cascata de luz (psicografia irene pacheco machado - espírito luiz sérgio).pdf

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    CASCATA DE LUZ IRENE PACHECO MACHADO

    DITADO PELO ESPRITO LUIZ SRGIO

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    NDICE MENSAGEM AO LEITOR CAPTULO 1 = ALMA E ESPRITO CAPTULO 2 = ESPRITO MATRIA FLUDO VITAL CAPTULO 3 = AS PORTAS DA PAZ CAPTULO 4 = EVANGELHO QUERIDO CAPTULO 5 = EDUCAO MEDINICA CAPTULO 6 = O ORIENTADOR ESPRITA CAPTULO 7 = OBRAS BSICAS, UM CURSO SUPERIOR CAPTULO 8 = CARIDADE: DEUS NO CORAO CAPTULO 9 = O TRABALHO DE DESOBSESSO CAPTULO 10 = A CIDADE DO PNTANO CAPTULO 11 = EM BUSCA DO APRENDIZADO CAPTULO 12 = ORIENTAO DOUTRINRIA CAPTULO 13 = EVANGELIZAO INFANTO-JUVENIL CAPTULO 14 = TRATAMENTO ESPIRITUAL CAPTULO 15 = PESQUISANDO OS APSTOLOS DO ESPIRITISMO CAPTULO 16 = O ESTUDO COMO ALICERCE CAPTULO 17 = IDENTIDADE DOS ESPRITOS - MEU ENCONTRO COM FRANCISCA THERESA CAPTULO 18 = OS PINTORES ZOMBETEIROS - JANICE, UMA DISCPULA DO CRISTO CAPTULO 19 = A CHEGADA DO CONSOLADOR CAPTULO 20 = EVOCAO DE ESPRITOS CAPTULO 21 = JUVENTUDE E FAMLIA CAPTULO 22 = OBSESSO: DOENA DA ATUALIDADE CAPTULO 23 = A FONTE CRISTALINA DO ESTUDO CAPTULO 24 = A CONSTRUO DE TEMPLOS CAPTULO 25 = CARIDADE - MOEDA DO MUNDO ESPIRITUAL CAPTULO 26 = APRENDENDO A DESENCARNAR CAPTULO 27 = OCAJ, A ENCICLOPDIA DO AMOR CAPTULO 28 = LINGUAGEM, NATUREZA E IDENTIDADE DOS ESPRITOS CAPTULO 29 = MEDIUNIDADE DISCIPLINADA CAPTULO 30 = A RVORE DO ESPIRITISMO

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    MENSAGEM AO LEITOR

    Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus o nico Senhor. Amars ao Senhor nosso Deus de todo o teu corao e de toda a tua alma, e com toda fora. E estas palavras que hoje eu te ordeno estaro gravadas no teu corao; e tu as ensinars a teus filhos, e as meditars sentado em tua casa e andando pelo caminho, e estando no leito, e ao levantar-te. (Deuteronmio, Captulo 6, versculos 4 a 7).

    Muitos livros do nosso irmo Luiz Srgio j chegaram s suas mos. Primeiro, foram suas emoes no novo mundo, pequenas mensagens para sua famlia carnal que, intuda, levou-as at a verdadeira famlia, a espiritual. Ao se deparar com os relatos do alm-tmulo, alguns deslumbraram-se e fizeram de Luiz Srgio um irmo, um amigo.

    Todavia ele no parou a, compreendeu que cada ser assume um compromisso com Deus, que no fomos criados para viver trancafiados nas quatro paredes dos nossos lares, que l fora, como fez Jesus, devemos ajudar muitos irmos em desespero.

    Ciente de que preciso desenvolver os talentos, porque do Pai os recebemos, o Luiz buscou os ensinos espirituais e recebeu a incumbncia de relatar os acontecimentos que envolvem o submundo dos drogados. Certos espritas ficaram assombrados: como poderia um esprito falar de sexo, drogas, enfim, de fatos to tristes? Mas ele continuou sua escalada, trazendo at seus irmos o alerta. Hoje o txico mata e aleija a juventude, e a sociedade ainda se encontra passiva, por temer aqueles que julga poderosos: os chefes do narcotrfico. Juntamente com as organizaes do txico caminha o desrespeito ao sexo e os relacionamentos tomaram propores alarmantes: basta um olhar do homem para a mulher, ou vice-versa, para julgarem-se no direito de brincar com algo muito srio: o mecanismo da vida fsica. Acumulando imprudncia, desamor, desconhecimento espiritual, os casais vo fugindo dos compromissos morais. E a, sem piedade, matam o fruto da relao inconseqente. Mas o mundo espiritual gritou por socorro e o Luiz cumpriu com seu dever. A espiritualidade, mais uma vez, atravs dos livros de Luiz Srgio e de outros espritos, veio clamar para a sociedade: deixem-nos viver!

    Muitos livros foram feitos, numa linguagem simples, verdade, mas objetiva, que os jovens entendem, porque eles que esto sofrendo mais, pois desde cedo aprendem a mentir, matando sonhos e iluses. Diversas obras j trataram destes mesmos assuntos: sexo, txico, que atingem crianas e jovens, por isso achamos que j tempo de buscarmos no as ovelhas que ficaram para trs, julgando que o que os espritos falam um amontoado de inverdades, que drogar-se, prostituir-se, viver a vida; mas neste livro queremos nos dirigir ao jovem so, aquele que est procura da verdade, aquele que almeja cumprir com o seu dever, o jovem que procura o livro esprita para se elucidar, porque deseja ter mente s e corpo so.

    Foi pensando nos leitores de Luiz Srgio que o convidamos a escrever este livro, Cascata de Luz, para que ele, com seu jeito de menino-ancio, pudesse trazer at voc um pouco dos ensinos dos espritos, uma matria nada complicada, mas que far com que da sua conscincia sejam retiradas as asperezas da imperfeio, que no o deixam viver o Declogo cdigo moral divino que nela foi gravado, para que cada um de ns se torne bom.

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    Esta a finalidade deste livro: levar at os leitores de Luiz Srgio a chave do palcio dos conhecimentos doutrinrios, que s encontramos nas obras bsicas e nos livros dos grandes filsofos da Doutrina Esprita. O homem tem por dever encontrar a luz, pois somente ela ir clarear o caminho que nos leva a Deus. Se no nos tornarmos bons, jamais praticaremos boas aes. Cada ser tem de lutar para tornar-se um cumpridor de deveres e nem tanto cobrador de direitos.

    Desejo, no s ao Luiz Srgio, mas a todos os que lerem este livro, que banhem seus coraes nesta Cascata de Luz, chamada Doutrina Esprita.

    LZARO JOS

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    1 ALMA E ESPRITO

    Reunimo-nos no belo salo do Educandrio de Luz onde Esdras, com sabedoria, ia falar sobre a tarefa de cada um de ns. Sentia-me emocionado, era uma nova fase da minha vida e lutava com todas as foras de meus sentimentos para bem aproveit-la. Esdras deixou-nos vontade; poderamos perguntar sobre todos os assuntos. Permaneci calado, desejando apenas ouvir. Olhava ao meu redor, esperando rever algum conhecido, mas naquele salo quase todos os rostos me pareciam estranhos. No fiquei triste, ao contrrio, encontrava-me feliz, naquele momento muito importante da minha vida. Recordei-me de todos os meus amigos leitores e por vocs cerrei os olhos e orei em silncio. Fomos divididos em grupos. O meu era composto de cinco pessoas: Arlene, Toms, Siron, Luanda e eu. Cumprimentei-os, meio cabreiro. Arlene, loura, muito bonita, olhos azuis serenos e belos, deveria ter uns trinta anos. Toms, muito alegre, disse-me que desencarnara com quarenta anos. Siron tambm possua uma vibrao muito boa. Olhei-o com tamanho carinho, que me sorriu, comentando:

    Meu nome Siron, espero que tenhamos conscincia da grande responsabilidade dos nossos espritos.

    Nem velho nem novo, Siron era daquelas pessoas que voc no imagina quantos anos tem. Luanda pareceu-me muito jovem. Era morena, de olhos negros, esguia e com uma voz aveludada. Este o meu novo grupo.

    Esdras, pregador de palavras fluentes, um grande orador. Terminadas suas breves elucidaes, samos.

    Estou feliz em t-lo como companheiro de grupo, falou-me Luanda aproximando-se de mim.

    Eu tambm, irm. Siron, Toms e Arlene aproximaram-se e fomos batendo um papo

    gostoso. O ptio do Educandrio de Luz de difcil descrio: as cascatas e as flores do aos nossos olhos um colorido divino. A tudo contemplava. Outros grupos como o nosso, da mesma forma pareciam deslumbrados. O grande Educandrio, todo branco com portas de madeira, composto de dois pavimentos: sua frente, um belo lago adornado de gernios, miostis, anglicas, rosas, enfim, todo florido, separado, por uma pequena ponte, das casas dos alunos. Estas so igualmente branquinhas, muito confortveis, e que jardim! Parecia o cu.

    Ao chegarmos casa fomos recebidos por In, que alojou cada um em seu quarto.

    Gostaria de ter capacidade para narrar-lhes a beleza de cada cmodo. O meu era to bonito que me joguei na cama e falei para Jesus:

    Mestre, no mereo tanto!... Fazia parte do ambiente uma biblioteca to espetacular que me pareceu

    irreal. Enquanto me deslumbrava com ela, um friozinho banhou-me a espinha:

    cara, agora voc ter de estudar. Sorri. Que bom, gosto mesmo de aprender. Estava pensativo quando In me chamou para avisar que as aulas teriam incio

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    s quatorze horas, no Salo Azul. Agradeci irm e logo me encontrava na sala de estar espera de meus companheiros, que tambm no demoraram a chegar. Dali fomos para o referido salo do Educandrio, que j se encontrava lotado. Foi feita aprece de abertura, aps o que o instrutor Ddero falou sobre a importncia da Doutrina Esprita: Irmos, desde os primrdios da Terra os homens vm recebendo de Deus os ensinamentos e deles fugindo. Por qu? indagamos. Simplesmente, porque os ensinos do Senhor fazem com que nos esqueamos de ns mesmos e comecemos a nos preocupar com o prximo. A Lei uma s, seu nome: amor. Com o passar dos anos e dos sculos, os homens foram criando leis, algumas justas, outras sem razo de existir, mas a de Deus permanece intocvel, porque a cada ser basta a sua conscincia, que foi em cada um de ns plasmada no momento em que ganhamos o livre-arbtrio, chamado o diadema da razo. As leis dos homens modificam-se segundo os tempos, os lugares, os pases; a de Deus no, porque est em ns. Hoje aqui estamos para estudar a Doutrina dos Espritos, a Terceira Revelao. Vamos buscar a verdade doutrinria, saber por que uma Doutrina de luz, o motivo pelo qual devemos estud-la, enfim, saber o que a Doutrina Esprita. Se buscarmos O Livro dos Espritos, em sua Introduo, veremos que um espiritualista no pode dizer-se esprita. Com pesar, hoje constatamos que a palavra Espiritismo est distante da prtica esprita, porque no espiritualismo falamos com os espritos, acreditamos neles, mas na Doutrina Esprita ns aprendemos que a reforma ntima est em primeiro lugar. Portanto, podemos conhecer os espritos e no ser espritas. Essa est sendo a grande preocupao; hoje muitos se dizem espritas, sem conhecimento, e o Espiritismo est sofrendo uma mutilao, como ocorreu com o protestantismo. Dele surgiram vrias ramificaes, difceis de serem compreendidas. Se os espritas no se unirem num elo de trabalho e amor, logo incorreremos nos mesmos erros das outras religies. Com pesar, j percebemos em algumas Casas Espritas essas divises. O que est faltando para que o homem compreenda a Doutrina? Um estudo srio das obras bsicas.

    Irmo, mas percebemos que poucos dirigentes de grupos se aprofundam suficientemente nos estudos para elucidar osiniciantes. Eles, s vezes, complicam por demais o ensino das obras bsicas.

    Sabemos disso, este o motivo por que estamos preparando instrutores para levarem crosta da Terra a luz da Doutrina.

    Por que o irmo Lzaro Jos pede que estudemos a Introduo de O Livro dos Espritos muitas e muitas vezes? perguntei.

    Simplesmente, porque nela est contida uma sntese da Doutrina. Um bom dirigente precisa elucidar o seu grupo sobre o valor da Introduo e no ter pressa em deix-la para trs. Estudando-a, vamos pouco a pouco conhecendo os ensinamentos contidos no livro e nas demais obras bsicas.

    Por que precisamos tanto estudar O Livro dos Espritos? indagou Luanda.

    Porque ele contm a Doutrina Esprita luz que dissipa as trevas. ela que modifica o homem, nela que encontramos as instrues dos espritos que nos curam a doena das imperfeies. na Doutrina Esprita que achamos as pegadas do Cristo e dos primeiros cristos, por isso a chamamos de doutrina consoladora. No primeiro item da Introduo encontramos as seguintes ponderaes: Diremos, pois, que a doutrina esprita ou o Espiritismo

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    tem por princpio as relaes do mundo material com os Espritos ou seres do mundo invisvel. Os adeptos do Espiritismo sero os espritas ou, se quiserem, os espiritistas. Atualmente j estamos lutando com as divises do Espiritismo. Nem todos os que crem nele tornam-se espritas. Por qu? Simplesmente, porque no buscam os ensinos dos espritos e longe desses acreditam que existem espritos, mas no nos reconhecem como espritos que tambm precisam evoluir. Este assunto est bem claro no item um da Introduo de O Livro dos Espritos.

    E a alma? perguntou Siron. Por que tanta discusso e controvrsias a seu respeito?

    No incio da Codificao tornavam-se difceis as explicaes, e as discusses surgiram porque existiam vrias opinies. Mas as palavras dos espritos gritaram mais forte. Est na Introduo de O Livro dos Espritos, item 2: (...)chamamos ALMA ao ser imaterial e individual que em ns reside e sobrevive ao corpo. Todavia, para um melhor estudo, busquemos a Parte 2, Captulo 2, questo 134: O que a alma? Um Esprito encarnado. O estudioso tem de ler todo este captulo.

    Depois da morte do corpo fsico deixamos de ser alma? perguntou um dos alunos.

    Irmo, veja a riqueza do item a, da pergunta 134: Que era a alma antes de se unir ao corpo? Resposta: Esprito. Portanto, somos almas quando nos encontramos presos ao corpo fsico, e nos tornamos espritos medida que vamos desprendendo-nos do fsico, espritos criados por Deus para sermos livres; e, quando no crcere da carne, almas expiando suas culpas. Este assunto vai at a questo 146-a.

    Por que no podemos explicar cada pergunta e resposta sobre o assunto? inquiri.

    Gostaramos de faz-lo, mas o irmo teria de graf-las nos livros e estes ficariam imensos.

    Que pena... O instrutor falou por muito tempo ainda, principalmente sobre o porqu de

    no colocarmos as explicaes de cada pergunta. Este assunto tambm vamos buscar no livro O Cu e o Inferno, Primeira Parte, Captulo 2 Temor da Morte. No item 9: Demais, a crena vulgar coloca as almas em regies apenas acessveis ao pensamento, onde se tornam de alguma sorte estranhas aos vivos; a prpria Igreja pe entre umas e outras uma barreira insupervel, declarando rotas todas as relaes e impossvel qualquer comunicao. Devemo-nos lembrar de que alma o esprito encarnado. prudente o aprendiz ler todo este captulo de O Cu e o Inferno, assim como todo o Captulo 2 da Parte Segunda de O Livro dos Espritos.

    O aluno no ir confundir-se, quando verificar que no livro O Cu e o Inferno s se denomina alma aos desencarnados? inquiriu Luanda.

    No, se ele comear da Introduo de O Livro dos Espritos o seu aprendizado.

    Usava-se a palavra alma para melhor memorizar o ensino, pois os encarnados at hoje chamam os espritos de almas.

    Um encarnado pode ser chamado de esprito? Pode, se for uma alma espiritualizada. Continuou o instrutor: Agora, vamos at o pequeno-grande livro O que o Espiritismo. No

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    Captulo 3 iremos encontrar tambm um bom estudo sobre alma. Vejamos o item 108 : Qual a sede da alma? Resposta:

    alma no est como geralmente se cr, localizada num ponto particular do corpo; ela forma com o perisprito um conjunto fludi co, penetrvel, assimilando-se ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do qual a morte no , de alguma sorte, mais que um desdobramento. Podemos figuradamente supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro, confundidos durante a vida e separados depois da morte. Nessa ocasio um deles destrudo, ao passo que o outro subsiste.

    Indagou um dos alunos: Toms aduziu: O irmo poderia elucidar-nos sobre este trecho do livro O que o

    Espiritismo? Acho-o confuso. Muitos julgam que o esprito est trancafiado no corpo fsico; sendo

    ele luz, irradia-se por todos os corpos, mas, como nos diz o livro, na hora da morte a alma (esprito) se liberta e o fsico destrudo. Aconselhamos que leiam o Capitulo 3.

    Toms aduziu: A questo 146 de O Livro dos Espritos, Parte Segunda, Capitulo 2,

    diz: A alma tem, no corpo, sede determinada e circunscrita? A resposta : No; porm, nos grandes gnios, em todos os que pensam muito, ela reside mais particularmente na cabea, ao passo que ocupa principalmente o corao naqueles que muito sentem e cujas aes tm todas por objeto a Humanidade.

    Por isso importante a leitura de todas as obras bsicas. No livro O que o Espiritismo aprendemos que a alma assimila-se ao corpo inteiro e em O Livro dos Espritos -nos explicado como isso se processa: se somos inteligentes e bons, ela se concentra mais no crebro e no corao; agora, ela que d vida ao corpo fsico.

    Eu no piscava, de to atento ao estudo, e com a grande responsabilidade de passar para voc, leitor, tudo o que estvamos aprendendo.

    Outra pergunta foi formulada: E agora, que j no temos o corpo fsico? Irmo, volte ao livro O que o Espiritismo, nele est a resposta da

    pergunta 108: (...)ela forma com o perisprito um conjunto fludico. Portanto, hoje o seu esprito irradia-se tambm por todo o seu corpo perispiritual, entretanto, temos por dever tornar mais etreo este corpo que hoje nos serve. A medida que vamos evoluindo, ele vai ficando menos pesado. A iluminao do recinto foi ficando diminuta e o instrutor fez a prece de encerramento, por sinal, lindssima. Fomos saindo devagar e eu falei para Luanda: J escrevi sobre inmeros assuntos, mas este trabalho acho que vai ser o mais difcil: tentar passar para os meus leitores um pouco da Cascata de Luz, que so as obras bsicas da Doutrina Esprita. Espero, Luiz, que tenha xito, e que cada leitor possa sentir o que estamos vivendo neste pedacinho do cu, onde as estrelinhas, que so as letras de O Livro dos Espritos, iro pouco a pouco clareando nossos espritos, para felicidade nossa e daqueles que de ns se aproximam. Enlacei-a com carinho e fomos caminhando pelas alamedas daquele

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    belo lugar.

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    2 ESPRITO MATRIA FLUDO VITAL

    No bosque do Educandrio conversamos muito sobre a Doutrina Esprita

    e o perigo da diviso que nela vem ocorrendo. O medo de deturp-la est levando alguns espritas ao desequilbrio, atacando companheiros e julgando-se os donos da verdade.

    Luiz, voc no cr que poucas Casas Espritas exercitam um intercmbio entre si? Parece-me at que h uma certa rivalidade entre muitas, no acha? indagou Luanda.

    No sei, porque a tarefa da Casa Esprita melhorar o homem, e quem vive atirando pedras no tem tempo de evoluir.

    Arlene ponderou: Sim, mas se nos for permitido veremos muitos absurdos,

    principalmente no campo da psicografia. Certo falou Siron. O que nos preocupa a falta de elucidao sobre

    a unificao das Casas Espritas, porque a cada dia levanta-se uma por pessoas completamente despreparadas, apenas cheias de boas intenes. Isso no tudo. A diretoria de uma Casa Esprita tem por obrigao conhecer a Doutrina para no levar seus freqentadores ao ridculo. Se no esto preparados ainda, devem esperar; nada como o tempo e, enquanto ele no vem, estudar as obras bsicas para adot-las na Casa.

    Tambm penso assim. O que me entristece a falta de conhecimento em certos Centros. Neles encontramos pessoas completamente fanatizadas, medrosas ou doentes, vendo esprito pregado nas paredes, nas portas e no teto, e ainda dizendo: sonhei, tenho sonhado... Quanta sabedoria em Jesus, quando falou: acautelaivos dos falsos profetas!...

    Naquele bosque falamos sobre os encarnados e pensativo me encontrava, porque ningum mais do que eu vem acompanhando o desequilbrio de alguns espritas, que julgam at que o barulho do vento obsessor.

    Luiz, perguntou Luanda, voc, que convive mais com os encarnados, o que acha estar precisando acontecer em algumas Casas Espritas?

    Realizar o estudo sistematizado das obras bsicas e trabalhar para manter o Centro, porque se o homem no se tornar caridoso, jamais se espiritualizar. Freqentar a Casa to-somente uma, dezenas ou mais vezes, nada acrescentar sua alma, principalmente se for avara, egosta e orgulhosa.

    Mas, Luiz, muitos so contra os trabalhos sociais. Ser que essas pessoas nunca abriram O Evangelho Segundo o

    Espiritismo, onde os espritos dizem: fora da caridade no h salvao? Se o homem no mudar seu comportamento dentro de uma Casa Esprita, jamais ter outra chance. E no sou eu quem est alertando, so todos os Espritos do Senhor. No precisamos ir muito longe, olhemos ao nosso redor e veremos quantas religies esto perdendo adeptos pela falta de caridade.

    Ainda ficamos algumas horas conversando sobre vrios assuntos, at voltarmos casa que nos abrigava. Ao adentr-la, encontramos In sentada ao piano, tocando uma bela cano de amor, que dizia mais ou menos assim:

    Que saudade eu sinto de voc

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    amor que ficou to longe de mim Que saudade eu sinto de voc

    uma saudade sem fim Mas eu pergunto: por que

    Eu vim e voc no, Amor do meu corao?

    Quando terminou, batemos palmas. Timidamente, desculpou-se:

    Perdoem-me, no os vi chegar. Esperava-os para fazermos o culto cristo no lar, o alimento das nossas almas, ou preferem antes um bom caldo?

    Engana-se, In, j estamos em outra, falei. Todos riram, ramos uma bela famlia, trabalhando e estudando. Na casa

    de In sentamo-nos como se estivssemos em nossa prpria casa. Cantamos e conversamos at tarde. Depois, cada um foi para seu quarto. Demorei-me a conciliar o sono. Tudo era novo para mim, como se de repente eu me visse em um novo mundo. Pela manh, fui o ltimo a chegar sala, a turma j estava decidida a chamar-me no quarto. Meio sem jeito, desculpei-me. In, sorrindo, disse-me:

    No importa, s atrasaste um minuto. Creio ter ficado amarelo de vergonha, pois para a espiritualidade no

    existe nada pior do que a falta de disciplina, e quem no obedece a horrio um desequilibrado.

    Serenei, logo depois, e ainda contei muitos casos, divertindo-os muito. Chegada a hora, despedimo-nos de In e logo estvamos no auditrio do Educandrio. Ao ser proferida a prece senti como se flutuasse; era muito para meu esprito carente de conhecimentos. O instrutor voltou a falar sobre a alma, solicitando ao grupo que pesquisasse o livro O que o Espiritismo.

    Por que se diz alma ao esprito encarnado? perguntei. A palavra alma sinnimo de esprito, entretanto denominamos alma

    quando o esprito est prisioneiro na carne. Um homem quando comete algum crime vai para a cadeia e fica preso. Passamos a cham-lo prisioneiro. To-somente pelo fato de estar preso, ele no deixou de ser homem. Portanto, ao esprito preso no corpo fsico denominamos alma.

    O painel apresentava a pergunta 136, item b, de O Livro dos Espritos:

    Que seria o nosso corpo, se no tivesse alma? Simples massa de carne sem inteligncia, tudo o que quiserdes, exceto

    um homem. Irmo, solicitou Luanda, fale-nos sobre o fludo vital. Encontramos em A Gnese, Captulos 10, 11 e 14, um bom estudo

    sobre os fludos, que muitos confundem com energia. Em O Livro dos Espritos, Parte primeira, Captulo 4, encontramos Seres orgnicos e inorgnicos:

    Os seres orgnicos so os que tm em si uma fonte de atividade ntima1, que lhes d a vida. Nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem. So providos de rgos especiais2 para a execuo dos diferentes atos da vida, rgos esses apropriados s necessidades que a conservao prpria lhes impe. Nessa classe esto compreendidos os homens, os animais e as plantas. 1. N.E. Grifo do autor espiritual

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    2. Idem

    Para melhor entendermos, busquemos em A Gnese, Captulo 14, as explicaes sobre os fludos. No devemos esquecer-nos de que fludo no energia. Hoje estudaremos os fludos. Estes partem do fludo csmico universal, matria elementar primitiva, cujas modificaes e transformaes constituem a inumervel variedade dos corpos da natureza. Portanto, o fludo universal de pureza absoluta, mas sofre vrias transformaes quando compe o que se pode chamar a atmosfera espiritual da Terra.

    Uma pergunta foi feita: O princpio vital o mesmo para todos os corpos que conhecemos? Sim, respondeu o instrutor, modificado segundo as espcies, de

    acordo com O Livro dos Espritos, questo 66. No homem, como ele atua? Em O Livro dos Espritos aprendemos que

    o esprito e a matria so dois elementos constitutivos do Universo. E o princpio vital seria um terceiro?

    A resposta est na questo 64: , sem dvida, um dos elementos necessrios constituio do

    Universo, mas que tambm tem sua origem na matria universal modificada. , para vs, um elemento, como o oxignio e o hidrognio, que, entretanto, no so elementos primitivos, pois que tudo isso deriva de um s princpio.

    Fludo vital o mesmo que fludo espiritual? No, O fludo espiritual o que serve para o desenvolvimento da

    inteligncia; envolve a matria cerebral, tornando-a mais ou menos flexvel. Portanto, o crebro o reservatrio e a sede de impulso e direo dos fludos espiritual, nervoso e vital. No corpo fsico, alm do fludo vital que circula nas veias, misturado ao sangue, influindo nas suas qualidades e, por conseguinte, na organizao humana, o encarnado possui o fludo nervoso, que serve para imprimir elasticidade aos msculos, nervos e articulaes, e o fludo espiritual, que envolve a matria cerebral. Apertei o boto das perguntas: Gostaria que o irmo explicasse mais sobre a mente.

    A mente a orientadora desse universo microscpico, em que bilhes de fludos e energias consagram-se a seu servio.

    A clula nervosa entidade de natureza eltrica? Sim, que diariamente se nutre de fludos. Energia e fludos trabalham juntos? Sim. No corpo humano esses dois elementos trabalham para que o

    esprito se mantenha no comando do corpo fsico, eles que do vitalidade ao corpo fsico. O esprito o chefe; o fludo e a energia, instrumentos de que se serve o chefe para suas necessidades. No nos esqueamos de que o perisprito composto de fludo csmico universal e de que a energia se encontra no duplo etrico, nas chamadas rodas energticas.

    O instrutor ainda nos orientou sobre vrios assuntos referentes a fludo e energia, aps o que a aula foi encerrada e dali saimos com o esprito repleto de agradecimento.

    Ganhamos o jardim e encontramos um irmo que nos informou de que ramos esperados na secretaria do Educandrio. Gelei, pensando: o que fizemos de errado?

    Logo l estvamos, sendo informados de que deveramos descer crosta

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    da Terra para ajudar algum. Achei estranho, mas me calei, pedindo para dar uma chegada at meu novo lar. Os outros me olharam, como a indagar: para qu?

    Vou dar um beijo em In, s isso, um beijo de at logo. E assim, nos pusemos a caminho at que chegamos casa de Roberto. Encontramo-lo muito enfraquecido, sentado em uma cadeira. Orava a

    Deus, pedindo proteo. Ele e esposa haviam fundado uma Casa Esprita e agora, vivo, via-se quase sozinho para levar a tarefa at o fim. Eram tantas as preocupaes que Roberto pediu ajuda. Ns ali estvamos no s para auxili-lo, como para estudarmos a luta de um verdadeiro esprita. Parece que sentiu nossa presena, pois comeou a falar:

    No sei o que fao, meus amigos espirituais. Tento manter a pureza doutrinria da Casa, entretanto, alguns freqentadores vivem, nas horas vagas, atrs de ledores de cartas, enfim, misturando tudo com a Doutrina e, por mais que os convidemos ao estudo, eles relutam, pois acham mais fcil servir a outros senhores do que ao Centro.

    Luanda segurou a mo de Roberto, que continuou: Gostaria que na Casa de Jesus as paredes reluzissem a caridade,

    mas os seus freqentadores longe se encontram dela. Permanecemos algumas horas orando com Roberto e, noite, visitamos

    o Centro Esprita. Os trabalhadores daquela Casa mais pareciam estar numa festa: vaivm nos corredores, mulheres muito bem vestidas, jovens muito alegres, dando gostosas gargalhadas, enfim, um verdadeiro acontecimento social.

    Todos os dias aqui assim? perguntei a Jos, um dos espritos encarregados do Centro.

    Sim, a Casa est sempre cheia. A imagem das senhoras bem vestidas, com os braos repletos de

    pulseiras, jias e pintura exagerada no rosto, no combinava com a de uma Casa de orao.

    Siron, vendo-me preocupado, falou: Luiz, no vejo mal em algumas pessoas fazerem do Centro Esprita

    uma casa de passeio. Certo no , mas prefervel elas aqui, do que l fora, no erro.

    No sei, no, Siron. A Casa Esprita um hospital de almas e devemos ter um comportamento adequado. Jias e roupas caras podemos usar em festas; aqui, acho desrespeito s almas doentes que vm em busca de orientao e consolo. Olhe o auditrio: quantas pessoas humildes, vestidas simplesmente.

    O que certo? Voc acha que para ser esprita preciso viver na misria?

    No, por favor, compreenda-me. Posso estar errado, vou at perguntar ao instrutor, mas no acho certo mdiuns e orientadores estarem cobertos de jias e enfeitados como se fossem rvores de Natal. Sei que a espiritualidade admira o belo, mas sei tambm que para servirmos ao Senhor temos de arregaar as mangas e pegar na enxada, e quem est todo enfeitado no tem condio de pegar na charrua.

    Nisso, a palestrante da noite falava sobre caridade. Seu brao, repleto de jias, fazia um barulho irritante. Depois, fomos convidados a acompanhar Terncio, um dos irmos que estava polemizando com Roberto, pois desejava

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    mudar os planos de trabalho do Centro. Gostava da cultura oriental, das pirmides, enfim, queria um Centro ecumnico, pois, dizia ele, os espritas tinham de modernizar-se. Acompanhamo-lo e a um colega seu, at sua casa. O amigo Henrique, calado, ouvia-o falar do poder dos cristais, da energia dos corpos, da necessidade de buscar-se outros meios:

    preciso modernizar a Doutrina, ela est ficando caduca. O outro argumentava no achar certo, porque a Doutrina haveria de

    continuar cristalina, mas Terncio dizia: No, voc no compreende o valor da energizao dos corpos. Por favor, dizia Henrique, s est faltando voc trazer para a Casa os

    duendes, os gnomos... E por que no? A Doutrina tem de acompanhar a evoluo da Terra e

    hoje foram feitas descobertas incrveis sobre os elementais. Por favor, no me venha com essa conversa fiada... Depois, Henrique pensou e falou: Desculpe-me, no que eu no acredite, apenas acho que quem

    acredita nessas coisas deve busc-las nos locais apropriados, mas deixe a Doutrina caminhar como nos foi entregue por Kardec.

    No estou entendendo, Henrique. Por que voc hoje est contra minhas idias?

    No sabia ele que ns quej estvamos iniciando um trabalho de doutrinao.

    E depois, continuou Terncio, mal no faz, no mesmo? Gostamos das pirmides...

    Henrique falou, srio: Sabe, irmo, no acho certo no termos firmeza na f. Se no

    estamos satisfeitos com a beleza da Doutrina Esprita, retiremonos com dignidade e vamos em busca daquilo em que acreditamos. Contudo, desejar mudar algo to belo, como os ensinos dos espritos, pela simples razo de no os compreendermos, pobreza de sentimentos, porque a Doutrina tem um nico objetivo: pregar a verdade, e ela se chama Jesus. Graas a Allan Kardec fcil encontrar essa verdade, ela est brilhando nas obras bsicas. Boa noite falou Henrique, batendo a porta do carro.

    Ns ainda ficamos ao lado de Henrique, que no sabia por que falara to duro com seu amigo. Depois, com ares importantes, disse para si mesmo:

    Deve ser o meu mentor. De hoje em diante defenderei a Doutrina com as foras do meu esprito.

  • 15

    3 AS PORTAS DA PAZ

    No Centro Esprita que freqentava, Terncio abriu por acaso O Evangelho Segundo o Espiritismo e, meio cabreiro, leu o capitulo referente aos falsos profetas. Parou, com o amado livro nas mos, dando a impresso de que ia ter um momento de lucidez, mas que nada! Falou, baixinho: Esses espritos esto malucos, cheiram a mofo, de to antigos. Esperamos o nosso amigo se desprender atravs do sono e, junto ao seu mentor, tentamos dizer-lhe do perigo de buscarmos tudo o que nos aparece, principalmente sej temos um certo conhecimento. E depois, desrespeito para com a Casa que freqentamos, pois qualquer Centro ou igreja possui um estatuto que precisa ser respeitado. Terncio no nos ouvia, achava tudo muito natural. S paramos a doutrinao quando nos prometeu dedicar-se mais aos trabalhos da Casa, pois enquanto buscava outras crenas, o Centro necessitava de ombros fortes e mos benditas. No dia seguinte, estvamos ns procurando ajudar Roberto, mas a luta desse irmo no era fcil, constantemente agredido por alguns dos componentes daquela Casa, como se fosse um irresponsvel. Era a turma do nada, to conhecida dos trabalhadores espritas: apenas exigem, mas trabalho, que bom, nada.

    Estvamos ao lado de Roberto quando um irmo de seus quarenta anos aproximou-se. Faixa etria difcil, essa dos trinta aos quarenta e cinco anos!

    Pouqussimos se interessam em cooperar; alegam famlia, emprego, obrigaes sociais, mas sabem exigir. Jorge era s reclamao: reclamava do jornal mal escrito, dos mdiuns desequilibrados, de alguns livros espritas, e em tudo a culpa era de Roberto, presidente do Centro. Jorge alterava tanto a voz que julgamos fosse agredi-lo.

    Aproximei-me e lhe disse algumas verdades, o que fez com que parasse e pedisse desculpas, mas era demais o desrespeito daquele falso esprita! Se no se concebe um homem sem conhecimento doutrinrio agredir algum, imagine quem j est em uma Casa Esprita. Coitado do Roberto! Nos seus sessenta e cinco anos, podendo viajar e se divertir, ali estava, por amor ao seu ideal, e sempre to mal compreendido e desrespeitado! Jorge acalmou-se, mas Roberto encontrava-se nervoso e aproveitamos para ministrar-lhe um passe. Quem cuidou dele foi Arlene. Sentado em uma cadeira, Roberto pensava: vou deixar a presidncia e descansar. Jorge tem razo, tenho muita complacncia e no estou sendo um bom presidente. Fizemo-lo ver o quanto era til quela Casa, que antes era um elefante branco, apenas mais um prdio, sem freqncia alguma. Agora, no, a Casa era um riacho de luz.

    Por que esses Centros, onde h desavenas, nada fazem pelo prximo? perguntei a Toms.

    Porque so viveiros da vaidade, mas esperamos que um belo dia o homem se conscientize de que a Doutrina Esprita a gua que nos limpa das imperfeies. A medida que vamos estudando as obras bsicas, adestramos o animal que ainda somos.

    Agora, chegar Doutrina e desejar apenas educar o colega ser apenas um envelope vazio, sem valor algum. Bom seria fazer uma reflexo e constatar que j deixamos para trs muitos velhos hbitos, vcios que nos tornavam

  • 16

    seres enfermos. A Casa Esprita, Luiz Srgio, um hospital de almas e ningum visita um hospital em busca de divertimento ou prazer. S vamos at ele em busca da sade. Assim a Casa Esprita, devemos procur-la, encarnados e desencarnados, para a sade de nossos espritos, porque em um Centro bem alicerado encontraremos o remdio que nos proporcionar a cura. Para isso, entretanto, teremos de renunciar a muita coisa, principalmente ao nosso amor-prprio; este o nosso grande inimigo, que dificulta nossa evoluo.

    Toms, muitos apenas freqentam uma Casa Esprita, como fazem em algumas igrejas. certo isso? Diz o nosso irmo Lzaro que prefervel sermos um bom protestante a um mau esprita.

    Tambm acho, O homem, quando adentra uma Casa Esprita, tem acesso a um verdadeiro tesouro, que so as obras bsicas. Lendo-as, no pode alegar ignorncia, pois nesses livros encontramos toda a diretriz da nossa renovao. Chegar a uma Casa Esprita e querer modific-la falta de humildade e, principalmente, de conhecimento da Doutrina.

    Isso algo que hoje preocupa os espritos, no mesmo, Toms? Sim, verdade. Se os espritas no se unirem, dificilmente contero os

    vendavais que iro surgir. Enquanto isso, outras seitas aumentam o nmero de adeptos.

    Mas diz Lzaro, tambm, que necessitamos realmente de qualidade e no de quantidade.

    Sim, mas se a Doutrina for bem explicada, brilhar como uma estrela, e quem no ama a luz?

    Ficamos naquela Casa vrios dias, tentando ajudar Roberto, mas o desentendimento entre eles era grande. Ningum imagina o quanto sofre um apstolo do Cristo! Convidados fomos, ento, a visitar outra Casa Esprita, e nos assustamos com o marasmo naquele prdio enorme. Os trabalhos sociais eram combatidos, pois muitos dos seus freqentadores diziam que ao trabalharmos para os pobres esquecemo-nos de estudar a Doutrina. O presidente chamava-se Erasto. Acercamo-nos dele e tentamos falar-lhe sobre a caridade, mas ele dizia duramente: prefiro ver o Centro vazio a trabalhar com maus espritas. Percebemos que aqueles irmos nada faziam pela Doutrina, viviam num casulo. Falavam de Jesus, mas no Lhe seguiam as pegadas.

    Eles aqui apenas oram? Quem eles foram? perguntei. Ningum me respondeu, mas confesso que me sentia inquieto. Aqueles

    irmos desconheciam a carncia material ou espiritual do seu prximo. Jamais haviam sado daquelas quatro paredes, enquanto Jesus caminhou quilmetros e mais quilmetros, sem ter onde reclinar Sua cabea, porque os carentes eram Sua famlia. Ele no ficou somente defendendo a Lei de Deus, viveu-a em toda a sua grandeza. Naquela Casa, com um terreno enorme, tudo parecia abandonado. Ali habitava o orgulho. Se conversssemos com um de seus freqentadores, logo perceberamos como eram apegados letra.

    Um dia isso vai mudar? perguntei a Arlene. Sim, logo estaro cansados da ociosidade. Ainda bem. Por que no fundam grupos de trabalhos manuais como

    terapia? E depois, de que vale apenas falar, e nada realizarem? Como, possvel, mesmo tendo tanto conhecimento, estarem to apegados letra? perguntei a Toms.

  • 17

    Lembre-se, Luiz Srgio, de que existem vrias religies nas quais os homens se apresentam como verdadeiras enciclopdias, mas com os coraes vazios. No podemos esquecer, entretanto, que inmeras pessoas vivenciam a Doutrina, sendo verdadeiros apstolos do Cristo.

    Impressionado, olhei novamente o ptio: cho batido, terreno com ares de abandono.

    Por que no fazem um mutiro para cuidar do jardim? Simplicidade no significa desleixo. Esta seria uma boa oportunidade para unir seus integrantes. Mas acho que pedir muito deles...

    Naquele dia a diretoria estava reunida. Poucos minutos ficamos, era um verdadeiro ringue de ofensas, brigas e mais brigas, todos desejando mandar. Quando samos, pedimos perdo a Jesus por todos os homens que recebem o talento do amor mas o mantm enterrado num corao orgulhoso.

    Amigos, vamos agora at uma Casa onde Deus, Cristo e Caridade resplandecem luz em cada gesto. Vamos, irmos, at o Centro Esprita Recanto da F.

    Quando chegamos, algumas pessoas cantavam alegremente: era o grupo das abnegadas senhoras da costurinha. De vinte mquinas, todas ocupadas, saam, por ano, dois mil enxovais para crianas pobres. Tambm das mos daquelas irms surgiam os mais belos trabalhos de artesanato, vendidos para a compra de todo o material para a confeco dos enxovais. Com entusiasmo constatvamos que todas aquelas senhoras, irms at em avanada idade, estudavam a Doutrina, possuindo um excelente conhecimento doutrinrio.

    Irm Arlene, elas freqentam os grupos de estudo da Casa? Sim, por isso so to desprendidas. Estudam e trabalham, porque

    sabem que a f sem obras como um riacho seco. Permanecemos no Recanto da F e percebemos que aquele grupo

    esprita vivia como encarnado, mas j bastante espiritualizado. A preocupao daqueles irmos era com o seu prximo e para isso no tinham receio de privar-se de muitas coisas. At as crianas e jovens achavam natural desembolsar alguma importncia para melhoria do seu semelhante. - Percebo que eles trabalham contentes, no mesmo? co mentei. Sim, iguais a este existem no Brasil vrios outros grupos que j se conscientizaram de que dando que se recebe e de que outras religies ficaram caducas porque os seus homens viraram peas de museu, no saram s ruas lutando contra a fome e a misria, como fez Jesus Cristo.

    Queria ficar naquela Casa e narrar para vocs a fora de uma f raciocinada, de uma f gigante. Como firme aquele que conhece a Doutrina e acredita que estamos encarnados para evoluir! Se no tirarmos do corao o egosmo e o orgulho no seremos dignos do chamado do Cristo. Aquele Recanto era a palavra viva de Jesus; seus jardins, muito bem cuidados, louvavam a natureza e as flores e os pssaros nos convidavam orao.

    Por que todos os Centros no so assim? Porque muitos aindajulgam que s dizer-se esprita isenta-os da

    reforma ntima. Por julgarem-se donos da verdade, vo apenas freqentando Centros e querendo doutrinar espritos. A Doutrina o remdio da alma, o farol guiando os homens pela longa estrada da evoluo. Aquele que no procurar tornar-se bom no ser digno do chamado do Cristo.

    Sabe, Toms, gosto muito de uma passagem de O Evangelho

  • 18

    Segundo o Espiritismo, no Captulo 25, Buscai e Achareis, item oito. No ltimo pargrafo est escrito:

    A caridade e a fraternidade no se decretam em leis. Se uma e outra no estiverem no corao, o egosmo a sempre imperar. Cabe ao Espiritismo faz-las penetrar nele.

    lindo este pargrafo, onde se mostra aos espritas a grande responsabilidade de cada um. Todos somos mestres e queira Deus s ensinemos coisas dignas aos que caminham ao nosso lado.

    Voc tem razo, Luiz. De que valem as palavras, quando esto longe dos exemplos?

    Olhei mais uma vez o Recanto da F e pedi a Deus por aquele acolhedor local; que os seus freqentadores tenham sempre no corao o Evangelho, s assim a Casa crescer em bnos.

    Permanecemos naquele local mais alguns dias, quando foi criado um grupo de estudos.

    Por que aqui s se estudam as obras bsicas? perguntei. Por serem elas as mais completas. Estudando-as, vamos pesquisando

    outros livros, porque tudo o que veio depois de Kardec apenas complementa as verdades doutrinrias, por isso no conveniente ficarmos estudando este ou aquele livro; o certo fazermos de O Livro dos Espritos a nossa cascata de luz. Os outros livros so gotas de luzes que precisam do discernimento de cada um para compor a vasta bibliografia esprita. Por isso, antes de devorarmos livros e mais livros, aprendamos com as obras da Codificao.

    E quanto aos livros dos grandes filsofos da Doutrina? So timos para pesquisarmos quando estamos nos esclarecendo

    com as obras bsicas. Amigo, mas muitos acham difcil estud-las. Falta de hbito. Se o esprita iniciante buscasse nas obras bsicas a

    resposta s suas indagaes, no estaria to mal informado. O mal dos novatos buscar apenas os mdiuns, muitos dos quais sem preparo algum, com teorias prprias, distantes das verdades.

    A reside o perigo, e como tem neguinho vaidoso por a... Coitados, na hora H queremos ver a cara deles. Gosto muito tambm do Captulo 18 de O Evangelho Segundo o Espiritismo: Muitos os chamados e poucos os escolhidos, item seis: Nem todo o que diz: Senhor, Senhor, entrar no reino dos cus, mas sim o que faz a vontade de meu pai, que est nos cus, esse entrar no reino dos cus. Muitos me diro, naquele dia: Senhor, Senhor, no assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expulsamos os demnios, e em teu nome obramos muitos prodgios?

    Esta parbola muito sria e os espritas tm de refletir sobre o seu significado. De que vale vivermos fazendo profecias e falando do futuro para o nosso prximo, se nada estamos fazendo pela melhoria ntima, se no damos bons exemplos? De que vale expulsarmos obsessores, se em nossos lares somos tiranos domsticos, se ainda somos obsessores dos nossos colegas de trabalho, das pessoas que vivem ao nosso lado? O certo nos tornarmos bons e caridosos, antes de batermos porta do Senhor e Ele nos responder: Eu nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vs que obrais a iniqidade (Mateus, Captulo 7, versculos 21 ao 23). Eu sempre aconselho: vamos mudar, ser bons, pacientes, caridosos e amigos; vamos jogar fora a avareza, o dinheiro

  • 19

    da terra, no nos pertence, para que lutar tanto por ele? Vamos ofertar, enquanto podemos faz-lo, o po, o agasalho, o amor, principalmente se nos dizemos espritas. Por que o apego aos bens terrenos, onde o ladro vai-nos roubar e a traa destruir, pois nada material eterno? Cuidado, amigo, no brinque com algo srio, abra seu corao para que Deus abra as portas da paz para voc.

  • 20

    4 EVANGELHO QUERIDO

    Conversando sobre a beleza da Doutrina, concluimos que poucos a

    compreendem e at brincam com ela. Acho, comentou Luanda, que est faltando a alguns ditos espritas um

    maior conhecimento das obras bsicas, principalmente de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Existem nele vrias passagens de alerta aos falsos profetas. Se o homem fizer deste livro bendito o seu companheiro, pouco a pouco ir transformando-se em um novo ser. No Captulo 15 Fora da caridade no h salvao, h no item nove uma excelente advertncia:

    Fora da verdade no h salvao equivaleria ao Fora da Igreja no h salvao e seria igualmente exclusivo, porqanto nenhuma seita existe que no pretenda ter o privilgio da verdade. Que homem se pode vangloriar de a possuir integral, quando o mbito dos conhecimentos incessantemente se alarga e todos os dias se retificam as idias? A verdade absoluta patrimnio unicamente de Espritos da categoria mais elevada e a Humanidade terrena no poderia pretender possu-la, porque no lhe dado saber tudo. Ela somente pode aspirar a uma verdade relativa e proporcionada ao seu adiantamento.

    Como pode um homem violento, principalmente que ataca os companheiros de ideal, considerar-se um bom esprita ou dizer-se cristo?

    Tem razo, irm, no se concebem as desavenas que presenciamos hoje entre os confrades. Gosto, nesse captulo tambm, do ltimo pargrafo do item dez:

    Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudsseis gozar a luz do Espiritismo. No que os que a possuem hajam de ser salvos; que, ajudando a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristos. Esforai-vos, pois, para que vossos irmos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro esprita e verdadeiro cristo so uma s e a mesma coisa, dado que todos quanto praticam a caridade so discpulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertenam.

    O que est precisando, falei, o homem, seja de que religio for, colocar no seu corao o Evangelho.

    Com carinho e respeito, dedilhei no meu violo a bela cano de Francisca Theresa, Evangelho Querido:

    Quando estou to triste, Sem vontade de sorrir, S tu, meu amigo, Podes me ajudar. Cada vez que te pego, Conquistas meu corao, Ds brilho aos meus olhos, Faze-me amar os meus irmos.

    s o remdio que preciso, Para deixar de sofrer, s o meu paraso,

  • 21

    Razo do meu viver.

    Quando estou to triste, Sempre te busco, E quando te leio, Sempre medito. s meu amigo s meu irmo Evangelho querido Perfume do meu corao.

    Quando terminamos, estvamos todos muito emocionados. linda esta msica de Francisca Theresa, s uma grande alma pode

    amar o Evangelho com tamanha f. Cantamos ainda belas canes sobre o Evangelho, depois voltamos para

    o Educandrio e com emoo eu olhava o belo jardim, cujas flores pareciam cumprimentar-nos. Ao adentrarmos o salo, notamos que j estava quase lotado.

    Aquietei-me na minha cadeira, desejando ansiosamente o incio da aula, e esta no demorou. O irmo palestrante, refletindo luminosidade intensa, falou sobre fludos e mandou-nos procurar em O Livro dos Mdiuns, Segunda Parte, Captulo 4, item 74:

    Ser o fludo universal uma emanao da divindade? No. Ser uma criao da divindade? Tudo criado, exceto Deus. O fludo universal ser ao mesmo tempo o elemento universal? Sim, o princpio elementar de todas as coisas. Depois, o instrutor falou-nos sobre o fludo vital, que reside no fludo

    csmico universal; o esprito tira deste fludo o envoltrio semimaterial que constitui o seu perisprito e ainda por meio do fludo csmico universal que ele atua sobre a matria inerte. bom o leitor ler todo o Captulo 4 de O Livro dos Mdiuns. Irmo, tudo no universo fludo? perguntei. Sim, pois tudo provm do fludo csmico universal. A aula terminara e eu fiquei meditando: deve um esprita ir buscar outras seitas, se na Doutrina temos tantas coisas para aprender? Nas obras bsicas encontramos verdadeiro manancial de conhecimentos; basta conscientizar-nos do valor do estudo para no darmos tantas cabeadas na rocha da ignorncia.

    Permaneci no salo, estudando O Livro dos Mdiuns. Por que buscar outros, se nele est o perfume da mediunidade com Jesus?

  • 22

    5 EDUCAO MEDINICA

    Terminada a aula sobre fludos, deslocamo-nos para um segundo auditrio, onde outro instrutor iniciou uma palestra sobre o item 3 da Introduo de O Livro dos Espritos. Falou sobre as primeiras manifestaes espritas, as mesas girantes, ou dana das mesas ponto de partida da Doutrina Esprita. Aconselhou-nos a ler O Livro dos Mdiuns, Segunda Parte, Captulo 4 Da Teoria das Manifestaes Fsicas. O palestrante mostrou-nos que o esprito comunicante tirava uma poro do seu perisprito e com ela impregnava a mesa, que ganhava vida por alguns instantes: Mesmo sendo uma vida factcia, a mesa se movimentava; cessado o fenmeno, voltava condio inerte de matria. Quando o esprito est encarnado, ele quem d vida ao seu corpo, por meio de seu perisprito; quando o esprito se retira, o corpo morre. Impregnada de fludos, no s uma mesa se movimenta, toda e qualquer matria pode deslocar-se, para isso precisa apenas de mdiuns. Portanto, os espritos podem movimentar mesas e tambm outros objetos. Utilizavam a mesa, por ser mobilirio comum em qualquer casa. Entretanto, tornam-se mais intensas essas manifestaes quan-do encontramos mdiuns de efeitos fsicos, possuidores de grande emisso de fludos, porm no se esqueam de que todos ns os possuimos, mas em diversos graus. Sendo o mdium de efeitos fsicos portador de grande fora fludica, ele exterioriza essa fora em abundncia, quando ocorrem os fenmenos, nada possuindo de miraculosos. A mediunidade s veio a ser disciplinada com Allan Kardec, atravs do estudo profundo que realizou. Sem isso, voltaramos era primitiva. Seu interesse foi despertado pelas mesas girantes, onde os mdiuns, com sua fora magntica, juntamente com os espritos, faziam-nas movimentar-se; depois foram-se aperfeioando os fenmenos, at chegarem s inmeras manifestaes medinicas que conhecemos. Mas vamos voltar ao Antigo Testamento, em 1 Samuel, Captulo 28, versculos 8 a 15, quando Saul vai em busca de uma mdium:

    Saul, pois, disfarou-se, tomou outras vestimentas e partiu com dois homens. Chegara de noite casa da mulher e disse-lhe: Adivinha-me pelo esprito de necromante efaze-me aparecer quem eu te disser. A mulher respondeu-lhe: Tu bem sabes o que fez Saul, como exterminou do pas os magos e os adivinhos; por que armas, pois, ciladas minha vida, para me matarem? Saul jurou-lhe pelo Senhor, dizendo: Viva o Senhor, que disto no te vir mal algum. E a mulher disse-lhe: Quem queres tu que te aparea? Saul disse: Faze-me aparecer Samuel. A mulher, tendo visto aparecer Samuel, deu um grande grito e disse a Saul: Por que me enganaste? Tu, pois, s Saul. E o rei lhe disse: No temas, que viste tu? E disse a mulher a Saul. vi um deus que subia da terra. Saul disse-lhe: Como a sua figura? Ela respondeu: Subiu um homem ancio, envolvido numa capa. Saul compreendeu que era Samuel, fez-lhe uma profunda reverncia eprostrou-se por terra. Samuel disse a Saul: Por que me inquietas, fazendo-me vir c? Saul responde u. Eu me acho no ltimo aperto... Nesta passagem do Antigo Testamento defrontamos com uma manifestao esprita. At hoje aqueles que no estudam a Doutrina Esprita

  • 23

    procuram conversar com os espritos somente na hora da tribulao, como fez Saul, buscando a mdium de En-Dor. Por que precisou Saul consultar algum? Ele no era possuidor de mediunidade? perguntamos. Estas questes s tm uma resposta: Saul buscou algum possuidor de grande fora gerada pelo seu corpo fsico. Vemos aqui que no foi Allan Kardec quem inventou o esprito nem foi ele quem criou os mdiuns. Ele foi, sim, o escolhido para dar aos homens a chave do cofre do tesouro espiritual que se encontrava trancafiado no mistrio, nos dogmas e no fanatismo. Com Kardec aprendemos a valorizar a mediunidade, dando-lhe polimento, pois um mdium evangelizado no procede como a consultada por Saul. Mas voltemos ao modo atravs do qual ela entrou em contato com o esprito de Samuel, no versculo 12: A mulher, tendo visto Samuel, deu um grande grito. Hoje, algumas religies que combatem os espritos apegam-se a este trecho, dizendo que de acordo com a maioria dos exegetas, Samuel apareceu realmente, no, porm, por fora das palavras da necromante, a qual ficou aterrorizada, mas por obra de Deus, que quis anunciar pela boca de Samuel o grande castigo. Allan Kardec, continuou o palestrante, atravs de O Livro dos Mdiuns, segurou bem forte a mo de todos aqueles que tm por tarefa a mediunidade. Por que, entretanto, este importante livro negligenciado por muitas Casas Espritas, onde se estudam obras aqum da bela Doutrina regeneradora? O mdium esprita tem por dever estudar todos os dias O Livro dos Mdiuns. A educao medinica um alicerce firme para todos aqueles que recebem a tarefa de ligar e desligar o mundo fsico com o mundo espiritual. Dessa passagem do Antigo Testamento retiramos vrias lies, propcias ao nosso aprendizado. Nele a Doutrina Esprita est presente por ser ela uma das manifestaes de Deus. Ignorar a Bblia tem-la, e um verdadeiro esprita busca a verdade sem nada temer. No Levtico, Captulo 19, versculo 31, encontramos a proibio: No vos dirijais aos magos nem interrogueis os adivinhos, para que vos no contamineis por meio deles, mas tambm a Doutrina Esprita recomenda que rejeitemos dez verdades a aceitar uma nica mentira. Quem estuda no se preocupa com fenmenos, luta pela sua elevao espiritual, tornando-se humilde e bom, caridoso e amigo. Enquanto corremos atrs dos fenmenos, deixamos de estender a mo ao prximo. Um adepto da Doutrina Esprita no consulta cartomantes, magos ou adivinhos. A proibio vlida, pois se hoje existem abusos, imaginem no passado. Espero que todos tenhamos aprendido alguma coisa e queira Deus estejamos sempre lutando pela evoluo do nosso Planeta. Um dia ainda estudaremos a pluralidade dos mundos e veremos por que temos de lutar pela nossa evoluo. Que Deus nos abenoe.

    Terminada a aula, fiquei pensativo: como pode algum dizer-se esprita e viver na ignorncia? Os livros doutrinrios so verdadeiros cursos superiores. Quando os buscamos, compreendemos que no existe pessoa m, existem, sim, criaturas sem evoluo, e que todos esto em alto mar, uns nadando contra as ondas, outros buscando o barco de Jesus, onde Ele, pacientemente, vive pescando almas e ensinando-lhes o caminho do Pai.

    Cerrei os olhos e orei: Meu Deus, perdoa-nos, no porque no sabemos o que fazemos, mas

    sim porque ainda somos muito avaros de amor.

  • 24

    6 O ORIENTADOR ESPRITA

    Terminou a aula no Educandrio de Luz. Samos devagar, batendo um

    bom papo. Siron falava-nos sobre o perigo de vivermos buscando fatos miraculosos

    na Doutrina e fazermos uma verdadeira mistura de crenas. Caminhamos at o auditrio sete, onde estvamos sendo aguardados. Encontramo-lo vazio, mas logo ficou completamente lotado e um irmo iniciou a prece de abertura, convidando-nos a assistir a um filme. Confesso que minha curiosidade ultrapassava a linha do equilbrio. O irmo instrutor repetiu esta frase de Hegel: A matria no seno esprito; e esprito no seno matria. Logo, so um e outro a mesma coisa! Falou, logo em seguida, do fludo csmico universal, matria elementar primitiva, cujas transformaes constituem a inumervel variedade dos corpos da natureza. Portanto, o ponto de partida para tudo o fludo universal, que se vai transformando. E continuou:

    Hoje vamos conhecer uma das imensas e muitas moradas da Casa do Pai.

    Primeiro, vamos aos mundos primitivos. A enorme tela dava-nos a impresso de estarmos no local apresentado.

    As pessoas, em seu estado primitivo, no possuem beleza, andam com dificuldade e tm os gestos grosseiros. Notamos que no mundo que estvamos ora estudando os seres lutavam com dificuldade para se alimentar. Era um mundo primitivo que aqueles Espritos tinham por tarefa fazer progredir, pois acima de seus corpos grosseiros havia uma inteligncia latente, O mundo no possuia ainda indstrias nem invenes, mas os espritos contavam com o auxlio divino para deixarem de ser crianas espirituais e crescerem junto ao seu planeta. Logo vimos na tela espritos de outra morada. Andavam to levemente que pareciam flutuar. Eram muito bonitos, lindos mesmo, seus corpos nada tinham da matria fsica. Foi-nos informado que ali ningum adoecia, como tambm no conheciam as guerras, pois os povos se respeitavam. Seus corpos no se decompunham porque, no adoecendo, no existia morte, e sim desmaterializao. No havia desnvel social, apenas a superioridade moral e a intelectual. Naquele mundo era quase nulo o perodo da infncia e as pessoas viviam mais. No se constituindo os corpos de matria compacta, os espritos gozavam de ampla lucidez dos sentidos que os deixava livres. No temiam a morte, porque conheciam o futuro. Lutavam pela perfeio, nunca procurando elevar-se sobre o seu semelhante. Os mais fortes ajudavam os mais fracos e suas posses correspondiam s possibilidades de aquisio das suas inteligncias, mas ali no havia misria, porque ningum estava em prova ou expiao. Habitavam um mundo feliz, mas ainda sujeito s leis da evoluo. A tela focalizou uma famlia que dialogava; at a voz daqueles espritos era diferente. Pareceu-me que no tinham pressa. A casa era toda florida.

    Estava diante de ns a vida em um mundo superior. Os espritos sabiam usar os fludos, que partiam da vontade de cada um. Diante daquela famlia, fiquei imaginando que futuramente tambm poderemos ter uma igual, sem morte nem separao. O filme continuou mostrando-nos as moradas da Casa do Pai. Surgiu nossa frente, ento, um mundo regenerador, nele o esprito encontra a paz e o descanso, mas ainda est sujeito s leis que regem a

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    matria. Todos ali amavam a Deus e tudo faziam para evoluir. Amavam-se e procuravam viver em paz. Nesses mundos, porm, no

    existe a perfeita felicidade, porque o homem ainda prisioneiro da carne e ainda tem provas a sofrer. Se no aproveitar a atual encarnao, o esprito pode cair e voltar a viver novamente em mundos de expiao e provas, e a ter mais sofrimento.

    Reparando os espritos naquele mundo regenerador, parecia estar vendo uma colnia de frias, um descanso necessrio, e pensei: logo o nosso Planeta estar tambm regenerando-se, para felicidade de todos ns.

    Diante de ns, em imensa tela, desfilavam as diversas moradas da Casa do Pai, o seu progresso, as suas fases, desde o instante em que se aglomeram os primeiros tomos de sua formao. A medida que o esprito avana na senda do progresso, tudo ao seu redor tambm progride: os animais, os vegetais, as habitaes. Depende de todos ns a evoluo da Terra; agora, ai daqueles que no descobrirem Deus e no lutarem pela regenerao do Planeta. Aparecia, para todos ns, a morada da regenerao, onde os espritos encontram a paz, o descanso e se purificam, embora ainda sofrendo as leis da matria. Diz O Evangelho Segundo o Espiritismo no Captulo 3, item 17:

    (...) A Humanidade experimenta as vossas sensaes e desejos, mas liberta das paixes desordenadas de que sois escravos, isenta do orgulho que impe silncio ao corao, da inveja que a tortura, do dio que a sufoca. Em todas as frontes v-se escrita a palavra amor; perfeita eqidade preside s relaes sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis. (...)O homem l ainda de carne.

    Depois do filme, comearam as perguntas. Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Captulo 3, item 9, est

    escrito: Como por toda a parte, a a forma corprea sempre a humana, mas embelezada, aperfeioada e, sobretudo, purificada.

    Em O Livro dos Espritos, questo 56 do Captulo 3, lemos: A constituio dos diferentes globos a mesma? Resposta: No, eles no se assemelham de modo algum. Na pergunta 57: A constituio fsica dos mundos, no sendo a mesma para todos, seguir-se- tenham organizaes diferentes os seres que os habitam? Resposta: Sem dvida, como para vs os peixes so feitos para viverem na gua e os pssaros no ar.

    Se prestarmos ateno no estudo das obras bsicas, veremos que um livro complementa o outro. O Evangelho Segundo o Espiritismo, no captulo 3, item 9, diz:

    Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condies de vida moral e material so muitssimo diversas das da vida na Terra. Como por toda a parte, a forma corprea a sempre a humana, mas embelezada, aperfeioada e, sobretudo, purificada. A resposta de O Livro dos Espritos se refere aos corpos fsicos na longa estrada da evoluo. Se lermos com ateno, concluiremos que o princpio inteligente, vivendo no reino animal, no possui ainda um corpo humano, e feliz desse esprito que est seguindo a lei natural da evoluo, passando pelos trs reinos da natureza. Agora, os espritos culpados, deportados para mundos inferiores, tero seus corpos perispirituais deformados de tal modo que ser difcil dizer que ali se encontra um ser humano. Por isso a resposta de O Livro dos Espritos, questo 56:

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    No, eles no se assemelham de modo algum. Seria pretenso se um esprito inferior tivesse o corpo belo e esplendoroso de um esprito puro.

    Outras perguntas foram feitas, at o momento em que a aula foi encerrada.

    Retirei-me sem pressa, pensando: bendita seja a Doutrina Esprita, que abre no s os nossos coraes, porm ainda mais os nossos olhos. H o que chega ao Espiritismo s acreditando nos fenmenos e no se torna um esprita verdadeiro. O verdadeiro esprita rejeita dez verdades para no aceitar uma s mentira. O verdadeiro esprita ocupa sempre os ltimos lugares, mas o primeiro em humildade e amor. Feliz do seguidor de Kardec que j se desapegou da veste da vaidade e est construindo em seu corao a casa de Jesus, onde um pastor de almas pelo perfume da Doutrina que exala ao seu redor, mesmo sem a pretenso de desejar educar e transformar os que o cercam. Os livros da Codificao no representam armas apontadas para os outros, usadas em debates, em confrontos de irmos ainda despreparados para viver em esprito e verdade, como discpulos que devem ser da Doutrina regeneradora. Cristo em momento algum colocou-Se na posio de Mestre, e como ensinou pelo exemplo! De nada adianta brigarmos com as pessoas, atacando-as por nelas encontrarmos falhas, se ainda no possuimos condio de lhes apresentar a Doutrina da renovao. S as obras bsicas daro ao homem condio de compreender por que est encarnado e o quanto a carne frgil. Mas no adianta obrigarmos as pessoas a lerem as obras bsicas, precisamos, sim, estud-las e viv-las a cada minuto e tudo fazer para que os freqentadores da nossa Casa aprendam a manuse-las, ajudados pelo nosso conhecimento e ainda mais pela nossa humildade. Os nomes dos doutores da lei da poca de Jesus, apagaram-nos da Histria a terra e o vento do tempo, mas o representante de Deus na Terra, Jesus, apenas deixou gravado na lembrana de cada um de ns o perfume do exemplo e da verdade. A arrogncia e os ares de sabedoria, ao invs de ajudarem o prximo, apenas os espantam e os revoltam, e hoje o que mais falta nas Casas Espritas o perfume da humildade.

    Luiz, a falta de humildade nos Centros o deixa preocupado? perguntou Arlene.

    Sim, irm. Dia aps dia, depois que me encontro no Educandrio, vejo como os homens ainda esto longe da evoluo. Basta decorar alguns livros e j se julgam os donos do mundo. Cheios de orgulho, vo levantando bandeiras e trincheiras em defesa da Doutrina, quando o que se faz necessrio uma campanha, com bons oradores indo de Centro em Centro, incentivando e ensinando os seus freqentadores a manusearem as obras bsicas. Muitos no estudam, porque no sabem como faz-lo. Ao invs de discutirem em defesa da Doutrina, devem os estudiosos dos livros doutrinrios fazerem como os apstolos de Jesus: sarem para pregar, no com arrogncia, mas com amor e humildade. Em muitas Casas estuda-se esse ou aquele livro, e ningum conhece o contedo de O Livro dos Espritos. Sem ele, juntamente com O Livro dos Mdiuns, O que o Espiritismo, O Cu e o Inferno, Gnese, O Evangelho Segundo o Espiritismo e Obras Pstumas, dificilmente o esprita vai compreender a Doutrina e, sem entend-la, continuar buscando outras crenas, casando-se nas igrejas, batizando seus filhos, buscando cartomantes, adivinhos, enfim, ele chegou Doutrina mas nada sabe sobre ela. Portanto, coloquemos os ps na estrada do Mestre, procurando ajudar o nosso prximo

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    com exemplos, amor e respeito. Vem bem a propsito esta passagem de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Captulo 25, item 9:

    No possuais ouro nem prata, nem leveis dinheiro nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas tnicas nem calado nem bordo, porque digno o trabalhador do seu alimento. E em qualquer cidade ou aldeia que entrardes, informai-vos quem h nela digno, e ficai ali, at que vos retireis.

    Esta parbola de Jesus pede aos que recebem o dom da palavra que saiam vestidos com a tnica da humildade, ensinando com pacincia, porque h muitos que desejam aprender, mas no contam em seus Centros com grupos de estudo sistematizado da Doutrina e por isso vivem comprando livros aqum dos ensinos doutrinrios; esto na Doutrina, mas acendem velas e seguem rituais de outras religies, no por maldade, mas porque ainda no lhes abriram a porta do esclarecimento e da sabedoria. Ao invs de ficarmos brigando uns com os outros, vamo-nos colocar a caminho, indo de Centro em Centro ensinando seus freqentadores a manusear as obras bsicas, porque conhecemos espritas que jamais leram um livro sequer da Codificao.

    Voc tem razo, quem vive lendo qualquer livro jamais ser um bom esprita.

    isso mesmo. Ficamos conversando, at que os outros juntaram-se a ns e convidados

    fomos a visitar algumas Casas Espritas. Confesso que, nesses anos todos, muitas delas eu jamais conhecera. Logo na primeira, deparamos com algumas senhoras e senhores simpticos e que aparentavam possuir muito conhecimento. A direo da Casa estava reunida.

    Atentos a tudo e com a permisso do mentor do Centro, ficamos ouvindo as ponderaes de cada um. Falaram, falaram e no chegaram a concluso alguma, ou melhor, um deles levantou-se e referiu-se a outras Casas. Toms, Arlene, Siron, Luanda e eu olhamos uns para os outros, sem compreender o porqu daquela reunio.

    Ser que esses irmos tm conhecimento da doutrina do Cristo, onde Ele nos ensina no s a emprestar a capa, mas a andar cem passos alm? indagou Siron. Ser que este grupo conhece a parbola do bulo da viva e a do bom samaritano?

    Muitos pediam a palavra e se exaltavam, dizendo-se preocupados com a Doutrina, onde muitos adeptos esto buscando as chamadas terapias alternativas, dizendo-se espritas e admirando apometria, cristalterapia e outras mais. Ficamos at o final. Estava louco para perguntar o que viramos ali fazer, mas logo estvamos em outra Casa, pequena e simples, onde os freqentadores estudavam todas as obras bsicas. Ficamos junto a um grupo que durante quatro anos vinha estudando a Introduo de O Livro dos Espritos, mas buscando em cada item outros livros da Codificao e dos grandes filsofos do Espiritismo.

    Como essa gente estuda! falei a Arlene. Se no bastasse a consulta s obras bsicas, ainda buscavam na Bblia

    a confirmao dos ensinos doutrinrios. Os grupos daquela Casa levavam a srio o estudo e qual no foi a nossa alegria quando visitamos outros grupos de estudo e percebemos que os seus freqentadores tambm viviam o lado prtico da Doutrina, sem ficarem apegados letra! Daquela Casa partiam caravanas de auxlio aos necessitados, visitas aos pobres debaixo de pontes e casebres humildes, alm do abrao a crianas necessitadas e doentes. Os

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    freqentadores daquele Centro Esprita elucidavam a alma e engrandeciam o esprito atravs da Caridade. Acompanhamos os caravaneiros, que com alegria eram recebidos nos casebres humildes. Eles levavam as palavras de Cristo e engrandeciam a Doutrina codificada por Allan Kardec. Talvez estas Casas nem sejam conhecidas por alguns espritas de renome, mas seus nomes esto escritos no corao de Jesus. Observando todos os seus freqentadores trabalhando para os pobres, para os doentes e estudando a Doutrina, sentimo-nos repletos de esperana, porque nada mais decepcionante para ns, espritos, do que defrontarmos com brigas e polmicas entre os confrades. Os adeptos daquele Centro falavam em Bezerra e em Eurpedes e no ficavam somente trancafiados em gabinetes, anfiteatros, congressos ou simpsios; eles faziam o que Jesus fez: saam em busca dos doentes do corpo e da alma. Jesus disse, em Mateus, Captulo 19, versculo 29: E todo o que deixar, por amor do meu nome, a casa, ou os irmos, ou as irms, ou o pai, ou a me, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receber cento por um e possuir a vida eterna. Depois Ele ainda diz, em Lucas, Captulo 9, versculos 61 e 62: Nenhum que mete a sua mo ao arado, e olha para trs, apto para o reino de Deus. Portanto, o esprita que s deseja evangelizar o seu prximo est longe da verdade, orgulhoso, avaro e egosta, porque o verdadeiro trabalhador aquele que prega pelo exemplo, indo at os necessitados, convivendo com a misria e a dor, s assim ter condio de compreender a Doutrina renova-dora. Se ficarmos aguilhoados no orgulho das nossas almas, poderemos ser excelentes explanadores do Evangelho, grandes conhecedores da Doutrina, mas com uma f sem obras. Se os espritas, principalmente os homens espritas, ficarem fechados nas salas e escritrios dos Centros, logo a Doutrina cometer os mesmos erros de outras igrejas: muito sermo, mas pouco exemplo. Falam alguns que se ficarmos indo atrs dos pobres esqueceremos a parte doutrinria. Grande erro. S compreenderemos a magnitude da obra doutrinria se abraarmos a caridade; sem ela no existe doutrina alguma, e quem diz isso Paulo de Tarso: 1 Epstola aos Corntios, Captulo 13, versculo 1: Se eu falar as lnguas dos homens e dos anjos, e no tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. Veja bem: o esprita pode viver em congressos, simpsios e encontros, mas se no praticar a caridade ser apenas um sino que tine. Paulo ainda diz, no versculo 2: E se eu tiver o dom da profecia, e conhecer todos os mistrios, e quanto se pode saber3 e se tiver toda f, at no ponto de transportar montes, e no tiver caridade, no sou nada. Que importa devorarmos todos os livros, se deixarmos os erros arraigados em ns, um deles o orgulho? Como nos dizer bons espritas? A caridade nunca vai acabar ou deixem de ter lugar as profecias, ou cessem as lnguas. ou seja abolida a cincia. Agora, pois, permanecem af, a esperana e a caridade, estas trs virtudes, porm a maior delas a caridade (versculo 13).

    Hoje os Centros Espritas esto repletos, mas poucos buscam uma mudana em seus hbitos. Mesmo aprendendo na Doutrina, o ser continua maledicente, avaro, egosta e orgulhoso, nunca tendo complacncia de ningum; diz-se esprita, mas no trabalho, em casa, no trnsito ou na rua um verdadeiro fariseu hipcrita, que prega a moral e a perfeio, mas longe se encontra do dever. Se abordado por um faminto, vira-lhe as costas e ignora a fome, num pas onde a mortalidade infantil assustadora. E ainda dizem que o esprita no deve preocupar-se com os pobres, assim ele no ter tempo de se

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    auto-evangelizar. Meu Deus, os cardeais e os padres at hoje estudam Teologia e so grandes conhecedores dos Evangelhos, mas 3. N.E. Grifo do autor espiritual olhem para suas mos, algumas esto vazias, porque eles no tm tempo de socorrer aquele que sofre. Mas no s as mos esto vazias, as igrejas tambm. Se a Doutrina no voltar poca dos apstolos do Espiritismo, veremos a nossa igreja ntima o nosso corao repleto de erros e dogmas, e vazio de sentimentos. A Doutrina Esprita a chave que abre a porta da espiritualidade para que no vivamos na ignorncia. Todavia, se abrimos a porta e permanecemoS de fora, porque no temos condio de adentr-la, sentimos dificuldade em ultrapass-la, pois estamos cheios de bagagens e por essa porta s passam os pobres de esprito, aqueles que, mesmo no corpo fsico, j se despojaram das coisas temporais. Por essa porta passam os que respeitam para serem respeitados, os que no atacam nem ferem nem matam as esperanas alheias. Os que divisam essa porta so todos aqueles que esto trabalhando por um mundo sem fome, sem lgrima, sem desespero, aqueles que j esqueceram de si mesmos para que outros sejam respeitados pela sociedade ainda materialista. O esprita no vive para causar a separao nem para fazer intrigas, porque o seu tempo diminuto: ora estuda, ora faz a caridade. Se somos o Cristianismo redivivo, como esquecer as pregaes de Jesus com Seus apstolos, a multiplicao dos pes para o povo faminto? Como esquecer as andanas dos apstolos nos casebres de Nazar, Jeric, Cafarnaum, Betsaida e Genesar? Como permanecer orgulhoso se a Doutrina nos ensina a divisar o mundo espiritual, onde a traa corri os bens temporais e tudo apodrece? Como se dizer esprita e viver azedo de dio e crticas? Que saudade de Anlia Franco, de Eurpedes, de Bezerra e de tantos outros apstolos da Doutrina Esprita!

    Mas muitas vezes eles tm razo, comentou Siron, captando meu pensamento.

    Muitos espritas andam misturando de tudo, at pirmides existem em certos Centros.

    verdade, Siron. Esses dias fomos em um Centro, dito Esprita, que tinha de tudo. Isso o que nos assusta!

    Por que muitos chegam ao Centro Esprita, mas ainda buscam as antigas religies e gostam da terapia atravs das pirmides, a cristalterapia, cultuam os duendes, gnomos, enfim, fazem uma salada difcil de se compreender?

    Isso acontece porque o presidente e seus grupos de trabalhadores no elucidam essas pessoas. A Casa no dispe de pessoas competentes, para ensinar a Doutrina como encontramos h pouco, com vrios grupos de ensino das obras bsicas e no de qualquer livro que editado. Desde o momento em que os irmos descobrem as verdades espirituais vo usando o discernimento, e da deixando os antigos hbitos.

    No sei, no. J vi Casas que fazem de tudo para os freqentadores estudarem e estes s vo tomar passes e ouvir palestras. Trabalhar, que bom, nada.

    Voc tem razo, Luiz, ainda existem companheiros que se dizem espritas, porque vo a uma Casa Esprita s para tomar passes ou ministr-

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    los, uma vez por semana. No s freqentadores, interferiu Luanda. Muitos, que fazem parte da

    diretoria, apenas freqentam o Centro, do passes, fazem palestra e nada mais, dizem at que j se aposentaram. Essas pessoas so culpadas pelos fatos desagradveis que vm ocorrendo nos Centros espritas: mdiuns desequilibrados, querendo aparecer, repletos de vaidade.

    Quem j tem conhecimento deve pegar a charrua, e no ficar descansando nos louros do aprendizado. Se cada irmo, com vrios anos de Doutrina, arregaar a camisa e puser mos obra, levar consigo vrios companheiros que hoje ainda tm dificuldade em diferenciar espiritualismo de Doutrina Esprita. Poderemos dizer que a culpa dos fundadores, dos diretores da Casa que s a freqentam uma vez por semana e quando chegam, com seus ares de doutores da lei, gostam de ser bajulados e tudo fazem pelos aplausos daqueles que s desejam aprender, enquanto o Maior dos mestres Se fez o menor para nos deixar a palavra do Pai. So essas pessoas humildes, vindas de outras religies, que no so bem orientadas, porque a Casa coloca pessoas sem conhecimento da Doutrina para recomendar livros e orient-las para os seus trabalhos. Muitas vezes esses livros so de procedncia duvidosa, O certo s recomendar as obras bsicas, porque so o alicerce da vida de um esprita.

    Vamos at o salo, props Siron. E assim o fizemos, chegando perto de um irmo que dava orientao. Ele

    dizia a uma jovem senhora, que vivia momentos amargos com o marido alcolatra, que ela sofria porque estava sendo assediada por obsessores. A causa era ela ser mdium e precisar desenvolver a mediunidade. A senhora, assustada, mais desesperada ainda ficou quando o orientador lhe narrou sua vidncia, dizendo que junto a ela se encontravam dez terrveis espritos das trevas!...

    Meu Deus! falei. Este no um orientador, e sim o prprio obsessor encarnado!

    A jovem saiu dali e teve de buscar um terapeuta, tal o pnico de que ficou possuda. certo isso? perguntamos. Ser que cada Centro Esprita que faz este trabalho no teria de criar cursos baseados nos livros da Codificao, para bem orientar os que chegam Casa? Ser certo escolher algum, baseado apenas em relao de amizade, para fazer tal trabalho? Claro que no. Se os dirigentes no criarem cursos de orientadores espirituais, veremos cada vez mais o que vem ocorrendo: muitas pessoas brigando e atacando a Doutrina, por no conhec-la como realmente ela : pura, verdadeira e consoladora. Cada Centro deve criar, primeiro, um grupo de orientadores com pessoas capacitadas, e nunca escolhidas pelos diretores da Casa to-somente por serem seus amigos ou conhecidos. O que preciso para ser um bom orientador?

    1 Humildade. No se julgar dono da verdade. 2 Ter conhecimento da Doutrina Esprita. Conhecer O Livro dos

    Espritos e O Livro dos Mdiuns e, baseado neles, dar a orientao. 3 No emitir opinio prpria, e sim o que est nas obras bsicas.

    4 Jamais dizer a outra pessoa que ela est obsediada. Sugerir o passe para um fortalecimento espiritual.

    5 Nunca dizer que seus problemas pessoais so decorrentes da falta de desenvolvimento medinico. Mediunidade no se desenvolve, educa-se, e

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    s estudando O Livro dos Espritos e o Livro dos Mdiuns faremos com que ela seja disciplinada. Indicar para leitura livros que sejam da Codificao.

    6 Nunca deixar transparecer a vaidade em suas palavras. Quem busca orientao est em desespero, querendo um amigo, um ombro irmo e no um crtico.

    7 O orientador tem por obrigao apresentar os trabalhos sociais da Casa e convidar o irmo a participar deles;

    8 No prudente o orientador fazer premonies, deixando transparecer que mdium de excelentes faculdades. Ele tem de deixar o irmo vontade, pois este algum doente, que est em busca da cura.

    9 Nunca esquecer que o orientador de uma Casa esprita tem de ser uma carta viva de Cristo, falando somente a verdade, nunca traindo a voz dos Espritos do Senhor.

    10 Um bom orientador aquele que coloca na mo do iniciante esprita a chave do tesouro, que vem a ser as obras bsicas, incentivando-o a tomar gosto pelo estudo, fazendo-o ver que sem o estudo o homem pode tornar-se prisioneiro do fanatismo e da mentira, e que a Doutrina veio para salvar almas, e no para aprisionar ningum. Quem estuda encontra a verdade sobre a vida e a morte, por isso, feliz do homem que tem por dever levar o seu semelhante at Deus.

    Samos, levando na alma o perfume de Jesus e nos passos a fora e a vontade de trilhar o Seu caminho.

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    7 OBRAS BSICAS, UM CURSO SUPERIOR

    Visitamos outra Casa Esprita, bem bonita, com tudo muito limpo. Enquanto aguardvamos o incio dos trabalhos, o mentor daquele Centro foi-nos mostrando suas dependncias. O local era no s uma escola onde as pessoas se instruam, educavam-se e trabalhavam, como tambm representava um hospital, onde a criatura encontrava o remdio para haurir foras para enfrentar o mundo atual. Se todos buscassem uma casa religiosa, hoje no teramos uma sociedade doente. H os templos espirituais para curar a alma, fortalec-la e instru-la, mas o homem foge das coisas do esprito, porque sempre nos pedem renncia. Um Centro Esprita que no procura instruir e curar o doente precisa mudar o seu modo de agir. O presidente daquela Casa ensinava todos os dirigentes a se comportarem diante de um grupo. Estes, por sua vez, se colocavam no lugar de cada aprendiz do Evangelho, sem ares de professores nem de donos da verdade. Gostei muito do local. ridculo ver uma pessoa que se diz esprita repleta de orgulho, tratando seus colegas como se estes fossem dbeis mentais. O verdadeiro sbio aquele que ensina pelo exemplo; o orgulho no elucida ningum. Os diretores daquela Casa Esprita tinham por dever no deixar o Centro sem orientao doutrinria e, atentos, visitavam os diversos grupos de trabalho, no permitindo que a vaidade tomasse conta daqueles que receberam a incumbncia de orientar almas.

    Por que as Casas Espritas no tomam por base a humildade? perguntou Arlene a Siron. Algumas at adotam doutrinas diferentes.

    Irm, a Casa que se diz Esprita regida por um estatuto e este tem de ser bem explcito, quando se trata de Doutrina Esprita, entretanto, os homens so falveis, O nico meio de controlar os abusos ter uma diretoria atuante, com pessoas que no se sintam velhas nem aposentadas.

    Em todos os grupos daquela Casa eram estudados O Livro dos Espritos, O Livro dos Mdiuns e os livros de Andr Luiz, assim como os de Paul Gibier, Dellane, Flammarion e outros clssicos da Doutrina.

    Dizem que quem estuda os livros doutrinrios com afinco est-se graduando em um curso superior, falei para Luanda. Nesta Casa no s se estuda, como tambm os trabalhos sociais so bastante edificantes. Estes, no mundo atual, agem como terapia.

    Mes que se separaram dos filhos pela desencarnao costuram, felizes, enxovais para crianas, filhos de mes pobres, assim como fazem peas de artesanato cuja renda reverte em prol da instituio, sem precisar sobrecarregar seus freqentadores. Quem possui talento no pode deix-lo enterrado, e por que no elucidar senhores, senhoras e jovens a usar o talento da arte para ajudar o prximo?

    mesmo, fico triste em presenciar tantas Casas que nada realizam de bom para o prximo...

    Voc tem razo, muitos julgam que o Centro Esprita um clube onde se vai uma vez por semana para o lazer, nada alm disso.

    Ainda fizemos outras visitas, para depois voltarmos ao Educandrio de Luz. Olhei mais uma vez aquele belo lugar onde abnegados espritos, preocupados com a evoluo da Terra, pacientemente, vm esclarecendo os encarregados da difuso doutrinria.

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    Quantos dirigentes espritas, presidentes de Centro, recebem do Alto elucidaes preciosas, mas deixam o orgulho e suas opinies prprias dirigirem a Casa onde trabalham!

    As flores ornamentavam as pracinhas e as fontes de guas cristalinas davam vida ao Educandrio. Senti-me to feliz que olhei para cima e falei:

    Pai, no sou digno de conhecer as Vossas verdades, mas fazei de mim um operrio das Vossas obras.

    Fui o ltimo a entrar, o que deixou o meu grupo apreensivo. Fitaram-me, preocupados, e fui sentando devagar, dizendo:

    Calma gente, eu no sou de fugir. Sabemos disso, sendo essa a causa da nossa preocupao, falou-me

    Luanda. Nisso, o instrutor continuou a aula sobre a Introduo de O Livro dos

    Espritos, o valor inestimvel de bem estud-la: Sem uma leitura apropriada da Introduo, jamais compreenderemos

    a beleza deste livro. Vamo-nos lembrar mais uma vez do episdio das mesas girantes e de como tudo se passou: elas se movimentavam perante inteligncias privilegiadas, e no fanticos religiosos. Diante dos primeiros fenmenos houve muita celeuma, pois nem todos a tudo aceitavam, principalmente Allan Kardec; sendo o bom senso encarnado, estava atento a tudo o que se passava sua frente, principalmente aos fatos espirituais.

    Estudando a Introduo, podemos acrescentar ao estudo toda a obra bsica, dinamizando-o com pesquisas. No item 3 da Introduo podemos consultar todas as obras que falam das primeiras manifestaes espritas: as mesas girantes e os fenmenos fsicos que se apresentavam de vrias formas. Encontramos as explicaes para tais fatos em vrias obras de Paul Gibier, Williamn Crooks, Cesar Lombroso, Camille Flammarion e outros estudiosos. Contudo, dizer que no compreendemos O Livro dos Espritos sinal de que ainda no aprendemos a folhe-lo. Desde o momento em que nos familiariza-mos com ele, tudo se torna mais fcil, e vamos encontrando respostas certas para nossas indagaes. Por isso, todas as Casas Espritas precisam estudar os livros da Codificao, assim como os dos grandes filsofos da Doutrina. O perigo do iniciante buscar em qualquer livro que se diga esprita o alicerce para a sua f e negligenciar a semente, que so as obras bsicas. Passamos para o item 4 da Introduo, e o palestrante continuou: No foi o homem quem inventou o Espiritismo, ele surgiu atravs dos espritos que no incio usavam os objetos para assinalarem sua presena. Ningum, por mais inteligente que fosse, iria preocupar-se em mistificar atravs de batidas ou de movimentos de mesas, ou imaginar que ali estava um esprito querendo fazer-se ouvir. Foram os prprios espritos que encontraram um meio, ainda que primrio, de dizer: estamos aqui, no morremos, e eles prprios foram melhorando as formas de se comunicarem. Primeiro ocorreram as pancadas, depois o movimento das mesas, para logo aps darem o conselho da adaptao de um lpis a uma cesta ou a um outro objeto. Essa cesta, pousada sobre uma folha de papel, punha-se em movimento pela mesma fora oculta que tambm fazia mover as mesas. Entretanto, ao invs de um simples movimento regular, o lpis traava por ele mesmo palavras, frases e discursos inteiros, de vrias pginas, tratando de questes de filosofia, de moral, de metafsica, de psicologia etc., e isto com tamanha

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    rapidez, como se fosse escrito com a mo. Esse fato ocorreu em vrios pases, ao mesmo tempo, dando a certeza de que chegara a hora do intercmbio entre o mundo fsico e o mundo espiritual. O conselho de adaptar um lpis a uma cesta ou a outro objeto foi dado por um esprito, em Paris, a 10 de junho de 1853, mas os espritos j vinham-se manifestando desde 1849. Tambm no item 4 da introduo podemos perceber que os espritos foram orientando os encarnados sobre o valor dos mdiuns; eles precisavam de homens ou mulheres com fora suficiente para ajud-los. Essas pessoas foram designadas mdiuns, que quer dizer medianeiros ou intermedirios dos espritos junto aos encarnados. As condies que do essa fora especial prendem-se a causas ao mesmo tempo fsicas e morais. Encontramos mdiuns de todas as idades, de ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual. Pouco a pouco foram percebendo que o mdium, tomando diretamente o lpis, escrevia mais rapidamente. Assim, as comunicaes tornaram-se mais rpidas, mais fceis e mais completas. O mediunismo sempre existiu, mas com a Doutrina Esprita surgiram os mdiuns, meio encontrado pelos espritos para se comunicarem com os encarnados. Para nos tornarmos bons mdiuns temos de nos instruir e nos amar; com o amor, tornamo-los dceis, humildes e verdadeiros. Com o estudo sistematizado da Doutrina o mdium no ser presa da vaidade, defeito este que leva qualquer mdium a fracassar em sua tarefa sob o ponto de vista espiritual. As obras bsicas so o alicerce de que necessitamos para erguer qualquer Casa e dar incio ao longo caminho da mediunidade com Jesus. O mdium que ignora O Livro dos Espritos, O Livro dos Mdiuns, O Que o Espiritismo e O Evangelho Segundo o Espiritismo pode ser vtima da mistificao. Portanto, quem levantar as paredes de uma Casa Esprita ter de faz-lo com um bom alicerce e uma boa cobertura, e isso s se dar se a sua diretoria conscientizar os seus companheiros de que devem amar uns aos outros e se instrurem. E isto quer dizer, trabalhar, desprender-se e conhecer a verdade. Todo estudo antagnico Doutrina leva o mdium ao desequilbrio, sendo responsabilidade da Casa o que ocorrer nela. Estudar mergulhar no mar de oportunidades oferecido pela Codificao. Que Deus nos abenoe! Permaneci na minha cadeira, recordando-me de cada Casa Esprita que j visitei, da falta de caridade de algumas para com os mdiuns iniciantes, onde orientadores sem base doutrinria os levam a uma mesa medinica, a uma cabine de passes, sem o preparo necessrio. H dias presenciei um dirigente convidar um irmo portador de uma sria doena para ministrar passes. Vamos, amigo, disse-me Toms. Levantei-me e Toms acrescentou, interpretando meus pensamentos: Luiz, se esse despreparo existe no meio esprita, por merc de Deus temos mais, muito mais verdades.

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    8 CARIDADE: DEUS NO CORAO

    Andando pelas praas do Educandrio de Luz, deslumbrava-me cada vez mais com a beleza da paisagem. H, na Praa das Accias, um chafariz cujas guas coloridas lembram um arco-ris, onde vrios espritos ficam a conversar e a admirar aquele lugar repleto de bons fludos. Sentei-me em um dos bancos; comigo estava Toms que, falando pausadamente, ia-me orientando sobre o Educandrio. Os casares que circundam a praa me pareceram irreais, de to belos. Toms, como podem os encarnados julgar que aqui, no plano espiritual, no existe vida? Os chamados mortos esto mais vivos do que nunca. Luiz, o homem encarnado, por ser ainda pecador, foge da luz, porque a luminosidade o incomoda e faz com que fiquem visveis as suas imperfeies. Se em cada lar existisse o esclarecimento sobre a continuao da vida, os homens estariam conscientes de que seus atos so tapetes no caminho at Deus. Se hoje brincam com a vida fsica, muito tero de sofrer amanh.