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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO:
UM ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA
PETROBRAS
Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku
São Paulo
2017
Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO: UM
ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA PETROBRAS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para
a obtenção do título de Mestre em
Controladoria Empresarial.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera
São Paulo
2017
S556c Shimabuku, Fabiano Augusto Akiyama
Causas e consequências da operação lava-jato: um estudo
econômico e socioambiental da Petrobrás / Fabiano Augusto
Akiyama Shimabuku - 2017.
102 f.: il.; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial)
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2017.
Orientação: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera
Bibliografia: f. 89-96
1. Operação lava jato. 2. Corrupção. 3. Petrobrás. 4.
Prejuízo. I. Título.
CDD 658.4012
Fabiano Augusto Akiyama Shimabuku
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA OPERAÇÃO LAVA JATO: UM
ESTUDO ECONÔMICO E SOCIOAMBIENTAL DA PETROBRAS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para
a obtenção do título de Mestre em
Controladoria Empresarial.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Jose Roberto Ferreira Savoia — Examinador Externo
Universidade de São Paulo
a Examinador ac enzie
of. Dr. on ra niver idade Presbiteri
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha esposa, Patricia, pela paciência e compreensão, sempre me
motivando a nunca desanimar diante das dificuldades, que foram muitas ao longo dessa
trajetória.
Aos meus filhos, Caio e Ian, que são minha inspiração, minha paixão e a quem todo
sacrifício nunca é demais.
Aos meus pais, Ana e Antonio, que sempre deram a devida importância à educação,
não importando as dificuldades, que também foram diversas ao longo de todas as nossas
vidas.
Ao Instituto Presbiteriano Mackenzie, cujo orgulho de ser Mackenzista me foi
despertado desde os tempos da graduação.
Agradeço ao meu orientador, Prezado Professor Doutor Luiz Carlos Jacob Perera,
cujos ensinamentos foram valiosíssimos e que sempre contribuiu de forma exemplar para que
o trabalho atingisse o objetivo da melhor forma possível.
Ao Coordenador do Curso Prof. Dr. Henrique Formigoni, pela oportunidade dada.
Aos Professores Doutores Jose Roberto Ferreira Savoia, Ronaldo Gomes Dultra de
Lima e Umberto Guarnier Mignozzetti, membros da banca examinadora, que contribuíram de
maneira brilhante - durante o processo de qualificação e de avaliação - com seus
conhecimentos e recomendações.
Aos demais professores do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis, um
agradecimento todo especial pelos ensinamentos, dicas, contribuições em geral, que
auxiliaram muito neste processo.
Aos colegas de classe, que compartilharam muitas experiências, sempre propiciando
um ambiente leve e descontraído.
RESUMO
Este estudo teve como objetivo identificar como os casos de corrupção, investigados
no âmbito da Operação Lava Jato, influenciaram a sustentabilidade da Petrobras, com base na
avaliação dos relatórios financeiros e de sustentabilidade e na análise dos preços das ações da
companhia. O período de análise estendeu-se de 2011 a 2016 de acordo com a disponibilidade
dos relatórios utilizados [demonstrativos financeiros e relatórios de sustentabilidade (Global
Reporting Initiative, o GRI)]. Os procedimentos de análise utilizaram método qualitativo e
quantitativo. A pesquisa qualitativa analisou em profundidade o desempenho dos principais
métodos de combate à corrupção citados em pesquisa global realizada pela Association of
Certified Fraud Examiners (ACFE): Canal de Denúncias, Controles Internos, Auditoria
Interna e Auditoria Externa. A parte quantitativa da pesquisa efetuou um estudo de evento
sobre a variação dos preços das ações da Petrobras a partir da homologação da delação
premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da empresa – marco operacional da operação
Lava Jato. Os principais resultados evidenciaram que:(i) a atividade fraudulenta na empresa
perdurava há mais de dez anos, quando a operação Lava Jato foi deflagrada;(ii) os
procedimentos antifraudes tanto interna, quanto externamente, eram inoperantes; (iii) a
variação das ações da Petrobras foram influenciadas pelos eventos eleitorais coincidentes com
a deflagração da operação Lava Jato; (iv) medidas efetivas antifraude somente foram
efetivadas após a operação Lava Jato; (v) efetivamente, a Petrobras reduziu seu patrimônio e
investimentos tanto na área social quanto ambiental.
Palavras-chave: Operação Lava Jato, Corrupção, Petrobras, Desvalorização, Prejuízo.
ABSTRACT
This study had as objective identifying how corruption cases, investigated by
Operação Lava Jato, have impacted Petrobras’ sustainability, based on assessment of financial
and sustainability reports and based on assessment of its stock prices. The analysis period was
2011 to 2016, according to the available reports (financial statements and sustainability
reports (Global Reporting Initiative – GRIE)). The analysis procedures have used qualitative
and quantitative methods. The qualitative research has analised deeply performance of the
main methods to fight corruption according to the global research made by Association of
Certified Fraud Examiners (ACFE): Complaint Channel, Internal Controls, Internal Audit and
External Audit. The quantitative research has made an study of event over the change of
Petrobras stock prices as from the homologation of Paulo Roberto da Costa awarding
delation, former company’s director – operational beginning of Operação Lava Jato. The main
results have evidenced that: i) fraud activity last over ten years when Operação Lava Jato
began; ii) antifraud procedures, internally and externally, were ineffective; iii) change of
Petrobras stocks were impacted by elections running on the same period of Operação Lava
Jato; iv) antifraud effective measures only were implemented after Operação Lava Jato; v)
Petrobras has reduced its financial position and its investments on social and environmental
areas.
Keywords: Operação Lava Jato, Corruption, Petrobras, Depreciation, Loss.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
1.1 Questão de pesquisa ........................................................................................................... 16
1.2 Objetivo geral ..................................................................................................................... 17
1.3 Objetivos específicos .......................................................................................................... 17
1.4 Justificativa ......................................................................................................................... 18
1.5 Contribuições ...................................................................................................................... 18
1.6 Limitações .......................................................................................................................... 19
1.7 Organização ........................................................................................................................ 19
2 REFERENCIAL TEÓRICO E FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES .............................. 21
2.1 Teoria da agência ................................................................................................................ 21
2.2 Corrupção ........................................................................................................................... 22
2.3 Combate à corrupção .......................................................................................................... 25
2.4 Responsabilidade Social Corporativa ao Desenvolvimento Sustentável e à
Sustentabilidade ....................................................................................................................... 36
2.5 Petrobras e a formulação de hipóteses ................................................................................ 44
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 63
3.1 Tipo de pesquisa ................................................................................................................. 63
3.2 Procedimentos de teste ....................................................................................................... 67
4 RESULTADOS .................................................................................................................... 71
4.1 Hipóteses HA,1 e HA,2 .......................................................................................................... 71
4.2 Hipóteses HA,3 e HA,4 .......................................................................................................... 74
5 CONCLUSÕES .................................................................................................................... 85
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 89
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Controles antifraudes .......................................................................................... 31
Figura 2 – Triple Bottom Line ................................................................................................ 37
Figura 3 – Posição acionária em 31 de dezembro de 2015 .................................................. 46
Figura 4 – Representação gráfica do esquema .................................................................... 48
Figura 5 – Preço das ações PN Petrobras ............................................................................. 50
Figura 6 – Resultado Consolidado (R$ Bilhões) .................................................................. 50
Figura 7 – Estrutura Organizacional da Petrobras ............................................................ 51
Figura 8 – Etapas do Estudo de Evento ................................................................................ 65
Figura 9 – CAR das ações da Petrobras ............................................................................... 69
Figura 10 – Posição da Petrobras no ranking da Forbes .................................................... 75
Figura 11 – Impairment nos ativos (R$ Bilhões) .................................................................. 76
Figura 12 – Resultados Consolidados (R$ Bilhões) ............................................................. 78
Figura 13 – Retorno das ações das 5 Maiores Petrolíferas Americanas x Petrobras ....... 79
Figura 14 – Retornos trimestrais das ações das 5 Maiores Petrolíferas Americanas x
Petrobras em 2014 .................................................................................................................. 81
Figura 15 – Retorno acumulado das ações da Petrobras – Set/2014 a Dez/2014 .............. 82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Métodos de detecção por região – América Latina e Caribe ........................... 30
Tabela 2 – Canal de Denúncias ............................................................................................. 71
Tabela 3 – Gerenciamento de Controles Internos ............................................................... 72
Tabela 4 – Auditoria Externa ................................................................................................ 74
Tabela 5 – Perdas registradas nos ativos da Petrobras ....................................................... 76
Tabela 6 – Resultados da Petrobras (R$ Bilhões) ................................................................ 78
Tabela 7 – Classificação do rating de risco da Petrobras .................................................... 79
Tabela 8 – Investimentos socioambientais da Petrobras .................................................... 83
Tabela 9 – Quantidade de empregados diretos e indiretos ................................................. 84
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAA American Accounting Association
ACFE Association of Certified Fraud Examiners
AICPA American Institute of Certified Public Accountants
BMF&BOVESPA Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo
CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável
CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies
CFC Conselho Federal de Contabilidade
CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
COSO Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission
CVM Comissão de Valores Mobiliários
E&P Exploração e Produção
ERP Enterprise Resource Planning
FEI Financial Executives Internacional
GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
GRI Global Reporting Iniciative
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil
IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
IFAC International Federation of Accountants
IFRS International Financial Reporting Standard
IIA Institut of Internal Auditors
ITRs Informações Trimestrais
KPMG KPMG Auditores Independentes
MPF Ministério Público Federal
NYSE New York Securities Exchange
OECD Organisation for Economic Co-operation and Development
PCAOB Public Company Accounting Oversight Board
PPPC Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção
PRISMA Programa Integrado de Sistemas e Métodos de Avaliação
PWC PRICEWATERHOUSECOOPERS
SEC Securities Exchange Commission
SOX Sarbanes-Oxley
TBL Triple Bottom Line
UGC Unidade Geradora de Caixa
UNEP United Nations Environment Programme
WBCSD World Business Council for Sustainable Development
NÚMERO DA ÁREA DO CNPq
6.00.00.00-7 Ciências Sociais Aplicadas
6.02.02.01-7 Contabilidade e Finanças Públicas
6.02.04.00-1 Ciências Contábeis
6.03.02.03-8 Contabilidade Nacional
15
1 INTRODUÇÃO
Considerada a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já
teve (Ministério Público Federal - MPF, 2016), o caso envolvendo desvios de recursos,
propinas, lavagem de dinheiro, entre outros esquemas de corrupção na empresa estatal
brasileira Petrobras tem sido a manchete principal, há pelo menos três anos, de toda imprensa
nacional, com forte repercussão internacional.
À investigação deste esquema de corrupção, envolvendo a maior empresa estatal do
país, destinou-se o nome de Operação Lava Jato.
Conforme o MPF (2016), estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da
Petrobras esteja na casa dos bilhões de reais. Este esquema dura há, pelo menos, dez anos e
envolve grandes empreiteiras nacionais, funcionários da estatal, políticos e agentes do
mercado financeiro.
Os casos de corrupção envolvendo empresas do setor público podem ter uma relação
direta com os políticos eleitos. Assim, o conceito original da teoria da agência de que a
assimetria da informação existe entre o principal e o agente, com os agentes esperando
maximizar sua própria riqueza, pode ser aplicado ao Governo (PILCHER, 2014).
A perspectiva habitual do conflito de agência é de que o servidor público é o agente e
os cidadãos são os principais que precisam destinar incentivos e controles para evitar que o
servidor público receba propina (CUERVO-CAZURRA, 2016).
Os controles antifraudes são essenciais para detectar e mitigar atos de corrupção.
Contudo, para mitigar e detectar a corrupção eficientemente se faz necessário que os
instrumentos funcionem de forma conjunta, assegurando o fortalecimento dos sistemas de
controles internos, sendo substancial que cada empresa adote métodos de combate à
corrupção de acordo com o ambiente em que atua.
Existem vários instrumentos utilizados para o combate e controle da corrupção. Este
trabalho utilizou os principais controles de combate à corrupção citados na pesquisa global
realizada pela Association of Certified Fraud Examiners - ACFE (2016) na região da América
Latina e Caribe, dentre os quais se destacam: Canal de Denúncias, Gerenciamento de
Controles Internos, Auditoria Interna e Auditoria Externa.
No caso específico da Petrobras, tais controles existiam e não foram capazes de
detectar e impedir os casos de corrupção em que a companhia se envolveu e são alvos de
investigação pela Operação Lava Jato.
16
Este trabalho se propôs a examinar e identificar os impactos da Operação Lava Jato na
Petrobrás, pela ótica do Triple Bottom Line (Elkington, 1994), ou seja, avaliando os impactos
nos três pilares que compõem sustentabilidade: econômico, social e ambiental.
Para isso, foram utilizadas as metodologias da análise documental e de estudo de
evento. Para identificar o impacto econômico da Operação Lava Jato na Petrobras, utilizaram-
se ambas as metodologias, sendo que o estudo de evento foi usado para medir o impacto dos
desdobramentos da Operação Lava Jato sobre o preço das ações da Petrobrás e a análise
documental para medir os demais impactos econômicos, como impairment, resultado
contábil, entre outros.
Já, nos aspectos social e ambiental, a análise documental foi realizada, utilizando-se os
relatórios de sustentabilidade da empresa, na tentativa de se obter informações a respeito dos
investimentos realizados pela companhia antes e após a deflagração da Operação Lava Jato.
De acordo com a Global Reporting Iniciative (GRI, 2016), o Relatório de
Sustentabilidade é um relatório publicado por uma empresa ou organização sobre os impactos
econômicos, ambientais e sociais causados por suas atividades diárias.
No relatório de sustentabilidade da Petrobras, encontram-se as informações a respeito
dos investimentos sociais e ambientais realizados no período. Foram analisados os relatórios
dos anos de 2011 a 2015 para fins deste estudo.
1.1 Questão de pesquisa
De acordo com Booth, Colomb e Williams (2008), o problema de pesquisa surge,
quando seu fundamento lógico implica naquilo em que o pesquisador não tem conhecimento,
porém, deveria ter. Já Martins e Theóphilo (2007) explicam que um problema de pesquisa tem
sua origem na inquietação, na dúvida, no interesse e na curiosidade sobre um determinado
assunto desconhecido e/ou uma questão ainda não resolvida.
De acordo com Lupion (2016), escândalos de corrupção recentes, como os revelados
pelas operações Zelotes e Lava Jato, envolvendo grandes corporações, revelam brechas nos
controles dos sistemas públicos, sendo exploradas para diminuir o valor dos impostos devidos
ou desviar recursos para políticos, servidores públicos e operadores financeiros.
17
Neste sentido, a inquietação que se manifestou, neste estudo, relaciona-se aos
impactos econômicos, sociais e ambientais que os casos de corrupção investigados no âmbito
da Operação Lava Jato causaram a maior empresa estatal do país: a Petrobras.
Importante destacar que este estudo se limitou a discutir os aspectos aplicáveis a
empresas de grande porte, as quais possuem grande complexidade operacional e buscam as
melhores práticas de governança corporativa.
Assim, por conta da importância do assunto e da implicação econômica, social e
ambiental envolvida, formulou-se a seguinte questão de pesquisa:
Quais as principais causas, no âmbito da área de Controladoria, da
desvalorização da Petrobras e as consequências econômicas e socioambientais
levantadas a partir da Operação Lava Jato?
1.2 Objetivo geral
O objetivo do trabalho foi identificar, no âmbito da área de Controladoria, os
principais fatores relacionados aos esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava
Jato que levaram à desvalorização da Petrobras, assim como levantar os prejuízos causados a
esta empresa.
1.3 Objetivos específicos
O primeiro objetivo específico foi conectar o objetivo geral com o contexto e os
fundamentos teóricos. Isto foi feito com base na literatura apresentada em trabalhos
científicos publicados em periódicos e congressos nacionais e internacionais, assim como
pesquisas apresentadas por associações profissionais e mais elementos disponíveis como a
imprensa especializada.
Dessa maneira, foi possível levantar, inicialmente, os principais controles antifraudes
utilizados pelas empresas e também foram considerados os 4 (quatro) principais controles
citados nas pesquisas sobre fraudes. Posteriormente, por intermédio destes controles
antifraudes, foram identificadas as principais atividades responsáveis pelo seu monitoramento
18
e, consequentemente, pelo combate e detecção as fraudes corporativas: Canal de Denúncias,
Controles Internos, Auditoria Interna e Auditoria Externa.
O segundo objetivo específico foi identificar, por intermédio de análise das
informações disponibilizadas no site da Petrobras e em seus relatórios financeiros, se a
companhia, mediante tais controles, havia identificado quaisquer sinais de corrupção, antes da
deflagração da Operação Lava Jato.
O terceiro objetivo específico foi apresentar estudo de evento sobre os preços das
ações da Petrobras antes e depois da Operação Lava Jato e expor análise documental de seus
relatórios financeiros, no intuito de se obter o impacto econômico desta investigação.
O quarto e último objetivo específico foi identificar, no relatório de sustentabilidade
da empresa, quais foram os impactos da Operação Lava Jato em seus investimentos sociais e
ambientais. Para isto, foram analisados os relatórios dos anos 2011 a 2015.
1.4 Justificativa
Não há muitos trabalhos realizados até o momento a respeito dos impactos da
Operação Lava Jato na Petrobras. Assim, este trabalho abordou um caso único de esquema de
corrupção com ampla cobertura nacional e internacional, envolvendo a maior empresa estatal
do país e outras importantes empresas do setor privado, além de servidores públicos, políticos
e agentes financeiros.
Justifica-se, então, o desenvolvimento deste trabalho, na medida em que se destinou
foco e esforço na identificação dos impactos econômicos, sociais e ambientais deste esquema
de corrupção na maior empresa estatal do país, cuja legitimidade - perante a sociedade - foi
abalada.
1.5 Contribuições
Este trabalho contribuiu para o entendimento de como a Petrobrás foi impactada pelo
esquema de corrupção, incrementando-se o conhecimento a respeito destes impactos, em caso
único de corrupção, envolvendo agentes públicos, políticos, empreiteiras e agentes
financeiros.
19
A partir do conhecimento adquirido, também foram sugeridas medidas de controles
internos e externos que objetivam mitigar ou evitar possíveis atos deletérios futuros,
contribuindo para que as empresas alinhem suas atividades de negócios aos fundamentos
relacionados à sustentabilidade econômica e socioambiental e combate à corrupção.
Adicionalmente, embora a análise tenha se concentrado nas causas e consequências
dos casos de corrupção investigados pela Lava Jato na Petrobras, grandes empresas
envolvidas, como Odebrecht, OAS, entre outras, podem beneficiar-se dos aprendizados e das
recomendações deste trabalho.
1.6 Limitações
Como limitação do trabalho, aponta-se o escopo, o qual se limita a uma única empresa
dentre as envolvidas na Operação Lava Jato, no caso, a Petrobras, que prepara e divulga
publicamente o relatório de sustentabilidade. As demais empresas investigadas na Operação
Lava Jato não dispõem deste relatório.
Outra limitação refere-se ao fato de a Operação Lava Jato ainda estar em andamento
na ocasião da elaboração deste trabalho, qualificação e defesa, com acordos entre réus e a
justiça brasileira sendo construídos, possibilitando que novos fatos possam surgir, trazendo
novos impactos à Petrobras.
1.7 Organização
Para alcance do objetivo proposto, o presente estudo foi estruturado em cinco
capítulos.
O primeiro tratou da própria introdução, em que o contexto da Operação Lava Jato, os
controles antifraudes mais utilizados para detecção e combate à corrupção, a teoria e a
metodologia utilizadas foram apresentados. Também foram expostos os objetivos pretendidos
e a questão de pesquisa que delineou todo o estudo, bem como as justificativas, as
contribuições e as limitações.
O segundo capítulo tratou da revisão bibliográfica de literatura, que apresentou a
estrutura teórica do estudo, dividida em cinco partes. Inicialmente, abordaram-se os aspectos
20
relacionados com a Teoria da Agência com conceitos, definições e relação direta, com a
ocorrência de casos de corrupção dentro das organizações empresariais. Em seguida,
explanou-se o conceito referente à fraude corporativa, mencionando a corrupção relacionada
com os quatro fatores desencadeadores do ato fraudulento dentro das organizações e sua
relação com o setor público. Na sequência, foram mencionados os principais procedimentos
de combate à fraude, conforme as pesquisas realizadas por órgãos profissionais. A próxima
parte discorreu sobre sustentabilidade, suas principais definições e o desenvolvimento
sustentável no ambiente corporativo. Também foram apresentadas as formas de evidenciação
da sustentabilidade e o principal relatório utilizado atualmente pelas organizações quando se
trata de reportar suas ações a respeito do tema. Por fim, foi apresentada a empresa Petrobras,
objeto do estudo e sua relação com os casos de corrupção, controles, sustentabilidade e
impactos da Operação Lava Jato.
O terceiro capítulo relacionou-se com os detalhes da metodologia empregada para o
desenvolvimento do trabalho, classificando-a quanto à natureza, à forma de abordagem e aos
objetivos e procedimentos. Em prosseguimento, foram descritos a definição da população, a
coleta, o tratamento e a análise dos dados obtidos.
O quarto capítulo trouxe os resultados obtidos mediante os quais foram evidenciados
os impactos econômicos, sociais e ambientais da Operação Lava Jato na Petrobras.
E, por final, o quinto capítulo apresentou os principais aspectos encontrados na
pesquisa e as respectivas conclusões, suas implicações para a academia e para a prática nas
empresas, suas limitações e sugestões para estudos futuros relacionados ao tema.
21
2 REFERENCIAL TEÓRICO E FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES
Este capítulo tem como objetivo discorrer sobre os principais aspectos conceituais que
baseiam o trabalho, por meio de uma revisão resumida da literatura relacionada à Teoria da
Agência, Corrupção e Controles antifraudes, Sustentabilidade e o caso da Petrobras.
2.1 Teoria da agência
A teoria da agência surgiu de uma corrente de pensamento que enfatizava a
necessidade de se conhecer a realidade da empresa, a partir dos problemas associados à
delegação de autoridade e à tomada de decisão. Seu objetivo era analisar e conhecer, com
maior profundidade, o papel da empresa no mercado, de forma a configurar adequadamente
uma série de relações complexas que existem no íntimo da estrutura organizacional
(COSENZA; ALEGRÍA; LAURENCEL, 2010).
De acordo com Jensen e Meckling (1976), uma relação de agência é um contrato em
que um indivíduo (principal) emprega outro indivíduo (agente) para prestar serviços em seu
nome, o que envolve delegar a autoridade da tomada de decisão. A relação entre acionistas e
administradores de uma corporação encaixa na definição de uma relação de agência.
Mesmo o agente sendo contratado para atuar de forma a maximizar o interesse do
principal, ele também possui e persegue seus próprios interesses. Assim, quando estabelecida
a relação de agência, as decisões empreendidas dentro de uma companhia tendem a ser
conflituosas. Ao visar seus próprios interesses, o agente pode atuar de forma a não atender aos
objetivos do principal. Esta divergência derivada das necessidades do agente e do principal é
denominada como conflito de agência.
Lambert (2001) apresenta quatro razões típicas para o surgimento dos conflitos de
agência: (i) aversão ao esforço por parte do agente; (ii) desvio de recursos por parte do agente
para seu consumo ou uso; (iii) horizontes de tempo diferentes (o agente não é tão preocupado
com o efeito futuro de suas ações, pois não planeja permanecer na companhia); e (iv)
diferentes níveis de aversão ao risco por parte do agente.
Na relação entre acionistas e administradores, os acionistas podem limitar tais
conflitos, monitorando as atividades dos executivos e estabelecendo incentivos contratuais
apropriados a eles. Desta forma, os acionistas incorreriam em custos para alinhar os interesses
22
dos administradores aos seus, que são denominados de custos de agência (SAITO;
SILVEIRA, 2008).
Os custos de agência incluem os custos de estruturação, monitoração e alinhamento de
um conjunto de contratos entre agentes com conflitos de interesses. O controle de tais custos é
importante para não permitir que o agente se desvie dos interesses do principal. Um efetivo
sistema de controle implica na separação entre propriedade e controle (FAMA; JENSEN,
1983).
Contudo, estes problemas de custos de agência citados não ocorrem na maioria das
empresas brasileiras, em virtude de sua forte concentração acionária, em que é muito comum
a presença de acionistas controladores na administração das empresas e não de executivos
contratados para este fim (MOURA et al., 2014).
Uma relação direta pode ser estabelecida entre o político eleito e o setor público que é
encarregado pela implementação da política de governo. Assim, o conceito original da teoria
da agência de que a assimetria da informação existe entre o principal e o agente, com os
agentes esperando maximizar sua própria riqueza, pode ser aplicada ao Governo (PILCHER,
2014).
A visão usual da agência é que o funcionário público é o agente e os cidadãos são os
principais que precisam designar incentivos e controles para prevenir o funcionário público de
pedir propina (CUERVO-CAZURRA, 2016).
Neste contexto, pode-se fazer uma analogia com os conflitos existentes entre
acionistas controladores (agentes) e não controladores (principais), os quais são derivados, em
sua maioria, da expropriação realizada pelo controlador em detrimento dos interesses dos
demais acionistas.
Os conflitos de agência estão inseridos na realidade de qualquer ambiente corporativo,
estes podem manifestar-se de diversas formas dentro das companhias, desde desalinhamentos
sobre os rumos estratégicos da empresa até casos mais graves como atos de corrupção.
2.2 Corrupção
Corrupção tem origem na palavra latina corruptionem, que quer dizer corrompimento,
decomposição, devassidão, depravação, suborno, perversão, peita. Corrupção como ato ou
efeito de corromper, atualmente é uma expressão que está tão generalizada que, no campo
23
tecnológico, passou a significar tudo o que envolve a desonestidade e a falta de caráter (SÁ;
HOOG, 2010).
Embora seja um fenômeno antigo em todas as sociedades, a corrupção vem crescendo
em virtude da complexidade da vida social e do desenvolvimento econômico (ABREU,
2011).
Para Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998), corrupção significa transação ou troca
entre quem corrompe e quem se deixa corromper, normalmente uma promessa de recompensa
em troca de um comportamento que favoreça os interesses do corruptor.
Wells (2008) define corrupção como ato intencional de uma pessoa, que usa de seu
cargo ou posição, para obter vantagem inconsistente com seu dever e com os direitos de
outros.
Com base na análise econômica, Abreu (2011) conceitua corrupção como uma
transação, um processo de troca, uma relação contratual que configura um mercado informal,
ilegal, em que agentes econômicos interagem pelo lado da oferta como produtores de
decisões, detendo poder político, social e institucional e, pelo lado da procura, como
detentores do poder de compra sustentado por seu patrimônio.
Esta prática quase sempre ocorre pelo uso de expedientes escusos como comissões,
propinas e utilização particular de bens públicos (SÁ; HOOG, 2010).
Araújo e Sanchez (2005) e Santos, Amorim e Hoyos (2010) argumentam que os
reflexos da corrupção impedem o crescimento econômico, diminuem a capacidade do Estado
em fornecer serviços fundamentais à sociedade, desmotiva a população a buscar o bem
comum e influencia - de forma negativa - a sustentabilidade econômica, social e política de
qualquer sociedade.
No Brasil, a corrupção está intimamente ligada com o setor público. Os estudos
realizados por pesquisadores brasileiros apresentam o conceito de corrupção como o
comportamento de indivíduos com autoridade ou posição em cargos públicos que se desviam
de suas funções para obter vantagens pessoais ou para terceiros, tanto de caráter financeiro
quanto de caráter pessoal, envolvendo o patrimônio público (ARAÚJO, 2005; COSTA, 2008;
EMPRESA LIMPA, 2010; MIARI; MESQUITA; PARDINI, 2015; SODRÉ; ALVES, 2010).
Assim, neste trabalho, é utilizada a classificação da Árvore da Fraude [estrutura que propõe
51 (cinquenta e um) esquemas individuais de fraudes, divididos em três grupos: Corrupção,
Apropriação Indevida de Ativos e Demonstrações Financeiras Fraudulentas (ACFE, 2016)],
que caracteriza corrupção somente quando há envolvimento do poder público.
24
Dessa forma, corrupção pode ser conceituada como o uso indevido de poder ou
autoridade concedida a uma pessoa, com o intuito de auferir vantagens pessoais ou a terceiros,
através de propinas, subornos, comissões, entre outros, sempre em prejuízo da organização
que representa, infringindo com as atribuições que lhe foram outorgadas. Os resultados desta
conduta estão relacionados a perdas financeiras e patrimoniais, custos operacionais, impactos
sociais e políticos.
De acordo com o relatório da ACFE (2016), a corrupção está dividida em quatro tipos:
Suborno
De acordo com Wells (2008), trata-se, essencialmente, de uma transação de negócios
ilegal ou antiética. Normalmente, ocorrem sob duas formas: propina e licitação fraudulenta.
Propina é o pagamento de comissão ao funcionário de uma instituição com o objetivo de obter
vantagem em um esquema de superfaturamento. Já licitação fraudulenta ocorre quando um
funcionário de forma ilegal auxilia um fornecedor a vencer um contrato por intermédio de
processo de licitação.
Gratificações ilegais
Wells (2008) afirma que gratificações ilegais são similares ao suborno, exceto quando
não ocorre necessariamente a intenção de influenciar uma decisão particular de negócios.
Contudo, não é fácil provar a real intenção por trás destas gratificações, assim muitas
empresas públicas e privadas não permitem que seus empregados recebam gratificações de
parceiros de negócios.
Extorsão econômica
No caso de extorsão econômica, Wells (2008) esclarece que o funcionário de uma
empresa demanda um pagamento de um fornecedor ou de um comprador para tomar uma
decisão em favor deste em uma transação entre suas empresas.
Conflitos de interesse
Conforme Wells (2008), conflitos de interesse ocorrem quando um funcionário, gestor
ou executivo possui interesse pessoal ou econômico não declarado em uma transação que
25
afeta adversamente a companhia que representa. A questão-chave é o interesse não declarado,
ou seja, a empresa não tem ciência que o empregado possui sua lealdade dividida entre a
empresa e seus interesses pessoais.
A ACFE é a maior organização antifraude do mundo e a pioneira no fornecimento de
treinamento e educação antifraude. Sua missão é reduzir a incidência de crimes de fraude e de
colarinho branco (ACFE, 2016).
A ACFE produz um relatório que fornece a análise de casos de fraude investigados em
determinados períodos, chamado Report to the Nations on Occupational Fraud and Abuse.
Sua versão mais recente divulgada em 2016 compreende a análise de 2.410 casos de fraude
investigados entre janeiro de 2014 e outubro de 2015, ocorridos em 114 países (ACFE, 2016).
De acordo com este relatório, aproximadamente 35% dos casos analisados envolveram
corrupção, que causaram uma perda média de US$ 200.000,00 (duzentos mil dólares). Ainda,
de acordo com o relatório, os casos de fraude mais frequentes na América Latina e Caribe
foram os de corrupção, representando 45,5% dos casos (ACFE, 2016).
Outro dado interessante deste relatório refere-se ao tamanho das empresas em que os
casos de corrupção ocorreram. A corrupção estava mais presente em grandes organizações
(40,2% dos casos), consideradas, para fins da análise, aquelas com mais de 100 empregados
(ACFE, 2016).
Por fim, o relatório também apresenta os casos de corrupção por indústria de atuação.
Especificamente, no caso da indústria de petróleo e gás, de um total de 74 casos de fraude, 36
(48,6%) eram casos de corrupção (ACFE, 2016). Esta indústria está entre as com maior
proporção de casos de corrupção da análise.
2.3 Combate à corrupção
Em virtude do aumento e da evolução dos meios utilizados na aplicação de atos de
corrupção que impactam adversamente as organizações públicas e privadas no mundo,
gerando perdas financeiras, riscos de imagem, insegurança e dúvidas com relação à
confiabilidade nos processos, surge a necessidade de adoção de métodos eficientes de
combate à corrupção, com o objetivo de mitigar tais atos dentro das organizações.
Para se combater a corrupção, dois mecanismos de controle são fundamentais em uma
organização: o sistema de controle interno e o sistema de contabilidade. O sistema de controle
26
interno é o processo projetado para proporcionar segurança razoável, e garantir eficiência e
efetividade das operações da entidade e para proteger o patrimônio contra desfalques e outras
práticas inapropriadas. O sistema de contabilidade deve ser implantado a fim de atender aos
requisitos de clareza e veracidade (SILVA, 2012).
Este estudo está centrado no sistema de controle interno e nos instrumentos que
monitoram e acompanham os controles, detectam e mitigam atos de corrupção.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) é a principal referência no
Brasil para o desenvolvimento das melhores práticas de Governança Corporativa (IBGC,
2016). Segundo seu Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, é a diretoria,
amparada pelos órgãos de controle ligados ao Conselho de Administração (como o Comitê de
Auditoria) e pela Auditoria Interna, que deve estabelecer e operar um sistema de controles
internos eficaz para monitorar os processos operacionais e financeiros, inclusive os
relacionados com a gestão de riscos e de conformidade (compliance), avaliando, no mínimo
anualmente, a eficácia deste sistema e prestando contas ao Conselho de Administração sobre
tal avaliação.
A Lei norte-americana Sarbanes-Oxley – The Sarbanes-Oxley Act (SarbOx e/ou SOx)
aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos em 30 de julho de 2002, e sancionada, em
seguida, pelo presidente George W. Bush, em decorrência dos escândalos, envolvendo
algumas das maiores corporações do mundo, criou inúmeros e significativos deveres e
responsabilidades a serem atendidos pelos administradores de companhias abertas com
valores mobiliários negociados nos Estados Unidos (sejam estas americanas ou não). A Seção
404 desta lei estabelece a responsabilidade dos administradores da empresa de implantar e
manter uma estrutura de controle interno e de procedimentos apropriados para a elaboração
das demonstrações financeiras, bem como a necessidade de avaliação no mínimo anual da
efetividade destes controles (SILVA, 2012).
Já o Conselho Federal de Contabilidade – CFC, mediante a NC TA 240 –
Responsabilidade do Auditor em Relação à Fraude, no Contexto da Auditoria de
Demonstrações Contábeis (2009), estabelece que a responsabilidade pela prevenção e a
detecção da fraude é das pessoas responsáveis pela governança da entidade e de sua
administração. Salienta a importância de que a administração, com a supervisão dos
responsáveis pela governança, dê ênfase à prevenção da fraude, no intuito de reduzir as
oportunidades de sua ocorrência, e a dissuasão da fraude, com o objetivo de persuadir os
indivíduos a não perpetrá-la: isso envolve um comprometimento na criação de uma cultura de
27
honestidade e comportamento ético. Aborda também o papel da supervisão geral por parte dos
responsáveis pela governança que inclui a consideração do potencial de burlar controles ou de
outra influência indevida sobre o processo de elaboração de informações contábeis, tais como
tentativas da administração de gerenciar os resultados para influenciar a percepção dos
analistas quanto à rentabilidade e desempenho da entidade.
Fama e Jensen (1983) esclarecem que o ápice dos sistemas de controle de decisão de
grandes e pequenas organizações é alguma forma de Conselho de Administração. Tais
conselhos possuem o poder de contratar, demitir e remunerar os administradores e ratificar e
monitorar decisões importantes.
A empresa de auditoria e consultoria Ernst & Young realiza periodicamente uma
pesquisa global com executivos com responsabilidade de combate à fraude, à propina e à
corrupção, denominada Corporate misconduct – individual consequences. A pesquisa mais
recente publicada em maio de 2016 refere-se ao período entre outubro de 2015 e janeiro de
2016, na qual 2.825 (dois mil e oitocentos e vinte e cinco) indivíduos de 62 (sessenta e dois)
países foram entrevistados. De acordo com os resultados desta pesquisa, embora 84% dos
respondentes acreditem que o Conselho de Administração esteja dando o nível correto de
atenção aos riscos de fraude, propina e corrupção, quase metade deles (49%) acredita que tais
conselhos necessitam de um entendimento mais detalhado dos negócios para efetivamente
proteger a empresa contra estes riscos (ERNST & YOUNG, 2016).
O Conselho de Administração, em conjunto com as áreas de monitoramento dos
controles, deve determinar um plano de contingência a atos de corrupção, concentrando seus
esforços em suas áreas:
deve partir de sua liderança a mensagem correta, clara e consistente de que o
suborno não é permitido e com os recursos apropriados para combater esta
ameaça com uma compreensão dos preceitos anticorrupção, apesar da área de
Compliance ser de responsabilidade de todos da organização;
é vital realizar avaliações periódicas dos riscos, assegurar que todos os riscos
encontrados sejam corrigidos e identificar possíveis alterações no perfil de
risco da companhia, oriundos de novos produtos ou serviços, da ampliação da
atuação geográfica ou por mudanças no modelo de operar;
é necessária a elaboração e a comunicação efetiva de um código de conduta,
treinamento dos profissionais e principalmente um sistema de controles para
monitorar transações suspeitas;
28
devem ser emitidos os relatórios de compliance periódicos ao Conselho de
Administração, assim como o acompanhamento dos canais de denúncia e as
auditorias de parceiros, tudo reavaliado continuamente como parte de um
programa interno eficaz de compliance (PRICEWATERHOUSECOOPERS,
2014).
2.3.1 Sistema de controles internos
De acordo com Antunes (1998), o termo sistemas de controles internos não tem sido
usualmente encontrado na literatura da Ciência da Administração. Porém, existe vasto
material didático na atividade profissional de auditoria. Esta afirmação é corroborada por
Sanches (2007), que esclarece que a terminologia “controles internos” tem sido usada até os
dias atuais quase que exclusivamente por profissionais e acadêmicos com relação à auditoria
interna e externa de empresas.
Para Moeller (2004), controle interno é o plano da organização e todos seus métodos
adotados para salvaguardar seus ativos, checar a acurácia e a confiabilidade de seus dados
contábeis, promover a eficiência operacional e encorajar a aderência às políticas internas. Esta
definição reconhece que um sistema de controles internos vai além das questões diretamente
relacionadas às funções dos departamentos contábil e financeiro.
Segundo Longo (2015), controle interno é o processo designado a prover segurança à
execução dos objetivos da empresa no que tange à confiabilidade das informações financeiras,
à eficiência e à efetividade das operações e congruências com leis e regulamentos.
No plano dos órgãos reguladores e emissores de normas de auditoria, no Brasil, pode-
se destacar o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), que deixou de
emitir normas de auditoria e atualmente desenvolve, conjuntamente com o CFC, o trabalho de
tradução e revisão das normas internacionais de auditoria emitidas pela International
Federation of Accountants (IFAC) para serem adotadas no Brasil, mediante aprovação e
emissão pelo CFC (IBRACON, 2016).
Conforme IFAC (2015), controle interno é o processo designado, implementado e
mantido pelos responsáveis pela governança, administração e pessoal para fornecer segurança
razoável sobre o alcance dos objetivos de uma entidade com relação à confiabilidade dos
29
relatórios financeiros, à efetividade, à eficiência das operações e à conformidade com as leis e
com os regulamentos aplicáveis.
O CFC, por meio da Resolução CFC Nº. 1.212/09, aprovou a NBC TA 315 -
Identificação e Avaliação dos Riscos de Distorção Relevante por meio do Entendimento da
Entidade e do seu Ambiente, a qual traz a definição de controle interno descrita exatamente da
mesma maneira que o IFAC o definiu (CFC, 2009).
O Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB) é uma entidade sem fins
lucrativos estabelecida pelo Congresso americano para inspecionar as auditorias de
companhias de capital aberto. Seu objetivo é proteger investidores e o interesse público,
promovendo relatórios de auditoria informativos, precisos e independentes. Para o PCAOB,
controle interno sobre o relatório financeiro é o processo desenhado ou sob supervisão do
principal executivo e dos principais diretores de uma companhia e estabelecido pelo Conselho
de Administração e Diretoria para fornecer segurança razoável sobre a confiabilidade do
relatório financeiro e sobre a preparação das demonstrações financeiras de propósito externo,
de acordo com os princípios contábeis geralmente aceitos (PCAOB, 2007).
O Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission (COSO) é
uma iniciativa conjunta de cinco organizações privadas, American Accounting Association
(AAA), American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), Financial Executives
Internacional (FEI), The Association of Accountants and Financial Professionals in Business
(IMA) e The Institute of Internal Auditors (IIA), cujo objetivo é fornecer liderança de
pensamento no mercado global por meio do desenvolvimento de estruturas conceituais
compreensivas e orientação sobre gestão de risco empresarial, controle interno e mitigação de
fraudes a fim de melhorar o desempenho organizacional e a governança e de reduzir a
extensão de fraudes nas organizações (COSO, 2013).
Para o COSO (2013), controle interno é um processo, efetuado pelo Conselho de
Administração, pela Administração e pelo pessoal de uma entidade, desenhado para prover
segurança razoável com relação ao atingimento de objetivos relacionados às operações,
relatórios e compliance.
É possível afirmar que controles internos apropriados auxiliam as atividades
operacionais de uma empresa a atingirem eficiência e eficácia, proporcionam confiança e
segurança às informações difundidas aos usuários externos e internos e estabelecem
congruência com leis e regulamentos.
30
Já sua ausência ou funcionamento deficiente pode dar origem ou elevar a
probabilidade de ocorrência de casos de corrupção em uma empresa. Conforme pesquisa
global realizada pela PRICEWATERHOUSECOOPERS (2016), no Brasil, 58% dos
fraudadores que atacam as organizações são agentes internos, sendo que 90% destes fazem
parte da gerência média ou executiva. Estes resultados indicam uma possível fragilidade dos
controles internos, cujas medidas servem mais como exercícios burocráticos do que processos
incorporados à cultura da corporação. Segunda a pesquisa, esta hipótese é reforçada pelo fato
de que 17% dos respondentes nunca realizaram uma avaliação de risco de fraude e 28%
realizam este tipo de avaliação apenas uma vez por ano (PRICEWATERHOUSECOOPERS,
2016).
O acompanhamento constante dos sistemas de controles internos é essencial para sua
eficiência e eficácia. O não acompanhamento pode dar origem a falhas, abrindo uma janela de
oportunidades a atos de corrupção dentro das companhias. Assim, as empresas precisam de
instrumentos que acompanhem seus sistemas de controles internos e detectem a possibilidade
da ocorrência de atos de corrupção.
2.3.2 Controles antifraudes
Os controles antifraudes são essenciais para preservar os controles internos da
companhia e especialmente para detectar e mitigar atos de corrupção. Contudo, para mitigar e
detectar a corrupção eficiente e eficazmente se faz necessário que os instrumentos funcionem
de forma conjunta, assegurando o fortalecimento dos sistemas de controles internos, sendo
substancial que cada empresa adote métodos de combate à corrupção, de acordo com o
ambiente em que atua.
Existem vários instrumentos utilizados para o combate e controle da corrupção. Este
trabalho utiliza os principais controles de combate à corrupção citados na pesquisa global
realizada pela ACFE na região da América Latina e Caribe, conforme apresentado na tabela 1
abaixo.
Tabela 1: Métodos de detecção por região - América Latina e Caribe
Controles Antifraudes Casos %
Canal de Denúncias 36,9%
Controles Internos: 24,3%
31
- Revisão da Administração 17,1%
- Reconciliação Contábil 4,5%
- Exame de Documentos 2,7%
Auditoria Interna: 22,5%
- Auditoria Interna 19,8%
- Monitoramento atividades suspeitas 2,7%
Auditoria Externa 2,7%
Outros 13,6%
Fonte adaptada: ACFE 2016.
Assim, ao avaliar os principais controles antifraudes, de acordo com a pesquisa da
ACFE, foram relacionadas as seguintes principais áreas consideradas responsáveis pela
implantação e/ou acompanhamento destes controles de detecção e de mitigação de fraudes
dentro das corporações: Canal de Denúncias, Gerenciamento de Controles Internos, Auditoria
Interna e Auditoria Externa, conforme demonstrado na figura 1 abaixo.
Figura 1: Controles antifraudes
Fonte: elaborado pelo autor, com base na pesquisa ACFE (2016).
Canal de denúncias
De acordo com a pesquisa da ACFE (2016), o canal de denúncias é o método mais
utilizado para a detecção de fraudes, representando 36,9% dos casos. Outra pesquisa, da PWC
(2016), revela que 39% dos casos são detectados pelos canais de denúncias das empresas,
delação interna e externa.
Controles Antifraudes
Canal de Denúncias
Gerencimento de Controles Internos
Auditoria Interna Auditoria Externa
32
Uma das exigências que a Lei Sarbanes-Oxley de 2002 instituiu foi a formalização de
um Canal de Denúncias em todas as empresas, americanas e estrangeiras, que negociam ações
nas bolsas de valores dos EUA, com o objetivo de incentivar a prática de denúncia de atos
fraudulentos nas corporações (FAJARDO, 2012).
No Brasil, não há uma lei específica que obrigue as empresas a implantarem um canal
formal de denúncias. O IBGC, em sua 5ª edição do Código das Melhores Práticas de
Governança Corporativa, menciona o Canal de Denúncias como sendo o instrumento previsto
e regulamentado no código de conduta da organização com o intuito de acolher opiniões,
críticas, reclamações e denúncias, contribuindo para o combate às fraudes e à corrupção
(IBGC, 2015).
Dessa maneira, pode-se definir o Canal de Denúncias, no âmbito do combate à
corrupção corporativa, como o meio pelo qual denúncias de atos de corrupção podem ser
realizadas por indivíduos pertencentes à organização ou por agentes externos. Tem o objetivo
de acolher tais denúncias e tratá-las adequadamente para o combate dos atos de corrupção.
Gerenciamento de controles internos
Conforme pesquisa ACFE (2016), o gerenciamento dos controles internos é o método
utilizado em 24,3% dos casos na detecção de fraudes. A pesquisa da PWC (2016) aponta que,
em 26% dos casos, o método de detecção de fraudes foi o gerenciamento de controles internos
(Análise de dados, Rotatividade dos membros da equipe e Segurança corporativa - TI e
Patrimonial).
As seções 302 e 404 da Lei Sarbanes-Oxley contribuíram para que as companhias
buscassem o fortalecimento de suas estruturas de controles internos, resultando em áreas
exclusivas para implantação e monitoramento de seus controles internos (FREITAS, 2012).
O IBGC, em sua 5ª edição do Código das Melhores Práticas de Governança
Corporativa, afirma que os riscos a que a entidade está sujeita devem ser gerenciados a fim de
subsidiar a tomada de decisão pelos administradores. As ações relacionadas ao gerenciamento
de controles internos devem estar fundamentadas no uso de critérios éticos refletidos no
código de conduta da organização (IBGC, 2015).
Dessa forma, o gerenciamento de controles internos é responsável pela análise dos
procedimentos operacionais, com o intuito de detectar riscos inerentes a tais operações e de
33
implantar e acompanhar os controles internos da organização, contribuindo para o
cumprimento das leis e regulamentos pertinentes ao ambiente em que a companhia opera.
Auditoria interna
A pesquisa da ACFE (2016) indica que 22,5% dos casos foram detectados por meio da
Auditoria Interna. A pesquisa da PWC (2016) apontou que 4% dos casos foram detectados
mediante os trabalhos da Auditoria Interna.
O Institute of Internal Auditors – IIA conceitua auditoria interna como uma atividade
independente e objetiva de avaliação e consultoria, designada a agregar valor e a melhorar as
operações de uma empresa, que ajuda no alcance dos objetivos ao trazer uma abordagem
sistemática e disciplina para a avaliação e melhoria da efetividade dos processos de gestão de
riscos, controle e governança (IIA, 2016a).
Além do IIA, diversos autores apresentaram suas definições sobre auditoria interna.
Diferentes procedimentos compõem a atividade de auditoria interna (LÉLIS; MARIO, 2009).
Como o auditor externo passava pouco tempo na empresa e seu trabalho estava
voltado para o exame das demonstrações contábeis, para atender à Administração da empresa,
era necessária uma auditoria mais constante e com mais profundidade, objetivando outras
áreas além da contabilidade. Assim, o auditor interno surgiu para preencher esta lacuna
(ALMEIDA, 2010).
Para Imoniana (2001), a auditoria interna possui a incumbência de auxiliar a alta
administração no atingimento de seus objetivos, avaliando se as tarefas são executadas de
forma eficaz e eficiente, revisando a adequacidade da implantação dos procedimentos de
controles internos e comprovando sua efetividade.
Pereira e Nascimento (2005) definem auditoria interna como uma especialização
contábil direcionada à garantia da qualidade, transparência e segurança dos controles internos
implementados com o objetivo de proteger o patrimônio da empresa.
Estas definições sempre voltadas ao papel de protetor do patrimônio da organização
não estão mais alinhadas ao papel atual do auditor interno. Devido às mudanças nos
ambientes de negócios caracterizados cada vez mais pela velocidade das informações e
tecnologias em constante evolução, o papel do auditor interno também evoluiu. Além de seu
envolvimento contábil e em controles internos, também passou a ter a função de consultor
interno dentro da organização.
34
Deste modo, auditoria interna pode ser conceituada como a atividade responsável pela
averiguação dos controles internos relativos às operações da companhia, objetivando a
mitigação e a coibição de erros e/ou atos de corrupção. Recentemente, passou a acumular a
função de auxiliar a Administração, atuando como consultor, na melhoria dos processos
internos da organização.
Auditoria externa
De acordo com a pesquisa ACFE (2016), 2,7% dos casos de fraude foram detectados
pelos trabalhos da auditoria externa.
A auditoria independente ou auditoria externa originou-se como parte da evolução do
sistema capitalista. Com a expansão do mercado e o aumento da competitividade, as empresas
tiveram que ampliar seus negócios, investir em tecnologia e melhorar controles e processos
internos. Para realizar todos estes investimentos, as empresas tinham que captar recursos junto
a terceiros, mediante empréstimos bancários, emissão de títulos de dívida ou abertura de
capital. Entretanto, estes investidores necessitavam conhecer a capacidade financeira da
empresa em que iriam investir e, para isso, precisavam avaliar suas demonstrações contábeis.
Por medida de segurança, os investidores passaram a exigir que um profissional independente
da empresa e de renomada competência técnica avaliasse tais demonstrações contábeis. A este
profissional, que examina as demonstrações contábeis da empresa e opina sobre estas, dá-se o
nome de auditor independente ou auditor externo (ALMEIDA, 2010).
Segundo Attie (2009), a evolução da auditoria no Brasil está relacionada com a vinda
de empresas multinacionais ao país. Os investimentos destas companhias tinham que ser
auditados, assim as empresas internacionais de auditoria independente também se instalaram
no país.
A auditoria externa objetiva emitir opinião, com base na avaliação se as
demonstrações contábeis refletem a realidade econômica e se estão em conformidade com as
normas de contabilidade geralmente aceitas pelo país em que as atividades da companhia são
conduzidas (BOYNTON; JONHSON; KELL, 2002).
Imoniana (2001) entende que o principal foco do auditor independente é a emissão de
parecer sobre a adequacidade da representação da posição financeira, do resultado das
operações e das alterações na posição financeira, de acordo com os princípios contábeis
geralmente aceitos, de uma demonstração financeira.
35
As mudanças recentes no ambiente de negócios impactaram a atuação dos auditores
externos. No passado, o foco na credibilidade dos números contábeis era a principal
preocupação. Hoje em dia, foi criada a expectativa de que o papel do auditor externo seja
desenvolvido com alta competência técnica, conduta ética e total independência no exame dos
números, do processo operacional, dos controles internos e do ambiente em que a companhia
atua (SILVA, 2007; CARVALHO; PINHO, 2004).
De acordo com Attie (2000), Boynton, Johnson e Kell (2002) e Franco e Marra (2001,
p. 37), a auditoria está ancorada na necessidade de validação por parte dos usuários com
relação à veracidade da realidade econômica demonstrada nas informações das companhias.
A função do auditor é bastante relevante para a sociedade, dada sua atuação na defesa
dos interesses coletivos, como defensor da justiça e equidade, e na validação de prestações de
contas (FRANCO; MARRA, 2001).
Estes conceitos da atuação do auditor externo estão voltados para o bem coletivo e não
para a conveniência dos interesses privados; neste sentido, transparência, confiança e
credibilidade são essenciais na atuação da auditoria externa.
O trabalho da auditoria externa não possui, como foco principal, a detecção de fraudes,
porém é dever do auditor externo garantir que a administração possua medidas antifraudes e,
caso estas não sejam suficientes, mencionar tal fato em carta-comentário. Também é seu
dever avaliar os riscos de probabilidade de fraudes, durante os trabalhos de planejamento da
auditoria e de revisão dos controles internos (PICKETT, 2000).
Contudo, conforme Santos e Grateron (2003) e Marion, Almeida e Valverde (2002), as
fraudes contábeis dos últimos anos contribuíram para o aparecimento de críticas com relação
ao papel do auditor diante de sua ocorrência, colocando em dúvida a qualidade das auditorias
realizadas nas empresas cujas fraudes ocorreram.
Uma explicação bastante usada para as críticas ao papel do auditor externo, diante dos
escândalos corporativos dos últimos tempos, é a existência de uma frustação nas expectativas
da sociedade com relação ao desempenho da auditoria externa em casos de fraudes
(HASSINK; MEUWISSEN; BOLLEN, 2010).
Santos e Grateron (2003) também mencionam as diferenças entre as expectativas dos
usuários e a delimitação da responsabilidade do auditor com relação às fraudes, como
decorrentes da falta de clareza nas normas de auditoria.
A NBC TA 200 - Objetivos Gerais do Auditor Independente e a Condução da
Auditoria em Conformidade com Normas de Auditoria (2009) orienta o auditor a atentar
36
quanto à probabilidade de fraudes no ambiente de negócios de seus clientes, exigindo que ele
obtenha segurança razoável de que as demonstrações financeiras estejam livres de distorção
relevante, independentemente se originadas por fraude ou erro. Também exige que exerça
julgamento no planejamento e na execução da auditoria, identificando e avaliando riscos
relevantes de distorção, independentemente se causados por fraude ou erro, com base na
compreensão da empresa e de seu ambiente, incluindo os controles internos.
Já a NBC TA 240 - Responsabilidade do Auditor em Relação a Fraude, no Contexto
da Auditoria de Demonstrações Contábeis (2009) estabelece que o auditor é responsável por
obter segurança razoável de que as demonstrações financeiras não contenham distorções
relevantes originadas por fraude ou erro.
Para o PCAOB (2010), o auditor deve desenhar e realizar os procedimentos de
auditoria de uma maneira que enderece os riscos de distorções materiais avaliados por fraude
ou erro para cada afirmação relevante de cada contabilização e divulgação significativa.
Mesmo com todas estas orientações acerca da consideração dos atos fraudulentos nos
trabalhos de auditoria, sempre existe o risco de que algumas fraudes nas demonstrações
contábeis não sejam detectadas.
A existência de um gap entre o desempenho do auditor e estas normas deve-se à falta
de conhecimento ou de competência em como agir quando uma fraude é detectada, pela
ausência de cuidado em seguir os protocolos ou pela falta de independência do auditor
externo, possivelmente em virtude de conflito de interesses (HASSINK; MEUWISSEN;
BOLLE, 2010).
De acordo com Wells (2004), o profissional de auditoria pode utilizar as habilidades
únicas de especialistas antifraudes durante a própria auditoria para auxiliar na identificação
das áreas de riscos ao invés de usá-lo somente quando a fraude é descoberta. A simples
presença destes especialistas durante a auditoria pode ter um impacto significativo no
aumento da percepção que atividades ilegais serão detectadas.
Dessa maneira, embora o papel principal da auditoria externa não seja combater os
atos de corrupção em uma instituição, o auditor externo pode, sim, auxiliar na detecção e na
prevenção de fraudes, pela sua expertise.
2.4 Responsabilidade Social Corporativa ao Desenvolvimento Sustentável e à
Sustentabilidade
37
Neste tópico, procura-se mostrar o rácio para a adoção de uma abordagem
socioeconômica. Inicialmente, cita-se Borger (2013), ao lembrar que “[...] o conceito teórico
de responsabilidade social originou-se na década de 1950, quando a literatura formal sobre
responsabilidade social corporativa aparece nos Estados Unidos e na Europa”. A preocupação
dos pesquisadores daquela época era com a excessiva autonomia dos negócios e o poder
destes na sociedade, sem a devida responsabilidade pelas consequências negativas de suas
atividades, como a degradação ambiental, a exploração do trabalho, o abuso econômico e a
concorrência desleal.
Reconhecendo a responsabilidade social das empresas, o pensamento crítico evoluiu
naturalmente para a ideia de desenvolvimento sustentável, bem caracterizado em 1987 pela
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no documento intitulado
Nosso Futuro Comum: “Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as
necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades” (UNITED NATIONS, 1987). De uma forma geral, esta conceituação
procura dar um foco e uma linha de ação para as empresas, sem colocar um freio em sua
atividade econômica.
Etimologicamente, a palavra sustentável tem origem no latim sustentare, que significa
sustentar, apoiar e conservar.
Por um lado, Robertson (2014) define sustentabilidade como os sistemas e processos
que permitem à empresa operar e persistir por longos períodos na execução de sua própria
finalidade, ou seja, continuar a atingir seus objetivos. Ainda, segundo Robertson (2014), a
palavra sustenability apareceu, inicialmente, em inglês e foi tipicamente usada em conexão
com os sistemas que geram a vida na terra. Daí o termo sustentabilidade estar intimamente
ligado aos sistemas. O que é uma empresa, senão um conjunto de sistemas funcionando de
forma organizada, para atingir objetivos comuns?
Por outro lado, Bossel (1999) abordou o tema de forma a surpreender: “Há somente
uma alternativa para sustentabilidade: insustentabilidade (unsustainability)”. Lembra, então,
que sustentabilidade tem uma dimensão temporal e que insustentabilidade, implica em uma
imediata ameaça existencial (insustentabilidade ambiental, insustentabilidade como resultado
da degradação antrópica, insustentabilidade como resultante de um desequilíbrio catastrófico
em processo de evolução e insustentabilidade como um bloqueio do mecanismo de
aprendizagem).
38
Elkington (1994, 2004) ampliou a definição de desenvolvimento sustentável,
introduzindo o princípio do Triple Bottom Line – TBL, que estabelece os três pilares que
compõem sustentabilidade: econômico, social e ambiental.
39
Figura 2: Triple Bottom Line
Fonte: baseado em Elkington (1994, 2004).
A figura 2 apresenta o conceito do TBL criado por Elkington (1994, 2004). A ideia
por trás do TBL é que não se pode ter sustentabilidade sem resolver os problemas básicos de
desigualdade social, consumo excessivo de recursos ambientais e a submissão de resultados
econômicos aos interesses socais e ambientais (PERERA et al., 2011).
Aqui, chega-se ao ponto: o que aconteceria à Petrobras sem a intervenção decorrente
da operação Lava Jato? Presume-se que a empresa correria um sério risco de descontinuar,
tornando-se insolvente em decorrência da corrupção endêmica e falência de seus principais
sistemas, representados pelas diretorias e gerências envolvidas no esquema de corrupção,
além de um sistema ineficaz de controles internos e externos.
Sustentabilidade corporativa pode ser definida como a forma como a empresa
considera atingir o desenvolvimento sustentável corporativo. Este tema foi discutido de forma
ampla por diversos autores, ao longo do tempo. Pode-se citar Carroll (1979), Elkington (1994,
1997), Shrivastava e Hart (1995), Aragón-Correa (1998), Klassen e Whybark (1999),
Bowman e Ambrosini (2000) e Bansal (2005).
Bansal (2005) procurou resumir o pensamento destes autores, retomando o tripé da
sustentabilidade. A autora entende que a sustentabilidade corporativa é atingida pela: (i)
Gestão Ambiental, que pode ser corretiva (ou end of pipe), preventiva (focada na melhoria
dos processos produtivos) e análise do ciclo de vida do produto; (ii) Responsabilidade Social
Corporativa, que agrega: gestão com as partes interessadas na organização (stakeholders),
gestão com a comunidade e análise ambiental; e (iii) Crescimento Econômico, que é
40
representado pelos interesses da empresa na redução de custos, pelo aumento de
produtividade e pela geração de produtos de valor.
O desempenho da sustentabilidade empresarial é uma medida resultante da forma
como a empresa abraça os fatores econômicos, sociais, ambientais e de governança em suas
operações e, finalmente, o impacto que exerce sobre a empresa e a sociedade (ARTIACH et
al., 2010). Assim, para entender se as organizações têm atendido a estas expectativas e às
expectativas da sociedade, do governo e dos acionistas são necessários indicadores que
mostrem o resultado de suas ações.
2.4.1 Evidenciação de sustentabilidade
Cada vez mais as corporações têm se preocupado com a articulação entre sociedade,
economia e meio ambiente e, diante das consequências sociais e ambientais de suas
atividades, precisam conquistar legitimidade social pelas ações responsáveis que as
justifiquem na captação de recursos, a fim de sobreviverem de forma estruturada às pressões
institucionais (FERNANDEZ-ALLES; VALLE CABRERA, 2006). Para Delai e Takahashi
(2011), como consequência desta pressão, as organizações tem buscado reportar seu
desempenho sustentável, porém, a mensuração de sustentabilidade ainda se depara com
diversos desafios.
Os relatórios ambientais ou relatórios de sustentabilidade (termo mais utilizado
atualmente) são decorrentes de compromissos assumidos voluntariamente e comunicam as
condições e o desempenho ambiental da companhia em demandas legais explícitas
(BARBIERI, 2012).
Conforme Campos et al. (2013), a preparação de relatórios de sustentabilidade que
mensuram e divulgam os impactos socioambientais causados pelas atividades das
organizações tem sido uma prática introduzida por companhias de diversos países,
especialmente na Europa, na América do Norte e no Japão, entretanto, vem tornando-se mais
relevante nos mercados emergentes. Destacam que um número crescente de empresas tem
enxergado as vantagens da divulgação deste tipo de relatório, que proporciona maior
transparência e integridade sobre seus desempenhos sustentáveis, tornando-o uma
significativa força propulsora para o desenvolvimento de um relacionamento melhor entre
sociedade e meio ambiente.
41
No Brasil, organizações não governamentais como o Instituto Ethos e o Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) estabelecem padrões para orientar as
empresas como evidenciar informações relativas à sustentabilidade. O Ibase vem contribuindo
com as práticas de evidenciação de sustentabilidade por meio das diretrizes para divulgação
de informações ambientais e sociais sob a estrutura de um modelo de balanço social.
Globalmente, o The World Business Council for Sustainable Development – WBCSD,
a Global Reporting Initiative – GRI e a Organisation for Economic Co-operation and
Development – OECD são os principais direcionadores de metodologias para avaliação do
desempenho sustentável das empresas (SINGH et al., 2012).
Este trabalho teve como foco as diretrizes da GRI para a elaboração e divulgação do
relatório de sustentabilidade, dado que a Petrobras, empresa objeto do estudo, utiliza-se destas
diretrizes para preparar e divulgar suas informações econômicas, sociais e ambientais.
2.4.2 Relatório de sustentabilidade GRI
A Global Reporting Initiative – GRI, como instituição, é uma organização
internacional independente que auxilia empresas, governos e outras organizações a
entenderem e comunicarem o impacto dos negócios em questões críticas de sustentabilidade
como mudança climática, direitos humanos, corrupção e muitas outras. Seu programa conta
com mais de 600 organizações que patrocinam sua missão e contribuem com sua expertise. A
GRI possui parcerias estratégicas com a Organisation for Economic Co-operation and
Development, o United Nations Environment Programme e o United Nations Global
Compact. Sua estrutura compartilha sinergias com a orientação da International Finance
Corporation, da International Organization for Standardization’s ISO 26000, da United
Nations Conference on Trade and Development e da Earth Charter Initiative (GRI, 2016a).
A GRI foi fundada em Boston, EUA, em 1997, e tem origem nas organizações sem
fins lucrativos Coalition for Environmentally Responsible Economies – CERES e Tellus
Institut, o United Nations Environment Programme – UNEP também se envolveu no
estabelecimento da GRI e é a pioneira em relatórios de sustentabilidade (GRI, 2016a).
Atualmente, seu secretariado está localizado em Amsterdã, na Holanda, possuindo
centros regionais na África, China, América do Norte, Oceania, América Latina e Sul e
Sudeste da Ásia (GRI, 2016a).
42
A GRI é considerada como um dos mais consistentes esforços para consolidar as
diversas iniciativas existentes para se chegar a um consenso sobre a avaliação de
sustentabilidade empresarial (ALMEIDA, 2002; OLIVEIRA et al., 2009; BASSETTO, 2010).
Para Brown, Jong e Levy (2009), o relatório GRI é a estrutura mais conhecida
mundialmente para reporte voluntário de desempenho socioambiental de empresas e outras
organizações. Ainda, de acordo com os autores, seu modelo baseou-se no sistema de reporte
financeiro norte-americano, expandindo em alcance (global), escopo (indicadores de
desempenho social, econômico e ambiental), flexibilidade (indicadores descritivos e
quantitativos) e stakeholders (indústria, setor financeiro, contadores, sociedade civil,
organizações não governamentais, sindicatos, entre outros).
No ano de 1999, foi lançada a primeira versão das diretrizes para relatórios de
sustentabilidade (G1) da GRI, um guia de apresentação dos principais indicadores de
desempenho de uma organização nas esferas econômica, social e ambiental. A publicação da
segunda versão (G2) se deu em 2002 e, em 2006, sua terceira versão (G3) foi lançada,
contendo mais de 100 indicadores a serem apresentados pelas companhias em seus relatórios.
Foi lançada uma revisão da terceira versão (G3.1) no início de 2011, que incluiu indicadores
de performance relativos aos impactos aos direitos humanos, à comunidade local e de gênero
(OLIVEIRA et al., 2014). A quarta e mais recente versão das diretrizes para relatórios de
sustentabilidade (G4) foi lançada em maio de 2013 pela GRI (2016a).
Segundo Basseto (2010), a estrutura do relatório GRI centra-se na comparabilidade,
ligada à meta de desenvolver uma estrutura paralela aos relatórios financeiros, e flexibilidade,
que considera as diferenças legítimas entre organizações e entre setores da economia, atuando
de modo flexível o suficiente para acomodar estas diferenças .
As diretrizes do relatório GRI (2016b) para elaboração do relatório de sustentabilidade
estão divididas em duas partes:
Parte 1 – Princípios de reporte e padrões de divulgação: contém os princípios
de reporte, os padrões de divulgação e os critérios a serem aplicados por uma
organização para preparar seus relatórios de sustentabilidade de acordo com as
diretrizes; e
Parte 2 – Manual de Implantação: contém explicações de como aplicar os
princípios de reporte, como preparar a informação a ser divulgada e como
interpretar os diversos conceitos.
43
Estrutura do relatório de sustentabilidade GRI
As empresas que optarem podem preparar seus relatórios de sustentabilidade, de
acordo com as diretrizes da GRI, e devem escolher dentre as seguintes duas opções:
Essencial: contém os elementos essenciais de um relatório de sustentabilidade, oferece
o pano de fundo contra o qual a organização relata os impactos do seu desempenho
econômico, ambiental, social e de governança; ou
Abrangente: parte da opção Essencial, exigindo a divulgação de informações
adicionais sobre a estratégia, análise, governança, ética e integridade da organização.
Além disso, optando por esta modalidade, a organização deve comunicar seu
desempenho de forma mais ampla, relatando todos os indicadores referentes aos
Aspectos materiais identificados (GRI, 2016b).
As empresas também devem comunicar a GRI (2016b) sobre a elaboração de um
relatório de sustentabilidade de acordo com suas diretrizes, indicando se o relatório:
estiver “de acordo” com as Diretrizes – opção Essencial ou Abrangente;
apresentar conteúdos extraídos das Diretrizes, mas não satisfizer todos os requisitos de
qualquer uma das opções.
As entidades devem obedecer aos 10 (dez) princípios de reporte contidos na Parte 1 do
relatório:
inclusão de stakeholders: a organização deve identificar seus stakeholders e explicar
as medidas que adotou para responder às expectativas e aos interesses destas partes;
contexto da sustentabilidade: a empresa deve descrever o desempenho da organização
no contexto mais amplo da sustentabilidade;
materialidade: a instituição deve abordar aspectos que reflitam os impactos
econômicos, ambientais e sociais significativos da organização ou que possam
influenciar, substantivamente, as avaliações e as decisões de stakeholders;
completude: a cobertura de aspectos materiais e de seus limites deve ser
suficientemente ampla para refletir impactos econômicos, ambientais e sociais
44
significativos e permitir que stakeholders avaliem o desempenho no período
analisado;
equilíbrio: a organização deve refletir sobre aspectos positivos e negativos do
desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação equilibrada do seu
desempenho geral;
comparabilidade: a instituição deve selecionar, compilar e relatar as informações de
forma consistente;
exatidão: as informações devem ser suficientemente precisas e detalhadas para que os
stakeholders possam avaliar o desempenho da organização;
tempestividade: a organização deve publicar o relatório regularmente e disponibilizar
as informações a tempo para que os stakeholders tomem decisões;
clareza: a empresa deve disponibilizar as informações de forma compreensível e
acessível aos stakeholders;
confiabilidade: a instituição deve coletar, registrar, compilar, analisar e divulgar as
informações e processos usados na elaboração do relatório de uma forma que permita
sua revisão e estabeleça a qualidade e a materialidade das informações.
Em relação aos padrões de divulgação também contidos na Parte 1 do relatório, pode-
se resumi-los como Conteúdo de padrões da seguinte maneira:
gerais
Aplicam-se a todas as organizações que elaboram relatórios de sustentabilidade.
Dividem-se em sete partes: Estratégia e Análise, Perfil Organizacional, Aspectos
Materiais Identificados e Limites, Engajamento de Stakeholders, Perfil do Relatório,
Governança e Ética e Integridade;
específicos
São organizados em três Categorias - Econômica, Ambiental e Social. A Categoria
Social divide-se em quatro subcategorias, a saber: Práticas Trabalhistas e Trabalho
Decente, Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto.
Vale destacar a seção Sociedade da Categoria Social que requer no item Combate à
Corrupção, que as empresas prestem as seguintes informações:
45
G4-SO3 - número total e percentual de operações submetidas a avaliações de riscos
relacionados à corrupção e os riscos significativos identificados: ao longo de 2015,
avaliaram 21 macroprocessos, que se desdobraram em 58 processos, refletindo 3.378
controles auto-avaliados pelos seus gestores;
G4-SO4 - comunicação e treinamento em políticas e procedimentos de combate à
corrupção, reportando o nível de alcance da comunicação e do treinamento sobre todos
da companhia: foram capacitados no tema “prevenção à fraude e corrupção” 3.254
empregados, incluindo 29 gerentes executivos e 8 presidentes e diretores de suas
subsidiárias. Com a criação da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, o
número de empregados treinados, em 2015, equivale a 2,5 vezes o número de 2014;
G4-SO5 - incidentes de corrupção confirmados e as ações tomadas, reportando a
quantidade e a natureza dos casos: 20 rescisões de contrato, 84 suspensões e 137
advertências por escrito. Os casos se referem a desvios de conduta como negligência,
descumprimento de normas da companhia, fraude, desrespeito e uso indevido de
recursos da companhia, entre outros (PETROBRAS, 2016g).
2.5 Petrobras e a formulação de hipóteses
Os participantes do mercado de capitais não conseguiram perceber a tempo os
problemas da Petrobras, assim como das demais empresas envolvidas no escândalo de
corrupção. Healy e Palepu (2003), em estudo sobre o escândalo financeiro, envolvendo a
empresa norte-americana Enron, também discutem esta questão, abordando como o mercado
de capitais não foi capaz de perceber os problemas que aquela companhia enfrentava no final
dos anos 1990 e início dos anos 2000. Naquele trabalho, os autores discutiram o papel de
diversos componentes da Governança Corporativa da empresa e de componentes do mercado
de capitais norte-americano que falharam e propuseram respostas a estas deficiências.
Este trabalho propôs discutir os antecedentes, os fatores responsáveis, as
consequências e possíveis medidas corretivas que evitem a repetição dos fatos que
desencadearam no maior escândalo de corrupção o país.
Mas, antes, foi apresentada a empresa. Discorreu-se brevemente sobre a Operação
Lava Jato e conectou-se a companhia e os casos de corrupção com a teoria da agência.
Assim, de acordo com o site da empresa, a Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A.) é:
46
Sociedade anônima de capital aberto, cujo acionista majoritário é a União Federal
(representada pela Secretaria do Tesouro Nacional), atuamos como uma empresa
integrada de energia nos seguintes setores: exploração e produção, refino,
comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural,
energia elétrica, gás-química e biocombustíveis.
A empresa foi fundada no dia 3 de outubro de 1953, pelo, então, Presidente da
República, Getúlio Vargas, com o objetivo de executar as atividades do setor petrolífero no
Brasil, em nome da União. A criação da Petrobras é o resultado da campanha popular que
começou em 1946, com o slogan “O Petróleo é nosso” (PETROBRAS, 2016a).
Sua instalação somente foi concluída em 1954. Em 10 de maio deste ano, a Petrobras
iniciou sua operação, produzindo 2.663 barris, equivalente a 1,7% do consumo nacional da
época. Ao longo de sua trajetória, foi desenvolvendo novos produtos, com o progresso e a
aplicação de novas tecnologias. Em 1961, construiu sua primeira refinaria, alcançando a
autossuficiência na produção dos principais derivados no mesmo ano. Também em 1961, a
empresa iniciou a busca de petróleo no mar e instalou o primeiro posto de abastecimento em
Brasília. Em 1984, a empresa descobre o primeiro poço de águas profundas. Dois anos depois,
dado não existir tecnologia disponível no mercado, a empresa iniciou o desenvolvimento de
tecnologia para extração de petróleo a grandes profundidades (PETROBRAS, 2016a).
Em 1997, quebrou-se o monopólio estatal do petróleo e a empresa se tornou uma das
maiores companhias de petróleo do mundo. Após 50 anos de existência, a produção de
petróleo da Petrobras no Brasil e no mundo superou a marca de dois milhões de barris. Em
2006, a empresa conseguiu a autossuficiência sustentável no Brasil na produção de petróleo e
gás, com produção média diária de 1,9 milhões de barris. Em 2007, foi anunciada a
descoberta de grande concentração de petróleo e gás na camada do pré-sal na Bacia de Santos.
E, no ano de 2009, iniciou-se a produção de petróleo neste local. (PETROBRAS, 2016a).
Ela é líder no setor de óleo e gás no Brasil e seus negócios abrangem pesquisa, lavra,
exploração e produção, refino, processamento, comercialização, distribuição e transporte de
petróleo (proveniente de poço, de xisto ou de outras rochas) e de seus derivados, de gás
natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, energia elétrica, biocombustíveis e outras fontes
renováveis, além de atividades relativas a algumas formas de energia e outras correlatas ou
afins (PETROBRAS, 2016a).
47
Além do Brasil, está presente com atividades na indústria de óleo e gás em outros 16
países: Angola, Argentina, Benim, Bolívia, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Gabão, Japão,
México, Namíbia, Nigéria, Paraguai, Tanzânia, Uruguai e Venezuela (PETROBRAS, 2016a).
As ações da Petrobras são negociadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de
São Paulo (BMF&Bovespa), na Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE), no Latibex da
Bolsa de Madri e na Bolsa de Comércio de Buenos Aires (PETROBRAS, 2016a).
O Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 prevê investimentos de US$ 74,1 bilhões,
sendo 82% deste valor para a área de Exploração e Produção de petróleo no Brasil, com
ênfase em águas profundas. Nas demais áreas de negócios, os investimentos destinam-se,
basicamente, à manutenção das operações e a projetos relacionados ao escoamento da
produção de petróleo e gás natural. (PETROBRAS, 2016a).
A composição acionária da Petrobras é demonstrada na figura 3 abaixo.
Figura 3 – Posição acionária em 31 de dezembro de 2015
1
1
2
1
2
2
2
3
3
3
4
4
4
5
5
5
5
6
6
6
6
7
7
7
7
48
Fonte: adaptado pelo autor com base no Relatório da Administração, p. 6 (PETROBRAS,
2016b).
2.5.1 Operação Lava Jato
O MPF criou um site específico sobre o caso Lava Jato1. Conforme MPF:
A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro
que o Brasil já teve. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da
Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma-se a isso a
expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção
que envolve a companhia.
No primeiro momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014,
perante a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro
organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado
paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um
imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras.
Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em
cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O
valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários
superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do
esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa (MPF, 2016).
Este esquema envolveu diversas empreiteiras que se organizaram em um cartel para
substituir concorrência real em contratos de licitação com a Petrobras por uma concorrência
aparente, em que os preços oferecidos à estatal eram calculados e ajustados em reuniões
secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o preço, inflado em
benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal. Dentre as empreiteiras envolvidas,
destacam-se Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Mendes Junior (MPF, 2016).
Também havia a participação de funcionários da Petrobras no esquema. Eles eram
cooptados pelo cartel de empreiteiras em troca de propina. Tais funcionários se omitiam em
relação ao cartel e os favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as
participantes do esquema (MPF, 2016).
Outros que estavam envolvidos eram os chamados operadores financeiros ou
intermediários, responsáveis pela intermediação do pagamento de propina e, especialmente,
por entregar os montantes disfarçados de dinheiro limpo aos beneficiários (MPF, 2016).
Além destes, agentes políticos estão envolvidos. São pessoas que integram ou estão
relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras,
1 lavajato.mpf.mp.br
49
com o intuito de praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de
dinheiro (MPF, 2016).
Esse envolvimento entre políticos e funcionários revelou-se mais evidente em relação
às seguintes diretorias da estatal: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre
2004 e 2012, de indicação do Partido Progressista - PP, com posterior apoio do Partido do
Movimento Democrático Brasileiro - PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre
2003 e 2012, de indicação do Partido dos Trabalhadores - PT; e Internacional, ocupada por
Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB (MPF, 2016).
Com relação aos operadores envolvidos, destacam-se Alberto Youssef, Fernando
Baiano e João Vacari Neto, que atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros,
em nome de integrantes do PMDB e do PT (MPF, 2016).
Figura 4: Representação gráfica do esquema
Fonte: Caso Lava Jato (MPF, 2016 – ANEXO A).
Conforme MPF (2016), os resultados da operação Lava Jato até o momento são:
50
1.397 procedimentos instaurados;
654 buscas e apreensões;
174 conduções coercitivas;
76 prisões preventivas;
92 prisões temporárias;
6 prisões em flagrante;
112 pedidos de cooperação internacional;
70 acordos de colaboração premiada;
6 acordos de leniência e 1 termo de ajustamento de conduta;
48 acusações criminais contra 233 pessoas por corrupção, crimes contra o sistema
financeiro internacional, tráfico transnacional de drogas, formação de organização
criminosa e lavagem de ativos;
7 acusações de improbidade administrativa contra 38 pessoas físicas e 16 empresas;
R$ 38,1 bilhões é o valor total de ressarcimento pedido;
R$ 3,6 bilhões referentes à propina são alvo de recuperação por acordos de
colaboração;
116 condenações, contabilizando 1.148 anos de pena.
É importante destacar que este trabalho não está focado nos fatos da Operação Lava
Jato, pois esta ainda está em andamento e pode ser acompanhada em site próprio
(lavajato.mpf.mp.br), mas, sim, nas consequências da investigação, isto é, nas mudanças
econômicas na empresa, fruto dos fatos constatados, especificamente nos aspetos
socioambientais e repercussão para os investidores.
2.5.2 Petrobras e a Teoria da agência
A principal preocupação quando se aplica a teoria da agência ao setor público é
considerar a identidade do principal e do agente (PILCHER, 2014).
O maior acionista da Petrobras é o Governo Federal e, em virtude disso, sofre bastante
influência política em sua gestão (MOURA et al., 2014). Tais influências podem levar a
companhia a tomar decisões com foco nos interesses de seu acionista-controlador (o Governo
51
Federal) em detrimento dos interesses dos demais investidores (acionistas minoritários): típico
problema decorrente da relação de agência.
Nos últimos anos, tomadas de decisões da empresa, cujas motivações visaram a
objetivos políticos do Governo, aliadas aos escândalos de corrupção investigados no âmbito
da Operação Lava Jato, têm causado graves questões entre a companhia e seus acionistas não
controladores. Estas provocam destruição de valor da organização, impactando diretamente o
preço de suas ações nos mercados de capital.
Cabe destacar as ações coletivas impetradas contra a companhia perante a Corte
Federal para o Distrito Sul de Nova Iorque, nos Estados Unidos (United States District Court
for the Southern District of New York). Dentre os pleitos requeridos pelos autores, cita-se o
ressarcimento de perdas por parte dos adquirentes de valores mobiliários da Petrobrás
negociadas na Bolsa de Nova Iorque (Petrobras, 2016f).
Uma das premissas da Governança Corporativa é a que preza pela boa relação entre
empresa e acionistas. As interferências do governo na Petrobras alinhadas aos esquemas de
corrupção investigados no âmbito da Operação Lava Jato são contrárias a este princípio de
Governança Corporativa, já que afetam, de forma negativa, o valor dos dividendos pagos aos
acionistas. O prejuízo decorrente da insatisfação destes e também dos demais stakeholders
pode ser observado no valor das ações negociadas na bolsa de valores e no resultado
financeiro da empresa.
A figura 5 abaixo apresenta o valor das ações preferenciais (PN) da Petrobras de 2011
a 2016.
52
A figura 6 abaixo apresenta os resultados consolidados da Petrobras de 2011 a 2016.
Como se pode observar, tanto com relação ao preço de suas ações quanto por seus
resultados, a Petrobras vem tendo um desempenho ruim após a deflagração da Operação Lava
Jato, em comparação com os anos anteriores.
Fonte: elaborado pelo autor com base na cotação das ações obtida no site da
BMF&Bovespa em 21.03.2017
0
5
10
15
20
25
29.12.2011 28.12.2012 30.12.2013 30.12.2014 30.12.2015 29.12.2016
Figura 5: Preço das Ações PN da Petrobras - R$ Bilhões
Fonte: elaborado pelo autor com base nas Demonstrações Contábeis (Petrobras,
2016c).
33 21 24
-22
-35
-15
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016
Figura 6: Resultado da Petrobras - R$ Bilhões
53
A influência que a Petrobras sofre do governo brasileiro, seu acionista majoritário, e
os escândalos de corrupção a que vem sendo submetida nos últimos anos, tem sido
considerado como os motivos que fazem com que a empresa perca a legitimidade de suas
ações e decisões. Isso porque, ao utilizar de seu poder sobre a companhia para atingir
objetivos macroeconômicos, o governo desconsidera os interesses dos acionistas minoritários
e de outros stakeholders.
2.5.3 Petrobras e os Controles antifraudes
A Petrobras está estruturada organizacionalmente, conforme figura 7 abaixo.
54
Figura 7 – Estrutura Organizacional da Petrobras
Fonte: elaborado pelo autor com base no Organograma da Petrobras (PETROBRAS, 2016c).
Pode-se observar que a Petrobras possui uma estrutura organizacional de acordo com
as principais práticas de Governança Corporativa adotadas pelas grandes corporações. Porém,
como também é de conhecimento geral, esta governança não impediu que os casos de
corrupção aqui descritos deixassem de ocorrer.
Neste sentido, uma análise dos principais controles antifraude da empresa se faz
necessária, a fim de se tentar obter um entendimento de como tais ferramentas são utilizadas
pela companhia.
Canal de denúncias
Iniciando o entendimento pelo Canal de denúncias, de acordo com o site da empresa, o
Canal de denúncias é uma ferramenta independente, sigilosa e imparcial, sob responsabilidade
da Ouvidoria Geral da empresa, que está disponível para os públicos externo e interno.
A Ouvidoria da Petrobras foi criada em 2002, porém ainda não era um órgão formal da
companhia, mas já cumpria sua função de canal direto de comunicação entre os públicos de
interesse e a Alta Administração (PETROBRAS, 2016d).
Em 2005, a Ouvidoria Geral foi oficializada pelo Conselho de Administração e se
tornou o órgão titular do canal de denúncias da Petrobras, por exigência da Lei Sarbanes
Oxley (SOX). Suas atribuições foram definidas pelo Conselho de Administração como:
Assuntos
Corporativos
Governança, Riscos
e Conformidade
Estratégia,
Organização e
Sistema de Gestão
Financeira e de
Relacionamento
com Investidores
Refino e
Gás Natural
Exploração
e Produção
Desenvolvimento
da Produção &
Tecnologia
Comunicação e
Marcas
Jurídico
Inteligência e
Segurança
Corporativa
Conselho Fiscal
Conselho de
Administração
Ouvidoria Geral Auditoria Interna
Presidente
Estratégia e
Organização
55
planejar, orientar, coordenar e avaliar atividades que visam a acolher opiniões, sugestões,
críticas, reclamações e denúncias dos públicos de relacionamento da Companhia, promovendo
as apurações decorrentes e as providências a serem adotadas (PETROBRAS, 2016d).
O canal de denúncias foi disponibilizado, em caráter preliminar em agosto de 2005,
para recebimento de denúncias e informações sobre possíveis irregularidades ou
impropriedades nos registros e processos contábeis da Companhia, bem como em relação a
outras questões de natureza contábil-financeira e/ou de auditoria (PETROBRAS, 2016d).
Em 2012, a Ouvidoria foi definida como o órgão responsável pela aplicação da Lei de
Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), que tem por objetivo garantir ao cidadão acesso à
informação de caráter público (PETROBRAS, 2016d).
Em 2015, o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a reestruturação da
Ouvidoria Geral, estabelecendo o mandato de três anos para o titular, que poderá ser
reconduzido uma única vez por igual período (PETROBRAS, 2016d).
Ainda em 2015, a empresa lançou seu novo canal de denúncia, que foi estruturado
para funcionar 24 horas por dia, com atendimento em português, inglês e espanhol. A
recepção das denúncias passou a ser responsabilidade de uma empresa independente
especializada. O novo canal faz parte do conjunto de medidas que a Petrobras adotou com o
objetivo de aprimorar e fortalecer sua governança (PETROBRAS, 2016d).
Gerenciamento de controles internos
Em 2004, a Petrobras lançou o Programa Integrado de Sistemas e Métodos de
Avaliação de Controles Internos (PRISMA), que ampliou as ações de Governança
Corporativa e atendimento à Lei SOX. Como desdobramento deste projeto, foi constituída a
Gerência Geral de Controles Internos, que passou a fazer parte da área financeira da empresa.
Esta Gerência tinha como principal função o planejamento e a operacionalização das ações de
melhoria e certificação de controles internos (SILVA et al., 2009).
Desde o ano de 2006, o Relatório Form 20F da Petrobrás, entregue a Securities
Exchange Commission – SEC (órgão regulador do mercado de capitais norte-americano), na
seção Controles e Procedimentos, inclui um relatório da Administração sobre os Controles
Internos das Informações Financeiras, este relatório assinado pelo Presidente e pelo Diretor
Financeiro da empresa atesta a conformidade do sistema de controles internos.
56
Os relatórios dos anos 2011, 2012 e 2013, anos anteriores à deflagração da Operação
Lava Jato, atestavam que os controles das informações financeiras eram eficientes.
Em novembro de 2014, o Conselho de Administração da companhia aprovou a criação
da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, com a missão de assegurar a
conformidade processual e mitigar riscos nas atividades da Companhia, dentre eles, os de
fraude e corrupção, garantindo a aderência a leis, normas, padrões e regulamentos
(PETROBRAS, 2016e).
Somente nos relatórios dos anos 2014 e 2015 é que o presidente e o diretor financeiro
da Petrobrás concluíram que os controles internos, devido suas fraquezas materiais, não eram
eficazes.
Em 2014, a administração identificou:
certas decisões tomadas durante o período de 2004 e abril de 2012 relacionadas
especificamente aos grandes projetos de investimento nos segmentos de negócios de
Exploração e Produção, Refino e Gás e Energia, que não estavam em conformidade
com os controles internos existentes no processo de contratação de serviços nestes
segmentos. Em alguns dos processos de contratação, um ou mais ex‐dirigentes, em
conjunto com terceiros (determinados fornecedores de serviços envolvidos nos
projetos de construção), atuaram no sentido de anular, infringir ou burlar os controles,
o que resultou na prática de atos indevidos e contrários aos interesses e políticas;
as seguintes deficiências dos controles internos relacionadas à falha em detectar estes
atos que, juntos, constituem uma fraqueza material no ambiente de controle:
(i) posicionamento ético inadequado na alta direção da empresa ("tone at the
top”) com relação aos controles internos;
(ii) falha na comunicação dos valores éticos previstos no Código de Conduta; e
(iii) falta de um programa eficaz de denúncia de irregularidades. Estas deficiências
contribuíram para a falha em evitar uma superavaliação dos ativos
imobilizados;
os controles internos em 31 de dezembro de 2014 não identificaram possíveis riscos
decorrentes da capacidade econômico‐ financeira de seus fornecedores, à luz dos
recentes adiamentos de projetos e por razão de garantias que ainda não foram
plenamente executadas, o que resultou na falha em identificar a necessidade de
registrar baixa contábil em pagamentos antecipados a fornecedores que não resultaram
57
em benefícios econômicos futuros. Os controles internos, naquela data, também não
identificaram a necessidade de reconhecer as despesas relacionadas com a rescisão
destes contratos;
deficiências relacionadas:
(i) ao monitoramento da necessidade de reclassificar determinados ativos
imobilizados, ainda registrados como em construção apesar de já terem sido
concluídos. Uma falha na reclassificação destes ativos poderia levar a uma
falta de reconhecimento em tempo hábil e, em sua totalidade, da depreciação
associada aos ativos;
(ii) à falha no reconhecimento de perdas decorrentes do teste de recuperabilidade
(impairment) de cinco projetos de Exploração e Produção que se encontravam
em fase inicial de planejamento e para os quais não estimaram fluxos de caixa
futuros. Estas deficiências resultaram em uma superavaliação dos ativos
imobilizados e uma subavaliação das despesas;
(iii) à falta de monitoramento, em tempo hábil, de possíveis mudanças nos
parâmetros de controle do ambiente de planejamento de recursos empresariais
("ERP"), utilizados para suportar os controles internos relacionados à revisão e
à aprovação de lançamentos contábeis manuais. Esta falha em monitorar, em
tempo hábil, as mudanças nos parâmetros de ERP poderia sujeitar a empresa
ao risco de não detecção da totalidade dos lançamentos contábeis manuais a
serem revisados ou confirmados;
(iv) no desenho do controle interno sobre a revisão e aprovação de lançamentos
contábeis manuais. Estas deficiências constituíram uma fraqueza material, mas
não resultaram em declarações inexatas ou irregularidades nas demonstrações
contábeis (PETROBRAS, 2016f);
(v) na operação de controles relacionados a procedimentos de concessão de acesso
e na análise da segregação de funções no nível de processos de negócio que,
quando avaliadas em conjunto, constituem uma fraqueza material. As
deficiências de controle identificadas foram relacionadas com a gestão, revisão
e monitoramento de acesso e apresentaram exceções, principalmente na
operação dos controles relacionada à aplicação de regras específicas referentes
à revisão de acesso;
58
(vi) à operação nos controles, porém esta deficiência não resultou em declarações
inexatas ou irregularidades nas demonstrações contábeis, quanto à gestão de
acesso a funções críticas de ERP e segregação de funções nos processos de
negócios no ambiente ERP.
No relatório de 2015, além das deficiências de controle reportadas acima, a
Petrobrás relatou uma deficiência:
relacionada com a revisão das mudanças de determinados agrupamentos de ativos de
exploração e produção, como Unidades Geradoras de Caixa (UGC) e sua
conformidade com o International Financial Reporting Standard - IFRS.
A administração avalia que não houve revisão suficiente:
se determinados agrupamentos propostos inicialmente estavam adequados com a
definição de uma UGC;
no agrupamento de ativos de exploração e produção, à luz das mudanças identificadas
em circunstâncias que afetaram a maneira como foram gerados os fluxos de caixa.
Consequentemente, foi necessário modificar certos grupos de ativos, identificados
como UGCs, desde 31 de dezembro de 2015.
Esta deficiência resultou:
em uma falha dos controles internos sobre relatórios financeiros para detectar uma
superavaliação dos ativos imobilizados e uma subavaliação das despesas em 2015.
Em 2015, a administração também identificou:
deficiências relacionadas aos controles de captura e registro dos processos judiciais
dos quais a Petrobrás é parte, nos sistemas de monitoramento interno;
deficiência relacionada à totalidade das contingências legais e à precisão da
classificação da possibilidade de perda das contingências como provável, possível e
remota. Em casos específicos, a operação do controle não garantiu precisamente a
possibilidade de perda de determinadas contingências como possíveis, prováveis ou
remotas. Esta deficiência resultou em uma falha dos controles internos sobre relatórios
59
financeiros em detectar uma subestimação dos passivos e uma superavaliação das
despesas em 2015.
Por fim, descobriram que havia deficiências:
no processo da geração de dados usado para calcular o passivo atuarial relativo ao
plano de saúde (AMS) e ao plano de pensão (Petros);
que se referem à totalidade dos participantes e à precisão de suas informações
individuais nas bases de dados utilizadas para o cálculo atuarial;
que resultaram em uma falha de controles internos sobre relatórios financeiros em
detectar uma superavaliação dos passivos e uma subavaliação dos resultados
abrangentes em 2015 (PETROBRAS, 2016f).
Em 1º de setembro de 2016 a Petrobras soltou um comunicado ao mercado,
informando a reorganização de sua área financeira, buscando integrar e fortalecer a ação
corporativa da companhia, visando à melhoria do desempenho, do controle e da
sustentabilidade do processo de crescimento. Dentre as motivações desta reestruturação, está
o aprimoramento do Sistema de Controles Internos (PETROBRAS, 2016e).
Auditoria interna
As informações sobre a estrutura da auditoria interna da Petrobras são escassas em seu
site. Mediante o organograma apresentado na figura 5, pode-se notar que a auditoria está
diretamente subordinada ao Conselho de Administração da empresa.
O Conselho deve reunir-se ao menos uma vez por ano, sem a presença do presidente
da Petrobras, para aprovação de um plano anual de atividades de Auditoria Interna e do
relatório anual das atividades de Auditoria Interna.
A Diretoria Executiva aprovou, em 2013, o Programa Petrobras de Prevenção da
Corrupção (PPPC), com o objetivo de reforçar a prevenção, a detecção e a correção de atos de
fraude e de corrupção, por meio da gestão integrada e do aperfeiçoamento de ações e
controles da estrutura de governança. Em articulação com as demais áreas, pela estrutura
organizacional da Petrobras, o PPPC é gerido pela Gerência Geral de Controladoria da
Auditoria Interna. A área é responsável por monitorar os riscos de conformidade relacionados
60
à fraude e à corrupção e apresentar, à alta administração, as ações realizadas no âmbito do
programa (PETROBRAS, 2016e).
Uma discussão importante refere-se à questão da interferência da administração no
trabalho da auditoria interna. Não é possível determinar até que ponto este fato ocorreu no
caso da Petrobras, porém vale ressaltar que os trabalhos da auditoria interna, até então, não
detectaram nenhuma questão relacionada a casos de corrupção. Assim, pode-se refletir a
respeito da ambiguidade resultante do fato da Auditora Interna ser órgão de Governança da
empresa e remunerada por esta, ou seja, até que ponto a independência necessária para se
investigar é comprometida pelo fato da Auditoria Interna ser paga pela própria empresa?
Pereira e Nascimento (2005) afirmam que a função da Auditoria Interna, um dos
controles antifraudes, não é detectar fraudes apenas, mas que esta função é uma de suas
determinações fundamentais.
De acordo com as Normas Internacionais para a Prática Profissional de Auditoria
Interna do IIA (2016b), a atividade de auditoria interna “deve ser independente e os auditores
internos devem ser objetivos na execução de seu trabalho”. O responsável pela auditoria deve
estar subordinado a um nível dentro da organização, que permita à atividade de auditoria
interna cumprir suas responsabilidades.
Auditoria externa
De acordo com Nelson, Price e Rountree (2008), os mecanismos de auditoria
aumentam a credibilidade das demonstrações financeiras e reduzem os custos de agência.
Dnes (2005) explica que a ameaça legal que os auditores enfrentam tem reduzido e
que os incentivos para que seja condescendente com práticas questionáveis tem crescido,
argumenta ainda que, embora a reputação seja valiosa, pode não ser suficiente, face aos
montantes recebidos em troca por tal condescendência ou face aos custos de punição.
O Comitê Estatutário de Auditoria da Petrobras é o responsável por acompanhar,
analisar e recomendar ao Conselho de Administração a contratação, assim como a eventual
destituição, dos auditores independentes (ou externos).
Desde 2012, a PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes – PWC é a empresa
responsável pela prestação de serviços de auditoria contábil (PETROBRAS, 2016e).
Anteriormente à PWC, a empresa KPMG Auditores Independentes – KPMG era a
responsável por tais serviços. A troca foi motivada pelo rodízio obrigatório imposto pela
61
Comissão de Valores Mobiliários – CVM, que determina que empresas não financeiras de
capital aberto devem trocar de auditor a cada cinco anos.
Em seu parecer, referente às demonstrações contábeis e controles internos da data-base
de 31 de dezembro de 2011, a KPMG concluiu que as demonstrações contábeis representam
adequadamente a posição financeira, os resultados e os fluxos de caixa da Petrobrás no
período. Assim, concluíram que os controles internos eram efetivos.
A PWC emitiu parecer com mesma conclusão da KPMG para o ano de 2011, em
relação às demonstrações contábeis e controles internos dos anos de 2012 e 2013.
Já, em relação às demonstrações contábeis de 2014, a PWC emitiu parecer concluindo
que as demonstrações contábeis representavam adequadamente a posição financeira, os
resultados e os fluxos de caixa da Petrobrás no período, porém que a Companhia não
manteve, em todos os aspectos relevantes, controles internos efetivos sobre os relatórios
financeiros em 31 de dezembro de 2014, apontando as deficiências relatadas no relatório da
administração da companhia sobre seus controles internos.
Cabe ressaltar que a divulgação das demonstrações contábeis de 2014 foi adiada em
virtude de a empresa necessitar tempo adicional para completar as divulgações anuais
relacionadas com os ajustes decorrentes das falhas de controle e para finalizar as divulgações
deste relatório anual a fim de descrever fraquezas materiais em seus controles internos sobre
os relatórios financeiros. O Form 20-F de 2014 foi entregue à SEC somente em 15 de maio de
2015, sendo que o prazo para entrega era 30 de abril de 2015.
Assim como o parecer de 2014, a PWC emitiu opinião de que as demonstrações
contábeis de 2015 da Petrobras representavam adequadamente sua posição financeira, seus
resultados e seus fluxos de caixa e, da mesma forma, emitiu opinião de que os controles
internos da companhia não apresentavam fraquezas materiais.
Assim como os demais controles antifraudes, a auditoria externa também não foi
capaz de detectar os esquemas de corrupção em que a Petrobras estava envolvida.
Nesta seção, discutiram-se os principais controles antifraudes da Petrobras, assim
como nos trabalhos de Healy e Palepu (2003) e Buchanam e Yang (2005), que analisaram os
principais mecanismos de governança corporativa da Enron e Parmalat, respectivamente. Os
autores afirmaram que a interferência da administração nos controles de governança foram os
principais responsáveis pelos escândalos financeiros que levaram à falência aquelas empresas.
Assim, formula-se a seguinte hipótese:
62
HA,1: Houve interferência da administração nos controles antifraudes da Petrobras.
Assim como em outros escândalos de fraudes, nota-se que os mecanismos de combate
à fraude e/ou corrupção não funcionaram como deveriam e, por isso, podem ser apontados
como os principais motivos/ facilitadores pela corrupção praticada na companhia.
Buchanan e Yang (2005) apontam que uma das causas para as falhas corporativas é a
má escolha feita pela Administração. Adicionalmente, afirmam que as falhas podem surgir da
governança pobre, e até mesmo de fraude. Os autores citam o caso da Parmalat como exemplo
de falta de uma governança forte e que acabou levando a companhia a decretar falência.
Na Petrobras, havia uma estrutura de Governança Corporativa, de acordo com as
principais práticas de mercado, porém tal estrutura não foi capaz de prevenir e impedir a
ocorrência de esquemas fraudulentos na organização. Assim, formula-se a hipótese:
HA,2: A falha dos controles antifraudes foram os principais fatores responsáveis pela
desvalorização dos ativos da Petrobras.
A principal consequência dos escândalos financeiros, envolvendo Enron, Worldcom e
Parmalat, foi a falência decretada por tais empresas (BUCHANAN; YANG, 2005; DNES,
2005; HEALY; PALEPU, 2003; NELSON; PRICE; ROUNTREE, 2008; UNERMAN;
O’DWYER, 2004).
No caso da Petrobras, não se percebe o mesmo desfecho, até porque as investigações
da Operação Lava Jato ainda não foram concluídas e fatos novos podem surgir.
Pedersen (2016) ressalta que, em países com instituições fracas, em que a
responsabilidade dos políticos é limitada e a gestão dos recursos financeiros das estatais sofre
pouco controle, os funcionários podem ser induzidos à prática da corrupção, desviando
recursos que deveriam ser investidos nas despesas de capital, no pagamento de dívidas ou no
aumento do retorno para os acionistas, fazendo com que o desempenho da empresa sofra com
estas alienações.
Assim, formulam-se as seguintes hipóteses:
HA,3: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram
consequências econômicas negativas à Petrobras.
63
HA,4: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram
consequências socioambientais negativas à Petrobras.
2.5.4 Petrobras e Sustentabilidade
Até o ano de 2008, a Petrobrás apresentava Balanço Social. O primeiro Balanço Social
publicado no País foi o de uma empresa do Sistema Petrobras, a Nitrofértil, em 1984. Em
1998, a Petrobras Holding divulgou seu primeiro Balanço Social. O Balanço Social e
Ambiental do ano de 2000 obteve a chancela do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase), cujo selo, a partir deste ano, credenciou sua publicação.
A metodologia de elaboração participativa do Balanço Social foi implementada em
2003, quando foi adotado um modelo integrado, a partir dos principais indicadores de
responsabilidade social corporativos nacionais e internacionais: Ibase, Ethos, Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e Dow Jones
Sustainability Index, e a GRI.
A partir do ano de 2009, a empresa passou a preparar e divulgar o relatório de
sustentabilidade, com base na versão G3 das diretrizes do relatório GRI.
O relatório de sustentabilidade de 2011 já foi elaborado seguindo a definição de
escopo e princípios da versão 3.1 das diretrizes do relatório GRI.
Já, para o ano de 2013, o relatório foi elaborado com base na versão G4 das diretrizes
do relatório GRI. O mais recente relatório de sustentabilidade divulgado pela companhia é o
relatório do ano de 2015, que utilizou a mesma versão das diretrizes do relatório GRI do ano
anterior.
Até o ano de 2013, o relatório de sustentabilidade da companhia não apresentava
nenhuma menção à Operação Lava Jato. Em diversas partes do relatório, é afirmado o
compromisso da empresa no combate à corrupção, mas sem especificar detalhadamente as
medidas que estão sendo tomadas e se, de fato, houve qualquer identificação de casos de
corrupção que tenham ocorrido no período.
No mais recente relatório de sustentabilidade, o do ano de 2015, a companhia
apresentou informações detalhadas sobre a Operação Lava Jato, incluindo os impactos
econômico-financeiros em seus resultados, bem como as ações que estão sendo tomadas para
64
auxiliar nas investigações, impor sanções aos funcionários envolvidos e prevenir e combater a
corrupção na empresa.
As principais informações contidas no relatório de sustentabilidade de 2015, referentes
à Operação Lava Jato, são resumidas a seguir:
impactos nos resultados econômico-financeiros: baixa de gastos adicionais
capitalizados indevidamente no âmbito da Operação Lava Jato foi de R$ 6,2 bilhões;
ações tomadas para auxiliar nas investigações: pronto atendimento a centenas de
pedidos de documentos e informações feitos pelos investigadores da Polícia Federal,
Ministério Público Federal, Poder Judiciário, Tribunal de Contas da União (TCU) e
Controladoria Geral da União (CGU), assim como com a cooperação internacional
com a SEC;
sanções aos funcionários envolvidos: além da demissão dos diretores envolvidos no
esquema, como o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, Renato de Souza
Duque (ex-diretor de Serviços), Nestor Cerveró (ex-diretor da Área Internacional) e
Pedro José Barusco Filho (ex-gerente executivo de Engenharia). Foram constituídas
comissões para analisar a aplicação de sanções;
prevenção e combate à corrupção: implantação da área de Governança, Risco e
Conformidade, que busca assegurar a conformidade processual e mitigar riscos nas
atividades da Petrobras. A governança e o modelo de gestão da companhia estão sendo
revisados, pois estão investindo na sinergia entre as diretorias e em maior agilidade
para os processos.
65
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo, desenvolveu-se uma explanação acerca do tipo de pesquisa realizada
com relação aos objetivos, aos procedimentos e à abordagem do problema, como os dados
foram coletados, analisados e interpretados.
A primeira análise feita trata-se de estudo de evento com o intuito de se apurar o efeito
econômico da Operação Lava Jato por meio da verificação dos preços das ações da Petrobrás
antes e depois do evento citado.
A análise seguinte procurou embasar as hipóteses realizadas no capítulo anterior, por
meio da análise documental dos relatórios financeiros e de sustentabilidade e das informações
disponíveis no site da companhia, antes e depois do evento, e seus achados foram descritos no
capítulo seguinte.
3.1 Tipo de pesquisa
Quanto aos objetivos, esta pesquisa classifica-se como exploratória. Beuren (2008)
destaca que, a pesquisa exploratória, intenciona-se conhecer mais detalhadamente o assunto, a
fim de torná-lo mais claro ou desenvolver questões importantes para o encaminhamento da
pesquisa.
Com relação aos procedimentos, é documental.
Sendo assim, a pesquisa documental:
é baseada em materiais que ainda não receberam uma adequação detalhada ou
que podem ser refeitos, conforme os objetivos da pesquisa (BEUREN, 2008);
foi realizada utilizando-se os preços das ações negociadas na
BMF&BOVESPA, os Relatórios financeiros e os Relatórios de
Sustentabilidade da Petrobrás, bem como informações públicas disponíveis no
site da companhia, como fontes de dados para a análise.
Com referência à abordagem do problema, a pesquisa é quantitativa e qualitativa.
66
3.1.1 Qualitativa
Beuren (2008) afirma que, na pesquisa qualitativa, análises mais detalhadas do
fenômeno são realizadas, com o objetivo de destacar aspectos não observados por estudos
quantitativos.
A pesquisa documental propõe-se a produzir novos conhecimentos, criar novas formas
de compreender os fenômenos e dar conhecimento à forma como estes têm sido
desenvolvidos (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009).
Neste sentido, a pesquisa realizada buscou, pela análise documental, identificar os
efeitos econômicos, sociais e ambientais dos casos de corrupção, investigados no âmbito da
Operação Lava Jato, na Petrobras.
A análise foi feita por meio da comparação das informações divulgadas nos relatórios
financeiros, de sustentabilidade e no site da empresa antes e depois da Operação Lava Jato.
Para analisar o período abrangido pela pesquisa, examinaram-se os Relatórios
Financeiros de 2011 a 2016 e de Sustentabilidade de 2011 a 2015, além de informações
coletadas no site da empresa. Os achados desta pesquisa foram descritos no capítulo seguinte.
3.1.2 Quantitativa
Beuren (2008) avalia que, na pesquisa quantitativa, a abordagem se caracteriza pelo
uso de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados. No caso da
Petrobras, foram utilizados os preços das ações da empresa para emprego da metodologia de
estudo de evento, a fim de obter-se o impacto financeiro da Operação Lava Jato na
companhia.
Para analisar o período abrangido pela pesquisa, examinaram-se os preços das ações
da Petrobras de 2013 a 2016, obtidos na BMF&BOVESPA.
Tratamento dos dados
Os dados referentes aos preços das ações da Petrobras, obtidos no site da
BMF&BOVESPA, foram analisados pela metodologia do Estudo de Evento. Esta técnica foi
utilizada a fim de se identificar o impacto da Lava Jato no preço das ações da companhia.
67
O Estudo de Evento consiste na análise do efeito de informações específicas de
determinadas empresas sobre os preços de suas ações. Trata-se de uma metodologia
amplamente usada em testes de eficiência de mercados, denominação comum a todos os testes
da forma semiforte de ajustamento de preços a anúncios públicos, sugerida por FAMA
(1991).
De acordo com Brown e Warner (1980), a maior preocupação do Estudo de Evento é
avaliar a extensão em que o desempenho dos preços de títulos em dias próximos ao evento
tem sido anormal, ou seja, a extensão em que retornos de títulos são diferentes daqueles
considerados normais, dado um modelo de equilíbrio de determinação de retornos esperados.
Para Campbell, Lo e Mackinlay (1997), a utilidade dessa metodologia deve-se ao fato
de que, dada a racionalidade do mercado, os impactos do evento refletirão imediatamente nos
preços.
Mackinlay (1997) realizou uma análise sobre a evolução da metodologia e afirma que
os Estudos de Evento não são recentes, sendo que o primeiro foi realizado por Dolley (1933),
quando examinou os impactos nos preços em dias próximos aos anúncios de 95
desdobramentos de ações ocorridos entre 1921 e 1931.
Entre as décadas de 1930 e 1960, a metodologia evoluiu, tornando-se a metodologia
que é substancialmente utilizada até os dias atuais, por meio dos trabalhos de Ball e Brown
(1968) e Fama et al. (1969).
Já, nos anos 1980, destacam-se os trabalhos de Brown e Warner (1980 e 1985), que
publicaram artigos, tratando da importância do uso de dados mensais e diários para avaliar
diferentes metodologias, com a finalidade de medir o desempenho dos retornos. Estes dois
artigos são referências que figuram entre as mais citadas, quando se trata de Estudos de
Evento.
Há, ainda, autores que utilizaram modelos mais complexos, com vários fatores para
estimar o valor esperado do ativo, dentre estes, destaca-se o modelo de 4 fatores de Carhart
(1997).
Campbell, Lo e Mackinlay (1997) descrevem os procedimentos de um estudo de
evento, conforme a Figura 8:
Figura 8: Etapas do Estudo de Evento
68
Definição do Evento
Nesta fase, define-se o evento de interesse, identifica-se a data de ocorrência (“data
zero”) e o período durante o qual os preços das ações da empresa envolvida serão examinados
(“janela de evento”). A definição desta janela (quanto tempo antes e quanto tempo depois do
evento) envolve alguma subjetividade e arbitrariedade por parte do pesquisador e depende do
evento estudado e dos objetivos que se desejam com o uso da metodologia. Esta janela deve
incluir períodos considerados relevantes para a verificação de anormalidades no
comportamento dos preços; não deve ser muito longa, pois corre o risco de incluir outros
eventos, enviesando-se os resultados, e nem muito curta, pois pode não conseguir captar a
anormalidade nos preços. Usualmente, a análise do período anterior à “data zero” visa ao
reconhecimento dos indicativos do uso de informações privilegiadas (inside information),
enquanto a do período posterior busca o fornecimento de evidências quanto à velocidade e à
precisão do ajuste dos preços à nova informação liberada ao mercado (CAMARGOS;
BARBOSA, 2003).
Critérios de Seleção
Nesta etapa, definem-se a base de dados utilizada, a seleção do setor econômico e as
empresas afetadas pelo evento em estudo para a inclusão de uma dada empresa na amostra e
sua caracterização (CAMARGOS; BARBOSA, 2003).
Retornos Normais e Anormais
Os estudos de evento em finanças medem o desempenho anormal das ações,
subtraindo-se do retorno observado no período o retorno esperado, calculado por algum
modelo (PERERA et. al. 2007). Foram utilizadas, neste trabalho, cotações diárias das ações e
as taxas (observadas) de retorno diário foram obtidas desta forma:
69
kj,t = Pj,t – Pj,t-1
Pj,t-1
onde: kj,t – é a taxa de retorno (observada) de uma ação j na data t, Pj,t – é o preço de
fechamento da ação j (ajustado para eventos) na data t, Pj,t-1 – é o preço de fechamento da
ação j (ajustado para eventos) na data t-1.
Campbell, Lo e MacKinlay (1997) classificam os modelos usados para calcular o
retorno esperado, ou seja, o desempenho normal das ações em Modelos Econômicos e
Modelos Estatísticos. De acordo com Perera et al. (2007), os exemplos mais comuns de
modelos econômicos são o CAPM (Capital Asset Pricing Model) e o APT (Arbitrage Pricing
Model). Dentre os modelos estatísticos, talvez o mais comumente utilizado e também o mais
simples seja o Modelo de Mercado. O modelo de mercado pode ser representado pela seguinte
equação:
k jt = α j + βjE (kMt) + Ɛjt
onde: kjt – é o retorno esperado no instante t da ação j, αj é o intercepto do modelo de
regressão, kMt – é o retorno da carteira de mercado no instante t, βj é o coeficiente beta da
ação j, Ɛjt é o resíduo, ou retorno anormal da ação j no instante t.
Como proxy para o retorno da carteira de mercado, utilizou-se o retorno diário do
índice IBOVESPA da Bolsa de Valores de São Paulo.
Procedimento de estimação
Nesta fase, é necessário determinar a janela de evento (período durante o qual
deveriam ser observados retornos anormais, presumivelmente) e a janela de estimação
(período anterior à janela de evento, utilizado para estimar os parâmetros do modelo que será
utilizado para o cálculo dos retornos normais) e, finalmente, uma janela pós-evento
(CAMPBELL; LO; MACKINLAY, 1997).
3.2 Procedimentos de Teste
De acordo com Vidal e Camargos (2003), a janela de estimação deve ser
suficientemente extensa para que eventuais discrepâncias nos preços possam ser diluídas sem
70
provocar grandes alterações na sua distribuição de frequências. Assim, neste trabalho, a janela
de estimação inicia-se em 28.12.2012 e termina em 21.08.2014, quando se inicia a janela de
evento, compreendendo 430 dias úteis.
A janela do evento começa no dia 22.08.2014 e vai até o dia 29.09.2014, data em que
o Superior Tribunal Federal (STF) homologou o primeiro acordo de delação premiada do ex-
diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, este é o dia “zero”. Assim, a janela de evento
compreende 27 dias úteis. E a janela pós-evento é a partir do primeiro dia útil seguinte ao
evento (30.09.2014), pois, a partir deste dia, tem-se uma noção mais clara do impacto
financeiro dos casos de corrupção na companhia. Como a janela pós-evento não deve ser
muito extensa, optou-se por estimar os retornos anormais das ações até 28.10.2014, 21 dias
úteis após a homologação do STF homologar a delação premiada de Paulo Roberto da Costa.
Os parâmetros do modelo de mercado (α e β) foram estimados por uma regressão
simples entre os retornos observados das ações em relação aos retornos da carteira do
mercado (IBOVESPA). E os parâmetros verificados foram os seguintes:
α = 0,0007
β = 1,3854
Desvio Padrão (ε) = 0,0157
Nível de significância: 95%
A última linha da tabela acima mostra o erro-padrão da regressão do modelo de
mercado. Os retornos anormais (AR), dados pela fórmula abaixo, foram obtidos, subtraindo-
se do retorno observado em cada período o retorno esperado (pelo modelo de mercado,
equação anterior):
ARjt = εjt = kjt − αj − βj E(kMt)
onde: ARjt = εjt é o retorno anormal da ação j no período t.
Os retornos anormais (AR, abnormal returns) precisam ser agregados para que se
possam fazer inferências sobre o evento que está sendo estudado. A agregação (CAR,
cumulative abnormal returns) pode ser feita em duas dimensões: uma dimensão cross section
com todas as ações que estejam sendo estudadas e, outra, uma dimensão temporal. Neste
trabalho, interessará apenas a agregação temporal.
A fórmula do CAR usada, neste estudo, é a seguinte:
71
CAR = ∑ 𝐴𝑅𝑇𝑡=τ jt, onde: CARjT é a taxa acumulada de retornos anormais da ação j no período
entre t = τ e T, τ é o primeiro dia da janela de eventos (neste caso: 22.08.2014), T é o número
de dias úteis a partir de τ.
Como E(ARjt) = 0 => E(CARjt) = ∑ 𝐸(𝐴𝑅𝑇𝑡=𝜏 jt) = 0, o teste de hipótese que este estudo
implementou foi verificar se os CARs das ações da Petrobras são significativamente
diferentes de zero. Em outras palavras:
H0 = O CAR é igual a zero; HA = O CAR é diferente de zero
Para que se possa efetuar este teste de hipótese, os CARs dos ativos são padronizados
para uma distribuição t-Student. Assim, os CARs são transformados em SCAR (Standardized
Cumulative Abnormal Returns) por meio da seguinte fórmula:
SCART = 𝐶𝐴𝑅𝑇𝜎(𝜀)
, onde 𝜎(ε) é o desvio-padrão dos erros da regressão dos retornos dos
ativos em função do retorno de mercado.
Resultados Empíricos
Pela hipótese nula, espera-se que E(AR) = E(CAR) = E(SCAR) = 0, ou seja, a
homologação da delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto da Costa, não
gerou retornos anormais, ou seja, não influiu o valor das ações da Petrobras.
Figura 9: CAR das ações da Petrobras
72
Fonte: autor, 2017.
Na Figura 9, são destacados os valores de SCAR das ações da Petrobras e os valores
críticos tc da estatística t para rejeitar H0 em níveis de significância de 10, 5 e 1%. Pela análise
da figura, pode-se verificar que as ações da companhia sofrem uma queda brusca no dia
29.09.2014, data em que o Superior Tribunal Federal STF homologou o acordo de delação
premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa, porém, no dia 26.09.2014 (dia útil anterior à
data do evento), dois institutos de pesquisa divulgaram que a, então, presidente Dilma
Rousseff liderava a disputa eleitoral, o que originou uma reação negativa do mercado com
relação à companhia, influenciando na análise do impacto da Operação Lava Jato no preço de
suas ações (UOL: 29.09.2014).
A partir desta data, o CAR da Petrobras praticamente não sai da região onde H0 não é
rejeitada. Ou seja, o CAR da empresa, dentro do nível de significância estudado, é não
significante, com exceção de algumas datas específicas, como:
(i) 06.10.2014, dia útil seguinte ao resultado do primeiro turno das eleições para
presidente, quando o candidato Aécio Neves obteve expressiva quantidade de
votos, trazendo otimismo ao mercado (Globo: 06.10.2014);
(ii) 13.10.2014, resultado de dois importantes institutos de pesquisa, mostrando que o
candidato Aécio Neves liderava a corrida presidencial, aparecendo na frente da,
então, presidente Dilma Rousseff, trazendo nova onda de otimismo ao mercado
(Folha: 13.10.2014);
-6,00
-5,50
-5,00
-4,50
-4,00
-3,50
-3,00
-2,50
-2,00
-1,50
-1,00
-0,50
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50 SCAR => CAR padronizado (estatística t)
Petrobras PN
(i) (ii) (iii)Homologação da
delação premiada de
Paulo Roberto da Costa
73
(iii) 27.10.2014, dia útil seguinte ao resultado do segundo turno das eleições para
presidente, quando a candidata Dilma Rousseff se sagrou vitoriosa no pleito,
trazendo pessimismo ao mercado (Valor: 27.10.2014).
Com base nos resultados evidenciados, não se rejeita H0, ou seja, fica reconhecido que
a homologação da delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa não influiu no
resultado das ações da Petrobras no mercado financeiro no período de análise. Ressalve-se
que a coincidência de informações, devido à proximidade dos resultados eleitorais, pode ter
perturbado o resultado esperado, devido exclusivamente à ação da Operação Lava Jato.
74
4 RESULTADOS
Nesta seção, os resultados obtidos com as metodologias (qualitativa e quantitativa)
utilizadas na pesquisa são apresentados.
4.1 Hipóteses HA,1 e HA,2
As hipóteses HA,1: houve interferência da administração nos controles antifraudes da
Petrobras e HA,2: a falha dos controles antifraudes é o principal fator responsável pela
desvalorização dos ativos da Petrobras, tem como fundamentação a análise dos controles
antifraudes da companhia em uma comparação de como estavam estruturadas antes e após o
evento Operação Lava Jato.
A análise foi realizada mediante pesquisa de materiais públicos sobre tais controles,
principalmente em informações e comunicados da empresa ao mercado, disponíveis em seu
website (www.investidorpetrobras.com.br), bem como seus relatórios financeiros (Form 20F,
DFP, ITRs) e de sustentabilidade (GRI) também disponíveis no mesmo local.
4.1.1 Canal de Denúncias
Com relação ao controle antifraudes Canal de Denúncia, é possível resumir a situação
pela tabela 2 abaixo:
Tabela 2: Canal de Denúncias
Antes Depois
Até 2014: 2015:
- Havia um canal de denúncias implantado na companhia
desde 2005
- Não se tem notícias de nenhuma denúncia de esquema
de corrupção
- O canal de denúncias parecia não ter efetividade em seu
objetivo
- O canal de denúncias foi totalmente reestruturado
- A recepção das denúncias passou a ser de
reponsabilidade de empresa independente especializada
- O novo canal faz parte do conjunto de medidas que a
Petrobrás adotou após a Operação Lava Jato para
aprimorar sua Governança
Fonte: elaborado pelo autor com em Comunicados e Fatos Relevantes da Petrobras (2016e).
75
De acordo com o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC
(2015), o canal de denúncias deve ter a necessária independência e garantir a
confidencialidade e promover as apurações e providências cabíveis. Embora houvesse um
canal de denúncias implantado na empresa, este não funcionava de forma independente, o que
poderia dar margem à desconfiança de que funcionários ou terceiros que denunciassem
qualquer suspeita de conduta incorreta, fossem retaliados.
Nos documentos analisados, não houve qualquer menção ao Canal de Denúncias da
Petrobras implementado em 2005 e vigente até o evento da Operação Lava Jato.
Em resumo, ou não foram recebidas denúncias ou não há informação pública de seu
recebimento.
O controle antifraudes passou a ser operado por empresa independente, somente após
a Operação Lava Jato, a partir do ano de 2015.
4.1.2 Gerenciamento de Controles Internos
Em relação ao controle antifraudes Gerenciamento de Controles Internos, a tabela 3
abaixo resume o antes e depois do evento Operação Lava Jato:
O Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (2015)
estabelece que o sistema de controles internos não deve focar exclusivamente em monitorar
fatos passados, mas também contemplar visão prospectiva na antecipação de riscos.
Tabela 3: Gerenciamento de Controles Internos
Antes Depois
Form 20F 2013 (publicado em 30 abr 2014): Form 20F 2014 (publicado em 10 jun 2015):
- No Relatório da Administração sobre Controles
Internos do Form 20F referente ao ano de 2013 e
publicado em 30 de abril de 2014 não há nenhuma
menção com relação a quaisquer fraquezas materiais nos
controles internos da companhia, tampouco referência a
qualquer escândalo de corrupção
- Somente no Relatório da Administração sobre
Controles Internos do Form 20F referente ao de 2014 e
publicado em 10 de junho de 2015 é que o presidente e
o diretor financeiro da companhia concluíram que os
controles internos, devido suas fraquezas materiais não
eram eficazes, admitindo falhas relacionadas a conduta
ética da alta direção
- Em setembro de 2016, a companhia realizou
reorganização de sua área financeira, responsável pelo
gerencamento dos controles internos
Fonte: elaborado pelo autor base no Form 20F 2013 e 2014 da Petrobras (2016f).
76
Antes da Operação Lava Jato, não houve qualquer manifestação da administração a
respeito de falhas nos controles internos da companhia, sempre foram reportados relatórios
atestando que tais controles eram eficientes. Somente após o evento, os relatórios passaram a
reportar falhas nos controles internos. Somente após o evento da Operação Lava Jato é que o
Gerenciamento de controles internos reportou fraquezas materiais, conforme relatório da
Administração sobre Controles Internos publicado no relatório Form 20F de 2014, que
ocasionaram perdas enormes (tais perdas são apresentadas na seção seguinte deste capítulo).
4.1.3 Auditoria Interna
A única notícia obtida foi a do lançamento de um programa de prevenção à corrupção
em 2013, denominado Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção (PPPC), sendo a
Auditoria Interna responsável por sua gestão. Cabe ressaltar que os trabalhos da auditoria
interna não possuem obrigatoriedade quanto à divulgação de resultados e conclusões, além
disso, são executados por funcionários internos da companhia, ficando evidenciada a
possibilidade de influência da própria administração superior.
Conforme as Normas Internacionais para a prática profissional de Auditoria Interna do
IIA (2016b), o auditor interno também deve avaliar a adequação e a efetividade dos controles
em resposta aos riscos relacionados à confiabilidade e à integridade da informação
operacional e financeira e à salvaguarda dos ativos. Também deve ter conhecimento suficiente
para avaliar o potencial de ocorrências de fraude e como a organização administra o risco de
fraude.
4.1.4 Auditoria Externa
Por fim, em referência ao controle antifraudes Auditoria Externa, a tabela 4 abaixo,
resume a conclusão dos trabalhos da auditoria externa em seu parecer sobre as demonstrações
contábeis da Petrobras:
77
De acordo com o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB, 2002), o
auditor deve conduzir o trabalho com uma mentalidade que reconheça uma distorção
relevante por fraude que possa estar presente, independentemente de qualquer experiência
anterior com a entidade e crença do auditor sobre a honestidade e a integridade da
administração.
O PCAOB também orienta que os procedimentos de auditoria devem ser endereçados,
especificamente, ao risco de a administração burlar os controles. Deve avaliar o propósito do
negócio para transações significativas e/ou fora do curso normal das atividades da companhia.
Deve, ainda, atentar para ações que aparentam ser não usuais, ou indiquem que foram
realizadas para fazer parte de reportes financeiros fraudulentos, ou ocultar apropriações
indébitas de ativos.
Conclusão parcial: i) o Canal de Denúncias era praticamente inexistente, por falta de
independência; ii) o gerenciamento de Controles Internos não identificou ou reconheceu o
esquema de corrupção que, de acordo com o MPF (2016), durava há dez anos; iii) a Auditoria
Interna parecia desconhecer as práticas profissionais, de acordo com as Normas
Internacionais, e; iv) o auditor externo, no caso a PWC, emitiu pareceres atestando sua
adequação e endossando o esquema fraudulento por cerca de dez anos. Leniência ou falta de
preparo?
Com base nas falhas constatadas e inoperância dos sistemas antifraudes e de
governança, rejeita-se H0, reconhecendo-se como verdadeiras as hipóteses:
HA,1: Houve interferência da administração nos controles antifraudes da Petrobras.
HA,2: A falha dos controles antifraudes foi o principal fator responsável pela
desvalorização dos ativos da Petrobras.
Tabela 4: Auditoria Externa
Antes Depois
Demonstrações Contábeis:
Form 20F 2013 (publicado em 30 abr 2014)
ITR 1º Trim/ 2014 (publicado em 09 mai 2014)
ITR 2º Trim/ 2014 (publicado em 08 ago 2014)
Demonstrações Contábeis:
ITR 3º Trim/ 2014 (publicado em 22 abr 2015)
DFP 2014 (publicado em 22 abr 2015)
Form 20F 2014 (publicado em 10 jun 2015)
- Todos os pareceres emitidos pela Auditoria Externa
(PWC) sobre as demonstrações contábeis da Petrobras
até Agosto de 2014 não continham nenhuma menção a
Operação Lava Jato ou qualquer outro esquema de
corrupção na empresa
- Somente nos pareceres emitidos pela PWC sobre as
demonstrações contábeis da Petrobrás referentes ao 3º
trimestre e somente publicado em Abril de 2015 é que há
parágrafo de ênfase mencionando a Operação Lava Jato,
repetido nas demonstrações contábeis seguintes
Fonte: elaborado pelo autor com base nas Demonstrações Contábeis 2013 e 2014 (2016f).
79
4.2 Hipóteses HA,3 e HA,4
Nesta seção, apresentam-se as fundamentações para as hipóteses HA,3: os casos de
corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram consequências econômicas
negativas à Petrobras e, HA,4: os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato
trouxeram consequências socioambientais negativas à Petrobras. Para tanto, divide-se a seção
em subseções, fundamentando-se, inicialmente, as consequências econômicas e,
posteriormente, as consequências socioambientais.
4.2.1 Consequências Econômicas
De acordo com o ranking das 2000 maiores companhias de capital aberto do mundo da
Revista Forbes (2016 – ANEXO B), a Petrobras ocupa a 411ª posição. A companhia, que já
figurou entre as 10 maiores empresas do mundo, viu seu desempenho despencar após os
escândalos do esquema de corrupção investigados pela Operação Lava Jato, na lista de 2015,
figurava na 416ª posição, conforme pode ser observado na figura 10 abaixo.
Figura 10: Posição da Petrobras no ranking da Forbes
Fonte: elaborado pelo autor com base no ranking da Forbes (2016).
10º
20º 30º
416º 411º
2012 2013 2014 2015 2016
80
O ranking da Forbes é baseado em uma pontuação composta por medidas igualmente
ponderadas de receitas, lucro, ativos e valor de mercado. A lista de 2016 apresenta as
companhias de capital aberto de 63 países (FORBES, 2016).
Baseado em alguns dos indicadores deste ranking e na classificação das agências de
rating, fundamentou-se a hipótese HA,3 de que os casos de corrupção investigados pela
Operação Lava Jato trouxeram consequências econômicas negativas à Petrobras, nos
parágrafos a seguir.
Perdas nos ativos da Petrobras
As demonstrações contábeis da companhia do ano de 2013 ainda não refletiam os
impactos da Operação Lava Jato. Somente a partir da publicação das Informações Trimestrais
– ITRs, do terceiro trimestre e das demonstrações contábeis anuais de 2014, publicadas em 29
de janeiro de 2015 e 23 de abril de 2015, respectivamente, é que os impactos passaram a ser
contabilizados, conforme se observa na tabela 5 e na figura 11.
Tabela 5: Perdas registradas nos ativos da Petrobras
31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 30.09.2014 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016
Reconhecimento de perda por impairment - - - - -45 -48 -18
Baixa de gastos capitalizados indevidamente - - - -6 -6 - -
Fonte: elaborado pelo autor com base nas demonstrações contábeis da companhia, 2017.
DepoisAntes
81
A perda reconhecida no terceiro trimestre de 2014 refere-se à baixa de gastos
adicionais capitalizados (incorporados ao custo do ativo imobilizado) indevidamente, os quais
representavam valores específicos de pagamentos indevidos ou o percentual de 3% sobre os
contratos citados nos depoimentos obtidos nas investigações, que se tornaram públicos a
partir de outubro de 2014. Estes valores também foram considerados, pois foram utilizados
pelo cartel, entre 2004 e abril de 2012, para impor sistematicamente gastos adicionais nas
compras de ativos imobilizados pela Companhia para financiar pagamentos indevidos
(PETROBRAS, 2016f).
A perda reconhecida nas demonstrações contábeis anuais de 2014 refere-se ao
reconhecimento de impairment em cinco projetos de Exploração e Produção que estavam em
sua fase inicial de planejamento, para os quais não havia fluxos de caixa futuros estimados
(PETROBRAS, 2016f).
A perda reconhecida nas demonstrações contábeis anuais de 2015 refere-se ao
reconhecimento de impairment em virtude da revisão de diversas premissas utilizadas para a
realização do teste de impairment para os agrupamentos de ativos dos segmentos de
Exploração e Produção, Abastecimento, Gás e Energia e Biocombustíveis (PETROBRAS,
2016f).
Já a perda registrada em 2016 refere-se ao reconhecimento de perdas adicionais por
desvalorização dos ativos das unidades de Campos de Produção de Óleo e Gás Brasil, da
Fonte: elaborado pelo autor com base nas demonstrações contábeis da companhia,
2017.
-60
-50
-40
-30
-20
-10
0
Figura 11: Impairment nos Ativos - R$ Bilhões
82
Comperj, do Conjunto de Navios da Transpetro e do Conjunto das Térmicas. Os indicativos
de desvalorização identificados no quarto trimestre, para os ativos listados acima, foram
principalmente: (i) revisão anual de reservas oficial da companhia; (ii) revisão anual da
provisão para desmantelamento de áreas; (iii) andamento das obras inerentes às utilidades do
Trem 1 da Comperj, que também atenderão à Unidade de Processamento de Gás Natural
(UPGN); (iv) alteração da unidade Conjunto das Térmicas; e (v) início da construção de cinco
navios Aframax da unidade de Transporte em função da eficácia dos contratos de
financiamento, garantindo a financiabilidade dos projeto.
Resultados da Petrobras
Com relação aos resultados, a empresa apresentava lucro contábil até o segundo
trimestre de 2014, a partir do terceiro trimestre de 2014 passou a apresentar prejuízo,
conforme tabela 6 e figura 12 abaixo.
Tabela 6: Resultados da Petrobras (R$ Bilhões)
31.12.2011 31.12.2012 31.12.2013 30.06.2014 30.09.2014 31.12.2014 31.12.2015 31.12.2016
Lucro 33 21 24 5 - - -
Prejuízo - - - - -6 -22 -35 -15
Fonte: elaborado pelo autor com base nas demonstrações contábeis da companhia, 2017.
DepoisAntes
Fonte: elaborado pelo autor com base nas Demonstrações Contábeis da Petrobras,
2017.
33
21 24
5
-6
-22
-35
-15
-40
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
Figura 12: Resultados Consolidados - R$ Bilhões
83
Classificação do rating de risco
Outro fato relevante a ser destacado é a questão da qualidade de crédito da companhia.
A classificação do rating é uma nota dada a uma instituição ou governo por uma agência de
classificação de risco, que avalia sua qualidade de crédito. Esta nota é importante, pois
determina um limite ou uma referência para o risco das empresas, afetando seus custos de
financiamento, uma vez que muitos bancos internacionais se baseiam nestes ratings para
avaliar o risco das empresas. Também serve de guia para investidores institucionais, como
fundos de pensão e companhias de seguro.
As principais agências de classificação de risco no mundo são Moody’s,
Standard&Poors e Fitch. Abaixo são apresentadas as classificações dadas por estas agências
ao risco da Petrobras, após os escândalos de corrupção que ocorreram na companhia.
Uma consequência importante para a empresa foi o rebaixamento por parte das
agências de classificação de risco, de seu rating. Todas as três principais agências mundiais
rebaixaram a classificação de risco da companhia após a Operação Lava Jato. A Petrobras
que, até então, possuía grau de investimento, foi rebaixada para grau especulativo. Este fato
torna os empréstimos mais caros, trazendo consequências negativas para a instituição.
4.2.1.1 Resultado do estudo de evento
Tabela 7: Classificação do rating de risco da Petrobras
AgênciaGrau de
Investimento
Grau
Especulativo
30/01/15 24/02/15
Baa3 Ba2
16/05/14 10/09/15
BBB- BB
04/02/15 17/12/15
BBB- BB+
Fonte: elaborado pelo autor, 2017.
Moody’s
Standard & Poor's
Fitch
84
O mercado reagiu negativamente ao acordo de delação premiada do ex-diretor da
Petrobras Paulo Roberto da Costa, principalmente quando o Supremo Tribunal Federal
homologou o acordo em 29.09.2014. Porém, nos 21 (vinte e um) dias úteis seguintes, o preço
das ações não apresentaram retornos anormais em níveis de significância de 10, 5 e 1%, com
exceção de três dias, em que a corrida eleitoral para Presidência da República teve impacto na
reação do mercado em geral, sendo que para a Petrobras tal efeito foi mais significativo ainda.
Dado que o resultado do estudo de evento não rejeitou H0, contrariando a lógica de um
raciocínio fundamentado em expectativas racionais, foi realizada uma análise adicional para
tentar esclarecer se, de fato, haveria razões econômicas que implicassem uma desvalorização
das ações da Petrobras, quando comparada a empresas de porte semelhante em 2012,
conforme figura 13 abaixo.
A figura 13 apresenta uma comparação com o retorno das ações das cinco maiores
petrolíferas americanas, de acordo com o ranking das 2000 maiores empresas de capital
aberto do mundo (Forbes, 2016). Verifica-se que a Petrobras, em 2014, teve uma queda
acentuada de suas ações (-44,6%) e, no período acumulado de 2013 a 2016, sua queda foi
ainda maior (47,8%). O segundo pior resultado foi da ação da Exxon Mobil, que fechou o
período com ganho de apenas 4,3%, isto em relação à Petrobras mostra uma diferença de
52%. Se compararmos a Petrobras com a melhor empresa, a Valero Energy, esta ação teve um
ganho de 119% no período, com uma diferença de 167% para a ação da Petrobras: uma
diferença abissal.
Figura 13: Retorno das ações das 5 Maiores Petrolíferas Americanas x Petrobras
85
Também foram analisados os retornos trimestrais durante o ano de 2014, época em
que todas as a petrolíferas apresentaram retornos negativos, porém o retorno das ações da
Petrobras apresentou uma queda muito acentuada em relação às demais, conforme figura 14
abaixo.
Especificamente, com relação aos retornos de 2014, todas as petrolíferas apresentaram
retornos negativos, em virtude de o barril do petróleo ter sofrido uma queda de
aproximadamente 60% em seu preço: este fato impulsionou a queda do preço das ações.
Entretanto, para a Petrobras, o retorno de suas ações apresentou uma queda muito mais
acentuada em comparação com as demais petrolíferas americanas.
Os retornos acumulados das ações da Petrobras a partir da data do evento (29.09.2014)
são apresentados na figura 15 abaixo.
Fonte: dados da pesquisa, 2017.
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
31.03.2014 30.06.2014 30.09.2014 31.12.2014
Figura 14: Retornos trimestrais das ações das 5 maiores
petrolíferas americanas x Petrobras em 2014
Exxon Chevron Phillips 66
Valero Energy Marathon Petroleum Petrobras
86
No período pós-evento, as ações da companhia apresentaram um retorno negativo
acumulado de mais de 50%. Por mais que a disputa eleitoral tenha impactado o preço das
ações, esta queda acentuada também se deve à influência dos desdobramentos da Operação
Lava Jato.
Conclusão parcial: (i) o rebaixamento da classificação de risco pelas principais
empresas internacionais avaliadoras tem como causa lógica o aumento das taxas de juros
internacionais; (ii) as volumosas perdas financeiras registradas a partir de pagamento de
propinas (R$ 6 bilhões em 2014) e os prejuízos registrados e acumulados R$ 50 bilhões em
2014, 48 bilhões em 2015 e R$ 16 bilhões em 2016 – reconhecidos por impairment atestam e
consolidam o valor do esbulho na Petrobras; (iii) os resultados dos últimos três anos (2014 a
2016) com perdas equivalentes a 92% dos ganhos do triênio anterior (2011 a 2013)
corroboram e consolidam os prejuízos; (iv) a comparação internacional com as empresas
pares (até 2012) mostra que nenhuma das petrolíferas teve prejuízo no período analisado, ou
seja, o prejuízo da Petrobras pode ser debitado exclusivamente à corrupção endêmica que
grassou na administração da Petrobras.
Desta forma, rejeita-se H0, o que implica em reconhecer como verdadeira a hipótese:
HA,3: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram
consequências econômicas negativas a Petrobras
Fonte: dados da pesquisa, 2017
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
29.09.2014 30.09.2014 31.10.2014 28.11.2014 29.12.2014
Figura 15: Retorno acumulado das ações da Petrobras – Set/2014
a Dez/2014
88
4.2.2 Consequências Socioambientais
Nesta etapa, foram analisados os Relatórios de Sustentabilidade da companhia, o
Global Reporting Initiative (GRI) dos anos 2011 a 2015. Este é um aspecto relevante para a
empresa e para a sociedade, haja vista que a companhia prospecta e produz combustíveis
altamente poluentes, sendo sua responsabilidade maior a geração de gases do efeito estufa
(GEE), logo a Petrobras tem um débito socioambiental grande a repor para a sociedade.
Os investimentos socioambientais da companhia são apresentados na tabela 8 abaixo.
Verifica-se que, a partir de 2013, a Petrobras reduziu seus investimentos
socioambientais em cerca de R$ 284 milhões (36,4%). Fato que pode ser debitado decisão
estratégica devido aos volumosos prejuízos da empresa.
Outro fator que pode ser considerado como consequência social ou socioambiental diz
respeito à empregabilidade gerada pela companhia. Uma empresa do porte da Petrobras
possui um peso muito grande no mercado de trabalho e na renda gerada na sociedade, pela
remuneração e pelos benefícios proporcionados a seus funcionários e aos funcionários de seus
prestadores de serviços.
A tabela 9 abaixo apresenta as informações a respeito dos empregados da empresa,
bem como de seus prestadores de serviço.
Tabela 8: Investimentos Socioambientais da Petrobras
Ano R$ Milhões Variação %
2011 641 -
2012 552 -14%
2013 780 41%
2014 612 -21%
2015 496 -19%
Fonte: elaborado pelo autor com base no Relatório de Sustentabilidade da Petrobras,
2017.
Investimentos Socioambientais da Petrobras
89
A partir de 2013 para 2015, a Petrobras reduziu em 7.641 (8,9%) o número de
empregados, em 378 (20,8%), o número de estagiários e, em 202.104 (56,1%), o número de
prestadores de serviço. Os números são suficientemente eloquentes para atestar o peso deste
contingente no número recorde de desempregados que o Brasil registra atualmente.
A partir do evento Operação Lava Jato, os investimentos socioambientais e em
pessoas tiveram significativa redução, trazendo consequências à sociedade e ao meio
ambiente, dada a significância da empresa e a magnitude de seus investimentos. Com base
nesses fatos, rejeita-se H0 e constata-se a veracidade de:
HA,4: Os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram
consequências socioambientais negativas à Petrobras.
Tabela 9: Quantidade de empregados diretos e indiretos
Quantidade Variação % Quantidade Variação % Quantidade Variação %
2011 81.918 - 1.825 - 328.133 -
2012 85.065 4% 1.887 3% 360.372 10%
2013 86.111 1% 1.816 -4% 360.180 0%
2014 80.908 -6% 1.746 -4% 291.074 -19%
2015 78.470 -3% 1.438 -18% 158.076 -46%
Fonte: elaborado pelo autor com base no Relatório de Sustentabilidade da Petrobras, 2017.
Empregados Estagiários Prestadores de ServiçoAno
90
5 CONCLUSÕES
A análise documental dos fatos, antes e depois da deflagração da Operação Lava Jato,
possibilitou a identificação das principais causas da desvalorização da Petrobras ao abordar
como os controles antifraudes da companhia estavam configurados antes da Operação. Cabe
lembrar que, até então, a companhia era exemplo de melhores práticas de mercado em termos
de governança corporativa. Os principais achados desta pesquisa foram:
O Canal de Denúncias da Petrobras, implantado em 2005, nunca revelou ou motivou
investigação de casos de corrupção por parte de dirigentes ou funcionários da companhia. A
reformulação geral, ocorrida somente em 2015, ficando a recepção de denúncias a cargo de
uma empresa independente, com funcionamento 24 horas por dia, em três idiomas (português,
inglês e espanhol) é o reconhecimento eloquente de sua anterior inoperância.
Com relação ao Gerenciamento de Controles Internos, a administração da
companhia emitiu diversos relatórios públicos sobre a adequação dos controles internos, sem
uma única menção sobre qualquer suspeita de corrupção. Somente no relatório Form 20-F de
2014, publicado em junho de 2015, é que a Administração relatou deficiências em seus
controles internos, que resultaram em baixas contábeis de centenas de bilhões. Assim, pode-se
concluir que o gerenciamento de controles internos falhou na prevenção e detecção de
fraudes.
Não há informações públicas sobre os trabalhos da Auditoria Interna da companhia.
Porém, em última instância, não impediu que os casos de corrupção ocorressem. Assim,
parece plausível suspeitar que a Administração da companhia interferiu nos trabalhos da
auditoria interna com o objetivo de evitar que os casos de corrupção fossem detectados e
viessem a público. Embora não tenha sido possível obter evidências empíricas, a afirmação
acima é corroborada por Lenz e Sarens (2012), que afirmam que há risco de os auditores
internos serem intimidados pela alta administração. Neste trabalho, também se discute esta
questão, ao afirmar que parece perigosa a instrumentalização da auditoria interna para servir
às necessidades estratégicas dos negócios, denotando enfraquecimento da governança
corporativa da empresa.
Quanto à Auditoria Externa, todos os pareceres, tanto da KPMG quanto da PWC,
emitidos antes da deflagração da Operação Lava Jato, atestavam que as demonstrações
contábeis e os controles internos eram efetivos. Somente após a Operação, a partir das
demonstrações contábeis de setembro de 2014, a PWC emitiu parecer mencionando
91
deficiência nos controles internos. Dessa forma, pode-se concluir que a auditoria externa
falhou ou foi leniente na detecção das fraudes cometidas na companhia. Este fato é
corroborado pela ação judicial, que fundos norte-americanos que investiam na Petrobras,
impetrada contra a PWC nos Estados Unidos.
Assim, com relação à hipótese HA,1, é possível afirmar com razoável segurança que a
Administração da companhia interferiu nos controles antifraudes, diante da falta de
efetividade destes na detecção e prevenção de fraudes na corporação.
Já, com relação à hipótese HA,2, no âmbito da área de Controladoria, é possível
concluir que as principais causas dos casos de corrupção ocorridos na companhia foram as
falhas dos controles antifraudes.
Retomando a Questão de Pesquisa, este estudo identificou as principais causas, no
âmbito da área de Controladoria, da desvalorização da Petrobras e as consequências
econômicas e socioambientais levantadas a partir da Operação Lava Jato.
Por meio da análise documental de relatórios financeiros e da metodologia do estudo
de evento, foram levantadas as seguintes consequências econômicas:
a Petrobras já figurou como 10ª (décima) maior empresa de capital aberto do
mundo, de acordo com o ranking da Revista Forbes, porém, após os escândalos de
corrupção, passou a ocupar a 416ª (quadringentésima décima sexta) posição;
baixas contábeis de ativos (impairment), a empresa registrou perdas por
redução ao valor recuperável (impairment) de diversos ativos no montante de
aproximadamente R$ 116 bilhões nos balanços de 2014, 2015 e 2016;
prejuízos contábeis registrados pela companhia de R$ 22 bilhões, R$ 35
bilhões e R$ 15 bilhões nos balanços de 2014, 2015 e 2016;
rebaixamento da Classificação de Risco pelas três principais agências:
Moodys, Standard & Poors e Fitch rebaixaram o rating da companhia de grau de
investimento para grau de especulação, tornando o custo de captação financeira mais caro;
retorno das Ações da Petrobras, embora em uma primeira análise, houvesse
um forte impacto da Operação Lava Jato, no preço das ações da companhia, devido à
homologação do acordo de delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto da Costa, a
questão eleitoral perturbou o resultado da pesquisa. O estudo comparativo da Petrobras
com as petrolíferas internacionais ajudou a evidenciar que, de fato, a queda nos preços das
ações da companhia brasileira em relação às companhias americanas foi muitíssimo
92
maior, levando à conclusão que, realmente, os casos de corrupção trouxeram impacto
negativo sobre suas ações. O retorno negativo acumulado das ações da Petrobras foi de -
47,8% (quarenta e sete por cento e oito décimos de cento negativos), enquanto todas as
demais petrolíferas da análise tiveram resultados positivos.
Dessa maneira, fundamentou-se a hipótese HA,3 de que os casos de corrupção
investigados pela Operação Lava Jato trouxeram consequências negativas para a companhia.
Face à redução de investimentos, de 2013 para 2015, em R$ 284 milhões (36,4%) e do
número de empregados (7.641, -8,9%), estagiários (378, -20,8%) e prestadores de serviço em
mais da metade, 202.104 (-56,1%), rejeita-se H0, confirmando a hipótese HA,4, cujo postulado
afirma que ‘os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram
consequências socioambientais negativas à Petrobras’. Dessa maneira, fundamentou-se a
hipótese HA,3 de que os casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato trouxeram
consequências negativas para a companhia.
Os resultados deste estudo permitem concluir que as principais causas da
desvalorização da Petrobras foram as falhas dos controles antifraudes em detectar e prever os
casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. A literatura relacionada sugere que
é provável que estas falhas tenham ocorrido por interferência da Administração da
companhia.
Os resultados também demonstraram que a companhia e a sociedade em geral foram
muito prejudicadas por estes escândalos de corrupção, com consequências negativas tanto nas
questões econômicas quanto socioambientais.
Este trabalho contribuiu no incremento de conhecimento tanto em termos
corporativos, ao apresentar as falhas dos controles antifraudes e, assim, servir como referência
para que outras empresas de grande porte, dos setores público e privado, não cometam os
mesmos erros, como em termos acadêmicos ao lançar luz sobre um assunto tão importante.
Como recomendações, para evitar a corrupção endêmica nas empresas públicas ou
privadas, sugerem-se, de uma forma ampla: (i) comprometimento dos dirigentes; (ii)
transparência de informações; e (iii) punições severas aos infratores. Como medidas
específicas, propõem-se: (i) maior entrosamento entre os órgãos reguladores: a Comissão de
Valores Mobiliários e a Receita Federal para o cruzamento de informações inclusive dos
dirigentes da empresa; (ii) em médio e longo prazos, desenvolvimento de um arcabouço legal
que permitisse o acompanhamento da evolução patrimonial dos dirigentes empresariais
93
(adequada aos seus ganhos) com punições severas aos envolvidos em malversação de bens
públicos ou privados; (iii) responsabilização legal e pecuniária aos dirigentes de órgãos de
controle antifraudes, inclusive com perda da habilitação profissional, por conduta indecorosa
ou fraudulenta; (iv) responsabilização legal e pecuniária aos dirigentes de empresas de
auditoria externa, inclusive com inabilitação profissional, por comprovada leniência ou
incompetência profissional; e (v) fiscalização mais intensa dos órgãos reguladores sobre a
atuação das empresas prestadoras de serviços de auditoria externa.
Como limitação do trabalho, indica-se que a Operação Lava Jato ainda está em
andamento e, assim, novos desdobramentos podem surgir, podendo trazer fatos inéditos que
possam impactar ainda mais as informações apresentadas, ou até alterar as conclusões aqui
estabelecidas. Outra limitação refere-se ao fato de este trabalho estudar apenas a Petrobras,
não abrangendo todas as empresas envolvidas neste esquema de corrupção.
Por fim, como oportunidade de futuras pesquisas, sugere-se: (i) novas investigações,
abordando o problema por outros ângulos, como análises detalhadas dos demonstrativos
financeiros; (ii) verificação e análise das medidas tomadas pela Petrobras (controles internos e
externos) para inibir novos casos de corrupção, a fim de acompanhar sua eficiência; e (iii)
verificação da influência da Operação Lava Jato na sustentabilidade das empresas-alvo de
suas investigações.
94
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ANEXO A – PÁGINA DO SITE DO MPF SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO
29.10.016 Entenda o caso — Caso Lava Jato http://lavajato.mpf.mp.br/entendaocaso 1/3
O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de
postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas. Embora a investigação tenha avançado para outras organizações criminosas, o nome inicial se consagrou. A operação Lava Jato é a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro que o Brasil já teve. Estima‐se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais. Soma‐se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar do esquema de corrupção que envolve a companhia. No primeiro momento da investigação, desenvolvido a partir de março de 2014, perante a Justiça Federal em Curitiba, foram investigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu provas de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras. Nesse esquema, que dura pelo menos dez anos, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros investigados na primeira etapa. As empreiteiras ‐ Em um cenário normal, empreiteiras concorreriam entre si, em licitações, para conseguir os contratos da Petrobras, e a estatal contrataria a empresa que aceitasse fazer a obra pelo menor preço. Neste caso, as empreiteiras se cartelizaram em um “clube” para substituir uma concorrência real por uma concorrência aparente. Os preços oferecidos à Petrobras eram calculados e ajustados em reuniões secretas nas quais se definia quem ganharia o contrato e qual seria o preço, inflado em benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal.
O cartel tinha até um regulamento, que simulava regras de um campeonato de futebol, para definir como as obras seriam distribuídas. Para disfarçar o crime, o registro escrito da distribuição de obras era feito, por vezes, como se fosse a distribuição de prêmios de um bingo
(veja aqui documentos).
Entenda o caso 29.10.2016 Entenda o caso — Caso Lava Jato http://lavajato.mpf.mp.br/entendaocaso 2/3
Funcionários da Petrobras ‐ As empresas precisavam garantir que apenas aquelas do cartel fossem convidadas para as licitações. Por isso, era conveniente cooptar agentes públicos. Os funcionários não só se omitiam em relação ao cartel, do qual tinham conhecimento, mas o favoreciam, restringindo convidados e incluindo a ganhadora dentre as participantes, em um
jogo de cartas marcadas. Segundo levantamentos da Petrobras, eram feitas negociações diretas injustificadas, celebravam‐se aditivos desnecessários e com preços excessivos, aceleravam‐se contratações com supressão de etapas relevantes e vazavam informações sigilosas, dentre outras irregularidades. Operadores financeiros ‐ Os operadores financeiros ou intermediários eram responsáveis não só por intermediar o pagamento da propina, mas especialmente por entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo aos beneficiários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso acontecia em espécie, por movimentação no exterior e por meio de contratos simulados com empresas de fachada. Num segundo momento, o dinheiro ia do operador financeiro até o beneficiário em espécie, por transferência no exterior ou mediante pagamento de bens. Agentes políticos ‐ Outra linha da investigação – correspondente à sua verticalização – começou em março de 2015, quando o Procurador‐Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador‐Geral. A primeira instância investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal aqueles sem prerrogativa de foro. Essa repartição política revelou‐se mais evidente em relação às seguintes diretorias: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes, dentre os quais corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Fernando Baiano e João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT. Veja a representação gráfica do esquema: 29/10/2016 Entenda o caso — Caso Lava Jato http://lavajato.mpf.mp.br/entendaocaso 3/3
FONTE: site Ministério Público Federal, 2017. As investigações continuam tanto na 1ª instância quanto no Supremo Tribunal Federal.