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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE LETRAS PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM CARLA MOTA REGIS DE CARVALHO INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL Niterói, RJ 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE LETRAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

CARLA MOTA REGIS DE CARVALHO

INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA

SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL

Niterói, RJ

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE LETRAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

CARLA MOTA REGIS DE CARVALHO

INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA

SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Estudos de Linguagem da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para a obtenção do título de

Mestre em Linguística.

Linha de Pesquisa 1: Teoria e análise

linguística

ORIENTADOR: Prof. Dr. Eduardo Kenedy Nunes Areas

Niterói, RJ

2016

CARLA MOTA REGIS DE CARVALHO

INTERFERÊNCIA DA L1 SOBRE A L2: UMA ABORDAGEM PSICOLINGUÍSTICA

SOBRE O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO NO PB E NO ESPANHOL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Estudos de Linguagem da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para a obtenção do título de

Mestre em Linguística.

Linha de Pesquisa 1: Teoria e análise

linguística.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________

Prof. Dr. Eduardo Kenedy Nunes Areas - UFF

Orientador

___________________________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Aline Fernanda Alves Dias - INES

___________________________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Katia Nazareth Moura de Abreu - UERJ

Niterói – RJ

2016

À minha mãe, Maria de Nazaré Mota da Silva, que sempre me

encorajou com seu otimismo, força, fé e amor.

AGRADECIMENTOS

A realização deste trabalho contou com a presença de pessoas com as quais pude

partilhar diferentes momentos do percurso percorrido até a chegada a esta etapa final. Como

este trabalho não aconteceria sem o apoio e a compreensão dessas pessoas, expresso com

muita alegria meus agradecimentos.

Primeiramente agradeço ao Prof. Dr. Eduardo Kenedy, meu orientador, por tudo o que

me ensinou desde a IC com sua didática, brilhantismo e dedicação. Obrigada por todo

incentivo, apoio e compreensão durante toda a produção desta dissertação, pelo aprendizado

nas reuniões do grupo de pesquisa e por seu exemplo de competência e profissionalismo

dedicados à Linguística.

À Prof. Dra. Aline Dias e à Prof. Dra. Kátia Abreu pelas proveitosas contribuições

feitas durante a Qualificação.

Aos professores do curso de idiomas Prolem, ao Prof. Dr. Paulo Antonio Pinheiro

Correa e ao Prof. Dr. Xoán Lagares por me cederem gentilmente parte de suas aulas para a

aplicação dos experimentos.

Ao Prof. Dr. Antonio Ribeiro por contribuir com a sua experiência para este trabalho.

Aos colegas do Gepex, Grupo de Estudos em Psicolinguística Experimental da UFF,

Joana, Simone, Aline, Adiel, Victor, Helicéa e Juliana por tudo o que prendemos juntos em

congressos, disciplinas, encontros do grupo de pesquisa, conversas que me ajudaram muito no

processo de elaboração deste trabalho.

Aos alunos do Prolem, aos alunos da graduação em Letras português/espanhol da

Universidade Federal Fluminense e aos espanhóis que participaram dos experimentos.

À minha amiga Franciane Soares que gentilmente me ajudou a aplicar o experimento

com os espanhóis.

À CAPES pelo apoio financeiro concedido.

À minha tia Lia e à Noni por todo o incentivo e cuidado ao longo de minha vida

escolar.

Às colegas da graduação que se transformaram em amigas e com as quais vivenciei

muitos momentos de alegria, estudo e muito aprendizado, Agata, Joci, Aline, Camila Carla e

Amanda.

Ao meu marido, amor da minha vida, Wagner Moreira, pela vida partilhada, pelo

respeito, pela união, pelo amor e pela paciência nos momentos em que precisei estar ausente

mesmo estando em casa. Obrigada por transformar a minha trajetória de vida mais leve.

À minha amiga Camila por toda a paciência e companheirismo ao longo de tantos

anos, por me incentivar sempre, por vivenciar comigo toda esta trajetória desde o resultado no

processo seletivo do mestrado, todo o percurso de produção deste trabalho até a alegria de

concluí-lo. Obrigada por estar sempre presente em todos os momentos da minha vida.

Aos amigos Ieda, Joaquim, Paula, Jurandyr pelo incentivo e pelos momentos de boas

conversas e aprendizados.

Às minhas cunhadas Érida e Jaqueline pelas palavras de carinho e reconhecimento.

Finalmente, à minha mãe, ao meu pai, aos meus irmãos Claudia e Claudio, aos meus

sobrinhos João Paulo, Sophya e Heitor, todos que são parte de mim e dos quais sempre recebi

muito amor, incentivo, carinho e muita compreensão em todos os momentos da minha

trajetória acadêmica até aqui.

A todos que foram citados só posso dizer: Muito obrigada por tudo!

Uma das razões para estudar a linguagem (exatamente a

razão gerativista) – e para mim, pessoalmente, a mais

premente delas – é a possibilidade instigante de ver a

linguagem como um “espelho do espírito”, como diz a

expressão tradicional.

(CHOMSKY, 1980)

RESUMO

A discussão sobre como acontece a aquisição de uma segunda língua (L2) e em que medida a

língua materna (L1) pode interferir neste processo tem se mostrado bastante produtiva e

complexa na literatura. O PB tem sido considerado uma língua parcialmente pro drop,

segundo Duarte (1995) por apresentar a preferência pelo preenchimento de sujeitos

referenciais. Já o espanhol, segundo Pinheiro-Correa (2010), caracteriza-se como uma língua

pro drop prototípica por preencher o sujeito em situações específicas, como as de foco

contrastivo ou quando aparecem complementos apositivos ou adjetivais. Estas diferenças

relacionadas ao preenchimento do sujeito sintático entre o PB e o espanhol permitiram uma

comparação, à luz da teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) (CHOMSKY, 1981, 1995,

2011), por meio de uma abordagem metodológica da psicolinguística experimental, com o

intuito de investigar o processamento das estruturas de sujeito nulo e pleno em falantes

nativos do PB e do espanhol e verificar se há transferência do PB na aquisição de espanhol

como L2 com relação ao preenchimento do sujeito pronominal e, ainda, se tal transferência é

anulada e substituída pelo parâmetro da língua alvo durante o curso do aprendizado da L2.

Para isso, foram realizados dois experimentos off-line de produção induzida que consistiam na

continuação de pequenas narrativas incompletas em espanhol divididas em quatro condições

experimentais (1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª e 3ª pessoas do plural), ambos foram realizados

com aprendizes de espanhol como L2. O experimento I contou com alunos do curso de

idiomas Prolem e o experimento II contou com alunos da graduação da Universidade Federal

Fluminense, além disso, os dados de um grupo de nativos (controle) foram utilizados nos dois

experimentos. Coube aos participantes experimentais divididos em três níveis de proficiência

(básico, intermediário e avançado) continuar as 12 pequenas narrativas experimentais com

duas ou três palavras apenas. A hipótese que orientou este trabalho é a de que o parâmetro do

sujeito nulo da L1 seja transferido para a L2, tendo sua interferência diminuída em função do

aumento da proficiência na língua-alvo. Todos os resultados foram submetidos ao teste

estatístico qui-quadrado e indicaram que o valor do parâmetro do sujeito nulo do PB, como

L1, parece ser transferido para o espanhol como L2 mais visivelmente em aprendizes do curso

de idiomas, mas que o mesmo acontece em menor escala com os aprendizes de espanhol,

como L2, alunos da graduação e, ainda, que a interferência entre estas línguas parece diminuir

em função do aumento da proficiência na língua-alvo de acordo com os resultados dos dois

experimentos.

Palavras-chave: Sujeito; L2; Processamento; Interferência; Psicolinguística.

ABSTRACT

The discussion on how the acquisition of a second language (L2) happens and the extent that

the mother language (L1) can interfere in this process is being very productive and complex in

literature. BP (Brazilian Portuguese) is being considered a partially pro drop language,

according to Duarte (1995) because it presents the preference for filling reference subjects.

Spanish, according to Pinheiro-Correa (2010), is characterized as a prototypical pro drop

language because it fills the subject in specific situations, such as contrastive focus or when

appositive or adjectival complements appear. These differences related to the fulfillment of

the syntactical subject between BP and Spanish allowed a comparison, in according to the

theory of Principles and Parameters (P&P) (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011), through the

methodological approach of the experimental psycholinguistics, in order to investigate the

processing of structures of null and full subject in native speakers of BP and Spanish and

check for transfer from BP in the acquisition of Spanish as L2 in relation to the completion of

the subject pronoun, and even if such transfer is canceled and replaced by the target language

parameter during the L2 learning course. For this, we performed two off-line experiments of

induced production that consisted of the continuation of short narratives incomplete in

Spanish divided into four experimental conditions (1st and 3rd person of singular and 1st and

3rd person of plural), both were conducted with apprentices of Spanish as L2. The experiment

I had students of the language course Prolem and experiment II had undergraduate students of

Universidade Federal Fluminense, in addition, data from a group of native speakers (control)

were used in both experiments. It was up to the experimental participants divided into three

proficiency levels (basic, intermediate and advanced) to continue 12 small experimental

narratives with two or three words only. The hypothesis that guided this work is that the L1

null subject parameter is transferred to L2, and its interference is decreased due to the

increased proficiency in the target language. All results were submitted to the statistical test

chi-square test and they indicated that the parameter value of the null subject of BP, as L1,

seems to be transferred to the Spanish as L2 most visibly in the learners language course, but

it is also true in smaller scale with learners of Spanish as L2, graduate students, and also the

interference between these languages seems to decrease due to increased proficiency in the

target language according to the results of two experiments.

Key words: Subject; L2; Processing; Interference; Psycholinguistics.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13

1 O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO ............................................................................... 17

1.1 A Gramática Universal ....................................................................................................... 17

1.1.2 Princípios e Parâmetros ................................................................................................... 17

1.1.3 O Princípio EPP ............................................................................................................... 21

1.1.4 O (Parâmetro do) Sujeito Nulo ........................................................................................ 24

1.2.1 Sujeito nulo no PB ........................................................................................................... 28

1.2.2 Sujeitos referenciais ......................................................................................................... 30

1.2.3 Sujeitos referenciais de 3ª pessoa .................................................................................... 32

1.3.1 Sujeito pronominal no espanhol ...................................................................................... 36

2. AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA ............................................................................. 38

2.1 A aquisição de L2 ............................................................................................................... 38

2.1.2 Hipótese da Transferência e Acesso total (Full Transfer and Full Acess) ..................... 39

2.1.3 Hipótese de Árvores Mínimas (Minimal Trees) .............................................................. 40

2.1.4 Hipótese dos Traços Valorados (Valueless Features) ..................................................... 41

2.1.5 Hipótese do Acesso Total (sem Transferência) (Full Acess (without tranfer)) ............... 41

2.2 Teoria do Bilinguismo Universal ....................................................................................... 42

3 PSICOLINGUÍSTICA EXPERIMENTAL .......................................................................... 43

3.1 A Psicolinguística e a linguística gerativa .......................................................................... 43

3.2 Principais métodos e técnicas da psicolinguística .............................................................. 45

3.3 Revisitando Viegas ............................................................................................................. 48

4. EXPERIMENTOS ................................................................................................................ 52

4.1 Experimento continuação de narrativas I ........................................................................... 52

4.1.1 Design experimental ........................................................................................................ 52

4.1.2 Hipóteses e previsões....................................................................................................... 53

4.1.3 Variáveis e condições ...................................................................................................... 54

4.1.4 Participantes (grupos experimentais)............................................................................... 54

4.1.4.1 Controle ........................................................................................................................ 55

4.1.5 Procedimentos ................................................................................................................. 57

4.2 Resultados ........................................................................................................................... 57

4.3 Experimento continuação de narrativas II .......................................................................... 63

4.3.1 Design experimental ........................................................................................................ 64

4.3.2 Variáveis e condições ...................................................................................................... 64

4.3.3 Materiais .......................................................................................................................... 66

4.3.4 Procedimentos ................................................................................................................. 66

4.4 Resultados ........................................................................................................................... 67

4.5 Discussão ............................................................................................................................ 72

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 80

ANEXOS .................................................................................................................................. 85

Índice de Ilustrações

Tabela 1: Quadro flexional e pronominal em PB adaptado de Duarte (1995) ......................... 28

Tabela 2: Quadro pronominal e flexional do espanhol adaptado de Soares da Silva (2006) ... 35

Tabela 3: Desenho experimental .............................................................................................. 53

Tabela 4: Condições experimentais do experimento I .............................................................. 54

Tabela 5: Distribuição dos alunos de graduação em níveis de proficiência. ............................ 65

Figura 1: Sistema Computacional, Spell-Out e Níveis de Interface e Desempenho ................ 19

Figura 2: Conjunto e subconjunto de Raposo. .......................................................................... 21

Figura 3: Movimento de um SN para o especificador de ST, licenciando-o com o caso

nominativo. ............................................................................................................................... 22

Figura 4: Hierarquia da Referencialidade de Cyrino, Duarte e Kato.(2000) ............................ 31

Figura 5: Modelo Full Transfer and Full Access (White, 2003, p.61) ..................................... 39

Figura 6: Modelo Full Acess (without Transfer) (White, 2003, p.90) ..................................... 41

Gráfico 1: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas nos três diferentes

níveis de proficiência. ............................................................................................................... 58

Gráfico 2: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas do grupo controle

.................................................................................................................................................. 59

Gráfico 3: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três

diferentes níveis de proficiência. .............................................................................................. 60

Gráfico 4: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural no grupo controle

.................................................................................................................................................. 60

Gráfico 5: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de

proficiência ............................................................................................................................... 61

Gráfico 6: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência e grupo controle ........... 62

Gráfico 7: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência e grupo controle (valores

de sujeito nulo) ......................................................................................................................... 63

Gráfico 8: Distribuição dos estudantes de graduação em níveis de proficiência. .................... 66

Gráfico 9: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas nos três diferentes

níveis de proficiência. (Graduação) .......................................................................................... 67

Gráfico 10: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três

diferentes níveis de proficiência. (Graduação) ......................................................................... 68

Gráfico 11: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de

proficiência (Graduação). ......................................................................................................... 69

Gráfico 12: Produção de frases com sujeito pleno nos três níveis de proficiência (Graduação)

e grupo controle. ....................................................................................................................... 69

Gráfico 13: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo

controle. .................................................................................................................................... 71

Gráfico 14: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo

controle (valores de sujeito nulo) ............................................................................................. 72

13

INTRODUÇÃO

Pesquisadores como Duarte (1993, 1995, dentre outros), Soares da Silva (2006),

Pinheiro-Correa (2010), entre outros, têm se dedicado à investigação sobre o possível

distanciamento do português brasileiro (PB) das outras línguas românicas, incluindo o

português europeu (PE), no que diz respeito ao parâmetro do sujeito nulo. Estas investigações

indicam uma mudança em curso ocorrendo com o PB, fato que estaria afastando esta língua

das línguas de sujeito nulo ou pro drop. Tais pesquisas se relacionam com as ideias de

Chomsky (1981 e posteriores), que assume a existência de um módulo cognitivo específico da

linguagem constituído por um sistema computacional mental que funciona a partir de traços

do léxico adquiridos pela língua do ambiente à qual um indivíduo é exposto. Esses traços

seriam codificados segundo uma marcação binária positiva ou negativa e, a partir da fixação

de uma destas opções, as diferenças entre as línguas são estabelecidas e, dentre elas, seriam

fixadas as diferenças entre línguas de sujeito pronominal nulo e de sujeito obrigatoriamente

preenchido.

A teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011) aponta

como princípios da Gramática Universal (GU) todas as propriedades gramaticais comuns às

diferentes línguas naturais existentes. Já os parâmetros, segundo essa teoria, consistem nas

diferenças sintáticas também universais, segundo uma marcação positiva ou negativa de cada

parâmetro específico. De acordo com a P&P, a existência de sujeitos gramaticais nas línguas

naturais constitui-se como um princípio (nomeado como EPP – Extended Projection

Principle), mas permitir que uma categoria vazia ocupe a posição de sujeito em orações

finitas representa uma das propriedades do parâmetro do sujeito nulo. Em suma, o parâmetro

do sujeito nulo caracteriza-se por permitir que algumas línguas admitam o apagamento do

sujeito em orações, estas são as línguas de sujeito nulo [+pro drop], ao passo que outras,

optam majoritariamente pelo apagamento, são as línguas [-pro drop].

O espanhol peninsular e o PE são exemplos de línguas de marcação positiva, ou,

dizendo de outra forma, são línguas pro drop prototípicas. Por outro lado, estudos vêm

demostrando uma crescente diferença no parâmetro do sujeito nulo no PB, em relação ao PE.

O PB tem sido considerado uma língua parcialmente pro drop por apresentar uma tendência

ao sujeito pleno, fato que, segundo Duarte (1995), foi precipitado pela redução nas formas

desinenciais do paradigma flexional dos verbos. Os exemplos (1) e (2) abaixo ilustram,

respectivamente, uma sentença com sujeito nulo e outra com sujeito pleno.

(1) __ comprei o anel.

14

(2) Eu comprei o anel.

Em contextos discursivos neutros nos quais não ocorrem demandas discursivas como

contraste ou pressuposição, o exemplo (1), com a categoria vazia ocupando o lugar de sujeito,

é típico do PE, ao passo que (2), cuja posição de sujeito está preenchida com o pronome eu, é

típico do PB ainda que a realização (1) também seja possível nesta língua.

O espanhol, por outro lado, caracteriza-se, segundo Pinheiro-Correa (2010), por ser

uma típica língua de sujeito nulo - como pode ser observado no exemplo (3)-, isto é, além de

permitir que uma categoria vazia ocupe o lugar de sujeito, o espanhol só preenche o sujeito

em situações de demandas discursivas específicas, tais como as de foco contrastivo – quando

o sujeito é o foco numa sentença e tem valor de contraste, exemplificado em (4) - e nas

situações em que aparecem complementos apositivos ou adjetivais- respectivamente,

exemplificadas em (5) e (6)-, ou seja, o espanhol peninsular opta pela omissão do sujeito

como estratégia default, preenchendo-o apenas em alguns contextos discursivos ora

exemplificados.

(3) __ comí la tarta de banana.

(4) ¿Quién lo hizo?

No haría yo tamaña crueldad.

(5) Él, que está enfermo, puede volver a su casa.

(6) Tú mismo lo resolviste.

Em (3), o sujeito é representado por uma categoria vazia sendo identificado através da

flexão verbal. Em sentenças como (4), (5) e (6) o sujeito pleno é um componente obrigatório,

do contrário, estas sentenças seriam agramaticais na língua.

A possível mudança em curso na parametrização do PB, que o transfere do grupo das

línguas pro drop para o grupo das línguas de sujeito preenchido, - mesmo que o

preenchimento do sujeito no PB não se dê ainda em todas as categorias sintáticas, como, por

exemplo, o preenchimento de um sujeito expletivo -, pode ser confrontada no aprendizado de

línguas que possuem sujeito nulo, por parte dos nativos do PB, pois se há um preenchimento

robusto do sujeito é evidência de que o PB está transformando-se numa língua de sujeito

pleno.

Pesquisas sobre aquisição de línguas estrangeiras, como segunda língua (L2), buscam

estabelecer qual seria o papel de uma língua materna (L1) no aprendizado de uma L2, isto é,

como se dá o aprendizado de uma L2. Uma das questões que norteiam esses tipos de pesquisa

15

é indagar se haveria o acesso à GU durante o processo de aquisição/aprendizagem de uma

língua estrangeira e em que medida a gramática da L1 poderia influenciar a aquisição de uma

L2. Existe, na literatura especializada, a hipótese de que a gramática da interlíngua seja guiada

pela GU em todos os estágios. Neste caso, a competência de uma L2 na mente de um

indivíduo poderia ser equiparada a de um falante nativo (WHITE, 2003a apud VIEGAS,

2014). Por outro lado, há a hipótese de que o acesso aos parâmetros estabelecidos para a L1

aconteça apenas na fase inicial de aquisição de L2, isto significa que em algum momento há

acesso direto à GU (cf. WHITE, 2000, 2003).

A partir desta diferença entre o parâmetro do sujeito nulo no PB e no espanhol, o

objetivo desta pesquisa é verificar em que medida se dá a transferência do parâmetro da L1

sobre a L2 e, consequentemente, confirmá-la à luz da teoria de Princípios e Parâmetros. E,

ainda, contribuir para a discussão sobre as hipóteses de acesso à GU durante o processo de

aquisição/aprendizado de uma L2 (cf. WHITE, 2000, 2003). Além disso, espera-se que esta

pesquisa possa oferecer contribuições aos estudos sobre transferência e acesso dos parâmetros

da L1 para a L2 por meio de uma abordagem experimental. Tal pesquisa visa investigar o

processamento das estruturas de sujeito nulo e pleno em falantes nativos do PB e do espanhol,

verificando se há transferência do parâmetro pro-drop parcial do PB ao espanhol entre

aprendizes dessa língua como L2 e se, ao longo do aprendizado da língua estrangeira, tal

transferência é anulada e substituída pelo parâmetro da língua alvo. Isto é, será verificado se

ocorre interferência do status do parâmetro pro drop do PB no aprendizado do espanhol por

brasileiros, pressupondo-se que são línguas com marcações diferentes neste parâmetro. Esta

comparação pretende averiguar se brasileiros, aprendizes de espanhol como língua

estrangeira, em diversos níveis de proficiência (básico, intermediário e avançado),

aprenderiam a inibir a produção de sujeitos plenos durante a produção de frases em espanhol

no curso do aprendizado da L2.

À luz da Teoria de Princípios e Parâmetros e sob a abordagem da Psicolinguística

Experimental, foi elaborado, durante a pesquisa, um experimento off-line de produção

induzida ou eliciada. Tal experimento foi aplicado a um grupo controle – nativos falantes do

espanhol peninsular - e a três grupos experimentais - brasileiros aprendizes de espanhol como

língua estrangeira nos três níveis de proficiência básico, intermediário e avançado.

Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. No primeiro, encontram-se os

pressupostos teóricos que fundamentam a pesquisa. Desta maneira, abordaremos algumas

propriedades da teoria de Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981, 1995, 2011) que

serviram para a realização deste trabalho, bem como as principais características sobre o

16

Parâmetro do Sujeito Nulo e uma revisão da literatura acerca das características do sujeito

nulo no PB e no espanhol.

O segundo capítulo, apresenta as principais hipóteses que norteiam o processo de

aquisição/aprendizagem de uma L2 e em que medida ocorre o acesso à GU durante as fases

de aquisição de L2 (White, 2000, 2003), além de abordar a teoria do Bilinguismo Universal

(Roeper, 1999).

O terceiro traz as relações entre a Psicolinguística e a linguística Gerativa (Chomsky,

1981), a descrição dos principais métodos e técnicas da Psicolinguística e, ainda, revisita o

trabalho de Viegas (2014) no qual a autora utiliza a metodologia experimental para apresentar

as possíveis interferências do parâmetro do sujeito nulo do PB sobre o aprendizado de inglês

como L2, por brasileiros.

No quarto capítulo são apresentados detalhadamente os dois experimentos realizados

ao longo desta pesquisa com seus objetivos, hipóteses, previsões, variáveis, condições,

procedimentos, resultados e uma análise teórica dos mesmos.

Por fim, o quinto capítulo traz as considerações finais, bem como alguns dos aspectos

abordados ao longo do trabalho e, ainda as contribuições a serem feitas ao estudo da

interferência da L1 sobre a L2 relacionadas ao Parâmetro do Sujeito Nulo.

17

1 O PARÂMETRO DO SUJEITO NULO

1.1 A Gramática Universal

A Teoria Gerativa estabelece o pressuposto de que apenas a espécie humana seja capaz

de adquirir uma língua, processo que acontece de maneira natural, com relativa rapidez e,

além disso, apresenta grande regularidade a despeito das particularidades idiossincráticas de

cada língua. Neste sentido, a aquisição de uma língua assumiria perspectivas inatas e levaria à

criação do conceito de Gramática Universal (GU). A GU compreende o ponto de partida para

a aquisição de uma língua e caracteriza-se como o estágio inicial da faculdade da linguagem,

um mecanismo inato que permite o acesso aos Princípios Universais e a ativação dos

parâmetros segundo os estímulos recebidos por uma determinada língua ambiente para a

construção da competência linguística, isto é, a língua-I. Neste sentido, o processo de

aquisição da linguagem acontece a partir do momento em que um indivíduo recebe um input

de uma língua-E qualquer, iniciando o processo de parametrização desta língua e, então,

quando esta está totalmente parametrizada por sua GU, esse indivíduo constrói sua

competência linguística.

Os termos língua-I e língua-E foram criados por Chomsky (1986) para fazer uma

distinção entre língua como representação interna, cognitiva, que representa o conhecimento

linguístico - gramática interna – e língua como representação externa, coletiva que simboliza

a língua usada por uma população em seu ambiente linguístico. Esta concepção externalista

de língua corresponde ao que Chomsky chamou de língua-E, uma língua externa interpretada

como idioma no senso comum (cf. KENEDY, 2013, p.29) e concepção internalista de língua

representa a competência linguística de um falante, sua gramática interna, sua língua-I

construída a partir de informações retiradas da língua de seu ambiente e o conhecimento tácito

de sua GU. Assim, um falante exposto a uma língua-E extrai informações desta língua e, a

partir destas informações, constrói na sua mente uma língua-I.

1.1.2 Princípios e Parâmetros

Na tentativa de descrever os mecanismos de funcionamento da GU, Chomsky (1981)

formulou a teoria que estabeleceu a existência de princípios universais invariáveis e de

parâmetros limitados variáveis segundo uma marcação binária (positiva ou negativa), tal

teoria ficou conhecida como a Teoria de Princípios de Parâmetros. Esta teoria sofreu (e sofre)

reformulações no âmbito do Programa Minimalista, assim, os parâmetros relacionados,

primeiramente, aos princípios da gramática passaram a ter relação com as propriedades do

18

léxico – categorias funcionais – responsáveis pelas especificidades das línguas. (AUGUSTO,

2005 apud VIEGAS, 2015).

No Programa Minimalista, Chomsky (1995 e posteriores), com o objetivo de

determinar as propriedades da faculdade da linguagem e como esta faculdade é desenvolvida,

apresenta a estruturação de um novo modelo de gramática (cf. MAIA, 2001). A faculdade da

linguagem seria constituída por um léxico, um sistema computacional e os sistemas de

interface. Neste sentido, o novo modelo de gramática apresentaria níveis de representação

linguística especificados pela GU funcionando como sistemas simbólicos, estes são: o nível

Forma Fonética (FF) que faz interface com o sistema articulatório- perceptual e o nível Forma

Lógica (FL) que faz interface com o sistema conceptual- intencional.

O léxico, que é formado por um conjunto de itens com traços semânticos, fonológicos

e formais passa a ser o responsável por especificar os itens que irão entrar no sistema

computacional, por meio de uma Numeração, gerando a derivação de uma expressão

linguística específica.

Os itens do léxico são decomponíveis em traços: fonológicos, semânticos e

formais. Os traços formais desempenham um papel na sintaxe, já que o

sistema computacional opera sobre traços formais. São traços formais os

traços categoriais (N e V, por exemplo), os traços phi (gênero, número e

pessoa) e os traços estritamente formais (o traço de Caso e o traço EPP do

inglês Extended Projection Principle). Este último pressupõe uma

informação parametrizada relativa à disponibilidade de uma posição de

especificador, para a qual um dado sintagma pode se mover; como, por

exemplo, o DP sujeito. Os traços formais são de dois tipos, os com

motivação semântica - traços-phi e categoriais, e os estritamente formais –

Caso e EPP. (MARTINS, 2007, p.26)

Consequentemente, este novo modelo de gramática estabelece que as representações

linguísticas sejam resultado de derivações geradas no sistema computacional - a partir de

certos traços lexicais e por meio de um conjunto de operações sintáticas (Select, Merge,

Agree/Move) – acessíveis, ao final, aos sistemas de desempenho. Assim, o sistema

computacional seleciona um conjunto de itens do léxico – conhecido como Numeração – para

o espaço derivacional, estes itens serão submetidos à operação Merge que os organizará

criando representações linguísticas complexas e, logo após, a operação Movimento deslocará

parte desta representação linguística complexa segundo as exigências paramétricas de uma

determinada língua, isto é, uma subparte será deslocada de sua posição sintática para outra

mais distante deixando uma cópia na posição original respeitando as propriedades

paramétricas da língua cujas marcações podem ser positiva ou negativa. Então, em algum

19

momento da derivação acontece uma divisão por meio da operação Spell- Out. (cf.YRINO,

1997, MAIA, 2001 e KENEDY, 2013, dentre outros).

Spell-Out é o momento computacional em que a derivação em curso é

retirada do Sistema Computacional e enviada para a FF e FL. Essa

‘operação’ é, na verdade, um ponto de bifurcação da derivação, uma espécie

de fronteira divisória cuja função é identificar quando uma derivação já se

encontra ao ponto de ser enviada para os sistemas que mais diretamente

lidam com as interfaces. (KENEDY, 2013: p. 133)

A Figura 1 abaixo visa demonstrar os elementos que constituem a estrutura da

faculdade da linguagem e o momento no qual a operação Spell-Out acontece.

De acordo com o que foi dito e observado na figura 1 acima, a operação Spell-Out é

responsável por retirar o resultado da derivação do sistema computacional e levá-lo para FF e

FL para que os traços fonológicos e semânticos sejam recuperados. (cf. CYRINO, 1997;

MAIA, 2001; KENEDY, 2013, dentre outros)

Como visto anteriormente, a GU contém princípios universais, rígidos, e parâmetros

flexíveis, associados a propriedades do léxico. Um dos princípios invariáveis da GU é

conhecido como o Princípio de Projeção Estendido (Extended Projection Principle - EPP),

Figura 1: Sistema Computacional, Spell-Out e Níveis de Interface e Desempenho

20

este princípio determina que toda sentença deva obrigatoriamente apresentar uma posição

sintática para o sujeito gramatical, podendo este ser ou não foneticamente realizado, de acordo

com a propriedade paramétrica de cada língua. Ou seja, todas as línguas possuem uma

posição estrutural para o sujeito, mas permitir que este sujeito esteja ou não realizado

foneticamente constitui-se como uma particularidade de acordo com a parametrização de cada

língua. Se uma língua caracteriza-se por apresentar o sujeito pronominal referencial realizado

foneticamente de maneira obrigatória em uma sentença finita, tem-se uma língua de sujeito

preenchido, mas se outra língua apresenta sentenças com o sujeito não realizado

foneticamente como configuração básica em sentenças finitas, tem-se uma língua de sujeito

nulo. O inglês e o francês são exemplos de línguas que preferencialmente preenchem o sujeito

foneticamente, já o espanhol e o PE são exemplos de línguas de sujeito nulo prototípicas.

As línguas românicas de sujeito nulo, como é o caso, por exemplo, do espanhol e do

PE, são caracterizadas assim por apresentar uma marcação paramétrica positiva em relação ao

parâmetro [+ pro drop], ou seja, estas línguas licenciam o apagamento do sujeito admitindo

uma categoria vazia na sua posição, preenchendo foneticamente tal categoria basicamente em

situações de focalização ou de contraste. Já as línguas que preenchem majoritariamente

sujeito, como o inglês1, por exemplo, apresentam uma marcação paramétrica negativa [- pro

drop], sendo conhecidas por línguas de sujeito pleno. Raposo (1992 apud SOARES DA

SILVA, 2006) estabelece o Princípio do Subconjunto, segundo o qual o valor positivo de um

parâmetro possui um subconjunto com valor negativo, sendo assim, uma língua marcada

positivamente em relação ao parâmetro do sujeito nulo como [+pro drop] admite sentenças

com sujeito nulo (língua maior) – uma categoria vazia pro sem realização fonética – e

sentenças com sujeito pleno – preenchido foneticamente - em situações de contraste e

focalização, por exemplo. Por sua vez, as línguas marcadas negativamente em relação ao

parâmetro do sujeito nulo, marcado como [-pro drop], possuem tipicamente sentenças com

sujeito pleno (língua menor), conferindo o status de agramaticalidade na maioria das

sentenças cuja posição de sujeito seja preenchida por uma categoria vazia. Observe a Figura 2

abaixo adaptada de Soares da Silva (2006).

1 O inglês é considerado uma língua [- pro drop] por optar tipicamente pelo preenchimento do sujeito

pronominal, embora existam situações mais restritas em que é possível verificar a ocorrência do sujeito nulo,

como, por exemplo, em notas, telegramas e diários.

21

Então, um indivíduo que recebe um input de uma determinada língua cuja marcação

seja negativa em relação ao parâmetro do sujeito nulo, a exemplo do inglês, terá

majoritariamente acesso a sentenças com sujeito pleno - o que o fará fixar este parâmetro

negativamente na aquisição de sua língua-I. Por outro lado, um indivíduo que recebe um input

de uma determinada língua com marcação positiva em relação ao mesmo parâmetro, a

exemplo do espanhol, terá acesso a sentenças preferencialmente de sujeito nulo e a sentenças

com sujeito pleno em contextos específicos e este fato o fará fixar positivamente este

parâmetro na aquisição de sua língua-I, permitindo o acesso a estas duas marcações, cada qual

em seu ambiente de ocorrência.

1.1.3 O Princípio EPP

O princípio EPP pertence ao quadro de princípios e parâmetros de Chomsky (1981) e

é fortemente relacionado ao caso nominativo por sua exigência estrutural de que alguns

núcleos apresentem seu respectivo especificador obrigatoriamente preenchido, ou seja, tal

princípio é responsável pela projeção da posição sintática para o sujeito nas línguas naturais.

O EPP exige que algum constituinte nominal seja movido para o especificador (spec) de ST2

porque é nesta posição que a identificação do caso nominativo da sentença torna-se possível,

conferindo a esta um sujeito. Observe o exemplo (7), no qual [João] recebe o caso nominativo

e, por este motivo, é reconhecido como o sujeito da sentença.

(7) João comprou um carro.

2 Tempo (T) é uma categoria funcional, acionada no decorrer da derivação sintática, que marca propriedades de

verbo (V) e com isso definem se a sentença é [+ finita] ou [- finita]. Assim, ST corresponde ao sintagma

temporal.

Figura 2: Conjunto e subconjunto de Raposo.

22

Agora observe a Figura 3 abaixo, adaptada de Kenedy (2013), cuja representação

ilustra o movimento de [João] para o spec de ST.

Como é possível observar em 3 acima, o argumento externo [João] foi movido para a

posição funcional de especificador de ST, sendo então licenciado com o caso nominativo e,

assim, identificado como o sujeito gramatical da sentença: João comprou um relógio.

O caso (como nominativo, acusativo, ergativo, locativo, entre outros), segundo

Chomsky (1981), é a propriedade responsável pela identificação dos argumentos - externo ou

interno - selecionados por um predicador. Algumas línguas identificam o caso por meio da

morfologia – línguas de Caso -, outras o fazem pela chamada ordenação linear, isto é, através

da ordem dos constituintes em uma sentença e estas são as línguas de Caso abstrato -, como o

PB, por exemplo, que é considerado uma língua cuja ordenação linear básica é SVO, ainda

que existam as ordens OSV ou OV relacionadas ao tópico3 (cf. PEZZATTI e CAMACHO,

1997, dentre outros). O caso nominativo “identifica o sujeito da sentença, que tipicamente

será o argumento externo do predicador de uma dada frase” (KENEDY, 2013: p. 241). Ao

serem movidos para a posição funcional de ST – especificador de T -, como exemplificado na

figura 3, os argumentos externos de um predicador são licenciados com o caso nominativo

3As mudanças por que passou o PB fazem-no ter uma postura diferenciada em relação ao tópico, de modo que,

quando este aparece numa sentença, geralmente leva à concordância com o verbo, assumindo o status de

“sujeito” da sentença. Para maiores informações sobre tópico ver PONTES (1987), NEGRÃO (1990), VASCO

(1999, 2006), ORSINI (2003) e PINHEIRO-CORREA (2010).

Figura 3: Movimento de um SN para o especificador de ST, licenciando-

o com o caso nominativo.

23

fato que acontece, inclusive, com aqueles predicadores conhecidos por selecionar apenas

argumento interno, como os verbos inacusativos. Seus argumentos também são movidos para

a posição ST a fim de que seja satisfeito o EPP, como no exemplo (8) e (9) abaixo:

(8) [argumento interno Maria] cresceu.

(9) [caso nominativo Ela] cresceu.

Assim, os sintagmas nominais Maria e Ela são deslocados da posição de argumento

interno para a posição de argumento externo a fim de que seja atribuído a eles o caso

nominativo.

Na derivação dessas estruturas intransitivas, os NPs se deslocam da posição

de argumento interno para a posição de argumento externo, uma vez que, na

posição em que os NPs são originalmente gerados, não é possível que

recebam caso. Assim, os NPs, que já receberam papel de tema ou paciente

do verbo, em sua posição de origem, devem se mover para a posição de

especificador de IP para receber caso nominativo, deixando um vestígio nas

suas posições de base, segundo proposto por Keyser & Roeper, 1984;

Roberts, 1987; Di Sciullo, 2005, entre outros. (SANTOS, 2012 p. 14)

Mas, além dos predicadores que selecionam argumento externo e dos que selecionam

argumento interno, existem os verbos que não selecionam argumento como, por exemplo, os

meteorológicos. Para estes o EPP também exige o preenchimento da posição de especificador

de ST, conferindo ao item puramente funcional o caso nominativo e, consequentemente, o

status de sujeito (expletivo) ou, ainda, esta posição será preenchida por um expletivo nulo

representado por uma categoria vazia. Veja-se um exemplo do expletivo it do inglês e do

expletivo nulo do português, respectivamente, em (10) e (11) abaixo.

(10) [expletivo It] rains.

(11) [expletivo nulo__] Chove.

Neste sentido, o princípio EPP estabelece que todas as línguas naturais tenham

obrigatoriamente um sujeito.

Essa obrigatoriedade de identificação do sujeito de uma sentença, com o

nominativo, é representada na linguística gerativa pelo chamado traço EPP.

Tal traço é de fato uma imposição formal do sintagma temporal/flexional:

todo ST deve licenciar um sujeito, em seu especificador, com o caso

nominativo. (KENEDY, 2013: p. 244)

24

Em outras palavras, o EPP exige que o especificador de ST tenha um item movido

para essa posição a fim de receber o caso nominativo e o status de sujeito da sentença e, como

visto ao longo desta seção, este sujeito pode ser lexical, expletivo ou uma categoria vazia a

que chamaremos de pro.

1.1.4 O (Parâmetro do) Sujeito Nulo

O parâmetro do sujeito nulo foi inicialmente apresentado a partir de comparações entre

as línguas românicas de sujeito nulo – línguas pro drop prototípicas – e o inglês – língua de

sujeito pleno – e o licenciamento do sujeito nulo estaria relacionado a uma flexão verbal rica.

Os diversos estudos acerca do parâmetro do sujeito nulo preocupam-se em encontrar as suas

propriedades em diversas línguas a fim de classificá-las como línguas que licenciam o

apagamento do sujeito, tendo uma marcação positiva relacionada a este parâmetro [+ pro

drop], ou línguas nas quais o sujeito aparece foneticamente realizado, tendo, portanto uma

marcação negativa relacionada a este parâmetro, [- pro drop]. Há, ainda, a preocupação em

observar as possíveis transformações nestas propriedades para justificar uma existente

mudança na parametrização de determinada língua.

Chomsky (1981) apresenta uma lista das propriedades que licenciam o apagamento do

sujeito, ou seja, tais propriedades caracterizam uma língua [+ pro drop] e a ausência delas

caracteriza uma língua [- pro drop] (cf. SOARES DA SILVA, 2006). A lista de propriedades

exemplificadas em (12), (13), (14), (15) e (16) abaixo foram retiradas de Chomsky (1981) e

contêm sentenças gramaticais em italiano (língua de sujeito nulo), as respectivas traduções4

para o PB aparecem em (12a), (13a), (14a), (15a) e (16a):

* Sujeito pronominal nulo:

(12) ____ Ho trovato il libro.

(12a) ____ Achei o livro.

* Inversão livre de sujeito:

(13) L’ha mangiato Giovanni.

(13a) comeu o Giovanni. (O Giovanni comeu.)

* Movimento longo de qu- sujeito:

(14) L’uomoi [chei mi domando [chi ____i abbia visto]]

4 Traduzido do inglês.

25

(14a) O homem [que me pergunto [quem ele viu]]

* Pronomes resumptivos nulos em orações encaixadas:

(15) Eco la ragazzai [chei mi domando [chi crede [che ____i possa SV]]]

(15a) Essa é a garota [que eu me pergunto [quem pensa [que pode SV]]]

* Aparentes violações do filtro *[that-trace]:

(16) Chii credi [che ____i partirà]

(16a) Quem você acha [que vai sair]

Observando os exemplos em italiano acima é possível verificar as propriedades típicas

das línguas pro drop prototípicas que não estão presentes em línguas de sujeito preenchido,

como o inglês e o francês, por exemplo. Contudo, o PB também tem apresentado

comportamento distinto com relação a estas propriedades (DUARTE, 1995, 2003) fato que

será tratado na seção que se segue.

Em línguas pro drop prototípicas, segundo Chomsky (1981) há uma correlação entre o

paradigma flexional rico e as propriedades exemplificadas acima e o sujeito só aparecerá

expresso foneticamente em casos de contraste, para desfazer ambiguidades ou, ainda, em

casos de ênfase porque o sujeito nulo é uma forma default5, ou seja, uma forma não marcada.

Assim, para Chomsky (1986) uma categoria pro, sem realização fonética pode representar o

sujeito e tal categoria vazia6 aparece em oposição aos sujeitos lexicais, com referência

específica ou expletivos.

Esta categoria vazia, sem realização fonética, que apresenta uma matriz

gramatical atribuída a partir de traços relativos a número, gênero, pessoa e

caso, pode ser interpretada como um pronome referencial, o qual pode

apresentar valores definidos, ou referência arbitrária, ou pronome expletivo,

quando não possui nenhum tipo de significação ou referência. (VIEGAS,

2014, p.36)

Podemos observar o que isto significa através dos exemplos (17), (18) e (19) abaixo:

5 Para Xavier (1999 apud VIEGAS, 2014) existem diferentes tipos de línguas pro-drop: o italiano é considerado

um exemplo do pro-drop prototípico; o chinês, pro-drop unipessoal e o PB pro-drop misto. Em línguas pro-drop

prototípicas, a concordância é responsável por identificar o sujeito nulo; em línguas pro-drop unipessoais o

sujeito nulo é o default e, em línguas semi- pro-drop, como o PB os sujeitos nulos são os nulos não-argumentais

ou expletivos e o nulo referencial de 3ª pessoa.

6 Chomsky aponta, ainda, outras categorias vazias, tais como t e PRO.

26

*pronome referencial de valor definido

(17) pro Fomos ao cinema.

*pronome de referência arbitrária

(18) pro Roubaram o carro do vizinho.

*pronome expletivo sem significação ou referência

(19) pro Parece que meu vizinho está mal.

Línguas de sujeito pleno, como o inglês, preenchem obrigatoriamente os sujeitos

referenciais (lexicais), ao contrário das línguas de sujeito nulo, que utilizam a categoria vazia

pro com valores gramaticais ocupando a posição de sujeito. Neste sentido, como será possível

verificar mais adiante, há uma correlação entre o paradigma flexional dos verbos com o

parâmetro do sujeito nulo, isto significa que línguas de sujeito nulo teriam uma morfologia

flexional rica e, por isso, licenciariam a categoria vazia pro, porque permitem a recuperação

da informação pela desinência e as línguas de sujeito pleno justificariam o preenchimento da

categoria de sujeito pelo fato de possuírem uma morfologia flexional pobre (cf. DUARTE,

1995).

Contudo, é importante ressaltar que existem línguas como o chinês, por exemplo, que

permitem a omissão do sujeito apesar de apresentar uma flexão verbal pobre, sem qualquer

marca flexional no paradigma verbal. De acordo com Huang (1984), esta é uma língua

orientada para o discurso e, por este motivo, o sujeito tem natureza discursiva, ou seja, é

deduzido através do contexto. O mesmo parece ocorrer com a LIBRAS, que embora seja,

segundo Dias (2014), uma língua com alta frequência de sujeitos nulos, orientada para a

sentença, o sujeito também tem natureza discursiva e pode ser deduzido através do contexto.

No entanto, Rizzi (1986) apresenta a existência de um paradigma flexional rico como

condição imprescindível para a ocorrência do sujeito pronominal nulo, visto que um módulo

formal licenciaria este sujeito, enquanto um módulo semântico se encarregaria de recuperar a

informação através do contexto. Assim, só seria permitida a ocorrência de um sujeito

pronominal nulo em línguas que possuem a capacidade de licenciá-lo.

Jaeggli e Safir (1989) sugerem, por outro lado, que um paradigma flexional rico não

seria exatamente responsável por licenciar o sujeito nulo, mas a condição necessária para o

licenciamento seria a existência de paradigmas morfologicamente uniformes, isto é, quando o

paradigma verbal apresenta todas as formas flexionadas, o sujeito é identificado através da

27

concordância e pode não aparecer foneticamente realizado, mas quando o paradigma flexional

não apresenta todas as formas flexionadas, o sujeito seria identificado através do contexto

pelo tópico discursivo. E, ainda, para os autores, línguas de paradigma verbal misto, que

apresentam formas morfologicamente complexas e simples, não licenciam o sujeito.

Duarte (1995) baseia-se nas pesquisas de Roberts (1993) para justificar a mudança

pela qual passa o PB semelhante ao que aconteceu no francês antigo que possuía um

paradigma funcionalmente rico compatível com uma desinência zero e isto possibilitou a

convivência com o sujeito nulo até que mudasse definitivamente a sua marcação para [- pro

drop]. Para Roberts (1993) um paradigma verbal rico admite uma desinência zero e um

sincretismo (formas iguais que se referem a diferentes pessoas) mantendo uma riqueza

funcional que permite o licenciamento e a identificação de sujeitos.

Para Duarte (1993, 1995), o PB, anteriormente considerado como uma língua de

sujeito nulo sofreu algumas mudanças morfossintáticas, tais como a perda da inversão livre,

que permite manter o sujeito em posição pós-verbal (Chomsky, 1981), e a perda do princípio

“Evite Pronome”, que permite não realizar o sujeito foneticamente sempre que a sua plena

identificação seja possível, isto é, a prioridade sempre incide na utilização do pronome nulo,

mas em situações de focalização ou contraste é feita a utilização do pronome pleno. Com isso,

o PB tem apresentado a preferência pelo sujeito preenchido em todas as pessoas gramaticas,

inclusive na primeira, cuja flexão verbal permitiria facilmente a identificação do sujeito, e

esse fato teria levado o PB a perder o status de uma língua pro drop prototípica, como é o PE,

e a caminhar na direção das línguas de sujeito pleno. A redução do paradigma flexional dos

verbos a partir da perda de “tu” e “vós” e da substituição de “nós” por “a gente”, permitindo

a utilização da mesma forma verbal de terceira pessoa “ele” para a primeira pessoa “a gente”,

como exemplificado na Tabela 1 abaixo, resultou em mudanças relacionadas à identificação e

ao licenciamento do sujeito nulo de referência definida ocasionando a perda gradativa do

Princípio “Evite Pronome”.

28

Pess./N.º Pronome Séc. XVI Contemporâneo

Contemporâneo

(jovens)

Variedade

Popular

1ª sing. Eu canto canto canto canto

2ª sing. Tu

Você

cantas

canta

-

canta

-

canta

-

canta

3ª sing. Ele/Ela canta canta canta canta

1ª plur. Nós

A gente

cantamos

canta

cantamos

canta

cantamos

canta

-

canta

2ª plur. Vós

Vocês

cantais

cantam

-

cantam

-

cantam

-

canta

3ª plur. Eles/Elas cantam cantam cantam canta

Tabela 1: Quadro flexional e pronominal em PB adaptado de Duarte (1995)

O PB teria reduzido, de acordo com Duarte (1995), o seu quadro flexional de seis para

quatro formas – presente na fala de pessoas cuja faixa etária é mais elevada – ou para três

formas na fala de pessoas mais jovens e, ainda, “nas variedades em que se associa a

desinência <Ø> também a segunda e à terceira pessoas do plural, apenas duas” (cf. DUARTE,

1995, p.33) fato que induziria ao preenchimento da categoria pro.

Nesta subseção, vimos algumas características importantes relacionadas ao Parâmetro

pro drop para compreender o que seria uma língua de sujeito nulo e uma língua de sujeito

pleno, neste sentido o termo (LSN) será doravante utilizado para designar as línguas de sujeito

nulo que são marcadas positivamente [+ pro drop] com relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo

(PSN), pro drop.

1.2.1 Sujeito nulo no PB

A observação dos exemplos em italiano retirados de Chomsky - seção anterior -, nos

quais se apresentam as propriedades das línguas pro drop prototípicas, possibilitou a

averiguação de que o PB tem apresentado comportamento distinto de tais línguas e verificam-

se mudanças em relação a algumas destas propriedades. Observe nos exemplos (20), (21),

(22), (23) e (24) abaixo como se comporta o PB diante das propriedades ora citadas nos

exemplos retirados de Chomsky.

(20) Eu achei o livro.

(21) O Giovanni comeu./ O Giovanni que comeu.

(22) O homem que me pergunto quem ele viu.

29

(23) Essa é a garota que eu me pergunto quem pensa que ela pode...

(24) Quem você acha que ____ vai sair./ *Quemi você acredita que elei vai sair.

Segundo Duarte (1995), o PB estaria passando por uma mudança na marcação do PSN

apresentado tipicamente a preferência por preencher o sujeito pronominal em todas as pessoas

gramaticais, ainda que, na primeira pessoa, por exemplo, a flexão verbal possa permitir a

retomada dos sujeitos referenciais com mais clareza do que as outras pessoas gramaticais,

como exemplificado em (20). Além disso, o PB teria perdido a propriedade de “inversão

livre” para verbos transitivos (BERLINCK, 1989 apud MARINS, 2009), preferindo a ordem

linear SVO, já que rejeita o verbo em primeira posição com pronome nulo referencial ou

expletivo nulo como ilustrado em (21) (DUARTE, 2005) e, ainda, de acordo com Duarte

(1995), o PB apresenta preferência por pronomes resumptivos em orações encaixadas, como

em (22) e (23), contudo, com relação ao filtro that-trace, o PB tem apresentado

comportamento semelhante ao italiano não respeitando tal filtro, já que o pronome ele

expresso correferente ao pronome quem torna a sentença agramatical como em (24).

Outro fator importante relacionado à mudança na marcação do PSN no PB consiste

ainda na verificação do tempo verbal. Neste sentido, observou-se que em tempos verbais cujas

desinências possuem maior distinção a ocorrência de sujeito nulo é maior, por outro lado, em

tempos verbais com desinências menos distintas, maior é o índice de sujeito pleno. Assim, o

pretérito perfeito nos termos de Duarte aparece como o tempo verbal que mais favorece a

ocorrência de sujeito nulo, visto que 39% das orações neste tempo têm seu sujeito nulo,

seguido do pretérito imperfeito com 27% e do presente com 26% (cf. DUARTE, 1995). Estes

percentuais sugeririam que “as desinências do pretérito perfeito resistem mais ao degaste pelo

qual passa o paradigma flexional”. (DUARTE, 1995, p.57).

As investigações feitas por Duarte (1993, 1995), que apontam para uma possível

mudança paramétrica do PB foram feitas com textos de peças de teatro escritos em sete

períodos diferentes entre o final do século XIX e o século XX. Há, segundo a autora, uma

grande relação entre a preferência pelo sujeito pleno e a redução do paradigma flexional de

seis para três formas verbais, como visto na tabela 1. Contudo, é importante ressaltar que,

segundo Ferreira (2000), o PB não apresenta sujeito preenchido em todos os tipos de

sentenças, visto que ainda admite sujeito nulo, representado por um proexpl em situações

específicas tais como sentenças com verbos meteorológicos, impessoais, existenciais e de

alçamento, como mostram os exemplos abaixo (25- 28).

(25) pro Trovejou muito hoje.

30

(26) pro É verão no Brasil.

(27) pro Tem um homem na sala.

(28) pro Parece que a universidade entrará em greve.

Assim, Ferreira (2000) sugere que o PB tem apresentado mudanças que impossibilitam

a ocorrência de uma categoria vazia na posição de sujeito de orações finitas, fato que o afasta

de LSN prototípicas, como o espanhol, mas, além disso, o PB mantém características que o

distanciam de línguas prototípicas de sujeito preenchido, como o inglês e o francês, visto que

“admite sujeitos nulos expletivos e indefinidos, mas não sujeitos nulos referenciais” 7. Isto,

segundo Duarte (2003a apud VIEGAS 2014), parece indicar que itens não referenciais

resistiriam mais ao preenchimento do sujeito, ao contrário dos itens referenciais. Tais

características, então, permitem dizer que o PB estaria num processo de mudança linguística

relacionada ao PSN e, por isso, não tem se comportado como uma LSN prototípica sendo

considerado por alguns autores (Duarte, 1995 e Kato, 1999) como uma língua pro drop

parcial.

1.2.2 Sujeitos referenciais

Existe no PB de acordo com Duarte (1995) a preferência pelo preenchimento do sujeito em todas as

sujeito em todas as pessoas gramaticais, contudo, nota-se que o índice de preenchimento do sujeito se dá

sujeito se dá em maior número na primeira e na segunda pessoa, já a terceira pessoa se mostra mais

mais resistente à mudança do PB, isto é, tal resistência parece estar relacionada ao traço [+/- animado] do

animado] do referente. Segundo Cyrino, Duarte e Kato (2000) há uma hierarquia de referencialidade

referencialidade determinando que itens mais referenciais – a primeira e a segunda pessoa – cujos traços

cujos traços são [+ humano] [+ específico] e [+ referencial] ocupam a posição mais alta da hierarquia

hierarquia sendo mais suscetíveis à mudança, enquanto a terceira pessoa que apresenta os traços [+/–

traços [+/– humano], [+/– específico] seria mais resistente à mudança. Na

Figura 4 abaixo podemos ver a hierarquia da referencialidade proposta por Cyrino,

Duarte e Kato (2000: p. 57).

7 Como é possível verificar com os exemplos abaixo retirados de Ferreira (2000: p. 15)

(1) a. Está chovendo.

b. Mataram o prefeito.

c. Não usa mais saia no Brasil.

d. * Comprou um carro novo.

Para que a sentença (1 d) se torne gramatical, é preciso introduzir um pronome pleno (ele ou você, por exemplo).

31

Figura 4: Hierarquia da Referencialidade de Cyrino, Duarte e Kato.(2000)

Assim, de acordo com Duarte (2003), “o traço [+ humano] se mostra como

favorecedor do preenchimento do sujeito, confirmando a atuação da hierarquia referencial

proposta em Cyrino, Duarte & Kato (2000)”. Neste sentido, uma vez que se verifica a

hierarquia de referencialidade dando conta de processos de mudança relacionados à

pronominalização, é possível perceber que os sujeitos não referenciais cuja posição é a mais

baixa como visto na figura acima, apresentam enorme resistência ao preenchimento do sujeito

por um pronome expletivo lexical no PB. Sujeitos não referenciais permanecem nulos em PB

representados por um proexpl. (FERREIRA, 2000) em sentenças com verbos meteorológicos,

impessoais, existenciais, de alçamento e apresentativas (VIEGAS, 2014), como em (25 - 28)

na seção anterior e (29) abaixo.

(29) pro Apareceu uma barata no armário.

Vale ressaltar que tanto o proexpl do PB quanto o “It” expletivo do inglês, por exemplo,

existem apenas por motivos estruturais a fim de que seja satisfeito o EPP. E este fato reforça

ainda mais o que dizem Duarte (1995) e Kato (1999) sobre o PB apresentar um status de

língua pro drop parcial, diferente de línguas de sujeito preenchido como o inglês e, ainda

diferente de línguas pro drop prototípicas como o espanhol, visto que, como observado na

seção anterior, o PB perdeu algumas propriedades responsáveis por caracterizar uma língua

prototipicamente pro drop e mantém apenas os sujeitos nulos não referenciais como

característica semelhante a estas línguas. Veja em (30), (31) e (32) exemplos de expletivos

nulos do PB e do espanhol e pleno do inglês.

(30) pro Chove muito no Rio.

(31) pro Llueve mucho en Río.

(32) It rains a lot in Rio.

32

Contudo, para Duarte (2003) o PB parece buscar naturalmente outras formas de

preenchimento do sujeito não referencial ou expletivo

[...] seria natural esperar que os sujeitos não referenciais ou expletivos

começassem também a se realizar foneticamente, apresentando nosso

sistema um conjunto de estruturas em que tal posição, antes categoricamente

vazia, passaria a se mostrar preenchida. Entre as estratégias apresentadas em

Duarte (1997, 1999, 2000) como possíveis recursos para evitar a posição de

expletivo nulo, foi apontada a significativa ocorrência do pronome você com

os verbos ter e ver em construções variantes daquelas que exibem os verbos

ter e haver existenciais. (Duarte, 2003, p.2)

como exemplificado em (33)8,

(33) a. _____ Há/Tem muito concreto na tua frente

b. Você vê muito concreto na tua frente.

Assim, as sentenças com a posição de sujeito nula, como em (a), passariam a ter o

sujeito pleno como em (b). Neste sentido, o PB caminha rumo às línguas de sujeito pleno e

em algum momento pode deixar de ser uma LSN parcial para ser uma língua com todas as

características das línguas de sujeito pleno.

1.2.3 Sujeitos referenciais de 3ª pessoa

Pesquisadores como Duarte (1995) e Ferreira (2000) afirmam que o PB teve uma

enorme redução com relação às possibilidades de utilização do sujeito nulo, visto que sujeitos

pronominais de referência definida e indeterminada têm sido caracterizados por preferir o

sujeito pleno. Assim, restaria a possibilidade de sujeitos nulos a uma pequena parte, tais como

os sujeitos não referenciais ou expletivos. No entanto, Duarte (1995) aponta o fato de os

sujeitos referenciais de terceira pessoa serem mais resistentes ao processo de mudança em

curso no PB rumo ao sujeito pronominal pleno e, segundo Ferreira (2000) e Rabelo (2010), o

sujeito nulo referencial de terceira pessoa só é possível quando há um antecedente numa

sentença matriz, como em (34).

(34) Meu paii disse que ___i viu meu carro na rua.

Entretanto, para Ferreira (2000), o sujeito nulo referencial no PB não corresponde a

um pronome nulo, tampouco a uma categoria vazia, e sim a vestígios causados pelo

alçamento para uma sentença mais alta, visto que sentenças como (35) precisam ser

8 Exemplos retirados de Duarte (2003).

33

encaixadas em outra oração que contenha um elemento para servir de antecedente ao sujeito

como em (36), caso contrário, são agramaticais.

(35) *comprou uma casa.

(36) O Luizi disse [que ____i comprou uma casa].

Ferreira (2000) defende, então, que estes vestígios são cópias apagadas

fonologicamente como resultado do um alçamento de um DP sujeito de uma oração finita

para o spec de T de uma oração mais alta.

[...] as instâncias de sujeito nulo referencial encontradas em PB não

correspondem a um pronome nulo, nem a uma categoria vazia vinculada a

um operador nulo, mas sim a um vestígio, resultado de uma operação de

alçamento a partir da posição de especificador de T finito para uma oração

mais alta (hiperalçamento, na terminologia de Ura (1994)). (FERREIRA,

2000, p.16)

Assim, é possível verificar como aconteceria a derivação até que se tenha como

resultado o exemplificado em (36). Veja abaixo em (37)

(37) a. [vP Luiz comprou uma casa].

b. [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa.]]

c. [vP disse [CP que [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa.]]]]

d. [vP Luiz disse [CP que [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa. ]]]]

e. [TP Luiz T [vP Luiz disse [CP que [TP Luiz T [vP Luiz comprou uma casa.]]]]]

Neste sentido, é possível compreender que a redução no paradigma flexional dos

verbos tenha influenciado a diminuição de sujeitos nulos no PB, tal como postula Duarte

(1995), uma vez que estes só aparecem em orações encaixadas como em (36) e não aparecem

em orações matrizes como em (35). Para Ferreira (2000, p. 20), o sujeito nulo de terceira

pessoa no PB deve estar localizado em uma oração encaixada como uma condição necessária

para a sua legitimação, mas, além disso, o sujeito nulo referencial no PB deve estar c-

comandado9 por um antecedente na oração imediatamente mais alta, como em (38).

(38) Mariai acha [que ___i é linda].

9 O termo c-comando representa o vínculo sintático entre dois constituintes, no qual um constituinte x c-comanda

um constituinte y de acordo com um ponto de referência, ou seja, um nódulo sintático qualquer, isto é, o

primeiro elemento que domina um item também é o primeiro elemento que domina outro. No caso do exemplo

(38) o elemento Maria c-comanda a categoria vazia, ou seja, o sujeito nulo é c-comandado por seu antecedente

na oração imediatamente mais alta. (cf. REINHART, 1976)

34

1.3 Sujeito nulo no espanhol

O espanhol caracteriza-se por ser uma língua de sujeito nulo, isto é, uma língua pro

drop prototípica por apresentar a marcação positiva típica destas línguas, visto que manifesta

a obrigatoriedade em deixar a posição de sujeito nula em orações finitas não marcadas,

sobretudo com relação à categoria pronominal. Aponta-se que tal característica seja resultado

da existência de uma riqueza flexional nesta língua, como apresenta Fernández Soriano (1999

apud SOARES DA SILVA, 2006, p. 42):

El español permite omitir los pronombres de sujeto, esto es,

junto a una oración como Ella ha venido existe la posibilidad de

la paralela sin pronombre, Ha venido (...) Así, nuestra lengua

difiere de otras, como el inglés, que sólo permiten, con verbos

conjugados, construcciones en que el sujeto aparece expresado (He saw her).

Esta posibilidad, que se da también en italiano y en otras lenguas no

emparentadas, se ha puesto en relación con la riqueza que presenta el

paradigma verbal, es decir, con el hecho de que la desinencia flexiva del

verbo permita, por sí sola, distinguir entre las distintas personas

gramaticales. (FERNANDEZ SORIANO, 1999, p.1224)

Ao contrário do PB, o espanhol possui, nos termos de Duarte (1995), um paradigma

flexional rico que permitiria a categoria vazia recuperar os traços gramaticais de

licenciamento e identificação, isto, segundo Soares da Silva (2006), permite a possibilidade de

apagamento do pronome em todas as seis pessoas gramaticais. Assim, de acordo com Rizzi

(1986 apud VIEGAS, 2014, p.37), “o módulo formal licenciador visa especificar as condições

de ocorrência da categoria vazia e o módulo semântico licenciador especifica como o

conteúdo da categoria vazia será recuperado pelo contexto linguístico”.

Neste sentido, a flexão do verbo tem traços pronominais que permitem o

preenchimento de sujeitos referenciais ou expletivos por uma categoria vazia, sem realização

fonética, que pode recuperar os traços gramaticais de gênero, número, pessoa e caso. Veja a

Tabela 2 abaixo com o quadro pronominal e flexional do espanhol peninsular.

35

Pess./N.º Pronome

1ª pess. sing. Yo canto

2ª pess. sing. Tú cantas

3ª pess. sing. Él/ Ella/ Ello

Usted

canta

canta

1ª pess. plural Nosotros/ Nosotras cantamos

2ª pess. plural Vosotros/ Vosotras cantáis

3ª pess. plural Ellos/ Ellas

Ustedes

cantan

cantan

Tabela 2: Quadro pronominal e flexional do espanhol adaptado de Soares da Silva (2006)

Para Duarte (1995) o espanhol, como LSN prototípica, apresenta a obrigatoriedade em

deixar a categoria de sujeito referencial vazia, ocorrendo a realização fonética do sujeito

pronominal apenas em situação marcada, para desfazer ambiguidades, marcar ênfase ou em

situações de contraste. Isto se deve ao fato de o espanhol possuir um paradigma pronominal

nominativo com traços de número e pessoa e, ainda, marca de gênero, como é possível

observar na tabela 5. Segundo Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA, 2006), os

pronomes de primeira e segunda pessoa do plural em espanhol também se flexionam em

gênero, devido à união do adjetivo otro(a) às formas primitivas nos e vos (nosotros, vosotros),

que se deu no final do século XV. Para Rizzi (1989) e Jaeggli & Safir (1989 apud SOARES

DA SILVA, 2006), o espanhol encaixa-se no grupo de LSN, visto que, possui a categoria

Agr10 caracterizada como [+ pronominal] porque não projeta o especificador de ST, já línguas

de sujeito pleno, como o inglês são [- pronominal] porque projetam o especificador de ST

representado por um pronome fraco e quando o sujeito é expresso por um pronome numa

LSN, este pronome é forte. Assim, o sujeito pronominal pleno numa língua de marcação

positiva em relação ao PSN tem a característica de ser forte e ocupar a mesma posição alta

que ocupa nas línguas de sujeito pleno e nestas línguas marcadas negativamente em relação

ao PSN, o pronome fraco aparece à esquerda e pode ser duplicado por um pronome forte

(KATO, 1999 apud SOARES DA SILVA, 2006).

De acordo com Raposo (1992) “o sistema gramatical formal das línguas naturais

especifica de modo discreto a sua categoria Agr como ‘forte’ ou ‘fraca’. Em línguas de Agr

forte, como é o caso do espanhol peninsular, pro é licenciado e em línguas de Agr fraco, como

o inglês, pro não é licenciado”. Neste sentido, é possível perceber que o traço EPP é satisfeito

10 Agree = marca flexional que é responsável pela concordância

36

em espanhol através do preenchimento da categoria de sujeitos, tanto referenciais como

expletivos, por pro.

1.3.1 Sujeito pronominal no espanhol

O espanhol peninsular permite que o sujeito não realizado foneticamente ocorra em

todas as pessoas gramaticais e, segundo Fernández Soriano (1999 apud SOARES DA SILVA,

2006) em todos os tempos verbais, exceto nas formas impessoais, isto é, as que não

selecionam argumento, como exemplificado em (39) abaixo.

(39) Hace calor hoy.

(Faz calor hoje.)

Tal fato vem sendo atribuído ao paradigma de flexão verbal rico nesta língua já que

sujeitos referenciais e expletivos são nulos. Veja em (40) e (41), respectivamente.

(40) ____ comimos mucho./ ____ llaman al teléfono.

(Comemos muito.)/ (Chamam ao telefone./Alguém está ligando.)

(41) ____ Es necesario comer más./ ____ Llueve.

(É necessário comer mais.)/ (Chove.)

Dentre as possibilidades de ocorrência de sujeito foneticamente realizado em

espanhol, é importante destacar que este somente se refere a pessoas, ou seja, não existe a

possibilidade de um sujeito pleno retomar um referente inanimado, porque neste caso existe a

obrigatoriedade de manter o sujeito nulo, como no exemplo (42) abaixo.

(42) He visto el móvil de María. _____ Tiene una interfaz sencilla.

Ao contrário do que se observa em PB. Veja o exemplo acima utilizado em (43)

abaixo no PB.

(43) Vi o celular de Maria. Ele tem uma interface simples.

Desta maneira, é possível observar que o espanhol peninsular é uma língua pro drop

prototípica, que preenche obrigatoriamente os sujeitos referenciais apenas em situações de

foco contrastivo, quando o pronome se associa a um elemento adjetival ou apositivo, como

ora exemplificado, respectivamente em (44), (45) e (46) abaixo (Rizzi, 1998).

(44) ¿Quién fue? (Quem foi?)

Fuimos nosotros. (Fomos nós.)

37

(45) Ella, que está hambrienta, puede comer ahora. (Ela, que está faminta, pode comer

agora).

(46) Él mismo lo resolvió. (Ele mesmo resolveu.)

Contudo, de acordo com Luján (1999 apud SANTOS, 2013), sempre que houver uma

sentença com sujeito pleno em espanhol, este será distintivo ou contrastivo e denotará ênfase.

Em (47) é possível observar um exemplo de (foco) contrastivo.

(47) Él trabaja demasiado. (No otro)

(Ele trabalha muito. (Não outra pessoa))

Para a autora, quando o sujeito pleno aparece anteposto ao verbo possui função

distintiva, mas se aparecerem após verbo expressa contraste, como nos exemplos (48) e (49),

respectivamente.

(48) Ella no puede comer pan. (Pero yo puedo comerlo).

(Ela não pode comer pão. (Mas eu posso))

(49) Ha visto la película usted11. [No ella, no María]

(O senhor viu o filme. (Não ela, não Maria))

O espanhol peninsular preserva todas as características de uma língua pro drop

prototípica, semelhante ao PE, ao contrário do PB que vem sendo considerado uma LSN

parcial. Dias (2008) utiliza um corpus de língua escrita para comparar quatro línguas,

espanhol (de Buenos Aires), italiano, PE e PB, a fim de verificar as taxas de sujeito nulo

nestas línguas e o PB se distancia das demais com um número bem menor de ocorrência do

sujeito nulo, enquanto o espanhol se aproxima do italiano e do PE no na utilização do sujeito

pronominal nulo.12

11 O pronome de cortesia de segunda pessoa, usted apresenta propriedades diferentes dos outros pronomes

pessoais. Ele não é associado a uma marca flexional distintiva, uma vez que se combina com a desinência verbal

Ø. Isso, entretanto, não impede que o pronome seja omitido: seu preenchimento só ocorre quando há

necessidade de o falante reforçar a sua atitude de respeito ou para desfazer uma interpretação ambígua, já que

não há desinência distintiva (FERNÁNDEZ SORIANO, 1999, 1235). 12 Ver Dias (2008).

38

2. AQUISIÇÃO DE SEGUNDA LÍNGUA

2.1 A aquisição de L2

Estudos gerativistas têm investigado o que há em comum entre a representação de uma

gramática de L1 e uma de L2. Ao contrário do que acontece com a aquisição da língua

materna por uma criança, o processo de aquisição de uma segunda língua por um adulto

parece acontecer de maneira mais custosa e pouco natural, visto que, os aprendizes de uma L2

nem sempre são bem-sucedidos na sua tarefa de aquisição e, por isso, muitas vezes sua

gramática diverge da de um falante nativo (cf. SAMPAIO, 2011, dentre outros).

Para White (2003a apud VIEGAS, 2014) a aquisição de uma L2 é semelhante à

aquisição de L1 porque necessita de acesso a um sistema que represente o input da L2 e,

ainda, os aprendizes de L2 constroem representações mentais que vão além do input a que são

expostos, já que na gramática existem propriedades abstratas, complexas e sutis não

determinadas pelo input. Tal processo levaria o aprendiz a construir a gramática da

interlíngua, que, segundo Selinker (1972 apud XAVIER, 2006), é sistemática, regida por

regras e, não necessariamente, determinada pela L1 ou L2:

Essa gramática pode possuir traços da L1 e da L2 ou de nenhuma delas.

Mesmo não apresentando traços de L1 e/ou L2, essa gramática se conforma

com as restrições universais sobre a língua, ou seja, é uma gramática prevista

pela GU. (XAVIER, 2006, p.101)

Além disso, aprendizes de L2 em estágio avançado atingiriam um nível de

competência linguística que permitiria a comparação ao nível de um nativo (BIRDSONG,

1992 apud XAVIER, 2006). Todavia, a aprendizagem de uma L2 pode envolver processos

totalmente diferentes da aquisição de uma L1, visto que a GU já não está mais acessível ao

aprendiz de uma segunda língua, apenas o conhecimento já adquirido da L1. (cf. CLAHSEN:

MUYSKEN, 1986)

De acordo com Xavier (2006) existem diferentes propostas acerca do acesso à GU no

contexto de aquisição de L2, visto que, neste momento, já existe na mente do aprendiz adulto

a sua gramática da L1. Neste sentido, segundo Viegas (2014) algumas teorias defendem que o

estado inicial de uma L2 é a gramática da L1, outras defendem que a aquisição de uma L2

acontece como a aquisição de L1. (cf. SCHWARTZ E SPROUSE, 1994, 1996; VAINIKKA E

YOUNG-SCHOLTEN, 1994, 1996, EPSTEIN et. al., 1996, dentre outros).

39

White (2003) apresenta as principais teorias segundo as quais o aprendiz acessa aos

parâmetros fixados na gramática da sua L1 durante o processo de aquisição de uma L2, isto é,

o estado inicial desta L2 será a própria L1. A saber, hipótese da Transferência e Acesso Total

(Full Acess/ Full Transfer), hipótese de Árvores Mínimas (Minimal Trees) e a hipótese dos

Traços não Valorados (Valueless Features). A autora, ainda, apresenta a hipótese do Acesso

Total (sem transferência) (Full Acess (Without a Transfer)) segundo a qual o aprendiz de L2

tem acesso total a GU, sem nenhuma interferência de qualquer propriedade da gramática da

L1 no estado inicial da interlíngua.

2.1.2 Hipótese da Transferência e Acesso total (Full Transfer and Full Acess)

Segundo Schwartz e Sprouse (1994, 1996 apud XAVIER, 2006), o estado final da

gramática da L1, com suas projeções funcionais e propriedades abstratas, compreende o

estado inicial da interlíngua na aquisição de uma L2 e o desenvolvimento da segunda língua é

decorrente por parte do input e parte do estado inicial e da GU. A partir da primeira exposição

aos dados do input da língua, o aprendiz de L2 transfere os valores dos parâmetros presentes

na gramática da sua L1 generalizando-os para a L2, ocorrendo o acesso total. Contudo,

quando a gramática da L1 não satisfaz as propriedades do input da L2, este força a

reestruturação da gramática do estado inicial de maneira que o aprendiz tenha, neste

momento, acesso às opções da GU não instanciadas na L1, incluindo novos parâmetros,

categorias funcionais, valores e traços. Assim, de acordo com os autores, a transferência total

acontece porque todas as propriedades da gramática da L1 são transferidas para a gramática

da L2 e, ainda, o acesso total acontece porque a gramática da interlíngua que difere da L1 será

construída pela GU. Veja na

Figura 5 abaixo modelo de Transferência Total e Acesso Total

retirado de White (2003).

L2 PLD13

Figura 5: Modelo Full Transfer and Full Access (White, 2003, p.61)

13 PLD = Primary Linguistic Data (Dados Linguísticos Primários). Os Dados Linguísticos Primários

correspondem aos dados do input da língua, isto é, segundo Chomsky (1965 apud Simioni, 2007) a partir do

contato entre PLD e o estado inicial da Faculdade da Linguagem, emerge a gramática da língua. Observe o

esquema abaixo retirado de Simioni (2007, p. 24)

Primary Linguistic Data (PLD) B Generative Grammar

GU

S0=L1 Ss IL Gn IL Ss

IL1 G1

40

De acordo com o modelo de White (2003) representado na figura 6 acima, o estado

inicial de uma L2 é a gramática da L1 com suas propriedades abstratas. Ao entrar em contato

com o input da L2, o aprendiz transfere as estruturas de sua L1 para construir a sua gramática

da interlíngua (IL), mas, na medida em que não encontra na L1 estruturas equivalentes à L2,

este aprendiz acessa à GU e vai reestruturando sucessivamente a sua gramática da interlíngua

(IL G1 a IL G n), fixando novos parâmetros até resultar no estado final da sua interlíngua (IL

Ss). Neste sentido, White (2003a apud VIEGAS, 2014) aponta como evidência de que o

estado inicial da L2 é a L1, o fato de haver propriedades da L1 na gramática da interlíngua e,

ainda, o fato de aprendizes de uma mesma L2 com L1 diferentes apresentarem

comportamentos distintos. Contudo, caso apresentem comportamentos semelhantes

relacionados a algum fenômeno em particular na L2, isto se justifica através da restruturação

que a gramática da interlíngua faz ao interagir com a GU, em resposta às propriedades do

input da L2 e isso possibilitará que as propriedades relevantes das duas gramáticas desses

aprendizes de L2 com L1 diferentes possam convergir.

2.1.3 Hipótese de Árvores Mínimas (Minimal Trees)

Embora a hipótese de Árvores Mínimas de Vainikka e Young Scholten (1994, 1996)

defenda - assim como a hipótese de Transferência e Acesso Total - que o estado inicial da L2

seja a gramática da L1, estas duas hipóteses divergem, pois para aquela, somente parte da

gramática da L1 integra o estado inicial da L2. De acordo com White (2003a apud VIEGAS,

2014) os autores postulam que as gramáticas nos estágios iniciais são diferentes das

gramáticas nos estágios finais, porque não apresentam algumas propriedades cujo surgimento

só se dará ao longo do desenvolvimento. De acordo com esta hipótese de Vainikka e Young

(1994, 1996 apud WHITE, 2003) as categorias funcionais da L1 não podem ser transferidas

para o estado inicial da L2, visto que a gramática inicial da interlíngua não tem aspectos

funcionais, somente categorias lexicais. No entanto, o conjunto completo das categorias

funcionais ficaria disponível para que os aprendizes de L2 as adicionem gradativamente à

gramática da interlíngua, a partir de propriedades da L2 obtidas através do input.

Neste sentido, segundo Viegas (2014), para a hipótese de Árvores Mínimas o estado

inicial dos aprendizes de L2 estará de acordo com as categorias lexicais da L1, isto é,

aprendizes com L1 diferentes terão estados iniciais diferentes. Assim, a aquisição de uma L2

e uma L1 é análoga em relação às categorias funcionais e suas projeções.

41

2.1.4 Hipótese dos Traços Valorados (Valueless Features)

Segundo Eubank (1994, 1996 apud WHITE, 2003) a hipótese dos Traços Valorados

difere da hipótese de Árvores Mínimas uma vez que as categorias funcionais e lexicais da L1

são possíveis no estado inicial da interlíngua, mas os valores dos traços não estão

especificados como fortes ou fracos e, com isso, mantêm-se indefinidos no estado inicial.

Assim, são as questões da interface da L1 que refletem na L2. (Viegas, 2014)

Desta maneira, para esta hipótese o estado inicial é a gramática da L1, porém Eubank

(1994, 1996 apud VIEGAS, 2003) defende que o estado inicial da interlíngua será

amplamente, não totalmente, determinado pela gramática da L1.

2.1.5 Hipótese do Acesso Total (sem Transferência) (Full Acess (without tranfer))

Tal qual a hipótese da Transferência e Acesso Total, para a hipótese de Epstein, Flynn

e Martohardjono (1996 apud WHITE, 2003) ocorre o acesso à GU no processo de aquisição

de L2, estando a interlíngua relacionada à GU em todos os estágios. No entanto, surgem

divergências na determinação da natureza do estado inicial. Para as hipóteses mencionadas

nas três seções anteriores, o estado inicial da L2 é uma gramática particular, contudo, a

hipótese do Acesso Total (sem transferência) rejeita esta possibilidade, uma vez que a

aquisição de L2 acessa a GU semelhante à aquisição de uma L1. Portanto, de acordo com

Epstein et al. (1996 apud WHITE, 2003) ao serem expostos ao input da L2, são geradas

sucessivas gramáticas de interlíngua levando ao estado final desta L2 através de um processo

totalmente restrito pela GU. Observe o modelo de Acesso Total (sem transferência) de White

(2003) na

Figura 6 abaixo:

L2 PLD

Figura 6: Modelo Full Acess (without Transfer) (White, 2003, p.90)

Deste modo, para Epstein et al. (1996 apud VIEGAS, 2014), a GU guia a gramática da

interlíngua em todos os estágios, visto que a L1 não constitui o estado inicial, por isso a

gramática da interlíngua de diferentes aprendizes será a mesma.

GU

L1 Ss IL G1 IL Gn L2 Ss

42

2.2 Teoria do Bilinguismo Universal

Roeper (1999 apud XAVIER, 2006, 2008) propõe a teoria do Bilinguismo Universal,

segundo a qual somos todos potencialmente bilíngues, isto é, podemos ter duas gramáticas:

uma com os parâmetros selecionados no valor (+) = G1 e outra no valor (-) = G2. O falante é

considerado como bilíngue stricto sensu quando usa a G1 e a G2 como gramáticas nucleares

distintas.

De acordo com o autor, a GU define um conjunto de representações default que todos

os falantes possuem e que ele denomina de Minimal Default Grammar (MDG). Assim, as

estruturas da MDG refletem princípios de economia, no sentido de que elas projetam menos

do que as gramáticas particulares. Para Xavier (2008) a proposta de Roeper (1999) pode ser

interpretada tanto como uma hipótese de acesso indireto como total à GU através da periferia

marcada.

Diferentemente do bilíngue “stricto sensu”, Roeper (1999), apresenta um

bilinguismo em nível desigual em que G1 = gramática nuclear e G2 =

periferia marcada. A periferia marcada pode conter conjuntos lexicais

marcados (por exemplo, itens que se comportam de forma diferente dos

demais, no que se refere ao valor do parâmetro selecionado na gramática

nuclear), ou mesmo uma mini-gramática selecionada por gênero, diferente

da gramática nuclear. (XAVIER, 2008 p. 122)

Neste sentido, a autora sugere que o acesso à GU pode ocorrer de duas formas: acesso

indireto através da L1 ou acesso direto através da gramática default. O acesso indireto à GU

ocorrerá sempre que o valor do parâmetro for o mesmo para L1 e L2 e, nessa situação, a L1

constituirá o estado inicial para a L2 (S0 = L1). Já o acesso direto irá ocorrer toda vez que o

valor paramétrico da L1 for distinto daquele da L2. Nesse caso, o estado inicial será

constituído pelo valor default do parâmetro em questão (S0 = valor default do parâmetro).

Este capítulo abordou as principais teorias de acesso à GU que norteiam as pesquisas

sobre aquisição/aprendizagem de L2 e em que medida pode ocorrer a transferência de

aspectos da L1 para a L2. Assim, as hipóteses mencionadas ao longo deste capítulo são

relevantes para este trabalho que pretende verificar, através da metodologia experimental –

descrita no próximo capítulo - como se dá a transferência do PSN parcial do PB, como L1,

para o espanhol, como L2.

43

3 PSICOLINGUÍSTICA EXPERIMENTAL

3.1 A Psicolinguística e a linguística gerativa

O conjunto das chamadas Ciências Cognitivas possui diversos modelos que buscam

investigar a cognição humana, dentre os quais, aqueles que procuram explicar como é o

conhecimento linguístico existente na mente das pessoas e, para isso, formulam teorias sobre

como funciona tal conhecimento. A psicolinguística, por sua vez, caracteriza-se como uma

ciência empírica e tem como objeto de investigação os processos cognitivos implícitos na

produção e compreensão da linguagem relacionada ao estudo do processamento adulto em

tempo real e na aquisição da linguagem por uma criança. A psicolinguística possui caráter

experimental, ou seja, é uma ciência empírica que se caracteriza pelo emprego de métodos e

técnicas experimentais da psicologia cognitiva (cf. KENEDY, 2013).

A psicologia cognitiva é uma das áreas mais recentes das pesquisas em

psicologia, tendo surgido ao final dos anos 1950, com a revolução cognitiva.

Trata-se da área da psicologia que procura estudar, através de experimentos

científicos, a natureza e o funcionamento da cognição humana. Um

psicólogo cognitivo dedica-se a fenômenos como, dentre outros, memória,

atenção, percepção, raciocínio, resolução de problemas, linguagem,

emoções. A psicolinguística é uma das subdisciplinas da psicologia

cognitiva. (KENEDY, 2013 p. 19)

Dessa maneira, há muita interação entre psicolinguística e teoria gerativa, pois aquela

se utiliza dos métodos da psicologia cognitiva para testar empiricamente as previsões

formuladas pelos gerativistas através de modelos abstratos e, de acordo com os resultados

destes testes, a teoria linguística pode “formular ou reformular suas hipóteses para construir

modelos baseados na realidade psicológica do funcionamento real da linguagem”, já que a

psicolinguística tem como objetivo o estudo da realidade psicológica das línguas naturais em

seu funcionamento real, ou seja, o estudo da língua-I.

[...] a psicolinguística experimental tem como objetivo básico descrever e

analisar a maneira como o ser humano produz a linguagem, observando

fenômenos linguísticos relacionados ao processamento da linguagem. Ou

seja, esses fenômenos são tratados e focalizados do ponto de vista de sua

execução pelos falantes/ouvintes a partir de seu aparato

perceptual/articulatório e de seus sistemas de memória. (LEITÃO, 2008,

p.221)

A linguística gerativa, por sua vez, preocupa-se, em formular hipóteses sobre a

realidade teórica ou epistemológica do conhecimento linguístico, abordando a língua no nível

44

computacional enquanto a psicolinguística busca observar e descrever tais hipóteses sobre

como o conhecimento linguístico é processado na mente humana através de pesquisas

experimentais. Segundo Kenedy (2013), o modelo linguístico mais influente é o gerativismo -

ou linguística gerativa –, que visa descrever, com objetividade científica, o conhecimento

linguístico dos falantes, isto é, descrever as estruturas da linguagem construídas através de

procedimentos mentais. Neste sentido, a linguística gerativa vê a linguagem como fenômeno

cognitivo e formula teorias abstratas na tentativa de descrevê-la.

No final da década de 1950, a linguística gerativa (CHOMSKY, 1957) inaugura um

novo modelo teórico formal utilizado para descrever e explicar o funcionamento da

linguagem humana a partir do ponto de vista mental. Para Chomsky, as pessoas adquirem a

linguagem humana naturalmente a partir de um dispositivo inato que permite construir na

mente humana uma gramática da língua a partir de um número reduzido de estímulos e isso só

acontece porque o ser humano é dotado de uma competência linguística – capacidade natural

e inconsciente de produzir e compreender frases. Assim, a aquisição de uma gramática

pressupõe a existência de uma GU, como explicitada no primeiro capítulo, que se configura

como o estágio inicial de aquisição da linguagem. Este modelo teórico, gerativista, passou e

passa por diversas formulações na tentativa de dar conta de algumas questões como, as

diferenças e semelhanças entre todas as línguas naturais, a maneira como o indivíduo adquire

o conhecimento linguístico, dentre outras.

A psicolinguística, por outro lado, situa-se, segundo Corrêa & Augusto (2006) no

nível representacional e é caracterizada por utilizar essencialmente modelos procedimentais

de processamento linguístico, representação e acesso lexical, de um ponto de vista funcional.

Com isso, esta abordagem metodológica possui caráter essencialmente experimental que

consiste em fornecer hipóteses que buscam estabelecer relações de causa e efeito entre

variáveis dependentes e independentes, observando o processo além do produto para tentar

explicar como o processamento linguístico se estrutura na mente dos falantes. Para tanto, a

psicolinguística “lança mão de uma série de procedimentos metodológicos de acordo com o

tipo de fenômeno ou de objeto linguístico que se está focalizando nas pesquisas.” (LEITÃO,

2008) Tais pesquisas compreendem subdomínios associados à compreensão e à produção de

linguagem.

45

3.2 Principais métodos e técnicas da psicolinguística

Na tentativa de compreender como funcionam os processos mentais envolvidos nos

modelos de representação e processamento linguístico, a psicolinguística utiliza-se de

métodos experimentais - a depender das variáveis dependentes usadas - conhecidos como

métodos não-cronométricos (ou off-line) e cronométricos (ou on-line), (cf. DERWING e DE

ALMEIDA, 2005). Os experimentos off-line produzem dados sobre o momento de reflexão

das frases ou enunciados, já que capturam reações a estímulos após ter havido uma integração

entre todos os níveis linguísticos: fonológico, morfológico, lexical, sintático e semântico. Os

experimentos on-line, por sua vez, utilizam majoritariamente o tempo e reação ou resposta

como variável dependente produzindo dados a respeito de processos mentais que acontecem

antes que essa integração esteja completa, durante o momento reflexo. (cf. LEITÃO, 2008)

Métodos off-line possuem uma abordagem simples e objetiva, isto é, dispensam o uso de

equipamentos para coletar as respostas relacionadas ao tempo de processamento como ocorre

com os métodos on-line (cf. DERWING E DE ALMEIDA, 2005). Além disso, os

experimentos off-line podem ser aplicados simultaneamente a um grande número de

participantes, gerando grande quantidade de novos dados. Dentre as técnicas off-line mais

utilizadas, destacam-se:

Preenchimento de questionário;

Os participantes recebem um questionário com frases relacionadas ao objeto que se

presente investigar, leem as frases e respondem a perguntas sobre as frases lidas.

Decisão lexical

Os participantes devem decidir se uma sequência de letras constitui uma palavra ou não.

Espera-se que o participante demore menos tempo para acessar uma palavra precedida

por outra palavra que tenha características semânticas, fonológicas ou morfológicas

parecidas, como por exemplo, enfermeira/médico.

Julgamento de aceitabilidade/gramaticalidade

Os participantes leem frases e devem julgar se estas são aceitáveis (gramaticais) ou não e

este julgamento sempre ocorre de forma binária, ou seja, os participantes precisam

escolher uma das duas possibilidades como aceitáveis.

Ranqueamento de aceitabilidade;

Os participantes leem frases ou estruturas de acordo relacionadas ao objeto de

investigação e devem escolher numa escala de cinco pontos (0 a 4), por exemplo, uma

nota para as frases como mais ou menos aceitáveis.

46

Produção induzida

Os participantes recebem pequenos estímulos que permitem uma continuação, então

estes devem completá-los construindo novas sentenças. Esta é uma técnica muito

utilizada na psicolinguística e visa acessar a produção de enunciados linguísticos de

forma controlada de acordo com os objetivos que se deseja investigar.

Para a realização de experimentos psicolinguísticos é necessário controlar o material

de testagem e isolar os fatores que se pretende investigar, elencando variáveis independentes

que serão testadas, observando-se sua influência nas suas variáveis dependentes. Contudo,

antes de elaborar o experimento, faz-se necessária a escolha do método mais adequado a ser

utilizado, on-line ou off-line. Nos experimentos off-line, a variável dependente é medida após

o processamento da informação, ou seja, os processos mentais dos participantes não são

observados ao longo do processamento e sim após a conclusão do processamento,

contrariamente ao que acontece nos experimentos on-line, nos quais essa mesma variável é

medida durante o processamento da informação linguística, inferindo os processos cognitivos

inconscientes, isto é, obtêm-se dados durante o processamento.

De acordo com Mitchell (2004), o método on-line utiliza ferramentas capazes de

capturar efeitos bem próximos ao momento em que ocorre o processamento reflexo, de outro

modo, o método off-line, como anteriormente citado, utiliza questionários ou outras

ferramentas que não captam com precisão o momento reflexo do processamento, por este

motivo, tal método não é capaz de medir o processamento mais automático, sem influência da

integração do conteúdo semântico-pragmático. Neste sentido, os métodos on-line tendem a

capturar o tempo de reação (Reaction Time - RT) medido em milésimos de segundo, quanto

mais complexo o processamento, maior será o RT, isto é, acontecem mais computações

mentais. Veja abaixo as principais técnicas experimentais on-line utilizadas pela

psicolinguística:

Rastreamento ocular (Eyetracking);

O participante utiliza o computador para ler frases/ textos ou observar imagens e tem os

movimentos dos seus olhos rastreados por um aparelho chamado Eyetracker. Este

aparelho acompanha o movimento da pupila do participante enquanto uma câmera

captura todos os movimentos oculares realizados pelo participante ao ler ou observar o

que está na tela do computador.

Existem alguns tipos de Eyetracker: móveis com formato de óculos e com base fixa e

apoio para o queixo, que captam com mais precisão os movimentos, por exemplo, ambos

percebem tanto as sacadas quanto o padrão de fixações. As sacadas são os saltos que o

47

olho faz de uma palavra/imagem para outra e as fixações são as paradas que o olho faz

em uma determinada palavra ou determinados pontos da leitura/ imagem.

Leitura automonitorada (Self-Paced Reading)

O participante ao apertar um botão lê as frases segmentadas mostradas uma a uma na tela

de um computador, à medida que aperta o botão um novo segmento aparece na tela. O

computador, então mede em milissegundos o RT, ou seja, o tempo que o participante

utilizou para ler cada segmento. Para um experimento on-line, usando esta técnica é

necessário que o pesquisador utilize alguns softwares, tais como o Psyscope (compatível

com Mac), o Linger (PC e Mac), (DMDX), dentre outros.

Efeito de reativação

O participante é apresentado ao objeto linguístico relevante à pesquisa, como por

exemplo, uma palavra. Depois, uma pista reduzida ou estímulo associado, como uma

palavra semântica ou fonologicamente relacionada à primeira palavra também é

apresentada. O efeito de reativação está relacionado à propriedade que as unidades

cognitivas têm na memória de apresentar variação no nível de ativação ou excitação.

Partindo de um nível de ativação zero, uma unidade cognitiva pode ser ativada por causa

do processamento perceptual ou linguístico. O conceito de “copo”, por exemplo, é

ativado quando alguém vê um copo ou ouve a palavra copo. (TULVIN & SCHACTER,

1990 apud VIEGAS, 2014).

Este capítulo abordou algumas características da psicolinguística, que possui caráter

estritamente experimental, e da linguística gerativa (CHOMSKY, 1957), responsável por

estabelecer um modelo formal que busca dar conta da estrutura e funcionamento da

linguagem humana. Neste sentido, a escolha pela utilização da metodologia experimental para

a investigação de fenômenos inerentes à linguagem humana se deu pela escassez de trabalhos

experimentais relacionados à aquisição e transferência de aspectos do PB como L1 para o

espanhol como L2, sendo assim, utilizaremos nesta pesquisa a técnica off-line de produção

induzida. Espera-se, portanto, que os resultados obtidos neste trabalho contribuam para as

futuras pesquisas experimentais que tenham como foco o mesmo objeto de pesquisa, bem

como, para as teorias sobre aquisição de L2.

Além disso, na seção que se segue revisitaremos o trabalho de Viegas (2014) no qual a

pesquisadora utiliza a técnica off-line de julgamento de gramaticalidade a fim de investigar a

interferência do PSN parcial do PB na aquisição de inglês como L2.

48

3.3 Revisitando Viegas

Pesquisas sobre aquisição de L2 fundamentam-se em análises estatísticas de dados

obtidos através de testes experimentais on-line ou off-line. Neste sentido dentre os trabalhos

cuja investigação baseia-se na interferência da L1 sobre a L2, destacamos e utilizamos como

referência o de Viegas (2014), que propõe uma averiguação sobre a interferência do PB no

aprendizado de inglês como L2 durante processo de aquisição da segunda língua. A

pesquisadora utiliza-se dos pressupostos gerativistas no âmbito do programa minimalista de

Chomsky (1995), utilizando a metodologia da psicolinguística experimental para apresentar as

possíveis interferências que o parâmetro do sujeito nulo do PB, considerando-se como LSN

parcial, conforme citado em (HOLMBERG, 2010; MODESTO, 2000 apud VIEGAS, 2014)

teria sobre os aprendizes de inglês, uma língua de sujeito pleno. Viegas (2014) baseia-se na

investigação de Kim (2007) sobre a influência do coreano, língua de tópico, na aquisição de

inglês como L2 e replica parcialmente o seu experimento, chamando-o de piloto.

Para este experimento piloto, Viegas utilizou o método off-line de julgamento de

gramaticalidade e contou com 10 participantes aprendizes de inglês como L2 distribuídos em

dois grupos, 10 do nível básico e 10 do nível avançado. Cada participante realizou o

experimento off-line dentro da sala de aula de um curso de idiomas, com o tempo livre para a

realização do mesmo e tal tarefa consistia em responder a um questionário que continha 5

sentenças de tipo 1 e 5 (abaixo) sentenças de tipo 2 (abaixo), somando um total de 10

sentenças agramaticais. Além disso, havia 6 sentenças gramaticais com o sujeito referencial

ou expletivo it e 12 sentenças distratoras (10 gramaticais e 2 agramaticais). Além disso, as

sentenças distratoras continham erros como inversão da ordem entre substantivos e adjetivos.

Veja abaixo exemplos dos tipos 1 e 2 retirados do experimento piloto de Viegas (2014).

Tipo 1 – estrutura sem tópico de sujeito nulo de tipo expletivo ou referencial.

I saw Sandy at a school party. *was a beautiful girl.

(Eu vi Sandy numa festa da escola. Era uma menina bonita.)

*Rained very hard when Peter came home.

(Choveu muito forte quando Peter chegou em casa.)

Tipo 2 – estrutura com tópico – locativo ou temporal- de sujeito nulo referencial ou expletivo.

Tom had lots of fun yesterday. *Today is busy with many things to do.

(Tom se divertiu muito ontem. Hoje está ocupado com muitas coisas pra fazer.)

*Yesterday rained a lot in this city.

49

(Ontem choveu muito nesta cidade.)

Os dados obtidos por Viegas foram submetidos ao pacote estatístico ANOVA. De

acordo com os dados, a autora sugere que há interferência de L1 na L2 nos níveis mais baixos,

visto que os aprendizes de nível avançado mostraram melhor desempenho que os aprendizes

de nível básico e, ainda, julgaram como mais agramaticais as sentenças do tipo 1 do que as do

tipo 2. De acordo com Viegas (2014), tal comportamento sugere que a possibilidade de um

locativo ou temporal poder satisfazer a exigência de EPP no PB estaria sendo transferida para

o inglês, e tais resultados confirmariam as suas previsões de que, no processo de aquisição do

parâmetro do sujeito nulo em inglês, existe a construção de uma interlíngua na qual é possível

identificar aspectos da L1 influenciando a aquisição de L2.

O seu segundo e último experimento, também de julgamento de gramaticalidade com

escala (yes, probably yes, probably no, no), possuiu 45 participantes divididos em três níveis

de proficiência (15 nível básico, 15 intermediário e 15 avançado) e ainda contou com 15

nativos que constituíram o grupo controle. Este experimento teve como variável dependente o

número de respostas corretas: (no, probably no) e como variável independente o nível de

proficiência, (o tipo de sentença e o tipo de sujeito pronominal). As sentenças foram de três

tipos:

Tipo1 - Com sujeito nulo expletivo ou referencial sem tópico;

I saw Sandy at the school party. *Was a beautiful girl.

Tipo 2 - Com sujeito nulo referencial ou expletivo com tópico locativo ou temporal na

periferia esquerda;

Tom had lots of fun yesterday. *Today is busy with many things to do.

Tipo 3 - Com sujeito nulo referencial ou expletivo, com conjunção na periferia esquerda.

*The children didn’t want to eat anything, when were sick.

(As crianças não queriam comer nada, quando estavam doentes.)

Os participantes responderam aos questionários da mesma maneira como responderam

no experimento piloto.

50

Os resultados deste experimento final foram submetidos a um modelo de regressão

logística de efeitos mistos e a testes de comparações múltiplas com os contrastes de Tukey14

e, ainda, ao cálculo dos percentuais de acerto para as condições avaliadas. O modelo de

regressão lógica de efeitos mistos não apresentou resultados significativos para o teste de

proficiência como efeito fixo, contudo, o teste de comparações múltiplas com os contrastes de

Tukey apresentou diferenças significativas para os níveis de proficiência básico e avançado,

intermediário e avançado, básico e nativo, intermediário e nativo, tendo ainda um efeito

marginal entre avançado e nativo. Para os níveis básico e intermediário não houve diferença

significativa. O nível de proficiência mostrou que os aprendizes do nível básico possuem

desempenho abaixo da média, os aprendizes do intermediário estão na média e os aprendizes

do nível avançado têm um desempenho bastante satisfatório (VIEGAS, 2014, p. 84).

Ainda sobre os dados, os tipos de sentenças 2 e 3 foram comparados e verificou-se que

a ausência do expletivo não é facilmente reconhecida como agramatical em nenhum desses

dois tipos, fato que, segundo Viegas (2014), contraria os dados obtidos no experimento piloto

no qual houve maior dificuldade de percepção de gramaticalidade no tipo 2. De acordo com a

autora os dados sugerem que há interferência da L1 sobre a L2, mas a caracterização do PB

como língua de tópico não parece ser a responsável direta pela dificuldade em julgar os tipos

de sentença, e sim, tal dificuldade parece ter natureza mais ampla. Como sentenças possíveis

em inglês, aceitas pelos aprendizes, aparecem as com tópicos e expletivos omitidos e as

iniciadas por uma conjunção, visto que a presença de uma conjunção parece dificultar a

percepção de que o tópico está ausente.

A comparação entre o tipo de sentença vs. nível de proficiência não apresentou efeitos

significativos para os níveis básico e intermediário, mas houve um efeito marginal entre as

sentenças do tipo 3 do nível básico se comparadas as do nível intermediário, fato que segundo

Viegas (2014) indica maior dificuldade dos aprendizes de nível básico em perceber a

agramaticalidade de sentenças iniciadas por conjunção. E, ainda, os dados de sujeito

gramatical sugerem que o nível básico reconheceria mais facilmente as sentenças do tipo 1

como agramaticais. Para os dados de sujeito expletivo, os resultados indicaram que os

aprendizes estariam atentos à necessidade do expletivo, sem, contudo, perceber a sua ausência

nas sentenças do tipo 2 com tópico locativo ou temporal, fato que para Viegas (2014) deve-se

à interferência da possibilidade de preenchimento de EPP por tópico como ocorre no PB.

14 Ver: http://www.portalaction.com.br/anova/31-teste-de-tukey

51

Quanto à percepção da agramaticalidade dos sujeitos nulos em inglês, os aprendizes de

nível básico parecem estar mais atentos à impossibilidade de sujeito nulo referencial do que

meteorológicos, de outro lado, estão os aprendizes de nível intermediário, que se mostraram

menos atentos aos pronomes referenciais e mais atentos ao preenchimento do sujeito

expletivo com verbos meteorológicos e de alçamento. Isso, de acordo com Viegas, parece

indicar que os aprendizes de nível básico são mais sensíveis às restrições básicas do inglês,

mas ainda não estão atentos aos verbos meteorológicos, por outro lado, os aprendizes de nível

intermediário já estão familiarizados com o fato de os pronomes referenciais possuírem

necessidade de estar explícitos, mas não voltam sua atenção a este aspecto e sim, dedicam sua

atenção ao preenchimento do sujeito expletivo em verbos meteorológicos e de alçamento. No

entanto, este comportamento não se apresenta em sentenças do tipo 2, o que parece indicar

que a possível interferência do PB não permite que o aprendiz perceba a omissão do

expletivo.

Os resultados deste experimento indicam então que os aprendizes são mais sensíveis

aos pronomes referenciais e que existe uma tendência maior em perceber a agramaticalidade

em sentenças cujo elemento a periferia esquerda não existe. Além disso, opostamente ao

experimento piloto, não houve maior dificuldade em julgar sentenças com sujeito referencial e

expletivo nulo com presença de tópico – locativo ou temporal – como agramaticais, já que os

aprendizes mostraram um comportamento semelhante em relação às sentenças do tipo 3. E,

ainda, não foi confirmada a satisfação de EPP por tópico. Neste sentido, tais resultados

parecem confirmar a Hipótese da Transferência e Acesso Total (Full Transfer and Full Acess)

apresentada por White (2003) e servem como base para esta pesquisa, pois indicam que valor

do parâmetro do sujeito nulo é transferido de L1 para a L2, que há interferência de restrições

gerais da gramática de L1 na L2, que a interferência da L1 se mostra mais evidente em

relação aos sujeitos expletivos e, ainda, que diminui com o aumento da proficiência em L2

(VIEGAS, 2014 p. 87).

52

4. EXPERIMENTOS

Os capítulos anteriores preocuparam-se em apresentar os pressupostos teóricos que

orientam este trabalho, bem como as possíveis influências que a marcação do parâmetro do

sujeito nulo no PB pode ter sobre a aquisição do espanhol como L2 para falantes do PB, além

de apresentar os modelos teórico-metodológicos que embasam esta pesquisa e as relações

existentes entre a linguística gerativa e a psicolinguística com seus métodos e técnicas

experimentais. Na sequência, dedica-se à descrição do experimento off-line de produção

induzida ou eliciada aplicado aos brasileiros aprendizes de espanhol como L2 alunos de um

curso de idiomas, e replicado aos alunos da graduação de letras/espanhol, tendo como grupo

controle nativos espanhóis que nunca tiveram contato com o PB.

4.1 Experimento continuação de narrativas I

De acordo com Garman, Carrol e Harley (1990, 1994, 1997 apud RODRIGUES,

2006), questões metodológicas são a principal justificativa para pesquisas em psicolinguística

focarem no estudo da compreensão em maior escala que no estudo da produção. Isso se deve

ao fato de existir maior dificuldade em controlar a variável dependente na produção, ao

contrário do que acontece na compreensão, na qual há maior possibilidade de manipular o

material a ser analisado e compreendido pelos participantes durante o experimento. Na

produção, por outro lado, não é possível uma manipulação direta, visto que torna-se

impossível prever quais os dados serão obtidos durante a produção, ou seja, a partir de tarefas

criadas que permitam a indução da produção investigada (cf. RODRIGUES, 2006 p. 142).

Neste trabalho, visa-se investigar por meio de uma tarefa off-line de produção

induzida (continuação de narrativas) a interferência do PSN parcial do PB sobre o

aprendizado do espanhol, língua prototípica de sujeito nulo, como L2 por brasileiros. A tarefa

consistia em pequenas narrativas escritas em espanhol, permitindo a continuação em língua

escrita com palavras ou frases com o objetivo de investigar o padrão de respostas dos

aprendizes do espanhol como L2. A tarefa, portanto, possibilitava a utilização de uma

categoria vazia pro no lugar de sujeitos referenciais animados nas 1ª e 3ª pessoas do singular e

1ª e 3ª pessoas do plural. Padrões de resposta com sujeitos preenchidos podem indicar uma

possível interferência do parâmetro da L1 sobre a L2, fato que pode confirmar de acordo com

White (2003) a evidência de propriedades da L1 na gramática da interlíngua do aprendiz.

4.1.1 Design experimental

O método off-line de produção induzida consiste numa importante ferramenta para

investigar o processamento no âmbito da produção. Neste experimento foi utilizada a técnica

53

de continuação de narrativas, tendo sido manipulado o paradigma número-pessoal de cada

uma delas, ao passo que as distratoras foram elaboradas de maneira que seus referentes

tivessem traço [- animado]. Todas as narrativas escritas em espanhol tinham referentes com

traço [+ animado], que, de acordo com Duarte (2003) favorecem o preenchimento do sujeito

em PB, ao contrário do espanhol, que possui a característica de não preenchimento do sujeito

mesmo com traço [+ animado]. Além disso, esta tarefa experimental contou com participantes

em três níveis de proficiência, divididos em três grupos experimentais (básico, intermediário e

avançado), de acordo com o nivelamento feito pelo próprio curso de idiomas Prolem,

localizado na Universidade Federal Fluminense, e um grupo controle. A tarefa dos

participantes consistia apenas em continuar as narrativas. Observe na Tabela 3 abaixo o

desenho experimental.

1ª P Sg. 3ª P Sg. 1ª P Pl. 3ª P Pl.

Nulo

Pleno

Tabela 3: Desenho experimental

4.1.2 Hipóteses e previsões

Após terem sido esclarecidas as distinções entre o PB e o espanhol com relação ao

PSN e a possível interferência da L1 sobre a L2 de acordo com a Hipótese da Transferência e

Acesso Total, a hipótese que orienta este trabalho é a de que o PSN da L1, neste caso, parcial

do PB, é transferido para o espanhol como L2, LSN prototípica, havendo, portanto,

interferência da L1 sobre a L2. Complementarmente, a hipótese é também de que esta

interferência diminua em função do aumento da proficiência da língua-alvo.

Com base nas hipóteses levantadas, são feitas as seguintes previsões:

a) Se existe transferência do parâmetro do sujeito nulo da L1 para a L2, os participantes,

aprendizes de espanhol, provavelmente produzirão frases com sujeito pleno em maior número

do que frases com sujeito nulo de acordo com os mecanismos de satisfação do EPP em PB;

b) Se a interferência diminui com o aumento da proficiência, prevê-se diferenças

significativas na produção de frases com sujeito pleno nos três níveis, isto é, mais frases com

sujeito nulo em níveis de proficiência avançados semelhante ao que se espera para o grupo

controle;

54

4.1.3 Variáveis e condições

Neste experimento foram selecionadas como variáveis independentes os níveis de

proficiência (básico, intermediário e avançado) e o tipo de narrativa a ser eliciada em 1ª ou 3ª

pessoas do singular ou plural. Obteve-se, assim, um desenho experimental 3x4 apresentado

em quatro condições: 1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª e 3ª pessoas do plural, como

exemplificado na Tabela 4 abaixo.

Condições experimentais

1ª Pessoa Sg. Salí de vacaciones a conmemorar la defensa de mi

tesis de postgrado en un lugar diferente y el día fue

muy provechoso en una playa paradisiaca de México.

De los manjares mexicanos nunca había probado, por

eso…

3ª Pessoa Sg. Tuve en la niñez una tía muy querida que me

llevaba a su casa en las vacaciones, salía

conmigo y con mis hermanos en casi todos los

fines de semana. Era una mujer espectacular,

trabajadora y muy feliz, pero un día…

1ª Pessoa Pl. Mi esposo y yo descubrimos que personas con altos

niveles de colesterol tienen una posibilidad

significativamente mayor de desarrollar cáncer, por

eso decidimos ir al spa para reducir el antojo de

comidas basura. Después de algunos días…

3ª Pessoa Pl. Conocí a unos muchachos en un sitio para

jóvenes amigos, charlamos por lo menos unos

cinco meses hasta que decidí encontrarlos en

un retiro espiritual. En el primer día, los

muchachos parecieron muy amables, pero

después…

Tabela 4: Condições experimentais do experimento I

Como variáveis dependentes, têm-se número de frases produzidas com sujeito nulo ou

pleno em cada uma das quatro condições e em cada um dos três níveis de proficiência.

Cada uma das condições como as exemplificadas na tabela 4 acima conduz à

continuação de uma narrativa em uma das duas pessoas, 1ª ou 3ª, e em um dos números,

singular ou plural, mas cabe ao participante dar continuidade à narrativa. Ao fazer isso,

espera-se que ele mantenha as pessoas e o número com sujeito nulo ou com sujeito

preenchido, mas existe a possibilidade de não haver retomada com o sujeito e sim com

perífrases e, ainda há a possibilidade de outra produção totalmente imprevisível, tal resultado

é comum em se tratando de produção.

4.1.4 Participantes (grupos experimentais)

Participaram deste experimento 60 brasileiros aprendizes tardios de espanhol como

L2, - isto é, brasileiros que iniciaram seu aprendizado de espanhol como L2 na fase adulta-,

dos quais 20 são do nível básico, 20 do nível intermediário e 20 do nível avançado, todos

alunos do curso de idiomas da Universidade Federal Fluminense, o Prolem e residentes no RJ.

55

A idade média dos participantes foi de 25 anos, o grupo contou com 13 homens e 47

mulheres, e todos são residentes no RJ.

4.1.4.1 Controle

Além do grupo experimental composto por 60 participantes divididos em três grupos,

como mencionado na seção anterior, este experimento contou com a participação de 10

espanhóis para constituir o grupo controle. Todos estes participantes são falantes nativos do

espanhol peninsular que nunca estiveram no Brasil. A escolha desta variedade do espanhol

deveu-se ao fato de que algumas variedades do espanhol americano têm apresentado um

comportamento distinto de uma LSN prototípica e, com isso, poderiam apresentar

semelhanças estruturais com o PB.

Casos extremos de esse fenómeno pueden observarse em variedades de la

lengua habladas em zonas de la costa de Venezuela y em la República

Dominicana, entre otros sítios, que pertenecen a uma macro variedade

denominada español caribeño. (PINHEIRO-CORREA, 2010, p. 37)

Neste sentido, a diferença entre estas variedades e a variedade peninsular poderia ser

encontrada em outras variedades americanas, ainda que com relação ao sujeito nulo, o

espanhol da argentina, por exemplo, seja uma variedade americana próxima da variedade

peninsular. (SOARES DA SILVA, 2006).

4.1.5 Materiais

O material utilizado neste experimento de produção induzida contou com 12 narrativas

experimentais incompletas, permitindo 3 exposições para condição experimental. Além disso,

contou com a distribuição whitin subjects permitindo que todos os participantes de todos os

grupos fossem expostos a todas as condições experimentais. O experimento contou ainda com

24 distratoras em 1ª e 3ª pessoas também incompletas. Veja os exemplos abaixo.

1- NARRATIVAS EXPERIMENTAIS:

1ª pessoa do singular

Salí de vacaciones a conmemorar la defensa de mi tesis de postgrado en un lugar diferente y

el día fue muy provechoso en una playa paradisiaca de México. De los manjares mexicanos

nunca había probado, por eso…

56

(Saí de férias para comemorar a defesa da minha tese de doutorado em um lugar diferente e o

dia foi muito proveitoso numa praia paradisíaca do México. Das deliciosas comidas

mexicanas nunca havia experimentado, por isso...)

3ª pessoa do singular

Tuve en la niñez una tía muy querida que me llevaba a su casa en las vacaciones, salía

conmigo y con mis hermanos en casi todos los fines de semana. Era una mujer espectacular,

trabajadora y muy feliz, pero un día…

(Tive na infância uma tia muito querida que me levava a sua casa nas férias, saía comigo e

com meus irmãos quase todos os finais de semana. Era uma mulher espetacular, trabalhadora

e muito feliz, mas um dia...)

1ª pessoa do plural

Mi esposo y yo descubrimos que personas con altos niveles de colesterol tienen una

posibilidad significativamente mayor de desarrollar cáncer, por eso decidimos ir al spa para

reducir el antojo de comidas chatarras. Después de algunos días…

(Meu marido e eu descobrimos que pessoas com altos níveis de colesterol têm uma

possibilidade significativamente maior de desenvolver câncer, por isso decidimos ir ao spa

para reduzir o desejo de comer comidas calóricas. Depois de alguns dias...)

3ª pessoa do plural

Conocí a unos muchachos en un sitio para jóvenes amigos, charlamos por lo menos unos

cinco meses hasta que decidí encontrarlos en un retiro espiritual. En el primer día del retiro

los muchachos parecieron muy amables, pero después…

(Conheci a uns rapazes num site para amizade jovem, conversamos por pelo menos uns cinco

meses até que decidi encontra-los em um retiro espiritual. No primeiro dia do retiro os rapazes

pareceram muito amáveis, mas depois...)

2- NARRATIVAS DISTRATORAS:

La presidenta de la empresa anunció que el cafecito y la leche de los intervalos serán

cobrados de los empleados porque subió el precio de la crema desnatada que los

compone. Algunos trabajadores sonaron la alta alarma de incendio como…

57

(A presidente da empresa anunciou que o cafezinho e o leite dos intervalos serão

cobrados dos empregados porque subiu o preço do creme que os compõe. Alguns

trabalhadores tocaram o alarme de incêndio como...)

Actualmente, los mensajes electrónicos forman parte del cotidiano de millones de

personas que los utilizan para tratar de asuntos personales, profesionales o comerciales

con agilidad. Sin embargo, todavía se escriben cartas de amor, comerciales...

(Atualmente, as mensagens eletrônicas fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas

que as utilizam para tratar de assuntos pessoais, profissionais ou comerciais com

agilidade. No entanto, ainda se escreve cartas de amor, comerciais...)

O objetivo das narrativas distratoras é garantir que os participantes não possam

distinguir quais são as narrativas experimentais, tampouco sobre o que se pretende aferir com

o experimento.

Cada narrativa experimental possuía o total de 38 a 40 palavras e seu referente

possuía o traço [+animado]. Todas as narrativas foram apresentadas em espanhol distribuídas

aleatoriamente no papel, assim, cada narrativa permitiu a continuação com a posição de

sujeito nula.

4.1.5 Procedimentos

Os participantes realizaram a tarefa experimental na própria sala do curso de espanhol

situado na Universidade Federal Fluminense, em aproximadamente trinta minutos antes de

terminar as aulas, tempo este cedido pelos professores, e a média de duração de cada

participante foi de, aproximadamente, 25 minutos. Ao terminar a aula, todos recebiam as

folhas contendo as narrativas experimentais e distratoras, mantendo-as viradas enquanto

ouviam uma breve explicação sobre o que deveria ser feito. A mesma orientação foi dada em

todas as turmas. Foi solicitado que ao término da leitura de cada uma das narrativas,

imediatamente completassem com as primeiras palavras surgidas na mente e, ainda, que

escrevessem duas ou três palavras apenas. As dúvidas relacionadas ao vocabulário foram

sanadas durante a aplicação do experimento. Ao terminar o experimento, cada participante

saía da sala.

58

4.2 Resultados

Os dados obtidos neste experimento foram submetidos ao teste estatístico qui-

quadrado. Os resultados relacionados ao tipo narrativa em primeira e terceira pessoas,

descritos no

Gráfico 1 abaixo, apontam que houve um efeito significativo da variável tipo de narrativa em

relação à pessoa gramatical e o tipo de sujeito produzido nas frases dos três grupos de

proficiência. De acordo com o teste qui-quadrado (X²= 158, 7978836, p<0,05) narrativas em

primeira ou terceira pessoas interferem no efeito da variável, visto que a primeira pessoa

apresenta maior incidência de frases com sujeito nulo em comparação a terceira pessoa em

todos os níveis de proficiência, ainda que o percentual de frases com sujeito pleno tenha sido

bastante elevado na terceira pessoa do nível básico (68,34% sujeito pleno) e nas primeira (55,

84% sujeito pleno) e terceira ( 70,84 % sujeito pleno) pessoas do nível intermediário.

Gráfico 1: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas nos três diferentes níveis de

proficiência.

BA_1ªP. BA_3ªP. IN_1ªP. IN_3ªP. AV_1ªP. AV_3ªP.

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

68,34%

55,84%

70,84%

59

Contudo, não há um efeito estatístico significativo desta mesma variável para o grupo

controle, no qual se verifica a ocorrência 98,33% de frases produzidas com sujeito nulo na

primeira pessoa e 91,66% na terceira (X²= 1,578947368, p>0,05). Este resultado é esperado,

visto que o grupo controle é composto por nativos do espanhol, uma língua pro drop

prototípica. Veja no Gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas do grupo controle

Além disso, a variável tipo de narrativa relacionada ao número, singular ou plural,

também apresenta efeito significativo nos três diferentes níveis de proficiência (X²=

132,5206349, p<0,05), ou seja, o percentual de frases produzidas com sujeito nulo nas

narrativas de plural são maiores do que nas narrativas de singular, ainda que os níveis básico e

intermediário apresentem um percentual maior de frases com sujeito pleno. Veja no Gráfico 3

abaixo.

1ª_P. 3ª_P.

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

BA_sg. BA_pl. IN_sg. IN_pl. AV_sg. AV_pl.

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Nulo

Pleno

60

Gráfico 3: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três diferentes níveis de

proficiência.

Novamente, com relação ao grupo controle os resultados mostram que não parece

haver efeito significativo da variável tipo de narrativa relacionada ao número (X²=

0,175438596, p>0,05), visto que 93,33% das narrativas no singular e 96,66% das narrativas

no plural tiveram frases produzidas pelos nativos com sujeito nulo, fato que mais uma vez

está relacionado ao parâmetro do espanhol. Veja no Gráfico 4 abaixo.

Gráfico 4: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural no grupo controle

Sg. Pl.

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

61

Em relação ao nível de proficiência, os resultados registraram que há efeito principal

desta variável de acordo com os dados estatísticos (X²= 129,3206349, p<0,05) se observados

os três níveis, já que no nível avançado os participantes produziram 85,41% de frases com

sujeito nulo em comparação aos percentuais dos níveis básico, 46,66%, e intermediário,

36,66%, o que parece comprovar a previsão (b), o participante tende a usar o parâmetro da

língua-alvo para satisfação do EPP no nível mais elevado de proficiência, isto é, a

interferência da L1 sobre a L2 diminui com o tempo de exposição à língua. O Gráfico 5

abaixo ilustra estes resultados.

Gráfico 5: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de proficiência

No entanto, os níveis básico e intermediário se, observados isoladamente, apresentam

resultados que vão de encontro à previsão (b), visto que possuem, respectivamente, 53,34% e

63,34% de frases produzidas com sujeito pleno, isto é, não houve diminuição significativa na

produção de frases deste tipo do nível básico para o intermediário como o esperado e, sim um

aumento já que o nível intermediário apresenta um índice maior de frases com sujeito pleno.

E ainda se observarmos apenas os resultados referentes às produções com sujeito pleno dos

níveis básico e intermediário é possível dizer que a previsão (a) parece se comprovar, pois há

um percentual maior de produção de frases com sujeito pleno nestes dois níveis

comparativamente ao nível avançado. Isso permite dizer que os participantes aprendizes do

espanhol como L2, - estudantes de curso de idiomas que, geralmente, assistem a duas aulas

por semana e que iniciam o aprendizado de L2 a partir do nível zero, isto é, sem nunca terem

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

Nulo

Pleno

85,41%

36,66%

46,66%

62

tido contato com a língua estrangeira-, produzem mais frases com sujeito pleno nos níveis

iniciais de proficiência até que, ainda não se sabe o porquê, passam a produzir frases com

sujeito nulo no nível avançado como demonstra o gráfico 5 acima. Além disso, se se observa

o gráfico 6 no qual encontram-se também os resultados do grupo controle, é possível verificar

que a previsão (b) parece ser comprovada, pois o nível avançado possui 85,41% e o grupo

controle 95% de frases produzidas com sujeito nulo. Assim, o nível de proficiência apresenta

efeito principal (X²=200,202042, p<0,05), de acordo com o Gráfico 6 abaixo, tendo um papel

fundamental no processamento linguístico e, consequentemente, na transferência do PSN

parcial do PB como L1 no aprendizado do espanhol como L2.

Gráfico 6: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência e grupo controle

De acordo com os resultados, não houve um efeito significativo de interação entre a variável

tipo de narrativa em primeira e terceira pessoa e tipo de narrativa em singular e plural, em

todos os níveis de proficiência e também no grupo controle, (X²= 3,719893232, p>0,05).

Como é possível verificar no Gráfico 7 abaixo.

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO CONTROLE

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

85,41%

95%

63

Gráfico 7: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência e grupo controle (valores de sujeito

nulo)

As análises indicam que as previsões (a) e (b) foram confirmadas, pois parece haver

transferência de aspectos da L1 para a L2 durante o processo de aquisição desta segunda

língua e, ainda a interferência parece diminuir quando, enfim, se alcança certo grau de

proficiência. Cabe ressaltar embora sobre os níveis básico e intermediário nos quais houve,

surpreendentemente, um aumento da produção de sujeito nulo daquele para este, isto é, o

nível intermediário apresentou um índice maior de produção com sujeito nulo do que o

básico, mas isto não se estendeu até nível avançado. Talvez porque nos níveis básico e

intermediário o aprendiz de L2 ainda não esteja atento a este aspecto.

4.3 Experimento continuação de narrativas II

A aplicação deste experimento II surgiu a partir da necessidade de averiguação dos

resultados obtidos no experimento I e, por este motivo, teve igualmente ao primeiro

experimento a tarefa de continuação de pequenas narrativas visando investigar o padrão de

respostas dos aprendizes do espanhol como L2, agora, alunos da graduação. Assim tiveram

também como tarefa a possibilidade de utilizar-se de sentenças com sujeito nulo a partir de

referentes animados nas 1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª e 3ª pessoas do plural. Então, padrões

de resposta com sujeitos nulos poderiam indicar que os estudantes da graduação são mais

resistentes a possível interferência do parâmetro da L1 sobre a L2 ou do contrário, padrões de

respostas com sujeitos preenchidos confirmariam os resultados do primeiro experimento,

BA_1ª BA_3ª IN_1ª IN_3ª AV_1ª AV_3ª CO_1ª CO_3ª

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

SINGULAR

PLURAL

64

indicando uma possível interferência do parâmetro da L1 sobre a L2 e a evidência de

propriedades da L1 na gramática da interlíngua do aprendiz, de acordo com White (2003)

4.3.1 Design experimental

O experimento II teve o mesmo desenho experimental que o primeiro experimento

contendo narrativas distratoras com traço [- animado] e narrativas experimentais escritas em

espanhol, tendo seus referentes com traço [+ animado] e manipuladas de acordo com o

paradigma número-pessoal de cada uma delas. Para esta tarefa experimental off-line de

continuação de narrativas, participaram aprendizes de espanhol, alunos do curso de graduação

em Letras português/espanhol da Universidade Federal Fluminense, divididos em três grupos

experimentais (básico, intermediário e avançado) segundo uma divisão em níveis de

proficiência feita a partir de uma avaliação após terem respondido um formulário de

nivelamento15.

4.3.2 Hipóteses e previsões

Com base nas hipóteses ora mencionadas na descrição do experimento I de que o

espanhol como L2 sofre interferência do PSN parcial do PB como L1 e, ainda, que essa

interferência diminui com o aumento da proficiência na língua-alvo são feitas as mesmas

previsões (a), se existe transferência do parâmetro do sujeito nulo da L1 para a L2, os

participantes aprendizes de espanhol, provavelmente produzirão frases com sujeito pleno em

maior número do que frases com sujeito nulo de acordo com os mecanismos de satisfação do

EPP em PB, e (b), se a interferência diminui com o aumento da proficiência, prevê-se

diferenças significativas na produção de frases com sujeito pleno nos três diferentes níveis, ou

seja, mais frases com sujeito nulo em níveis de proficiência avançados semelhante ao que se

espera para o grupo controle, para este experimento II e, complementarmente, a estas duas, é

feita a previsão:

(c) Se a interferência do PSN parcial da L1 diminui apenas no nível avançado, os

participantes aprendizes de espanhol em ambiente universitário, produzirão maior número de

frases com sujeito pleno nos níveis básico e intermediário comparativamente ao nível

avançado.

4.3.2 Variáveis e condições

As variáveis independentes do experimento II compreendem as mesmas do

experimento I: níveis de proficiência (básico, intermediário e avançado) e o tipo de narrativa a

15 Formulário adaptado de DA SILVA (2015). Está em anexo na página 87.

65

ser produzida em 1ª ou 3ª pessoas do singular ou plural. Desta maneira, o desenho

experimental também é 3x4 apresentado em quatro condições: 1ª e 3ª pessoas do singular e 1ª

e 3ª pessoas do plural. O número de frases produzidas em cada uma destas condições e em

cada um dos níveis de proficiência constituem as variáveis dependentes.

4.3.3 Participantes

Este experimento contou com a participação de 60 brasileiros estudantes da graduação

em Letras da Universidade Federal Fluminense com habilitação em português e espanhol

(como L2). Os participantes estavam cursando os 1º, 5º e 9º períodos que compreendem ao

início, meio e fim da graduação e após terem respondido o formulário de nivelamento, foram

distribuídos em três níveis de proficiência: 20 no nível básico, 20 no nível intermediário e 20

no nível avançado. Como é possível verificar na Tabela 5 abaixo.

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO

1º PERÍODO 17 8 0

5º PERÍODO 0 9 1

9º PERÍODO 0 3 19

TOTAL 17 20 20

Tabela 5: Distribuição dos alunos de graduação em níveis de proficiência.

Contudo, vale ressaltar que, neste experimento houve a necessidade de descartar os

dados de produção de frases de três participantes do nível básico que escreveram a maioria

das frases em português, sendo assim, este nível de proficiência passou a ter apenas 17

participantes. Veja abaixo no Gráfico como ficou a distribuição dos estudantes de graduação

nos níveis de proficiência.

66

Gráfico 8: Distribuição dos estudantes de graduação em níveis de proficiência.

Todos os participantes deste experimento residem no RJ e possuem a idade média de 25 anos

e para o grupo controle foram utilizados os mesmos resultados já obtidos no experimento I.

4.3.3 Materiais

As mesmas 12 narrativas experimentais incompletas, permitindo 3 exposições para

condição experimental juntamente com as 24 distratoras também incompletas foram utilizadas

no experimento II. E, de igual maneira, para a aplicação deste experimento foi utilizada a

distribuição whitin subjects na qual todos os participantes de todos os grupos são expostos a

todas as condições experimentais.

4.3.4 Procedimentos

Para a realização da tarefa experimental, os professores cederam, ora os trinta e cinco

minutos finais da aula, ora os trinta e cinco minutos iniciais, assim, o experimento foi

realizado na própria sala de aula da Universidade. Antes de começar a aula ou após o seu

término, os alunos recebiam o formulário de nivelamento a ser preenchido, logo depois

ouviam uma breve explicação sobre como produzir as frases experimentais – continuando as

narrativas com as primeiras duas ou três palavras surgidas na mente – e somente depois

recebiam as folhas contendo as narrativas experimentais e distratoras. A média de duração de

cada participante para cumprir a tarefa foi de, aproximadamente, 25 minutos e após o término

do experimento os alunos entregavam a folha junto ao formulário e aguardavam o início da

aula em silêncio ou, quando a aula já tinha terminado, entregavam as folhas e iam embora. As

67

poucas dúvidas surgidas com relação ao vocabulário foram sanadas no decorrer da aplicação

do experimento.

4.4 Resultados

Este segundo experimento teve os dados obtidos submetidos ao teste estatístico qui-

quadrado e de acordo com este teste é possível observar que, referente à variável tipo de

narrativa em primeira e terceira pessoas, os resultados parecem indicar que houve efeito

significativo em relação ao tipo de sujeito produzido nas frases dos três níveis de proficiência.

Assim de acordo com o teste qui-quadrado (X²= 100,8254158, p<0,05), observa-se no

Gráfico 9 abaixo, que a primeira pessoa apresenta maior índice de produção de frases com

sujeito nulo comparativamente a terceira pessoa nos três níveis de proficiência.

Gráfico 9: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nas 1ª e 3ª pessoas nos três diferentes níveis de

proficiência. (Graduação)

A mesma variável tipo de narrativa relacionada agora ao número, singular ou plural,

apresenta novamente efeito significativo nos três níveis de proficiência (X²=98,07942388,

p<0,05), já que o plural apresentou maiores índices de produção de frases com sujeito nulo do

que o singular, como verifica-se no Gráfico 10 abaixo.

BA_1ªP. BA_3ªP. IN_1ªP. IN_3ªP. AV_1ªP. AV_3ªP.

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

68

Gráfico 10: Produção de frases com sujeito nulo e pleno em singular e plural, nos três diferentes níveis de

proficiência. (Graduação)

Os resultados relativos ao nível de proficiência apresentaram de acordo com os dados

estatísticos (X²=67,13253088, p<0,05) efeito principal desta variável nos três níveis de

proficiência. Os participantes do nível básico apresentaram 66,66% de produção de frases

com sujeito nulo, os do nível intermediário 83,33% e do nível avançado 94,16% e estes

resultados parecem comprovar a previsão (b), a interferência da L1 sobre a L2 diminui com o

aumento da proficiência na língua alvo, mas não parece comprovar a previsão (c), a

interferência do PSN da L1 diminui apenas no nível avançado, visto que, em todos os três

níveis o percentual de produção de frases com sujeito nulo é maior que o de sujeito pleno.

Tais resultados, talvez, se justifiquem a partir do perfil do aprendiz de L2, estudante de

graduação, que desde o início de seu aprendizado, em ambiente universitário, tem atenção a

este parâmetro e, além disso, possui um tempo maior de exposição à segunda língua. Veja

abaixo no Gráfico 11 no qual é possível verificar tais resultados.

BA_sg. BA_pl. IN_sg. IN_pl. AV_sg. AV_pl.

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

69

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

Gráfico 11: Produção de frases com sujeito nulo e pleno nos três diferentes níveis de proficiência

(Graduação).

Ainda que os índices de produção de frases com sujeito nulo tenham sido maiores em

todos os três níveis de proficiência, fato que vai de encontro à previsão (a), como observado

no Gráfico 11 acima, é possível verificar, no entanto, isolando apenas os resultados referentes

à produção de frases com sujeito pleno, que o nível básico produziu gradativamente mais

frases deste tipo do que os outros níveis. Veja no Gráfico 12 abaixo.

Gráfico 12: Produção de frases com sujeito pleno nos três níveis de proficiência (Graduação) e grupo

controle.

66,66%

83,33%

94,16%

70

Tal resultado talvez possa ser atribuído, como dito anteriormente, ao fato de que os

aprendizes de espanhol como L2 são expostos por mais tempo a essa L2 do que os aprendizes

de um curso de idiomas.

Observando o Gráfico 13 abaixo, no qual se encontram os resultados referentes aos

três níveis de proficiência junto ao resultado do grupo controle, é possível perceber

novamente que o nível de proficiência não apresenta efeito significativo, de acordo com os

dados estatísticos (X²=83,53709904, p<0,05), e grande influência na transferência do PSN

parcial do PB como L1 sobre o espanhol como L2.

71

BÁSICO INTERMEDIÁRIO AVANÇADO CONTROLE

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

Nulo

Pleno

Gráfico 13: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle.

Os resultados referentes a produção de frases com sujeito nulo relacionados ao tipo de

narrativa em singular e plural e ao tipo de narrativa em primeira e terceira pessoas revelam

que não houve, entre estas variáveis, um efeito significativo de interação (X²= 6,056675793,

p>0,05) em todos os níveis de proficiência. Observe no Gráfico 14 abaixo.

72

BA_1ª BA_3ª IN_1ª IN_3ª AV_1ª AV_3ª CO_1ª CO_3ª

Gráfico da Tabela Cruzada

Proporção

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

SINGULAR

PLURAL

Gráfico 14: Padrões de produção de frases dos níveis de proficiência (Graduação) e grupo controle

(valores de sujeito nulo)

Embora as previsões (a) e (c) não pareçam ter sido confirmadas inicialmente de acordo

com as análises, é possível supor que existe transferência de aspectos da L1 para a L2 durante

o curso de aquisição da segunda língua, por outro lado, verificou-se ainda que a previsão (b)

se confirmou através dos resultados, pois a interferência parece diminuir gradativamente em

função do aumento da proficiência.

4.5 Discussão

Nos dois experimentos de produção induzida que constituíram este trabalho foram

utilizadas três narrativas de cada uma das condições (1ª P.Sg., 1ª P.Pl., 3ª P.Sg., 3ª P.Pl.) que

permitiram a produção de frases com sujeito nulo ou pleno e todos os dados foram

submetidos ao teste estatístico qui-quadrado. Entretanto, participaram do experimento I

brasileiros aprendizes de espanhol como L2 alunos do curso de idiomas Prolem e do

experimento II participaram brasileiros aprendizes de espanhol como L2 alunos da graduação

em Letras português/espanhol, ambos localizados na Universidade Federal Fluminense.

Os experimentos I e II mostram em seus resultados efeitos significativos da variável

tipo de narrativa em relação à pessoa gramatical – experimento I (X²= 158, 7978836, p<0,05),

experimento II (X²= 100,8254158, p<0,05) – e em relação ao número – experimento I (X²=

132,5206349, p<0,05), experimento II (X²=98,07942388, p<0,05) - em todos os níveis de

73

proficiência, isto é, houve um percentual maior de frases produzidas com sujeito nulo em

primeira pessoa comparativamente a terceira e, ainda, um percentual maior de frases com

sujeito nulo no plural em comparação ao singular. Contudo, observando-se os percentuais de

produção de frases com sujeito pleno no experimento I é possível perceber que, exceto o nível

avançado e a primeira pessoa do nível básico, todas as produções de frases foram feitas, em

sua maioria, com a presença de sujeito pleno, o que, de acordo com Duarte (1993,1995) se

justifica se considerarmos a transferência da L1, que é de sujeito pleno para a L2 que é de

sujeito nulo. Todavia, ao observar os percentuais de produção de sujeito pleno no experimento

II verifica-se que apenas o nível básico apresenta um índice mais elevado, ainda que este

índice não ultrapasse o de sujeito nulo, o que possivelmente pode se dever ao fato de os

graduandos terem mais tempo de exposição à L2 mesmo estando nos períodos iniciais do

curso. Como esperado, não houve efeito significativo da variável tipo de narrativa relacionada

à pessoa gramatical (X²= 1,578947368, p>0,05), tampouco para a mesma variável relacionada

ao número (X²= 0,175438596, p>0,05) nos resultados do grupo controle, ou seja, o tipo de

narrativa de acordo com o paradigma número-pessoal não é um fator relevante para a

utilização do sujeito nulo em espanhol.

Sobre a produção de frases com sujeito nulo relacionada ao nível de proficiência, os

resultados do experimento I (X²= 129,3206349, p<0,05) e do experimento II

(X²=67,13253088, p<0,05) apontam na mesma direção indicando que há interferência da L1

sobre a L2, principalmente nos níveis iniciais de proficiência durante a aquisição da segunda

língua. No entanto, contrariamente ao esperado, os resultados do experimento I apresentaram

maior incidência de sujeito pleno na produção de frases do nível intermediário,

comparativamente ao nível básico e os resultados do experimento II apresentam maior índice

de produção de frases com sujeito nulo nos três níveis de proficiência. O resultado do

experimento I sugere que brasileiros aprendizes de espanhol como L2 produzem frases com

sujeito pleno tal qual acontece no PB até um determinado momento em que o parâmetro da

língua-alvo é ativado na mente destes aprendizes quando atingem o nível avançado de

proficiência na língua. Sendo assim, tal resultado contribui para os estudos sobre aquisição de

L2, pois permitem confirmar a Hipótese de Transferência e Acesso Total (SCHWARTZ E

SPROUSE, 1994, 1996 apud XAVIER, 2006), para a qual o estado inicial da L2 é a gramática

da L1 com suas propriedades abstratas que serão utilizadas para a construção da gramática da

IL, ou seja, ocorre a transferência do PSN da L1 para a L2 e, ainda esta transferência diminui

à medida que o aprendiz reestrutura a sua gramática da IL acessando à GU.

74

Então, os aprendizes do nível intermediário seriam menos suscetíveis às interferências

do valor da L1 para a L2, enquanto os aprendizes dos níveis básico e avançado não

perceberiam a diferença paramétrica entre as duas línguas. Isso não se verifica nos resultados

obtidos através do experimento II no qual o percentual de produção de frases com sujeito nulo

foi maior em todos os níveis de proficiência, porém, se observadas apenas as produções de

sujeito pleno isoladamente, percebe-se que estas diminuem gradativamente entre os três

níveis. Neste sentido, houve uma diferença considerável relacionada à variável grupal nível de

proficiência entre os resultados dos dois experimentos.

Comparando apenas os índices de produção de frases com sujeito nulo do nível

avançado do experimento I (85,41%) e do experimento II (94,16%) com o grupo controle

(95%), é possível perceber que os resultados são bastante similares e isto pode ser

significativo para supor que a interferência da L1 diminui em função do aumento da

proficiência em L2, já que, segundo a Hipótese de Transferência e Acesso Total (Schwartz e

Sprouse, 1994, 1996 apud XAVIER, 2006), o aprendiz reestrutura sucessivamente a sua

gramática da IL fixando novos parâmetros, através do acesso à GU, na medida em que não

encontra na L1 estruturas equivalentes a L2 e, ainda, que a gramática de um aprendiz no nível

avançado se aproxima a de um nativo.

No que se refere à interação entre o tipo de narrativa relacionada à pessoa e o tipo de

narrativa relacionada ao número, é possível observar que não houve efeito significativo para o

experimento I (X²= 3,719893232, p>0,05), nem para o experimento II (X²= 6,056675793,

p>0,05) em nenhum dos níveis de proficiência, tampouco no grupo controle, ou seja, não

houve interação entre essas duas variáveis.

Em síntese, os resultados obtidos nos dois experimentos indicaram diferenças

relacionadas à interferência do valor do parâmetro da L1 para a L2 durante os níveis iniciais

de proficiência, visto que no experimento I os níveis básico e intermediário tiveram maiores

percentuais de produção de frases com sujeito pleno comparativamente aos resultados obtidos

no experimento II cujo percentual de produção de frases com sujeito nulo foi mais elevado em

todos os níveis. Além disso, esta interferência não pareceu ser gradativa no experimento I,

diminuindo consideravelmente apenas no nível avançado, enquanto no experimento II a

gradação aparece claramente nos resultados evidenciando que a interferência diminui com o

aumento da proficiência na língua-alvo. Os resultados do experimento I mostraram, ainda, a

preferência dos aprendizes dos níveis básico e intermediário pela produção de frases com

sujeito pleno nas 1ª e 3ª pessoas gramaticas e curiosamente os índices de produção de sujeito

desse tipo de sujeito aparecem mais elevados na 3ª pessoa que é considerada a mais resistente

75

à mudança, segundo Duarte (1995). No experimento II, por sua vez, verifica-se que os

aprendizes de todos os níveis produziram sentenças com sujeito nulo, mas se voltarmos a

atenção apenas para os índices de produção de sujeito pleno, observa-se que a 3ª pessoa

gramatical apresenta um percentual maior de produção deste sujeito em relação a 1ª.

76

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas mudanças relacionadas ao preenchimento do sujeito vêm afetando o PB, ao

contrário do que ocorre com o PE (cf. DUARTE, 1995, dentre outros), pois há indícios de que

o PB esteja passando por um processo de mudança, distanciando-se das outras línguas

românicas no que diz respeito à representação do sujeito pronominal. Assim, o PB tem

apresentado o status de LSN parcial (HOLMBERG, 2010; MODESTO, 2000), ao contrário

de línguas de sujeito preenchido, como é o caso do inglês, ou mesmo ao contrário de LSN

prototípicas, como é o caso do espanhol. Isto indica que esta diferença do PB relacionada ao

preenchimento da posição de sujeito pronominal pode ser indício de uma mudança em curso

na marcação do PSN nesta língua (DUARTE, 1993,1995). Desse modo, esse novo

comportamento do PB frente ao PSN pode refletir-se na aquisição de uma L2 com marcação

diferente como, por exemplo, o espanhol, ou seja, pode haver transferência de aspectos do PB

como L1 influenciando o processo de aquisição da L2.

Foi feita uma revisão de literatura para fundamentar as deduções feitas anteriormente,

no sentido de verificar quais são as particularidades relacionadas ao PSN e,

consequentemente, quais as características que permitem classificar as línguas marcadas

positiva ou negativamente em relação a este parâmetro. Além disso, verificou-se as

particularidades do PB e do espanhol relacionadas ao PSN a fim de comparar estas duas

línguas que possuem marcações diferentes e observar em que medida ocorre interferência do

PB como L1 sobre o espanhol como L2. Neste sentido, para a realização deste trabalho fez-se

uso do modelo formal de língua da linguística gerativa de acordo com o Programa

Minimalista (CHOMSKY, 1995 e posteriores) e dos pressupostos metodológicos da

psicolinguística experimental.

A partir da diferença entre a satisfação do traço EPP – “responsável pelo

preenchimento da posição de sujeito sintático nas línguas naturais” (VIEGAS, 2014) - no PB

e no espanhol, buscou-se verificar em que medida essa característica pode interferir na

aquisição do valor do parâmetro [+ pro drop] no curso do aprendizado do espanhol como L2.

O PB tem se aproximado de línguas como o inglês [- pro drop] no que diz respeito ao

preenchimento de sujeitos referenciais, no entanto, o espanhol peninsular permanece uma

LSN prototípica na qual o traço EPP é satisfeito por uma categoria vazia chamada pro.

Existe uma discussão complexa na literatura acerca de como acontece o processo de

aquisição/aprendizagem de L2, pois quando estamos diante de línguas com marcações

diferentes relacionadas ao PSN, verificamos diferentes comportamentos de satisfação do traço

EPP, fato que além de conferir um status diferente a estas línguas (XAVIER, 2007 apud

77

Viegas, 2014) pode tornar a aquisição de L2 por um adulto mais custosa e menos natural do

que ocorre com uma criança, interferindo na marcação do PSN da língua-alvo, isto é, o

estágio final do processo de aquisição pode diferir da gramática de um falante nativo. De

acordo com Selinker (1972) o fato de aprendiz de L2 desenvolver uma interlíngua de forma

sistemática e, não necessariamente, determinada pela L1 ou L2 ao longo do processo de

aquisição da segunda língua, parece demonstrar que a aquisição se dá a partir de um sistema

complexo tal qual acontece com a aquisição de L1 por um nativo. Por outro lado, se durante o

processo aquisição de L2, o estado inicial não acontece a partir do zero, visto que, o aprendiz

tem acesso ao conhecimento já adquirido da L1, muitas teorias defendem que a

aquisição/aprendizagem de L2 se dá da mesma forma que a aquisição da L1, para outras a

própria gramática da L1 seria o estágio inicial da L2 (cf. SCHWARTZ E SPROUSE, 1994,

1996; VAINIKKA E YOUNG-SCHOLTEN, 1994, 1996, EPSTEIN et. al., 1996, dentre

outros). Para White (2003) em alguns momentos a dissociação entre GU e L1 não acontecerá,

já que a GU estaria presente na própria L1.

Assim, o objetivo deste trabalho foi averiguar a transferência do parâmetro da L1

sobre a L2, à luz da teoria de Princípios e Parâmetros e contribuir para a discussão sobre as

hipóteses de acesso à GU durante o processo de aquisição/aprendizado de uma L2, por meio

de uma abordagem experimental. A hipótese que ora orientou este trabalho foi a de que há

interferência da L1 sobre a L2, e que esta interferência tende a diminuir com o aumento da

proficiência, assim como propõe a Hipótese de Transferência e Acesso Total de Schwartz e

Sprouse (1994, 1996, apud XAVIER, 2006). Para tanto, foi elaborado um experimento no

qual brasileiros aprendizes de espanhol como L2 divididos em três níveis de proficiência

(básico, intermediário e avançado) tinham, como tarefa off-line a continuação de narrativas

em espanhol. O experimento foi realizado em duas etapas, o experimento I foi realizado com

os alunos de curso um de idiomas localizado na Universidade Federal Fluminense e, o

experimento II foi realizado com os alunos do curso de graduação em Letras

português/espanhol localizado na mesma Universidade.

Os resultados do experimento I e II apresentaram diferenças significativas no que diz

respeito à interferência do PB como L1 sobre a aquisição do espanhol como L2. A previsão

(a) foi confirmada através dos resultados obtidos com o experimento I no qual os aprendizes

dos níveis básico e intermediário produziram um percentual elevado de frases com sujeito

pleno sugerindo que ocorre transferência na marcação do PSN da L1 para a L2. Por outro

lado, se observamos nos resultados do experimento II, o mesmo não acontece, já que o índice

de produção de frases com sujeito nulo se deu, majoritariamente, nos três níveis de

78

proficiência. Este resultado, no entanto, não foi interpretado como um indício contrário à

interferência do PSN da L1 para a L2 e, sim, um resultado relacionado ao tempo de exposição

à L2 durante a graduação, visto que, os aprendizes de L2 num ambiente universitário são

expostos à língua por mais tempo do que os aprendizes de L2 em um curso de idiomas.

Do mesmo modo, os resultados de ambos os experimentos mostraram resultados

distintos quando comparados os percentuais de preenchimento de sujeito pleno nos três

diferentes níveis de proficiência. Neste sentido, o experimento I, como dito anteriormente,

apresentou níveis elevados de preenchimento de sujeito nos níveis básico e avançado,

confirmando a previsão de que ocorre interferência da L1 sobre a L2, contudo, esta

interferência não pareceu ser gradativa, visto que o nível intermediário apresentou percentuais

mais elevados de produção de frases com sujeito pleno do que o nível básico. Embora o

experimento II tenha apresentado percentuais elevados de sujeito nulo, é possível verificar a

diminuição gradativa no preenchimento do sujeito se observamos isoladamente a produção de

sujeito pleno.

Todavia, se forem observados os resultados referentes ao nível avançado, o

experimento II reforça os resultados obtidos no experimento I, isto é, nos dois experimentos o

nível avançado apresentou percentuais elevados de produção de frases com sujeito nulo

sugerindo que aprendizes de L2 em estágio avançado atingiriam um nível de competência

linguística que permitiria a comparação ao nível de um nativo (BIRDSONG, 1992 apud

XAVIER, 2006) e, ainda, confirmando a previsão (b) a interferência diminui em função do

aumento da proficiência, o percentual com sujeito nulo no nível avançado aproximou-se

bastante dos resultados do grupo controle composto por nativos espanhóis.

Para Duarte (1995) e Ferreira (2000) a 3ª pessoa é considerada a mais resistente ao

processo de mudança pelo qual passa o PB, sendo assim, era esperado encontrar percentuais

mais elevados de produção de sujeito nulo em 3ª pessoa do que em 1ª. No entanto, os

resultados do experimento I mostraram percentuais mais elevados de produção de frases com

sujeito pleno na 3ª pessoa se comparados aos da 1ª e o mesmo se verifica no experimento II

quando observamos apenas os resultados relacionados ao sujeito pleno. Tais resultados, por

sua vez, permitem observar de acordo com Paredes Silva (1988) o comportamento atípico da

3ª pessoa no que tange o preenchimento do sujeito, visto que, há ainda ocorrência de sujeito

nulo relacionada a esta pessoa no PB, mas é possível verificar que os índices de

preenchimento de sujeito em 3ª pessoa são significantemente maiores do que no PE.

Este trabalho contribuiu para ampliar os estudos relacionados à aquisição de espanhol

como L2 por brasileiros e, ainda, expandir os estudos relacionados à transferência do PSN de

79

L1 para L2, bem como as discussões acerca do acesso à GU, tal qual propõem as teorias sobre

aquisição/aprendizagem de L2 (cf. WHITE, 2003, XAVIER, 2006, dentre outros). Além

disso, este trabalho contribuiu para ampliar as pesquisas de caráter experimental, visto que,

pesquisas sobre a aquisição de espanhol como L2 por aprendizes brasileiros sob a abordagem

metodológica da psicolinguística experimental são pouco numerosos.

Espera-se dar continuidade a esta pesquisa através da realização de outros

experimentos que permitam investigar, sob abordagem experimental, como se dá o

processamento em tempo real do PSN parcial do PB na mente dos aprendizes de espanhol,

como L2, durante a aquisição desta segunda língua. Além de investigar a própria definição do

PB como LSN parcial e, ainda, contribuir com os resultados para as questões referentes às

hipóteses de acesso à GU.

80

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85

ANEXOS

ANEXO 1: Experimento continuação de narrativas

Lee atentamente los siguientes fragmentos narrativos y complétalos con tus propias

palabras.

1) La presidenta de la empresa anunció que el cafecito y la leche de los intervalos serán

cobrados a los empleados porque subió el precio de la crema desnatada que los compone.

Algunos trabajadores hicieron saltar la alarma de incendio como…

2) Mido 1,70 m y peso 90 kilos. Me dicen que tengo que cambiar mis hábitos alimenticios si

quiero mejorar mi forma física y estar mejor dispuesto. No me muevo nada, no juego al

fútbol, no puedo correr más que…

3) Mi esposo y yo descubrimos que personas con altos niveles de colesterol tienen una

posibilidad significativamente mayor de desarrollar cáncer, por eso decidimos ir al spa para

reducir el antojo de comidas basura. Después de algunos días…

4) Actualmente, los mensajes electrónicos forman parte del día a día de millones de personas,

que los utilizan para tratar de asuntos personales, profesionales o comerciales con agilidad.

Sin embargo, todavía se escriben cartas de amor, comerciales…

5) José y Laura son dos hermanos y viven en el quinto piso. Tras la muerte de sus padres,

heredan una casa en el campo lejos de donde viven. Después de un tiempo pensando qué

hacer con la casa decidieron venderla; sin embargo…

6) Paco trabaja en una tienda de ropas ecológicas en el centro comercial. Todos los días se

levanta muy temprano y, a continuación, corre por la playa. Los días de semana son muy

especiales porque hay mucho trabajo hasta…

7) Conocí a unos muchachos en un sitio para jóvenes amigos, charlamos por lo menos unos

cinco meses hasta que decidí encontrarlos en un retiro espiritual. En el primer día, los

muchachos parecieron muy amables, pero después…

8) Desde hace pocos años son muchos los productos de usar y tirar que utilizamos. Si bien

este tipo de objetos han favorecido el crecimiento económico, su uso se ha extendido a

diferentes dominios de la vida, instaurándose una verdadera cultura de esta práctica que…

9) Hoy es lunes, mi primer día en México. Siempre he vivido en Argentina, pero con los

cambios en la empresa de mi padre, tuvimos que mudarnos a México. Anoche estábamos en

el aeropuerto esperando nuestro vuelo y…

86

10) Soy una persona muy atareada, casi no tengo tiempo para divertirme porque trabajo

demasiado, pero ayer decidí pasar todo el día sin trabajar. Ir al cine, a la primera sesión, y

luego comer una comida muy especial, es algo…

11) La policía le hizo un test de alcoholemia al conductor que estaba hablando por teléfono y

parecía tener un micrófono en las manos. Presentaba síntomas de ir alcoholizado y el test

pudo comprobar un alto nivel…

12) Hay momentos en los que necesito estar solo, en estos momentos no quiero estar con otras

personas, ni tampoco con mi familia o mismo con mi perro. Sin embargo, mis familiares no

están felices con ello y…

13) Madrid es una ciudad moderna, grande, de varios millones de habitantes, aunque para mí

no tiene comparación con la ciudad de México. Me falta más caos, más ruido, más

contaminación. La vida en Madrid y en España en general es muy…

14) A veces se consume muchísimo sin ningún tipo de preocupación por los problemas

medioambientales y sociales que ese tipo de práctica puede generar. Pero lo que pasa es que,

cuando uno va de compras, no se lleva solo…

15) Todos los días cuando veo a mi vecina salir de su casa con su coche rojo pienso en mi

vida y, aunque no lo quiera admitir, la verdad es que siento mucha envidia porque la

muchacha tiene mucho dinero. Otro día…

16) El tiempo camina deprisa, el futuro está ahí, nos acechándonos con sus prodigios. Cada

día se inventan máquinas nuevas que nos llevan a crear nuevos quehaceres, que acarrean

nuevas obligaciones. Todo cambia tan…

17) El oficial encargado de sellar mi pasaporte empezó a pasar las hojas del mismo hacia

delante y hacia atrás, entonces empecé a sospechar que las cosas no iban a salir bien. Tras

unos cinco minutos de tensión, el hombre dejó el…

18) Salí de vacaciones a conmemorar la defensa de mi tesis de postgrado en un lugar

diferente y el día fue muy provechoso en una playa paradisiaca de México. De los manjares

mexicanos nunca había probado, por eso…

19) Es muy importante saber que la contaminación ambiental es responsable por muchas

enfermedades. El 25% de la mortalidad y las hospitalizaciones en todo el mundo se relaciona

con factores ambientales que…

20) Tuve en la niñez una tía muy querida que me llevaba a su casa en las vacaciones, salía

conmigo y con mis hermanos en casi todos los fines de semana. Era una mujer espectacular,

trabajadora y muy feliz, pero un día…

87

21) En mis vacaciones fui al norte de España, concretamente a un pueblecito llamado

Galizano, donde hice muchos amigos; fui a Oporto, una ciudad maravillosa al norte de

Portugal, fui no solo para ver la ciudad sino también para visitar a…

22) El otro día fui a desayunar y, sin darme cuenta, estaba desayunando café con leche y

tostadas. Luego entró mi viejo padre en la cocina y lo abrace como si no lo hubiese visto

desde hace años. Luego me fui a la facultad pensando…

23) Se acerca la última semana de octubre y vestimos alegremente a nuestros hijos de zombis,

calaveras o monstruos; pero cuando ellos nos preguntan sobre la muerte preferimos dar

respuestas abstractas que tal vez…

24) Todos los días nos tocan muchos quehaceres: estudiamos, trabajamos, etc. Y siempre

estamos buscando una manera satisfactoria de dividir nuestro tiempo entre lo que queremos y

lo que debemos hacer. Todo el tiempo…

25) Hace un par de semanas un joven recién egresado, pero con un año de experiencia, fue a

una entrevista de trabajo. Cuando le preguntaron cuánto quería ganar, pidió tan poco que el

entrevistador se sorprendió con…

26) Tengo una vida tranquila, mi rutina es más o menos así: me despierto a las ocho,

desayuno, leo el periódico y camino un poco. Vuelvo a las doce, preparo la comida, almuerzo

y, enseguida, duermo la siesta. No tengo problemas y eso…

27) Las familias de hoy día son compuestas por padre, madre e hijos, pero en algunas no está

el padre o la madre. En otras no hay hijos y también hay aquellas en que se agregan otras

personas: abuelos, abuelas, primos, suegras…

28) Soy una persona muy tímida, pero me gusta muchísimo pasear en lugares donde haya

mucha gente, porque, aunque sea muy tímida, no me gusta la soledad. Necesito estar al lado

de personas hablando unas con las otras. Otros días…

29) En la ciudad donde vivo somos más de diez millones de habitantes distribuidos por

edificios, algunos muy altos, mansiones en condominios y también muchas chabolas. En la

zona central hay construcciones antiguas y modernas, calles, hoteles…

30) Soy joven y estudiante, tengo dieciséis años y, todavía, no me interesa conocer otras

culturas, otros lugares del mundo ni, tampoco, otro idioma que no sea el mío. Pero tengo una

madre muy atenta y eso no le gusta, por eso…

31) Viajar es experimentar otros sabores, respirar otros aires, conocer a otras personas, vivir

otras experiencias. En lo viajes conocemos lo diferente y nos reconocemos en ello, por eso

algunas personas suelen viajar todos…

88

32) Esta es una mañana muy ajetreada en la casa de Jimena. En la cocina la madre está

escribiendo un artículo y hablando por teléfono con su jefe, el padre está viendo el telediario y

preparando el desayuno, el abuelo está oyendo…

33) Mi familia es muy numerosa. En mi casa vivimos mi padre, mi madre, mis dos hermanas,

mi cuñado, mis tres sobrinos y yo. Nos gusta muchísimo ir de vacaciones todos los años y

siempre lo hacemos juntos. El año pasado…

34) La niñez es la época de la vida en que se aprenden muchas cosas: convivir con los amigos,

divertirse, leer, escribir, escuchar y contar historias. Todos tenemos derecho a una niñez sana,

pero infelizmente…

35) Un alumno de la academia de idiomas tenía alergia al polen y una vez le dijeron que

hiciera un tratamiento con un especialista gaucho que vivía en la periferia de la ciudad. Como

no sabía conducir hasta allí y tenía fobia a perderse, le pidió a su amigo que…

36) A lo largo de muchos siglos las fiestas expresan la cultura de un pueblo. Demuestran las

relaciones con las divinidades, con el medio social, con los valores y conocimientos de

nuestros ancestros; por eso las fiestas son…

89

ANEXO 2: Formulário de nivelamento.

INFORMAÇÕES GERAIS DO PARTICIPANTE

Idade: ________________ Sexo: masculino feminino País de Origem: _______________

Ocupação: ____________ Língua falada pela mãe: ________ Língua Falada pelo pai __________

Nível de Escolaridade: Ensino Fundamental Ensino Médio Graduação Pós-Graduação

Quanto tempo tem contato com espanhol? ____ Quantas horas semanais é exposto(a) ao espanhol__

Com quem e como começou a aprender? _________________________________________________

Curso de espanhol Faço Já concluí Interrompi meus estudos. Em que nível interrompeu? ____

Qual seu nível atual de espanhol(de acordo com seu curso ou avaliações) Básico Intermediário Avançado

Escolha a opção que melhor avalie sua relação com a língua espanhola (marque apenas UMA):

Leio, falo, escrevo e entendo em espanhol na mesma velocidade que o Português

Leio qualquer texto em espanhol, me considero fluente e, dificilmente, encontro problemas com alguma palavras

Entendo e me expresso bem, apesar de ter dificuldades pontuais em determinadas áreas

Consigo me expressar razoavelmente, apesar de não dominar alguns pontos da língua

Consigo me expressar razoavelmente, mas tenho problemas para entender algumas coisas e me fazer entendido

Consigo me comunicar em situações específicas com as poucas expressões que conheço e somente entendo a elas

Conheço apenas alguns poucos assuntos específicos e consigo entender e me comunicar com dificuldade

Ainda não sei muito. Estou começando, portanto, não consigo entender praticamente nada nem me comunicar

Sei muito pouco (aproximadamente 10 expressões) e não consigo compreender nem ser compreendido(a)

Conheço pouquíssimas palavras soltas, não consigo me comunicar e não entendo nada em espanhol

Desconheço o idioma Sou falante nativo de espanhol Sou falante nativo e entendo português

Conhece outra língua? Sim Não Qual (ou quais)? ____________________________________

Já morou em outro país? Sim Não Qual (ou quais)? ___________________________________

Dê mais informações (tempo, local, situação etc) __________________________________________

PARA PREENCHIMENTO DO PESQUISADOR

GRUPO Nativo Próximo a Nativo Avançado Intermediário Elementar / Iniciante

OBSERVAÇÕES __________________________________________________________________

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LOCAL E DATA

DO EXPERIMENTO

NÚMERO DO

PARTICIPANTE

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