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Cartilha da comissão de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade da Câmara Municipal de Niterói

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Page 1: Cartilha Meio Ambiente Câmara de Niterói

Cartilha da comissão de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade da Câmara Municipal de Niterói

Page 2: Cartilha Meio Ambiente Câmara de Niterói

A Comissão de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade da Câmara Municipal de Niterói (CMARHS), nos seis primeiros meses sob a nossa presidência, instituiu um calendário ordinário de reuniões em 2013, a partir das quais tem sido feito o acompanhamento do conjunto das ques-tões emergenciais e estruturais que surgiram na cidade ao longo do perí-odo. A CMARHS tem envolvido a sociedade civil nesta construção. E esse inédito caráter participativo tem feito toda a diferença no funcionamento da Comissão.

Essa nova concepção tem tornado a CMARHS um instrumento cada vez mais ativo nas lutas socioambientais da cidade. E isso ocorre em uma conjuntura na qual, infelizmente, as políticas públicas têm se mostrado de-ficientes em praticamente todas as áreas desse setor no que diz respeito à atuação do governo municipal. O caminho traçado pelos poderosos da cidade fez com que a especulação imobiliária estivesse sempre na frente das leis ambientais e do interesse público. Como exemplo disso, a produ-ção de resíduos sólidos de Niterói supera hoje a marca de 750 toneladas diárias e menos de 2% são destinados à coleta seletiva. Reciclagem ainda é um sonho distante. Como lidar com esse atraso?

Dois temas foram tratados com especial atenção pela CMARHS até então:

1) Democratização da gestão do poder público na área ambiental;

2) Política de gerenciamento de resíduos sólidos.

Não por acaso, a interlocução entre esses dois pontos é o eixo de nos-sa proposta geral de reforma da política de gerenciamento de resíduos sólidos na cidade. Alvo de nossa primeira Audiência Pública, o plano muni-cipal formulado pela Clin pode e deve avançar muito, na medida em que, desrespeitando a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, não garante a participação popular na elaboração e no acompanhamento do plano.

Para apresentar nossa proposta política, construímos esta cartilha, in-trodutória do tema em debate na I Conferência Municipal de Meio Ambien-te de Niterói, junto do Fórum de Meio Ambiente de Niterói (Foman), que reúne a sociedade civil envolvida na luta ambiental da cidade nos seus múl-tiplos temas e áreas de atuação. Aqui vamos tentar expressar nossa ava-liação e, ao mesmo tempo, ser educadores e educandos de novos ativistas para nosso debate. A luta ambiental é a luta de todos e todas. Uma cidade nunca poderá estar nas mãos do povo e servir ao povo se o bem viver e o bem comum, a partir da harmonia entre a atividade humana e o meio ambiente, não forem respeitados como nossas prioridades fundamentais.

Henrique Vieira, presidente da CMARHS

Democracia, bem viver e uma nova política de resíduos sólidos em Niterói

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A preservação do meio ambiente é uma condição para a vida de qualquer ser. O único animal do planeta Terra classificado como ra-cional destoa de todas as espécies no que tange a relação com o seu habitat, pois enquanto vive e se reproduz, deixa um rastro de destruição das condições para a própria existência presente e futura dos seus filhos, netos, bisnetos etc. O ser humano é um animal suici-da e genocida que, enquanto vive, mata, enquanto consome, destrói, enquanto existe, se aproxima mais e mais de sua própria extinção.

Da questão ambiental surge a perspectiva de preservação da vida humana, mantendo a sua forma de reprodução, como ela se or-ganiza, os seus valores e o seu rumo. O problema é que o modo de vida da humanidade é hoje um problema em si. Todas as iniciativas que promoveram uma proposta de sustentabilidade, em escala glo-bal ou local, foram insuficientes para conter o avanço da degradação ambiental, produção de lixo de todas as formas e a extinção de di-versas espécies de animais no planeta. É preciso dar uma resposta diferenciada a esse dilema.

Os povos originários do Brasil e das Américas viviam em condições completamente diferentes das de hoje no mundo ocidental globali-zado. No entanto, parte da filosofia de vida dos mesmos precisa ser resgatada para os tempos modernos, se quisermos de fato reverter o processo planetário de suicídio da humanidade. Em alternativa à sustentabilidade, promovemos o bem viver. Viver bem deve vir an-tes do chamado desenvolvimento, isto é, o Estado e a sociedade civil caminham juntos no sentido de pôr todos os valores presentes hoje em nossas vidas subordinados à construção de uma vida harmonio-sa, em complementaridade com o meio ambiente e a aceitação das diferenças.

Para a vida plena no meio ambiente, não bastará melhorar as políticas públicas promovidas pelo Estado, ou apenas regulamentar o sistema atual. Se quisermos agir com eficácia, teremos que reverter o sistema, mudando a sua lógica, a sua dinâmica, os seus valores e a sua produção, atualmente pautados pela busca do lucro. Reduzir a produção, preservar, consumir menos e perder o fetiche pela mer-cadoria são condições necessárias para cumprir um novo plano de preservação ambiental. O bem viver!

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O que são e como gerir os resíduos sólidos?Todo material descartado advindo de atividades huma-

nas em sociedade é um resíduo sólido. Dentro deste con-ceito amplo, o mesmo se detalha pela sua origem, natureza e destinação. Os rejeitos são resíduos sólidos cuja desti-nação é a disposição final, podendo ser em lixões, aterros controlados ou aterros sanitários.

Os resíduos sólidos, ao contrário do que o nome diz, não são objetos exclusivamente sólidos, podendo tam-

bém ser semissólidos, e também gases con-tidos em recipientes e líquidos cujas particu-laridades os tornem inviáveis para serem lançados na rede públi-ca de esgoto. Exemplos são óleos, solventes e borras de tintas.

Para gerir a pro-dução e a destinação de resíduos sólidos no Brasil foi criada a Políti-ca Nacional de Resídu-os Sólidos (PNRS) em 2010. O único tipo de resíduo sólido que não abrange esse plano de gestão é aquele classi-ficado como radioativo. Este é de responsabili-dade da Comissão Na-

>>>> O que é o PNRS?A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi ins-

tituída através da aprovação da Lei federal 12.305/10, aprovada em 2010. Nesta lei, os destaques são a preven-ção para a redução na geração dos resíduos, a partir do consumo sustentável e de outros instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e a reutilização dos resíduos sólidos, além da promoção da destinação am-bientalmente adequada dos rejeitos. Essa legislação trabalha também com a ideia de responsabilidade com-partilhada dos geradores de resíduos: empresas e ci-dadãos junto do poder público. Cria metas importantes para avançar na eliminação dos lixões e responsabiliza os poderes públicos locais (regionais, municipais e es-taduais) com a elaboração de planos de gerenciamento de resíduos sólidos próprios.

Em nossa discussão local, o PNRS é um aliado na pressão da reforma do plano niteroiense de geren-ciamento de resíduos sólidos, formulado pela CLIN e decretado pela última prefeitura. Muito que do prevê a nova lei dos resíduos precisa avançar em nossa cidade e os órgãos públicos e sociedade civil precisam pro-mover essa reforma o quanto antes.

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cional de Energia Nuclear. A natureza dos resíduos abrangi-dos pelo plano é a dos secos e molhados (natureza física); orgânica ou inorgânica (composição química); perigosa, não-inerte (e seu nível de risco).

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Origens dos resíduos Com relação às origens dos resíduos, podemos classifi-

cá-los da seguinte forma:

a) Resíduos domésticos: gerados em atividades diárias em casas, apartamentos, e todo tipo de residência urbana.

b) Resíduos domiciliares especiais: pilhas, baterias, lâm-padas fluorescentes e pneus. Além destes, os entulhos de obras entram nesta categoria, porém são tratados pelos planos de gerenciamentos de forma específica, visto que são grande fonte de reciclagem hoje.

c) Resíduos urbanos: originários da varrição e limpeza de vias públicas. Destes há uma especificidade que são os resíduos gerados pelas coberturas vegetais, praias e am-bientes naturais urbanos tais como folhas, galhadas, poei-ra, terra e areia.

d) Resíduos comerciais: gerados pelos estabelecimen-tos comerciais. É de longe a maior parcela de resíduos só-lidos produzidos nas cidades. Também são subdivididos em “pequenos geradores” e “grandes geradores”. O “pequeno gerador” compreende o estabelecimento que origina até 120 litros de lixo por dia; o “grande gerador” gera um lixo superior a esse limite.

e) Resíduos dos serviços públicos: gerados nestas ativi-dades, com a especificidade dos resíduos dos estabeleci-mentos de saúde.

f) Resíduos de fontes especiais: são diversos divididos em resíduos industriais; da construção civil; agrossilvopas-toris (agrícola); dos serviços de transportes; mineração;

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Destinos dos resíduos Basicamente há três destinos para os resíduos sólidos, quais

sejam serem: enterrados (lixões, aterros controlados e aterros sanitários), a geração de energia ou a reciclagem. Vamos enten-der e conhecer estes destinos.

Lixão – O lixão nada mais é do que a disposição de lixo a céu aberto em terrenos baldios sem nenhum tipo de tratamento, cri-tério sanitário de proteção, que provoca um risco enorme à saú-de daqueles que tentam reaproveitar alguns resíduos. Nos lixões também é produzido o “chorume”, líquido que resulta da decom-posição do lixo, com altas taxas de compostos orgânicos de cus-tosa degradação e alto teor poluente ao solo e lençóis d’água.

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Aterro controlado – Um aterro controlado caracteriza-se pela disposição de resíduos sólidos em local controlado, com uma co-bertura de solos para os resíduos que chegam neste local. Ainda que menos poluentes do que os lixões, como não possuem imper-meabilização dos solos, nem sistema de dispersão de chorume e gases, contêm ainda alto risco de contaminar águas subterrâneas da área abrangida.

Obs.: Muitos projetos ambientais do poder público assumem o aterro controlado pelo nome de aterro sanitário. Veremos a se-guir como são duas coisas bem diferentes.

Aterro Sanitário – Os aterros sanitários são divididos em setor de preparação, setor de execução e setor concluído. Na prepa-ração da área é realizada a decomposição de camadas de lixo alternadas com camadas de argila, que serve para auxiliar na im-permeabilização, como mantas de polietileno em terrenos, viabilizando a captação e drenagem do chorume. Por conta desses cuidados, as cama-das de resíduos sofrem decomposições distintas, aeróbicas e depois anaeróbicas. As áreas limítrofes do aterro devem apresentar uma “cerca viva” para evitar ou diminuir a proliferação de odores e a poluição visual.

Na execução, os resíduos são separados de acordo com as suas características específicas e depo-sitados separadamente. Antes disso, todo resíduo é pesado para contro-lar o montante do aterro, que sempre tem uma quantidade de suporte limite.

Na conclusão, os resíduos restantes de-vem ter contínuo monitoramento. Quando o aterro chega ao seu limite, o mesmo é revege-tado e os resíduos são depositados em outro setor. Os gases devem ser queimados e devem ser realizadas

setor em preparação

setor em execução

Aterro sanitário - como funciona

dreno de chorumellençol freático

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obras de drenagens das águas pluviais. Como vemos, há uma di-ferença brutal entre este tipo de destino final do lixo e o aterro controlado.

setor em execução

setor concluído

Aterro sanitário - como funciona

camada impermeabilizante

saída para estação de tratamento

sela de cobertura

dreno de gás

dreno de águas de superfície

dreno de chorumellençol freático

célula

de lixo

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Incineração é um processo de destruição térmica realizado sob alta temperatura — 900º C a 1.200 º C, com tempo de resi-dência controlada — e utilizado para o tratamento de resíduos de alta periculosidade, ou que necessitam de destruição completa e segura. Para que os resíduos possam gerar energia é necessá-rio haver altos investimentos para a instalação de usinas e equi-pamentos capazes de fazer o tratamento dos gases gerados no processo.

Reciclagem – é a alternativa que possibilita reaproveitar todos os materiais descartados nas atividades humanas. O lixo passa a ser considerado como uma matéria prima. Tona-se passível de ser reintroduzido na cadeia produtiva. Com isso, além de reduzir o consumos dos insumos naturais, ele impede que áreas sejam de-gradadas pelos aterros sanitários e criam oportunidade de tra-balho e emprego em todas as cadeias da reciclagem. Veja abaixo o quadro comparativo entre a destinação final que enterra o lixo (lixões, aterros controlados e aterros sanitários) e a reciclagem.

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Acentua a deseducação ambiental

Aterro Sanitário

Induz a alienação ambiental

Agrava o aquecimento global com os aterros

Degrada áreas virgens com novos aterros

Alto custo para operação do aterro

Impede a geração de postos de trabalho

Desvaloriza os bairros próximos ao aterro

Perpetua a exclusão social dos cata-dores

Enterra matéria prima

Impede a criação de negócios

Política de exclusão social

Política de atraso sócio-econômico

Alto custo do serviço de coleta para o cidadão

Impede a formação da cadeia produtiva

Política concentradora de renda

Política de degradação ambiental

Política de crescimento predatório

Promove a educação ambiental

Coleta Seletiva / Reciclagem

Os Caminhos do Lixo

Desenvolve a consciência ambiental

Reduz o aquecimento global diminuindo aterros

Evita que novas áreas sejam degradadas

Reduz o custo de operação do aterro

Cria novos postos de trabalho

Cria oportunidade de negócios nos bairros

Promove a inserção social dos catadores

Reutiliza a matéria prima

Promove a criação de empreendimentos

Política de inclusão social

Política de desenvolvimento sócio econômico

Reduz o custo do serviço de coleta

Fomenta a criação da cadeia produtiva solidária

Política de distribuição de renda

Política de preservação ambiental

Política de desenvolvimento sustentável.

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Page 12: Cartilha Meio Ambiente Câmara de Niterói

Pelo fim dos lixões! Foi aprovado na PNRS que todos os municípios do país devem

acabar com os lixões até 2014. Diversos problemas tornam o li-xão a solução menos indicada quando o assunto é o destino final dos rejeitos. Por não ter nenhum tipo de proteção, esses locais se

tornam vulneráveis à poluição causada pela decomposição do lixo, tanto no solo, quanto nos lençóis freáticos e no ar.

Hoje 20% dos 5.565 muni-cípios brasileiros não possuem lixões. Há ainda uma forte pressão dos prefeitos para adiar o prazo determinado pela lei nacional que institui o PNRS. Isto porque encerrar os lixões exige maior investimento do orçamento público em meio ambiente e a dura realidade que a esmagadora maioria do poder público no país não prio-riza isso.

O caso de Niterói é ainda mais emblemático, pois foi de imenso apelo popular o fim do lixão do Morro do Céu na cida-de. Hoje um aterro controlado, o histórico do Morro do Céu conta com uma imensa degra-dação ambiental no seu entor-no, as piores condições possí-veis de trabalho dos catadores e a perspectiva de repetição da história mais trágica da ci-dade.

Lixão do morro do céu

Vista aérea do lixão com uma enorme área desmatada

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Page 13: Cartilha Meio Ambiente Câmara de Niterói

>>>> Reutilizar, reaproveitar e reciclar

Acabar com os lixões não vai resolver o problema da produção exacerbada de lixo no mundo. Será preciso mudar a sociedade, reeducá-la, mexer na nossa cultura de consu-mo e nas políticas públicas ambientais de forma radical. Pre-cisamos além de definir melhor o destino do lixo, produzir menos lixo. E há algum tempo o movimento ambientalista levanta a bandeira dos 3R como a saída para mudar o planeta e sua imensa produção de lixo. Mas o que é isso?

Um produto que depois de utilizado é usado para a mesma função consideramos que foi reaproveitado. O maior exemplo é o retorno de garrafas (de refrigerantes ou cerveja) para compra de garrafas novas cheias. Isso é uma forma efi-caz de produzir menos lixo.

A reutilização é distinta do reaproveitamento, pois aponta para uma nova função de um produto já utilizado. Por exemplo, o uso de recipientes de requeijão vira um copo de vidro. O mercado de reutilização tem crescido assustadora-mente nos últimos anos, o que é uma excelente notícia. A subversão de valores culturais é questão chave para a disse-minação das novas formas de produção e consumo. Quan-do até a moda entende a estética da reutilização como algo válido e de estilo, muito se avança na implementação disso na prática.

A reciclagem é um conceito já relativamente conheci-do. Envolve o desmanche completo ou parcial dos produtos utilizados que iriam para o lixo e a sua reprodução para ou-tras utilidades. Esta é a mais custosa, porém mais importante política de redução do consumo de bens naturais para pro-dução de mercadorias.

Estamos nos referindo ao desastre do Morro do Bumba. De-pois de uma forte chuva, com mais de cem mortos e centenas de desabrigados por conta de um imenso deslizamento do morro, esses cidadãos tiveram as suas vidas atingidas para sempre. A realidade dos sobreviventes hoje é tão trágica quando no início do problema, visto que nada foi feito de efetivo na construção e

realocação habitacional dos desabrigados.

O que poucos sa-bem é que esse drama começou pela péssima política urbanística das prefeituras passadas, que não deram a estru-tura de habitação de-vida para dar conta do crescimento populacio-nal da cidade. O Morro do Bumba foi uma ocu-pação popular espontâ-nea num terreno aterra-do de um extinto lixão. A degradação ambiental causada pela presença de um lixão naquele lo-cal por décadas deixou o terreno especialmen-te mais frágil diante do efeito dos fenômenos naturais. A chuva forte pode ter sido ocasional em 2010, mas a falta de condições naturais para a habitação foi fruto de uma péssima política pública.

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Embora exista um consenso sobre a necessidade de acabar com os lixões, devido aos riscos a saúde dos catadores, é preciso tomar cuidado com as propostas para substituí-los. Não quere-mos que predomine a troca dos lixões pelos aterros sanitários, pois embora ambientalmente seja um avanço, os aterros sanitá-rios não atendem aos aspectos sociais da PNRS, pois retira dos catadores a oportunidade de trabalho. Portanto defendemos que os lixões sejam substituídos pela coleta seletiva com inclusão social dos mais de 50 mil catadores do Estado.

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Logística Reversa Um dos problemas no descarte dos resíduos sólidos são os

resíduos de pequeno porte, também não menos importantes e não menos perigosos do que os demais resíduos. Para esse tipo de descarte existe um braço na PNRS que denominamos logística reversa. O que é isso?

Logística reversa é um instrumento de desenvolvimento eco-nômico e social caracterizado por um conjunto de ações, proce-dimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento em seu ciclo, em outros ciclos produtivos ou outra destinação final ambientalmente adequada.

A aplicação prática disso, a grosso modo, passa por devolver ao fabricante o produto depois de esgotada a sua vida útil, para que o fabricante determine corretamente o destino final essas matérias.

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Cada medicamento fora da validade jogado no vaso sanitá-rio, aparelhos de termômetro que quebram misturados com lixo comum, celulares e controles remotos de eletrodoméstico, além de todas essas pequenas coisas, aos olhos de quem não tem o entendimento ambiental que expomos aqui, causam um impacto de grandes proporções ao meio físico e biótico.

Mas será que qualquer tipo de resíduo se adequa à logísti-ca reversa? Não. Existe uma classificação para esse mecanismo. Listamos aqui os tipos de objetos que precisam atender a essa exigência:

• Pneus.

• Pilhas e baterias.

• Agrotóxico, os seus resíduos e embalagens.

• Óleos lubrificantes, os seus resíduos e embalagens.

• Produtos eletroeletrônicos e os seus componentes.

• Lâmpadas fluorescentes de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista.

• Demais produtos e embalagens mediante avaliações técnica e eco nômica.

Mesmo estando na Lei 12.305/2010 (PNRS), para que a logísti-ca reversa seja inclusa no município é preciso haver alguns instru-mentos de implementação como:

• Acordos setoriais.

• Termos de compromisso.

• Regulamento (decreto).

Deve ser do interesse de todos e principalmente do poder público que esse braço da PNRS ocorra no município. A logística reversa é uma das pequenas grandes ações de sustentabilidade voltada para o século 21.

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Embora uma das metas da PNRS seja eliminar os lixões até 2014 em todos os municípios brasileiros, a dois anos do prazo final, o relatório do IPEA (2011) aponta ainda para a existência de 2,9 mil lixões distribuídos em quase três mil municípios. Outras das metas da PNRS é a ampliação da reciclagem no país, por parte do consumidor e do setor empresarial. A proposta está baseada no conceito de responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos e da logística reversa. O objetivo é também

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Coleta seletiva 100% em Niterói: um sonho possível!

Hoje, no Brasil, 14% das cidades possuem o sistema de cole-ta seletiva implantado. A cidade modelo é Curitiba, que chega a

reciclar quase 40% de todo o seu lixo. Em Ni-terói, berço dos estudos e propostas de coleta seletiva no Brasil, não há sequer

2% dos resíduos sólidos recolhidos e selecionados de maneira racional e

ecologicamente correta. Muitas ci-dades, com orçamento inferior ao de nossa cidade, foram capazes de avançar bem mais na cober-tura do atendimento da coleta seletiva que Niterói. Por que não podemos sonhar com 100% de coleta seletiva por aqui?

Precisamos reformar o Plano Municipal de Gerenciamento de Re-

síduos Sólidos de Niterói, para pressionar o poder público a assumir uma meta para implantação

de 100% da coleta seletiva na cidade. Precisamos, para isso, de uma enorme campanha da população para chegarmos a essa realidade.

A discussão da implantação da coleta seletiva não passa, con-tudo, por uma saída fácil ou por qualquer modelo. Precisamos construir uma nova forma de gestão trazendo o protagonismo dos profissionais ambientais mais precarizados: os catadores.

estimular a inclusão social dos catadores na indústria da reciclagem e ampliá-la. Segundo o IPEA, estima-se que o Brasil perca aproximada-mente R$ 8 bilhões por ano por deixar de reciclar resíduos, que acabam sendo misturados aos demais em aterros e lixões. O crescimento da economia da reciclagem criou novas cadeias produtivas para o aprovei-tamento dos materiais recicláveis; cadeias que se iniciam com a logística reversa dos bens pós-consumo: papel, plástico, vidros, metais, etc.

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Participação popular: todo poder aos catadores!

Do ponto de vista econômico, as organizações de catadores são consideradas o elo mais frágil da cadeia da reciclagem.

Reconhecendo essa realidade e, ao mesmo, tempo a sua im-portância para a consolidação da reciclagem no Brasil, a Lei da Política Nacional ressaltou ser fundamental que a coleta seletiva inclua o aspecto social.

Organizados como movimento social, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), destaca que o catador é o sujeito mais importante no ciclo da cadeia produtiva de reciclagem, sendo responsável por cerca de 60% de todos os resíduos que são reciclados no Brasil.

Nesse sentido, a PNRS reconhece a atividade desses traba-lhadores ao determinar que sejam integrados às ações que en-volvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Ao mesmo tempo, incentiva a criação e o desenvolvi-mento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis. Uma das metas principais é realizar a inclusão social e melhorar a situação econô-mica dos catadores.

Para reforçar as ações nesse sentido, o governo federal ins-tituiu, em dezembro de 2010, o Projeto Pró-Catador (Decreto 7.405) que tem como objetivo oferecer capacitação, formação e assessoria técnica aos catadores, assim como estímulo à partici-pação do setor privado nas ações de inclusão social e econômica desses trabalhadores, entre outras diretrizes.

Igualmente, o Ministério de Trabalho e Emprego reconhece o catador, incluindo a profissão no Código Brasileiro de Ocupações. No catálogo de profissões o catador é responsável por coletar material reciclável e reaproveitável, vender material coletado, se-lecionar material coletado, preparar o material para expedição, realizar manutenção do ambiente e equipamentos de trabalho, divulgar o trabalho de reciclagem, administrar o trabalho e traba-lhar com segurança.

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Os catadores se organizam de forma autônoma ou em coo-perativas. Mas os problemas financeiros, educativos, sociais e até culturais dos catadores podem dar características peculiares às cooperativas por eles formadas, desde o processo de formação até a sua sustentabilidade econômica.

Nos diferentes caminhos de atuação junto a estes empreen-dimentos de catadores é possível observar que existem desafios referentes à consolidação de suas iniciativas, tanto econômicas (não atingem a autossustentabilidade) como associativas (dificil-mente exercem uma verdadeira autogestão).O quadro aponta como prioridades duas frentes a serem atendidas: o investimento pré-operacional e a capacitação.

Assim, desde os aspectos econômico, social e ambiental o ca-tador vem adquirindo relevância na atualidade para a gestão de resíduos sólidos das cidades e, por conseguinte, vem abrindo es-paços e criando desafios para as contribuições acadêmicas, em função das dificuldades encontradas para equacionar as variá-veis: desemprego e geração de renda, pobreza e investimentos, baixa escolaridade e qualificação profissional.

Catadores e a reciclagem: uma aliança estra-tégica

Por todas essas razões consideramos que a reciclagem, a partir da coleta seletiva com inclusão dos catadores, é a melhor solução para a destinação final dos resíduos, pois atende aos as-pectos ambientais, econômicos e sociais. Neste sentido, defen-demos que sejam adotadas políticas públicas que atendam aos seguintes pontos:

·Remuneração das cooperativas, por parte das prefeituras, pela prestação de serviço de coleta e classificação dos materiais.

·Investimento do poder público municipal, com recursos pró-prios ou de repasses, que financie a infraestrutura das coopera-tivas (área física e instalações).

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·Apoio logístico das prefeituras, na entrega do material recicla-do coletado à cooperativa.

·Custeio pelo poder público da operacionalização das coope-rativas (aluguel, água, luz, telefone e internet).

·Inclusão dos catadores nos programas sociais do governo (bolsa família, aluguel, bilhete único, etc.).

·Campanhas educativas voltadas para a população estimu-lando a coleta seletiva.

·Apoio logístico das prefeituras para as cooperativas, no reco-lhimento de doações de materiais reciclados.

·Elaborar ou fazer cumprir o decreto municipal que implanta a coleta nos órgãos públicos da administração direta e indireta.

·Incentivos federal, estadual e municipal, em favor da desone-ração fiscal para todos os participantes das cadeias da recicla-gem.

·Plano Municipal de Gerenciamento de Resíduos, de forma participativa, que priorize a coleta seletiva com inclusão social.

·Sistema de informação sobre resíduos do município, que per-mita ao controle social avaliar os resultados do gerenciamento dos resíduos.

·Cadastro único dos diferentes atores das cadeias de recicla-gem do município.

·Estudos e pesquisas sobre a situação dos resíduos nos mu-nicípios.

·Linhas de financiamento (federal, estadual e municipal) para projetos que contribuam para a ampliação e aperfeiçoamento da reciclagem.

·Financiamento, em condições especiais, de capital de giro para as cooperativas de catadores e empresas recicladoras.

·Que o município equipe os espaços públicos com coletores se-parados de material reciclável e de resíduos orgânicos.

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·Medidas que e auxiliem e tornem flexível o licenciamento am-biental de todos os integrantes das cadeias de reciclagem.

.Definir coletivamente, com participação social, uma metodo-logia para mensurar os indicadores de apoio à reciclagem, pro-duzir dados confiáveis e divulgá-los no sentido de dar publicidade àqueles que se destacam por seu compromisso sócio ambiental.

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A promoção de políticas públicas e mudanças es-truturais na gestão dos resíduos sólidos não pode-rá ser de fato efetiva sem um componente decisivo no processo: a educação ambiental. Mas o que seria isso? Qual o seu real papel e importância social?

A Educação Ambiental (EA) tem o intuito de cons-truir coletivamente uma consciência ecológica do tipo de relação que o homem estabelece entre si e com a natureza, sendo um processo gradual de reconhe-cimento e reflexão das ações e os problemas deri-vados da sua relação. Com o objetivo de despertar a preocupação do cidadão e da sociedade para tal questão, relaciona o processo à tomada de decisões políticas e a ética que levam a determinadas ações,

para a melhoria da qualidade de vida.

Tendo como perspectiva todo o processo de formação crítica e de caráter transformador da educação ambiental, é necessário salientar que a ela por si só não gera mudanças instantâneas, mas correspondem a um processo de transição de valores, hábi-tos, ações até que seja alcançada a ruptura da cultura consumis-ta de nossa sociedade. Porém, a EA não deve ser um trabalho de apenas gere mudança cultural, mas sim a transformação social, levando à superação dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais. Ainda assim, é de grande importância que se busque formas de diminuição dos danos já causados, medidas mitigatórias, que assumam a crise ambiental como também de caráter ético e político.

A Educação ambiental é então um processo pedagógico par-ticipativo permanente, para que se desperte uma consciência crí-tica sobre a problemática ambiental, construindo na sociedade a capacidade de captar a gênese e a evolução dos problemas ambientais. A partir disso cada indivíduo saberá a real urgência e seriedade em mudar os seus hábitos e atitudes. O papel do poder público neste tema pode ser decisivo para a mudança da postura e atitude dos cidadãos de uma cidade com relação ao seu ambiente.

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Dentre as propostas, estão a capacitação da unidade escolar que envolve, essencialmente, a inclusão do tema da reciclagem, reutilização e redução, de forma transversal, com a prática de segregação dos resíduos nas escolas de ensino fundamental.

Outro exemplo passa pelo fortalecimento da relação da so-ciedade com a prática da coleta seletiva. Isso passa pela criação e proliferação de instalações de entrega voluntárias para coleta seletiva.

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Fontes:www.portalsaofrancisco.com.br www.uenf.br www.rc.unesp.br

www.rumosustentavel.com.br www.oeco.org.br www.forumdareciclagem.org.br

BONNER, Alan. Alessandro Souza, Clara Machado, Erika Pimentel, Stella Manes. Educação Am-biental: apresentação da turma de biologia – UFF. Niterói, 2013. MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE. Destaques PNRS. MMA, Brasília, 2013. DMA_FIESP. Perguntas freqüentes sobre política nacional de resíduos sólidos. São Paulo, 2012. CLIN. Plano municipal de gerenciamento de resíduos sólidos de Niterói. CLIN. Niterói, 2012. CICLOSOFT. Radiografando a coleta seletiva. Ciclosoft. 2012.

Colaboração: Fórum de Meio Ambiente de Niterói

Realização:

Comissão Permanente De Meio Ambiente, Recursos Hídricos E Sustentabilidade:

Presidente: Henrique Vieira

Vice-Presidente: Andrigo De Carvalho

Membro: Leonardo Giordano

Membro: Pastor Ronaldo

Membro: Renatinho

Apoio:

Niterói, agosto 2013