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Waldon Volpiceli Alves

Católicos xEvangélicos

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A Guerra dosTrinta Anos

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Copyright © 2012

Todos os direitos reservados à Waldon Volpiceli Alves

http://pt-br.facebook.com/waldon.volpicelialves

Capa: Waldon Volpiceli Alves

e-book ISBN: 978-1-909144-16-3

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e-book design: FDigital

www.furnkranz.com

O conteúdo desta obra, inclusive revisão ortográfica, é de

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Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida no todo ou em parte,

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por escrito do autor.

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Observações ao leitor

Todas as fontes das informaçõescontidas neste livro se encontram nabibliografia. O número de mortos e feridos, bem como número de soldados de algum exércitoou habitantes de cidades constantesneste livro são arredondados, númerosaproximados, baseados em pesquisashistóricas ou dados da época. Todas as imagens e esquemas destelivro são de domínio público podendo

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ser reproduzidas por outras publicaçõesà vontade, desde que citada a fonte, maso texto continua protegido. Neste livro será usado o termo moderno“evangélicos” para designar as igrejassaídas da Reforma, também chamadasde protestantes.

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Introdução Era a segunda década do século 17. AEuropa estava dividida. De um lado aIgreja Católica, que durante 1.300 anosgovernou quase sozinha a mentalidadedos europeus e agora enfrentava cisões.Do outro, diversas e diferentes igrejas,denominadas genericamente deevangélicas, ou protestantes, sequisermos usar um nome mais histórico.

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Desde o século 16, quando Luteroescreveu suas 95 teses, ondequestionava os dogmas católicos, osevangélicos haviam se expandido:Luteranos (essa é a igreja que surgiu dosensinamentos de Lutero e a primeira detodas) na Alemanha do Norte, Suécia,Noruega, Dinamarca. Calvinistas, igrejafundada por Calvino, na Holanda,Sudeste da França, metade da Suíça egrande parte da Inglaterra. OsAnglicanos, igreja fundada pelo rei daInglaterra Henrique VIII, basicamente noseu próprio país, fora outras igrejasmenores, mas igualmente ativas. Essadivisão religiosa, logo no seu inicio,causou tumultos, varreu e mudouconceitos, reformulou completamente a

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política e a economia européia, originouconflitos e dividiu mais ainda a jádividida Europa. Em uma sociedadeonde religião e política se misturavam,onde o cristianismo fazia parteintrínseca da mentalidade dos europeuse onde cada igreja se dizia a real e puradoutrina de Jesus Cristo, aceitandopouco as outras, a guerra seria algopossível e infelizmente inevitável, masnem o mais pessimista poderia imaginarque as divisões religiosas dacristandade européia poderiam causar amaior de todas as guerras de religião dahistória do continente e uma das maioresdo mundo: a Guerra dos Trintas Anos,ocorrida de 1618 até 1648. Nesta

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guerra, onde praticamente todas aspotências européias se enfrentaram,encontramos de tudo: traições,maquiavelismo político, contradições,crueldades, patriotismo, rebeliões pelaliberdade, ambições e religiosidade.Todos estes ingredientes são parteintegrante deste gigantesco conflitomilitar que mudaria para sempre osrumos não só da Europa, como doplaneta. Este livro abordará não só aguerra em si, mas também o antes dela.O surgimento das Igrejas Evangélicas,chamadas protestantes; sua expansão eseus conflitos com a religião vigente;como a Igreja Católica se comportoudiante deste desafio à sua autoridadecomo Igreja de Cristo e como as novas

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igrejas evangélicas mudaram o destinoda Europa e do planeta, com suas novasidéias, não só religiosas, mas sociais eeconômicas. Tudo neste pequeno livro.Bom conhecimento.

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A ReformaProtestante

O alvorecer do século 16 conheceu aexpansão da hegemonia do catolicismo.A Espanha havia derrotado o últimobastião muçulmano da EuropaOcidental. Um novo continente haviasido descoberto e os seus habitantes,chamados de índios por Colombo, que

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acreditava ter chegado às Índias, noOriente, estavam sendo convertidos àvelha, para os índios, nova religião,embora as doenças que os europeuslevaram sem querer ao continente, comoa gripe e a varíola, estivessemexterminando estes novos católicos.Quem quisesse se considerar cristãonascia na Igreja Católica, não haviaoutras, pelo menos não na EuropaOcidental. A Igreja dominava sozinha amentalidade do europeu. Para garantir aunidade cristã a Igreja usava aInquisição, tribunal criado no século 12,que punia dissidências. Mas o espíritohumano era inquieto. O Renascimento,movimento surgido na Itália na metadedo século 15 e que ganhou força no

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começo do século 16, financiado pelaprópria Igreja, atingia em cheio afilosofia, as artes e a ciência comperguntas e questionamentos. Suasidéias eram revolucionárias, secomparadas à mentalidade medieval. Osrenascentistas exaltaram oantropocentrismo, tanto na filosofiacomo nas artes. O antropocentrismo éuma concepção que considera o serhumano como centro do entendimento,sendo que o universo deve ser analisadode acordo com sua relação com estemesmo ser humano. Esta concepção sechocava com a mentalidade doteocentrismo, existente na Idade Média,que considerava, ao contrário do

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antropocentrismo, Deus como centro detudo. Baseados no antropocentrismo aarte floresceu, como nas estátuas deMichelangelo ou na pintura de Leonardoda Vinci, onde o corpo humano eraretratado, visando seu melhorentendimento. Este tipo de crença foiresponsável pelo renascimento damedicina, basicamente a anatomia, doqual Leonardo da Vinci foi seu grandecultivador. Deste antropocentrismosurgiu também o hedonismo que é abusca incessante por prazer e felicidade.Na cultura teocêntrica da Idade Média oser humano deveria buscar o prazer sócom Deus e desprezar as diversõesterrenas. Já no hedonismo o ser humanobusca o prazer também na Terra, ou

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seja, na Terra devemos buscar também afelicidade. Os renascentistas eramcontrários à autoflagelação, aos jejuns,comuns na Idade Média, pois afirmavamque Cristo fora crucificado para que nósnão mais sofrêssemos e, que, se auto-torturar, era considerar o sacrifício deCristo na cruz como inútil. Dohedonismo surge também a exaltação doindividualismo. Na concepção teológicada Idade Média, que exaltava ocoletivismo, o ser humano era plural,suas crenças não deveriam ser diferentesdo todo, deveriam refletir a sociedadeem que ele habitava, no caso, a católica.Já no individualismo, pregado pelosrenascentistas, o ser humano era

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responsável perante Deus (osrenascentistas eram católicosfervorosos, mas tinham umainterpretação do cristianismo própria) ea liberdade religiosa deveriaprevalecer. O individualismo, nascidocom o Renascimento, representa certaliberdade já que a pessoa não precisaser igual a determinado grupo social edeve ter suas opiniões pessoaisrespeitadas, sendo este um dosprincípios da democracia moderna e datolerância. Com o Renascimento surgetambém o racionalismo, onde a buscapela verdade, inclusive a divina,deveria ser feita pelo raciocínio, pelarazão e não somente pela fé, comopregava a concepção vigente, já que

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com a fé a pessoa não questiona, não fazperguntas apenas aceitando determinadaconcepção como verdade. Osrenascentistas defendiam a razão comoforma de alcançar a verdade reveladapor Deus, pela razão poderíamosconhecer não só a verdade divina, mas asua criação, o porquê do mundo,entendendo melhor seus fenômenosnaturais e também sociais.O espírito renascentista, começando naItália, basicamente nas cidades deMilão, Gênova, Veneza, Florença eRoma, vai se expandir, principalmentena Alemanha, França, Inglaterra eHolanda e, bem menos, em Portugal eEspanha. Este espírito, sem querer, vai

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influenciar o surgimento de uma novacorrente dentro do cristianismo, umacorrente que romperá a hegemoniacatólica, que nem mesmo o mais otimistados renascentistas poderia imaginar quesurgiria: o protestantismo. O protestantismo, a primeira igreja, oluteranismo, do qual sairão todas asoutras, surge na Alemanha através dainiciativa de um indivíduo: MartinhoLutero, alemão, monge agostiniano eprofessor da Universidade deWittemberg. Lutero nasceu em 1483 nacidade de Eisleben. Criado no campo, ojovem Lutero recebe boa educação.Naquela época educação era parapoucos. Na Europa o analfabetismo

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prevalecia, principalmente entre ospobres. O continente era rural. Amaioria da população vivia no campo,como servos, sendo submetida aoregime feudal de produção. O regimefeudal, ou feudalismo, surge noalvorecer da decadência do ImpérioRomano e conseqüentemente do sistemaescravista de produção. O que define umsistema econômico são as relações detrabalho nele aplicadas. O ImpérioRomano, nas últimas décadas do século3 estava em crise: faltava mão de obra,escravos para as lavouras. Havia umacrescente inflação, pois sem escravos aprodução, principalmente a agrícola,caía. O Imperador da época,

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Diocleciano (que mandou assassinarperto de 1500 cristãos por estesrecusarem a adorar os deuses romanos),que assume o poder no ano 284, apósuma grande guerra civil que assolou oImpério, institui uma reforma econômicainteressante e inédita para garantir mão-de-obra para as lavouras dos grandesfazendeiros habitantes do ImpérioRomano. Com a falta de escravosDiocleciano institui o regime decolonato. No colonato cada camponêsrecebia uma gleba de terra, que não eradele, mas do grande fazendeiro. Ocamponês poderia usar a terra paraprodução e deveria pagar um impostopelo uso da terra ou dos instrumentosque ele usava para cultivar ou aos

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fazendeiros ou ao Estado, se eleestivesse em uma terra estatal. Ao fimdo século 4, no entanto, o colono, ocamponês que cultivava a gleba de terrado fazendeiro ou do Estado se tornouservo, pois ele passou a ser proibido desair da terra onde morava, ou seja,passou a ficar preso à terra, nãopodendo sair dali sem a permissão oudo fazendeiro ou do Estado. Com adecadência do Império Romano,destruído pelos germânicos no século 5,as terras do Império foram divididasentre os diversos conquistadores dasdiferentes tribos germânicas. Cada tribo,que, por conseguinte, tinha diversosnobres, ficaram com grandes extensões

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de terra e adotaram o modelo romano detrabalho, onde o camponês estava presoà terra. Surgia assim o feudalismo(feudo=fazenda, ismo=doutrina), queprevaleceu por toda a Europa ocidentale oriental. A Igreja Católica adotou onovo modelo econômico reformando-osocialmente dividindo o sistema feudalem clero: os membros da Igreja;nobreza: incluindo aí os reis, os donosda terra (o rei era aquele que guiava oEstado e podia doar terras para seusaliados, mas dentro do feudo o nobrepoderia impor suas próprias leis aoscamponeses desde que estas nãoconflitassem muito com o Estado),chamados também de Senhores Feudaise o povo: designação genérica daqueles

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que não eram nem da nobreza nem doclero. Foi neste sistema econômico esocial que prevalecia na Europa por1100 anos, que Lutero se educou. Aos18 anos, em 1501, ingressou naUniversidade de Erfurt, estudandofilosofia e grego. Ao se formar em 1505ingressou na escola de Direito nestamesma universidade. Tudo indicava queLutero fosse levar uma vida normal. Suadiversão era tocar alaúde, uminstrumento musical de corda parecidocom o violão, e, claro, estudar,principalmente o grego, idioma do qualgostava muito. Mas uma única noitemuda sua vida. Ele voltava para casa,depois de sair da universidade e entrou

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em uma floresta, pegando uma trilha,usada na época como atalho. No meiodo caminho uma grande tempestade, commuitos relâmpagos e grande ventania, opegou. Sem abrigo ele temeu pela vida.Aterrorizado, apelou a Santa Ana,pedindo sua intercessão e prometendoque se saísse dali se tornaria um monge.A tempestade foi diminuindo e Lutero,crendo ser isso um sinal, cumpriu suapromessa. Para desgosto do pai,abandonou a faculdade de Direito nofinal de 1505, vendeu todos os seuslivros por bom preço (naquela épocalivros eram artigos de luxo e só os ricosos possuíam), tendo conservado algunsde poesia que gostava como os deVirgílio, poeta romano do século 1 antes

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de Cristo, e passou a estudar teologiavisando se tornar um monge da ordemdos Agostinianos. Os Agostinianossurgiram da união, instigados pelo papaInocêncio IV, em 1243, de váriascomunidades de eremitas da região deToscana, na Itália. A bula Incubit Nobisde Inocêncio IV instituiu oficialmente aordem dos agostinianos, tendo este nomepor passarem a ter como patrono SantoAgostinho e a viverem no celibato e napobreza, se parecendo muito com osfranciscanos, mas, diferente destes porserem menos atuantes, sendo maisvoltados à educação, fornecendoteólogos à Igreja. Santa Rita de Cássiafoi membro desta ordem. Desde o

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começo os agostinianos aceitavammulheres. Foi sendo monge que Luterocompletou seus estudos de Teologia etambém de Latim. Na época de Lutero abíblia só podia ser escrita em latim e atradução para os idiomas nacionais eraproibida pela Igreja. Sendo assim aleitura da bíblia era difícil mesmo entreos escolarizados, pois a grande partedeles não falava nem lia neste idioma.Só monges, de ordens como a dosagostinhos ou outras e bispos e cardeais,e alguns padres, podiam, portanto, ler abíblia. Dentro da Ordem Lutero passou,além de estudar muito, a meditar,inclusive com autoflagelações, jejuns,confissões e muita oração. A grandededicação de Lutero o fez se tornar

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sacerdote em 1507. Em 1508 se tornouprofessor de teologia e grego naUniversidade de Wittenberg, formando-se neste mesmo ano. Em 1512, terminouo doutorado em Teologia, tornando-sedoutor em bíblia. Em 1515 se tornouvigário tendo sob sua supervisão 11monastérios. Tudo parecia indo como onatural. Lutero, no entanto, teria outrochoque. Ele viajou a Roma e voltou,segundo ele, decepcionado, dias depois.Conhece-se pouco que tipo de decepçãoLutero teve na sua viagem, mas acredita-se que ele tenha presenciado casos decorrupção, inclusive sexuais. Seja comofor, Lutero não voltou mais a ser omesmo católico que sempre fora. Na

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viagem também tomou contato com asidéias renascentistas. Voltou a suasatividades como professor e seaprofundou mais ainda no estudo daBíblia. Imbuído de algumas idéiasrenascentistas, principalmente doindividualismo, Lutero passou apesquisar principalmente uma parte dabíblia que começava à luz doindividualismo renascentista, a analisarde maneira diferente da pregada pelocatolicismo tradicional: as cartas dePaulo. Idéias católicas como“penitência” e “honestidade” lheganharam outro aspecto ao ler as cartasde Paulo com mais atenção, sempre,claro, sob a luz de uma das idéiasdefendidas no Renascentismo: o

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individualismo. Lutero começou adefender a idéia da justificação apenaspela fé, sem obras. Segundo ele a graçadivina é dada por Deus a quem lheaprouver, sempre através de JesusCristo e recebido apenas com a fé doindividuo. Passou a considerar todas aspráticas católicas inúteis à salvação daalma. Lutero só admitia o batismo e aeucaristia como sacramentos e passou acondenar os jejuns, as peregrinações, ocelibato no clero e o próprio papado emsi. Lutero guardou estas idéias para si,pois ele queria reformar a IgrejaCatólica, que considerava corrompida.Surgia aí sua nova teologia, emboraLutero não quisesse a separação da

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Igreja. Ainda que discordando da Igrejanestes pontos Lutero continuava comsuas atividades de sacerdote e monge,mas um ato da Igreja viria a fazer Luterose revoltar de vez: a venda deindulgências. Para reformar a basílicade São Pedro em Roma o Papa Leão Xem 1516 mandou vender indulgências,perdão dos pecados, em váriascomunidades cristãs. Esta prática devender indulgências existia nocatolicismo desde 1190 e era usadaesporadicamente quando a Igrejaprecisava de recursos financeiros paraalguma obra. Segundo esta práticabastava a alguém, que tivesse cometidoalgum pecado, pagar determinadaquantia à Igreja e, pronto, seus pecados

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estavam perdoados. A Igreja Católica,baseada em Mateus 16:19 e seconsiderando a verdadeira Igreja deCristo, se achava no direito de perdoarpecados, exigindo certo sacrifícioàqueles que quisessem o perdão, comoajudar a Igreja por exemplo. Mas épreciso entender a mentalidade daépoca. Muitos podem crer que estaprática era abusiva, visando tirardinheiro de pessoas comuns, mas asindulgências vendidas eram usadastambém, além de construções de Igrejasou templos, para trabalhos de ajuda a,por exemplo, desabrigados emenchentes, vítimas de doenças ouconstrução de abrigos e hospitais. A

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Igreja se considerava a verdadeira fé deJesus e perdoava os pecados de todosaqueles que ajudassem de algum modo,financeiramente, alguma obra feita poresta igreja, fosse de caridade ou não.Portanto a venda de indulgências não eraabusiva, no sentido criminal do termo,mas para a mentalidade de Lutero e suanova crença era perigosa à salvação doindivíduo, por uma única razão: aocomprar perdão por dinheiro, mesmosendo por uma boa causa, como paraajudar alguma pessoa ou instituição emnecessidade, esta pessoa não searrependia dos seus pecados. Lutero,como sacerdote, notou este fato. Apessoa cometia algum pecado, compravaa indulgência, ajudava alguém ou a

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própria Igreja e voltava a pecar, semculpa. O arrependimento, tão caro aocristianismo, caía pela tangente.Escandalizado com este fato Luteropercebeu que teria que agir. Sua açãoocorreu quando o frade Johan Tetzelfora recrutado para ser o responsávelpela coleta de indulgências na regiãoonde Lutero era sacerdote. Lutero, naigreja que ficava dentro da Universidadede Witenberg, proferiu, em 1517,violentos três sermões contra a práticade indulgências explicando seusmotivos, como o arrependimento quenão ocorria. Seus sermões culminaramcom a escrita de suas 95 teses, marco dofundamento das igrejas evangélicas.

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Estas 95 teses foram aficionadas naporta da igreja de Wittemberg. Graças aum novo invento, a prensa, criada porGutenberg em 1450, as teses de Luteroforam rapidamente imprimidas eenviadas a várias universidadeseuropéias. Antes da invenção da prensa,os textos e livros eram feitos à mão,normalmente por monges copistas, comoos agostinhos, por exemplo, e um únicolivro demorava meses para ser copiadoe distribuído. Esta prática de copiarlivros a mão era comum em todo oplaneta, naquelas civilizações, claro,que tinham escrita. Com a invenção daprensa, um livro demorava apenas diaspara ser copiado, aumentando acirculação do conhecimento escrito,

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embora as altíssimas taxas deanalfabetismo inviabilizassem a leitura efizesse o livro ser artigo de luxo, masmenos de luxo do que era antes.Gutenberg inventou a prensa para pagardívidas, pois era membro da pequenanobreza e sua primeira cópia foi daBíblia, vendida por ele em váriasregiões da Europa. As 95 teses deLutero passaram a ser amplamentediscutidas não só na Alemanha, mas emmuitas regiões da Europa. Nestas tesesLutero expõe suas idéias principais,leia-as agora, e entenda mais sobre abase em que as igrejas evangélicassurgiram:

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Movido pelo amor e pela busca pelaverdade discutirse-á em Wittenberg, soba presidência do reverendo padreMartinho Lutero, o que segue. Por estarazão, aqueles que não puderemcomparecer pessoalmente para tratarverbalmente conosco o façam porescrito. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo.Amém.

1. Nosso senhor e mestre Jesus Cristo

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disse: arrependei-vos! CertamenteJesus quer que a vida do cristão naTerra seja um contínuo arrependimento.

2. Esta expressão não pode serentendida como um sacramento depenitência, isto é, uma confissão esatisfação, a cargo dos sacerdotes.

3. No entanto, não deve ser entendidaapenas como um arrependimentointerno; pois este arrependimento não éválido quando não produz toda sorte demortificações da carne.

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4. O arrependimento e o pesar, overdadeiro arrependimento, sóperduram quando o homem desagrada asi, até a entrada no reino do céu.

5. O papa não tem autoridade dedispensar penas, além das que eleimpôs ou de acordo com os cânones,estatutos papais.

6. O papa não pode perdoar pecadossenão aqueles que já foram perdoadospor Deus, ou então o fazem em casosque lhe foram reservados, neste casosendo a dívida anulada ou perdoada.

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7. Deus não perdoa os pecados deninguém sem que a pessoa se subordineao sacerdote, ao vigário.

8. Os cânones penitenciais só podemser impostos aos vivos e, de acordocom estas ordenanças, não dizemrespeito aos falecidos.

9. O Espírito Santo só atua mediante opapa, excluído este de todos os

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decretos ou direitos em relação àmorte.

10. Fazem mal os sacerdotes que impõepenitências aos falecidos oupenitências para o purgatório a fim deali serem cumpridas.

11. Este joio, que é o de transformar apenitência, em penitência ou penas dopurgatório, foi semeado quando osbispos estavam dormindo.

12. Antes se impunha a penitência apecados cometidos, não depois, mas

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antes da absolvição, com a finalidadede provar a sinceridade doarrependimento.

13. Os falecidos, com sua morte, estãomortos para o direito canônico, sendodispensados de sua imposição.

14. Piedade ou amores imperfeitos daparte daquele que está prestes a falecernecessariamente resulta em grandetemor; logo quanto maior a piedade,maior o temor.

15. Este temor e horror em si só,bastam para causar o tormento e ohorror do purgatório, pois que se

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avizinham da angustia do desespero.

16. Inferno, purgatório e céu parecemser tão diferentes um do outro quanto odesespero completo, o incompleto oucerteza.

17. Assim como no purgatório as almasdiminuem a angústia e o espanto, nelastambém deve crescer o amor.

18. Não foi provado, nem pelas boasobras nem pela escritura, que as almasno purgatório, se encontram fora domérito ou de crescimento no amor.

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19. Também parece não ter sidoprovado que as almas no purgatóriotenham certeza que serão salvos e nãotemam por ela, não obstante nós termoscerteza deste fato.

20. Portanto, entendendo-se remissãode pecados, o papa não tem este poder,mas somente em penas por eleimpostas.

21. Erram todos aqueles que vendemindulgências acreditando que o papapode remir e perdoar pecados.

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22. O papa não dispensa almas dopurgatório de pecados que não foramperdoados nesta existência.

23. Se há perdão total dos pecados eleserá dado somente aos mais perfeitos,que são muito poucos.

24. Por isso o povo é enganado com asmaravilhosas promessas de perdão,impressionando-se o homem simplesde ter seus pecados perdoados.

25. O poder que o papa tem sobre opurgatório, qualquer bispo ou cura tem

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no seu bispado ou em sua paróquia.

26. O papa faz bem em dar perdão àsalmas não pelo poder das chaves, (queele não tem), mas por sua intercessão.

27. Pregam doutrinas humanas todos osque dizem que ao cair a moeda na caixaa alma sai do purgatório.

28. Certo é que, ao cair a moeda nacaixa só aumentam o lucro e a cobiça; aintercessão da Igreja só ocorre porvontade de Deus.

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29. Quem tem certeza de que as almasquerem ser resgatadas do purgatório?Dizem que isto ocorreu com SãoSeverino e São Pascoal.

30. Ninguém tem certeza da plenitudede seu arrependimento, nem de quepossa ter alcançado pleno perdão dospecados.

31. Tão raro como quem é realmentepenitente e arrependido, tão raro é oque encontra total perdão, sendo bempoucos estes.

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32. Serão condenados aqueles quejulgam ser salvos comprandoindulgências.

33. Deve-se ter cuidado com aquelesque dizem que as indulgências do papasão preciosas e sublimes e que ele sereconciliou com Deus.

34. Pois os pecados perdoados pelasindulgências são somente aquelasdeterminadas por seres humanosapenas.

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35. Não pregam com honestidadeaqueles que dizem que os que queremser salvos ou adquirir brevês deconfissão não precisam dearrependimento.

36. Todo cristão que realmente searrepende e sente pesar não precisa decarta de indulgência para ser salvo.

37. Todo cristão verdadeiro, seja vivoou morto, tem participação em todos osbens de Cristo e da Igreja, dádiva deDeus, ainda que não tenha indulgência.

38. Mas ainda que consiga estas

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bençãos não se deve desprezar operdão do papa, pois, conformedeclarei, seu perdão constituideclaração do perdão divino.

39. É muito difícil, até para os maisdoutos teólogos, exaltar perante o povoas riquezas das indulgências e aocontrário o arrependimento e o pesaroriundas dela.

40. O verdadeiro arrependimento buscaas penas, mas a profusão dasindulgências faz o povo odiar as penas,pelo menos quando há oportunidadepara esse fato.

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41. É preciso pregar com cuidadosobre as indulgências papais para queo povo não as julgue melhores que asdemais obras de caridade ou de amor.

42. Deve-se ensinar aos cristãos quenão é pensamento nem vontade do papaque a compra de indulgências possa, dealguma maneira, ser comparada com asobras de caridade.

43. Deve-se ensinar aos cristãos queaqueles que ajudam diretamente aos

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pobres e aos necessitados fazemmelhor do que comprar indulgências.

44. Através das obras de caridade éque cresce o amor e a pessoa se tornamais piedosa, ao passo que com asindulgências ela não se torna melhor,senão mais seguro e livre da pena.

45. Deve-se ensinar ao cristão queaquele que não auxilia um necessitado,mas ao invés disso compraindulgências, recebe o perdão do papa,mas recebe também a ira de Deus.

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46. Deve-se ensinar aos cristãos que,se eles não tiverem bens emabundância, guardai-os em vez degastarem com indulgências.

47. Deve-se ensinar aos cristãos que acompra de indulgências é livre e nãosão obrigados a assim proceder.

48. Deve-se ensinar aos cristãos que seo papa precisa conceder indulgências,de igual maneira, no entanto, ele desejamais uma oração devota a seu favor doque dinheiro.

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49. Deve-se ensinar aos cristãos que asindulgências do papa são úteis se nãoacreditamos nelas, mas perigosas seperdemos o temor de Deus.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que,se o papa soubesse das corrupções queos vendedores de indulgências fazempreferiria o Papa destruir a Basílica deSão Pedro do que a ser edificado coma pele, a carne e os ossos de suasovelhas.

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51. Deve-se ensinar aos cristãos que opapa estaria disposto, por seu dever, adistribuir àqueles que precisam todo oseu dinheiro do que usar o dinheirodespojado deles pelos vendedores deindulgências, vendendo, se precisofosse, a própria catedral de São Pedro.

52. Inútil é confiar que as indulgênciassalvam, ainda que o papa e ospregadores de indulgências dessem suaalma por essa salvação.

53. São inimigos de Cristo e do papaaqueles que, ao pregarem indulgências,deixam de pregar a palavra de Deus.

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54. Comete-se injustiça contra apalavra de Deus quando, em umsermão, se dedica tanto ou mais tempoàs indulgências do que a ela.

55. A atitude do papa não pode seroutra, pois se ele, ao passar asindulgências, que é causa menor, comum sino, uma pompa e cerimônia, entãoo Evangelho deve ser celebradomediante cem sinos, centenas depompas e cerimônias.

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56. Os tesouros da Igreja, dos quais opapa tira as indulgências, não sãomencionados e nem conhecidos naIgreja de Cristo.

57. É evidente que eles não são benstemporais, pois os pregadores não osdistribuem com facilidade, antes oajuntam.

58. Eles tampouco são osmerecimentos de Cristo e dos santos,pois estes sempre atuam independentedo papa, operando a salvação dohomem interior e a cruz, a morte e oinferno para o homem exterior.

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59. São Lourenço dizia que os pobressão o tesouro da Igreja, mas no sentidoque a palavra era usada em sua época.

60. É sem temeridade e leviandade quedizemos que estes tesouros são a chaveda Igreja a ela dado pelo merecimento,por Cristo.

61. Pois está claro que, para aremissão dos castigos e dos pecadosem determinados casos, o poder dopapa por si só é suficiente.

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62. O verdadeiro tesouro da Igreja é osantíssimo Evangelho da glória e dagraça de Deus.

63. Este tesouro, entretanto, é muitodesprezado e odiado, porque faz comque os primeiros sejam os últimos.

64. Em contrapartida, o tesouro dasindulgências é o mais apreciado, poisfaz dos últimos os primeiros.

65. Por esta razão, os tesouros do

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Evangelho outrora foram as redes comque se pescavam os homenspossuidores de riquezas.

66. Os tesouros das indulgências, porsua vez, são as redes com que hoje sepescam a riqueza dos homens.

67. As indulgências apregoadas pelosseus vendedores como as maioresgraças decerto assim são, pois lhetrazem grandes riquezas.

68. Por isso semelhante indigência nãodeixa de ser a mais íntima graça emcomparação com a graça de Deus e a

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piedade na cruz.

69. Os bispos e curas são obrigados areceber com toda reverência oscomissários de indulgênciasapostólicas.

70. Têm, porém, a obrigação aindamaior de conservar abertos olhos eouvidos para que esses comissáriosnão preguem os seus próprios sonhosem vez de cumprir o que o papa lhesordenou.

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71. Quem fala contra a venda dasindulgências apostólicas éexcomungado e maldito.

72. Seja abençoado, porém, quem falarcontra as palavras arrogantes einsolentes dos apregoadores deindulgências.

73. Assim como o papa, com razão,fulmina aqueles que, de qualquerforma, procuram defraudar o comérciode indulgências.

74. Muito mais deseja atingir com aexcomunhão aqueles que, a pretexto

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das indulgências, procuram defraudar asanta caridade e a verdade.

75. Considerar as indulgências do papatão poderosas a ponto de poderabsolver alguém dos pecados, aindaque tenha desonrado a mãe de Deus,significa ser louco.

76. Ao contrário, afirmamos que aindulgência do papa não pode anularnem o menor pecado venial em que dizrespeito à culpa.

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77. Afirmar que São Pedro, se fossepapa atualmente, não poderia dispensaras indulgências significa blasfemarcontra São Pedro e o próprio papa. 78. Ao contrário, dizemos que tambémeste papa, assim como qualquer outro,tem indulgências bem maiores, isto é, oEvangelho, as virtudes, os dons decurar, etc., como está escrito em 1Coríntios 12.

79. Comparar a cruz de indulgências dopapa, colocada na Igreja, e dizer quetem tanto valor quanto a de Cristo éblasfêmia.

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80. Terão que prestar contas os bispos,padres e teólogos que defendem estascoisas perante o povo.

81. Semelhante pregação, a de defesadas indulgências, faz com que osdoutos tenham dificuldade em defendero papa contra a maledicência e aoposição dos leigos.

82. Eis um exemplo: por que o papanão retira todas as almas do purgatóriopor santíssima caridade e em face da

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necessidade das almas, o que seriamuito justo, quando em troca de vildinheiro para a construção da Catedralde São Pedro, livra apenas algumaspoucas almas, logo por motivo muitoinsignificante?

83. Outro exemplo: por que se mantêmas exéquias e as orações pelosfalecidos, e porque não se devolve asdoações, visto que já não é justo orarpelos já resgatados?

84. Outrossim: que nova piedade deDeus e do papa é esta que permite a umímpio ou inimigo resgatar alguma alma

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piedosa e agradável a Deus pordinheiro e não resgatar esta almapiedosa por puro amor e sempagamento?

85. Ainda: porque os cânones depenitência, que já há muito caducarampelo desuso, ainda são resgatados àbase de dinheiro em forma deindulgências como se continuassemativos e com vigor?

86. Igualmente: por que o papa, cujariqueza é maior do que o dos maisprincipescos crassos, não edifica com

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seu próprio dinheiro a Basílica de SãoPedro, ao invés de contruí-lo com odinheiro dos fiéis pobres?

87. Ainda: o que o papa concedeàqueles que, pela penitência perfeita,assiste o direito à indulgênciaplenária?

88. Afinal: que maior bem poderiareceber a Igreja se o papa, assim comojá o faz, 100 vezes ao dia concedessesemelhante indulgência a qualquer dosfiéis a título gratuito?

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89. Se o papa está mais interessado nasalvação das almas do que emdinheiro, porque revoga asindulgências por ele concedidas, aosquais atribuía as mesmas virtudes?

90. Reprimir estes tipos de argumentossagazes dos leigos com violência emvez de argumentos lógicos significaentregar a Igreja e o papa à zombariados inimigos e desgraçar os cristãos.

91. Se as indulgências realmentefossem pregadas em conformidade como espírito e sentido do papa,

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argumentos como estes nem teriamsurgido.

92. Fora, pois, com todos estesprofetas que dizem ao povo de Cristo:"Paz, paz!" e não há paz!

93. Abençoados sejam todos osprofetas que dizem ao povo de Cristo:"Cruz! Cruz!" e não há cruz!

94. Devem-se exortar os cristãos a quese empenhem por seguir sua Cabeça,Cristo, através das penitências, damorte e do inferno.

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95. E, assim, esperem mais entrar noreino dos céus através de muitosinfortúnios do que facilidades vindasde consolos infundados.

[1517A.D.]

Algumas considerações precisam serfeitas. As teses de Lutero não sãodogmáticas, são principalmente, comovocê notou, criticas, principalmente àsindulgências que ele considera não só

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inúteis à salvação como tambémperigosas em dois sentidos, tanto paraquem as compra, já que quem a compranão se arrepende nem de pecados maisgraves, fazendo tudo de novo, e tambémde quem as vende, sendo tentado pelacorrupção do dinheiro abundante.Interessante também é analisar a tese 38.Nesta tese perceba que Lutero ainda nãoé cismático, pois ainda respeita a figurado papa já que acredita poder reformara Igreja. Na tese 40 Lutero, que éagostiniano, ainda defende a penitênciae o castigo como forma de melhora doser humano. Em suma, estas são as 95teses, marco do surgimento das IgrejasEvangélicas, embora, como bem foidito, Lutero ainda não quisesse o cisma,

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mas somente a reforma. As 95 teses, espalhadas pela Europa,foram amplamente discutidas, emuniversidades, salões e debates. Anotícia das teses chegou a Roma e aIgreja fez pouco caso delas. Espalhouestórias afirmando ser Lutero um bêbadoe quando ficasse sóbrio cairia em si emudaria de opinião. O Papa Leão Xordenou ao professor de teologiaSilvestro Mazzolini que investigasse oassunto. Ele apresentou ao Papa nocomeço de 1518 um relatóriocompletamente desfavorável a Lutero,afirmando que o monge agostinianodesafiava a autoridade do Sumo

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Pontífice e declarando ser Lutero umherege. A reação da Igreja chegou aLutero, que, agora famoso em toda aEuropa, acabou por fazer novaspregações. Desta vez expôs em suaIgreja e na universidade a idéia da graçadivina e da escravidão do homem aopecado, base da doutrina evangélica.Segundo Lutero a salvação não se dá porobras, mas pela fé somente. Nos debatessobre as indulgências, e percebendo quea Igreja não aceitou suas teses, Lutero setornou mais radical em suas pregações.Passou a desafiar abertamente aautoridade do Papa, pois a venda deindulgências havia sido sacramentadapela bula papal “Unigenitus” de 1343 doPapa Clemente VI. Lutero foi

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qualificado como heresiarca pelo PapaLeão X e foi ordenado a Lutero ir atéRoma, mas Lutero recusou-se. Lutero setornou mais radical ainda: afirmou que opapado como instituição não fazia parteda igreja primitiva e passou a defender atomada das terras e dos bens da Igrejapelos nobres alemães, afirmando não serpecado tal prática. Esta última pregaçãoem particular interessou muitos senhoresfeudais, nobres, principalmente os depequena extensão de terras. A Igreja erauma grande latifundiária e senhorafeudal em territórios alemães e muitosnobres passaram a se aproveitar dosdiscursos de Lutero e a atacar algumasterras da Igreja incorporando-as a seus

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feudos. O príncipe eleitor da Saxônia,Frederico, o Sábio (ele tinha este títulopor ter sido ele o financiador principalda construção, em 1502, daUniversidade de Wittemberg, do qualLutero foi estudante e professor) passoua apoiar Lutero e lhe ofereceu proteção,pois a Inquisição já queria lhe fazerperguntas. Uma conversa com orepresentante do Papa na Alemanha, KarVon Miltitz, em janeiro de 1519, fezcom que Lutero ficasse em silêncio nãomais participando de debates ouministrando aulas. Ele também foiinstigado pelo representante a escreveruma carta pedindo desculpas ao Papacom a promessa de que tudo seriaesquecido e que a Inquisição não o

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perturbaria. Lutero, no entanto, nuncaescreveu tal carta. Um colega de Luteroe propagandista de suas idéias foiconvidado para um debate em Leipzig.Rompendo o silêncio Lutero resolveu ircom ele. Isto ocorreu em junho de 1519.No debate, em que apareceram milharesde estudantes e nobres, Lutero foiagressivo: negou o direito divino dopapa e a idéia de que a Igreja possuía aschaves de São Pedro. Lutero negouinclusive que Pedro fosse Papa ou bispode Roma, como a Igreja Católica sempreafirmara e elogiou os ortodoxos,membros da Igreja do Oriente quehaviam se separado do catolicismo em1054. Johann Eck, o organizador do

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debate, afirmou que Lutero seassemelhava a João Huss, um pregadortcheco que foi queimado pela Inquisiçãoem 1410 por defender idéias parecidasàs de Lutero. Após Johann Eck tercomparado Lutero a Huss, o debateacabou tendo Lutero sido ovacionadoem público. Seus escritos, graças àprensa, circulavam em toda a Europa. AInquisição conseguiu censurá-los naEspanha e em Portugal, mas na França etambém em alguns Estados e condadosalemães, na Inglaterra e em grande parteda Itália a censura foi impossível.Caravanas de estudantes afluíam aWitemberg para escutar Lutero. Seussermões se tornaram mais profundos.Em 1519 publicou um pequeno artigo em

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forma de sermão: "Sermon von gutenWerken" (Sermão das Boas Obras), emque se mostrava contrário à doutrina dasboas obras, afirmando ser somente a fé aúnica a dar a salvação. Estava aílançado uma das idéias principaisadotadas pelas igrejas evangélicas: asalvação pela fé somente. Segundo estacrença as boas obras só eram aceitaspor Deus se fossem feitas por meio dafé, não como forma de purgação depecados ou mera caridade. A fé faria,automaticamente, que o cristão fizesseboas obras. Ele defendeu também aBíblia como única fonte de autoridadepara o cristão, sendo esta crença a outragrande base das igrejas evangélicas. Em

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1520 Lutero contou com a adesão degrandes nobres como Von Sickingen eSilvestre de Schauenbur e também com aadesão total de intelectuais conhecidospara sua causa, como Melanchton, ouadesão parcial, como Erasmo deRoterdã. Lutero escreveu também oartigo "À Nobreza Cristã da NaçãoAlemã" onde recomendava aos nobresque fizessem a reforma requerida porDeus, entendido a reforma que Luteropregava (interessante notar que Luterocomeçava a considerar suas idéias comovindas de Deus embora condenasse estetipo de comportamento nos papas). Pelaprimeira vez também Lutero chamou oPapa de Anticristo. Lutero passou acondenar o celibato no clero, a exigir a

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reforma nas universidades submetendo-as ao Estado tirando o controle da Igrejade dentro delas, a afirmar a inutilidadedas peregrinações, dos jejuns e dasautoflagelações, rompendocompletamente com suas crençasagostinianas que inclusive tinham sidodefendidas em parte em suas 95 teses,pedindo a extinção dos conventos epassando a pregar, de novo, que só oBatismo e a Eucaristia eramsacramentos válidos, condenando comoinúteis os outros cinco sacramentos, quecompõe os sete sacramentos da IgrejaCatólica, sendo estes: Batismo,Eucaristia ou Comunhão, Crisma,Reconciliação ou Penitência, Ordem

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Sacerdotal, Matrimônio e ExtremaUnção. Lutero só admitia como válidosos dois primeiros, admitindo inclusive acrença de que Cristo aparecia com seucorpo no ato da Eucaristia. Omatrimônio poderia ser feito peloEstado, tirando os casamentos da Igreja.No fim de 1520 publica outro artigo: "Aliberdade de um cristão", afirmandoque o cristão é livre, mas ao tambémprisioneiro. Livre pela fé e preso peloamor. Só Deus poderia comandar a vidado cristão, sendo os padres sem valor. Opapa advertiu Lutero de que ele seriaexcomungado a menos que repudiasse41 pontos de sua doutrina. Em respostaLutero enviou o seu artigo "A liberdadede um cristão" ao papa, afirmando que

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nao se submete a nenhuma autoridadepapal, só a Deus. O Papa Leão Xescomungou Lutero e o expulsou de suaordem, a dos Agostinhos. Em resposta,em 1521, ao receber a carta deexcomunhão, Lutero se reuniu na frentede centenas de pessoas e rasgou, nafrente de todos, a carta que oexcomungava. Ele passou a se tornarmais radical ainda incitando os nobres atomarem as terras nao só da Igreja, mastambém dos monastérios e a destruí-losfinanceiramente. Alguns poucos nobresjá haviam tomado pequenas partes deterras da Igreja antes, mas com apregação destas idéias, muitos deles setornaram aliados de Lutero. Finalmente

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o rei em pessoa, Carlos V, rei do SacroImpério Romano-Germânico (o SacroImpério Romano-Germânicocompreendia a Alemanha, a Áustria e onorte da Itália e englobava estadosautônomos como a Suiça e a Holanda.Um mapa do Sacro Império Romano-Germânico está na página 130) etambém, naquela época, rei da Espanha,pois era um dos netos de Fernando II deAragão, convocou a Dieta de Wormspara julgar o caso de Lutero. Pelaprimeira vez tanto Espanha quanto oSacro Império tinham um rei em comum.Isso só foi possível porque Carlos V erafilho de Joana de Castela que havia tidoum romance e se casado com o filho dorei do Sacro Império Romano

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Germânico, nascendo deste romanceCarlos V em 1500. Este, em 1516, foiaclamado por alguns nobres espanhóiscomo herdeiro do trono, pois sua mãe,Joana de Castela, apresentavaproblemas mentais. Carlos V, com oapoio financeiro de banqueiros como osFugger, acabou tomando o poder naEspanha em 1516 sendo consagradocomo Carlos I, rei da Espanha. Sua mãe,Joana, foi exilada em um castelo. Paratomar posse do trono Carlos, que nãofalava espanhol, pois fora criado nosPaíses Baixos pela sua tia, que eraaustríaca, foi à Espanha com umacomitiva de Flamengos (os Flamengossão um povo que habita os Países

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Baixos e eram aliados de Carlos) edeterminou como regente da Espanha onobre Adriano de Ultrech e a comitivaflamenga comandou o país. Tudo issoocorreu em 1517. O regente no entantoenfrentou a revola dos Comuneros,iniciando um período de guerra civil naEspanha. As tropas imperiaisespanholas derrotaram os Comuneros nabatalha de Villalard, acabando com arevolta. O avô de Carlos, Maximiliano Ida Áustria, rei do Sacro ImpérioRomano Germânico faleceu em 1519. Opai de Carlos, filho de Maximiliano I daÁustria, Felipe de habsburgo, haviafalecido em 1506. Carlos, rei daEspanha, foi eleito pelos nobres doSacro Império Romano Germânico ainda

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em 1519 como Imperador com o títulode Carlos V. Assim Carlos V ficousendo rei da Espanha e também doSacro Império Romano-Germânico. Foiesse Carlos V quem convocou a Dietade Worms (este nome em homenagem àcidade de Worms onde foi feita a Dieta)em 1521 para julgar o caso de Lutero.Convocado pelo rei, Lutero não pôderecusar. Compareceu diante de Carlos Vque determinou que ele abjurasse dassuas idéias anticatólicas. Lutero tentouse defender, negando-se a assimproceder, e pedindo ao rei que fosse olíder da Reforma. Carlos V recusou,pois simpatizava com o catolicismo.Lutero foi então obrigado a deixar a

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cidade de Worms, e a Dieta passou atratar de outros assuntos. O fim da Dietamarcou o lançamento do Édito deWorms em maio de 1521 em que Luterofoi declarado bandido. O catolicismovencia esta batalha, pois tinha ninguémmenos que o próprio imperador a seulado, embora uma boa parte da nobrezaestivesse ainda do lado de Lutero. Aoretornar de Worms, no caminho, Luterofoi sequestrado por um grupo de homensà cavalo. Estes homens trabalhavampara Frederico, o Sábio e levaramLutero ao castelo de Wartburg, onde lápermaneceu por um ano. Carlos V nãopôde pegar Lutero ali, pois cada feudo,embora subordinado ao imperador, tinhaleis próprias, seguindo o modelo feudal

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de produção, mas se Lutero saísse dalíseria preso. Foi neste castelo que Luterotraduziu a Bíblia do latim para oalemão, imprimindo a tradução em1522. Traduzido para o alemão muitosnobres e estudantes podiam ler a bíblia.As idéias de Lutero continuaram a sercomentadas em toda parte, gerandodissidências. Um grupo começou a seconstituir na Alemanha: os anabatistas.Seita criada no fim de 1522 por trêsho me ns : Georg Blaurock, ConradGrebel e Félix Manz, os anabatistaspregavam que o batismo de bebês eraum dos erros do catolicismo e que sóadultos ou jovens poderiam serbatizados. A crença começou a se

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espalhar e os anabatistas começaram ase batizar entre si (daí que entendemos onome da seita, pois ana significa denovo) publicamente e a pregarabertamente a inutilidade do batismo decrianças. Lutero ensinava o batismo, domodo católico, em crianças também.Construiram sua primeira igreja perto dafronteira com a Suíça em 1525 e nestepaís a igreja se expandiu. Os anabatistasseriam uma das primeiras igrejasevangélicas de muitas que surgiriam. Em1522 Carlos V é pressionado por algunsnobres e deixar de considerar Luterofora-da-lei. Este passou a ter permissãopara circular na região do Sacro ImpérioRomano Germânico, mais só ao norte doimpério onde muitos nobres o apoiavam.

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Apesar da permissão o imperador nãoadota nem apoia a Reforma. Luteropassou a percorrer várias regiões daAlemanha pregando seus sermões,conhecidos por "Sermões de Invocavit",onde Lutero restaurou por um tempo aconsagração do pão, suprimindo o cânondas missas, e restaurando, em uma outraforma, o sacramento da confissão, quepassou a ser feita sob a forma deconselhos, dados também por Lutero.Desenvolve também a idéia de vocação.Segundo Lutero vocação é o chamado deDeus que determinada pessoa acabaimpelida a obedecer ainda que não gostemuito. Esta idéia de vocação se tornarácomum no mundo do trabalho e dos

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estudos. Baseado na idéia da vocaçãoLutero também desenvolve a idéia dapredestinação absoluta, onde defende aidéia de que o destino da pessoa já estátraçado desde o nascimento, embora nãonegue o livre-arbítrio, que seria,segundo Lutero, uma escolha do serhumano, embora sua naturezapredestinada o empurre contra suavontade. Um exemplo seria aquele quetinha vocação para o sacerdócio, mastentava não seguir esta vocação, istoseria o livre-arbítrio, uma tentantiva dohomem de não seguir o que Deusdeterminou para ele, mas que não erapecado ter. Em 1523 Lutero conheceuma freira, fugida de um convento,Catarina Von Bora e se apaixona. Ainda

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celibatário resiste ao casamento, masacaba cedendo. Casa-se e tem 6 filhoscom Catarina (3 homens e 3 mulheres,mas um dos filhos homens morre nainfância de doença). Amigos de Luteroinsistem que a Igreja Católica jamaisaceitará a reforma proposta por ele equerem criar uma nova igreja. Luteroaceita e surge a Igreja Reformada ouIgreja Evangélica de ConfissãoLuterana. Os nobres, dentro dos seusfeudos, que aceitaram as idéias deLutero, passam a forçar a conversão doscamponeses habitantes de seus feudos àsidéias do reformador. A conversão emmassa dos camponeses foi relativamentefácil. A maioria do povo nem

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participava das discussões da Reforma.Sem escolaridade e com umconhecimento baixo do cristianismo,ensinado somente pelos padres, e semperceber muito bem qual a diferençaentre catolicismo e as idéias da Reformaos camponeses adotaram a nova Igreja.Sem os padres, normalmente expulsosdos feudos chefiados por nobresluteranos, a conversão se tornava fácil.As idéias de Lutero também passaram aavançar para outras regiões.Concentrada no norte da Alemanha, oluteranismo foi adotado por nobres daDinamarca, Suécia e Noruega, quetambém forçaram os habitantes de seusfeudos a adotarem o novo credo,procedendo da mesma maneira que os

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nobres alemães. Alguns nobrespassaram, principalmente no norte daAlemanha, a invadir terras de mosteirose da própria Igreja anexando-as a seusfeudos. Carlos V, não querendo guerracom estes nobres, nada faz, emborapermaneça simpático à causa católica.As idéias de Lutero angariaramseguidores em diversas partes daAlemanha. O avanço da seita dosanabatistas fez com que muitas dasidéias de Lutero fossem adotadas poraqueles que visavam transformar aordem social da região. Um destes foiThomas Muntzer, um padre católico,versado em grego, latim e hebraico.Carismático seus sermões eram

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concorridos, principalmente entre oscamponeses mais pobres, pois Muntzer,apesar de sua cultura elevada, falavacomo os pobres, do jeito deles, usandoinclusive muito do linguajar próprio doscamponeses. Em 1521, ainda comopadre católico, adotou várias teses deLutero. Mais radical que Lutero, noentanto, Muntzer pregava que o cristãonão devia estar submetido a ninguém.Lutero só pregou isto no planoespiritual. A novidade de Muntzer foisua pregação também no campo terreno.Ele pregava a destruição da ordemfeudal vigente, pela violência inclusive,e sua substituição por um governoteológico voltado aos camponeses.Pregando em sua paróquia Muntzer

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conseguiu muitos seguidores para suacausa, principalmente entre oscamponeses. Por causa de suaspregações foi expulso de um feudopróximo à cidade de Zwickau em 1521,no que foi seguido por centenas decamponeses. Presos à terra, estescamponeses não poderiam ter saído oque fez com que o exército do imperadorfosse alertado e os camponeses voltaramao feudo. Em 1523 Muntzer adota acrença dos anabatistas e se junta aoutros que pensavam semelhantemente aele. Eles passam a fazer pregações emdiversas partes da Alemanha,angariando simpatizantes e tambémconversos para o anabatismo. Estes

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passaram a ser perseguidos por causa desua crença sobre o batismo. Melanchton,o intelectual que se uniu a Lutero,argumentou que a oposição deles aobatismo de bebês iria produzir umasociedade pagã e incitou nobres aprendê-los e persegui-los. Algunsanabatistas foram presos e assassinados,mas suas mortes lhes deram áurea demartírio, angariando mais seguidores aoanabatismo. Em 1523 Muntzer casa-secom uma ex-freira a abandona de vez abatina. No fim de 1523 problemasclimáticos em várias partes daAlemanha, como secas, destroem ascolheitas e uma onda de fome se alastroupor várias partes da região central esudeste alemãs. Muitos camponeses

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ficaram desesperados e passaram aouvir as palavras de Muntzer e de seusseguidores que pregavam a destruiçãoda ordem feudal vigente. Em 1524 asituação de miséria dos camponeses seagrava, ocorrendo tumultos em diversosfeudos no país. As péssimas colheitasdeste ano causam desabatecimento dealimentos até em algumas cidades.Aproveitando-se de alguns tumultosThomas Muntzer, no oeste da Alemanha,inicia um pregação violenta contra asautoridades e incita os camponeses ainvadirem os quartéis onde armas seencontram e a destruir castelos eassassinar nobres, pois o reino de Deusna Terra iria, com estes atos, segundo

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Muntzer, ser apressado. Centenas decamponeses, muitos deles desesperadospela fome, atendem ao apelo e invademcastelos de senhores feudais,destruindo-os. O movimento se alastra.Os camponeses revoltosos invademfeudos, destroem castelos, assaltamquartéis, tomam armas e o número delesaumenta. Outras rebeliões explodem nocentro e no sul da Alemanha, chegandoaté na Suíça e Áustria. Algunsrevoltosos recebem auxílio militar denobres que detinham poucas terras, naesperança de que estes assassinassemnobres com extensões de terra maiores eassim aqueles nobres, proprietários depequenas extensões de terra, poderiamse aposssar de mais terras. A situação

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fica mais grave. Vastas extensões dooeste, sul e centro da Alemanhaexplodem em revoltas. Muntzer partepara a Turíngia, um grande Estadoalemão, quase no centro do país, juntocom alguns de seus antigos seguidoresque também haviam fomentado revoltas,conhecidos como “profetas” deZwickau. Em Wittenberg escolas egrande parte dos seus estudantestomaram partido dos “profetas” e aUniversidade foi fechada. O imperadorCarlos V culpou Lutero e suas idéiasanticatólicas pelas revoltas e determinouque o exército imperial as reprimisse. Aguerra se alastrou. Muntzer e os“profetas” de Zwickau, na Turíngia, se

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uniram e lideraram o movimento. Oexército imperial conseguiu contervárias revoltas no sul da Alemanha, mastinha dificuldades no oeste e centro dopaís. Lutero, no norte, escreve o artigo:“Contra as Hordas Salteadoras eAssassinas dos Camponeses” ondeconclama os nobres do norte daAlemanha, onde a revolta ainda nãohavia chegado, a ajudarem o exércitoimperial a massacrar os rebeldes. Noartigo Lutero incitava os nobres acastigar os camponeses, inclusiveassassinando-os a todos. Vários nobresnortistas atendem ao pedido de Lutero eenviam tropas ao centro e oeste daAlemanha, onde a revolta estava maisdifícil de ser controlada. No final de

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1524 o número de camponesesrebelados já chegava a perto de300.000. Muntzer e os “profetas” deZwickaw, junto com membros da seitados anabatistas, continuam a incitação,mas aos poucos as tropas imperiais,ajudadas pelos nobres luteranos do nortee também mais bem armadas,começavam a derrotar as posições dosrebeldes, principalmente no oeste. Nocomeço de 1525, a Guerra dosCamponeses, como o conflito já eraconhecido, dava sinais de estar no fim.No oeste as tropas imperiais acabaramcom o movimento, que se concentrou nocentro do país. Cercados, oscamponeses rebelados se renderam e a

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guerra acabou em maio de 1525.Muntzer e três dos “profetas” forampresos, torturados e decapitados. AGuerra dos Camponeses deixou 100.000mortos e o imperador Carlos Vconvenceu-se ainda mais de que asidéias de Lutero foram as responsáveispelo levante armado e não só passou aapoiar o catolicismo com mais vigor,como também passou a proibir em todoo Sacro Império Romano Germânico etambém na Espanha que os artigos deLutero circulassem. Em vários feudos dosul o luteranismo e outras seitas nãocatólicas foram consideradas heresias eproibidas por completo. Os anabatistasforam perseguidos e mudaram seu nomepara Menonitas (influenciados pelas

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pregações de Menno Simons, um ex-padre católico holandês convertido aoanabatismo e que era menos radical),muitos deles fugindo para a Suíça. Suascrenças iriam influenciar, décadasdepois, outras igrejas evangélicas, comoa Igreja Batista.A Guerra dos Camponeses fez com queo luteranismo ficasse restrito ao norte daAlemanha, pois no centro, sul e oeste dopaís, bem como na Áustria, as idéias deLutero não vingaram, pois eramentendidas como as culpadas pelarevolta, acabada em 1525, emboraLutero fosse contra o movimento. NaSuíça, onde milhares de anabatistas serefugiaram, as idéias de Lutero eram

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bem aceitas, e tinham a adesão maciçanão só dos nobres locais como tambémda população, que, ao contrário degrande parte da população do norte daAlemanha, se converteram porquequiseram, de livre e espontânea vontade,principalmente à Igreja Anabatista. DaSuíça o movimento atingiu o sudeste daFrança, com grandes extensõespopulacionais se convertendo,principalmente ao anabatismo, igrejaagora batizada de Menonita, que haviadesistido de sua origem rebelde, poismembros mais radicais de seumovimento ou tinham morrido na Guerrados Camponeses ou tinham sidoexpulsos. Os luteranos tambémavançavam no sudeste francês. Na

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região suíça destacou-se outro líderreformista: Úlrico Zwinglio. Teólogo,ele escreveu a tese: “67 breves artigosde fé” onde defendia a idéia de queJesus Cristo era o verdadeiro papa e queele se encontrava presente entre oshomens, sendo, portanto, o papado umainstituição inútil. Nesta tese, que passoua ser lida em igrejas por toda a Suíça,ele aceitou a tese luterana de salvaçãosó pela fé. Zwinglio organizou debatesem que suas posições eram confrontadascom as posições católicas oficiais.Cerca de 5 cantões suíços, perto dafronteira com a Itália, permaneciam demaioria católica. Zurique a capital e oresto do país se tornaram

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majoritariamente adeptas das idéias deLutero. O governo de Zurique introduziuo idioma alemão na liturgia em oposiçãoao latim e acabou com o celibato noclero. Em 1523 Zwinglio debateu combispos de Constança, para uma platéiade 600 pessoas. O debate não moveu asposições de ninguém e as proibições dogoverno de Zurique não eram aceitas noscantões católicos. No seu outro artigo:“Comentário sobre a verdadeira e afalsa religião” de 1525 Zwinglio negoua validade das missas, a salvação pelasobras, a interseção dos santos e aexistência do purgatório, emboraafirmando a validade da eucaristia. Emlinguagem bastante simples estas idéiasforam entendidas facilmente pela

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maioria da população, composta decamponeses analfabetos. Bispos daregião católica da Suíça pediram auxílioa Carlos V e ameaçaram comseparatismo o governo central deZurique, querendo a união total com oSacro Império Romano-Germânico. ASuíça fazia parte do Sacro Império, mastinha grande autonomia sob o podercentral do imperador. O governo centralsuíço ameaçou intervir militarmente naregião caso os seus desejos fossemnegados e a ameaça de separatismoconcretizada. Os bispos católicosincitaram os nobres da região aoseparatismo, recebendo apoio, inclusiveem armamentos, do exército do Sacro

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Império Romano-Germânico, quecompreendia Alemanha, Áustria e norteda Itália e, agora, ameaçava anexar os 5cantões católicos suíços. A IgrejaCatólica estava enfraquecida, pois a suasede em Roma sofreu um ataque desoldados amotinados do Sacro Impérioque destruiu Roma em 1527, visandosaqueá-la, em um fato conhecido com oSaque de Roma. Esse fato, no entanto,não abalou a aliança entre Carlos V e aIgreja Católica. Em 1528, apósorganizar a Aliança Cívica Cristã, umaorganização militar, Ulrico Zwinglioincitou o governo central a atacar oscantões católicos em 1529 e a destruiros focos separatistas e impor a religiãoevangélica aos católicos da região. Os

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católicos reagiram e houve inicio umconflito militar. Zwinglio partiu para ocampo de batalha como capelão. Astropas centrais tiveram dificuldades emenfrentar os combatentes católicosdevido ao apoio do exército imperialalemão que não interveio diretamente.Ulrico Zwinglio morreu em 1531 emuma batalha atingido por um tiro. Ogoverno central de Zurique acabou porassinar a paz com os católicos quetiveram a liberdade de culto garantidapelo governo em troca de não maisquererem se unir ao Sacro ImpérioRomano-Germânico, desistindo de seseparar. A expansão do luteranismo fezcom que o Imperador Carlos V

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reforçasse as medidas do Édito deWorms proibindo a divulgação dasidéias luteranas em regiões onde ocatolicismo predominava. Príncipesluteranos convocaram a Dieta de Spyerem 1529 onde mandaram um protesto aoimperador contra o Édito de Worms. Oprotesto foi desconsiderado e a partirdele cunhou-se o termo protestante paradesignar os luteranos e também outrasigrejas que surgiram a partir dela.O movimento luterano se expandia,agora mais lentamente. Em 1530, o norteda Alemanha estava quase todoconvertido e Lutero havia se tornado paide família. Caçado em outras regiões daAlemanha, onde ainda era consideradofora-da-lei pelo Édito de Worms, Lutero

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não mais viajou, preferindo ficar emcasa, junto com a família. A Dinamarca,a Suécia e a Noruega conheciam aexpansão do luteranismo, a nova igrejaevangélica surgida com as idéias deLutero. Em 1531 nobres luteranoscriaram a Liga de Smalkade, umaaliança militar, caso o governo centraldo Sacro Império Romano-Germânicoos atacasse. A aliança determinava quequalquer ataque a um feudo luteranoseria um ataque a todos e todos osexércitos deveriam se unir para reprimiro invasor. A calma em que Lutero estavavivendo, com a expansão doluteranismo, o fez notar que um grupo,dentro da Alemanha, resistia muito a

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suas novas idéias: os judeus. Luteroacreditava que eles não tinham seconvertido ao cristianismo porque aIgreja Católica era uma falsa fé. Chegoua escrever um pequeno artigo, em 1523,intitulado: “Jesus era judeu”, ondeelogiava este povo e afirmava que sefosse judeu também resistiria a seconverter ao catolicismo. Agora que a féverdadeira de Jesus estava avançandonão havia motivos, segundo Lutero, paraos judeus continuarem renegando aCristo. Lutero os insta a se converteremao luteranismo, mas os líderes judaicos,habitantes de algumas cidades do nortealemão se recusam. Enfurecido Luteropublica um artigo intitulado: “Contra osjudeus e suas mentiras” onde incita os

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nobres luteranos e os habitantes dascidades alemãs a expulsarem os judeusde suas localidades, destruírem suassinagogas e confiscar seus bens. Noentanto nenhum nobre nem altodignitário de cidade nenhuma atendeLutero e nada acontece. Na Suíça, umapaz frágil gerou uma coexistência entre amaioria evangélica e a minoria católicado sul. Na França as igrejas anabatista eluterana avançavam, mas no sudeste.Alguns tumultos envolvendo católicos eseitas evangélicas aconteciam naFrança, mas nada muito grave, comouma guerra aberta, embora em muitosdestes tumultos pessoas fossem feridas eaté assassinadas. Um destes tumultos

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marcou a história da França. Em 1528uma imagem da Virgem Maria, famosana cidade de Paris, apareceu decapitada.Francisco I, rei da França, passou aincentivar procissões de protesto emtoda a cidade. O episódio ficouconhecido como “Caso da Rue desRoisiers”. Enquanto isso no sudeste daFrança surgia outro que viria, com suasidéias, expandir mais ainda as idéiasevangélicas pela Europa: João Calvino.Humanista e advogado Calvinointeressou-se pelas idéias de Lutero jácomo estudante de Direito na cidade deOrleans. Em 1529 quando ele tinha 20anos um fato chamou a atenção deCalvino. Em visita a Paris ele assistiu auma execução pública: a de Louis de

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Berquin, que foi condenado à pena demorte sendo queimado pela Inquisiçãopor defender as idéias de Lutero nacidade. Este fato o marcouprofundamente. Formado, em 1532,exerceu a advocacia no sudeste daFrança conseguindo grande fama comojurista. Passou a se interessar mais pelasidéias de Lutero e se convenceu de queelas estavam certas. Embora não fosseteólogo Calvino passou, nas horasvagas, e fazer pregações em igrejasanabatistas na região. O papa ClementeVII pressionou o rei francês, FranciscoI, a reprimir, no sudeste do país, osevangélicos franceses. Calvino escreveum discurso ao reitor da Universidade

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de Paris, Nicolas Cop, que resolve lê-lofrente aos mais altos representantes doscursos da Universidade: Direito,Teologia, Medicina e Artes. Nestediscurso a perseguição aos evangélicosno sudeste da França, que começava a seavizinhar, era comparada à perseguiçãoaos primeiros cristãos no ImpérioRomano, nos tempos de Nero, afirmandoque eram chamados também de heregesestes primeiros cristãos. A Inquisiçãoqueria interrogar o autor do discurso,que era Calvino. Este acabou por fugirpara Orleans, onde escreveu um tratado,a “Psycopannichia”, em que criticavaalguns anabatistas, por defenderem que aalma fica em um estado de latência,esperando o Juízo Final e não vai a

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Deus. Esta idéia estava sendo defendidapor alguns anabatistas e Calvino, comeste tratado, os critica severamente. Otratado, no entanto, escrito em 1534 sóseria publicado na Suíça em 1542.Enquanto Calvino estava escondido emOrleans, em outubro de 1534 ocorreu ocaso dos cartazes. Cartazes e folhetosforam colados ou espalhados emdiversas cidades francesas. Nelas foicriticada, em desenhos, a doutrina datransubstanciação, ou seja, de que ocálice de vinho e o pão, servidos naeucaristia, se transformavam no sangue ecorpo de Cristo. Lutero não haviaatacado esta idéia, crendo nela, masUlrico Zwinglio sim. Zwinglio afirmava

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que tudo era apenas simbólico, ou seja,que o pão e o vinho não setransformavam no corpo e no sangue deCristo verdadeiramente, mas era apenasuma metáfora. Os cartazes, claros econcisos, revelavam bem este fato. Oorganizador do ato foi um líderevangélico, Antoine Marcout, que fugiupara a Suíça. A Igreja Católica e ogoverno francês reagiram brutalmente aoato. O exército francês, sob ordens deFrancisco I, ocupou o sudeste da Françade maioria evangélica para assassinaros suspeitos. Vários suspeitos deorganizar o ato dos cartazes forampresos e assassinados. O rei, em janeirode 1535, organiza em Paris umaprocissão assassina. Suspeitos de terem

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distribuído e colado os cartazes, queestavam presos, são amarrados empontos estratégicos da cidade, em 6estacas, e quando a procissão passa, sãoqueimados na fogueira de acordo com apassagem da procissão. O Estadofrancês aumenta a perseguição aoslíderes evangélicos no país. Calvino,percebendo que poderia ser preso, fogeainda em janeiro de 1535 para aBasiléia, cidade suíça, onde acabavamde chegar milhares de evangélicosfranceses fugidos do sudeste da França.No entanto desentendimentos defronteira, em julho de 1535, entre aFrança e o Sacro Império Romano-Germânico fazem a França atacar

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desencadeando uma guerra entre os doisreinos. Lutero e a Liga de Smalkadeapóiam Carlos V no conflito o queenfurece muitos luteranos franceses quepassam a apoiar a França na guerra.Agradecido pelo apoio dos evangélicosluteranos o imperador Francisco Isuspende a perseguição a eles nosudeste do país, publicando o Édito deCoucy. A Igreja Católica se mantémneutra e pede paz aos reinoscombatentes. O conflito termina em1538 com a derrota da França e commilhares de mortos de ambos os lados.Membros do exército francêsidentificam as idéias de Lutero comogermânicas e a religião católica é tidacomo a verdadeira manifestação do

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povo francês. Embora Carlos V fossecatólico e evangélicos tivessem lutadoao lado da França o rei Francisco Iconcorda com esta posição de parte doexército e revoga o Édito de Coucyiniciando a perseguição às igrejasevangélicas do sudeste francês,consideradas anti-francesas e pró-alemãs. Os evangélicos são proibidosde terem culto público e de tentaremconverter católicos. Eles sãodiscriminados em empregos nas cidadese, em muitos feudos, serão forçados aadotarem o catolicismo sob pena deserem presos ou terem seus bensconfiscados. Na Basiléia, onde viveexilado, Calvino começa a escrever o

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seu livro “Instituições da ReligiãoCristã” onde defenderá sua interpretaçãodo cristianismo. No prefácio chama osevangélicos que são perseguidos pelogoverno francês de mártires, mas tentadirigir parte de seu livro ao reiFrancisco I tentando mostrar a ele queos evangélicos não são contra seugoverno. No restante do livro defende adoutrina chave de sua pregação: adoutrina da predestinação absoluta.Enquanto esteve foragido em Orleans e,depois na Basiléia, Calvino liaavidamente a Bíblia, principalmenteuma parte dela que lhe chamou aatenção: a epístola de Paulo aosromanos. Baseado basicamente nestaepístola e na concepção luterana da

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predestinação, Calvino teve uma idéia.Mais radical que Lutero, Calvino afirmaque o livre-arbítrio, a livre escolha dohomem, não existe. O que existe é apredestinação. Calvino consideravatodos os seres humanos pecadores pornatureza, desde que nascem, portantotodos os seres humanos já estãocondenados ao inferno, ou seja, não temsalvação. Mas pela graça e pelamisericórdia de Deus, alguns são eleitospara serem os salvos. Ele dá o exemplodos judeus no Antigo Testamento. Com agraça divina Deus passa a abençoaraqueles que ele escolheu de antemão eindependente de vontade humana. Mascomo saber se uma pessoa é escolhida

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por Deus? Calvino deu a resposta: éatravés das bênçãos, não espirituais,mas materiais que ele recebe, através deseu trabalho. Se uma pessoa prosperacom seu negócio ou empresa, fruto deseu trabalho, é um sinal de que Deus oadotou como salvo. Calvino elege umgrupo de pessoas, até entãodiscriminadas na ordem feudal vigente:os banqueiros, os comerciantes e osempresários. Todos eles viviam nascidades, chamadas na Alemanha deburgos, daí também receberem o nomede burgueses. Esta classe social eramarginalizada no sistema feudal deprodução. O poder político era dosnobres donos de terras e dos reis e danobreza das cidades. A grande maioria

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dos banqueiros, comerciantes eempresários da Europa daquele tempoera gente que não tinha feudos ou nãotinha títulos de nobreza, pagavamimpostos, mas estavam fora do poderpolítico. Além disso, eramdiscriminados pela Igreja Católica,principalmente os banqueiros, tidoscomo usurários e gananciosos, (muitosdeles eram judeus, pois a atividade deemprestar dinheiro a altos juros era tidacomo pecado pelo catolicismo), mas osbanqueiros embora discriminados, nuncaforam perseguidos. Calvino elegeu estaclasse, chamada de burguesia, como aprotegida por Deus, pois ela haviaconstruído sua riqueza através do

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trabalho, do empreendedorismo, damontagem de negócios que espalhavammais ainda o trabalho. Calvino defendiao empréstimo de dinheiro a juros econsiderava a pobreza material um sinalda falta de benção de Deus ao indivíduo.A Igreja Católica sempre ensinou que odinheiro era um mal, sendo estéril eimprodutivo e que levava o ser humanoà cobiça. Calvino discorda desta idéiaao afirmar que o dinheiro podia ser simaltamente produtivo, pois com ele oseleitos de Deus poderiam construir umanova sociedade e espalhar trabalho.Calvino percebeu que qualificar acobrança de juros como usura não erabíblico, ao contrário do que fazia aIgreja Católica, e redefiniu usura como a

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cobrança excessiva de juros, esta sim,condenada por ele. A cobrança de juros,segundo Calvino, é uma ocorrêncianormal e inevitável na economia e semela a economia de uma região nãofuncionaria direito, ficando estagnada.Defendeu também a livre iniciativa, ouseja, os eleitos de Deus não poderiamsofrer intervenção estatal em seusnegócios e que só os eleitos teriam aperseverança necessária para que seusnegócios dessem certo e, claro, dessemlucro, sendo o lucro a confirmação deque Deus o abençoa. Calvino defendia aidéia de que o escolhido de Deus aoaprimorar sua vida pessoal através doarrependimento e da melhora de seu

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caráter através do trabalho, não seviciando em festas, jogos ou outrosprazeres terrenos, mas sim se dedicandoao trabalho, ao estudo, ele conseguiriaproduzir bem mais do que necessitavados bens deste mundo. Calvino defendiaa idéia de que as sobras, o dinheiro queo escolhido não mais necessitassedeveria ser reinvestido em maistrabalho, ou poupado nos bancos paraque este dinheiro, com a cobrança dejuros, pudesse ser reinvestido naeconomia. Habitantes das cidades, osempresários e comerciantes eram quemconstruíam e vendiam os aparatosagrícolas usados nos feudos, eram elesque vendiam e fabricavam, junto com oEstado, armas para os senhores feudais

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e seus exércitos, bem como os exércitosdo rei, sendo eles também que vendiama produção agrícola excedente dosnobres feudais nas cidades,transformando-a em dinheiro para eles,os banqueiros eram quem financiavamtodo este aparato econômico, além deemprestarem dinheiro aos EstadosNacionais, entendendo Estado Nacionala figura do rei e sua nobreza. Alémdisso, era a classe que mais pagavaimpostos. Os camponeses tambémtrabalhavam, mas Calvino não osconsiderou eleitos, pois não tinhamatingido a graça divina, ou seja, nãohaviam sido abençoados, vivendo napobreza. Os Senhores Feudais e nobres

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das cidades também não eram tidos porCalvino como os escolhidos, poisembora tivessem atingido o sucessofinanceiro nada produziam através detrabalho, atitude condenada por Deus,segundo Calvino. Portanto só aquele quetrabalha e tem o sucesso financeiroatinge, para Calvino, a glória pedida porDeus. Isso, claro, não significa queCalvino tirava os pobres do amor deDeus, pois muitos dos burgueses foramcamponeses pobres que conseguiram osucesso financeiro através do trabalho ede seu empreendedorismo, sendo assim,só os que conseguem a riquezatrabalhando, e isto pode ser qualquerpessoa, tem as bênçãos de Deus. Esta éa idéia resumida de seu livro, publicado

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em 1536. O livro faz grande sucesso naSuíça e foi publicado em outras regiõesda Europa. Banqueiros, empresários ecomerciantes adotaram as novas idéiasde Calvino, animados por seremconsiderados os eleitos por Deus e,assim, passaram a financiar as suasidéias. Animado, Calvino vai até acidade de Ferrara, no norte da Itália,acompanhado de um seguidor, Louis deTillet, mas é mal recebido. Vai então aParis, esperando que suas idéias deconciliação sejam aceitas pelo reiFrancisco I, mas perde as esperanças.Em uma carta ao amigo NicolasDuchemin, ele compara a situação dosevangélicos franceses a dos judeus do

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Egito, ou seja, ele não vê outra saída aosevangélicos franceses a não ser fugir desua escravidão da França para outropaís mais acolhedor. Ainda nessa cartaele diz que os rituais católicos dedevoção aos santos são idolatria.Calvino, no final de 1536, abandona aFrança para nunca mais voltar e éconvidado a ir até Genebra, uma cidadesuíça, com leis próprias, praticamenteindependente do governo central suíço edo Sacro Império. Nesta cidadehabitavam grandes contingentes deevangélicos e conflitos contra católicoslocais iam se intensificando. Destruiçãode imagens de santos e tumultos entre asduas fés aconteciam esporadicamente nacidade desde 1532. Com a fuga dos

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evangélicos franceses para a Suíça,fugindo da perseguição católica naFrança, o número de evangélicosaumentava. Em um ataque à IgrejaCatólica, um grupo de evangélicosinvade uma igreja e a destrói, tomando50 hóstias de um padre e dando decomer a um cachorro. Muitos católicosfaziam o caminho inverso dosevangélicos e fugiam para a França,outros para cantões suíços católicos eoutros para o sul da Alemanha, os quefalavam alemão principalmente. Em1536 são proibidos na cidade todos osferiados, principalmente os dehomenagens a santos. Calvino cheganesta cidade, já popular pelo seu livro,

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juntamente com um irmão e uma irmãdele e pretende ir a Estrasburgo, cidadeluterana da Alemanha, mas é convencidoa ficar em Genebra. Além dos conflitosreligiosos, outro conflito, de naturezafamiliar, ameaçava Genebra. Osmamelucos, aliados da casa de Sabóia,uma família de nobres, dona de váriosfeudos, pretendia transformar Genebraem uma cidade sob domínio dos Sabóia,como havia ocorrido em épocasanteriores, mas os Confederados,também chamados Eudiguenot, ouhuguenotes, se opunham à idéia.Mamelucos e Confederados chegaram aguerrear em um rápido conflito em 1524,onde Karl III, duque de Sabóia tentouunificar a cidade aos domínios de sua

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família, mas a vitória coube aosConfederados. As tensões ainda eramgrandes. Guillaume Farel, um doslíderes de Genebra, pede a Calvino quefique e este aceita. Calvino tinha 26anos. Em outubro de 1536, Calvino eFarel vão defender a doutrina dapredestinação, agora chamadacalvinista, na catedral de Laussanne,cidade suíça de maioria francesa. PierreCaroli, um católico, no debate,organizado aos moldes dos de UlricoZwinglio, abertas a um grande público,acusa Calvino e Farel, agora calvinista,de serem hereges e Calvino de renegar adoutrina da trindade, coisa que Calvinonunca fez. Calvino retruca e defende em

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público a sua doutrina da predestinaçãoabsoluta elegendo os empresários ebanqueiros como a classe eleita deDeus, aquela que, com seu trabalho, trazo desenvolvimento (idéia esta que serádefendida também, séculos depois, mascom argumentos seculares, pelosadeptos do liberalismo econômico).Calvino consegue a adesão de muitos àsua causa, principalmente dos grandesempresários. Calvino e Farel voltam aGenebra e Farel se torna o líderevangélico da cidade, quase todaconvertida à Igreja Reformada. Farel,também líder espiritual, tem o poder deexcomunhão na cidade e todos aquelesque não seguem suas idéias recebem suacarta o que praticamente era uma

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expulsão da cidade. Calvino se opõe àidéia de excomunhão, pois aconsiderava discriminatória, pois quemrecebia excomunhão, no mundo católicoisso era bem conhecido, era vítima deperseguição em sua sociedade. Emmarço de 1537 líderes anabatistas daHolanda são expulsos da cidade. Umagrande parte da Holanda também haviase tornado adepta das idéias de Lutero.Por sugestão de Calvino é criado umSyndic (síndico) um grupo ou pessoaque tem como missão ir de casa em casacatalogar a fé dos moradores da cidade.A ação é contestada por muitosmoradores que se recusam a afirmaremqual fé pertenciam, talvez temendo

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perseguição, mas Farel determina quetodos os que se recusam a dizer qual ésua religião deveriam ser expulsos dacidade. As queixas dos moradores, quese recusam a dizer qual sua religião,chega às autoridades de Genebra e maistarde ao poder central da Suíça queforça o prefeito da cidade a expulsar deGenebra tanto Farel quando Calvino.Eles são expulsos e Calvino, finalmente,dirige-se a Estrasburgo, cidade onde amaioria da população fala alemão,idioma que Calvino não domina, mas elevai morar em um bairro de maioriafrancesa. Em 1539 Pierre Caroli vai aEstrasburgo e tem outro debate públicocom Calvino que é assistido pelacolônia francesa da cidade, já que o

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debate seria em francês. Os argumentosde Calvino são tão fortes que PierreCaroli confessa estar em dúvida se ocatolicismo é a verdadeira fé. Calvinoescreve um artigo, um comentário àcarta de Paulo aos Romanos, base desua doutrina, defendendo a justificaçãopela fé somente, base central da crençade Lutero e de quase todas as igrejasevangélicas. Ele também defende a suadoutrina da predestinação absoluta. Suasidéias, conhecidas como calvinismo,avançam rapidamente na Suíça e tambémna Holanda, bem como no sudeste daFrança, apoiada pelos huguenotes, osconfederados de Genebra, que seconvertem em massa à nova doutrina

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evangélica, a de Calvino e, por causadisso, os evangélicos da França tambémserão conhecidos como huguenotes. Osudeste da França apresenta grandedesenvolvimento comercial, pois asidéias de Calvino, de predestinação eglorificação do trabalho eempreendedorismo, fazem com quemuitos evangélicos se sintam impelidosa abrirem negócios próprios, a setornarem empresários, coisa que elesnunca tinham pensado, pois na época amentalidade vigente valorizava somenteo trabalho rural, nos feudos, ou até o nãotrabalho. O sudeste da Françaexperimentará um boom de novosnegócios e crescimento das cidades,bem como a Holanda e partes da Suíça.

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Estas regiões vão crescereconomicamente (mais detalhes sobreesse crescimento econômico ligado aoideal calvinista no livro A ÉticaProtestante e o Espírito do Capitalismo.Dados desse livro disponíveis nabibliografia). Em 1540 Calvino se casacom uma viúva, Idellete de Bure, adeptado anabatismo. Ela tem dois filhos eCalvino se torna padrasto deles. Acerimônia foi dirigida por Farel, queestava morando em Neuchatel e foi aEstrasburgo só para casar Calvino. Em1541 uma epidemia de peste bubônica, apeste negra, assolou a cidade, matandodezenas de pessoas. Esta doença semprefoi endêmica na Europa desde o Império

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Romano. No século 14 tinha dizimadoperto de 33% da população européia,uma das maiores catástrofesepidemiológicas da história. Registrosde epidemias existiam também noOriente Médio, na China, na Índia e empartes da África. Na época não se sabiade onde vinha a peste. O médico árabeRhases, no século 10, levantou asuspeita de que ratos ou a sujeirapoderia ser a causadora da peste. Muitasmedidas de saúde pública foramtomadas em portos europeus, sendo bemeficazes, onde portadores da doençaeram mantidos em quarentena e naviossuspeitos eram proibidos de atracaremem portos. Foi só em 1894 que obacteriologista suíço Alexander Yersin

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isolou, em Hong Kong, onde uma grandeepidemia de peste estava em progresso,a causadora da doença, uma bactéria,que em homenagem a ele recebeu onome de Yersinia Pestis. AlexanderYersin descobriu que é uma pulga quehabita algumas espécies de ratos,esquilos, coelhos e marmotas atransmissora da bactéria. Também, deforma independente, o bacteriologistajaponês Shibasaburo Kitasato isolou abactéria que causava a peste. Mas noséculo 16 a peste era um mistério e nãose sabia o que a causava, só haviasuspeitas. Em 1541 a epidemia de pestenegra piora na cidade e a esposa deCalvino sai da região. Calvino decide

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ficar e acaba sofrendo outra doença:uma crise nervosa.Na cidade de Genebra, de onde Calvinofoi expulso, por influência do governocentral em Berna, algumas festascatólicas são restauradas, embora apopulação fosse quase toda evangélica.Católicos continuavam a serdiscriminados e muitos deles foramembora da cidade. Genebra, no entanto,tem um grande incremento populacionalcom a chegada de evangélicos vindos daFrança para fugirem de perseguiçõescatólicas. Na França os católicosexpulsavam os evangélicos, em Genebraeram os evangélicos que expulsavam oscatólicos. A população de Genebra teveum incremento populacional de dezenas

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de milhares de pessoas em poucos anos.Esse incremento de evangélicos fez comque eles ganhassem mais poder depressão junto ao governo de Genebra.Uma parte destes evangélicos francesesqueria que Calvino e Farel voltassem àGenebra como líderes. Uma parte dapopulação, no entanto, era contraria aidéia. Um homem, chamado João Filipe,que se opunha abertamente a Calvino ediscursava contra ele, foi assassinado.Os adeptos do retorno de Calvino, osGuillermins, ganham o poder na cidade,elegendo o prefeito. Em setembro de1541 Calvino volta a Genebra e se tornao líder espiritual da cidade, cargo tãoimportante quanto o de prefeito que era

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líder temporal. Alguns calvinistas,querendo organizar a Igreja Reformada,propõe a criação do cargo de pastor,pregador do evangelho, em oposição aode padre, pregador do catolicismo. Ocargo de pastor, típico de igrejasevangélicas é criado aí. Calvino criatambém, na cidade, o Consistório, umtribunal eclesiástico, parecido com aInquisição, para julgar crimes contra afé evangélica. O Consistório, lembrandoa Inquisição, nunca ultrapassou asfronteiras de Genebra, não sendo aceitopor evangélicos de outras regiõeseuropéias. O Consistório tinha o poderde excomungar (expulsando da cidade),de prisão e também de pena de morte atodos os que fossem contra suas

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determinações. Calvino chefiou oConsistório junto com pastores e leigos.O Consistório passa a proibir o cultoaos santos na cidade, consideradaidolatria, proíbe o jogo de cartas combaralhos, a mendicância, a dança e oteatro. Vários atores saem da cidade eteatros são fechados bem como clubesde dança. Cantores e dançarinos tambémabandonam a região. O Consistórioregula inclusive os nomes de batismo:Jesus e Emmanuel são proibidos porserem considerados o nome de Deus.Saurie, Mama e Claude são proibidas,pois lembram idolatria. Homens emulheres são proibidos de estarem emlugares privados juntos sem serem

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parentes. Vários casos foram julgadospelo Consistório, conheça-os¹: Em1542, uma mulher, Jeanne Petreman, éacusava de não participar da eucaristiaevangélica, rezar o pai nosso em idioma“romano” (latim) e venerar a VirgemMaria. Ela foi excomungada e expulsada cidade. Em 1545 um anabatista,chamado Bellot, foi preso por pregarque só o Novo Testamento tinha valor, oVelho Testamento seria falso. Foitorturado e expulso de Genebra. Em1546 um franciscano sai nas casaspedindo esmolas para si, sendo preso elevado ao Consistório que o expulsou dacidade. Em 1547 algumas mulheresorganizam, escondidas, uma festa ecomeçam a dançar. A polícia invade a

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casa e prende a todos. O caso ganhagrande repercussão na cidade, pois umadas mulheres era esposa de um pastor,um dos julgadores do Consistório.Todas, sem exceção, amargam algunsdias de cadeia. Em protesto um homem,de nome Jacques Gruet, cola cartazesfeitos por ele em vários pontos dacidade criticando o Consistório e apessoa de João Calvino. Preso emflagrante Jacques Gruet é levado aoConsistório e condenado à pena demorte. É torturado e assassinado. Emoutro caso, em 1548, Louis de Barbier équestionado sobre sua fé. Diz que não écristão. Em sua casa é descoberto livrosde bruxaria. Ele, no entanto, não será

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perseguido. Em 1542 uma pequenaepidemia de peste negra matou algumaspessoas. Ela começava a se espalharpela cidade. Para combatê-las muitosrecorreram a bruxos e feiticeiras. Asfeiticeiras ou bruxas eram na verdadecurandeiras, mas também lideresreligiosas ou até médiuns que existiamna Europa e no Oriente Médio desde aantiguidade e que mesmo depois dacrença cristã ser adotada na Europa suaexistência, bem como suas práticas, nãohaviam acabado. O ar de mistério quesempre envolveu certas práticasreligiosas ou ocultistas, como aalquimia, por exemplo, tidas comobruxarias, aumentava o preconceito e adesconfiança contra essas pessoas. Com

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o tempo várias lendas em torno dasfeiticeiras surgiam entre a população.Em 1487 dois frades dominicanosalemães tinham publicado o MaleusMaleficarum (O Martelo dasFeiticeiras), um espesso volume de 400páginas de caça às bruxas. Aperseguição a eles se deu a partir doséculo 15, mas sempre foramesporádicas, nunca organizadas.Linchamentos de bruxas e tambémbruxos e alguns interrogatórios daInquisição onde alguns foram queimadosna fogueira fazem parte da perseguição.No entanto em uma sociedade onde amedicina não existia e os médicos eramraros e não faziam muito, pois remédios

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também não existiam, muitoscamponeses e pobres buscavam asfeiticeiras ou curandeiras para securarem de doenças. Não foi diferenteem Genebra. O Consistório proíbe aconsulta a curandeiros e bruxos. Em1542, o filho de Calvino, ainda bebê,morre, mas não de peste. Em 1544 outraepidemia de peste atinge a cidade.Dezenas de pessoas ficam doentes,muitas morrem. A histeria contra asbruxas começa. Em 1545 um homemchamado Freckles Dunant morre sobtortura, negando ser um bruxo, acusadode ser o culpado pela peste se espalhar.Ainda em 1545 cerca de 7 homens e 24mulheres são condenados à prisão porserem considerados bruxos e feiticeiras.

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No fim de 1545 duas outras bruxas,cujos nomes se perderam na história,são queimadas na fogueira acusadas deserem responsáveis pelo avanço dapeste. Outro julgamento ocorreu em1546 quando Pierre Armeaux injurioupublicamente Calvino, chamando-o depregador de uma falsa fé. Acabou nacadeia. Um outro homem, também denome Armeaux, fabricante de jogos debaralho, e que foi à falência devido àproibição de jogo de cartas peloConsistório1 foi também condenado porinjuriar Calvino, mas sua condenaçãofoi mais interessante: ele foi condenadoa caminhar de uma ponta a outra deGenebra, descalço, segurando uma vela

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na mão. Em 1547 François Favre écondenado à prisão por dizer queCalvino era bispo de Genebra, portantoum ditador, e que os franceses tinhamtomado a cidade. Em 1548 a esposa doirmão de Calvino foi acusada pelopróprio Calvino de adultério. Suacondenação foi se ajoelhar diante deCalvino e do marido e pedir perdão. Em1548, um homem chamado NicoleBromet que pregava a expulsão dosfranceses de Genebra, afirmando queeles deveriam ser colocados em umbarco e enviados pelo rio Reno abaixo,também acaba preso. Em 1551Hieromme Bolsec, um monge carmelita,é preso por afirmar que a doutrina dapredestinação de Calvino é antibíblica.

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Ele criticou a doutrina da predestinação,afirmando que se tudo o que ocorria jáestava escrito então o pecado tambémera vontade de Deus. Calvinoargumentou que não entendia assim, quea predestinação era na verdade algo quejá estava escrito, mas sem Deus querer.Hieromme Bolsec foi julgado e expulsoda cidade. Em 1553 é condenado a serqueimado na fogueira o médico espanholMiguel Servet. Em 1534 o médicoespanhol Miguel Servet tinha escrito umtexto negando a validade da doutrina datrindade. Servet divulgou suas idéias emartigos. Em um destes artigos: “DeTrinitatis Erroribus” (Os Erros daTrindade) Servet afirma que Jesus não

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poderia ser o Filho de Deus e declarouque a palavra trindade nunca apareceuna Bíblia. Ele também publicou um livrointitulado “Christianismi restitutio”onde, baseado em seus estudos deanatomia, declarou que os pulmõeshumanos realizam trocas gasosasmisturando sangue e ar, ou seja, elehavia descoberto a circulação sanguíneados pulmões e sua função. Tambémdefendeu a crença anabatista de batismosó de adultos e declarou que Jesusestava em todos os lugares do mundo.Este último ensino foi consideradopanteísta e seu livro foi proibido pelaInquisição. Sua descoberta médica nemfoi considerada. Perseguido pelaInquisição espanhola Servet foge para a

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França onde se torna médico e trocacartas com Calvino, debatendo sobre atrindade. Os argumentos de Servet erambons e Calvino tinha dificuldade emrefutá-los o que faz com que Calvino oconsidere perigoso. Servet manda umacarta a Calvino negando a doutrina datrindade, mas esta carta,misteriosamente, cai nas mãos daInquisição francesa, fazendo com queServet tenha que fugir da França.Calvino afirmou a seu amigo Farel, quese Servet fosse a Genebra seriacondenado. Servet só vai a Genebra em1553, fugindo da Inquisição francesa,achando que lá não seria perseguido,embora Calvino o tenha avisado que o

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Consistório poderia prendê-lo. Elechega à cidade e é imediatamente preso(na prisão ele reclama dos maus tratos,pois recebe roupas imundas e insetosinfestam sua cela), julgado peloConsistório (julgamento esse no qualCalvino interveio pessoalmente pedindosua condenação) e queimado nafogueira, acusado de ser herege. Acondenação de Servet será, de todas, amais divulgada. Em 1554 um teólogoevangélico, que morava em Genebra,chamado Sebastian Castellio,escandalizado com as perseguições emGenebra e com o assassinato de Servetpassou a defender o fim das teocracias ea separação entre Igreja e Estado.Calvino também defendia esta idéia,

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mas argumentava que a Igreja erasuperior ao estado, embora fossemseparados e um não deveria se meter nosassuntos do outro. Castellio era maisradical e dizia que nem o estado e nem aigreja deveriam taxar alguém deherético, pois este é apenas alguém comsua própria opinião. Decepcionado comCalvino ele sai da cidade e vai morar naBasiléia. Em 1555 Calvino é eleito paracontinuar liderando o Consistório. AmiPerrin, líder de uma facção evangélicarival, tenta iniciar uma revolta na cidadecontra a ditadura de Calvino, mas épreso. O Consistório o condena a ter suamão direita cortada. Dois irmãos, desobrenome Comparet, que participaram

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da tentativa de revolta são assassinadose suas cabeças cortadas e penduradasem mastros. Dois outros homens, ClaudeGaloys e Thomas Girard, tambémparticipantes da tentativa de revolta,foram colocados em uma espécie depelourinho para servir como execraçãopública. Claude Galloys ainda foicondenado a andar pela cidadesegurando uma tocha e pedindo perdão.Em abril de 1556 Jean Trolliet criticoupublicamente a doutrina dapredestinação de Calvino, concordandocom Hieromme Bolsec de que ela faziao pecado ser obra de Deus. Ainda em1556 um grupo de homens e mulheressão presos por estarem juntos em umacasa não sendo parentes, o que era

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proibido. São condenados a andaremcom colares que os estigmatizavam pelacidade. Em dezembro de 1556 umhomem, de nome Jacques Lampereur, foipreso ao fazer declarações contra acondenação por adultério, pois, segundoele, estaríamos no tempo da graça e,portanto, condenar adúlteros a penasjudiciais seria judaizante. Algum tempodepois dois homens foram assassinados,depois de julgados pelo Consistório,acusados de praticar magia. Seus nomessumiram da história. Também outrohomem, acusado de praticar magia, teveseus pés queimados e foi expulso deGenebra. Estes foram, em resumo,muitos dos julgamentos feitos pelo

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Consistório enquanto ele durou o quevaleu a Calvino, por parte de seuscríticos, em outras partes da Europa, otitulo de “papa protestante”. Apesar detanto obscurantismo na cidade Calvinodefende a criação de uma universidadeem Genebra que é finalmente inauguradaem 1559, ganhando o nome deUniversidade de Genebra, universidadeessa que ainda existe, sendo, atualmente,a segunda maior da Suíça e uma dasmais avançadas universidades daEuropa principalmente no campo deestudo das Relações Internacionais,Astronomia e Biologia. Suas aulas sãodadas em francês.Em 1547 o rei da França Francisco Ifaleceu sendo sucedido pelo seu filho

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Henrique II que criou a “ChambreArdente”, um tribunal penal que julgavacrimes comuns, mas que também julgoue prendeu vários evangélicos. Com essetribunal, que ganhou mais força em1550, a perseguição aos evangélicospiorou e muitos fugiram para Genebraaumentando sua população. Em 1549Calvino perde a esposa que faleceu. Apartir daí se torna celibatário e sededica cada vez mais ao trabalho eestudo, bem como ao Consistório. Em1553, alguns meses depois de Servet serqueimado na fogueira, a relação entre aprefeitura de Genebra e o Consistório setorna tensa. Discutia-se o poderexcessivo do Consistório e o direito

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desta instituição de excomungar eexpulsar pessoas da cidade. Adiscussão, no entanto, não tirou o poderdo Consistório. Igrejas no sudeste daFrança, na Suíça e na Holanda passarama seguir as idéias de João Calvino. Asigrejas avançavam, embora perseguidas,na França. Em 1546 Lutero morre nacidade de Eisleben, na Alemanha, aos62 anos de doença, possivelmente dederrame cerebral. Aproveitando-se desua morte e crendo que sem sualiderança os luteranos seriam facilmenteconquistados, o Papa Paulo III (sucessorde Clemente VII) e o Imperador CarlosV montam um grande exército no sul daAlemanha e atacam o norte tentandocatolicizá-lo de novo ainda em 1546. A

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Liga de Smalkade é acionada e osluteranos se unem para impedir ainvasão de seus feudos. Soldados daLiga, em número de 10.000, sãoderrotados na Batalha de Mulhberg emuitos de seus líderes são presos. Osconflitos, no entanto, se tornaramesporádicos a partir desta batalha, poisas tropas luteranas eram bem armadas.Estes pequenos conflitos só terminam devez em 1555 com a assinatura da Paz deAugsburgo onde é estabelecida atolerância oficial a luteranos e católicose determina que cada príncipe feudal,tanto luterano quanto católico, teria odireito a eleger membros ao parlamentoe também eleger o próprio imperador,

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concordando com sua ascensão ao trono.Com a adoção do luteranismo pormuitos nobres feudais estes tinhamdeixado de ter o direito de votar. Antessó os príncipes e nobres feudaiscatólicos poderiam votar. O tratado detolerância religiosa, no entanto, deixoude fora os judeus, os anabatistas e oscalvinistas que podiam ser acusados deheresia por qualquer nobre luterano oucatólico. O tratado também estabeleceuque se algum nobre quisesse seconverter ao catolicismo ou luteranismotodos os que viviam sob seus domíniosdeveriam também se converter e ele nãoseria perseguido, ainda que este nobremorasse no norte, de maioria luterana ouno sul, de maioria católica. Por

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exemplo, se um nobre do sul quisesse seconverter ao luteranismo, todos oscatólicos do seu feudo deveriamacompanhá-lo também, coisa parecidase dando no norte com algum nobrefeudal se convertendo ao catolicismo.Este acordo ficou conhecido pelo nomeem latim “Cujos egio, ejus religio” quesignifica “De quem a região, suareligião”.As idéias de Lutero se propagamprincipalmente na Suécia e na Noruega,avançando também na Finlândia. NaHolanda elas já tinham se tornadomaioria em 1554, embora o calvinismoavançasse mais rápido neste país. Osevangélicos avançavam também na

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Inglaterra. O rei inglês Henrique VIII,coroado em 1509, era protetor da IgrejaCatólica. Quando o movimento deLutero arrebentou na Alemanha elechegou a escrever um pequeno artigodefendendo os sete sacramentoscatólicos, condenados por Lutero, ecriticando o movimento. No entanto obom relacionamento entre o rei daInglaterra, Henrique VIII, e o papadoacabou em 1533. Henrique VIII eracasado com Catarina de Aragão, tia deCarlos V, rei tanto da Espanha quandodo Sacro Império Romano-Germânico.No entanto, Henrique VIII apaixonou-sepor outra mulher, Ana Bolena (AnaBolena, anos depois, seria acusada porHenrique VIII, baseado em conspirações

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e intrigas, de alta traição ao seugoverno, sendo presa e decapitada. Umirmão dela e outros homens também), equeria separar-se de Catarina para casarcom ela. O rei da Inglaterra pediu aanulação de seu casamento junto aoPapa Clemente VII. O divórcio,condenado pelo cristianismo, só poderiaser concedido, no caso dos reis, poralgum representante de Cristo, paraassim o divórcio ser válido, no caso, opapa. Em condições normais o papacederia o divórcio, mas Clemente VIIfoi pressionado por Carlos V a nãoconcedê-lo. O rei da Inglaterra,querendo o divórcio, insistia em seupedido. Clemente VII teria que escolher

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entre Carlos V ou Henrique VIII. O papaescolheu Carlos V e decidiu não dardivórcio nenhum ao rei da Inglaterra.Enfurecido pela atitude do papa,Henrique VIII, que protegia a IgrejaCatólica e era contra as idéias deLutero, fundou em 1533 a IgrejaAnglicana, separando a Inglaterra docatolicismo. Thomas Cranmer se tornouarcebispo de Canterbury e anulou seucasamento com Catarina permitindo queHenrique VIII se casasse com AnaBolena. A nova igreja, no entanto, nãose diferenciava em nada do catolicismo.Os sete sacramentos, o culto aos santose até a vestimenta tradicional dos padrese bispos foi mantido. A diferença estavaem que a autoridade do papa não era

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reconhecida e o Rei da Inglaterra setornou o chefe da Igreja Anglicana, ouseja, o novo papa. O papa respondeu àcriação da nova igreja excomungandoHenrique VIII ainda em 1533. As bulas edeterminações papais, por ordens deHenrique VIII, não mais deveriam serobedecidas pelos padres e bispos etodos eles deveriam jurar fidelidade aonovo papa: o Rei da Inglaterra. Estasdeterminações foram aprovadas noparlamento e se tornaram leis. Quem serecusasse a aceitar a liderança espiritualdo Rei da Inglaterra seria consideradotraidor e assassinado. Alguns mongescatólicos se recusaram a prestarjuramento a Henrique VIII,

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permanecendo fiéis ao Papa, e foramtorturados e assassinados. Entre osassassinados estava o pensador eadvogado católico Thomas Morus,escritor da obra “Utopia” onde idealizaum reino imaginário de uma ilha comuma interpretação idealizada de Estadoperfeito. Escreveu também o romance“História de Ricardo III” em que, anosdepois, Shakespeare se baseará paraescrever sua famosa peça de nomeparecido. Morus, que se recusou a jurarlealdade espiritual a Henrique VIII, foipreso e condenado a pena de morte,sendo decapitado. Sua cabeça foipendurada na ponte de Londres, mas suafilha o recolheu e o sepultou. Séculosdepois Morus foi considerado mártir

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pela Igreja Católica. Thomas Cranmer, onovo arcebispo anglicano, teve o direitode destituir bispos e padres rebeldes,criar monastérios e confiscar bens dosque não obedecessem às ordens reais.No entanto, uma lei aprovada peloparlamento inglês em 1536 proibiu oconfisco de bens. Em 1536 católicosingleses, no norte do país, organizaramuma revolta armada conhecida como a“Peregrinação Gracia”. Armados, osrevoltosos atacaram vilas e feudostomando-os e declarando o catolicismoreligião oficial nestas áreas (entendendo“catolicismo como religião oficial” queeles não se submeteriam às ordensespirituais do Rei da Inglaterra, mas do

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papa). Henrique VIII concedeu perdãoreal e o direito de os católicos passarema aceitar o poder papal. Muitos rebeldesdepuseram as armas, mas Henrique VIIInão cumpriu a promessa de liberdadepara os católicos aceitarem asordenanças papais. Acredita-se que aspromessas foram apenas uma forma deHenrique VIII ganhar tempo para armarmelhor seu exército real. De novo osrebeldes se reuniram e iniciaram umasegunda revolta em 1537 contraHenrique VIII. O exército real inglêsavançou na região e derrotou facilmenteos revoltosos. Em 1538 Henrique VIIIdeterminou a destruição dos santuárioscatólicos dedicados a santos, fechandomonastérios, expulsando monges e

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transferindo suas terras e posses para aCoroa real. Determinou a liberdade deculto, mas expulsou bispos católicos daCâmara dos Lordes, uma parte doparlamento inglês, com deputados nãoeleitos pelos nobres. Criou leis quepuniam com prisão o homossexualismo ea bruxaria. Aproveitando-se da novaliberdade de culto o livro de Calvino,“Instituições da Religião Cristã”, épublicado na Inglaterra e logo as idéiascalvinistas ganham seguidores entreempresários, banqueiros e comerciantes.Estes fundam uma nova Igreja, a dosPuritanos, que tinha este nome porcriticarem a nova Igreja Anglicana pornão se afastar totalmente dos dogmas

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católicos. Os puritanos também erammoralistas sexuais, daí este nometambém ser associado a moralidadesexual rígida. Este nome também setornou um termo pejorativo em algumasregiões inglesas, para designar igrejasevangélicas. A nova fé puritana avançourapidamente na Inglaterra,principalmente nas cidades, passando arejeitar tanto os católicos quanto osanglicanos. Calvino, à distância, atravésde cartas, passou a se corresponder comos líderes da nova Igreja. Em 1547Henrique VIII faleceu aos 55 anos deuma trombose nas pernas, oriunda deuma queda de cavalo que ele teve unsmeses antes, e foi substituído pelo seufilho Eduardo VI que, tendo como tutor,

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pois era muito jovem, o duque doSomerset, simpatizante dos puritanos,apoiou o avanço da nova igreja,adotando práticas calvinistas na religiãoanglicana, como a crença napredestinação absoluta, o fim do cultoaos santos (embora os setes sacramentoscontinuassem válidos) e a justificaçãopela fé somente. Eduardo VI faleceucom apenas 16 anos de tuberculose em1553. Os conselheiros do rei, puritanos,queriam colocar a prima de Eduardo VI,Joana Grey, conhecida como Lady Jane,também com 16 anos, como rainha daInglaterra. No entanto a meia irmã deEduardo VI, Maria Tudor, era muitopopular entre o povo de Londres que a

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aclamou como sucessora ao trono. Oparlamento aprova Maria Tudor comorainha e destitui Lady Jane que é presajunto com o marido. John Dudley, sogrode Lady Jane e um dos conselheiros quetentou fazê-la rainha, é decapitado.Maria Tudor assume o posto de rainha e,católica, quer restaurar o catolicismocomo religião oficial da Inglaterrasuprimindo a nova Igreja Anglicana. Elaanuncia que quer se casar com oherdeiro do trono espanhol Felipe II daEspanha, filho de Carlos V, o que chocaalguns setores da sociedade inglesa queiniciam uma rebelião armada contra anova rainha, tentando fazer com queLady Jane assuma o trono. A rebelião,que contava com a participação do pai

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de Lady Jane é facilmente contida. LadyJane, seu pai e seu marido sãoconsiderados traidores e decapitados.No século 20 o grupo de rock RollingStones cria a música “Lady Jane”inspirada nessa história. Em 1555 ospuritanos passaram a ser perseguidospelo novo governo. A rainha MariaTudor manda assassinar o arcebispoThomas Cranmer, que havia se tornado olíder da Igreja Anglicana (ele serácanonizado como santo por esta igreja)depois do falecimento de Henrique VIII.Cerca de 300 puritanos são presos eassassinados e 800 deles fogem paraGenebra e Frankfurt, na Alemanha, masMaria Tudor morre de câncer em 1558

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aos 52 anos, assumindo o posto a suameia irmã, a rainha Elizabeth I, tambémchamada Isabel I, que restaurou oanglicanismo como religião do Estadoinglês e deu liberdade de culto aospuritanos. Esta igreja avançou naEscócia sendo conhecidos por lá comopresbiterianos, pois o poder da Igrejaera dado aos presbíteros, como eramconhecidos os pastores do país. Osconflitos religiosos na Inglaterracessaram por algum tempo. Em 1564Calvino morreu de hemorragia pulmonarem Genebra aos 55 anos e o Consistórioacabou-se, sendo os condenados poresta instituição perdoados, mas as idéiasde Calvino já haviam se organizado emigrejas que agora contavam com o apoio

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de empresários e banqueiros para seexpandirem. O rei Carlos V tinhafalecido em 1558. Antes, em 1556, eleabdicou do trono espanhol e seu filho,Felipe II, assumiu. A Espanha se tornoua grande defensora do catolicismo nocontinente. Em 1580 Portugal foianexado à Espanha, pois o exército deFelipe II atacou esta nação e aconquistou militarmente se aproveitandoda falta de herdeiros do rei DomSebastião, seu sobrinho, que comandouum exército português contra oMarrocos com 24 anos de idade emorreu neste combate. Muito doente,mas profundamente católico DomSebastião tinha espírito cruzadista e

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queria expandir o catolicismo no norteda África conquistando territórios aosmuçulmanos. Em 1578 lidera,pessoalmente, uma invasão militar dePortugal ao Marrocos. Um conflito civilno Marrocos é o pretexto para ainvasão. O sultão Mulay Mohammedtinha sido deposto do trono pelo sultãoMulei Moluco apoiado pelos turcos.Dom Sebastião resolve apoiar Mulayinvadindo o país. Dom Sebastiãomontou um exército de 15.000 homens epediu ajuda a seu tio, Felipe II que,considerando a guerra absurda, recusouauxilio. Não que Felipe II não seenvolvesse neste tipo de conflito. Em1571 ele havia enviado navios de guerrae aproximadamente 10.000 soldados à

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Itália para barrar o avanço islâmico naregião. Os turcos muçulmanos haviaminvadido a ilha de Chipre e ameaçavamatacar a Itália. O Papa Pio V recebeu osnavios e soldados espanhóis e tambémcontou com o apoio da cidade estado deVeneza e da Ordem de Malta, umaorganização militar católica quehabitava a ilha de Malta. Em outubro de1571 os navios papais encontraram osnavios muçulmanos que, embora maisnumerosos, eram mal armadas. Abatalha durou apenas 3 horas e os turcosmuçulmanos foram derrotados. Cerca de7.500 católicos e 20.000 muçulmanosmorreram ou ficaram feridos2. Estabatalha marcou o fim da ameaça

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marítima islâmica na Europa Ocidentalsendo conhecida como Batalha deLepanto (Lepanto era uma cidadecosteira grega que ficava perto de ondeocorreu a batalha). Embora Felipe IItenha se recusado a ajudar, DomSebastião recebeu armas e soldados,grande parte mercenários, da Alemanhae da Itália, e marchou contra oMarrocos. Partindo em vários navios oexército português desembarcou emterritório marroquino e se uniu a MulayMohammed e enfrentou as tropas deMulei Moluco na Batalha de Alcácer-Quibir, também conhecida como Guerrados 3 Reis. Mais numerosas e bemarmadas as tropas de Muleimassacraram os exércitos de Dom

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Sebastião que morreu no conflito. Osportugueses recuaram e a invasão foi umfracasso total. Vários nobres e soldadosforam feitos prisioneiros e o governoportuguês pagou resgate para tê-los devolta, prejudicando as finanças doEstado. Surge a lenda em Portugal entrea população de que Dom Sebastião naverdade estaria vivo e que retornaria aopaís para ser de novo seu rei. A lenda éconhecida como sebastianismo e terárelativa força em Portugal e também nonordeste do Brasil por séculos. O tioavô de Dom Sebastião, o cardeal DomHenrique, assume o trono, mas morredois anos depois. Felipe II se julga onovo rei de Portugal e com seu exército

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invade o país, tomando o Brasil e ascolônias portuguesas na África para si,bem como o território português.Elisabeth I, a partir do final dos anos 70,dava apoio a piratas ingleses quesaqueavam o ouro carregado em naviosespanhóis, vindos da América para aEspanha. Estes piratas eram em partearmados pela coroa inglesa eentregavam a ela parte do saque aosnavios carregados de ouro vindos dasAméricas (de fato o contato entre estespiratas ingleses e navios vindos daAmérica eram tão intensos que houveentre eles uma quase troca cultural. Aosaírem das Américas, Brasilprincipalmente, estes navios mercantescarregavam aves nativas, como araras e

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papagaios, que ficavam empoleiradosnos ombros dos capitães destes navios.Os piratas ingleses gostaram da idéia eadotaram papagaios como seus animaisde estimação carregando-os nos ombros,vindo daí a idéia do pirata com umpapagaio no ombro, comum na culturainglesa). Enfurecido com a atitude deElizabeth I que continuava apoiando ospiratas ingleses em seus crescentessaques a navios espanhóis carregadoscom ouro americano, bem como comoutros produtos, Felipe II criou umagigantesca armada naval para invadir edestruir a Inglaterra. A “InvencívelArmada” com ficou conhecida a marinhade guerra espanhola, saiu de Lisboa em

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1588 para atacar os ingleses. A armadanaval, a maior de toda a Europa, eracomposta de 130 navios de guerrafortemente armados com canhões, 8.000marinheiros de Portugal e Espanha e18.000 soldados fortemente armadosque deveriam desembarcar na Inglaterrae conquistá-la, depondo Elizabeth I.Mais 30.000 homens aguardavam pertodo Canal da Mancha no território dosPaíses Baixos com certo apoio francês.A armada saiu em maio, mas encontrouproblemas. A falta de ventos, por umlado, bem como tempestades, separarama armada fazendo com que muitos naviosficassem para trás. Embora separadosdo resto da “Invencível Armada” osnavios da frente foram ao Canal da

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Mancha para conquistá-la. A marinhainglesa, comandada por Francis Drake,um pirata, estava atrás deles a poucadistância, seguindo-os. Outro grupo denavios ingleses partiu da costa leste daInglaterra para interceptar os naviosespanhóis no Canal da Mancha. A“Invencível Armada” esta cercada emdois lados, e os combates começaram noCanal da Mancha. A armada espanholaatirou seus canhões em cima da armadaque vinha do leste inglês destruindoalguns navios, mas foram surpreendidospor trás, pelos navios comandados porFrancis Drake, fortemente armados.Muitos dos navios da “InvencívelArmada” que tinham ficado para trás e

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poderiam pegar Francis Drake em duasfrentes param em portos franceses parase abastecer de alimentos.Aproveitando-se do fato, Francis Drakeprepara às pressas um grupo de seisnavios carregados de pólvora, e oslança sobre os navios da Armadaespanhola estacionados, todos em umúnico porto francês. Estes navioschamados de “navios-fogo” ou “navios-bomba” são pegos por bons ventos, cadaum deles sendo pilotados por um úniconavegador e, ao se aproximarem doporto onde os navios espanhóis estavamancorados estes navegadores pulam parafora, mas não sem antes, claro, acenderpavios e os “navios-fogo” vão direto aoporto explodindo-se todos em quase

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sincronia, destruindo ou danificandodezenas de navios da “InvencívelArmada” e matando algumas dezenas demarinheiros e soldados. Os outrosnavios da “Invencível Armada”, noentanto, que combatiam a marinhainglesa no Canal da Mancha destruíramos navios ingleses vindos do leste, masnão pararam, seguindo em frente, poisestavam sendo seguidos pela esquadrade Drake. A invasão falhara. Os 30.000soldados espanhóis estacionados nosPaíses Baixos não puderam embarcar.Os navios da “Invencível Armada”deram a volta em toda a Inglaterra,passando pela Escócia, indo até aIrlanda para atacarem a Inglaterra pela

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Irlanda. Eles eram seguidos pelosnavios de Francis Drake, que ganharammais reforço em embarcações de guerraà medida que seguiam os naviosespanhóis pela costa inglesa. Ao todo seuniram a Drake 163 navios de guerra,que alcançaram a enfrentaram os naviosde guerra espanhóis na costa da Irlandaacabando com grande parte de suaesquadra. Cerca de metade dos naviosespanhóis foram destruídos e o restanteretornou à costa da Espanha e Portugal.A Inglaterra perdeu apenas algumasdezenas de navios. O conflito acabavacom vitória inglesa. A Espanha perdeuquase 3.000 homens entre mortos,feridos e prisioneiros. A Inglaterraperdeu 500. Felipe II, ao se deparar com

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seus navios e soldados semi-destruídos,chorou amargamente. Com esta vitória aInglaterra se tornou senhora dos mares eteve a possessão definitiva de umterritório na América do Norte, chamadade 13 colônias. As igrejas reformadas,sobretudo a calvinista, ganharam comeste conflito. Parte de suas crenças,como a doutrina da predestinaçãoabsoluta, foi adotada de vez pela IgrejaAnglicana e o catolicismo foi tido comoa religião do invasor espanhol, emborafosse também aceita. Fomentando osnegócios no país a rainha Elisabeth I deuimpulso ao empreendedorismo inglês.Os empresários e banqueiros, a maioriacalvinistas, ainda que não tivessem

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títulos de nobreza, passaram a seraceitos no parlamento e as suas idéiaspassaram a controlar, em parte, ogoverno de Elisabeth I que, aos poucos,foi transformando a Inglaterra em umadas maiores potências econômicas nãosó da Europa, mas também do planeta.

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A ReformaCatólica

Na metade do século 16 as igrejassaídas da reforma já tinham conquistadogrande número de adeptos. O norte daAlemanha, grande parte do sudeste daFrança, a Dinamarca e grande parte daSuécia, Noruega, Finlândia, Holanda,Suíça, Islândia, Escócia e Inglaterra jáhaviam se convertido a uma ou outra das

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diferentes seitas ou ramos doprotestantismo, nome que estas igrejasganharam, também conhecidos porevangélicos. As igrejas tambémavançavam na Boêmia (atual RepúblicaTcheca) e na Hungria. Em face destesfatos o Papa Paulo III reuniu todos oscardeais e convocou o Concílio deTrento no ano 1545 para discutir asituação. As discussões foramacaloradas em face de váriosproblemas. Alguns cardeais defendiam atese da tolerância e que a Igreja deveriaaté adotar algumas medidas da Reforma,como a justificação pela fé, mas estesconsideravam as igrejas evangélicaserradas em vários fundamentos como anegação ao culto aos santos e a não

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obediência ao papado. No entanto amaioria esmagadora dos cardeais eramais radical, pois queria considerartodas as igrejas saídas da reforma comoheréticas. Prevaleceu a vontade damaioria, mas eles concordaram com oscardeais minoritários de que a Igrejaprecisava de uma reforma, surgindoentão a Reforma Católica, tambémconhecida por Contra Reforma. Depoisde meses reunidos o Concílio reafirmoucomo verdades as crenças católicasatacadas pelos evangélicos. O Concílioconcordou em vários pontos: o papadoera a representação visível de Cristo naTerra e a tradição aceita também, juntocom a Bíblia, para interpretação da

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verdade divina (Lutero havia dito que sóa Bíblia deveria ser aceita como a formavisível de Cristo na Terra); em oposiçãoaos luteranos a Igreja rejeitou ajustificação pela fé somente afirmandoque também as obras são necessárias àsalvação, baseados no Evangelho deTiago; o Concílio rejeitou a crença napredestinação absoluta e reafirmou olivre-arbítrio; os Sete Sacramentosforam confirmados como válidos, masfoi concordado que eles deveriam sermais bem explicados de o porquê seremválidos, os seminários católicosdeveriam ser melhorados para quepadres entendessem melhor, não só dosSete Sacramentos, mas que tambémpudessem defender sua validade,

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prevalecendo, portanto a vontade doscardeais minoritários de que as escolaseclesiásticas e as Universidades deTeologia deveriam abordar melhor estasquestões; foi confirmada atransubstanciação, a crença noPurgatório e o culto aos santos. Parareforçar todas as crenças católicas oConcílio de Trento aprovou a inclusãode 7 livros na Bíblia, consideradosapócrifos, mas que passaram a seraceitos, são eles: os livros de Tobias,Judite, Baruque, Eclesiástico, Sabedoriade Salomão e I e II Macabeus. Alémdisso houve adições de apócrifos aolivro de Daniel como a história deSuzana, Bel e o Dragão que contém

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histórias de como a idolatria pode sernecessária e o cântico dos três homensque, segundo o livro de Daniel, Deussalvou da fornalha. Também houveadições ao livro de Ester que ganhoumais seis capítulos e dez versículos.Estes livros apresentam algumas crençascomo mediação dos santos (Tobias eMacabeus), justificação pelas obras(Eclesiástico), intercessão pelosfalecidos (Baruque) ou missa pelosfalecidos (Macabeus). Estes livros nãosão aceitos como canônicos pelosjudeus nem por nenhuma outra igrejacristã. Em relação aos padres, conformedito, foi determinado que sua instruçãodeveria ser mais elaborada melhorandoas escolas para sua formação, bem como

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impondo o fim dos abusos de parte doclero com punições mais severas contraeles, sendo o celibato clericalconfirmado e também exigido dospadres não só grande conhecimentocultural como também moral. Acobrança de Indulgências, principalcritica de Lutero à Igreja e o estopim daReforma Protestante foi extinto, nãomais sendo cobrado. Bispos e padresforam obrigados a residir nas própriasigrejas ou perto de suas sedes, não maisem casas próprias muitas vezes longe desuas paróquias. Os padres deveriameducar os fiéis explicando melhor ascrenças católicas. Foi autorizada acriação da ordem religiosa-militar dos

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jesuítas. A Companhia de Jesus, cujosmembros eram conhecidos por jesuítas,foi criada pelo militar espanhol Ináciode Loyola em 1534. Com rígidadisciplina que lembrava o exército etotal obediência ao papado a Companhiade Jesus se rogou a si própria como umaordem missionária que pretendiarecatolicizar, através da catequese, asregiões européias perdidas para asigrejas. Em 1546, com o Concílio deTrento em andamento, se apresentaramao papa afirmando que iriam pregar oevangelho católico onde fosse que opapa ordenasse sem questionamentos.Empolgado com tanta fé o papa fez comque o Concilio aprovasse a nova ordeme determinou que eles pregassem a

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palavra do catolicismo na Ásia, África eprincipalmente no recém descobertomundo americano. Os jesuítas ficaramtambém com a missão de educação deleigos em diversas regiões da Europa etambém das Américas (em algumasregiões das Américas os jesuítas eramos únicos que se responsabilizavam pelaescolarização dos fiéis). Muitas escolasjesuítas foram criadas na Europa e atéreis foram educados nela. Nas Américasos jesuítas conseguiram convertermuitos indígenas ao catolicismo epassaram a defende-los contra aescravidão imposta a eles em algumasregiões das Américas. O Concílio deumais poderes ainda à Inquisição, ou

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tribunal do Santo Oficio, que foiautorizado a agir contra as heresias (asigrejas evangélicas eram consideradasheresias) com total autonomia, ou seja, aInquisição poderia julgar e condenarhereges à pena de morte na fogueiraindependente da permissão do Papa oude cardeais. Foi criado também o Índexdos Livros Proibidos, ou seja, livrosque a comunidade católica estavaproibida de ler, mas as novastecnologias, como a prensa, forampermitidas e usadas para difundir bulasou determinações não só dos papascomo também das ordens religiosas. OÍndex dos Livros Proibidos seriamfeitos em Roma e caberia à Inquisiçãocondenar todos aqueles que as

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possuíssem. Assim o Concílio reformoua Igreja Católica, reafirmando suascrenças contra as acusações dosevangélicos protestantes e melhorandoseus quadros. As decisões do Concílioafastaram ainda mais qualquer chance dereconciliação entre católicos e igrejasprotestantes.

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O Afastamentoentre os Católicose os Evangélicos

O Concílio de Trento reafirmou osdogmas católicos negados pelas igrejas.Taxou o movimento evangélico de

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herege e autorizou a Inquisição apersegui-los. A radicalização tambémhavia ocorrido do lado das igrejas.Lutero afirmou que o papa era oanticristo e os católicos tambémpassaram a ser perseguidos em regiõesmajoritariamente evangélicas, comalgumas exceções. Guerras abertasocorriam, na metade do século 16 noSacro Império Romano-Germânico econflitos esporádicos ocorriam naInglaterra. A Inquisição passou a tratarcom vigor e força, para não dizerviolência, todas as heresias, incluindoas igrejas, principalmente em Portugal eEspanha, países onde as idéias deLutero ou Calvino nunca deram fruto,graças à atuação da Inquisição. No seu

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turno perseguições entre evangélicostambém ocorriam. Na Alemanha após aassinatura da Paz de Augsburgo em 1555só os luteranos, bem como os católicos,foram reconhecidos. Calvinistas eanabatistas passaram a sofrerdiscriminação tanto de luteranos quandode católicos. No entanto o calvinismoavançava na Boêmia, região tcheca comgrande população alemã. Na França asperseguições às igrejas evangélicas,principalmente ao calvinismo,recrudesceram, mas, em 1555 a coroafrancesa, unida a alguns empresárioscalvinistas, resolveu invadir o Brasil,basicamente o Rio de Janeiro, para alifundar uma colônia, chamada de França

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Antártica. O ministro católico, almiranteGaspard de Coligny (na época católico,mas que se tornará evangélico huguenotedepois) havia financiado, com recursosdo estado francês, a expedição. No Riode Janeiro farão aliança com osTupinambás, Goitacases, Aimorés eTemiminós, tribos indígenas habitantesda região que estavam reunidos naConfederação dos Tamoios,confederação essa que englobava estastribos indígenas, que, na época, haviamse unido contra o domínio português.Junto com os confederados indígenas osfranceses guerrearam contra osportugueses, tomando toda a região doRio de Janeiro. Em 1560 uma grandeexpedição militar, chefiada pelos

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portugueses, com apoio de tribosindígenas inimigas dos confederadosTamoios, como os Guaianases,expulsaram os franceses de váriasregiões do Rio de Janeiro. No entanto osGuaianases passaram para o lado dosTamoios. Desde 1561, na França, haviauma espécie de trégua entre católicos ecalvinistas franceses após duraperseguição contra os calvinistas,chamados também huguenotes. Em 1562o Édito de Saint Germain, escrito pelarainha regente Catarina de Médicis,dava não só liberdade de culto aoshuguenotes como também lhes permitiaque se armassem para fins militares.Membros católicos da nobreza,

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inclusive o rei da Espanha Felipe II,foram contrários às medidas do Édito deSaint Germain e pressionavam Catarinade Médicis a ser mais dura com oshuguenotes. Um episódio marcou oinicio de mais conflitos no sudeste daFrança. O duque Francisco de Guise,católico, armou alguns homens e atacouum celeiro, no norte da França, ondeestava sendo feito um culto huguenoteem março de 1562, apenas algumassemanas depois de assinado o Édito deSaint German. Cerca de 60 huguenotesmorreram no ataque. A chacina éconhecida como Massacre de Vassy eteve grande apoio de muitos católicos deParis aumentando a popularidade deFrancisco de Guise. A repercussão do

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crime gerou tumultos no sudeste daFrança que foram contidos pelo exércitofrancês. Catarina de Médicis reafirmouo Édito de Saint Germain, mas não puniuFrancisco de Guise que acabou sendoassassinado a tiros em um atentadoperpetrado por um huguenote de nomeJean de Poltrot de Méré (que foitorturado e assassinado por este ato) em1563. Pequenos conflitos entre católicose huguenotes se tornaram comuns. Neleshavia um padrão: huguenotes atacavamigrejas e destruíam imagens de santosenquanto os católicos atacavam tambémigrejas huguenotes. Em ambos osataques muitas pessoas costumavam serassassinadas. Apesar destes conflitos

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dentro da França huguenotes e católicosfranceses se uniram no Rio de Janeiro e,em 1563, avançaram contra osportugueses conseguindo conquistarnovas regiões. Com mais tropas Estáciode Sá, militar português, conseguiuexpulsar os franceses destas regiõesconquistadas e, graças aos Jesuítas, osGuaianases passaram, de novo, para olado dos portugueses, ficando somenteos Tupinambás e seus aliados aindalutando junto com a França contraPortugal. No entanto, doenças trazidaspelos europeus e aos quais os índios nãotinham imunidade biológica, dizimaramgrande parte dos índios membros dosTamoios. Após várias batalhas violentasos franceses, tanto huguenotes quanto

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católicos, foram expulsos do Rio deJaneiro em 1567 e os Tupinambás forampraticamente exterminados pelosportugueses. Estácio de Sá, atingido poruma flechada de um tupinambá, morreriana guerra. Se no Rio de Janeirohuguenotes e católicos lutaram lado alado na França a situação era diferente.Tumultos entre católicos e huguenotes,em que morreram centenas de pessoasno sudeste e oeste da França em 1567,acirraram os ódios religiosos. A rainhainterviu militarmente na região sudeste eos massacres acabaram, com aassinatura do tratado de Longjumeau,mas novos conflitos entre católicos ehuguenotes aconteceram em 1570 onde

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também centenas de pessoas, de ambasas religiões, foram assassinadas. Maisuma vez tropas francesas intervêm eocupam a região. Em um destes conflitosse deu o massacre de jesuítasportugueses nas Ilhas Canárias porpiratas huguenotes franceses em 1570. Ojesuíta Inácio de Azevedo junto comoutros 39 membros da ordem estavamindo ao Brasil quando foram abordadospelos piratas que, ao perceberem que osnavegadores eram jesuítas osassassinaram a todos, incluindo a Ináciode Azevedo. Só um jesuíta foi poupadopara servir como cozinheiro no naviodos piratas huguenotes, mas acaboutambém sendo assassinado. Inácio deAzevedo foi beatificado séculos mais

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tarde. Outro tratado de paz foi assinadoentre católicos e huguenotes, o tratadode Saint Germain, mas apesar disso astensões não acabavam. Em 1571 houveoutro massacre em alto-mar parecidocom o ocorrido contra os jesuítas. Umnavio saído de Portugal com um padrechamado Pero Dias e mais 14missionários jesuítas foram abordados,de novo, perto das Ilhas Canárias,depois de se desviarem da rota porcausa de uma tempestade, por piratashuguenotes franceses, e também por umnavio inglês, que pretendiam assaltar onavio, mas os piratas, percebendo opadre e os missionários assassinaram 5,incluindo o padre, e levaram outros 7

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em seus navios que, um dia depois,também foram assassinados. Dois dosjesuítas foram atirados ao mar, masacabaram sobrevivendo, resgatados poruma nau francesa. Outro jesuíta, doente,havia ficado para trás e não foi vítimada chacina. Em 1572, em um gesto depaz, a rainha regente Catarina deMédicis (na verdade seu filho Carlos IXhavia se tornado rei da França. Catarinagovernara antes como rainha regenteporque ele era menor de idade, masainda governava o país devido a já terconsolidado seu poder e a ser muitorespeitada pelo exército, bem comotinha a permissão do filho paragovernar) casa sua irmã, Marguerite deValois, com Henrique de Navarra, um

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huguenote que era senhor feudal emNavarra, uma província espanhola, pertoda fronteira com a França. Ainda nesseano, 1572, no começo de agosto, umcatólico atirador de elite de nomeMaurevert comete um atentando contra oalmirante Gaspard de Coligny, que haviasido eleito líder dos huguenotes e queestava em Paris. Ele saiu apenas ferido,mas o atentado revoltou a comunidadehuguenote francesa. Membros católicosdo exército, bem como da nobreza, namadrugada de 24 de agosto, dia de SãoBartolomeu, já organizados e, comdezenas de homens armados, invademcasas e assassinam dezenas dehuguenotes que estavam em Paris, entre

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eles o almirante Gaspard de Coligny. Jácom ordens em mãos, membros doexército, estacionados no sudeste daFrança, iniciam uma grande matança dehuguenotes. Eles invadem casas ebairros assassinando desenfreadamenteos membros da igreja. Milhares desoldados bem armados estacionados emcidades como Toulouse, Lyon e Orleansrecebem as ordens e iniciam asmatanças. Os soldados privaram oshuguenotes de suas armas atacando seusquartéis de surpresa e iniciando achacina. A matança durou dias. Onúmero de huguenotes assassinados éincerto, mas seu número é calculadoentre 20.000 a 100.000. A matança ficouconhecida como a Noite de São

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Bartolomeu. O massacre aumentou ofosso entre as duas fés. Catarina deMédicis, ao saber do genocídio, mandacartas ordenando que os soldadosparassem com as matanças, mas ela nãopune ninguém. Estes, para nãoocorrerem novas matanças, abandonam aregião sudeste e os huguenotes resolvemconstituir um exército próprio. O PapaGregório XIII (o criador do calendáriogregoriano), ao saber da matança,comemorou com uma grande missa emRoma e chegou a mandar cunhar moedasglorificando o feito. A atitude do Papaenfureceu muitos huguenotes. Milharesdeles resolveram sair da França, indoprincipalmente para a Suíça. Outros

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huguenotes mais radicais se organizaramem grupos extremistas e começaram aatacar católicos sendo respondidos commais violência. Em 1576 é criada a LigaCatólica, uma grande organizaçãoparamilitar criada por Henrique deGuise, filho de Francisco de Guise, eque contou com a participação dosjesuítas, de Catarina de Médicis e do reiFelipe II da Espanha. A Liga Católicatem como objetivo exterminar oshuguenotes do país. A família Guiseaumentava seu poder na França. Emborafazendo parte da Liga Católica juntocom os Guise, Catarina de Médicis erainimiga da família. Seu filho HenriqueIII reinou no lugar de Carlos IX, e ospoderes de Catarina de Médicis foram

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enfraquecidos. Um conflito militar pelaposse do trono ocorreu em 1587,conhecida como Guerra dos TrêsHenriques. Henrique de Guise, fundadorda Liga Católica organiza tropas paraassumir o trono francês, mas éassassinado a mando de Henrique III.Henrique de Navarra, huguenote, contacom exércitos de sua fé, e inicia umconflito no sudeste da França. Tropassão enviadas à região e centenas desoldados, de ambos os lados, morrem. Arainha Catarina de Médicis faleceu nofim de 1588 e Henrique III foiassassinado em 1589 por um mongedominicano (que foi imediatamenteassassinado pelos guardas) por ele ter

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mandado assassinar Henrique de Guise.Sem filhos, Henrique III não deixasucessor e Henrique de Navarra assumeo trono com o nome de Henrique IV. ALiga Católica não aceita a posse deHenrique IV e elege o Cardeal deBourbon, tio de Henrique III, como onovo rei da França. No entanto HenriqueIV seqüestra o cardeal e o mantémprisioneiro por uns tempos. Um conflitoentre a Liga Católica e os exércitos deHenrique IV, de maioria huguenote, masque contava com soldados católicos, sedá em várias regiões francesas.Ocupado com a guerra contra osingleses o rei Felipe II da Espanha eintegrante da Liga Católica, só se limitaa enviar armas e indica sua filha, a

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Infanta Isabel Clara Eugenia, como novarainha do país, mas muitos membros daLiga recusam a proposta de Felipe II nãoquerendo uma espanhola como suarainha. As tropas de Henrique IVderrotam a Liga Católica em Paris em1589. O conflito deixou 45.000 mortos,mas entendendo que o povo francês nãoo aceitaria como rei, devido a suareligião, ele então se converte aocatolicismo, o que agrada a LigaCatólica e muitos dos seus súditosfranceses. Assim pacifica o país e tomaposse do trono. Henrique IV publica oÉdito de Nantes dando total liberdadede culto aos huguenotes em quase todo opaís. Persegui-los seria crime. A medida

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desagrada muitos católicos, incluindomembros da Liga Católica. Henrique IVconsegue cooptar a Liga lhes oferecendomuito dinheiro. Casado, ele terá váriasamantes sendo considerado um dosnobres mais promíscuos do país. Em1610 Henrique IV foi assassinado porum católico, François Ravaillac, agolpes de punhal, quando a carruagemdo rei entrou em um engarrafamento(preso em flagrante, Ravaillac declarouter tido visões e queria comunicá-las aorei, mas, paranóico, achou que elequeria fazer guerra ao papa, por issoresolveu assassiná-lo. Ravaillac foitorturado e executado. Seus pais foramexilados e sua família proibida de usar osobrenome Ravaillac). Apesar da morte

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de Henrique IV o Édito de Nantespermaneceu válido na França por muitasdécadas o que garantiu certa paz ao país.Graças a essa paz interna os francesespensaram, de novo, em atacar o Brasil.Em 1612 a marinha francesa atacou oMaranhão dominando o seu litoral, etambém parte do Ceará e do Pará,estabelecendo a França Equinocial,fundando o forte de São Luís que seria omarco da fundação da cidade de SãoLuís no Maranhão. Nesteempreendimento católicos franceses ealguns huguenotes se uniram. A Espanha,no entanto, não aceitou a perda da região(na época Portugal bem como o Brasilestavam dominados pela Espanha) e

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atacou, por terra, com soldadosportugueses, a França Equinocial,expulsando os invasores franceses em1615 que vão mais ao norte econquistam a Guiana Francesa. Apesarda derrota os franceses conseguiramuma grande indenização da Espanha. Asrelações entre franceses e espanhóis, noentanto, ficaram um pouco abaladas.

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A Guerra dosTrinta Anos

O mapa a seguir mostra as fronteiras doSacro Império Romano-Germânico(linha em escuro) no ano 1600. Paramelhor entendimento a extensão foi feitasob um mapa da Europa moderna.

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Mapa de domínio público. Está autorizada a

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cópia, distribuição e a modificação destedocumento segundo os termos da licença dedocumentação livre GNU, versão 1.2 ouqualquer outra que posteriormente sejapublicada pela Fundação de Software Livre(Free Software Foundation); sem secçõesinvariáveis (Unvariant Sections), textos deabertura (Front-Cover Texts), nem textos deconclusão (Back-Cover Texts). O começo do século 17, os anos 1600,nasceu sob relativa paz em quase todo ocontinente europeu. No Sacro ImpérioRomano-Germânico, que compreendiaos feudos alemães, os ducadosaustríacos e o norte da Itália, bem como

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a Suíça e os Países Baixos, desde 1555,a Paz de Augsburgo mantinha católicos eluteranos em trégua, embora outrasigrejas, como calvinistas e anabatistas,sofressem discriminação. Na Inglaterrao reinado de Elisabeth I garantia aliberdade de culto e a crença calvinistaera adotada como política não só deEstado como econômica. Os negócios eempreendimentos prosperavam elevavam a Inglaterra rapidamente para otopo da Europa como uma de suasmaiores economias. Na França o Éditode Nantes garantia liberdade de cultoaos huguenotes e as tensões praticamenteacabaram. O avanço das igrejasevangélicas era rápido, principalmentedos calvinistas, na Holanda e na Boêmia

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que era parte do país dos tchecos. NaEspanha e em suas colônias a Inquisiçãoe a ação dos jesuítas impediram oavanço evangélico. Na Itália, que naépoca não era um país unificado, masum conjunto de feudos e Cidades Estadoseparadas entre si, a Igreja Católica, nafigura pessoal do papa, impedia oavanço das igrejas. De fato, a Igreja,desde o Concilio de Trento, tratava atodos os que se opunham a suas crençascomo heréticos, incluindo aí cientistas.A Igreja Católica, que havia financiadoo Renascimento, após a Reforma deLutero ficará mais radical. Seusmembros, preocupados comdissidências e heresias, não mais

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aceitariam questionamentos. AInquisição, nas regiões italianas, estavaforte. Um dos que experimentaram estanova Igreja Católica, mais desconfiada,foi Giordanno Bruno, teólogo e filósofoitaliano, queimado pela Inquisiçãocatólica em 1600 por defender a teoriaheliocêntrica de Copérnico. Astrônomoe matemático polonês, Copérnico haviadescoberto, em 1543, que a Terra naverdade, e também os outros planetas doSistema Solar, giravam em torno do Sol.Esta tese se chocava de frente com ateoria do geocentrismo de Ptolomeu,filósofo grego do século 1 a.C., quedizia que o Sol e todos os planetasgiravam em torno da Terra. Esta tese foiadotada pela Igreja Católica, séculos

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depois, como verdade incontestável. Elase coadunava bem com a visão da Igrejade ser ela o centro do mundo cristão etambém do Universo. Mas a descobertade Copérnico dizia o oposto: era o Sol ocentro do Universo (sabe-se atualmenteque o Sol é na verdade só o centro doSistema Solar, o Universo possuiinfindáveis sóis e estrelas). GiordannoBruno, além desta idéia, tambémdefendeu outra idéia, e foi por causadela que foi condenado pela Inquisição,de que havia no universo outros mundose também outros sóis, sendo o nosso Solapenas mais um dentre muitos. Eledefendeu também a infinitude doUniverso. Estas teorias foram

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comprovadas, séculos mais tarde, pelaciência. Bruno também defendeu apossibilidade de existência de outrosseres vivos em outros planetas. Asidéias de Bruno foram expostas no livroque ele escreveu: “Acerca do infinito,do universo e dos mundos”. Suas idéias,que batiam de frente com as crenças daIgreja, logo foram taxadas de heréticas.Bruno foi preso pela Inquisição em 1600e queimado na fogueira no Campo deFiori, uma praça no centro de Roma. AIgreja não aceitaria mais as heresias,elas que, segundo os seus membros,fizeram surgir as seitas evangélicas. NaInglaterra as disputas entre católicos eevangélicos permaneciam independentesda do resto da Europa. Jaime I sucedeu a

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rainha Elisabeth I em 1603 ao assumir otrono. Jaime I já era rei da Escócia efora aclamado como rei da Inglaterra,pois seria mais preparado. Em 1605enfrentou a Conspiração da Pólvora,quando um grupo de católicos queriacolocar no parlamento cerca de 36barris de pólvora para matar Jaime I,líder da Igreja Anglicana, toda a famíliareal e deputados calvinistas, bem comoalguns empresários e banqueiros queiriam se reunir no parlamento. Asbombas foram feitas pelo especialistaem explosivos, o católico Guy Fawkes.Diversos deputados católicos, quetambém iriam ao parlamento, foramavisados por carta para não irem. A

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intenção do atentando era, com a morteda família real, fazer com que católicossubissem ao trono e tomassem o poderpolítico. No entanto uma das cartas caiunas mãos de homens leais ao rei. GuyFawkes foi pego em flagrante armandoas bombas e preso, logo depois sendotorturado e assassinado. Outrosparticipantes do atentando tambémforam presos e assassinados comotraidores. No governo de Jaime I outrosescândalos explodiram, pois eledistribuía terras, honrarias, pensões,títulos de nobreza e jóias a muitoshomens jovens, o que quase esgotou otesouro real, havendo a suspeita de queo rei fosse bissexual. Também acaboucom alguns tratados de livre comércio

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entre Escócia e Inglaterra o que fez comque muitos empresários e calvinistas lhefizessem oposição.Em 1610, conforme dito, Henrique IVfoi assassinado por um radical católico.Assumiu em seu lugar seu filho Luis XIIIque iniciou a dinastia da famíliaBourbon, a família de seu pai. Na épocasurgia, na Inglaterra, entre calvinistas, aidéia do direito divino dos reis.Segundo esta idéia, que daria origem aoAbsolutismo Monárquico, forma degoverno que dominaria a Europa porséculos, o rei era não só representantede Deus na Terra como também nãodeveria ter sua autoridade, já que eradivina, questionada por ninguém.

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Portanto o sistema jurídico, oparlamento, a Igreja, o papado ouqualquer outra autoridade era inferior àautoridade dos reis. Esta idéia ia contraa ideologia política defendida pelaIgreja Católica desde o Papa InocêncioIII no século 12. Ao assumir o papado,em 1198, ele lutou contra os monarcaseuropeus, principalmente da França eInglaterra, para impor a primazia daIgreja. A luta se deu no campo daideologia. Inocêncio III sustentava queos reis governavam os corpos edetinham o poder temporal, já os papasgovernavam os espíritos, e detinham opoder espiritual. Portanto o poder dosreis, embora concedido também porDeus, era inferior ao dos papas.

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Inocêncio III, para ilustrar sua idéia, deucomo exemplo o Sol e a Lua. O Solgoverna o dia, a Lua governa a noite. Opapado era como o Sol e os reis como aLua, sendo o Sol bem superior emgoverno à Lua. O Sol representaria ogoverno espiritual e a Lua o temporal.Esta idéia cabia bem no conceitomedieval de governo e foi aceito pelaideologia vigente na época, sendo opoder da Igreja superior, portanto osreis deveriam estar submetidos àautoridade dos papas. Pensadorescalvinistas, como Jean Bodin, em 1595,defendiam a tese de que os reis, sendorepresentantes de Deus na Terradeveriam cuidar também dos assuntos

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espirituais, não só temporais, já quepara os calvinistas o papa não erarepresentante de Deus na Terra, só osreis. Esta idéia foi adotada na Inglaterrapelo rei Jaime I, líder da IgrejaAnglicana, no começo do século 17.Luís XIII, monarca católico, adotou emparte estas idéias para justificar seupoder e ter maior autonomia frente aocatolicismo. Isso ocorreu porque omonarca, da família dos Bourbon, sepreocupava com o crescente poder deuma outra família de monarcaseuropeus: a dos habsburgos, muitoamigos do catolicismo. Carlos V, umhabsburgo, rei da Espanha e do SacroImpério Romano-Germânico, ao falecer,foi substituído na Espanha por Felipe II

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e no Sacro Império Romano-Germânicofoi substituído por seu irmão Fernando I.Os filhos de Carlos V, bem como outrosmembros da família ou aliados dela,receberam vários feudos na Áustria e nonorte da Itália. Portanto a França, quetinha problemas de fronteira com oSacro Império Romano-Germânico,entrando inclusive em uma guerra contraesta, nos tempos de Carlos V, estava,por assim dizer, cercada pela famíliados habsburgos, que dominavam aEspanha, a oeste da França, e tambémdominavam a leste no Sacro Império etambém a sudoeste com os feudos dadosaos filhos de Carlos V. A Suíça, neutra,funcionava como um Estado tampão

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entre a França e a Áustria, mas possuíauma grande colônia de huguenotesfranceses pouco confiáveis, pois eles seopunham ao Estado católico francês. Onorte da Itália era praticamente parte daÁustria e sofria grande influência dafamília habsburgo. O governo francêspassou a pressentir perigo no crescentepoder desta família. Felipe II faleceu naEspanha em 1598 e Luis XIII, saudou onovo rei, Felipe III, filho de Felipe II etambém habsburgo e fizeram aliança.Luis XIII se casou com a filha de FelipeIII em 1615, a infanta Ana D’Áustria,para garantir uma aliança entre os doisreinos e conter os espanhóis a oeste,mas ainda assim o poder dos habsburgospreocupava parte do exército e da

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nobreza francesa. No Sacro ImpérioRomano-Germânico, desde 1555, com aassinatura da paz de Augsburgo,conflitos militares mais graves entreluteranos e católicos não maisaconteciam. Entretanto a IgrejaCalvinista, que não foi contemplada comeste tratado e sofria discriminação tantode luteranos quanto de católicos,avançava em várias regiões do impériorevitalizando antigas tensões. NaBoêmia, região tcheca com grandeminoria alemã o calvinismo, já emmeados de 1605 se constituía comoigreja majoritária na região, mas osnobres que governavam a Boêmia eramcatólicos e discriminavam a Igreja

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Calvinista, impedindo-a, por exemplo,de construir templos: os calvinistas sópodiam construir igrejas medianteaprovação de nobres católicos. A açãodos jesuítas visava fortalecer a posiçãodo catolicismo na região da Boêmia eesta ordem religiosa apoiava ativamenteos habsburgos, família que dominava apolítica do Sacro Império Romano-Germânico e também da Espanha. Parapiorar, potências estrangeiras como aSuécia e a Dinamarca declararam-seprotetoras do luteranismo e ameaçavamagir militarmente se a Igreja Luteranasofresse alguma perseguição. Asdesconfianças entre católicos eluteranos, embora vivessem em relativapaz, ainda persistiam. Fernando I

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faleceu e foi substituído porMaximiliano II, profundo conhecedordas idéias de Lutero, embora católico, ebastante tolerante com os evangélicoschegando a defender luteranos naÁustria que reclamavam dediscriminação. Ao falecer ele foisubstituído no trono, em 1576, por seufilho, Rodolfo II, da família habsburgo,que apoiava ativamente a ReformaCatólica e a ação dos jesuítas no SacroImpério. Na Hungria a Igreja Calvinistatambém tinha avançado muito, e seconstituía em grandes minorias emalgumas regiões do país. Os jesuítasresolveram concentrar forças neste paísconstruindo diversas escolas, igrejas e

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até uma universidade: a Pázmani Peter, aprimeira universidade húngara, masainda assim o calvinismo avançava.Rodolfo II, em 1604, atendendo ao apelodos jesuítas usou de sua influência paratentar fazer com que os nobres húngarosimpedissem o avanço do calvinismo. AHungria era um Estado independente,mas Rodolfo II era também seu rei, poisherdou este título de seu avô, FernandoI, irmão de Carlos V, que se tornou reido Sacro Império e que foi aclamado reida Hungria por muitos nobres do país, jáque o rei húngaro João SigismundoZápolya, convertido à Igreja Unitária,uma igreja evangélica surgida no fim doséculo 16 e que negava a doutrina datrindade, tinha renunciado ao trono e não

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tinha deixado filhos, indo morar em seufeudo. Rodolfo II, também rei daHungria, mantinha tropas do SacroImpério estacionadas no país e ameaçouusá-las para atacar feudos de nobres quese recusassem a proibir o calvinismo.Revoltados com a atitude de Rodolfo IIum grupo de nobres iniciou uma revoltaarmada contra seu governo em 1604. Astropas do Sacro Império foram atacadasem diversos pontos do país com dezenasde mortes. Não querendo uma guerra,apesar de ter feito ameaças de ataquescontra nobres desobedientes, Rodolfo IIdesiste da imposição, mas seu poderpassou a ser questionado por muitosnobres húngaros. Em 1608 eles aclamam

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Matias, irmão de Rodolfo II, rei daHungria e o país continua sob influênciado Sacro Império Romano-Germânico.Embora grande defensor do catolicismoRodolfo II acreditava também emastrologia e alquimia. A atitude deRodolfo II na Hungria acirra mais aindao medo e a desconfiança dos nobresluteranos alemães ao norte que resolvemcriar em 1608 a União Protestante,também conhecida por UniãoEvangélica, uma união militar queseguia os moldes da antiga Liga deSmalkade. Em 1609 nobres do sul daAlemanha resolvem também criar umaunião militar: a Liga Católica (apesar donome igual esta Liga não tinha nenhumarelação com a Liga Católica na França).

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Rodolfo II morre em 1612 e é sucedidopor seu irmão, o rei da Hungria, Matias,que apóia o catolicismo, mas se mostramais tolerante com os evangélicos doque Rodolfo II. Na região da Boêmia,Fernando II havia se tornado rei em1617. Educado em escolas jesuíticasFernando II se tornou ferrenho defensordo catolicismo na região, que tinhamaioria calvinista, e passou adiscriminar com mais força os membrosdesta igreja, proibindo completamenteseus cultos em lugares públicos e aconstrução de igrejas. Grupos decatólicos radicais haviam destruídoigrejas calvinistas em algumas regiõesda Boêmia. Os calvinistas pediram que

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Fernando II interviesse em seu favorimpedindo as agressões, mas não foramouvidos. A revolta calvinista ocorreuem maio de 1618 e é considerado oestopim, o começo, da Guerra dos TrintaAnos. Revoltados com a atitude do reialguns nobres calvinistas e tambémluteranos que começavam também aserem perseguidos e que eramsignatários da União Protestante foramconversar com o rei em seu palácio, masforam recebidos por alguns de seusemissários que disseram que o rei nãoos ouviria. Revoltados, estes nobrescalvinistas agarraram os emissáriosreais, algumas dezenas deles, e osjogaram do segundo andar do palácio.Alguns morreram, outros ficaram

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feridos. O fato é conhecido comoDefenestração de Praga (Praga era acapital da Boêmia). Enfurecido com aatitude destes nobres, Fernando IIcomeçou a armar seu exército paraatacá-los. Nobres luteranos e calvinistastambém se armaram. Recebendo apoioda Espanha, pois Fernando II era umhabsburgo, da Liga Católica e do papa,Fernando II armou seu exército e contoucom mais tropas que foram mandadaspara a Boêmia. Nobres calvinistas eluteranos iniciaram, em 1618, a revoltaarmada contra o rei e a guerra começou.A princípio os luteranos e calvinistasobtiveram algumas vitórias contra osexércitos de Fernando II. Animados

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elegeram Frederico V o novo rei daBoêmia, mas as tropas dos nobrescatólicos do sul da Alemanha chegaramà Boêmia e iniciaram o ataque aosrebeldes. A rebelião armada já tinha seespalhado por vastas regiões da Boêmiae as tropas católicas ocuparam toda aregião. Obtiveram vitórias importantesem algumas cidades da região e tropasrebeldes começavam a se render. AUnião Protestante, temendo a vitóriacatólica na Boêmia, enviou soldados àregião e o conflito tomou novasproporções. Com estes soldadosFrederico V, que já havia se tornadolíder da revolta, organizou suas tropas eatacou posições católicas em todo oreino. Em 1619 tropas da União

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Protestante, partindo do norte daAlemanha e entrando na Boêmiaatacaram a Áustria que fazia fronteiracom o reino da Boêmia e que ajudava osexércitos católicos. Vencendodestacamentos católicos na regiãochegaram perto de Viena, centro dopoder da família habsburgo. Enquantoisso, na Holanda, calvinistas iniciaramuma revolta contra a influência daEspanha na região. Emboraindependente tropas espanholas estavamestacionadas em algumas regiões dopaís recebendo apoio dos feudos do suldos países baixos, que compreendiam aatual Bélgica, de religião católica. OsFlamengos e Valões, povos habitantes

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do sul, que formariam séculos depois aBélgica, eram católicos enquanto osholandeses, em sua maioria, haviam seconvertido ao calvinismo. Esta divisãofez com que os Flamengos e Valõesentrassem para a área de influência daspotências católicas, principalmente aEspanha, que enviou soldados à regiãopor volta de 1565. Antes do episódio daguerra marítima entre Espanha eInglaterra, no episódio da “InvencívelArmada” estas tropas, outrora naBélgica, passaram a ocupar regiõesvazias da Holanda. Revoltas contra apresença de tropas espanholas naHolanda ocorriam desde 1579, maseram sempre reprimidas e seus líderes,muitas vezes, eram assassinados. Os

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países baixos viviam, desde 1560, emuma divisão religiosa. Mas a situaçãopara os espanhóis piorava, pois o país,falido, mantinha as suas tropas na regiãoem estado precário. Com o conflitoameaçando se espalhar nos paísesbaixos (Holanda e Bélgica) a Espanhadeixou de apoiar com armas os católicosda Boêmia. A situação ficou boa para osevangélicos, mas houve problemas emsuas fileiras. Muitos luteranos nãoqueriam mais aceitar a liderança deFrederico V, que era calvinista, e umdescontentamento entre os soldadosluteranos não pôde ser contido. Oconflito, agora transformado em guerraaberta, continuava na Boêmia e na

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Áustria. Senhores feudais católicosenfrentavam, na Áustria, tropasevangélicas e estas ganhavam terreno.Matias, rei do Sacro Império Romano-Germânico, não queria interferir naguerra e se manteve neutro, mas faleceuem 1619. Fernando II, rei da Boêmia eprimo de Matias foi eleito pelos nobrescatólicos do sul como novo rei do SacroImpério Romano-Germânico. A UniãoProtestante não o aceitou como rei eapoiou com mais força os calvinistas daBoêmia e os seus soldados queatacavam a Áustria. Fernando II, agorarei do Sacro Império, rompeu aneutralidade de Matias e mandousoldados à Boêmia e Áustria, sem contarcom o apoio da Espanha, ocupado na

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Holanda e com suas finanças em ruínas.Milhares de soldados católicosmarcharam para a Áustria e outrosmilhares para a Boêmia. Na Áustria astropas católicas venceram osevangélicos que acabaram debandandode volta à Boêmia. Esta derrota naÁustria, no entanto, fortaleceu o exércitoevangélico da Boêmia com o incrementode mais alguns milhares de soldados. Noentanto, nobres austríacos tambémmandaram soldados para lutar contra osevangélicos na Boêmia, que acaboucercada por dois lados: a oeste pelastropas da Alemanha do Sul e ao sul comas tropas austríacas. Os combatescontinuaram encarniçados na Boêmia em

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todo o ano de 1619 gerando centenas demilhares de refugiados, muitos delescalvinistas, que fugiram para a Holandae para o norte da Alemanha. Outrasdezenas de milhares de pessoasmorreram nos combates. Aos poucos astropas católicas iam ocupando terrenona Boêmia e com a fuga em massa deevangélicos para outras regiões,católicos alemães eram instados a irmorar nestas áreas abandonadas. Em1620 Fernando II enviou dezenas demilhares de soldados para a Boêmia.Com este incremento de tropas osevangélicos na região iam perdendomais terreno. Temendo uma possívelderrota para os católicos, calvinistas daBoêmia pediram ajuda ao príncipe da

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Transilvânia (a Transilvânia na épocaera um país independente. Atualmentefaz parte da Romênia) Gabriel Bethlen,também calvinista. O príncipe enviourapidamente emissários ao sultão turcoOsman II. A Turquia, na época,dominava grande parte dos Bálcãs e daGrécia e queria estender seus domíniospara a Moldávia que na época apoiava aPolônia. Os poloneses apoiavam oscatólicos do Sacro Império Romano-Germânico contra os calvinistas daBoêmia e tinham desavenças territoriaiscom a Transilvânia. O sultão ofereceu60.000 soldados aos calvinistasboêmios e, em troca a Transilvâniaapoiaria o sultão na sua conquista da

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Moldávia. Soldados turcos saíram deConstantinopla, atual Istambul, emdireção à Polônia, mas esta conseguiurechaçar a invasão do exército turco emoutubro de 1620. O conflito é conhecidocomo a Primeira Guerra Polaco-Otomana. A derrota fez com que o sultãodeixasse de enviar grande parte dossoldados prometidos aos calvinistas daBoêmia. A guerra entre os calvinistas eas tropas católicas de Fernando IIcontinuava, mas os calvinistas iamsendo derrotados. Os calvinistas entãoconcentraram suas forças em uma regiãoconhecida como Montanha Branca pertode Praga. Os calvinistas, que não maistinham os exércitos turcos passaram acontar coma a ajuda de soldados

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luteranos da Alemanha, membros daUnião Protestante, e calvinistas daHungria. O agrupamento protestante naMontanha Branca chegava a 20.000homens, mas os exércitos católicos deFernando II tinham 25.000 homens,muitos deles membros da Liga Católica,e passaram a contar com a ajuda militarda Polônia que enviou 2.000 soldados,cercando os protestantes em dois lados.Os primeiros combates se iniciaram emnovembro de 1620 com os protestanteslevando vantagem. Tilly, um doscomandantes católicos, teve a idéia dedividir o exército em dois para atacar astropas protestantes em dois lados. Astropas imperiais de Fernando II

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atacaram de um lado enquanto ossoldados da Liga Católica atacaram deoutro, tendo os poloneses atacando emuma terceira frente. Cercados, osprotestantes resistiram por poucos dias eestes recuaram até a cidade de Praga,mas não conseguiram chegar na cidade,sendo massacrados. Derrotados perto dePraga, capital da Boêmia, que haviasido ocupada por eles em 1619 com asaída de Fernando II, milhares deprotestantes fugiram. Comandados pelogeneral João T'Serklaes von Tilly ossoldados católicos ocuparam Praga.Nesta batalha cerca de 5.000protestantes e 2.000 católicos morreram.Nobres calvinistas perderam suas terrase a Boêmia se tornou, de vez, parte do

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Sacro Império Romano-Germânico. Asigrejas protestantes foram proibidascompletamente na região. Parecia seruma vitória final do catolicismo. O anode 1621 transcorreu em relativa calma,embora batalhas esporádicasocorressem entre as tropas católicas erebeldes protestantes. A derrota naBoêmia fez com que dezenas demilhares de soldados calvinistasfugissem da região e fossem se instalarna Holanda. Este país, emborapertencente ao Sacro Império Romano-Germânico era autônomo, praticamenteindependente. Na região, atualmenteconhecida como Bélgica, habitavam ospovos católicos chamados Flamengos e

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Valões que sofriam influência culturalda Espanha e dezenas de milhares desoldados espanhóis habitavam a região,uma herança do tempo em que Carlos Vera regente não só da Espanha comotambém do Sacro Império. Como os doisreinos eram governados pela mesmafamília as tropas espanholascontinuaram estacionadas na região. AHolanda, no entanto, reivindicava partesdo território ocupadas por estas tropas ereclamava que parte de seu país eradominado pela Espanha. Conflitos entreholandeses e tropas espanholas eramrelativamente comuns. Um dosterritórios que os holandesesreclamavam como pertencente a si era aregião de Fleurus, região ainda existente

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na Bélgica, habitado por uma grandepopulação de Valões. A chegada dedezenas de milhares de soldadoscalvinistas fugidos da Boêmia foi vistacomo uma oportunidade por muitosholandeses, pois estes soldados tinhamexperiência em combate e, na Holanda,estavam desempregados. Generaisholandeses passaram a recrutar essessoldados para seus exércitos e iniciaramos planos de invadir Fleurus para anexaro território à Holanda. Em agosto de1622 a invasão começou. Os holandesespossuíam 14.000 soldados que seaproximaram da região de Fleurus pelaprovíncia holandesa de Brabante doNorte. As tropas calvinistas entraram em

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confronto com tropas espanholasestacionadas na fronteira. Após umagrande tiroteiro e disparos de canhõesos poucos soldados espanhóis fugiram,fazendo com que os soldados calvinistasentrassem em Fleurus. No entanto osValões habitantes do lugar não deramapoio a estes soldados, pois eramcatólicos e preferiam a influência daEspanha. As tropas espanholas em umtotal de 8.000 soldados marcharamrapidamente para Fleurus parareconquistá-la e encontraram as tropascalvinistas. No começo os espanhóisabriram várias lacunas no exércitocalvinista que, mal posicionado, chegoua perder um batalhão inteiro. Acavalaria calvinista estava no flanco

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esquerdo e foi enviada para ajudar orestante das tropas, mas em sua primeiratentativa foi repelida pelo exércitoespanhol. Reagrupando-se rapidamentea cavalaria calvinista avançou, desta vezcom força total e conseguiu abrirlacunas no exército espanhol. No entantoo restante dos soldados calvinistasforam impotentes para ajudar acavalaria que passou a sofrer reveses.Mosqueteiros espanhóis abriram fogo deuma só vez na cavalaria que sofreugrande massacre. Muitos fugiram, masencontraram no caminho mais soldadosespanhóis, escondidos em árvores queterminaram de massacrar a cavalariacalvinista. Os calvinistas resolveram

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abandonar a região de Fleurus e fugiramde volta à Holanda, mas foram seguidospelos espanhóis que demoraram algunsdias para alcançá-los. Os combatesreiniciaram, mas os soldados calvinistastinham pouca força para resistir esofreram outro massacre. Finalmente oque restou dos invasores calvinistasvoltou para a Holanda. Dos 14.000soldados enviados a Fleurus cerca de5.000 morreram. Os espanhóis perderamapenas 300 soldados e a Holandadesistiu de atacar Fleurus quepermanece, ainda na atualidade, comouma província belga. O conflito éconhecido como Batalha de Fleurus.Enquanto calvinistas e católicos lutavamem Fleurus, na Boêmia, o conflito que

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parecia terminado recomeçou no seuinterior onde alguns milhares desoldados calvinistas se reuniram eatacaram, em 1622, os exércitoscatólicos estacionados em várias áreasda Boêmia, derrotando-os em Wiesloch.Os calvinistas começaram a ganharterreno expulsando as tropas católicasde diversas cidades e vilas. Em 1623,no entanto, a Espanha enviou mais armase Fernando II conseguiu, com seusexércitos, reconquistar várias cidades evilas outrora perdidas aos rebeldescalvinistas. Frederico V e milhares decalvinistas abandonaram a Boêmia e sedirigiram à Holanda e, em 1623, oscatólicos conquistaram toda a Boêmia,

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tornando a religião católica majoritária,já que dezenas de milhares decalvinistas e luteranos fugiram da regiãoe outros milhares morreram na tentativafrustrada de rebelião e reconquista daBoêmia. Parecia que a guerra ia acabaraí, mas a vitória de Fernando II, bemcomo sua aliança com a Espanha, geroudesconfianças ainda maiores na França.Embora aliada do país a Espanha nãoera tida como de extrema confiançapelos franceses, pois os governantes daEspanha e do Sacro Império Romano-Germânico eram da mesma família. Parapiorar, os habsburgos haviamconquistado a Boêmia e colocadofamiliares seus no comando da região.Os luteranos do norte da Alemanha

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também temiam o poder do sul católicoagora que estes eram donos da Boêmia.Em 1624 o rei da Dinamarca, CristianoIV, que também era rei da Noruega,recebeu pedidos de ajuda de nobresluteranos alemães que temiam serem ospróximos a serem conquistados. Osholandeses, em 1624, querendo se livrardo domínio que a Espanha detinha depequena parte de seu território tambémfizeram alianças com nobres luteranosda Alemanha do norte. No fim de 1624,Cristiano IV armou seus soldados e,contando com o apoio de parte dosnobres da Alemanha do norte e dosholandeses, invadiu, de surpresa, aAlemanha do norte com o intuito de

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anexar a região à Dinamarca,construindo um grande Estado luteranona região. O primeiro Estado a seranexado foi a Saxônia, no começo de1625 e os exércitos dinamarqueses,contando com o apoio da nobrezaluterana, iam anexando vastas regiões aonorte do país. Fernando II enviou ogeneral Tilly, que tinha seus soldadosestacionados na Boêmia, para combateros exércitos dinamarqueses ao norte.Albrecht von Wallenstein, duque deFriedland, nobre tcheco, tinha a seusserviços algumas dezenas de milharesde mercenários. Albrecht ofereceu seussoldados para Fernando II que aceitou.Este exército de mercenários atacou astropas dinamarquesas em Dessau,

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cidade da Alemanha do Norte, perto dafronteira com a Boêmia, tomada pelaDinamarca. No entanto o exércitodinamarquês já contava com o apoio demilhares de soldados evangélicos queestavam estacionados em Dessau, poisas tropas dinamarquesas haviamrecuado. Antevendo a chegada dosmercenários de Albrecht os evangélicosde Dessau dirigiram-se a uma ponte queficava perto da cidade, no rio Elba,encontrando as tropas de Albrecht emabril de 1626. As tropas evangélicaseram comandados por Ernest VonMansfeld, que havia lutado na Boêmia.O encontro dos dois exércitos se deu naponte. Usando um estratagema, Mansfeld

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fez com que seu exército de 12.000soldados parecesse menor do que era,colocando a artilharia e a infantaria àfrente, para fazer com que osmercenários de Albrecht acreditassemque a batalha seria facilmente ganha erelaxassem. Albrecht chegou à pontecom 20.000 soldados e o conflitocomeçou. Ao contrário do queacreditava Mansfeld os soldados deAlbrecht lutaram aguerridamente.Mansfeld tentou então fazer com que ossoldados que estavam atrás avançassemtodos, mas sua tática falhou, pois forambombardeados pelos canhões dosmercenários de Albrecht. A batalhadurou dias e os soldados protestantesrecuaram, sendo derrotados. O número

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de mortos entre eles foi de 4.000. Entreos soldados de Albrecht não há fontesque indiquem quantos morreram. Osmercenários, no entanto, pilharamcompletamente a cidade de Dessau. Ofato é conhecido como a Batalha daPonte Dessau. A derrota protestante emDessau fez com que os católicosavançassem mais ao norte encontrando-se com o grosso das tropasdinamarquesas estacionadas no entornoda cidade de Lutter Bem Barenberge.Soldados da Liga Católica, bem comodo exército imperial de Fernando IIencontraram-se frente a frente com oexército dinamarquês nesta cidade aindaem 1626. Tilly foi escalado para ser o

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líder dos soldados. O próprio reiCristiano IV, em pessoa, foi liderar astropas na cidade. Ele saiu da Dinamarcalogo depois da derrota dos evangélicosem Dessau para se encontrar com seuexército. Tilly fez com que o exércitodinamarquês, que contava mais oumenos com 20.000 soldados, saísse dacidade para enfrentar os exércitos daLiga Católica em campo aberto, quetambém contava com mais ou menos20.000 soldados. A infantaria católicaavançou rompendo o avançodinamarquês em três ocasiões, mas oavanço católico foi rechaçado pelacavalaria dinamarquesa. No entanto acavalaria foi perdendo força e aartilharia avançou sobre o exército

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católico que conseguiu uma grandevitória. Os soldados dinamarquesesentraram em pânico e recuaram, coisaparecida fazendo Cristiano IV quevoltou à Dinamarca. Cerca de 6.000protestantes dinamarqueses morreramenquanto outros 2.500 foram capturados.Entre os católicos não há fontes queindiquem as baixas. Este confronto éconhecido como a Batalha de Lutter(mais detalhes sobre as batalhasenvolvendo o exército dinamarquês noSacro Império, número de soldados,mortos ou feridos, no livro“Encyclopedia of Battles” nabibliografia).

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A próxima imagem, de época, retrata aBatalha de Lutter em que as tropascatólicas (à esquerda) atacam as tropasdinamarquesas (à direita):

Fonte : Schlacht bei Lutter, zeitgenössische

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Darstellung 17. Jahrhundert (obra de domíniopúblico, pode ser reproduzida desde que citadaa fonte). Por ordens de Cristiano IV os soldadosdinamarqueses debandaram de volta àDinamarca. Muitos nobres luteranostambém haviam passado para o lado deFernando II, pois não queriam que aDinamarca anexasse a região norte daAlemanha a seu território. As tropascatólicas dominaram a região em 1627.Aproveitando-se do domínio católico naregião norte Fernando II exigiu que partedas terras católicas, tomadas por nobresluteranos depois de 1555, fossemdevolvidas à Igreja. Desde a paz de

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Augsburgo de 1555, nenhuma terrapertencente à Igreja Católica poderia sertomada. No entanto, ao norte daAlemanha, alguns feudos católicosforam anexados por alguns nobresalemães depois do tratado,principalmente fazendas e terrenos dosarcebispados de Bremen e Magdeburgo.O domínio católico do norte daAlemanha aumentou em 1628 fazendoparecer que a guerra havia acabado, masalguns nobres luteranos organizaramuma reação armada à ocupação católica.Ainda em 1627 Cristiano IV contactoualguns oficiais escoceses,presbiterianos, para que esses viessem àDinamarca comandarem seu exército.Esses oficiais prometeram a Cristiano

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IV cerca de 11.000 mercenários vindosda Escócia que chegaram ao país em1628. A Pomerânia, região ao extremonorte e nordeste alemão estava sobocupação católica, mas uma cidadeportuária, Stralsund, de 20.000habitantes, se recusava a obedecer aoimperador católico Fernando II. Essacidade tinha, em sua maioria, luteranos ecalvinistas e estes, temendo uma invasãodos exércitos da Liga Católica quedominavam o norte alemão pediramajuda à Dinamarca e à Suécia, doispaíses luteranos. Em maio de 1628tropas comandadas por Albrecht, sobordens de Fernando II, fizeram um cercoà cidade de Stralsund, com alguns

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milhares de soldados, exigindo que acidade passasse a obedecer aoimperador. Ao saber do cerco CristianoIV manda centenas de mercenáriosescoceses à cidade de navio que passama organizar a resistência. A Suéciatambém mandou algumas centenas desoldados para ajudar. O cerco feitopelos soldados de Albrecht durou atéjunho, mas adiantava pouco, pois aDinamarca mandava ajuda por mar etambém, mais alguns milhares desoldados escoceses. Albrecht resolveu,então, atacar a cidade ainda em junho.As tropas escocesas defendiam a cidadee se encontraram com as tropas deAlbrecht em seus muros. O conflito sedeu no distrito de Franken onde as

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tropas católicas tentaram entrar. Elasforam rechaçadas, mas cerca de 900escoceses morreram. A cidade não serendia. Albrecht resolveu bombardear acidade com seus canhões no começo dejulho para forçar uma rendição. Noentanto a cidade, apesar dosbombardeiros intensos que a destruíam,não se rendia. No fim de julho chuvastorrenciais atingiram a regiãotransformando o campo de batalha emum grande pântano. Albrecht resolveuinterromper o cerco. A população dacidade comemorou sua vitória com umagrande festa. Ainda, atualmente, nacidade de Stralsund se comemora estavitória com um festival anual chamado

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Wallensteintage, ou Dia de Wallenstein(Wallenstein é um dos sobrenomes deAlbrecht). Este fato é conhecido como aBatalha de Stralsund ou o Cerco deStralsund. No começo de agosto de 1628tropas dinamarquesas invadiram acidade litorânea de Wolgast, tomando ailha de Usedom. Albrecht dirige-se comseus soldados, em número de 8.0003,para lá para retomar a cidade. As tropasdinamarquesas, que contavam com7.0004 soldados, entre eles algumascentenas de escoceses, resistem aoataque, mas, em um dia, perdem 1.000soldados que morrem na invasão deAlbrecht à cidade. O fato é conhecidocomo Batalha de Wolgast. Osdinamarqueses fugiram para seus navios

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e voltaram a seu país.Enquanto católicos e protestantesguerreavam na Alemanha, na França umoutro conflito entre estes dois ramoscristãos se intensificava no fatoconhecido como o Cerco de LaRochelle. Desde a publicação do Éditode Nantes os huguenotes (calvinistasfranceses) e outras igrejas evangélicas,tinham total liberdade de culto, masmuitos deles, em algumas cidades, aindaenfrentavam discriminação. Muitosfugiam para a Suíça ou Holanda, masoutros acabaram por se mudar para umacidade litorânea, na costa oeste daFrança, conhecida por La Rochelle.Com o tempo esta cidade foi se tornando

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majoritariamente habitada porhuguenotes. Em 1627 já contava comperto de 28.000 habitantes e tinha umgrande afluxo comercial com aInglaterra. A cidade comerciavabasicamente com esse país e quase nadacom o resto da França. O governofrancês, preocupado com o poder dafamília habsburgo apoiavadiscretamente os luteranos do nortealemão, mas começava também a sepreocupar com o poder crescente de LaRochelle e a considerava muito ligada àInglaterra. A desconfiança se tornoumaior quando o duque George Villiersdesembarca em navios com 6.000ingleses na Ilha de Ré próxima de LaRochelle e esta constrói muralhas

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fortificadas cercando a cidade. Ogoverno francês resolve atacar a cidade.O cardeal Richelieu, um dosconselheiros reais, é indicado comolíder da expedição militar contra acidade. Com cerca de 20.000 soldadosRichelieu ordena o cerco a La Rochelleque se inicia em setembro de 1627.George Villiers e seus soldados sãoexpulsos pelos franceses da ilha de Réonde haviam desembarcado. Naviosingleses são impedidos de chegar até acidade de La Rochelle pelos francesesque constroem inclusive diques paraimpedir a chegada destes navios. Ofilósofo e matemático católico francêsRené Descartes, criador, mais tarde, da

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Geometria Analítica e do MétodoCartesiano, chegou a visitar a região docerco. O cerco aumentava a fome dentroda cidade entre os seus habitantes, mas acidade não se rendia. Sem muitas armasela também não atacava o exércitofrancês que cercava a cidade, mastambém o exército francês não atacava,acreditando que o cerco seria maiseficaz. La Rochelle acabou por serender ao exército francês em outubro de1628. Dos 28.000 habitantes só restaramperto de 6.000 dentro da cidade. Orestante ou havia se rendido ou haviamorrido de fome, sede ou doenças. Oshabitantes de La Rochelle receberam operdão real e a cidade saiu da órbita deinfluência inglesa.

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Com o norte do Sacro Impériopacificado em 1629 Fernando II lançouo Édito da Restituição determinando queas terras de vários bispados, casasreligiosas e monastérios fossemdevolvidas à Igreja Católica. Semcondições de reagir os nobres luteranos,que haviam tomado estas terras, asdevolveram. Nesta altura as tropasmercenárias de Albrecht já haviamchegado a 134.000 homens, todos pagospor ele e também por Fernando II. Onordeste da Alemanha foi tambémocupado e recatolicizado pelo poderimperial. Ainda em 1629, Albrechtassinou um tratado, o tratado de Lubeck,com Cristiano IV, no qual o rei

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dinamarquês se comprometia a não maisse envolver e nem ajudar qualquer nobreluterano do norte da Alemanha.Querendo que seu filho fosse eleito paraser o novo imperador Fernando II fez umacordo com muitos nobres luteranos em1630. Estes apoiariam o seu filho comonovo imperador e em troca Albrechtseria dispensado e seus exércitosmercenários desocupariam o nordeste epartes do norte alemão e voltariam paraa Boêmia. Os nobres luteranosaceitaram a proposta. O norte daAlemanha, ainda possuindo em seusterritórios tropas imperiais católicas,estava sob poder dos habsburgos. AFrança resolveu agir, pois agora até onorte alemão estava sob o domínio desta

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família. Richelieu, cardeal católico, quedesde 1628 era ministro de confiança deLuis XIII, e que analisava de longe oconflito entre evangélicos e católicos naAlemanha resolveu, para espanto doscatólicos, apoiar a Suécia, luterana, emuma guerra contra a Polônia, católica,em 1629. Por disputas marítimas aSuécia havia tido problemas políticoscom a Polônia que descambaram emguerra aberta em 1629. Considerado ointrodutor de peças de artilharia emnavios e em terra mais ligeiras quequalquer outra que havia sido inventada,onde o soldado ou o marinheiro em vezdos 150 passos originais para recarregarum canhão dava 90 passos, a marinha de

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Gustavo Adolfo, rei da Suécia, venceuos poloneses no mar em uma rápidabatalha e conseguiram a apropriação degrandes extensões de mar navegável.Richelieu, apesar de cardeal, firmouvárias alianças com alguns nobresluteranos no norte da Alemanha. Aregião era dominada por exércitoscatólicos e eles se ressentiam com adominação direta de Fernando II emseus feudos. Gustavo Adolfo tambémfirmou várias alianças com outrosnobres luteranos alemães. Em 1630 oCardeal Richelieu e Gustavo Adolfofirmaram uma aliança secreta paracombater Fernando II. Os motivos daaliança entre estes homens eramdiferentes. Richelieu era um cardeal

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católico, mas antes de tudo era ministroda França. Não que Richelieu fosse umtraidor do catolicismo, longe disso, mascomo ministro ele sabia separarquestões temporais de religiosas. Elesabia que a França tinha problemas defronteira com o Sacro Império Romano-Germânico ainda não resolvidos. Com aEspanha dominando os Países Baixos ecom Fernando II dominando o norte daAlemanha a França que antes já estavacercada, agora estava mais cercadaainda. Richelieu, portanto, conhecia bemos problemas políticos de seu país esabia que uma aliança com os luteranosera a única saída para conter o poder dafamília habsburgo, governantes da

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Espanha, do Sacro Império e da Boêmiae ainda contando com a aliança deFlamengos, Valões e húngaros. A Françaestava em uma delicada posição, porisso Richelieu teve que fazer aliançasque contrariavam suas convicçõesreligiosas. Ele sabia separar convicçõesreligiosas de assuntos de Estado.Maquiavélico e grande políticoRichelieu será, no século 19, o grandevilão de um romance escrito porAlexandre Dumas: “Os TrêsMosqueteiros”, romance que conta aestória de D’artagan, um jovem que vaia Paris disposto a ingressar no corpo deelite da guarda do rei Luís XIII, OsMosqueteiros, conhecendo três deles:Athos, Porthos e Aramis. Richelieu será

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um dos vilões da estória, encarnando apolítica, e tudo o que ela tem de nefasto,em seu lado mais puro. Já GustavoAdolfo, ao contrário de Richelieu, eramais religioso que político. Luteranoconvicto ele sabia que uma aliança comos franceses católicos faria com que aSuécia vencesse na Alemanha eaumentasse a força do luteranismo,levando esta religião a ser majoritáriano Sacro Império. Ele montou um grandeexército de camponeses suecos emercenários bem instruídos em suasnovas e ótimas táticas de guerra. Adisciplina dos soldados era forte eviolências contra civis, de qualquertipo, bem como contra prisioneiros de

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guerra, eram proibidos. Gustavo Adolfoforçava também seus soldados acantarem hinos evangélicos e otreinamento das tropas era constante eseus soldos nunca eram atrasados. Oscastigos físicos contra a indisciplinaeram severos. Além de tudo issoGustavo Adolfo era um grandeestrategista militar. Enquanto Richelieuencarnava bem a política e as suasalianças, às vezes contraditórias, poisingenuidade e política dificilmenteandam juntas, Gustavo Adolfo encarnavabem a genialidade militar. Parafirmarem a aliança, franceses e suecosassinaram o Tratado de Barwalde. Nestetratado a França se comprometia afinanciar em parte a invasão sueca no

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norte e possíveis tratados de paz sóseriam assinados por franceses e suecosmutuamente.Sentindo-se preparado, Gustavo Adolfoatacou de surpresa o norte da Alemanhano final de 1630. Com dezenas denavios, que partiram da Suécia, amarinha real sueca bombardeou desurpresa portos do norte da Alemanha,dominando-os rapidamente. Assim,outras dezenas de navios já em alto mar,com dezenas de milhares de soldados,desembarcaram nestes portos dominadose marcharam rumo à conquista do nortealemão. Seus exércitos contaram com oapoio maciço de muitos luteranosalemães e nobres que atacaram tropas

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católicas estacionadas no norte. Ossuecos precisavam de uma basefortificada para iniciarem a invasão donorte da Alemanha e escolheram acidade de Frankfurt para seu centro deoperações. Gustavo, que já haviadesembarcado junto com seus soldados,enfrentou algumas poucas resistênciasde tropas católicas até chegar aFrankfurt em abril de 1631. Soldadosmercenários escoceses (o númeroaproximado deles é incerto) tambémhaviam se incorporado ao exércitosueco, chefiados pelo general escocêsJhon Hepburn que era católico. Sem osmercenários de Albrecht, que estavamna Boêmia, a resistência católicacontinuava fraca, mas muitas tropas

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católicas estavam estacionadas emFrankfurt. O exército sueco chegou àsportas da cidade, cercando-a e iniciandoo bombardeio de canhões contra ela. Àspressas tropas imperiais saíram do sulda Alemanha e da Boêmia parainterceptar os suecos, que, em dois dias,entraram na cidade e a tomaram. Astropas imperiais chegaram à cidade eenfrentaram as tropas suecas do lado defora, mas foram facilmente rechaçadasrecuando em poucos dias. Cerca de 800suecos e escoceses e 3.000 católicosmorreram nesta batalha conhecida comoBatalha de Frankfurt. Com a conquistada cidade as tropas suecas foramdescendo ao sul da Alemanha

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conquistando aldeias e povoados, bemcomo outras cidades. O general Tillyque também tinha um exército demercenários foi chamado parainterceptar o avanço sueco. Eleencontrou com o exército da Suécia porvolta de julho de 1631 na cidade deWerben, conquistada pelos suecos. ASuécia, no entanto, havia perdido seussoldados escoceses depois que GustavoAdolfo fez um comentário desrespeitosocontra o catolicismo o que desagradouJhon Hepburn que tirou seus soldadosdo batalhão sueco. Os suecos tiveramque contratar mercenários saxões. Ossoldados de Tilly partiram para Werbensaindo dos arredores de Magdeburgo. Acidade havia sido arrasada pelos

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soldados de Tilly em maio de 1631.Magdeburgo era uma cidade de maiorialuterana e onde o próprio Lutero tinhapregado em 1624. Precisando de comidapara seu exército Tilly resolveu atacaros armazéns da cidade, que possuíacerca de 30.000 habitantes. Oshabitantes recusaram-se a entregar suacomida aos soldados de Tilly e esteresolveu cercar e invadir a cidade. Noentanto seus soldados saíram de seucontrole e passaram a saquear as casasassassinando quem encontrassem pelafrente. Milhares fugiram para perto dagrande catedral de Magdeburgo, umacatedral gótica, uma das mais antigas daAlemanha, construída por volta do

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século 10 e que ainda existe na cidade,que fora católica, mas havia se tornadouma igreja luterana à medida que apopulação foi se convertendo à esta fé eo número de católicos decrescia. Obispo luterano Reinhard Bakes suplicoua Tilly pela vida dos que estavam noentorno da catedral. Tilly, que haviaretomado o controle dos soldados,concordou, mas só se a catedral voltassea ser católica. O bispo acabouaceitando. Tilly fez com que os seussoldados saíssem da cidade, masalgumas centenas deles invadiram acatedral e roubaram tudo o queencontraram. Só 4.000 moradores dacidade sobreviveram à matança, cercade 26.000 morreram. O fato é conhecido

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como o Saque de Magdeburgo. Abatalha entre os suecos e os soldados deTilly ocorreu em julho de 1631. GustavoAdolfo estava na cidade conquistada. Astropas de Tilly, em número de mais oumenos 23.000 chegaram à cidade e acercaram. Gustavo Adolfo estava dentroda cidade com 16.000 soldados e partedestes saíram da cidade para enfrentaras tropas de Tilly perto do rio Elbe,próxima à cidade. Canhões foramposicionados pelos suecos nas muralhasde Werben e, ao avistarem os soldadosde Tilly, os suecos começaram adisparar. O canhonaço impediu que astropas imperiais chegassem perto dasmuralhas fazendo-os recuarem e se

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esconderem em uma floresta próxima.Dias depois as tropas de Tillyrenovaram o ataque, mas desta vez,usaram canhões para bombardear acidade. Parte de suas tropas enfrentou ederrotou os suecos perto do rio Elbe.Temendo a derrota os suecos fogem dacidade, entre eles Gustavo Adolfto eTilly a conquista. O fato é conhecidocomo Batanha de Werben. Cerca de6.000 suecos morreram nesta batalha.Não há fontes que indiquem o número desoldados de Tilly mortos. Os suecos sereagruparam em Frankfurt e resolveramatacar com grande contingente desoldados a cidade de Breintenfeld maisao sul. Tilly, sabendo do ataque, foiinterceptá-los. Os suecos com 24.000

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soldados e que contavam com a ajuda de18.000 soldados mercenários saxões(habitantes da Saxônia, povo germânicoque habitava o norte da Alemanha)atacaram os soldados católicos sob ocomando de Tilly, com 35.000 soldados,5.000 dos quais eram soldadosparticulares de um senhor feudal ediplomata chamado Gottfried HeinrichGraf Zu Pappenheim, um católicofervoroso que se ofereceu comovoluntário para ajudar na guerra contraos luteranos. Os esquemas abaixoexplicarão bem a batalha que se deu emsetembro de 1631.

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Os esquemas das próximas páginas,cedidos gratuitamente pela AcademiaMilitar dos Estados Unidos de WestPoint, mostram o encontro das tropassuecas e a dos católicos na Batalha deBreintenfeld, as tropas suecas(representadas na parte de cima pelosretângulos brancos) e dos saxões (osretângulos quadriculados do lado)encontrando frente a frente com oscatólicos (representados pelosretângulos de baixo):

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O combate começa com os católicosatacando os saxões pela direita enquantoos soldados de Gottfried atacam ossuecos pelo flanco esquerdo. Nocomeço os católicos obtiveram umavitória quando os soldados saxões dadireita recuaram frente aos católicoscomandados por Furstenberg, umgeneral bávaro:

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Com a derrota dos saxões os católicoscercaram as tropas suecas pelo flancodireito, mas as tropas de Gottfried foramderrotadas no flanco esquerdo edebandaram, fazendo com que Gottfriedrecuasse e abandonasse a batalha:

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Com a derrota dos católicos no flancoesquerdo todas as tropas suecas foramao encontro dos católicos no flancodireito, inclusive com Gustavo Adolfoatacando por trás cercando os católicos:

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Fonte: The Department of History, United

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States Military Academy, West Point. In thepublic domain as an original work of the UnitedStates federal government and/or military. Com canhões mais modernos e leves,portanto mais fáceis de manobrar, osexércitos católicos foram destruídosquase que por completo. Ao seenfrentaram no campo de batalha aartilharia tanto da extrema esquerdaquando da extrema direita atingiu toda aformação católica gerando pânico entreos soldados que foram chacinados. Ogeneral Tilly fugiu com algumascentenas de soldados. A batalha durouapenas 7 horas deixando mais ou menos3.500 suecos, 2.000 saxões e 7.600

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soldados católicos mortos. Os suecosvenceram e avançaram mais ainda paradentro da Alemanha, ocupando tambémo nordeste do país. Em um destesavanços encontraram, em abril de 1632,perto da cidade de Rain, os soldados dogeneral Tilly que tiveram um grandeincremento de tropas vindos da LigaCatólica. As tropas suecas contavamcom 40.000 soldados enquanto Tillytinha 25.000. Os suecos estavam namargem do rio Lech enquanto oscatólicos encontravam-se em um morroperto da outra margem. Para atravessaro rio, os canhões suecos dispararamsobre os soldados católicos. Os tiros decanhão afastavam os soldados católicosque não chegavam à margem, fazendo

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com que centenas de soldados suecospudessem atravessar o rio. Os católicosavançaram sobre as centenas desoldados suecos que tinham atravessadoo rio para impedir a travessia do restodo exército sueco, mas estes soldadosque tinham o incremento de centenas desoldados vindos da Finlândia,conseguiram rechaçar o avanço dossoldados católicos dando tempo paraque o resto do exército suecoatravessasse o rio. Neste combate ogeneral Tilly foi atingido por estilhaçose teve que ser socorrido. Os combatesse tornaram encarniçados no leito dorio, mas as tropas suecas contaram comum reforço inesperado para os católicos.

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Alguns dias antes, de madrugada, algunsmilhares de soldados suecos, sob asordens de Gustavo Adolfo, desceramcerca de 10 km longe da margem do rio,à esquerda das tropas católicas, eatravessaram para o outro lado,avançando pelo lado oposto e cercandoas tropas da Liga Católica em doislados. Surpreendidos os católicossofreram grande derrota. Milharesfugiram ou foram capturados. Tillymorreu algumas semanas depois detétano aos 73 anos. Cerca de 3.000católicos e 2.000 suecos morreram nesteconfronto conhecido como Batalha deRain ou Batalha do Rio Lech.

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A gravura da próxima página, feita porum artista anônimo, mostra o inicio daBatalha de Rain. As tropas suecas seconcentram na margem esquerda do rioenquando os católicos estão na direita,descendo o morro. A gravura mostra oinicio da travessia sueca do rio:

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Fonte: National Archives and the regional statearchives of Sweden. Sem seu principal general e com quasetodo o norte, nordeste e parte do sul daAlemanha dominado pelos suecos e suasnovas táticas de guerra, Fernando IIchamou, às pressas, Albrecht e suastropas mercenárias estacionadas naBoêmia. Parte do exército sueco atacoua Pomerânia, região que ficava nonoroeste da Polônia e nordeste daAlemanha, anexando-a aos novosdomínios suecos, enquanto a outra parteavançou para o sul da Alemanha,chegando até a cidade de Nuremberg,onde o exército sueco já estavaestacionado desde o final de 1631. Na

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metade de 1632 Albrecht e seu exércitoatacaram a Saxônia, dominada pelossuecos e resolveram cercar GustavoAdolfo que dominara a cidade deNuremberg. Albrecht, com cerca de50.000 homens marchou até a cidade,recebendo reforço de senhores feudais edas tropas imperiais, chegando a ter120.000 soldados sob o seu comando,embora tivesse poucas armas. Com esseexército ele cercou Nurembergimpedindo que alimentos entrassem nacidade, esperando que o rei GustavoAdolfo se rendesse. No entanto Albrechtteve problemas com suas tropas queenfrentaram fome e epidemias de tifo eescorbuto. Gustavo Adolfo resolveu sairda cidade de Nuremberg com seus

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soldados, estimados em 36.000, eenfrentou as tropas de Albrecht emcampo aberto na batalha de Alte Veste,mas não conseguiu passar. Problemasdos dois lados fizeram com queAlbrecht e Gustavo Adolfo chegassem aum acordo. As tropas suecas sairiam deNuremberg e não seriam atacadas naretirada e Nuremberg voltaria a ficarindependente. Albrecht aceitou ostermos e as tropas suecas marcharampara o norte. Em uma combinação dedoenças, fome e mortes da Batalha deAlte Veste cerca de 10.000 a 20.000habitantes de Nuremberg, de soldadossuecos e soldados de Albrecht morreramneste fato, conhecido como o Cerco de

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Nuremberg. As tropas de GustavoAdolfo marcharam para Lutzen paraencontrarem-se com o resto do exércitoda Suécia. Temendo o encontro Albrechtresolveu seguir o exército de GustavoAdolfo, que já estava estacionado emLutzen, mas dezenas de milhares de seussoldados acabaram por abandonar seuexército voltando para seus feudos. Oencontro entre os dois exércitos ocorreuno fim de 1632. As tropas de Albrecht,que contavam com apenas 16.000soldados, foram reforçadas pelas deGottfried Heinrich Graf Zu Pappenheimque depois da derrota em Breintenfeldficou de fora do conflito, mas com oavanço dos suecos luteranos emNuremberg resolveu ajudar. Ele já havia

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lutado em algumas batalhas na Boêmia etinha 3.000 soldados sob o seucomando, estacionados na Boêmia. Oplano de Albrecht era atacar GustavoAdolfo em dois lados, tendo seuexército de um lado e o de Gottfried emoutro. Avisado da chegada dos doisexércitos Gustavo Adolfo marchou comseus soldados, cerca de 19.000, paraencontrar Albrecht. Os suecos contaramcom mais ajuda vinda de Bernhard, umsenhor feudal luterano que havia seunido aos suecos, como mostra oesquema na próxima página:

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Fonte: The Department of History, UnitedStates Military Academy, West Point. In the

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public domain as an original work of the UnitedStates federal government and/or military. No inicio as tropas suecas e deBernhard venceram alguns combatesembora fossem menos numerosas, mascom a chegada de Gottfried a situação seinverteu. Parecia que as tropas suecasseriam derrotadas, mas com a morte deGottfried, atingido por estilhaços de umabala de canhão, aos 38 anos, seussoldados desistiram do combate evoltaram para a Boêmia. Assim ossuecos puderam se concentrar melhorcontra Albrecht, mas Gustavo Adolfo,ao guiar uma peça de artilharia sofre umacidente e acaba morrendo, aos 37 anos,

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mas apesar desse ocorrido as tropassuecas, que acabaram tendo o comandode Bernhard, venceram os soldados deAlbrecht Wallenstein que acaboufugindo. A Batalha de Lutzen deixou3.400 suecos e outros 3.000 soldados deAlbrecht e Gottfried mortos. Sabendo damorte de Gustavo Adolfo o primeiro-ministro sueco, Oxenstierna, financiouuma liga de luteranos alemães, a LigaHeilbronn, do qual Bernhard fazia parte,que atacou posições de Albrecht, masforam derrotados em 1633. A filha maisvelha de Gustavo Adolfo, Catarina I,assumiu o trono sueco, mas a liderançana guerra continuou com o exército ecom Oxenstierna (em 1654 Catarinaconverteu-se ao catolicismo e renunciou

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ao trono sueco, indo morar em Roma. Ahistória dessa rainha virou filme noséculo 20, chamado Rainha Cristina,estrelado por Greta Garbo, tambémsueca, que fez o papel de Cristina).Ainda em 1633, em junho, os espanhóisenviaram uma expedição marítima até aIlha de San Martin, no Caribe, paraexpulsar os holandeses dela. Era umatentativa dos espanhóis de enfraquecereconomicamente a Holanda, já que SanMartin produzia produtos tropicaisvendidos pela Holanda na Europa. Osnavios espanhóis tentaram atacar a ilhade frente, mas foram rechaçados porcanhões vindos das fortificações da ilha.Cerca de sete espanhóis morreram nesta

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tentativa. Os navios foram mais paralonge dos canhões, ao norte, econseguiram dar a volta na ilha eembarcaram 1300 homens quemarcharam sob as fortificaçõesholandesas tentando pegá-la pelaretaguarda. No entanto a marcha naselva e o forte calor mataram seisespanhóis antes que estes chegassem aoseu destino. Pegos de surpresa osholandeses ainda resistiram, masacabaram se rendendo e foram expulsosda ilha que passou ao controle espanholaté 1648 quando foi devolvida àHolanda que repartiu a ilha com aFrança (mais detalhes sobre esta batalhano livro Wars of the Americas: AChronology of Armed Conflict in the

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New World, 1492 to the Presentdisponível na bibliografia).Ainda em 1633, no Sacro Império,Albrecht ajudou a Polônia contrasoldados suecos que dominavam aPomerânia, vencendo-os comdificuldade e libertando a região. Ossuecos então vão para a região deOldendorf. O exército imperial viu naconcentração de soldados suecos achance para destruí-los. Em julho de1633 três senhores feudais católicos(Jobst Maximiliam, Lotharr Freiherr eJohan Merole) unem os seus exércitos eatacam os suecos concentrados na regiãode Oldendorf no norte da Alemanha.Jobst tinha 2000 soldados de infantaria e

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600 de cavalaria, Lotharr tinha 4475 deinfantaria e 2060 de cavalaria e Johantinha 4450 e 1245 respectivamente. Nãohá fontes que indiquem o númeroaproximado de soldados suecos emOldendorf. Os três senhores feudais, noentanto, cometeram o erro deconcentrarem seus exércitos unidos, emum único ponto, facilitando o ataque dossuecos que também estavamconcentrados em um único ponto epuderam enfrentar essas tropas de frente,não sendo cercados. O ataque se deu poriniciativa dos suecos que avançaramsobre os soldados dos três senhoresfeudais em um confronto que durou dias.Os suecos conseguiram uma grandevitória destruindo os exércitos unidos

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dos senhores feudais. Jobst, junto comcerca de 1000 soldados foram feitosprisioneiros, sendo libertados muitosmeses depois. Os outros dois fugiram.Cerca de 3000 soldados dos trêssenhores morreram. Os suecos tiveram700 soldados mortos. O fato éconhecido como Batalha de Oldendorf(detalhes nos livros Dictionary ofBattles and Sieges e Battles of ThirtyYears Wars disponíveis nabibliografia.).Com algumas dezenas de milhares desoldados, mercenários de Albrecht, aPolônia surpreende e, em fins de 1633,em vez de continuar a atacar os suecos,ataca de surpresa a Rússia, chegando

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perto de Moscou. Os russos reagiram eexpulsaram os soldados da Polônia deseu território em 1634. O motivo doataque foram as ambições territoriaisdos poloneses em algumas regiões ricasda Rússia. Os poloneses então atacaramnavios suecos no mar báltico pararecuperar as rotas marítimas que haviamperdido para a Suécia, mas a marinhasueca reagiu e conseguiu rechaçar osnavios de guerra poloneses. Emsetembro de 1634 suecos e luteranos donorte, comandados por Bernhard, bemcomo soldados da Liga Heilbronnhaviam chegado perto da cidade deNordlingen, no sul da Alemanha eameaçavam a Áustria. Suas forçaschegavam a 16.300 homens de cavalaria

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e 9.300 de infantaria. Essas tropascontavam ainda com centenas deescoceses e finlandeses. Para rechaçareste exército o imperador contou com aajuda de soldados italianos vindos donorte da Itália, que fazia parte do SacroImpério e que ainda não havia entradofirme na guerra. A Liga Bávara, umaunião de senhores feudais da região,temendo o exército invasor, tambémmandou soldados para ajudar. As tropasimperiais passavam dos 21.000 homensde cavalaria e 13.000 de infantaria. Oencontro dos dois exércitos se deu nascercanias da cidade de Nordlingen. Astropas imperiais avançaram em doisflancos. Mais numerosas cercaram os

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exércitos luteranos e suecos que nãopuderam suportar, recuando para onorte. O fato é conhecido como Batalhade Nordlingen e foi considerada umagrande vitória das tropas católicas queretiraram da Áustria uma ameaça deinvasão. Perto de 8.000 soldados suecose luteranos do norte morreram. Astropas imperiais perderam 2.400soldados. A Liga Heilbronn, depoisdessa derrota, foi extinta. Apesar destavitória das tropas imperiais, Albrecht,de forma independente, tentounegociações de paz com o exércitosueco que havia sido expulso dealgumas regiões alemãs, mas aindadominava grande parte do norte enordeste alemão e já começava a

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avançar de novo para o sul. A atitude deAlbrecht, de pedir a paz com os suecos,foi considerada traição por algunsoficiais católicos alemães e ele foiassassinado por três deles a golpes delança no fim de 1634. Albrecht tinha 50anos. Suas tropas de mercenáriospassaram para o lado ou de Fernando IIou dos poloneses. Nesse meio tempoepidemias de fome e peste bubônicacomeçavam a se espalhar pelo nortealemão. Tantos anos de guerra, bemcomo a saída de milhares decamponeses do campo, pois foramtransformados em soldados, fizeram aprodução agrícola cair em toda a região.Tumultos por falta de alimentos

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começaram a pipocar em alguns feudos.Soldados suecos também sentiam afome, e passaram a saquear os armazénse silos de muitos feudos. Sem a forçamoral de Gustavo Adolfo os soldadossuecos passaram a saquear todo o nortealemão, levando o que podiam carregar.Os ataques suecos e suas pilhagensfazem com que a população alemã osapelide de "Schrecken des Krieges",pois eles temiam a pilhagem dos suecosmais do que as dos exércitosmercenários. A fome e também asepidemias de peste bubônica mataramcentenas de milhares de pessoas,incluindo outros milhares de soldadosda Suécia. Tropas de Fernando IIpassaram a conseguir sucessivas

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vitórias sobre os suecos que iamrecuando até os portos. Em uma tentativade deter o avanço das tropas imperiaiscatólicas o duque Bernhard comandouum grande exército de 50.000 homens,mas foi derrotado na Baviera no começode 1635. Os luteranos perderam parte deseus aliados suecos quando muitosdestes resolveram abandonar o nortealemão e voltar para seu país. Adominação católica do norte alemão iasendo confirmada aos poucos, masquando parecia que a guerra iria acabara França intervém militarmente em favordos suecos e dos nobres luteranos quecomeçavam a ser derrotados. Enquanto aguerra ocorria no norte alemão a

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Holanda, ainda tendo em seu territóriotropas espanholas, resolveu atacar oBrasil, na época colônia espanhola(Portugal estava anexado à Espanha). NaHolanda, graças ao calvinismo, ocomércio expandiu-se rapidamente atémais do que na Inglaterra. Em poucosanos o país já era mais desenvolvidoque o resto dos países baixos,notadamente os territórios dosFlamengos e Valões, ainda feudais ecatólicos. Graças ao avanço docomércio os holandeses vendiam açúcara vários países europeus, mas nãodetinham o processo de produção, só ode revenda, ainda nas mãos deportugueses e espanhóis. A Holandacomprava o açúcar ainda semifaturado

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da cana de portugueses e espanhóis e otransformava em açúcar comercialganhando muito com isso. Portugueses eespanhóis não detinham esta tecnologiatão bem quanto os holandeses, mas osconflitos com os espanhóis fizeram comque os holandeses desejassem obter oprocesso de produção desde o começo,ou seja, não só comprar, mas tambémplantar a cana de açúcar. Armando umagrande marinha os holandeses partirampara o Brasil e atacaram de surpresa osportos de Olinda e Recife em 1630obtendo uma vitória esmagadora.Soldados holandeses desceram em terrae tomaram fazendas e grandespropriedades. Os holandeses, em 1624,

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já haviam feito uma tentativa de dominaro nordeste do Brasil, mas haviam sidorechaçados pelos portugueses emSalvador. Em 1630 a vitória foicompleta. A Holanda dominou muitasfazendas em Pernambuco e assim tevetodos os processos de produção em suasmãos, enriquecendo o país (em 1654tropas portuguesas, compostas em suagrande parte de índios e africanosconseguirão expulsar os holandeses dePernambuco). Com mais dinheiro osholandeses investiram em armas paracombater os soldados espanhóis etambém ajudar os luteranos e calvinistasem sua guerra contra as tropas imperiaisde Fernando II.Na Itália o papado apoiava o Sacro

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Império em sua luta contra osevangélicos e mantinha pulso firmecontra todos os que questionassem suaautoridade. Em 1632 o físico Galileupublica o artigo: “Diário sobre os doisgrandes sistemas do mundo” em quedefendeu a teoria heliocêntrica deCopérnico e, também afirmou que aTerra não só gira ao redor do Sol comotambém gira em torno de si. Com estasexplicações Galileu explicou bem comofuncionam as marés. Embora católico asidéias de Galileu foram consideradasheréticas e ele, em 1633, foi levado aotribunal da Inquisição em Roma eobrigado a abjurar em público de suasidéias. Foram mostrados a ele os

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instrumentos de tortura que seriamusados caso ele não o fizesse. Galileuabjurou de suas idéias, mas foicondenado à prisão domiciliar parasempre.A Suécia havia perdido a quasetotalidade do norte da Alemanha em1635, mas ainda mantinha posiçõesimportantes no nordeste e extremonordeste do país. A França temeu maisainda o poder da família habsburgo queavançava para conquistar, de novo, onorte alemão e resolveu agir. Richelieuajudou com armas as tropasremanescentes suecas que ainda estavamocupando algumas partes do nortealemão. Além disso, também forneceuarmamentos a muitos dos nobres

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luteranos que ainda se opunham aFernando II. Os franceses resolveram sealiar aos holandeses e atacar as tropasespanholas que estavam estacionadas emFlandres, na região atualmenteconhecida como Bélgica, que a Françaconsiderava uma ameaça. Em junho de1635 franceses e holandeses resolveramatacar a cidade de Lovaina, que ficavano centro da região, por dois lados. Osholandeses viriam do norte e osfranceses do sul. A partir desta cidadefranceses e holandeses atacariam osespanhóis. O número dos soldadosfranceses e holandeses, combinados,chegava a 50.0005. A invasão começou.Pelo sul os franceses invadiam vilas e

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iam conquistando territórios da regiãoenquanto os holandeses ao norte tambémavançavam. No inicio o plano dos doispaíses deu certo. A resistênciaespanhola em muitas vilas foimassacrada e muitos soldadosrecuavam. Os dois exércitos chegaram aLovaina onde 4.000 soldados espanhóisestavam em prontidão. Parecia que avitória estava próxima, mas os povos daregião, flamengos e valões, ajudavam osespanhóis. Além disso cerca de 8.000soldados espanhóis vindos do sulchegavam para ajudar a cidade cercada,mas antes que essas tropas chegassemfome e doenças se propagaram entre astropas francesas enfraquecendo-as.Quando os soldados espanhóis chegaram

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encontraram grande confusão entre astropas francesas que foram rapidamentederrotadas. Os holandeses tambémtinham dificuldades, pois enfrentavam ahostilidade dos povos da região e osespanhóis também os atacaramexpulsando suas tropas. Tanto francesesquando holandeses recuaram. Cerca de12.000 entre eles morreram. Entre osespanhóis não há fontes do número demortos. O fato é conhecido como Cercode Lovaina. Derrotados em Flandres osfranceses resolveram então atacar o sulda Espanha, mas enfrentaram forteresistência dos espanhóis. No começode 1636 a Espanha virou o jogo e atacouo território francês. No norte alemão os

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suecos derrotaram tropas de Fernando IIavançando para o sul. No norte daAlemanha o imperador Fernando IIpretendeu expulsar os suecos quecomeçavam a tomar conta da região.Com milhares de mercenários saxões(muitos deles haviam guerreado antespela Suécia) e mais outros milhares desoldados imperiais católicos, FernandoII resolveu começar seu avanço pelacidade de Wittstock que fica a 95 km anoroeste de Berlim, no nordeste daAlemanha. Seus soldados já somavam18.000. O plano era, a partir deWittstock, partindo da Boêmia, avançarrumo oeste, perto da costa, expulsandoos suecos de feudos dominados. Noentanto os suecos ficaram sabendo da

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movimentação de tropas e avançarampara esta cidade com também cerca de18.000 soldados. O encontro dos doisexércitos se deu nas proximidades doWittstock. As tropas imperiais católicasresolveram esperar os suecos, mas estespassaram a avançar no flanco esquerdoo que fez com que os católicos saíssemde sua posição e os encontrassem maisao sul da cidade de Wittstock. A saídade posição desorganizou o exércitocatólico, mas os suecos tiveramproblemas movendo-se em terrenopantanoso. Os dois exércitosencontraram-se em outubro de 1636 e oscombates começaram. No começo oscatólicos levaram a melhor sobre os

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suecos, mas aos poucos a artilhariasueca vencia os exércitos católicos.Percebendo a possível derrota cerca de2.000 soldados saxões desertaram epassaram para o lado dos suecos, o quepiorou a situação das tropas imperiaiscatólicas. A Batalha de Wittstock, comoficou conhecido este conflito, terminouem poucos dias. Cerca de 3.100 suecose 5.000 católicos morreram nessabatalha6. As tropas imperiais católicasrecuaram e os suecos mantiveram seucontrole parcial sobre o norte e nordestealemães. Na França o Príncipe deCondé, Luis II, foi designado comocomandante em chefe do exército, masos espanhóis conseguiram avançar nosul francês. Em 1637 os exércitos

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franceses iniciaram uma contra ofensivae venceram os espanhóis em váriaspartes do sul francês e avançaram,retomando partes de seu território. NoSacro Império os luteranos do norte e ossuecos ocuparam, de novo, todo o norteda Alemanha que, com mais esta parteda guerra, ficou devastada. Em váriasregiões do norte a fome, a pestebubônica e a própria guerraexterminaram grandes contingentes dapopulação. Temendo o poder da Suéciaa Dinamarca surpreendeu, saiu de seuisolamento e atacou o norte alemão paraderrotar os suecos, mas o exércitodinamarquês foi derrotado e recuou aseu próprio território. Em 1637

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Fernando II morreu de doença aos 59anos o que piorou a situação de seuexército, mas graças à intervenção daDinamarca as tropas luteranas do nortealemão e suecas perderam algumasbatalhas no sul e o exército imperialcatólico avançou, mas pouco, pois coma derrota do exército dinamarquês astropas luteranas concentraram fogo denovo no sul. Para piorar, em 1638, aHolanda também enviou suprimentos,armas e munições aos luteranos. AFrança avançava sob o exércitoespanhol ainda em seu território. Osnobres católicos do sul do SacroImpério deram a coroa do império aFernando III, um dos filhos de FernandoII, que era o rei da Croácia e grande

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senhor feudal da região. Católico,embora menos radical que seu pai,Fernando III tentou acordos de paz comos luteranos do norte que venciam váriasbatalhas e já haviam tomado conta donorte do império. Em 1638, temendo queos luteranos tomassem a Áustria, osnobres da região ofereceram apoiomilitar a Fernando III. Este aceitou e asforças do imperador ganharam maisreforço. As tropas luteranas já tinhamavançado para perto da cidade deBreisach, no sul da Alemanha, perto dafronteira da França e Suíça. Em agostode 1638, comandadas por Bernhard,estas tropas luteranas pretenderam tomara cidade de aproximadamente 16.000

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habitantes. Seus soldados cercaram acidade que, sem ajuda, se rendeufacilmente. Tropas francesas se uniram àdos luteranos na ocupação da cidade. AFrança deu pouca assistência aBernhard, pois estava ocupada tentandoinvadir a Espanha pelo norte espanhol.Desde junho de 1638 navios de guerrafranceses já estavam em preparação eestes finalmente saíram da França emjulho para atacar a cidade fortificada deHonarribia, também chamadaFuenterrabía, na costa norte da Espanha.Cerca de 27.000 soldados e marinheirosfranceses em navios de guerrabombardearam a cidade costeira comtiros de canhão, matando centenas depessoas na cidade que não se rendeu.

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Tropas espanholas perto da regiãocorreram à cidade para evitar a invasãofrancesa. Os franceses tentaram invadira cidade de Honarribia no começo desetembro, mas tiveram que enfrentar ossoldados e a população da cidade. Asfortificações da cidade estavamdestruídas o que facilitou a entrada dosfranceses, mas a resistência dosespanhóis foi forte ao ponto de impedira consumação da invasão. Os francesesacabaram sendo derrotados e, através deuma trégua, voltaram a seus navios e àFrança. Cerca de 4.000 franceses forammortos nessa tentativa de invasão. Entreos espanhóis não há fontes que indiquemo número de falecidos. A cidade de

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Honarribia comemorou a derrotafrancesa com uma grande festa religiosa,que se tornou anual e ainda é celebrada,conhecida como Alarde de Honarribiaou Alarde de Fuenterrabía. Parte dasmuralhas da cidade, as que sobraram doataque, ainda estão na cidade comolembrança. Essa derrota fez com que aFrança voltasse sua atenção contra oSacro Império e apoiasse Bernhard.Com Breisach já conquistada e mantidapela França, as tropas luteranas partirampara atacar a cidade de Neuenburg amRhein, mais ao sul da Alemanha. Astropas luteranas estacionaram perto dacidade, mas uma epidemia de pestebubônica se abateu entre as tropasluteranas, matando vários soldados

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inclusive o próprio Bernhard, quefaleceu aos 34 anos. Sem seu general osluteranos desistiram de atacar a cidade evoltaram a Breinsach. Batalhas violentasocorreram em todo o centro daAlemanha no ano de 1639 com vitóriaspequenas do exército imperial deFernando III. Na França a situaçãocontinuava inusitada. O exército francêsainda enfrentava o exército espanhol emseu território, mas ia, aos poucos,ganhando terreno. A Espanha, temendoperder o controle dos Países Baixos, naépoca também conhecida comoFlandres, decide aumentar seus efetivosnaquele território. No fim de 1639 enviaà região 77 navios com 24.000 soldados

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e marinheiros espanhóis e portugueses.Sabendo da invasão a Holanda envia 13navios fortemente armados que logo sãoauxiliados por outros 16 navios deguerra. A batalha se dá em automar comos navios holandeses concentrandopoder de fogo em cima dos maioresnavios da esquadra espanhola que sãodestruídos, fazendo com que o restanteda esquadra recuasse até um porto inglêsconhecido como As Dunas. Os naviosespanhóis saem do porto e sãorecebidos pelos navios holandeses emautomar. A batalha se iniciou, com omaior navio espanhol, o Santa Teresa,destruído por completo, inclusive porum navio-fogo. Os holandesesconseguem deter os espanhóis, mas

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alguns navios da esquadra espanholafuram o bloqueio e chegam até Flandres,fazendo com que milhares de soldadosdesembarcassem. Dos 77 naviosespanhóis 43 foram destruídos. Osholandeses perderam 10 navios. Cercade 6.000 espanhóis e portuguesesmorreram enquanto a Holanda perdeu1.000 de seus combatentes. Esta batalhaficou conhecida como a Batalha dasDunas, a maior batalha naval da Guerrados Trinta Anos.Em 1640 Portugal, dominada pelaEspanha, iniciou uma revolta armadacontra o domínio espanhol de seuterritório. Com duas frentes de batalha ecom mais medo da França, a Espanha

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mandou pouca ajuda às tropasespanholas estacionadas em Portugalque foram vencidas pelos revoltosos.Portugal reconquistou sua independênciaem 1640 e também suas colônias naÁfrica (Angola, Moçambique e GuinéBissau) e também o Brasil que aindatinha parte de seu território dominadopelos holandeses, principalmentePernambuco. Livre de Portugal, aEspanha concentrou suas forças contraos franceses no sul do país. A Françarecebeu ajuda militar da Holanda. Comesta ajuda a França avançou maisvelozmente sobre os espanhóis. Em1640 a guerra continuava no centro daAlemanha sem nenhum avançosignificativo nem de luteranos e suecos e

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nem de católicos. Em 1640 ocorreu umfato que ajudou em muito a campanhafrancesa contra os espanhóis. ACatalunha, região ao sul da Espanha quefaz divisa com o sul da França, ondefica Barcelona, desde o começo doconflito recebeu uma grande entrada desoldados vindos do resto da Espanhapara atacar o sul da França. O governoespanhol cobrava altos impostos desenhores feudais da região para manterestas tropas, bem como dos camponesesque habitavam os feudos. Os impostoseram tão altos que grande parte dapopulação da região nutria raiva pelapresença de tropas espanholasestacionadas havia anos em seu

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território para combater os franceses.Pedidos para que estas tropas deixassema Catalunha foram feitos, mas o exércitorecusou a saída, pois precisavapermanecer na região, pois vinhasofrendo derrotas dos franceses. PauClaris, um senhor feudal, reuniu umexército e iniciou uma revolta em maiode 1640 contra as tropas espanholasestacionadas na Catalunha. A populaçãoapoiou os revoltosos e passaram aatacar os soldados. Os rebeldesvenceram vários combates expulsandoas tropas espanholas de várias regiõescatalãs. Muitos deles já falavam emseparar a Catalunha do resto daEspanha. Ocupados na França, mas nãopodendo perder a Catalunha, tropas

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espanholas avançaram sobre os rebeldeso que favoreceu o exército francês queagora combatia um exército espanholdividido. Pau Claris morreu em umabatalha e foi substituído por Luis I,conde de Barcelona, que se auto-proclamou rei da Catalunha. A Espanhateve que enfrentar também estesrebeldes. Na metade de 1640 a França,percebendo que Fernando III aindacombatia os luteranos e o exércitoespanhol já não tinha tanta força, atacoua Alsácia, uma região do oeste alemão.Fernando III agora enfrentava duasfrentes de combate, mas a Françatambém. Os conflitos continuaramacirrados em todo o resto do ano de

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1640 e começo de 1641. Em julho de1641 Fréderic d’Auvergne, príncipe deSedan, uma região que atualmentepertence à França, perto da fronteiracom a atual Bélgica, mas que na épocaestava anexado ao Sacro Império,ofereceu ajuda a Fernando III. Para porfim à ajuda a França enviouaproximadamente 11.000 soldados parainvadir Sedan. Fréderic, pessoalmente,comandou a resistência que se compunhade 4.000 soldados de Sedan e 7.000soldados espanhóis (estes estacionadosem Flandres e que foram ajudar Sedan)e do Sacro Império. A invasão francesacomeçou em julho, mas foi rechaçadapelas tropas comandadas pro Fréderic.O papa Urbano VIII condenou a França

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por tentar invadir Sedan. Os combatesforam encarniçados e duraram váriosmeses. Cerca de 3.000 francesesmorreram no conflito conhecido comoBatalha de La Marfée. Entre os soldadosde Fréderic não há fontes que indiquemquantos morreram. A derrota nestabatalha, no entanto, não significou o fimdas tentativas de invasão de Sedan pelaFrança. Mais e mais soldados foramenviados para invadir o principado atéque em 1642 Fréderic aceitou anexarSedan ao reino da França.No fim de 1641 a Espanha já estavaquase fora do território francês e aFrança apoiava, com armas e munições,os separatistas da Catalunha. Fernando

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III contou com o apoio militar daBoêmia que atacou, no nordeste alemão,as tropas suecas que também passaram aenfrentar duas frentes de combate,aliviando seu exército, ocupado contraos franceses..O começo de 1642 tinha a Françacombatendo os espanhóis, desta vez nafronteira, com ajuda dos catalães, ecombatendo os soldados de Fernando IIIna Alsácia. Fernando III combatia aFrança nesta região e os luteranos nocentro e norte do país que, porconseguinte, combatiam os boêmios nonordeste e também as tropas imperiaisde Fernando III no centro e no norte. Ossuecos apoiavam militarmente osluteranos e os austríacos apoiavam

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militarmente a Fernando III.Enquanto a Guerra dos Trinta Anosprosseguia, outro conflito, tambémenvolvendo católicos e protestantes,sobretudo calvinistas, explodiu naInglaterra: a chamada RevoluçãoPuritana ou Revolução Inglesa. Ogoverno inglês de Jaime I havia tido umaespécie de neutralidade emboraapoiasse levemente os luteranos, masnunca se intrometeu no conflito. Jaime Imorreu em 1625 e foi substituído porseu filho Carlos I. Líder da IgrejaAnglicana ele se casou com umacatólica, de nome Henrietta e sofreumuito de sua influência. Tentou levar oanglicanismo para mais perto do

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catolicismo acabando com crençascalvinistas nele. Isto lhe causou aoposição de parte do parlamento,dominado pelos calvinistas, que acaboudividido em dois grupos políticosprincipais: o grupo político dosCavaleiros, composto por nobresfeudais, pela Igreja Católica e tendo oapoio discreto de Carlos I e o grupopolítico dos Cabeças Redondas (elestinham este nome, pois os puritanos,calvinistas ingleses, acreditavam quehomens de cabelo grande não agradavama Deus e cortavam o cabelo de formamuito curta, sendo quase carecas, daí onome) composto por puritanos,presbiterianos, empresários ebanqueiros. Neste meio tempo a Guerra

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dos Trinta Anos já explodia na Europacontinental. A Irlanda, de maioriacatólica e dominada pela Inglaterratentou uma rebelião armada pela suaindependência em 1641, mas tropasinglesas, estacionadas no país,reprimiram a rebelião. Carlos I foiacusado de apoiar esta rebelião. OsCabeças Redondas passaram aconseguir mais poder e já falavamabertamente em depor Carlos I do trono.Oliver Cromwell, um deputado puritano,se tornou o líder deles. O rei,percebendo que poderia ser deposto, saide Londres e tenta armar um exércitopara acabar com os Cabeças Redondas,que também tinham seus próprios

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exércitos. Sua esposa foi a responsávelpor conseguir financiar um possívelexército e conversar com os católicospara que estes apoiassem o rei. Carlos Iconseguiu o apoio de católicos emarchou com suas tropas em direção aoparlamento que o declarou traidor. Oconfronto virou guerra civil aberta em1642. De um lado Carlos I e seuexército católico, de outro OliverCromwell e seu exército puritano,apoiado pelo parlamento. As tropas deCromwell, mais numerosas e bemarmadas, conseguiram uma série devitórias contra as tropas realistas deCarlos I que, para conseguir mais apoio,fez um acordo com os presbiterianosescoceses. Ele prometeu que se

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vencesse o conflito o presbiterianismoseria a religião oficial da Escócia. Em1647 os escoceses invadem a Inglaterra,mas são rechaçados em apenas algunsmeses pelo exército puritano. Ospróprios presbiterianos resolvem entãoentregar Carlos I ao parlamento.Cromwell, com seu exército, assume opoder, proclama a república e mandaprender Carlos I. Julgado e acusado deser traidor ele é condenado à pena demorte e é decapitado em 1648.Irlandeses católicos se recusaram aobedecer ao novo governo e Cromwelldeterminou que tropas inglesasestacionadas no país acabassem comqualquer revolta. Em 1649 monarquistas

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católicos iniciam uma rebelião nacidade de Drogheda, mas foramreprimidos pelo exército inglês e 3.500deles foram assassinados, incluindomuitos padres. Terras na Irlanda doNorte são dadas a colonos puritanos ede outras igrejas evangélicas gerandotensões religiosas que se arrastariam atéo século 20, quando a Irlanda se tornatotalmente independente da Inglaterra,mas a Irlanda do Norte, de maioriaevangélica, prefere ficar sob governoinglês, gerando conflitos e atentados dosdois lados com os católicos do IRA(Exército Republicano Irlandês)promovendo ataques e atentadosterroristas, inclusive na Inglaterra. Nofim do século 20 acordos de paz

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acabaram com os atentados. Guerrasmarcarão o governo de Cromwell comoum conflito naval contra a Holanda em1654 que resultará no domínio inglêsdos mares. As reformas econômicas deCromwell, baseadas no calvinismo,acabam praticamente com o sistemafeudal de produção e instalam, no país,o sistema capitalista. A Inglaterra setornará o primeiro país no mundo aadotar como política econômica deEstado este sistema econômico. Em1658 Cromwell morre de malária e opaís volta a ser uma monarquia absoluta,mas o capitalismo como sistemaeconômico já se encontravaconsolidado.

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Na França, em pleno andamento daGuerra dos Trinta Anos, Richelieumorreu de doença (ele tinha problemasgraves no intestino) em 1642 aos 57anos sendo substituído pelo cardealMazzarino. Em outubro de 1642 ocorrea Segunda Batalha de Breintenfeld, umadas mais decisivas do conflito, onde astropas luteranas alemãs e suecas vencemas tropas de Fernando III. Fernando IIImanda 25.000 soldados para combateros luteranos e suecos, que dominavam aregião, mas eles são facilmentevencidos. Cerca de 15.000 de seussoldados morrem nesta batalha contra4.000 mortos entre os suecos e osluteranos do norte alemão. A vitória

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nesta batalha faz com que os suecosavancem mais ao sul da Alemanha eameacem a Áustria que entra de vez naguerra para combater os luteranos e ossuecos. O conflito agora se estendia porpraticamente todo o Sacro ImpérioRomano-Germânico. Só o norte da Itáliaficou de fora embora muitos dos seussoldados partissem para as guerras etambém sofresse incursões militaresfrancesas. Na França a morte deRichelieu não significou nada para oexército francês que agora combatia astropas espanholas dentro da Espanha.No Sacro Império o caos reinava. Com aÁustria enfrentando os luteranosdiretamente, Fernando III mandou maisalguns milhares de soldados para

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combater os franceses na Alsácia. AFrança sofreu derrotas na Alsácia, mascontinuou dentro do território alemão.Dentro do Sacro Império alguns nobresluteranos e senhores feudais austríacosdepuseram as armas, desistindo doconflito, diminuindo em muito aintensidade da guerra no sul do império.A Boêmia não consegue conquistar onordeste da Alemanha dominado pelossuecos e seus soldados retornam àregião que tem milhares deles sendorecrutados para lutar contra os francesesna Alsácia. O nordeste da Alemanha ficapacificado e tropas suecas marchammais ao sul para apoiar os luteranos. Emfins de 1642 as posições luterano-suecas

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e austríacas praticamente não se alteram,com os luteranos ocupando uma parte docentro da Alemanha. Em 1643 osespanhóis que combatiam os rebeldesseparatistas da Catalunha e também osfranceses em seu território ao sul,resolvem atacar a França pelo norte. Emmaio, milhares de soldados espanhóis,estacionados nos Países Baixos,invadem a fortaleza de Rocroi e ocupamuma pequena região no norte francês. AFrança age rápido e envia 22.000soldados para a região que enfrentam astropas espanholas na Batalha de Rocroique durou 6 horas e deixou 4.500franceses e 7.500 espanhóis mortos. AFrança avançou em território espanholao norte a partir desta batalha, mas Luís

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XIII, o rei do país, morre de doença aos41 anos e é substituído pelo cardealMazzarino, pois seu filho Luís XIV eracriança. Na Alemanha os francesessofreram derrotas militares paraFernando III e poderiam ter seuterritório invadido militarmente. AFrança então desiste de invadir feudosespanhóis ao norte recuando suas tropase levando-as para a fronteira com aAlemanha. No centro alemão tropasluteranas e suecas são agoracomandadas por um único general,Lennart Torstensonn, um sueco, quereorganizou os exércitos luteranos e quepassou a atacar as tropas austríacas nosul da Alemanha, com apoio dos

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calvinistas holandeses. A Suíça foichamada a ajudar, mas preferiucontinuar neutra na disputa. Exércitosbávaros foram derrotados pelosfranceses na Alsácia e o exército daFrança avançou mais ainda dentro doterritório alemão, invadindo agoratambém o centro-oeste do país. AFrança também invadiu de vez o norteda Itália, região pertencente ao SacroImpério. Alguns milhares de soldadosaustríacos foram mandados paracombater os franceses. As tropasimperiais, combinadas com as dosaustríacos, foram derrotadas em váriaspequenas batalhas pelos franceses que jáocupavam toda a Alsácia e também aLorena, bem como partes do centro-

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oeste alemão e norte italiano. Após estasvitórias a França pretendeu ter asupremacia naval no Mar Mediterrâneoao norte, supremacia que pertencia àEspanha. Em setembro de 1643 váriosnavios franceses partiram da costa suldo país para se encontrar com naviosespanhóis de guerra que faziam a rotaentre o sul da Itália, que sofriainfluência econômica e cultural daEspanha, e o sul da Espanha, dominandoesta rota. Os navios franceses, 29galeões, 12 navios-fogo e duas fragatasse encontraram com 29 galeões dosespanhóis que saiam do sul da Itália. Oscombates foram encarniçados e difíceis,mas os franceses conseguiram afundar

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dois galeões espanhóis e capturar outrosdois. Os galeões espanhóis restantesreagiram e dispararam contra os naviosfranceses, mas 10 deles foramdestruídos pelos franceses. O restantefugiu para o porto de Cartagena. Cercade 3.000 espanhóis morreram nesteconflito, conhecido como Batalha deCartagena. Não há fontes que indiquem onúmero de mortos entre os francesesnem quantos navios eles perderam. Comesta derrota o Mediterrâneo ao norteficou sob o domínio da marinha francesapor quase um ano, até que os espanhóisretomassem parte de sua supremacia. NoSacro Império os luteranos avançavampelo sudeste, tendo já o norte sob seupoder, mas não invadindo o nordeste,

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que continuou terra neutra, para que osboêmios não interviessem e não sesentissem ameaçados. O sudeste daAlemanha seria atacado pela primeiravez neste conflito pelos suecos, emboradesde o começo tivesse ajudado o podercentral do Sacro Império. Em 1644disputas de fronteira entre Portugal eEspanha fizeram estes dois reinosentrarem em guerra pela disputa daprovíncia de Badajoz, na batalha deMontijo. A Espanha, que já enfrentavaos catalães e os franceses agora tem queenfrentar os portugueses a oeste. Anotícia foi bem recebida pela Françaque agora poderia concentrar maispoder de fogo contra os alemães. O

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conflito entre Portugal e Espanha duroumeses na região de Badajoz tendo avitória cabido aos espanhóis quetiveram perto de 4.000 de seus soldadosmortos. Embora derrotada Portugal teve900 soldados mortos. Apesar da vitóriaa Espanha saiu prejudicada, pois teveque levar suprimentos, soldados e armaspara o outro lado do país prejudicandosua campanha contra os rebeldescatalães e os franceses. Em junho de1644 os exércitos franceses derrotam osexércitos imperiais e austríacos emFreiburg dominando mais territórios nocentro-oeste alemão. Tropas luteranas esuecas enfrentavam os austríacos no sule bávaros no sudeste, vencendo-os eanexando territórios. As anexações

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suecas já somavam um grande territórioperto da fronteira com a Boêmia. A fimde recuperar pelo menos esse territórioo imperador enviou, no começo de1645, cerca de 16.000 soldados vindosda Bavária, da Áustria e também daHungria à região para expulsar ossuecos de feudos conquistados perto dafronteira da Boêmia. O imperadorFernando III chegou a pedir auxiliomilitar ao papa Inocêncio X (sucessorde Urbano VIII), mas este recusou-se aenviar soldados. Os suecos, sabendo doataque, se prepararam e chamaram ogeneral Lennart Torstensonn que passoua comandar perto de 15.000 soldados. Oenfrentamento entre os soldados

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católicos do imperador e os suecos sedeu perto da fronteira com a Boêmia.Com melhor armamento os suecosvenceram com certa facilidade as tropascatólicas do imperador no fatoconhecido como Batalha de Junkau.Cerca de 5.000 católicos e 1.500 suecosmorreram nesta batalha. As tropascatólicas, derrotadas, recuaram e ossuecos continuaram tomando conta daregião fronteiriça à Boêmia. O norte epartes do sudeste, centro e sul daAlemanha e uma parte do norte daÁustria haviam caído e sido dominadospelos luteranos. Estes destruíram feudosde senhores feudais católicos e osexpulsaram, mas manter estas conquistasera difícil, pois havia poucos soldados

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para tanto território embora em armas osluteranos fossem superiores. Em 1645os luteranos fizeram um acordo comsenhores feudais do sudeste daAlemanha. Estes sairiam da guerraretirando seu apoio ao poder central doSacro Império e em troca soldadosluteranos abandonariam a região. Livresdo sudeste os luteranos se concentraramem enfrentar os austríacos no sul daAlemanha que, por conseguinte, juntocom as tropas imperiais, ainda tinhamque enfrentar os franceses a sudoeste.Em 1645 ocorre a maior batalha entrefranceses e tropas imperiais eaustríacas: a Segunda Batalha deNordlingen. O general Von Mercy, das

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tropas imperiais, organiza um grandeataque, com cerca de 12.000 homensfortemente armados, contra soldadosfranceses estacionados no centro-oesteda Alemanha. Von Mercy conseguesucessivas vitórias expulsando osfranceses de várias localidades, mas oexército francês se reorganiza e ataca oexército de Von Mercy ganhandoterreno. Tropas austríacas, aos milhares,são enviadas para ajudar, mas osfranceses avançam e chegam próximos àBaviera, na cidade de Nordlingen ondeas tropas de Von Mercy, junto com osaustríacos, barram o avanço francês.Cerca de 12.000 soldados franceses sãoenviados à região. As tropas de VonMercy resistem e ganham terreno

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expulsando os franceses da região deNordlingen. No auge do combate ogeneral Von Mercy leva um tiro e morree as suas tropas se desorganizam, masconseguem barrar os franceses. Só nestabatalha morreram 5.000 soldados doexército imperial e das tropasaustríacas. Do lado francês 3.000soldados morreram. Outra parte doexército austríaco ainda enfrentava osluteranos que ameaçavam, agora, atacarViena, capital austríaca. Em 1646 osluteranos e tropas suecas invadem aBoêmia para impedi-la de enviarsoldados e armas às tropas imperiais.Ainda neste ano os franceses conseguemvencer as tropas austríacas e chegam de

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novo à Baviera. As tropas de FernandoIII só dominam parte do centro e dooeste da Alemanha. A cidade de Praga,na Boêmia, é sitiada pelos luteranos esuecos, mas resiste e as tropas católicasboêmias conseguem expulsar osluteranos e suecos de várias regiões.Acordos de paz começam a serassinados. Os franceses secomprometem a não invadir a Baviera eem troca este Estado não mais ajuda osaustríacos contra eles. A reorganizaçãodas tropas espanholas que passam aatacar com mais ferocidade os francesesna fronteira sul da França faz com queos franceses recuem na Alemanha. Osespanhóis conseguiram sucessivasvitórias contra o exército francês e

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ameaçavam, de novo, tomar conta do sulda França. Temendo uma nova invasãodos espanhóis os franceses assinamdiversos acordos de paz com osaustríacos em 1647 e recuam. Livres dosfranceses os austríacos aumentam suasforças contra os luteranos e os expulsamdo território da Áustria bem como departes do sul da Alemanha. As tropasimperiais, no entanto, eram derrotadasno centro do país. Na Boêmia, tropasluteranas e suecas foram expulsas doterritório no fato conhecido comoBatalha de Praga em que os suecos, nocomeço de 1648, conseguiramconquistar o castelo de Praga eameaçavam atacar a cidade velha do

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outro lado do rio Vltava, mas osboêmios conseguiram rechaçar ainvasão das tropas suecas na ponteCarlos, ponte essa que dava acesso aoresto da cidade de Praga. Repelidos nainvasão os suecos resolveram sair docastelo de Praga, desistindo da invasãoao resto da cidade, mas antes o saqueou,levando muitos objetos de valor,inclusive objetos históricos, como oCodex Argenteus, uma bíblia do século6, escrita em idioma gótico, que foilevado à Suécia tornando-se parte dabiblioteca da rainha Cristina I (após suaconversão ao catolicismo e a sua saídada Suécia o Codex foi levado do paíspelo bibliotecário da rainha, IsaacVossius, para os Países Baixos, até que

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a Suécia o comprasse de volta. O Codexainda está na Suécia até hoje naUniversidade de Upssala. Uma páginado Codex, que se julgava perdida, foiachada em 1970 na Alemanha). Osboêmios fizeram um acordo de paz comos luteranos e com os suecosprometendo não mais apoiar as tropasimperiais se aqueles não maisinvadissem a região. A guerra agora seconcentrou no centro e sul da Alemanhacom luteranos enfrentando as tropasimperiais e austríacas. Um senhor feudalcatólico, Maximiliano I, da Baviera,entrou no conflito contra os luteranos em1648 e os atacou pelo sudeste o quepoderia abrir outra linha de combate

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contra os luteranos e beneficiar osaustríacos, mas as tropas deMaximiliano I foram facilmentederrotadas. Franceses e suecos invadema Baviera o que faz com queMaximiliano I assine a chamada Tréguade Ulm no qual ele se comprometeu anão mais se envolver no conflito. Noentanto, meses depois, ele rompeu atrégua e passou a ajudar as tropasimperiais. Fernando III recusoupropostas de paz, mas perdeu algumasbatalhas contra as tropas suecas nocentro do país. Assim em 1648 assinoucom eles um tratado de paz bem comocom os luteranos. Fernando III então seconcentrou em expulsar os franceses queainda ocupavam o centro-oeste do país e

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partes da Alsácia. Para entrar emterritório francês a sudeste ele atacou ocantão suíço de Lens, de maioriafrancesa, mas os exércitos franceses,estacionados na fronteira, rechaçaram ainvasão de Fernando III e venceram suastropas em 1648 ameaçando invadir ocentro alemão. Com esta ameaçaFernando III firmou um acordo de pazcom os franceses. Tropas austríacas eluteranas agora lutavam sozinhas no suldo país. Com o acordo de paz entre aFrança e Fernando III os franceses seconcentraram em acabar com a ameaçaespanhola, vinda dos Países Baixos, aonorte. Luis II comandou 16.000 soldadosfranceses para entrar na cidade de Lens

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que, embora tivesse o controle francês,estava sob a ameaça de soldadosespanhóis. Ao chegar perto da cidadereceberam apoio dos suecos, quedominavam mais ao norte, na Alemanha.O exército francês entrou na cidade deLens, ameaçando o exército espanholque se concentrava perto da cidade. Osespanhóis se encontravam em campoaberto e decidiram tomar a cidade devez. Concentraram suas forças paratomar Lens. O exército espanhol contavacom 18.000 soldados, mas os francesestinham o apoio da população. Osespanhóis tentaram cercar a cidade, masLuis II decidiu sair com seus soldadosda cidade e enfrentar os espanhóis foradela. No começo os espanhóis

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venceram, fazendo com que os francesesrecuassem para dentro da cidade, mascom o reforço e o apoio de parte dapopulação da cidade, os francesesretomaram o controle do conflito,avançando sobre os espanhóis. Oconfronto é conhecido como a Batalhade Lens, a última da Guerra dos TrintaAnos. A batalha se encerrou em poucosdias com a vitória francesa que acaboudefinitivamente com a ameaça espanholavinda dos Países Baixos. Cerca de3.500 franceses e 3.000 espanhóismorreram na batalha. Neste meio tempona cidade de Munster e em Osnabruckrepresentantes franceses, de FernandoIII, dos suecos, dos austríacos e dos

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luteranos do norte alemão se reunirampara firmar um acordo de paz conhecidocomo Tratado De Westfália ou Paz deWestfália que finalmente poria fim aoconflito. Representantes espanhóis e daHolanda foram convidados e tambémcompareceram embora a guerra entrefranceses e espanhóis ainda continuasse.Os assinantes do tratado de pazconcordaram com as seguintespropostas: o calvinismo também seriaaceito no Sacro Império Romano-Germânico e teria total liberdade deculto, assim como os luteranos ecatólicos (os anabatistas ficaram defora, pois não foram convidados aparticipar do tratado); os territórios daAlsácia e partes da Lorena foram

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incorporadas ao território da Françabem como três bispados na fronteira:Metx, Verdun e Toul; os suecos secomprometeram a sair dos territóriosconquistados por eles no centro e nonordeste da Alemanha e receberamportos e águas marítimas paranavegação, mas a Suécia queriacontinuar controlando a PomêraniaOcidental, detentora de grandes portos,com o quê os alemães concordaram; aEspanha retirou suas pretensões dedomínio nos Países Baixos e secomprometeu a retirar seus soldados e anão mais mandar soldados para a região,os holandeses passaram a dominar todosos Países Baixos incluindo as partes

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católicas habitadas por Valões eFlamengos, mas sua religião católicateria liberdade de culto (muitas décadasdepois Flamengos e Valões formariam oEstado da Bélgica) e saíram da área deinfluência do Sacro Império Romano-Germânico; os senhores feudais alemãesganharam mais autonomia ainda em seuterritório incluindo o direito de fazeralianças com países estrangeiros; aSuíça (que não participou do tratado,pois não entrou na guerra) teve suaindependência garantida, também saindoda área de influência do Sacro ImpérioRomano-Germânico; tropas luteranassairiam do centro e sul da Alemanha esua independência religiosa seriagarantida sendo que o norte ganhou mais

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autonomia, principalmente os feudosluteranos de Brandemburgo (décadasdepois o norte luterano se unirá em tornodos feudos de Brandemburgo em umgrande Estado autônomo chamadoPrússia que se tornará o mais capitalistae industrial da Alemanha); o podercentral do imperador do Sacro Impériofoi diminuído, tendo a Suécia e Françadireito de também opinar em suaeleição, bem como a entrada de novossenhores feudais com direito de votopara eleger o imperador.A Paz de Westfália foi benéfica para aFrança, Suécia e Holanda, consideradosos grandes vitoriosos da guerra. AFrança, no entanto, teve ainda que

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enfrentar tropas espanholas, mas emsolo espanhol, contando com o apoiodos catalães e também dos portuguesesque se aliaram aos franceses. Em 1649 aguerra entre França e Espanha tem umatrégua com assinaturas de paz, mas oconflito só termina oficialmente com otratado de paz dos Pireneus em 1659. AEspanha ainda enfrentará os rebeldescatalães em um conflito militar até 1652quando os catalães assinam tratados depaz e conseguem mais autonomia naregião, mas não a independência, bemcomo a retirada de soldados espanhóisde seu território. Os franceses ainda vãoenfrentar um conflito civil em 1648,conhecido como Fronda. O sul daFrança foi arrasado por causa da

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ocupação espanhola e do conflito militarque ocorreu na região para expulsar osexércitos espanhóis. Mazzarino, cardealcatólico e ministro do país, decidiureconstruir a região cobrando maisimpostos dos nobres e senhores feudaisde toda a França. Muitos deles nãoaceitaram a proposta e foram presos. Afome aumentava no sul da França ecamponeses pobres iniciaram umarevolta armada contra o governo centralfrancês. Exércitos francesesestacionados na região reprimiramduramente os camponeses revoltososque combatiam o exército com armasparecidas com estilingues, daí o nomeFronda para o conflito, pois fronda era o

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nome dado ao estilingue na França, massenhores feudais de outras partes daFrança também se revoltaram contra oEstado central francês que queriaaumentar os impostos sobre eles. Oconflito armado se espalhou por muitasregiões do país e os rebeldes exigiram ofim do aumento de impostos e adeposição de Mazzarino do seu cargo.Tropas comandadas por Luis II entramdo lado dos revoltosos e marcham sobParis, mas foram derrotados peloexército imperial francês. Em 1650Mazzarino renuncia, mas os altosimpostos continuam sendo cobrados. Oparlamento elege Luis XIV maior deidade e o coloca no trono. O conflitotermina em 1653. Mazzarino é

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reconduzido ao cargo de ministro. AEspanha, acreditando que a França seenfraquecera no conflito, rompe a tréguae ataca o país, mas é rechaçado em umasérie de batalhas nas fronteiras sudoestee oeste francês em 1654.

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As Consequênciasda Guerra dosTrinta Anos

As conseqüências da Guerra dos TrintaAnos são enormes. Ela marca adecadência da família habsburgo,

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principalmente na Alemanha, bem comoa dissolução do poder central doimperador do Sacro Império Romano-Germânico o que beneficia a França queentrou na guerra justamente para acabarcom o poder dos habsburgos quecercavam o país, o grande temorfrancês. A Alemanha, principal palco doconflito, foi o país que mais sofreu. Nonorte, as guerras bem como epidemiasde fome e peste mataram milhões depessoas, cerca de metade da populaçãoda região. No sul e centro da Alemanha,bem como na Boêmia, morrerammilhões por causas parecidas, cerca de20% da população. Calcula-se que aguerra em si, bem como as epidemias defome e doenças que dela surgiram

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tenham matado entre 4 a 8 milhões depessoas em toda a Europa, basicamentena Alemanha. Assim como os judeus,que pagaram um alto preço emperseguições por ser o povo quemanteve as tradições do judaísmo e semanteve fiel à sua missão de povoescolhido de Deus, os alemães tambémpagaram o seu preço por terem sido osiniciadores e grandes defensores daReforma Protestante. O preço que osalemães pagaram por ser a pátria daReforma foi alto, mas os Estados nonorte alemão iniciarão, assim como aInglaterra com o fim da RevoluçãoPuritana e a Holanda, a entrada aosistema capitalista de produção. No

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começo do século 18 a Prússia é criadacomo Estado autônomo e se torna o maisdesenvolvido da Alemanha e um dosmais desenvolvidos da Europa adotandoo capitalismo enquanto o sul e centro,católicos, ficam no feudalismo ainda pormuito tempo e com sua economiabasicamente agrário-pastoril, enquanto aPrússia se industrializa. A Áustriatambém conseguirá certa independênciado poder central do Sacro Império e,anexada ao norte da Itália, formará oImpério Austríaco. A França saiu comogrande vencedora, mas teve o sul do seupaís destruído o que iniciou a revolta daFronda, que vai arrasar com grandeparte do país. Luis XIV vai revogar oÉdito de Nantes o que faz com que os

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huguenotes, que lutaram pela França,temendo perseguições, abandonem opaís principalmente para a Suíça queterá o oeste todo ocupado por francesese assim vai permanecer até o século 21.Em resultado os evangélicos seextinguem como religião na França e ocatolicismo se torna religião da maioriaabsoluta do povo francês com o governode Luis XIV adotando o AbsolutismoMonárquico como forma de governo,que lhe garantirá certa independência dopapado. O Absolutismo, como modelode governo, se espalhará da França parapraticamente toda a Europa, comexceção da Inglaterra que em 1688derrubará o absolutismo, através da

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Revolução Gloriosa, uma revoluçãopacífica, e instaurará a forma degoverno parlamentarista, embora aindamantenha a monarquia. Com oAbsolutismo a Igreja Católica perderámuito do seu poder temporal, pois ficarásubmetida ao poder dos reis. Os papasterão apenas poder simbólico, emboraos absolutistas, nos países católicos,apóiem firmemente a Igreja. A Espanhacontinuará com suas colônias, mas perdePortugal (conseqüentemente o Brasil ecolônias na África). Os espanhóistambém perderão sua área de influênciacultural e política em Flandres,principalmente entre os Valões quepassarão a sofrer influência cultural epolítica da França. Em 1700 o último rei

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habsburgo da Espanha morre semherdeiros o que faz com que osfranceses apóiem a subida de Felipe V,um Bourbon, ao trono espanhol,afastando de vez a família habsburgo dopoder na Espanha. O sul da Itáliatambém deixará a órbita de influênciaespanhola. Espanha e Portugal não seindustrializam e, apesar de suascolônias, no final do século 17 serãomais pobres que Inglaterra e Holandaque se tornarão as grandes potênciascapitalistas do continente, seguidas, noséculo 18, pela Prússia. A Suéciapassará também por um período dedecadência, ficando dependenteeconomicamente de holandeses e

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prussianos. O catolicismo se expandepela América portuguesa e espanholaenquanto os evangélicos avançarão naAmérica do Norte, principalmente comos batistas, seita calvinista que surgiu naInglaterra e que copiou a crençaanabatista de batismo só de adultos. Sãode cisões dentro da igreja Batista que,no século 20, surgiram as igrejaspentecostais, tendo a Assembléia deDeus como a sua representante primeira.

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Conclusão O maior conflito religioso da Europa,talvez do mundo, ensinou muita coisaaos europeus e nos ensina muitoatualmente. Em primeiro lugar a crençade que a Igreja deve ser separada doEstado ficou latente neste conflito.Quando a religião, ou qualquer outracrença, é imposta, a perseguição e,também a guerra, acaba sendo

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inevitável. Os evangélicos serão osgrandes defensores da separação entreIgreja e Estado. Em segundo lugar ficouclaro que a cultura influi sim nodesenvolvimento econômico de um país.Graças ao calvinismo o capitalismo sefortaleceu em muitos países da Europase revelando uma força que ofeudalismo não conseguiu debelar. Ospaíses que mais resistiram ao seuavanço ficaram atrasados em relaçãoàqueles que adotaram este novo sistemaeconômico. As idéias de Calvino (livreiniciativa, empreendedorismo,libertação da usura e do dinheiro dasidéias pecaminosas que elesrepresentavam) se constituiriam na basedo capitalismo ocidental e do

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desenvolvimento de Inglaterra, Holanda,Prússia e Estados Unidos. A França e aItália adotarão o capitalismo plenamentesó no fim do século 18, se tornandopotências industriais no século 19 (onorte da Itália se tornará plenamenteindependente do poder austríaco noséculo 19 e a partir dela a Itália seráunificada com a Igreja Católicaperdendo seu poder temporal no país. AFrança precisará de uma revoluçãoarmada, a chamada Revolução Francesa,ocorrida em 1789, para derrubar oAbsolutismo bem como o feudalismo emseu país e entrar firme no capitalismo,embora continue católica). O Japão, noextremo oriente, também adotará as

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políticas econômicas do capitalismoocidental na metade do século 19. Emterceiro lugar o conflito revelou o que apolítica tem de aparentementecontraditório, embora o mundo real sejamais feio do que o mundo das idéias.Richelieu provou isto ao salvar a Françae transformá-la em grande nação quandose opôs aos católicos da famíliahabsburgo apoiando os luteranos aindaque fosse cardeal de uma Igreja quecombatia esta religião. Às vezes, napolítica, as alianças nem sempreatendem ao entendimento superficial daspessoas e são contraditórias porque arealidade é assim. Em suma, a Guerrados Trinta Anos revelou a naturezahumana em sua forma mais realista.

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1 Todas as condenações do Consistóriorelatadas e outras não relatadas estão no livroCalvin, a Biography de Bernard Cotrett, págs.171-178

2 Parker, Geoffrey, The Military Revolution, p.88

3 Guthrie, William P. Battles of the ThirtyYears War: from White Mountain toNordlingen, 1618-1635. GreenwoodPublishing Group, 2002, p. 144

4 Guthrie, William P. Battles of the ThirtyYears War: from White Mountain toNordlingen, 1618-1635. GreenwoodPublishing Group, 2002, p. 143

5 Guthrie, William P. The later Thirty Years

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War: from the Battle of Wittstock to theTreaty of Westphalia. Westport, USA:Greenwood Publishing Group, 2001, p.181

6 Guthrie, William P. The later Thirty YearsWar: from the Battle of Wittstock to theTreaty of Westphalia. Westport, USA:Greenwood Publishing Group, 2001, p. 181