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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA REBECA SANTOS DE ALMEIDA NASCIMENTO CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO, BAHIA, BRASIL Salvador 2012

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Page 1: CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E ESTRATIGRÁFICA … · REBECA SANTOS DE ALMEIDA NASCIMENTO Salvador, junho de 2012 ... Netto, Simone, Ângela, Telésforo, Olívia, Flávio Sampaio,

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA

REBECA SANTOS DE ALMEIDA NASCIMENTO

CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E

ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO

SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO,

BAHIA, BRASIL

Salvador

2012

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REBECA SANTOS DE ALMEIDA NASCIMENTO

CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E

ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO

SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO,

BAHIA, BRASIL

Monografia apresentada ao Curso de Geologia,

Instituto de Geociências, Universidade Federal da

Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau

de Bacharel em Geologia.

Orientador: MSc. Flávio Miranda de Oliveira

Co-orientador: Prof. Dr. Carlson de Matos Maia Leite

Salvador

2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

REBECA SANTOS DE ALMEIDA NASCIMENTO

Salvador, junho de 2012

CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E

ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO

SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO,

BAHIA, BRASIL

Trabalho Final de Graduação aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________________________

1° Examinador - Carlson de Matos Maia Leite

Doutor em Geologia pela Universidade Federal da Bahia

IGEO - UFBA/PETROBRAS

________________________________________________________________

2° Examinador - Michael Holz

Doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

IGEO - UFBA

________________________________________________________________

3° Examinadora - Valterlene de Oliveira

Mestra em Geologia e Geofísica Marinha pela Universidade Federal Fluminense

PETROBRAS

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À Ciência mais apaixonante e viciante

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AGRADECIMENTOS

Que esta etapa em nossas vidas é estressante, de noites mal dormidas e por aí vai,

todos já sabem. Porém os sentimentos de ter conhecido um curso tão maravilhoso e de ter

concluído mais uma etapa de nossas vidas são maiores.

Antes de tudo, devo agradecer a Deus pela vida, pelas oportunidades, pelas conquistas,

pelas derrotas e perdas ao longo desses quatro anos e meio de curso que fizeram e fazem com

que eu cresça e aprenda mais.

Agradeço ao Flávio pela disposição e dedicação em me orientar, bem como pelas

correções sugeridas no meu trabalho. Ao Carlson, pela co-orientação, dúvidas esclarecidas e

sugestões dadas.

Devo agradecer à Petrobras, empresa que concedeu seu espaço físico e material para

ser possível a realização deste trabalho e por ser tão prestativa! E o que seria de uma empresa

sem seus funcionários? Desta forma, sou muito grata ao pessoal do Laboratório de

Sedimentologia e Estratigrafia que ajudaram no meu trabalho de forma direta ou indireta:

Clau, Iguatemi, Adilson, Miriam, Edson Gomes, Paulo Milhomem, Soninha, Edson Medeiros,

Rodrigo e a ao gerente do setor de Sedimentologia e Estratigrafia, Márcio, por autorizar os

dados internos para eu fazer o trabalho e a todos os outros que me acolheram tão bem. E aos

que não fazem parte do Laboratório, mas devem ser agradecidos:, Iarinha, Aline, Ioná, Lene e

Cris, do setor de Avaliação e Acompanhamento Geológico de Poço, pelo carinho.

Muito obrigada ao programa ANP/PRH-08 pela bolsa de estudo nas pessoas de Sato e

Cícero.

Agradecimentos vão para a UFBA/IGEO pela minha formação que, apesar de todos os

problemas inerentes a qualquer instituição pública (pelo menos no Brasil), levarei seu nome

com muito orgulho. Professores maravilhosos que constituem a sustentação do IGEO devem

ser citados e são responsáveis em boa parte pelo conhecimento que adquiri até o momento,

por desvendar a Geologia de forma apaixonante e/ou pelo carinho e amizade adquiridos: a

Osmário, pelos primeiros conhecimentos adquiridos, Moacyr Moura, Michael Holz, André

Netto, Simone, Ângela, Telésforo, Olívia, Flávio Sampaio, Roberto Rosa e ao grande mestre

Haroldo Sá. Aos funcionários do IGEO, em especial a Mércia, André, Boçal, Aldacy,

Evandro.

Agradeço aos colegas geológicos que enfrentaram momentos difíceis e de gastações,

pelas parcerias em trabalhos e grupos de estudos e que me ajudaram de alguma forma:

Cabeça, Pri, Vitinho, Alexandre (pela ajuda na descrição de testemunhos), Laurinha (ajuda

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nos testemunhos, abstract e críticas construtivas), Lucas, Cipri, Bia, Bruno Emo, Bruno Ovo,

Acácio, Marcelinho, Anibal, Carolzinha, Chapa, Ramonstro, Fabi, MV, Eula.

À minha mãe pelo apoio prestado ao longo do curso, cuidando de meus bebês durante

meus muitos momentos de ausência (campos, congressos, encontros, simpósios etc.) e

preparando minhas marmitas.

Aos meus bebês, Fofinha, Pimentinha e Dengosa (in memoriam) que, mesmo podendo

não ter consciência, foram cruciais nos momentos de estresses e tristezas. Com a fidelidade,

amor incondicional e festa ao me verem chegar em casa, iluminaram e iluminam meu dia-a-

dia!

Ao meu amigo, companheiro, namorado, Peu, por todo seu amor, carinho, paciência,

dedicação. A você dedico todo meu amor!

A todos que de alguma forma contribuíram para este trabalho e minha mente falha

esqueceu de citar, meu “muito obrigada”!

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"Contra o positivismo, que para perante os

fenômenos e diz: 'Há apenas fatos', eu digo:

'Ao contrário, fatos é o que não há, há apenas

interpretações'." (Nietzsche)

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RESUMO

A Bacia do Recôncavo está inserida em um sistema de riftes intracontinentais, denominado de

Recôncavo-Tucano-Jatobá, originado no Eocretáceo. Está localizada no centro-leste do

Estado da Bahia e sua área é estimada em 11.500 km2. A arquitetura da bacia mostra um meio

gráben orientado segundo NE-SW. A sua evolução tectônica se deu em três fases: pré-rifte,

sin-rifte e pós-rifte. A Formação Sergi, tema deste estudo, foi depositada na fase pré-rifte, ao

final do Jurássico, e compreende depósitos de origem flúvio-lacustre-eólico, englobando,

essencialmente, arenitos finos a conglomeráticos. O objetivo principal deste trabalho foi

analisar 243 metros de testemunhos da Formação Sergi amostrados em um poço locado no

Campo de Dom João, compartimento sul da Bacia do Recôncavo, a fim de identificar suas

características texturais e genéticas, sequências deposicionais e aspectos de reservatório.

Como resultado da descrição, foram identificadas 13 litofáces, que permitem estabelecer

cinco associações de fácies com caráter genético: flúvio-lacustre, fluvial efêmero, fluvial

entrelaçado perene, lençóis de areia eólicos e dunas eólicas. Os testemunhos descritos foram

relacionados às três sequências deposicionais da Formação Sergi propostas por outros autores:

a sequência III, que ocorre na porção superior do intervalo estudado, caracterizada pelos

depósitos fluviais efêmeros; a sequência II, que compreende depósitos fluviais entrelaçados

perenes; e a sequência I, posicionada na base da Formação Sergi, constituída por depósitos

flúvio-lacustres, fluviais efêmeros, e eólicos. Foram verificados, visualmente, significativos

intervalos com boas condições permo-porosas, corroborando com o potencial de reservatório

de toda a unidade.

Palavras-chave: testemunho, Formação Sergi, Campo Dom João, Bacia do Recôncavo.

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ABSTRACT

The Recôncavo Basin is part of the rifte intracontinental system, named Recôncavo-Tucano-

Jatobá, and envolved during the lower Cretaceous. It is located in central eastern state of

Bahia and has an area of 11.500 km2. The basin architecture shows a oriented NE-SW half-

graben. The tectonic evolution happened in three phases: pre-rifte, syn-rifte and post-rifte.

The Sergi Formation, focus of this monograph, was deposited in pre-rifte phase, Upper

Jurassic, and consists of fine-grained to conglomeratic sandstones deposited by fluvial-

aeolian-lacustrine systems. The main object of this study has been to analyze 243 meters of

Sergi Formation’s cores samples from Dom João Field, south of Recôncavo Basin, to identify

its textural and genetic characteristics, depositional sequences and reservoir aspects. As a

result of the description, 13 lithofacies has been identified, which allow us to establish five

facies associations with genetic character: fluvial-lacustrine, ephemeral fluvial, perennial

braided fluvial, aeolian sand sheets and aeolian dunes. The described cores samples were

associated with three depositional sequences of the Sergi Formation, proposed by others

authors: the sequence III, that occurs in the upper portion, characterized by ephemeral fluvial

deposits; the sequence II, that consists of perennial braided fluvial deposits; and the sequence

I, positioned at the base of Sergi Formation, comprises of fluvial-lacustrine, ephemeral fluvial

and aeolian deposits. Significant intervals were visually verified with good permo-porosity,

confirming the reservoir potential of the entire unit.

Key-words: core, Sergi Formation, Dom João Field, Recôncavo Basin.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1: Localização do sistema de riftes intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá.

Fonte: Dias Filho (2002, apud Oliveira 2005). ........................................................................ 16

Figura 1.2: Limites e orientação geral NE-SW da Bacia do Recôncavo. Fonte: Santos (1998,

apud Oliveira 2005). ................................................................................................................. 17

Figura 2.1: Seção esquemática na direção NW-SE da Bacia do Recôncavo, ilustrando a

morfologia de meio gráben com as bordas flexural (oeste) e falhada (leste) e mergulho

preferencial das camadas para sudeste. Fonte: Milhomem et al. (2003). ................................. 23

Figura 2.2: Domínios estruturais do embasamento em torno do sistema de riftes Recôncavo-

Tucano-Jatobá. Fonte: Magnavita (1992, 1996, apud Santos 2011). ....................................... 23

Figura 2.3: Carta estratigráfica proposta para a Bacia do Recôncavo com destaque para o

intervalo que compreende a Formação Sergi. Fonte: Caixeta et al. (1994, apud OLIVEIRA,

2005). ........................................................................................................................................ 25

Figura 2.4: (a) Mapa simplificado do arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo com as

principais estruturas rúpteis associadas; (b) Seções geológicas esquemáticas; (c) Seção ao

longo do strike da Falha de Salvador. Fonte: Destro et al. (2003, apud Santos 2011). ........... 29

Figura 2.5: Mapa geológico esquemático ilustrando a distribuição de sedimentos pré, sin e

pós-rifte aflorantes nas bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá. Fonte: Magnavita (1992, apud

Magnavita et al., 2005). ............................................................................................................ 31

Figura 2.6: Paleogeografia pré-rifte da Bacia do Recôncavo, mostrando a direção da fonte de

sedimentos do Grupo Brotas (formações Aliança e Sergi) a sudoeste. Fonte: Modificado de

Medeiros e Ponte (1981, apud Magnavita et al., 2005). .......................................................... 32

Figura 2.7: Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo, notando-se a argilocinese na

Formação Maracangalha, onde a sobrecarga de sedimentos sobrepostos a ela promoveu a

geração de diápiros. Observar que a fonte de sedimentos está na borda nordeste. Fonte:

Medeiros e Ponte (1981, apud Magnavita et al., 2005). .......................................................... 33

Figura 2.8: Paleogeografia da Bacia do Recôncavo durante a deposição da Formação Taquipe.

Fonte: Figueiredo et al. (1994, apud Magnavita et al., 2005). ................................................. 33

Figura 2.9: Campos de produção de óleo e gás da Bacia do Recôncavo. Em destaque está o

Campo de Dom João. Fonte: Gontijo (2011). .......................................................................... 36

Figura 3.1: Perfil de equilíbrio de sistemas fluviais, que corresponde ao nível de base

estratigráfico em sucessões aluviais. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud

SCHERER, 2004). .................................................................................................................... 40

Figura 3.2: Modelo hipotético destacando a criação de espaço e acomodação resultante de

uma subida do perfil de equilíbrio. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud SCHERER,

2004). ........................................................................................................................................ 40

Figura 3.3: Padrões básicos de canais fluviais. Fonte: Modificado de Miall (1977, apud

SCHERER, 2004). .................................................................................................................... 41

Figura 3.4: Variações das zonas interdunas de acordo com o nível de saturação de areia, sendo

classificadas em zonas subsaturadas, metassaturadas e saturadas. Fonte: Wilson (1971, apud

SCHERER, 2004). .................................................................................................................... 47

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Figura 3.5: Classificação do tipo de estratificação de marcas onduladas eólicas de acordo com

o ângulo de cavalgamento relativo a inclinação do dorso da forma de leito e a presença ou

ausência de laminações cruzadas. Fonte: Hubin (1977, apud SCHERER, 2004). ................... 48

Figura 3.6: Quatro estágios do desenvolvimento de um ventifacto. O clasto torna-se um

ventifacto entre o estágio A e B. Fonte: Scherer (2004). ......................................................... 49

Figura 3.7: Três estágios de desenvolvimento de um pavimento de deflação. A) Deflação

inicial dos sedimentos arenosos; B) concentração dos clastos à medida que ocorre a deflação;

C) término da deflação em decorrência do recobrimento do substrato por clastos. Fonte:

Scherer (2004). ......................................................................................................................... 50

Figura 3.8: Tipos de transporte eólico, compreendendo saltação, rolamento e suspensão.

Fonte: Modificado de Silva (2009). .......................................................................................... 50

Figura 3.9: Representação esquemática de acumulação eólica. A acumulação acontece quando

o balanço é positivo, ou seja, o volume de sedimentos que entra (Qi) em uma área é maior que

o volume que sai da mesma área (Qo). Fonte: Kocurek e Havholm (1993, apud OLIVEIRA,

2005). ........................................................................................................................................ 53

Figura 3.10: Representação esquemática dos principais elementos que controlam a

acumulação e preservação de sedimentos em sistemas eólicos secos. Fonte: Kocurek &

Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005). ............................................................................... 54

Figura 3.11: Representação esquemática dos principais elementos que controlam a

acumulação e preservação de sedimentos em sistemas eólicos úmidos. Fonte: Kocurek &

Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005). ............................................................................... 55

Figura 3.12: Transição entre sistemas eólicos úmidos e secos, marcada por um aumento na

disponibilidade de areia. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud SCHERER, 2004). ......... 56

Figura 3.13: Representação esquemática dos conceitos de acumulação, espaço de acumulação

e espaço de preservação. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005). ........ 56

Figura 3.14: Seção esquemática de marcas onduladas mostrando a concentração de grãos mais

grossos (areia fina a média) na crista e grãos mais finos (silte e areia muito fina) na calha. Este

efeito produz a gradação inversa comum nessas formas de leito. Fonte: Fryberger & Schenk

(1988, apud OLIVEIRA, 2005). ............................................................................................... 58

Figura 3.15: Estruturas sedimentares em depósitos eólicos: A) laminação transladante

cavalgante, sendo que a seta está indicando o sentido do fluxo do vento; B) estratificação

cruzada marcada pela alternância de lâminas de queda de grãos e fluxo de grãos, sendo o

sentido do fluxo da direita para esquerda. Em ambas, o corte é paralelo ao fluxo. Fonte: Silva

(2009). ...................................................................................................................................... 59

Figura 4.1: Imagem do Anasete mostrando os ciclos granodecrescentes pouco desenvolvidos

dos arenitos com estratificação cruzada acanalada (Axa) da associação de fácies fluvial

entrelaçado perene. ................................................................................................................... 78

Figura 4.2: Imagem do Anasete mostrando o intervalo compreendido pela Sequência II, cujos

contatos superior e inferior são abruptos marcados, principalmente, pelo aumento da

granulometria e organização interna......................................................................................... 83

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LISTA DE FOTOS

Foto 4.1: Arenito argiloso com estratificação plano-paralela difusa devido a processos de

fluidização. ............................................................................................................................... 65

Foto 4.2: Arenito argiloso avermelhado com intercalações de arenito amarelado. .................. 65

Foto 4.3: Conjunto de testemunhos mostrando a transição entre os arenitos argilosos

avermelhados, que ocorrem na base do poço, com arenitos amarelados de granulometria

levemente maior, ambos da associação de fácies flúvio-lacustre. ............................................ 66

Foto 4.4: Litofácies Ama exibindo grânulos dispersos. ........................................................... 68

Foto 4.5: Litofácies Ama exibindo coloração castanho escuro devido a saturação de óleo..... 68

Foto 4.6: Litofácies Ama apresentando maior nível de argilosidade........................................68

Foto 4.7: Litofácies Ama exibindo textura mosqueada.............................................................68

Foto 4.8: Litofácies Afd apresentando alta argilosidade...........................................................69

Foto 4.9: Na litofácies Afd muitas vezes a estrutura primária da rocha torna-se difusa...........69

Foto 4.10: Arenito com estratificação cruzada de baixo ângulo (litofácies Axb).....................69

Foto 4.11: Litofácies Axb com alto nível de argilosidade e com porções fluidizadas.................69

Foto 4.12: Arenito com estratificação cruzada tabular (litofácies Axt) com presença de

intraclastos de argila.....................................................................................................................71

Foto 4.13: Arenito com estratificação cruzada indefinida e incipiente (Axi) evidenciada por

níveis alinhados ricos em argila...................................................................................................71

Foto 4.14: Litofácies Ali com lâminas de concentrações de material carbonático e argila........71

Foto 4.15: Litofácies Axa. Notar relação de truncamento de estratos em evidência..................71

Foto 4.16: Litofácies App com níveis ricos em argila....................................................................72

Foto 4.17: Arenito argiloso exibindo estratificação cruzada cavalgante na base (Arp)............72

Foto 4.18: Lamito (Lli) exibindo fissilidade incipiente, fraturas preenchidas por calcita e

planos espelhados de falhas (slickensides).............................................................................................73

Foto 4.19: Concreções calcíticas em torno de 5 cm na litofácies Ama..........................................73

Foto 4.20: Desenvolvimento de paleossolo incipiente muito comum na associação de fácies

fluvial efêmero...............................................................................................................................73

Foto 4.21: Arenito com estratificação cruzada acanalada (Axa), com evidente truncamento em

destaque.....................................................................................................................................76

Foto 4.22: Grânulos alinhados segundo os planos de estratificação (litofácies Axa)....................76

Foto 4.23: Litofácies Ama com alta argilosidade......................................................................................76

Foto 4.24: Arenito maciço saturado em óleo.................................................................................76

Foto 4.25: Litofácies Axb-E com arenito saturado em óleo............................................................79

Foto 4.26: Arenito exibindo estratificação cruzada tabular (Axt-E).........................................81

Foto 4.27: Litofácies Axt-E com níveis de saturação de óleo..............................................................81

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Foto 4.28: Litofácies Axt-E exibindo lentes com grãos mais grossos alternados com grãos

mais finos...............................................................................................................................................81

Foto 4.29: Arenito com aspecto maciço da litofácies Ama-E...................................................81

Foto 4.30: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência

III (caixas 5 e 6) e a sequência II (caixas 7 e 8)........................................................................84

Foto 4.31: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência

II (caixa 1) e a sequência I (caixas 2 e 3)..................................................................................85

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1: Principais características e processos genéticos das 13 litofácies descritas nos

testemunhos da Formação Sergi no Campo Dom João. ........................................................... 62

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................... 16

1.1. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 18

1.2. JUSTIFICATIVAS .............................................................................................................. 18

1.3. MÉTODO DE TRABALHO.................................................................................................. 19

1.3.1. Pesquisa bibliográfica ............................................................................................. 19

1.3.2. Aquisição de dados ................................................................................................. 19

1.3.3. Tratamento de dados ............................................................................................... 20

CAPÍTULO 2 - GEOLOGIA REGIONAL .......................................................................... 22

2.1. BACIA DO RECÔNCAVO ................................................................................................... 22

2.1.1. Estratigrafia ............................................................................................................ 24

Estratigrafia do Paleozoico ........................................................................................... 24

Estratigrafia do Mesozoico ........................................................................................... 24

Estratigrafia do Cenozoico ........................................................................................... 28

2.1.2. Arcabouço estrutural............................................................................................... 28

2.1.3. Evolução tectono-sedimentar ................................................................................. 30

2.2. A FORMAÇÃO SERGI E O CAMPO DOM JOÃO .................................................................. 34

CAPÍTULO 3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................. 37

3.1. SISTEMAS FLUVIAIS ........................................................................................................ 37

3.1.1. Processos fluviais ................................................................................................... 37

3.1.1.1. Erosão fluvial ................................................................................................... 37

3.1.1.2. Transporte e deposição fluvial ......................................................................... 38

3.1.2. Acumulação fluvial ................................................................................................ 39

3.1.3. Tipos de canais e áreas externas ............................................................................. 40

3.1.3.1. Rios retilíneos (straight rivers) ........................................................................ 42

3.1.3.2. Rios anastomosados (anastomosed rivers) ...................................................... 42

3.1.3.3. Rios meandrantes (meandering rivers) ............................................................ 42

3.1.3.4. Rios entrelaçados (braided rivers) ................................................................... 43

3.2. SISTEMAS EÓLICOS ......................................................................................................... 44

3.2.1. Morfologia e tamanho das acumulações de areia ................................................... 44

3.2.1.1. Campos de dunas ............................................................................................. 45

3.2.1.2. Lençóis de areia ............................................................................................... 47

3.2.1.3. Marcas onduladas ............................................................................................ 47

3.2.2. Processos eólicos .................................................................................................... 48

3.2.2.1. Erosão eólica.................................................................................................... 49

3.2.2.2. Transporte eólico ............................................................................................. 50

3.2.2.3. Deposição eólica .............................................................................................. 51

3.2.3. Acumulação e tipos de sistemas eólicos ................................................................. 53

3.2.3.1. Sistemas eólicos secos ..................................................................................... 54

3.2.3.2. Sistemas eólicos úmidos .................................................................................. 54

3.2.3.3. Sistemas eólicos estabilizados ......................................................................... 55

3.2.4. Preservação de sistemas eólicos ............................................................................. 55

3.2.5. Características dos depósitos eólicos ...................................................................... 57

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CAPÍTULO 4 - ANÁLISE SEDIMENTOLÓGICA E ESTRATIGRÁFICA DOS

TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO SERGI NO CAMPO DOM JOÃO ........................ 61

4.1. FÁCIES SEDIMENTARES ................................................................................................... 61

4.2. ASSOCIAÇÃO DE FÁCIES ................................................................................................. 64

4.2.1. Associação de fácies flúvio-lacustre (FL) .............................................................. 64

4.2.2. Associação de fácies fluvial efêmero (Fe) .............................................................. 66

4.2.3. Associação de fácies fluvial entrelaçado perene (FEp) .......................................... 75

4.2.4. Associação de fácies de lençóis de areia eólicos (LAE) ........................................ 79

4.2.5. Associação de fácies de dunas eólicas (DE) ........................................................... 80

4.3. SEQUÊNCIAS DEPOSICIONAIS .......................................................................................... 82

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES ........................................................................................... 86

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 87

ANEXO.........................................................................................................................................90

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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

Segundo Magnavita et al. (2005), a Bacia do Recôncavo faz parte do sistema de riftes

intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá (Figura 1.1) formado através de campos de

tensões responsáveis pela ruptura do supercontinente Gondwana durante o Eocretáceo e que

promoveu a abertura do Oceano Atlântico Sul.

Localizada no centro-leste do Estado da Bahia, a Bacia do Recôncavo ocupa uma área

com cerca de 11500km2

e sua orientação geral segue o trend NE-SW. Seus limites são

representados, a norte e noroeste, pelo Alto de Aporá; pelo sistema de falhas da Barra, a sul;

pelo sistema de falhas de Salvador, a leste; e, a oeste, pela Falha de Maragogipe (Figura 1.2)

(MILHOMEM et al., 2003; SILVA et al., 2007).

Figura 1.1: Localização do sistema de riftes intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá. Fonte: Dias Filho (2002,

apud Oliveira 2005).

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Figura 1.2: Limites e orientação geral NE-SW da Bacia do Recôncavo. Fonte: Santos (1998, apud Oliveira 2005).

Segundo Silva et al. (2007), o preenchimento da Bacia do Recôncavo se deu através

de deposição de sequências nos estágios pré-rifte, sin-rifte e pós-rifte.

Neste contexto, a Formação Sergi foi depositada durante a fase pré-rifte de evolução

da Bacia, no final do Jurássico, compreendendo depósitos de origem flúvio-lacustre-eólica,

englobando arenitos finos a conglomeráticos (SCHERER et al., 2005, 2007). Trata-se de uma

formação que está representada por toda a Bacia do Recôncavo, constituindo o seu principal

reservatório em termos de extensão e importância, porém sua ocorrência em superfície está

restrita às bordas norte e oeste. A espessura máxima está em torno de 450m, sendo que os

estratos estão inclinados regionalmente para leste (MILANI, 1987, apud SCHERER et al.,

2005).

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Scherer et al. (2005) subdividiram a Formação Sergi em três sequências deposicionais

separadas por discordâncias. A sequência I é composta, dominantemente, por arenitos finos a

médios, maciços ou laminados, depositados por sistemas fluviais efêmeros e eólicos; a

sequência II consiste em arenitos grossos a conglomeráticos com estratificações cruzadas

acanaladas a planares depositados por sistemas fluviais entrelaçados perenes; e a sequência III

é representada por arenitos finos a médios com marcas onduladas eólicas intercalados com

arenitos de mesma granulometria, maciços ou com estratificações plano paralelas, depositados

por canais fluviais efêmeros.

O presente trabalho resulta da descrição sedimentológica de, aproximadamente, 243

metros de testemunhos amostrados no Campo Dom João, cujo intervalo corresponde à

Formação Sergi, inserida no Grupo Brotas juntamente com a Formação Aliança.

1.1. Objetivos

A monografia que aqui se segue tem como objetivo geral descrever testemunhos da

Formação Sergi amostrados em um poço no Campo Dom João, a fim de identificar suas

características genéticas, sequências deposicionais e aspectos de reservatório.

Os principais objetivos específicos são:

i) identificar litologias, estruturas e texturas sedimentares;

ii) identificar zonas com indícios de hidrocarbonetos;

iii) caracterizar as associações faciológicas;

iv) identificar os ambientes deposicionais.

1.2. Justificativas

Desde a descoberta de óleo no bairro do Lobato (Salvador), no ano de 1939, os

intensos estudos exploratórios resultaram em 80 campos de produção na Bacia do Recôncavo,

bem como uma grande quantidade de dados. Alinhado a isto, o eficiente sistema petrolífero

fazem desta Bacia uma das mais produtivas do Brasil (MAGNAVITA et al., 2005).

Os depósitos flúvio-eólicos da Formação Sergi constituem um dos principais

reservatórios de hidrocarbonetos da Bacia do Recôncavo e o Campo Dom João corresponde a

um importante campo de produção explorado pela Petrobras.

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Desta forma, este estudo contribuirá com informações acerca das características de

reservatório da Formação Sergi no Campo em questão. Além disso, se insere em projetos

internos à Petrobras, que visa atualizar o seu banco de dados segundo os procedimentos e

metodologias atuais.

1.3. Método de Trabalho

O método de trabalho empregado para a realização desta monografia pode ser dividido

em três partes, que consistem na pesquisa bibliográfica, aquisição de dados e tratamento de

dados.

1.3.1. Pesquisa bibliográfica

Consiste em uma etapa inerente e importante na realização de qualquer trabalho e

perdurou durante toda a realização da monografia. Foram consultados inúmeros trabalhos

publicados sobre a Bacia do Recôncavo, em especial a sua evolução e estratigrafia, Formação

Sergi e sobre os depósitos fluviais e eólicos.

1.3.2. Aquisição de dados

Esta etapa foi realizada no Laboratório de Sedimentologia e Estratigrafia da Petrobras,

Unidade de Operações da Bahia (UO-BA). Consistiu na descrição macroscópica e sistemática

de cerca de 243m de testemunhos de um poço amostrado no Campo Dom João no ano de

1979. Para tanto, foram utilizados recursos oferecidos pelo programa Anasete – Análise

Sequencial de Testemunhos –, de propriedade da Petrobras.

A análise dos testemunhos seguiu procedimentos adotados pela Petrobras, a saber:

composição, cor, granulometria, organização interna, espessura, geometria, avaliação visual

dos teores de cimento (através de reações com ácido clorídrico diluído), argilosidade e

hidrocarbonetos. Durante a realização desta fase, foram selecionados intervalos de

testemunhos para serem fotografados, a fim de ilustrar características observadas.

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1.3.3. Tratamento de dados

Compreendeu uma etapa na qual os dados adquiridos na fase anterior foram integrados

e interpretados. As litofácies sedimentares foram individualizadas levando em consideração

suas características quanto à geometria, composição, granulometria e estruturas sedimentares.

Em seguida, foi proposta uma associação de fácies, que compreende um agrupamento

de fácies relacionadas geneticamente, sendo possível interpretar o ambiente de sedimentação.

Sendo assim, cada fácies dentro da associação representa um determinado processo

deposicional (ETCHEBEHERE & SAAD, 2003).

Por fim, foi feita a elaboração da monografia.

Análise Sequencial de Testemunhos - Anasete

O programa utilizado para a descrição dos testemunhos – Anasete –, possibilita a

visualização integrada de diversos atributos medidos diretamente em laboratório e em

subsuperfície. Seu principal objetivo é disponibilizar as imagens das informações tratadas

com recursos de computação gráfica (SOMBRA et al., 2002, apud OLIVEIRA, 2005).

No Anexo está representado o resultado da descrição dos testemunhos do poço em

análise, organizado da seguinte forma:

- a 1ª trilha destina-se à divisão das sequências deposicionais, propostas para a

Formação Sergi, por outros autores. Estão nomeadas da seguinte maneira: S-III (sequência

III), S-II (sequência II) e S-I (sequência I);

- a 2ª trilha mostra o perfil de raios-gama (GR), medido em unidades API, o qual

quantifica a radioatividade natural das rochas em função dos isótopos de urânio (U), tório

(Th) e potássio (K). Em condições normais, essa medida correlaciona-se com o nível de

argilosidade das formações, visto que as argilas tendem a concentrar elementos radioativos;

- a 3ª trilha indica a profundidade do poço obtida por dispositivos eletrônicos de

perfilagem. É diferente da obtida mecanicamente durante a perfuração e, portanto, mais

precisa;

- as 4ª e 5ª trilhas representam, respectivamente, a sequência numeral contínua dos

testemunhos de cima para baixo e suas respectivas caixas;

- a 6ª trilha reproduz, graficamente, a curva granulométrica das litologias descritas nos

testemunhos, cujas escalas de granulometria vão desde argila a matacão. Os padrões e as

cores de preenchimento para os diferentes litotipos são próprios do programa Anasete;

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- as 7ª e 8ª trilhas mostram, respectivamente, as litofácies identificadas de acordo com

o item 4.1 deste trabalho e as associações de fácies, segundo o item 4.2.

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CAPÍTULO 2 - GEOLOGIA REGIONAL

No Mesozoico, há cerca de 120 milhões de anos, houve a ruptura do supercontinente

Gondwana, marcada pelo surgimento de riftes abortados (i. e. aulacógenos) na região emersa

intracontinental. No nordeste, destaca-se o sistema de riftes Recôncavo-Tucano-Jatobá, sendo

que estas três bacias são separadas entre si por altos/arcos do embasamento (MOHRIAK,

2003; PEDREIRA et al., 2003).

Trata-se de um sistema de semigrabens de direção NE-SW (Recôncavo) que muda

para N-S (Tucano) e depois, abruptamente, para ENE-WSW (Jatobá), ocupando cerca de

45.000km2. Sua origem está relacionada aos estágios iniciais da abertura do Oceano Atlântico

Sul, em resposta ao campo de tensões que ocasionou a quebra da crosta entre o Mesojurássico

(~ 165 Ma) e o Eocretáceo (~ 115 Ma) (ABRAHÃO & WARMER, 1990, apud MILHOMEM

et al., 2003).

Magnavita (1992, apud Magnavita et al., 2005) propõe um modelo de rifteamento

duplo, o qual se baseia em dois eventos tectônicos sin-rifte. O primeiro teria acontecido

durante o Andar Rio da Serra Médio (Berriasiano), onde houve a distensão na direção E-W do

rifte Recôncavo-Tucano-Jatobá e o segundo evento, com distensão na direção NW-SE, estaria

relacionado à propagação da abertura do Atlântico Sul.

2.1. Bacia do Recôncavo

A Bacia do Recôncavo localiza-se no Estado da Bahia e ocupa uma área com cerca de

11.500km2, seguindo um trend na direção NE-SW. Seus limites são representados, a norte e

noroeste, pelo Alto de Aporá; pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pelo sistema de falhas de

Salvador, a leste; e, a oeste, pela Falha de Maragogipe (SILVA et al., 2007; MILHOMEM et

al., 2003).

A arquitetura básica da Bacia do Recôncavo é de semigráben (Figura 2.1), resultante

dos esforços distensionais sobre um embasamento pré-cambriano heterogêneo, com borda

falhada (sistema de falhas de Salvador), a sudeste, e flexural, a oeste (PEDREIRA et al.,

2003; MILHOMEM et al., 2003; MAGNAVITA et al., 2005; SILVA et al., 2007).

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Figura 2.1: Seção esquemática na direção NW-SE da Bacia do Recôncavo, ilustrando a morfologia de meio gráben

com as bordas flexural (oeste) e falhada (leste) e mergulho preferencial das camadas para sudeste. Fonte:

Milhomem et al. (2003).

Os sedimentos que preencheram a Bacia do Recôncavo foram depositados sobre um

embasamento cristalino de idade pré-cambriana e que, segundo Silva et al. (2007), engloba

uma série de gnaisses, granulitos e migmatitos de idades arqueana a paleoproterozoica, que

fazem parte do Bloco Serrinha, a oeste e norte; cinturões Itabuna-Salvador-Curaçá, a oeste-

sudoeste; e Salvador-Esplanada, a leste-nordeste (Figura 2.2.). Ocorrem, ainda, rochas

metassedimentares neoproterozoicas de baixo grau pertencentes ao Grupo Estância, que faz

parte da Faixa Sergipana, localizada ao sul do Maciço Pernambuco-Alagoas, limite nordeste

do Cráton de São Francisco (UHLEIN et al., 2011).

Figura 2.2: Domínios estruturais do embasamento em torno do sistema de riftes Recôncavo-Tucano-Jatobá. Fonte:

Modificado de Magnavita (1992, 1996, apud Santos, 2011).

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2.1.1. Estratigrafia

As sequências estratigráficas observadas na Bacia do Recôncavo englobam estratos

com idades desde o Paleozoico até o Cenozoico (Figura 2.3), sendo que os primeiros são

separados do embasamento por contato discordante (CAIXETA et al., 1994).

Estratigrafia do Paleozoico

Como pode ser observado na carta estratigráfica (Figura 2.3) proposta por Caixeta et

al. (1994), os sedimentos paleozoicos estão agrupados nos membros Pedrão (inferior) e

Cazumba (superior) e são pertencentes à Formação Afligidos. Apesar de haver uma carta

estratigráfica mais recente (proposta por Silva et al., 2007), adotou-se neste trabalho a de

Caixeta et al. (1994) por uma questão de melhor visualização do empilhamento estratigráfico.

Além do mais, na seção estudada (pré-rifte) não houve modificações.

De acordo com Caixeta et al. (1994), Milhomem et al. (2003) e Silva et al. (2007), o

Membro Pedrão é constituído por arenitos com granulometria fina a muito fina, coloração

cinza-claro a bege, apresentando feições que sugerem retrabalhamento por ondas, intercalados

a siltitos, laminitos algais e evaporitos (anidrita e halita). O Membro Cazumba, por sua vez,

compreende pelitos e lamitos avermelhados de origem lacustre, com nódulos de anidrita na

base.

Segundo Aguiar & Mato (1990, apud Silva et al., 2007), as associações faciológicas

que compreendem as unidades paleozoicas foram depositadas sob condições de bacia

intracratônica e clima árido. Evidenciam uma tendência regressiva com transição de

sedimentação marinha rasa (Membro Pedrão) a lacustre (Membro Cazumba).

Estratigrafia do Mesozoico

As sequências depositadas entre o Neojurássico e o Eocretáceo podem ser divididas

nas fases pré-rifte, sin-rifte e pós-rifte, de acordo com a evolução tectônica da Bacia. Com

base no conteúdo de ostracodes, Viana et al. (1971, apud Magnavita et al., 2005) propuseram

seis andares locais para a Bacia do Recôncavo, a saber: Dom João, Rio da Serra, Aratu,

Buracica, Jiquiá e Alagoas.

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Figura 2.3: Carta estratigráfica proposta para a Bacia do Recôncavo com destaque para o intervalo que compreende

a Formação Sergi. Fonte: Caixeta et al. (1994, apud OLIVEIRA, 2005).

a) Fase pré-rifte (Andar Dom João ao Rio da Serra Inferior – Tithoniano ao

Berriasiano)

A sedimentação nesta fase ocorreu no início da flexura da crosta continental que

originou o sistema de riftes. Segundo Milhomem et al. (2003), a sedimentação neste estágio é

representada por ciclos flúvio-eólicos que se intercalam com sistemas lacustres transgressivos.

É representada pelos membros Boipeba e Capianga da Formação Aliança e pelas formações

Sergi, Itaparica e Água Grande.

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A Formação Aliança, que possui contato discordante com a sequência sotoposta

(Formação Afligidos), foi depositada por sistemas flúvio-lacustres em clima árido (CAIXETA

et al., 1994) e abrange os Membros Boipeba e Capianga, conforme pode ser verificado na

carta estratigráfica (Figura 2.3). O Membro Boipeba é representado por arenito arcóseo com

coloração marrom avermelhada, granulometria fina a média e estratificação cruzada, enquanto

que o Membro Capianga é constituído por folhelhos avermelhados.

A Formação Sergi, depositada concordantemente sobre a Formação Aliança,

compreende arenitos com granulometria fina a conglomerática, coloração cinza-esverdeada e

avermelhada e estratificação cruzada acanalada, além de intercalações de folhelhos vermelhos

a cinza-esverdeados (CAIXETA et al., 1994). Tais arenitos são interpretados como sendo

depositados por sistemas fluviais com posterior retrabalhamento eólico.

A Formação Itaparica está depositada concordantemente sobre a Formação Sergi,

sendo constituída por folhelho marrom a cinza-oliva de origem lacustre e siltitos com raras

intercalações de arenitos finos. É, portanto, interpretada como sendo formada em ambiente

lacustre com pequenas incursões fluviais (ALMEIDA, 2004, apud SANTOS, 2011).

Por fim, a Formação Água Grande, que se encontra em contato discordante com a

Formação Itaparica, é representada por arenito fino a grosso, cinza-claro a esverdeado e

estratificação cruzada acanalada. Esta sequência fora depositada por sistemas fluviais com

retrabalhamento eólico (CAIXETA et al., 1994).

b) Fase sin-rifte (Andar Rio da Serra Inferior ao Jiquiá – Berriasiano Inferior ao

Aptiano Inferior)

O início da fase sin-rifte está marcado por uma importante mudança climática, de

árido para úmido (CAIXETA et al., 1994), com o desenvolvimento de um lago profundo

(SILVA et al., 2007). Compreende as formações Candeias, Maracangalha, Marfim, Pojuca,

Taquipe, São Sebastião e Salvador, como pode ser visto na carta estratigráfica anteriormente

apresentada (Figura 2.3).

Segundo Magnavita et al. (2005), esta fase compreendeu dois sistemas progradantes,

sendo o principal flúvio-deltaico-lacustre, longitudinal a oblíquo, oriundo da Bacia do

Tucano, o qual depositou folhelhos prodeltaicos e arenitos turbidíticos. O secundário

compreendeu leques conglomeráticos provenientes da erosão da borda falhada, a leste, sendo

transversal à Bacia.

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A Formação Candeias, que está depositada discordantemente sobre a Formação Água

Grande, é constituída por folhelhos escuros, compreendendo o Membro Tauá, e folhelhos

cinza-esverdeados intercalados com camadas de calcilutito e de arenitos turbidíticos, que

abrangem o Membro Gomo (CAIXETA et al., 1994; MLHOMEM et al., 2003).

A Formação Maracangalha possui contato basal discordante com a Formação

Candeias e se caracteriza por folhelhos cinza-escuros e espessos pacotes de arenitos maciços e

fluidizados relacionados a processos gravitacionais sub-aquosos que constituem os membros

Caruaçu e Pitanga (MAGNAVITA et al., 2005).

A Formação Marfim possui contato basal gradativo interdigitado ou concordante com

a Formação Maracangalha (SANTOS, 2011). É constituída por arenitos com granulometria

fina a média, bem selecionados, cinza-claros, apresentando intercalações com folhelhos cinza

esverdeados (VIANA et al., 1971, apud CAIXETA et al., 1994). O Membro Catu, que faz

parte desta formação, representa níveis arenosos bem caracterizados e posicionados através de

marcos elétricos.

A Formação Pojuca está sobreposta à Formação Marfim e é constituída por

intercalações de arenitos cinza muito finos a médios, folhelhos cinza-esverdeados, siltitos

cinza-claros e calcários castanhos. Possui o Membro Santiago, que compreende uma camada

de arenito fino bem demarcada por delgados níveis calcários e vários corpos arenosos

(CAIXETA et al., 1994).

A Formação Taquipe compreende folhelhos cinza com lentes de arenitos muito finos

maciços (NETTO et al., 1984, apud CAIXETA et al., 1994), além de siltitos e,

subordinadamente, conglomerados, margas e calcarenitos ostracodais (MILHOMEM et al.,

2003). Esta sequência ocupa uma feição erosiva em forma de cânion alongada na direção

norte-sul e presente na porção centro-oeste da Bacia do Recôncavo. Desta forma, a Formação

Taquipe está justaposta à Formação Pojuca em discordância erosiva, sendo recoberta

concordantemente pela mesma.

A Formação São Sebastião, depositada por sistemas fluviais, deltaicos e lacustres, que

encerram o assoreamento da Bacia do Recôncavo, é constituída por arenito com

granulometria grossa, amarelo-avermelhado e intercalações de argila síltica (CAIXETA et al.,

1994).

A Formação Salvador é caracterizada por conglomerados e arenitos provenientes da

borda falhada a leste da Bacia do Recôncavo, presentes durante todo o estágio sin-rifte. Esta

unidade está associada aos leques aluviais sintectônicos relacionados ao sistema de falhas de

Salvador (MILHOMEM et al., 2003).

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c) Fase pós-rifte (Andar Alagoas – Aptiano ao Albiano Inferior)

Segundo Magnavita et al. (2005), a fase pós-rifte é representada por depósitos aluviais

de conglomerados, arenitos e, subordinadamente, folhelhos e calcários que compõem a

Formação Marizal. Sua deposição ocorreu numa depressão do tipo sinéclise, quando houve

uma subsidência térmica pós-rifte. Uma discordância angular separa esta fase da anterior (sin-

rifte).

Estratigrafia do Cenozoico

Durante o Mesoalbiano (Cretáceo) e Eoceno (Paleógeno) não há registros

estratigráficos preservados na Bacia do Recôncavo. No período Neógeno, entretanto, ocorreu

uma ingressão marinha próxima à atual linha de costa, ocasionando a deposição da Formação

Sabiá (MAGNAVITA et al., 2005). Esta é constituída de folhelhos cinza-esverdeados e

calcários impuros ricos em foraminíferos.

Sobrepostos à Formação Sabiá estão registrados depósitos de arenitos com

granulometria grossa e estratificação cruzada, associados a leques aluviais de idade pliocênica

que constituem o Grupo Barreiras (MAGNAVITA et al., 2005; SILVA et al., 2007).

Por fim, completando a estratigrafia do Cenozoico, encontram-se sedimentos

pleistocênicos a holocênicos (Quaternário) de praias e aluviões (SILVA et al., 2007).

2.1.2. Arcabouço estrutural

O arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo reflete os elementos estruturais do

substrato no qual se implantou o rifte, ou seja, no Cráton de São Francisco. É constituída por

um sistema de falhas normais, longitudinais à principal direção do rifte, orientadas

preferencialmente na direção N30° que proporcionam o mergulho das camadas para sudeste

(MILHOMEM et al., 2003), como pode ser observado na seção geológica esquemática

apresentada anteriormente na Figura 2.1.

A arquitetura estrutural da Bacia do Recôncavo é complementada, ainda, por falhas de

transferências com direção N40°W transversais ao principal eixo do rifte, ocasionando a

compartimentação de blocos. Constituem zonas de acomodação que refletem taxas de

extensão diferenciadas ao longo da bacia, a exemplo das falhas de Mata-Catu e de Itanagra-

Araçás e que subdividiram a Bacia do Recôncavo em três compartimentos: Sul, Central e

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Nordeste (MILANI, 1985, apud OLIVEIRA, 2005). Esta configuração estrutural pode ser

visualizada no mapa simplificado apresentado na Figura 2.4.

Figura 2.4: (a) Mapa simplificado do arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo com as principais estruturas

rúpteis associadas; (b) Seções geológicas esquemáticas; (c) Seção ao longo do strike da Falha de Salvador. Fonte:

Destro et al. (2003, apud Santos, 2011).

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2.1.3. Evolução tectono-sedimentar

Segundo Magnavita et al. (2005), o sistema Recôncavo-Tucano-Jatobá tem sido

interpretado como sendo um ramo abortado do Atlântico Sul, originado a partir da tectônica

distensiva que promoveu a ruptura do supercontinente Gondwana.

A evolução tectono-sedimentar da Bacia do Recôncavo pode ser compartimentada em

quatro estágios, denominados de sinéclise, pré-rifte, sin-rifte e pós-rifte (CAMPINHO, 2002,

apud OLIVEIRA, 2005). As sequências aflorantes na bacia depositadas nestas fases podem

ser verificadas na Figura 2.5.

O estágio sinéclise, ocasionado pelo flexuramento crustal em decorrência da

deformação elástica, está associado ao preenchimento de áreas intracratônicas durante o

Paleozoico. As associações faciológicas que compõem a Formação Afligidos, de acordo com

Aguiar e Mato (1990, apud Silva et al., 2007), sugerem um paleoclima árido e condições

regressivas, com transição de uma sedimentação marinha rasa, marginal, a bacias evaporíticas

isoladas, ambientes de sabkha continental e, finalmente, sistemas lacustres.

O estágio pré-rifte está relacionado à subsidência da crosta que antecedeu o seu

rompimento, onde os sedimentos foram depositados em uma calha ampla e rasa, denominada

de Depressão Afro-Brasileira (PONTE et al., 1971, apud OLIVEIRA, 2005).

A sedimentação neste estágio foi controlada pela taxa de subsidência e clima e ocorreu

a partir de três ciclos flúvio-eólicos representados, da base para o topo, pelo Membro Boipeba

(Formação Aliança) e formações Sergi e Água Grande. Transgressões lacustres de caráter

regional com deposição majoritariamente pelítica compõem o Membro Capianga (Formação

Aliança) e a Formação Itaparica (SILVA et al., 2007).

De acordo com Magnavita et al. (2005), a área fonte dos sedimentos que constituem o

Grupo Brotas (formações Aliança e Sergi) estava localizada a sudoeste da atual Bacia do

Recôncavo (Figura 2.6), enquanto que a da Formação Água Grande estava situada a noroeste-

norte da Bacia.

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Figura 2.5: Mapa geológico esquemático ilustrando a distribuição de sedimentos pré, sin e pós-rifte aflorantes nas

bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá. Fonte: Magnavita (1992, apud Magnavita et al., 2005).

O estágio rifte se caracteriza por uma evolução da bacia, onde houve o falhamento da

crosta em decorrência dos esforços distensivos que ali atuavam. A passagem do estágio pré-

rifte para o rifte é objeto de discussão entre diversos autores. Entretanto, neste trabalho será

adotada a proposta de Caixeta et al. (1994), que sugere o limite entre as Formações Água

Grande e Candeias.

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Figura 2.6: Paleogeografia pré-rifte da Bacia do Recôncavo, mostrando a direção da fonte de sedimentos do Grupo

Brotas (formações Aliança e Sergi) a sudoeste. Fonte: Modificado de Medeiros e Ponte (1981, apud Magnavita et

al., 2005).

A umidificação climática, associada à intensa atividade tectônica, proporcionou o

desenvolvimento de uma fisiografia caracterizada por áreas plataformais relativamente

estáveis e depocentros com altas taxas de subsidência, favorecendo a criação de um lago

profundo e estreito. Nesta época, predominou a sedimentação pelítica intercalada a pacotes

arenosos gerados por fluxos gravitacionais subaquosos com fonte na borda nordeste da bacia,

representados pelas formações Candeias e Maracangalha (OLIVEIRA, 2005; SILVA et al.,

2007).

De acordo com Magnavita et al. (2005), a carga excessiva de depósitos deltaicos sobre

os folhelhos da Formação Maracangalha propiciou a pressurização dos mesmos, resultando

em diápiros com falhas de crescimento associadas (Figura 2.7).

O assoreamento dos depocentros em consequência da diminuição da atividade

tectônica e da taxa de subsidência da bacia proporcionou uma morfologia de rampa. Sendo

assim, deltas progradaram de NNW sobre as plataformas existentes na borda flexural do rifte

preenchendo os depocentros com arenitos, siltitos, folhelhos e ocasionais carbonatos do

Grupo Ilhas (formações Marfim e Pojuca).

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Figura 2.7: Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo, notando-se a argilocinese na Formação Maracangalha,

onde a sobrecarga de sedimentos sobrepostos a ela promoveu a geração de diápiros. Observar que a fonte de

sedimentos está na borda nordeste. Fonte: Medeiros e Ponte (1981, apud Magnavita et al., 2005).

Posteriormente, uma queda do nível do lago controlada pela tectônica e clima deu

origem ao cânion de Taquipe (Figura 2.8), que se localiza na porção oeste das bacias do

Recôncavo e Tucano Sul (BUENO, 1987, apud MAGNAVITA et al., 2005). Isto favoreceu a

deposição lacustre com fluxos gravitacionais representados pela Formação Taquipe. Neste

contexto ainda prevaleciam os sistemas deltaicos relacionados à Formação Pojuca (SILVA et

al., 2007), fato pelo qual os sedimentos desta formação recobrem concordantemente a

sequência da Formação Taquipe (CAIXETA et al., 1994).

Figura 2.8: Paleogeografia da Bacia do Recôncavo durante a deposição da Formação Taquipe. Fonte: Figueiredo et

al. (1994, apud Magnavita et al., 2005).

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A fase final de assoreamento do rifte é representada pela predominância de

sedimentação fluvial, onde as maiores taxas de subsidência foram compensadas pelas

elevadas taxas de aporte sedimentar. Desta forma, foi depositada uma sucessão estratigráfica

de caráter agradacional com espessas seções fluviais, representada pela Formação São

Sebastião (SILVA et al., 2007).

Durante todo o intervalo que compreende a fase rifte, conglomerados foram

depositados ao longo da borda falhada, a leste, a partir de leques aluviais sintectônicos,

constituindo a Formação Salvador.

Sob um contexto de subsidência termal, no estágio pós-rifte, ocorreu a deposição de

conglomerados, arenitos, folhelhos e calcários da Formação Marizal, relacionada a sistemas

aluviais. Os estratos são sub-horizontais e estão sobrepostos discordantemente sobre a

sequência rifte (SILVA et al., 2007).

Após um hiato de, aproximadamente, 65 milhões de anos de não deposição, houve

uma ingressão marinha responsável pela deposição de pelitos e calcáreos miocênicos da

Formação Sabiá (GHIGNONE, 1979, apud OLIVEIRA, 2005). Sobrepostos a esta formação,

ocorrem depósitos aluviais motivados por um basculamento regional da plataforma sul-

america para leste durante o Plioceno, constituindo o Grupo Barreiras.

2.2. A Formação Sergi e o Campo Dom João

A Formação Sergi foi depositada no Neojurássico, localmente no Andar Dom João, e

compreende arenitos finos a conglomeráticos implantados por sistemas flúvio-eólico-lacustres

em condições semiáridas peridesérticas (DA ROSA & GARCIA, 2000, apud OLIVEIRA,

2005). Pertence ao Grupo Brotas, juntamente com a Formação Aliança, sendo sobreposta a

esta de forma concordante.

A Formação Sergi ocorre nas bacias do Recôncavo, Tucano, Jatobá e Camamu-

Almada, sendo que na primeira a espessura máxima está em torno de 450 metros, conforme

pode ser visto na carta estratigráfica proposta por Caixeta et al. (1994) apresentada

anteriormente na Figura 2.3.

Trata-se de uma formação que está representada por toda a Bacia do Recôncavo,

constituindo o seu principal reservatório em termos de extensão e importância. Todavia, sua

ocorrência em superfície está restrita às bordas norte e oeste, sendo que os estratos estão

inclinados regionalmente para leste (MILANI, 1987, apud SCHERER et al., 2005).

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Scherer et al. (2005, 2007), a partir de dados de afloramentos e testemunhos,

subdividiram a Formação Sergi em três sequências deposicionais separadas por discordâncias.

A sequência I é composta dominantemente por depósitos fluviais efêmeros e eólicos,

sendo que o contato entre eles é abrupto, marcado por superfícies planas de deflação (base dos

depósitos eólicos) ou por superfícies de relevo acentuado (base dos depósitos fluviais). Os

pacotes fluviais são compostos por arenitos finos a médios, maciços ou estratificados

(estratificação cruzada acanalada, estratificação cruzada de baixo ângulo e/ou laminação

plano-paralela), que são limitados por superfícies erosivas cobertas por conglomerados

intraformacionais. Os estratos fluviais indicam uma paleocorrente média para NE.

Os depósitos eólicos da sequência I compreendem arenitos finos a médios, bem

selecionados, com estratificações sub-horizontais que possuem laminações transladantes

cavalgantes, interpretados como lençóis de areia, ou estratificações cruzadas tangenciais.

Estas estratificações são marcadas pela alternância de lâminas de fluxo de grãos e queda de

grãos nas porções mais íngremes e marcas onduladas em direção à base, sendo os estratos

classificados como dunas eólicas que apresentam paleocorrente média para SW. Nas porções

basal e intermediária dos pacotes flúvio-eólicos há ocorrência de pelitos lacustres maciços ou

finamente laminados.

A sequência II consiste em arenitos grossos a conglomeráticos com estratificações

acanaladas a planares, depositados em ambiente fluvial entrelaçado perene com significativa

variação de descarga, cujo fluxo era para NW. Por vezes ocorrem pelitos que separam os

corpos arenosos. A discordância entre as sequências I e II é consequência de mudança

climática e rearranjo tectônico da bacia.

Por fim, a sequência III é representada por arenitos finos a médios com marcas

onduladas eólicas, interpretados como lençóis de areia eólicos, e/ou estratos cruzados

tangenciais compostos por lâminas de fluxo de grãos e marcas onduladas eólicas, constituindo

depósitos residuais de dunas eólicas. Intercalados a estes depósitos ocorrem arenitos de

mesma granulometria, maciços e com estratificação plano-paralela e, mais raramente, com

estratificação cruzada acanalada, interpretados como depósitos fluviais efêmeros. Essa

sequência indica retorno às condições mais áridas na bacia. A discordância entre as

sequências II e III está relacionada à queda do nível de base estratigráfico consequente da

deflação eólica na bacia.

O Campo de Dom João está localizado nas imediações do município de São Francisco

do Conde, na parte sudoeste da Bacia do Recôncavo (Figura 2.9) e foi descoberto em 1947.

Possui uma extensão de 24 quilômetros de comprimento e largura de 1 a 3,5 quilômetros.

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Dois terços do campo estão imersos nas águas da Baía de Todos os Santos, sendo dividido em

Dom João Mar e Dom João Terra. As acumulações presentes nesse campo são rasas, situadas

entre 160 e 375 metros de profundidade. Na extremidade norte do campo, a Formação Sergi

possui espessura de 280 metros e, na porção sul, 460 metros (GHIGNONE, 1978).

Estruturalmente, o Campo de Dom João possui forma de um horst dirigido para

N10°E. As principais falhas limitantes possuem rejeitos entre 100 e 500 metros e o mergulho

da Formação Sergi não ultrapassa 5° para NE (GHIGNONE, 1978).

Figura 2.9: Campos de produção de óleo e gás da Bacia do Recôncavo. Em destaque está o Campo de Dom João.

Fonte: Petrobras (apud Gontijo, 2011).

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CAPÍTULO 3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Formação Sergi no Campo Dom João, bem como em outras áreas da Bacia do

Recôncavo e demais bacias sedimentares onde ocorre, é constituída, predominantemente, por

sedimentos oriundos de sistemas fluviais e, subordinadamente, eólicos (NETTO et al., 1982,

apud OLIVEIRA, 2005). Sendo assim, este capítulo abordará uma síntese dos aspectos

teóricos relacionados aos sistemas fluviais e eólicos. A interação entre ambos ocorre

principalmente em planícies aluviais submetidas a clima árido/semiárido, havendo

predominância de um sistema em determinados estágios evolutivos (CORTEZ, 1996).

3.1. Sistemas Fluviais

Os rios são os principais agentes geológicos que atuam na superfície da Terra (PRESS

et al., 2006) e os seus depósitos são bastante representativos no registro estratigráfico,

constituindo importantes reservatórios de petróleo e água, além de depósitos de placeres.

3.1.1. Processos fluviais

Segundo Scherer (2004, 2008), a interação de processos fluviais erosivos e de

transporte e deposição resulta na morfologia aluvial.

3.1.1.1. Erosão fluvial

A erosão fluvial se dá por dois principais processos, que são a incisão e migração

lateral. A incisão consiste na erosão vertical do substrato, promovendo um aprofundamento

do canal e pode estar associada a um progressivo aumento da descarga devido a mudanças

climáticas ou a um rebaixamento do perfil de equilíbrio (natureza alocíclica). Pode estar

associada também ao deslocamento de canais fluviais decorrentes de processos

hidrodinâmicos e geomorfológicos internos à planície aluvial (natureza autocíclica). A

migração lateral ocorre em canais com alta sinuosidade, onde o banco externo do meandro

(vide item 3.1.3.3.) sofre contínua erosão.

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3.1.1.2. Transporte e deposição fluvial

Os sedimentos de origem fluvial são transportados e depositados através de três

principais mecanismos: fluxo de detritos, carga de fundo e carga de suspensão.

Fluxo de detritos

Este processo é responsável pelo transporte de sedimentos em fluxos plásticos, densos,

laminares e com baixa quantidade de água nos poros. O movimento acontece quando grande

quantidade de sedimentos é mobilizada por liquefação em uma superfície inclinada, podendo

tornar-se turbulento em decorrência da diminuição de viscosidade. O fluxo de detritos gera

depósitos mal selecionados, clastos cujos tamanhos variam de grânulos a blocos podendo

apresentar orientação incipiente e matriz areno-síltica-argilosa.

Carga de fundo

O transporte por carga de fundo, principal na dinâmica fluvial, ocorre por correntes

trativas, onde os grãos transportam-se individualmente ao longo do leito do rio através de

arrasto e rolamento (grãos maiores) e saltação (grãos menores).

As formas de leito são desenvolvidas através do transporte de areia que, mantendo-se a

profundidade da lâmina d’água constante, são controladas pela granulometria e pela

velocidade de fluxo. As marcas onduladas (ripples) são formas de leito com altura máxima de

5 cm que podem ocorrer somente em areias com diâmetros menores que 0,7 mm, sendo

normalmente restritas a fluxos de baixa velocidade (BRIDGE, 2006). O aumento progressivo

da velocidade do fluxo proporciona formação de dunas, sendo que a passagem entre estas

duas formas de leito é abrupta e ambas possuem estrutura interna do tipo estratificação

cruzada (PRESS et al., 2006). As dunas podem ser bidimensionais, quando possuem linha de

crista reta, e tridimensionais, quando há desenvolvimento de linha de crista sinuosa. Estratos

de leito plano e antidunas são formas de leito criadas quando o fluxo atinge valor crítico,

sendo facilmente destruídas por mudanças nos padrões de turbulência e, portanto, dificilmente

preservadas.

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Carga de suspensão

Inclui todo o material suspenso no fluxo de forma temporária ou permanente em

decorrência da turbulência do fluxo. Predomina a carga sedimentar síltico-argilosa, cuja

deposição ocorre em regiões de baixa energia através de assentamento gravitacional de

partículas. A interação dos processos de tração e suspensão gera marcas onduladas

cavalgantes (climbing ripples), cujo ângulo possui uma relação indiretamente proporcional

com a tração.

3.1.2. Acumulação fluvial

A preservação dos sedimentos depositados em contextos continentais é controlada pela

variação das taxas de criação de espaço de acomodação ao longo do tempo. Jervey (1988,

apud SHANLEY & McCABE, 1994) descreveu que o espaço de acomodação é o espaço

disponível para potencial acumulação de sedimentos, sendo controlado pelo perfil de

equilíbrio.

O perfil de equilíbrio é representado pelo balanço entre erosão e deposição, onde o

contexto em que a energia necessária para transportar sedimentos é balanceada pela energia

potencial liberada pelo fluxo, sendo que o rio não sofre agradação e nem degradação.

Portanto, os períodos de acumulação e erosão fluviais são determinados pelo comportamento

do perfil de equilíbrio. Assim, haverá agradação (acumulação) nos períodos em que ocorrer a

subida do perfil de equilíbrio, enquanto que os processos de erosão e degradação fluvial

associam-se a intervalos de rebaixamento do perfil de equilíbrio, como pode ser observado

nas Figuras 3.1 e 3.2. Estas oscilações observadas são controladas, predominantemente, pelo

clima, tectônica e nível relativo do mar, onde este último possui uma influência direta no

perfil de equilíbrio fluvial em regiões costeiras (SCHERER, 2004, 2008).

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Figura 3.1: Perfil de equilíbrio de sistemas fluviais, que corresponde ao nível de base estratigráfico em sucessões

aluviais. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud SCHERER, 2004).

Figura 3.2: Modelo hipotético destacando a criação de espaço e acomodação resultante de uma subida do perfil de

equilíbrio. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud SCHERER, 2004).

3.1.3. Tipos de canais e áreas externas

Os canais fluviais podem ser classificados de acordo com a carga sedimentar

transportada ou pela morfologia apresentada. No primeiro caso, Schumm (1972, apud

SCHERER, 2004, 2008) classificou os rios em carga de fundo (bed-load), carga mista (mixed-

load) e carga de suspensão (suspended-load).

Os fatores tais como descarga, aporte sedimentar, granulometria da carga transportada,

coesividade dos bancos, vegetação e inclinação do terreno são responsáveis pela morfologia

dos canais. Sendo assim, estes podem ser divididos em quatro padrões: retilíneo,

anastomosado, meandrante e entrelaçado (CORTEZ, 1996; WALKER & CANT, 1984;

SCHERER, op. cit.) (Figura 3.3).

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Figura 3.3: Padrões básicos de canais fluviais. Fonte: Modificado de Miall (1977, apud SCHERER, 2004).

O reconhecimento de muitas variações dentro dos quatro estilos apresentados de

canais revela que os sistemas deposicionais fluviais nem sempre podem ser enquadrados em

um dos modelos extremos (CORTEZ, 1996). Tendo em vista a atuação dos fatores que

controlam a morfologia dos canais dentro das principais bacias aluviais, nas suas porções

proximais, um rio tende a ser entrelaçado, enquanto que nas partes distais, o rio normalmente

apresenta padrão meandrante (MIALL, 1992, apud SCHERER, 2004, 2008). É possível,

ainda, que rios entrelaçados passem gradualmente para anastomosados nas porções distais,

desde que haja obstrução do fluxo através de falhas, soerguimento ou outros fatores, o que

ocasiona agradação dos canais fluviais.

As áreas externas aos canais, segundo Collinson (1996, apud SCHERER, 2004, 2008),

podem ser subdivididas em dois tipos: i) diques marginais e depósitos de crevasse e ii)

planície de inundação.

Os diques marginais constituem cristas estreitas e contínuas formadas ao longo das

margens dos canais fluviais através da deposição de sedimentos finos durante as cheias do rio.

Os depósitos de espraiamento de crevasse (crevasse splay) são lobos desenvolvidos a partir

do extravasamento do canal fluvial durante grandes cheias. Ambas as áreas ocorrem em rios

com padrões anastomosado e meandrante, raramente em canais entrelaçados.

As planícies de inundação compreendem regiões de baixo relevo, pouco drenadas,

onde a taxa de acumulação é baixa e dominada por sedimentos de granulometria muito fina

(silte e argila). Essas áreas são abundantes em canais anastomosados e quase inexistentes em

rios entrelaçados.

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3.1.3.1. Rios retilíneos (straight rivers)

Os rios retilíneos não são comuns na natureza e podem apresentar sedimentos

diversos. De acordo com Bridge (2006), esses canais ocorrem onde o fluxo não tem energia

suficiente para erodir os bancos de canais. Geralmente são canais poucos extensos e

encaixados em lineamentos estruturais como falhas/fraturas e, sobretudo, são decorrentes de

obras de engenharia. Segundo SCHERER (2004, 2008) constituem canais simples, com

flancos estáveis e limitados por diques marginais.

3.1.3.2. Rios anastomosados (anastomosed rivers)

São caracterizados por uma rede interconectada de canais separados por áreas de

planície de inundação e possuem geometria em fita. Os canais são dominados por carga de

suspensão, apresentando-se profundos, estreitos e com moderada a baixa sinuosidade. Suas

margens são, geralmente, coesas e vegetadas, ocasionando alta estabilidade aos canais, o que

reduz a migração lateral (SCHERER, 2004, 2008).

3.1.3.3. Rios meandrantes (meandering rivers)

Os canais meandrantes caracterizam-se pela alta sinuosidade, geometria em lençol,

pouca variação na descarga, altas taxas de migração e carga mista. São rios que fluem em

declives suaves de planícies ou terras baixas onde, geralmente, cortam sedimentos

inconsolidados ou substrato rochoso facilmente erodível (PRESS et al., 2006).

O padrão meandrante dos canais é mantido pela erosão dos bancos externos

proporcionada pela maior velocidade da corrente em relação às porções internas, onde a

diminuição da velocidade ocasiona a deposição dos sedimentos arenosos, formando as barras

de pontal (WALKER & CANT, 1984). Os sedimentos finos (argila e silte) são depositados

nos diques marginais e nas planícies de inundação. As sequências formadas são caracterizadas

por possuir granodecrescência ascendente, onde é possível observar estratificações cruzadas

acanaladas decorrentes da migração de dunas subaquosas e, nas partes mais rasas, marcas

onduladas (ripples) (WALKER & CANT, 1984).

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3.1.3.4. Rios entrelaçados (braided rivers)

Os rios entrelaçados são representados por canais interligados separados por barras

arenosas e/ou cascalhosas longitudinais e transversais que migram de acordo com o fluxo. Os

depósitos de planície de inundação são restritos. Constituem rios de carga de fundo com

geometria em lençol, onde o preenchimento é complexo e bastante diversificado.

Ainda de acordo com o autor acima citado, o padrão entrelaçado tende a se formar em

áreas com maiores declividades, caracterizando-se por altas velocidades da corrente, alto

suprimento sedimentar e alta variabilidade de descarga, além de baixa sinuosidade. As formas

de leito dominantes nesse padrão são marcas onduladas e dunas, sendo que as sequências

depositadas exibem uma granodecrescência ascendente pouco desenvolvida.

A sedimentação nos canais entrelaçados é, principalmente, ao longo de barras

longitudinais e transversais. Os sedimentos geralmente são compostos por areia de

granulometria média a grossa e cascalho, sendo que argila e silte são raramente preservados

dentro desses sistemas. O contato basal e superior com outras fácies é frequentemente abrupto

(BROWN & FISHER, 1976).

Segundo Coleman (1969), os tipos de estratificações em depósitos aluviais de canais

entrelaçados são muito variáveis e complexos. São destacadas, portanto, três principais tipos:

i) estratificação cruzada de grande porte formada pela migração de formas de leito maiores,

tais como dunas; ii) estratificação cruzada de pequeno porte originada pela migração de

formas de leito menores, tais como as marcas onduladas (“ripples”); iii) estratificação

horizontal composta por lâminas tabulares, que pode estar associada ao regime de fluxo

superior, onde há uma rápida migração e agradação de formas de leito menores.

Os rios entrelaçados ocorrem com mais frequência em regiões árticas e alpinas, pois

possuem elevada precipitação e cabeceiras íngremes. Todavia, eles também ocorrem em

climas árido e Mediterrâneo, sujeitos a chuvas torrenciais, e em algumas regiões tropicais

onde há chuvas de monções (GRAY & HARDING, 2007).

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Rios efêmeros

Os rios efêmeros merecem atenção especial, pois arenitos formados sob tais condições

constituem os principais reservatórios em muitos campos de óleo e gás (NORTH &

TAYLOR, 1996).

Os rios efêmeros são característicos de regiões áridas e semiáridas associados a

inundações rápidas e momentâneas, o que ocorre geralmente após tempestade sem haver

qualquer escoamento superficial (BENITO et al., 2003, apud SCHERER, 2008). Os depósitos

de canais fluviais efêmeros são pouco espessos em comparação com os depósitos de canais

perenes, sendo que apresentam várias classes granulométricas.

Nos estágios finais da inundação, sob o regime de fluxo inferior, onde ocorre uma

rápida desaceleração da corrente, desenvolvem-se dunas e marcas onduladas como formas de

leito. Desta forma, um evento de inundação tende a depositar sequências que apresentam

granodecrescência ascendente e estruturas em direção ao topo da sucessão (SCHERER,

2008).

3.2. Sistemas Eólicos

Os sistemas deposicionais eólicos são controlados principalmente pelo vento, que

constitui um importante agente geológico responsável pela erosão, transporte e deposição de

sedimentos expostos à ação atmosférica. Sua atuação é acentuada pelo nível freático

profundo, pois promove a suscetibilidade do terreno à erosão, escassez de vegetação e ventos

fortes, fatores pelos quais os depósitos eólicos são característicos de desertos semiáridos a

hiperáridos.

Embora seja mais expressivo em desertos, o vento também atua como importante

agente geológico em ambientes costeiros. Isto é devido a ocorrência de correntes atmosféricas

geradas a partir do contraste de calor específico e do aquecimento diferencial entre continente

e oceano, especialmente em áreas onde ocorre um alto suprimento de areia (GIANNINI et al.,

2008).

3.2.1. Morfologia e tamanho das acumulações de areia

De acordo com Giannini et al. (2008), as acumulações de areia podem ser divididas,

segundo as suas morfologias, em dois tipos básicos: campos de dunas (dune fields) e lençóis

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de areia (sand sheets), sendo o primeiro subdividido em dunas e interdunas. Existem, ainda,

as marcas onduladas que constituem formas de leito em escalas centimétricas que podem se

desenvolver em lençóis de areia, interdunas e dunas. O desenvolvimento dessas formas está

relacionado a alguns fatores, tais como regime de vento, taxa de acumulação de areia e

tamanho de grãos (LANCASTER, 1988, apud SCHERER, 2004).

3.2.1.1. Campos de dunas

Os campos de dunas consistem em grandes massas individuais de areias em

movimento, sendo constituídas de dunas eólicas simples e/ou compostas entre as quais podem

existir áreas de interdunas.

Dunas eólicas

As dunas eólicas são formas de leito, predominantemente assimétricas, produzidas

onde existe um suprimento suficiente de areia, ventos para transportar os grãos e condições

que promovam a deposição do sedimento transportado (LANCASTER, 2005). A assimetria

observada nas dunas eólicas é o resultado de uma maior inclinação no lado sotavento que no

lado barlavento. Desta forma, desenvolvem-se avalanches de areia no lado sotavento

(GIANNINI et al., 2008).

As dunas possuem comprimento de ondas variando de 3 a 500 metros e altura de 0,1 a

100 metros. Existe o termo draa que se restringe as formas de leito maiores que as dunas,

com comprimento de onda de 300 a 500 metros e altura de 20 a 450 metros.

Quanto à classificação das dunas eólicas, estas podem ser classificadas de acordo com

dois esquemas independentes entre si: morfológico (MCKEE, 1979, apud SCHERER, 2004) e

morfodinâmico (HUNTER et al., 1983, apud SCHERER, 2004). Ambas as classificações são

necessárias, tendo em vista que nem sempre os dois tipos coincidem. Os tipos de dunas

variam não somente de um campo de dunas para outro, como também dentro de um mesmo

campo de dunas (GIANNINI et al., 2008).

A classificação morfológica leva em consideração as características geométricas,

como a sinuosidade da crista, números de faces frontais e presença ou ausência de dunas

superpostas. O principal controle dos tipos de dunas é a variação na direção do regime do

vento e, subordinadamente, alguns fatores contribuem para a morfologia, tais como tamanho

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dos grãos, cobertura vegetal e suprimento de sedimentos. De acordo com Scherer (2004) e

Lancaster (2005), existem quatro tipos principais: crescente, linear, estrela e parabólica.

As dunas crescentes, dominantes quando a vegetação está ausente, apresentam

assimetria bem definida com uma superfície de barlavento com mergulho suave (<12°) e uma

acentuada inclinação da face frontal. Podem ser isoladas (ou barcanas), quando o suprimento

sedimentar é pequeno, ou podem coalescer lateralmente quando há aumento do suprimento

sedimentar, formando as barcanóides. As dunas lineares são simétricas e formam-se em áreas

de regimes de vento bimodais ou amplamente unimodais, apresentando tanto cristas retas

quanto sinuosas e espaçamento regular. As dunas estrelas, geralmente estacionárias, são

simétricas e possuem uma forma piramidal com cristas agudas sinuosas ou retas irradiando de

um pico central e várias faces de avalanche. Estas dunas ocorrem sob regimes de ventos

multidirecionais ou complexos. As dunas parabólicas são caracterizadas pela forma em “U”

ou “V”, vinculadas a sistemas parcialmente estabilizados pela vegetação.

A classificação morfodinâmica tem como base o posicionamento das formas de leito

em relação ao vetor médio dos ventos de uma determinada área. Hunter et al. (1983, apud

SCHERER, 2004) sugerem três tipos principais: longitudinais, oblíquas e transversais. As

dunas longitudinais são aquelas que apresentam cristas paralelas ao vetor médio dos ventos,

enquanto que as transversais possuem linha orientada ortogonalmente ao mesmo vetor. As

dunas oblíquas são as que apresentam a linha de crista orientada entre 15° e 75° em relação ao

vetor médio dos ventos.

Interdunas

As áreas de interdunas são zonas entre dunas eólicas ou draas que apresentam

extensão e geometria variadas, onde atuam processos eólicos, predominantemente erosivos, e

processos não eólicos, dominantemente deposicionais (GIANNINI et al., 2008).

De acordo com Wilson (1971, apud SCHERER, 2004), a extensão das interdunas

depende da saturação de areia do sistema, sendo classificadas em zonas subsaturadas,

metassaturadas e supersaturadas, conforme pode ser visto na Figura 3.4. As zonas

subsaturadas são áreas onde o fluxo de areia é inferior ao valor crítico necessário para o

embrionamento das formas de leito. As zonas metassaturadas consistem de áreas com uma

cobertura incompleta de areia (dunas eólicas espaçadas entre si), caracterizadas por amplas

regiões de interduna plana. As zonas saturadas são marcadas por uma total cobertura de areia

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e as interdunas consistem em pequenas depressões entre a face frontal da duna anterior e o

dorso da duna subsequente.

Langford (1989, apud GIANNINI et al., 2008) destacou que os processos de oscilação

do nível freático são de essencial relevância na dinâmica sedimentar das interdunas. As

interdunas deposicionais podem ser secas, quando a superfície deposicional é seca, úmida, sob

condições de lençol freático ou franja capilar próximo à superfície deposicional, ou

encharcada, marcada por inundações periódicas por fluxos fluviais ou nível do lençol freático

alto (SCHERER, 2004).

Figura 3.4: Variações das zonas interdunas de acordo com o nível de saturação de areia, sendo classificadas em

zonas subsaturadas, metassaturadas e saturadas. Fonte: Wilson (1971, apud SCHERER, 2004).

3.2.1.2. Lençóis de areia

Os lençóis de areia consistem em áreas cobertas por areia onde não há superimposição

de dunas com faces de avalanche (GIANNINI et al., 2008). Kocurek & Nielson (1986, apud

SCHERER, 2004) sugerem alguns fatores capazes de desenvolver lençóis de areia em

detrimento de dunas eólicas, sendo eles: i) granulação grossa (areia grossa a cascalho),

dificultando a geração de dunas eólicas; ii) cimentação superficial; iii) nível do lençol freático

elevado; iv) inundações periódicas que limitam o tempo disponível para a formação de dunas;

e v) cobertura vegetal.

3.2.1.3. Marcas onduladas

As marcas onduladas consistem em formas de leito de escala centimétrica que são

geradas pela movimentação de grãos de areia (sand ripples) ou grânulos (granule ripples).

Geralmente as formas de leito cavalgam umas sobre as outras, resultando em uma forma de

leito preservada sob a forma de um estrato (estratos cavalgantes). O ângulo de cavalgamento

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varia dependendo do volume de sedimento e da taxa de migração da marca ondulada e pode

ser supercrítico, crítico e subcrítico (Figura 3.5) (SCHERER, 2004).

A marca ondulada com cavalgamento supercrítico ocorre quando o ângulo de

cavalgamento (α) é maior que o ângulo de inclinação (β) do dorso da marca ondulada

precedente. A forma de leito com cavalgamento crítico ocorre quando os ângulos de

cavalgamento e inclinação são idênticos. Finalmente, a marca ondulada com cavalgamento

subcrítico ocorre quando o ângulo de cavalgamento é menor que o ângulo de inclinação do

dorso.

Figura 3.5: Classificação do tipo de estratificação de marcas onduladas eólicas de acordo com o ângulo de

cavalgamento relativo a inclinação do dorso da forma de leito e a presença ou ausência de laminações cruzadas.

Fonte: Hubin (1977, apud SCHERER, 2004).

3.2.2. Processos eólicos

Os processos responsáveis por depósitos eólicos envolvem uma série de peculiaridades

físicas e mecanismos do vento e englobam erosão, transporte e deposição.

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3.2.2.1. Erosão eólica

O vento apresenta pouca capacidade de erosão primária das rochas, visto que consiste

em um fluido de baixa viscosidade. Entretanto, ele consegue remover e transportar uma

grande quantidade de material inconsolidado, principalmente em clima árido por causa da

ausência de vegetação e baixa umidade do solo (SCHERER, 2004).

Abrasão

A abrasão eólica consiste no desgaste mecânico de partículas transportadas pelo vento

devido ao choque entre elas. Como consequência, são geradas algumas feições, dentre as

quais os ventifactos são mais comuns. Denomina-se ventifacto qualquer clasto que tenha sido

facetado e/ou abrasado por partículas transportadas pelo vento, sendo que as faces abrasadas

são inclinadas para o sentido contrário do vento (Figura 3.6).

Figura 3.6: Quatro estágios do desenvolvimento de um ventifacto. O clasto torna-se um ventifacto entre o estágio A

e B. Fonte: Scherer (2004).

Deflação

A deflação consiste em um processo de remoção de material inconsolidado, sendo a

principal forma de erosão eólica (SCHERER, 2004; LANCASTER, 2005). O vento tende a

ser seletivo no transporte, motivo pelo qual ele remove a fração de granulometria mais fina,

ocasionando a concentração de material de granulometria mais grossa. Quando a deflação dos

depósitos alcança um nível suficiente para criar uma cobertura contínua de seixos e grânulos,

a erosão eólica cessa. Formam-se, então, os chamados lags de deflação (Figura 3.7).

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Figura 3.7: Três estágios de desenvolvimento de um pavimento de deflação. A) Deflação inicial dos sedimentos

arenosos; B) concentração dos clastos à medida que ocorre a deflação; C) término da deflação em decorrência do

recobrimento do substrato por clastos. Fonte: Scherer (2004).

3.2.2.2. Transporte eólico

O movimento da partícula é alcançado através da combinação da tensão de

cisalhamento exercida pelo vento sobre a superfície e a turbulência atmosférica. Existem três

modos de transporte pelo vento, sendo eles rolamento, saltação e suspensão (Figura 3.8) que

dependem, dentre outros fatores, do tamanho da partícula, da tensão do cisalhamento do vento

e da intensidade da turbulência (LANCASTER, 2005).

Figura 3.8: Tipos de transporte eólico, compreendendo saltação, rolamento e suspensão. Fonte: Modificado de Silva

(2009).

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Rolamento (creep ou reptation)

As partículas de tamanho areia grossa/muito grossa e grânulos são transportadas pelo

vento quando este apresenta uma velocidade maior. Adicionalmente, os grãos em saltação se

chocam com os grãos maiores que estão no substrato. Desta forma, os grãos de granulometria

grossa respondem ao impacto rolando/arrastando-se pela superfície, gerando uma reação em

cadeia (SILVA, 2009).

Saltação (saltation)

Os grãos de tamanho areia muito fina a fina são transportados principalmente por

saltação, no qual descrevem uma trajetória parabólica. Quando a tensão de cisalhamento do

vento alcança um valor crítico, alguns grãos começam a mover-se para frente e se chocam

com outros grãos que se encontram imóveis. O impacto proporciona que os grãos sejam

arremessados para cima, onde penetram em espaços com velocidades maiores, perfazendo um

caminho parabólico. Ao caírem, chocam-se com outras partículas, sendo que as que possuem

granulometria semelhante ampliam o processo de saltação (SCHERER, 2004).

Suspensão (suspension)

As partículas de tamanho areia muito fina e silte são transportadas através de

suspensão e são mantidas no ar pela turbulência no vento, podendo atingir longas distâncias.

Geralmente se acumulam fora da zona de agradação eólica mais ativa, por vezes formando

depósitos maciços do tipo loess (MORAES & GABAGLIA, 1986).

3.2.2.3. Deposição eólica

Os sedimentos transportados pelo vento podem ser depositados nas dunas através de

três principais mecanismos: cavalgamento de marcas onduladas, queda de grãos e fluxo de

grãos (fluxo de escorregamento).

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Cavalgamento de marcas onduladas (climbing ripples)

As marcas onduladas formadas na superfície dos sedimentos em resposta à ação do

vento podem cavalgar umas sobre as outras. Essa superposição é facilitada pelo fato da

saltação e suspensão prevaleceram na deposição eólica em detrimento dos mecanismos

trativos que aplainam o substrato. Como consequência, a preservação da crista e do lado

barlavento das marcas onduladas é favorecida e as mesmas apresentam facilidade para

cavalgar (GIANNINI et al., 2008).

Devido à baixa viscosidade do vento, o impacto dos grãos em movimento no lado

barlavento é mais intenso que na água. Sendo assim, existe uma tendência para erosão parcial

no dorso da marca ondulada. Com isto, os tipos de cavalgamento mais comuns na deposição

eólica são o subcrítico e o crítico, ou seja, quando o ângulo de cavalgamento é menor ou igual

ao ângulo de inclinação do flanco barlavento, respectivamente (GIANNINI et al., 2008).

Queda de grãos (grainfall)

Os sedimentos que estão em suspensão, ao serem transportados para o lado sotavento,

encontram uma região hidrodinamicamente protegida e sofrem rápida desaceleração. A

deposição ocorre preferencialmente na face frontal da duna pelo fato de desenvolver uma

zona de separação de fluxo, onde os grãos são depositados por queda livre (SCHERER,

2004).

Fluxo de grãos (grainflow)

Os sedimentos mais pesados e/ou mais grossos transportados tendem a se

concentrarem por saltação na crista e na parte superior e mais íngreme da porção frontal da

duna. Quando esta acumulação exceder o ângulo crítico de repouso da areia seca, em torno de

34º (SCHERER, 2004), torna-se instável e os sedimentos são depositados por avalanche ao

longo da face frontal da duna (superfície de deslizamento).

O processo gravitacional ocorre através de sucessivas colisões entre os grãos

adjacentes, mecanismo conhecido como pressão dispersiva (GIANNINI et al., 2008). Este

mecanismo de interação intergranular atua quando a areia encontra-se incoesa (seca), sendo

depositada em forma de lobos linguóides. No caso em que a areia apresenta-se coesa, ou seja,

com certo grau de umidade, a deposição ocorre por slide e slump, onde os blocos escorregam

ao longo da superfície de deslizamento (SCHERER, 2004).

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3.2.3. Acumulação e tipos de sistemas eólicos

A deposição de sedimentos não necessariamente implica na sua acumulação. Segundo

Kocurek & Havholm (1993), a acumulação ocorre quando a deposição de sedimentos ao

longo do tempo gera corpos em três dimensões de estratos que podem ser incorporados ao

registro geológico.

Ainda segundo os mesmos autores, para que haja acumulação é necessário um balanço

positivo de sedimentos, ou seja, o volume que entra deve ser maior que o volume que sai de

um determinado sistema eólico (Figura 3.9). Quando esse balanço é neutro ou negativo,

desenvolvem-se superfícies de bypass ou de erosão, respectivamente. Além disso, é

necessário que ocorra migração e cavalgamento de dunas eólicas em relação à superfície de

acumulação, definida como a superfície que une as dunas, acima da qual os sedimentos são

transportados e abaixo da qual as partículas não sofrem transporte, constituindo a acumulação.

Figura 3.9: Representação esquemática de acumulação eólica. A acumulação acontece quando o balanço é positivo,

ou seja, o volume de sedimentos que entra (Qi) em uma área é maior que o volume que sai da mesma área (Qo).

Fonte: Kocurek e Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).

As acumulações são caracterizadas por um conjunto de processos geológicos em

sistemas eólicos que são controlados por mudanças na competência de agente de transporte e

na concentração de sedimentos deslocados (OLIVEIRA, 2005). Os sistemas eólicos foram

classificados em secos, úmidos e estabilizados, nos quais os dois primeiros são os tipos mais

comuns na natureza (KOCUREK & HAVHOLM, 1993).

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3.2.3.1. Sistemas eólicos secos

Os sistemas eólicos secos são aqueles caracterizados pelo nível do lençol freático e sua

franja de capilaridade abaixo da superfície de deposição. A sedimentação é regida por fatores

aerodinâmicos e todo o sedimento no substrato é disponibilizado para transporte eólico.

A transformação de planícies interdunas em depressões interdunas é necessária para

que ocorra acumulação neste tipo de sistema eólico, uma vez que a acumulação se inicia sob

uma condição de saturação de areia marcada pelo cavalgamento de dunas eólicas (SCHERER,

2004; GIANNINI et al., 2008).

Para que as condições de saturação de superfície deposicional sejam alcançadas e

ocorra acumulação em um sistema eólico seco, é necessário que haja um decréscimo na taxa

de transporte e/ou um decréscimo na concentração com o tempo (KOCUREK & HAVHOLM,

1993). O espaço de acumulação e a preservação de sedimentos em sistemas eólicos secos são

controlados pela subsidência da bacia (Figura 3.10).

Figura 3.10: Representação esquemática dos principais elementos que controlam a acumulação e preservação de

sedimentos em sistemas eólicos secos. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).

3.2.3.2. Sistemas eólicos úmidos

Os sistemas eólicos úmidos são caracterizados pelo nível do lençol freático e sua

franja de capilaridade na superfície de deposição ou próximos dela (até poucos metros). Em

consequência disto, os processos sedimentares (deposição, bypass e erosão) ao longo do

substrato são controlados não somente pelos fatores aerodinâmicos, como também pelo

conteúdo de água do substrato (KOCUREK & HAVHOLM, 1993).

O espaço de acumulação e a preservação de sedimentos nestes sistemas são

controlados pela taxa de subsidência e nível do lençol freático (Figura 3.11), sendo este

influenciado por fatores alocíclicos, tais como mudanças climáticas, variações do nível do

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mar e subsidência da bacia. A transição de um sistema eólico úmido para seco se dá pelo

incremento de sedimentos (Figura 3.12) (SCHERER, 2004). No registro geológico, os

sistemas eólicos úmidos são reconhecidos pela presença de depósitos interdunas intercalados

com estratos cruzados de dunas.

Figura 3.11: Representação esquemática dos principais elementos que controlam a acumulação e preservação de

sedimentos em sistemas eólicos úmidos. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).

3.2.3.3. Sistemas eólicos estabilizados

Os sistemas eólicos estabilizados são aqueles nos quais algum fator (ou fatores)

periódico ou contínuo estabiliza o substrato enquanto o sistema permanece ativo. Dentre esses

fatores, podem ser citados a vegetação, umidade do substrato, cimentação, filmes de lama e

depósitos residuais de cascalho (lags). Para que a acumulação neste tipo de sistema seja

efetiva, é necessário que os processos de estabilização sejam contínuos ou repetitivos

(KOCUREK & HAVHOLM, 1993).

3.2.4. Preservação de sistemas eólicos

As acumulações eólicas, para serem incorporadas no registro geológico, necessitam de

um conjunto de processos que proporcionem a sua preservação, sendo que o espaço de

acumulação e a preservação nem sempre são coincidentes nesses sistemas (Figura 3.13)

(KOCUREK & HAVHOLM, 1993).

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Figura 3.12: Transição entre sistemas eólicos úmidos e secos, marcada por um aumento na disponibilidade de areia.

Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud SCHERER, 2004).

Figura 3.13: Representação esquemática dos conceitos de acumulação, espaço de acumulação e espaço de

preservação. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).

Os três principais fatores que promovem a preservação de estratos eólicos são: i)

subsidência da acumulação abaixo do nível de base de erosão, que pode ser controlada por

tectonismo, carga sedimentar e/ou compactação; ii) incorporação da acumulação dentro da

zona saturada devido à subida (relativa ou absoluta) do nível do lençol freático ocasionada por

mudanças climáticas ou nível eustático em regiões costeiras; e iii) desenvolvimento de

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superfícies de estabilização que aumentem a resistência à erosão (KOCUREK &

HAVHOLM, op. cit.).

3.2.5. Características dos depósitos eólicos

É comum a ocorrência de depósitos fluviais associados a depósitos eólicos no registro

geológico. Sendo assim, é importante conhecer as características dos estratos eólicos, uma vez

que se constituem critérios para o seu reconhecimento e distinção daqueles depositados por

sistemas fluviais.

Parâmetros composicionais e texturais

O vento é um agente de transporte que possui menores viscosidade e densidade do

meio em relação à água. Como consequência, os sedimentos transportados por ele possuem

características texturais peculiares ou muito frequentes no sistema eólico.

A baixa viscosidade do ar favorece o fluxo turbulento e, consequentemente, o intenso

choque entre as partículas transportadas. Assim, os grãos mais frágeis são rapidamente

destruídos e há um aumento na maturidade composicional dos sedimentos. Fragmentos de

rochas vulcânicas, minerais ferromagnesianos, material carbonático e feldspato, cujas

clivagens consistem em planos de fraqueza, tendem a desaparecer com o contínuo transporte

eólico. O resultado é um enriquecimento de quartzo nos depósitos eólicos (MORAES &

GABAGLIA, 1986).

Em escalas microscópicas, é possível observar linhas paralelas de grãos com

bimodalidade bem definida. Esta característica é mais evidente quando ocorre em ondulações

sem faces de avalanche, mais típico de interdunas e lençóis de areia (GIANNINI et al., 2008).

O impacto subaéreo entre os grãos, menos amortecido no meio subaquoso, tem poder

abrasivo e de arredondamento. Todavia, a produção de grãos arredondados pelo vento não

está ligada somente à abrasão, como também ao tempo de desgaste e ao transporte seletivo

preferencial de grãos mais esféricos e arredondados por saltação (BIGARELLA, 1972 e 1973;

MAZZULO et al., 1986; todos apud GIANNINI et al., 2008). A abrasão mecânica e a

dissolução química subaérea são fatores que proporcionam uma textura fosca em areias

eólicas.

De acordo com Moraes & Gabaglia (1986), o vento seleciona muito bem a carga de

saltação, porém a granulometria média das partículas transportadas muda à medida que há

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uma modificação na velocidade do vento. Sendo assim, produzirá uma textura de lâminas

internamente bem selecionadas com granulometria diferente típica da face frontal das dunas.

Outra textura que pode ser encontrada em depósitos eólicos é a gradação inversa que,

junto com outros critérios, é usada para identificar depósitos eólicos. Esta textura pode ocorrer

nas lâminas de fluxo de grãos pelo choque de partículas devido à ação da pressão dispersiva e

nas marcas onduladas. Neste último caso, ela ocorre através da concentração de material fino

(silte e areia muito fina) nas calhas e material mais grosso (areia fina a média) nas cristas das

marcas onduladas, sendo chamada de pin stripe lamination (Figura 3.14) (FRYBERGER &

SCHENK, 1988).

Nas intercalações dos processos fluviais e eólicos é possível a ocorrência de areia bem

selecionada, de origem eólica, recobrindo lamitos no topo de ciclos granodecrescentes

ascendentes, de origem fluvial, e sotoposta ao contato erosional que marca o início de um

novo ciclo fluvial (MORAES & GABAGLIA, 1986).

Figura 3.14: Seção esquemática de marcas onduladas mostrando a concentração de grãos mais grossos (areia fina a

média) na crista e grãos mais finos (silte e areia muito fina) na calha. Este efeito produz a gradação inversa comum

nessas formas de leito. Fonte: Fryberger & Schenk (1988, apud OLIVEIRA, 2005).

Parâmetros estruturais

Para a identificação de dunas eólicas, os tipos de estratificação consistem no atributo

mais confiável que, como já foi discutido, compreendem laminações cavalgantes

transladantes (Figura 3.15A), queda de grãos e fluxo de grãos (Figura 3.15B).

A laminação por queda de grãos está associada ao regime irregular dos ventos e é

caracterizada pela deposição intercalada de, geralmente, areia média e fina em níveis

milimétricos com excelente seleção dos grãos em uma mesma lâmina (MORAES &

GABAGLIA, 1986).

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A estratificação cruzada por fluxo de grãos pode apresentar espessuras milimétricas a

centimétricas. Em geral possui granulometria homogênea, porém é comum a ocorrência de

gradação inversa em decorrência da pressão dispersiva resultante do intenso choque entre as

partículas durante o fluxo de grãos. Quando o corte é transversal ao mergulho dos estratos

cruzados, os depósitos por fluxo de grãos possuem geometria lenticular. Quando o corte é

paralelo ao mergulho, esses depósitos apresentam geometria em cunha (SCHERER, 2004).

Figura 3.15: Estruturas sedimentares em depósitos eólicos: A) laminação transladante cavalgante, sendo que a seta

está indicando o sentido do fluxo do vento; B) estratificação cruzada marcada pela alternância de lâminas de queda

de grãos e fluxo de grãos, sendo o sentido do fluxo da esquerda para direita. Em ambas, o corte é paralelo ao fluxo.

Fonte: Silva (2009).

A laminação cavalgante transladante possui espessura milimétrica e gradação inversa e

pode estar associada tanto na face barlavento quanto na face sotavento da duna (MORAES &

GABAGLIA, 1986; SCHERER, 2004).

Os depósitos de interdunas são caracterizados pela formação de estratos planos cujas

extensões variam de poucas dezenas de metros até dezenas de quilômetros e separam estratos

cruzados de dunas eólicas. Os estratos de interdunas se interdigitam lateral e verticalmente

com estratos de dunas, o que indica a contemporaneidade de ambos (SCHERER, 2004).

A estrutura sedimentar mais comum em depósitos de lençóis de areia é a estratificação

cruzada de baixo ângulo (menor que 15º) disposta em pacotes tabulares com espessuras de

poucos centímetros até dezenas de metros. Esses depósitos podem apresentar internamente

alternância de laminações transladantes cavalgantes e marcas onduladas de grânulos, quando

estiverem inseridos em um contexto onde o nível do lençol freático esteja abaixo da superfície

deposicional (SCHERER, 2004; GIANNINI et al., 2008). Ou, ainda, pode ser encontrada uma

variedade de estruturas de adesão, fruto da aderência da areia trazida pelo vento sobre um

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substrato úmido (nível do lençol freático próximo ou na superfície) (MORAES &

GABAGLIA, 1986).

De acordo com Scherer (2004), intercalados com estratos eólicos ocorrem feições

sedimentares aquosas. Como exemplos, podem ser citados marcas de ondas, estratos cruzados

acanalados, arenitos maciços, níveis pelíticos com gretas de contração e níveis de argila

retorcida que indicam inundações fluviais.

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CAPÍTULO 4 - ANÁLISE SEDIMENTOLÓGICA E ESTRATIGRÁFICA DOS

TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO SERGI NO CAMPO DOM

JOÃO

Este capítulo destina-se a apresentar os dados obtidos a partir da descrição

sedimentológica e estratigráfica dos testemunhos da Formação Sergi no Campo Dom João,

Bacia do Recôncavo. Os dados foram coletados segundo o que foi apresentado no item 1.3.1.,

ou seja, através da descrição macroscópica levando-se em consideração aspectos tais como

composição, cor, granulometria, organização interna, dentre outros.

4.1. Fácies sedimentares

Por fácies sedimentares entende-se um grupo de sedimentos ou rochas sedimentares

que pode ser reconhecido e distinguido de outros pela geometria, composição, estruturas

sedimentares, dentre outros aspectos (SELLEY, 1982, apud ETCHEBEHERE & SAAD,

2003).

A descrição macroscópica dos testemunhos do poço amostrado resultou em um

agrupamento de 13 litofácies, sumarizadas na Tabela 4.1. A nomeação dessas fácies segue o

seguinte critério: i) a primeira letra corresponde à litologia; ii) a segunda e terceira letras

fazem referência à organização interna; iii) a quarta letra, após o hífen, indica a origem eólica

para distinguir dos fluviais. Os cálculos das frequências que serão apresentadas foram feitos

no software Microsoft Office Excel 2007.

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Tabela 4.1: Principais características e processos genéticos das 13 litofácies descritas nos testemunhos da Formação Sergi no Campo Dom

João.

Ali

Afd

Axb

Axa

Axt

Ama

Arenito acastanhado a tons acinzentados e esverdeados, médio a

grosso, subordinadamente fino, mal selecionado, semifriável a friável,

por vezes com concentrações calcíferas, bioturbado, argiloso e

maciço.

Rápida desaceleração do fluxo em condições subaquáticas.37,0

LITOFÁCIES DESCRIÇÃOFREQUÊNCIA

(%)PROCESSO SEDIMENTAR

16,2 Migração de dunas subaquáticas com cristas sinuosas (3D).

16,5Migração de formas de leito quase planas sob regime

intermediário superior.

0,6Deposição de partículas sob regime de fluxo inferior com

perda parcial da estrutura.

2,2 Migração de dunas subaquosas com cristas retas (2D).

Arenito acinzentado com tons esverdeados e avermelhados, fino a

médio, por vezes grosso, mal a bem selecionado, semifriável, argiloso

e com concentrações calcíferas, fluidizado.

Fluidização de depósitos subaquáticos.19,0

Arenito acastanhado a mosqueado, fino a médio, também grosso,

mal selecionado, semifriável, por vezes apresenta concentrações

calcíferas e fluidização, com estratificação cruzada de baixo ângulo.

Arenito esverdeado a acastanhado, grosso a muito grosso, também

médio e fino, mal selecionado, semifriável a friável, por vezes argiloso

e com concentrações calcíferas, com estratificação cruzada

acanalada.

Arenito acastanhado a mosqueado, fino a médio, seleção regular,

semifriável, por vezes apresenta intraclastos de argila e

concentrações calcíferas, com estratificação cruzada tabular.

Arenito arroxeado, fino, seleção regular, semifriável, argiloso, com

laminação incipiente dada por níveis ricos em concentrações

calcíferas ou argilosas.

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Deposição de partículas finas em suspensão através do

assentamento gravitacional sob regime de fluxo inferior,

posterior cisalhamento rúptil por processos de deslizamento

de grãos, moagem e tração com percolação de fluidos ricos

em cálcio (Ca) e gás carbônico (CO2)

0,4 Fluidização de depósitos eólicos.

Lamito roxo acinzentado, duro, com laminação incipiente,

slickensides e fraturas preenchidas por calcita.

Arenito marrom avermelhado, muito fino a fino, bem selecionado,

semifriável, argiloso, com laminação cruzada cavalgante (climbing

ripples ).

Arenito acastanhado a avermelhado, fino a médio, bem selecionado,

semifriável a friável, com estratificação cruzada tabular.

Arenito acastanhado, fino a médio, bem selecionado, semifriável,

com estratificação cruzada de baixo ângulo.

LITOFÁCIES DESCRIÇÃOFREQUÊNCIA

(%)

Arenito marrom avermelhado e esverdeado, fino a médio, bem

selecionado, semifriável a friável, maciço.

Migração de formas de leito eólicas quase planas.

6,4 Migração de dunas eólicas.

1,0

Arenito esverdeado a arroxeado, médio a grosso, mal selecionado,

semifriável, argiloso, com estratificação cruzada indefinida e incipiente

evidente por níveis ricos de argila.

Arenito esverdeado a avermelhado, muito fino a fino, bem

selecionado, semifriável, argiloso, com laminação plano-paralela.

0,1Cavalgamento de marcas onduladas subaquáticas sob

regime de fluxo inferior.

Deposição de formas de leito plano sob regime de fluxo

superior.

Migração de formas de leito subaquosas sob regime de fluxo

inferior.

0,2

PROCESSO SEDIMENTAR

0,1

Ama-E

Lli

Axi

App

Arp

Axt-E

Axb-E

0,3

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4.2. Associação de Fácies

Com base nas litofácies identificadas e descritas, é possível fazer o agrupamento

levando-se em conta as associações genéticas, podendo-se interpretar os seus ambientes

deposicionais. Foram determinadas cinco associações de fácies, a saber: i) flúvio-lacustre; ii)

fluvial efêmero; iii) fluvial entrelaçado perene; iv) dunas eólicas; e v) lençóis de areia eólicos.

4.2.1. Associação de fácies flúvio-lacustre (FL)

Os sedimentos da associação de fácies flúvio-lacustre ocorrem na base do poço e

perfazem 5%, sendo composta pelas litofácies Afd e App. Estas são representadas por arenitos

argilosos, avermelhados a arroxeados com aspecto mosqueado, granulometria muito fina, bem

selecionados, semifriáveis. Por vezes pode ser observada uma estratificação plano-paralela

difusa devido a processos de fluidização (Foto 4.1) e também marcas de carga.

Os pacotes sedimentares dessa associação de fácies possuem uma espessura de 1,2

metros e intercalam-se com arenitos amarelados (Foto 4.2), granulometria fina a média, bem

selecionados, semifriáveis, fluidizados e, por vezes, com pequenas concentrações calcíferas.

Interpretação

Os sedimentos descritos posicionam-se na base da Formação Sergi e representam uma

transição entre esta unidade e o Membro Capianga (Formação Aliança), que é constituído por

pelitos avermelhados (origem lacustre).

Os processos de escape d’água e deformação plástica verificados nos arenitos

fluidizados estão relacionados à instabilidade da carga sedimentar devido à sobrecarga em

meio subaquoso. Os depósitos dispostos em estratos plano-paralelos resultam do

assentamento de partículas sob um regime de fluxo de baixa energia em leito plano.

As intercalações dos arenitos amarelados com os arenitos argilosos sugerem um

ambiente de deposição fluvial com influência lacustre. A coloração avermelhada dos arenitos

argilosos indica um ambiente lacustre raso, ou seja, oxigenado (Foto 4.3).

É possível que o lago responsável pela deposição do Membro Capianga tenha se

expandido sobre a planície aluvial já formada da Formação Sergi. Outra explicação é que nos

estágios finais das cheias dos fluxos fluviais (considerando canais efêmeros), instalaram-se

depressões rasas alagadiças.

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Foto 4.1: Arenito argiloso com estratificação

plano-paralela difusa devido a processos de

fluidização.

Foto 4.2: Arenito argiloso avermelhado com

intercalações de arenito amarelado.

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Foto 4.3: Conjunto de testemunhos mostrando a transição entre os arenitos argilosos avermelhados, que ocorrem na

base do poço, com arenitos amarelados de granulometria levemente maior, ambos da associação de fácies flúvio-

lacustre.

4.2.2. Associação de fácies fluvial efêmero (Fe)

Esta associação de fácies possui a maior ocorrência nos testemunhos descritos e perfaz

um total de 76%. Compreende as litofácies Ama, Afd, Axb, Axt, Axi, Ali, Axa, App, Arp e

Lli dispostas em ordem decrescente de ocorrência.

Os arenitos maciços (Ama) ocorrem com maior frequência e possuem granulometria

variando de fina a grossa e são, predominantemente, mal selecionados, sendo comum a

presença de grânulos dispersos (Foto 4.4). A coloração varia de castanho escuro (Foto 4.5) a

claro (quando há indícios de óleo) e a tons acinzentados (Foto 4.6) e esverdeados (quando

apresentam argilosidade alta). Nos intervalos iniciais do testemunho (primeiros 23 metros), a

litofácies Ama intercala-se com a Axb com espessuras mínimas e máximas em torno de 3,4

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metros e 7,0 metros, respectivamente. Ainda analisando os intervalos iniciais, observa-se

baixa argilosidade, com apenas alguns picos de alta argilosidade, e forte indício de

hidrocarbonetos nos arenitos. À medida que se aprofunda no poço, a coloração dos arenitos

maciços assume tons esverdeados, acinzentados, arroxeados, sendo comum a textura

mosqueada (Foto 4.7). A argilosidade aumenta e são poucos os intervalos que apresentam

indícios de hidrocarbonetos. Verificam-se intercalações entre a litofácies Ama com as demais

litofácies desse grupo, como também com a associação de fácies eólicas (dunas e lençóis de

areia). Supõe-se que o aspecto maciço desses arenitos pode também ser resultado de

processos pós-deposicionais que mascararam as estruturas primárias. Nesses intervalos a

espessura mínima registrada dos arenitos maciços é de 90 centímetros e a máxima é de 12,8

metros.

Os arenitos fluidizados (Afd) são argilosos (Foto 4.8), com colorações em tons

acinzentados, esverdeados e arroxeados (textura mosqueada), com granulometria variando de

fina a grossa e seleção média a baixa, com algumas ocorrências de intraclastos de argila. São

representados por pequenos intervalos de 1,3 a 2,5 metros, intercalados com as demais

litofácies dessa associação, nos quais as estruturas primárias dos arenitos estão parcial ou

totalmente difusas (Foto 4.9).

A litofácies Axb é representada por arenitos com estratificação cruzada de baixo

ângulo (Foto 4.10). Ocorrem com maior frequência nas profundidades iniciais do poço,

assumindo colorações em tons acastanhados, devido à presença de óleo. A granulometria

varia de média a grossa e, subordinadamente, fina e as espessuras mínimas e máximas são de

70 centímetros e 3,2 metros, respectivamente. Em maiores profundidades, a argilosidade nos

arenitos aumenta e a coloração adota tons acinzentados, rosados e acastanhados. A

estratificação cruzada de baixo ângulo torna-se, frequentemente, difusa por causa dos

processos de fluidização (Foto 4.11) e os pacotes são pouco espessos, sendo que

pontualmente apresenta uma espessura máxima de 5,2 metros. Há intercalações com as

litofácies Axb-E e Axt-E.

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Foto 4.4: Litofácies Ama exibindo grânulos

dispersos.

Foto 4.6: Litofácies Ama apresentando maior

nível de argilosidade.

Foto 4.5: Litofácies Ama exibindo coloração

castanho escuro devido a saturação de óleo

Foto 4.7: Litofácies Ama exibindo textura

mosqueada.

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Foto 4.8: Litofácies Afd apresentando alta

argilosidade.

Foto 4.10: Arenito com estratificação cruzada

de baixo ângulo (litofácies Axb).

Foto 4.9: Na litofácies Afd muitas vezes a

estrutura primária da rocha torna-se difusa.

Foto 4.11: Litofácies Axb com alto nível de

argilosidade e com porções fluidizadas.

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A litofácies Axt foi identificada em dois intervalos no poço descrito, apresenta

espessuras de 3,90 e 1,70 metros e intercala-se com as litofácies Axb e Afd. É representada

por arenitos com estratificação cruzada tabular, colorações cinza acastanhados, rosados e

esverdeados. Apresenta textura mosqueada, granulometria fina a média, variando de mal a

bem selecionados. Por vezes, há ocorrência de intraclastos de argila (Foto 4.12).

Os arenitos com estratificação cruzada indefinida e incipiente (Axi) ocorrem em

pacotes com até 1,0 metro de espessura e intercalam-se com a litofácies Ama. Exibem

colorações cinza esverdeados, parte roxo acinzentados, granulometria média a grossa, mal

selecionados. Apresentam alta argilosidade, sendo comum a presença de argilas tanto

disseminadas (conferindo textura mosqueada) quanto concentradas em lâminas, sendo estas

responsáveis por ressaltar alguns aspectos da estratificação (Foto 4.13).

A litofácies Ali (Foto 4.14) ocorre pontualmente em pequenas espessuras (30 a 90

centímetros), intercalando-se com as litofácies Ama e Afd. É composta por arenitos argilosos,

roxo acinzentados, granulometria fina, seleção média. Concentrações orientadas de

constituintes calcíferos e níveis argilosos com desenvolvimento de fissilidade conferem uma

laminação incipiente a esses arenitos.

Os arenitos com estratificação cruzada acanalada (Axa) (Foto 4.15) possuem

coloração variando de tons acastanhados, esverdeados a avermelhados, exibem granulometria

fina a média, são mal selecionados com ocorrência de grãos mais grossos dispersos. Por vezes

apresentam alta argilosidade, com níveis ricos em argilas dispostos nos planos de

estratificação. A litofácies Axa possui baixa continuidade vertical, sendo que a espessura

máxima é de 2,6 metros e ocorre junto com as litofácies Ama, Afd, Axb e Ali.

As litofácies App e Arp ocorrem pontualmente e apresentam espessuras de 40 e 30

centímetros, respectivamente. Os arenitos com laminação plano-paralela (Foto 4.16) são

argilosos, possuem coloração esverdeada mosqueada a avermelhada, granulometria muito fina

a fina, bem selecionados, sendo que as laminações são dadas por concentrações argilosas e

ocorrem associados com os arenitos maciços. A litofácies Arp (Foto 4.17) é composta por

arenito argiloso, marrom avermelhado claro, muito fino a fino e bem selecionado, com

estratificação cruzada cavalgante. Ocorre associada com os arenitos que exibem estratificação

cruzada de baixo ângulo.

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Foto 4.12: Arenito com estratificação cruzada

tabular (litofácies Axt) com presença de

intraclastos de argila.

Foto 4.14: Litofácies Ali com lâminas de

concentrações de material carbonático e argila.

Foto 4.13: Arenito com estratificação cruzada

indefinida e incipiente (Axi) evidenciada por

níveis alinhados ricos em argila.

Foto 4.15: Litofácies Axa. Notar relação de

truncamento de estratos em evidência.

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Foto 4.16: Litofácies App com níveis ricos em

argila.

Foto 4.17: Arenito argiloso exibindo

estratificação cruzada cavalgante na base (Arp).

A litofácies Lli ocorre de forma subordinada e é representada por lamito roxo

acinzentado, duro, com planos de falha (slickensides), veios de calcita e fissilidade incipiente

(Foto 4.18).

Ao longo dos testemunhos descritos, verifica-se que é comum a presença de

concreções carbonáticas (Foto 4.19) de variados tamanhos (milimétricos a centimétricos) e

formação de níveis de paleossolo incipiente (Foto 4.20).

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Foto 4.20: Desenvolvimento de paleossolo incipiente muito comum na associação de fácies fluvial efêmero.

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Interpretação

Os arenitos maciços têm sua gênese associada à desaceleração de fluxos gravitacionais

subaquosos hiperconcentrados e turbulentos, comuns em fluxos fluviais torrenciais e

momentâneos ou, ainda, a eventos pós-deposicionais. Quando existe uma alta taxa de

deposição, o rápido assentamento de grandes volumes de sedimentos promove o aumento da

pressão dos poros e consequente perda d’água. Assim, deformações plásticas ocorrem nas

estruturas primárias e resultam na liquefação parcial dos sedimentos. O resultado destes

processos é a fluidização de sedimentos que, muitas vezes, apaga as estruturas primárias

completamente.

Os depósitos arranjados em estratos cruzados de baixo ângulo geralmente são

formados em cursos d’água pouco profundos em regime de fluxo intermediário a superior.

Essa organização interna está associada à migração de dunas subaquosas com relevo muito

baixo (levemente inclinadas), sendo muito comuns em fluxos fluviais efêmeros. A ocorrência

de estratos cruzados tabulares e acanalados indica condições de fluxo mais profundo ou com

menores energias e menos concentrados que os estratos cruzados de baixo ângulo.

Os arenitos argilosos dispostos em estratos plano-paralelos e cruzados cavalgantes

remetem a condições de baixa energia do fluxo. Ambos os casos estão associados ao

assentamento de partículas nos estágios finais das cheias. No caso dos estratos cruzados

cavalgantes, além da decantação de sedimentos, ocorre o movimento unidirecional do fluxo e

cujo resultado é a feição de cavalgamento. Os intraclastos argilosos podem ser oriundos da

erosão do substrato, principalmente aquele associado aos fluxos terminais.

O depósito de lamito tem sua gênese associada à decantação de partículas em

suspensão formado nos estágios finais das inundações. A pequena espessura e a não

continuidade vertical sugerem que a formação de depósitos de partículas finas ocorria de

forma subordinada ou que seus registros foram erodidos pelos eventos fluviais posteriores.

A formação de paleossolos demanda muito tempo, na ordem de milhares de anos

(MIDDLETON & BLAKEY, 1983; WRIGHT & TUCKER, 1991; todos apud OLIVEIRA,

2005). O seu desenvolvimento é favorecido em áreas alcançadas por fluxos enfraquecidos, em

posição distal ou topograficamente mais elevada que os canais. As concreções calcíferas

verificadas podem ser resultantes de exposições ou subida do nível do lençol freático.

Diante do exposto acima e das características das litofácies, podemos concluir que esta

associação de fácies foi depositada por sistemas fluviais efêmeros. Outro fator que corrobora

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a gênese efêmera é a ocorrência de fácies eólicas associadas aos depósitos fluviais, o que

indica exposições subaéreas em condições de aridização.

4.2.3. Associação de fácies fluvial entrelaçado perene (FEp)

Esta associação de fácies abrange, aproximadamente, 11% do total e há ocorrência da

litofácies Axa e, subordinadamente, da Ama. Possui limites superiores e inferiores com a

associação de fácies fluvial efêmero.

A litofácies Axa (Foto 4.21) predomina e é representada por arenitos com colorações

variando desde tons esverdeados a arroxeados, quando apresentam argilosidade, até castanhos

claros a escuros, quando possui indícios de hidrocarbonetos, fato esse comum neste grupo. A

granulometria é, essencialmente, muito grossa e os arenitos são mal selecionados, sendo

comum a presença de grânulos dispersos e/ou alinhados segundo os planos de estratificação

(Foto 4.22). Estão organizados internamente por estratos cruzados acanalados, possui

intervalos com alta porosidade e apresentam considerável continuidade vertical, com

espessura máxima em torno de 25 metros. Verifica-se a ocorrência de ciclos

granodecrescentes ascendentes sutis, perceptíveis quando o perfil é analisado como um todo.

Nos intervalos mais rasos constituídos por essa litofácies, há ocorrências de concreções

calcíferas de até 10 centímetros.

Os arenitos maciços, com espessuras em torno de 30 centímetros, ocorrem de forma

subordinada e pontual dentro dos pacotes de arenitos com estratificação cruzada acanalada.

Exibem coloração roxo acinzentado (Foto 4.23) a castanho escuro, quando estão saturados de

óleo (Foto 4.24), granulometria variando de média a muito grossa, alta argilosidade e

concreções calcíferas de até 3 centímetros.

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Foto 4.21: Arenito com estratificação cruzada

acanalada (Axa), com evidente truncamento em

destaque.

Foto 4.23: Litofácies Ama com alta

argilosidade.

Foto 4.22: Grânulos alinhados segundo os

planos de estratificação (litofácies Axa).

Foto 4.24: Arenito maciço saturado em óleo.

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Interpretação

Os arenitos com estratificação cruzada acanalada foram formados pela migração de

dunas subaquáticas de cristas sinuosas. Como os testemunhos correspondem a porções

limitadas das rochas, essa estrutura muitas vezes foi inferida. Os pacotes com aspecto maciço,

por ocorrerem pontualmente em espessuras reduzidas em comparação com os pacotes

estratificados, podem ser interpretados como decorrentes de processos de fluidização,

responsáveis pela destruição das estruturas primárias.

A argilosidade dos arenitos, por vezes verificada nessa unidade, pode ser explicada

pela infiltração mecânica de argilas detríticas através de processos gravitacionais logo após a

deposição. Neste caso, a sua percolação é facilitada pela granulometria dos arenitos, que

apresentam poros mais significativos. Segundo estudos petrológicos realizados por diversos

autores nos reservatórios da Formação Sergi, a infiltração de argilas constitui o evento

diagenético de maior impacto nas suas qualidades permo-porosas (NETTO et al., 1982; DE

ROS, 1985; PINHO, 1987; RODRIGUES, 1990; todos apud OLIVEIRA, 2005).

Os ciclos granodecrescentes ascendentes pouco desenvolvidos (Figura 4.1) nos

remetem a uma deposição por sistemas fluviais entrelaçados, conforme abordado no Capítulo

3 (item 3.1.3.4.). Sugerem, ainda, um comportamento cíclico com variações na descarga e/ou

na velocidade do fluxo. A continuidade constatada da organização interna e a ausência de

feições que indicam exposições subaéreas prolongadas (paleossolo, retrabalhamento eólico,

etc.) revelam que os canais estavam submetidos à presença regular de água. Portanto, diante

dos argumentos apresentados, pode ser inferido um ambiente fluvial entrelaçado perene.

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Figura 4.1: Imagem do Anasete mostrando os ciclos granodecrescentes ascendentes pouco desenvolvidos dos

arenitos com estratificação cruzada acanalada (Axa) da associação de fácies fluvial entrelaçado perene.

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4.2.4. Associação de fácies de lençóis de areia eólicos (LAE)

Os depósitos da associação de fácies de lençóis de areia eólicos representam apenas

1% do total e são compostos, exclusivamente, pela litofácies Axb-E. Tratam-se de arenitos

amarelados a acastanhados claros e escuros, finos a médios, grãos subarredondados, bem

selecionados e que apresentam estratificação cruzada de baixo ângulo (Foto 4.25). Ocorrem

em pacotes pouco espessos (entre 30 e 90 cm) descontínuos e intercalados a sedimentos da

associação de fácies fluvial efêmero (Axb e Ama). Em todos os intervalos são constatados

indícios de hidrocarbonetos, mais ou menos expressivos, inversamente proporcionais ao nível

de argilosidade.

Foto 4.25: Litofácies Axb-E com arenito saturado em óleo.

Interpretação

Como já foi discutido no item 3.2.5 deste trabalho, é comum a ocorrência de depósitos

eólicos e fluviais associados. Diferenciá-los, à vezes, é difícil, principalmente em amostras

testemunhos. Algumas características, quando analisadas em conjunto, ajudam a distinguir

pacotes eólicos dos fluviais, dentre as quais se destacam: i) granulometria; ii) selecionamento;

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iii) arredondamento; iv) ausência ou carência de intraclastos de argila; e v) condições permo-

porosas favoráveis.

Conforme observado no Capítulo 3, as estruturas sedimentares comuns nos lençóis de

areia são as estratificações cruzadas de baixo ângulo. Estas são formadas pela migração de

formas de leito quase planas (agradação de marcas onduladas eólicas). Diante disto,

juntamente com as características sedimentares apresentadas pela litofácies Axb-E, pode ser

inferido que esta associação tem gênese relacionada a ambientes de lençóis de areia eólicos. A

sua formação ocorreu em períodos de prolongadas exposições subaéreas, onde os depósitos

fluviais efêmeros foram retrabalhados pelo vento através de mecanismos de saltação e

rolamento sobre uma superfície deposicional plana ou quase plana, posteriormente recoberta

por novos ciclos fluviais.

4.2.5. Associação de fácies de dunas eólicas (DE)

Este grupo representa 7% dos testemunhos descritos e é composto pelas litofácies Axt-

E e Ama-E. Os pacotes com estratificação cruzada tabular (Foto 4.26) são compostos por

arenitos amarelados, acastanhados e marrom avermelhados, finos a médios, bem

selecionados, cujos grãos apresentam-se subarredondados. Por vezes, registra-se a presença de

concentrações calcíferas dispersas. Ocorrem associados aos depósitos fluviais efêmeros

(litofácies Axb e Ama), sendo que o pacote mais significativo possui espessura de 15 metros.

Possuem baixa argilosidade e há intervalos saturados com óleo, supostamente com boas

condições permo-porosas (Foto 4.27). Localmente, verificam-se lentes (0,5 a 2,0 cm)

compostas por grãos mais grossos (Foto 4.28), dando um indicativo de que ali atuaram

processos de queda de grãos.

Dentro dos pacotes dos arenitos da litofácies Axt-E ocorrem arenitos esverdeados e

avermelhados, finos a médios, bem selecionados, com aspecto maciço arranjados em pacotes

pouco espessos (em torno de 40 cm) que constituem as litofácies Ama-E (Foto 4.29). Quando

em contato com a litofácies Afd da associação de fácies fluvial efêmero apresenta alta

argilosidade, tanto concentrada em níveis como em forma de intraclastos.

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Foto 4.26: Arenito exibindo estratificação

cruzada tabular (Axt-E).

Foto 4.28: Litofácies Axt-E exibindo lentes com

grãos mais grossos alternados com grãos mais

finos.

Foto 4.27: Litofácies Axt-E com níveis de

saturação de óleo.

Foto 4.29: Arenito com aspecto maciço da

litofácies Ama-E.

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Interpretação

Dunas eólicas são formas de leito de grande porte e os depósitos da litofácies Axt-E

possuem estratos cruzados em alto ângulo (em torno de 30°). Esta organização interna,

alinhada aos aspectos texturais apresentados, sugerem uma associação de fácies de dunas

eólicas.

A migração de dunas eólicas resulta em estratificações cruzadas acanaladas e

tabulares, sendo evidentes nos testemunhos. Os pacotes maciços, intercalados aos

estratificados, podem ser resultado de processos pós-deposicionais ocasionados pela expulsão

da água dos poros dos sedimentos ainda inconsolidados. A ocorrência de lentes de fluxos e

queda de grãos evidenciada pela presença de grãos mais grossos arranjados em níveis

centimétricos, fortalece a ideia de que as litofácies Axt-E e Ama-E são registros de dunas

eólicas.

4.3. Sequências Deposicionais

As amostras disponíveis no presente estudo têm caráter limitado, não só pela

quantidade de testemunhos analisados, como também por sua própria natureza, pois este tipo

de amostra tem, essencialmente, caráter unidimensional. Todavia, buscou-se fazer uma

analogia com a cultura e o conhecimento atual sobre a Formação Sergi.

A partir das características composicionais, texturais, estruturais e das associações de

fácies interpretadas nos testemunhos do poço em estudo, foram limitadas as três sequências da

Formação Sergi, conforme os trabalhos de Scherer et al. (2005, 2007) e de Oliveira (2005).

A sequência III ocorre na porção superior do intervalo analisado e ocupa cerca de 7%

da Formação Sergi. Ocorre entre as profundidades de 196 e 219 metros. É constituída pela

associação de fácies fluvial efêmero (litofácies Axb e Ama).

A sequência II é marcada, principalmente, pelo aumento da granulometria e

organização interna dos estratos (Figura 4.2) e o contato com a unidade superior é abrupto

(Foto 4.30). Se estende até a profundidade de 251 metros, perfazendo um total de 11%. Esta

unidade é constituída pela associação de fácies fluvial entrelaçado perene.

A sequência I, posicionada na base da Formação Sergi, é a mais expressiva,

perfazendo cerca de 82% e ocorre até as profundidades finais do poço (465 metros). Seu

início foi marcado, principalmente, pela mudança na granulometria (diminuição), aumento

considerável da argilosidade e aparecimento de paleossolo e concreções calcíferas (Foto

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4.31). Compreende as associações de fácies flúvio-lacustre, fluvial efêmero, de lençóis de

areia e de dunas eólicas.

Figura 4.2: Imagem do Anasete mostrando o intervalo compreendido pela Sequência II, cujos contatos superior e

inferior são abruptos marcados, principalmente, pelo aumento da granulometria e organização interna.

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Foto 4.30: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência III (caixas 5 e 6) e a

sequência II (caixas 7 e 8).

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Foto 4.31: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência II (caixa 1) e a

sequência I (caixas 2 e 3).

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CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES

O trabalho realizado teve como finalidade a análise e interpretação paleoambiental de

243 metros de testemunhos da Formação Sergi amostrados no Campo de Dom João,

localizado na Bacia do Recôncavo.

Diante dos objetivos propostos e dos dados disponibilizados, pode ser concluído:

1) A Formação Sergi é composta, essencialmente, por arenitos com características

variadas, desde finos e argilosos a muito grossos e mal selecionados. As amostras analisadas

conseguem contemplar, de forma bem ilustrativa, a Formação Sergi, desde sua transição com

a Formação Aliança (Membro Capianga) até a sequência mais superior.

2) Com base em estudos realizados, foram observadas 13 litofácies que, quando

relacionadas geneticamente, nos indicam a presença de cinco associações de fácies, a saber:

flúvio-lacustre, fluvial efêmero, fluvial entrelaçado perene, lençóis de areia eólicos e dunas

eólicas.

3) Foram identificadas, nos testemunhos, as três sequências deposicionais na

Formação Sergi, em concordância com outros estudos sobre a unidade: a Sequência III ocorre

no topo e é composta por depósitos fluviais efêmeros, perfazendo 7%; a Sequência II é bem

evidenciada pelos arenitos grossos e ocupa 11%; e a Sequência I é caracterizada pela presença

de depósitos eólicos de dunas e lençóis de areia intercalados ao registro de sistemas fluviais

efêmeros, representando 82%.

4) Foi verificado que a Formação Sergi apresenta intervalos significativos,

visualmente identificados, com boas a excelentes condições permo-porosas, o que corrobora

com o seu potencial de reservatório.

5) A partir da análise do perfil litológico, é possível inferir as condições climáticas da

área durante o Neojurássico. Na base da sucessão, o registro da atividade eólica, associada aos

sedimentos depositados por canais fluviais efêmeros, indica condições áridas. A brusca

mudança das características texturais dos sedimentos sugere a presença de sistemas de canais

fluviais entrelaçados perenes da Sequência II, revelando condições climáticas menos áridas.

No topo do pacote, onde tem a presença de depósitos gerados por fluxos fluviais efêmeros,

haveria a restauração de clima árido.

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ANEXO – Análise Sequencial de Testemunhos (Anasete) do poço do Campo de

Dom João

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