carta programa coletivo contraponto 2016

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  • 8/20/2019 Carta Programa Coletivo Contraponto 2016

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    ÍNDICE Apresentação………………………………………………………………………………………………………………………………………………….………………………2

    Por que(m) lutamos ……………………………………………………………………………...………………………………………………………………………………3

     Análise de conjuntura……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………5

    XI de Agosto na Política………………………………..………………………………………………………………………………………………………………………11

    Permanência Estudantil................................................................................................................…………………………………………………12

    XI contra o Racismo....................................................................................................................................................…………………….......15

    XI contra o Machismo.................................................................................................................................................…………………….......17

    XI contra a LGBTfobia................................................................................................................................................…………………….........19

    Tesouraria....................................................................................................................................................................……………………...........20

    Comunicação e transparência...................................................................................................................................…………………….23

     Acadêmico..................................................................................................................................................................…………………….............24

    Espaços estudantis.......................................................................................................................................................…………………………26

    Porão.............................................................................................................................................................………………………………................…26

    Cultura.........................................................................................................................................................................………………………………….27

    Festas e integração.......................................................................................................................................……………………………………....28

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    ¡APRESENTAÇÃO DO COLETIVO CONTRAPONTO!  Em fevereiro de 2013, o Coletivo Con-traponto deu início a sua atuação partidáriano Movimento Estudantil do Largo São Fran-

    cisco. Construído por estudantes de esquerdae francamente aberto ao diálogo, o grupo logose expandiu entre o corpo discente da Faculda-de. No ano de 2014, o Coletivo Contrapontofoi eleito gestão do Centro Acadêmico XI deAgosto, consolidando uma real alternativa po-lítica para faculdade diante da dicotomia exis-tente- entre o Movimento Resgate Arcadas eo Canto Geral- que enfraquecia cada vez maiso modelo de movimento estudantil: frente asposturas sectárias e de autoconstrução, quedesqualificam o espaço franciscano. O Cole-tivo, como é natural no movimento estudantil,passou por mudanças desde seu surgimento,aprimorando suas formas de atuar na faculdade,mas sem perder seu norte e sua linha política.

    Não restrito à lógica de mero prestadorde serviços ou preso ao isolamento político, oCentro Acadêmico e o Movimento Estudantildevem ser atores políticos progressistas juntoà sociedade. Contrapondo-se à apatia política

    e à falta de posicionamentos claros e coeren-tes frente aos acontecimentos da sociedadee da faculdade, o Coletivo Contrapondo lo-grou superar a ausência de posições críticasdaqueles que se revestem de pluralismo e/ou demagogia para justificar a inércia políti-ca. Fatores que, conjuntamente com o diálo-go efetivo com as/os estudantes evitando oautoritarismo e a postura de auto-referencia-mento, dificultam a criação de uma alternativa

    real de esquerda para a faculdade.A atuação do Contraponto durante oprimeiro ano, destacou-se pela defesa de umaReforma Política que invertesse a hegemo-nia econômica dominante, pela defesa da cri-minalização da homofobia e pela realização dediversos debates de conjuntura nacional e in-ternacional, como a questão da “PEC das do-mésticas” e da integração latino-americana.

    No ano de 2014, o Coletivo Contrapon-to, enquanto Centro Acadêmico, focou sua atu-ação na realização de debates de temas cruciais,como a baixa representatividade das mulheres edas negras e negros nos espaços políticos, apro-vação do Marco Civil da Internet e a crise na

    Universidade de São Paulo. Foram quatro eixosprioritários adotados pela gestão como progra-máticos: a violência policial, a reforma política,

    o combate às opressões de gênero, raça e sexu-alidade e o direito à memória e à verdade. Foiprioridade da gestão a formulação através deintervenções politicas - carta aberta endereça-da aos secretários de segurança pública de SãoPaulo e do Rio de Janeiro, para que os presospolíticos fossem libertados, assim como a cartapública de denúncia às violações de direitos hu-manos ocorridas no presidio de Pedrinhas (vei-culado em uma revista de grande circulação) - ea composição em conjunto com diversos movi-mentos sociais, como a campanha do PlebiscitoPopular para Reforma Política, participação nosfóruns e atividades do coletivo “Por que o se-nhor atirou em mim?”, realização de um gran-de ato em triste memória dos 50 anos do golpecivil-militar e integração no Grupo de Trabalhoda Comissão Estadual da Verdade para que oscrimes da ditadura fossem esclarecidos. Dentroda Universidade, tivemos atuação comprome-tida com o enfretamento às discriminações das

    minorias políticas nos espaços de confraterni-zação, Jogos Jurídicos e festas universitárias,especialmente na instalação de pontos e dis-que denúncia durante todas as festas da gestão.

    O Coletivo Contraponto, durante o anode 2015, intensificou a política caracterizadaanteriormente, além de se posicionar em defesada democracia e em pról da resis tência à ascen-são do conservadorismo da sociedade, que semostrou suntuosa no presente ano, atuamos de

    maneira comprometida ao trazer para a faculda-de os debates pertinentes à conjuntura nacio-nal, tanto tomando lado em algumas manifesta-ções, como o ato do dia 13 de março em defesada Petrobrás, a construção da aula pública emconjunto da Frente Pela Democracia, o Ato dodia 20 de agosto chamado pelo MTST em defe-sa da democracia e contra a redução da maio-ridade penal, assim como formulando eventosque questionavam a divisão sexual do trabalho,o ajuste fiscal, a violência obstétrica, roda-vivacom Guilherme Boulos etc. Também buscamoso diálogo com a Faculdade por meio de jornaisque veiculavam as pautas que considerávamoscaras, a exemplo do Jornal temático LGBT.

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    Por um Centro Acadêmico atuante  O papel de uma universidade vai muito além dasimples formação profissional de seus alunos. Nela deve

    encontrar-se a síntese do pensamento e dos projetos deuma sociedade democrática. E só se constrói uma so-ciedade democrática com a efetiva participação de seuscidadãos na condução de seu destino. No ambiente uni-versitário isso se traduz na importância do engajamentoestudantil nos debates internos e externos à faculdade.

    Contudo, a atual estrutura do ensi-no superior público enseja um espaço que se-grega e restringe o acesso a população negra epobre, configurando grande obstáculo ao cumpri-mento da função da educação no Estado de Direito. A partir do sectarismo vigente na universidade públi-ca, e, mais especificamente na Faculdade de Direito,cabe ao XI de agosto enquanto entidade que representaas estudantes a incansável atuação política no sentidode alinhar-se às demandas do corpo discente, dos tra-balhadores e da formação de uma sólida democracia.O Coletivo Contraponto luta por um C. A. que nãosomente represente as e os estudantes, mas quedê voz àqueles que pela condição social mal po-dem sonhar em ingressar na USP, às negras e ne-

    gros vítimas do racismo e da insuficiência de políti-cas afirmativas de acesso ao ensino, às trans refénsda completa marginalização e afastadas das mínimaspossibilidades de ascensão, às mulheres que, sufocadaspela violência e discriminação de gênero, veem o cur-so superior ser substituído pelo trabalho doméstico.Enfim, lutamos por todas e todos que, por causa dasmais variadas formas de opressão, não estão aqui.

    Por um C.A. que combata as opressões

      Na linha de seu imprescindível engaja-mento político deve o XI de agosto zelar com to-dos os seus esforços para que a faculdade seja umambiente livre de qualquer forma de opressão.Desta maneira, o Coletivo Contraponto firma o com-promisso que sempre teve, dentro ou fora do C.A.,de combater com seriedade e propostas concretasmanifestações racistas, machistas e LGBTfóbicas.A São Francisco é repleta de tradições, algumas delassimbólicas da longa história da faculdade, outras, con-tudo, carregam práticas que reforçam discriminaçõesde gênero, raça e orientação sexual, devendo assimser repensadas, para assim oferecer aos grupos por elaoprimidos espaços de convivência mais confortáveis.Tornar as Arcadas espaços menos hostis às mulheres,

    negras e LGBT’s é prioridade do Contraponto, que sepropõe não somente à luta contra as opressões, masa apresentar através de eventos, jornais, filmes e ou-

    tras atividades culturais um debate profundo e quali-ficado sobre questões de sexualidade, gênero e raça.

    Por um C.A. na defesa dastrabalhadoras e dos trabalhadores

      O ambiente acadêmico não se compõe ape-nas dos corpos docente e discente. No cerne de todo oseu funcionamento está a atuação diária dos trabalha-dores que, seja na burocracia, limpeza, serviço do ban-dejão ou biblioteca, movem a estrutura universitária.Entretanto estes nem sempre contam com o de-vido cumprimento de seus direitos ou então se en-contram em situação de precarização e arrocho. Acrise da USP, deflagrada há pouco mais de um anoagravou os problemas dos funcionários da univer-sidade que, ao longo destes 20 anos vêm passan-do por um forte processo de desmonte e fragilização.O achatamento dos salários, constantes demissões, e oavanço massivo da terceirização e de suas nefastas conse-quências trabalhistas denotam uma série de golpes que astrabalhadoras vêm sofrendo, urgindo uma posição con-

    victa do XI de agosto na defesa de uma faculdade que nãosó garanta, mas expanda os direitos de seus funcionários.

    Por um C.A. próximo aos movimentos sociais  É fundamental que a universidade seja umespaço aberto aos debates e lutas da sociedade bra-sileira, e para isto deve o C.A. manter vivo o diálo-go com os movimentos sociais, para assim propagarsuas reivindicações nas esferas onde são tradicional-mente excluídos. A Faculdade, contudo, nem sempre

    foi aberta a estes, memorando a icônica e truculen-ta expulsão dos movimentos da ocupação de 2007.  Cabe ao XI abrir as portas da faculdade para queos grupos organizados representantes de demandas desetores oprimidos possam trazer às arcadas uma real ex-posição de seus conflitos, motivos e objetivos, fugindo dausual concepção criminalizada que a mídia traça sobre eles.

    A aliança do movimento estudantil com os mo-vimentos sociais é de grande importância para que sesomem forças na busca por suas reivindicações, ain-da mais em um curso de direito. O contato dos fu-turos operadores do direito com as pretensões dossetores marginalizados da sociedade representa a pos-sibilidade de construção de novas visões sobre a teoriae prática jurídica, norteada por um debate à esquerda

    ¿POR QUE LUTAMOS?

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    e referenciado pelas reais demandas do povo brasileiro.

    Por um XI que lute pela inclusão!  Em junho de 2015 a USP decidiu adotar oSISU como método de ingresso para cerca de 14 %das vagas, o equivalente à cerca de 11 mil vagas, re-caindo sobre cada faculdade a escolha dos critérios de

    distribuição destas. Na Faculdade de Direito, a por-centagem é maior, 20% ou 92 vagas, destinadas à es-tudantes da rede pública. Apesar de grande avanço, osistema pouco progrediu em matéria de coras raciais:a média reservada dentre a totalidade dos ingressan-tes pelo ENEM é de 2%, ou seja, apenas 220 vagassão oferecidas para negras/os, pardas/os e indígenas.  Considerando a estrutura de intensa segre-gação racial existente na sociedade, e que refletemais intensamente no espaço universitário, é impres-cindível que o XI de agosto encampe a luta por ra-

    dicais mudanças no atual modelo de cotas adotadopela USP. A configuração elitista e racista ensejadapor um padrão vestibular que abre espaço para ape-nas uma minoria branca das classes média e alta é ve-rificada na própria composição da São Francisco: em2015 entraram apenas 3% de negros e menos de 10%de estudantes com renda inferior à 3 salários mínimos.  Por isso o Coletivo Contraponto visa em suamilitância a busca doaprofundamento das po-

    líticas afirmativas para apopulação pobre e peri-férica, em especial atra-vés de um programa decotas mais abrangente.À luz de tais ideais, re-conhecemos tambémque tais meios de in-gresso devem ser acom-panhados de um efetivo

    projeto de permanênciaestudantil, garantindo assim suporte às/aos estudan-tes de baixa renda para que continuem seus estudos.

    Por um XI em defesa dosinteresses do povo brasileiro

      O Coletivo Contraponto acredita num XIde agosto alinhados aos principais debates em âmbi-to nacional, sempre atuante em prol das demandaspopulares. Sob a coerência histórica da entidade, oCentro Acadêmico deve manter-se, a partir de uma

    perspectiva de esquerda, engajado e participante dasmobilizações favoráveis a bandeiras caras ao Brasil.  Na atual conjuntura, o patrimônio e o desen-volvimento nacional se veem cercados pelos constantes

    ataques das grandes forças econômicas nacionais e in-ternacionais: a ronda golpista, a ameaça à Petrobrás, apressão pelo retrocesso de direitos são apenas parte daofensiva contra os interesses populares. Diante de tal ce-nário é papel do movimento estudantil colocar-se ao ladoda resistência à ressurgência neoliberal e entreguista.  Para que o Centro Acadêmico, ainda que em

    seu restrito espaço de ação, se junte aos movimentossociais na defesa das reivindicações do povo brasileiro,é preciso caminhar na luta por transformações estru-turais na política e economia, quais sejam uma refor-ma política conduzida por uma constituinte exclusiva, ademocratização dos meios de comunicação, a reformaagrária e urbana, uma reforma tributária que venha ofe-recer uma maior distribuição de renda, uma séria polí-tica de descriminalização das drogas e desmilitarizaçãodas polícias, a sólida promoção de direitos para mulherese LGBT’s e a reorientação da política econômica atu-

    al, visando garantir a soberania nacional e desenvolvi-mento industrial, questões estas que o Coletivo Con-traponto sempre se propôs a trazer para a Faculdade. 

    Por que Viver é Tomar Partido?  “Viver é tomar partido” é o lema que acompa-nha o Coletivo Contraponto desde sua fundação, em2013. Mais do que um simples mote de campanha, a

    frase simboliza o compro-misso com a luta política por

    parte do grupo; é o que nosguia nos momentos de incer-teza e conflito: a opção por secolocar ao lado do oprimido.  Quando frente a qual-quer opressão nos tornamosmeros espectadores, escolhe-mos tacitamente abandonaro mais fraco. Isto não signifi-ca fechar os olhos à comple-

    xidade dos conflitos sociais,nem aderir à um vago maniqueísmo, mas compreendera desproporcionalidade das forças na sociedade. É darvoz àqueles que se encontram em situação de fragilidadee vulnerabilidade, ouvir aqueles que são marginalizadose lembrar dos que são quotidianamente esquecidos, énão se calar frente ao racismo, machismo e LGBTfobia.Quando os mais sombrios momentos se abateram sobreo país as/os estudantes da Faculdade não hesitaram emtomar partido: assim o fizeram bravamente perseveran-do no combate a Ditadura Militar. Sob o vulto históri-

    co que marca o XI de Agosto, o Coletivo Contrapon-to busca dar continuidade à luta travada pela entidade,sempre tomando partido por uma sociedade mais jus-ta e igualitária, livre de qualquer forma de opressão.

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    Conjuntura Nacional  O cenário político Brasileiro mudou radi-calmente em um ano. Bastaram poucos meses para

    que um horizonte de mudanças progressistas des-se lugar a um panorama de incertezas e retrocessos.  No ano de 2014, passamos pela eleição presidencialmais acirrada após a redemocratização. Dilma saiu vitoriosa doprocesso por uma margem bem apertada contra o candidatodireitista Aécio Neves. A campanha, sobretudo no segundoturno, foi marcada por uma forte polarização – Dilma repre-sentando um projeto popular, democratizante, de distribuiçãode renda e participação do Estado nos investimentos e na ma-nutenção do emprego e da renda; Aécio, por sua vez, repre-sentante de um projeto de corte de gastos, privatizante, com“ajuste nas contas públicas” e diminuição do custo do trabalho.  Apesar da vitória dilmista, o governo e o PT saíramenfraquecidos do processo eleitoral. A base governista – baseesta, vale dizer, meramente formal e não programática – viuseus assentos na Câmara Federal serem reduzidos de 340para 304. O Partido dos Trabalhadores perdeu 26 cadeiras –conta com 62 deputadas/os ante 88 na legislatura passada. Jáos grupos conservadores viram suas bancadas se fortaleceremno Congresso – as bancadas da bala e do fundamentalismo re-ligioso ampliaram sua representação, ao passo que o número

    de representantes identificados com a defesa dos trabalha-dores caiu de 83 para 46 parlamentares, segundo o DIAP.  É sob este contexto, somado a um cenário econô-mico instável, que setores do governo passaram a defenderuma reorientação com vistas a retomar o apoio de setoresda burguesia, incomodados com o teor da campanha pe-tista e descontentes com o governo desde 2012 – com ochamado “surto desenvolvimentista” de Dilma quando daqueda brusca dos juros – além de amenizar as relações coma base fisiológica do governo nesse momento de fragilidade.

    A reorientação incluiria medidas econômicas an-tipopulares com a intenção de retomar a “confiança domercado” e alavancar o investimento, com a nomeaçãode um representante do mercado financeiro para a Fa-zenda, além da composição de um ministério com me-nor influência petista e mais espaço aos partidos “aliados”.  Joaquim Levy é o escolhido para o Ministério daFazenda, Kassab leva as Cidades pelo PSD e o PRB en-tra nos Esportes com George Hilton. O PMDB aumen-ta seu espaço. Escolhas pessoais de Dilma pareciam ter omesmo teor, de aproximação de setores influentes: KátiaAbreu – agronegócio – e Armando Monteiro – indústria.  A movimentação governista, contu-do, obtém justamente o efeito oposto ao esperado.  Em primeiro lugar, a malfadada articulação política

    levou à eleição do reacionário Eduardo Cunha para a Presi-dência da Câmara dos Deputados, liderança empenhadana aprovação de reformas legislativas antipopulares como a

    Redução da Maioridade Penal, a revisão do Estatuto do De-sarmamento, a chamada Contrarreforma Política, a gene-ralização das terceirizações com o PL4330, dentre outras.  Em segundo lugar – e ponto central para atual fragili-zação do governo – tem início uma guinada na política econô-mica. Em contradição ao discurso empregado pela campanhaeleitoral vitoriosa, a nova equipe de Dilma passa a defender anecessidade de um forte Ajuste Fiscal – iniciativa historica-mente mal sucedida no combate a crises econômicas. Apósa eleição, o governo adere à tese de que teria havido um exa-gero nos gastos públicos, pressionando a inflação e levandoa um desajuste nas contas públicas. Diante de tal quadro, ogoverno haveria perdido o prestígio do mercado, que não vol-taria a investir, salvo o governo se mostrasse empenhado emcontar gastos e reajustar as contas, combatendo a inflação.Levy passa, assim, a criticar as medidas anticíclicas que pos-sibilitaram o alcance do menor nível de desemprego da his-tória do país (4,5%) e a manutenção do crescimento darenda das famílias a despeito da crise internacional. Iniciam--se, então, seguidos cortes bilionários nos investimentospúblicos, somados a medidas de restrição ao crédito e su-

    cessivos aumentos da taxa de juros – além da aprovação deMedidas Provisórias que retiram direitos dos trabalhadores.

    As medidas adotadas passam a refletir numa esca-lada acelerada do nível de desemprego. Em contraposiçãoao discurso adotado, há uma forte retração nos investimen-tos e um esfriamento geral da atividade econômica, o queleva a uma queda na arrecadação. Além disso, a elevação dataxa básica de juros de 11% para 14,25% desde a reeleição deDilma representa elevação bilionária dos gastos com a dívi-da pública – que segue em crescimento. A justificativa para

    as seguidas elevações da taxa Selic é insustentável, uma vezque a inflação em voga é reflexo do reajuste dos preços ad-ministrados e não uma pressão da demanda (que deve se-guir tendência de queda com o aumento do desemprego).Assim, a política de Ajuste do governo não tem levado auma efetiva redução das despesas, mas apenas a uma inver-são de prioridades – menos investimentos em infraestru-tura e programas sociais e elevação do montante revertidoao rentismo. Pouco se fala da necessidade de uma Refor-ma Tributária progressiva, com a adoção do Imposto sobreGrandes Fortunas e aumento da tributação sobre heranças.

    Dessa maneira, o governo assiste à decomposição dasua base social e perde progressivamente o apoio da coalizãoprogressista que viabilizou a vitória sobre Aécio no segundoturno. A perda de sustentação, com níveis baixíssimos de po-

    ¡ANÁLISE DE CONJUNTURA!

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    pularidade, faz com que setores da oposição se articulem coma ambição de tomarem o poder por vias antidemocráticas.

    A conjuntura impõe, portanto, que os setores da es-querda progressista reajam à escalada conservadora. Para isso,deve-se haver pressão para que o governo reoriente a malo-grada política do Ajuste e trabalhe na direção do crescimentoeconômico, com estímulos ao consumo, redução dos juros

    e distribuição de renda. Para que haja disputa dos valores dasociedade e caminhemos no sentido das reformas estruturaisque o país tanto precisa – a começar pela Reforma Políticacom financiamento público de campanha, Democratizaçãodos Meios de Comunicação, Reforma Tributária progressi-va, Reformas Urbana e Agrária. Deve-se, ao mesmo tempo,resistir a qualquer iniciativa de golpe por parte da direita, quenunca teve apreço pelas pautas populares no país. A constitui-ção das Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo são inicia-tivas interessantes neste sentido que devem ser endossadas.

    A Escalada Golpista  Desde o início do segundo mandato de Dilma,a insatisfação com a vitória nas urnas motivou uma cres-cente tentativa de sabotagem da continuidade do go-verno democraticamente eleito. O desespero por parteda oposição, capitaneada pelo PSDB e DEM, deslocouo debate político da justa divergência para a busca inces-sante por qualquer meio de deposição da presidenta.  A instabilidade verificada encontrou um de seusprincipais agravantes nas eleições internas do Congresso com

    a eleição de Eduardo Cunha (PMDB – RJ) para a chefiada Câmara dos Deputados. Cunha - cuja carreira na Casa émarcada por uma série de escândalos, sendo o mais recente adescoberta de R$ 5 milhões em contas na Suíça –, ainda quemembro de um partido da base do governo, assumiu o papelde porto seguro do fundamentalismo e do golpismo. O pre-sidente da Câmara permitiu que os interesses da direita anti-democrática se acomodassem ao fisiologismo peemedebista.

    A ronda golpista não se restringiu, contudo, aoCongresso Nacional. A grande mídia é protagonista nes-

    te processo ao blindar os grupos de oposição, ao passo quebombardeia o governo com sérias e constantes acusaçõesindependente da existência de provas. A participação dosmeios de comunicação na crise política tornou-se evidentenas manifestações ocorridas ao longo do ano. A coberturados protestos, marcados por pedidos de impeachment e deintervenção militar, converteu-se em uma verdadeira con-vocatória, contribuindo para a presença de centenas de mi-lhares de participantes – majoritariamente de classe média.  Recentemente o movimento golpista foi reaviva-do pelo endereçamento de pedidos de impeachment ao

    Congresso Federal, o mais notável assinado por Hélio Bicu-do e Miguel Reale Jr. Entretanto, assim como a maioria dosataques da mídia, a propositura carecia de motivação jurídi-ca, além de provas contundentes, e, portanto, foi arquivada.

      A afronta ao mandato eleito ganha força no finalcom dois controversos movimentos: o do TSE ao decidir pelaabertura de investigação para possível impugnação da chapaDilma-Temer – ação cuja incompetência do tribunal foi apon-tada pelo jurista Dalmo Dallari em notável parecer – e o doTCU ao rejeitar as contas do governo em 2014, cujo relator,Augusto Nardes está sendo investigado pela operação Zelotes.

    Dilma Rousseff é refém não só de uma base con-gressual instável e oportunista, mas também alguns de seuspróprios ministros (mais notadamente a pasta da Justiça). Apressão para que ceda cresce exponencialmente. E quantomais cede, maior parece a fome dos cães que ladram em seuentorno. A única saída parece ser a reorientação de seu go-verno em moldes progressistas viabilizando a recomposição desua base social e a retomada do apoio dos movimentos sociais,para que haja real enfrentamento ao golpismo que se alastra.

    Petrobrás: Patrimônio do povo brasileiro

      Na senda da ofensiva da direita não está apenas aordem democrática, mas coloca-se também em xeque umdos pilares da soberania nacional: o petróleo. Este recursoque ao redor do mundo foi germe das mais violentas guerrase disputas internacionais, alvo primário dos interesses im-perialistas, encontra-se no Brasil sob a guarda da Petrobrás.

    Fundada em 1953 por Getúlio Vargas como re-sultado de um longo processo de defesa do interesse na-cional, através da campanha “O Petróleo é nosso” (na qualo C.A. XI de Agosto se envolveu fortemente), hoje é a

    maior produtora de petróleo de capital aberto do mundo.  Contudo, se o espectro privatizante que assombrou aestatal nos anos FHC pareceu atenuado com o fortalecimen-to da empresa na última década, no último período os ataquesretornaram enérgicos. As denúncias por corrupção apontadasna Operação Lava-Jato vêm sendo utilizadas de forma opor-tunista - pelos mesmos grupos que sempre assumiram posturaentreguista - para enfraquecer a Petrobrás. As investigaçõesde eventuais irregularidades são importantes para a preser-vação do patrimônio zelado pela petrolífera, mas não podem

    ser tomadas como instrumento para seu desmantelamento.Enquanto os principais noticiários pregavam umasuposta crise e decadência da empresa, a Petrobras batia re-cordes de produção de gás e petróleo. Construir uma ima-gem de fragilidade é o primeiro passo para promover a en-trega dos visados recursos do pré-sal ao capital estrangeiro.Uma das mais icônicas empreitadas contra a estatal é o PLS131, apresentado por José Serra (PSDB–SP) no Senado, re-tiraria daquela a exclusividade de operação nas novas jazidas.

    Defender a Petrobras e seu patrimônio é defendera autonomia energética e a soberania nacional, elementos

    imprescindíveis para o desenvolvimento econômico de umEstado, bem como a educação e saúde públicas do Brasil,visto que para estes setores serão destinados 70% dos re-cursos do pré-sal. A proteção do interesse brasileiro sobre o

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    petróleo é assunto caro ao XI de agosto, considerando seualinhamento às lutas que desaguaram na fundação da es-tatal, assume assim o Coletivo Contraponto o compromis-so de cumprir com o compromisso histórico da entidade.

    Intolerância e fundamentalismoÉ notório um perigoso movimento crescente de cri-

    minalização da política no país no último período. A polariza-ção ideológica verificada durante a corrida eleitoral de 2014e a radicalização de setores mais à direita ascenderam umforte movimento conservador em todo o país. Os protestosocorridos ao longo do ano são claros exemplos deste proces-so, quando verificamos clamores pelo retorno da ditadura ea escalada de um golpismo desmedido. A atual composiçãodo Congresso após o último pleito refletiu a efervescênciade determinadas posturas retrógradas - as bancadas ruralis-ta, militarista e fundamentalista cresceram acentuadamente.

    Desse processo, resultou a retomada das mais re-

    acionárias propostas, como a redução da maioridade pe-nal, a “Contrarreforma” política, o PL das terceirizaçõese mais recentemente a aprovação do Estatuto da Famíliapela CCJ, todos estes capitaneados por Eduardo Cunha.O Presidente da Câmara, com suas indigestas manobras,atenta constantemente contra o direito das minorias polí-ticas do país. Exemplo disto é o supracitado dispositivo queconsidera a família como a união de homem e mulher, ex-cluídas assim as demais configurações que envolvem as e osLGBT’s, num evidente desrespeito à laicidade do Estado.

    A ofensiva fundamentalista, entretanto, não se res-tringiu ao âmbito federal. Nas discussões acerca do PlanoMunicipal de Educação de São Paulo, a inserção do debate degênero foi vetada, afastando do ensino público um dos maiseficazes instrumentos de combate ao machismo e LGBTfobia.

    A intolerância chegou ao cúmulo de exceder a táticapolítica, confundindo-se com o uso da violência. Personalidadespróximas ao governo e militantes de movimentos sociais foramalvo de agressões neste ano. O ex-ministro da fazenda GuidoMantega foi escrachado quando acompanhava sua compa-

    nheira no hospital, João Pedro Stédile foi duramente agredi-do no aeroporto em Fortaleza. Chegou-se ao absurdo de umatentado quando do lançamento de uma bomba no InstitutoLula. A irracionalidade dessas atitudes mostra quão necessária éa democratização de um dos maiores propagadores desse ódio:a mídia e sua seletividade, bem como é imprescindível uma re-forma política que abra espaço do Congresso para que esterepresente fielmente o povo brasileiro, com toda a sua diversi-dade, e não apenas as empresas financiadoras de campanhas.

    Outra iniciativa perigosa à luta política foi a apro-vação da Lei Antiterrorismo (PL 2016/15) pela Câmara Fe-

    deral. Levado ao Congresso pelo governo no bojo da reali-zação das Olímpiadas em 2016, o projeto tipifica atos comousar, ameaçar, transportar e guardar explosivos e gases tó-xicos ou incendiar, depredar meios de transporte públicos

    ou privados ou qualquer bem público, bem como sabotarsistemas de informática, o funcionamento de meios de co-municação ou de transporte, portos, aeroportos, estaçõesferroviárias ou rodoviárias, hospitais e locais onde funcio-nam serviços públicos – tudo de maneira bem ampla e ge-nérica. O que temos, na realidade, é uma possibilidade paracriminalizar movimentos sociais e manifestações popula-

    res, pois abrir-se-ia margem para a punição de participantesde manifestações como as de Junho de 2013, por exemplo.

    Conjuntura do Estado de São Paulo  Há mais de vinte anos um mesmo grupo político ad-ministra o Estado de São Paulo. Durante todo esse período, asadministrações do PSDB foram marcadas pela privatização deativos públicos e redução do papel do Estado na economia. Oideário do “Estado mínimo” impediu que São Paulo reavivas-se sua capacidade produtiva e melhorasse a oferta de serviçospúblicos necessários ao bem-estar da população. Tais serviços

    públicos - como educação, saúde e transporte - foram con-dicionados a uma política de reduzido investimento público,precarização das condições de trabalho através do corte de di-reitos sociais, da flexibilização do mercado de trabalho e do ar-rocho salarial , e ampliação da presença da iniciativa privada naprestação de serviços públicos – seja através da entrega diretodo patrimônio público a particulares ou através de “parcerias”com o Terceiro Setor, caso da saúde pública cada vez mais re-fém do financiamento e gerenciamento das famigeradas Or-ganizações de Saúde (OSs). Dessa maneira, a oferta de serviços

    e bens por parte do poder público foi sequestrada pela lógicamercadológica da iniciativa privada, com prejuízo evidente àsregiões e grupos sociais mais carentes do Estado de São Paulo.  A lamentável situação do abastecimento hídrico pau-lista reflete de maneira sintomática as prioridades do projetopolítico tucano. A falta de planejamento por parte do Estado ea subordinação da Companhia de Saneamento Básico do Esta-do de São Paulo (Sabesp) ao imediatismo voraz e especulativodo mercado financeiro obrigou bairros periféricos a sofreremas agruras decorrentes de um racionamento de água seletivo –

    e pouco transparente, já que negado pelas autoridades – bemcomo a consumirem água contaminada por metais pesados. Aopção por um projeto neoliberal, juntamente aos escândalosde corrupção, impediu, ainda, a ampliação do investimento emtrens e metrô, dificultando o exercício do direito à cidade porparte da população urbana; relegando a região metropolitana dacapital um papel vexaminoso de metrópole global com menorquantidade de opções de transporte público - no ritmo atualSão Paulo levaria 172 anos para ter metrô como o de Londres.  Vale destacar também a incapacidade das recentesadministrações estaduais em debelar uma evidente, e insisten-

    temente ignorada, crise de segurança pública. O governadorAlckmin aparenta não apresentar nenhuma outra ideia alémda repressão policial sangrenta ao problema latente da violên-cia e da criminalidade urbana além de responder com mais pri-

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    sões à grave situação de superlotação da população carcerária,vítima de condições que afrontam qualquer ideário de garantiade direitos humanos. Com a cumplicidade de seus sequazes dooligopólio midiático, o Estado encarcera e assassina em massanossa juventude negra residente das periferias - historicamen-te ignoradas pelo poder público -, configurando assim um qua-dro de verdadeiro genocídio. Prova disso é o fato de a Polícia

    Militar de São Paulo ter matado mais pessoas do que todas aspolícias estaduais dos Estados Unidos, no período de 2005 a2009. Ao enfrentar uma questão eminentemente relaciona-da ao problema da desigualdade sócio-econômica através datruculência policial, o Executivo estadual não faz nada além deintensificar a violência e o pânico na população que mais sofrecom ela – os pobres e negros. O autoritarismo beligerante doaparato de repressão militarizado também é o instrumento uti-lizado para conjurar manifestações públicas e democráticas que

    ousam se opor à política do governador, como visto na repres-são aos manifestantes presentes no protesto da tarifa organiza-do pelo Movimento Passe Livre (MPL) em 2013 e 2015 assimcomo no tratamento hostil dispensado aos trabalhadores doMetrô e da rede estadual de ensino que lutavam por melhoressalários e condições de emprego, em suas respectivas greves.  A conclusão que fica após à exposição de todo essepanorama desalentador é a de que o movimento estudantil

    não pode se furtar da tarefa de enfrentamento à hegemo-nia conservadora presente no Estado de São Paulo. É papeltambém do Centro Acadêmico XI de Agosto unificar for-ças para lutar por um desenvolvimento estadual em sentidooposto ao atualmente implementado: calcado na ampliaçãode direitos, redução de desigualdades, garantia das liber-dades democráticas e fortalecimento da capacidade de in-vestimento e oferta de serviços e bens por parte do Estado.

    A Educação Pública de São Paulo vai de mal a pior..  No âmbito da educação federal, os últimos doze anos

    do país foram marcados pela ampliação de vagas e por polí-ticas inclusivas e democratizantes, tais como a implementa-ção das cotas raciais e sociais, a reconfiguração do papel doENEM, o SiSU e o Plano Nacional de Assistência Estudan-

    til. O número de vagas no ensino superior dobrou, devido àampliação do número de universidades federais (decorrentesdo REUNI) e à inclusão da população de menor renda nosinstitutos privados proporcionada pelo PROUNI. A apro-vação do Plano Nacional de Educação, que destina 75% dosroyalties do pré-sal à educação e prevê a implementação de10% do PIB para a área também representa uma marcan-te conquista. Apesar dos enormes riscos que correm taisavanços, devido aos severos cortes orçamentários oriundosda reorientação conservadora da política econômica do go-verno federal, é inegável que o último período se caracterizapor uma estratégia contrária à história do nosso ensino supe-rior público, tradicionalmente reduto das elites de nosso país.  O Estado de São Paulo infelizmente nadou contraa corrente, recusando-se a acompanhar as mudanças. Aqui,além da permanência insistente dos vestibulares tradicionaisem detrimento do ENEM, as necessárias cotas raciais e so-ciais não foram ainda aprovadas, impossibilitando que nossas

    instituições públicas de ensino superior se tornem mais con-dizentes com a diversidade étnica e socioeconômica presentena população paulista. O baixíssimo contingente oriundo dascamadas populares que supera a dura barreira do vestibularsofre ainda de enormes dificuldades na continuação de seusestudos. Há uma grande carência de políticas de assistênciaestudantil – moradias populares, creches, bolsas de extensão epermanência e restaurantes universitários – por parte de nos-sas universidades estaduais (USP, UNESP e UNICAMP) quedificultam o término da graduação para o aluno de baixa renda.

      Na esfera da educação básica o quadro não diferemuito. Nesse ano presenciamos uma expressiva greve de pro-fessores da rede pública estadual, reflexo do estado precáriodas instalações escolares e da recusa do Estado em garantir ascondições de trabalho e os salários necessários ao bom fun-cionamento de nossas escolas. O modus operandi por partedas autoridades foi típico: o governador recusou-se a dialogare negociar qualquer das demandas levantadas pelo sindicato.  Vale destacar como marca negativa a enorme falta detransparência e democracia na administração de nossas uni-versidades estaduais. Na maior delas, a Universidade de SãoPaulo (USP), o poder decisório está concentrado nas mãos depoucos professores titulares, o que fortalece a arbitrariedade eo mau gerenciamento da universidade. A sub-representaçãode alunos, funcionários técnico-administrativos e professo-res não titulares em seus espaços de poder coaduna-se coma visão pouco democrática e inclusiva predominante na USP.

    USP: UM MODELO ELITISTA DEUNIVERSIDADE

    Crise da USP

      Após quatro anos de autoritarismo e irresponsa-bilidade administrativa durante a gestão de João GrandinoRodas, aliado do Executivo estadual, a Universidade de SãoPaulo deparou-se com uma grave crise financeira a impedir

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    seu adequado funcionamento. A intransigência no atendi-mento às demandas estudantis, a opacidade das contas pú-blicas e decisões da administração, a ampliação da terceiriza-ção nas unidades, o incentivo à permanência de FundaçõesPrivadas, a perseguição política a professores, estudantes efuncionários – retomando normas utilizadas durante a dita-dura militar na criminalização do movimento estudantil – e

    a política de segurança repressiva por meio do inédito con-vênio com as polícias militares denunciam o projeto conser-vador e autoritário hegemônico em seus órgãos de poder.  O rombo financeiro legado ao reitor Marco Antô-nio Zago justificou uma série de ataques aos trabalhadores eà qualidade do caráter público de nossa universidade. Devi-do à folha de pagamento inflada a 106% do Orçamento daUSP criou-se o pretexto para legitimação de um programade arrocho salarial, corte em gastos com pesquisa, exten-são e permanência estudantil, e desmanche de sua estru-tura administrativa, notadamente a desvinculação de insti-

    tuições fundamentais ao ambiente universitário, tais comoo Hospital Regional de Anomalias Craniofaciais (HCAR),popularmente conhecido como Centrinho de Bauru, etentativa de desvincular o Hospital Universitário (HU).  Em resposta à reitoria, deflagrou-se a maior gre-ve da história de nossa Universidade, de 116 dias de dura-ção, a partir da iniciativa dos trabalhadores organizados noSindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e de umaparcela considerável de docentes e discentes. Apesar doreajuste parcial de 5,2% garantido pela mediação do Tri-

    bunal Regional do Trabalho (TRT), a reitoria recusou dia-logar qualquer dos pontos levantados durante a greve. Aoinvés do diálogo e da negociação, optou pelo ataque diretoaos funcionários, intervindo administrativamente e judi-cialmente, cortando os pontos dos funcionários a fim dederrotar a greve através de uma repudiável pressão eco-nômica. Outro modo de chantagem utilizado para conteras reivindicações da categoria se deu através do Planode Demissões Voluntárias (PDV), visando desfazer-sede um quinto do quadro de funcionários da universidade.

      Em suma, pode-se dizer que a saída para a criseencontrada pela reitoria seguiu um previsível script con-servador: redução de salários e encargos trabalhistas edesmonte e sucateamento de sua estrutura. Não houveiniciativas voltadas à ampliação do financiamento públi-co. Nós, enquanto membros do movimento estudantil,somamos nossas forças às dos trabalhadores e reivindica-mos uma saída que não comprometa a pesquisa, a exten-são, a permanência estudantil e as condições de trabalhoem nossa Universidade: aumento de repasses da por-centagem do ICMS ao ensino superior público estadual

    para 11, 4%, uma realocação mais democrática e trans-parente de seu orçamento, através de uma auditoria nascontas da USP, e a criação de mecanismos de orçamen-to participativo. Os cortes de bolsas precisam parar já!

    Reforma Universitária Já  A atual gestão acumula o ônus, ainda, de não lidarde maneira satisfatória com os inúmeros casos de violênciade gênero ocorridos nos campi, expostos na CPI das Uni-versidades da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo(Alesp) graças ao esforço do movimento feminista. Poucassoluções foram encontradas para os recorrentes casos de es-

    tupro e violências perpetrados pelos trotes humilhantes. Asmulheres e as poucas travestis e pessoas trans que conseguementrar no vestibular continuarão com o sentimento de inse-gurança frente aos espaços de convívio estudantil enquanto areitoria não adotar uma postura firme contra os agressores econtra a existência dos trotes violentos. Apoiamos, portanto,um Centro de Apoio às vítimas de violência de gênero bemcomo medidas que insiram temáticas de gênero e sexualidadenos cursos de licenciatura e um aumento do efetivo femini-no da Guarda Universitária. O fortalecimento do Núcleo deConsciência Negra, da Frente Feminista e de outras orga-

    nizações articuladoras de minorias são fundamentais paraque mudanças efetivas ocorram dentro da Universidade.

    Para dar conta dos problemas de segurança da USP,a reitoria insiste na permanência da base móvel da Polícia Mili-tar, conhecida por sua conduta violenta e extremamente racis-ta, ignorando que mesmo presente na universidade há anos, onúmero de crimes vêm aumentando. A narrativa maniqueístae discriminatória que considera os crimes ocorridos nos campienquanto consequência da liberdade de ir e vir da populaçãopobre – e majoritariamente negra - que vive nos arredores da

    Universidade, principalmente na comunidade de São Remo, justificou medidas restritivas, as quais tornam o convívio uni-versitário mais excludente e elitizado. Instalação de catracas ecâmeras assim como a proibição de festas, ações culturais e a re-tirada dos espaços de convívio estudantil não constituem a res-posta que queremos para a problemática da segurança públicana Universidade. Lutamos por investimentos em iluminação,telefones públicos, recuperação de linhas de ônibus cortadas e,principalmente, fortalecimento de uma Guarda Universitáriatreinada sob princípios progressistas e não segregacionistas.

      É fundamental notar que tal política não se-ria implementada com tão pouca discussão e de manei-ra tão vertical se as estruturas de poder da USP fossemde fato populares. Para tanto, precisamos lutar por umaEstatuinte Livre, Democrática e Soberana que reformea institucionalidade pouco representativa atual através dagarantia da paridade de professores, funcionários técnico--administrativos e alunos em suas instâncias deliberativas.

    Outro objetivo fundamental dos setores compro-metidos com a democratização da Universidade diz respeitoao rompimento do isolamento da comunidade acadêmica em

    relação às demandas sociais da realidade que a circunda – eimportante frisar, financia. Para tanto, além da ampliação devagas, efetivação de uma política de cotas raciais e sociais eadoção do ENEM/SiSU com o consequente fim do exclu-

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    dente vestibular tradicional da FUVEST, devemos pleiteara curricularização de um modelo popular de extensão uni-versitária. Desse modo, garantiremos que o tripé universi-tário (ensino, pesquisa e extensão) seja de fato consolidadoe integre o conhecimento universitário a práticas voltadas aatender às demandas populares. Apenas com a valorizaçãodo papel da extensão universitária teremos condições de su-

    perar o paradigma mercadológico e tecnicista da produção doconhecimento. O conhecimento não deve ser privilégio depoucos e, portanto, não devemos nos limitar a uma perspec-tiva educacional voltada unicamente à formação profissionalpara grandes escritórios de advocacia e grandes empresas.  O enfrentamento à terceirização de funcionários (prá-tica que visa reduzir custos trabalhistas) e ao aprofundamentodo capital privado na determinação do sentido e do conteúdodo nosso conhecimento são outros pontos-chave na luta poruma USP que corresponda aos anseios dos que lutam pela me-lhoria do ensino superior. Somos contrários aos contratos de

    terceirização atualmente vigentes, já que estes criam uma ca-tegoria de subtrabalhadores precarizados e com menores pos-sibilidades de organização e atuação política – as demissões defuncionárias terceirizadas do setor de limpeza, durante o ano de2014, em nossa unidade, são um triste exemplo de tal realidade.  Simultaneamente à restrição do dinheiro público,as fundações privadas ganham maior poder de influência so-bre os rumos da produção do conhecimento universitário.Entidades privadas que visam, sobretudo, fins particulares,utilizam-se da infraestrutura e do quadro docente público e

    são cada vez mais frequentes. Já existem até mesmo cursosde pós-graduação pagos. A ampliação do caráter público daUniversidade entra em choque com a lógica instrumentali-zada do investimento privado. Opomo-nos, portanto, a taisintervenções que visam transformar o conhecimento emmercadoria e atentam contra o caráter público da instituição.

    A Faculdade Segue o (Mau) Exemplo da USP  Na Faculdade de Direito do Largo São Francisco,os elementos distintivos do projeto excludente atualmente

    em vigor são bastante evidentes. A comunidade discente érefém de uma estrutura administrativa fechada em si mes-ma, na qual a voz e a opinião dos estudantes e funcionáriospouco têm ressonância. Há um peso desproporcional deprofessores na composição dos principais órgãos de delibe-ração – a Comissão de Graduação (CG) e a Congregação-, o que bloqueia estruturalmente mudanças desejadas pe-los órgãos de representação dos estudantes e funcionários.

    São exemplos de extremo conservadorismo as difi-culdades relacionadas às alterações na grade curricular e naspráticas pedagógicas. O Projeto Político Pedagógico (PPP)

    encampado pela Representação Discente (RD), - o qual oColetivo Contraponto apoia – teve sua aprovação bloquea-da pela resistência que tais órgãos impõem, apesar do amploapoio ao projeto manifestado pelos graduandos. Novas dire-

    trizes pedagógicas, que garantam efetivamente o tripé uni-versitário e a valorização da pesquisa e da extensão, devem serinstitucionalizadas visando à maior integração da universidadeaos desejos e aspirações da sociedade. A nova grade curricularé outra necessidade premente. Enquanto a atual grade en-gessada, aprovada de maneira pouco transparente, vigorar, oshabituais problemas envolvendo matrículas continuarão, bem

    como o inchaço proporcional de disciplinas obrigatórias naquantidade total de créditos de nossa graduação. Uma gradu-ação menos engessada, mais aberta às disciplinas optativas eàs atividades de pesquisa e extensão, e balizada por uma con-cepção pedagógica mais moderna é algo pelo qual pretende-mos lutar, em conjunto com a RD, durante o ano de 2016.  Além dos obstáculos à aprovação de umanova grade e de um Projeto Político Pedagógico, nos-sas estruturas administrativas encerram enormes en-traves à discussão de soluções políticas para problemasque vivenciamos coletivamente em nossa Faculdade.

    A atual direção da Faculdade pôde, assim, decidir demaneira unilateral as prioridades políticas a serem enfrentadas.Durante o ano de 2015, a diretoria priorizou um questionávelprojeto de combate aos furtos em nossa unidade por meio de

    instalação decâmeras de se-gurança. Semqualquer diá-logo ou estudomais aprofun-

    dado sobretais aconte-c i m e n t o s ,estabelecer--se-ia a pos-sibilidade demonitoraçãodas ativida-

    des estudantis e dos funcionários, facilmente instru-mentalizada para perseguição e repressão política. Não

    fosse a mobilização estudantil e do sindicato dos funcio-nários, a proposta seria aprovada sem qualquer chan-ce ao dissenso e à discordância existente em torno dela.

    A recente portaria impedindo a utilização de apare-lhos de som no pátio para promoção de eventos e atividades– prevendo sanções drásticas como a abertura de sindicânciacontra membros da comunidade acadêmica - representa ou-tro grave ataque à liberdade de atuação política do movimentoestudantil e sindical. A discussão política presente no pátio fazparte da riqueza da experiência universitária e, por isso, deveser estimulada. Qualquer tentativa administrativa de freá-la

    deve ser combatida e, desta forma, o Coletivo Contrapontose coloca em posição contrária à expressa na referida porta-ria, além de conclamar todas e todos que discordem da me-dida a se juntar a nós para revogar tamanha arbitrariedade.

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      A atuação política do XI de Agosto sempre foi degrande importância como referência na tomada de açõesque mudaram significativamente a história do Brasil, com-

    pondo grandes movimentações de repercussão social pro-eminente, como em “O Petróleo é Nosso!”, “Diretas Já!” e“Fora Collor!”, além do papel local relevantíssimo na implan-tação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Todosesses engajamentos tiveram em comum o viés de cultivodos interesses nacionais à frente dos interesses privados ouestrangeiros, em prol da manutenção da soberania brasileirae da busca pelo aprofundamento da democracia, abrigan-do fortes lutas na busca de justiça e desenvolvimento social.  O movimento interno de nossa Faculdade de Direitoatualmente encontra-se num lesivo esvaziamento político doCentro Acadêmico. Essa inércia, então, reflete-se de maneiranegativa tanto no plano individual quanto no plano coletivo: aFaculdade, a Universidade, o Município, o Estado ou o País, quedeixam de entrar na pauta de discussão do XI com a devida atenção.  Quando observamos que o ensino jurídico ao redordo Brasil vem se tornando cada vez mais tecnocrático e prag-mático, imputa-se à nossa Faculdade de Direito a necessidadede incentivo à pesquisa, ensino, extensão e mobilização polí-tica, interna e externa, orientada à crítica social. Para tanto,os debates conjunturais contemporâneos devem ser postos

    para dentro das Arcadas e, com a reflexão ao seu redor, nor-tear a ação jurídica e política de seus/suas futuros/as juristas.  Tal norte só é dado por um Centro Acadêmico dis-posto a dialogar com todo corpo associado, disputando emostrando pontos de vista que direcionem a fins comuns asalunas e os alunos. Por isso mesmo, é importante a escolhade uma gestão preocupada com a formação e com o con-vívio acadêmico da comunidade discente, tornando possí-vel a criação de uma identidade política que leve aos fins demelhorias não só no ambiente estudantil, mas na própria

    sociedade. Para tanto as gestões do C.A não podem igno-rar as demandas imediatas da comunidade discente, pois éilógico tentar construir políticas locais e nacionais se os pro-blemas internos não são postos para análise e resolução.  Por isso tudo, é necessária uma gestão que tomepartido diante das questões conjunturais da São Francis-co e do panorama nacional, em uma linha a ser seguidae fomentada por toda comunidade franciscana em con-

     junto, o que importa numa representação estudantil ba-seada no compromisso com a ação política, e não num

    modelo de atuação oportunista que se paute nas apenas te-máticas que estão em voga, vagando pelo senso comum.  Expostas essas noções, o Coletivo Contraponto sepredispõe a buscar e a atender as necessidades das alunas edos alunos de nossa Faculdade de Direito e, pela constante in-

    teração, debate, diálogo e reflexão entre discentes, docentes,funcionárias/os administrativas/os e terceirizadas/os. Tomamospartido diante das mais variadas questões que tocam as arcadas e

    o país e que sejam importantes para a retomada do Centro Aca-dêmico XI de Agosto como relevante agente social e político,ainda mais num contexto em que se visualiza, constantemente,ameaças às instituições democráticas. Mobilizar com impactotoda comunidade interna em prol do atendimento das necessi-dades que o Estado brasileiro urge ser feito pelo XI de Agosto. 

    XI em 2016  A política tem papel central para o Centro Acadê-mico. Entendendo tal importância, o Coletivo Contrapontose compromete em 2016 enquanto gestão trazer de voltaàs Arcadas o movimento político que tanto ficou esvaziadoao longo deste ano de 2015, em que a gestão Canto Ge-ral se ausentou em assuntos centrais da faculdade e do país.  A proposta do Contraponto é repetir como em2014, quando gestão, debates com personalidades e mo-vimentos sociais de destaque na sociedade, num amplo di-álogo com a esquerda democrática e com as forças pro-gressistas, como o fizemos na Calourada e Semana do XI.  Além disso, encaminhamos como proposta “semanastemáticas” ao longo do ano, para repensar as datas comemo-

    rativas e trazer o debate crítico sobre seus respectivos signifi-cados. Assim como em 2014 e 2015, uma marca da políticado coletivo sempre foi a quantidade de eventos, debates eaulas públicas que trazemos para nossa faculdade. A reapro-ximação e a construção em conjunto com as principais forçasde luta social também entendemos como elemento prioritá-rio para rearticulação política do Centro Acadêmico.

    Todos sabem que o XI de Agosto é um apare-lho inchado e que com diversas responsabilidades bu-rocráticas e administrativas, ao longo desta carta pro-

    grama apresentamos propostas que ajudarão o CentroAcadêmico a descentralizar e aumentar a participação dose das estudantes nas tarefas do XI, criando redes de diálogoe deliberação efetivas. Quanto à tesouraria, nos compro-metemos à trata-la no máximo de transparência possível.  Vimos ao longo deste ano um enorme descaso por par-te do Centro Acadêmico com a comunidade discente. Concor-damos que o XI de Agosto não se restringe a um mero prestadorde serviços- como entendem alguns que disputam a entidade-mas é fundamental o trato com respeito e atenção aos e às asso-

    ciadas: a retomada do diálogo é papel de um XI representativo.Em 2016 ocorrem as eleições municipais em todo o Brasil, ummomento de extrema importância para a política nacional, en-quanto gestão procuraremos viabilizar Rodas Vivas com os can-didatos e debate entre as candidaturas à Prefeitura de São Paulo.

    ¡XI DE AGOSTO NA POLÍTICA !NECESSIDADE DE MOBILIZAÇÃO INTERNA EM PROL DE ALTERAÇÕES SISTÊMICAS EXTERNAS

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    ¡CAMPANHA 2016:PERMANÊNCIA ESTUDANTIL!

      O ano de 2015, conforme buscamos demonstrarem nossa análise de conjuntura, tem sido marcado por umsevero arrocho fiscal comando pelo Ministro da Fazenda Jo-aquim Levy. Tal ajuste tem, por óbvio, tendo forte impactotambém na área da educação; com o corte de aproximada-mente 10 bilhões do orçamento do MEC, as Universida-des Federais vem sofrendo com a diminuição de recursos.  O mesmo caminho tem seguido a USP que, apóso rombo financeiro deixado pelo Reitor João GrandinoRodas, tem feito sérios ataques ao caráter público de nos-sa Universidade, como os cortes de bolsas de pesquisa,de extensão e também na área de permanecia estudantil.  Esta última merece especial atenção: além da já pre-

    cária situação dos mecanismos de permanência estudantil exis-tentes na USP, o aumento previsto do acesso de alunos e alunasde escolas públicas para o ano de 2016 devido a adesão ao Sisucomo uma das formas de seleção para as vagas existentes naUniversidade faz com que o cenário se torne mais desesperador.  Ademais, é preciso que exista certa coerência por par-te do movimento estudantil e dos orgãos deliberativos de nossaUniversidade/Faculdade. Ao mesmo tempo que a defesa porcotas raciais e sociais que alterem a composição racista e elitistada USP é pauta histórica, o debate a respeito da permanência

    estudantil é solenemente escanteado. Se por um lado a nossaCongregação já aprovou moção favorável a implementação decotas para o acesso a São Francisco, por outro os moradoresda Casa do Estudante convive com ratos em seus dormitórios  É nesse sentido que pretendemos, caso sejamos ges-tão no ano de 2016, dar centralidade a essa pauta, tocandouma campanha por permanência estudantil, que além de de-bater, consiga alterar efetivamente a realidade atual. Os prin-cipais pontos dessa campanha serão: Casa do Estudante; Cen-tro de Idiomas; Biblioteca; Creches na USP; dentre outros.

    Casa do Estudante  O prédio que hoje é conhecido como a Casa do/da Estudante, ou Ninho das Águias, foi construído peloXI de Agosto ao longo das décadas de 40 e 50. Um an-dar por ano. XI anos. Número sempre simbólico para es-tudantes de diversas regiões do Brasil que dependem daCasa para garantir moradia gratuita em São Paulo. Mais doque um antigo reduto da resistência na época da Ditadu-ra Militar, onde abrigava uma emissora de rádio ilegal das edos alunas/os da São Francisco, a Casa é hoje palco de re-

    sistência de outra luta: a da permanência estudantil. Ape-sar de estudarmos em uma das faculdades mais elitistas dopais, diversos discentes não possuem condições materiais dese manter estudando em São Paulo, dependendo de está-

    gios e de bolsas da USP, cada vez mais raras e insuficientes.Se na situação atual, quando apenas 8,7% dos novos

    alunos da São Francisco são de famílias que ganham até 3 salá-rios mínimos, a Casa já se encontra em situação de saturação devagas, com estudantes que muitas vezes têm de dividir quartoscom um, dois ou três outros alunos temporariamente, pode-mos nos perguntar como ficará a situação no próximo, quandoteremos em torno de 90 egressos do sistema de ensino público.

    Com o aumento significativo da procura pelo Ninhodas Águias, o Centro Acadêmico não deve ficar inerte à situa-ção e nem deixar que a diretoria da Casa seja a única responsá-vel por resolver o problema. Muito pelo contrário, o CA devese mobilizar para que possa, com o apoio de todo o corpo dis-

    cente, alcançar uma forma de melhorar a qualidade da Casa,ao mesmo tempo que busca viabilizar mais vagas para moradiaestudantil. Lembrando que pensar em permanência e mora-dia também é pensar a situação em que a Casa se encontra,nesse sentido, o Coletivo Contraponto repudia o descaso dagestão Resgate, que, em 2013, passou um ano sem realizarpagamentos de repasses à entidade, sendo que a mesma nãoconseguiu nesse meio tempo realizar reformas estruturais im-portantíssimas que garantissem condições básicas de dignida-de para seus moradores, como é o caso da reforma elétrica ou

    a necessária dedetização do prédio para acabar com os ratos.Ainda que o saque tenha sido aprovado no úl-timo dia 13, as reformas levarão tempo para se-rem realizadas, sendo que muitas dificilmente estarãofinalizadas para receber os novos estudantes em 2016, agra-vando ainda mais o número de obstáculos que esses encon-trarão para viver com qualidade e usufruir do ensino público.

    Enquanto Coletivo e gestão em 2014, pudemos ain-da nos reunir a época com a Associação dos Antigos Alunos daSão Francisco, que havia se mostrado muito aberta a começarum convenio e nos ajudar, juntamente com a Diretoria da Casa,a iniciar uma Associação de Antigos Moradores da Casa da/oEstudante, para que pudéssemos estruturar uma organizaçãocom maior possibilidade de captação de doações para ajudarna manutenção e nas reformas da Casa, sempre necessárias.

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      Assim, nos posicionamos ao lado da Casa do/a Es-tudante ambicionando uma real integração acadêmica dosatuais moradores e dos que virão, sem esquecer da qua-lidade de vida, para que a educação deixe de ser um pri-vilégio e se execute enquanto direito para todos e todas.

    Centro de Idiomas do XI de Agosto

    Preços acessíveis e permanência estudantil:uma proposta de reestruturação

      O Centro de Idiomas do XI de Agosto ofere-ce cursos de Francês, Italiano, Inglês, Espanhol e Alemãoa baixo custo, tanto para franciscanos, quanto para alu-nos da USP e fora. O valor, atualmente cobrado pelo cur-so extensivo de um semestre, com mais de três horas se-manais de duração, sai por menos de R$ 700,00 – oque representa, aproximadamente, R$ 175,00 mensais.  O Coletivo Contraponto entende que a atual situa-

    ção do Centro de Idiomas não é sustentável. Em nossa ges-tão, o número de alunos matriculados nos cursos para o se-gundo semestre – período em que a procura é historicamentemenor – foi de aproximadamente 200. Neste ano de gestãodo Canto Geral, o número de matriculados despencou parasomente 90 alunos, agravando o cenário financeiro da escola.  Os balanços financeiros produzidos pela fun-cionária do Centro de Idiomas, Suely, nos mostramque o saldo foi positivo durante todos os anos de fun-cionamento, com exceção do ano corrente, no qual

    o número de matriculados caiu significativamente.  Entendemos que, a despeito da necessidade deviabilizar efetivamente o Centro de Idiomas, a atual gestãoboicotou a divulgação e incentivo de aumento no númerode matrículas, simplesmente porque, nesta política sem di-álogo com os estudantes, entendeu que o fechamento doCentro de Idiomas seria realizado. É claro que a viabilidade ea saúde financeira do Centro de Idiomas são fatores neces-sários às contingências da própria escola, para que subsistasem a ingerência do Centro Acadêmico na parte financeira.

      Pela coerência programática, o Coletivo Contrapon-to pondera a existência do Centro de Idiomas por duas razõesessenciais: o oferecimento de cursos de idiomas a baixo custono centro de São Paulo, especialmente para alunos que nãopodem pagar escolas como a Aliança Francesa, cujo intensivode dois meses com início em Outubro, por exemplo, sai pelaquantia de R$ R$ 1.417,03 à vista e com desconto, o que nãoé nada razoável se pensarmos no projeto de universidade pú-blica que desejamos. E, em segundo lugar, entendemos queo fechamento do Centro de Idiomas ocasiona a demissão deduas funcionárias, uma delas que, aliás, tornou-se mãe recen-

    temente. É evidente que a saúde financeira do XI de Agostodeve ser ponderada com mais valor. Por outro lado, propro-mos uma reestruturação do Centro de Idiomas que pode nãosomente atender estudantes de baixa renda – em especial os

    alunos advindos de escolas públicas em 2016 – como tam-bém oferecer cursos de qualidade em horários interessantes.  Em atuação conjunta com as funcionárias do Centrode Idiomas, bem como a experiência adquirida ao longo de nossagestão em 2014, o Coletivo Contraponto apresenta as propos-tas abaixo a serem discutidas com o corpo estudantil para 2016.  1) Criação do site do Centro de Idiomas do XI de

    Agosto: na reunião realizada com as trabalhadoras, foi apre-sentada a ideia da criação de um site para atrair novos matri-culados à escola. A proposta que pretendemos discutir comos estudantes, viabiliza a criação de uma página na internet,com divulgação também pelo Facebook e outras redes sociais,pelo preço aproximado de R$ 5.000,00 que pode ser pagoparceladamente em dez vezes. Nessa proposta, a divulgaçãodo site permite o encontro da página do C.I com a busca noGoogle, por exemplo, do site da Faculdade de Direito da USP.Nesse sentido, os calouros de 2016 teriam acesso facilitadoà página e seriam atraídos à realização de matrícula no pri-

    meiro semestre. Pelo documento apresentado pela empresa,o número de alunos poderia dobrar no prazo de seis meses.  2) Aulas com menos estudantes: atualmente, a se-cretaria do Centro de Idiomas funciona no mesmo prédio daBiblioteca Jurídica, ao lado da Faculdade. No espaço, exis-tem duas salas de aula que comportam aproximadamente40 estudantes no total. No entanto, a maior parte das aulasfunciona no próprio prédio histórico. Uma proposta pensadapelos professores do Centro de Idiomas, espelhada em ou-tras escolas de ensino de idiomas, é a criação de turmas me-

    nores, ou de aulas individuais a serem ministradas no prédioda biblioteca jurídica, onde pouquíssimas aulas acontecem.Segundo a secretaria e os próprios docentes, os cursos deidiomas podem ser oferecidos a alunos, duplas ou trios, emhorários sem aulas, por uma hora intensiva por semana, novalor máximo de R$ 300,00. Se os alunos optam pela aulaem dupla, cobra-se R$ 150,00 de cada, por uma aula maisintensiva que sai basicamente pelo mesmo preço do cursoextensivo normal. Sabe-se que existe a procura reiterada dealunos pela formação de turmas, o que não se concretiza caso

    o número de pessoas seja menor do que sete. Isso inviabili-za o funcionamento e a própria ideia do Centro de Idiomas.  3) Turmas em todos os turnos: até o ano de gestãodo Coletivo Contraponto, havia turmas no período notur-no, inclusive, até o limite das 20 horas (horário de saída deuma das trabalhadoras). Nesse sentido, entendemos que, seviabilizadas as aulas individuais, em duplas ou trios, é possívela reestruturação do Centro de Idiomas com aulas ministra-das em todos os períodos, facilitan-do a participação de quem estu-da ou trabalha nos contra-turnos.

      4) Faixas de renda: para osalunos de baixa renda e, sobretudo, osnovos calouros que ingressam pelascotas para escolas públicas, propomos

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    a cobrança do curso por faixas de renda, desde que a propostaseja claramente elaborada com todos e todas as estudantes.

    Biblioteca  Durante a catastrófica passagem de Rodas pela di-retoria da FDUSP, foram tomadas decisões questionáveis,como a mudança do local da biblioteca. A mudança veio

    como último ato do ex-diretor, que transferiu a bibliotecapara o prédio da rua Senador Feijó. Entretanto, a mudançafoi extremamente mal organizada e obscura: foi contrata-da uma empresa privada sem licitação para empreendê-la.

    Os resultados dessa intervenção foram negativos: nãose conseguiu abrir a biblioteca no tempo prometido, o que acar-retou em danos à comunidade, aos alunos e aos pesquisadores.

    Com péssimas condições para instala-ção, muitos livros ficaram por meses dentro de cai-xas no prédio anexo. Desde então, embora a situaçãotenha se regularizado, achar um livro pode ser bem com-

    plicado, seja na biblioteca circulante ou na central. As-sim, dificulta-se o acesso a esse importante acervo público.

    Ao se propor a defender a permanência estudan-til, o Coletivo Contraponto acredita que seja indispensá-vel buscar junto aos diversos agentes envolvidos com a vidaacadêmica (RD, Diretoria, Departamentos, etc.) soluçõesconcretas para facilitar o acesso à biblioteca e ao emprésti-mo de livros. Dentre elas, o concerto do elevador da biblio-teca central, já que o terceiro andar está reformado e pron-to para receber os livros. porém com o elevador quebrado,

    dificulta-se o transporte dos livros das estantes à biblioteca.

    Acessibilidade  A gestão do Contraponto em 2014 se compro-meteu em aumentar a acessibilidade dentro da facul-dade, tendo em vista que a estrutura não está prepara-da para receber àquelas e àqueles que dessa necessitam.

    Com essa mentalidade, foi construído pelo CAuma rampa de acesso no terceiro andar que possibilita oacesso para três salas. Sabemos que isso ainda é insuficien-

    te. Por isso, tendo em vista a urgência dessas reformas, nósenquanto Contraponto nos comprometemos a abrir diálogoe oficiar junto ao diretor da faculdade a instalação de ram-pas e acessórios necessários para verdadeiramente tornaros espaços apropriados ao uso de todas e todos, como naSala das/os Estudantes, banheiros e biblioteca da faculdade.

    Além disso, em 2014, buscamos viabilizar a aces-sibilidade no Porão. Na época, o diretor se mostrou solícitoa ajudar na instalação. Estudamos a possibilidade de ampliarno porão um elevador, entretanto não foi possível pelo orça-mento do XI de Agosto. Em 2016, nos comprometemos a

    retomar o diálogo com a diretoria para que a obra seja feita.

    Creches na USP  Durante o ano de 2015, o reitor da USP, Marco An-

    tonio Zago, adotou o corte de vagas nas creches da USP, dandocontinuidade à política de precarização da universidade aplicadaem resposta à crise financeira - consequência da gestão Rodas.

    Tal medida traz fortes e negativas consequênciaspara a vida das mães professoras, funcionárias e estudan-tes da Universidade de São Paulo. Por isso, a luta para ga-rantir o direito dessas mulheres e dos seus filhos de te-

    rem acesso a uma creche deve ser uma luta feminista, jáque tal direito é essencial para a emancipação feminina.Devido aos estereótipos de gênero, a materni-

    dade torna-se compulsória para as mulheres e, além dis-so, o papel de cuidados e criação dos filhos acaba sendodesignado de forma praticamente exclusiva às mulheres,mantendo-as reclusas ao espaço privado do lar e dificul-tando suas presenças em âmbitos predominantemente mas-culinos, que se mostram um privilégio dos homens emgeral, como a universidade, o mercado de trabalho etc.

    Com a garantia do serviço em questão, a

    vida das mulheres deixa de ter um prazo de valida-de associado à função materna, tornando possível aocupação dos espaços públicos em todos os graus.

    Bolsas de Permanência  A Universidade de São Paulo, em especial o cam-pus da Faculdade de Direito, apesar de ser consideradapública, tem sua estrutura fundada em ideias de caráterprofundamente elitista. A permanência estudantil, comobem se sabe, passa por diversas medidas que visam garan-

    tir a continuidade de estudantes no ambiente de ensino.  A universidade utiliza a Superintendência de As-sistência Social (SAS) para organização e efetivação detodo o serviço de permanência (desde a alimentação ebolsas até a moradia e creches). Todos esses serviços, en-tretanto, estão localizados na Cidade Universitária, noButantã, extremamente deslocados da nossa faculdade.  As bolsas são divididas entre bolsas de permanên-cia, bolsa de pesquisa e de extensão, cumprindo diferentesobjetivos ao se basearem na estrutura do tripé universitá-

    rio. As bolsas de permanência servem para gastos diversosdo estudante que não estão relacionados a gastos que afaculdade pode arcar, como contas pessoais, transporte eoutros gastos para que o/a discente se mantenha em SãoPaulo. As bolsas de pesquisa e extensão buscam fomentaras duas outras pilastras da graduação que muitas vezes per-dem espaço para o ensino e, no caso do direito, o estágio.

    A Universidade, entretanto, muitas vezes obscure-ce a diferenciação das bolsas, a fim de aplicar cortes comovisto esse ano, que, através de um movimento, a pró-rei-toria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) trans-

    formou bolsas de extensão e permanência em um númeromenor de bolsas gerais durante a transição do programaAprender com Cultura e Extensão para o programa Juno.  A bolsa de permanência possui o valor de

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    R$400,00, valor muito abaixo do necessário para man-ter de maneira minimamente digna os estudantes emSão Paulo. Por causa disso, muitas vezes, os estudantescom baixas condições financeiras são obrigados a irempara estágios de 4h ou 6h, retirando a possibilidade debusca de oportunidades de aprendizado e atividades deextensão e pesquisa na universidade. Em um estudo da

    Unesp a respeito de bolsas de permanência estudantil,mais da metade dos alunos responderam que buscariamtrabalho para continuar a graduação caso ficassem sem abolsa no ano seguinte. Assusta também a alta porcenta-gem de alunos que desistiriam definitivamente do curso:mais de um quarto. Por mais que o auxílio seja peque-no, principalmente em meio ao corte de gastos, comoocorre na USP, o desafio deve se pautar pelo aumen-to tanto do auxílio em si quanto da concessão de bolsas.  Os acadêmicos com restrições de renda pas-sam pela difícil e elitista seleção do vestibular, que

    serve também como uma peneira de classe e raça e,mesmo após a chegada na universidade, sofrem ao en-contrar novamente a desigualdade de oportunidades.  A política de permanência passa também, neces-sariamente, pelo debate do modelo e papel da universidadeque se busca. Para que tenhamos pessoas preocupadas coma função social do que é aprendido na universidade, é precisoque se incentive o debate, a convivência entre diversos grupossociais e a reflexão crítica do que é passado em sala de aula.

    Além disso, o próprio conceito de universidade

    pública denota, em tese, a democratização do ensino dequalidade a todos e todas. Somente sem a peneira elitis-ta e racista dos clássicos vestibulares e com a igualdade deoportunidade para todos que se torna possível fazer umauniversidade pública. Faz-se necessário, além disso, ummaior repasse às universidades e uma maior adequação àsespecificidades de cada caso particular. Não só a desigual-dade estrutural brasileira deve ser observada, mas tambémas disparidades regionais, o que ajuda a promover o aces-so à educação em todas as universidades, criando um sis-

    tema de educação superior democrático em todo o país.

      Acreditamos que é de fundamental importância oaumento da bolsa de permanência, tal qual a sua expansão,visto que com o início do uso de cotas para universidade pú-blica, a universidade tende a se diversificar em algum nível.

    Estágio  O estágio durante a graduação é cada vez

    mais recorrente entre as/os alunas/os da Facul-dade, pois é visto como preparação para a vida ju-rídica de grande parte das/os estudantes. Po-rém, muitas vezes tem sido encarado como umanecessidade das/os alunas/os de baixa renda, frentea precária situação de bolsas permanência na USP.  Nesse contexto, a proposta de proibição do es-tágio nos dois primeiros anos da graduação, exceto paraaqueles que necessitem da renda do estágio, foi lançadaneste ano pelos docentes. Tal projeto mostra-se ab-surdo uma vez que as/os estudantes que não precisam

    estagiar estariam privilegiados na sua formação acadê-mica frente àqueles que estagiarem por necessidade.  É dever da universidade pública servir a to-dos de maneira igual, é sua responsabilidade garan-tir condições iguais de ensino tanto para aqueles queterão ou não dedicação integral aos estudos. O con-traponto defende que alunas/os de baixa renda de-vem receber bolsas de permanência para se man-terem ativos e dedicados aos estudos durante agraduação. Além de que a prática de estágio é um

    direito das/os estudante, que não pode ser cerceado.

    Estágio Acadêmico  Por ser prática comum, e importante na graduação,a fim de garantir que o estágio seja um meio de aprendizado,o Coletivo Contraponto se compromete a articular com osCentro Acadêmicos de outras Faculdades de Direitos e com aprópria OAB para que se observem os compromissos legais deestágio e que eles cumpram com seu dever também acadêmi-co; ou seja, que cumpra sua função primordial que é enrique-

    cer os conhecimentos do estudante através da pratica jurídica.

    ¡XI CONTRA O RACISMO!  O racismo é uma forma de opressão que es-trutura a sociedade de classes e o capitalismo brasi-leiro. Em nosso país, frequentemente, diz-se que oracismo é velado e não funciona na mesma lógica depaíses da Europa ou dos Estados Unidos. No entan-

    to, observa-se que o racismo opera enquanto polí-tica de atuação do Estado, especialmente no tocan-te à atuação das polícias frente à população negra.Os negros no Brasil recebem até 50% a menos do que

    os brancos, considerando os extremos que separam mu-lheres negras de homens brancos. Além disso, são o seg-mento mais explorado da classe trabalhadora, ocupandoem massa os espaços prisionais e as periferias do Brasil.

    A herança escravocrata oprime e explora a po-

    pulação negra, que hoje sofre com a falta de acesso àspolíticas públicas, à Universidade e espaços de poderpolítico e econômico. Mulheres negras, por exemplo,recebem pior atendimento obstétrico do que mulheres

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    brancas e sofrem coma negligência médicapor causa do racismosobre seus corpos.Na composição doCongresso Nacionaltambém é patente o

    racismo que assola opaís – negros e negrasrepresentam menosde 9% da Câmara dosDeputados e menos de3% do Senado Federal.  Nossa faculda-de, composta em sua

    maioria absoluta por estudantes brancos e brancas, é umretrato desse cenário – dados da Fuvest apontam queapenas 10% se declaram pretos ou pardos. Urge a ado-

    ção de cotas raciais na USP, para a necessária reversãodesse quadro. Vitória histórica no âmbito da Faculdadede Direito deu-se com a constituição do Coletivo Ne-gro Quilombo Oxê, ao qual nos comprometemos, casoeleitos, a dar suporte e publicidade às suas atividades.  Válido ressaltar que o racismo atinge outraspopulações não brancas, como os Indígenas que, ex-cluídos da própria dinâmica produtiva e econômica doBrasil, têm sua cultura reiteradamente negada e sofremcom a violência do Estado sobre suas terras e espaços.

    A Câmara dos Deputados, neste ano, votouo projeto de emenda constitucional nº 171, que pre-vê a redução da maioridade penal para 16 anos deidade. Numa primeira votação, a proposta inicial nãopassou, sendo votada novamente em termos pou-co diferentes - nas chamadas emendas aglutinati-vas - sob a atuação autoritária do atual presidenteda Câmara, Eduardo Cunha. Sabemos que a redu-ção da maioridade penal implica no recrudescimen-to da violência do estado sobre jovens negros, prin-

    cipalmente ao considerarmos quem é que de fatosofre da violência policial e vem a ocupar o cárcere.Nesse cenário, entendemos a Desmilitariza-

    ção das Policias, associada à Política de cotas raciaisnas Universidades são fundamentais para abrir as por-tas ao processo gradual de inclusão do jovem negronos espaços acadêmicos e políticos. Primeiramente,é preciso que as polícias deixem de atuar na lógica decombate ao inimigo, com um treinamento totalmenteincompatível com o Estado Democrático de Direito.Em segundo lugar, acreditamos que a política de co-

    tas raciais - que nos últimos anos incluiu pelo menos150 mil jovens negros em universidades públicas - éo mecanismo mais eficaz à inclusão deste segmen-to nos espaços acadêmicos e de produção científica.

    Para que o Centro Acadêmico possa to-mar partido na luta contra o racismo, o Cole-tivo Contraponto apresenta algumas propos-tas a serem realizadas durante o ano de gestão:

    - Audiências Públicas: acreditamos que a realiza-ção de Audiências Públicas na ALESP para deba-

    termos a violência policial no estado de São Paulo émais do que urgente. Se eleitos, propomos à comu-nidade acadêmica da São Francisco que some nestaideia, forçando que os responsáveis pela promoçãode verdadeiras chacinas - como as que acontece-ram neste ano, em Osasco, por exemplo - sejam co-brados pela atuação revoltante da Polícia Militar.

    - Intervenções Culturais com o Movimento Ne-gro: a realização de intervenções culturais como sa-raus, apresentações de rap e de teatro em parceria

    com diversos movimentos e organizações de negrase negros, tanto através de festas e eventos no Porão,como intervenções no Pátio e na Sala dos estudantes.

    - Realização da Semana Lélia Gonzalez de Combateao Racismo: na semana do dia 13 de Maio, propomosa realização da Semana Lélia Gonzalez, com ênfasenas questões que envolvem o racismo no Brasil, in-terseccionado sempre com a exploração de classe ea opressão de gênero e de orientação sexual. Nesse

    sentido, pretendemos trazer rodas de discussão, me-sas de debates, intervenções e rodas-viva com a dis-cussão a respeito da exclusão da população negra dosespaços universitários e políticos no país, as cotas ra-ciais, o genocídio da juventude negra, feminismo ne-gro, espaço da mulher negra na sociedade e na acade-mia, mulheres negras e trabalho, dentre outros temas.

    - Atuação com a Secretaria de Direitos Humanos: sa-bemos que a questão da imigração no Brasil vem re-

    tomando força com a vinda de trabalhadores do Haiti,Bolívia e outros países para São Paulo. Nesse sentido,caso eleitos, vamos buscar realizar parcerias com a Se-cretaria de Direitos Humanos de São Paulo para auxi-liar a regularização da situação jurídica desta população,que muitas vezes sofrem o racismo, além da xenofobia.- Nomeação das Salas de Aula: as salas de aula da fa-culdade são todas nomeadas com nomes de homens daacademia. Somente um deles é negro: Pedro Lessa. Noentanto, apesar de negro, foi retratado como branco.Tal absurdo não pode ser ignorado e nos compromete-

    mos a trazer a discussão sobre o embranquecimentodestas personalidades negras. Além disso, encaminha-remos à diretoria propostas de alteração dos nomes desalas de aula, sobretudo para abarcar negros e mulheres.

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    CPI da violência nas universidades  Recentemente foram trazidos à tona relatos as-sustadores de violência sexual, física e psicológica nas uni-

    versidades estaduais paulistas, principalmente duranteos trotes. Os grupos mais afetados – mulheres, LGBT’se negros/os – não só eram vítimas das mais cruéis formasde agressão e humilhação, mas viam um constante abafa-mento das hostilidades que sofriam, muitas vezes ignora-das pelo próprio corpo docente. Os mais notáveis e trá-gicos casos ocorriam na Faculdade de Medicina da USP.

    Diante do terrível cenário apontado, a Comis-são de Direitos Humanos da Assembleia Legislativade SP, presidida pelo então deputado estadual Adria-

    no Diogo (PT), abriu uma CPI para investigar os relatosde violência no espaço universitário. Após meses de in-quérito, a Comissão chegou em seu relatório à núme-ros alarmantes: mais de 110 estupros somente na USP.

    O Coletivo Contraponto entende a necessida-de de trazer a público as condições de extrema insegu-rança a que se submetem as minorias e principalmente asmulheres em ambientes como festas e práticas de trote.Desta forma procuramos acompanhar de perto o desen-rolar da CPI, do final do ano passado ao início deste ano,trazendo para as arcadas os principais debates tratadosna Assembleia por meio de notas, eventos, entrevistas àparticipantes, jornais e na presença às sessões. Assim, lu-tamos para que a faculdade seja um ambiente agradávelàs mulheres e para tal nos empenhamos em repensar aspráticas opressoras do modelo de trotes universitários.

    Dez anos da Lei Maria da PenhaEm 2006 foi promulgada a lei Maria da Pe-

    nha, um dos mais importantes instrumentos legais nocombate a violência de gênero já instituídos no país, re-

    duzindo nestes anos de vigência em 10% das ocorrên-cias da categoria. O referido dispositivo tipifica a agres-são intrafamiliar, seja em seu aspecto físico, moral,psicológico, sexual ou financeiro, proibindo também o es-tabelecimento de pena pecuniária. Outra inovação de gran-de importância apresentada pela lei foi a criação dos Jui-zados Especiais de Violência Doméstica contra a Mulher.

    Na defesa de um X.I. feminista, o Coletivo Con-traponto ressalta a importância de lembrar os 10 anosde aprovação do texto legal em questão, que se com-

    pletarão ano qu