casa de farinha movimenta agricultores e agricultoras da comunidade curral velho

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As famílias do Semiárido têm valorizado a união e o bem estar coletivo e encontram na partilha uma forma de vencer as dificuldades enfrentadas dia a dia. É o que acontece na comunidade Curral Velho, localizada a 14 km da sede do município de Rio do Antônio, no sertão da Bahia. Nela, residem cerca de 70 famílias, que vêm se destacando, devido sua produção de farinha e derivados da mandioca. A estrutura da fábrica de farinha é simples, mas a atividade já acontece há 15 anos, através da Associação de Pequenos Agricultores do Curral Velho, que atualmente conta com 48 associados. No período da safra da mandioca, cerca de 40 pessoas se reúnem diariamente, na casa de farinha para o trabalho artesanal e tradicional de transformação da mandioca em diversos produtos, que alimentam diversas pessoas da região. O processo de produção da farinha de mandioca começa no plantio das manaíbas. Após essa etapa, e se o ano for “bom de chuva”, como dizem os agricultores, durante o período de um ano e meio, a mandioca está pronta para a colheita. Depois da colheita da raiz, a mandioca é levada direto da roça para a casa de farinha, onde é descascada e triturada. Logo após, é prensada para retirar o líquido. Em seguida, a massa é passada novamente pelo triturador, peneirada e torrada, então, a farinha estará pronta para o consumo. Na oficina, nada se perde, as cascas e bagaços são destinados para a alimentação dos animais. A farinha é um dos principais alimentos presentes na cultura brasileira, principalmente nas regiões norte e nordeste, onde há maior parte da produção nacional. Seu uso é muito difundida em todo país. O agricultor Natalino de Jesus Prates, um dos associados, destaca os benefícios que essa casa traz para as famílias da comunidade Curral Velho. “Se não tivesse essa casa de farinha, a gente não estava produzindo cerca de 10 a 14 sacos de farinha por dia. Todos da comunidade trabalham na produção da farinha, inclusive os que não são associados e até pessoas de outras comunidades”, destaca seu Natalino. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1926 Rio do Antônio Outubro/2014 Homens e mulheres, sentados no chão, vão raspando as raízes até ficarem bem brancas e limpas. As raízes são colocadas no triturador. Casa de farinha movimenta agricultores e agricultoras da comunidade Curral Velho

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Na comunidade Curral Velho, localizada a 14 km da sede do município de Rio do Antônio, no sertão da Bahia, residem cerca de 70 famílias, que vem se destacando, devido sua produção de farinha e derivados da mandioca. Na casa de farinha, a produção é feita de modo artesanal, com mão de obra familiar ou com a participação de membros da comunidade.

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Page 1: Casa de farinha movimenta agricultores e agricultoras da comunidade Curral Velho

As famílias do Semiárido têm valorizado a união e o bem estar coletivo e encontram na partilha uma forma de vencer as dificuldades enfrentadas dia a dia. É o que acontece na comunidade Curral Velho, localizada a 14 km da sede do município de Rio do Antônio, no sertão da Bahia. Nela, residem cerca de 70 famílias, que vêm se destacando, devido sua produção de farinha e derivados da mandioca.A estrutura da fábrica de farinha é simples, mas a atividade já acontece há 15 anos, através da Associação de Pequenos Agricultores do Curral Velho, que atualmente conta com 48 associados. No período da safra da mandioca, cerca de 40 pessoas se reúnem diariamente, na casa de farinha para o trabalho artesanal e tradicional de transformação da mandioca em diversos produtos, que alimentam diversas pessoas da região.

O processo de produção da farinha de mandioca começa no plantio das manaíbas. Após essa etapa, e se o ano for “bom de chuva”, como dizem os agricultores, durante o período de um ano e meio, a mandioca está pronta para a colheita. Depois da colheita da raiz, a mandioca é levada direto da roça para a casa de farinha, onde é descascada e triturada. Logo após, é prensada para retirar o líquido. Em seguida, a massa é passada novamente pelo triturador, peneirada e torrada, então, a farinha estará pronta para o consumo. Na oficina, nada se perde, as cascas e bagaços são destinados para a alimentação dos animais.A farinha é um dos principais alimentos presentes na cultura brasileira, principalmente nas regiões norte e nordeste, onde há maior parte da produção nacional. Seu uso é muito difundida em todo país. O agricultor Natalino de Jesus Prates, um dos associados, destaca os benefícios que essa casa traz para as famílias da comunidade Curral Velho. “Se não tivesse essa casa de farinha, a gente não estava produzindo cerca de 10 a 14 sacos de farinha por dia. Todos da comunidade trabalham na produção da farinha, inclusive os que não são associados e até pessoas de outras comunidades”, destaca seu Natalino.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1926

Rio do Antônio

Outubro/2014

Homens e mulheres, sentados no chão, vão raspando as raízes até ficarem bem brancas e limpas.

As raízes são colocadas no triturador.

Casa de farinha movimenta agricultorese agricultoras da comunidade Curral Velho

Page 2: Casa de farinha movimenta agricultores e agricultoras da comunidade Curral Velho

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

O trabalho é feito de forma coletiva, ou seja, cada dia uma família colhe as raízes da mandioca e todos colaboram na fabricação dos produtos. “A casa de farinha representa vida para a comunidade. É daqui que sai o sustento das famílias, então toda comunidade é beneficiada com esse processo. Quando termina aqui, o produto vai para os armazéns das casas e, cada dia, ao invés de ir à padaria pegamos o polvilho e fazemos o pão de queijo, o beiju, o chimango e a chiringa (avoador)”, ressalta com alegria, dona Lucília Ana Prates, moradora da comunidade.A agricultora ainda destaca que o trabalho comunitário é uma concretização do que a comunidade celebra nos cultos religiosos. “No período da safra da mandioca, a gente concretiza o que celebramos na palavra de Deus, com as ações da ajuda mútua, ou seja, é uma ajuda de um jeito tão desprendido, sem esperar nada em troca. As pessoas vêm de longe, com o sacrifício da caminhada, com o sol quente, mas elas sempre marcam presença. Hoje, um colabora com o outro, amanhã é o outro que colabora com você. É por isso que falo que se concretiza a palavra de Deus, aqui nas ações das pessoas”, afirma dona Lucília.Na comunidade Curral Velho foi implementada cerca de 50 tecnologias de produção do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), executado pela Associação Divina Providência. Dona Lucília destaca a importância das tecnologias para as famílias da comunidade. “As cisternas era um sonho e hoje vemos esse sonho concretizado. Será um grande avanço para a comunidade Curral Velho, além da casa de farinha, daqui a alguns dias as famílias não vão nem precisar mais ir as feiras comprar verduras e hortaliças. Além do pão, agora temos as verduras, vamos comer aquilo que estamos produzindo. O que ouvimos das pessoas da comunidade é a alegria, por ter recebido, além do entusiasmo por já está produzindo o alimento. Agora os nordestinos vão esquecer-se da seca. Nós, só com a água de consumo, não sofremos mais a falta de água, imagine agora, com as cisternas de produção? É uma alegria para a comunidade”, concluiu a agricultora.

Realização: Apoio

A prensagem destina a redução da umidade da massae a eliminar o líquido.

Quando retirada da prensa, a massa está compactada, após passar no triturador novamente, é peneirada.

A massa peneirada é então colocada no forno para eliminar o alto teor de umidade que ainda permanece na farinha crua.