cartilha br 163
TRANSCRIPT
Alternativas Econômicas
Sustentáveis para Agricultura Familiar
ÍNDICE
Apresentação 07
Diagnóstico Participativo: ferramenta de mobilização e organização comunitária 09
Carlinda semeia projetos e colhe sustentabilidade 11
Intercâmbio – Troca de experiências que favorece a todos 14
Recuperação de pastagens – alternativa necessária 16
Nova Guarita recupera seu futuro 18
Apicultura: uma doce possibilidade 20
Em Vera o fogo sai para entrarem as flores 25
Viveiros e sementes: o começo da recuperação floresta 27
Cláudia – mata ciliar cultivada em viveiro 32
Sistemas Agroflorestais:
produção de alimentos e restauração florestal 35
Água Boa: entre o novo e o tradicional na floresta 39
Rede BR163+Xingu Alternativas Econômicas Sustentáveis para Agricultura Familiar
Coordenador: Nilfo Wandscheer
Associados:Associação dos Parceleiros do Projeto de Assentamento CalifórniaAssociação dos Produtores rurais da Gleba Entre RiosCooperagrepa - Cooperativa de Produtores Ecológicos do Portal da AmazôniaEcoCachimbo - Instituto de Ecologia e Pesquiza do Complexo Serra do CachimboGapa - Grupo Agroflorestal e Proteção AmbientalInstituto Centro de VidaInstituto Ouro VerdeInstituto SocioambientalSindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde
Esta Rede faz parte da Campanha Y Ikatu Xinguwww.yikatuxingu.org.br
Ficha técnicaAlternativas Econômicas Sustentáveis para Agricultura Familiar
Pesquisa e redaçãoAdriana Gomes Nascimento
Coordenação editorialGisele Souza Neuls
Projeto gráfico e Editoração eletrônicaElenor Cecon Júnior - EGM Editora
FotosAs publicadas nas páginas 12, 14, 16, 18 e 19 foram cedidas pelo fotógrafo Rafael Castanheira. As demais fotos utilizadas nessa publicação foram cedidas pelos associados da Rede BR163+Xingu.
ApoioSubprograma de Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente
EdiçãoSindicato dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio VerdeRua Girua, 1196e - Cidade NovaLucas do Rio Verde – MT – CEP 78.455-000http://[email protected](65) 3549 1819
Apresentação
Um modelo de agricultura: inclusivo, que respeita o
ambiente e as populações e gera renda para as comunidades
A Rede BR163 + Xingu tem proporcionado aos agricultores e técnicos da região oportunidades de
experiências muito ricas visando a produção da agricultura familiar casada com a conscientização
e educação ambiental dessas pessoas. Tudo isso é possível graças ao trabalho de anos de
estruturação e fortalecimento de entidades através da formação de representantes e lideranças. A
articulação dessas entidades resultou na Rede BR163+Xingu, e a Rede também resultou em mais
articulação.
O nome da Rede vem do debate que já existe há anos, entre as entidades do movimento social, sobre
a participação social nas obras de infra-estrutura que devem acompanhar a pavimentação da BR-
163 no trecho Cuiabá – Santarém. Esse envolvimento se somou à Campanha Y Ikatu Xingu,
abraçada por agricultores familiares, indígenas, poder público, organizações sociais e fazendeiros
em direção ao objetivo comum que é a preservação das águas na bacia do Rio Xingu.
Com isso aconteceram intercâmbios de conhecimentos em manejo racional de pastagens,
apicultura e restauração florestal. Todos estavam visitando experiências semelhantes às das suas
comunidades, assim, de forma indireta estavam aprendendo sobre organização social e gestão
participativa. O conhecimento, as metodologias, as técnicas foram construídas de forma
participativa e, esta experiência serve de modelo para várias comunidades da região e até do
Estado.
É importante que o Estado e financiadores olhem para esta experiência com carinho e usem este
aprendizado no momento de construir o modelo de desenvolvimento que queremos. O STR, com
esta cartilha pretende contribuir com um novo modelo de
agricultura, inclusivo, respeitando o ambiente, as populações e
gerando renda para as comunidades.
Acreditamos ter atingido nosso objetivo, mas o trabalho continua,
há comunidades que não foram beneficiadas e as já contempladas
serão inseridas num processo de fortalecimento da comercia-
lização solidária envolvendo mais parceiros, setor público, terceiro
setor e comércio.
Boa leitura!
Nilfo Wandscheer - presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio Verde
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis07
Diagnóstico participativo:
ferramenta de mobilização e organização comunitária
oficinas
A mobilização e organização comunitária é a chave para mudar a tradição de soluções mágicas
para as dificuldades da agricultura familiar que vêm de cima pra baixo. Uma comunidade bem
organizada, que sabe o que quer e onde quer chegar, não será facilmente enganada por projetos
milagrosos que resultam e grandes elefantes brancos.
Mas como se dá esse processo? Antes de pensar em como mudar uma realidade é preciso conhecer a
comunidade, e mais: que a comunidade se conheça profundamente. Para isso, o diagnóstico parti-
cipativo é uma das primeiras ferramentas de trabalho, tanto para técnicos quanto para as próprias
lideranças das comunidades.
Os primeiros passos são visitas e entrevistas de campo, em que no contato com cada morador da
comunidade abre caminho para compreender a dinâmica da comunidade. Nessas visitas é impor-
tante apresentar a proposta de trabalho, ouvir as pessoas envolvidas, perguntar o que elas preci-
sam e o que querem mudar na sua comunidade. O Diagnóstico Participativo, que vamos abreviar
como DP, deve envolver as pessoas da comunidade em todas as etapas do processo, desde a elabora-
ção dos questionários ou roteiros de diagnósticos, até as entrevistas e análises dos dados. Este DP
vai permitir saber
com mais fidelidade e
amplitude o que toda
ou quase toda a
comunidade anseia,
ou seja, qual seu
problema em comum.
Para poderem aplicar
esse DP, os pesquisa-
dores comunitários
passam por
que os ajudam a
entender e manejar
esse recurso, abor-
dando aspectos como
Liderança Comunitá-
ria; Comunicação e Técnicas de coletas de dados. Após a capacitação, os participantes apontam
quais serão as pessoas que comporão um grupo que percorrerá a região coletando dados e proble-
mas da comunidade para que se estabeleçam prioridades e se pense em soluções coletivas.
Mudança Cultural: objetivo maior dos
projetos piloto da Campanha Y Ikatu Xingu
Aos nove projetos piloto da Rede BR-163 + Xingu, financiados pelo PDA-PADEQ, somam-se outros
tantos, apoiados por outras fontes de financiamento, distribuídos por diversos municípios da
região das cabeceiras do Rio Xingu e adjacências. Todos eles incluem componentes para a proteção
e recuperação de nascentes e matas ciliares, e somam esforços para a concretização dos objetivos
da Campanha Y Ikatu Xingu.
Esses projetos, por si só, são insuficientes para promover a recuperação de toda extensão de matas
ciliares já degradadas na região. Porém, eles vêm desempenhando funções essenciais. Antes de
mais nada, eles estão trazendo um aporte de mais de cinco milhões de reais, em três anos, para o
conjunto desses municípios, aos cuidados das diversas organizações locais que são suas
executoras.
Além disso, os projetos estão possibilitando a formação e fixação, na região, de técnicos
especializados, que ajudam a desenvolver técnicas de baixo custo para restauração florestal, que
permitirão aos produtores e administradores públicos interessados desenvolver tantas outras
experiências similares que sejam necessárias e possíveis. Ajudam a agrupar importantes
instituições locais em ações conjuntas, que podem compartilhar as suas experiências e enfrentar
as suas dificuldades comuns. Por exemplo, já vêm possibilitando a constituição de um incipiente
mercado local de sementes de espécies nativas, que eram antes consideradas inúteis, mas que
agora estão sendo valorizadas, inclusive como um fator de geração de renda para os seus coletores.
Considerando que os projetos piloto, como é da sua essência, estão abertos à visitação e à
aprendizagem de todos os interessados, inclusive o público escolar, e que os seus resultados,
mesmo iniciais, vêm sendo divulgados e compartilhados amplamente, eles estão se
transformando num verdadeiro elemento de transformação
cultural para toda a população. E assim, a região vai encontrando
o seu caminho e o seu lugar nesses tempos em que milhões de
pessoas, em todo o mundo, buscam enfrentar os desafios que estão
diante da nossa civilização, em busca da sustentabilidade e de um
futuro melhor e mais sadio para as futuras gerações.
Márcio Santilli - Coordenador da Campanha Y Ikatu Xingu
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis08 09
A partir desses dados coletados, a comunidade traça um mapa dos próprios problemas e começa a
listar propostas de soluções. Nessa fase de discriminação de tarefas é importante não esquecer a
questão de gênero para garantir que todos os aspectos de um mesmo problema possam ser lembra-
dos e avaliados de forma geral.
Com a elaboração e análise do seu diagnóstico, a comunidade começa a ver problemas comuns e
possibilidades de soluções coletivas – o que sem dúvida fortalece os laços comunitários. O objetivo
do DP, além de funcionar como uma fotografia da comunidade, é fortalecer o grupo de tal forma
que, a partir do conhecimento das ferramentas de organização e diagnóstico que aprenderam, no
futuro encontrem seus próprios meios de, em conjunto, chegar a soluções viáveis para os proble-
mas comuns a todos.
É comum que entidades como sindicatos e organizações não-governamentais darem a partida
nesse processo, levando para a comunidade escolhida para determinado projeto o auxílio de
técnicos e especialistas. E o papel dessas entidades deve ser facilitar o processo de organização e
fortalecimento das comunidades Porém, o DP é uma ferramenta simples que a própria comunida-
de pode organizar e implementar.
Organizar um grupo gestor, um comitê que vai ser responsável por fazer o DP funcionar. O ideal é
que esse comitê seja composto metade por homens e metade por mulheres, incluindo jovens.
Oferecer ou buscar capacitações para a comunidade compreender o que é o DP e quais suas vanta-
gens e possibilidades de utilização.
* Montar o roteiro do diagnóstico, com as questões que se quer identificar na comunidade
(ex.: número de famílias, grau de escolaridade, renda e produção familiar, principais dificuldades
enfrentadas etc). É importante que esse roteiro seja montado em uma reunião com a comunidade,
para que contenha o maior número de questões que a comunidade ache importante de serem
trabalhados.
* Escolher um grupo de pessoas da comunidade que será encarregado de fazer o diagnósti-
co conforme o método escolhido. Pode-se deixar questionários para as famílias responderem,
fazer entrevistas individuais, entrevistas com grupos familiares, enfim, de várias formas. A
escolha do método depende do tamanho da comunidade e sua capacidade de levar o diagnóstico
adiante.
* Depois de todas as entrevistas feitas, o próprio grupo de pesquisadores ou um grupo
maior deve se encarregar de analisar os dados e fazer o relatório do diagnóstico, com a descrição
Passo-a-passo do Diagnóstico Participativo
dos resultados encontrados. É
importante que o roteiro
aplicado seja o mesmo para
todos, pois isso facilita
.
* De posse dessa aná-
lise, a comunidade deve
estabelecer um cronograma
de reuniões para priorizar os
problemas que devem ser
enfrentados e debater quais as
melhores formas de fazer isso
coletivamente.
* A cada etapa cumprida a comunidade deve se reunir para avaliar acertos e dificuldades. A
avaliação constante e participativa permite corrigir rumos, acertar detalhes e fortalece a
iniciativa.
Por fim, é importante saber que esse não é um processo rápido e cada comunidade tem um ritmo
que deve ser respeitado. O tempo pode variar de dois meses até mesmo um ano. Devemos lembrar
que o que importa é obter resultados consistentes, além do amadurecimento e fortalecimento da
comunidade – coisas que não acontecem do dia para a noite.
agru-
par as respostas e fazer
análises comparativas
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis10
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis11
Comunitário de Gestão Ambiental Integrada,
local que representa fisicamente as comunida-
des. Desde sua criação o local funciona como
um concentrador de idéias e informações
ambientais e presta assessoria aos moradores
nas mais diversas dúvidas. duas outras comu-
nidades foram incorporadas ao trabalho,
envolvendo assim todo um setor dentro do
município de Carlinda.
A eficiência é tanta que o Centro pode ser
considerado uma referência ambiental, tama-
nha é a procura por seus serviços. A média de
atendimentos é de 100 pessoas/mês não só do
universo de 200 famílias que com põem o
PDA/Padeq de Carlinda,
mas também de quem não
participa do projeto. E a
tendência de procura pelo
Centro é de crescimento.
Hoje, só não atendem mais
porque o número de moni-
tores ainda é reduzido
frente as atividades desen-
volvidas na região - são
quatro monitores, sendo
dois homens e duas mulhe-
res.
““ Trabalhar em Rede é muito bom! Isso porque se
aprende mais com as reuniões e intercâmbios e as
idéias surgem, com mais facilidade. Não se
fica isolado. Um ensina o outro
ao mesmo tempo em que se aprende
com todos. Acho que esta é a grande
sacada dessa experiência
Alexandre Olival,
coordenador do Instituto Ouro Verde.
12
Seis comunidades do município de Carlinda,
distante 762 km de Cuiabá, já colhem frutos da
sua forte mobilização e organização comunitá-
rias. Mas chegar ao nível em que se encontra
hoje não foi fácil. Embora estejam só começan-
do, muita coisa já mudou. As comunidades
vinham de um histórico de programas falhos
que diversas instituições e governos tentaram
implantar na região com idéias prontas que
não eram preparadas ao calor do que a comu-
nidade queria e necessitava.
Até 2004, contam os moradores, era a lei do
'cada um por si e por seus problemas' já que
estavam sem paciência para mais projetos
'milagrosos'. Segundo eles, volta e meia apare-
ciam projetos de plantações que seriam 'a
salvação da lavoura', e assim por diante. Mas o
resultado era sempre o mesmo: o fracasso,
resultado da inadequação dos projetos para a
região e da falta de estudo de mercado para
comercializar o que se produzisse.
Em 2005, quando o projeto Gestar Portal da
Amazônia chegou em Carlinda através do IOV ,
em parceria com o ICV , as comunidades Monte
Sinai, Nazaré, Rio Jordão e Palestina começa-
ram um processo de mobilização e organização
que se tornou referência na região. A comuni-
dade se fortaleceu, percebeu que unida poderia
resolver de forma um pouco mais fácil seus
problemas em comum e hoje administra um
resfriador coletivo de leite, entre outras inicia-
tivas comunitárias. A união resultou inclusive
na aprovação do projeto junto ao PDA/Padeq –
projeto escrito em conjunto pela comunidade e
IOV.
Ao todo o PDA/Padeq tem
dois anos para ser realiza-
do. No primeiro ano foram
realizadas visitas a todos
os moradores e a oferta de
e
comunicação, controle bio-
lógico, manejo de pasta-
gens e recuperação de
matas ciliares. Um grupo
da própria comunidade
elaborou o Diagnóstico
Participativo, que identifi-
cou os problemas das
comunidades e a busca de
soluções comuns como: Manejo de Pastagem e o
Controle Biológico da Cigarrinha. Também
houve a estruturação física do Centro
oficinas de liderança
Gerenciamento certo - Na discussão sobre
gerência dos recursos do projeto, o
Conselho Gestor resolveu investir em
1.400 quilos de fungo (Metarhizium
anisopliae) para o controle biológico da
cigarrinha. Das mais de 70 propriedades
que passaram a controlar a cigarrinha,
foram selecionadas nove para monitora-
mento dos resultados. Assim, três monito-
res, que foram escolhidos pelas seis
comunidades percorrem, a cada quinze
dias, estas propriedades para verificar a
eficiência do fungo em relação à cigarri-
nha. Além disso também são visitadas
outras nove propriedades que não aplicaram o
agente biocontrolador para poder comparar os
efeitos. E os resultados não poderiam ser
melhores. O número de cigarrinhas tem dimi-
nuído até nos pastos que não foram pulveriza-
dos. Isso acontece porque as cigarrinhas
parasitadas de uma propriedade levam o fungo
para outros locais, ajudando na sua dissemina-
ção.
Isso demonstra que há um ganho ambiental
mesmo para os proprietários que ainda não
acordaram esta solução ecológica. O que dá
muita satisfação, conforme os monitores, é ver
que, junto com o meio ambiente a mentalidade
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis13
Carlinda semeia projetos e colhe sustentabilidade ““Participar de uma experiência
como esta, em algumas
palavras, é 'show de
bola'. É muito
gratificante ver
as coisas decolarem
Antonio Francimar,
representante da
comunidade Nazaré.
Intercâmbio – Troca de experiências que favorece a todos
os projetos da Rede. A primeira é de que juntan-
do recursos e pessoas se faz mais e melhor do
que cada iniciativa em separado. A segunda é a
idéia de que agricultor ensina agricultor de
uma forma muito mais completa e eficiente.
Assim, ao longo do primeiro ano de atividades
da Rede BR163+Xingu, foram realizados
intercâmbios e seminários técnicos reunindo
todos os projetos para aprenderem e comparti-
lharem aquilo que eles têm em comum, concen-
trando os esforços e ampliando os horizontes do
aprendizado.
Há três formas básicas de intercâmbio: aquela
que reúne pessoas envolvidas em diferentes
projetos em um mesmo local para aprender e
trocar idéias sobre uma
técnica específica, como
manejo de pastagens e
apicultura, por exemplo;
a que reúne as pessoas e
as leva para conhecerem
um projeto ou iniciativa
que está dando certo,
para ver de perto a
mesma experiência em
um nível mais avançado
de desenvolvimento; e
aquela em que pessoas
BR163+Xingu, a troca de conhecimentos e
saberes tem sido uma prática constante.
Intercambiar conhecimento começa com o
levantamento das necessidades de uma comu-
nidade em termos de informações e técnicas,
para em seguida localizar pessoas e iniciativas
que possam contribuir com a
comunidade levando seus
conhecimentos.
Duas chaves são importantes
para compreender as ativi-
dades de intercâmbio entre
14Alternativas Econômicas
para Agricultura FamiliarSustentáveis
dos proprietários também começa a mudar.
“Antes tinha um proprietário que dizia que
cigarrinha só se combatia com fogo. Agora ele é
um dos que procuram pulverizar o fungo”, diz
o monitor Antonio Francimar. Em agosto de
2007, quando começa o segundo ano do proje-
to, serão implantadas 20 unidades demonstra-
tivas que vão receber piquetes para o manejo
ecológico de pastagem.
Frutos colhidos - Mas vale frisar que nada
disso aconteceria em Carlinda se o Conselho
Gestor não optasse por trabalhar desde o
princípio com contrapartidas das comunida-
des beneficiadas. Com o bom gerenciamento
dos recursos e a constribuição dos moradores
houve sobra de recursos desde o início das
atividades. Assim outros projetos extras que
não estavam prevists no PDA/Padeq puderam
acontecer neste primeiro ano paralelamente
aos previstos. São eles: o cultivo, em pequena
escala de NIM (Azadirachta indica) – uma
planta de origemasiática utilizada como repe-
lente; a criação de Horta Agroecológica, cujos
recursos de venda é darão suporte à sustentabi-
lidade do Centro Comunitário de Gestão
Ambiental Integrada e a elaboração do jornal “A
Semente”, criado pelos participantes do projeto
como forma de disseminar informações às
comunidades para fomentar a participação
coletiva nesta empreitada e a recuperação de 25
nascentes consideradas prioritárias para todo o
setor.
A troca, embora seja uma das práticas mais
antigas do ser humano, foi, com o incremento
do capitalismo, sendo esquecida. E a maior
perda não foi a da troca de produtos conhecida
como escambo, mas a de saberes entre as
pessoas. Mas nas comunidades da Rede
envolvidas em diferentes projetos visitam-se
uns aos outros para verem o desenvolvimento
de atividades por diferentes ângulos.
As visitas de intercâmbio, visitas técnicas,
reuniões e dias de campo são as ferramentas
que oferecem a oportunidade de ver em campo
o desenvolvimento de iniciativas similares a
que se está desenvolvendo, perceber diferentes
momentos do processo de desenvolvimento dos
projetos e das comunidades, além de aprender
com as dificuldades e acertos dos outros, pois
permite observar como diferentes comunida-
des lidam com os mesmos problemas.
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis15
““A troca de experiências semelhantes é muito positiva, realizada de projeto para projeto
de organização pra organização, de produtor pra produtor. Amplia-se a quantidade de
informações relacionadas, bem como outras complementares aos projetos. Em
alguns casos, é possível uma cooperação entre projetos diminuindo custos.
E a socialização das informações e dos resultados dos projetos
é muito enriquecedora, e permite um melhor desenvolvimento
das ações, onde podemos errar menos, ou seja aprender também com
os erros dos outros. Nestes casos sempre amplia as oportunidades
Jean Carlo Corrêa Figueira, ICV.
““Esta é uma experiência que nunca vou esquecer. A mudança
é visível. O pasto está muito melhor. Bem diferente do que
quando eu usava o fogo. Se tiver condições
eu vou estar sempre atrás de novas
técnicas. Mas se vier um projeto que
dê continuidade a este ou vá nesta
direção, será bem vindo
Vilmar, agricultor que participa do projeto em
Nova Guarita com seu pai, Sr. Olívio
Atividades de intercâmbio levam agricultores para ver a aplicação de conceitos e técnicas em campo
Recuperação de pastagens – alternativa necessária
Manejo Ecológico de Pastagens
Sistema de Pastoreio
Racional Voisin
O pastoreio contínuo, sistema em que o gado fica sobre uma mesma área de pastagem um período
prolongado de tempo ou permanentemente, é o grande inimigo da qualidade dos pastos. Isso
porque o gado, mantido sem troca de pasto por um tempo indefinido, após alguns dias de perma-
nência passa a consumir o capim antes que ele complete o seu desenvolvimento. Isso acaba impe-
dindo que as plantas refaçam suas reservas energéticas.
Desse modo, a pastagem fica fraca, pouco nutritiva, o que diminui progressivamente a produtivi-
dade e vigor do gado. Além disso, o pastoreio contínuo tem reflexos também na cobertura do solo,
que fica desprotegido e, conseqüentemente, mais suscetível aos efeitos da erosão. Com a continui-
dade deste sistema, em alguns anos a pastagem se degrada. Assim, é preciso uma reforma para que
ela recupere sua capacidade produtiva e o problema seja revertido.
A redução da produtividade das pastagens pela degradação acaba aumentando a demanda por
novas áreas de pasto. Assim, ocorrem novos desmatamentos que seriam desnecessários se os
devidos cuidados e precauções fossem tomados para manter os pastos saudáveis e nutritivos.
A pastagem ecológica, como o enge-
nheiro-agrônomo e especialista no
tema Jurandir Melado chama a
técnica, pode ser obtida em poucos
anos, a partir de uma pastagem
qualquer já formada. A aplicação
criteriosa do
, um sistema propos-
to pelo francês André Voisin em 1957,
permite um equilíbrio positivo de três
fatores: Solo, Pasto e Gado, com cada
fator tendo um efeito positivo sobre
os outros dois.
Neste sistema, a utilização da pastagem é feita através de uma rotação racional, que proporciona o
melhor aproveitamento possível das forrageiras, resultando num nível de produtividade que
chega a três vezes a alcançada pelo sistema extensivo, na mesma pastagem. Na prática, quando
mais tempo o gado leva para voltar a um piquete, mais o pasto tem condição de crescer e fornecer
* A Europa tem a atual tendência de adquirir apenas carne rastreada e produzida à pasto, não necessariamente orgânica, mas que não contenha resíduos de anabolizantes, determinados vermífugos e antibióticos, que não utilize herbicidas, que respeite os animais (reses, cavalos, etc.) e que utilize níveis decrescentes de uréia no sal.
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis16
alimento de qualidade para o gado. A técnica consiste, resumidamente, em:
- Divisão das pastagens em piquetes. O número de piquetes e tamanho dos mesmos depende
do tamanho da propriedade e do rebanho. O ideal é que o gado leve 30 dias para voltar
- Diversificação das pastagens (gramíneas e leguminosas), que melhoram a alimentação do
gado;
- Arborização das pastagens, de preferência com espécies nativas – elas oferecem sombra e
conforto para o gado;
- Abandono do uso de adubos químicos, herbicidas, roçadas sistemáticas e fogo.
- Orienta-se adotar a cerca elétrica para manejo dos piquetes, pois diminui os custos com
madeira e arame.
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis17
Quando soube do projeto que iria ser desenvol-
vido pelo ICV, Schneider resolveu fazer parte,
mesmo que um pouco receoso. Como a intenção
principal era a melhoria do pasto, ele começou
aumentando o número de piquetes de cinco
para 24 e implantando a cerca elétrica. Assim,
logo no primeiro ano do projeto, conseguiu
aumentar a capacidade de produção de seu
gado leiteiro em 20%. Com o recurso, conta
orgulhoso, conseguiu não só aumentar a casa,
mas também ganhou conhecimento e experiên-
cias que nem sonhava que existiam.
A boa experiência e resultados positivos é o que
fazem o agricultor Schneider pensar no futuro.
Quando este projeto terminar, ele diz que não
vai esperar que outro caia em suas mãos, vai
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis19
Nova Guarita, cidade localizada a 697 km de
Cuiabá, é uma das duas cidades onde o ICV
desenvolve o projeto intitulado Apoio à práti-
cas alternativas à agricultura familiar, em
parceria com duas cooperativas locais:
Coopernova e Cooperagrepa. O projeto busca
atender as necessidades de um grupo de 20
agricultores de Nova Guarita e de Terra Nova
do Norte, associados das duas cooperativas,
com a troca do pastoreio contínuo pelo manejo
de pastagens através do piqueteamento e a
implantação de cercas elétricas.
O coordenador do projeto pelo ICV, Jean Carlo
Correa Figueira, conta que no início o cenário
encontrado era de uma comunidade de peque-
nos produtores rurais, com um bom nível de
organização, mas com pastos já muito degra-
dados, em alguns com cerca de 20 anos de uso.
Por isso, estavam com um baixo rendimento
dos pastos, que já estavam degradados e
sentindo drasticamente o período da seca, com
18Alternativas Econômicas
para Agricultura FamiliarSustentáveis
pouco alimento natural para os animais.
Muitos já desmataram mais de 50% da proprie-
dade, não tendo mais como ampliar a produção
ou melhorar a produtividade dos pastos exis-
tentes.
Dos 18 sócios da Associação dos Pequenos
Produtores da Comunidade União, de Nova
Guarita, dez estão no projeto. Isso porque a
maioria não quer mais a derrubada de floresta e
busca caminhos sustentáveis
para permanecer na terra. Hoje
os participantes não só já pen-
sam em novos rumos como
copiam e buscam modelos de
sustentabilidade numa clara
demonstração de que sua visão
está mudada.
é um
dos produtores que participam.
Tem 26 alqueires e sempre
pensou em recuperar a pasta-
gem, mas nunca tinha feito por
não contar com a assistência técnica. Ele conta
que, logo que chegou a Nova Guarita para
tomar posse de sua terra a ordem era derrubar
para ganhar o local que tivesse 'tomado posse'.
Após a derrubada, queimou para criar seu
pasto. No entanto, hoje sabe o quanto de nutri-
entes o solo perdeu com essa prática. Com o
tempo a terra foi mostrando cansaço e logo
começou a faltar um bom capim. Isso gerou
baixa produtividade no leite e pouca qualidade
na carne do gado.
Nélson Rodolfo Schneider
atrás de capacitação para expandir sempre e
dar exemplo a outros agricultores. “Com todo o
trabalho que implantamos vemos que destruir
é fácil, reconstruir é que é difícil, e leva tempo.
Mas o bom é que tem jeito”, disse.
Já seu , além
de ter implantado piquetes,
também ajuda na recuperação da
terra e, consequentemente, na
alimentação do gado e qualidade
do leite e carne, com a plantação
em seu pasto de leguminosas,
frutíferas e outras árvores
nativas – as duas primeiras para
alimento e as nativas para
sombreamento, o que também
ajuda no aumento da produção
de leite.
Associação – O presidente da
Associação, Valmor Antônio Verdana, explica
que ainda há uma cisma de alguns produtres
que não entenderam a importância do projeto.
Por isso nem todos os associados aderiram.
Segundo ele, se por um lado, o projeto chegou
tarde, pois não se tinha mais o que preservar,
por outro, veio em boa hora para socorrer quem
já desistia da terra. “Quando a gente precisa,
acha que tudo é demorado. Mas os resultados,
mesmo que ocorrendo devagar, agradam, com
certeza, a todos”, revela Verdana, animado com
os resultados.
Olívio dos Santos
Nova Guarita recupera seu futuro
Apicultura: uma doce possibilidade
Características, cuidados e manutenção de pasto apícola
Para quem pensa nessa possibilidade de trabalho, é preciso saber que são necessários certos
cuidados na hora de produzir um bom mel. Um exemplo destas medidas é não implantar o apiário
próximo a plantações que usem inseticidas, pois isso comprometerá a pureza do produto final. E
também planejar variar seu pasto apícola (conjunto de espécies de plantas que dão flores próximas
ao apiário para que as abelhas tenham ingredientes para produzir o mel) para garantir o produto
durante todo o ano.
Uma vantagem de se constituir um apiário é que não há restrições a ninguém para se trabalhar
com apicultura. As únicas recomendações é que não tenha medo nem alergia de abelhas, e seja
paciente no trato com elas. O trabalho, da captura à comercialização, é relativamente simples e
não exige dedicação em tempo integral.
Um ano em média, dependendo da região, é o tempo que demora para se produzir a primeira leva
de mel. A média nacional de produção é de 20 quilos de mel por caixa. Para um melhor planejamen-
to, no entanto, é interessante que se faça desde o princípio o mapeamento da florada de seu pasto
apícola, ou seja, se tenha anotado e organizado a época em que cada espécie de planta do apiário dá
suas flores. Dessa forma é possível identificar os meses de cada uma, o que facilita o manejo na
hora da previsão da produção.
Deve ser:
* Em local de reflorestamento ou de capoeira com diversidade de plantas
* Distância mínima de 500 metros da estrada e distante de cavalos, porque odores fortes
espantam as abelhas
* Longe de crianças, para que não ocorram acidentes
* Em local que possua certo sombreamento, mas não seja muito fechado
* Direcionado para o sol nascente
* Próximo de um curso d'água
* Localizado onde bata menos vento
* Com a caixas-isca colocadas em cima de cavaletes. Estes cavaletes devem estar prote-
gidos por metades de garrafas plásticas para evitar ataque de formigas (veja fotos)
Deve ter:
* Floradas variadas para garantir mel durante todo o ano
* Plantas medicinais, caso a intenção seja incrementar a produção. Isso para que as abelhas
passem a introduzir no mel o princípio ativo desses tipos de plantas. Esta característica pode ser
um diferencial do produto oferecido.
* Devidamente paramentado, com a roupa adequada (macacão com proteção de rosto, luvas
e botas) localizar a colméia, que pode estar pendurada ou no oco de alguma árvore.
* Fazer fumaça com o fumegador com fogo sempre de material orgânico como sabugo de
milho, capim limão ou serragem. A fumaça nunca pode ser produzida por materiais que irritam ou
molestem as abelhas, como óleo de qualquer natureza, querosene, gasolina e produtos que des-
prendam odor forte ou mau cheiro. Nunca direcionada diretamente a colméia e não muito intensa,
para que as abelhas apenas se afastem e não fujam.
* Quando a colméia está no oco é necessário abrí-la com machado. Feito isto, é preciso
capturar a rainha – cuja característica principal é ser maior do que as demais e ter sempre, atrás de
si, um grande número de abelhas. A rainha fica localizada sempre no centro da colméia.
* Colocar a abelha-rainha numa caixa-isca próxima, com melgueiras (quadros de madeira,
que acondicionam os favos da colméia) com cera alveolada nova (cuja característica é a cor bran-
ca), devidamente preparada com a proteção contra animais e insetos (ver preparação da caixa).
* Deixar a caixa no local de captura a 1,50 m ou 2 m da colméia, e a cerca de um metro de
altura, sem mexer, por dois ou três dias, até que as abelhas sigam naturalmente a rainha e entrem
na caixa. A altura da caixa nos cavaletes (1 m) é para que a colméia não seja atacada por outros
animais e insetos e facilitar a manutenção.
* Ocorrida a entrada de todas as abelhas na caixa, leva-se esta para o apiário. No início
quinzenalmente e com o tempo, mensalmente, com a roupa adequada, deve-se olhar se a rainha
colocou ovos. Isso significa que o
trabalho começou na colméia-caixa.
Com o tempo, essa inspeção periódi-
ca também serve para saber se é
preciso fornecer alimento nos
períodos de carência, verificar a
conformação dos favos e a posturas
da rainha, etc.
* Este trabalho de revisão deve
ser feito pelo apicultor devidamente
trajado, em dias quentes e ensolara-
dos e, preferencialmente, com a
ajuda de alguém. Neste tipo de
atividade, o uso do fumegador é
obrigatório e o trabalho deve ser
feito de forma rápida, em movimen-
tos tranqüilos, delicados, porém
decididos. Gestos ou ações bruscas
Captura de colméia e manutenção do apiário:
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis20 21
podem provocar a irada reação das abelhas.
* Para realizar o trabalho de inspeção ou revisão, aproxime-se sempre pelo lado de trás da
caixa. Nunca interrompa, com o corpo, a linha de vôo das abelhas, que entram e saem da caixa em
busca de alimentos.
* Quando o apiário estiver estabelecido a cera deve ser trocada de tempos em tempos. O
ideal é usar um quadro de cera alveolada por mês até que a própria abelha produza sua cera.
* Favos escuros, retorcidos ou danificados devem ser substituídos por favos com cera nova
alveolada. Os favos, principalmente os do centro do ninho onde se desenvolve a família na col-
méia, devem ser examinados para constatar a presença de larvas e ovos. É uma operação delicada
e que requer atenção visual, pois os ovos são pequenos. A ocorrência de favos com pequeno núme-
ro de crias ou de ovos depositados é sinal de que a rainha está fraca e deve ser substituída.
* Se os favos da caixa estão todos ocupados, com crias ou com alimento - mel e pólen –, o
apicultor deve providenciar mais espaço para a família, ou seja, uma caixa extra. Um indício de
que a caixa está superpovoada é a formação daquilo que os apicultores denominam de "barba" de
abelhas: quando nos dias quentes
um grande numero de abelhas
ficam na entrada das colméia, em
forma de cacho.
* Verificar se há presença
de larvas mortas nos favos e de
abelhas mortas no assoalho da
caixa. Isto é indício de ocorrência
de doença na família. Uma colméia
sadia é sempre limpa e higiênica.
* Na entressafra, ou seja,
nos períodos em que não há
florada, principalmente durante o
inverno ou nas estações de muita
chuva, verifique se a família tem
alimento suficiente. Caso contrá-
rio, você deve fornecer alimentação artificial à colônia (mel e não açúcar).
* Para evitar que parte da colônia enxameie, ou seja, que abandone a colméia, verifique se a
família está formando realeiras nos favos. As realeiras (cápsulas destinadas à criação de rainhas),
são formadas normalmente, nas extremidades dos quadros, apresentando a forma de um casulo
parecido com uma casca de amendoim. Elimine, se for o caso, estas cápsulas para não perder a
colônia.
A longevidade da colméia-caixa pode ser medida pela idade da rainha. Mas como identificar?
Fácil! A rainha nova tem como característica colocar ovos (pontinhos de cerca de 2 mm e brancos)
um ao lado do outro. Já a rainha velha coloca ovos em qualquer lugar da colméia.
Como identificar a idade da rainha?
Equipamento necessário
* Caixa
* Macacão: deve ser constituído de
uma única peça e largo, folgado o suficiente
para não criar resistência junto ao corpo, o que
permitiria a ferroada da abelha, de tecido
resistente para defender o corpo de ferroadas.
Caso seja feito pelo próprio produtor uma dica
é o brim, que é bastante utilizado e oferece
uma boa proteção.
* Máscara: o melhor tipo é o de pano,
com visor de tela metálica, pintada com tinta
preta e fosca, que permite melhor visibilidade.
* Luvas: devem ser finas o suficiente para que o apicultor não perca totalmente o tato –
fator de grande importância na manipulação das abelhas. As luvas de couro fino, brancas, são as
mais indicadas, as de plástico nem sempre são resistentes às ferroadas, além de suarem muito, o
que dificulta os trabalhos e cujo odor pode irritar as abelhas.
* Formão (pá): ferramenta utilizada para abrir o teto da colméia, que normalmente é
soldado à caixa pelas abelhas com a própolis. Serve também para separar a desgrudar as peças da
colméia.
* Fumegador: serve para defender o apicultor das ferroadas. Sua fumaça diminui a agressi-
vidade das abelhas.
* Botas: as melhores são as de borracha branca, de cano médio ou longo, sobre o qual é
ajustada a bainha do macacão.
* Espanador: empregado para remover as abelhas dos quadros da colméia sem ferí-las.
Normalmente, é feito de crina animal. Alguns apicultores utilizam penas de aves como espanador.
* Facas e garfos desoperculadores: são instrumentos utilizados para destampar os alvéolos
dos favos, liberando, assim, o mel armazenado.
* Centrífuga: equipamento destinado à extração de mel que não provoca danos aos favos,
permitindo reaproveitá-los.
* Decantador
* Cera alveolada: com o tempo ela é feita pela própria abelha na nova casa da rainha. No
entanto, no início, para acelerar a produção de mel, a compra da cera é recomendada.
É Importante que itens que ficam em contato direto com o mel, como o formão e a centrífuga,
sejam de inox para que o mel não pegue cheiro de plástico.
As abelhas são sensíveis às tonalidades escuras, especialmente ao preto e ao marrom. Elas têm
verdadeira aversão a estas cores, que provocam seu ataque. Por isso, toda a indumentária do
apicultor deve ser de cor clara. As mais indicadas são o branco, o amarelo e o azul- claro.
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis22 23
A quantidade de caixas de cada
apiário varia de acordo com a
quantidade de florada e de abelhas
que se tem na propriedade. Mas um
número superior a 20 não é reco-
mendado.
* Pegar uma melgueira da
colméia
* Desopercular. Opercular é
o trabalho de vedação dos favos
pelas abelhas. As abelhas opercu-
lam, isto é, "fecham" os favos com
mel maduro ou cria (larvas) madura. Na retirada do mel quebra-se este opérculo.
* Deixar escorrer o mel na centrífuga
* Centrifugar o mel de acordo com a capacidade da máquina
* Peneirar no decantador
* Deixar no decantador de 2 a 3 dias para que as impurezas subam e o mel puro possa ser
separado para a venda.
Como fazer a retirada do
mel das caixas:
Um doce futuro é o que esperam os
agricultores do Projeto de Assentamen-
to Califórnia, da cidade de Vera, distan-
te 480 km de Cuiabá. Lá o Projeto de
apoio ao desenvolvimento de alternati-
vas econômicas e recuperação ambien-
tal, realizado pela Associação dos
Parceleiros do Projeto de Assentamento
da Fazenda Califórnia, começa a ser
construído com a implantação da
apicultura.
Ironi Antonio Zanati, secretário da
Diretoria da Associação do PA
Califórnia conta que as coisas não
foram para frente em seu sítio ainda porque,
desde que foi para lá, não teve quase nenhuma
orientação de órgãos federais. Ele conta que
nasceu e se criou na roça e sabia o que o pai
sabia, ou seja, plantar e colher com técnicas
antigas. Um tempo depois foi para a zona
urbana, onde trabalhou dez anos em madeirei-
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis25
““Trabalhar em Rede é a saída.
Quem é pequeno agricultor
e está fora está
perdendo uma
oportunidade
de mercado
Nélson Ganzer,
agricultor PA Califórnia
ra. Depois conseguiu as terras no P.A., onde não
encontrou nenhuma estrutura nem avançou. A
vantagem que vê agora com o projeto é poder
reavivar a experiência que teve com o pai num
curso que fez em 1979. Zanati diz que renovou
este aprendizado com a aula prática de campo
dada pelo consultor Wemerson Ballester. Para
ele a vinda da apicultura ao local trará grandes
benefícios, principalmente porque vem agre-
gada com a fruticultura e o interesse em
reflorestar.
“O projeto nos traz benefícios porque pesquisa
mercado e a qualidade do mel que será consoli-
dada com a abertura da Casa do Mel”, comenta.
A expectativa é que no final de três anos a
comunidade já esteja coletando e comerciali-
zando cinco mil quilos de mel. Ao todo partici-
pam 18 famílias neste projeto num total de 76
pessoas envolvidas.
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis24
Em Vera o fogo sai para entrarem as flores!
Pasto Apícola no PA Califórnia
O coordenador do projeto e presidente da
Associação, Argeu Medeiros, está satisfeito
com a nova empreitada. Vivendo há oito anos
no assentamento, ele plantou arroz até 2005
mas parou porque não tinha rentabilidade. Na
Associação ele conta que queria encontrar
parceria para implantar novas alternativas ao
fogo, muito utilizado na região para preparar o
solo. Encontrou esta parceira com o Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Lucas do Rio
Verde, com o qual se envolveu desde o
Projeto Proteger até chegar ao atual
projeto.
Ele também já tinha noção de apicultu-
ra, mas nunca tinha trabalhado com a
atividade. Com o projeto de apicultura
sendo implantado, Medeiros conta que
aprendeu o que é organização para um
trabalho, a busca de parceria e, numa
ampliação de horizonte, o que são
políticas públicas e como elas podem
ser influenciadas pela sociedade.
Outro que adentra a apicultura é o
agricultor Nélson Ganzer. Natural da
região Sul ele veio para Mato Grosso em 1999
em busca de terra, mas como não conseguiu,
foi trabalhar em Lucas do Rio Verde na cons-
trução civil. Só dois anos depois foi para o
assentamento. Ganzer confessa que este é o
primeiro projeto do qual participa onde pode
ter renda. “É uma experiência nova e fácil pois
trabalhamos conforme orientações de técnicos
especializados”, diz. Com a orientação ele
aprendeu todo o manejo da abelha, captura e
alimentação e ganhou poucas ferroadas, para
sua surpresa. Depois do projeto, ele pensa na
fruticultura e no reflorestamento como ações
que vão ser aliadas e complementos da apicul-
tura que vai implantar. “Tudo o que conseguir
de forma ambientalmente correta, eu quero!
Viveiros e sementes: o começo da recuperação florestal
A Coleta de Sementes
Dizem que temos três obrigações ao passar pela vida: ter um filho, escrever um livro e plantar uma
árvore. Se repararmos, todas estas ações têm a intenção de fazer com que o ser humano deixe uma
contribuição para o planeta. Destas três 'obrigações', talvez plantar uma árvore seja a que mais é
deixada em segundo plano: parece que tem sido mais fácil cortar do que plantar.
A ocupação das terras no Brasil carac-
terizou-se pela falta de planejamento e
conseqüente destruição dos recursos
naturais, particularmente das flores-
tas. Neste panorama, as matas de beira
de rios, córregos e nascentes não
escaparam da destruição, um triste
cenário comum em toda a região da BR-
163 e Bacia do Xingu.
Mas recuperar essas áreas não é difícil
nem mesmo impossível. É preciso um
bom planejamento e um pouco de orientação. Tudo pode começar com a coleta de sementes e o
planejamento de um viveiro de mudas.
O processo de degradação das matas ciliares, além de desrespeitar a legislação, que torna obriga-
tória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas ciliares
funcionam como filtros, retendo parte dos agrotóxicos, poluentes e sedimentos que seriam trans-
portados para os cursos d'água, afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e conse-
qüentemente o número de peixes e a população humana. São importantes também como corredo-
res ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitam o deslocamento da fauna e o
fluxo de espécies entre as populações animais e vegetais. Em outras regiões não planas, exercem a
proteção do solo contra a erosão – processo que precisa ser revertido sempre. A implantação de
viveiros para recuperação de matas ciliares é o começo dessa conversa: além de servir para repro-
dução de espécies nativas que serão usadas na restauração das matas de beira de rio e nascentes,
ainda serve para produção de mudas de valor econômico.
A escolha das sementes que serão reproduzidas para a restauração das matas ciliares e nascentes
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis27
Meus planos agora são evitar o fogo e plantar
flores”.
João Boaventura de 55 anos trabalhou até os 15
com o pai na roça. Depois com madeireira até
2002.
Com desemprego na região e baixa nos cortes de
madeira, conseguiu o sítio no Califórnia e foi
plantar ao invés de cortar árvores. Plantou
arroz e milho, mas o investimento não rendeu e
ele quebrou. Agora quer ser apicultor, trabalho
que nunca fez, mas começou a se interessar
porque a venda é garantida e a perda é
perto de 0%.
Para o futuro só quer, assim como Deus promete
na Bíblia, uma vida de leite e mel. Para isso tem
a intenção de buscar novos financiamentos e
orientações de outras fontes. “Sei que tenho que
tentar várias coisas porque a lavoura sem
maquinário como os grandes latifundiários,
não rende. Por isso aposto agora na abelhas e
mais tarde na fruticultura e no reflorestamen-
to, atividades que darão suporte a apicultura”,
acrescenta.
““Trabalhar em Rede é gratificante.
A gente se integra com
outra instituição e
aprende e repassa
o que se sabe numa
troca constante
Argeu Medeiros, coordenador do Padeq
em Vera e presidente da Associação dos
Parceleiros do Projeto de Assentamento
da Fazenda Califórnia
26Alternativas Econômicas
para Agricultura FamiliarSustentáveis
segue três critérios: qualidade das sementes, variedade das espécies e preferência por espécies
existentes na região.
Antes de mais nada, é importante escolher uma boa matriz, que é a árvore-mãe da qual se coletam
as sementes: deve ser uma planta sadia, bonita e produtiva. Logo após a coleta, as sementes devem
passar por um beneficiamento, que consiste em: limpeza, retirada da polpa, seleção e exclusão de
sementes inviáveis.
Existem diferentes tipos de espécies e sementes, e portanto diferentes modos de coleta também.
Para sementes miúdas que caem e são difíceis de coletar no chão, uma lona em baixo do pé ajuda.
Outras como Ipê, que são sementes dispersadas pelo vento exigem a coleta na árvore, subindo nela
antes de abrirem.
Para que as sementes germinem, a maior parte delas precisa ter sua dormência quebrada. Na
natureza isso acontece quando os animais comem as frutas e regurgitam ou defecam as sementes.
Os métodos de quebra de dormência tentam imitar essas condições
- Raspagem: é o método mais usado nas
sementes mais duras. Consiste em raspar a
semente em uma superfície áspera ou com
facão antes de plantar, mas cuide para não
atingir o miolo dela. É adequado para
sementes como jatobá e pinho cuiabano.
-Choque de temperatura: neste caso as
sementes sofrem a alternância de tempera-
turas, de aproximadamente 20ºC, em
períodos de 8 a 12 horas. Consiste em dar
banhos em água morna e em segui da
nas sementes. O
método é bom para sementes mais sensíveis.
Fases da semente no viveiro
Semeadura: no caso das sementes miúdas, é usual semeá-las em berçários, isto é, grandes caixas
cheias de areia misturada com composto orgânico. Para sementes maiores, o plantio é feito direta-
mente em saquinhos. Mas cada espécie pode exigir um cuidado específico, valendo à pena consul-
tar alguém que já conheça o manejo das espécies que se deseja plantar.
Germinação: algumas espécies germinam em poucos dias, mas outras demoram meses. Algumas
necessitam de sombra para se desenvolver, outras de muito sol. Nem sempre todas sementes
Quebra de dormência
banhos de água fria
O Viveiro
germinam. Quando se começa é necessário realizar testes ou se informar com quem já organizou
viveiros, sobre o processo de germinação de cada espécie.
Transferência para saquinhos: quando as mudas chegam ao tamanho adequado para transporte
e plantio para local definitivo, são liberadas do viveiro. É legal fazer a muda passar por um proces-
so de rustificação quando ela estiver pronta para ir pro campo. Esse processo consiste em colocá-
las no sol e diminuir as regas, pois no campo elas não terão mais os cuidados do viveiro e sofrerão
menos se forem preparadas para essas condições.
O local do viveiro deve ser:
- Plano;
- Aberto, sem sombreamento;
- Com fácil acesso à água;
- Com boa drenagem do solo;
- Ter um quebra-vento na direção dos ventos
mais fortes;
-De fácil acesso de pessoas e veículos.
Infraestrutura:
- Um galpão, para guardar os equipamentos e
insumos, e executar tarefas como o encher
saquinhos;
- Reservatório de água na parte mais alta do terreno (facilita as regas);
- Espaço aberto e sombreado, especial para estocar terra, areia e fertilizantes orgânicos.
O berçário
Uma sementeira, ou berçário, é essencial para a maior parte das espécies, especialmente as de
sementes pequenas. Facilita muito o trabalho e economiza recursos, pois somente será preciso
transferir para os saquinhos as plantas que nascerem. Para a maior parte do ano, basta construir
uma sementeira (ou berçário) coberta com tela plástica ou sombrite, para proteger contra sol forte
e do ataque de insetos. Esta proteção será desnecessária se os saquinhos ficarem sob a sombra
natural de árvores.
Com poucos recursos
- Delimitar uma área de 10m x 1m com tábuas ou tijolos;
- Preencher o fundo da área com uma camada de brita grossa e, sobre ela, outra de brita fina (garan-
te boa drenagem)
- Preencher com substrato composto por areia (90%) e húmus (10%).
Canteiros
O ideal é que cada canteiro (espaço delimitado para abrigar os saquinhos com mudas) tenha um
metro de largura por dez metros de comprimento. Mas tudo depende da área que se tem disponível
para este fim. Para delimitá-lo, coloque em cada canto uma pequena estaca de madeira e ligue estas
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis28 29
estacas com um barbante, formando um retângulo. Deixe sempre corredores de aproximadamen-
te um metro de largura entre os canteiros, para facilitar as atividades rotineiras. Uma dica é
construí-los no sentido leste-oeste o que garante melhor insolação.
Como transferir do berçário para os saquinhos
Quando as mudas atingem de 10 a 12 cm, deve ocorrer a repicagem, ou seja, a transferência para
saquinhos, com cuidado especial, para a raiz manter-se reta, pois se enrolar a ponta, a planta pode
não se desenvolver.
1- Preparo dos saquinhos: escolha os de um ou dois litros (pode-se reaproveitar sacos de leite,
desde que eles tenham sido muito bem lavados, para que não haja fungos prejudiciais), enchendo-
os até quase a borda com substrato (60% de terra, 20% de esterco curtido e 20% de bagaço de cana
curtido – Preparo: Misturar bem e passar por uma peneira de tela grossa (vãos de 2 cm de diâme-
tro, aproximadamente) para eliminar torrões.
2 – Transferência para os saquinhos: repita o procedimento com cada mudinha, sem esquecer de
molhar bem a sementeira antes, para ficar fácil tirá-las: no saquinho, faça com o dedo um buraco
no substrato de mais ou menos 1 cm de diâmetro, onde a mudinha será colocada. Arranque com
muito cuidado uma mudinha do berçário, para a raiz não quebrar. Coloque a muda no saquinho,
com atenção para para que a raiz entre reta.
Complete o espaço vazio com o substrato.
Estacas aos invés de sementes
Para algumas espécies, como amora e pata de
vaca, é possível usar estacas em vez de semen-
tes para fazer mudas. Assim, elas podem ser
plantadas diretamente no local, sem precisar
passar pelo viveiro.
A coleta destas estacas pode ser feita de duas
formas: com uma tesoura de poda, utilizando
galhos de 20 a 25 cm de comprimento; ou com
facão, com galhos de 50 cm. As estacas devem ser coletadas preferencialmente no início da manhã,
quando sua seiva está subindo (assim ela terá mais reservas e hormônios). Verifique com um
viveirista que tipo de ramo se transforma numa boa estaca, pois isso varia de espécie para espécie.
Há quem recomende fazer este processo na Lua Nova, para garantir o enraizamento e brotação.
Para o plantio dessas mudas, coloque uma estaca por saquinho, já com o substrato. Inicialmente,
deixe os saquinhos à meia sombra (cobertos com tela plástica, ou na sombra de uma árvore) para
impedir o sol direto. Após a formação da raiz e brotação, os saquinhos com mudas podem ser
colocados a pleno sol, recebendo os mesmos cuidados que as outras mudas, até atingirem o tama-
nho ideal para a transferência para o local definitivo.
No caso de se plantar a muda já no seu local definitivo em vez do viveiro, o plantio da estaca deve
ser feito de forma a obter um ângulo de uns 45º com o solo, isso permite que a seiva e os hormônios
que estimularão o enraizamento tenham uma maior superfície de contato com a terra.
Cuidados nos canteiros
A rotina de trabalho, para que as mudas se desenvolvam adequadamente, deve ser:
- irrigar diariamente;
- trocar os saquinhos de lugar, quando as raízes começam a pegar na terra;
- proteger as mudas do sol, usando tela ou equivalente logo após a repicagem (até a muda firmar),
ou permanentemente para determinadas espécies, como a peroba;
- trocar de saquinhos, quando estes começam a rachar.
As mudas produzidas neste processo
estão prontas quando atingem 70 cm
de altura.
Cuidados necessários
- O local de plantio deve ser adequado
para a planta.
- A cova pode ser feita com tamanho
entre 40 e 60 centímetros de diâmetro e
igual profundidade.
- Para preparar a terra é preciso mistu-
rar a terra que se retirou ao fazer a
cova na medida de duas partes de terra
para uma parte de composto orgânico.
Reservar.
- Para o plantio da muda rasgue o saquinho onde ela está (caso contrário, a raiz não se desenvolve).
- Retire-a com o torrão de terra, sem quebrar o torrão.
Preparo da cova
- Coloque metade da mistura de terra e composto de volta na cova.
- Para plantar, introduza a muda com o torrão na cova e preencha o resto do buraco com a mesma
mistura. Deve-se ter cuidado para o torrão não ficar acima no nível do solo (seca as raízes), nem
muito embaixo (pode apodrecer a base da muda).
- Para finalizar, pressione um pouco o chão do local plantado para deixar a muda firme, mas não
aperte muito para não compactar o solo. No local da cova, o terreno deve ficar uns dois centímetros
abaixo do nível do solo. Isso facilita regas. A primeira rega, já pode ocorrer logo após o plantio.
Cuidados finais
- Cobrir o solo com folhas secas, o que ajuda a manter a umidade da terra.
- Quando não chove, deve-se regar de uma a duas vezes ao dia, no início da manhã ou fim de tarde.
O Plantio
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis30
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis31
Em Cláudia, a 606 km de Cuiabá, o Projeto
Loreta: proteção de matas ciliares na
Amazônia Mato-grossense, implantado pelo
Gapa - Grupo Agroflorestal e Proteção
Ambiental, está em fase final de estruturação,
preparando seu viveiro para produzir 50 mil
mudas, em três anos, de espécies
florestais e frutíferas. O projeto dá
continuidade ao trabalho que o Gapa já
desenvolvia na região com a recupera-
ção do córrego Loreta, que começou a
ser recuperado em 1999. A nascente
quase foi perdida com o fogo que
assolava a região e o Gapa trabalhou
por sua
com ajuda do poder público municipal
e a população local.
Cláudia já perdeu sete nascentes antes
do Córrego Leda ser salvo com a
reserva municipal que o protege.
recuperação e preservação
O plantio das mudas do viveiro é
um dos modos dos produtores
recuperarem a mata ciliar. Alem da
mata ciliar será implantado em
cada propriedade uma pequena
área de sistema agroflorestal –
SAF's. O método escolhido também
vem dando ânimo aos agricultores
numa forma de não precisar
explorar ao máximo sua área até a
beira dos rios e córregos. Com o
sistema eles podem, não só conse-
guir frutas diversificadas para seu
consumo com também para seu
sustento. O maracujá, a graviola, o
cupuaçu e abacaxi são algumas das
alternativas dadas agora pelo projeto a quem
participa. Isso porque só gado e a lavoura não
sustentam mais as propriedades.
A proprietária rural Maria Salete Perinotto não
nega sua participação no processo de degrada-
ção e conta que passou pelos problemas ambi-
entais causados pela destruição da mata ciliar.
““ Acho importante trabalhar com intercambio porque assim conhecemos
outros locais, como estão indo e o que estão fazendo e os
resultados obtidos ajudam poupar tempo quando
aplicarmos métodos semelhantes em nossa região.
A troca de conhecimentos obtida com os intercâmbios
que a Rede proporciona tem sido muito
importante para o Projeto Loreta
Brigitte Frick, coordenadora
do Gapa para o Padeq Loreta
32Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
SustentáveisAlternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis33
Hoje tudo se desencadeia num só ritmo em prol
do bem comum. O pó de serragem transforma-
do em adubo orgânico é utilizado na produção
das mudas do viveiro para os 15 km de matas
ciliares que conservarão o córrego Loreta.
Participante do projeto, ela diz que já pode
comprovar a olhos vistos a melhoria em sua
terra. “Antes a gente sofria com as enxurradas,
erosões e muito pó de serra se espalhando ao
longo do córrego. Toda vida fazia força para
meu marido ir à prefeitura para reclamar, mas
ninguém dava bola, só prometiam. Minha
vontade era de ir embora daqui. Quando
compramos a terra não víamos a
hora de derrubar a mata ciliar para
o gado beber água e aí, vimos que a
qualidade não estava boa porque
nossa parte do córrego ficava entre
duas propriedades que não respei-
tavam a mata ciliar. Fui a favor do
projeto de recuperação porque nos
convencemos de que estamos
plantando para o futuro e teremos
árvores e água de qualidade daqui
a cinco ou dez anos. Agora a vonta-
de de vender a terra passou”,
argumenta.
Com a orientação do Gapa ela
conta que plantou em sua proprie-
Cláudia – mata ciliar cultivada em viveiro
Armin Beh mostra em franca recuperação
““ Se não fosse o trabalho em Rede eu
estava no zero. Acredito que o assunto
'meio ambiente' é muito importante
atualmente e interessante
que seja acessado por
quem lida com a terra,
porque mexer nela,
mexe com o clima e,
conseqüentemente,
com nosso futuro
Luiz Lazarin, agricultor
dade mudas de mescla, cedro-rosa, ipê-
amarelo, ingá, maracujá, cedrinho, seringa,
jatobá, pequi e cacau. As frutas, além de
alimentarem a família, servem para os passa-
rinhos alegrarem o dia e ajudarem a reflorestar
a área. Ao todo ela já plantou 250 mudas e não
pensa em parar. Também colocou cerca em
volta do rio para que os bezerros não cheguem
mais lá.
Sérgio Dalmaso Pereira, também proprietário
de terra onde o Loreta passa diz que a água
chegou a secar na nascente da propriedade,
forçando a família a pegar água de outro
Sistemas Agroflorestais:
produção de alimentos e restauração florestal
Recuperar florestas pode ser tão simples quanto o processo criado pela própria natureza, sem no
entanto significar perda de renda dos agricultores e agricultoras. Uma técnica que permite isso é o
Sistema Agroflorestal (SAF), que nos leva a observar como a natureza se recupera sozinha e como
podemos dar uma ajuda neste processo incluindo espécies que nos interessam economicamente.
O método mais simples consiste em misturar as mais diferentes sementes – de hortaliças a árvores
– e semear diretamente no solo, numa mesma cova. Nesse processo, deve ser levado em conta os
ciclos de vida das plantas e a quantidade de sementes por espécie a ser colocada no coquetel. As
sementes não devem ser enterradas em profundidade e devem ser homogeneamente distribuídas.
Uma boa recomendação é que se misture terra e água no coquetel – isso torna a mistura mais
homogênea e evita que as sementes
pequenas fiquem no fundo do reci-
piente.
O método, além de simples é econômi-
co, cabendo perfeitamente no bolso do
pequeno agricultor. Isso porque a
agrofloresta reúne as culturas agríco-
las e florestais, usando a dinâmica de
sucessão de espécies nativas, colocan-
do lado a lado as espécies que agregam
benefícios para o solo e aquelas que
oferecem produtos para o agricultor.
O segredo é consorciar espécies de
diferentes estágios da sucessão
natural, assim elas se complementam ajudando umas as outras até formar uma floresta madura.
Os SAFs são a reprodução no espaço e no tempo da sucessão ecológica verificada naturalmente na
colonização de áreas novas ou deterioradas. Não é a reconstrução da mata original porque inclui
plantas de interesse econômico desde as primeiras fases, permitindo colheitas sucessivas de
produtos diferentes ao longo do tempo. O plantio conjunto de espécies pode ser em linhas ou ainda
melhor, nas mesmas covas.
Há que se observar no entanto, nesta técnica, que algumas sementes nascem rápido como a do ingá
e do cacau falso. Como a mata precisa, em geral, de 20 anos para se recuperar, nesse tempo o
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis35
córrego. Como providências tiraram o gado de
perto do córrego e, em dois anos, a água voltou a
correr.
“Tinha bastante coisa que sabíamos que pode-
ríamos deixar para depois, mas vimos que
precisávamos preservar agora para não ver
mais degradação, como a nascente que deixei
secar”, lamenta. Em 1986 sua propriedade
queimou toda por causa de fogo causado por
vizinhos. Por isso ele acha importante trabalhar
em conjunto para juntar esforços e recursos.
Dessa forma aprende-se mais e repassa-se mais
em sua opinião.
O Luiz Lazarin e seu filho
Leomar, outros proprietá-
rios rurais participantes
do projeto, contam que
sua água e a produção
estavam prejudicadas por
causa do desmatamento.
Agora, com a preservação,
só melhoram a renda.
34Alternativas Econômicas
para Agricultura FamiliarSustentáveis
Viveiro do projeto do Gapa, em Cláudia
agricultor pode aproveitar sua agrofloresta para colher frutas para sua subsistência ou geração de
renda.
Aos poucos as plantas dão os frutos que nutrirão o agricultor. Enquanto isso, as árvores ajudam a
formar a agrofloresta.
Capina seletiva: apenas as plantas pioneiras nativas ou plantadas são cortadas ou arrancadas
quando maduras. Isso poupa as que têm uma posição mais avançada na sucessão, ou seja, aquelas
que ainda estão crescendo. Desta forma o manejo dá dinamismo ao processo acelerando seu
desenvolvimento. Este manejo, sempre que possível deve ser realizado no período das chuvas. A
hora da colheita também é propícia ao manejo. Isso porque pode-se espalhar matéria orgânica pelo
solo e introduzir novas sementes onde há falhas.
Poda: importante porque concede a entrada da luz para as plantas que estão abaixo das maiores.
Para saber qual indivíduo podar, basta observar se o mesmo apresenta ataque de doenças ou
pragas, se a planta está em condições de estresse relacionadas ao solo e à luminosidade. Também
pode ser feito a pode para induzir a floração (como no caso do café e do abacaxi).
-O mix de sementes deve ter vegetais de três grupos: de ciclo de vida curto, como feijão; médios,
como guandu, mandioca e maracujá, e de ciclo longo, como as árvores que levam anos para crescer
e dar frutos, tipo acácia negra, pau pereira, ingazeira, tamburiu.
-Um jeito de plantar é fazer linhas na terra, de metro em
metro, onde ficarão as covas com misturas de semente.
No meio disto, pode-se cultivar uma única variedade que
forneça mais biomassa (matéria orgânica) ao sistema.
Em áreas degradadas, podem ser usados feijão de porco,
planta que ajuda a fixar o nitrogênio no solo. Após a
colheita do feijão, as plantas serão cortadas, mas não
retiradas, tornando-se matéria orgânica para enriquecer
o solo. Para completar, de oito em oito metros, dá para
incluir uma fila de árvores maiores, que fornecerão
sombra e frutos no futuro, como é o caso do abacate e da
manga.
Como começar
- Faz-se um diagnóstico da área. Acidez (pH), disponibili-
dade de fósforo e nitrogênio do solo são elementos
fundamentais para a escolha das espécies certas para o
local.
- À medida em que o ecossistema vai melhorando, intro-
Manejo do sistema
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis36
duzir novas plantas mais exigentes,
imitando a sucessão natural, que
existe na natureza.
A observar
- Na mistura deve-se conhecer as
espécies que se desenvolvem melhor
quando plantadas juntas. É o caso do
milho e feijão, que os índios já reuni-
am em suas roças.
- Já o café gosta de sombra. É amigo
de árvores como a manga, tamburiu,
samaúma, jequitibá. Com a bananeira
só conviverá bem por poucos meses.
- Onde há bananal, pode-se introduzir
o abacate, que tem ciclo de vida mais
longo e, no extrato mais baixo, plantar taioba.
- A mandioca é um tipo de 'viveiro' natural, pois cresce mais rápido e acaba por dar sombra às
outras espécies que estão plantadas na mesma cova e que demoram mais a brotar. Neste caso as
raízes devem ser direcionadas para o lado oposto ao da muda.
- O milho plantado neste sistema também é importante porque, por nascer rápido, serve como
referencial das covas.
- Podem ser plantadas até dez espécies na mesma cova e cabem cerca de quatro covas em um metro
quadrado. No entanto, não há limite de junção de sementes na mesma cova. O próprio sistema
selecionara os indivíduos mais fortes e o agricultor deve observar e selecionar os indivíduos que
ficarão no sistema.
- Neste processo a natureza escolhe as melhores sementes, que brotam mais vigorosas, e o agricul-
tor pode, então, fazer sua seleção para as próximas covas.
- Nas covas aonde tem muitas sementes de frutas (que precisam de sol e matéria orgânica para se
desenvolver), é importante a poda nas plantas que fazem sombra a estas.
- Como são muitas sementes juntas a cova deve ter entre 10 e 15 cm de profundidade. Também se
pode fazer linhas rasas ou círculos rasos, colocar pouca terra sobre elas e completar com mais
cobertura vegetal (folhas secas, etc).
- O solo tem que ficar sempre coberto de matéria orgânica para evitar que o sol esquente muito e a
chuva compacte o solo.
Outro processo de recuperação florestal é mais tradicional. Nele são plantadas somente árvores de
climax (espécies que fecham a mata no final da sucessão natural) que normalmente são usadas
para cortar depois como a seringueira, o cedro, a itaúba, o angelim saia, a mescla e a peroba. E com
distância de três metros para cada cova. No entanto, como essas arvores são quase todas da mesma
Restauração florestal
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis37
Crianças do PA Jaraguá sedivertem em meio às plantações
No PA Jaraguá, o aprendizado sobre os SAF's uniu a comunidade
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis39
Em Água Boa, projeto Agricultura e
Conservação da Mata Ciliar traba-
lha com 30 famílias do Assenta-
mento Jaraguá, que serão os
multiplicadores do processo de
recuperação das beiras de rios,
córregos e nascentes na região,
numa iniciativa coordenada pelo
ISA - Instituto Socioambiental.
Marlene Machado Souza e Seu
Dorly Lima dos Santos fazem parte
desse grupo. Eles estão há oito anos
na terra e contam que não tinham orientação
nenhuma para manejar uma área já sem muitos
recursos naturais intocados. Para reverter a
situação resolveram plantar árvores e tenta-
ram preservar a nascente existente em seu lote.
Quando o projeto chegou ao assentamento, eles
se engajaram e aumentaram seu conhecimento
para seguir naquilo que já estavam fazendo:
recuperar a floresta em sua propriedade.
“Com a experiência crescemos muito. Antes a
gente plantava banana e a galinha comia tudo.
Então resolvemos implantar a técnica do
Ernest já com inovação própria”, disseram.
altura, faltam as árvores no meio e em baixo desta floresta recriada. Para crescer mais rápido é
interessante que sejam plantadas espécies como a embaúba, que não serve para corte, mas para
mobilizar o fósforo no solo e ajudar as outras plantas a crescerem, pois oferecem sombra. Outras
espécies como a mangueira e a jaqueira também podem ajudar as outras árvores com a sombra e
nutrientes no solo.
Além da ajuda do homem uma recuperação florestal pode ser feita somente pela natureza quando
se isola uma área que já tem fontes de sementes e passarinhos. Se não existem estes itens naturais,
pode-se contribuir com o processo ao jogar sementes nesta área isolada para enriquecer o lugar.
Para atrair passarinhos – que são semeadores da natureza – podem ser construídos poleiros
artificiais, como tocos altos no meio do plantio.
Numa floresta nativa percebe-se uma mistura, de árvores maiores e menores. Nela há três grandes
grupos: pioneiras, as secundárias e as de clímax, que constituem o esquema de sucessão. Por isso,
um bom projeto de reflorestamento com árvores nativas deve misturar árvores dos três grupos, na
proporção correta.
Como são:
- Pioneiras são as que nascem primeiro. Têm como característica o rápido crescimento, mas não
vivem tanto tempo, nem ficam muito grandes. Fazem sombra, dando condições para outras
espécies nascerem e se desenvolverem melhor.
- Secundárias crescem mais lentamente, porém ficam maiores.
- Clímax, em geral, crescem apenas na sombra e levam mais tempo para se desenvolver. A madeira
é bem dura e o porte é maior. São as chamadas árvores de madeira de lei.
A escolha das espécies
- Para o reflorestamento de uso sustentado (aproveitamento econômico, sem destruir a floresta
como um todo) deve haver um planejamento de que árvores serão plantadas para a futura explora-
ção.
- Já para a regeneração de ecossistemas deve-se procurar espécies típicas do ecossistema a ser
regenerado. Na recomposição de matas ciliares (matas que beiram e preservam os rios) - as espéci-
es devem ser adaptadas a ambientes mais úmidos.
Regeneração Natural:
Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de se recuperarem de distúr-
bios provocados pela ação do homem. A sucessão secundária depende de uma série de fatores
como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies
arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração do distúrbio.
Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica de sucessão específica. Em áreas onde a
degradação não foi intensa, e o banco de sementes próximas, a regeneração natural pode ser
suficiente para a restauração florestal. Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de
degradação, ou seja, isolar a área e não praticar qualquer atividade de cultivo.
Água Boa: entre o novo e o tradicional na floresta
Alternativas Econômicas para Agricultura Familiar
Sustentáveis38
Quando Ricardo entrou no seu lote, não havia uma árvore sequer, ele começou a plantar assim que entrou e hoje, com o conhecimento de SAF, melhorou ainda mais a riqueza de seu sítio
““Com esta experiência tenho certeza de que,
quando o projeto acabar,
nós já crescemos
o suficiente para
buscar o caminho
da sustentabilidade
Luzia Dias, agricultora
40Alternativas Econômicas
para Agricultura FamiliarSustentáveis
Assim, rodearam as covas
que ficam perto da casa com
abacaxis para que as
gal inhas não comam,
mostrando intimidade com
as técnicas e princípios
ensinados pelo agricultor e
pesquisador Ernst Götsch.
Aldenor de Souza Machado,
que também faz parte do
grupo, conta que ocupou
seu lote no assentamento
em 1999, já completamente
desmatado. Neste ano viu o córrego secar e
pensou em fechar uma parte para recupera-
ção. Ele e sua família conseguiram reverter a
situação com a renovação do córrego na época
das chuvas, quando cercaram as margens para
recuperar a mata ciliar. Agora o volume de
água está maior e o apoio técnico do projeto o
ajuda a melhorar ainda mais a iniciativa.
Outro casal que comprova as benesses da
recuperação florestal é Ricardo e Luzia Dias
Batista. Ele conta que ouve falar de refloresta-
mento, desde que era presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Água Boa. Depois
virou agente social e ouviu reclamações de
muitos agricultores acerca de problemas
ambientais como a falta de água e a necessidade
de reflorestar a região, mas não sabia nem como
começar. Com o projeto, tudo mudou. Dias
relata que aprendeu a recuperar as matas
ciliares, com a orientação o projeto. Hoje,
comemora os frutos desta empreitada: antes
vivia só da venda da farinha produzida pelo
casal, agora tem a opção de oferecer ao mercado
o pequi, para o qual não tem faltado comprador.
A intenção agora é plantar a seringa e o caju,
com esperança de um futuro mais verde.
“
“É a primeira vez que trabalho em Rede
e estou achando importante
conhecer outras atividades
econômicas num
mesmo projeto
Osvaldo Luís de Souza,
técnico do ISA no projeto