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IBSN: 0000.0000.000 Página 1 CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA DO AMBIENTE PRAIAL DE PONTA NEGRA/RN E SUA RELAÇÃO COM A EROSÃO COSTEIRA Júlia Stefane da Silva Vieira (a) , Júlio Cesar Cândido da Silva (b) , Davi Pinheiro de Carvalho (b) (a) Departamento de Ciências Geográficas DCG/Universidade Federal de Pernambco UFPE, [email protected] (b Departamento de Oceanografia Docean/ Universidade Federal de Pernambuco UFPE, [email protected], [email protected]. Eixo: Zonas costeiras: processos, vulnerabilidade e gestão. Resumo/ Realizou-se este estudo na praia de Ponta Negra, localizada na cidade de Natal/RN, no litoral Setentrional do Nordeste, onde os trabalhos pertinentes à proposta sucederam-se em duas etapas: coletas e campo e análises sedimentológicas em laboratório, tanto referentes à granulometria como à morfoscopia dos grãos. Nestas, puderam ser caracterizadas algumas características físicas dos sedimentos, tais como: textura, grau de seleção, brilho ou opacidade e composição química, auxiliada da utilização de métodos estatísticos para melhor quantificar os dados analisados, onde pôde-se constatar, a princípio, mudanças no balanço sedimentar, devido a ocupações urbanas na orla que interferem na dinâmica costeira. Com o estudo da hidrodinâmica do ambiente e sua relação com a erosão costeira, espera-se que ações possam ser tomadas para que ambientes costeiros e suas adjacências, sejam preservados, e que a ocupação local desordenada, bem como a construção civil superabundante, seja amenizada, levando em consideração a vulnerabilidade natural destes ambientes. Palavra chaves: Zonas Costeiras. Erosão. Granulometria. Sedimentologia. 1. Introdução A praia de Ponta Negra, possui um recorte temporal, entre os anos 1970 e vem até o atual momento, que segue uma linha tênue de grande ocupação provinda da construção civil e do alto turismo existente (SILVA, 2017). Em decorrência deste acelerado processo de

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CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA DO AMBIENTE

PRAIAL DE PONTA NEGRA/RN E SUA RELAÇÃO COM A

EROSÃO COSTEIRA

Júlia Stefane da Silva Vieira(a), Júlio Cesar Cândido da Silva(b), Davi Pinheiro de Carvalho(b)

(a) Departamento de Ciências Geográficas – DCG/Universidade Federal de Pernambco – UFPE,

[email protected]

(b Departamento de Oceanografia – Docean/ Universidade Federal de Pernambuco – UFPE,

[email protected], [email protected].

Eixo: Zonas costeiras: processos, vulnerabilidade e gestão.

Resumo/

Realizou-se este estudo na praia de Ponta Negra, localizada na cidade de Natal/RN, no litoral Setentrional do

Nordeste, onde os trabalhos pertinentes à proposta sucederam-se em duas etapas: coletas e campo e análises

sedimentológicas em laboratório, tanto referentes à granulometria como à morfoscopia dos grãos. Nestas,

puderam ser caracterizadas algumas características físicas dos sedimentos, tais como: textura, grau de seleção,

brilho ou opacidade e composição química, auxiliada da utilização de métodos estatísticos para melhor

quantificar os dados analisados, onde pôde-se constatar, a princípio, mudanças no balanço sedimentar, devido a

ocupações urbanas na orla que interferem na dinâmica costeira. Com o estudo da hidrodinâmica do ambiente e

sua relação com a erosão costeira, espera-se que ações possam ser tomadas para que ambientes costeiros e suas

adjacências, sejam preservados, e que a ocupação local desordenada, bem como a construção civil

superabundante, seja amenizada, levando em consideração a vulnerabilidade natural destes ambientes.

Palavra chaves: Zonas Costeiras. Erosão. Granulometria. Sedimentologia.

1. Introdução

A praia de Ponta Negra, possui um recorte temporal, entre os anos 1970 e vem até o

atual momento, que segue uma linha tênue de grande ocupação provinda da construção civil e

do alto turismo existente (SILVA, 2017). Em decorrência deste acelerado processo de

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urbanização, mudanças na dinâmica natural da zona costeira foram impostas, sendo a mais

notável delas a erosão costeira, sendo a interferência antrópica sua principal catalizadora.

Conforme aponta Dias (2015), as interferências antrópicas na zona costeira como

através de construções civis, tem sido grandes ocasionadoras do agravamento da instabilidade

natural de ambientes costeiros. Situação esta ocorrida, especialmente, a partir do momento

que estas construções tomam a faixa litorânea, afetando a sua dinâmica natural, como vem

ocorrendo na orla de Ponta Negra.

Como efeito negativo das dinâmicas sofridas nestes ambientes, é desencadeado o

processo de erosão costeira, que pode ser caracterizada como o recuo da linha de costa em

direção ao continente (retrogradação), causando o desaparecimento do pós-praia, utilizada

pelas pessoas para lazer (DIAS, 2015).

Partindo deste pressuposto, este trabalho almeja analisar a morfodinâmica da faixa

litorânea da praia de Ponta Negra, e os impactos negativos trazidos pela influência antrópica,

diante do eminente processo de urbanização local, com o intuito de esclarecer como estas

questões influenciam o ambiente praial e suas consequentes relações com a erosão costeira.

2. Materiais e Métodos

2.1 Caracterização da Área de estudo

No que tange ao arcabouço tectônico regional, a cidade de Natal, que inclui a presente

área de estudo, situa-se na bacia sedimentar litorânea Pernambuco-paraíba, datada do período

Cretáceo. Encontram-se ainda uma sequência estratigráfica Tércio-quaternária da formação

Barreiras e finalmente sedimentos Quaternários recentes que abrange as feições

geomorfológicas de dunas fixas ou móveis, aluviões, terraços fluviais e mangues. Ambas as

litologias sedimentares sobrepõem o embasamento Cristalino Pré-Cambriano. (FRAZÃO,

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2003). Ademais, a faixa litorânea é composta por Depósitos de Praias, areias finas a grossas,

com níveis de cascalho, associadas às praias atuais e dunas móveis. (IDEMA, 2008)

Figura 1 – Mapa de localização. Organizado pelos Autores, 2019.

Quanto aos aspectos climáticos, a área de estudo possui um clima Tropical chuvoso

quente com verão seco, onde o período chuvoso vai de Fevereiro a Setembro. A temperatura

média anual fica por volta dos 27°C, com pouca amplitude térmica. (IDEMA, 2008)

2.2 Metodologias e procedimentos

Os trabalhos subdividiam-se sem duas fases: Coletas em campo e análises

laboratoriais. A primeira etapa foi realizada no dia 10 de Novembro de 2018 no horário de

12hrs e 40 min, horário em que a maré estava começando a subir, pois neste dia o baixamar

ocorreu às 11hrs e 36 min e o ciclo de marés local é de 12hrs (maré semidiurna). Realizou-se

uma amostragem em série, coletada em três pontos da praia de Ponta Negra – RN,

estabelecendo um perfil longitudinal que abarca um perímetro de 125 metros de faixa de

praia, conforme a compartimentação do ambiente praial (TABELA I), obtendo um total de 9

amostras, sendo 3 em cada ponto (FIGURA 2).

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Figura 2 – Área de Coleta e pontos. Google Earth, 2018

Em cada um dos pontos -1: (lat-5.879112, long.-35.173400), 2: (lat. -5.879430, long. -

35.173165) e 3: (lat. -5.878520, long. -35.173759) – foram-se coletadas três amostras, uma na

antepraia, uma no estirâncio (zona entre marés) e uma na pós-praia (ou o mais próximo do

fim da zona de estirâncio, já em que alguns lugares não existem pós praia); totalizando assim

nove amostras para serem analisadas (FIGURA 3).

Figura 3 – Nomenclatura descritiva do perfil litorâneo. Adaptado de Christofoletti (1980)

Pós-praia Estirâncio

Antepraia 1 2

3

2 1 3 3

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In loco, a coleta de amostras foi realizada, retirando camadas superficiais de

sedimentos arenosos em cada ponto, para que posteriormente fossem analisados no

laboratório. Com o auxílio de bússola, mediu-se a inclinação da praia e com uma trena

métrica, mediu-se o seu perímetro, desde o enrocamento rochoso até a água, parte final do

estirâncio. Durante as medições, foram ainda observadas características naturais da praia

mediante a planilha de campo.

Os procedimentos laboratoriais se iniciaram com a análise de sedimentos, visando a

obtenção da porcentagem de carbonato (%CaCO3), porcentagem total de matéria orgânica

(%TOM), tamanho de grão e análise morfológica dos grãos. Em uma série organizacional

esses objetivos foram cumpridos; o primeiro foi colocar as amostras para secar na estufa,

assim, a umidade não influenciaria com possíveis falhas em nossas análises. Após secarem, as

amostras foram separadas com 10g e 30g em béqueres (previamente tarados), na capela

colocou-se para reagir com HCl (Ácido clorídrico) e H2O2(Peróxido de Hidrogênio),

respectivamente. Em seguida, foram lavadas 3 vezes, com a ajuda de filtros, depois foram

levadas para a estufa para secarem e, por fim, foram pesadas e assim podermos calcular a

%CaCO3 e %TOM, que foram determinados pela diferença de peso antes e depois da

dissolução com 1NHCl e 1N H2O2, respectivamente. (CARVER, 1971)

As amostras de Matéria Orgânica, após a descoberta da %MOT, foram usadas para

descobrir o tamanho do grão, as distribuições granulométricas foram determinadas por

peneiramento seco (MULLER, 1967). Enquanto o peneiramento seco estava sendo feito o

sedimento retido nas peneiras de phi(Φ) 1 e 2 foram separados para a análise de morfoscopia,

a qual foi feita através de lupa e assim foram observadas características dos grãos em relação

ao grau de esfericidade, de arredondamento, textura superficial e composição.

Os dados foram tratados e classificados de acordo com Folk&ward's (1957)

parâmetros estatísticos e Shepard 's (1954) diagrama triangular (FIGURA 4), respectivamente.

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O tratamento dos dados estatísticos obtidos foi realizado através do programa SYSGRAN –

Sistema de análises granulométricas.

Ademais, vale ressaltar a utilização do geoprocessamento para a confecção de mapas e

para localização da área de estudo através de imagens de satélite. Utilizou-se os softwares

ArcGis 10.3 e Google Earth Pro, para tais finalidades.

3. Resultados e Discussões

A caracterização sedimentológica do ambiente praial de Ponta Negra realizada no

presente trabalho e obtida através de análises granulométricas das amostras coletadas, foi

incorporada em alguns dos métodos analíticos de sedimentos, tais como: Diagrama de

Shepard, histograma, curva de frequência simples e acumulada. Utilizando-se ainda, para sua

realização, alguns parâmetros estatísticos, a saber: curtose, média, mediana e o grau de

assimetria dos grãos.

Este tipo de análise melhor reflete a hidrodinâmica do ambiente deposicional, neste

caso o ambiente praial, bem como o posterior retrabalhamento das ondas as quais foram

submetidos. Esta serve, portanto, como a principal indicadora de processos morfodinâmicos

atuantes no local, sejam eles naturais ou antrópicos.

Dias (2004), afirma que a análise da dimensão das partículas sedimentares, tem grande

importância, na medida em que permite a dedução de indicações mais precisas sobre os

sedimentos, tais como informações sobre a proveniência da partícula, agente e tipo de

transporte (e seus processos ao longo deste) e finalmente características sobre ambientes

deposicionais.

Após os procedimentos laboratoriais – pesagem, peneiramento seco, morfoscopia e

incorporação de dados no SysGran – envolvendo as mesmas, pode-se constatar que:

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Tabela I – Percentuais de CaCO3 e M.O encontrados nas amostras analisadas.

Figura 4 – Diagrama de Shepard (1954) com a classificação do tamanho dos grãos dos sedimentos coletados na

praia de Ponta Negra–RN. Organizado pelos Autores, 2018.

Segundo De Camargo (2016), é imprescindível um tratamento matemático dos dados

de distribuição de tamanho do grão, para a caracterização das amostras. Em detrimento disso,

além de métodos qualitativos já trabalhados no presente trabalho, existem alguns métodos

quantitativos que subsidiam com este trabalho, a saber: histogramas, curvas de frequência e

cálculo dos parâmetros estatísticos envolvidos.

ANÁLISE DE CACO3 E M.O.

Amostra % de CaCo3 % de M.O.

1 0,3 0,27

2 2,2 0,47

3 1,2 0,54

4 1,5 1,77

5 0,6 0,24

6 1,6 0,64

7 1,3 1,54

8 1,9 1,37

9 1,3 0,57

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Tabela II – Gráficos utilizados para análises quantitativas de grãos no Sysgran.

GRÁFICOS DEFINIÇÃO

Curva de frequência acumulada:

Este tipo de gráfico representa a soma das frequências simples das

classes ou dos valores anteriores e envolve duas variáveis em sua

análise: porcentagem do sedimento, localizada na ordenada e medida

(Phi = ϕ), que quantifica os sedimentos em cada classe granulométrica

em detrimento do seu diâmetro (mm), situada na abcissa.

Histograma: Consiste num gráfico de barras verticais da distribuição de frequências

de um conjunto de dados quantitativos contínuos.

Figura 5 – Curva de frequência acumulada da análise granulométrica. Organizado pelos Autores, 2018.

Figura 6 – Histograma da análise granulométrica. Organizado pelos Autores, 2018.

Seguem abaixo os resultados suscintos obtidos nas análises de gráficos realizadas na

plataforma Sysgran:

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Curva de Frequência acumulada- Nota-se que a granulometria das amostras consiste

num intervalo de 0 a 4, ou seja, a variabilidade de sedimentos vai de areia grossa a areia muito

fina, predominando, entretanto, areia fina. Isto remete a fonte alimentadora destes sedimentos,

sendo neste caso, o sistema de Dunas, predominante na praia de Ponta Negra. Entretanto, há

sedimentos que também são trazidos do oceano e estão sendo constantemente retrabalhado

pelas ondas, seja por correntes de retorno ou por arrebentação. De maneira geral, nos pontos

de estirâncio dos 3 perfis longitudinais descritos, pôde-se observar a presença de minerais

pesados mesclados aos sedimentos arenosos.

Histograma- Partindo da concepção de que cada classe granulométrica é representada

por uma coluna proporcional a porcentagem ponderal desta contida na amostra. Conforme

analisado, as amostras em questão consistem em variabilidades sedimentológicas

compreendidas num intervalo entre 0,5 e 4 Phi, onde as maiores porcentagens estão

concentradas entre os pontos 2 e 3, de uma forma simétrica podemos notar que nossas

amostras possuem majoritariamente areias média e fina, segundo a tabela de Krumbein (Փ).

Com isso, podemos afirmar novamente em relação às áreas fontes, que, mediante as areias

finas, são as dunas e com uma incipiência de sedimentos mais grosseiros, indicando a

influência do oceano que estão sendo constantemente retrabalhados pelas ondas.

Com relação à morfoscopia, foi verificado que os grãos são em sua maioria

quartzosos, brilhantes, com alta esfericidade, segundo Rittenhouse, (1943), e seu

arredondamento, segundo Krumbein, (1941), é predominantemente anguloso, muito anguloso

e subanguloso, respectivamente. Ademais, algumas amostras contiveram um baixo percentual

de organimos biogênicos e num quantitativo intermediário, minerais pesados.

Através das observações e medições realizadas em campo, acerca das características

naturais deste trecho do ambiente praial, notou-se que:

Tabela III – Aspectos físicos do ambiente de praia observados durante as medições em campo.

1. O tipo de orla é abrigada;

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2. Há presença de dunas quanto aos atributos naturais;

3. Tem-se a ausência da pós-praia como principal indicador de erosão;

4. O tipo de arrebentação de onda da Antepraia é deslizante;

5. Há presença de zona de surf ampla;

6. Há ausência de Beachrocks;

7. A praia tem largura de 40m, inclinação de 3° e o tipo de grão variam de areia fina a média;

8. No trecho em questão a pós-praia é inexistente, porém, noutros, ela é incipiente;

9. E com presença de dunas.

Ademais, quanto às características da ocupação na orla de Ponta Negra e sua relação

com a erosão costeira, faz-se necessário o entendimento de fatores naturais e antrópicos, a

saber: 1. Dinâmica do ambiente praial em questão; 2. Influência exercida pelo processo de

urbanização, no que tange às ocupações ao longo das zonas costeiras brasileiras. Sobre esta

última, vale ressaltar o seu mais expressivo número desenvolvido na década de 70 e 80 onde

as casas de veraneio deram lugar a investimentos turísticos (MACIEL; SILVA; LIMA, 2016).

O processo de urbanização na região, encontra-se atualmente num estágio bastante avançado

no trecho estudado. Dentre os principais tipos de construções ao longo da orla, têm-se

hotéis/pousadas, estabelecimentos comerciais (especialmente bares e restaurantes) e, em

menor número, propriedades residenciais.

Silva (2017), ressalta que por muitos anos, a praia de Ponta Negra não apresentou

indícios de erosão, mas que nos anos de 2011 e 2012, um processo erosivo suscitou no local e

acarretou a destruição do calçadão, afetando os serviços de bares, espaço de lazer e passeio,

além de afetar o sistema de esgoto, rompendo canos ao longo do calçadão. Estes tipos de

incidentes chamam a atenção da vulnerabilidade do ambiente costeiro e a necessidade de uma

gestão costeira eficiente e apta para lidar com esse tipo de problema sem causar mais danos ao

meio ambiente.

Quanto à dinâmica do ambiente praial, um importante fator de influência no processo

erosivo de zonas costeiras é quanto o seu suprimento sedimentar, que depende

intrinsecamente da drenagem continental para a deposição de sedimentos no ambiente praial.

A plataforma continental do Rio Grande do Norte é conhecida como plataforma faminta,

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justamente pelo aporte sedimentar nas áreas costeira ser incipiente e oriundo do oceano,

devido à pouca expressão das bacias hidrográficas locais, deixando o abastecimento

continental a mercê das dunas.

4. Considerações Finais e Agradecimentos

As zonas costeiras se caracterizam como locais nos quais há uma elevada densidade

populacional, em diferentes proporções ao redor do mundo, tendo sua ocupação cada vez mais

acentuada com o processo crescente de urbanização. Consequentemente, este fator traz

consigo riscos e impactos a um ambiente que, vale ressaltar, já é vulnerável em sua própria

natureza.

Como já exposto, a praia de Ponta Negra - RN, localizada no litoral Setentrional do

Nordeste, vem sofrendo com um acelerado processo de erosão em decorrência da urbanização

crescente na orla, resultando em diferentes tipos de uso e ocupação da terra, e

consequentemente a degradação do ambiente de praia. Suscita daí a necessidade e importância

de estudos sedimentológicos no local, os quais procuram avaliar o balanço sedimentar, bem

como os processos que estiveram intrínsecos a este, desde o intemperismo até a deposição dos

sedimentos no ambiente de praia. Portanto, este ambiente, enquanto o local de interface

entre o oceano e o continente e de alta vulnerabilidade a impactos antrópicos, requer uma

maior atenção no que concerne à gestão costeira do local. Recomenda-se que esta, enquanto

órgão de proteção da costa possa adotar medidas de preservação que minimizem os impactos

antrópicos neste ambiente praial e que sejam capazes de conscientizar a população acerca da

importância deste geossistema.

Espera-se, por fim, que este trabalho possa suscitar novos trabalhos e discussões

acerca do tema da erosão costeira, tão incidente na atualidade. Os Agradecimentos deste

trabalho destinam-se ao departamento de Oceanografia da Universidade Federal de

Pernambuco, por viabilizar sua execução, cedendo seus laboratórios para as análises das

amostras e professores e técnicos para o acompanhamento destas.

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