casa das caldeiras - fÁbrica da arte

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1 CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE MARIANO CAMARA

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CASA DAS CALDEIRAS - FÁBRICA DA ARTE, projeto de reciclagem do edifício histórico tombado pelo CONDEPHAAT no bairro Água Branca, em São Paulo.

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CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTETrabalho Final de Graduação - TFGEscola da Cidade, São Paulo, 2008Mariano Camara Santos Arq. Marcelo Carvalho FerrazArnaldo de Melo21 x 30 cmFutura94couché 150 gramsGráfica Espaço Graph

Título

OrientadorCapa

FormatoTipologia

No de páginasPapel

Impressão

725.822

S231c SANTOS, Mariano Camara.

Casa das Caldeiras- Fábrica da Arte / Mariano Camara Santos. – São Paulo, 2008. 94 f.: il. ; 30 cm. TC (Trabalho de Curso) – Escola da Cidade, 2008. Orientação: Marcelo Carvalho Ferraz.

1. Arquitetura - urbanismo. 2. Casa das Caldeiras (Patrimônio Cultural). II. Título.

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CASA DAS CALDEIRASFÁBRICA DA ARTE

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG

ESCOLA DA CIDADEFACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANO CAMARA SANTOSORIENTADOR: ARQUITETO MARCELO FERRAZ

SÃO PAULO2008

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AGRADECIMENTOS

Este é um momento de alegria para mim, estou concluindo meu curso de graduação na Escola da Cidade e entendo que só foi possível, através do apoio de algumas pessoas que fazem parte da minha vida. Gostaria de dedicar este trabalho: a minha mãe Isabel Camara e meu pai Joaquim Santos, pela minha herança cultural; minha avó Hilda Camara e meu avô Bernardo Camara pelo apoio; minha tia Edima Donabella pela presença; a minha companheira Fernanda Távora pela paciência e a todos meus familiares. Contudo não posso deixar de agradecer algumas pessoas que fazem parte do meu repertório: meu orientador Marcelo Ferraz pela sua competência e experiência, ao apoio incondicional da arquiteta Karina Saccomanno, do produtor cultural Joel Borges e demais companheiros de trabalho da equipe da Casa das Caldeiras: Tatiana Saccomanno, Claudia Saccomanno, Kátia Lima, Junior, Raimunda, Elizabeth, Ale, Davi, Tico, Ricardo, Evangelista, João. Meu agradecimento especial ao arquiteto e artista plástico Arnaldo de Melo pela sua presença na revisão do conteúdo deste trabalho e pela autoria da capa, um presente especial.

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RESUMO

PARTE I1 - NOTAS INTRODUTÓRIAS 1.1 - TEMA 1.2 - ÁREA DE ESTUDO E PROJETO 1.3 - JUSTIFICATIVA 2 - DADOS HISTÓRICOS 2.1 - UMA REGIÃO EM EXPANSÃO 2.2 - ÁGUA BRANCA 2.3 - BARRA FUNDA 2.4 - AS INDUSTRIAS REUNIDAS FRANCISCO MATARAZZO - IRFM 2.5 - O CONDE MATARAZZO 2.6 - A CASA DAS CALDEIRAS 2.7 - A LOCOMOTIVA 2.8 - A RESTAURAÇÃO 2.9 - DEPOIMENTOS 2.10- ESPAÇO DE EVENTOS 2.11- ASSOCIAÇÃO CULTURAL CASA DAS CALDEIRAS- ACCC 3 - ESTUDO DE CASOS 3.1 - SESC Fábrica Pompéia [São Paulo] 3.2 - CAN RICART - EL HANGAR [Barcelona] 3.3 - CENTRO CULTURAL SÃO PAULO [São Paulo] 3.4 - Museu Rodin [Salvador] 3.5 - Museu Brasileiro da Escultura [São Paulo] 3.6 - Roden Crater - JAMES TURELL [Canadá]

PARTE II4 - PROPOSTA 5 - PROGRAMA6 - BIBLIOGRAFIA

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RESUMO

CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE, projeto de reciclagem do edifício histórico tombado no bairro Água Branca, em São Paulo.

A remanescente Casa das Caldeiras e suas três chaminés e a Casa do Eletricista fizeram parte do complexo industrial do Conde Francesco Matarazzo, que teve seu apogeu na década de 1930. A partir da demolição de todas as instalações da indústria, ocorrida em 1986, foram necessários mais dez anos para que um sopro de energia reinventasse a fumaça, agora a jorrar sobre a cidade um convite permanente para atividades culturais, o lazer e o entretenimento, conforme as premissas da atual Associação Cultural Casa das Caldeiras.

Com o presente projeto, desdobra-se tais atividades para o abrigo de artistas residentes, em construção subterrânea anexa ao imóvel, além de constituir novos circuitos permeáveis abertos à população. A reciclagem de um bem histórico tombado, neste sentido, privilegia os novos usos e as demandas de uma região da cidade que nas últimas duas décadas passou por grandes mudanças e que, salvo a implantação do SESC Fábrica Pompéia, muito ficou a desejar em face ao descaso das políticas públicas.

Faz parte da publicação, fruto de Trabalho Final de Graduação na Escola da Cidade, com a orientação do arquiteto Marcelo Ferraz, breve histórico das Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo e da atual administração da Casa das Caldeiras. Soma-se ao projeto FÁBRICA DA ARTE, o programa CORREDOR DE CULTURA E LAZER que perfaz a conexão de outros equipamentos da região, em especial os que contemplam os transportes urbanos.

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PARTE 1

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16Imagem da Revista Veja Retrospectiva de 1986, página 20, publicação em 7 de setembro de 2005.

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1. NOTAS INTRODUTÓRIAS

O objetivo deste trabalho é a nova reciclagem da construção tombada em 1987 pelo CONDEPHAAT*, atualmente conhecida como Casa das Caldeiras.

A Casa das Caldeiras foi construída na década de 1920 para o fornecimento de energia elétrica ao Parque Industrial da Água Branca das Industrias Reunidas Francisco Matarazzo – IRFM. Foi desativada e abandonada no fechamento do referido Parque Industrial entre os anos 50 e 60. Em 1986, as construções que integravam as IRFM foram demolidas para a construção de um shopping-center, com exceção da Caldeiraria (atual Casa das Caldeiras) e a Casa do Eletricista. A construção desse shopping, todavia, não foi efetivada. Em 1997, a Caldeiraria e a Casa do Eletricista foram restauradas e recicladas por seus novos proprietários, que destinaram o espaço para eventos diversos, como festas e eventos de empresas e, desde 2007, mantém programas culturais dirigidos a artistas plásticos, dançarinos, músicos e atores que se estabelecem temporariamente como artistas residentes, iniciativa esta que originou a criação da Associação Cultural Casa das Caldeiras, ligada à Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

Com a Associação, a Casa das Caldeiras incrementa projetos culturais, transforma-se em centro agregador de experiências artísticas e efetiva sua utilização como espaço social, com maior adesão do público que usufrui de seu espaço também como área de recreação e lazer. O programa TODO DOMINGO, por exemplo, mantém atividades permanentes e gratuitas, atrai grande número de visitantes que participam de atividades temáticas, passam a conhecer o histórico das instalações e a este criam laços de pertencimento através de uma nova atmosfera de usufruto perante o imóvel tombado como patrimônio da cidade.

Se a principal função do edifício da Casa das Caldeiras era fornecer energia elétrica para o Parque Industrial das IRFM,

Imagem do livro Matarazzo 100 anos - Concepção, Planejamento e Execução Editorial CL-A Comunicações S/C Ltda

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podemos entender que as atuais iniciativas nos permitem desdobrar no presente projeto o resgate desta função geradora de energia como, portanto, um modo de expansão fabril que aqui denominamos FÁBRICA DA ARTE.

A presente monografia está dividida em duas partes, sendo a primeira dedicada às acepções teóricas e aos dados históricos que subsidiaram o projeto deste Trabalho Final de Graduação – TFG, de acordo com nossos estudos realizados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo ESCOLA DA CIDADE, entre 2004 e 2008. Na segunda parte, encontra-se o projeto arquitetônico denominado CASA DAS CALDEIRAS -FÁBRICA DA ARTE, desenvolvido no decorrer de 2008 com a orientação do Professor Arquiteto Marcelo Ferraz.

*Processo: 24263/85 Livro do Tombo Histórico: Inscrição nº 253, p. 67, 23/1/1987. CONDEPHAAT-Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turistico do estado de São Paulo.

1.1 TEMA

A reciclagem de edifícios existentes nas cidades invoca o contínuo trabalho de renovação da sociedade, tal como nos explica Daniel Bell em seu importante trabalho sobre o advento da sociedade pós-industrial. Bell, que estabeleceu o conceito de sociedade pós-industrial em meados da década de 1970, esclarece a influência de três componentes principais na linguagem do pensamento social: “em economia, é a mudança da manufatura para os serviços; em tecnologia, a centralidade das novas indústrias baseadas na ciência: de computadores, eletrônica, ótica, polímetros; e sociologicamente, a ascenção de novas elites técnicas e novos tipos de estratificação de classes” (BELL, 1978). Todos estes componentes , portanto, tem implicações sociais e humanas que incitam a mudanças.

No tecido urbano das cidades que experimentaram uma produção industrial relevante, como São Paulo, não será

A partir do conceito de sociedade pós-industrial de Daniel Bell, em que o sociólogo expõe, primeiro a passagem dos procedimentos manufatureiros para o universo industrial, e depois, com a dissolução deste para o advento das redes de comunicação e da eletrônica, encontramos a temática da reciclagem urbana inscrita nas antigas fábricas que hoje abrigam escolas, museus e centros culturais. Lina Bo Bardi, quando desenhou o selo do SESC Pompéia, substituiu a fumaça por flores e disse: “ A torre-chaminé que despeja flores será o emblema do centro ... é importante que a palavra fábrica apareça no logotipo, é a significação dialética do trabalho-lazer” (BO BARDI e FERRAZ, 1993, p.223).

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difícil entender as dificuldades porque passam determinadas áreas da cidade na tarefa de atualizar suas funções e seus usos, supondo a concomitante demanda em superar o crescente papel de oferecer às novas gerações o melhor usufruto dos espaços deixados à deriva com o advento da sociedade pós-industrial. No rol das grandes indústrias que desfizeram por completo suas atividades, muitas foram as que, por razões várias, mantiveram suas instalações, agora sem viva alma, ocupando áreas da cidade hoje não mais tidas como “arrabaldes” distantes, mas como preciosas fontes de especulação imobiliária e que, todavia, já sofreram intervenções que ficaram muito aquém de um planejamento adequado. Os resultados, sobretudo no caso de São Paulo, já merecem debates urgentes e compõem extensa pauta de discussão política, não raro se desdobrando em trabalhos acadêmicos que aos poucos vão sendo publicados e dirigidos ao grande público.

Nossos aportes neste trabalho, contudo, serão voltados ao exercício prático estabelecido em projeto de arquitetura, com os pressupostos de inserção para além das discussões teóricas, no sentido em que o projeto propriamente dito, como se espera, atende às mesmas demandas e urgências da cidade, constituindo-se como um esforço para a solução dos problemas que, a nosso ver, se dirigem diretamente a nossa sociedade, que se transforma e justifica nossas iniciativas. A destinação de uma antiga caldeiraria, com suas chaminés de tijolo que são vistas à distância, perfaz em nosso projeto uma nova fábrica, a ver com uma “fábrica pós-industrial”, onde a produção de energia canaliza, entrementes, novas fontes de trabalho e participação. Para a população que a essa nova fábrica deve afluir, também a noção de pertencimento se expande, uma vez que aí estão inerentes a questão do patrimônio histórico e que, por sua vez, faz parte de uma ação que não podemos esquecer e que requer mais atenção que a mera nostalgia dos tempos de outrora.

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1.2 ÁREA DE ESTUDO E PROJETO

Para a escolha da área de intervenção foi determinante a percepção das dinâmicas de crescimento da cidade e as questões contraditórias que recaem sobre o desenvolvimento de grandes áreas como a região Água Branca - Barra Funda. Essa região é um microcosmo de São Paulo, memória histórica e cultural da cidade.

No passado, a região foi de grande importância para o desenvolvimento da cidade, com o seu parque industrial e a linha férrea que ajudaram a impulsionar o crescimento econômico da emergente metrópole. Posteriormente abandonada e esquecida, atualmente passa por novas transformações que sugerem a retomada de seu destaque. Para tanto, a região apresenta um grande potencial, posto que bem servida de infra estrutura básica, excelentes ofertas de transporte público que inclui a linha leste-oeste do metrô, redes de comunicação, proximidade ao centro, presença de grandes equipamentos de lazer, cultura e abastecimento, embora conte com extensas áreas vazias ou subutilizadas, invariavelmente visadas pelos detentores do mercado imobiliário. Nas últimas duas décadas foram implantados equipamentos de grande importância para o bairro, como o SESC Pompéia [Lina Bo Bardi, 1986], o Memorial da América Latina [Oscar Niemeyer, 1989], o Terminal da Lapa [Núcleo de Arquitetura, 2002], o metrô Barra Funda [1988], a Estação Ciência - USP [1987], os shoppings West Plaza e Bourbon [1991 e 2008].

Propostas municipais não faltaram para utilização do potencial da área, como a Operação Urbana Água Branca [parceria público-privada, iniciada em 1995] e o Bairro Novo [concurso público nacional, 2004], entretanto, a falta de diretrizes políticas e de coordenação entre os diversos setores envolvidos na produção e gestão do espaço urbano inviabilizou, em diferentes momentos, a implementação de

Operação Urbana Água Branca. Imagem de documento elaborado pela Empresa Municipal de Urbanização-EMURB, através do Departamento de Operações Urbanas-DDO, Departamento de Patrimônio-DAP, Departamento de Engenharia Civil-DOP e Secretaria Municipal de Planejamento-SEMPLA, 1995.

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ações conjuntas para a região. Trata-se de uma polêmica que tem sido bastante farta através dos meios de comunicação e da imprensa local, conforme artigo recente publicado em O Estado de S. Paulo (MANSO, ZANCHETTA e BRANCATELLI, 2009).

1.3 JUSTIFICATIVA

Considerando a importância econômica e social das IRFM no histórico da cidade de São Paulo, e a sua remanescente Casa das Caldeiras, a proposta de intervenção no bem tombado oferece o local como centro de convívio, além de contemplar a preservação de um bem tombado em face aos novos usos e à integração física com uma obra arquitetônica anexa, através de meios e escalas adequados para com o edifício original.

Há uma preocupação clara no sentido de oferecer um núcleo aberto e integrado ao restante do bairro, e que capitula uma não ruptura entre espaço público e privado.

Ao projeto FÁBRICA DA ARTE está agregado o CORREDOR DE CULTURA E LAZER ligando o SESC Pompéia, o Memorial da América Latina, a Estação Ciência, o Tendal da Lapa e o Parque da Água Branca que, por sua vez, são conectados à dimensão metropolitana através do Metrô Barra Funda e o Terminal da Lapa, e, no seu centro a implantação da estação Água Branca do Metrô, prevista na operação urbana Água Branca. Em nosso projeto, esta Estação também funcionará como uma costura entre as duas margens da linha férrea.

A CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE e o CORREDOR DE CULTURA E LAZER nos levam a recuperar as intenções originais da arquiteta Lina Bo Bardi, quando pensou o SESC Fábrica Pompéia como um espaço dotado de atrativos de caráter público, substanciado por ofertas e ações que não tinham em seu bojo o frenético teor consumista. Embora muito vivo em sua intermitente programação, o SESC Pompéia,

SESC Pompéia [Lina Bo Bardi, 1986]

Memorial da América Latina [Oscar Niemeyer, 1989]

Terminal da Lapa [Núcleo de Arquitetura, 2002]

shopping-center Bourbon [2008]

shopping-center West Plaza [1991]

Estação Ciência - USP [1987]

metrô Barra Funda [1988]

SESC Pompéia [Lina Bo Bardi, 1986]

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após sua inauguração, aos poucos fez-se avizinhar de edifícios e equipamentos extremamente contraditórios, como os dois shopping-centers citados, que são as efetivas marcas dos descaminhos sócio-culturais das últimas gerações, agora habituadas às imposições consumistas. Urge, portanto, oferecer nossa FÁBRICA DA ARTE e o CORREDOR como um novo sopro a ferver as caldeiras da região e da cidade, atraindo mais uma vez a atenção de todos para longe do “fast-tudo”.

Importante é a sustentabilidade do equipamento prevista no projeto, tendo em vista um dos maiores problemas da sociedade contemporânea, qual seja, a relação conflituosa entre o homem e a natureza. Um projeto sustentável é aquele em que os gastos de energia e água são contidos e os dejetos produzidos bem equacionados: todo o esgoto produzido pela Casa das Caldeiras, por exemplo, será tratado e reutilizado, ampliando o projeto implantado em 2007. Como parte desta melhoria será capturado as águas pluviais, conforme disposições do Plano Diretor. Também serão adotadas as técnicas de ventilação e iluminação naturais. Ainda aqui lembramos a arquiteta Lina, que se dizia horrorizada e avessa aos aparelhos de ar-condicionado, tanto quanto aos carpetes (BO BARDI, 1993), justificando os “buracos” propostos na edificação anexa à antiga fábrica, esta destinada às diversas práticas esportivas.

Em nossos trabalhos na Casa das Caldeiras, obras importantes de saneamento e sustentabilidade começaram a ser implantadas em 2007. Nestas imagens, reservatórios de decantação e filtros são instalados para o tratamento de esgoto. Projeto executado pela empresa Rotegel, sob a coordenação de Mariano Camara.

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2. DADOS HISTÓRICOS *

2.1 UMA REGIÃO EM EXPANÇÃO

No final do século XIX, a cidade de São Paulo começa a se expandir em direção ao Rio Tietê, culminando na ocupação das várzeas. Inicia-se assim a formação dos bairros operários como o da Barra Funda, onde os imigrantes italianos recém-chegados se estabelecem e vão trabalhar nas indústrias do bairro vizinho, o da Água Branca, que também passava por transformações.

A Barra Funda marca, como poucos bairros em São Paulo, os ciclos viários da cidade. A primeira linha de bonde elétrico foi inaugurada no bairro em 1900 e ali também ficavam as estações terminais dos ônibus nos anos 30 nas quais se faziam as conexões com os bondes e trens. Em 1900, a configuração do bairro da Água Branca se caracterizava pela presença das olarias, das chácaras e das jabuticabeiras, situadas em torno do córrego da Água Branca. A primeira intervenção urbana do bairro foi a abertura da avenida Água Branca (hoje avenida Francisco Matarazzo), construída com capital dos donos da Antarctica Paulista. O bairro, tributário da Estação Água Branca da Sorocabana, se estendeu para além das indústrias da Antarctica**, do Cortume do conselheiro Antônio Prado e da vidraria Santa Marina. O perfil industrial do bairro se reconhecia pelo cheiro marcante da fábrica de cerveja, do cortume e posteriormente pelo cheiro do sebo, com a implantação das IRFM a partir da década de 20.

* As informações constantes neste histórico, bem como as imagens, estão referenciadas na bibliografia [foram retiradas dos seguintes textos [COUTO, 2004 e MATARAZZO 100 ANOS, 1982]

Mapa topográfico do município de São Paulo, executado pela empresa Sara Brasil, 1930.

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Outra característica marcante do bairro da Água Branca, e que ficou na memória de muitos paulistanos, foi a do lazer: o Parque Antártica com seu carrossel, seus quiosques e atrações, era uma nova opção para os paulistanos que vinham de bonde para fazer piqueniques nos finais de semana.Os trens tiveram um papel fundamental no circuito cafeeiro. As estações ferroviárias constituíam marcos das articulações entre a urbanização e as ferrovias. Isto se reflete no padrão arquitetônico e expressa os contextos sociais da época.

A Água Branca foi um dos primeiros bairros a dispor de iluminação elétrica e linhas duplas de bonde. Sua configuração era determinada pela presença das indústrias que ali estavam. A Água Branca e a Barra Funda marcaram a expansão da cidade de São Paulo no sentido oeste, sendo o sistema ferroviário estadual e a industrialização da capital paulista os grandes impulsionadores desta expansão.

**Empresa fundada em 1885 no bairro Água Branca , que desde 1888 fabrica as cervejas Antarctica.

2.2 - ÁGUA BRANCA

O nome Água Branca vem da existência do córrego de águas límpidas que cortava o bairro. Inicialmente se tratava de uma localidade rural, dos arredores paulistanos. Porém isto mudou com a industrialização.

Em 1822, o botânico e viajante francês Saint-Hilaire reconhece a localidade como sendo o caminho para Campinas (SAINT-HILAIRE, 1953). A área fazia parte da sesmaria doada aos jesuítas por Martim Afonso de Sousa. Em 1759 houve a expulsão da Companhia de Jesus e, apenas em 1867, com a construção da ferrovia que ligaria Santos a Jundiaí no escoamento da produção de café, o local se transformou.

foto aérea anterior à demolição das IRFMarquivo Casa das Caldeiras

foto aérea depois da demolição das IRFMarquivo Casa das Caldeiras

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Com a estação de trem, a transformação e o desenvolvimento não tardaram, principalmente após a vinda das IRFM. A paisagem rural deu lugar a ocupação fabril e operária.

Um dos pontos mais conhecidos do bairro é o Parque Dr. Fernando Costa, ou Parque da Água Branca, com mais de 90 mil m² de área verde.

Em meados de 1904, o então prefeito de São Paulo, Dr. Antônio da Silva Prado, conhecendo o caráter ainda embrionário da atividade agrícola na cidade, percebeu que estava na hora de ativar novas perspectivas no setor. A população abastecia-se de produtos hortifrutigranjeiros em chácaras periféricas, ou mesmo de alguns bairros residenciais da cidade ou ainda, em pequenas hortas e galinheiros, nos próprios quintais das casas. O prefeito idealizou o que se chamaria de Escola Prática de Pomologia e Horticultura, projeto que após algumas contrariedades sofridas pela resistência dos opositores da Câmara Municipal que preferiam calçar ruas e abrir novas avenidas, finalmente obteve aprovação através da Lei nº 730 de 20 de abril de 1904. A verba concedida seria destinada para a contratação de um horticultor experiente e para as instalações necessárias.

O Parque da Água Branca surgiu nessa época de desenvolvimento agropecuário, tornando-se patrimônio deste setor. Criadores e fazendeiros na década de 20 participaram de uma campanha para que São Paulo tivesse um Recinto de Exposições e um local para ser sede do antigo departamento da Secretaria da Agricultura do Estado. Em 02 de Junho de 1929, o então Secretário da Agricultura Dr. Fernando Costa criou o parque para ser um recinto de exposições e provas zootécnicas, onde funcionou a Indústria de Produção Animal.

foto montagem fachada das IRFM. Aveniva Francisco Matarazzo arquivo Casa das Caldeiras

Avenida Francisco Matarazzo

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2.3 - BARRA FUNDA

A Barra Funda é um distrito tradicional da região oeste do município de São Paulo, com 5,6 km² de superfície, subordinado à subprefeitura da Lapa. Situado em uma área de várzea ao sul do Rio Tietê, cortada desde o século XIX por duas ferrovias (Santos-Jundiaí e Sorocabana), foi durante muitos anos uma região de vocação industrial. Atualmente se tornou uma zona de classe média e pequenos escritórios. A Barra Funda foi retratada na obra de Alcântara Machado “Brás, Bexiga e Barra Funda”, que abordou o cotidiano das classes proletárias da cidade de São Paulo na primeira metade do século XX. Antônio de Alcântara Machado foi cronista de costumes como poucos. Em Brás, Bexiga e Barra Funda focalizou os chamados “italianinhos de São Paulo”, os imigrantes que vinham para os bairros que dão nome ao livro, seus dissabores, tristezas, esperanças, alegrias e perspectivas.

Por volta de 1850, a região que corresponde atualmente à Barra Funda fazia parte da antiga Fazenda Iguape, propriedade de Antônio da Silva Prado, mais conhecido como Barão de Iguape. Essa fazenda depois de loteada deu origem a várias chácaras, entre elas a Chácara do Carvalho, pertencente ao Conselheiro Antônio Prado, neto do Barão de Iguape, e que mais tarde se tornaria prefeito da cidade de São Paulo. A importância da família e a grandiosidade dessas terras podem ser expressas pelo fato do Conselheiro Prado ter contratado Luigi Puci, responsável pelo projeto do Museu do Ipiranga, para projetar a casa sede da chácara. Anos depois, a chácara também foi loteada e sua casa sede foi adquirida pelo Instituto de Educação Bonni Consilii (que ainda situa-se no local).

As outras áreas loteadas deram origem ao distrito da Barra Funda e a parte dos atuais distritos da Casa Verde e Freguesia do Ó.

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Logo após o loteamento da área, os primeiros a povoarem a região foram os italianos. Trabalhavam em serrarias e oficinas mecânicas, principalmente para atenderem a população do elitizado bairro vizinho dos Campos Elísios. Muitos também trabalharam na ferrovia que seria inaugurada no final deste século.

O desenvolvimento maior da região ocorreu após a inauguração da Estação Barra Funda da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1875, que serviu de escoamento da produção de café paulista e também como armazém dos produtos que eram transportados do porto de Santos para o interior. Isso incentivou o aumento populacional e a ocupação da região e de seus arredores, que se intensificou com a criação, em 1892, da São Paulo Railway, inaugurada próxima à Estrada Sorocabana, justamente onde se encontra atualmente o Viaduto da Avenida Pacaembu. O crescimento demográfico na região proporcionado pela ferrovia fez com que essa passasse a transportar, a partir de 1920, não apenas cargas, mas também passageiros. A partir do século XX a população negra começou a povoar a região.

O primeiro bonde elétrico de São Paulo foi inaugurado em 7 de Maio de 1902, ligando a Barra Funda ao Largo São Bento. Neste trajeto, passava pelas ruas Barra Funda, Brigadeiro Galvão, até seu ponto final, na rua Anhangüera.

Esse desenvolvimento comercial do bairro, aliado à grande facilidade no transporte e à proximidade dos elitizados bairros de Higienópolis e Campos Elísios, fez com que parte da elite paulista da indústria e do café se instalasse nessa região ao sul do bairro, entre a linha férrea e as margens do rio Tietê. Outro fator que colaborou para o desenvolvimento da Barra Funda foi a proximidade com o Parque Industrial das “Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo”, instalado no bairro vizinho da Água Branca, em 1920. As Indústrias Matarazzo empregavam boa parte da população da região, assim como em grande parte da cidade e foram a base do conhecido “Império Matarazzo”, que foi se enfraquecendo foto: Nelson Kon

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até se extinguir na década de 80.

Com a crise de 1929 houve um abalo na região que resultou no fechamento de indústrias e deslocamento da elite, que abandonou seus casarões (alguns se tornaram cortiços mais adiante). Restou basicamente a indústria artesanal com oficinas, marcenarias, serraria ou indústrias alimentícias e têxteis de pequeno porte.

Apesar das aparentes dificuldades, foi nesta época que a Barra Funda viveu uma grande manifestação cultural. O bairro expôs para o país grandes paulistanos como Mário de Andrade, que nasceu e viveu no bairro, e até hoje sua antiga residência está conservada. Em 1917 foi inaugurado o Teatro São Pedro. Três anos depois, o Palestra Itália de São Paulo comprou um terreno no qual foi construído o Estádio Palestra Itália, pertencente ao clube que em 1942 mudaria seu nome para Sociedade Esportiva Palmeiras.

A Barra Funda também foi palco da criação do mais antigo cordão de carnaval da cidade: o Grupo Carnavalesco Barra Funda. A partir desse grupo foi formada, mais adiante, a Escola de samba Vai-Vai, uma das mais tradicionais da cidade, instalada no antigo bairro do Bixiga (hoje parte do distrito da Bela Vista). O Grupo mudaria seu nome nos anos seguintes para “Camisa Verde” mas foi obrigado à mudar logo depois por pressão do presidente Getúlio Vargas, que confundiu a associação com o Integralismo brasileiro (que adotava o verde como cor oficial). Finalmente, mudou o nome em 1953 para o atual Camisa Verde e Branco e mantém sua sede no distrito.

2.4 - AS INDUSTRIAS REUNIDAS FRANCISCO MATARAZZO - IRFM

Foi no Bairro da Água Branca, que as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo [IRFM] se instalaram no início da década de 20, como o primeiro Parque Industrial com

rotulos de produtos das IRFM

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noção de verticalização da produção. O ramal ferroviário interligado à área de produção foi determinante para a sua localização.

“Em suas andanças pela Cidade, de São Paulo, o Conde Matarazzo descobriu um espaço que lhe pareceu ideal: o terreno onde funcionava uma antiga fábrica de licores da Companhia Antártica de Bebidas, compreendendo 101.000m2, próximo ao córrego Água Branca e ladeado pelos trilhos de duas estradas de ferro: a Sorocabana e a Inglesa. Entrou em contato com Zerenner, Bullow e Cia., proprietários da Companhia Antártica e do terreno e o negócio foi rapidamente fechado.

A ocupação foi feita sem demora. Já em 1920 foi transferido o conjunto de São Caetano, constituído pelas fábricas de sabão, velas, estearina, oleína, glicerina e pregos. Logo em seguida transferiu-se a refinação de açúcar da Mooca e a fábrica de óleo de caroço de algodão, o óleo Sol Levante, que funcionava anexa à Mariangela.

Sem dúvida, o advento do núcleo da Água Branca marcou o auge da expansão das IRFM em concentração vertical. Pouco tempo depois, foram instaladas ali a serraria, a caixotaria, a carpintaria, a marcenaria, a fábrica de carrocerias e a seção de transportes, compondo a infra-estrutura necessária ao funcionamento do conjunto industrial.” - Matarazzo 100 anos

Os edifícios CASA DAS CALDEIRAS e CASA DO ELETRICISTA faziam parte deste parque e são as únicas construções que remanesceram do complexo que ainda num período inicial possuía também fábricas de giz, soda cáustica, graxa e destilaria de álcool; produziu sabonetes e sacarias e continha ainda mecânica e fundição. As indústrias da Água Branca ocuparam ao todo um terreno de 113.721m2, com uma área construída que ultrapassava 96.000m2.

Nos anos 50, as IRFM contavam com 30 mil empregados

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em quase 100 empresas nos setores metalúrgico, químico, têxtil, de alimentos, limpeza, embalagens, materiais de construção etc.

A solidez do grupo Matarazzo era comparada à do Império Britânico. No auge de sua riqueza, a Enciclopédia Britânica catalogou o império dos Matarazzo como um dos cinco principais conglomerados familiares do mundo. O patrimônio só perdia para o PIB da União e do Estado de São Paulo.

O complexo, com cerca de 20 unidades, entre produção, pesquisa e depósitos, funcionou até o colapso do grupo Matarazzo. No final da década de 70 os proprietários ordenaram a demolição de quase todas as construções existentes no intuito de dar um novo rumo às suas atividades.

2.5 - O CONDE MATARAZZO

Nascido em Castellabate, na Itália, no ano de 1854, Francisco (Francesco) Matarazzo chegou ao Brasil em 1881 com 27 anos. Estabeleceu-se em Sorocaba, interior do estado de São Paulo e inicialmente dedicou-se ao comércio de banha de porco. Já em 1890, Francesco muda-se para São Paulo onde cria a Matarazzo e Irmãos com sede na Rua 25 de março, associado aos seus irmãos Giuseppe, Luigi e Andréa.

A empresa produzia e comercializava banha e chegou a importar trigo dos Estados Unidos e arroz da China. Ela foi dissolvida em 1891 para que fosse constituída a Companhia Matarazzo S. A. , contando com 43 acionistas. Em 1899, financiada pelo London Bank e equipada com máquinas Henri Simon & Co de Manchester, tem início a construção da primeira fábrica, no bairro do Brás, próxima à linha da São Paulo Railway, que receberia o nome de Moinho Matarazzo. Com as obras concluídas em 1900 o empreendimento que

foto da família de Francesco Matarazzo na Villa da avenida, em 1906: Cláudia, Olga, Lili, a Condessa, Eduardo, Chiquinho, o Conde, Mimi, Lydia, Andrea, Ermelino, Peppino, Theresina, Mariangela e Attilio.

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custara um mil e quinhentos réis foi inaugurado com a presença de autoridades locais, personalidades, cônsules da Itália e Alemanha além de catedráticos da Escola Politécnica.

Ainda no Brás, a Fiação e Tecelagem Mariângela é inaugurada em 1904 e Fábrica de óleo Sol Levante em 1907.

Francesco Matarazzo formou o banco Banca Commerciale Italiana de São Paulo com outros capitalistas imigrantes italianos em 1900 e em 1905 formou um outro banco Banca Italiana del Brasile no qual a família possuía 73% das ações. Em 1911, após Francesco cessar suas atividades bancárias constitui-se as IRFM, sociedade anônima.

Em 1913 Francesco Matarazzo expande-se para o Belenzinho com a Tecelagem Belenzinho. Firma-se como líder da colônia italiana definitivamente em 1915 quando da doação de um pavilhão ao Hospital Humberto I que atendia as famílias italianas. Nesta época as fábricas de fósforo, o moinho de sal e a refinação de açúcar já funcionavam no bairro da Móoca.

A prosperidade da Matarazzo durante a Primeira Guerra Mundial se explica pela linha de produção de suas fábricas, já que o forte do grupo sempre foram os produtos básicos e essenciais ao consumidor. A guerra também não chegou a cortar o acesso do grupo aos insumos principais. No caso da Tecelagem, as matérias-primas eram nacionais. O trigo, que poderia comprometer a operação do Moinho, passou a ser importado da Argentina.

É no ano de 1917 que Francesco Matarazzo recebe do rei da Itália o título de conde, somando-se ao de comendador. Em 1919, com a Sociedade Paulista de Navegação Matarazzo Ltda., contando com 5 navios entre 6500 a 4500 toneladas e iates de 280 toneladas, a empresa do então conde Matarazzo ganha autonomia em todo o país.instalações e operários das IRFM

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A instalação na Água Branca da seção de transporte constituiu o elo importante na cadeia de fabricação juntamente com a fábrica de carroceria e caixotaria. Durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa substituiu com grande vantagem os caminhões com tração mecânica e a gasolina por tração animal, empregando cavalos da raça “Pecheron”.

Em 1922, o conde Francesco Matarazzo cria a seção de Cinema nas IRFM que passa a distribuir filmes norte-americanos no país todo até 1932.

“No imaginário popular, Matarazzo podia quase tudo.” Para Luigi Luzzatti, economista italiano, Francesco agia dominado pela febre industrial, fazendo a cada ano surgir uma indústria diferente. Francesco gostava de criar. Não se tratava da simples vontade de acumular riquezas, mas sim de gerar recursos para aprimorar suas indústrias. Gostava de competir, de empreender, gostava do jogo, do risco calculado. Esta era sua vida: o trabalho, suas indústrias e nunca deixou de chefiá-las. Para falar do conde, nada melhor do que falar de suas conquistas, acumulandas ano após ano.

2.6 - A CASA DAS CALDEIRAS

A Casa das Caldeiras faz parte da memória coletiva da cidade de São Paulo, preserva em seu conjunto arquitetônico a história de um período áureo, entre as décadas de 1910 e 1940. Uma cidade em ritmo acelerado de crescimento, influenciada pela Revolução Industrial e pelo tecnicismo Europeu, que refletiram os padrões urbanos e arquitetônicos da cidade e têm relação direta com a vida econômica, social e cultural do País.

Exemplar típico da arquitetura fabril de caráter utilitário, recebeu grandes janelas, pé-direito altíssimo, três chaminés monumentais que parecem ganhar os céus, túneis-galerias

IRFM na Água Branca, ao fundo chaminés da Casa das Caldeiras

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que remetem a passagens subterrâneas, fornalhas que eram alimentadas por carvão.

O Edifício das Caldeiras é constituído de um conjunto de três caldeiras abrigadas numa edificação que forma uma grande nave, por onde se distribuem em dois pisos, as circulações, as dependências para as atividades subsidiárias e os túneis e comportas associados ao sistema de circulação de ar.

A caldeira é constituída de um conjunto composto pela caldeira propriamente dita - estrutura metálica preenchida com alvenaria de tijolos, com várias câmaras por onde passa os sistemas de serpentinas, o reservatório, a fornalha - e por um sistema de túneis e dispositivos de controle de ventilação interligados às chaminés.

Observam-se três fases importantes de construção e ampliação durante o levantamento histórico da Casa das Caldeiras. A primeira fase chega ao conhecimento através da planta encaminhada em 1923 à Prefeitura Municipal, onde se desenhava um bloco único de alvenaria de tijolos. Possivelmente já se tratava de uma ampliação. Uma provável construção anterior teria sido prolongada e seu alinhamento alterado. Desta fase persiste a estrutura portante de alvenaria, embora desfigurada pela abertura de novos vãos e fechamentos de outros.

Em 1936, uma nova planta foi encaminhada para aprovação, com ampliações e reformas, sem mudanças significativas na estrutura primitiva, tendo sido construídos novos fornos e caldeira, que exigiam uma outra chaminé edificada na extremidade oposta daquela já existente.

A ampliação de maior envergadura é executada em 1953, conforme plantas submetidas a aprovação da Prefeitura Municipal. Neste ano foi construído um corpo anexo para servir como reservatório d’água para as caldeiras e, em continuidade a este acréscimo, uma plataforma coberta por uma laje de concreto armado permitiu o aproveitamento do

IRFM na Água Branca.

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pavimento superior como depósito de resíduos. É provável que as obras decorreram da instalação de novas caldeiras, que substituíram as antigas. As maiores dimensões das novas caldeiras obrigaram o alteamento da cobertura, o que foi obtido com a introdução de uma cobertura sustentada por estrutura metálica com lanternim para iluminação e aeração. Elementos vazados de cimento preencheram esta diferença de altura nas paredes do edifício. A construção do reservatório d’água foi acompanhada pela reestruturação da composição da fachada principal do edifício, tendo sido introduzidos novos caixilhos metálicos, de grandes dimensões, assim como uma nova escadaria de acesso ao piso principal. Na mesma ocasião foi refeito o sistema de exaustão pelas chaminés, com a construção de uma nova galeria interligada, nestas obras uma estrutura independente de concreto armado, dissociada da alvenaria portante.

As sucessivas transformações do edifício Casa das Caldeiras apontam para a dinâmica peculiar deste tipo de construção de caráter utilitário. Ela foi construída como uma plataforma de produção de energia para o parque das IRFM. Após sua desativação no final da década de 70, o espaço foi entregue ao abandono e esquecimento até que em 1998 participa da exposição “A Cidade e suas Histórias”, O projeto Arte-Cidade concebido por Nelson Brissac questionava a relação da cidade com seus espaços urbanos degradados e abandonados.

“Enquanto a área das antigas Indústrias Matarazzo é um campo repleto de indícios de história...As chaminés são outro emblema de Arte-Cidade. A chaminé é uma catedral do mundo fabril: comunica o céu com a terra. Por ela os raios de sol penetram como através de vitrais. Na antiga instalação industrial, caldeiras e fornalhas são máquinas de transformar os materiais.... ... Os artistas contemporâneos, conscientes da dinâmica da devastação industrial, também são movidos pela convicção de que o passado é remoto e que é imperativo redimi-lo para o presente...” - Intervenções Urbanas Arte- IRFM na Água Branca, em primeiro plano a locomotiva Filomena.

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Cidade de Nelson Brissac.“A partir de 1920, o ambiente urbano torna-se mais complexo e parcialmente independente da cultura agrária. Surgem movimentos políticos e artísticos novos, afirmando a sociedade urbana em franca transformação. Não é por acaso que o Partido Comunista, o Movimento Tenentista, a Legião do Cruzeiro do Sul e a Semana de Arte Moderna são contemporâneos.” - Matarazzo 100 anos.

2.7 - A LOCOMOTIVA

Com a eletrificação da Sorocabana em 1940 e sua finalização no pós guerra, percebendo o ônus do serviço de manobras executados pela EFS (Estrada de Ferro Sorocabana) e SJ (Santos - Jundiaí) e levando em conta que suas duas locomotivas a vapor compradas da Henschell em 1923 já estavam no limite de sua capacidade, as IRFM se beneficiaram de sua facilidade de crédito para adquirir, entre os anos de 1945 e 1949, mais de 12 locomotivas da marca DAVENPORT com motor Caterpillar - diesel mecânicas do tipo 30TDM6 e 5T DM4 com transmissão mecânica de bitolas diferentes. Pelo menos 4 delas foram usadas na cidade de São Paulo e uma se encontra junto a Casa das Caldeiras restaurada e pintada, seguindo o padrão verde escuro com faixa branca e recebeu o nome de Filomena em homenagem a esposa do conde Matarazzo.

2.8 - A RESTAURAÇÃO

Em 1985 o CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo) pediu o tombamento dos imóveis remanescentes, na época o complexo já se encontrava desativado, visando preservá-lo como documento arquitetônico da história da industrialização paulistana. Em 1986 e com revisões em 1993, decidiu-se preservar um dos galpões da fábrica, a casa do Eletricista, o prédio de caldeiras e as três chaminés

Projeto executado parcialmenteRICCI e ASSOCIADOS Engenharia e Comércio LtdaArq. MARCOS CARRILHO arquitetos S/C Ltda

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de alvenaria refratária, cujas alturas variam de 46 a 54 m e os diâmetros externos de 2,60 a 4,40 m. A partir da compra do terreno, pela empresa Ricci e Associados, em 1992, iniciou-se o planejamento de revitalização de toda área do complexo (aproximadamente 100.000m2) e o estudo de viabilidade. O projeto de desenvolvimento urbano do terreno contou com a intervenção da Operação Urbana conseguindo agregar uma série de melhorias e valores para a área, concretizando o projeto de reciclagem e restauro dos imóveis tombados Casa das Caldeiras e Casa do Eletricista pelas mãos dos arquitetos Marcos Carrilho e Victor Hugo Mori. Em 1998, após receber e apoiar a terceira edição do projeto Arte-Cidade, a Casa das Caldeiras recebeu obras emergenciais onde o telhado foi refeito, as janelas restauradas e vidros colocados, as chaminés foram lavadas, cintadas e suas bocas foram completadas. Em 1999, as obras de restauro e reciclagem do espaço que possibilitaram dar ao edifício um novo uso, foram concluídas. As características do edifício foram mantidas e as obras mais profundas de restauração limitaram-se, na maior parte dos casos, à recomposição de elementos alterados.

As sucessivas sobreposições e acréscimos sofridos pelo edifício foram conservados. A intervenção proposta buscou em síntese preservar a historicidade do objeto, os aspectos fundamentais foram mantidos como documento do processo evolutivo da atividade industrial.

Sob o aspecto simbólico, as chaminés são os elementos mais expressivos. A sua presença é a marca simbólica da presença da fábrica e atua como referência evocativa da intensa atividade fabril do lugar.

Das três caldeiras remanescentes, apenas uma apresentava-se com todos os seus componentes. O critério de restauração adotado foi o de conservar uma das caldeiras, a que se encontrava mais integra, em seu estado original, com os

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reparos pertinentes, e uma outra caldeira seria mantida à mostra com todo o sistema de circulação de fluidos revelados, possibilitando assim o entendimento de seu funcionamento. A última caldeira apenas foi mantida e reparada com os poucos elementos estruturais restantes.

2.9 – DEPOIMENTOS

Victor Siaulys (entrevistado em 26/02/2002) “Não tinha praticamente movimento de carro, não tinha nada. Tudo era na Rua Turiassu. Na frente do campo do Palmeiras, tinha um rio que passava, que hoje está canalizado, e eu assisti duas tragédias que me marcaram muito, ali. Para entrar no campo do Palmeiras, passava-se por uma pontezinha de madeira, porque o rio passava na frente. Num dia de chuva muito forte, uma criança que a gente conhecia caiu dentro e foi embora pelo esgoto até aparecer depois de muito tempo, naquela área debaixo, da Pompéia, que até hoje é uma área muito alagável, porque é todo um rio que foi canalizado e que passava em frente ao Palmeiras. A outra tragédia foi um carro que uma vez na Rua Tucuna, que perdeu o freio e avançou numa outra casa. São duas grandes tragédias que eu me lembro muito bem.”

Sandra Maria Salvestrini (entrevistada em 09/06/2001)

“Onde eu moro hoje, na rua André Dreyfus, no Sumaré, era mato. Só tinha a Tupi, a TV Tupi, algumas casas... Era mato. A gente vinha fazer piquenique aqui no Sumaré. Isso na década de 60. As ruas eram de paralelepípedo, aqui tinha as fábricas do Matarazzo, que poluíam o bairro inteiro (risos). Uma era aqui em baixo do Viaduto Antártica, era o Sol Levante, onde é hoje o Shopping Center Matarazzo, eles vendiam retalhos de tecidos da Matarazzo, aqui por perto, mas eu não lembro direito que eu vinha com a minha mãe, ela vinha comprar... biscoitos quebrados também da Matarazzo, que eles vendiam, não sei onde era, mas sei que arquivo Casa das Caldeiras

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era um escritório... era um bairro da classe média baixa, as casas com jardim, sem garagem, algumas ainda tem por aí, que eles não derrubaram pra fazer prédio. Eu estudei no Miss Brownie(?), que eu ia a pé, porque ônibus só tinha um, que era da CMTC, cor de laranja, E a gente ia a pé, que o ônibus demorava muito. Então aquelas casinhas que tem ali na rua Caraibas, algumas ainda sobraram. O bairro era calmo, sem violência, a gente fazia festa junina na rua, a criançada fazia fogueira, brincávamos na rua, amarelinha, pulava corda.

Fazia tudo na rua. Uma São Paulo que não existe mais. Na minha casa tinha televisão, mas a gente assistia só de noite, de vez em quando. Era uma São Paulo da qual a gente tem saudade. Tanto que quando eu falo pra os meus alunos de geografia dessa São Paulo, eu pergunto pra eles: “Em que São Paulo vocês gostariam de viver?” “Ah, nesse que a senhora viveu, era mais gostoso, mais tranqüilo, as pessoas eram mais calmas “.

Isso pra mostrar, a evolução da cidade. Mas o bairro da Pompéia não era como é hoje, um bairro de classe média, média média, média alta. Era de classe média baixa. As pessoas não tinham carro, as casas não tinham nem garagem, e o bairro era desvalorizado por causa das Indústrias Matarazzo. E tinha muito mais indústrias por aqui. Tinha um cheiro insuportável, tinha a Satúrnia, também, que ficava na Rua Padre Chico que poluía o bairro, que fazia bateria, e o bairro era cheio de fábricas.“

Marta Spiry (Entrevistada em 26/03/2001)

“Quando nós mudamos, a primeira casa que a gente morava, a gente brincava na rua, corria, andava. Era um bairro bem tranqüilo. Ônibus não existia quase, condução. Mais ou menos em 1980, não 80 não, 70 talvez, ou antes ainda, não lembro a data, tinha um conhecido nosso, um húngaro que... era época que estávamos no Internato, então era bem antes. Ele morou alguns dias na outra casa que foto evento A REDE, 2008 arquivo Casa das Caldeiras

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nós morávamos. Primeiro nós moramos na Pompéia, na Tucuna, junto com outra família, mas em pouco tempo meus pais conseguiram uma casa na Barão do Bananal, era uma daquelas casas pequenininhas com um quintal enorme, que pra ele foi muito bom porque naquele quintal enorme conseguiu montar uma oficina, aí um amigo nosso, um conhecido dele, foi para os EUA, morou lá e deixou a gente como sócio do Palmeiras. E essa casa ele deu de presente para meus pais por sermos sócios. Então a criançada pelo menos tinha esporte, eu lembro que a gente vinha a pé, eu lembro que a gente morava próximo aquela igreja que tem lá em cima na Pompéia. A gente vinha a pé pro Palmeiras, subia, descia a qualquer hora do dia e da noite. Era tranqüilo. Tinha muita segurança. Ainda é relativamente um bom bairro. Ainda é razoavelmente tranqüilo em relação aos outros de São Paulo. Agora está com bastante prédios. Mesmo a casa que eu morei na Barão do Bananal virou prédio. Odeio prédios. Gostava das ruas quando eram mais casas, mais arborizadas. Onde eu moro, tenho sorte de morar numa casa próxima ao Parque da Água Branca, no meu quintal de vez em quando entra lá os sabiás, bem-te-vis, eles ficam lá. Era um bairro bem gostoso, sabe. Brincava na rua direto, a criançada toda. Hoje em dia vê se tem alguma criança brincando na rua? As crianças ficam meio isoladas, trancadas dentro dos apartamentos. Não me admiro que não sejam mais agressivas, onde vão poder viver pra fora? Mesmo crianças que são sócias de clubes, se os pais não levam... Os pais tem tanto medo de acontecer alguma coisa, se você não leva, eles não podem ir no clube e não podem brincar pra fora. Então é lógico, é malcriada, é agressiva”.

2.10 - ESPAÇO DE EVENTOS

Em 1999 a Casa das Caldeiras começou a funcionar como um espaço de eventos. Liderando uma tendência de recuperação dos monumentos e edificações históricas. Os primeiros eventos já mostraram entender muito bem a proposta do espaço, todos muito bem produzidos, que

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souberam aproveitar o inusitado, o componente histórico e cultural, o conceito de reciclagem, os contrastes: do novo/antigo, do rústico/moderno/sofisticado, da máquina/homem.

2.11 - ASSOCIAÇÃO CULTURAL CASA DAS CALDEIRAS - ACCC

Atualmente a Casa das Caldeiras funciona como um espaço para eventos e abriga um projeto cultural em implantação, Associação Cultural Casa das Caldeiras-ACCC, ligada à Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. Um dos projetos da ACCC é “OBRAS EM CONSTRUÇÃO: Residência Artística, Projetos de Produção Artística e Intercâmbio Cultural Internacional”. Este projeto caminha nessa direção, propondo a ampliação do espaço de cultura visando uma maior utilização social do imóvel tombado.

A Casa das Caldeiras tem trabalhado com ações culturais em seu espaço há mais de 06 anos. Este trabalho iniciou-se com um chamado aos artistas e ao público apaixonado pelo lugar, o qual representa um patrimônio fabril - restaurado em sua integralidade - e carrega consigo a memória da cidade.

Entre os anos de 2002 e 2006, foram desenvolvidos projetos de experimentação artística com o espaço, em artes cênicas, artes plásticas, artes circenses. Foram promovidos cursos, fóruns de discussões culturais, entre outras atividades exploradas no contexto inusitado e histórico que o espaço oferece.

No início do ano de 2006, Karina Saccomanno Ferreira, proprietária da Casa das Caldeiras e Joel Borges, diretor da Associação francesa IXKIZIT, associaram-se para desenvolver a ACCC, cuja, estrutura jurídica foi fundada neste mesmo ano, com objetivo de implantar um Projeto Cultural, Artístico, Intelectual e Social no espaço.

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Em 2007-2008, o projeto de ocupação cultural e artística foi inscrito e aprovado na Lei Rouanet. Os programas e atividades propostas tiveram início e a implantação foi concluída com sucesso e retorno de mídia e público.

A Associação Cultural Casa das Caldeiras tem suas bases firmadas na Promoção e Desenvolvimento Cultural do Patrimônio. Para isso elaborou um plano trienal de trabalho iniciado em 2007 com um projeto dinâmico de ação artística e cultural, aberto a pesquisas contemporâneas, no campo das artes e da sociedade. Um projeto que se multiplicará nos anos seguintes, reverberando suas ações culturais e sociais, potencializando transformações no que se diz respeito à Inclusão Cultural e Produção Artística no Brasil.

Hoje, a Associação Cultural Casa das Caldeiras é um parceiro privilegiado para elaborar e realizar projetos de cooperação (intercâmbios artísticos e desenvolvimento cultural), associando-se a estruturas culturais e sociais transnacionais, bem como a artistas, pesquisadores e sociedade civil.

A Casa das Caldeiras é o primeiro espaço da América Latina a ser Membro oficial da Rede Européia de Centros Culturais e Monumentos Históricos (ACCR)**, membro da Rede Internacional freeDimensional*** e da Artfactories****.

* IXKIZIT – Associação sem fins lucrativos e que elabora projetos que visam desenvolver colaborações e cooperações internacionais , associando atores culturais, artistas e públicos. www.terrainsfertiles.org** ACCR, direção Jean-Noel Mathieu. A rede oferece aos membros uma plataforma de informações, reflexões e de trabalhos sobre as questões de comum interesse sobre reabilitação e reutilização de espaços patrimoniais. Aos novos membros, propõe um contexto conceitual e acompanhamento técnico, criando complementaridade e sinergias entre membros existentes. www.accr-europe.org*** Free Dimensional, direção Todd Lester. Organização Internacional de apoio a espaços de arte e cultura promove a mobilidade de artistas e viabiliza recursos locais para sustentação destes. www.freedimensional.org**** Artfactories, direção Fazette Bordage. É uma plataforma internacional de base de dados para pesquisa de espaços de cultura e de artes, nascidos de projetos artísticos cidadãos e de um engajamento com as populações. www.artfactories.net

Cartaz TODODOMINGO, 2008 Layout Karina Saccomanno arquivo Casa das Caldeiras

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3 - ESTUDO DE CASOS

O arquiteto Júlio Artigas, que atuou como professor, orientador de equipes do Estúdio Vertical e coordenador do TFG na Escola da Cidade, costumava provocar os alunos, não isento de seu particular senso de humor, quando se deparava com a expressão “referência”, cunhada quase como um vício para com os estudos de casos que habitualmente precedem as ações de projeto em que se debruçam as equipes de trabalho. Júlio nos dizia que “referência” caberia às empregadas domésticas, aos porteiros, aos office-boys, enfim, aqueles que saem em busca de empregos na cidade. Para nós, o professor sugeria que tomássemos como “repertório” o costumeiro rol de estudos de casos que se fazem necessários para uma abordagem direta ao tema e ao objeto de trabalho a ser realizado.

É pois, com este “repertório”, sem dúvida imprescindível para nossos aportes, que elencamos aqui cinco projetos de arquitetura a ver com a FÁBRICA DA ARTE, objeto nosso do TFG e o projeto propriamente dito, fruto de esforço para acompanhar o profícuo tempo de trabalho, em 2008, com o mestre que se dispôs a orientar-nos.

Vale lembrar que a somatória dos cinco projetos que citaremos a seguir, antes de concluir ou fechar um “repertório”, ao contrário, serviu de base para inúmeros desdobramentos na companhia do professor-orientador Marcelo Ferraz, que, a cada sessão de sua dedicada presença na Escola, nos motivou a prosseguir horas a fio com os desenhos e as pesquisas em torno da reciclagem dos edifícios existentes nas cidades. Sendo ele mesmo tributário de experiências em conjunto com a arquiteta Lina Bo Bardi, em que tais procedimentos se deram com o maior êxito, a exemplo do SESC Fábrica Pompéia, em São Paulo, consideramos oportuno, primeiramente, destacar um trecho de entrevista recente concedida por Ferraz*, dado a relevância da temática abordada – a reciclagem de edifícios existentes nas cidades - tal como a que emoldura a nossa FÁBRICA.

Desenho de Francisco Fanucci para o Museu Aberto da Ferrovia-MAF Paranapiacaba, 2007. Brasil Arquitetura [Marcelo Ferraz, Francisco Fanucci e Equipe]

Marcelo Ferraz e Lina Bo Bardifoto arquivo Marcelo Ferraz

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Como é a luta em lidar com o patrimônio e a cidade existente no dia-a-dia de um arquiteto?

Marcelo Ferraz: Essa é uma questão que me atrai muito e me incomoda muito. E uma coisa que incomoda faz você pensar. Incomoda porque é uma questão com a qual nós lidamos todos os dias. E não é somente em relação àquele patrimônio oficialmente colocado, mas à cidade como um todo. Você tem que fazer intervenções contemporâneas, construir na cidade que é refeita todos os dias. E aí você não encontra somente o patrimônio classificado e que tem um “selo”: Esse patrimônio é tombado pelo Estado, pela União e pela municipalidade. O tempo todo estamos esbarrando com essa questão de como fazer uma intervenção na cidade em relação a algo mais ou menos valioso. Acho que o patrimônio “classificado” é algo fantástico para refletirmos sobre a prática de projeto. Porque é como se ele fosse um espelho. Um espelho para o qual você olha e diz: será que estou à altura de fazer algo ao lado disso? Algo que em algum momento foi selecionado pelos homens e considerado bom? Essa provocação deveria servir para todos os arquitetos. Acho que a grande maioria não dá importância a essa reflexão e por isso a cidade está este farrapo, desconectada. Uma pessoa sequer pensa em dar uma continuidade em uma calçada ou num recuo de carros. As coisas são feitas completamente soltas. Os órgãos de preservação desde 1937 se preocuparam em classificar e preservar aquilo que tem um valor documental, principalmente documental. Ultimamente a gente tem discutido também outras escalas de valores, chegando hoje à questão imaterial. Mas é uma coisa nova ainda e, por outro lado, não dá pra ficar conservando tudo e todas as coisas porque você vai encher a cidade de cacarecos, como a Lina dizia. Não é por aí. Mas, aquilo que pode sobreviver e ser transformado e adaptado à vida contemporânea, é ótimo que seja. Não é preciso destruir a cidade velha e construir uma nova: elas andam paralelamente. Não é preciso ser contra torres altíssimas de apartamentos e

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escritórios porque você quer preservar a cidade antiga com a escala baixa e vice-versa. Você tem que trabalhar com coisas que conseguem sobreviver, que conseguem atender o uso atual. Eu acho o uso uma questão fundamental, ele é que determina o valor. Eu acredito nisso, se a coisa não tem mais uso não é possível ser aproveitada, não deve ser conservada. Se não é um documento, um grande testemunho da construção ou de alguma técnica arquitetônica, não tem porque ser conservada. Mas por outro lado depende muito do talento das pessoas. Uma antiga fábrica pode virar um grande conjunto habitacional, por que não? Ou um hotel! As fábricas da Zona Leste poderiam virar hotéis, flats. Ficaria maravilhoso. É uma experiência deliciosa pra todo arquiteto. Mas não é o que acontece. As pessoas olham de maneira tacanha: isso era uma fábrica e não dá mais para usá-la. Ora, você pode ter torres, elementos novos para as habitações, complementos. A questão está na capacidade do profissional. Neste ponto concordo com Lina e Lucio Costa: Lucio dizia que cada caso é um caso e eu acredito nisso. Cada caso é um caso que tem que ser analisado. . O que derrubar? Derrubar metade? Conservar a outra? Enfim, quais as escolhas que você está fazendo. Na arquitetura o tempo todo você está fazendo escolhas. Cada vez que a gente faz uma escolha uma nova realidade é colocada. A arquitetura é uma coisa absolutamente dinâmica e que pode alterar completamente a realidade. Por isso essa dificuldade de se formar critérios e parâmetros rígidos. Porque os parâmetros são móveis, são relativos.”

* Trecho de entrevista com o arquiteto Marcelo Ferraz (16 de abril de 2007), disponibilizada no site Vitruvius: www.vitruvius.com.br

De acordo com as palavras de Marcelo Ferraz, a cidade que pulsa aos nossos pés, diariamente, com toda a vitalidade que emana de nossas existências, requer de arquitetos e planejadores urbanos uma sensibilidade para muito além dos riscos meramente estéticos, posto que na concretização destes, espera-se que os usos possam refletir o bom senso, o sentido de realidade e adequação, jamais entendendo por

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arquitetura o significado de petrificação, não raro presentes nos discursos referentes ao chamado patrimônio histórico. Estas colocações se fizeram como norteadoras de nossos estudos, conquanto “repertório” de análise para posterior quadro sintético, que esperamos ter alcançado como desígnio na FÁBRICA DA ARTE.

3.1 SESC Fábrica Pompéia [São Paulo, 1986]

Contam-nos os amigos e colegas mais “velhos”, que em meados da década de 1980, quando da inauguração do SESC Fábrica Pompéia, a cidade de São Paulo se viu “estranhamente” alterada, pois no então pacato bairro proletário, não muito distante do centro, uma antiga fábrica deu lugar ao generoso espaço dedicado a todos os cidadãos. Para o SESC Fábrica afluíam crianças, jovens e idosos que se maravilhavam com os imensos galpões, então restaurados e adaptados para exposições, shows, biblioteca, restaurante, teatro, cinema, além de tudo isso estar envolto sob uma atmosfera e um cuidado especial de tratamento, quer pela vasta programação, quer pelos detalhes que inovavam o “repertório” da própria cidade. Estava lá a marca sempre renovadora da arquiteta Lina Bo Bardi, com sua equipe de jovens arquitetos colaboradores, a nos provocar com o sentido construtivo do que era então esse “estranho” SESC. Chamava a atenção não somente o belo lago no interior dos galpões, mas também o uso dos velhos paralelepípedos, dos materiais simples e honestos, da funcionalidade por entre as várias seções e ainda da sinalização visual, esta que só mesmo a sensibilidade de Lina poderia nos oferecer: galões pintados com esmalte tornaram-se lixeiras, enquanto desenhos simplórios indicavam as coordenadas de situação aos freqüentadores. Não era luxo jamais, mas tudo fazia com que naquele espaço tivéssemos o conforto necessário para amar a vida mesma, em especial a vida brasileira, que Lina sabia nos mostrar como que com os pés no chão. Além dos galpões, uma grande construção anexa, de concreto armado, abrigava piscina e quadras de esportes,

SESC Fábrica Pompéia. Fotos arquivo Marcelo Ferraz

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sendo os pavimentos interligados à parte, verticalmente, de onde partiam sky-bridges a lembrar uma cena futurista. Um grande deck de tábuas, justaposto a uma “língua” de gramado, estava a conectar os galpões à nova construção, uma “praia”, que logo se viu apinhada de gente a tomar sol e ali se quedar por horas.

O que podemos constatar, é que vinte e tantos anos depois, o SESC Pompéia permanece com sua intensa programação a ocupar a atenção e as horas de lazer não só dos moradores locais, mas de todos os que para lá afluem dos quatro cantos da cidade, do País e do estrangeiro.

O exemplo da Fábrica Pompéia, por razões equivocadas, todavia, não parece estar presente nas posteriores construções do SESC em São Paulo, mas talvez por isso mesmo, entrementes, continua a nos incitar, por “estranho que pareça”, na reflexão acerca de nossos “repertórios” construtivos mais recentes, e dos usos da cidade a que a sociedade pós-moderna vem indicando.

3.2 - CAN RICART-EL HANGAR [Barcelona]

Can Ricart é tido como protótipo de recinto fabril em Barcelona, remanescente da década de 1850, quando se acumularam as inovações da modernidade industrial. A construção original do complexo da empresa têxtil dos Ricart, no bairro Poblenou, se deu como modelo de fábrica, nos mesmos anos em que o plano urbanístico de Cerdà se firmava como um marco inovador sobre a cidade existente. Os arquitetos de Can Ricart, Josep Orieol e Bernadet, criaram uma ampla variação de linguagens da arquitetura clássica, como um microsistema urbano que se traduz como uma máxima de funcionalidade na trajetória da arquitetura catalã. Dotadas de grande flexibilidade espacial, especialmente por sua articulação arquitetônica e urbanística, Can Ricart é a única construção fabril industrial do século XIX que se mantém quase intacta em Barcelona, Peça gráfica de evento realizado no Can Ricart em seu quinto aniversário

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incluindo seu núcleo energético e motriz, com a sala de máquinas a vapor, caldeiras e recintos subterrâneos.

Na proposta de converter Can Ricart em um mix de usos que articula distintas escalas de atração espacial, está também um centro cultural vinculado ao histórico de Poblenou, um pólo de fomento às artes. Can Ricart é palco de inúmeras discussões urbanísticas e econômicas na cidade, de iniciativas acadêmicas e de manifestações sociais.

A Catalunha Associação dos Artistas Culturais-AAVC, fundada em 1997 por um grupo de artistas, tem no espaço Hangar de Can Ricart, uma comunidade dedicada ao desenvolvimento da arte contemporânea. Em suas 15 oficinas, mantém artistas em residência por períodos que chegam até dois anos. Nesse espaço existe um laboratório de novas tecnologias, que fornece aos artistas os recursos necessários para a realização de seus trabalhos, com intervenções de artistas conhecidos. A associação mantém intercâmbio internacional com o México, Holanda, França e Itália. A política do espaço é democrática e conta com o apoio de artistas renomados.

3.3 - CENTRO CULTURAL SÃO PAULO [São Paulo]

O Centro Cultural São Paulo é um espaço que abriga espetáculos de teatro, dança e música, mostras de artes visuais, projeções de cinema e vídeo, oficinas, debates e cursos, além de manter sob sua guarda expressivos acervos da cidade de São Paulo: a Pinacoteca Municipal, a Discoteca Oneyda Alvarenga, a coleção da Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, o Arquivo Multimeios e um conjunto de bibliotecas que ocupa uma área superior a 9 mil m².

A programação do CCSP é gratuita ou disponibilizada a preços acessíveis, atraindo todas as faixas da população. É também espaço de encontro para artistas e apoio

Vista aerea e interior do Centro Cultural São Paulo

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às produções experimentais. Localizado em um ponto estratégico da cidade, próximo à Avenida Paulista, é facilmente acessado por duas estações de metrô.

Projeto dos arquitetos Luiz Benedito Telles e Eurico Prado Lopes, o CCSP se destaca pela maneira como se integra ao espaço urbano, com quatro pavimentos e uma área de 46.500 m², Para quebrar a rigidez do concreto e do aço, o projeto arquitetônico previu imensos espaços vazados e envidraçados, que permitem a entrada de luz natural, e ainda manteve, no centro da construção, um jardim de 700m², onde a vegetação original foi preservada. A arquitetura do Centro Cultural evidencia bastante a eficácia no uso das estruturas metálicas, que permitem vãos generosos no interior do edifício e favorecem a comunicação entre os diversos pisos por passarelas aéreas de grande dimensão longitudinal.

Prova de que esse projeto chegou a sua mais importante meta é a vasta e assídua freqüência de jovens que ali dispensam momentos de lazer e estudos. Centenas de estudantes, na maioria adolescentes, costumam se espraiar diariamente no interior e nos jardins do edifício, mesclando seus estudos com a intensa programação, coordenada pela Secretaria Municipal de Cultura.

Neste lugar é possível reconhecer um alto grau de urbanidade em que está presente a interação dos paulistanos com os espaços públicos de fato relevantes: uma imensa biblioteca, parte do acervo da famosa Biblioteca Mário de Andrade, mais parece um aquário onde os “peixes” não são outros senão os freqüentadores mais habituais - as levas de jovens que também aproveitam o tempo e o lugar justo e honesto para namorar e passear. E que bom se não entre os corredores e as nauseantes praças de alimentação de um shopping-center qualquer.

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3.4 - MUSEU RODIN [Salvador]

Sobre o Museu Rodin neste nosso “repertório”, uma vez tratar-se de projeto do orientador, com o qual trabalhamos em relação direta, cabe transcrever aqui trechos de crítica publicada na revista PROJETODESIGN, de autoria de Fernando Serapião*, na possibilidade de compartilhar a descrição do projeto sob uma ótica que concordamos e que nos parece bastante objetiva. Serapião perfaz um histórico da criação desse museu que, por sua vez, não poderíamos deixar de lado ou não atribuir com precisão sem que consultássemos uma fonte bibliográfica.

O Museu Rodin Bahia - desenhado pelos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Os principais articuladores dessa proeza foram Jacques Vilain, diretor do museu parisiense, e Emanoel Araújo, artista plástico e ex-diretor da Pinacoteca de São Paulo, que coordenou, na década de 1990, a vinda ao país de uma exposição com obras do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917). A mostra circulou por diversas capitais brasileiras, entre elas Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, atraindo, no total, mais de 1 milhão de visitantes.O interesse demonstrado pelos brasileiros fez com que se articulasse a criação de uma espécie de satélite do Museu Rodin no país. E foi a capital baiana quem conseguiu viabilizar a idéia, através da participação do governo estadual, que cedeu o imóvel e pagou os projetos e a execução da sede. O gestor do espaço é uma associação cultural, entidade civil sem fins lucrativos. Para o comodato das 62 peças originais, celebrou-se um acordo entre os governos do Brasil e da França.O imóvel escolhido - entre as opções apresentadas pelo governo estadual - foi aprovado por Araújo. Trata-se de uma casa do início do século 20, no bairro da Graça. Construído em 1912 pelo comendador Bernardo Martins Catharino, com desenho do arquiteto italiano Baptista Rossi, o palacete, protegido pelo tombo estadual desde a década de 1980, é um dos últimos exemplares do ecletismo

Museu ROUDIN, Salvador. Brasil Arquitetura

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na capital baiana. Com implantação e estilo tipicamente inspirados nos similares franceses que remontam ao final do século 18 (que, na época, influenciaram grande parte das residências do gênero no mundo ocidental), o imóvel possui, no total, quatro pavimentos.Como os pouco mais de 1,5 mil metros quadrados da casa eram insuficientes para abrigar o programa do museu, foi proposto um novo volume, no fundo da gleba, com área edificada semelhante. É na relação entre os dois, e não na leitura isolada de cada um, que reside o interesse do desenho de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Os autores, que também realizaram o projeto de restauração do palacete, implantaram o anexo de forma quase simétrica à construção existente, levando em conta um corte transversal no meio do lote. Assim, a projeção que ambos ocupam no terreno é quase a mesma.Dessa forma, reforçou-se a fachada lateral leste como elemento principal de cada volume. Essa opção, além de potencializar a leitura da construção existente, criou espaço externo para a exposição de peças de bronze de Rodin (adquiridas pela iniciativa privada baiana) e conservou a massa arbórea.Apesar das áreas equivalentes, a nova construção (que conta com um subsolo destinado ao acervo) tem menos da metade da altura da antiga. Esta foi elevada à condição de protagonista - mesmo porque abrigará a parte mais nobre do acervo, as peças de gesso originais do escultor. Por outro lado, o pavilhão, de contida expressão formal, tem flexibilidade para abrigar exposições temporárias, ficando com o papel de estimular a freqüência de visitantes. Esse caráter de co-protagonista que assume é um dos elementos a criar, entre as edificações, um diálogo revelado também pela forma e pelo método construtivo, que “expressam uma técnica e um modo de construir e de usufruir do espaço”, relatam os autores. Enquanto foram apaziguados os tons do ecletismo, com a pintura externa branca, o anexo é de concreto aparente.Uma passarela, na cota do térreo elevado do palacete, liga as duas construções. Ela permite que se chegue ao

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mezanino do anexo através da circulação vertical, composta também por elevador, implantado no volume existente. Na face externa, a torre de circulação é o único elemento de intervenção no antigo imóvel. Ela está encaixada na porção posterior, no “centro geométrico do terreno”, formando quase um amálgama entre as edificações. Internamente, os arquitetos integraram diversos ambientes - após intensa negociação com os órgãos de tombo -, para adequação ao novo uso. O sótão, antes não utilizado, foi transformado para abrigar um pequeno auditório. Acima dele há uma plataforma, solicitada pelo comendador para que fosse possível ver o mar.Elemento externo mais forte da intervenção, a passarela possui também outra função: permitirá diferentes vistas da Porta do inferno, uma das mais famosas obras de Rodin, para a qual foi reservado um espaço entre os dois edifícios, na lateral oposta ao pátio.O interior do pavilhão é formado por um espaço expositivo divisível em três ou mais ambientes, conforme a necessidade do curador. A composição espacial, à maneira de Mies, é formada por planos de concreto, e o mezanino constitui uma extensão da passarela, formando uma promenade architecturale.Com esse projeto, os autores retomam, mesmo que de forma simbólica, um contato com a cultura baiana iniciado por Lina Bo Bardi, com quem colaboraram. Mas a tônica agora não recai na relação entre a arte moderna e a cultura popular, e sim na ponte imaginária entre a França e a Bahia, por onde passaram, entre outros, Pierre Verger e suas fotos, o projeto do palacete parisiense do comendador, Jorge Amado e Zélia Gattai no exílio. Auguste Rodin, agora com endereço soteropolitano, passa a integrar essa via de mão dupla.

* Texto resumido a partir de reportagem de Fernando Serapião, publicada originalmente em PROJETODESIGN, edição 319 de Setembro de 2006: www.arcoweb.com.br

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3.5 - MUSEU BRASILEIRO DA ESCULTURA-MUBE [São Paulo]

O Museu Brasileiro da Escultura (1987) é uma construção moderna por excelência, inserida em localização que faz do projeto uma expressão contestadora: o bairro-jardim das grandes mansões, o Jardim Europa. A praça aberta, ao mesmo tempo um espaço bastante adequado para exposições de esculturas ao ar livre, foi pensado como um lugar cívico e político, para o encontro, confrontando-se com o entorno, extremamente sofisticado e com feições que externam o gosto saudosista dos paulistanos abastados. A praça faz com que a cidade possa respirar e se abrir, desafiando os limites do lote.

O renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha propõe com o museu, mesmo que de maneira sugestiva e metafórica, uma revisão da história americana construída para poucos e por poucos. A grande praça, aberta e democrática, lugar de encontro, opõe-se às casas, ostentações do espaço privado, sugerindo uma discussão claramente política através do traço poético da arquitetura.

O arquiteto tratou o terreno como que imerso em verdadeiro trabalho topográfico, ressaltando as qualidades visuais da praça, dos jardins e, em especial, das esculturas que viessem ali serem instaladas. Os vazios propostos verticalmente favorecem a iluminação dos espaços internos, enquanto o único elemento elevado, que pode ser visto da avenida principal, é também um grande vazio, um portal de concreto armado que atinge 60 metros de comprimento.

Afora o respeitável rol de críticas favoráveis a esse projeto de Paulo Mendes da Rocha, que está entre as inúmeras publicações brasileiras e estrangeiras mais importantes, e que nos dispensam aqui de retomar a descrição do museu, lembramos que o MUBE vem há anos nos legando uma vergonha maior pelo seu cercamento, com grades, que justamente por isso traduz a mais absoluta negação de

MUBE, São Paulo. Paulo Mendes da Rocha.

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seu propósito, qual seja, o de se inserir no tecido urbano como praça pública. A este gesto que nos parece caber, em primeiro lugar, à deplorável manutenção de sua direção, soma-se também a passividade dos cidadãos paulistanos. Sobre este assunto, transcrevemos abaixo trecho do artigo de David Sperling quanto ao MUBE e a questão crucial acerca da noção de público e privado, tão cara ao ofício dos arquitetos e urbanistas e, também, tão distante dos interesses de nossos gestores públicos.

Mas o foco para a discussão sobre o entendimento de esferas públicas e privadas deste trabalho é o MUBE, tanto por se tratar de uma construção e não restauração – o que caracteriza o surgimento de um novo lugar de cultura – por sua localização no tecido da cidade, pelas associações privadas que participaram de sua execução, pelo conhecido caráter e engajamento humanistas do arquiteto Paulo Mendes da Rocha que tiveram seu espelhamento no projeto do museu, quanto, na contracorrente, a política de uso do museu que optou pelo seu cercamento. Vale frisar que as políticas públicas deveriam tem como objeto central promover o livre acesso aos serviços urbanos e ao espaço público; aqueles associados a estes representam os recursos urbanos, externos às famílias e empresas, coletivos, mas que são condições gerais de reprodução e vida destes mesmos grupos. Deste modo as políticas públicas se efetivam através do livre debate dos conflitos existentes na sociedade procurando gerar a harmonia, não neste caso de interesses – que permanecem distintos – mas de acesso aos recursos urbanos.

*Museu Brasileiro da Escultura, utopia de um território contínuo.David Sperling .Trecho de texto, originalmente escrito para a disciplina Teorias e Concepções da Modernidade do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP, ministrado pela Profª Cibele Rizek, que recebeu em agosto/2001 o prêmio 5º Jovens Arquitetos do IAB-SP na categoria Ensaios

Críticos. www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq018

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3.6 - RODEN CRATER [Canadá]

Este exemplo de trabalho foi importante para nos desligarmos, por instantes, de um vínculo mais estreito aos projetos arquitetônicos propriamente ditos, sugerindo as capacidades de determinados artistas que não necessariamente se sustentam a partir dos ambientes urbanos. Para nós, o exemplo de Turrel no Canadá, quiçá prevaleça como um vôo mais alto em nosso “repertório”, assim como é o caso de muitos artistas que se ocupam da chamada land art. E por mais avesso que possa parecer, entendemos, todavia, que senão pelos distantes espaços desertos, não poderíamos refletir melhor sobre o adensamento das cidades e o conseqüente abandono dos ambientes naturais, invariavelmente levados à destruição por nossa absoluta ignorância ou descaso.

James Turrell é um artista contemporâneo que trabalha com luz e sensações provocadas por espaços. Para a realização do projeto Roden Crater, Turrell sobrevoou uma área que se estende das encostas a oeste das Rochosas até ao Pacífico e do Lago Louise, na fronteira com o Canadá, até ao Chihuahua, em busca do melhor lugar para a construção de sua obra. Ele estava atrás de um lugar que tivesse: uma altura de pelo menos 500 pés, elevando-se a uma altitude de mais de 5.000 pés acima do mar, a fim de preencher qualidades especiais de refração do ar, estar bem longe das luzes de uma cidade, e, o que era mais importante, ter uma cratera com o cone o mais circular possível, para criar efeitos ópticos especiais e espaciais.Estamos tentando fazer não só uma obra, mas também criar uma situação onde as reservas naturais que têm estado aqui, por séculos, funcionem como arte na paisagem. Geralmente vemos arte fora do contexto, pois, pinturas, fotos, pedras, são levadas para serem exibidas em museus e galerias. Aqui, o artefato cultural, que chamamos arte, é visto no seu cenário natural. É a luz do sol e da lua que fazem a arte, o pôr-do-sol que acontece, a luz diferente que vem do céu... Quando você olha, pode ver de onde vem este tipo de arte, mas isto exige uma viagem para vê-la. Para isto, dirigimos

RODEN CRATER, Canadá James Turrell

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você até aqui, pois esta arte não envolve objetos, mas sim experiência. Ela tem a ver com experiência preservada.James Turrell

* Trecho de Espaço, Lugar e Local, texto de Ana Barros disponibilizada no site:

www.pucsp.br/pos/cos/face/espaco.htm

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PARTE 2

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4 - PROPOSTA CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE e CORREDOR DE CULTURA E LAZER

O projeto FÁBRICA DA ARTE é consolidada através de residências artísticas realizadas por brasileiros e estrangeiros que irão se instalar no centro e desenvolver projetos, tendo como temática, a dialética entre “Arte, Território e Patrimônio” que a Casa das Caldeiras peculiarmente propicia. Este programa está mais interessado no processo de criação da obra à conclusão do projeto.

O CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE, abre suas portas para toda a população interessada em conectar-se a artistas contemporâneos e suas obras. O público, caracterizado por todas as faixas etárias, poderá acompanhar gratuitamente o processo de desenvolvimento das obras através do percurso entre as salas de criação e o imóvel tombado.

A Casa das Caldeiras situa-se na Avenida Francisco Matarazzo, altura do número 2000, na Água Branca. Ao seu redor encontramos o SESC Pompéia, o Memorial da América Latina, a Estação Ciência, o Parque da Água Branca, o Shopping West-Plaza e Bourbon, o Metrô Barra Funda e o Parque Antártica.

Como limite da área do projeto da Fábrica da Arte, adotarei a divisão dos lotes realizada na Operação Urbana Água Branca. A Área do projeto engloba a antiga fábrica Caldeiraria, a área pública ao seu redor e a via lateral proposta na Operação Urbana Água Branca.

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Desenhos de Anderson Augusto e Leonardo Delafuente relalizados especialmente para o CORREDOR DE CULTURA E LAZER.

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O CORREDOR DE CULTURA E LAZER é uma iniciativa para agregar intervenções artísticas, como exemplificamos através das intervenções do projeto 6EMEIA*, em que uma dupla de artistas interagem com os equipamentos públicos.O CORREDOR se dá no perímetro entre o Memorial da América Latina, o Parque Água Branca, a CASA DAS CALDEIRAS, o SESC Pompéia, o Tendal da Lapa e a Estação Ciência, equipamentos estes conectados à leste, pelo Metrô Barra Funda, a oeste, pelo Terminal da Lapa, equipamentos existentes, e ao centro, com a CASA DAS CALDEIRAS o Metrô Água Branca, previsto na Operação Urbana.

* 6EMEIA: O projeto 6emeia é o resultado da criação e iniciativa própria de dois artistas já conhecidos do bairro; Leonardo Delafuente (D lafuen T), morador do Bom Retiro e Anderson Augusto (SÃO), morador da Barra Funda.

Parte do projeto vem da vontade de mudança e melhorias ao bairro e à própria cidade, melhorando assim esteticamente o caminho e trajeto de transeuntes e moradores, colorindo-o, alterando e propondo uma série de novas idéias e também os estimulando a colocar em prática o que ele tem de melhor em si em prol do benefício mútuo.

Há muito tempo tanto o Bom Retiro quanto a Barra Funda vem sendo especulados como futuros bairros-modelos-de-reestruturação-e-revitalização. Reergendo-se assim à altura da tradição e nome que ambos ostentam. Tradição inclusive artística, sendo o berço de diversos movimentos e mudanças.

E com os bueiros pintados propomos um novo tipo de linguagem entre arte/cidade e arte/pessoas. Mostrando-as que até o mais esquecido e indiferente objeto, se olhado com cuidado pode exalar arte. Os bueiros já pintados pelo 6emeia são como gotas coloridas em um imenso balde cinza.

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1 - CASA DAS CALDEIRAS2 - ATELIER3 - HABITAÇÕES4 - METRÔ ÁGUA BRANCA5 - CASA DO ELETRICISTA6 - SHOPING WEST PLAZA7 - ESTÁDIO PALMEIRAS8 - SHOPING BORBOM

1

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5 – PROGRAMA

1 - CASA DAS CALDEIRAS: ESPAÇO EXPOSITIVO ADMINISTRAÇÃO SALA DE REUNIÃO CAFÉ

2 - ATELIERS: 9 MÓDULOS DE SALAS DE PRODUÇÃO [de 100 m² à 230 m²] 1 MÓDULO DE BANHEIRO 1 AUDITÓRIO [90 PESSOAS]

3 - HABITAÇÕES TEMPORÁRIAS: 6 APARTAMENTOS [44 m²] 24 APARTAMENTOS [22 m²] ÁREA COMUM

4 - METRÔ ÁGUA BRANCA

implantação

0 20 40 80

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nível av. Francisco Matarazzo: planta situação atual

nível av. Francisco Matarazzo: planta projeto

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planta nível av. Francisco Matarazzo

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primeiro subsolo: planta situação atual

primeiro subsolo: planta projeto

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planta primeiro subsolo

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segundo subsolo: planta situação atual

segundo subsolo: planta projeto

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planta segundo subsolo

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corte A.A.

corte B.B.

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detalhe corte D.D.0 1 2 4

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corte C.C.

corte D.D.

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detalhe corte C.C.0 1 2 4

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planta tipo habitação temporária

apartamento 44 m²

apartamento 22 m²

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vista entrada dos ateliers passarela entrada imóvel Casa das Caldeiras

acesso principal vista entrada dos ateliers

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vista av. Francisco Matarazzo

acesso lateral para o auditório

mirante

vista lateral

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passarela salão principal auditório

vista entrada dos ateliers

vista ateliers passarela salão principal

circulação vertical interna

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vista caldeiras

vista caldeiras

vista av. Francisco Matarazzo

circulação vertical interna

passarela salão principal

café

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6 - BIBLIOGRAFIA

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Matarazzo 100 anos - Concepção, Planejamento e Execução Editorial CL-A Comunicações S/C Ltda.

BO BARDI, Lina e FERRAZ, Marcelo (org.). Lina Bo Bardi. São Paulo: Empresa das Artes, 1993.

COUTO, Ronaldo Costa. Matarazzo, Colosso Brasileiro, vol. 1 e 2. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004.

FANUCCI, Francisco e FERRAZ, Marcelo. BRASIL ARQUITETURA Francisco Fanucci - Marcelo Ferraz. São Paulo: Editora Cosacnaify, 2006.

FERREIRA, Karina Saccomanno. Reciclagem das antigas Indústrias Matarazzo para uma casa de eventos. Trafablo Final de Graduação da Faculdade de Belas Artes de São Paulo. São Paulo, 1997.

MATARAZZO 100 ANOS - Concepção, Planejamento e Execução Editorial CL-A Comunicações S/C Ltda, 1982.

SAINT-HILLAIRE, Auguste de. Segunda viagem a São Paulo e quadro histórico da província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1953.

PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções Urbanas ARTE/CIDADE. São Paulo: SENAC São Paulo, 2002.

DOCUMENTOS CONSULTADOS

Dossiê para a criação e capitalização de cotas de patrocínio da Associação Cultural Casa das Caldeiras, 2007/2008.

Operação Urbana Água Branca realizada pela Empresa Municipal de Urbanização – EMURB, através do Departamento de Operações Urbanas – DDO, Departamento de Patrimônio – DAP,

Departamento de Engenharia Civil – DOP, Secretaria Municipal de Planejamento – SEMPLA, 1995.

Projeto de restauro da Casa das Caldeiras realizado pelos arquitetos Victor Hugo Mori e Marcos Carrilho, 1998/1999.

Concurso BAIRRO NOVO, promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil e pela prefeitura de São Paulo em 2004

Lei 11.774, de 18 de maio de 1995 - Operação Urbana Água Branca.

Lei 13.885, de 25 de agosto de 2004 - Zoneamento do Município de São Paulo.

Lei 8.313, de 23 de dezembro de 1991 - Lei Rouanet - Incentivo FiscalHistórico do Conde Francisco Matarazzo: www.ribeiraopreto.sp.gov.br, acesso em 7 de fevereiro de 2008.

Histórico do bairro Água Branca: portal.prefeitura.sp.gov.br/subprefeituras/spla/dados/historico/0001, acesso em 7 de fevereiro de 2008.

Entrevista com o arquiteto Marcelo Ferraz: www.vitruvius.com.br/entrevista/ferraz/ferraz_7.aspA, acesso em 20 de março de 2008.

ADEUS CHAMINÉ. Revista Veja Retrospectiva de 1986, setembro de 2005, p. 20.

GRAÇAS E DESGRAÇAS DE NOSSAS CIDADES por Marcelo Ferraz, revista Cult, n. 113, ano 10, maio de 2007, p. 47.

PREFEITURA APOSTA EM OPERAÇÕES URBANAS NA ORLA FERROVIÁRIA DE SP. MANSO, ZANCHETTA e BRANCATELLI, O Estado de S. Paulo 11 janeiro 2009, p. C1.

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CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE

CASA DAS CALDEIRAS-FÁBRICA DA ARTE, projeto de reciclagem do edifício histórico tombado no bairro Água Branca, em São Paulo.

A remanescente Casa das Caldeiras e suas três chaminés e a Casa do Eletricista fizeram parte do complexo industrial do Conde Francesco Matarazzo, que teve seu apogeu na década de 1930. A partir da demolição de todas as instalações da indústria, ocorrida em 1986, foram necessários mais dez anos para que um sopro de energia reinventasse a fumaça, agora a jorrar sobre a cidade um convite permanente para atividades culturais, o lazer e o entretenimento, conforme as premissas da atual Associação Cultural Casa das Caldeiras.

Com o presente projeto, desdobra-se tais atividades para o abrigo de artistas residentes, em construção subterrânea anexa ao imóvel, além de constituir novos circuitos permeáveis abertos à população. A reciclagem de um bem histórico tombado, neste sentido, privilegia os novos usos e as demandas de uma região da cidade que nas últimas duas décadas passou por grandes mudanças e que, salvo a implantação do SESC Fábrica Pompéia, muito ficou a desejar em face ao descaso das políticas públicas.

Faz parte da publicação, fruto de Trabalho Final de Graduação na Escola da Cidade, com a orientação do arquiteto Marcelo Ferraz, breve histórico das Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo e da atual administração da Casa das Caldeiras. Soma-se ao projeto FÁBRICA DA ARTE, o programa CORREDOR DE CULTURA E LAZER que perfaz a conexão de outros equipamentos da região, em especial os que contemplam os transportes urbanos.