catálogo arte pará 1997

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    FVNDA~TEIR_A_S

    PALACIO LAURO SODREMUSEU DO ESTADO. .BELEM-PARA

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    FRONTEIRA

    UM ARTE PARAHa dezesseis anos iniciou a trajetoria de u r n dos saloes mais importantes dentro das artes plasticas naci

    nais. Seguramente, em 1982, quando do vernissage do primeiro da serie, ninguem imaginaria que contornos eviria assurnir, que transformacoes dentro do seio da cultura local produziria e, 0 que rnostrou-se mais importantque fundamental contribuicao darla a obra de artistas de tim modo particular, e rnesrno de urn modo gera!.possivel que alguem tenha imaginado todo esse percurso que importou em mudancas significativas, em determnacoes, crises, lutas e superacao de obstaculos impastos par uma econornia absolutamente instavel, ou mesmpor um precario processo mercadologico.

    No decimo sexto Arte Para, quando reunidos os trabalhos dos artistas selecionados aos dos artistas convdados, compreende-se que a evolucao importou muito em uma mutacao leve, paulatina, influencia, tambem,modificacao de uma sociedade e de seus processo e producao artisticos. Um ponto sempre lembrado, pelos qacompanham essa evolucao, e 0 crescimento, ano ap6s ano, da producao fotografica, que nao deve-se tao somete ao Sa lao, e claro, mas tambem a profissionais como Miguel Chikaoka, Leila Jinkings, Luis Braga, Elsa Limque investiram no trabalho fotografico, criararn urn mercado, driblaram dificuldades e, especialmente 0primeiroformaram urn time de olhar atento e de inquietos registros.

    o Arte Para viu artistas arnadurecerem, afastando-se de questoes insipientes e outros surgindo commesmas questoes por resolver; questoes que continuarao existindo, posto que sao naturais no questionamento equa!quer formacao cultural. 0 que se diz de run povo que nao se questiona? Nada, efetivamente nada. Todasculturas caminham para 0 controle, 0 questionarnento e, inevitavelmente, para 0 colapso, 0 caos, Neste antentou-se dar a visao de urn pais sem fronteiras, ou de uma arte sem fronteiras - com questionamentos -, de upovo que nao percebe limites e avanca em direcao a algo que acostumou-se a chamar de futuro. 0 Futuro sempsera 0 instante imediato, 0 agora. Agora, quando abre-se este Salao, compreende-se 0 porque de tanto esforco,tanta forca, de todo 0 trabalho dedicado: a arte se configura a cada palmo, a cada trace dos artistas, quer plasticosquer fotograficos, quer minimalistas, que buscam na configuracao dos trabalhos, alguma traducao de seus anseioo que equivale dizer sentimentos.

    LUCIDEA MAIORANA199

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    :1IW.\ rEI RN'';

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    FRONTEIR

    '"GRANDE PREM IO

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    ARTE PARA 1997

    EDUARDO FROTA

    Objeto em Madeira - 56 x 65 x 1 7 Cms, 1997 ..10

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    1\ltrE PAR,\ 1997

    THE CONCRET CONCERT

    Lygia Clark, em carta a Helio Oiticica, comentando certa producao artistica de entao - era os anos 60,carta data de 19 de janeiro de 1964 -, diz: "Estou mais do que convencida sobre a crise do plano (retangulo)Mondrian, 0 maior de todos, fez com 0 retangulo 0 que Picasso fizera da figura. Esgotou-o de vez. So que pelpropria epoca a crise deslanchada por Mondrian emil vezes mais seria e maior que a deslanchada par Picasso.crise da estrutura - nao estrutura formal como sempre houve mas estrutura total- e 0 retangulo que ja nao satisfazcomo meio de expressao". Era, e ainda e, uma questao basica para as artes, portanto, nao se esgota em Mondrian,uma vez que sempre outros tantos novos artistas estarao diante dela, e a premissa de Lygia, que a levara a rupturas, fazendo com que abandonasse 0 plano formal buscando a tridimensionalidade, serve tambem para tantosoutros que questionem, como ela 0 fez urn dia. Um ponto e chave nessa historia, Mondrian levou a figura dretangulo a maxima utilizacao, criando nao somente obras, quadros, mas essencialmente pensamentos, E mantinha-se bidimensional. A questao da forma e preocupacao basica dos artistas desde a ruptura havida as primeirasdecadas deste scculo, atraves do repudio a arte formal, especialmente quando das revolucces esteticas oriundasdo Expressionismo Alernao e, consequentemente, da Republica de Weimar.

    Kandinsky toma a linha de frente e executa um trabalho que, mesmo sobre 0 papel, transcende 0 limitedeste e ganha espaco maior. Depois, ou concomitantemente, Giacometi realiza os ready-mades, como Duchamptambern, emprestando a alguns objetos sentido e utilidade difcrentes dos pr imevos , Gaiolas e engenhocas, comoo bravo concebido por Giacorneti, dao a dimensao da antropofagia que, entao, visava essa revolucao em busca dresolucao do espaco. A propria Lygia, dentro do neoconcreto - a corrente resposta ao concretismo paulista -, criaespacos, rompendo com as barreiras impostas pela arte tradicional - saindo da parede - constituindo, enfimuniverso diferente. A serie "Bicho", os "Abrigos Poeticos", todos sao fruto dessa discussao espacial, semprevoltada para uma poetica especial; tratava-se, entao, de correntes que, quisessern ou nao os artistas, advinham domovirnento modernista. Para os modernistas, a discussao do espaco tarnbem existia, inda que de forma implicita,como na volumetria desenhada nos trabalhos de Tarsila do Amaral.

    Passarnos pela questao do mito? Tambem, especialmente 0mito depois de Wahrol. A figura do mitomodifica-se com a inrervencao, atuacao, de Andy Wahrol. E como disse Jean-Pierre Vernant, em "Raisons duMy the", "0mito coloca, entao, em jogo uma forma de logica que se pede chamar, em contraste com a logica dnao-contradicao dos filosofos, uma logica do ambiguo, do equivoco, da polaridade". E dentro desse contexto,mesmo do normativo dos anos neoconcretos do Brasil, que a obra de Eduardo Frota encontra afinidades, mesmoque a discussao espacial promovida pelo artista seja absolutarnente formal, no senti do de buscar solucoesvolumetricas, Na discussao promovida por Frota, percebe-se a influencia de LimAmi1car de Castro - talvezartista que melhor tenha desenvolvido codigos na busca de solucoes para questoes espaciais, questionador absoluto da forma, em suas pecas, que e. A obra de Eduardo Frota question a 0 espaco dentro de limites que tantopoclem aclvir do material uti lizado - como na fase do rccorte da madeira com pintura posterior -, quanta da criacaode form as, quando discute a continuidade, 0 que poderia ser e 0 que irremediavelmente e . E a binaridade do simnao, ser/nao ser. Assim, seus objetos nao sao isso ou aquilo, como tarnbem nao sao nem isto nem aquilo outro.

    Nas obras deste Arte Para 97, Frota trabalha madeira em duas coloracoes naturais, unindo-as na agonia d"retorcido", como se este fosse um recorte impassive I de ser delineado fora do objeto. Agonicas no conceito,traduzem 0 espiritual do artista, que parece oscilar entre 0 bem estar e 0 mal estar, como se parametres fossemmotivos para preocupacoes, As obras premiadas nao partem da premissa das preocupacoes, e sim das inquieta-cces, que e 0 que promovem. Frota parte do dcsenho (do retangulo"), a obra parece inserir-se em um retangulosern qualquer prejuizo para a imagem; M LIm desenho anterior, que c genese do objeto. Nem isso, nem isto,objeto trabalhado em duas coloracoes, inquieto na forma, induz a questionamentos tecnicos, antes mesmo dquestionarnentos conceituais.

    Em Frota o conceito esta incluso na forma, no trabalho esmerado com a madeira, no engaste, como se doisuniverses fossem irremediavelmente grudados, unidos , Ainda, a questao do mito permeia a obra. Partamos dideia de que a discurso s o e born, pelo menos para Platao, se 0 objeto dele, ou seja, 0 motivo pelo qual se efetua

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    FRONTS[RAS

    o diseurso, for efetivamente born. Assim, a obra, a fala do artista, so se constitui boa se disser respeito a algoborn, perfeito, ao substrato real desse artista, por exemplo. Em outras palavras, s6 merece ser entendida comoobra, e como tal admirada, quando for coerente, absolutamente concluida. Da-se 0mesrno quanta ao nome, comoobserva Derrida, quando enuneia: "Urn poueo como se um nome nao devesse se dar a nao ser (aquilo) a quem emprimeiro lugar 0 merece e 0 chama". A beleza do discurso de Shakespeare em "Romeu e Julieta" - quanta afuncao do nome- nao fica anulada porque este eonfigura-se como tal, realmente, quando serve para indicarumser, ou algo que mereca a denorninacao. No easo da obra de Eduardo Frota, especial mente na saida do retanguloimaginario - para romper com 0 espaco -, surgindo elegante feito objeto perfeito, concluido, nome, discurso emito constituem uma unica coisa: obra, inquieta em seus contornos, sem arestas e bela, como coisa real por fora.

    CLAUDIO DE LA ROCQUE LEAL1997

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    FRONTEJRA

    ~ ~PREMIO AQUIS I

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    ARTE PARA 1997

    ANA RONDON

    Desenho - 38 x 28 ems, 1997 .16

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    ARTE PARA 1997

    ALBERTO BITAR

    Crimes NO/limos II - Fotografia - 60 x 75 ems, 199718

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    ARTE PARA 1997

    CELSO OLIVEIRA

    Fo ro grafia - 50 x 60 em s, 1997 ...20

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    ARTE PARA 1997

    FLAVYA MUTRAN

    Fotografia - 60 x 75 ems, 1994 .2 2

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    ARTE PARA 1997

    , -JOSE ANDRANDE (ARAM)

    Ria Rua - Objeto em Miriti - 72 x 1 2 x 4 ems, 1997 .24

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    Fotografia - 60 x . 50 Crus , 1996.., .

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    PAULO ALME IDA

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    ARTE PARA 1997

    PAULO SOUZA

    Fotografia - 55 x 69 ems, 19972 8

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    A M agica - Fotografia (Triptico) - 68 x 46 ems (cada irnagern) , 1997

    ARTE PARA 1997

    WALDA MARQUES

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    FRONTEIRAS

    ARTISTAS CONVIDADOS

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    FRONTEIRAS

    ,CICERODIAS

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    ARTE PARA 1997

    AZUIS E ENCARNADOS BRASILEIROS

    Apresentar Cicero Dias, 0 artista pernambucano que conquistou 0mundo, neste pequeno, porem represenrativo nucleo de desenhos e aquarelas executados entre os anos 20 e 40, para 0 XVI Salao Arte Para, e Uprivilegio. Em umas e outras podemos encontrar, com enorme prazer, "...0 mais brasileiro dos azuis, 0 maipernambucano dos encarnados ", como ja observava Gilberto Freire em 1928.

    Ha mais de meio seculo residindo na Franca, Cicero Dias entretanto jarnais abandonou seu contato comBrasil, ou com as raizes de sua pintura.

    A tonga experiencia do pintor na Europa foi das mais intensas, seja no plano cultural, convivendo comartistas modemos exponenciais neste seculo e participando de movimentos e exposicoes notaveis, ou no planodas aventuras de urn homem corajoso e amante da liberdade, durante os anos sornbrios da Segunda GuerraMundial. Desde entao sua arte tem mantido aquelas propriedades encantadoras de espontaneidade e original idade, uma assumida poetica visual que em determinado momento enfrentou os desafios do abstracionismo e deleextraiu a ambicao de horizontes cada vez mais amplos.Cicero Dias continua a preservar a vitaliclade de sua arte, mantendo-se urn artista atento a seu temposempre participative. Sua mats recente exposicao no Brasil, uma extraordinaria retrospectiva comemorativa doseus 90 anos, promovida pela Casa Franca Brasil, no Rio de Janeiro, comprovam ate hoje uma dedicacaoapaixonada que torna inevitavel recordar 0 iniciode sua carreira, como umjovem modernista audacioso e tantavezes pioneiro.

    Max Perlingeiro199

    Personagem Ie Personagem II - Aquarelas - 36 x 32 ems, c. 1940] 6

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    t.

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    FRONTEJRAS

    CILDO MEIRELES

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    ARTE PARA 1997

    ATUAL QUEBRA DE FRONTElRAS

    Na obra de Cildo Meireles encontra-se referencias ao que 0 pais viveu, especialmente na politica - os ade churubo, anos da ditadura militar. Nada intencional; nao que quisesse ser realmente idealizador de lima oessencialmente politica - e nao 0 e real mente -, mas a irnportancia dos experimentos na obra de Cildo eressaltam a ideia artistica sobrevivendo a qualquer movimento contrar io , Desde 1967, quando iniciou a configracao da obra "Cantos" (!967-68), a discussao espacial, a quebra de fronteiras, vem sendo magnificamente ratificaNa decada de 80, par exemplo, com a instalacao "Missao/Missoes - Como construir Catedrais" (1987), consegintensificar 0 conceito de quebra de fronteiras, de quebra de pensamentos estabelecidos.

    Quer em "Atraves" (1983-89), quer na mais que discutida "Tiradentes" (1970) - na qual ateou fogo atotem e a galinhas vivas -, 0 conceito e fundamental para Cildo Meireles, e e fundamentado na questao do prophornem, seu trabalho, sua laboriosa forma de existir: vida levada a forca, questionada, sempre e, por vediretamente, no seio da propria sociedade, como no caso da "Insercoes em Circuitos Ideologicos - Projetos CoCola e Cedula" (1970). Toda essa producao mostra-se atual porque e feita de residuos desse homem que desene redesenha suas ideias, seus conf l i tos, ate que corporifiquem-se de forma irrefutavel, quer em um espacoexistente, quer em aIgum outro que se constitua especialmente.Eo caso dos "Condensados" (1970), que levam a discussao espacial ao extremo. Deri vados do "MutacoGeograficas: Fronteira Rio-Sao Paulo" (1969), sao aneis, portanto versces em miniaturas dos trabalhos do "Mracces". Tres sao os "Condensados": a primeiro, que e 0 "Deserto", em forma pirarnidal; 0 segundo, que eprisma hexagonal, eo terceiro que eo "Anelbornba", em forma cilindrica, que contem polvora e executadoouro branco. A obra de Cildo Meireles retrata, entao, esse caos nosso de todos os anos e dias; questiona"Insercoes", por exernplo, 0 mito e sua utilidade dentro de uma sociedade de consumo (no caso do ProjCoca-Cola), como tarnbem a morte, partindo do assassinato do jornalista Wladmir Herzog.

    Nos "Condensados" os elementos constituuem 0 conceitual da obra. A quebra do espaco formal e a rnadiscussao e vale, inclusive, como referencia para a utilizacao de materiais de alto valor, como Duro e pedpreciosas. Urn anel qu.e poderia ser dado a qualquer urn dos que ditavarn a sort.e dos anos 70. Uma marc a letafatal em nosso passado politico, os anos de chumbo deixararn sequelas e tomaram favoravel 0 terrene parsurgimento de obras contundentes. Como quis Paul Celan, nos versos do poema "Stretro" - "Levados ao camcom a marca fatal" -, todos,judeus e nao judeus, caminhamos com 0 estigma de sermos homens em busca de udirecao, de urn preceito verdadeiramente livre de qualquer ranee, A obra de Cildo Meireles se configura exatamenna obra sem ranco, sern fronteiras e, antes de tudo, sem incongruencias, Um3 obra magnifica, digna dos maioespectadores do mundo, que nada mais sao que homens sensiveis.o "Anelbomba", que e exposto com as caixinhas "Dad os" e "Resposta", denota todos as questionamentoque vivenciamos ao longo desse periodo em que 0 perigo se formou ao 110SS0 lado, assumindo 0 rosto de noinimigo. Expor obra iao importante e mais que um prazer, ou honra, e tatificar essa constante luta dos artistasuma melhoria nos valores sociais e artisticos, Expor 0 "Anelbornba", uma obra de mais de vinte auos an-aprovar que a arte de Cildo MeireIes rornpe qualquer fronteira de tempo e espaco e se faz eternamente atual, cose tivesse acabado de ser pensada, desenhada e constituida. Livre, como sen criador, a obra existe tambeminconsciente de todos nos . . E beleza irretocavel, e pureza realizada com espirito, Ouro e polvora servemsomente para corporificar esse belo sentimento.

    CLAUDIO DE LA ROCQUE LEA1

    Serie Condensados - Anelbombu e Dado - Objeto - 4 x 1 ems, 197040

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    ARTE PARA 1997

    EMANNUELFRANCO

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    FRONTEIRAS

    A CORDILHEIRA

    Quando Emannuel Franco pensou em uma instalacao para 0 Arte Para, no prirneiro impulso imaginou acontinuidade, ou antes a concretizacao, de uma ideia que importa em urna exposicao itinerante que vai - certa-mente um dia seguira - rio aeima, rio abaixo, barcaca, boia, traces, tudo flutuando ao sabor dos rios, perfazendourn caminho que a mente do artista hit tanto perfaz de forma inquieta e silenciosa. A busca dessa instalacao, noentanto, esbarrou na fronteira do sonho. Outro, no entanto, havido quando da meninice, com tantas idas e vindasde urn a outre municipio, ganhou forma.

    Para Emannuel Franco a arte 6 exatamente esse substrato, esse terroso espaco que a memoria formou,como se na terra em que viveu nao houvesse cor nenhuma alern da Sienna Queimada, ardida, poeria vermelhalevantada no carniuho da Vigia. Procissao e profissao de fe.anjos e santos de roca, rnisturaram-se em fantasmagoriapara 0 menino que viu, um dia, enfileiradas em um bar, como que carcomidas - fruto do delirio -, mesas guecontinham copo vazio que nada representava alern da lembranca de maos que 0 tinha segurado, erguido emdirecao aos labios. Os riscos e as traces do artista, desta feita, derarn lugar, cederam a vez, aos tracos da vida, aosretratos riscados sobre 0 ferro das mesas dos bares. Quem e do Para, da beira de rio, lembra do bar flutuante daCondor, do Palacio dos Bares, com um risco de luz, quase um ranho de azul rasgando 0 ceu em busca do ouroescondido no Iiquido das bebidas geladas, ou enterrado no chao do caminho que leva a cidade da Vigia, reduto decabanos.

    Entao, idealizou a cordilheira de mesas recortadas - desenho e recorte rispidos -, como se fossem um rioem revolta e revolucao, e contendo, contidos que estao, os riscos e tracos dos outros, articulada voz atraves dafala de terceiros. Os riscos nao apagados, mas valorizados porque, no fundo, mesas tambern sao fronteiras, saolimites de quatro lados iguais e opostos, ja que sao as pequenas e quadradas e nao as grandes dos banquetes. Foiuma especie de ultima fronteira 0 que Emannuel tracou, com a mesa, simbolo de um processo divino, 0 de Cristoque serviu aos apostolos seu corpo e seu sangue e num so trago sorveu pela ultima vez 0vinho. A religiosidade naobra de Emannuel, tambem decorrencia desse viver em Vigia, das vigilias ao Senhor Morto, e estrutural. Nao hasomente a historia, dos indios, do sol que queima e arde e faz parecer ouro pedras e metais rnais baratos, Nao etao somente 0 narrar de todo urn processo de dissociacao que nossa terra viveu, sempre a rnargern de um rio quesaiu ruminando nas maroias, caminho aeima, 0 decorrido.

    A cada mesa urn papo, uma conversa, uma historia: a fala do proprio artista, Emannuel busca as palavrasalheias para construir sua propria fala, criar suas proprias palavras, exercer a funcao da arte. Os riscos sao preser-vados e unidos a outros cornplementares. E acima, pairando alem do bem e do mal, uma vez que todos saoterriveis, urn imenso anjo, fruto, tambem, - formacao hibrida - de urn bicho com urn ser humano. Uma cotia, urntamandua, sabe-se lit 0 que mais, mas, certarnente, alguma forma vista na infancia, Os animais de Emannuelguardam esse misto transitorio entre animal e homem. A mesa (da Ultima Ceia?), feito um rio que cone 0 chaoem busca do Graal, guarda sobre 0 tampo, uniao de tantos, os riscos, como se corpo e sangue de Cristo, exposto,fossem. Parece 0 terror de Leonardo, 1120 no afresco da "Ultima Ceia", mas na "Adoracao dos Reis Magos",amarelada e escameeida obra, onde a Virgem de sorriso terrifico olha-nos ao tempo que estende 0olhar a outrem.

    Basta lembrar da cor da terra das estradas por onde caminhou 0pequeno Emannuel, e onde 0grande buscainspiracao para a concretizacao de toda fala artistica, para compreender-se 0 porque do monocrornatico, 0porqueda explicita forma tomar conta do trabalho como se em proeesso de dissonancia. Nao ha espaco para cores, massim para a forma. Ha repeticao de dialogo, como se as palavras trocadas sobre esses tamp as de mesas usadas embares ainda continuassem flutuando sabre seu espaco E a lona que encobre, descobre e forra os mesmos espacos,e da cor da poei ra, da terra amarela, batida, lida e reJ ida nos passos de tantos que procuraram ouro cabano nasparedes seculares dos predios da Vigia. Belem- Vigia, tra jete, rota, perfeicao e morte.

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    ARTE PA R A 1997

    A rota das boias, jiboias, que flutuam sobre 0 rio, indo na direcao dos olhares clos espectadores; feiforrnas afogadas que descem assombrando as beiras a populacao desses rios, que emudece a hora das Vesperasquando algurn radio distante reza a Ave-Maria enquanto olhos esrreitos l1a tristeza deixam que rolem algumalagrimas. : E esse 0 caminho da obra de Emannuel Franco, que buscou 0 El Dorado perdido no meio da Amazonie encontrou, 11a ernocao do "Gloria", a riqueza guardada durante seculos nas paredes sagradas de prediosBelern e de Vigia.

    eLAUDIO DE LA ROCQUE LEA199

    Borde! Fronteirico e Carro dos Anjos - Instalacao (Dctalhe), 1997 .44

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    ARTE PARA 1997

    EMMANUEL NASSAR

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    FRONTEIRAS

    SOBRE "BRASIL", DE EMMANUEL NASSAR

    Alguern podera perguntar : por que a producao de Emmanuel Nassar vem sendo tao reconhecida no sui dopais, e mesmo fora do Brasil? Esta e uma pergunta interessante e talvez possa servir de pretexto para a introducaodesta apresentacao da instalacao que 0 artista concebeu para participar como convidado especial do Arte Paradeste ano.

    Urn dos procedimentos que vern sendo bastante usados por artistas de todo 0mundo - e com rnaior enfasedesde a decada passada -, e aquele da apropriacao, Profissionais das mais diversas origens, ao inves de investiremna concepcao de imagens ou formas supostarnente originais, preferem trabalhar com aquelas ja existentes, conce-dendo-lhes outras possibilidades de interpretacao,

    Talvez 0 primeiro, all principal, universo de imagens a ser apropriado pelos artistas a partir dos anos 80,tenha side aquele ligado a historia da arte: imagens e formas de origem renascentista, ou barroca, au cubista, au ...foram retiradas de seu contexto inicial, destituidas de seu significado de origem e manipuladas como purossignificantes a procura - supostamente - de outros sentidos.

    A razao para a presenca marc ante d es te tip o de procedirnento na producao artistica dos ul t imos anos, ternsuas origens em diversas causas.

    Com 0 fim das utopias politicas, e a consciencia do esgotarnento do projeto moderno, as imagens conce-bidas pel a humanidade desde 0 inicio de sua historia passaram ainteressar a varios artistas apenas em sua aparen-cia: sem 0 significado que a originou (e que as legitimava), Esses artistas con t e rnporaneos comecaram a desloca-las de suas origens, desconstruindo c o dig o s a te entao tidos como eternos.

    Alguns precurssores desses artistas merecem ser citados aqui: Marcel Duchamp e Andy Warhol. 0 pri-meiro, apropriando-se e deslocando a imagem da "Mona Lisa" para um contexto de irreverencia iconoclasta,chamava a arencao para a intensa banalizacao desse mito, devido a rnercantilizacao do mesmo como simbolomaximo das "belas artes", Ja Andy Warhol, nos anos 60, ao se apropriar indiscrirninadamente de imagens do-cumentais de desastres, da cadeira eletrica, de produtos de con sumo e/ou de idolos de cinema, e ao trata-los damesrna rnaneira, desconstruia 0 significado original das rnesmas, apontando para a imposs ib il id ade da arte man-ter-se como modo de producao de lim saber capaz de ordenar a mundo.

    Parafraseando Giullo Carlo Argan, se antes da II Grande Guerra era a arte que dava significado ao mundo,agora eo mundo que se ve obrigado a dar significado a arte.

    A partir dos anos 80, como foi clito, uma serie de artistas se voltou, entao, para a apropriacao de imagens,como elemento fundamental para a con s ri ru ic ao de suas obras. Sandra Chia, na Italia, trafegava, numa mesmaobra, pelos desenhos de Michelangelo e pelas pinturas de Kandinsky, sem se preocupar com as razoes que leva-ram agueles artistas, tao separados DO tempo e no espaco, a criarem aquelas formas e procedimentos tecnicos, 0artista se apropriava dos estilemas daquelas linguagens plasticas historicas para apontar a impossibilidade da artecontemporanea comunicar qualquer coisa a n ao ser - a principia - sua propria presenca.

    Anselm Kiefer, na Alemanha, revisitava 0 passado de seu pais, a partir da recupe-racao da pintura roman-tica e das imagens que marcaram a sociedade onde nasceu ... Descontextualizados e agrupados segundo 0arbitriodo artista, aquele procedimento pictorico e aquelas imagens pareciam indices desesperados de impotencia dasociedade contemporanea em criar novas alternativas para sell futuro. Esta e uma interpretacao possivel.

    No Brasil, a estrategia de apropriacao lancou novos artistes no circuito da arte nacional e inrernacional,com caracteristicas muito peculiares. Dentre eles, a prirneira a cbamar a atencao da critica e da midia, talvez tenhasido Leda Catunda. Atenta ao riquissirno universo de imagens it sua volta, a artista, no inicio de sua carreira,usava de irnagens oriundas da hist6ria da arte, da cultura de massa e da cultura popular, para desestabilizar a110

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    Outros artistas surgiram no Brasil alem de Catunda, tendo como base de seus trabalbos a apreciacao:Sergio Romagnolo, por exemplo, iria produzir pinturas e depois esculturas, tendo como base 0 repertorio deimagens das historias em quadrinhos e da arte colonial brasileira; Paulo Pasta constituiria sua pintura inieialpautando-se no legado da arte italiana, ua heranca pictorica de Volpi e de outros artistas imigrantes; RosangelaRenno, por sua vez, iria tentar dar 011troSsignificados it quantidade imensa de fotografias esquecidas por seusprodutores. .

    E dentro desse contexte, onde a apropriacao de imagens e procedimentos estilisticos preexistentes tor-narn-se a base da producao de diversos artistas, que surge a obra de Emmanuel Nassar, um dos principais namesda arte brasileira contenporanea,

    Equal seria a fonteprimeira para as apropriacoes de Nassar? Justamente 0 sentido ornamental encontradona arquitetura enos artefatos de extracao popular, encontrados em Belem e no interior do Norte do pais. Mas. queo leitor nao se iluda: Nassar nao e urn artista que simplesmente se apropria de urn universo de cores e formaspopulares para, ingenuamente, enaltecer a "pureza'' e a "criatividade" do bravo povo do NOlie.

    Atento a suposta banalizacao e esgotarnento das linguagens plasticas eruditas, Nassar percebeu que esseselementos populares apontados acima, guardavarn sernelhancas no minimo desestabilizadoras dos conceitos queregeram (e ainda regem) uma das rnaiores tradicoes da arte deste seculo no Brasil e no exterior: 0 construti vismo,que no pais bifurcou-se nas vertentes concreta e neoconcreta.(Nao que Nassar tenha sido 0 primeiro a perceber tais semelhancas, mas foi 0 primeiro e unico a trata-lascom humor e ironia, sem resquicio sequel' de r omant i smo piegas, gerado pela rna consciencia que assola rnui tosde nossos artistas).

    Esse olho atento e ironico do artista percebeu que a melhor resposta ao processo de mitificacao dessacorrente , seria c on tam in a-la p ela v is ua lid ad e popular de sua regiao natal que, ao meS1110tempo que se assemelhaa tradicao construtiva nega-a tanto pelos procedimentos usados para a sua constituicao, quanta pela introducaode elementos total mente estranhos a ela,

    Fazendo conviver em sua obra dais universos visuais aparentemente tao proximos - a tradicao construtivaerudita e a tradicao popular (tao impura) -, e, ao mesmo tempo, tao separados em seus conceitos e propositos, 0artista na verdade acaba zerando as duas linguagens, fazendo com que sua obra sobreviva como um poderoso ecolorido curto-circuito nas engrenagens que ligam - e desagregam - essas duas tradicoes,

    P o de ria rn o s r ap id am e n te cornparar urnapintura de Nassar com uma de Hercules Barsotti, um dos princi-pais pintores brasileiros surgidos com 0 neoconcretismo, Na producao de Barsotti sao as cores rigorosamentetrabalhadas que preenchem 0 campo plastico, criando formas que tendem a levar 0 espectador a conceitos delirismo, ordem e pureza.

    Nas pinturas de Nassar, a verdade das cores eonstituindo 0 campo da pintura e problematizada pela propo-sital inseguranca do tracado e/ou pela inclusao nao esperada de elementos decididamente alheios a "ordem"construtiva: i rnagens toscas de membros humanos decepados, representacoes ilusionistas de pregos e outrosinstrumentos .. , Mesmoas inieiais do nome do artista ("E" e "N") absolutamente nao querern atestar abidimensionalidade do plano (tao cara a tradicao erudita construtiva), nao, Elas, incorporadas a pintura, tendem apreenche-la de urn senticio simbolico, autobiografico mesmo, praticamente inexistente na arte construtiva deorigem erudita,o que Nassar pretende com sua pintura? 0r nes rno gue seus colegas de geracao, desestabilizar 0 consagra-do, trazer lirismo e humor a uma tradicao; negar a nOr;.10de arte como 1inguagem capaz de oferecer ao espectadoruma mensagem previsivel eaprioristica da realidade que 0 cerca,

    E e justamente nesse contexto completamente c1esidealizado que deve ser percebida sua instalacao "Bra-sil", Numa sala branca com 0 chao forrado de carvao, em uma das paredes 0 espectador encontrara uma pinturanegra sobre aluminio e, no centro dela, a mapa do Brasil com seu contorno precariamente pintado de verrnelho,

    Brasil - lnstalacso, 1996/97 ...48

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    Urna metafora de desmatamento da Amazonia? Uma representacao simb6lica do pais, ardendem chamas? ...

    A arte contemporanea, justamente por nao se atrelar a codigos preconcebidos, Oll por, em sua configuryaO final, desconstrui-ios, acaba deixando margem para todos as tipos de interpretacao. De fa to , "Brasil",Nassar, pode ser tudo isso que foi escrito no paragrafo acima, justamente par nao ser nada disso, a principia.

    Aqueia obra conta com a sensibilidade do publico para que Ihe seja conferido algurn senti do. No entaoseria no minimo prirnario afirmar que 0artista nao tenha partido de nenhum conceito para a producao de "BrasilA instalacao, antes de significar qualquer coisa, torna visivel a arbitrariedade de um signa: aquela formem verrnelho, que nos acostumamos a decodificar como sendo a re-presentacao do pais, parece pulsar inquietasua impossibil idade concreta de significar 0que Ihe foi outorgado. E uma forma, como outra qualquer, apropriadpor Nassar para questionar aquilo que 0 artista vem reiterando em toda a sua producao: a falencia dos codigos,exterminio dos significados instituidos, a precessao dos simulacros, como diria 0 te6rico frances ...

    As interpretacoes possiveis que 0 publico possa vir a fazer da proposta do artista sao legitimasJegitimadoras da propria proposta. E, em ultima instancia, 0 que a torna uma obra de arte. Mas sa o 0 que sinterpretacoes, especie de contribuicoes ao trabalho do artista, que the conferern lim significado para que trancenda sua materialidade crua.

    T AD EU C H IA RE LL19

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    GRATULIANO BIBAS

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    AS FRONTEIRAS no OLHAR

    Gratuliano Bibas, fotografo autoditada, entre 1955 e 1972, construiu uma obra fotografica de inegavevalor artistico. Por sua frequente participacao em saloes brasileiros e no exterior, a epoca, OCupOU, diversas vezeos primeiros lugares no rank nacional da revista Fotoarte.

    Dono de uma visao desvinculada de qualquer escola artistica mais tradicional, Bibas preocupava-se e"descobrir", a partir de um olbar essencialmentenarrativo, como as irnagens se transformarn fotograficarnentediante delas, pode 0 espectador rnais atento converter-se em leitor.

    Fotografo de urn negativo por tema (nao cl icava duas vezes numa so imagem), costumava dizer: "Sefizer dois negatives, e como se estivesse refazendo urn momento que e unico. Depois, no Iaboratorio, ali, possreinterpretar aquele momento". Assim escreveu no catalogo da Primeira Mostra Fotografica do Foto ClubePara (Belem, 1964): "Fotografia e, au deve ser, sempre mensagem",

    A obra fotografica de Bibas, nos insinua que a construcao do significado esta submetida a certas regrasleitura. 0 seu olhar arguto, parece refletir entre a coerencia e 0 inusitado. A obra desvenda a obra, no territorimagico do real (?).TelTit6rio da arte, onde a imagem procura a sua independencia, a sua liberdade no espaco.

    Brincadeira de voyeur que sonhou com essa revelacao, torna bem visivel 0 indiscutivel grauconternporaneidade de sua belissima obra.

    JAIMEBIBAS19

    Modem AN - Fotografia - 41.2 x 26.7 ems, c. 196452

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    KLINGER CARVALHO

    Hoxim u - lnsralacao, 1994 ...54

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    HOXIMU - HISTORIA DE UM MASSACRE

    Quando urn Yanornami morre, seus objetos sao destruidos, seu cao sacrificado, seus abrigos de cacdevastados. Ninguern fala daquele que se foi. E, no entanto, todos desejam que sell espirito continue a animarTerra. Colocado em posicao fetal, com 0 rosto pintado de negro, 0 morto fica envolvido em sua propria reddentro de LImacaixa de madeira entre duas arvores, Mais tarde, depois de crernado, parte de suas cinzas sacousumidas pelos amigos, que the desejam absorver os dons e forcas,

    Treze de agosto de 1993. Na aldeia Hoximu, na Serra Parima, nao houve a Festa dos Mortos para dezenade Yanornamis assassinados par garimpeiros brancos. Inicialmente, imaginou-se que 0 massacre havia ocorridem terras brasileiras, mas investigacoes posteriores conc1uiram que as mortes ocorreram em terri torio venezuelano

    Brasil ou Venezuela, 0 local nao 6 relevante - pelo menos para 0 artista plastico Klinger Carvalho, que nexposicao "Hoximu" lembra 0 genocidio Yanomami , Para Klinger, mais irnportante e denunciar que 0 massacrdos indios da aldeia Hoxirnu e a concretizacao de urn desejo subrerraneo que se inflltra entre alguns brasileiros-especialmente la rg a fa ix a d a p o pu la ca o do Estado de Roraima - indignados com a extensao da r es er va Y an o rn am(9,4 milhoes de hectares).

    Cercados por inimigos nao-declarados - populacao branca, politicos, madeireiros e garimpeiros - todoavidos pelas riquezas de suas terras, os Yanomami sao 0 povo mais primitivo do planeta, mas nem por issdeixararn de notar a barbarie dos garimpeiros brancos que torturaram e estripararn mulheres e c ria nc as I nd ia s,

    Duas semanas apes 0massacre, a opiniao publica mundial se horrorizou com 0 cenario de destruicao naldeia: marcas de balas e m p an elas e outros objetos dornesticos, esqueletos de maloca, sinais inequivocos dviolencia, morte e dor. Entranhada na selva, a aldeia estava silenciosa como 0 campo de morte que realmente erDepois que as botas d os g ar im p eir os esrnagaram as folbas secas n o chao da aldeia e suas a rma s d ila ce ra ramcorpos e almas Yanomami, restou W11 silencio impressionante em Hoximu, Bri sa de morte soprando sobre arvores. Dor.

    Nenhum cadaver foi encontraclo. 0 povo de Oma nao deixa os corpos de seus irrnaos expostos, Naaldeias proximas eles foram cremados e suas cinzas consurnidas pelos sobreviventes, Com isso, ganhou forcaversao - que interessa de perto aos "brancos" - de que nao teria ocorrido massacre e que os sobreviventes teriar"criado" a historia para chamar a atencao da opiniao publica, 0 tempo encarregou-se de fazer baixar sobre 0casLimveu de descaso e esquecirnento e, passado 0 prirneiro memento, mesmo a imprensa abandonou 0 assunto.

    A exposicao Hoximu lembra 0massacre de 1993, mas a intencao e alertar principalmente para 0 graduagenocidio Yanornami, que iniciou tao logo os indios entrararn em contato com os brancos e prossegue pelos diaruais, sob 0 olhar complacente de boa parte da Nacao brasileira.

    SONIA VINA199

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    FRONTEIRAS

    MANUEL PASTANA

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    PASTANA: 0 REFLEXO DA ALMA DO ARTTSTA

    Nao fosse Manuel de Oliveira Pastana ter side quem foi, seu nome ja estaria escrito na historia da arte e dacultura do Para, como uma das poucas pessoas que nao apenas cornpreenderam, mas tambern elogiaram a rnostra,a prime-ira exposicao de Ismael Nery. Era 1929 c, naquela epoca, quando os ventos do Modernisrno custavam asoprar por aqui, sua voz se unia a de Eneida e a de Bruno de Menezes para dizer de "urn revolucionario da arte edo meio". E foi ele - Pastana, 0 que soube ver avant la letre - quem, ao longo deste seculo, mostrou que se podeser etemo sem ser, necessariamente moderno e rnodernista ou vanguardista ou qualquer coisa que tennille em islaou tenha ligacoes com 0 incompreensivel que quer ser estetico. Prova disso e a homenagern a ele prestada peloXVI Arte Para. Pastana oeupa, na mostra promovida pela Fundacao Romulo Maiorana, privilegiado espaco e, aomesmo tempo, e reconhecido como urn dos rnais importantes artistas paraenses desre seculo que se vai.

    Pastana foi 0 discipulo favorite de outre rnestre, Theodoro Braga, com quem aprendeu tudo que sabiasobre desenho. Alias, a presenca de Theodora Braga em sua vida fez desse apeuense, nascido antes da Republica,senhor de urn tr390 firme e vigoroso. Determinado, se poderia dizer. Tao seguro que revelou llm dos melhoresdesenhistas de seu tempo e um dos que melhor fizeram retraros no Brasil. Pena que 0Brasil nao saiba disso. Masquem passar pelo predio do Ministerio da Marinha ha de ver urn irnenso retrato do Almirante Tarnandare, feitopelo nosso Pastana, E um trabalho acadernico, mas que mal hi no academicisrno bem resolvido, competente e,sobretudo, registro de um momento historico da arte brasileira?

    Como morava no Ri-ode Janeiro, levou para a tela a paisagem dos suburbios, dos arrabaldes e cianaturezacariocas. Era 0 Pastana-figurativo, 0 que deixava patra tras a fase academicista e se entregava a uma nova formade expressao , Se a nitidez da visao lhe faltava, a sensibilidade do artista 0projetava na direcao de novas possibi-lidades no campo da pintura. Oanhou 0Rio de Janeiro e ganhou Belem, cujas imagens sairam do solo urbano eentraram para a arte, registrando cenas jarnais recuperaveis, como as caixas d'agua do bairro da Campina, quehoje sao apenas memoria e, por causa, de Manuel Pastana, cores e formas,

    Seu trace refinado e, ~IS vezes, largo abriu espaco para uma pintura lisa decorativa. A mancha cromaticaficou registrada atraves de lim contraste que, se nao fo i a marca de sua obra, serviu para individualiza-la. 0mestreeo fundador da Academia Livre de Belas Artes do Para sabia que de sua paleta vinha uma amazonicidade, umaaquarela que s o e possivel a quem viu as luzes do Equador e deb extraia as melhores efeitos. Fosse ele 1 1 1 1 1daqueles jovens artistas que se colocavam diante da Notre Dame para ver as variacoes de tom em diversosmomentos do dia sobre a Catedral francesa, teria, sem duvida, alterado pela memoria visual 0 resultadoimpressionista, Pastana nao estava la e, ernbora tenha trazido 0 diploma de honra e a medalha de Prata na Expo-8i y30 Mundial de Paris, em 37, ele era urna alma do Norte, instalado no centro da vida cultural do pais.a Pastana que ficou para a Historia tinha 0 perfil de um estudioso e dedicado p_esquisador da culturaindigena da Amazonia. Sells escudos sobre a geometria e 0 r racado cla arte dos povos iodigenas renderam pran-cbas de altissimo valor documental e pastico. Ele, como ensinou Mario Faustino, copiou para aprender e erioupasta renovar. Suas estilizacoes sobre 0 tema foram unicas no genera. Com essa riqueza tematica nas maos,trabalhou faiances e bronzes que deixararn de ser marajoara ou cunani ou santarena para se transformar no quehoje C\iz,com 0 orgulho de quem possui uma peca assinada, "urn Pestana".

    Diante de sua obra, dispersa em museus e galerias no Brasil e fora dele, se podera encontrar, ou rcencon-trar, a alma de quem concebia a arte como reflexo do que de rnais intimo ia pela alma do artista. Ele dizia que seisso nao fosse verda de, "nao existira, decerto, em todo 0 universo, coisa alguma que merecesse a religiosa guardados grandes museus dos centros civilizados, onde atravessam os seculos as obras dos nossos antepassados. Tudoseria relegado ao desprezo, ou pelo menos nivelado aos triviais acontecimentos da vida burguesa".

    T err in a . Desenho e Guache - M otive : Jabuti da M ara c Ccram ica Marajoara . 34 x 22 ems, c. 1930 ...58

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    FRONTEIRAS

    A pintura e as pecas que ele deixou dirao, onde quer que estejam, como era rica e bonita a constelacaoIuminosa bordada na alma de urn pintor que tinha nas maos 0 poder da beleza e da recriacao do mundo.

    JoAo CARLOS PEREIRA1997

    N ota do Edito r - E a segunda vez que M anuel Pas tan a c ho rn en ageado pclo S alao A rte Para. A prim eira fo i n o XII S alao (1993). Desta fcita, rn aisq ue re ccn he oim en to , au raiificacao de urn talen to , trata-se de lim a ques tao co nce itual apre sen tar trabalho s de Pastan a, da fase an tro po fagica, on defaun a e nora locais sao v istas e tran sfo rm ad as e m algo m aie r q ue u te ns ilio s d or ne stic os OLi o rn am en tais . P as tan a m od ifico u, m uito , d en tro d a e sre ticad o mc d er n ismo , 0 d es eu ho e a p in tu ra, como s e q ui se ss e transformar 0 traco do pro prio m un do .

    .... Moveis - Desenho e Guache - M otive : Jabuti da M ata - 31 X 22 Cms, c. 193061

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    NUNORAMOS

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    FRONTEIRAS

    OSWALD GOELDI: "AGOURO E LIBERTA~Ao"

    Abandono e esquecimento formam eixo do trabalho de Goeldi: latas derrubadas, caes vadios, moveis aorelento, No entanto, pelo fato mesmo de n E L D serem Iembradas, as coisas parecern aqui ainda preservadas damesquinhez, cheias de misterio e de porencia. Aquilo que foi deixado de lado esta inteiro, pronto para ser acionado,eo vente que bafeja essas gravuras quer acordar as homens, bichos e lugares, chamando-os a vida. Sua feicao, DOentanto, nao pode ter a solidez e clareza objetiva de quem esqueceu. Dai 0 crepusculo continuo e sempre renova-do desses trabalhos.

    A tristeza que resulta dai nao aparece como atributo, mas condicao. Por estar em toda parte nao esta emlugar nenhum, mas numa especie de agoura sistematico que urn urubu pousado (as aves de Goeldi pertencem aochao) all uma ossada apenas ilustram. Curioso e que essa tristeza apareca banhada, nao encontro termo rnelhor,numa estranha calma. Para compreender isso sera preciso descrever 0duplo movimento, aparentemente contradi-torio, que esses trabalbos percorrem, De urn lado, ha urna espacialidade acentuada, algo metafisico, que isola osseres e torna os lugares profundos, majores do que cada um. a prima do do espaco sobre as coisas da a elas 11mfardo de finitude e solidao, ao rnesmo tempo que aproxima as elementos narrativos da condicao de simbolos.Urubus, caveiras, lanterneiros, peixes, sao personagens clclicos de urn mundo estruturado para recebe-los, povo-ando patios, ruas e becos e acrescentando a espacialidade desencarnada pequenos comentarios lugubres. Assim,num primeiro momento, tudo no mundo de Goeldi parece triste, isolado e caminha para a morte.

    No entanto, encantamento e suspensao caracterizam tambem essas gravuras e desenbos. Isso vern, creio,da intensa analogia formal entre seus elementos. Cheios sao vazios, casas sao ruas, urubus sao guarda-chuvas, asjanelas nos olham. Tudo e meio assemelhado a tudo, bafejaclo pelo mesmo sopro de vida, as f0n11aS ecoandodiscretamente umas nas outras, como se ainda nao tivessem se formado de todo. Essa individualizacao incomple-ra faz grande parte da originaliclade de Goeldi, e permite que as distorcoes expressionistas que 0 influenciaramabdiquem de seu desespero. 0mundo de Goeldi e um mundo em suspensao, seus habi tantes ainda despertam e seprocurarn, e se caminham para a morte 0 fazem solidariamente. Dai a calma de sua tristeza, onde abandono ecomunhao convivem.

    Ancorado, dessa forma, numa espacialidade acentuada, com indicacoes de profundidade bern marcadas,que aumentarn a fantasmagoria eo isolamento e, de outro Jado, nurna intensa comunhao formal entre os elemen-tos,o trabalho de Goeldi reune movimento e sol idez, vento e pausa, dilaceramento expressionista e calma orien-tal. Atraves dessa dupla raiz 0 expressionismo de origem e superado. Solidao e tristeza deixam de ser propria-mente expressivas para elevarem-se a uma condicao exemplar, a de atributos adormecidos porern essenciais danossa natureza. Tudo em seu trabalho participa dessa qualidade, desde os hornens (quase sempre pobres-diabos)ate as cachorros humildes, as latas vazias, os paralelepipedos. Nao ha foco 01.1hierarquia e a presenca bumanaespalha-se Hum entorno tambem ele vivo e movente.

    Esquecidos ali, sem finalidade pratica, os seres esparramados se encontram. Sao restos, pedacos e detritosque um vento metafisico juntou,

    Mas e na estranha lurninosidade das xilogravuras de Goeldi que a maior parte dessas questoes encontraLUll centro cornum. Como uma janela pintada de preto, 0 negro bloqueia a luz que vern de tras, e a que vemos eaquilo que vaza por suas frestas, pelos sulcos do desenho, numa fosforecencia que parece poder se apagar aqualquer instante. Assirn, se de urn lado a luz visivel e discreta, quase fantasmagorica, como que incapaz cletracaros contomos com nitidez, de outro a luz sugerida por tras da massa negra parece potente e con stante. 0visivelsurge como a discreta ordenacao desse sol cegado de inicio pela superficie negra de onde se partiu. Cavar demaisa madeira significaria desordem e caos, e a precisao do traco de Goeldi vem dessa extrema contencao. A noitedeixa de ser 0 avesso complementar do dia e da luz para se tornar principio formalizante cia claridade caotica.

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    ARTE PARA 1997

    A palencia cega da luz, ponto de origem do trabalho, deve ser controlada para que os seres possam propria-mente aparecer. As gravuras de Goeldi ganham assim 0aspecto de urn clarao conti do, ja que 0mundo tem seufundamento numa luz desmesurada e destrutiva que a tristeza, a solidao e a noite transform am em contorno,corpo e vida.

    Goeldi nos mostra a periferia do mundo, seus suburbios, funcionando em logica propria, noturna, algaalucinada e, quem sabe, indiferente aos valores diurnos. Trata-se da promessa de uma nova disposicao, apostempestade, onde as ratazanas tenham a mesma dignidade dos homens, os cestos de lixo se equiparem aos casa-cos de pele etc ... , ou seja: aquela reordenacao hierarquica propria as catastrofes naturais (as cenas de Goeldiparecem sempre preceder ou suceder a tempestade). Em movimento, debaixo de chuva e de vento, os seresperdem 0 rigor mortis e abrem seus contornos a similitudes e passagens insuspeitadas. Se a catastrofe em Goeldie bela e por originar esta desierarquizacao entre seres e coisas, homens e animals, natureza e social. Como apersonagens de Dostoievski, que tao brilhantemente ilustrou, os seres de Goeldi sao sobreviventes, parecem tedireito a uma segunda chance e carregam, em sua tristeza e contencao, uma especie de culpa assimilada. A Quedaoferece redencao a quem caiu. Talvez venha dal sua predilecao por bebados e desequilibrados, Fora de prumos,sao mensageiros da passagem, seres em movimento, prontos para chegar em algum lugar.

    NUN 0RAMOS1996

    Not.a do Editor - 0 texto acirna impresso consta no catalogo da 11108tra"para Goeldi", realizada por Nuno Ramosno AS studio (Sao Paulo), de 26 de setembro a 25 de outubro de ]996. Na mostra, Nuno expos trabalhos baseadosnas gravuras de Goeldi, ou por outra, inspirados nessas obras que retratam com rnaestria a solidao e 0 desamparo.Nas obras de NUllO, nada menor, nada menos grandioso, sernpre 0 magistral gesto de artista,

    Para Goeldi -Desen ho - 21 x 29 ems , 1996 ..64

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    ARTE r'ARA 1997

    TIAGO SANTANA

    Fotogra fla - 50 x 60 ems, I 996 ~66

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    ARTE P A R A 1997

    UM OLHAR DEFININDO OUTRAS FRONTElRAS DO SERTAO

    A fotografia de Tiago Santana, tem como um dos talentos basicos a sua capacidade de enquadrar umairnagem e faze-la romper com as fronteirasdo meramente visto e congelaclo em uma pellcula. Seu trabalho edirigir urn olhar a outre olhar e dizer das nuances de luz, dos gestos, dos cheiros das paisagens, da dor ou alegriado rosto fotografado, da forca expressa impressa das maos que seguram 0 rosario da Mile de Deus; dizer datranscendencia do romeiro ao ver a cidade de Juazeiro, rniriade de promessas e profecias de urn fim de mundo,novo mundo, uma nova Jerusalem incrustada no sertao.

    Definir os limites, selecionar um instante, buscar os marcos, a paisagern e a topografia c ia fe que arrebatamilhares de romeiros a Juazeiro, dentro do trabalho fotografico de Tiago, e uma viagem por terras onde as fron-teiras inicialrnente, Oll enganosamente, nos parecem conhecidas Oll anteriormente delirnitadas pelos trabalhossociol6gicos, pelas irnagens banalizadas da forne ou de fanatismo religiose expostos pel a midia. Mas, ao obser-varmos as fotos com a devida delicadeza que merccem, elas vao nos abrindo os oihos para uma experiencia quetern curnplicidade, conhecimento de causa, afinidacle e intimidade com 0 "Povo clomeu Padim Cico". E pOl' istoela toma vulto e significado que vai alem de urn trabalho que retrata um aspecto regional e urn fenorneno religi-oso.

    Juazeiro com sua fronteira real, dernarcada pel a Chapada do Araripe, e menor do que 0 Juazeiro miticoconstruido laboriosamente no imaginario de milhares cleromeiros que 0 frequentam todos os anos. Neste "outro"Juazeiro hi um Patriarca que esta la no ceu rezando por todos os seus afilhados, 0 rio que 0 cotta, charnadoSalgadinho, ainda havera de ser 0 rio Jordao, e um vale protetor, terra de bencao, fartura, ha perdao para todos ospecadores que hi piedosamente cumprem suas promessas de arrependimento. Neste "outre" Juazeiro visto porTiago, a hipocrisia das igrejas oficiais cheias de vendilh5es, os governantes parasitarios, comerciantes ganancio-sos que negociam esperancas, nao compoem a cena. 0 cenario e composto por "gentes" que na sua garra e f ebuscam outras realidades, rompem com fronteiras entre 0 real eo fantastico, entre a dor e a redencao, que estabe-lecem novo espectro visivel nao 56 de iuz e cores, mas principaimente de sentimentos,, ,E olhar para ver. Ever para erer.

    1. BOSCO DE SOUZA1997

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    FRONTElRAS

    ARTISTAS SELECIONADOS

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    ARTE PARA 1997

    ABRAO BARCESSAT B EM ER GU Y, B ele m/PAF ro nte ir as d a fo rm aT ecn ica M is ra

    ALBERTO BfTAR, BeMm/PACrimes Noturnos ICrimes Noturnos IICrimes Noturnos IIIFotografia

    AN A RO ND ON , R io d e Jan eir o/R Js/ tituloDesen h o/G ra v u r a

    AN GELA A NDRAD E, Be la Ho rizon te /M Gs/ tituloGravura em metal

    C AM ILA LIM A, B elem /PAR etra to e m M ov im entoFotografia

    CARLOS 10S'8: YALADAO DE OLIVEIRA, Niter6i/R1Materia MeioD es en h o/G ra v ura

    CELsa OUVEfRA, Fortaleza/CEs/ tituloFotografia

    CHARLES DAYJD TELES DO NASel MENTO, Belem/PA... E' D eus ,. C lon ou 0 Homem.M e P eg ara m Pm Judas!Fui na Festa Mas o Aniv.niio veto Cade AdMista sl Tela

    CLAU DIO M EDIN A, Fortaleza/Clisl tituloFotografiaCLEDlNALDO ALVES PINHEIRO, Belem/FAEspaco Via/adoObjeto

    EDUARDO FRO TA, Fortaleza/CEsl tituloObjeto

    FERN AN DO AU GUS TO D OS S A NTO S N ETO , Londlin aiPRs/ tituloPintnra

    FLA VY A M UTR AN , B ele rn /PAs/ tituloFotografia

    GIAN CARLO FRAN CO , Be lem /PAs/ tituloFotografia

    T ZE R C A M PO S , C as ta nh a1 !P Asl tituloObjeto

    J O CA TO S , B ele m/P AT eu Sonho nao A cabouObjeto

    JOSE A NDRAD E (ARAM ), H elem /PARia RuaOlho de botoEra U lna vezObjeto

    JOSE A NT ON IO , B elem /PAs/ tituloDe s en ho c/met al

    MAINES OL lV ETT J, C ur itib a/PRC ab id eiro d o casalArmario da SabrinaDesenho

    MARCIA PANNUNZIO, IIhabela/SPTristes tropicosTristes tropicosTr is te s t rop ico sXiloGravura

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    FRONTEIRA

    M ARCO SAN TO S, Be lem /PAsl tituloFotografia

    M AR IA C HR IS TIN A , Belern/Pas/ tituloFotografia

    MARIN ALDO SILVA DO S SAN TO S, Be lem /PAHomenagem aos Bicheiros100 Hom MarcadaT ec nica M is ta

    MAURO ANGELO P. DO NASCIMEN TO , Be lem iPAsl tituloFotografia

    M ISTRAL V ILH EN A, Belem JPAsl tituloTecnica Mista sl papel

    O RLAN DO M AN ESCHY , Be lem /PAs/ tituloFotografia

    PAU LO A LM EIDA , Belem /PAsl tituloFotografia

    PAU LO AM ORIM , Be iem /PAo[ogdo da florestaofogiio daflorestaFotografia

    PAULO SO UZA, Be lem /PAsl tituloFotografia

    PED RO BA TISTA DA STLV A, Belem /PALinha de MontagemLinha de Montagem IIIObjeto

    PITU KU W A IA P1, B eIc~ m/PARaizes 1IRaizes IIITecnica Misra

    RAIMUN DO N ON ATO DA S ILVA , B e lem /PAOratorioTecnica mista s f madeira

    RISALDO N EVES, Be lem /PAA Luta POI' um Pedaco de Terralis Po e ao PO VoltarasMista S I Pano

    RUI REVO REDO DA SILVA V EN TURA (RUI), Be lem /PAA familiaTecnica mista

    S IN VALL GARCIA, Be lem /PASITituloFotografia

    W ALDA M ARQUES , Belem /PAA Magica (Tripitico)Fotografia

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    ARTE PARA 1997

    AGRADECIMENTOSAd ria n a Gu im a ra es

    A fo n so K la uta uA le xa nd ra A n dr ad e

    A na C lau dia G on za gaA na L aura B ulho saA na M aria M artin s

    Ana UngerAndre Ferreira

    A ndre G en uAntarctica

    A ria ne A rn ezB aby B an d

    B ea triz P in to C o staB run o M eira

    B ru no S iq ue ira R od rig ue sC arn ila K zan

    C ar lo s L uis da SilvaCicero Dias

    Cildo MeirelesC la ra P in to

    Claudio MeloC on ce ic ao L ou re ir o

    C ris tin a F ra nc oDisbel

    D in a O liv eir aE ls a L im a

    Ernannuel FrancoEmmanue l NassarFabio Rcsende

    Fabio YoshikawaFernando Cochiarale

    Fernando Nasc imentoFun dacao C arlo s Go mes

    G erald o S alle sGrupo de Dancas C la ra P in to

    G uaran y Jun io rH elio N o gu eir a

    Henr ique NoedingI ol an d a Gu im a ra e slsabela Rodr igues

    Is m ae l in o P in toIvan a Es peran ca B arro s

    Jayme BibasJ. Bosco de Sousa

    Jo ao C arlo s Pe re iraJ oa qu im F ald 'ioJ oe lrn a M elo BenjarnintJ os e F re taJo se L ealJ ul ia n a V a sc o n ce lo sK li ng e r C a rv alh oLeonardo Ferrei ra ConceicaoLeopoldo PlentzLidia CoimbraL ucian a ParaL uc ia no F ig ue ir ed oL uc io la N e gr aoLuis Marque s FolhaLuiz Edmundo GuirnaraesManaces MalcherM arg arid a R am osMar ia Alice PennaM aria A nge lica M eiraM ar ia B eta nia SimoesMaur ic io R ic ha rd so nMax Pe rl in g e ir oN iv ald o B ez er raN un o Ram osP au la S amp aioPaulo A fon so Cam pos de M elloP au lo C hav es F ern an de sPaulo Jose C am po s de M elloP aulo H erk en ho ff FilhoP au lo Ma rti nsP au lo S an to sP au lo V a sc o n ce lo sP oly an a S ilv aR ib am ar C ha co nRebeca AraujoR e be ca O l iv e ir aRestaurante Dam GiuseppeRestaurante La e m C as aRodrigo NavesRosangela BrittoSOil ia VillasTadeu ChiarelliTillgO SantanaW a 1tel" Bande ir a

    e ao s nossos c or np an he ir os d as O r ga niz ac oe s Rornulo Maiorana

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    FRONTEIRAS

    FU NDAC;Ao R OMULO MAIO RANA

    L UC ID EA M AIO RA N APres iden te

    R OB ER TA M AIO RA N ADiretora-Executiva

    CLAUDIO DE LA ROCQUE LEALAssessor Cultural

    D AN IE LA O LIV EIR AAssessora de Projetos

    AN A CRISTIN A PRATASecretaria

    S ER GIO O LIV EIR AGerente de Exposicoes

    MARIA DO SOCORRO SO UZAA uxil iar de Escritorio

    FE RN AN DO N AS CIM EN TOJOAO PO JUCAN DE MO RAES

    RO MULO MAIO RANA JUN IORROSANGELA MAIORAN A KZAN

    Conselho Consultor

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    AIUE P A R A 1997

    XVI SALAO ARTE PARA

    CLAUDIO DE LA RO CQUE LEALPAULO HERKEN HO FF FILHO

    CuradoresMARIA ALICE PEN NA

    P ro gr ar na ca o V is ua lRO SAN GELA BRITTO

    M ARIA AN GELICA M EIRAM ARIA BETAN IA SIM OES

    HEllO N OGUEIRAC RIS TIN A FR AN CO

    Montagem da sala dos sclecionadosCLAUDIO DE LA RO CQUE LEAL

    R O BE RT A M AIO RA N AM on tage m das S alas do s A rtis tas C on vidado s

    CATALOGO

    CLAUDTO DE LA RO CQUE LEALD AN rE LA O L IV EIR A

    EditoresL UC IA NO O LIV ETR A

    Projeto GraficoIS RA EL G UT EM BE RG

    Edi to r ac ao E le tr o nc iaP AU LA S AM PA IQ

    Foto dos juradosPAULO S AN TO S

    Fotos dos trabalhos premiados e convidadosO MIN J GRAPHICS E LASECO R

    FotolitosG RA FfC A S UP ER CO R ES

    Impressao

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    FRONTEIRAS

    PATRociNIOL U Q R A T Q R I OBENEFICENTEPORTUGUESA"2?r'l-:a..C'Jora..s

    l ' Ap ro v ad o SBPe

    ~ 4 e m .B I G , ' I I H I ENSua salida e um big bern.

    Autorizada ex:cfusi1l3da Side Play em a,,[em.

    ArOTO CULTURAL

    APOIO

    Voce manda , E chega .

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    ARTE PARA 1997

    FUNDA

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