cartilha br 163

21

Upload: doanhanh

Post on 08-Jan-2017

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Cartilha BR 163
Page 2: Cartilha BR 163

Alternativas Econômicas

Sustentáveis para Agricultura Familiar

Page 3: Cartilha BR 163

ÍNDICE

Apresentação 07

Diagnóstico Participativo: ferramenta de mobilização e organização comunitária 09

Carlinda semeia projetos e colhe sustentabilidade 11

Intercâmbio – Troca de experiências que favorece a todos 14

Recuperação de pastagens – alternativa necessária 16

Nova Guarita recupera seu futuro 18

Apicultura: uma doce possibilidade 20

Em Vera o fogo sai para entrarem as flores 25

Viveiros e sementes: o começo da recuperação floresta 27

Cláudia – mata ciliar cultivada em viveiro 32

Sistemas Agroflorestais:

produção de alimentos e restauração florestal 35

Água Boa: entre o novo e o tradicional na floresta 39

Rede BR163+Xingu Alternativas Econômicas Sustentáveis para Agricultura Familiar

Coordenador: Nilfo Wandscheer

Associados:Associação dos Parceleiros do Projeto de Assentamento CalifórniaAssociação dos Produtores rurais da Gleba Entre RiosCooperagrepa - Cooperativa de Produtores Ecológicos do Portal da AmazôniaEcoCachimbo - Instituto de Ecologia e Pesquiza do Complexo Serra do CachimboGapa - Grupo Agroflorestal e Proteção AmbientalInstituto Centro de VidaInstituto Ouro VerdeInstituto SocioambientalSindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde

Esta Rede faz parte da Campanha Y Ikatu Xinguwww.yikatuxingu.org.br

Ficha técnicaAlternativas Econômicas Sustentáveis para Agricultura Familiar

Pesquisa e redaçãoAdriana Gomes Nascimento

Coordenação editorialGisele Souza Neuls

Projeto gráfico e Editoração eletrônicaElenor Cecon Júnior - EGM Editora

FotosAs publicadas nas páginas 12, 14, 16, 18 e 19 foram cedidas pelo fotógrafo Rafael Castanheira. As demais fotos utilizadas nessa publicação foram cedidas pelos associados da Rede BR163+Xingu.

ApoioSubprograma de Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente

EdiçãoSindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio VerdeRua Girua, 1196e - Cidade NovaLucas do Rio Verde – MT – CEP 78.455-000http://[email protected](65) 3549 1819

Page 4: Cartilha BR 163

Apresentação

Um modelo de agricultura: inclusivo, que respeita o

ambiente e as populações e gera renda para as comunidades

A Rede BR163 + Xingu tem proporcionado aos agricultores e técnicos da região oportunidades de

experiências muito ricas visando a produção da agricultura familiar casada com a conscientização

e educação ambiental dessas pessoas. Tudo isso é possível graças ao trabalho de anos de

estruturação e fortalecimento de entidades através da formação de representantes e lideranças. A

articulação dessas entidades resultou na Rede BR163+Xingu, e a Rede também resultou em mais

articulação.

O nome da Rede vem do debate que já existe há anos, entre as entidades do movimento social, sobre

a participação social nas obras de infra-estrutura que devem acompanhar a pavimentação da BR-

163 no trecho Cuiabá – Santarém. Esse envolvimento se somou à Campanha Y Ikatu Xingu,

abraçada por agricultores familiares, indígenas, poder público, organizações sociais e fazendeiros

em direção ao objetivo comum que é a preservação das águas na bacia do Rio Xingu.

Com isso aconteceram intercâmbios de conhecimentos em manejo racional de pastagens,

apicultura e restauração florestal. Todos estavam visitando experiências semelhantes às das suas

comunidades, assim, de forma indireta estavam aprendendo sobre organização social e gestão

participativa. O conhecimento, as metodologias, as técnicas foram construídas de forma

participativa e, esta experiência serve de modelo para várias comunidades da região e até do

Estado.

É importante que o Estado e financiadores olhem para esta experiência com carinho e usem este

aprendizado no momento de construir o modelo de desenvolvimento que queremos. O STR, com

esta cartilha pretende contribuir com um novo modelo de

agricultura, inclusivo, respeitando o ambiente, as populações e

gerando renda para as comunidades.

Acreditamos ter atingido nosso objetivo, mas o trabalho continua,

há comunidades que não foram beneficiadas e as já contempladas

serão inseridas num processo de fortalecimento da comercia-

lização solidária envolvendo mais parceiros, setor público, terceiro

setor e comércio.

Boa leitura!

Nilfo Wandscheer - presidente do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis07

Page 5: Cartilha BR 163

Diagnóstico participativo:

ferramenta de mobilização e organização comunitária

oficinas

A mobilização e organização comunitária é a chave para mudar a tradição de soluções mágicas

para as dificuldades da agricultura familiar que vêm de cima pra baixo. Uma comunidade bem

organizada, que sabe o que quer e onde quer chegar, não será facilmente enganada por projetos

milagrosos que resultam e grandes elefantes brancos.

Mas como se dá esse processo? Antes de pensar em como mudar uma realidade é preciso conhecer a

comunidade, e mais: que a comunidade se conheça profundamente. Para isso, o diagnóstico parti-

cipativo é uma das primeiras ferramentas de trabalho, tanto para técnicos quanto para as próprias

lideranças das comunidades.

Os primeiros passos são visitas e entrevistas de campo, em que no contato com cada morador da

comunidade abre caminho para compreender a dinâmica da comunidade. Nessas visitas é impor-

tante apresentar a proposta de trabalho, ouvir as pessoas envolvidas, perguntar o que elas preci-

sam e o que querem mudar na sua comunidade. O Diagnóstico Participativo, que vamos abreviar

como DP, deve envolver as pessoas da comunidade em todas as etapas do processo, desde a elabora-

ção dos questionários ou roteiros de diagnósticos, até as entrevistas e análises dos dados. Este DP

vai permitir saber

com mais fidelidade e

amplitude o que toda

ou quase toda a

comunidade anseia,

ou seja, qual seu

problema em comum.

Para poderem aplicar

esse DP, os pesquisa-

dores comunitários

passam por

que os ajudam a

entender e manejar

esse recurso, abor-

dando aspectos como

Liderança Comunitá-

ria; Comunicação e Técnicas de coletas de dados. Após a capacitação, os participantes apontam

quais serão as pessoas que comporão um grupo que percorrerá a região coletando dados e proble-

mas da comunidade para que se estabeleçam prioridades e se pense em soluções coletivas.

Mudança Cultural: objetivo maior dos

projetos piloto da Campanha Y Ikatu Xingu

Aos nove projetos piloto da Rede BR-163 + Xingu, financiados pelo PDA-PADEQ, somam-se outros

tantos, apoiados por outras fontes de financiamento, distribuídos por diversos municípios da

região das cabeceiras do Rio Xingu e adjacências. Todos eles incluem componentes para a proteção

e recuperação de nascentes e matas ciliares, e somam esforços para a concretização dos objetivos

da Campanha Y Ikatu Xingu.

Esses projetos, por si só, são insuficientes para promover a recuperação de toda extensão de matas

ciliares já degradadas na região. Porém, eles vêm desempenhando funções essenciais. Antes de

mais nada, eles estão trazendo um aporte de mais de cinco milhões de reais, em três anos, para o

conjunto desses municípios, aos cuidados das diversas organizações locais que são suas

executoras.

Além disso, os projetos estão possibilitando a formação e fixação, na região, de técnicos

especializados, que ajudam a desenvolver técnicas de baixo custo para restauração florestal, que

permitirão aos produtores e administradores públicos interessados desenvolver tantas outras

experiências similares que sejam necessárias e possíveis. Ajudam a agrupar importantes

instituições locais em ações conjuntas, que podem compartilhar as suas experiências e enfrentar

as suas dificuldades comuns. Por exemplo, já vêm possibilitando a constituição de um incipiente

mercado local de sementes de espécies nativas, que eram antes consideradas inúteis, mas que

agora estão sendo valorizadas, inclusive como um fator de geração de renda para os seus coletores.

Considerando que os projetos piloto, como é da sua essência, estão abertos à visitação e à

aprendizagem de todos os interessados, inclusive o público escolar, e que os seus resultados,

mesmo iniciais, vêm sendo divulgados e compartilhados amplamente, eles estão se

transformando num verdadeiro elemento de transformação

cultural para toda a população. E assim, a região vai encontrando

o seu caminho e o seu lugar nesses tempos em que milhões de

pessoas, em todo o mundo, buscam enfrentar os desafios que estão

diante da nossa civilização, em busca da sustentabilidade e de um

futuro melhor e mais sadio para as futuras gerações.

Márcio Santilli - Coordenador da Campanha Y Ikatu Xingu

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis08 09

Page 6: Cartilha BR 163

A partir desses dados coletados, a comunidade traça um mapa dos próprios problemas e começa a

listar propostas de soluções. Nessa fase de discriminação de tarefas é importante não esquecer a

questão de gênero para garantir que todos os aspectos de um mesmo problema possam ser lembra-

dos e avaliados de forma geral.

Com a elaboração e análise do seu diagnóstico, a comunidade começa a ver problemas comuns e

possibilidades de soluções coletivas – o que sem dúvida fortalece os laços comunitários. O objetivo

do DP, além de funcionar como uma fotografia da comunidade, é fortalecer o grupo de tal forma

que, a partir do conhecimento das ferramentas de organização e diagnóstico que aprenderam, no

futuro encontrem seus próprios meios de, em conjunto, chegar a soluções viáveis para os proble-

mas comuns a todos.

É comum que entidades como sindicatos e organizações não-governamentais darem a partida

nesse processo, levando para a comunidade escolhida para determinado projeto o auxílio de

técnicos e especialistas. E o papel dessas entidades deve ser facilitar o processo de organização e

fortalecimento das comunidades Porém, o DP é uma ferramenta simples que a própria comunida-

de pode organizar e implementar.

Organizar um grupo gestor, um comitê que vai ser responsável por fazer o DP funcionar. O ideal é

que esse comitê seja composto metade por homens e metade por mulheres, incluindo jovens.

Oferecer ou buscar capacitações para a comunidade compreender o que é o DP e quais suas vanta-

gens e possibilidades de utilização.

* Montar o roteiro do diagnóstico, com as questões que se quer identificar na comunidade

(ex.: número de famílias, grau de escolaridade, renda e produção familiar, principais dificuldades

enfrentadas etc). É importante que esse roteiro seja montado em uma reunião com a comunidade,

para que contenha o maior número de questões que a comunidade ache importante de serem

trabalhados.

* Escolher um grupo de pessoas da comunidade que será encarregado de fazer o diagnósti-

co conforme o método escolhido. Pode-se deixar questionários para as famílias responderem,

fazer entrevistas individuais, entrevistas com grupos familiares, enfim, de várias formas. A

escolha do método depende do tamanho da comunidade e sua capacidade de levar o diagnóstico

adiante.

* Depois de todas as entrevistas feitas, o próprio grupo de pesquisadores ou um grupo

maior deve se encarregar de analisar os dados e fazer o relatório do diagnóstico, com a descrição

Passo-a-passo do Diagnóstico Participativo

dos resultados encontrados. É

importante que o roteiro

aplicado seja o mesmo para

todos, pois isso facilita

.

* De posse dessa aná-

lise, a comunidade deve

estabelecer um cronograma

de reuniões para priorizar os

problemas que devem ser

enfrentados e debater quais as

melhores formas de fazer isso

coletivamente.

* A cada etapa cumprida a comunidade deve se reunir para avaliar acertos e dificuldades. A

avaliação constante e participativa permite corrigir rumos, acertar detalhes e fortalece a

iniciativa.

Por fim, é importante saber que esse não é um processo rápido e cada comunidade tem um ritmo

que deve ser respeitado. O tempo pode variar de dois meses até mesmo um ano. Devemos lembrar

que o que importa é obter resultados consistentes, além do amadurecimento e fortalecimento da

comunidade – coisas que não acontecem do dia para a noite.

agru-

par as respostas e fazer

análises comparativas

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis10

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis11

Page 7: Cartilha BR 163

Comunitário de Gestão Ambiental Integrada,

local que representa fisicamente as comunida-

des. Desde sua criação o local funciona como

um concentrador de idéias e informações

ambientais e presta assessoria aos moradores

nas mais diversas dúvidas. duas outras comu-

nidades foram incorporadas ao trabalho,

envolvendo assim todo um setor dentro do

município de Carlinda.

A eficiência é tanta que o Centro pode ser

considerado uma referência ambiental, tama-

nha é a procura por seus serviços. A média de

atendimentos é de 100 pessoas/mês não só do

universo de 200 famílias que com põem o

PDA/Padeq de Carlinda,

mas também de quem não

participa do projeto. E a

tendência de procura pelo

Centro é de crescimento.

Hoje, só não atendem mais

porque o número de moni-

tores ainda é reduzido

frente as atividades desen-

volvidas na região - são

quatro monitores, sendo

dois homens e duas mulhe-

res.

““ Trabalhar em Rede é muito bom! Isso porque se

aprende mais com as reuniões e intercâmbios e as

idéias surgem, com mais facilidade. Não se

fica isolado. Um ensina o outro

ao mesmo tempo em que se aprende

com todos. Acho que esta é a grande

sacada dessa experiência

Alexandre Olival,

coordenador do Instituto Ouro Verde.

12

Seis comunidades do município de Carlinda,

distante 762 km de Cuiabá, já colhem frutos da

sua forte mobilização e organização comunitá-

rias. Mas chegar ao nível em que se encontra

hoje não foi fácil. Embora estejam só começan-

do, muita coisa já mudou. As comunidades

vinham de um histórico de programas falhos

que diversas instituições e governos tentaram

implantar na região com idéias prontas que

não eram preparadas ao calor do que a comu-

nidade queria e necessitava.

Até 2004, contam os moradores, era a lei do

'cada um por si e por seus problemas' já que

estavam sem paciência para mais projetos

'milagrosos'. Segundo eles, volta e meia apare-

ciam projetos de plantações que seriam 'a

salvação da lavoura', e assim por diante. Mas o

resultado era sempre o mesmo: o fracasso,

resultado da inadequação dos projetos para a

região e da falta de estudo de mercado para

comercializar o que se produzisse.

Em 2005, quando o projeto Gestar Portal da

Amazônia chegou em Carlinda através do IOV ,

em parceria com o ICV , as comunidades Monte

Sinai, Nazaré, Rio Jordão e Palestina começa-

ram um processo de mobilização e organização

que se tornou referência na região. A comuni-

dade se fortaleceu, percebeu que unida poderia

resolver de forma um pouco mais fácil seus

problemas em comum e hoje administra um

resfriador coletivo de leite, entre outras inicia-

tivas comunitárias. A união resultou inclusive

na aprovação do projeto junto ao PDA/Padeq –

projeto escrito em conjunto pela comunidade e

IOV.

Ao todo o PDA/Padeq tem

dois anos para ser realiza-

do. No primeiro ano foram

realizadas visitas a todos

os moradores e a oferta de

e

comunicação, controle bio-

lógico, manejo de pasta-

gens e recuperação de

matas ciliares. Um grupo

da própria comunidade

elaborou o Diagnóstico

Participativo, que identifi-

cou os problemas das

comunidades e a busca de

soluções comuns como: Manejo de Pastagem e o

Controle Biológico da Cigarrinha. Também

houve a estruturação física do Centro

oficinas de liderança

Gerenciamento certo - Na discussão sobre

gerência dos recursos do projeto, o

Conselho Gestor resolveu investir em

1.400 quilos de fungo (Metarhizium

anisopliae) para o controle biológico da

cigarrinha. Das mais de 70 propriedades

que passaram a controlar a cigarrinha,

foram selecionadas nove para monitora-

mento dos resultados. Assim, três monito-

res, que foram escolhidos pelas seis

comunidades percorrem, a cada quinze

dias, estas propriedades para verificar a

eficiência do fungo em relação à cigarri-

nha. Além disso também são visitadas

outras nove propriedades que não aplicaram o

agente biocontrolador para poder comparar os

efeitos. E os resultados não poderiam ser

melhores. O número de cigarrinhas tem dimi-

nuído até nos pastos que não foram pulveriza-

dos. Isso acontece porque as cigarrinhas

parasitadas de uma propriedade levam o fungo

para outros locais, ajudando na sua dissemina-

ção.

Isso demonstra que há um ganho ambiental

mesmo para os proprietários que ainda não

acordaram esta solução ecológica. O que dá

muita satisfação, conforme os monitores, é ver

que, junto com o meio ambiente a mentalidade

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis13

Carlinda semeia projetos e colhe sustentabilidade ““Participar de uma experiência

como esta, em algumas

palavras, é 'show de

bola'. É muito

gratificante ver

as coisas decolarem

Antonio Francimar,

representante da

comunidade Nazaré.

Page 8: Cartilha BR 163

Intercâmbio – Troca de experiências que favorece a todos

os projetos da Rede. A primeira é de que juntan-

do recursos e pessoas se faz mais e melhor do

que cada iniciativa em separado. A segunda é a

idéia de que agricultor ensina agricultor de

uma forma muito mais completa e eficiente.

Assim, ao longo do primeiro ano de atividades

da Rede BR163+Xingu, foram realizados

intercâmbios e seminários técnicos reunindo

todos os projetos para aprenderem e comparti-

lharem aquilo que eles têm em comum, concen-

trando os esforços e ampliando os horizontes do

aprendizado.

Há três formas básicas de intercâmbio: aquela

que reúne pessoas envolvidas em diferentes

projetos em um mesmo local para aprender e

trocar idéias sobre uma

técnica específica, como

manejo de pastagens e

apicultura, por exemplo;

a que reúne as pessoas e

as leva para conhecerem

um projeto ou iniciativa

que está dando certo,

para ver de perto a

mesma experiência em

um nível mais avançado

de desenvolvimento; e

aquela em que pessoas

BR163+Xingu, a troca de conhecimentos e

saberes tem sido uma prática constante.

Intercambiar conhecimento começa com o

levantamento das necessidades de uma comu-

nidade em termos de informações e técnicas,

para em seguida localizar pessoas e iniciativas

que possam contribuir com a

comunidade levando seus

conhecimentos.

Duas chaves são importantes

para compreender as ativi-

dades de intercâmbio entre

14Alternativas Econômicas

para Agricultura FamiliarSustentáveis

dos proprietários também começa a mudar.

“Antes tinha um proprietário que dizia que

cigarrinha só se combatia com fogo. Agora ele é

um dos que procuram pulverizar o fungo”, diz

o monitor Antonio Francimar. Em agosto de

2007, quando começa o segundo ano do proje-

to, serão implantadas 20 unidades demonstra-

tivas que vão receber piquetes para o manejo

ecológico de pastagem.

Frutos colhidos - Mas vale frisar que nada

disso aconteceria em Carlinda se o Conselho

Gestor não optasse por trabalhar desde o

princípio com contrapartidas das comunida-

des beneficiadas. Com o bom gerenciamento

dos recursos e a constribuição dos moradores

houve sobra de recursos desde o início das

atividades. Assim outros projetos extras que

não estavam prevists no PDA/Padeq puderam

acontecer neste primeiro ano paralelamente

aos previstos. São eles: o cultivo, em pequena

escala de NIM (Azadirachta indica) – uma

planta de origemasiática utilizada como repe-

lente; a criação de Horta Agroecológica, cujos

recursos de venda é darão suporte à sustentabi-

lidade do Centro Comunitário de Gestão

Ambiental Integrada e a elaboração do jornal “A

Semente”, criado pelos participantes do projeto

como forma de disseminar informações às

comunidades para fomentar a participação

coletiva nesta empreitada e a recuperação de 25

nascentes consideradas prioritárias para todo o

setor.

A troca, embora seja uma das práticas mais

antigas do ser humano, foi, com o incremento

do capitalismo, sendo esquecida. E a maior

perda não foi a da troca de produtos conhecida

como escambo, mas a de saberes entre as

pessoas. Mas nas comunidades da Rede

envolvidas em diferentes projetos visitam-se

uns aos outros para verem o desenvolvimento

de atividades por diferentes ângulos.

As visitas de intercâmbio, visitas técnicas,

reuniões e dias de campo são as ferramentas

que oferecem a oportunidade de ver em campo

o desenvolvimento de iniciativas similares a

que se está desenvolvendo, perceber diferentes

momentos do processo de desenvolvimento dos

projetos e das comunidades, além de aprender

com as dificuldades e acertos dos outros, pois

permite observar como diferentes comunida-

des lidam com os mesmos problemas.

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis15

““A troca de experiências semelhantes é muito positiva, realizada de projeto para projeto

de organização pra organização, de produtor pra produtor. Amplia-se a quantidade de

informações relacionadas, bem como outras complementares aos projetos. Em

alguns casos, é possível uma cooperação entre projetos diminuindo custos.

E a socialização das informações e dos resultados dos projetos

é muito enriquecedora, e permite um melhor desenvolvimento

das ações, onde podemos errar menos, ou seja aprender também com

os erros dos outros. Nestes casos sempre amplia as oportunidades

Jean Carlo Corrêa Figueira, ICV.

““Esta é uma experiência que nunca vou esquecer. A mudança

é visível. O pasto está muito melhor. Bem diferente do que

quando eu usava o fogo. Se tiver condições

eu vou estar sempre atrás de novas

técnicas. Mas se vier um projeto que

dê continuidade a este ou vá nesta

direção, será bem vindo

Vilmar, agricultor que participa do projeto em

Nova Guarita com seu pai, Sr. Olívio

Atividades de intercâmbio levam agricultores para ver a aplicação de conceitos e técnicas em campo

Page 9: Cartilha BR 163

Recuperação de pastagens – alternativa necessária

Manejo Ecológico de Pastagens

Sistema de Pastoreio

Racional Voisin

O pastoreio contínuo, sistema em que o gado fica sobre uma mesma área de pastagem um período

prolongado de tempo ou permanentemente, é o grande inimigo da qualidade dos pastos. Isso

porque o gado, mantido sem troca de pasto por um tempo indefinido, após alguns dias de perma-

nência passa a consumir o capim antes que ele complete o seu desenvolvimento. Isso acaba impe-

dindo que as plantas refaçam suas reservas energéticas.

Desse modo, a pastagem fica fraca, pouco nutritiva, o que diminui progressivamente a produtivi-

dade e vigor do gado. Além disso, o pastoreio contínuo tem reflexos também na cobertura do solo,

que fica desprotegido e, conseqüentemente, mais suscetível aos efeitos da erosão. Com a continui-

dade deste sistema, em alguns anos a pastagem se degrada. Assim, é preciso uma reforma para que

ela recupere sua capacidade produtiva e o problema seja revertido.

A redução da produtividade das pastagens pela degradação acaba aumentando a demanda por

novas áreas de pasto. Assim, ocorrem novos desmatamentos que seriam desnecessários se os

devidos cuidados e precauções fossem tomados para manter os pastos saudáveis e nutritivos.

A pastagem ecológica, como o enge-

nheiro-agrônomo e especialista no

tema Jurandir Melado chama a

técnica, pode ser obtida em poucos

anos, a partir de uma pastagem

qualquer já formada. A aplicação

criteriosa do

, um sistema propos-

to pelo francês André Voisin em 1957,

permite um equilíbrio positivo de três

fatores: Solo, Pasto e Gado, com cada

fator tendo um efeito positivo sobre

os outros dois.

Neste sistema, a utilização da pastagem é feita através de uma rotação racional, que proporciona o

melhor aproveitamento possível das forrageiras, resultando num nível de produtividade que

chega a três vezes a alcançada pelo sistema extensivo, na mesma pastagem. Na prática, quando

mais tempo o gado leva para voltar a um piquete, mais o pasto tem condição de crescer e fornecer

* A Europa tem a atual tendência de adquirir apenas carne rastreada e produzida à pasto, não necessariamente orgânica, mas que não contenha resíduos de anabolizantes, determinados vermífugos e antibióticos, que não utilize herbicidas, que respeite os animais (reses, cavalos, etc.) e que utilize níveis decrescentes de uréia no sal.

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis16

alimento de qualidade para o gado. A técnica consiste, resumidamente, em:

- Divisão das pastagens em piquetes. O número de piquetes e tamanho dos mesmos depende

do tamanho da propriedade e do rebanho. O ideal é que o gado leve 30 dias para voltar

- Diversificação das pastagens (gramíneas e leguminosas), que melhoram a alimentação do

gado;

- Arborização das pastagens, de preferência com espécies nativas – elas oferecem sombra e

conforto para o gado;

- Abandono do uso de adubos químicos, herbicidas, roçadas sistemáticas e fogo.

- Orienta-se adotar a cerca elétrica para manejo dos piquetes, pois diminui os custos com

madeira e arame.

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis17

Page 10: Cartilha BR 163

Quando soube do projeto que iria ser desenvol-

vido pelo ICV, Schneider resolveu fazer parte,

mesmo que um pouco receoso. Como a intenção

principal era a melhoria do pasto, ele começou

aumentando o número de piquetes de cinco

para 24 e implantando a cerca elétrica. Assim,

logo no primeiro ano do projeto, conseguiu

aumentar a capacidade de produção de seu

gado leiteiro em 20%. Com o recurso, conta

orgulhoso, conseguiu não só aumentar a casa,

mas também ganhou conhecimento e experiên-

cias que nem sonhava que existiam.

A boa experiência e resultados positivos é o que

fazem o agricultor Schneider pensar no futuro.

Quando este projeto terminar, ele diz que não

vai esperar que outro caia em suas mãos, vai

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis19

Nova Guarita, cidade localizada a 697 km de

Cuiabá, é uma das duas cidades onde o ICV

desenvolve o projeto intitulado Apoio à práti-

cas alternativas à agricultura familiar, em

parceria com duas cooperativas locais:

Coopernova e Cooperagrepa. O projeto busca

atender as necessidades de um grupo de 20

agricultores de Nova Guarita e de Terra Nova

do Norte, associados das duas cooperativas,

com a troca do pastoreio contínuo pelo manejo

de pastagens através do piqueteamento e a

implantação de cercas elétricas.

O coordenador do projeto pelo ICV, Jean Carlo

Correa Figueira, conta que no início o cenário

encontrado era de uma comunidade de peque-

nos produtores rurais, com um bom nível de

organização, mas com pastos já muito degra-

dados, em alguns com cerca de 20 anos de uso.

Por isso, estavam com um baixo rendimento

dos pastos, que já estavam degradados e

sentindo drasticamente o período da seca, com

18Alternativas Econômicas

para Agricultura FamiliarSustentáveis

pouco alimento natural para os animais.

Muitos já desmataram mais de 50% da proprie-

dade, não tendo mais como ampliar a produção

ou melhorar a produtividade dos pastos exis-

tentes.

Dos 18 sócios da Associação dos Pequenos

Produtores da Comunidade União, de Nova

Guarita, dez estão no projeto. Isso porque a

maioria não quer mais a derrubada de floresta e

busca caminhos sustentáveis

para permanecer na terra. Hoje

os participantes não só já pen-

sam em novos rumos como

copiam e buscam modelos de

sustentabilidade numa clara

demonstração de que sua visão

está mudada.

é um

dos produtores que participam.

Tem 26 alqueires e sempre

pensou em recuperar a pasta-

gem, mas nunca tinha feito por

não contar com a assistência técnica. Ele conta

que, logo que chegou a Nova Guarita para

tomar posse de sua terra a ordem era derrubar

para ganhar o local que tivesse 'tomado posse'.

Após a derrubada, queimou para criar seu

pasto. No entanto, hoje sabe o quanto de nutri-

entes o solo perdeu com essa prática. Com o

tempo a terra foi mostrando cansaço e logo

começou a faltar um bom capim. Isso gerou

baixa produtividade no leite e pouca qualidade

na carne do gado.

Nélson Rodolfo Schneider

atrás de capacitação para expandir sempre e

dar exemplo a outros agricultores. “Com todo o

trabalho que implantamos vemos que destruir

é fácil, reconstruir é que é difícil, e leva tempo.

Mas o bom é que tem jeito”, disse.

Já seu , além

de ter implantado piquetes,

também ajuda na recuperação da

terra e, consequentemente, na

alimentação do gado e qualidade

do leite e carne, com a plantação

em seu pasto de leguminosas,

frutíferas e outras árvores

nativas – as duas primeiras para

alimento e as nativas para

sombreamento, o que também

ajuda no aumento da produção

de leite.

Associação – O presidente da

Associação, Valmor Antônio Verdana, explica

que ainda há uma cisma de alguns produtres

que não entenderam a importância do projeto.

Por isso nem todos os associados aderiram.

Segundo ele, se por um lado, o projeto chegou

tarde, pois não se tinha mais o que preservar,

por outro, veio em boa hora para socorrer quem

já desistia da terra. “Quando a gente precisa,

acha que tudo é demorado. Mas os resultados,

mesmo que ocorrendo devagar, agradam, com

certeza, a todos”, revela Verdana, animado com

os resultados.

Olívio dos Santos

Nova Guarita recupera seu futuro

Page 11: Cartilha BR 163

Apicultura: uma doce possibilidade

Características, cuidados e manutenção de pasto apícola

Para quem pensa nessa possibilidade de trabalho, é preciso saber que são necessários certos

cuidados na hora de produzir um bom mel. Um exemplo destas medidas é não implantar o apiário

próximo a plantações que usem inseticidas, pois isso comprometerá a pureza do produto final. E

também planejar variar seu pasto apícola (conjunto de espécies de plantas que dão flores próximas

ao apiário para que as abelhas tenham ingredientes para produzir o mel) para garantir o produto

durante todo o ano.

Uma vantagem de se constituir um apiário é que não há restrições a ninguém para se trabalhar

com apicultura. As únicas recomendações é que não tenha medo nem alergia de abelhas, e seja

paciente no trato com elas. O trabalho, da captura à comercialização, é relativamente simples e

não exige dedicação em tempo integral.

Um ano em média, dependendo da região, é o tempo que demora para se produzir a primeira leva

de mel. A média nacional de produção é de 20 quilos de mel por caixa. Para um melhor planejamen-

to, no entanto, é interessante que se faça desde o princípio o mapeamento da florada de seu pasto

apícola, ou seja, se tenha anotado e organizado a época em que cada espécie de planta do apiário dá

suas flores. Dessa forma é possível identificar os meses de cada uma, o que facilita o manejo na

hora da previsão da produção.

Deve ser:

* Em local de reflorestamento ou de capoeira com diversidade de plantas

* Distância mínima de 500 metros da estrada e distante de cavalos, porque odores fortes

espantam as abelhas

* Longe de crianças, para que não ocorram acidentes

* Em local que possua certo sombreamento, mas não seja muito fechado

* Direcionado para o sol nascente

* Próximo de um curso d'água

* Localizado onde bata menos vento

* Com a caixas-isca colocadas em cima de cavaletes. Estes cavaletes devem estar prote-

gidos por metades de garrafas plásticas para evitar ataque de formigas (veja fotos)

Deve ter:

* Floradas variadas para garantir mel durante todo o ano

* Plantas medicinais, caso a intenção seja incrementar a produção. Isso para que as abelhas

passem a introduzir no mel o princípio ativo desses tipos de plantas. Esta característica pode ser

um diferencial do produto oferecido.

* Devidamente paramentado, com a roupa adequada (macacão com proteção de rosto, luvas

e botas) localizar a colméia, que pode estar pendurada ou no oco de alguma árvore.

* Fazer fumaça com o fumegador com fogo sempre de material orgânico como sabugo de

milho, capim limão ou serragem. A fumaça nunca pode ser produzida por materiais que irritam ou

molestem as abelhas, como óleo de qualquer natureza, querosene, gasolina e produtos que des-

prendam odor forte ou mau cheiro. Nunca direcionada diretamente a colméia e não muito intensa,

para que as abelhas apenas se afastem e não fujam.

* Quando a colméia está no oco é necessário abrí-la com machado. Feito isto, é preciso

capturar a rainha – cuja característica principal é ser maior do que as demais e ter sempre, atrás de

si, um grande número de abelhas. A rainha fica localizada sempre no centro da colméia.

* Colocar a abelha-rainha numa caixa-isca próxima, com melgueiras (quadros de madeira,

que acondicionam os favos da colméia) com cera alveolada nova (cuja característica é a cor bran-

ca), devidamente preparada com a proteção contra animais e insetos (ver preparação da caixa).

* Deixar a caixa no local de captura a 1,50 m ou 2 m da colméia, e a cerca de um metro de

altura, sem mexer, por dois ou três dias, até que as abelhas sigam naturalmente a rainha e entrem

na caixa. A altura da caixa nos cavaletes (1 m) é para que a colméia não seja atacada por outros

animais e insetos e facilitar a manutenção.

* Ocorrida a entrada de todas as abelhas na caixa, leva-se esta para o apiário. No início

quinzenalmente e com o tempo, mensalmente, com a roupa adequada, deve-se olhar se a rainha

colocou ovos. Isso significa que o

trabalho começou na colméia-caixa.

Com o tempo, essa inspeção periódi-

ca também serve para saber se é

preciso fornecer alimento nos

períodos de carência, verificar a

conformação dos favos e a posturas

da rainha, etc.

* Este trabalho de revisão deve

ser feito pelo apicultor devidamente

trajado, em dias quentes e ensolara-

dos e, preferencialmente, com a

ajuda de alguém. Neste tipo de

atividade, o uso do fumegador é

obrigatório e o trabalho deve ser

feito de forma rápida, em movimen-

tos tranqüilos, delicados, porém

decididos. Gestos ou ações bruscas

Captura de colméia e manutenção do apiário:

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis20 21

Page 12: Cartilha BR 163

podem provocar a irada reação das abelhas.

* Para realizar o trabalho de inspeção ou revisão, aproxime-se sempre pelo lado de trás da

caixa. Nunca interrompa, com o corpo, a linha de vôo das abelhas, que entram e saem da caixa em

busca de alimentos.

* Quando o apiário estiver estabelecido a cera deve ser trocada de tempos em tempos. O

ideal é usar um quadro de cera alveolada por mês até que a própria abelha produza sua cera.

* Favos escuros, retorcidos ou danificados devem ser substituídos por favos com cera nova

alveolada. Os favos, principalmente os do centro do ninho onde se desenvolve a família na col-

méia, devem ser examinados para constatar a presença de larvas e ovos. É uma operação delicada

e que requer atenção visual, pois os ovos são pequenos. A ocorrência de favos com pequeno núme-

ro de crias ou de ovos depositados é sinal de que a rainha está fraca e deve ser substituída.

* Se os favos da caixa estão todos ocupados, com crias ou com alimento - mel e pólen –, o

apicultor deve providenciar mais espaço para a família, ou seja, uma caixa extra. Um indício de

que a caixa está superpovoada é a formação daquilo que os apicultores denominam de "barba" de

abelhas: quando nos dias quentes

um grande numero de abelhas

ficam na entrada das colméia, em

forma de cacho.

* Verificar se há presença

de larvas mortas nos favos e de

abelhas mortas no assoalho da

caixa. Isto é indício de ocorrência

de doença na família. Uma colméia

sadia é sempre limpa e higiênica.

* Na entressafra, ou seja,

nos períodos em que não há

florada, principalmente durante o

inverno ou nas estações de muita

chuva, verifique se a família tem

alimento suficiente. Caso contrá-

rio, você deve fornecer alimentação artificial à colônia (mel e não açúcar).

* Para evitar que parte da colônia enxameie, ou seja, que abandone a colméia, verifique se a

família está formando realeiras nos favos. As realeiras (cápsulas destinadas à criação de rainhas),

são formadas normalmente, nas extremidades dos quadros, apresentando a forma de um casulo

parecido com uma casca de amendoim. Elimine, se for o caso, estas cápsulas para não perder a

colônia.

A longevidade da colméia-caixa pode ser medida pela idade da rainha. Mas como identificar?

Fácil! A rainha nova tem como característica colocar ovos (pontinhos de cerca de 2 mm e brancos)

um ao lado do outro. Já a rainha velha coloca ovos em qualquer lugar da colméia.

Como identificar a idade da rainha?

Equipamento necessário

* Caixa

* Macacão: deve ser constituído de

uma única peça e largo, folgado o suficiente

para não criar resistência junto ao corpo, o que

permitiria a ferroada da abelha, de tecido

resistente para defender o corpo de ferroadas.

Caso seja feito pelo próprio produtor uma dica

é o brim, que é bastante utilizado e oferece

uma boa proteção.

* Máscara: o melhor tipo é o de pano,

com visor de tela metálica, pintada com tinta

preta e fosca, que permite melhor visibilidade.

* Luvas: devem ser finas o suficiente para que o apicultor não perca totalmente o tato –

fator de grande importância na manipulação das abelhas. As luvas de couro fino, brancas, são as

mais indicadas, as de plástico nem sempre são resistentes às ferroadas, além de suarem muito, o

que dificulta os trabalhos e cujo odor pode irritar as abelhas.

* Formão (pá): ferramenta utilizada para abrir o teto da colméia, que normalmente é

soldado à caixa pelas abelhas com a própolis. Serve também para separar a desgrudar as peças da

colméia.

* Fumegador: serve para defender o apicultor das ferroadas. Sua fumaça diminui a agressi-

vidade das abelhas.

* Botas: as melhores são as de borracha branca, de cano médio ou longo, sobre o qual é

ajustada a bainha do macacão.

* Espanador: empregado para remover as abelhas dos quadros da colméia sem ferí-las.

Normalmente, é feito de crina animal. Alguns apicultores utilizam penas de aves como espanador.

* Facas e garfos desoperculadores: são instrumentos utilizados para destampar os alvéolos

dos favos, liberando, assim, o mel armazenado.

* Centrífuga: equipamento destinado à extração de mel que não provoca danos aos favos,

permitindo reaproveitá-los.

* Decantador

* Cera alveolada: com o tempo ela é feita pela própria abelha na nova casa da rainha. No

entanto, no início, para acelerar a produção de mel, a compra da cera é recomendada.

É Importante que itens que ficam em contato direto com o mel, como o formão e a centrífuga,

sejam de inox para que o mel não pegue cheiro de plástico.

As abelhas são sensíveis às tonalidades escuras, especialmente ao preto e ao marrom. Elas têm

verdadeira aversão a estas cores, que provocam seu ataque. Por isso, toda a indumentária do

apicultor deve ser de cor clara. As mais indicadas são o branco, o amarelo e o azul- claro.

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis22 23

Page 13: Cartilha BR 163

A quantidade de caixas de cada

apiário varia de acordo com a

quantidade de florada e de abelhas

que se tem na propriedade. Mas um

número superior a 20 não é reco-

mendado.

* Pegar uma melgueira da

colméia

* Desopercular. Opercular é

o trabalho de vedação dos favos

pelas abelhas. As abelhas opercu-

lam, isto é, "fecham" os favos com

mel maduro ou cria (larvas) madura. Na retirada do mel quebra-se este opérculo.

* Deixar escorrer o mel na centrífuga

* Centrifugar o mel de acordo com a capacidade da máquina

* Peneirar no decantador

* Deixar no decantador de 2 a 3 dias para que as impurezas subam e o mel puro possa ser

separado para a venda.

Como fazer a retirada do

mel das caixas:

Um doce futuro é o que esperam os

agricultores do Projeto de Assentamen-

to Califórnia, da cidade de Vera, distan-

te 480 km de Cuiabá. Lá o Projeto de

apoio ao desenvolvimento de alternati-

vas econômicas e recuperação ambien-

tal, realizado pela Associação dos

Parceleiros do Projeto de Assentamento

da Fazenda Califórnia, começa a ser

construído com a implantação da

apicultura.

Ironi Antonio Zanati, secretário da

Diretoria da Associação do PA

Califórnia conta que as coisas não

foram para frente em seu sítio ainda porque,

desde que foi para lá, não teve quase nenhuma

orientação de órgãos federais. Ele conta que

nasceu e se criou na roça e sabia o que o pai

sabia, ou seja, plantar e colher com técnicas

antigas. Um tempo depois foi para a zona

urbana, onde trabalhou dez anos em madeirei-

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis25

““Trabalhar em Rede é a saída.

Quem é pequeno agricultor

e está fora está

perdendo uma

oportunidade

de mercado

Nélson Ganzer,

agricultor PA Califórnia

ra. Depois conseguiu as terras no P.A., onde não

encontrou nenhuma estrutura nem avançou. A

vantagem que vê agora com o projeto é poder

reavivar a experiência que teve com o pai num

curso que fez em 1979. Zanati diz que renovou

este aprendizado com a aula prática de campo

dada pelo consultor Wemerson Ballester. Para

ele a vinda da apicultura ao local trará grandes

benefícios, principalmente porque vem agre-

gada com a fruticultura e o interesse em

reflorestar.

“O projeto nos traz benefícios porque pesquisa

mercado e a qualidade do mel que será consoli-

dada com a abertura da Casa do Mel”, comenta.

A expectativa é que no final de três anos a

comunidade já esteja coletando e comerciali-

zando cinco mil quilos de mel. Ao todo partici-

pam 18 famílias neste projeto num total de 76

pessoas envolvidas.

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis24

Em Vera o fogo sai para entrarem as flores!

Pasto Apícola no PA Califórnia

Page 14: Cartilha BR 163

O coordenador do projeto e presidente da

Associação, Argeu Medeiros, está satisfeito

com a nova empreitada. Vivendo há oito anos

no assentamento, ele plantou arroz até 2005

mas parou porque não tinha rentabilidade. Na

Associação ele conta que queria encontrar

parceria para implantar novas alternativas ao

fogo, muito utilizado na região para preparar o

solo. Encontrou esta parceira com o Sindicato

dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio

Verde, com o qual se envolveu desde o

Projeto Proteger até chegar ao atual

projeto.

Ele também já tinha noção de apicultu-

ra, mas nunca tinha trabalhado com a

atividade. Com o projeto de apicultura

sendo implantado, Medeiros conta que

aprendeu o que é organização para um

trabalho, a busca de parceria e, numa

ampliação de horizonte, o que são

políticas públicas e como elas podem

ser influenciadas pela sociedade.

Outro que adentra a apicultura é o

agricultor Nélson Ganzer. Natural da

região Sul ele veio para Mato Grosso em 1999

em busca de terra, mas como não conseguiu,

foi trabalhar em Lucas do Rio Verde na cons-

trução civil. Só dois anos depois foi para o

assentamento. Ganzer confessa que este é o

primeiro projeto do qual participa onde pode

ter renda. “É uma experiência nova e fácil pois

trabalhamos conforme orientações de técnicos

especializados”, diz. Com a orientação ele

aprendeu todo o manejo da abelha, captura e

alimentação e ganhou poucas ferroadas, para

sua surpresa. Depois do projeto, ele pensa na

fruticultura e no reflorestamento como ações

que vão ser aliadas e complementos da apicul-

tura que vai implantar. “Tudo o que conseguir

de forma ambientalmente correta, eu quero!

Viveiros e sementes: o começo da recuperação florestal

A Coleta de Sementes

Dizem que temos três obrigações ao passar pela vida: ter um filho, escrever um livro e plantar uma

árvore. Se repararmos, todas estas ações têm a intenção de fazer com que o ser humano deixe uma

contribuição para o planeta. Destas três 'obrigações', talvez plantar uma árvore seja a que mais é

deixada em segundo plano: parece que tem sido mais fácil cortar do que plantar.

A ocupação das terras no Brasil carac-

terizou-se pela falta de planejamento e

conseqüente destruição dos recursos

naturais, particularmente das flores-

tas. Neste panorama, as matas de beira

de rios, córregos e nascentes não

escaparam da destruição, um triste

cenário comum em toda a região da BR-

163 e Bacia do Xingu.

Mas recuperar essas áreas não é difícil

nem mesmo impossível. É preciso um

bom planejamento e um pouco de orientação. Tudo pode começar com a coleta de sementes e o

planejamento de um viveiro de mudas.

O processo de degradação das matas ciliares, além de desrespeitar a legislação, que torna obriga-

tória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas ciliares

funcionam como filtros, retendo parte dos agrotóxicos, poluentes e sedimentos que seriam trans-

portados para os cursos d'água, afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e conse-

qüentemente o número de peixes e a população humana. São importantes também como corredo-

res ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitam o deslocamento da fauna e o

fluxo de espécies entre as populações animais e vegetais. Em outras regiões não planas, exercem a

proteção do solo contra a erosão – processo que precisa ser revertido sempre. A implantação de

viveiros para recuperação de matas ciliares é o começo dessa conversa: além de servir para repro-

dução de espécies nativas que serão usadas na restauração das matas de beira de rio e nascentes,

ainda serve para produção de mudas de valor econômico.

A escolha das sementes que serão reproduzidas para a restauração das matas ciliares e nascentes

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis27

Meus planos agora são evitar o fogo e plantar

flores”.

João Boaventura de 55 anos trabalhou até os 15

com o pai na roça. Depois com madeireira até

2002.

Com desemprego na região e baixa nos cortes de

madeira, conseguiu o sítio no Califórnia e foi

plantar ao invés de cortar árvores. Plantou

arroz e milho, mas o investimento não rendeu e

ele quebrou. Agora quer ser apicultor, trabalho

que nunca fez, mas começou a se interessar

porque a venda é garantida e a perda é

perto de 0%.

Para o futuro só quer, assim como Deus promete

na Bíblia, uma vida de leite e mel. Para isso tem

a intenção de buscar novos financiamentos e

orientações de outras fontes. “Sei que tenho que

tentar várias coisas porque a lavoura sem

maquinário como os grandes latifundiários,

não rende. Por isso aposto agora na abelhas e

mais tarde na fruticultura e no reflorestamen-

to, atividades que darão suporte a apicultura”,

acrescenta.

““Trabalhar em Rede é gratificante.

A gente se integra com

outra instituição e

aprende e repassa

o que se sabe numa

troca constante

Argeu Medeiros, coordenador do Padeq

em Vera e presidente da Associação dos

Parceleiros do Projeto de Assentamento

da Fazenda Califórnia

26Alternativas Econômicas

para Agricultura FamiliarSustentáveis

Page 15: Cartilha BR 163

segue três critérios: qualidade das sementes, variedade das espécies e preferência por espécies

existentes na região.

Antes de mais nada, é importante escolher uma boa matriz, que é a árvore-mãe da qual se coletam

as sementes: deve ser uma planta sadia, bonita e produtiva. Logo após a coleta, as sementes devem

passar por um beneficiamento, que consiste em: limpeza, retirada da polpa, seleção e exclusão de

sementes inviáveis.

Existem diferentes tipos de espécies e sementes, e portanto diferentes modos de coleta também.

Para sementes miúdas que caem e são difíceis de coletar no chão, uma lona em baixo do pé ajuda.

Outras como Ipê, que são sementes dispersadas pelo vento exigem a coleta na árvore, subindo nela

antes de abrirem.

Para que as sementes germinem, a maior parte delas precisa ter sua dormência quebrada. Na

natureza isso acontece quando os animais comem as frutas e regurgitam ou defecam as sementes.

Os métodos de quebra de dormência tentam imitar essas condições

- Raspagem: é o método mais usado nas

sementes mais duras. Consiste em raspar a

semente em uma superfície áspera ou com

facão antes de plantar, mas cuide para não

atingir o miolo dela. É adequado para

sementes como jatobá e pinho cuiabano.

-Choque de temperatura: neste caso as

sementes sofrem a alternância de tempera-

turas, de aproximadamente 20ºC, em

períodos de 8 a 12 horas. Consiste em dar

banhos em água morna e em segui da

nas sementes. O

método é bom para sementes mais sensíveis.

Fases da semente no viveiro

Semeadura: no caso das sementes miúdas, é usual semeá-las em berçários, isto é, grandes caixas

cheias de areia misturada com composto orgânico. Para sementes maiores, o plantio é feito direta-

mente em saquinhos. Mas cada espécie pode exigir um cuidado específico, valendo à pena consul-

tar alguém que já conheça o manejo das espécies que se deseja plantar.

Germinação: algumas espécies germinam em poucos dias, mas outras demoram meses. Algumas

necessitam de sombra para se desenvolver, outras de muito sol. Nem sempre todas sementes

Quebra de dormência

banhos de água fria

O Viveiro

germinam. Quando se começa é necessário realizar testes ou se informar com quem já organizou

viveiros, sobre o processo de germinação de cada espécie.

Transferência para saquinhos: quando as mudas chegam ao tamanho adequado para transporte

e plantio para local definitivo, são liberadas do viveiro. É legal fazer a muda passar por um proces-

so de rustificação quando ela estiver pronta para ir pro campo. Esse processo consiste em colocá-

las no sol e diminuir as regas, pois no campo elas não terão mais os cuidados do viveiro e sofrerão

menos se forem preparadas para essas condições.

O local do viveiro deve ser:

- Plano;

- Aberto, sem sombreamento;

- Com fácil acesso à água;

- Com boa drenagem do solo;

- Ter um quebra-vento na direção dos ventos

mais fortes;

-De fácil acesso de pessoas e veículos.

Infraestrutura:

- Um galpão, para guardar os equipamentos e

insumos, e executar tarefas como o encher

saquinhos;

- Reservatório de água na parte mais alta do terreno (facilita as regas);

- Espaço aberto e sombreado, especial para estocar terra, areia e fertilizantes orgânicos.

O berçário

Uma sementeira, ou berçário, é essencial para a maior parte das espécies, especialmente as de

sementes pequenas. Facilita muito o trabalho e economiza recursos, pois somente será preciso

transferir para os saquinhos as plantas que nascerem. Para a maior parte do ano, basta construir

uma sementeira (ou berçário) coberta com tela plástica ou sombrite, para proteger contra sol forte

e do ataque de insetos. Esta proteção será desnecessária se os saquinhos ficarem sob a sombra

natural de árvores.

Com poucos recursos

- Delimitar uma área de 10m x 1m com tábuas ou tijolos;

- Preencher o fundo da área com uma camada de brita grossa e, sobre ela, outra de brita fina (garan-

te boa drenagem)

- Preencher com substrato composto por areia (90%) e húmus (10%).

Canteiros

O ideal é que cada canteiro (espaço delimitado para abrigar os saquinhos com mudas) tenha um

metro de largura por dez metros de comprimento. Mas tudo depende da área que se tem disponível

para este fim. Para delimitá-lo, coloque em cada canto uma pequena estaca de madeira e ligue estas

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis28 29

Page 16: Cartilha BR 163

estacas com um barbante, formando um retângulo. Deixe sempre corredores de aproximadamen-

te um metro de largura entre os canteiros, para facilitar as atividades rotineiras. Uma dica é

construí-los no sentido leste-oeste o que garante melhor insolação.

Como transferir do berçário para os saquinhos

Quando as mudas atingem de 10 a 12 cm, deve ocorrer a repicagem, ou seja, a transferência para

saquinhos, com cuidado especial, para a raiz manter-se reta, pois se enrolar a ponta, a planta pode

não se desenvolver.

1- Preparo dos saquinhos: escolha os de um ou dois litros (pode-se reaproveitar sacos de leite,

desde que eles tenham sido muito bem lavados, para que não haja fungos prejudiciais), enchendo-

os até quase a borda com substrato (60% de terra, 20% de esterco curtido e 20% de bagaço de cana

curtido – Preparo: Misturar bem e passar por uma peneira de tela grossa (vãos de 2 cm de diâme-

tro, aproximadamente) para eliminar torrões.

2 – Transferência para os saquinhos: repita o procedimento com cada mudinha, sem esquecer de

molhar bem a sementeira antes, para ficar fácil tirá-las: no saquinho, faça com o dedo um buraco

no substrato de mais ou menos 1 cm de diâmetro, onde a mudinha será colocada. Arranque com

muito cuidado uma mudinha do berçário, para a raiz não quebrar. Coloque a muda no saquinho,

com atenção para para que a raiz entre reta.

Complete o espaço vazio com o substrato.

Estacas aos invés de sementes

Para algumas espécies, como amora e pata de

vaca, é possível usar estacas em vez de semen-

tes para fazer mudas. Assim, elas podem ser

plantadas diretamente no local, sem precisar

passar pelo viveiro.

A coleta destas estacas pode ser feita de duas

formas: com uma tesoura de poda, utilizando

galhos de 20 a 25 cm de comprimento; ou com

facão, com galhos de 50 cm. As estacas devem ser coletadas preferencialmente no início da manhã,

quando sua seiva está subindo (assim ela terá mais reservas e hormônios). Verifique com um

viveirista que tipo de ramo se transforma numa boa estaca, pois isso varia de espécie para espécie.

Há quem recomende fazer este processo na Lua Nova, para garantir o enraizamento e brotação.

Para o plantio dessas mudas, coloque uma estaca por saquinho, já com o substrato. Inicialmente,

deixe os saquinhos à meia sombra (cobertos com tela plástica, ou na sombra de uma árvore) para

impedir o sol direto. Após a formação da raiz e brotação, os saquinhos com mudas podem ser

colocados a pleno sol, recebendo os mesmos cuidados que as outras mudas, até atingirem o tama-

nho ideal para a transferência para o local definitivo.

No caso de se plantar a muda já no seu local definitivo em vez do viveiro, o plantio da estaca deve

ser feito de forma a obter um ângulo de uns 45º com o solo, isso permite que a seiva e os hormônios

que estimularão o enraizamento tenham uma maior superfície de contato com a terra.

Cuidados nos canteiros

A rotina de trabalho, para que as mudas se desenvolvam adequadamente, deve ser:

- irrigar diariamente;

- trocar os saquinhos de lugar, quando as raízes começam a pegar na terra;

- proteger as mudas do sol, usando tela ou equivalente logo após a repicagem (até a muda firmar),

ou permanentemente para determinadas espécies, como a peroba;

- trocar de saquinhos, quando estes começam a rachar.

As mudas produzidas neste processo

estão prontas quando atingem 70 cm

de altura.

Cuidados necessários

- O local de plantio deve ser adequado

para a planta.

- A cova pode ser feita com tamanho

entre 40 e 60 centímetros de diâmetro e

igual profundidade.

- Para preparar a terra é preciso mistu-

rar a terra que se retirou ao fazer a

cova na medida de duas partes de terra

para uma parte de composto orgânico.

Reservar.

- Para o plantio da muda rasgue o saquinho onde ela está (caso contrário, a raiz não se desenvolve).

- Retire-a com o torrão de terra, sem quebrar o torrão.

Preparo da cova

- Coloque metade da mistura de terra e composto de volta na cova.

- Para plantar, introduza a muda com o torrão na cova e preencha o resto do buraco com a mesma

mistura. Deve-se ter cuidado para o torrão não ficar acima no nível do solo (seca as raízes), nem

muito embaixo (pode apodrecer a base da muda).

- Para finalizar, pressione um pouco o chão do local plantado para deixar a muda firme, mas não

aperte muito para não compactar o solo. No local da cova, o terreno deve ficar uns dois centímetros

abaixo do nível do solo. Isso facilita regas. A primeira rega, já pode ocorrer logo após o plantio.

Cuidados finais

- Cobrir o solo com folhas secas, o que ajuda a manter a umidade da terra.

- Quando não chove, deve-se regar de uma a duas vezes ao dia, no início da manhã ou fim de tarde.

O Plantio

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis30

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis31

Page 17: Cartilha BR 163

Em Cláudia, a 606 km de Cuiabá, o Projeto

Loreta: proteção de matas ciliares na

Amazônia Mato-grossense, implantado pelo

Gapa - Grupo Agroflorestal e Proteção

Ambiental, está em fase final de estruturação,

preparando seu viveiro para produzir 50 mil

mudas, em três anos, de espécies

florestais e frutíferas. O projeto dá

continuidade ao trabalho que o Gapa já

desenvolvia na região com a recupera-

ção do córrego Loreta, que começou a

ser recuperado em 1999. A nascente

quase foi perdida com o fogo que

assolava a região e o Gapa trabalhou

por sua

com ajuda do poder público municipal

e a população local.

Cláudia já perdeu sete nascentes antes

do Córrego Leda ser salvo com a

reserva municipal que o protege.

recuperação e preservação

O plantio das mudas do viveiro é

um dos modos dos produtores

recuperarem a mata ciliar. Alem da

mata ciliar será implantado em

cada propriedade uma pequena

área de sistema agroflorestal –

SAF's. O método escolhido também

vem dando ânimo aos agricultores

numa forma de não precisar

explorar ao máximo sua área até a

beira dos rios e córregos. Com o

sistema eles podem, não só conse-

guir frutas diversificadas para seu

consumo com também para seu

sustento. O maracujá, a graviola, o

cupuaçu e abacaxi são algumas das

alternativas dadas agora pelo projeto a quem

participa. Isso porque só gado e a lavoura não

sustentam mais as propriedades.

A proprietária rural Maria Salete Perinotto não

nega sua participação no processo de degrada-

ção e conta que passou pelos problemas ambi-

entais causados pela destruição da mata ciliar.

““ Acho importante trabalhar com intercambio porque assim conhecemos

outros locais, como estão indo e o que estão fazendo e os

resultados obtidos ajudam poupar tempo quando

aplicarmos métodos semelhantes em nossa região.

A troca de conhecimentos obtida com os intercâmbios

que a Rede proporciona tem sido muito

importante para o Projeto Loreta

Brigitte Frick, coordenadora

do Gapa para o Padeq Loreta

32Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis33

Hoje tudo se desencadeia num só ritmo em prol

do bem comum. O pó de serragem transforma-

do em adubo orgânico é utilizado na produção

das mudas do viveiro para os 15 km de matas

ciliares que conservarão o córrego Loreta.

Participante do projeto, ela diz que já pode

comprovar a olhos vistos a melhoria em sua

terra. “Antes a gente sofria com as enxurradas,

erosões e muito pó de serra se espalhando ao

longo do córrego. Toda vida fazia força para

meu marido ir à prefeitura para reclamar, mas

ninguém dava bola, só prometiam. Minha

vontade era de ir embora daqui. Quando

compramos a terra não víamos a

hora de derrubar a mata ciliar para

o gado beber água e aí, vimos que a

qualidade não estava boa porque

nossa parte do córrego ficava entre

duas propriedades que não respei-

tavam a mata ciliar. Fui a favor do

projeto de recuperação porque nos

convencemos de que estamos

plantando para o futuro e teremos

árvores e água de qualidade daqui

a cinco ou dez anos. Agora a vonta-

de de vender a terra passou”,

argumenta.

Com a orientação do Gapa ela

conta que plantou em sua proprie-

Cláudia – mata ciliar cultivada em viveiro

Armin Beh mostra em franca recuperação

““ Se não fosse o trabalho em Rede eu

estava no zero. Acredito que o assunto

'meio ambiente' é muito importante

atualmente e interessante

que seja acessado por

quem lida com a terra,

porque mexer nela,

mexe com o clima e,

conseqüentemente,

com nosso futuro

Luiz Lazarin, agricultor

Page 18: Cartilha BR 163

dade mudas de mescla, cedro-rosa, ipê-

amarelo, ingá, maracujá, cedrinho, seringa,

jatobá, pequi e cacau. As frutas, além de

alimentarem a família, servem para os passa-

rinhos alegrarem o dia e ajudarem a reflorestar

a área. Ao todo ela já plantou 250 mudas e não

pensa em parar. Também colocou cerca em

volta do rio para que os bezerros não cheguem

mais lá.

Sérgio Dalmaso Pereira, também proprietário

de terra onde o Loreta passa diz que a água

chegou a secar na nascente da propriedade,

forçando a família a pegar água de outro

Sistemas Agroflorestais:

produção de alimentos e restauração florestal

Recuperar florestas pode ser tão simples quanto o processo criado pela própria natureza, sem no

entanto significar perda de renda dos agricultores e agricultoras. Uma técnica que permite isso é o

Sistema Agroflorestal (SAF), que nos leva a observar como a natureza se recupera sozinha e como

podemos dar uma ajuda neste processo incluindo espécies que nos interessam economicamente.

O método mais simples consiste em misturar as mais diferentes sementes – de hortaliças a árvores

– e semear diretamente no solo, numa mesma cova. Nesse processo, deve ser levado em conta os

ciclos de vida das plantas e a quantidade de sementes por espécie a ser colocada no coquetel. As

sementes não devem ser enterradas em profundidade e devem ser homogeneamente distribuídas.

Uma boa recomendação é que se misture terra e água no coquetel – isso torna a mistura mais

homogênea e evita que as sementes

pequenas fiquem no fundo do reci-

piente.

O método, além de simples é econômi-

co, cabendo perfeitamente no bolso do

pequeno agricultor. Isso porque a

agrofloresta reúne as culturas agríco-

las e florestais, usando a dinâmica de

sucessão de espécies nativas, colocan-

do lado a lado as espécies que agregam

benefícios para o solo e aquelas que

oferecem produtos para o agricultor.

O segredo é consorciar espécies de

diferentes estágios da sucessão

natural, assim elas se complementam ajudando umas as outras até formar uma floresta madura.

Os SAFs são a reprodução no espaço e no tempo da sucessão ecológica verificada naturalmente na

colonização de áreas novas ou deterioradas. Não é a reconstrução da mata original porque inclui

plantas de interesse econômico desde as primeiras fases, permitindo colheitas sucessivas de

produtos diferentes ao longo do tempo. O plantio conjunto de espécies pode ser em linhas ou ainda

melhor, nas mesmas covas.

Há que se observar no entanto, nesta técnica, que algumas sementes nascem rápido como a do ingá

e do cacau falso. Como a mata precisa, em geral, de 20 anos para se recuperar, nesse tempo o

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis35

córrego. Como providências tiraram o gado de

perto do córrego e, em dois anos, a água voltou a

correr.

“Tinha bastante coisa que sabíamos que pode-

ríamos deixar para depois, mas vimos que

precisávamos preservar agora para não ver

mais degradação, como a nascente que deixei

secar”, lamenta. Em 1986 sua propriedade

queimou toda por causa de fogo causado por

vizinhos. Por isso ele acha importante trabalhar

em conjunto para juntar esforços e recursos.

Dessa forma aprende-se mais e repassa-se mais

em sua opinião.

O Luiz Lazarin e seu filho

Leomar, outros proprietá-

rios rurais participantes

do projeto, contam que

sua água e a produção

estavam prejudicadas por

causa do desmatamento.

Agora, com a preservação,

só melhoram a renda.

34Alternativas Econômicas

para Agricultura FamiliarSustentáveis

Viveiro do projeto do Gapa, em Cláudia

Page 19: Cartilha BR 163

agricultor pode aproveitar sua agrofloresta para colher frutas para sua subsistência ou geração de

renda.

Aos poucos as plantas dão os frutos que nutrirão o agricultor. Enquanto isso, as árvores ajudam a

formar a agrofloresta.

Capina seletiva: apenas as plantas pioneiras nativas ou plantadas são cortadas ou arrancadas

quando maduras. Isso poupa as que têm uma posição mais avançada na sucessão, ou seja, aquelas

que ainda estão crescendo. Desta forma o manejo dá dinamismo ao processo acelerando seu

desenvolvimento. Este manejo, sempre que possível deve ser realizado no período das chuvas. A

hora da colheita também é propícia ao manejo. Isso porque pode-se espalhar matéria orgânica pelo

solo e introduzir novas sementes onde há falhas.

Poda: importante porque concede a entrada da luz para as plantas que estão abaixo das maiores.

Para saber qual indivíduo podar, basta observar se o mesmo apresenta ataque de doenças ou

pragas, se a planta está em condições de estresse relacionadas ao solo e à luminosidade. Também

pode ser feito a pode para induzir a floração (como no caso do café e do abacaxi).

-O mix de sementes deve ter vegetais de três grupos: de ciclo de vida curto, como feijão; médios,

como guandu, mandioca e maracujá, e de ciclo longo, como as árvores que levam anos para crescer

e dar frutos, tipo acácia negra, pau pereira, ingazeira, tamburiu.

-Um jeito de plantar é fazer linhas na terra, de metro em

metro, onde ficarão as covas com misturas de semente.

No meio disto, pode-se cultivar uma única variedade que

forneça mais biomassa (matéria orgânica) ao sistema.

Em áreas degradadas, podem ser usados feijão de porco,

planta que ajuda a fixar o nitrogênio no solo. Após a

colheita do feijão, as plantas serão cortadas, mas não

retiradas, tornando-se matéria orgânica para enriquecer

o solo. Para completar, de oito em oito metros, dá para

incluir uma fila de árvores maiores, que fornecerão

sombra e frutos no futuro, como é o caso do abacate e da

manga.

Como começar

- Faz-se um diagnóstico da área. Acidez (pH), disponibili-

dade de fósforo e nitrogênio do solo são elementos

fundamentais para a escolha das espécies certas para o

local.

- À medida em que o ecossistema vai melhorando, intro-

Manejo do sistema

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis36

duzir novas plantas mais exigentes,

imitando a sucessão natural, que

existe na natureza.

A observar

- Na mistura deve-se conhecer as

espécies que se desenvolvem melhor

quando plantadas juntas. É o caso do

milho e feijão, que os índios já reuni-

am em suas roças.

- Já o café gosta de sombra. É amigo

de árvores como a manga, tamburiu,

samaúma, jequitibá. Com a bananeira

só conviverá bem por poucos meses.

- Onde há bananal, pode-se introduzir

o abacate, que tem ciclo de vida mais

longo e, no extrato mais baixo, plantar taioba.

- A mandioca é um tipo de 'viveiro' natural, pois cresce mais rápido e acaba por dar sombra às

outras espécies que estão plantadas na mesma cova e que demoram mais a brotar. Neste caso as

raízes devem ser direcionadas para o lado oposto ao da muda.

- O milho plantado neste sistema também é importante porque, por nascer rápido, serve como

referencial das covas.

- Podem ser plantadas até dez espécies na mesma cova e cabem cerca de quatro covas em um metro

quadrado. No entanto, não há limite de junção de sementes na mesma cova. O próprio sistema

selecionara os indivíduos mais fortes e o agricultor deve observar e selecionar os indivíduos que

ficarão no sistema.

- Neste processo a natureza escolhe as melhores sementes, que brotam mais vigorosas, e o agricul-

tor pode, então, fazer sua seleção para as próximas covas.

- Nas covas aonde tem muitas sementes de frutas (que precisam de sol e matéria orgânica para se

desenvolver), é importante a poda nas plantas que fazem sombra a estas.

- Como são muitas sementes juntas a cova deve ter entre 10 e 15 cm de profundidade. Também se

pode fazer linhas rasas ou círculos rasos, colocar pouca terra sobre elas e completar com mais

cobertura vegetal (folhas secas, etc).

- O solo tem que ficar sempre coberto de matéria orgânica para evitar que o sol esquente muito e a

chuva compacte o solo.

Outro processo de recuperação florestal é mais tradicional. Nele são plantadas somente árvores de

climax (espécies que fecham a mata no final da sucessão natural) que normalmente são usadas

para cortar depois como a seringueira, o cedro, a itaúba, o angelim saia, a mescla e a peroba. E com

distância de três metros para cada cova. No entanto, como essas arvores são quase todas da mesma

Restauração florestal

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis37

Crianças do PA Jaraguá sedivertem em meio às plantações

No PA Jaraguá, o aprendizado sobre os SAF's uniu a comunidade

Page 20: Cartilha BR 163

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis39

Em Água Boa, projeto Agricultura e

Conservação da Mata Ciliar traba-

lha com 30 famílias do Assenta-

mento Jaraguá, que serão os

multiplicadores do processo de

recuperação das beiras de rios,

córregos e nascentes na região,

numa iniciativa coordenada pelo

ISA - Instituto Socioambiental.

Marlene Machado Souza e Seu

Dorly Lima dos Santos fazem parte

desse grupo. Eles estão há oito anos

na terra e contam que não tinham orientação

nenhuma para manejar uma área já sem muitos

recursos naturais intocados. Para reverter a

situação resolveram plantar árvores e tenta-

ram preservar a nascente existente em seu lote.

Quando o projeto chegou ao assentamento, eles

se engajaram e aumentaram seu conhecimento

para seguir naquilo que já estavam fazendo:

recuperar a floresta em sua propriedade.

“Com a experiência crescemos muito. Antes a

gente plantava banana e a galinha comia tudo.

Então resolvemos implantar a técnica do

Ernest já com inovação própria”, disseram.

altura, faltam as árvores no meio e em baixo desta floresta recriada. Para crescer mais rápido é

interessante que sejam plantadas espécies como a embaúba, que não serve para corte, mas para

mobilizar o fósforo no solo e ajudar as outras plantas a crescerem, pois oferecem sombra. Outras

espécies como a mangueira e a jaqueira também podem ajudar as outras árvores com a sombra e

nutrientes no solo.

Além da ajuda do homem uma recuperação florestal pode ser feita somente pela natureza quando

se isola uma área que já tem fontes de sementes e passarinhos. Se não existem estes itens naturais,

pode-se contribuir com o processo ao jogar sementes nesta área isolada para enriquecer o lugar.

Para atrair passarinhos – que são semeadores da natureza – podem ser construídos poleiros

artificiais, como tocos altos no meio do plantio.

Numa floresta nativa percebe-se uma mistura, de árvores maiores e menores. Nela há três grandes

grupos: pioneiras, as secundárias e as de clímax, que constituem o esquema de sucessão. Por isso,

um bom projeto de reflorestamento com árvores nativas deve misturar árvores dos três grupos, na

proporção correta.

Como são:

- Pioneiras são as que nascem primeiro. Têm como característica o rápido crescimento, mas não

vivem tanto tempo, nem ficam muito grandes. Fazem sombra, dando condições para outras

espécies nascerem e se desenvolverem melhor.

- Secundárias crescem mais lentamente, porém ficam maiores.

- Clímax, em geral, crescem apenas na sombra e levam mais tempo para se desenvolver. A madeira

é bem dura e o porte é maior. São as chamadas árvores de madeira de lei.

A escolha das espécies

- Para o reflorestamento de uso sustentado (aproveitamento econômico, sem destruir a floresta

como um todo) deve haver um planejamento de que árvores serão plantadas para a futura explora-

ção.

- Já para a regeneração de ecossistemas deve-se procurar espécies típicas do ecossistema a ser

regenerado. Na recomposição de matas ciliares (matas que beiram e preservam os rios) - as espéci-

es devem ser adaptadas a ambientes mais úmidos.

Regeneração Natural:

Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de se recuperarem de distúr-

bios provocados pela ação do homem. A sucessão secundária depende de uma série de fatores

como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies

arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração do distúrbio.

Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica de sucessão específica. Em áreas onde a

degradação não foi intensa, e o banco de sementes próximas, a regeneração natural pode ser

suficiente para a restauração florestal. Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de

degradação, ou seja, isolar a área e não praticar qualquer atividade de cultivo.

Água Boa: entre o novo e o tradicional na floresta

Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar

Sustentáveis38

Quando Ricardo entrou no seu lote, não havia uma árvore sequer, ele começou a plantar assim que entrou e hoje, com o conhecimento de SAF, melhorou ainda mais a riqueza de seu sítio

““Com esta experiência tenho certeza de que,

quando o projeto acabar,

nós já crescemos

o suficiente para

buscar o caminho

da sustentabilidade

Luzia Dias, agricultora

Page 21: Cartilha BR 163

40Alternativas Econômicas

para Agricultura FamiliarSustentáveis

Assim, rodearam as covas

que ficam perto da casa com

abacaxis para que as

gal inhas não comam,

mostrando intimidade com

as técnicas e princípios

ensinados pelo agricultor e

pesquisador Ernst Götsch.

Aldenor de Souza Machado,

que também faz parte do

grupo, conta que ocupou

seu lote no assentamento

em 1999, já completamente

desmatado. Neste ano viu o córrego secar e

pensou em fechar uma parte para recupera-

ção. Ele e sua família conseguiram reverter a

situação com a renovação do córrego na época

das chuvas, quando cercaram as margens para

recuperar a mata ciliar. Agora o volume de

água está maior e o apoio técnico do projeto o

ajuda a melhorar ainda mais a iniciativa.

Outro casal que comprova as benesses da

recuperação florestal é Ricardo e Luzia Dias

Batista. Ele conta que ouve falar de refloresta-

mento, desde que era presidente do Sindicato

dos Trabalhadores Rurais de Água Boa. Depois

virou agente social e ouviu reclamações de

muitos agricultores acerca de problemas

ambientais como a falta de água e a necessidade

de reflorestar a região, mas não sabia nem como

começar. Com o projeto, tudo mudou. Dias

relata que aprendeu a recuperar as matas

ciliares, com a orientação o projeto. Hoje,

comemora os frutos desta empreitada: antes

vivia só da venda da farinha produzida pelo

casal, agora tem a opção de oferecer ao mercado

o pequi, para o qual não tem faltado comprador.

A intenção agora é plantar a seringa e o caju,

com esperança de um futuro mais verde.

“É a primeira vez que trabalho em Rede

e estou achando importante

conhecer outras atividades

econômicas num

mesmo projeto

Osvaldo Luís de Souza,

técnico do ISA no projeto