caracterÍsticas de pensamento algÉbrico …
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CARACTERÍSTICAS DE PENSAMENTO ALGÉBRICO
EVIDENCIADAS POR ESTUDANTES DO ENSINO
FUNDAMENTAL I EM QUESTÕES NÃO ROTINEIRAS
Renata Karoline Fernandes
Universidade do Norte do Paraná/Universidade Estadual de Londrina
Elza Maria Vieira Alves
Escola Municipal José Brazil Camargo
Maria Lucia Geraldo
Escola Municipal José Brazil Camargo
Angela Marta P.das Dores Savioli
Universidade Estadual de Londrina
Resumo: Este trabalho apresenta resultados de um estudo que evidenciou a possibilidade de estudantes
que nunca tiveram contato com a álgebra e com a notação algébrica formal, evidenciem
características de pensamento algébrico, por meio de tarefas que os estimulem a realizar
generalizações, criar padrões e testar hipóteses. O estudo buscava verificar que características
de pensamento algébrico estudantes do Ensino Fundamental I evidenciam ao resolverem
questões não rotineiras e foi realizada com seis estudantes do 5º ano de uma escola municipal
de Apucarana, PR. Ao analisar as produções escritas destes estudantes, verificamos que eles
manifestaram compreensão de propriedades matemáticas e aritméticas, estabeleceram relações
de equivalência, estabeleceram padrões e relações e em alguns momentos, também
generalizaram.
Palavras-chave: Educação Matemática. Pensamento Algébrico. Ensino Fundamental I.
Introdução
Este artigo expõe análises de registros escritos de seis estudantes do 5º ano do
Ensino Fundamental I, na intenção de verificar que características de pensamento
algébrico foram manifestadas por eles e assim, responder a questão norteadora, que
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características de pensamento algébrico estudantes do Ensino Fundamental I
evidenciam ao resolver questões não rotineiras1?
Os sujeitos da pesquisa deste trabalho são estudantes da escola José Brazil
Camargo, localizada na cidade de Apucarana –PR, sendo esta, participante do projeto da
CAPES Observatório da Educação – Educação Matemática de professores que ensinam
Matemática – desenvolvido por professores e estudantes da Universidade Estadual de
Londrina – UEL. Este projeto tem como objetivo estimular a produção acadêmica
relativa à Formação de Professores que ensinam Matemática; colaborar para a elevação
da média do IDEB nas instituições participantes; estabelecer/fortalecer uma interação
entre pesquisadores da área de Educação Matemática do Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Ciências e Educação Matemática – PECEM; fomentar, disseminar e
desenvolver metodologias de prática de ensino significativas para enfrentamento dos
problemas na área de Matemática, entre outros.
Para atingir o objetivo da pesquisa utilizamos alguns procedimentos
metodológicos da análise de conteúdo de Bardin (2004), a qual consiste em um
conjunto de técnicas, que utiliza procedimentos sistemáticos, bem definidos e
criteriosos, tendo como objetivo descrever o conteúdo das mensagens, sendo estas
escritas, faladas, ou expressas por meio de figuras. Ao descrever o conteúdo das
mensagens, tem-se como principal intenção compreender os sujeitos e o contexto da
pesquisa.
Bardin (2004) relata que para poder descrever o conteúdo de uma mensagem é
preciso adotar critérios para organizar os dados obtidos, codificar os resultados,
estabelecer categorias e realizar inferências para assim, comunicar por meio de um texto
as análises.
A análise de conteúdo (BARDIN, 2004) é composta de três polos, sendo estes:
(I) a pré-análise, que é considerada a primeira leitura dos dados, nesta fase surgem as
primeiras impressões e hipóteses do pesquisador; (II) a exploração do material, que
consiste em operações de codificação, desconto ou numeração, em função de regras
previamente formuladas; e por fim; (III) o tratamento dos resultados: a inferência e a
1 Neste trabalho consideramos como tarefas não rotineiras as que não são frequentemente aplicadas nas
salas de aula e também não são comumente encontradas nos livros didáticos relativos ao 5º ano do Ensino
Fundamental I.
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interpretação, momento que o autor, por meio de um texto, expressa as suas principais
análises e conclusões. Este estudo será realizado a luz destes polos.
A opção por realizar a pesquisa com estudantes do 5º ano ocorreu devido a
inferência de que estes estudantes já tem as habilidades de leitura necessárias para poder
resolver as três questões propostas com o mínimo de interferência possível das
pesquisadoras. A quantidade de estudantes participantes deveu-se à permissão dada pela
professora2 regente da turma, sendo estes escolhidos de modo arbitrário. Com a
intenção de preservar o anonimato dos estudantes utilizamos a codificação E, de
estudante, seguido pelo número correspondente à ordem em que entregaram as questões
resolvidas, ou seja, E1 é o código que se refere ao primeiro estudante que entregou as
questões, E2 refere-se ao segundo estudante e assim por diante.
1. Ensino de Álgebra e Pensamento algébrico
O ensino da álgebra no Brasil apresenta diversos problemas, dentre estes
problemas os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) destacam a dificuldade que os
estudantes evidenciam em compreender os conceitos algébricos e mais ainda em
construir significados para os mesmos (BRASIL, 1998).
Estando cientes dos problemas do processo de ensino e de aprendizagem
referentes a Álgebra, Kaput (1999) elenca possíveis alternativas para que esse ramo da
Matemática passe a ter mais significado para os estudantes, de modo que o ensino passe
à ter como principal objetivo, não a manipulação dos símbolos algébricos, mas sim o
desenvolvimento do pensamento algébrico, a compreensão da álgebra, que é muito mais
do que equações, inequações e funções. Este autor sugere que o ensino da álgebra deva:
- Começar cedo (em parte, pela construção do conhecimento informal
dos alunos);
- Integrar a aprendizagem da álgebra com a aprendizagem de outros
assuntos (por estender e aplicar o conhecimento matemático);
- Incluir as várias formas de pensamento algébrico (aplicando o
conhecimento matemático);
- Construir nos alunos naturalmente poderes linguísticos e cognitivos
(incentivando-os ao mesmo tempo para refletir sobre o que aprender e
articular o que eles sabem), e;
2 A professora regente do 5º ano desta instituição não participa do projeto e não é uma das autoras
deste trabalho.
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- Incentivar a aprendizagem ativa (e na construção dos
relacionamentos) valorizando a percepção e compreensão dos alunos
(KAPUT, 1999, p. 3).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) oferecem sugestões
para que o ensino da álgebra seja mais significativo. De acordo com esse documento, o
enfoque da Álgebra deveria estar intimamente relacionado com os demais blocos de
conteúdos, privilegiando o desenvolvimento do pensamento algébrico e não os
exercícios meramente mecânicos baseados em cálculos repetitivos. Sendo assim, uma
das formas evidenciadas de melhorar o ensino da álgebra, é por meio do
desenvolvimento do pensamento algébrico, desde os primeiros anos do Ensino
Fundamental, de modo que os estudantes passem a ter contado com a álgebra
primeiramente de maneira informal, com uma simbologia própria, apoiados na
linguagem aritmética e somente com o decorrer dos anos serem apresentados à álgebra
formal e a linguagem algébrica introduzida.
Para Ponte, Branco e Matos (2009) a aprendizagem efetiva da álgebra ocorre se
o estudante for capaz de construir o pensamento algébrico, porém, definir exatamente o
que é pensamento algébrico não é tarefa fácil. Por este motivo ao invés de defini-lo na
sequência apresentaremos elementos caracterizadores deste tipo de pensamento.
Para Blanton e Kaput (2005) os principais elementos caracterizadores do
pensamento algébrico são:
a) o uso da aritmética como um domínio para expressar e formalizar
generalizações (aritmética generalizada);
b) a generalização de padrões numéricos para descrever relações
funcionais (pensamento funcional);
c) a modelação como um domínio para expressar e formalizar
generalizações;
d) a generalização sobre sistemas matemáticos abstratos de cálculos e
relações. (BLANTON; KAPUT, 2005, p. 413).
Kaput (1999) também apresenta elementos que considera caracterizadores do
pensamento algébrico, tais como: (I) a generalização e formalização de padrões e
restrições; (II) a manipulação de formalismos guiada sintaticamente; (III) o estudo de
estruturas abstratas a partir de cálculos e relações; (IV) o estudo de funções, relações e
variação de duas variáveis; e (V) a utilização de múltiplas linguagens na modelação
matemática e no controle de fenômenos. Para o autor, os dois primeiros elementos
citados são o centro deste tipo de pensamento.
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Lins e Gimenez (1997) afirmam que o pensamento algébrico é uma forma de
produzir significado para a álgebra e este pensamento se manifesta pelo:
(I) Aritmeticismo, ou seja, a produção de significados apenas em
relação a números e operações aritméticas;
(II) Internalismo, que consiste em considerar números e operações
apenas segundo suas propriedades, e não “modelando” números em
outros objetos, como os objetos físicos ou geométricos;
(III) Analiticidade, quando opera-se com números desconhecidos
como se fossem conhecidos (Lins e Gimenez, 1997, p.150).
O pensamento algébrico pode ser desenvolvido independentemente da idade
dos estudantes, desde que com um grau de formalidade crescente, inicialmente sem a
necessidade de utilização da simbologia formal, de modo que os estudantes se
expressam por meio da linguagem natural ou da linguagem aritmética, assim esse
desenvolvimento ocorre:
[...] gradativamente antes mesmo da existência de uma linguagem
algébrica simbólica. Isso acontece, sobretudo, quando a criança
estabelece relações/comparações entre expressões numéricas ou
padrões geométricos [...]; percebe e tenta expressar as estruturas
aritméticas de uma situação-problema; produz mais de um modelo
aritmético para uma mesma situação-problema; ou, reciprocamente,
produz vários significados para uma mesma expressão numérica;
interpreta uma igualdade como equivalência entre duas grandezas ou
entre duas expressões numéricas; transforma uma expressão aritmética
em outra mais simples; desenvolve algum tipo de processo de
generalização [...](FIORENTINI; FERNANDES; CRISTOVÃO,
2005, p.5).
Lins e Gimenez (1997, p.10) apoiam a ideia de que é necessário desenvolver o
pensamento algébrico nas séries iniciais do Ensino Fundamental, visto que, “é preciso
começar mais cedo o trabalho com Álgebra e de modo que esta e a Aritmética se
desenvolvam juntas, uma relacionada no desenvolvimento da outra” e para que este
trabalho com a álgebra possa iniciar desde cedo, Kieran (2004, p. 149) sugere que os
professores promovam tarefas que proporcionem o desenvolvimento do pensamento
algébrico, sem a necessidade da utilização de uma simbologia formal da álgebra,
denominada por ela como símbolo-letra da álgebra, em falas como:
O pensamento algébrico nos primeiros anos de escolaridade envolve o
desenvolvimento de maneiras de pensar em atividades em que o
símbolo-letra da Álgebra pode ser usado como ferramenta, que não é
exclusiva da Álgebra, e que podem ser realizadas sem usar qualquer
símbolo-letra da Álgebra, tais como, analisar relações entre
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quantidades, perceber estruturas, estudar a mudança, generalizar,
resolver problemas, modelar, justificar e prever.
Tendo em vista as considerações anteriores e a dificuldade de definir
exatamente o que é pensar algebricamente e com a certeza de que é possível
desenvolver o pensamento algébrico em qualquer etapa escolar, para este trabalho
consideramos que o pensamento algébrico pode ser caracterizado da seguinte forma:
Quadro 1- Caracterização para o pensamento algébrico baseado na literatura estudada.
Fonte: do autor
Apoiados em nosso referencial teórico e nos elementos caracterizadores do
pensamento algébrico, na próxima sessão realizaremos as análises dos registros escritos
dos sujeitos desse trabalho.
2. As análises
Optamos por apresentar neste artigo apenas alguns dos registros escritos que
apresentaram alguma característica de pensamento algébrico e um quadro resumo para
apresentar todos os dados.
Iniciaremos com as tarefas e as análises referentes a elas.
Tarefa 1
Caminhada na quadra
Um aluno ao caminhar durante a aula de Educação Física percebeu que no ritmo que
ele anda, consegue dar 20 passos em 1 minuto. Supondo que este aluno continuasse a
andar no mesmo ritmo, complete o quadro com a quantidade de passos que ele daria
nos seguintes minutos:
É independente da tarefa, interno ao estudante e pode ser evidenciado por meio da linguagem
natural, simbologia própria ou linguagem aritmética.
É uma forma de compreender conceitos e de pensar a respeito de determinadas situações, envolve
construção de significados, estabelecimento de relações, padrões e generalizações, além de
proporcionar autonomia aos estudantes para criarem conjecturas e testarem hipóteses.
O pensamento algébrico pode ser desenvolvido por meio dos conhecimentos que os estudantes já
possuem e proporcionam novos conhecimentos.
São elementos caracterizadores do pensamento algébrico: a formulação de conjecturas, a
compreensão de propriedades matemáticas e aritméticas, o estabelecimento de uma relação de
equivalência, a percepção de aspectos invariantes e variantes, a comparação entre grandezas, o
estabelecimento de padrões e regularidades, a generalização, validação de ideias por meio de testes
e comparações, entre outros.
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Tempo em
minutos
1 2 3 4
Números de
passos
Na sequência responda:
a) Quantos passos ele dará se caminhar 10 minutos sem mudar o ritmo? Explique
como você descobriu.
b) E em 25 minutos, quantos passos dará? Explique como você descobriu.
c) E em 1 hora? Explique como você descobriu.
d) Sabendo a quantidade de passos que este estudante consegue dar em 1 minuto,
como você faz para descobrir o número de passos?
Nesta tarefa o único estudante que apresentou características de pensamento
algébrico foi o estudante E6, como podemos ver na figura a seguir:
Figura 1: Registro escrito E6
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Podemos perceber por meio da figura anterior que o estudante E6 estabeleceu
um padrão ao resolver a tarefa 1, pois em suas respostas deixa evidente que sabendo a
quantidade de passos que o estudante dá em um minuto é possível multiplicar pela
quantidade de minutos que ele vai caminhar e assim, calcular quantos passos esse aluno
dará em qualquer tempo, mas ao não responder a letra d desta questão, podemos inferir
que não compreendeu o que era solicitado, ou então, não está acostumado a justificar os
procedimentos que adota para resolver uma tarefa.
Tarefa 2
O professor Eduardo explicou a seus alunos que, às vezes, números podem ser
representados por letras. Ainda nessa aula, o professor Eduardo perguntou a seus
alunos: “Se a letra n representar o número 2, qual é o valor da conta 3+n +n?”
a) Como você acha que os alunos responderam a essa pergunta?
b) Por que você pensa assim?
Nesta tarefa os estudantes E2, E3, E5, E6, estabeleceram uma relação de
equivalência ao conceber que se a letra n representa o número 2, então n = 2 e assim,
substituir a “letra” pelo valor que essa representa e, deste modo, estes estudantes
evidenciaram característica de pensamento algébrico.
Devido a similaridade entre os registros escritos dos estudantes E2, E3 e E5,
optamos por apresentar apenas as produções dos estudantes E5 e E6:
Figura 2: Registro escrito do estudante E5
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Figura 3: Registro escrito do estudante E6
Podemos verificar nestes dois registros, de maneira generalizável aos registros
escritos dos estudantes E2 e E3, que os estudantes mesmo sem ter contato algum com a
simbologia algébrica, foram capazes de estabelecer uma relação de equivalência, pois
compreenderam e aplicaram a informação presente no enunciado da tarefa, de que n
representa o número 2.
Como podemos verificar no registro escrito do estudante E5, ele montou o
algoritmo da soma, utilizando o n presente no enunciado, mas ao realizar a operação o
estudante apresenta como resultado final o número 7, pois compreende que se n vale 2,
então 3 + n + n = 3 + 2 + 2 = 7.
Já o estudante E6 não evidencia uma resposta final numérica, mas indica o
caminho que os estudantes citados no enunciado deveriam seguir. Ao explicar o porquê
desse pensamento, E6 diz que “porque acharia a conta mais fácil”.
A resposta dada pelo estudante é coerente com a etapa escolar a qual ele
pertence, pois, por não ter contato com símbolos-letras para representar incógnitas e
variáveis, lhe pareceu mais fácil realizar uma soma com o número 2 do que com a letra
n.
Tarefa 3
Na mesma aula o professor Eduardo escreveu no quadro negro que:
A x B = B x A
A + B = B + A
O que você acha que o professor quis dizer com o que escreveu no quadro negro? Dê
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um exemplo
Por que pensa assim?
Nesta tarefa os estudantes E3, E4, E5 evidenciaram características de
pensamento algébrico, como veremos nas figuras a seguir:
Figura 4: registro escrito do estudante E3
O estudante E3 por meio de sua justificativa evidenciou compreensão de
propriedades matemáticas, como a propriedade da comutatividade, pois afirma que
“inverteu as duas contas de lugar mas mesmo assim ia dar o mesmo resultado”.
Inferimos que ao dizer que o professor inverteu as contas E3 está se referindo
as parcelas da soma e aos fatores da multiplicação e, ao justificar que realizar essa
inversão não muda o resultado mostra o conhecimento a respeito da propriedade
comutativa, mesmo possivelmente, sem ter tido contato formal com essa nomenclatura.
Além disso, mesmo sem contato direto com a notação algébrica, este estudante
estabeleceu uma relação funcional e uma generalização, ou seja, relacionou as letras
com números e percebeu que as letras poderiam representar quaisquer números e por
este motivo, as mesmas operações que podem ser realizadas com os números, podem
ser realizadas com as letras de modo similar.
Figura 5: registro escrito do estudante E4
Já o estudante E4 apresenta um exemplo particular para explicar o modo como
compreendeu a situação e ao dizer que ao multiplicar um número por outro a ordem dos
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fatores não faz diferença para o resultado, o estudante mostra compreender a
propriedade comutativa.
A justificativa apresentada para a questão, porque pensa assim, possivelmente
indique, visto que E4 utilizou um exemplo particular para explicar o que o professor
quis dizer com o que escreveu no quadro, que este estudante acredita ser mais fácil
pensar na situação com números do que com símbolos que representam números
generalizados.
Figura 6: registro escrito do estudante E5
Por meio das análises das produções dos seis estudantes relativa às tarefas que
compõem este trabalho, foi possível construir o quadro 2, que relaciona os registros
escritos referentes a cada uma das questões com as características de pensamento
algébrico apresentadas pelos estudantes.
Para indicar a tarefa que o estudante apresentou determinada característica de
pensamento algébrico, utilizamos T1 para indicar a tarefa 1, T2 pra a tarefa dois e T3
para a tarefa três.
Quadro 2: Características de pensamento algébrico evidenciada por estudantes do Ensino
Fundamental I em questões não rotineiras
Características de pensamento algébrico E1 E2 E3 E4 E5 E6
Formulação de conjecturas
Compreensão de propriedades matemáticas e
aritméticas T3 T3 T3
Estabelecimento de relação de equivalência T2 T2 T2 T2
Percepção de aspectos invariantes e variantes
Comparação entre grandezas
Estabelecimento de padrões e relações T3 T1
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Generalização T3
Fonte: do autor
Como podemos verificar, por meio do quadro anterior, a resposta para a
pergunta “que características de pensamento algébrico estudantes do Ensino
Fundamental I evidenciam ao resolver questões não rotineiras?”, é que os estudantes
evidenciaram as seguintes características de pensamento algébrico: estabelecimento de
padrões e relações; Generalização; Compreensão de propriedades matemáticas e
aritméticas; Estabelecimento de relação de equivalência.
Algumas considerações
Um ensino de álgebra voltado para o desenvolvimento do pensamento
algébrico pode proporcionar um processo de aprendizagem com mais significado aos
estudantes, um processo de aprendizagem em que eles são os elementos centrais e
assim, o objetivo da aprendizagem se desloca para o desenvolvimento de elementos
tais como, estabelecimento de padrões, relações, comparações, generalizações, entre
outros.
Foi possível perceber que mesmo sem nunca terem tido contado com a
simbologia formal algébrica ou com conteúdos algébricos, cinco dos seis estudantes
evidenciaram características do pensamento algébrico.
Contudo, ficou evidente que o pensamento algébrico é interno ao estudante,
pois mesmo todos os sujeitos da pesquisa tendo a mesma formação escolar desde o
primeiro ano do Ensino Básico até a data da aplicação das tarefas, suas resoluções
foram diferenciadas.
Os estudantes manifestaram em algumas das tarefas características de
pensamento algébrico e ainda, verificamos que o pensamento algébrico pode ser
desenvolvido independentemente da simbologia algébrica e da etapa escolar em que o
estudante pertence.
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Agradecimento.
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), via projeto Observatório da Educação e a Fundação Araucária, via
convenio 288-2012, pelo apoio financeiro concedido a este trabalho.
Referências
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BLANTON, M. L.; KAPUT, J. J. Characterizing a Classroom Practice That Promotes
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UNICAMP: Campinas, 2005.