cartas a estudantes de medicina

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Os doentes são uma peça chave na humanização dos cuidados de saúde. Assim sendo, pedimos-lhes que te endereçassem uma mensagem com experiências e conselhos que se pudessem reflectir no teu futuro enquanto profissional de saúde. Vê o que te escreveram.

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*As imAgens Aqui incluídAs não estão relAcionAdAs com o conteúdo ou os remetentes dAs cArtAs.

AssociAção NAcioNAl de estudANtes de MediciNA

Escola de Ciências da Saúde

Universidade do Minho, Campus de Gualtar

4710-057, Braga

www.anem.pt

prefácio

A Medicina atual atingiu um patamar de excelência cientifi-co-técnica de grau inimaginável há décadas, facto que justifi-ca os êxitos obtidos na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças.

Em Portugal, os extraordinários índices na área da saúde foram alcançados graças à instituição do Serviço Nacio-nal de Saúde, à oficialização das carreiras médicas, à im-plantação da medicina baseada na evidência científica, à atualização do ensino médico, à aquisição de modernos e adequados equipamentos médicos e ao cumprimento de pro-gramas assistenciais bem desenhados, particularmente desen-volvidos e sustentados pela Fundação Calouste Gulbenkian.

A alta e sofisticada tecnologia introduzida, a cientificação do ato médico e a extensão dos cuidados de saúde a toda a população resolveu de forma desejável a problemática da doença, mas “afastou” os profissionais de saúde dos doen-tes.

Consequentemente a projeção social do médico desceu, em função da deficiente comunicação médico doente.

A mudança de paradigma na relação médico-doente trans-formou o clínico em engenheiro da medicina, em economista

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da saúde, em gestor de estatísticas, em investigador de pa-tologias raras, em escravo do cronómetro e do computador, alvo preferencial de administradores e réu da comunicação social ,com grave prejuízo para os doentes e para a saúde dos portugueses.

Por outro lado, infelizmente , o doente tornou-se utente, o beneficiário acionista, o médico funcionário público e o em-pregador estatal ou privado surgiu como dominador, patrão ou juiz do sistema.

A uniformização e a programação impiedosas criaram um espartilho ao ato médico, retirando a liberdade ao desem-penho clínico e a singularidade identitária ao doente, para gáudio e benefício de terceiros.

É imperioso, que iniciativas como a lançada pela ANEM (Associação Nacional dos Estudantes de Medicina) permi-tam humanizar o ato médico, defendendo uma comunicação dual e livre, centrada no doente e não nos seus exames, por mais sofisticados, coloridos e dispendiosos que sejam,

A consulta médica sempre assentou nesse binómio ances-tral, que perde tanto mais em efetividade e afetividade, quan-to maior for a ação de intrusos.

Os inquéritos expressos nestas Cartas, agora publicadas, mostrarão que quem correntemente nos procura é Alguém que o médico deve ouvir com empatia, sabendo que não tem uma vida ideal, mas problemas pessoais ou circunstan-ciais que a família e o clínico, com a ajuda da sociedade, 4

devem tentar ajudar a resolver e jamais por comodismo igno-rar ou agravar.

Para que tal aconteça será importante voltar a cumprir o conselho de Hipócrates: “Há que conhecer melhor o pacien-te que a doença”. Para o conhecer, deixemos que se apre-sente, com a realidade das suas vivências e com todas as suas inquietações, mas também com a certeza de usufruir do direito de definir, como deve funcionar o binómio médico-doente. As respostas obtidas através destas cartas vão ser decerto conclusivas, mal será que não sejam lidas e segui-das por quem as possa fazer cumprir.

Desejamos que no futuro todos os profissionais de saúde saibam corresponder adequadamente aos desejos dos seus doentes agora divulgados nestas cartas.

Dr. Carlos RibeiroBastonário da Ordem dos Médicos de 1996 a 1998.

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