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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO VARIAÇÃO SAZONAL E LONGITUDINAL NA ECOLOGIA ALIMENTAR DE CHIROPOTES SAGULATUS TRAIL, 1821 NA AMAZÔNIA BRASILEIRA Viviane Sodré Moura Mestrado Acadêmico São Cristóvão Sergipe Brasil 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO

VARIAÇÃO SAZONAL E LONGITUDINAL NA ECOLOGIA ALIMENTAR

DE CHIROPOTES SAGULATUS TRAIL, 1821 NA AMAZÔNIA

BRASILEIRA

Viviane Sodré Moura

Mestrado Acadêmico

São Cristóvão

Sergipe – Brasil

2016

Viviane Sodré Moura

VARIAÇÃO SAZONAL E LONGITUDINAL NA ECOLOGIA ALIMENTAR

DE CHIROPOTES SAGULATUS TRAIL, 1821 NA AMAZÔNIA

BRASILEIRA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Sergipe, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ecologia. Orientador: Prof. Dr. Stephen Francis Ferrari. Co-Orientador: Prof. Dr. Fabiano Rodrigues de Melo.

SÃO CRISTÓVÃO

SERGIPE – BRASIL

2016

M929v

Moura, Viviane Sodré

Variação sazonal e longitudinal na ecologia alimentar de Chiropotes sagulatus Trail, 1821 na Amazônia brasileira / Viviane Sodré Moura ; orientador Stephen Francis Ferrari. – São Cristóvão, 2016.

63 f. : il.

Dissertação (mestrado em Ecologia e Conservação) – Universidade Federal de Sergipe, 2016.

1. Ecologia animal. 2. Dieta. 3. Animais - Comportamento. 4. Animais - Proteção. 5. Amazônia. I. Ferrari, Stephen Francis, orient. II. Título.

CDU 591.5(811.3)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os cuxiús, especialmente aos do grupo Bacaba, do qual hoje

também faço parte. E à Liza Maria Veiga, que docemente abriu espaço e caminho para que eu

pudesse contribuir para o conhecimento a respeito dos cuxiús e para conhecer meu orientador,

Stephen Francis Ferrari. Por toda sua dedicação, entrega e gentileza em oferecer ajuda. E para

que tenha encontrado tudo o que lhe faltava nos braços da Mãe Divina. Gratidão.

AGRADECIMENTOS

Pai Celestial, Mãe, Amigo e Bem Amado Deus. Jesus Cristo, Baghavan Krishna,

Mahavatar Babaji, Lahiri Mahasaya, Swami Sri Yukteswar, Amado Gurudeva Paramahansa

Yogananda, gratidão porque todas as portas foram abertas e cuidadas pelo Infinito Amor que

transcende a matéria e flui de vocês diretamente a mim. Eu os reverencio.

A todos os que deixaram Deus cuidar de mim através de suas vidas, Gratidão. Cada

um que recebeu uma das minhas páginas amarelas tem um lugar especial na minha vida, e isto

extrapola o agradecimento pela ajuda acadêmica, pois são todos pedaços do meu coração

vivendo fora de mim.

Mãe e Pai, Irmã e João, gratidão porque vocês estavam aqui. Maria Eduarda, por ter

me tirado do estudo quando era necessário!

Thiago, o amor que foi escolhido para ser o companheiro da minha caminhada. A sua

família, tão querida que hoje também é minha. Gratidão por ser e por estar. Por aguardar com

amor e solidariedade durante as minhas ausências, e por cuidar com dedicação dos meus

afazeres na roça.

Steve, você disse sim e tudo isto foi possível. Gratidão por suas poucas palavras,

perfeitamente apropriadas para cada momento. Agora mesmo, durante os ajustes no texto e

interpretações a respeito dos dados que tenho em minha frente, Gratidão por estar presente,

quase que ao meu lado, orientando cada palavra e cada conceito. Escrever sob a sua

orientação bem humorada, paciente e muitíssimo competente, faz deste um trabalho mais

prazeroso.

Liza Maria Veiga, “Quem traz no nome esta marca, possui a estranha mania de ter fé

na vida, Maria, Maria”... Você continua sendo inspiração de competência, doçura. Gratidão

por ter sido chave para que portas fossem abertas, gratidão por ter sido porta, e fonte para

desfazer tantas dúvidas, quando eu ainda nem sabia o que significava direito uma pesquisa

comportamental. Como eu gostaria de te entregar pessoalmente minha página amarela...

Tati, por ter cuidado dos cuxiús após 2012, pelas conversas e confirmações a respeito

dos comportamentos. Por gentilmente doar as informações necessárias para este trabalho se

concretizar! Você me salva!!!!

Laboratório de Biologia da Conservação, Família Feliz, A Turma de Mestrado 2014.1,

Catingueiros do Arrocha, Amor... São os grupos com quem eu pude ser eu, com o meu

melhor e o meu pior. Por isso sim, Gratidão!!!!

Aos Deeksha Givers de Aracaju, especialmente Marizi Dória, lindas almas que me

acolheram com amor e luz, pela linda formatura e iniciação!!! Jay Bolo, gratidão porque esta

etapa se encerra com alegria, Sri Kalki Ki!!! Jay!!!!

Voltando ao tempo da Amazônia, Letícia, minha flor, eu faria tudo de novo para poder

não morrer de saudades de você! Pietro, Thiago, Branco, Tati, Cacá, Hugo, Vanessa, toda a

Confraria Vanilla etílica, foi muito melhor porque vocês estavam por perto. Seu João, meu

velhinho preferido, por ser suporte, alegria e amor pra vida inteira... Cleiton, Sarabá, Nego,

Colé, Edi, Eli, Careca, Serrão, gratidão por me ensinar a ler a Floresta Amazônica, desde as

primeiras letras, quando eu ainda era analfabeta. Bião (Fabiano Rodrigues de Melo) e Lelê

(Leandro Santana Moreira) pela parceria nessa pesquisa e oportunidade de trabalhar na

Amazônia e usar os dados coletados.

Ao PPEC da UFS, na pessoa da Juliana Cordeiro, que com belíssimo humor me

lembrou de cada compromisso. Aos professores do Programa, pela construção de minha

formação, gratidão!

Ao Keoma Coutinho, que sem me conhecer pessoalmente, foi gentil em ensinar a

análise do z binomial, esclarecendo até as minhas dúvidas mais primárias! Gratidão!

À Mari a e sua linda família, que durante grande parte da escrita, no tempo que a

Alegria ainda não tinha energia elétrica, cedeu gentilmente uma tomada para que eu ligasse o

computador. A caminhada diária de 1,5 km era recompensada pelo brilho no seu sorriso!

A CAPES pela concessão das bolsas, ao convênio FUNAPE UFG campus Jataí e a

MRN por ceder os dados coletados e apoio financeiro.

Pela chuva que caiu todas as vezes que era necessário desligar o computador na roça...

Gratidão.

Quando os olhos ainda não podem ver sozinhos, e a luz

que tudo permeia ainda não surgiu no horizonte, no resta

aguardar... É preciso estar pronto e atento para saber o

momento exato de dar a largada e seguir...

Para mais um dia de campo, ou para a vida.

(Vivi)

Resumo

Este estudo teve por objetivo avaliar variações sazonais e longitudinais no padrão de agrupamento e ecologia alimentar de um grupo de Chiropotes sagulatus, os cuxiús, na FLONA Saracá-Taquera, estado do Pará, Amazônia Brasileira. O grupo de estudo habituado, denominado Bacaba, foi monitorado entre Julho 2011 e Março 2012 (em todos os meses exceto Setembro) e Novembro 2014. Os dados comportamentais e de dieta foram coletados através do método de varredura instantânea, com duração de dois minutos e intervalo de 10 minutos, sendo coletadas amostras dos itens alimentares e realizada a contagem de indivíduos. O grupo Bacaba continha 67 indivíduos. Foram realizados 35 dias completos de observação e o orçamento de atividades foi Deslocamento (41,2%), Repouso (30,2%), Forrageamento (13,5%) e Alimentação (8,1%), Interações Sociais e Outros (6,9%). Foi realizado teste de Shapiro Wilk para a normalidade dos dados, o teste t de Student para os tamanhos de subgrupos e o teste z binomial para comparações de comportamento e dieta sazonal e longitudinal, além da similaridade de Jaccard para a composição taxonômica da dieta. Houve uma tendência para subgrupos maiores na estação chuvosa e no ano de 2011, mas a diferença não foi significativa. Deslocamento foi significativamente maior na estação chuvosa, quando os comportamentos de Alimentação e Forrageamento foram menores e as atividades de Repouso e Social foram significativamente maiores na estação seca. A dieta do grupo Bacaba apresentou alta ingestão de sementes para todo o período de estudo, e alta frequência de ingestão de sementes imaturas para as duas estações (59,9% estação seca e 47,7% estação chuvosa) com diferença significativa quando o item alimentar foi semente. Os itens partes florais e semente de fruto seco foram ingeridos apenas na estação seca. Todos os comportamentos apresentaram diferenças significativas entre anos, e foram mantidas as proporções dos itens alimentares na dieta mesmo com a baixa similaridade na composição taxonômica, mostrando a flexibilidade dos cuxiús para manter uma dieta de qualidade. As famílias mais importantes para a dieta do grupo foram Sapotaceae, Moraceae, Fabaceae, Chrysobalanaceae e Lecythidaceae, conhecidamente importantes para o gênero. Este estudo apresenta informações que reforçam os padrões comportamentais e de dieta para o gênero Chiropotes, corroborando a flexibilidade em sua ecologia alimentar e estratégia de forrageamento de maximização de energia.

Palavras chave: ecologia comportamental; dieta; conservação

Abstract

Seasonal and longitudinal variation in the feeding ecology of Chiropotes sagulatus Trail,

1821, in the Brazilian Amazon

The present study investigated the seasonal and longitudinal variation in the feeding ecology of a group of cuxiús, Chiropotes sagulatus, in the Saracá-Taquera National Forest, in the Brazilian Amazonian state of Pará. For the collection of quantitative behavioral data, the habituated study group, denominated the Bacaba group, was monitored between July 2011 and March 2012 (in all months except September) and November 2014. Data on the behavior and diet of the study group were collected on three to five days per month, based on instantaneous scan sampling, with a two-minute scan being conducted at 10-minute intervals, during which the number of individuals present was counted and samples of food items were collected. The Bacaba group contained 67 members. A total of 35 complete days of observation were conducted, and the general activity budget was Locomotion (41.2%), Rest (30.2%), Foraging (13.5%), and Feeding (8.1%), social interactions and others (6.9%). The normality of the data was evaluated using the Shapiro-Wilk test, variation in the size of subgroups was assessed using Student’s t, seasonal and longitudinal variation in the activity budget and composition of the diet was evaluated using binomial z scores, as well as Jaccard’s similarity index, for the comparison of the taxonomic composition of the diet. There was a tendency for the formation of larger subgroups during the rainy season of 2011, although the difference was not significant. Locomotion increased significantly during the rainy season, when Feeding and Foraging decreased, while Rest and Social Interactions increased significantly in the dry season. The diet of the Bacaba group was dominated by seeds throughout the study period, with high rates of ingestion of immature seeds being recorded during both the dry (59.9%) and rainy (47.7%) seasons, with a significant seasonal difference for seed feeding. Flower parts and the seeds of dry fruit were consumed only during the dry season. Significant differences were found between years in all behavior categories, although the composition of the diet was maintained, despite major modifications in its taxonomic composition, reflecting the capability of the cuxiús to obtain a high quality diet despite seasonal fluctuations in resource availability. The most important plant families in the study group’s diet were the Sapotaceae, Moraceae, Fabaceae, Chrysobalanaceae and Lecythidaceae, which are known to be important for Chiropotes. This study reconfirms the behavioral patterns and diet found in the genus Chiropotes, emphasizing the flexibility of its feeding ecology and energy-maximizing foraging strategy.

Key words: behavioral ecology; diet; conservation

SUMÁRIO Resumo .................................................................................................................................. xviii

Abstract .................................................................................................................................. xviii

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................ x

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. xi

1. Introdução.......................................................................................................................... 12

2. Objetivos ........................................................................................................................... 18

2.1 Geral ........................................................................................................................... 18

2.2 Específicos ................................................................................................................. 18

2.3 Hipóteses .................................................................................................................... 18

3. Material e Métodos............................................................................................................ 19

3.1 Área de estudo ........................................................................................................... 19

3.2 Definição do grupo de estudo .................................................................................... 22

4. Resultados ......................................................................................................................... 29

4.1 Esforço amostral ........................................................................................................ 29

4.2 Tamanho e composição do grupo .............................................................................. 29

4.3 Padrão de atividades .................................................................................................. 30

4.4 Dieta ........................................................................................................................... 32

4.5 Composição taxonômica da dieta .............................................................................. 35

5. Discussão ........................................................................................................................... 39

5.1 Tamanho e composição do grupo .............................................................................. 39

5.2 Padrão de atividades .................................................................................................. 41

5.3 Dieta ........................................................................................................................... 44

5.4 Composição da dieta .................................................................................................. 46

6. Conclusão .......................................................................................................................... 50

7. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 51

8. APÊNDICES ..................................................................................................................... 58

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa de distribuição geográfica das cinco espécies do gênero Chiropotes. Adaptado de Silva-Júnior et al. (2013). .................................................................................................... 13

Figura 2. Mapa do Brasil destacando o estado do Pará (A) em vermelho. Localização da FLONA Saracá-Taquera no estado do Pará (B) e destaque do platô Bacaba em verde, área do presente estudo (C). Adaptado de Melo et al. (2010). .............................................................. 19

Figura 3. Histórico de temperatura (mínima e máxima °C) e precipitação (acumulado mm) para a região da FLONA Saracá-Taquera, PA entre 2001 e 2014. Fonte: CPTEC/INPE. ....... 20

Figura 4. Dados de pluviosidade (mm) e temperatura (°C) para a região da FLONA Saracá-Taquera, PA entre janeiro de 2011 e março de 2012. Fonte: CPTEC/INPE. ........................... 21

Figura 5. Vista do interior (A), borda (B) e dossel (C) da Vegetação no Platô Bacaba, FLONA Saracá-Taquera, PA. Fotos: Viviane Sodré. ............................................................................. 22

Figura 6. Mapa identificando o platô Bacaba e o sistema principal de trilhas utilizado para a pesquisa com o grupo de cuxiús. Fonte: Melo et al. 2012........................................................ 23

Figura 7. Demonstrativo de parte do tratamento dado às amostras botânicas, após a marcação das árvores de alimentação e coleta de material para posterior identificação. Na fotografia é possível observar a padronização no tratamento dos itens alimentares coletados, com detalhe da apresentação da abertura do fruto por parte dos Cuxiús, para a obtenção da parte da planta a ser ingerida. Foto Viviane Sodré. .......................................................................................... 27

Figura 8. Frequência relativa dos comportamentos apresentados pelo grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA entre julho/2011 e março/2012 (n=6926) (exceto set/2011)....................................................................................................................... 31

Figura 9. Frequência relativa dos itens alimentares explorados pelo grupo Bacaba na FLONA Saracá-Taquera, PA entre julho/2011 e março/2012 (n=900) (exceto set/2011). .................... 33

Figura 10. Frequência relativa itens alimentares explorados pelo grupo Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA nas estações seca e chuvosa (n= 639). .................. 33

Figura 11. Cinco espécies botânicas com maior número de registros de Alimentação na dieta do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba), na FLONA Saracá-Taquera, PA. ...................... 36

Figura 12. As cinco espécies botânicas com maior número de fontes exploradas para a alimentação do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba), na FLONA Saracá-Taquera, PA. .. 37

Figura 13. Espécie da família Sapotaceae ainda não descrita consumida pelo grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) de semente imatura a semente de fruto seco na FLONA Saracá-Taquera, PA. ................................................................................................................. 49

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Etograma para coleta de dados comportamentais do grupo de Chiropotes sagulatus Bacaba. Adaptado de Veiga (2006). ......................................................................................... 25

Tabela 2. Classificação dos itens alimentares utilizados pelo grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA durante o período de estudo. ................................. 26

Tabela 3. Esforço mensal de coleta de dados do grupo de Chiropotes sagulatus na FLONA Saracá Taquera, com dias completos e número de registros e número de horas. .................... 29

Tabela 4. Orçamento de atividades do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA. ................................................................................................................. 31

Tabela 6. Orçamento de atividades do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA, para os meses de novembro/2011 e novembro/2014. ns=não significativo. ............................................................................................................................. 32

Tabela 5. Composição da dieta do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA estações seca e chuvosa. z = escores do z binomial; *=não significativo. .................................................................................................................................................. 34

Tabela 7. Composição da dieta do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA para os meses de novembro/2011 e novembro/2014. z = escores do z binomial; *=não significativo. .................................................................................................. 34

Tabela 8. Número de indivíduos por grupo em diferentes estudos com Chiropotes habitando floresta contínua. ...................................................................................................................... 39

Tabela 9. Resumo das contagens (média, min-max) de indivíduos de Chiropotes sagulatus por subgrupo para as estações seca e chuvosa e os meses de Novembro/2011 e Novembro/2014 na FLONA Saracá-Taquera, PA. ................................................................................................... 40

Tabela 10. Orçamento de atividades de Chiropotes em diferentes estudos. (Adaptado de Pinto, 2008). ........................................................................................................................................ 42

Tabela 11. Diferenças quanto ao número de famílias, gêneros e espécies vegetais consumidas por Chiropotes sagulatus em habitats de floresta contínua, em diferentes estudos. ** mais de um grupo por estudo. ................................................................................................................ 47

12

1. Introdução

As florestas tropicais são os ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta

(Cuarón 2000). Ainda que ocupem originalmente somente 17 milhões de km², ou seja, menos

de 5% do planeta, estima-se que abriguem cerca de 50% de todas as espécies de seres vivos

existentes (Conservation Intenational 2007).

Dentre estas florestas, a Amazônia cobre cerca de sete milhões de km² e abrange o

maior trecho de floresta tropical existente (Haugaasen et al. 2005). Configura-se como um

mosaico de ecossistemas, e devido a sua grande extensão de floresta contínuas abriga uma das

maiores riquezas de flora e fauna do mundo (Capobianco et al. 2001; Conservation

International 2007). As chamadas florestas de “terra firme” são os ambientes que apresentam

os maiores níveis de diversidade local em táxons de plantas, vertebrados e invertebrados

(Haugaasen et al. 2005).

No começo do atual século, a região amazônica abrigava cerca de 75% (82) de todas

as espécies de primatas do Brasil (total de 110), apresentando a maior riqueza desse grupo em

todo o mundo (Rylands et al. 2000), sendo que novas espécies foram descritas ao longo dos

últimos anos (Rylands et al. 2011). A grande diversidade de primatas no bioma e suas

características específicas quanto aos padrões de atividade, uso de habitat, posicionamento no

estrato arbóreo, forrageamento e comportamento social (Bicca-Marques et al. 2006) os tornam

excelentes objetos de monitoramentos referentes às teorias ecológicas, sociais e

conservacionistas (Kappeler & Van Schaik 2002).

Pitheciidae é uma família de primatas neotropicais composta por duas subfamílias:

Callicebinae, formada pelo gênero mais basal Callicebus; e Pitheciinae, formada por gêneros

essencialmente amazônicos: Pithecia, Chiropotes e Cacajao (Silva-Júnior et al. 2013). Os

pitecíneos possuem características distintas dos demais macacos da infraordem Platyrrhini e

são conhecidos como “predadores de sementes”, sendo especializados morfologicamente para

a predação de sementes em menor grau em Pithecia e maior grau em Cacajao e Chiropotes

(van Roosmalen et al. 1988).

A revisão taxonômica mais recente para o gênero Chiropotes apresenta cinco espécies:

Chiropotes albinasus, C. chiropotes, C. sagulatus, C. satanas e C. utahickae (Silva-Júnior et

al. 2013) e esta será a classificação adotada aqui. Todos os cuxiús, primatas desse gênero são

13

parapátricos, com distribuições geográficas delimitadas por grandes rios (Figura 1), tais quais:

Amazonas, Madeira, Negro-Branco, Tocantins e Xingu. Os limites a oeste são bem definidos

pelo Solimões-Negro, Orinoco e Madeira-Jiparaná, mas os extremos sul e leste são menos

claros, estando relacionados com o ecótono Cerrado-Amazônia. A espécie Chiropotes

sagulatus Trail 1821, objeto desse estudo, ocorre no Brasil, Guiana Francesa, Guiana e

Suriname, e sua distribuição geográfica é definida por dois grandes rios: encontra-se ao norte

do baixo Amazonas, leste do rio Branco e no extremo oeste do sistema Negro-Branco

Figura 1. Mapa de distribuição geográfica das cinco espécies do gênero Chiropotes. Adaptado de Silva-Júnior et

al. (2013).

Chiropotes são primatas neotropicais de médio porte, com massa corporal variando de

2,5 a 3,6 kg quando adultos. Vivem em grandes grupos de estrutura social multi-macho multi-

fêmea que podem exceder 50 indivíduos (Gregory & Norconk 2013; Setz et al. 2013). O

comportamento de todas as espécies do gênero é marcado pelo hábito diurno e um longo

período de atividade diária (12h ou mais) sendo conhecidos por se deslocarem muito (com

distâncias diárias de até 8 km) e rapidamente, com um ritmo acelerado que influencia seu

padrão de atividades - passam mais tempo se deslocando do que se alimentando ou

descansando (Gregory & Norconk 2013; Setz et al. 2013). Os grandes grupos se dividem em

subgrupos ao longo do ano, os indivíduos escondem-se durante as atividades de repouso e

interações sociais (Veiga 2006) e, tendo preferência pelo dossel da floresta, raramente descem

ao chão (Barnett et al. 2012).

14

De acordo com a Lista Vermelha da IUCN (International Union for the Conservation

of Nature) de espécies da fauna ameaçadas de extinção, quatro espécies do gênero Chiropotes

estão classificadas em algum grau: Criticamente em Perigo (C. satanas), Em Perigo (C.

albinasus e C. utahickae) e Menos Preocupante (C. chiropotes) (Veiga et al. 2008). Nesta

classificação, Chiropotes sagulatus ainda é reconhecida como subespécie de Chiropotes

chiropotes, podendo então considerá-la sob o status de “Menos preocupante”.

Chiropotes satanas e Chiropotes utahickae ainda apresentam os status de Em Perigo

e Vulnerável, respectivamente, sendo as principais ameaças a fragmentação e destruição de

habitats decorrentes de grandes empreendimentos de infra-estrutura e agropecuária,

especificamente as obras e explorações ocorridas em Tucuruí, Belo Monte, Grande Carajás, e

nas rodovias Transamazônica e Belém-Brasília (Machado et al. 2008). Embora a espécie

ainda não esteja tão impactada em termos gerais, algumas populações de Chiropotes

sagulatus têm ocorrência em regiões onde a extração de recursos minerais, como a bauxita,

depende da supressão da vegetação (Melo et al. 2010). Tal supressão acarreta a diminuição da

área disponível para os grupos, expondo as populações aos efeitos da fragmentação (Melo et

al. 2010).

A maior parte da dieta de Chiropotes é composta por frutos e partes de frutos, com

poucas variações entre espécies, e, diferente da maioria dos demais primatas frugívoros, eles

consomem grandes quantidades de sementes de frutos imaturos (Ayres 1989; Kinzey &

Norconk 1993; Port-Carvalho & Ferrari, 2004; Veiga 2006; Norconk et al. 2009; Boyle et al.

2012; Melo et al. 2012; Shaffer 2012; Shaffer 2013; Santos 2013). Primatas predadores de

sementes, como os cuxiús, usam duas estratégias para o forrageamento: (a) esclerocarpia,

definida como a extração de sementes usando dentição anterior (incisivos, caninos e/ou o

primeiro pré-molar na fileira de dentes) e as mãos, seguida pela mastigação de sementes pelos

molares (Kinzey & Norconk 1990) e (b) durofagia, a ingestão do fruto inteiro com

processamento mínimo pelas mãos, seguido de mastigação ou esmagando com dentição

posterior (Kay et al. 2013).

As adaptações para o “forrageamento esclerocarpico” em Chiropotes incluem fortes

músculos da mastigação e uma dentição anterior muito robusta, caracterizada por incisivos

procumbentes, caninos grandes e inclinados lateralmente, o que facilita a abertura de frutos

imaturos resistentes (Kinzey 1992; Kinzey & Norconk 1990). Essa capacidade de abrir frutos

15

muito duros e imaturos é comparável à de aves predadoras de sementes, como papagaios e

araras (Norconk et al. 1997).

A variação anual da composição da dieta de Chiropotes apresenta a utilização de

recursos como invertebrados, folhas, flores e cascas, além de um aumento no número de

espécies de sementes exploradas no período da seca (Ayres 1989; Kinzey & Norconk 1993;

Norconk 1996; Silva 2003; Norconk et al. 2009; Melo et al. 2012; Shaffer 2012), indicativo

de sua flexibilidade alimentar e possível preferência, quando na abundância de determinados

itens. O aumento no número de espécies e itens explorados durante o período da seca, que é

considerado o período de escassez de recursos para a maioria dos primatas frugívoros,

também é um padrão encontrado para primatas como Ateles belzebuth (Mourthé 2014)

Lagothrix cana (Peres 1994a), Saguinus spp. e Sapajus apella (Peres 1994b).

Em estudos com primatas, um importante aspecto a ser analisado são os fatores

ecológicos (bióticos e abióticos) que afetam sua abundância, história de vida, diversidade,

demografia e organização social (Rothman et al. 2012). Um fator que merece destaque por ser

comum tanto em regiões temperadas quanto nos trópicos é a variação sazonal do ambiente

(Hill 1997), ou seja, as modificações nos parâmetros ambientais no decorrer de um ano.

Todos os habitats tropicais são caracterizados pelas variações sazonais de precipitação e

temperatura (van Schaik & Brockman 2005) e estas podem apresentar padrões que excedem o

período anual, influenciando a maneira como as espécies se ajustam às mudanças ambientais

(Pereira 2006) ao longo do ano e entre anos distintos.

Adaptações comportamentais podem estar envolvidas na maneira como os primatas

lidam com a falta de recursos nos períodos de escassez (Di Fiore 2003), como expandir a

amplitude de sua dieta e incorporar recursos menos preferidos quando os recursos

preferenciais estão escassos (Chapman & Chapman 1990; Shaffer 2012). Dividir-se em

subgrupos ou alterar o tamanho da área de uso em função da distribuição espacial de alimento

e água e ainda se deslocar em distâncias menores do que em épocas de fartura são

características comuns aos membros da ordem Primates e ao gênero Chiropotes (Pianka 1994,

Veiga 2006, Boyle et al. 2009).

Desde os primeiros trabalhos com Chiropotes, como o de Ayres (1989) que agrupou

dados da dieta de Chiropotes albinasus nas estações seca e úmida para os anos de 1977 e

1978, já haviam sido encontrados efeitos da sazonalidade na dieta dos cuxiús, com predação

16

de sementes de um maior número de espécies na estação seca do que na chuvosa e inclusão de

outros itens alimentares na dieta. Outros trabalhos (Norconk 1996; Santos et al. 2013) com o

objetivo de confirmar se este padrão persiste de maneira longitudinal, ou seja, ao longo dos

anos, encontraram diferenças na ecologia alimentar em estações de anos distintos e, em alguns

deles, a variação foi relacionada de maneira significativa à mudanças nos padrões de

precipitação. Norconk (1996) concluiu que o período seco não pode ser considerado como um

período de escassez para cuxiús, já que o número de espécies de sementes exploradas durante

esta estação aumenta em relação ao período chuvoso. Já Pinto (2008) observou que a

estratégia de forrageamento de “maximização de energia” dos cuxiús os permite passar pelos

períodos de escassez aumentando o deslocamento diário, dividindo-se em subgrupos e

equilibrando a ingestão de nutrientes a partir do consumo de itens alimentares de composição

distinta, como sementes e polpa de frutos maduros.

Os cuxiús são conhecidos por ter extensas áreas de vida, que podem ultrapassar os

1000 ha (Setz et al. 2013), embora existam evidências de que as espécies do gênero

sobrevivam em áreas fragmentadas (Boyle et al. 2012) com menos de 3% do tamanho total

esperado (8 ha, Port-Carvalho & Ferrari 2004; 1-100 ha, Boyle & Smith 2010). Contudo,

Boyle & Smith (2010), afirmam que os cuxiús que vivem em pequenos fragmentos seguem

um padrão diferente dos que habitam florestas contínuas, sendo encontrados em pequenos

grupos, com maiores densidades, descansando com mais frequência, vocalizando e se

deslocando menos. Com relação à dieta, embora as espécies do gênero apresentem

flexibilidade na exploração de recursos alimentares, há baixa similaridade na dieta de grupos

que habitam os diferentes sítios tanto de áreas contínuas quanto fragmentadas (Boyle et al.

2015), o que justifica a necessidade de estudos a respeito de sua ecologia alimentar ao longo

da distribuição geográfica.

A flexibilidade do comportamento, dieta e padrão de agrupamento dos cuxiús (Boyle

2008; Boyle et al. 2009) podem refletir sua adaptação ao ambiente atual, permitindo sua

permanência temporariamente nesses locais. Como são predadores de sementes, a pressão

exercida sobre a comunidade vegetal em longo prazo pode, entre outros fatores, aumentar a

competição intra e interespecífica e levar ao declínio populacional. Assim, estudos como este,

que tenham como objetivo conhecer a ecologia alimentar dos cuxiús, são importantes para

definir os fatores limitantes para a sobrevivência destes primatas.

17

Chiropotes sagulatus é uma espécie que ainda apresenta status de conservação

favorável, mas se encontra sob pressão antrópica frente a demanda por recuros mineirais e

energéticos (Peetz 2001; Melo et al 2012). Conhecê-los no cenário atual permitirá o

aprofundamento a respeito de suas adaptações ao ambiente atual, alterações em sua ecologia,

e prever as ações necessárias para a manutenção de sua relação com o ambiente em que

vivem. A partir disso é que poderemos, no futuro, subsidiar ações que possam garantir a

conservação de seus habitats de maneira a favorecer a sua permanência nos mesmos.

18

2. Objetivos

2.1 Geral

O objetivo deste trabalho é avaliar a variação sazonal (ao longo das estações) e longitudinal

(entre dois anos) na ecologia alimentar de Chiropotes sagulatus em uma área de Floresta

Amazônica, norte do Brasil.

2.2 Específicos

Verificar se há variação sazonal e longitudinal no padrão de agrupamento do grupo de

estudo;

Avaliar a variação sazonal e longitudinal no padrão comportamental de C. sagulatus no

local de estudo;

Identificar a dieta do grupo estudado, verificando as possíveis variações sazonais e

longitudinais na exploração de itens alimentares;

Observar possíveis variações na composição taxonômica da dieta no padrão sazonal e

longitudinal.

2.3 Hipóteses

Para alcançar os objetivos propostos, foram testadas as seguintes hipóteses:

H1: O grupo apresenta padrão de agrupamento mais coeso na estação chuvosa do que na

estação seca e não há variação neste aspecto para o padrão longitudinal.

H2: O padrão comportamental do grupo de estudo varia entre estações e entre anos;

H3: A composição da dieta varia entre estações e entre anos diferentes;

H4: O número de espécies de sementes de frutos verdes presentes na dieta da estação seca é

maior do que na chuvosa. As espécies exploradas como fonte alimentar pelo grupo de estudo

são diferentes no padrão sazonal e longitudinal.

19

3. Material e Métodos

3.1 Área de estudo

FLONA Saracá-Taquera

A FLONA Saracá-Taquera está situada entre as coordenadas geográficas 01°20’ e

01°55’ S e 56°00’ e 57°15’ W, inserida nos municípios de Oriximiná, Faro e Terra Santa, no

Estado do Pará (Figura 2). É classificada como uma Unidade de Conservação de Uso

Sustentável e possui uma área de 429.600 ha (STCP 2001).

Figura 2. Mapa do Brasil destacando o estado do Pará (A) em vermelho. Localização da FLONA Saracá-

Taquera no estado do Pará (B) e destaque do platô Bacaba em verde, área do presente estudo (C). Adaptado de

Melo et al. (2010).

Clima e hidrografia

O clima da FLONA é do tipo “Af” segundo a classificação de Köppen, com uma

temperatura média de 26°C (STCP 2001; Moraes et al. 2005) e índice médio anual de

umidade relativa superior a 75%. Ocorrem dois períodos de precipitação, estação chuvosa de

dezembro a maio e estação seca de julho a outubro, e dois períodos de transição em novembro

e junho (STCP 2001).

A

B

C

20

Média histórica de clima

As médias climáticas históricas para a região da FLONA com precipitação e

temperatura do período de 2001 a 2014 são apresentadas na Figura 3, e foram utilizadas para a

definição das estações de 2011 e 2012. Como observado, de 2012 a 2014 houve uma

diminuição nos índices acumulados de precipitação, apresentando a maior queda da última

década.

Figura 3. Histórico de temperatura (mínima e máxima °C) e precipitação (acumulado mm) para a região da

FLONA Saracá-Taquera, PA entre 2001 e 2014. Fonte: CPTEC/INPE.

Definição de estações

Considerando as médias históricas, o clima do período de estudo seguiu o padrão

esperado para a área da FLONA, com precipitação acumulada para os 15 meses (jan a dez/11

e jan a março/12) de 3.334 mm, média mensal 222,29 mm e temperatura média anual 27,51°C

(Figura 4). As estações foram definidas como: chuvosa de dezembro a maio (1201,34 mm) e

seca de junho a novembro (590,03 mm). As médias mensais de temperatura variaram dentro

do esperado ao longo do ano.

21

Figura 4. Dados de pluviosidade (mm) e temperatura (°C) para a região da FLONA Saracá-Taquera, PA entre

janeiro de 2011 e março de 2012. Fonte: CPTEC/INPE.

Vegetação

A FLONA pertence à sub-região das Guianas (leste do Rio Negro e norte do rio

Amazonas) (STCP 2001) e está inserida no domínio da Floresta Amazônica, que é

caracterizada como a maior e mais rica formação florestal do planeta. Predominam as

formações vegetais Floresta Ombrófila Densa, Formações Pioneiras com Influência Fluvial e

Campinarana (Salomão et al. 2003). Apresenta duas tipologias vegetacionais principais: a

floresta de Terra Firme, ocorrendo no topo dos platôs, e a Floresta de Igapó, que ocorre nos

baixios (Salomão et al. 1997; Antonini & Oliveira 2007). A região de platôs é composta

basicamente por Floresta Ombrófila Densa Submontana de Platôs, onde o solo é latossolo

amarelo que constitui o material inerte predominante nas áreas de mineração da bauxita

(STCP 2001).

Segundo Salomão et al. (2002), a região do platô Bacaba, área alvo deste estudo é

classificada como Floresta Ombrófila Densa com Palmeiras (Figura 5), e trata-se de uma das

mais “belas facies” da Floresta Amazônica: rica em espécies e com alta biomassa (430 spp.

distribuídas em 51 famílias).

22

Figura 5. Vista do interior (A), borda (B) e dossel (C) da Vegetação no Platô Bacaba, FLONA Saracá-Taquera,

PA. Fotos: Viviane Sodré.

3.2 Definição do grupo de estudo

Fase preliminar

Esta pesquisa é parte do projeto “Monitoramento de Primatas na FLONA SARACÁ-

TAQUERA, PA”, um convênio da Universidade Federal de Goiás com a Mineração Rio do

Norte. A fase preliminar de mapeamento de trilhas para o censo populacional, definição de

grupos-alvo e habituação (que durou de 12 meses: agosto-2010 a julho-2011) foram

realizadas por Melo et al. (2010). O processo de habituação. Este estudo foi realizado no platô

Bacaba (Figura 6) com 215 ha de extensão, cuja região sofreu supressão integral da vegetação

do platô para a extração de bauxita entre os anos de 2010 e 2012. O platô está inserido na

“Zona de Mineração” estabelecida pelo plano de manejo da FLONA (STCP 2001).

A B C

23

Figura 6. Mapa identificando o platô Bacaba e o sistema principal de trilhas utilizado para a pesquisa com o

grupo de cuxiús. Fonte: Melo et al. 2012.

Escolha do grupo alvo

Na região do platô Bacaba havia dois grupos residentes de Chiropotes sagulatus, que

foram chamados de Leste e Oeste, de acordo com a face do platô mais utilizada. O grupo

Leste (atual Bacaba) foi escolhido para este estudo pelo maior número de encontros no

primeiro mês de habituação e por ocupar a porção da floresta onde não havia influência

antrópica, já que o grupo do outro lado do platô tem parte da área de vida ocupada por

ribeirinhos (para a moradia temporária e plantio de mandioca).

Coleta e análise de dados

Alguns contratempos como a dificuldade de encontrar o grupo (no mínimo três dias de

cada mês eram dedicados à procura), as chuvas intensas, a ausência dos cooperados

(mateiros), o avanço da supressão da vegetação e o comportamento dos primatas dificultaram

o cumprimento da meta de coletar cinco dias em cada mês. Os dados quantitativos foram

coletados durante 30 dias entre julho-2011 e março-2012 (exceto setembro-2011 quando não

houve coleta), e cinco dias em novembro-2014.

As análises gerais consideraram todos os dados (de julho-2011 a março-2012) para

melhor observação do padrão anual de atividades e dieta do grupo de estudo. As análises dos

padrões sazonais foram realizadas considerando os meses de dezembro/2011, janeiro,

fevereiro e março/2012 para estação chuvosa e julho, agosto, outubro e novembro/ 2012 para

24

a estação seca. Novembro/2014 não foi incluso na análise geral e sazonal e a análise

longitudinal comparou novembro de 2011 com novembro de 2014.

Com o objetivo de estabelecer comparações com outros estudos realizados com

Chiropotes sp. (e.g. Veiga 2006; Pinto 2008), os dados foram obtidos através da metodologia

proposta por Altmann (1974) scan sampling, a partir da coleta de amostras por varredura

instantânea onde todos os animais no campo de visão do observador são registrados dentro do

período pré-determinado. Considerando a baixa visibilidade descrita em outros estudos com

cuxiús (Pinto et al. 2013) e a dificuldade de visualização também observada durante o

processo de habituação, as amostras (varreduras) tiveram duração de dois minutos e intervalo

de 10 minutos.

Para as amostragens do padrão de agrupamento, as contagens do número de indivíduos

no subgrupo foram realizadas através de observação direta em cada varredura e todas as vezes

que o grupo se subdividia ou se agrupava era realizada nova contagem. A análise da

normalidade de todos dados foi realizada através do teste de Shapiro Wilk através do

programa R 3.1.1. Como os dados eram paramétricos, o teste T com nível de significância de

0.05 foi utilizado para a comparação do número de indivíduos por subgrupo no padrão

sazonal e longitudinal, através do programa R 3.1.1. Além disso, o número de indivíduos por

amostra (taxa de avistamentos) foi calculado através do número total de registros dividido

pelo número total de varreduras do período (mês e estação, ano), a fim observar se houve

influência do número de indivíduos na varredura para os comportamentos e item ingerido.

Seguindo a formula:

Ta= nreg/nvarr

Onde: ta= taxa de avistamentos; nreg= número de registros para o período; nvarr=

número de varreduras para o período.

Para cada varredura foram marcados hora de início e o ponto (GPS) da localização

central do grupo e, para cada indivíduo durante a varredura foram anotadas: a classe sexo-

etária (cujas definições para o reconhecimento estão descritas no Apêndice A) e

comportamento (cujas classes foram definidas previamente no etograma (Tabela 1). Todas as

observações foram realizadas com auxílio de binóculo Canon 10x30is com estabilizador de

imagem, GPS Garmin 60csx e rangefinder Bushnell. Amostragem de todas as ocorrências foi

25

realizada sempre que houve ingestão de alimentos avulsos fora das varreduras, interações

sócio-sexuais (cópulas, agonismo, catação) e interações interespecíficas.

Tabela 1. Etograma para coleta de dados comportamentais do grupo de Chiropotes sagulatus Bacaba. Adaptado

de Veiga (2006).

COMPORTAMENTO CÓDIGO DESCRIÇÃO

DESLOCAMENTO DESL Qualquer atividade que envolva movimento (caminhar, andar, saltar).

REPOUSO REP Quando o indivíduo está parado e nenhuma outra atividade é observada.

FORRAGEAMENTO FOR Procura ou processamento de item alimentar.

ALIMENTAÇÃO AL Quando o indivíduo ingere o item alimentar ou água.

SOCIAL SOC Quando há interação entre dois ou mais indivíduos.

OUTROS OUT Atividades que não se encaixam nas demais categorias, como auto-catação.

Foi realizado o cálculo da freqüência relativa dos comportamentos para definir o

orçamento de atividades do grupo pesquisado, dividindo-se o somatório dos registros de todos

os comportamentos pelo número total de registros do comportamento em questão para o

respectivo período (anual, sazonal e longitudinal), seguindo a fórmula:

FR= Ntotal*100

nperíodo

onde: Ntotal= número total de registros de todos os comportamentos; nperíodo= número total

de registros do comportamento x para o período (anual, sazonal e longitudinal).

As comparações dos dados comportamentais no padrão sazonal e longitudinal foram

analisadas através da calculadora do teste z binomial no Programa Microsoft Excel

2007 com α = 0.01 para evitar erros do tipo I, seguindo Lima & Ferrari (2003). Este teste

foi também utilizado por Veiga (2006) e Rímoli et al. (2008). Os valores de p foram obtidos

através do Calculators for Statistical Table Entries http://vassarstats.net/tabs.html?#z.

Quando o comportamento registrado foi alimentação, as amostras dos itens ingeridos

foram coletadas para posterior identificação e classificados como sementes, folhas, frutos,

flores, brotos, cascas, dentre outros, a fim de qualificar a composição da dieta. Quando o item

era semente, estas foram divididas quanto ao estágio de maturação para refinar as análises da

26

dieta, já que os cuxiús se alimentam de uma vasta gama de sementes em diversos estágios,

conforme descrito na Tabela 2.

Tabela 2. Classificação dos itens alimentares utilizados pelo grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na

FLONA Saracá-Taquera, PA durante o período de estudo.

CATEGORIA ITENS INCLUÍDOS

SEMENTES Sementes sem identificação do estágio de maturação

SEFRV Sementes de frutos verdes (imaturas)

SEFRM Sementes de frutos maduros

SESECO Sementes cujo fruto já estava seco

FRUTOS Partes de frutos nos diversos estágios de maturação exceto sementes.

PARTES FLORAIS Qualquer parte de flores

OUTROS Folhas e casca. (Itens que apresentaram baixa frequência de ingestão)

Para avaliar a dieta do grupo de cuxiús pesquisado, foram calculadas as freqüências

relativas de consumo dos itens alimentares. As freqüências foram calculadas dividindo o

somatório de todos os registros de alimentação registrados dividido pelo número total de

registros do item alimentar em questão para o respectivo período (anual, sazonal e

longitudinal), seguindo a fórmula:

FR= Ntotal*100

nperíodo

onde: Ntotal= número total de registros de alimentação; nperíodo= número total de registros

do item alimentar x para o período (anual, sazonal e longitudinal).

As análises comparativas para o padrão de ingestão de itens alimentares sazonal e

longitudinal também foram realizadas pelo teste z binomial, seguindo o utilizado para os

dados comportamentais.

As árvores utilizadas como fontes alimentadas dentro e fora das varreduras foram

marcadas com plaqueta de metal contendo o número de identificação e fita zebrada, para

facilitar o encontro e identificação em dias posteriores ou estudos subsequentes. Não foi

possível coletar amostras de todas as fontes alimentares utilizadas pelo grupo Bacaba, porque

27

parte da equipe de campo envolvida não conseguiu cumprir essa meta e, neste caso, a

prioridade foi seguir o grupo.

As amostras dos itens alimentares foram acondicionadas em frascos plásticos com

solução de álcool 70% e devidamente fotografadas (Figura 7) com escala padronizada e

numeradas de acordo com o número da fonte. A identificação das plantas foi realizada por um

especialista vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas com base no material

coletado e revisita às fontes alimentares no campo. Após a identificação das espécies

utilizadas na dieta, estas foram divididas por mês, estação e ano coletado, para as posteriores

análises de composição taxonômica da dieta. Para avaliar a similaridade da dieta na análise

sazonal e longitudinal foi utilizado o Índice de Jaccard, através do programa Microsoft Excel

2007.

Figura 7. Demonstrativo de parte do tratamento dado às amostras botânicas, após a marcação das árvores de

alimentação e coleta de material para posterior identificação. Na fotografia é possível observar a padronização

no tratamento dos itens alimentares coletados, com detalhe da apresentação da abertura do fruto por parte dos

Cuxiús, para a obtenção da parte da planta a ser ingerida. Foto Viviane Sodré.

Como o número de registros dentro de cada varredura pode variar em função do

observador, do comportamento do grupo e da fonte alimentar, foi realizada uma abordagem

alternativa para a análise dos dados do orçamento de atividades e dieta, visando minimizar e

equilibrar as diferenças nos esforços amostrais que poderiam enviesar as análises do z

binomial. A média de indivíduos amostrados dentro de cada varredura variou entre os meses

(n=2,77 a 4,05), o que poderia sub ou superestimar os valores para determinados

comportamentos dentro do orçamento de atividades, principalmente os mais fáceis de

visualizar. Para ajustar estes valores, como análise alternativa, foi realizado o cálculo das

“proporções de comportamentos em cada varredura”, onde cada varredura tinha o peso 1 e as

28

categorias comportamentais tinham o valor representado de acordo com o número de registros

dentro da varredura, seguindo a fórmula:

P= 1/registros

Onde: P= proporções de comportamentos em cada varredura; 1= valor de cada varredura;

registros= número de registros dentro da varredura

Assim, se uma varredura foi composta pelo registro de 4 indivíduos, sendo um se

alimentando, dois se deslocando e um em repouso, na análise proporcional esta varredura teria

os valores 0,5 para deslocamento, 0,25 para alimentação e 0,25 para repouso.

Na composição da dieta, para diminuir a tendência de superestimar o uso de alguns

itens alimentares devido à visibilidade de grupos maiores em fontes maiores, foi realizada a

avaliação de “eventos” de alimentação. Quando vários indivíduos se alimentavam durante a

mesma varredura, dividiu-se o evento de valor 1 pelo número de indivíduos se alimentando

dentro da mesma varredura, e os itens alimentares tiveram o peso calculado de acordo com o

número de indivíduos ingerindo no mesmo evento, ao invés da contagem do número de

registros, seguindo a fórmula:

E= 1/nind, onde:

E= evento de alimentação; 1=valor da alimentação dentro da varredura; nind= número total de

indivíduos se alimentando na mesma varredura.

Assim, se em uma mesma varredura 6 indivíduos estavam se alimentando, este evento

apresentou valor 1. Se 3 indivíduos se alimentavam de semente de fruto verde, este item teve

peso 0,5, dois indivíduos se alimentavam de fruto maduro (0,33) e um se alimentava de casca

(0,17). Apesar de o ajuste ter apresentados valores absolutos mais refinados, não alterou as

representações dos comportamentos bem como dos itens alimentares ingeridos no valor total.

Como o cálculo das frequências relativas é mais utilizado nos estudos comportamentais,

optou-se por mantê-lo, a fim de melhorar a qualidade das comparações.

29

4. Resultados

4.1 Esforço amostral

Foram realizados 35 dias completos de monitoramento, com 440 horas e 20 minutos

de observação (Tabela 3). O número de registros por estação foram 3108 registros para a

estação seca e 3818 para a chuvosa.

Tabela 3. Esforço mensal de coleta de dados do grupo de Chiropotes sagulatus na FLONA Saracá Taquera,

com dias completos e número de registros e número de horas.

ANO MÊS DIAS

COMPLETOS

NÚMERO DE VARREDURAS/

REGISTROS

TAXA DE VARREDURAS (n indivíduos por

amostra)

NÚMERO DE HORAS DE

MONITORAMENTO

2011

JULHO 3 203/608 2,99 36:40

AGOSTO 5 388/1076 2,77 63:30

OUTUBRO 2 142/435 3,06 27:10

NOVEMBRO 4 337/989 2,93 58:50

DEZEMBRO 5 357/1029 2,88 57:30

2012

JANEIRO 3 198/617 2,93 32:10

FEVEREIRO 4 363/1228 3,38 62:50

MARÇO 4 284/944 3,32 48:50

2014

NOVEMBRO

5

317/1286

4,05

52:50

TOTAL 35 2589/8212 440:20

4.2 Tamanho e composição do grupo

As contagens dos indivíduos do grupo eram realizadas quando se deslocavam em “fila

indiana”, e as maiores contagens foram de 67 indivíduos (sem identificação sexo-etária) e 57

indivíduos (15 machos adultos, 20 fêmeas adultas, oito filhotes e 14 indefinidos). Foi possível

identificar, com base no tamanho corporal, uma coligação de machos adultos com cinco

30

indivíduos à qual foi dado o nome de “cinco machões”. Estes indivíduos eram vistos juntos

em todas as atividades, frequentemente se apresentavam como uma unidade distinta do

subgrupo e houve facilidade em observá-los porque eram proporcionalmente maiores do que

os demais machos adultos do grupo.

A média anual de indivíduos por subgrupo acompanhado foi de 23,46 indivíduos e o

padrão de agrupamento para as estações apresenta uma tendência para subgrupos maiores na

estação chuvosa do que na estação seca (n=25,6 ±11,9 e n=20,9 ±5,09 respectivamente), mas

a diferença não foi significativa (t = 1,4527, df = 20,859; p>0.05). Embora não tenha

apresentado diferença no tamanho de subgrupo entre as estações, a taxa de avistamentos por

varredura que na estação Chuvosa foi maior 3,11 ±0,42 do que na Seca 2,88 ±0,22.

Comparando o mês Novembro em 2011 e 2014, o número médio de indivíduos por

subgrupo foi maior no primeiro ano do que no segundo (n=20,25 ±6,65 e n=13 ±3,08

respectivamente), mas esta diferença também não foi significativa (t = 2,0137, df = 4,03;

p>0.05).

4.3 Padrão de atividades

A duração do período diário de atividades do grupo Bacaba variou entre 11h10m e 15h40m.

As primeiras vocalizações eram ouvidas cerca de 20 minutos antes de o sol nascer e o início

das atividades se deu entre 06h10m e 06h40m. O horário de se recolher para dormir variou

entre 18h20m e 19h10m.

Orçamento anual

Do total de 6926 registros, Deslocamento foi o comportamento observado com mais

frequência (41,2%; Figura 8).

31

Figura 8. Frequência relativa dos comportamentos apresentados pelo grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba)

na FLONA Saracá-Taquera, PA entre julho/2011 e março/2012 (n=6926) (exceto set/2011).

Variação sazonal

Na estação chuvosa, novamente a atividade de Deslocamento apresentou maior

frequência, com 50,2% dos registros, seguida de Repouso, Forrageamento e Alimentação. Já

na estação seca, Repouso foi um pouco maior que deslocamento e, juntos, somaram 62,4% do

total (Tabela 4). A diferença foi significativa para todos os comportamentos entre estações,

sendo Deslocamento maior na estação chuvosa, quando os comportamentos de Alimentação e

Forrageamento foram menores, e as atividades de Repouso e Social foram maiores na estação

seca.

Tabela 4. Orçamento de atividades do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA.

Número de registros (% do total):

Categoria Estação seca Estação chuvosa Z P

DESLOCAMENTO 937 (30,2) 1919 (50,2) -12.950 <0.0001

REPOUSO 1000 (32,2) 1093 (28,6) 2.685 <0.01

ALIMENTAÇÃO 339 (10,9) 188 (4,9) 8.985 <0.0001

FORRAGEAMENTO 503 (16,2) 433 (11,3) 5.462 <0.0001

SOCIAL 262 (8,4) 162 (4,2) 7.010 <0.0001

OUTROS 66 (2,1) 24 (0,6) 5.431 <0.0001

TOTAL 3107 (100) 3819 (100)

32

Variação longitudinal

A Tabela 5 apresenta os dados comportamentais do grupo Bacaba em novembro-2011

e novembro-2014. Foram encontradas diferenças significativas para Deslocamento, Repouso,

Forrageamento, Alimentação e Interação Social entre os dois anos. Os cuxiús do grupo

Bacaba dedicaram mais tempo às atividades de Repouso e Forrageamento em 2011 e ao

Deslocamento e Alimentação e Interação Social em 2014.

Tabela 5. Orçamento de atividades do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA, para os meses de novembro/2011 e novembro/2014. ns=não significativo.

4.4 Dieta

Composição anual da dieta

A dieta do grupo Bacaba durante o período de estudos apresentou alta frequência de

ingestão de sementes, portanto “granívora”. Do total de 900 registros de alimentação

considerados, o item sementes, que compreende sementes em diversos estágios de maturação

apresentou maior frequência (84,11%), seguido de frutos (excluindo sementes), partes florais

e outros (Figura 9).

Número de registros (% do total):

Z

COMPORTAMENTOS Nov/11 Nov/14 p

DESLOCAMENTO 326 (33,0) 743 (57,8) -4.421 <0.0001

REPOUSO 325 (32,9) 113 (8,8) 6.276 <0.0001

FORRAGEAMENTO 191 (19,3) 6 (0,5) 7.997 <0.0001

ALIMENTAÇÃO 67 (6,8) 255 (19,8) 252.641 <0.0001

INTERAÇÃO SOCIAL 70 (7,1) 157 (12,2) -3.83303 <0.0001

OUTROS 9 (0,9) 12 (0,9) -0.05459 *0.4782

TOTAL 463 (100,0) 471 (100,0)

33

Figura 9. Frequência relativa dos itens alimentares explorados pelo grupo Bacaba na FLONA Saracá-Taquera,

PA entre julho/2011 e março/2012 (n=900) (exceto set/2011).

Variação sazonal

Agrupando o item semente

O item alimentar sementes que engloba os tipos: imaturo, maduro, seco e com estágio

de maturação não definido, representou 84,8 e 83,7% do total dos registros de alimentação

para as estações chuvosa e seca, respectivamente, sendo o item mais ingerido para as duas

estações, seguidos de frutos, partes florais e outros (Figura 10).

Figura 10. Frequência relativa itens alimentares explorados pelo grupo Chiropotes sagulatus (Bacaba) na

FLONA Saracá-Taquera, PA nas estações seca e chuvosa (n= 639).

1%

34

A composição sazonal da dieta (Tabela 6) apresentou alta frequência de ingestão de

sementes imaturas para as duas estações (59,9% estação seca e 47,7% estação chuvosa).

Houve diferença significativa para as estações quando o item alimentar foi semente: Semente

de Fruto Verde e Semente de Fruto Maduro foram mais frequentes na estação seca e semente

sem identificação do estágio de maturação, na estação chuvosa. Para os itens partes florais e

semente de fruto seco, a diferença foi absoluta, com ingestão apenas na estação seca.

Tabela 6. Composição da dieta do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA estações seca e chuvosa. z = escores do z binomial; *=não significativo.

Número de registros (% of the total) coletados durante:

Categoria Estação seca Estação chuvosa Z p

PARTES FLORAIS 42 (7,2) 0

FRUTO 43 (7,5) 51 (15,2) 0.1724 *0.4315

SEFRV 347 (59,9) 157 (47,7) 4.0017 <0.0001

SEFRM 70 (12,3) 39 (11,2) 4.0640 <0.0001

SESECO 33 (5,8) 0 __ __

SE 36 (5,8) 82 (25,8) -3.1345 <0.001

OUTROS 9 (1,6) 0 __ __

TOTAL 580 (100) 329 (100)

Variação longitudinal

A dieta do grupo Bacaba em novembro de 2011 e 2014 apresentou alta frequência de

ingestão de Semente de Fruto Verde (61,7 e 66,5% respectivamente). Semente de fruto seco

apresentou novamente diferença absoluta, estando presente apenas em novembro de 2011.

Não houve diferenças significativas para os itens que estiveram presentes nos dois anos

observados (Tabela 7).

Tabela 7. Composição da dieta do grupo de Chiropotes sagulatus (Bacaba) na FLONA Saracá-Taquera, PA para

os meses de novembro/2011 e novembro/2014. z = escores do z binomial; *=não significativo.

Número de registros (% of the total) coletados durante:

Item alimentar Nov/11 Nov/14 Z p

SEFRV 66 (61,7) 169 (66,5) 0.031 *0.1625

SEFRM 10 (9,3) 56 (22,0) -1.895 *0.029

35

FRM 6 (5,6) 10 (3,9) 1.123 *0.1307

FLOR 3 (2,8) 4 (1,6) 1.068 *0.1425

SESECO 21 (19,6) 0 (0,0)

OUTROS 1 (0,9) 15 (5,9) *0.0399

TOTAL 107 (100) 254 (100)

4.5 Composição taxonômica da dieta

Foram marcadas 192 árvores alimentares, das quais 164 foram coletadas (58 dentro

das varreduras e 47 fora das varreduras) e identificadas em 105 espécies (Apêndice B),

pertencentes a 32 famílias botânicas e 70 gêneros. Dentre as 164 fontes alimentares

identificadas, as cinco famílias com maior número de fontes exploradas para Alimentação

pelo grupo Bacaba no período de estudo foram Sapotaceae (23,2%), Moraceae (9,1%),

Fabaceae (8,5%), Chrysobalanaceae (8,5%) e Lecythidaceae (8,5%). Os gêneros com maior

número de espécies presentes na dieta do grupo Bacaba foram Pouteria (n=8), Licania (n=7),

Eschweilera (n=5), Inga (n=4) e Micropholis (n=4).

Com relação às espécies, as seis que apresentaram maior número de registros de

alimentação representaram 61,2% do total de 528 registros (Figura 11). Sapotaceae sp.1, com

36,0% do total (n=190) é uma espécie ainda não identificada, que segundo o especialista é

uma espécie nova para a família. Chrysophyllum sanguinolentum (Pierre) Baehni (abil)

apresentou 7,2% do total de registros, seguido de Eschweilera parviflora (Aubl.) Miers (mata-

matá) 7,0%, Anemopaegma foetidum Bureau & K.Schum 4%, Eschweilera grandiflora

(Aubl.) Sandwith (mata-matá) 3,8% e Brosimum parinarioides Ducke (amapá) 3,2%.

36

Figura 11. Cinco espécies botânicas com maior número de registros de Alimentação na dieta do grupo de

Chiropotes sagulatus (Bacaba), na FLONA Saracá-Taquera, PA.

Considerando as espécies com maior número de fontes utilizadas para a alimentação

pelo grupo Bacaba, Sapotaceae sp.1 aparece novamente como mais representativa (n=25),

houve empate de Micropholis acutangula (Ducke) Eyma (abil) e Pouteria anomola (Pires)

T.D.Penn. (abiurana), ambas da família Sapotaceae, com sete fontes cada uma, seguidas de

Chrysophyllum sanguinolentum (Pierre) Baehni com cinco fontes e novamente empate entre

Mouriri nigra (DC.)Morley, Lecythis poiteaui O.Berg e Pouteria freitasii T.D.Penn com

quatro fontes cada (Figura 12). Este número pode ter sido subestimado para algumas fontes,

uma vez que não foi possível marcar todas as fontes alimentares.

37

Figura 12. As cinco espécies botânicas com maior número de fontes exploradas para a alimentação do grupo de

Chiropotes sagulatus (Bacaba), na FLONA Saracá-Taquera, PA.

Variação sazonal

Com relação ao número de espécies na dieta do grupo Bacaba, foram consumidas 37

espécies vegetais na estação seca e na estação chuvosa, apresentando baixa similaridade na

composição segundo o Índice de Jaccard, com apenas 14%. Foram exploradas 145 fontes

alimentares de 20 espécies de para o consumo de Semente de Fruto Verde na estação seca, e

120 fontes de 20 espécies na estação chuvosa. Mouriri nigra (D.C.) foi a espécie mais

representativa para a estação seca, com 32 fontes e Anemopaegma foetidum Bureau &

K.Schum com 29 fontes, para a estação chuvosa.

Variação longitudinal

A composição taxonômica variou entre novembro de 2011 e 2014. Em novembro do

primeiro ano, foram exploradas para a alimentação pelo grupo Bacaba nove espécies vegetais

pertencentes a seis gêneros, sendo as cinco espécies mais utilizadas Mouriri collocarpa Ducke

(32,8%), Sapotaceaae sp.1 (18,0%), Micropholis acutangula (Ducke) Eyma (14,8%), Goupia

glabra Aubl. (9,8%), Brosimum parinarioides Ducke (8,2%). Em 2014 apenas quatro gêneros

dos quais quatro espécies foram exploradas para a alimentação do grupo: Brosimum

guianense Aubl. Huber (53,3%), Micropholis acutangula (Ducke) Eyma (29,5%),

Oenocarpus distichus Mart. (9,5%) e Pouteria freitasii T.D.Penn. (7,6%). Apenas

38

Micropholis acutangula (Ducke) Eyma foi explorada pelo grupo nos dois anos de

amostragem e, segundo o Índice de Jaccard, houve baixa similaridade na composição da dieta

dos dois anos (8%).

Com relação às famílias, foram exploradas 5 famílias em 2011 e 4 famílias em 2014, e

Sapotaceae e Moraceae foram utilizadas nos dois anos. Pela ordem de importância de

exploração em 2011: Melastomataceae (41,0%) Sapotaceae (36,1%), Moraceae (11,5%),

Goupiaceae (9,8%) e Chrysobalanaceae (1,6%). Para 2014: Moraceae (53,3%), Sapotaceae

(37,1%) e Arecaceae (9,5%).

39

5. Discussão

5.1 Tamanho e composição do grupo

O grupo de primatas deste estudo apresentou o padrão de agrupamento do tipo fissão-

fusão, típico do gênero Chiropotes (Veiga 2006). A contagem do grupo Bacaba com 67

indivíduos é uma das maiores conhecidas para grupos de Chiropotes sagulatus habitando

floresta contínua. O número é bem próximo do maior número antes encontrado para a espécie

na Guyana por Shaffer (2013; Tabela 8), mas é metade do tamanho do grupo Bela Cruz,

também estudado na FLONA Saracá-Taquera cuja contagem (n=120) foi realizada

simultaneamente por dois pesquisadores (THG Alvim com. pess.).

Nosso estudo foi conduzido juntamente com a supressão da área de vida do grupo, e

com isso, houve o adensamento dos macacos na área em questão (Melo et al. 2012) que pode

ter refletido também na distribuição dos indivíduos dentro dos subgrupos. O platô Bela Cruz,

onde THG Alvim realizou a contagem e a área de estudo de Shaffer (2013) são regiões de

florestas contínuas que ainda não estavam sob pressão antrópica.

Apesar de estar dentro do encontrado por outros estudos para o gênero, o número

encontrado no presente estudo é subestimado, já que, raramente o grupo de cuxiús se

deslocava em “fila indiana” ou todos por uma única árvore, onde as contagens eram feitas

com mais acurácia. As chuvas com longo período de duração contribuíram para as

subestimativas na contagem de indivíduos no período Chuvoso deste estudo, e na seca, por

outro lado, o comportamento de “fissão-fusão” e deslocamento disperso, dificultou a

visibilidade do agrupamento e contagem dos indivíduos. A dificuldade em detectar os

indivíduos na floresta é comum aos estudos com pithecideos e devida ao comportamento

críptico, extensas áreas de vida e alta densidade de indivíduos nos grupos. Estas dificuldades

são consideradas os fatores para se conhecer tão pouco a respeito destes primatas (Pinto et al.

2013).

Tabela 8. Número de indivíduos por grupo em diferentes estudos com Chiropotes habitando floresta contínua.

Área de estudo Espécie N indivíduos Referência

FLONA Saracá-Taquera,PA,Brasil

Chiropotes sagulatus 67

Presente estudo

FLONA Saracá-Taquera,PA,Brasil

Chiropotes sagulatus 120

THG Alvim (com.pess.)

40

Rio Preto da Eva, AM, Brasil

Chiropotes sagulatus 30 Frazão (1992)

Upper Essequibo Conservation Concession

Guyana

Chiropotes sagulatus

65 Shaffer (2013)

O resultado do número de indivíduos por subgrupo na média anual (n=23) corroborou

as impressões obtidas em campo, de que o Grupo original se subdividia em três unidades

principais. As diferenças no número de indivíduos por subgrupo para as estações poderiam ter

sido confirmadas se a contagem total de indivíduos no subgrupo não fosse comprometida pelo

comportamento de “fissão-fusão” dos cuxiús (Veiga 2006). Apesar desses contratempos de

amostragem, há uma tendência para subgrupos maiores durante o período chuvoso, como

também foi observado por Veiga et al. 2006; Boyle 2008; Gregory & Norconk 2013) considerado

o período de abundância de frutos maduros nas florestas tropicais e período de abundância de

alimentos para os primatas frugívoros (Peres 1994b). Como já foi observado em outros

estudos (Ayres 1989, Norconk 1996, Veiga 2006) Chiropotes sagulatus complementa sua

dieta com polpa e arilo de frutos maduros durante a estação chuvosa, e a abundância deste

recurso pode ter influenciado na coesão do grupo nesta estação.

Nas observações longitudinais houve diferença entre o número médio de indivíduos

por subgrupo, com novembro de 2014 apresentando os números mais baixos, próximo ao

menor encontrado no primeiro ano (Tabela 9), mas como esperado, essa diferença não foi

significativa. Considerando que as amostras foram realizadas na mesma estação de anos

diferentes, era esperado que o padrão de agrupamento se mantivesse semelhante, sendo

influenciado pelas condições ambientais.

Tabela 9. Resumo das contagens (média, min-max) de indivíduos de Chiropotes sagulatus por subgrupo para as

estações seca e chuvosa e os meses de Novembro/2011 e Novembro/2014 na FLONA Saracá-Taquera, PA.

Estação; Ano Média ind. por subgrupo min-max ind. por

subgrupo

Seca 20,92±5,09 16-30

Chuvosa 25,68±11,92 10-57

Novembro/2011 20,25±6,65 12-27

Novembro/2014 13±3,08 8-15

41

5.2 Padrão de atividades

O padrão anual de atividades do grupo Bacaba apresentou o esperado para o gênero

Chiropotes, com maior porcentagem do tempo de atividade dedicado ao Deslocamento, e,

embora reforce o encontrado por Pinto (2008), Port-Carvalho & Ferrari (2004), Silva (2003),

Vieira (2005) e Veiga (2006), foi diferente do encontrado por Peetz (2001) para a mesma

espécie, cujo grupo dedicou maior parte do tempo à Alimentação. Embora haja um consenso a

respeito do padrão comportamento do gênero Chiropotes, com intenso deslocamento e

diferentes porcentagens alocadas aos comportamentos entre estações (Port-Carvalho & Ferrari

2004; Veiga 2006; Vieira 2005; Gregory & Norconk 2013 e Setz et al. 2013), algumas

modificações nos padrões comportamentais podem estar relacionadas mais a condições

ecológicas como o tamanho e qualidade do habitat do que com características das espécies.

Ambientes fragmentados, como os estudados por Peetz (2001), Silva (2003), Vieira

(2005) e Veiga (2006) podem oferecer menores áreas de vida, o que influenciaria na

diminuição do tempo de deslocamento, que por sua vez favoreceria o incremento de

comportamentos sociais e repouso. As espécies vegetais e sua distribuição nas florestas onde

os cuxiús habitam, associadas a determinadas características como os padrões de agrupamento

das espécies botânicas, influenciam diretamente na composição da dieta e, em sequência, o

tempo de deslocamento entre fontes, o tempo de manipulação dos itens alimentares e o

orçamento geral de atividades dos grupos.

As dificuldades na visibilidade dos cuxiús, dada a sua preferência pelo estrato superior

da floresta, intenso deslocamento, e comportamento críptico (Pinto et al. 2013) podem afetar a

taxa de registros por varredura, que podem desviar o padrão comportamental registrado.

Assim, uma abordagem proporcional dos dados, dando peso igual para as varreduras,

distribuído pelos diferentes comportamentos observados pode diminuir os vieses e possíveis

superestimativas para determinadas categorias de comportamentos mais simples de observar.

Neste estudo a abordagem alternativa não demonstrou diferenças importantes nas proporções

dos comportamentos, mas a observação proporcional dos dados foi importante para garantir o

refinamento e a fidelidade destes.

Além das variáveis inerentes aos grupos e seus ambientes, segundo Pinto (2008), a

grande variação entre os esforços amostrais e períodos de estudos com Chiropotes também

podem influenciar as diferenças encontradas para a porcentagem de tempo alocado às

42

principais atividades (Tabela 10). Neste caso, estas podem estar presentes até entre grupos da

mesma espécie.

Tabela 10. Orçamento de atividades de Chiropotes em diferentes estudos. (Adaptado de Pinto, 2008).

% comportamentos

Espécie n registros Alimentação Forrageio Deslocamento Repouso Social Referência

C. albinasus 22.373 23,8 0,5 36,2 27,5 8,8 Pinto

(2008)¹

C. satanas 419 19,8 - 58,5 13,8 7,9 Port-Carvalho & Ferrari (2004)²

C. satanas 7.715 25,8 2,9 35,4 26,4 8,5 Veiga

(2006) ³

C. satanas 8.033 30,0 4,2 26,1 23,2 15,2 Veiga

(2006)³

C. sagulatus 87.448 37,0 10,1 18,7 21,4 11,4 Peetz

(2001)*

C. utahickae 5.490 58,8 - 30,8 9,5 0,9 Santos (2002)³

C. utahickae 11.277 31,9 5,4 50,6 10,6 1,2 Vieira (2005)³

C. sagulatus 6.926 8,0 14,0 41,0 30,0 7,0 Presente estudo**

Local de Estudo: ¹FLONA Tapajós PA, Brasil; ²Imperatriz MA, Brasil; ³Tucuruí, PA, Brasil; * Lake Guri,

Venezuela; ** FLONA Saracá-Taquera, PA, Brasil.

No padrão sazonal, houve diferença significativa para todas as categorias

comportamentais do grupo Bacaba, corroborando a hipótese de que, durante a estação seca,

haveria aumento no tempo gasto com Alimentação e Repouso, favorecendo o comportamento

Social, e no período chuvoso aumento no tempo de Deslocamento entre fontes alimentares.

Veiga (2006) em seu estudo com Chiropotes satanas em Tucuruí também observou, para os

dois grupos do estudo, aumento nos comportamentos de Alimentação na estação seca e maior

tempo dedicado ao Deslocamento na estação chuvosa. Em estudos com Chiropotes sagulatus,

Peetz (2001) na Venezuela e Gregory (2011) no Suriname observaram que o maior tempo

dedicado à Alimentação foi também durante o período da seca. Apesar de Dezembro e Abril e

fevereiro e março, meses considerados secos no Suriname, serem os meses de chuva na

FLONA Saracá-Taquera, a espécie manteve o padrão ecológico influenciado pela

43

sazonalidade ambiental, ainda que as características florestais (fragmento florestal e floresta

contínua) fossem diferentes.

No padrão longitudinal, a porcentagem de registros de Deslocamento e Alimentação

aumentou enquanto repouso e forrageamento diminuíram de 2011 para 2014. O maior

Deslocamento, Repouso e Forrageamento do primeiro ano podem ter sido influenciados pela

composição da dieta, que será tratada posteriormente. Levando em consideração também as

mudanças ambientais no platô Bacaba, esta diferença comportamental entre os anos pode ser

um sinal da adaptação do grupo à mudança imediata do habitat, já que em 2014 a supressão

da vegetação que incluiu parte da área disponível para o grupo já havia sido encerrada, o que

poderia ser confirmado através das análises de utilização da área de vida. Assim, no primeiro

ano, o grupo Bacaba apresentou o comportamento mais semelhante a grupos vivendo em

áreas fragmentadas (Peetz 2001; Santos 2002) do que grupos habitando florestas contínuas,

embora a área (em hectares) que permaneceu disponível para o grupo seja maior do que os

fragmentos conhecidos que tem a presença de cuxiús.

Vieira (2005) comparando os dados de sua pesquisa com o mesmo grupo estudado por

Santos (2002) três anos antes, observou que o padrão comportamental dos cuxiús apresentou

diferenças longitudinais com maior alimentação no primeiro ano e maior deslocamento em

seu estudo de 2005, padrão contrário ao encontrado no presente estudo. Neste estudo as

diferenças orçamentárias foram atribuídas a alterações interanuais do ambiente, como período

de seca maior em um ano, que teria alterado o período de frutificação das espécies vegetais,

mas assim como no estudo de Vieira (2005), no presente estudo com o grupo Bacaba não foi

possível realizar avaliações a respeito da disponibilidade dos recursos no ambiente, não sendo

possível, portanto, afirmar que as variações orçamentárias tenham sido em função de padrões

fenológicos.

Outro aspecto a ser considerado é a diferença no tamanho de subgrupos e taxas de

avistamentos entre anos, que poderia subestimar os comportamentos crípticos ou superestimar

os comportamentos mais visíveis. Os dados apresentaram média de indivíduos por subgrupos

menores (n=13,0 contra n=20,25), mas com uma taxa de avistamentos maior em 2014 do que

em 2011 (n=4,05 contra n=2,93), e embora as diferenças não tenham sido significativas, estes

fatores, especialmente a taxa de avistamentos, podem ter influenciado nas diferenças entre

comportamentos.

44

5.3 Dieta

Assim como o padrão de atividades, a dieta dos primatas é fortemente influenciada por

flutuações na disponibilidade de recursos preferidos (Strier 2000). Dados do Inventário

Florestal realizado por Salomão et al. (2002) no platô Bacaba, apresentaram informações

sobre a área de estudo. Sapotaceae e Moraceae, que são famílias conhecidamente importantes

na dieta de Chiropotes, apresentaram maior riqueza de espécies (S=62 e S=32), seguidas de

Fabaceae (S=30). Arecaceae mostrou-se como a família mais abundante, seguida de

Sapotaceae, Burseraceae e Moraceae. Já com relação às espécies mais abundantes,

Oenocarpus bacaba Mart. (bacaba), que dá nome ao Platô foi a mais abundante, seguido de

Tetragastris panamensis (Engl.) Kuntze (breu branco) e Geissospermum sericeum Bth. &

Hook (acarirana). No estudo, Salomão et al. (2002) afirmaram que não há dominância de

quaisquer espécies, ou se existe é muito baixa, e que a Equabilidade é alta, com índices

próximos ao máximo esperado para o número de espécies amostradas.

Mesmo com alterações no padrão de ingestão de itens de acordo com as possíveis

mudanças na disponibilidade dos recursos no ambiente, a dieta dos primatas é geralmente

classificada levando em consideração os itens que eles consomem na maior parte do tempo

(Strier 2000). Neste caso, a dieta do grupo Bacaba pode ser classificada como “granívora”,

apresentando ingestão de altas quantidades de sementes ao longo de todo o período de estudo

(padrão anual, sazonal e longitudinal), similar ao encontrado por Ayres (1981), Kinzey &

Norconk (1993), Port-Carvalho & Ferrari (2004), Veiga & Ferrari (2006) e Santos (2013) para

o gênero. O consumo de sementes em diversos estágios de maturação, observado também

neste estudo, corrobora o esperado por sua classificação como “forrageador esclerocárpico”

(Kinzey 1992; Kinzey & Norconk 1990; Shaffer 2013) e é considerada uma estratégia adotada

pelos cuxiús para minimizar os efeitos da sazonalidade e escassez de recursos. Shaffer (2013)

ainda afirma que, mesmo sendo especialistas e com todo o aparato mecânico e morfológico

para a esclerocarpia, os cuxiús apresentam flexibilidade para enfrentar os períodos de escassez

de recursos como a estação seca através da inclusão de diferentes itens alimentares na dieta,

como partes reprodutivas de plantas e recursos animais, e que tal característica é comum a

muitos membros da ordem Primates.

Considerando o padrão sazonal, na estação seca houve alta taxa de ingestão de

sementes imaturas e também uma tendência ao aumento do tempo gasto com Alimentação,

mas não houve diferença no número de espécies exploradas para a extração de sementes

45

imaturas. A maior proporção de registros de ingestão de sementes imaturas nos meses de seca

também foi observada por outros estudos (Ayres 1989; Kinzey & Norconk 1993; Norconk

1996; Peetz 2001; Silva 2003; Norconk et al. 2009; Melo et al. 2012; Shaffer 2012; Santos

2013), reafirmando a proposição de Norconk (1996) de que o período da seca não deve ser

considerado período de escassez de recursos para Chiropotes.

Assim como no estudo de Santos (2002), não foram registrados itens animais na dieta

dos cuxiús do grupo Bacaba, mas a ausência desses itens na dieta pode ter sido devida à

dificuldade de observação, já que no período de habituação foi observado um evento de um

indivíduo adulto predando um invertebrado. Apesar disso, como nos demais estudos (Ayres

1989; Kinzey & Norconk 1993; Norconk 1996; Peetz 2001; Silva 2003; Norconk et al. 2009;

Melo et al. 2012; Shaffer 2012), a estação seca também foi marcada pela inclusão de itens

ausentes da dieta da estação chuvosa, como Semente de Fruto Seco, Partes Florais e Outros

(como casca, por exemplo), e embora a fenologia não tenha sido um parâmetro testado neste

estudo, podem ser chave para a sobrevivência do gênero às alterações na dinâmica de

frutificação das Florestas Tropicais.

Já na estação chuvosa o grupo apresentou o padrão esperado para os cuxiús,

corroborando a hipótese de que haveria maior ingestão de frutos, também encontrado por

Santos et al. (2013), e aumento também no número de registros de Deslocamento e menor

tempo dedicado às atividades de Forrageamento e Alimentação, corroborando a estratégia de

“maximização de energia” (Shaffer 2013; Strier 2000). Isso se deve ao fato de os frutos serem

recursos alimentares que tendem a estar mais dispersos no ambiente do que as folhas, mas que

também são mais ricos em calorias fáceis de digerir e reabastecer a energia gasta para

encontrá-los (Strier 2000). O maior Deslocamento dos cuxiús no período chuvoso pode estar

relacionado ao monitoramento constante das fontes alimentares para a obtenção dos recursos

no estágio de maturação favorável, onde a ingestão de compostos secundários de alguns frutos

também pode ser evitada. Este padrão comportamental dos macacos em florestas tropicais

está relacionado à distribuição e disponibilidade de recursos no ambiente, o que exige

adaptações para manter dietas de qualidade como a ingestão de outros itens alimentares não-

preferenciais, porém abundantes, conhecidos como alimentos “fallback” (Chapman et al.

2005).

O grupo Bacaba se alimentou de altas taxas de sementes nos dois anos e, da maneira

esperada, houve mais diferenças entre as estações ao longo do período de estudo do que entre

46

meses iguais de anos diferentes. Apesar de não ter havido diferenças nas proporções dos itens

alimentares da dieta dos dois anos, os cuxiús demonstraram uma capacidade de manter a

composição da dieta, no que diz respeito à proporção de itens, mas a partir da exploração

espécies diferentes nos dois anos. Isso reflete claramente a flexibilidade desses primatas para

enfrentar períodos de escassez de determinado recurso no ambiente, sendo favorecidos pela

capacidade que possuem em acessar diferentes itens alimentares.

As sementes de fruto seco ingeridas em 2011 eram pertencentes à Sapotaceae sp1, que

se mostrou como um importante recurso para os cuxiús, sendo explorada durante muitos

meses e em diversos estágios de maturação e contribuiu com quase 20% da dieta total de

novembro do primeiro ano, não sendo ingerida em 2014. No segundo ano, Sementes de

Frutos Maduros, que foram responsáveis por mais de 20% da dieta, eram pertencentes

especialmente a Brosimum guianense (Aubl.) Huber (pau-rainha), que também foi

responsável por mais da metade das fontes alimentares para 2014 e não foi utilizada para a

Alimentação em 2011.

Explorar as sementes de fruto seco pode ter elevado o tempo gasto com forrageamento

no primeiro ano, já que sementes, conforme observado por Peetz (2001) dependem de maior

tempo de manipulação para serem acessadas, diferente de polpa de Frutos Maduros, por

exemplo. E, considerando a abundância da família Arecaceae no platô Bacaba, e a utilização

das palmeiras Oenocarpus distichus Mart (bacaba-abacate) para a alimentação do grupo no

segundo ano, estas podem ter influenciado no maior o tempo gasto com Deslocamento entre

fontes, já que as palmeiras são árvores de pequeno porte, que suportam poucos indivíduos se

alimentando ao mesmo tempo.

5.4 Composição da dieta

Os cuxiús são conhecidos por se alimentar de um número grande de espécies vegetais,

o que é considerado por Peetz (2001) como uma estratégia adaptativa para evitar compostos

secundários desfavoráveis presentes nas espécies vegetais. Quando comparado com outros

estudos, o número o número de famílias, gêneros e espécies utilizadas como fontes

alimentares apresentado por este trabalho está dentro do encontrado pelos demais (Gregory

2011; Boyle et al. 2012; Melo 2012; Shaffer 2013) para a espécie C. sagulatus em floresta

contínua, conforme apresentado na Tabela 11. A tabela apresenta, em alguns casos,

compilação de dados de mais de um grupo por estudo.

47

Tabela 11. Diferenças quanto ao número de famílias, gêneros e espécies vegetais consumidas por Chiropotes

sagulatus em habitats de floresta contínua, em diferentes estudos. ** mais de um grupo por estudo.

DURAÇÃO DO ESTUDO

(MESES/ HORAS) N FAMÍLIAS N GÊNEROS N ESPÉCIES REFERÊNCIA

8/440 32 70 105 Presente estudo

17/535 47 115 244

Boyle et al. (2012)**

12/ 41 92 153

Melo 2012 (não publicados)**

12/540 32 112 Gregory (2011)

10/560 30 75 119 Shaffer (2013)

Com relação às famílias mais importantes para a dieta do grupo Bacaba, Sapotaceae,

Fabaceae e Lecythidaceae estiveram entre as cinco mais representativas. Todos os outros

estudos com Chiropotes apresentaram estas famílias entre as mais importantes para a

composição da dieta (e.g. Norconk 1996; Peetz 2001; Port-Carvalho & Ferrari 2004; Boyle

2008; Gregory 2011; Boyle et al. 2013; Shaffer 2013) na compilação de dados realizadas por

Boyle et al. (2015). Famílias como Lecythidaceae apresentam poucas adaptações químicas,

mas muitas adaptações mecânicas para evitar a predação de suas sementes, e a habilidade para

se alimentarem delas parece ser uma das características que define o nicho dos cuxiús

(Shaffer 2013). Em contrapartida, por ingerirem as sementes do fruto imaturo e as flores

destas famílias, a planta tem condição de alocar mais energia com os frutos restantes. Esta

adaptação tem levado autores a questionar se o limite geográfico destes macacos está limitado

pela extensão da viabilidade destas famílias (Norconk 2011; Ayres & Prance 2013; Shaffer

2013). No Platô Bacaba, Salomão et al. (2002) observaram que a família Sapotaceae

“sobressai-se entre quaisquer outras”, apresentando maior diversidade e dominância entre

todas as demais famílias e o número de espécies a coloca em segundo lugar no valor

percentual de importância para a região.

Os gêneros com maior número de espécies presentes na dieta do grupo Bacaba,

Pouteria, Licania, Eschweilera e Inga também estão entre os cinco mais importantes para

Chiropotes no trabalho de Boyle et al. (2015), definindo a preferência dos Chiropotes por

estes recursos alimentares quando disponíveis, mesmo quando diferenças locais na

configuração dos recursos. Com relação às espécies, Sapotaceae sp.1 e abil Chrysophyllum

48

sanguinolentum (Pierre) Baehni, pertencentes à família Sapotaceae, apresentaram maior

número de registros e também maior número de fontes para a alimentação do grupo. Esta

presença da família Sapotaceae como importante fonte alimentar para os cuxiús no grupo

Bacaba em relação ao número de fontes, gênero e espécies demonstra que os cuxiús

provavelmente são favorecidos pela dominância desta na área de estudo. Apesar da inclusão

da família Bignoniaceae representada por Anemopaegma foetidum Bureau & K.Schum na

lista de seis espécies com maior número de registros de alimentação, Sapotaceae,

Lecythidaceae e Moraceae continuam presentes, como nas cinco famílias mais representativas

na dieta do grupo Bacaba, reforçando a importância destas também para este aspecto.

Além disso, as seis espécies com maior número de registros de Alimentação no nosso

trabalho apresentaram mais de 60% do total de registros, mostrando que apesar de sua

capacidade de explorar um grande número de espécies vegetais, algumas espécies são

preferencialmente exploradas quando disponíveis. No padrão sazonal, por exemplo,

Anemopaegma foetidum Bureau & K.Schum, Brosimum rubescens Taub., Chrysophyllum

sanguinolentum (Pierre) Baehni, Licania octandra (Hoffmanns. ex. Roem & Schult.) Kuntze,

Micropholis acutangula (Ducke) Eyma e Pouteria anomala (Pires) T.D.Penn. estiveram

presentes na estação chuvosa do período de estudo, e permaneceram durante a estação seca,

embora 16 outras espécies tenham sido incluídas para a dieta desta estação.

No padrão longitudinal, nossos dados apontaram que no primeiro ano

Melastomataceae foi a família mais representativa na dieta dos cuxiús do grupo Bacaba, com

mais de 40% do total de registros de alimentação, mas não foi explorada pelo grupo no

segundo ano. A espécie mais frequentemente utilizada para a alimentação em 2011 Mouriri

collocarpa Ducke também pertence à família, o que reforça a proposição de Santos et al.

(2013) de um padrão imprevisível de disponibilidade, em que os cuxiús presumivelmente

exploram os recursos mais abundantes em qualquer época, já que Melastomataceae não está

entre as 5 famílias mais representativas para a dieta nos estudos com Chiropotes. Além da

espécie comum à dieta, apenas o gênero Brosimum esteve presente nos registros alimentares

do grupo dos dois anos.

De Sapotaceae sp. 1 (Figura 13) foram exploradas pelos cuxiús as sementes imaturas,

o fruto em estágio maduro do qual extraíam a pouca polpa pressionando contra os lábios,

engolindo as sementes e a semente quando o fruto estava seco. O fato de ter sido explorada ao

longo dos meses e em diversos estágios de maturação pode colocar Sapotaceae sp.1 como um

49

recurso chave para a sua sobrevivência na FLONA Saracá-Taquera, já que várias áreas

disponíveis para os Chiropotes bem como para outras espécies da fauna e da flora tem sido

desmatados para a exploração vegetal. Assim estudos para a identificação das espécies, bem

como para verificar sua distribuição e de outras fontes alimentares na área de vida do grupo

são importantes e necessários para definir diretrizes e prioridades para a conservação desta

população.

Figura 13. Espécie da família Sapotaceae ainda não descrita consumida pelo grupo de Chiropotes sagulatus

(Bacaba) de semente imatura a semente de fruto seco na FLONA Saracá-Taquera, PA.

50

6. Conclusão

Este trabalho corrobora os padrões ecológicos já observados para o gênero Chiropotes,

que aparentam estar relacionadas à influência de características ambientais e não a

diferenças filogenéticas;

O padrão de agrupamento do grupo Bacaba é do tipo fissão-fusão e demonstrou

tendência para subgrupos maiores na estação chuvosa do que na seca, e também

maiores em 2011 do que em 2014;

Os parâmetros ecológicos de comportamento e dieta apresentaram variações sazonais

e longitudinais e refletiram a flexibilidade dos cuxiús enquanto maximizadores de

energia, com grande tempo gasto com Deslocamento e alta ingestão de sementes

imaturas;

As famílias botânicas mais importantes para a dieta do grupo Bacaba foram

Sapotaceae, Moraceae, Fabaceae, Chrysobalanaceae e Lecythidaecae, conhecidamente

importantes para o gênero Chiropotes em diferentes sítios, tanto em florestas

contínuas como em áreas fragmentadas;

Os cuxiús são primatas que desempenham um importante papel no ambiente, e o fato

de serem primatas granívoros levanta questões importantes a respeito de sua relação

com as espécies vegetais das quais se alimenta;

Direcionar estudos futuros quanto a este aspecto pode esclarecer um dos papeis

importantes representados pelos cuxiús na manutenção da diversidade botânica local,

em cada área de ocorrência das espécies;

A presente pesquisa oferece muitas indagações a serem respondidas nas próximas

análises e futuros trabalhos. Pesquisas futuras, e estudos de longo prazo com esta

população, que está sob a influência antrópica direta, favorecerão ainda mais o

conhecimento aprofundado a respeito da ecologia dos cuxiús e a definição de

protocolos confiáveis para sua conservação.

51

7. Referências Bibliográficas

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58

8. APÊNDICES

APÊNDICE A CLASSES SEXO-ETÁRIAS. Adaptado de Veiga (2006).

CLASSE SEXO ETÁRIA

CÓDIGO UTILIZADO

DEFINIÇÃO

FILHOTE

F

Indivíduos dependentes, carregados na região ventral e posteriormente dorsal da mãe. Apresentam a cauda preênsil nos

primeiros meses de vida. Esta classe tem duração de aproximadamente 12 meses .

JUVENIL

JUV

Indivíduos independentes, mas de porte físico menor do que os sub-adultos. Bulbos temporais, barba e órgãos genitais pouco

desenvolvidos, sendo difícil a identificação sexual.

FÊMEA SUB-ADULTA

FSA Indivíduo visivelmente menor do que a fêmea adulta. Os bulbos temporais, barba e pelagem da cauda são menos espessas.

Apresenta genitália de coloração rósea.

MACHO SUB-ADULTO

MSA Indivíduo visivelmente menor do que o adulto. Os bulbos temporais, barba e pelagem da cauda são menos espessas.

Apresenta bolsa escrotal distinta e de coloração rósea.

MACHO ADULTO MA Comprimento corporal de 400 a 480 mm. Apresentam barba e

bulbo temporal maiores do que das fêmeas e bolsa escrotal rosada, protuberante e bem desenvolvida.

FÊMEA ADULTA

FA Genitália bem desenvolvida. Bulbos temporais e barba são menos proeminente do que dos machos. Para o grupo Bacaba, apresentam pelagem dorsal mais amarelada do que os machos.

Durante o estro a região ano genital é avermelhada.

ADULTO A Comprimento corporal 380 a 480 mm.

59

APÊNDICE B. Lista das espécies vegetais utilizadas como fonte alimentar pelo grupo

Bacaba na FLONA Saracá-Taquera, PA durante o período de estudo.

FAMÍLIA ESPÉCIE NOME

POPULAR

ANACARDIACEAE Anacardium giganteumHanc. Ex Engl Cajuí

Astronium gracile Engl. Muiracatiara

ANNONACEAE Xylopia nitida Dunal Comida de

inhambu

APOCYNACEAE Couma guianensis Aublet. Sorva

Geisossopermum argentium Woodson Quinarana

Odontadenia verrucosa Willd. Ex Roem. & Schult.

Parahancornia fasciculata (Poir) Benoist pau-de-colher

Rhigospira quadrangularis (Mull. Arg.) Miers

ARALIACEAE Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin Mandiocão

BIGNONIACEAE Anemopaegma foetidum Bureau & K.Schum. cipó-cururu

Nemora barcteosa cipó-de-cruz

CECROPIACEAE Pouruma minor Benoist Embaubarana

CHRYSOBALANACEAE

Couepia guianensis Aubl. Pajurá

Hirtella racemosa Lam.

Licania adolphoduckei Prance

Licania hypoleuca Benth. Caraipérana

Licania longistyla (Hook.f.) Fritsch uxi-de-cutia

Licania macrophylla Benth pajurá-pedra

Licania niloi Prance Caraipé

Licania octandra (Hoffmanns. ex Roem & Schult.) Kuntze Caraipé

CLUSIACEAE Caraipa sp.

Clusia amazônica Planch & Triana Apuí

Clusia insignis Apuí

Symphonia globulifera L. f. Ananim

COMBRETACEAE Buchenavia grandis Ducke tanimbuca

Nectandra cuspidata Nees & Mart.

DILLENIACEAE Pinzona coriácea Mart. & Zucc cipó-de-fogo

EUPHORBIACEAE Glycidendron amazonicum Ducke castanha-de-porco

Hevea guianensis Aubl. Siringueira

FABACEAE Abarema floribunda (Benth.) Barneby & J.W. Grimes Saboeira

Andira micrantha Ducke sucupira-amarela

Dimorphandra sp.

Enterolobium maximum Ducke Tamburil

Hymenaea courbaril L. Jatobá

60

Inga lateriflora Miq. inga-chichica

Inga longiflora Spruce Ingá

Inga paraensis Ducke Ingarana

Inga stipularis D.C. ingá-chichica

Macrolobium limbatum Benth.

Parkia ulei (harms) Kuhlm Faveira

Pseudopiptadenia suaveolens Miq. fava-timborana

Vatairea paraensis Ducke fava-margosa

GOUPIACEAE Goupia glabra Aubl. Cupiuba

HIPPOCRATEACEAE Tontelea congestiflora (A.C.Sm.)

HUMIRIACEAE Endopleura uchi (Huber) Cuatrec. uxi liso

Sacoglottis ceratocarpa Ducke Uxirana

Sacoglottis guianensis Benth. Achuá

Sacoglottis matogrosensis Malme Achuá

Vantanea macrocarpa Ducke Uxirana

ICACINACEAE Pleurisanthes emarginata Tiegh

Poaqueiba guianensis Aubl. Mari

IPPOCRATEACEAE Salacia impresifolia (Miers) A.C.Sm.

LAURACEAE Nectandra cuspidata Nees & Mart. Louro

Ocotea ceanotifolia Aubl. Louro

Ocotea spledens (Meisn.) Baill

LECYTIDACEAE Eschweilera atropetiolata S.A. Mori ripeiro-vermelho

Eschweilera grandiflora (Aubl.) Sandwith ripeiro-preto

Eschweilera parviflora (Aubl.) Miers castanha-de-

macaco

Eschweilera pedicellata (Rich.) S.A.Mori ripeiro-vermelho

Eschweilera rhododendrifolia (R. Kutnh) A.C.Sm. ripeiro-vermelho

Lecythis parvifructa S.A.Mori jarana

Lecythis poiteaui O.Berg Jarana

LOGANIACEAE Strychnos jobertiana Baillon

MALPIGHIACEAE Byrsonima crispa A. Juss Murucí

Hirea affinis

MELASTOMATACEAE Mouriri collocarpa Ducke Mamãozinho

Mouriri duckeana Morley Mamãozinho

Mouriri nigra (D.C.) Mamãozinho

MENISPERMACEAE Cissampeleos andromorpha D.C.

Scieadotenia sp.

MORACEAE Brosimum acutifolium ssp.interjectum (Huber) Ducke Mururé

Brosimum guianense (Aubl.) Ducke pau-rainha

61

Brosimum ovatifolium Ducke Garrote

Brosimum parinarioides Ducke Amapá

Brosimum rubescens Taub. pau-rainha

Brosimum rubescens rubescens Taub. pau-rainha

Ficus guianensis Desv. Ex Ham. Apuí

Ficus mathewsii Miq. mata-pau

Maquira sclerophylla (Ducke) C.C.Berg pau-tanino

MYRISTICACEAE Irianthera coriácea Ducke Cucuúba

Iryanthera ulei Warb. Cucuúba

Osteophloeum platyspermum (Spruce ex. A. DC.) viróla-vermelha

NYCTAGINACEAE Neea floribunda Poepp. & Endl. joão-mole

Neea madeirana Standl. joão-mole

OLACACEAE Minquartia guianensisAubl. Acariquara

OPILIACEAE Agonandra sylvatica Ducke

PASSIFLORACEAE Passiflora coccinea Aubl. Maracujá

SAPINDACEAE Matayba arborescens (Aubl.) Radlk Pitomba

Paullinia stipularis Benth. ex Radlk. Guaraná-bravo

Talisia cf. cucularis

SAPOTACEAE Chrysophylum sanguinolentum (Pierre) Baehni balata-brava

Chrysophylum ucuquirana-branca (Aubr’ev. & Pellegr.)

T.D.Penn.

Balata

Sapotaceae sp.1

Micropholis acutangula (Ducke) Eyma

Micropholis cassiquiarensis Abil-rosadinha

Micropholis mensalis (Baehni) Aubrév. abil-rosadinha

Micropholis venulosa (Mart. & Eichler) abil-rosadinha

Pouteria sp.

Pouteria anomala (Pires) T.D.Penn Abiurana

Pouteria cf. stipulifera

Pouteria freitasii T.D.Penn abiurana-vermelha

Pouteria manaosensis (Aubrév & Pellegr) T.D.Penn abil-peludo

Pouteria stipulifera T.D.Penn Rosadinha

Pouteria vernicosa T.D.Penn Abiurana

Pouteria virescens Baehni Abiurana

SIPARUNACEAE Siparuna glycicarapa (Ducke) Renner & Hausner Capitiú