cartilha cpt[1]

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Comissão Pastoral da Terra Diocese de Santarém Rua Floriano Peixoto Santarém - Pará, 68005 - 060 093 3522-1777 POVOS DA FLORESTA: RESISTÊNCIA CONTRA O GRANDE CAPITAL NO BAIXO AMAZONAS COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DIOCESE DE SANTARÉM 2010

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Cartilha feita pela equipe da CPT à qual pertenço sobre o grande capital na Amazônia.

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Page 1: Cartilha cpt[1]

Comissão Pastoral da TerraDiocese de SantarémRua Floriano Peixoto

Santarém - Pará, 68005 - 060093 3522-1777

POVOS DA FLORESTA: RESISTÊNCIA CONTRA O GRANDE CAPITAL NO

BAIXO AMAZONAS

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DIOCESE DE SANTARÉM

2010

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CRÉDITOS

Apresentação

“CADA UM PODERÁ SENTAR-SE DEBAIXO DA SUA VIDEIRA E DA SUA FIGUEIRA E NÃO

HAVERÁ MAIS QUEM OS PERTURBE (Mq 4,4).

A CPT – Comissão Pastoral da Terra – Santarém publica a presente cartilha a fim de dar a conhecer a

atual onda de violência contra as populações rurais da amazônia numa tentativa do capital expropriar as

terras, territórios, riquezas florestais, minerais, culturais… dos amazônidas. Quer mostrar como o

capital se move na região e como a usurpação tem a plena conivência de muita gente ligada ao poder.

A presente cartilha também nos quer mostrar as múltiplas formas de resistência que as populações

locais contrapõem nesta luta desigual, a fim de manter o espaço vital para sua sobrevivência .

Diante do poder do capital que tudo sacrifica em nome do lucro, a CPT coloca-se ao lado dos povos

da terra e das águas do Baixo Amazonas e se une a eles na luta comum contra o projeto de morte e na

construção do mundo sonhado por Deus.

A Cartilha, que agora o caro leitor vai abrir, quer mostrar onde a CPT - Santarém atua no Baixo

Amazonas e é uma maneira de “reafirmamos a Missão da CPT de ficar à escuta dos gritos, das

esperanças e experiências bem sucedidas dos camponeses e camponesas” (CPT Nacional 2009) e dizer

que acreditamos na resistência dos povos originários e tradicionais e com eles queremos trilhar novos

rumos na realidade da terra e dos territórios do Baixo Amazonas.

Finalmente lembramos que esta cartilha nasce da luta que a CPT há anos vem travando na região

para que haja uma compreensão, por parte dos órgãos governamentais e da sociedade em geral, de que a

Amazônia não é meramente o quintal do resto do país, onde se faz o que se quer, se ocupa como se quer,

mas é um território com uma população local e uma cultura própria muito rica que, tanto uma como a

outra, são totalmente ignoradas por quem chega e outras vezes totalmente desprezadas e vilipendiadas.

Equipe de Elaboração da Cartilha:Brenda Balett(Geografa)

Pe. José CortesJudith Gama Gilson Rego(Equipe CPT - Santarém)

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Áreas de Atuação 2008-2010

Comissão Pastoral da Terra Santarém:No final da década de 90, atraído pelos estudos de viabilidades de produção da soja na

região, elaborado e propagandeado pela prefeitura de Santarém no governo de Lira Maia, os primeiros produtores de grãos do sul e centro-sul do país chegaram à região, comprando terras no planalto de Santarém e Belterra. Os anúncios feitos eram de oferta e preço baixo da terra na região. A construção irregular do grande porto graneleiro pela multinacional Cargill garantiria não só um comprador, mas também um financiador de soja na região. Os produtores do sul começaram a chegar em números maiores e o planalto se tornou uma paisagem da soja. A chegada deles criou vários conflitos sócioambientais, como: grilagem de terra, expulsão dos pequenos agricultores da área rural, poluição da água, do solo e do ar, além do desmatamento. O resultado foi a expulsão direta e indireta das famílias que mudaram para lotes menores ao longo das rodovias ou para a periferia da cidade.

A empresa multinacional Cargill pretende expandir seu porto para dentro do campo de futebol da Vera Paz utilizado por moradores do Bairro do Laguinho e alunos do Colégio Pedro Alvares Cabral. Além disto, a área é formada por um sítio arqueológico. A multinacional pretende construir mais um silo e um estacionamento ao lado da área já construída. Os efeitos danosos à saúde das pessoas que moram próximas a portos que escoam soja, já provocou várias mortes em outros países que a Cargill atua. Para tentar mascarar o problema, a Cargill já providenciou que, uma equipe de arqueólogos chefiada pela americana Ana Roosevelt faça o salvamento das peças arqueológicas limpando a área para as construções da Cargill S.A. ignorando o interesses dos moradores.

Soja no Planalto Santareno e Belterense

O Planalto de Santarém e Belterra

Sítio Arqueológico da Vera Paz - Santarém

Sede Municipal

CPT - Àrea de Serviço

Kilometros1601208040200

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A Reserva Renascer foi criada no dia 5 de Junho 2009 com metade do tamanho exigido pelos moradores tradicionais da região. Estes moradores lutaram contra os fazendeiros e os madeireiros pela criação da Resex durante dez anos. Mesmo após a sua criação, empresas madeireiras, como a Juarú, mantinham serrarias e um porto dentro da área da reserva para continuarem tirando madeira em tora. No dia 27 de Novembro 2009 os moradores das comunidades acamparam à margem do Rio Uruará perto da boca do Rio Tamuataí com a intenção de impedir a saída da madeira em tora da Resex. Ficaram acampados por 46 dias e durante este tempo foram atacados por pistoleiros das madeireiras, que feriram dois comunitários. A operação de fiscalização constatou o que sempre denunciamos com a maior apreenção de madeira ilegal na Resex. Foram mais de 65 mil metros cúbicos de madeira apreendidas. Os moradores da Resex aguardam que o Instituto Chico Mendes, conclua a fiscalização e faça a demarcação da área retirando os madeireiros, ao mesmo tempo em que os comunitários efetivam juridicamente suas associações.

Acampamento na boca do Rio Tamuatai na Resex Renascer

Vida cotidiano no Acampamento na Resex

Reserva Extrativista Renascer - Prainha

Alenquer e Monte Alegre

Os Assentamentos em Alenquer e Monte Alegre, nunca foram efetivados. Existem só no papel. Para os assentamentos ainda faltam estradas, energia, casas, créditos e outras políticas publicas. Alguns assentamentos foram suspensos em 2006 por causa de irregularidades feitas pelo INCRA no processo de criação, e até agora o INCRA ainda não resolveu a situação. Os problemas não param por ai; a presença de produtores de grão vindos do sul do país dentro do esquema que deflagrou a operação da Polícia Federal chamada de “Operação Faroeste”, ocupam as áreas de assentamentos, e com a Lei 11.952 buscam a regularização dentro dos Assentamentos da Reforma Agrária.

O assentamento Corta Corda foi criado na década 90, mas a infraestrutura e os políticas publicas prometidas pelo governo nunca chegaram. No final da década de 90 produtores de grãos do sul do pais começaram a chegar na área, comprando e ocupando terras dentro do assentamento. Os moradores são obrigados a conviver com a presença de sojicultores e madeireiros. Uma proposta de diminuição do Assentamento para beneficiar os sojicultures, já foi apresentada. Uma micro-usina hidrelétrica foi construída no Rio Corta Corda com várias irregularidades. A usina nunca forneceu a energia prometida para todos os moradores do assentamento, os impactos dela incluem o alagamento de plantações, de casas e um crescente número de malaria.

Corta Corda – PA 370

Flona Tapajós

Muitas famílias foram assentadas pelo INCRA na década de 70 na atual área da Flona Nacional do Tapajós. Hoje o ICMBIO iniciou o processo de indenização dessas famílias para que desocupem a Flona. Várias delas não têm interesse de sair da área em que moram há tanto tempo, mesmo não sendo população tradicional, pois não têm causado prejuízo para a integridade da Unidade de Conservação. Além destes migrantes há terras indígenas dentro da Flona que estão sendo pleiteada para as demarcações.

Aveiro

Na margem esquerda do Rio Tapajós os moradores do município de Aveiro convivem durante anos com conflitos provocados pela grilagem de terras promovida por grupos e cooperativas vindas do sul do país. Depoimentos de comunitários relatam ações de intimidações e desmando na região. As áreas griladas são marcadas com cápsulas de cartuchos em forma de cruzes para indicar inicio das áreas griladas. No lado direito do Rio, na Vila de Fordlandia, a empresa de cimento Nassau, através da sua filial ITACIMPASA, tem um projeto de exploração de gipsita através de explosões, que tem causado o pânico entre os moradores que têm de se esconder para não serem atingidos pelas pedras arremessadas. Depois das denuncias as explosões pararam, mas a empresa continua na região intimidando os moradores com anúncio de novas explosões.

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Por volta de 2004, aproximadamente 40 produtores vindos do sul do país chegaram a Prainha em busca das terras baratas. Na comunidade de Majary dois irmãos do estado do Paraná compraram terrenos de várias famílias, até virarem donos de quase toda comunidade. Dona Maria Raimunda e sua família negaram-se a deixar suas terras. Com documentos fraudulentos os irmãos tentaram expulsar a família. A família de Dona Maria Raimunda vive em Majary há mais de 20 anos e nunca tinham tido nenhum problema envolvendo suas terras. Há cinco anos que a família de Dona Maria Raimunda está numa batalha judicial para manutenção de sua posse. Depois de muitas audiências, a família aguarda uma decisão do Juiz.

Pacoval

A área de Projetos de Assentamentos na Gleba Pacoval é disputada por varias madeireiras e grileiros. A forte presença de grupos madeireiros da região e de fora, assim como, a presença de pessoas da elite econômica local tem dificultado a criação e implementação dos Assentamentos nesta Gleba. O Projeto de Assentamento Agroextrativista Curuá II foi o único que conseguiu ser criado. A luta por este assentamento aconteceu sob muitas ameaças e intimidações aos comunitários. O presidente da Associação dos Assentados vem sofrendo ameaças durante vários anos, e hoje anda sob proteção policial para garantir sua vida e a luta pela efetivação das políticas públicas em seu assentamento.

Curumucuri

A Gleba Curumucuri é formada por 65 comunidades tradicionais, com mais de 3.500 famílias. A Gleba é estadual e durante vários anos seus moradores vêm lutando para garantir aquele território. O Instituto de Terra do Pará - Iterpa, tem se manifestado contra os interesses dos moradores. Em 2007 o Iterpa se propôs a destinar toda a Gleba para as comunidades. Porém, nos últimos anos, por enteresses empresariais, tem feito todos os esforços para diminuir a área do Assentamento. O ITERPA cadastrou apenas 1.700 famílias para justificar a diminuição da área do Assentamento. Na área que o Estado quer excluir há a presença de empresários e o interesse da Alcoa.

Rio Tapajós

Como parte do plano governamental PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) o governo federal, através da Eletronorte, está planejando construir cinco barragens na bacia do Rio Tapajós para gerar 10,682 megawatts de energia, que vai beneficiar grandes empresas que tem no seu histórico a rapina e destruição dos recursos naturais em nossa região. Se o governo insistir em cometer este crime poderá haver a inundação de mais de 3.8084,85 quilômetros, incluindo o Parque Nacional da Amazônia, Flona e áreas indígenas. Isto causará impactos socioambientais enormes como: a morte de peixe, produção de alto nível de dióxido de carbono, quebra do ritmo normal do fluxo dos rios e a expulsão de milhares de moradores do Rio Tapajós. As comunidades de ribeirinhos e indígenas estão se mobilizando com várias organizações locais para não permitir que este projeto se inicie.

PA 254 - Prainha

Gleba Nova Olinda - Santarém

Há 14 anos que os moradores tradicionais e indígenas das 14 comunidades da Gleba estão lutando pelo seu direito à terra. Desde que cooperativas agrícolas e grupos madeireiros entraram na Gleba, por volta de 2002, os conflitos não pararam. Atentados, ameaças, intimidações e outros tipos de crimes foram cometidos contra lideranças indígenas e não indígenas. No dia 12 de outubro de 2009, depois de anos de denuncias e tentativas de negociações chegou-se a decisão de chamar a atenção das autoridades governamentais e a sociedade em geral através de um manifesto que reuniu mais de 500 pessoas de mais de 40 comunidades de toda região do Rio Arapiuns.O manifesto era contra a retirada de madeira de dentro da Gleba Nova Olinda e exigência de destinação das áreas das populações locais. O governo continuou ignorando as demandas do movimento o que levou os manifestantes a darem um recado ao governo queimando a madeira de duas balsas com indícios de irregularidades. As demandas do Movimento em Defesa da Vida e Cultura da Arapiuns não foram atendidas pelo governo até agora. O movimento continua mobilizando a base para pressionar o Estado em reconhecer seus direitos territoriais acabando com retirada de madeira da Gleba.

Reunião de moradores da Gleba Pacoval

Movmento em Defesa da Vida e Cultura do Arapiuns na Manifestacao em Sao Pedro

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Ameaças de MineraçãoAmeaças de MineraçãoDesde os anos 70 que grandes empresas mineradoras levam as riquezas minerais da

Amazônia Ocidental para o mercado internacional, deixando um rastro de danos ambientais e sociais gravíssimos para as populações locais.

No Pará não faltam exemplos desta violência, como as minas de ferro de Carajá e as minas de Ouro em Serra Pelada. No Oeste a exploração de bauxita no Rio Trombetas pela Vale (MRN), o calcário em Itaituba e mais recentemente A Alcoa Aluminio S.A em Juruti.

No caso da mineração os prejuízos para os moradores que moram em áreas de minério são grande, pois se uma empresa receber a licença do governo para a exploração, as famílias que moram na área podem ser retiradas para que as multinacionais façam a exploração.

A Alcoa que tem como principal tática a cooptação das lideranças e comunidade através do seu poder econômico, também é uma das empresas que mais polui no mundo. São inúmeros os locais como no Texas, Suriname, Australia. Islândia etc.

O mapa a seguir nos dará uma idéia da disputa que haverá pelo minério na região em foco.

Igarape antes e depois da chegada de Alcoa em Juruti

Mina de Ferro, Carajás

Áreas em ----- tem ou requerimento para pesquisa, pesquisa autorizada, requerimento para lavra ou extração Fonte:

Mapa da Mineração Atual e Potencial

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Santarém

BR-163

Rio Curuà-Una

Belterra

PA-264

Soja: Ameaça à agricultura familiarSoja: Ameaça à agricultura familiar

No final dos anos noventa, o prefeito de Santarém encomendou um estudo da viabilidade de plantação da soja na região pela Embrapa e logo depois foi para Mato Grosso para chamar os produtores de soja para a região. Alguns anos depois, a empresa multinacional Cargill construiu seu porto graneleiro no final de BR-163 em Santarém. Os sojicultures do sul do pais começaram a chegar no Baixo Amazonas, utilizando o mapa do solo de Embrapa para planejar onde eles iam se instalar.

A chegada das sojiculturas resultou na expulsão de muitos pequenos agricultores do Planalto de Santarém e Belterra. A paisagem da região mudou com a soja. Sua chegada iniciou um grande esquema de grilagemque deflagrou a “Operação Faroeste”. Neste esquema os próprios servidores do INCRA estavam fornecendo títulos falsos e criando assentamentos sem moradores para beneficiar os sojicultores e as madeireiras.

A “Moratória da soja”,não diminuiu os problemas na região. Foi implementada e defendida por grandes ONGs ambientalistas internacionais em acordo com os compradores de grãos como Cargill. Produtores de soja continuam comprando terra no planalto e nos municípios vizinhos, inclusive em Novo Progresso, Alenquer, Monte Alegre e Prainha. Alem disso, algumas terras compradas por produtores de soja, no entorno da BR 163, estão sendo vendidas para grandes empresários, aumentando a concentração de terra.

Mapa dos solos no Planalto Santereno e Belterense (EMBRAPA 1998). As áreas amarelas estão considerados boas para agricultura industrial.

Porto ilegal de Cargill em Santarëm

Soja no Planalto de Santarém e Belterra

Graffi contra a Cargill

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Madeira ilegalMadeira ilegalO Estado do Pará é a região com a

maior exportação de madeira na Amazônia. A indústria de madeira está cada vez mais se infiltrando no território do povo da região. Freqüentemente é através da grilagem que retiram os recursos naturais. Há inumeráveis conf l i tos en t re comunidades e madeireiros, conflitos cheios de ameaças e violência. O Pará tem maior número de ameaças e mortes no campo do que todos os estados do Brasil.

Até o processo de exploração de madeira “legal” também é realizado de fo rma v io len ta e c r im inosa. A responsabilidade para autorizar e fiscalizar os planos de manejo passou do IBAMA para a Secretaria Estadual de Meio-Ambiente (SEMA). Apesar disso a SEMA não tem nenhuma equipe de fiscais em Santarém e desde que ela se responsabilizou em 2006, a Sema não tem nenhum concurso previsto para

começar criar esta equipe. Em vez de criar a infra-estrutura necessária para cumprir o seu papel, a SEMA continua autorizando planos de manejo sem consultar as próprias counidades e sem ter condições de fiscalizar, dando não só impunidade para as madeireiras, mas também as ferramentas para esquentar madeira ilegal, como guias florestais com validade de 30 dias, notificação de fiscalização num prazo longo antes de acontecer entre outras.

Planos de Manejo Aprovados em Santarém, Juruti e Aveiro

Os comunitários desta região não aceitam mais essa impunidade e este ano duas mobilizações, uma no Rio Arapiuns e a outra no Uruará deram este recado para as madeireiras e governantes.

Madeira apreendida em Prainha

Morador da Resex Renascer atirado pelos madeireiros.

Para esquentar madeira há várias formas. Na figura acima mostra algo comum. Primeiro o madeireiro compra um terreno que tem título, geralmente este terreno pertence a um pequeno agricultor. O madeireiro usa o título para mostrar ao órgão ambiental e cria um plano de manejo falso, pois a área não tem madeira. Quase certamente se paga propina para algum funcionário da Secretaria de Meio Ambiente que autoriza o plano de manejo. Esta autorização inclui uma guia florestal, que se usa para transportar a madeira. A guia é válida por 30 dias. Como a área titulada não tem madeira, se retira a madeira de outra área. A madeira, então, parece legal no papel. Assim, o madeireiro usa a guia para vender a madeira para o exterior. Em seguida, retira mais madeira e usa a mesma guia para vender ao mercado nacional.

Esquema no uso de Autefs.Esquema no uso de Autefs.

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GrilagemGrilagemNo Pará cerca de 30 milhões de hectares estão nas mãos de grileiros, pessoas que

utilizam documentos falsos, muitos deles forjados em cartórios de registro de imóveis ou até no próprio INCRA, para se apossarem de terras públicas. Grileiros usam vários mecanismos distintos para legitimar áreas apropriadas ilegalmente. A grilagem na Amazônia é feita pelas madeireiras, e grandes fazendeiros de agronegócio e agropecuária.

Na Gleba Nova Olinda, algumas cooperativas e grupos familiares vindo de outros estados do Brasil grilaram toda a Nova Olinda I. Seus interesses são pelo potencial madeireiro ainda existente e futuramente para o plantio de soja. O conjunto de Glebas da qual a Nova Olinda faz parte é a maior e última área de floresta continua do Estado do Pará e está minada de grilagem.

No Gleba Pacoval, pessoas protocolavam pedidos de regularização fundiária no Incra, com a ajuda de funcionários corruptos que agilizavam os dados no Sistema Nacional de Imóveis Rurais e providenciavam vistorias para a entrega do título. Inclusive eles protocolaram o pedido de uma imobiliária chamada “Rice” que era de um funcionário do Incra, vendia a área pela internet com o protocolo de abertura do processo como comprovante fundiário, escancarando assim a ilegalidade. Muitas dessas áreas ficam dentro dos assentamentos da Reforma Agrária.

O assentamento Corta Corda existe ha 10 anos. Até hoje, tem uma grande área dentro do assentamento nas mãos dos grileiros. No mapa, o contorno vermelho é o assentamento Corta Corda. Toda área verde é área grilada.

Todos aqueles que adquiriram latifúndios com a prática de grilagem poderão ser beneficiados pelo programo do Governo Federal, Terra Legal, que com a Lei 11.952/2009 devem solicitar a regularização das áreas griladas. O Governo do Pará facilitou mais ainda para os grileiros com a lei 7.289/2009 que permite a regularização de até 2.500 hectares.

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Ameaças das HidrelétricasAmeaças das Hidrelétricas O maior potencial hidrelétrico

no Brasil está localizado na Amazônia. As maiores empresas do Pará inc lus ive A lcoa, Mineração do Rio Norte, Vale do Rio Doce, Serabi Exploração de Ouro Mecanizado, Cargill e Caima serão beneficiadas pelo complexo Tapajós. O resto vai para o sul do Brasil. Nada sobra para os moradores da região.

Mapa de potencial hidrelétrica do Brasil feito pelo Electroobrás

As usinas hidrelétricas construídas no Brasil nos últimos cinqüenta anos geraram profundas alterações no funcionamento de rios, danificaram ou destruíram a terra, a água, e a paisagem. Essas alterações no ambiente custaram valores altíssimos em nível econômico, simbólico, político, social e cosmológico da vida e cultura de moradores das regiões onde elas estão instaladas. Além disso, mais do que um milhão de Brasileiros já foram expulsos da sua terra pela construção das usinas hidrelétricas e menos do que 30% receberam alguma forma de indenização.

Atualmente, o Plano 2015 da Eletrobrás prevê a construção de mais 494 usinas hidrelétricas no Brasil, inclusive hidrelétricas projetadas para quase todos os rios na Amazônia, principalmente nas bacias do Rio Madeira, do Rio Xingu, do Rio Tapajós.

Através de acordos internacionais, os países “desenvolvidos” estimulam este tipo de desenvolvimento chamado “energia limpa”, para países em desenvolvimento como é o caso do Brasil, alegando que ela não lança muito carbono na atmosfera. Esse tipo de energia não é “limpa” para a natureza e nem para as pessoas que viviam onde as usinas foram construídas.

O governo pretende construir barragens no Rio Tapajós para atender os interesses de empresas internacionais que exploram as riquezas na Amazônia. A submissão ao capital internacional, que os governantes brasileiros assumiram, vem extinguindo as populações que moram às margens dos rios. Para os moradores do Rio Tapajós essa preocupação já chegou e por este motivo se mobilizam para enfrentar este grande crime que se tenta cometer contra eles.

Comunidades ribeirinhas, quilombolas, camponeses e indígenas atingidos pelas barragens e os movimentos populares se juntam nos movimentos pelos rios vivos. Os movimentos Rio Madeira Vivo, e Xingu Vivo para Sempre, e Tapajós Vivo fazem manifestações nas beiras dos rios, Brasília e audiências públicas.

O movimento Rio Madeira Vivo manifestando contra as hidrelétricas O movimento Rio Madeira Vivo manifestando contra as hidrelétricas

Comunidade Pimental - Médio Tapajós

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Formas de ResistênciaFormas de Resistência

Como as ameaças do capitalismo tem várias formas, também a resistência contra essas ameaças tem formas diferentes. Resistência pode ser ação direita como: ocupação de espaços publicos, marchas, fechamento dos rios ou ruas, apreensão de madeira e outras. M a s , r e s i s t ê n c i a t a m b é m é o fortalecimento de nossas famílias, cultura, comunidades através de nossas práticas cotidianas de sobrevivência, projetos comunitários, a criação da democracia participativa, e as redes de movimentos sociais.

No Baixo Amazonas, participamos de uma rede em crescimento de pessoas, movimentos, e comunidades lutando pelo direito ao território, autonomia para o povo da Amazônia, justiça social em nossa região. Reconhecemos que as forças políticas e econômicas tudo fazem para prejudicar nossas comunidades e sabemos que uma luta articulada tem mais força do que várias lutas isoladas. Aqui mostramos as forças de resistência que estão se desenvolvendo e atuando em nossa região.

Práticas CulturaisPráticas CulturaisPráticas Culturais

Participação PolíticaParticipação PolíticaParticipação Política

Atos PúblicosAtos PúblicosAtos Públicos

DenûnciaDenûnciaDenûncia

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