os resultados desta

conduta estão relacionados a perdas financeiras e patrimoniais, custos operacionais, impactos

sociais e políticos.

De acordo com o relatório da ACFE (2016), a corrupção está dividida em quatro tipos:

Suborno

De acordo com Wells (2008), trata-se, essencialmente, de uma transação de negócios

ilegal ou antiética. Normalmente, ocorrem sob duas formas: propina e licitação fraudulenta.

Propina é o pagamento de comissão ao funcionário de uma instituição com o objetivo de obter

vantagem em um esquema de superfaturamento. Já licitação fraudulenta ocorre quando um

funcionário de forma ilegal auxilia um fornecedor a vencer um contrato por intermédio de

processo de licitação.

Gratificações ilegais

Wells (2008) afirma que gratificações ilegais são similares ao suborno, exceto quando

não ocorre necessariamente a intenção de influenciar uma decisão particular de negócios.

Contudo, não é fácil provar a real intenção por trás destas gratificações, assim muitas

empresas públicas e privadas não permitem que seus empregados recebam gratificações de

parceiros de negócios.

Extorsão econômica

No caso de extorsão econômica, Wells (2008) esclarece que o funcionário de uma

empresa demanda um pagamento de um fornecedor ou de um comprador para tomar uma

decisão em favor deste em uma transação entre suas empresas.

Conflitos de interesse

Conforme Wells (2008), conflitos de interesse ocorrem quando um funcionário, gestor

ou executivo possui interesse pessoal ou econômico não declarado em uma transação que

25

afeta adversamente a companhia que representa. A questão-chave é o interesse não declarado,

ou seja, a empresa não tem ciência que o empregado possui sua lealdade dividida entre a

empresa e seus interesses pessoais.

A ACFE é a maior organização antifraude do mundo e a pioneira no fornecimento de

treinamento e educação antifraude. Sua missão é reduzir a incidência de crimes de fraude e de

colarinho branco (ACFE, 2016).

A ACFE produz um relatório que fornece a análise de casos de fraude investigados em

determinados períodos, chamado Report to the Nations on Occupational Fraud and Abuse.

Sua versão mais recente divulgada em 2016 compreende a análise de 2.410 casos de fraude

investigados entre janeiro de 2014 e outubro de 2015, ocorridos em 114 países (ACFE, 2016).

De acordo com este relatório, aproximadamente 35% dos casos analisados envolveram

corrupção, que causaram uma perda média de US$ 200.000,00 (duzentos mil dólares). Ainda,

de acordo com o relatório, os casos de fraude mais frequentes na América Latina e Caribe

foram os de corrupção, representando 45,5% dos casos (ACFE, 2016).

Outro dado interessante deste relatório refere-se ao tamanho das empresas em que os

casos de corrupção ocorreram. A corrupção estava mais presente em grandes organizações

(40,2% dos casos), consideradas, para fins da análise, aquelas com mais de 100 empregados

(ACFE, 2016).

Por fim, o relatório também apresenta os casos de corrupção por indústria de atuação.

Especificamente, no caso da indústria de petróleo e gás, de um total de 74 casos de fraude, 36

(48,6%) eram casos de corrupção (ACFE, 2016). Esta indústria está entre as com maior

proporção de casos de corrupção da análise.

2.3 Combate à corrupção

Em virtude do aumento e da evolução dos meios utilizados na aplicação de atos de

corrupção que impactam adversamente as organizações públicas e privadas no mundo,

gerando perdas financeiras, riscos de imagem, insegurança e dúvidas com relação à

confiabilidade nos processos, surge a necessidade de adoção de métodos eficientes de

combate à corrupção, com o objetivo de mitigar tais atos dentro das organizações.

Para se combater a corrupção, dois mecanismos de controle são fundamentais em uma

organização: o sistema de controle interno e o sistema de contabilidade. O sistema de controle

26

interno é o processo projetado para proporcionar segurança razoável, e garantir eficiência e

efetividade das operações da entidade e para proteger o patrimônio contra desfalques e outras

práticas inapropriadas. O sistema de contabilidade deve ser implantado a fim de atender aos

requisitos de clareza e veracidade (SILVA, 2012).

Este estudo está centrado no sistema de controle interno e nos instrumentos que

monitoram e acompanham os controles, detectam e mitigam atos de corrupção.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é a principal referência no

Brasil para o desenvolvimento das melhores práticas de Governança Corporativa (IBGC,

2016). Segundo seu Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, é a diretoria,

amparada pelos órgãos de controle ligados ao Conselho de Administração (como o Comitê de

Auditoria) e pela Auditoria Interna, que deve estabelecer e operar um sistema de controles

internos eficaz para monitorar os processos operacionais e financeiros, inclusive os

relacionados com a gestão de riscos e de conformidade (compliance), avaliando, no mínimo

anualmente, a eficácia deste sistema e prestando contas ao Conselho de Administração sobre

tal avaliação.

A Lei norte-americana Sarbanes-Oxley – The Sarbanes-Oxley Act (SarbOx e/ou SOx)

aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos em 30 de julho de 2002, e sancionada, em

seguida, pelo presidente George W. Bush, em decorrência dos escândalos, envolvendo

algumas das maiores corporações do mundo, criou inúmeros e significativos deveres e

responsabilidades a serem atendidos pelos administradores de companhias abertas com

valores mobiliários negociados nos Estados Unidos (sejam estas americanas ou não). A Seção

404 desta lei estabelece a responsabilidade dos administradores da empresa de implantar e

manter uma estrutura de controle interno e de procedimentos apropriados para a elaboração

das demonstrações financeiras, bem como a necessidade de avaliação no mínimo anual da

efetividade destes controles (SILVA, 2012).

Já o Conselho Federal de Contabilidade – CFC, mediante a NC TA 240 –

Responsabilidade do Auditor em Relação à Fraude, no Contexto da Auditoria de

Demonstrações Contábeis (2009), estabelece que a responsabilidade pela prevenção e a

detecção da fraude é das pessoas responsáveis pela governança da entidade e de sua

administração. Salienta a importância de que a administração, com a supervisão dos

responsáveis pela governança, dê ênfase à prevenção da fraude, no intuito de reduzir as

oportunidades de sua ocorrência, e a dissuasão da fraude, com o objetivo de persuadir os

indivíduos a não perpetrá-la: isso envolve um comprometimento na criação de uma cultura de

27

honestidade e comportamento ético. Aborda também o papel da supervisão geral por parte dos

responsáveis pela governança que inclui a consideração do potencial de burlar controles ou de

outra influência indevida sobre o processo de elaboração de informações contábeis, tais como

tentativas da administração de gerenciar os resultados para influenciar a percepção dos

analistas quanto à rentabilidade e desempenho da entidade.

Fama e Jensen (1983) esclarecem que o ápice dos sistemas de controle de decisão de

grandes e pequenas organizações é alguma forma de Conselho de Administração. Tais

conselhos possuem o poder de contratar, demitir e remunerar os administradores e ratificar e

monitorar decisões importantes.

A empresa de auditoria e consultoria Ernst & Young realiza periodicamente uma

pesquisa global com executivos com responsabilidade de combate à fraude, à propina e à

corrupção, denominada Corporate misconduct – individual consequences. A pesquisa mais

recente publicada em maio de 2016 refere-se ao período entre outubro de 2015 e janeiro de

2016, na qual 2.825 (dois mil e oitocentos e vinte e cinco) indivíduos de 62 (sessenta e dois)

países foram entrevistados. De acordo com os resultados desta pesquisa, embora 84% dos

respondentes acreditem que o Conselho de Administração esteja dando o nível correto de

atenção aos riscos de fraude, propina e corrupção, quase metade deles (49%) acredita que tais

conselhos necessitam de um entendimento mais detalhado dos negócios para efetivamente

proteger a empresa contra estes riscos (ERNST & YOUNG, 2016).

O Conselho de Administração, em conjunto com as áreas de monitoramento dos

controles, deve determinar um plano de contingência a atos de corrupção, concentrando seus

esforços em suas áreas:

deve partir de sua liderança a mensagem correta, clara e consistente de que o

suborno não é permitido e com os recursos apropriados para combater esta

ameaça com uma compreensão dos preceitos anticorrupção, apesar da área de

Compliance ser de responsabilidade de todos da organização;

é vital realizar avaliações periódicas dos riscos, assegurar que todos os riscos

encontrados sejam corrigidos e identificar possíveis alterações no perfil de

risco da companhia, oriundos de novos produtos ou serviços, da ampliação da

atuação geográfica ou por mudanças no modelo de operar;

é necessária a elaboração e a comunicação efetiva de um código de conduta,

treinamento dos profissionais e principalmente um sistema de controles para

monitorar transações suspeitas;

28

devem ser emitidos os relatórios de compliance periódicos ao Conselho de

Administração, assim como o acompanhamento dos canais de denúncia e as

auditorias de parceiros, tudo reavaliado continuamente como parte de um

programa interno eficaz de compliance (PRICEWATERHOUSECOOPERS,

2014).

2.3.1 Sistema de controles internos

De acordo com Antunes (1998), o termo sistemas de controles internos não tem sido

usualmente encontrado na literatura da Ciência da Administração. Porém, existe vasto

material didático na atividade profissional de auditoria. Esta afirmação é corroborada por

Sanches (2007), que esclarece que a terminologia “controles internos” tem sido usada até os

dias atuais quase que exclusivamente por profissionais e acadêmicos com relação à auditoria

interna e externa de empresas.

Para Moeller (2004), controle interno é o plano da organização e todos seus métodos

adotados para salvaguardar seus ativos, checar a acurácia e a confiabilidade de seus dados

contábeis, promover a eficiência operacional e encorajar a aderência às políticas internas. Esta

definição reconhece que um sistema de controles internos vai além das questões diretamente

relacionadas às funções dos departamentos contábil e financeiro.

Segundo Longo (2015), controle interno é o processo designado a prover segurança à

execução dos objetivos da empresa no que tange à confiabilidade das informações financeiras,

à eficiência e à efetividade das operações e congruências com leis e regulamentos.

No plano dos órgãos reguladores e emissores de normas de auditoria, no Brasil, pode-

se destacar o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), que deixou de

emitir normas de auditoria e atualmente desenvolve, conjuntamente com o CFC, o trabalho de

tradução e revisão das normas internacionais de auditoria emitidas pela International

Federation of Accountants (IFAC) para serem adotadas no Brasil, mediante aprovação e

emissão pelo CFC (IBRACON, 2016).

Conforme IFAC (2015), controle interno é o processo designado, implementado e

mantido pelos responsáveis pela governança, administração e pessoal para fornecer segurança

razoável sobre o alcance dos objetivos de uma entidade com relação à confiabilidade dos

29

relatórios financeiros, à efetividade, à eficiência das operações e à conformidade com as leis e

com os regulamentos aplicáveis.

O CFC, por meio da Resolução CFC Nº. 1.212/09, aprovou a NBC TA 315 -

Identificação e Avaliação dos Riscos de Distorção Relevante por meio do Entendimento da

Entidade e do seu Ambiente, a qual traz a definição de controle interno descrita exatamente da

mesma maneira que o IFAC o definiu (CFC, 2009).

O Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB) é uma entidade sem fins

lucrativos estabelecida pelo Congresso americano para inspecionar as auditorias de

companhias de capital aberto. Seu objetivo é proteger investidores e o interesse público,

promovendo relatórios de auditoria informativos, precisos e independentes. Para o PCAOB,

controle interno sobre o relatório financeiro é o processo desenhado ou sob supervisão do

principal executivo e dos principais diretores de uma companhia e estabelecido pelo Conselho

de Administração e Diretoria para fornecer segurança razoável sobre a confiabilidade do

relatório financeiro e sobre a preparação das demonstrações financeiras de propósito externo,

de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos (PCAOB, 2007).

O Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO) é

uma iniciativa conjunta de cinco organizações privadas, American Accounting Association

(AAA), American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), Financial Executives

Internacional (FEI), The Association of Accountants and Financial Professionals in Business

(IMA) e The Institute of Internal Auditors (IIA), cujo objetivo é fornecer liderança de

pensamento no mercado global por meio do desenvolvimento de estruturas conceituais

compreensivas e orientação sobre gestão de risco empresarial, controle interno e mitigação de

fraudes a fim de melhorar o desempenho organizacional e a governança e de reduzir a

extensão de fraudes nas organizações (COSO, 2013).

Para o COSO (2013), controle interno é um processo, efetuado pelo Conselho de

Administração, pela Administração e pelo pessoal de uma entidade, desenhado para prover

segurança razoável com relação ao atingimento de objetivos relacionados às operações,

relatórios e compliance.

É possível afirmar que controles internos apropriados auxiliam as atividades

operacionais de uma empresa a atingirem eficiência e eficácia, proporcionam confiança e

segurança às informações difundidas aos usuários externos e internos e estabelecem

congruência com leis e regulamentos.

30

Já sua ausência ou funcionamento deficiente pode dar origem ou elevar a

probabilidade de ocorrência de casos de corrupção em uma empresa. Conforme pesquisa

global realizada pela PRICEWATERHOUSECOOPERS (2016), no Brasil, 58% dos

fraudadores que atacam as organizações são agentes internos, sendo que 90% destes fazem

parte da gerência média ou executiva. Estes resultados indicam uma possível fragilidade dos

controles internos, cujas medidas servem mais como exercícios burocráticos do que processos

incorporados à cultura da corporação. Segunda a pesquisa, esta hipótese é reforçada pelo fato

de que 17% dos respondentes nunca realizaram uma avaliação de risco de fraude e 28%

realizam este tipo de avaliação apenas uma vez por ano (PRICEWATERHOUSECOOPERS,

2016).

O acompanhamento constante dos sistemas de controles internos é essencial para sua

eficiência e eficácia. O não acompanhamento pode dar origem a falhas, abrindo uma janela de

oportunidades a atos de corrupção dentro das companhias. Assim, as empresas precisam de

instrumentos que acompanhem seus sistemas de controles internos e detectem a possibilidade

da ocorrência de atos de corrupção.

2.3.2 Controles antifraudes

Os controles antifraudes são essenciais para preservar os controles internos da

companhia e especialmente para detectar e mitigar atos de corrupção. Contudo, para mitigar e

detectar a corrupção eficiente e eficazmente se faz necessário que os instrumentos funcionem

de forma conjunta, assegurando o fortalecimento dos sistemas de controles internos, sendo

substancial que cada empresa adote métodos de combate à corrupção, de acordo com o

ambiente em que atua.

Existem vários instrumentos utilizados para o combate e controle da corrupção. Este

trabalho utiliza os principais controles de combate à corrupção citados na pesquisa global

realizada pela ACFE na região da América Latina e Caribe, conforme apresentado na tabela 1

abaixo.

Tabela 1: Métodos de detecção por região - América Latina e Caribe

Controles Antifraudes Casos %

Canal de Denúncias 36,9%

Controles Internos: 24,3%

31

- Revisão da Administração 17,1%

- Reconciliação Contábil 4,5%

- Exame de Documentos 2,7%

Auditoria Interna: 22,5%

- Auditoria Interna 19,8%

- Monitoramento atividades suspeitas 2,7%

Auditoria Externa 2,7%

Outros 13,6%

Fonte adaptada: ACFE 2016.

Assim, ao avaliar os principais controles antifraudes, de acordo com a pesquisa da

ACFE, foram relacionadas as seguintes principais áreas consideradas responsáveis pela

implantação e/ou acompanhamento destes controles de detecção e de mitigação de fraudes

dentro das corporações: Canal de Denúncias, Gerenciamento de Controles Internos, Auditoria

Interna e Auditoria Externa, conforme demonstrado na figura 1 abaixo.

Figura 1: Controles antifraudes

Fonte: elaborado pelo autor, com base na pesquisa ACFE (2016).

Canal de denúncias

De acordo com a pesquisa da ACFE (2016), o canal de denúncias é o método mais

utilizado para a detecção de fraudes, representando 36,9% dos casos. Outra pesquisa, da PWC

(2016), revela que 39% dos casos são detectados pelos canais de denúncias das empresas,

delação interna e externa.

Controles Antifraudes

Canal de Denúncias

Gerencimento de Controles Internos

Auditoria Interna Auditoria Externa

32

Uma das exigências que a Lei Sarbanes-Oxley de 2002 instituiu foi a formalização de

um Canal de Denúncias em todas as empresas, americanas e estrangeiras, que negociam ações

nas bolsas de valores dos EUA, com o objetivo de incentivar a prática de denúncia de atos

fraudulentos nas corporações (FAJARDO, 2012).

No Brasil, não há uma lei específica que obrigue as empresas a implantarem um canal

formal de denúncias. O IBGC, em sua 5ª edição do Código das Melhores Práticas de

Governança Corporativa, menciona o Canal de Denúncias como sendo o instrumento previsto

e regulamentado no código de conduta da organização com o intuito de acolher opiniões,

críticas, reclamações e denúncias, contribuindo para o combate às fraudes e à corrupção

(IBGC, 2015).

Dessa maneira, pode-se definir o Canal de Denúncias, no âmbito do combate à

corrupção corporativa, como o meio pelo qual denúncias de atos de corrupção podem ser

realizadas por indivíduos pertencentes à organização ou por agentes externos. Tem o objetivo

de acolher tais denúncias e tratá-las adequadamente para o combate dos atos de corrupção.

Gerenciamento de controles internos

Conforme pesquisa ACFE (2016), o gerenciamento dos controles internos é o método

utilizado em 24,3% dos casos na detecção de fraudes. A pesquisa da PWC (2016) aponta que,

em 26% dos casos, o método de detecção de fraudes foi o gerenciamento de controles internos

(Análise de dados, Rotatividade dos membros da equipe e Segurança corporativa - TI e

Patrimonial).

As seções 302 e 404 da Lei Sarbanes-Oxley contribuíram para que as companhias

buscassem o fortalecimento de suas estruturas de controles internos, resultando em áreas

exclusivas para implantação e monitoramento de seus controles internos (FREITAS, 2012).

O IBGC, em sua 5ª edição do Código das Melhores Práticas de Governança

Corporativa, afirma que os riscos a que a entidade está sujeita devem ser gerenciados a fim de

subsidiar a tomada de decisão pelos administradores. As ações relacionadas ao gerenciamento

de controles internos devem estar fundamentadas no uso de critérios éticos refletidos no

código de conduta da organização (IBGC, 2015).

Dessa forma, o gerenciamento de controles internos é responsável pela análise dos

procedimentos operacionais, com o intuito de detectar riscos inerentes a tais operações e de

33

implantar e acompanhar os controles internos da organização, contribuindo para o

cumprimento das leis e regulamentos pertinentes ao ambiente em que a companhia opera.

Auditoria interna

A pesquisa da ACFE (2016) indica que 22,5% dos casos foram detectados por meio da

Auditoria Interna. A pesquisa da PWC (2016) apontou que 4% dos casos foram detectados

mediante os trabalhos da Auditoria Interna.

O Institute of Internal Auditors – IIA conceitua auditoria interna como uma atividade

independente e objetiva de avaliação e consultoria, designada a agregar valor e a melhorar as

operações de uma empresa, que ajuda no alcance dos objetivos ao trazer uma abordagem

sistemática e disciplina para a avaliação e melhoria da efetividade dos processos de gestão de

riscos, controle e governança (IIA, 2016a).

Além do IIA, diversos autores apresentaram suas definições sobre auditoria interna.

Diferentes procedimentos compõem a atividade de auditoria interna (LÉLIS; MARIO, 2009).

Como o auditor externo passava pouco tempo na empresa e seu trabalho estava

voltado para o exame das demonstrações contábeis, para atender à Administração da empresa,

era necessária uma auditoria mais constante e com mais profundidade, objetivando outras

áreas além da contabilidade. Assim, o auditor interno surgiu para preencher esta lacuna

(ALMEIDA, 2010).

Para Imoniana (2001), a auditoria interna possui a incumbência de auxiliar a alta

administração no atingimento de seus objetivos, avaliando se as tarefas são executadas de

forma eficaz e eficiente, revisando a adequacidade da implantação dos procedimentos de

controles internos e comprovando sua efetividade.

Pereira e Nascimento (2005) definem auditoria interna como uma especialização

contábil direcionada à garantia da qualidade, transparência e segurança dos controles internos

implementados com o objetivo de proteger o patrimônio da empresa.

Estas definições sempre voltadas ao papel de protetor do patrimônio da organização

não estão mais alinhadas ao papel atual do auditor interno. Devido às mudanças nos

ambientes de negócios caracterizados cada vez mais pela velocidade das informações e

tecnologias em constante evolução, o papel do auditor interno também evoluiu. Além de seu

envolvimento contábil e em controles internos, também passou a ter a função de consultor

interno dentro da organização.

34

Deste modo, auditoria interna pode ser conceituada como a atividade responsável pela

averiguação dos controles internos relativos às operações da companhia, objetivando a

mitigação e a coibição de erros e/ou atos de corrupção. Recentemente, passou a acumular a

função de auxiliar a Administração, atuando como consultor, na melhoria dos processos

internos da organização.

Auditoria externa

De acordo com a pesquisa ACFE (2016), 2,7% dos casos de fraude foram detectados

pelos trabalhos da auditoria externa.

A auditoria independente ou auditoria externa originou-se como parte da evolução do

sistema capitalista. Com a expansão do mercado e o aumento da competitividade, as empresas

tiveram que ampliar seus negócios, investir em tecnologia e melhorar controles e processos

internos. Para realizar todos estes investimentos, as empresas tinham que captar recursos junto

a terceiros, mediante empréstimos bancários, emissão de títulos de dívida ou abertura de

capital. Entretanto, estes investidores necessitavam conhecer a capacidade financeira da

empresa em que iriam investir e, para isso, precisavam avaliar suas demonstrações contábeis.

Por medida de segurança, os investidores passaram a exigir que um profissional independente

da empresa e de renomada competência técnica avaliasse tais demonstrações contábeis. A este

profissional, que examina as demonstrações contábeis da empresa e opina sobre estas, dá-se o

nome de auditor independente ou auditor externo (ALMEIDA, 2010).

Segundo Attie (2009), a evolução da auditoria no Brasil está relacionada com a vinda

de empresas multinacionais ao país. Os investimentos destas companhias tinham que ser

auditados, assim as empresas internacionais de auditoria independente também se instalaram

no país.

A auditoria externa objetiva emitir opinião, com base na avaliação se as

demonstrações contábeis refletem a realidade econômica e se estão em conformidade com as

normas de contabilidade geralmente aceitas pelo país em que as atividades da companhia são

conduzidas (BOYNTON; JONHSON; KELL, 2002).

Imoniana (2001) entende que o principal foco do auditor independente é a emissão de

parecer sobre a adequacidade da representação da posição financeira, do resultado das

operações e das alterações na posição financeira, de acordo com os princípios contábeis

geralmente aceitos, de uma demonstração financeira.

35

As mudanças recentes no ambiente de negócios impactaram a atuação dos auditores

externos. No passado, o foco na credibilidade dos números contábeis era a principal

preocupação. Hoje em dia, foi criada a expectativa de que o papel do auditor externo seja

desenvolvido com alta competência técnica, conduta ética e total independência no exame dos

números, do processo operacional, dos controles internos e do ambiente em que a companhia

atua (SILVA, 2007; CARVALHO; PINHO, 2004).

De acordo com Attie (2000), Boynton, Johnson e Kell (2002) e Franco e Marra (2001,

p. 37), a auditoria está ancorada na necessidade de validação por parte dos usuários com

relação à veracidade da realidade econômica demonstrada nas informações das companhias.

A função do auditor é bastante relevante para a sociedade, dada sua atuação na defesa

dos interesses coletivos, como defensor da justiça e equidade, e na validação de prestações de

contas (FRANCO; MARRA, 2001).

Estes conceitos da atuação do auditor externo estão voltados para o bem coletivo e não

para a conveniência dos interesses privados; neste sentido, transparência, confiança e

credibilidade são essenciais na atuação da auditoria externa.

O trabalho da auditoria externa não possui, como foco principal, a detecção de fraudes,

porém é dever do auditor externo garantir que a administração possua medidas antifraudes e,

caso estas não sejam suficientes, mencionar tal fato em carta-comentário. Também é seu

dever avaliar os riscos de probabilidade de fraudes, durante os trabalhos de planejamento da

auditoria e de revisão dos controles internos (PICKETT, 2000).

Contudo, conforme Santos e Grateron (2003) e Marion, Almeida e Valverde (2002), as

fraudes contábeis dos últimos anos contribuíram para o aparecimento de críticas com relação

ao papel do auditor diante de sua ocorrência, colocando em dúvida a qualidade das auditorias

realizadas nas empresas cujas fraudes ocorreram.

Uma explicação bastante usada para as críticas ao papel do auditor externo, diante dos

escândalos corporativos dos últimos tempos, é a existência de uma frustação nas expectativas

da sociedade com relação ao desempenho da auditoria externa em casos de fraudes

(HASSINK; MEUWISSEN; BOLLEN, 2010).

Santos e Grateron (2003) também mencionam as diferenças entre as expectativas dos

usuários e a delimitação da responsabilidade do auditor com relação às fraudes, como

decorrentes da falta de clareza nas normas de auditoria.

A NBC TA 200 - Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da

Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria (2009) orienta o auditor a atentar

36

quanto à probabilidade de fraudes no ambiente de negócios de seus clientes, exigindo que ele

obtenha segurança razoável de que as demonstrações financeiras estejam livres de distorção

relevante, independentemente se originadas por fraude ou erro. Também exige que exerça

julgamento no planejamento e na execução da auditoria, identificando e avaliando riscos

relevantes de distorção, independentemente se causados por fraude ou erro, com base na

compreensão da empresa e de seu ambiente, incluindo os controles internos.

Já a NBC TA 240 - Responsabilidade do Auditor em Relação a Fraude, no Contexto

da Auditoria de Demonstrações Contábeis (2009) estabelece que o auditor é responsável por

obter segurança razoável de que as demonstrações financeiras não contenham distorções

relevantes originadas por fraude ou erro.

Para o PCAOB (2010), o auditor deve desenhar e realizar os procedimentos de

auditoria de uma maneira que enderece os riscos de distorções materiais avaliados por fraude

ou erro para cada afirmação relevante de cada contabilização e divulgação significativa.

Mesmo com todas estas orientações acerca da consideração dos atos fraudulentos nos

trabalhos de auditoria, sempre existe o risco de que algumas fraudes nas demonstrações

contábeis não sejam detectadas.

A existência de um gap entre o desempenho do auditor e estas normas deve-se à falta

de conhecimento ou de competência em como agir quando uma fraude é detectada, pela

ausência de cuidado em seguir os protocolos ou pela falta de independência do auditor

externo, possivelmente em virtude de conflito de interesses (HASSINK; MEUWISSEN;

BOLLE, 2010).

De acordo com Wells (2004), o profissional de auditoria pode utilizar as habilidades

únicas de especialistas antifraudes durante a própria auditoria para auxiliar na identificação

das áreas de riscos ao invés de usá-lo somente quando a fraude é descoberta. A simples

presença destes especialistas durante a auditoria pode ter um impacto significativo no

aumento da percepção que atividades ilegais serão detectadas.

Dessa maneira, embora o papel principal da auditoria externa não seja combater os

atos de corrupção em uma instituição, o auditor externo pode, sim, auxiliar na detecção e na

prevenção de fraudes, pela sua expertise.

2.4 Responsabilidade Social Corporativa ao Desenvolvimento Sustentável e à

Sustentabilidade

37

Neste tópico, procura-se mostrar o rácio para a adoção de uma abordagem

socioeconômica. Inicialmente, cita-se Borger (2013), ao lembrar que “[...] o conceito teórico

de responsabilidade social originou-se na década de 1950, quando a literatura formal sobre

responsabilidade social corporativa aparece nos Estados Unidos e na Europa”. A preocupação

dos pesquisadores daquela época era com a excessiva autonomia dos negócios e o poder

destes na sociedade, sem a devida responsabilidade pelas consequências negativas de suas

atividades, como a degradação ambiental, a exploração do trabalho, o abuso econômico e a

concorrência desleal.

Reconhecendo a responsabilidade social das empresas, o pensamento crítico evoluiu

naturalmente para a ideia de desenvolvimento sustentável, bem caracterizado em 1987 pela

Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no documento intitulado

Nosso Futuro Comum: “Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as

necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas

próprias necessidades” (UNITED NATIONS, 1987). De uma forma geral, esta conceituação

procura dar um foco e uma linha de ação para as empresas, sem colocar um freio em sua

atividade econômica.

Etimologicamente, a palavra sustentável tem origem no latim sustentare, que significa

sustentar, apoiar e conservar.

Por um lado, Robertson (2014) define sustentabilidade como os sistemas e processos

que permitem à empresa operar e persistir por longos períodos na execução de sua própria

finalidade, ou seja, continuar a atingir seus objetivos. Ainda, segundo Robertson (2014), a

palavra sustenability apareceu, inicialmente, em inglês e foi tipicamente usada em conexão

com os sistemas que geram a vida na terra. Daí o termo sustentabilidade estar intimamente

ligado aos sistemas. O que é uma empresa, senão um conjunto de sistemas funcionando de

forma organizada, para atingir objetivos comuns?

Por outro lado, Bossel (1999) abordou o tema de forma a surpreender: “Há somente

uma alternativa para sustentabilidade: insustentabilidade (unsustainability)”. Lembra, então,

que sustentabilidade tem uma dimensão temporal e que insustentabilidade, implica em uma

imediata ameaça existencial (insustentabilidade ambiental, insustentabilidade como resultado

da degradação antrópica, insustentabilidade como resultante de um desequilíbrio catastrófico

em processo de evolução e insustentabilidade como um bloqueio do mecanismo de

aprendizagem).

38

Elkington (1994, 2004) ampliou a definição de desenvolvimento sustentável,

introduzindo o princípio do Triple Bottom Line – TBL, que estabelece os três pilares que

compõem sustentabilidade: econômico, social e ambiental.

39

Figura 2: Triple Bottom Line

Fonte: baseado em Elkington (1994, 2004).

A figura 2 apresenta o conceito do TBL criado por Elkington (1994, 2004). A ideia

por trás do TBL é que não se pode ter sustentabilidade sem resolver os problemas básicos de

desigualdade social, consumo excessivo de recursos ambientais e a submissão de resultados

econômicos aos interesses socais e ambientais (PERERA et al., 2011).

Aqui, chega-se ao ponto: o que aconteceria à Petrobras sem a intervenção decorrente

da operação Lava Jato? Presume-se que a empresa correria um sério risco de descontinuar,

tornando-se insolvente em decorrência da corrupção endêmica e falência de seus principais

sistemas, representados pelas diretorias e gerências envolvidas no esquema de corrupção,

além de um sistema ineficaz de controles internos e externos.

Sustentabilidade corporativa pode ser definida como a forma como a empresa

considera atingir o desenvolvimento sustentável corporativo. Este tema foi discutido de forma

ampla por diversos autores, ao longo do tempo. Pode-se citar Carroll (1979), Elkington (1994,

1997), Shrivastava e Hart (1995), Aragón-Correa (1998), Klassen e Whybark (1999),

Bowman e Ambrosini (2000) e Bansal (2005).

Bansal (2005) procurou resumir o pensamento destes autores, retomando o tripé da

sustentabilidade. A autora entende que a sustentabilidade corporativa é atingida pela: (i)

Gestão Ambiental, que pode ser corretiva (ou end of pipe), preventiva (focada na melhoria

dos processos produtivos) e análise do ciclo de vida do produto; (ii) Responsabilidade Social

Corporativa, que agrega: gestão com as partes interessadas na organização (stakeholders),

gestão com a comunidade e análise ambiental; e (iii) Crescimento Econômico, que é

40

representado pelos interesses da empresa na redução de custos, pelo aumento de

produtividade e pela geração de produtos de valor.

O desempenho da sustentabilidade empresarial é uma medida resultante da forma

como a empresa abraça os fatores econômicos, sociais, ambientais e de governança em suas

operações e, finalmente, o impacto que exerce sobre a empresa e a sociedade (ARTIACH et

al., 2010). Assim, para entender se as organizações têm atendido a estas expectativas e às

expectativas da sociedade, do governo e dos acionistas são necessários indicadores que

mostrem o resultado de suas ações.

2.4.1 Evidenciação de sustentabilidade

Cada vez mais as corporações têm se preocupado com a articulação entre sociedade,

economia e meio ambiente e, diante das consequências sociais e ambientais de suas

atividades, precisam conquistar legitimidade social pelas ações responsáveis que as

justifiquem na captação de recursos, a fim de sobreviverem de forma estruturada às pressões

institucionais (FERNANDEZ-ALLES; VALLE CABRERA, 2006). Para Delai e Takahashi

(2011), como consequência desta pressão, as organizações tem buscado reportar seu

desempenho sustentável, porém, a mensuração de sustentabilidade ainda se depara com

diversos desafios.

Os relatórios ambientais ou relatórios de sustentabilidade (termo mais utilizado

atualmente) são decorrentes de compromissos assumidos voluntariamente e comunicam as

condições e o desempenho ambiental da companhia em demandas legais explícitas

(BARBIERI, 2012).

Conforme Campos et al. (2013), a preparação de relatórios de sustentabilidade que

mensuram e divulgam os impactos socioambientais causados pelas atividades das

organizações tem sido uma prática introduzida por companhias de diversos países,

especialmente na Europa, na América do Norte e no Japão, entretanto, vem tornando-se mais

relevante nos mercados emergentes. Destacam que um número crescente de empresas tem

enxergado as vantagens da divulgação deste tipo de relatório, que proporciona maior

transparência e integridade sobre seus desempenhos sustentáveis, tornando-o uma

significativa força propulsora para o desenvolvimento de um relacionamento melhor entre

sociedade e meio ambiente.

41

No Brasil, organizações não governamentais como o Instituto Ethos e o Instituto

Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) estabelecem padrões para orientar as

empresas como evidenciar informações relativas à sustentabilidade. O Ibase vem contribuindo

com as práticas de evidenciação de sustentabilidade por meio das diretrizes para divulgação

de informações ambientais e sociais sob a estrutura de um modelo de balanço social.

Globalmente, o The World Business Council for Sustainable Development – WBCSD,

a Global Reporting Initiative – GRI e a Organisation for Economic Co-operation and

Development – OECD são os principais direcionadores de metodologias para avaliação do

desempenho sustentável das empresas (SINGH et al., 2012).

Este trabalho teve como foco as diretrizes da GRI para a elaboração e divulgação do

relatório de sustentabilidade, dado que a Petrobras, empresa objeto do estudo, utiliza-se destas

diretrizes para preparar e divulgar suas informações econômicas, sociais e ambientais.

2.4.2 Relatório de sustentabilidade GRI

A Global Reporting Initiative – GRI, como instituição, é uma organização

internacional independente que auxilia empresas, governos e outras organizações a

entenderem e comunicarem o impacto dos negócios em questões críticas de sustentabilidade

como mudança climática, direitos humanos, corrupção e muitas outras. Seu programa conta

com mais de 600 organizações que patrocinam sua missão e contribuem com sua expertise. A

GRI possui parcerias estratégicas com a Organisation for Economic Co-operation and

Development, o United Nations Environment Programme e o United Nations Global

Compact. Sua estrutura compartilha sinergias com a orientação da International Finance

Corporation, da International Organization for Standardization’s ISO 26000, da United

Nations Conference on Trade and Development e da Earth Charter Initiative (GRI, 2016a).

A GRI foi fundada em Boston, EUA, em 1997, e tem origem nas organizações sem

fins lucrativos Coalition for Environmentally Responsible Economies – CERES e Tellus

Institut, o United Nations Environment Programme – UNEP também se envolveu no

estabelecimento da GRI e é a pioneira em relatórios de sustentabilidade (GRI, 2016a).

Atualmente, seu secretariado está localizado em Amsterdã, na Holanda, possuindo

centros regionais na África, China, América do Norte, Oceania, América Latina e Sul e

Sudeste da Ásia (GRI, 2016a).

42

A GRI é considerada como um dos mais consistentes esforços para consolidar as

diversas iniciativas existentes para se chegar a um consenso sobre a avaliação de

sustentabilidade empresarial (ALMEIDA, 2002; OLIVEIRA et al., 2009; BASSETTO, 2010).

Para Brown, Jong e Levy (2009), o relatório GRI é a estrutura mais conhecida

mundialmente para reporte voluntário de desempenho socioambiental de empresas e outras

organizações. Ainda, de acordo com os autores, seu modelo baseou-se no sistema de reporte

financeiro norte-americano, expandindo em alcance (global), escopo (indicadores de

desempenho social, econômico e ambiental), flexibilidade (indicadores descritivos e

quantitativos) e stakeholders (indústria, setor financeiro, contadores, sociedade civil,

organizações não governamentais, sindicatos, entre outros).

No ano de 1999, foi lançada a primeira versão das diretrizes para relatórios de

sustentabilidade (G1) da GRI, um guia de apresentação dos principais indicadores de

desempenho de uma organização nas esferas econômica, social e ambiental. A publicação da

segunda versão (G2) se deu em 2002 e, em 2006, sua terceira versão (G3) foi lançada,

contendo mais de 100 indicadores a serem apresentados pelas companhias em seus relatórios.

Foi lançada uma revisão da terceira versão (G3.1) no início de 2011, que incluiu indicadores

de performance relativos aos impactos aos direitos humanos, à comunidade local e de gênero

(OLIVEIRA et al., 2014). A quarta e mais recente versão das diretrizes para relatórios de

sustentabilidade (G4) foi lançada em maio de 2013 pela GRI (2016a).

Segundo Basseto (2010), a estrutura do relatório GRI centra-se na comparabilidade,

ligada à meta de desenvolver uma estrutura paralela aos relatórios financeiros, e flexibilidade,

que considera as diferenças legítimas entre organizações e entre setores da economia, atuando

de modo flexível o suficiente para acomodar estas diferenças .

As diretrizes do relatório GRI (2016b) para elaboração do relatório de sustentabilidade

estão divididas em duas partes:

Parte 1 – Princípios de reporte e padrões de divulgação: contém os princípios

de reporte, os padrões de divulgação e os critérios a serem aplicados por uma

organização para preparar seus relatórios de sustentabilidade de acordo com as

diretrizes; e

Parte 2 – Manual de Implantação: contém explicações de como aplicar os

princípios de reporte, como preparar a informação a ser divulgada e como

interpretar os diversos conceitos.

43

Estrutura do relatório de sustentabilidade GRI

As empresas que optarem podem preparar seus relatórios de sustentabilidade, de

acordo com as diretrizes da GRI, e devem escolher dentre as seguintes duas opções:

Essencial: contém os elementos essenciais de um relatório de sustentabilidade, oferece

o pano de fundo contra o qual a organização relata os impactos do seu desempenho

econômico, ambiental, social e de governança; ou

Abrangente: parte da opção Essencial, exigindo a divulgação de informações

adicionais sobre a estratégia, análise, governança, ética e integridade da organização.

Além disso, optando por esta modalidade, a organização deve comunicar seu

desempenho de forma mais ampla, relatando todos os indicadores referentes aos

Aspectos materiais identificados (GRI, 2016b).

As empresas também devem comunicar a GRI (2016b) sobre a elaboração de um

relatório de sustentabilidade de acordo com suas diretrizes, indicando se o relatório:

estiver “de acordo” com as Diretrizes – opção Essencial ou Abrangente;

apresentar conteúdos extraídos das Diretrizes, mas não satisfizer todos os requisitos de

qualquer uma das opções.

As entidades devem obedecer aos 10 (dez) princípios de reporte contidos na Parte 1 do

relatório:

inclusão de stakeholders: a organização deve identificar seus stakeholders e explicar

as medidas que adotou para responder às expectativas e aos interesses destas partes;

contexto da sustentabilidade: a empresa deve descrever o desempenho da organização

no contexto mais amplo da sustentabilidade;

materialidade: a instituição deve abordar aspectos que reflitam os impactos

econômicos, ambientais e sociais significativos da organização ou que possam

influenciar, substantivamente, as avaliações e as decisões de stakeholders;

completude: a cobertura de aspectos materiais e de seus limites deve ser

suficientemente ampla para refletir impactos econômicos, ambientais e sociais

44

significativos e permitir que stakeholders avaliem o desempenho no período

analisado;

equilíbrio: a organização deve refletir sobre aspectos positivos e negativos do

desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação equilibrada do seu

desempenho geral;

comparabilidade: a instituição deve selecionar, compilar e relatar as informações de

forma consistente;

exatidão: as informações devem ser suficientemente precisas e detalhadas para que os

stakeholders possam avaliar o desempenho da organização;

tempestividade: a organização deve publicar o relatório regularmente e disponibilizar

as informações a tempo para que os stakeholders tomem decisões;

clareza: a empresa deve disponibilizar as informações de forma compreensível e

acessível aos stakeholders;

confiabilidade: a instituição deve coletar, registrar, compilar, analisar e divulgar as

informações e processos usados na elaboração do relatório de uma forma que permita

sua revisão e estabeleça a qualidade e a materialidade das informações.

Em relação aos padrões de divulgação também contidos na Parte 1 do relatório, pode-

se resumi-los como Conteúdo de padrões da seguinte maneira:

gerais

Aplicam-se a todas as organizações que elaboram relatórios de sustentabilidade.

Dividem-se em sete partes: Estratégia e Análise, Perfil Organizacional, Aspectos

Materiais Identificados e Limites, Engajamento de Stakeholders, Perfil do Relatório,

Governança e Ética e Integridade;

específicos

São organizados em três Categorias - Econômica, Ambiental e Social. A Categoria

Social divide-se em quatro subcategorias, a saber: Práticas Trabalhistas e Trabalho

Decente, Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto.

Vale destacar a seção Sociedade da Categoria Social que requer no item Combate à

Corrupção, que as empresas prestem as seguintes informações:

45

G4-SO3 - número total e percentual de operações submetidas a avaliações de riscos

relacionados à corrupção e os riscos significativos identificados: ao longo de 2015,

avaliaram 21 macroprocessos, que se desdobraram em 58 processos, refletindo 3.378

controles auto-avaliados pelos seus gestores;

G4-SO4 - comunicação e treinamento em políticas e procedimentos de combate à

corrupção, reportando o nível de alcance da comunicação e do treinamento sobre todos

da companhia: foram capacitados no tema “prevenção à fraude e corrupção” 3.254

empregados, incluindo 29 gerentes executivos e 8 presidentes e diretores de suas

subsidiárias. Com a criação da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, o

número de empregados treinados, em 2015, equivale a 2,5 vezes o número de 2014;

G4-SO5 - incidentes de corrupção confirmados e as ações tomadas, reportando a

quantidade e a natureza dos casos: 20 rescisões de contrato, 84 suspensões e 137

advertências por escrito. Os casos se referem a desvios de conduta como negligência,

descumprimento de normas da companhia, fraude, desrespeito e uso indevido de

recursos da companhia, entre outros (PETROBRAS, 2016g).

2.5 Petrobras e a formulação de hipóteses

Os participantes do mercado de capitais não conseguiram perceber a tempo os

problemas da Petrobras, assim como das demais empresas envolvidas no escândalo de

corrupção. Healy e Palepu (2003), em estudo sobre o escândalo financeiro, envolvendo a

empresa norte-americana Enron, também discutem esta questão, abordando como o mercado

de capitais não foi capaz de perceber os problemas que aquela companhia enfrentava no final

dos anos 1990 e início dos anos 2000. Naquele trabalho, os autores discutiram o papel de

diversos componentes da Governança Corporativa da empresa e de componentes do mercado

de capitais norte-americano que falharam e propuseram respostas a estas deficiências.

Este trabalho propôs discutir os antecedentes, os fatores responsáveis, as

consequências e possíveis medidas corretivas que evitem a repetição dos fatos que

desencadearam no maior escândalo de corrupção o país.

Mas, antes, foi apresentada a empresa. Discorreu-se brevemente sobre a Operação

Lava Jato e conectou-se a companhia e os casos de corrupção com a teoria da agência.

Assim, de acordo com o site da empresa, a Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A.) é:

46

Sociedade anônima de capital aberto, cujo acionista majoritário é a União Federal

(representada pela Secretaria do Tesouro Nacional), atuamos como uma empresa

integrada de energia nos seguintes setores: exploração e produção, refino,

comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural,

energia elétrica, gás-química e biocombustíveis.

A empresa foi fundada no dia 3 de outubro de 1953, pelo, então, Presidente da

República, Getúlio Vargas, com o objetivo de executar as atividades do setor petrolífero no

Brasil, em nome da União. A criação da Petrobras é o resultado da campanha popular que

começou em 1946, com o slogan “O Petróleo é nosso” (PETROBRAS, 2016a).

Sua instalação somente foi concluída em 1954. Em 10 de maio deste ano, a Petrobras

iniciou sua operação, produzindo 2.663 barris, equivalente a 1,7% do consumo nacional da

época. Ao longo de sua trajetória, foi desenvolvendo novos produtos, com o progresso e a

aplicação de novas tecnologias. Em 1961, construiu sua primeira refinaria, alcançando a

autossuficiência na produção dos principais derivados no mesmo ano. Também em 1961, a

empresa iniciou a busca de petróleo no mar e instalou o primeiro posto de abastecimento em

Brasília. Em 1984, a empresa descobre o primeiro poço de águas profundas. Dois anos depois,

dado não existir tecnologia disponível no mercado, a empresa iniciou o desenvolvimento de

tecnologia para extração de petróleo a grandes profundidades (PETROBRAS, 2016a).

Em 1997, quebrou-se o monopólio estatal do petróleo e a empresa se tornou uma das

maiores companhias de petróleo do mundo. Após 50 anos de existência, a produção de

petróleo da Petrobras no Brasil e no mundo superou a marca de dois milhões de barris. Em

2006, a empresa conseguiu a autossuficiência sustentável no Brasil na produção de petróleo e

gás, com produção média diária de 1,9 milhões de barris. Em 2007, foi anunciada a

descoberta de grande concentração de petróleo e gás na camada do pré-sal na Bacia de Santos.

E, no ano de 2009, iniciou-se a produção de petróleo neste local. (PETROBRAS, 2016a).

Ela é líder no setor de óleo e gás no Brasil e seus negócios abrangem pesquisa, lavra,

exploração e produção, refino, processamento, comercialização, distribuição e transporte de

petróleo (proveniente de poço, de xisto ou de outras rochas) e de seus derivados, de gás

natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, energia elétrica, biocombustíveis e outras fontes

renováveis, além de atividades relativas a algumas formas de energia e outras correlatas ou

afins (PETROBRAS, 2016a).

47

Além do Brasil, está presente com atividades na indústria de óleo e gás em outros 16

países: Angola, Argentina, Benim, Bolívia, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Gabão, Japão,

México, Namíbia, Nigéria, Paraguai, Tanzânia, Uruguai e Venezuela (PETROBRAS, 2016a).

As ações da Petrobras são negociadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de

São Paulo (BMF&Bovespa), na Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE), no Latibex da

Bolsa de Madri e na Bolsa de Comércio de Buenos Aires (PETROBRAS, 2016a).

O Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 prevê investimentos de US$ 74,1 bilhões,

sendo 82% deste valor para a área de Exploração e Produção de petróleo no Brasil, com

ênfase em águas profundas. Nas demais áreas de negócios, os investimentos destinam-se,

basicamente, à manutenção das operações e a projetos relacionados ao escoamento da

produção de petróleo e gás natural. (PETROBRAS, 2016a).

A composição acionária da Petrobras é demonstrada na figura 3 abaixo.

Figura 3 – Posição acionária em 31 de dezembro de 2015

1

1

2

1

2

2

2

3

3

3

4

4

4

5

5

5

5

6

6

6

6

7

7

7

7

48

Fonte: adaptado pelo autor com base no Relatório da Administração, p. 6 (PETROBRAS,

2016b).

2.5.1 Operação Lava Jato

O MPF criou um site específico sobre o caso Lava Jato1. Conforme MPF:

A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro

que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da

Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma-se a isso a

expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção

que envolve a companhia.

No primeiro momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014,

perante a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro

organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado

paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um

imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras.

Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em

cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O

valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários

superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do

esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa (MPF, 2016).

Este esquema envolveu diversas empreiteiras que se organizaram em um cartel para

substituir concorrência real em contratos de licitação com a Petrobras por uma concorrência

aparente, em que os preços oferecidos à estatal eram calculados e ajustados em reuniões

secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o preço, inflado em

benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal. Dentre as empreiteiras envolvidas,

destacam-se Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Mendes Junior (MPF, 2016).

Também havia a participação de funcionários da Petrobras no esquema. Eles eram

cooptados pelo cartel de empreiteiras em troca de propina. Tais funcionários se omitiam em

relação ao cartel e os favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as

participantes do esquema (MPF, 2016).

Outros que estavam envolvidos eram os chamados operadores financeiros ou

intermediários, responsáveis pela intermediação do pagamento de propina e, especialmente,

por entregar os montantes disfarçados de dinheiro limpo aos beneficiários (MPF, 2016).

Além destes, agentes políticos estão envolvidos. São pessoas que integram ou estão

relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras,

1 lavajato.mpf.mp.br

49

com o intuito de praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de

dinheiro (MPF, 2016).

Esse envolvimento entre políticos e funcionários revelou-se mais evidente em relação

às seguintes diretorias da estatal: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre

2004 e 2012, de indicação do Partido Progressista - PP, com posterior apoio do Partido do

Movimento Democrático Brasileiro - PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre

2003 e 2012, de indicação do Partido dos Trabalhadores - PT; e Internacional, ocupada por

Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB (MPF, 2016).

Com relação aos operadores envolvidos, destacam-se Alberto Youssef, Fernando

Baiano e João Vacari Neto, que atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros,

em nome de integrantes do PMDB e do PT (MPF, 2016).

Figura 4: Representação gráfica do esquema

Fonte: Caso Lava Jato (MPF, 2016 – ANEXO A).

Conforme MPF (2016), os resultados da operação Lava Jato até o momento são:

50

1.397 procedimentos instaurados;

654 buscas e apreensões;

174 conduções coercitivas;

76 prisões preventivas;

92 prisões temporárias;

6 prisões em flagrante;

112 pedidos de cooperação internacional;

70 acordos de colaboração premiada;

6 acordos de leniência e 1 termo de ajustamento de conduta;

48 acusações criminais contra 233 pessoas por corrupção, crimes contra o sistema

financeiro internacional, tráfico transnacional de drogas, formação de organização

criminosa e lavagem de ativos;

7 acusações de improbidade administrativa contra 38 pessoas físicas e 16 empresas;

R$ 38,1 bilhões é o valor total de ressarcimento pedido;

R$ 3,6 bilhões referentes à propina são alvo de recuperação por acordos de

colaboração;

116 condenações, contabilizando 1.148 anos de pena.

É importante destacar que este trabalho não está focado nos fatos da Operação Lava

Jato, pois esta ainda está em andamento e pode ser acompanhada em site próprio

(lavajato.mpf.mp.br), mas, sim, nas consequências da investigação, isto é, nas mudanças

econômicas na empresa, fruto dos fatos constatados, especificamente nos aspetos

socioambientais e repercussão para os investidores.

2.5.2 Petrobras e a Teoria da agência

A principal preocupação quando se aplica a teoria da agência ao setor público é

considerar a identidade do principal e do agente (PILCHER, 2014).

O maior acionista da Petrobras é o Governo Federal e, em virtude disso, sofre bastante

influência política em sua gestão (MOURA et al., 2014). Tais influências podem levar a

companhia a tomar decisões com foco nos interesses de seu acionista-controlador (o Governo

51

Federal) em detrimento dos interesses dos demais investidores (acionistas minoritários): típico

problema decorrente da relação de agência.

Nos últimos anos, tomadas de decisões da empresa, cujas motivações visaram a

objetivos políticos do Governo, aliadas aos escândalos de corrupção investigados no âmbito

da Operação Lava Jato, têm causado graves questões entre a companhia e seus acionistas não

controladores. Estas provocam destruição de valor da organização, impactando diretamente o

preço de suas ações nos mercados de capital.

Cabe destacar as ações coletivas impetradas contra a companhia perante a Corte

Federal para o Distrito Sul de Nova Iorque, nos Estados Unidos (United States District Court

for the Southern District of New York). Dentre os pleitos requeridos pelos autores, cita-se o

ressarcimento de perdas por parte dos adquirentes de valores mobiliários da Petrobrás

negociadas na Bolsa de Nova Iorque (Petrobras, 2016f).

Uma das premissas da Governança Corporativa é a que preza pela boa relação entre

empresa e acionistas. As interferências do governo na Petrobras alinhadas aos esquemas de

corrupção investigados no âmbito da Operação Lava Jato são contrárias a este princípio de

Governança Corporativa, já que afetam, de forma negativa, o valor dos dividendos pagos aos

acionistas. O prejuízo decorrente da insatisfação destes e também dos demais stakeholders

pode ser observado no valor das ações negociadas na bolsa de valores e no resultado

financeiro da empresa.

A figura 5 abaixo apresenta o valor das ações preferenciais (PN) da Petrobras de 2011

a 2016.

52

A figura 6 abaixo apresenta os resultados consolidados da Petrobras de 2011 a 2016.

Como se pode observar, tanto com relação ao preço de suas ações quanto por seus

resultados, a Petrobras vem tendo um desempenho ruim após a deflagração da Operação Lava

Jato, em comparação com os anos anteriores.

Fonte: elaborado pelo autor com base na cotação das ações obtida no site da

BMF&Bovespa em 21.03.2017

0

5

10

15

20

25

29.12.2011 28.12.2012 30.12.2013 30.12.2014 30.12.2015 29.12.2016

Figura 5: Preço das Ações PN da Petrobras - R$ Bilhões

Fonte: elaborado pelo autor com base nas Demonstrações Contábeis (Petrobras,

2016c).

33 21 24

-22

-35

-15

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016

Figura 6: Resultado da Petrobras - R$ Bilhões

53

A influência que a Petrobras sofre do governo brasileiro, seu acionista majoritário, e

os escândalos de corrupção a que vem sendo submetida nos últimos anos, tem sido

considerado como os motivos que fazem com que a empresa perca a legitimidade de suas

ações e decisões. Isso porque, ao utilizar de seu poder sobre a companhia para atingir

objetivos macroeconômicos, o governo desconsidera os interesses dos acionistas minoritários

e de outros stakeholders.

2.5.3 Petrobras e os Controles antifraudes

A Petrobras está estruturada organizacionalmente, conforme figura 7 abaixo.

54

Figura 7 – Estrutura Organizacional da Petrobras

Fonte: elaborado pelo autor com base no Organograma da Petrobras (PETROBRAS, 2016c).

Pode-se observar que a Petrobras possui uma estrutura organizacional de acordo com

as principais práticas de Governança Corporativa adotadas pelas grandes corporações. Porém,

como também é de conhecimento geral, esta governança não impediu que os casos de

corrupção aqui descritos deixassem de ocorrer.

Neste sentido, uma análise dos principais controles antifraude da empresa se faz

necessária, a fim de se tentar obter um entendimento de como tais ferramentas são utilizadas

pela companhia.

Canal de denúncias

Iniciando o entendimento pelo Canal de denúncias, de acordo com o site da empresa, o

Canal de denúncias é uma ferramenta independente, sigilosa e imparcial, sob responsabilidade

da Ouvidoria Geral da empresa, que está disponível para os públicos externo e interno.

A Ouvidoria da Petrobras foi criada em 2002, porém ainda não era um órgão formal da

companhia, mas já cumpria sua função de canal direto de comunicação entre os públicos de

interesse e a Alta Administração (PETROBRAS, 2016d).

Em 2005, a Ouvidoria Geral foi oficializada pelo Conselho de Administração e se

tornou o órgão titular do canal de denúncias da Petrobras, por exigência da Lei Sarbanes

Oxley (SOX). Suas atribuições foram definidas pelo Conselho de Administração como:

Assuntos

Corporativos

Governança, Riscos

e Conformidade

Estratégia,

Organização e

Sistema de Gestão

Financeira e de

Relacionamento

com Investidores

Refino e

Gás Natural

Exploração

e Produção

Desenvolvimento

da Produção &

Tecnologia

Comunicação e

Marcas

Jurídico

Inteligência e

Segurança

Corporativa

Conselho Fiscal

Conselho de

Administração

Ouvidoria Geral Auditoria Interna

Presidente

Estratégia e

Organização

55

planejar, orientar, coordenar e avaliar atividades que visam a acolher opiniões, sugestões,

críticas, reclamações e denúncias dos públicos de relacionamento da Companhia, promovendo

as apurações decorrentes e as providências a serem adotadas (PETROBRAS, 2016d).

O canal de denúncias foi disponibilizado, em caráter preliminar em agosto de 2005,

para recebimento de denúncias e informações sobre possíveis irregularidades ou

impropriedades nos registros e processos contábeis da Companhia, bem como em relação a

outras questões de natureza contábil-financeira e/ou de auditoria (PETROBRAS, 2016d).

Em 2012, a Ouvidoria foi definida como o órgão responsável pela aplicação da Lei de

Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), que tem por objetivo garantir ao cidadão acesso à

informação de caráter público (PETROBRAS, 2016d).

Em 2015, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a reestruturação da

Ouvidoria Geral, estabelecendo o mandato de três anos para o titular, que poderá ser

reconduzido uma única vez por igual período (PETROBRAS, 2016d).

Ainda em 2015, a empresa lançou seu novo canal de denúncia, que foi estruturado

para funcionar 24 horas por dia, com atendimento em português, inglês e espanhol. A

recepção das denúncias passou a ser responsabilidade de uma empresa independente

especializada. O novo canal faz parte do conjunto de medidas que a Petrobras adotou com o

objetivo de aprimorar e fortalecer sua governança (PETROBRAS, 2016d).

Gerenciamento de controles internos

Em 2004, a Petrobras lançou o Programa Integrado de Sistemas e Métodos de

Avaliação de Controles Internos (PRISMA), que ampliou as ações de Governança

Corporativa e atendimento à Lei SOX. Como desdobramento deste projeto, foi constituída a

Gerência Geral de Controles Internos, que passou a fazer parte da área financeira da empresa.

Esta Gerência tinha como principal função o planejamento e a operacionalização das ações de

melhoria e certificação de controles internos (SILVA et al., 2009).

Desde o ano de 2006, o Relatório Form 20F da Petrobrás, entregue a Securities

Exchange Commission – SEC (órgão regulador do mercado de capitais norte-americano), na

seção Controles e Procedimentos, inclui um relatório da Administração sobre os Controles

Internos das Informações Financeiras, este relatório assinado pelo Presidente e pelo Diretor

Financeiro da empresa atesta a conformidade do sistema de controles internos.

56

Os relatórios dos anos 2011, 2012 e 2013, anos anteriores à deflagração da Operação

Lava Jato, atestavam que os controles das informações financeiras eram eficientes.

Em novembro de 2014, o Conselho de Administração da companhia aprovou a criação

da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, com a missão de assegurar a

conformidade processual e mitigar riscos nas atividades da Companhia, dentre eles, os de

fraude e corrupção, garantindo a aderência a leis, normas, padrões e regulamentos

(PETROBRAS, 2016e).

Somente nos relatórios dos anos 2014 e 2015 é que o presidente e o diretor financeiro

da Petrobrás concluíram que os controles internos, devido suas fraquezas materiais, não eram

eficazes.

Em 2014, a administração identificou:

certas decisões tomadas durante o período de 2004 e abril de 2012 relacionadas

especificamente aos grandes projetos de investimento nos segmentos de negócios de

Exploração e Produção, Refino e Gás e Energia, que não estavam em conformidade

com os controles internos existentes no processo de contratação de serviços nestes

segmentos. Em alguns dos processos de contratação, um ou mais ex‐dirigentes, em

conjunto com terceiros (determinados fornecedores de serviços envolvidos nos

projetos de construção), atuaram no sentido de anular, infringir ou burlar os controles,

o que resultou na prática de atos indevidos e contrários aos interesses e políticas;

as seguintes deficiências dos controles internos relacionadas à falha em detectar estes

atos que, juntos, constituem uma fraqueza material no ambiente de controle:

(i) posicionamento ético inadequado na alta direção da empresa ("tone at the

top”) com relação aos controles internos;

(ii) falha na comunicação dos valores éticos previstos no Código de Conduta; e

(iii) falta de um programa eficaz de denúncia de irregularidades. Estas deficiências

contribuíram para a falha em evitar uma superavaliação dos ativos

imobilizados;

os controles internos em 31 de dezembro de 2014 não identificaram possíveis riscos

decorrentes da capacidade econômico‐ financeira de seus fornecedores, à luz dos

recentes adiamentos de projetos e por razão de garantias que ainda não foram

plenamente executadas, o que resultou na falha em identificar a necessidade de

registrar baixa contábil em pagamentos antecipados a fornecedores que não resultaram

57

em benefícios econômicos futuros. Os controles internos, naquela data, também não

identificaram a necessidade de reconhecer as despesas relacionadas com a rescisão

destes contratos;

deficiências relacionadas:

(i) ao monitoramento da necessidade de reclassificar determinados ativos

imobilizados, ainda registrados como em construção apesar de já terem sido

concluídos. Uma falha na reclassificação destes ativos poderia levar a uma

falta de reconhecimento em tempo hábil e, em sua totalidade, da depreciação

associada aos ativos;

(ii) à falha no reconhecimento de perdas decorrentes do teste de recuperabilidade

(impairment) de cinco projetos de Exploração e Produção que se encontravam

em fase inicial de planejamento e para os quais não estimaram fluxos de caixa

futuros. Estas deficiências resultaram em uma superavaliação dos ativos

imobilizados e uma subavaliação das despesas;

(iii) à falta de monitoramento, em tempo hábil, de possíveis mudanças nos

parâmetros de controle do ambiente de planejamento de recursos empresariais

("ERP"), utilizados para suportar os controles internos relacionados à revisão e

à aprovação de lançamentos contábeis manuais. Esta falha em monitorar, em

tempo hábil, as mudanças nos parâmetros de ERP poderia sujeitar a empresa

ao risco de não detecção da totalidade dos lançamentos contábeis manuais a

serem revisados ou confirmados;

(iv) no desenho do controle interno sobre a revisão e aprovação de lançamentos

contábeis manuais. Estas deficiências constituíram uma fraqueza material, mas

não resultaram em declarações inexatas ou irregularidades nas demonstrações

contábeis (PETROBRAS, 2016f);

(v) na operação de controles relacionados a procedimentos de concessão de acesso

e na análise da segregação de funções no nível de processos de negócio que,

quando avaliadas em conjunto, constituem uma fraqueza material. As

deficiências de controle identificadas foram relacionadas com a gestão, revisão

e monitoramento de acesso e apresentaram exceções, principalmente na

operação dos controles relacionada à aplicação de regras específicas referentes

à revisão de acesso;

58

(vi) à operação nos controles, porém esta deficiência não resultou em declarações

inexatas ou irregularidades nas demonstrações contábeis, quanto à gestão de

acesso a funções críticas de ERP e segregação de funções nos processos de

negócios no ambiente ERP.

No relatório de 2015, além das deficiências de controle reportadas acima, a

Petrobrás relatou uma deficiência:

relacionada com a revisão das mudanças de determinados agrupamentos de ativos de

exploração e produção, como Unidades Geradoras de Caixa (UGC) e sua

conformidade com o International Financial Reporting Standard - IFRS.

A administração avalia que não houve revisão suficiente:

se determinados agrupamentos propostos inicialmente estavam adequados com a

definição de uma UGC;

no agrupamento de ativos de exploração e produção, à luz das mudanças identificadas

em circunstâncias que afetaram a maneira como foram gerados os fluxos de caixa.

Consequentemente, foi necessário modificar certos grupos de ativos, identificados

como UGCs, desde 31 de dezembro de 2015.

Esta deficiência resultou:

em uma falha dos controles internos sobre relatórios financeiros para detectar uma

superavaliação dos ativos imobilizados e uma subavaliação das despesas em 2015.

Em 2015, a administração também identificou:

deficiências relacionadas aos controles de captura e registro dos processos judiciais

dos quais a Petrobrás é parte, nos sistemas de monitoramento interno;

deficiência relacionada à totalidade das contingências legais e à precisão da

classificação da possibilidade de perda das contingências como provável, possível e

remota. Em casos específicos, a operação do controle não garantiu precisamente a

possibilidade de perda de determinadas contingências como possíveis, prováveis ou

remotas. Esta deficiência resultou em uma falha dos controles internos sobre relatórios

59

financeiros em detectar uma subestimação dos passivos e uma superavaliação das

despesas em 2015.

Por fim, descobriram que havia deficiências:

no processo da geração de dados usado para calcular o passivo atuarial relativo ao

plano de saúde (AMS) e ao plano de pensão (Petros);

que se referem à totalidade dos participantes e à precisão de suas informações

individuais nas bases de dados utilizadas para o cálculo atuarial;

que resultaram em uma falha de controles internos sobre relatórios financeiros em

detectar uma superavaliação dos passivos e uma subavaliação dos resultados

abrangentes em 2015 (PETROBRAS, 2016f).

Em 1º de setembro de 2016 a Petrobras soltou um comunicado ao mercado,

informando a reorganização de sua área financeira, buscando integrar e fortalecer a ação

corporativa da companhia, visando à melhoria do desempenho, do controle e da

sustentabilidade do processo de crescimento. Dentre as motivações desta reestruturação, está

o aprimoramento do Sistema de Controles Internos (PETROBRAS, 2016e).

Auditoria interna

As informações sobre a estrutura da auditoria interna da Petrobras são escassas em seu

site. Mediante o organograma apresentado na figura 5, pode-se notar que a auditoria está

diretamente subordinada ao Conselho de Administração da empresa.

O Conselho deve reunir-se ao menos uma vez por ano, sem a presença do presidente

da Petrobras, para aprovação de um plano anual de atividades de Auditoria Interna e do

relatório anual das atividades de Auditoria Interna.

A Diretoria Executiva aprovou, em 2013, o Programa Petrobras de Prevenção da

Corrupção (PPPC), com o objetivo de reforçar a prevenção, a detecção e a correção de atos de

fraude e de corrupção, por meio da gestão integrada e do aperfeiçoamento de ações e

controles da estrutura de governança. Em articulação com as demais áreas, pela estrutura

organizacional da Petrobras, o PPPC é gerido pela Gerência Geral de Controladoria da

Auditoria Interna. A área é responsável por monitorar os riscos de conformidade relacionados

60

à fraude e à corrupção e apresentar, à alta administração, as ações realizadas no âmbito do

programa (PETROBRAS, 2016e).

Uma discussão importante refere-se à questão da interferência da administração no

trabalho da auditoria interna. Não é possível determinar até que ponto este fato ocorreu no

caso da Petrobras, porém vale ressaltar que os trabalhos da auditoria interna, até então, não

detectaram nenhuma questão relacionada a casos de corrupção. Assim, pode-se refletir a

respeito da ambiguidade resultante do fato da Auditora Interna ser órgão de Governança da

empresa e remunerada por esta, ou seja, até que ponto a independência necessária para se

investigar é comprometida pelo fato da Auditoria Interna ser paga pela própria empresa?

Pereira e Nascimento (2005) afirmam que a função da Auditoria Interna, um dos

controles antifraudes, não é detectar fraudes apenas, mas que esta função é uma de suas

determinações fundamentais.

De acordo com as Normas Internacionais para a Prática Profissional de Auditoria

Interna do IIA (2016b), a atividade de auditoria interna “deve ser independente e os auditores

internos devem ser objetivos na execução de seu trabalho”. O responsável pela auditoria deve

estar subordinado a um nível dentro da organização, que permita à atividade de auditoria

interna cumprir suas responsabilidades.

Auditoria externa

De acordo com Nelson, Price e Rountree (2008), os mecanismos de auditoria

aumentam a credibilidade das demonstrações financeiras e reduzem os custos de agência.

Dnes (2005) explica que a ameaça legal que os auditores enfrentam tem reduzido e

que os incentivos para que seja condescendente com práticas questionáveis tem crescido,

argumenta ainda que, embora a reputação seja valiosa, pode não ser suficiente, face aos

montantes recebidos em troca por tal condescendência ou face aos custos de punição.

O Comitê Estatutário de Auditoria da Petrobras é o responsável por acompanhar,

analisar e recomendar ao Conselho de Administração a contratação, assim como a eventual

destituição, dos auditores independentes (ou externos).

Desde 2012, a PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes – PWC é a empresa

responsável pela prestação de serviços de auditoria contábil (PETROBRAS, 2016e).

Anteriormente à PWC, a empresa KPMG Auditores Independentes – KPMG era a

responsável por tais serviços. A troca foi motivada pelo rodízio obrigatório imposto pela

61

Comissão de Valores Mobiliários – CVM, que determina que empresas não financeiras de

capital aberto devem trocar de auditor a cada cinco anos.

Em seu parecer, referente às demonstrações contábeis e controles internos da data-base

de 31 de dezembro de 2011, a KPMG concluiu que as demonstrações contábeis representam

adequadamente a posição financeira, os resultados e os fluxos de caixa da Petrobrás no

período. Assim, concluíram que os controles internos eram efetivos.

A PWC emitiu parecer com mesma conclusão da KPMG para o ano de 2011, em

relação às demonstrações contábeis e controles internos dos anos de 2012 e 2013.

Já, em relação às demonstrações contábeis de 2014, a PWC emitiu parecer concluindo

que as demonstrações contábeis representavam adequadamente a posição financeira, os

resultados e os fluxos de caixa da Petrobrás no período, porém que a Companhia não

manteve, em todos os aspectos relevantes, controles internos efetivos sobre os relatórios

financeiros em 31 de dezembro de 2014, apontando as deficiências relatadas no relatório da

administração da companhia sobre seus controles internos.

Cabe ressaltar que a divulgação das demonstrações contábeis de 2014 foi adiada em

virtude de a empresa necessitar tempo adicional para completar as divulgações anuais

relacionadas com os ajustes decorrentes das falhas de controle e para finalizar as divulgações

deste relatório anual a fim de descrever fraquezas materiais em seus controles internos sobre

os relatórios financeiros. O Form 20-F de 2014 foi entregue à SEC somente em 15 de maio de

2015, sendo que o prazo para entrega era 30 de abril de 2015.

Assim como o parecer de 2014, a PWC emitiu opinião de que as demonstrações

contábeis de 2015 da Petrobras representavam adequadamente sua posição financeira, seus

resultados e seus fluxos de caixa e, da mesma forma, emitiu opinião de que os controles

internos da companhia não apresentavam fraquezas materiais.

Assim como os demais controles antifraudes, a auditoria externa também não foi

capaz de detectar os esquemas de corrupção em que a Petrobras estava envolvida.

Nesta seção, discutiram-se os principais controles antifraudes da Petrobras, assim

como nos trabalhos de Healy e Palepu (2003) e Buchanam e Yang (2005), que analisaram os

principais mecanismos de governança corporativa da Enron e Parmalat, respectivamente. Os

autores afirmaram que a interferência da administração nos controles de governança foram os

principais responsáveis pelos escândalos financeiros que levaram à falência aquelas empresas.

Assim, formula-se a seguinte hipótese:

62

HA,1: Houve interferência da administração nos controles antifraudes da Petrobras.

Assim como em outros escândalos de fraudes, nota-se que os mecanismos de combate

à fraude e/ou corrupção não funcionaram como deveriam e, por isso, podem ser apontados

como os principais motivos/ facilitadores pela corrupção praticada na companhia.

Buchanan e Yang (2005) apontam que uma das causas para as falhas corporativas é a

má escolha feita pela Administração. Adicionalmente, afirmam que as falhas podem surgir da

governança pobre, e até mesmo de fraude. Os autores citam o caso da Parmalat como exemplo

de falta de uma governança forte e que acabou levando a companhia a decretar falência.

Na Petrobras, havia uma estrutura de Governança Corporativa, de acordo com as

principais práticas de mercado, porém tal estrutura não foi capaz de prevenir e impedir a

ocorrência de esquemas fraudulentos na organização. Assim, formula-se a hipótese:

HA,2: A falha dos controles antifraudes foram os principais fatores responsáveis pela

desvalorização dos ativos da Petrobras.

A principal consequência dos escândalos financeiros, envolvendo Enron, Worldcom e

Parmalat, foi a falência decretada por tais empresas (BUCHANAN; YANG, 2005; DNES,

2005; HEALY; PALEPU, 2003; NELSON; PRICE; ROUNTREE, 2008; UNERMAN;

O’DWYER, 2004).

No caso da Petrobras, não se percebe o mesmo desfecho, até porque as investigações

da Operação Lava Jato ainda não foram concluídas e fatos novos podem surgir.

Pedersen (2016) ressalta que, em países com instituições fracas, em que a

responsabilidade dos políticos é limitada e a gestão dos recursos financeiros das estatais sofre

pouco controle, os funcionários podem ser induzidos à prática da corrupção, desviando

recursos que deveriam ser investidos nas despesas de capital, no pagamento de dívidas ou no

aumento do retorno para os acionistas, fazendo com que o desempenho da empresa sofra com

estas alienações.

Assim, formulam-se as seguintes hipóteses:

HA,3: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram

consequências econômicas negativas à Petrobras.

63

HA,4: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram

consequências socioambientais negativas à Petrobras.

2.5.4 Petrobras e Sustentabilidade

Até o ano de 2008, a Petrobrás apresentava Balanço Social. O primeiro Balanço Social

publicado no País foi o de uma empresa do Sistema Petrobras, a Nitrofértil, em 1984. Em

1998, a Petrobras Holding divulgou seu primeiro Balanço Social. O Balanço Social e

Ambiental do ano de 2000 obteve a chancela do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicas (Ibase), cujo selo, a partir deste ano, credenciou sua publicação.

A metodologia de elaboração participativa do Balanço Social foi implementada em

2003, quando foi adotado um modelo integrado, a partir dos principais indicadores de

responsabilidade social corporativos nacionais e internacionais: Ibase, Ethos, Conselho

Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Dow Jones

Sustainability Index, e a GRI.

A partir do ano de 2009, a empresa passou a preparar e divulgar o relatório de

sustentabilidade, com base na versão G3 das diretrizes do relatório GRI.

O relatório de sustentabilidade de 2011 já foi elaborado seguindo a definição de

escopo e princípios da versão 3.1 das diretrizes do relatório GRI.

Já, para o ano de 2013, o relatório foi elaborado com base na versão G4 das diretrizes

do relatório GRI. O mais recente relatório de sustentabilidade divulgado pela companhia é o

relatório do ano de 2015, que utilizou a mesma versão das diretrizes do relatório GRI do ano

anterior.

Até o ano de 2013, o relatório de sustentabilidade da companhia não apresentava

nenhuma menção à Operação Lava Jato. Em diversas partes do relatório, é afirmado o

compromisso da empresa no combate à corrupção, mas sem especificar detalhadamente as

medidas que estão sendo tomadas e se, de fato, houve qualquer identificação de casos de

corrupção que tenham ocorrido no período.

No mais recente relatório de sustentabilidade, o do ano de 2015, a companhia

apresentou informações detalhadas sobre a Operação Lava Jato, incluindo os impactos

econômico-financeiros em seus resultados, bem como as ações que estão sendo tomadas para

64

auxiliar nas investigações, impor sanções aos funcionários envolvidos e prevenir e combater a

corrupção na empresa.

As principais informações contidas no relatório de sustentabilidade de 2015, referentes

à Operação Lava Jato, são resumidas a seguir:

impactos nos resultados econômico-financeiros: baixa de gastos adicionais

capitalizados indevidamente no âmbito da Operação Lava Jato foi de R$ 6,2 bilhões;

ações tomadas para auxiliar nas investigações: pronto atendimento a centenas de

pedidos de documentos e informações feitos pelos investigadores da Polícia Federal,

Ministério Público Federal, Poder Judiciário, Tribunal de Contas da União (TCU) e

Controladoria Geral da União (CGU), assim como com a cooperação internacional

com a SEC;

sanções aos funcionários envolvidos: além da demissão dos diretores envolvidos no

esquema, como o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, Renato de Souza

Duque (ex-diretor de Serviços), Nestor Cerveró (ex-diretor da Área Internacional) e

Pedro José Barusco Filho (ex-gerente executivo de Engenharia). Foram constituídas

comissões para analisar a aplicação de sanções;

prevenção e combate à corrupção: implantação da área de Governança, Risco e

Conformidade, que busca assegurar a conformidade processual e mitigar riscos nas

atividades da Petrobras. A governança e o modelo de gestão da companhia estão sendo

revisados, pois estão investindo na sinergia entre as diretorias e em maior agilidade

para os processos.

65

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, desenvolveu-se uma explanação acerca do tipo de pesquisa realizada

com relação aos objetivos, aos procedimentos e à abordagem do problema, como os dados

foram coletados, analisados e interpretados.

A primeira análise feita trata-se de estudo de evento com o intuito de se apurar o efeito

econômico da Operação Lava Jato por meio da verificação dos preços das ações da Petrobrás

antes e depois do evento citado.

A análise seguinte procurou embasar as hipóteses realizadas no capítulo anterior, por

meio da análise documental dos relatórios financeiros e de sustentabilidade e das informações

disponíveis no site da companhia, antes e depois do evento, e seus achados foram descritos no

capítulo seguinte.

3.1 Tipo de pesquisa

Quanto aos objetivos, esta pesquisa classifica-se como exploratória. Beuren (2008)

destaca que, a pesquisa exploratória, intenciona-se conhecer mais detalhadamente o assunto, a

fim de torná-lo mais claro ou desenvolver questões importantes para o encaminhamento da

pesquisa.

Com relação aos procedimentos, é documental.

Sendo assim, a pesquisa documental:

é baseada em materiais que ainda não receberam uma adequação detalhada ou

que podem ser refeitos, conforme os objetivos da pesquisa (BEUREN, 2008);

foi realizada utilizando-se os preços das ações negociadas na

BMF&BOVESPA, os Relatórios financeiros e os Relatórios de

Sustentabilidade da Petrobrás, bem como informações públicas disponíveis no

site da companhia, como fontes de dados para a análise.

Com referência à abordagem do problema, a pesquisa é quantitativa e qualitativa.

66

3.1.1 Qualitativa

Beuren (2008) afirma que, na pesquisa qualitativa, análises mais detalhadas do

fenômeno são realizadas, com o objetivo de destacar aspectos não observados por estudos

quantitativos.

A pesquisa documental propõe-se a produzir novos conhecimentos, criar novas formas

de compreender os fenômenos e dar conhecimento à forma como estes têm sido

desenvolvidos (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009).

Neste sentido, a pesquisa realizada buscou, pela análise documental, identificar os

efeitos econômicos, sociais e ambientais dos casos de corrupção, investigados no âmbito da

Operação Lava Jato, na Petrobras.

A análise foi feita por meio da comparação das informações divulgadas nos relatórios

financeiros, de sustentabilidade e no site da empresa antes e depois da Operação Lava Jato.

Para analisar o período abrangido pela pesquisa, examinaram-se os Relatórios

Financeiros de 2011 a 2016 e de Sustentabilidade de 2011 a 2015, além de informações

coletadas no site da empresa. Os achados desta pesquisa foram descritos no capítulo seguinte.

3.1.2 Quantitativa

Beuren (2008) avalia que, na pesquisa quantitativa, a abordagem se caracteriza pelo

uso de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados. No caso da

Petrobras, foram utilizados os preços das ações da empresa para emprego da metodologia de

estudo de evento, a fim de obter-se o impacto financeiro da Operação Lava Jato na

companhia.

Para analisar o período abrangido pela pesquisa, examinaram-se os preços das ações

da Petrobras de 2013 a 2016, obtidos na BMF&BOVESPA.

Tratamento dos dados

Os dados referentes aos preços das ações da Petrobras, obtidos no site da

BMF&BOVESPA, foram analisados pela metodologia do Estudo de Evento. Esta técnica foi

utilizada a fim de se identificar o impacto da Lava Jato no preço das ações da companhia.

67

O Estudo de Evento consiste na análise do efeito de informações específicas de

determinadas empresas sobre os preços de suas ações. Trata-se de uma metodologia

amplamente usada em testes de eficiência de mercados, denominação comum a todos os testes

da forma semiforte de ajustamento de preços a anúncios públicos, sugerida por FAMA

(1991).

De acordo com Brown e Warner (1980), a maior preocupação do Estudo de Evento é

avaliar a extensão em que o desempenho dos preços de títulos em dias próximos ao evento

tem sido anormal, ou seja, a extensão em que retornos de títulos são diferentes daqueles

considerados normais, dado um modelo de equilíbrio de determinação de retornos esperados.

Para Campbell, Lo e Mackinlay (1997), a utilidade dessa metodologia deve-se ao fato

de que, dada a racionalidade do mercado, os impactos do evento refletirão imediatamente nos

preços.

Mackinlay (1997) realizou uma análise sobre a evolução da metodologia e afirma que

os Estudos de Evento não são recentes, sendo que o primeiro foi realizado por Dolley (1933),

quando examinou os impactos nos preços em dias próximos aos anúncios de 95

desdobramentos de ações ocorridos entre 1921 e 1931.

Entre as décadas de 1930 e 1960, a metodologia evoluiu, tornando-se a metodologia

que é substancialmente utilizada até os dias atuais, por meio dos trabalhos de Ball e Brown

(1968) e Fama et al. (1969).

Já, nos anos 1980, destacam-se os trabalhos de Brown e Warner (1980 e 1985), que

publicaram artigos, tratando da importância do uso de dados mensais e diários para avaliar

diferentes metodologias, com a finalidade de medir o desempenho dos retornos. Estes dois

artigos são referências que figuram entre as mais citadas, quando se trata de Estudos de

Evento.

Há, ainda, autores que utilizaram modelos mais complexos, com vários fatores para

estimar o valor esperado do ativo, dentre estes, destaca-se o modelo de 4 fatores de Carhart

(1997).

Campbell, Lo e Mackinlay (1997) descrevem os procedimentos de um estudo de

evento, conforme a Figura 8:

Figura 8: Etapas do Estudo de Evento

68

Definição do Evento

Nesta fase, define-se o evento de interesse, identifica-se a data de ocorrência (“data

zero”) e o período durante o qual os preços das ações da empresa envolvida serão examinados

(“janela de evento”). A definição desta janela (quanto tempo antes e quanto tempo depois do

evento) envolve alguma subjetividade e arbitrariedade por parte do pesquisador e depende do

evento estudado e dos objetivos que se desejam com o uso da metodologia. Esta janela deve

incluir períodos considerados relevantes para a verificação de anormalidades no

comportamento dos preços; não deve ser muito longa, pois corre o risco de incluir outros

eventos, enviesando-se os resultados, e nem muito curta, pois pode não conseguir captar a

anormalidade nos preços. Usualmente, a análise do período anterior à “data zero” visa ao

reconhecimento dos indicativos do uso de informações privilegiadas (inside information),

enquanto a do período posterior busca o fornecimento de evidências quanto à velocidade e à

precisão do ajuste dos preços à nova informação liberada ao mercado (CAMARGOS;

BARBOSA, 2003).

Critérios de Seleção

Nesta etapa, definem-se a base de dados utilizada, a seleção do setor econômico e as

empresas afetadas pelo evento em estudo para a inclusão de uma dada empresa na amostra e

sua caracterização (CAMARGOS; BARBOSA, 2003).

Retornos Normais e Anormais

Os estudos de evento em finanças medem o desempenho anormal das ações,

subtraindo-se do retorno observado no período o retorno esperado, calculado por algum

modelo (PERERA et. al. 2007). Foram utilizadas, neste trabalho, cotações diárias das ações e

as taxas (observadas) de retorno diário foram obtidas desta forma:

69

kj,t = Pj,t – Pj,t-1

Pj,t-1

onde: kj,t – é a taxa de retorno (observada) de uma ação j na data t, Pj,t – é o preço de

fechamento da ação j (ajustado para eventos) na data t, Pj,t-1 – é o preço de fechamento da

ação j (ajustado para eventos) na data t-1.

Campbell, Lo e MacKinlay (1997) classificam os modelos usados para calcular o

retorno esperado, ou seja, o desempenho normal das ações em Modelos Econômicos e

Modelos Estatísticos. De acordo com Perera et al. (2007), os exemplos mais comuns de

modelos econômicos são o CAPM (Capital Asset Pricing Model) e o APT (Arbitrage Pricing

Model). Dentre os modelos estatísticos, talvez o mais comumente utilizado e também o mais

simples seja o Modelo de Mercado. O modelo de mercado pode ser representado pela seguinte

equação:

k jt = α j + βjE (kMt) + Ɛjt

onde: kjt – é o retorno esperado no instante t da ação j, αj é o intercepto do modelo de

regressão, kMt – é o retorno da carteira de mercado no instante t, βj é o coeficiente beta da

ação j, Ɛjt é o resíduo, ou retorno anormal da ação j no instante t.

Como proxy para o retorno da carteira de mercado, utilizou-se o retorno diário do

índice IBOVESPA da Bolsa de Valores de São Paulo.

Procedimento de estimação

Nesta fase, é necessário determinar a janela de evento (período durante o qual

deveriam ser observados retornos anormais, presumivelmente) e a janela de estimação

(período anterior à janela de evento, utilizado para estimar os parâmetros do modelo que será

utilizado para o cálculo dos retornos normais) e, finalmente, uma janela pós-evento

(CAMPBELL; LO; MACKINLAY, 1997).

3.2 Procedimentos de Teste

De acordo com Vidal e Camargos (2003), a janela de estimação deve ser

suficientemente extensa para que eventuais discrepâncias nos preços possam ser diluídas sem

70

provocar grandes alterações na sua distribuição de frequências. Assim, neste trabalho, a janela

de estimação inicia-se em 28.12.2012 e termina em 21.08.2014, quando se inicia a janela de

evento, compreendendo 430 dias úteis.

A janela do evento começa no dia 22.08.2014 e vai até o dia 29.09.2014, data em que

o Superior Tribunal Federal (STF) homologou o primeiro acordo de delação premiada do ex-

diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, este é o dia “zero”. Assim, a janela de evento

compreende 27 dias úteis. E a janela pós-evento é a partir do primeiro dia útil seguinte ao

evento (30.09.2014), pois, a partir deste dia, tem-se uma noção mais clara do impacto

financeiro dos casos de corrupção na companhia. Como a janela pós-evento não deve ser

muito extensa, optou-se por estimar os retornos anormais das ações até 28.10.2014, 21 dias

úteis após a homologação do STF homologar a delação premiada de Paulo Roberto da Costa.

Os parâmetros do modelo de mercado (α e β) foram estimados por uma regressão

simples entre os retornos observados das ações em relação aos retornos da carteira do

mercado (IBOVESPA). E os parâmetros verificados foram os seguintes:

α = 0,0007

β = 1,3854

Desvio Padrão (ε) = 0,0157

Nível de significância: 95%

A última linha da tabela acima mostra o erro-padrão da regressão do modelo de

mercado. Os retornos anormais (AR), dados pela fórmula abaixo, foram obtidos, subtraindo-

se do retorno observado em cada período o retorno esperado (pelo modelo de mercado,

equação anterior):

ARjt = εjt = kjt − αj − βj E(kMt)

onde: ARjt = εjt é o retorno anormal da ação j no período t.

Os retornos anormais (AR, abnormal returns) precisam ser agregados para que se

possam fazer inferências sobre o evento que está sendo estudado. A agregação (CAR,

cumulative abnormal returns) pode ser feita em duas dimensões: uma dimensão cross section

com todas as ações que estejam sendo estudadas e, outra, uma dimensão temporal. Neste

trabalho, interessará apenas a agregação temporal.

A fórmula do CAR usada, neste estudo, é a seguinte:

71

CAR = ∑ 𝐴𝑅𝑇𝑡=τ jt, onde: CARjT é a taxa acumulada de retornos anormais da ação j no período

entre t = τ e T, τ é o primeiro dia da janela de eventos (neste caso: 22.08.2014), T é o número

de dias úteis a partir de τ.

Como E(ARjt) = 0 => E(CARjt) = ∑ 𝐸(𝐴𝑅𝑇𝑡=𝜏 jt) = 0, o teste de hipótese que este estudo

implementou foi verificar se os CARs das ações da Petrobras são significativamente

diferentes de zero. Em outras palavras:

H0 = O CAR é igual a zero; HA = O CAR é diferente de zero

Para que se possa efetuar este teste de hipótese, os CARs dos ativos são padronizados

para uma distribuição t-Student. Assim, os CARs são transformados em SCAR (Standardized

Cumulative Abnormal Returns) por meio da seguinte fórmula:

SCART = 𝐶𝐴𝑅𝑇𝜎(𝜀)

, onde 𝜎(ε) é o desvio-padrão dos erros da regressão dos retornos dos

ativos em função do retorno de mercado.

Resultados Empíricos

Pela hipótese nula, espera-se que E(AR) = E(CAR) = E(SCAR) = 0, ou seja, a

homologação da delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, não

gerou retornos anormais, ou seja, não influiu o valor das ações da Petrobras.

Figura 9: CAR das ações da Petrobras

72

Fonte: autor, 2017.

Na Figura 9, são destacados os valores de SCAR das ações da Petrobras e os valores

críticos tc da estatística t para rejeitar H0 em níveis de significância de 10, 5 e 1%. Pela análise

da figura, pode-se verificar que as ações da companhia sofrem uma queda brusca no dia

29.09.2014, data em que o Superior Tribunal Federal STF homologou o acordo de delação

premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa, porém, no dia 26.09.2014 (dia útil anterior à

data do evento), dois institutos de pesquisa divulgaram que a, então, presidente Dilma

Rousseff liderava a disputa eleitoral, o que originou uma reação negativa do mercado com

relação à companhia, influenciando na análise do impacto da Operação Lava Jato no preço de

suas ações (UOL: 29.09.2014).

A partir desta data, o CAR da Petrobras praticamente não sai da região onde H0 não é

rejeitada. Ou seja, o CAR da empresa, dentro do nível de significância estudado, é não

significante, com exceção de algumas datas específicas, como:

(i) 06.10.2014, dia útil seguinte ao resultado do primeiro turno das eleições para

presidente, quando o candidato Aécio Neves obteve expressiva quantidade de

votos, trazendo otimismo ao mercado (Globo: 06.10.2014);

(ii) 13.10.2014, resultado de dois importantes institutos de pesquisa, mostrando que o

candidato Aécio Neves liderava a corrida presidencial, aparecendo na frente da,

então, presidente Dilma Rousseff, trazendo nova onda de otimismo ao mercado

(Folha: 13.10.2014);

-6,00

-5,50

-5,00

-4,50

-4,00

-3,50

-3,00

-2,50

-2,00

-1,50

-1,00

-0,50

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50 SCAR => CAR padronizado (estatística t)

Petrobras PN

(i) (ii) (iii)Homologação da

delação premiada de

Paulo Roberto da Costa

73

(iii) 27.10.2014, dia útil seguinte ao resultado do segundo turno das eleições para

presidente, quando a candidata Dilma Rousseff se sagrou vitoriosa no pleito,

trazendo pessimismo ao mercado (Valor: 27.10.2014).

Com base nos resultados evidenciados, não se rejeita H0, ou seja, fica reconhecido que

a homologação da delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa não influiu no

resultado das ações da Petrobras no mercado financeiro no período de análise. Ressalve-se

que a coincidência de informações, devido à proximidade dos resultados eleitorais, pode ter

perturbado o resultado esperado, devido exclusivamente à ação da Operação Lava Jato.

74

4 RESULTADOS

Nesta seção, os resultados obtidos com as metodologias (qualitativa e quantitativa)

utilizadas na pesquisa são apresentados.

4.1 Hipóteses HA,1 e HA,2

As hipóteses HA,1: houve interferência da administração nos controles antifraudes da

Petrobras e HA,2: a falha dos controles antifraudes é o principal fator responsável pela

desvalorização dos ativos da Petrobras, tem como fundamentação a análise dos controles

antifraudes da companhia em uma comparação de como estavam estruturadas antes e após o

evento Operação Lava Jato.

A análise foi realizada mediante pesquisa de materiais públicos sobre tais controles,

principalmente em informações e comunicados da empresa ao mercado, disponíveis em seu

website (www.investidorpetrobras.com.br), bem como seus relatórios financeiros (Form 20F,

DFP, ITRs) e de sustentabilidade (GRI) também disponíveis no mesmo local.

4.1.1 Canal de Denúncias

Com relação ao controle antifraudes Canal de Denúncia, é possível resumir a situação

pela tabela 2 abaixo:

Tabela 2: Canal de Denúncias

Antes Depois

Até 2014: 2015:

- Havia um canal de denúncias implantado na companhia

desde 2005

- Não se tem notícias de nenhuma denúncia de esquema

de corrupção

- O canal de denúncias parecia não ter efetividade em seu

objetivo

- O canal de denúncias foi totalmente reestruturado

- A recepção das denúncias passou a ser de

reponsabilidade de empresa independente especializada

- O novo canal faz parte do conjunto de medidas que a

Petrobrás adotou após a Operação Lava Jato para

aprimorar sua Governança

Fonte: elaborado pelo autor com em Comunicados e Fatos Relevantes da Petrobras (2016e).

75

De acordo com o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC

(2015), o canal de denúncias deve ter a necessária independência e garantir a

confidencialidade e promover as apurações e providências cabíveis. Embora houvesse um

canal de denúncias implantado na empresa, este não funcionava de forma independente, o que

poderia dar margem à desconfiança de que funcionários ou terceiros que denunciassem

qualquer suspeita de conduta incorreta, fossem retaliados.

Nos documentos analisados, não houve qualquer menção ao Canal de Denúncias da

Petrobras implementado em 2005 e vigente até o evento da Operação Lava Jato.

Em resumo, ou não foram recebidas denúncias ou não há informação pública de seu

recebimento.

O controle antifraudes passou a ser operado por empresa independente, somente após

a Operação Lava Jato, a partir do ano de 2015.

4.1.2 Gerenciamento de Controles Internos

Em relação ao controle antifraudes Gerenciamento de Controles Internos, a tabela 3

abaixo resume o antes e depois do evento Operação Lava Jato:

O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (2015)

estabelece que o sistema de controles internos não deve focar exclusivamente em monitorar

fatos passados, mas também contemplar visão prospectiva na antecipação de riscos.

Tabela 3: Gerenciamento de Controles Internos

Antes Depois

Form 20F 2013 (publicado em 30 abr 2014): Form 20F 2014 (publicado em 10 jun 2015):

- No Relatório da Administração sobre Controles

Internos do Form 20F referente ao ano de 2013 e

publicado em 30 de abril de 2014 não há nenhuma

menção com relação a quaisquer fraquezas materiais nos

controles internos da companhia, tampouco referência a

qualquer escândalo de corrupção

- Somente no Relatório da Administração sobre

Controles Internos do Form 20F referente ao de 2014 e

publicado em 10 de junho de 2015 é que o presidente e

o diretor financeiro da companhia concluíram que os

controles internos, devido suas fraquezas materiais não

eram eficazes, admitindo falhas relacionadas a conduta

ética da alta direção

- Em setembro de 2016, a companhia realizou

reorganização de sua área financeira, responsável pelo

gerencamento dos controles internos

Fonte: elaborado pelo autor base no Form 20F 2013 e 2014 da Petrobras (2016f).

76

Antes da Operação Lava Jato, não houve qualquer manifestação da administração a

respeito de falhas nos controles internos da companhia, sempre foram reportados relatórios

atestando que tais controles eram eficientes. Somente após o evento, os relatórios passaram a

reportar falhas nos controles internos. Somente após o evento da Operação Lava Jato é que o

Gerenciamento de controles internos reportou fraquezas materiais, conforme relatório da

Administração sobre Controles Internos publicado no relatório Form 20F de 2014, que

ocasionaram perdas enormes (tais perdas são apresentadas na seção seguinte deste capítulo).

4.1.3 Auditoria Interna

A única notícia obtida foi a do lançamento de um programa de prevenção à corrupção

em 2013, denominado Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção (PPPC), sendo a

Auditoria Interna responsável por sua gestão. Cabe ressaltar que os trabalhos da auditoria

interna não possuem obrigatoriedade quanto à divulgação de resultados e conclusões, além

disso, são executados por funcionários internos da companhia, ficando evidenciada a

possibilidade de influência da própria administração superior.

Conforme as Normas Internacionais para a prática profissional de Auditoria Interna do

IIA (2016b), o auditor interno também deve avaliar a adequação e a efetividade dos controles

em resposta aos riscos relacionados à confiabilidade e à integridade da informação

operacional e financeira e à salvaguarda dos ativos. Também deve ter conhecimento suficiente

para avaliar o potencial de ocorrências de fraude e como a organização administra o risco de

fraude.

4.1.4 Auditoria Externa

Por fim, em referência ao controle antifraudes Auditoria Externa, a tabela 4 abaixo,

resume a conclusão dos trabalhos da auditoria externa em seu parecer sobre as demonstrações

contábeis da Petrobras:

77

De acordo com o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB, 2002), o

auditor deve conduzir o trabalho com uma mentalidade que reconheça uma distorção

relevante por fraude que possa estar presente, independentemente de qualquer experiência

anterior com a entidade e crença do auditor sobre a honestidade e a integridade da

administração.

O PCAOB também orienta que os procedimentos de auditoria devem ser endereçados,

especificamente, ao risco de a administração burlar os controles. Deve avaliar o propósito do

negócio para transações significativas e/ou fora do curso normal das atividades da companhia.

Deve, ainda, atentar para ações que aparentam ser não usuais, ou indiquem que foram

realizadas para fazer parte de reportes financeiros fraudulentos, ou ocultar apropriações

indébitas de ativos.

Conclusão parcial: i) o Canal de Denúncias era praticamente inexistente, por falta de

independência; ii) o gerenciamento de Controles Internos não identificou ou reconheceu o

esquema de corrupção que, de acordo com o MPF (2016), durava há dez anos; iii) a Auditoria

Interna parecia desconhecer as práticas profissionais, de acordo com as Normas

Internacionais, e; iv) o auditor externo, no caso a PWC, emitiu pareceres atestando sua

adequação e endossando o esquema fraudulento por cerca de dez anos. Leniência ou falta de

preparo?

Com base nas falhas constatadas e inoperância dos sistemas antifraudes e de

governança, rejeita-se H0, reconhecendo-se como verdadeiras as hipóteses:

HA,1: Houve interferência da administração nos controles antifraudes da Petrobras.

HA,2: A falha dos controles antifraudes foi o principal fator responsável pela

desvalorização dos ativos da Petrobras.

Tabela 4: Auditoria Externa

Antes Depois

Demonstrações Contábeis:

Form 20F 2013 (publicado em 30 abr 2014)

ITR 1º Trim/ 2014 (publicado em 09 mai 2014)

ITR 2º Trim/ 2014 (publicado em 08 ago 2014)

Demonstrações Contábeis:

ITR 3º Trim/ 2014 (publicado em 22 abr 2015)

DFP 2014 (publicado em 22 abr 2015)

Form 20F 2014 (publicado em 10 jun 2015)

- Todos os pareceres emitidos pela Auditoria Externa

(PWC) sobre as demonstrações contábeis da Petrobras

até Agosto de 2014 não continham nenhuma menção a

Operação Lava Jato ou qualquer outro esquema de

corrupção na empresa

- Somente nos pareceres emitidos pela PWC sobre as

demonstrações contábeis da Petrobrás referentes ao 3º

trimestre e somente publicado em Abril de 2015 é que há

parágrafo de ênfase mencionando a Operação Lava Jato,

repetido nas demonstrações contábeis seguintes

Fonte: elaborado pelo autor com base nas Demonstrações Contábeis 2013 e 2014 (2016f).

78

79

4.2 Hipóteses HA,3 e HA,4

Nesta seção, apresentam-se as fundamentações para as hipóteses HA,3: os casos de

corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram consequências econômicas

negativas à Petrobras e, HA,4: os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato

trouxeram consequências socioambientais negativas à Petrobras. Para tanto, divide-se a seção

em subseções, fundamentando-se, inicialmente, as consequências econômicas e,

posteriormente, as consequências socioambientais.

4.2.1 Consequências Econômicas

De acordo com o ranking das 2000 maiores companhias de capital aberto do mundo da

Revista Forbes (2016 – ANEXO B), a Petrobras ocupa a 411ª posição. A companhia, que já

figurou entre as 10 maiores empresas do mundo, viu seu desempenho despencar após os

escândalos do esquema de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, na lista de 2015,

figurava na 416ª posição, conforme pode ser observado na figura 10 abaixo.

Figura 10: Posição da Petrobras no ranking da Forbes

Fonte: elaborado pelo autor com base no ranking da Forbes (2016).

10º

20º 30º

416º 411º

2012 2013 2014 2015 2016

80

O ranking da Forbes é baseado em uma pontuação composta por medidas igualmente

ponderadas de receitas, lucro, ativos e valor de mercado. A lista de 2016 apresenta as

companhias de capital aberto de 63 países (FORBES, 2016).

Baseado em alguns dos indicadores deste ranking e na classificação das agências de

rating, fundamentou-se a hipótese HA,3 de que os casos de corrupção investigados pela

Operação Lava Jato trouxeram consequências econômicas negativas à Petrobras, nos

parágrafos a seguir.

Perdas nos ativos da Petrobras

As demonstrações contábeis da companhia do ano de 2013 ainda não refletiam os

impactos da Operação Lava Jato. Somente a partir da publicação das Informações Trimestrais

– ITRs, do terceiro trimestre e das demonstrações contábeis anuais de 2014, publicadas em 29

de janeiro de 2015 e 23 de abril de 2015, respectivamente, é que os impactos passaram a ser

contabilizados, conforme se observa na tabela 5 e na figura 11.

Tabela 5: Perdas registradas nos ativos da Petrobras

31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 30.09.2014 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016

Reconhecimento de perda por impairment - - - - -45 -48 -18

Baixa de gastos capitalizados indevidamente - - - -6 -6 - -

Fonte: elaborado pelo autor com base nas demonstrações contábeis da companhia, 2017.

DepoisAntes

81

A perda reconhecida no terceiro trimestre de 2014 refere-se à baixa de gastos

adicionais capitalizados (incorporados ao custo do ativo imobilizado) indevidamente, os quais

representavam valores específicos de pagamentos indevidos ou o percentual de 3% sobre os

contratos citados nos depoimentos obtidos nas investigações, que se tornaram públicos a

partir de outubro de 2014. Estes valores também foram considerados, pois foram utilizados

pelo cartel, entre 2004 e abril de 2012, para impor sistematicamente gastos adicionais nas

compras de ativos imobilizados pela Companhia para financiar pagamentos indevidos

(PETROBRAS, 2016f).

A perda reconhecida nas demonstrações contábeis anuais de 2014 refere-se ao

reconhecimento de impairment em cinco projetos de Exploração e Produção que estavam em

sua fase inicial de planejamento, para os quais não havia fluxos de caixa futuros estimados

(PETROBRAS, 2016f).

A perda reconhecida nas demonstrações contábeis anuais de 2015 refere-se ao

reconhecimento de impairment em virtude da revisão de diversas premissas utilizadas para a

realização do teste de impairment para os agrupamentos de ativos dos segmentos de

Exploração e Produção, Abastecimento, Gás e Energia e Biocombustíveis (PETROBRAS,

2016f).

Já a perda registrada em 2016 refere-se ao reconhecimento de perdas adicionais por

desvalorização dos ativos das unidades de Campos de Produção de Óleo e Gás Brasil, da

Fonte: elaborado pelo autor com base nas demonstrações contábeis da companhia,

2017.

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

Figura 11: Impairment nos Ativos - R$ Bilhões

82

Comperj, do Conjunto de Navios da Transpetro e do Conjunto das Térmicas. Os indicativos

de desvalorização identificados no quarto trimestre, para os ativos listados acima, foram

principalmente: (i) revisão anual de reservas oficial da companhia; (ii) revisão anual da

provisão para desmantelamento de áreas; (iii) andamento das obras inerentes às utilidades do

Trem 1 da Comperj, que também atenderão à Unidade de Processamento de Gás Natural

(UPGN); (iv) alteração da unidade Conjunto das Térmicas; e (v) início da construção de cinco

navios Aframax da unidade de Transporte em função da eficácia dos contratos de

financiamento, garantindo a financiabilidade dos projeto.

Resultados da Petrobras

Com relação aos resultados, a empresa apresentava lucro contábil até o segundo

trimestre de 2014, a partir do terceiro trimestre de 2014 passou a apresentar prejuízo,

conforme tabela 6 e figura 12 abaixo.

Tabela 6: Resultados da Petrobras (R$ Bilhões)

31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 30.06.2014 30.09.2014 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016

Lucro 33 21 24 5 - - -

Prejuízo - - - - -6 -22 -35 -15

Fonte: elaborado pelo autor com base nas demonstrações contábeis da companhia, 2017.

DepoisAntes

Fonte: elaborado pelo autor com base nas Demonstrações Contábeis da Petrobras,

2017.

33

21 24

5

-6

-22

-35

-15

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

Figura 12: Resultados Consolidados - R$ Bilhões

83

Classificação do rating de risco

Outro fato relevante a ser destacado é a questão da qualidade de crédito da companhia.

A classificação do rating é uma nota dada a uma instituição ou governo por uma agência de

classificação de risco, que avalia sua qualidade de crédito. Esta nota é importante, pois

determina um limite ou uma referência para o risco das empresas, afetando seus custos de

financiamento, uma vez que muitos bancos internacionais se baseiam nestes ratings para

avaliar o risco das empresas. Também serve de guia para investidores institucionais, como

fundos de pensão e companhias de seguro.

As principais agências de classificação de risco no mundo são Moody’s,

Standard&Poors e Fitch. Abaixo são apresentadas as classificações dadas por estas agências

ao risco da Petrobras, após os escândalos de corrupção que ocorreram na companhia.

Uma consequência importante para a empresa foi o rebaixamento por parte das

agências de classificação de risco, de seu rating. Todas as três principais agências mundiais

rebaixaram a classificação de risco da companhia após a Operação Lava Jato. A Petrobras

que, até então, possuía grau de investimento, foi rebaixada para grau especulativo. Este fato

torna os empréstimos mais caros, trazendo consequências negativas para a instituição.

4.2.1.1 Resultado do estudo de evento

Tabela 7: Classificação do rating de risco da Petrobras

AgênciaGrau de

Investimento

Grau

Especulativo

30/01/15 24/02/15

Baa3 Ba2

16/05/14 10/09/15

BBB- BB

04/02/15 17/12/15

BBB- BB+

Fonte: elaborado pelo autor, 2017.

Moody’s

Standard & Poor's

Fitch

84

O mercado reagiu negativamente ao acordo de delação premiada do ex-diretor da

Petrobras Paulo Roberto da Costa, principalmente quando o Supremo Tribunal Federal

homologou o acordo em 29.09.2014. Porém, nos 21 (vinte e um) dias úteis seguintes, o preço

das ações não apresentaram retornos anormais em níveis de significância de 10, 5 e 1%, com

exceção de três dias, em que a corrida eleitoral para Presidência da República teve impacto na

reação do mercado em geral, sendo que para a Petrobras tal efeito foi mais significativo ainda.

Dado que o resultado do estudo de evento não rejeitou H0, contrariando a lógica de um

raciocínio fundamentado em expectativas racionais, foi realizada uma análise adicional para

tentar esclarecer se, de fato, haveria razões econômicas que implicassem uma desvalorização

das ações da Petrobras, quando comparada a empresas de porte semelhante em 2012,

conforme figura 13 abaixo.

A figura 13 apresenta uma comparação com o retorno das ações das cinco maiores

petrolíferas americanas, de acordo com o ranking das 2000 maiores empresas de capital

aberto do mundo (Forbes, 2016). Verifica-se que a Petrobras, em 2014, teve uma queda

acentuada de suas ações (-44,6%) e, no período acumulado de 2013 a 2016, sua queda foi

ainda maior (47,8%). O segundo pior resultado foi da ação da Exxon Mobil, que fechou o

período com ganho de apenas 4,3%, isto em relação à Petrobras mostra uma diferença de

52%. Se compararmos a Petrobras com a melhor empresa, a Valero Energy, esta ação teve um

ganho de 119% no período, com uma diferença de 167% para a ação da Petrobras: uma

diferença abissal.

Figura 13: Retorno das ações das 5 Maiores Petrolíferas Americanas x Petrobras

85

Também foram analisados os retornos trimestrais durante o ano de 2014, época em

que todas as a petrolíferas apresentaram retornos negativos, porém o retorno das ações da

Petrobras apresentou uma queda muito acentuada em relação às demais, conforme figura 14

abaixo.

Especificamente, com relação aos retornos de 2014, todas as petrolíferas apresentaram

retornos negativos, em virtude de o barril do petróleo ter sofrido uma queda de

aproximadamente 60% em seu preço: este fato impulsionou a queda do preço das ações.

Entretanto, para a Petrobras, o retorno de suas ações apresentou uma queda muito mais

acentuada em comparação com as demais petrolíferas americanas.

Os retornos acumulados das ações da Petrobras a partir da data do evento (29.09.2014)

são apresentados na figura 15 abaixo.

Fonte: dados da pesquisa, 2017.

-50%

-40%

-30%

-20%

-10%

0%

10%

20%

31.03.2014 30.06.2014 30.09.2014 31.12.2014

Figura 14: Retornos trimestrais das ações das 5 maiores

petrolíferas americanas x Petrobras em 2014

Exxon Chevron Phillips 66

Valero Energy Marathon Petroleum Petrobras

86

No período pós-evento, as ações da companhia apresentaram um retorno negativo

acumulado de mais de 50%. Por mais que a disputa eleitoral tenha impactado o preço das

ações, esta queda acentuada também se deve à influência dos desdobramentos da Operação

Lava Jato.

Conclusão parcial: (i) o rebaixamento da classificação de risco pelas principais

empresas internacionais avaliadoras tem como causa lógica o aumento das taxas de juros

internacionais; (ii) as volumosas perdas financeiras registradas a partir de pagamento de

propinas (R$ 6 bilhões em 2014) e os prejuízos registrados e acumulados R$ 50 bilhões em

2014, 48 bilhões em 2015 e R$ 16 bilhões em 2016 – reconhecidos por impairment atestam e

consolidam o valor do esbulho na Petrobras; (iii) os resultados dos últimos três anos (2014 a

2016) com perdas equivalentes a 92% dos ganhos do triênio anterior (2011 a 2013)

corroboram e consolidam os prejuízos; (iv) a comparação internacional com as empresas

pares (até 2012) mostra que nenhuma das petrolíferas teve prejuízo no período analisado, ou

seja, o prejuízo da Petrobras pode ser debitado exclusivamente à corrupção endêmica que

grassou na administração da Petrobras.

Desta forma, rejeita-se H0, o que implica em reconhecer como verdadeira a hipótese:

HA,3: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram

consequências econômicas negativas a Petrobras

Fonte: dados da pesquisa, 2017

-60%

-50%

-40%

-30%

-20%

-10%

0%

29.09.2014 30.09.2014 31.10.2014 28.11.2014 29.12.2014

Figura 15: Retorno acumulado das ações da Petrobras – Set/2014

a Dez/2014

87

88

4.2.2 Consequências Socioambientais

Nesta etapa, foram analisados os Relatórios de Sustentabilidade da companhia, o

Global Reporting Initiative (GRI) dos anos 2011 a 2015. Este é um aspecto relevante para a

empresa e para a sociedade, haja vista que a companhia prospecta e produz combustíveis

altamente poluentes, sendo sua responsabilidade maior a geração de gases do efeito estufa

(GEE), logo a Petrobras tem um débito socioambiental grande a repor para a sociedade.

Os investimentos socioambientais da companhia são apresentados na tabela 8 abaixo.

Verifica-se que, a partir de 2013, a Petrobras reduziu seus investimentos

socioambientais em cerca de R$ 284 milhões (36,4%). Fato que pode ser debitado decisão

estratégica devido aos volumosos prejuízos da empresa.

Outro fator que pode ser considerado como consequência social ou socioambiental diz

respeito à empregabilidade gerada pela companhia. Uma empresa do porte da Petrobras

possui um peso muito grande no mercado de trabalho e na renda gerada na sociedade, pela

remuneração e pelos benefícios proporcionados a seus funcionários e aos funcionários de seus

prestadores de serviços.

A tabela 9 abaixo apresenta as informações a respeito dos empregados da empresa,

bem como de seus prestadores de serviço.

Tabela 8: Investimentos Socioambientais da Petrobras

Ano R$ Milhões Variação %

2011 641 -

2012 552 -14%

2013 780 41%

2014 612 -21%

2015 496 -19%

Fonte: elaborado pelo autor com base no Relatório de Sustentabilidade da Petrobras,

2017.

Investimentos Socioambientais da Petrobras

89

A partir de 2013 para 2015, a Petrobras reduziu em 7.641 (8,9%) o número de

empregados, em 378 (20,8%), o número de estagiários e, em 202.104 (56,1%), o número de

prestadores de serviço. Os números são suficientemente eloquentes para atestar o peso deste

contingente no número recorde de desempregados que o Brasil registra atualmente.

A partir do evento Operação Lava Jato, os investimentos socioambientais e em

pessoas tiveram significativa redução, trazendo consequências à sociedade e ao meio

ambiente, dada a significância da empresa e a magnitude de seus investimentos. Com base

nesses fatos, rejeita-se H0 e constata-se a veracidade de:

HA,4: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram

consequências socioambientais negativas à Petrobras.

Tabela 9: Quantidade de empregados diretos e indiretos

Quantidade Variação % Quantidade Variação % Quantidade Variação %

2011 81.918 - 1.825 - 328.133 -

2012 85.065 4% 1.887 3% 360.372 10%

2013 86.111 1% 1.816 -4% 360.180 0%

2014 80.908 -6% 1.746 -4% 291.074 -19%

2015 78.470 -3% 1.438 -18% 158.076 -46%

Fonte: elaborado pelo autor com base no Relatório de Sustentabilidade da Petrobras, 2017.

Empregados Estagiários Prestadores de ServiçoAno

90

5 CONCLUSÕES

A análise documental dos fatos, antes e depois da deflagração da Operação Lava Jato,

possibilitou a identificação das principais causas da desvalorização da Petrobras ao abordar

como os controles antifraudes da companhia estavam configurados antes da Operação. Cabe

lembrar que, até então, a companhia era exemplo de melhores práticas de mercado em termos

de governança corporativa. Os principais achados desta pesquisa foram:

O Canal de Denúncias da Petrobras, implantado em 2005, nunca revelou ou motivou

investigação de casos de corrupção por parte de dirigentes ou funcionários da companhia. A

reformulação geral, ocorrida somente em 2015, ficando a recepção de denúncias a cargo de

uma empresa independente, com funcionamento 24 horas por dia, em três idiomas (português,

inglês e espanhol) é o reconhecimento eloquente de sua anterior inoperância.

Com relação ao Gerenciamento de Controles Internos, a administração da

companhia emitiu diversos relatórios públicos sobre a adequação dos controles internos, sem

uma única menção sobre qualquer suspeita de corrupção. Somente no relatório Form 20-F de

2014, publicado em junho de 2015, é que a Administração relatou deficiências em seus

controles internos, que resultaram em baixas contábeis de centenas de bilhões. Assim, pode-se

concluir que o gerenciamento de controles internos falhou na prevenção e detecção de

fraudes.

Não há informações públicas sobre os trabalhos da Auditoria Interna da companhia.

Porém, em última instância, não impediu que os casos de corrupção ocorressem. Assim,

parece plausível suspeitar que a Administração da companhia interferiu nos trabalhos da

auditoria interna com o objetivo de evitar que os casos de corrupção fossem detectados e

viessem a público. Embora não tenha sido possível obter evidências empíricas, a afirmação

acima é corroborada por Lenz e Sarens (2012), que afirmam que há risco de os auditores

internos serem intimidados pela alta administração. Neste trabalho, também se discute esta

questão, ao afirmar que parece perigosa a instrumentalização da auditoria interna para servir

às necessidades estratégicas dos negócios, denotando enfraquecimento da governança

corporativa da empresa.

Quanto à Auditoria Externa, todos os pareceres, tanto da KPMG quanto da PWC,

emitidos antes da deflagração da Operação Lava Jato, atestavam que as demonstrações

contábeis e os controles internos eram efetivos. Somente após a Operação, a partir das

demonstrações contábeis de setembro de 2014, a PWC emitiu parecer mencionando

91

deficiência nos controles internos. Dessa forma, pode-se concluir que a auditoria externa

falhou ou foi leniente na detecção das fraudes cometidas na companhia. Este fato é

corroborado pela ação judicial, que fundos norte-americanos que investiam na Petrobras,

impetrada contra a PWC nos Estados Unidos.

Assim, com relação à hipótese HA,1, é possível afirmar com razoável segurança que a

Administração da companhia interferiu nos controles antifraudes, diante da falta de

efetividade destes na detecção e prevenção de fraudes na corporação.

Já, com relação à hipótese HA,2, no âmbito da área de Controladoria, é possível

concluir que as principais causas dos casos de corrupção ocorridos na companhia foram as

falhas dos controles antifraudes.

Retomando a Questão de Pesquisa, este estudo identificou as principais causas, no

âmbito da área de Controladoria, da desvalorização da Petrobras e as consequências

econômicas e socioambientais levantadas a partir da Operação Lava Jato.

Por meio da análise documental de relatórios financeiros e da metodologia do estudo

de evento, foram levantadas as seguintes consequências econômicas:

a Petrobras já figurou como 10ª (décima) maior empresa de capital aberto do

mundo, de acordo com o ranking da Revista Forbes, porém, após os escândalos de

corrupção, passou a ocupar a 416ª (quadringentésima décima sexta) posição;

baixas contábeis de ativos (impairment), a empresa registrou perdas por

redução ao valor recuperável (impairment) de diversos ativos no montante de

aproximadamente R$ 116 bilhões nos balanços de 2014, 2015 e 2016;

prejuízos contábeis registrados pela companhia de R$ 22 bilhões, R$ 35

bilhões e R$ 15 bilhões nos balanços de 2014, 2015 e 2016;

rebaixamento da Classificação de Risco pelas três principais agências:

Moodys, Standard & Poors e Fitch rebaixaram o rating da companhia de grau de

investimento para grau de especulação, tornando o custo de captação financeira mais caro;

retorno das Ações da Petrobras, embora em uma primeira análise, houvesse

um forte impacto da Operação Lava Jato, no preço das ações da companhia, devido à

homologação do acordo de delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa, a

questão eleitoral perturbou o resultado da pesquisa. O estudo comparativo da Petrobras

com as petrolíferas internacionais ajudou a evidenciar que, de fato, a queda nos preços das

ações da companhia brasileira em relação às companhias americanas foi muitíssimo

92

maior, levando à conclusão que, realmente, os casos de corrupção trouxeram impacto

negativo sobre suas ações. O retorno negativo acumulado das ações da Petrobras foi de -

47,8% (quarenta e sete por cento e oito décimos de cento negativos), enquanto todas as

demais petrolíferas da análise tiveram resultados positivos.

Dessa maneira, fundamentou-se a hipótese HA,3 de que os casos de corrupção

investigados pela Operação Lava Jato trouxeram consequências negativas para a companhia.

Face à redução de investimentos, de 2013 para 2015, em R$ 284 milhões (36,4%) e do

número de empregados (7.641, -8,9%), estagiários (378, -20,8%) e prestadores de serviço em

mais da metade, 202.104 (-56,1%), rejeita-se H0, confirmando a hipótese HA,4, cujo postulado

afirma que ‘os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram

consequências socioambientais negativas à Petrobras’. Dessa maneira, fundamentou-se a

hipótese HA,3 de que os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram

consequências negativas para a companhia.

Os resultados deste estudo permitem concluir que as principais causas da

desvalorização da Petrobras foram as falhas dos controles antifraudes em detectar e prever os

casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. A literatura relacionada sugere que

é provável que estas falhas tenham ocorrido por interferência da Administração da

companhia.

Os resultados também demonstraram que a companhia e a sociedade em geral foram

muito prejudicadas por estes escândalos de corrupção, com consequências negativas tanto nas

questões econômicas quanto socioambientais.

Este trabalho contribuiu no incremento de conhecimento tanto em termos

corporativos, ao apresentar as falhas dos controles antifraudes e, assim, servir como referência

para que outras empresas de grande porte, dos setores público e privado, não cometam os

mesmos erros, como em termos acadêmicos ao lançar luz sobre um assunto tão importante.

Como recomendações, para evitar a corrupção endêmica nas empresas públicas ou

privadas, sugerem-se, de uma forma ampla: (i) comprometimento dos dirigentes; (ii)

transparência de informações; e (iii) punições severas aos infratores. Como medidas

específicas, propõem-se: (i) maior entrosamento entre os órgãos reguladores: a Comissão de

Valores Mobiliários e a Receita Federal para o cruzamento de informações inclusive dos

dirigentes da empresa; (ii) em médio e longo prazos, desenvolvimento de um arcabouço legal

que permitisse o acompanhamento da evolução patrimonial dos dirigentes empresariais

93

(adequada aos seus ganhos) com punições severas aos envolvidos em malversação de bens

públicos ou privados; (iii) responsabilização legal e pecuniária aos dirigentes de órgãos de

controle antifraudes, inclusive com perda da habilitação profissional, por conduta indecorosa

ou fraudulenta; (iv) responsabilização legal e pecuniária aos dirigentes de empresas de

auditoria externa, inclusive com inabilitação profissional, por comprovada leniência ou

incompetência profissional; e (v) fiscalização mais intensa dos órgãos reguladores sobre a

atuação das empresas prestadoras de serviços de auditoria externa.

Como limitação do trabalho, indica-se que a Operação Lava Jato ainda está em

andamento e, assim, novos desdobramentos podem surgir, podendo trazer fatos inéditos que

possam impactar ainda mais as informações apresentadas, ou até alterar as conclusões aqui

estabelecidas. Outra limitação refere-se ao fato de este trabalho estudar apenas a Petrobras,

não abrangendo todas as empresas envolvidas neste esquema de corrupção.

Por fim, como oportunidade de futuras pesquisas, sugere-se: (i) novas investigações,

abordando o problema por outros ângulos, como análises detalhadas dos demonstrativos

financeiros; (ii) verificação e análise das medidas tomadas pela Petrobras (controles internos e

externos) para inibir novos casos de corrupção, a fim de acompanhar sua eficiência; e (iii)

verificação da influência da Operação Lava Jato na sustentabilidade das empresas-alvo de

suas investigações.

94

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ANEXOS

ANEXO A – PÁGINA DO SITE DO MPF SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO

29.10.016 Entenda o caso — Caso Lava Jato http://lavajato.mpf.mp.br/entendaocaso 1/3

O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de

postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou. A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima‐se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma‐se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia. No primeiro momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014, perante a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras. Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa. As empreiteiras ‐ Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em licitações, para conseguir os contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a empresa que aceitasse fazer a obra pelo menor preço. Neste caso, as empreiteiras se cartelizaram em um “clube” para substituir uma concorrência real por uma concorrência aparente. Os preços oferecidos à Petrobras eram calculados e ajustados em reuniões secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o preço, inflado em benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal.

O cartel tinha até um regulamento, que simulava regras de um campeonato de futebol, para definir como as obras seriam distribuídas. Para disfarçar o crime, o registro escrito da distribuição de obras era feito, por vezes, como se fosse a distribuição de prêmios de um bingo

(veja aqui documentos).

Entenda o caso 29.10.2016 Entenda o caso — Caso Lava Jato http://lavajato.mpf.mp.br/entendaocaso 2/3

Funcionários da Petrobras ‐ As empresas precisavam garantir que apenas aquelas do cartel fossem convidadas para as licitações. Por isso, era conveniente cooptar agentes públicos. Os funcionários não só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as participantes, em um

jogo de cartas marcadas. Segundo levantamentos da Petrobras, eram feitas negociações diretas injustificadas, celebravam‐se aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam‐se contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas, dentre outras irregularidades. Operadores financeiros ‐ Os operadores financeiros ou intermediários eram responsáveis não só por intermediar o pagamento da propina, mas especialmente por entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo aos beneficiários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso acontecia em espécie, por movimentação no exterior e por meio de contratos simulados com empresas de fachada. Num segundo momento, o dinheiro ia do operador financeiro até o beneficiário em espécie, por transferência no exterior ou mediante pagamento de bens. Agentes políticos ‐ Outra linha da investigação – correspondente à sua verticalização – começou em março de 2015, quando o Procurador‐Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador‐Geral. A primeira instância investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal aqueles sem prerrogativa de foro. Essa repartição política revelou‐se mais evidente em relação às seguintes diretorias: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT. Veja a representação gráfica do esquema: 29/10/2016 Entenda o caso — Caso Lava Jato http://lavajato.mpf.mp.br/entendaocaso 3/3

FONTE: site Ministério Público Federal, 2017. As investigações continuam tanto na 1ª instância quanto no Supremo Tribunal Federal.

ANEXO B – PÁGINA DO SITE DA FORBES SOBRE A LISTA DAS 2000 MAIORES

EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO DO MUNDO DE 2016

Extraído: site Forbes, 2017.