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Encontro regional de agroecologia amazônico Ufma/ccaa – chapadinha/MA Cartilha de textos pré-era

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Page 1: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

Encontro regional de agroecologia amazônico

Ufma/ccaa – chapadinha/MA

Cartilha de textos pré-era

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6

Agroecologia como Resposta aos Desafios do

Campesinato

Construtores do ERA Amazônico

Chapadinha/MA

2014

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―Ordem e progresso‖

Zé Pinto

Esse é o nosso país

Essa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria Brasil

Que a gente segue em fileira

Queremos mais felicidades

No céu deste olhar cor de anil

No verde esperança sem fogo

Bandeira que o povo assumiu

No verde esperança sem fogo

Bandeira que o povo assumiu

Amarelos são os campos floridos

As faces agora rosadas

Se o branco da paz se irradia

Vitória das mãos calejadas

Se o branco da paz se irradia

Vitória das mãos calejadas

Esse é o nosso país

Essa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria Brasil

Que a gente segue em fileira

Queremos que abrace essa terra

Por ela quem sente paixão

Quem põe com carinho a semente

Pra alimentar a nação

Quem põe com carinho a semente

Pra alimentar a nação

A ordem é ninguém passar fome

Progresso é o povo feliz

A Reforma Agrária é a volta

Do agricultor à raiz

A Reforma Agrária é a volta

Do agricultor à raiz

Esse é o nosso país

Essa é a nossa bandeira

É por amor a essa pátria Brasil

Que a gente segue em fileira

Page 4: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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Apresentação.............................................................................................................05 Construtores do ERA ................................................................................................06 ABEEF ........................................................................................................................06 ENEBio........................................................................................................................06 FEAB ..........................................................................................................................08 LPJ ..............................................................................................................................08 MST.............................................................................................................................09 Informações importantes .........................................................................................11 Grade do I ERA Amazônico – Chapadinha/ Ma .....................................................12 Dia a dia no ERA .......................................................................................................13 Pré – ERA’s .................................................................................................................19 Textos para os pré-ERA’s ..........................................................................................26 A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta e a agroecologia.............................................................................................................26 Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo .......35 Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira..........37 Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia insuficiente.40 Por que a tecnologia não chega no campo?.............................................................42 Agroecologia versus tecnologia: verdade ou mito?.................................................44 Orgânico X Agroecológico, você sabe a diferença?.................................................45 Um inferno siderúrgico na Amazônia .....................................................................48 Lutadoras do campo..................................................................................................50 Sugestões complementares para o aprofundamento do estudo............................52 O que é ser maranhense? .........................................................................................54 Contatos da comissão organizadora ........................................................................55

Page 5: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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APRESENTAÇÃO

O Encontro Regional de Agroecologia (ERA) é um ambiente de inserção no debate sobre

agroecologia, pensado inicialmente para os estudantes dos cursos das agrárias, mas que no

decorrer de sua história vem se reinventando e atraindo novos sujeitos para essa construção.

Para o nosso I ERA Amazônico além da participação da FEAB, ENEBio e ABEEF teremos

também uma atuação mais próxima dos movimentos camponeses pertencentes a Via Campesina

– como o MST e o MAB – e dos(as) Quilombolas maranhenses e das Comunidades Tradicionais.

Tendo como horizonte uma maior interação entre os atores da construção da agroecologia

no Brasil e um fortalecimento dessas organizações, através da aproximação de novas pessoas

interessas em construir esse grande movimento em defesa de nossa natureza e pela soberania

alimentar.

Nesse encontro traremos como temática a ―Agroecologia como Resposta aos Desafios do

Campesinato‖ entendendo que o papel da agroecologia deve ser a ferramenta de enfrentamento

ao agronegócio e a todas as problemáticas que os povos do campo enfrentam em suas

comunidades. E nós, enquanto juventude, temos um papel importante, onde devemos assumir o

posto de protagonistas dessa revolução agroecológica por ser ela quem construirá hoje o que

viveremos no amanhã. Sendo ainda @s jovens personagens importantes na existência de

inúmeras experiências agroecológicas que deram e continuam dando cada vez mais certo na

agricultura hoje.

Dessa forma o encontro trará debates sobre a agroecologia em nosso país e sobre o seu

papel na construção dela, além de como se dá a inserção do povo no campo brasileiro e de como

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ele é explorado e exterminado pelo agronegócio, que aniquila toda a perspectiva de produção e

reprodução de sua vida. Além de tratar sobre o êxodo desse povo, as relações de gênero, acesso

a educação e outros serviços.

Entendendo que a agroecologia é além de uma forma de produção, que junta ciência e

técnica, é também política, dessa maneira trazemos as oficinas e vivências com o intuito de

preparar os encontristas para serem capazes de reproduzir e utilizar em seus locais de inserção

as técnicas agroecológicas. Assim convidamos todos e todas as virem para a nossa querida

Chapadinha, a princesa do Baixo Parnaíba, construir o ERA mais lindo de todos!

Construtores do ERA

Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal

A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF é uma entidade sem fins

lucrativos que organiza e articula @s estudantes de Engenharia

Florestal a nível nacional, regional e local, preocupada com uma

melhor formação técnica, política e ética dos estudantes, para que

estes possam compreender e atuar sobre a realidade social de nosso

país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos

cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual

estão inseridos. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em

torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem

exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma

equilibrada, harmônica e sustentável. E esses objetivos se mantém firmes, e definem o horizonte

de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação.

Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que

todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Mas, e claro,

não enxerga a universidade como uma bolha isolada dentro da sociedade e por isso expande

seus horizontes para além de seus muros. Nesse sentido, a ABEEF vem estreitando laços com os

movimentos sociais populares ligados ao campo, principalmente os que estão inseridos na VIA

campesina (como MST, MAB, etc.), à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços

com outras entidades do Movimento Estudantil.

Executiva Nacional dos Estudantes de Biologia

A ENEBio - Entidade Nacional dos Estudantes

de Biologia, reorganizada em 2007, é composta por

diversas escolas do Brasil e vem durante estes 5

anos construindo o Movimento Estudantil da

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Biologia, colocando em debate os principais problemas que encontramos nesta sociedade, no

meio ambiente e também em nossa formação e educação.

Ela reconhece em sua carta de princípios o desacordo com a exploração do homem pelo

homem e da natureza pelo homem, e bem como qualquer forma de mercantilização de recursos

naturais, pessoas e valores, como acontece no sistema capitalista. Defende a construção da

agroecologia como instrumento de luta, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos

seres humanos, que priorize valores socialmente justos, ambientalmente seguros e

economicamente viáveis. Reconhece também a luta contra as opressões, seja ela de classe,

origem nacional, gênero, etnia, religião, orientação sexual e política. Luta por uma educação para

tod@s, gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade, com caráter emancipatório e

transformador e acredita na organização coletiva como forma de superação das contradições

sociais.

A Entidade então se propõe a promover a luta pela superação desse modelo social,

articulando discussões pertinentes à formação do sujeito biólogo, dentro dessa perspectiva, para

que cada vez mais estudantes possam ser protagonistas da transformação que queremos para

nossa sociedade, com visão e posicionamentos políticos críticos a respeito dos fatos do Brasil e

do mundo.

Com o objetivo de fortalecer cada vez mais a troca de experiências e massificar nossas

discussões (proporcionando a construção de novos valores e as relações de companheirismo), a

ENEBio realiza todos os anos Encontros Nacionais e Encontros Regionais de Biologia, ENEB e EREB

respectivamente, onde deliberamos sobre as ações da nossa entidade, como também os

Conselhos Nacionais e Regionais, CONEBio e COREBio respectivamente, onde organizamos e

planejamos nossas atividades ao longo do ano. Além disso, para

instrumentalizar nossa militância, proporcionando uma formação

crítica mais aprofundada sobre temas importantes para

transformação social e alteração do modelo vigente, a ENEBio

realiza Cursos de Formação Política da Biologia (CFPBio) e em

Agroecologia (CFA), organiza os Estágios Interdisciplinares de

Vivência (EIV) em diversos estados.

Necessário ressaltar a importância das parcerias da ENEBio, resultado de uma construção

diária e concreta de lutas e articulações com alguns Movimentos Sociais Populares, em especial

com componentes da Via Campesina, e com outras executivas de curso, como a FEAB (Federação

dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e a ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de

Engenharia Florestal). Essa aproximação mostra uma identificação cada vez maior de nossa

Entidade com as causas populares e o Povo Brasileiro, colocando o papel protagonista que a

juventude tem a cumprir dentro e fora da universidade.

Page 8: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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A ENEBIO representa os estudantes de biologia do Brasil que se identificam com a luta pela

transformação da sociedade, para que vivamos num mundo mais justo e sustentável, com maior

equidade social e onde reconheçamos o ser humano como integrante da natureza e agente

transformador da mesma, e convida a todos e todas as estudantes de biologia de nosso país, a

lutar!

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

A FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

– nossa quarentona, tem muita coisa para contar de sua jornada.

Altos e baixos, muita luta travada.

Viemos nesses 40 anos organizando a estudantada,

fazendo formação e realizando lutas. Levantando e balançando as

nossas bandeiras que são: Educação; Gênero e sexualidade;

Agroecologia; Juventude, cultura, valores, raça e etnia; Relações

internacionais; Movimentos sociais populares; Ciência e tecnologia; História e comunicação.

Uma caminhada de mãos dadas com o povo. Rumando a construção de projeto de vida

para o campo brasileiro, construindo a Agroecologia, que traz consigo novas formas de relação

da camponesa e do camponês entre si e com a natureza. Lutando pela soberania alimentar e

social de nossa nação.

Ser militante da FEAB é ser lutador e lutadora do povo. Defendendo diariamente os

interesses da classe trabalhadora e do campesinato. Se transformando em novos homens e novas

mulheres. Ajudando na edificação de uma sociedade sem preconceitos, sem opressões e sem

exploração.

Levante Popular da Juventude

O Levante Popular da Juventude é um movimento social de

jovens militantes voltados para a luta de massas em busca da

transformação social. SOMOS A JUVENTUDE DO PROJETO

POPULAR, e nos propomos a ser o fermento na massa jovem

brasileira. Somos um grupo de jovens que não baixam a cabeça

para as injustiças e desigualdades.

A nossa proposta é organizar a juventude onde quer que

ela esteja. Deste modo, nos organizamos a partir de três campos

de atuação:

Page 9: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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1) no meio estudantil secundarista e universitário;

2) nas periferias dos centros urbanos e:

3) nos setores camponeses.

Nosso principal objetivo é multiplicar grupos de jovens em diferentes territórios e setores

sociais, fazendo experiências de organização, agitação e mobilização.

O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade por meio de ações de

Agitação e Propaganda (agitprop), ou seja, várias técnicas de comunicação e expressão da

juventude com o povo, como músicas, grafismo (graffite), dança, teatro, fanzines, faixas,

adesivos, murais, gritos de luta, etc.

O diferencial do Levante é que não elegemos bandeiras prioritárias, mas nos colocamos ao lado

das mobilizações que reivindicam melhores condições de vida para a juventude brasileira. Num

contexto onde falta quase tudo na vida cotidiana do jovem, nosso método é mostrar que sem a

organização coletiva e luta nenhuma conquista verdadeira é possível.

A perspectiva que o Levante oferece é a possibilidade de estar organizado/a coletivamente

para viver e para lutar. Fora da organização as ações isoladas de um indivíduo, por mais justas

que sejam, não tem sucesso. Portanto, o que o Levante possibilita às pessoas é o reconhecimento

da sua condição de sujeitos e a construção de possibilidades para que estes recuperem a sua

capacidade de intervenção política.

Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Serra

O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No

total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização

dos trabalhadores rurais.

Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista

da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Os latifúndios

desapropriados para assentamentos normalmente possuem poucas benfeitorias e infraestrutura,

como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer. Por isso, as famílias assentadas

seguem organizadas e realizam novas lutas para conquistarem estes direitos básicos.

Com esta dimensão nacional, as famílias assentadas e acampadas organizam-se numa estrutura

participativa e democrática para tomar as decisões no MST. Nos assentamentos e acampamentos,

as famílias organizam-se em núcleos que discutem a produção, a escola, as necessidades de

cada área. Destes núcleos, saem os coordenadores e coordenadoras do assentamento ou do

acampamento. A mesma estrutura se repete em nível regional, estadual e nacional. Um aspecto

importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a participação das

mulheres, sempre com dois coordenadores, um homem e uma mulher. E

nas assembleias de acampamentos e assentamentos, todos têm direito a

voto: adultos, jovens, homens e mulheres.

Da mesma forma nas instâncias nacionais, o maior espaço de

decisões do MST é o Congresso que ocorre a cada 5 anos. No mais

recente, o VI Congresso, participaram mais de 14 mil pessoas. É no

Congresso que são definidas as linhas políticas do Movimento para o

Page 10: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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próximo período e avaliado o período anterior. Estas definições são sintetizadas nas palavras de

ordem de cada Congresso e que se estendem para o período seguinte. O VI Congresso Nacional

definiu como linha para este próximo período: ―Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!‖. Além

do Congresso, a cada dois anos, o MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e

atualizadas as definições deliberadas no Congresso.

Além dos Congressos, Encontros e Coordenações, as famílias também se organizam por setores

para encaminharem tarefas específicas. Setores como Produção, Saúde, Gênero, Comunicação,

Educação, Juventude, Finanças, Direitos Humanos, Relações Internacionais, entre outros, são

organizados desde o nível local até nacionalmente, de acordo com a necessidade e a demanda de

cada assentamento, acampamento ou estado.

Page 11: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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INFORMAÇÕES COMPANHEIR@S

INFORNAÇÕES PARA AS DELEGAÇÕES

-Tirar um chefe da delegação que

será o responsável por fazer o

credenciamento, e será o contato da

brigada com A C.O. (comissão

organizadora);

-Avisar à C.O. o quanto antes a

confirmação da vinda ao ERA;

- Enviar duas pessoas por escola

para o curso de coordenadores data,

25/05 a 27/05.

-Solicitar 200 km a mais no ônibus

para o deslocamento até a vivência;

-proibido o uso de drogas ilícitas

no local do evento.

O que trazer?

-Kit militante (copo, talher e

prato / lençol e colchonete);

-Kit higiene pessoal;

-Barraca, pois teremos camping (mas

para quem não tiver teremos

alojamento em tendas);

-Remédios de uso pessoal;

-Sementes, livros, filmes,

temperos, etc. Para Feira

Agroecológica de Saberes e Sabores

e para o Bumba-Meu-Maranhão;

-Pandeiro, violão, zabumba, latas e

muitos mais instrumentos para fazer

a nossa alegria;

Page 12: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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Grade do I Encontro Regional de Agroecologia Amazônico Universidade Federal do Maranhão | Campus Universitário de Chapadinha

De 28 de maio a 01 de junho de 2014

Grade Dia 28/05

Quarta

Dia 29/05

Quinta

Dia 30/05

Sexta

Dia 31/05

Sábado

Dia 01/06

Domingo

Manhã Chegada /

Credenciamento

Painel I

Painel II/ GD

II

Oficina do

Ato

Vivências

Tarde Chegada /

Credenciamento

GD I Painéis

Paralelos /

Oficinas

Ato Público Plenária final /

Encerramento e

Avaliação

Noite Abertura

Reunião das

Organizações

Feira

Agroecológica

de Saberes e

Sabores

Socialização

do Ato

Bumba-Meu-

Maranhão

Fim de

Noite

Bumba-Meu-

Maranhão

Bumba-Meu-

Maranhão

Bumba-Meu-

Maranhão

Bumba-Meu-

Maranhão

Pega o beco!

Page 13: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

5

DIA A DIA NO ERA

Manha e tarde: Chegada e credenciamento

Nesse espaço é importante que o chefe de delegação recolha os RG's de toda a delegação e

se encaminhe a Secretaria do ERA para credenciar e receber os kit's dos encontristas ou então

para poder inscrever, credenciar e aí receber os kit's dos encontristas.

A C.O. encaminhará cada delegação para os alojamentos e para as áreas de camping. Além de

esclarecer quaisquer dúvidas que possam vir a aparecer.

Noite: Abertura, Apresentação das Escolas, divisão das Tribos e Bumba-Meu-Maranhão

Abertura

É o momento que daremos boas vindas oficialmente a todas as delegações. Será também o

momento que sentiremos na pele o poder da mística, pois ela é fundamental para que possamos

estar entrando no ritmo do ERA.

Apresentação das Escolas

Espaço reservado para que as escolas se apresentem a todas as outras que estarão presentes no

ERA. É uma chance de se interagir com a galera.

Tribos

As tribos são grupos menores e servem para que @s encontristas possam se reunir

durante os espaços do encontro, como o Painel I, para poderem debater e aprofundar mais sobre

a temática de cada espaço, além da realização de algumas tarefas inerentes ao funcionamento do

encontro, como alvorada e disciplina. As tribos serão suas famílias durante o ERA e é com eles

que vocês passaram uma parte do tempo. As tribos são muito importantes para os processos de

interação e aprendizagem, pois nelas @s encontristas estarão em contato com pessoas das mais

variadas regiões e saberes. A CO divulgará no ato do credenciamento como serão divididas as

tribos.

Bumba-Meu-Maranhão

Com a intenção de homenagear e propagandear o nosso grande e enigmático Bumba-

Meu-Boi, que é um movimento cultural e secular dos povos negros e indígenas maranhenses,

Quarta-feira | 28/05

Page 14: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

6

estamos lançando no ERA o Bumba-Meu-Maranhão, que é o momento de confraternização ao fim

das atividades de cada dia.

Este é o espaço de trocas de experiências culturais, onde nós estaremos apresentando um

pouco da cultura regional (Meio-Norte) e maranhense, além de trocar sementes, livros, filmes,

entre outras coisas. Esse é também o espaço onde provaremos a culinária maranhense e

dançaremos do reggae ao cacuriá.

Manhã: Painel I – Agroecologia na Amazônia e o Avanço das Fronteiras Agrícolas

Nesse painel será debatido sobre o avanço que o agronegócio vem dando na região

amazônica e o papel que a agroecologia tem em como um sistema viável de produção de

alimentos saudáveis, que respeita o meio ambiente e que é fonte de renda às famílias

camponesas. Além de trazer a conjuntura evidenciando onde está e o que tem feito hoje a

juventude do campo e da cidade.

Tarde: GD I

A tarde será dividida em duas. Durante a primeira

parte da tarde haverá um espaço onde as tribos debaterão

os questionamentos e posicionamentos do Painel I.

Já na segunda parte da tarde todas as tribos se juntarão em

plenária para socializarmos com a companheirada todo o

debate que foi feito em suas respectivas tribos.

Noite: Reunião das organizações

A reunião das organizações é um momento em que pessoas da mesma organização,

porém de variados Estados e escolas podem se sentar e debater sobre a situação das

organizações e da construção da Agroecologia em seus locais de origem. Além de tirarem

encaminhamentos que possam vir a ajudar na construção das organizações.

Manhã: Será dividida em dois momentos – o Painel II e o GD II

Painel II – O papel da Agroecologia na soberania nutricional e segurança alimentar.

QUINTA-FEIRA | 29/05

SEXTA-FEIRA | 30/05

Page 15: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

7

Essa mesa vem mostrar a agroecologia como uma alternativa, como o povo se coloca na

luta pela agroecologia, colocando que ela produz alimentos 100% saudáveis e que é possível

alimentarmos todas as famílias brasileiras por meio da Agroecologia.

Mostrar ainda que alimentos têm que ser produzidos de maneira limpa, sustentável e que forneça

renda às famílias do campo.

GD II

É o momento de se debater sobre os questionamentos acerca do tema abordado nas suas tribos.

Tarde: Painéis Paralelos / Oficinas

Painéis Paralelos

Nesse momento acontecem vários painéis ao mesmo tempo com as mais diversas

temáticas. Os painéis que teremos no nosso ERA serão:

1. O papel da mulher na agroecologia;

2. Diversidade Sexual ;

3. Educação do campo e a pedagogia da alternância;

4. Transgênicos e agrotóxicos;

5. Movimentos sociais e comunidades tradicionais;

6. Conservação do Bioma amazônico;

7. Agroecologia , agricultura familiar e extensão rural;

8. Conflitos agrários no campo;

Oficinas

As oficinas vêm para ajudar no aprendizado prático das técnicas agroecológicas, para que

estejamos preparados para atuar no campo, além de nos preparar para mostrar na prática as

pessoas de nossas universidades, assentamentos, escolas e comunidades, que não acreditam no

potencial da Agroecologia. No nosso ERA teremos as seguintes oficinas:

1. Meliponicultura;

2. Defensivos Naturais;

3. Compostagem;

4. Biofertilizantes;

5. Plantas medicinais;

6. Horta suspensa;

7. Energias renováveis;

8. Manejo Ecológico do Solo;

9. Resíduos Sólidos;

10.Sementes crioulas;

Page 16: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

8

11.Horta Mandala.

Noite: Feira Agroecológica de Saberes e

Sabores

Nesse momento traremos as comunidades

tradicionais e produtivas do Baixo Parnaíba maranhense, para

que possam trocar suas experiências e para comercializar um

pouco do que produzem. Faremos também, rodas de

conversa com os agricultores e agricultoras para que

possamos trocar uma ideia. Teremos também artesanato, rodas de violão, tambor de crioula,

venda de livros e muito mais...

Estaremos no Maranhão e temos uma fama de uma culinária impecável! Não será diferente no

ERA: prepararemos uma área onde ofertaremos comidas típicas do Maranhão.

Manhã: Oficina do ATO Público

Nessa manhã nos reuniremos primeiramente na plenária para explicar como e onde vai ser

o nosso ato. Depois explicaremos como e onde funcionarão as oficinas para o ato. Cada

encontrista escolhe de qual oficina irá participar de acordo com a demanda de cada uma.

Pedimos que as escolas que puderem, trazer materiais para ajudar nas oficinas do nosso ato. O

ATO público é uma das partes mais importantes de nosso encontro. É o momento em que saímos

as ruas para dialogar com a sociedade e mostrar o nosso projeto, que é a Agroecologia. Aqui

usaremos tudo que aprendemos durante o ERA e toda a bagagem que já tínhamos para poder

conversar com as pessoas. As oficinas são:

Clowns Lambe Comunicação

Batucada Cartazes Registro

Segurança Palavras de ordem e musicas Saúde

Tarde: Ato Público

Nessa tarde sairemos pelas ruas de Chapadinha para dialogar com a população e mostrar

para a sociedade o que viemos aprendendo durantes os dias do encontro. É o momento de

mostrarmos que existe sim outra alternativa para o campo brasileiro e de que ela é viável. As

pautas e a metodologia do ato serão informadas no dia pela CO.

Noite: Socialização do Ato

SÁBADO | 31/05

Page 17: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

9

Agora iremos fazer a socialização que preparamos com muito carinho no dia anterior para

que todos e todas as encontristas possam ficar sabendo o que nossa tribo debateu e aprendeu

durante todos esses dias. Aqui apresentaremos também a identidade de nossa tribo.

Manhã: Vivências

No domingo estaremos saindo de dentro do local onde acontecerá o nosso ERA para

desbravar as terras maranhenses. Conhecer a região do Baixo Parnaíba e Munin, reunião rica de

cultura, fauna e flora, de gente simples e de bom coração...

Em breve disponibilizaremos os locais de vivência no site do ERA Amazônico.

Tarde: Plenária final / Avaliação / Encerramento

Plenária final

Nessa plenária faremos os encaminhamentos finais do nosso ERA, como cartas de apoio.

Avaliação

Logo após esses dois espaços anteriores, voltaremos a nos reunir com nossas tribos para

fazermos a avaliação do ERA. Que depois será sistematizada em um documento só para

encaminhar para as organizações e para a futura CO.

Encerramento

Aqui faremos o encerramento oficial do nosso ERA. Além de fazer os agradecimentos,

passar as impressões da CO e se despedir desse povo lindo que vai vir ao nosso encontro.

Noite: Pega o beco povo!

Nesse momento as delegações começam a retornar para os seus locais de origens.

DOMINGO | 01/05

Page 18: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

10

PRÉ-ERA‘s

Para garantirmos uma melhor participação dos/as encontristas, é importante que as

organizações pensem com bastante carinho na preparação dos grupos que virão ao ERA,

cuidando para que todos os/as participantes se apropriem tanto do conteúdo, quanto da

metodologia, e assim possibilitando que todos e todas da delegação façam intervenções e

possam aproveitar ao máximo de nosso encontro.

Há alguns anos, os grupos que participam dos ERA‘s realizam os Pré-ERA‘s, que são espaços nos

quais organizamos nossa delegação para a vinda ao encontro, apresentando como este funciona

e também realizando debates sobre a Agroecologia e as principais linhas temáticas do evento.

A realização desses espaços preparatórios para o ERA já ajudaram e ainda vão continuar

ajudando na formação e consolidação de grupos organizados em torno das executivas e

movimentos sociais, além das outras formas de organização, como CA's, DA's, Grêmios

Estudantis e Grupos de Agroecologia.

Cada grupo tem total liberdade de organização deste espaço, porém gostaríamos de dar

algumas dicas - que representam o acúmulo de diversas organizações - de como organizar a

reunião (e o momento de estudo) e também sobre algumas metodologias participativas.

I. DICAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL OU COLETIVO

Retirado da cartilha ―Trabalho de base. Teoria e prática. Coletânea de Textos.‖ CEPIS, Maio de

2005.

1. Rotina de Estudo: marcar um horário e um dia facilita a escolha dos espaços reservado para os

estudos.

2. Tempo de estudo: recomenda-se que por vez, se use no estudo, no mínimo 45 e no máximo,

60 minutos.

3. Garantir o material: cada pessoa deve ter e zelar por sua cópia individual do texto, livro,

desenho.

4. O dia bom: as pesquisas mostram que não se programa estudo em dias de cansaço; no

sábado, por exemplo.

5. Ambiente favorável: lugar com claridade, agradável, sem gente passando, sem barulho, que

concentre.

6. Postura confortável: apoiar o material sentar-se em vez de deitar-se, posição relaxada, pés

apoiados.

Page 19: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

11

7. Uma lição de cada vez: porque isso ajuda a entender, gravar e fazer uma aplicação prática do

conteúdo.

8. Folhear o texto: para se ter uma visão do conjunto – olhar o autor, os títulos, palavras,

desenhos.

9. Fazer anotações: marcando as passagens importantes, os destaques, as novidades, o que se

gosta, as dúvidas.

10. Voltar ao texto: várias vezes para apreender a mensagem, as ideias, fatos, informações e

exemplos.

11. Fazer resumo: significa repetir com as próprias palavras as principais ideias, colocando as

opiniões pessoais.

12. Discutir no coletivo: as dúvidas, interpretações e divergências surgidas no estudo devem ser

esclarecidas.

13. Recordar lição anterior: é necessário repetir o já estudado, antes de continuar ou se começar

uma leitura.

Observação: O plano individual, para ter mais resultado, deve articular-se com o plano coletivo

de estudo.

Passos para o estudo em grupo

Em muitos casos, a organização popular precisa preparar militantes para atuarem como

monitores que ajudem os iniciantes na compreensão do conteúdo e no esclarecimento das

dúvidas. Nesse caso, esses multiplicadores devem ter uma preparação que os ajude no repasse

criativo e dinâmico do conteúdo.

Para o estudo grupal, sugerimos os seguintes passos:

É indispensável ter uma coordenação que estimule e facilite a participação de todas as

pessoas.

Leitura integral do texto para ter uma visão de conjunto do conteúdo. Pode ser um bloco, de

um capítulo ou do todo. Em voz alta, com uma ou várias pessoas lendo.

Reler em pequenos grupos, por proximidade para fixar o assunto e permitir o debate e o

aprendizado.

Realização de um plenário onde as pessoas possam expressar e debater suas opiniões.

Identificar o tema central a coordenação recolhe e ordena a compreensão que as pessoas

tiveram da leitura.

Destacar ideias principais até chegar à ideia central da leitura, vendo argumentos e exemplos

ligados a essa ideia.

Anotar dúvidas, impressões, passagens, questões despertadas pela leitura e sua discussão.

Page 20: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

12

Resumir no grupo e no plenário, em palavras-chave, frases curtas ou até desenhos as ideias

mais importantes.

Interpretar juntos tentando comparar/associar as ideias do texto com as do grupo e com

outras leituras.

Aprender a criticar no sentido de formar opiniões próprias e de fazer apreciações sobre o

texto.

Tirar conclusões e aprendizados que poderão ser usados na prática das pessoas e do grupo.

Encaminhar a próxima etapa do plano de estudos.

Estudo em grupo

Um estudo eficaz, sem ser chato, exige:

a) Uma preparação aprimorada

A convocação das pessoas é parte determinante em qualquer atividade popular. Funciona

quando é feita pelo contato e o convencimento direto. Avisos gerais ou escritos servem

apenas para recordar a convocação pessoal.

O local da reunião deve ser um espaço aconchegante, que acomode bem as pessoas e um

ambiente que expresse o tema a ser debatido: cartazes, símbolos, músicas, poemas...

Preparação das pessoas encarregadas de animar o debate – elas devem estudar bem o

assunto, preparar material de apoio e sugerir dinâmicas participativas.

Disciplina consciente – Por respeito às pessoas que comparecem, o estudo deve começar e

terminar na hora marcada.

b) Uma coordenação firme

O processo da reunião é de responsabilidade coletiva. Mas, é comandada pela coordenação.

Por isso, para a coordenação, chegar na hora, significa chegar antes da hora marcada.

Participar e não assistir é a finalidade do estudo. A coordenação anima a socialização do

debate, questiona as afirmações, resume e complementa sem sair do tema principal.

Coordenar não é passar a palavra. É preparar, acolher, animar, sintetizar, garantir o rumo,

facilitar a participação, possibilitar a tomada de decisão.

c) Uma realização eficiente

Começar na hora marcada, com entusiasmo, de forma que eleve o astral do grupo.

Não exceder hora e meia – para não perder o poder de concentração. Se continuar, pausa,

com amenidades.

Abordar os temas (análise, opinião, sugestões, encaminhamentos) de forma clara e direta.

Evitar o monólogo. Frear, com jeito, o ímpeto de quem adora ouvir o eco da própria voz.

Evitar a discussão entre duas ou entre algumas pessoas, possibilitar que todas as pessoas

falem estimular as caladas e as tímidas e conter falas que se desviam do assunto.

Só seguir adiante se o assunto foi bem discutido e concluído.

Encerrar a reunião de forma agradável, na hora combinada.

d) Encaminhamentos das decisões

Page 21: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

13

Deixar claro as conclusões do estudo, as tarefas a serem encaminhadas, as responsabilidades

e os prazos.

Encarregar gente para acompanhar e cobrar as providências.

Combinar as próximas atividades

Observação: Você pode modificar ou acrescentar dicas tiradas da sua própria experiência.

II. TÉCNICAS PARTICIPATIVAS

Retirado da cartilha ―Concepção de Educação Popular do CEPIS‖ do Centro de Educação Popular

do Instituto Sedes Sapientiae, Junho 2008.

Técnicas são recursos pedagógicos usados no processo educativo, para facilitar o

aprendizado. São procedimentos didáticos, dinâmicas e instrumentos técnicos para o uso desses

recursos. Como já foi dito, Educação Popular não se confunde com o uso de procedimentos –

dinâmicas de grupo, recursos audiovisuais – que facilitam a integração e geram entusiasmo nas

pessoas. Os instrumentos ajudam no processo de tradução, reconstrução e criação coletiva do

conhecimento da realidade. A ―euforia do participativo‖ é enganosa, porque, por si, não prepara

ninguém para ser protagonista, para entender a realidade social ou para comprometer-se com a

transformação social. Às vezes, contribui para que as pessoas sejam manipuladas. Chefes

bonzinhos consultam, ouvem a opinião, e o trabalhador não desconfia que isso só facilita o

aumento da produção e riqueza dos patrões.

O uso de recursos pedagógicos não é neutro – a maneira de fazer uma atividade pode

afirmar ou negar seus objetivos. Quando a Educação Popular insiste no uso dos recursos

pedagógicos, tem clareza de que os instrumentos servem para ajudar na incorporação de

conteúdos, de forma participativa e crítica. Os desenhos, vídeos, dramatizações, poemas... São

caminhos para alcançar um objetivo. Da mesma forma, as dinâmicas não devem ser vistas como

um recurso tático e atrativo para animar pessoas e grupos; são recursos para estimular a

participação e a cooperação mútua. Entre as técnicas pedagógicas estão:

1. Dinâmicas de Grupo

São as várias formas de movimentar as pessoas presentes, em uma atividade e fazê-las

participantes, presentes de corpo, mente e coração. Facilitam o entrosamento, o conhecimento

mútuo, a construção de confiança e o intercâmbio de ideias e de experiências. Algumas

dinâmicas da Educação Popular.

A Mística

A mística de um Movimento é o conjunto de motivações e princípios que alimentam a sua

existência. Enquanto dinâmica, ajuda a recordar os valores, princípios e exemplos, baseados em

Page 22: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

14

convicções que unem a classe oprimida. Pode ser feita a qualquer hora, sempre ligada ao assunto

do dia. Deve ser curta, simples, bonita e, sobretudo, participada. Em forma de canto, poema,

gesto, mensagem, silêncio, testemunho. Não pode virar um show para ser assistido ou para

engrandecer quem a preparou.

A Apresentação

Usa-se dinâmicas de apresentação para quebrar o gelo, facilitar o conhecimento das

pessoas presentes, ouvir as expectativas, revelar identidades, saber o que as pessoas fazem,

pensam e sentem. Para evitar a formalidade ou a exibição, onde as pessoas se escondem atrás de

cargos e títulos. Existem diferentes e criativas formas de apresentação e os educadores devem ir

criando outras de acordo com o grupo e o objetivo da reunião.

A Dramatização

Serve para iniciar ou verificar se um assunto foi assimilado. Num encontro sobre relações

sociais de gênero, os grupos podem encenar como vive uma família. Ao analisar a apresentação,

o grupo pode refletir como se dão as relações sociais de poder. Encenar como fazer uma reunião

ajuda a ver os acertos, vícios e papéis que acontecem na realidade e o comportamento de

diversos atores.

Alongamentos e Brincadeiras

São feitas para descontrair, divertir, promover o entrosamento. Servem como exercícios para o

corpo – alongamentos, danças, capoeira...; ajuda na movimentação do plenário, além de uma

oportunidade de revelar habilidades e talentos das pessoas presentes.

A formação de grupos

É uma dinâmica para envolver todas as pessoas, para mastigar o assunto discutido,

verificar seu entendimento, aprofundar um tema, comparar o estudado com a vida e tirar

conclusões para a prática. Para levantar questões, o cochicho em plenário, ajuda. Se a tarefa do

grupo é a leitura de um texto, é melhor que se faça fora do plenário, em divisão por crachá, cor,

número, mútua escolha, vizinhança... Sempre com grupos pequenos e pergunta clara, para que

cada pessoa possa dar sua opinião. O resultado pode vir num cartaz a ser explicado em plenário.

2. O uso da poesia e da música

A forma poética e musical emociona, envolve, desarma e aproxima, porque pega as

pessoas por dentro. Para participar as pessoas precisam conhecer ou ter uma cópia em mãos.

Devem ser recitadas ou cantadas, no momento e ambientes adequados. A experiência da

Page 23: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

15

primeira leitura pública bem feita e solene, seguida de leitura coletiva, tem sido proveitosa. Pode

ser no começo, meio ou fim da atividade sempre ligada ao assunto tratado. Cada região ou grupo

pode e deve ter sua própria seleção.

O uso de recursos áudios-visuais

Quando se fala que o ―o povo tem que entender o que eu digo, tem que ver o que eu digo‖,

reforça-se a ideia de que ―a comparação é a cesta aonde o povo leva a mensagem para casa‖, ou

que ―um só olhar vale mais do que mil palavras‖. Este recurso vale por ser mais atrativo, provocar

várias interpretações, revelar a experiência das pessoas; porque, mesmo sem escolaridade, se

pode captar a mensagem. No processo de aprendizagem, 60% são recebidos pela visão; 20% pela

audição; 10% pelo tato; 5% pelo olfato; 5% pelo paladar.

Por isso, o poder da mídia. Entre os diversos recursos áudios-visuais, lembramos:

Desenho, cartaz, filme...

Quando usados como recurso pedagógico, servem para motivar o estudo sobre um tema

ou ilustrar um assunto debatido, serve para iniciar ou ilustrar um debate sobre o tema. O

desenho e/ou cartaz pode ser feito na hora ou pode vir preparado. As pessoas devem ter cópia

e/ou boa visão do recurso que está sendo utilizado. A leitura individual, em grupos e em

plenário, ajuda a desmontar a imagem ou a história. Após a exibição do filme é importante um

debate sobre ele. O uso de imagens é um bom exercício para aprender e ensinar, pelos modos

diferentes de ver, pelo debate, por reunir pontos de concordância e discordância, por sugerir

lições para a prática concreta. É necessário verificar se a mensagem foi captada e se foi refletida

a relação do recurso audiovisual com o assunto tratado.

O uso de mensagens, provérbios e parábolas

São recursos usados para reflexão, ou como provocação, conforme o tema. Exemplo:

―Quando o rico mata o pobre, o defunto é que vai em cana‖; ―Se o boi soubesse a força que tem,

ninguém dominava ele‖. Após sua leitura pública, solene, individual e coletiva, a pessoa sublinha

o aspecto que achou importante, comunica ao vizinho, ao grupo e ao plenário. Quem coordena o

debate deve estar atento para recolher e sistematizar as contribuições, em diálogo com o grupo e

sempre questionando as afirmações.

O uso de textos

É importante para um estudo mais aprofundado sobre um tema, além de um exercício de

leitura e sistematização do que foi lido. A leitura pode ser em grupo ou individual e possibilita a

criação do hábito de leitura e da continuidade da formação sem a presença do educador. Enfim,

as técnicas participativas, os meios, os métodos e até os instrumentos pedagógicos estão

intimamente vinculados ao fim do qual eles são o caminho. Por isso, é indispensável que os

22

Page 24: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

16

participantes da ação educativa se apropriem do conteúdo, da metodologia e, inclusive, do

funcionamento dos instrumentos.

TEXTOS PARA OS PRÉ- ERA’s

TEXTO 01 – A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta da

agroecologia

Contribuição da escola de Castanhal-PA, NTP de Agroecologia 2011-2012, Hueliton Pereira Azevedo; Amanda Rayana da Silva Santos; Renan da Silva Cunha.

O mundo contemporâneo atravessa uma crise sem precedentes. Não se trata de um

fenômeno conjuntural, mas do esgotamento de um projeto civilizacional que tem o seu

fundamento no ato de acumular riquezas nas mãos de minorias, sem considerar os limites

naturais e humanos necessários a sua própria reprodução. Em face da abrangência, profundidade

e complexidade dessa crise, já se tornou lugar comum à afirmação de que nos encontramos

diante de uma encruzilhada histórica. De fato, a combinação de uma população mundial

crescente e cada vez mais urbanizada com a degradação acelerada dos recursos naturais e as

mudanças climáticas globais molda um cenário perturbador que nos confronta com dilemas

decisivos.

Como alimentar uma população mundial crescente? Como manter os níveis de

produtividade alcançados pela agricultura industrial sem dar continuidade ao uso intensivo de

combustíveis fósseis e a deterioração da base biofísica que sustenta os processos produtivos da

agricultura? Como construir mecanismos de adaptação de sistemas agrícolas às já inevitáveis

mudanças climáticas globais? Para dar respostas a essas indagações é necessária uma mudança

Page 25: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

17

do modelo convencional de agricultura para estilos de agricultura de base ecológica e mudanças

nos padrões de consumo e de uso dos recursos. Enquanto essas mudanças forem sendo

materializadas, nosso papel é manter a produtividade da terra agrícola, a longo prazo, da

superfície mundial cultivável. Isso requer a produção sustentável de alimentos, que é alcançada

segundo Gliesman (2000) através de práticas agrícolas alternativas, orientadas pelo

conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e

nos contextos mais amplos das quais elas fazem parte.

Apesar de termos presenciado uma significativa elevação da produtividade e da produção,

a fome persiste em todo o globo e não podemos em hipótese alguma confiar nos meios

convencionais de aumentar a produtividade, para ajudar a satisfazer a necessidade de alimentos

de uma população mundial em expansão. Isso por que esse modelo de agricultura está

construído sob dois objetivos: a maximização da produção e do lucro. Em vista disso, um

conjunto de práticas (cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigação, aplicação de fertilizantes

inorgânicos, controle químico de pragas e manipulação genética de plantas cultivadas) foi

desenvolvido sem considerar as consequências não intencionais, de longo prazo, e sem

considerar a dinâmica ecológica dos agroecossitemas. Portanto, todas às práticas da agricultura

convencional tendem a comprometer a produtividade futura em favor da alta produtividade no

presente. Em face disso, além da produtividade qual é o problema que precisamos equacionar

para resolver a fome no mundo?

A realidade da condição atual da relação entre a sociedade e a natureza. As sociedades

humanas em qualquer que seja a sua condição e o seu nível de complexidade não existem em

um vazio ecológico, mas sim afetam e são afetadas pelas dinâmicas, ciclos e fluxos da natureza.

A natureza definida aqui como aquilo que existe e se reproduz independente da atividade

humana pela qual ao mesmo tempo representa uma ordem superior ao da matéria. Isso supõe o

reconhecimento de que os seres humanos organizados em sociedade respondem não só a

fenômenos e processos de caráter exclusivamente social, mas também são afetados pelos

fenômenos da natureza.

Nessa perspectiva as sociedades humanas produzem e reproduzem as suas condições

materiais de existência a partir de seu metabolismo com a natureza em uma condição que é pré-

social, natural e eterna. Este fenômeno implica em um conjunto de processos por meio dos quais

os seres humanos organizados em sociedade, independente de sua situação no espaço (formação

social) e no tempo (momento histórico), se apropriam, circulam, transformam, consomem e

excretam, matérias e energias provenientes do mundo natural.

A compreensão desse processo de relação da sociedade com a natureza é fundamental

para entender, como se encontra essa relação no atual momento e a necessidade de sua

ressignificação. Chegamos pela primeira vez na história da humanidade em um momento que a

Page 26: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

18

quantidade de recursos que as sociedades consomem (apropriação) hoje, é maior do à

capacidade que a natureza tem de repor e, além disso, a quantidade de produtos eliminados

(excreção) pelas sociedades é superior à capacidade que a natureza possui de reciclar e

disponibilizar novamente.

Assim, precisamos repensar a forma como estabelecemos o contato com a natureza e de

como a transformamos. Para isso, precisamos entre outras coisas desmistificar os mitos que

envolvem a atual relação das sociedades com a natureza. O primeiro deles é o mito da

desconexão do homem com a natureza, que determina que os seres humanos sejam entidades

desligadas do meio em que vivem. O segundo é o mito da natureza infinita, que prevê que os

recursos não se esgotam e, portanto, podemos explorar sem limites. O terceiro é o que defende

que a floresta preservada é um empecilho para o desenvolvimento, sustentando assim a

necessidade de simplificação dos agroecossistemas em uma lógica industrializadora. Esses

―mitos‖ constituem um conjunto de concepções que legitimam a exploração irracional e

inconsequente dos recursos naturais em nome de um ―desenvolvimento‖ pautado apenas no

crescimento econômico em detrimento da sustentabilidade.

Os desafios das ciências agrárias frente ao atual contexto

No contexto atual são muitos os desafios postos ao campo das ciências agrárias. Porém,

os aspectos que merecem maior atenção são: a interdisciplinaridade, o trabalho e a pesquisa.

A interdisciplinaridade

Esse contexto de crises interconectadas que vivemos (energética, ecológica, civilizatória e

econômica) e a necessidade de mudanças na direção da sustentabilidade, exigem da academia

uma revisão de seus pressupostos metodológicos e epistemológicos que guiam as ações de

pesquisa e desenvolvimento. Nesse sentido, é de fundamental importância que cada vez mais as

ciências agrárias movam-se no sentido de rever a lógica cartesiana de ciência que tem permeado

esse campo científico ao longo do tempo.

Essa concepção de ciência permitiu à humanidade realizar notáveis avanços no campo

científico; as grandes descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico atual são

inegavelmente tributários dessa concepção científica. Hegemônica no pensamento científico, ela

é fortemente embasada na disciplinaridade, no reducionismo, na especialização, na validação

experimental e na priorização dos aspectos quantitativos.

No entanto, o avanço da ciência, sobretudo no decorrer do século XX, apontou para as

limitações desta concepção científica. A impossibilidade de explicar e compreender

comportamentos e fenômenos naturais ditos complexos (como, por exemplo, os eventos

Page 27: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

19

climáticos, o funcionamento dos seres vivos, os ecossistemas, etc.) passa a evidenciar as

limitações e restrições da abordagem analítica/cartesiana na pesquisa científica.

Edgar Morin, ao participar de um colóquio, em 1979, apresentou de maneira clara e direta

essa ―crise‖ da ciência clássica cartesiana no decorrer da segunda metade do século XX:

Este método (cartesiano) efetivamente conduziu a ciência a

descobertas extraordinárias. Falso em seu princípio, ele se mostrou

fecundo em um primeiro momento. É aí que reside um dos paradoxos

da história. A obsessão atomista, ou seja, a ideia obsessiva de que é

preciso encontrar a menor unidade que será o ―tijolo‖ a partir do qual

se poderia reconstruir o universo, essa obsessão conduziu, assim

mesmo, à descoberta da molécula, do átomo, da partícula e,

atualmente, ela nos conduz, não mais à busca da unidade elementar,

mas à busca dos paradoxos fundamentais, ou seja, à complexidade da

base. A passagem do elementar ao fundamental é ao mesmo tempo a

passagem da simplicidade à complexidade. O mesmo ocorreu na

biologia. A obsessão pela unidade de base nos fez passar do

organismo à célula e, em seguida, da célula à biologia molecular, e a

biologia molecular acreditou encontrar finalmente o elementar nas

interações entre moléculas, na interação química. Em uma reviravolta

absolutamente inacreditável, é essa mesma biologia molecular que, no

fundo, nos apresentou os problemas fundamentais da organização

autônoma da vida. (...) Assim, princípios insuficientes impulsionaram a

descoberta e, ao mesmo tempo, eles mesmos provocaram seu próprio

desmantelamento. Esses princípios ultrapassados sobrevivem,

enquanto o novo princípio, o princípio da complexidade, ainda não

emergiu completamente! O princípio ―morto‖ ainda não está ―morto‖,e

o princípio ―vivo‖ ainda não vive (p. 98-9)

Morin (1977), ao afirmar que ―o todo é superior ao todo, o todo é inferior ao todo‖,

sintetiza de maneira exemplar um importante preceito que orienta a abordagem sistêmica.

Assim, em decorrência de fluxos e interações internas, a abordagem sistêmica considera que o

comportamento de um objeto pode ser diferente da soma dos comportamentos dos elementos

que compõem esse objeto.

Nesse sentido, a abordagem sistêmica, apresenta-se como um ―novo‖ método para a

compreensão e o estudo de fenômenos complexos. Sem se contrapor à abordagem analítica/

cartesiana, e sem negá-la, a abordagem sistêmica propõe-se a ser uma metodologia ―que

permita reunir e organizar os conhecimentos com vistas a uma maior eficácia da ação‖ (ROSNAY, 25

Page 28: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

20

1975). Esse caminho rumo a uma abordagem interdisciplinar que diminua o ―estranhamento‖

entre as disciplinas, que possibilite reflexões sistêmicas e não unilineares, que não fragmente a

visão dos profissionais, que alimente a necessidade de uma ciência cada vez mais envolvida com

a realidade concreta e com a emancipação das pessoas, necessita ser cada vez mais presente na

formação dos profissionais da área das ciências agrárias.

Pesquisa

A pesquisa científica tem representado um instrumento legitimador do modelo de

produção agrícola convencional. Isso tem ocorrido, entre outros fatores, através do

desenvolvimento de pressupostos epistemológicos e metodológicos que impossibilitam a

construção de uma visão mais humana e complexa da realidade. Nesse sentido, Gomes (2012)

defende que é necessário promover essa revisão dos pressupostos da ciência que guiam as ações

de pesquisa e desenvolvimento, para isso, elenca alguns elementos necessários a essa tarefa,

sendo eles: uma ruptura epistemológica, rigor no uso de conceitos e o uso do método.

A agroecologia é considerada uma disciplina científica que transcende os limites da

própria ciência, ao pretender incorporar questões não tratadas pela ciência clássica (relações

sociais de produção, equidade, segurança alimentar, autoconsumo, qualidade de vida,

sustentabilidade, etc.) e esta, por sua vez, se restringiu á aplicação de pressupostos

metodológicos.

Aceitar que os conhecimentos produzidos em outros contextos, além daqueles

considerados científicos, também são válidos, significa colocar em discussão os referenciais mais

caros à ciência clássica (e aos próprios pesquisadores). Se a ciência não representa a única fonte

de conhecimento válido, se os conhecimentos tradicionais e os saberes cotidianos também

devem ser considerados na produção do conhecimento agroecológico, então é necessário

promover uma articulação entre o conhecimento científico e os outros saberes empíricos. Isto

não é uma coisa fácil, se considerarmos a formação dos pesquisadores, a cultura e a estrutura

das instituições. Falar sobre as mesmas coisas não significa, necessariamente, ter a mesma visão

de mundo ou a mesma intenção. Por exemplo, tratar as pessoas como se fossem semelhantes,

não significa necessariamente, um tratamento justo. Esta consideração é importante para que na

pesquisa agroecológica não se incorra no mesmo equívoco da pesquisa clássica, que pretendia

uma tecnologia de caráter universal, sem considerar as especificidades de cada grupo de

agricultores. A agroecologia incorpora a diversidade e a diferença, por isso é muito mais

complexa.

Outra consideração relevante é o uso indiscriminado do termo sustentabilidade, que está

sendo transformado ou usado, com o propósito de ―crescimento econômico sustentável‖ através

Page 29: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

21

dos mecanismos de mercado, sem preocupar-se com a internalização das condições da

sustentabilidade econômica nem de incorporar os diversos processos que estão implicados na

própria sustentabilidade como o ambiente, o tempo ecológico de produtividade e regeneração da

natureza, os valores culturais e humanos, a qualidade de vida, entre outros. Neste sentido, a

consideração única dos valores e medições de mercado como indicadores de sustentabilidade,

acabou seguindo caminho contrário a sustentabilidade quando consideradas as dimensões sócio-

ambientais. Ou seja, a noção de sustentabilidade se divulgou e vulgarizou até formar parte do

discurso oficial e do sentido comum. Este mimetismo discursivo, gerado pelo uso retórico do

conceito, escamoteou o sentido epistemológico da sustentabilidade (Leff, 2000).

O método científico tem sido mais usado, no seu sentido convencional, que é visualizar um

fato (ou fenômeno) que deve ser repetido várias vezes, buscando obter o maior número possível

de detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão possível. Deve-se tomar o cuidado

com os ―vícios‖ para ocorra uma observação correta do fato; em muitos casos, a pessoa ver o que

deseja ver, e não o que está ocorrendo de fato.

Por outro lado, o uso do ―método‖ numa perspectiva não-convencional, adotou uma

postura relativista, quase ao estilo da epistemologia anarquista de Feyerabend (1992), o ―vale

tudo‖, que agiu corretamente ao abominar as heranças do empirismo, do racionalismo, do

positivismo e do mecanicismo, mas não chegou a contribuir para a flexibilização no uso do

método convencional. Ao não fazê-lo, também ficou na ―aparência‘‘, pois a falta de ―rigor‘‘, ou de

organização do trabalho (como deve ser a atividade de pesquisa), também impede de identificar

as ―causas‖.

Para citar um exemplo prático, é que um grupo de investigadores, ―mais cartesiano‖, não

conhece ou não estudou a teoria da trofobiose (Chaboussou, 1987). O outro, mais ―generalista‖,

quase tudo justifica em seu nome. Se o diálogo tivesse ocorrido, talvez a ―caixa-preta‖ tivesse

sido aberta, contribuindo para elucidar muitos problemas que ainda hoje continuam sem solução.

Ainda sobre o ―método‖, é claro que sua aplicação foi responsável por muitos êxitos científicos.

Entretanto, se for concebido em seu sentido estreito, identificado exclusivamente com o método

experimental, seu alcance fica radical e automaticamente limitado. Ademais, o método não

substitui o talento, mas o complementa: o investigador de talento cria novos métodos, o inverso

não ocorre. Para o caso da pesquisa em agroecologia, não se trata nem de abolir o método

convencional nem de trabalhar de forma anárquica, mas de construir ―um método‖ flexível o

suficiente para incorporar a complexidade em questão.

Trabalho

No intercâmbio com a natureza, o ser humano produz os bens de que necessita para viver,

aperfeiçoa a si mesmo, gera conhecimentos, padrões culturais, relaciona-se com os demais e

26

Page 30: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

22

constitui a vida social. Na relação dos seres humanos para produzirem os meios de vida pelo

trabalho, não significa apenas que, ao transformar a natureza, transformamos a nós mesmos,

mas também que a atividade prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da

conscientização (Frigotto, 1985). Na perspectiva dos interesses da classe trabalhadora, o estudo

e o debate para aqueles que se dedicam ao trabalho educativo e de qualificação deve se pautar

em dois aspectos: a impossibilidade de desenvolver as dimensões educativas do trabalho dentro

do sistema capitalista e a compreensão do trabalho como princípio educativo.

O modelo difusionista inovador de extensão rural, por exemplo, tem provocado a

expropriação dos camponeses do processo de produção do conhecimento que gera as

tecnologias que eles passam a utilizar e tem expropriado esses mesmos trabalhadores da

autonomia em gerenciar essas inovações a partir do potencial endógeno de seus

agroecossistemas, pelo fato de se tratarem de pacotes pré-desenvolvidos sob os quais os

agricultores tem que acessar acriticamente.

Frente a isso, na construção do conhecimento agroecológico entende-se que a natureza é

transformada pelos seres humanos a partir dos processos de trabalho. Assim, o processo de

produção de tecnologias deve ser adaptado às condições endógenas do sistema social produtivo

dos agricultores, de forma que possibilite a adequação dessas inovações e possibilite a inserção

dessas populações no processo de construção do conhecimento e produção das tecnologias e

inovações.

A FEAB possui uma importante contribuição nesse debate. Os estágios interdisciplinares de

vivência (EIVs) tem sido uma ferramenta importante na construção de um processo de formação

pautado na realidade concreta, desfragmentada e reflexiva. Principalmente por se tratar de um

momento que possibilita aos estudantes vivenciar o trabalho dos camponeses que, de forma

maestral, trabalham tanto nos processos produtivos quanto na gestão da unidade de produção.

Essa experiência possibilita também aos estudantes entender a dimensão ontológica (inerente ao

ser) do trabalho, percebendo que este, de modo necessário, transcende o objetivo meramente

profissional, tratando-se, portanto da própria essência do homem.

A alternativa agroecológica

Contrapondo-se ao padrão convencional de desenvolvimento agrícola fundamentado no

paradigma da Revolução Verde, no final do século XX ganhou corpo em defesa de formas mais

sustentáveis de produção agricola um processo inicialmente identificado como ―agricultura

alternativa‖. A partir da década de 1990, na América Latina, essa denominação foi substituída

pela de ―Agroecologia‖.

A Agroecologia enfatiza o desenvolvimento e a manutenção de processos ecológicos

complexos capazes de subsidiar a fertilidade do solo, bem como a produtividade e a sanidade

27

Page 31: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

23

dos cultivos e criações. O nível de ruptura com os sistemas convencionais pode variar bastante

entre as iniciativas de promoção da Agroecologia, podendo ir desde simples medidas de redução

ou substituição do uso de insumos agroquímicos até a completa reestruturação da lógica de

organização técnica e econômica dos agroecossistemas, estabelecendo forte analogia estrutural e

funcional com os ecossistemas naturais nos quais estão inseridos.

O alto grau de especificidade local implica que o desenvolvimento dos agroecossistemas

pela perspectiva agroecológica se faz com a forte contribuição de dinâmicas locais de inovação e

não por meio da difusão de soluções técnicas universais, tal como designado no paradigma da

Revolução Verde. A busca da eficiência agroecológica depende da manutenção de

agroecossistemas complexos, com alta diversificação de culturas e criações, o que se consegue

por meio de associações, rotações e sucessões de espécies. Esse tipo de sistema impõe limites ao

tamanho das unidades produtivas e às possibilidades de mecanização das operações de manejo.

Por essa razão, cobra a execução de trabalhos qualificados, flexíveis e atentos aos detalhes de

manejo, o que significa que o trabalho é realizado de forma inseparável à gestão do sistema. Ao

contrário dos sistemas convencionais que são dependentes do emprego intensivo de capital,

sendo o trabalho essencialmente mecânico e separado do processo de gestão.

Em síntese, a agricultura familiar camponesa é, por excelência, a base sociocultural para a

generalização da alternativa agroecológica, pois conseguem integrar trabalho e gestão em um

processo indivisível, que é condição básica para o manejo da complexidade inerente à prática

agroecológica. Muito embora, princípios da Agroecologia possam ser empregados por grandes

produtores empresariais, o nível de eficiência econômica e ecológica nessas unidades de

produção tende a ser muito menor do que quando aplicados em pequenas unidades de gestão

familiar.

Segundo levantamento realizado na Universidade de Sussex, Inglaterra, mais de 1,4

milhões de agricultores em todo o mundo adotam princípios da Agroecologia. O estudo

identificou aumentos médios de 100% na produtividade em centenas de projetos após a adoção

desses princípios, com registros de 400% de aumento em situações mais avançadas na transição

agroecológica. Além da boa produtividade, os sistemas manejados segundo o enfoque

agroecológico, são sistemas com balanço energético positivo e altamente poupador de energia de

origem fóssil; recuperam e conservam a fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além

de serem resistentes aos processos erosivos; funcionam como sumidouro de carbono e não

emitem ou emitem poucos gases de efeito estufa; integram-se funcionalmente à vegetação

natural, dando maior estabilidade aos microclimas onde estão inseridos; são livres de

contaminação química causada por agrotóxicos e fertilizantes solúveis e da poluição genética

causada pelos organismos geneticamente modificados.

Page 32: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

24

Segundo a Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o

Desenvolvimento (IASSTD, 2009) o conjunto desses efeitos positivos indica que a generalização

da Agroecologia é uma estratégia consistente para que a crise do modelo convencional seja

enfrentada estruturalmente, a começar pelo desafio de alimentar uma população mundial

crescente em condições adequadas e sustentáveis. De forma ainda mais explícita, o relator das

Nações Unidas para o Direito Humano à Alimentação divulgou, em 2010, um relatório em que

afirma que a Agroecologia pode a um só tempo aumentar a produtividade agrícola e a segurança

alimentar, melhorar a renda de agricultores familiares e conter a tendência de erosão genética

gerada pela

agricultura industrial (DE SCHUTTER, 2010).

O principal desafio à generalização da perspectiva agroecológica é de natureza política e

não técnica. Ele se apresenta diante da necessidade de superação do poderio político, econômico

e ideológico dos setores do agronegócio que sustentam a permanência e a expansão do modelo

da agricultura industrial. Entre outros efeitos negativos, a dinâmica expansionista da lógica do

agronegócio tem sido a principal responsável pela desaparição da agricultura familiar camponesa

em todo o mundo. Isso não significa apenas a diminuição do número de unidades produtivas

familiares que poderiam ingressar em trajetórias de transição agroecológica, mas implica

também a perda da cultura camponesa e de povos e comunidades tradicionais, elemento

essencial para a construção de conhecimentos agroecológicos ajustados às mais variadas

peculiaridades socioambientais.

TEXTO 02 – Falta de estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo

31 de agosto de 2012

Por José Coutinho Júnior

Da Página do MST

Os jovens rurais brasileiros continuam a abandonar a agricultura e o meio rural para tentar

a sorte nas cidades. Esse êxodo não é fruto apenas de uma lógica que dita que a cidade é o

mundo das possibilidades, enquanto o campo é uma área atrasada, mas principalmente de

questões materiais e estruturais de um modelo agrícola predominante junto com práticas

políticas que excluem o jovem da produção rural e minam suas possibilidades de ter uma vida

digna no campo.

Segundo o militante da Pastoral da Juventude Rural (PJR) e do coletivo de jovens da Via

Campesina, Paulo Mansan, ―os fatores que levam a essa saída são principalmente estruturantes.

Em primeiro lugar, o jovem não tem acesso à terra: a maior parcela de jovens que está saindo do

campo são sem terras‖.

Os problemas encontrados na falta de políticas e incentivo para a Reforma Agrária afetam

Page 33: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

25

diretamente a juventude. Segundo Mansan, o jovem é um dos maiores prejudicados pela

paralisação da Reforma Agrária. ―O caminho que ele encontra no final é acabar trabalhando como

empregado e ganhar um salário mínimo na cidade do que tentar continuar na luta pela terra‖.

Para que o jovem possa ficar no campo, é necessário que a Reforma Agrária vá além da

distribuição de terras, afirma a pesquisadora Natacha Eugênia Janata. ―Precisamos de uma

Reforma Agrária que tenha estratégias para dar um retorno e segurança financeiros. Além disso,

deve existir uma estrutura de saúde, educação e cultura voltadas aos jovens e à realidade no

campo. A permanência do jovem no campo é uma consequência do cumprimento desses fatores‖.

Enquanto essas políticas não são postas em prática, a realidade do jovem no campo se

agrava: dados do programa Brasil sem Miséria apontam que de um total de 8,2 milhões de jovens

rurais, 2,3 milhões vivem em situação de miséria, com renda mensal de 70 reais ou menos.

Sem um lote próprio e condições estruturais dignas, o jovem não consegue obter uma

renda fixa no campo e vai para a cidade. Segundo Natacha, ―É uma questão de sobrevivência. O

jovem tem a necessidade de uma renda mensal, e a cidade oferece a ele um vínculo empregatício

e um salário, mesmo que seja baixo. A agricultura não dá a ele as relações materiais que a cidade

dá‖.

Inclusão

É difícil para o jovem obter um lote de terra hoje pela Reforma Agrária, pois o cadastro do

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) privilegia agricultores que aguardam

a terra por mais tempo e que tem uma família constituída, fatores que excluem os mais novos de

obter um pedaço de terra.

Apesar de concordar com a priorização feita pelo Incra, Mansan admite que é necessário

pensar em formas de acabar com a exclusão da juventude advinda dele. ―É preciso pensar em

uma forma de assentar o jovem, como por exemplo, assentar vários jovens em um único espaço‖.

Segundo Willian Clementino, secretário de políticas agrícolas da Confederação Nacional

dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as organizações sociais e o Incra estão discutindo

formas de inclusão da juventude no cadastro. ―Nos últimos dois anos incidimos bastante na

norma de seleção do Incra. Hoje há um grupo de trabalho na entidade que discute as normas de

seleção e como potencializar o acesso da juventude à terra‖.

A exclusão do jovem não se dá apenas no acesso à terra, mas na falta de voz em relação à

tomada de decisões e participação nos lotes da família. Segundo Mansan, essa lógica ―é uma

coisa que os movimentos têm que desconstruir, porque é muito predominante. As relações

patriarcais dificultam a permanência do jovem, pois quando não há um processo bem discutido

de cooperativismo, quem controla os recursos da família e até mesmo os frutos do trabalho do

jovem no lote é quem coordena a família.

Dessa forma, o jovem acaba tendo dificuldade de ter renda própria. Esse fator contribui

para sua saída, pois longe dos pais, o que ele ganhar é dele, podendo até mandar dinheiro para

ajudar a família. A sensação de sair do lote contribui na busca da independência desse

patriarcalismo. Para quebrar isso, nós temos que construir novas práticas de cooperativismo‖.

Para Natacha, ―a juventude é parte da classe trabalhadora, mas se encontra na transição

entre adulto e criança. Entrar no mercado de trabalho é difícil: o jovem acaba fazendo o trabalho

braçal nos lotes familiares, mas não tem acesso direto aos frutos dos seus trabalhos. Eles querem

Page 34: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

26

trabalhar no campo, mas a sua vontade acaba sendo podada pelos adultos. O jovem participa,

mas sua opinião não é decisiva; ele quer estar incluído no campo, mas para isso acontecer de

fato, as suas decisões precisam ser levadas em conta‖.

Quais soluções?

A não permanência da juventude no campo preocupa os agricultores mais velhos com

relação ao destino da propriedade: se não há ninguém da família que tenha vontade de herdá-la,

o que vai acontecer com ela? Uma resposta ao problema da sucessão vem sendo cursos técnicos,

que capacitam os jovens a se tornarem empreendedores. No entanto, esta lógica individualista

transforma o lote em um simples negócio, além de sua eficácia ser questionável.

De acordo com Mansan, ―não que o jovem não tenha que saber administrar sua

propriedade, mas querer resolver o seu problema sozinho não é possível. A solução está nas

práticas onde se desenvolve o cooperativismo, o associativismo, onde o jovem é integrante de

um grupo que coletivamente consiga produzir as práticas de um campo diferente, um campo

onde tem gente e onde ele viva com qualidade de vida. Essa é a grande luta. Essa história do

empreendedorismo, nós podemos perceber que 80, 90% dos casos não dão certo. Sozinho o

jovem não consegue resolver tudo‖.

Para que o jovem possa não apenas suceder os pais, mas ser capaz de pensar e

experimentar novas formas de agricultura, ele precisa ser reconhecido como agente político no

campo, tão capaz de produzir quanto os adultos. Se isso for concretizado, os benefícios são

grandes. Willian aponta que ―a juventude hoje no campo é protagonista das experiências

alternativas no campo. As maiores experiências de agroecologia, de lidar com a terra, produzir

alimentos sem veneno, exploração do turismo rural, com potencial sustentável, econômico e

financeiro tem sido experiências da juventude‖.

Exemplos desse protagonismo, cita Willian, são jovens do Maranhão que fizeram um curso

de capacitação na CONTAG, e depois arrendaram um terreno coletivamente, onde começaram

uma produção agroecológica; jovens no sul do país que trabalhavam com fumo, mas

abandonaram a produção para iniciar o trabalho com agroecologia, e jovens que trabalham com

o turismo rural, mostrando às pessoas o que é e como funciona a agricultura familiar.

A capacidade da juventude em criar, segundo Mansan, se dá porque ―ela está no momento

de buscar novas experiências. O jovem está mais aberto ao sonho e num processo de

encantamento maior, e é aí que nós temos que, juntamente com a juventude organizada, provar

que o campo é o lugar que deve ser construído coletivamente e que a juventude tem um papel

determinante, tanto para inovar quanto pela sucessão‖.

TEXTO 03 – Uma visão sobre Educação do Campo no contexto da realidade brasileira

Contribuição do Núcleo de Trabalho Permanente em Educação (FEAB Fortaleza)

―Me movo como educador,

porque, primeiro,

Page 35: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

27

me movo como gente (...) ―

Paulo Freire

A frase acima, citada pelo educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, evidencia com clareza a

importância da existência de uma educação referenciada nas demandas do povo, e nos faz

refletir que, a forma de educar da qual ele menciona, não está ligada a um ensino que se

restringe as salas de aula, mas sim em uma educação que possibilite a construção de uma

sociedade mais justa, e principalmente, que respeite cada pessoa em seu meio social.

Essa definição de educação citada por Paulo Freire está intimamente ligada ao conceito de

Educação do Campo, mas para entendê-la é necessário um olhar mais amplo sobre o assunto, e

para isso, é essencial resgatar algumas perguntas que envolvem desde a compreensão de sua

metodologia até a sua interpretação. Diante desse contexto devemos então nos perguntar, o que

é ―Educação do campo‖? O que a diferencia de ―Educação Rural‖? De que forma está inserida a

educação contextualizada dentro da educação do campo?

A educação do campo nasceu como forma de crítica à atual situação da educação no Brasil,

e principalmente, para contrapor o modelo de aprendizagem que está colocado em nossa

sociedade, onde atualmente, os maiores beneficiados são o agronegócio e os grandes

latifundiários. Com isso, é perceptível a importância de uma educação voltada para povo que

trabalha e vive no campo, e sente a real importância de haver um método educacional de acordo

com a sua realidade. É nesse contexto de educação diferenciada e voltada para os camponeses,

que nasce a chamada Educação do Campo.

Deste modo, a Educação do Campo se distingue de Educação Rural, não só em

metodologia, mas em todo o seu contexto de intencionalidades. A concepção de educação rural

surge através de iniciativas de políticas públicas, onde a definição do que é área rural é

estabelecida através de sensos de pesquisa e o investimento do governo em estrutura e ensino

transforma o espaço restrito a escolas desestruturadas e professores mal remunerados. A

Educação Rural afirmada por políticas públicas desconsidera a realidade e cultura das pessoas

que vivem no campo, despreza as suas individualidades e insere conceitos urbanos que não

contribuem para uma educação voltada aos camponeses.

Por outro lado temos a Educação do Campo, protagonizada e construída diretamente pelos

movimentos sociais populares e que traz uma visão transformadora, capaz de formar o povo

como agente crítico e político. Saindo do papel de apenas ouvinte e passando a estar dentro do

processo. Conhecendo e estudando a partir do lugar onde vive, dos problemas enfrentados na

região, problematizando situações, abordando a cultura, a religião e os costumes locais no dia-

a-dia, aproximando-se da realidade camponesa, e não urbana. Através disso, a Educação do

Campo deixa de ser para o povo e torna-se do povo, apontando para um processo profundo de

transformação social. E assim, tornando-a parte essencial em um projeto popular para o Brasil.

Apesar de a educação ser um direito de todos, até o ano de 2011, mais de 24 mil escolas

do campo foram fechadas. Por outro lado, o analfabetismo representa 9,7% do total da população

brasileira. No Nordeste a situação se agrava ainda mais, e a taxa de analfabetismo chega a 18,7%

Page 36: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

28

entre pessoas com mais de 15 anos.¹ Isso representa um retrocesso nas políticas públicas para o

campo e alerta para a criação de iniciativas que visem mudar essa situação, como a campanha

nacional ―FECHAR ESCOLA É CRIME‖, criada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

(MST), que tem como objetivo evitar o fechamento das escolas do campo, lutar por melhorias nas

escolas já existentes e buscar qualidade na educação pública.

É importante entender que a luta por educação no campo está diretamente ligada à luta

por melhorias de vidano campo, isto é, desenvolvimento no âmbito educacional significa também

benefícios para o campo. Por essa razão, é essencial que o desenvolvimento do qual falamos seja

voltado para a agricultura familiar, para agroecologia, para a realidade dos camponeses e

trabalhadores. E isso só é possível com pressão social, e através de uma luta onde os

personagens principais desse processo são os movimentos sociais, os jovens estudantes do

campo e da cidade, as tribos indígenas, os povos quilombolas e todo o povo brasileiro que

almeja um novo projeto popular para o nosso país.

―Entre tijolos de areia uma nova escola se ergue,

das mãos de homens e mulheres que se misturam ao cimento

e enquanto sobem as paredes, avançamos nossa luta

forjando novos sujeitos, nessa construção da vida

O que construímos? Com suor e com beleza construímos a nós mesmos;

Construímos nossos sonhos; Construímos nossa história;

Num projeto coletivo, construímos um novo homem,

construímos uma nova mulher, construímos um novo campo,

construímos uma nova educação, construímos a Educação do Campo!‖

- Paulo Roberto

FEAB Fortaleza

Núcleo de Trabalho Permanente em Educação

Referências

1 (Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística) 2009, do Censo Escolar do INEP/MEC (2002 a 2009), e da

Pesquisa de Avaliação da Qualidade dos Assentamentos da Reforma Agrária INCRA, 2010).

TEXTO 04 – Movimentos sociais consideram Política Nacional

Page 37: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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de Agroecologia insuficiente

12 de setembro de 2012, do site do MST

Por Viviane Tavares

Da EPSJV/Fiocruz

Esperada por diversos movimentos sociais, a Política Nacional de Agroecologia e Produção

Orgânica (PNAPO) foi instituída pelo decreto 7.794 no dia 21 de agosto. Prevista para sair em

junho, durante a Cúpula dos Povos, sua publicação foi adiada por quase três meses e avaliada

como tímida.

Com o objetivo de integrar, articular e adequar políticas, programas e ações da produção

agroecológica e orgânica, a política tem como diretrizes a promoção da soberania e segurança

alimentar e nutricional, do uso sustentável dos recursos naturais, a conservação dos

ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados, a valorização da

agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências locais, além

das questões da participação da juventude e da redução das desigualdades de gênero.

No entanto, questões consideradas fundamentais para a Articulação Nacional de

Agroecologia (ANA), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e a Associação

Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) foram deixados de lado como, por exemplo, o plano de

redução de uso de agrotóxico no Brasil com banimento das substâncias já proibidas em diversos

países, a definição de áreas contínuas de produção agroecológica, além de apoio à pesquisa e

assistência técnica deste modelo. "Propomos um programa específico para as mulheres, uma vez

que elas têm um papel fundamental na transição agroecológica, mas a política trouxe uma

abordagem muito sutil. É preciso reconhecer o papel das mulheres que hoje ainda são vistas

apenas como apoio nestas atividades", acrescenta a presidente do Consea, Maria Emilia Pacheco.

Alguns movimentos sociais também apresentaram seu ponto de vista sobre a PNAPO. Em

moção publicada durante o I Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do

Campo, das Águas e das Florestas: por Terra, Território e Dignidade realizado em agosto, a

função social da terra e a promoção do acesso à água como um bem de domínio público são

lembradas como reivindicações não contempladas pela política. Segundo o documento, a

participação da sociedade também foi restringida. "Tivemos duas grandes decepções em relação

à questão da participação da sociedade civil, a primeira delas é que a política define a criação de

uma comissão e não a de um conselho, como nós havíamos solicitado. Além disso, na sua

composição, ela foi definida como paritária, enquanto apostávamos na composição de 2/3, assim

como é constituído o Consea e que temos experiências muito positivas", explica Maria Emilia.

Ganhos

A Parte 1 do Dossiê da Abrasco - Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Saúde lançado em

abril no World Nutrition Rio 2012 indicava para a criação de uma política de agroecologia como

uma forma de promoção da saúde. "Pelo olhar da saúde coletiva, a gente percebe que o nosso

Page 38: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

30

modelo agroecológico pode evitar algumas causas dos problemas de contaminação por

agrotóxico, por exemplo, que está associado ao modelo de agricultura quimificado, baseado na

revolução verde. A agroecologia é uma proposta de alteração do modelo, então, pela primeira

vez, a gente começa a ver aparecer políticas que sinalizam e apontam nesta direção", comentou

Fernando Carneiro, da Abrasco.

Maria Emilia lembra ainda que as diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional também apontavam para a implantação de sistemas sustentáveis de base

agroecológica. "A produção da agroecologia inclui também a produção de hábitos alimentares

com características mais regionais, portanto, mais saudáveis, permitindo a sustentabilidade dos

sistemas alimentares", explicou.

Ela ainda ressalta que uma dos destaques positivos desta política é encontrado no artigo

12, no qual propõe alterações sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas - SNSM, aprovado

pelo Decreto nº 5.153, em relação à dispensa de inscrição no Registro Nacional de Sementes e

Mudas (RENASEM), facilitando assim a multiplicação de sementes ou mudas para distribuição,

troca e comercialização em diferentes estados. "É fundamental ter um programa de conservação

da biodiversidade, e podemos ver pouco deste reconhecimento nesta parte da política, que

reconhece existência da semente crioula e nativa. Antes víamos um restrição do direito dos

agricultores, que, agora, está tendo mais flexibilidade, incentivando assim esta produção e

comercialização", analisa.

Próximos passos

De acordo com Fernando Carneiro, da Abrasco, é preciso agora criar a Comissão Nacional

de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) para que os objetivos da política passem a se

concretizar. "Sem dúvida esta política é uma conquista dos movimentos que, ao longo de anos,

vêm pensando e propondo questões, mas ela precisa da criação de Comissão urgente para que a

política não se reduza a apenas uma carta de intenções", analisa. Caberá à Comissão Nacional de

Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), dentre outras competências, a elaboração e o

acompanhamento da PNAPO e do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

(PLANAPO), além de propor diretrizes, objetivos e prioridades do plano ao Poder Executivo

Federal.

A definição das prioridades também é apontada pela representante do Consea como um

dos primeiros passos a serem tomados. "Quando nós fizemos e encaminhamos sugestões à

política, estas vinham acompanhadas de medidas prioritárias que não foram acatadas. Agora

essas prioridades devem ser definidas o quanto antes para que possamos negociar com o

governo e começar a concretizar a elaboração do PLANAPO que o decreto prevê", aponta a

representante do Consea. Ela explica ainda que para instituir a Comissão Nacional de

Agroecologia e Produção Orgânica é preciso pressionar o governo para a criação de uma portaria

que a regulamente. Para tal, a ANA e o CONSEA já estão em articulação e com audiências

previstas com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas e com ministro-chefe da

Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto de Carvalho para as próximas

semanas.

Page 39: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

31

TEXTO 05 - Por que a tecnologia não chega no campo?

8 de agosto de 2012

Da Página do MST

Computadores, celulares, câmeras fotográficas, projetores de filmes, filmadoras,

videogames e televisores de última geração... Os jovens do campo querem ter acesso a essas

tecnologias. A televisão, novelas e filmes diariamente fazem propaganda das novas tecnologias.

Esse é um dos motivos que leva boa parte da juventude que vive no campo a querer mudar para

as cidades.

Mas será que os jovens do campo precisam ir até a cidade para ter acesso a tudo isso? Não

seria melhor que todas as pessoas que vivem no campo e na cidade tivessem as mesmas

condições de acesso à tecnologia?

A vida no campo não é melhor nem pior que na cidade. Na cidade, as pessoas trabalham

muito, têm pouco tempo livre e o salário é pouco. Você deve conhecer alguém que mudou do

campo para a cidade, pergunte se lá não tem problemas?

E a tecnologia, você sabe como ela é produzida? A tecnologia não foi criada pelas

empresas, é fruto do trabalho humano desenvolvido ao longo da história para melhorar a

humanidade. Desde os satélites no espaço sideral ao chip dos celulares, carros, tratores,

maquinários agrícolas, etc; o trabalho de homens e mulheres está presente em tudo.

Na sociedade capitalista as empresas transformaram a tecnologia em um produto de

consumo. Assim, os trabalhadores pobres do campo e da cidade, que não têm dinheiro para

comprá-las, não têm acesso às mesmas. Aumentado as diferenças entre ricos e trabalhadores.

Por você acha que isso acontece?

Uma família que mora nas periferias urbanas não consegue pagar 100 reais por mês para

um pacote de internet. Sem contar que antes precisa comprar um computador, que está ficando

mais barato, mas depois de um ano já está velho e travando...

É impossível discutir o acesso às novas tecnologias da informação sem a democratização

da internet. A universalização da internet banda larga – pública, gratuita e de qualidade – é

fundamental para permitir aos assentados essa ferramenta.

A proposta do governo federal é implantar um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

O plano foi criado em 2010 e promete a instalação de telecentros com internet nos

assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária. Mas até agora quase nada saiu do papel.

Por que será que até hoje os governos não instalaram o que prometeram?

Precisamos cobrar do governo federal a garantia desse acesso à internet nos

assentamentos. Todos queremos celular, computador e internet para nos comunicar com o

mundo. Mas por que não montar uma rádio comunitária no assentamento?

No assentamento, uma rádio pode ser um instrumento importante para os camponeses

comunicarem-se entre si e com quem vive na cidade, fortalecer a cultura camponesa, além de

ajudar na organização de quem vive no campo.

Page 40: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

32

A Lei de rádios comunitárias está fora da realidade do meio rural hoje no Brasil, pois essas

rádios só podem atingir o raio de 1 km e ter um transmissor com potência máxima de 25 watts.

Quando instalada nos assentamentos, esse modelo de rádio não consegue atingir as famílias da

maioria assentadas, que vivem em lotes, distantes.

Da mesma forma que lutamos pela terra e por Reforma Agrária, também é importante criar

tecnologias alternativas e outros mecanismos para montar rádios comunitárias e lutar pelo

acesso às novas tecnologias da informação, como a internet. Para isso, também precisamos de

políticas públicas que democratizem a comunicação no campo e na cidade.

Somente com luta e organização essas transformações serão possíveis. Em vez de mudar

para a cidade, vamos nos organizar e fazer do campo um lugar bom de viver, com acesso à

comunicação, às novas tecnologias da informação, à cultura, lazer, esporte, educação etc.

A juventude Sem Terra tem papel fundamental nessa batalha. E você, o que acha? Pronto

para a luta?

TEXTO 06 - Agroecologia versus Tecnologia: verdade ou mito?

Lívio Diego

FEAB e LPJ

Desde a revolução verde e com o advento do agronegócio que se criou uma falsa

separação entre a agricultura alternativa (hoje agroecologia) e o uso de tecnologias. Como se as

pessoas que defendem e constroem no dia a dia a agroecologia fossem contra todo e qualquer

avanço tecnológico.

Dessa forma algumas perguntas voltam à aparecer com toda força. A quem serve a

tecnologia? Para onde vão os financiamentos públicos na pesquisa? Qual o papel dos pacotes

tecnológicos? O que empresas privadas fazem dentro de universidades públicas? Os

questionamentos são muitos e nem tudo está totalmente esclarecido. Ainda há muita coisa por

ser descoberta.

No entanto já da para saber a resposta para algumas dessas perguntas. Por exemplo

sabemos a serviço de quem a tecnologia está e posso lhes falar que não é a serviço do povo.

Page 41: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

33

Quase a totalidade do que é pesquisado pelas universidades

públicas e pelos órgãos de pesquisa do Estado brasileiro hoje vai

para as corporações capitalistas, principalmente as

multinacionais e transnacionais. No agronegócio – representante

do capitalismo no campo – temos alguns exemplos, como a

Bayer, Syngenta e Monsanto.

Lembrando que além dos centros de pesquisas públicas

(universidades, EMBRAPA, etc.) as empresas ainda contam com

estabelecimentos de pesquisa próprios. O lance é que esses também contam com ajuda do

Estado, através das parcerias público privada, da isenção fiscal e dos pareceres técnicos

favoráveis de órgão ambientais no sentido de liberar áreas para o uso das empresas mesmo que

o estudo sobre os impactos não esteja tão condizente com a realidade por exemplo.

Só para se ter ideia do poder político e econômico que essas empresas tem peguemos a

Monsanto como exemplo. Elá tem sua sede nos Estados Unidos da América, mas está em também

outros 60 países. Atingiu uma cifra de US$ 11,7 bilhões de lucro em 2009 (se contarmos com o

que não é declarado o valor é muito maior).¹ Além de usar parte do seu poder para fazer lobby

(comprar os políticos) para aprovarem leis que facilitem a comercialização de seus produtos,

mesmo que esses produtos não tenham passados por testes suficientes para comprovarem sua

conformidade com os padrões de segurança e saúde.² Fora que sempre os órgãos públicos

responsáveis tendem a dar parecer favorável. Salve alguns casos em que diretores da ANVISA por

exemplo se colocaram contra a liberação de alguns agrotóxicos, mas estes logo rodaram.

E a situação tem piorado dentro das universidades públicas, que historicamente é o local

do ―pensamento livre‖, onde o tripé do ensino, pesquisa e extensão devem estar voltados para a

solução dos problemas de nossa sociedade, mas como isso pode acontecer se empresas privadas

estão cada vez invadindo com mais força as universidades, através de financiamentos enormes

nos laboratórios e departamentos.

Aí fica a pergunta. Para quem vão servir essas pesquisas? Para os agricultores que lidam

diariamente com os problemas do campo ou para a empresa que pagou? Qual o interesse dessas

empresas? Resolver os problemas do camponês ou apenas obter lucros?

Quanto aos financiamentos públicos nem é preciso especular muito. Mesmo com os

avanços obtidos nos últimos anos ainda temos muito pelo o que lutar, inclusive para garantir o

que já ganhamos, como no caso do Programa 1 milhão de Cisternas (P1MC) cujo o governo está

querendo modificar a metodologia do programa que atualmente implanta cisternas de placa para

as cisternas de plástico, acabando assim com a participação das famílias na implantação da

mesma. Participação essa que se dá desde a mobilização da comunidade para a construção das

Page 42: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

34

cisternas (são as próprias famílias as responsáveis) até a formação técnica e política das famílias

envolvidas. Onde nas formações se debate as questões de gênero, divisão sexual do trabalho,

lutas sociais e técnicas agrícolas por exemplo. Além disso privatizando essa implantação e

tornando-as mais caras (o gasto com as de plástico é de R$ 5 mil enquanto as de placa custam

R$ 3 mil), além de que as cisternas de plástico são bem menos duráveis e exigem um custo maior

de manutenção. Dinheiro esse que sai do bolso das famílias.

Outro grande problema do financiamento público está na disponibilidade de crédito para

os agricultores familiares, pois para que estes agricultores acessem essas fonte de crédito eles

tem que se adequar a pacotes tecnológicos pré-definidos com as sementes, agrotóxicos,

tratores, insumos e implementos, inclusive as vezes sendo indicada até a marca ou distribuidor.

Assim o agricultor é forçado a entrar em uma lógica de produção diferente da qual ele está

preparado para atuar. O que muitas vezes faz com que ele fique devendo ao banco e tenha

problemas para pagar. Além das dificuldades para a mulher ou o jovem acessar esses créditos,

devido a burocracia patriarcal de nosso sistema que torna a mulher e o jovem dependentes do

homem (que teoricamente tem o papel de marido e pai, respectivamente), excluindo-se a

possibilidade de tipos diferentes de famílias, como também a independência desses sujeitos.

Lembrando que a diferença entre a verba destinada ao agronegócio e a agricultura familiar

é gigantesca. Levando-se em conta investimentos da administração direta - Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento e operações de crédito subsidiadas de bancos estatais -

Banco do Brasil e BNDES -, o governo já repassou para o agronegócio, desde 2003, R$ 106,1

bilhões. O valor equivale a mais de dez vezes o orçamento de R$ 11,4 bilhões previsto para o

programa Bolsa Família em 2009, duas vezes e meia o orçamento de R$ 41,6 bilhões do

Ministério da Educação e é 78,3% superior ao orçamento do Ministério da Saúde. O montante

representa, também, 133% a mais do que os R$ 45,46 bilhões destinados pelo governo, no

mesmo período, para a agricultura familiar e reforma agrária.³

Dessa forma podemos constatar que o problema de acesso e desenvolvimento de

tecnologias por parte da agroecologia está diretamente ligado a toda essa problemática

anteriormente citada, mas que mesmo com tudo isso a agroecologia se mostra cada vez mais

preparada e capaz de substituir por completo o agronegócio.

¹ Dados obtidos no site oficial da Monsanto.

² Dados obtidos no documentário ―O mundo segundo a Monsanto‖.

³ Dados obtidos da ASSINAGRO (Associação Nacional dos Engenheiros Agrônomos do INCRA).

Page 43: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

35

TEXTO 07 - Orgânico X Agroecológico, você sabe a diferença?

Por: M. Humberto - Estudante de Agronomia UFAL - Universidade Federal do Alagoas, Retirado do site do ERA Amazônico.

Por estarem intimamente ligados a questão do natural acabamos por confundir essas

nomenclaturas. A mídia trata de colaborar com isso muito bem. Na verdade existe uma grande

diferença entre alimento orgânico e alimento Agroecológico.

A agroecologia é a junção harmônica de conceitos das ciências naturais com conceitos das

ciências sociais. Tal junção permite nosso entendimento acerca da Agroecologia como ciência

dedicada ao estudo das relações produtivas entre homem-natureza, visando sempre a

sustentabilidade ecológica, econômica, social, cultural, política e ética. Basicamente, a proposta

agroecológica para sistemas de produção agropecuária faz direta contraposição ao agronegócio,

por condenar a produção centrada na monocultura, na dependência de insumos químicos e na

alta mecanização, além da concentração de terras produtivas, a exploração do trabalhador rural e

o consumo não local da respectiva produção. Ou seja, as práticas agroecológicas podem ser

vistas como práticas de resistência da agricultura familiar, ao processo de exclusão do meio rural

e homogeneização das paisagens de cultivo. As práticas agroecológicas se baseiam na pequena

propriedade, na mão de obra familiar, em sistemas produtivos complexos e diversos, adaptados

às condições locais e em redes regionais de produção e distribuição de alimentos.

Portanto, não se pode pensar em Agroecologia como ―ciência neutra‖, já que há em suas

pesquisas e aplicações claro posicionamento político. Ela se coloca como ciência comprometida e

a serviço das demandas populares, em busca de um desenvolvimento que traga soluções

sustentáveis para os diversos problemas hoje enfrentados na cidade e no campo.

Já o orgânico pode ser agroecológico ou não! Os produtos orgânicos não fazem uso de produtos

químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados. A filosofia dos alimentos orgânicos

não se limita à produção agrícola, estendendo-se também à pecuária (em que o gado deve ser

criado sem remédios ou hormônios), e também ao processamento de todos os seus

produtos:alimentos orgânicos industrializados também devem ser produzidos sem produtos

químicos artificiais, como os corantes e aromatizantes artificiais. Pode-se quase resumir toda sua

essência filosófica num desprezo absoluto por tudo que tenha origem na industria química.

Todas as demais industrias: mecânica, energética, logística, são admissíveis desde não muito

salientes. Produtos orgânicos costumam ser significativamente mais caros que os tradicionais,

tanto por causa do maior custo de produção, quanto pelo seu marketing (que explora uma

imagem de "apelo ecológico").

Além disso esses produtos por serem orgânicos, não os livra de serem produzidos nos moldes da

agricultura convencional ou da monocultura, eles apenas não usam da química como principal

meio de combate pragas e fazendo uso dessa propaganda,"livre de agrotóxicos", juntamente com

a mídia do "selo verde" que é uma certificação que impede o pequeno produtor de

Page 44: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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comercializar seu produto como orgânico, que o mesmo alcança preços absurdos e atingem a um

determinado tipo de consumidor, o de alto poder aquisitivo.

TEXTO 08 – Um inferno siderúrgico na Amazônia

Por Mário Osava

https://envolverde.com.br/

Piquiá de Baixo, Brasil, (Terramérica).- ―Meu sobrinho tinha oito anos quando pisou na

‗munha‘ (carvão pulverizado) e queimou as pernas até os joelhos‖, conta Angelita Alves de

Oliveira neste pedaço da Amazônia brasileira transformado em armadilha mortal para seus

habitantes. O tratamento em hospitais distantes não conseguiu salvar a criança, porque ―seu

sangue ficou intoxicado, segundo o médico. Minha irmã jamais voltou a ser a mesma mulher.

Perdeu seu filho mais novo‖, disse a professora Oliveira. Seu marido também foi vítima dessas

queimaduras, como comprovam as cicatrizes em suas pernas.

A munha ou ―moinha‖, segundo o dicionário siderúrgico português, é o pó de carvão vegetal

resultante da produção de ferro gusa, material intermediário na obtenção de aço, que fez de

Piquiá de Baixo, na faixa oriental da Amazônia brasileira, um caso trágico de contaminação

industrial. Trata-se de um bairro da zona rural de Açailândia, município do Maranhão, que

nasceu com os acampamentos de operários que se instalaram em 1958 para construir a rodovia

Belém-Brasília, um eixo centro-norte de desenvolvimento e integração do Brasil, que gerou

muitos desastres ambientais e sociais.

A ferrovia inaugurada em 1985 para transportar minério de ferro da gigantesca mina na Serra de

Carajás, selou o destino de Açailância como entroncamento e polo siderúrgico. Piquiá de Baixo

ficou cercado por cinco unidades produtoras de ferro gusa, pelos trilhos e por grandes armazéns

de minérios. Enquanto isso, o carvão vegetal para alimentar as caldeiras siderúrgicas se somava à

pecuária para fazer de Açailância um foco de desmatamento e trabalho escravo.

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Essas chagas diminuíram diante da repressão estatal e diferentes pressões. Mas a contaminação

em Piquiá se agravou, segundo testemunhos colhidos para esta reportagem. O resíduo

pulverizado de carvão continua ameaçador. A secura o torna inflamável a um ligeiro toque. Isso

custou a vida do sobrinho de Angelita em 1993, quando poucos conheciam o quanto é letal esse

pó negro. As pessoas ficaram cautelosas e os acidentes menos frequentes, mas não acabaram.

Outra criança, de sete anos, se queimou até a cintura em 1999 e agonizou durante três semanas.

―Vi gado incinerado‖, disse Florêncio de Souza Bezerra, que foi camponês e agora é membro ativo

da Associação Comunitária de Moradores de Piquiá, onde vive há dez anos com nove filhos e dois

netos, em uma casa grande de madeira e amplo quintal. Os montículos de munha podem ser

vistos nas ruas por onde passam os caminhões das siderúrgicas e em pelo menos um depósito a

céu aberto no qual este repórter entrou sem encontrar nenhum controle.

Porém, a queixa mais frequente dos moradores é contra o ar envenenado. ―Há pouco mais de um

ano morreu uma menina com pó de ferro nos pulmões e câncer, depois de 15 dias na terapia

intensiva‖, recordou Florêncio. Na pequena praça do bairro, o ativista vai apontando as casas

cujos moradores morreram de doenças respiratórias. Angelita contou que um ―exame mostrou

manchas em meus pulmões há um ano, e o médico me acusou de fumar quando jovem, mas

nunca coloquei um cigarro na boca‖.

Ela deseja dar ―uma esperança de vida‖ às suas netas, que vivem aqui ―ingerindo contaminação

24 horas por dia‖. ―Já vivi bastante, mas minhas netas não‖, afirmou, aos 61 anos de idade, mais

de 30 dedicados ao ensino. Sua casa fica ao lado da Gusa Nordeste, uma das cinco unidades

produtoras de ferro gusa. A situação se agravou ―há dois anos‖, quando a empresa começou a

produzir cimento, segundo ela, lançando um pó negro que suja tudo em segundos e, em

algumas madrugadas, torna impossível ver sua casa da estrada, a apenas 30 metros de distância.

Para a empresa foi um avanço, porque se trata de aproveitar a escória do alto forno como

matéria-prima, evitando uma volumosa quantidade de dejeto e abastecendo o mercado local da

construção com um produto que antes era preciso trazer de longe. A Gusa Nordeste destaca sua

responsabilidade ambiental porque emprega a munha como combustível, economizando carvão

granulado, e o gás derivado da produção de ferro gusa é usado para gerar toda a energia elétrica

que a empresa precisa.

Porém, a realidade reconhecida pela justiça, por várias autoridades e inclusive pela indústria, é

que a contaminação do ar, da água e da terra torna inviável manter Piquiá de Baixo no local onde

nasceu, há mais de 40 anos. Já há uma proposta aprovada pela justiça e pela câmara municipal

para reassentar as 312 famílias que restam em Piquiá de Baixo, em um terreno de 38 hectares a

seis quilômetros da atual.

Em dezembro, a justiça ordenou a expropriação da área e fixou seu valor no equivalente a US$

450 mil, mas o dono exige quatro vezes essa quantia, e assim se prolonga a agonia para os

moradores de Piquiá. A própria comunidade elaborou um projeto urbanístico, que inclui casas,

escola, praça, lojas e igrejas, explicou Antonio Soffientini, membro da Justiça Nos Trilhos, uma

rede de dezenas de organizações que apoiam a população afetada pelo ―sistema Carajás‖.

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Na Serra de Carajás, a empresa Vale, que foi privatizada em 1997, extrai cerca de 110 milhões de

toneladas anuais de minério de ferro, que percorrem 892 quilômetros em trem até o porto Ponta

da Madeira, em São Luis, capital maranhense, para ser exportado. Uma pequena parte fica em

Açailância. Como provedora da indústria local de ferro gusa, a Vale tem responsabilidade direta

na contaminação, acusa a organização Justiça Nos Trilhos.

―Poderia suspender a entrega do minério até a indústria instalar filtros e pôr fim ao drama de

Piquiá‖, opinou Antonio, missionário italiano do movimento católico comboniano. Isso geraria

uma crise de desemprego em Açailância, advertiu Zenaldo Oliveira, diretor global de Operações

Logísticas da Vale. Este polo siderúrgico já vive uma queda de atividades desde 2008.

Os seis mil empregos que oferecia nessa época caíram para atuais 3.500 atuais, segundo Jarles

Adelino, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Açailândia. Ele se queixa dos altos preços

que a Vale impõe à matéria-prima, que representam metade dos custos do ferro gusa. No

entanto, isso não se reflete na cidade, que exibe hotéis e sinais de prosperidade. É que várias

obras próximas oferecem trabalho temporário, explicou Jarles, e cada emprego em uma

produtora de ferro gusa gera dez postos indiretos.

TEXTO 09 – LUTADORAS DO CAMPO

A mulher camponesa é aquela que de uma ou de outra maneira, produz o alimento e

garante a subsistência da família. É a pequena agricultora, a pescadora artesanal, a quebradeira

de coco, as extrativistas, as arrendatárias, meeiras, ribeirinhas, posseiras, bóias-frias, diaristas,

parceiras, sem terras, acampadas, assentadas e as assalariadas rurais. É a mulher que compõe a

unidade produtiva camponesa centrada ao núcleo familiar, o qual, por um lado se dedica a uma

produção agrícola e artesanal com o objetivo de satisfazer as necessidades familiares e

subsistência, e por outro lado comercializar parte de sua produção para garantir recursos

necessários à compra de produtos e serviços que pela

agricultura não são garantidos.

Nesse contexto da atuação da mulher no campo

surgem como caráter organizativo das camponesas, o

Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) que foi

constituído em março de 2004, por ocasião de seu primeiro

congresso nacional, mas sua caminhada vem desde a

primeira metade da década de 80, tomando como referência

as lutas históricas das mulheres trabalhadoras e das

iniciativas que as envolviam para quebrar preconceitos e

violência em casa e em lutas sociais, referência que também

deu origem a outros movimentos e entidades feministas.

O MMC nasceu como movimento autônomo, com atuação específica junto às mulheres da

roça. Isso porque, ao menos nos últimos 10 mil anos, a sociedade patriarcal relegou às mulheres

Page 47: CARTILHA DE TEXTOS PRÉ-ERA AMAZÔNICO

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lugares e papéis tidos como secundários se comparadas aos homens. E as mulheres camponesas

são ainda mais excluídas — seja do acesso ao estudo e ao conhecimento, seja de seus próprios

direitos sociais como cidadãs.

Muitas mulheres camponesas assumem jornada dupla ou até tripla de trabalho. Fazem

aquilo que é necessário e indispensável para a sobrevivência da população. Esse trabalho,

considerado ―serviço‖, lhes é atribuído automaticamente, como se fosse inerente à condição

feminina. É um trabalho não valorizado nem valorado financeiramente. Um trabalho que impõe

uma sobrecarga, em geral repetitiva, exigente e de muita responsabilidade. Um trabalho que faz

com que as mulheres vivam infelizes, fiquem depressivas e adoeçam. Um trabalho que é uma

forma de violência e que a sociedade, como um todo, costuma não perceber ou ignorar.

É a partir de espaços específicos das mulheres que o MMC afirma ser necessário fazer uma

reapropriação do que é negado e ―roubado‖ das camponesas. Isso significa mexer em algo

enraizado, discutir o ―ser mulher‖ e o ―ser homem‖, questionar os papeis dos gêneros na história,

saber por que se chegou a um tipo de relação no qual as mulheres são excluídas dos espaços de

decisão e levadas à obediência e à submissão.

Daí a missão que se atribui o MMC: ―A libertação das mulheres trabalhadoras de qualquer

tipo de opressão e discriminação‖. Isso se concretiza na organização, formação e implementação

de experiências de resistência popular nas quais as mulheres sejam protagonistas de sua

história. Essa luta é pela construção, junto com os homens, de uma sociedade baseada em novas

relações sociais entre os seres humanos, e destes com a natureza.

Esse texto foi elaborado por Karol Maia e Jullyanna Pereira, militantes da FEAB – Crato

durante a gestão do NTP de Movimentos Sociais Populares e tomaram como fonte para

elaboração do mesmo o artigo ―Feminismo Camponês‖ de Isaura Isabel Conte que é dirigente do

Movimento de Mulheres Camponesas do Rio Grande do Sul.

―Enquanto nós, mulheres, não tivermos voz e vez, prevalecerá ainda a relação opressor-

oprimido: opressão de homens sobre outros homens e destes sobre as mulheres, as crianças e a

natureza.‖

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SUGESTÕES COMPLEMENTARES PARA O APROFUNDAMENTO DO ESTUDO

FILMES INTERESSANTES:

-O veneno está na mesa

-O mundo segundo à Monsanto

-Nas terras do bem virá

-Abuela Grillo

-Anel de Tucum

-Sementes da liberdade

-Terra – o filme

-Alimentos S.A.

-Food Matters

-Terra em transformação – Agronegócio ou Agroecologia?

- Belo Monte: o anúncio de uma guerra.

LIVROS INTERESSANTES:

-Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos

-Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável

-Um testamento agrícola

-Árvores geneticamente modificadas

-Transgênicos: as sementes do mal

-Revolução agroecológica: o movimento de camponês a camponês

-Agrotóxicos, trabalho e saúde

-Agroecologia e os desafios da transição agroecológica

-Pastoreio Racional Voisin

-A questão agrária no Brasil (volumes de 1 a 5)

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O QUE É SER MARANHENSE?

SER MARANHENSE É SER NORDESTINO, NORTISTA E AO MESMO TEMPO NENHUM DOS DOIS.

É SER BRASILEIRO EM SUA MÁXIMA EXPRESSÃO E INTEIRAMENTE TROPICAL, COLORIDO,

HOSPITALEIRO, MUSICAL E FESTEIRO. É NASCER POETA, ESCRITOR, ARTESÃO, LÚDICO E SORRIDENTE, BOIEIRO, SAMBISTA,

BATUQUEIRO E REGUEIRO. É LEVAR A ALEGRIA NA ALMA. É SER MULATO, CABOCLO,

CAFUZO, NEGRO, BRANCO E INDIO. É SER ARDENTE E CALOROSO COMO A PROPRIA TERRA

E DANÇAR AOS MILHARES DE RITMOS DELA. É A SIMPLICIDADE E A HUMILDADE

MATERIALIZADAS. É FORTALEZA PARA ENFRENTAR AS ADVERSIDADES. É SER RELIGIOSO E

TER MUITA FÉ: EM DEUS, SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, VODUNS, ORIXÁS, CABOCLOS, ENCANTADOS,

PAJÉS, LENDAS E SUPERSTIÇÕES. É FALAR UM PORTUGUÊS CORRETO, MAS TAMBÉM

CABOCLO. É APRECIAR ARROZ DE CUXÁ, JUÇARA, SABORES DO NORTE E NORDESTE, MAR E

SERTÃO. É SE EMOCIONAR COM AS CANÇÕES DE JOÃO DO VALE, CÉSAR TEIXEIRA E SE

DERRAMAR EM LIRISMO AO CAMINHAR PELAS ANTIGAS VIELAS DE SÃO LUÍS E ALCÂNTARA.

É TER ORGULHO DAS NOSSAS BELEZAS NATURAIS. É SER VIVO COMO NOSSA FAUNA E

FLORA E MORENO COMO NOSSO MAR E NOSSOS RIOS. É SER ARTISTA E TEATRO,

CRIADOR E CRIATURA, ATOR E PRODUTOR DA NOSSA RIQUÍSSIMA CULTURA

POPULAR. É SER TÃO DIVERSO E ÚNICO QUANTO O TORRÃO, QUE É A SÍNTESE NATURAL E

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CULTURAL DO PAÍS. SER MARANHENSE É, ACIMA DE TUDO, TER IMENSO PRAZER E

ORGULHO DE SÊ-LO.

CONTATOS DA COMISSÃO ORGANIZADORA

Site: https://ieraamazonico.blogspot.com.br/

Facebook:

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E-mail: [email protected]

Telefones para contato:

(98)3272-9911 - C.A. de Agronomia

(98)8315-1015 TIM/ANNI SILVA

(98)8315-5816 TIM/GABRIEL FREITAS

(98)8208-7587 TIM/ (098)87834682 OI - GABI DINIZ

(88)9805-0117 TIM/ GENIVAL - FEAB NACIONAL

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(98)9201-5437 VIVO/ JAIRLANNA MACHADO

(94)9190-8926 VIVO/NARA HANANDA

(98)8123-0695 TIM/RAYANA MIRANDA

(98)9201-3660 VIVO/TIAGO JANSEN